Diana Loureiro - A música como meio de comunicação

Page 1

a música como meio de comunicação

DIANA LOUREIRO



Recomenda-se a audição das músicas incluídas neste trabalho em https://www.youtube.com/playlist?list=PLpv33qLyGiwXbZjf0gWg0WP95NbcCJs3L



Communicare (latim)

Comunis = comum

1º Repartir, dividir, distribuir 2º Partilhar 3º Transmitir 4º Coisa pública (aquilo que é de todos)

comunicação comunicar

Aqueles que repartem pão à mesa estão em processo de comunicação (pertencem ao mesmo) Aquilo que pode ser dito porque é entendido por todos – pode ser universalizado. Só pode ser público através de dimensões materiais - código - meios de inscrição / transmissão - meios de arquivo

2 entendimentos de comunicação Pessoal & Erótico [RITUAL] - Ritual - memória - Passagem da tradição - Mantém a comunidade coesa - Manutenção de uma ordem social - Comunidades perpetuam-se no tempo através da partilha (teatros, eventos políticos) Técnico & Postal [TRANSMISSÃO] - Medialógico / suporte - Dimensão dos meios - Estruturas que suportam / controlam o envio dos sinais - Não se centra nos conteúdos mas sim na geografia, recetores e meios - Não há análise em suporte

o meio esconde-se por trás da mensagem

o meio é a mensagem



os meios de comunicação



Os meios de comunicação pressupõem de três paradigmas: o regime da primeira oralidade, o regime visual, o regime da segunda oralidade e o regime háptico. O primeiro regime medialógico encontra-se na pré-história, onde os meios de comunicação são humanos. Por estarmos na presença de uma sociedade tribal, o tema dessa comunicação foca-se na mitologia, com explicações do universo através de narrativas não necessariamente factuais, nas alegorias e histórias metafóricas. Com lendas e mitos, os indivíduos tentam organizar e unir os pensamentos do Homem, o que implica uma pré-condição da religião, e, como não há registos escritos, implica também uma insistência das ideias, é necessário contar e recontar, numa transmissão oral da informação e tradição. A mitologia da primeira oralidade envolve dois aspetos: o primeiro sendo a tradição, e o segundo a magia/ritual. O Homem lê o mundo através de fenómenos naturais, visto que não há superfícies de leitura artificiais, e com a autossubsistência e isolamento de cada comunidade esta projeção mitológica com recurso à superstição organiza as ideias e pensamentos de cada tribo.


O regime visual contempla a escrita, o livro e o surgimento da imprensa, mas também o surgimento da fotografia e posteriormente cinema. A escrita pressupõe primeiro de um código, um acordo onde existe uma correspondência entre um símbolo e um som/fonema; e uma superfície de inscrição que vai influenciar o tipo de expressão. Esta superfície de inscrição foi evoluindo paralelamente com o Homem, na escrita sumérica, uma escrita cuneiforme cujo alfabeto foi um dos primeiros alfabetos ideográficos, escrevia-se/inscrevia-se em superfícies naturais como paredes e pedras de grande porte. Posteriormente essa inscrição passou a ser feita em superfícies mais artificiais e portáteis como argila e pedras de menor porte, que eram mobilizadas em função das ações de grupo, implicando já alguma capacidade artesã devido ao tempo e técnica de manufatura. Com alguma resistência na evolução, e algumas tentativas não tão bem sucedidas, como o pergaminho egípcio ou o papel de arroz chinês, caminhamos para o volumen, um proto-livro instituído pelos romanos, que veio trazer inúmeras vantagens à leitura, entre elas a portabilidade, a possibilidade de uma leitura mais discreta, a ergonomia, a preservação e o registo. A implantação do cristianismo em Roma influencia o códice/códex, no séc. I/II/III d.C., este permite uma consulta não contínua, podendo o indivíduo passar as páginas conforme pretender, enquanto o volumen implicaria desenrolar o rolo no seu total para aceder à informação pretendida. O códice começou a ser associado a outros tipos de comunicação, textos não fictícios como leis e factos históricos, e trouxe também a vantagem do arquivamento em biblioteca pela lombada permitir uma visualização exterior. No entanto, o códice trazia uma desvantagem, todos os livros eram reproduzidos através da cópia à mão, o fac simile, num processo que demorava uma vida inteira. Esta desvantagem sucumbiu no séc. XV com a invenção da imprensa por Gutenberg, onde cada prancha era desenhada e a partir desse momento verificou-se mais velocidade na reprodução, e uma multiplicação que resultou nos livros passarem a ser distribuídos em escalas maiores e deixarem de ser tão elitistas. Um dos pontos cruciais na evolução dos meios de comunicação foi a reforma protestante. O protestantismo não reconheceu a autoridade papal, originando uma fragmentação da doutrina cristã, a religião organizou-se em fragmentos geográficos. A nova religião protestante de Lutero encarava a possibilidade de a bíblia cristã ser traduzida para outras línguas e, num momento da história ocidental onde a fé era cega pela bíblia e as missas serem em latim, uma língua que só os cultos falavam, essa tradução implicaria que mais pessoas tivessem acesso e questionassem/interpretassem a fé à sua maneira.




