Kiss: 1 ano depois

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DIÁRIO DE SANTA MARIA

Frases

para homenagear as 242 vítimas

Linha do tempo relembra os fatos mais importantes

SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2014


Há um ano, vivemos de

Homenagem

saudade E

sse é um daqueles casos em que o tempo é o melhor amigo e o pior algoz. Quanto mais ele passa, menos dói a perda e mais dói a ausência. É verdade que, 12 meses depois da tragédia na boate Kiss, as feridas parecem menos ardidas, os choros são mais contidos e a esperança de que viveremos dias melhores começa a nos convencer. Mas também é verdade que sentimos com mais intensidade a ausência dos sonhos, dos planos, das risadas, dos barulhos pela casa, do cheiro e do abraço daqueles que se foram. De 27 de janeiro passado até este 27 de janeiro, vivemos os extremos da emoção, as diferentes fases do luto e brigamos diariamente pela força para seguir em frente. Mas um sentimento parece comum a todos nós um ano depois: a saudade. Em julho do ano passado, pesquisadores do Instituto Methodus foram para as ruas de Santa Maria para saber como estava e o que pensava a população da cidade sobre a tragédia. 61,7% das pessoas ouvidas na pesquisa encomendada pelo Grupo RBS responderam que haviam perdido amigos no incêndio, 9% disseram ter perdido parentes e 33% não haviam perdido ninguém. Para quem foi obrigado a conviver com a falta de uma pessoa querida, a saudade é natural. Mas, mesmo para quem não enterrou nenhum conhecido naquele dia, o sentimento existe: sentimos saudade de como o Coração do Rio Grande batia em um compasso mais feliz antes de tudo isso acontecer. Sentimos saudade de um futuro sem essa história triste para contar. Sentimos saudade de explicar a um desconhecido que Santa Maria “é uma cidade universitária no interior do Rio Grande do Sul” – hoje, todo mundo sabe onde fica “a cidade da tragédia”. E é por acreditarmos que esse sentimento faz parte dos dias de todos nós, independentemente do nosso grau de envolvimento com a tragédia, que escolhemos a saudade para ser a

Nas próximas páginas, mostramos as 242 vítimas da tragédia e como serão sempre lembradas por suas famílias e seus amigos

guia deste especial. É ela, a saudade, uma palavra tão própria do nosso idioma e que congrega perda, falta e amor, que pode ser associada a outras 12 palavras representativas do que passamos nos últimos 12 meses. Em um momento de tanta dor, sentimos medo e encontramos solidariedade e doação, lutamos por justiça, aprendemos duras lições e nos vimos obrigados a investir em mais segurança para recomeçar. Também nos tornamos referência em tratamentos de saúde e renovamos nossas esperanças de conseguirmos nos reconstruir. Daquele 27 de janeiro até este, encontramos centenas de pais, irmãos, namorados e amigos enlutados. E é nas fotografias que eles parecem encontrar um alento, uma lembrança, uma troca de olhares que não vai acontecer de novo, um sorriso que encha o peito de uma alegria que se esvaiu. As imagens estão sempre presentes, ocupando o vazio que ficou em casa, na mesinha de centro da sala ou nas paredes. Também estão nas camisetas e nos botons, acariciando o coração de quem segue vivendo e convivendo com a perda. E é por isso que escolhemos os porta-retratos para ilustrar a capa desta edição e representar de forma física o sentimento que, na Boca do Monte, é universal. Nas próximas páginas, homenageamos as 242 vítimas da tragédia com uma frase que, segundo amigos ou familiares, explica quem é aquele que se foi. Também destacamos, em uma linha do tempo, os principais acontecimentos que marcaram os 365 dias em que convivemos com a tragédia. Para encerrar, fazemos 12 perguntas que, há 12 meses, seguem sem respostas. Depois de tudo isso, temos duas certezas: vamos em frente. Precisamos ir. Mas nunca, nunca esqueceremos.

Santa Maria, 27/01/2014

A linha do tempo está disponível em versão digital no diariosm.com.br

Você é convidado a homenagear as vítimas com uma mensagem no mosaico virtual

Carolina Carvalho, editora

Expediente Reportagens – Lizie Antonello e Marilice Daronco Edição – Carolina Carvalho Projeto gráfico e diagramação – Ricardo Silva Arte da capa do Diário – Fernando Gonda

Ao vivo no site do Diário, a partir das 20h, acompanhe em vídeo o Minuto do Barulho, direto da Praça Saldanha Marinho

Linha do tempo Produção – Lizie Antonello, Marilice Daronco e Silvana Silva Revisão – Deni Zolin Coordenação – Andreia Fontana

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Ao longo desta publicação, relembramos os principais acontecimentos do ano relacionados à tragédia


Alan

Raí Rehbein de Oliveira

“ pelo esporte e pela vida.

19 anos, nasceu em Tapera e estudava Agronomia na UFSM

o Xandy, 18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Jornalismo na Unifra

Ames Prado

Companheiro e ombro amigo de todas as horas, sabia bem o momento de brincar e o momento de falar sério.

3h17min

Allana

Oliveira da Silva

“ Erasorriso.o menino A humildade era sua identidade.

Ana

Willers

22 anos, nasceu em Santa Maria, era atendente de farmácia e estudava eletricidade predial

“ Gremista apaixonado,

cada dezembro, a doceira Elaine Marques Gonçalves, 62 anos, escreve suas proposições para o Ano Novo. Em 2013, não foi diferente. Porém, ao contrário das outras vezes, no ano que passou, ela não teve coragem de desdobrar o papel, que guarda cuidadosamente dentro de uma Bíblia. Está lá para ser visto, quem sabe, um dia. Por enquanto, as feridas não cicatrizaram o suficiente no coração da mãe que perdeu dois filhos na tragédia da Kiss – o conferente de farmácia Deivis Marques Gonçalves, 33 anos, e o vendedor Gustavo Marques Gonçalves, 25. Elaine não se sente capaz de olhar novamente para aquilo que os três sonhavam juntos. Depois do incêndio na boate, Elaine até realizou alguns desejos antigos, como o de ter uma casa confortável – ela ganhou a moradia de um programa de televisão. Mas suportar a dor tem sido uma tarefa árdua e rotineira, que ela divide com os outros dois filhos, Jean, 38 anos, e Daniele, 32. – A dor não passa. Há dias em que ela ameniza, mas, lá no fundo, você sabe que algo está faltando – explica Elaine. Volta e meia, a doceira sorri ao lembrar de quando Deivis ou Gustavo saíam correndo com um doce na mão ou pegavam, escondidos, salgadinhos de alguma bandeja. Mas ela também se permite chorar quando ouve uma das músicas que ela e os filhos dançavam juntos pela casa. Há um ano, um dia depois da morte de seu marido completar dois anos, ela somou mais duas perdas ao coração. Com uma das mãos sobre o caixão e o outro braço apoiado em amigos para se manter em pé, Elaine velou Deives na cerimônia coletiva que ocorreu no Centro Desportivo Municipal (CDM). Ao lado dela, enfrentando um calor de mais de 30ºC, milhares de outros pais, parentes e amigos faziam o mesmo: desmanchavam-se em lágrimas, contorciamse em desespero, mantinham os olhares perdidos e incrédulos e se despediam para sempre daqueles que saíram para se divertir e nunca mais voltaram. Flores, cartazes, bichos de pelúcia, camisas de time de futebol e bandeiras. De tudo um pouco era usado para homenagear os jovens. E todas aquelas coisas gritavam em um silêncio fúnebre que ali estavam reunidos os corpos e os sonhos de muita gente que ainda tinha tanta vida pela frente. Em capelas de igrejas, centros comunitários e onde mais conseguiram espaço, outras fa■ Começa festa Agromerados, promovida por alunos da UFSM, na boate Kiss

Alisson

alegre, sempre de bem com a vida e companheiro para todas as horas.

18 anos, nasceu em Ijuí e estudava Jornalismo da UFSM

“ Autoconfiante, independente,

segura, de personalidade forte e marcante, perfeccionista e apaixonada por tudo o que fazia.

Caroline Rodrigues 19 anos, nasceu em Esmeralda e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

jovem “ Uma muito apegada à família.

Ana Paula

Ana Paula

André

20 anos, nasceu em Campinas do Sul e estudava Medicina Veterinária na UFSM

21 anos, nasceu em Mundo Novo (MS) e trabalhava no Paraguai, em uma loja para crianças

20 anos, nasceu em Alegrete e estudava Engenharia Florestal na UFSM

Anibaletto dos Santos

coração puro “ Seu e humilde fica,

Rodrigues

“ Sonhadora, batalhadora,

Cadore Posser

amiga. Uma joia que Deus nos deu, mas levou tão cedo.

para nós, como uma bela lição de vida.

Faz silêncio na casa de Elaine

jovem que “ Um gostava de

dançar e que era cheio de alegria.

Um ano depois, mãe tenta se recuperar da perda de seus filhos mortos

CLAUDIO VAZ – 8/01/14

LEMBRANÇA A mãe de Deives e Gustavo guarda cuidadosamente as fotos dos filhos e, com as imagens, alivia um pouco a saudade que aperta todos os dias

mílias de Santa Maria e de outras cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina se transformaram em braços daquela dor toda que chocou o mundo. Em Santa Maria, foi preciso abrir carneiras antigas nos cemitérios e buscar caixões de outras cidades. Os das funerárias esgotaram. No Coração do Rio Grande, foi preciso contar com a ajuda de voluntários para ajudar nos funerais – era muita gente desmaiando, e mesmo os coveiros, acostumados a lidar com a morte, choravam toda aquela tristeza.

EM TRÊS DIAS, O ADEUS A SEUS DOIS MENINOS Enquanto velava e sepultava Deivis, uma inquietude tomava conta do coração já tão

■ O vocalista da banda Gurizada Fandangueira ergue o braço e aciona um sputnik. Uma faísca atinge a espuma do teto em cima do palco, e o fogo começa

■ A banda para de tocar. O vocalista tenta usar um extintor para apagar o fogo, mas o equipamento está vazio

machucado de Elaine. Gustavo havia sido transferido, em estado grave, para Porto Alegre. Ele morreu três dias depois do incêndio. Novamente, Elaine teve de juntar forças para dar adeus a um filho. Mesmo passado um ano, algumas lembranças do 27 de janeiro de 2013 são muito fortes. Elaine lembra de cada segundo tanto da despedida dos filhos, quando fecharam o portão de casa, quanto da ligação de uma amiga, que a alertou sobre o desaparecimento de seus dois meninos. – Em frente ao portão do CDM, as pessoas gritavam “Cadê meu filho, minha filha, meu neto, minha neta?”. Era desesperador. Parecia que toda aquela gente tinha sumido no ar. De repente, chegou um caminhão enorme, e eu perguntei: “O que

■ Parte do público percebe o fogo e corre para a única porta de saída. Seguranças exigem apresentação de comandas. As luzes se apagam, e o pânico é geral

26 DE JANEIRO DE 2013

■ Jovens se debatem para sair da boate superlotada. Barreiras de ferro internas e falta de sinalizadores dificultam a passagem. Muitos morrem nos banheiros, tentando achar a saída

será isso?”. E uma mulher respondeu que eram os corpos. Levei um choque – relembra a mãe de Deivis e Gustavo. Boa parte das metas que Elaine traçou em 2013 se tornaram sonhos enterrados na madrugada de um domingo trágico. Ainda assim, ela tomou coragem e escreveu novas propostas que, como faz tradicionalmente, colocou em meio à Bíblia para abrir quando 2014 chegar ao fim. – Lá se vai um ano, e, às vezes, ainda parece que é mentira. Mas, aí, deparo com a realidade: a casa vazia, a ausência da voz deles, o barulho que eles não fazem mais na porta. A dor continua, mas a vida segue também, e a gente tem de se reerguer porque ela é uma só e não podemos deixar que ela passe em vão – conclui.

GERMANO RORATO, 27/01/13

23h

A

Alexandre

Giacomolli

26 anos, nasceu em Santa Maria e era árbitro de futebol amador

colorado “ Um apaixonado

Alex

27 DE JANEIRO

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Santa Maria, 27/01/2014


Andressa

Andressa Inajá

Ferreira Flores 24 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na boate Kiss

18 anos, nasceu em Santa Rosa e estudava Medicina Veterinária da UFSM. Foi Garota Verão em 2011

“ pessoa “ Uma apaixonada pela vida. Adorava viajar, dançar e ir a festas.

Andressa

de Moura Ferreira

Sempre teve grandes paixões: os animais, os concursos de beleza e o Grêmio.

Rooz Paz

21 anos, nasceu em São Francisco de Assis e estudava Tecnologia em Agronegócios

Por onde passava, cativava facilmente amigos com seu lindo sorriso, seu jeito meigo, gentil e também bagunceiro.

Na dor, famílias se uniram

Andressa

Andrielle

Andrise

Ângelo

Ariel

Augusto

21 anos, nasceu em Itaqui e estudava Direito na Fadisma

22 anos, nasceu em Santa Maria, era estudante e pretendia cursar Desenho Industrial na UFSM

20 anos, nasceu em São Gabriel e estudava Agronomia na UFSM

24 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Medicina Veterinária na UFSM

19 anos, nasceu em Santo Ângelo e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

19 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Ciências da Computação na UFSM

Thalita Farias Brissow

aproveitar “ Sabia as alegrias da vida,

mas o estudo era a sua preocupação. Sonhava com se formar e passar em um concurso público.

O

Righi da Silva

Farias Nicoletti

prenda, amava “ Foias tradições

“ Eraalegre,umademenina

gaúchas e gostava de participar das atividades na lavoura da família.

personalidade forte, amiga para todas as horas.

Nicoloso Aita

um domador “ Eraexemplar, montava

potros chucros sem medo algum, tornava dóceis animais de difícil trato.

s caminhos do empresário Adherbal Alves Ferreira, da secretária Jacqueline Malezan, do prestador de serviços da construção civil Flávio José da Silva, e da dona de casa Ariane Pires Floriano Aguirre nunca haviam se cruzado até que o incêndio na boate Kiss tirou a vida de seus filhos, Jennefer,Augusto,Andrielle e Rogério, respectivamente. Mesmo sem se conhecerem, os pais passaram a compartilhar sentimentos: sofrimento, ausência, saudade, incerteza, revolta. A dor comum entre os pais, o desejo de justiça e de realizar os sonhos dos jovens acabaram unindo-os a outros familiares em quatro associações.Mesmo tendo características distintas, na união, os grupos encontraram consolo, ganharam força, estabeleceram metas, traçaram objetivos e realizaram ações em busca de mudança. Para Jurema Brites, professora de Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), psicologicamente as associações têm a função de manter a memória da pessoa que morreu.

Nunes Andreatta

jovem “ Um dedicado aos

estudos e cheio de amigos.

Cezar Neves

de tocar “ Gostava violão e guitarra.

Era um campeão, um vencedor.

Mas, coletivamente, elas têm o papel de dizer que podemos viver em uma sociedade mais segura. _ Ninguém gosta que seus amados morram. E, quando eles morrem de uma maneira abrupta e prematura, é algo que não tem lugar na explicação, não tem razão de ser. Aí, as pessoas buscam dispositivos de enfrentamento da dor no cotidiano. É uma tentativa de achar uma explicação para algo que parece não ter explicação. Então, entre as buscas de uma razão para comprender, foi se desenvolvendo historicamente, no mundo e no Brasil, as associações de pais e mães de vítimas. De certa forma, as pessoas querem dizer: a morte da pessoa que eu amava não pode ser em vão, porque tudo perde o sentido para mim. Então, eu vou lutar para que isso seja lembrado. Outro aspecto importante das associações, segundo Jurema, é a possibilidade de falar, recontar, poder expressar sua dor e ser ouvido pela coletividade. Essa seria uma forma da pessoa reelaborar a sua dor. JEAN PIMENTEL – 6/01/14

Quatro associações de parentes e amigos se formaram para lembrar as vítimas

Adherbal (da esq. para a dir.), Jaqueline, Flávio e Ariane fazem parte de grupos diferentes, impulsionados pelo mesmo sentimento

■ Sobreviventes usam marretas para abrir paredes e deixar a fumaça sair. Corpos são retirados e colocados no estacionamento do supermercado em frente à danceteria

27 DE JANEIRO Santa Maria, 27/01/2014

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GERMANO RORATO, 27/01/13

■ Bombeiros, Samu, ambulâncias, Brigada Militar e socorristas chegam para atender os feridos ■ Vítimas são transportadas por táxis e veículos particulares para hospitais

GERMANO RORATO, 27/01/13

■ Quem sai da boate volta e começa a retirar pessoas

Entre 3h23min e 5h

JUNTOS

■ Familiares procuram por jovens em hospitais ■ Socorristas retiram os últimos corpos de dentro da boate


Augusto

Malezan de Almeida Gomes

solidário, não perdia a chance de andar sempre bem-vestido e tomar chimarrão.

