A verdade sobre o
“choque de gestão”
do governo de Minas
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CADERNO SINDI FISC O-MG Setembro 2010
CEMIG
www.sindifiscomg.com.br Av. Afonso Pena, 3.130 – Conj. 402 Belo Horizonte/ MG – CEP: 30130-009 Telefax: (31) 3281 8266 – 3281 1203 sindifiscomg@sindifiscomg.com.br DIRETORIA 2010-2011 Presidente Lindolfo Fernandes de Castro Vice-Presidente Christiano dos Santos Andreata Diretor de Assuntos Jurídicos Marco Antônio Mota Mayer Suplente Maria Selma de Castro Diretor-Tesoureiro Hugo Souza Sena Filho Suplente Roberta Briaca Sena Diretor-Administrativo José Roberto de Almeida Suplente Francisco Ricardo Muniz Guerra Diretora de Formação Sindical e de Relações Intersindicais Maria Cristina de Oliveira Suplente Lúcio Carlos Ferraz de Souza Diretor de Aposentados e Pensionistas Olivar Rocha Alcântara Suplente Flávio Cortat
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Sumário
Apresentação: Discurso oficial X Realidade
2
Existe mérito no “choque de gestão”?
3
O “choque de gestão” para o servidor
4
Raio X do Estado de Minas Gerais
5
Desempenho econômico e receitas
6
Injustiça na tributação do ICMS
13
Grandes contribuintes recebem benefícios tributários
17
Despesas do Estado
19
A política do “choque de gestão”
22
Queda dos gastos sociais
26
“Choque de gestão” ou de marketing?
36
Minas é o terceiro Estado mais endividado do País
40
Resultado orçamentário
47
Conclusão: O verdadeiro déficit zero só será alcançado quando conciliar o ajuste fiscal com o bem estar da população
51
Fontes
52
1 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade o A verdade sobresobre o “choque de gestão” do governo de Minas “choque de gestão” do governo de Minas
Apresentação
Discurso oficial X Realidade “Se você torturar suficientemente os dados, eles acabarão confessando.”
Ronald Coase, economista, Prêmio Nobel 1991
Vivemos um importante momento, pois, com a realização do processo eleitoral, é hora de fazermos um balanço da evolução do nosso Estado nos últimos oito anos. Esse balanço deve passar, necessariamente, pela análise do desempenho do Estado no atendimento às necessidades da população e pelo real desenvolvimento econômico e social alcançados. Neste contexto eleitoral, somos bombardeados por inúmeros dados e pesquisas, divulgados por diversos institutos, organizações e pela mídia, com possíveis análises do desenvolvimento econômico e social obtido nos últimos anos. Entretanto, é necessário estar atento se esses levantamentos e análises realmente espelham a realidade vivida ou se as fontes que realizaram tais estudos não estão comprometidas pela influência de interesses políticos e econômicos. Estudar as contas públicas não é uma tarefa fácil, tampouco agradável. São quadros e mais quadros demonstrativos, em letras miúdas, no site do Tesouro Nacional e da Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (SEF-MG), no órgão oficial do Estado, Minas Gerais, e Tribunal de Contas do Estado (TCE). Porém, a análise dos números, muitas vezes escondidos nos discursos oficiais, apresenta-se reveladora. Durante o governo Aécio 2003–2010, foi gasto R$ 1 bilhão com publicidade, sendo grande parte desse gasto para alardear o equilíbrio das contas públicas (déficit zero), por meio do chamado “choque de gestão”. Entretanto, não há mérito nenhum nesse discurso fácil, de gastar menos com o Estado e mais com a sociedade, pois sabemos que o Estado é responsável por cuidar dos anseios e do bem estar da população e, se o governo gasta menos com o Estado, ele deixa de prestar serviços públicos essenciais. Como lideranças sindicais, defendemos o Estado do Bem Estar Social; um Estado que estimule o crescimento, promova a justiça social, a distribuição de renda e o bem-estar da população, por meio da melhoria dos serviços públicos prestados, como saúde, educação, segurança, habitação, assistência social, esporte, meio-ambiente, assistência jurídica e aos direitos humanos. O Estado é uma idéia jurídica abstrata, que se materializa pela ação dos servidores públicos. Ou seja: é por meio do serviço público que a ação do Estado se faz presente. Entendemos que o papel de um Sindicato contemporâneo, sério e combativo, ultrapassa a defesa meramente de interesses corporativistas. Como Sindicato Cidadão, o SINDIFISCO-MG é parceiro permanente nas lutas em benefício da qualidade de vida dos trabalhadores e da sociedade, exercendo plenamente seu direito de informar, esclarecer, denunciar e propor soluções. Desde 2003, o SINDIFISCO-MG tem se debruçado sobre as contas públicas, desenvolvido análises e estudos, editado publicações diversas com o intuito de fomentar o debate entre o governo e os diversos segmentos da sociedade. No início de 2006, o Sindicato lançou o CADERNO SINDIFISCO-MG: QUEM BANCOU O AJUSTE FISCAL?; a presente publicação é uma atualização desse trabalho.
2
Ao editarmos este Caderno, pretendemos mostrar, por meio de uma linguagem simples, evitando o tecnicismo, quais são os verdadeiros dados do governo Aécio Neves, principalmente em relação às áreas sociais e ao funcionalismo. Nosso objetivo principal é contribuir para o debate, com informações, dados e análises, de maneira que todos possam refletir – e concluir – se o que é divulgado na mídia e nos discursos oficiais corresponde à realidade vivida pela população de Minas Gerais. Principalmente, se o propalado “choque de gestão”, implantado pelo governo mineiro, deve ser, realmente, modelo para o País, e o que isso implicou na melhoria de vida da população. A Diretoria
Existe mérito no “choque de gestão”? Desmistificando as falácias do “déficit zero”
Ao longo dos últimos oito anos, o governo mineiro se vangloria na imprensa do ajuste das contas e dos resultados de superávit do Estado, como resultados do “choque de gestão”, que conforme explicado pelo próprio governo é a política de gestão adotada em Minas, em que “o governo gasta menos com o Estado para gastar mais com a sociedade”. Entretanto, quando analisamos esse discurso com atenção, é fácil desmistificar tal falácia.
Basicamente, iremos analisar três pontos, que consideramos essenciais no “choque de gestão”: 1º Aumento de receita total de 130% no período de 2002/2009 para uma inflação de 47% (IPCA e IGPD-DI); 2º Redução dos gastos sociais (saúde, educação e segurança pública) de 60,43% da RCL em 2002 para 45,99% em 2008; 3º Redução da folha de pagamento total (consolidado) do Estado ou gasto com pessoal de 71,57% em 2002 para 55,44% em 2009. Esta redução ocorreu, principalmente, na folha de pagamento dos servidores do Poder Executivo, que representava 55,87% da Receita Corrente Líquida (RCL) do Estado em 2002, passou para 43,49% em 2005 e, em 2009, quando houve reajuste para o funcionalismo por objetivos claramente eleitoreiros, para 46,16%.
Se, como vimos, no período de 2002 a 2009, a Receita Total do Estado cresceu 130% e a Despesa Total cresceu 118%, com uma inflação de 47%, e ainda, a RCL cresceu 132%, com esses números, o alardeado “déficit zero” nas contas do governo tem algum mérito? Ora, qualquer um faria esse ajuste, bastava corrigir as despesas pela inflação que a receita cuidaria do resto e haveria um superávit. Nas próximas páginas, faremos um estudo detalhado do que significam esses números com a análise das receitas e despesas do Estado. Para que possamos fazer essa discussão, é preciso analisar alguns indicadores da Administração Pública, comparando os gastos com os aumentos de receitas, uma vez que não cabe ao Ente Público ter lucro. O dinheiro arrecadado pelo Estado deve ser aplicado na melhoria de vida da população, por meio da prestação de serviços públicos de qualidades, da promoção do crescimento e da distribuição de renda.
Os números por si só nada significam se não discutimos o modelo de Estado, a finalidade da arrecadação e o objetivo dos serviços públicos. A serviço de quem o governante está: da população ou do mercado e/ou do capital?
3 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
O “choque de gestão” para o servidor Perdas de direitos históricos
As perdas para os servidores públicos estaduais do Executivo p Efeitos maléficos da Reforma Administrativa do governo Aécio: fim e/ou redução dos adicionais por tempo de serviço (quinquênios e trintenário); extinção do apostilamento, transformado em vantagem pessoal. p Congelamento do salário do funcionalismo, principalmente no período 2003–2006. p Controle exacerbado do servidor por meio da Avaliação de Desempenho (ADE), com critérios subjetivos. p Fim da estabilidade, que é um direito constitucional. p Política de quebra de paridade entre ativos e aposentados; instituição de prêmio por produtividade e gratificações somente para servidores da ativa, excluindo, além dos aposentados, os servidores em licença (maternidade, tratamento de saúde etc.). p Confisco das promoções e progressões. p A hipocrisia do subteto, por meio de uma medida demagógica de redução do salário do governador, o que, na realidade, representava um confisco de salário. p Férias-prêmio – verbas retidas. p Instituição, em 2004, da política do “devo e não pago, se quiser recorra à Justiça”, com aumento das despesas com sentenças judiciais, indenizações e restituições trabalhistas. p Privatização e terceirização no serviço público.
E mais, ainda, para os Auditores Fiscais da Receita Estadual p Politica salarial: No governo Itamar Franco, a categoria fiscal, conseguiu, após muita luta, corrigir a produtividade; entretanto, o governo Aécio, por meio de um Decreto de Contingenciamento em 2003, suspendeu essa política salarial, e, depois, extinguiu-a, sendo retomada, parcialmente, também por meio de muita luta. p Perda de autonomia e engessamento do trabalho fiscal, com a implementação do Progepi. p Piso salarial defasado em relação aos demais Estados da Federação. p Injustiça e distorções no reposicionamento.
4
Raio X do Estado de Minas Gerais 94,8% dos servidores públicos pertencem ao Poder Executivo
Tabela 1
Quantitativo de Servidores do Estado 2006
Poder
Legislativo
Ativos
Inativos
Pensionistas
Total
4.298
1.313
41
5.652
Judiciário
15.794
3.026
237
19.057
Executivo
329.781
139.581
36.656
506.018
2.438
430
175
3.043
352.311
144.350
37.109
533.770
Ministério Público Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado
Veja o percentual de servidores nos três Poderes e no MP
Fonte: Tribunal de Contas do Estado
O SINDIFISCO-MG solicitou à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag), o número atualizado de servidores ativos e inativos de Minas Gerais, bem como o número de servidores por categoria. Veja, abaixo, o que a Seplag informou. Tabela 2
Número de Pagamentos de Servidores do Estado realizados pela Seplag Março de 2010 Pagamentos Públicos
Total
Ativos
334.151
Inativos
153.845
Total Ativos e Inativos
487.996 Fonte: Seplag
Entretanto, no número total de pagamentos do Estado em março de 2010 não estão incluídos os pagamentos que não são feitos pela Seplag, como o de policiais militares e de servidores de outros Poderes. Em março de 2010, segundo dados do SIAF, foram feitos 21.239 pagamentos no Poder Judiciário. O único dado disponível em relação à Polícia Militar e ao Corpo de Bombeiros é que, em 2006, havia 64.841 servidores.
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A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Desempenho econômico e receitas Análise do crescimento do PIB e da arrecadação do Estado
Em relação ao desempenho econômico, o Produto Interno Bruto de Minas Gerais cresceu a uma taxa média de 3,0% ao ano entre 1995 e 2007, acumulando crescimento de 42,1% nesse período. Esses dados foram divulgados pela Fundação João Pinheiro (FJP), que é uma entidade do governo de Minas Gerais de apoio técnico à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão e demais sistemas operacionais do Estado. Ainda segundo análise da FJP, o crescimento do PIB mineiro ficou em 21º posição no ranking de crescimento do PIB dentre os 26 Estados da Federação e o Distrito Federal. Já o PIB per capita em Minas Gerais teve crescimento real de 1,8% ao ano, e acumulou no mesmo período – 1995 a 2007 – alta de 24,5%. Em relação aos outros Estados e Distrito Federal, o crescimento per capita do PIB mineiro foi apenas o 17º. Em 2009, ano em que o mundo todo sofria os efeitos da crise financeira mundial ocorrida no fim de 2008, o PIB em Minas encolheu 2,6%. Esse porcentual é bem maior à queda do PIB brasileiro, que foi de 0,2%. Tal desempenho é justificado pela Fundação, principalmente, pela característica da economia de Minas Gerais, de ter grande participação da indústria de extração de minério de ferro – um dos setores mais afetados pela crise no Brasil – e metalurgia. Durante o período em que o Estado mais sofreu os efeitos da crise, quando as indústrias, sobretudo as mineradoras, diminuíram a produção e realizaram demissões, vários economistas criticaram a política de concentração da economia e da pauta de exportação em commodities, sobretudo de grãos e minerais. O impacto da crise no PIB de Minas demonstrou as consequências do Estado ter uma economia tão dependente da indústria de extração e transformação de minerais. Tabela 3
PIB Minas X Receita Tributária 1999–2007 Valores Correntes R$ milhões Ano PIB de MG Receita Tributária
Receita Tributária em relação ao PIB
1999
89.790
6.853
7,63%
2000
100.612
8.254
8,20%
2001
111.315
9.856
8,85%
2002
127.782
11.152
8,73%
2003
148.823
12.762
8,58%
2004
177.325
15.212
8,58%
2005
192.639
17.839
9,26%
2006
214.754
19.944
9,29%
2007
241.293
22.662
9,39% Fonte: FJP/ SEF-MG
Ao analisar a evolução da receita própria do Estado nos últimos oito anos é importante lembrar que o governo Aécio foi beneficiado por fatores externos, como crescimento da economia mundial e da brasileira. No período de 2002 a 2009, houve aumento significativo da arrecadação
6
de Minas Gerais. A Receita Total (Orçamentária) em 2002 era R$ 17,59 bilhões e em 2009 chegou a R$ 40,56 bilhões, o que representa aumento de 130,54%, com uma inflação nesse período em torno de 47% (IGP-DI e IPCA-IBGE). Também é importante destacar que no período houve revisão e elevação das alíquotas do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação (ITCD) e das taxas, com a criação, sobretudo em 2005, de novas taxas.
