TFG (parte II) - Memorial CAPS - Farol Comunitário

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Centro de Atenção Psicossocial Farol Comunitário


Trabalho Final de Graduação CAPS: Farol Comunitário Patricia Corrêa Desenzi Orientador Mestre Prof. Antônio Fabiano Júnior Banca Examinadora Maria Elisa de Castro Pita Antônio Carlos Barossi Pontifícia Univerdade Católica Centro de Exatas, Ambientais e de Tecnologia Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Campinas, dezembro de 2017



AGRADEÇO À minha mãe, por ser exemplo de feminismo À Virgínia, pela espontaneidade que põe prático desenvolvido pelas circunstâncias luz no 63. da vida. Pelo privilégio da tranquilidade que você me proporciona. Ao Lucas, por cada hora resumida em apoio. Ao meu pai, pela personalidade que moldou À Roberta, psicóloga e amiga, por fortalea minha. Me orgulho em parecer com você. cer meu eu mais bonito e meu ajudar a encontrar o equilíbrio toda semana durante À minha irmã, por ser minha pessoa e minha os cinco anos. esperança no mundo. Aos que passaram e de alguma maneira, diAos meus avós, por serem meus eternos reta ou indiretamente, e contribuíram para faróis. meu crescimento. À cada amigo que fiz durante esses cinco Aos que ficaram e ficarão. anos, pela sensação quentinha de aconchego. A Vera Luz, por ser exemplo e me ensinar sobre propósito e proposição. À Ana, ao Gustavo, ao Heitor. Graças as nossas particularidades, são os me- Ao Antônio, meu orientador, por ser inslhores amigos e o melhor grupo. Vo- piração desde o princípio. Por ser caminho cês tornaram cada madrugada e, em alternativo. Por apontar a linha certa a retrospectiva, cada ano, leve e fácil. cada ato. À Pâmela, pela conexão rara.




"A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada. O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando." (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas)


Para alĂŠm da sobrevivĂŞncia.


Angústia Comunidade Exclusão Social Eu Caminho Nós Denúncia Subjetividade Aflições Identidade Reconhecimento Fortalecer




Apresentação "O trabalho conversa com a utilização dos baixos das pontes, aqui criada como um elo de amparo social, para um programa de vida, transformando a infraestrutura da cidade em arquitetura. Indivíduo e sociedade: não temos saída, somos ambos ao mesmo tempo. Essa dicotomia intrínseca e inquebrável também é encontrada na construção de um espaço contínuo feito por pequenas tocas de acolhimento. A libertação de cada indivíduo abre as portas para a descoberta do que é o outro através da observação como atividade cotidiana, transbordando para todo o espaço a ideia do poder da mudança alcançada pelo movimento." Por Antônio Fabiano Júnior


Índice O que é Saúde Mental? A Terapia Comunitária O Tema A Justificativa O Projeto Grande propósito, pequena intervenção Arquitetura de farol Localização e seus porquês Implantação O Espaço O Vazio: Praça Seca O Anel Comunitário A Vila da Troca Os Casulos Constructo e materialidade Infraestrutura Referências Projetuais Considerações Finais Bibliografia


A Saúde Mental 1. Saúde Mental é o equilíbrio emocional entre o patrimônio interno e as exigências ou vivências externas. É a capacidade de administrar a própria vida e as suas emoções dentro de um amplo espectro de variações sem, contudo, perder o valor do real e do precioso. É ser capaz de ser sujeito de suas próprias ações sem perder a noção de tempo e espaço. É buscar viver a vida na sua plenitude máxima, respeitando o legal e o outro. (Dr. Lorusso); 2. Saúde Mental é estar de bem consigo e com os outros. Aceitar as exigências da vida. Saber lidar com as boas emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; amor/ódio; serenidade/ raiva; ciúmes; culpa; frustrações. Reconhecer seus limites e buscar ajuda quando necessário; 3.Os seguintes itens foram identificados como critérios de saúde men tal: 1.Atitudes positivas em relação a si próprio 2.Crescimento, desenvolvimento e auto-realização 3.Integração e resposta emocional 4.Autonomia e autodeterminação 5.Percepção apurada da realidade 6.Domínio ambiental e competência social. (SPP/DVSAM - Saúde Mental)


