Brincando Com Fogo Playing With Dynamite
Leanne Banks
Ela despertava seus instintos mais primitivos. Brick Pendleton não cansava de sentir a pele dela contra a dele, ou de ver seus olhos tornando-se negros de desejo. Brick ficou atordoado quando Lisa Ransom fez amor como se fosse uma selvagem e depois o abandonou. Ele sabia o que ela realmente desejava. Importava-se com Lisa mais do que com qualquer outra mulher. Mesmo assim não conseguia manter suas promessas. Lisa tentou esquecê-lo e ignorá-lo, mas Brick havia mexido com ela. Dominando-a com as carícias de seus lábios e de suas mãos, deixando-a atordoada. O poderoso especialista em demolições sabia bem como destruir as coisas, mas reconstruir a confiança de Lisa significava lutar contra seu passado e confessar seus medos. Poderia ele andar sobre fogo para ganhar o coração dela? Digitalização: Mariana N. Revisão: Carmita
Leanne Banks - Brincando Com Fogo (Primeiros Sucessos 52)
Tradução Gracinda Vasconcelos HARLEQUIN 2014
PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: PLAYING WITH DYNAMITE Copyright © 1994 by Leanne Banks Originalmente publicado em 2012 por HQN Books Projeto gráfico de capa: Nucleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração eletrônica: EDITORIARTE Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora S.A. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
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Leanne Banks - Brincando Com Fogo (Primeiros Sucessos 52)
CAPÍTULO 1
— É hora de sair de cima do muro, Brick. A voz rouca de Lisa Ransom cruzou a mente de Brick Pendleton em algum nível do seu subconsciente. Vários instantes haviam se passado, mas seu corpo ainda latejava com as deliciosas sensações do êxtase que experimentara. A vida amorosa dos dois parecia ainda mais intensa do que o habitual. Com persistência e cuidado, seduzira-a até ela jogar a toalha e inflamá-lo com suas mãos gentis. O perfume inebriante de sua excitação lhe restringia a mente para Lisa e somente Lisa. O suspiro suave de prazer que ela deixara escapar, quando a penetrou, quase o fez perder o controle, mas foram os sinais, internos e externos, de seu clímax, que o levaram ao delírio. Quando o puxou para si, cingiu-lhe os quadris com as coxas macias, a feminilidade úmida, os braços trêmulos e o rosto repleto de satisfação. No momento, ele poderia se comparar aos prédios que demolia todos os dias. Sentia-se gloriosamente devastado e amava cada minuto daquela sensação. Estendeu a mão para alcançar a mulher responsável por seu atual estado de plenitude sensual e seus dedos tocaram-lhe o pé. Franziu a testa, seu senso de bemestar mudando de repente. Ela parecia estar sentada na cama. Sair de cima do muro. — Pescar? — repetiu ele, afastando a mão e esfregando o rosto em um esforço para clarear a mente. — Sim — confirmou Lisa em um tom de voz tenso que o fez sentir um frio na barriga. Brick tinha um desconfortável pressentimento sobre o que estava por vir. De modo relutante, sacudiu o torpor sexual e sentou-se na cama, também. — E o que eu estava tentando dizer, antes de você... antes de nós... — Lisa exalou um suspiro frustrado. — Antes de acabarmos aqui. Tentei lhe dizer, mas você sempre conseguiu me distrair. Brick, eu quero um bebê. A respiração dele alojou-se em algum lugar entre o coração e a garganta. Ele olhou para Lisa. Os longos cabelos castanhos caíam-lhe pelos ombros, até a extremidade do lençol cor-de-rosa, que lhe cobria o torso até a altura dos seios. Nos últimos seis meses, ele se esforçara para guardar na memória cada centímetro do 1,77m que compunha aquele delicioso corpo feminino, incluindo as partes escondidas sob aquele lençol de algodão. Sabia que Lisa possuía a figura de ampulheta de seus sonhos secretos, juntamente com uma abundância doce e sensual que sempre lhe proporcionava uma enorme satisfação. Além do mais, ela não ficara nem um pouco intimidada com seu físico vigoroso. Brick, com mais de 1,92m de altura, estava acostumado ao fato de as mulheres se sentirem intimidadas com ele. Lisa, no entanto, ficara fascinada com seu tamanho, o que lhe propiciava um imenso prazer saciar seu fascínio. Tocá-la lhe despertava os instintos sexuais mais primitivos, levando-o ao clímax. Explorar-lhe a personalidade... bem, isso soava meio meloso, mas ela o fazia rir. Gostava 3
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de fazê-la corar e sorrir. E, apesar de não saber explicar direito o porquê, gostava da maneira, um pouco estranha, de Lisa o fazer se sentir bem-vindo em sua casa. Temia que outros se aproveitassem dessa sua natureza amável, então era natural que sentisse necessidade de protegê-la. Com exceção daquele assunto sobre bebê, que ela vinha insinuando nos últimos dois meses, Brick se sentia mais do que satisfeito com o relacionamento dos dois. Estudou-lhe o rosto, notando que seus lábios macios pareciam túmidos pelos beijos que haviam trocado e que ela não estava sorrindo. Os olhos verdes, geralmente serenos, se encontravam enevoados, revelando uma leve tristeza. E ela apenas lhe dissera que queria um bebê. Uma sensação de mal-estar se instalou em seu peito. — Um bebê? — Tinha esperanças de que se tratasse de uma fase passageira, pensou, estendendo a mão ao lado da cama para pegar uma réstia de antiácidos no bolso da calça jeans. — Você ainda tem muito tempo pela frente para ter um bebê. Tem apenas 29 e... — Trinta. Brick recuou para fitá-la. — Você não me disse. Quando foi seu aniversário? Lisa puxou o lençol, cobrindo mais o peito. — Uma semana e meia atrás. Você estava fora da cidade havia três semanas, fazendo aquele trabalho especial para os Anderson. Uma onda de desconforto o percorreu. Saía com Lisa há nove meses e nos últimos seis haviam se tornado amantes. Devia saber a data do aniversário dela. Por que não lhe ocorrera perguntar? — Eu lhe liguei nessa ocasião. Por que não mencionou nada? Lisa deu de ombros. — Você não me perguntou quando era o meu aniversário e não ligou nesse dia, em especial. Sentindo como se tivesse cometido um erro e fosse tarde demais para se redimir, Brick abanou a cabeça. — Com certeza eu gostaria de ter perguntado. Bem, o que você fez? Foi para casa dos seus pais comemorar? Os cílios de Lisa baixaram como persianas sobre seus olhos. — Não. Senada fez uma festinha em minha homenagem A sócia de Lisa, Senada, era mais um motivo que o levava a consumir comprimidos antiácidos. A mulher era extravagante, e ele, particularmente, não gostava de sua influência sobre Lisa, que, apesar da idade, possuía uma inocência rara que o atraía ao extremo. — Que tipo de festinha? — Nada de mais. Ela e algumas outras amigas me surpreenderam no escritório. — Com certeza ela contratou um exército de strippers masculinos — murmurou Brick baixinho. — Apenas um — respondeu Lisa. Ela pareceu perceber o ar de desaprovação no rosto dele, porque mudou de assunto depressa. — Mas o meu aniversário não é o 4
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problema. Isso só me ajudou a confirmar o que venho pensando há algum tempo. O problema é que eu quero um bebê. Brick pegou outro comprimido da réstia e o colocou na boca. — Com 30 anos, você ainda é muito jovem — Eu sei, mas não quero esperar até ter 35 ou 40, sentindo-me desesperada. — Lisa afastou os cabelos do rosto. — É difícil explicar, mas o sentimento de que quero ter um bebê agora está ficando cada vez mais forte. Seguiu-se um silêncio mortal. O único ruído audível no quarto era o som do comprimido sendo triturado pelos dentes dele. Brick sentiu o olhar expectante de Lisa sobre ele. Casamento. Os músculos do seu estômago torceram violentamente. — Não estou preparado. Outro silêncio mortal seguiu suas palavras. Lisa endireitou os ombros. — Foi o que imaginei. — A voz soou baixa e instável. Como se estivesse se preparando, ela respirou fundo e curvou os lábios em um sorriso trêmulo. — Não seria justo da minha parte tentar fazê-lo mudar de ideia e eu não ficaria feliz neste. — Lisa fez um gesto com a mão como se procurasse a palavra correta. — ... relacionamento pela metade. Portanto, é melhor pararmos por aqui. — Sua voz morreu na garganta e ela levou alguns segundos para voltar a falar. — Não sei como lhe dizer o quanto esses últimos meses significaram para mim. A convivência com você me tornou mais segura. Preciso lhe agradecer por isso e por tudo que me ensinou sobre mim mesma. — Ela desviou o olhar de modo consciente. — E por tudo que me ensinou sobre os homens. Tudo que me ensinou sobre os homens! Recuperando-se daquela última afirmação, Brick observou-a se erguer da cama e vestir o roupão, incrédulo. Lisa colocou as roupas dele sobre a cama, ao seu lado. Estava falando, mas ele não podia ouvir além do rugido em seus ouvidos. Levantando-se da cama, plantou-se na frente dela completamente nu. — Está me dando um fora! Lisa piscou. — Na verdade, eu não chamaria isso de fora — disse ela, desviando o olhar. — Você poderia se vestir? A frustração tomou conta de Brick. — Qual é o problema? Não gosta mais do meu corpo? Lisa lançou-lhe um olhar sombrio. — Eu não disse que não gostava do seu corpo. O problema é que estamos tentando conversar e com você aí pelado desse jeito não dá. Brick viu a expressão resoluta no rosto dela e soltou um palavrão. Irritado, calouse, vestiu a calça jeans e a camisa. — Se não chama isso de fora, então chama de quê? Lisa suspirou.
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— Queremos coisas diferentes. Quero uma família e um compromisso duradouro. Você quer aproveitar a vida. É estupidez continuarmos a almejar coisas um do outro que não seremos capazes de conseguir. Estive lendo alguns livros sobre o assunto e... Brick gemeu e sentou-se na cama para calçar os sapatos. Não aguentava mais aqueles livros de autoajuda para mulheres. Eles seriam a sua ruína. — ...dizem que é melhor terminar o relacionamento, nesse caso — continuou Lisa. — Levei dois meses para ser capaz de tomar esta atitude, mas acho que é melhor assim — A voz soou hesitante como se ela estivesse lutando contra as lágrimas. Brick estava lidando com uma dor surpreendentemente aguda no peito, mas ficou de pé. — Então é isso? — perguntou, ainda incapaz de compreender. — Depois de nove meses juntos, é isso? Lisa fechou os olhos, tentando se recompor. — Acho que sim — disse por fim em voz baixa, enquanto abria os olhos. — Eu desejo. — Ela comprimiu os lábios e abanou a cabeça como se tivesse feito uma promessa de não desejar mais nada em relação a ele. A cada segundo que passava, Lisa parecia ficar mais distante. Ele fora pego de surpresa e não sabia o que fazer. Fora completamente fiel a ela e o mais atencioso que sabia ser. Porém, também assumira o controle do relacionamento e sempre evitara qualquer conversa sobre compromisso. Ao mesmo tempo em que Brick lutava com a confusão em sua mente, se deu conta de que Lisa falara sério. Pretendia terminar tudo e ele não estava preparado para perdê-la. Sem saber que diabos fazer ou dizer, passou os dedos por entre os cabelos. — Posso lhe dar um beijo? Envolvendo os braços em torno do próprio peito, Lisa deu um passo atrás e negou com a cabeça novamente. — Não acho uma boa ideia. A recusa o golpeou como um punhal. — Então, por que foi comigo para... — Ele fez um gesto em direção à cama. — Eu... eu na verdade não tinha essa intenção, mas... — Mas fiquei excitado e ansioso no segundo em que a vi. Como sempre fico — concluiu desgostoso, lembrando-se da leve hesitação de Lisa, quando ele a beijou e a levou para a cama. Sentindo-se perdido, enfiou as mãos nos bolsos. — Acho que isso é um adeus. Ela o fitou com os olhos rasos d’água. — Acho que sim. Brick caminhou até a porta da frente, colocou a mão na maçaneta fria da porta e hesitou. Aquilo era loucura. Talvez pudessem conversar um pouco mais. Talvez Lisa concordasse em esperar um pouco mais. Esperar o quê?, repreendeu-o sua consciência. Ele jamais se casaria e teria filhos. No entanto, algo em seu interior se rebelava contra o pensamento de não estar mais com ela. Sem ideia do que dizer, se virou. — Lisa? — Vá embora — incitou ela. Seu corpo era mais sombra do que substância no corredor escuro, mas a voz soou firme. — Você já disse adeus. 6
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Com um gosto amargo na boca, Brick abriu a porta e saiu.
Lisa prendeu o ar nos pulmões, até ouvir o ruído dos passos dele desaparecer por completo. O pânico apertou-lhe o peito como um enorme elástico e ela começou a respirar tão rápido que temeu hiperventilar. Pegando uma sacola de papel em um armário, sob a pia da cozinha, enfiou-o sobre a cabeça. Então, se concentrou em respirar lenta e profundamente. Céus, ela fora capaz. Após dois meses de ensaios e deixando desejos fúteis morrerem, terminara seu relacionamento com Brick Pendleton. Teria sido mais fácil se ele fosse um homem superficial ou cruel, mas sabia que não era o caso. Brick fora honesto com ela desde o início. Deixara bem claro que casamento não estava em seus planos e ela aceitara aquela posição, até seus anseios crescerem e ela não poder mais escondê-los. Sabia que ele havia sido promovido a diretor de departamento, devido ao seu empenho, integridade e honestidade. Era respeitado não apenas pelos colegas de trabalho, mas por toda a comunidade. Era um homem de ação e solidariedade. Quando o Centro-Oeste sofrera terríveis inundações, ele organizara um programa de assistência que beneficiara as vítimas das enchentes e os cidadãos de Chattanooga, que assistiam à devastação no noticiário todas as noites, sentindo-se impotentes. Era um amante apaixonado e atencioso. Sempre a abraçava depois de fazerem amor e algumas vezes ela pressentia que o sentimento de realização era tão intenso tanto para um quanto para o outro. E acabara de lhe dizer adeus. — É a coisa certa a fazer — repetiu para si mesma pela centésima vez, e retirou o saco da cabeça. Depois de apagar as luzes, voltou para o quarto. A cama estava uma bagunça e o ar parecia zombar dela com o cheiro dele. Ignorando as batidas aceleradas do coração, Lisa retirou os lençóis da cama e imediatamente os jogou na máquina de lavar. Pulverizou um desodorizante de ambientes no cômodo, até quase se sufocar com a fragrância, frescor da primavera. Lisa seria a primeira a admitir que nunca se sentira confortável com os homens. Desde criança, sempre fora a garota mais alta da turma e nunca lidara muito bem com a altura, até alguns anos atrás, quando parara de se esforçar para descobrir como atrair o sexo oposto. Ironicamente, ao mesmo tempo, os homens começaram a notá-la, mas estava empenhada em fazer de sua empresa de eventos um sucesso. Com exceção de alguns encontros ocasionais, focava seu tempo e energia na carreira. Era algo sobre o que achava que detinha uma medida de controle e que lhe proporcionava a maior empolgação que já havia experimentado. Até Brick aparecer em sua vida. Quando começou a namorá-lo, uma amiga a avisou de que ela estava brincando com fogo. Na ocasião, ela achou graça e imaginou que a mulher estivesse fazendo um pequeno trocadilho, já que Brick era um especialista em implosões. Agora, no entanto, sabia a verdade. Ele revirara sua vida de cabeça para baixo, deixando-a bastante consciente de sua sexualidade e, por fim, de sua feminilidade.
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Embora tivesse ficado chocado ao saber, ele fora o responsável por lhe despertar a vontade de formar uma família. Durante anos, enterrara suas vontades e anseios secretos sob uma fachada de praticidade, mas agora não podia mais ignorar os desejos da verdadeira Lisa. A verdadeira Lisa queria um marido e um bebê. De acordo com os cinco livros que lera nos últimos meses, não havia nenhuma razão para não conseguir o que desejava. Só precisava de um pouco de estratégia e bastante senso prático, começando com o fim de seu relacionamento com Brick. Lisa olhou para os conjuntos de lençóis em seu armário e experimentou uma estranha sensação. Brick havia feito amor com ela sobre quase todos, exceto um. Lutando desesperadamente contra uma onda de melancolia, pegou o lençol novo e o colocou na cama queen-size. Em seguida, tomou um banho, em uma tentativa de apagar da memória os últimos momentos que passara nos braços dele. Com os dentes escovados e os cabelos secos, apagou a luz e se aninhou embaixo das cobertas. O lençol estava enrugado, a ponto de lhe arranhar a pele, sua cabeça latejava devido ao perfume doce do desodorizante de ambientes, os olhos ardiam de tanto conter as lágrimas, o peito apertava de tanta tristeza e o coração, oh Deus, o coração simplesmente doía. De repente, tudo se tornou insuportável. Lisa fechou os olhos contra as lágrimas quentes que lhe escorriam pelo rosto. Os soluços faziam seu corpo estremecer. Sempre soube que iria doer, mas jamais imaginou que se sentiria dilacerada. A tentativa de desodorizar a casa e lavar as roupas de cama podia banir Brick do ambiente. Mas como poderia arrancá-lo de dentro do peito?
Três semanas mais tarde, Lisa saiu com Mark, um belo e pacato advogado que com certeza daria um excelente marido. Embora não sentisse a menor atração por ele, estava determinada a manter a mente aberta. Depois de assistirem a um filme, foram ao bar onde ela conhecera Brick. Ficou tensa no momento em que pôs os pés no lugar. Havia feito o possível para evitar Brick e os lugares que os dois costumavam frequentar. Trêmula, pediu uma marguerita para acalmar os nervos. Sentiu um estranho misto de decepção e alívio quando não viu Brick no interior e começou a conversar sobre assuntos triviais com o sério advogado fiscal. Avistando um colega de trabalho, seu acompanhante pediu licença para se afastar por alguns instantes. Em sua ausência, Lisa olhou para a mesa e facilmente lembrou as dezenas de razões pelas quais sempre odiara o primeiro encontro. — Como tem passado, Lisa? — Uma voz baixa e rouca atraiu sua atenção para longe do tampo da mesa. Erguendo a cabeça, viu Brick, com seus cabelos castanhos despenteados e olhar interrogativo. A lembrança do momento em que se conheceram a atingiu como um ciclone. Ele administrava sua altura com extrema naturalidade. Essa foi a primeira coisa que a impressionou. Fora difícil parar de fitá-lo, enquanto ele estava no bar, do outro lado do salão. E ficara chocada ao vê-lo retribuir seus olhares. Havia uma mulher ao lado dele, tentando chamar sua atenção, o que não era de admirar. Brick, no entanto, se portara de modo educado e distante, enquanto terminava de beber uma garrafa de cerveja. Lisa começara a se sentir tão desconfortável que deliberadamente desviou o olhar e pensou em pedir desculpas às amigas e sair. E, quando ele surgiu ao lado de sua 8
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mesa, com um sorriso nos lábios que dizia “sou inofensivo”, e um par de olhos violeta que expressavam “você é minha”, ela mal conseguiu respirar, quanto mais falar. Naquele momento, os olhos violeta pareciam expressar a mesma coisa, mas em seus lábios não havia o sorriso inofensivo e divertido. Não sabia se era medo, paixão ou loucura, mas seu pulso começou a latejar duas vezes mais rápido. Brick usava uma camisa branca com os primeiros botões abertos e as mangas casualmente arregaçadas até os cotovelos. A cor da luz ambiente lhe enfatizava o bronzeado, atraindo o olhar de Lisa para a base do pescoço dele, onde sabia que ele era mais sensível. Os dois costumavam fazer um jogo em que ela lhe beijava a garganta e ele tentava não rir. Em seguida, permitiu que seu olhar recaísse sobre aqueles braços fortes, que tantas vezes a ergueram e a carregaram como se ela não pesasse mais do que uma criança. Não mais. Lisa ofegou e percebeu todas as emoções, que tentava manter escondidas, aflorarem. Por um terrível momento, sentiu uma estranha vontade de chorar. Chocada com o pensamento, engoliu em seco, clareou a garganta e lembrou que Brick lhe fizera uma pergunta. — Bem — conseguiu dizer. — E você? Ele deu de ombros. — Bastante ocupado no trabalho. Eu lhe liguei algumas vezes, mas sempre caía na secretária eletrônica. — Ele apoiou o pé sobre a plataforma onde a mesa estava localizada e se inclinou para frente. A posição bloqueava a visão do restante do salão e de alguma maneira fazia a conversa parecer mais íntima. Lisa se afastou um pouco para trás. — Sim... bem... — Minha irmã é proprietária de um barco no Condado de Beulah. Ela vai fazer uma reuniãozinha familiar com meus seis irmãos e eu gostaria que você me acompanhasse. — Eu não sabia que você tinha uma irmã e seis irmãos — disse Lisa, chocada pela simples informação pessoal tê-la afetado de tal forma. — Acho que nunca cheguei a lhe dizer. Isso teria importância? Isso teria? Lisa hesitou. Sempre tivera a impressão de que Brick mantinha sua vida estritamente dividida em diferentes áreas, que raramente se sobrepunham Compartilhava algumas informações sobre a profissão com ela, mas nada sobre a família. Isso a magoava. Era mais uma prova de que não levava o relacionamento dos dois a sério. — Não sei. — Ouça, Lisa, eu estive pensando... Bastante. — Pousando a mão sobre a dela, fitou-a no fundo dos olhos. Sua voz se aprofundou. — Também senti muito a sua falta. O coração de Lisa bateu acelerado contra as costelas. — Vivemos algo muito bom e tudo terminou em menos de um minuto — continuou ele. — Sequer consideramos as possibilidades. Lisa podia se sentir afundando sob o feitiço de Brick novamente, e sabia o que aconteceria se o fizesse. Apenas o toque da mão dele a fazia tremer e a expressão naqueles olhos violeta era capaz de derreter aço. Se seguisse o coração, acabaria na 9
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cama com ele, dentro de 30 minutos. Seriam momentos de sexo incrível. Seus seios enrijeceram ao mero pensamento. No entanto, depois que tudo acabasse, ele se esquivaria de qualquer conversa mais séria, e ela se sentiria emocionalmente frustrada. — Não acho que... — Ela pausou, sentindo-se ao mesmo tempo aliviada e tensa ao ver Mark caminhando em direção à mesa. — Meu acompanhante está voltando. Brick arregalou os olhos. — Acompanhante? Lisa sorriu e afastou a mão. — Mark Lawford, este é Brick Pendleton. Ele é um.. — Ambos os homens a fitaram em expectativa. — ... um especialista em demolições — concluiu, meio sem jeito. Brick a fitou, atônito. — Como assim? — perguntou Mark, estendendo a mão. — Você explode prédios para viver? Brick desviou o olhar de Lisa e apertou a mão de Mark. — Na verdade, não. Costumo trabalhar mais com desmonte de rochas — disse ele, ainda surpreso pela forma como Lisa o descrevera. Especialista em demolições. Não um ex-namorado, amigo ou o homem que conhecia cada centímetro do seu corpo. Respirou fundo e lentamente. Orgulhava-se de ter um ótimo senso de humor, mas seu sorriso parecia um pouco forçado. — Uso explosivos apenas de vez em quando. A maior parte do meu trabalho é feita com máquinas. — Deve ser algo fascinante. Ei, não quer se sentar conosco? Vou lhe oferecer uma bebida e você pode nos contar algumas de suas histórias de guerra. Brick olhou para Lisa. Ela abanou a cabeça de modo sutil e desesperado. Ele hesitou. Se fosse um rapaz simpático e educado, agradeceria o convite, pediria licença e se afastaria, mas não estava se sentindo particularmente educado no momento. Então, puxou uma cadeira em frente à Lisa e sentou-se. — Por mim, tudo bem. Vou aceitar uma cerveja e lhe contar quantas histórias você quiser. Durante a hora seguinte, Brick compartilhou algumas histórias com Mark e Lisa. Notou que ela evitava fitá-lo e, toda vez que isso acontecia, ele lutava contra o desejo perverso de fazer algo para chamar sua atenção. Não suportaria vê-la em um relacionamento sério com Mark. Na verdade, não suportaria vê-la em um relacionamento sério com ninguém, além dele. E recusava-se a considerar a possibilidade de ela ir para cama com outro homem. Remexeu-se um pouco na cadeira, roçando-lhe os joelhos com os seus. Lisa recuou e desviou o olhar novamente. Sentindo uma pontada de impaciência, Brick tomou um gole de cerveja. — Então, que filme vocês viram? Mark informou o título do filme de ação e Lisa brincou com o relógio. Fazia o possível para ignorá-lo e ele estava cansado de ser ignorado. — Você fechou os olhos durante as cenas de tiroteio? — Ele a provocou. Se estivesse sentado ao seu lado, teria lhe apertado a cintura. Em vez disso, estendeu os pés, um de cada lado dos dela, aproximando as pernas o suficiente para fazê-la ciente de sua presença. O olhar assustado de Lisa por fim encontrou o seu.
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Ela lutou para se livrar. O roçar do brim, a força e o calor das pernas que envolviam as suas fizeram-lhe o sangue ferver nas veias. — Mantive os olhos abertos, exceto por duas vezes — admitiu ela, encarando-o, quando conseguiu libertar as pernas. Intrigado, Mark olhou para Brick depois para Lisa. — Você não me disse como se conheceram. Tentando salvar o que podia daquele desastroso encontro, Lisa forçou um sorriso e disse em um tom casual: — Por acaso, nós nos conhecemos bem aqui, cerca de nove meses atrás. Ela lançou um olhar de advertência a Brick. Os olhos dele brilharam perigosamente. — Nove meses e 23 dias — corrigiu. — E isso foi apenas o começo.
CAPÍTULO 2
— Ele é meio magricela — disse Brick 45 minutos depois, quando Lisa abriu a porta do seu apartamento. — Todo mundo parece magricela para você — respondeu, sem esconder a exasperação. Momentos antes, no bar, Mark Lawford percebera o tom de Brick e a fitara com um olhar interrogativo. A vergonha foi tão grande que ela não conseguiu sequer rezar para formular uma resposta adequada. Não estava satisfeita com a sensação de alívio que sentira quando Mark não lhe dera um beijo de “boa-noite” Não estava satisfeita por seu primeiro encontro “com um objetivo” ter terminado de modo tão desastroso. E não estava satisfeita por não saber se se sentia mais irritada com Brick ou consigo mesma. Jamais o teria deixado entrar em sua casa, mas ele alegara estar com o seu caderno de endereços e, após uma boa verificação na bolsa, ela constatou a falta do caderninho, que era uma das chaves para a sua busca por um marido. Nas mãos erradas, as informações que continha seriam humilhantes. Lisa estendeu a mão. — Onde está meu caderno de endereços? — Daqui a pouco — prometeu ele. — Vamos tomar uma bebida e conversar um pouco, antes. — Ele passou por ela e entrou na pequena sala. Lisa apertou a maçaneta da porta com mais força e fechou os olhos, frustrada. Estava se saindo bem em seu empenho para superar o fim do relacionamento com Brick e começar a procurar o futuro pai dos seus filhos, até bater de frente com o ex-namorado no bar. Ex-namorado. O pensamento causou-lhe um frio na barriga. Fechou a porta mental e fisicamente. Determinada a se livrar de Brick, virou-se e entrou na sala.
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— Não vou lhe oferecer uma bebida — disse com os dentes cerrados para o homem que descansava no sofá. — Vou lhe pedir o meu caderno de endereços, agradecer, acompanhá-lo até a porta e lhe desejar boa-noite. Esse é o plano. Entendeu? Brick fitou-a nos olhos por um longo momento. Após parecer avaliar sua determinação, franziu a testa e retirou do bolso o pequeno caderno com capa de tecido. Então, se ergueu do sofá. — O que significam as três estrelas? Humilhada, Lisa sentiu o rosto em brasa e arrancou o caderninho das mãos dele. — Nada com que você precise se preocupar. — Ah, mas eu me preocupo com você. — Brick deu um passo à frente e olhou para ela. — Às vezes, me pego desejando saber se você está promovendo muitos eventos, se está se esquecendo de jantar, se está trabalhando demais e se divertindo de menos. Lisa tentou não deixar que aquela preocupação esmorecesse sua resolução. — Jantei esta noite e saí para me divertir com o Mark. Levando em consideração a expressão de descrença no rosto de Brick, ele devia ter percebido que o último comentário foi um tanto forçado, mas deixou passar. — Fico me perguntando se você deu ré e bateu em alguma coisa esta semana... ? Lisa contraiu os lábios. Brick sabia bastante sobre ela, incluindo o pequeno problema em dar a ré com o carro. Naquela manhã mesmo, ela quase ficara sem a caixa de correio. — Não bati em nada. Ele fez uma pausa, sua expressão parecendo totalmente sincera. — Desde que você me expulsou do seu apartamento, depois de fazermos amor loucamente. A lembrança murmurada por aquela voz baixa e rouca chamuscou-a da cabeça aos pés. Respirando fundo, Lisa deu um passo atrás. — Não o expulsei. Não vivíamos juntos ou coisa parecida. Brick se aproximou e ergueu-lhe uma mecha de cabelo. — Então, que nome dá a isto? — Eu... eu... — Ela engoliu com dificuldade. Sua proximidade a afetava como se tivesse emergido rápido demais, após um mergulho em alto-mar. Brick avaliou-a da cabeça aos pés. Parecia querer tocá-la em todos os lugares que olhava. Lisa teve a impressão de que seu corpo derreteu. — Eu apenas o convidei a se retirar — conseguiu dizer com a voz tensa. Brick ergueu uma sobrancelha e enredou os dedos nos cabelos dela. — Da próxima vez, acho que terei que recusar o convite — disse em um tom baixo. Com o polegar roçou-lhe a curva suave da mandíbula e Lisa lutou para resistir à tentação de encostar o rosto na palma daquela mão forte. — Da próxima vez não vou convidar. Da próxima vez vou... Cobrindo-lhe os lábios com a ponta do dedo, ele calou-lhe a ameaça. — Senti sua falta. 12
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Lisa respirou fundo. As palavras diretas e simples tiveram o impacto de uma bomba detonando em seu interior. — Senti falta de abraçá-la, de beijá-la, de fazer amor com você — continuou Brick. — E senti falta das nossas conversas. — Abaixando a cabeça, encostou a testa à dela, fazendo-a não apenas ouvir as suas palavras, como também senti-las. Ele afastou o polegar dos seus lábios e, com uma das mãos, envolveu-a pela cintura. — Diga a verdade. Não sentiu a minha falta? Lisa experimentou uma onda de emoção tão intensa que mal conseguia encará-lo. Então, fechou os olhos. — Oh, Brick — murmurou. No instante seguinte, ele se apoderou de sua boca, introduzindo a língua por entre os lábios úmidos e entreabertos. Os joelhos de Lisa bambearam Era um beijo estilo “não consigo viver sem você”, envolto em terna sedução. Ela o envolveu pelo pescoço e um segundo depois estava em seus braços fortes. Com as mãos, Brick pressionou-lhe os quadris, trazendo-a de encontro a sua masculinidade, para que o sentisse intimamente. O coração de Lisa quase explodiu. Sentira falta dele daquela forma, também. Falta dos seus braços calorosos, falta do seu beijo ardente e do modo explícito como demonstrava todo o desejo por ela, um desejo que queria que ela satisfizesse. Uma excitação não diluída invadiu-lhe o corpo como uísque puro, roubando-lhe o ar e a sanidade. Suas coxas formigavam, uma dor inquietante se apossou do seu ventre, e, instintivamente, ela desejou tocar-lhe a ereção. Brick gostava que ela o tacasse. Sua mão desceu devagar pelos contornos do peito firme, até lhe alcançar o abdômen. Ele soltou um gemido encorajador que vibrou por entre os lábios dela. Lisa correu os dedos, aproximando-os da área de extrema sensibilidade. Ansioso pelo contato, Brick moveu a pélvis em direção a sua mão e parou de beijála, para descer os lábios úmidos pelos seus ombros, a respiração irregular acompanhando a dela. — Deus, como senti sua falta. Faz tanto tempo. Deixe-me levá-la para a cama. A palavra cama atingiu-a como dois címbalos batendo um contra o outro, reverberando ao longo de sua consciência superaquecida. Brick ergueu a mão para acariciar-lhe os seios. Ela sentiu outra onda de excitação. — Lisa. — murmurou ele, pressionando o membro rígido contra a mão dela novamente, em busca de seu toque íntimo. A mente e o corpo de Lisa estavam em total desacordo com respeito à atitude que ela devia tomar. O que estava fazendo?, gritou sua consciência. Afastando-lhe a mão, empurrou-o para trás. Três semanas longe dele, um beijo e ela perdia a cabeça. — Oh, Deus, o que estou fazendo? — disse com a voz baixa e entrecortada. Recuou e imediatamente sentiu falta do seu calor. Lisa envolveu o peito com os braços. O corpo de Brick se rebelou contra a distância repentina entre os dois. Estendeulhe a mão, mas ela o evitou. O que acontecera? Em um minuto, Lisa era a personificação do calor feminino em seus braços; no minuto seguinte, o repelia. Balançou a cabeça para clarear a mente. Ela soava como se estivesse chorando. A suposição quase o partiu ao meio. Querendo abraçá-la, precisando abraçá-la, tocou-a no braço. 13
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— Não! — Ela parecia chocada e afastou os cabelos do rosto. — Não quero. — engolindo em seco, negou com a cabeça. — Não quero isso. Eu não queria isso. Brick fez uma pausa, absorvendo a dor rápida. — Sim, você quis. Nós dois quisemos. — Tudo bem — admitiu ela. — Meu corpo quis. — Após respirar fundo, finalmente o encarou. — Mas meu cérebro não. Isto... seja lá o que for que existe entre nós. — Ela agitou as mãos, exasperada. — É inútil. Tentei avisá-lo antes. Brick passou os dedos pelos cabelos. — Não concordo. Fazer amor com você sempre foi mais do que... — Não é a isso que me refiro. — Seus olhos escureceram — É maravilhoso. Sempre foi maravilhoso, mas quando termina... — Lisa suspirou e sua explicação se desvaneceu. — Quando termina, o que acontece? — perguntou ele, sentindo uma pontada de remorso. Teria sido tão insensível a ponto de subestimar o prazer dela? Deus sabia que, quando ele fazia amor com Lisa, experimentava a sensação de um incêndio nível cinco, mas sempre se preocupava em satisfazê-la plenamente. — Quando termina. — Ela começou e hesitou novamente. — Você ainda é você e eu ainda sou eu. Você continua não querendo compromisso e eu continuo querendo uma família. Vai embora no meio da madrugada e na manhã seguinte eu me sinto... — Lisa deu de ombros. — Vazia. Brick era o primeiro a admitir que a psique feminina era um completo mistério para ele. — Então, é porque não passo uma noite com você? Porque se for... — É porque eu queria que passasse todas as noites. Brick sentiu um espasmo muscular na mandíbula. A inquietação causou-lhe um desconforto no peito. Enfiou as mãos fechadas no bolso. Inferno, simplesmente não estava preparado para perder Lisa. Não queria desistir dela por enquanto. Quando vira seu nome riscado no pequeno caderno de endereços, sentiu o pânico dominá-lo. — Poderíamos viver juntos. Os olhos de Lisa se arregalaram, surpresos. A incerteza cruzou seu rosto, mas apenas por um segundo. Em seguida, ela desviou o olhar. — Acho que não — disse em voz baixa. — Lisa, talvez isso seja apenas uma fase — disse ele, expressando o que desejava, porque não podia aceitar perdê-la. — Você vem se dedicando tanto ao seu trabalho e agora, de repente, quer se casar e ter um bebê. Talvez isso tudo acabe em algumas semanas ou um mês. — Não aconteceu assim tão de repente. E não espero que você entenda, porque não creio que realmente me conheça bem o suficiente. Afrontado, Brick a fitou, incrédulo. — Que diabos. Lisa ergueu a mão. 14
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— Você me conhece sexualmente, mas não de outras formas. Outras formas que as mulheres desejam que os homens as conheçam. Com a sensação de estar afundando em mar revolto, Brick percebeu a determinação de Lisa. Era algo novo e ele não estava preparado para tal. Ela sempre fora flexível, quase maleável, e ele esperava ser capaz de convencê-la a mudar de ideia como sempre acontecera antes. Mas era como se ela tivesse enfrentado uma batalha dentro de si mesma e tivesse saído mais fortalecida por causa disso. Mesmo sendo mais alto e mais vigoroso, Brick, que era conhecido por seu poder, se viu invejando a força daquela mulher. Lisa tomara uma decisão fundamentada no que achava que era melhor para sua vida. E essa decisão envolvia deixá-lo.
