Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

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Diário da Manhã SUPLEMENTO ESPECIAL

SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

EDIÇÃO Nº 9662

LIBERDADE Aniversário da

HISTÓRIA DOS LIVRES

Batista Custódio Especial para OPINIÃOPÚBLICA

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arei de publicar meus artigos há 9 meses e não parei de escrevê-los. E guardo. A Bíblia diz que tudo tem o seu tempo e esse é o tempo de esgotar corrupção. O estoque acumulado na pompa ladravaz dos soberanos gerou furúnculos na consciência dos apátridas e rachou o caráter dos governos. Escorre muito pus o tempo todo em toda parte do mundo. Os poderes estão infeccionados de desonestidades. A inflamação nos ânimos é geral no contexto da sociedade, entre os que roubaram, os que estão roubando, os que querem roubar, e nos que foram roubados e nos que são roubados em seus sonhos e de vida, em sua fé religiosa, em seus ideais políticos, em sua confiança nos amigos desleais. A dor da punhalada de inimigo passa rápido. A punhalada do amigo dói muito tempo, como se o punhal tivesse ficado cravado na gente. Por isso, decidi-me a não lancetar os tumores latejando nos carnegões da corrupção, para não correr o risco de contaminar inocentes no cisto dos culpados. O meu silêncio não é aleatório. Agi elucidado pela Espiritualidade. As atuais mudanças que reviram a estabilidade dos poderes terrenos são divinas e funcionam como caldeiras da depuração moral da humanidade. São redentoras e se consumarão inexpugnáveis até não restar nenhum mal de pé na Terra. Tentar estancá-la é como esvaziar oceano com conta-gotas. Serão salvos os redimidos. Estarão expiados os irrecuperáveis. É a fervura da purificação e dela irão surgindo os novos estadistas, de onde não se sabe quando menos se espera. E não aguardem-os nos moços modelados nas velhas práticas da mentalidade materialista e nem se surpreendam se chegarem dos velhos inovados nas ideias do romantismo. Por isso, não bato nos líderes que foram ou nos que irão de suas glórias para a desonra nessa queda mundial em toda forma de poder sujado no ilícito e no imoral. Pelejar para revertê-la, seria como catar no ar as gotas da água nas chuvas ou contar na ventania os grãos de chão nas poeiras. Procurar apressá-la, daria no mesmo que empurrar árvores podres que serão derrubadas pelos ventos dessa mudança prevista há dois mil anos por Jesus Cristo a João Evangelista. Essa reforma moral da humanidade será mais devastadora em Goiás, que é o polígono de terras delimitado na profecia do santo Dom Bosco onde surgirá a civilização que governará a Terra a partir do atual milênio. Então não é prudente ficar cortando troncos da corrupção na selva apodrecida dos poderes. Como na floresta de árvores podres, o sábio é permanecer a uma distância delas, não tão longe que não possa ver suas copas balançado, nem tão perto que possam cair em cima da gente.

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romantismo e o materialismo são as linhas divisórias das duas partes

distintas entre si nas grandezas da vida habitada por dois seres igualmente indispensáveis nos valores que definem a evolução no mundo. O poeta e o mercenário. Ambos são imprescindíveis. No romantismo, o poeta é mais precioso que o mercenário e, no materialismo, o mercenário é mais valioso que o poeta. O que não deve acontecer é a estupidez recíproca de um subjugar o outro no seu mérito específico. Mas, lamentavelmente, a incompreensão mútua é o que tem ocorrido e sido um desastre para os povos. O poeta é o que sonha e ousa. O mercenário é o que se atreve e realiza. São diferentemente iguais no oposto da mais-valia que consagra as pessoas superdotadas. Do jeito que o poeta se encanta na sua música, na sua escultura, na sua descoberta científica, na sua literatura, no seu quadro pintado e nos seus voos na liberdade, do mesmo modo o mercenário se maravilha na criação da sua empresa, no invento do seu produto exclusivo, na sua condição de vencedor reconhecido.

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obra do empresário e a do poeta são imprescindíveis no conjunto do notável. O que estraga a grandiosidade dos dois seres é o egoísmo. O mercenário destrói o poeta que sonha nele e ousa no empresário. O poeta destrói em si o realizador que concretiza a realidade no visionário que se atreve na oficina da inspiração. Mas ambos se limitam no medíocre da inteligência quando passam a ouvir o canto de sereias da vaidade. E é onde ambos se matam em suas virtudes.

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odos os governadores de Goiás cometeram erros. E não foram poucos. O maior deles nas grandes obras que fizeram, foi o mesmo em todos eles. O de confiar nos chamados de homens fortes de seus governos. Homem forte de governo é fraqueza do governador. E o que são eles? São ambulantes nas ideias nômades. São furadores de buracos de dívidas no poço dos impostos. São paus-terra envernizados de aroeira. São bijuterias de teorias políticas falíveis na prática das ideologias exequíveis. São zero votos no povo e que, ao serem impostos ao eleitorado para deputado ou senador, são os causadores da derrota dos governadores em suas reeleições no pleito seguinte. Os homens fortes são contagiosos. Não há um só erro dos governadores que não seja só dos homens fortes nos governos. Não há um só ex-governador que a sua derrota não tenha sido causada só pelos íntimos dele. Não há um só ex-governador que só ouvia os que só o elogiavam e que não terminou só na planície política. Não há um só ex-governador que acreditou só na más companhias no poder e não tenha sido responsabilizado só ele pelas malinagens e outras coisas só daqueles espertalhões. Não há um só ex-governador que não trocou os velhos amigos só pelos novos amigos no governo e que depois só lhe restaram só os velhos amigos quando ficou só no ostracismo. Eles não criam um programa de metas para o governo. Fazem um plano de seu continuísmo no po-

der. Mas o ciclo do fisiologismo nos governos acabou-se na vida pública. Entramos na era das maiores mudanças históricas de todos os tempos. Os camelôs da demagogia estão com os dias contados às vésperas de seu fim. Todos temos a própria culpa nos erros que vemos nos outros. Ary Valadão terminou pagando sozinho por haver sido o último governador nomeado pela ditadura militar. O Marconi Perillo acaba responsabilizado em Goiás como o único culpado pela falência melancólica refletida sobre ele do ciclo petista no Brasil. O que precisa mudar é o modelo político. Gastou-se a disputa acívica do poder pelo poder a serviço de grupos. Os partidos giram atrelados nos lados adversos do oportunismo e jogando corrupção uns nos outros. A presidente Dilma Rousseff é uma revolucionária e ficou prisioneira da corrupção dos outros que tomaram seu governo para outros. O governador Marconi Perillo é um guerreiro e se tornou refém dos que o deixaram de fora de seu governo no início, ele ficou com os problemas até o fim. Percebe-se a montagem de canhões para alvejarem a campanha eleitoral com sobrecargas de lamas que se esborrifarão nos governadoriáveis. São canhões de vidro que não aguentarão uma pedrada da verdade de parte a parte. Precisam levantar a alça de mira para suas virtudes e não mais apontarem para os deméritos alheios. Denúncias de corrupção não elegerão nenhum dos candidatos. O denuncismo caiu em descrédito na rede de suspeitas da cumplicidade generalizada na demonização dos políticos.

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ão me fiz um conformado com a banalização da honradez. Tampouco perdi a capacidade de ficar indignado com a impunidade dos desmandos. Estou apenas um meditativo, igual a um peregrino na contemplação desoladora da vastidão do deserto. Não joguei a batuta fora. Estou como o maestro organizando a sua orquestra para não desafinar na execução da sinfonia. Quebrarei o jejum dos meus artigos na comunhão com o justo em abril. Rompi, só por hoje, o penitenciado de manter-me calado, por dever de apresentar aos leitores do Diário da Manhã o suplemento especial Aniversário da Liberdade,

de 24 páginas, com artigos de pessoas que sua biografia se confunde com a história de Goiás. A tradição nas edições comemorativas de aniversário do jornal é publicar matérias retrospectivas focando os episódios relevantes sobre a sua trajetória empunhando o mastro da liberdade de imprensa. Agora, não. Todos os espaços foram reservados para artigos de personalidades notórias nas elites pensantes e de jornalistas vivenciados nas causas dignificantes e decisivas nos sementeios da opinião independente. Uma dúvida parou-me no dilema: se limitava-me a escrever o texto formal e de praxe como editor geral do Diário da Manhã, ou se exteriorizaria como jornalista as coisas silenciosas dentro de mim que pediam para sair e falar. O sentimento da cautela interferiu contra. A angústia arrastoume à reflexão. O poder das palavras que vinham no pensamento era fuzilante. Pareciam-me um brado fora de hora. Busquei a Espiritualidade nas orações dia 11, véspera do aniversário do Diário da Manhã, e fui ao Centro Espírita Mãos Unidas. O Fábio Nasser veio nessa carta psicografada pela médium Mary Alves: “Meu pai, abençoe-me. As palavras realmente são poderosas. Jamais o deixaremos só. Nosso trabalho é comum. Um ao lado do outro. Em seu mundo interior, mergulhado em si mesmo, nos arquivos do passado, a compreensão surgiu de que um dia tudo será diferente. Hoje podemos chorar a dificuldade, a ingratidão, a decepção, mas o amanhã é de Deus e a vitória é certa. Estamos trabalhando para um futuro melhor. Não tem sido fácil. Meu pai, sinta-me ao seu lado sempre. O Dr. Almir está aqui comigo e abraça seu coração amigo. Com todo amor do seu, sempre seu Fábio Nasser Custódio dos Santos. * Abraço meus irmãos queridos.”

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número dos artigos superou a expectativa e o volume dos anunciantes surpreendeu. O caderno Aniversário da Liberdade teve de ser adiado para hoje, 17 de março, dia do aniversário mensal nos 15 anos que meu filho foi da vida para a minha saudade. E somente ontem vim para a Lexikon 80 escrever o artigo História dos Livres. Agora vou ao confessionário na mea culpa em dois pecados cometidos por mim: um contra o Diário da Manhã, outro em desfavor do Cinco de Março. O DM foi fundado em 12 de outubro e comemora o aniversário em 12 de março. O dúbio nos prazos acoplados nas duas datas advém do equívoco de se homenagear a sua reabertura quase dois anos após a decretação da falência judicial urdida nos bastidores do governo estadual no período. Natalícios não são importantes para mim. Data de calendário é convencionalismo. O tempo não faz aniversário. O que conta nas legendas é o seu dimensionamento na História.

Corrijo hoje outra distorção injusta com os dois jornais. O selo conjugado ao logotipo do Diário da Manhã registra os 34 anos que ele herdou dos 56 do Cinco de Março no jornalismo que inaugurou o caderno OPINIÃOPÚBLICA, o espaço inédito na história da imprensa mundial para a liberdade de opinião. Mudei o carimbo em respeito às pessoas e às almas dos que se abençoaram na pia batismal dos libertadores da imprensa em Goiás.

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sse ano, o povo goiano vai precisar de uma voz isenta da imprensa nas eleições. O Diário da Manhã será território livre no centro dos arquipélagos das ilhas de autoritarismo dos partidos políticos. Não me esperem na colheita da safra dos pensamentos odiosos, que estarei no plantio dos sentimentos amados. Sempre estive no comboio da liberdade de imprensa, como o trem-de-ferro nos trilhos. Se me desencarrilham, conserto os vagões, realinho os trilhos, embarco de novo na liberdade e não a apeio do sonho. O destinou peou-me na sina da história dos livres. O discurso que elegerá o governadoriável é o do combate à corrupção. O que não será difícil de vir a ser teorizado por quem tenha experiência na prática da própria. E não será fácil de criar esse discurso. Ele terá que trazer a força de um poema capaz de apagar o desencanto popular com um incêndio das emoções. Tenho apenas duas premonições doidíssimas na intuição. A que poderá ser evitada pelo governadoriável que tiver a compreensão de que chegou a hora de parar de vasculhar os erros do passado e de perscrutar o correto para o futuro, pois os que continuarem só batendo, apanharão também da chibata das mudanças. O outro presságio é na percepção. Esse é inevitável. Qualquer um dos governadoriáveis que se julga virtualmente vitorioso nas urnas de 2014, pode começar a rezar desde já, pois o próximo governador de Goiás sofrerá o inferno no céu do Palácio das Esmeraldas. E irá para a História, que é onde estão os poetas Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Sêneca, Churchill e vai o papa Francisco. Mas se for um mercenário, poderá até ir para uma sepultura folheada a ouro, que estará jogado para fora da posteridade.

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uero ir para junto dos que disseram o que pensaram, porque pensaram o que disseram. Nasci um viciado em liberdade. Não aceito gaiola na opinião. Sou contra ditadura de esquerda e de direita. Rotulo o esquerdismo e o direitismo como os dois lado da mesma bosta ideológica dos regimes políticos. Cultuo a república como mãe da democracia, filha do povo e alma da liberdade. Nasci assim e vou morrer assim. E se um dia tiver que ser ouvido o último brado da liberdade de imprensa, esse grito virá na minha voz. Desculpem-me, os leitores. Tenho que sair rápido. Preciso ir ali hoje. Ouvi um silêncio me chamando na saudade. Vou ao meu coração dar um abraço no filho Fábio Nasser.


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Diário da Manhã

OPINIÃO

34 anos de democracia jornalística Marconi Perillo Especial para o Diário da Manhã Não existe país livre sem imprensa livre e, quanto mais livre é uma nação, mais independentes e plurais são os seus veículos de comunicação. No decorrer de seus 34 anos de história, o Diário da Manhã estruturou-se e consolidou-se como um veículo plural, em cujas páginas sempre prevaleceu a livre manifestação do pensamento. Essa é a missão precípua estabelecida por este diário, que a encara como um valor ético e como um dever cívico e democrático a ser cumprido mesmo diante de toda adversidade. Tal postura só se tornou possível e viável porque o Diário da Manhã está sob o comando, durante todo esse período, do jornalista Batista Custódio, de quem tenho a honra de ser amigo. Ele dedicou toda a sua vida à construção de uma equipe profissional, ética, dedicada e competente, comprometida com o bom jornalismo e com a infornação útil para a sociedade. Como homem público, sou testemunha do extremo cuidado com que Batista Custódio sempre manejou as informações que serviram de matéria-

prima para as reportagens do DM, independentemente do espaço que ocupassem nas edições do dia seguinte. Diversas ele procurou-me pessoalmente para tirar dúvidas sobre obras e ações do governo para evitar a publicações de imprecisões. “Estou ligando para checar”, dizia, valendo-se de expressão da profissão que significa “conferir”, aferir se as informações têm coerência e se coordenam. Com esse extremo cuidado com a notícia – resultado da consciência da importância e do impacto que a circulação de informações provoca – Batista converteu o DM em uma

espécie de catalisador da opinião das multidões. Invariavelmente, as páginas do jornal estão sempre abertas para os diferentes tipos de posicionamentos, independentemente de credo, cor, posição social ou política. Poucos jornais no mundo conseguiram atingir tamanho nível de interlocução com a sociedade, bem como poucos são capazes de fazer isto com tanta eficiência e, principalmente, com tanta presteza. A conduta estabelecida pelo jornalista Batista Custódio é clara: qualquer cidadão pode, com a devida obediência às responsabilidades legais, dizer o

que pensa nas páginas do DM. Não há assunto ou debate alvo de vetos. Justamente por isso, o DM vem suscitando tantas discussões de relevância para Goiás e para o Brasil. Mesmo diante do volume diário de informações estampadas no DM, Batista prossegue como um editor atento a cada detalhe, a cada título, a cada legenda de foto. Além de excelente editor, Batista é um excelente pauteiro de reportagens, como se diz no jargão jornalístico. Seu faro aguçado de repórter forjado na cobertura nas ruas antevê a notícia onde quer que ela esteja. Por isso

mesmo, o fundador e editor-geral do DM tem uma visão diferenciada da hierarquia das notícias, antecipando os debates que pautarão a sociedade. Por isso mesmo, a história do Diário da Manhã e de Batista Custódio se confundem e se entrelaçam. O jornal nasceu da luta pela liberdade, na defesa dos direitos constitucionais e democráticos e logo se tornou palco das grandes discussões regionais e estaduais. Por sua Redação passaram jornalistas de diversas gerações e tendências, de carreiras brilhantes, e que contribuíram decisivamente para que o DM se convertesse num canal de diversidade e liberdade democrática. Nesta data tão especial para Goiás e para o Brasil me resta desejar muito sucesso ao DM e ao meu amigo Batista Custódio, com a certeza de que este jornal seguirá levando, com eficiência e ética, informação de qualidade para seus leitores. Que essa história de luta e de conquistas ilumine ainda mais os caminhos da equipe de profissionais que fazem do DM um veículo imprescindível para querer se manter bem informado e entender o funcionamento de Goiás e do Brasil. Parabéns, meu amigo jornalista Batista Custódio. Parabéns, Diário da Manhã! (Marconi Perillo, governador do Estado de Goiás)

O dia que a Liberdade amanheceu na imprensa goiana Ronaldo Caiado Especial para o Diário da Manhã Chegar aos 34 anos, seja na vida pessoal ou empresarial é sempre um momento de alegria, de comemoração, de júbilo e também de reflexão. É a idade da maturidade, o momento em que revemos a nossa trajetória, o caminho que escolhemos em nossa vida. Os 34 anos do Diário da Manhã, comemorados hoje, é um momento de celebração e de revermos a trajetória empresarial e política de um veículo de comunicação que nasceu da vontade de um homem, de seu fundador Batista Custódio, mas que se consolidou na alma do povo goiano. Porque o Diário da Manhã, Batista Custódio e o povo goiano têm muito em comum. O jornal e seu idealizador, assim como os goianos, são daquelas pessoas e instituições de boa cepa, formada na luta diária das intempéries políticas, econômicas e sociais que Goiás e o Brasil viveram nessas quase quatro décadas

de circulação desse jornal. Acompanhei de perto essa trajetória de Batista e do DM, desde os idos do Cinco de Março. Num certo sentido, fui um espectador privilegiado porque participei ativamente da história política de nosso Estado e do País e vi as mais diversas opiniões e as minhas serem expressas corretamente nas páginas do jornal. Li nas páginas do Cinco de Março e do Diário da Manhã o Brasil mudando politicamente. Saindo de um regime militar, aonde era arriscado fazer jornalismo como o que Batista fazia, para uma Democracia em que todos têm direito a opinar, especialmente na páginas de artigos do DM. Nesse espaço democrático nos acostumamos a ler os pontos de vista divergentes, o amplo de debate de opiniões distintas, no exercício pleno da liberdade de expressão, sem qualquer tipo de censura ou de “controle social” como apregoam os falsos democratas que hoje estão no poder. Acompanhei o sucesso e as agruras de Batista Custódio e de seu grupo de comunicação. Vi ele e suas empresas serem perseguidos – inclusive com a prisão dele próprio – quando ainda se faziam sentir os

resquícios do autoritarismo militar. Assim como acompanhei o desmanche de seu conglomerado pelo poder econômico incrustrado na política, na vigência de um recéminstalado regime democrático. Momento em que nós, a classe rural de Goiás, nos unimos para viabilizar o retorno do funcionamento do DM por meio da liberação das máquinas

que estavam arrestadas. Batista, assim como os povos goiano e brasileiro, não esmoreceu, deu uma pausa, e retomou com a mesma pujança, a mesma disposição de luta de sempre. E com a mesma criatividade dos anos 1980, quando montou uma das melhores Redações do País. Em tempos de internet, o Diá-

rio da Manhã de Batista é um dos poucos jornais brasileiros que dispõe, gratuitamente, todo o conteúdo de sua edição impressa. Segue sua tradição inovadora: o DM foi o primeiro jornal diário em Goiás, com sete edições semanais; o primeiro a se informatizar, o primeiro a cores e o primeiro a criar um conselho de leitores. Portanto, todos nós, goianos e brasileiros, temos que comemorar, e muito, os 34 anos de existência do Diário da Manhã, um marco no jornalismo pela resistência, pela inovação, pela sua permanente defesa intransigente dos legítimos interesses de Goiás e seu povo – mais uma identidade de todos nós com Batista Custódio e seu jornal. Batista, com o seu preparo intelectual, sua capacidade de redigir e portador de uma cultura ampla, sem negar suas origens rurais, sobreviveu a tudo isso porque Deus lhe deu o mais importante dos predicados que um homem pode ter: a coragem. Longa vida ao Diário da Manhã! (Ronaldo Caiado, médico, produtor rural e cumpre o seu 5º mandato como deputado federal)


Diário da Manhã

OPINIÃO

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Cinco de Março, Diário da Manhã e Batista Custódio: a trincheira pelas liberdades Iris Rezende Especial para o Diário da Manhã O Diário da Manhã cada vez mais se torna não apenas um patrimônio de Goiás, mas do Brasil, ao dar sequência à histórica marcha de suas origens, o aguerrido semanário Cinco de Março que ousou desafiar a censura, o autoritarismo e as limitações institucionais de sua época. Os dois veículos são um só, uma iniciativa ímpar na imprensa nacional comandada pelo jornalista Batista Custódio que veio da região de Caiapônia para marcar de maneira definitiva os rumos de Goiás e do País com seu talento, coragem e eterna disposição para dizer a verdade. Ao celebrar 34 anos de existência, o DM nos remete à sua combatividade e irrestrita vocação para a defesa das liberdades, mas é hoje, sobretudo, uma grande tribuna a que a população pode sempre recorrer para manifestar suas ideias, reivindicações e críticas. A trajetória do DM/Cinco de Março é caracterizada pela resistência do editor-geral Batista Custódio. Ele jamais se curvou diante da permanente quebra dos padrões democráticos e da eclosão de regimes autoritários que fulminaram o estado de direito e

a livre manifestação de ideias. Batista construiu o seu caminho sob forte pressão e censura em vários períodos, até que pudéssemos viver a efervescência da chamada sociedade midiática com o rápido avanço de novas tecnologias que torna a informação muito mais acessível, diversificada e participativa. O jornalista Batista Custódio e sua grande obra, o DM e Cinco de Março, sobretudo souberam e sabem retratar a defesa intransigente do direito universal à liberdade de expressão, contra a intolerância e o preconceito, a favor da diversidade e do debate aber-

to, sempre tendo como ponto de partida e de chegada a verdade e a imprescindível ética. Batista Custódio sempre teve consciência de que não precisa apenas informar sobre as mudanças históricas, mas deve ser também agente de transformações, pugnando por um Goiás e um Brasil que superem as desigualdades sociais, as gritantes injustiças, os abusos contra crianças, mulheres, idosos e adolescentes, o flagelo da violência e a precariedade dos serviços públicos principalmente nos setores de saúde, educação, transporte e segurança pública. O Diário da Manhã e seu ante-

cessor, o Cinco de Março, sempre estiveram vinculados aos interesses objetivos do cidadão, informando sobre seus direitos e deveres, fiscalizando os atos dos administradores públicos, livre da censura, fazendo um jornalismo plural e democrático. As dificuldades que o jornalista Batista Custódio viveu e vive não foram capazes de aniquilar os seus sonhos e esperanças e, hoje, ele continua na trilha da resistência. Ao contrário da maioria dos meios de comunicação de massa, que acentuam o distanciamento em relação às livres manifestações da sociedade, o DM se tor-

nou no espaço maior para a opinião e a reflexão do leitor. Na batalha para projetar ainda mais o DM, Batista Custódio luta para modificar os valores reinantes, ao fazer de seu jornal um livro aberto onde todos possam se manifestar. Batista Custódio sabe que não podemos iniciar e muito menos concluir nosso itinerário senão pelo compromisso firme de lutar por uma sociedade que vença a pobreza, as injustiças, as desigualdades. Que as celebrações em torno dos 34 anos do Diário da Manhã possam cada vez mais ressaltar a importância da impressa livre como a base e o combustível dos regimes democráticos. Que a luta de Batista Custódio possa sempre inspirar os jovens que hoje saem às ruas em sua ânsia por um País livre das mazelas. E que possamos, cada vez mais, nos empenharmos no fortalecimento das liberdades como a conquista maior de um Estado e de uma Nação. Parabéns, Batista Custódio. Parabéns a todos os editores, jornalistas e funcionários que constroem a grandeza do Diário da Manhã. (Iris Rezende Machado (PMDB), ex-prefeito de Goiânia em três mandatos, foi vereador pela Capital; deputado estadual; governador de Goiás por dois mandatos; senador da República; ministro da Agricultura e da Justiça)

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Diário da Manhã

OPINIÃO

Templos da Liberdade Ary Valadão Especial para o Diário da Manhã Enaltecer o Diário da Manhã sem ressaltar o Cinco de Março é reconhecer o merecimento da cria e esquecer o mérito do criador. A legenda do heroico diário é uma página escrita na história do estoico semanário. Os dois jornais, o nascido em março de 1959 e o criado em outubro de 1980, são os 56 anos da idade do Templo da Liberdade na imprensa de Goiás. O Diário da Manhã é o filho unigênito do Cinco de Março, e o OpiniãoPública é a alma do semanário que se incorporou no Diário. E o ideal fez-se em luz na usina de ideias dos mestres da imprensa na escola que formou os melhores jornalistas que revolucionaram Goiás e atraíram luminares do País para o Estado. O Cinco de Março foi o guerreiro indômito no épico do punhado de bravos que salgou a nossa terra com o seu suor nas lutas da derrubada dos caudilhos. E nunca se rendeu ao medo. Surgiu na época do jaguncismo político e impôs a coragem das praças públicas à recuada da truculência nos currais do poder. Tornou-se uma legenda viva da resistência inexpugnável pelos déspotas. Foi fechado no governo de Mauro Borges ainda nas fumaças do golpe de 64, renasceu das cinzas, refincou o mastro da liberdade no peito da censura na ditadura militar e fez o canto dos clamores públicos ressoar nas ruas os gemidos dos torturados nos quartéis. Não se calou no Cinco de Março a voz dos líderes que tiveram seus mandatos populares cassados e os direitos políticos suspensos por 10 anos; ao contrário, tinham espaço para publicar seus artigos. Um deles era Pedro Ludovico Teixeira, que declarou: “O Cinco de Março é o único espaço da democracia na imprensa de Goiás na transição da ditadura militar”. Não era só isso. Foi mais. Ficou maior com a bandeira que agalhou os jornalistas discriminados pelo regime dos Atos Institucionais e não eram aceitos nas redações dos outros jornais goianos. O povo fazia fila às segundas-feiras para comprar o Cinco de Março. Seus milhares de exemplares esgotavam-se nos jornaleiros e nas ancas antes do meio dia. Um fenômeno de vendagem! O deputado federal Benedito Vicente Ferreira o cunhou,

em um de seus discursos na tribuna da Câmara Federal, com essa frase: “O Cinco de Março é uma espécie de bíblia do povo goiano”. Para mim, reintero, era um Templo da Liberdade. O Diário da Manhã veio como a chegada da marcha triunfal dessa plêiade de jornalistas que cravou na pilastra dos tempos a mudança da imprensa no Brasil em Goiás. Tenho orgulho de haver participado dessa epopeia que assinalou os goianos com a posteridade. Era o governador de Goiás e dediquei meu apoio e incentivo na criação e consolidação do Diário da Manhã e inseri meus passos nessa caminhada na proclamação da opinião livre. O Diário da Manhã puxou a atenção dos centros do poder nacional para Goiás. Recebeu o prêmio como o terceiro melhor jornal da imprensa brasileira, entregue pelo presidente da República, Aureliano Chaves, em solenidade no auditório da Academia Brasileira de Letras. O ministro Golbery do Couto e Silva, da casa Civil no governo do presidente João Figueiredo, confidenciou ao Nilo Margon Vaz e o Nilo me contou: “Brasília não precisa mais esperar chegar os jornais do Rio e São Paulo. O Diário da Manhã passou a ser a leitura preferida nos gabinetes de todos os ministros”.