A Comunidade

Os Semelhantes

O indivĂ­duo



A Terapia Comunitária "A Terapia Comunitária é um instrumento que nos permite construir redes sociais solidárias de promoção da vida e mobilizar os recursos e as competências dos indivíduos, das famílias e das comunidades. Procura-se suscitar a dimensão terapêutica do próprio grupo valorizando a herança cultural dos nossos antepassados indígenas, africanos, orientais e europeus, bem como o saber produzido pela experiência de vida de cada um." (BARRETO, 2005, p.59) De acordo com Barreto, a Terapia em Grupo é um espaço para que a sabedoria e as experiências possas sem compartilhadas. É considerado um trabalho preventivo na área de saúde mental e emocional. Cada um torna-se terapeuta de si mesmo, a partir da escuta das histórias de vida ali contadas. Todos se tornam corresponsáveis na busca de soluções e superação dos desafios do cotidiano, em um ambiente acolhedor e caloroso.

"Promover o empoderamento significa possibilitar ao grupo as mudanças nos seguintes paradigmas: sujeitos com apresentação de soluções participativas, gerando competências, com valorização comunitária e cultural, primando a corresponsabilidade." (BARRETO, 2005).



E, assim, descobrimos a cada viela ...


Adaptação imagem Projeto Luz nas Vielas, Coletivo Boa Mistura, São Paulo, 2012


O Tema "Viver e habitar em um território, além de implicar uma forma peculiar de lidar com os recursos disponíveis geograficamente, também configura laços de sociabilidade, redes de trocas e modos coletivos e singulares de produção de subjetividade." (Interam. j. psychol. v.40 n.1 Porto Alegre abr. 2006) As aflições do ser humano são tema central para o desenvolvimento deste projeto. Além das angustias intrínsecas à grande parte dos indivíduos, a população do Bairro Jardim Vera Cruz convive cotidianamente com os efeitos da exclusão social. O Bairro Jardim Vera Cruz, localizado no Distrito de Jardim Ângela, Zona Sul de São Paulo, está inserido dentro de um contexto de exclusão socioespacial e extrema vulnerabilidade onde o acesso à educação, saúde, cultura, mobilidade entre outros serviços básicos necessários para um desenvolvimento saudável do indivíduo é reduzido ou, em muitos casos, inexistente.

impactado pelo programa sugerido apresentou-se como a melhor maneira de se chegar até os problemas individuais e assim assegurar um desenvolvimento comunitário mais saudável.

"Entendendo a família como o núcleo de primeiras relações afetivas onde os traços básicos da personalidade de um indivíduo se formam, apoiar a família e fortalecer os pais, pode ser um caminho para o desenvolvimento equilibrado de crianças e adolescente." (CEAF - Centro de Estudo e Assistência à Família) Porém, ao longo do desenvolvimento do projeto, a família se colocou como mais um dos grupos dentro dos mais diversos que compõe a sociedade e podem ser reconhecidos e fortalecidos pelas suas dores em comum.

A comunidade passou a ser percebida como um ser vivo, composta por vários. O indivíduo passou a ser entendido como comunidade. Indivíduo e comunidade. Somos ambos ao mesAbordar a família como sujeito principal a ser mo tempo.


O indivíduo é a comunidade. O tema do projeto procura tratar patologias da mente como uma ferramenta de saúde mental preventiva e, principalmente, denunciar, reconhecer e fortalecer a subjetividade do sujeito periférico. Sendo assim o Farol da Comunidade se articula como um centro de acompanhamento terapêutico e se desenvolve em dois diferentes, porém complementares, eixos: 1- como uma ferramenta preventiva, ouvindo diferentes histórias vindas de diferentes pessoas, independentemente da abordagem, em grupos pequenos, grandes ou individualmente; 2- como espaço de apoio para indivíduo acometido pela patologia mental. Ambos os eixos buscam, de maneira direta, a construção de uma comunidade mais unida e saudável. O programa pretende dar espaço a uma equipe interdisciplinar, composta por psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais. Tais profissionais vão coordenar desde atendimentos individuais até palestras, vivências e oficinas terapêuticas.



