L748a Lindsay, Gordon, 1906-1973. Adão e Eva/ Gordon Lindsay; traduzido por Josué Ribeiro; Rio de Janeiro: Graça, 2001. 48 p.; 14x21 cm. - (Heróis do Antigo Testamento; vol. 1) ISBN 85-7343-430-9 Tradução de: Adam and Eve. 1. Adão (Personagem bíblico). 2. Eva (Personagem bíblico). I. Título. II. Série. CDD-222.11
va Série heróis do Antigo Testamento Retratos dos personagens notáveis Volume 1
GORDON LINDSAY Traduzido por Josué Ribeiro Editado pela Graça Artes Gráficas e Editora Ltda. Graça Editorial
Rio de Janeiro, 2001
Adão e Eva © Gordon Lindsay, 1983 ORIGINAL:
"Adam and Eve" Gordon Lindsay Christ for the Nations, Inc. P. O. Box 769000 Dallas, Texas 753769000 Tradução: Coordenação: Revisão:
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SUMÁRIO Capítulo 1 A criação de Adão e Eva......................................................7 Capítulo 2 Tentação e queda de Adão e Eva......................................13 Capítulo 3 Os resultados da queda......................................................23 Capítulo 4 A árvore da vida no meio do jardim do Paraíso............31 Capítulo 5 Adão e Eva deixam o jardim do Paraíso.........................35
Capítulo 1
A CRIAÇÃO DE ADÃO E EVA E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente. Génesis 2.7 Deus insuflou seu próprio ar no homem, tornando-o alma vivente. Ao despertar para a vida, o homem achouse em um jardim de beleza indescritível que Deus criara para ele. Apesar de não se ter a localização geográfica exata do jardim, os nomes dos rios adjacentes são mencionados e indicam que a área ficava em algum ponto na Baixa Mesopotâmia, na região onde é hoje o Iraque. É evidente que Deus não criou o homem para uma vida de inatividade, mas deu-lhe, pelo menos, uma responsabilidade: E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. Génesis 2.15 O jardim tinha sido plantado por Deus, mas alguém precisava cultivá-lo e dele cuidar. As árvores precisavam ser podadas e exigiam outros cuidados, da mesma forma que um agricultor faria hoje, embora não se mencione que tipo de ferramenta Adão usava. Certamente, não era necessário o uso de inseticidas; também não havia espinhos nem qualquer espécie de erva daninha infestando o jardim. Antes da queda e da subsequente maldição da terra, tais coisas não existiam. Cuidar do Éden, em condições tão favoráveis, só poderia ser um prazer. As várias árvores produziam seus frutos de acordo com as estações, proporcionando a Adão e Eva uma alimentação variada e equilibrada durante todo o ano. 7
Adão e Eva O clima, sempre ameno e refrescante, mudava brandamente a cada nova estação (Gn 1.14). Não havia tempestades. Não havia chuva; um vapor, porém, subia da terra e regava toda a face da terra (Gn 2.6). O anoitecer, referido como a viração do dia, contrastava com o calor da tarde como ainda hoje. Naquele
momento de frescor, Deus visitava Adão. Sem dúvida, era durante essas visitas de fim de tarde que Deus fazia com que os animais passassem diante de Adão, para este ver como lhes chamaria; e tudo o que Adão chamou a toda alma vivente, isso foi o seu nome (Gn 2.19). É interessante notar que, desde o princípio, Deus permitiu que Adão tivesse uma certa iniciativa. O homem deveria possuir um alto nível de inteligência para ser capaz de dar nomes apropriados a centenas, ou talvez até milhares de espécies. Esses nomes, provavelmente, tinham uma certa relação com a natureza e as características de cada criatura. Note que, quando Adão deu nome à sua noiva, apropriadamente, chamou-a de Eva, ou doadora de vida, porquanto ela era a mãe de todos os viventes (Gn 3.20). O fato de existir uma variedade grande de espécies de animais indica que Adão levou um tempo considerável para terminar essa tarefa. Embora Adão estivesse tendo momentos interessantes e agradáveis no jardim, ao longo das semanas e dos meses, ele começou a sentir necessidade de companhia, alguém de sua própria espécie, pois, havia percebido que todos os animais tinham sua companheira, mas para o homem não se achava adjutora que estivesse como diante dele (Gn 2.20). A criação de Eva Então, o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas e cerrou a carne em seu lugar. E da costela que o Senhor Deus tomou do homem formou uma mulher; e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e A criação de Adão e Eva carne da minha carne, esta será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.
Génesis 2.21-25
Deus disse: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que esteja como diante dele (Gn 2.18). Certamente, Deus sabia que o homem era uma criatura social; viver solitário é algo contrário à sua natureza. No coração humano há emoções intensas, as quais só podem ser expressas na vida familiar. A mulher, do modo como Deus a criou, corresponde à outra metade do homem e ambos completam um ao outro. Como foi mencionado anteriormente, Adão percebeu que tinha necessidade de uma companheira. Dentre todos os animais que havia visto e nomeado, não encontrou um sequer que fosse igual a ele. Adão se certificou de que os animais não tinham o poder de falar (é verdade que mais tarde a serpente falou com Eva - para o seu desgosto - só que, na verdade, não foi propriamente o animal, mas Satanás). O homem percebeu também que todos os animais andavam apoiados sobre quatro patas e não assumiam a posição ereta, a posição de dignidade do ser humano. Chegou o tempo em que Deus daria uma ajudadora a Adão. O Senhor poderia ter criado a mulher na mesma época em que criou o homem, mas Ele tinha um propósito para tal demora: o homem precisava viver um tempo como solteiro, antes de assumir a responsabilidade de ter uma esposa. Foi sábio esperar até que a necessidade de uma companheira fosse sentida pelo homem. Quando essa necessidade foi despertada em Adão, Deus o fez adormecer profundamente, em preparação para a delicada operação de tirar uma noiva do lado do seu corpo. E bem provável que o sono de Adão tenha sido ocasionado com o mesmo propósito da utilização dos anestésicos, os quais são usados nos dias de hoje: o de evitar sofrimento e desconforto. Deus tirou uma costela (pelo original 9
Adão e Eva hebraico a melhor tradução é lado) de Adão, enquanto este estava inconsciente. Quanto ou o que exatamente foi tirado dele não sabemos.
