Metáforas para um duelo no sertão
Entre o rio e o mar tem semanas que acordo janeiro versos feito cabral seco ácido sertão lâmina e pedra na poesia galo escondendo a manhã dias em que custam suores recordar outros valores lembrar dos asfaltos de jambeiros andar pelas ruas, Jaguaribe : há que sempre mirar adiante nadar nada no capibaribe colhendo feijão e poemas lá na cozinha da casa grande tão pequena tem semanas que me fixo em junhos versos vem de vinícius solto louco sezão sonetos infiéis em minha castidade elegias e sempre um grande amor dias que valem suores vale o hoje, o agora, vale o já cajazeiras é só uma página e saudades outras ruas outros olhos outras cores madalenas e seus códigos secretos mergulha poesia tambaú - plantar sonhos e fantasias no quarto onde deve ficar minha pequena tem semanas e dias dezembros onde espero, só nos livros
: é natal, temos que recomeçar.
Lamento meu pai sorriu à sombra da goiabeira nada de rugas na face apenas a névoa de um tempo escondido pela sombra das horas.
Sossego como azeite para o palestino : correria solta de menino pés no chão, barro batido por trás da casa, o açude banhando mãe, banhando filho, banhando primos tudo nu, sem malícia e nem milícia na casa grande, a avó com panelas chiando fogo e janelas abertas para o silêncio na cadeira de balanço, o avô sentado por baixo do grosso chapéu o jeito todo seu de ralhar até com o céu ( - eita, moleque, cabelo grande é coisa de mulher)
na distração dos adultos meninos correndo feito loucos e sertão abrindo cancelas fechando o curral para barulhos e bois no sítio, ninguém sabia que existiam guerras do outro lado do azul.
Matraga matraca silenciosa liturgia de augusto remoendo moendo doendo moenda - bagaço de homem no altar dos sertões de repente, a hora chega pai, filho e espírito santo agora só quero rezar e carregar os meus carregos.
Condimento saber de teus cheiros é saber da cheia que resseca o sertão com a pele do olfato transbordando águas entre coxas, buracos e palato:
cheiro verde nas narinas erva do mato, minha daninha.
As seis irmãs vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá - conto de lili, a caçula menina, sempre menina pedagogia que abre feridas na enfermaria, nunca foi ferina peter pan de saias (ou jeans) sorriso além das colinas vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá - conto de didi, a cúmplice dividida entre o voo e o pouso solta, porque nunca deixou de ser ela presa, porque sempre cativou sua cela olhos grandes para os rapazes da província olhos pequenos, para os desejos em sua eterna sina vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá
- conto de laudeni, a mãe mãe de todos, mãe dela mesma mãe das dores do menino mãe das flores do abismo pelos óculos, vê os mares e os naufrágios líricos dos amares vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá - conto de laura, a pródiga que reinou na casa da avó tem mais irmãos que todos os outros tem mais dores que todas as dores mas tem no peito uma gargalhada invisível que faz sorrir a lua ao transformar o sertão em eclipse do nada vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá - conto de neném, a galega e galegos somos todos nós exageros de risos, exageros de choros coral para a capela que não soube orar três filhos, cinco destinos cânticos de louvor para a oração antibíblica vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá
vem deci, conta agora a tua história para a gente aprender a sonhar - minha história não tem o que contar basta olhar em meus olhos pequeninos vejo e crio mundos sem sair do meu planalto já fui santa, moça e mulher, sem precisar calçar um salto hoje, sou apenas quimeras do que não pode acontecer vem deci, conta o que não se pode contar conta para o mundo saber as coisas que não se espalham por lá.
Natal natal é meu pai deitado na rede : tocaiando sonhos de olho no alpendre natal é minha mãe na cadeira de balanço : embalando filhos no seu jeito manso natal são meus irmãos espalhados no quintal como se vivessem num curral natal é você : nascendo flores no jardim de cimento.
Quimera vontade de ser feliz e não chorar como o menino que chora no último banco de lorca ser feliz como aquele senhor que nunca fechou a sua porta e mastiga palitos em olhos enrugados mas que não guarda na alma qualquer rusga de atritos apenas olha e olha a nuvem que se esconde por trás do cerrado e sorri para o nada feliz.
Quaresma gosto de carne carne moída chão de dentro chão de fora... carne vermelha dentro e fora 40 dias 40 noites (na)
liturgia da oração - negação do jejum do prazer.
