Reportagem Especial - Jornal Diário Popular

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POLÍTICA

DIÁRIO POPULAR SÁBADO, 25 DE FEVEREIRO DE 2012

Empurrão para o mercado de Projeto de lei protocolado pelo deputado estadual Catarina Paladini tem como proposta reservar até 30% das vagas de estagiários nos órgãos públicos do Estado para estudantes de escolas e universidades públicas Diego Queijo

Pelotas. Depois de garantir a vaga em uma instituição de ensino superior, tanto em universidades públicas como privadas, é chegada a hora de pensar na carreira. Cursos, aulas, palestras e congressos são ótimos recursos para a qualificação profissional. Mas na busca pela capacitação, é preciso por em prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Para isso, é preciso ir a procura de um estágio. Mas nessa etapa, quem pretende entrar no mercado normalmente se depara com um páreo bastante concorrido. Ao utilizar um site de buscas na internet para pesquisar por termos relacionados a estágios, os estudantes podem se deparar facilmente com informações sobre serviços, painéis de vagas, dicas para entrevista e consultas sobre legislação e direitos do estagiário. Mas no final, a carga de conhecimentos adquiridos, oportunidades anteriores e até a situação social do estudante pode fazer a diferença. Levando em conta as discrepâncias sociais do país, e com o anseio de dar mais oportunidades aos estudantes de escolas e universidades públicas, o deputado estadual Catarina Paladini (PSB), protocolou na semana passada o projeto de lei número 22/2011. A proposta é reservar até 30% das vagas de estagiários nos órgãos públicos do Estado para estudantes de instituições públicas. De acordo com a lei apresentada pelo parlamentar, o limite mínimo para reserva de vagas seria de 15%. “É um percentual legítimo diante da realidade que vivemos hoje”, diz o deputado. Na opinião de Catarina, o objetivo do projeto é que, a partir da experiência profissional dentro dos órgãos públicos, o estudante oriundo da rede pública de ensino possa ingressar no mercado de trabalho de forma mais competitiva. “É nosso papel lutar para o que Estado disponha de mecanismos que facilitem a inserção dos jovens de baixa renda no mercado de trabalho”, afirma Catarina.

A contratação Para o supervisor executivo do CIEE, Lourenço Guimarães, a lei é boa se analisada do ponto de vista político e administrativo

Não é de hoje que a questão das cotas é motivo de polêmica em várias áreas da sociedade, por isso, a lei já levanta algumas dúvidas e opiniões nos discentes. A estudante Luana Moraes cursa o quinto ano da faculdade de Direito na Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ela afirma que é a favor de cotas sociais nas universidades, mas se posiciona contra a reserva de vagas de estágio. “No momento em que já estamos inseridos na instituição pública, acho que o esforço e o empenho de cada um em conseguir um estágio devem ser considerados, sem discriminação.”


DIÁRIO POPULAR

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Paulo Rossi - DP

trabalho Bruno Campelo - DP

Alunas do Direito, Luana Moraes (UFPel) e Juliana Ferreira (UCPel), que lutaram pela vaga no estágio oferecido pela Defensoria Pública em Pelotas, discordam da proposta

cação dela.” Segundo o deputado Catarina, ainda não foi pensada a situação, por exemplo, de alunos de universidades particulares beneficiados com o Programa Universidade Para Todos (ProUni). “Pensamos no projeto com a melhor das intenções, mas ele ainda vai ser aprimorado e passar por votação”, concluiu.

O mercado

Luana é estagiária na área de Defensoria Pública em Pelotas. Para isso, ela prestou trabalho voluntário, distribuiu currículos e passou por uma prova em duas etapas. “Com as provas eu acho que não seriam necessárias as cotas, pois elas selecionam o estagiário pela capacidade, e não pela instituição.” No escritório, Luana divide o espaço com a estagiária Juliana Ferreira. Atualmente, a estudante está no terceiro ano do curso de Direito na Universidade Católica de Pelotas (UCPel). Juliana concorda que o estágio é um direito de todos, mas acredita no reconhecimento do trabalho de cada um. “O conhecimento é igual em ambas universidades, o que diferencia é o esforço de cada aluno.” Para o contratante de Luana e Juliana, o defensor público, Varlem Obelar, as cotas são desnecessárias. “Pelo menos na defensoria, costumamos chamar estagiários da UFPel, pois queremos qualificação, e sabemos do nível de preparo que os alunos precisam para passar no vestibular.” Obelar acredita que o estímulo é fundamental, pois auxilia no aprendizado. “O aprendizado e o mercado devem ser competitivos, a Juliana estuda na UCPel e competiu de forma que reconhecemos a dedi-

O Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) tem participação no contrato de estagiários em 97% dos municípios do Rio Grande do Sul, através das 105 unidades de atendimento distribuídas em 56 municípios gaúchos localizados estrategicamente nas principais regiões do Estado, atendendo todo o Rio Grande do Sul. O CIEE é responsável pela captação de oportunidades junto às empresas e pela administração dos programas de estágio, incluindo o acompanhamento e a formalização da situação do estagiário, estabelecendo uma relação jurídica, em conformidade com a legislação vigente específica. Em quatro décadas, a instituição já colocou mais de 1,4 milhão de estudantes em estágios. Em Pelotas, o supervisor executivo do CIEE, Lourenço Guimarães, afirma que a lei é boa - se analisada do ponto de vista político e administrativo - por aumentar as chances de oportunidade de estágio a quem precisa, aumentando a condição de inserção no mercado de trabalho. “O Brasil é o país das cotas, mas é uma necessidade em função da realidade social do país.” No entanto, ele afirma que a lei não deve influenciar o mercado de estágio, já que não deve haver o aumento no número de vagas. “Se hoje existem cem vagas, a oferta deve permanecer a mesma, a diferença é que 30 delas serão reservadas e destinadas aos cotistas”, explicou. Ainda segundo Guimarães, a grande dificuldade no mercado é que as empresas querem profissionais cada vez mais capacitados. “O estágio é fundamental para essa capacitação.”

Temporada de estágio Nos meses de janeiro e fevereiro, muitos jovens preferem aproveitar o período de férias para realizar atividades que não estejam necessariamente ligadas à atividade curricular. Trocar a praia ou a piscina pela busca de uma vaga pode ser uma boa alternativa para ingressar no mundo do trabalho. Na última semana, o CIEE abriu 112 vagas na região. Dessas, 85 eram para Pelotas. Em contrapartida, o número de candidatos cai muito nessa época porque a maioria dos estudantes espera o início do ano letivo para ir atrás de uma oportunidade de estágio. “Nesse período de férias, as empresas continuam abrindo um bom número de vagas, mas, pela ausência de candidatos, fica difícil preenchê-las”, afirmou o supervisor executivo, Lourenço Guimarães. Para Guimarães, essa é uma época boa, pois o estudante pode praticamente escolher a vaga que quer. Já a partir do início de março, a procura cresce muito e a con-

corrência aumenta. “Sem contar que os estudantes que buscam uma oportunidade agora, normalmente demonstram-se mais interessados, e as empresas valorizam bastante isso.” Nesses meses, o número de novos cadastros cai 60% na comparação com o resto do ano. A maioria das solicitações ocorre por estudantes de nível superior. Alunos do curso de Administração de Empresas estão entre os mais procurados pelas organizações, mas existem vagas para diferentes engenharias, além das áreas de saúde e educação. Para nenhuma das vagas é necessário ter experiência. Para estudantes universitários pode ser exigido o cumprimento de parte do curso para atender às necessidades da função específica. Os números apontam que - com exceção do setor público - os estudantes podem ser contratados como funcionários efetivos ao final do estágio, o que ocorre em mais de 60% dos casos, demonstrando claramente que o estágio é uma porta de acesso eficaz ao mercado de trabalho.

Comparativo de números do CIEE em 2011 e 2012 Vagas de estágio Pelotas Região Total

Jan-Fev 2011 74 22 96

Jan-Fev 2012 85 27 112

Diferença(%) 14,86% 22,72% aumento de 16,66%

Jan-Fev 2012 70 12 83

Diferença(%) 11,39% 42,85% redução de 17,82%

Jan-Fev 2012 175 76 251

Diferença(%) 17,33% 2,56% aumento de 1,20%

Estudantes inscritos Pelotas Região Total

Jan-Fev 2011 79 22 101

Estagiários contratados Jan-Fev 2011 Empresas privadas 170 Órgãos públicos 78 Total 248


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