REVISTA KAHLO

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REDAÇÃO Aline Oliveira R.A: 201200830 alineoliveira_s@hotmail.com Bruna Ribeiro R.A: 201210431 bru.ribeiro1@gmail.com Débora Neves R.A: 201210312 deboranevess12@gmail.com Marina Camargo R.A: 201200508 marinad.camargo@outlook.com KAHLO é uma publicação da Universidade São Judas Tadeu, solicitada para avaliação do 6º semestre da turma 3MCSNJO, em PLJGRJ com orientação da Profª Ieda Santos.

Av. Vital Brasil, 1000 – Butantã CEP: 05503 001 Tel. +55 (11) 2799 1677 Novembro/2014



MACHISMO

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COMPORTAMENTO

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FEMINISMO

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TRABALHO

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ENTREVISTA

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SEXO

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EDITORIAL

É espantoso o número de pessoas que não sabe o que é feminismo. Não que todos tenham a obrigação de saber, mas a partir do momento em que você decide expor uma opinião sobre qualquer assunto, é de bom tom que no mínimo se entenda do que se trata. Esse movimento social não prega o ódio aos homens, muito menos a dominação das mulheres sobre eles. É um movimento que prega por igualdade entre os gêneros e não é o antônimo de machismo. O machismo é um sistema de dominação enquanto o feminismo é uma luta por direitos equivalentes. É incoerente achar que tem que ser contra uma

coisa para ser a favor de outra. O feminismo quer o fim de um sistema de dominação que beneficia os homens e que foi elaborado por homens. A luta do feminismo é contra o sistema e não contra um gênero. Esse movimento não impede de ser feminina, ninguém confiscará uma carteirinha feminista se você usar batom, rímel ou salto alto. Mas o feminismo te possibilita só usar maquiagem quando quiser, não porque tem que estar linda todos os dias para alegrar os homens. Feminismo não é esconder o corpo, ou sair por aí nua, mas sim é o direito de andar como quiser, usando a roupa que quiser, sem

que sofra assédios ou constrangimentos. O feminismo não te obriga a ter ou não filhos, mas luta pelo seu poder de escolha de como, quando, e se esses filhos virão. Feminismo é liberdade, tem a ver com você, eu, nós, eles, elas vivermos como quisermos, sem ter ninguém impondo o que devemos fazer, falar, vestir, ou ser. Lógico que existem vários tipos de feminismo e ninguém é obrigado a concordar com tudo. Cada um constrói o seu próprio feminismo, respeitando os próprios limites. O importante mesmo é saber que o feminismo é um movimento que luta por igualdade entre os gêneros.


Foto: Laio AraĂşjo


MACHISMO

CULTURA DO ESTUPRO OU DA IMPUNIDADE Os índices de abuso sexual são cada vez maiores em todo o mundo, ao invés de punir quem comete o ato, a culpa acaba ficando para a vítima POR BRUNA RIBEIRO

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violência contra as mulheres tem sido tema de muitos debates ao redor do mundo. O grande problema na sociedade é o fato de não reconhecerem as moças como vítimas, e muitas vezes defenderem quem cometeu o crime. Esse tipo de pensamento é conhecido como a “cultura do estupro”. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostrou que 26% dos brasileiros acreditam que a causa do assédio sexual é na verdade da mulher, por conta de roupas curtas. O fato de culpar quem sofreu a violência ocorre em vários lugares, como nos países islâmicos, onde elas usam burca, e a violência se “justifica” pelo fato de o rímel usado nos olhos chamar muita atenção dos homens. “O índice de estupros é alto em regiões mulçumanas em que as mulheres vestem burca, ou seja, o índice não diminuiria no Brasil se elas deixassem de vestir roupas curtas”, diz o estudante de Administração, Tadeu Lopes.