Bárbara

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Direito na Unifra e Filosofia na UFSM

24 anos, nasceu Santo Antônio das Missões, trabalhava como fisioterapeuta, era professora de pilates e shantala e morava em Brasília

Krauspenhar da Silva

18 anos, nasceu em Santa Maria e ajudava a família em uma propriedade rural

divertido, “ Alegre, sorridente e

Augusto Sérgio

Moraes Nunes

Com “ Eraum encantador. olhar, palavra profissional “ Uma ou gesto, fazia competente e uma com que todos se sentissem abraçados e protegidos.

jovem sincera e humilde em suas atitudes.

Benhur

Bernardo

Bibiana

18 anos, nasceu em Santo Ângelo e estudava Engenharia Civil na UFSM

20 anos, nasceu em Três de Maio e estava fazendo pré-vestibular em Santa Maria

22 anos, nasceu em Santa Maria, era suplente do curso de Medicina Veterinária da UFSM e trabalhava em um cursinho

Retzlaff Rodrigues

Carlo Robe

Berleze

boa gente, “ Menino afetuoso, educado, um coração “ Com amado, dedicado, enorme, amava decidido, amigo e companheiro, que tinha a ambição de um homem feito.

“ Deforte,personalidade era uma

muito a família e os amigos e se preocupava muito com todos.

pessoa marcante e supervaidosa.

Foi para que os pais pudessem trocar experiências que nasceu a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), uma semana depois da tragédia na boate Kiss. – Quando lancei a ideia naquele sétimo dia, foi com intuito de abraçar a todos, para que ficássemos unidos e para que pudéssemos falar sobre a nossa dor. A união nos trouxe um norte. As famílias acharam um equilíbrio. Levar esse abraço e esse carinho para os outros foi a maneira que achei para aliviar um pouco minha dor e a dor do outro. Essa troca é que faz

Bruna

Bruna

21 anos, nasceu em Cruz Alta, era 2º tenente do Exército, pretendia retomar os estudos e se formar em Educação Física

25 anos, nasceu em São Vicente do Sul e era advogada

19 anos, nasceu em São José do Inhacorá e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

Gonçalves Silveira

menino alegre “ Um e que estava muito vibrante com sua carreira militar.

AVTSM

Associação foi a primeira a se mobilizar

Brady Adrian

Brondani Papalia

Camila Graeff

amável, “ Carinhosa, humilde, digna e

honesta, sempre lutou para atingir os seus objetivos e para ajudar sua família.

jovem “ Uma compenetrada

e dedicada em tudo o que fazia.

■ Na missa de sétimo dia das vítimas, Adherbal Alves Ferreira, que perdeu a filha Jennefer Mendes Ferreira, comunicou aos presentes o desejo de criar uma associação que unisse os familiares das vítimas na troca mútua de conforto e para que o fato não caísse no esquecimento ■ Duas semanas após a tragédia, foi realizado o primeiro encontro, que reuniu cerca de 350 pessoas ■ Um mês depois, Adherbal foi eleito presidente da associação

as pessoas viverem, lutarem e tentarem seguir caminhando – conta o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira. Com o passar do tempo, a entidade ganhou novos focos de atuação e mais associados. Atualmente, são 2,8 mil. – Quando os réus foram soltos (em maio), vimos a necessidade de a associação focar também no aspecto jurídico. A associação não foi criada só para chorar ou só para pedir justiça ou para fins financeiros. Queremos que Santa Maria se torne um exemplo de segurança nacional – completa Adherbal.

■ Em 14 de março, a associação foi oficializada de fato e de direito ■ Dois meses depois, seus integrantes conseguiram uma sede, na antiga reitoria da UFSM, no centro de Santa Maria ■ Inicialmente, o objetivo da AVTSM era oferecer ajuda, principalmente psicológica, às famílias. Atualmente, a associação abrange outras ações e está aberta para qualquer pessoa que queria se associar

QUEM REPRESENTA

JEAN PIMENTEL – 27/11/13

■ A associação conta com cerca de 2,8 mil sócios e, além do Rio Grande do Sul, tem representantes em São Paulo, Santa Catarina, Brasília, Ceará, Bahia, entre outros Estados. É reconhecida internacionalmente ■ A página do grupo no Facebook tem mais de 9 mil seguidores

O QUE PRETENDE ■ Na Justiça – Pressionar para que os culpados sejam punidos ■ Emocionalmente – Ajudar familiares das vítimas, com acolhimento, conforto e carinho mútuo ■ Em prevenção – Elaboração de material de prevenção contra incêndio para conscientizar a comunidade e evitar novas tragédias ■ Para a comunidade – Elaborar ações em memória das vítimas, para que a tragédia não caia no esquecimento

QUAIS AÇÕES QUER DESENVOLVER ■ Elaborar material de conscientização e prevenção contra incêndios em lugares públicos e realizar palestras sobre o tema ■ Apoiar outros núcleos de familiares e amigos de vítimas que estão surgindo no Rio Grande do Sul e em outros Estados ■ Realizar atos ecumênicos em memória das vítimas ■ Promover o Minuto do Barulho a cada dia 27

■ Polícia instaura inquérito para investigar o incêndio e começa a ouvir depoimentos

7h10min

■ O governador Tarso Genro conversa com a presidenta Dilma Rousseff, que está no Chile, e dá a dimensão da tragédia: mais de 200 mortos e centenas de feridos. Ela decide viajar para Santa Maria

■ Caminhão-baú faz a primeira de quatro viagens da frente da boate até o CDM, levando corpos

MAURICIO BARBOSA ESPECIAL, 27/01/13

■ Autoridades decidem transformar o Centro Desportivo Municipal (CDM) no local de identificação dos corpos e do velório coletivo

RONALD MENDES, 27/01/13

CONFORTO A AVTSM mantém uma tenda na Praça Saldanha Marinho, decorada com faixas e fotos das vítimas. No local, os familiares se reúnem e trocam afeto e experiências

27 DE JANEIRO

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Santa Maria, 27/01/2014


Bruna

Bruna

Bruno

Bruno

Camila

Carlitos

Carlos

Carolina

19 anos, nasceu em Agudo e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

24 anos, nasceu em Belmonte (SC) e fazia mestrado em Bioquímica Toxicológica na UFSM

26 anos, nasceu em Tuparendi e fazia mestrado em Agronomia na UFSM

22 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na América Latina Logística

24 anos, nasceu em Santo Antônio da Patrulha e iria retomar o curso de Farmácia na UFSM

20 anos, nasceu em Santa Maria, estudava na Escola Cícero Barreto e trabalhava como ajudante em um mercado

Xandy, 26 anos, nasceu em Santa Maria e era formado em Administração pela Unifra

18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM. Queria ser professora

Karoline Occai

pelo “ Apaixonada Grêmio, pela família, pelo namorado e pela vida.

sonhava “ Estudiosa, com o doutorado,

em viajar ao Exterior para estudar e e em realizar pesquisas em sua área.

Kräulich

o orgulho “ Erada familia, um

jovem amigo e companheiro.

Portella Fricks

um coração “ Com enorme, amava

muito a família e os amigos e se preocupava muito com todos.

Massulo Ramos

“ sonhadora, “ Alegre, guerreira, sempre em busca de seus ideais.

Chaves Soares

Trabalhador, honesto e brincalhão, gostava de dançar e de ajudar as pessoas.

Alexandre dos Santos Machado

sua alegria e sua energia positiva, com seu sorriso sempre estampado no rosto.

Ajudar o outro para ajudar a si De vez em quando, Ariane Pires Floriano Aguirre pega o telefone para ligar para o filho. Esse era um hábito que ela mantinha e que a confortava sempre que precisava de uma palavra de carinho. Mas não é apenas a saudade que mantém viva a memória do filho. Rogério tinha o sonho de reabrir a Cidade dos Meninos, uma instituição de ensino que funcionava no bairro Camobi e oferecia atividades profissionalizantes para crianças pobres. A mãe, que foi voluntária no local, enquanto o filho aprendia a arte da marcenaria, encontrou nas ações sociais uma forma de realizar o sonho do jovem. Com outras três famílias, ela forma a Associação Ahh...Muleke!, criada em 9 de setembro de 2013. A ideia é desenvolver ações voltadas para jovens em situação de ris-

Simões Côrte Real

Cássio

Garcez Biscaino 20 anos, nasceu em Manoel Viana e estudava Engenharia Agrícola na Unipampa

um a família e onde passava, “ Eragrandeconsiderado “ Amava “ Porcativava parceiro, gostava de se cuidar, a todos com

co, idosos, crianças e animais. – A dor da gente é única, só nós nos entendemos. Numa tragédia tão grande como a que aconteceu aqui, a dor é unânime entre as pessoas. Porém, era o desejo do meu filho: realizar um projeto social, cuidar das crianças pobres, dar a elas um caminho, uma direção. Quando surgiu a proposta da Ahh...Muleke!, de ser voltada para fazer oficinas e criar uma ocupação para os jovens que estão na rua, eu entrei porque faço uma coisa que meu filho queria. Eu quero realizar um desejo dele. Quando ajudo as pessoas, é como se estivesse realizando o sonho dele – diz a mãe. Para Ariane, a união em uma entidade dá força às ações e agrega mais pessoas em prol de um objetivo maior.

AHH...MULEKE!

Eduarda Neu

JEAN PIMENTEL – 9/09/13

mas não dispensava batata frita e sua especialidade, massa à bolonhesa.

um jovem que valorizava os amigos e cuja marca era a alegria.

■ Os integrantes da Associação Ahh...Muleke! participavam da AVTSM. No entanto, cerca de 3 meses após a tragédia, um grupo de pais percebeu que seus filhos, vítimas do incêndio, tinham muitas afinidades – entre elas, o desenvolvimento de projetos sociais para ajudar a comunidade ■ Foi a partir daí que eles tomaram a decisão de criar uma nova associação para homenagear Vinícius Rosado, Danilo Jaques Brauner, Luana Vianna e Rogério Floriano Cardoso e passar adiante as boas ações que eles praticavam ■ Luana buscava lares para os animais de rua, Vinícius trabalhava com crianças e adolescentes, Rogério queria criar um lugar para oferecer cursos profissionalizantes para jovens, e Danilo desenvolvia projetos ligados à música ■ A associação foi lançada oficialmente em 9 de setembro, no Theatro Treze de Maio ■ A expressão ‘’Ahh...muleke!’’ era uma marca registrada de Vinícius, por isso, o movimento foi batizado com esse nome

QUEM REPRESENTA ■ A associação não contabilizou o número de integrantes, mas a comunidade do grupo no Facebook tem quase 2,8 mil seguidores. Além disso, conta com um grupo com cerca de cem membros para arrecadar alimentos, roupas, brinquedos e colchões, que são doados a entidades beneficentes

O QUE PRETENDE ■ A associação tem como objetivo promover ações sociais em benefício da comunidade ■ Lilia Rosado (mãe de Vinícius), presidente da associação, destaca que não é intenção da entidade realizar protestos ou ações que envolvam a Justiça. Segundo ela, cabe aos responsáveis cuidar das questões jurídicas. Além disso, tais ações não trarão seus filhos de volta

QUAIS AÇÕES QUER DESENVOLVER ■ Não há um cronograma definido

■ Voluntários levam amparo emocional e comida aos familiares. Por dois dias, parentes e amigos enfrentam a tristeza dos velórios coletivos

■ Pela manhã, pacientes estáveis são transferidos do Caridade para outros hospitais, inclusive da Capital

JEAN PIMENTEL, 27/01/13

■ Corpos são dispostos em ginásio, separados em homens e mulheres. Legistas trabalham na identificação. Celulares dos mortos ainda tocam: são familiares em busca de notícias

EMERSON SOUZA, 27/01/13

A partir das 7h30min até o final do dia

LANÇAMENTO Associação Ahh... Muleke!, formada por familiares e amigos de quatro vítimas da tragédia, foi lançada oficialmente em 9 de setembro, no Theatro Treze de Maio

27 DE JANEIRO Santa Maria, 27/01/2014

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■ Começa um jogo de empurra entre os poderes públicos para divulgar os alvarás da Kiss. Prefeitura diz que prioridade é cuidar das vítimas. Bombeiros afirmam que Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) da boate estava vencido desde agosto de 2012


Clarissa

23 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava como empregada doméstica e vendedora

26 anos, nasceu em Porto Alegre, estudava Letras na UFSM e trabalhava na Kiss

Soares Vargas

Lima Teixeira

ligada à “ Erafamíliamuitoe uma mãe

bastante dedicada.

marca era o “ Sua sorriso aberto, a

alegria de estar com a família (a de sangue e a de coração) e com os amigos.

Crisley Caroline Saraiva de Freitas da Palma

23 anos, nasceu em Santa Maria e era gerente do Instituto da Face

trás daquela “ Porfortaleza, existia

uma menina meiga e frágil. Do seu jeito, às vezes moleca, amava a todos.

Cristiane Quevedo da Rosa

Daniel

Daniel

Daniela

Daniele

Danilo

35 anos, nasceu em Taquari e trabalhava com manutenção de terminais bancários

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Tecnologia em Agronegócios na UFSM

19 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Agronomia na UFSM

36 anos, nasceu no Rio de Janeiro e era cardiologista do Hospital Central do Exército na capital fluminense

28 anos, nasceu em Mata, era o gaiteiro da banda Gurizada Fandangueira e fazia pós-graduação na Unifra

Knabben da Rosa

19 anos, nasceu em Nova Palma e estudava Terapia Ocupacional na UFSM

Cechin

no Daniel sonhadora “ Pensar “ Eraqueuma é pensar em amor, tinha muita das “ Gostava fraternidade, pressa! Queria fazer coisas do campo, tudo ao mesmo tempo: faculdade, inglês, academia.

doação, companheirismo e dedicação.

Betega Ahmad

se reunir com os amigos e dançar... Dançar era uma de suas paixões!

de cavalgadas e de jogar futebol com os amigos.

Mais força para batalhar Mais combativa do que as demais entidades, o Movimento Santa Maria do Luto à Luta reuniu, no final de fevereiro, pais e familiares das vítimas que queriam acompanhar o trabalho da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada pela Câmara de Vereadores. O objetivo era ficar de olho na investigação das responsabilidades da prefeitura no caso da Kiss. De lá para cá, o grupo esteve à frente de diversos atos de protesto, mobilizações, passeatas e pedidos por Justiça. Além disso, os integrantes participaram de ações sociais em benefício de crianças. – A gente se uniu para lutar por justiça, mas o movimento também dá apoio aos familiares. Nada melhor do que ter

um amigo que é solidário. Com isso, conseguimos que o pessoal acorde e tenha um sentido diferente na vida – diz um dos coordenadores, Flávio da Silva. A entidade começou com 16 pessoas e hoje tem 280 cadastradas, entre familiares, sobreviventes e simpatizantes. A próxima ação, mantida em sigilo pelo grupo, deve ser um ato que será percebido nesta manhã, quando a cidade acordar. Depois, o plano é fazer um novo acampamento em frente à sede do Ministério Público, quando forem entregues os novos inquéritos da Polícia Civil. – Vamos dar o tempo que a promotoria precisar para analisar os documentos, mas estaremos ali, fiscalizando. Lu-

Dias de Mattos

Brauner Jaques

Turquinha era só de ser com um “ Asorrisos. “ Apesar “ Sempre Ela adorava uma capitã, tinha sorriso de orelha

taremos até o final – antecipa Flávio. No futuro, a entidade deve se dedicar à defesa dos direitos da periferia. – Surgimos da necessidade de defender os direitos das famílias das vítimas, mas, hoje, nossa luta é pelos direitos dos cidadãos – explica o coordenador Segundo Flávio, as atividades desempenhadas pelo grupo não têm nenhum cunho partidário: – O que fazemos não deixa de ser política: é direito de qualquer um como cidadão interferir e lutar por tudo que se refere ao social. Essas nossas atividades é que nos mantêm em pé, lutando por justiça e ajudando as pessoas que precisam.