Invídia (para Luciano Andriola) “Noirs dans la neige et dans l abrume, Au grand soupirail qui s´allume, Leur culs em rond” (Arthur Rimbaud) “Sente-se bem que para eles ali na feira os balões de cor são a única mercadoria útil e verdadeira indispensável” (Manuel Bandeira) nunca conseguira entender a ausência de pão (enquanto lombrigas roncavam pratos vazios no chão) mas nunca conseguira entender mesmo era a ausência daquele caminhão que seu primo cobria de tanto mimo um caminhão vermelho com sirene dos bombeiros movido à pilha, em movimentos pela sala bem decorada vai e vem brilhando nos olhos daquelas alegres manhãs e o menino conformado com o ronco ausente de seus carrinhos de rolimã.
(a) Caba (que é) marcado sou um homem marcado marcado para doer gado preso no curral quando não, abatido comendo baudelaire na erva daninha de meu capim.
Belle de jour não, não é catherine de novo em busca de bordéis para saciar a sede secreta de buñnuel é juliana, sim, bela na tarde cajazeiras; bela na tarde capital remake do que ainda está por vir: surrealismo cinematográfico - quadro de dali em rascunho eterno juliana, que caminha nas tardes , inconscientes de sua beleza em primeiro plano, seu sorriso no the end, o silêncio e o sertão dialogam
para que o litoral reverencie suas maçãs secretas : ela, protagonista de um filme de almodóvar.
Natinha natinha fez uma canção para ela sem medo da cuca vir pegar natinha é a própria canção canção de ninar mitos e gurus canção de ninar vermelhos e azuis canção para ninar tons e aquarelas natinha e a sua canção dedilhando no violão todos os sons desconhecidos do mundo e a vida fazendo cordas na poesia do seu coração.
Lamparina (para Tereza Andrade) querosene consumindo-se na consumação do fogo lembra o canto das cigarras na boca da noite
quando era light imaginar seu cruzar de pernas.
Luz del fuego à luz da lamparina os livros tinham mais letras - leitura removendo vírgulas remoendo pedras : carro de boi em silêncio noturno (meninas de anáguas e apelos restos de réstias na parede) à luz da lamparina o sítio era sempre maior quanto maior fossem as páginas de sonho - sem marca-livros na memória - com incêndios fátuos no vão das coxas.
Os ferreiros um bate lá outro bate cá um bateaqui outro bateacolá por instantes desafinam a monotonia da caatinga.
Pote de ouro (no fim do arco-íris o olhar do vaqueiro em preto e branco).
Primeira infância os meninos do sertão já nascem sorrindo para a rua às vezes nus outras, não fazem dos paralelepípedos residências oficiais de verão (já que o inverno é exceção na alma) os meninos do sertão nascem livres para sonhar.
As casas a primeira ficou distante da memória - foi morar em outro menino a segunda, lembra, tinha uns batentes ainda não haviam heróis (só os sonhos)
a terceira ficava do outro lado do nordeste e tinha um sotaque maranhes: sombras e vozes assombram os fantasmas do caubói de araque de volta à terra natal: nova rua nova casa novos amigos era o rei da bola de gude mas foi como súdito que chorou após o último suspiro da avó enfim, a capital e a casa grande, longe da senzala, em forma de igreja: o adolescente pensa que a vida se esconde no pé de goiaba (apesar da paixão que absorve a puberdade) outra casa, mesmo bairro outro formato, mais apertada e a pelada se transforma em ritual a primeira paquera guarda tons evangélicos e o menino reza pelo futuro que não chega ainda Jaguaribe - bairro de tantas casas – portões dão segurança mas não seguram sonhos negam segredos contam dores
sangram a solidão na rua da areia: um viaduto os carros a velocidade o infinito os cabarés o início da cidade o adolescente duelando com o menino depois os cristo bairro nada religioso ao lado do mato quase dentro do mato quase que ele mata o menino que dormia no poeta lá vem cajazeiras de novo já homem (mal) feito estudando as letras namorando à vera o pai vira saudade e a cidade, poesia agora, no litoral (dentro de um apartamento sufoca as dores do futuro).
Mater quando olho nos olhos de minha mãe vejo as peraltices de uma infância tardia com um arrazoado de conselhos alheios e uma cumplicidade do futuro que dormia quando olho nos olhos de minha mãe sinto a fé de uma reza que não tem fim a oração daquela nossa senhora minha suplicando com um jeito assim assim quando olho os olhos tristes de minha mãe arrisco caminhar na memória da cidade arrisco benzer-me no cristo que é só imagem porque preciso construir minha tosca alegria com os cacos da alma e o amor sofrido que resiste nos olhos tristes de minha querida mãe.
Alucinação (para Wilton Júnior) (atropelados pelos pássaros noturnos do sertão) sei dos becos da alma e da fumaça e dos olhos vermelhos que imploram tragos
que pedem que tragas a droga da vida numa bandeja vazia (e as cores fazendo ciranda em meus olhos).