Na internet é fácil encontrar páginas e sites que motivam e até dão dicas sobre como “encoxar” alguém no transporte público. Os seguidores desses veículos de comunicação, ainda podem fotografar e enviar fotos de decotes e partes íntimas tiradas sem o consentimento da mulher. A professora de língua inglesa, Lola Aronovich, conhecida na internet por ter um blog feminista, o Escreva Lola Escreve, afirma que já ouviu muita gente dizer que não acredita em cultura do estupro. “Mas a maior prova são esses carinhas encoxando as moças, programas de humor em que homens podem bulinar as assistentes de palco, e sem dúvida nenhuma a pesquisa realizada pelo IPEA confirma tudo”. Para exterminar esse quadro de violência contra o sexo feminino, é necessário reconhecer e combater o crime. Sem culpar quem sofre o abuso, ou justificar o fato por qualquer causa externa. O assédio sexual acontece porque existem estupradores, e por isso é necessário, além de combater, conscientizar as gerações futuras de que mulheres não são objetos.

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AS DAMAS PRIMEIRO A luta das feministas contra o cavalheirismo POR BRUNA RIBEIRO

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machismo é um comportamento que não admite igualdade entre os gêneros masculino e feminino. Essa ideia baseia-se na classificação do mundo por meio de objetos, trejeitos, comportamentos, desejos e ideias que ditam como um homem e uma mulher devem agir perante a sociedade. Esse padrão já existe há milhares de anos, provêm de culturas antigas, por isso é impossível prever historicamente quando o homem passou a deter o poder sobre a mulher, logo, também não há como especificar quando e nem por que as mulheres da época aceitaram tal ideologia. Qualquer conduta ou ação que transforme diferenças em desigualdades para beneficiar determinado grupo, é opressão. No caso de brancos e negros é denominado racismo, entre homens e mulheres, machismo. A opressão está em vários lugares e nas formas mais variadas, na diferença salarial, em agressões físicas ou psicológicas, nas piadas que ridicularizam o gênero feminino, como “dirige mal porque é mulher”, e também de uma maneira nada escancarada, como por exemplo o cavalheirismo, que ensina o sexo masculino a ser gentil com as mulheres, pelo simples fato de

serem consideradas frágeis ou fracas. O homem pagar a conta, abrir a porta do carro para que ela entre, afastar e aproximar cadeiras da mesa, e muitas outras atitudes que o sexo masculino aprendeu a realizar desde pequeno e as meninas aprenderam a aceitar de coração aberto. A discussão é sempre muito polêmica, já que, para as feministas, o machismo consiste justamente no fato dessa gentileza ser feita somente pelo fato de se tratar de uma mulher. “Cavalheirismo seria gentileza partida de homens, destinada a mulheres, deixando implícito que não somos capazes de executar determinadas tarefas ou não precisamos”, comenta Maiara Eduarda Dias, feminista. Outro problema do cavalheirismo é quando o homem pratica a ação esperando algo em troca, o que além de ser um ato extremamente machista é uma total falta de respeito para com o sexo feminino. “Eu acho mais válido a generosidade, pois esta permite que os homens de bom coração tomem atitudes legais para com outros homens, idosos, crianças... Assim como nós, mulheres, também podemos embarcar e sermos mais generosas com outras mulheres, homens, idosos...”, conta a feminista, Camila Lucena.

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O machismo não é uma conduta individual, é fruto de uma ideologia que já está impregnada na sociedade, por isso, a luta para mudar esse quadro

é tão difícil. As regras foram gravadas tão profundamente nas almas dos indivíduos, que para muitos homens, é intolerável e impensável não exercer tais atitudes, uma vez que isso o tornaria “menos homem”. Essa cultura é tão forte, que muitas mulheres são prisioneiras do cavalheirismo, e que mesmo sem querer, transmitem o discurso do que é “ser homem e mulher”.

Foto: Laio Araújo

“O cavalheirismo que temos atualmente é algo para homem, praticado por homens, muitas vezes com alguma intenção. Neste caso, prefiro a generosidade em si, que permite que todos sejam generosos com todos,” completa Camila.

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Foto: Laio AraĂşjo


COMPORTAMENTO

QUANDO A BELEZA DÓI Como as mulheres são apresentadas pela mídia POR MARINA CAMARGO

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odos os dias veem-se na televisão, anúncios nos jornais, revistas e internet, imagens com essa representação: fúteis, vazias, rainhas do lar, competitivas com outras moças e supervaidosas.

e a distribuidora de sinal a cabo de TV, NET, já foram acusadas por promoverem propagandas que fazem apologia ao sexo, associada às suas respectivas marcas. A mídia também costuma vincular a imagem feminina a padrões impossíveis de se alcançar. Em muitas capas de revistas existem moças magras, brancas, loiras e extremamente alteradas por programas de edição.