Justificativa "[...] a tradição da Psicologia, no Brasil, tem sido marcada pelo compromisso com os interesses das elites e tem constituído como uma ciência e uma profissão para o controle, a categorização e a diferenciação. Poucas têm sido as contribuições da Psicologia para a transformação das condições de vida, tão desiguais em nosso País." (100% Periferia - O Sujeito Periférico: um objeto de estudo da Psicologia Social?). Caminhando pelas ruas da comunidade, a violência salta aos olhos. A droga, o abandono, a desesperança, a criança que é mãe e a criança que é filha, o abuso físico, a agressividade verbal, a falta de suporte, o descaso, o lixo, esgoto, o barraco, a esqualidez, a escassez. O projeto nasce da necessidade de entender o poder da criação de um espaço capaz de equalizar ou ao menos minimizar essa realidade dura porém tão cotidiana através do conhecimento, do reconhecimento, do envolvimento e da proposição.


Adaptação imagem Projeto Luz nas Vielas, Coletivo Boa Mistura, São Paulo, 2012



Grande propósito, pequena intervenção Como descrito no Memorial Urbano, a área onde o Jardim Ângela está inserida é de grande fragilidade ambiental, além de ser, como grande parte das zonas periféricas, extremamente adensada. Essa conformação atingida pela ocupação desordenada vai diretamente contra com a necessidade real desse território, que pede cuidado e preservação. Apesar disso, o grande contingente de pessoas habitando o lugar pede infraestrutura e equipamentos que supram suas necessidades. Assim sendo, tentando conciliar a necessidade do homem e a necessidade do território, o projeto se faz mínimo. Em proporções e em modificações no terreno original carregando em seu programa apenas os espaços construídos extremamente necessários para seu funcionamento tendo a sua área envoltória de forma verde intensa projetualmente.

A arquitetura como farol O farol orienta, ilumina. Cada pequena construção desenhada para compor o novo espaço tem os mesmo preceitos de um farol. Um espaço que, subjetivamente, tem o objetivo de despertar em cada um que passe por ele a sensação de esperança e acolhimento. É um norte de luz. Ali, ele pode ser ouvido, respeitado e reconhecido no outro para, quem sabe, se tornar, ele próprio, um pequeno farol para os que o cercam.


O Projeto



Projetos individuais 1Sutura (Adriana Medeiros) 2 Polo ambiental para jovens

São Paulo Jardim Ângela

Jardim Ângela Área de Estudo

Área de estudo Área de projeto

(Beatriz Michelazzo) 3 Conviver (Camila Borges) 4 Abrigo de ideais (Danilo Maia) 5 Projeto Ser (Gabriel Ramirez) 6 O calor da Rua (Helder Ferrari) 7 Projeto Cuidar (Isabelle Cocetti) 8 Educar entre jardins (Kaena Justo) 9 Projeto Navegar (Maria Clara Calil) 10 Casa Atemporal (Maria Vrolijk) 11 Pátio das expressões (Paloma Rodrigues) 12 Centro Político (Pâmela Rodrigues) 13 Farol da Comunidade 14 Sobre Trilhos (Priscilla Franco) 15 Atravessado (Raíssa Gattera) 16 Píer do Sol (Vivian Helena)



Localização e seus porquês

Rua Anatoli Liadov

Avenida ol at An a Ru

Públicos

iL iad

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s cionário

dos Fun

Um farol precisa ser visto. Para que a ideia de conversar e dividir as aflições seja introduzida no cotidiano dos moradores, o projeto se localiza em área de fluxo intenso. Sua implantação se forma no cruzamento de dois eixos de ruas importantes para com o bairro: Avenida dos Funcionários Públicos e a Rua Anatoli Liadov. A avenida dos Funcionários Públicos tem caráter de via coletora e contorna as bordas sudeste e sudoeste do bairro, recebendo o bolsão de ônibus que costura o território, predicado na proposta urbana. À leste encontram-se o posto de saúde do bairro e o CEU- Centro de Educação Unificada Vila do Sol. A área do projeto recebia o estacionamento de veículos do Supermercado Mercadinho Total, estabelecimento de comércio local, e pontuais trailers com cachorro quentes e tapiocas implantavam-se ali. Ao norte, a forte inclinação de sua topografia preservou o espaço de receber construções até o momento. A vinculação espacial de proximidade com o CEU traz seus alunos e familiares ao projeto, implantado como espaço público, podendo servir de intermédio para criação de laços entre os moradores e a própria escola já que essa pode se apropriar das dependências do Farol para promover suas atividades.