Sentia-me parte dessa honra para Goiás. Quando deixei o Palácio das Esmeraldas, o Diário da Manhã estava reconhecido como uma referência do arrojo e da inteligência dos jornalistas locais e dos que haviam se mudado de São Paulo e do Rio de Janeiro para Goiás. O Diário da Manhã alçava a glória da revolução que fizera na história da imprensa brasileira, quando foi fechado no governo de Iris Rezende, por uma dessas razões incompressíveis e que só a irracionalidade do provincianismo ofendido com a presença da modernidade explica. E que o jornalista Batista Custódio sintetizou nessa definição: “Os atrasos se uniram e venceram a inteligência”. Como se houvesse feito noite a sol pleno, o silêncio ante o inacreditável percorreu o coração do povo goiano. Pensei em criar um movimento de reação nos meios políticos. Mas estava na condição de ex-governador flagelado por perseguições inomináveis. Vivia meses de amigos evitando-me. Não os culpava. O ódio os vigiava. E eu era a caça das vinditas de plantão. A minha solidariedade exporia o meu compadre Batista Custódio ao recrudescimento do rancor nos esquartejadores do Diário da Manhã. Um dia soube dele na penúria e ameaçado de prisão. Não me contive. Convidei o Ibsen de Castro

para irmos visitá-lo. Custamos achá-lo. Estava morando numa pequena casa de aluguel no Jardim América. Sentado, sozinho, em um banco de madeira no alpendre, olhando para a tarde. Recebeu-nos surpreso. Eu e o Ibsen sentamos ao seu lado e ficamos quietos. Comovia-nos vê-lo meditativo e a emoção impedia-nos de falar. A voz veio-nos e perguntamos como estava. O meu compadre jornalista Batista Custódio voltou-se para nós, pensativo e disse-nos: — Estou me descansando, para ir à luta e reabrir o Diário da Manhã. Conversamos bastante. A prosa ficou boa. Senti vontade de indagar-lhe como iria conseguir romper o cerco do ódio dos governistas, para reabrir o Diário da Manhã. Ele parece ter captado o meu pensamento e atalhou-me: “Não vou revidar o mal com o mal. Vou retribuí-lo com o bem. Trabalharei com um material em uma oficina que não poderão fechar. A oficina é a minha cabeça. O material são as minhas ideias”. O Fábio Nasser chegou na hora e interrompeu o encontro. Disse que tinha ido buscar o pai e informou-nos que os dois iam se mudar àquela noite para um barracão no Parque Amazonas. Eu e o Ibsen saímos e ficamos parados na calçada há uns passos da porta, trocando impressões e avaliando a situação do nosso amigo. O Ibsen garantiu-me: “Com toda certeza, o Batista reabrirá o Diário da Manhã. Conheço-o desde menino. Crescemos juntos em Caiapônia. Vi-o fazer coisas de a gente tirar o chapéu para ele”. Estreitei ainda mais o convívio

com o meu compadre mês a mês. Ele sempre otimista. Mas um dia notei-o mais entusiasmado e quis saber a causa da sua euforia e segredou-me o motivo: “O Francisco Cândido Xavier mandou chamar-me a Uberaba. Fez-me muitas revelações e terminou dizendo: “Não há poderes terrenos capazes de impedir-me de reabrir o Diário da Manhã”. A sua palavra valeu-me como um salmo. Então não tive a menor dúvida de que voltaria a ler o Diário da Manhã. O Batista cavou dois anos. Deu meia volta na descida penosa e subiu resignado a escalada das amarguras. Incansável e obstinado. Feliz na tristezas e renascido nos estragos. Amparado pela solidariedade de tantos e ajudado pelas doações de muitos. Essa é a história que acompanhei desse lutador que não se alterou nos sacrifícios e vencedor dos desafios nos 56 anos do Cinco de Março e do Diário da Manhã, em que liderou a caravana dos valorosos jornalistas que, mais que simbolizarem a voz de um povo, fizeram-se um hino às liberdades públicas. Os heróis, que a História irá lendo seus nomes para as gerações seguintes, formam uma enormidade insomável de notáveis jornalistas e citar aqui alguns deles seria um ato imperdoável para com os demais. Por isso, encerro essa minha homenagem a cada um e extensiva a todos eles, com um pensamento do próprio jornalista Batista Custódio: “Os sonhadores não morrem nos sonhos. Apenas são acordados. E voltam a sonhar”. (Ary Ribeiro Valadão, governador do Estado de Goiás, de 1979 e 1983)

Com o espírito da liberdade Ulisses Aesse Especial para o Diário da Manhã Não se pode negar a vocação democrática do Diário da Manhã em seus anos de história e apostolado como um defensor do princípio elementar do livre exercício do pensamento. O Diário da Manhã sempre foi assim: um misto de guardião e produtor destas liberdades: a de opinião e a de expressão. O jornalismo exercido por seu editor-geral, Batista Custódio, parte da necessidade de que é preciso estimular a sociedade a dizer o que pensa. Tanto que se tem por aqui a ideia de que uma rua corta a Redação do jornal, trazendo as vozes do povo para os computadores, para depois, serem impressas em suas páginas. Sempre foi assim e assim será. Batista, como editor-geral, chega ao cúmulo de publicar artigos que, às vezes, o criticam. E, também, às vezes, a postura do jornal. Não receia o contraditório, o viés da sociedade democrática. Sempre foi assim e sempre será: um defensor dos direitos fundamentais, inclusive, compilado e dis-

posto no artigo XIX, da Declaração Universal dos Direitos Humanos: — Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras — sentencia a declaração, corroborada pela prática do DM. Vale lembrar, o Diário da Manhã é o único jornal no País (isso mesmo, no País!) a ter espaço privilegiado para seu leitor. Único: o seu caderno OpiniãoPública. Nele há um passeio de pensamentos e de responsabilidades, onde cada um sugere, critica e diz o que quer dizer, sem a censura prévia ou posterior dos editores de área. Tudo de acordo com os humores das ruas, das avenidas populares que carregam em suas veias o valor relevante da notícia. O espírito democrático do Diário da Manhã não para por aí e nem vai parar. Vai além quando percebe que o cidadão tem o direito de se manifestar e ser assistido, assim, por uma plataforma ou veículo de comunicação, e ser termômetro de sua época, para aferir qual seria o verdadeiro valor e a verdadeira necessidade de nossas instituições. Um jornal com os braços abertos para seus leitores.

Não há uma única pessoa que possa dizer que foi vítima de censura no Diário da Manhã. Aqui, todos são assistidos de forma imparcial, onde a reportagem atende os pré-requisitos básicos de se ouvir o quem acusa e o acusado, dentro da mesma proporcionalidade pregada pela justiça. O Diário da Manhã busca dar voz ativa ao cidadão, que experimenta um processo novo, sem a repetição do velho atraso e sem o vício do autoritarismo. Cumpre com o preceito básico da partici-

pação como elemento primordial para o desenvolvimento social. Em épocas de eleição, das disputas partidárias, o Diário da Manhã sempre liberou as suas páginas para a declaração dos votos de seu funcionário. O editor-geral, sempre, sempre, em seus editoriais, declarou a sua opção eleitoral. Nunca escondeu de ninguém ou deixou subentender a preferência partidária, múltipla, por sinal, da redação. Sempre foi assim e assim será. Com esses preceitos, aposta-

se numa redação sem cabrestos, sem interesses econômicos e que possa representar a pluralidade das avenidas, dessas vontades populares. Não há como desdenhar a liberdade cívica das opiniões públicas sob o pretexto de estarmos construindo um ambiente perfeito para as ditaduras, onde apenas os poderosos têm o direito da opinião e se expressam goela abaixo como ‘cassandras do agouro’. É preciso lavar a consciência com essas águas da liberdade e ensinar as gerações hodiernas sobre a importância de um jornalismo que pratique o bem, sem o maniqueísmo, e que considere todas as relevâncias sociais como forma de ser e ter, inclusive, uma ferramenta pedagógica para os mais novos aprenderem a fazer leituras de seu tempo. Afinal, jornalismo é, de fato e de direito, o espelho da realidade e não pode ser visto de forma invertida, nem distorcida no sentido de falsear ou manipular os fatos que não representam esta mesma realidade. O jornalismo do Diário da Manhã é e sempre será assim: direto, imparcial, e feito com os olhos das multidões. (Ulisses Aesse, jornalista)


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Batista Custódio – do Cinco de Março ao Diário da Manhã Irapuan Costa Junior Especial para o Diário da Manhã Longos e espinhosos são os caminhos da imprensa. Batista Custódio que o diga, após essa caminhada, que ainda vai pelo meio, mas que já dura 55 anos. Que diga o quanto tem os pés cansados e quantos arranhões traz na pele e na alma, conquistados ao longo dela. Acompanhei à distância o nascer do Cinco de Março. Estudava no Rio de Janeiro (que ainda era uma Cidade Maravilhosa), mas acompanhava pelos jornais que minha mãe mandava religiosamente, os acontecidos de Goiás. A perseguição aos estudantes naquele cinco de março de 1959, a vibração do Jornal do Estudante, a sua transformação no Cinco de Março, a ação corajosa de Batista Custódio e Telmo Faria, encarnando a rebeldia e a esperança da juventude estudiosa daquela época, pude acompanhar à distância, como estudante que eu também era. Na década de 1960, ou melhor, no seu início, já em Goiás, por demais atarefado com a carreira de engenheiro recém-formado, trabalhando no interior, fui apenas leitor, mas ler o Cinco de Março era obrigação. Afinal, mostrar o errado, sem papas na língua, ou melhor, na pena, era com Batista mesmo. Comecei a torcer minha trajetória de técnico para político em fins de 1963, começo de 1964, quando passei, com um grupo de oposição, a conspirar contra os governos de João Goulart e Mauro Borges. João Goulart era uma Dilma de então, namorando com o comunismo. Só que um pouco (se isto é possível) piorado, instigando

empregados contra patrões, soldados, cabos e sargentos contra oficiais. Dava cobertura às Ligas Camponesas, do deputado comunista Francisco Julião, invasoras e depredadoras de propriedades rurais. Vejo hoje o banditismo do MST e como é manobrado pelo maluco marginal João Pedro Stédile e tenho a sensação de filme já visto. Principalmente quando membros da gang são recebidos pela presidente após tentar invadir o Supremo Tribunal Federal e surrar soldados da Polícia Militar do Distrito Federal. Mauro Borges fazia um excelente governo, do ponto de vista administrativo, mas parecia ter suas simpatias pelos comunistas, que ocupavam cargos importantes no governo local. E estávamos em plena Guerra Fria. É sabido o que se passou depois, e acabou sobrando para o Cinco de Março, invadido e empastelado por Policiais Militares goianos, quando descobriu a corrupção envolvendo oficiais da corporação. Em 1969, visitei Batista na prisão. Amargava uma punição por crime de opinião, de que poderia ter se livrado se dobrasse a espinha para alguns poderosos goianos, coisa que não aceitou. Começando a me envolver com a política local, tinha amizade com o deputado Emival Caiado, que havia sido adversário ferrenho de Mauro Borges, e detinha, também um jornal, o Diário do Oeste. Leonino Caiado, primo de Emival havia sido indicado pelo governo militar como governador, a ser eleito pela Assembleia Legislativa, em 1970. Emival pretendeu disputar o Senado naquele ano, numa eleição para três vagas. Batista Custódio, via do Cinco de Março, abriu as baterias contra a pretensão, alegando que Emival, por ser primo do governador, seria beneficiado na disputa. Batista

ignorava a briga familiar que existia, e como Leonino via com má vontade a pretensão do primo. Vem daí meu melhor conhecimento com Batista. Fiz um artigo defendendo a candidatura de Emival e fui ao Cinco de Março, pedindo sua publicação. Fui muito bem recebido, e mesmo na minha presença Batista mandou que o artigo fosse para publicação já na próxima edição, embora contrariasse a opinião do jornal e do próprio. Estreitamos mais nossa relação quando fui presidente da Celg, no governo Leonino Caiado, e mais de uma vez tive publicados artigos meus no Cinco de Março. Discutíamos política local e nacional, e às vezes aquecíamos nosso debate, nem sempre convergente, mas dentro do respeito democrático. Quando fui governador, embora nunca tenhamos rompido nosso diálogo, tivemos nossas rusgas, mais por minha culpa. Afinal, eu era governador, e além disso

novo e inexperiente, e autoridades governamentais só gostam mesmo é de elogios. Vejam a vontade que os governos do PT têm de censurar a imprensa, e como não desistem da ideia, mesmo tendo a enorme cobertura que a imprensa lhes dá. Felizmente, o repúdio da sociedade à censura é total, o que se não desencoraja os petistas, ao menos faz com que eles adiem as medidas autoritárias. Findo meu governo, quando deputado e senador, e mesmo após, não mais perdi o contato com Batista. Quando meu banco, o BBC foi liquidado pelo Banco Central, foi Batista um dos poucos a me dar um conforto sincero e desinteressado. Houve uma época em que eu escrevia regularmente para o Diário da Manhã, sucessor natural do Cinco de Março, a partir de 1979. Fui testemunha da luta desses dois jornais – que na verdade são um só – nessa trajetória encetada por Batista e uma pequena tribo de compa-

nheiros que não o deixaram sozinho nos momentos duros que passou. E os momentos difíceis, na atividade que ele escolheu, ou pela qual foi escolhido – vá lá conhecer o determinismo divino – são muito mais numerosos que os de bonança. Telmo Faria, Jávier Godinho, Consuelo Nasser, a mulher inteligente e companheira, os filhos. Além deles, poucos mais. Como eu disse, uma pequena tribo. É evidente que falo dos companheiros de jornada, aqueles que levam para casa toda a enormidade do problema técnico, empresarial e moral que envolve uma empresa jornalística, e dormem com ela embaixo do travesseiro. Não falo dos funcionários da Redação e da gráfica, pois sempre, mesmo nas dificuldades, sabe-se lá como, funcionou nos jornais uma boa equipe de técnicos, repórteres, fotógrafos e etcétera. Como eu disse lá em cima, a caminhada desse jornal – desses jornais – vai a meio, e vai a meio a de Batista Custódio, que se confunde com eles. Ele pode não saber, mas não é só de carne e osso, é também um homem de papel e tinta, tanto que esses dois elementos se mesclaram com a sua existência. E ele nos deve ainda a História de Goiás que está escrevendo, e ainda não saiu à luz. Por certo despertará polêmicas e melindres, companheiros inseparáveis da verdade, principalmente da verdade publicada. Todos vimos a discussão recente sobre a proibição de publicar biografias não autorizadas. Nossos cumprimentos, Cinco de Março, Diário da Manhã e Batista Custódio. (Irapuan Costa Junior, foi governador de Goiás, de 15 de março de 1975 a 5 de janeiro de 1979 e de 15 de janeiro a 15 de março de 1979)


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Os 34 anos do Diário da Manhã

História de coragem

(E o 55º aniversário de fundação do Cinco de Março) Maguito Vilela Especial para o Diário da Manhã

Valterli Guedes Especial para o Diário da Manhã O Diário da Manhã, cujo 34º aniversário foi neste 12/03/2014, é marco de significativa evolução da mídia escrita em Goiás. Motivo: foi o primeiro jornal goiano com uma configuração nacional e mesmo universal, ou seja, detentor de conteúdo em nível dos principais jornais do mundo. Foi referência, nos seus primeiros tempos de circulação. Depois, dificuldades econômicas levaram-no a deixar de circular por algum tempo. Ressurgiu em 1986 graças ao esforço e à obstinação de seu idealizador, o jornalista Batista Custódio dos Santos. O Batista é protagonista de importantes capítulos da história da imprensa em Goiás há mais de meio século. Há 55 anos, inspirado em fatos marcantes do movimento estudantil secundarista de então, ele criou o mais famoso semanário de que se tem notícia em Goiás: o Cinco de Março, que foi, a exemplo de seu sucessor DM, um elemento novo no cenário de Goiás, denunciador de mazelas, polêmico, inovador. Desde o seu lançamento Goiás já não seria o mesmo. Aquele semanário contribuiu para mexer com a política, com as pessoas, com a vida dos goianos. Vale aqui um parêntese: a data de 5 de março é o aniversário do aparecimento da imprensa em Goiás. Foi em 5 de março de 1930 o lançamento na então Meia Ponte, hoje Pirenópolis, do Matutina Meiapontense, o primeiro jornal de Goiás. Uma coincidência feliz. Ainda não havia chegado ao fim o ciclo do Cinco de Março, Batista Custódio surpreendeu de novo, lançando o Diário da Manhã no dia 12-03-1980. Os dois jornais circularam simultaneamente durante algum tempo. Eu escre-

via para ambos. Territórios livres para a difusão da verdade e o autêntico e moderno jornalismo. Tanto isto é verdade que alguns dos principais nomes da imprensa no Brasil fizeram opção por trabalhar no Diário da Manhã. Ao longo de tantos anos o Diário da Manhã tem materializado os sonhos de livre pensador de Batista Custódio. Continua moderno e inovador. Sim, querem prova? Pois bem: que outro jornal abre espaço a todas as tendências, a todo o universo de pensamentos? Só mesmo o Diário da Manhã, através do caderno OpiniãoPública. Assim será enquanto o Batista Custódio puder dar vasão às idéias que são o sustentáculo de sua luta. Na condição de presidente da AGI, entidade que em 10 de setembro deste ano chegará ao 80º ano de fundação, e que já foi presidida (1967/69) pelo Batista, saúdo o 34º aniversário do querido DM, bem como o 55º do bravo Cinco de Março. Dois instrumentos de conquistas para Goiás. Marcos relevantes da história da imprensa em Goiás e no Brasil. (Valterli Guedes, presidente da Associação Goiana de Imprensa (AGI) e componente do quadro e articulistas do Diário da Manhã).

A alma e o coração do Diário da Manhã Jayro Rodrigues Especial para o Diário da Manhã Se tem uma coisa da qual me orgulho muito é a minha profissão – jornalista. E de há muito descobri que sou muito mais de alma e princípios, que no exercício profissional. Trocando isso em miúdos, nasci para ser operário da notícia. Da informação que cria e respalda consciências, que se alimenta dos anseios de democracia e liberdade de um povo e que não negocia com nenhum de seus princípios e ideais. Por ter conhecido de forma direta os tacões ditatoriais daqueles que temem o povo e tentam amordaçá-lo, pressionando órgão de comunicação com a podridão da censura e de objetivos inconfessáveis, me considero, sem modéstia, intransigente e inflexível defensor da liberdade de imprensa. Um país sem imprensa livre é uma nação sem alma. Aliás, liberdade de pensamento e de expressão faz parte dos anseios populares e se insere entre os direitos fundamentais garantidos na Constituição Federal. Em Goiás, a trajetória do Diário da Manhã (orgulho-me de ter feito parte da equipe que o lançou em março de 1980) tem sido, ao longo dos anos, prova cabal de que a imprensa livre é a advogada soberana dos anseios populares e a grande arma da sociedade contra a vilania dos que se atrevem a insurgir contra o povo. O DM é a alma e a feliz consequência do Cinco de Março, que, nascido com a luta dos estudantes, bravamente combateu por vários anos os oligarcas e tiranos que teimavam em confundir Goiás com seus interesses pessoais. E se o Cinco de Março foi imolado pela opressão da Ditadura, o Diário da Manhã é o canto de liberdade onde a nova história da sociedade goiana se faz em tempos de paz e democracia. Importante lembrar que uma democracia só se consolida quando tem uma imprensa livre. O Diário da Manhã jamais negou espaços a quem quer que seja. E sabe reagir quando necessário, sem perder a dignidade jamais. Diferente do estopim curto de vários povos, o brasileiro tem a pausada calma dos

amantes da paz. Mas já aprendemos que podemos reagir quando nossos brios são ofendidos por adversários tenazes. A liberdade de expressão que o DM enseja aos que respaldam ou combatem determinadas posições permite o debate indispensável onde a soberania de um povo deve se erguer e se sustentar. Em suas páginas, o Diário da Manhã sempre enfatiza que a grandeza de um povo está intimamente ligada à liberdade de imprensa, com sua capacidade de crítica preservada e seu trabalho respeitado. E é com esse comportamento, imutável em mais de três décadas, que o Diário da Manhã atesta ser a liberdade de imprensa um preceito democrático, no qual devemos atuar sem tréguas para que se consolide cada vez mais. Necessário destacar que essa postura de um veículo de comunicação não teria sido possível manter-se coerente sem o ideal de um homem. E toda a vida do jornalista Batista Custódio se confunde com a história do Cinco de Março e do Diário da Manhã, ambos produtos qualificados de sua mente inquieta e aflita pelas necessidades libertárias de qualquer cidadão. A liderança de Batista pontifica serenamente, imposta pelo seu próprio exemplo, mas sempre com a firmeza dos bravos, sem medo dos poderosos e em defesa dos que carregam a bandeira da justiça e da igualdade. (Jayro Rodrigues, jornalista)

“Às segundas-feiras, os corruptos acordam mais cedo”. O forte slogan nunca deixou margem para dúvidas sobre o caráter da publicação: combativo, independente, guerreiro. Assim foi o jornal Cinco de Março, fundado em 1959, há 55 anos. A alusão às segundas-feiras no slogan tinha a ver com o dia da semana em que o jornal circulava, embalado pela coragem e pela competência do jornalista Batista Custódio, seu idealizador e fundador, então apenas um jovem estudante, junto com outro estudante idealista, Telmo de Faria. O nome deste lendário periódico, de grande importância na história de Goiás e do Brasil, remontava ao dia cinco de março de 1959. Naquela data, um grupo de estudantes secundaristas que promovia um justo e pacífico protesto contra aumentos abusivos de anuidades, foram brutalmente reprimidos pela Polícia Militar. Um episódio que gerou forte comoção e grande reação no país inteiro. Das mãos de seu grande mentor, jornalista Batista Custódio, nas mais de duas décadas em que circulou, o jornal Cinco de Março nunca perdeu o perfil e as características que marcaram a sua fundação. Foi sempre, em toda a sua história, um guerreiro implacável contra a corrupção e pelas liberda-

des e a democracia. Em 1980, o projeto do Cinco de Março foi substituído por outro grande projeto, o Diário da Manhã. Fundado sob os mesmos pilares, também sob os auspícios de Batista Custódio, o Diário da Manhã agregava uma nova e importante ambição: o de fazer em Goiás um jornal diário de dimensões nacionais. E assim foi feito: depois do Cinco de Março, o Diário da Manhã marcou uma das páginas mais importantes da história da imprensa nacional. Pelo Diário da Manhã desfilaram o talento de jornalistas de peso nacional, como Aloysio Biondi, Jânio de Freitas, Milton Coelho da Graça, Washington Novaes, entre tantos outros. Juntos ao líder Batista Custódio, esse conjunto de homens idealistas e obstinados construíram algumas das mais belas páginas de liberdade, de resistência e de coragem no jornalismo brasileiro. Com a força de poucos, Batista Custódio resistiu a crises, a ataques contra a liberdade e ainda hoje mantém seu sonho de pé, através do mesmo Diá-

rio da Manhã, plural, independente, sempre inovador e aberto à sociedade. Características refletidas no maior espaço que um jornal diário do Brasil abre às opiniões, através do caderno OpiniãoPública, e da retidão com que se apresenta diante dos grandes temas locais e nacionais. E aqui há que se fazer um parêntese e ressaltar a figura de Batista Custódio, sem o qual nada disso teria acontecido. Ser humano excepcional, jornalista combativo, homem de coragem e caráter acima da média, intelectual respeitado. É a ele, Batista Custódio, a quem rendemos nossa homenagem nessa data tão importante para o jornalismo e a democracia brasileira, quando se marca os 55 anos de fundação do lendário Cinco de Março. Homenagear Batista e o Cinco de Março é homenagear o jornalismo livre e independente, sem o qual os mais importantes pilares da democracia não se sustentariam. (Maguito Vilela, prefeito de Aparecida de Goiânia e ex-governador de Goiás)


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OPINIÃO

GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

Cinco de Março/Diário da Manhã, dois jornais uma mesma história Pedro Wilson Especial para o Diário da Manhã Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade. ( Declaração Universal dos Direitos Humanos Artigo II ) As águas de março trazem lembranças, boas lembranças, brabas lembranças da criação do Cinco de Março na virada dos anos cinqüenta para sessenta e do Diário da Manhã (sucessor legítimo) dos anos setenta para oitenta do fim da ditadura e auroras e alvoradas da democracia, liberdade e cidadania. Vejam pesquisa do Ibope feita para e pelo Governo Dilma informa que televisão e internet são os dois meios de comunicação mais influentes hoje no Brasil. Metade da população principalmente jovem acessa internet e um terço assiste televisão. Porém, sempre tem um, porém, é a imprensa escrita que influencia mais e melhor. Forma opinião. Os chamados meios de comunicação social estão cada vez mais influentes mais os movimentos sociais e mesmo as manifestações suas que repercutem na opinião publica e publicada. É verdade há uma opinião pública que vai e vem de acordo com os acontecimentos, eventos, mobilizações, histórias e repercussões. Às vezes seguem a mídia, às vezes e muitas vezes seguem outros caminhos sociais, culturais e políticos. Existem também a chamada opinião publicada que é aquela que certa imprensa tenta passar para o povo. Vejam e comparem notícias das crises na Venezuela, na Ucrânia, na Crimeia, na Síria, antes no Iraque e mesmo recentemente na Argentina. Esta mídia quase sempre conservadora publica pesquisa sobre queda da popularidade de Dilma e em primeira página. Depois uma semana depois coloca na terceira pagina pesquisa que diz Dilma vencerá no primeiro turno eleição para a presidência da república seja candidato que for, foi ou será. A mídia global e satrapias joga pedra e esconde a mão, mas uma coisa ninguém esquece que buscam ibope com notícias cada vez mais ruins. Temos notícias ruins sempre, mas a maneira de escrever, mostrar e publicá-las não tem nada de republicano. E para isso vejam que os jornalistas dos institutos milênios (ipes e ibads de hoje como o foram há cinqüenta anos no golpe civil e militar. E que estabeleceu a ditadura no Brasil por longos anos de chumbos, exílios, prisões, torturas, desaparecimentos, censuras, formação de grandes grupos midiáticos que colaboraram e

muito com a chamada ditadura nada branda. Houve até arrependimentos. Revelam notícias não revelam interesses? E a opinião pública? E os interesses públicos e privados face verbas oficiais, particulares, políticas, econômicas, religiosas estão na ordem do dia? E dos meios de comunicação, publicidade, propaganda, versos, versões, opiniões, investigações, copiações, plágios, unilateralidades? E a nave planetária segue por espaços e tempos cada vez mais democráticos, libertários, igualitários, solidários, comunicativos e socializadores? Quem viver, verá? Oxalá. Hoje e amanhã, sempre. 1. Estas são reflexões indolores não pagas com dinheiramas publicas e ou privadas, econômicas ou religiosas dizimáticas, culturais

aos anos de chumbo da ditadura. Ditadura que matou sonhos e homens e mulheres, muitos ainda imberbes e mesmo camponeses que lutavam por democracia, liberdade, justiça e paz. Muitos dos lutadores dos anos dourados continuaram nas lutas contra a ditadura. Outros nem tantos! Pularam de lado. Silenciaram, desapareceram nas brumas da ditadura militar. Muitos outros desapareceram, mas ontem e hoje falam, gritam por outros por verdade, memória, justiça. Gritam por educação, saúde, passe livre, tipo fifa, pleno emprego, carro. E segurança na luta contra a droga, violência urbana e rural. Violência sempre contra? E por saneamento básico como água, esgoto tratados e felicida-