Obviamente, Deus poderia ter criado Eva da mesma maneira que criara Adão; só que o homem não poderia ter dito: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne (v. 23). Ela era uma varoa porque fora tirada de um varão. O fato de Eva ter sido criada a partir do corpo de Adão nos faz traçar um paralelo entre Cristo e Sua Igreja. Assim como Eva fora tirada de Adão, a Igreja de Cristo foi extraída do seu lado ferido. Da mesma maneira que a carne foi posteriormente fechada, também a carne de Cristo foi curada, e Ele ressuscitou para tornar-Se a Cabeça da Igreja. Em Efésios, Paulo menciona essa passagem de Génesis. Ele cita Eva sendo tirada do corpo de Adão, como uma figura de Cristo e a Igreja, dizendo: Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da Igreja (Ef 5.32). Génesis 2.24 mostra como o homem e a mulher tornam-se um no casamento. Tendo sido feitos um para o outro, não atingiriam toda a plenitude do que Deus idealizou para eles, até que estivessem juntos. O casamento é muito mais do que um contrato civil; é uma instituição divina. Edith Dean, em seu livro AU the women of the Bible [Todas as mulheres da Bíblia], diz: No relato de Génesis, Eva é elevada a uma beleza etérea e a uma dignidade elevada. Como um grande escultor faz uma linda figura no mármore, [...] ela é geralmente retratada, tanto pelo artista como pelo poeta, com cabelos dourados brilhantes, com uma face que expressa amor celestial e uma forma forte e imortal. Todas as grandes épocas na vida de uma mulher, seu casamento e maternidade, são apresentadas em toda sua plenitude no relato sobre Eva em Génesis. Também a família, com todas as suas alegrias e pesares, passa a existir com Eva no centro. Em Eva, todas as questões mais fundamentais da vida, como 10
A criação de Adão e Eva nascimento, morte, mesmo o pecado e a tentação, são mostradas nas dimensões humanas. Como veremos mais adiante, depois que Deus apresentou a Adão sua noiva, o efeito sobre ele foi extraordinário. Seu amor por Eva foi tão grande que - dizemos com tristeza - prejudicou sua lealdade a Deus. O domínio do homem sobre a Terra Deus deu Sua bênção especial tanto para o homem quanto para a mulher. Notamos que o Senhor, depois de os haver criado, deu-lhes domínio sobre a Terra. E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem a sua imagem; a imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
Génesis
1.26,27 Com base nos versículos acima, vemos que o plano divino visualizava um destino elevado para Adão, Eva e seus descendentes. O homem, criado à imagem de Deus, tinha um maravilhoso papel diante de si, envolvendo possibilidades quase ilimitadas. Ele deveria ter domínio sobre toda a Terra. Isso significava que como vice-regente da criação, deveria "sujeitar" o mudo e colocá-lo sob o seu domínio. Além disso, Deus ordenou ao homem e à mulher que frutificassem, se multiplicassem e enchessem a Terra. No momento em que Adão pecou, ele não apenas perdeu seu domínio, como também, aparentemente, transferiu-o para Satanás. Isso pode ser visto no incidente em que Cristo foi tentado pelo diabo. Satanás chamou a atenção do Senhor para o fato de que os reinos do mundo foram dados a ele. E o diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe, num momento de tempo, todos os reinos do mundo. E disse-lhe o diabo: Dar-te-ei a ti 11
Adão e Eva todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue, e dou-o a quem quero. Lucas 4.5, 6 Cristo, é claro, rejeitou a tentação por meio de Sua obediência à vontade divina. No final, reconquistou esse domínio, do qual Adão fora despojado por sua desobediência a Deus. Voltemos aos acontecimentos do jardim do Éden. Até aquele momento, tudo transcorria bem. Eva, a ajudadora de Adão, linda, fascinante e adorável, encheu seu cálice de alegria até transbordá-lo. Sua graça e charme peculiares eram uma fragrância na vida de Adão, proporcionando-lhe um regozijo com o qual ele em tempo algum havia sonhado. Ao anoitecer, na viração do dia, o Senhor Deus se encontrava com Adão e Eva em um momento de comunhão. Havia muitas coisas misteriosas para eles que suscitavam inúmeras perguntas a fazer. Cremos que Deus os ensinava, como um pai ensina seu filho. Ele lhes falava sobre seu destino elevado e que tinham sido criados à Sua própria imagem. Naquele momento, Adão e sua ajudadora eram os zeladores do jardim, do qual deviam cuidar e se ocupar, visto que posteriormente, eles e seus filhos assumiriam o domínio de toda a Terra. Então, Deus lhes falou algo de suma importância. Disse-lhes que lhes havia concedido todos os frutos do jardim como alimento, exceto os frutos de uma árvore. Era a árvore da ciência do bem e do mal, a qual Ele reservara para Si mesmo. Alertou-os solenemente para não comerem daquele fruto. Caso o fizessem, teriam a morte como castigo. Infelizmente, no auge de toda aquela alegria, a ordem de Deus seria desrespeitada. Como consequência, os dois seriam expulsos do paraíso. A coisa mais trágica a respeito disso tudo era que a culpa seria inteiramente deles. 12
Capítulo 2
TENTAÇÃO E QUEDA DE ADÃO E EVA Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?
Génesis 3.1
Já vimos que Adão deu nome a todos os animais do campo - nomes que, sem dúvida, refletiam de alguma maneira a natureza e o caráter de cada um. A um dos animais ele chamou serpente, devido à sua sagacidade e sutileza. Essas características não devem ser consideradas negativas, porque depois que Deus criou os animais, Ele olhou Sua obra e viu que era boa. E fez Deus as bestas-feras da terra [...] e viu Deus que era bom (Gn 1.25). Logo, naquela época, a serpente não era a criatura repulsiva que conhecemos em nossos dias. Consequentemente, concluímos que um outro espírito havia entrado na serpente e agia por meio dela para enganar a mulher. Era Satanás. O fato de que foi o diabo quem enganou Eva é confirmado e dado como certo em toda a Bíblia. Jesus disse que o diabo é homicida e mentiroso desde o princípio. Vós tendes por pai ao diabo e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele foi homicida desde o princípio e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.
João 8.44
O Apóstolo Paulo fala sobre a serpente seduzindo Eva por meio da sutileza (2 Co 11.3). Depois declara que o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz (v. 14), evidentemente, referindo-se à tentação de Eva. Apocalipse 20.1,2 identifica claramente a serpente como Satanás: a antiga serpente, que é o 13
Adão e Eva diabo. Sabemos também que Satanás e os demónios subordinados a ele, em algumas circunstâncias, têm o poder de apossar-se de corpos humanos ou mesmo de animais. Temos um incidente na Bíblia, no qual uma legião de demónios foi expulsa de um homem que vivia pelos sepulcros. Após serem expulsos, os demónios entraram em uma manada de porcos (Mc 5.12,13). Sabemos que Satanás, também chamado Lúcifer, em certa época, foi um ser perfeito e sem pecado. Lemos sobre sua queda em Isaías 14.12-14 e em Ezequiel 28.11-19. Em tais passagens, vemos que o diabo se tornou orgulhoso e procurou exaltar-se acima das estrelas de Deus. Aparentemente, Lúcifer cobiçou a posição que foi dada a Cristo; quando viu que de modo algum isso seria possível, rebelou-se e arrastou a terça parte dos anjos consigo (Ap 12.3,4). Como já afirmamos anteriormente, a serpente, na qual o diabo entrou, não deve ser imaginada como o réptil rastejante que conhecemos hoje. Isso aconteceu como resultado da maldição que a serpente recebeu de Deus (Gn 3.14). Normalmente, os artistas ilustram a tentação de Eva por meio da figura de uma cobra enrolada ao redor do tronco de uma árvore, olhando maliciosamente para a mulher. Essa, certamente, não era a verdadeira forma da serpente na época da primeira tentação. Provavelmente, ela possuía beleza incomum, antes de ser amaldiçoada e obrigada a mover-se, arrastando-se sobre o próprio ventre. É estranho que a ONU (Organização das Nações Unidas), logo depois de fundada, ao procurar um símbolo para sua organização oficial de saúde, tenha escolhido justamente o emblema de Esculápio, o deus da cura, uma serpente enrolada em uma vara! Esculápio era adorado pelo povo de Pérgamo, cidade onde Jesus disse estar o trono de Satanás (Ap 2.12). A ONU (que imprime o emblema da serpente em seus selos 14
