MINISTÉRIO DA CIDADANIA APRESENTA
CADERNOS DE CARAZINHO
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INVESTIDORES PATROCINADORES
1. Schuster Medeiros & Cia.Ltda. 2. BBS Industria e Comercio Ltda e Centrais Elétricas De Carazinho S/A 3. Cooperativa Triticola Mista Alto Jacuí Ltda 4. JM. Mazzutti & Cia Ltda - Epp 5. Jose Mazzutti & Cia Ltda 6. Mekal Indústria de Tintas Ltda. 7. Rizzardi & Weber Ltda 8. Rotoplastyc Industrias de Rotomoldados Ltda 9. Telha Certa Indústria e Comércio Ltda. 10. Zes Supermercados Ltda.
Pórticos remetem à origem econômica de Carazinho Houve um tempo em que o trigo era a principal cultura agrícola e a cidade chegou a ter festa nacional Foto Mara Steffens | Diário
INVESTIDORES COLABORADORES
1. Alexandre Ehrhardt 2. Ana Maria Chiodi 3. Ana Maria Reckziegel Teixeira 4. Antonio Augusto Guerra Bocorny 5. Arthur Scheibe Filho 6. Artidor Bratz 7. Bibiana Copetti Michelini 8. Bruno Massing De Oliveira 9. Carlos Eduardo Scheibe 10. Cassiano Scheibe Vailatti 11. Celso Vailatti 12. Debora Cassol Richter Da Silva 13. Delf Distribuidora de Medicamentos Ltda 14. Elenise Ehrhardt 15. Emilton Jose Tavares 16. Ervino Paulo Vogelmann 17. Félix Tubino Guerra 18. Gilmar Antonio Seger 19. Ieda Xavier Da Cruz 20. Ivomar De Andrade 21. Jairo Storchi De Souza 22. Janice Teresinha Copetti Michelini 23. Jussara Nedeff Chehade 24. Leandro Alberto Rheinheimer 25. Leandro Tessaro Ramos 26. Leila Kerber Bratz 27. Leonidio Viott 28. Leovasir Francisco Tombini 29. Luciano Graeff De Mattos 30. Luiz Euclides Didomenico Junior 31. Mari Salete Zanella Taietti 32. Maria Martins Da Silva Meyer 33. Marlon Batista Moraes 34. Miriam Ester Rohde Fisch 35. Nilve Delcy Neuls Kreutzer 36. Nilve Ilma Ries Marques 37. Otavio Olivio Rohde 38. Paulo Friedmann 39. Rodolpho Walter Kreutzer 40. Ronel Oscar Kochenborger 41. Rosane Regina Pilger 42. Sandra Silvana Ludwig Viott 43. Sonia Regina Delavy Da Luz 44. Susana Lang Meira 45. Suzana Nemecek Loss 46. Valdemar Sjlender 47. Valmor Luiz Margutti 48. Vera Lucia Della Valle Biolchi 49. Vilson Frederico Henicka 50. Wanderlise Neuls Kreutzer De Quadros
COLABORADORES
1. Acic/CDL 2. Anônimo 3. Associação de Pessoas Deficientes de Carazinho – Adefic 4. Empresa Glória 5. Jornal Correio Regional 6. Jornal Diário Da Manhã 7. Prefeitura Municipal De Carazinho – Secretaria de Educação e Secretaria De Obras 8. Radio Diário AM 9. Rádio Gazeta 10. Receita Federal 11. Revista Contato Vip 12. Sindicato Rural De Carazinho 13. Tv Pampa 14. Jonia Piccini 15. Boticário 16. Darli G. Piva 17. Ateliê Ilse Ana Paim
PRODUÇÃO
Jornal Diário Da Manhã
Pórticos recepcionam visitantes nas duas principais entradas da cidade
O
s pórticos nas duas princi-
pais entradas de Carazinho, no acesso norte pela BR 386 e no acesso sul pela BR 285, surgiram de uma vontade coletiva de mostrar uma cidade de cultura pujante, de um povo que se orgulha do chão que pisa. A obra foi realizada em 2004, na gestão do prefeito Alexandre Goellner, com recursos federais. A artista plástica Ilse Ana Piva Paim conta que na época foi realizado um concurso municipal e três profissionais da área de arquitetura enviaram projetos. A comissão julgadora formada por João Carlos Schuster (ACIC), Elisabete Roessler de Medeiros (SMEC), Luis Carlos Dal Castel (Conselho Municipal de Cultura), a própria Ilse Ana, Marcelo Piva (Arquiteto da Prefeitura) reuniu-se no dia 18 de setembro de 2003 e, por unanimidade, escolheu o projeto do arquiteto Gabriel Cruz Grandó. Os avaliadores, conforme a artista, apostaram na inovação, no conceito criativo, seguindo tendências de modernidade. “O projeto seguia inovações e linhas contemporâneas da arqui-
tetura do maior arquiteto da atualidade, Santiago Calatrava. A pesquisa sobre a obra foi regida pela nossa origem econômica do ciclo da agricultura, valorizando o trigo, produto cultivado em Carazinho e região. Tivemos em nossa cidade no ano de 1955 a primeira Festa Nacional do Trigo, com exposições, desfile pela avenida e a primeira rainha da Festa, Lucy Buchholz”, recorda Ilse Ana. “Carazinho fez notícia e iniciou uma caminhada rumo à agricultura mecanizada, momento culminante de nossa história. Os pórticos mostram as aristas do trigo, abertas em posição diagonal, abraçando as duas vias: a que vem e a que vai. Também lembra um pássaro de asas abertas que protege os moradores da cidade”, explica a artista. Ainda de acordo com Ilse Ana, o pórtico é um elemento dinâmico que abre seus braços no coroamento e proteção de nossas vias. “Sabemos que um pórtico é um local de passagem. Não devemos nos reportar à ideia clássica romana de arco abobadado, muitos anos nos aproximam da modernidade. Temos que mostrar nossa passagem de forma inovadora. A
contemporaneidade pressupõe arrojo e novos materiais”, cita. Em sua explicação para a obra, o arquiteto Gabriel Cruz Grandó destacou: “Numa ideia fixa de monumentalidade, modernidade e receptividade, estilizou-se a planta do trigo, numa referência ao setor primário do município. O pórtico surgiu com imponência, numa combinação entre arte e técnica, conformando uma escultura dialética: a leveza dos tubos metálicos contrastando com a robustez e imponência do pilar em concreto. Por vezes, os pórticos nos lembram aves de asas abertas dando as boas-vindas aos nossos visitantes. Mas também possuem uma rigidez, como que tendo a incumbência de proteger os guardiões da cidade”. O autor teve a colaboração de Nelso Kunrath Júnior, engenheiro Antônio Piccoli (estrutura de concreto) e José Pedro Oliveira (estrutura metálica). O pré-moldado foi executado por Soder Engenharia e Construções e a estrutura metálica por Poolmak Estruturas Metálicas. A construção ficou a cargo da Axial Engenharia, dos engenheiros Carlos Eckhard, Arlete Mossmann e Patrícia Carvalho.
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Avenida Pátria foi importante rota para o crescimento da região Conhecida inicialmente como Rua das Tropas, ou Caapi (Caminho de Mato), via permanece como uma das principais de Carazinho e é endereço para instituições importantes, especialmente da área da saúde Foto: Arquivo | Diário
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uem passa pela Avenida Pátria e não conhece a história desta parte da cidade sequer consegue imaginar que um dia já foi a rua das Tropas, também conhecido como Caapi (Caminho de Mato) e significou importante via de ligação entre o sul do país e São Paulo, principal destino dos tropeiros nos séculos 18 e 19. Em recente entrevista ao Diário da Manhã, o responsável pelo Museu Olívio Otto, Claudio Braun, contou que “a Rua das Tropas é a maior lembrança que temos dos tropeiros. Depois das sesmarias (divisões territoriais organizadas pelo Estado) começaram a surgir fazendas que circundavam o caminho das tropas. A sua origem na história era para levar os tropeiros da Argentina ao interior de São Paulo. Inicialmente esse caminho era por Viamão, próximo à Porto Alegre, depois por São Borja, passando por Carazinho até Vacaria, e por último o Caminho das Missões, que facilitou o acesso direto à fronteira”. Todos esses caminhos terminavam em Sorocaba. O que hoje em uma viagem de carro se faria em até 15 horas, naqueles tempos levava de três a quatro meses no lombo das mulas. Em recente relato ao jornal, o tradicionalista João Hugo da Silva, considerado o último dos tropeiros da região, contou sobre as tropeiradas das quais participou. Na primeira delas era ainda uma criança. “Na primeira viagem eu tinha dez anos. Já morava aqui no interior e saía com meu tio para escolher as mulas. Íamos de trem, depois um amigo nos encontrava com duas mulas e íamos para as fazendas. Fazíamos uma viagem separando as mulas até meu pai ir comprá-las para juntarmos nas invernadas”, mencionou. Segundo ele, havia viagens que subiam ao
Avenida Pátria concentra maior parte dos serviços de saúde na cidade
Sudeste brasileiro com mais de 300 cabeças de mula, um animal que valia como ouro devido à sua resistência para cargas, na época em que carros automotivos e caminhões ainda eram sonho de progresso. Desta forma também eram levados erva-mate, madeira, banha,
raspa de mandioca, trigo e soja. Na passagem do gado, os moradores fechavam portões e cancelas enquanto as tropas de gado, muitas vezes desgovernadas, levantavam poeira. Perpetuando a importância da rua das Tropas na história de Carazinho, encontra-se Foto: Arquivo | Diário
um belo painel com 156 azulejos executado por Ilse Ana Piva Paim embelezando a parede externa da Biblioteca Publica Dr. Guilherme Schultz Filho, na Avenida Pátria. A artista buscou as raízes da cidade e os motivos a serem representados. “Sempre me incomodou esta mudança – do nome da rua das Tropas para Avenida Pátria – e quando pintei quis contar os ciclos econômicos de Carazinho. Chamei o painel de “Leituras de Mundo” que inicia com as mulas e os antigos tropeiros até a chegada das indústrias”, disse ela, acrescentando que a história de Carazinho ali pintada também vai além: que se houve evolução, foram os tropeiros e sua coragem que moldaram a cidade que se formou e cresceu.
AVENIDA DE HOJE
Pintura na parede da Biblioteca Pública Dr. Guilherme Schultz Filho retrata parte da história de Carazinho
Atualmente, a Avenida Pátria é uma das principais vias urbanas de Carazinho. Concentra estabelecimentos comerciais e de serviços e órgãos ligados à saúde, como o Hospital de Caridade de Carazinho, Hospital da Unimed, Pronto Clínica e a Secretaria da Saúde. Talvez por este motivo, é que ali se encontra a maioria das clínicas e consultórios médicos e odontológicos da cidade e os laboratórios de análises clínicas e especializados. Também com endereço na Avenida Pátria estão as agências do INSS, da Receita Federal, as instalações das Centrais Elétricas de Carazinho – Eletrocar, concessionária que fornece energia para Carazinho e mais seis municípios. Também se constitui em importante via de acesso ao centro e a diversos bairros da cidade. Tem um traçado amplo, marcado por canteiros ajardinados que podem ser ainda mais valorizados.
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Avenida Flores da Cunha e sua importância política, social e geográfica arazinho tem relevo de planalto, típico do norte do Estado, onde coxilhas são divisoras de água das chuvas e por não terem rios caudalosos e profundos permitiram no passado os trajetos das tropas de mulas e também ao traçado de ferrovias, sem exigir investimentos em pontes e aterros o que facilitou a construção das estradas de ferro, principal modal de transporte na região e determinante no surgimento de outras povoações, a exemplo do que aconteceu com Passo Fundo, Soledade, Júlio de Castilhos, Tupanciretã Cruz Alta e outras. A própria Avenida Flores da Cunha, principal rua da cidade, com mais de 6,5 km de extensão, atravessando-a de norte a sul, é resultado do traçado da ferrovia, enquanto que a Avenida Pátria, antiga Rua das Tropas, foi aberta a passos de mulas e cavalos. No canteiro central da Avenida Flores da Cunha, em frente à Praça Albino Hillebrand está um dos mais importantes monumentos históricos do Município: o Obelisco, quase despercebido por quem passa a sua frente, embora com seus quase três metros de altura em concreto. Datado de 24 de fevereiro de 1941, ele foi construído com a finalidade de perpetuar a memória da Capital da Hospitalidade e, naquela ocasião, marcava o primeiro decênio da municipalização de Carazinho. Sua inauguração, por iniciativa da administração pública, ocorreu no mandato de Albino Hillebrand, que governou Carazinho de novembro de 1935 a outubro de 1945. Carazinho se encontra a uma altura de 603 metros acima do nível do mar e tem no Obelisco a marca de seu ponto mais elevado. O que pouca gente sabe é que a Avenida Flores da Cunha detém outro importante título: é o marco divisório das bacias hidrográficas do Jacuí e do Uruguai. Dessa maneira, toda a chuva que cai à margem direita da Flores da Cunha deságua na bacia do Jacuí; as precipitações que caem no lado esquerdo, por sua vez, desembocam na bacia do Uruguai. Como divisor de água, o Município de Carazinho possui 49% da área dentro da bacia do Jacuí e chega à bacia Litorânea, através da Lagoa dos Patos. Já as águas que caem a oeste, drenadas para a bacia do Uruguai, chegam ao Mar del Plata, situado entre Argentina e Uruguai (51%) A nascente do Jacuí de maior altitude (740m) situa-se em Passo Fundo e alimenta nos seus primeiros 320 km 5 unidades hidroelétricas
Foto: Arquivo | Diário
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Principal via carazinhense contém elementos que a tornam um dos maiores patrimônios culturais da Capital da Hospitalidade e da Logística hidrográficas localizadas na região. Constatamos que Carazinho, de fato, é um polo privilegiado quando o assunto são os recursos hídricos. Aqui temos a nascente do Rio Glória, na esquina das ruas Silva Jardim e Antônio Vargas que ao cortar a cidade se junta à chamada “sanga do frigorífico” formando o Rio Glória que desemboca no Jacuí, nas imediações de Tio Hugo e Tapera. Já o Rio da Várzea, que nasce nas imediações do Pulador, tem seu curso próximo da cidade e é alimentado por vários riachos e sangas, como o riacho Carazinho, com nascente no outro lado da Flores da Cunha, entre a Barão de Antonina e a Alexandre da Motta. Dessa maneira, a água que cai para um lado da Flores da Cunha vai para o Rio Glória e deste para o Jacuí; as águas que caem do outro lado vão para o Rio da Várzea, que deságua no Uruguai”, explica.