DO LUTO À LUTA

Cecília

RONALD MENDES – 30/05/13

a inocência de uma menina. Era uma pessoa muito simples, muito feliz.

a orelha, o topete arrumado e a cuia de chimarrão. Era amigo de todos.

■ O movimento foi criado por familiares e amigos de vítimas da Kiss com o intuito de lutar pela punição dos responsáveis pela tragédia – direta ou indiretamente – nas esferas civil, criminal e administrativa ■ As primeiras reuniões do grupo foram realizadas em abril. Em maio, foram realizadas as primeiras ações do movimento ■ Um dos coordenaroes, Flávio José da Silva, perdeu a filha Andrielle Righi da Silva. Segundo ele, o movimento surgiu diante da indignação de algumas famílias que não concordavam com o rumo das investigações do processo e consolidou-se cerca de 4 meses após a tragédia

QUEM REPRESENTA ■ O Movimento Luto à Luta tem cerca de 300 integrantes e é ligado à AVTSM e às Mães de Janeiro. Algumas ações são realizadas em conjunto ■ Na página do Facebook, o grupo conta com cerca de 4 mil seguidores

O QUE PRETENDE ■ Cobrar as esferas competentes para que investiguem e responsabilizem as falhas dos principais envolvidos na tragédia

QUAIS AÇÕES QUER DESENVOLVER

SEM PARTIDO

■ Comando da Brigada Militar instaura Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar possíveis irregularidades na fiscalização e na concessão de alvarás pelos bombeiros e nas atitudes adotadas pelos profissionais durante o resgate, para saber se colocaram em risco os civis que ajudaram

REPRODUÇÃO

Integrantes do Movimento do Luto a Luta promovem e participam de diferentes manifestações, inclusive do Minuto de Barulho (foto)

■ A tragédia repercute nos jornais do país e do Exterior. Jornalistas de vários países chegam a Santa Maria

■ No final da tarde, Ministério Público pede de prisão dos donos da boate e integrantes da banda Gurizada Fandangueira

■ O grupo não tem um cronograma de ações, mas tem como linha de atuação os protestos (como os feitos pelo não arquivamento do processo de improbidade administrativa de servidores municipais e na CPI da Kiss) ■ O movimento pretende ir até as vilas da cidade, cadastrar as famílias em situação de vulnerabilidade, desenvolver palestras nos centros comunitários sobre prevenção de incêndios e outros temas ■ Ainda pretende descobrir as necessidades das comunidades, levá-las ao poder público e fiscalizar a execução dos pedidos

■ Às 23h30min, é realizada a reunião definitiva entre as secretarias municipal e estadual de Saúde e o Ministério da Saúde. Duas horas depois, começa o Acolhimento 24 horas, no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Caminhos do Sol. No total, 37 profissionais foram contratados emergencialmente para auxiliar nos tratamentos

27 DE JANEIRO

PÁGINA 7

Santa Maria, 27/01/2014


David

Darin

18 anos, nasceu em Santa Maria, era dançarino e fazia cursinho pré-vestibular

A sua maior paixão era a dança, principalmente a de rua.

Débora

Santiago e Souza

Chiappa Forner

22 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Odontologia na UFSM

um sorriso, “ Com conquistava quem

cruzasse no seu caminho. Colorado, jogava xadrez como ninguém.

25 anos, nasceu em Santa Maria e Trabalhava em uma loja de roupas

Deivis

Marques Gonçalves

Diego

Dionatha

Douglas

Driele

Dulce

26 anos, nasceu em Passo Fundo e era 3º sargento do Exército

18 anos, nasceu em Santana do Livramento, havia sido aprovado pela Escola de Sargentos das Armas e sonhava em ser médico

21 anos, nasceu em Porto Alegre e fazia curso técnico em enfermagem no Sistema Educacional Galileu

23 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na padaria Di Marzari. Tinha planos de retomar os estudos e prestar vestibular

20 anos, nasceu em São Gabriel e começaria a estudar Psicologia na Fisma

Silvestri

33 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava em uma farmácia

Kamphorst Paulo

ela, não havia “ Com um jovem tempo ruim! Havia “ Erabatalhador e humilde. disse não, vida, sorrisos, sol, “ Nunca Adorava preparar nunca estava brigadeiros, praia. Era gremista de carteirinha.

churrasco para a família e os amigos.

brincalhão “ Inteligente, e, acima de tudo, muito alegre, tinha um sorriso para tudo e para todos.

triste, era amigo em todas as horas.

da Silva Flores

a sua alegria “ Levava e as suas brincadeiras

de Justiça do Estado e acompanhamos os depoimentos no Fórum – lembra Jacqueline Malezan, que perdeu o filho Augusto na tragédia. As ações são apoiadas por cerca de 50 mães, mas poucas são atuantes. Nos momentos em que a tristeza cala as vozes e sufoca a alma, elas buscam força umas nas outras. – Ali, temos os mesmos problemas, ouvimos umas às outras, conversamos, compartilhamos a mesma dor, trabalhamos juntas. Isso ajuda a passar o tempo, nos faz sentir bem – diz Jacqueline. FERNANDA RAMOS, ESPECIAL – 22/10/13

Ranieri Gomes Machado

o carisma Dedicação aos “ Ae asimpatia, educação de Driele “ estudos era o que levaram os clientes da padaria a apelidá-la de Bombom.

por onde passava.

Mães partiram para a ação Com os corações dilacerados pela perda dos filhos, algumas mães de vítimas encontraram umas nas outras forças para encarar a dor sem deixar de viver. e criaram o grupo Mães de Janeiro. Juntas, elas costuraram, arrecadaram e doaram alimentos, limparam a fachada do prédio da Kiss, vestiram-se de Papai Noel e doaram brinquedos. Mas elas também escreveram a sua dor em cartazes e gritaram pela responsabilização dos envolvidos no incêndio que matou seus filhos. – A gente se uniu com a finalidade de buscar justiça. Participamos de protestos, chamamos a atenção do subprocurador

Pedroso Lucas

MÃES DE JANEIRO

Danrlei

a definia. Estava sempre em busca de conhecimento.

■ Começou como uma iniciativa das mães que perderam filhos na tragédia ■ As primeiras reuniões foram realizadas no mês de agosto ■ O movimento se consolidou a partir do momento em que as mães se uniram na luta pela não homologação do arquivamento do processo de improbidade administrativa contra servidores públicos municipais ■ A representante do grupo, Jacqueline Malezan, que perdeu o filho Augusto, explica que o que levou o grupo a se unir foi a busca por justiça. Carina Corrêa é a coordenadora ■ As Mães de Janeiro recolheram mais de 30 mil assinaturas num abaixoassinado para que o Ministério Público reabrisse as investigações do processo de improbidade administrativa de servidores públicos municipais

QUEM REPRESENTA ■ O grupo tem cerca de 50 mães cadastradas e cerca de 800 seguidores em sua página no Facebook

O QUE PRETENDE ■ Lutar por justiça e apoiar umas às outras

QUAIS AÇÕES QUER DESENVOLVER ■ O grupo não tem um cronograma de atividades, mas pretende continuar com as limpezas na fachada do prédio da Kiss e acompanhar as ações do Movimento do Luto à Luta e da AVTSM

PROTESTO Em outubro, Mães de Janeiro foram até o Ministério Público para cobrar que fossem reabertas as investigações do processo de improbidade administrativa de servidores públicos municipais

27 DE JANEIRO Santa Maria, 27/01/2014

■ #ForçaSantaMaria é a hashtag mais usada nas redes sociais para convocar para uma caminhada luminosa que reúne mais de 30 mil pessoas em Santa Maria. A frente da boate recebe cartazes e flores em homenagens

JEAN PIMENTEL, 28/01/13

■ O dia chega ao fim com mais de 600 feridos (a maioria por inalar fumaça, e alguns queimados) e 230 mortos. Ao longo dos cinco meses seguintes ao incêndio, outros 12 jovens internados em hospitais morrem, totalizando 242 vítimas

■ Justiça expede as prisões dos donos da boate e de dois integrantes da banda. Todos vão para a cadeia, exceto Elissandro Spohr, o Kiko, que está hospitalizado em Cruz Alta devido à inalação de fumaça. Ele é preso em 5 de fevereiro

28 DE JANEIRO

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■ Santa Maria se torna a capital da solidariedade. Centenas de pessoas chegam de diferentes lugares para ajudar familiares e feridos. Força Nacional do SUS e profissionais da saúde do Brasil auxiliam no tratamento. Husm cria um centro especializado no tratamento dos feridos


Elisandro

Emerson

Oliveira Rolim 27 anos, nasceu em Santa Maria e era dono da loja Estilo Jovem, em Itaara

“ Companheiro e amigo, sua

marca era ser um jovem otimista, batalhava muito para realizar os seus objetivos.

Emili

Contreira Ercolani

Cardoso Paim 25 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Relações Públicas na UFSM e era guitarrista da banda Red Wire

Sua vida foi medida pela intensidade. Descobriu ainda criança a sua grande paixão: a guitarra.

Érika

Évelin

Fábio

Felipe

23 anos, nasceu em Cruz Alta e estudava Agronomia da UFSM

22 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Agronomia na UFSM

20 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava em uma loja de calçados, no Royal Plaza Shopping

25 anos, nasceu em Paim Filho e estudava Agronomia na UFSM

26 anos, nasceu em Caxias do Sul e trabalhava no Frigorífico Silva

Avila dos Santos

18 anos, nasceu em São Borja e estudava Tecnologia em Alimentos da UFSM

Éricson

Sarturi Becker

Costa Lopes

de seus “ Um diferenciais

Era uma menina altruísta que, além de amorosa com os pais e amigos, tinha muito amor pelos animais.

amoroso, “ Exemplar, carinhoso solidário com todos e persistente, tinha solução para tudo.

era a extrema transparência. Sempre falou exatamente o que pensava, porém, nunca se colocou acima de ninguém.

alegre que “ Menina amava dançar e

amava viver. Tinha muitos planos, mas o principal era o de ser feliz.

José Cervinski

Fernanda

Vieira

a batalha “ Venceu contra a leucemia,

pessoa muito “ Uma inteligente, que

superou o que parecia impossível e foi além: passou no Politécnico e foi aprovado em Agronomia na UFSM.

valorizava gestos como escrever uma cartinha num guardanapo de papel e entregar para a mãe ou a namorada.

de Lima Malheiros

18 anos, nasceu em Ijuí e estudava Agronomia na UFSM

carinhosa e “ Meiga, sem maldade. Era a flor que enfeitava o nosso rancho.

FOTOS FERNANDA RAMOS, ESPECIAL – 17/01/14

A

cada desafio, uma Vitória.’ Essa é a frase que a família de Vitória Dacorso Saccol, 22 anos, usa na camiseta que homenageia a jovem morta na boate Kiss. No imenso mar de tristeza no qual se viram mergulhados desde a perda de uma das duas filhas, Ildo Saccol, 60 anos, e Vanda Dacorso, 52, descobriram na solidariedade uma aliada para que a vida tivesse mais sentido. E eles não estão sós nessa luta.Vitória é uma das jovens que inspiraram a criação da ONG Para Sempre Cinderelas. Além da estudante de Nutrição, Mirela Rosa da Cruz, 21 anos, aluna de Pedagogia, Gilmara Quintanilha Oliveira, 21, estudante de Direito, Flávia Maria Torres Lemos, 22, aluna de Pedagogia, e Andrielle Righi da Silva, 22, que queria fazer vestibular para Desenho Industrial, desenvolviam projetos voluntários. Após a tragédia, as iniciativas permanecem vivas e são alento para as famílias das cinco amigas. Em um álbum que as meninas deram a Gilmara, há várias fotografias das amigas. O compilado de bons momentos foi presente pelo aniversário da estudante, em 2011. Todas as imagens são alegres e mostram o carinho que unia as meninas, mas uma delas é especial: mostra as cinco no Lar de Mirian e Mãe Celita. “Nossa Boa Ação de Natal”, diz a legenda da foto que os pais acreditam ter sido tirada em 2010. O local é uma das entidades que a ONG quer ajudar com doação de

■ É formada uma Comissão Externa da Câmara dos Deputados para elaborar uma emenda substitutiva ao Projeto de Lei 2.020, de 2007. Objetivo é adaptar e unificar a legislação federal no que diz respeito à prevenção de incêndio e definir a competência legal de Estados e municípios

AUXÍLIO Ildo Saccol (da esq. para a dir.), Tereza Mossi, Vanda Dacorso, João Mossi, Flávio Silva, Ligiane Silva, Gilzélia Oliveira e Fani Torres são familiares das meninas da ONG Para Sempre Cinderelas e fazem trabalho voluntário no Lar de Mirian, que as meninas também ajudavam (foto ao lado)

roupas, alimentos e algo muito, muito importante: carinho. Os pais das jovens foram rápidos em se organizar depois da tragédia. Na missa de sétimo dia das cinderelas, já usavam camisetas com as fotografias delas e estavam bastante decididos a criar a ONG. Começaram as arrecadações e doações antes mesmo de a papelada estar pronta e, menos de um ano depois da tragédia, já tinham distribuído pelo menos uma tonelada de alimentos para pessoas pobres e entidades assistenciais de Santa Maria. Só na festa de Natal organizada pelo Para Sempre Cinderelas, foram distribuídos presentes, tortas, cachorros-quentes e refrigerantes para mais de 70 crianças do bairro João Goulart. – Estamos realizando um sonho que elas não tiveram tempo de colocar em prática. Em dezembro de 2012, a Vitória tinha me

■ Schirmer dá coletiva para apresentar documentos da Kiss, mas sai sem dar respostas, deixando o secretário Giovani Manica falando à imprensa

perguntado o que era preciso para criar uma ONG. Eu perguntei por que ela queria saber, e ela me disse que estavam preparando uma surpresa para nós. Infelizmente, não deu tempo – lembra Vanda.

A TRISTEZA UNIU CINCO FAMÍLIAS Antes de participarem da organização, alguns dos parentes sequer se conheciam. Eles até sabiam os nomes uns dos outros, mas só por causa dos comentários das filhas e porque levavam as meninas para dormir umas nas casas das outras. Depois da tragédia, uma relação muito forte se formou entre as cinco famílias, e a ONG é o laço que amarra essa amizade. – A Gil era muito solidária. E eu não tinha

RONALD MENDES, 31/01/13

Trabalho beneficente é alento para pais de vítimas que faziam caridade

Uma nova razão para viver descoberto esse meu lado ainda. Fico gratificada quando nós conseguimos chegar e ver o sorriso das pessoas que estamos ajudando – diz Gilzélia Quintanilha Oliveira, mãe de Gilmara. Apesar de ser o exemplo que marca o espírito de solidariedade que tomou conta da cidade a partir do incêndio da Kiss, a ONG Para Sempre Cinderelas não foi a única a arrecadar doações em memória das vítimas. A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) conseguiu, ao longo do ano passado, ajudar mensalmente 30 famílias de vítimas e de sobreviventes que passavam por dificuldades financeiras. A associação fez campanhas e recolheu alimentos e agasalhos. Muitas das roupas arrecadadas eram dos filhos mortos no incêndio. A Ahh... Muleke!, por sua vez, realizou 13 eventos para recolher leite, brinquedos, alimentos e agasalhos. Em apenas um deles, foram arrecadados cem quilos de alimentos, distribuídos a pessoas pobres. – Fazer o bem para as outras pessoas, na verdade, está fazendo ainda mais bem para nós. É um jeito de mantermos vivo o ideal que elas tinham. Quanto mais as pessoas precisarem, mais nós iremos ajudar. Agora, essa é a nossa razão de viver – afirma Ligiane Righi da Silva, mãe de Andrielle.

■ Polícia divulga que a queima da espuma de poliuretano liberou cianeto e que a inalação do gás tóxico foi a principal causa das mortes por asfixia

■ Ministério Público instaura inquérito civil para apurar possível improbidade administrativa por parte de servidores públicos municipais (prefeitura) e estaduais (bombeiros)

30 DE JANEIRO

29 DE JANEIRO

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Santa Maria, 27/01/2014


Fernanda Tischer

21 anos, nasceu em Teutônia e estudava Medicina Veterinária, na UFSM

pressa e “ Elaqueriatinhaconquistar

as coisas por meio do esforço dela. Sempre quis ser veterinária e dizia que voltaria para casa.