Tentação e queda de Adão e Eva postais) se identifica, involuntariamente, com esse personagem satânico. Estaríamos indo além da esfera do estudo de Adão e Eva, se entrássemos na discussão sobre o porquê de Deus ter permitido que Satanás incorporasse na serpente, ou o motivo pelo qual o inimigo foi autorizado a tentar a mulher. Certamente, todas as criaturas que recebem livre-arbítrio devem ser testadas. Devemos supor também que o diabo entrou no jardim do Éden sob a vontade permissiva de Deus. Satanás, em sua malévola oposição ao Senhor, faz continuamente a acusação de que Suas criaturas somente servem a Deus pelo que podem conseguir dEle (Jó 1.6-12; 2.1-7). Porventura, teme Jó a Deus debalde? Porventura, não o cercaste tu de bens? (Jó 1.9b;10a). Para estabelecer um reino eterno, seria necessário que Deus não incluísse nele elementos que se rebelassem contra Sua autoridade e buscassem subvertê-lo, como fez Satanás. Isso só podia ser evitado se o Senhor permitisse que cada homem fosse testado. Portanto, sem dúvida, Satanás entrou no jardim do Éden como parte do conselho predeterminado e da presciência de Deus (At 15.18). Seria necessário que o problema do mal fosse tratado no plano de Deus, em favor da humanidade. A fé na bondade de Deus nos leva a crer que Ele escolheu o plano mais sábio ao criar a humanidade e ao trazê-la a um relacionamento eterno e feliz com Ele. A serpente fala com Eva Surge mais uma questão. Por quais meios a serpente falou com a mulher? Não existe evidência alguma que nos leve a crer que a serpente, de modo geral, tinha a capacidade de falar. Foi Satanás, incorporado na serpente, que falou com Eva. Evidentemente, isso foi feito da mesma maneira que, atualmente, espíritos tomam posse de médiuns e falam por meio deles. Eva não pareceu surpresa ao ouvir a serpente 15
Adão e Eva falar. Por ter sido formada depois de Adão, ela não tinha a mesma experiência que ele. Como uma criança, a cada dia experimentava novas maravilhas. Quando a serpente começou a falar, sua graça e sutileza fizeram com que parecesse um anjo de luz aos olhos de Eva (2 Co 11.3,14). O plano de Satanás para seduzir a mulher foi astutamente elaborado e executado de forma refinada. Aquela era sua oportunidade suprema para macular a criação de Deus, introduzindo o pecado e, assim, reforçando seu argumento de que não há quem sirva a Deus sem querer algo em troca; se a recompensa for grande o suficiente, a pessoa seguirá sempre os próprios interesses. A ideia de amor, devoção e gratidão como base para servir a Deus é repelente ao coração maligno de Satanás. Como bom estrategista que é, o diabo começou a colocar seu plano em execução. Em primeiro lugar, viu que não seria sábio dirigir o ataque contra Adão, por este ser mais experiente. Também por esse motivo, não poderia atacar a mulher enquanto ela estivesse na companhia do marido. Ele teria de esperar uma ocasião oportuna, quando ela estivesse sozinha e próxima da árvore da ciência do bem e do mal. Além disso, estava claro que ele não poderia falhar na primeira tentativa, porque Adão e Eva estariam prevenidos e a oportunidade, quem sabe, perdida para sempre. Assim, Satanás esperou pacientemente o momento adequado para agir. O diabo não estava enganado em seus cálculos. Sem dúvida, Adão já havia mostrado a árvore da ciência do bem e do mal para Eva. Adão já teria explicado a ela que podiam comer o fruto de qualquer outra árvore do jardim, mas naquela árvore não deveriam mexer, senão morreriam. Em 1 Timóteo 2.14, Paulo diz especificamente que Adão não foi enganado. Ele entendia totalmente o perigo e o castigo, e certamente explicou isso a Eva. 16
Tentação e queda de Adão e Eva Adão, entretanto, não percebeu o fascínio peculiar que a árvore exercia sobre sua companheira. O perigo exerce uma misteriosa atração sobre certas pessoas. Algumas, por exemplo, têm de evitar lugares altos, senão são atraídas por um estranho magnetismo para a beira do precipício. Eva pode ter proposto em seu coração que, quando tivesse oportunidade, visitaria secretamente o local onde a árvore se encontrava, no meio do jardim, para tentar descobrir qual era o segredo ali contido. Por que o fruto não poderia ser comido? Seria venenoso? Tudo o que Eva sabia era que tanto o seu marido quanto o Senhor Deus haviam-lhe avisado que, se comessem daquele fruto, morreriam. Talvez, se ela fosse visitar a árvore, pudesse descobrir por si mesma o segredo do seu poder misterioso. Não sabemos quanto tempo Eva ficou contemplando a árvore. Subitamente, contudo, sua divagação foi interrompida por um visitante que falou com ela em um tom de voz agradável e bem-modulado. Passado o primeiro momento de surpresa, descobriu que estava atraída por aquele que se dirigia a ela. A bela criatura parecia conhecer seus pensamentos; ela abrira a conversa com essas palavras: É assim que Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim? (Gn 3.1b). Foi uma pergunta extremamente astuta. O diabo tomou precauções para não alarmar, nem assustar Eva; assim, colocou a pergunta em termos ambíguos. Ele a estava testando, reconhecendo o terreno. Era seu primeiro tiro, em uma campanha de engano e falsidade, a qual, desde então, tem levado adiante contra a humanidade. A pergunta de Satanás, elaborada de maneira esperta, poderia ser interpretada de várias maneiras. O diabo queria saber como Eva teria interpretado aquela pergunta capciosa. Fora isso exatamente o que Deus desejaria dizer: eles não deveriam comer de árvore alguma? Isso, certamente, não seria atitude de alguém tão bom e amoroso. Talvez Eva não tivesse compreendido corretamente a ordenança do Pai celestial, e Satanás, como um anjo de
luz, tentaria ajudá-la 17
Adão e Eva
a entender a verdadeira interpretação (a serpente ainda fala da mesma maneira para aqueles que nela acreditam: Deus é bom e generoso demais para permitir que qualquer pessoa se perca). Talvez Eva fosse mais longe, permitindo ao diabo lançar dúvidas sobre a bondade de Deus. Sua declaração, não comereis de toda a árvore do jardim (Gn 3.1b) - se fora do contexto de toda a história da tentação do homem -, pode significar que, na verdade, Deus não queria que eles comessem de árvore alguma. A mulher, contudo, deu a resposta correta: eles podiam comer frutos de qualquer árvore, exceto os de uma: E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos, mas, do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais.
Génesis 3.2,3 A atenção de Eva estava na árvore da ciência do bem e do mal, a qual logo se tornou para ela e seu esposo a árvore da morte. Alguns criticam Eva por ter dito que não deveria simplesmente tocar no fruto, pelo fato de Deus não tê-los proibido disso. Tal ponto de vista, contudo, tem pouco a seu favor, pois, se Eva não tivesse tocado no fruto, nunca o teria comido. A mulher não teria o que ganhar tocando o fruto ou mesmo chegando perto da árvore. É sempre aconselhável deixar a tentação o mais distante possível de nossa vida. De qualquer maneira, Satanás percebeu que tinha semeado uma dúvida na mente de Eva e seguiu adiante com essa vantagem. Em seguida, ele fez uma declaração ousada. Displicentemente, o diabo disse à mulher que aquilo que Deus havia dito a respeito da árvore não era verdade, e acrescentou ainda que, caso eles comessem do fruto, com certeza não iriam morrer. O inimigo exagerou nas vantagens e minimizou as consequências: Então, a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.
Génesis 3.4,5
18
Tentação e queda de Adão e Eva A morte fora descartada. Será que a mulher cairia naquela grande mentira? O diabo tinha enfatizado dois pontos em sua mentira: primeiro, assegurou a impunidade a Eva, se ela comesse o fruto; segundo, apresentou uma razão plausível pela qual Deus não queria que eles comessem o fruto - assim que eles comessem, teriam seus olhos abertos e seriam como deuses. De fato, o argumento de Satanás era uma mistura curiosa de verdade e mentira. Em um certo sentido, os olhos de Adão e Eva realmente lhes seriam abertos para o bem e o mal, mas o diabo os fez entender que, provando do fruto, eles obteriam muito conhecimento. Em outras palavras, eles teriam a sabedoria de um deus. Basil Atkinson, em seu livro Pocket commentary of Génesis [Pequeno comentário de Génesis], afirma: A serpente estava sugerindo para a mulher o mesmo pensamento perverso que tinha entrado em seu próprio coração e que causara sua queda (Is 14.14): conhecer o bem e o mal; isso também literalmente é verdade, mas o conhecimento significava algo bem diferente do que a serpente sugerira. Deus conhece o mal apenas para abominá-lo. O homem inocente só poderia conhecer o mal, participando dele e depois perecendo por causa dele. Decididamente, o diabo acusou o Senhor de mentiroso. Disse que Deus não queria que provassem do fruto, simplesmente porque dessa forma, Adão e Eva, tal como Ele, seriam deuses. Segundo o pensamento de Satanás, não seria injusto da parte de Deus privá-los desse conhecimento? O diabo havia feito a proposta, porém, aguardava o resultado.