Para entender os dados e análises seguintes, veja os conceitos abaixo: Receita Tributária: É oriunda da cobrança de tributos pagos pela população. Tem por base suas propriedades, suas rendas, suas atividades e os benefícios diretos e imediatos que lhes são propiciados pelo Estado. Consiste na soma do valor total da arrecadação da Receita Tributária (impostos, taxas e contribuições de melhoria). É a receita própria do Estado. Receita Corrente: É a categoria econômica que compreende Receita Tributária, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços, transferências correntes e outros. Receita de Capital: Registra o valor total da categoria econômica que compreende as operações de crédito, alienação de bens, amortização de empréstimos, transferência de capital e outras. Receita Total ou Receita Orçamentária Fiscal: É a soma das Receitas Correntes e de Capital menos as deduções do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
Tabela 4
Demonstrativo da Receita Total (Orçamentária) 2002–2006 Valores Correntes R$ mil Receita 2002 2003 2004 2005 2006 Receita Corrente
ICMS
Variação em % 2002/2006
15.978.882
19.125.071
22.940.125
26.888.734
30.224.209
89,15%
9.397.795
10.835.788
12.931.306
15.184.191
16.662.216
77,30%
IPVA
720.890
740.677
931.865
1.086.501
1.348.982
92,12%
IRRF
624.440
695.883
742.051
737.006
992.155
58,89%
ITCD
26.330
33.509
49.025
83.754
89.494
239,89%
Taxas
382.638
456.263
558.018
747.561
851.468
122,53%
Receitas Demais 4.826.789 6.362.951 Correntes Dedução da Receita Corrente*
7.727.859
9.049.721
10.279.894
112,98%
- 1.743.359
- 2.046.577
Receita de Capital Total
- 2.201.879
1.615.941
789.394
620.493
671.567
1.077.585
33,32%
17.594.823
19.914.465
21.817.258
25.513.725
29.099.916
65,39%
*Refere-se à dedução para o Fundeb Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
7 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 4-A
Demonstrativo da Receita Total (Orçamentária) 2007–2009 Valores Correntes R$ mil Receita 2007 2008
2009
Variação em % 2002/2009
Receita Corrente
34.664.825
42.378.959
42.518.733
166,00%
ICMS
18.972.268
22.541.992
22.002.958
134,13%
IPVA
1.588.074
1.838.621
2.075.812
187,95%
IRRF
1.041.496
1.388.427
1.285.647
105,89%
ITCD
125.997
170.413
195.566
642,75%
Taxas
934.475
1.100.917
1.240.704
224,25%
12.002.515
15.338.589
15.718.055
225,64%
- 2.839.310
- 3.841.377
- 4.106.523
807.736
1.385.751
2.150.477
33,08%
32.633.250
39.923.333
40.562.696
130,54%
Receitas Demais Correntes da Receita Dedução Corrente* Receita de Capital Total
*Refere-se à dedução para o Fundeb Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
Em relação à Receita Total de 2009, de R$ 40,56 bilhões, com dedução do Fundeb de 10,12 %, 94,7% refere-se à Receita Corrente e 5,3% à Receita de Capital. As demais receitas correntes que têm maior participação são as transferências correntes com R$ 8,8 bilhões, 21,76% da Receita Total (sem a dedução do Fundeb), seguidas pelas contribuições, com 7,17%, pela Receita Patrimonial, com 4,96%, por outras receitas correntes, com 3,41%; as demais contribuíram com 1,46%. Iremos priorizar a análise detalhada da Receita Tributária, pois essa é a mais importante fonte de receita própria do Estado. Em 2009, a Receita Tributária de R$ 26,8 bilhões contribuiu com 66,07% da Receita Total e com 70% da Receita Corrente. Tabela 5
Evolução Anual das Receitas Tributárias e de ICMS 1999–2009 R$ mil Ano
ICMS1 (Valores Ev. Correntes) anual2
1999
6.188.652
15.247.548
6.853.085
16.884.572
2000
7.434.398
120,13
16.101.257
105,60
8.254.496
120,45
17.877.407
105,8801
2001
8.899.430
119,71
17.463.863
108,46
9.856.465
119,41
19.341.908
108,1919
2002
9.390.485
105,52
16.234.491
92,96
11.152.093
113,14
19.280.000
99,67993
2003
10.792.674
114,93
15.196.066
93,60
12.762.120
114,44
17.969.042
93,20043
2004
12.827.757
118,86
16.509.823
108,65
15.212.266
119,20
19.578.779
108,9584
2005
15.128.989
117,94
18.375.189
111,30
17.839.012
117,27
21.666.697
110,6642
2006
16.662.107
110,13
20.036.299
109,04
19.944.316
111,80
23.983.178
110,6914
2007
18.972.856
113,87
21.709.752
108,35
22.662.309
113,63
25.931.421
108,1234
2008
22.377.607
117,95
23.018.450
106,03
27.040.370
119,32
27.814.744
107,2627
4
21.964.922
98,16
21.964.922
95,42
26.800.687
99,11
26.800.687
96,35424
2009
8
ICMS1 Receita Tributária Receita Tribut. (Valores Ev. (Valores Ev. (Valores Constantes3) anual2 Correntes) anual2 Constantes3)
1 2 3 4
Ev. anual2
Refere-se ao ICMS principal, que desconsidera os valores referentes a juros, multas e dívida ativa Ev. anual: evolução anual Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período
Fonte: SEF-MG
Dentre os componentes da Receita Tributária, 95,37% são impostos e 4,63% taxas. O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é o mais importante com a participação de 82% da Receita Tributária em 2009, seguido pelo IPVA que correspondeu a 7,75% da Receita Tributária no mesmo ano.
Composição da Receita Tributária Bruta em 2009
Fonte: SEF-MG
A arrecadação de ICMS em 2002 era de R$ 9,39 bilhões e em 2009 foi de quase R$ 22 bilhões, representando aumento de 134%. Desde 2004, Minas Gerais ocupa o 2ª lugar no ranking de participação na arrecadação de ICMS dentre os 26 Estados da Federação e o Distrito Federal, com participação média de 10% da arrecadação do ICMS no país, segundo dados do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). Um fator que vem contribuindo para o aumento da arrecadação de ICMS é a cobrança do imposto por meio do mecanismo da Substituição Tributária (ST). Nesse regime, a cobrança do imposto incidente sobre os fatos geradores futuros é antecipada para o momento em que o produto sai da indústria ou do atacadista. Em 2003, o percentual da receita que era arrecado pela ST era de 16,51%, em 2009, esse percentual passou para 29% e o acumulado até maio de 2010 é de 32%. Entretanto, as pequenas e microempresas acabam penalizadas com a cobrança pela ST. O Simples Nacional – regime tributário, previsto na Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, de tratamento diferenciado e favorecido aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte para unificar e desburocratizar a cobrança de seis tributos federais (IRPJ, IPI, CSLL, Cofins, Contribuição para o PIS/Pasep, e Contribuição Patronal Previdenciária), um estadual (ICMS) e um municipal (ISS) – não inclui os produtos cobrados pela ST, dessa forma, ao adotar esse regime, o Estado contorna a legislação do Simples, o que, conforme diversos especialistas e entidades representantes de segmentos econômicos constantemente denunciam, pode acarretar em aumento da carga tributária e queda na competitividade dessas empresas. Faremos análise detalhada das questões relativas à arrecadação do ICMS na página 13.
9 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
O IPVA teve um crescimento de 188% no período de 2002 a 2009. Além dos fatores macroeconômicos (crescimento da economia e facilidade no crédito), o que redunda em crescimento da frota, houve um esforço da fiscalização nas regionais com monitoramento da frota durante todo o período. No comparativo com outros Estados da Federação, Minas Gerais vem apresentando um bom desempenho. Tabela 6
Evolução da Arrecadação de IPVA 2003–2009 2003/2002 2004/2003
2,74%
25,81%
2005/2004
2006/2005
2007/2006
2008/2007
2009/2008
16,59%
24,16%
17,72%
18,00%
12,90 % Fonte: SEF-MG
Enquanto o principal tributo sobre o consumo – o ICMS – teve queda de 2,39% em 2009, o IPVA teve aumento de 12,90%. Um dos fatores para essa evolução foi a interferência do governo federal com as políticas de desonerações fiscais (redução do IPI), como parte de enfrentamento da crise de 2008/2009, para estimular o consumo. Embora o ITCD tenha uma participação irrisória (0,73%) na composição da Receita Tributária, foi o que mais cresceu, – 643 %, no período de 2002 a 2009. Isso ocorreu devido a uma melhoria da fiscalização nesse setor, com trabalhos direcionados para verificação de contratos de doação de cotas de capital e para a melhoria dos procedimentos de avaliações de bens imóveis. Esses trabalhos tiveram efeitos bastante positivos, que geraram resultados diretos e indiretos na arrecadação. Tabela 7
Evolução da Receita Corrente Líquida (RCL) 2001–2009 R$ mil Ano
RCL (V. Correntes)
2001
11.412.858
22.396.108
2002
12.542.039
21.682.972
96,82%
2003
14.305.976
20.142.789
92,90%
2004
16.695.979
21.488.376
106,68%
2005
19.550.334
23.745.214
110,50%
2006
22.083.399
26.555.441
111,83%
2007
23.803.678
27.237.436
102,57%
2008
29.242.489
30.079.928
110,44%
2009
29.118.470
29.118.470
96,80%
2
RCL (V. Constantes1)
Evolução Anual
1 Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) 2 Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
10
Já a Receita Corrente Líquida (RCL), conforme definido no artigo 2º, inciso IV, da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), é o somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional e na União, nos Estados e nos Municípios, a contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira citada no parágrafo 9º do artigo 201 da Constituição. Também são computados no cálculo da Receita Corrente Líquida os valores pagos e recebidos em decorrência da Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, e do fundo previsto pelo artigo 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Ainda, a Receita Corrente Líquida é apurada somando-se as receitas arrecadadas no mês em referência e nos onze anteriores, excluídas as duplicidades. O valor da RCL é utilizado como base para o cálculo dos limites estabelecidos pela LRF relativos à despesa total com pessoal, portanto, a análise da mesma é extremamente importante, sobretudo, para o funcionalismo estadual, uma vez que essa receita é considerada para o estabelecimento do limite da LRF, e quando o funcionalismo estadual reivindica e debate reajuste salarial, o governo utiliza o limite da LRF como argumento para não conceder ou restringir o reajuste. Contudo, na aplicação dessa lei, um dos limites que é mais utilizado é o de despesas com pessoal, ou seja, a LRF foi feita para arrochar salários dos servidores. Ela estabelece um limite de endividamento para os Estados – o limite da Dívida Consolidada Líquida (DCL) é duas vezes a RCL –, mas não estabelece limite de endividamento para a União. O gráfico abaixo demonstra a evolução da RCL em valores correntes.
Evolução da Receita Corrente Líquida (RCL) R$ mil
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
11 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 8
Demonstrativo da Receita Corrente Líquida 2008 e 2009 R$
Especificação
Receitas Correntes (I)
2008
2009
42.378.959.652,97 41.063.482.874,44
Receita Tributária
27.040.370.046,03
26.800.687.202,07
ICMS
22.541.992.042,29
22.002.958.233,35
IPVA
1.838.620.700,39
2.075.812.228,31
ITCD
170.413.492,41
195.565.796,53
IRRF
1.285.646.835,63
Outras Receitas Tributárias
2.489.343.810,94
1.240.704.108,25
Receita de Contribuições
2.755.893.100,33
1.452.393.994,44
Receita Patrimonial
1.816.220.264,17
2.010.632.798,01
5.523.539,19
5.122.362,05
91.425.455,77
91.764.472,47
474.011.265,86
493.874.423,39
Transferências Correntes
8.530.938.156,10
8.826.211.736,24
Cota-Parte do FPE
2.091.738.316,50
2.016.018.243,53
Transferências LC. 87/1996
188.723.047,55
188.723.047,56
Transferências LC 61/1989
431.345.653,18
340.194.075,67
Transferências do Fundeb
3.545.131.305,86
3.846.123.181,39
Outras Transferências Correntes
2.273.999.833,01
2.435.153.188,09
Outras Receitas Correntes
1.664.577.825,52
1.382.795.885,77
Receita Agropecuária Receita Industrial Receita de Serviços
Deduções (II)
13.136.470.238,84 11.945.013.326,36
Transferências Constitucionais
6.944.023.258,37
6.785.082.755,01
Contrib. Plano de Previd. do Servidor
1.715.217.927,69
843.179.383,36
614.510.058,32
176.100.622,81
21.342.085,95
34.127.586,42
3.841.376.908,51
4.106.522.978,76
Contrib. Custeio Pensões Militares Comp. Financ. Regimes Previdenciários Dedução Receitas Formação Fundeb
Receita Corrente Líquida (I-II)
29.242.489.414,13
29.118.469.548,08 Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
É necessário ressaltar que a evolução das receitas não é mérito deste governo. Como podemos comprovar ao analisar a Tabela 5, o crescimento das receitas vem ocorrendo desde 1999. Esse aumento é consequência de vários fatores, dentre eles, a relativa estabilidade e desenvolvimento econômicos vivenciados nos últimos anos, a política tributária, e o bom desempenho da fiscalização de Minas Gerais, que é reconhecida como uma das mais eficientes do Brasil, e tem atuado, com dedicação e seriedade, no planejamento do trabalho do Fisco e no combate à sonegação, para alavancar a arrecadação.
