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CAPÍTULO XXVII
santo ao outro e cantarolava baixinho para que papai nem mamãe ouvissem. Eu sempre lhe dei alguns cascudos... — Aí está! — Mas é que ele é que me dava primeiro, porque eu punha orelhas de burro em Robespierre... Então, eu havia de apanhar calado? — Nem calado, nem falando. — Então, como? Apanhar sempre, não é? — Não, senhor; não quero pancadas; o melhor é que esqueçam tudo e se queiram bem. Você não vê como seus pais se querem? As brigas acabaram de todo. Não quero ouvir rusgas nem queixas. Afinal que têm vocês com um sujeito mau que morreu há tantos anos? — É o que eu digo, mas ele não se emenda. — Há de emendar-se; os estudos fazem esquecer criancices. Você também quando for médico tem muito que brigar com as moléstias e a morte; é melhor que andar dando pancada em seu irmão... Que é lá isso? Não quero arremessos, Pedro! Sossegue, ouça-me. — Mamãe é sempre contra mim. — Não sou contra nenhum, sou por ambos, ambos são meus filhos. E demais gêmeos. Anda cá, Pedro. Não penses que eu desaprovo as tuas opiniões políticas. Até gosto e são as minhas, são as nossas. Paulo há de tê-las também. Na idade dele aceita-se quanta tolice há, mas o tempo corrige. Olha, Pedro, a minha esperança é que vocês sejam grandes homens, mas com a condição de serem também grandes amigos. — Estou pronto a ser grande homem, assentiu Pedro com ingenuidade, quase com resignação. — E grande amigo também. — Se ele for, serei. — Grandes homens! exclamou Natividade, dando-lhe dois abraços, um para ele, outro para o irmão quando viesse.
Mas Paulo veio logo, e recebeu o abraço inteiro e de verdade. Vinha também queixar-se, e sempre resmungou alguma coisa, mas a mãe não quis ouvi-lo, e falou outra vez a linguagem das grandezas. Paulo consentiu também em ser grande. — Você será médico, disse Natividade a Pedro, e você advogado. Quero ver quem faz as melhores curas, e ganha as piores demandas. — Eu, disseram ambos a um tempo.
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