PRIMÓRDIOS X ATUALIDADE Relevante para o comércio e para a economia carazinhense nos dias de hoje, a escolha da Flores da Cunha para Inauguração do Obelisco ser a principal artéria do município, conforme conta Ecker, gerando mais de 1.000 MW. remonta a épocas distantes. “Antigamente, no século XVIII, quem Infelizmente nossas nascentes e riachos são vítimas da poluição precisava cruzar por este território, evitava as baixadas, pelo temor de causada pelo escoamento urbano, mas podem ter sua qualidade melhoataque pelos povos nativos. Por conta disso os passantes escolhiam rada por estações de tratamento preservando um dos cartões postais do transitar na área onde hoje temos a Flores da Cunha, um local mais Estado – o Rio Guaíba e poluindo menos o Mar Del Plata. alto e poderia evitar o confronto com moradores locais. A medida que Outro importante aspecto na questão hidrográfica do Município é a imigrantes e outros moradores passaram a ocupar a região, também sua localização sobre o Aqüífero Guarani, um imenso depósito de rocha optaram por permanecer próximos dela”. porosa e permeável que acumula água no seu interior. Segundo o Serviço Geológico do Brasil (2006), trata-se de um “sistema aquífero”, cuja AVENIDA É HOMENAGEM maior parte está no centro-sudoeste do Brasil. Nomeado em homenaA denominação da Avenida Flores da Cunha é uma homenagem ao gem ao povo guarani diz-se que pode fornecer água potável ao mundo político José Antônio Flores da Cunha, que governou o Estado de 1930 a por duzentos anos. Embora seja explorado há mais de um século, ainda 1937, época em que ocorreu a emancipação de Carazinho. Hoje, décadas não é conhecido na sua totalidade. Carazinho se encontra diretamente depois, o coração da cidade conta com aproximadamente 1.128 estabeleciassentado sobre ele. mentos comerciais. Do Trevo Norte BR 386, a rodovia Governador Leonel Em recente entrevista ao Grupo Diário da Manhã, o historiador de Moura Brizola - ao Trevo do Avião 285 – Trevo Dyogenes Martins carazinhense Adari Francisco Ecker, servidor da Emater na época em Pinto. São seis quilômetros que contemplam os mais variados segmentos. que o órgão deu os primeiros passos no levantamento de informações Centro da Capital da Hospitalidade, a Flores da Cunha não faz nenhuma dos rios que banham Carazinho, deu detalhes sobre isso: “Sobretudo objeção a seus transeuntes, mantendo-se de braços abertos às pessoas de no final da década de 1980, a Emater deu início aos estudos das bacias todas as idades, credos e raças.
Largo Três de Outubro estreitou relação dos carazinhenses com as tropas revolucionárias
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Era no local que os soldados do General Flores da Cunha eram acolhidos pelos moradores que ofereciam bebida, comida e cigarros. A iniciativa é uma das razões que tornou a cidade conhecida como “Capital da Hospitalidade” Foto: Adriano Dal Chiavon | Diário
mento chegou a ter um cassino e foi palco de festas marcantes. Do projeto Patrimônio Histórico de Carazinho, da FUCCAR, desenvolvido em 2005, encontram-se dados interessantes pesquisados por alunos do Colégio Notre Dame Aparecida e professora Francine Schroeder sobre a Viação Férrea. Da linha unindo Marcelino Ramos na divisa com Santa Catarina à Santa Maria, no coração do Estado, Carazinho tem muito a dever, quer no favorecimento da vinda de imigrantes, quer no desenvolvimento econômico, através da indústria frigorífica, madeireira, metalúrgica e mais tarde a de grãos. Segundo dados da pesquisa, essa linha foi idealizada em 1889, visando à ligação entre Rio de Janeiro - São Paulo e o Sul do Brasil, para favorecer a colonização no seu percurso, em terras virgens até então. Como foi construída separadamente tem a bitola dos trilhos diferentes das demais, o que requer baldeação (troca de trem), ao sair do Rio Grande e ingressar em Santa Catarina. Foi construída pela companhia belga Sud Ouest Brésilien, cedida à Cie. Auxiliaire au Brésil, passando em 1920 ao governo federal e depois ao Estado. Largo Três de Outubro, foi palco de importantes eventos políticos entre Em 1969 foi absorvida pela RFFSA- Rede Ferroviária Federal os carazinhenses e o general Flores da Cunha, em meados de 1930 Sociedade Anônima, tendo o trecho que passa por Carazinho e imediações desativado em meados de 1990 e dado em concessão Hotel Liberal, onde hoje funcionam salas comerciais, tendo à frente a (o governador da época) indicou Homero Guerra para prefeito do à ALL – América Latina Logística em 1996 que lamentavelmente não estação da Viação Férrea, infelizmente desativada e cujo prédio ainda município. opera mais na nossa região. Para Alda Maria Erpen Schipper, uma existe, mas hoje abriga um estabelecimento comercial, quando poderia O ato de recepcionar os participantes da Revolução com mandas integrantes da FUCCAR e co-autora do projeto mencionado, a ser sede de instituições culturais como acontece em outras cidades. timentos, fez com que Carazinho passasse a ser conhecida, desde desativação do transporte ferroviário é uma contradição inexplicável Os prédios do seu entorno ainda ostentam a arquitetura da época. O aquela época, como a ‘Capital da Hospitalidade’. Além de referendar numa região que necessita transportar imensos volumes de grãos Edifício Lauxen por exemplo, construído pelo engenheiro Waldemar a recepção dos carazinhenses para com as tropas, também tem relação apenas por via rodoviária, congestionando e deteriorando estradas e Kurtz e concluído em 1969, foi o primeiro grande edifício da cidade e o com outro aspecto histórico: a cidade era referência para caixeiros inclusive favorecendo acidentes, com um passivo enorme em vidas primeiro a contar com elevador. viajantes da região e possuía cinco hotéis. Os viajantes que tinham humanas e recursos. No outro lado da rua está o edifício do antigo Hotel Liberal, nome como destino Passo Fundo, por exemplo, preferiam se hospedar em Ainda da mesma pesquisa, há informação que o atual prédio da dado em referência ao “Barracão Liberal”. Construído por volta de Carazinho por considerar que a rede hoteleira era melhor, inclusive em Viação Férrea foi construído em 1937 substituindo o original antigo 1930, a mando do seu proprietário, Eduardo Graeff, era um hotel para relação ao atendimento, já que muitos eram gerenciados por famílias, da Cie. Sud Ouest Brésilien que fora inaugurado em 1897. Sua locaviajantes, como diversos da época. Na frente do hotel, onde hoje é a relatou Sperry. lização central originou a vila ferroviária – Vila Itararé, ainda hoje Avenida Flores da Cunha, havia uma bomba de gasolina. O estabeleciO Largo Três de Outubro está entre o Edifício Lauxen e o antigo abrigando ex-ferroviários.
Largo Três de Outubro em Carazinho, junto à Gare, é uma pequena ligação da Avenida Flores da Cunha com a Avenida Mauá. Quem acessa o trecho tem duas opções de retorno para a avenida principal da cidade: tomando a direita, seguir para o sul da cidade; tomando à esquerda, chegar à Rua Alexandre da Motta e através dela voltar à Flores da Cunha.. Segundo o escritor e historiador José Nevton Vieira Sperry, no Largo Três de Outubro, em 1930, moradores carazinhenses aguardavam a passagem das tropas revolucionárias com carroça de mantimentos como leite, bebidas, comida e até cigarro para os soldados que atuavam na revolução e por isso chamado de Barracão Liberal. Grato pelo ato, o general Flores da Cunha afirmou que atenderia às solicitações dos moradores. “Então, em janeiro de 1931, uma comitiva de Carazinho foi à Porto Alegre pedir a emancipação, concedida em 24 de janeiro e instalando o Município em fevereiro daquele ano. Em razão disso, a Avenida Flores da Cunha, antes denominada Rua do Comércio, recebeu o nome do general”, diz. Durante o encontro em que pediram a emancipação o interventor Flores da Cunha
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Fé e arte se encontram nos templos religiosos de Carazinho s templos religiosos carazinhenses são marcantes por sua arquitetura ímpar e ajudam a contar a história da cidade. A Igreja Nosso Senhor Bom Jesus De Iguape é apontada como um dos marcos do início da cidade. Em 1872, como consta nos Anais do Município de Passo Fundo, Pedro Vargas e outros moradores adquiriram de herdeiros de Floriano José de Oliveira um terreno para destinar a povoação e onde mandaram construir uma capela. Pedro Vargas era devoto de Nosso Senhor Bom Jesus de Iguape e definiu que este seria o padroeiro. A primeira capela foi edificada em 1872, a segunda em 1910, esta encontrada pelo Cônego João Batista Sorg quando chegou para atuar como padre. A pedra fundamental da construção atual foi lançada em 1924. O Pároco Padre Mateus Danieli conta que na época Cônego Sorg apresentou duas plantas de igrejas para a comunidade, uma num estilo mais gótico, semelhante às construções religiosas em Santa Cruz e Venâncio Aires, e outra num estilo mais neoclássico. “O pessoal decidiu pela segunda tendo em vista que não havia muita perspectiva de crescimento econômico de Carazinho naquela época, com o ciclo da madeira chegando ao fim. Foi construído um templo mais sóbrio e mais simples”, relata. A decoração interna coube ao irmão lassalista Renato Koch.
