Os Empregadores no Processo de Orientação

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OS EMPREGADORES NO PROCESSO DE ORIENTAÇÃO



OS EMPREGADORES NO PROCESSO DE ORIENTAÇÃO


Ficha técnica Titulo Os Empregadores no Processo de Orientação Editor Direção-Geral da Educação Ministério da Educação Autores Edgar Pereira, Qualificação e Emprego, CERCICA Maria Do Céu Taveira, Escola de Psicologia, Universidade do Minho Colaboração Manuel de Andrade (Universo dos Sabores) Manuel Nobre (Grupo FAF) Nuno van Zeller (LUSITANIA, Companhia de Seguros) Pedro Carvalho (NOVABASE) Produção Gráfica CERCICA, CRL Depósito Legal 435627/17 ISBN 978-972-742-417-7 Tiragem 10.000 exemplares Edição dezembro 2017

Os termos embora utilizados no masculino referem­‑se, indistintamente, ao feminino e masculino.


Introdução

A UNESCO definiu como um dos objetivos Educação 2030, o aumento sustentável do número de jovens e adultos que têm habilitações relevantes, incluindo competências técnicas e profissionais para o emprego, o trabalho adequado e o empreendedorismo1. O progresso tecnológico cria a necessidade de mão-de-obra qualificada e capaz de se adaptar rapidamente num ciclo de aprendizagem contínua ao longo da vida2, colocando um desafio à escola que deve acompanhar esta evolução, promovendo o desenvolvimento das competências necessárias à vida independente no séc. XXI. As intervenções de carreira em contexto educacional são um método poderoso e eficaz para ajudar a aproximar a escola e o mercado de trabalho 3, preparando os jovens com as competências que lhes permitam enfrentar os desafios do futuro. Contribui, também, para reforçar o envolvimento dos alunos no seu processo educativo4 e motivá-los para a aprendizagem ao longo da vida. Este processo implica que a escola mantenha contactos e um conhecimento mais aprofundado do mercado de trabalho e de potenciais empregadores, para comunicar cada vez melhor o seu trabalho educativo e os resultados alcançados, apoiar os alunos em atividades de exploração e de aproximação ao contexto laboral e apoiar na sua transição para o emprego.

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Um empregador sabe que colaboradores qualificados e com competências são fulcrais para o sucesso de qualquer atividade e, por essa razão, é também um parceiro relevante na promoção da educação para a carreira dos alunos. Esse papel pode incluir a colaboração em atividades destinadas a criar oportunidades de: Informação sobre as profissões existentes, os requisitos necessários, as condições de trabalho, e perspetivas de evolução; Atividades de exploração de carreira, como a técnica do “Job shadowing” i, ou os “Clubes Comunitários” ii, que proporcionam uma valiosa experiência prática de contacto com a comunidade e as realidades do mercado de trabalho; Estágios académicos para os alunos, muitas vezes preponderantes para a tomada de decisão; Participar na conceção dos currículos, sobretudo nas vias mais qualificantes do ponto de vista profissional, contribuindo para aproximar os planos de formação e o trabalho nas organizações, às necessidades atuais e futuras de formação e recrutamento do mercado de trabalho. Atendendo ao papel influente dos empregadores na promoção do desenvolvimento de carreira dos jovens em contexto educacional, a presente brochura pretende refletir sobre as sinergias entre o contexto académico e o profissional, contribuindo para aprofundar esta ligação.

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“Job shadowing” ou “Ser a sombra”: Estar todo o dia a observar um indivíduo no seu local de trabalho.

ii “Clubes Comunitários”: Clubes de interesse frequentados na escola por alunos e professores voluntários, coordenados por um psicólogo, que identificam um problema real na sua comunidade. Os alunos desenvolvem um processo de resolução desse problema com a ajuda de instituições e membros da sociedade profissional, que entretanto conhecem, ensaiando, avaliando e comunicando depois a sua solução, na escola e comunidade.