Brick retirou o lenço que amarrara na cabeça, para impedir que o suor escorresse sobre seus olhos, e aceitou a cadeira e a cerveja gelada que sua irmã, Carly, lhe ofereceu. — Obrigado. Russ Bradford, seu cunhado, sentou-se em outra cadeira e fez um brinde com a própria cerveja. — Agradecemos a sua ajuda. Quando disse que viria passar o fim de semana, juro que não tinha em mente fazê-lo trabalhar até a morte. — Estou muito longe de morrer — disse Brick, embora se sentisse infeliz por dentro. Sabia que Russ precisava de ajuda, e ele, por sua vez, de algo para acalmar a inquietação em seu interior. Até aquele momento, não havia obtido êxito. — Já que estou vindo para cá tantas vezes ultimamente, pensei que seria melhor pagar minha estada de alguma forma. — Não há problema algum e você sabe disso — proferiu Carly. — Tem certeza de que não quer vir para o jantar a bordo do Matilda’s Dream? Eu poderia abrir espaço para você. — Ela sorriu. — Afinal, você foi um dos proprietários. — Um dos oito proprietários — disse ele em um tom irônico. Ele, Carly e mais seis irmãos haviam herdado o barco de uma tia. Russ comprara a parte dos irmãos e Carly o transformara em um negócio de sucesso. Brick não estava com vontade de socializar. Para ser honesto consigo mesmo, não estava com disposição para coisa alguma. — Obrigado pela oferta, mas acho que vou ficar aqui esta noite. Carly franziu o cenho, preocupada. — Os negócios vão bem? — Em franco crescimento — respondeu Brick. Ela trocou um olhar de soslaio com Russ. — Há alguma coisa que o está incomodando? Brick encolheu os ombros. — Nada que algumas cervejas e um bom banho não curem.
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— Qual é o nome dela? — perguntou Russ. Brick parou a lata a caminho dos lábios; em seguida, pousou-a sobre a mesa. Não olhou para a irmã, nem para o cunhado. Sabia o que iria ver. Russ o estaria estudando com aquela expressão absurda “agradeço se me responder”, e Carly o fitando com o semblante preocupado. E ele que pensara que podia enganar a todos. — Não é nada importante. Está tudo terminado, de qualquer maneira. — Se não é importante, então por que veio para cá cinco dos últimos seis fins de semana? Aquilo o feriu. Brick tentou não deixar transparecer e forçou um sorriso. — Ei, se estou atrapalhando, podem falar. De qualquer maneira, vou dormir do lado oposto da casa, assim só os ouvirei gritar uma ou duas vezes. A irmã mais nova não corou, apenas revirou os olhos. — Eu sabia que não conseguiríamos uma resposta direta da sua parte. A CIA poderia contratá-lo para dar aulas de como manter segredos. O relacionamento não deve ter sido sério ou a teria trazido aqui para que nós a conhecêssemos. Brick esfregou o dedo na condensação da lata. — Por que eu faria isso? Carly o fitou com uma impaciência maldisfarçada. — Porque esse é o procedimento normal. Quando você realmente se interessa por uma mulher, quer que ela conheça sua adorável irmã mais nova e seus outros seis irmãos. Não apenas quer que ela os conheça. Quer que ela goste deles, também. — Sim, bem, talvez ela não quisesse conhecer a minha família. — Um pesado silêncio se instalou no recinto e Brick olhou para cima para encontrar o olhar da irmã. — E talvez eu tenha esperado até ser tarde demais.
No dia seguinte Brick voltou para Chattanooga com as palavras de Russ ecoando nos ouvidos: Tarde demais é quando ela tem a aliança de casamento de outra pessoa no dedo. Nunca perdera tempo pensando por que não queria se casar, porque era uma das coisas que decidira quando tinha apenas 12 anos de idade. Sua mãe havia morrido e o pai bem que poderia ter se juntado a ela. Para o bem das crianças ele se casara novamente com uma mulher azeda, que se tornara mais azeda ainda, por não ter o amor do marido. Carly passara um ano sofrendo de gagueira, e seu irmão mais velho, Daniel, se transformara em um velho antes do tempo. A madrasta quase acabara com Garth. Brick vira a família desmoronar e, em meio a tudo isso, se sentia perdido. Sua mãe era o fio de seda de felicidade que os manteve unidos. Quando ela morreu ele ficou com raiva. E a raiva se transformou em medo, quando viu o que a morte dela causou ao seu pai, que a amava demais. Essa constatação pareceu brotar do fundo de sua alma. Ao pensar em casamento, experimentava uma reação física e visceral. Sua pele transpirava, a boca ficava seca, sentia vontade de vomitar. Até mesmo naquele momento, enquanto dirigia em Chattanooga, percebeu que o poderoso nervosismo ia além de uma 16
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simples aversão. No passado, sempre o atribuía aos excepcionais instintos de sobrevivência masculinos. Porém, uma vez que dois de seus irmãos e sua irmã, Carly, mergulharam de cabeça na paixão e se casaram, fora forçado a reavaliar esse ponto de vista. Daniel vinha agindo como uma criança fora da escola desde que se casara com Sara Kingston, alguns meses antes. Brick não teria acreditado, mas desde que Garth se envolvera com Erin Lindsey parecia mais feliz do que nunca. E Carly estava muito contente com seu casamento com Russ. Mas ele se lembrou de um amigo que trabalhava na construção civil, que costumava trabalhar sobre vigas a uma enorme altura, até que um dia caiu. Depois disso, até mesmo o pensamento de voltar a subir o fazia suar frio. Por uma fração de segundos, Brick se perguntou se um homem poderia desenvolver o mesmo tipo clínico de medo ao casamento. Bufou em descrença. Fobia a casamento? Caia na real. Como chamariam aquilo? Dez minutos depois, estava cruzando o estacionamento do condomínio de Lisa. Após notar que o carro dela estava estacionado lá, tocou a campainha. O dia estava quente, então decidiu conferir a piscina também. Sabia que Lisa geralmente fazia uma pausa no trabalho, nas tardes de domingo. Ela estava estendida em uma espreguiçadeira, passando protetor solar no corpo quase desnudo. Tinha os cabelos soltos e um enorme par de óculos de sol, com armações brancas, sobre o nariz. Usava um maiô lilás, com motivos florais e tiras finas que sustentavam o corpete deliciosamente robusto. O traje era decotado na frente e cavado nas coxas o suficiente para Brick cogitar tomar uma aspirina para reduzir o aumento repentino da temperatura corporal. Ficou com a boca cheia de água só de olhar para ela. Será que as mulheres não percebiam que uma das dez fantasias favoritas dos homens, geralmente, era tirar-lhes o maiô, ensaboá-las com algo escorregadio e esperar que elas retribuíssem o favor? Mergulhando a mão na piscina, espirrou um pouco de água no rosto e caminhou na direção dela. Ele sacudiu a cabeça. Bastava olhá-la para ficar louco de desejo. — Precisa de ajuda? — ofereceu-se. Lisa virou o rosto para fitá-lo. Brick viu uma faísca de emoção e reconhecimento cintilar em seus olhos verdes, pouco antes de ela empurrar os óculos de volta ao lugar. Esperando não estar enganado, puxou uma cadeira e sentou-se. — Não. Já estou quase acabando. — Lisa espalhou o produto sobre os ombros uma última vez. Brick notou um pingo de loção sobre a curva superior do seu seio esquerdo e sentiu uma inveja ridícula do protetor solar. Não a tocava intimamente há mais de um mês. — Você se esqueceu de espalhar ali. Ela olhou para frente, os óculos escorregando do nariz novamente. — Onde? Brick baixou a voz. — Onde costumava me deixar tocá-la.
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Lisa ficou completamente imóvel. Olhou para as coxas e depois para Brick. A lembrança das mãos dele acariciando-a, excitando-a, até ela arquear o corpo em sua direção, e as pernas musculosas roçando a suavidade das suas coxas, enquanto ele a penetrava lentamente, foi o suficiente para deixá-la excitada. Com uma velocidade devastadora, sentiu o início da reação automática do seu corpo. Mordendo o interior da bochecha, respirou fundo e ajeitou os óculos sobre o nariz outra vez. — Oh, pelo amor de Deus! Onde está? Antes que Lisa pudesse piscar, Brick colocou um dedo em seu seio e suavemente espalhou o pingo de loção. Em segundos, ela sentiu o ataque sensual do dedo dele e ficou impressionada com o fascínio que seu olhar sexy não escondia. Então, ele afastou a mão, e ela tentou fazer com que seu cérebro voltasse a funcionar. — Não quero que você se queime — disse ele. Lisa pigarreou. Tampou o frasco de loção e o jogou na bolsa. — Não, eu, hã... o que está fazendo aqui? Brick deu de ombros. — Acabei de voltar do Condado de Beulah e pensei em vir ver como vai a... — Ele fez uma pausa, imaginando que palavra usar. — ... sua busca? Lisa se deitou outra vez na espreguiçadeira e fechou os olhos. Talvez, se não olhasse para ele, sua frequência cardíaca se acalmasse. — Está indo bem. Tenho um encontro hoje à noite. — É um homem três estrelas? Lisa recusava-se a se sentir embaraçada com aquele assunto outra vez. — É claro. — Você nunca me disse o que significavam as três estrelas. — Verdade. Mas não é da sua conta — disse em um tom jovial. — Deve ser muito conveniente ser capaz de desligar e ligar seus sentimentos, como uma torneira. Eu não tive a mesma sorte. Lisa piscou e o fitou. Suas palavras a abalaram. — Oh, pelo amor de Deus, eu nunca... — Só porque vai se casar com outro homem não significa que não podemos ser amigos, não é? — Ele proferiu as palavras e sentiu como se tivesse mastigado pregos. A súbita expressão confusa no rosto de Lisa o teria divertido, se não estivesse lutando pela própria vida. — Amigos? — repetiu ela timidamente, como se fosse uma palavra nova. — Claro. É bem melhor do que sermos inimigos. — E melhor do que nada, acrescentou para si mesmo. — Na verdade, nunca fomos amigos — disse Lisa, a voz cheia de ceticismo. Brick teve que se esforçar para lidar com aquele golpe. — Com todos esses... — Ele forçou a palavra repugnante a sair. — ... candidatos, seria bom ter um amigo por perto, alguém que você conhece há muito tempo, alguém que a conhece, alguém a quem não precisa impressionar. — Ele sorriu. — Alguém a quem você possa revelar o significado das três estrelas. 18
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Ela riu e abanou a cabeça. — Você é louco. — Ora, vamos. — Brick empregou um pouco de ousadia na voz. — Se eu fosse seu amigo, você me revelaria, não é? Lisa hesitou, parecendo desconfiada. Então inclinou a cabeça para um lado, e ele desejou poder lhe tirar os óculos para interpretar a expressão dos seus olhos. Ela exalou um suspiro. — Tudo bem. As três estrelas significam que o homem gosta de mulheres e crianças, e não se opõe à ideia de casamento. — E o dinheiro, aparência, idade e sexo? Lisa deu de ombros. — São qualidades secundárias em relação às outras três. Idade e aparência podem ser resolvidas no primeiro encontro, dinheiro, no segundo, e sexo... Ele sentiu um frio na barriga. — Sexo seria o último. Sexo com outro homem não aconteceria nunca, no que dependesse de Brick. Ele esfregou a mão sobre a boca, contendo-se. — Falando assim, dá a impressão de que é um plano — murmurou. — E é. O livro que estive lendo diz que você pode se casar em menos de dois anos. Fala sobre como manter uma atitude prática e utilizar seus recursos. O livro novamente. — Usar seus recursos? Ela assentiu. — Um dos fatos mais interessantes relatados é que muitos casais são apresentados por amigos em comum, de modo que o autor sugeriu que você diga a todos os seus amigos que está procurando e peça para ser recomendada. Lisa o fitou e uma estranha expressão cruzou-lhe o rosto. Brick experimentou um pressentimento ainda mais estranho. No fundo da mente, quase podia ouvir o cão de uma espingarda. Ela se inclinou para frente e os óculos escuros escorregaram novamente, propiciando-lhe uma visão da total sinceridade em seus olhos. Os lábios se curvaram em um sorriso lento, projetado para derrubar um homem a 50 passos. E Brick se encontrava a um passo e meio de distância. — Diga-me, Brick — disse ela em um tom doce — , você pode me recomendar a algum dos seus amigos para ser o pai dos meus filhos?
CAPÍTULO 3
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Foi como se Lisa lhe tivesse dado um tiro. Calado, Brick fitou-a por um minuto. — Você ouviu o que eu disse? — inquiriu ela. — Perguntei-lhe se. — Eu ouvi — finalmente conseguiu dizer, pensando que poderia ingerir uma dose dupla de uísque, naquele momento. Para onde havia ido aquela brisa agradável?, perguntou-se enquanto afrouxava o colarinho. — Terei que pensar sobre o assunto e depois lhe falar. Não costumo avaliar meus amigos sobre o aspecto da paternidade. — É, acho que não — admitiu ela, e esborrifou com um frasco um pouco de água fresca no pescoço. O olhar de Brick se deteve nas gotículas brilhantes que lhe pontilhavam os seios. Queria lamber cada uma, esborrifar mais um pouco de água e lamber outra vez, até sua sede ser, pelo menos temporariamente, saciada. Em vez disso, umedeceu os lábios e virou-se para a piscina onde um casal de crianças brincava. — Soa como se você tivesse tudo isso planejado. — Algumas coisas. — Lisa retirou uma folha de papel da sacola. — Recebi isto pelo correio outro dia. Brick inclinou-se para frente para ler. — “Encontre seu amor verdadeiro, não um romance passageiro.” Serviço de encontros? — perguntou ele, incapaz de esconder seu espanto. — Você enlouqueceu? Terá todos os maníacos do Tennessee lhe ligando dia e noite. Lisa empinou o queixo, obstinada. — É apenas uma das minhas opções. Senada também... — Senada! Quando o queixo de Lisa se ergueu mais alguns centímetros, Brick mordeu a língua, entrelaçou os dedos e estalou todos de uma só vez. — Ela conhece muitos homens. — Isso para não dizer coisa pior — murmurou ele. — Ela sabe muito mais sobre os homens do que eu e... — Você sempre soube o suficiente para mim — observou ele com a voz aveludada. — E o que não sabia, eu com certeza adorava lhe ensinar. O coração de Lisa ameaçou parar e. em seguida, começou a vibrar em um ritmo frenético. A conversa centrada em sua busca por um marido servia como um escudo de proteção, porque se sentia mais do que exposta sob o olhar de Brick. Sentia-se praticamente nua. Toda vez que aqueles olhos ávidos a fitavam, ela se sentia acariciada. Brick teria notado a sua dificuldade em respirar? Podia sentir a forma como seus mamilos formigavam? Sabia sobre o calor úmido e traiçoeiro que se intensificava dentro dela, porque seu corpo simplesmente não era capaz de esquecer os momentos de amor com ele? Naquele instante, ele a olhava como se ela fosse a única mulher no mundo e, apesar de toda a sua resolução, Lisa sentiu a boca seca pelo efeito inebriante que ele lhe causava. — Você não entende. Senada tem muito mais experiência. — Eu sei — disse ele, seco. 20
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— Não. — Ela suspirou. — Deixe-me explicar. Senada era o tipo de garota que recebeu cinco propostas para o baile de formatura. — E? — Brick aguardou o restante da história. Algo lhe dizia que seria importante. — E eu não recebi nenhuma — admitiu Lisa com relutância. — Frequentava a National Honor Society, fazia aulas de piano e ia à igreja como uma boa menina. Era excelente aluna, mas, quando se tratava de rapazes, era... — Tímida — concluiu ele, sentindo uma pontada de compaixão. De repente, recordou-se de algumas meninas da sua própria escola que se mostravam tímidas e desajeitadas com o sexo oposto. Eram sempre as últimas a ser escolhidas para encontros, porque os rapazes percebiam essa insegurança. — Tímida é uma palavra muito generosa. — Não está mais na escola, Lisa. — Eu sei — concordou ela em um tom suave. — Sou adulta com corpo, mente e desejos de uma mulher. — Um sorriso triste curvou-lhe os lábios. — Mas ainda possuo o coração de uma menina, e Senada me disse que tenho muito para oferecer ao homem certo. Só preciso encontrá-lo. Brick teve a impressão de que ela acabara de parti-lo em dois. Estreitou o olhar, tentando conter a dor aguda que o acometia. Deixara de lhe contar tantas coisas. Em sua busca por se manter livre, sem compromissos, conseguira ser tão cego quanto um morcego em relação às vulnerabilidades de Lisa. Ela era uma mulher sensível, bonita por dentro e por fora, e, se ele tivesse agido corretamente, talvez ela não estivesse ali, sonhando em encontrar o homem certo. Se houvesse tido juízo, Lisa estaria em seus braços e ele não se sentiria como se alguém lhe tivesse arrancado as vísceras. Então, resolveu dar o primeiro passo em uma nova direção. Tirou-lhe os óculos, ergueu-lhe o queixo e fitou-a nos olhos. — Você é tão bonita — disse, ouvindo a aspereza na própria voz. — Não tenho palavras para descrevê-la. Não importa o que acontecer, nunca se esqueça disso. — Ele apertou-lhe o queixo de leve, quando ela tentou virar o rosto. — Nunca. Um longo momento se passou. Ao fundo, ouvia-se o som de crianças brincando na água. Em algum canto da mente, Brick ouviu uma mãe repreendendo um filho. No momento, nada tinha valor se ela não acreditasse nele. Lisa mordeu o lábio e suas pálpebras tremularam — Não creio que eu consiga esquecer. — Então, como se não pudesse mais suportar a intensidade que ele emanava, afastou o queixo e rapidamente se ergueu, pelo outro lado da espreguiçadeira. — Acho que preciso me refrescar. Brick assentiu e se pôs de pé. Com a mente cheia e o coração pesado, observou-a mergulhar na água. A irônica constatação de que passara sua vida profissional derrubando coisas e destruindo-as o fez sentir um aperto no peito. Era um especialista no que fazia. Inferno, não podia entrar em um prédio sem olhar para os pontos fracos e descobrir como demoli-lo. Olhou para Lisa e a pontada de saudade em seu interior se intensificou. Se de fato desejava ter Lisa, então, pela primeira vez em sua vida teria que recuperar o relacionamento dos dois e torná-lo mais sério do que antes.
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— Então, o último era interessante? — perguntou Senada, sentando-se na beirada da mesa de Lisa e cruzando as pernas. Lisa afastou os documentos depressa do caminho da sua extravagante sócia. Senada Calhoun, que havia herdado os longos cabelos escuros, a pele bronzeada e os grandes olhos castanhos da mãe, porto-riquenha, também herdara a habilidade do pai texano para flertar. Desse modo, atraía os homens com a mesma facilidade que os humanos normais escovavam os dentes. Respondendo ao apelido de Sin Senada ria e se divertia, mas não levava nenhum homem a sério. No entanto, começara a nutrir um interesse bastante pessoal na busca da sócia para encontrar um marido. Lisa fez uma careta ao se lembrar de seu mais recente encontro. — Ele era interessante — disse, evasiva. Senada arqueou uma sobrancelha escura. — Interessante é uma maneira educada de dizer que ele era um fracasso. Lisa endireitou os papéis. — Eu não diria que era um fracasso, mas não creio que combinaríamos. Ele é atraente, mas acho que gosta demais de mulher. Um ano atrás, se uniu àquele novo grupo com estilo de vida alternativo, em que o valor espiritual de um homem é medido pelo número de esposas que ele tem. — Você é muito gentil. O miserável deve ser casado — concluiu Senada, sem surpresa. — Não. Ele está esperando se casar com seis mulheres diferentes dentro do próximo ano. — Lisa sacudiu a cabeça, lembrando o desespero que sentiu quando o homem mencionou os benefícios de ter múltiplos cônjuges. — Estou me esforçando para ser flexível, mas poligamia é inaceitável. — E quanto ao da quinta-feira à noite? — Era bom Cinco centímetros mais baixo que eu. — Lisa desviou o olhar do brilho de divertimento nos olhos de Senada. — Sei que aparência não tem importância, mas. Senada riu. — Não precisa se desculpar comigo, chica. Tem tido notícias do Rock? Lisa sufocou uma risada. — Brick. Seu nome é Brick. — Desde que ela havia terminado com Brick, a sócia com frequência confundia o nome dele. Ela já estava começando a acreditar que era de propósito. Senada deu de ombros. — Brick, Rock... dá tudo no mesmo. — A última vez que o vi foi no domingo. — Lisa percebeu a expressão de censura no rosto de Senada e se apressou em explicar. — Ele disse que quer ser meu amigo. — Ainda não estava certa de como se sentia em relação àquela proposta. — Aham — disse Senada, a voz soando repleta de descrença. — Você concordou e seu coraçãozinho começou a bater porque ainda... — Eu não concordei — interrompeu Lisa, desesperada para não ouvir o restante da afirmação em voz alta. — E o meu coração estava batendo o tempo todo. Caso contrário, eu estaria morta. Senada suspirou. 22
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— Você realmente parece gostar desse tipo não muito civilizado “eu decido meu próprio destino”. — Ela estreitou os olhos e fez uma pausa, em seguida seus lábios se curvaram em um sorriso lento. — Acho que posso encontrar o homem perfeito para você. O homem perfeito ficaria fora da cidade durante as próximas semanas, desse modo Lisa aceitou algumas outras recomendações feitas por Senada. Entre recepções de casamento, jantares, festas de formatura e encontros com um objetivo, sentiu-se tentada o suficiente a aceitar um convite de Brick para participar de uma feira anual realizada no Condado de Beulah. Disse a si mesma que era para provar que os dois eram realmente amigos. A parte emocional da relação era passado, terminara para sempre. O pensamento provocou-lhe uma pontada de pesar, mas ela procurou ignorá-la. Também disse a si mesma que não estava nem um pouco curiosa sobre a família dele. Na feira, no entanto, ficou impressionada com a visão de todos aqueles Pendleton reunidos ao redor do carro de Brick. Quatro homens altos de diferentes idades, com cabelos escuros e olhos com o mesmo tom violeta de Brick, estavam acompanhados por três mulheres, duas das quais pareciam grávidas. Quando Lisa percebeu as diferenças entre Brick e os irmãos, notou que ele era o mais alto de todos, seus cabelos possuíam uma tonalidade um pouco mais clara e ele emanava uma virilidade sutil que se traduzia em puro sex appeal. A atração era tão forte que, mesmo com todas aquelas pessoas ao seu redor, precisou se esforçar para desviar a atenção dele. Demorou alguns instantes, mas reconheceu a versão feminina dos Pendleton como a jovem, magra, que não estava grávida. Brick instintivamente pôs a mão em suas costas, enquanto fazia as apresentações. — Esta é Lisa Ransom Ela é... — O quê? A mulher que lhe destruíra a saúde mental. A mulher que o deixara porque ele não era capaz de assumir um compromisso. A mulher que planejava se casar com qualquer outro, menos com ele, o mais rápido possível. Brick começou a suar frio. — Sou uma amiga — concluiu Lisa, dando-lhe um sorriso significativo. — É um prazer conhecê-los. Brick contraiu a mandíbula de leve, então sorriu e fez um gesto com a mão. — Daniel e sua esposa, Sara. — Lisa os cumprimentou, enquanto ele continuava. — Garth e Erin, Jarod, Troy e Carly. Um menino enfiou a cabeça entre Garth e Erin. — Ei, agora sou um Pendleton, também! — É isso mesmo — disse Brick com uma risada. — Este é o Luke, filho de Garth e Erin. — Sorte a deles. — Lisa deu uma olhada no menino de olhos brilhantes, com um topete na cabeça e sardas no queixo, e foi amor à primeira vista. — E pelo visto há mais Pendletons a caminho, então acho que devo dar os parabéns em ordem. Quando é que os bebês vão nascer? — O nosso em setembro — disse Erin, dando uma palmadinha no ventre. — O nosso nasce em novembro — anunciou Daniel, tomando a mão de Sara.
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Lisa percebeu o amor que fluía entre eles e sentiu uma pontada de inveja. Afastouse para o lado, decidida a obter uma ideia geral sobre as diferentes personalidades da família de Brick. Daniel era extremamente solícito com a esposa, Sara, mas ela supôs que o mesmo podia ser dito em relação a Garth e Erin. Jarod parecia sei reservado, enquanto Troy era extrovertido. — Nós a estamos sufocando? — perguntou Carly. — Na verdade, não. Quando Brick me contou que tinha muitos irmãos, imaginei seis Bricks. — Deus me livre! — disse Carly, revirando os olhos. Lisa riu. — Agora vejo que um é mais alto, outro é calmo e outro é brincalhão. — Bem, se esquecer os nomes, não se sinta constrangida. Apenas me pergunte e terei prazer em lhe lembrar. Os gêmeos, Ethan e Nathan, vivem fora do estado, então você será poupada de lembrar seus nomes desta vez. — Você é a proprietária do barco, não é? Carly assentiu. — Eu e meu marido Russ. — Oh, eu não sabia que você era casada. Carly hesitou e baixou a voz. — Brick não lhe falou muito sobre nós, não é? Lisa sentiu outra pontada de dor, apesar de cem lembretes silenciosos advertiremna de que não deveria, porque seu relacionamento romântico com Brick havia terminado. — Ele, hã.. mencionou algo mais ou menos um mês atrás e... — Sim, bem, ele também falou sobre você nas últimas vezes em que nos visitou. Lisa ficou surpresa. Olhou para Brick e o viu olhando para ela, enquanto o irmão, Troy, falava. Por um instante, seus olhares pareceram se fundir. Um tremor a percorreu, como os primeiros estrondos de um terremoto. O olhar de Brick parecia tão determinado que a fez estremecer mais uma vez. Ele ergueu os cantos da boca em um sorriso lento e sagaz. O coração dela acelerou. Distraída, ela levou a mão ao peito, em uma tentativa de fazê-lo se comportar. — Se decidir passar a noite aqui, é bem-vinda para ficar em minha casa — ofereceu Carly. Lisa desviou o olhar de Brick. — Oh, não. Isso não será necessário. Eu não... — E se você tiver alguma pergunta sobre Brick — acrescentou Carly com um sorriso perspicaz — , eu o conheço há mais de 20 anos. Lisa se sentiu terrivelmente tentada. Uma dúzia de perguntas sem resposta lhe veio à mente. Disse a si mesma que era normal. Afinal, tivera um relacionamento de meses com Brick e havia muitas coisas que gostaria de saber sobre ele. Antes. Agora não. Sufocou o impulso de perguntar e sorriu. — Obrigada, mas acho que não estou interessada, no momento. 24
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Brick ouviu a resposta dela e não sabia se devia ficar desapontado ou aliviado. Lutou contra o esmagador instinto de colocá-la no carro e dirigir de voltar a Chattanooga. Era difícil explicar por que, até para si mesmo, mas imaginava que tinha algo a ver com querer mantê-la só para si. Egoísta como o inferno, reconheceu. Mas não alterou a forma como se sentia. Não queria ninguém se intrometendo em seu relacionamento com Lisa. Ele bufou. Por que se preocupar com o que a família poderia fazer, quando ele próprio já havia estragado tudo? Brick afastou os pensamentos perturbadores da mente e segurou o pulso de Lisa. — Venha. Vamos à barraca de jogar tortas. É pela caridade. Meu antigo diretor do ensino fundamental é o alvo, e ele me deve uma. Lisa o seguiu. — Deve-lhe o quê? — Ele me deixou depois da hora durante toda a sétima série. — E você não merecia? Brick parou com um sorriso tímido nos lábios. — Talvez um pouco. — Como assim, um pouco? — Foram apenas algumas brincadeiras inofensivas. envolvendo um sapo e o professor de Inglês, uma briga de comida na cantina e... — Ele hesitou e o sorriso desvaneceu gradativamente. — ... e a lição de casa que não fiz. — Posso imaginar o sapo e a briga de comida, mas meu pai me mataria se eu não fizesse o dever de casa. Brick estreitou os olhos devido ao brilho do sol. — Sim, bem, meu pai não estava muito atento na ocasião, minha mãe havia morrido e minha madrasta era uma bruxa. A brisa revolveu uma mecha de seus cabelos, iluminados pelo sol, e Lisa sentiu o peito apertar. — Parece complicado — murmurou. Ele encolheu os ombros largos. — Você não quer ouvir sobre isso, então... — Quero sim — disse ela em um impulso e, em seguida, mordeu a língua. — Quero dizer, gostaria de ouvir algumas passagens sobre a sua infância. Você nunca me contou nada antes. Brick lhe acariciou as juntas dos dedos com o polegar, um movimento lento e hipnotizante. — Minha infância não foi feliz. Já o tempo em que ficamos juntos foi bom e feliz. Estar com você era muito especial. Eu não queria ter estragado tudo. Lisa voltou a sentir o mesmo aperto no peito e engoliu em seco. — Agora que somos apenas amigos — disse em um esforço para lembrar a si mesma e a ele — , talvez você não tenha a impressão de estar estragando tudo. Brick ergueu uma sobrancelha e olhou de modo significativo para os lábios dela.
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— Veremos. — Ele puxou-a para a cabine de tortas e Lisa, sub-repticiamente, afagou os lábios com o dorso da mão. Era como se ele tivesse encostado a boca ali. — Quer começar? — perguntou, enquanto pagava alguns dólares ao atendente. — Não sei. — Lisa olhou meio insegura para o rosto amigável do diretor por trás do papelão recortado. — Nunca fui boa em atirar ou pegar coisas — disse em voz baixa. — Então, deixe-me ajudá-la. Brick entregou-lhe uma torta e se posicionou atrás dela. Com uma das mãos, envolveu-a pela cintura, trazendo-a para si. Seu peito roçava-lhe as costas, o calor de sua pélvis quase lhe queimava a pele e sua masculinidade estava deliciosamente prensada entre seus corpos. Ela quase deixou a torta cair. — Opa! — Ele evitou a queda e segurou-lhe as mãos com mais força. Lisa estava tão ciente da sua proximidade que o perfume familiar e o som das batidas do coração dele pareciam invadi-la. O cheiro almiscarado lembrava sexo e prazer. Era o mais próximo que ela chegara daquele tipo de intimidade em semanas, e seus seios enrijeceram sob a blusa fina de malha que estava usando. — Não tenho certeza. — Ela tentou impor um tom natural à voz. — Ora, vamos. Basta atirar um pouco para cima. Ela fechou os olhos e jogou a torta. — Não chegou nem perto — murmurou ele. — Vamos tentar mais uma vez. Lisa lembrou-se de quando ele lhe dissera aquelas mesmas palavras logo após fazerem amor. — Oh, não — gemeu. — Você consegue. — Ele colocou-lhe outra torta nas mãos. O mundo ao redor de Lisa começou a parecer surreal. O alvo era o diretor, mas a voz e o corpo rijo de Brick se tornaram seu foco central. — Vamos lá, querida — insistiu ele. — Jogue um pouco mais alto e com mais força. Lisa piscou diante das sensações que aquela voz máscula evocava e sentiu os membros inferiores amolecerem lenta e docemente. — Alto e com força — murmurou e atirou a torta, acertando o meio da testa do diretor. A multidão ao redor gritou de alegria. Brick apertou-lhe a cintura e rapidamente beijou-lhe a lateral do pescoço. — Você foi demais! Ele estava se referindo ao lançamento da torta, mas Lisa só conseguia pensar na última vez em que haviam feito amor. — Que amiga maravilhosa você tem, hein, Brick? — Cale a boca, Troy. — Ooh, estou todo arrepiado. Já disse a ela que você e o Elvis compartilham... ? — Cale a boca! 26
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Troy ergueu as mãos e recuou. — Eu só estava perguntando. Lisa não fazia a mínima ideia sobre o que os irmãos estavam falando, mas o primeiro comentário de Troy a atingiu como um balde de água fria. Ela se afastou do abraço de Brick. Evitando fitá-lo, deu alguns passos para o lado. — É sua vez de jogar a torta. Endireitando a coluna, aproveitou para recuperar o equilíbrio. Franzindo o cenho, ela admirou o corpo musculoso de Brick. Seu físico a atraía, mas era o seu inerente magnetismo masculino que a fazia delirar. Não gostou da forma rápida e fácil como perdera a perspectiva. Quando a torta que ele atirou atingiu o diretor, Brick sacudiu a cabeça e gargalhou. Sua vitalidade parecia transbordar. Lisa gostaria de ser imune a ele. Não queria ser afetada por aquele sentimento atordoante e desesperado que ele lhe provocava. Brick a abraçou e sentiu-a enrijecer. Momentos antes ela parecia tão suave e flexível em seus braços que seu corpo excitado começara a reagir. Esperava que ninguém estivesse olhando para a sua pélvis, naquele momento. Caso contrário, o volume por trás do zíper seria motivo de chacota, despois de ter dito que era apenas “amigo” de Lisa. Ela afastou as mãos, quando ele tentou segurá-la. Brick suspirou. — Não ligue para o Troy. Ele sempre falou demais. Lisa buliu com os dedos nervosamente e, em seguida, dobrou-os em frente ao colo. — Ele me fez lembrar de que eu e você somos apenas amigos. Isso é tudo — acrescentou enfática. — E eu estou procurando um marido. O dia de Brick azedou. Seu estômago estava inquieto. Tirando um antiácido do bolso, colocou-o na boca. Lisa estava com o rosto virado, logo seus olhares não se encontraram. Um sentimento angustiante o dominou. — Isso mesmo — murmurou impaciente. — Eu me esqueci lhe perguntar. Teve muitas propostas ultimamente? Lisa virou a cabeça para encará-lo e estreitou o olhar, deixando claro que não perdera a nota de sarcasmo na voz dele. Brick praticamente podia sentir o calor de sua indignação. Ela enquadrou os ombros e ergueu o queixo. Deus o ajudasse, mas aquele queixo erguido novamente, não. Deveria ter encoberto o seu intento. — Ei, isso não foi adequado. Eu... — Na verdade — disse ela, ignorando seu pedido de desculpas — , recebi uma proposta de casamento. Não apenas uma, mas duas.
CAPÍTULO 4
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Lisa de imediato se arrependeu de suas palavras. Não tinha a menor intenção de se casar com nenhum dos dois homens que a pediram em casamento e não queria ter que elaborar sobre as motivações por trás de suas propostas. Porém, baseada na expressão que viu no rosto de Brick, ficaria exposta a uma longa lista de perguntas. E preferia comer lama a lhe fornecer os detalhes. Lisa abriu um largo sorriso. — Quero um cachorro-quente. Senti o cheirinho na hora em que entrei no parque e fiquei com água na boca desde então — comentou, afastando-se de Brick. — Você acha que... Ele a segurou pelo braço, detendo-a. — Espere um minuto — disse em um tom calmo e letal. — Não quer me contar sobre as propostas? Os nervos de Lisa repicaram como um bando de sinos em seu interior. — Não. O que eu quero é um cachorro-quente — respondeu, aliviada por conseguir não o fitar nos olhos. — E algodão-doce — acrescentou. — Pensei que, sendo seu amigo, você gostaria de partilhar seus segredos comigo — murmurou-lhe ao ouvido. Lisa sentiu um arrepio sensual lhe percorrer a espinha. Brick já conhecia muitos de seus segredos. Era fácil demais desejar ceder à sua intensidade, virar a cabeça e enterrar o rosto naquele pescoço forte e inspirar seu cheiro másculo. Fácil demais, mas não podia fazê-lo. Lutando contra a pontada de desespero, afastou-se da tentação que aquela boca exercia. — Se você fosse meu amigo, me mostraria onde fica a barraca de cachorro-quente mais próxima, porque já teria notado que estou quase morrendo de fome. Ainda lhe segurando o pulso, Brick estreitou o olhar. Queria pressioná-la. Lisa podia sentir que ele queria discutir, pelo esforço que fazia para se controlar. De repente, algo em seu olhar mudou e ele entrelaçou os dedos aos dela. Por tudo que haviam compartilhado, o gesto parecia incrivelmente intimista, quase como se a estivesse possuindo. — Não quero ser acusado de não satisfazer seus desejos. — A voz causou um aperto visceral no ventre dela. — Lembre-se disso. O coração de Lisa vibrou na garganta. Ela engoliu em seco, mas não conseguia articular as palavras para lhe pedir que largasse sua mão.