CEU EMEI Vila do Sol Hospital Dia da Rede Mata remanescente CEMEI Carlo Caproli







Implantação O posicionamento do projeto dentro da área que o recebe se dá por pontos norteadores para que ele se torne o que se propõe a ser: um espaço público de passagem e permanência diárias, mas que consiga atender a exigência de privacidade que as atividades que serão realizadas pedem. O espaço se constrói a partir de sua própria transformação e constituição espacial. 1- Eixo norteador: Fluxo A primeira ação projetual é o reconhecimento de uma linha de fluxo que corta o projeto de maneira a facilitar a chegada dos moradores que descem da Rua Anatoli Liadov até a Avenida dos Funcionários Públicos e seus grandes equipamentos implantados lá. Para vencer todos os desníveis apresentados pelo terreno de maneira inclusiva, existe ao longo do fluxo escadas e rampas para


que o pedestre possa escolher entre um caminho mais rápido e direto - pelas escadas -, ou mais longo e acessível - rampas. 2- Reestruturação da mata remanescente Nas áreas de maior declive dentro do terreno, pela dificuldade de ocupação, existem pequenos maciços arbóreos remanescentes. Para recuperar a mata que lá havia e, em respeito ao plano urbano, o Projeto Farol da Comunidade propõe que mais da metade da sua área envoltória seja transformado em agrofloresta, caracterizada por oferecer no mesmo espaço o plantio de produtos agrícolas e florestais. Ela se estende por toda a área, até onde a intervenção do projeto não alcança, se unindo aos maciços arbóreos e ajudando a restaurar e recuperar o verde.




A implantação é concebida com seu programa explodido dentro do terreno, por 3 motivos. O primeiro refere-se a criação e construção de diferente espaços. Propondo um projeto que tem suas especificidades e necessidades. O segundo, por uma necessidade intrínseca ao território: o Bairro Vera Cruz precisa de espaços públicos, de espaços abertos que façam parte da comunidade e que estejam abertos a ela. E por fim, o terceiro motivo existe em harmonia com o programa e carrega os preceitos da reforma psiquiátrica na medida que traz um equipamento difundido em meio a comunidade, trazendo a importância da manutenção da saúde mental para o cotidiano dos moradores. Assim, o projeto proporciona variados espaços, porém com o mesmo objetivo em comum:

fortalecer o indivíduo, suas relações e a comunidade. São a princípio espaços facilitadores de encontros, onde as pessoas possam se identificar através das suas dores e problemas em comum, onde elas consigam estabelecer e restabelecer vínculos afetivos e sociais por meio da análise e compreensão de suas relações e conflitos. A a rquitetura se apresenta não como um fim em si mas como um mediador de vidas. O desnível do terreno foi usado para conferir aos espaços a privacidade necessária, definindo onde pedestres passam no dia a dia de maneira a chegar a seus destinos, onde são os espaços de usuários efetivos das dependências programáticas do projeto, e onde ficam as áreas de permanência.



A Praça Seca se implanta paralelamente a Avenida dos Funcionários Públicos e nela se localiza o grande espaço vazio de permanência além do pequeno espaço de vendas de alimentos. Aproveitando o grande fluxo da avenida, a praça é uma maneira de qualificar o projeto como espaço público e o manter sempre movimentado graças a proposta de uso permanente conferido pelas vendinhas, tudo isso, sem perturbar as outras atividades desenvolvidas ao longo do projeto. Nesta área será implantada pequena horta comunitária. O segundo patamar, acessado através da grande rampa iniciada na Praça, recebe o grande espaço comunitário e a Vilinha de trocas. O espaço comunitário fica localizado no eixo visual com a Rua Orí-

dio Bartolini, assim, conforme as pessoas andam por ela em direção ao projeto, conseguem enxergar seu volume, como um grande farol de luz. A vilinha de trocas fica na outra extremidade em relação ao Espaço Comunitário. Ela possui conformação mais fechada para proporcionar aos usuários maior sensação de intimidade. No terceiro patamar, e o mais recluso do terreno, sendo acessado apenas por uma passarela, ficam os Casulos. Os Casulos são as salinhas de atendimento individual e ficam posicionados de maneira livre em meio a agrofloresta. Assim, a pessoa que precisar ser direcionada para atendimentos particulares, se sentirão o mais confortável possível em procurar, intimamente, o caminho para sua melhora individual.