Caminhamos para o antropocentrismo, para responder à questão do Homem racional precisar de dispositivos que demonstrem essa racionalidade, nasce a enciclopédia – um livro com uma entrada sobre tudo, quase que o primeiro motor de pesquisa da humanidade – como ideia máxima de sistematização de conhecimento. Neste momento de emancipação, o Homem é para ele mesmo o ser superior, mas é dependente deste processo de formatação/desformatação, mais emancipado, mas mais homogéneo e menos livre. Observa-se a marginalização e elitismo – o homem caucasiano, alfabetizado, imperialista e ocidental é que tem comando da sociedade. Há uma relação de dependência da organização de ideias como leis, política e direito, e uma instauração de rigidez e dependência direta pela lei. O ser humano distingue-se da natureza, o Homem da imprensa afirma-se como totalmente artificial, coloniza e adapta tudo à sua volta à sua imagem numa relação de dominação e extração do natural. A natureza é um universo de leitura, tudo pode ser codificado, tudo pode ser reduzido a leis, fórmulas e formas, matemática e geometria, o mundo encontra-se em disposições gráficas como mapas e símbolos matemáticos. Este é um ponto fulcral do Homem como ser social e comunicativo. Em todas as sociedades a vida social baseia-se na interação pessoal direta e, antes do livro, um indivíduo inserido na sociedade tinha dois momentos: quando estava ausente de qualquer interação social e quando estava presente na socialização. Com esta mediatização, este primeiro momento ausente pode passar a ser presente também quando colocamos uma peça de media na equação: o indivíduo que lê está também ele a fazer parte de uma sociedade ainda que de forma indireta.

Com o livro nasce um paradoxo inquestionável – o ser humano liberta-se ao ler o livro, mas ao mesmo tempo está dependente pelo livro ser a única porta de abertura para o mundo.


language


is a virus


A escrita, tal como a linguagem, quando surge não é apenas uma nova técnica, pode ser entendida como um vírus. O Homem torna-se um novo ser e não há retorno. Um exemplo para ilustrar a frase de William Burroughs será o episódio da Torre de Babel. O Homem babilónico pagão concebia o mundo como uma “montanha” alta e acreditava que os deuses habitavam no cume da montanha. Então, os babilónios construíram uma torre que ousava chegar aos céus, para imitar a montanha divina, e colocaram no último patamar a morada dos deuses da cidade, os governadores. O poder da Babilónia ficou assim divinizado, com a Torre de Babel como um poderoso centro político e cultural com domínio universal. Os deuses, indignados com tamanha profanação, atribuíram diferentes idiomas à população, que consequentemente evoluíram para outras tradições, culturas e interesses. Com a divisão e desentendimento, os homens não conseguiram derrubar esta barreira e viraram-se contra si mesmos, fazendo cair a Torre de Babel.