Oito horas mais tarde, após um dia inteiro na feira do Condado de Beulah os dois estavam na estrada, a caminho de Chattanooga, com a capota do carro arriada e a suave brisa noturna soprando em seus rostos. Lisa suspirou. Sentia-se agradavelmente cansada. Em outra ocasião, teria se aconchegado ao peito de Brick e ele lhe pousaria a mão no joelho. Isso foi em outra vida, disse a si mesma, endireitando-se no assento. É melhor se concentrar em outras coisas. — Sua família é muito bacana. Gostei de todos, mas com tantos rapazes juntos não pude deixar de me perguntar se vocês brigavam muito. Brick assentiu.
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— Meu pai permitiu que isso acontecesse, até sermos adolescentes. Depois acho que se cansou de ter os móveis quebrados. — Ele fez uma pausa. — Ele começou a me moldar um pouco mais cedo, já que eu era o maior. — Moldá-lo? — Sim Desenvolvi um temperamento desagradável no ano em que minha mãe ficou doente. O diretor da escola me mandou para casa um dia com um olho roxo. — Brick sorriu. — O outro cara ficou com os dois roxos, mas meu pai não achou graça. Não brigou, nem gritou comigo. Apenas me colocou para trabalhar nas terras. Passei o verão todo com uma enxada nas mãos, até aprender a controlar meu gênio. Não bati em mais ninguém, desde então. — Nem mesmo em Troy? — perguntou Lisa com um sorriso maroto. Brick riu. — Nem mesmo em Troy. — Mas você deve ficar irritado. Como reage agora, quando acontece? — Não acontece com muita frequência — disse Brick, pensando nas frustrações quase incontroláveis que experimentara nos últimos tempos. Não podia lhe explicar exatamente o motivo se queria que Lisa continuasse permitindo que ele fosse seu amigo. Que inferno de farsa aquela! Não queria que ela ficasse procurando outros homens para se casar. Não queria ficar longe dela. Queria-a de volta. Seus olhos estavam focados na estrada, mas o som da voz e o cheiro do perfume dela o deixavam louco. Percebendo que ela ainda estava esperando uma resposta, Brick deu de ombros. — Acho que reajo do modo habitual, contando até dez, saindo da sala e estalando os dedos. E se estiver de fato irritado... — Ele pausou, subitamente nervoso. Lisa se inclinou mais perto. — Você o quê? — Nada. Eu só... — Você simplesmente não quer me dizer — concluiu ela, a decepção permeandolhe a voz. Oh, inferno! — Tudo bem. Eu lhe conto um dos meus segredos se você me contar um dos seus. Lisa hesitou, mas apenas por alguns segundos. — Fechado. — Quando sinto que estou quase me descontrolando, eu assobio. Houve um longo intervalo de silêncio e, em seguida, Lisa sufocou uma risadinha. — Assobia? Brick lançou-lhe um rápido olhar e sorriu, apesar de a piada ser à sua custa. — Sim. Vá em frente, pode rir. Parece que está prestes a arrebentar. Lisa soltou uma risada gutural, do tipo que o fez recordar outros tempos e sentir um aperto no peito. — Eu só estou... — Ela tossia e ria ao mesmo tempo. — Só estou tentando imaginar como você faz isso — explicou, clareando a garganta. — E por quê? 29
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— Bem, é preciso muita concentração, se você assobiar algo complicado. — Está bem. Vou aceitar a explicação — disse ela, afundando no assento de couro. — Mas acho que nunca o ouvi assobiar. Brick pensou por um longo momento. — Acho que nunca fiquei com raiva de você. Estava ocupado demais. — Ele parou, não querendo terminar. — Ocupado demais? — inquiriu ela em um tom suave. Ocupado demais amando-a. A constatação quase fez o coração de Brick parar. Inferno, teria que lidar com isso mais tarde. — Ocupado demais sendo feliz — respondeu em vez disso, e rapidamente mudou de assunto. — Está na hora de mudarmos de lado. Você tem que me contar um dos segredos. Lisa se remexeu no assento. — Será que eu posso escolher? Brick negou com um gesto de cabeça. — Quero saber quem lhe propôs casamento. Ela gemeu. — Eu devia ter imaginado. Não é ninguém que você conheça. E eu recusei ambas as propostas. — Que alívio — murmurou ele baixinho. — Quem eram? Lisa exalou um longo suspiro de sofrimento. — Um deles era amigo de um amigo de uma... — Já entendi — disse ele, seco. — Um agradável vendedor de seguros. Muito religioso. — E? — insistiu Brick. — E está interessado em ter várias esposas. Acho que ele disse seis. — Seis?! — Brick sacudiu a cabeça. Não podia estar ouvindo direito. — Sim. Seis. Está envolvido nessa nova seita religiosa que prega a poligamia e... — E queria que você fosse a esposa número um! — Brick mal conseguia conter a diversão. — Isso sim pode ser considerado um candidato três estrelas. — Muito engraçado. Está vendo por que eu não queria lhe contar? Isso o acalmou rapidamente. Brick respirou fundo e impostou a voz, em um esforço para limpar qualquer vestígio de diversão. — Você não concordou. — É claro que não — respondeu, indignada. — E o segundo candidato? Àquela altura, estavam se aproximando dos limites da cidade, de modo que Brick diminuiu um pouco a velocidade.
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— É uma pessoa que conheci através do meu trabalho. Poderíamos dizer que ele. hã... faz o tipo artista. Uma noite, terminei um dos meus trabalhos e estava me sentindo um pouco deprimida. Ele me levou a um bar e... — Espere um minuto. — Brick franziu a testa e a encarou. — Estava se sentindo deprimida por quê? Lisa afastou uma mecha de cabelos para trás das orelhas. — Não sei. Foi temporário e ele... — Então por que não me ligou? — Ele parou em um semáforo. A expressão no rosto dela era vazia. — Não me ocorreu — respondeu, dando de ombros. — Aliás, nunca pensei nisso antes. Brick sentiu uma pontada de dor como se ela o tivesse esfaqueado. Levou um momento para recuperar o fôlego. Teria sido de fato tão insensível com ela? Lisa cutucou-lhe o braço. — A luz mudou. Brick resistiu ao impulso de cobrir-lhe a mão com a sua. Então, sacudiu a cabeça para clareá-la. — É verdade — disse e pisou no acelerador. — Termine sua história. Lisa olhou-o com uma expressão cautelosa. — Bem, ele é estrangeiro e precisa do green card, então pensou... Brick sentiu uma sensação de queimação se instalando no estômago. Enfiou a mão no bolso em busca dos comprimidos de antiácido. — Você disse que não. — Claro que eu disse “não”. — Sentindo um extremo desconforto, Lisa estalou os dedos. Depois daquela conversa, Brick com certeza ia pensar que ela só conseguia atrair homens esquisitos. Voltando o olhar para a estrada à frente, preparou-se para ouvir uma série de “Eu não disse”. Quando, em vez disso, Brick permaneceu em silêncio, a sensação de vazio em seu interior pareceu se intensificar. Lisa o fitou. Ele parecia perdido em pensamentos. Ela olhou para as mãos novamente e bateu no relógio, impaciente. Verificando as horas, recordou sua promessa de se encontrar com Senada. — Importa-se de passar pelo novo Renaissance Hotel? Preciso ver se Senada está se saindo bem com a organização da festa. Brick assentiu e ligou a seta. — Sem problema. Quinze minutos depois, estavam subindo para o quarto andar do novíssimo hotel de luxo de Chattanooga. Entre o segundo e terceiro andar, o elevador parou, e por um momento Lisa receou estar presa. Seguiu-se o som de uma engrenagem se movendo e a cabine começou a se mover novamente. Ela deu uma risada nervosa de alívio. — Este elevador parece que precisa de reparo. Brick estreitou o olhar.
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— Como o edifício é novo, eles podem não ter feito todos os ajustes nas engrenagens ainda. Vou falar com o gerente quando descermos. As portas se abriram. — Você não precisava ter subido comigo. Vou demorar apenas alguns minutos. Brick seguiu-a pelo corredor. — Nunca a vi trabalhando. — Nem me verá, já que Senada se incumbiu desta festa. Apenas achei melhor passar aqui para ver se estava tudo bem. — Ela abriu passagem para uma pequena cozinha, onde um grupo de garçons circulava. Puxando um para o lado, perguntou por Senada e foi informada de que a sócia se encontrava no salão principal. — Você pode esperar aqui, se quiser — disse ela a Brick, e entrou por uma porta. — Volto já. Brick assistiu à azáfama dos garçons que traziam pratos de sobremesa vazios para a cozinha. De trechos de suas conversas, concluiu que se tratava da despedida de solteira de uma noiva, e o entretenimento planejado era o tipo que gerava olhares maliciosos e risadinhas. Quando ouviu os primeiros acordes de uma música de Prince, cedeu à curiosidade e se dirigiu ao salão principal. Esquadrinhou o recinto à procura de Lisa, mas as luzes estavam apagadas, com exceção de um holofote focado em um homem dançando. Estava achando tudo muito divertido, até o sujeito tirar o smoking e, em seguida, a camisa. Brick sacudiu a cabeça, quando o dançarino se livrou da calça para o delírio da plateia predominantemente feminina. Uma vez, ele assistira ao show de uma stripper. E tinha que admitir que nutria algumas fantasias com Lisa descobrindo o corpo e dançando em particular para ele. A dança não duraria muito tempo, porque não seria capaz de manter as mãos longe dela. O pensamento o fez afrouxar o colarinho. Porém, nunca vira um homem, com uma faixa estreita de tecido presa a um cinto, que só lhe cobria os órgãos genitais, esgueirando-se entre as mulheres e rebolando os quadris. Sentiu-se envergonhado. Era bobagem. Nem o conhecia, mas se sentiu envergonhado por ele. Brick voltou a atenção para os rostos das mulheres. Pareciam extasiadas pela visão do homem seminu, ansiosas para tocá-lo e enfiar algumas notas em seu tapa-sexo. Desejou saber se isso seria algum tipo de fantasia secreta que elas acalentavam. Jamais, nem em seus pensamentos mais eróticos, considerara a possibilidade de se remexer e rebolar daquela maneira para o deleite de uma mulher. Imaginou-se fazendo aquele tipo de dança sensual para Lisa e, por incrível que parecesse, a ideia continha um certo apelo. De repente, o stripper atravessou o salão e tomou uma mulher nos braços. Girou-a com movimentos que sugeriam um tango, e seus quadris roçavam contra os dela. Apesar do desconforto, Brick se sentiu levemente excitado. O emaranhado sedutor de macho contra fêmea lembrou-o de quanto tempo estava sem Lisa. Cruzando os braços sobre o peito, estreitou os olhos e deu uma olhada mais apurada na mulher que parecia estar tentando se livrar do amoroso dançarino. Brick piscou e seu desconforto, diversão e excitação se transformaram em cinzas. A fúria o percorreu. Aquele filho de uma cadela viscoso estava dançando com Lisa. Na parte da frente do salão, ela tentava afastar-lhe uma das mãos, mas Henri segurava-a com a outra. 32
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— Deixe-me — disse ela, empurrando o peito brilhante, sem pelos, do stripper. — Você deveria estar fazendo isso com as convidadas, não comigo. — Mas, chérie, você me inspira. Vai inspirar o público também — Não quero inspirá-lo — conseguiu dizer com os dentes cerrados, enquanto libertava uma das mãos e recuava alguns centímetros. — Está irritada — murmurou o dançarino, usando uma expressão de dor. Lisa sentiu uma pontada de remorso. Henri era como um cachorro entusiasmado demais, propenso a cometer erros. Odiava ferir seus sentimentos. Desviando o olhar, piscou os olhos contra os holofotes. — Não é verdade. Vá dançar com a noiva e ficarei muito mais feliz. Henri assentiu. — Sua felicidade é a minha maior recompensa. — Ele fez um último movimento sinuoso contra ela e sussurrou em seu ouvido: — Temos que falar de novo sobre o casamento. — Acho que não — murmurou Lisa, quando finalmente escapou das garras de Henri. Ela correu até Senada. — Só espero que Brick não tenha assistido a este pequeno espetáculo. Senada deu de ombros e acenou para um garçom trazer mais champanhe para uma das mesas. — Qual é o problema? Você disse que terminou tudo com ele. — Bem, terminei, mas... — A voz de Lisa se dissolveu em um pequeno gemido, quando seu olhar recaiu sobre uma figura masculina familiar no fundo do salão. Suas vísceras deram um nó. Ela sentiu uma onda de frustração. Desde que começara sua busca por um marido, parecia que as forças do universo estavam conspirando contra ela. — O que houve? Lisa respirou fundo. — Já ouviu a expressão que Deus nunca deixa de responder as nossas preces? Às vezes, a resposta é sim. Às vezes, é não. — Ela começou a caminhar em direção a Brick. — Acabei de receber um “não”. Demorou apenas alguns segundos para chegar ao fundo do salão. — Podemos ir embora? — perguntou ele com a voz baixa. — Sim — respondeu Lisa, notando que ele estava mastigando algo. Com certeza um daqueles antiácidos. Seu próprio estômago estava queimando tanto que se sentiu tentada a lhe pedir um. Porém, ao ver a expressão tensa e descontente em seu rosto, mudou de ideia. Nunca o vira assim antes. Seu mau humor era tão intenso que parecia uma cortina pesada ao redor dele. Havia algo inerentemente viril e primitivo em sua atitude. Se fosse motivada por ciúmes, ela teria ficado lisonjeada. Mas suspeitava de que Brick desaprovava suas ações, objetivos e desejos. Ele a desaprovava. E isso doía. Frustrada, disse a si mesma para não se importar. O breve percurso até o elevador foi realizado no mais completo silêncio. Brick apertou o botão para o andar térreo. O interior do elevador era lindo, revestido de madeira polida e espelhos por toda parte, o que lhe proporcionava a oportunidade multifacetada de ver o corpo e a expressão de desaprovação de Brick, não importava para onde olhasse. 33
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Extremamente desconfortável, olhou para os números no painel e ouviu o ruído dos dedos dele estalando. Lisa cerrou os olhos por um segundo e, em seguida, os abriu. Não podia mais suportar o silêncio. — Isso é loucura. Você... O elevador parou. Ela olhou para os números, depressa, e o 2 e o 3 estavam iluminados. Brick xingou e apertou o botão. Tentou todos, mas nada aconteceu. Soltando um suspiro, ele finalmente olhou para Lisa, e seu rosto era a imagem da frustração. — Estamos presos. Cinco minutos depois, após pressionarem o botão de alarme e ter certeza de que alguém estava tentando reparar o defeito no elevador, Lisa deixou-se escorregar até o chão e cobriu os olhos com as mãos. — Não posso acreditar nesta noite. Primeiro Henri, agora isto. — Henri era o cara quase nu que grudou em você como uma sanguessuga? O coração de Lisa afundou até os pés. Oh, não. Ele ia começar. — Não tenho certeza se posso chamá-lo de sanguessuga — conseguiu dizer. — Ele é estrangeiro e não está acostumado à visão americana com relação a demonstrações de afeto em público. Seguiu-se uma longa pausa. — O Henri é o cara do green card? Lisa ouviu a incredulidade na voz de Brick e manteve as mãos com firmeza sobre o rosto em brasa. Então espiou por entre os dedos. — É — murmurou. — Você saiu com um stripper? — Ele estava vestido na ocasião. — Graças a Deus! — Brick olhou para o teto em busca de ajuda e abanou a cabeça. — Ouça, Lisa, sei que está empenhada de verdade em encontrar um marido, mas esse desespero... A palavra desespero a fez reagir. Afastando as mãos do rosto, se pôs em pé. — Não estou desesperada! É por isso que estou cuidando disso agora. Para não ficar desesperada quando estiver me aproximando dos 40 anos. Brick viu o brilho furioso nos olhos dela e recuou. — Certo, não está desesperada, mas estou preocupado com você. Até agora já se envolveu com um polígamo e um stripper. — Eu não chamaria um simples encontro de envolvimento. Ele sentiu a própria irritação voltar. — Querida, durante o primeiro mês que nós namoramos, eu não cheguei tão perto de você quanto aquela versão humana daquele amante gambá do “Frajola” fez, ao som da música do Prince. Lisa ergueu o queixo em desafio. — Bem, mas por certo compensou durante os últimos seis meses, não acha? Brick observou o arfar dos seios dela sob a blusa de algodão e se lembrou de como era tê-los nas mãos, na boca e pressionados intimamente contra o peito. Naquele momento, não queria nada além de fazer amor com ela, até ambos delirarem de prazer. 34
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Dessa vez, prestaria mais atenção aos anseios de Lisa. Embora soubesse o que a agradava, almejava saber mais a fundo o que a levava ao clímax. Queria conhecê-la por dentro e por fora. Mas não podia, e sua frustração aumentava com a mesma intensidade do seu ardor. — Aqueles seis meses foram só o começo. Há muito mais que eu gostaria de fazer com você. Podemos ter terminado na sua cartilha, mas estávamos longe disso na minha. Brick viu um rápido e inebriante lampejo de desejo nos olhos de dela e notou que seus mamilos enrijeceram, antes de Lisa se virar. — Esta conversa é ridícula — disse ela com a voz trêmula. Através do reflexo do espelho, ele viu-a envolver os braços ao redor do peito, como se tentasse instintivamente aliviar a dor da excitação. Teria se condoído por ela, se não estivesse lidando com o próprio desejo latejante. Abraçá-la já seria o paraíso. E estava perigosamente prestes a mandar aquela história de amizade para o inferno. Lisa mudou de posição e Brick ouviu algo entre um suspiro e uma risadinha abafada. — Amante gambá? O profundo descontentamento dentro dele aliviou um pouco ao ouvir o humor na voz dela. Ele soltou um longo suspiro. — Você tem que admitir. Ele parece mesmo um gambá. — Brick! — Ela o repreendeu severamente. Mas o efeito foi perdido quando acabou rindo. Lisa ergueu a mão. — Não diga isso. Não conseguirei mais olhar para aquele pobre homem sem rir. Pense no que isso pode causar ao ego dele. Brick se inclinou contra a parede do elevador. — Acredito que o ego dele pode lidar com isso — disse, seco. — Ver o modo como todas as mulheres reagem a ele suscitou algumas perguntas em minha mente. — Tais como? Desejando saber se Lisa ia achá-lo um pervertido, pausou por uma fração de segundos. — Isso é algum tipo de fantasia secreta das mulheres? Lisa piscou. — Fantasia? Brick a observou com atenção. — Ter um homem com um tapa-sexo, dançando na frente delas? — Você quer dizer, como Henri? Seu olhar se prendeu ao dela. — Henri... ou um homem que fosse importante para você. Ela sentiu um fluxo de calor ilícito percorrer-lhe as veias. — Um homem física e emocionalmente importante? — Sim. — Isso seria uma... hã... performance particular? 35
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Brick assentiu com a cabeça lentamente. Lisa respirou fundo e sentiu uma súbita vontade de abanar o rosto para refrescá-lo. — Eu... hã... — Ela clareou a garganta. — Nunca havia pensado nisso. A expressão de Brick era de incredulidade. — Sério? Eu pensei... Não com um homem — acrescentou depressa. — Mas com uma mulher. Para falar a verdade, eu fantasiava com você. Lisa decidiu que era hora de mudar de assunto. — Brick. Ele ergueu a mão. — Não. Espere um minuto. Era natural eu ter fantasias com você quando estávamos juntos. Quando estávamos separados, eu pensava em você o tempo todo. E havia muitos momentos em que estava fora da cidade. Tinha muitas fantasias com você. Durante essa última viagem, fantasiei que você fazia um strip-tease para mim — Ele se inclinou mais para perto dela. — Imaginei-a usando um dos seus terninhos de trabalho. tirando o blazer... deixando a blusa escorregar pelos ombros. Depois se livrando da saia e ficando apenas com uma daquelas peças rendadas diminutas. — Uma lingerie — disse Lisa, forçando as palavras a saírem pela garganta demasiado seca. Os olhos dele escureceram — Sim, uma lingerie. Então, me aproximei, mas você riu e se afastou. Queria me provocar e eu a desejava tanto que mal podia suportar. Você tirou aquela sexy sandália de salto alto fino e soltou o prendedor das ligas. — Não uso ligas — disse Lisa, tentando injetar uma nota de realidade necessária. Brick deu de ombros com um movimento másculo e muito atraente e deu-lhe um sorriso deslumbrante. — Na minha fantasia, usava. Quando se curvou para desatar as ligas, as tiras da lingerie escorregaram para baixo o suficiente para que eu pudesse ver seus mamilos. E você sabe o quanto sempre adorei os seus mamilos. Lisa sentiu os seios enrijecerem em resposta. Uma onda vertiginosa e inebriante de desejo a invadiu, fazendo seu coração bater forte contra as costelas, o pulso acelerar em todos os seus pontos de pressão, têmporas, garganta, pulsos e entre as coxas, onde sentiu o início do calor e da umidade. Em algum lugar em seu cérebro, no entanto, a voz da razão a chamava. Mordeu os lábios, abafando um gemido. Sanidade, onde estava a sua sanidade? — Brick. — conseguiu dizer. — Eu não... — Estou quase terminando — persuadiu-a em um tom rouco, que lhe evocou lembranças vívidas e sensações de quando estava chegando ao clímax. — Querida, a essa altura eu estava implorando.
CAPÍTULO 5
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— Durante o tempo todo você parecia me desejar tanto quanto eu a desejava. Lisa fechou os olhos contra a maré de emoções que a dominou. As palavras de Brick soavam tão íntimas, mas ele estava tão distante. Suas mãos se contraíram com o desejo de tocá-lo. — A fantasia parecia tão real. Você me beijava, me tocava e eu me derretia. Não cansava de sentir sua pele junto à minha, ouvir sua respiração ofegante, ver seus olhos escurecerem de prazer. — Sua voz baixou. — Não cansava de possuí-la, Lisa. Enquanto estávamos juntos, me enganava achando que era eu que estava fazendo amor com você, mas agora vejo que era você que fazia amor comigo. Você. Lisa não aguentava mais. Sentia-se excitada e confusa. Ela abriu os olhos, consternada ao sentir as lágrimas ameaçarem rolar. — Não! Não era assim. Você... Brick calou-a com a ponta de um dedo. A expressão sincera em seus olhos era tão bela que chegava a doer. — Há muito que não sei sobre você e que ainda quero saber. Lisa sentiu um aperto no coração. Extremamente sensível ao leve toque daquele dedo contra seus lábios, engoliu em seco. — Você sabia tudo que havia para saber. Ele negou com um gesto de cabeça. — Eu sabia a mecânica. Quero desvendar os segredos que você nunca contou a ninguém Conhecer as fantasias que não admite nem para si mesma. — Você nunca pareceu interessado em trocar segredos antes — disse ela com a voz trêmula. — Sempre quis um relacionamento sem compromisso. — Talvez as coisas sejam diferentes agora. Uma enorme sensação de medo e desespero a incomodou. — Você disse que éramos amigos agora. — E sempre seremos — afirmou ele, como se estivesse fazendo um juramento solene. Droga, ela havia lhe dito o que queria, pensou Lisa. Abrira o jogo, revelando-lhe seus desejos, e ele lhe virara as costas. Não podia passar por tudo outra vez. Era sofrimento demais. Sentia-se golpeada e ferida e não queria ressuscitar suas esperanças. Se tivesse juízo, se afastaria dele, mas o problema era que Brick jamais se mostrara tão carinhoso com ela antes. Era quase como se quisesse lhe satisfazer todos os anseios, mas algo em seu o interior o impedisse. Se fosse tola, acharia que ele lutava muito mais contra si mesmo do que contra ela. Se fosse tola, acharia que ele precisava dela. — Agora é sua vez — disse ele. Lisa sentiu o coração torcer como se estivesse executando uma pirueta no gelo. A voz da razão lhe dizia controle-se, enquanto suas emoções brincavam de gato e rato de um lado para o outro.
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O elevador estremeceu. Ela olhou para os números no painel da cabine. Fora reparado, concluiu. Sairiam dali dentro de alguns instantes. Escaparia do olhar ávido e convincente de Brick. Escaparia dos próprios sentimentos conflitantes. Naquele momento, porém, seus olhos foram atraídos de volta a Brick. O clima entre eles estava carregado de intimidade e ela se sentiu, por nenhuma razão lógica, uma trapaceira. Ele havia lhe revelado algo sobre si mesmo, e ela não seguira o seu exemplo. Não concordara em lhe dizer coisa alguma, se desculpou em pensamento, mas ainda assim não lhe parecia correto. Não podia lhe revelar seus anseios mais profundos de querer um homem que a amasse, que lhe desse filhos e lhe proporcionasse uma vida estável. Seu coração estremeceu só de pensar. Maldito Brick. Respirou fundo e olhou diretamente em seus olhos violeta. — Quer saber uma das minhas fantasias secretas? — perguntou em um tom rouco. — Eu sempre quis fazer amor em um elevador. O olhar de Brick escureceu e no instante seguinte ele a alcançou. Assim que a tocou, um espasmo de desejo sacudiu-a até a alma, e ela percebeu que poderia ter feito algo muito tolo, se tivesse tido tempo. As portas do elevador se abriram. Lisa desviou o olhar, engoliu em seco e agradeceu às estrelas e aos homens da manutenção que a salvaram de fazer papel de boba novamente.
Na noite da sexta-feira seguinte, Brick se viu olhando para um pedaço de costela e pensando sobre elevadores em vez de desfrutar de sua refeição. — Oh, Brick, saia, saia, de onde você está — proferiu Carly em um tom monótono. Brick ergueu a cabeça e viu Jarod, Troy, Carly e Russ fitando-o em expectativa. Tinham ido todos até ali lhe fazer companhia para o jantar. Suspeitava que também haviam ido porque estavam preocupados com ele. Sabia que vinha agindo de forma diferente nos últimos tempos. Ele pigarreou. — Desculpe-me. Carly suspirou. — É Lisa novamente? — perguntou em voz baixa. Brick levou a bebida aos lábios e tomou um gole. Embora geralmente detestasse a ideia de expor seus sentimentos, no momento estava cansado demais para argumentar. Se os irmãos o perturbassem demais, corria o risco de esquecer os ensinamentos do pai e partir para cima deles. — Ela saiu para um encontro às cegas esta noite. — Tomou outro gole e fez uma careta. — Alguém que a devassa da sua sócia, Senada, arranjou. Alguém que costumam chamar de “O sr. Perfeito”. — Sentiu vontade de mastigar o copo. Troy ergueu uma sobrancelha com uma expressão cética. — Vocês dois pareciam estar se entendendo tão bem na quermesse da semana passada.
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— Isso foi na semana passada. Não a vi mais, desde então. Ela está ocupada. — Deus, aquilo era demais! Jarod franziu o cenho. — Parece que vocês dois estavam se dando tão bem e de repente terminaram tudo. Brick pousou a cerveja. — É verdade. — Por que as coisas esfriaram? Brick respirou fundo. Prezava bastante sua privacidade. Essa fora uma das razões que o levara a se mudar do Condado de Beulah. Mas a decisão de Lisa de mantê-lo a distância havia se tornado um problema, e ele chegara a um ponto em que não sabia mais o que queria ou não. — Ela queria se casar — admitiu. — Eu não estava preparado. Troy deu de ombros. — Soa como uma negativa para mim. Você não quer ficar sobre o cabresto de uma mulher arrogante. Carly fez uma careta. — Troy! Lisa não me pareceu arrogante. Talvez seja simplesmente uma mulher que sabe o que quer. O que há de errado nisso? Russ cobriu a mão fechada da esposa com a sua. — Nada, mas a maioria dos homens não gosta de receber ultimatos. — Sim, e muitos homens gostam de manter uma mulher comprometida e conservar sua liberdade ao mesmo tempo. Brick fez um gesto negativo com a cabeça. — Não era o caso. Não saí com mais ninguém, desde que conheci Lisa. Jarod se inclinou para frente. — Então, por que não quer se casar com ela? Brick sentiu o estômago revirar e empurrou o prato para o lado. — Não quero me casar. — Nunca? — perguntou Troy. — Eu, por exemplo, não quero me casar pelos próximos dez ou 15 anos, mas penso em me estabelecer lá pelos 40 anos.
— Se encontrar alguém que o queira — murmurou Carly. Troy olhou para a irmã. — Bem, tenho 15 anos pela frente para tentar. Impaciente com a discussão loquaz entre Carly e Troy, Brick olhou para Jarod. Embora o irmão fosse mais novo que ele, era digno de respeito. Um rapaz tranquilo e ajuizado, atualmente envolvido em um caso ilícito com a filha recém-divorciada de um médico do Condado de Beulah. O caso não combinava com a personalidade sóbria do irmão. 39
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— E você? Jarod deu um sorriso irônico. — Não tenho certeza se encontrarei alguém que me queira. Carly revirou os olhos. — Dá um tempo. E a Clarice Douglass a Amy Burkmeir ou... — Alguém que me queira e que eu também queira — esclareceu Jarod. — Mas não acho que seja sobre isso que Brick está falando, não é? Brick flexionou os ombros, inquieto. — Não sei. Nunca se sentiu mal ao pensar em casamento? E você, Russ? Alguma vez temeu ficar preso a algo que odiasse? O cunhado pensou por alguns instantes e negou com um gesto de cabeça. — Não tive medo algum de me casar com Carly. Acho que tinha mais medo de me apaixonar por ela e me tornar dependente. — Dá no mesmo — disse Brick. Russ mais uma vez negou com a cabeça. — Não. No meu caso, o compromisso não era o problema. Queria prendê-la a mim, nem que para isso fosse necessário amarrá-la com uma corda. — Um sorriso malicioso brincou em seus lábios. — A certa altura ameacei amarrá-la, mas... — Russ Bradford! — O rosto de Carly se inflamou. — Honestamente, não acha melhor manter a nossa vida particular fora de discussão? Russ passou o braço em torno dos ombros da esposa. — Desculpe, querida — murmurou pouco convincente. Troy se remexeu na cadeira. — Puxa, vocês não podem esfriar os ânimos? — Gamofobia — disse Jarod de repente. Brick olhou para o irmão novamente. — Gamo... o quê? — Li sobre esse assunto em uma revista no consultório do dentista. Gamofobia é fobia a casamento ou a compromissos. Entre os sintomas estão a falta de ar, náuseas e um pânico inexplicável à simples menção da palavra casamento. — Ele ergueu as mãos. — Não sou psiquiatra, mas você devia ir dar uma olhada nisso. Brick sentiu todo o seu mundo desmoronar. — Gamofobia? — repetiu, incrédulo. Não podia ser, pensou. Fobia? Não ele. De modo algum — O que mais dizia a matéria? — Que homens sofrem dessa fobia específica com mais frequência do que as mulheres e que é tratada com algumas das mesmas técnicas utilizadas por pessoas para superar a claustrofobia, medo de voar e outras fobias. Dizia algo sobre como isso se relaciona com outros problemas de intimidade, mas não cheguei a ler o artigo inteiro. Brick sentiu o estômago revolver outra vez. — Tratada — repetiu desgostoso.
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— Sim — respondeu Jarod pensativo, levando a cerveja à boca. — Por um psicólogo. Brick passou o restante da noite tentando entender o conceito de gamofobia. A coisa toda soava como um monte de baboseiras inventadas por psicólogos para tirar dinheiro das pessoas. Certo, ele sofria de alguns pequenos medos, mas sempre lidara com isso ou encontrara uma maneira de contorná-los. Nas ocasiões em que usava explosivos para realizar um trabalho de demolição, sua atitude era de respeito, não de medo. Não havia lugar para nervosismo, quando se explodia a base de uma rocha em questão de segundos. Essa situação, como a maioria de seus trabalhos, exigia planejamento, preparação e perícia. Se pressionado, diria que se sentia agitado quando um trabalho desafiador era concluído. No entanto, se fosse pressionado para discutir seus sentimentos sobre casamento, diria que começava a suar frio. Isso o deixou com uma suspeita desconfortável.
Em uma tarde de sábado, após ter inspecionado um dos seus locais de trabalho, foi até a biblioteca local para provar a si mesmo que não sofria de gamofobia. Três horas mais tarde, deixou a biblioteca mais perturbado do que nunca. O calor do verão era sufocante dentro do carro, mesmo com a capota arriada. Ligou a ignição, o ar-condicionado no máximo e sentou-se. Sentia falta de Lisa. Não era apenas atração física e estava surpreso por não ter percebido isso antes. Sentia falta do modo como se sentavam juntos e assistiam a um jogo na televisão. Ela estava sempre se confundindo com os termos, lembrou-se com um leve divertimento. Não sabia distinguir uma corrida de um arremesso, e era conhecida por fazê-lo perder uma grande partida, porque lhe pedia para explicar algo em um momento crucial. Na noite anterior ele assistira a um jogo do Braves, que não tivera a mínima graça sem Lisa. Ela lhe levara a alegria de viver, percebeu. Alegria era uma palavra piegas, mas descrevia o que estar com ela significava para ele. Brick ouviu um garoto tocando uma música com pauzinhos de comida japonesa em um comercial de televisão e se lembrou de quando ela tentou fazer as grandes mãos dele tocarem aquela mesma canção, em uma festa que haviam ido no inverno passado. Olhando para as mãos, sentiu a profunda dor novamente. Tamborilou os dedos no volante e pensou na conversa que tivera com a família. Um comentário que Carly fizera sobre Russ não lhe saía da mente. Quando estavam partindo, Brick brincara com a irmã perguntando-lhe se Russ nunca saía da linha. Ela rira e respondera: — Não é provável. — Então, sua expressão se tornou séria. — Você sabe, ele sempre esteve ao meu lado me dando apoio. Nas horas boas e ruins. E especialmente quando eram ruins. — Carly sorriu. — Acho que sou muito sortuda. Brick achava que ambos tiveram sorte, assim como Daniel e Sara, e Garth e Erin. Era estranho o quanto queria estar com Lisa, mas o pensamento de se casar ainda o deixava doente. 41
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Gamofobia. Abanou a cabeça, recusando-se a pensar mais no assunto. Não podia fazer nada sobre isso naquele dia, de qualquer maneira. Mas podia dar apoio a Lisa. Era um fracasso no que se tratava de gestos românticos e escrever poemas efusivos, mas podia lhe dar apoio. De repente, lembrou-se de que Lisa estava supervisionando uma festa. Conferindo o relógio, percebeu que ainda dispunha de algumas horas para matar, então decidiu comprar-lhe um presente de aniversário. Passou a marcha e franziu o cenho ao ver seu rosto refletido no espelho retrovisor. Antes tarde do que nunca. Assim esperava. Lisa estacionou em uma vaga próxima ao seu apartamento e descansou a cabeça sobre o volante. Fora um dia infeliz do começo ao fim. Seu corpo doía da cabeça aos pés. Cansada a ponto de se sentir tonta, considerou aninhar-se no banco do carro e passar a noite ali mesmo. Um suave tum-tum no vidro da janela chamou sua atenção. Endireitou-se e viu Brick. Por um momento, perguntou-se se estava imaginando coisas. — Você está bem? Mesmo com a janela fechada, ouviu a preocupação na voz dele. Seu coração apertou. Não. Lisa balançou a cabeça negativamente, mas abaixou a janela e abriu as travas automáticas. Então respirou calmamente. — Entre. Estou tentando recuperar as forças para me arrastar até a porta e desmoronar na cama. Em vez de se unir a ela no carro, Brick agachou-se ao lado da janela. — Parece que teve um dia difícil. Dessa vez Lisa assentiu de modo enfático. — Você parece cansada. — Ele se ergueu e abriu a porta, fechou as travas e o vidro da janela outra vez. — Quer uma carona até seu apartamento? Confusa, Lisa olhou para o meio-fio em frente ao carro. — Acho que já estou aqui. Brick deu um sorriso lento e abanou a cabeça. — Vou carregá-la nos braços. Lisa arregalou os olhos, enquanto pegava a bolsa e colocava um pé para fora do veículo. — Não, não, não, não. Sou muito alta, muito pesada, muito. — Não para mim — Tomando-a nos braços, ele fechou a porta do carro com um joelho e caminhou em direção ao apartamento dela. Totalmente confusa, Lisa empurrou-lhe o peito, enquanto sua bolsa balançava. Era perturbador o suficiente estar sendo carregada, mas os outros sentimentos que a assaltaram por estar nos braços de Brick novamente a subjugaram — Você realmente não precisava. — Onde está a chave? — perguntou ele, ignorando-lhe os protestos. Provavelmente ele havia esquecido que ela pesava uma tonelada, pensou sombria.