Fernando

21 anos, nasceu em Santo Ângelo e trabalhava na Arcoíris Cinemas

o Fredy, 23 anos, nasceu em Santo Augusto, trabalhava na Caixa Econômica Federal e começaria a estudar Administração na UPF

Michel de Vogarins Parcianello

Flávia

Pellin

de Carli Magalhães 18 anos, nasceu em Palmeira das Missões e estudava Administração na UFSM

media esforços “ Não para atingir Uma menina tão por “ Apaixonado seus objetivos, música, lembraremos “ doce e amável, trabalhava, estudava e sonhava em ter uma vida melhor.

sempre da sua risada e do seu jeito leve de encarar a vida.

Flávia

Francielli

Francielle

Francieli

22 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Pedagogia na UFSM

22 anos, nasceu em Itaqui e fazia mestrado em Bioquímica Toxicológica na UFSM

26 anos, nasceu em Tupanciretã e era secretária em um estúdio de pilates em Santa Maria

19 anos, nasceu em Erechim e estudava Engenharia Civil na UFSM

Maria Torres Lemos

Araújo Vieira

Soares Vargas

ações em Com ela, não existia “ Organizava datas comemorativas “ mau tempo. Estava

sempre com aquele sorriso satisfeito com a vida.

para levar alegria para as crianças. Deixounos esse legado de que, sem caridade, não há salvação.

sempre de bem com a vida! E fazia do trabalho uma forma divertida de aproveitar a vida.

Vizioli

de “ Jovem personalidade forte,

mas palavras meigas, suavidade em tudo o que fazia, talentosa e persistente, encontrava valor nas coisas simples.

Foi uma boa filha e uma mãe muito carinhosa.

RONALD MENDES – 14/01/14

ão faltam histórias de superação entre os sobreviventes da tragédia que, há um ano, fez o mundo olhar para Santa Maria. Depois de ver o horror se espalhar em uma onda de fumaça, todos os que conseguiram escapar da Kiss naquela noite tiveram de encontrar a sua forma de seguir em frente. E, se não existem fórmulas mágicas, também não faltam lições de vida. Mesmo com queimaduras pelo corpo e um dedo amputado, Cristina Peiter, 24 anos, tornouse engenheira florestal em setembro. Kelen Giovana Leite Ferreira, 20, conseguiu a esperada prótese para a perna direita, voltou ao curso de Terapia Ocupacional e superou o medo de sair à noite. Até Ritchieli Pedroso Lucas, 20, a última sobrevivente a ter alta em Porto Alegre, em 2 de julho do ano passado, já consegue sorrir novamente. E em meio a tantas pessoas lutando para recomeçar suas vidas, a batalha do estudante de Agronomia Joel Berwanger, 19 anos, tem um significado especial para Santa Maria. Depois de 55 dias de internação, ele foi o último dos sobreviventes a ter alta na cidade. Em 22 de março, com um imenso sorriso no rosto, ele riscou o seu nome do painel que voluntários colocaram para informar sobre os internados no Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo. Estava dada a largada para o seu recomeço depois da internação. – Estive consciente todo o tempo. Lembro que foi um casal que me levou para o hospital e que, enquanto ainda esperava atendimento, recebi a ligação de várias pessoas pelo celular e até tive a notícia de que um dos meus amigos não tinha sobrevivido. Na primeira semana no CTI, quase não conseguia dormir. O barulho das máquinas era um horror. Era preciso fazer a raspagem das feridas dos braços e das costas, e aquilo doía muito. Depois, vieram os enxertos de pele. Era tudo tão dolorido. Quando pude ir para o quarto, foi um alívio muito grande – conta Joel. Enquanto esteve no hospital, Joel procurou brincar um pouco com a situação para que os dias não fossem só de tristeza. O suporte para o soro, por exemplo, ele chamava de cachorrinho. – Eu ficava com ele amarrado no braço o tempo todo, levando de um lugar para o outro, era como estar passeando com um bichinho. Quando eles tiraram a bolsa de soro, e eu pude caminhar sem ela pela primeira vez, foi uma sensação de liberdade – lembra o estudante. O jovem também lembra do dia em que

31 DE JANEIRO Santa Maria, 27/01/2014

Gabriella

Corcini Sanchotene 23 anos, nasceu em Alegrete e estudava Estética e Cosmética na Ulbra. Iria morar na Austrália

“ Deforte,personalidade corajosa,

sonhadora e determinada.Com essa determinação, foi atrás dos sonhos.

FELIZ Adaptado à rotina de fisioterapia, o jovem já retomou, com muita alegria, a vida normal

Último ferido a receber alta em Santa Maria, Joel perdeu 10 amigos e sofreu muito, mas agora só quer saber de viver

GUSTAVO RUVIARO, ESPECIAL – 22/03/13

O que ele quer é seguir em frente ele e outros internados no CTI ouviram, em um radinho a pilhas, o jogo do Grêmio contra a LDU pela Libertadores da América. – Foi uma torcida grande. Um momento especial entre nós – recorda o gremista.

O PLANO AGORA É VIAJAR PARA O EXTERIOR Joel afirma que, mesmo sabendo sobre o que tinha ocorrido, só foi ter uma noção da dimensão da situação quando saiu do hospital. Os primeiros dias da nova vida foram em Arroio do Meio, onde vive sua família.

■ É criada a Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM)

JEAN PIMENTEL, 1º/04/13

■ Prefeitura determina que casas noturnas com música ao vivo não poderão abrir até que passem por fiscalização. Por 30 dias, é decretado luto oficial, e não há festas na cidade

JEAN PIMENTEL, 31/01/13

N

Fernando

NA SAÍDA Quando deixou o hospital, em 22 de março, Joel riscou seu nome da lista de feridos que havia no QG dos voluntários

Depois, ele retornou para Santa Maria e voltou às aulas. Nos primeiros dias, chegou até a participar do almoço de confraternização dos bixos da Agronomia. – O recomeço foi muito difícil. Perdi 10 colegas de turma. Sempre que algo fazia lembrar de algum deles ou que pensava que meus amigos poderiam estar ali comigo, era muito difícil. Esquecer é impossível, mas, agora, tentamos guardar as lembranças mais alegres deles. Quando comecei a sair novamente, quando fechava os olhos, voltava a imagem das pessoas correndo. Era assustador. Hoje, já consigo aproveitar mais os eventos – diz Joel.

Mesmo com uma rotina que inclui consultas médicas periódicas e fisioterapia, o jovem já retomou a maioria das suas atividades: as aulas, o estágio, os jogos de futebol com os amigos. Depois de receber um protetor solar especial, foi até para a praia. – Amadureci muito. Mudei muitos dos conceitos que tinha. Quando uma coisa assim acontece, aprendemos a dar mais valor para coisas importantes, como a família. Antes, eu quase não ficava em casa. Agora tento passar mais tempo com eles – diz Joel, que já tem um plano para o seu futuro: viajar para o Exterior para estudar antes de terminar a faculdade.

■ Assembleia Legislativa cria uma comissão para revisar a legislação estadual (Projeto de Lei Complementar 155, de 2013) que trata sobre segurança contra incêndios. O objetivo é estabelecer, para as edificações e áreas de risco de incêndio no Estado, as normas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndio e competências, atribuições, fiscalizações e sanções administrativas decorrentes do seu descumprimento. Além disso, a intenção é balizar a atuação das administrações públicas municipais e a edição de legislações locais

9 DE FEVEREIRO

13 DE FEVEREIRO

PÁGINA 10


Gabriella

Geni

dos Santos Saenger

Gilmara

Lourenço da Silva

19 anos, nasceu em Uruguaiana e estudava Psicologia na Unifra

necessários “ Foram só 19 anos para

Quintanilha Oliveira

55 anos, nasceu em São Pedro do Sul, trabalhava na Kiss e era responsável por monitorar os banheiros da boate

nos ensinar o amor verdadeiro e o que são gargalhadas que transbordam alegria.

grande mulher: “ Uma guerreira, verdadeira e uma grande vencedora.

intensos e verdadeiros. Com as amigas, deixou um exemplo de caridade.

Greicy

21 anos, nasceu em Santa Maria e era soldado da Base Aérea

18 anos, nasceu em Manoel Vianna. Havia sido aprovada em Engenharia Sanitária e Ambiental na Unifra

Krauchemberg Simões

21 anos, nasceu em Porto Alegre e estudava Direito da Fadisma

21 anos de “ OsGilmara foram

Giovani

Aos 10 anos, perdeu a mãe e, aos 13, o pai. Amadureceu cedo. Dizia que aprender a salvar vidas era gratificante.

Guilherme

Pazini Bairro

Era muito estudiosa, sempre com livros nas mãos lendo histórias e estudando.

Pontes Gonçalves

19 anos, nasceu em Cachoeira do Sul e estudava Agronomia na UFSM

Guido

Ferreira Soares 26 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava em um açougue

21 anos, nasceu nos Estados Unidos e estudava Zootecnia na UFSM

a Santa a favor da “ Erainclusão, “ Chegou Maria trazendo rebelavase contra as injustiças, sempre tinha uma roupa, um tênis para quem batesse na porta.

Gustavo

Ramón Brites Burró

o que lhe “ Entre fazia feliz, estava

junto dele uma grande alegria, amizade e um enorme apreço por todos.

o hábito de ir ao cinema e assistir a filmes.

Gustavo

Marques Gonçalves 25 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na loja Paquetá do Royal Plaza Shopping

muito “ Respeitava as pessoas e

estava sempre cercado de amigos. Gostava de ouvir música e namorar.

FERNANDA RAMOS, ESPECIAL – 14/01/14

Olhos, ouvidos e coração atentos para ajudar DEDICADA

Formada em Psicologia, Marina é voluntária na Cruz Vermelha e ajuda com apoio emocional

25 DE FEVEREIRO

– Eu acho importante as pessoas conhecerem os seus limites. Eu achava que não tinha condições de enfrentar o que estava acontecendo no CDM. Na frente do Caridade, já era desafiador ver as pessoas caindo de joelhos quando recebiam, por celular, a notícia de que os seus familiares tinham sido reconhecidos e estavam mortos. Ao mesmo tempo, não queria e não podia ficar parada diante de tudo o que estava acontecendo. Achei que levar o meu apoio à cidade onde eu havia crescido era um jeito de ajudar – lembra Marina.

PAGOS COM AMOR E COM SORRISOS Antes da tragédia na Kiss, a psicóloga só tinha feito trabalho voluntário quando era adolescente. Ela e algumas colegas visitavam as crianças que faziam tratamento contra o câncer no Hospital Universitário. Mas, depois do incêndio, Marina não pas-

■ Ocorre o primeiro Minuto do Barulho, com buzinaço, badalar de sinos e palmas, para lembrar as vítimas. A cada dia 27, o ato é repetido, seguido de um culto ecumênico

27 DE FEVEREIRO

PÁGINA 11

sou um só dia sem prestar esse tipo de serviço. E não pretende parar. Logo que voltou de São Gabriel, Marina procurou a Cruz Vermelha. Em fevereiro, assumiu, junto com uma colega, a coordenação de um grupo terapêutico de apoio que foi montado para ajudar os pais de sobreviventes. – Por mais que as experiências de cada um fossem diferentes, as pessoas estavam dispostas a compartilhar aquele momento de dor. Elas tiveram de reaprender a viver e a superar cada dia, cada data comemorativa. Essa troca que se estabeleceu entre as pessoas que fizeram parte do grupo foi muito importante. Eu só tenho a agradecer por tudo o que elas me ensinaram, por terem confiado em mim – diz Marina. Atualmente, ela faz parte de um grupo da Cruz Vermelha que conta com sete psicólogos, todos atuantes desde janeiro e coordenados por Melissa Couto, que é voluntária da organização há 10 anos. – Meu pagamento vem de outra forma. É o sorriso que eu posso conquistar, o amor

JEAN PIMENTEL, 27/02/13

■ Parlamentares governistas se antecipam à oposição e protocolam a CPI da Kiss na Câmara de Vereadores. Um dia depois, vereadores da oposição protocolam pedido de abertura da CPI

JEAN PIMENTEL, 27/02/13

M

arina Peripolli Antoniazzi, 24 anos, estava formada há apenas nove dias quando recebeu um dos e-mails mais desafiadores que já chegaram em sua caixa-postal. Era um pedido da Cruz Vermelha de Santa Maria. E a missão era ajudar voluntariamente as famílias das vítimas da boate Kiss que se concentravam no Centro Desportivo Municipal (CDM) à espera do reconhecimento dos corpos. Mas Marina não foi uma das cerca de 300 profissionais da área de psicologia que atenderam ao chamado naquele domingo, data em que a cidade começou a ser reconhecida como exemplo de solidariedade. Isso porque, assim que soube da tragédia, por volta das 5h, a jovem foi com o irmão, que é estudante de Medicina Veterinária na UFSM, para o Hospital de Caridade, onde um amigo da família havia sido internado. Aos poucos, quando foi se dando conta da dimensão da tragédia, a psicóloga decidiu voltar para São Gabriel, cidade em que nasceu e que contabilizou nove vítimas.

Para ela, o que mais importa é conseguir fazer quem enfrenta a dor se sentir melhor

que eu posso dar para a pessoa se sentir um pouco melhor. É isso que o voluntário precisa ter e faz um bem imenso para nós – afirma Marina. Desde o dia da tragédia, voluntários vindos dos mais diferentes lugares, a maioria estudantes e autônomos, reuniram-se de forma espontânea para dar apoio em diferentes frentes. Alguns profissionais, como médicos, enfermeiros e técnicos em enfermagem, entraram em ação em suas próprias profissões. Outros, distribuíram água nos enterros e velórios, montaram uma tenda em frente ao Hospital de Caridade e organizaram um painel em que os sobreviventes receberam e deixaram recados. E a ajuda não ficou restrita a doações materiais. Um abraço fez muita diferença para aqueles que passavam pelo pior momento de suas vidas. No maior tempo de dor que já viveu, o Coração do Rio Grande se encheu de compaixão, ajuda, apoio e amor e ganhou o título de Capital da Solidariedade.

■ Câmara de Vereadores cria comissão para revisar a legislação (Lei Municipal 3301, de 1991), verificar possíveis falhas e alterar e aperfeiçoar a legislação

■ Na primeira reunião oficial entre Dilma Rousseff e o papa Francisco, no Vaticano, a presidente da República ouve do Pontífice: “Em Santa Maria, o Brasil demonstrou força e ternura”

28 DE FEVEREIRO

20 DE MARÇO Santa Maria, 27/01/2014


Heitor

Teixeira Gonçalves

19 anos, nasceu em São Gabriel e estudava Administração na UFSM

Era conhecido por sua alegria e não abria mão do mate de tardezinha, do jogo de futebol, do vôlei na piscina e das campereadas.

D

Heitor

Santos Oliveira Teixeira 24 anos, nasceu em Santa Maria. Era diretor de uma empresa de serviços de open bar e sócio de outra, de eventos

Helena

Hélio

Henrique

20 anos, nasceu em Dom Pedrito e estudava Medicina Veterinária da UFSM

26 anos, nasceu em Manoel Viana, era formado pela Escola Superior de Hotelaria Castelli, de Canela

25 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Medicina Veterinária na UFSM

Poletto Dambrós

“ fez por quem “ Tanto o rodeava que não havia uma pessoa que o conhecesse que não faria tudo por ele.

Amava dançar. Dançou jazz, dança de salão, dança do ventre e descobriu uma nova paixão: a dança árabe. Brilhava no palco.

Trentin Júnior

Gostava de conhecer lugares diferentes. Sua meta de vida era construir um hotel para estudantes em Canela.

o homem que conduz o processo sobre a maior tragédia gaúcha, as famílias das vítimas, os sobreviventes, os réus e toda a comunidade esperam justiça. Nas mãos do juiz da 1ª Vara Criminal de Santa Maria, Ulysses Fonseca Louzada, estão os destinos de sete do total de 15 réus. Outros oito respondem nas esferas militar e cível. Outro, que seria o 16º, fez acordo e teve o processo suspenso (veja mais nas páginas X e Y). Em entrevista ao Diário, no último dia 9, o magistrado disse que vai tomar uma decisão técnica. Ele não quis entrar nos detalhes do caso, mas afirmou que quer acompanhar todos os atos processuais para que nada fuja do alcance dos seus olhos. Louzada ingressou para carreira no Judiciário em 1990. Ele conta que, desde então, trabalhou em varas com demandas que denominou “de muito sofrimento” e que não diferencia o processo da Kiss dos demais: – Este processo é muito complexo porque envolve mais de 870 vítimas, entre fatais e não fatais, e que teve uma repercussão bastante grande. Só que, além desse, existem mais 2,7 mil processos na vara, que, talvez, juntos, tenham mais de 4 mil a 5 mil vítimas e que merecem a mesma importância. O magistrado lembra da época em que começou a carreira, em Pelotas: – Não tinha assessor, computador, estagiário. Trabalhava com máquina de escrever. Era uma vara com júri, execuções e processos menores. Trabalhava de noite a noite. Começava de madrugada e ia até a noite, muitas vezes, sem ver a luz do dia. Às vezes, fazia intervalo no júri para realizar uma audiência. Depois, Louzada assumiu a 1ª Vara Criminal de Rio Grande e passou pelas comarcas de Santo Augusto, Campo Novo, Coronel Bicaco, Santa Vitória e Canguçu até chegar a Santa Maria, em 1995. Louzada nasceu em Rio Grande, onde fez faculdade e atuou como professor e advogado. Atualmente, dá aulas para o curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). É divorciado e pai de quatro filhos.