12
Injustiça na tributação do ICMS
Grandes contribuintes pagam menos e trabalhadores arcam com maior parte dos tributos Neste contexto eleitoral, o debate sobre os impostos pagos se acirra, entretanto, muitas vezes a discussão feita pelos candidatos não se aprofunda ou nem mesmo passa perto de diagnosticar e atacar o principal problema: o sistema tributário é injusto e onera mais os trabalhadores. O perfil injusto da carga tributária é ainda mais grave em relação a impostos indiretos, como o ICMS. Ao analisarmos o índice de recolhimento dos diversos setores econômicos em relação ao faturamento, podemos constatar a injustiça na cobrança desse imposto. Tabela 9
Índice de Recolhimento dos Setores em Relação ao Faturamento 2003*
SETOR
IRF – ICMS (em %)
Agricultura e Pecuária
1,33
Comércio
1,29
Comércio Atacadista
0,90
Comércio Varejista
1,78
Indústria
2,34
Indústria da Construção
1,13
Indústria da Transformação
2,54
Indústria de Extração Mineral
0,01
Outras Atividades
0,10
Serviços
9,54
Alojamento e Alimentação
2,95
Comunicação
14,31
Energia Elétrica
19,41
Outros Serviços
0,25
Reparo Manutenção/Instalação
0,61
3,22
Transporte
*Embora os dados sejam de 2003, os índices não tiveram alterações significativas Fonte: SEF-MG
A tabela acima mostra como a tributação do ICMS é feita de forma desproporcional e injusta. A maioria dos setores está abaixo do índice mínimo aceitável (6%). Setores esses que, além da imunidade ou não incidência, estão seguramente recheados de benefícios, isenções fiscais, redução de base de cálculo e outros, que são concedidos, sem critério, pelo governo mineiro. O ICMS é tributo não cumulativo, incidindo sobre o valor agregado, um índice mínimo aceitável seria em torno de 6%. Se uma empresa mineira compra produtos fora do nosso Estado (12%) e vende-os internamente (18%), sem agregar ao produto as despesas operacionais (despesas de venda, administrativas, financeiras e outras), teria de recolher, no mínimo, 6%, mas não é o que ocorre na prática, pois a média de recolhimento do ICMS é 2,34%. Já na situação em
13
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
que a comercialização (compra e venda) se dê dentro do Estado, o contribuinte teria de recolher, no mínimo, a alíquota do setor (na maioria dos casos de 18%) sobre o valor agregado. Essas anomalias se devem ao balcão de negócio dos benefícios que virou esse tributo, com grande volume de desonerações e sonegação fiscal, sem contar a maior parte das ocorrências de sonegação que acontecem pela não declaração voluntária do contribuinte, pela venda sem nota fiscal, pelo subfaturamento, e outros. Em Minas Gerais, o índice de recolhimento em relação ao faturamento do setor de indústria de extração mineral é o menor, 0,01%, e o da energia elétrica é o maior, 19,41% (alíquota média). Enquanto os trabalhadores pagam 30% sobre o valor da conta de luz, as mineradoras só pagam 0,01% de seu faturamento. Tabela 10
Tributação sobre Bens e Serviços Essenciais 2003 Produtos/Serviços
Alíquota
Alíquota Efetiva
Energia
30%
43%
Comunicação
25%
33%
Gasolina
25%
33%
Medicamentos
18%*
27%
* Exceto o medicamento genérico e o acondicionado em embalagem hospitalar que possuem alíquotas de 12% Fonte: SEF-MG
Um estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) aponta que os medicamentos consumidos no Brasil têm em média uma carga tributária de 35,7%. Desse total, o ICMS é o que mais pesa, com alíquota média de 17,5%. A título de comparação, medicamentos de uso animal têm uma carga tributária de apenas 14,3%. O documento mostra ainda que a maior alíquota é a cobrada no Rio de Janeiro, que chega a 19%. Em Minas Gerais e São Paulo, a alíquota é de 18% e a maior parte dos estados cobra 17%. Os grandes contribuintes, geralmente financiadores de campanhas eleitorais, tentam intimidar o governo insinuando que podem se instalar em outros estados, fazendo leilão da Receita Tributária e, com nisso, alimentam a “guerra fiscal” e conseguem obter benefícios. Enquanto isso, a maioria dos pequenos e médios contribuintes, devido à concorrência desleal aliada à sensação de impunidade, é levada a sonegar. Por conseguinte, o governo, para compensar as perdas de receita com os grandes contribuintes, aumenta a tributação sobre os bens e serviços essenciais – energia elétrica, telecomunicações e combustíveis –, em que a sonegação é mais difícil devido ao rigoroso controle e, com isso, os trabalhadores é que são mais onerados.
Entenda sua conta de luz
14
As alíquotas (imposto) estão embutidas no valor de todos os serviços e mercadorias. Por exemplo, em uma conta de luz no valor de R$ 100, já está embutido R$ 30 de imposto, o que significa que você está pagando R$ 70 pelo serviço. Dessa forma, o imposto pago representa efetivamente 42,86% do custo do valor do serviço (30/70). Como o ICMS é um tributo indireto, os valores da indústria e comércio são repassados para o consumidor e a alíquota é de 18%, por isso o índice de recolhimento sobre o faturamento representa 19,41%. Um verdadeiro confisco!
Os setores de energia elétrica, comunicação e combustíveis representaram 41% da arrecadação de ICMS do Estado em 2009. Enquanto isso, a tributação do setor de mineração não recolhe praticamente nada – 0,94% da receita total de ICMS.
Acompanhe a tabela de arrecadação de ICMS por setor: Tabela 11
Arrecadação de ICMS por Setor 2003 e 2009 Setor
Participação em % na Receita Total por Setor 2003 2009
Cimento
2,14
1,60
Minerais
–
0,58
Siderúrgica
4,79
3,05
Veículos
1,73
2,90
26,13
19,38
Bebidas
3,23
4,44
Medicamentos
1,21
1,17
Cigarros
1,50
1,46
13,05
11,50
2,55
2,30
Comunicação
11,45
10,21
Comércio – outros
11,61
13,62
Indústria – outros
9,51
10,38
Importação
4,09
4,16
Dif. Alíquota
1,33
1,70
Combustíveis
Energia Elétrica Transportes
Outras origens
–
1,51
Outros
5,68
10,04
Total
100%
100% Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
A tributação deveria ser mais pesada sobre o setor mineral (extração e transformação), pois, conforme exposto anteriormente, esse setor tem grande peso na economia de Minas. Além disso, as mineradoras foram beneficiadas pela Lei 87/1996 (Lei Kandir), que concedeu a isenção de impostos aos Estados e ao Distrito Federal nas operações de exportação de produtos primários, e posteriormente, pela imunidade (EC 42/2003). E, conforme podemos constatar na Tabela 12, as exportações de produtos do setor mineral representam mais de 45% dos produtos da pauta de exportação mineira.
15 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 12
Exportações do Estado por Produtos 2008 Produtos
Valor em US$ mil
Participação %
Minério de ferro
6.880.079
28,15%
Café
2.981.420
12,20%
Ferroniobio
1.506.148
6,16%
Automóveis com motor
1.283.709
5,25%
Ferro fundido
1.273.121
5,21%
Ouro em barra, fios, etc
616.167
2,52%
Pasta quím./madeira
609.842
2,49%
Billets de ferro/aço
459.250
1,88%
Prods. semimanuf. ferro/aço
447.407
1,83%
Outros silícios
417.361
1,71%
7.969.936
32,60%
24.444.440
100%
Outros produtos Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
É necessário que o Estado discuta e reverta o quadro imposto pela Lei Kandir, pois Minas Gerais deixa de receber bilhões em tributos das mineradoras. Em um exemplo hipotético, se houvesse uma alteração na legislação com uma tributação média de 12%, o Estado poderia receber em torno de R$ 2 bilhões.
.
Se o governo mineiro tivesse, realmente, interesse em beneficiar as camadas mais carentes da população, deveria reduzir as tarifas de bens essenciais e os benefícios fiscais concedidos, investir na melhoria dos serviços públicos (saúde, educação, saneamento básico, entre outros) e tributar com alíquotas maiores os bens supérfluos, além de setores, tais como o de mineração, que são favorecidos por benefícios fiscais, exploram recursos naturais não-renováveis e ainda degredam o meio-ambiente
16
Grandes contribuintes recebem benefícios tributários
Prática pode se tornar moeda de troca para financiamento de campanhas eleitorais Instrumento originalmente idealizado e regulamentado no Brasil para fomentar políticas públicas, a concessão de benefícios tributários em Minas Gerais tem sido praticada sem o devido controle e acompanhamento, comprometendo parte da Receita Tributária. Essa prática, inclusive pode tornar-se moeda de troca para financiamento de campanhas eleitorais. É necessário alertar a sociedade para as consequências nocivas dessa prática, principalmente, tendo em vista que, na maioria das vezes, ela só beneficia grandes contribuintes. Os impostos pagos, que constituem a receita, financiam os investimentos do governo em serviços essenciais como saúde, educação e segurança. Esse dinheiro pertence à sociedade mineira, entretanto, o governo de Minas e outros Entes vêm abrindo mão de dinheiro público sem a devida transparência e controle. Os principais benefícios tributários, que correspondem a tratamento diferenciado de contribuintes, são anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos. Tabela 13
Valores da Renúncia Fiscal Realizada 2008 R$ mil
ICMS
IPVA
ITCD
Taxas
Total
3.437.842
25.563
42.361
18.974
3.524.739 Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
O artigo 14 da Lei 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal) disciplina a renúncia de receita e estabelece que a concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária deve estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro, no exercício em que deva iniciar a sua vigência e nos dois seguintes. Além disso, devem ser observados o disposto na Lei de Diretrizes Orçamentárias e outras condições dispostas no artigo 14. Contudo, em Minas, essas determinações não são seguidas. Contudo, em Minas, não há transparência, não há estudo técnico, não há clareza e consistência da metodologia, e nem vontade política de ter um grupo especializado e técnico, bem como controle dessa situação. A concessão é feita sem critérios e controles objetivos, variando ao longo dos anos, geralmente, de acordo com interesses do governo. Embora o governo tenha alterado a metodologia de cálculo do impacto financeiro que é gerado pela concessão de benefícios fiscais, podemos estimar que o impacto das renúncias sobre a Receita de ICMS, atualmente, deve ser em torno de 40%. Pode-se verificar que o percentual de renúncia em relação à receita é alto na análise do índice de recolhimento em relação ao faturamento, que no ICMS total gira em torno de 2,34%. Esse valor deveria ser em torno de 6%. Em contrapartida, o índice de recolhimento do setor de energia elétrica fica em torno de 19%.
17 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 14
Valor das Renúncias por Setores das Empresas 2008 Setor
Total (R$)
Participação (%)
1.730.953.447
50,35%
Comércio
694.444.084
20,20%
Serviços
577.901.240
16,81%
Siup
290.153.864
8,44%
Indústria Extrativa
82.508.208
2,40%
Agropecuária
37.816.262
1,10%
Construção
18.908.131
0,55%
5.156.763
0,15%
3.437.842.000
100%
Indústria Transformação
Outros Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
A indústria de transformação recebe a maior parte dos benefícios tributários. Em 2008, esse setor foi beneficiado com 50,35% do total das renúncias de ICMS. Muitas empresas desse setor que receberam benefícios tributários foram financiadoras de campanhas eleitorais para o governo do Estado, conforme a população pode comprovar nas informações divulgadas pelos candidatos, que estão disponíveis para consulta no site do Tribunal Superior Eleitoral.
Os benefícios fiscais, em sua quase totalidade, acarretam na transferência de renda do setor público para o privado, engrossando o lucro dos grandes contribuintes. Quem perde é a sociedade, uma vez que o dinheiro recolhido das grandes empresas deveria ser aplicado na melhoria dos serviços públicos. Neste contexto de eleições, a sociedade deve cobrar transparência do governo e da Assembleia Legislativa do Estado.
18
Despesas do Estado
Onde e como foram gastas as receitas Perante o desempenho econômico e o aumento das receitas que vimos anteriormente, iremos analisar agora as despesas do Estado. Tabela 15
Evolução da Despesa Orçamentária 2002–2006 Valores Correntes R$ mil Despesa 2002 2003 2004 2005 2006 Despesas Correntes
Variação % (2002/2006)
16.615.196
18.802.966
19.766.973
22.146.208
25.095.302
51%
8.976.847
9.368.524
10.439.284
11.336.497
12.780.455
42%
Juros e Encargos Dívida 1.077.532
1.192.787
1.371.951
1.643.595
1.916.507
78%
Outras Desp. Correntes 6.560.817
8.241.654
7.955.738
9.166.116
10.398.340
58%
Despesa de Capital
1.853.968
1.460.494
1.959.635
3.145.861
3.923.487
112%
Investimentos
775.437
600.945
1.109.663
2.024.570
2.712.928
250%
Inversão Financeira
646.834
433.524
417.583
709.845
711.596
10%
Amortização Dívida
431.697
426.025
432.388
411.446
498.963
16%
18.469.163 20.263.459 21.726.607
25.292.069
29.018.789
57%
Pessoal e Encargos
Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
Tabela 15-A
Evolução da Despesa Orçamentária 2007–2009 Valores Correntes R$ mil Despesa 2007 2008 2009
Variação % (2002/2009)
Despesas Correntes
28.327.247
33.601.586
34.329.236
107%
Pessoal e Encargos
14.268.355
16.674.559
17.576.558
96%
2.136.270
2.544.019
2.197.933
104%
11.922.622
14.383.008
14.555.662
122%
Despesa de Capital
4.115.902
5.221.250
5.934.225
220%
Investimentos
2.820.705
3.725.666
3.585.388
362%
Inversão Financeira
829.360
875.306
1.250.816
93%
Amortização Dívida
465.837
529.545
1.098.021
154%
32.443.148
39.299.362
40.263.461
118%
Juros e Encargos Dívida Outras Despesas Correntes
Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
19 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Análise Vertical
(Participação de cada despesa na Despesa Total) n Em 2002, as despesas correntes representavam 89,96% da despesa total; em 2009, 85,26 %. n No mesmo período, as despesas de capital, que representavam 10,04%, passaram para 14,74%. A despesa de pessoal, que representava 48,60%, caiu para 43,65%, o que representou uma redução real de 10,18%. n Por outro lado, as despesas de capital tiveram um aumento de 41,73%. Ou seja, houve um deslocamento das despesas correntes para as despesas de capital.
Análise Horizontal
(Crescimento de um período para o outro) n No primeiro mandato do governo Aécio (2002–2006) houve um crescimento de 51% das despesas correntes e de 112% na despesa de capital. n Já no período de 2002–2009, houve um crescimento de 107% das despesas correntes, enquanto a despesa de capital aumentou 220%, com destaque para os investimentos (crescimento de 362%). Entretanto, a maior parte desses investimentos não foi aplicada – como deveria ser – em benefício da população, como na saúde e educação, com construção de hospitais e escolas, ou até mesmo na segurança pública. n O item que menos cresceu foi com pessoal (folha de pagamento) 42% no período de 2002/2006; no período de 2002/2009, 97% para um crescimento de 130% na receita total e 166% (descontando-se as deduções, 143%) na Receita Corrente para uma inflação de 47% nesse período. Enquanto isso as despesas com o pagamento de juros e encargos da dívida foi de 104%.
Para entender melhor, observe alguns conceitos: Despesas Correntes
Abrigam todas aquelas que não contribuem diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital, ou seja, são as despesas essenciais ao funcionamento da máquina administrativa, tais como: pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida, material de consumo, pagamento de diárias, contribuições e subvenções, auxílio-alimentacão, além de outras despesas da categoria econômica “Despesas Correntes”, não classificáveis nos demais grupos de natureza de despesas.
Despesas de Capital
Classificam-se, nesta categoria, aquelas despesas que contribuem diretamente para a formação ou aquisição de um bem de capital: investimentos, inversões financeiras e amortização de dívida.