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— Você pode me colocar no chão agora. — Lisa tirou as chaves do bolso lateral da bolsa. — Pode me colocar. — Lá dentro — disse ele, esperando enquanto ela se atrapalhava com a chave. Brick abriu a porta, acendeu a luz do corredor e caminhou em direção à sala de estar. Quando continuou com ela no colo, Lisa tornou-se extremamente consciente das batidas do coração dele contra a sua mão. — Brick — disse em um tom de voz tenso — , por favor, coloque-me... Ele acomodou-a no sofá. — Pronto. Não estou suando e nem ofegando — zombou. — Não me culpe se ficar com uma hérnia — murmurou ela, ainda se sentindo agitada. — Você se preocupa demais. — Caso não tenha reparado, não sou uma mulher pequena. O olhar de Brick de imediato se prendeu ao dela. — Já notei. — Sua voz baixou intimamente. — Mas talvez você tenha esquecido o quanto eu notei. Lisa teve um forte pressentimento de que ele não se importaria de lhe mostrar tudo de novo. Um rubor corou-lhe a pele do rosto, de repente. — Não sinto nenhuma dificuldade em carregá-la em meus braços. Caso você não tenha reparado, não sou um homem pequeno. — Repetiu sua declaração anterior em um tom arrogante. — Sempre que precisar de alguém para carregá-la, é só me falar. Como se ela pudesse esquecer algo sobre o corpo dele! A imagem estava gravada em seu cérebro. Lisa pôs um fim à sua imaginação. — Espero não precisar de alguém para me carregar a lugar algum Brick deu de ombros. — Se quiser ser carregada, sou perfeitamente capaz de fazer isso também — Um sorriso malicioso brotou-lhe nos lábios. — Acha que mereço uma estrela por isso? Devia lhe dar uma estrela por deixá-la louca, pensou Lisa, lançando-lhe um olhar sombrio. — Não responda. O que quer beber? Lisa sentou-se, de repente se dando conta de que estava permitindo que um hóspede a servisse em sua própria casa. Sua educação não permitiria tal falta. Ele a perturbava tanto que acabava esquecendo as boas maneiras. — Oh, não. Eu posso fazê-lo. Eu. Brick apoiou as mãos nos ombros dela, mantendo-a no lugar. Seu olhar violeta era firme, mas suave ao mesmo tempo. — Você está cansada, lembra? Vou lhe servir algo para beber. O que você quer? — Não quero ser mal-educada. — Não está sendo. — Minha mãe me decapitaria se soubesse. Brick inclinou-se e sussurrou-lhe: — Prometo que não vou contar a ela. 43
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Os lábios de Lisa estremeceram diante da expressão conspiratória no rosto dele. Presa entre a vontade de argumentar e ceder, acabou se rendendo, afundando de volta na almofada e cobrindo o rosto com uma das mãos. — Está bem. Você venceu. Obrigada por me carregar. E eu adoraria uma limonada. Brick apertou-lhe os ombros, depois se ergueu. — Fique aqui. Retirando os sapatos, Lisa o observou sair pela porta da frente e se perguntou o que ele teria ido fazer lá fora. Também estava começando a se perguntar o que ele fora fazer ali, quando o viu entrar com uma pequena caixa embrulhada nas mãos. — Só um minuto — disse ele, dirigindo-se à cozinha. Um momento depois, voltou à sala de estar com a limonada e a caixa. Entregou-lhe as duas e acendeu uma pequena luminária na mesa de canto. Erguendo-lhe os pés, sentou-se na outra extremidade do sofá. — Feliz aniversário! O coração de Lisa se contraiu. Ela olhou para o presente em uma embalagem sofisticada. — Mas... — Sei que estou atrasado, mas, se eu soubesse que seu aniversário estava próximo, teria gostado de tomar parte dele. E continuo querendo. Lisa pousou o copo de limonada no porta-copos e seu olhar voou até Brick. — Não sei o que dizer. Ele deu de ombros. — Por que não abre o presente? Com uma estranha sensação de nervosismo, ela puxou a fita, desembrulhou os papéis e, em seguida, ergueu a tampa da caixa. No interior repousavam, primorosamente, dois bichinhos de cristal, uma corsa e seu filhote. Lisa prendeu a respiração por um longo momento. Havia um significado especial naquele presente. Brick sempre dissera que ela o fazia lembrar-se de uma corça, por causa dos grandes olhos e a timidez. Não gostava que estranhos a comparassem a animais, mas quando Brick o fez, de alguma forma, lhe pareceu diferente. As belas miniaturas lembraram-na, mais uma vez, do desejo que nutria de ter seu próprio bebê. Podia especular que, pela natureza do presente, significava que Brick, por fim, aceitara a sua vontade de ter um filho, mesmo que não quisesse tomar parte nisso. O pensamento rasgou-a por dentro. Inúmeras emoções pungentes puxavam-na em diferentes direções. Sentiu um impulso irresistível de chorar. Clareando a garganta, colocou os bichinhos de cristal, com cuidado, sobre a mesa de canto. — São lindos, Brick. Simplesmente lindos! — Gostou? — perguntou ele, envolvendo-lhe um dos pés com a mão. — Adorei. Obrigada. — Seus olhares se encontraram e ela teve a estranha sensação de compartilhar alguma relação com uma corça capturada. Acariciando-lhe o calcanhar com o polegar, Brick se limitou a fitá-la, sem dizer uma palavra. Mas seus olhos. oh, seus olhos estavam repletos de coisas que lhe agitavam a
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alma e faziam seu coração bater acelerado. Repletos de coisas que ela simplesmente não podia acreditar. Lisa pigarreou. — O que está fazendo aqui? — Massageando-lhe os pés. Você não disse que estava cansada? Ela piscou. — Bem, sim, mas... — Será que isso não inclui os pés? — Ele continuou a massagem suave ao longo da planta do pé e Lisa quase gemeu de prazer. — Sim, mas eu não sei. Eu... — Ela suspirou quando ele lhe pressionou o calcanhar com a ponta dos dedos. — Conte-me sobre o seu dia — incitou-a em um tom calmo. Apesar de sua reserva, Lisa sentiu-se reagir àquele tom casual. Deveria lhe dizer para tirar aquelas mãos maravilhosas dos seus pés, o corpo vigoroso fora do seu sofá e deixá-la sozinha. Ele lhe esfregou a parte de trás do tornozelo, e ela conteve um gemido, quando seus músculos tensos começaram a relaxar. O espírito estava pronto, mas a carne era fraca, disse a si mesma, e de imediato soube que o velho provérbio não se aplicava. A quem ela estava enganando? Era um poço de feminilidade desesperada por um pouco de amor e atenção. Se Brick estava disposto a lhe massagear os pés e lhe oferecer um pouco de consolo, quem era ela para rejeitar a oferta? Brick não estava fazendo nada de provocante, pensou. Suas mãos teriam um longo caminho a percorrer antes de lhe alcançar os joelhos, quanto mais as coxas, quadris ou, ou... bloqueando o pensamento, Lisa concentrou-se no efeito calmante das mãos dele e exalou um longo suspiro. — Tudo começou quando dei a ré e atingi as compras da sra. Crabapple. Seis sacolas. Ovos, carne, produtos enlatados e dez frascos de vidro de suco de ameixa. — Sra. Crabapple? — repetiu ele, a voz repleta de divertimento. — Minha vizinha. Ela é agradável, mas tem um pequeno problema de prisão de ventre, de modo que ficou realmente aborrecida com a perda do suco de ameixa. — Lisa ouviu uma risadinha abafada e afundou mais no sofá. — Vá em frente. Pode rir. As coisas ficaram piores ainda. Limpei a bagunça e prometi lhe comprar mais suco de ameixa. — Ela fez uma pausa e arqueou o pé na mão dele — E... — incitou Brick. — E um dos meus pneus esvaziou. — Oh, Lisa. — Ele riu e abanou a cabeça. — Quem o trocou para você? — A solidariedade em seu tom aqueceu-a o suficiente para lhe brotar um sorriso irônico nos lábios. — Você quer dizer, depois que tentei trocá-lo sozinha? — Brick fitou-a espantado. — Pois é. O síndico do meu condomínio não estava achando graça nenhuma. Disse que eu estava atrapalhando a saída e a entrada de veículos e causando problemas. Durante o tempo em que trocou o pneu para mim, fui obrigada a ouvi-lo falando mal das mulheres ao volante. — Você não deu um soco nele? Lisa riu. 45
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— Não. Estava atrasada. — Quer que eu dê? — perguntou ele com um meio rosnado grave. Lisa lançou-lhe um olhar agradecido. — Está tudo bem. Eu me conheço. Qualquer dia desses vou atingir as compras dele, também. — Está sendo muito dura consigo mesma. — Não, não estou — disse sincera. — Mas é muita generosidade da sua parte dizer isso. Brick voltou a atenção para o outro pé e começou o mesmo tratamento hipnotizante. — Ooooh. — murmurou Lisa, fechando os olhos. — Suas mãos são incríveis. Vendo a expressão de felicidade no rosto dela, Brick se lembrou de uma vez que ela parecia daquele mesmo jeito e dissera as mesmas palavras. Ele a estava possuindo. Respirou fundo e trabalhou os dedos em torno do seu dedo mindinho com movimentos calmos. A atmosfera, de repente, parecia absurdamente íntima. A saia do vestido que Lisa usava se erguera, deixando-lhe metade das coxas à mostra. Se a situação fosse outra, ele correria os dedos ao longo de suas pernas, joelhos, até lhe alcançar as coxas. Afastaria a saia mais para cima e puxaria as meias para baixo, de modo a lhe tocar a pele sedosa. E, quando terminasse de acariciá-la, faria um avanço furtivo com os dedos para dentro da calcinha dela, onde encontraria sua feminilidade quente, úmida e macia. E, se continuasse naquela linha de pensamento, ficaria louco. Contraiu a mandíbula, ao mesmo tempo em que lhe pressionava suavemente o pé bem-torneado. Lisa gemeu e o som suave soou tão sensual que o fez franzir o cenho, molhado de suor. Ela se encolheu e o pequeno movimento fez sua saia subir um pouco mais. Brick mordeu o interior da bochecha. Precisava se distrair. — Como foi o trabalho esta noite? — forçou-se a perguntar. — Surgiram 20 convidados extras e três garçons não apareceram para trabalhar. Precisei fazer um verdadeiro milagre para multiplicar a comida e acho que percorri pelo menos dez quilômetros com sandálias de salto alto, mas... — Ela fez uma pausa e sorriu triunfante. — Eu consegui. Eles reservaram um banquete de premiação comigo. — Suas pálpebras baixaram. Estava ficando sonolenta. — É muita gentileza da sua parte. Ooooh, isso é tão bom. Um anjo deve ter mandado você aqui esta noite. Brick não se sentia nem um pouco angelical. Estava ansioso para expandir o território que suas mãos massageavam Cada respiração de Lisa penetrava mais fundo em seu âmago, em seu sangue. Ele estreitou os olhos e sem piedade abordou o assunto, mais para apagar o fogo em seu sangue. — Você não falou sobre o seu encontro de ontem à noite — conseguiu dizer em um tom ríspido. — “O sr. Perfeito” era tão perfeito quanto lhe disseram? Lisa abriu os olhos. — Ele foi agradável. Na verdade, foi mais do que agradável. Alto, inteligente e com um bom senso de humor. Brick sentiu um frio na barriga ao ouvir aquelas palavras. Já odiava o sujeito. 46
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— Gostei dele — disse ela. O peito dele apertou. — É mesmo? — murmurou, dizendo a si mesmo que gostar era muito diferente de amar. — Vou sair com ele novamente no próximo fim de semana. — Seus olhos quase se fecharam de novo e Lisa levou a mão à boca para cobrir um bocejo. — Ele meio que me lembra de você. Brick sentiu o chão se mover embaixo dos seus pés. — Oh, sério? — Aham. Só que não tem a sua aversão ao casamento.
CAPÍTULO 6
Brick mal continha a vontade de rugir. “O sr. Perfeito” a fazia lembrar-se dele! Percebeu que sua pressão arterial estava disparando para a zona limite. Sua reação ao comentário de Lisa era um pouco desproporcional, mas não conseguia evitar. Lembrou-se de como, no início do relacionamento dos dois, ele aproveitava todas as oportunidades para avançar na intimidade sexual entre eles. Se “O sr. Perfeito” fosse igual a ele, pensaria da mesma maneira e agiria da mesma forma. As possibilidades do que poderia se desenvolver entre Lisa e o sujeito estouravam em sua mente como explosivos detonando em intervalos de milésimos de segundos. O homem iria beijá-la. Abraçá-la. Fazer amor com ela. Pelo amor de Deus! Pior ainda, poderia tomar o seu lugar na vida de Lisa e acabar se casando com ela. Não conseguiu ficar parado nem mais um segundo. A energia pulsava em suas veias, obrigando-o a se mover. Queria gritar. Correr. Queria acabar com “O sr. Perfeito”. Respirou fundo e fitou-a. Estava prestes a perdê-la e ela, dormindo. Com cuidado, removeu-lhe os pés para fora do colo e ergueu-se do sofá. Entrelaçando os dedos, Brick estalou-os todos de uma só vez. O gesto não aliviou sua agitação. Ainda sentia vontade de socar a parede. Esfregou o rosto com as mãos. Em seguida, pegou a limonada e levou-a para a cozinha. Olhando para o copo, tomou um gole na esperança de que a bebida gelada o esfriasse. Contudo, ainda sentia como se sua pele estivesse retesada. Voltou à sala e decidiu que não podia deixá-la dormindo no sofá. Ergueu-a nos braços e a levou para a cama. Fazia muito tempo que não entrava no quarto de Lisa e a terrível percepção de que, em breve, outro homem poderia tomar o seu lugar na cama dela, o atingiu em cheio. Brick rangeu os dentes. O ultraje o impregnava da cabeça aos pés. A Abertura de William Tell tocou em sua mente e, quando colocou Lisa sobre o colchão, as pálpebras
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dela tremularam. Percebendo, de repente, que havia começado a assobiar, ele mordeu a língua. Lisa exalou um suspiro, virou-se para o lado e adormeceu. Ainda ouvindo o som dos címbalos e da música ligeira, Brick saiu do quarto, desligou as luzes e se concentrou em sair sem fazer ruído. Após trancar a porta da frente, caminhou até o carro. Assim que entrou no veículo, ligou o motor e começou a assobiar novamente.
Seus olhos não eram violeta, pensou Lisa, mas brilhavam com humor e apreciação masculina. Era alto, mas não tão alto quanto Brick. E sua voz era diferente, mais para um tenor do que para um barítono. Tinha um sorriso largo e, no momento, sorria para ela. Lisa se concentrou e esperou por aquele friozinho de prazer na barriga, que devia sentir ao receber a atenção de um homem tão atraente. Esperou enquanto a prata, a porcelana fina e o cristal refletiam as luzes das velas do restaurante. Esperou e nada aconteceu. — Seu filé-mignon está bom? — perguntou Greg Dawson, com sua voz aveludada. — Ótimo — respondeu ela depressa, perguntando por que seu peito não disparava. — Está uma delícia — acrescentou, esboçando um sorriso. — Você disse que trabalha no ramo de construção. Que tipo de serviço faz? — No momento, estou trabalhando em conjunto com um perito em demolições, em uma fábrica. Ele está demolindo uma parte da construção, enquanto eu estou construindo outra. A atenção de Lisa foi atraída à menção das palavras “perito em demolições”. Ela tomou um gole de vinho. — Isso soa meio complicado. — Pode ser — admitiu ele. — A disponibilidade de equipamentos é um dos maiores problemas. Mas vou lhe dizer uma coisa, quando se trabalha com alguém decente, faz toda a diferença no mundo. Desta vez estou trabalhando com Brick. — Brick? — repetiu Lisa, segurando o copo. — Brick Pendleton? — Sim. Você o conhece? Lisa fez que sim com a cabeça. — Ele é um... um... amigo. — Mundo pequeno, não é? Ele é sensato, paciente. Um grande sujeito para se trabalhar. — Greg levou um pedaço do bife à boca e mastigou, pensativo. — Como o conheceu? Lisa procurou uma explicação simples. — No Watering Hole. Você sabe como o lugar fica lotado nas noites de sexta-feira — disse ela depressa, tentando disfarçar o desconforto. — Às vezes, acho que todo mundo em Chattanooga já apareceu por lá uma vez ou outra. — Provavelmente — concordou Greg. — E você disse que são amigos. — Ele riu. Confusa com o divertimento dele, Lisa assentiu, hesitante. — Por que.
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— Deve ter sido em uma noite de folga. — Greg abanou a cabeça e varreu-a com um olhar quente e sedutor. — Estou surpreso por ele não ter dado uma boa olhada em você e tentado fugir dali para se casarem. Lisa sentiu as bochechas corarem. Brick certamente não sugerira nada disso no primeiro encontro, mas seu olhar continha mais significados do que um simples “como vai” ou “prazer em conhecê-la”. Sentiu uma surpreendente pontada rápida de dor. Se ao menos as coisas tivessem sido diferentes. Estúpida, repreendeu-se. Pare de sentir pena de si mesma. Afinal, Greg não era apenas o candidato mais promissor desde que ela começara sua busca por um marido, mas também era um homem bom, alto e atraente. Excelentes genes, acrescentou mentalmente à sua longa lista de atributos, e com certeza daria um ótimo pai. Então concentrou sua atenção de volta à conversa em questão. — Tenho certeza de que sair dali para nos casarmos foi a última coisa que lhe passou pela mente. — Lisa o assegurou. Greg ergueu uma sobrancelha e baixou a voz. — Azar o dele — disse, batendo o copo no dela em um brinde. Azar o dele. Era a mais pura verdade. Lisa encontrou o olhar de Greg, abanou a cabeça e, em seguida, bebeu o vinho. Naquele momento, resolveu afastar Brick da mente e se concentrar apenas no homem à sua frente durante o restante da noite. Permitiu que ele a convencesse a dançarem algumas músicas e se recusou a se lembrar da vez que ela e Brick dançaram no apartamento dela. Riu das piadas que ele contou, deixou-o lhe segurar a mão e tentou não pensar em como as mãos de Brick lhe massagearam os pés algumas noites atrás. Porém, no momento em que chegaram à sua porta, estava começando a se sentir desesperada. Saíra com um homem maravilhoso, um homem que parecia, obviamente, atraído por ela, e estava dispersando mais energia tentando não pensar em Brick do que tentando se interessar por Greg. Pelo amor de Deus, o que havia de errado com ela? Um beijo. Beijos eram mágicos, pensou. Beijos poderiam enxugar lágrimas, tristeza e lembranças. Sob o brilho suave da luz da varanda, decidiu que beijaria Greg Dawson e com certeza não pensaria em Brick. — A noite foi maravilhosa. — Greg puxou-a mais para si. — Obrigada pelo convite. Também adorei. — Posso ligar para você de novo? — Claro. — Os olhos dele eram castanhos, pensou ela. Um lindo tom de castanho, mas castanho não era violeta. Lisa praguejou mentalmente. Greg curvou a cabeça até seus lábios ficarem a centímetros dos dela. — Acho que é hora de dizer “boa-noite”. — Acho que sim — repetiu Lisa, esperando a onda de prazer que estava rezando para sentir. Talvez, se fechasse os olhos, pensou, e de imediato os fechou. A seguir, prendeu a respiração em antecipação. Por fim, a boca de Greg tocou a sua. Foi um roçar suave. Com Brick, o movimento teria sido absurdamente sensual. Mas ela não sentira nada.
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Droga. Ficou imóvel, esperando por aquele friozinho na barriga. Esperando o coração acelerar. Uma grande frustração a dominou. Talvez, se assumisse um papel mais ativo, as faíscas começassem a voar. Franziu os lábios e Greg pareceu perceber a mensagem, aprofundando o beijo. Após alguns instantes, ele se afastou gradualmente, os olhos turbulentos com desejo e desagrado. — Quem é ele? O coração de Lisa afundou. — Ele quem? Greg abanou a cabeça. — Você me beijou como uma mulher que está tentando esquecer outro homem e tendo dificuldades para fazê-lo. Fingimento é um insulto a nós dois, Lisa — advertiu-a. Sentindo-se envergonhada e derrotada, ela exalou um pesado suspiro. — Sinto muito. Você não sabe o quanto — disse, à beira das lágrimas. — Se você não fosse tão bom, eu poderia odiá-lo por ser tão perspicaz. — Quanto tempo faz? Lisa deu de ombros. Estava totalmente aborrecida consigo mesma. — Obviamente, não faz tempo suficiente. — Ela retirou as chaves da bolsa com um movimento bruto. — Não sei como lhe dizer o quanto sinto. — Eu também — disse Greg, com uma nota de humor na voz. Lisa o fitou e pensou: Deus, por que não posso me apaixonar por ele? — A mulher que se apaixonar por você terá muita sorte — disse sincera. Greg deu um meio-sorriso. — Eu sei. Lisa riu. — A situação é calamitosa e você me fazendo rir. Ele abanou a cabeça. — Poderia ser pior. — Tirando um cartão do bolso, colocou-o na mão dela. — Quando conseguir esquecer esse sujeito, ligue-me. Lisa assentiu e desejou-lhe “boa-noite”. Mas, quando entrou em casa, não queria saber quando ia esquecer Brick. Queria saber se conseguiria esquecê-lo. Na segunda-feira, levantou-se às 4h30 da manhã. Ainda revoltada com a sua falta de atração por Greg Dawson, resmungou consigo mesma enquanto vestia uma calça jeans e uma camiseta. Não tinha obrigação de ir a lugar nenhum com Brick, muito menos assistir a um desmonte de rocha agendado para a expansão de um escritório, naquela manhã, mas concordara em ir, na semana anterior ao desastre com Greg ocorrer. Tentou ligar para Brick para cancelar, mas a secretária eletrônica dele não estava funcionando. Após escovar os cabelos, prendeu-os na nuca. Não era um encontro, Brick lhe assegurara. O escritório central da empresa onde ele trabalhava o chamara, pedindo-lhe para fazer a implosão, já que o perito habitual não estava disponível. Ele recordara que Lisa lhe dissera que gostaria de vê-lo em ação. Na ocasião, tudo lhe pareceu inocente, mas interessante. 50
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Agora não tinha tanta certeza. A campainha tocou. Ela fez uma careta para o espelho. Nem um pingo de maquiagem no rosto. Bem, pelo menos não podia ser acusada de tentar matar Brick com sua beleza, pensou, enquanto pegava os tênis no armário e se dirigia à porta da frente. Ao vê-lo, seu coração quase parou. Droga. Lisa franziu o cenho. — Oi. Deixe-me apenas colocar os tênis e estarei pronta. Brick ergueu as sobrancelhas ao ouvi-la e observou-a se concentrar em amarrar os cadarços. Parecia bem disposta, mas com sono, e ele se pegou recordando a vez em que foram andar de trenó no inverno anterior. Persuadiu-a a tentarem por 15 minutos. Ela gostou tanto de descer a colina no carrinho que acabaram ficando por uma hora. Era uma de suas características que o emocionavam. Às vezes, Lisa precisava ser persuadida. Ele sentiu uma serenidade em seu interior. — Tenho um pouco de café para você no carro. — Obrigada. Ele reprimiu um sorriso e a seguiu até a porta. — Não é muito produtiva de manhã, não é? — Não se 4h30 for considerado manhã. Há quanto tempo você faz implosões para essa empresa de construção? Eu não aguentaria uma semana. — Alguns rapazes não aguentam. — Ele abriu a porta do carro. — Fui dinamitador por dez anos, fiz uma tonelada de viagens e estava farto de quartos de hotel, então disse ao meu chefe que precisava de uma mudança. Você já sabe que ele me colocou como chefe do departamento de demolição de Chattanooga, há dois anos, e o resto é história. — Ele retirou o copo da garrafa térmica, encheu-a com café e lhe ofereceu. — Aqui está. Lisa franziu os lábios e soprou, em seguida tomou alguns goles rápidos. — Obrigada. Parecia mais sincera dessa vez. As pálpebras se fechavam sonolentas, fazendo-o se lembrar de um gatinho com sono. Brick pensou que, se as circunstâncias fossem outras, ele a teria beijado para despertá-la. Se as circunstâncias fossem outras, não se sentiria como se estivesse caminhando por um campo minado. — Não sabia que você precisava de uma dose de cafeína para despertar de manhã. Lisa o fitou por alguns instantes. — Não acordou muitas vezes de manhã ao meu lado para saber, não é? Touché. O gatinho tinha garras. Brick observou-a se acomodar no assento e, a seguir, fechou a porta do carro. Então, franziu a testa, pensativo. Alguma coisa estava errada, e não se tratava apenas de uma simples irritabilidade matutina. Podia sentir seu desagrado, pesado e profundo. A dor familiar, desde que Lisa o deixara, apertou-lhe o peito. Queria ser o homem de que ela precisava. O único a quem ela confessava que batera com o carro, dando ré. Queria seus risos, lágrimas, vitórias e fracassos. Inferno, queria tudo isso, mas uma dúvida interminável sobre algo mais obscuro do que alianças de casamento o mantinha na corda bamba. Brick tomou um gole do próprio café e se descartou do restante. Seus pensamentos já lhe provocavam um gosto amargo o suficiente na boca, sem a adição de café puro.
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Controlando o mau humor, entrou no carro e deu partida. Lisa permaneceu calada por vários minutos. — Você está bem? Tem algo em mente incomodando-a? — Não tenho certeza se minha mente já está trabalhando. Brick relaxou um pouco. — Está tudo bem com a sua família? Não tem falado muito neles nos últimos tempos. — Minha irmã mais nova, Janine, está reformando uma casa antiga com o novo marido. Minhas outras irmãs lhe disseram que, se o casamento dela sobreviver a isso, sobreviverá a qualquer coisa. — Lisa riu. — Acho que ela e o marido já concordaram em não colocar papel de parede. Brick parou em um semáforo e olhou para ela. — Não sabia que Janine havia se casado. Quando foi isso? Lisa desviou o olhar. — Em maio, próximo ao meu aniversário. Tenho a impressão de que você estava fora da cidade. — Parece que perdi muitas coisas importantes, durante minha ausência da cidade, naquela ocasião. — Ele franziu a testa, assimilando a nova informação e se perguntando o que fazer com ela. — Então, todas as suas três irmãs mais novas estão casadas, agora. Renee é casada com o cara da força aérea. Tina e o... — Jeff — concluiu ela. — Ele é encanador. Os dois vivem em Memphis a poucos quarteirões dos meus pais. Todas casadas, exceto ela. Brick desejou saber se isso fazia parte da razão pela qual Lisa parecia tão obcecada pelo casamento. Seria loucura tocar no assunto. Mas, naquele momento, a loucura lhe parecia certo e decidiu falar. — Seus pais nunca cobraram que você se casasse? Brick sentiu-a enrijecer ao seu lado. — Não muito — respondeu ela, em uma voz calma. — Meu pai me provocou um pouco no casamento de Janine, quando não consegui pegar o buquê da noiva. Minha mãe perguntou quando eu o apresentaria a eles. Brick sentiu uma resistência formidável nela, mas estava determinado a continuar para saber tudo sobre Lisa. — E o que você respondeu? Ela hesitou. — Disse que você estava muito ocupado com o trabalho. Ela mencionou algo sobre querer vê-lo no casamento de Janine, e eu fingi que não ouvi. — Por quê? — Caso tenha esquecido, casamentos estão relacionados a compromissos — respondeu ela, em um tom exasperado. — Você teria ficado louco. — Talvez sim — admitiu ele. — Talvez não. Preferia que você tivesse me perguntado. Gostaria de ter conhecido sua família. Brick sentiu o olhar dela sobre ele. 52
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— Está dizendo que teria concordado em ir? — Não sei — respondeu, cauteloso. — Teria me esforçado se achasse que era importante para você. Casamentos também estão relacionados à família. Lisa abanou a cabeça e cruzou os braços. — Não acredito em você. Brick sentiu uma onda de irritação ao se aproximarem do local da construção. — Mas você não sabe, não é? Porque nunca me perguntou. — Você queria tudo superficial. Sem compromisso. — É verdade — confessou ele, estacionando o carro. Quando viu que ela não ia olhar para ele, colocou o dedo sob seu queixo e obrigou-a a encontrar seu olhar. — Mas diga-me pelo menos uma vez em que não me interessei por você. Como amiga, como mulher de negócios, como amante. Inferno, como uma mulher que dá ré e bate com o carro em algo novo quase toda semana. Diga-me uma única vez. Os olhos de Lisa estavam arregalados de apreensão. Ele queria que estivessem arregalados de admiração. Queria beijá-la, unir suas bocas e acabar com aquela tolice entre os dois. Guiado por uma consciência inata da sensualidade de Lisa, Brick fez a melhor coisa depois de um beijo e roçou o polegar sobre os lábios dela. Para frente e para trás, para frente e para trás, até gentilmente lhe introduzir o dedo na boca. Lisa instintivamente sugou-o com os lábios, fazendo-o enrijecer. Brick afastou o polegar lentamente e levou-o à boca. — Você não pode se lembrar de uma única vez, porque nunca houve uma — murmurou com a voz rouca. — Daqui a alguns minutos, vamos sair do carro e não poderei mais me distrair, pensando em você. Pensando no quanto gostaria de abraçá-la e beijá-la pela próxima hora, sem sequer parar para respirar. Pensar no seu corpo por baixo dessa camiseta e calça jeans. No quanto sinto falta de tocá-la. Ou isso poderia pôr o trabalho todo a perder. Olhando para os olhos turbulentamente excitados de Lisa, Brick respirou fundo e pegou os capacetes no painel. — Aqui está o seu capacete. Vou apresentá-la ao superintendente, e então quero que observe tudo. Quero que perceba como as fundações parecem antes e como ficam depois. E, depois que tudo terminar, vamos conversar. Envolvendo-lhe a mão com a sua, puxou-a para fora do carro em direção ao local. Lisa o seguiu automaticamente, mas sua cabeça estava dando voltas. Não sabia o que pensar ou dizer. No momento, só podia sentir. Seus lábios ainda queimavam pelo toque dos dedos dele e seu coração batia tão forte como se estivesse retumbando em seu peito. Deus a ajudasse, tinha a impressão de que não se recuperaria de ouvir Brick dizer aquelas coisas. Pela primeira vez, se perguntou se isso significava que, não importava o que dissesse sobre terminar o relacionamento, Brick jamais se afastaria dela. Seu estômago revirou com o pensamento. Lutou contra a euforia selvagem ao mesmo tempo em que tentava se convencer de que aquilo não tinha importância. Ela e Brick estavam a quilômetros de distância quando se tratava de futuro. De alguma forma, respondeu ao cumprimento do superintendente, mas sua mente ainda estava em Brick. 53
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Não dava para esquecer o que ele dissera. Era o tipo de declaração com que ela sempre sonhara. As únicas palavras que faltaram foram “eu te amo” e “quer se casar comigo?” Lisa mordeu o lábio, atingida por uma dose fria e dura de realidade, porque sabia que era pouco provável que ouvisse essas palavras cruciais que faltavam. Dois caminhões pararam no estacionamento de cascalho e os motoristas imediatamente chamaram Brick. Um instinto de sobrevivência emocional surgiu de repente, fazendo-a parar de pensar sobre o que Brick dissera. Em vez disso, começou a prestar atenção nos arredores. Àquela hora da manhã, não havia muito tráfego. O canteiro de obras fora isolado por uma cerca de arame e, na escuridão, antes do amanhecer, aos seus olhos inexperientes, parecia um amontoado de máquinas, terra e rocha. A rocha era o problema. A construção do anexo não podia continuar até as fundações terem sido todas escavadas. Observando mais de perto, estreitou o olhar e viu que Brick estava examinando os furos para os explosivos. Ao amanhecer, ele inseriu os cartuchos nos furos. — Por que cartuchos de explosivos? — perguntou ela ao homem ao seu lado. O rapaz apontou para o prédio de escritórios. — Se sobrecarregarmos e houver lançamento de fragmentos de rocha, muita gente pode se machucar. Janelas podem quebrar. Lisa olhou para o desenho intrincado das fileiras de furos, conectores e fios e meneou a cabeça ante a complexidade daquele pequeno projeto. — Como ele sabe onde colocar e qual a quantidade? O rapaz deu de ombros. — É preciso anos de experiência. Brick é o melhor. É por isso que o gerente operacional da empresa fez o possível para mantê-lo no departamento de demolições. Isso lhe deu uma perspectiva inteiramente nova sobre Brick. Ele parecia verificar os pontos críticos pelo menos umas dez vezes. Andava para um lado e para o outro, tentando perceber algo que pudesse ter esquecido. Totalmente cauteloso, pensou ela, e desejou saber se a mesma cautela repercutia em seu envolvimento emocional. Seria o tipo de homem que teria que caminhar sobre o mesmo terreno inúmeras vezes até dar o passo final? A noção não lhe acalmou a mente, mas lhe deu algo mais em que pensar, algo que ela sabia que ficaria no fundo da sua memória por um bom tempo. Brick colocou malhas de aço sobre cada buraco e, em seguida, trouxe os bornes para a área protegida onde ela se encontrava. — Vá em frente e faça soar o sinal de alerta — disse ao homem ao seu lado. O som potente de uma sirene sacudiu Lisa. Tapando os ouvidos, ela quase arrebentou para fora da pele. Brick parecia alheio ao ruído, mas notou a reação dela. Ele sorriu. — Gostaria de acordar todas as manhãs com este barulho em vez do seu rádiorelógio? Ela riu, incrédula. — Tanto quanto você. 54
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— Está bem. Prepare-se. Lisa o viu conectar os fios e pegar algo do tamanho de um lápis. — O que é isso? — perguntou ao jovem, não querendo distrair Brick. Mas ele parecia tê-la ouvido falar, de qualquer maneira. — Isto é um detonador não elétrico. É mais seguro do que o usado antigamente. — Ele recebeu autorização do superintendente através de uma mensagem de rádio. Então, verificou o local mais uma vez e gritou: — Pode detonar! Em menos de um segundo, a terra foi abalada pela explosão e seguiu-se um estrondo ensurdecedor. Lisa teve de resistir ao impulso de se agachar. Era bobagem, mas continuava esperando que alguém dissesse “abaixem-se!” A rocha se transformou em uma nuvem de poeira. Era uma visão incrível, ver todo aquele maciço se fragmentar em frações de segundos. Mesmo sabendo o que ia acontecer, não esperava ficar tão fascinada pelo poder da explosão. — É melhor fechar a boca ou vai engolir muita poeira — aconselhou Brick ao seu lado. Lisa sabia reconhecer a voz da experiência quando a ouvia e obedeceu.