Fotos: Arthur Metz | Diário
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Igreja Nosso Senhor Bom Jesus, Nossa Senhora da Glória e Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Carazinho estão entre os que se destacam na cidade. A história do município e de seu povo tem passagens marcantes nestes locais
Igreja Nosso Senhor Bom Jesus
Sobre a área doada por Pedro Vargas para que a primeira capela fosse construída e também iniciado o povoado, essa possivelmente compreende um espaço conhecido como ‘entre águas’ tendo em vista a localização de sangas, e tem como pontos de referência os quatro clubes da cidade. “Do Harmonia em direção ao Centro, assim como do Aquático, do Caixeiral e do Comercial. Mais ou menos esta área seria a porção de terras que ele doou a Nosso Senhor Bom Jesus de Iguape para a construção da capela que posteriormente se tornou paróquia”, detalha Pe. Mateus. A gratidão a Pedro Vargas foi tamanha, que os restos mortais dele trazidos para a Igreja em 1963 estão lá até hoje. Segundo o Pe. Joao Gheno Netto por 60 anos fomos a Capela da Conceição de Passo Fundo, uma “capela curada”, isto é, sem padre local. A arte religiosa tem suas marcas na Igreja Matriz. “Os vitrais são obras de arte. Do lado direito a partir da porta narram passagens do Antigo Testamento e do lado esquerdo do Novo Testamento. No Altar Mor, os anjos estão ladeados ao Sacrário, algo muito bonito. A própria imagem de Bom Jesus de Iguape é uma obra de arte, uma riqueza cultural da cidade”, analisa Padre Mateus. A ligação da Igreja Bom Jesus com a cultura é ainda mais ampla com o templo servindo de espaço para concertos da Orquestra Sinfônica de
COMUNIDADE EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA DE CARAZINHO: A HISTÓRIA DE UMA MISSÃO
PARÓQUIA DA GLÓRIA Foto: arquivo |Diário
A Paróquia Nossa Senhora da Glória, criada em 3 de maio de 1959, possuía inicialmente uma igreja de madeira, com uma torres alta que abrigava os sinos. Com o desenvolvimento do bairro Glória e o consequente crescimento da comunidade paroquial, sentiu-se a necessidade de construir um templo maior e mais moderno. Otávio Rohde, membro da comunidade, conta que em 16 de julho de 1967 ocorreu a primeira reunião decidir sobre a construção. A partir dela foi lançada a Campanha do Dízimo para arrecadar os recursos necessários. Também foram lançadas campanha de doação de materiais de construção. A pedra fundamental foi lançada em 10 de novembro de 1967 numa cerimônia com a presença do então Bispo Diocesano, Dom Claudio Colling. “O projeto da nova Igreja foi feito pelo arquiteto de Guaporé, Emílio Zanon. O engenheiro Camilo Bonésio foi o responsável pela construção, tudo acompanhado pelo pároco Ovídio Sirtoli e a diretoria da época, liderada por Dionísio Cavol”, conta. Cavol menciona que muitos foram os desafios e o maior foi a obtenção de fundos para a edificação do templo. “Para solucioná-los, a diretoria promoveu festas e jantares. Foram oito anos para a edificação da igreja, devido a
expressividade da obra. Enquanto isso, as celebrações eram realizadas em um pavilhão pouco abaixo da nova igreja”, relata, acrescentando que a inauguração ocorreu em 10 de novembro de 1974. A arquitetura da igreja certamente é um diferencial. Além da estrutura propriamente dita, construída em formato semicircular e com vitrais multicoloridos, o interior do templo também guarda tesouros culturais. O crucifixo na parede, no centro do altar, adquirido em 1977, foi confeccionado em madeira por escultor argentino. A via sacra, com quadros pintados pela artista Ilse Ana Piva Paim é outro destaque do templo. A sequência dos quadros representa as 15 estações, em tamanho 140x140cm e foram encomendados para marcar os 50 anos da paróquia. Chama atenção que Cristo aparece interagindo com os membros da comunidade usando jeans, num cenário que lembra a topografia e as riquezas de Carazinho. Os aspectos pastorais são bastante amplos como catequese, liturgia, saúde, criança entre várias outras. Alda Shipper, membro da comunidade, ressalta que todos os movimentos são desenvolvidos com muita fé e dedicação e funcionam desde a fundação da paróquia. Foto: arquivo |Diário
A professora Nelci Ehrhardt, vice-presidente da Comunidade, conta que em 1917 foi criada a Deutsche Evangelisch Gemainde, depois denominada Comunidade Evangélica de Carazinho, concomitantemente à escola - Communidade Escolar Brasileira Alemã, com cerca de 35 alunos e que esteve com atividades suspensas durante o período da II Guerra Mundial, reabrindo em 1949. “A construção inicial, um prédio de madeira, abrigava as atividades da escola e da igreja, no mesmo local onde hoje se encontram, em terreno adquirido da Mitra Diocesana de Santa Maria. Com o passar dos anos, a comunidade foi se fortalecendo. Em 1949 foi inaugurado o templo, de arquitetura gótica, construído por Camilo Bonesio, com seus belíssimos vitrais, o púlpito no estilo europeu, com o altar e imagens originais”, relata. O hino de louvor sempre foi uma marca forte dos luteranos. Martim Lutero afirmava: “Onde se canta, ali te assenta. Pessoas más não têm canções”. Há atualmente dois grupos de canto polifônico da Comunidade: Coral da OASE, com 14 integrantes, sob a regência de Jana Kich, e Coral Misto Vozes de Louvor, com 32 integrantes, regidos pelo pastor emérito Rudi Kich. Alguns membros integram o coral, praticamente desde sua fundação, em 1947, como Edith Kreutzer Buss. O cancioneiro é basicamente de hinos litúrgicos, tanto em português como em alemão. As apresentações são acompanhadas de órgão e de bateria. O Grupo Instrumental do Colégio Rui Barbosa também é presença constante nas celebrações. A história da Comunidade destaca a identidade luterana, através da liturgia dos cultos, celebrações, grupos de estudos bíblicos, programa de rádio e a força do voluntariado por parte da diretoria e integrantes da OASE (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas), da LELUT (Legião Evangélica Luterana) e demais grupos de trabalho, como fatores de agregação, fortalecimento de amizade e companheirismo; o cuidado e os investimentos para a educação escolar e no lar; a constituição e administração dos cemitérios e das benfeitorias. “São eventos tradicionais e muito concorridos celebrações como Culto de Ação de Graças, Advento, Dia Mundial de Oração, cultos ecumênicos e ambém eventos gastronômicos como o Café Colonial, Chás, Almoços, Galeto com Massa e outros”, diz Nelci. A comunidade sempre manteve intercâmbio com
Carazinho – Osinca e de corais da região. É na igreja que ocorrem momento festivos marcantes do município como celebrações religiosas no aniversário de Carazinho, em janeiro, e da Semana da Pátria, em setembro. “É um ponto de referência cultural por proporcionar momentos assim. Apresenta acústica favorável a isso e conduz as pessoas para a arte”, pontua. Vários sacerdotes passaram pela paróquia desde sua fundação. O primeiro chegou em dezembro de 1928, Pedro José Salvá, ficando menos de um ano. Em seguida veio João Batista Sorg, que liderou o trabalho por 30 anos. João Gheno Netto chegou para ser vigário cooperador, depois tornou-se pároco até deixar a função recentemente. Está na paróquia há 60 anos. Entre as ações religiosas ganha destaque a Novena em Honra ao Divino Espírito Santo que em 2019 realizou a 74ª edição. A família Piva sempre participou ativamente deste movimento. O primeiro a ser imperador foi o patriarca Fioravante. O filho Arcílio também ocupou o cargo, assim como o neto, Fioravante Augusto. O atual imperador é Rui Toso. Diz a tradição que o resultado do sorteio é obra do Divino Espírito Santo. Durante um ano, o paroquiano sorteado abriga em sua casa o símbolo e uma vez por semana recepciona outros fiéis para celebração.
Templo luterano foi inaugurado em 1949 suas raízes na Alemanha, através dos quais recebeu muitos auxílios financeiros aplicados na construção do templo, do colégio, do ginásio de esportes e do núcleo evangélico Martim Lutero, localizado no bairro Operária. Até 2011 havia culto em língua alemã todos os domingos. “Hoje somos cerca de 3.000 membros e há uma gestão compartilhada entre o presbitério e os diversos departamentos que atuam. São mais de 50 atividades e departamentos ativos. O presidente da Comunidade Centro é Ricardo Mohr e Jorge Zimmer preside o Núcleo Evangélico. O pastor titular desde 2012 é Gilmar do Nascimento” informa Nelci.
Via Sacra da Igreja da Glória relaciona-se com a atualidade
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Praça Albino Hillebrand guarda passagens da história
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Monumentos e placas lembram pessoas e momentos importantes para a comunidade carazinhense
A praça na década de 1940 Foto: Arquivo Diário
MONUMENTOS E PLACAS QUE MARCAM A HISTÓRIA A praça comporta também monumentos e placas que homenageiam personalidades importantes e marcam momentos históricos para a cidade. Próximo ao quiosque está a Árvore da Hospitalidade, plantada em janeiro de 1963, por ocasião do IX Congresso
Foto: Arquivo Museu Olivio Otto
início do povoamento de Carazinho ocorreu em 1827, quando Rodrigo Felix Martins e José Antonio de Quadros se estabeleceram em terras conhecidas como “campos do Jacuhyzinho”. Com este nome, o lugar permaneceu até 1857, quando passou a ser distrito de Passo Fundo com o nome de “Carasinho”. 1880 é a data da criação da Capela de Nosso Senhor Bom Jesus de Iguape, cuja área foi conseguida por Pedro Vargas, que, segundo a tradição, teria organizado uma lista de contribuições para a compra de uma grande área para abrigar a capela. De acordo com relatos orais, em 1913 iniciou a arborização da praça, quando Gervásio de Albuquerque plantou plátanos e cinamomos no ângulo fronteiro a sua residência, enquanto que Jacques Loss fez o mesmo em ângulo oposto. Primeiramente o local foi conhecido como Praça da Igreja, depois da Matriz, Praça Brasil e por fim Albino Hillebrand, em homenagem ao terceiro prefeito de Carazinho. A Praça tem um traçado arquitetônico formado por 3 eixos principais: 1 central que direciona para a Igreja Bom Jesus e outros 2 em diagonal, um deles direcionado para a Prefeitura e o outro para a Rua do Comércio denominação inicial da atual Avenida Flores da Cunha. Uma característica marcante da praça é a calcetaria em pedra portuguesa, criando um lindíssimo mosaico, hoje infelizmente bastante deteriorado e a requerer correta manutenção. No centro existe um chafariz construído há pelos menos 70 anos como se pode verificar em registros fotográficos antigos quando funcionava amiúde. Atualmente é posto em funcionamento apenas em algumas datas festivas como a abertura da programação natalina e no aniversário do Município. Outro destaque da praça é sua arborização na qual predominam as espécies nativas como ipê, umbu, sibipiruna, paineira, entre outras. Em idos tempos havia o cultivo de ciprestes, recortados artisticamente (topiaria), criando nichos no centro da Praça e sobre os bancos. Atualmente cercada de prédios modernos e muitos estabelecimentos comerciais, viu surgir, em 1930 o Colégio Nenê Dillemburg Sassi, atual Notre Dame Aparecida, numa época em que era comum encontrar pelas ruas do centro animais como cavalos, mulas e vacas, contrastando com o intenso tráfego de veículos que hoje percorrem as vias que a cercam.
Praça Albino Hillebrand leva o nome de ex-prefeito de Carazinho
Tradicionalista que ocorreu em Carazinho. O presidente Getúlio Vargas e a transcrição de sua famosa carta testamento são lembrados em um monumento, instalado em 1957. Leonel Brizola ganhou busto na praça em 2011, projeto do então prefeito Aylton Magalhães, como homenagem ao filho ilustre que nasceu em Carazinho. Quase ao lado, está o monumento que homenageia os imigrantes com duas placas: uma lembra o biênio da colonização européia, em 1974 e a outra marca os 180 anos da imigração alemã no Brasil. Próximo ao Altar da Pátria, palco de solenidades festivas e políticas, está o Monumento à Bíblia, instalado em 1995 e o monumento que marcou a Cavalgada Alferes Rodrigo, realizada em 2007 em homenagem ao Alferes Rodrigo Félix Martins, patriarca de Carazinho. No local é possível ler um pequeno resgate histórico, feito por Adari Francisco Ecker e Hugo Mariani Filho, que informa ter o homenageado se instalado na Fazenda Benedito, perto de Pinheiro Marcado, em 1816, onde tomou terras da região a mando da coroa portuguesa e as distribuiu para a família. Também liderou e sustentou, junto com o irmão Athanagildo e João Floriano de Quadros, o movimento farroupilha. Junto a um dos corredores centrais e próximo ao chafariz, estão as placas que marcam a realização de convenções do Lions Club, Distrito L-22, em 1982 e em 1988, além daquela que informa o bicentenário da Vereda das Missões, em 2016, marcada por uma cavalgada.