Troca de vivências em comum

Praça: Conversa Informal Prática Colaborativa

Atendimento Individual




1 1 2 1 1

Legenda 1. Infraestrutura cozinha 2. Banheiro


Vazio: a Praça Seca O Vazio: OPraça Seca

pos

Subindo a Avenida dos Funcionários Subindo a Avenida dos Funcionários dro cozinhas e um banheiro. Públicos, um pequeno muro de arrimo to por uma pequena lâmina contendo Públicos, um pequeno muro de arri- A praça é parcialmente fragmentada organiza a topografia do passeio e quadro cozinhas e um banheiro. mo organiza a topografia do passeio e pela grande rampa, que dá acesso ao anuncia o primeiro acesso ao projeto. A praça é parcialmente fragmentaanuncia o primeiro acesso ao projeto. patamar três metros acima, e em na Na cota 781,00, se abre um conside- da pela grande rampa, que dá acesso Na cota 781,00, se abre um considerá- parte de trás da rampa, voltada para rável vazio que contrasta com o que ao patamar três metros acima, e em vel vazio que contrasta com o que se o CEU, a agrofloresta começa a se forse enxerga ao redor - áreas cober- na parte de trás da rampa, voltada enxerga ao redor - áreas cobertas por mar a partir de plantações de pequeno tas por construções -. O bairro Vera para o CEU, a agrofloresta começa a construções -. O bairro Vera Cruz ca- porte que, além de servir a toda a coCruz carece de respiros e espaços se formar a partir de plantações de rece de respiros e espaços públicos e o munidade serve diretamente como fonpúblicos e o desenho da praça con- pequeno porte que, além de servir a desenho da praça consegue indicar que te de matéria prima para os vendedosegue indicar que providenciar os toda a comunidade serve diretamenprovidenciar os mesmos é uma das ca- res instalados na Praça. mesmos é uma das características te como fonte de matéria prima para racterísticas norteadoras da proposta. O CEU, em sua implantação, cortou a norteadoras da proposta. os vendedores instalados na Praça. Como visto anteriormente, no terreno terra do terreno ao lado criando um Como visto anteriormente, no terre- O CEU, em sua implantação, cortou atual existem alguns trailers de ven- grande platô gerando uma grande barno atual existem alguns trailers de a terra do terreno ao lado criando das de alimentos, portanto criar um reira física, já que, conforme a declivivendas de alimentos, portanto criar um grande platô gerando uma granespaço onde eles possam continuar a dade aumenta, o talude entre os dois um espaço onde eles possam con- de barreira física, já que, conforme a oferecer tal serviço é uma maneira de projetos alcança até nove metros de tinuar a oferecer tal serviço é uma declividade aumenta, o talude entre respeitar o território além de caracte- desnível. Por isso, para criar uma ligamaneira de respeitar o território os dois projetos alcança até nove rizar o espaço, trazendo possibilidade ção delicada e mostrar a intenção de além de caracterizar o espaço, tra- metros de desnível. Por isso, para de uso permanente, de maneira que a interação entre os projetos, foi imzendo possibilidade de uso perma- criar uma ligação delicada e mostrar comunidade passe ocupa-lo cotidiana- plantada uma pequena escada que liga nente, de maneira que a comunidade a intenção de interação entre os mente. o primeiro patamar da escola até a passe ocupa-lo cotidianamente. projetos, foi implantada uma pequeSendo assim, encaixado no talude a Praça Seca. Sendo assim, encaixado no talude a na escada que liga o primeiro patanorte da praça fica o equipamento dinorte da praça fica o equipamento mar da escola até a Praça Seca. recionado para tais serviços, composto direcionado para tais serviços, compor uma pequena lâmina contendo qua-