Nemitz Martins

Herbert

Magalhães Charão

Ilivelton

Isabella

Ivan

19 anos, nasceu em Santa Maria e cursava Psicologia na Unifra

19 anos, nasceu em São Pedro do Sul e estudava Enfermagem na Fisma

19 anos, nasceu em São Miguel do Oeste (SC) e estudava Medicina Veterinária na UFSM

19 anos, nasceu emn Cândido Godói e estudava Medicina Veterinária na UFSM

seu redor, com a natureza, com os animais e com o planeta era imensa.”

sua felicidade era cuidar dos animais. Não teve dúvidas para escolher a profissão.

Stephan de Oliveira Pereira

28 anos, nasceu em São Sepé, estudava Terapia Ocupacional na UFSM e era cabeleireiro

apaixonado àqueles que “ Jovem alegre, “ Erapelaumnatureza “ Deixou que amava viver, tiveram o privilégio e por animais, principalmente por cavalos, inclusive, era domador.

que enchia nossa casa de alegria e adorava escrever poemas.

de tê-lo conhecido a lembrança do teu sorriso encantador e cativante.

Nas mãos dele, a decisão

Martins Koglin

Fiorini

München

muito se Desde criança, viu “ Queria especializar em A sua preocupação “ os pais na lida rural hematooncologia, “ com todos ao e descobriu que porque acreditava que poderia contribuir com quem sofria com a doença.

Juiz Ulysses Fonseca Louzada é o responsável pelo processo criminal da Kiss e vai definir o futuro de sete réus RONALD MENDES – 2/04/13

TRABALHO Magistrado, que ingressou na carreira no Judiciário em 1990, garante que não diferencia o processo do incêndio na boate dos demais que vai julgar

RICARDO DUARTE, 22/03/13

■ Depois de uma investigação de 55 dias, a Polícia Civil conclui o inquérito, que conta com mais de 13 mil páginas em 52 volumes e responsabiliza 28 pessoas em 35 apontamentos pelo incêndio na Kiss – 16 indiciados por crimes como homicídio doloso qualificado, homicídio culposo, fraude processual e falso testemunho. Além disso, a investigação aponta outras 12 pessoas por indícios de homicídio culposo (à Justiça Militar) e por improbidade administrativa (ao Ministério Público), entre elas, o prefeito Cezar Schirmer

■ Após 10 dias de análise, dos 16 indiciados pela Polícia Civil, o Ministério Público oferece denúncia contra 7 e inclui um nome, pede mais investigação em relação a 4, reclassifica o indiciamento de 2 bombeiros e remete a apuração à Justiça Militar. Além disso, o MP pede o arquivamento para três indiciados. O caso do prefeito, que tem foro privilegiado, é encaminhado à 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, que pede parecer à Procuradoria dos Prefeitos do MP

22 DE MARÇO Santa Maria, 27/01/2014

Igor

2 DE ABRIL

PÁGINA 12


Jacob

Jadersom

Janaína

22 anos, nasceu em Santo Cristo e estudava Medicina Veterinária na UFSM

o Tom, 29 anos, nasceu em Itaqui e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

19 anos, nasceu em Santa Maria. Tinha acabado de se formar no Ensino Médio

Francisco Thiele

da Silva

Portela

Jennefer

Jéssica

Mendes Ferreira

Almeida Konzen

22 anos, nasceu em Santana do Livramento, estudava Psicologia na Unifra e era gerente de uma papelaria

21 anos, nasceu em Alegrete, estudava licenciatura em Educação Especial e trabalhava em uma loja

doava os bichos, com muito amor.

amigos, tirar fotos e dançar.

João Aloisio

João Carlos

João Paulo

29 anos, nasceu em Ijuí, era formado em Turismo na Unifra e trabalhava como gerente da Kiss

24 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Sistemas de Informação na Unifra

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Agronomia na UFSM

Treulieb

Barcellos Silva

João Renato

Pozzobon

Chagas de Souza

18 anos, nasceu em São Luiz Gonzaga e estava concluindo o Ensino Médio

José Luiz

Weiss Neto o Pipo, 38 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava como segurança

amiga e noite e das as Não via maldade conversar “ Muito “ Erafestas.da Gostava “ Conciliava “ Adorava companheira, festas, os estudos, “ no mundo. Leu sobre a vida, a rodeios “ Adorava tudo sobre sempre esteve ao de trabalhar em e ainda era mais de 50 livros, história do homem. ajudava e sonhava em se paciência, “ Sabia “ Com “ Sempre Adorava estar futebol, era um lado da mãe nos boates e bares. companheiro do com histórias Gostava de filmes, os animais de especializar em inteligência e “ em festas com os gremista gaudério momentos mais Não queria avô, nas saídas de dragões e de sair à noite e rua. Alimentava e grandes animais, sabedoria, fazia que adorava um churrasco.

difíceis, cuidando e protegendo-a.

ENTREVISTA Ulysses Fonseca Louzada, juiz

um trabalho burocrático.

semanais para repassar o campo.

do trabalho sua companhia.

‘Fazer justiça? Não tenho essa pretensão’ RONALD MENDES – 2/04/13

Diário de Santa Maria – As pessoas o veem como o homem da justiça neste caso. De que forma o senhor se vê? Ulysses Fonseca Louzada – Fazer justiça? Não tenho essa pretensão. A minha pretensão é reproduzir uma certeza do processo com base na lei e nos conhecimentos que tenho. Não tenho pretensão de achar que sou o dono do mundo. Tanto que existem recursos. Quero conduzir o processo de forma célere, bastante efetiva, sem atropelar, mas fazendo com que ele caminhe. Afinal, o sentido terminológico da palavra processo é exatamen- recesso (de final de ano), em uma grande parceiro que tenho na te este: seguir em frente. semana, fiz 140 audiências. vida. Cada religião tem um pouco de verdade. Procuro selecionar Diário – O processo da Kiss Diário – O senhor foi a ou- aquilo que me conforta. mudou a sua vida? tras cidades ouvir vítimas da Louzada – Todos me dizem: tragédia. Por quê? Diário – O senhor frequenta “Não queria estar no teu lugar”. Louzada – Quero poder par- algum templo? Não penso assim. Acho que eu ticipar de todos os atos procesLouzada – Atualmente, não tepassei tanta coisa que, se esse suais, que nada seja feito longe nho tempo nem de ir ao médico. processo veio para cá, é porque eu dos olhos do juízo, para que, lá no tenho de enfrentá-lo e resolvê-lo, final, quando tiver de emitir um Diário – Que outras coisas como tenho resolvido os outros. juízo de valor, possa ter certeza do o senhor deixou de fazer por Toda minha vida profissional foi que vou decidir. Que nada tenha causa do processo? O futebol muito intensa, e sempre tentei me escapado. Todo mundo tem amador, que era um hobby? enfrentar de forma tranquila, do um juízo de valor para esse fato. Louzada – Além do futebol, jeito que entendia mais correto. É Eu, realmente, não tenho. Che- jogava tênis, não estou conseo que tenho feito neste processo. guei em um momento da minha guindo. Mas não foi por causa vida que consigo me abster de da Kiss, especificamente. Não Diário – Como o senhor con- qualquer antecipação de valor. estou tendo tempo. Tenho ativisegue tratar a maior tragédia dades da universidade, sou dono do Estado de forma igual? Diário – Como o senhor con- de casa, tenho quatro filhos. Pelo Louzada – O caso da Kiss é segue este afastamento? menos, não tenho engordado, já é muito importante, mas não posLouzada – Fui amadurecen- algo de bom. so criar uma hierarquia entre os do. Tenho preocupação com esse processos, porque as vítimas e os processo, como com os outros, Diário – O senhor consegue réus dos outros casos também mas trabalho com tranquilidade. acompanhar os seus filhos? querem uma resposta. Para cada Louzada – Tenho dois mais um, o seu processo é o mais imDiário – Essa tranquilidade novos, de 13 e 12 anos, que exiportante. As pessoas me olham tem base na espiritualidade? gem um pouco mais de mim. O como se eu tivesse um só proLouzada – Reflito bastan- menino joga futebol, e o acompacesso. Eu entendo, mas, antes do te. Acredito em Deus, que é um nho. E a menina, no ano passado,

■ 4º Comando Regional de Bombeiros recebe reforço de oito militares para ajudar na Seção de Prevenção a Incêndios (SPI). É montada uma força-tarefa para inspecionar prédios e avaliar PPCIs de toda a cidade

■ Familiares de vítimas pedem explicações aos promotores. Eles querem saber por quais motivos apenas oito pessoas foram denunciadas

3 DE ABRIL

9 DE ABRIL

19 DE ABRIL

PÁGINA 13

Diário – Sem o esporte,como o senhor se distrai? Louzada – Durante o recesso, nadei um pouco, caminhei. Eu assisto TV, gosto de programas de esporte. Escuto música. Procuro não ler, porque meu trabalho é ler. Quando tem alguma festividade, eu vou. Gosto de dançar. Tento viver e não ficar afastado da realidade da comunidade. Um juiz que vive longe do povo não pode julgar o povo. Então, tem de conviver e ouvir as pessoas. Isso não tem nada de parcialidade. Vou julgar de acordo com a lei e com as circunstâncias do fato. Diário – O senhor coloca impressão pessoal no julgamento? Louzada – Não. É minha leitura sobre determinado fato praticado ou não pelas pessoas que estão sendo julgadas, com base nas informações trazidas ao processo. Minha função tem o dever constitucional de resolver um conflito e procuro fazê-lo de forma bem técnica. Diário – O senhor se sentiu ameaçado durante o processo da Kiss? Louzada – Eu zelo por mim. Tenho uma preocupação que talvez seja maior do que a maioria das pessoas, porque não sou mais tão ingênuo, mas também não sou uma pessoa cheia de neuroses. Ando prevenido e garanto a segurança dos meus filhos.

■ Morre Mariana Mariane Wallau Vielmo, 24 anos, a vítima 242 da tragédia

19 DE MAIO

CLAUDIO VAZ, 20/05/13

■ Justiça recebe denúncia do MP na íntegra, e denunciados passam a ser réus no processo criminal na 1ª Vara Criminal de Santa Maria

tive de estudar com ela, história, geografia, matemática. Tenho que ir no supermercado, pagar contas. Talvez não faça 100%, mas tento levar minha vida.

CASO CERCADO DE DÚVIDAS

principalmente cavalos.

cavaleiros justos e leais como ele.

de curtir o bom e velho rock’n’roll.

Os principais pontos de discussão sobre o caso em diferentes esferas da Justiça ATÉ O MOMENTO ■ A não responsabilização de servidores municipais pelo MP – O fato gerou revolta entre os familiares das vítimas, que pediram que os arquivamentos feitos pelos promotores de Santa Maria não sejam homologados pelo Tribunal de Justiça ■ Arquivamento de notícia crime contra promotor – O assunto provocou desconforto entre a população, que questionou a isenção do MP ao decidir não investigar a atuação de um colega. MP e TJ concluíram que o promotor Ricardo Lozza não teve responsabilidade no incêndio da Kiss e arquivaram o caso. Lozza conduziu, em 2009, um inquérito civil público que resultou em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a boate. As exigências para reduzir os ruídos teriam provocado diversas obras na casa noturna, inclusive, a colocação da espuma junto ao palco ■ Soltura dos réus – A decisão do TJ de libertar os réus, em 29 de maio, revoltou as famílias. O tribunal alegou que não havia mais comoção social e que a liberdade deles não traria prejuízos à ordem pública ou ao processo

DAQUI PARA A FRENTE ■ Dolo ou culpa – O ponto central de discussão do processo será a classificação do crime: homicídio doloso (quando os autores assumem o risco de causar a morte) ou culposo (sem intenção). Caberá ao Ministério Público e à assistência de acusação provar que houve dolo eventual e que o caso deve ir a júri. E é atribuição da defesa provar o contrário. A decisão será do juiz. A diferença prática é o rigor da pena. No caso de doloso, se condenados, os réus cumprirão pena, de 12 a 30 anos, na cadeia. No caso de culposo, a pena é de até 3 anos e pode ser revertida para serviços comunitários ■ Desaforamento – As opiniões se dividem entre juristas, advogados e especialistas. Os advogados podem pedir o desaforamento, ou seja, que o julgamento seja transferido para outra cidade. Isso é comum em casos de clamor popular. Neste caso, cabe ao Tribunal de Justiça decidir. O desaforamento pode ser pedido depois da pronúncia do juiz

■ Tribunal de Justiça concede liberdade aos quatro principais réus – Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, sócios da boate, e Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, da banda Gurizada Fandangueira. Todos saem da penitenciária

■ No dia seguinte, familiares e amigos de vítimas e sobreviventes tomam as ruas em passeata de protesto

29 DE MAIO

30 DE MAIO Santa Maria, 27/01/2014


José Manuel

Julia

Cristofari Sául

Juliana

Rosa da Cruz 18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Zootecnia na UFSM

21 anos, nasceu em Jaguari e estudava Medicina na Unisc

21 anos, nasceu em Santa Maria e fazia o curso de soldado da Brigada Militar em Montenegro

“ um “ Eraapaixonado pela

vida do campo. Adorava cavalos.

Dedicou três anos e meio a cursinhos para o vestibular, sem nunca pensar em desistir! E viveu seis meses do seu maior sonho: a Medicina.

Moro Medeiros

muito de “ Gostava festas, de viagens

e de aproveitar a vida ao lado da família. Seu sorriso era a sua marca, parecia estar sempre feliz.

Juliana

Oliveira dos Santos 18 anos, nasceu em Tupanciretã e estudava Terapia Ocupacional na UFSM

de se “ Gostava divertir com os

amigos, em festas, e de estar junto da família.”

Juliana

Speroni Lentz 18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Agronomia na UFSM

muito “ Erasolidária. Estava

sempre ajudando quem precisava e vivia preocupada com as pessoas, principalmente com as crianças.

Juliano

Karin

de Almeida Farias 20 anos, nasceu em Dom Pedrito e estudava Engenharia de Automação na UFSM

de “ Gostava aproveitar a vida,

Kellen Aline

Fernanda Knirsch

Karsten Favarin

18 anos, nasceu em Agudo e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

ligada às “ Muito tradições gaúchas,

sempre rodeado de muitos amigos e familiares.

gostava de frequentar CTGs e da animação dos bailes tradicionalistas.

22 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Direito na Ulbra e trabalhava nas Lojas Renner

muito “ Gostava de dançar e de ver feliz quem estava a sua volta.

Kelen

Pereira da Rosa 26 anos, nasceu em Santa Maria e era auxiliar administrativo

um olhar “ Tinha cheio de anseios, angústia e vontades, Era alguém com muitos sonhos a realizar.

Kelli Anne

Larissa

23 anos, nasceu em São Luiz Gonzaga e fazia doutorado em Química na UFSM

32 anos, nas Santa Maria dava Tecno Alimentos n e trabalhav caixa na bo

Santos Azzolin

menina “ Eramuitoumaobservadora, desde criança, assim que entrou na escola, começou a dizer que queria ser professora e estudava para isso.