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Carazinho é terra de um herói nacional Leonel de Moura Brizola, nascido na localidade de Cruzinha em 1922, recebeu o título póstumo em 2015, pela então presidente Dilma Rousseff Foto: Arquivo | Diário
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Leonel Brizola nasceu em Carazinho Foto: Arquivo | Diário
eonel Itagiba de Moura Brizola nasceu em Carazinho, no distrito de São Bento, localidade de Cruzinha, em 22 de janeiro de 1922 e foi um dos mais legendários governadores que o nosso Estado teve. Líder de esquerda, foi o único a governar dois Estados diferentes: o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, este em 2 mandatos. Candidato a presidente não se elegeu. Conforme dados retirados do livro “Eternos Heróis Gaúchos, de João Carlos Quadros Oliveira, publicado em 2018, em 2015 foi declarado Herói da Pátria pela presidente Dilma Roussef (lei 13.229) que determinou “Será inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, que se encontra no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília, Distrito Federal, o nome de Leonel de Moura Brizola”, num justo reconhecimento ao homem de origem humilde que lutou pelos ideais da democracia e ficou conhecido como a Voz da Legalidade. Aprendeu a ler e a escrever com a mãe. Aos 11 anos trabalhava como engraxate na estação ferroviária de Carazinho. Estudou no Grupo Escolar Princesa Isabel e aos 14 anos foi residir em Porto Alegre para estudar, trabalhando como jardineiro em residências da Capital. Aos 20 anos ingressou na UFRGS onde se formou engenheiro civil. Fez parte da Fundação PTB – Partido Trabalhista Brasileiro do Rio Grande do Sul. Com apoio do então presidente Getúlio Vargas elegeu-se deputado estadual aos 25 anos (1947) e reeleito em 1952, assumiu como secretário de Obras. Foi prefeito de Porto Alegre (1956), onde iniciou a construção de casas populares e prédios escolares em diversos bairros, bem como financiamento para compra de ônibus de transporte coletivo. Sua candidatura para governador do Estado em 1958 foi apoiada pelos triticultores da região da Produção (Carazinho, Passo Fundo...) descontentes com o baixo valor pago devido à importação de grãos norte-americanos. Na campanha eleitoral prometeu melhorias em estradas, comunicações, energia elétrica, educação, habitação e saúde. Suas maiores realizações durante o mandato foram a construção da BR 386 (Estrada da Produção, hoje rodovia Leonel de Moura Brizola), a criação da Aços Finos Piratini, Refinaria de Petróleo Alberto Pasqualini, zoológico de Sapucaia, Caixa Econômica Estadual, Banco do Estado do Rio Grande do Sul (repassado ao patrimônio estadual), encampação da Companhia de Energia Elétrica Rio-grandense e da Companhia Telefônica Rio-grandense, subsidiárias norte-americanas (o que agravou relações diplomáticas com os Estados Unidos). Criou o Instituo Gaúcho de Reforma Agrária. Líder visionário que era impulsionou programa de incentivo à produção de soja no Estado. Um dos grandes feitos de Brizola como governador foi a construção de escolas, especialmente na zona rural – as brizoletas. Foram 6.302 unidades, beneficiando 788.209 estudantes, colocando o nosso Estado como o de mais alto índice de alfabetização. Como governador no Rio de Janeiro criou 500 Centros Integrados de Educação Popular – CIEPs, que se multiplicaram também no nosso Estado. Carazinho também teve seu CIEP – hoje Instituto Estadual de Educação Cruzeiro do Sul Oniva de Moura Brizola. Em 1962 elegeu-se deputado federal, criando a Frente de Mobilização Popular para alavancar mudanças sociais, políticas e econômicas e mobilizou o povo para criar o Ministério da Reforma Agrária. Figura polêmica, Brizola fez muitos inimigos na grande imprensa, mas não abriu mão de seus ideais da legalidade e das liberdades públicas. Era casado com Neusa Goulart, irmã de João Goulart, o Jango, que foi presidente do país após a renúncia de Jânio Quadros, mas
Banner produzido pela Fuccar
teve o mandato cassado pelo golpe militar de 1964. Em 1961, com a renúncia de Jango, Brizola liderou o movimento que ficou conhecido como A Voz da Legalidade, apoiado pelo III Exército, pela Brigada Militar e por diversos órgãos de imprensa, como a Rádio Guaíba, em cadeia com outras emissoras, o que ficou conhecido como a “Cadeia da Legalidade”. Reconhecido por sua fala, carregada de sotaque e de expressões gaúchas e retórica inflamada, tecia caricaturas verbais de oponentes, como “sapo barbudo”, “filhote da ditadura”, “gato angorá” e outros, provocando fortes reações tanto em partidários como adversários. Valorizava a educação pública e a questão das perdas internacionais pelo pagamento de encargos da dívida externa e envio de lucros ao exterior. Teve desentendimentos homéricos com os grandes monopólios da comunicação, em especial a Rede Globo, de quem ganhou direito de resposta a uma acusação de caráter pessoal, em 1994. Brizola se exilou durante 15 anos, refugiando-se em Montevidéu, Portugal e até nos Estados Unidos. Voltou ao Brasil em 1979 e elegeu-se governador do Rio de Janeiro em 1982 e novamente em 1990, num segundo mandato. Faleceu em 2004, tendo sido velado no Palácio Piratini e sepultado em São Borja. Cerca de vinte mil pessoas acompanharam o cortejo até o Cemitério Jardim da Paz, onde também estão sepultados sua esposa, Neusa, Getúlio Vargas e João Goulart. A Fuccar produziu um banner com informações e fotografias que retratam vários momentos importantes da carreira do político em Carazinho e atos dos quais ele participou em sua terra natal, como um discurso que realizou na Praça Albino Hillebrand pelas “Diretas Já” e encontros com lideranças políticas locais.
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Uma riqueza natural de 206 hectares Parque Municipal, frequentado pela comunidade especialmente no verão, tornou-se recentemente uma unidade de conservação, o que permitirá a busca por recursos para manutenção Foto: arquivo Diário
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Parque foi muito usado pelo papagaio-charão, nas décadas de 1980 e 1990, como dormitório Foto: arquivo Diário
bióloga Aline Schu, que desenvolveu importante trabalho de pesquisa no Parque Municipal João Alberto Xavier da Cruz, inclusive com amplo embasamento histórico, conta que durante as décadas de 1920 a 1940, Carazinho era considerado um importante “centro” madeireiro do estado. Os bens florestais explorados, sobretudo o pinheiro-brasileiro eram destinados ao consumo local e aos mercados nacional e internacional, abrangendo países como Uruguai, Argentina e o continente europeu. A exploração da floresta impulsionou a economia e o crescimento do município. Contudo, a retirada da madeira ocorria sem muita preocupação com a conservação ambiental. A obrigatoriedade do “reflorestamento” existiu somente após a promulgação do primeiro Código Florestal Brasileiro, no ano de 1934. Os madeireiros da região de Carazinho optaram por se organizar na forma de uma Cooperativa Florestal, a fim de realizar a reposição do pinheiro-brasileiro. Em 1943, a Cooperativa criada adquiriu uma área para realizar o plantio das mudas. Com o término das atividades da Cooperativa Florestal em 1967, o prefeito Armindo Xavier desapropriou o local para fins de conservação da natureza, por meio do Decreto Executivo nº 134. Na década de 1990, avistavam-se na área, bandos de papagaios-charões que utilizavam o parque como dormitório. Através da Associação de Amigos do Meio Ambiente e a sensibilização da sociedade, em 29 de dezembro de 1992, na gestão de José Luiz Espanhol como prefeito, a unidade de conservação foi instituída, por meio da Lei Municipal nº 4.375. Em 1999, o local recebeu a denominação de Parque Municipal João Alberto Xavier da Cruz, em homenagem ao professor, advogado e memorialista que frequentava assiduamente o local, com a Lei Municipal nº 5.356. Em 2017, na gestão municipal de Milton Schmitz, por meio da Lei Municipal nº 8.196, altera-se o nome da área protegida para Parque Natural Municipal João Alberto Xavier da Cruz, com intuito de adequá-lo à nomenclatura proposta pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação. O Parque Natural Municipal João Alberto Xavier da Cruz é a única unidade de conservação do município. Localiza-se a cerca de 4 km da área urbana e possui 206,66 hectares. No Parque existem fragmentos de Floresta Ombrófila Mista, campos nativos, áreas de regeneração natural, espécies naturais e plantadas, nativas e exóticas, como pinus e eucalipto. Há presença de nascentes, cursos d’água, banhados e reservatórios artificiais. A vegetação encontra-se em diferentes estágios de sucessão, apresentando três fragmentos com pinheiro-brasileiro. O local é utilizado pela população para recreação em contato com a natureza, realização de trilhas interpretativas e atividades de educação ambiental. As áreas protegidas são espaços que podem proporcionar a reconexão das pessoas com a natureza. Conforme a Lei 9.985/2000, que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, os parques têm como objetivo preservar os ecossistemas de relevância ecológica e beleza cênica e são de posse e
15 hectares do parque são destinados a visitação
domínio públicos. Nestes locais é permitida a pesquisa científica, o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico. DIAS ATUAIS O atual gestor do parque, Aroni Kussler, comemora que a comunidade carazinhense tem se mostrado mais preocupada em cuidar do Parque. Algumas regras e até melhorias estão contribuindo para isto. Entre os investimentos mais recentes, conforme ele, estão a colocação de mesas e bancos novos, mais rústicos. “Um trator para roçada foi adquirido para agilizar este serviço. Além disso as estradas estão em constante manutenção para facilitar o acesso dos visitantes. Também há um espaço específico para as crianças, com balanços e gangorras”, menciona. Nos fins de semana e em feriados muita gente frequenta o parque. O espaço é público e deve ser aproveitado pelas pessoas, desde que obedecidas algumas regras”, diz Kussler.
“As pessoas podem continuar frequentando as áreas ao redor da lagoa, da bica, onde é permitido realizar almoços. É proibido som alto. A área que é de preservação só pode ser acessada quando se faz trilhas a pé e guiadas. Para isso é preciso entrar em contanto através do e-mail pmn@carazinho.gov.br”, informa.
INVESTIMENTOS E MANUTENÇÃO PERIÓDICOS
Nas segundas e terças-feiras a visitação não é permitida. Nestes dias a equipe do Departamento Municipal de Meio Ambiente – DEMA realiza a manutenção. Estas datas foram escolhidas para este fim, pois foram os dias em que se percebeu menos visitantes. A grama é cortada, são feitos reparos na infraestrutura, e os resíduos deixados durante a visitação são recolhidos, entre outras atividades. Dos 206 hectares, apenas 15 podem ser usados pela comunidade para o lazer. A pesca na lagoa é permitida desde que feita apenas com anzol, sem utilização de redes ou tarrafas. Por causa do reconhecimento como unida-
de de conservação, o parque está por receber R$ 156 mil. O projeto, de acordo com Aroni Kussler, contempla construções de banheiros, inclusive adaptados para deficientes físicos, está com o Conselho de Meio Ambiente. Em breve o convênio deve ser assinado e o recursos liberado. Também deve ser construída uma quadra de areia para a prática esportiva. Uma câmera de videomonitoramento, instalada recentemente, proporciona mais segurança aos frequentadores. Na visão do gestor, este investimento encorajou a comunidade a voltar a frequentar o local. O parque pode ser visitado de quarta-feira e domingo. No período de inverno a visitação pode ser feita entre as 9h e as 17h. No verão, entre as 9h e as 19h. “A delimitação de horários e o fechamento durante a noite especialmente inibe os vândalos”, reitera. PARQUE É FONTE DE PESQUISA A Bióloga Aline Schú, professora nas redes estadual e municipal de Carazinho, fez uma pesquisa de dissertação de mestrado, dentro do programa de pós-graduação em ciências ambientais da Universidade de Passo Fundo, voltado para o Parque Municipal João Alberto Xavier da Cruz. Aline menciona que o trabalho abordou o período de 1900 a 1950, quando ocorreu muita extração da madeira que era inclusive exportada para a Argentina e para a Europa tendo como ponto de partida a ferrovia. Durante a pesquisa, a professora descobriu que a extração de madeira fez com que fosse criada a Cooperativa Florestal de Madeireiros e ela iniciou um processo de reflorestamento da área que acabou, mais tarde, tornando-se o parque municipal. “Em 1967 a área foi desapropriada, na época do prefeito Armindo Xavier. Depois teve toda uma luta, dos Amigos do Meio Ambiente – AMA, também por causa do papagaio-charão, houve todo um movimento para que ele se tornasse a unidade de conservação que é hoje”, relata. Para ter subsídios para seu trabalho, Aline fez entrevistas com pessoas ligadas a AMA e ao Projeto Papagaio Charão entre outras causas ambientais. “O parque foi muito usado pelo papagaio-charão, nas décadas de 1980 e 1990, como dormitório. Hoje isso não ocorre mais, mas ele ajudou a criar nosso parque. A área ficou conhecida muito por isso. Era um animal ameaçado de extinção e sua presença aqui, e as pesquisas que foram feitas sobre ele, provocaram o envolvimento da comunidade e acabaram tornando o parque uma área protegida”, menciona a professora. ESPÉCIES EXÓTICAS NA UNIDADE Aline Schú menciona que hoje, o papagaio charão, ameaçada de extinção, não usa mais o Parque Municipal como dormitório, como já aconteceu há alguns anos. “Eles migram com frequência. Antes de adotar o parque, eles usaram uma área de reflorestamento em Santo Antônio do Planalto. Hoje ficam mais em Santa Catarina, onde encontram mais alimentação e abrigo benéficos para a espécie. O pinhão, além de algumas frutíferas, é o principal alimento dele e nossa araucária está ameaçada de extinção. A exploração trouxe muita riqueza e desenvolvimento para a região, mas em contrapartida levou esta árvore para a extinção”, coloca.