É comum ver mulheres seminuas em comerciais de cerveja, vestindo pouquíssima roupa e demonstrando sensação de prazer para o sexo masculino. Elas também aparecem em propagandas de produtos de limpeza e para a casa. “É só propaganda, Segundo a publicitária, Ana não quer dizer nada”, diz Gabriel Carolina Diniz, o maior problema Siqueira, estudante de Contabilidade. é que elas acreditam naquilo que veem, seja por meio de comerciais Apesar do cenário, existem grupos ou através de fotos. “Mais do que que lutam contra tal situação. Nos comprar sabão, maquiagem ou Estados Unidos, por exemplo, roupas, nós compramos ideias, há uma iniciativa chamada The repetindo-a e sentindo-a na Representation Project, que cuida de pele. Enquanto continuarmos a analisar como a mídia as mostram. consumir esse tipo de coisa, mais Instituições como Ariel, fabricante desconfortáveis iremos nos sentir de sabão em pó, Crystal, de cerveja tanto no corpo quanto na mente”. 09



Foto: Laio AraĂşjo


CINCO MITOS SOBRE O FEMINISMO QUE VOCÊ PROVAVELMENTE NÃO SABIA Feminista odeia homem? Feminista não se depila? Veja alguns mitos sobre as adeptas do movimento que você provavelmente não sabia que eram mentiras

1.

Feminitas odeiam homens Feministas acreditam na igualdade dos sexos, ou seja, que homens e mulheres possuem os mesmo direitos e deveres. Sendo assim, o movimento não preza pelo sobressalto do sexo feminino sobre o masculino, e sim pela igualdade entre ambos. Aliás, mulheres lutam até pelos direitos dos homens: pelo direito deles não precisarem se encaixar no padrão masculino de beleza e força e também por direitos políticos e econômicos, por exemplo, o fim da inscrição obrigatória no exército brasileiro.

POR ALINE OLIVEIRA

A

o pesquisar sobre o movimento, é comum encontrar diversas opiniões e fatos divergentes que, seja para desmoralizar o feminismo, ou para degradar as feministas, são expostos e tidos como verdade pelo senso comum. Veja alguns mitos sobre o feminismo:

2.

Feminista não se depila A depilação é tida como um artificio antinatural para o corpo. Se os homens não se depilam, por que as mulheres deveriam, correto? Porém, mesmo com esse conceito esclarecido, não são todas as feministas que são adeptas a deixar os pelos crescerem livremente. Parar de se depilar é uma opção individual de cada uma e não uma regra.

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3.

Toda feminista é lésbica Não é necessário ser lésbica para ser feminista, e nem “masculinizada” para adentrar ao movimento. As feministas prezam pela igualdade em todos os sentidos, até mesmo entre as sexualidades, sejam elas lésbicas gays e transexuais.

4.

Elas só querem aparecer Ao se deparar com protestos como a “Marcha das Vadias”, ou qualquer outro que envolva a exposição do corpo feminino, é comum ouvir comentários como “Elas só fazem isso pra se mostrar”, porém, mais uma vez caímos no senso comum. A luta em tais protesto é justamente para aquelas que já sofreram algum abuso por conta das roupas que estavam usando. A vestimenta de uma mulher, ou a falta de, não interfere em seu caráter e nem na sua personalidade. O corpo é inteiramente dela, e, se ela quiser mostra-lo ao público, essa escolha merece ser respeitada.

5.

Feministas são malcomidas”. Feministas são seres liberais em relação ao sexo, que não se amarram aos conceitos políticos e religiosos a cerca do próprio corpo. Assumindo isso, elas provavelmente fazem até mais sexo do que aquelas que reprimem as próprias vontades, logo, esse mito é MENTIRA.