Paradise Is exactly like Where you are right now Only much much Better. I saw this guy on the train And he seemed to have gotten stuck In one of those abstract trances. And he was going: “Ugh . . . Ugh . . . Ugh . . . “ And Fred said: l think he’s in some kind of pain.I think it’s a pain cry. And I said: “Pain cry? Then language is a virus.” Language! It’s a virus! Language! It’s a virus! Well I was talking to a friend And I was saying: I wanted you. And I was looking for yov. But I couldn’t find you. I couldn’t find you. And he said: Hey! Are you talking to me? Or are you just practicing For one of those performances of yours? Huh?


Language! It’s a virus! Language! It’s a virus! He said: I had to write that letter to your mother And I had to tell the judge that it was you. And I had to sell the car and go to Florida. Becaure that’s just my way of saying (It’s a charm.) That I love you. And I (It’s a job.) Had to call you at the crack of dawn (Why?) And list the times that I’ve been wrong. Cause that’s just my way of saying That I’m sorry. (It’s a job.) Paradise Is exactly like Where you are right now Only much much (It’s a shipwreck) Better. (It’s a job.) You know? I don’t believe there’s such o thing as TV. I mean They just keep showing you The same pictures over ond over. And when they talk they just make sounds That more or less synch up With their lips. That’s what I think!


Language! It’s a virus! Language! It’s a virus! Language! It’s a virus! Well I dreamed there was an island That rose up from the sea. And everybody on the island Was somebody from TV. And there was a beautiful view But nobody could see. Cause everybody on the island Was saying: Look ot me! Look at me! Look at me! Look at me! Because they all lived on an island That rose up from the sea And everybody on the island Was somebody from TV. And there was a beautiful view But nobody could see. Cause everybody on the island Was screaming: Look at me! Look at me! Look at me! Look at me! Look at me! Why? Paradise Is exactly like Where you are right now Only much much Better.


a mĂşsica como mei


io de comunicação



A música é um meio de comunicação intrínseco a todos os paradigmas dos meios de comunicação. Desde as percussões corporais da pré-história, passando pelo trovadorismo medieval até às demais vertentes musicais do séc. XX e XXI, todas as músicas comunicam algo e fazem o indivíduo, que as ouve, comunicar também. O Homem primitivo fazia uso da música nas suas cerimónias de evocação das forças da natureza, no culto dos mortos e no decorrer da caça, começando por usar primeiro apenas a voz e as percussões corporais e, mais tarde, introduzindo gradualmente instrumentos, como flautas feitas de ramos perfurados, pedras e paus. Entretanto, nas civilizações pré-clássicas e posteriormente nas clássicas, a música assume um papel central nas diversas atividades diárias. No Egipto a música, entendida como algo de origem divina, era tocada no palácio do faraó e no culto dos mortos. Eram as mulheres que geralmente tocavam, contando com harpas, liras, flautas, alaúdes e instrumentos de percussão para esse efeito. A música clássica greco-romana aparece ligada à poesia e à escrita que, a par com a música, fazem o trio essencial da forma de expressão no teatro. Os gregos já tinham noção do culto da música como arte e como ciência, a música era tão valorizada que fazia parte da educação do jovem grego.


Com a queda do Império Romano e a implantação do cristianismo, a igreja passa a ter um papel fundamental no desenvolvimento e evolução da música, sendo os monges os responsáveis pelo desenvolvimento da escrita e da teoria musical. Os cânticos litúrgicos, que variam consoante a cultura, ritos, e hábitos de cada povo, fazem parte do repertório mais usado na música medieval. Ao mesmo tempo, os trovadores, nobres compositores de música e poesia que andavam de terra em terra, tiveram um papel fundamental na evolução da música, sendo os criadores da proto-pauta musical. A notação musical servia no início apenas para auxiliar a memória de quem cantava, mas, ao longo dos tempos, tornou-se cada vez mais precisa. Numa fase inicial eram colocados pequenos símbolos chamados neumas. Mais tarde, de forma progressiva, foram introduzidas as linhas até se chegar ao conjunto das quatro que foram inventadas por Guido D’Arezzo, o grande teórico da música na idade medieval. Posteriormente, a partir do século XI, o uso da pauta tornou-se habitual. Na época renascentista, a Igreja torna-se menos rígida e permite uma maior conexão entre a música sacra e a música profana, mas é só no barroco que a música instrumental atinge a mesma importância que a música vocal, sendo o violino e o cravo os instrumentos que mais brilham neste campo. Por sua vez, a orquestra toma maiores proporções e apresenta-se de forma estruturada, com aperfeiçoamento técnico dos músicos. O ballet e a ópera surgem como formas musicais que se desenvolvem com grande autonomia.