Note a situação em que Eva se encontrava: tinha diante de si seu arquiinimigo, fazendo pose de bom amigo, mas na verdade, buscando sua destruição. Ela podia ter escolhido rejeitar a sugestão, porém, infelizmente, Eva não lhe deu as costas. Mesmo assim, ainda daria para ela voltar atrás, se Eva tivesse agido rapidamente, pois, os últimos segundos da oportunidade de escapar da catástrofe estavam esgotando-se. 19
Adão e Eva Então aconteceu: em vez de resistir à tentação, Eva olhou para trás, viu o fruto da árvore e, de repente, aquela oferta tornara-se irresistível. Em 1 João 2.16 vemos as três fases da tentação: Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. Esse fragmento do versículo nos aponta a concupiscência da carne: Vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer (Gn 3.6a). O homem é um ser trino: corpo, alma e espírito; logo, poderá vir a ser tentado em qualquer um desses três aspectos do seu ser. Poderá, assim como aconteceu com Eva, ser tentado na esfera dos apetites do corpo. E fácil observarmos que muitas pessoas são escravizadas dessa maneira. O alcoólatra, por exemplo, é escravizado pela bebida; o fumante, pela nicotina; o viciado, pelas drogas, e o libertino, pela sensualidade. Todas essas coisas são tentações do corpo. E agradável aos olhos (Gn 3.6). Essa é a concupiscência dos olhos. Essa tentação afeta a alma do ser humano. O homem rico disse à própria alma: Alma, tens em depósito muitos bens, para muitos anos; descansa, come, bebe e folga (Lc 12.19). Essa perspectiva de abundância terrena era agradável para os pensamentos do rico, embora tivesse apenas poucas horas de vida e não soubesse disso. E árvore desejável para dar entendimento (Gn 3.6). Essa tentação corresponde à soberba da vida e atormenta o espírito, fazendo-o sentir uma ambição mundana, e ainda um grande desejo por fama. E interessante notarmos que Cristo, o segundo Adão, enquanto estava no monte, foi tentado de maneira semelhante (Lc 4.1-13): Primeiro, o diabo tentou-O na esfera física. Se tu és o Filho de Deus, dize a esta pedra que se transforme em pão (v. 3). Jesus rejeitou a tentação. Ele não transformaria pedra em pão para o diabo. 20
Tentação e queda de Adão e Eva Depois, o inimigo mostrou a Jesus todos os reinos do mundo e a glória deles. Tudo aquilo seria dEle, se apenas o adorasse. Essa era a tentação do espírito - uma oferta fundamentada na ambição humana. A seguir, o diabo disse para Jesus atirar-se do pináculo do templo, provando assim ser o Filho de Deus. Esse era um apelo à alma. Realizar um ato heróico diante do povo! Tal demonstração de poder receberia os aplausos e conquistaria a admiração das pessoas! Isso provaria que Ele realmente era quem dizia ser - o Filho de Deus. Jesus, é claro, rejeitou todas as tentações do diabo, e venceu em áreas, nas quais Adão e Eva haviam sido derrotados: nas tentações do corpo, alma e espírito. A queda de Adão e Eva O momento final da tentação chegara. Movida pelo trágico impulso, Eva estendeu a mão, apanhou o fruto, experimentou-o e o ato irreversível estava feito. Provavelmente, o diabo ainda a acalmava dizendo: "Está vendo? Nada aconteceu. O fruto é bom. Você não morreu". Naquele momento, para Eva talvez tenha parecido que o fato de ter comido daquele fruto, não surtira qualquer efeito maléfico em sua vida; tudo estava bem, como a serpente havia
garantido. A mulher, aliviada, voltou para junto do marido. Vamos reconstituir a cena que se seguiu, quando Eva se encontrou com Adão. Que momento doloroso deve ter sido descobrir o que a esposa tinha feito. Ele nem por um momento se enganou com respeito ao significado do ato. Alguns não interpretam assim e dizem que, na verdade, Adão foi iludido, tal como Eva; entretanto, tendo em vista a clara afirmação bíblica de que Adão não foi enganado (1 Tm 2.14a), não cremos que tal interpretação seja aceitável. Adão amava profundamente sua esposa. Eva, vindo dire-tamente das mãos do Criador, devia ser extremamente bonita. 21
Adão e Eva Uma vez que ela era a única companhia humana que Adão tinha, é compreensível que tivesse um lugar tão precioso em seu coração, a ponto de ele julgar impossível desistir dela. Existem pessoas, hoje em dia, que ficam tão apaixonadas que parece que nada mais importa. Alguns amantes têm até feito pacto de suicídio. O ato de Eva era irreversível. Adão sabia que a perderia para sempre, a menos que também a acompanhasse em seu ato. Ele chegou a uma trágica decisão. Não a deixaria. Silenciosamente, tomou o fruto que ela lhe oferecia. Em um instante, ele também o tinha comido e a queda do primeiro casal humano tornava-se história. Conforme havia falado a serpente, os olhos deles foram abertos, não para exaltá-los, torná-los seres angelicais ou deuses, como Eva imaginara; pelo contrário, tornaram-se conscientes de um sentimento de culpa e vergonha. Quando a plena compreensão do terrível ato veio sobre eles, correram e se esconderam entre as árvores do jardim. 22
Capítulo 3
OS RESULTADOS DA QUEDA £ ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam. Génesis 2.25 Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.
Génesis 3.7 Paulo disse que o corpo humano é o templo do Espírito Santo (1 Co 6.19,20). Assim, Adão e Eva, nossos primeiros pais, foram criados para serem esse templo. Muitos séculos mais tarde, Deus permitiu que Salomão construísse um templo feito por mãos, dentro do qual a shekiná, a glória de Deus habitou. Quando, entretanto, a obra redentora de Deus se completou, por meio de Cristo, o Espírito Santo voltou a habitar no templo que não era feito por mãos. É interessante notar o ponto de vista de muitos expositores da Bíblia que dizem que a shekiná (a glória de Deus) cobria os corpos de Adão e Eva. Eles afirmam que todos os animais e aves têm uma cobertura protetora. Daí, argumentam que Deus cobrira Adão e Eva com um véu de glória, até que pecaram. Se realmente Adão e Eva haviam sido cobertos por um véu de glória, então, certamente, o resultado inicial da desobediência deles foi o de tomarem consciência de que estavam nus, e que essa nudez física era a expressão de um coração culpado, que agora estava também nu diante de Deus. Adão e Eva, ao perceberem que estavam nus, fizeram coberturas com folhas de figueira entrelaçadas. Essa tentativa de se vestirem com a própria justiça é o que os pecadores têm feito desde os dias de Adão. Os judeus tentaram providenciar essa cobertura com as obras da lei. Os gentios, com seus rituais religiosos
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Adão e Eva de um ou outro tipo; buscaram todos, por meio dos esforços humanos, aliviar uma consciência culpada; contudo, como o profeta Isaías disse, todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia (Is 64.6a). Ao anoitecer daquele dia fatídico, o impacto total das atitudes de Adão e Eva veio sobre eles. Chegou o momento em que o Senhor se encontrava com eles para a comunhão diária. Adão e Eva, que sempre recebiam Sua aproximação com alegria, na ocasião, esconderam-se dEle - de fato, um esforço tolo. Isso representa a mobilização inútil do pecador para esconder-se de Deus. A Bíblia dá uma visão dos pecadores, no grande Dia do Juízo, clamando às rochas e montanhas para que caiam sobre eles e os escondam dAquele que está assentado no trono (Ap 6.16). O Senhor chama Adão, dizendo: Onde estás? (Gn 3.9). Adão responde: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me (v. 10). Deus não chamou Adão para fazer-lhe perguntas, pois Ele sabia onde Adão estava. Aquele foi um chamado de compaixão e tem relação com a primeira pergunta que foi feita no Novo Testamento: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? (Mt 2.2a). Esse é o reverso da questão - o homem perguntando por Deus. A pergunta que Deus fez só poderia ser respondida com uma confissão de culpa por parte de Adão e Eva. A resposta deles, contudo, não foi uma confissão verdadeira, foi uma evasiva, uma tentativa de jogar a culpa em outra pessoa. Adão confessa, dizendo: FM temi. Basil Atkinson faz uma sensível análise da situação de Adão e a compara com a situação do pecador: O caso do pecador hoje é o mesmo. Ele fica cego quanto à real natureza do próprio pecado e embora seja consciente de que algo está errado, seu pecado lhe parece muito mais leve do que é na realidade e sua condição muito menos grave. Além disso, a resposta de Adão, como a de todos os pecadores, 24
Os resultados da queda evita o ponto central da questão. Ele aponta para os sintomas; em consequência, evita mencionar sua atitude pecaminosa. Em seu coração, ele sabia que tinha comido do fruto da árvore e insensatamente esperava conseguir manter esse fato fora do conhecimento de Deus. Em resposta à explicação irrelevante de Adão, Deus o leva de volta ao ponto. Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses? (Gn 3.11). Agora Adão mostra que, na realidade, é um covarde. É comum àqueles que quebram a lei, quando se vêem acuados no canto, tentarem jogar a culpa em outra pessoa. Adão não foi exceção. Primeiro, ele culpa o próprio Deus: A mulher que me deste por companheira [...] (Gn 3.12). Em outras palavras: "Se Tu não me tivesses concedido aquela mulher, eu não teria pecado". Depois, também culpa a esposa, dizendo: Ela me deu da árvore, e comi (Gn 3.12). Essas foram desculpas muito fracas de Adão. Tão fracas que Deus nem se dignou a dar uma resposta. Em vez disso, Ele Se voltou para Eva para ver o que ela tinha a dizer. Pobre Eva! Que mulher diferente ela era naquele momento, depois daquela tarde em que se deixou seduzir pela serpente e até mesmo participou da obra maligna do diabo, seduzindo seu marido. Agora só podia encolher-se aterrorizada e passar a culpa adiante, respondendo temerosa: A serpente me enganou, e eu comi (Gn 3.13b). O Senhor Deus não fez pergunta alguma à serpente. Satanás, há muito tempo, já ultrapassara o ponto da possibilidade de redenção. Qualquer pergunta que tivesse de ser dirigida a ele, já teria sido feita antes. Pelo contrário, Deus pronunciou a condenação da serpente.
