CASA DE CULTURA FRANCESA MAISON DE LA CULTURE FRANÇAISE
PROJETO DE RESTAURO PROJET DE RESTAURATION
TRABALHO REALIZADO PELO ATELIÊ DE PATRIMÔNIO CULTURAL DO DEPATAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, COORDENADO PELO PROFº ARQ. ROMEU DUARTE JR E REALIZADO PELO ARQUITETO VICTOR CÂNDIDO E PELAS ESTUDANTES DE ARQUITETURA DENISE MOREIRA E RAISSA PARENTE maio/2018
SUMÁRIO
Restauro da Casa de Cultura Francesa PÁG
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R E S T AU R A T I O N D E L A M A I S O N D E L A CULTURE FRANÇAISE TEXTO POR PROFº ROMEU DUARTE JR E VICTOR CÂNDIDO
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O ESTADO DA CASA DE CULTURA l'état de la maison DE LA CULTURE IDENTIFICAÇÃO DOS PROBLEMAS
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CONSTRUÇÃO / DEMOLIÇÃO construction / démolition
PROJETO DE RESTAURO PROJET DE restauration INTERVENÇÕES PROPOSTAS
Casa que abriga Casa de Cultura Francesa antes das modificações arquitetônicas significativas. Fotografia de data e autor desconhecidos.
Restauro da Casa de Cultura Francesa R E S T AU R A T I O N D E L A M A I S O N D E L A CULTURE FRANÇAISE TEXTO: ROMEU
DUARTE JR E VICTOR CÂNDIDO
No âmbito das comemorações do Jubileu de Ouro da Casa de Cultura Francesa (CCF) da Universidade Federal do Ceará, a Coordenadoria da CCF solicitou ao Atelier de Patrimônio Cultural do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) um projeto de restauro do edifício em que as atividades administrativas e didáticas do Curso são oferecidas, sob a justificativa de recuperar o esplendor arquitetônico original da casa e melhor inserila no contexto histórico e patrimonial do Campus e do bairro do Benfica. O bairro do Benfica nasceu de uma primeira expansão para o sul do que então era a cidade de Fortaleza, no final do século XIX, através de um importante vetor de crescimento urbano, a linha de bonde. Essa dilatação da mancha citadina deu-se mediante uma significativa alteração da morfologia urbana e das tipologias arquitetônicas até então empregadas. Restrita a limites tais como os bulevares Duque de Caxias (sul), da Conceição (leste) e do Imperador (oeste) e o litoral, nossa capital experimentou essa ampliação em superfície, processo que mais tarde iria se alastrar nas direções do Jacarecanga e da Aldeota. Isso se deu no passo do considerável aumento da área dos seus novos quarteirões e lotes e da largura de suas novas ruas e à mudança em seus padrões arquitetônicos, com edifícios apresentando quatro fachadas, soltos dos extremos dos terrenos e desenhados segundo as linguagens profusamente decoradas do Ecletismo europeu. Um simples passeio da Praça José de Alencar à Reitoria da UFC, pelas vias Rua General Sampaio e Avenida da Universidade, é bastante esclarecedor quanto a esse cenário. Neste promenade, encontramse o Solar Carvalho Mota (posteriormente a primeira
sede do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS), a residência da família Gondim, quase na esquina com a Av. Duque de Caxias, a Casa do Barão de Camocim, defronte à Praça da Bandeira, o prédio da Maçonaria, as residências de Manso Valente e Neutel Maia (atual sede do Instituto de Previdência do Município da Prefeitura Municipal de Fortaleza - IPM/PMF), o antigo Grupo Escolar Rodolfo Teófilo (atual sede da Faculdade de Economia, Administração, Atuárias e Contabilidade da Universidade Federal do Ceará - FEAAC/UFC), o prédio da Casa de Cultura Germânica e a antiga morada do Cel. José Gentil, marcos desse setor da cidade, caracterizado