A idade romântica caracteriza-se pela liberdade de expressão e liberdade de sentimentos. Neste contexto, os compositores conseguem libertar-se da tutela dos nobres empregadores, e, influenciados pelas alterações políticas e sociais da revolução francesa, procuram suscitar, através da música, sentimentos nacionalistas e afetos relativos à sociedade da época. Com a ascensão da burguesia os concertos públicos tornam-se mais frequentes e, como consequência disto, surgem grandes salas de espetáculos e concertos. O Romantismo desenvolveu o virtuosismo na execução instrumental que atingiu elevados graus de dificuldade e técnica, levando os músicos a tornarem-se figuras públicas de destaque. As experiências marcam a época moderna da música, a partir do século XX, com a procura de novas técnicas e sons. Neste contexto surgem assim os primeiros instrumentos eletrónicos (guitarra elétrica e sintetizador). Há uma maior tendência para valorizar a cultura americana, facto impulsionado pela evolução dos meios de comunicação, e o aparecimento da gravação abre um novo mundo para a produção musical.



a música como meta-comunicação


Words like violence Break the silence Come crashing in Into my little world Painful to me Pierce right through me Can’t you understand? Oh my little girl Words are very unnecessary They can only do harm Vows are spoken To be broken Feelings are intense Words are trivial Pleasures remain So does the pain Words are meaningless And forgettable


enjoy the silence


“Hello Is there anybody in there? Just nod if you can hear me Is there anyone at home?”

“Com

mun i catio I t ’ I’m h s alwa n brea avin k g a n ys the sa down Drive ervous me brea me i kdow nsan n e!”

ings h t y man you, y r e v are o say to e r e “Th ld like t way y u m I wo i’ve lost words. my but t s dso r l o e w v ’ and I ight of my more.“ e ny The w ’t feel it a an you c

“Ground Control to Major Tom Ground Control to Major Tom Take your protein pills and put your helmet on” “To point the finger, blame the other, watch the temple topple over To bring the pieces back together, rediscover communication”


A meta-comunicação é uma capacidade inerente ao ser racional. Só o ser humano consegue comunicar sobre a própria comunicação.

“What shall we use To fill the empty spaces Where we used to talk?”


“Watch out, the world’s behind you There’s always someone around you who will call It’s nothing at all”

“Words disappear, Words weren’t so clear, Only echoes passing through the night”

“But that’s not an invitation! That’s all I get If this is communication I disconnect I’ve seen you, I know you, but I don’t know How to connect So I disconnect Well, this is an invitation! It’s not a threat If you want communication That’s what you get I’m talking and talking But I don’t know How to connect So I disconnect”


