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CAPÍTULO XXV
como vivia cá embaixo, outrora nos matos. Nem por isso a vendeu. Teve de contentar-se com os retratos políticos.
Quis ainda ver se colhia algum dinheiro, vendendo-lhes um retrato de Pedro I, encaixilhado, que pendia da parede; mas, Pedro recusou por não ter dinheiro disponível, e Paulo disse que não daria um vintém pela “cara de traidores”. Antes não dissesse nada! O lojista, tão depressa lhe ouviu a resposta como despiu as formas obsequiosas, vestiu outras indignadas, e bradou que sim, senhor, que o moço tinha razão. — Tem muita razão. Foi um traidor, mau filho, mau irmão, mau tudo. Fez todo o mal que pôde a este mundo; e no inferno, onde está, se a religião não mente, deve ainda fazer mal ao Diabo. Este moço falou há pouco em rei mártir, — continuou mostrando-lhes um retrato de D. Miguel de Bragança, meio perfil, sobrecasaca, mão ao peito, — este é que foi um verdadeiro mártir daquele, que lhe roubou o trono, que não era seu, para dá-lo a quem não pertencia; e foi morrer à míngua o meu pobre rei e senhor, dizem que na Alemanha, ou não sei onde. Ah! malhados! Ah! filhos do Diabo! Os senhores não podem imaginar o que era aquela canalha de liberais.
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Liberais! Liberais do alheio! — É tudo a mesma farinha, reflexionou Paulo. — Eu não sei se eles eram de farinha, sei que levaram muita pancada. Venceram, mas apanharam deveras. Meu pobre rei!
Pedro quis responder ao remoque do irmão; e propôs comprar o retrato de Pedro I. Quando o lojista tornou a si, começou a negociar a venda, mas não puderam entender-se no preço; Pedro dava os mesmos oitocentos réis do outro, o lojista pedia dois mil-réis. Notava-lhe que estava encaixilhado, e Luís XVI não; além disto, era mais novo. E vinha à porta, a buscar melhor luz, chamava-lhe a atenção para o rosto, os olhos principalmente, que bela expressão que tinham! E o manto imperial... — Que lhe custa dar dois mil-réis? — Dou-lhe dez tostões: serve? — Não serve. Mais que isso me custou ele. — Pois então... — Veja sempre. Pois isto não vale até três mil-réis? O papel não está encardido; a gravura é fina. — Dez tostões, já disse. — Não, senhor. Olhe, por dez tostões leve este de D. Miguel; o papel está bem conservado, e, com pouco dinheiro, manda-lhe pôr um caixilho. Vá; dez tostões.