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Tendências do Mercado de Trabalho

A globalização, a revolução digital, a demografia e uma economia onde predominam os serviços são exemplos de mega tendências que estão a alterar os requisitos necessários para aceder ao mercado de trabalho, criando novos desafios aos sistemas educativos5 e aos estudantes que, muitas vezes, desconhecem quais as competências mais valorizadas pelos empregadores6. Os avanços tecnológicos ocorrem de forma tão rápida, por exemplo ao nível das tecnologias de informação, que todos nós necessitamos de aprender de forma contínua, para nos mantermos atualizados e integrados, pelo que prever ou antecipar com exatidão que competências serão mais relevantes no futuro se reveste de grande complexidade7. Estes fatores podem agravar o desfasamento ou a falta de correspondência entre as competências existentes e as requeridas pelo mercado de trabalho, fenómeno estudado desde 1970 nos Estados Unidos e que continua a contribuir para o desemprego e a baixa produtividade. O desfasamento de competências pode ser vertical (sobre qualificação) ou horizontal (qualificação numa área diferente da requerida) e ambos tendem a ser minimizados, se forem reforçadas as parcerias dos sistemas de educação e formação com o mercado de trabalho e vice-versa8. Atualmente, os trabalhadores beneficiam se estiverem equipados para a economia do conhecimento, onde as tarefas complexas com componentes de aprendizagem e coordenação estão a aumentar.

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O estudo da Comissão Europeia sobre o impacto do programa Erasmus, realizado em 2014, mostrou que 92% dos empregadores Europeus dão grande importância às competências transversais dos seus futuros colaboradores. Eles procuram pessoas comunicativas e orientadas para objetivos, que se adaptem facilmente a novas situações e que gostem de aceitar desafios9. Ao mesmo tempo, estes também são objetivos do sistema educativo que pretende formar cidadãos ativos e com capacidades de gestão de vida e de contribuição efetiva e ética à sociedade ou sociedades em que estejam inseridos10. Contudo os empregadores referem que muitos candidatos a emprego têm falta de competências para trabalhar em equipa e resolver problemas, bem como pouca consciência e atitude comercial11. Ou seja, interesse e compreensão do contexto envolvente, incluindo uma atenção ao controlo de custos, à orientação para o cliente/utente e ao conhecimento dos parceiros e concorrentes. Para promover em todos os alunos competências necessárias à sua preparação para a vida e mundo profissional, é fulcral, então, um maior conhecimento mútuo entre escola e mundo do emprego. Importa, também, realçar o papel das aprendizagens em contexto de trabalho na promoção e no desenvolvimento de competências transversais, facilitadoras da transição para o emprego12. Neste contexto, os alunos com necessidade de medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão, nomeadamente os que têm um Plano Individual de Transição (PIT), devem ser priorizados nesta cooperação entre a escola e os empregadores destinada a favorecer a inclusão social e o desenvolvimento de carreira dos estudantes.

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Com efeito, na União Europeia, a percentagem de jovens entre os 15 e os 34 anos com deficiência, que não estão a estudar, trabalhar ou a fazer formação, é o dobro da percentagem da restante população13, daí que todos, na sociedade, devemos trabalhar para promover a igualdade de oportunidades, fomentando de um modo mais efetivo, a transição para o mercado de trabalho deste grupo da população estudantil. As intervenções de carreira em contexto educacional devem assim ter em conta que o mercado de trabalho sofre transformações a um ritmo cada vez mais acelerado e que a mão-de-obra do futuro tem de ser capaz de se adaptar às tecnologias emergentes, num ciclo contínuo de aprendizagem ao longo da vida.

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O Contributo dos Empregadores

Todos os empregadores, independentemente da dimensão ou área de atividade, podem contribuir no processo de orientação e na preparação dos alunos para o mundo do trabalho, beneficiando no futuro de colaboradores com qualificações mais relevantes e valorizando a sua imagem junto da comunidade14. A importância da parceria com os empregadores é óbvia quando, em Portugal, quase metade dos alunos conclui o ensino secundário por vias profissionalizantes15 mas não podemos esquecer que ela também é fulcral para todos os restantes alunos. Com os seus conhecimentos e experiência, os empregadores podem enriquecer o desenvolvimento de carreira e o processo educativo em todas as suas fases, quer envolvendo diretamente os jovens, quer indiretamente trabalhando com os professores, diretores, psicólogos e pais, que devem procurar conhecer, em cada momento, as mudanças e as oportunidades do mercado de trabalho e as competências necessárias para lhe aceder e bem suceder, num dado contexto sociocultural. Pelo seu lado, os empregadores devem procurar conhecer as realidades do sistema educativo e formativo, em cada momento, e contribuir para o desenvolvimento de sociedades produtivas e sustentáveis, respeitadores dos direitos humanos e com elevados padrões de justiça e equidade, incorporando, nos seus ambientes de trabalho, o valor da aprendizagem e formação, e contributos mais atuais da escola e mundo académico.