Telmo Faria, Geraldo Vale, Valdomiro, Edismar, Reinaldo Jardim, Washington Novais, Sérgio Paulo, Servito, Ulisses Aessie Javier Godinho, Marco Antonio, Pindé, João Só. Cinco de Março que publicou a primeira pesquisa e análise sobre populações posseiras (Pedro Wilson, Lucia Peixoto, Lucia Moraes ARQ/PUC/1976) de Goiânia depois republicada na Revista da Arquidiocese de Dom Fernando Gomes que muito ajudou Batista Custodio levar gráfica e independentemente o Cinco de Março. Cinco que forjou gerações e gerações de comunicadores sociais com todas as suas certezas, criticas, incertezas, dificuldades e facilidades, contradições e opiniões, impressões e circulações, leituras e críticas. Cinco de Março foi ao lado

ou políticas, culturais ou ambientalistas. Cinco de Março/Diário da Manhã de Batista, Consuelo, Fábio, Imara, Júlio, Marli e João do Sonho e Maria do Céu. Cinco de Março/Diário da Manhã realização das utopias de um jovem com outros jovens. Sonhos de Caiapônia do Rio Bonito de todas as reservas cerradinas encantadas da margem direita do Rio Araguaia. 2. Assim ao longo da história meios de comunicação forjam sua existência e sua presença em Goiás e no Brasil e podemos dizer no mundo? Quem souber ler as entrelinhas sabe muito bem toda verdade da notícia no país da casa grande e senzala aos arbores do século XXI. Comunicação é um direito humano. O direito a informação, comunicação exige de todos nós cada vez mais e melhor objetividade, transparência, alteridade, investigação, democracia e liberdade. 3. Posso dizer do Cinco de Março que surgiu das mobilizações e manifestações da juventude estudantil dos anos dourados de JK e Jango (com o hiato de Jânio)

de. Muita felicidade porque são também filhos de Deus ou não? 5. Muita imprensa e gente boa gente goiana, brasileira contribuiu pela democracia e liberdade, cidadania e oportunidade de vida e trabalho, melhores. E para todas as mulheres e homens da juventude, presente e futuro do Brasil. Assim acompanhamos a história de dois jornais o Cinco de Março e seu sucessor, continuidade o Diário da Manhã. Cinco de março de 1959. Diário da Manhã dos anos setenta para oitenta. Cinco de Março do apoio da juventude. Jornal semanário que apoiou as lutas camponesas de José Porfírio, Arão, Doracina, Manuel, Neném Carreiro, Dirce, Zesobrinho, Godoy, Tibúrcio, Sebastião Abreu. Apoiou as lutas pelas reformas de base, agrária, universitária e bancária. Apoiou a luta contra a ditadura sofrendo empastalamentos locais e nacionais. Censuras e controles diretos e indiretos e principalmente econômicos que depois vai atingir seu sucessor o Diário da Manhã. Cinco de Março/Diário da Manhã de Batista,

do Varadouro do Acre, Opinião, Movimento, jornais Estudantis, Pasquim, Jornais de Movimentos Sociais e Partidos Clandestinos, Boletins da CPT, Jornal do CIMI e Jornal dos Sem Terra, Coojornal de Porto Alegre, Em tempo, O São Paulo, O Deboche e o quase Pagina Um, os principais jornais de resistência a ditadura. Batista num lance de ousadia cria um jornal diário num Brasil palpitante de opiniões e lutas pela anistia ampla, geral e irrestrita, novos partidos, diretas já, constituinte, volta dos irmãos do Henfil que eram todos os exilados para novo Brasil que agora estamos vivendo pra melhor. Diário do colégio eleitoral que elegeu Tancredo e empossou Sarney tutelado pelos militares porque na verdade deveríamos ter novas eleições ou posse do Ulysses Guimarães. Diário da Manhã testemunha a anistia imposta. Não houve acordo nenhum. Havia dois projetos e o da oposição foi derrotado por pressão do general de plantão. Fomos para frente e veio a Constituição de 1988 que o centrão barrou

muitas conquistas, mas que foi marco para fazer avançar a democracia no Brasil. Diário das eleições diretas para prefeito de capitais e instâncias turísticas, governadores e depois as memoráveis eleições de 1989, 1994, 1998 com Collor, Itamar e FHC. Eleições de 2002, 2006, e 2010 que elegeram Lula e Dilma para a presidência com eleição de um operário. E de uma mulher com governadores/as, prefeitos/as, parlamentares, juízes e servidores públicos, MPs. E trabalhadores e empresários que estão construindo uma pátria mais justa e mais fraterna num mundo de profundas desigualdades sociais e econômicas capitalistas. Cinco de Março e Diário da Manhã das lutas nacionalistas latino-americanas e africanas e mesmo asiáticas. Cinco de Março e Diário da Manhã de João XXI e agora de Francisco por uma renovada igreja do evangelho revolucionário de Jesus para que todos os homens e mulheres amem-se uns aos outros por um mundo de paz e justiça social. Cinco de Março/Diário da Manhã da viagem de Gagarim ao espaço. Viagem à lua pelos americanos. Jornal da queda do muro de Berlim, das novas migrações, guerras religiosas, colonialistas que promovem a exclusão social, segregação, tráfico de mulheres e crianças, Cinco de Março/Diário da Manhã das notícias terríveis dos consumos de drogas, tráfico de armas, corrupções, lavagem de dinheiro. E das desigualdades sociais, manipulações midiáticas, doenças, analfabetismos. E de violências e guerras regionais nova guerra fria, controles ilegais das comunicações telefônicas, internets. E censuras econômicas para jornais livres. Cinco de Março/D.Manhã das mudanças climáticas? E das copas e olimpíadas aqui e do mundo. E das eleições livres e libertadoras aqui e em todo lugar democrático. Ditadura e tortura nunca mais. Longa memória do Cinco de Março, Longa vida para o Diário da Manhã e para toda comunicação libertadora e democrática. Hoje e amanhã. Brasil emergente, sustentável, desenvolvido. Oxalá. Brasil com liberdade de expressão e impressão. (Pedro Wilson Guimarães, presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente de Goiânia/2013 – Amma. Presidente da Associação Nacional dos Órgãos Municipais de Meio Ambiente – Anamma 2013/2015. Secretário do Ministério do Meio Ambiente2012/2013. Prefeito e vereador de Goiânia. Deputado federal de 1993-2011 PT/GO. Professor da UFG e da PUC-GOIÁS. Militante dos Movimentos de Direitos Humanos, Fé e Política, Educação, Cerrados. Email: pedrowilsonguimaraes@yahoo.com.br)

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Diário da Manhã

OPINIÃO

Cinco de Março-Diário da Manhã, patrimônio do povo e dos municípios Jânio Darrot Especial para o Diário da Manhã A trajetória dos jornais Cinco de Março e Diário da Manhã é, na verdade, uma conquista de toda a sociedade. A grande obra do jornalista Batista Custódio veio de encontro aos anseios de Goiás e do Brasil, ao dar voz para os que não tinham onde se expressar, ao permitir o confronto de ideias que revigoram os caminhos do crescimento humano e social. O protagonismo do Cinco de Março como o semanário que não se curvou diante dos desmandos, que resistiu bravamente frente aos censores, que ousou desafiar padrões autoritários e valores da época, fundamentou o surgimento e enorme evolução do Diário da Manhã. Este já nasceu forte, robustecido pela história vitoriosa e vibrante de seu antecessor, e não demorou muito para fazer de Goiás o centro da imprensa brasileira. Batista Custódio conseguiu a primazia de transformar o DM no jornal mais dinâmico do País, a ponto de atrair renomados jornalistas de projeção nacional, desde Washington Novaes a Aluísio Biondi e Paulo Henrique Amorim. As suas páginas também foram pioneiras ao contar com a

colaboração dos maiores intelectuais do Brasil, a começar por Carlos Drummond de Andrade. O DM celebra 34 anos, mas sua luta parece ter existido desde sempre, porque o jornal traz no seu interior valores imutáveis, como a ânsia pela democracia, pela Justiça social e pela mais ampla participação popular. Os grandes ideais podem e devem ser tudo o que um jornal realmente necessita mas, além personificar este conceito, o Diário da Manhã soube também acumular uma série de pioneirismos jamais vistos na trajetória da mídia. No exercício pleno da democracia, foi o primeiro jornal a ter conselho de leitores. O DM foi o primeiro com edições nos sete dias da semana, a implantar TV integrada e interagindo com o público, a disponibilizar todo o conteúdo na internet. Além do pioneirismo técnico, o Diário da Manhã se notabilizou ao encampar bandeiras que hoje cada vez mais se tornam realidade. Frente às inúmeras dificuldades, defendeu em um grande livro a construção da Ferrovia Norte-Sul quando o Brasil, por intermédio da opinião pública reinante, desdenhava da obra. Os temas ligados ao meio ambiente também foram objeto das primeiras manifestações por parte do DM, que encampou inúmeras ba-

talhas em defesa dos nossos recursos naturais, desde o Rio Araguaia até o Vale do Encantado. Mas o forte mesmo de Batista Custódio é o eterno amor pela liberdade. Seu feito mais pujante foi criar um caderno inteiro, o OpiniãoPública, inteiramente devotado ao leitor, a ponto de o jornal trazer na sua capa um anúncio para que todos enviem artigos com foto. Esta abertura representa, sim, uma revolução nas imprensas brasileira e mundial, e coloca o DM como exemplo vivo a ser seguido. Importa, especialmente, reconhecer a difícil caminhada do jornalista Batista Custódio que resiste com heroísmo aos sucessivos entraves desde os obstáculos políticos dos tempos do Cinco de Março, até

as questões de ordem econômica para manter um jornal do tamanho e da projeção do Diário da Manhã. Mas Batista se torna forte na medida em que jamais abdica dos ideais que forjam seus compromissos com o Goiás e o Brasil. Ele sabe como ninguém que o jornalista tem que agir com toda devoção voltada para o bem público. Com muita coragem, precisa estar em perfeita sintonia com as aspirações da sociedade, e dela se constituir num servo fiel. Afinal, o jornalismo propicia um grau de influência sobre a vida das pessoas maior do que a de qualquer outra profissão. O DM, desta forma, sabe que os princípios morais precisam ser praticados a qualquer custo, e não

se admite atitude fora deste parâmetro fundamental. Quando os jornais se afastam desta prerrogativa, o resultado é a imediata repulsa da sociedade, que exige retidão, seriedade e conduta elevada. É a imprensa o principal agente que exerce papel decisivo na fiscalização das atividades do poder público por meio do pleno controle democrático. A verdadeira imprensa vislumbra o coletivo e o alcance social. Não admite, em hipótese alguma, o desvio e a incorreção. Jamais abre portas ou janelas para o usufruto pessoal, porque o jornalismo é, antes de tudo, renúncia. Quero, portanto, deixar registrado os meus sinceros cumprimentos ao jornalista Batista Custódio e aos valorosos profissionais que compõem o Diário da Manhã, o sucessor do Cinco de Março. Mais do que isso, quero agradecer ao DM por ter se tornado um porta-voz dos municípios, sempre aberto aos clamores do interior e também permitindo que as prefeituras possam divulgar suas realizações e conquistas. Vamos, sempre, defender o Diário da Manhã como o magistral patrimônio do povo goiano e brasileiro. (Jânio Darrot (PSDB) é prefeito de Trindade)

Diário da Manhã desafiante Tarzan de Castro Especial para o Diário da Manhã Ao completar 35 anos, o jornal Diário da Manhã, seu fundador Batista Custódio, a equipe atual e todos que participaram deste importante projeto com certeza estão orgulhosos com os resultados alcançados e os que virão. Desde sua fundação o jornal se propôs ser diferenciado, abrindo suas páginas para todas as ideias, acolhendo, desafiando a diversidade social, cultural, econômica, política e religiosa do País. Nasceu nos últimos anos da ditadura, já na transição. Goiás era governado pelo último governador nomeado, Ary Valadão. O Diário o respeitava, mas dava amplos espaços para as forças políticas de oposição, os resistentes contra a ditadura e ao governo Valadão. A direita e a esquerda tinham e continuavam a ter amplas condições de manifestar suas opiniões. Vejamos: Ronaldo Caiado sempre teve acesso e cobertura do jornal, assim como Irapuan Costa Júnior, Ari Valadão, Jovenni Candido, Geraldo Lucas; pelos liberais: Vilmar Rocha, entre outros líderes deste pensamento. Alfredo Nasser é um dos ícones do Diário, até o Marcus Fleury, acusado de torturador transitava, quando vivo, nas páginas e nos corredores da Redação. A esquerda então teve todas as chances. Os saudosos Henrique

Santillo, João Divino Dornelles, passando por Valdir Comárcio, Delúbio Soares, professor Pantaleão, Marina Sant’Anna, Elias Vaz, Aldo Arantes, Pedro Wilson, Darcy Accorsi, Osmar Magalhães, Isaura Lemos e muitos outros. Os governos do PT, Lula e Dilma, receberam cobertura, as vezes críticas, e continuam bem nas páginas do Diário. As costumeiras reclamações dos petistas contra a chamada grande imprensa definitivamente não são válidas para o jornal do Cerrado. As duas correntes políticas que dominam Goiás, há mais de trinta anos, lideradas pelo PMDB, com Iris Rezende e Maguito Vilela à frente, e o PSDB com Marconi Perillo e Lúcia Vânia. Em determinados momentos parece que o Diário esta a serviço de uma ou outra. Surpresa: o jornal dá e continua dando espaço aos concorrentes que estão na oposição, PMDB, PT, PCdoB, PSol e outros. É comum divulgar as obras e os feitos políticos do governo Marconi, mas logo em seguida dá espaço aos líderes da oposição. Iris Rezende, Paulo Garcia, Antônio Gomide, Maguito Vilela, Vanderlan Cardoso, Junior Friboi, são personagens constantes nas páginas do Periódico. Espera-se que este ano, importantíssimo por causa das eleições, ele seja um grande veículo de idéias e debates para influenciar no rumo dos necessários avanços democráticos de que a sociedade brasileira tanto necessita. Será sem dúvida uma grande oportunidade. Em outros campos e segmentos sociais a abertura também é signifi-

cativa; na luta contra a homofobia e o racismo o jornal mostrou um ponto significativo, talvez tenha sido o primeiro que teve coragem de lançar uma coluna permanente em defesa dos direitos dos gays, lésbicas, transexuais, a “Coluna do Meio”, assinada pelo líder da categoria Léo Mendes. Nesta questão muito ainda precisa ser feito; é comum ver lances ingênuos ou intencionais que tentam camuflar o racismo e a homofobia existentes em grande escala no Brasil. Em defesa das mulheres e meninas vítimas de todo tipo de

tante papel desempenhado pelo jornal no respeito, e reconhecimento, de todas as formas de religiões existentes em Goiás, sejam cristãs, islâmicas, judaicas, budistas, espíritas, candomblés, umbanda e quimbanda, indígenas, etc. Somos um povo multicultural. É preciso respeitar as crenças religiosas de todas as nossas origens. A pauta do jornal leva em conta esta importante questão. Os ateus também são seres humanos, e muito sociáveis. Já vi matérias deste seguimento dando universalidade à publicação.

violência, nasceu inspirado e dentro do jornal, sob o comando da brava e saudosa Consuelo Nasser, o Cevam, que tem prestado inestimáveis serviços à sociedade na luta contra a opressão da mulher. As prostitutas vítimas da sociedade e da incompreensão, da hipocrisia e da discriminação, tem no Diário espaço para a sua causa. É destacável o impor-

Não tenho notícias de outro jornal que convida as pessoas para escreverem, com a informação de que terão seus textos publicados, basta enviar a matéria, foto e qualificação que será atendido; muita gente não compreende isto, é o máximo de risco. O Caderno OpiniãoPública é o maior exemplo, todos tem acesso,

publicam artigos sobre todos os temas, os mais inimagináveis, alguns beiram a genialidade, muitos a mediocridade, mas são veiculadas com o maior respeito. O Caderno faz escola, é uma importante tribuna que expressa boa parte do viver e do pensar da sociedade goiana. Os intelectuais de todas as tendências encontram espaços, iniciantes ou andados sabem, que serão acolhidos. Para os jovens jornalistas o Diário é uma verdadeira escola, muitos foram formados nesta instituição, hoje trabalham em importantes órgãos da imprensa nacional. Colunas são várias, algumas genais. Aproveito para mandar um abraço para meus amigos Luiz Pampinha e Ulisses Aesse, saudando suas impagáveis colunas. Enfim, valeram a pena os 35 anos do Diário da Manhã. Não foram em vão. Contribuiu o jornal, e continuará contribuindo para a formação de uma sociedade mais democrática e tolerante com a diversidade humana. Quantas vezes ouvi dizer que o jornal estava em crise, prestes a fechar ou ser vendido. O Batista sempre dá a volta por cima, renasce todos os dias, enfrentando as dificuldades e doando a Goiás uma lição de perseverança e fé na imprensa livre e no seu papel fundamental numa sociedade democrática em constante transformação. Viva o Diário da Manhã, longa vida em liberdade. (Tarzan de Castro, ex -deputado federal e estadual, diretor da Revista Hoje)


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Cinco de Março, Diário da Manhã e Batista Custódio apenas um grito de liberdade Iram Saraiva Especial para o Diário da Manhã Tudo muito simples como a criação do mundo por Deus, e tudo que nele há. Se havia a necessidade de povoar a Terra, nada melhor do que tirar um punhado da própria terra para formar o homem. Nenhum mistério. Unicamente do pó, foi feito gente. Soprado o barro ele andou e não parou mais. A partir daí, nada ficou sem forma e vazio. Mas a depravação de hábitos, com o livre-arbítrio, acompanhou a criatura. Errante, a humanidade caminhou milênios entre virtudes e deformações. A coisa fácil, sem luta para a sua conquista, ganhou muitas almas. Mas, também, viu engrandecer espíritos de resistência. Nem chego a dizer tratar-se da guerra do bem contra o mal. É lugar comum demais. Antes, vejo como o esforço além do natural, de poucos iluminados, para recompor aquilo que desde o Gênesis precisa ser reencontrado: a virtude. Criado “à imagem e semelhança” Dele, Batista Custódio, lançou sua vi-

da, instruída de grande consciência de si, qual lâmpada de Diógenes, como raios em plena luz do dia nas escuridões das pessoas. Ele é um raro que não se envergonha de ser. Em nenhum momento deixou de pelejar. Era o dia 5 de março de 1959 e eu estava lá. Estudantes, quase todos secundaristas do Liceu, do Ateneu, do Pedro Gomes, as meninas do Instituto de Educação ocupavam a Rua 4, em frente ao Mercado Central, em reivindicações pacíficas e ordeiras. Mas o governo não tolerava (hoje também não tolera) povo na rua, quando não é louvação do seu interesse. De cassete e baioneta calada, para dizer o menos, a polícia chegou com violência desmedida e fez sangue. Foi pancadaria geral em nome da “ordem”. Um cenário de guerra para calar a voz da juventude, a qual incomodava o poder com as suas teses progressistas. Mal sabia o Palácio das Esmeraldas que estava unindo ideias em nome da liberdade sem compromisso com os dedos que puxavam os gatilhos criminosos. Nasceu o Cinco de Março. O moço Batista Custódio deu início à contundente resistência ao arbítrio. Nunca mais os poderosos ti-

veram sossego. O tempero ardido em forma de letras, de palavras e de textos estragou os banquetes palacianos. A voz calada no chão da Rua 4 passou a ecoar semanalmente ainda mais estridente, pelas páginas de uma imprensa livre e destemida. Era o terror para os mandões. O Cinco de Março foi a minha escola e de inúmeros jovens inconformados com os desmandos. Nele, contudo, o preço pela sobrevivência sem-

Ninguém pode se calar Pinheiro Salles Especial para o Diário da Manhã Os regimes autoritários tudo fazem para condenar o povo à ignorância. E, assim, abolir o elementar direito de ouvir e de falar. Oficialmente passados esses regimes, alguns dos seus mais perniciosos elementos continuam presentes nas instâncias democráticas, impondo o desinteresse com a memória, conduzindo o povo ao silêncio e ao sombrio abismo da amnésia. Mas, para o nosso reconforto, jornalistas têm a mania de revirar fatos que os poderosos de ontem e de hoje gostariam de sepultar. Esses jornalistas terminam contribuindo para que luzes se acendam e possibilitem a revelação de momentos cruciais da nossa História. Quem participa dos acontecimentos políticos e sociais do Estado, nas últimas décadas, certamente conhece o papel desempenhado pelo jornalista Batista Custódio. Não sei se ele é um visionário ou um louco. Mas tenho convicção de que possui uma inteligência privilegiada, nunca permitindo que alguém consiga acorrentar seus sonhos. O jornalismo é sua casa, sua vida, é onde ele constrói suas fantasias, ameniza suas angústias e rejuvenesce suas mãos para afagar o mundo. Quando o Diário da Manhã se aproxima dos 35 anos, o seu fundador e editor-geral tem o dever de contar um pouco da sua história, para isso até recolhendo fragmentos de contribuições ou prejuízos

de jornalistas que um dia, em tempos mais difíceis, usaram suas máquinas de escrever como metralhadoras da resistência. E se isso deve ser feito, é que a memória não pode permanecer adormecida, sem incomodar os trapaceiros, porque as novas gerações merecem a oportunidade de conhecêla. Ninguém pode se calar, muito menos o Batista Custódio, quando o lixo dos palácios de falsas esmeraldas tenta sufocar o direito à vida, à verdade e à felicidade. Principalmente ao Diário da Manhã atribuo a responsabilidade de fazer de mim o homem que sou, identificado com os rios, cachoeiras, cerrados e montanhas de Goiás. Chegando a Goiânia, encontrei o Marco Antônio Tavares Coelho e humildemente participei da primeira edição do Diário da Manhã, no dia 12 de março de 1980, data em que também nasceu o meu filho Raphael. Convivi

com os jornalistas Moura, Wilmar, Sáfadi, Sérgio Paulo, Abadia, Joãomar, Masinho, Fleurymar, Graça, Edmílson, Zé Luiz, Hamílton, Beatriz, Zarur, Sônia, Jorge Braga, Gugu, Spada, Bordoni, Pampinha, Mara, Lucinha, João Domingos, Doroty, Wilsinho e outros que, além de tudo, me ensinaram o encanto da goianidade. Muito me impressionaram o projeto e a ousadia do Diário da Manhã. Senti-me responsável por um veículo que desafiava os governos nomeados pela tirania, com o exercício democrático instalado na mesa de trabalho de cada profissional. E vi pessoas pobres, das invasões, dos bairros periféricos de Goiânia, reunidas na Redação, definindo a linha editorial do jornal... Mas vi chegar a interferência do dinheiro, com suas exigências malévolas. Vi o salário atrasado, a greve, a demissão, o desemprego, a dor das famílias de operários da imprensa. Batista Custódio fez a travessia. Nós sobrevivemos. O Diário da Manhã completa 34 anos, num Estado em que a comunicação é tratada como mercadoria. A recuperação da memória nos ajuda a entender o momento atual e reunir forças para a construção de um futuro diferente. Com sua experiência, Galeano nos confirma que “quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha”. Então, ninguém pode se calar, ninguém conseguiria nos calar. (Pinheiro Salles, presidente da Comissão da Verdade, Memória e Justiça do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás)

pre foi alto. Nada caía do céu. De empastelamento a perseguição de toda ordem, por ser independente, sofreu de tudo. Carregou durante duas décadas as esperanças dos pequenos em dias menos sofridos. Ao cumprir invejável missão, abriu caminho para o seu filho Diário da Manhã. O ano de 1980 viu as notícias em nova diagramação e cores. As opiniões tiveram seus espaços ampliados. A tão sonhada democracia ga-

nhou alma e esperança. O jornalismo experiente abraçou a modernidade. Corpo editorial de primeira linha, circulação diária, o Diário da Manhã, atravessou o Rio Meia Ponte para merecer respeito fora do Cerrado. Goiânia mostrou-se como um centro de imprensa com a estatura de gente grande. Mais uma vez Batista Custódio fez (e faz) escola e história. Destemidos e costumeiramente falando a verdade o Diário da Manhã e a sua alma, Batista Custódio, sempre são ameaçados de esmagamento pelos incultos encastelados no poder. Até a eles, o DM e Batista, sem ódio e rancor, abrem espaço para que livremente se manifestem. Eu não conheço exercício de democracia mais amplo. Cheguei menino ao Cinco de Março. Apenas 15 anos de idade e pretendo envelhecer ainda mais dentro das páginas do Diário da Manhã. Muito bom desfrutar da amizade de Batista Custódio, o moço que não deixa o pensamento passar do tempo. Que venham muitos e muitos 12 de março para festejarmos. (Iram Saraiva, ministro emérito do Tribunal de Contas da União)

Uma trajetória extraordinária João Neder Especial para o Diário da Manhã Neste dia 12 de março, assinaláse um acontecimento de inestimável valor para a afirmação da liberdade de imprensa, da expansão dos espaços para a manifestação livre do pensamento popular, comemorando-se os 34 anos do jornal Diário Manhã, percorridos numa trajetória de idealismo, lealdade e coragem para com os seus leitores. Batista Custódio, buscando forças em Deus, forças que se renovam, transformou a saudade do semário Cinco de Março, o marco decisivo do novo jornalismo que se fez em Goiás, rompendo com as amarras de estruturas arcaicas, cheias de temores e repletas de “jornalismo de elogio”, fazendo da tinta escura de suas páginas as estrelas de uma constelação de denúncias que fustigavam os poderosos, mostrando a vergonhosa desfaçatez dos políticos envolvidos em falcatruas tecidas em silêncio, a violência como instrumento de manutenção do poder nas mãos dos maus. Agora, esta aí o Diário da Manhã, que sofreu as agressões que feriram o idealismo do talentoso Fabio Nasser, reconhecido esteio espiritual do jornal que fundou; Consuelo Nasser sofreu até ao desespero, mas não se deixou ser esmagada pela ignorância, fazendo resplandecer sua inteligência que todos sabem respeitar. O Diário da Manhã foi imaginado para ser um modelo novo de im-

prensa em Goiás, mas os "coronéis" não gostam de novidades, porque vivem atolados numa ignorância atávica e numa estultice agônica... Mas a coragem do idealista venceu. Hoje, o Diário Manhã é trincheira democrática na qual a qualidade dos seus articulistas e os escritos de seus colaboradores formam o pensamento inderrotável dos que amam a liberdade de imprensa e vivem por ela. (João Neder, jornalista, advogado criminalista, promotor de Justiça aposentado e membro do Instituto dos Advogados de Goiás)


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João de Deus Especial para o Diário da Manhã

O jornal Diário da Manhã é um dos melhores jornais de Goiás. A sua luta em se manter aberto é diária e constante. Mas quando acordo e recebo o jornal, vejo um homem forte, decidido e sem medo de escrever o que pensa. Por isso, falar do Diário da Manhã e do Batista Custódio me deixa sensível e emocionado. Ele é um grande homem das letras e que sempre acreditou na minha missão. Agradeço a Deus, a cada manhã, pelo milagre de sua obstinação de ser um bravo guerreiro e que sem-

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Viajor do Tempo pre me apoiou e me abriu o jornal para divulgar a Casa de Dom Inácio em Abadiânia. Com isso muitos puderam compreender e saber sobre minha pessoa. Me permitiu continuar na missão que me foi designada: a de atender milhares de pessoas que precisam de meu tratamento espiritual. O grande jornalista Batista sempre acreditou na seriedade de meu trabalho. É um homem que tem uma espiritualidade do amor e também de doação. Minha amizade com ele é

uma aliança contra a adversidade, sem a qual eu ficaria desarmado contra as intempéries da vida. Essa aliança é fruto de um amor de verdade. Será preservada para sempre. Batista é uma das pessoas que mais admiro, tenho respeito e consideração. Ele doa o seu belíssimo trabalho, sem descanso, em prol de levar informação aos leitores. É um dos homens mais interessantes, inteligentes e altamente competentes que já conheci. Parabenizo e me solidarizo com o seu belíssimo trabalho. Que Deus esteja sempre ao seu lado e que as entidades do amor te proteja. Grande Batista, você é Luz! (João Teixeira de Faria - João de Deus)

Capítulos de uma obra sem fim Paulo Garcia Especial para o Diário da Manhã

Ele está lá, em muitas das páginas que eternizam a história deste Estado, na Enciclopédia do jornalismo, em consonância com o processo de redemocratização deste País. É autor, protagonista e espectador do enredo desta cidade. Marcado pela coragem e resiliência, sob o signo da modernidade, historiador do nosso cotidiano, o Diário da Manhã segue produzindo capítulos de uma obra sem fim, que ganha novos elementos a cada dia seguinte. Foi o Diário da Manhã que fez com que Goiás saísse do polo receptor e se tornasse centro emissor de notícias para o Brasil. Sempre inovador, carrega consigo os ineditismos de ter sido o primeiro jornal em Goi-

ás a circular sete dias por semana, a sertotalmente colorido, a ter Conselho de Leitores, plataforma digital, TV integrada e um forte sistema de interação com o público, se antecipando ao que hoje é condição primeira para todos veículos de comunicação da Era digital. Visionário, Batista Custódio segue inovando. A única coisa que permanece inalterada nestes 34 anos é o visionarismo de Batista Custódio. É pela cresça dele em grandes ideias que o Diário da Manhã consegue dar voz à sociedade, colocar a Redação nas ruas, levar a liberdade de expressão além do conceito e criar uma perfeita simbiose entre intelectuais e a he-terogênea camada de cidadãos que diariamente abre as páginas do DM. É também por tanto valorizar a democracia, pela qual lutou, foi preso e perseguido nos tempos do regime militar; por defender incondicionalmente a liberdade, que esse jornal vence obstáculos e consegue amplificar debates, re-

velar líderes, construir bandeiras, moldar talentos. Batista acredita no novo. Tem olhos de lince. Perspicácia que identificou o potencial de gente como Stepan Nercessian, Washington Novaes,