O pacto adâmico O tempo da inocência tinha acabado e a dispensação da consciência estava começando! Deus, a partir de então, 25
Adão e Eva relacionou as condições, nas quais o homem caído deveria viver - condições que continuam e continuarão adiante, até o fim, até o momento em que a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus (Rm 8.21b). Nos sete itens que se seguem, analisaremos o que aconteceu com Adão e Eva, bem como com a serpente nos momentos que sucederam a queda do homem. 1. Juízo sobre a serpente Então, o Senhor Deus disse à serpente: Porquanto fizeste isso, maldita serás mais que toda besta e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás e pó comerás todos os dias da tua vida. Génesis 3.14 Deus primeiramente pronunciou seu juízo sobre a serpente, instrumento de Satanás, a qual se tornou um réptil venenoso, repulsivo e rastejante a partir daquele momento. A serpente é uma ilustração dos efeitos da maldição. Primordialmente, a serpente era uma criatura bonita e, por isso, captara a admiração de Eva. Era a criatura mais próxima do homem no jardim. Logo após a queda do homem, ela foi degradada para ser o animal mais insignificante da Terra: Sobre o teu ventre andarás (Gn 3.14b). Em um certo sentido, uma maldição veio sobre toda a criação, pois a morte passou a ser a condenação para todos os seres. Contudo, a serpente foi amaldiçoada mais do que todos os outros. Apesar disso, de uma maneira estranha, a serpente tornou-se uma figura de Cristo, que tomou a maldição sobre si e foi feito pecado por nós (Ap 21.5-9; Jo 3.14,15; 2 Co 5.21). 2. A promessa do Redentor E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. Génesis 3.15 26
Os resultados da queda
Essas palavras foram dirigidas a Satanás, embora indubitavelmente na presença de Adão e Eva. Notamos que, por meio dessas palavras, Deus ilustra o Seu grande amor e bondade em favor da humanidade. Apesar de Adão e Eva serem culpados, Deus não os condena; pelo contrário, começa a mostrar-lhes o Seu grande plano da redenção. Tendo pronunciado o castigo sobre a serpente, a qual, corno já foi falado, tornar-se-ia um réptil rastejante, o Senhor também declarou a condenação da criatura, que foi o verdadeiro responsável pela sedução de Eva, isto é, o diabo. Satanás que, anteriormente, já era uma criatura caída, tornou-se, naquele momento, totalmente um derrotado. A expressão a semente da mulher (v. 15) antecipa o nascimento virginal de Cristo que, em Seu dia, esmagaria completamente a cabeça da serpente. Haveria inimizade entre a semente de Eva e a semente da serpente - não a inimizade pessoal do justo pelo ímpio, mas uma incompatibilidade de pontos de vista e de maneiras de viver. Por outro lado, Satanás iria ferir o calcanhar dAquele que o esmagaria. O diabo teria permissão para afligir a humanidade de Cristo e promover a perseguição sobre Seus seguidores. Génesis 3.15 retrata a primeira das grandes profecias messiânicas, a qual foi um grande raio de esperança, concedido a Eva naquele dia negro. 3. A mudança no estado de Eva
E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será vara o teu marido, e ele te dominará.
Génesis 3.16 Devido ao pecado que cometeu, Eva iria experimentar mudanças em sua vida em três aspectos. O primeiro estava relacionado às dores do parto, as quais seriam intensificadas, pois sua maternidade estaria ligada à tristeza. O segundo diz respeito à angústia que sentiria durante a 27
Adão e Eva gravidez. Tanto a gestação como o parto serviriam de testemunho da queda do homem, um sinal de que nem tudo estava bera, e um chamado para o arrependimento e a conversão. O terceiro aspecto relaciona-se à sujeição da mulher a seu marido. Como a Bíblia ensina, o homem deve ser o cabeça do lar, não com intuito de governar a mulher de maneira brutal, característica dos países pagãos, tampouco para tratá-la como se fosse gado, mas para amá-la como Cristo amou a Igreja. De qualquer forma, o homem deveria ser o cabeça da mulher. A revolta feminista que presenciamos nos dias de hoje é somente mais um vestígio de que nossa civilização caminha para a destruição. 4. A terra é amaldiçoada Maldita é a terra por causa de ti (Gn 3.17b). Agora, toda a terra estava debaixo da maldição. No jardim do Éden, não cresceu mais grama. Agora, espinhos nocivos e ervas daninhas cresciam por toda parte. A serpente foi amaldiçoada e, em um grau menor, os outros animais adquiriram uma natureza malévola. Animais predadores rondariam pelas florestas, atacando uns aos outros. Insetos herbívoros devorariam as plantações dos agricultores. Até mesmo o clima seria afetado: tempestades, tornados, furacões, enchentes, terremotos e outros desastres assolariam, periodicamente, a Terra. Em muitas áreas, o verão seria quente demais e em outras, o inverno frio demais. O salmista diz: Todos os fundamentos da terra vacilam (SI 82.5b). 5. A tristeza da vida Como resultado de todas essas transformações, a humanidade enfrentaria tristezas inevitáveis. Haveria sofrimento pelas privações, pela morte de entes queridos, por desapontamentos e mesmo pela traição daqueles nos quais confiamos. Pense na tristeza que Adão e Eva experimentaram na perda do 28
Os resultados da queda filho, Abel, morto pelo próprio irmão Caim. Que preço amargo eles pagaram pelo seu ato de desobediência! Quão pouco entenderam sobre as consequências terríveis que o pecado traria para sua vida. 6. Sobrevivência árdua Embora tenha sido Eva quem trouxe o pecado ao mundo, Adão ouviu sua mulher e, por isso, tinha sua parcela de culpa. Do momento de sua queda em diante, Adão teria de trabalhar duro a fim de adquirir seu pão pelo suor do seu rosto. A partir daquele instante, ele deveria labutar para arrancar do solo seu sustento e garantir sua sobrevivência! 7. Morte física Conforme Deus alertara, a morte seria o castigo da desobediência. Não somente a morte física, mas também a morte espiritual também ocorreria, tornando necessária a redenção do homem, a operação do novo nascimento. Falaremos mais sobre esse assunto no próximo capítulo. A promessa de Génesis 3.15, de uma certa forma, fala de redenção e, junto com a redenção, a esperança da vitória final e da abolição da morte. O homem foi expulso do paraíso, mas antes de tomar tal atitude, Deus precisou vesti-los.
Efez o Senhor Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu. Génesis 3.21 Com base no versículo acima, vemos a primeira grande verdade da redenção - o homem, em seu estado caído, está espiritualmente nu e precisa ser vestido. Sua cobertura shekiná se fora. Adão e Eva fizeram uma tentativa de se cobrirem com aventais de folhas de figueira. Descobrindo que seus esforços eram completamente inúteis, esconderamse entre as árvores do jardim. O esforço humano de cobrir-se com a própria justiça é sempre insuficiente. Deus teve de fazer túnicas de peles 29
Adão e Eva para Adão e Eva. Foi preciso a morte de um animal e o derramamento de sangue. E sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9.22b). As túnicas, as quais Deus providenciou, representaram uma figura da justiça de Cristo. Deus não só matou o animal, mas também apresentou as vestes para Adão e Eva. Como diz Basil Atkinson: Ele providencia o Cordeiro, sacrifica-o à custa de um infinito preço, confecciona as túnicas e veste Seu povo, não ficando satisfeito até que eles estejam completos em Cristo, tendo perfeito acesso e plena aceitação. Sem dúvida, foi esse acontecimento que marcou a origem do sacrifício. Praticado por Abel, prevaleceu através das gerações até o advento de Cristo, de quem todos os sacrifícios eram apenas uma figura. 30
Capítulo 4
A ÁRVORE DA VIDA NO MEIO DO JARDIM DO PARAÍSO E o Senhor Deus fez brotar da terra toda árvore agradável à vista e boa para comida, e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore da ciência do bem edo mal.