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Foto: Laio AraĂşjo


FEMINISMO

TIPOS DE FEMINISMO Cada vez mais movimentos ganham adeptas POR MARINA CAMARGO

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iberal, individualista ou radical. Atualmente, essas vertentes são presentes na sociedade quando o assunto é feminismo. Existem diversas correntes sobre o conteúdo, como a marcha das vadias, o feminismo interseccional, entre outros. Porém, a disseminação dessas definições se dá por diferenciadas visões políticas e filosóficas. A liberal atua sobre a sociedade para integrar o sexo feminino à sua estrutura. Contrariando radicais, as liberais, em sua maioria, se opõem à censura como um todo. A individualista, inspirada pelo trabalho e pela atuação das primeiras feministas, define igualdade como tratamento perante as leis e a eliminação das palavras homem e mulher, promovendo, assim, igual participação de ambos na vida pública. Opõe-se a proteção estatal com relação às mulheres. “Sou feminista antes de ser um termo de fato, tenho

61 anos e afirmo que ambos os sexos são indivíduos pensantes e morais, e devem ser responsabilizados pelos seus próprios atos individualmente”, diz a feminista, Ana Carla. A radical defende um ambiente aonde elas possam expressar seus sentimentos e experiências. Algumas argumentam diferenças sexuais no que diz respeito ao comportamento, e diz que são frutos unicamente da influência e das interações sociais. “Somos assim porque toda hora as circunstâncias pedem para sermos isso ou aquilo, lutamos para tudo dar certo, nós merecemos e vamos fazer que aconteça. Lugar de moça não é no tanque”, conta Juliana Teixeira, que atualmente está em um projeto que se chamará Radicalizando. Em contraste com as individualistas, o feminismo radical apoia revoluções e bruscas transformações no sistema político e legislativo ao invés de reformas que procurem a inclusão. 15


Foto: Laio Araújo

Tão forte é a negação da filosofia e da intelectualidade tradicionais que pensadoras culpam o uso da lógica, o diálogo e a revolução tecnológica como formas de doença do pensamento masculino.

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SIMBOLOGIA FEMINISTA Conheça os símbolos que marcaram uma época

O símbolo do sexo feminino, também é símbolo astrológico do planeta Vênus, assim batizado em homenagem à deusa romana do amor/ devido à intensa luz que emana na astronomia é, além da Lua, o único corpo celeste que pode ser visto tanto de dia quanto de noite.

POR MARINA CAMARGO

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eminismo é um movimento que visa alcançar direitos iguais por meio do engajamento e libertação de padrões opressores, baseados em normas e distinções de gênero. Envolve diversas organizações, lutando pela igualdade entre homens e mulheres, além de envolver a luta pelos direitos delas e seus interesses. Alguns de seus símbolos são:

Duplo Espelho de Vênus: Símbolo do gênero feminino unido.

Triângulo Negro: Identificava feministas, prostitutas e lésbicas nos campos de concentração nazistas.

principais Labrys: Símbolo de força e de autosuficiência femininas, usada por tribos guerreiras na Ásia, África e também no Amazonas.

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MULHER, TOME PARTIDO! Diminuir a exclusão feminina da política é uma condição necessária para gerar equidade entre os gêneros POR DÉBORA NEVES

A

gênero que persiste em todos os campos e classes sociais. Mas, para que isso aconteça, é necessário reconhecer a desigualdade entre os gêneros. “Reconhecer que existem diferenças e preconceitos velados é a única maneira de superá-los. Como muitas mulheres militantes e jovens, construí minha trajetória de forma independente no movimento estudantil. Mesmo assim, tenho A falta de representatividade que provar constantemente a minha das mulheres é decorrente de um capacidade de trabalho”, afirma a processo histórico de repressão, Deputada Federal, Manuela D’Ávila. que perpetua até os dias de hoje e Para mudar a mentalidade da é propagado também pela política institucional brasileira. De acordo sociedade machista em que estamos com dados do Instituto Brasileiro de inseridos é necessário que as mulheres Geografia e Estatística (IBGE), dos busquem mais protagonismo e 513 deputados federais brasileiros conquista de espaços, a mudança na hoje, apenas 45 são mulheres. Já sociedade se refletirá no Executivo no Senado, dos 81 parlamentares e no Congresso. “A atuação das na Casa apenas nove são mulheres. mulheres na política é primordial para assegurar a continuidade do Para alavancar o desenvolvimento desenvolvimento do Brasil. Nós do país, garantindo a ampliação mulheres somos protagonistas dos direitos da mulher um dos em discussões de matérias com desafios é vencer o preconceito de grande valor social, econômico e s mulheres brasileiras estão monopolizando a disputa presidencial do Poder Executivo nas eleições de 2014, mas devem continuar com baixa atuação nos principais cargos do Poder Legislativo. Apesar do Brasil ter uma mulher na presidência, a participação feminina ainda é muito escassa nas tomadas de decisões dos rumos do país.

