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Operação Mensageiro: Ponticelli e Tokarski teriam recebido R$ 2,5 milhões em propina

Detalhes dos motivos que levaram à prisão o prefeito de Tubarão, Joares Ponticelli (PP), e o vice Caio Tokarski (PSD), estão em um despacho da desembargadora Cinthia Bitencourt Schaefer. O caso está em segredo de Justiça, mas o documento veio a público nesta segunda-feira. De acordo com as investigações, Ponticelli e Tokarski recebiam uma “mesada” de cerca de R$ 30 mil por mês, desde 2017. A defesa dos envolvidos nega as acusações e alega que não pode se manifestar pois o caso está em segredo de justiça.

O valor representaria 10% do contrato da empresa Serrana com o município. “Partindo-se da premissa das diversas provas indiciárias de que Joares Ponticelli e Caio Tokarski recebem 10% dos contratos do Grupo Serrana com Tubarão, o valor pago à título de propina para ambos os agentes públicos pode passar de R$ 2,5 milhões”, aponta a desembargadora.

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As informações estão no despacho que determinou a prisão preventiva contra Joares Ponticelli e Caio Tokarski, além de busca e apreensão nos gabinetes do prefeito e vice-prefeito, na Prefeitura de Tubarão, e respectivas residências, além da quebra de sigilos telefônico e telemático.

Em Tubarão, a empresa Serrana tem três contratos de coleta e destinação de resíduos sólidos, desde o ano de 2017, que rendemasomadeR$23,4milhões.

Conforme a desembargadora narra os fatos no despacho, em 2016, ainda antes do primeiro mandato, Caio Tokarski teria procurado um dos integrantes da Serrana, “tendo havido um encontro no Shopping Itaguaçu, em São José”, no qual, “o agente político pediu R$ 30 mil”. O pedido de propina teria sido aceito, segundo o colaborador premiado, “devido ao interesse em manterem contratos com Tubarão”.

Já em 2017, o secretário Darlan Mendes da Silva teria recebido em sua sala, na Prefeitura de Tubarão, um dos empresários donos da Serrana. Conforme o despacho, Darlan “solicitou um repasse mensal de propina para Caio César Tokarski e Joares Carlos

Ponticelli no montante de 10% dos valores dos contratos do Grupo Serrana comTubarão”.Odocumento conta que o empresário “teria tentado negociar valores inferiores, mas após negativas de Darlan Mendes da Silva, fechou no referido valor [...] devido ao interesse que tinha num procedimento licitatório do ano de 2018”.

Desde que o suposto acordo teria sido firmado, até a deflagração da Operação Mensageiro, eram realizados pagamentos de propina.“OGrupoSerrana, por meio do ‘Mensageiro’ realizava o pagamento de propina por meio do acondicionamento de dois envelopes, um contendo 10% dos empenhos do Grupo Serrana mensalmente, algo em torno de R$ 30 mil de propina, para o prefeito Joares e o vice Caio, e outros R$ 6 mil à R$ 7 mil em um envelope menor, para Darlan Mendes da Silva”.

Medo das investigações

Em junho de 2022, o sócio do Grupo Serrana contou que teria ido pessoalmente até Tubarão para comunicar Joares Ponticelli, Caio Tokarski e Darlan Mendes da Silva que acreditava estar sendo investigado “e que por esse motivo suspenderia o pagamento da propina”. “Darlan teria levado [dono da empresa] até a sala do prefeito municipal, momento em que este teria ficado incomodado com a suspensão da propina e saído da sala, segundo o colaborador premiado”.

Diante da reação de desaprovação de Joares Ponticelli na suspensão do pagamento das propinas, contou o delator, e dos interesses do Grupo Serrana no município, “optaram por novamente efetuar o pagamento de propina para o prefeito, vice-prefeito e gerente de gestão, com o pagamento de propinas adiantadas até o final de 2022, além de deixar pagamentos pretéritos ‘em dia’.”

A desembargadora escreveu no despacho que “há indícios robustos de que Joares Carlos Ponticelli e Caio César Tokarski, juntamente com o já segregado Darlan Mendes da Silva integrem a organização criminosa respon- sável, em tese, pelo maior e mais complexo esquema de pagamento de propinas de Santa Catarina, conforme trazido pelo Gaeco”.

Licitação direcionada

No despacho, a desembargadora conclui que “após o recebimento de propina, em tese, por Joares Carlos Ponticelli, Caio César Tokarski e Darlan Mendes da Silva, os agentes públicos de Tubarão teriam realizado edital licitatório em conluio com funcionários da Serrana para fazer com que esta fosse a vencedora do certame,fazendocomque o pagamento de mesadas mensais aos três agentes públicos continuasse até a atualidade”.

Em delação, o dono da Serrana afirmou que “Tubarão é a maior cidade que possuem como clientes a destinação final de resíduos sólidos”. “Tal circunstância denota que a Prefeitura Municipal de Tubarão, por meio de Joares Ponticelli e CaioTokarski acaba sendo um dos pilares do esquema criminoso”, escreveu a desembargadora.

O despacho da desembargadora apresentou provas como trocas de mensagens, imagens de supostos encontros em postos de combustíveis e também a presença dos aparelhos de telefone celular na mesma antena de cobertura, junto à sede da Prefeitura Municipal, além dos relatos da delação premiada.

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