Holsbach

gran “ Tinha facilidade

agregar am e se dedic amigos co intensidad

NA JUSTIÇA ESTADUAL ESFERA CRIMINAL

FRAUDE PROCESSUAL

HOMICÍDIO Elissandro Callegaro Spohr, o Kiko,sócio da boate

COMO ESTÃO OS PROCESSOS O inquérito policial sobre o incêndio na boate Kiss responsabilizou 28 pessoas. Destas, 12 viraram rés em uma das três esferas judiciais – criminal, cível e militar – e 16 tiveram os casos arquivados pelo Ministério Público. O MP e a Brigada Militar incluíram outros quatro nomes que não haviam sido citados pela Polícia Civil. Do total de 16 réus, um fez acordo com a Justiça e teve o processo suspenso. Ao fim, 15 ainda respondem pelo incêndio de 27 de janeiro que resultou na morte de 242 pessoas e deixou mais de 600 feridas. Além disso, há duas novas investigações ocorrendo, que podem resultar em novos processos. Confira o que pode acontecer com os acusados, por quais crimes eles respondem, a que pena podem ser submetidos e em que situação estão os processos nas esferas criminal, militar e cível:

Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira, que segurava o artefato pirotécnico que deu início ao fogo

Luciano Augusto Bonilha Leão, produtor de palco da banda Gurizada Fandangueira, que acionou o artefato pirotécnico que deu início ao fogo

■ Acusação – Homicídio e tentativa de homicídio com dolo eventual qualificados por asfixia, incêndio e motivo torpe ■ Pena – De 12 a 30 anos de reclusão. O juiz define, entre essa faixa, uma pena mínima para um homicídio e depois acrescenta mais metade desse número porque foi uma ação que gerou vários resultados (242 mortes). Ou seja, pode variar entre 18 (se considerarmos o mínimo de 12 anos) e 45 anos (se considerado o máximo de 30 anos)

■ Acusação – Fraude processual ■ Pena – Detenção, de seis meses a quatro anos, e multa ■ Situação – Foi realizada uma audiência em que foram ouvidas quatro testemunhas de defesa. Falta ouvir uma pessoa, que não compareceu por motivos de saúde, que também está na lista da acusação ■ O que pode acontecer – Até a sentença do juiz, o acusado pode fazer acordo com a Justiça ou não. Se fizer, o processo pode ser suspenso, sem nenhum registro de que foi processado. A proposta do MP é que o processo fique suspenso por dois anos, desde que o acusado se comprometa

■ Situação – Processo criminal está na fase de depoimento de vítimas (que não estão sob juramento) indicadas pelas defesas dos réus. Foram ouvidas 92 pessoas – 82 em Santa Maria e 10 fora da cidade. Ainda devem ser ouvidas 25 pessoas. As datas das novas audiências serão marcadas a partir de fevereiro. Na etapa seguinte, serão ouvidas as testemunhas (que se comprometem em dizer a verdade em juramento, sob pena de serem processadas) apontadas por acusação, assistência de acusação e defesas. Depois, serão ouvidos os peritos e, por último, os réus. A previsão inicial do juiz Ulysses Fonseca Louzada de concluir a fase de instrução até o final do ano não se confirmou. Não há nova previsão

FALSO TESTEMUNHO

■ O que pode acontecer – Na sentença, juiz escolherá uma entre quatro opções: a pronúncia (os denunciados serão submetidos ao júri popular), a impronúncia (juiz encerra o processo por falta de materialidade do crime), a desclassificação (o juiz pode passar do crime doloso para o culposo e, com isso, não ser julgado pelo tribunal do júri e sim por um juiz) ou a absolvição sumária (o magistrado reconhece que o crime não foi praticado pelo réu). Segundo juristas consultados pelo Diário, mesmo que haja pronúncia (júri popular) em Santa Maria, a tendência é que os crimes sejam desclassificados para crime culposo em esfera superior (Tribunal de Justiça, Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal). Alguns especialistas também apostam no desaforamento do processo, ou seja, que, depois da pronúncia do juiz, o julgamento seja transferido para outra cidade

■ Acusação – Falso testemunho ■ Pena – Detenção, de dois a quatro anos, e multa ■ Situação – Foi realizada uma audiência. Das quatro testemunhas previstas para serem ouvidas, apenas uma compareceu ■ O que pode acontecer – Até o momento da sentença, os réus podem fazer acordo com a Justiça, retratando-se diante do juiz, assumindo que erraram e dizendo a verdade (nesse caso, o processo é

■ Procuradoria dos Prefeitos do MP pede arquivamento do caso sobre o prefeito Cezar Schirmer, depois de analisar o inquérito policial, onde ele foi apontado por homicídio culposo. O parecer é remetido ao Tribunal de Justiça (TJ)

12 DE JUNHO

18 DE JUNHO

■ Manifestantes passam a ocupar a Câmara de Vereadores para pedir a redução da passagem de ônibus urbanos, a exoneração de membros da CPI da Kiss e do procurador do Legislativo e o fim da CPI com os governistas

25 DE JUNHO

PÁGINA 14

a prestar serviços à comunidade por três meses ou pagar dois salários mínimos nacionais à entidade beneficente cadastrada na Justiça. Além disso, ele deve comparecer de três em três meses na Justiça para informar endereço e atividades e não não pode se afastar da cidade onde mora por mais de 30 dias sem comunicar à Justiça. Até o momento, o réu não aceitou o acordo. Neste caso, o juiz pode decidir se o caso vai a júri popular (porque os crimes estão relacionados aos de homicídio doloso pelas mortes de 242 pessoas) ou se julga separado e dá ele mesmo a sentença, absolvendo ou condenando o réu

Elton Cristiano Uroda, ex-sócio da boate, disse em depoimento à Polícia Civil que Eliseo Spohr (pai de Kiko) não era sócio da boate, quando seria de fato, segundo a polícia e o Ministério Público Volmir Astor Panzer, contador, disse em depoimento à Polícia Civil que Eliseo Spohr (pai de Kiko) não era sócio da boate, quando seria de fato, segundo a polícia e o Ministério Público

JEAN PIMENTEL, 26/06/13

■ Inquérito Policial Militar (IPM) indicia oito bombeiros – seis por inobservância da lei, regulamento ou instrução, um por falsidade ideológica e um por condescendência criminosa

Santa Maria, 27/01/2014

Mauro Londero Hoffmann, sócio da boate

Gerson da Rosa Pereira, major dos bombeiros, teria incluído documentos que originalmente não estavam junto ao PPCI da Kiss

suspenso, sem nenhum registro de que foram processados) ou podem não aceitar o acordo (nesse caso, o juiz decide se eles irão a júri popular porque os crimes estão relacionados aos de homicídio doloso pelas mortes de 242 pessoas ou se ele mesmo julga, absolvendo ou condenando o réu). Uroda e Panzer não aceitaram o benefício e seguem sendo processados. O advogado que representa os dois, Jader Marques, afirma que eles não cometeram o crime

■ São ouvidos os primeiros depoimentos de sobreviventes no processo criminal sobre o incêndio. Dois réus comparecem: Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão

■ Familiares de vítimas revelam gravação de áudio feita durante reunião da CPI que indicaria suposta blindagem à administração municipal

26 DE JUNHO


Larissa

Laureane

23 anos, nasceu em Santa Maria e era professora na Escola Cícero Barreto

18 anos, nasceu em Santo Ângelo e estudava Terapia Ocupacional na UFSM

Terres Teixeira

h

sceu em a, estuologia em na UFSM va como oste Kiss

nde para mizades cava aos om muita de.

“ Realizada profissionalmente,

ela se entregava, em época de férias, à música, à dança e ao convívio constante com os amigos e com a família.

Leandra

Salapata

Fernandes Toniolo 23 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Radiologia e trabalhava como telefonista no Guia Cidade

de “ Erabeijosincansável e abraços, jovem “ Uma tinha muita dedicada, preocupação com o mano, com a mãe e com o pai.

Leandro

Leandro

Leonardo

Leonardo

Leonardo

Leonardo

Letícia

22 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Ciências Contábeis na Unifra e trabalhava como cobrador de ônibus

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Arquivologia e Administração na UFSM

26 anos, nasceu em Santa Maria e era militar

20 anos, nasceu em Uruguaiana e estudava Agronomia na UFSM

28 anos, nasceu no Rio de Janeiro e era 1º tenente do Exército

18 anos, nasceu em Rosário do Sul e estudava Agronomia na UFSM

20 anos, nasceu em Tucunduva e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

Avila Leivas

Nunes da Silva

divertido. “ “ EraNãomuito havia ninguém

trabalhadora e apegada à família.

que não se apegasse a ele, tratava todos de igual para igual.

Era gremista fanático. Amigos arrecadaram dinheiro no Calçadão e compraram uma camisa do time.

de Lima Machado

“ Erapor apaixonado motos e

participou do Karrancas Moto Grupo. Adorava seus amigos e amava servir ao Exército.

Lemos Karsburg

Machado de Lacerda

violão “ Tocava e era torcedor

do Grêmio. Conquistou muitos corações por ser lindo por dentro e por fora.

Schopf Vendruscolo

paixão era a “ Sua agricultura e foi

uma felicidade quando soube da aprovação no curso que sempre sonhou.

do amor ao “ FezExército e ao

seu país o seu objetivo de vida.

Baú

trocava “ Não os livros pelos

passeios. Era muito dedicada aos estudos.

NA JUSTIÇA MILITAR ESFERA MILITAR

ESFERA CÍVEL IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

PREVARICAÇÃO

Alex da Rocha Camillo, capitão dos bombeiros, que assinou o segundo alvará de prevenção contra incêndio da boate

Moisés Fuchs, tenente-coronel, comandava o 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB) na época do incêndio

Daniel da Silva Adriano, militar da reserva dos bombeiros que assinou o primeiro alvará de prevenção contra incêndio da boate

■ Acusação – Prevaricação, porque não teria aplicado as sanções que deveria diante da comprovação de que o sargento dos bombeiros Roberto Flávio da Silveira e Souza era gerente da Hidramix, empresa que realizou obras dentro da boate

Moisés Fuchs, ex-comandante regional do 4º Comando Regional de Bombeiros, atuava quando a boate incendiou Altair de Freitas Cunha, ex-comandante regional do 4º Comando Regional de Bombeiros, atuava quando o Sigpi foi implantado ■ Acusação – Improbidade administrativa, porque, segundo os promotores, quando implementaram o Sistema Integrado de Gestão de Prevenção de Incêndio (Sigpi) de forma deturpada, agiram deliberadamente e, com isso, causaram possíveis gastos que deverão ser pagos pelo Estado em indenizações e conduta contra os princípios de legalidade, moralidade e honestidade da administração pública ■ Pena – Perda do cargo ou, no caso de aposentados, das aposentadorias, ou pagamento de multas de até cem vezes a remuneração deles ■ Situação – Processo está na fase inicial. A Justiça intimou o Estado, que pode ser ou não parte no processo. Se for, processo deve ir para a Vara Especializada na Fazenda Pública ■ O que pode acontecer – Depois da manifestação do Estado, deve ser marcada audiência onde serão ouvidas testemunhas de acusação e de defesa. Pode, ainda, haver pedido de perícias. Depois, ocorrem as manifestações finais e a sentença do juiz, que pode absolver ou condenar. Em caso de condenação, ela pode ser parcial. Existem algumas diferenças da esfera criminal: o réu só fala se o autor da ação, no caso MP, pedir. O réu não pode se manifestar de forma escrita. Além disso, o MP pode fazer perguntas ao réu, mas a defesa não pode

AÇÃO COLETIVA ■ A Defensoria Pública do Estado e a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) ajuizaram Ação Coletiva indenizatória contra os sócios da boate, prefeitura de Santa Maria, governo do Estado do Rio Grande do Sul e outros. Este processo está aguardando a citação de todos os réus e é conduzido pela juíza Eloisa Helena Hernandez de Hernandez na 1ª Vara Cível

■ Situação – Foram realizadas cinco audiências nas quais foram ouvidas 18 do total de 19 testemunhas – 17 em Santa Maria e uma em Porto Alegre. A última, a engenheira Josy Maria Gaspar Enderle, profissional que fez o projeto de Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) da danceteria, na época de abertura do estabelecimento, será ouvida em 12 de março, às 14h, no plenário da Auditoria Militar de Santa Maria. Depois de todos os depoimentos, será aberto o prazo de cinco dias para que as defesas indiquem as suas testemunhas. O prazo é sucessivo entre as defesas, ou seja, primeiro para uma, depois para outra, e, assim, sucessivamente. O MP pode solicitar novas audiências. Não há número específico de testemunhas. Em seguida, vem a fase de requerimentos de informações – as alegações escritas do MP e das defesas. Por fim, serão ouvidos os réus. Depois, ocorrem as alegações orais e o julgamento em plenário, que é composto por cinco votos: da juíza e dos oficiais da Brigada Militar que integram o Conselho Especial de Justiça que acompanha o processo ■ O que pode acontecer – Os réus podem ser condenados ou absolvidos, mas ainda há a possibilidade de desclassificação de um tipo penal para outro, o que pode alterar a pena

27 DE JUNHO

■ Ocupantes deixam a Câmara de Vereadores, após acordo para exoneração do procurador da Casa, Robson Zinn, que deveria deixar o cargo em 1º de agosto

1° DE JULHO

PÁGINA 15

Moisés Fuchs, tenentecoronel, comandava o 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB) na época do incêndio na Kiss

Alex da Rocha Camillo, capitão que assinou o segundo alvará dos bombeiros para a boate

Daniel da Silva Adriano, tenente-coronel da reserva que assinou o primeiro alvará dos bombeiros para a boate

■ Acusação – Inserir declaração falsa com fim de alterar a verdade em documento público. Os bombeiros teriam informado que a Kiss foi inspecionada e que o local foi aprovado “de acordo com a legislação vigente”, sendo que, segundo a denúncia, a legislação vigente, deliberadamente não foi observada, pois não foram exigidos diversos itens exigidos pelas leis ■ Pena – Detenção de até cinco anos, se o documento é público, e de até três anos, se é particular ■ Situação – Foram realizadas cinco audiências onde foram ouvidas 18 do total de 19 testemunhas – 17 em Santa Maria e uma em Porto Alegre. A última, engenheira Josy Maria Gaspar Enderle, profissional que fez o projeto de Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) da danceteria, na época de abertura do estabelecimento, será ouvida em 12 de março, às 14h, no plenário da Auditoria Militar de Santa Maria. Depois de todos os depoimentos, será aberto o prazo de cinco dias para que as defesas indiquem as suas testemunhas. O prazo é sucessivo entre as defesas, ou seja, primeiro para uma, depois para outra, e, assim, sucessivamente. O MP pode solicitar novas audiências. Não há número específico de testemunhas. Em seguida, vem a fase de requerimentos de informações – as alegações escritas do MP e das defesas. Por fim, serão ouvidos os réus. Depois, ocorrem as alegações orais e o julgamento em plenário, que é composto por cinco votos – da juíza e dos oficiais da Brigada Militar que integram o Conselho Especial de Justiça que acompanha o processo ■ O que pode acontecer – Os réus podem ser condenados ou absolvidos, mas ainda há a possibilidade de desclassificação de um tipo penal para outro, o que pode alterar a pena

TEVE PROCESSO SUSPENSO Renan Severo Berleze, sargento dos bombeiros, era acusado de fraude processual porque teria incluído documentos que originalmente não estavam junto ao PPCI da Kiss. Ele fez um acordo com a Justiça e teve o proccesso suspenso por dois anos.

■ Ritchieli Pedroso Lucas, última paciente internada em virtude da tragédia, recebe alta. Dos 145 internados, 137 tiveram alta e oito morreram

DIVULGAÇÃO

FERNANDO RAMOS, 27/06/13

■ No Viaduto Evandro Behr, 242 pessoas (lembrando o número de mortos na tragédia) se deitam no asfalto com balões, contendo sementes de árvores nativas. Às 18h, durante o Minuto de Barulho, sob palmas, os balões são soltos, para que levem as sementes e, em algum lugar, germinem

■ Pena – Detenção, de seis meses a dois anos

INSERIR DECLARAÇÃO FALSA COM FIM DE ALTERAR A VERDADE EM DOCUMENTO PÚBLICO

2 DE JULHO Santa Maria, 27/01/2014


Letícia

Leticia

27 anos, nasceu em Porto Alegre e estudava Medicina Veterinária na UFSM

36 anos, nasceu em Santa Maria e era recepcionista na Kiss

Ferraz da Cruz

animais, “ Adorava principalmente cães, por isso decidiu ser veterinária.

Vasconcellos

Leticia amava “ Abrincar com

os filhos e os animais. Era tão brincalhona que chegava a parecer irmã de seus filhos, deixando a vó e o vô enlouquecidos.

Lincon

Turcato Carabagialle 21 anos, nasceu em Ijuí, estudava Meteorologia na UFSM e trabalhava no Inpe

guri, corria “ Desde para a frente da TV, para ver a previsão do tempo. Talvez sonhasse com isso. Era o nosso homem do tempo.