Génesis 2.9
Então, disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma, e viva eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra, de que fora tomado. E, havendo lançado fora o homem, pôs querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida. Génesis 3.22-24 Foi permitido ao homem comer dos frutos de todas as árvores do jardim do Éden, com exceção do fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Isso significa que o fruto da árvore da vida também estava à disposição! De fato, a árvore estava nas proximidades, aparentemente não sendo nem notada (Gn 2.9), enquanto Eva conversava com a serpente. Daí, concluímos que era intenção de Deus que o homem vivesse eternamente. Também nos parece que Deus antecipou e previu a queda da humanidade e, portanto, fez uma provisão, por meio da qual o homem pudesse ser salvo de seu pecado e da consequente morte. Deus havia deixado muito claro a Adão e Eva que não deveriam comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2.17b). 31
Adão e Eva Alguns críticos têm tentado mostrar que o castigo incluído nesse aviso, na verdade, não aconteceu. Adão e Eva, em vez de morrerem no dia em que desobedeceram, ainda viveram por mais de 900 anos. Adão, conforme somos
informados, só morreu com a idade de 930 anos (Gn 5.5). Na realidade, o aviso cumpriu-se exatamente como Deus dissera. Existem dois tipos de dias nos registros bíblicos - o dia do homem, de 24 horas, e o dia de Deus, de mil anos. Porque mil anos são aos teus olhos como o dia de ontem que passou, e como a vigília da noite Salmo 90.4 Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos, como um dia. 2 Pedro 3.8 Na realidade, existem dois tipos principais de morte que o homem experimenta: morte espiritual e morte física. A primeira é muito mais séria. O homem morre espiritualmente em ofensas e pecados (Ef 2.1). A morte espiritual é o estado do homem natural, não-regenerado. Dessa forma, o homem está alienado da vida de Deus. Após a morte do corpo físico, a morte espiritual torna-se um estado de separação eterna de Deus. Ela atinge seu clímax na segunda morte, depois do julgamento do grande trono branco (Ap 20.6,14). A declaração de Deus para Adão e Eva cumpriu-se nos dois sentidos. No dia em que eles desobedeceram, morreram espiritualmente; foram cortados, separados da vida de Deus e precisavam de redenção. Na verdade, eles mesmos, conscientes da culpa e da sua condição caída, correram e se esconderam de Deus. Isso aconteceu no mesmo dia em que desobedeceram. O dia do homem tem duração de 24 horas, enquanto o dia de Deus tem mil anos. Todos os homens que já viveram sobre a Terra, morreram dentro do limite de mil anos (com exceção dos casos especiais de Elias e Enoque). Adão morreu com a idade de 930 anos. Metusalém, que teve a vida mais longa de 32
A árvore da vida no meio do jardim do Paraíso que se tem registro, viveu 969 anos. Todos os homens, portanto, têm morrido fisicamente dentro do limite do dia de Deus. Adão e Eva também morreram espiritualmente, no mesmo dia de 24 horas em que pecaram. Deus havia recomendado a Adão e Eva que eles provassem de todas as árvores do jardim, com exceção da árvore do conhecimento do bem e do mal. Por isso, entendemos que o casal tinha livre acesso à árvore da vida. Embora a Bíblia nos informe que a árvore da vida estava plantada no meio do jardim do Éden, não diz se a localização era conhecida de Adão e Eva. Se Eva comeu o fruto proibido, comeria o fruto da árvore da vida, caso soubesse onde esta se encontrava. No decorrer do tempo, se Adão e Eva tivessem permanecido no Éden, eles descobririam a árvore da vida, comeriam o seu fruto e receberiam a imortalidade. Esse, certamente, seria o plano de Deus para eles, se não tivessem pecado. Entretanto, a mão que não pôde resistir de apanhar o fruto do conhecimento do bem e do mal, teve de ser impedida de apropriar-se do fruto da árvore da vida. Se o homem pudesse tê-lo feito, o castigo da morte seria anulado. O homem viveria eternamente em seu corpo físico e mortal - uma perspectiva terrível! Setenta ou oitenta anos de pecado normalmente satisfazem completamente o apetite do pecador, deixando-o ansioso e apressado por receber o perdão. Para uma pessoa perversa, entregue às emoções negativas do ódio, da impureza, ira, inveja e maldade, existir em um corpo físico no qual tais emoções impuras permanecem para sempre, certamente seria um castigo maior do que ele poderia suportar. É um ato de misericórdia que a morte faça descer a cortina e coloque um fim nesse tipo de existência corrompida. O jardim do Éden não poderia mais ser o lar de Adão e Eva. Eles foram obrigados a abandonar o jardim, onde crescia a árvore da vida. Para guardar o caminho até a árvore, 33
Adão e Eva Deus colocou querubins ao oriente do jardim do Éden e uma espada inflamada que andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida (Gn 3.24b). Esses seres angelicais, chamados querubins, também são mencionados no primeiro capítulo de Ezequiel. A Bíblia indica que eles flanqueiam e sustentam o trono de Deus e, como alguém disse, eles têm a ver com a defesa da santidade de Deus, contra o orgulho presunçoso do homem pecador. Aquele, com certeza, foi um dia muito triste, quando Adão e Eva foram obrigados a deixar o jardim do Éden. Eles tinham vivido em um paraíso preparado pelo Senhor. Não havia enfermidade, tristeza, dor nem sofrimento! Subitamente, toda aquele cenário mudou: por causa da desobediência, foram lançados fora do paraíso, para garantir a existência por meio do suor do rosto. Adão e Eva teriam de extrair sua sobrevivência de uma terra relutante, amaldiçoada, a qual, a partir do pecado do homem, produziria espinhos e ervas daninhas. Os sofrimentos da gravidez e do parto aguardavam Eva. O casal teria o coração partido por causa de um filho que se tornaria culpado de fratricídio. Ainda, no final da vida, ficariam estirados sobre a terra e seus corpos voltariam para o pó de onde foram tirados. Que castigo a ser pago por um ato de desobediência! 34
Capítulo 5
ADÃO E EVA DEIXAM O JARDIM DO PARAÍSO Que momento trágico deve ter sido para Adão e Eva a primeira noite fora do paraíso! Todo o impacto da sua grande perda recaía sobre o casal cheio de culpa. Aquele dia tinha começado repleto de promessas e esperanças, como todos os dias anteriores no jardim do Éden. O céu estava limpo, sem nuvem. Não havia coisa alguma que lhes servisse de presságio dos trágicos acontecimentos que ocorreriam tão rapidamente. Naquela circunstância, com tempo para refletir, toda a extensão da calamidade abateu-se sobre eles com uma força paralisante. Que remorso terrível eles compartilharam naquela noite, quando perceberam o tamanho do mal que lhes sobreveio, principalmente porque tomaram consciência de que facilmente poderiam ter evitado todo aquele sofrimento. Por que Eva não se afastou do inimigo, que lançava dúvidas sobre a veracidade da Palavra de Deus? Como ela pôde parar para ouvir as perversas sugestões da serpente e ser atraída para um ato cujas consequências já lhe tinham sido claramente explicadas? O que dizer do seu marido, que a amava mais que a própria vida e tinha escolhido compartilhar seu destino para não perdê-la, apesar de conhecer as tristes consequências? Tudo isso não seria um pesadelo, do qual certamente eles acordariam? Nos assim chamados Livros esquecidos do Éden, temos uma descrição de Adão e Eva deixando o paraíso. Não cremos que tais registros sejam autênticos, nem que sejam inspirados; 35
Adão e Eva mas, como foram escritos há milhares de anos, revela-nos uma ideia das tradições concernentes a esse evento: Quando, porém, Adão e Eva saíram do jardim, pisaram em solo desconhecido. Quando chegaram ao portão e viram a terra que se estendia a perder de vista diante deles, coberta de pedras grandes, pequenas e areia, temeram e estremeceram, caindo com o rosto em terra, por causa do medo que veio sobre eles; ficaram caídos como mortos. Até aquele momento, tinham vivido em um jardim lindamente ornamentado com todos os tipos de árvores, e agora se viam em uma terra estranha e desconhecida para eles, a qual jamais tinham visto. Até aquele momento, gozavam da graça de uma natureza brilhante, e seus corações não se tinham voltado para as coisas terrenas. Deus, entretanto, teve misericórdia deles. Quando os viu prostrados diante do portão do jardim, enviou Sua Palavra a Adão e Eva e os levantou do seu estado caído. Deus disse a Adão: "Tenho ordenado dias e anos na Terra; você e sua semente habitarão e viverão nela até que os dias e
anos sejam cumpridos; quando Eu enviar a Palavra que criou vocês, contra a qual transgrediram, a Palavra que os fez sair do jardim e os levantou quando estavam caídos. Sim, essa mesma Palavra os salvará novamente, quando os cinco dias e meio estiverem cumpridos". Quando, entretanto, Adão ouviu essas Palavras de Deus e ouviu sobre os cinco dias e meio, não entendeu o sentido delas. Porque Adão pensou que haveria apenas cinco dias e meio de vida para ele até o fim do mundo. Adão chorou e orou, pedindo a Deus que explicasse. Deus, então, em Sua misericórdia por Adão, criado à Sua imagem e semelhança, explicoulhe de que se tratava de 5.500 anos, e viria Aquele que salvaria tanto a ele como sua descendência. Antes disso, porém, Deus já tinha feito esse pacto com nosso pai, nos mesmos termos, antes de ele sair do jardim, quando estava perto da árvore da qual Eva tomara o fruto e lhe dera para comer. Quando nosso pai deixou o jardim, passou pela árvore e viu como Deus tinha mudado sua aparência e como ela tinha secado. E quando viu isso, Adão temeu, tremeu e caiu por terra; mas Deus em Sua misericórdia o 36