20
As despesas totais são divididas por funções, veja na tabela abaixo as principais despesas por funções. Tabela 16
Principais Despesas por Função em Relação à Despesa Total 2002–2009 Função
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Legislativo
2,66%
2,69%
2,67%
2,48%
2,47%
2,48%
2,45%
2,60%
Judiciário
5,39%
6,19%
6,09%
6,00%
6,04%
6,05%
5,79%
6,19%
Essencial à Justiça
1,79%
2,16%
1,95%
2,15%
2,40%
2,40%
2,40%
2,33%
Administração
5,81%
5,33%
3,02%
3,86%
4,77%
4,21%
3,84%
3,60%
Segurança Pública
13,18%
12,87%
12,29%
13,06%
13,48%
13,19%
12,62%
13,96%
Previdência Social
5,97%
5,75%
15,19%
13,17%
12,72%
12,52%
11,97%
11,69%
Saúde
8,07%
8,62%
9,67%
8,97%
8,44%
8,87%
9,17%
9,88%
Educação
19,8%
19,36%
12,88%
12,55%
12,49%
12,54%
12,43%
11,79%
Habitação
0,08%
0,07%
0,04%
0,44%
0,36%
0,30%
1,51%
0,29%
Agricultura
0,60%
0,80%
0,62%
0,95%
0,96%
0,96%
1,22%
1,22%
Indústria
2,80%
1,73%
1,24%
2,05%
1,85%
1,86%
1,24%
2,22%
Transportes
4,16%
3,19%
4,02%
4,20%
4,33%
4,22%
4,65%
5,31%
26,37%
28,25%
27,38%
27,44%
26,79%
27,5%
26,88%
25,67%
Outras Funções
3,32%
2,99%
2,94%
2,68%
2,9%
2,9%
3,83%
3,25%
Total
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
100%
Encargos Especiais
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Os encargos especiais englobam as despesas que não podem ser associados a um bem ou serviço a ser gerado no processo produtivo corrente, que totalizaram, em 2009, R$ 10,3 bilhões. Tabela 17
Distribuição Encargos Especiais 2009 Despesas
Valor (R$)
Percentual (%)
Serviço da Dívida Interna
3.163.534.463,31
30,61%
Serviço da Dívida Externa
82.308.962,13
0,80%
6.790.988.011,58
65,70%
297.229.188,40
2,88%
10.334.060.625,42
100%
Transferência para Municípios Outros Encargos Especiais Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
O que se observa na tabela acima é que, na distribuição dos encargos especiais, quase a totalidade das despesas refere-se à transferência para os Municípios (65,7%) e serviços da dívida (31,41%). Embora não conste na Tabela 16, a despesa com saneamento em 2008 foi de 0,08% e, em 2009, de 0,02 %, ou seja, insignificante comparada com as demais. Observa-se que as despesas com gastos sociais mais relevantes são realizadas nas funções Saúde, Educação, Segurança Pública e Previdência Social. A partir da página 26, faremos análise detalhada da evolução dessas despesas em nosso Estado.
21
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A política do “choque de gestão”
Arrocho salarial para o funcionalismo, principalmente dos servidores do Executivo Enquanto se alardeava o “déficit zero”, o funcionalismo foi duramente penalizado, especialmente no período de 2003 a 2005, primeiro mandato do governo Aécio Neves, por meio de
Essa é a verdadeira política do “choque de gestão” implementado em Minas! um arrocho salarial e a sucessiva perda de direitos.
O valor total da folha de pagamento do Estado (Poder Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público) era de R$ 15,6 bilhões em 2002, caiu para R$ 13,2 bilhões em 2003, R$ 13,4 bilhões em 2004, com uma ligeira elevação em 2005, R$ 13,8 bilhões. Em 2006, aumentou para R$ 15,7 bilhões devido ao crescimento vegetativo e a modificações na folha, que começou a incluir novos concursados e pequena correção média nas tabelas (média de 10%). A remuneração saiu de critérios objetivos, tais como tempo de serviço, para critérios subjetivos, tais como avaliação de desempenho e prêmio por produtividade. Tabela 18
Despesas com Pessoal dos Três Poderes e do Ministério Público 2002–2009 Valores Constantes1 R$ mil Poder/Órgão
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
20092
Poder Legislativo
688.466
615.520
628.191
630.702
719.651
777.698
849.701
893.428
Poder Judiciário
1.489.758
1.459.948
1.488.547
1.540.798
1.781.915
1.900.987
2.014.022
2.055.265
Poder Executivo Ministério Público Total do Estado
12.986.274 10.628.956 10.868.240 11.064.065 12.210.502 12.958.435 13.590.078 13.948.986 469.215
486.442
450.787
533.385
656.518
689.492
698.278
678.878
15.633.713 13.190.866 13.435.765 13.768.950 15.368.586 16.326.612 17.152.080 17.576.557 1 Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) 2 Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Tabela 18-A
Despesas com Pessoal dos Três Poderes e do Ministério Público 2002–2009 Poder/Órgão
Valores Correntes R$ mil
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Poder Legislativo
398.228
437.160
488.090
519.280
598.459
679.655
826.045
893.428
Poder Judiciário
861.718
1.036.896
1.156.566
1.268.597
1.481.833
1.661.334
1.957.951
2.055.265
7.511.625
7.548.984
8.444.375
9.109.463 10.154.204 11.324.795 13.211.724 13.948.986
271.407
345.485
350.251
Poder Executivo Ministério Público Total do Estado
9.042.979
439.155
545.957
602.569
678.838
678.878
9.368.524 10.439.284 11.336.497 12.780.454 14.268.354 16.674.559 17.576.557 Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
22
Observação: Em relação aos anos de 2002 e 2003, os valores divulgados pelo TCE, SEF-MG e Tesouro Nacional são divergentes. Entretanto, isso não prejudica a análise, pois as diferenças são mínimas; o SINDIFISCO-MG optou por utilizar os dados do TCE.
Tabela 19
Evolução das Despesas com Pessoal dos Três Poderes e do MP 2002–2009 Valores Constantes Base 100 Poder/Órgão
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Poder Legislativo
100
89,40
91,25
91,61
104,53
112,96
123,42
129,77
Poder Judiciário
100
98,00
99,92
103,43
119,61
127,60
135,19
137,96
Poder Executivo
100
84,13
86,03
87,58
96,65
102,57
107,57
110,41
Ministério Público
100
103,67
96,07
113,68
139,92
146,95
148,82
144,68
Total do Estado
100
84,37
85,94
88,07
98,30
104,43
109,71
112,43
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
O maior achatamento, entretanto, da folha de pagamento do Estado foi nas despesas com pessoal do Poder Executivo: a que menos cresceu no período 2002–2009, conforme demonstrado a seguir.
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
O sacrifício do servidor Se compararmos a folha de pagamento total do Estado (consolidada) em relação à Receita Corrente Líquida, houve uma redução de 71,57% em 2002 para 55,44% em 2009, o que representa uma queda de 23%. Isso evidencia que o “choque de gestão” foi feito à custa do sacrifício do servidor público. Tabela 20
Despesa Líquida com Pessoal (DLP) X Receita Corrente Líquida (RCL) Poder Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público 2002–2009 DLP Consolidada RCL Percentual - DLP em relação a RCL
2002
2003
8.976.900
9.300.300
2004
2005
R$ mil 2006
2007
2008
2009
9.710.060 10.212.800 11.860.030 13.282.770 15.883.270 16.142.290
12.542.000 14.306.000 16.696.000 19.550.300 22.083.400 23.803.680 29.242.490 29.118.470 71,57%
65,01%
58,16%
52,24%
53,71%
55,80%
54,32%
55,44%
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
23 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Despesa Líquida com Pessoal (DLP)
Soma das despesas com pessoal da ativa, inativos, pensionistas e pessoal terceirizado, menos as despesas não computadas (art. 19, parágrafo 1º da LRF). Essas últimas referem-se às despesas de caráter indenizatório, tais como: as indenizações por demissão e incentivos à demissão voluntária; as decorrentes de decisão judicial; as despesas de exercícios anteriores e inativos com recursos vinculados.
Esta redução ocorreu, principalmente, na folha de pagamento dos servidores do Poder Executivo, que representava 55,87% da RCL em 2002, passou 43,49% em 2005 e, em 2009, com objetivos claramente eleitoreiros para 46,16%. A queda total, no período 2002–2009, foi de 17%. Mais uma vez se evidencia que o “choque de gestão” foi feito com o arrocho salarial do funcionalismo, principalmente dos servidores do Poder Executivo, que representam 95% do quadro de servidores do Estado. O Poder Executivo, responsável pela execução de políticas sociais, distribuição de renda e prestação de serviços públicos, deveria ser valorizado, entretanto transformou-se em Poder de Quarta Categoria. Tabela 21
Despesa Líquida com Pessoal (DLP) X Receita Corrente Líquida (RCL) Poder Executivo 2002–2009 R$ mil
2002
DLP Valores correntes DLP Valores constantes1 Percentual - DLP em relação a RCL
2003
2004
2005
7.006.667 7.674.756
8.069.231
8.501.539
2006
2007
2008
20092
9.844.998 11.038.665 13.382.012 13.441.992
12.113.291 10.806.043 10.385.415 10.325.699 11.838.678 12.631.028 13.765.242 13.441.992 55,87%
53,65%
48,33%
43,49%
44,58%
46,37%
45,76%
46,16%
1 Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) 2 Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Veja a queda na despesa com servidores do Executivo em relação à receita.
24
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Servidor aposentado é o mais penalizado A política de governo do “choque de gestão” penalizou todos os servidores públicos estaduais, especialmente os aposentados, que tiveram seus proventos congelados e corroídos pela inflação do período. Um total desrespeito à paridade, garantida pela Constituição
Federal!
Se em 2002, as “aposentadorias e proventos” tinham participação de 37,78% na composição da folha de pagamento do Estado, caiu para 33,08% em 2005, 30,52% em 2008 e 28,96% em 2009. Uma queda no período (2002–2009), em termos verticais, de 23%! Tabela 22
Despesas com Pessoal e Encargos Sociais segundo a Classificação Econômica 2002–2009 Valores Constantes1 R$ mil Elementos de Despesas Aposentadorias e proventos Pensões Contratação por detrminado tempo Salário-família Vencimentos e vantagens fixas Pessoal Civil Vencimentos e vantagens fixas Pessoal Militar Obrigações Patronais Outras despesas variáveis Pessoal Civil Outras despesas variáveis Pessoal Militar Sentenças Judiciais Despesas de Exercícios Anteriores Auxilio Alimentação e Transporte Indenizações e restituições
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
20092
5.907.006
4.791.091
4.572.289
4.555.568
5.094.750
5.268.216
5.234.702
5.090.381
173.335
179.489
176.917
162.510
179.796
178.259
163.324
161.971
816
1.615
2.054
11.680
2.642
2.995
3.273
424.383
698
6.757.591
5.788.846
5.612.215
5.845.656
6.649.078
7.130.999
7.331.262
7.532.853
1.517.273
1.261.178
1.228.585
1.364.527
1.545.904
1.609.547
1.681.556
1.854.150
728.438
784.583
1.042.812
1.102.356
1.290.904
1.382.224
1.054.451
1.799.913
112.418
80.671
65.637
76.857
107.144
200.440
616.387
157.821
2
109
3.432
4.303
6.245
8.715
180.653
13.259
176.458
109.650
471.068
306.825
105.494
176.405
310.641
100.855
133.564
94.615
230.878
299.667
355.234
313.510
520.591
457.028
10.836
48.032
414
20.660
21.899
Indenizações e restituições 847 2.506 19.436 30.623 31.573 30.445 trabalhistas Ressarcimento de Despesas de Pes 2.785 5.742 soal Requisitado Demais aplicações diretas Contratos Terceirizados Total
35.326
4.553 20.233 347.516
15.519.383 13.094.795 13.435.765 13.768.950 15.368.586 16.326.611 17.152.080 17.576.557 1 Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) 2 Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
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A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Queda nos Gastos Sociais
Indicadores revelam verdadeiros resultados do “choque de gestão” para a sociedade Se para os servidores públicos o “choque de gestão” gerou arrocho salarial, para a população de Minas essa política representou a queda na qualidade dos serviços públicos prestados pelo Estado.
Diminuição de gastos com pessoal
Diminuição de gastos com a prestação de serviços públicos
n Arrocho salarial para o funcionalismo n Falta de investimento na qualificação dos servidores que atendem a população n Desmotivação dos servidores no exercício de suas funções n Desmantelamento da máquina do Estado
n n n n
Terceirização Queda na qualidade dos serviços públicos prestados Falta de atendimento às necessidades primárias da população Precarização dos serviços públicos
A finalidade do Estado é de arrecadar para fazer face às demandas da sociedade, principalmente, nas áreas sociais. Nesse sentido, o melhor indicador da gestão pública é relacionar esses gastos à Receita Corrente Líquida (RCL). Iremos analisar a evolução dos gastos sociais com saúde, educação e segurança. Trabalharemos com esses itens para demonstrar que houve uma redução de 24% desses gastos em relação à RCL no período de 2002 a 2008. Para realizar a análise, o melhor parâmetro é o ano de 2008, uma vez que 2009 foi um ano atípico em decorrência dos efeitos da crise financeira mundial e a Receita Corrente Líquida, que desde 2003 apresentava crescimento médio de 17%, teve queda. Dessa forma, a evolução dos percentuais da tabela 23 de 2008 para 2009 ocorreram mais por causa da queda da receita do que pelo aumento dos gastos sociais.
26
Tabela 23
Evolução dos Gastos Sociais em Relação à RCL 2001–2009 Área
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Saúde (A)
12,94%
11,86%
11,53%
12,59%
11,60%
11,09%
12,09%
12,32%
13,66%
Segurança (B)
19,45%
19,42%
17,22%
15,99%
16,90%
17,71%
17,98%
16,96%
19,30%
Educação (C)
30,57%
29,15%
25,90%
16,77%
16,24%
16,42%
17,09%
16,71%
16,30%
Total (A+B+C)
62,96%
60,43%
54,65%
45,35%
44,74%
45,22%
47,16%
45,99%
49,26%
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
Observa-se que em 2001 esses gastos representaram quase 62,96% da RCL, em 2005 chegaram a cair para até 44,74% da RCL e a partir daquele ano tiveram uma pequena recuperação, totalizando 45,99% da RCL em 2008. Os gastos com saúde, que em 2001 consumiam 12,94% da RCL, diminuíram para o patamar de 11% na maioria dos anos seguintes e também tiveram pequena recuperação em 2008 totalizando 12,32% da RCL. Já as despesas com educação tiveram forte queda; em 2001 eram 30,57% da RCL e em 2008 chegaram a representar apenas 16,71%. Na área da segurança, os gastos foram de 19,45% da RCL em 2001, diminuíram em quase todo o período de 2003 a 2008, sendo a maior queda em 2004 (15,99%) e, em 2008, os gastos ficaram em 16,96% da RCL. Esse diagnóstico de redução dos gastos sociais em Minas se agrava ainda mais quando comparamos o desempenho do nosso Estado com as outras Unidades da Federação.