A Escola de Palo Alto, composta por Gregory Bateson, Ray Birdwhistell, Edward Hall, Don Jackson, Arthur Scheflen e Paul Watzlawick, mentes teóricas de antropologia, psicossociologia, psiquiatria, filosofia e cibernética, criou uma nova visão sobre a comunicação interpessoal, a chamada “Nova Comunicação”. A contrastar com o modelo de comunicação “telégrafo” associado ao modelo de Shannon-Weaver, em que a mensagem tem uma só direção no canal, para a Escola de Palo Alto a comunicação é uma troca de informação, um canal multidirecional composto por inputs e outputs. Mas, para estes autores, a comunicação não é só a troca de informação direta, “uma comunicação não se limita a transmitir uma informação, mas induz ao mesmo tempo um comportamento”, ou seja, comunicação e comportamento são sinónimos, tudo é comunicação, mesmo a recusa de comunicação é ela própria comunicação. A comunicação não verbal complementa a comunicação verbal, com o comportamento aumentamos a mensagem da informação que estamos a comunicar. Com base nesta premissa de que é impossível não comunicar, os teóricos da Escola de Palo Alto estudaram também a meta-comunicação. A meta-comunicação verbal apresenta uma natureza explícita e, assim, tendencialmente esclarecedora da mensagem a veicular. Um ser racional precisa da meta-comunicação para viver em sociedade. Portanto, sendo a meta-comunicação tão importante para o indivíduo, não é inesperado que a música tenha também uma vertente meta-comunicativa.


o


os media na mĂşsica


“You will not be able to plug in, turn on and cop out. You will not be able to lose yourself on skag and skip out for beer during commercials, Because the revolution will not be televised The revolution will not be brought to you by Xerox In 4 parts without commercial interruptions. THE REVOLUTION WILL NOT BE TELEVISED”


Marconi inventa o telegrama sem fios no terceiro paradigma dos meios de comunicação, o regime da segunda oralidade. Com a globalização na sociedade marcónica, a comunicação existe numa escala planetária e o ser humano é refém dessa ideia de comunicação. Existe uma alienação e classificação, todo o indivíduo comunica, mas raro é aquele que faz sentido na sua comunicação. A racionalização da vida moderna faz com que a comunicação deixe de ser um processo unidirecional. O campo eletromagnético existe desde sempre, mas quando Marconi o descobre afirma que as descobertas são frágeis, há muito por descobrir, o ser humano só conhece a parte sensível das energias – há muito mais que o ser humano não vê nem sente. Para além das transmissões humanas, a natureza sempre foi a maior transmissora, a rádio foi ouvida antes de ser inventada, e antes de ser ouvida já existia. O telefone antes de comunicação servia apenas como um recetor para ouvir o “rumor da terra”, provando que a natureza sempre utilizou a distância como via de comunicação.


Como exemplo, os espelhos de som (sound mirrors) construídos entre a I e a II Guerra Mundial, tinham como objetivo precaver ataques aéreos: à distância, conseguiriam ouvir o som dos aviões. Mas não chegaram a ser utilizados porque não se conseguia distinguir o som dos aviões à distância do som dos pássaros ou de um navio. Isto faz-nos refletir sobre duas noções, primeiro antes de haver um aparelho já há transmissões na natureza; segundo, as transmissões não têm objetivo se não houver um aparelho que as descodifique para exploração humana. No entanto, os media, aquilo pelo meio do qual algo aparece, não são só as máquinas, o locutor e recetor, são também o meio, o que está no meio entre eles, os espaços de ligação entre os aparelhos e, podemos afirmar que mesmo o imaterial traz certas materialidades, como a atmosfera que também é um médium. A rádio, não precisando do código subentendido da escrita, está disponível para qualquer pessoa entender e nela aplicam-se outros meios dentro do mesmo como a música, acedendo a um público mais vasto e trazendo certas vantagens face ao livro. Primariamente, o livro é propriedade de alguém, mas o ar é inapropriável, pertencendo à natureza, logo o custo é menor e a comunidade da rádio é maior e mais participativa. A rádio oferece também, como segunda vantagem, diversos conteúdos que o livro não oferece, no mesmo meio podemos ter informação e entretenimento. A terceira vantagem é que na rádio todos são emissores e todos são recetores, enquanto no livro há um só leitor.


“And that is how I know When I try to get through On the telephone to you There’ll be nobody home.”

“Hey, you! Out there on your own Sitting naked by the phone. Would you touch me?” “Like words in a letter sent, amplified by the distance.”

“IS THERE ANYBODY OUT THERE?”