Pouco mais de uma hora depois, após Brick ter inspecionado o local do desmonte e preenchido a documentação, os dois deixaram o lugar. — Que tal comprarmos um almoço em uma lanchonete e levarmos para o meu apartamento? Preciso tomar um banho. Lisa concordou e o bombardeou com perguntas durante todo o trajeto até a casa dele. Brick respondeu pacientemente a todas elas e traduziu alguns dos jargões técnicos. Só depois que ele foi tomar banho é que ela percebeu que era a primeira vez que entrava naquele apartamento. Lembrou-se do quanto sonhara com aquela oportunidade. Senada havia lhe dito que era bobagem, mas ela sempre desejou que Brick a convidasse para conhecer seu espaço pessoal. Agora que estava lá, não sabia para onde olhar primeiro. Ele provavelmente assistia aos jogos dos Braves sentado no sofá em frente à televisão, imaginou. Seu olhar saltou do grande e confortável conjunto de estofados, que ocupava uma parede, para a aparelhagem de som em uma pequena estante. Havia CDs de rock e country-western, em uma das prateleiras. Nary, um clássico, contaminava o restante, notou com um sorriso. Na prateleira de baixo havia vários álbuns de fotografia. Seus dedos coçaram de vontade de abri-los e desvendar os segredos do passado de Brick. A tentação era enorme. Só não o fez porque suspeitava que ele não demoraria muito para sair do banheiro. Com um suspiro relutante, se afastou dos álbuns e encontrou uma coleção de fotos na parede. Todas da família, suspeitou. Havia fotos de três casamentos diferentes. Carly e Russ, Erin e Garth e Daniel e Sara. O resto eram fotos variadas tiradas com os irmãos, com exceção de uma foto antiga. — Esses são minha mãe e meu pai. — A voz de Brick soou no corredor. 55
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Lisa se virou depressa e o fitou. Seus cabelos ainda estavam molhados. A camisa desabotoada deixava a umidade em seu peito à mostra. Por alguma razão, a visão a deixou com sede. Ela engoliu em seco. — Não ouvi o chuveiro desligar. Um sorriso lento curvou os lábios de Brick. — Talvez a sua audição tenha sido afetada pela sirene da explosão. — Talvez — concordou ela, sentindo o humor dele arrebatar algo dentro dela. — Gosto do seu apartamento. Brick deu de ombros. — É um lugar para comer e dormir, não tão bom quanto o seu. Lisa inclinou a cabeça para um lado, considerando o que ele dissera. — É por isso que nunca me trouxe aqui, quando estávamos... — Ela procurou uma palavra. Namorando era uma palavra muito forte. — Quando estávamos... — Juntos. — Brick terminou para ela. — Sempre gostei mais de estar no seu apartamento do que no meu. O seu parece um lar de verdade. — Ele fez uma pausa e a estudou. — O fato de nunca tê-la trazido aqui a incomoda? — Oh, não — respondeu Lisa depressa demais. — Eu achava que era mais conveniente para você ou que talvez quisesse preservar sua privacidade. Brick ergueu uma sobrancelha em descrença. — Por que será que tenho a impressão de que falhei nisso, também? — Não, sério. — disse ela em um tom repleto de constrangimento. — Não acho que... Ignorando seu protesto, Brick segurou-a pelo pulso e puxou-a. — Deixe-me lhe mostrar o restante do apartamento. — Enquanto a conduzia pelo corredor, o motivo que o levara a manter seu relacionamento com Lisa tão isolado do restante da sua vida o atingiu em cheio. Seu tempo com ela era tão especial que não queria compartilhá-lo com ninguém Estar com Lisa sempre o fizera sentir como se tivesse voltado para casa. Suspirando, desejou encontrar uma maneira de lhe dizer aquilo naquele momento. Fitou-a com atenção, desejando saber se faria alguma diferença para ela. — Uma marinha — disse Lisa, apontando para um quadro acima da cama kingsize, no quarto dele. — Sim, é o único inconveniente de se viver no Tennessee. Sem oceano. — Entendo o que você quer dizer. Também adoro a praia. — Seus olhos se arregalaram, como se tivesse acabado de se lembrar de algo. — Por falar nisso, embarcarei em um cruzeiro de fim de semana, no próximo mês. O sorriso de Brick congelou no rosto. — Com “O sr. Perfeito”? — perguntou, tentando soar casual. Lisa fez que não com a cabeça. — Não. Aquele serviço de encontros que lhe falei está patrocinando um cruzeiro, por isso me inscrevi. — Suas mãos se agitaram até que ela as unisse. — Nunca se sabe, não é. — disse, encolhendo os ombros e desviando o olhar. — Luz do luar... música, e brisa marinha podem incitar alguma coisa. 56
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Lisa parecia como se estivesse esperando ser incitada, e Brick queria ser o único a incitá-la. Ele entrelaçou os dedos e se conteve antes de estalá-los todos de uma só vez. — Vamos comer — disse ele, e em seguida começou a assobiar. Aproveitou a oportunidade para segurá-la pelo cotovelo e parar junto à porta. — Então, o que achou do desmonte? Lisa se virou e seus rostos ficaram subitamente próximos. A área era pequena e o corredor estava na penumbra. Brick inspirou o suave perfume feminino e percebeu que havia um longo tempo não viviam uma situação tão íntima. Fitou-a no fundo dos olhos e sentiu o ar crepitar ao redor deles. Lisa tinha que sentir o mesmo, pensou. Tinha que sentir aquela atração que nunca se extinguira. — Parece que isso está ficando ainda mais forte — murmurou para si mesmo, querendo tocar-lhe uma mecha de cabelo. Mas, em vez disso, deixou a mão escorregar e lhe acariciou o pulso, que batia acelerado. Lisa desviou o olhar, mas não se afastou. — Isso o quê? — perguntou em voz baixa. Brick fez um sinal de negativa com a cabeça. — Nada. Perguntei o que você achou do desmonte da rocha. Ele a observou engolir com dificuldade. — Foi incrível. Tão poderoso. Foi uma surpresa constatar que aqueles explosivos e pequenos fios têm o poder de transformar uma rocha tão dura em pó. Brick ergueu-lhe a mão e pousou-a sobre o peito nu, onde seu coração rugia como um trovão. — Talvez você me entenda um pouco melhor agora. — O que quer dizer? — murmurou ela como se não conseguisse falar mais alto. Brick sentiu um arrepio de excitação em sua pélvis. — Você viu o que a dinamite fez com aquelas fundações. — Ele abaixou a cabeça e cedeu à tentação de abrir-lhe o prendedor de cabelo. — Você faz o mesmo comigo.
CAPÍTULO 7
O coração de Lisa saltou para a garganta. Com Brick tocando-lhe os cabelos e o latejar do pulso dele contra a palma de sua mão, ela se sentiu vulnerável e abafou uma prece de ajuda. Ou talvez fosse um apelo por ele. Confusa, afastou a mão. O gemido entrecortado de Brick provocou-lhe um nó no peito. — Pelo amor de Deus, Lisa, toque-me. Em qualquer lugar ou em todos os lugares, mas toque-me. 57
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Aquilo era demais. Ela tentou desviar o olhar, mas seus olhos violeta a mantinham cativa com mais eficiência do que um guarda armado. O desejo em sua expressão obrigava-a a se render aos próprios anseios contidos. Todo o seu corpo parecia gritar para ficar junto a ele. Tímida, ergueu as mãos para lhe envolver o rosto. Quando suas palmas lhe tocaram a pele, ele fechou os olhos, como se o toque fosse agradável demais para suportar. — Brick. — murmurou ela, hesitante. — Eu não... Virando o rosto, ele lhe beijou uma das mãos. — Não pare — implorou, quando Lisa lhe acariciou os cabelos ainda úmidos. — Não quero abrir meus olhos. — Ele afundou os dedos por entre os cabelos dela. — Tenho medo de que você desapareça. Talvez isso seja mais um sonho. Talvez não seja real. Lisa sentiu a garganta apertada e engoliu em seco. — Eu sou real. Sempre fui. — Impulsionada pelo desejo primordial de lhe provar o que estava dizendo, aproximou-se e colou o corpo ao dele, os seios sensíveis pressionados contra o peito rígido, a pélvis roçando a rigidez de sua ereção. De modo instintivo, apartou as coxas, permitindo que Brick encaixasse uma das pernas musculosas entre elas. Colocando-se na ponta dos pés, Lisa cedeu a outro desejo e uniu a boca à dele. Seus lábios eram como cetim, quentes e úmidos, e seu sabor doce despertou um desejo feroz em Brick. Sentia-se como um náufrago, há dias no mar, que recebia seu primeiro gole de água potável. Em algum recanto da mente, sabia que devia ir com calma; não devia deixar transparecer a intensidade do seu desejo, mas não era uma questão de escolha. Era um instinto vicejante, arraigado em suas entranhas que o lembrava de quão desesperado se sentia por ela. Brick introduziu a língua por entre seus lábios, familiarizando-se com os segredos de sua boca mais uma vez. Lisa prendeu a respiração e escorregou as mãos para os ombros dele, em busca de apoio. Ele sentiu o aperto dos dedos finos em sua carne, os mamilos túmidos provocandolhe o peito e o suor começou a lhe brotar na testa. A cada pequeno movimento daquele corpo feminino de encontro ao seu, era como se tivesse sido atingido por uma descarga elétrica. Sua mente entrou em curto-circuito e, por um glorioso momento, só existia Lisa, ofegando suavemente e tomando tudo o que ele podia lhe dar. Puxando-a para si, desceu uma das mãos pelas costas dela e subiu a outra para lhe tocar um dos seios. O mamilo enrijecido se projetou de encontro à palma da sua mão e de repente aquilo não era mais suficiente. — Quero sentir a sua pele — murmurou ele, ao mesmo tempo em que lhe beijava o pescoço. Com um movimento ágil, puxou-lhe a camiseta para fora do cós da calça jeans, correu os dedos de modo provocante pelas curvas da sua cintura e subiu para introduzir a mão por baixo do sutiã e lhe envolver um dos seios. Ao primeiro contato da sua mão na pele macia, o gemido de Lisa misturou-se ao seu. Brick esfregou-lhe o mamilo entre o polegar e o indicador. Ela se contorceu desesperada com a carícia, fazendo a camiseta subir um pouco mais.
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Com o corpo tenso como um arame esticado, ele inspirou o ar e seus lábios desceram para o mamilo sensível. Os joelhos de Lisa enfraqueceram. Brick provocou-a com a língua e os dentes, até ela sentir todos os seus recantos íntimos vibrarem. Era como se seu corpo soubesse o que a mente negava. Todos os movimentos dele eram um convite a fazerem amor. Brick encostou-a à parede, capturando-a na diminuta prisão entre seu corpo e os braços. — Quero tirar seu jeans — disse, colocando as mãos nos quadris dela. — Quero tocar suas pernas e apartá-las. Aquelas palavras a chocaram e emocionaram ao mesmo tempo. Lisa notou o desejo flagrante, explosivo e abrasador, nos olhos de Brick, e desejou saber se depois que ele a beijasse de novo restaria algo nela, além de cinzas. Mas de repente não conseguia pensar em mais nada, porque ele havia flexionado os joelhos e sua ereção, sob o tecido da calça jeans, tocou-lhe a região entre as coxas e, em conjunto com a sua boca, a levaram ao redor do mundo com um beijo sôfrego. O cheiro feminino o estava enlouquecendo, pensou Brick. Em sua imaginação sua língua fazia amor com Lisa e ela estava aberta, úmida e suscetível. Aprofundou o beijo e ela o recebeu com a língua e os lábios. Roçou o corpo de encontro ao dela e ela o cingiu com as coxas. Os seios nus estavam pressionados eroticamente de encontro ao seu peito, os cabelos sedosos provocavam-lhe a pele do pescoço. Mas era o cheiro de Lisa que o fazia experimentar aquela sensação de descontrole, de aperto no peito e secura na boca. Precisava respirar, precisava pensar, mas seu desejo era um trem de carga que rugia em alta velocidade. Segurando-lhe os quadris com as mãos, investiu de encontro ao corpo dela, selvagemente, no mesmo ritmo da sua língua. Lisa gemeu e afastou as pernas. Brick sentiu a primeira onda de prazer e xingou baixinho. Queria estar dentro dela de verdade e não apenas em pensamento. Seu corpo precisava da satisfação. Seu corpo fora induzido a acreditar que Lisa estava úmida, aberta e nua. Estremeceu com a intensidade do seu clímax e Lisa se agarrou a ele com as mãos trêmulas. Afastando os lábios, ambos ofegaram. Um pequeno gemido arfante escapou-lhe dos lábios e, por um momento, enquanto encostava a testa contra a parede fria, Brick se perguntou se ela estaria tão excitada quanto ele. A evidência física de seu prazer, no entanto, o trouxe de volta à realidade. Afastou-se e Lisa envolveu-lhe o pescoço com as mãos. — Oh, Deus, Brick. A súplica em sua voz fez o peito dele apertar. Suspirou e abraçou-a, suportando a tortura e a doçura daquele corpo parcialmente vestido. Permaneceu assim, com ela nos braços, por alguns instantes, até senti-la recuperar o fôlego. Contendo o desejo desenfreado, deu um passo decisivo para longe. Sentia-se como um touro no cio e não queria ver o olhar de espanto ou censura no rosto de Lisa. — Brick.. você. — Ela pousou a mão no braço dele, forçando-o a se virar e a encará-la. A expressão em seus olhos verdes era de excitação e confusão. — Eu... — parou e meneou a cabeça como se não conseguisse articular os pensamentos.
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Brick conseguia articular os seus, mas as palavras provavelmente lhe teriam chamuscado os ouvidos. Ainda envolto em uma tonelada de sentimentos diferentes, engoliu em seco. — Não tente dizer nada. Só me dê um minuto e vou encontrá-la na cozinha. Ela o fitou com os olhos arregalados. — Mas... — Por favor — insistiu ele em um tom áspero, e afastou-se. Lisa permaneceu no corredor por um minuto, após ele fechar a porta do quarto. Suas pernas ameaçavam ceder. Encostou-se à parede. Seu equilíbrio fora atingido. Sentia-se como uma pessoa com todos os membros amputados, mas não o chamou. Não lhe diria que seu corpo ainda fervia de desejo ou que quase chegara ao clímax como ele. Não lhe diria que tocá-lo era tão bom que beirava o insuportável. Acima de tudo, não lhe diria que o amava. Não tinha certeza se ele gostaria de ouvir aquela confissão e, afinal, isso não importava, porque, apesar de Brick mostrar interesse e desejo por ela, era óbvio que não a amava. Pelo menos, não o suficiente para pedi-la em casamento.
O incidente a deixara mais cautelosa, Brick notou uma semana mais tarde, enquanto discutiam a possibilidade de coordenar o transporte para entregar sobras de comida não servida, das festas de Lisa, aos abrigos da região. Quando ela insistiu para almoçarem em um lugar público, ele percebeu que havia perdido terreno e amaldiçoou sua reação desenfreada, mais uma vez. Lisa parecia amigável, mas um pouco nervosa. Porém, conseguiram consolidar os preparativos e Brick estava determinado a manter cada elo de ligação entre ambos. Estando a par dos horários de trabalho dela, passou a lhe ligar durante as horas de folga todos os dias, para conversar e saber como ela estava passando. Era incrível o que aprendera com aquelas conversas, apenas ouvindo-a. A voz de Lisa tinha o poder de excitá-lo, mas ele concluiu ironicamente que seu corpo devia ter percebido que algumas coisas simplesmente não podiam ser feitas por telefone. A cada conversa, aprendia algo novo sobre ela. Como o fato de que rosas brancas eram as suas flores preferidas e que ela mantinha um estoque secreto de balas sabor tutti frutti. Soubera também que Lisa nunca tivera um namorado firme na adolescência. A confissão o fez querer desenterrar o seu anel do ensino médio. Namorar sério ele conseguia, pensar em casar não. Brick notou que ela falava com frequência nos familiares, levando-o a crer que eles eram muito importantes em sua vida. E que se preocupava demais com as amigas, agindo como uma espécie de mãezona. Embora ele tivesse dificuldade em aceitar essa realidade, era lógico que uma pessoa assim gostaria de ter bebês. Intrigado, perguntou-se por que o pensamento de ter bebês não o abalava tanto quanto a ideia de se casar.
O telefone tocou mais tarde do que o habitual naquela quinta-feira. Lisa havia começado a encarar suas conversas com Brick como um dos prazeres proibidos, que vinha se permitindo nos últimos tempos. Encontros com a missão de encontrar um marido eram muito extenuantes. 60
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Ela e Brick não costumavam falar sobre assuntos profundos, mas suas conversas leves a faziam se sentir importante. E, já que se encontravam separados por quilômetros, não precisava se preocupar em fazer alguma coisa tola, como lhe pedir para beijá-la novamente. Em vez disso, podia apenas desejar, pensou sombriamente, enquanto pegava o receptor. — Alô — disse, esperando ouvir a voz dele do outro lado da linha. — Oi. Tudo bem com você? — respondeu ele com uma voz arrastada. Lisa franziu o cenho. — Brick? Que voz estranha! Você está bem? — Sim. Apenas com um pouco de dor de cabeça. Suas palavras soaram confusas, o que a fez sentir um tremor de preocupação. — Está doente? — Não, não, não. — Brick exalou um longo suspiro. — Liguei para saber de você. Lisa ficou tensa. — Não quero falar sobre mim. O que há de errado? — Na verdade, nada, com exceção da minha cabeça. Parece que foi detonada por uma equipe de desmonte. — Já foi ao médico? — Sim. Eles me deram um remédio no setor de emergência. Deve ser por isso. — Setor de emergência? — Ela quase gritou. Um longo silêncio se seguiu. — Lisa, por favor, não grite comigo agora. Ela respirou fundo várias vezes para conter o pânico. — Por que foi parar no setor de emergência? — Não foi nada de mais. Levei um pequeno tombo e sofri um arranhãozinho na cabeça. O instinto de Lisa lhe dizia que a definição de Brick de arranhãozinho estava a milhas de distância da verdade. — Você caiu de onde? Brick exalou outro suspiro pesado. — De uma escada de seis metros, mas nem precisei levar muitos pontos, e, Lisa, você sabe o quanto a minha cabeça é dura. Cada nova informação que conseguia arrancar dele só a fazia se sentir mais ansiosa, e ele continuava atropelando as palavras. — Programei o despertador para me acordar de hora em hora, por isso. — Dentro de dez minutos estarei aí — interrompeu ela em um tom firme. — Não precisa. Isso vai passar. Lisa sentiu uma sensação de queimação estranha sob as pálpebras. Não conseguia explicar sua relação com Brick a ninguém, muito menos a si mesma, mas sabia que não podia deixá-lo sozinho depois de ele ter se ferido. 61
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— Dentro de dez minutos — repetiu e desligou o telefone apressada. Brick estremeceu com o ruído estridente reverberando através de sua mente e afundou a cabeça no travesseiro devagar. Se não tivesse se olhado no espelho, uma hora atrás, podia jurar que sua cabeça estava do tamanho de uma melancia. O médico insistira para que ele permanecesse no hospital durante a noite, mas sua aversão a hospitais falou mais alto, fazendo-o lançar mão de todas as suas habilidades persuasivas para receber alta. Seu diretor lhe dera uma carona até em casa e prometera voltar mais tarde para vêlo. Após chegar, Brick tomou um banho, ligou para Lisa e agora estava exausto. Fecharia os olhos apenas por um minuto, disse a si mesmo. Ela não demoraria a chegar. Alguém estava batendo na melancia, decidiu, momentos mais tarde. As batidas que ouvia pareciam penetrar em seus vasos sanguíneos e ossos. Uma voz feminina o chamou e ele percebeu que era Lisa. Arrastou-se até a porta e abriu-a. Tudo parecia um pouco confuso, exceto a preocupação que viu estampada no rosto dela. Lisa meneou a cabeça e entrou na sala. — Oh, Brick, você devia estar na cama. — Ela largou a bolsa sobre uma cadeira e um embrulho que cheirava a canja de galinha. Segurando-o pelo braço, gentilmente o conduziu pelo corredor. — Vamos. Você não deve ficar em pé. — Eu não podia abrir a porta da minha cama — resmungou Brick, mas acatou a sua preocupação. O perfume feminino penetrou-lhe nas narinas, fazendo-o se sentir mais tonto do que já estava, mas era um tipo de tontura agradável. Respirou fundo. — Deus, você cheira tão bem. Eu poderia comprar um estoque inteiro desse perfume. Qual o nome? Suas palavras ainda soavam confusas, Lisa reparou. — Obsession — respondeu distraída, empurrando-o para a cama. — Sou eu, obcecado. — Brick parou, sentindo um desconforto momentâneo em ser carregado por ela. — Espere um minuto. Quer algo para comer ou beber? Eu tenho... — Pode esquecer as regras da boa educação, por favor? Se eu quiser algo para beber, vou buscar. No momento, estou preocupada com você. Não estou gostando da aparência desses pontos, da cor do seu rosto e muito menos da maneira como suas frases soam confusas. Brick enfiou os polegares no cinto e franziu a testa. Era a carranca mais sexy que ela já vira, pensou. — Existe alguma coisa em mim que a agrade? — perguntou. Muitas, murmurou Lisa para si mesma, enquanto o fitava. Certo, ele parecia pálido, e o médico, obviamente, mandara raspar parte dos seus cabelos para fazer a sutura. Compaixão pelos menos afortunados quase sempre podia ser encontrada nos olhos de Brick. Lisa descobrira esse fato ao longo do último ano. Sua mandíbula quadrada expressava determinação. E a força de seu corpo era revelada nos ombros, que ela podia jurar que eram capazes de suportar o peso do mundo. O único fardo que ele se recusava a carregar, lembrou a si mesma, era o casamento. Sim, admitiu com tristeza, havia muitas coisas em Brick que a agradavam. Inclinando-se para mais perto, empurrou-lhe os ombros largos com um movimento gentil. — Deite-se — murmurou. 62
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Os olhos dele faiscavam com calor e os lábios se curvaram em um sorriso maroto. — Quer me ajudar? Lisa sentiu aquele frio indesejável na barriga novamente, e considerou se virar e sair, até ver o sorriso de Brick se transformar em uma careta de dor. Ele se sentou na cama e gemeu. — Estou completamente à sua mercê — murmurou, e calmamente deitou a cabeça sobre o travesseiro. — Tenho-a aqui no meu quarto e não posso fazer nada. Os lábios de Lisa se contraíram enquanto ela lhe ajeitava os pés sobre a colcha. — Não precisa se preocupar. Não farei nada impróprio. — Isso é uma vergonha. — Ele fechou os olhos. — Mas com certeza eu não me lembraria depois. Lisa ignorou a afirmação. — O que o médico disse? — Que preciso acordar de hora em hora, até amanhã — respondeu ele, em um tom baixo e sonolento. — Não molhar os pontos, beber bastante líquido e repousar. — Ele soltou um longo suspiro, como se estivesse exausto. — Eu já lhe disse que me sinto um lixo — alertou, a voz desaparecendo. — Acho que... vou... — Dormir — concluiu Lisa e conferiu o relógio. Dentro de 60 minutos deveria acordá-lo. Acariciou-lhe a testa, afastando-lhe uma mecha de cabelos para trás. Seus cílios grossos eram mais claros nas pontas, ela notou, resultado do tempo que ele passava sob o sol. Parecia um menino levado que finalmente se rendera à necessidade humana de dormir. Desejou saber que tipo de criança Brick teria sido. Então se perguntou se ele geraria filhos levados. Seu coração apertou ao pensar que ele não queria as responsabilidades de casamento e filhos, logo não devia se acostumar a tocá-lo, decidiu, e afastou a mão. Não devia se permitir pensar nele com tanta frequência. E devia fazer de tudo para arrancá-lo do coração, assim seria capaz de entregá-lo a outra pessoa. Passada uma hora, tocou-o com delicadeza no ombro. — Brick — chamou. — Brick, acorde. — Quando sua respiração permaneceu inalterada, ela o cutucou com mais firmeza — Brick, acorde. As pálpebras dele tremularam, e ele ergueu o cotovelo para proteger os olhos da luz do abajur, na mesa de cabeceira. — Lisa? Ela sentiu uma onda de alívio. — Sim, eu precisava acordá-lo. Lembra? — Estou sonhando? Lisa sorriu. — Acho que não. Quer um Ginger Ale? Brick assentiu, ergueu-se lentamente e se encostou à cabeceira da cama. Aceitando o copo, tomou a bebida gelada quase de um só gole. — Quando minha mãe estava viva, sempre nos dava Ginger Ale e torradas quando estávamos doentes.
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— Minha mãe nos dava Ginger Ale e biscoito água e sal. — É. Minha mãe era muito divertida, mas às vezes fazia algumas coisas malucas. — Ele meneou a cabeça e Lisa notou que seus olhos estavam turvos. — Já lhe contei que ela queria ser uma cantora de música country? Lisa negou com a cabeça. — O desejo se intensificou quando estava grávida de mim — continuou ele. — Foi por isso que me colocou aquele nome — disse ele em um tom que indicava que ainda não acreditava naquilo. A curiosidade de Lisa aumentou. — Que nome? — É segredo. — Oh. Brick a fitou com um olhar inquiridor. — Jura que não vai contar a ninguém? Lisa ergueu a mão em juramento. Ele fez uma careta. — Elvis Pendleton. Ela o encarou, incrédula. Um riso abafado escapou-lhe da boca. Seu primeiro instinto foi uivar de tanto rir ao ver a expressão irritada no rosto de Brick, porém mordeu o interior da bochecha com tanta força que temeu ter tirado sangue. Então clareou a garganta. — Não acho que Elvis fosse considerado um cantor de música country. — Sua voz soou estranhamente alta até para os próprios ouvidos. — Era o que eu dizia a ela. Lisa poderia imaginar um jovem Brick, tentando corrigir o ponto de vista da mãe. Jovem Brick? Jovem Elvis. Seus olhos ardiam com o esforço de conter uma sonora gargalhada. — A sua... hã... família não o chama de Elvis. — Não, se quiserem continuar vivos — disse ele com uma voz suave, mas letal. — A última vez que Troy o fez, tinha 6 anos e eu lhe arranquei os dois dentes da frente, que já estavam prestes a cair. — Brick, estou me lembrando de uma centena de músicas do Elvis — confessou ela, franzindo os lábios para impedi-los de se abrir. — Lisa — disse ele, com a voz cansada. — Eu as ouvi todas. Você pode rir o quanto quiser depois que eu voltar a dormir. — Suponho que isso significa que não quer que eu cante “Love Me Tender” para fazê-lo adormecer.
CAPÍTULO 8 64
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Vinte minuto Smais tarde, Lisa estava em pé na sala de Brick quase estourando de tanto rir com a gargalhada que precisara prender até “O Rei do Rock” dormir novamente. Ela enxugou as lágrimas de divertimento dos olhos. O nome com certeza explicava algumas coisas. Agora entendia por que ele se envolvera em tantas brigas quando era jovem. Também sabia de onde se originara o apelido, já que ele se recusava terminantemente a usar o nome de batismo, a ponto de derramar sangue por isso. Contendo outra risada, Lisa olhou para os álbuns de fotografia com cobiça. O que ela não daria para... Absolutamente não, disse a si mesma, enquanto caminhava em direção à cozinha. Em vez disso, esquentou a canja. À medida que a noite avançava, a cada vez que Brick acordava, lhe contava algo novo sobre a família ou sobre si mesmo. Era como se, por um curto período de tempo, ficasse mais vulnerável, mais disposto a se abrir. Lisa se perguntou se isso era parte da razão pela qual ele nunca ficara ao seu lado até o dia amanhecer. Certo, ele jamais teria compartilhado tudo aquilo sem a pancada que sofrera na cabeça. Lisa também se perguntou se Brick se arrependeria quando percebesse o que havia feito. Encolheu-se com o pensamento, mas percebeu que ele provavelmente não ficaria satisfeito. Quando o acordou por volta das 3h da madrugada, ele esfregou o rosto e meneou a cabeça de um lado para o outro. — Gostaria de ter uma dúzia de rosas brancas para lhe ofertar — murmurou. — Você está passando a noite acordada por minha causa. — Isso não é nada de mais — protestou ela, tocada pela menção das flores. Resmungando algo ininteligível, Brick sentou-se na cama e franziu a testa. — Não é nada que você nunca tenha visto antes, mas pode querer virar o rosto. — O aviso estava estampado em sua expressão. — Quero me livrar desta calça. Não costumo usar nada para dormir. Lisa congelou ao vê-lo de pé, com o zíper aberto. Ele puxou o jeans para baixo, sobre os quadris e as coxas nuas. Apesar da lesão na cabeça, a beleza de seu corpo quase nu a fez prender a respiração na garganta. Os ombros largos contrastavam em relação aos quadris estreitos. Uma insinuante trilha de pelos castanhos lhe recobria o torso perfeito em harmonia com os pelos que lhe aninhavam a masculinidade. Brick sempre parecia dar pouca atenção ao seu impressionante físico. E aquela noite não foi exceção. Lisa, no entanto, sempre ficara extremamente impressionada com a beleza daquele corpo atlético. E aquela noite também não foi exceção. Respirou fundo e tomou a rápida e prudente decisão de deixar o quarto. Ele ergueu a mão à testa e soltou um palavrão. A intenção prudente de Lisa caiu por terra. — Sente-se — murmurou ela, alcançando-o depressa e se ajoelhando ao seu lado. — Estou cansado desta dor de cabeça — resmungou ele. 65
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Tentando manter seu toque o mais impessoal possível, Lisa desceu-lhe o jeans pelos joelhos e depois até os pés. A bainha apertada era excelente para enfiar dentro de botas de trabalho, mas um martírio para retirar. Brick ergueu o pé e ela reprimiu o impulso escandaloso de lhe fazer cócegas na sola. Devia estar ficando doida, pensou. — O outro pé — pediu, determinada a não valorizar o fato de que sua cabeça estava a centímetros de distância daquelas coxas musculosas nuas. O perfume masculino almiscarado despertou algo dentro dela. Algo que era melhor ser negado, ela sabia, e deu um suspiro de alívio, quando lhe livrou o outro pé do jeans. — Pronto — disse alegremente, e estava prestes a ficar de pé, quando os dedos de Brick se emaranharam em seus cabelos. — Lisa. — A voz soou suave e um pouco sonolenta. — O quê? — Ela deliberadamente manteve o olhar preso ao tapete. Brick puxou-lhe os cabelos de leve. — Por que veio aqui esta noite? Lisa fechou os olhos contra as emoções que a invadiram — Porque você se feriu. — E? Deus a ajudasse, mas naquele momento não sabia como lutar contra ele, como lutar contra os próprios sentimentos. Ela mordeu o lábio inferior. — Pensei que você precisasse de alguém — Qualquer pessoa? — incitou-a, com aquela voz máscula e calma que a fazia sentir arrepios. — Não sei... talvez qualquer pessoa. — Em um tom que soava fraco e instável aos próprios ouvidos, ela confessou: — Talvez eu. Um pesado silêncio se seguiu. Lisa sentiu como se houvesse um fio da vontade de Brick ligado à sua mente, que se debatia entre o que devia ou não devia fazer, até se sentir compelida a erguer a cabeça e encontrar o olhar dele. No caminho até seus olhos, notou que ele estava obviamente excitado. — Isso é loucura — murmurou Brick. — Minha cabeça parece que vai explodir. A única coisa que eu deveria querer fazer era dormir para não sentir dor. — Ele engoliu em seco. — Mas vê-la aqui, sentir sua respiração nas minhas pernas, tocar seus cabelos. — Ele deu de ombros como se não soubesse explicar. Lisa assentiu, porque o compreendia. Talvez, por estar ajoelhada aos seus pés, lhe tivesse passado a impressão de subserviência. Mas, por mais estranho que pudesse parecer, não foi. Pela primeira vez desde que o conhecera, Brick parecia fisicamente vulnerável. Ele nunca tivera sequer um resfriado quando ainda estavam juntos. Agora estava permitindo que ela o ajudasse e isso era significativo. Percebeu que se tratava de um momento raro, que lhe fazia os olhos arderem e o coração bater descontrolado dentro do peito. Sentia-se poderosa e humilhada ao mesmo tempo. Seu olhar vagou pelo corpo dele. Chocantes imagens sensuais lhe assaltaram a mente. Experimentou um impulso irresistível de pressionar os lábios nos músculos daquelas coxas rígidas. Queria roçar os cabelos contra os dele. Fazer-lhe carícias com a boca como nunca fizera antes. A intensidade de seu desejo a fez tremer.
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Ela pigarreou e tentou clarear a mente. — Você está ferido — lembrou-o. — Deve se deitar novamente. — Não quero ficar na cama sozinho. — Ele ergueu-lhe a mão e segurou-a de encontro à coxa. Lisa sentiu a rigidez dos músculos e o calor da pele dele sob a palma da mão. Era difícil resistir à combinação daquele poder inato e desejo, com seu sangue correndo desenfreado nas veias. Porém, a forma como a coxa de Brick tremia sob seu toque era o que quase causava a sua ruína. Oh, Senhor, ela implorou por forças em silêncio. — Estou tentando fazer a coisa certa. Por favor, não dificulte. Os olhos de Brick ardiam com a paixão reprimida, enquanto permitia que ela afastasse a mão. — Como eu disse anteriormente, estou à sua mercê. Foi uma das coisas mais difíceis que ela já fizera, mas pôs um freio à imaginação e ao desejo. — Sente-se — murmurou. — Deixe-me buscar um pouco de água. Lançando-lhe um olhar que dizia claramente que queria bem mais do que água, ele se sentou na cama. Sem conseguir parar de fitá-lo, ela se ergueu devagar. Brick puxou-a com um dedo. Lisa esboçou uma negativa com um gesto de cabeça. — Não. — Apenas um beijo — insistiu ele. — Só um beijinho de “boa-noite”. Ela respirou fundo. — Não. Com o cansaço lhe sombreando o rosto, ele suspirou. — Prometo parar depois do primeiro. — Você pode prometer. — Ela conseguiu dizer com a voz rouca, o olhar ainda preso ao dele, enquanto se afastava em direção à porta. — Mas eu não. Lisa ficou atenta o restante da noite. Acordou Brick em intervalos regulares, mas cautelosamente manteve distância. Na manhã seguinte, à luz clara do dia, decidiu que cuidar de Brick e estar com ele, no meio da noite, lhe causara algum tipo de loucura temporária. Uma loucura que jurou que não se repetiria, embora seu peito tremulasse com o olhar íntimo que ele estava lhe lançando. Brick parecia bem melhor naquela manhã, percebeu, logo não precisava dela por perto. A expressão “eu estou deixando você louca” continuava em seu rosto. Lisa ouviu uma voz interior que a aconselhava a ir embora, antes de começar a desejar coisas que não poderiam se tornar realidade. Depois de lhe servir um leve desjejum, começou a se despedir. — Você parece bem melhor agora — disse, enquanto pegava a bolsa. — Se precisar de algo, é só ligar e... — Você não precisa ir — interrompeu ele, com a colher a meio caminho da boca.
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— Oh, sim, preciso. — Aquela situação era muito íntima, muito atraente. — Mas, como lhe disse, se você precisar... — Espere um minuto. — Ele franziu a testa e pousou a colher. Em seguida, se ergueu e hesitou como se estivesse indeciso. — Quero lhe dar uma coisa. — Brick desapareceu rapidamente pelo corredor e retornou antes que ela pudesse objetar. Aproximou-se e entregou-lhe uma caixinha antiga. Lisa sentiu um friozinho estranho na barriga. — O que é isso? — fitou-o intrigada e começou a erguer a tampa para cima. Brick cobriu-lhe a mão com a dele. — Abra quando chegar em casa. — Parecia inseguro e determinado ao mesmo tempo. — Você precisa. — começou ele, e deu de ombros, como se aquilo não estivesse certo. — Há... — Passou a mão pelos cabelos e suspirou. — Inferno. Há algumas coisas que você quer que eu não posso lhe dar, Lisa. Você merece ter tudo que quer. — Seu olhar transbordava honestidade, mas a boca estava contraída em uma linha infeliz e autorrecriminatória. — Gostaria de poder, mas não posso. Isto é algo simples, mas você disse que nunca ninguém lhe deu, então eu queria que ficasse com o meu. — Ele apertou-lhe a mão. — E, não importa o que aconteça, quero que fique com isto. Lisa não fazia a menor ideia do que dizer. Sentia-se como se tivesse sido sugada para um vácuo emocional. Não sabia o que estava na caixa, e depois do que ele dissera não tinha certeza se isso importava. Engoliu em seco além do nó que lhe apertava a garganta e se afastou de Brick. Poderia ter chutado a si mesma por ter se surpreendido. De repente, percebendo que ele estava esperando uma resposta, assentiu com a cabeça por falta de qualquer outra coisa para fazer. — Bem, obrigada. — Ela forçou os cantos dos lábios a se erguerem e se perguntou por que se sentia tão profundamente infeliz. — Preciso ir. Está se sentindo melhor, não é? — Sim. — Ele pousou as mãos nos quadris e estreitou o olhar. — Gostei de você ter passado a noite aqui e tudo mais. Dando de ombros, Lisa girou a maçaneta e abriu a porta. — Não é para isso que servem os amigos? Brick percebeu o leve tremor na voz dela e sentiu uma onda de alarme. Lisa não o fitava nos olhos. — Ei, eu ligo para você mais tarde. — Tentou alcançar-lhe o braço, mas ela escapou. Naquele momento, Lisa parecia uma criança indefesa e ele teve a sensação de que errara de novo. — Eu ligo — repetiu. Lisa curvou os lábios em um arremedo de um sorriso triste. — Está bem — Então, se virou e partiu.