ainda pela abundante arborização. O Benfica, antigo sítio notabilizado pelas centenárias mangueiras, foi o bairro escolhido por famílias abastadas do interior que vinham residir em Fortaleza, interessadas em morar em locais dotados do que havia de melhor em termos de confortos urbanos, como também dispostas a manter alguns costumes do campo, tais como a criação de animais e o plantio de hortas e pomares. Esse modo de vida ofereceu condições ao desenvolvimento de uma tipologia arquitetônica híbrida que marcou durante muito tempo a paisagem benficana, a chácara, hoje praticamente desaparecida deste panorama. De qualquer maneira, além das chácaras, o Benfica caracterizou-se pela arquitetura das mansões e palacetes, assim como das vilas, com uns poucos exemplares ainda existentes. Em sua trajetória, abrigou as primeiras instalações da UFC, fundada em 1955, tornando-se um bairro universitário, sendo hoje uma das localidades de Fortaleza mais demandadas por uma população nômade, responsável por sua transformação em um bairro multifuncional, dotado de fortes manifestações culturais, e uma das mais intensas articulações viárias de nossa cidade. • 5
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de serviço e sanitários. No piso superior situam-se as O imóvel que abriga a Casa de Cultura Francesa da salas de aulas, acomodadas nos ambientes dos antigos UFC era uma antiga residência de família de posses, dormitórios. Algumas divisões originais dos cômodos, certamente construída na década de 1940. Sua neste pavimento, foram suprimidas para a ampliação da linguagem arquitetônica remetia à influência do Mission área a ser utilizada pelas atividades pedagógicas. Style californiano e do Neocolonial, manifestações A implantação do curso de línguas na casa foi arquitetônicas então cultuadas pela elite fortalezense promovida com sérios prejuízos para a sua arquitetura como símbolos de fausto e poder. Seu desenho faz-nos original. Ornatos delicados, tais como as arcadas, as lembrar de alguns trabalhos executados naquela época volutas e os cunhais na fachada frontal, foram suprimidos, pelo arquiteto Emílio Hinko1, tais como a Igreja das Irmãs com a conseqüente ampliação da área dos ambientes Missionárias, na Aldeota, e a Base Aérea de Fortaleza. relacionados a estes elementos; a cornija que circundava Abrindo-se diretamente para a Av. Visconde de Cauhype o perímetro do imóvel também foi suprimida; os telhados (atual Av. da Universidade) e implantada em amplo tiveram seu caimento e inclinação alterados, criandobulos e esperas, bem como pela secretaria, pela sala se beirais desproporcionais; das fachadas partem de professores, por uma sala de aula e por instalações descuidadamente tubos de queda de água pluvial em PVC; e, talvez a maior agressão de todas, a volumetria do imóvel 1 Emílio Hinko (Budapeste, Hungria, 9/04/1901 – Fortaleza-CE, 04 de janeiro de 2002) foi um arquiteto húngaro radicado em Fortaleza, foi alterada com a ocupação da varanda superior com um autor do projeto de importantes obras arquitetônicas públicas e privadas volume pris que alterou sobremaneira sua modenatura. • entre as décadas de 1930 e 1980.
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Imagem acima - Fachada principal Casa de Cultura Francesa Avenida da Universidade, 2017 Imagem o lado esquerdo - Fachada principal Casa de Cultura Francesa Avenida da Universidade, 2017 Imagem o lado direito - Fachada oeste Casa de Cultura Francesa, 2017. Imagem abaixo - Fachada leste Casa de Cultura Francesa, 2017.