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político, mas há muito a avançar.”, afirma a Diretora de Mulheres da União Brasileira de Estudantes Secundaristas, Rose Nascimento. Para resolver esta desigualdade é preciso estabelecer a paridade de gênero em todos os cargos de

poder dentro das agremiações políticas e equidade na distribuição dos recursos de campanha. Mas acima de tudo, é preciso haver uma reforma política, garantindo um processo de democratização radical dos partidos e eleições livres e limpas em todos os níveis.

VOTO FEMININO SERÁ DETERMINANTE NESSAS ELEIÇÕES De acordo com pesquisas publicadas pelo instituto Patrícia Galvão, pela primeira vez na história das eleições diretas a Presidência do Brasil, as eleitoras superam os votantes homens em 6 milhões. Apesar do eleitorado feminino ser maior desde o ano 2000, seu peso neste ano é inédito, somando 74,4 milhões de votantes mulheres diante de 68,2 milhões de votantes masculinos.

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Foto: Laio AraĂşjo


TRABALHO

DESIGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO Apesar de serem tão capacitadas quantos os homens, o sexo feminino ainda enfrenta preconceitos quando o assunto é mão-de-obra POR ALINE OLIVEIRA

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O

primeiro contato que as mulheres tiveram com o trabalho ocorreu na revolução industrial. Devido à demanda das novas fábricas, mulheres e crianças, em condições sociais geralmente baixas, eram escaladas para realizar as atividades pesadas. Porém, só na primeira e segunda Guerra Mundial que este tipo de atividade começou a se intensificar, e o trabalho feminino passou a ser mais presente na sociedade. Com milhares de jovens soldados indo para a guerra, elas foram chamadas para participar, tornandose caixas de banco, funcionárias de fábrica, estenografas, telefonistas, condutoras de carros de rua, fazendeiras e comissárias de estrada de ferro.

livre significa “Nós podemos fazer isso!”, relacionando a capacidade feminina ao estilo de vida que antes só era conhecido por homens. Desde então, o papel da mulher na sociedade passou por uma grande mudança; antes acostumadas apenas a realizar serviços domésticos, agora também queriam trabalhar, estudar e votar. Depois da trajetória da mulher no mercado, não queriam mais voltar a serem donas de casa. Durante os anos que se passaram da revolução industrial até o final da segunda Guerra Mundial as mulheres conseguiram conquistas alguns direitos, tais como o de trabalhar, com jornada regularizada, o de votar e o de estudar em universidades.

Nesta época que surgiu os primeiros movimentos feministas relacionados a força trabalhistas. Cartazes foram espalhados pelas ruas, principalmente dos Estados Unidos, defendendo o trabalho feminino para incentiválas à realizar a mão-de-obra.

A luta feminina pode parecer que já foi ganha, devido a todos os esforços realizados pelas antecessoras do movimento, mas a mulher no mercado de trabalho ainda é desvalorizada atualmente, mais de um século depois das lutas feministas pela causa.

