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Helena Werneck
from Revista Pixé 19
você
Você me pergunta, se eu já te escrevi poemas Sim, meu bem, alguns Mas isso não é nada Pois já escrevi poemas demais E o que eu escrevi pra você Foi com meu lápis divino Eu escrevi o sumo da vida Pois é o que tu é O sol inteiro raiando dourado O rio, o oceano, a areia da praia infinita O mundo todo Uma galáxia completa Uma seita, uma verdade Uma razão, Você não alugou, você comprou meu coração Sua residência é fixa Sua permanência inegociável E nem se eu fosse Drummond Que escreveu mais que respirou na vida E eu lhe fizesse uma resma de versos Seria preciso, na verdade, uns 8 mil universos Pra caber tudo que eu sinto E mesmo que eu quisesse mentir E pra você eu não minto Eu juro dizer a verdade e somente a verdade Comer queijo cotage e tomar vinho tinto Imagino nossa vida inteira atrás de vasos de samambaia Cães, gatos, filhos debaixo da nossa saia Eu que sempre achei que amor era uma porrada Descobri, da melhor forma Que eu estava enganada.
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Helena Werneck
Cuiabana, formada em Secretariado no IFMT, e vencedora do prêmio de literatura de Mato Grosso de 2017 categoria revelação com a obra de título “Nu”.
BURRO
Eu ando tão triste Como se o mundo tivesse o dedo em riste Dizendo que as coisas são quebradas velhas e usadas E meu corpo é um rio morto que há muito já secou Eu ando assim desesperada Com uma dor feia pendurada no meu peito Uma gaiola de sinos Que por onde eu passo Meninas e meninos Escutam as lamúrias da música do que eu sinto Eu não traio Eu não minto Eu não caio Eu não grito Eu não sinto Mas continuo existindo Como um homem fantasiado de burro
Na peça de William Shakespeare