27 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Minas é um dos Estados que menos gasta com Saúde Tabela 24
Gastos com Saúde X RCL 2009 Posição Estado
R$ mil
RCL
%
1.595.289
6.161.491
25,89%
1
2
PE
2.735.866
10.631.854
25,73%
3
BA
3.511.462
14.671.427
23,93%
4
RN
992.953
4.832.600
20,55%
5
PB
904.214
4.637.840
19,50%
6
AC
473.702
2.453.090
19,31%
7
AL
652.681
3.597.965
18,14%
8
PI
722.278
4.043.265
17,86%
9
TO
606.437
3.406.416
17,80%
10
SC
1.759.236
10.405.660
16,91%
11
GO
1.505.006
9.105.648
16,53%
12
DF
1.676.720
10.254.999
16,35%
13
ES
1.200.115
7.486.192
16,03%
14
RR
259.388
1.633.114
15,88%
15
CE
1.332.702
8.400.940
15,86%
16
SP
13.590.458
86.630.248
15,69%
17
RO
503.592
3.236.548
15,56%
18
PA
1.239.012
7.997.163
15,49%
19
SE
603.633
3.934.265
15,34%
20
PR
2.281.522
15.092.440
15,12%
21
AP
333.383
2.237.967
14,90%
22
MG
3.977.788
29.118.470
13,66%
23
RS
2.374.785
17.387.287
13,66%
24
MS
663.608
4.886.919
13,58%
25
MA
803.190
5.971.500
13,45%
26
MT
857.740
6.467.671
13,26%
27
RJ
3.456.258
28.976.688
11,93%
28
Total
50.613.018
313.659.667
16,14%
AM
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
28
Minas em penúltimo lugar no gasto com a Educação Tabela 25
Gastos com Educação X RCL 2009 Posição Estado
R$ mil
RCL
%
1
CE
2.995.990
8.400.940
35,66%
2
PR
5.162.439
15.092.440
34,21%
3
SP
22.945.341
86.630.248
26,49%
4
DF
2.641.907
10.254.999
25,76%
5
AP
572.045
2.237.967
25,56%
6
AC
604.345
2.453.090
24,64%
7
RS
4.148.410
17.387.287
23,86%
8
RR
367.657
1.633.114
22,51%
9
PB
1.029.843
4.637.840
22,21%
10
RO
664.658
3.236.548
20,54%
11
MA
1.220.506
5.971.500
20,44%
12
RN
964.594
4.832.600
19,96%
13
BA
2.900.441
14.671.427
19,77%
14
MS
959.873
4.886.919
19,64%
15
TO
662.158
3.406.416
19,44%
16
AM
1.190.951
6.161.491
19,33%
17
RJ
5.568.549
28.976.688
19,22%
18
PA
1.529.805
7.997.163
19,13%
19
GO
1.698.379
9.105.648
18,65%
20
SE
701.423
3.934.265
17,83%
21
PI
717.902
4.043.265
17,76%
22
MT
1.146.070
6.467.671
17,72%
23
SC
1.817.883
10.405.660
17,47%
24
PE
1.844.168
10.631.854
17,35%
25
AL
609.446
3.597.965
16,94%
26
MG
4.746.062
29.118.470
16,30%
27
ES
1.162.909
7.486.192
15,53%
28
Total
70.573.754
313.659.667
22,50%
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
29 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Quando se gasta menos em Educação, se gasta mais em Segurança Tabela 26
Gastos com Segurança X RCL 2009 Posição Estado
R$ mil
RCL
%
1
AL
718.570
3.597.965
19,97%
2
MG
5.619.758
29.118.470
19,30%
3
RO
566.116
3.236.548
17,49%
4
BA
1.953.117
14.671.427
13,31%
5
SC
1.380.671
10.405.660
13,27%
6
MT
857.495
6.467.671
13,26%
7
MS
644.871
4.886.919
13,20%
8
PE
1.366.551
10.631.854
12,85%
9
RJ
3.710.871
28.976.688
12,81%
10
RS
2.194.108
17.387.287
12,62%
11
PB
562.555
4.637.840
12,13%
12
SE
475.424
3.934.265
12,08%
13
GO
1.089.427
9.105.648
11,96%
14
PA
941.013
7.997.163
11,77%
15
RN
566.275
4.832.600
11,72%
16
SP
10.117.372
86.630.248
11,68%
17
MA
678.851
5.971.500
11,37%
18
AC
278.383
2.453.090
11,35%
19
AP
250.516
2.237.967
11,19%
20
CE
887.921
8.400.940
10,57%
21
AM
634.425
6.161.491
10,30%
22
TO
339.417
3.406.416
9,96%
23
ES
699.768
7.486.192
9,35%
24
PR
1.201.864
15.092.440
7,96%
25
RR
126.959
1.633.114
7,77%
26
PI
264.975
4.043.265
6,55%
27
DF
214.461
10.254.999
2,09%
28
Total
38.341.734
313.659.667
12,22%
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
Minas é o 26º colocado no ranking dos gastos com educação e o 22º nos gastos com a saúde, em relação aos outros Estados. Já no ranking dos gastos com a segurança, Minas é o 2º colocado. De acordo com a análise das tabelas 23, 25 e 26 e tendo em vista estudos que apontam a falta de investimentos em educação como uma das causas do aumento de ocorrências criminais e da violência, podemos relacionar a diminuição gradativa dos gastos na área de educação ao longo dos anos em Minas à posição do nosso Estado no 2º lugar do ranking dos Estados que mais gastam com segurança, pois quando se gasta menos com educação, aumenta a necessidade das despesas com delegacias e presídios.
30
Quando analisamos os valores gastos, também fica nítida a redução das despesas em áreas sociais durante o governo Aécio.
Tabela 27
Gastos Sociais X Despesa Total X RCL 2001–2009 Valores Constantes1 R$ mil
Ano
Saúde (A)
Segurança (B)
Educação (C)
Total (A+B+C)
RCL
2001
2.897.488
4.356.848
6.847.678
14.102.014
22.396.108
2002
2.577.093
4.209.839
6.321.007
13.107.939
21.682.972
2003
2.323.137
3.468.559
5.216.963
11.008.659
20.142.789
2004
2.705.136
3.436.244
3.602.613
9.743.993
21.488.376
2005
2.755.192
4.012.344
3.855.069
10.622.605
23.745.214
2006
2.945.832
4.703.158
4.359.407
12.008.397
26.555.441
2007
3.293.405
4.897.850
4.654.517
12.845.772
27.237.436
2008
3.706.528
5.101.095
5.025.259
13.832.882
30.079.928
3.977.788
5.619.758
4.746.062
14.343.608
29.118.470
2009 2
1 Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) 2 Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
R$ mil
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Saúde Em relação aos gastos com saúde, o governo de Minas, quando contabiliza os gastos nessa área, vem conseguindo driblar os limites mínimos de gastos, estabelecidos em lei, que os Estados devem ter com a saúde. De acordo com o que prevê o inciso II, do artigo 77, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal, acrescentado pela Emenda Constitucional 29/00, o Estado de Minas Gerais deveria aplicar, em 2008, 12% da receita – formada pelos impostos próprios (artigo 155 da Constituição Federal) e os transferidos (artigos 157 e 159, I “a” e II) dos quais devem ser deduzidos os valores transferidos aos Municípios – em Ações de Serviços Públicos de Saúde (ASPS). Os valores das receitas a serem consideradas em 2008 e 2009 são respectivamente R$ 22,656 bilhões e R$ 21,809 bilhões. Conforme se pode observar, esses valores são diferentes da RCL (R$ 29,242 bi e R$ 29,118 bi) , uma vez que no cálculo da RCL estão englobadas todas as receitas correntes e, no caso da receita que deve ser utilizada para o cálculo dos gastos com ASPS são considerados apenas os impostos, conforme especificado acima.
31
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
O Sistema de Informações dos Orçamentos Públicos (Siops), órgão vinculado ao Ministério da Saúde que verifica as aplicações de receitas dos Estados e Municípios na saúde, tem divulgado dados que divergem daqueles apresentados pelo governo de Minas. O governo de Minas alega que como a EC 29/00 não foi regulamentada, utiliza a Resolução nº 322, de 8 de maio de 2003, do Conselho Nacional de Saúde como referência para contabilizar os dados, entretanto, o Siops critica o uso dessa resolução, pois ela não possui o caráter de universalidade na prestação de serviços de saúde. Na tabela 28 podemos comparar o porcentual que o governo de Minas contabiliza e o que o Siosp calcula que é realmente gasto em ASPS no Estado. Tabela 28
Evolução dos Gastos com a Saúde em relação à Receita definida pela EC/29 2003–2009 Percentual mínimo Ano estabelecido pela EC 29/00
Percentual informado pelo governo
Percentual calculado pelo Siops
2003
10%
10,20%
6,26%
2004
12%
12,16%
8,66%
2005
12%
12,33%
6,87%
2006
12%
13,20%
6,04%
2007
12%
13,30%
7,09%
2008
12%
13,12%
8,65%
2009
12%
15,44%
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Siops
Tabela 29
Aplicação de Recursos em Ações e Serviços Públicos de Saúde no Estado - ASPS 2008 Função/subfunção Função saúde
Despesa Realizada em R$ Análise vertical 1.985.387.949,53
66,81%
Assistência hospitalar e ambulatorial
696.734.613,30
23,45%
Administração
629.872.926,47
21,20%
Atenção básica
564.792.911,22
19,01%
Subtotal
1.891.400.450,99
63,65%
Outras subfunções
93.987.498,54
3,16%
Função previdência social
203.414.894,54
6,85%
203.414.894,54
6,85%
Função administração
2.786.398,00
0,09%
2.786.398,00
0,09%
Função saneamento
779.946.351,00
26,25%
779.946.351,00
26,25%
2.971.535.592,98
100%
Previdência do regime estatutário
Administração geral
Saneamento básico urbano
Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
32
Tribunal de Contas também discorda do entendimento do Governo O Tribunal de Contas do Estado (TCE) entende que os gastos com saúde devem sempre obedecer aos princípios da universalidade, equidade e a integralidade na prestação de serviços de saúde e atender ao artigo 186, parágrafo único, inciso III da Constituição Estadual, de que o direito à saúde implica a garantia da dignidade, gratuidade, boa qualidade ao atendimento e ao tratamento de saúde. A prestação de serviços de saneamento básico e tratamento de água e esgoto é realizada pelo Estado mediante cobrança de uma tarifa. Portanto, esses serviços, bem como os serviços de saúde prestados pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) não deveriam ser contabilizados pelo governo.
Os pontos levantados pelo TCE em desacordo com a interpretação do governo de Minas no ano de 2008 foram: n Inclusão de despesas com Instituto de Previdência do Estado no cômputo dos Gastos com Ações de Serviços Públicos de Saúde; n Inclusão de despesas com saneamento básico, realizada pela Copasa, no cômputo de gastos com ASPS; n Inclusão de despesas com benefícios previdenciários do Fundo Financeiro de Previdência (Funfip) no cômputo dos gastos ASPS; n Inclusão de despesas impróprias realizadas pela PMMG no cômputo da ASPS; n Inclusão de despesas empenhadas e não liquidadas no exercício no cômputo com ASPS. Se forem excluídas todas as despesas que o governo contabiliza indevidamente, o porcentual com ASPS não atinge o limite mínimo determinado pela EC 29/00. Conforme vimos, tanto o Siops quanto o TCE fazem essa crítica. Veja o que estabelece as Constituições Federal e Estadual sobre a aplicação mínima nas ações em áreas como educação, saúde e amparo à pesquisa. r Ações e serviços públicos de saúde – 12%; r Programa de saúde X Investimentos em transporte e sistema viário – o valor mínimo a aplicar em programa de saúde deve ser igual ao executado em investimentos em transportes e sistema viário; r Amparo e fomento a pesquisa – 1%; r Manutenção e desenvolvimento do ensino – 25%; r Profissionais do magistério (60% das transferências recebidas do Fundeb).
Educação Na área da educação, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado no início de julho deste ano pelo Ministério da Educação, apontou a desigualdade no rendimento apresentado pelas escolas de Minas Gerais. O Ideb é o principal indicador da qualidade do ensino no país. O Índice considera o rendimento dos alunos em português e matemática na Prova Brasil com as taxas de aprovação, e concede uma nota de 0 a 10 para cada escola, cidade e Estado. Ainda, em todo o Brasil, foi noticiada a greve dos professores da rede estadual de Minas Gerais, que teve início em abril deste ano e durou 48 dias. A greve ocorreu porque o governo mineiro não implementou o piso salarial nacional dos professores, que vigora no país desde 1º de janeiro deste ano, segundo a Lei 11.738/2008. Diversas entidades e organizações manifestaram apoio à greve, uma vez que a defasagem salarial dos professores era nítida. Entretanto, o Estado demorou a dialogar com a classe e ainda encaminhou à Assembléia Legislativa do Estado (que aprovou a matéria) uma nova política salarial para os professores, sem conceder tempo para que a categoria debatesse a proposta.
33
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 30
Despesas com Educação por Subfunção 2008 Subfunção
Despesa Realizada em R$
Administração geral
Análise Vertical %
457.571.886,67
9,37%
2.678.063,33
0,05%
17.688,95
0
1.876.157,17
0,04%
73.254.972,81
1,5%
3.144.571.521,00
64,37%
880.132.161,30
18,02%
Ensino profissional
58.986.900,59
1,21%
Ensino superior
22.308.583,10
0,46%
Educação infantil
21.631.735,86
0,44%
Educação de jovens e adultos
93.977.642,21
1,92%
126.520.290,59
2,59%
386.348,50
0,01%
1.025.325,83
0,02%
414.629,49
0,01%
4.885.353.907,40
100%
Formação de recursos humanos Assistência à criança e ao adolescente Assistência comunitária Alimentação e nutrição Ensino fundamental Ensino médio
Educação especial Custódia e reintegração social
Desenvolvimento científico Difusão do conhecimento científico e tecnológico Total
Fonte: Tribunal de Contas do Estado
Conforme demonstra a tabela 30, a maior parte dos gastos na área – 64,37% é referente ao ensino fundamental, em seguida, vem a administração geral, que representa 9,37% dos gastos. Ainda, o Brasil possui um custo médio por aluno de US$ 1.400, enquanto países da América Latina, como Argentina, Chile e México, gastam por ano, por aluno, US$ 2 mil. Em Minas Gerais, em 2008, no ensino fundamental, séries iniciais, o custo por aluno foi de US$ 880 e no ensino médio foi de US$ 1.062.
Segurança Conforme podemos analisar na tabela 31, o número de ocorrências policiais vem crescendo, sendo que o total das ocorrências aumentou 69%, as ocorrências típicas de polícia cresceram 21%, e as comunitárias 103%, no período de 2002 a 2008, o que contraria o discurso oficial do goveno de diminuição da violência no Estado. Tabela 31
Evolução das Ocorrências Policiais 2002–2008 Categorias Típica de polícia Típica de bombeiro
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
1.273.879
1.300.456
1.283.127
1.379.643
1.444.343
1.517.191
1.539.397
4.758
6.573
4.865
4.759
3.281
4.348
4.621
Comunitária
1.863.005
2.136.070
2.274.890
2.521.077
2.778.915
3.013.938
3.776.187
Total
3.141.642
3.443.099
3.562.882
3.905.479
4.226.539
4.535.477
5.320.205
Fonte: Tribunal de Contas do Estado
34
Investimentos nas áreas sociais Conforme já demonstrado no início da análise das despesas, houve um deslocamento das despesas com gastos sociais e com pessoal para despesa de capital, principalmente, para a conta de investimento. Fica então o questionamento: para onde foram carreados os investimentos? Antes de responder essa pergunta, é necessário estabelecer a diferença entre gastos e investimentos. Observe os conceitos:
Gastos
É todo o sacrifício financeiro que a entidade arca para a obtenção de um produto ou serviço qualquer. Sacrifício representado por entrega ou promessa de entrega de ativos (normalmente dinheiro). É o compromisso financeiro assumido por uma entidade na aquisição de bens e serviços, o que sempre resultará em uma variação patrimonial, seja ela qualitativa no início e/ou quantitativa em seguida
Investimentos
Investimento é um gasto ativado em função de sua vida útil ou de benefícios atribuíveis a futuro(s) período(s). Todos os sacrifícios havidos pela aquisição de bens ou serviços (gastos), que são estocados no ativo da entidade para baixa ou amortização quando de sua venda, de seu consumo, de seu desaparecimento ou de sua desvalorização são especialmente chamados de investimentos.