Adão e Eva deixam o jardim do Paraíso levantou e, então, fez esse pacto com ele. Novamente, quando estavam no portão do jardim, viram o querubim com a espada flamejante na mão, o qual lançou-lhes um olhar irado. Adão e Eva ficaram com medo, pensando que o querubim iria matá-los. Assim, caíram sobre o rosto e tremeram de medo; porém, o querubim teve pena deles e mostrou-lhes misericórdia; e vol-tando-se, retirou-se para o céu [Os livros esquecidos do Éden, cap.2e3]. Havia apenas uma luz brilhando no meio de toda aquela escuridão. Era a Palavra do Senhor com a promessa de que um dia a semente da mulher destruiria a serpente. Aquela escura e longa noite passou, e um Sol sem alegria se levantou, lançando seus raios sobre o casal, terminando assim a noite de agonia e insónia. Na direção oeste, Adão e Eva podiam ver as árvores do Éden, seu antigo lar, movendo-se suavemente com a brisa da manhã. A espada flamejante na entrada, contudo, lembrava-os duramente que nunca mais poderiam voltar para lá. O paraíso estava perdido para sempre. Daquele instante em diante, deveriam fazer o melhor que pudessem, ajustando-se da melhor maneira à nova situação. Apesar de expulsos do paraíso, a providência de Deus não os abandonara totalmente. Havia outras árvores fora do Éden. Deus não havia feito qualquer proibição com relação àquelas árvores. Adão e Eva, de alguma maneira, deveriam prosseguir com a vida. A história de Caim e Abel Não muito tempo depois de terem abandonado o Éden, Eva descobriu que esperava um bebé. No tempo determinado, ela deu à luz um filho, no qual colocou o nome de Caim. Em sua alegre expectativa quanto às possibilidades daquela nova vida, ela exclamou: Alcancei do Senhor um varão (Gn 4.1b). O nascimento daquele bebé deve ter sido uma experiência maravilhosa para o casal. Ele representava o primeiro sinal do 37
Adão e Eva cumprimento da promessa de que algum dia Deus enviaria o Redentor. Que esperanças Eva não deve ter alimentado, enquanto olhava para o rosto do seu pequeno filho, o qual era o primeiro bebé nascido no mundo! Como aquela mulher poderia imaginar que, um dia, Caim iria assassinar o próprio irmão em uma explosão de raiva? Pouco tempo depois, ela deu à luz outro filho, ao qual chamou Abel. Quando os garotos se tornaram adultos, escolheram ocupações diferentes. Caim tornou-se agricultor; enquanto Abel cuidava dos rebanhos de ovelhas. A pergunta é: o que aconteceu que resultou no fato do primogénito desse mundo tornar-se um assassino? Seria possível reconstituirmos os acontecimentos para darmos uma resposta lógica a essa pergunta? A história de Caim e Abel é o relato de uma estranha rivalidade entre irmãos. Vemos em Caim, o mais velho, uma vontade forte e determinada, e muito orgulho. A rivalidade entre os dois irmãos atingiu seu ponto máximo de ebulição quando foram apresentar suas ofertas diante de Deus. Caim ignorou as instruções claras e estava decidido a
trazer as primícias das colheitas, em lugar das primícias do rebanho. Quando Deus não aceitou sua oferta, ele foi ferido em seu orgulho. Uma admoestação por parte do seu irmão Abel não ajudou e causou uma troca de palavras iradas. A contenda entre os dois tornou-se tão aguda que Caim, descontrolado e com muita fúria, levantou-se e feriu o irmão com tamanha violência que o matou. O primeiro homem a nascer no mundo tornou-se, dessa maneira, o primeiro assassino. Ele também seria o pai de uma civilização ímpia - aquela a qual seria destruída 1600 anos mais tarde nas águas do grande dilúvio. Vamos verificar as informações que a Bíblia nos dá sobre esse filho obstinado de Adão, que foi a primeira pessoa a nascer no mundo. 38
Adão e Eva deixam o jardim do Paraíso 1. A teimosia de Caim Caim era religioso, mas queria estabelecer suas próprias regras. Estava disposto a oferecer o sacrifício a Deus, se pudesse fazer isso à sua própria maneira. Assim, trouxe uma oferta composta pelas primícias dos frutos. A terra, entretanto, tinha sido amaldiçoada (Gn 3.17) e, por essa razão, seus frutos não poderiam ser aceitos em oferta a Deus. Apesar disso, Caim determinou fazer as coisas à sua própria maneira, desrespeitando esse fato. Abel, por outro lado, trouxe uma oferta das primícias do rebanho. Pela fé, Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim, pelo qual alcançou testemunho de que era justo, dando Deus testemunho dos seus dons, e, por ela, depois de morto, ainda fala.
Hebreus 11.4
Foi assim que a oferta de Caim foi rejeitada, enquanto que a de Abel foi aceita. 2. Caim ficou irado com Deus Não sabemos como Deus demonstrou que a oferta de Abel fora aceita, mas algum sinal ocorreu. Talvez tenha caído fogo do céu e consumido tal sacrifício. De qualquer forma, a Bíblia diz: Mas para Caim e para a sua oferta não atentou (Gn 4.5a). O fato de Deus não se ter agradado da oferta de Caim, deixou-o extremamente zangado. É interessante lembrar-se da referência que o apóstolo João fez sobre Caim: Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio: que nos amemos uns aos outros. Não como Caim, que era do maligno e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más, easdeseu irmão, justas.
1 João 3.11,12 Apesar disso, Deus, em Sua misericórdia, ainda tentou argumentar com Caim. Pelo fato de ser o primogénito
sobre a Terra, parece-nos que Deus tinha uma graça especial para com ele. Deus lhe assegurou que também seria aceito, se procedesse corretamente. 39
Adão e Eva E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, não hverá aceitação para ti? E, se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e para ti será o seu desejo, e sobre ele dominarás.
Génesis 4.6,7 Essa admoestação de Deus deveria ter feito com que Caim mudasse sua atitude e seu humor; poderia tê-lo encorajado a preparar sua oferta de maneira aceitável aos olhos de Deus. No entanto, não foi o que aconteceu. Caim dirigiu palavras duras a seu irmão sobre o assunto e não demonstrou intenção de submeter-se. Aparentemente, Caim sentiu que seria vergonhoso ceder naquele momento. Deus chamou a atenção de Caim, dizendo que o pecado jaz a porta (v. 7). A palavra no hebraico para pecado é a mesma para oferta pelo pecado, indicando a relação entre as duas coisas. A oferta de Caim tinha sido uma rejeição ao plano divino. Mesmo assim, Deus deu-lhe outra chance e lhe disse para trazer a oferta apropriada. Nada poderia ter
privado Caim da bênção de Deus, exceto sua própria vontade e teimosia. Caim, contudo, não se preocupou em agir de acordo com a vontade de Deus. Em sua rivalidade contra seu irmão, não tinha intenção de sucumbir. Estava totalmente determinado. Na atitude de Caim, percebemos a extrema maldade do pecado. O pecador está determinado a seguir por seu próprio caminho, sem importar-se com as consequências vindouras. 3. Caim assassina Abel, seu irmão E falou Caim com o seu irmão Abel; e sucedeu que, estando eles no campo, se levantou Caim contra o seu irmão Abel e o matou.
Génesis 4.8 Em vez de arrepender-se, Caim procurou Abel, zangado, com o espírito endurecido e determinado. Seu irmão, referido na Bíblia como o justo Abel (Mt 23.35), ficou firme e defendeu a concepção de Deus a respeito de como deve ser o sacrifício. 40
Adão e Eva deixam o jardim do Paraíso O temperamento de Caim, o qual já estava perturbado há um tempo, levou-o a perder totalmente a noção de como deveria agir. João diz que Caim era do maligno. Tendo-se entregado ao mal, Caim era um canal para a operação do poder de Satanás, como igualmente acontecia com Saul: todas as vezes que o espírito maligno vinha sobre ele, este tentava assassinar Davi (1 Sm 18.10,11). Em uma explosão de raiva, Caim atingiu seu irmão com um golpe violento, deixando-o caído no chão, mortalmente ferido. 4. Caim mentiu para Deus E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão? Génesis 4.9 Algumas vezes, quando um homem comete um homicídio em um momento de ira, durante uma discussão, depois que percebe a gravidade do crime que cometeu, sente-se totalmente oprimido. Fustigado pelo remorso, ele se entrega à justiça, consciente de que deve pagar por seu crime. Mais frequentemente, porém, o homicida começa imediatamente a planejar como cobrir e esconder as provas que o incriminam. Ele tenta manter a polícia afastada e foge da cena do crime o mais rápido que pode. Se for preso, começa a declarar que é inocente. Caim estava incluído nessa última categoria. Deus lhe perguntara onde estava Abel. Em sua rebelião, Caim não demonstrou qualquer respeito por Deus. Sua resposta foi desafiadora: "Eu não sei. Não sou babá do meu irmão". A despeito de sua atitude, Deus interrompeu suas mentiras e o denunciou, dizendo-lhe que o sangue de Abel clamava da terra. 5. Caim tornou-se um errante E agora maldito és tu desde a terra, que abriu a sua boca para receber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando lavrares a terra, não te dará mais a sua força; fugitivo e errante serás na terra.