Paulo Henrique Amorim, Mino Carta, Cláudio Abrão, Marco Antônio da Silva Lemos, Lilia Teles, Cleisla Garcia, entre tantos outros grandes nomes que passaram pelo jornal, desde 1959, ainda época do Cinco de Março, jornal

berço para o Diário da Manhã. Profissionais que hoje nacionalmente materializam a grandeza que este jornal representa e expõem aos quatro cantos do mundo o bom jornalismo que se faz aqui. Um jornalismo pautado pelo entendimento de um homem que, sempre à frente do seu tempo, acredita que “jornalista não pode ter nem Ideologia, nem Teologia, nenhuma forma de engajamento a não ser a Ideologia à Liberdade”. Goiás cresceu. Tal qual Goiânia, continua agigantando-se. E, graças à modernidade da visão de Batista Custódio, a história ascendente deste Estado é pautada e contada entre máquinas de escrever e barulhos de impressão. Parabéns Diário da Manhã. Parabéns, por essa história que encontrou no ponto final o impulso para retomar uma folha em branco e nela escrever um sinal de reticências. (Paulo de Siqueira Garcia, prefeito de Goiânia)


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Saudação à liberdade PX Silveira Especial para o Diário da Manhã Um jornal não é feito da noite para o dia, como pode achar o leitor desinteressado. Em se tratando do Diário da Manhã, não é apenas a virada do dia que conta, mas principalmente a visceralidade daqueles que o fazem no arco do tempo. Nada nada, 55 anos de história vos contemplam destas páginas. Seu embrião foi o Cinco de Março, aquele que, dependendo do ponto de vista do mais fraco ou do mais forte, foi o jornal mais combativo e mais combatido da história goiana. A proeza maior foi conseguir ser vários jornais em um só, talvez parafraseando Walt Whitman, que dizia ser multidões. Assim, de espírito amplo e contendo multidões, antes o Cinco de Março e, agora, o Diário da Manhã, o OpiniãoPública e o DM on-line refletem a mudança antropológica em relação ao antigo leitor. Seguem em frente abrindo novos horizontes. Mentes inquietas exigem não apenas o fato, mas a abordagem dinâmica e múltipla, as repercussões e as análises filtradas na vida real. O Diário da Manhã, como uma realidade de comunicação coesa em seu cerne, foi pioneiro em Goiás na circulação às segundas-feiras, na edição em cores, no jornalismo on-line e no jornalismo cidadão, entre outros, e segue pisando no acelerador, acentuando o processo sem volta da mudança geracional da informação. Isso se deve às suas bases sólidas, fincadas não apenas na eficiência da razão, mas principalmente na raízes da alma. É um jornal feito de muitos

neurônios, mas antes de tudo tem sangue correndo nas veias. O suor é consequência. Seus anos de vida, não importa quantos, são uma eternidade acrescida de sempre mais um dia, que não se finda até que outro comece, encadeando o presente no futuro. Como falar de nomes importantes na vida de um organismo assim, que só é capaz de surgir por conjunções extraordinárias? Impossível não lembrar de seus timoneiros e dos marujos heróicos desta embarcação cerratense que vê muito além de seus limites, não faz paradas no porto e nem ouve o canto das sereias. Dentre estas conjunções, se divinas ou casuais, não poderia deixar de citar um nome e um destino. Fábio Nasser abrigava neurônios saltitantes em uma fortaleza de papel. Seu destino, a liberdade. Não a dos céus, mas a daqui mesmo na Terra. Foi assim que Fábio viveu. Livre no pensar e no fazer. Investido da vontade de mudar o mundo. Inquieto, visionário e sempre vibrante, desconcertava o mal feito. Ficar ao seu lado exigia raciocínio rápido e proatividade, para não ser engolido pela sua presença fulgurante. Se a liberdade pode se corporificar, foi nele que a vi. Suas ideias voavam aos ares, com opulência e fartura, e ele então as oferecia com gratidão a todos, faladas e impressas. Abraçava com o mesmo fervor um amigo ao entrar no bar, uma ideia ao irromper na Redação ou o governador, ao surgir no Palácio sem ser convidado. E com todos mantinha diálogos cuja franqueza podia assustar o interlocutor. Conviver com ele era ao menos tempo lição de vida e prova final. O Diário da Manhã lhe deve muito do espírito altivo e altruísta que hoje ostenta para a eternidade ver e ler. Fábio, com sua grande alma, era do-

no de um raciocínio rápido e mortal para qualquer discussão, não importando o tema. Era sem igual no amor de se entregar ao próximo por meio da escrita e de seus abraços sempre apertados demais para o simples mortal. A liberdade fazia dele uma saudação diária, lembrando que muitos de nós se deixam enganar. Para ser saudável o sujeito necessita de inquietudes, incompletudes e buscas. Como dizia Lacan, “de todos os diagnósticos, a normalidade é o diagnóstico mais grave, porque ela é sem esperança”. O normal é um sujeito pobre, sem liberdade e sem experiências. Um sujeitinho de uma vida miserável. E pior, sem culpa nenhuma, pois não sabe que sofre de insuficiência mental. Bem ao contrário do normal, Fábio tinha um nível elevado de tormento individual e de angústia criativa. Era um vulcão fumegando o amor que estava prestes a saltar. Predisposto ao fazer, mergulhou de vez na complexidade da vida. Sem gente como o Fábio Nasser, fascinado pela vida e suas possibilidades, a liberdade é uma palavra gasta e subutilizada. Em Fábio ela tinha um fim: ele mesmo. Hoje a percebo como o ar, que só lhe damos importância quando nos falta. Hoje a percebo nas páginas cidadãs do OpiniãoPública do Diário da Manhã. A liberdade está sinalizada em nossos dias na experiênica de um jornal único no mundo, sem credos, ideologias ou amarras que o dominem. É plural e é imparcial, porque abriga todas as parcialidades. Como uma edição diária que se fe- Fábio Nasser cha, o jornal termina hoje, mas não acaba. O Diário da Manhã renasce a cada dia com força e paixão que não se extinguem mesmo depois de extintos seus inspiradores. (Px Silveira, Instituto ArteCidadania)

O motor da história Vanderlan Cardoso Especial para o Diário da Manhã O jornal Diário da Manhã completa 35 anos de trabalho incessante pela construção da liberdade e da cidadania em Goiás. O sonho libertário do jornalista Batista Custódio, que após ver o seu Cinco de Março cumprir seu desiderato nas décadas de 1960 e 70 chegou, em 1980, com a disposição de fazer um jornal diário onde o compromisso com a verdade e com a construção da história fossem assumidos como um trunfo do povo goiano que quer ter seu destino nas mãos. É com orgulho que vemos um jornal eminentemente goiano que se destaca assim na constelação dos órgãos de divulgação e que o mundo olha com olhar diferenciado. É o Diário da Manhã que os expoentes da ciência da informação observa com atenção redobrada, com destaque para a divulgação ampla e totalmente aberta em suas páginas da opinião que circula amplamente na sociedade. A iniciativa do jornalista Batista Custódio de fazer do caderno OpiniãoPública é uma das mais notáveis visões de democracia e abertura para a liberdade de opiniões que já se viu na história da humanidade. A publicação de artigos de opinião sobre os mais variados temas e assuntos que estejam na pauta da sociedade é de uma envergadura que somente daqui há algumas décadas poderemos vislumbrar com maior precisão o processo histórico que estamos vivendo. O OpiniãoPública, encartado no Diário da Manhã traz em suas páginas discussões sobre assuntos das mais variadas mati-

zes e reflete com precisão o que se prega no seio da população. Ao expor seus pensamentos os leitores e articulistas que não se acanham em colocar pra fora o que formulam em suas mentes materializam a democracia por difundir pensamentos, conceitos e construções de todos os nortes do pensamento humano. Em suas páginas se misturam pensadores de renome, doutrinadores variados em suas áreas de atuação, gente anônima com capacidade de observar o mundo ao seu redor e formular alguma ideia que sirva para o aprimoramento do gênero humano e para o engrandecimento dos espíritos que leem e querem algum aprendizado. Podemos ver pessoas comuns expondo suas posições sobre fé na humanidade e na capacidade das pessoas de fazerem juntas um mundo melhor para se viver. Temos a chance de ler textos produzidos por pessoas que fazem recomendações para que todos busquemos uma vida de mais meditação e voltada para Deus e das mesma forma contundentes críticas a governos, governantes e seus aproveitadores. Toda difusão de ideias é boa para a evolução da humanidade e no Diário da Manhã tudo é permitido em nome do engrandecimento do pensamento.

Com muita sabedoria o jornalista Batista Custódio estabeleceu uma única restrição: não se permitirá que as páginas do OpiniãoPública sirva para ataques pessoais e para agressões a honras de quem quer que seja. Espíritos elevados discutem ideias, porque são elas que mudam a humanidade. Sempre aprendi que deve-se ouvir as pessoas mais experientes porque nelas a vida já se fez mais sentida. Com esse pensamento tenho sempre a satisfação de poder conversar com Batista Custódio porque sempre é possível aprender com ele as observações sobre Goiás, sobre a política goiana e sobre os rumos que é possível trilhar para atingir um objetivo mais elevado de bem comum. A construção da democracia e de uma sociedade livre e evoluída passa obrigatoriamente pela liberdade de se expressar o que se pensa e colocar essas ideias em discussão. Goiás precisa participar mais dessa inovadora forma de divulgar pensamentos e informações e o Brasil terá muito a ganhar quando a revolução que está sendo feita no Diário da Manhã chegar a outras Redações pelo País. (Vanderlan Cardoso, presidente estadual do Partido Socialista Brasileiro-PSB)

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Diário da Manhã

OPINIÃO

GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

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Do Cinco de Março ao Diário da Manhã Jávier Godinho

Especial para o Diário da Manhã

A LENDA DO CINCO DE MARÇO Recebendo dois telefonemas ilustres, começamos um lindo sábado. Primeiro, foi Juvenal de Barros, mestre na história do rádio e na relações públicas em Goiás. Depois, João Neder, líder estudantil, teatrólogo, jornalista e o promotor mais consagrado de sua época. Em situações diferentes, a mensagem de ambos era a mesma: — Amanhã, é aniversário do Cinco de Março. É no mínimo curioso o fato de, passados mais de 40 anos, continuar viva a memória de um jornal pobre e incompreendido, que teve contra si os poderosos do seu tempo e que, na sua ânsia ingênua de consertar o mundo, no combate alucinado a todas as formas de corrupção, errou porque o ardor do idealismo também motiva injustiças. Quem escreve para a OpiniãoPública não imagina nunca o tamanho da sua responsabilidade, nem até onde vão o bem e o mal de suas palavras. Não é raro, até hoje, sermos de repente parado na rua por alguém que à primeira vista não identificamos e que conosco inicia um diálogo nestes termos: — Li, uma vez, no Cinco de Março, um artigo que você escreveu... Que teve de diferente aquele semanário de jovens não poucas vezes destemperados? Primeiro, foi um vulcão nascido contra a violência oficial. Na noite de cinco de março de 1959, a polícia massacrou estudantes em pacífica manifestação na Praça do Bandeirante. Batista Custódio, Telmo de Faria e outros jovens obstinados criaram a erupção chamada Cinco de Março. Era, outra vez, o metafísico presente na imprensa goiana, desafiando a compreensão do homem. Cinco de março de 1830 é a data de circulação do Matutina Meiapontese, primeiro jornal de Goiás. E o sobrenatural continuou no dia oito de agosto de 1964, quando oficiais da Polícia Militar empastelam o Cinco de Março. E estivera, antes, em oito de agosto de 1960, quando o jornalista Adory Otoniel da Cunha morreu num desastre de avião, na campanha de Mauro Borges, consternando o Estado inteiro. E sete anos atrás, quando em oito de agosto de 1953, jagunços travestidos de policiais fuzilaram Haroldo Gurgel e feriram gravemente os irmãos Antônio e João Carneiro Vaz, da equipe de O Momento, ao sol do meio-dia, na porta do Lord Hotel.

Maria Elizabeth Fleury Teixeira Especial para o Diário da Manhã O jornalismo, de forma geral, sempre se pautou como um instrumento da liberdade de expressão, justiça social e democrática. Em Goiás, a imprensa jornalística não fugiu a essa regra, sendo constituída também por muito sonho e idealismo. Desde a distante época da publicação do primeiro jornal goiano, A Matutina Meyapontense, na primeira metade do século XIX, passando pelo Diário Oficial de Goyaz, já na antiga Vila Boa de Goyaz, então capital do Estado, o ideário de liberdade de expressão marcou suas páginas com interessantes matérias, informações e política. Com o surgimento da República e o início do século XX, foi maior o desejo por liberdade de expressão e democracia; A imprensa jornalística tornando-se mais popular alimentou sonhos literários, históricos e, principalmente, políticos, ao motivar o surgimento de inúmeros periódicos, diários e semanários nas ci-

Como explicar tantas coincidências? O gênio Castro Alves, que aos 24 anos de idade já era o maior poeta do seu País, imortalizou em dois versos situações como essas: “Por uma fatalidade, dessas que descem do Além...” O Cinco de Março não foi um jornal comum. Depois dele, apareceram dezenas de outros, até imitadores da sua crítica mordaz e da sua coragem inaudita, e passaram sem deixar lembranças. Agora que os ódios não rugem mais, estamos sempre conversando, Batista Custódio e nós, sobre a missão, o certo e o errado do semanário onde a dinâmica da vida nos reuniu durante seis anos. Juntos, sentimos a pobreza muito de perto e os perigos mais próximos ainda. Juntos, fomos réus em processos e colegas na ala de presos políticos do Cepaigo, em 1964. Amansados pelos anos, depurados no sofrimento e esclarecidos pela experiência, continuamos juntos no Diário da Manhã, onde as dificuldades nem de longe se assemelham aos rigores do Cinco de Março, nos árduos tempos da ditadura militar. Com toda sinceridade, de vez em quando, sentimos saudades do Cinco de Março, dos companheiros admiráveis que tivemos na sua equipe maravilhosa. E, acredite o gentil leitor, há momentos em que este humilde escriba profissional tem a impressão que Batista ainda sonha em renascer o semanário que virou lenda. (Publicado no Diário da Manhã de 5/3/2002)

OS FORASTEIROS QUE SAQUEAVAM GOIÁS

Em janeiro de 1965, tendo como governador o marechal Emílio Ribas Júnior, Goiás começou a viver o ano dos forasteiros debochados. Sobre seus mal-feitos, o gentil leitor não encontrará, fora do Cinco de Março, qualquer referência na imprensa. O Cinco de Março, mesmo tão perto geograficamente do centro do poder militar em Brasília, em cima deles deitou e rolou, cheio de graça. A comédia começou quando o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar, perdeu a paciência com os políticos goianos. Com a deposição de Mauro Borges, o coronel Meira Matos, comandante das tropas de ocupação, caiu na bobagem de anunciar para Goiás um governo de coalizão. — Governo de coalizão, que é isto? – imediatamente perguntaram os políticos daqui. Logo ficaram sabendo que a intervenção federal preconizava uma gestão com a participação de todos, para pacificar a família goiana. Os par-

tidos poderiam indicar seus representantes no novo poder constituído. Foi como se um caminhão de bananas maduras parasse na frente de um bando de macacos. A UDN, que se autoapresentava como dona da nova situação, teve que repartir os cargos com os egressos do PSD, viciados na máquina do Estado em 34 anos de ludoviquismo. Para gerenciar esse balaio de caranguejos e esse saco de gatos, foram buscar no Amazonas Ribas Júnior, um guerreiro aposentado da FEB, que nunca, em sua já longa existência, havia pisado o território de Goiás. Na absoluta falta de convivência com os goianos, o marechal-governador trouxe de Brasília seus principais auxiliares, aliás indicados por antigos camaradas, porque também não os conhecia. Essa história inteira, cheia de episódios hilariantes, está contada na coleção do Cinco de Março. Para início de conversa, os principais desses forasteiros se instalaram para um período de farras entre nós, que teve muitas idas e vindas, com direito a acompanhantes, em aviões do Estado, principalmente às delícias do Araguaia. Um deles foi morar no Hotel Bandeirante, então o mais luxuoso de Goiânia. Logo o Cinco de Março o apelidou de teiú, pela capacidade incrível de consumir ovos. Na verdade, ele bebia como gambá e assinava nas notas, para o Estado pagar, sem aparecer as garrafas de uísque esvaziadas: “duas dúzias de ovos, três dúzias de ovos, cinco dúzias de ovos...” Um segundo habitou o Palácio das Esmeraldas, onde nos muitos rega-bofes com os amigos mandou assar o pavão que ali enfeitava os jardins, e pescou e digeriu os surubins que ornamentavam o tanque de entrada da residência oficial do governo, bem nas costas do busto de Pedro Ludovico Teixeira. Quando dezembro de 1966 chegou, os forasteiros afivelaram malas e fecharam caixotes, porque no mês seguinte tomaria posse o governador eleito Otávio Lage de Siqueira. O Cinco de Março imediatamente denunciou o que eles estavam levando como lembranças: televisores, talheres, roupas de cama e outros pertences do povo goiano, usados no Palácio das Esmeraldas. Aí, quase que a porca torceu o rabo. Na noite de domingo, Batista e nós fechávamos a capa da edição, juntamente com o paginador Manoel Pescador e o linotipista Edgar. Na chamada para o novo escândalo, relatado em página interna, planejávamos a seguinte manchete: “Forasteiros saqueiam Goiás”, que tem 24 letras. A penúria, entretanto, respondia presente em todos os departamentos. Queríamos tipos garrafais e os de madeira, usados nessas ocasiões, eram poucos e não chegavam para as três palavras completas. Então, a manchete saiu assim, com somente 17 letras, dentro do estoque disponível: “Ribas saqueia Goiás”.

Foi o jornal circular e Goiânia e Brasília viverem um dia de tensão. O governador se enfureceu e exigiu ao Palácio do Planalto o fechamento do Cinco de Março. Ainda de manhã, chegou ao 10º Batalhão de Caçadores, de Goiânia, ordem para atendimento da solicitação governamental. No final da tarde, veio a contra-ordem. Entre mortos e feridos, escaparam todos no Cinco de Março. Em final de mandato, o marechal Ribas Júnior não teve forças e perdeu a parada para militares honestos e destemidos que, em Goiás, confirmaram o que estava realmente acontecendo. As malas fechadas dos saqueadores tiveram que ser abertas e esvaziadas, para felicidade dos contribuintes do erário estadual. (Publicado no livro “A Imprensa Amordaçada – Contribuição à história da censura no Brasil – 19641984”)

Qual fênix... dades goianas. Foram vários os jornais surgidos na esteira do idealismo e da esperança de uma sociedade mais justa e feliz. Dentre esses jornais e periódicos, dois marcaram politicamente aquela época na antiga capital goiana: O Democrata e A Voz do Povo (antagonistas). Em meados do século XX, já em Goiânia, a nova Capital do Estado, jovens secundaristas se rebelaram movidos pelo mesmo ideal de liberdade de expressão e lutas democráticas. Esses jovens, Javier Godinho, Telmo Faria e Batista Custódio, contaram com apoio de grande número de estudantes em que se destacavam Consuelo Nasser, Valterli Guedes e Zoroastro Artiaga. Outro apoio indispensável à concretização desse grande voo libertário dos jovens goianos foi a do inteligente e irreverente político Alfredo Nasser, na cessão, ao grupo jovem da antiga tipografia do Jornal de Notícias. Nasce então, o jornal Cinco de Março, no ano de 1959, com o grande objetivo

Alfredo Nasser

Consuelo Nasser

de alçar novos voos de liberdade e altruísmo, na luta por uma sociedade democrática em defesa da cidadania e liberdade de expressão. Com a passagem do dia 5 de março, dia comemorativo dos 55º aniversário desse antigo jornal que hoje recebe o nome de Diário da Manhã,

importante veículo de liberdade de expressão do povo goiano (caderno OpiniãoPública), jornal que sempre primou por abrir as portas a jovens talentos ou a calejadas cabeças esbranquiçadas e privilegiadas, que buscam no ideal humanístico alçar novos voos, novas formas de liberda-

UM JORNALISTA MOVIDO A FÉ Reza a lenda que, um dia, Deus resolveu distribuir a verdade entre os homens. Em forma de espelho, lançou-a sobre a Terra e, ao cair, ela se partiu em mil e um pedaços. Todos os homens e todas as instituições se apossaram de seus fragmentos. Desde então, ela está dividida entre a humanidade. Ninguém é seu dono ou a detém inteira, todos a possuem, em maior ou menor tamanho. Sábado à noite, no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia, na linda festa comemorativa aos 20 anos do Diário da Manhã, centenas de alegres convidados expuseram sua parcela de verdade so-

de de expressão, o reverso da moeda ou o outro lado da história. Hoje, me ponho a relembrar a agitada trajetória de ambos os jornais: o Cinco de Março e jornal Diário da Manhã (não passaram a vida em brancas nuvens). Viveram cada jornal e seu único presidente, os altos e baixos do destino, as glórias, a luz e, repentinamente, o fundo do poço, a escuridão da injúria, o abandono moral, as palavras vãs. Por duas vezes desceu ao inferno da injustiça social, da arbitrariedade política e por duas vezes renasceu com mais força e determinação, qual ave mitológica. Ao felicitar a continuidade dessa caminhada democrática do jornal DM, estendo-a também, a toda família jornalística e ao jornalistamor, Batista Custódio, que há muito vem segurando este bastão com sabedoria, fé e pulso forte. Reverencio, na oportunidade, as memórias de Alfredo Nasser, Consuelo Nasser e Fábio Nasser, que hoje estão em outra dimensão, mas deixaram aqui o exemplo de seus sonhos e suas realizações. (Maria Elizabeth Fleury Teixeira, pedagoga, escritora, presidente da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, pertence a UBE, AGI, Atleca e Ablac)

bre o jornal, e a alma e a vida do jornal, seu cérebro e seus braços, que é Batista Custódio dos Santos. Este humilde escriba, contudo, que há quase 40 anos conhece, convive e trabalha com Batista, não viu ninguém se referir ao motivo que considera principal no sucesso do Diário da Manhã. Para nós, o motivador número um desse êxito é a fé. Já fomos, juntos, panfletários terríveis querendo consertar o mundo. Batendo, apanhando e aprendendo, nos transformamos lentamente. Algumas vezes ouvimos seu filho Fábio Nasser, no verdor dos anos talentosos, dizer com uma nesga de decepção: — Hoje, eu sou Batista Custódio dos velhos tempos e meu pai é Alfredo Nasser... Magnífica referência, porque um dia, milionário de realismo, o saudoso jornalista Leonan Cura-

do escreveu que Nasser era guerreiro e monge. Batista está atingindo a culminância da paciência e do bom senso, conciliador e sábio tantas vezes, incapaz de deixar crescer no próprio coração a árvore da mágoa ou do ódio. Vergastado no vendaval da adversidade, contempla um ponto indefinível no horizonte, lá onde chegaremos todos nós, no devido tempo, para encontrar as soluções de todos os problemas. A FÉ É DIVINA E CIENTÍFICA Há poucos anos, de 269 médicos entrevistados durante congresso na cidade de Norwalk, nos Estados Unidos, 99% não tiveram dúvida em afirmar: a fé religiosa de uma pessoa pode ajudá-la a se recuperar de doenças. Os Evangelhos estão repletos de passagens nas quais o Cristo promove a recuperação de um doente e lhe

afirma, ele que nunca mentia e para quem o falar era sim, sim; não, não: — Tua fé te curou. Por falta de fé, São Pedro quase morreu afogado, quando Jesus, caminhando sobre o mar o chamou, ele desceu da barca e vacilou porque ventava e as ondas se agitavam. Cientista da Laurentian University, no Canadá, o neuropsicólogo Michael Persinger chegou à conclusão que a fé ativa uma parte do cérebro reguladora do sistema imunológico. Seu grande desafio atual é descobrir de que maneira a fé e outros fatores psicológicos agem sobre o cérebro e os hormônios, estimulando o corpo no combate às doenças. Friedrich Nietzsche errou quando escreveu que todos os grandes intelectuais são céticos. Batista é um grande intelectual e é um homem de fé inabalável. E se a fé sem obras não passa de um cadáver bem vestido e adornado, a fé de Batista tem produzido obras admiráveis. É a fé a confiança na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. É a confiança da criatura de Deus em seus destinos. Existiria Goiânia se Pedro Ludovico não tivesse fé na sua realização? E Brasília, se Juscelino Kubitschek não acreditasse piamente na sua capacidade de arrancar de um litoral viciado a Capital do Brasil e edificar para ela uma cidade fantástica, no Planalto Central? É a fé o espantalho até do medo. Não dizia o reverendo Luther King que o medo bateu à porta, a fé foi abrir e não havia ninguém? É a fé o indutor do autor intelectual e do operário construtor e mantenedor do Diário da Manhã. Foi sua companheira a fé quando ele, adolescente, trocou a vida rural em Caiapônia pelos desafios do estudo e do trabalho em Goiânia. Estava com ele a fé, quando ao lado de outros idealistas, num brado de indignação contra a violência oficial, fundou o Cinco de Março, em 1959. A fé, quando no golpe de 1964 a equipe do Cinco de Março foi perseguida e dispersada, presa mas não desfeita. A fé, em agosto daquele ano, quando a polícia invadiu e empastelou o Cinco de Março. A fé, em 1969, quando Batista, caso único no Brasil, por crime de opinião, cumpriu oito meses de reclusão, na masmorra do DI, de onde continuou escrevendo e protestando. A fé, em 1980, quando ele e Consuelo Nasser, no auge de um sonho, fizeram nascer o Diário da Manhã, dotando-o da melhor equipe de jornalista de que se tem notícia em Goiás. A fé, em 1984, quando a censura política e econômica, depois de asfixiar a Folha de Goiaz de Consuelo Nasser, fechou o Diário da Manhã, na vã ilusão de aniquilá-lo na falência, que é a lepra da economia. A fé, em 1986, quando Batista rea-

briu o Diário da Manhã, para o manter cada vez mais moderno, mais bonito, mais sério, mais alegre, mais democrático e mais progressista. A fé, quando incontáveis vezes, às dezenas, lhe tiraram os principais jornalistas que formara e ele, pacientemente, escolheu, treinou e selecionou outros, melhores ainda. A fé, em 1999, quando Fábio, sua maior esperança de continuidade no futuro, precocemente quis ir embora, machucando-lhe as fímbrias da alma e desabando-lhe o mundo interior. É, assim, a fé descomunal, que em toda a vida permitiu a Batista sacudir a poeira e dar a volta por cima, o alicerce, o sustentáculo e a real força motriz do Diário da Manhã. (Publicado no Diário da Manhã de 14/3/2000)