Uma hora mais tarde, após fazer meia dúzia de coisas para distrair a curiosidade, Lisa se sentou no sofá com estampa floral e abriu a tampa da caixa. Por um momento, apenas contemplou o interior. Em seguida, ergueu a joia de prata masculina e segurou-a na palma da mão. Era fria, pesada, com uma pedra de ametista e as palavras “Escola do Condado de Beulah, turma de 1980” gravadas.
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Sacudindo a cabeça, Lisa sorriu e colocou o anel no dedo indicador. Em outro momento de sua vida, ela o teria pendurado em uma corrente em torno do pescoço. Em outro momento, teria se sentido eufórica e orgulhosa por usá-lo. Seria o suficiente para prendê-la para sempre. Ou, pelo menos, até a formatura, emendou, irônica. Rolou o anel para trás e para frente entre o polegar e o indicador e desejou saber o que dera em Brick para presenteá-la com aquilo. Então, lutou contra uma onda de embaraço ao se lembrar de sua tola confissão algumas noites atrás. Fitando a joia, perguntou-se se ele algum dia a dera a outra garota. Revirou os olhos para o pensamento absurdo. Estava com ciúmes de algum romance que ele poderia ter tido no colegial? Lisa olhou para o anel e suspirou. Em outra ocasião, teria sido o suficiente para ela, e se sentiu mais comovida do que gostaria de admitir. Mas agora queria mais do que um anel, mesmo que fosse um anel de noivado, cravejado de diamantes, percebeu. Queria um homem, um casamento e uma família. Com a garganta apertada, guardou o anel de volta na caixa. Era uma coisa tão pequena que não deveria afetá-la tanto. Repetiu isso para si mesma, várias vezes, enquanto as lágrimas caíam como chuva quente em suas bochechas. A força de seus sentimentos por Brick assustou-a o suficiente para ela tomar a decisão de não mais atender seus telefonemas, quando ele se recuperasse da concussão. Na quinta-feira seguinte, no escritório, Senada entregou-lhe uma série de mensagens telefônicas. — Duas de Brick, hoje — disse ela com um olhar de desaprovação. — Pensei que vocês tivessem terminado. — É um pouco mais complicado que isso — disse Lisa, folheando o calendário. — Para mim é muito simples. Você quer se casar. — Senada proferiu a palavra com desagrado. — Não sei por que, mas respeito a sua vontade. Brick não quer. Então, mande-o embora e arrume outro homem — Os lábios de Senada se erguerem em um sorriso cínico. — Há muitos por aí. Lisa sempre desejou saber o que fazia Senada ser tão cética em relação aos homens, mas sua sócia não parecia disposta a discutir o assunto. — Não é assim tão fácil, Sin. Conheço Brick há um ano, e quando paramos de namorar. — A palavra ainda lhe parecia completamente inadequada quando usada para descrever o relacionamento dos dois. Ela suspirou. — ...nos tornamos amigos. O problema é que nem sempre é fácil separar a nova amizade de todos aqueles velhos sentimentos. Senada arqueou uma sobrancelha. — Não é fácil para quem? Lisa sentiu as bochechas ardendo. — Para nenhum dos dois — admitiu, lembrando-se da forte atração física e emocional que sempre parecia pairar sob a superfície, ameaçando entrar em erupção e dominá-la a cada vez que estavam juntos. — Você ainda sente desejo por ele. Lisa enrijeceu, como se tivesse sido golpeada. Abriu a boca para negar, negar e negar, mas a verdade ainda era um problema. Sentiu uma onda deprimente de derrota. 69
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— Estou tentando não sentir — disse por fim em voz baixa. — Oh, chiquita. — Senada meneou a cabeça com ternura. — Você o quer, mas não gostaria de querer. Parece que está entre Brick e a espada. Apesar da frustração, Lisa riu da versão distorcida do velho clichê. Senada pegou as duas mensagens telefônicas. — Ele obviamente ainda a quer, também. Talvez você consiga fazê-lo mudar de ideia a respeito de se casar. — Não — disse Lisa depressa, lembrando a dor e a humilhação que experimentara quando o confrontara com a necessidade de ter uma família. — Já conversamos sobre esse assunto. Foi uma experiência horrível e me recuso a passar por isso de novo. Especialmente. — Ela continuou, quando parecia que Senada ia interrompê-la. — ...desde que eu soube que ele não mudou seu ponto de vista sobre o casamento. Ele pode ter mudado em outros aspectos, mas não a respeito do casamento. — Se ele mudou em outros aspectos, então. — Não. — Lisa negou com um gesto de cabeça. — Senti como se estivesse lhe implorando para se casar comigo. Sabe como é se sentir rejeitada por isso? — Não, mas sei como é ser rejeitada por outras coisas — disse Senada pensativa. — Quantas vezes procurei o Arts Council pedindo para realizarmos o Baile de Inverno deles, antes de receber uma resposta afirmativa? E o mais importante ainda, quantas vezes recebi um “não”? — Pelo menos uma dúzia — admitiu Lisa. — Mas não é a mesma coisa. — Eu queria muito aquele trabalho no Arts Council. — Ela afastou os cabelos escuros do rosto. — Corra atrás do que você quer. Vença todos os obstáculos. Se quer Brick para pai dos seus filhos, não deixe que uma palavrinha de três letras a impeça. Aquela palavrinha de três letras continha um enorme significado, Lisa pensou. — Não sei. Senada bufou. — Não seja covarde. Lisa se irritou. — Não é uma questão de covardia, Sin. Admito que estou com receio. Se as coisas não derem certo, tenho medo de acabar em pedaços. Parto para o ataque e faço o possível para Brick mudar de ideia sobre o casamento. E se assim mesmo ele não quiser? Senada hesitou. — Isso é um problema. É mais um risco para você do que seria para mim, porque não consigo me imaginar desejando me casar com um homem com essa intensidade. — Ela deu de ombros. — Mas, se ainda assim ele não me quisesse, provavelmente eu o mandaria engolir uma dinamite. — Ela exalou um suspiro melodramático. — Então consultaria minha agenda e procuraria alguém para me consolar em meus momentos de necessidade. — Senada fez uma careta e apertou o braço de Lisa. — Desculpe, chiquita. Acho que não estou ajudando muito. Creio que nesse caso você terá que arriscar.
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E esse era o cerne da questão, Lisa percebeu mais tarde. Não queria arriscar. Não queria saber o que poderia acontecer. Não queria saber quanto tempo ele permaneceria ao seu lado ou não. Não queria mais participar daquele jogo. Queria uma coisa certa.
— Sinto muito Brick — disse Senada, a voz soando falsa. — Lisa não pode atender sua ligação no momento. Gostaria de deixar algum recado? Brick murmurou um palavrão. — Por que deveria deixar um recado, quando sei que você está jogando todos na lata de lixo? — Como sabe que sou eu que está jogando seus recados na lata de lixo? As palavras de Senada lhe partiram o coração. — É Lisa quem os está jogando fora? — Oh, não soe tão magoado — disse Senada com nojo. — Lisa está muito vulnerável no momento. Não precisa de você a incomodando. Brick estreitou o olhar diante da dor fria que se instalou em seu peito. — Foi isso o que ela disse? É por esse motivo que não fala comigo há mais de uma semana? — Lisa está confusa. — Senada fez uma pausa e sua voz se suavizou. — Estou preocupada com ela. Parece pior hoje. Como se estivesse à espera de alguma coisa e... O peito dele apertou. — E o quê? — Eu de fato não deveria estar discutindo esse assunto com você. Especialmente, desde que suas intenções não são honestas — acrescentou em um tom significativo. — Dá um tempo, Senada. Tenho tentado falar com Lisa há quase duas semanas. Você não é a única que se preocupa com ela. — Porém, não a magoo. Brick olhou para o teto e contou até dez. O comentário afiado o atingiu bem no alvo, mas estava lutando com a própria confusão e sensação de perda. — Talvez você não acredite, mas não quero magoar Lisa. Quero que ela seja feliz. Ela é a mulher mais importante do mundo para mim. Eu... — Então por que não se casa com ela? — perguntou Senada sem rodeios. A mente de Brick congelou. Ele pressionou a testa e engoliu em seco. — Não é tão fácil assim. Senada exalou um pesado suspiro. — Lisa diz a mesma coisa. — Então, explique-me o que quis dizer, quando falou que ela parece pior hoje. Diante do silêncio de Senada, ele rangeu os dentes de trás. — Por favor.
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— Isso vem acontecendo nos últimos dois dias. Não sei o que é, mas ela parece uma pilha de nervos. Oferece-se para fazer hora extra. Não quer ficar parada um minuto e destruiu mais uma caixa de correio esta manhã, dando ré. Está se esforçando para parecer alegre. A última declaração fora a mais reveladora. Lisa não precisava se esforçar para parecer alegre. Era naturalmente. Sua inquietação aumentou. — Preciso vê-la. Onde ela está trabalhando esta noite? — De modo algum. O que você poderia fazer para que ela se sentisse melhor? Brick absorveu o insulto velado sem dificuldade. Sua principal preocupação era Lisa. Para ser sincero, não se importava com o que Senada pensava sobre ele. Estava muito mais absorvido com a sua imperiosa necessidade de ver Lisa. Santo Deus, já não a via há quase duas semanas. — Eu poderia abraçá-la — respondeu sucinto. Um longo silêncio se seguiu. Ele podia ouvir a luta interior de Senada. — Espero não me arrepender por isso — murmurou ela e disse-lhe onde Lisa estava trabalhando. Brick fez um breve agradecimento e desligou o telefone. Decidiu aguardar até que o horário mais movimentado do trabalho dela cessasse e esperou por três excruciantes horas. Entrou no lobby do hotel, munido de um saco de balas sabor tutti frutti, no bolso, e uma única rosa branca na mão. Minutos mais tarde, encontrou-a na cozinha com os outros funcionários do banquete, onde tudo parecia estar terminando. Observando-a da porta, por alguns instantes, percebeu que ela parecia cansada e, como Senada havia dito, parecia uma pilha de nervos. Estava tão concentrada no trabalho que não o viu entrar. Quando Lisa se curvou sobre a bancada e rabiscou alguns números em sua ficha de estoque, algo brilhou em sua visão periférica. Ela ergueu a cabeça. Havia uma rosa branca em uma familiar mão forte estendida à sua frente. Ela inspirou o cheiro da rosa e sentiu o calor do corpo de Brick atrás dela. — Surpresa! — exclamou ele em voz baixa. O pulso de Lisa acelerou. Ela estudou a rosa em silêncio. O gesto era emocionante, mas era o homem que a fazia tremer por dentro. Desde que recebera a notícia da irmã, dois dias atrás, sentia-se como se lhe tivessem cortado as duas pernas, e o único modo de se livrar da angústia era mergulhando no trabalho. Mas agora Brick estava lá e, de repente, sua vulnerabilidade voltara. Ela mordeu o lábio e pegou a rosa. — Obrigada — conseguiu dizer. — Isto é definitivamente uma surpresa. — Eu queria saber como você está. Lisa fechou os olhos e preparou-se para a enxurrada de emoções. — Tenho andado meio ocupada nos últimos dias e não pude atender aos seus telefonemas. Não sei se posso explicar, mas... Brick pousou a mão nos ombros dela, dando a impressão de que a teria abraçado se estivessem sozinhos. — Você não tem que explicar nada agora. Uma onda de alívio a percorreu. No entanto, esse mesmo alívio comprometeu sua postura tão arduamente conquistada. 72
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A presença de Brick parecia lhe aguçar os sentidos e a dor enterrada aflorou. Prendeu a respiração, desejando que a sensação inquietante passasse. Com um movimento suave, Brick virou-a para si, obrigando-a a encará-lo. Lisa se endireitou para sua inspeção, porque não tinha nem energia nem vontade de mandá-lo embora. — Não gosto dessas olheiras sob seus olhos. A preocupação dele causou-lhe um nó na garganta. — Você não deveria notar — disse ela, engolindo com dificuldade. Brick fez uma careta, mas seus olhos pareciam gentis. — Vamos sair daqui. Não pode pedir a alguém para substituí-la? — Posso — respondeu Lisa, sem saber ao certo se faria bem em sair com ele. — Para onde está pretendendo me levar? O olhar de Brick estreitou como se tivesse adivinhado que ela receava ficar sozinha com ele em seu apartamento ou no dela. Ele apontou o dedo na direção do teto. — Lá para cima, no terraço. O hotel dispõe de um mirante. Lisa levou apenas alguns instantes para dar instruções ao seu coordenador de banquetes e os dois subiram no elevador em direção ao vigésimo primeiro andar. Era o mesmo elevador em que ficara presa com Brick, quando ele a excitara com suas fantasias sobre ela. Lutando contra um calor insidioso, tentou imaginar como seria o mirante do hotel: teria uma bela vista, o ar frio lhe refrescaria o rosto e, o mais importante, era um lugar público. Esperava que Brick não se mostrasse muito agradável. No momento, sentia-se pateticamente fraca e suscetível demais aos seus encantos. As portas se abriram. — Chegamos — disse ele. Seu olhar encontrou e prendeu o dela. Ele não a tocou, notou Lisa ao sair do elevador. Estava sendo bastante cauteloso. Bom, disse a si mesma, negando que ansiava pelos braços dele ao seu redor. Alguém precisava ter juízo. Não vendo outros visitantes no terraço, Lisa se afastou o quanto podia e apoiou as mãos em torno das grades de proteção de ferro. O metal estava frio e a brisa soprava morna devido à temperatura de verão. Prédios, luzes, o contorno das montanhas ao fundo e um milhão de estrelas forneciam uma vista panorâmica. Brick parou ao seu lado. — Aposto que é bem mais bonito no outono. Lisa assentiu. As costas da mão dele roçaram a sua, mas ele não entrelaçou os dedos aos seus. Instantes antes, na cozinha, ela pensou que aquela insuportável tensão interna desapareceria quando saíssem de lá. Mas, em vez disso, sua reação à presença de Brick parecia mais intensa do que nunca. Inspirou o perfume masculino que se misturava à brisa noturna. Sentiu o calor e a força do corpo viril ao seu lado. Lançando-lhe um olhar, percebeu que Brick tinha a mandíbula contraída e a mão enfiada no bolso, como se se sentisse tão afetado quanto ela. Aquilo era loucura, pensou, e estava prestes a sugerir que fossem embora, quando Brick tirou algo do bolso. — Quer uma bala de tutti frutti? Seu sabor predileto. A pequena gentileza minou suas reservas já frágeis, e a emoção de toda a semana desabou sobre Lisa como uma esfera demolidora. 73
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— Oh, Brick — gemeu ela e começou a chorar.
CAPÍTULO 9
Ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto de Lisa, Brick de imediato a tomou nos braços. — Lisa? Seu peito ficou tenso ao sentir um tremor percorrê-la. Uma onda de alarme o sobressaltou. Algo horrível devia ter acontecido. Assustado, abraçou-a de modo protetor. Lisa soluçou contra seu peito. — Mi... minha irmã ligou. — Segurando-lhe a camisa, ela meneou a cabeça. — Minha irmã caçula. Ela está grávida! Brick aguardou o restante da história, mas ela começou a chorar novamente. Com certeza havia algo mais, e resolveu incitá-la gentilmente. — Ela está bem? — Si... sim Ele afagou-lhe os cabelos com movimentos suaves. — O bebê está bem? Lisa assentiu. Totalmente confuso, ele meneou a cabeça. — Então qual é o problema? — Estou tão... tão feliz por ela — respondeu Lisa, estremecendo mais uma vez. Brick se sentia mais abalado a cada pequeno soluço que ela deixava escapar. — Claro que está — afirmou, esfregando-lhe os ombros. Ele sentiu a umidade quente das lágrimas dela se infiltrando através do tecido de sua camisa. — Lisa. — murmurou de encontro ao topo de sua cabeça. — Lisa, querida, conte-me por que está tão amargurada. Respirando fundo, ela se afastou alguns centímetros do peito dele. Brick reparou que ela olhava para a base do seu pescoço, evitando fitá-lo nos olhos. — É tão ridículo. Quando ele lhe inclinou o queixo, forçando-a a encará-lo, Lisa mordeu o lábio inferior. — O que é tão ridículo? — questionou ele. Cerrando as pálpebras, ela deu vazão à enxurrada de lágrimas que escorreu livremente pelo seu rosto. Brick as enxugou com as pontas dos dedos. 74
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— Diga-me. — Estou feliz por ela, mas infeliz por mim. E sinto-me muito envergonhada por isso. De repente, ele percebeu tudo e compreendeu os sentimentos dela. — Ah, Lisa. — Puxando-a de volta contra o peito, afundou os dedos em seus cabelos sedosos. — O que há de errado comigo? — perguntou ela com a voz trêmula. — Só quero um homem para mim e um bebê que eu possa amar. Sei que não é um objetivo muito moderno, mas é o que eu desejo. — A dor lhe oprimia o peito. — Não há absolutamente nada de errado com você. — Ele a sacudiu gentilmente. — Está me ouvindo? Qualquer homem que... Lisa ergueu a cabeça e o fitou com um olhar triste. — Não é qualquer homem. Não é qualquer homem O coração de Brick afundou e ele murmurou um palavrão. Como poderia explicarlhe que o problema estava nele, não nela? Desesperado para ajudá-la, engoliu a emoção que lhe comprimia a garganta. Emoldurando-lhe o rosto com as mãos, fitou-a com intensidade. — Eu a amo — disse com a voz rouca. — Não posso lhe pedir que se case comigo, mas eu a amo. Nunca disse isso a outra mulher. Sei que são só palavras e podem não significar muito para você, mas eu a amo. Brick procurou compreensão no olhar dela e morreu um pouco ao ver apenas confusão. Percebendo que suas palavras não foram suficientes, apossou-se da sua boca em um beijo, que esperava pudesse expressar tudo que ele não era capaz. Lisa entreabriu os lábios para acolher a exploração quente e úmida de sua língua e Brick se fartou com o doce sabor e a textura daquela boca. Agarrando-o pelos ombros, ela retribuiu o beijo, como se concentrasse toda a força de suas emoções nele. Sua completa vulnerabilidade despertou algo primitivo dentro dele. Brick provou seu medo e tristeza, desejo e confusão, e isso só o fez desejar fazer o melhor para ela. Tornando-se mais ousada, Lisa colou o corpo ao dele, pressionando os seios contra o seu tórax rígido. Brick perdeu o fôlego enquanto ela lhe sugava o lábio inferior. Movendo-se de leve, ela desceu as mãos, estreitou-lhe os quadris, aninhando-o entre as coxas. O coração de Brick martelava com a fúria do seu desejo controlado. Sua pele estava tão aquecida que parecia chiar nos lugares onde ela o tocava, e ele ficou excitado com a necessidade de lhe exemplificar em vez de falar. As coisas estavam ficando fora de controle. Ele tentou manter a sanidade, quando ela moveu uma das mãos e o tocou na intimidade. — Lisa! Pelo amor de Deus. — Sei corpo não queria impedi-la. Era maravilhoso têla nos braços, ter aquelas mãos tocando-o novamente. Era muito bom e fazia tanto tempo! Acariciou-lhe os seios e ela gemeu de prazer. Acima do rugido em seus ouvidos, ele ouviu vozes vindas do elevador. Demorou um pouco, mas a realidade se fez presente, justo no instante em que Lisa roçava a pélvis de modo insinuante de encontro à dele. Brick fechou os olhos, soltou um palavrão e apertou-lhe o pulso. — O que foi? — perguntou ela ofegante.
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— Por que quer que eu pare? Por que... Brick tampou-lhe a boca e fitou seus olhos verdes brilhando de desejo. — Não estamos mais sozinhos — conseguiu dizer com a voz rouca. Podia ver que ela estava extremamente excitada, quase no limite. A constatação não ajudou seu autocontrole. — Não quero esperar — murmurou ela, o desespero estampado no rosto. — Preciso de você agora. Lisa precisava dele. Havia tantas coisas que não podia lhe dar que ela precisava. Mas, caramba, pelo menos isso seria capaz de fazer por ela. — Vamos sair daqui — disse ele, puxando-a em direção ao elevador. Quando as pernas de Lisa falharam, Brick a sustentou de encontro ao corpo e entrou no elevador. A porta se fechou. Sua boca procurou os lábios dela novamente e o frenesi recomeçou como se nunca tivesse cessado. Lisa se colou a ele outra vez, retribuindo o beijo e abrindo-lhe os botões da camisa. O excitante cheiro feminino o envolvia como um lençol de cetim perfumado. Nas paredes espelhadas, ele captava nuances enevoadas do reflexo dos cabelos dela, das bochechas coradas e da boca intumescida, enquanto ela lhe beijava o pescoço com avidez. A visão de Lisa em vários ângulos era incrivelmente erótica, e Brick sentiu como se um maçarico rugisse através do seu sangue. E o instinto o dominou. Erguendo-a, trouxe-a para si até seus sexos ficarem colados. A carne feminina estava quente, tentadora. Mas não era o suficiente. Introduzindo uma das mãos sob a saia dela, ele agradeceu a Deus por Lisa não estar usando meia-calça. A calcinha rendada estava úmida com sua excitação. Seus dedos avançaram por baixo do tecido, tocando-a intimamente. Ela gritou. O som vulnerável e feminino fez algo romper dentro dele. — Você me quer agora, Lisa? — Sim! Oh, Brick, sim Notando a intensidade do desejo em seus olhos verdes, ele puxou-lhe a calcinha rendada pelas coxas trêmulas. Ao tocar-lhe a doce e quente feminilidade mais uma vez, sentiu seu membro enrijecer dolorosamente contra o tecido da calça. — Isso é loucura — murmurou para si mesmo, sabendo que só o desabamento do prédio o impediria de continuar. Recorrendo à última gota de sanidade, pressionou um botão, parando o elevador entre dois andares. A seguir, abriu o zíper da calça, libertando sua ereção. — Espero que tenha certeza de que é isto que você quer. — Eu tenho certeza — confirmou Lisa entre respirações irregulares, enquanto o cingia pela cintura com as pernas. — Entregue-se para mim. Entregue-se para mim. Brick praguejou baixinho. Aquilo era demais. Pressionandoa de encontro à parede espelhada, subiu-lhe a saia até a cintura. Eles se entregaram um ao outro em uma arrebatadora loucura. Durante os enlouquecedores segundos seguintes, ele não sabia distinguir o ruído de suas respirações e gemidos. Só sabia que Lisa era a fonte de todos os seus anseios secretos e desejos ocultos e o estava deleitando com pequenos e deliciosos tremores. Ela gritou e ele sentiu seu espasmo. Por uma fração de segundo, viu o êxtase estampado no rosto de dela. Então, deu vazão ao próprio desejo, alcançando o ápice do prazer.
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A testa de Lisa estava úmida de suor de encontro à sua. Com os olhos fechados, ela lutava para respirar. — Oh, Brick. Brick também se esforçava para levar ar aos pulmões e recuperar o equilíbrio. — Dê-me um minuto. — Tremendo, ele se afastou e permitiu que ela colocasse os pés no chão. Lisa apoiou-se nos braços dele para não cair. — Você está bem? — perguntou ele, tentando fazer a mente trabalhar. Precisavam sair do elevador. Lisa assentiu com a cabeça, os olhos ainda atordoados. — Minhas pernas. — Ela o fitou, impotente. — Encoste-se na parede por um minuto, querida. — Ele se ajoelhou na frente dela e, com as mãos trêmulas, enfiou-lhe a calcinha pelas pernas e subiu-a até seus quadris. Em seguida, ajeitou as próprias roupas. — Vou pedir um quarto para passarmos a noite — disse, apertando o botão para o lobby, ao mesmo tempo em que a tomava nos braços. Dentro de cinco minutos, estavam no quarto do hotel. Antes que ela pudesse protestar, Brick a havia despido e a levado para baixo do chuveiro. Lisa estava de pé sob o jato quente, quando ele se juntou a ela. Os cabelos caíam-lhe pelas costas como uma cortina molhada. A água escorria pela pele cremosa de seu pescoço em direção aos seios macios. Ao olhar para os seus mamilos excitados, Brick desejou sugá-los e depois lhe beijar o ventre até alcançar o calor do triângulo escuro entre suas coxas. A visão da nudez de Lisa fez-lhe brotar uma nova onda de calor. Queria possuí-la outra vez. — Não posso acreditar que fizemos isso no elevador — disse ela, envolvendo-o com os braços. — Está arrependida? Os olhos de Lisa escureceram com segredos femininos e ela fez que não com a cabeça, lentamente. Brick lambeu-lhe a água dos lábios. — Sinto como se estivesse vivendo em um deserto e você fosse a água de que eu necessitava há dias. — Oh, Brick. — Sua voz soava fraca em contraste com o desejo selvagem que ele sentia por ela. Sentindo a reação do próprio corpo, curvou-se e sugou-lhe os mamilos intumescidos, um após o outro, com a mesma avidez com que a beijara na boca. — Oh, Brick, o quê?... — perguntou ele. Fechando os olhos, Lisa arqueou o torso de encontro ao dele, gemendo de prazer. — Se eu sou água, então me beba. Ele não a fez esperar. Ansioso para redescobrir e reivindicar cada centímetro do seu corpo, dedicou-se àquela tarefa de modo lento e torturante. Estava determinado a acertar dessa vez, queria se certificar de que sabia tudo sobre Lisa. Brick observou seus olhos verdes se dilatarem quando ele lhe roçou a coxa lentamente com o polegar em direção aos doces segredos femininos. Então, avaliou a intensidade do seu tremor, quando substituiu o polegar pela boca. Não deixou escapar um
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único gemido quando resolveu provocar a ambos, introduzindo apenas parte de sua ereção latejante dentro dela e retirando-a em seguida. A abnegação fez suas terminações nervosas se agitarem e a testa formigar com a transpiração. Ainda assim, continuou com a doce tortura, até não suportar mais. O que lhe roubava o fôlego e o coração era a maneira como que ela se esforçava para conter o clímax, querendo se certificar de que ele estava pronto para acompanhá-la naquela cavalgada. Lisa o acariciava gentilmente no rosto, nos ombros, em todas as partes do corpo, mas ele sabia que era a ternura, e não a técnica, que o fazia sentir tantas coisas que fugiam à sua compreensão. Notou que Lisa não se preocupava apenas com o próprio prazer. Isso só aumentava a sua vontade de querer agradá-la. A noite seria plena de amor. Brick não queria passar um minuto sequer sem lhe provar a intensidade do desejo que sentia por ela. Lembrou-se de como sofrera nos últimos dois meses, sem tê-la em sua cama e em sua vida. Ao mesmo tempo, porém, desejou saber por que continuava sentindo a mesma resistência em pedi-la em casamento. Toda vez que a tocava, espreitava a sombria possibilidade de que aquela poderia ser a última vez. Poderia ser o seu último gole de água. Isso alimentou o ritmo frenético até ambos caírem em um sono profundo ao amanhecer.
Os olhos de Lisa se abriram para a luz do sol do meio da manhã, que se infiltrava através da abertura da cortina. De imediato os fechou. Para um pequeno raio como aquele, o sol parecia obscenamente brilhante. Não olhou para Brick, mas o sentiu ao seu lado. Com o corpo pressionado ao dela, respirava de modo lento e estável. Não havia o embaraço do dia seguinte. Lisa não ficou surpresa ao pensar sobre onde estava e como fora parar ali. Recordava-se de tudo em detalhes vívidos. Lembrava-se da deliciosa sensação de tê-lo dentro de si, de como seu leve toque a inflamava e como ele a impressionara com sua sensibilidade. Lembrava-se de tudo e se recusava a rotular algo tão maravilhoso como um erro. Mas também se lembrava do desespero que, vez ou outra, lhe escurecia os olhos violeta, e percebeu que nada havia mudado. Brick ainda não queria se casar com ela. O que tornava tudo pior, dessa vez, era o fato de a situação não atormentar somente a ela. Era óbvio que também o estava matando. — Bom-dia, Lisamor — murmurou Brick com uma voz sonolenta. Ela sentiu o peito apertar ao ouvir o apelido carinhoso. Virando-se para fitá-lo, foi presenteada com a atraente visão dos seus cabelos despenteados e a sombra da barba que lhe escurecia a mandíbula. Então, olhou para os seus olhos violeta e lutou contra a pontada rápida de dor. Brick se apoiou em um cotovelo e inclinou-se para beijá-la, um beijo longo e vagaroso de despertar que a fez suspirar quando ele se afastou. Lisa sorriu. — Bom-dia. Ele brincou com uma mecha de seus cabelos. — Quer tomar café da manhã na cama? Posso pedir algo ao serviço de quarto. Seria maravilhoso, mas isso só prolongaria o inevitável, pensou ela. 78
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— Acho que não. — Enrolando-se nas cobertas, sentou-se e perguntou onde estavam suas roupas. — Não está com fome? — Brick também se sentou, mas não se incomodou com as cobertas. — Não, ainda não olhei as horas, mas. — Lisa olhou para o relógio na mesa de cabeceira e sacudiu a cabeça. — Oh, meu Deus! 10h30. — Espantada, jogou as pernas para o lado e seus pés tocaram o tapete felpudo. — Sabe como são os sábados, quando estou trabalhando. Um milhão de coisas para fazer. A voz dela sumiu quando Brick lhe segurou o pulso. — Por que está com tanta pressa de ir embora? — perguntou em uma voz calma. Lisa respirou fundo. — Eu não chamaria de ir embora às 10h30 da manhã de pressa. — Você acabou de acordar. Relutante, ela encontrou seu olhar. — Está na minha hora. — Por quê? Brick endireitou os ombros, chamando a atenção dela para sua virilidade. Era incrível a maneira como ele a atraía com tão pouco esforço. Ela baniu o pensamento. — Quero dizer que a noite acabou. Foi uma... — procurando uma palavra que poderia descrevê-la, ela ergueu a mão, impotente. — ...uma noite incrível. Uma noite que jamais esquecerei. Mas acabou. Somos pessoas com pensamentos diferentes e nossas mentes realmente não combinam. O olhar de Brick escureceu e ele começou a lhe esfregar o pulso com o polegar. — Nossas mentes combinavam ontem à noite. Tudo combinava ontem à noite. Lisa não podia contestar a afirmação. Era difícil pensar com aquele dedo fazendo seu pulso acelerar. — Mas isso foi ontem à noite. Agora é diferente. Não acho que nossas mentes voltem a combinar. — Não está dizendo que quer deixar de me ver outra vez, está? — sustentando-lhe o olhar, ele lhe ergueu o pulso e o beijou. Lisa sentiu um friozinho na barriga. Era um gesto romântico sensual, o tipo que fazia uma mulher largar as roupas no chão, esquecer tudo e pensar apenas no homem ao seu lado. Adoraria agir dessa maneira, mas, em vez disso, endireitou a coluna, recusando-se a ceder ao desejo quase letal que ele lhe evocava. Livrando a mão, saiu da cama. — Não podemos continuar dormindo juntos. Brick estava ao seu lado, antes que ela pegasse um robe no banheiro. — Por que não? Lisa lhe jogou outro robe, enquanto enfiava os braços pelas mangas do seu. Após dar um nó no cinto, colocou as mãos nos quadris. — Porque dói demais quando acaba.
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Brick deixou a peça cair no chão, sem perceber. Segurando as lapelas do robe de Lisa, prendeu-a com o olhar. — Nada acabou. O coração de Lisa saltou uma batida. Ela suspirou. — Brick, já passamos por isso antes. Não vamos repetir. Você não quer se casar comigo e eu preciso desse tipo de compromisso. Dói fazer amor com você, quando sei que o que há entre nós não pode durar. Ele estreitou os olhos, mas não a soltou. — Por que não pode durar se eu a amo? Lisa prendeu a respiração. Ele dissera isso antes, mas ela achava que era por causa do calor do momento. Agora, à luz do dia, fazia algo dentro dela distender. Combatendo a confusão e a tristeza, fez um pequeno meneio de cabeça. — Porque eu preciso de algo mais. Brick deixou os braços caírem ao longo do corpo. Sua boca se contorceu em cinismo. — Você precisa de um pedaço de papel, um anel e um monte de promessas que a maioria das pessoas não cumpre. — Sim — respondeu ela suavemente, sem rodeios. — Preciso de todas essas coisas, mas o que mais preciso é de uma vida inteira para fazê-las dar certo. Nem todo mundo quebra essas promessas, Brick. Nem todo mundo encara o casamento como uma prisão. — Lisa olhou para o teto, frustrada. — Oh, por que estou tentando lhe explicar? Não aguento mais fazer isso. — Ela ergueu o robe do chão e entregou-lhe. — Por favor, coloque isto. Brick deu de ombros e cruzou os braços sobre o peito. — Você insiste em dizer que quer encontrar outro homem para se casar, mas, quando estamos juntos, isso não parece muito importante. Quando sofri aquela concussão, você ficou comigo a noite toda. Não vou esquecer como cuidou de mim. E como me queria. — Sua expressão a desafiava a negar. Mas Lisa não podia. — Na noite passada você pediu para eu me entregar a você. — Sua voz soava baixa e sensual. — Quando eu a toco, você reage como se pertencesse a mim e somente a mim, não a outro homem Lisa o encarou. — Você está certo — admitiu ela, erguendo o queixo. — Você me toca e eu lhe entrego tudo. — Sua voz começou a tremer. — Meu corpo, meu coração e minha alma. E esse é o problema. — Lisa sentiu as primeiras lágrimas queimando-lhe os olhos e piscou para contê-las. — Toda vez que fazemos amor, perco um pedacinho de mim, porque não há futuro entre nós. Temos um desacordo fundamental e eu me recuso a tentar convencêlo a se casar comigo. Isso seria humilhante e eu respeito a você e a mim o suficiente para não fazê-lo. — Ela deixou os braços caírem — Sei que você gosta de mim, mas... — Eu a amo. — Ele a interrompeu com uma voz grave e letal. Toda vez que ele repetia aquilo, Lisa sentia seus alicerces abalados. Precisava se esforçar para recuperar a compostura.
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— Você simplesmente não entende, não é? Sabia que eu tenho um baú com o meu enxoval no fundo do armário no meu quarto? Brick a fitou como se ela o tivesse atingido com um golpe. — Não. — Já viu o que uma mulher coloca no baú do enxoval? Ele deu de ombros, parecendo desconfiado e desconfortável. — Não, nos últimos tempos. Lisa poderia afirmar que aquele era um assunto preocupante para ele, o que era mais uma razão para ela abordá-lo. — A maioria das mulheres não faz mais enxoval, mas eu faço. Isso deve revelar algo sobre mim, Brick. — Ela podia contar cada peça do enxoval nos dedos. — Tenho prataria que minha avó me deu, uma colcha que minha mãe fez para mim e uma manta de sofá afegã, artesanal, que minha tia me deu, um ano antes de morrer. Tenho porcelana. Almofadas que bordei quando tinha 12 anos, os pegadores de panela mais cafonas que você possa imaginar. Eu os fiz quando tinha 8 anos. — Ela sorriu, lembrando-se de seus esforços de principiante. — Há porta-retratos de prata e um cobertor de bebê. — Lisa viu o espanto no rosto dele e sentiu o desvanecimento de seu sorriso. — Você diz que me ama, mas tudo isso faz parte de mim. Em alguns aspectos bastante importantes, acho que sou uma moça antiquada. — Ela agarrou a gola do roupão. — Sou mais do que a Lisa gerente de bufê ou a Lisa amante que toma pílulas anticoncepcionais. Brick praguejou. — Nunca a imaginei dessa maneira. — Ele passou a mão pelos cabelos e fitou-a com um olhar triste. — Mas, droga, eu não sabia que você fazia enxoval. Ele parecia horrorizado. Se não estivesse se sentindo tão mal, Lisa teria achado engraçado. Mas nada parecia engraçado para ela, no momento. Pousando as mãos nos quadris, Brick inclinou a cabeça para um lado e estudou-a por um longo momento repleto de tensão. Lisa notou o instante em que a compreensão o atingiu e engoliu em seco. — Você está tentando me assustar com essa história sobre enxoval — concluiu ele com voz alterada. Ele meneou a cabeça e o arremedo de um sorriso perigosamente sagaz curvou-lhe os cantos da boca. — O que é, Lisa? Está tentando usar essa conversa de casamento para me afastar do mesmo jeito que usaria uma cruz para espantar um vampiro? — Se a carapuça lhe serve — retrucou ela. Brick inclinou-se para ela, sua energia poderosa e ardente, a mandíbula determinada. — Independente de enxoval, eu ainda a quero. E você ainda me quer. A verdade absoluta da declaração a assustou. Ele não estava sendo egoísta. Estava simplesmente declarando um fato. — É um instinto absurdo que me faz querer voltar para você, Brick, mas é um instinto que está nos prejudicando. — Ela meneou a cabeça. — Não posso mais fazer isso. Os olhos de Brick brilharam com a dor.