Louise Victoria

Luana

Luana

Lucas

Lucas

Lucas

Luciane

18 anos, nasceu em Itaqui e estudava Tecnologia de Processos Químicos na UFSM

22 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Psicologia na Unifra

19 anos, nasceu em Faxinal do Soturno e pretendia fazer cursinho prévestibular

20 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na Casa do Gaúcho

21 anos, nasceu em Dom Pedrito e estudava Agronomia na UFSM

21 anos, nasceu em Dilermando de Aguiar e era militar do Exército

18 anos, nasceu em Santo Antônio das Missões e era comissária de bordo

dado entrada para a compra de um apartamento e sonhava em entrar para a Escola de Sargentos das Armas (EsSA).

de ser comissária. Passou na prova da Agência Nacional de Aviação Civil há três meses e pretendia exercer a profissão.

Farias Brissow

sorriso e a “ Ogargalhada de

Louise eram suas marcas inconfundiveis.

Behr Vianna

Facco Ferreira

“ Deímpar,personalidade era fanática

Reservada e caseira, tinha adoração pelos animais.

pelo Grêmio e estava aprendendo a tocar violão.

Dias de Oliveira

violão, as mais “ Notocadas e cantadas

eram as músicas nativistas. Lucas via na gineteada bem mais do que um lazer. Para ele, era uma verdadeira paixão.

Foggiato

Leite Teixeira

Gostava de passar os fins de semana na propriedade rural dos seus pais, em Dom Pedrito.”

Moraes Lopes

muito acabado de “ Estava “ Tinha contente por ter realizar o sonho

RONALD MENDES – 15/01/14

Na madrugada em que comemorava os seus 20 anos, Luísa perdeu sete amigos. Ela voltou a sair, mas mudou hábitos

E

CAUTELA

Agora, quando chega a uma festa, a primeira coisa com a qual Luísa se preocupa é a localização das saídas de emergência

A diversão jamais será igual

la ainda capricha na maquiagem, escolhe a roupa que fica mais bonita antes de sair e continua gostando de sertanejo universitário. Mas as semelhanças com a fase mais baladeira da vida param por aí. Um ano depois da tragédia da Kiss, Luísa Kopp, que hoje completa 21 anos, mudou muito a sua vida noturna. Se, antes, ela chegava a sair três vezes por semana para as festas, agora não vai mais do que em três a cada mês. E, quando chega em um lugar, já não olha mais para todos os lados em busca de pessoas conhecidas. Ela tenta localizar as saídas de emergência. Sim, Luísa tem medo que uma tragédia se repita. – Demorou alguns meses até que eu conseguisse sair novamente. Comecei indo a clubes maiores, onde me sentia mais à vontade. Depois, eu e meus amigos começamos a ir aos lugares que sabíamos que tinham a documentação em dia – conta a jovem. Na madrugada do incêndio, Luísa, que mora a poucas quadras da Kiss, comemorava o seu aniversário na boate. Ela conseguiu sair de lá pouco depois de o fogo começar, mas perdeu sete amigos que estavam com ela na casa noturna. Falar do assunto emociona a estudante como se tudo tivesse acontecido há poucos minutos. Lembrar que hoje seria um dia de comemoração de seu aniversário é um tema que machuca a ponto de ela não conseguir explicar o que sente. – Antes, a gente pensava: “Se tem mais gente é porque está legal”. Hoje, não consigo frequentar lugares lotados. Quando vejo que um lugar está muito cheio, vou embora, porque não confio que estejam fazendo um controle rigoroso – relata a jovem. Luísa também já não reclama mais quando a mãe, a enfermeira Ana Alice Kopp, 55

anos, liga para saber como ela está. – Agora, eu entendo melhor a preocupação dela – diz Luísa. – Eu sempre pensava que podia acontecer um assalto ou algo assim, mas nunca iria pensar em uma tragédia como aquela, a poucas quadras de casa. Hoje, me preocupo ainda mais quando ela sai – completa Ana.

CLIENTES DE CASAS NOTURNAS FICARAM MAIS ATENTOS A psicóloga e socorrista Melissa Couto afirma que, nos primeiros meses após a tragédia, as pessoas ficaram mais interessadas em saber, por exemplo, onde estão as saídas de emergência dos lugares que frequentam. – Infelizmente, passado um ano, não são todos que continuam observando isso. Aliás, é bem menos gente do que se poderia esperar – afirma Melissa. Para a mestre e especialista em psicologia clínica Maria Luiza Leal Pacheco, do programa Acolhe Saúde, normalmente, os jovens pensam na morte como algo muito distante, e a tragédia fez com que alguns deles percebessem que o fim estava mais próximo do que podiam imaginar. Isso, é claro, também interferiu no comportamento de muitos pais que, antes da tragédia, não se preocupavam tanto em saber para onde seus filhos estavam indo. – Eles mudaram não só os hábitos ao saírem em casas noturnas, mas também mudaram os lugares que frequentam. Alguns, que antes só queriam saber de boates, hoje em dia se reúnem com os amigos para ir jantar em restaurantes ou mesmo em casa – comenta Maria Luiza.

■ CPI que investiga responsabilidades da prefeitura no caso da boate Kiss finaliza relatório, com 90 páginas e 32 depoimentos. O documento aponta falhas dos músicos da banda, que teriam sido omissos ao usar material inflamável, critica os empresários, por possibilitarem o funcionamento do local sem as condições de segurança, aponta falhas de estrutura da liberação de alvarás da prefeitura e, por fim, destaca a responsabilidade do Corpo de Bombeiros em relação à liberação de licenciamentos. É encaminhado um projeto de resolução com sugestões de mudanças na legislação para o Executivo

■ Das 9 pessoas apontadas pela Polícia Civil por improbidade administrativa, 3 são apontadas também pelo MP, que incluiu um quarto nome. Todas são bombeiros. Outras 6, da prefeitura, não são responsabilizadas. Segundo os promotores, quando implementaram o Sigpi de forma deturpada, os oficiais bombeiros agiram deliberadamente e, com isso, causaram possíveis gastos que deverão ser pagos pelo Estado em indenizações. Além disso, eles teriam apresentado conduta contra os princípios de legalidade, moralidade e honestidade da administração pública

3 DE JULHO

15 DE JULHO

Santa Maria, 27/01/2014

PÁGINA 16


Luciano Ariel Silva da Silva

30 anos, nasceu em Santa Maria e era eletricista

Luciano

O

Ludin de Oliveira

19 anos, nasceu em Nova Palma e era soldado do Exército

e cheio “ Inteligente de pressa de Batalhador, começou a trabalhar cedo e se esforçava muito para ajudar a família.

Luis Carlos

Tagliapietra Esperdião

viver. Estava em uma fase da vida em que fazia de tudo um pouco, tinha passado no vestibular para Ciências Contábeis.

45 anos, nasceu em Giruá, era sargento da Aeronáutica e estudava de Odontologia na UFSM

a família “ Eraquecom se sentia

completo, adorava churrasco, passear com os cachorros, viajar, assistir aos jogos do Inter.

incêndio em uma boate com apenas uma saída, janelas lacradas, extintores que não funcionaram, iluminação deficiente e, principalmente, um revestimento tóxico, não só levou vidas e deixou feridos como também expôs leis de prevenção obsoletas e fiscalizações ineficazes. A ferida foi aberta em 27 de janeiro de 2013, e nenhuma medida seria capaz de fazê-la cicatrizar. Mas deixou evidente a necessidade de criar novas legislações em âmbitos federal, estadual e municipal para evitar que os mesmos erros se repitam. A União largou na frente. O Ministério da Justiça publicou a portaria 3.083, de 25 de setembro, determinando que estabelecimentos de lazer, cultura e entretenimento de todo o país colocassem, em materiais de divulgação e convites e nas entradas dos prédios, os alvarás de funcionamento e de bombeiros, com datas de validade, e a lotação máxima no local. A nova regra entrou em vigor em 26 de novembro. O Procon, órgão fiscalizador, está orientando os donos de locais. No Estado, em 11 de dezembro de 2013, depois de dezenas de reuniões e audiências públicas, consultas a especialistas, técnicos e profissionais na área, a Assembleia Legislativa aprovou o Projeto de Lei Complementar 155. Sancionada pelo governador Tarso Genro 15 dias depois, a chamada Nova Lei de Incêndio, com 58 artigos – um deles incluído por emenda – e centenas de incisos, deu prazo de 12 meses para que os municípios adequem suas legislações locais às novas normas. A lei determina competências de entes públicos e privados, fiscalizações e sanções. Na esfera federal, a proposta ainda não foi votada. A prefeitura aguarda pela aprovação da lei nacional para adequar a legislação municipal, mas já aprovou a Lei 5.840, que determina que os estabelecimentos devem colocar placares eletrônicos de lotação de público. Nesse contexto, um engenheiro civil e de segurança no trabalho, especialista em prevenção, ex-professor e chefe de consultoria, recebeu a tarefa de coordenar a investigação sobre a Kiss pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea) do Rio Grande do Sul. Carlos Wengrover Rosa apontou falhas e sugeriu mudanças. Para o especialista, a lei estadual trouxe avanços, mas tem brechas e precisa ser melhorada. Um dos pontos mais elogiados é justamente o que abre a possibilidade de avançar mais. A lei cria o Conselho Estadual

Luis Felipe

Balest Piovesan 19 anos, nasceu em Ijuí e estudava Agronomia na UFSM

de “ Gostava diversões

como pescaria, acampamentos, churrasco, futebol, viagens, música, jogos de carta e de tabuleiro.

Luísa

Batistella Püttow 23 anos, nasceu em Tapera e estudava Odontologia na UFSM

alegria “ Esbanjou na infância, beleza na adolescência e independência, coragem e garra na fase adulta.

Luis

Luiz Eduardo

Luiz Fernando

Luiz Fernando

Luiza

36 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Medicina Veterinária na UFSM

o Dudu, 24 anos, nasceu em Sobradinho, era oficial escrevente e estudava Direito na Unijuí

18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Agronomia na UFSM

32 anos, nasceu em Quaraí e era instrutor do Detran

26 anos, nasceu em Itaqui, estudava Direito na Fadisma e trabalhava em uma imobiliária

Antonio Xisto

grande “ Um batalhador, estava correndo atrás do sonho de ser veterinário.

Legislações foram modificadas e ficou difícil obter alvarás

Viegas Flores

Riva Donati

cozinhar.

Alves da Silva

carros e “ Adorava motos, por isso,

de “ Filho agricultores, de praticar “ Gostava esportes e adorava

Rodrigues Wagner

desde cedo se interessou pela área e decidiu seguir carreira.

quis ser instrutor. Estava prestes a realizar o sonho de ter seu carro próprio.

ir a “ Adorava festas e estar com seus amigos.

A lei ficou mais rigorosa JEAN PIMENTEL – 26/11/13

FISCALIZAÇÃO Casas noturnas são obrigadas a informar, entre outras coisas, qual é a capacidade máxima de público. O número deve estar visível, do lado de fora do estabelecimento

de Segurança, Prevenção e Proteção Contra Incêndio, do qual o engenheiro faz parte. Também fazem parte Conselho de Arquitetura, Corpo de Bombeiros, entre outros. – Quando a lei foi aprovada, veio com tabelas técnicas que tiveram mais quatro atualizações depois, em Brasília. Então, começamos com desatualizações. Porém, a lei

■ Desembargadores do Tribunal de Justiça arquivam processo criminal contra o prefeito Cezar Schirmer, apontado por homicídio culposo pela Polícia Civil, deixando-o livre de ação

■ É divulgada uma pesquisa encomendada pelo Grupo RBS e feita entre 20 e 22 de julho pelo Instituto Methodus. O levantamento envolveu 600 moradores de Santa Maria, sendo que 61,9% dos participantes discordam de que todos os envolvidos estão respondendo judicialmente pelos erros cometidos, 57,5% não acreditam que será feita justiça e 52,2% questionam a isenção da CPI da Câmara Municipal

18 DE JULHO

27 DE JULHO

cria o conselho que vai ajudar a atualizar a lei – pondera Wengrover. Os sistemas de detecção e extração de fumaça, que inexistiam na boate Kiss, são uma das questões que deverão ter a atenção do conselho. Eles poderiam ter evitado as mortes por intoxicação na casa noturna, que acabou funcionando como uma câmara de gás, já

que não possuía saídas para a fumaça.A nova lei, acredita o especialista, avançou na medida em que a anterior não tratava sobre isso, mas ainda não é a ideal, porque só está prevista instalação do sistema em prédios muito altos, acima de 60 metros, quando ele deveria ser exigido em hospitais, boates e locais de grande risco de incêndio.

■ Prédio da SUCV, onde onde fica o gabinete do prefeito Cezar Schirmer (PMDB), foi pichado. Um grupo com cerca de cem pessoas, entre estudantes, membros de partidos políticos e dos movimentos Bloco de Lutas, e Do Luto à Luta (de familiares de vítimas da boate Kiss), e do DCE, realizou um protesto que culminou com pichações e o arremesso de balões com tinta vermelha, que simbolizava o sangue dos mortos no incêndio, contra a fachada do prédio, tombado pelo município. Faixas pedindo Justiça e exigindo a saída de Schirmer do governo também foram fixadas no local

1º DE AGOSTO

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Santa Maria, 27/01/2014


Maicon

Maicon Douglas

27 anos, nasceu em Santa Maria e era segurança da Kiss

o Dudy, 18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Educação Física na UFSM

Apolinário Cardoso

Era um batalhador. Desde a morte dos pais, quando ainda era adolescente, tornou-se o porto seguro de sua família.

Moreira Iensen

paixão era “ Sua jogar futebol. Tinha o sonho de jogar profissionalmente e, no futuro, queria treinar um time.

Maicon

Francisco Evaldt 29 anos, nasceu em Quaraí e trabalhava no Banco do Brasil de São Borja

Manoeli

Moreira Passamani 19 anos, nasceu em Alegrete e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

“ muitos “ Praticava esportes. O tênis era um dos prediletos.

Vivia de bem com a vida, gostava da atenção de todo mundo, adorava maquiagem e perfumes.

Marcelo

Marcos

Marfisa

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Direito na Unifra

37 anos, era o baterista da banda Pimenta e Seus Comparsas, de Ijuí, que tocava na Kiss

27 anos, nasceu em Rosário do Sul e trabalhava na Kiss

de Freitas Salla Filho

André Rigoli

inteligente, viagens “ Muito “ Adorava gostava de rock e rock. De e era apaixonado pelo Grêmio.

preferência, viajar para tocar rock.

Trabalhadora, não media esforços para garantir um futuro melhor ao seu filho.

Maria Mariana

Mariana

Mariana

18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Medicina Veterinária na UFSM

18 anos, nasceu em Santa Maria e cursaria Desenho Industrial na UFSM

a Mari, 18 anos, nasceu em Santa Maria e iria estudar Arquitetura e Urbanismo na Unifra

Rodrigues Ferreira

Tinha sonhos e vivia isso no dia a dia. Era fã do cantor Luan Santana, que gravou uma música para ela.

Comassetto do Canto

Sua grande paixão era a dança. Seus sonhos eram conhecer Paris, assistir a um jogo do Inter e desenhar automóveis.

Machado Bona

rodeada de “ Vivia amigos, que eram considerados como irmãos. Sempre abraçava todos e distribuía um sorriso encantador.

MUNICIPAL

LEI ESTADUAL PRECISA ESCLARECER PONTOS O Conselho Estadual de Segurança também deverá ficar atento ao que diz respeito à iluminação das rotas de saídas de emergência dos estabelecimentos. O ideal é que permaneçam sempre visíveis, independentemente de queda de energia ou desligamento do disjuntor (no caso da Kiss, a iluminação de emergência não foi acionada porque a rede de energia não caiu). A medida também não está prevista na Nova Lei de Incêndio. É em pontos como esses, considerados pelo especialista Carlos Wengrover como brechas técnicas, que o conselho vai trabalhar. – Mesmo que a lei seja bem descritiva, há pontos que precisam ser esclarecidos. O profissional, responsável técnico, não tem condições de, somente com essa lei, fazer o projeto. Ele vai precisar de mais detalhes. Isso pode ser feito por decreto e instruções técnicas ou só por decreto – explica o especialista. O engenheiro se refere a questões como distâncias entre os itens de prevenção ou tamanho de área para que seja exigido sistema específico de prevenção e, até no caso das penalidades, quais os valores de multas. Não há data definida para que o conselho seja oficializado e comece atuar. Segundo a Casa Civil, a construção do decreto, que regulamentará a lei, será coordenada pelo Corpo de Bombeiros do Estado. Conforme o comandante dos bombeiros, coronel Eviltom Pereira Diaz, há 15 dias foi nomeado um grupo de trabalho que está formulando uma regulamentação interna do Corpo de Bombeiros. Depois disso, as sugestões da corporação serão discutidas com os integrantes do conselho para construção da regulamentação estadual. – Essa lei não pode ser encarada como um texto. Ela mobiliza as pessoas para falar sobre o assunto, e isso aumenta nossa cultura de segurança contra incêndio. Não adiantam apenas leis, precisamos de cultura de prevenção – comenta Wengrover.