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Frigorífico de Carazinho: A complexa estrutura que movimentou a economia na cidade Entre 1940 e 1996 município contou com uma empresa dedicada ao processamento de produtos de origem animal. Parte da estrutura física, no bairro Glória, ainda resiste ao tempo Foto: Arquivo | Diário
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empresário Mário Piva conhece a história do frigorífico em Carazinho. Ele ingressou na empresa como auxiliar de escritório com apenas 17 anos. Desempenhou várias funções na área administrativa até se aposentar, depois de 35 anos de atividades. Ele conta que os trabalhos iniciais remontam à década de 1930 quando o estabelecimento funcionava como fábrica de banha. “A localização era do outro lado da Avenida Flores da Cunha, abaixo dos trilhos, na direção do atual bairro Sassi. Toda aquela baixada era praticamente um banhado, tanto que popularmente era conhecida como Vila Sapo. Naquele local ficava a captação de água para a indústria”, relata. Ainda segundo Piva, na década de 1940 foram edificadas as construções do atual prédio e suas chaminés para abrigar um moderno frigorífico, destinado ao abate de suínos e produção de banha, carnes, salame, presunto, copas e outros derivados. A área de terrenos do frigorífico era localizada na denominada “Fazenda da Glória” e iniciava junto aos trilhos da atual Rua Itararé, seguindo pela Avenida Flores da Cunha até a esquina onde atualmente funciona a empresa Schuster & Medeiros, na época a “faixa” Carazinho/Não-Me-Toque. “Daí pela Rua Aparecida até a Humberto de Campos, e desta até a Itararé, numa área de mais de 300 mil metros quadrados”, menciona Piva. O empresário, hoje proprietário de uma confraria de vinhos, relata sobre as construções destinadas ao suporte da indústria principal, todas de grande porte. “Chiqueiros, para os porcos destinados ao abate com capacidade para até mil animais; potreiros, pois também se abatiam bovinos cuja carne era misturada em produtos como salsichas. Este gado era transportado das fazendas de Palmeira das Missões, Soledade e de outras regiões até Carazinho, era tropeada, ou seja, a pé, conduzida por tropeiros a cavalo”, recorda. A estrutura da empresa também contava com fábrica de caixas, onde eram produzidas as embalagens de madeira para o transporte dos produtos. “As madeiras eram adquiridas em toras, em pranchões ou mesmo tábuas normais e transformadas em caixas”, relata Mário. “Havia também uma cantina de cura, um prédio de dois pisos onde eram depositados salames, salaminhos, copas, entre outros produtos, para aguardar a ‘cura’, ou seja, o tempo necessário para secar e ficar no ponto de consumo”, acrescenta. Ainda fazia parte da gigantesca estrutura do Frigorífico um almoxarifado para guardar ingredientes, condimentos, embalagens e outros itens, uma torre dotada de grandes serpentinas que realizavam a evaporação da amônia, gerando o frio necessário para resfriamento/congelamento das carnes. Também havia um desvio
Parte da estrutura do Frigorífico ainda resiste ao tempo
de trilhos da ferrovia, próprio para receber vagões nos quais eram embarcados os produtos a serem enviados aos grandes centros consumidores. “O transporte rodoviário era muito deficiente na época, havia poucos caminhões que eram pequenos e as estradas eram todas de terra”, relata. Como o estabelecimento precisava de grandes volumes de água quente e vapor para derreter a gordura, havia duas grandes caldeiras, “importadas da Inglaterra, com um consumo médio de 30 metros cúbicos de lenha por dia. Esse vapor também servia para movimentar um grande gerador, pois o fornecimento de energia elétrica em Carazinho era muito precário naquela época. Também havia uma fábrica de latas, embalagem usada para acondicionar muitos dos produtos, especialmente a banha e as conservas de carne. A matéria-prima, folha de flandres, era adquirida diretamente das siderúrgicas e as latas fabricadas no próprio frigorífico”, recorda Mario. Os poços artesianos também eram parte constituinte do complexo industrial. “Além da água bombeada a partir da baixada da Sassi, foram perfurados mais três poços artesianos, pois a exigência de água era muito grande. Para se ter uma ideia, a famosa ‘sanga do frigorífico’ era quase um pequeno rio, tanta era a água servida jogada constantemente nos esgotos”, recorda. Os funcionários também tinham instalações dentro da estrutura. “Na área de terra da empresa havia mais de uma centena de casas destinadas aos funcionários considerados estratégicos, que deviam morar bem próximos ao trabalho para os serviços urgentes que surgissem”, cita.
MATÉRIA PRIMA
Na época de sua constituição, o município de Carazinho compreendia áreas onde hoje estão Tapera, Victor Graeff, Saldanha Marinho, além daqueles que atualmente fazem limite. “Não se plantava ainda trigo e soja, sendo o cultivo de mandioca, de milho e a criação de suínos as grandes riquezas da área rural, onde residia a maior parte da população. A abundância destes animais propiciou a instalação do frigorífico. Como o transporte era precário, os porcos eram trazidos para abate em pequenos caminhões, carroças e até tropeados”, menciona. De acordo com ele, em época de maior safra, a empresa matava até mil porcos por dia e empregava mais de 500 operários, sem contar os empregos indiretos gerados como transporte de lenha, fornecimento de uniformes, alimentação, restaurantes, hotéis, entre outros. “A principal marca de venda dos produtos era ‘Aliança’, conhecida em todo o Brasil. De São Paulo os produtos eram despachados para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória e outras capitais e delas para o interior dos Estados”, coloca. Em trabalho realizado por alunos do Colégio Notre Dame Aparecida e sob orientação da professora Francine Schoreder, engajados em pesquisa do Patrimônio Histórico de Carazinho, um projeto da FUCCAR de 2005, o inicio das atividades do Frigorífico remonta a 1929 como Sociedade de Banha Sul Rio-grandense (filial 49) uma das mais bem montadas da América do Sul e que produzia até 2.500 kg/h de banha que era vendida no mercado interno e exportada para a Europa. Também fazia criação de matrizes suínas de raça. (Fonte: Jornal do Comércio de 30/05/1934). Segundo publicação do Sin-
dicato da Indústria de Produtos Suínos no Rio Grande do Sul em 1953, em Carazinho, foram abatidos mais de 40.000 suínos.
A EMPRESA
Após a construção do prédio (1940) foi constituída a sociedade denominada Frigoríficos Nacionais Sul Brasileiros S/A, com sede em Porto Alegre e filiais em diversas localidades, entre elas Carazinho. “Os principais sócios eram Max Adolfo Oderich e Piero Sassi, este proprietário de toda área onde hoje está o bairro Sassi, que foi loteada para seus sucessores. Foi casado com Nenê Dillenburg Sassi, uma das fundadoras do Colégio Notre Dame Aparecida”, diz Piva, e que o Frigorífico funcionou com esta denominação até 1960. “Neste ano, os proprietários venderam o estabelecimento, bem como sua filial de São Paulo. Foi criado então o Parque Industrial Carazinho S/A, que continuou com os trabalhos na indústria de suínos e instalou um moderno curtume para preparo dos couros provenientes dos abates”. O curtume funcionou no terreno onde hoje está o Supermercado Coqueiros Glória. “Antes era fábrica de caixas e mais tarde produzia couros de grande qualidade para fabricação de calçados finos, vestuário e estofaria”, acrescenta. Em 1978, como consequência da falta de suínos, pela mudança na economia agrícola regional que priorizou o plantio de trigo e soja, foram desativados o matadouro de suínos e também o curtume. “Tendo a empresa se dedicado unicamente ao abate de gado e fornecimento de carnes frescas e resfriadas para Carazinho e região. Em 31 de dezembro de 1996 encerrou definitivamente suas atividades”, conclui.
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Da Fazenda Colorado ao Jockey Club Carazinhense Aparício de Souza é testemunha viva do desenvolvimento do Jockey e conta a história da fundação da entidade que tornou Carazinho conhecido em todo país Foto: Arquivo | Diário da Manhã
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em revelar exatamente a idade, mas garantindo que já ultrapassou a marca dos 100 anos, Aparício de Souza é um ícone quando o assunto é o turfe em Carazinho. Dono de um acervo com documentos, fotografias e recortes de jornais, o idoso é testemunha viva da construção do Jockey Club Carazinhense. “Estou aqui desde 1940, desde o começo, quando aqui era apenas a Fazenda Colorado. O Jockey ainda não existia. No cemitério (das paróquias Glória e Fátima) havia apenas duas sepulturas”, relata. Souza tem mais de 60 anos dedicados ao Jockey. Participou de toda estruturação e construção. “No começo não havia nenhuma cocheira aqui. Nós alugávamos as cocheiras dos carroceiros. Eles atavam os animais das carroças nas sogas (corda). Aí cediam as cocheiras, que pintávamos e deixávamos os cavalos para correr as carreiras”, conta. A ideia de construir a entidade foi de um madeireiro chamado Alfredo Schmidt, que morava em São Bento. “Ele era muito rico e arrendou a Fazenda Colorado e começou a construção”. O primeiro presidente eleito em seguida, foi Vitor dos Santos que fez a compactação das raias. “Ele deu início à construção das cocheiras, junto com Olmiro Reis, Matias Silveira e João Alberto Xavier da Cruz. O presidente pagava para nós treinadores ficarmos aqui, 30 mil réis por mês, para não competir fora de Carazinho e correr aqui, pelo menos uma ou duas corridas por mês. Ele dava ainda um caminhão de lenha, para fogo de chão, pois todas as cocheiras eram aquecidas à lenha”, lembra, revelando que é um dos fundadores da entidade e que seu título de sócio é o de número 1. Ainda criança, com 5 ou 6 anos, Aparício de Souza foi jóquei. Mais tarde tornou-se treinador, o que lhe conferiu experiência e conhecimento diferenciado em relação ao turfe. Ele relata que nos primeiros anos de atividades do Jockey Club Carazinhense, o dinheiro das corridas dos turfistas começou a pagar a área para os proprietários. “Tinha uma secretaria velha de madeira e quando terminavam as corridas, já era separado o valor para o pagamento do campo. Assim, a gente foi fazendo até pagar tudo. O presidente do Jockey tinha muito contato com os carreiristas. Nós formávamos as corridas por telefone. Chegou a sair uma prova aqui, com 44 potros legalizados, há cerca de 40 anos. Nesse período começou a entrar bastante dinheiro e o Jockey passou a ser conhecido. Todo esse patrimônio foi construído à pata de cavalo”, enfatiza. Ele conta que aos poucos, com as grandes competições, começaram a vir para Carazinho os melhores carreiristas do Brasil, transformando o município em
referência do turfe nacional. “Em 1962 foi disputada a primeira penca de Puro Sangue Inglês – PSI. Eu ganhei a corrida, como treinador, com um cavalo chamado Stud Del Pancho, de propriedade de João Pasqualotto e em 1963, ganhei em Vacaria. Aqui sempre se reuniram os melhores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, entre outros Estados, também do Uruguai, Argentina”, menciona Aparicio. Hoje a pista tem 17m de largura e 1.200 m de comprimento.
CAVALOS DE JANGO CORRERAM EM CARAZINHO
Entre as recordações que guarda em casa, entre eles documentos e fotografias, Aparicio possui uma verdadeira relíquia histórica que se orgulha de revelar. São as guias de transporte de cavalos do presidente João Goulart, o Jango. Os animais eram cuidados pelo ex-treinador. “Eu cuidava alguns animais dele em São Borja e outros aqui em Carazinho e Passo Fundo. Ganhei uma corrida com um animal do presidente, onde recebi uma bandeja de prata”, relata.
DIREÇÃO ATUAL PRETENDE CERCAR JOCKEY
Fundado em 1950, o Jockey Club Carazinhense ostenta o título de maior cancha reta da América Latina. Possui mais de 300 sócios, a maioria ativos. O presidente Antônio Pedro Palharini conta que atualmente as corridas com cavalos
da raça Puro Sangue Inglês – PSI são mais comuns, embora até pouco tempo atrás realizassem competições com animais quarto de milha. Também são tradicionais os leilões de potros. “Estes animais são vendidos e automaticamente inscritos para correr no ano seguinte. São pencas fechadas, com premiação definida, geralmente vinte vezes maiores que em outras entidades, como o Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro”, afirma. Palharini concorda que o Jockey Club Carazinhense poderia ser ainda mais movimentado. “O número de animais têm diminuído, muito por causa das exigências do Ministério da Agricultura. Estamos nos adequando sempre ao que o MAPA tem pedido. Uma das recomendações, por exemplo, é que não se use mais os chamados paddocks, que foram marcos para coibir o doping. Os animais ficava isolado por várias horas e só saia quando ia correr. Concordo que é uma ‘judiaria’ para o animal ficar fechado, muitas vezes no calor”, menciona. De acordo com o presidente, os treinos ocorrem especialmente de manhã e geralmente o movimento é grande. “Tem dias que aqui (o Jockey) fica cheio. São sete raias e mais uma pista de treinamentos que é usando quando o tempo está ruim, para não estragar as principais”, conta ele, informando que pelo menos 140 cavalos são abrigados na instituição. A maioria dos proprietários tem ligação com o meio rural.
IDENTIDADE CULTURAL
O presidente enxerga como muito importante a manutenção do Jockey Club Carazinhense, diante da identificação cultural que a comunidade tem para com a instituição. Afinal de contas, no passado, a cidade era passagem dos tropeiros e a própria Avenida Flores da Cunha já foi uma cancha reta, no trecho onde hoje estão a Prefeitura e a Delegacia de Polícia. “É muito importante manter esta cultura. Viajo bastante e em todos os lugares para onde vou e falo sobre Carazinho as pessoas relacionam a cidade com a maior cancha reta da América Latina. É algo que precisa ser preservado”, orgulha-se.
INVESTIMENTO NO CERCAMENTO
A atual gestão possui um projeto de cercamento do Jockey. Neste sentido foram vendidos seis hectares da área para conseguir os recursos necessários, onde está iniciando a edificação do Condomínio Residencial Andaluz. “Estamos ansiosos para atingir esta meta. Queremos murar todo o Jockey e por isso decidimos vender essa área para ter condições financeiras para isso. Este projeto já é antigo, muitas administrações tentaram colocar em prática e agora estamos trabalhando para concretizá-lo”, conta. O Jockey Club Carazinhense fica na Rua Carlos Gomes, 334. Bairro Fábio. O telefone para contato é (54) 99666-6030.