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— Sim, você pode. Siga seus instintos. Sentindo-se oca e frágil por dentro, Lisa mordeu o interior da bochecha. — Não mais.
O restante do fim de semana, Brick sentiu como se tivesse sido emocionalmente destruído. Deus, doía demais, e não havia nenhum remédio para a sua dor. Não era muito adepto de bebidas alcoólicas, portanto tomar um porre estava fora de cogitação. Os pensamentos sobre Lisa eram tão implacáveis que lhe roubavam o sono. No momento, não estava ligando a mínima para o trabalho. Sabia que faria isso mais tarde, mas agora dar seu coração e alma pela empresa não tinha nenhum apelo. A única outra opção era visitar a família em Beulah, mas não podia suportar a perspectiva de tentar responder as perguntas sobre Lisa. Especialmente quando não dispunha de respostas para dar. Toda vez que se perguntava por que não podia se casar com ela, experimentava a mesma reação física intensa. Era quase como se fosse alérgico ao próprio pensamento. Sua boca virava pó de tão seca, o coração palpitava e o estômago revirava. A possibilidade de que poderia ter fobia a casamento se instalou em sua mente de uma forma insidiosa. Poderia ser? Seria possível? A ideia o atormentou até segunda-feira à tarde, quando respirou fundo e decidiu fazer algo a respeito do assunto. Na tarde seguinte, Brick se viu em um lugar onde jamais sonhou pôr os pés. o consultório de um psicólogo.
CAPÍTULO 10
O homem de meia-idade que o cumprimentou não se parecia com o dr. Freud. Estava um pouco acima do peso, tinha barba bem-aparada e passava uma serenidade amigável. — Sente-se onde quiser — disse o dr. Michaels, pegando um bloco de anotações na mesa. Olhando para o sofá com receio, Brick se sentou em uma das duas cadeiras com almofadadas verdes. Descansou o tornozelo sobre o joelho oposto, resistiu ao impulso de tamborilar os dedos e sentiu-se terrivelmente inseguro. O dr. Michaels sentou-se na outra cadeira e deu-lhe um sorriso encorajador. 82
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— As pessoas muitas vezes se sentem pouco à vontade pela primeira vez. Isso é compreensível. Talvez, se você se lembrar de que o meu trabalho é ajudá-lo, consiga relaxar um pouco. — Ele olhou para o formulário que Brick preenchera. — Estou vendo que você sofre de uma certa ansiedade em relação a casamento. Talvez possamos começar com você me contando o que pensa do casamento. Como foram os casamentos na sua família? Para sua surpresa, Brick sentiu um pouco da tensão de seu corpo desaparecer. Isso o ajudou a formular uma resposta para a pergunta. Recostando-se na cadeira, começou a narrar as primeiras lembranças sobre o casamento dos pais. Quando voltou para casa depois da sessão de 90 minutos, sentia-se exausto, mas menos frustrado. Fora um alívio arrancar seus pensamentos sobre os pais e a madrasta para fora do peito. Com o psicólogo, não sentira necessidade de suavizar a verdade, como sempre fazia com os irmãos e a irmã. Entrou em seu apartamento, experimentando uma sensação de mudança. Sutil, mas era uma mudança. Obrigou-se a pensar em casamento e lá veio a familiar náusea. Desanimado, fez uma careta. Em seguida, aquilo o golpeou. Queria mudar, mas queria que fosse de imediato. Em um passe de mágica, Brick Pendleton conseguiria tudo que desejava. De repente, sentiu-se impaciente com seu medo, gamofobia, ou fosse lá o que fosse. Já estava ficando farto, pensou, enquanto pegava uma garrafa de Ginger Ale da geladeira. Tomou um longo gole e o sabor o fez recordar da última vez que Lisa estivera ali. Seu peito apertou com uma sensação de perda. O medo o estava privando do que ele desejava, o estava privando de ter Lisa. Com a mesma determinação que empregava para planejar uma demolição complicada, resolveu exorcizar os próprios demônios. O dr. Michaels exercia uma terapia de curta duração voltada para a solução de problemas e, na terceira sessão, Brick já havia elaborado uma estratégia. Respeitando o desejo de Lisa, não lhe ligou mais, desde aquela manhã no hotel. Sabia, no entanto, que ela partiria naquele maldito cruzeiro para solteiros e tinha toda a intenção de testar sua nova estratégia em mar aberto.
Observando a euforia dos outros passageiros do cruzeiro, enquanto o navio zarpava de Miami, Lisa inclinou-se contra a balaustrada e se perguntou pela décima quinta vez se tomara a decisão certa, na hora certa. Ao ouvir o risinho tímido de uma mulher, fez uma careta e concluiu: parecia extremamente errada. Quase cancelara as reservas após aquela noite inesquecível com Brick. Não fosse a insistência de Senada, com certeza teria desistido. Trouxera uma mala com peças de roupas que normalmente não usava. Por baixo do enorme casaco abotoado, colocara um elegante vestido, estilo sarongue, em um tom verde, com um decote ousado e uma fenda provocante que revelava boa parte da sua coxa esquerda. Mais uma das sugestões de Senada. Lisa não tinha a intenção de remover o casaco. Em vez de ficar deprimida e se escondendo, devia estar em busca de ação, exibindo seus 96 centímetros de quadris, como Senada diria, e não desejando um homem que ficava verde com a simples menção da palavra casamento. Também não deveria ficar quebrando a cabeça tentando descobrir por que ele não lhe ligara mais. Devia estar grata por isso.
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Devia tentar melhorar sua atitude, pensou. Afinal, havia a possibilidade de acabar encontrando um homem maravilhoso que queria se casar e formar uma família. Colocando uma expressão agradável no rosto, se afastou da balaustrada, determinada a aproveitar o cruzeiro ao máximo. Enquanto o navio seguia no sentido sul, em direção às Bahamas, caminhou cuidadosamente através da multidão rumo ao deque da piscina, onde a tripulação servia um ponche de rum, ao som da música dos tambores de aço. Uma enorme faixa tremulava no convés: “Encontre seu amor verdadeiro, não um romance passageiro”. — À procura de um pouco disto? — soou uma voz profunda e muito familiar, quando ela se aproximou do bar. Lisa se virou, olhando ao redor, buscando seu rosto na multidão. Não podia ser, disse a si mesma. Simplesmente não podia ser Brick. Nem morto ele embarcaria em um cruzeiro para solteiros, pensou, incrédula, mesmo quando o avistou. Mas lá estava ele, em carne e osso, oferecendo-lhe um copo de plástico com ponche. Entorpecida, ela aceitou a bebida e o fitou. Uma brisa suave soprava do oceano lhe revolvendo os cabelos na testa. A expressão em seu rosto másculo parecia afetuosa e divertida. O sorriso assustaria os tubarões. Uma onda de puro pânico pôs fim ao seu torpor. — O que está fazendo aqui? — exigiu. O sorriso insuportável se alargou. — Estou aqui para encontrar minha cara-metade — respondeu ele, mal contendo o riso. Lisa estreitou o olhar. — E eu ganhei um milhão de dólares na loteria. — Ela olhou para as pessoas ao redor. — Isto é para aqueles que pensam seriamente em se casar. Como conseguiu passar pela triagem da agência? Brick deu de ombros. — Preenchi um formulário. A secretária disse que estão sempre precisando de mais uns 30 homens nesses cruzeiros. — Não acredito nisso. — Lisa tomou um generoso gole do ponche de rum O propósito daquele exercício era fugir da influência de Brick e conhecer outros homens. Sentiu um misto de raiva e desespero. — Você não deveria estar aqui. Não sei por que veio. — ergueu a mão quando ele abriu a boca para falar. — E não me venha com a mentira de que está procurando sua alma gêmea. — Como sabe que é mentira? — perguntou ele, fitando-a fixamente. A raiva era tanta que Lisa mal conseguia respirar. Suas mãos coçaram de vontade de despejar o restante da bebida sobre a linda cabeça de Brick. Na verdade, se ainda restasse um pouco no copo, ela o teria feito. — Porque já me disse uma centena de vezes como se sente a respeito do casamento. Este é o pior truque que já inventou, o pior — repetiu enfática. — Aparecer aqui e fingir que mudou. Ele a fitou com uma expressão séria. — Talvez eu não esteja fingindo.
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O coração de Lisa quase parou. Então, seu cérebro acelerou. Aquele era Brick. Tomou outro gole e lambeu os lábios. Havia muito sentimento envolvido no passado dos dois. Muitas esperanças, desejos e decepções. Os altos e baixos lhe cobraram um preço alto, e agora se sentia como se tivesse sido empurrada para a beira de um abismo. — Talvez — disse ela em um tom de voz deliberadamente controlado — , mas não acredito em você. — Virando-se, caminhou em direção ao bar, ouvindo-o praguejar e caminhar atrás dela. — Depois de tudo que passamos, depois de tudo que significamos um para o outro, o mínimo que poderia fazer é me dar uma chance. — Não — respondeu ela e pediu outro ponche ao garçom — Vou me divertir neste cruzeiro. — Parecia mais determinada do que nunca. — Vou conhecer um homem bom e fingir que você não existe. Vou ignorá-lo. Brick se postou na frente dela. — E quando é que fomos capazes de ignorar um ao outro? Lisa engoliu em seco, vencendo o nó que se formara em sua garganta. A postura e o tom de voz rouco de Brick pareciam refletir tudo o que viveram juntos, emocional e sexualmente. — Bem lembrado — admitiu. — Acho que isso exige medidas mais drásticas. — Desabotoando o enorme casaco, retirou-o e se dirigiu à multidão no deque. Brick contemplou a visão daquelas curvas femininas envoltas em tecido verde e lutou contra a vontade de uivar. Em vez disso, estalou os dedos. A incrível ironia da situação era o suficiente para deixá-lo louco. Estava ali pronto para tentar superar sua gamofobia. Fizera um bom começo, mas Lisa não apenas não acreditara nele, como também pretendia ignorá-lo. Frustrado, soltou um palavrão. — Olá. Sou Kelsey Richards de Nova York. Com relutância, Brick desviou o olhar do outro lado do deque, onde Lisa estava causando um verdadeiro burburinho entre os passageiros do sexo masculino e olhou para a loirinha ao seu lado. — Olá, Kelsey. Sou Brick e já encontrei companhia. — Ele apontou para Lisa. Kelsey arqueou uma sobrancelha. — Ela não parece comprometida. Brick viu os homens começarem a se aglomerar em torno de Lisa como uma matilha de cães salivando. Pegou um comprimido de antiácido no bolso e o colocou na boca. — Ela está apenas tendo um lapso de memória. Kelsey parecia desconfiada. — Bem, se mudar de ideia... — Obrigada. Mas isso não vai acontecer. — Seu humor tornou-se mais sombrio ao perceber que teria trabalho para tentar fazer Lisa mudar de ideia. Brick passou o resto da tarde tentando dar um jeito de conseguir um lugar para as refeições na mesa de Lisa. Descobriu a localização da sua cabine e conferiu o itinerário do cruzeiro. No jantar, ela lhe lançou um olhar hostil, cumprimentou-o e prontamente o ignorou, voltando sua atenção para o representante de vendas da Carolina do Norte. Usava um 85
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vestido coral suave que ele nunca vira antes. Os cabelos castanhos brilhantes lhe caíam em ondas sobre os ombros. Parecia uma sobremesa feminina suntuosa que todo homem a uma curta distância gostaria de experimentar. Observando-a com uma sensação incômoda no peito, Brick perguntou-se se teria sido melhor ter se sentado em outra mesa. Com o andamento da refeição, no entanto, o comportamento esfuziante de Lisa esmoreceu e sorrateiramente ela afastou o prato para longe. — Será que o navio está balançando mais do que o normal? — Ela franziu a testa. — Não percebi o movimento tanto quanto agora. O representante de vendas assentiu. — De fato, eles aceleram mais na primeira noite e na última. Os enjoos acontecem geralmente na primeira noite. Você está parecendo um pouco abatida. Quer que eu a leve de volta para a cabine? Nem sobre o meu cadáver, pensou Brick. O sujeito, obviamente, queria fazer muito mais do que simplesmente acompanhá-la até a cabine. Apurou os ouvidos para ouvir a resposta de Lisa. Oferecendo um débil sorriso, ela fez que não com a cabeça. — Não, acho que posso ir sozinha, desta vez. — Depois de proferir um vago “boanoite” a todos, ergueu-se e caminhou, instável, pelo salão de jantar. Suspirando, Brick pousou o guardanapo e a seguiu. Lisa o viu assim que pegou a chave na bolsa. Com a pele pálida, respirava fundo repetidas vezes. — Vá embora. Não estou me sentindo bem. — Depois de me certificar que está tudo bem — retrucou ele e abriu-lhe a porta. — Quantos ponches você tomou hoje? Lisa fez uma careta e levou a mão à cabeça. — Quatro. Acho que deveria ter parado no terceiro. — No segundo — corrigiu ele, e ajudou-a a caminhar em direção ao banheiro, onde ela pressionou o estômago e emitiu um som angustiante. Lisa entrou no pequeno compartimento e fechou a porta. Ouvindo-a arfar, Brick encostou-se à parede. A noite poderia se tornar longa para Lisa, pensou, sentindo uma pontada de compaixão. Após alguns instantes, ela saiu com o rosto ainda pálido. — Não sou responsabilidade sua. Pode ir embora agora. A dispensa proferida sem rodeios o fez ranger os dentes. — Isso é uma questão de ponto de vista. Quer tomar uma injeção na enfermaria? Retirando as sandálias, Lisa negou com um gesto de e se deitou na cama. — Quero me deitar em um quarto escuro, silencioso e fresco e fingir que estou em terra firme. Parecia que ela queria fingir muitas coisas, pensou Brick sombrio, lembrando que ela também queria fingir que ele não estava lá. Após umedecer um pano com água fria, colocou-o delicadamente sobre a testa de Lisa. Os olhos dela se abriram, grandes, verdes, cheios de emoções que ele não sabia decifrar. — Obrigada — murmurou ela com a voz rouca. Brick sentou na beirada da cama, com a sugestão de um sorriso irônico nos lábios. — De nada. Quer algo para beber? 86
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Lisa negou com a cabeça e ergueu a mão para ajustar o pano. O movimento repuxou o tecido do vestido sobre seus seios, subindo a bainha mais alguns centímetros. Mesmo não se sentindo bem, ela o fazia desejá-la. Parecia tão natural se deitar ao seu lado. Ele pigarreou, sentindo o doce aumento de sua excitação. — Bonito vestido. — Foi ideia de Senada. — Quer tirá-lo? Lisa piscou. — O quê...? — Acho que poderia se sentir mais confortável — emendou ele depressa, embora tivesse que admitir que era o tipo de vestido que lhe dava vontade de arrancar. Ela o fitou com uma expressão cética. — Talvez mais tarde. — O navio balançou visivelmente mais forte, fazendo-a empalidecer. Perturbado pela fragilidade momentânea de Lisa, Brick afastou-lhe uma mecha de cabelo úmido do rosto. Ela respirou fundo. — Quero que você pare de ser gentil. Ele ergueu as sobrancelhas. — Por quê? Lisa fez uma careta. — Porque fica mais difícil sentir raiva e estou com raiva de você. Não me ligou durante duas semanas e então... — Você me disse para não ligar — lembrou-a, satisfeito por ela ter sentido falta dos seus telefonemas. A expressão contrariada no rosto dela se aprofundou. — ...então, aparece em um cruzeiro onde estou tentando conhecer outros homens. Você tem uma... Ele puxou a extremidade do pano. — Não precisa conhecer outros homens. Está apaixonada por mim. A declaração a abalou pelo menos por três segundos. Ficou boquiaberta e, em seguida, apoiou-se nos cotovelos. — Bem, estou tentando mudar isso! Brick gentilmente lhe pressionou os ombros para trás, deitando-a sobre a cama. — Estou aqui para garantir que você não consiga. Pode sair com outros homens, falar e rir com eles, mas é comigo que você quer ficar. — Seu ego é tão grande quanto você — disse ela, furiosa. Brick deu uma risada autodepreciativa.
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— Senhora, meu ego está levando a maior surra da vida dele. Encontra-se no fundo do poço. A expressão de Lisa mudou em um piscar de olhos. Parecia assustada. Brick sentiu uma pontada de pesar. Deus sabia que ele compreendia o medo dela. — Quero que fique longe de mim — murmurou ela. — Sem chance. — Vou dizer a todos que seu nome é Elvis — ameaçou Lisa. — E eu direi a todos esses yuppies que você não consegue dar ré sem derrubar alguma coisa. Eles vão considerar o seu prêmio de seguro de carro uma responsabilidade muito pesada. — Isso é um golpe imperdoavelmente baixo. — Sua voz tremeu. Ele fitou-a com um olhar frio e calculista. — Descerei tão baixo quanto for necessário. — Por quê? — perguntou ela desesperada. — Isso é inútil, uma loucura. Por quê? Brick segurou-lhe o queixo gentilmente e sabia que o que estava prestes a dizer poderia soar arrogante e possessivo, mas queria que ela soubesse o quanto a desejava. Porém, era mais que desejo e paixão. Lisa era tão essencial para ele quanto oxigênio, mais importante do que comida, tão vital quanto água. E precisava fazê-la compreender isso. — Porque você é minha — disse-lhe em voz baixa, mas firme. — E não pretendo perdê-la.
Lisa disse-lhe onde enfiar as pretensões e o mandou embora da cabine. As náuseas desapareceram sob o calor da sua fúria. Ainda tremendo de raiva, cinco minutos depois, procurou algo para atirar na porta da cabine. — Mas que droga! — gritou contra as paredes ao seu redor. Precisava desesperadamente desabafar. Quando vira Brick pela primeira vez a bordo, no dia anterior, o navio poderia muito bem ter emborcado, como acontecera com seu coração. Sentira demais a falta dele, lutara contra uma terrível tristeza após deixá-lo naquele dia, no hotel. Mas conseguira se recompor e lá estava ele, aparecendo de novo onde ela menos esperava e deixando qualquer outro homem na sombra. Estava começando a suspeitar que, não importava o que fizesse, não seria capaz de se livrar de Brick. Até mesmo mudando para outro planeta, receava jamais tirá-lo da mente e do coração. O pensamento lhe provocou uma imensa vontade de gritar. A sensação de medo que retumbava profundamente em seu interior ameaçava aflorar. Respirando fundo, parou no meio da cabine com o navio balançando sob seus pés e sentiu o suor lhe brotar na nuca. O que fazer se não conseguia se livrar dele? O que fazer se estava apaixonada por um homem que não podia ou não queria se casar com ela? Necessitando de conforto, cruzou os braços em torno do peito. Sua mente imediatamente voou para Brick, lembrando como ele a abraçava, envolvendo-a em um aperto suave. Ele não estava na cabine, mas ela podia sentir seu cheiro. Uma onda de calor se espalhou por seu corpo. A mera lembrança, o simples pensamento, fazia seu 88
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peito se apertar. Havia subestimado grosseiramente o poder daquele homem sobre ela. Brick estava impregnado em seu sangue e ela jamais se sentira tão sem esperança.
Na manhã seguinte, Brick olhou para a multidão de solteiros com um olhar avaliador. Lisa mais uma vez o ignorara no café da manhã. Era um ignorar inquieto, o que ele considerou uma ligeira melhora, mas não o suficiente. Ela fazia o possível para manter o foco em outros homens, assim não precisaria se importar com ele. E é claro que ele queria a sua atenção exclusiva. Havia um contrato que especificava tal exclusividade, e estava disposto a testá-lo com Lisa. Casamento. O mal-estar familiar de imediato o assaltou. Uma pontada de pânico o percorreu. Com o estômago revirando, ele abriu uma nova réstia de antiácidos. Sentiu um forte impulso de sair correndo e mandar tudo para o inferno. Mas não o fez. O sol refletia no azul profundo do oceano, fazendo as águas brilharem como diamantes. Vozes zumbiam ao seu redor. Brick respirou fundo e contou até 25. Respirou fundo e mais uma vez contou até 25, e então repetiu a técnica de redução de ansiedade. A tensão diminui um pouco. Ele sentiu um sorriso lento surgindo em seu interior. Conseguira. As sessões com o dr. Michaels haviam sido proveitosas em vários aspectos, o mais importante deles sendo aprender maneiras de lidar com a fobia a casamento. O dr. Michaels as chamava de “habilidades para enfrentar problemas”. Brick, por sua vez, preferia chamá-las de “saquinho de truques” e, embora não tivesse superado o medo completamente, sabia que percorrera um longo caminho. O segredo era esperar, usando um daqueles pequenos truques. Queria pedir Lisa em casamento e tentar explicar-lhe sobre o seu medo, mas ainda se sentia inseguro em admitir tal fraqueza. Embora acreditasse que ela o amava, a ideia de se expor daquela forma lhe causava arrepios na pele. Talvez fosse tolice, mas não queria que ela o achasse um fraco. Lisa era muito importante para ele. Enfiando as mãos nos bolsos da bermuda cáqui, proferiu um palavrão em voz baixa. Era um inferno propor casamento a uma mulher que não estava falando com ele. Precisava ficar sozinho com ela, sem distrações, pensou, lançando um olhar sisudo ao grupo de aspirantes a futuros casais que nadava na piscina. Precisava desviá-la para sua direção. Fazê-la baixar a guarda. Brick aceitou um copo de suco que um garçom lhe serviu e reviu suas opções. Poderia trancá-la em sua cabine, até fazê-la concordar em ouvi-lo. Porém, depois daquela resposta veemente à sua declaração possessiva, na noite anterior, talvez isso não desse certo. Não, precisava que ela o procurasse por livre e espontânea vontade. Pensou nos vários tipos de homens que estavam naquele cruzeiro, muitos dos quais ele sabia que não a atrairiam Graças a Deus! Uma ideia perversa lhe veio à mente. De imediato a descartou. Era desonesto e injusto. Não podia fazer aquilo. Não seria, naquele momento, avistou Lisa caminhando em direção ao deque da piscina, usando um maiô criado para elevar a temperatura de qualquer homem ao extremo. Por certo, outra das malditas sugestões de Senada. Contendo a vontade de cobri-la com uma 89
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toalha, rangeu os dentes de trás e lembrou que havia lhe dito que desceria tão baixo quanto fosse necessário para ficar com ela. Temporariamente desviando sua atenção para longe dela, perscrutou a multidão mais uma vez e reconsiderou a sua ideia perversa. Havia homens de todas as idades, representantes de várias partes do país. Levou apenas alguns segundos antes de identificar o primeiro candidato que enviaria Lisa direto para os seus braços.
CAPÍTULO 11
Era difícil aparentar estar calma por fora, quando estava suando em bicas por dentro. As dúvidas e as incertezas de Lisa só se multiplicaram durante a noite. Esforçouse para se concentrar em outro homem durante o café da manhã, mas não prestou a mínima atenção ao que ele dissera e o sujeito falara por 15 minutos consecutivos. Por sorte, estava focado demais em si mesmo para notar. Naquele momento, sentiu os olhos de Brick sobre ela. A constatação lhe provocou um formigamento na nuca, que se alastrou com mais rapidez do que a febre de um resfriado para todas as partes do seu corpo. Com o canto do olho, notou a silhueta do seu físico atlético. A luz do sol dourava-lhe os cabelos caídos sobre a testa. De imediato, ela se imaginou passando os dedos por entre aqueles fios sedosos, sentindo seu hálito morno tocando-lhe o rosto, antes de beijá-la, os braços fortes estreitando-a, pressionando-a contra seu tórax musculoso. Quando seus seios começaram a intumescer, Lisa conteve um gemido e repreendeu-se mentalmente. Puxou a pequena alça do maiô diminuto e desejou não ter permitido que Senada a convencesse a usá-lo. Praguejando baixinho, decidiu que pularia o almoço e ficaria à beira da piscina até o navio atracar na ilha. Escolheu uma espreguiçadeira e lembrou a si mesma de que tinha muito a agradecer. O tempo estava lindo, não havendo uma nuvem no céu. A brisa gostosa que vinha do mar refrescava o calor do sol e a atmosfera entre os convidados do cruzeiro parecia menos frenética naquele dia. Felizmente, seu enjoo havia passado. Lisa se recostou e abriu o livro sobre casamento. Lamentou o fato de que o protetor solar FPS 25, que usava para lhe proteger a pele do sol, não fosse eficaz para protegê-la do sentimento dolorido e abrasador que o olhar de Brick lhe causava. Duas horas mais tarde, estava prestes a se lançar ao mar. Quase não podia acreditar na quantidade de homens esquisitos que a abordaram durante os últimos 120 minutos. O primeiro, mais velho do que seu pai, maliciosamente a chamara de gatinha. Lisa sentia um desconforto no peito quando estranhos a chamavam de nomes de animais. O segundo comentara sua preferência por mulheres altas e curvilíneas, no mesmo instante em que dissera que sua mãe também era alta e cheia de curvas. Os dois sumiram depois disso. Mal se recuperava de um, aparecia outro. Desejou saber se estava usando alguma placa com os dizeres: esquisitos, procurem-me. Graças a Deus, estava se aproximando a hora de o navio atracar.
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Focando a mente outra vez em uma viagem cênica até a ilha, afastou as pernas para o lado da espreguiçadeira e enfiou os pés nas sandálias. Em seguida, colocou o livro, não lido, em uma sacola. Ao se erguer para sair, um homem com um chapéu de caubói diminuiu o passo e se postou diretamente na frente dela. — Olá, madame. Sou Cal Jeffreys, de Iowa. Prazer em conhecê-la. Oh, céus, outro não! Com grande apreensão, Lisa estendeu a mão para cumprimentá-lo e tentou não se encolher com o aperto de mão excessivamente firme do homem — Lisa Ransom, do Tennessee. Obrigada. — Eu me inscrevi neste cruzeiro para conhecer uma boa mulher. Ela sorriu cautelosa. — Espero que encontre o que está procurando. Cal anuiu com a cabeça. — Você parece ser uma mulher boa e vigorosa — disse ele, avaliando-a de cima a baixo com apreço. — Não é magra demais como a maioria dessas outras. Quero uma mulher com carne sobre os ossos, entende? Lisa piscou. Tinha a impressão de que aquela era a sua versão de elogio. Incapaz de pensar em uma única resposta adequada, assentiu vagamente. — Tenho uma fazenda, inúmeras cabeças de gado e uma caminhonete novinha em folha. — Seu peito se encheu de orgulho. — Agora, tudo que preciso é uma potranca para compartilhar tudo isso comigo. Lisa se recusava a acreditar que aquilo estava acontecendo com ela duas vezes no mesmo dia. Aquele sujeito não podia estar chamando-a de potranca, disse a si mesma. De qualquer forma, seu estômago parecia girar. — Você precisa de uma égua? Cal riu alto. — Excelente senso de humor. Isso é outra característica que aprecio em uma mulher. Você está brincando, não é? Quando me refiro a uma potranca, quero dizer que preciso de uma noiva que me dará seis ou sete filhos. — Ele deu-lhe uma piscadela e tirou o chapéu. — Tenho que conferir o restante do estoque, se entende o que quero dizer. Mas vou mantê-la em mente. Lisa o observou se afastar. Ele a chamara de potranca. — Deus me livre! — murmurou baixinho, e decidiu que precisava de um antiácido.
Após uma tarde e boa parte da noite explorando as ruas de Freeport, sozinha, mergulhou em um sono profundo, sonhando com gatinhas e potrancas. Alguns poderiam chamar de exagero, mas estava tão aborrecida que jogou o livro sobre como conseguir um marido no lixo. Acordou com um forte desejo de evitar qualquer um dos homens que conhecera na piscina e seguiu para o Internacional Market. Ao sair de uma joalheria, deparou-se com Brick. — Oi — disse ela, sentindo uma onda indecente de prazer. 91
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— Oi. — Ele cruzou os braços sobre o peito e encostou-se em uma viga de madeira com uma placa sinalizando a direção do mercado. Seus olhos brilhavam com interesse. — Apreciando a vista? Estranhamente embaraçada, Lisa deu de ombros. — Hã... sim. É lindo aqui. — Ela ergueu a bolsa. — Fui fazer compras. Brick olhou para a sacola e anuiu com a cabeça. — Encontrou algo interessante? — Apenas algumas quinquilharias e bijuterias. — Está sumida. Não a tenho visto, ultimamente. — Eu queria explorar o local o máximo possível. — Aquilo soou pouco convincente até para os próprios ouvidos, mas ela ficou satisfeita por ele deixar passar o comentário. — Oh! — Ele ergueu uma sobrancelha. — Conheceu alguém interessante? Lisa fez uma careta, lembrando-se dos homens que conhecera no dia anterior. Naquele instante, percebeu um pequeno brilho de diversão no rosto de Brick, que rapidamente foi substituído por uma expressão inocente. Desconfiada, fez uma pausa antes de responder: — Acho que posso dizer que eram interessantes. Por que a pergunta? Brick deu de ombros. — Apenas curiosidade. Vi dois rapazes junto à sua espreguiçadeira ontem, na piscina. Também, com aquele maiô, não era de admirar que estivesse cercada de homens — concluiu com uma leve nota de rispidez na voz. — Senada o escolheu. Dois dos homens me chamaram de nomes de animais — confessou e exalou um suspiro. — Isso é uma daquelas coisas que não posso tolerar. Não sei por quê, mas fico louca de raiva quando homens que não me conhecem me chamam de nomes de animais. Brick sufocou uma risada e se inclinou para frente. — Não precisa explicar. Você não me chama de Elvis e eu não a chamo de nomes de animais. — Ele consultou o relógio. — Já almoçou? Vou mergulhar dentro de uma hora. Uma pontada de emoção e inveja a atingiu. — Mergulhar?! Eu sempre quis. — Ela rapidamente cobriu a boca com a mão. — Você pode ir e me ignorar — sugeriu ele, em um tom casual. Lisa lembrou suas tolas palavras com uma onda de constrangimento. — Não sou muito boa em ignorá-lo — murmurou, não satisfeita, mas não querendo mentir. Uma expressão sensualmente cruel cruzou o rosto dele e desapareceu. Tudo o que Lisa podia fazer era lidar com o próprio mal-estar subjacente. Um sorriso lento curvou os cantos dos lábios de Brick. — Então, poderia ir e não me ignorar. O coração dela acelerou e a mente hesitou. Estava em um cruzeiro e cansada de se debater consigo mesma dia e noite. Por que não podia se divertir uma tarde? Pelo 92
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amor de Deus, era apenas um mergulho! Para ser sincera, temia a hora de ter que voltar ao navio e correr o risco de acabar se deparando com um daqueles personagens que conhecera na piscina, no dia anterior. — Não trouxe meu traje de banho. — Você pode comprar um — retrucou ele, invalidando a objeção com facilidade. — Antes disso, eu queria parar em uma loja de roupas de cama, mesa e banho. Brick lançou-lhe um olhar de desafio. — Temos apenas 45 minutos. Lisa não sabia se estava afundando ou flutuando. — O navio parte à tardinha. Precisamos voltar a tempo — disse ela, lembrando sutilmente a ambos que aquela pequena trégua terminava com o pôr do sol. Brick devia ter percebido sua rendição, porque a segurou pelo braço. — Onde fica essa loja? No caminho, Lisa parou em uma lojinha que vendia de tudo, desde bijuterias e protetores solares a roupas de banho. Escolheu um traje de mergulho lilás, Brick fez um aceno de aprovação e os dois deixaram a loja. A loja de roupas de cama, mesa e banho vendia encantadoras toalhas bordadas. Ela imaginou sua mesa com uma delas, combinando com lindos guardanapos de pano, talheres de prata e copos de cristal. Esfregando o tecido entre os dedos, acrescentou um castiçal e um homem com olhos cor de violeta à imagem Lisa gemeu. — Qual delas você quer? — perguntou Brick, roçando os dedos sobre o mesmo tecido que ela estava tocando. — Não sei. Adoro os botões de rosas vermelhas nesta, mas a estampa com motivos natalinos desta. — disse, apontando para uma toalha de mesa em exposição na vitrine. — Os detalhes são incríveis. — Lisa caminhou até lá. — Veja as caixinhas de presente e os brinquedos. A caixa de surpresas, o cavalinho com sela e a boneca de pano. — Há um trenzinho, também Mais indecisa do que nunca, ela afastou os cabelos para trás da orelha. — Esta com botões de rosa é mais para ocasiões especiais — disse, ainda olhando para a toalha de Natal. — Costumo passar o Natal na casa dos meus pais, então não teria ocasião para usá-la. É algo para alguém com uma grande família. Acho que poderia comprá-la para minha mãe. Mas não era isso que ela queria, Brick podia perceber em sua voz. E também notou algo mais, algo que Lisa não imaginava estar revelando. Ela queria uma família. Era incrível como o seu desejo de formar uma família transparecia até mesmo em suas escolhas de roupa de cama e mesa. Era incrível e o emocionou. — Leve a toalha com os botões de rosa — sugeriu, observando-a com cautela. — Vou lhe dar a de Natal de presente. Virando-se para fitá-lo, Lisa negou com um gesto de cabeça. — Não. Eu não estava insinuando. Eu... Brick calou-a com a ponta dos dedos.
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— Eu sei que você não estava insinuando. Mas quero lhe dar a toalha de presente. — Ele teria deixado as coisas como estavam se tivesse cedido ao mal-estar que começava a lhe apertar as entranhas, mas sabia que estava na hora de dar um passo à frente. Respirou fundo, ciente de estar apenas começando a colocar as cartas sobre a mesa. — Quero comprá-la para o seu enxoval. O coração de Lisa ameaçou parar. O recinto pareceu se inclinar. Ela o fitou, a mandíbula se movendo, mas nenhum som saiu. Fechou a boca e engoliu, aliviando a secura da garganta. — Você disse “enxoval”? — perguntou, com a voz trêmula. Ele hesitou, seu olhar envolvendo o dela e revelando mais do que ela julgava ser possível em se tratando de Brick. Lisa sentiu como se tivesse caído de um precipício. Então, a expressão de Brick mudou e, transbordando desconforto, ele desviou o olhar. — Sim. Vamos comprá-la e depois vamos embora. Está quase na hora de encontrarmos o cara que vai nos levar para fazer o mergulho. — Ele pegou uma das toalhas de mesa. — É tamanho único ou o quê? Lutando contra uma onda de decepção e confusão, Lisa obrigou-se a desviar a atenção para a embalagem. — Não. A toalha precisa se ajustar à mesa. — Ela vasculhou as outras embalagens até encontrar o tamanho certo. — Esta aqui está boa. — Franzindo o cenho, se virou para Brick. — Tem certeza de que quer comprá-la? — Tenho — murmurou ele, mas parecia irritado. — Vamos. Lisa o seguiu, tentando descobrir o que se passava na mente e no coração dele. Durante a viagem de táxi até o cais, ponderou em silêncio a oferta de Brick de contribuir com uma toalha para o seu enxoval. Embora relutasse contra a ideia de atribuir demasiada importância ao fato, sabia que o gesto era completamente contrário à sua atitude hostil em relação ao casamento. Queria lhe perguntar sobre isso, mas sentiu uma sutil, mas firme, resistência da parte dele. Quando chegaram ao mar, ela desistiu e empurrou a pergunta para o fundo da mente. Poderia refletir sobre a atitude de Brick mais tarde, quando estivesse sozinha em sua cama. Naquele momento, queria ter uma visão mais apurada do Caribe.