Um dos cartazes mais conhecidos foi a propaganda criada por J. Howard Miller em 1943, em que uma mulher aparece com os braços esticados e uniformizada, com a frase “WeCan do It”, que em tradução

Segundos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada em agosto de 2013 os homens recebiam uma média salarial de R$ 1.698 e as mulheres, por sua vez, ganhavam R$ 1.238,00,

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realizando as mesmas funções e com a mesma escolaridade. Já em um estudo recémdivulgado, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostra que o Brasil apresenta um dos maiores níveis de disparidade salarial. No país, os homens ganham aproximadamente 30% a mais que as mulheres de mesma idade e nível de instrução, quase o dobro da média da região (17,2%), enquanto na Bolívia a diferença é muito pequena. O resultado é o mesmo no que diz respeito à disparidade por raça e etnia, que chega também a 30%. Para Otávio Albuquerque, diretor financeiro da Associação Comercial de São Paulo, essa diferença não pode ser medida corretamente, uma vez que é necessário uma análise correta do salário de cada cargo. “Essa diferença fica exorbitante, pois temos mais homens do que mulheres em cargos altos. Teríamos que analisar a situação como um todo”, ele completa. Ao ser questionado sobre o porquê de não ter muitas mulheres em cargos altos, pelo menos em sua empresa, Otávio não quis responder. Hoje, a Associação Comercial de São Paulo pode ser considerada um exemplo claro do que acontece no

mercado de trabalho. No relatório social da empresa divulgado para o público em 2013, mostra-se que apesar de possuir mais mulheres integrando o seu time (54% do total), a média salarial do sexo feminino teve uma diferença de 800 reais para menos. Observou-se também que mulheres realmente ocupam menos cargos de gerência e superintendência, tendo uma diferença de 7% entre homens e mulheres nessa categoria. Outro fato curioso observado na pesquisa foi o fato de haver 71% de mulheres até os 30 anos, 83% entre os 30 e 50 e apenas 13% acima de 50 anos na empresa, enquanto o cenário masculino é representado, por 62% até os 30, 49% entre os 30 e 50 e 19% acima dos 50 – ou seja, o percentual de mulheres mais jovens na empresa é maior do que de homens. Para Sônia Coelho, integrante da Sepreviva Organização Feminista (SOF) e militante da Marcha Mundial das Mulheres esse cenário acontece porque as mulheres ainda são vistas como donas de casa. “Mesmo estando no mercado de trabalho, as mulheres continuam fazendo a maior parte do trabalho doméstico, e tal trabalho ainda lhe são atribuídos obrigação. Isso faz com que as empresas não as

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vejam como seres competitivos.” Um dos grandes desafios da SOF é romper os conceitos de divisão sexual do trabalho. “Hoje mais de um terço das famílias são sustentadas pelas mulheres. Os homens não são os únicos provedores. O trabalho doméstico e de cuidado precisa ser assumido na sociedade através das políticas públicas e pelos homens.”, completa Sônia.

Portanto, se faz necessária a mobilização do movimento sindical brasileiro em torno das lutas e medidas de enfrentamento das questões de gênero no mercado de trabalho nacional, com objetivo de ampliar os avanços nas condições de trabalho da mulher, além de buscar a igualdade de oportunidades de ingresso e ascensão profissional no mercado de trabalho.

Entre os fatores que têm obstado à melhoria da remuneração e das condições de trabalho das mulheres também se observa uma ausência de transparência dos sistemas salariais e uma falta de clareza na definição jurídica de trabalho de igual valor. Alguns países já realizaram ações para reter a desigualdade, a União Europeia, por exemplo, lançou o Dia da Igualdade Salarial em 2011 e conseguiu reduzir desde então as disparidades salariais de 17,5 % para 16,4 %.

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ENTREVISTA

O DESAFIO DE CONCILIAR DIFERENTES PAPÉIS ALESSANDRA NERIS, MÃE, ESPOSA E DIRETORA DE ATENDIMENTO EM TECNOLOGIA NA AGÊNCIA BURSON - MASTELLER.