A Vila de Trocas Chamada de vilinha graças a sua conformação: suas salas são dispostas de maneira a criar cheios e vazios de mesma proporção. Onde o espaço não construído também se faz lugar passível de receber as diferentes atividades terapêuticas e reuniões de grupo. Essa é sua proposta central, oferecer diferentes oportunidades de espaço, dependendo da necessidade da atividade a ser realizada. Para tal, as salas possuem internamente uma divisão de painéis móveis, que podem ser completamente abertos e fechados, interna ou externamente. A vilinha receberá todos os tipos de atividades: oficinas, reuniões de grupos com características em comum, para crianças, mulheres, famílias, todo e qualquer agrupamento de pessoas que consiga abrigar, para dividir suas aflições, a partir do direcionamento dos profissionais indicados. Suas salas são construídas através de planos opacos e fechamentos com possibilidade de aberturas e seus planos

são responsáveis pela estruturação da rampa que vence o desnível de quatro metros do patamar da vilinha até a Anatoli Liadov. A rampa se constrói como uma rua, trazendo um traço urbano para dentro do projeto. Parte da cobertura de cada sala se torna um deck para rampa, formando assim, pequenos espaços de convivência em cima de cada volume. Logo acima das conversas direcionadas por profissionais, estão as conversas cotidianas, habitando o mesmo ponto, sem que um espaço perturbe o outro. O que não é deck, é cobertura translúcida, assim, as salas se transformam em caixinhas iluminadas para quem a percorre. É sabido a dificuldade que várias pessoas tem em pedir ajuda. Com isso é promovido a construção do atrito, entre uma grande infraestrutura urbana de mobilidade com os volumes das vilinhas, por meio de seu contato cotidiano.


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3

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Legenda 2. Banheiro 3. Salas grupos 4. Apoio funcionários 5.Informação/ Administração

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O Anel Comunitário "Quando um grupo de pessoas se reúne para discutir seus problemas, muitas vezes sentidos como exclusivos de cada um dos indivíduos, descobrem existirem aspectos comuns, decorrentes das próprias condições sociais de vida; o grupo poderá se organizar para uma ação conjunta visando a solução de seus problemas. E aquelas necessidades, que sozinhos eles não podiam satisfazer, passam a ser resolvidas pela cooperação entre eles." (O que é psicologia social, Silvia T. Maurer Lane) O Anel Comunitário é o ponto central de um projeto descentralizado. Instalado em ponto visual urbano fundante, seu poder é ser visto e reconhecido pelos moradores como um local de aconchego e identificação. É o farol de tijolo, colocado um a um, num trabalho coletivo feito pelo tempo. Seu espaço, projetado em círculo, conformação da terapia coletiva, propicia que todos se enxerguem e se ouçam. Seu diâmetro foi definido pelas mesmas condições: 8 metros, distância onde as pessoas conse-

guem enxergar as expressões corporais e faciais do outro, além de ouvir com clareza quem se encontra em seu extremo oposto. O Anel Comunitário possui uma particularidade em relação as outras construções do projeto. Ele traz a vista duas questões inerentes ao bairro: a água e a infraestrutura. Uma tão visível porém não disponibilizada e outra tão ausente porém tão desejada. Para relacionar as duas questões, a ideia foi mostrar a captação e o armazenamento da água que abastecem as hortas que ali estão. Para tal, o Anel é também o reservatório do projeto e capta a água pluvial de todas as outras construções vindas por tubulações. As reuniões acontecem sobre a água, no deck de madeira com suas peças espaçadas de maneira que todos enxerguem o que há embaixo. Sua cobertura, assim como o deck, possui um "rasgo" em uma das extremidades do círculo. Assim, quando chove, a água cai como uma pequena cachoeira diretamente no reservatório e as pessoas conseguem vivenciar todo o processo.





6 6

2 7

6

Legenda 2. Banheiro 6. Salas individuais 7. Depรณsito


Os Casulos Andando sobre a passarela conectada que se faz ao norte do patamar da Rampa estruturada pela Vilinha de Trocas, a pessoa chega até o patamar mais recluso do projeto, a floresta onde ficam os casulos. Ao final da passarela, se encontra um pequeno espaço circular rebaixado, que anuncia o fim do percurso. A partir daí, cada um sai em busca de seu casulo. Tal espaço pode ser usado como espera, para meditação ou confraternizações. As salas de atendimento individual são pensadas da melhor maneira para que o usuário se sinta respeitado e confortável a expor todos seus problemas e pensamentos mais íntimos. Por isso, os casulos são dispostos aleatóriamente em espaço de floresta densa. A proposta traz, a princípio, três cúpulas construidas, para que, ao longo do tempo, de acordo com a necessidade, a comunidade possa construir mais unidades. Cada casulo se torna, por algumas horas, um abrigo para cada aflição.