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Aeroclube de Carazinho é referência na formação de pilotos Entidade foi fundada em 1940 e chegou a receber voos comerciais. Hoje dedica-se a formação de profissionais na área da aviação Foto: Arquivo Museu Olivio Otto
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egundo informações colhidas pela professora Nelci Ehrhardt, na década de 1950 e 1960, Carazinho tinha um intenso tráfego aéreo com várias empresas de aviação, entre elas Varig, Cruzeiro e SAVAG. Pela precariedade das estradas e dificuldade de acesso à capital do Estado e a outros pontos distantes, as pessoas preferiam o transporte aéreo, mais rápido e eficiente. “Era o meio de transporte preferido dos turfistas que vinham ao Jockey Club Carazinhense, que por ele inclusive transportavam os cavalos que disputavam as corridas. Infelizmente o aeroporto de Carazinho deixou de funcionar”, comenta. O Aeroclube de Carazinho fundado em 9 de julho de 1940, por Aparício Nunes representa hoje o setor de aviação da cidade, com sua escola de formação de pilotos que é referência nacional e que tem projeção em diversos países do Mercosul. Ao longo dos anos, a entidade vem investindo na expansão e na reestruturação sendo atualmente centro de excelência nas áreas de formação e capacitação de profissionais para as funções de piloto comercial, piloto agrícola e comissário de vôo. Alunos de várias gerações, como jovens que procuram ingresso no mercado de trabalho, empresários e proprietários de aeronaves buscam na entidade capacitação profissional que já beneficiou milhares de pessoas e tem contribuindo decisivamente para o desenvolvimento de profissionais na área da aviação. Hoje, o Aeroclube de Carazinho é referência a nível nacional na aviação civil, agrícola, comissariado de vôo
e paraquedismo. Entre as formações oferecidas estão piloto privado de avião (PPA), piloto comercial de avião (PCA), piloto privado de helicóptero (PPH), piloto comercial de helicóptero (PCH), piloto agrícola, piloto comercial (IFR), instrutor de Vôo Avião – (INVA), lançador de paraquedas – (LPQD), instrutor de vôo de helicóptero e piloto rebocador de planador. ONDE ESTÁ Localizado na rua Sadi Kissmann, 800, no bairro Santa Terezinha, tem espaço privilegiado, amplo e seguro para eventos como concurso de pipas e eventos beneficentes.
Aeroporto chegou a receber voos comerciais na década de 1960
VÔOS PANORÂMICOS O Aeroclube de Carazinho oferece a possibilidade de realizar voos panorâmicos sobre a cidade para conhecer os principais pontos e desfrutar a experiência inesquecível de voar. O panorâmico de avião é realizado a bordo de aeronave Cessna 172, com capacidade para três passageiros e o piloto. A duração é de aproximadamente 18 minutos. A visitação ao Aeroclube pode ser feita de segunda a sexta-feira em horário comercial, preferencialmente de forma agendada, pois a entidade disponibiliza um colaborador para acompanhar a visita. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 54-3331-2921. O atual presidente é Paulo César Barbosa, conhecido como Pastel.
Foto: Arquivo | Diário
Aeroclube pode ser visitado em horário comercial
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Do ciclo da madeira à logística do agro uitos foram os ciclos econômicos que antecederam a atual economia do Município e região. A erva-mate foi o primeiro produto a ser cultivado e explorado pelos espanhóis, que já era utilizada pelo índios. Depois veio o tropeirismo, a primeira logística de transporte de âmbito internacional, pois ligava o Uruguai com a região aurífera de Minas Gerais e Carazinho estava nesse circuito. Seguiu-se o ciclo da mandioca, cuja farinha, adicionada a de trigo, formava a conhecida “farinha mista”, como alternativa à importação. A banha foi outro produto que movimentou a economia carazinhense, abastecendo o mercado interno e sendo exportada para a Europa. Outro produto de destaque na nossa economia foi a madeira. Esse segmento movimentou nossa economia no início do século passado, até a consolidação da logística do agro, setor que atualmente é o mais significativo na economia do Município. Em todos esses ciclos, o fator preponderante para o desenvolvimento sempre foi o da localização geográfica, um dos principais diferenciais de Carazinho. Em relação ao movimento de consolidação da logística do agro, o início aconteceu com a empresa TW Transportes. Na sequência, houve a instalação da Luft Agro, seguida do Grupo Toniato e mais recentemente da Bravo Logística, consolidando o ciclo do setor mais em voga atualmente na cidade. “A importância da logística do agro pode ser analisada em um contexto histórico como um dos grandes marcos para a cidade, como foi a madeira há muitos anos, a vinda das universidades e da Parmalat. Com a Bravo Logística, nós nos tornamos referência no sul do país nesse segmento, porque os três grandes players da logística do agronegócio possuem filiais em Carazinho”, destacou o atual secretário de Desenvolvimento, Deninson Costa, em recente entrevista ao Diário da Manhã. Costa frisa o crescimento que os três grandes marcos na economia da cidade geraram. “A chegada dessas empresas consolidou esse setor (logística do agro) na cidade, como aconteceu com as universidades, porque com a vinda da Ulbra, logo após chegou a UPF e outras instituições de ensino e acabamos nos tornando um polo microrregional. Já com a logística do agro, somos um ponto de referência no segmento no Sul do país”, reforçou o secretário. Neste sentido, pode-se afirmar que Carazinho destoa da realidade brasileira e estadual, já que está em franco desenvolvimento. A prova disso são os números econômicos do Município, com superávits financeiros do poder público e o volume de arrecadação que vem registrando aumentos, mesmo em períodos de crise.
Foto: Adriano Dal Chiavon\Diário
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Carazinho experimenta desenvolvimento que desde o início foi pautado na localização geográfica RESULTADOS SE DEVEM A TRÊS GRANDES FATORES
Para a equipe da atual administração municipal, os números positivos ao longo do tempo são atribuídos a três fatores que culminaram no desenvolvimento da cidade. Conforme Costa, as universidades, a chegada da Parmalat (hoje Piracanjuba/Nestlé) e a consolidação da logística do agro que foram os “divisores de água” na economia da cidade. “Uma das primeiras grandes viradas de página para o município foi a chegada da Ulbra, que culminou logo após com a vinda do campus da UPF. Nós sabíamos que esse era um fator que mudaria a cidade, como de fato aconteceu. Outro ponto importante no setor econômico/empresarial foi a vinda da Parmalat para a cidade. E por último, mais recentemente, a logística do agro, um grande salto na economia local”, colocou.
QUARTO GRANDE MARCO É BASEADO NO CONSUMO
No seu auge, entre 1920 a 1950, a indústria da madeira em Carazinho chegou a ter 150 serrarias atuando. Hoje, resquícios desse tempo podem ser encontrados no Museu Olívio Otto
De acordo com dados divulgados pela Secretaria Municipal da Fazenda, a Receita Corrente Líquida (RCL) do município, valor arrecadado com impostos, taxas e repasses governamentais, teve crescimento mesmo em anos como 2015 e 2016, períodos onde a crise do país atingiu seu ápice. Ao longo dos anos, os números positivos também mostram um volume expressivo de crescimento. Desde 2002, quando os dados começaram a ser compilados da forma como são arquivados atualmente, apenas em 2009 nosso município registrou déficit na arrecadação. Já em relação ao superávit financeiro do executivo municipal, somente no ano passado, a cidade registrou um valor de mais de R$ 10 milhões.
DISTRITOS INDUSTRIAIS
Carazinho possui dois distritos industriais. O mais antigo, denominado Carlos Augusto Fritz, conta com doze empresas de vários segmentos, inclusive da logística do agro. É nele que também está estabelecida a Nestlé/Piracanbuja, uma das mais antigas instaladas naquela região. O mais recente, Distrito Industrial Iron Albuquerque abriga três organizações empresariais. Os dois distritos, cada um em uma ponta do Trevo da Bandeira – um dos maiores entroncamentos rodoviários do sul do país – margeiam as BRs 285 e 386. Foto: Adriano Dal Chiavon\Diário
Foto: Adriano Dal Chiavon\Diário
Carazinho possui filiais de três das principais empresas de logística do agro do país, consolidando a cidade como uma referência no setor no Sul
Outro ponto a ser destacado que torna Carazinho um polo microrregional, na visão de Dêninson da Costa, é o movimento de concorrência iniciado com os postos de combustíveis e que também já atingiu outros setores. A queda nos preços dos produtos que a concorrência gera, está tornando a cidade também um polo microrregional de consumo, outro ponto que pode se tornar um marco na economia local. “Carazinho é uma das cidades que tem a gasolina mais barata do Estado e isso atrai as pessoas para consumirem em lojas, supermercados. Há grupos empresariais da cidade que se desenvolveram muito e que projetam empreendimentos que podem tornar os combustíveis ainda mais baratos, como é o caso da Usina de Etanol que é prevista pela Rede Boa Vista. Além disso, há as redes de supermercados que também se estruturaram e oferecem preços muito competitivos. Com isso, as pessoas vêm para Carazinho e acabam movimentando todo o comércio”, detalhou o secretário.
Chegada do laticínio da Parmalat, atualmente Piracanjuba/Nestlé, foi um dos marcos para a economia da cidade
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Museu Olívio Otto tem mais de 30 mil peças no acervo Instituição foi criada em 1957 a partir de uma tragédia familiar de seu fundador, o comissário de polícia, Olívio Otto Foto: Divulgação | Museu
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Museu Olívio Otto, localizado no antigo prédio das Centrais Elétricas de Carazinho – Eletrocar, próximo à Prefeitura, nasceu em novembro de 1957, quando da morte de Antonio Carlos Otto, o Negrão, filho do fundador, em um acidente de avião. Restou da aeronave uma ponta de asa recolhida, junto com alguns outros pertences, trazidos para a residência do pai por seu irmão José Edson Otto. Olívio juntou outros pertences do filho, tendo iniciado assim, a organização de um acervo particular, composto de temas variados da história regional, ciências naturais, religiosidade, costumes, aspectos políticos e econômicos. Segundo informações divulgadas pelo museu, no final da década de 1960, o porão da casa de Olívio já era visitado por estudantes e pela comunidade local e regional. Em 1972, quando o porão ficou lotado com mais de 6 mil peças, muitas delas oriundas de municípios da região, a Prefeitura propôs a aquisição de sua coleção eclética e o prefeito Loreno Graeff decretou a criação do Museu Regional do Planalto através da lei 2467/72. Junto a esse acervo foi incorporado o Museu de História Natural que existia no Colégio La Salle. Em 1976, a denominação de Museu Regional do Planalto foi alterada, pois Planalto é o nome de outro município da região e o Museu passou a denominar-se Museu Municipal Pedro Vargas, em homenagem aquele que é considerado fundador da cidade. Nas décadas de 1970 e 1980, o Museu aparece e se desdobra, mas sem definição teórica, assemelhando-se a um “gabinete de curiosidades” devido ao grande número de peças e o pequeno espaço que a instituição possuía para guardar e expor as mesmas. A década de 1980 representou uma época de grandes transtornos para o Museu em função da precária estrutura física que comprometia a conservação do acervo. Nesse
Museu Olívio Otto conta a história de Carazinho e da região
contexto a comunidade já iniciou mobilizações na busca de um novo espaço. Em 1991, Olívio Otto vem a falecer e seu trabalho ainda mais reconhecido quando, em 1995, a instituição teve seu nome alterado para Museu Regional Olívio Otto. Em julho de 2007 começou a ser desenvolvido o Projeto de Gestão e Qualificação do Museu Olívio Otto, tendo como conceito gerador programa museológico desenvolvido com base no trabalho em equipe de natureza interdisciplinar, que elaborou os diversos planos técnicos, científicos, de pesquisa, planejamento, exposição e salvaguarda. Essas ações visaram suprir as novas demandas sociais em relação ao papel desempenhado pela instituição, frente ao público. Reinaugurado em sua nova sede em julho de 2008, teve sua denominação mais uma vez alterada (decreto no 6762/08) para Museu Olívio Otto, uma vez que passou a ter como foco a história local. Com a revitalização do Museu, mudaram os enfoques temáticos ecléticos dos objetos, embasados nas novas diretrizes museológicas e no Novo Estatuto dos Museus de janeiro de 2009 (lei 11.904). Em março de 2012, o Museu Olívio Otto implantou o Projeto Sismu, um sistema de informação inovador, dinâmico e interativo. Atualmente ligado à Secretaria Municipal de Educação, através do Departamento de Cultura, o Museu, em virtude da diversidade e ecleticidade do acervo, estrutura-se em dois núcleos: Núcleo de História e Cultura e Núcleo de Ciências Naturais, além do setor de Salvaguarda e Conservação do Acervo e Extensão e Ação Educativa e seu acervo, estimado em mais de 30.000 peças, está passando por nova catalogação. O Núcleo de História e Cultura visa ao desenvolvimento de pesquisas com exposições de longa duração, temporárias e itinerantes e foco na história local. Desenvolve projetos e oficinas focadas nos temas das exposições,
em parceria com a ação educativa. O Núcleo de Ciências Naturais com seu acervo de fauna, flora e minerais, registros permanentes da nossa biodiversidade, desenvolve pesquisa e conservação do acervo, elabora exposições de longa duração, temporárias e itinerantes como espaço interativo e educacional. Desenvolve ações educativas vinculadas às exposições para difundir o conhecimento científico e promover a conscientização ambiental através de oficinas, projetos e outros. OLÍVIO OTTO O comissário de polícia e delegado da cidade que hoje dá nome ao Museu foi interventor municipal durante a Segunda Guerra Mundial e criador do Tiro de Guerra. Trabalhou em hidrelétricas de Mata Cobra e Colorado, comandou a abertura do túnel de Pinhalzinho, fundou e foi membro da Banda Carazinhense. Também desempenhou papel de Rei Momo no Carnaval, cuidou do Parque Municipal, incentivou o Aeroclube, foi sócio fundador do Clube Veterano (futebol), primeiro professor de Educação Física do Colégio La Sallle, patrão do CTG Pedro Vargas e, claro, criador do Museu da cidade. EXPOSIÇÕES DE LONGA DURAÇÃO Entre as exposições de longa duração do museu está a “Recortes Históricos de Carazinho”, composta por doze nichos com objetos, textos e imagens que abordam aspectos da história econômica, política, social e cultural de Carazinho. A “Arte Sacra” retrata a religiosidade, abrangendo representação de diversas crenças, cultos e ritos vinculados a divindades, a forças sobrenaturais, ao intangível e ao desconhecido. Sobre este tema há uma exposição temporária, até março de 2020. Segundo Clenara Muneroli, responsável técnica do Núcleo de Ciências Naturais do Museu, os objetos foram
colocados a mostra em dezembro a pedido de pessoas da comunidade que tinham conhecimento da existência dos mesmos desde a época em que o Museu funcionava no antigo endereço, ao lado da Prefeitura. NÚCLEOS De acordo com o site oficial do Museu, a instituição é dividida em núcleos. O Núcleo de História e Cultura tem por objetivo o desenvolvimento de pesquisas para exposições de longa duração, temporárias e itinerantes, sem perder o foco na história local. Além disso, desenvolve projetos que visam à dinamização e qualificação do Museu. Conta também com oficinas focadas nos temas trabalhados nas exposições, que ocorrem em parceria com a Ação Educativa, cumprindo com seu papel pedagógico e visando tornar o Museu dinâmico e cada vez mais próximo da comunidade. O Núcleo de Ciências Naturais possui em seu acervo representações da fauna, flora e minerais que são registros permanentes da nossa biodiversidade. Além das atividades de pesquisa e conservação do acervo, tem como atribuições a elaboração de exposições de longa duração, temporárias e itinerantes constituindo-se como um espaço interativo e educacional. Também desenvolve ações educativas vinculadas às exposições, com o objetivo de difundir o conhecimento científico e promover a conscientização ambiental. HORÁRIO DE ATENDIMENTO O Museu Olívio Otto recebe delegações de várias cidades da região, especialmente escolas. As visitas de grupos maiores devem ser agendadas através do telefone 54-3331-2699. O atendimento ocorre de terça a sexta-feira das 8h30min às 11h30min e das 14h às 17h e aos sábados das 14h às 17h. Nas quartas-feiras não há cobrança de ingresso. Nos demais dias o custo é de R$ 2,00. O diretor é Claudio D. Braun.