A

o falar de mulher no âmbito de trabalho, é impossível não relacionar o seu papel também ao trabalho que realiza dentro de casa. Além de lidar com as métricas profissionalmente, elas têm que se desdobrar para cuidarem dos filhos, da casa e administrar a carreira ao mesmo tempo. Pensando nisso, a diretora de atendimento da área de Tecnologia da Agência de Relações Públicas Burson - Masteller, Alessandra Neris, que está na carreira de assessoria de imprensa por 30 anos e é mãe há sete, contou um pouco sobre como é possível tornar viável essa jornada de ser mãe e ter uma grande carga de trabalho. Quais as principais dificuldades que você enfrenta ao administrar ambos os papéis? Alessandra: Conseguir conciliar tudo é o mais difícil. Às vezes eu estou no trabalho pensando na minha filha e às vezes estou em casa pensando

no trabalho. É preciso saber separar as coisas, porque se não uma vira a outra e a gente perde o controle. E como você consegue administrar os dois? Alessandra: Eu tento levar os dois na

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boa, não me estressar. Não envolvo minha família nos meus problemas de trabalho, não descarrego todo o estresse que eu tive no dia neles e também não deixo os meus problemas de casa afetarem na minha rotina profissional, por exemplo. Quando você teve sua filha, houve alguma discrepância na sua carreira? Alessandra: Sim. Quando tive a Bia, já era gerente na empresa, então, o trabalho com toda certeza sentiu. Tive que me afastar e deixar todas minhas responsabilidades nas mãos de outras pessoas. Além da empresa ficar preocupada, já que as atividades que faço são especificas para o meu cargo, também não parava de me preocupar durante a licença. Você sofreu algum preconceito quando ficou grávida? Alessandra: Preconceito, não, mas você sente que as pessoas estão te julgando neste tipo de situação. Você vai ficar fora enquanto um monte de pessoas dependem de você e do seu trabalho, é normal sentir-se pressionada nesta situação.

enquanto assisto ou leio o jornal e deixo-a na escola. Ela estuda no período integral, de manhã até o final da tarde. Enquanto isso, trabalho. Depois do trabalho a busco e vamos para casa. Além disso, ela também faz um monte de cursos extracurriculares, inglês, espanhol, balé e natação, assim fica ocupada mais tempo ao longo do dia e posso trabalhar tranquila. Além disso, é você quem realiza os serviços domésticos? Alessandra: Sim e Não. Eu faço comida sempre e arrumo a casa, mas divido tudo com a minha filha, somos um time. Também tenho ajuda extra, tenho uma empregada que vai duas vezes por semana fazer uma faxina geral, lavar e passar as roupas. Dada essas condições, você teria outro filho? Alessandra: Minha rotina de trabalho é caótica, mal sobre tempo para eu cuidar da minha filha direito. Então, trabalhando desse jeito, não. Mas também não abriria mão da minha carreira para ter outro filho, não sou feita pra ter vida doméstica! Então acho que vamos ficar por isso mesmo.

Qual a sua rotina diária hoje? Alessandra: Eu acordo, acordo a Bia, dou café da manhã para ela

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Foto: Laio AraĂşjo


SEXO

MASTURBAÇÃO FEMININA, UM TABU DA SEXUALIDADE É necessário aprender a tocar mais no assunto e nas próprias vaginas POR DÉBORA NEVES

A

pesar de todas as conquistas do sexo feminino ao longo dos séculos, um tabu ainda é vigente: a masturbação. Segundo dados apurados em 2008 pela pesquisa Mosaico Brasil, última realizada sobre o tema e dirigida pela coordenadora do Prosex (Programa de Estudos em Sexualidade) da USP, Carmita Abdo, cerca de 40% das mulheres brasileiras nunca se masturbaram. Raras são as aquelas que têm a coragem de afirmar que alguma vez praticaram o ato. A sociedade moderna dos nossos tempos não é assim tão moderna como possa parecer, uma vez que estes tipos de episódios reais são ainda escondidos ou camuflados pelo medo do que os outros possam pensar. Os homens nem sempre aceitam bem a ideia de que a sua companheira se masturba, mas a realidade é que quanto mais amplamente à mulher conhecer o seu corpo mais prazer vai conseguir

retirar

das

relações

sexuais.