Tabela 32
Demonstrativo da Participação dos Investimentos nas Funções Sociais 2004 a 2008 Funções
Investimento em R$ mil
Participação do total de investimentos
Segurança (I)
1.261.488
6,87%
Saúde (II)
1.612.355
8,78%
Educação (III)
1.205.786
6,57%
Subtotal (I+II+III)
4.079.629
22,22%
Outras funções
14.286.506
77,78%
Total da Despesa de Capital
18.366.135
100% Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
Como se pode verificar, os investimentos em educação foram de apenas 6,57%, em saúde 8,78% e em segurança 6,87%, do total dos investimentos no período de 2004 a 2008. Ou seja, os investimentos não foram feitos nas áreas sociais, como na construção de escolas, hospitais, centros de saúdes e outros, nem para melhorar a infraestrutura desses. Para o governo de Minas, é melhor investir em obras faraônicas, como viadutos e prédios suntuosos, do que na qualidade de vida da população.
35 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
“Choque de gestão” ou de marketing? Gasto com publicidade em Minas supera R$ 1 bilhão
A publicidade governamental, conforme estabelecido na Constituição Federal, deve ser usada somente para fins educativos, informativos ou de orientação social. Sua utilização é vedada para promoção pessoal de autoridades e de servidores públicos. O conceito é reforçado pela Lei Estadual 13768, de 1º de dezembro de 2000, sancionada pelo então governador de Minas Gerais, Itamar Franco, que determina que, na divulgação de ato, programa ou obra de governo, a mensagem deve limitar-se a divulgar os aspectos educativos, informativos ou de orientação social. Além disso, proíbe os órgãos públicos ou entidades sobre controle direto ou indireto do Estado, de fazer propaganda de qualquer natureza fora do território de Minas Gerais. Indiferente a esse conceito e ignorando a legislação, o governo Aécio Neves recorreu à força do marketing para afirmar os efeitos supostamente positivos do “choque de gestão” implementado em Minas e, indiretamente, divulgar a própria imagem. O gasto total com publicidade do Estado de 2003 a 2009, em valores corrigidos, ultrapassou a cifra de R$ 1 bilhão. Comparando a despesa com publicidade do Executivo estadual em 2009 com a de 2002, último ano do governo Itamar Franco, verifica-se um crescimento de 451%, enquanto a despesa total do Estado cresceu, no mesmo período, 118%, e a despesa de pessoal teve uma variação de 96%. Tabela 33
Evolução da Despesa Total1 do Executivo Estadual com Publicidade 2002–2009 R$ Executivo Ano Base Valor Original
Variação Percentual (base 100)
Gasto Total Valor Corrigido (valor constante3)
Gasto com Executivo (valor constante3)
20022
32.050.661
100
55.409.935
72.674.997
2003
34.209.046
107
48.166.278
57.714.117
2004
94.015.499
293
121.001.611
131.448.246
2005
110.566.223
345
134.290.221
137.742.430
2006
98.121.118
306
117.991.327
128.394.737
2007
150.441.438
469
172.143.107
178.220.885
2008
170.042.512
531
174.912.142
188.634.877
20094
176.678.138
551
176.678.138
186.589.573
Total 2003-2009
834.073.977
945.182.823
1.008.744.866
1 A despesa total inclui os gastos com publicidade dos órgãos da administração direta (secretarias de governo) e indireta (autarquias, fundos, empresas públicas e de economia mista) 2 Último ano do governo Itamar Franco – não está incluso no total 3 Valores corrigidos pelo IGP-DI (Fatores médios anuais - Dez/2008 = 1) 4 Em 2009, não houve correção devido à ocorrência de deflação no período Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
36
Tabela 34
Evolução da Despesa Total do Governo de Minas com Publicidade 1998–2008
R$
Executivo Empresas Públicas/EM
Total do Executivo
Outros Poderes
Total
Ano
Adm. Direta
1998
48.621.937,00
48.621.937,53
4.995.203,47
53.617.141,00
1999
2.977.540,00
4.445.616,00
7.423.156,00
14.063.700,46
5.970.612,54
20.034.313,00
2001
39.296.042,00
2002
32.050.661,00
32.050.661,95
9.986.596,36
42.037.258,31
2003
13.238.689,96
5.153.743,79
3.666.190,83
12.150.422,36
34.209.046,94
6.781.144,43
40.990.191,37
2004
39.582.704,81
7.657.096,28
2.483.026,19
44.292.671,85
94.015.499,13
8.116.797,57
102.132.296,70
2005
71.752.645,88
4.821.812,12
2.346.275,51
31.645.489,51
110.566.223,02
2.842.354,54
113.408.577,56
2006
40.221.637,54
6.093.332,65
4.009.819,00
47.796.329,56
98.121.118,75
8.651.434,94
106.772.553,69
2007
80.484.068,83
5.272.552,30
3.685.272,15
60.999.545,13
150.441.438,41
5.311.567,89
155.753.006,30
2008
82.878.410,19
7.099.051,73
5.988.663,55
74.076.387,41
170.042.512,88
13.340.688,15
183.383.201,03
2009
88.180.236,23
1.574.866,78
6.113.973,30
80.809.061,53
176.678.137,84
9.911.435,90
186.589.573,74
2000
Adm. indireta
Outros Fundos
14.063.700,00
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
Como se pode verificar na tabela acima, o Executivo estadual responde por 94% dos gastos com publicidade no governo Aécio. Comparando o gasto com publicidade do governo Aécio Neves com o do governo anterior, vemos que: de 1999 a 2002, governo de Itamar Franco, o gasto total (Executivo e demais poderes) com propaganda foi de R$ 108.790.768 em valor corrente (valor original), que equivale a R$ 211 milhões em valores corrigidos até 2008. De 2003 a 2006, primeiro mandato do governo Aécio Neves, o gasto total (Executivo e outros poderes) com publicidade foi de R$ 363.303.619,32 em valor corrente (valor original), ou R$ 455 milhões em valores corrigidos até 2008. Comparando-se, portanto, os gastos com publicidade no primeiro mandato de Aécio Neves com os do governo Itamar Franco, verifica-se um crescimento nominal de 234% e a um aumento real (descontada a inflação no período) de 116%. Prosseguindo com a comparação, nos três primeiros anos do segundo mandato do governo Aécio Neves (2007 a 2009), a despesa total (Executivo e demais poderes) com publicidade chegou a R$ 525.725.781,07 (valores originais), ou seja, um valor 383% maior do que o gasto realizado pelo governo Itamar Franco.
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ Tesouro Nacional
37 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade por trás do marketing
Em 2010, ano de eleições gerais, tendo como garota propaganda uma popular atriz brasileira, Minas Gerais ganhou visibilidade em rede nacional de televisão, como um Estado modelo de desenvolvimento, com índices sociais invejáveis, fruto do rigor administrativo e da habilidade política de seu governador. Mas, o que há de fato, por trás de todo esse investimento em marketing? Para quem vive no Estado e depende dos serviços públicos, os números em destaque na TV escondem uma realidade bem diferente da que vem sendo mostrada. Minas Gerais é um Estado endividado (a terceira maior dívida dos Estados) e com os mesmos problemas sociais enfrentados pelas demais unidades federativas. Embora a propaganda oficial insista em que a saúde pública mineira possui um padrão de Primeiro Mundo, com hospitais bem equipados e tecnologia hospitalar de última geração, manejados por profissionais bem remunerados e cada vez mais satisfeitos, em Minas Gerais, as filas dos hospitais públicos continuam enormes, pessoas continuam morrendo por falta de atendimento médico e os profissionais de saúde volta e meia ameaçam entrarem em greve. Enquanto isso, ambulâncias fornecidas pelo governo do Estado percorrem diariamente as rodovias mineiras, trazendo para a capital os doentes encaminhados pelas prefeituras do interior. E, o mais importante, todos esses veículos trazem a logomarca do governo estadual estampada nas laterais. Com a educação não é diferente. Enquanto a propaganda oficial mostra escolas instaladas em prédios novos e equipadas com computadores de última geração, freqüentadas por alunos, professores e pais cada vez mais sorridentes e felizes, as escolas reais em Minas não dispõem de recursos suficientes e se encontram em péssimo estado de conservação. Professores concursados, de ensino médio, ganham menos do que mil reais de salário e não são raras as vezes em que têm que interromper o trabalho para ir às ruas protestar contra o desrespeito do governo com a categoria. A deduzir da propaganda oficial, Minas é também exemplo de excelência na área da segurança pública: viaturas modernas, policiais satisfeitos, cidadãos tranqüilos, prisões com padrão de Primeiro Mundo. Mas, então, como explicar o avanço em ritmo acelerado da criminalidade no Estado? Como explicar as mortes patrocinadas por detentos em prisões superlotadas e as ameaças de greve de policiais e agentes penitenciários? Em uma análise crítica da propaganda oficial em Minas, o filósofo Robson Sávio Reis Souza, especialista em Comunicação Social, observa que “em Minas, o esforço publicitário é para apresentar que tudo o que é realizado pelo atual governo é ‘inédito’ e ‘inovador’. É como se dissesse: ‘nunca antes neste estado...’ A cada dia inventa-se uma nova roda. Tudo é apresentado como novidade, nunca antes experimentada nas Alterosas, quiçá no Brasil.” (In: “Propaganda no país do faz-de-conta”, Observatório da Imprensa, 22/12/2009)
Em ato público promovido pelo funcionalismo estadual em 13 de julho de 2010, em protesto contra o governo, lideranças dos servidores e representantes de outros segmentos organizados manifestaram sua indignação com a manipulação dos dados oficiais e revelaram a verdadeira face do “choque de gestão”. Veja o que disseram: “Esse choque de gestão é uma política de retirada de direitos históricos dos servidores e só atende a interesses econômicos, enquanto ignora as necessidades da sociedade. O governo reduz os gastos com o funcionalismo, que atende a população em serviços essenciais, como educação, saúde e segurança, mas abre mão de receita, que é dinheiro público, concedendo benefícios tributários a grandes empresas, sobretudo a mineradoras e siderúrgicas. Sabe quanto o trabalhador paga de ICMS em sua conta de luz? Paga 30% de ICMS, o que representa 42% do serviço prestado. E sabem quanto as mineradoras pagam de ICMS? Apenas 0,01% do faturamento.” Lindolfo de Castro, presidente do Sindifisco-MG
38
“Quando fala no choque de gestão, o governo gosta de dar exemplo de excelência pública, mas a realidade é que os índices pioraram muito nesse governo.” Denílson Martins, vice-presidente do Sindpol-MG
“Alguém tem que dizer o que a atriz não diz na televisão, que quem pagou essa conta foi o funcionalismo estadual.” Beatriz Cerqueira, coordenadora geral do Sind-Ute/MG “Nós, jovens, também estamos sofrendo com os efeitos do choque de gestão. É um absurdo uma atriz fazer propaganda para eles. Se ela viesse aqui nas escolas, veria que a realidade é outra.” Gladson Reis, da Associação Metropolitana dos Estudantes Secundaristas - Ames BH
Controle sobre a mídia Na mesma proporção em que aumentam os gastos com publicidade no Estado, diminui o espaço na mídia para o debate político. A explicação para tal está na relação quase promíscua que se estabeleceu entre a grande mídia, em Minas, e o governo do Estado. As enormes cifras gastas pelo governo mineiro com verbas publicitárias na imprensa tornaram praticamente impossível a divulgação de qualquer informação que contrarie o discurso oficial. Em artigo em que analisa o poder de fogo da propaganda oficial (“À publicidade o que é da publicidade”, Jornal de Debates, 4/2/2009), o jornalista Eugênio Bucci traduz a relação de compadrio que se estabelece entre governos e imprensa:
“A outra questão – talvez a mais grave – é que os governos dispõem de um volume tal de dinheiro para injetar no mercado anunciante que se põem em condições, ao menos em tese, de influenciar o comportamento dos órgãos de imprensa mais vulneráveis a pressões políticas. Isso conspira contra a liberdade de imprensa.” O mesmo raciocínio embasa artigo do filósofo Robson Sávio Reis Souza (“Propaganda no país do faz-de-conta”, Observatório da Imprensa, 22/12/2009) que analisa, entre outros exemplos, a relação estabelecida nos últimos oito anos entre o governo de Minas e a grande mídia, a fim de demonstrar como a propaganda se transformou em uma das mais poderosas armas de manipulação:
“Quem é bem informado e conhece um pouco sobre leitura crítica de comunicação já percebeu que a imprensa mineira, diga-se a grande mídia, há quase oito anos, só pauta um lado da notícia, quando se trata de ações do governo estadual. Seria graças a benevolentes verbas do estado com as propagandas?” Durante os dois mandatos do governo Aécio Neves em Minas, não houve espaço na grande imprensa mineira para qualquer contraponto aos números apresentados pelo governo. Por trás do controle sem precedentes sobre a mídia o que se vê é um governo que se esquiva do debate dos problemas do Estado com a sociedade.
39 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Minas é o terceiro Estado mais endividado do País
Governo mineiro gasta com o custo da dívida praticamente o mesmo do que com a saúde da população A dívida pública do Estado de Minas Gerais com a União, chamada “dívida contratual”, está relacionada diretamente com a vida do servidor público e de cada cidadão mineiro. Para cumprir os compromissos com a União, de uma dívida que não para de crescer, o governo mineiro arrocha o salário do funcionalismo e reduz os gastos nas áreas sociais (saúde, educação, habitação, saneamento básico e outros), penalizando a população. A taxa de juros aplicada na dívida (7,5% ao ano) é superior à taxa de 6% ao ano que o governo paga aos cidadãos sobre a poupança. Conforme a Lei 9.496/19971, a dívida de Minas, quando totalizava R$ 18,5 bilhões, foi negociada, em 1998, pelo governador Eduardo Azeredo, em condições que, na época, se diziam favoráveis, mas que, hoje se sabe, não eram bem assim. Passados 11 anos, o governo mineiro já pagou mais de R$ 40,12 bilhões (valor corrigido) aos credores e, no entanto, a dívida do Estado aumenta cada vez mais.