ATRÁS DE CABOS DE CHICOTE Em Harvard, Estados Unidos, uma das universidades mais conceituadas do mundo, ficou pronta uma pesquisa cujo resultado é prática comum na Redação do Diário da Manhã, há pelo menos 10 anos. É o tempo que assistimos a Batista Custódio insistindo junto aos integrantes da sua equipe, em permanente renovação, ensinando ser a melhor notícia a boa notícia mesmo. Cada vez menos leitores preferem as más notícias. Aliás, as pessoas, a multidão e o povo estão cansados de notícias ruins. . Os jovens, muitos adolescentes ainda, constituem a esmagadora maioria dos jornalistas na ativa. Importantíssimos na evolução da sociedade, pelo idealismo, ímpeto e arrojo que representam, eles ainda dependem do tempo, contudo, para amadurecer e alcançar o clímax da lógica e da razão. Por serem verdes, imaginam que liberdade de imprensa é distribuir bordoadas verbais, a torto e a direito. Só a experiência, que requer muito suor e lágrimas, os fará galgar os degraus do bom senso e da responsabilidade. Batista também foi assim, nós também já tropeçamos, escorregamos e caímos muito na travessia desse estágio, machucando os outros e com isto nos machucando, porque na dinâmica da vida a cada um é dado segundo as suas obras. Batista já cansou de esmurrar mesas, no afã de transmitir-lhes que a palavra escrita é filha do pensamento e que não existe no universo força maior do que o pensamento, para o bem e para o mal. Pode um pensamento positivo sa-

near o mais infecto dos pântanos, e pode um pensamento negativo envenenar e empestar o mais lindo e perfumado dos jardins. É norma de sabedoria a vigilância dos próprios pensamentos, para que a sua repetição habitual não destrua nem ocasione sofrimentos alheios. Pensamentos negativos são ódio, medo, rancor, ressentimento, vingança, desânimo, ciúme, inveja, pessimismo, desconfiança, vontade de aparecer, covardia e, sobretudo, a maledicência, que os assimila, interpreta e dissemina como língua de fogo solta no capinzal seco. A pesquisa em Harvard foi feita por Thomas E. Patterson e mostra que mesmo os leitores que se interessam por notícias “quentes” na política, economia e administração pública, deixam-se atrair mais por boas notícias. É o contrário do conceito dominante entre os jornalistas, seguidores da velha tese de que “boa notícia não é notícia”, ou do quanto pior, melhor. A pesquisa se chama, no original inglês, “Well and doing good” – em português, Fazer bem e fazer o bem – e se desenvolveu no centro de políticas públicas da Universidade, no ano passado. Um subtítulo do estudo de Patterson, que está na internet, revela o seu conteúdo: “Como as notícias leves e o jornalismo crítico estão reduzindo a audiência do jornalismo e enfraquecendo a democracia” . A conclusão: emanada desse trabalho é que a obsessão pela má notícia e pelo jornalismo crítico faz com que o jornalismo transmita uma ideia errada sobre os políticos e as instituições públicas, causando uma reação de repúdio entre os leitores que, dentre outras manifestações, diminuem a compra de jornais e a audiência da mídia eletrônica. O exemplo mais claro citado é a reação da opinião pública ao noticiário sobre o caso Bill Clinton e Mônica Lewinsky. Os norte-americanos, em grande número, apoiaram o presidente prevaricador, embora discordando do seu comportamento pessoal. Ao mesmo tempo, repudiaram a dimensão dada pela imprensa ao escândalo. Em mais de duas décadas de pioneirismo em tantos setores da imprensa goiana, o Diário da Manhã adiantou-se mais uma vez, recusando-se a divulgar denúncias, ainda que documentadas, valendo a exceção para os casos já decididos pela Justiça. Agora que ingressamos em período pré-eleitoral, dizem que vai explodir a guerra dos dossiês. Fariseus armam o bote pretendendo, de preferência, jogar pedra e esconder a mão. Para bater no adversário, estão atrás de cabos de chicote. (Publicado no Diário da Manhã de 2/5/2002)

O Cinco de Março reuniu os maiores talentos da imprensa goiana José Elias Fernandes Especial para o Diário da Manhã Inspirado na luta dos estudantes, o Cinco de Março nasceu da ousadia empreendedora de Batista Custódio, garantindo-o como tribuna livre para as manifestações da juventude, da sua geração, de cujo idealismo se tornou destemido arauto. Ainda bem não haviam cessado as refregas locais, em que predominava a política dos coronéis, eis que eclode o golpe militar de 1964, com a sanguinária ditadura dos generais, sem clemência nem piedade. As autoridades da época, inclusive as mais elevadas, acovardavam-se no medo e na traição, tentando se manter nos cargos. No Executivo, no Legislativo, no Judiciário, nas igrejas (principalmente a católica), no empresariado, na intelec-

tualidade, por toda parte só se assistia a submissão, o agachamento, o servilismo. Até porque quem se rebelava era sequestrado, preso, torturado, estuprado, assassinado e dado como desaparecido. Pior: nem se podia questionar o paradeiro das vítimas, taxadas de comunistas e inimigos da pátria. A imprensa, então, bajulava com nojenta sebosidade os militares encastelados no poder. A quase unanimidade da mídia enaltecia os fardados e lustrava seus coturnos com a saliva dos covardes, ao mesmo tempo em que escondia do público as lágrimas dos perseguidos. Como uma das raríssimas exceções, o Cinco de Março insistia, numa guerrilha, em cujos quadros se posicionavam os maiores intelectuais goianos. Em sua Redação, tive o privilégio de conviver com Bernardo Élis, Godoy Garcia, Zoroastro Artiaga, Carmo Bernardes, Geraldo de Araújo Vale, Jávier Godinho, Antônio José de Moura, Carlos Alberto Santa Cruz

Serradourada, Paulo Gonçalves, Estefan Nercessian, Anatole Ramos, Gabriel Nascente, Waldomiro Santos, Jean Pierre Conrad, Hélbio de Brito, Edson Hermano, Eugênio Rios, Amir Sabag, Henrique Himelraich, Castro Filho, Valterli Guedes e tantos outros, atrevidos baluartes na defesa da liberdade de expressão. Todos capitaneados pelo talento de Batista Custódio e Consuelo Nasser, que varavam noites para não permitir que a opressão si-

lenciasse a voz da verdade, estampada nas páginas do mais respeitado semanário que já se editou em Goiás. Naquele cenário de horror, que aterrorizava o País, a delação, o dedodurismo, a covardia de denunciar colegas, para fazer média e tirar proveito junto aos milicos, contaminava todas as classes, disseminando a desconfiança até entre familiares. Os gorilas espalhavam olheiros por toda parte e a cada instante alguém caía em desgraça, na unha da Polícia Federal, que recambeava ao Exército, à Marinha ou Aeronáutica. A noite era tenebrosa; fazia escuro, mesmo assim cantávamos, certos de que a liberdade abriria as asas sobre nós. Não obstante o sacrifício martirizasse tantos companheiros, o heroísmo compensou os sobreviventes, com o alvorecer da democracia, embora já tão prostituída pela corrupção, em sua moderna versão do rouba e reparte, de combate tão difícil. Por isso mesmo, o sonhador Batista

Custódio, à semelhança de Dom Quixote de la Mancha, continua cavalgando seu bravo Rocinante e brandindo sua incansável espada, através do Diário da Manhã. O caderno OpiniãoPública esbanja espaço e desafia a coragem de quem se propõe a manifestar com independência qualquer idéia. Pena que muitos aproveitemno apenas para justificar o soldo do puxassaquismo. Decorrido meio século, ainda vivo um terrível dilema pessoal: adoro política, mas não tolero os corruptos que dominaram os três níveis dos quatro poderes (incluindo aí o Ministério Público). Assim como as drogas degradam a raça humana, a corrupção denigre os setores públicos. Enquanto não me decido, continuo escrevendo. (José Elias Fernandes, jornalista, escritor, ex-vereador em Goiânia, ex-deputado, ex-prefeito de Aragarças, delegado aposentado e anistiado político. E-mail: jornaldegoiania@hotmail.com)


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GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

OPINIÃO

Diário da Manhã

Diário da Manhã: um defensor da liberdade e da democracia na imprensa e na vida do cidadão goiano Antonio Gomide Especial para o Diário da Manhã Celebrar o aniversário do Diário da Manhã é também celebrar a conquista democrática nacional e a garantia e a defesa dos direitos individuais dos cidadãos goianos. Isto porque sua história pode ser atrelada diretamente a estas bandeiras, uma vez que o perfil democrático e libertário deste jornal reúne todos os ingredientes para a manutenção destas conquistas. Com a missão de informar, ensina. Com o compromisso de dizer a verdade, revela. Esta é, sobretudo, a meta de um veículo de comunicação que, mais do que ser uma referência comercial e de mercado no jornalis-

mo de Goiás é, também, uma escola para centenas de profissionais que estão ou que passaram pelo DM. Sabemos da importância dos veículos de comunicação para garantirmos a transparência e a cobrança por ações e melhorias na vida do cidadão comum. Para isto, a rua precisa passar dentro da Redação, afinal, um corpo produtivo sem o contato direto com os anseios do povo é de pouca utilidade nesta missão e acaba por atender outros interesses que não dá maioria. E, neste aspecto, o DM dá um novo exemplo: tem um perfil e um contato íntimo com o povo de Goiás. Do entretenimento à política, passando pelas reportagens elucidativas de Saúde, o jornal se mostra identificado com a causa popular, o que nos serve como um alento em vários níveis. Somamos, portanto, aos mi-

lhares de eleitores e parabenizamos o Diário da Manhã pela comemoração, felizes, por saber que na luta diária pela democracia, principalmente na pessoa de seu fundador e principal pensador, o jornalista Batista Custódio. Este que doou a sua própria trajetória pela luta pela liberdade e Justiça social. Uma personalidade que preferiu ter o peito ferido pela bala da repressão a ter a língua engrossada por lamber as botas do poder. E é este exemplo de vida que, sabemos, transpõe-se para as páginas do jornal e para a sua lide diária. Parabéns aos colaboradores, jornalistas e todos que dão a sua contribuição decisiva para que tenhamos o Diário da Manhã em nossas mãos. (Antônio Gomide , prefeito de Anápolis)

Um valor sagrado para a democracia Júnior Friboi Especial para o Diário da Manhã

Meu hábito de ler jornais é antigo, mas mudou bastante de uns tempos para cá. É diferente ler o jornal e ver o seu nome lá. Foi uma opção que fiz, ao escolher entrar na política. Quem faz isso, precisa estar preparado para virar vidraça. Tenho lido muito sobre mim mesmo nos jornais de Goiás. Nem sempre concordo. Algumas vezes, até me incomodo. Mas sem nunca perder o respeito pela imprensa do meu Estado. E sem, jamais, questionar a liberdade de imprensa. Essa é a base da democracia: uma imprensa livre, que cobre tudo, de todos. Prefiro ler algo que me incomode a conviver com uma imprensa amordaçada, comprada ou submetida a pressões de governos. Muitas vezes a imprensa comete erros a meu respeito, como eu também posso julgar errado algum ór-

gão de imprensa. Mas o que deve prevalecer é o respeito mútuo e a ampla liberdade de expressão. O mais importante, para mim, é a pluralidade. O direito de escolha é do leitor, do ouvinte ou telespectador. É ele quem decide em quais veículos confia e com quais se identifica. Seu julgamento é o definitivo sobre a qualidade e a credibilidade de cada veículo. Os únicos mestres do bom jornalismo são os fatos. O verdadeiro compromisso do jornalista é com a verdade. Ele deve satisfações apenas para seus leitores. A nós, que por qualquer motivo somos objetos das reportagens, fica a obrigação de agir com transparência e respeito. Conheço poucos jornais com um respeito tão grande pelo direito de opinião quanto o Diário da Manhã. O Caderno OpiniãoPública é uma iniciativa tão corajosa quanto democrática. Oferece espaço para livre manifestação de todas as correntes de pensamento. Muitas vezes, lado a lado, estão opiniões completamente divergentes sobre o mesmo assunto. Para o julgamento final de quem importa: o leitor.

Essa abertura ao debate é uma marca pessoal de Batista Custódio. Vem desde os tempos do jornal 5 de maio, há 55 anos. E prosseguiu, com a mesma dignidade, na trajetória do Diário da Manhã. As páginas do caderno de opinião não discriminam. Acolhem quem pensa diferente. Mesmo quem discorda do jornal, ou de seu proprietário. Não dá para negar a importância desse espaço democrático. A imprensa de Goiás se destaca por seus espírito crítico e combatividade. Promove o debate político como poucas do país. Isso ajuda na educação política do nosso Estado. Mesmo se algumas vezes isso significar erros ou injustiças, em nada invalida a sua importância. Porque, ao fim, a verdade sempre prevalece. E uma opinião pública bem informada estará mais do que preparada para distinguir o joio do trigo. Aos profissionais da imprensa de Goiás, em especial ao Diário da Manhã, meu respeito e meus cumprimentos. José Batista Junior, o Junior Friboi, é empresário.

Diário da Manhã: 34 anos de compromisso com a liberdade de expressão Helder Valin Especial para o Diário da Manhã Ao longo dos seus 34 anos de existência, o Diário da Manhã não apenas revelou ao mundo as muitas nuances de um Goiás em plena transformação. Um Estado que rompeu o isolamento, a tradição agrária e se consolidou como uma grande economia, em processo acelerado de industrialização. Graças à coragem e ao idealismo de seu fundador, Batista Custódio, o DM assumiu um papel de protagonista. O jornal ajudou a forjar a nova sociedade goiana: integrada ao cenário globalizado; capaz de se adaptar rapidamente às mudanças; com a autoestima recuperada e comprometida com os valores democráticos.

Neste 12 de março, Goiás tem muito a comemorar e infinitas razões para se orgulhar. Nas páginas do DM, a liberdade de expressão se materializa, sempre com responsabilidade e inteligência. Os que jamais tiveram voz podem se manifestar sem amarras por meio do Caderno OpiniãoPública. As reportagens ultrapassam as fronteiras do jornalismo declaratório e denunciam as mazelas, assim como revelam as muitas conquistas da nossa sociedade. Importante destacar que o Diário da Manhã se transformou em referência para quem quer compreender Goiás, em qualquer lugar do mundo. Com conteúdo aberto na rede mundial de computadores, o jornal é uma das mais relevantes fontes de consulta sobre a realidade do nosso Estado. Se o Diário da Manhã é uma luz que insiste em não se apagar, uma tribuna livre onde os mais relevantes temas são debatidos, Batista Custódio é a alma

desse jornal com vocação para a vanguarda. Desde o final da década de 50, quando fundou o extinto semanário Cinco de Março, esse ilustre jornalista tem sido exemplo de vigor intelectual, coragem para enfrentar arbitrariedades, capacidade de superação. As mais diversas dificuldades, inclusive financeiras, jamais impediram Batista de seguir com seus sonhos. Ainda que o preço de tamanha ousadia fosse o sacrifício de sua vida pessoal. Em nome de todos os goianos, desejamos ao Diário de Manhã uma longa e bem-sucedida trajetória. Que o jornal siga como instrumento de transformação social. Que continue sendo uma testemunha privilegiada da história do nosso Estado. (Helder Valin, deputado, presidente da Assembleia Legislativa)


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OPINIÃO

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O Diário da Manhã tem o DNA do Cinco de Março Carlos Alberto Santa Cruz Especial para o Diário da Manhã “Na quarta parte nova os campos ara E, se mais mundo houvera, lá chegara”

(Luiz de Camões) Sempre que se contar a história da imprensa de Goiás se falará de Batista Custódio que nos últimos 50 anos vem escrevendo com o próprio suor, dia a fora e noite a dentro, ao sol e ao sereno, a trajetória do jornalismo no Centro-Oeste brasileiro. Não é exagero dizer que quase todos os jornalistas de Goiás – dos maiores aos menores – aprenderam escrever com ele, que mantém os jornais que comanda como oficinas de aprendizado. Centenas de noviços, ali chegaram e chegam verdes, quase adolescentes, e de lá saem jornalistas inteiros, assumindo a vanguarda do mercado de comunicação aqui e alhures. Muitos deles pagaram-lhe com indefensáveis ações trabalhistas. Qual sacerdote, Batista fez do jornal seu breviário, cujas contas do terço tinha escrita em cada uma delas e em todas a palavra liberdade. Foi tão fiel às suas convicções que muitas vezes vendeu o carro na primeira marreta da esquina, e ficava a pé para garantir a tiragem do Cinco de Março na segunda-feira. Muito mais do que isto: chegou a vender a própria casa de morada, só para ver o jornal pendurado nas bancas como bandeira avançada, esvoaçando ao vento de seu idealismo utópico. E essa casa é aquela onde, hoje, fun-

ciona a Churrascaria do Walmor, à Rua 3, no Detor Oeste. A história do jornal Diário da Manhã vem de longe e tem o DNA do semanário Cinco de Março, o mais lancinante protesto de uma geração. Durante 22 anos tremulou em todas as bancas de revistas de Goiás, l5 dos quais sob os coturnos da ditadura, a mais longa de nossa história. Aquele semanário, nascido no chão da greve dos estudantes, foi o muro onde o povo pobre e humilde vinha escrever a carvão, com letras garranchadas, a sua fome de pão, liberdade e Justiça.

Batista escreve com o próprio suor, ao sol e ao sereno, a história do jornalismo no Centro-Oeste”

Em lugar nenhum e em Língua nenhuma existiu jornal mais libertário do que o Cinco de Março. E lá foi o rancho que nos abrigou da tempestade de canivetes que a ditadura militar fez chover nos ásperos tempos que nunca mais hão de voltar. E no front dessa trincheira estava Batista Custódio, exposto a todos os assaltos da polícia oficial que por mais de uma vez empastelara o jornal, quebrando suas máquinas a coice de fuzil. No momento mais arreganhado da ditadura, Batista foi condenado por opinião e teve que cumprir pena no quartel da Polícia Militar de Goiás. O senador governista Benedito Vicen-

te Ferreira chegou à sede do Cinco de Março à Avenida Goiás, esquina da Rua 61, no Bairro Popular, e me pediu para levá-lo à prisão onde estava Batista. O senador goiano estava acompanhado pelo senador capixaba Eurico Rezende, líder do governo Costa e Silva no Congresso Nacional. No percurso, Benedito me adiantou que estava ali em missão oficial “da revolução” e trouxera o senador Eurico Rezende para tirar Batista Custódio da cadeia. Chegamos ao quartel da Polícia Militar, e os dois senadores entraram para falar com Batista. Demoraram cerca de uma hora. Saíram e eu fiquei lá para despachar como Batista questões do jornal. Naquela hora, Batista me disse que o senador Eurico Rezende fora lá e levara um documento para ele assinar. “—Não concordei com o teor do documento e me recusei a assiná-lo. Prefiro continuar preso, a assinar um documento que me desonra” – encerrou a conversa. Na época, o ex-prefeito de Goiânia Iris Rezende tinha o mandato cassado e suspensos os direitos políticos por 10 anos. Quando terminou de cumprir a pena, Batista encarregou justamente Iris de levar o seu Alvará de Soltura e buscá-lo na cadeia. Eis aí a coragem de escolher justamente um político cassado, só para promovê-lo e até insultar a ditadura envergonhada. O jornal Cinco de Marco trazia na capa uma marca com forte apelo nacionalista: “Nem Washington, nem Roma, nem Moscou: tudo pelo Brasil.” Com o advento da anistia política, já em 1980, o semanário Cinco de Março havia cumprido com bravura, valentia e muita honra, a sua missão

(Cevam), uma entidade não governamental que é hoje referência nacional na defesa dos direitos da mulher. Quando se diz que o Diário da Manhã tem o DNA do semanário Cinco de Março é porque os dois tem a mesma origem: são filhos do jornalista Batista Custódio que a cada dia renova, reinventa e ressurge com as coisas novas em comunicação.

“ Consuelo, o Cevam nasceu dentro do DM

e, antes de encerrar a sua heróica trajetória, gerou o jornal Diário da Manhã que já nasceu grande e nacional, porque trazia o DNA do legendário Cinco de Março. O Diário surgiu competindo com a grande imprensa do eixo Rio/São Paulo e com ele vieram para cá os grandes nomes da imprensa nacional. Um luxo só. O jornal nasceu no fim do governo Ary Valadão que nele anunciou, sem nenhuma censura, mesmo sabendo que o DM patrocinava abertamente a eleição do candidato oposicionista Iris Rezende que, em 82, chegou ao governo e não tolerou o jornal que o ajudara a se eleger. O jornal foi fechado e só voltou no governo Henrique Santillo. Há que se lembrar que no Cinco de Março e no Diário da Manhã estava também a jornalista Consuelo Nasser, mulher culta, determinada e batalhadora pela causa das mulheres. E foi lá no Diário da Manhã que Consuelo fundou o Centro da Valorização da Mulher

O Cinco de Março foi o muro onde o povo escrevia a carvão, com letras garranchadas, sua fome... O DM é a voz das ruas ensinando aos jornalistas escrever certo por linhas tortas”

O Caderno OpiniãoPública é uma clarinada de liberdade e democracia. Se o Cinco de Março era o muro, onde o povo escrevia a carvão, com letras garranchadas, OpiniãoPública é o jornalismo distribuído nos cultos e nos quase analfabetos, é o desabafo coletivo, onde os jornalistas profissionais, às vezes, aprendem, com a voz das ruas, escrever certo por linhas tortas. Os governos podem até abrir cadeias. Mas os governos só não podem fechar escolas e jornais. (Carlos Alberto Santa Cruz, jornalista)

“Existe uma terrível desvantagem de não se ter a qualidade abrasiva da imprensa aplicada a nós todos os dias... mesmo que não gostemos, e mesmo que desejássemos que não tivessem escrito, e mesmo que não aprovemos, não existe nenhuma dúvida de que não faríamos o nosso trabalho numa sociedade livre sem uma imprensa ativa, muito ativa.”

John Kennedy

Parabéns ao Diário da Manhã pelos seus 34 anos de vida! Parabéns por sua jornada incansável na produção de notícias!

Wilder Morais

Senador pelo DEM


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A luz que furou a escuridão Euler Ivo Especial para o Diário da Manhã Hoje em dia já não existe mais o pequeno, mas bravo e combativo jornal Cinco de Março. Porém, fez história. Deixou na memória e na história goiana o exemplo de um jornalismo autêntico e de resistência aos desmandos dos poderosos; uma voz do povo simples de nossa cidade. E eu me lembro bem daquele semanário. Até dezembro, ano de 1963, eu morava com meus pais em Piracanjuba, minha cidade natal. Meu pai tinha um açougue na principal rua da cidade, em frente à farmácia do Joãozinho. Ali, naquele ponto comercial, funcionava um centro de críticas e oposição à prefeitura local e aos governantes em geral. E havia uma espécie de disputa de espaço com o outro centro dos apoiadores do governo, que ficava meia quadra abaixo, no posto de gasolina da esquina, em frente da grande casa residencial de Dr. Rui Cavalcante, conhecido chefe político local. No açougue, reuniam os mais simples. No posto, os grandes fazendeiros. Foi em Piracanjuba, naquele ambiente político, que iniciei a compreensão sobre o que acontecia no Brasil e em Goiás. Meu pai sempre havia sido e foi a vida toda muito crítico, muito ácido a todo e qualquer governo. Era contra a máquina do estado, que ele sempre considerou como parasitária por natureza. Tanto que esses vegetais parasitas que hospedam uma árvore e passa a roubar-lhe a seiva, meu pai sempre lhes dava o nome de “vegetal estatal”. Por isso, naquele ponto da Rua Pedro II, no açougue do Belo Vieira (apelido de meu pai), funcionava um centro de notícias e fofocas políticas, um centro vivo de debates da oposição ao prefeito, ao governador ou ao presidente da República. E o jornal que mais circulava por lá, que dava o tom dos debates e municiava a todos com fatos e argumentos, era o famoso semanário Cinco de Março, do Batista Custódio. Sempre no anoitecer, quando chegava o ônibus vindo de Goiânia, eu ia buscar os jornais que meu pai encomendava, geralmente a Folha de Goiás, jornal diário conservador . Mas, nas segundas-feiras, era diferente. Era o dia de chegar um novo número do

panfletário Cinco de Março, recheado de novas críticas, novas denúncias, novos argumentos, que iriam abastecer os debates por mais uma semana. O maior elogio que meu pai fazia àquele jornal, lendo em voz alta suas matérias para as pessoas em volta, era assim: “Eu gosto desse jornal Cinco de Março. Para mim é o melhor que existe em Goiás. E querem saber por quê? Porque nesse jornal, como ele mesmo diz, não existe espaço para elogios. E ele tem coragem para criticar, doa a quem doer”. E havia nele uma coluna, que era a mais lida chamada ‘Café da Esquina’. Talvez em referência indireta ao Café Central, ponto das fofocas políticas da

dos perseguidos. E como não queria elogiar o governo pró-americano recém-instalado e para proteger seu jornal e evitar que fosse chamado de comunista ou a favor da Rússia, Batista Custódio mandou acrescentar logo abaixo da logomarca do jornal, as palavras: “Nem Washington, nem Moscou, nem Roma. Tudo pelo Brasil!”. E essa forma de se expressar ajudou muita gente a se livrar de situações políticas perigosas e constrangedoras. Era uma frase nacionalista, por isso mais difícil de ser atacada pelos militares; combatia o entreguismo para esse ou aquele país. E todas as pessoas medianamente informadas, ou mesmo minimamente

rogado é um ser completamente indefeso diante dos seus algozes que querem, acima de tudo, lhe quebrar a moral, quebrar seu espírito de luta. Assim, o interrogatório conduzido pelo famoso delegado de presos políticos no Rio de Janeiro, Dr. Manoel Vilarinhos, era um desses momentos difíceis. Ele me perguntou: “Você é contra ou a favor de nosso governo?” Olhei em torno. Além do delegado, havia o escrivão e eu assentado no meio da sala, numa cadeira colocada lá, isolada no meio da sala. Atrás de mim e encostados nas paredes, estavam dois ou três brutamontes mal encarados, propositalmente ameaçado-

política goiana na capital. Em abril de 64, quando os norteamericanos patrocinaram o golpe militar contra João Goulart, nossa família já morava em Goiânia. Éramos recém-chegados. Havíamos mudado pra capital em dezembro do ano anterior, porque minha irmã Joana D’arc havia passado no vestibular de Medicina na Universidade Federal de Goiás (UFG). Para apoiála, mudamos para Goiânia. Mas eram muito tristes as notícias naqueles dias do golpe militar. Muitas prisões, terrorismo de direita, denuncismo, destruição de reputações. E meu pai dizia profeticamente: “Esse golpe é coisa dos americanos. E vai durar 20 anos, porque esse é ciclo da vida política do Brasil”. E o jornal Cinco de Março também passou a ser atacado pelos militares golpistas. Batista Custódio chegou a ser preso e ameaçado de coisas piores. Porém, mesmo em situação adversa, travou, através de seu jornal, uma heroica resistência pela democracia, pelas liberdades e em defesa

informadas, sabiam que os militares golpistas eram apenas marionetes dos magnatas de Washington. E essa frase do Cinco de Março muito ajudou minha defesa durante um interrogatório a que fui submetido pelos homens da ditadura, no ano de 1968, quando de minha prisão política no Rio de Janeiro. Naqueles dias, eu era diretor da UBEs (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas). Havia sido preso fazendo agitação pelas liberdades no colégio Visconde do Cairú, no bairro do Meyer, no Rio de Janeiro. Eu era muito jovem, alto e magérrimo, mas muito atento. E, ao ser preso, era uma questão de honra nunca trair ou mesmo vacilar. Era preciso ser firme, mas, ao mesmo tempo, astuto. A prisão era um momento de provação dos revolucionários. Era preciso saber marcar nossa postura e nossa conduta diante daquele governo ditatorial. Mas, ao mesmo tempo, era necessário evitar provocações desnecessárias. O preso político isolado e inter-

res para que eu me intimidasse. Então imediatamente me lembrei do jornal Cinco de Março, de sua logomarca, de seus dizeres. E respondi calmamente ao delegado: “Eu sou goiano. Tenho a mesma opinião de nosso jornal goiano chamado Cinco de Março. Lá está escrito: Nem Washington, nem Moscou, nem Roma, tudo pelo Brasil. Por isso, eu sou um patriota. Acima de tudo pelo Brasil. Primeiro o Brasil”. Mas o delegado não se deu por satisfeito e voltou a carga: “Sim, mas eu quero saber se você é a favor ou contra nosso governo?”. Naquela altura, eu já me sentia bem mais forte e orientado para dizer claramente: “Sou contra, porque é um governo a favor de Washington. E eu defendo o Brasil acima de tudo”. O delegado deu um sorriso aberto, embora silencioso, meio maroto e passou a me respeitar mais. Tempos depois, eu narrei esse fato para o Batista Custódio. Creio que essas minhas palavras devem estar anotadas em meu depoimento, cujas có-

pias eu solicitei recentemente ao centro de memória, no antigo Deops, em São Paulo. Meu advogado no Rio de Janeiro, naquela ocasião, foi o Dr. Modesto da Silveira, grande jurista, hoje com mais de 90 anos, mas lúcido e na ativa, com quem tive o prazer de falar ao telefone meses atrás. Por isso, tenho orgulho em elogiar e também saudar as comemorações sobre esse pequeno e afiado jornal popular e de resistência democrática, chamado Cinco de Março. Um exemplo de jornal. Eu condeno os monopólios em todos os sentidos, inclusive o monopólio das comunicações. Para mim, jornalismo autêntico é aquele naturalmente ligado ao povo, não importa a qual segmento. Mas que expresse a opinião formada pela vida e não a opinião formada pelo dinheiro, a falsa opinião de um falso jornalismo, para iludir as massas e perpetuar uma elite no poder. Por ironia da política, quando em 1982 aconteceram as eleições diretas para governador, a primeira depois de muitos anos de governos nomeados pelos militares, parecia que ira descortinar um grande ambiente de liberdade. E assim, dois anos antes, prevendo a nova realidade que se abria desde a anistia e preparando para vivê-la, Batista Custódio decidiu transformar seu velho Cinco de Março em um novo Diário da Manhã. Comprou novas máquinas, contratou muitos jornalistas famosos e arregaçou as mangas para fazer um grande jornal. Mas aconteceu justamente que o novo governo eleito iria fechar seu novo jornal. Batista Custódio e seu jornalismo novamente enfrentaram dificuldades ainda maiores. Mas resistiram ao tempo. Mesmo mais modestamente que ao projeto inicial, o Diário da Manhã continua a circular sob o comando do calejado jornalista. Respeito muito Batista Custódio pelo seu idealismo, sua coragem e dedicação. Marx dizia que “tal e como os homens manifestam sua vida, assim eles são”. Batista Custódio dedicou sua vida para o jornalismo verdadeiro. É o mais legítimo jornalista goiano, orgulho de todos nós. E mesmo depois de tantas dificuldades e tantas décadas de resistência, ele mantém sua resistência crítica. Parabéns ao seu estilo de jornalismo. Parabéns àqueles que o acompanham e o seguem. Viva o jornal Cinco de Março! Viva o jornalista Batista Custódio ! (Euler Ivo, ex-vereador de Goiânia)