Génesis 4.11,12
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Adão e Eva A seguir, Deus disse a Caim que ele seria fugitivo e condenado a ficar vagando pela Terra. Finalmente, Caim despertou para as consequências do seu crime. Ele não havia demonstrado piedade por Abel. Em vez do prazer e da alegria por ter um irmão com o qual poderia compartilhar o mundo, considerou melhor ceder às suas paixões e matar o único irmão. Caim não demonstrou remorso até o momento em que sua vida começou a correr risco. Foi então, muito veemente em sua defesa:
Então, disse Caim ao Senhor: E maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua face me esconderei; e serei fugitivo e errante na terra, e será que todo aquele que me achar me matará.
Génesis 4.13,14
6. Caim estabeleceu uma civilização ímpia Em resposta ao pedido de Caim por misericórdia, Deus lhe põe uma marca, para que não o ferisse qualquer que o achasse (Gn 4.15b). E saiu Caim de diante da face do Senhor (Gn 4.16a). Ao que parece, ele nunca deu muito valor para o relacionamento e a comunhão com Deus. Infelizmente, em uma atitude atrevida e desafiadora, mentiu para Deus e foi até mesmo rude nas respostas que Lhe deu. Depois de sair da presença de Deus, Caim foi para a terra de Node. Naquela região, ele edificou uma cidade e estabeleceu a primeira civilização. Tal civilização teve como base o materialismo. A indústria floresceu com o uso do ferro e do cobre; as artes eram promovidas; e a harpa e o órgão foram inventados por um dos descendentes de Caim (Gn 4.21,22). Lameque, o sexto depois de Caim, introduziu a poligamia. Ele também foi um assassino. Como Caim, Lameque tentou justificar seu crime. O fato de que sua vítima era um jovem é uma forte indicação de que se tratou de um crime passional. Lameque declarou-se inocente, alegando legítima defesa; 42
Adão e Eva deixam o jardim do Paraíso porém, sua bigamia pode muito bem estar relacionada com esse crime (Gn 4.23,24). E quanto a Adão e Eva? Como Eva deve ter ficado com o coração amargurado ao saber das coisas terríveis que haviam acontecido! Ela, realmente, pode ter ficado com o coração partido. De que forma, contudo, poderia esperar que as coisas melhorassem? Quando foi tentada, ela escolheu acreditar na serpente, em vez de crer em Deus. Preferiu aceitar a versão da serpente de que Deus não era justo e não se podia confiar na Sua integridade. Por meio de um ato deliberado, ela trouxera o pecado ao mundo. Agora, seu primogénito tinha cometido assassinato. Abel estava morto. Caim, porém, fugira da presença de Deus, para uma terra distante. Como Eva deve ter sofrido! Ainda assim, em Sua graça, Deus deu-lhe outro filho chamado Sete. Ouvimos, então, as últimas palavras registradas vindas dos lábios de Eva: Porque Deus me deu outra semente em lugar de Abel; porquanto Caim o matou (Gn 4.25b). Assim, Eva foi confortada com o nascimento de Sete. Por meio da sua linhagem, o Redentor - Aquele que esmagaria a cabeça da serpente - levantar-se-ia. Adão viveu até os 930 anos de idade (Gn 5.5). Talvez Eva tenha vivido mais ou menos até essa idade. Sendo assim, os dois teriam testemunhado o desenvolvimento da civilização ímpia de Caim. Presenciaram a rápida degeneração de seus descendentes. Como Caim, assim também seus descendentes eram inclinados à violência. A imaginação dos seus corações era má, continuamente. E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente.
Génesis 6.5
Sem dúvida, Adão e sua esposa lembravam-se, muitas vezes, dos seus dias no jardim do Éden. Lembravam-se com 43
Adão e Eva grande tristeza de como se submeteram à serpente. Ano após ano, podiam ver o que o mundo estava colhendo como consequência do ato deles. Infelizmente, porém, o ato uma vez feito, não pôde mais ser desfeito. Adão e Eva viveram para ver Enoque
Quando Adão tinha 622 anos de idade, um evento maravilhoso aconteceu. Nasceu uma criança cujo nome era Enoque. Ele foi o sétimo depois de Adão. A princípio, até onde sabemos, não havia nada de especial com aquele garoto. Com o passar do tempo, contudo, ficou claro que a mão de Deus estava sobre Enoque, como não havia acontecido com outro homem. E andou Enoque com Deus (Gn 5.24a). Deus outorgou a esse homem um poderoso ministério profético. Ele alertou o mundo antediluviano que o juízo se aproximava: E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos, para fazer juízo contra todos e condenar dentre eles todos os ímpios, por todas as suas obras de impiedade que impiamente cometeram e por todas as duras palavras que ímpios pecadores disseram contra ele. Judas 1.14,15 Enoque demonstrou ser um homem que não tinha medo de repreender a impiedade do seu tempo. Ele pregou sobre o juízo do dilúvio que se aproximava e mesmo sobre o advento do grande Redentor, a semente da mulher, prometida a Eva. Enoque deve ter ido muitas vezes à casa de Adão e Eva, pois Adão continuava vivo durante quase toda a vida de Enoque, antes deste ser transladado. Sem dúvida, Enoque ouviu Eva repetir muitas vezes o que o Senhor dissera sobre a vinda do Redentor. E muito provável que esse "neto do neto do seu neto" tenha confortado o coração de Eva na sua velhice. Ela e seu marido não viveram para testemunhar como Deus tomou Enoque para Si, mas viveram o bastante para saber que Deus manteria 44
Adão e Eva deixam o jardim do Paraíso Sua promessa. Em alguma ocasião, eles e todos os seus descendentes teriam uma outra chance de entrar no paraíso de Deus e ter acesso à árvore da vida.
Série Heróis do Antigo Testamento Gordon Lindsay Adão e Eva - vol. 1 Enoque e Noé: Patriarcas do dilúvio - vol. 2 Abraão: o amigo de Deus - vol. 3 Ló e sua esposa - vol. 4 Isaque e Rebeca - vol. 5 Jacó, o enganador que se tornou um príncipe com Deus - vol. 6 Jacó e seu filho José - vol. 7 José e seus irmãos - vol. 8 Moisés, o libertador - vol. 9 Moisés, o legislador - vol. 10 Moisés: a igreja no deserto - vol. 11
Moisés e seus contemporâneos - vol. 12 Josué: o conquistador de Canaã - vol. 13 Gideão e os primeiros juízes - vol. 14 Jefté e Sansão - vol. 15 Rute, a respigadeira e o menino Samuel - vol.16 O profeta Samuel - vol. 17 Saul, primeiro rei de Israel - vol. 18 Saul e Jônata - vol. 19 O jovem Davi - vol. 20 Davi alcança o reino - vol. 21 Davi: colhendo tempestades - vol. 22 46
Os últimos dias de Davi - vol. 23 Salomão e Roboão - vol. 24 Os primeiros reis de Judá - vol. 25 Os primeiros reis de Israel - vol. 26 Elias: o profeta do turbilhão - vol. 27 Elias: o homem que não morreu - vol. 28 Eliseu: aquele que recebeu porção dobrada - vol. 29 Eliseu: o profeta do sobrenatural - vol. 30 A revolução e suas consequências - vol. 31 Declínio e queda de Israel e Judá - vol. 32 Esdras e Neemias: o retorno da Babilónia - vol. 33 Isaías: o profeta messiânico - Jeremias: o profeta "chorão" - vol. 34 Os profetas menores: Oséias a Miquéias - vol. 35 Os profetas menores: Naum a Malaquias - vol. 36 Os 400 anos do silêncio profético - vol. 37
Graça Editorial
Adão e Eva Impressão feita pela Graça Artes Gráficas e Editora Ltda. Miolo em papel off-set 70g/m2. Capa em papel cartão supremo 250g/m2. Composição em PalmSprings.