“Did you get your disconnection notice? Mine came in the mail today They seem to think I’m disconnected Don’t think I know what to read or write or say Glossaries injected daily Words and numbers spell out the price to pay It simply states “you’re disconnected baby” See how easily it all slips away”


Em 1888, Emil Berliner inventa o gramofone, o primeiro aparelho que reproduz música gravada. Antes do gramofone, a música era ouvida ao vivo, pelo que o gramofone vem trazer a privatização da música. A tecnologia do gramofone é uma evolução do fonógrafo de Thomas Edison, como que o primeiro dictafone da história, que gravava através de inscrições numa superfície. A música já não está apenas no lugar onde ela ocorre, na sala de espetáculos, transformando-se em ubíqua quando surge o gramofone: pode estar em todo o lado. O regime háptico, o quarto paradigma dos meios de comunicação, não implica um sentido único, mas sim o corpo todo emergido na tecnologia do computador, do telemóvel e demais tecnologias que marcam o séc. XXI. Não importa apenas o registo codificado, há comunicação não codificada onde tudo é informação, a expressão escrita é apenas uma parte. Com a verticalidade do scroll não há perceção da extensão do meio, ao contrário de um livro com início, meio e fim. É um regime mais participativo onde existe uma libertação do domínio verbal, complementado com imagens e emojis.


“I heard you on the wireless back in fifty two Lying awake intent at tuning in on you If I was young it didn’t stop you coming through And now we meet in an abandoned studio (ohh) We hear the playback and it seems so long ago And you remember the jingles used to go (ahh) Video killed the radio star In my mind and in my car We can’t rewind we’ve gone too far”


V I D E O KILLED THE RADIO STAR


“Call me (call me) on the line Call me, call me any, anytime Call me (call me) my love You can call me any day or night Call me”

“Don’t listen to the radio Hear something that ya ready know I got no radio Don’t speak upon the telephone Hear somethin’ that you’re never shown I got no telephone Don’t listen to the TV show Feel someone that you ready know I got no T.V. oh”

“I’m in the phone booth, it’s the one across the hall If you don’t answer, I’ll just ring it off the wall I know he’s there, but I just had to call Don’t leave me hanging on the telephone”


A música no regime háptico do séc. XXI está agora também inevitavelmente ligada ao streaming. Valéry, com uma visão otimista, previu esta nova vertente, afirmando que no futuro seria possível “fazer ouvir, em qualquer ponto do globo, no próprio instante, uma obra musical, executada seja onde for”. E os programas de rádio, foram, no regime háptico, parcialmente substituídos pelos podcasts, que Valéry também previu: “Em qualquer parte do globo, e a todo o momento, [será possível] restituir de forma intencional uma obra musical”.

No entanto, em todos os meios de comunicação, o público completa a obra – a obra só está completa quando há receção.

O livro só é completo quando alguém o lê. A pintura só é completa quando alguém a vê. A música só é completa quando alguém a ouve.



o efeito ouroboros da mĂşsica que fala sobre si mesma


day y b ay “Mother, do you think they’ll drop the bomb? d , g s n i w Mother, do you think they’ll like this song?” e w o n r e g h rt l it e o f e f d y a d u s o a e y e r r t ’ a “Don le getting py, some play” Peop are hap he music Some gotta let t “The theme so ng will not be written by Jim Webb , h a o W or Francis Scott Key, nor sung by Glen Campbell, Tom Jones, Johnny Cash or Englebert Humperdink. The revolution will not be televised. ” “They took the credit for your second symphony Rewritten by machine on new technology And now I understand the problems you can see”

song l ia c e p s t a h t r a e hen I h w g n lo a y la p ll ’ I “ right. it s t e g o h w e n o I’m gonna be the “‘Com

e down

from the mountai n, you h gone too ave been The spri l o n g ng is up on us, fo llow my only son g”

in’ c n a d e k li l e e f t ’ But I don ys la p a n n a o J ld o When the ce n a h c a e k a t ld u My heart co ay” w a d n fi t ’ n a c t e But my two fe “‘Cause it’s a bittersweet symphony, that’s life

I need to hear some sounds that recognize the pain in me, yeah I let the melody shine, Let it cleanse my mind, I feel free now But the airwaves are clean and there’s nobody singing to me now”


Para além da música meta-comunicativa, se quisermos entrar mais no rabbit hole, a música também tem outra capacidade: a música que fala sobre música, quase que como música metamúsica. Este efeito cíclico da música que fala sobre ela mesma pode ser comparada a um ouroboros, uma serpente que come a sua própria cauda num ciclo eterno. Esta canção fala sobre uma anterior, e futuramente haverá outra canção que falará sobre esta, num ciclo repetitivo e eterno.