Diário da Manhã, uma tribuna livre do direito de expressão! Alex Neder Especial para o Diário da Manhã Recordo que, ainda acadêmico de direito da PUC-GO, meu estimado professor José Mendonça Telles, em sala de aula, fez à turma uma pergunta que jamais esqueceria. Indagou ele quem seria mais forte, o canhão ou a caneta? Antes que respondêssemos, sorrindo, o professor disse que era a caneta. Então explicou que a caneta revelava a idéia e formava opinião, criando nos homens a consciência, força motriz das grandes transformações no mundo. Em um gesto incomum, o jornalista e fundador do Diário da Manhã, Batista Custódio dos Santos, abriu as páginas do jornal de uma forma amplamente democrática permitindo a todos, sem distinção, utilizar esse espaço para emitir sua opinião exercendo seu direito constitucional de expressão, fazendo do Diário uma tribuna livre, fato inédito no País. Com a revolução da informática, os artigos e matérias são lidos em todo o mundo através da internet e são comentados também no espaço opinião do leitor, criando uma interação ainda maior com a sociedade, formando opiniões e criando consciência, realizando transformações, fazendo com que a sociedade participe

ativamente dos acontecimentos sociais, artísticos, políticos, econômicos, científicos dentre tantos outros do País e do mundo. Essa democratização da liberdade de imprensa criada nas entranhas do Diário da Manhã que completa 35 anos de existência, tem história, começou nos anos amargos do regime de exceção instalado em 1964, com a criação do semanário 5 de março em 1969, que foi uma trincheira de luta dos idealistas da época que lutaram em desvantagem contra a ditadura militar. Entre eles se destacaram Batista Custódio dos Santos diretor, Javier Godinho, redator chefe, Telmo de Faria, João Neder, Consuelo Nasser, Taufic Sebba, Descleux Crispim, José de Moraes, Waldomiro Santos, Carlos Alberto Santa Cruz Serradourada, Antônio José de Moura, Carmo Bernardes, Edson Nunes, Haroldo de Brito, José Elias Fernandes, Tupinambá dos Reis, Antônio Gomes, dentre outros notáveis e corajosos jornalistas, me desculpem não citar todos, foram os jovens que não se calaram, e sempre trouxeram no peito o desejo indômito de discordar, de criticar, de desafiar o poder usurpado pela imposição ditatorial, usando como arma apenas a caneta como forma de expressão do pensamento livre, que somente em 1988 viria a ser concebido através da Constituição Cidadã do saudoso Ulisses Guimarães, insculpido no capítulo que cuida dos direitos e ga-

rantias fundamentais do cidadão, inciso IV do artigo 5º, que vem se aperfeiçoando no decorrer do tempo pelos anos de consolidação do estado democrático de direito. Já se passaram décadas, que vivemos uma democracia, que vem se aperfeiçoando dia a dia, mas hoje sabemos que outros instrumentos tentam barrar a imprensa livre e democrática, pessoas que não conseguem conviver com a liberdade do pensamento e perseguem jornalistas com ações infundadas e temerárias, não buscam justiça, buscam vingança, utilizando-se, indevidamente, da via judicial para tanto, fazendo valer o poder econômico e o decantado poder político para calar a imprensa livre. Em decisão histórica do STF, o ministro Celso de Mello proferiu memorável voto em defesa da liber-

dade de expressão, ressaltando: “Liberdade de Imprensa(CF art. 5º, IV,c/c o art.220), Jornalistas Direito de Crítica Prerrogativa Constitucional, cujo suporte legitimador repousa no pluralismo político (CF1º, V). Que representa um dos fundamentos inerentes ao regime democrático. O exercício do direito de crítica inspirado por razões de interesse público. Uma prática inestimável de liberdade a ser preservada contra ensaios autoritários de repressão Penal. A crítica jornalística e as autoridades públicas arena política; Um espaço de dissenso por excelência.” (RTJ 200/277. Rel Min. Celso de Mello). Finalizando citou os postulados da Declaração de Chapultepec, de 1994, adotada pela Conferência hemisférica sobre liberdade de expressão, frisou: (...) a imprensa livre é condição fundamental para a solução de con-

flitos sociais, a promoção do bem estar e a proteção da liberdade. Nada mais nocivo, nada mais perigoso do que a pretensão do Estado de regular a liberdade de expressão (ou legitimamente interferir em seu exercício) pois o pensamento há de ser livre, permanentemente livre, essencialmente livre” sentenciou. Hoje o Diário da Manhã, com uma extraordinária equipe de jornalistas trabalha incansavelmente para manter o Diário circulando, para bem informar, merecendo o reconhecimento de toda sociedade goiana, peço licença para citar dentre estes destacados profissionais do jornalismo Ulisses Aesse, Helmiton Prateado, Edson Costa, Antéro Sóter, Sabrina Ritiely, Weliton Carlos, Arthur da Paz, dentre tantos outros que merecem o nosso respeito e reconhecimento. Mas, verdade seja dita, esse sonho não estaria completando seus 35 anos, não fosse a luta incansável e determinação do combativo jornalista Batista Custódio que, inegavelmente, faz parte da história do jornalismo goiano e do Brasil, com todo merecimento por sua luta pela liberdade de expressão, com uma fé inabalável de que o pensamento deve ser permanente e incansavelmente livre! (Alex Neder, advogado criminalista e consultor jurídico).


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OPINIÃO

Suely Arantes Especial para o Diário da Manhã O Diário da Manhã chega aos 34 anos com corpinho de 70, envelhecido precocemente por uma trajetória de glórias, quedas, lutas e vitórias, tudo assim, junto e misturado. Mas qual é a boa história que não reúne esses ingredientes? O roteiro começa em 1980, quando o jornal nasceu da costela do semanário Cinco de Março, que Batista Custódio resolveu transformar em jornal diário com um projeto ousado sobre uma megaestrutura desenhada por seu idealismo. Muitos acharam que seria um sonho a mais de Batista e Consuelo Nasser. Não foi. O jornal nasceu sob o signo do sucesso e fez história no jornalismo goiano e ganhou o Brasil, chegando a ser considerado o quarto do País pela respeitada Academia Brasileira de Letras, onde recebeu o prêmio alusivo. Batista e Consuelo fizeram uma revolução na imprensa. Selecionaram os melhores jornalistas do Estado, como Carlos Alberto Sáfadi, Isanulfo Cordeiro, Jayro Rodrigues, Fleurymar de Souza, Carlos Alberto Santa Cruz, Marco Antônio da Silva Lemos, Lorimá Dionísio, Wilson Silveira , Sônia Penteado, Hélio Rocha, Jávier Godinho, entre outros. Não satisfeito, buscaram mais nomes consagrados nos jornalões do Rio, São Paulo e Minas. Assim se juntaram ao time goiano, profissionais da qualidade de Washington Novaes, Aloysio Biondi, Reinaldo Jardim, Eloí Callage, que ganharam dos enciumados (no bom sentido) colegas o bem-humorado apelido de “legião estrangeira”. Briancadeira à parte, os dois times conviviam harmoniosa e respeitosamente, tanto que o coleguismo virou amizade e eles mesmo riam muito da recepção, em princípio não muito cordial. O DM deu tão certo, que estava bom demais para continuar. Jornal forte nem sempre agrada a empresários e políticos, principalmente. Dizer que exite imprensa independente de grupos econômicos e políticos, pelo menos pelas bandas aqui da América

As vezes em que a Liberdade chorou Latina, é utopia, infelizmente. Foi nessas águas revoltas que o DM embarcou e afundou. Salários altos pagos em dia, tiragem que alcançava todo o Estado, Distrito Federal e outras capitais brasileiras gerava custo operacional que aos poucos foi tornandose inviável. Goiás, à época não contava ainda com empresas e indústrias de grande porte para anunciar seus produtos. O maior anunciante era o governo mesmo e ponto. Quando Iris Rezende assumiu o governo sucedendo a Ary Valadão, o DM tinha milhões para receber em notas empenhadas e não recebeu. Iris pagou algumas e foi rolando a dívida até Batista e Consuelo não conseguiram mais esperar. Eles tinham pressa, Iris não. Daí nasceu o desentendimento entre compadres e amigos até que virou briga feia, prejudicando centenas de funcionários, fornecedores, os donos do jornal e o próprio governo. Nesse cenário não faltaram as traições, intrigas e mentiras. Poderia relembrar várias, mas vou citar uma das piores que presenciei: a história inventada por bajuladores do governador, que corromperam jornalistas de caráter frágil para se aliar a eles, com oferta de emprego no governo. Assim, fizeram malabarismo sabese lá de que jeito, mas tiveram acesso a um artigo que o Batista havia escrito (ainda não publicado) com críticas pesadas NÃO a Iris Rezende, mas ao seu governo, sem resvalar para o plano pessoal. Mas para ofender o homem para valer tinha de haver ataques à família do governador. Se era isso que faltava, estava resolvido. O grupeto maldoso, de posse às laudas do artigo, "enxertou" um parágrafo escrito por eles, que atingia em cheio a honra de

Iris Rezende no que há de mais sagrado para um pai, a honra de um filho. E lá foram eles, excitados entregar o artigo ao Iris, jurando ser o texto original. Iris perdeu o chão, claro. Só que no meio dos cizaneiros havia um jornalista que resolveu telefonar para o Lázaro Custódio, irmão de Batista, e comentou o fato, em tom até ameaçador. Apavorado, Lázaro chegou à Redação do DM pouco antes da meia-noite e aos berros pedia explicações ao irmão para tanta mesquinharia, citando o tal trecho fabricado pela turma oportunista. Batista, sem entender nada, me chamou e pediu que eu pegasse na minha gaveta os originais do tal artigo (havia deixado comigo porque na época eu era secretária de Redação e responsável por decidir em que página e dia o artigo deveria ser publicado). O próprio Batista pediu

A previsão de Nasser Luiz Alberto de Queiroz Especial para o Diário da Manhã

A história política brasileira tem me causado especial fascínio. Gosto especialmente do capítulo que abrange desde a era Vargas à atuação de Juscelino Kubitschek. Neste estimulante conjunto de acontecimentos que compõem boa parte da República, aprecio ainda os relatos biográficos. Fascina-me ler a vida de homens como Getulio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio da Silva Quadros, Carlos Lacerda, João Goulart e de outras figuras que estiveram à generosa sombra do poder, como o jornalista Assis Chateaubriand. Nessa rica e densa teia que forma palco para a política brasileira, há um aspecto igualmente instigante. É o conjunto de textos com relatos e análise da política de Goiás. Esse é um capítulo ainda carente de obras mais completas e interessantes. Nas últimas décadas, tenho me dedicado ao estudo da trajetória de personagens políticas de Goiás, como Pedro Ludovico Teixeira, o fundador de Goiânia. Entre as figuras mais expressivas da história sociopolítica de Goiás está Alfredo Nasser, ministro da Justiça e Negócios Interiores do governo João Goulart e uma das vozes goianas no Parlamento. Nasser residia em um barracão que ele construíra no fundo do quintal da sobrinha Stela Nasser, na Rua 74, em Goiânia, conversava todos os dias com os políticos Camargo Júnior, José Luiz Bittencourt, Hélio Seixo de Brito, José Fleury e Dante Ungarelli. Ali era o ponto de conver-

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gência de encontros dos oposicionistas ao ludoviquismo. Alfredo Nasser despontou pela inteligência brilhante, lucidez das análises que fazia e ainda pela eloquência do discurso. Essa aguda percepção de sábio o permitia, às vezes, antever o futuro, acerto notável. Recentemente deparei-me com uma entrevista a mim concedida, em março de 1992, por Dante Ungarelli, um dos pioneiros de Goiânia. Na fala, Ungarelli observa: "Um dia eu estava na casa do professor Alfredo Nasser com Camargo Júnior, Hélio Seixo de Brito, Randal do Espírito Santo e José Fleury quando lá chegou um moço magro, tímido,

com pouco mais de 22 anos de idade. Indiferente a tudo, sentou-se e ficou observando a figura de Alfredo Nasser que a ele dedicava atenção especial ao ponto de interromper uma reunião e retirar-se com o jovem para a outra sala e ali demorarem quase uma hora conversando. Certo dia, perguntei a Alfredo Nasser porque todas as vezes que esse moço chegava ele interrompia a

nossa reunião para atendê-lo separadamente e com ele ficava confabulando por várias horas. Nasser respondeu-me: "Ah, Dante, esse jovem é o goiano mais inteligente, idealista, honrado e corajoso da sua geração. Vai ser o maior jornalista de Goiás e, se ingressar na política partidária e seguir carreira, será governador do Estado. Esse moço, Dante, é filho de várias gerações dos fazendeiros que desbravaram o Centro-Oeste goiano e amigo da minha família. Gosto dele como o filho que não tive. Preste atenção nele, Dante, o Batista Custódio vai mudar a história da imprensa de Goiás." A vida de Alfredo Nasser contém capítulos interessantes que denotam a vivacidade de um homem culto, de grandes ideais. O velho político goiano sabia distinguir o joio do trigo. À força de um simples olhar, separava o homem de valor de um canalha. Sua perspicácia permitia-lhe apontar com antecedência o que viria a ser um jornalista combativo, destemido, como Batista Custódio, à frente do Cinco de Março e depois, do Diário da Manhã. O cenário político nacional tem figuras brilhantes, tipo Getulio Vargas, Juscelino Kubitschek e Assis Chateaubriand. O capítulo político de Goiás igualmente possui nomes consideráveis: Pedro Ludovico Teixeira, Alfredo Nasser e Batista Custódio. Cada um na sua seara e em seu momento, eles compõem o ponto comum de uma história política que continua viva. Atualíssima e pulsante. (Luiz Alberto de Queiroz, escritor, autor de: O Velho Cacique (sobre Pedro Ludovico, 8ª Edição); Iris, o Carisma (sobre Iris Rezende, 3ª Edição); Marcas do Tempo (de Getulio Vargas a Tancredo Neves); Memorial de um Rebelde (2ª Edição), entre outros)

para que segurasse a publicação até a próxima semana, na esperança de resolver a situação com o governo. Entreguei as quase dez laudas ao Lázaro, ele leu uma a uma, releu e não achou sequer uma linha que se referisse à família de Iris.“Tem alguma coisa errada”, disse Lázaro, completando: “O fulano de tal leu para mim uns comentários deploráveis sobre a família de Iris que estariam nesse artigo e não vejo nada disso. Onde está o erro, Batista?”, indagou todo desconcertado com a maneira agressiva que havia chamado atenção do Batista. “O erro, Lázaro, está nas mãos infectas de gente que até pouco tempo levava uma vida nababesca bancada com o gordo salário que recebia do DM e me enchia de elogios e afagos tão falsos e interesseiros como os que hoje depositam aos pés do Iris.”

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Resultado da ópera bufa: o artigo verdadeiro não foi publicado, outros foram mas este não, sou testemunha do seu conteúdo (guardo comigo uma cópia do original até hoje). Porém, Iris, inflamadíssimo pelos puxa-sacos oportunistas (toda gente desse naipe é), preferiu acreditar que o tal artigo existiu e iniciou uma perseguição ao DM até que conseguiu fechá-lo. Batista viveu dias infernais. Os “amigos” desapareceram, a família se desintegrou, os políticos que viviam à cata de espaço no jornal não atendiam aos seus telefonemas, vendeu os poucos bens que lhe restaram e passou um ano com despensa vazia numa chácara emprestada por Mané de Oliveira. Sabe que ia lá visitá-lo? Valterli Guedes, Gabriel Nascente, Potenciano Monteiro (já falecido), Samyr Helou (também falecido) o Luis Carlos e eu. Sem contar o filho Fábio Nasser que foi morar com o pai e o fiel Orlando Conde, um “faz-tudo”, que só abandonou Batista quando a morte lhe buscou. Não se pode omitir nunca o nome de Ronaldo Caiado nessa história. Deputado federal e presidente da poderosa UDR, procurou Batista e garantiu: “Vou ajudar você a reabrir o DM”. A essas alturas, até o Batista duvidou. Pois Caiado, com sua lealdade e braveza que trouxe do berço, fez uma série de reuniões com os ruralistas, políticos, amigos e quase que como uma ordem convocou todos: “Cada um como puder, tem de ajudar o Batista a reabrir o jornal”. Entre eles, havia alguns que se afastaram do Batista, mas não tiveram coragem de contrariar Caiado. Aí começou o longo caminho de volta do Diário da Manhã, que completa 34 anos. Nessas três décadas, outras crises viriam. Mas isso é assunto para outra história pautada no idealismo, força, coragem e persistência para servir de exemplo para os jovens que estão chegando agora ao jornalismo, com a cabecinha cheia de ilusão. Há flores nessa seara? Sim, mas os espinhos não são poucos. Como em qualquer profissão, há alegrias, conquistas, decepções e glamour. Mas nada que a persistência carregada com os pés ficados no chão não vença. (Suely Arantes, jornalista)


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Os 34 anos do DM, os 50 anos da ditadura e a luta contra o pensamento único Marcus Vinícius Especial para o Diário da Manhã Este ano de 2014 é de muita significância para o País. Muitas são as datas históricas, que contam neste ano a partir deste mês de março. Na virada do dia 31 de março de 1964 para o dia 1º de abril, civis e militares mergulharam o País na sua mais longa, dura e infame ditadura. O golpe de 1964 completa 50 anos e todos os brasileiros e brasileiras que lutaram contra o arbítrio tem reflexões a fazer sobre o período mais sombrio de nossa história. É também neste ano de 2014 que completa-se no dia 15 de junho, 30 anos do primeiro comício pelas Diretas Já. Foi aqui, em Goiânia, na Praça Cívica, que dezenas de milhares de goianos foram às ruas para pedir a volta da democracia e a eleição, pelo voto direto, do presidente do Brasil. A estas duas datas, soma-se no dia 12 de março os 35 anos de fundação do Diário da Manhã. E é impossível dissociar a história deste veículo da luta pela democracia em Goiás e no Brasil. Cria do Cinco de Março, semanário que tanto incomodava a ditadura em Goiás, o Diário da Manhã apoiou as lutas pela redemocratização desde o nascedouro da campanha pela Anistia até os primeiros movimentos da campanha Diretas Já. Um jornal, como todo veículo de comunicação, tem avanços e recuos. Mas na soma dos seus 35 anos, o DM esteve mais próximo das lutas democráticas do que à favor dos governos de exceção. E é isto que conta. Democrático, o DM teve na sua Redação jornalistas de todas as mati-

zes partidárias e ideológicas: udenistas, peemedebistas, comunistas, trotskistas, petistas, tucanos e pefelistas. E como isto foi possível, pode perguntar-se o leitor. Como administrar uma salada ideológica destas? Isto só foi possível porque o editor-geral, Batista Custódio, foi o primeiro a acreditar na liberdade de expressão. Todos os pensamentos estavam representados nas páginas do Cinco de Março, e

pelo povo: João Melchior Goulart. O que se vê na Folha, Globo, Estadão e adjacências, é a falta de compromisso com a pluralidade. Prevalece o pensamento único. Há um insano combate aos governos trabalhistas de Lula e Dilma e um ódio desmedido ao Partido dos Trabalhadores e seus principais líderes. Assim como em 1964 estes mesmos jornais pediram em seus editoriais o

tos para cumprirem o seu papel de guardiães da Constituição e fiscais do poder Executivo. Querer como querem alguns órgãos de informação, usurpar os poderes do Legislativo e encurtar o raio de ação do Executivo é conspirar contra a democracia. Quem segue alguma religião, cristã ou não, sabe que o maior truque do diabo é fazer a humanidade acreditar que ele não existe. O mal existe.

depois, nas páginas do DM, com o sincero objetivo de tornar plural a opinião. Cabe ao leitor tirar suas conclusões, sem cerceamento algum. Hoje não se vê este tipo de postura na imprensa. Vivemos tempos bicudos no jornalismo, onde as Redações dos grandes jornais do eixo Rio-São Paulo expressam alinhamento incondicional às teses do Consenso de Washington, as mesmas teses que num outro tempo, 50 anos atrás, levariam à deposição de um presidente legitimamente eleito

golpe para deposição do presidente João Goulart, hoje encampam sem pudor o papel de oposição aos governos progressistas. É certo que a imprensa tem um papel importante na democracia. É inverossímil dizer que a mídia tem papel de fiscal do poder. Isto faz parte da tentação autoritária que alguns articulistas tentam cravar nas páginas dos jornais. Fiscal do poder é o próprio povo, que o faz através do voto, ou através do Parlamento, com deputados e senadores legitimamente elei-

Está no coração dos homens e se faz presente pelos seus atos. Meu saudoso pai dizia: “Filho, Deus fez o mundo em seis dias e descansou no sétimo, o diabo, infelizmente, nunca dorme. Por isto, orai e vigiai”. Nestes 50 anos do golpe de 1964, todos nós, amantes da democracia, temos que ficar atentos contra as mentiras que os setores mais conservadores da mídia tentam incutir na população. Mentem que o povo “não quer a Copa”. Pesquisa feita pelo instituto Ibope mostra que na média na-

cional, 58% dos brasileiros apoiam a Copa, contra 38% que são contra. A maior parte dos que são contra a Copa são os ricos. Entre os que ganham até um salário, o apoio vai a 68%. É por estas e outras mentiras que o mesmo Ibope revela que 75% dos entrevistados nunca leem jornais e 85% nunca leem qualquer revista. Apenas 6% dos brasileiros entrevistados disseram ler jornais diariamente. Os jornais impressos são o meio predileto de informação para apenas 1,5%. O DM tem remado contra a maré do pensamento único. O sucesso do caderno OpiniãoPública é um exemplo de como é importante dar direito à opinião aos mais amplos segmentos sociais. É certo que o DM não é um jornal pronto e acabado. Convive, desde o seu nascedouro, com problemas de caixa. É deficitário, porque ao contrário dos grandes jornalões, não tem ao seu lado uma emissora de TV, uma rede de rádio ou outros meios para ampliar sua capacidade de faturamento. A história do DM, que já foi vítima de toda sorte pressões, que levaram-no uma vez ao fechamento, é a prova viva do quanto o Brasil precisa discutir um marco regulatório para a mídia, que impeça a concentração nas mãos de uns poucos grupos econômicos como é hoje. Se não existisse, o DM teria de ser inventado. Se fosse fechado, deveria ser reaberto. Se extinguirse, merece ser recriado. Parabéns a Batista Custódio e todos aqueles que colaboraram e ainda colaboram com a história do Diário da Manhã. (Marcus Vinícius, jornalista, economista, foi repórter e depois editor de política do DM entre 1991 e 2002)


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Conformidade e Liberdade Aureo Ludovico de Paula Especial para o Diário da Manhã Esses são tópicos que geram tão consistentes argumentos que o debate frequentemente fica prejudicado por vieses cognitivos. Tornaram-se dogmas que precisam ser matizados, sendo possível que suas diferenças sejam apenas questão de medida e contexto. Sabe-se desde os anos 50, com os experimentos de Solomon Asch sobre a conformidade, que basta alguém ou algumas pessoas dizerem respostas absurdas a uma questão óbvia, que 75% das pessoas o acompanharão. Entre as principais "patologias" do pensamento de grupo destacam-se a radicalização de ideias, a animosidade e a supressão do dissenso. Assim, fugir das armadilhas do pensamento de grupo, escapar da “tirania da maioria”, não é tarefa fácil. Ato contínuo, estimular a existência de pessoas ou grupos de pessoas "do contra" é fundamental. Essas figuras "do contra" embora frequentemente produzam cizânia, produzam atritos de elevado custo emocional, também costumam induzir à contextualização e reformulação de pensamentos, ideias e argumentos. Qualificam a diversidade. Para funcionarem como efetivos contrapesos, é preciso que haja conflito. A fragmentação e o confronto são essenciais. Apesar de contraintuitivo, o equilíbrio, a harmonia, nasce do atrito. Atrito pautado pelo paradoxo de travar uma luta incessante contra determinadas ideias, entretanto, apenas o podemos fazer com a ajuda das ideias. Não conformar, e aceitar que a soma das racionalidades individuais não produz uma racionalidade coletiva, conforme defendido no teorema da impossibilidade de Arrow. Como já alertava o filósofo John Stuart Mill, existem muitas maneiras de oprimir uma pessoa. Ciente da prevalência da cidadania passiva, os principais atores a fazê-lo são o Estado, com sua polícia, suas leis e tendências de hiper-regular, e a sociedade, por meio de suas opiniões prevalentes. A mais objetiva maneira de contrapor-se, não conformar-se a isso, é assegurar ao indivíduo um cerne de liberdades não negociáveis, entre as quais se destacam a de pensamento e expressão. A liberdade, por sua magnitude e

transversalidade, perpassa outros importantes tópicos. Serve mais para desestabilizar visões de mundo do que para referendá-las. A liberdade de expressão implica inclusive, ser a favor da liberdade de exprimir com precisão as opiniões que mais se despreza, ou aceitar afirmações exatamente sobre aquilo que não se quer ouvir. Serve para articular produtivamente dissensos e consensos. Em um mundo mutante, com composição plural, a liberdade de pensamento implica, em seu extremo, até em conviver com o fundamentalismo secular. Saúdo os 34 anos do Diário da Manhã e os 55 anos de liberdade de expressão. Saúdo o seu corpo editorial, e em especial, o Sr. Batista Custódio. Não é difícil imaginar a dificuldade por que passou toda a mídia, em particular o Diário, em se equilibrar entre a Conformidade e Liberdade. Em diferentes períodos de crise e desilusão, foi assertivo o suficiente para atenuar a radicalidade e delírios narcísicos de onipotência, que ainda tanto seduz. Atento a realidade que os meios de comunicação proporcionam, às vezes, uma exibição desproporcional da importância de determinado fato menor, apresentou-se ao longo do tempo com uma idiossincrática disposição de balancear o trato de assuntos essenciais, que nunca são parcelados, e os problemas globais que são cada vez mais essenciais. Disponibilizou acesso à cultura geral, que estimula a contextualização de qualquer informação ou de qualquer ideia e equilibrou a cultura científica e técnica, que parcela, desune e compartimenta os diferentes saberes. Não cedeu à tentação de trocar repercussão por exatidão, versão por fatos, nem textos moldados para não ferir suscetibilidades. E ainda, permaneceu atento a ideia de ofertar espaço ao ativismo político-ideológico, entretanto, protegendo a saúde das instituições. Ainda que tenha algo de ficcional a neutralidade absoluta e o equilíbrio na emissão de juízos de moral e de valor, impera no corpo editorial do Diário a subsunção de discussões metafísicas em favor das discussões culturais e liberdade. Parabenizo o Diário da Manhã pelos 34 anos de jornada e pelo adequado balanço e calibragem entre Conformidade e Liberdade. (Aureo Ludovico de Paula, médico, doutor pela Universidade de São Paulo)

O sonho continua João Soh Especial para o Diário da Manhã “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor". Esse pensamento de Johann Goethe bem que poderia ser a história de Batista Custódio e o Diário da Manhã em sua longa trajetória. É inegável e inquestionável o sucesso editorial obtido pelo DM junto aos seus leitores e na população do estado. A ousadia e a determinação de Batista Custódio fizeram do Diário da Manhã uma referência nacional de luta pela liberdade de imprensa justamente no período de transição política que o país experimentava. Mas como disse o notável Mário Quintana "sonhar é acordar-se para dentro", Batista enfrentou boicotes econômicos e políticos e até incompreensões familiares e de colaboradores muito próximos. Seguiram-se anos de dificuldades enfrentados com dignidade, coragem e competência. "O sonho não acabou" como escreveu o jornalista Fábio Nasser nos piores momentos da história do DM e da política de Goiás. E Batista se inspirou numa frase de Che Guevara "luta e serás livre na vida" e num pensamento do grande Fernando Sabino que disse:

"Façamos da interrupção um caminho novo, da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sonho uma ponte, da procura um encontro!" para retomar a trajetória vitoriosa do jornal. E assim foi.. O Diário da Manhã continua vivo, desafiando os pensamentos retrógados tanto da direita quanto da esquerda, que insistem em tentar impor ideologias na linha editorial do jornal através de boicotes econômicos. Batista, "Nunca se afaste de seus sonhos, porque se eles forem, você continuará vivendo, mas terá deixado de existir", disse Mark Twain. E mais: "O sonho é a satisfação de que o desejo se realize", escreveu Sigmund Freud. E você, Batista, realiza. (João Soh, jornalista)

A vida, seus encantos e desencantos Felicíssimo Sena Especial para o Diário da Manhã A roda da vida leva-nos a tantos caminhos e descaminhos que provocam sabores, dissabores, alegrias, tristezas e todas as variações que a alma humana comporta. Na primeira infância tudo é encanto e descoberta. Deus na sua infinita sabedoria contenta a uns com pouco e aos que querem demais nem sempre contempla. Na juventude está assentada a estrutura para a vida toda, nessa fase o ser humano constrói sua rota, consegue fazê-la conforme suas definições de caráter e de coragem. Os caminhos são vários e estão à escolha de cada um. Nessa etapa, é que se constrói um verdadeiro Homem, ou um arremedo dele. Hábitos, costumes, parcerias, companhias, sociedades, formação profissional, com raras exceções, são edificadas antes de chegarmos ao meio da vida. E aí, estaremos definidos. É bem verdade que os descaminhos existem e que podem nos alcançar a qualquer

tempo, entretanto, um jovem bem formado e com boa estrutura familiar, com raras exceções, será um homem de sucesso. Essa palavra mágica comporta as mais variadas interpretações, mas a que vale mesmo é aquela que seu próprio usuário lhe atribui. Fazer sucesso é, em síntese, ser feliz e há poucos dias a grande imprensa brasileira noticiou que no Rio de Janeiro os mais felizes são os que moram no morro, o que a nós outros pode parecer estranho. Entretanto, é mesmo assim, só o ser humano fala com sua própria alma, desvenda seus próprios mistérios, suporta sua própria cruz, fazendo-o com lágrimas nos olhos ou com sorriso nos lábios, é incompreensível. É preciso que nos eduquemos para sabermos fazer essa opção de sorrir ou de chorar por uma mesma razão, levando a vida em frente da melhor maneira possível. Há motivos óbvios para alegria e para a tristeza, mas muitos deles podem ser convertidos, basta que lutemos por isso. Os mesmos motivos que encantam podem entristecer e tudo o que nos entristece pode ser sublimado ao ponto de convivermos com sua lembrança sem sofrimento e sem angústia. (Felicíssimo Sena, advogado).