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o estado da casa de cultura l'état de la maison DE LA CULTURE
Ausência de acesso pavimentado à Casa, e não conformação às normas de acessibilidade. Presença de vegetação e equipamentos que interferem na legibilidade do edifício
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Modificação da volumetria e geometria da coberta em comparação com a iconografia existente. Retirada da cornija que rodeava a edificação
Perda das varanda e arcada que ornavam a fachada nos andares superior e inferior da edificação. Presença de equipamentos de ar condicionado, escoamento de aguas pluviais e instalações elétricas aparentes poluindo exterior do edifício
Equipamentos de intraestrutura e mobilidade locados de maneira a colaborar com a falta de legibilidade da edificação
axomĂŠtrica fachadas norte/oeste
axomĂŠtrica fachadas leste / norte
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PLANTA IMPLANTAÇÃO E COBERTA
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PLANTA PAVIMENTO TÉRREO
PLANTA PAVIMENTO SUPERIOR
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CONSTRUÇÃO / DEMOLIÇÃO construction / démolition
PLANTA PAVIMENTO TÉRREO
PLANTA PAVIMENTO SUPERIOR
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FACHADA NORTE
FACHADA LESTE
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O PROJETO DE RESTAURO l e p r o j e t d e r e s t a u r at i o n
e fotográfico do imóvel, nas cartas patrimoniais documentos que, em sua maior parte, definem as diretrizes fundamentais para o tratamento do patrimônio cultural edificado - e utilizando a iconografia relacionada à antiga residência, datada de meados do século XX, a hipótese de restauro elaborada pela equipe responsável pelo projeto procurou recuperar a volumetria do edifício de acordo com seu aspecto original, removendo elementos que ocupam as varandas superior e inferior da fachada voltada para a Avenida da Universidade Os pontos focais da recuperação do edifício foram, portanto, a reconstrução dos elementos de ornamentação a restauração é uma operação que deve ter caráter do frontispício da fachada oeste; a readequação dos excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores espaços internos, de forma a recuperar a volumetria estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. original com a reabertura das varandas nos pavimentos Assim, todo trabalho complementar reconhecido como térreo e superior; a recuperação da coberta, recobrandoindispensável por razões estéticas ou técnicas destacar- se seu aspecto original, inclusive com o retorno da cornija se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca em seu perímetro, e melhorando o sistema de captação do nosso tempo. de águas pluviais; a reabilitação dos acessos do edifício, de forma a prezar pelos padrões de acessibilidade Dessa forma, o trabalho a ser desenvolvido não deve estabelecidos pela NBR 9050 (inclusive com a instalação se destinar à mera reconstrução do passado, mas à de plataforma hidráulica no fosso central da escada harmoniosa recomposição do quadro arquitetônico existente) e a remoção e/ou realocação de elementos de e decorativo da edificação, mediante o emprego de instalações complementares, como caixas de aparelhos informações fidedignas, respeitando o equilíbrio de sua de ar condicionado, fiações e tubos de queda de água composição e distinguindo cuidadosamente as partes pluvial. recuperadas e acrescidas dos elementos originais. Serão desenvolvidos, também, projetos A restauração, assim, será efetivada pela coleta de complementares de paisagismo, instalações elétricas dados e materiais suficientes que testemunhem o e luminotécnica com o intuito de valorizar o edifício e estado anterior do objeto arquitetônico com a intenção seu entorno. Dessa forma, entende-se que o projeto de revalorizar a significação cultural do bem, como arquitetônico de restauro do edifício-sede da Casa estabelecido pela Carta de Burra (Icomos/Austrália, de Cultura Francesa irá caracterizar uma mudança 1980). significativamente positiva na sua relação com seus Portanto, baseada no levantamento arquitetônico usuários, o Campus e o bairro do Benfica e a cidade. • Das soluções de restauro apresentadas, a selecionada fundamenta-se na recomposição dos elementos arquitetônicos e decorativos originais das fachadas oeste (principal), norte e sul, o que acarreta, consequentemente, na alteração de uso dos espaços e na circulação dos fluxos internos. O Colegiado de Professores da Casa de Cultura Francesa entendeu que, apesar das concessões de espaço a serem feitas, essa é a melhor escolha por enfatizar a revalorização da arquitetura primitiva do imóvel. Segundo a Carta de Veneza (Icomos, 1964),
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axomĂŠtrica fachadas norte/oeste
axomĂŠtrica fachadas leste / norte
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PLANTA IMPLANTAÇÃO E COBERTA
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PLANTA PAVIMENTO TÉRREO
PLANTA PAVIMENTO SUPERIOR
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BI BLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro. 2015. ICOMOS. Carta de Veneza. In: II Congresso dos Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos. Veneza, 1964
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