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Alguns dos contributos sugeridos pelos empregadores são: Validar com a escola as tendências e as necessidades futuras de competências para o mercado de trabalho; Promover aulas ou palestras dinamizadas por convidados do mercado de trabalho (empregadores, colaboradores e/ ou ex-alunos) que transmitam as suas experiências e visão sobre as carreiras e as oportunidades futuras; Equilibrar o ensino teórico com a prática fomentando os estágios académicosiii, as visitas de estudo ou o “Job shadowing”16 (incluindo os setores primário e secundário da economia); Promover estágios de verão adaptados consoante a idade dos alunos; Desenvolver estudos de caso, com o objetivo de colocar os alunos no papel de empregador ou de colaborador e apresentar-lhes desafios reais, promovendo o debate de ideias sobre a resolução de problemas concretos; Sensibilizar os alunos para a importância das competências transversais, como o sentido de responsabilidade e brio no cumprimento de qualquer tarefa, o respeito das regras e objetivos definidos pela entidade empregadora; ou, ainda, a importância do diálogo, do trabalho de equipa e da atitude positiva em contexto de trabalho; iii

“A expressão “estágio” é aqui utilizada de forma lata englobando não só os estágios curriculares como toda a formação prática em contexto de trabalho.

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Promover o empreendedorismo através de visitas a ”hubs” criativos e contacto com gestores de “start-ups” de sucesso, do desenvolvimento de concurso de ideias e/ou da implementação virtual de negócios (ex., tendo empresários como júris); Fornecer ferramentas e conhecimentos práticos necessários aquando da entrada no mercado de trabalho, nomeadamente como elaborar um curriculum vitae e uma carta de apresentação, como se apresentar on-line para efeitos de procura de emprego; Desenvolver e oferecer formação aos seus trabalhadores e responsáveis da organização para saberem como lidar com a deficiência e outras incapacidades no trabalho; Promover ligações entre associações empresariais e profissionais e agências de emprego de referência. Estas atividades podem ajudar os alunos a: Identificar e a compreender características do mundo profissional e o que distingue a vida escolar da vida profissional; Compreender a relevância do trabalho nas suas formas e contextos e o valor da escola e das opções escolares e profissionais disponíveis;

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Identificar os seus pontos fortes e fracos e a compreenderem como os poderão desenvolver e superar; Compreender as opções de trabalho disponíveis, as qualificações exigidas, modos de acesso, a vida de diferentes organizações e profissionais e os benefícios dos empregos; Aprender a resolver problemas e contribuir com soluções para o mundo profissional e sociedade; Aprender procedimentos efetivos de procura e manutenção de emprego; Saber como gerir mudanças e transições; Desenvolver a adaptabilidade de carreira, para poder aproveitar as oportunidades à medida que elas ocorrem; Ultrapassar comportamentos autodestrutivos, ganhar autoconfiança e aprender competências de vida; Saber manter a segurança e o bem-estar no trabalho; A compreenderem o que é necessário para balancear vida de trabalho, familiar, pessoal, social e cidadania; A aumentar o seu envolvimento e compromisso com a comunidade.

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Boas Práticas

As atividades de exploração de carreira em parceria com os empregadores são extremamente valiosas e estão já largamente difundidas nas nossas escolas. A maioria das comunidades educativas conta já na sua rede de parcerias com um interessante número de empregadores locais, que pode sempre ser alargado com recurso ao apoio, entre outros, das Câmaras Municipais, das Associações Empresariais e até, a nível internacional, das Agências Nacionais para o programa Erasmus +. A título de exemplo de boas práticas, adotadas a nível nacional, podemos referir: As escolas que valorizam e envolvem os profissionais de psicologia e docentes em ações de formação sobre as questões do desenvolvimento da carreira dos alunos, garantem boas condições para que a sua comunidade educativa seja esclarecida e intencional nos apoios à orientação e desenvolvimento de carreira dos seus alunos. As empresas familiarmente responsáveis estão a aumentar em Portugal. Estas empresas criam condições aos seus trabalhadores para estes gerirem melhor diferentes papéis de vida, com efeitos na sua motivação, produtividade e bem-estar, e no bem-estar comunitário.