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Se Batista Custódio não existisse pelas mãos de Cervantes, Gabo o inventaria Nilson Gomes Especial para o

Batista Custódio dos Santos não existe. É um personagem criado por Miguel de Cervantes Saavedra, na fornada em que assou Dom Quixote. Tão irreal que todo governo tenta fritá-lo e... quem sai chamuscado é o puxa-saco encarregado da queimação. Se Cervantes, em dia iluminado, tivesse deixado escapar a oportunidade de gestar Batista, a obra teria sido adiada por mero meio milênio, mas não haveria como dispensar sua presença no planeta. Gabriel García Márquez, o Gabo, o criaria. Só uma pessoa de ficção atravessaria uma trajetória como a de Batista. Se fosse protagonista de um gibi ou desenho da Pixar, era um sujeito correndo à frente de dezenas de engravatados com pistolões à mão para o matar. O enredo se encerraria com os poderosos encaixotados no esquecimento e Batista rindo dos perseguidores. A história de Batista é única, dá uma série de livros se escritos por gente do ramo. Saiu da lavoura em Caiapônia, foi gênio precoce detectado por professores em Goiânia, montou jornal sem um tostão no bolso, brigou com tudo quanto é forma de poder, escapou de jagunços, contratou as maiores estrelas da imprensa nacional, tombou temporariamente numa falência arranjada por Executivo e Judiciário, enterrou 90% dos que o julgavam morto. Contada em detalhes, a biografia de Batista deixa o narrador com fama de mentiroso, de tão irreal. Mauro Borges ainda era vivo quando escrevi no e falei em entrevista à revista Bula que ele havia mandado matar Batista. O acusado não contestou. Perguntado sobre o assunto alguns dias antes do lançamento de um livro, ele me disse que não se lembrava, pediu para repetir a acusação, falei mais alto e ele negou. Mas o fato é que pistoleiros, alguns deles com cargos na área de segurança do Estado, empastelaram o jornal Cinco de Março, semanário fundado por Batista. As novas gerações podem achar que empastelar é comprar uma porção no QG ou na feira. Empastelar é um verbo da época em que conheci Batista, em 1979. Comecei na faxina em sua gráfica, então a maior do Centro-Oeste, superior até à do Congresso Nacional. Comparada à dele, a de O Popular era um sebinho, gíria para oficinas minúsculas. A Rosana Artes Gráficas mudou de endereço e nome algumas vezes, mas continuou gigantesca. Funcionava dia e noite, 24 horas ininterruptamente, com encomendas do Brasil inteiro. Meu serviço inicial era percorrer a gráfica com uma espécie de ancinho, um pedaço de ferro, recolhendo papel jogado fora pelos impressores. Saía do Colégio Gonçalves Ledo por volta das 11 da noite, chegava na Rosana à meia-noite e saía às 6 da manhã. Para nós, da gráfica, ainda mais um badeco (aprendiz) igual a mim, Batista era inatingível, um homão lá de cima, o hômi. Era grandão mesmo, fortão, bravo que só ele. O diretor da gráfica era Américo Custódio, irmão de Batista. Um cuidava da oficina, o outro do jornal. Falei com meu chefe imediato que desejava aprender outra profissão, afinal, havia sido aprovado entre os primeiros em duas escolas técnicas, concorrência acirradíssima, e catar papel não era exatamente a realização de um sonho. O chefe disse que para ser “oficial gráfico” (sim, oficial gráfico, como o oficial sapateiro, oficial costureiro...) teria de fazer o curso no Senai durante três anos. Afrontei-o: “Aprendo qualquer desses serviços em três semanas”. Ele não deixou. Como a gráfica era uma bagunça do ponto de vista administrativo (ninguém vigiava o cartão-de-ponto, era uma roubalheira sem fim), passei a ficar também durante o dia, observando a moçada trabalhar. Na sessão de chapa (um anacronismo que só se vê em museu ou em raríssimas coleções – eu, por exemplo, ainda tenho uma seção de chapa) não pude ficar porque atrapalhava o pessoal. Não me deixavam ser impressor por causa dos riscos – vários foram mutilados, como o Célio Galdino, que hoje é um artista gráfico de primeira grandeza, e o Baltazar Seabra, o melhor revisor de todos os tempos (ambos perderam dedo, como o Lula). Pedi para ser linotipista e ninguém botou fé porque duvidaram que soubesse datilografia (mais coisa do passado remoto, linotipista e datilógrafo).

Havia feito o curso de datilografia na escola dos padres em Guaraí (o Colégio Cristo Redentor, outro personagem que daria um livro: nos anos 1960 e 1970, era o único estabelecimento de ensino com curso ginasial daquela parte do hoje Tocantins, seu exame de admissão faria o vestibular do ITA e o Enem da USP parecerem concurso municipal para aliado do prefeito. Fiquei mais de 30 anos sem voltar ao Guaraí, estive lá em agosto de 2013 e perguntei para várias pessoas onde era o Colégio Cristo Redentor. Ninguém conhece. Claro, foi derrubado há muitos anos. Hoje, o curso ginasial mudou de nome e é feito em 30 dias por correspondência ou à distância). Voltando à vaca fria, esquentei o teclado da velha linotipo de tão rápido para “digitar”. O principal defeito dos linotipistas, a rebatida (ou seja, tentar consertar a letra “clicada” errado), não me atingia porque a professora Nazaré, lá na escola dos padres em Guaraí, punia com rigor qualquer erro e com pena capital a rebatida. Passei no teste para linotipista. Durei pouco no cargo de linotipista da gráfica dos Custódio. Como em colégio de padre se aprende, mesmo!, Português e Latim, e em casa recebi uma educação rigorosa no tratamento com o idioma de Camões, corrigia os textos que pegava para “digitar”. Meu pai era uma espécie de Francisco, o do Zezé & Luciano, e, mesmo morando num povoado (Tabocão) que não tinha correio, comprava por correspondência os livros anunciados nas revistas “Manchete”, “Cruzeiro”, “Fatos & Fotos”, que ele adquiria no Guaraí, junto com o se-

deco na gráfica, eu vinha de meses morando na rua e estava esquálido, apesar de comer as sobras de marmitas das garis (as funcionárias da Comurg não conseguiam devorar o rango todo e deixavam as quentinhas ainda morninhas para nós, meninos de rua, encostadas nas árvores do Centro de Goiânia; meu ponto de pegar marmita era numa viela entre a Rua 3 e a Avenida Anhanguera). Baixinho, macérrimo, meu destaque era a cabeça, descomunal para aquele corpo franzino. Phaulo achou que fosse doença advinda do chumbo com que se faziam as linhas para impressão (para dar ideia a quem não conheceu essa arte gráfica: era como se colocasse o seu tablete sobre chumbo derretido e, para aparecerem as palavras na tela, você digitasse sobre um teclado roto até o chumbo endurecer). E, de tanto ele falar que eu estava doente, saí da linotipo. Phaulo pedia para os colegas mais velhos levantarem a camisa para me provar que quase todos ali haviam sido operados de apendicite e úlcera, que a gente supunha provocadas pelo chumbo. Sem contar que o chumbo faz cair o cabelo e acaba com as vistas – hoje, o cabelo é ralo e uso óculos, mas nada de corte na barriga e a cabeça continua do mesmo (e grande) tamanho. Todo mundo achou que estava doido quando pedi para mudar de cargo... para baixo. Aprendi o serviço de blocador que, como diz o nome, é fazer blocos, intercalar as folhas, dar acabamento no serviço. Ganhava a metade do salário de linotipista. Mas não era essa a grande notícia da gráfica. A novidade era o que o pessoal chamava de

um dos cinco melhores do País. Mas a mentalidade de alguns em Goiás é de uma província, de poucos avanços desde a chegada dos bandeirantes. Para cada Batista Custódio há no Estado 1 milhão de eunucos mentais. Fofoca, governantes com pulgas atrás das descomunais orelhas, inveja, falatório, essas coisinhas mais letais que os jagunços do coronelismo. Ary Valadão já havia saído e Iris Rezende vencera Otávio Lage, o último governador eleito antes da noite da ditadura. Quem não sabia o que era ditadura não perdia por esperar. Aliás, perdeu tudo esperando. E mais ainda durante o mandato. Batista cai nos golpes dos políticos e vira compadre deles. O compadrio dá lucro aos áulicos, mas virar compadre só lhe dá encrenca. Iris era padrinho (no sentido católico do termo, não na pouca-vergonha dos significados atuais de padrinho) de Fábio, o talentosíssimo filho de Batista e Consuelo Nasser, uma das mais belas, inteligentes e guerreiras mulheres que Deus permitiu que passassem pelo Estado de Goiás. Em tese, vivíamos numa democracia. Nada de pistoleiro fazendo armadilha para matar Batista. Chegara um novo método para aniquilar: impedir que empresários anunciassem no jornal que não servia ao mandante de plantão (o deputado Roberto Balestra entende bastante disso na sua Inhumas). O DM, com tantas estrelas, incomodava Iris e seus asseclas – muito mais aos asseclas que a Iris. O fim foi trágico: as secretarias estaduais asfixiaram os anunciantes, que retiraram suas publicidades, e o DM entrou em declínio. Eu estava de fol-

manário Cinco de Março, vendido num bar que tinha sinucão, na beira da BR 153, a Belém-Brasília. Vizinhos e parentes chamavam seu Augusto de doido porque pagava num livro uma semana de seu serviço de peão de roça, marceneiro, pedreiro, artesão, uma mistura que se fosse na comunicação a gente batizaria de “multimídia”. Uma das aquisições foi um Dicionário. Avisaram a um amigo do meu pai no Guaraí, para onde não havíamos nos mudado ainda, que chegara uma encomenda. Foi lá buscar e voltou com o bichão, um lepa de Dicionário, da grossura de um adobe (não, nada do xará da tecnologia: adobe é o tijolo sem o forno da cerâmica, que não tinha no Tabocão). Meu pai nunca permitiu que seus cinco filhos trabalhássemos com ele na roça ou em construções. Nosso serviço era estudar (se bem que, escondido, todos fazíamos bicos). Seu argumento: “O pior advogado do Guará (à época ainda não tinha o “í”) ganha mais que o melhor pedreiro”. Então, não fomos peões nem serventes. Deixava tarefa mais difícil: decorar 50 palavras por dia, a grafia e o significado. Ele chegava à noite e perguntava sobre as 50, mandava escrevêlas e, duas horas depois de fumaça de lamparina nas ventas, acabava o teste. Diário. Se tirasse bomba na escola, surra de lanhar as costas. O resultado é que, ao chegar a Goiânia, aos 13 anos, meu vocabulário era maior do que eu. Não deixaria, de jeito nenhum, linotipar frases com erro só porque o cliente enviara daquele jeito. Chegamos a imprimir serviço corrigindo os erros, o cliente recusava, eu levava uma “sentada” daquelas de sair lasca, e rodávamos novamente as porqueiras, agora com as agressões ao idioma. Mas não foi suficiente para me tirarem a cadeira de linotipista. Deixei a função aconselhado por meu primeiro ídolo, Phaulo Gonçalves, que fazia as páginas de humor do Cinco de Março, o Café de Esquina. Antes de trabalhar como ba-

“loucura do seu Batista”, o personagem do Cervantes. O quixote da Avenida Goiás (depois, 24 de Outubro e, agora, Anhanguera) endoidara de vez e queria montar um jornal diário. Coisa de maluco. No final dos anos 1970, o Estado tinha 5% das indústrias hoje instaladas. O comércio, fraquíssimo. O empresariado era composto de gente que acabara de sair da roça, não dava importância a seu empreendimento ser anunciado no jornal (ou seja, mudou pouco nos últimos 40 anos). Ninguém tirava da cabeça do Batista (aliás, brilhantes, ele e sua cabeça). E eis o . Acabou-se o sossego do Batista – se é que algum dia já teve tranquilidade na vida. Se até hoje o maior empregador e o maior anunciante são a mesma pessoa jurídica, o governo do Estado, imagine na época de Ary Valadão... Sem juízo, completamente maluco, Batista queria não apenas fazer um jornal diário, queria-o todos os dias – sim, os demais diários não consideravam a segunda-feira um dia da semana. Mais ainda: Batista sonhava alçar o DM ao topo da imprensa nacional. Para isso, colocou o patrimônio em jogo e contratou os mais celebrados (e, portanto, caros) profissionais do Brasil. A gente não podia, mas passava (no mínimo, olhava) pela Redação e via o Paulo Henrique Amorim, o Aloysio Biondi, o Washington Novaes, o Reynaldo Jardim... Uma constelação. Gente, mas aquele ali não é o Biondi, que acaba de ganhar o Prêmio Esso de Economia? Ué, mas o Novaes não tá no Jornal do Brasil com o mais inovador projeto da imprensa brasileira, com o Caderno de Cultura comandado pelo criativo Jardim? Nada, estavam todos no. Batista contratou também os melhores da imprensa goiana. Enfim, coisa de sonhador. Mesmo. Até o sonho acordar pesadelo. No início, deu tudo certo. Aplausos. Jornal de primeiríssima. Academia Brasileira de Letras escolheu o DM como

ga no dia em que o jornal foi lacrado. Não havia celular, não tinha telefone, mas fiquei sabendo. Fui lá checar. Era verdade. Xinguei Iris naquele dia e pelas três décadas seguintes. Batista retomou a amizade com ele; eu, que nunca gozei dessa proximidade, continuo querendo distância. A empresa de Batista era uma potência. Além de um dos cinco melhores jornais do País, coalhado de estrelas do jornalismo, e da maior gráfica do Centro-Oeste, Batista tinha diversos outros investimentos, empresas e imóveis. Era dono de duas emissoras de TV (as hoje Record e Goiânia), três de rádio (as agora Executiva, 730 e Daqui) e três diários (o DM, o Diário da Manhã de Cuiabá e a Folha de Goiás, com nome corrigido). Foi tudo arrolado na falência fraudada pelos quatro poderes (o Judiciário, o Executivo, o Legislativo e o aquisitivo). Batista passou a morar de favor num barracão emprestado pelo radialista Mané de Oliveira no Parque Amazônia, quando o hoje bairro nobre era periferia. Com a ajuda de amigos como os jornalistas Suely Arantes e Luiz Carlos de Morais Rodrigues, Batista ainda tentou se reerguer, lançando o jornal Edição Extra, mas não houve escapatória: o jaguncismo fiscal mata, enterra e joga pá de cal sobre o sepulcro. Qual fênix, provando novamente que é um personagem que não existe, Batista ressurgiu. Aos poucos, refez a sua gráfica e montou o jornal. Queria espantar os fantasmas e renegou o nome Diário da Manhã. Preferia batizar o novo rebento de Diário da Nova República. Foi convencido a abandonar a jeguice e eis, de novo, o Diário da Manhã. Mal sabia que seu martírio estava só começando. Desde o ressurgimento, o DM enfrentou todos os governos. Todos os governadores, ao menos uma vez, tentaram fechar o Diário da Manhã. Todos: Iris Rezende, Maguito Vilela, Alcides Rodrigues e Marconi Pe-

rillo – com as devidas escusas a dois que já morreram e não podem se defender, Henrique Santillo e Onofre Quinan, ele, como todos os poderosos desde que o mundo é mundo, também odiavam imprensa livre. Todos. Uns, diretamente; outros, através de paus-mandados. Como não podem aniquilar um personagem que não existe, têm de conviver com Batista Custódio mais vivo que nunca. Assim como a democracia, só tenho a agradecer a Batista Custódio. Por seu intermédio fui trabalhar na redação, na qual conheci alguns de meus inspiradores, fiz amizades que são para sempre, desfrutei do convívio de uma gente sem igual, a começar do próprio Batista. Alguns heróis da resistência continuam com Batista, como Suely Arantes, Luiz Carlos, Ulisses Aesse, Luiz Augusto Pampinha e Édson Costa. Pode existir no mundo um coração do tamanho do que Deus plantou no peito de Suely Arantes, maior que o dela não existe. Suely também não existe de tão generosa, tão altiva. Só no DM, num time reunido por Batista Custódio, se encontra uma pessoa tão maravilhosa como Suely Arantes. Se Batista Custódio não tivesse feito por mim e pela liberdade de expressão o tanto que fez em 55 anos de militância, só por um dia ter me apresentado a Suely Arantes eu já o consideraria um dos mais importantes de minha história. Esse é o Batista Custódio de tantas guerras, um homem tão à frente de seu tempo que ainda cultua a amizade, essa velharia abandonada pelas novas formas de relações, os “amigos” do Facebook, os “seguidores” do Twitter. Ainda bem que sou amigo e seguidor é de Suely Arantes e Batista Custódio, por coincidência, dois raros que ainda não acham que as mídias sociais foram invenções mais importantes que a roda, a imprensa e o antibiótico. Apesar de ainda usar máquina de datilografar, Batista Custódio não envelhece: o portal do DM é o mais acessado de Goiás, superior ao de seu concorrente de sempre, O Popular. Aliás, no quesito, O Popular parou no prédio da Avenida Goiás e, se possível, quer voltar a ser composto em linotipo e impresso numa máquina manual Heidelberg. Fechar o site para assinantes numa praça tão democrática quanto a internet é voltar ao chumbo – o das linotipos, não ao da ditadura ou dos pistoleiros dos coronéis políticos. Além de Ulisses, Suely, Batista, Pampinha, Édson Costa e Luiz Carlos, para citar apenas os que ainda brilham na Redação, conheci centenas de pessoas maravilhosas no Diário da Manhã. Presto homenagem a todas elas cultuando um colega que já se foi, Phaulo Gonçalves. É um troço egoísta, homenagem a mim mesmo, porque foi Phaulo quem me deu a primeira oportunidade de publicar texto em jornal, mas me considero um privilegiado. Eu editei crônicas do Carlos Drummond (cheguei a conversar com o próprio, irritado porque eu consertara uma frase, num episódio que ainda vou pesquisar para rememorar). Eu polemizei com Bernardo Élis e Carmo Bernardes. Eu revisei com Baltazar Seabra. Eu diagramei com o Leandrinho. Eu discuti com Biondi. Eu fui amigo de Consuelo Nasser. São oportunidades que não voltam – e não apenas porque eles já morreram: o nível também está debaixo da terra. Ainda bem que sobraram Batista, Ulisses, Suely, Luiz Carlos, Pampinha, Édson Costa. Com uma nova geração, capitaneada por Sabrina Ritiely e Arthur da Paz, certamente surgirão outros tão inteligentes quanto – e a Sabrina e o Arthur são provas de que Batista continua craque para revelar talentos. Milhares desses talentos se foram. Fizeram pós-graduação no DM e arrumaram vaga em outras empresas por esse Brasilzão de meu Deus. E que este meu Deus continue protegendo Batista dos governos. Os moinhos de vento podre vão continuar tentando envergar Batista. Em vão: ele não se dobra – a não ser para se ajoelhar e pedir a Deus que conserve a Seu lado o Fábio, a Consuelo, o Américo, o Bernardo Élis, o Carmo, o Baltazar, o Leandrinho e tantas almas maravilhosas que lá de cima velam por nós. E que o capeta carregue logo para si os trastes que tanto tentam enterrar novamente o Diário da Manhã. Muito obrigado, Batista, pelas oportunidades. Inclusive, a deste texto. (Nilson Gomes, jornalista)


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Trinta e quatro anos do DM Getulio Targino Lima Especial para o Diário da Manhã O Diário da Manhã já fez outros aniversários: de trinta, de trinta e um, de trinta e dois, de trinta e três anos de vida. Mas hoje completa trinta e quatro anos! Compareci a outros aniversários, como o de trinta e três anos, mas a este também não poderia deixar de estar presente, de dizer minha pequena, mas verdadeira e sincera palavra de congratulação. Quando dos trinta e três anos, escrevi: “Trinta e três é um número emblemático, altamente simbológico, profundamente humano e divino. O divino Mestre completou sua tarefa aos trinta e três anos, mas para chegar a eles passou por duras provas: total esquecimento dos doze aos trinta anos, tentação no deserto, humilhação de um julgamento injusto, preterição do povaréu em favor de Barrabás, criminoso conhecido, até alcançar a morte dolorosa e humilhante reservada aos piores criminosos: a cruz. Mas pôde exclamar: Tudo está consumado. E, afinal, ressurgiu. O Diário da Manhã, sob o comando deste inexplicável e às vezes controvertido jornalista Batista Custódio,

combativo e combatido, quieto e alvoroçado, cego e profundamente vidente, silencioso e loquaz, é o típico ser que vê sem olhar e realiza sem precisar fazer ou pelo menos mostrar. Empunhando uma bandeira democrática de informar a verdade e de formar opinião abalizada, o Diário da Manhã vem atravessando lagos calmos e mares tempestuosos, mas sempre navegando, de vagar ou rapidamente, conforme o nevoeiro ou sua ausência, sempre indo na direção do alvo pretendido, sempre caminhando para a frente na busca daquilo que entende verdadeiro, justo e aceitável. Impressiona o senso de liberdade, de democracia na mídia, abrindo espaço para todos, com suas manifestações, as mais díspares possíveis, mas reais, sinceras. Produzir imprensa por tantos anos não é tarefa para anões, nem para mesquinhos, nem para deslumbrados. É trabalho penoso, para denodados e gente que desesperadamente agarra a esperança e não a deixa fugir nunca, e vai até o fim da jornada, sorve até a última gota do cálice. Aliás, se bem pensar, é por mais tempo, pois o Diário da Manhã é a evolução sequencial do Cinco de Março, pioneiro, caminho de imensas dificuldades. Atravessou o Diário da Manhã suas tempestades e continua muito mais em mar revolto do que em mar calmo, mas registrou momentos his-

tóricos importantíssimos, da cidade, do Estado, do País e do mundo. Chegou até a era digital e adotoua, de modo que o que se escreve no DM está na boca do mundo, ante a revolução da informática. Liberal, abre suas páginas a todos, abriga todas as tendências, dáse ao luxo de ser um portal ao qual se pode ter acesso, atravessando-o para os confins do mundo. Mas algo que, pessoalmente,

me toca profundamente é a sensibilidade desse jornalista para com o belo, a arte, a cultura em geral e, especialmente, a literatura. Há anos e anos vem o Diário da Manhã cedendo espaço aos escritores (articulistas, cronistas, ensaístas) em cadernos como OpiniãoPública e DMRevista, ou página inteira para a Oficina Poética, aos domingos. Especialmente à Academia Goiana de Letras tem o Diário da Ma-

nhã cedido espaço, seja nas notícias dos eventos, nas entrevistas com seus dirigentes, seja na publicação de artigos, crônicas e outras produções literárias de seus membros, seja na publicação de Suplementos Literários como o hoje tabloide Academia, Suplemento Literário da Academia Goiana de Letras. São fatos como este que tornam especialíssima esta data em que este importantíssimo veículo da imprensa goiana e brasileira completa trinta e três anos de atividade. E é por isto que, seja pessoalmente, seja em nome da Academia Goiana de Letras, seria impossível deixar de comparecer e de proclamar: “Salve o trigésimo quarto aniversário do Diário da Manhã”. Goiás, orgulhoso, saúda o jornal e aplaude seu dirigente maior, jornalista Batista Custódio que, na verdade, está há mais de cinquenta anos nesta labuta, e todos aqueles que formam a denodada e competente equipe que lhe empresta apoio e sustentação. De novo peço: Valha-nos a graça divina. De novo proclamo: Parabéns Batista, parabéns Diário da Manhã!!! (Getulio Targino Lima, advogado, professor, jornalista, escritor, membro e atual presidente da Academia Goiana de Letras. E-mail: gtargino@hotmail.com)