Durante muito tempo falar de masturbação era impensável, quer fosse num país mais desenvolvido ou numa classe social mais aberta a esse tipo de conversas. Aliás, falar-se de sexo era já, por si só, um ato condenável, o que implicava que a palavra masturbação nem tão pouco constasse dos itens de discussão entre as pessoas. Ainda hoje, quando se fala do ato, sentese um enorme constrangimento e vergonha, por parte das mulheres. Ao contrário da masturbação masculina, que se inicia nos primeiros anos da adolescência e se prolonga durante toda a vida adulta, a masturbação feminina tende a começar mais tarde. “Homens, geralmente, são incitados desde pequenos a se tocarem, apreciarem o sexo oposto... Meninas não são educadas assim. Devem ser reservadas, recatadas,

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não manifestarem desejos sexuais, A auto-manipulação genital é uma muito menos se tocarem”, afirma a forma natural de conhecimento do psicóloga e sexóloga, Eliane Maio. próprio corpo. De acordo com as especialistas, a dificuldade para Para a escritora do Blog Lugar de chegar ao orgasmo é o maior prejuízo Mulher, Mariane Messias, o choque para aquelas que não se masturbam. causado pela masturbação feminina E isso acontece justamente por não vai além da sexualidade, é um saberem o que lhes dá ou não prazer. impacto social causado pela mulher Além disso, outros benefícios existir individualmente. “A ideia de que a mulher pode tomar posse do que a prática fornece para a saúde próprio prazer é algo apavorante sexual feminina envolvem melhorias para uma sociedade que por séculos em nível sexual, ao aumentar instituiu e propagou uma educação o conhecimento dos limites e repressora sobre as mulheres” conta. necessidades do próprio corpo, mas também ao nível psicológico, comportamental e inclusive cardíaco.

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APLICATIVO INCENTIVA MASTURBAÇÃO FEMININA

P

ara quebrar o tabu em torno da masturbação feminina a designer Tina Gong criou o aplicativo Happy Play Time, fornece informações e dicas sobre o assunto para as mulheres.

Além disso, o aplicativo visa estimular as mulheres a praticarem os mesmos movimentos em si mesmas. A auto-estimulação é um fator fundamental para ajudar às mulheres a atingirem o orgasmo mais facilmente com seus parceiros (as). O Happy Play Time ainda não foi lançado oficialmente, mas já existe uma versão beta na qual voluntárias podem experimentar e avaliar o aplicativo.

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O FEMINISMO ESCOLHEU SALVAR VIDAS O aborto é uma questão de saúde púbica e a sua legalização é uma necessidade

Foto: Laio Araújo

POR DÉBORA NEVES

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A

s mulheres brasileiras que engravidam contra a vontade, planos ou desejos, prosseguem interrompendo gestações de forma clandestina e insegura, morrendo ou adquirindo sequelas que na maioria das vezes impedem os futuros planos reprodutivos.

aborto no Brasil vem sendo esclarecida pelos diversos estudos realizados. Já não sobram dúvidas de que o aborto é uma importante causa da mortalidade materna. “O Feminismo escolheu a opção que salva um maior número de pessoas. Independente de estas pessoas serem nascidas ou não. Independente destas Em um estudo em escala global, feito pessoas serem ‘culpadas’ ou não, pela World Health Organization em estigmatizadas pela sociedade ou Geneva foi concluído que o número não”, afirma a feminista Juliane Couto. de abortos em países em que é legalizado e países em que é proibido Os estudos de itinerários de ou restrito é estatisticamente igual. mulheres que abortam mostram que quanto mais pobres, mais tempo A sociedade brasileira deve encarar e mais difícil é para elas o acesso a legalização por diversas razões. a um atendimento em serviço Trata-se de um reconhecido problema de saúde. Por isso morrem ou de saúde pública cujas evidências, adquirem doenças em decorrência ainda que subdimensionadas têm do abortamento desassistido. sido amplamente demonstradas e discutidas. “A ilegalidade do aborto Aborto é de fato um problema compromete os direitos inerentes à complexo de saúde pública e a sua democracia e, por isso, é premente legalização é uma necessidade. o seu aperfeiçoamento articulado O sofrimento das mulheres e das à laicidade do Estado, garantindo famílias que vivenciam o abandono as mulheres mais direitos e mais e a ausência do Estado quando cidadania”, afirma a médica precisam ou desejam abortar deve e feminista, Ana Maria Costa. ser dimensionado por todos os atores públicos, se é que ocupam esta posição Nos últimos anos a situação do para defender os interesses públicos.

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