Livro aberto ser tão abstrato quanto as águas do meu sertão.
Milagre menino deita na rede - bença pai! - bença mãe! lá do outro quarto vinha a resposta: - deus te abençoe, filho! - deus te dê saúde, filho! e as malditas sombras na parede e a insônia chata de cada noite
e as dores por ter jogado bola e a preguiça de ir para a escola sumiam!
Guitarras na caatinga (para Naldinho Braga) também se toca blues também se escuta rock também há melodias estrangeiras se apossando da nossa dor.
Açude grande como era grande o meu açude! um pouco poluído, é verdade com seus lodos e lamas sendo tapetes para lavadeiras até onde a memória alcança já o conheci assim: lavando a roupa de todas as cajazeiras até onde a memória entende já o estranhava assim: sem banhar a gente da cidade
mas era grande o meu açude! e tinha um pôr-do-sol arretado!
Mário de Andrade visita o Sertão (para William Costa) (alguém lê mário de andrade ninguém conhece mário de andrade) o homem traga o cigarro o homem traga o insulto ao burguês o homem permanece sentado sem insultar o burguês (o copo na mão, o livro no chão o violão na outra, mário de andrade no chão) um garoto pedala sua bicicleta rumo ao futuro o garoto vai ser emboscado e não encontrará mário de andrade um jegue elétrico anuncia as promoções da livraria leia (onde ninguém lê mário de andrade) uma mulher reza o terço tece a proteção de todos os santos terrestres - suas orações naufragam na poluição do açude grande
(espelho do tietê?) um militar marcha ocioso há reflexos de câimbras em seus passos há ânsia de poesia em seus traços (mas ele não lê mário de andrade) uma mulher colhe acerolas cura suas gripes - letargia que invade seu inconsciente literário (mas ela não sabe quem foi mário de andrade) as meninas exercitam a libido as meninas dançam na fogueira (“é noite de são joão, vai amanhecer o dia!”) enquanto o vento suga as trezentas cinzas as trezentas e cinquenta cinzas da poesia de mário de andrade.
Existencialismo o ser e o nada o ser é nada o ser nada e mergulha feliz nas águas do boqueirão.
2 velhos sentados na calçada jogam conversa fora é fim de tarde! e às vezes só querem jogar olhares fora (o silêncio fala sobre a vida que já veio).
Memória erótica teu corpo já foi relva (lembra da enchente em nossa alma e do banho nas biqueiras da 21 de abril?) teu corpo hoje é seiva (lembra o gozo que veio para inundar a fonte e semear a aridez do nosso solo esquecido!).
Curral - nunca consegui entender a melancolia que ecoava nos chocalhos das vacas.
Primeira confissão conte seus pecados implorava o padre Giuliano - briguei com minha irmã, chorava o menino - está perdoado (como é bom ser livre para pecar!).
Adolescência quando já havia percorrido trezentas léguas lembrou-se do subterrâneos da alma feridos pelos galhos de juremas.
Só era um homem que fumava e o mundo se resumia àquela fumaça que saía de seu cigarro quando sentava na calçada olhando o outro lado do sertão não era fumaça branca porque não havia paz em sua alma e depois do último trago tossia três vezes seguidas (mas não chorava).
Seridó não era a serra da rola, moça, porque moça não se via nem mesmo pelo retrovisor viam-se, sim, mosquitos, moscas e outras coisas que a vertigem humana não satisfazia
não era a serra da rola, moça, era a serra da santa luzia abençoando o seridó (carro subindo descendo deixando mário na poeira buscando oswald no horizonte (avante!!!)).
As meninas do sertão o sertão tem meninas que cá não encontro no litoral longe do bem e do mal são inocentes de seus encantos querem casar? ora, mas qual não quer? querem é amar e amam como ninguém o sertão tem meninas que sorriem para o nada - isso explica o tudo que se esconde por entre as pernas das meninas do sertão.
Lendo lenda do sertão é duas vezes prenda ler teus olhos de solidão é 2xpagando prendas leitmotiv (em dramalhão) é duas vezes (nós) é nós dois enodoados de nós mesmos pelas duas vezes que construímos quimeras em cor de sanguesertão.
O primeiro irmão (ao mano nonato) ainda menino vira arrimo (rima pobre) tintas impressas nas rotativas da vocação (rota de sonhos e náufragos) o filho vira pai vira filho
aos 50, o sorriso nos lábios esconde utopias tecladas nas redações servo de gutemberg fazendo a manchete do último jornal que sobrou para sonhar a história da família.
O segundo irmão (para Lenilson) na verdade, foi o primeiro quando fingia durango kid nos postes da doutor coelho, em viagens ao fundo do mar depois, veio o bastardo marconi a difundir no dial algo que incomodava depois veio lenilson devoto dos sorrisos de marília e léo enquanto o sangue manchava o ibope das hertzianas.
