Diário da Manhã
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OPINIÃOPÚBLICA
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2018
Alegria compartilhada “Pode-se ficar alegre consigo mesmo durante certo tempo, mas a longo prazo a alegria tem de ser compartilhada por duas pessoas” (Henrik Johan Ibsen, dramaturgo norueguês)
Depressão: prevenir sai mais barato Verônica Custódio Especial para OPINIÃOPÚBLICA O termo depressão tem sido usado para descrever tanto alterações normais do humor diante de perdas, conflitos nas relações interpessoais, ou outros problemas de natureza emocional (tristeza) como um grupo de transtornos específicos. Sentimento de tristeza ou infelicidade são comuns em situações de perda, separações, insucessos, conflitos nas relações interpessoais, fazem parte da experiência cotidiana e caracterizam um estado emocional normal, não patológico. Um exemplo é o luto normal, no qual há tristeza e ansiedade, mas normalmente não há culpa e auto-acusações que caracterizam os transtornos depressivos. Nas situações de luto podem ainda ocorrer disfunções cognitivas passageiras: sentimentos de desamparo ou desesperança, visão negativa de si mesmo, da realidade e do futuro, que em geral desaparecem com o tempo, sem a necessidade de ajuda especializada, pois existem as 5 fases do luto que se divide nas seguintes: 1) Negação, 2) Raiva, 3) Barganha, 4) Depressão, 5) Aceitação, isso não significa que o indivíduo irá passar por todas elas ou que aconteçam necessariamente nessa ordem mas é esperado dentro dos parâmetros da normalidade que elas aconteçam. No entanto, quando tais sintomas não desaparecem espontaneamente, são desproporcionais à situação ou ao evento que os desencadeou ou este inexiste, quando o sofrimento é acentuado, comprometendo as rotinas diárias ou as relações interpessoais, provavelmente o paciente é portador de um dos depressivos, que acometem ao redor de 15% da po-
pulação, especialmente mulheres. Nestes casos está indicado o tratamento, que envolve usualmente a utilização de psicofármacos associados a alguma modalidade de psicoterapia. Pois sua origem pode ser endógena ou exógena, isto é, pode ter origens em alterações fisiológicas e biológicas do indivíduo ou então pode ter origens na vivência e experiência do mesmo. Por outras palavras, há depressões biológicas ou psicológicas. Contudo não tem como fazer essa distinção do que é biológico ou psicológico num indivíduo, pois se influenciam mutuamente. As nossas experiências e principalmente como percebemos ou lidamos com essas experiências podem alterar a nossa fisiologia e neurologia, assim como, a biologia pode influenciar a forma como o indivíduo experiências as coisas, ficamos na pergunta quem veio primeiro o ovo ou a galinha. O indivíduo depressivo produz menos neurotransmissores como Noradrenalina, 5-ht e Dopamina. Isso dificulta a comunicação e gera a sensação de desânimo. Para piorar, alguns dos neurotransmissores são reabsorvidos pelo neurônio que os enviou, antes de se conectarem com o neurônio seguinte. Assim, o nível dessas substâncias vai caindo e a pessoa fica mais depressiva, os antidepressivos bloqueiam a reabsorção. Assim, os neurotransmissores remanescentes são mantidos na fenda sináptica, tentando maximizar a comunicação. Então porque fazer psicoterapia, somente o uso medicamento não seria suficiente?! Somente o uso da medicação não é suficiente, segundo a pesquisa do Dr. John Hunsley, da Universidade de Ottawa “Cost-effectiveness of Psychological Interventions” (apud ISBN 1896538703, de maio de 2002), encomendada pela Canadian Psychological Association, esclarece que, as intervenções psicológicas não somente podem ser efetivas em seu próprio campo como
também tem demonstrado potencial para de fato reduzir os custos dos tratamentos de saúde. Ele prossegue dizendo que evidências recentes têm demonstrado que intervenções psicológicas podem ser mais efetivas em termos de custo-benefício do que as terapias medicamentosas para condições como síndrome do pânico e depressão. (...) No tratamento da depressão, metanálises demonstraram que a intervenção psicológica pode produzir resultados comparáveis ou superiores ao tratamento medicamentoso e que a farmacoterapia apresenta maiores índices de abandono (drop out). Além disso, estudo recente comprovou que num seguimento de dois anos, o tratamento farmacológico custa em média 30% mais. (QUAYLE, 2007, p. 06), sendo assim, os tratamentos psicoterápicos, sob uma perspectiva científica, tendem a trazer maior benefício não só para o paciente, mas também para o estado, que muitas vezes arca financeiramente, diminuindo custos e devolvendo um cidadão mais sau-
dável à comunidade., pois como explicado, o medicamento não aumenta a produção dos neurotransmissores, assim o acompanhamento psicológico ajuda a descobrir o que está causando a diminuição da produção desses neurotransmissores e o aumento dos mesmos. Para Scorsolini-Comin (2012) psicoterapias são práticas psicológicas que visam auxiliar o indivíduo a lidar com seu sofrimento, ou seja, propiciar qualidade de vida independentemente das demandas de sofrimento vivenciadas. No início a psicoterapia era vista como qualquer tipo de terapia psicológica segundo Silva et al (2011, p. 40) “A psicoterapia era, inicialmente, um termo genérico empregado para designar qualquer tratamento realizado com método e propósitos psicológicos”. Porém, vemos hoje que a psicoterapia não é qualquer tratamento realizado com método e propósitos psicológicos, ela é sim, uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida do sujeito, sendo embasada cientificamente,
mesmo que, com autores diversos, que em alguns casos, discordam entre si, é uma modalidade científica, que visa principalmente a saúde a saúde mental do indivíduo. Além de visões distorcidas e preconceituosas sobre o trabalho do psicólogo clínico e sobre quem o procura, outro problema na área de psicoterapia seria a falta de investimento em pesquisas, o investimento do governo em intervenções psicológicas que poderia trazer benefícios, inclusive no âmbito coletivo, Rocha et al (2015) fala sobre possíveis benefícios financeiros advindos da psicoterapia: O investimento, portanto, em intervenções psicológicas tem um saldo duplamente positivo. Há uma diminuição dos gastos com os benefícios de assistência social e com os gastos com outras doenças físicas. (ROCHA ET AL, 2015, p. 1). O governo faria economia, porque a Psicoterapia deve ser vista primeiramente como profilaxia, as pessoas deveriam receber acompanhamento psicológico para prevenção e não somente para tratar algo que já está grave, porém, isso não é o que acontece, não somente o governo, mas a população ainda não deu a importância merecida para a psicologia profilática. Somos um pais secundarista, esperamos adoecer para procurar auxilio, isso precisa mudar, precisamos focar na atenção primaria. Não espere instalar uma depressão profunda para procurar auxilio psicológico. Se você está se sentindo triste, irritado, tendo perda de interesse ou prazer, sentimento de culpa ou baixa autoestima, distúrbios do sono ou do apetite, sensação de cansaço e falta de concentração procure ajuda. Depressão não é “frescura” ou coisa de quem não tem o que fazer, depressão é uma doença mental crônica. (Verônica Custódio, psicóloga)
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