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Os empregadores e empresas que apoiam projetos de desenvolvimento de competências socio emocionais e de carreira favorecem de modo concreto o sistema educativo e as escolas, na preparação dos seus alunos para a vida profissional. O envolvimento de responsáveis escolares, académicos e das empresas na criação de fóruns escolares e comunitários sobre a educação, a vida de trabalho e o emprego, destinados a alunos da escolaridade obrigatória, favorece o esclarecimento, a construção de conhecimento e a ação em conjunto, com ganhos para a orientação e o desenvolvimento de carreira dos alunos.

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Links úteis Agência Nacional Erasmus + https://erasmusmais.pt/ Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional http://www.anqep.gov.pt/default.aspx Associação Inspirar o Futuro http://www.inspiringfuture.pt/ Associação Empresarial Portuguesa www.aeportugal.pt/ Associação Nacional de Jovens Empresários http://www.anje.pt/ Cidade das Profissões http://cdp.portodigital.pt/ Empresários pela Inclusão Social http://www.epis.pt/ Euroguidance http://euroguidance.gov.pt/ Europass CV Junior http://www.europass.pt/images/content/fn_Document_1_A000000000000065.pdf O GRACE – Grupo de Reflexão e Apoio à Cidadania Empresarial http://www.grace.pt/ School Education Gateway https://www.schooleducationgateway.eu/en/pub/opportunities/partnerships.cfm

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Referências 1. UNESCO (2017) Incheon Declaration and Framework for Action for the implementation of Sustainable Development Goal 4. Paris: UNESCO Publishing. 2. Marope, P.; Chakroun, B. and Holmes, K. (2015) Unleashing the Potential – Transforming Technical and Vocational Education and Training. Paris: UNESCO Publishing. 3. Hiebert, B. and Borgen, W. (2002) Technical and Vocational Education and Training in the Twenty-First Century – New roles and challenges for guidance and counseling. Paris: UNESCO. 4. Moura et al (2014) Students engagement in school and guidance activities, In F. Veiga (Ed.) Students’ Engagement in School: International perspectives of psychology and education. Lisbon: Instituto de Educação – Universidade de Lisboa. 5. Pereira, E., Kyriazopoulou, M. and Weber, H. (2016) Inclusive Vocational Education and Training – Policy and practice, in International Perspectives on Inclusive Education, Vol. 8. Emerald Group Publishing. 6. Tibby, M. (2012) Briefing paper: employer and student perspectives of employability. In: HEA Teaching and Learning Summit on Employability: Manchester, 2012. York: HEA and NCCPE. 7. Jarvis, P. (2007) Globalisation, Lifelong Learning and the Learning Society. New York: Routledge. 8. ILO (2014) Skills mismatch in Europe: Statistics brief. Geneva: International Labour Office. 9. European Comission (2014) The Erasmus Impact Study: Effects of mobility on the skills and employability of students and the internationalisation of higher education institutions. Luxembourg: Publications Office of the European Union. 10. Gomes, C. S. et al. (2017). Perfil dos alunos para o século 21. Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória. Lisboa: República Portuguesa.

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11. Carneiro, R. e Marques, R. (2015) Europass CV Junior. Lisboa: Centro Nacional Europass | Fórum Estudante. 12. European Commission (2013) Work-based learning in Europe: Practices and Policy Pointers. 13. EUROSTAT (2015) Employment of disabled people – Statistical analysis of the 2011 labour force survey ad hoc module. Luxemburg: Publication Office of the European Union. 14. Education Scotland (2015) Developing the Young Workforce – Guidance for School/Employer Partnerships. Edinburgh: The Scotish Government. 15. DGEEC e DSEE (2017) Estatísticas da Educação 2015/2016. Lisboa: Direção‑Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. 16. Moreno, M. (2011) A educação para a carreira: aplicações à infância e à adolescência. In Taveira, M. & da Silva, J. (Ed.) Psicologia Vocacional: Perspectivas para a intervenção (2ª edição). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.

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As intervenções de carreira em contexto educacional são um método poderoso e eficaz para ajudar a aproximar a escola e o mercado de trabalho, motivando os jovens para as aprendizagens, incluindo a aprendizagem ao longo da vida, e desenvolvendo competências que lhes permitam enfrentar os desafios do futuro.

Atendendo ao papel influente dos empregadores na promoção do desenvolvimento de carreira dos jovens em contexto educacional, a presente brochura pretende refletir sobre as sinergias entre o contexto académico e o profissional, contribuindo para aprofundar esta ligação.


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