Pai
não, não ficou a dor na bunda e a sensação inútil que sentia a cada chinelada aquele era o pai cuja fala tinha que ser mais alta para conformar a educação sem-letras sim, o menino ficava todo ardido se escondia em galhos se escondia em seu mundo para não apanhar as vergonhas do carão na frente do irmão doía, mas doía de coração as falas paternas temperadas com gritos e chinelas sentia-se um enjeitado um moleque abandonado à sua sina o que ficou de verdade foi o heroísmo tardio já na chegada da outra dor: a dor da partida ficou o exemplo do protetor à revelia de rebeldias adolescentes ficaram lembranças e perguntas: por que você se foi, quando já tinha superado o homem aranha e os contos de infância?
Renúncia nunca teu cheiro de suor do menino que passou o dia brincando em seu mundo calou tão fundo lágrimas travando rolando garganta adentro como se fora uma pedra : e o grito que não vinha veio, vinícius, mas ficou mudo, inútil ludo, sem eco no escuro quarto.
Nordestear (para Carlos Gildemar Pontes) bússola em direção ao nordeste nuvem cinza rompendo o agreste navegar é preciso mesmo com pouco riso e muito silo.
Das vontades de um homem vontade de melar o palato (e o pênis) nos lábios de tua caixa de pandora liquidificar meu desejo triturado liquidar (tua resistência aniquilada) líquido em sólidas palavras.
Ou isto ou aquilo a moça , que é moça , beija na boca mas não dá aquilo a puta , que é puta , dá aquilo mas não beija na boca bobas tolas só querem o meu coração!
E-book gosto de violar segredos sentir larica após o gozo (que não veio) escrever cartas chilenas (e rasgá-las) : medo de você estar a fim de um soneto gosto de estar além da tela e de nossa ausência de estar – excêntrico almodóvar em busca de aventuras qual um indiana jones em tuas ancas (perdido) gosto até de pagar o mico da solidão quando desligo o micro e você se torna apenas um conto de assunção.
Colheita fazer um poema para uma paixão é como colher grãos no deserto mas os sábios costumam apelar: sempre existe um oásis
mesmo quando a seca seca tudo inclusive a dor de não saber colher beijos – como um chato pacifista colhe a paz no inferno.
Pacto se é pra fazer escândalo em teu silêncio se é pra perfumar sândalo o teu cio se é pra calçar sandálias e pisar nos pés se é pra colher dálias e tirar os anéis se é pra eu ser tua amélia e tu meu tutor se é pra comer bromélias e saciar teu furor se é pra dizer ao amor que o amor não permite concessão então diga, garota mas não me deixe, por favor, deitado e inconsciente no chão.
Freudiano duende que dói na palma do pênis segreda em meus sentidos que a maçã do paraíso era podre fosse menos sagrada e mais alada, avisa ele, teria mantido nus, nos prados do senhor, os corpos que vestiram a vergonha do prazer.
Duelo bumba-meu-boi rasga mortalha cuca bicho papão o homem do saco sombras na parede... tanto medo aos 12 aos 40, medo só de seus olhos de graúna.
Alforria mucama : ama de leite para os lábios
amarrada no tronco faz-se escrava, concumbina na verdade, faz é do seu senhor, menino escravo liberto a lambuzar-se, obediente, em seu corpo – vítima do chicote e de seus açoites agnósticos.
Perdón quando procuro teu perdão estou procurando um indulto para sandices e tolices que se agarram nos cabelos do mar mas a maresia corrói outros medos e as raízes de teus cabelos, mais profundas: não vem e vão, como as ondas do bessa : se mantêm firmes enquanto não perdôoo a mim mesmo nem meu masoquismo borgiano.
Déjá vu entendo, querida fui muito dócil com você e as mocinhas gostam mesmo de bandidos no faroeste tupiniquin que sobrevivemos
é muita fala para pouca bala e os cartuchos se esvaziam rapidamente no coldre do revólver.
No dia sem juízo final quando morto quero ver suas coxas portanto, vá ao velório com saia curta e de preferência transparente para que me sinta num oratório os mortos enxergam mais que os vivos e suas pernas para quem está na vida são só pernas para o morto é mais do que isso, é a devoção precisa para quem queria continuar na lida.
Uvas verde, rosada, rubra, azulada. preta angiospermas : sementes plantadas nas tuas pernas turvas : sêmens a escorrer por entre pelos e curvas fruto que se colhe na videira, na fonte
com a ponta dos lĂĄbios saboreia vinhos e vinagres e a libido faz-se cacho na uva.
