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CENÁRIO ECONÔMICO
Mudança abrupta de cenário - parte 2
Os historiadores dizem que não faz sentido (1,9%) na comparação com 2019. A recuperação forte estudar o passado a menos que lance algu- do comércio reflete o efeito reforma decorrente da ma luz sobre o presente. Os economistas quarentena que foi potencializado pelo auxílio emerutilizam a “história dos números” para gencial. Em geral, as lojas de material de construção entender o presente e fazer projeções. No entanto, o puderam ficar abertas em todo o país, uma vez que a ineditismo da crise advinda com a pandemia foi tanto construção foi considerada atividade essencial. que os modelos perderam sua capacidade preditiva. A indústria sentiu a retração da atividade da consOu seja, erraram antes ao não prever a crise e depois, trução de forma mais intensa que o comércio, deao dimensioná-la. Enfim, economistas e analistas em terminando até a paralisação de fornos em alguns geral erraram em suas projeções de queda no PIB de segmentos industriais. No entanto, o crescimento 2020 feitas antes e depois do início da pandemia. expressivo da demanda das famílias repercutiu Mas os impactos foram inequívocos e expressos no resultado do PIB do segundo trimestre, que registrou retração de 9,7% na comparação com o trimestre anterior. No semestre, a economia caiu 5,9% em relação ao primeiro semestre de 2019. O setor de serviços que responde por mais de 60% do PIB brasileiro determinou grande parte da queda do período, mas a indústria de transformação registrou queda mais também na indústria, ainda que a retomada tenha iniciado mais tardiamente. Apenas em julho, a produção superou o resultado de 2019, mas no ano até agosto ainda acumula queda de 6,8%. Além da demanda das famílias, há outra força alavancando a produção: as construtoras. O saldo positivo do Caged a partir de junho confirma expressiva (-17,5%). a progressiva recuperação do ciclo produtivo. Com o
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O desempenho menos ruim do setor de serviços aumento das contratações, o saldo no ano já se mostra deveu-se aos programas lançados de apoio à renda e positivo novamente. Em agosto, as construtoras resao emprego, que conseguiram mitigar o efeito da cri- ponderam por 20% do saldo de toda a economia. se para as famílias. De todo modo, a queda do segun- A Sondagem da Construção da FGV captou a medo trimestre não reflete mais o momento atual. No lhora da confiança a partir de maio. Em setembro, a terceiro trimestre, indicadores apontam recupera- Sondagem apontou que o Indicador de Atividade das ção das atividades, sinalizando que a retração do ano empresas quase recuperou o patamar de fevereiro. será menos intensa que a prevista em março-abril. Ou seja, a retomada está sendo rápida, embora em rit-
Entre os setores que surpreenderam positivamen- mo diferente entre os diversos segmentos setoriais. te, está a construção. Na verdade, parece um parado- Os segmentos relacionados a serviços, como o de insxo dizer que a que a retração do PIB de 5,7% na com- talações, são os que se recuperam mais lentamente. paração com o primeiro trimestre de 2020 Por sua vez, as obras de infraestrutura (obras viárias tenha sido um resultado bom, então e obras de artes) já superaram o patamar prémelhor dizer que foi menos ruim -covid, assim como o segmento de edifique o esperado. cações residenciais, que estava em fase
E a surpresa veio justamente ascendente antes da pandemia. do segmento para o qual se pro- Aqui vale então lembrar o que jetava o maior impacto da cri- significa retomar o patamar prése: o segmento informal, re- -pandemia: em dezembro de 2019, presentado pelas famílias e o PIB da construção estava 33% pequenos empreiteiros, que abaixo do pico alcançado em jadeterminam parte maior no consumo de materiais. Já a partir de abril, houneiro de 2014. É fato, que as incertezas reduve crescimento das vendas ziram significativamente em redo comércio de materiais de lação ao início da crise, mas ainda construção, que se seguiu em são elevadas. Sustentar a retomada maio, junho e julho, quando o indi- da economia ainda passa por alguns decador superou o patamar pré-Covid safios que se tornarão maiores em 2021, em 14%. No ano até julho, o volume Ana Maria Castelo com o fim do auxílio emergencial e uma de vendas já registra crescimento Coordenadora de situação fiscal crítica. projetos do IBRE/FGV