O plantador de Liberdade Olímpio Jaime Especial para o Diário da Manhã A construção da democracia em Goiás deve muito ao trabalho do jornalista Batista Custódio e sua luta incessante à frente dos dois jornais que se fundem com sua biografia. O primeiro está cravado na história de Goiás e na memória dos goianos como baluarte da luta a favor da cidadania e da liberdade. Foram tempos românticos em que o jornal Cinco de Março era a referência para os goianos e provocava terror nos poderosos de então. O segundo, já em tempos modernos, é o jornal Diário da Manhã, que muito nos orgulha de ser um órgão informativo de vanguarda feito em Goiás e exemplo para o Brasil e para o mundo. Conheço o jornalista Batista Cus-

tódio desde o Cinco de Março e testemunhei suas lutas que em muitos momentos foram as mesmas que eu também travei na batalha política em Goiás. Posso dar testemunho da disposição de Batista Custódio para as boas lutas em defesa da sociedade goiana e de seu compromisso para com a moralidade na vida pública e o respeito aos cidadãos. Ainda no Cinco de Março o jovem Batista Custódio ensinava aos velhos jornalistas e envelhecidos políticos que não conseguiam projetar nada novo para o bem-estar do povo goiano que olhar para frente é sempre o começo de uma vida nova. Batista nos ensinou sempre a renovar nossos pensamentos e buscar a plenitude da vida em comum com nossos companheiros de luta diária. As grandes campanhas que o Cinco de Março liderou ainda guardo na memória. Uma delas, em que Batista Custódio de forma especial legou um histórico de mudanças

para Goiás, foi contra o jaguncismo, prática corriqueira em Goiás ainda nas décadas de 1950 e 1960. O uso da força para intimidar e contrariar a democracia foi uma luta aguerrida que o Cinco de Março e seu fundador travaram e que marcaram Goiás de forma definitiva em sua história, merecendo lugar de destaque nas honrarias que o povo goiano deve lhe prestar a bem do compromisso com a história. Batista Custódio sempre foi destemido no combate ao arbítrio e em defesa da liberdade, que muitas vezes nem mesmo a população sabia compreender. Quando o golpe militar se fez vitorioso pela força das armas no Brasil e depôs um governo legítimo em Goiás uma das únicas vozes que se levantou contra a ditadura foi a do jornalista Batista Custódio, que não se acovardou como muitos e combateu de frente a força bruta que se implantou no poder. A democracia que hoje tanto

agrada aos jovens teve sua semente plantada e cultivada com tanta dedicação ainda nos estertores do golpe militar de 1964. Batista Custódio foi preso e fichado como comunista. Como o compromisso dos poderosos da ditadura era com a mentira e abominava a verdade, bastava dizer que alguém era comunista para que uma nódoa se impregnasse na pessoa e ficasse uma mancha que não saía da biografia do indivíduo. Essa mácula foi imposta também a mim e ao Batista Custódio, mesmo que todos soubessem que nossa orientação política sempre passou muito longe do comunismo. Mas a mentira com o uso da força serviu para nos levar ao cárcere do regime militar. Fui preso na mesma época de Batista e aprendemos juntos que uma reclusão provocada por mentiras aumenta nosso compromisso pela construção da liberdade e para o primado da liberdade. Todos os governos que persegui-

ram e lutaram para prejudicar Batista Custódio fracassaram em seus intentos e sucumbiram ao determinismo histórico que faz a verdade triunfar e a liberdade se sobrepor. É com alegria que dou testemunho do trabalho incessante de Batista Custódio e posso ver hoje que o Diário da Manhã representa a vanguarda do jornalismo e da cidadania. A difusão de ideias e notícias, com destaque para o caderno OpiniãoPública, em que artigos são publicados representando o pensamento que circula na sociedade faz a dianteira da história em Goiás e mostra ao Brasil como se abrem as portas do futuro para quem pensa. Enquanto Deus me permitir estarei junto de Batista Custódio participando de sua campanha ética e mudancista para fazer triunfar o bem e a verdade em nosso Estado. (Olímpio Jaime, advogado e ex-deputado estadual)


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OPINIÃO

Dois jornais e o mesmo sucesso Pedro Alves de Oliveira Especial para o Diário da Manhã O jornalista Batista Custódio decidiu comemorar, em conjunto, os aniversários do semanário Cinco de Março e do Diário da Manhã, seu sucessor, o primeiro fundado em 1959 e que circulou 20 anos, e o segundo lançado em 1980, considerando ambos uma só instituição. Indiscutivelmente, eles constituem marcos relevantes na imprensa de Goiás e se incluem no conceito do dramaturgo americano Arthur Miller, segundo o qual “um jornal é uma nação falando consigo mesmo”, daí a repercussão extraordinária que em muitas ocasiões alcançaram. Em tempos bem diferentes, o Cinco de Março, com o seu lema “Nem Washington, nem Moscou, nem Roma”, nasceu de um pacífico protesto estudantil repelido com violência policial e depois se notabilizou em confrontos desiguais com o regime militar imposto à Nação. O Diário da Manhã, já respirando em longos haustos a atmosfera da liberdade democrática, anunciou que veio para renovar, trazendo assim muitos benefícios à nossa imprensa e se tornando importante na divulgação das conquistas e potencialidades de Goiás nos mais diferentes sentidos. Do seu pioneirismo, sintetizado

no slogan: “O jornal do leitor inteligente”, externa e internamente extravasaram iniciativas como diário com circulação nos sete dias da semana (antes, domingo, não havia trabalho nas redações), conselho de redação ao invés de simples editorias, impressão em cores, site na internet, informatização total da Redação e do setor gráfico. Injetando ânimo novo em todas as atividades relacionadas à mídia – inclusive à televisão, ao rádio e à propaganda, o DM importou grandes nomes do jornalismo brasileiro, especialmente de Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Uma das doenças mais comuns

da sociedade atual chama-se pessimismo, daí porque, um jornal que se preza tem que mostrar sempre otimismo realista, o que habituamos a encontrar em suas páginas. Outra realidade inconteste é que imprensa, em qualquer parte do mundo, é voz do dono e Batista Custódio sempre demonstrou presença insubstituível em todas as atividades de sua empresa, daí seu completo domínio em tudo. Além disso, se constituiu em professor para centenas de jovens, nos seus mais de 50 anos de determinado profissionalismo diário. Como resultado, sempre se tem notícias de jornalistas que se inicia-

ram sob seu comando, distribuindo-se depois pelo País inteiro, muitos deles em funções de direção. Quando surgiu o cinema se falou no fim do teatro e do circo. Com a televisão, se previu o término do cinema. Jornais e livros estariam com os dias contados ao se popularizar a internet, com sua variedade de maravilhas em todos os sentidos da comunicação social. De repente, a própria Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, como aconteceu na semana passada, divulga pesquisa que solicitou ao Ibope e que comprovou que o jornal impresso continua a ser a fonte mais confiável para

a população, quando comparada à TV, ao rádio e à internet. Em Goiás, particularmente, 56% dos entrevistados declararam sua confiança nos impressos – os jornais e, por extensão, os livros. Na televisão, 48%; no rádio, 42% e, nos sites, 29%. Em suma, todos são essenciais, mas o jornal não perdeu sua liderança. O Sistema Federação das Indústrias do Estado de Goiás – Fieg, Sesi, Senai, IEL Goiás e ICQ Brasil, tradicionalmente, mantém a melhor relação com os veículos de comunicação social, reconhecendolhes o valor inestimável no desenvolvimento econômico, social, político, cultural e em outras áreas. Do Cinco de Março e do Diário da Manhã, livremente manifestando suas opiniões como é de sua linha, recebeu cobertura em tudo que diz respeito à indústria goiana, com certeza favorecendo esse setor produtivo goiano que hoje se situa entre os que mais crescem neste País. Documentos históricos do nosso dia a dia, tornou-se impossível escrever a história de nossas últimas cinco décadas sem os consultar. A Batista Custódio e à sua dinâmica equipe, os nossos cumprimentos, com os votos de sucessos cada vez maiores no admirável trabalho que realizam para Goiás e o Brasil. (Pedro Alves de Oliveira, empresário, administrador e presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás)

Diário da Manhã: um jornal visionário Tatiana Carilly Especial para o Diário da Manhã No coração do Brasil, em 1959, ainda século XX, o povo goiano ganhava voz e se iluminava pela pluralidade de pensamentos que se apresentava a partir de então com a implantação do jornal Cinco de Março, veículo de extrema relevância na luta contra a ditadura, que deu origem ao Diário da Manhã (DM). Nessa época acredito que fora preciso muita coragem e mais que isso uma veia verdadeiramente jornalística para expor ideologias distintas, defender a liberdade de expressão, denunciar as injustiças, lutar contra censura, expor fatos ocultos, e desenvolver na população, por meio da leitura do jornal, o censo crítico, a vontade de questionar, de rever direitos e deveres, de agir. Mas, seu fundador Batista Custódio, jornalista nato, com certeza sequer titubeou diante dos obstáculos desse tempo em que ainda todo o trabalho intelectual, crítico, ético e comprometido com o exercício da cidadania e de uma sociedade mais democrática ainda era feito ao som das máquinas datilográficas. Os 34 anos de Diário da Manhã, 55 anos de jornalismo goiano, quando se leva em conta suas raízes no Cinco de Março, vai além de uma comemoração de aniversário de um veículo de comunicação. Se comemora mesmo toda uma revolução, construção e evolução da sociedade goiana por meio da palavra impressa, fruto do trabalho jornalístico sério, ousado, vocacionado, destemido e comprometido com a verdade. A leitura dos textos jornalísticos e opinativos nas páginas do Diário da Manhã é um verdadeiro encontro com o labor de uma equipe, que não mede esforços para apresentar ao leitor o que de mais importante acontece em Goiás, o que não deve se calar jamais. O Diário da Manhã está de parabéns pelo trabalho jornalístico, que durante todos esses anos vem formando com responsabilidade a opinião pública e além disso desempenhando um papel de grande importância, também, na formação de profissionais da área de jornalismo, uma vez que esse veículo sempre deu oportunidade de aprendizado desse ofício aos que buscaram suas Redações – seja de impresso, online, webTV – para desenvolver o conheci-

mento e a prática de se fazer jornal diariamente, tarefa árdua, mas extremamente apaixonante, quando se encontra um espaço que sempre lutou pela liberdade da imprensa. Cabe aqui lembrar que o Diário da Manhã sempre se destacou por sua essência genuinamente democrática. Para finalizar, vale ressaltar-se que o Diário da Manhã ao relatar, analisar, criticar, denunciar a história de seu tempo, sempre se demonstrou visionário. Seu pioneirismo é invejável e mostra o quanto o jornalista Batista Custódio está à frente de nosso tempo, afinal o DM foi o primeiro veículo de comunicação de Goiás a ofertar ao público o jornalismo on-line e também a webTV que foi nomeada DMTV, a qual tive a honra de participar de sua constituição, quando em 2006 fui convidada a coordená-la. Do trabalho no DM guardo lições que hoje divido com o leitor: o bom jornalismo se faz com vontade de um mundo melhor, com responsabilidade social e com o humano, com ética e com muita coragem de tornar-se um ser ativo, ajudando a construir uma sociedade que exercite de fato a democracia. E isso extrapola qualquer técnica envolvida no processo de produção da notícia, vai além da teoria e acaba por ajudar a refinar o saber jornalístico, tão importante na sociedade da informação e do conhecimento em que vivemos. (Profª Mª Tatiana Carilly, jornalista, autora de A arte de Ensinar e Praticar Jornalismo de TV em Goiás, coordenou o DMTV do DM entre 2006 e 2008, doutoranda em Educação/PUC-GP, mestre pela Universidade Federal de Goiás. professora no Ensino Superior/Faculdade Araguaia)


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SÍMBOLOS

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DA RESISTÊNCIA

Cinco de Março e Diário da Manhã Isaura Lemos Especial para o Diário da Manhã Criado em 1959, o jornal Cinco de Março foi idealizado após uma manifestação de estudantes contra aumento das passagens de ônibus e mensalidades escolares. Pasmem! Isso em 1959. A manifestação foi duramente reprimida pela polícia, e, para dar continuidade à luta, decidiram fundar um jornal, cujo o nome relembra a data daquela batalha. Como sempre, aquela manifestação ocorreu na Praça dos Bandeirantes, a mesma que nove anos depois seria palco de novas e violentas repressões contra novos protestos dos estudantes e populares, dessa feita contra a ditadura militar, quando mataram um lavador de carros. O morto era muito parecido com o líder estudantil goiano, Euler Ivo. Tão parecido a ponto dos policiais buscarem e levarem seus familiares até o Hospital Santa Luzia para reconhecer o corpo. Pois bem, voltando a 59, o jornalista Javier Godinho , em depoimento sobre aquele período, resgatou o início do semanário Cinco de Março, lembrando dos pioneiros dessa imprensa questionadora: Batista Custódio, Telmo Faria, ele próprio e líderes da UGES (União Goiana de Estudantes Secundaristas.) Também Consu-

elo Nasser, Valterly Guedes e Zoroastro Artiaga faziam parte da turma. Coube a Consuelo Nasser a grande contribuição daquele ideal, ao conseguir, junto do seu tio Alfredo Nasser, proprietário do Jornal de Notícias, a doação da máquina tipográfica usada na feitura do jornal. Segundo Godinho, a simplicidade das instalações e maquinário era visível. O jornal era pequenininho e muito barato, vendia muito. "Todo mundo ganhava muito pouco, todo mundo trabalhava lá porque gostava". Não poderia ser diferente a vida e o futuro daquele jornal cheio de idealismos e que deixou sua marca de resistência na memória da imprensa goiana. O Cinco de Março já nasceu perseguido. Sua situação piorou com o golpe militar de 64. Foi preciso muita astúcia, muita determinação e matreirice para continuar existindo. Batista e Telmo foram presos. Por cinco meses, o jornal não circulou. Após retornar, teve sua sede invadida por policiais que destruiu máquinas e documentos. Apesar da censura, o Cinco de março continuou sua linha editorial voltada para denúncias de corrupção e má prestação de serviços públicos. Em 1965, chegou a vender 60 mil exemplares por edição. Nos anos 70, com a ascensão do general Garrastazu Médici, Batista foi novamente preso. Dessa vez, por crime de opinião. Apesar de tudo, o Cinco de

Março sobreviveu por 23 anos. Quando cheguei em Goiás, em 1982, o jornal Cinco de Março encerrava suas atividades de forma traumática. Logo reagiram. Batista e Consuelo lideravam um novo formato, um diário: o Diário da Manhã. Com o Diário da Manhã, as perseguições continuaram. O espírito libertário e irreverente de Batista não permitia tutela, e novamente a agressão, o boicote e o fechamento por dois anos do novo jornal. Mesmo assim, o Diário da Ma-

nhã já circula em Goiás há 34 anos. Do idealismo e sofrimento, vieram os pés no chão. Para continuar com esse instrumento de luta, era preciso aprender não dizer tudo. Todos lutadores que possuem estratégia percebem isso. Recentemente, no filme premiado no Oscar: '12 anos de escravidão', o principal personagem - homem já livre e que sequestrado por senhores escravistas do sul da América, viveu mais doze anos de escravidão - foi aconselhado por seus companheiros escravos a não mostrar tudo que

sabia, pois poderia perder a vida. No lançamento do Diário da Manhã Digital, lembro-me das palavras ditas por Batista, de forma solene, a todas autoridades e personalidades presentes. Pela experiência que teve a vida toda, poderia afirmar que não existia imprensa independente. Falou o que todos já sabiam, porém teve a coragem de dizer. Ao invés de um discurso exaltando a evolução de seu jornal, admitia suas limitações para poder sobreviver. O Diário da Manhã foi inovando a cada momento, se modernizando em diversos aspectos. Depois abriu parte de suas páginas a quem quer que quisesse se manifestar, através de artigos sem censura. Parabéns, Batista você continua resistindo ! Consuelo, que também lutou muito pela imprensa independente, demonstrou em toda sua vida a força de uma guerreira. Dedicou-se, nos últimos anos, à causa emancipacionista da mulher, transformando-se no maior símbolo da luta feminista do nosso estado. Por isso, nesse mês de Março, quando comemoramos o aniversário do surgimento do Cinco de Março, depois do Diário da Manhã, reverenciamos seus fundadores resistentes e amantes da justiça e da verdade. (Isaura Lemos, deputada estadual em seu quarto mandato e presidenta estadual do PCdoB)


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OPINIÃO

GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

Eu vejo o raiar do sol nida. Assustei-me e tentei entender o que acontecia, sem falar nada. Especial para o Batista colocou o tronco para foDiário da Manhã ra de sua janela, esticou os braços e vi, – na sua mão que já voltava para dentro do carro –, uma flor vermemanhã completo 28 anos de lha estridente, com detalhes amarevida. Os últimos 20 foram na lo-pontilhados nos carpelos. Ele convivência direta na intimi- roubou-a e deu para minha mãe, dade familiar com Batista Custódio, junto com um beijo carinhoso. Senpois só aos oito anos de minha meni- ti-me também amado naquele gesnisse que passei a morar sob o mes- to de carinho pela pessoa que mais mo teto que ele. Então, foi no alvore- me vale no coração, ainda hoje sua cer da minha consciência que vi os esposa, minha mãe Marly Vieira. mais belos exemplos de amor. Então, foi assim. De exemplo em Lembro-me com vivacidade de exemplo, de bravura à candura que que estávamos a caminho da Fa- Batista Custódio plantava e ainda zenda do Encantado. Batista diri- hoje semeia, que cresci sob um amgia o nosso Voyage quatro portas, plo templo de forças morais. Onde modelo 93/94. Minha mãe, ternu- constantemente a luz da caridade ra em forma de mulher, estava das mãos deste homem sensibilizasentada ao lado, no banco de pas- va meus olhos, ensinando-me pelo sageiros, e atrás, apreciando a pai- ato constante o amor ao próximo, sagem e ouvindo a música clássica com total desinteresse, com a postuque circulava no precioso toca-cds, ra sincera do apóstolo crístico. me situava, contemplativo. O jornalismo entrou na minha viSaíamos da cidade de Bom Jar- da sem que eu soubesse. O gosto pedim de Goiás, um dos pontos de la leitura me veio tardio. Mas sempre parada obrigatória na trajetória pa- tive intensa intimidade com as letras ra a fazenda, onde sempre abaste- em todos os aspectos. Sempre lia o cemos o carro com recursos e pro- que me interessava e agora leio com visões para as estadias no rancho e intensidade as recomendações litena sede do Encantado. rárias de Batista Custódio. Desde esA paisagem corria bela e colori- se exercício para cá venho amplianda nos meus olhos, o carro estava do meus horizontes nos grandes exveloz. De súbito, Batista Custódio, poentes da humanidade. Sócrates, meu padrasto por convenção, mas através de Platão, Nietzche, Carl Jung pai em meu coração, freia o carro à e outras recomendações de peso esmargem esquerda de extensa ave- tão nos livros que ando processando

Arthur da Paz

A

Alfredo Nasser (Transcrito do jornal Cinco de Março, edição de 9/11/1963)

C

aiapônia, antiga Torres do Rio Bonito, começou como sede da Comarca do Rio Coxim, cujos limites iam do Rio Verde, inclusive, até o Paraguai. Não sei se estou insultando a verdade histórica. Mas aprendi isso na escola primária e não me interessa desaprendê-lo. Em São Paulo, terminando o curso ginasial e morando com Irany Ferreira no mesmo quarto, eu lhe dizia frequentemente dando início a intermináveis discussões e brigas: – Estou estudando para comandar um dia as forças de Caiapônia que vão invadir Rio Verde. Subiremos a serra e reanexaremos vocês. Caiapônia é uma pequena cidade, bem menor que Rio Verde e Jataí. Construída sobre um espigão, as torres a dominam, de longe. São blocos enormes, um dos quais parece um gigante deitado. Comparado com o seu, o luar de outras cidades é leite com água, com muita água. Só é inferior ao da antiga Capital do Estado, sobretudo visto de Santa Bárbara. Assim mesmo, se Ely Camargo cantasse em Caiapônia as “!Noites Goianas”!, poderia muito bem haver um empate. Pois essa pequena localidade, velha Comarca do Rio Coxim, antigo caminho dos garimpos do Araguaia e afluentes, com menos de quatro mil eleitores inscritos, situada, com o desvio das estradas para Mato Grosso, num cotovelo que lhe dificulta o progresso, Caiapônia já deu, de 1934 para cá, três deputados federais, um senador, um membro do Conselho Nacional de economia, um vicegovernador do Estado, um ministro da Justiça. Agora, dela despontam, caminhando céleres para o estrelato, dois jornalistas: Batista Custódio e Consuelo Nasser, da direção do Cinco de Março. Batista Custódio é o comandante da equipe deste jornal. Filho, neto, bisneto, tataraneto de fazendeiros, traz ele nas veias o sangue de várias gerações de homens honrados. Por poucas pessoas me responsabilizo moralmente como por esse rapaz que tem, numa vocação de apóstolo, a alma do pan-

dentro da usina cerebral. Além da leitura evangélica e espiritual, da obra do revolucionário Allan Kardec, que me foi posta nas mãos pela Divina Clemência como tocha acesa a alumiar meus caminhos. Agora, com a capacidade de observar do mais alto ponto que minha racionalidade e meu espírito conseguem atingir, vejo o quanto o sonho de Batista Custódio está materializado na batalha titânica no Diário da Manhã e iniciado nas lutas martíricas do Cinco de Março. Ouso, contudo, afirmar que o sonho não é só dele. Também sonho a Liberdade. Mas eu, ilha, ele oceano. Atualmente, na travessia dos suores e lágrimas inenxugáveis do Diário da Manhã, na Editoria Executiva, entendo como as batalhas diária contra os censores e os tirâni-

cos de toda ordem podem ser desgastantes. Mas só ainda não entendo como um homem pode carregar no peito tantas cicatrizes de amigos desleais, e nas costas tantas punhaladas de inimigos cruéis disfarçados na máscara de amicíssimos. Manter acesa a tocha da Liberdade de Imprensa em Goiás, sem ferir a quem quer que seja em todas as publicações, é uma tarefa gigante e onerosa. Precisei abrir mão da minha vida pessoal, enlarguecer minha alma e romper com o egoísmo das mesquinharias diárias para entregar-me integralmente ao ideal de ver circular com harmonia as letras da opinião independente e do conteúdo focado na edificação de uma sociedade dignificada em todos os seus aspectos. O legado do Diário da Manhã

não é só o jornal produzido todo dia. É o legado do exemplo de teimosia e persistência em manter-se limpo e livre, e poder olhar para trás e não ferir os olhos em todo o suor que já foi derramado. A homenagem dos homens que o jornal recebe nesses seus 55 anos (somando-se com o Cinco de Março) é digna e justa. Mas será a História que vai honrar com propriedade todas as páginas circuladas deste diário que sempre anteviu as necessidades de direcionamentos morais da sociedade, quando esta achavase subjugada ao poderio de materialistas encarcerados pelas teias de corrupção entrelaçadas em todos os aspectos do poder, como assim hoje vivenciamos. Existe um buraco negro na Terra. Está aberto no peito das criaturas. E somente a luz do conhecimento pode preencher esse vazio que está fazendo nossa sociedade revivenciar barbaridades atrozes, dignas do homem primitivo das cavernas e dos selvagens idealistas dos tempos medievais. Para honrar este veículo de liberdade intensa, pedi permissão ao espírito do goiano Alfredo Nasser para transcrever o que ele compôs quando orquestrava suas letras no Cinco de Março. Extraí o artigo abaixo do livro O líder não morreu. (Arthur da Paz,editor-executivo)

CONVERSA ÍNTIMA fletário. Seu pai foi meu companheiro na escola primária e sua família é ligada à minha há mais de cinquenta anos. Quando ouço falar em imprensa marrom, compreendo até onde pode chegar a injustiça neste mundo. Batista Custódio é um dos mais puros idealistas, um dos melhores espécimes humanos que já conheci. A sua bondade dói. O Cinco de Março tira-lhe dinheiro e não lhe devolve um tostão. Nem ele precisa disso. O seu erro é imaginar que este mundo tem conserto, que lutar contra a corrupção vale alguma coisa. Nas longas conversas que temos tido, procuro transmitir-lhe o pouco que aprendi, um pouco do que me ficou das coisas que me feriram, um pouco do quanto o caminho a percorrer é longo e duro. Ele me ouve, silencioso, porque sabe que penso como ele. Bom, bravo, generoso, Batista Custódio tem me arrastado à sua luta, numa solidariedade que não negaria a nenhum órgão de imprensa, mas que para ele é maior, por sua bondade, sua bravura, sua generosidade, seu puro idealismo. E seu caráter, também. Seu verdadeiro, sólido, indobrável caráter. O mesmo se dá com Consuelo Nasser, tecnicamente minha sobrinha. Um dia, as cruéis imposições da política me levaram a criticar um velho amigo: Galeno Paranhos. Na resposta, achou o meu antigo chefe na campanha de 1954 que sempre fui um boa-vida, pois sendo solteirão nunca tive coragem de assumir os encargos de chefe de família. Coisa curiosa. Outra coisa não tenho feito senão ser chefe de família. Consuelo e sua irmã Maria Stela fizeram-se pelo destino minhas filhas. Atualmente tenho cinco filhos. Três meninas de criação e dois filhos adotivos: um menino e uma menina. Vivem em minha companhia, dou-lhes purgante e lombrigueiro como qualquer pai. Mas voltemos à Consuelo e Maria Stela. Esta é tão inteligente como a irmã, tão lúcida como ela, tão praticante, como ela, da boa leitura. Foi

até o Normal, diplomou-se, não quis ir adiante. Casou-se com Jamil Issy, farmacêutico e professor da Faculdade de Farmácia, e não poderia ter seguido melhor caminho. Costumo dizer que ninguém é como Stela. E não é mesmo. Consuelo formou-se em Direito e ao nos encontrarmos, nos primeiros dias deste ano, lhe perguntei: Filha, que vai você fazer? Ela respondeu: – Trabalhar em jornal. Ao lhe fazer a pergunta esperava que me fosse pedir um emprego, uma oportunidade, um jeito de ganhar dinheiro. Ante sua resposta pensei no Jaime Câmara, no Braga Sobrinho, no Waldemar de Melo. Afinal, são meus amigos e não me

seria tão difícil satisfazê-la. Ela ajuntou, antes que eu concordasse: – No Cinco de Março. Naquele momento ela me devolvia, sem saber, a preocupação que dei ao seu pai, Gabriel Nasser, que me criou, quando iniciei minha turbulenta vida de jornal, menino ainda. Os perigos não eram menores para a imprensa de combate, a incorporação era a mesma, os corruptos eram violentos, como em todos os tempos. Como o fizera seu pai, fiquei calado. Esse meu irmão era um homem culto, conhecedor da boa literatura, enérgico e suave na medida justa, líder por nascimento. Sua vida foi dedicada a educar seus irmãos. Dói-me até hoje a lembrança de

vê-lo na fazenda, nas geladas madrugadas de junho, ao pé do engenho, na faina da moagem. Ele não nascera para aquilo, mas fazia-o sem queixa e o fazia, como foi até o fim, calado e sorrindo. A vida não fez justiça ao meu irmão. Não só não teve as oportunidades que merecia, como dela se foi cedo demais. Suas filhas foram criadas no ambiente doméstico, sem receber ordens. As decisões eram tomadas depois de livre debate, dos quais participava minha irmã (que teve nesse campo a maior parte dos encargos), por maioria de votos. Um dia tivemos que decidir entre comprar carne ou papel para o Jornal de Notícias, pois o dinheiro não dava para as duas despesas. Contra apenas o meu voto, compramos o papel. Assim cresceram as meninas, assim cresceu Consuelo. Julgo as pessoas, mesmo as mais chegadas, imparcialmente. Consuelo irá longe, tomem nota. Sua revolta contra as injustiças, a corrupção, as mentiras, a hipocrisia, trabalha em seu favor. Ela não calunia, sua linguagem é moderada, seu julgamento dos outros impressiona pelo equilíbrio. Galeno não tinha razão. Além da nova geração de filhos que crio e educo, aí estão marcando minha vida e meu coração Stela e Consuelo. Por elas sei que a existência acabou para mim, sob muitos aspectos. Enquanto a primeira me tira o sono vendo-a na labuta de seu lar, quando os filhos adoecem, a segunda me faz acordado sabendo-a no jornal, exposta aos mesmos perigos pelos quais passei, ao mesmo frio que já me enregelou, ano após ano, tomando xícara após xícara de café, respirando o mesmo ar enfumaçado, o mesmo ar viciado e sonolento das madrugadas que envolvem as redações. E acabou a vida para mim, sob muitos aspectos, porque enquanto dois seres que amo penetram nos mistérios e nas dificuldades da existência, não consigo mais ver, nunca mais verei – o sorriso de meu irmão nos claros, límpidos, doces olhos de suas filhas.


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