Ocas era você, asfaltando o mar assaltando o bar co assassinando ba co asfixiando o ar co era eu, sendo asfalto meliante oco sendo mato oco patife vomitando camas ocas pescando nossos próprios olhos estrangulando nossos ossos inda moços e ocos.
Posse seus dedos se apossaram feito feudos – vassalos de minha pélvis.
Singular apenas uma: se tu, luva, se encaixa em minha mão por que procurar outra vulva?
Sentença há encantos que surgem do nada ou da brisa do mar negros como os cabelos que se enrolam na cama inconstantes como as ondas marujo da paixão mas são esses encantos que ficam grudados em pele de algodão tão frágeis, que para continuarem existindo só precisam do toque da tua mão.
Lombra... é quando não sei onde começa teus pés e termina meus céus tanta névoa nos sentidos tanta névoa e nós (perdidos em nossos achados).
Lema amar apenas uma sossegar a alma guardar o coração no guarda-roupa entre cuecas conformadas e sonetos de fidelidade (cuidando, é claro, para que a traça não trace sua outra metade) abandonar o leme deixar a embarcação ao acaso dos que continuarão navegando desatinos.
Gramática violada o hímem rompendo fases cortando frases na tarde fria, que não permite crase para acentuar o amor impontual.
Ciúmes é como escrever um poema com gosto de sangue f i l e t e a escorrer gota a gota pelo teu corpo nu coalhando dores sufocando amores em busca da esfinge nos mistérios do cisma.
Transgressão ser hippie largar-se no mundo até o mundo largar de mim suas presas e eu ficar a sós com meu amor convencional.
Menino do engenho passar a tarde chupando meus dedos com teu sabor, feito rolete de cana, com uma diferença: o bagaço, aqui, tem cheiro de orgasmo moenda que mói e mói nossos ardis – engenhos de desejos para senhores dos tempos de antanho (como se tudo fosse estranho, alheio ao próprio prazer da glicose que sai de tuas entranhas).
Metáforas para um duelo no vazio é quando você está quieta enroscada no próprio umbigo feito uma concha –- manto sagrado em saga profana – e eu, emboscado na selva escura de sua pele feito um eunuco, perdido nas fronteiras do absurdo é quando duelamos em silêncio em busca de nossos próprios ardis que criamos ciladas para nossos próprios pés enquanto mãos e bocas engendram armadilhas – ilhas de solidão, protegidas pela carícia da dor.
Mitologia da aventura você, agora vejo, berço da minha demografia origem da minha poesia ainda por ser escrita ruínas a serem reconstruídas com o hálito de seu suor, numa republica helênica etnia que remonta aos primórdios da civilização na companhia filosófica de platão ou recitando kaváfis: somos todos gregos somos, nós dois, muito mais do que isso somos brancos e negros em nossa raça única siameses da aventura que insiste em acenos para as águas do egeu no templo de zeus, as orações serão outras as orações serão loucas, como as sete deusas gregas livre como ártemis, sábia como minerva, virgem como héstia, poderosa como hera, mãe como deméter, espiritual como coré afrodite como você.
Livro sagrado sou um louco um louco que sempre faz o sinal da cruz na hora genuflexória de penetrar a luz : gênesis de um prazer que tem origem no silêncio incondicional.
Amém amor quando chega não faz toc, toc, toc simplesmente derruba a porta invade nossa aorta transforma o amador na coisa sagrada depois, ora pelo santo espírito insano para que todo dia, todo ano a oração se repita com suor, sexo e libido.
Poética poeta é bicho esquisito todo mês sangra (versos) e aduba loucuras vermelhas com frases azuis.
Rapunzel pós-moderna fios que escorrem pelo dorso nu e eu, à espera das tranças que você, rapunzel pós-moderna, não vai jogar em lugar nenhum.
Mapa-múndi no princípio, era o verso depois vieram tuas pernas e o mundo se fez eros: rio de janeiro, joão pessoa, paris, atenas
–- sempre a visão das coxas da moça. o princípio se fez fim e deus, que não tinha nada a ver com isso, transformou esse desejo num pássaro cego.
Cunilíngua coito minete (ou seria um minueto)? suíte fragmentando tuas aristocracias em compassos ternários : quando abre flores e rosas para minha língua.
Motivação confesso que não soube segurar seus bicos (por isso) não sou alegre não sou rico :só, maldito.
Da falta de inspiração às vezes a dificuldade do poema está no olhar que não surge na blusa que a musa teima em usar.
Marítimo (abrigo perdido onde encontro cavalos-marinhos para cavalgar minha paixão).
Intenso ser intenso é só mais uma de minhas azias mania de cultivar tsunamis viver no limite entre a doçura e o olhar que beija a dor em áries horóscopo e quiromancia equilibrando a linha do equador na geografia intensa de um mapa- múndi do tamanho da província.