Se Lisa descobrisse, iria matá-lo, pensou Brick, observando seu esplêndido traseiro, enquanto ela dava mais um mergulho, pulando da lateral do barco. Dentro de cinco minutos, o navio de cruzeiro zarparia sem eles. Talvez pudesse lhe explicar isso com segurança em 20 anos. Não tinha certeza de que algum dia seria capaz de lhe confessar que mandara aqueles sujeitos esquisitos procurarem-na. Preferia enfrentar uma dúzia de falhas na detonação de um explosivo do que a ira de Lisa. E falhas na detonação eram o pesadelo de um especialista em demolições. Com sua empolgação em explorar um recife de corais, Lisa perdeu completamente a noção da hora. A tarde transcorria melhor do que ele esperava. Ela estava à vontade e ele também Conforme o tempo foi passando, Brick, discretamente, deu mais dinheiro ao guia e decidiu que o cenário era perfeito demais para desperdiçar. Não queria levá-la de volta ao navio com todas aquelas distrações. Mas também não gostava de enganá-la e esperava que aquele jogo todo terminasse em breve. 94
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Lisa emergiu com um amplo sorriso no rosto. — Você vem ou não? Brick sentiu um frio na barriga. Aquele sorriso poderia afugentar todos os pesadelos de um homem. Pegando o snorkel e a máscara, respondeu: — Estou indo. — Pulando na água azul, quente e translúcida, nadou até ela. — Disse-me para não chamar você de nomes de animais, mas se eu não a conhecesse bem diria que você tem guelras. Lisa riu e espirrou água sobre ele. — Pare! — Seus olhos brilhavam de excitação. — Há tanta coisa para ver. — Sim — concordou ele com um sorriso lascivo, movimentando as pernas na água. — Como, por exemplo, um par de olhos verdes, cílios escuros e um sorriso brilhante suficientes para cegarem um homem — Ele enxugou-lhe uma gota de água na ponta do nariz e enlaçou-a pela cintura. — Você parece uma espécie de deusa do mar. Ela parecia lisonjeada, mas cética. — O que andou bebendo? Brick fez uma expressão de dor, mas adorou o modo casual como ela apoiou uma das mãos em seu ombro. — Está duvidando da minha sinceridade? Lisa o fitou com a fisionomia séria. — Duvido de muitas coisas, mas jamais de sua sinceridade. — Ela segurou-o pela mão. — Vamos. Quero que veja este cardume de peixes. Meditando sobre as dúvidas a que ela se referira, Brick a seguiu. Era puro prazer vê-la ficar animada a cada nova visão. Lisa puxou-o primeiro para cá, depois para lá, até sua pele começar a enrugar e, por fim, ela perceber que já estavam submersos há mais tempo do que deveriam. Vindo à tona, olhou para o céu e piscou contra o sol. Não estava mais tão brilhante como antes, pensou. E nem tão quente. Não fazia a menor ideia do horário. Tinha a impressão de que não se passara sequer uma hora, mas suspeitava que havia passado mais tempo. Uma pequena onda de pânico a percorreu. — Brick. — Ele ainda estava com o rosto submerso e por isso ela o cutucou para chamar sua atenção. — Há quanto tempo estamos aqui? Ele sacudiu a água dos cabelos e deu de ombros. — Deixei meu relógio no barco. Parecia incrivelmente calmo, Lisa notou. — Acho melhor descobrirmos. O navio deve zarpar às quatro e... — Ei, Johnny, que horas são? — Brick gritou ao guia. O homem moreno ergueu quatro dedos em uma das mãos e cinco na outra. O coração de Lisa afundou. — Oh, não! Isso deve significar quatro e meia. Perdemos o navio. O que vamos fazer? Deveríamos voltar a Miami nele e meu voo para casa sai amanhã à tarde. Oh, não posso acreditar que fiz isso. Fiquei tão empolgada com o mergulho, estava tão divertido e. 95
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— Espere. Espere. — Brick interrompeu seu monólogo desesperado e puxou-a em direção ao barco. — Não estamos totalmente desamparados. Vamos voltar ao barco e descobrir o que fazer. Johnny talvez possa nos ajudar. — Ainda não posso acreditar que fiz isso — repetiu Lisa durante a próxima hora. Lutando contra uma pontada de culpa, perguntou se inconscientemente ela não tentara evitar o retorno ao navio. Ainda estava tremendo por ter sido chamada de potranca. Com o apoio de Brick e a recomendação de hotel de Johnny, seu pânico diminuiu. Conseguiram dois quartos e, enquanto Brick reservava voos para Miami, com partida no dia seguinte, Lisa comprou um vestido de verão, roupas íntimas e alguns produtos de higiene pessoal. Quando terminou de tomar banho e se mudar, era hora do jantar. Comeram lagosta na varanda do restaurante do hotel e apreciaram o pôr do sol do Caribe. Era um cenário romântico, ainda mais romântico para Lisa, porque Brick estava lá para compartilhá-lo com ela. Apesar de todas as tentativas de pensar diferente, não era capaz de mudar seus sentimentos. Porém, algo na maneira como ele a fitava a deixava inquieta. Brick exalava uma tensão que a fez desejar saber o que estava acontecendo por trás daqueles olhos violeta. Sentia-se estranha, como se algo tivesse mudado, mas não conseguia descobrir o quê. Imaginara que ele fosse tentar persuadi-la a compartilharem um quarto, mas ele não o fez. Agora lidava com um misto de decepção e alívio. Esse era o problema quando estava perto de Brick. Ele tinha o poder de virar-lhe as prioridades de cabeça para baixo de tal modo que ela não sabia se estava indo ou vindo, ou até mesmo se isso importava. Suspirando, remexeu a sobremesa. — Ficou tão quieto, de repente. Está cansado? Ele fez que não com a cabeça. — Estou pensando em algo. — Ele a fitou por um momento, em seguida baixou a voz: — Quer mutilar essa torta um pouco mais ou gostaria de dar um passeio na praia? Lisa imediatamente largou o garfo e colocou o guardanapo ao lado do prato. — Com certeza, prefiro passear na praia. Dentro de minutos, estavam caminhando sobre a areia branca. — Isto é maravilhoso — murmurou ela, amando a sensação da brisa soprando em sua pele. — Acha que eles poderiam empregar uma organizadora de eventos aqui? Brick deslizou a mão pelas costas dela. — Provavelmente, mas Chattanooga sentiria muito a sua falta. — Ele parou e inclinou-lhe o queixo, obrigando-a a encará-lo. — Eu sinto muito a sua falta. Lisa sentiu o peito inflar. Respirou fundo e meneou a cabeça. — Você dificulta tanto as coisas! Não consigo deixá-lo no passado e seguir em frente com minha vida. O olhar dele escureceu. — Não quero que me deixe no passado. Quero fazer parte do seu futuro. Quero... — Ele praguejou e se afastou. — Brick, o que... Ele ergueu a mão para ela parar de falar. Lisa obedeceu, observando-o com curiosidade quando ele enfiou as mãos nos bolsos e contemplou o horizonte. A camisa branca tremulava como uma vela, 96
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contrastando com seu pescoço bronzeado. Mesmo se sentindo confusa e um pouco desesperada, a silhueta máscula, forte e terna a afetava. Brick era o homem que ela sempre quis. A constatação atingiu-a com tanta força que chegou a doer. Jamais amaria outro. Colocou os braços ao redor de si mesma, quando o frio de uma segunda constatação também a atingiu. Jamais poderia se casar e formar a família que tanto desejava. Uma terrível dor a percorreu. Mordendo o lábio contra a sensação de queimação em seus olhos, perguntou-se por que tinha que ser assim. Por fim, Brick se virou, seu olhar resoluto ainda inquieto. — Quero que você se case comigo.
CAPÍTULO 12
Sem palavras, Lisa o fitou chocada. A boca de Brick ficou subitamente seca e seu estômago revolvia tanto que ele rezou para não jogar o jantar para fora. Respirou fundo algumas vezes e, em seguida, pegou os antiácidos no bolso. — Você não diz nada — murmurou, com uma voz estridente que ele próprio odiou. Lisa piscou e meneou a cabeça. — Você está com cara de quem vai vomitar. Brick fez uma careta e colocou um comprimido na boca. — Isso é uma coisa e tanto para se dizer a um homem que acaba de lhe propor casamento. Lisa mordeu o lábio e se aproximou dele, com os olhos semicerrados. — Brick, seu rosto parece verde. — Não é verdade! — negou ele, entrelaçando os dedos e estalando-os todos de uma só vez. — Não importa se estou verde, roxo ou com bolinhas. Você quer ou não se casar comigo? Um longo silêncio se seguiu, e Lisa o fitou com cautela. Ela clareou a garganta. — Bem... — Bem o quê? — perguntou ele com os dentes cerrados. — Bem... sim — respondeu, a voz soando repleta de dúvida. — Eu acho — acrescentou. — Mas você não parece muito feliz com isso. Brick sentiu a sensação de aperto no peito se dissipar. — Ah, Lisa! — Ele a tomou nos braços. — Estou tão feliz, não sei se posso explicar. — E não podia, percebeu. Não ainda. Sentira o velho medo e conseguira debelá97
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lo, mas não estava preparado para se forçar a lhe explicar tudo. Ela estava em seus braços, agora, e dissera “sim” à sua proposta. Naquele momento, queria comemorar. Abraçou-a com força e respirou o perfume de seus cabelos. Foi o suficiente para excitá-lo. — Vamos pegar uma garrafa de champanhe e levar para o meu quarto. Ou para o seu. — Embrenhando os dedos nos cabelos dela, ergueu-lhe o queixo para beijá-la. Lisa tinha gosto de sensualidade, doçura e tudo que ele sempre almejara na vida. O modo como se aninhava a ele fez seu coração disparar. Por fim, terminou o beijo e tentou recuperar o fôlego. — Sempre fui melhor em exemplificar do que me expressar, Lisa. Deixe-me lhe mostrar o quanto estou feliz. Parecendo frágil e atordoada, ela fechou os olhos. — Não posso acreditar que isto esteja acontecendo. Você tem certeza? — Ela abriu os olhos, procurando os dele. — Realmente tem certeza disso? Sua fragilidade e incerteza eram tão preciosas para ele que tinha a intenção de livrá-la de todas aquelas dúvidas. — Estou absolutamente certo disso. — E, bem lá no fundo de todas as suas dúvidas e medos, ele estava.
Brick ergueu a taça de champanhe. — Aos seus olhos! — brindou e, em seguida, tomou um gole da bebida. Depois de pousar a taça na mesa de cabeceira, inclinou-se e beijou-lhe as pálpebras fechadas. Lisa havia tomado um copo e meio de champanhe e se encontrava deliciosamente tonta. — Ao seu nariz! — acrescentou ele, e beijou-lhe a ponta do nariz. Lisa revirou os olhos em descrença. — Ao meu nariz? — Está questionando a minha sinceridade? — perguntou ele em um tom pseudossevero. — Eu... — À sua boca! — interrompeu ele e beijou-a na boca. Lisa suspirou. O sentimento de desconforto pareceu se evaporar quando suas línguas se tocaram Ela se entregou à sensação da boca de Brick fazendo amor com a sua. Entregou-se ao sonho que finalmente se tornara realidade. Então, sentiu o suave puxão das mãos dele em seu vestido e prendeu a respiração. Ele interrompeu o contato entre seus lábios, com os olhos carregados de sensualidade. — Ainda não terminei com a sua boca. Lisa lambeu os lábios, saboreando o seu gosto. — Ótimo.
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Brick gemeu e puxou-lhe o vestido até a cintura. Descendo os olhos pelo pescoço dela, deteve-se nos seios benfeitos por um longo momento e então trilhou um caminho de fogo até seu ventre. Lisa sentia ondas de puro prazer. Como se estivesse se esforçando para manter um ritmo lento, ele ergueu o olhar e a fitou nos olhos. — Às suas sobrancelhas! — brindou mais uma vez e beijou-lhe as sobrancelhas. Um riso explodiu na garganta de Lisa. — Você não deveria estar rindo. — Ele a repreendeu suavemente. — Desculpe — disse ela, mas riu de novo quando ele lhe beijou o queixo. Brick exalou um longo e sofrido suspiro e baixou a boca para roçar-lhe a garganta. — Aos seus pegadores de panela! O peito de Lisa apertou e o desejo de rir se extinguiu rapidamente. Brick inclinou a cabeça um pouco mais, para a curva dos seios nus. — À manta afegã da sua tia! — buscando-lhe o mamilo excitado, sugou-o sofregamente. Lisa sentiu outra onda de puro prazer em suas entranhas. A língua dele movia-se em círculos sobre o bico sensível, fazendo-a arquear o torso, desesperada. — Às alianças, aos bebês e aos Natais juntos! — Ele a fitou e Lisa soube que aquele momento sublime ficaria gravado para sempre em sua memória: Brick, com os olhos tomados de amor e desejo, os cabelos despenteados pelas carícias dos seus dedos, a camisa desabotoada e removida até a altura dos cotovelos. Ela ergueu os braços e envolveu-lhe o rosto com as mãos. Brick fechou os olhos e beijou-lhe as palmas carinhosamente. — Sempre juntos. Então, com meticuloso cuidado, deitou-a sobre a cama e se concentrou em lhe mostrar em vez de falar. E, de repente, foi como se as roupas de ambos tivessem desaparecido, restando apenas suas peles nuas. A sensação de intimidade entre eles era por si só uma força vital. Sussurrando-lhe palavras de amor ao ouvido, tocava-a como se ela fosse de ouro. E Lisa quase podia acreditar que ele de fato achava que ela era. Ofegante, suspirou quando ele correu os lábios sobre seu abdômen até lhe alcançar as coxas. Sua pele estava sensibilizada pelo hálito cálido que ele exalava. Brick acariciou-lhe e beijou-lhe os seios até levá-la à loucura, e Lisa descobriu que não poderia apenas receber, tinha que proporcionar também. Quando tentou deitá-lo de costas, ele protestou: — Não — murmurou, suas mãos atraídas para as delas como ímãs. — Não terminei. Eu quero... Lisa beijou-o com volúpia no pescoço, fazendo-o suspirar. — Eu também quero — afirmou, roçando o rosto nos pelos macios do seu peito rijo. Aproveitando a sua vez de mostrar o quanto apreciava cada centímetro do corpo de Brick, ela acariciou-o e massageou-o, arrancando-lhe gemidos alucinados de prazer. As batidas do coração dele pareciam reverberar em seu sangue, fazendo-a deixar de lado todas as inibições. Seus lábios trabalhavam em conjunto com as mãos, tocando-o 99
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nas áreas sensíveis do corpo, atrás da orelha e nos mamilos. Depois, mais ousada, percorreu-lhe a pele do abdômen com beijos, até lhe alcançar a pélvis, e deu uma risada ao vê-lo encolher a barriga. No entanto, o riso secou quando lhe beijou o membro ereto. Brick praguejou e segurou-lhe os cabelos. — Oh, Deus, Lisa. Sua excitação a estimulou e ela o envolveu de forma íntima com a boca. Ele praguejou de novo, uma ladainha de desejos e necessidades masculinas que ela ficou desesperada para satisfazer. — Lisa, pare! — Ele conseguiu dizer além do ofegar selvagem e, em seguida, soltou um gemido animalesco quando ela afastou a boca lentamente. Percebendo a umidade do próprio corpo, Lisa o fitou. Com os olhos brilhando de paixão e a boca intumescida pelos beijos que trocaram, Brick deitou-a de costas. Suas respirações ofegavam no mesmo ritmo irregular. Seus corpos estavam escorregadios de suor. Em seu nível mais primitivo e emocional, ela acolheu o desejo puramente masculino de se unirem, que vira estampado nas feições dele. Quando a puxou para si, Brick negou com a cabeça e ergueu-lhe os braços acima da cabeça, apertando-lhe os pulsos de leve. Seu olhar quente queimava-a como um incêndio e, quando ele deslizou os dedos por entre suas coxas, o delicioso desejo, construído lentamente, que ela estava sentindo explodiu fora de controle. Lutando contra a dor que ele parecia tonar pior e melhor, ao mesmo tempo, Lisa arqueou-se no colchão. — Brick — murmurou com um suspiro. — Eu preciso. — Ela gemeu quando ele a penetrou com um dedo. — Oh, eu quero. — implorou, arqueando os quadris outra vez. — Brick, por favor. — Isto é o que eu queria fazer. — Apartando-lhe as coxas um pouco mais, afundou o dedo, polegada por polegada, atiçando-lhe os pontos ultrassensíveis. Sibilando entre os dentes, fez uma careta de prazer. — Era isto que eu queria fazer — murmurou e a penetrou com sua ereção poderosamente excitada. — Oh, por favor. Brick soltou-lhe os pulsos e Lisa de imediato o envolveu com os braços, puxando-o para o mais perto possível, enquanto as investidas do corpo dele, lentas e constantes, afastavam-na cada vez mais da sanidade. Ao longe, Lisa se ouviu gritando o nome dele, ao mesmo tempo em que um espasmo violento a sacudia, fazendo-a convulsionar. E, com um grito exultante de prazer, Brick também alcançou o apogeu.
Os dois acordaram tarde na manhã seguinte e quase perderam o avião para Miami. A curta distância poderia ter sido feita de táxi, levando em consideração o tempo de duração do voo. Após se certificarem de que suas bagagens haviam sido transferidas pela agência do navio de cruzeiro, ambos pegaram um voo para Chattanooga. Lisa entrelaçou os dedos aos dele durante a decolagem Ele apertou-lhe a mão. — Tem medo de voar? 100
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Ela deu um sorriso irônico. — Apenas no pouso e na decolagem. Acho que não há muito que possa assustar alguém que trabalha com explosivos, não é? Ele estreitou o olhar. — Eu não apostaria nisso — retrucou em um tom seco e autodepreciativo. Lisa o fitou curiosa. — Conversaremos sobre esse assunto outra hora — disse ele. Mas Brick não parecia muito ansioso por isso, pensou Lisa, tentando se livrar do mal-estar que fazia suas terminações nervosas chiarem — Já pensou em quando vamos anunciar? — Anunciar o quê? — indagou ele. — O nosso compromisso. — Ah! — Brick desviou o olhar e meneou a cabeça. — Eu realmente não havia pensado nisso. Imaginei que poderíamos decidir isso mais tarde. — Bem, já que temos uma hora e meia de voo pela frente, nada melhor do que agora. — Agora? — perguntou ele, a voz soando chocada, enquanto lhe procurava os olhos brilhantes. Lisa hesitou, com um sulco se formando entre as sobrancelhas. — Não quer falar sobre o assunto? — Não, não... tudo bem — disse Brick depressa para tranquilizá-la e se mexeu na cadeira. Seu estômago começou a queimar. Ele soltou-lhe a mão e alisou a perna da calça. A perspectiva de passar um voo inteiro fazendo planos de casamento pairou diante dele e foi o suficiente para fazer suas mãos suarem. Contou até 25 e respirou fundo. Lisa afastou os cabelos para trás da orelha e, em seguida, colocou a mão sobre o braço dele. Foi um gesto carinhoso que aqueceu o coração de Brick. — Há muitas coisas para decidirmos, como, por exemplo, onde queremos viver, a data do casamento e que tipo de festa pretendemos dar — disse ela. — Mas acho que devemos decidir se queremos dizer às pessoas logo ou esperar mais um pouco. Quando Lisa o fitou com os olhos transbordando de amor, Brick se sentiu preparado para casar com ela ali mesmo. Talvez fosse parte da solução para o seu problema, pensou, focar-se nela e no quanto aquela mulher significava para ele, em vez de se ater às más recordações do segundo casamento do pai. Sentindo uma onda de devoção, inclinou-se para mais perto e beijou-a. — Não quero esperar. Acho que já esperamos tempo suficiente. Visivelmente emocionada, Lisa deu um sorriso trêmulo. — Você não faz ideia do quanto isso me deixa feliz — sussurrou. Brick tentou se agarrar àquele glorioso sentimento de segurança pelo resto do voo, mas às vezes o medo voltava. Talvez não tão forte quanto antes, mas ainda voltava. E fora necessária uma grande dose de concentração para esconder esses momentos de Lisa. Mastigou antiácidos e usou algumas das técnicas que o psicólogo lhe ensinara. No momento em que o avião pousou, ele estava aliviado e exausto.
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Pressentindo que algo estava errado, Lisa sentiu seu desconforto aumentar. — Você está se sentindo bem? — Tudo bem. Estou ótimo — respondeu ele, colocando outro comprimido de antiácido na boca. Lisa franziu o cenho. O homem que ela amava finalmente a havia pedido em casamento, mas era difícil dizer se ele se sentia aprisionado ou feliz por isso. Esse não era um bom sinal e ela se recusava a pressioná-lo a fazer algo que ele não queria. Sentiu uma dor no peito ao pensar que Brick poderia estar fazendo um sacrifício por ela. Afastando as próprias emoções instáveis, baixou o tom de voz. — Brick, você não soa muito convicto. Arrependeu-se de ter me pedido em casamento, na noite passada? Se for isso, então prefiro que vá em frente e diga agora. — Não me arrependi. De modo algum. É só que... — Desviando o olhar, praguejou baixinho. Lisa sentiu um frio na barriga. Devia saber que era bom demais para ser verdade. Durante todo o voo ele se alternara, mostrando-se frio e atencioso ao mesmo tempo. — É só o quê? — indagou ela, sentindo o peito apertar de medo. Brick olhou ao redor frustrado. — Não posso falar sobre isso agora. Decepção e incerteza atingiram-na com força total, levando-a a nocaute. Depois da bela noite que haviam compartilhado, Lisa não podia lidar com o fluxo dos próprios sentimentos, quanto mais com os dele. Seu coração se partiu em mil pedaços. Sem se importar com o fato de a tripulação ainda não ter liberado os passageiros para deixarem o avião, ergueu-se e passou por Brick. — Ei, o que está fazendo? — Ele tentou segurar-lhe a mão, mas ela a afastou. — Preciso sair daqui — murmurou desesperada, correndo pelo corredor. A comissária lhe lançou um olhar de desaprovação. — Senhorita, ainda não liberamos os passageiros. Você... — Estou me sentindo mal — conseguiu dizer, vencendo o nó na garganta, e não estava mentindo. De fato sentia-se mal com a decepção que lhe esmagava o coração. Emocionalmente, estava ferida e sangrando e precisava ficar longe de tudo e de todos, especialmente de Brick. Ao ouvir seus passos atrás dela, implorou à aeromoça: — Por favor, deixe-me sair. A comissária de imediato permitiu que ela saísse e Lisa correu pelo terminal. Com as lágrimas escorrendo pelo rosto, não se importou com o olhar curioso das pessoas, nem com a voz de Brick chamando-a. Esperava apenas encontrar uma maneira de sobreviver àquele desastre. Sentir-se uma tola era fácil comparado a lidar com sua incrível dor e desilusão.
Brick xingava a multidão e a si mesmo ao mesmo tempo, enquanto corria atrás de Lisa. Devia ter lhe contado na noite anterior. Mas seu ego o impedira e ele decidira esconder tudo dela, até se sentir mais seguro a respeito do assunto. De longe, viu-a passar pela porta em direção ao estacionamento.
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Esquivando-se de dois idosos, apressou-se e chegou à mesma porta. Abrindo-a, perscrutou o estacionamento. Ela estava abrindo a porta do carro. — Lisa! — gritou. Lançando-lhe um olhar desesperado, que o fez estremecer até os ossos, ela entrou no carro e bateu a porta. Brick soltou um palavrão e atravessou a pista de táxi. Uma buzina soou e pneus guincharam. Pulando para a calçada, ele manteve os olhos fixos no carro de Lisa. Ela deu ré, não atingindo um hidrante por pouco. Então, dirigiu para fora do estacionamento, deixando as marcas dos pneus no asfalto. Brick sentiu uma afinidade com aqueles pneus e chutou o meio-fio. Aquilo fora longe demais. Lisa merecia saber o que estava levando se se aventurasse a querê-lo de volta. Dirigiu-se ao próprio carro, tomado por uma onda de pavor. Teriam que pegar suas bagagens mais tarde. Cerca de dez minutos depois, ele estacionou na garagem do prédio dela e bateu na porta do seu apartamento. — Lisa, abra. Temos que conversar. Diante da falta de resposta, simplesmente continuou. — Tenho algo para lhe explicar. — Percebeu que algumas pessoas pararam e o fitaram com curiosidade. — Se tiver que lavar roupa suja na frente dos seus vizinhos, garanto-lhe que o farei — gritou, cheio de determinação. Quando, mesmo assim, Lisa não respondeu, Brick respirou fundo. — Se quer saber por que fico tenso a cada vez que falamos sobre casamento, é porque sofro de algo chamado gamofobia. O dr. Michaels dá outro nome a isso, mas... A porta se abriu e Lisa surgiu com uma caixa de lenços de papel na mão e uma expressão de puro choque no rosto. — Gamo... o quê? Brick encontrou seu olhar. — Tem certeza de que quer ouvir sobre isso? Não é bonito, mas é real. — Seu coração batia a mil por hora. — E é a mais pura verdade. Ficou aborrecido por tê-la magoado, quando viu a dor que ainda lhe sombreava os olhos. Lisa hesitou pelo que pareceu uma eternidade, fazendo-o temer que ela lhe batesse a porta na cara. — Eu quero ouvir — disse ela por fim em voz baixa, e afastou-se da porta. Seguindo-a até a sala, ele procurou forças dentro de si para enfrentar os próximos minutos. — É melhor se sentar. A história é longa. Lisa sentou-se rigidamente em uma cadeira e assoou o nariz. — Vá em frente. Brick enfiou os punhos nos bolsos. — Isto com certeza é a coisa mais difícil que já fiz. Nem sei por onde começar. Ela mordeu o lábio superior. — O que é gamofobia? 103
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— Fobia a casamento. — Ele cuspiu as palavras como granadas. Um pesado silêncio seguiu sua resposta. Lisa balançou a cabeça como se fosse incapaz de compreender a definição. Brick ergueu a mão e suspirou. — Apenas ouça. Pode não querer mais nada comigo quando eu terminar, mas, por ora, tente me ouvir. Lisa assentiu com a cabeça timidamente e ele se virou para a janela, olhando a paisagem lá fora sem vê-la, quando começou a falar. — Já lhe contei que minha mãe morreu e que meu pai se casou novamente com aquela... — Ele procurou uma palavra mais branda. — ...bruxa — disse generosamente. — Se ele tivesse morrido quando minha mãe partiu deste mundo, não teria a chance de ter se casado com Eunice. Acho que ele pensou que estava fazendo um bem aos filhos. De qualquer forma, isso aconteceu em um momento ruim para mim. Eu tinha 12 anos e ficava apavorado com o que acontecia com meu pai. Era apenas uma criança e me sentia impotente. O dr. Michaels disse... — Dr. Michaels? — Lisa interrompeu, claramente lutando para acompanhar a explicação de Brick. Ele a fitou por sobre o ombro. — Dr. Michaels é o psicólogo que procurei, depois daquela noite que você e eu passamos no hotel. Ela parecia surpresa. — Eu não sabia. Sentindo-se um pouco encorajado por Lisa ainda não tê-lo expulsado dali, Brick se virou e caminhou até ela. — O dr. Michaels disse que, como não desabafei tudo isso com outra pessoa, ficou preso dentro de mim. — É por isso que consome antiácidos como balas, sempre que falamos em casamento? Brick se sentiu desconfortável, mas assentiu com a cabeça. — Meu estômago se revira, as palmas das mãos começam a suar e meu coração dispara. Ela amassou o lenço de papel. — Então por que diabos me pediu em casamento? Brick sentiu o peito apertado. — Porque a amo e quero ficar com você para sempre. Lisa pegou outro lenço na caixa. Ele viu o lábio dela tremer e desejou ardorosamente abraçá-la. Ela pressionou o lenço no canto do olho e, em seguida, o fitou. — Nada disso faz sentido — disse em um fio de voz. — Eu sei — concordou Brick, e ajoelhou-se ao lado da cadeira dela. Lisa desviou o olhar, fazendo-o sofrer ainda mais. — E provavelmente terei que lidar com isso por mais algum tempo. Não dá para se libertar de um medo irracional, que se sente por mais da metade da vida, em algumas simples sessões. É um trabalho complexo. Eu não teria 104
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sequer admitido que sofria de um problema real, se não fosse por você. E, se não sentisse como se minhas entranhas tivessem sido arrancadas, não teria decidido procurar um psicólogo. Foi uma das coisas mais difíceis que já fiz, admitir que precisava de ajuda. Que não podia cuidar do meu problema sozinho. — Ele hesitou. — O dr. Michaels sugeriu que você me acompanhasse às sessões. O olhar de Lisa se moveu para encontrar o dele. — Mas eu não tive coragem — admitiu ele. — Você não queria me ver mais. E se fosse algo que eu não conseguisse superar? Afinal, não sou a oitava maravilha do mundo. — Ele passou a mão pelos cabelos. — No momento em que entrei no navio, comecei a pensar que havia superado o problema, mas você estava furiosa comigo. Os olhos de Lisa se encheram de lágrimas e ela timidamente cobriu-lhe a mão com a sua. — Para mim você sempre foi a oitava maravilha do mundo. Oh, Brick, eu queria que você tivesse me contado. Que não passasse por isso sozinho. Eu queria... — Ela fez uma pausa e engoliu em seco. Brick envolveu-lhe a mão com a dele e fechou os olhos por um segundo, contra o aperto que lhe oprimia a alma. O toque de Lisa era o mais doce que ele já experimentara e ansiava senti-lo, estando bem ou mal. Respirou fundo e fitou-a diretamente nos olhos. — Quero me casar com você. Minhas mãos podem suar. Posso consumir um caminhão de antiácidos, mas eu a quero, Lisa. Ela meneou a cabeça, confusa. — Mas se o pensamento sobre casamento o incomoda tanto. Brick negou com um gesto de cabeça. — Não. Trabalhei com o dr. Michaels para obter uma visão diferente sobre o casamento... por amor. Ele disse que pode demorar um pouco, mas as minhas reações físicas acabarão desaparecendo. Até mesmo agora, toda vez que começo a sentir aquele medo horrível, procuro me lembrar de como será quando eu e você estivermos juntos para sempre. — Você realmente acredita nisso? — Sim, acredito — disse ele, como se estivesse fazendo um voto. — Mas a questão agora é saber se você, depois de tudo isso, ainda me quer? Lisa quase podia jurar que ele estava prendendo a respiração, à espera de sua resposta. — Você está brincando? O rosto de Brick se abateu como se ela tivesse lhe dado um tapa, e Lisa percebeu de imediato que ele a entendera mal. O som da sua voz soou alto, apesar de seus esforços para mantê-lo baixo. — Não acredito que ainda precise me fazer essa pergunta, Brick Pendleton. Quando foi que eu não o quis? — Ela se ergueu, incitando-o a fazer o mesmo. — Tentei esquecê-lo, ignorá-lo, não querê-lo, não sentir a sua falta, não amá-lo. E falhei completamente em todos os aspectos. — Sua voz estava rouca de emoção. Espalmando as mãos sobre a camisa dele, puxou-o para si. — Gostaria que tivesse me contado sobre o seu problema. Poderíamos ter enfrentado isso juntos. Brick parecia como se tivesse recuperado a vida que lhe haviam roubado.
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— De certa forma, acho que você ajudou. Precisei chegar à conclusão de que estava sofrendo como o inferno, antes de enfrentar a realidade. — Ele exalou um suspiro áspero e colocou a mão sobre a dela. — Precisava de uma boa razão para mudar. E essa razão foi você. O coração de Lisa se encheu de amor. Jamais o admirara tanto quanto naquele momento. Aquele homem grande e poderoso encontrara a coragem para lutar contra seus demônios e vencera. Muitos homens nem sequer teriam tentado. Ficou impressionada com a sua força e resistência. As lágrimas encheram-lhe os olhos e ela meneou a cabeça, impotente. — Não sei o que dizer. Estou impressionada com você. A mandíbula de Brick se contraiu com emoção. — Pensei que você fosse me achar um fraco. — Nunca — afirmou enfática, querendo deixar aquilo bem claro. — Como poderia? Você entrou na cova de seus leões e saiu inteiro. Muito poucos estariam dispostos a fazer isso. — Novas lágrimas lhe escorreram pelo rosto. — E pensar... — Sua voz foi espremida pelo nó que lhe apertava a garganta. Ela engoliu em seco. — ...e pensar que você fez isso porque me ama. Murmurando seu nome, Brick puxou-a com ímpeto para si e Lisa aninhou o rosto em seu peito, absorvendo a sua proximidade. Ela sentiu sua força, sua vulnerabilidade e seu amor como nunca sentira antes. — Vou perguntar uma última vez — disse ele com a voz rouca. — É melhor você pensar bastante porque, uma vez dada a resposta, será definitiva. Sem dúvidas, sem protelações, sem recuos. Estará comprometida para sempre. — Ele ergueu-lhe a cabeça, obrigando-a a encontrar seu olhar convincente e possessivo. — Quer se casar comigo? — Tente impedir-me — disse ela, e inclinou-se para beijá-lo.
EPÍLOGO
Seis meses depois, Brick era um homem livre. Jogara fora a última embalagem de comprimidos antiácidos meses atrás. As mãos estavam secas. A frequência cardíaca estava ligeiramente elevada, mas de emoção, não de medo. Embora usasse um smoking com cauda, podia ter posado para um comercial de desodorante. Sua emoção predominante, ao lado dos irmãos e do padre no altar da igreja, era ansiedade. Troy contara algumas piadas sobre Elvis em uma tentativa óbvia de desconcertá-lo e deixá-lo à vontade. Antes da cerimônia cada um dos irmãos lhe perguntou se ele estava bem. Brick sorriu para si mesmo. Se estivesse se sentindo um pouquinho tenso, todas
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aquelas perguntas o teriam irritado. Em vez disso, a preocupação deles o agradava. Ele piscou para Carly, que era uma das damas de honra de Lisa. A música do órgão entoou se expandindo, assim como o seu coração, porque, naquele momento, sua noiva surgia na entrada da igreja. O olhar verde brilhante de Lisa encontrou o dele, enquanto ela caminhava de braço dado com o pai em direção ao altar. Ela sorriu. Brick sentiu o próprio sorriso se alargando, até ter certeza de que lhe havia tomado todo o rosto. Deus, o amor era maravilhoso. Sentia-se grato por não tê-lo perdido, por não tê-la perdido. Era um momento que ficaria congelado em sua memória para sempre, a visão de Lisa, de véu e vestido branco e um olhar que expressava o quanto o amava, a cada passo do caminho. Ao chegarem em frente ao altar, o pai beijou-lhe a bochecha e, em seguida, uniu a mão da filha à do noivo. Brick levou-a aos lábios e beijou-a. — Queridos irmãos. — começou o padre, e Brick soube, sem sombra de dúvida, que havia encontrado a mulher amada que ficaria ao seu lado para resto da vida.
Mais tarde naquela noite, Brick estava deitado na cama, com o corpo ainda vibrando de satisfação. A cabeça girava, a respiração estava irregular. Olhou para a esposa que estava ao seu lado, aninhada ao seu peito. — O que deu em você para fazer um strip-tease justo nesta noite? Lisa fechou os olhos e sorriu. O sorriso sensual de uma mulher experiente. — Você disse que era a sua fantasia. — Sim, mas... — Achei que era justo. Você satisfez todas as minhas fantasias. — Ela esfregou a bochecha contra o ombro dele e abriu os olhos. — Está reclamando? — Claro que não. — Ele deu-lhe um beijo profundo para provar o que acabara de afirmar. Lisa suspirou quando ele lentamente quebrou o contato entre seus lábios. — Você sabe o quanto eu o admiro, o adoro e o amo, mas agora que estamos casados acho que posso lhe fazer uma confissão. Mais curioso do que tenso, Brick virou a cabeça para fitar-lhe o rosto. — É? Ela o fitava de modo apreciativo. — Há algo incrivelmente sexy em um homem que enfrenta o fogo e sai ileso. O peito dele inflou de orgulho. O fato de ela o conhecer de dentro para fora e dizer algo daquela natureza o fez se sentir com três metros de altura. Brick puxou-lhe o corpo quente e receptivo, deitando-a sobre ele, e começou a se sentir excitado. — Verdade? Os olhos de Lisa brilhavam de divertimento. — Sim. — Então, talvez seja melhor eu lhe revelar mais uma das minhas fantasias — disse ele com a voz rouca e lhe capturou o riso com um beijo que transformou a noite em música mais uma vez.
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Ao longo dos meses seguintes, Brick achou a adaptação à vida de casado mais agradável do que poderia imaginar. E não fez uso de outro comprimido antiácido, até o ultrassom de Lisa mostrar três bebês em vez de um.
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