Cortes


CORTE AA SEM ESCALA CORTE AA


Presença de peixes (Guppy e Lambari) no reservatório aberto para proteção da água contra larvas de mosquitos.


CORTE BB



CORTE CC

CORTE DD



CORTE EE

CORTE FF


Materialidade e constructo Os materiais base da construção são a madeira e o bloco cerâmico. De maneira geral, o bloco cerâmico (14x19x29) são usado para compor paredes estruturais e a madeira laminadas como vigas para as coberturas e por vezes pilares, para estruturação de parte da rampa. No caso da Vilinha de Trocas, as salas são formadas por planos de bloco cerâmico estrutural paralelos, que se equilibram a partir de blocos assentados perpendicularmente ao plano, funcionando como pilaretes, num eixo de 2,25 metros. Com a exigência do território pelo mínimo impacto construtivo, os planos estruturais, além de estruturarem a Vilinha, fazem parte do sistema estrutural da rampa, que faz o acesso do projeto até a Rua Anatoli Liadov. As coberturas das salas se tornam patamares, pequenas praças, ao longo da rampa. Essa cobertura/patamar é estruturada a partir da sobreposição de vigas de madeira formando uma malha. Assim, é possível vencer grandes vãos com peças de madeira comerciais. Cada plano estrutural se distancia 4,8

metros um do outro, ou seja, é necessária uma viga de pelo menos 40 centímetros de altura. A malha de vigas de madeira é formada por uma sequência de peças de 16x0,6cm na longitudinal, colocada sob outra malha na transversal, com peças de 12x0,6cm e concluída por mais uma malha na longitudinal, agora também com peças de 12x0,6 cm, formando assim um conjunto de exatamente 40 centímetros de altura. As vigas se distanciam uma das outras, em ambas as direções, numa distância igual ou próxima de 1,20m. Onde existem os pequenos espaços de convivência, uma viga de 12x0,6cm é acrescentada entre outras 2, fazendo um vão de 0,60cm, para que as madeiras do deck possam se apoiar. Apesar de criar um jogo interessante de luz e sombra dentro dos ambientes, tais sobreposições não protegem da chuva. Portanto, para manter o efeito da iluminação natural e escoar a água com eficiência, nos vãos da sequência inferior de vigas de madeira de 16x6cm são fixados perfis metálicos onde telhas translúcidas de policarbonato são apoiadas.


Processo de montagem madeiramento Vila de Trocas

1. Alvenaria estrutural de Bloco cerâmico e pilares compostos de madeira.

4. Sobreposição sentido oposto vigas de madeira lâminada 12x6xm.

2. Vigas de madeira lâminada 16x6cm.

5. Vigas extras de madeira lâminada para apio do deck.

3. Sobreposição sentido oposto vigas de madeira lâminada 12x6xm.

6. Madeiramento peças do deck (3x10cm).


Detalhe 1 Ligação bloco cerâmico e viga de madeira

Det 1 8

3 6

1 5

2 4

3 6

2 Det 2 4

7

Detalhe ampliado Corte BB

7

Legenda 1. Tela metálica perfurada 2. Bloco canaleta cerâmico (14x19x29cm) 3. Telha Translúcida 4. Bloco cerâmico (14x19x29cm) 5. Calha de bambu 6. Forro de bambu 7. Viga baldrame (20x30cm) 8. Perfil metálico "c"

Detalhe ampliado Corte DD

Detalhe 2 Instalação Rufo


Para evitar infiltração de água entre as telhas e as vigas, são colocadas rufos ao longo de toda a peça, além da calha de bambu contínua e os rufos de topo. A mesma solução estrutural se repete nas coberturas da lanchonete e do Espaço Comunitário, além de seu deck. No Espaço Comunitário, a lógica estrutural é a mesma, porém, no deck, fixado no concreto que forma o reservatório. Devido ao diâmetro de 8 metros, as vigas são todas de 16x6 cm e, para alcançar a altura necessária, são usadas 4 sequências de vigas se alternando entre transversal e longitudinal. Os casulos são estruturados pela lógica do clássico forninho de pizza, com tijolinhos baianos assentados de maneira a formar uma cúpula com abertura zenital, estruturada por um anel de concreto. Este anel tem fechamento de policarbonato trazendo luz para o espaço.