Dialética ela disse que sou homem de paixões avassaladoras não de amores sólidos talvez porque os amores são eternos (e morrem) e as paixões são instantes (que ficam).
Usucapião a língua rodopia no grelo gleba feudal de pelos grilhão de cio que prende e algema prazeres, gris.
O homem que vestia preto o homem que vestia preto tinha a alma azul blue jeans marcando a pele joplin marcando a pele, jovem o homem que vestia preto tinha o amor vermelho centelha de paixão camiseta (em rima impublicável) queimando sangue caetânico no afã de viajar na utopia de osíris o homem que veste preto já tem o sonho em duas cores e duzentas dores daltônicas : confusão de signos na melancolia de um fado português.
Morador do mundo sou morador do mundo aqui, dentro do meu alforje dez tostões e um caçador peregrino de dias insanos colho rosas e espalho espinhos mas só você sabe pisar de mansinho os calos nos pés já não me calam mais deixei meus sapatos andarem descaminhos tortos mas fui salvo pelo verde da esperança-guia
gula (?), só de instintos na hora sagrada da cama no café da manhã, a manha vem de outro corpo que ensina a dançar meus temores, meus valores sede (?), só da rede que balança o vento ou da brisa, que guarda conchinhas em lençóis ou da areia, que varre mares revoltos fome (?), só dos encontros vadios da pele branca, quase menina, a trançar pernas no emaranhado de pelos e apelos sonoros medo (?), só de não caber na mochila as ilhas de milhas, filhas da alegria zumbi, que acorda o morador do mundo.
Flor de lótus já não tenho mais vontade de partir meu lugar é aqui deixo as glórias para aquele polifermo. pasárgada (agora) é coisa do verão passado ficarei feliz se me chamarem de nulisseu.
O sexto personagem (para Rinaldo de Fernandes) dorian gray com trajes de alferes diante do espelho, não o horror aos próprios vícios mundanos mas a saudade dos rapapés e dos escravos e dos mimos de tia marcolina duas almas filosofando sobre a eliminação humana: never, for ever! –- for ever, never enigmas machadianos espatifados no leitor, sem réplica jacobina.
O guardador de segredos (para Astier Basílio) guardo comigo todos os segredos do mundo em que não vivo segredos de poetas, com seus versos e estrofes quebradas no peito almejando musas para guardarem em seu alforje : como se não estivessem caçando ilusões na lírica sem metro segredos de amigos, com seus desabafos e histórias de prisões rigorosas, onde eles são seus próprios carcereiros, sempre em busca de reféns para seus instintos de safo
segredos de amigas, com seus eternos mistérios e detalhes meticulosos de paixões e amores vãos (porque todos os amores o são), na busca desesperada pelo príncipe que não encanta segredos de parentes, com seus estilos bem familiares. sentados nas calçadas do sangue, utilizando-se de algo que prende e não desata de meu pulso: sempre em rota de colisão dentro de casa segredos das putas, em suas lutas fratricidas. messalinas modernas, em transe no strip, em crise após o porre mas também dignas de segredos do arco -da -velha segredos de minha amada e companheira, estes, sim, os maiores segredos que guardo segredos de ansiedade, segredos de mistérios segredos de alcova e de noites nem dormidas guardo comigo todos os segredos do mundo em que não vivo como se fosse um rio, aonde desaguasse todos os afluentes secretos da mentira.
Pavão nunca olhei para os meus pés até caetano girar cajuína na vitrola foi quando vi que eles nunca saíram do chão
meu céu é que sempre esteve vermelho, meus olhos voam o vazio.
Homo sapiens sei, faço tudo errado troco o chinelo quando deveria estar descalço piso em falso, corto as sete cordas que me mantêm amarrado sei, penso tudo errado faço poesia mas não sei alimentar, todo santo dia, a gula crítica de políticos literários – não sei nem fazer média de pão e manteiga sei, faço tudo errado não estou sempre sorrindo para os amigos não estou sempre presente ao meu filho e nunca, mas nunca mesmo, consigo agradar a sombra de meu pai sei, ando sempre errado voto na esquerda quando todos estão à direita ando na contramão, vivo em trânsito sem desviar os buracos do asfalto sei, sou concreto, na hora de ler drummond
passional, para defender os irmãos campos faço barba, quando deveria parecer mais velho fico jovem, peter pan enroscado em novelos apago a luz, quando quero clarear o túnel ligo o som, na hora de apagar o mundo sei, choro quando todos riem de mim sorrio, quando tudo é lágrima na mídia rezo, quando nem deus já me aguenta esnobo, quando deveria implorar um acalanto reparto, no momento da perfídia invejo, da hora de partir sei – o que mesmo? -.