A dívida não para de crescer... Em 1998, a dívida era de R$ 18,5 bilhões Até 31.12.2009, Minas Gerais já gastou (juros e amortizações), em valor original, R$ 25,93 bilhões (corrigido pelo IGP-DI = R$ 40,12 bilhões) Entretanto, a dívida continua: em 2009 atingiu a cifra de R$ 56,4 bilhões A dívida de Minas Gerais foi negociada com base na Tabela Price, a juros de 7,5% ao ano, com correção mais IGP-DI, um dos maiores índices de cálculo da inflação no país, com o limite de comprometimento de até 13% da Receita Líquida Real (RLR), pelo prazo de 30 anos. Pela Tabela Price, inicialmente se paga mais juros e amortiza-se um valor menor da dívida e, do meio do contrato em diante, os juros diminuem porque vai se reduzindo o saldo devedor. Em Minas Gerais, entretanto, os gastos do governo com o pagamento da dívida não têm sido suficientes para cobrir os juros e, como conseqüência, a dívida aumentou mais de 205% no período 1998–2009. O governo federal, por meio desse refinanciamento, estabeleceu a obrigatoriedade de meta e compromissos, tais como: dívida em relação à RLR, resultado primário, despesa com funcionalismo, arrecadação com receita própria, privatizações, permissão ou concessão de serviços públicos, reforma administrativa e patrimonial, aumento nas despesas de investimento em RLR. Além de a União impor essas condições, Minas Gerais gasta em torno de R$ 3 bilhões por ano para cobrir os juros e amortização, valor semelhante ao gasto com saúde em Minas, e a dívida só aumenta.
Em 2009, Minas gastou R$ 3,3 bilhões com o pagamento do custo da dívida (juros e amortização), quase o mesmo que foi gasto (R$ 3,9 bilhões) com a área de saúde (despesa por função).
40
1 Lei Federal nº 9.496, de 11/09/1997: Consolidação, assunção e refinanciamento, pela União, pelo prazo de até 30 anos, da dívida pública mobiliária e da dívida decorrente de operações de crédito, de natureza interna e externa, de responsabilidade dos Estados.
Tabela 35
Evolução do Custo da Dívida Contratual Minas Gerais 1998–2009 R$ mil Ano Juros
Valores Correntes Amortização Total
Valor Constante Valor Total Corrigido1
Valor Corrente Dívida Contratual
1998
440.439
2.438.669
2.879.107
7.897.698
18.500.000
1999
837.844
452.317
1.290.161
3.178.688
23.161.000
2000
808.079
921.096
1.729.175
3.745.010
25.473.300
2001
1.170.163
487.503
1.657.666
3.252.933
28.756.300
2002
1.077.532
431.697
1.509.229
2.609.191
34.340.458
2003
1.192.787
426.025
1.618.812
2.279.284
37.238.036
2004
1.371.951
432.388
1.804.339
2.322.255
42.111.908
2005
1.643.595
411.446
2.055.041
2.495.987
42.293.390
2006
1.916.507
498.963
2.415.471
2.904.621
45.240.047
2007
2.136.270
465.837
2.602.107
2.977.469
48.960.092
2008
2.544.019
529.545
3.073.564
3.161.584
55.992.613
2009
2.197.933
1.098.021
3.295.954
2
3.295.954
56.405.911
Total
17.337.119
8.593.507
25.930.626
40.120.674
56.405.911
1 Deflator: IGP-DI (Fatores Médios Anuais - Dezembro/ 2008 =1,00) 2 O valor total não foi corrigido em 2009, pois no período houve deflação de -1. Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Dívida Contratual de MG X Ano
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
41 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Camisa de força Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, sancionada em 2000, o governo federal acirrou o controle sobre a dívida dos Estados cujos contratos de refinanciamento foram assinados entre 1997 e 1999 (Lei 9.496/97). Segundo as regras estabelecidas, se os governos estaduais não cumprirem com o ajuste e não pagarem a dívida nos valores e prazos acordados, as receitas (transferências e outras) dos Estados são bloqueadas.
Ou seja: para ter o controle do ajuste fiscal, o governo federal colocou uma “canga” sobre os Estados, com consequências nefastas. Como sempre, os trabalhadores são os mais penalizados: para cumprir com as metas, os governos estão promovendo uma anomalia no orçamento, reduzindo em níveis mínimos os gastos nos setores essenciais (saúde, educação, habitação, saneamento básico e outros). Da mesma forma, reduz-se os salários dos servidores, utilizando-se, muitas vezes de “lacunas” jurídicas para justificar a retirada de direitos arduamente conquistados pelos trabalhadores. O mesmo, entretanto, não acontece com o banqueiros, já que o dinheiro para pagar os juros da dívida é sagrado. Numa contabilidade comercial, quando há aumento de obrigação, há, em contrapartida, um impacto no ativo ou na conta de despesa. No caso da dívida de Minas Gerais, se o impacto do aumento da dívida fosse registrado na despesa, o Estado acumularia déficits gigantescos. Como exemplo, veja, abaixo, o que ocorreu com o custo da dívida em 2008, que foi de R$ 10 bilhões e o Estado registrou apenas R$ 3 bilhões. Isso tem uma relação direta com o resultado nominal (pág. 47). Tabela 36
Posição da Dívida Contratual – MG 2008 R$ Ano
Síntese
Dívida Interna
Dívida Externa
Total
2007
Saldo em 31/12/2007
48.397.721.051,46
562.371.296,71
48.960.092.348,17
2008
(+) Receita Operacional de crédito
72.500.072,64
483.757.638,28
556.257.710,92
2008
(+) Correção
6.704.198.065,96
287.676.862,90
6.991.874.928,86
2008
(-) Amortizações
- 423.724.489,88
- 91.887.370,47
- 515.611.880,35
2008
(=) Saldo em 31/12/2008
54.750.694.700,18
1.241.918.427,42
55.992.613.127,60
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Tabela 37
Total de Despesas com Dívida – MG 2008 R$
Demonstrativo
Dívida Interna
Dívida Externa
Total
Juros e Encargos (1)
2.473.983.927,78
26.246.496,45
2.500.230.424,23
Amortização (2)
423.724.489,88
91.887.370,47
515.611.860,35
2.897.708.417,66
118.133.866,92
3.015.842.284,58
Total das Despesas (1+2)
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
O ajuste estabelecido pelo governo federal colocou os estados em uma “camisa de força” e o primeiro passo para soltar essa amarra é lutar pela renegociação da dívida. No caso de Minas Gerais é ainda mais imperativo resolver a questão. O percentual de endividamento do Estado era bem menor na época em que a dívida foi negociada e, de lá para cá, vem só crescendo.
42
Se não fizermos nada, daqui a 18 anos, tempo que falta do total (30 anos) negociado para o financiamento do Estado, a dívida de Minas Gerais atingirá um volume astronômico e terá que ser renegociada em cima de valores muito maiores do que os que temos hoje. Outro problema que podemos apontar no acordo firmado entre os Estados e a União reside no fato de o mesmo não conter uma cláusula trivial em contratos dessa natureza, a chamada cláusula do equilíbrio econômico-financeiro do contrato. A cláusula está contemplada na Lei Nº 8.666, de junho de 1983, que contém regras que prevêem que os contratos administrativos podem ser alterados se ficar tecnicamente comprovada a inaplicabilidade dos termos contratuais originários ou, ainda, para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente, com o objetivo de manter o equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, no caso de sobrevirem fatos imprevisíveis ou mesmo previsíveis que ameacem a execução do ajustado. A lei vai ainda mais longe ao prever a possibilidade de nulidade do contrato administrativo, mas com a ressalva de que esta não isenta a Administração do dever de indenizar o contratado. Ou seja, a lei resguarda ambos os envolvidos: fornecedor e Administração. Nada mais lógico, para os especialistas, que, se a lei prevê a manutenção do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, seja aplicada a mesma disposição nos contratos estabelecidos entre a União e os Estados, sobretudo considerando que são acordos de longa duração,
Ranking do endividamento A Resolução 40/2001 do Senado Federal dispõe sobre os limites globais para o montante da dívida pública consolidada e da dívida pública mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Para os efeitos da Resolução 40/2001, consideram-se as definições abaixo. Dívida Pública Consolidada
Montante total, apurado sem duplicidade, das obrigações financeiras, inclusive as decorrentes de emissão de títulos, do Estado, do Distrito Federal ou do Município, assumidas em virtude de leis, contratos, convênios ou tratados e da realização de operações de crédito para amortização em prazo superior a 12 meses, dos precatórios judiciais emitidos a partir de maio de 2000 e não pagos durante a execução do orçamento em que houverem sido incluídos, e das operações de crédito, que, embora de prazo inferior a 12 meses, tenham constado como receitas no orçamento.
Dívida Pública Mobiliária
Dívida publica representada por títulos emitidos pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios.
Dívida Consolidada Líquida (DCL)
Dívida pública consolidada, deduzidas as disponibilidades de caixa, as aplicações financeiras e os demais haveres financeiros. * A Dívida Consolidada não inclui as obrigações existentes entre as administrações diretas dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios e seus respectivos fundos, autarquias, fundações e empresas estatais dependentes, ou entre estes.
Receita Corrente Líquida (RCL)
Somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes, deduzidos: nos Estados, as parcelas entregues aos Municípios por determinação constitucional; nos Estados e Municípios, a contribuição dos servidores para o custeio do seu sistema de previdência e assistência social e as receitas provenientes da compensação financeira.
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A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A dívida consolidada líquida dos Estados e do Distrito Federal, ao final do 15º exercício financeiro contado a partir do encerramento do ano de publicação da Resolução 40/2010, ou seja, em 2016, não poderá exceder a duas vezes a receita corrente líquida. O excedente em relação aos limites previstos, apurado no final do exercício 2001, deverá ser reduzido, no mínimo, à proporção de 1/15 a cada exercício financeiro. Minas Gerais é o terceiro Estado mais endividado da Federação, com comprometimento de 1,79% da sua receita corrente líquida, atrás somente do Rio Grande do Sul e de Alagoas. Confira a seguir o ranking de endividamento dos Estados. Tabela 38
Dívida Consolidada Líquida dos Estados em relação à Receita Corrente Líquida 2009 Estados
DCL (R$ mil)
RCL (R$ mil)
Índice (≤ 2,5)
RS
38.170.677,00
17.387.287,00
2,20
AL
6.509.556,00
3.597.965,00
1,81
MG
52.264.415,00
29.118.470,00
1,79
RJ
46.935.827,00
28.976.688,00
1,62
SP
130.298.983,00
86.630.248,00
1,50
GO
11.697.404,00
9.105.648,00
1,28
MS
5.602.766,00
4.886.919,00
1,15
PR
16.937.485,00
15.092.440,00
1,12
MA
4.073.167,00
5.971.500,00
0,68
BA
9.234.649,00
14.671.427,00
0,63
SC
6.312.345,00
10.405.660,00
0,61
PI
2.434.575,00
4.043.265,00
0,60
MT
3.497.758,00
6.467.671,00
0,54
RO
1.716.595,00
3.236.548,00
0,53
PE
4.589.102,00
10.631.854,00
0,43
AC
896.478,00
2.453.090,00
0,37
PB
1.585.380,00
4.673.840,00
0,34
SE
1.048.669,00
3.934.265,00
0,27
PA
1.907.584,00
7.997.163,00
0,24
AM
1.459.103,00
6.161.491,00
0,24
RN
841.601,00
4.832.600,00
0,17
DF
1.777.578,00
10.254.999,00
0,17
CE
1.446.623,00
8.400.940,00
0,17
TO
374.955,00
3.406.416,00
0,11
AP
246.308,00
2.237.967,00
0,11
ES
636.022,00
7.486.192,00
0,08
RR
121.448,00
1.633.114,00
0,07
TOTAL
352.617.049,00
313.659.666,00
1,12
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
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Auditoria da dívida Devido ao acordo com a União, há uma interferência brusca do governo federal em Minas e nos outros Estados, ferindo-se assim o pacto federativo e autonomia de cada ente. Para resolver o problema, o SINDIFISCO-MG propõe que se faça uma auditoria na dívida pública dos Estados e a revisão em todos os contratos. É preciso investigar, inclusive, a origem dessas dívidas, muitas delas oriundas de negócios com o setor privado, principalmente as empreiteiras, com a possibilidade de existência de contratos superfaturados, que não foram devidamente negociados, além da aplicação de altas taxas de juros.
O governo perdoa a dívida dos ruralistas e banqueiros, por meio do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer). Por que, então, não renegocia a dívida dos Estados? E mais: no caso específico de Minas Gerais, é importante, também, rever as condições de pagamento negociadas, no sentido de mudar o indexador de IGP-DI (que é o indexador de todos os Estados) para IPCA, além de reduzir os juros a um patamar de 6%, como foi feito com outros Estados. Tabela 39
Demonstrativo do IPCA e IGP-DI 1998–2009
Ano
IGP-DI
IGP-DI Acumulado
IPCA
IPCA
Acumulado
1997
100,00
100,00
1998
1,71
101,71
1,66
101,66
1999
19,99
122,04
8,94
110,75
2000
9,80
134,00
5,97
117,36
2001
10,40
147,94
7,67
126,36
2002
26,41
187,01
12,53
142,19
2003
7,67
201,35
9,30
155,42
2004
12,13
225,78
7,60
167,23
2005
1,22
228,53
5,69
176,75
2006
3,79
237,19
3,14
182,30
2007
7,89
255,91
4,45
190,41
2008
9,10
279,19
5,90
201,64
2009
(1,43)
275,20
4,31
210,33 Fonte: IBGE
Da forma como está posta, a dívida dos Estados com a União é, hoje, impagável. Uma auditoria nos contratos certamente mostrará que a dívida já foi paga há muito tempo; o que existe hoje é uma dívida da União com a sociedade.
45 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Conseguir que se faça uma auditoria na dívida pública não é tarefa fácil. A Constituição Federal traz um dispositivo que prevê essa auditoria, e diversas entidades representantes do Fisco, em conjunto com a OAB e demais setores organizados, vêm pressionando o governo para que isso aconteça. Em 8 de dezembro de 2008, foi criada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Dívida Externa na Câmara dos Deputados. A CPI reconheceu diversas ilegitimidades da dívida, algumas diretamente relacionadas aos Estados, entre elas que as elevadíssimas taxas de juros (nãocivilizadas) foram o fator mais importante para o crescimento da dívida, inclusive dos Estados e Municípios; que as dívidas do Estados e Municípios cresceram devido à utilização do índice IGP-DI, que se mostrou “volátil” e gerou custos excessivos aos entes federados. Apesar da CPI apontar sérios indícios de ilegalidade que demandariam o aprofundamento das investigações e a realização da auditoria prevista na Constituição, o relatório final, em maio de 2010, como resultado de um “acórdão” entre a base do governo e a velha direita (PSDB e DEM), não recomendou a auditoria da dívida. Entretanto, o Voto em Separado (relatório alternativo) do deputado Ivan Valente (PSOL/SP), assinado por mais sete deputados federais e entidades da sociedade civil, foi encaminhado ao Ministério Público para elaboração de ações jurídicas, exigindo a auditoria da dívida e o aprofundamento das investigações para apuração de responsabilidade e reparação dos danos ao patrimônio público. A questão da auditoria, entretanto, envolve um grande jogo de interesses dos setores que dominam a economia e a política no País e que não têm interesse em resgatar a origem dessa dívida, certamente por também terem se beneficiado desses contratos. Mais uma vez será necessário que a sociedade se mobilize para pressionar o Poder Público e exigir que essa auditoria aconteça.