A MÚSICA É UM MEIO DE COMUNICAÇÃO INTRÍNSECO A TODOS OS PARADIGMAS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


B

I

B

L

I

O

G

R

A

F

I

A

CARPEAUX, Otto Maria (2001), Livro de Ouro da História da Música (Edição revista e ampliada de “Uma nova história da música”). Rio de Janeiro, Ediouro GABRYS, Jennifer (2010), “Atmospheres of Communication” in The Wireless Spectrum, Toronto, University of Toronto Press SERRA, J. Paulo (2007), “A Comunicação Interpessoal” in Manual de Teoria da Comunicação, Covilhã, Livros Labcom VALÉRY, Paul (1928), “Conquête de L’Ubiquité” in De la Musique Avant Toute Chose, Paris, Éditions du Tambourinaire WATZLAWICK, P., BEAVIN, J., JACKSON, D., (1979) Une Logique de la Communication, Paris, Éditions du Seuil MÚSICAS (por ordem de aparição) Laurie Anderson, Language Is A Virus, Home Of The Brave, WMG, 1986 Depeche Mode, Enjoy The Silence, Violator, WMG, 1990 Led Zeppelin, Communication Breakdown (2007 Remaster), Mothership (Remastered), ARC, 2007 Tool, Schism, Lateralus, Volcano, 2001 David Bowie, Space Oddity, Space Oddity, WMG, 1972 Kings of Convenience, The Weight Of My Words, Quiet Is The New Loud, Mawlaw 388 Ltd, 2001 Pink Floyd, Comfortably Numb, The Wall, Pink Floyd Records, 1979 Pink Floyd, Empty Spaces, The Wall, Pink Floyd Records, 1979 The Greenhornes, There is An End, Dual Mono, The Greenhornes, 2010 The Cardigans, Communication, Long Gone Before Daylight, UMG, 2014 The Velvet Underground, Nico, Sunday Morning, The Velvet Underground & Nico, UMG, 1967 Gil Scott-Heron, The Revolution Will Not Be Televised, Small Talk at 125th and Lenox, PIAS, 1970 Kings of Convenience, Singing Softly To Me, Quiet Is The New Loud, Mawlaw 388 Ltd, 2001 Pink Floyd, Hey You, Echoes: The Best Of Pink Floyd, Pink Floyd Records, 2001 Pink Floyd, Nobody Home, The Wall, Pink Floyd Records, 1979 Pink Floyd, Is There Anybody Out There?, The Wall, Pink Floyd Records, 1979 Sonic Youth, Disconnection Notice, Murray Street, 2002 The Buggles, Video Killed The Radio Star, The Age Of Plastic, UMG, 1980 The Vines, Don’t Listen To The Radio, Vision Valley, MGM 2006 Blondie, Call Me, Call Me Single, Chrysallis, 1980 Blondie, Hanging On The Telephone (The Nerves Cover), Parallel Lines, Chrysallis, 1978 Pink Floyd, Mother, The Wall, Pink Floyd Records, 1979 The Doobie Brothers, Listen To The Music, Toulouse Street, WMG, 1972 Scissor Sisters, I Don’t Feel Like Dancing, Ta-Dah, UMG, 2006 The Verve, Bittersweet Symphony, Urban Hymns, Virgin Records, 1997 Fleet Foxes, Ragged Wood, Fleet Foxes, Nonesuch Records Inc, 2008




DIANA LOUREIRO UNIVERSIDADE LUSÓFONA DO PORTO LICENCIATURA CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO HISTÓRIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.