Parabolicaleitura as casas sustentam antenas eu vi fossem antenas poundianas eu não via EU LIA: (as antenas globalizam novas raças).
Salieri no brilho da lâmina só o corte do olhar
Enquanto isso, na província all right criei um mito agora, nem eu me fito.
Hibernar tirar o pijama que nunca vestiu e enroscar – caramujo no próprio vazio
Pêndulo ah, deixem-me só sem o relógio (ponto)
deixem-me só e o meu alforje (junto) deixem-me só no espelho (pranto).
DNA apagar a escuridão feito diógenes : lanterna na mão em busca de meus genes.
O velho aprendiz agora é com vocês, jovens meus cabelos já caíram e as palavras estão feridas no último grão da semente que não germinou falem de helenas, sim nunca de uma única helena que a poesia não deve ser refém apenas daquela musa leiam os velhos poetas: sobretudo leminski, cabral, pessoa, augustos, drummond é com eles que aprenderão os novos tons versem sobre política, sim
nunca sobre os políticos, que estes só merecem estrofes xingadas de atritos debulhem as palavras a serem usadas, separem, bem separado, o arroz do feijão : caroços que serão úteis deixem em forno brando, sem pressa para cozinhar os outros, ah, os outros, deixem pra lá não se frustrem pelo poema imperfeito: se fores poetas de verdade o verso preciso há de surgir antes do derradeiro poôr- do- sol , sem a pressa que aniquila a vaidade agora é com vocês, jovens façam seus poemas, mas não me mostrem: estarei ocupado tentando descobrir a poesia dos mestres e a linguagem que ainda não aprendi.
Poesia com T de tédio quando soube que minha poesia tinha efeitos colaterais fechei meus verbos rasguei os versos e fui ler olavo bilac!
Gêmeos (para Lenilda, minha doce e pequena irmã) foi minha irmã minha doce e pequena irmã com os olhos da ressaca que não bebeu que acusou: você tem dupla personalidade! olhei de um lado e de outro mas não acusei o golpe como fazer entendê-la que estive em vários lugares ao mesmo tempo dancei castanhola na espanha e recitei sonetos de camões em lisboa sem sair de cajazeiras mas também escutei pancada por pancada a sucessividade dos segundos sem graça feito um augusto sem anjos mórbidos, não saí do boteco, tomando minha cachaça como ela vai ver o ir e vir de minhas retinas olhando ao longe e ao perto para o colo das meninas querendo repousar minha quimera em mais de um pensando apenas em deixar de ser um zumbi comum como explicar, à minha doce e inocente irmã, que as flores do mal povoam meu jardim que bebo absinto, trago erva e não trago nada no peito além da vontade de estar além de mim como escrever poemas, minha pequena irmã, quando não estou amando loucamente por isso sempre tenho um amor guardado no peito e outro repousando no espinho do meu leito
como lhe sugerir que as fábulas mortas são apenas leituras la fontaines que a vida se abre na janela do seu quarto enquanto outra nasce em uma mesa qualquer de parto como sonhar junto com minha doce e profana irmã deitado, ao lado de freud, num mentecapto divã quando sou paz, sou calmaria e tempestade quando sou loucura e a agonizante busca da felicidade não, minha irmã não, minha doce e pequena irmã não, minha doce, pequena e inocente irmã não, minha doce, pequena, inocente e profana irmã não tenho dupla personalidade e nem tenho heterônimos, apesar do amor a pessoa tenho apenas a certeza de que não posso ser ilha enquanto os barcos acenam ao longe todos os dias cheio de corsários e damas de seios redondos fazendo o convite para o mar que se divide entre o atlântico e minha pacífica monotonia.
Pobres moços desconfiem dos bons moços aqueles que costumam triturar nossos ossos em segredos e no computador entre teclados e roupas engomadas amassam nossa paciência nas filas dos bancos engilham nossas roupas
na frieza de seus bytes desconfiem das boas moças também estas, são muito certinhas não assanham os cabelos se brincar, acreditem, nunca nem tiveram pentelhos de tão limpas e boas que são desconfiem, enfim, dos bons modos daqueles que não comem sem garfo e faca e não dispensam um guardanapo no colo desses, tenha medo são os piores assaltantes da raça humana: assaltam o improviso – a melhor forma de viver sem avisos.
Barco de ilusões (para Veruscka Guerra) o peixe cabe dentro do mar o mar não cabe dentro do peixe o pescador é maior que o mar o pescado é menor que a fome colcha de retalhos no oceano navegar/e em 1690 (em raios de ósseos cartilaginosos) miserere pro-nobis
óbice ao céu que brilha azul.
