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Edson Flávio Santos
como discurso bonito para alguns, mas os temas político-sociais não devem, e nem pretendem, ser algo exclusivo da cultura. O segredo está em como fazer esse discurso virar prática.
Você é professor. Foi para isso que se preparou. Vamos fazer um exercício. É sua responsabilidade indicar 20 livros de literatura para serem lidos no Ensino Médio. Qual seria o seu critério? Como fazer? Ordem cronológica? Clássicos? Contemporâneos? Romances ou contos? Prosa ou poesia? O que pretendemos é a saber o que você privilegiaria na abordagem com o jovem leitor.
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Vou seguir um exemplo muito prático que tenho por perto: meu sobrinho. Entrou em minha biblioteca e puxou da prateleira o livro “A biblioteca à noite”, de Alberto Manguel. Logo ele me indagou sobre o que era aquele livro. De imediato contei que o livro versava sobre diversas bibliotecas ao redor do mundo. Nisso, a que ele mais se encantou foi a “Biblioteca do Capitão Nemo” que ficava a bordo do Nautilus. Resultado: ele está lendo “Vinte mil léguas submarinas”, de Julio Verne, um romance escrito em 1870 motivado pela história que ouviu sobre a biblioteca do submarino. Não há uma receita. Com o meu sobrinho eu pude oferecer o meu acervo e ele escolheu o que desejou. Quando essa escolha recai sobre os ombros do professor é, e sempre será, arbitrária. Isso é um problema. Disse tudo isso para ilustrar que o gênero literário ou a ordem cronológica não teriam tanta relevância. Eu procuraria privilegiar aquelas obras que eu percebesse que poderiam contribuir para despertar o gosto pela leitura e o desejo pela literatura. Indicaria os vinte, mas, se eles conseguissem ler pelo menos a metade, já me daria por satisfeito.
A virada do século XX foi marcada pela febre das vanguardas. O rompimento era a palavra de ordem entre os escritores e artistas plásticos. Contudo, no começo do século XXI não percebemos o mesmo impulso criativo ou, pelo menos, a mesma vontade de questionar padrões literários vigentes. O que aconteceu, na sua opinião? Os jovens escritores estão preocupados com novas demandas? Ou se tornaram mais pragmáticos?
Eu comecei a entrevista falando do Torto Arado. Posso considerar o tema de Itamar Vieira novo? Posso considerá-lo pragmático? Certa vez o autor disse que demorou anos escrevendo esse romance. Talvez aí esteja um fator que sirva para delinear o perfil dos jovens escritores: o tempo. Há uma leva muito intensa de produção que parece não esperar a maturação do próprio texto. Essa turma, na qual eu encaixo muitos escritores – inclusive eu – tem uma urgência em falar do agora, do instante. Não é ausência da busca por “novas demandas”, acho que não é isso. Ninguém quer ser cópia de outro. Nessa tentativa de criar o seu próprio modelo, muitos acabam sendo “mais do mesmo”. Eu não vejo problema nisso. Recebi muitas críticas sobre o Aldrava (2020). Uma delas dizia que o livro era muito ligado à segunda geração romântica – o mal do século. É lógico que eu não quis reproduzir uma escola do século retrasado, mas alguns poemas, é bom frisar, atraíram para si essa pecha. É uma urgência falar daquilo que o outro cala ou daquilo que não quero calar dentro de mim. Seja sobre mim, sobre o outro ou sem relação nenhuma comigo ou com o outro. Todos os escritores querem escrever e querem ser lidos. Eu reafirmo o que disse anteriormente: cabe à História Literária dizer se fizemos o certo ou o errado.