O problema da dívida tem impacto direto sobre a distribuição de recursos do País e sobre os nossos salários, motivos que exigem e justificam nossos esforços.
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Resultado orçamentário
Como a dívida pública interfere na vida do cidadão Se você quiser conhecer um administrador, analise as contas dele! A diferença entre a receita arrecadada e a despesa realizada é o resultado orçamentário. Nesse item, iremos definir e demonstrar o que é déficit e superávit, o que é resultado primário e nominal. Assim, poderemos observar onde o governo cortou gastos para demonstrar a sua capacidade de bancar as dívidas (juros e amortizações). O governo obtém superávit de duas maneiras: ou corta despesas ou aumenta receitas. Portanto, não há milagre algum. Se o valor arrecadado (receita) for superior às despesas, tem-se superávit; se for inferior, tem-se déficit. Ou seja, tem-se uma relação direta com os custos da dívida e a capacidade do Estado de cortar despesas para pagamento da dívida.
Como se apura o déficit ou o superávit orçamentário?
Somando-se todas as receitas correntes do governo (tributárias e outras), subtraindo dessas o total das despesas, isto é, a soma das despesas correntes com as despesas de capital. Caso o resultado seja negativo, o financiamento deste déficit se traduzirá, necessariamente, em maior endividamento do governo junto ao setor privado, ou através de empréstimos bancários, ou ainda, o que é mais comum, por meio da venda de títulos públicos junto aos bancos e ao público em geral, ou, no caso do governo federal, a emissão de moeda.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/2010), em seu artigo 4º, parágrafo 1º, exige que sejam apurados os seguintes resultados fiscais e primários: Resultado Primário
Procura medir o comportamento fiscal do governo no período, representando a diferença entre a arrecadação de impostos, taxas, contribuições e outras receitas inerentes à função arrecadadora do Estado, excluindo-se as receitas de aplicações financeiras, e as despesas com amortização, juros e encargos da dívida, bem como as despesas com concessão de empréstimos. Em síntese, avalia se o governo está, ou não, vivendo dentro de seus limites orçamentários, ou seja, contribuindo para a redução ou elevação do endividamento do setor público. O principal objetivo desse cálculo é avaliar a sustentabilidade da política fiscal em um dado exercício financeiro, tendo em vista o patamar atual da dívida consolidada e a capacidade de pagamento da mesma pelo setor público no longo prazo.
Resultado Nominal
O objetivo da apuração do Resultado Nominal é medir a evolução da dívida fiscal líquida. Dessa forma, representa a diferença entre o saldo da dívida líquida em 31 de dezembro de determinado ano em relação ao saldo em 31 de dezembro do ano anterior.
47 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 40
Resultado Primário do Estado – LRF 2003–2009 R$ mil
2003
1.238.376
2004
2005
2006
2007
2008
2009
1.523.275
1.928.250
1.937.082
2.308.780
2.971.305
1.732.671
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Veja a evolução do resultado primário. R$ mil
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Superávit Primário
Direcionado ao serviço da dívida, o que contribui para reduzir o estoque total da dívida líquida. Quando o País obtém superávit primário nas suas contas, ele adquire a capacidade de pagar senão toda,a maior parte dos juros da dívida pública do País.
Déficit Primário
Representa a origem e a fonte de realimentação do déficit público e, consequentemente, da dívida pública.
Resultado Orçamentário
Receitas arrecadadas menos despesas realizadas.
Tabela 40-A
Resultado Nominal do Estado – LRF 2007–2008 Ano
48
R$ mil
Dívida Fiscal Líquida (DFL) do ano referência
Dívida Fiscal Líquida (DFL) atual
Resultado Nominal
2007
41.088.430
44.029.567
2.941.137
2008
44.029.494
50.152.305
6.122.811
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Tabela 41
Resultado Orçamentário Fiscal do Estado 2002–2009 R$ mil
2002
-874.363
2003*
2004
2005
2006
2007
2008**
2009
-283.234
90.651
221.654
81.127
190.102
623.970
299.237
* Em 2003 não foi considerada a dedução para o Fundef ** Do resultado da execução orçamentária de 2008 – R$ 624 milhões – R$ 585 milhões referem-se aos Fundos Previdenciários do Estado, sendo: Funpemg, com R$ 315 milhões, e Funfip, com R$ 270 milhões. Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
Como podemos observar, em Minas, o resultado orçamentário está sendo diretamente influenciado pelos Fundos de Previdência do Estado: o Fundo Financeiro de Previdência (Funfip) e o Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais (Funpemg). Do resultado da execução orçamentária de 2008, 93,75% referem-se a esses fundos. No caso do Funpemg, praticamente não há despesas, uma vez que esse fundo está acumulando reservas para fazer face às aposentadorias dos servidores que ingressaram no Estado a partir de 31.12.2001 e que se aposentarão a partir de 31.12.2010 (postergado pela Lei Complementar 110/2009 para 2013). Ou seja, o superávit de Minas está fomentado pelos fundos pre-
videnciários!
Veja a evolução do resultado orçamentário fiscal de Minas. 623,970 Resultado Fiscal 6,25%
FUNFIP 43,27% 190,102
90,651
81,127
R$
m
ilh
õe s
221,654
FUNPEMG 50,48% 2003
2004
2005
2006
2007
2008
-283,234 Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG
Em relação aos Resultados Orçamentários Fiscais positivos (superávits), ressalta-se que, se fossem deduzidas as operações de crédito, o resultado seria diferente, com déficit nos anos 2003, 2006, 2007 e 2009, e superávit modesto nos demais anos. Esses valores, que são lançados como receitas, são oriundos de empréstimos e, como tal, não representam receitas, mas sim uma obrigação (passivo) e/ou contrapartida no ativo (ingresso de recursos).
49 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Tabela 42
Balanço Orçamentário do Estado Receitas / Despesas 2008 Receitas Orçamentárias
R$ 39,923 bilhões
Despesas Orçamentárias
R$ 39,299 bilhões
Superávit
R$ 624 milhões Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Tabela 43
Balanço Orçamentário do Estado Superávit / Déficit 2008 R$ Apuração Resultado Orçamentário
Administração Direta (1)
Autarquias e Fundações (2)
Fundos Estaduais (3)
Empresas Estatais Dependentes (4)
Resultado Superávit (1+2+3+4)
Superávit / Déficit
7.359.448.775,40
(2.386.613.654,73)
(4.182.465.495,99)
(166.398.718,94)
623.970.905,74
Fonte: Tribunal de Contas do Estado/ SEF-MG/ Tesouro Nacional
Como se observa, houve, em 2008, um superávit de R$ 7 bilhões na Administração Direta e um déficit de R$ 2 bilhões nas autarquias e fundações, de R$ 4 bilhões nos fundos estaduais e de R$ 166 bilhões nas empresas estatais dependentes. O superávit orçamentário de 2008 deve-se, em especial à relação entre receitas e despesas das seguintes fontes de recursos: recursos diretamente arrecadados; contribuição do servidor para o Funfip; contribuição patronal para o Funfip; contribuição do servidor do Estado para o Instituto de Previdência; convênios, acordos e ajustes; taxa de fiscalização judiciária e operações de crédito contratuais. Dentre as fontes deficitárias, as mais expressivas foram: recursos ordinários, fundo de manutenção e desenvolvimento da educação básica, recursos do SUS, utilização de recursos hídricos, contribuição patronal aos Institutos de Previdência. Quando o Resultado – nominal, operacional ou primário – é negativo, diz-se que houve déficit – nominal, operacional ou primário. Deve ficar claro que os três resultados são calculados tanto de forma agregada, englobando, com a denominação de Necessidades de Financiamento do Setor Público (NFSP), os resultados da União, da Previdência Social, do Banco Central, das Empresas Estatais e dos Estados e Municípios, quanto de foram desagregada, individualizando o resultado de cada uma dessas áreas, níveis ou esferas de governo.
O resultado do esforço fiscal do governo deve ter como fim o ajuste das suas contas para que, uma vez equilibradas, possam ser utilizadas como instrumento de políticas públicas benéficas à sociedade.
50
Conclusão O verdadeiro déficit zero só será alcançado quando conciliar o ajuste fiscal com o bem estar da população “O gasto público afeta uma série de atividades, algumas das quais têm – ou tiveram – a ver com cada um de nós”
Joseph Stiglitz, economista, Prêmio de Ciências Econômicas 2001
Depois de oito anos à frente do Estado de Minas Gerais, o governo Aécio Neves chega ao fim com uma avaliação bastante negativa entre o funcionalismo estadual. A razão para o descontentamento está no fato de que o alardeado “choque de gestão” promovido no Estado e exportado para o restante do País como modelo de excelência administrativa, foi realizado às custas do arrocho salarial dos servidores e da redução dos gastos sociais, embora a receita total do Estado tenha crescido 130% no período, para uma inflação de 47%. Minas Gerais ocupa, desde 2004, o segundo lugar no ranking de participação da arrecadação de ICMS entre os 26 Estados da Federação e o Distrito Federal. A receita total (orçamentária) do Estado saltou de R$ 17,59 bilhões, em 2002 (último ano do governo Itamar Franco), para R$ 40,56 bilhões em 2009, penúltimo ano da gestão Aécio Neves. Apesar dos números que impressionam, a verdade é que o crescimento econômico do Estado não foi revertido em melhorias para a população. Ao contrário do que diz a propaganda oficial, educação, saúde, segurança e outros serviços essenciais convivem com índices alarmantes no Estado e estão longe de servirem de modelo para o resto do País. Da mesma forma, o crescimento não resultou em valorização dos servidores públicos, embora esses sejam o pilar que dá sustentação ao Estado. Ao contrário, durante os oito anos de governo Aécio Neves, o funcionalismo estadual muitas vezes tem sido tratado como inimigo do Estado, convivendo, não apenas com o arrocho salarial, mas também com a constante retirada de direitos. Os exemplos são muitos e revelam a importância que o governo de Minas atribui a seus servidores: quebra da paridade entre ativos e aposentados; fim da estabilidade, com a instituição de parcela variável da remuneração (plus) e gratificações, que hoje representam mais de 40% do salário; fim e/ou redução dos adicionais por tempo de serviço (quinquênios e trintenário); confisco das promoções e progressões; remuneração atrelada à avaliação de desempenho individual baseada em critérios subjetivos, que tornam o servidor refém do humor das chefias; retenção das verbas referentes às férias-prêmio dos servidores; entre outros tantos absurdos. Seja qual for o governo que assuma a tarefa de conduzir os rumos do Estado nos próximos quatro anos, é fundamental que tenha consciência de que o desenvolvimento não pode ser conquistado sem o envolvimento e a participação do funcionalismo. Minas Gerais merece uma gestão que seja partilhada com a população e com os servidores. E, principalmente, que parta do princípio de que o verdadeiro déficit zero só será alcançado, de fato, quando conciliar o ajuste fiscal com o bem estar da população.
51 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Fontes r Balanços Gerais do Estado – Relatórios Técnicos da Comissão de Acompanhamento da Execução Orçamentária do Estado Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais Publicados no Órgão Oficial do Estado – jornal Minas Gerais r Relatórios Resumidos da Execução Orçamentária do Estado de Minas Gerais – Balanços Orçamentários / Demonstrativos dos Resultados Primários Orçamento Fiscal e da Seguridade Social Fonte: SIAF/MG – Elaboração: SCCG/STE/SEF Publicados no Órgão Oficial do Estado – jornal Minas Gerais r Comentários à Lei Nº 4.320 – Normas Gerais de Direito Financeiro; Orçamentos e Balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal; Comentários ao Substitutivo do Projeto de Lei nº 135/96 Flávio da Cruz (coordenador), Adauto Viccari Junior, José Osvaldo Glock, Nélio Herzmann, Rui Rogério Naschenweng Barbosa São Paulo, Editora Atlas, 2001 r A Lei Nº 4.320 comentada e a Lei de Responsabilidade Fiscal Heraldo da Costa Reis, J. Teixeira Machado Jr. Rio de Janeiro, Editora Lumen Juris, Edição atualizada 2010 r As muitas Minas: ensaios sobre a Economia Mineira Fabrício Augusto de Oliveira e Wilson Benício Siqueira (organizadores) Belo Horizonte, Corecon-MG, 2010 r Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais www.fazenda.mg.gov.br r Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais www.planejamento.mg.gov.br r Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais www.tce.mg.gov.br r Fundação João Pinheiro www.fjp.mg.gov.br r Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística www.ibge.gov.br r Tesouro Nacional www.tesouro.fazenda.gov.br r Auditoria Cidadã da Dívida www.divida-auditoriacidada.org.br r Estudos do SINDIFISCO-MG www.sindifiscomg.com.br
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CADERNO SINDIFISCO-MG Setembro 2010 A verdade sobre o “choque de gestão” do governo de Minas
Editado pela Assessoria de Comunicação do SINDIFISCO-MG Responsável Técnico: Lindolfo Fernandes de Castro Auditor Fiscal da Receita Estadual de Minas Gerais, presidente do SINDIFISCO-MG (gestões 2004–2005, 2006–-2007, 2010–2011), bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade Oswaldo Cruz/SP e pós-graduado em Auditoria Externa pela Face/UFMG Consolidação dos dados, elaboração de tabelas e gráficos: SINDIFISCO-MG Projeto Gráfico e Editoração: Arte Brasil Impressão: Pampulha Editora Gráfica Tiragem: 7.000 exemplares Distribuição gratuita
Servidor em estado de choque O governo Aécio Neves (2003– 2010) se vangloria, em todo o País, do “choque de gestão” realizado em Minas Gerais. Entretanto, o que é divulgado na mídia e nos discursos oficiais corresponde à realidade do nosso Estado? O propalado “choque de gestão”, na prática, nada mais trouxe para os mineiros do que o arrocho salarial dos servidores, a manutenção de uma política tributária confiscatória sobre setores essenciais (energia elétrica, telecomunicação, combustíveis) e a precarização dos serviços públicos (saúde, educação, habitação e outros) prestados à população. Na realidade, Minas está em dívida com a sociedade.