Uma face, só ânima pernas de compasso pernas na mesa perna (d)e pau pernas para que te quero, pernas, pernas brancas, grossas pernas.... daí, chega uma das faces de drummond: – pra que tantas pernas, meu deus? porém, meu coração só pensa naquilo!
Collectivus um poema nasce quando as partes se contundem nas moléculas salgadas nas estrofes amadas nas leituras armadas
um poema nasce quando o tudo é moleque e confunde as marcas e confunde e marca traço armorial na tua pele beatnik.
Bilíngua billie holliday na vitrola holiday é altar (fixed star) ser ou estar? asterisco com notas no rodapé (em tua fenda) lenda do blues em férias feridas em dia de folga da dor.
Auto-ajuda corte à faca corta a massa (tritura a farsa) (não) corta as asas é cortaázar acendendo todos os fogos do fogo em jogos de cronópios e fama para que a besta-célere ofereça auto-ajuda ao seu próprio cérebro sempre sentado à margem direita do rio de pedras com letras e números somando dinheiro na lama.
Twitterlandia havia uma gota de sangue em cada poema primitivo eram tempos de antanho e mário (de andrade ou sobral?) só queria poetar a primeira guerra mundial de lá para cá, quantas guerras já engolimos bombas explodiram cabeças parnasianas a modernidade se fez rito : dos concretos ao twiter agora, tudo se resolve em 140 caracteres e os novos reis das letras não mais oferecem a cabeça numa bandeja
oferecem a mente em TT, porque essa, sim, pode ser temperada com a casca verde e luzidia da cereja.
Sem perder a ternura letargia que invade as avenidas do XXI terra sem lei, com fardas dormindo igual aos fardões cabeças baixas, bolsos vazios, pés descalços maiakovski apenas como um poema desbotado na estante patrulhas cercando o quintal do vizinho : a nova ordem não vem de caetano, zeloso de todos os sonhos que fugiam do haiti silêncio, é a palavra que barulheia todos os sentidos mas as damas aristocráticas formam vassalos na terra onde o verde quase se torna uma lembrança vã e ainda dizem que existe o amanhã e eu acredito como acredito no gosto estranho da romã vejo, na retina da memória, soldadinhos de papel crianças correndo por ruas de barro brincando e gingando para as dores que não conhecia é verão – hora de lembrar lições guevarianas: não podemos perder a ternura!
No mundo de Walt Disney lamparina cansou do professor pardal cansou dos inventores sempre geniais sempre descobrindo pólvoras enquanto a bomba já explodiu faz séculos lamparina cansou dos maniqueísmos: eu sou do bem você, do mal lamparina, coitado, cansou dos insultos aos burgueses de quem quer formar a nova poesia burguesa quando o poema sai mesmo é da chama de lamparina e do sorriso sacana no púbis da menina.
Juvenília cansei de pasárgada – este negócio de sentar-se eternamente no trono não compensa a mulher que queremos chorei em busca das setes faces de drummond e voando com o passarinho de quintana mas não saí da tabacaria de pessoa tragando vícios e poemas.
Mapa de rugas (para isabel allende) o mapa de minhas rugas não cabe na palma de mil mãos são cartografias com milhões de afluentes extensão territorial de barro marcada na pele branca clientes de minhas rusgas minhas teimosias e aleivosias e de tanto rasgos de dores – que abrem fendas de fatos sempre a calar fênix diante de minhas ruínas.
Partida quando eu estiver velhinho, cheio de rugas só os galos estarão cantando o amanhã e o pasto já terá incendiado todos os trigos já não haverá mais porque procurar fugas, da varanda, nem escolher entre a tarde e a manhã já estarei velhinho e só em meus abrigos já estarei velhinho e só, meus amigos mas não chorem por mim sei que quando estiver velhinho terei um cobertor para cobrir meus dedos finos e nada, nem a maior das oceânicas dores, conseguirá disfarçar meu gosto pelo frio
e pela ausência de ausências em teus olhos de carmim quando eu estiver velhinho, cheio de rugas sorrirei feliz por encontrar abrigo em ti, também já velhinha agora, poderemos dormir. a noite chegou!
Dostoeiwviskiana os ganchos já estão me levando os anjos louvam: é hora de dormir.
FICHA TÉCNICA Copyright © Editora Patuá, 2011. Metáforas para um duelo no sertão © Linaldo Guedes, 2012. Editores Aline Rocha Eduardo Lacerda Revisão Aline Rocha Projeto Gráfico, Capa e Ilustrações Leonardo Mathias | flickr.com/leonardomathias Prefácio Antônio Mariano O livro “Metáforas para um duelo no sertão” pode ser adquirido no site da Editora Patuá: www.editorapatua.com.br