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Biblioteca Pública guarda história de Carazinho Instituição possui cerca de 19 mil títulos tombados além de coleções de jornais antigos e atuais do município. Espaço abriga outros serviços culturais de destaque
MUITO MAIS QUE APENAS UMA BIBLIOTECA De acordo com a atual coordenadora, Silvana Xavier, a Biblioteca possui cerca de 19 mil livros tombados. Além do serviço de empréstimo deste acervo, a instituição abriga o Telecentro criado há cerca de 10 anos para promover a inclusão digital da comunidade. Apesar do atual acesso facilitado à internet pelo telefone, o local continua sendo bastante procurado. “São 10 computadores à disposição dos carazinhenses que podem inclusive imprimir currículos, pesquisar vagas de emprego, realizar inscrição em concursos, que em sua a maioria são feitas de forma virtual”. Silvana detalha também que estão sendo colocadas em prática condições para facilitar o acesso das pessoas com
Foto: Mara Steffens | Diário
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riada pelo decreto-lei 56/44, de 17/10/1944, pelo então prefeito Albino Hillebrand, a então Biblioteca Pública Municipal completou em 2019, 75 anos de atividades. Funcionou por 25 anos no salão nobre da Prefeitura, (no atual gabinete do prefeito), que também foi sede do poder legislativo. Em 25 de janeiro de 1969 foi transferida para o atual prédio, na esquina da Avenida Pátria com a rua Bernardo Paz, em instalações edificadas especialmente para suas finalidades. Segundo a pesquisadora Jussara Reali, as providências para aquisição do terreno e construção foram do prefeito Armindo Xavier da Cruz. O prédio foi projetado pelo arquiteto carazinhense Celso Senger. Na época da edificação (1967-1968) foi considerada modelar para o objetivo, possuindo inclusive um auditório com 100 lugares. Nas suas dependências funcionaram por muitos anos um posto de atendimento da 7° Delegacia de Educação, algumas atividades do Fórum, sendo o local preferido para reuniões, cursos, encontros e sessões solenes. O nome atual Biblioteca Pública Dr. Guilherme Schultz Filho foi oficializado pela lei municipal 3157/80, assinada pelo prefeito Loreno Graeff, em homenagem ao ilustre filho de Carazinho. Desde 2006 sua fachada ostenta belíssimo painel representativo da Retrospectiva Sócio Econômica de Carazinho, da artista plástica carazinhense Ilse Ana Piva Paim, valorizando a história do Município. “A Biblioteca sempre foi referência para estudantes e leitores por seu acervo rico e variado. Cabe à juventude estudiosa usufruir desse patrimônio cultural, indispensável para o conhecimento e exercício da cidadania”, diz Jussara Reali.
Em 2019, Biblioteca completou 75 anos
necessidades especiais e garantir também a segurança dos usuários. O tempo de uso dos computadores é limitado em uma hora sendo exigida a apresentação de documento de identidade (e a partir deste ano será exigida também a comprovação de endereço) e o uso das máquinas está sendo registrado. Na Biblioteca existe ainda uma sala de reuniões onde ocorre a “Roda Prosa” envolvendo pessoas da comunidade em debates. Também abriga a Academia Carazinhense de Letras – ACL, como forma de incentivo à leitura e ao contato dos leitores com escritores e em suas dependências se encontra uma Galera de Arte que entre outras ostenta quadro dos membros da ACL recentemente inaugurado. Em sua sala de pesquisa técnica estão todos os exemplares dos jornais Diário da Manhã, Jornal da Serra, Noticioso, Jornal da Produção e People disponíveis para pesquisa devendo ser manuseado com uso de luvas, informa Silvana. O local também oferece contação de histórias e as escolas podem agendar visita através do telefone 54-3329-6440.
HORÁRIO DE ATENDIMENTO A Biblioteca Pública Dr. Guilherme Schultz Filho funciona de segunda a sexta-feira das 8h30min às 12h e das 13h30min às 17h. Nas quartas-feiras a tarde o expediente é interno e não há atendimento ao público.
O PATRONO Guilherme Schultz Filho nasceu na Vila de Santa Terezinha, distrito de São Bento, no município de Carazinho, no dia 2 de abril de 1911, filho de Guilherme Schultz e de Ponciana Fiúza Schultz e casado com Maria Borges de Almeida Peres Schultz. Bacharel pela Faculdade de Direito de Pelotas (1936) advogou em Porto Alegre onde também foi diretor do serviço Estadual de Turismo de 1963 a 1967. Foi membro do Conselho Estadual de Cultura em Porto Alegre, da Academia Sul Rio-grandense de Letras, do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, da Estância da Poesia Crioula, da Casa do Poeta em 1970, vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, |Secção Rio Grande do
Sul (1976), presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (1971 a 1973) e diretor do Diário Popular de Pelotas. Por ocasião da Revolução de 1930, o Dr. Guilherme Schultz Filho foi escolhido para fazer o discurso saudando o presidente Getúlio Vargas e sua comitiva que contava com o general José Antônio Flores da Cunha, João Neves da Fontoura, Osvaldo Aranha e outros integrantes. Foi poeta, orador, historiador, conferencista e jornalista. Usou os pseudônimos de Mariano, Xirú, e mais tarde Chiquinho da Vovó. Deixou expresso idéias e pensamentos em seus pronunciamentos de improviso e também impressos em obras, as quais constituem sua bibliografia, tais como “Rodeio das Águas”, “Galponeiras”, “Símbolos Crioulos”, “Gesta de um Clarim”. Sua vida e obra tem sido amplamente divulgadas especialmente através de palestras e publicações do escritor e pesquisador Adari Ecker que elegeu o doutor Guilherme como seu patrono para a Academia Carazinhense de Letras. É dele o livro recentemente lançado “Biografia de Guilherme Shultz Filho”.
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Da educação infantil às universidades Fotos Adriano Dal Chiavon\Diário
Carazinho possui formação educacional em todos os níveis
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UPF de Carazinho atua na cidade desde 24 de janeiro de 1990
arazinho possui boa oferta no
âmbito educacional. Da educação infantil às universidades, o Município possui ampla estrutura. A rede pública municipal é responsável pela oferta da educação infantil, com 15 escolas espalhadas em quase todos os bairros. Recentemente foi criada a Escola de Educação Infantil Irmão Martin, no bairro Oriental, na estrutura que pertence à Fundação La Salle, atendendo grande demanda daquela região da cidade. Há outras duas escolas privadas para crianças entre 0 a 5 anos: Escola de Educação Infantil Amar e Centro de Educação Infantil Somaic. A municipalidade também atende à demanda na educação fundamental, com ensino do primeiro ao nono ano em 13 escolas. Através da rede pública estadual, a comunidade tem acesso a 16 escolas, sendo 10 de ensino fundamental e 8 de ensino médio, embora algumas ofereçam as duas modalidades. Com ensino profissionalizante são dois estabelecimentos: Escola Estadual de Ensino Profissional de Carazinho – EEEPROCAR, com foco no ensino agrícola, e a Escola de Ensino Médio Cônego João Batista Sorg, que além do ensino médio convencional oferta também o curso Técnico em Enfermagem. Em âmbito privado, a oferta de ensino vai da educação infantil ao ensino médio, com quatro instituições tradicionais: Colégio Sinodal Rui Barbosa, Colégio La Salle, Colégio Notre Dame Aparecida e Instituto de Educação Nossa Senhora da Glória. Carazinho conta ainda com duas escolas especializadas em atender pessoas com deficiência: a APAE Laços de Ternura e o Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado – CEMAEE. NÚMEROS DA EDUCAÇÃO EM CARAZINHO Dados do Censo Escolar de 2018 informam que Carazinho possui um total de 54 escolas, com as seguintes matriculas: creches - 1.729 crianças; pré-escola – 1650; em séries iniciais - 3.853 estudantes; nos anos finais - 3335; ensino médio - 1.923; educação de jovens e adultos - EJA 923; educação especial – 533, o que totaliza
13.946 matrículas. Também em números gerais, o censo apontou que nos anos iniciais do ensino fundamental a reprovação foi de 2,7%, ou seja, 104 reprovações. Nos anos finais o índice é um pouco maior: 11,7% (391 reprovações) e no ensino médio 18,7% (333 reprovações). O abandono escolar representou 0,3% (11 casos) nos anos iniciais, 2,3% (79) nos anos finais e 7,4% (133) no ensino médio. ENSINO SUPERIOR Considerado um divisor de águas no crescimento da cidade, a chegada das universidades no município de Carazinho é apontada como um dos primeiros grandes passos para o desenvolvimento. Tudo começou em 1990, quando a Universidade de Passo Fundo (UPF) começou a operar uma unidade na cidade, funcionando junto ao Colégio La Salle, com o curso de Administração e graduações na modalidade de licenciatura. Com o passar da década de 1990, foi ampliando a oferta de cursos: em 2000 eram 13 opções. No decorrer da década de 90, iniciou-se na cidade de Carazinho e municípios da região um movimento buscando ampliar a oferta de cursos superiores. Lideranças políticas, empresariais e de municípios próximos que se uniram tinham o objetivo de buscar uma nova opção de universidade para Carazinho e encontraram no aceite da ULBRA – Universidade Luterana do Brasil, a possibilidade de ampliar o setor universitário. Após os trâmites, em agosto de 2000 começaram a funcionar os primeiros cursos da ULBRA em Carazinho, como relata a professora Nelci Ehrhardt, que foi coordenadora de ensino da instituição de 2000 a 2012 e uma das lideranças que participou ativamente da busca pela instituição de ensino superior. MOBILIZAÇÃO REGIONAL Entre as lideranças que auxiliaram na busca por uma nova universidade para a cidade estiveram políticos locais, empresários e prefeitos da região. Conforme Nelci, mais de 40 municípios endossaram a busca pela instituição.
