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Eu sou aquele pierrô...

Ah, o Carnaval de outros tempos... Não era esse Carnaval Espetáculo, Carnaval Mega Evento... É bom também, atrai turistas e encanta a Nação com os desfiles monumentais do Rio de Janeiro e, depois, de São Paulo. Tem o Carnaval da Bahia e o tradicional Carnaval de Pernambuco/ Olinda. Mas o Carnaval de Cada Um, ou seja, o Nosso Carnaval dos Bailes, das Fantasias , das Marchinhas, dos Amores Roubados e dos Amores Surgidos...é que são lembrados... E em tempos de PANDEMIA, resta recordar...

E é nesse Carnaval onde a interação entre foliões acontecia e era bonita encontra, na composição de Zé Kéti, “Máscara Negra”, cantada pela Dalva de Oliveira, o seu retrato mais fiel. Sim, nessa música dedicada ao Reinado de Momo, temos o trio famoso do amor, do encontro e do desencontro: Pierrô, Colombina e Alerquim! O mesmo tema tratado com criativo humor por Noel Rosa em Pierrô...

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E é nesse Carnaval vivido por todos que compareciam aos bailes carnavalescos, com suas marchinhas inesquecíveis e suas músicas consagradas, que se desenrolava o romance de tantas Colombinas maravilhosas, ora indo para os braços de um Pierrô sonhador, ora caindo pelo envolvimento alegre e esperto de um Alerquim. O final era sempre imprevisível, assim como os grandes amores... Com quem ficará a Colombina? Com o ingênuo e sentimental Pierrô ou com Alerquim – seu rival no amor de Colombina! – sempre vestido com fantasia feita de retalhos triangulares coloridos, representando o palhaço, o cômico, o farsante?!?

Os 3 são personagens da Comédia Italiana, uma companhia de atores que se instalou na França entre os séculos XVI e XVIII para difundir a Commedia dell’Arte, forma teatral original com tipos regionais e textos improvisados. Colombina era uma criada de quarto, esperta, sedutora e volúvel, amante do Arlequim, às vezes vestia-se como arlequineta, em trajes de cores variadas, sempre tendo uma queda irresistível por Pierrô (Pierrot)...

“Tanto riso, oh quanta alegria Mais de mil palhaços no salão...”

E o salão de baile era o cenário do desenrolar desses imprevisíveis amores O cronista Rubem Braga registrou com maestria essa mágica dos encontros e dos desencontros, em uma de suas crônicas inesquecíveis, ele escreve:

“E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor assim, uma separação como às vezes acontece em um baile de carnaval – uma pessoa se perde da outra, procura-a por um instante e depois adere a qualquer cordão. É melhor para os amantes pensar que a última vez que se encontraram se amaram muito – e depois apenas aconteceu que não se encontraram mais. Eles não se despediram, a vida é que os despediu, cada um para seu lado – sem glória nem humilhação...”

Pierrô e Colombina? Ou Colombina e Alerquim?

Ou a Colombina “entrou num botequim, bebeu, bebeu, saiu assim, assim Dizendo: Pierrô cacete, vai tomar sorvete com o Arlequim...” E ficou com um animado folião fantasiado de Zorro até o final do baile...feliz... (AMD)

É bom saber. O artista plástico e conhecido webdesigner botucatuense Marco Antonio Spernega, foi quem idealizou a Cuesta de Botucatu estilizada e com todo o seu simbolismo: a escarpa, o verde representando as nossas matas e o azul do céu... A criação do Spernega valorizou a nossa CUESTA que teve, em sua estilização, o impacto que as obras dos grandes artistas tem. Vejam no Expediente o logotipo do Diário da Cuesta! Marco Spernega tem exposto seus trabalhos em concorridas exposições. Esta ilustração é uma obra de arte e de simbolismo histórico!

Artigo

“Chiquita bacana Lá da Martinica Se veste com uma casca de banana nanica”

Maria De Lourdes Camilo Souza

Ah os carnavais de outrora...

As marchinhas, as fantasias, o frisson do grito de Carnaval...

Os carnavais de rua, confete, serpentina..

Os desfiles das melhores fantasias.

Começava uma semana antes própriamente dito.

E o pessoal em grupos ia “brincar o carnaval”.

Reuniam-se na casa de algum amigo já fantasiados preparando para a ida ao clube.

Muitos faziam uma maratona, ficavam um pouco em cada clube para verificar aonde estava o baile mais animado.

E já faziam um estoque de saquinhos de confete e serpentina.

Durante o baile você via que os rolinhos coloridos de serpentina abriam e cruzavam o teto do clube.

E conforme os foliões cruzando o salão cantando e pulando ao ritmo das marchinhas, jogavam confetes uns nos outros.

Ao final dos bailes o piso estava cheio desses artefatos.

E tinha as garrafinhas de lança perfume.

Em geral os rapazes miravam o pescoço das garotas, e espirravam aquele jato geladinho e perfumado.

Mas tinha os engraçadinhos que acertavam nos olhos. Posso assegurar que ardia muito.

Muitos se intoxicavam com o cheiro.

Tinha os desfiles das escolas de samba e os blocos de rua muito animados.

Ao final desses desfiles o pessoal já ia para seus clubes ou associações.

E era entrar ao primeiro grito e sair exausto com o último.

Muitas vezes iam ver o sol nascer.

No dia seguinte estavam todos lá, na matinê, para ver o carnaval das crianças.

Ao final dos bailes de Carnaval, o pessoal exausto e faminto ia tomar uma deliciosa canja lá no Tatão.

Uma ocasião participei de um grupo de amigas fantasiadas de bermudas e casaquetos de um tecido que lembrava jornal.

Tínhamos como acessórios um lencinho vermelho amarrado ao pescoço, um charmoso chapéuzinho coco preto e uma bengala.

Éramos umas 7 ou 8 amigas.

Ficou muito bonito o conjunto.

Infelizmente não tenho fotos, mas tenho uma vaga lembrança de ter saído arrastada do clube depois de ter bebido um refrigerante “batizado”, e ter brindado umas bengaladas nas pessoas com quem cruzava.

Nada que uma injeção de glicose aplicada com precisão na veia pelo Dr. Jorginho Saad, que trabalhava no plantão no PS da Misericórdia, daquela madrugada fatídica, não me curasse.

Á noite compareciam já com novas fantasias, novo ânimo, e assim até a terça feira; fechando com chave de ouro.

E na quarta feira de cinzas os católicos compareciam na missa para receber as cinzas, e o perdão dos pecados carnavalescos.

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