Exemplar Madeiramento Cobertura

Rufo lateral Telha translucida

Deck madeira Viga madeira 12x6cm Viga madeira 12x6cm Viga madeira 16x6cm

Exemplar Cobertura


Processo de montagem cobertura/deck infraestrutura cozinhas 1. Vigas de madeira lâminada 16x6cm.

1. Vigas de madeira lâminada no sentido oposto 12 x6cm.

5. Deck de madeira.

3. Vigas de madeira lâminada 12x6cm.

4. Vigas de madeira lâminada 12x6cm de reforço para colocação do deck.


Encaixe pilar de madeira e fundação

Encaixe madeiramento deck e pilares de madeira

Explodida Anel Comunitário


A infraestrutura O objetivo com cada infraestrutura proposta é conseguir que o projeto seja autossuficiente e não dependa da iniciativa pública para funcionar plenamente. Como visto anteriormente, o Anel Comunitário é também o reservatório do projeto, que recebe a água captada através de grelhas posicionadas estrategicamente ao longo do terreno. A água captada é bombeada e redistribuída para o uso tendo passado antes por filtro e bomba que a mantem em movimento. Esse reservatório também refresca o ambiente coberto no calor, através da evaporação. Para o tratamento do esgoto cinza, são propostos jardins filtrantes. A água proveniente da pia é filtrada

descarte 1° água Reservatório da chuva

Filtro separador

Reutilização de água

pelas sua composição de areia, pedras e plantas aquáticas. Para o esgoto negro utiliza-se os tanques de evapotranspiração: tanques lacrados, cheios de entulho cerâmico, areia e brita, sobre os quais ficam espécies de plantas de folhas largas, dispostas em meio a agrofloresta. A alternativa para o lixo orgânico, é sua transformação no humos que volta pra terra de modo a ajudar no plantio e manutenção de hortas e da própria agrofloresta. Papel, plástico e outros materiais recicláveis são depositados no ponto de coleta localizado na esquina da Avenida dos Funcionários Públicos e com a Rua Anatoli Liadov, para ser de fácil acesso e fácil escoamento.

Corte esquemáticco


Planta esquemรกtica caminho das รกguas (Pluviais, esgoto negro, esgoto cinza)


Referências projetuais

Escola para Órfãos "Floating in the Sky" / Kikuma Watanabe

Observatório no deserto / Contemporary Architects Association

Centro Comunitário de Manica / Alina Jerónimo + Paulo Carneiro + Architecture for Humanity


Centro de Oportunidade para Mulheres / Sharon Davis Design

Centro Comunitário Diamond Island / Vo Trong Nghia Architects

Pavilhão "The TrueTalker"

Salão Comunitário da Igreja Rural de Malawi / Architecture for a Change


Considerações Finais

Descobrir como vão se desenvolver os processos para os quais os espaços foram traçados para receber não faz parte da nossa competência como arquiteto, mas sim, descobrir como desenhar e estruturar os espaços que contribuem na estruturação de pessoas. E é essa a arquitetura que eu sei que foi desenvolvida por cada um durante o semestre, é também, para mim, a verdadeira arquitetura. Aquela que se desenha acreditando no privilégio de se tornar palco para as pequenas grandes revoluções e evoluções. Com o traço democrático, se constrói para criar espaço do todo. Para que o um se sinta parte do todo.




Referências Bibliograficas Almeida-Filho N, Lessa I, Magalhães L, Araújo MJ, Aquino E, James SA, et al. Social inequality and depressive disorders in Bahia, Brazil: interactions of gender, ethnicity, and social class. Soc Sci Med.2004;59(7):133953 VASCONCELOS, E. M. O poder que brota da dor e da opressão: empowerment, sua história, teorias e estratégias. São Paulo: Paulus, 2003. MEDEIROS, S.N. Prevalência dos transtornos mentais e perfil sócio-econômico dos usuários atendidos nos serviços de saúde em municípios paraibanos. 2005. 119f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2005. AYRES, J. R. C. M. Cuidado e reconstrução das práticas de Saúde. Interface -Comunic., Saúde, Educ., v.8, n.14, p.73-92, set.2003- fev.2004. BARRETO, A. de P. Terapia comunitária passo a passo. Fortaleza: gráfica LCR, 2005.


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