Campus da Ulbra de Carazinho iniciou as atividades no dia 16 de agosto de 2000
“Com essa movimentação as lideranças políticas e educacionais procuraram a reitoria da ULBRA para que se iniciasse o processo de instalação. Inicialmente havia a idéia de utilizar dependências do Colégio Nossa Senhora da Glória, mas no decorrer da montagem do processo que seria encaminhado ao MEC a reitoria construir um campus e adquiriu 200 mil metros quadrados, área onde hoje se encontra o campus”, explica Nelci Ehrhardt. Três anos após iniciadas as tratativas para a instalação do campus da ULBRA em Carazinho, em 1997, as obras para a construção da universidade tiveram início, às margens da BR 285. As edificações foram realizadas em blocos ao longo dos anos. As aulas iniciaram no dia 16 de agosto de 2000, com 6 bacharelados: Administração, Direito, Desenho Industrial, Enfermagem, Serviço Social e Sistemas de Informação. Hoje são 14 ofertas de cursos presenciais e 21 na modalidade EAD. CRESCIMENTO DA UPF O início dos anos 2000 também marcou o crescimento do Campus da UPF em Carazinho. Naquele ano, a tradicional universidade da região Norte do Estado decidiu ampliar e construiu uma unidade no bairro Oriental, onde se desenvolvem atualmente as atividades das cinco graduações ofertadas. “Um espaço privilegiado de geração de
conhecimentos e que garante o desenvolvimento de toda a região. Com o objetivo de consolidar uma estrutura com essa natureza foi criado o Campus UPF Carazinho. Em atividade no município desde 1990, hoje, a UPF Carazinho conta com uma ampla e moderna estrutura física própria, com mais de sete mil metros quadrados de área construída sobre terreno com 12,3 hectares. Nesse espaço, acolhe mais de mil acadêmicos, que adquirem conhecimento nos cursos de Administração, Ciências Contábeis, Direito, Engenharia de Produção Mecânica e Pedagogia”, destaca parte do histórico divulgado pela universidade à reportagem. Nos quase 30 anos de atuação da UPF em Carazinho, mais de três mil pessoas já se formaram na instituição. Atualmente, pouco mais de 100 profissionais atendem aos cerca de mil estudantes da instituição de ensino superior. AMPLIAÇÃO DA OFERTA COM AS UNIVERSIDADES EAD Se hoje Carazinho é considerado um polo microrregional, isso se deve muito às universidades que há décadas contribuem com esse desenvolvimento. Além das tradicionais instituições de ensino, mais recentemente a cidade também vem recebendo a presença de instituições que atuam no modelo EAD, como é o caso da Unopar, Uninter, entre outras, que registram busca crescente pelos alunos.
Cursos ofertados atualmente pelas duas maiores universidades de Carazinho UPF Cursos presenciais: Administração, Ciências Contábeis, Direito, Engenharia de Produção Mecânica e Pedagogia. Projetos e extensão: rádio FM 90.5 UPF; Centro Regional de Estudos e Atividades para Terceira Idade (Creati); Espaço Cultural Prof.ª Eugênia Nilda Stangler de Oliveira, aberto à comunidade e destinado a eventos culturais; Coral do Campus; projeto de Musicografia Braille, que possibilita que pessoas cegas aprendam a ler partituras e tocar instrumentos musicais; Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID); Programa de Apoio Institucional a Discentes de Extensão e de Assuntos Comunitários (Paidex); Brinquedoteca - um laboratório para a formação docente de pedagogos; Núcleo de Apoio Contábil e Fiscal (NAF), que oferece assessoria de forma gratuita e direcionada às pessoas físicas que necessitam de auxílio no encaminhamento de questões contábeis e fiscais junto à Secretaria da Receita Federal; Serviço de Assistência Jurídica (Sajur); Balcão do Consumidor/Procon; Núcleo de Mediação de Justiça Restaurativa (MediaJur); Mediajur Mulher. Também está abrigado no prédio do campus o Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Alto Jacuí (Coaju).
Ulbra Presenciais: Administração, Arquitetura e Urbanismo, Biomedicina, CST Agronegócio, CST Design de Interiores, CST Estética e Cosmética, CST em Gestão de Recursos Humanos, CST Logística, Design, Direito, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia de Produção e Sistemas de Informação. Modalidade EAD: Administração, Ciências Biológicas (licenciatura), Ciências Contábeis, Ciências Sociais (licenciatura), Física, Geografia, Gestão Ambiental, Gestão da Produção Industrial. Gestão de Recursos Humanos, Gestão Financeira, Gestão Pública, História, Letras, Logística, Matemática, Negócios Imobiliários, Pedagogia, Processos Gerenciais, Serviço Social, Sistemas para Internet e Teologia.
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Carazinho oferece várias opções de lazer No entretenimento, no esporte e na cultura, a cidade possui dezenas de instituições
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uem procura alguma atividade de entretenimento ou esportiva tem várias opções em Carazinho. O Grêmio Aquático Carazinhense, localizado no final da Rua Alexandre da Motta, entre os bairros Medianeira e Vila Rica, nasceu do espírito empreendedor e da paixão pelo esporte de um grupo de pessoas, entre elas os irmãos Franzen. As primeiras reuniões ocorreram no já extinto Café Farroupilha, prédio situado atualmente em frente ao Calçadão, no centro, e no tradicional bar Grande Hotel. Além desses locais, as conversas também ocorriam em encontros nos bailes dos clubes sociais. A ausência de locais de lazer e de prática de esportes para preencher os fins de semana foi a mola mestra que levou os sonhos a se transformarem em ações concretas. A primeira delas, que contou com 11 participantes foi uma reunião no então Ginásio La Salle, em 2 de fevereiro de 1948, data que ficou sendo a oficial de fundação. O primeiro presidente, Lauro Franzen, foi homenageado com seu nome para o ginásio de esportes da entidade. Hoje as práticas esportivas são destaque no Clube, especialmente as disputas de bola 9 que ocorrem durante todo o ano, alem de eventos culturais e recreativos. Piscinas, espaços infantis, quiosques, sauna, trilhas, quadras de tênis e voleibol, academias, salão de festas quadras de futebol estão entre as atrações da instituição, em meio a um parque natural exuberante. O Clube Comercial protagonizou a história da cidade. A ata de fundação do então Clube Football Christovam, em comemoração à data de descoberta da América registra: “em 12 de outubro de 1914 às 21 horas, no salão Cosmopolita, neste 4º distrito do município de Passo Fundo, denominado Carazinho”. Durante muito tempo os grandes eventos sociais da cidade ocorreram nas suas dependências: representações teatrais, recitais, palestras, formaturas, shows e, é claro, os grandes bailes e reunioes dançantes entretinham a população de Carazinho e região. A construção da sede na Avenida Flores da Cunha terminou em 1930, comemorada com grandes festividades, queima de fogos de artifício e baile comemorativo com a visita de autoridades de Passo Fundo. No ano seguinte, 1931, no salão do Clube Comercial foi lavrada a ata de criação do Município de Carazinho, comemorado com mais um baile nas suas dependências. Há cerca de dez anos, a sede social
que ficava bem no centro da cidade foi demolida e edificada uma moderna construção, junto a sua sede campestre, na Rua Boaventura Subtil de Oliveira, 65, também no Centro. No local onde o clube funcionou por quase 80 anos foram construídos prédios comerciais que abrigam redes de lojas. O Clube também possui ampla opção de lazer para os associados: salão de festas, quiosques, restaurante, piscinas, sauna e campos de tênis e bola 7, além de quadras para voleibol de areia estão entre os destaques. Outro importante local de lazer e de serviços é o SESC – Serviço Social do Comércio, com amplo e moderno prédio, inaugurado em 29 de junho de 2016. Localizado no centro da cidade, na Av. Flores da Cunha, 1224, conta com teatro, consultório odontológico, academia, cafeteria e espaço Saber e Lazer (Biblioteca, acesso à Internet e Sesc Games, com jogos recreativos e eletrônicos). Desenvolve ações de cultura, esporte, lazer e turismo e os programas SESC Maturidade Ativa e Sorrindo para o Futuro. Importante mencionar que outras associações e clubes foram destaque no passado, mas não deles não encontramos registros oficiais: Centro Cultural 25 de Julho, Flor da Serra e Clube 13 de Maio. Outro grande centro de renome nacional localizado em Carazinho é a Bier Site. Com vários ambientes é local para shows de artistas famosos, eventos de todo tipo e constantemente procurado para comemorações marcantes, como casamentos, aniversários e formaturas. TRADICIONALISMO Carazinho se destaca na cultura também com o tradicionalismo. São cinco CTG’s: Alfredo D’Amore, Pedro Vargas, Vento Minuano, Unidos Pela Tradição Rio-Grandense e Rincão Serrano. Integram ainda a lista de entidades ligadas ao tradicionalismo Grupo Tradicionalista Cavaleiros da Integração, Piquete Aldino Neuls, Núcleo de Criadores de Cavalos Crioulos do Planalto, Grupo de Cavaleiros Sentinelas do Pampa, Grupo Folclórico Sepé Tiarajú, Quadro de Laçadores Miguel Pinheiro, Cavaleiros da Província de São Pedro, Quadro de Laçadores João da Silva, Grupo Cultural e Tradicionalista Cavaleiros da Vereda das Tropas e Piquete Nestor Sampaio de Quadros. O Conselho Municipal de Tradições Gaúchas – CMTG é quem trata das questões do tradicionalismo e é o responsável por organizar eventos
culturais gaúchos, como a Semana Farroupilha. Recentemente, dentro destas comemorações, instituiu o Concurso Municipal de Poesias, com estudantes das escolas carazinhenses. ESPORTE Carazinho já viveu tempos gloriosos no futsal. Nas décadas de 80 e 90, Pinheiro e SERCESA tornaram a cidade conhecida no meio esportivo estadual e nacional. As dependências da ACAPESU e do Ginásio João Marek receberam grandes confrontos do salonismo gaúcho. Atualmente a cidade retoma, aos poucos esta tradição. Há três anos, os Meninos da Vila – hoje OMF – ingressaram na Liga Gaúcha com um time adulto. Depois de uma passagem pela terceira divisão, disputaram duas temporadas na segunda divisão. No fim do ano passado, a SERCESA, depois de 21 anos sem departamento de futsal adulto, retomou as atividades e disputou a Copa RS, competição organizada pela Federação Gaúcha de Futsal. Neste certame, Carazinho teve outro representante, a FUNDESCAR. Para 2020, OMF e SERCESA já confirmaram participação na Liga, na segunda e terceira divisão, respectivamente e há fortes possibilidade de a FUNDESCAR ingressa na Liga 3. Enquanto isso, o futsal de base segue firme com nossas equipes participando de competições regionais e estaduais há muitos anos, mostrando que a revelação de talentos nesta modalidade nunca foi perdida. No futebol, o grande orgulho dos carazinhenses é o Atlético, fundado em 1º de julho de 1970. Completando em 2020 meio século de vida. Nasceu da fusão de dois grandes rivais, Glória e Veterano, que movimentavam grandes e fieis torcidas na década de 50. O Atlético, depois de experimentar seu auge nas primeiras décadas da fundação – chegando a campeão do interior e da segunda divisão gaúcha, o que lhe rendeu uma vaga na elite, passou por temporadas complicadas. Depois da reativação em 2010 não conseguiu estruturar-se adequadamente para realizar campanhas de destaque e está sem diretoria. O futebol também conta com categorias de base, como o Trianon, com sede no bairro Vila Rica, que trabalha fundamentos deste esporte com crianças e jovens entre 7 e 17 anos. Além dele, há o Marítimo, clube que atua em parceria com instituição de mesmo nome originária da Ilha da Madeira, Portugal. A Associação Carazinhense de Futebol – ACF, que chegou a possuir equipes no
futsal também se destaca nesse esporte. Mais recentemente, em 2019, Carazinho ganhou o Clube 1992, iniciativa do ex-jogador de futebol carazinhense Adriano Strack que trabalha com jovens de 3 a 16 anos de idade. A estrutura do clube conta com quadras de futebol society, aberta e coberta, quadra de areia, pista de corrida, sauna, piscina e academia. O clube tem até um pub, uma hamburgueria e uma barbearia e se localiza na Avenida Flores da Cunha, junto aos trilhos, no bairro Glória, próximo ao acesso ao bairro Sassi. No futebol amador, atualmente, são sete agremiações da categoria máster e nove consideradas da primeira divisão. OUTRAS MODALIDADES Carazinho se destaca ainda em outras modalidades esportivas. Na bocha, a Liga Carazinho de Bocha organiza campeonatos deste esporte, além de uma competição muito tradicional que atrai times do sul do país, a copa O Bombeador de Bocha. No tênis, nosso destaque é o jovem Orlandinho Luz, que começou no Clube Comercial, treinou no Centro de Treinamentos Gustavo Kuerten, o Guga, em Santa Catarina e hoje é atleta profissional. Considerado uma das promessas do tênis brasileiro, foi campeão de Duplas Junior do Torneio de Wimbledon, na Inglaterra, em 2014. Ganhou proeminência nacional no mesmo ano ao vencer três competições individuais seguidas no circuito ITF Júnior de Tênis em 2014 (Asuncion Bowl, Banana Bowl e Campeonato Internacional de Tênis de Porto Alegre), elevando-o ao segundo lugar no ranking júnior com apenas 16 anos de idade, quando também foi prata individual e ouro em duplas nas Olimpíadas da Juventude na China. Aos 17 anos assumiu a liderança do ranking mundial júnior. No voleibol, o grande destaque é a AABB Carazinho que em 2019 obteve bons resultados: dos 10 campeonatos que disputou, ficou com seis títulos, três vices – entre eles um estadual das AABB’s, e um terceiro lugar no Sul Brasileiro das AABB’s. No atletismo, vários atletas que integram a Associação de Corredores de Rua de Carazinho – CORRECAR estão em constante disputa. Anselmo Souza, por exemplo, é possivelmente o atleta mais antigo, ainda em atividade. Além destas modalidades, há atletas carazinhenses em dezenas de outras, levando o nome da cidade a várias partes do estado e do país.