EM VIGOR Artigo 41A da Lei 5.840, de 2014

A NOVA LEGISLAÇÃO O que está previsto nas leis de incêndio que surgiram em Santa Maria, no Estado e no Brasil

■ Acrescenta o artigo 41A na Lei Complementar nº 092, de 24 de fevereiro de 2012, que dispõe sobre o Código de Posturas do município ■ Estabelece que os estabelecimentos de diversão noturna, com aglomeração de pessoas, como casas de shows e de espetáculos, sem assentos marcados para a totalidade de público, boates e danceterias ficam obrigados a instalar dispositivo eletrônico de contagem simultânea das pessoas presentes no recinto, desde a abertura até o encerramento de suas atividades, em local visível ao público, dentro e fora do ambiente, indicando também a capacidade total, de acordo com o laudo populacional e em conformidade com o Plano de Prevenção de Combate a Incêndio ■ O dispositivo eletrônico deverá ter dimensões suficientes para a visualização de qualquer ângulo do estabelecimento ■ Junto ao dispositivo, deverão constar, de modo visível, os seguintes dizeres: “Se ultrapassou o limite de população, denuncie imediatamente ao Corpo de

Bombeiros e/ou setor de fiscalização do Executivo Municipal”, informando os números para denúncia ■ O proprietário, na medida em que for atingido o índice de 95% da capacidade máxima permitida para o estabelecimento, deverá iniciar procedimentos para que, em hipótese alguma, a capacidade seja ultrapassada ■ O dispositivo eletrônico deverá gerar um arquivo inviolável e com lacre de segurança, contendo todos os registros de entrada e saída de pessoas, que será preservado por no mínimo 120 dias (quatro meses), para fins de consulta e fiscalização ■ A não observância ao disposto no artigo acarretará em sanções administrativas previstas no artigo 15 (multa, apreensão, embargo ou cassação), além de enquadramento em infração gravíssima ■ Os estabelecimentos referidos terão o prazo de 120 dias (quatro meses) para se adequarem à lei, contados da data de sua publicação ■ Em vigor na data da publicação (13 de janeiro de 2014)

ESTADUAL SANCIONADA, AGUARDA REGULAMENTAÇÃO Lei Complementar (PLC) 155, de 2013 ■ Estabelece, para as edificações e áreas de risco de incêndio no Estado, as normas sobre segurança, prevenção e proteção contra incêndio, competências, atribuições, fiscalizações e sanções administrativas decorrentes do seu descumprimento. Baliza a atuação das administrações públicas municipais e a edição de legislações locais ■ Estabelece ao Corpo de Bombeiros, por meio do seu corpo técnico, regulamentar, analisar, vistoriar, fiscalizar, aprovar as medidas de segurança, expedir o Alvará de Prevenção e Proteção Contra Incêndios (APPCI) e aplicar as sanções legais previstas na lei, bem como estudar e pesquisar sobre medidas de segurança

■ Ministério Público abre inquérito civil para investigar a existência de produtos químicos tóxicos no interior do prédio da Kiss. No mês seguinte, são feitas reuniões com o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), Econn Empreendimentos de Turismo e Hotelaria (empresa dona do prédio) e Fundação de Proteção Ambiental (Fepam) para tratar do assunto. Econn se prontifica a fazer a limpeza do local

contra incêndio em edificações e áreas de risco de incêndio ■ Estabelece prazo de validade para o PPCI de um ano para locais de reunião de público, com risco de carga de incêndio médio e alto e locais de elevado risco de incêndio, e três anos para as demais edificações ■ Determina que os proprietários ou responsáveis técnicos apresentem detalhamento técnico dos projetos e instalações ■ Prevê aos bombeiros a atribuição de notificar, multar e interditar os locais em caso de descumprimento da lei ■ Cabe à prefeitura o embargo do local

■ Dos oito bombeiros indiciados no IPM, o MP denuncia sete, arquiva um caso, inclui um nome e remete processo à Justiça Militar

■ Prevê vistorias anuais dos bombeiros para liberação de alvarás para locais de reunião de público e, de três em três anos, para as demais e vistorias extraordinárias mediante denúncias ■ Em caso de risco iminente, cabe ao Corpo de Bombeiros interditar o estabelecimento ■ Locais com mais de 200 pessoas deverão ter bombeiro ou brigadista ■ Prevê responsável técnico para obtenção de PPCI, cuja tramitação não deve exceder 30 dias ■ Além da área e da altura, considera características de ocupação e uso, capacidade de lotação e carga de incêndio (risco e periculosidade) para classificação de risco dos locais

■ Promotores requisitam ao Comando-Geral da BM a revisão de todos os PPCIs da cidade aprovados pelo 4º Comando Regional de Bombeiros (4º CRB), com base no Sistema Integrado de Gestão de Prevenção de Incêndio (Sigpi), de dezembro de 2007 até 28 de janeiro de 2013. Além disso, pedem a abertura de dois Inquéritos Policiais Militares: um para verificar a inserção de informações falsas nos alvarás desde 2007 e outro para verificar a falta de estrutura do 4º CRB e a aplicação de recursos do Fundo de Reequipamento dos Bombeiros (Funrebom)

19 DE AGOSTO

7 DE AGOSTO Santa Maria, 27/01/2014

Soares Caminha

PÁGINA 18


Mariana Moreira Macedo

Mariane

Marilene

Marina

21 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava como vendedora de uma operadora de celular

24 anos, nasceu em Santiago, estudava Sistemas de Informação na Unifra e trabalhava no Colégio Sant’Anna

33 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na bilheteria da Arcoíris Cinemas

19 anos, nasceu em Chiapeta e fazia pré-vestibular

Pereira Freitas

19 anos, nasceu em São Gabriel, estudava Meteorologia na UFSM e trabalhava na instituição

Mariana

Gremista fanática. Focada nos estudos e no trabalho.

Recém-formada em Educação Física, sonhava com a chance de ingressar na profissão.

Wallau Vielmo

Era uma fortaleza. Doava-se muito aos outros e fazia mimos para agradar as pessoas.

Iensen Castro

“ Adorava frequentar a boate aos sábados com o marido e tinha o sonho de trabalhar na Brigada Militar.

de Jesus Nunes

“ Eracomdeterminada, objetivos claros na vida. Queria ser médica sem fronteiras, vivia intensamente com um amor infinito pelo Rio Grande do Sul.

Marina

Martim

Kettermann Callegaro

Francisco Mascarenhas de Souza Onófrio

18 anos, nasceu em Santa Maria e queria estudar Odontologia na UFSM

Uma jovem que sabia que a troca de carinho é de vital importância.

24 anos, nasceu em Rio Grande e trabalhava na fazenda da família

Adorava cinema, mas também gostava de reunir as pessoas em casa para ver filmes.

Marton Matana

21 anos, nasceu em Ibarama e estudava Engenharia Florestal na UFSM

mesmo “ Gostava era da vida do

interior, da vida simples. Pescar, jogar bocha e baralho eram as distrações de quando não estava trabalhando.

Matheus

Matheus

18 anos, nasceu em Santo Ângelo, estudava Direito e estagiava no Instituto Cenecista de Ensino Superior

19 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Agronomia e trabalhava na UFSM

Engers Rebolho

de Lima Librelotto

Adorava andar a cavalo, acampar, pescar e assar uma carne. Como diz seu pai: ‘era amigo dos amigos’.

uma aposta “ Erade cientista. Não

tinha preguiça de analisar plantas e grãos para saber qual se desenvolvia melhor.

FEDERAL EM VIGOR

EM TRAMITAÇÃO, AGUARDA VOTAÇÃO

Portaria 3.083 do Ministério da Justiça, de 2013

Emenda Substitutiva Global de Plenário ao Projeto de Lei 2.020, de 2007

■ Estabelecimentos de lazer, cultura e entretenimento terão de afixar na entrada do local os alvarás de bombeiros e de funcionamento, com número e datas de validade, e a capacidade de público ■ As informações (no caso dos alvarás, o número e a validade) devem constar em todos os materiais publicitários de divulgação dos eventos impressos (convites e propagandas) e na internet ■ A medida começou a valer em 26 de dezembro de 2013, 90 dias após a publicação no Diário Oficial da União ■ A fiscalização será feita pelos Procons ■ As punições serão as previstas no Código de Defesa do Consumidor e podem chegar à suspensão do funcionamento, interdição e multa de até R$ 6 milhões ■ Em caso de divulgação de número fraudulento, por exemplo, além de crime contra o consumidor, o responsável poderá responder também por fraude, sujeito a ação penal ■ Após receber a denúncia, um fiscal determinado pelo Procon vai ao local ou verifica o material de divulgação para verificar a ausência de informação ou situação irregular ■ Serão avaliados caso a caso, se há ausência de informação, se há informação de forma enganosa ou parcial, se é reincidente ■ O fiscal encaminha notificação ao fornecedor do serviço, que responde um processo administrativo e pode gerar uma sanção ■ Denúncias também poderão ser feitas em delegacias da Polícia Civil, à Brigada Militar e ao Ministério Público

CONCESSÃO DE ALVARÁS

PREVENÇÃO

■ O laudo do Corpo de Bombeiros passa a ser obrigatório para a concessão de alvará no processo de aprovação da construção, instalação, reforma, ocupação ou uso de estabelecimentos, edificações e áreas de reunião de público

■ Em cidades com mais de 20 mil habitantes ou integrantes de região metropolitana ou localizada em área turística, o plano diretor deverá ter normas para prevenção e combate a incêndio e a desastres para locais de grande concentração de pessoas

■ Onde não houver Corpo de Bombeiros, a prefeitura deverá emitir laudo de prevenção de incêndio e desastres, que é pré-requisito para a concessão do alvará

■ Estas normas abrangem cinemas, teatros, salas de espetáculos, bares, boates, prédios públicos e qualquer outro cuja ocupação seja igual ou superior a cem pessoas simultaneamente

■ Para conceder alvará de funcionamento e aprovar construções, instalações ou reformas, a prefeitura deverá estabelecer normas de prevenção e combate a incêndios e desastres, observar as condições de acesso para operações de socorro e assegurar o uso de materiais de pouco potencial inflamável

■ As normas também valem para locais de menor capacidade se houver apenas uma porta de saída ou se forem ocupados por idosos, crianças ou pessoas com dificuldade de locomoção

■ Para estabelecimentos que necessitem obedecer a regras especiais de prevenção a incêndio para obter alvará, passa a ser obrigatória a contratação de seguros contra incêndio e de responsabilidade civil, destinado a eventuais indenizações. A intenção é que o mercado regule o mercado. Ou seja, as seguradoras seriam, no entendimentos dos parlamentares, mais rigorosas em exigir que os estabelecimentos cumprissem as determinações legais

■ O município e os bombeiros deverão realizar vistorias anuais. Constatado grave risco, a edificação será interditada ■ Cursos de engenharia e arquitetura terão de ter disciplinas de prevenção e combate de incêndios e desastres

FUNCIONAMENTO DE CASAS NOTURNAS ■ O estabelecimento tem de divulgar, na entrada, o alvará de funcionamento, a capacidade máxima e um documento que comprove a contratação de seguro

TRANSPARÊNCIA ■ Toda a tramitação administrativa para a concessão de alvará, licença ou autorização, deverá ser disponibilizada na internet pela prefeitura e pelo Corpo de Bombeiros

■ Ficam proibidos o uso de comanda para controle de consumo e a superlotação

■ É criado o sistema nacional unificado sobre informações de incêndios. Objetivo é alimentá-lo com estatísticas, semelhante ao trabalho de monitoramento feito com desastres naturais

PUNIÇÕES

UNIFICAÇÃO DE REGRAS

■ A superlotação de casas noturnas será considerada crime

■ As normas de ABNT, Inmmetro e Conmetro passam a ter valor de norma geral. As leis municipais ou estaduais poderão ser mais restritivas, mas nunca mais brandas do que as normas técnicas

■ O descumprimento das determinações da prefeitura e do Corpo de Bombeiros em relação à prevenção de incêndios e desastres será considerado crime sujeito a pena de seis meses a dois anos e multa

■ Aos bombeiros, cabe fiscalizar, planejar, avaliar e vistoriar medidas de prevenção e combate a incêndios e emitir laudos

■ O prefeito e o oficial do Corpo de Bombeiros que não cumprirem a legislação ou os prazos estabelecidos para vistorias, laudos e concessão de documentos poderão ser punidos por improbidade administrativa

■ A lei deixa margem a exceções conforme a especificidade do evento. Para permitir fogos no Ano Novo, por exemplo

■ Em uma reunião, sobreviventes do incêndio na Kiss relatam problemas enfrentados no atendimento à saúde pelo SUS, como falta de remédios gratuitos, demora para realização de cirurgias e sofrimento de queimados no transporte para tratamento em Porto Alegre

19 DE AGOSTO

22 DE AGOSTO

PÁGINA 19

■ Quatro jovens iniciam uma cavalgada de São Gabriel a Santa Maria em homenagem a amigos mortos no incêndio. A chegada ocorre na data do sétimo mês da tragédia, dia 27, quando também é realizada uma missa crioula no Altar-Monumento da Medianeira

JEAN PIMENTEL, 23/08/13

■ No mesmo dia, Kiko, sócio da boate, faz a primeira aparição em público depois da saída da prisão. Ele assiste à audiência na 2ª Vara do Júri, no Foro Central, em Porto Alegre, para ouvir os depoimentos do cunhado e gerente da Kiss, Ricardo Pasche, e de um frequentador. Em 22 de agosto, Kiko vai de novo ao local para acompanhar o depoimento de sua mulher, Nathália Daronch, que também é mãe de sua filha e estava grávida na noite de tragédia

■ Os bombeiros têm o poder de advertir, multar, interditar e embargar os estabelecimentos

23 DE AGOSTO Santa Maria, 27/01/2014


Matheus

Pacheco Brondani

Maurício

20 anos, nasceu em Santa Cruz do Sul e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

22 anos, nasceu em Caçapava do Sul, estudava Zootecnia na UFSM e trabalhava na Perin Agropecuária

Rafael Raschen

23 anos, nasceu em Rosário do Sul e estudava Medicina Veterinária na Urcamp

Matheus

Desde muito pequeno despertou o seu gosto pelo cavalo. Participava de rodeios de laço, a cavalo. Foram muitos os troféus.

Sua paixão era o basquete. Já havia sido até capitão da seleção gaúcha na modalidade.

Loreto Jaime

Melissa

Berguemaier Correa 21 anos, nasceu em São Francisco de Assis e estudava Agronomia na UFSM

a determinação “ “ Eraem pessoa. Começou a trabalhar cedo e procurou estudar e progredir na vida.

Mais madura do que a idade poderia aparentar. Sua marca era a alegria. Não via dificuldade em nada.

Melissa

do Amaral Dalforno 19 anos, nasceu em São Gabriel e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

era a “ Asuaalegria maior marca.

Estar entre amigos a deixava muito feliz.

Casas noturnas tiveram de se adaptar

Merylin

Michéli

Camargo dos Santos

Dias de Campos

18 anos, nasceu em Santa Maria e estava no 2° ano do Ensino Médio

Adorava animais e sonhava em ser veterinária.

18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Medicina Veterinária na UFSM

Era uma aventureira e adorava viajar.

Michele

Froehlich Cardoso 20 anos, nasceu em de Santa Maria e trabalhava na boate Kiss

20 anos, “ Aos já tinha uma

profissão, morava sozinha e bancava do próprio bolso o que mais lhe fazia feliz: fazer festa com seus amigos.

A Fiscalização em bares e boates ficou mais rigorosa, assim como as exigências

RONALD MENDES – 9/01/14

Miguel

Mirela

23 anos, nasceu em Chapada e estudava Agronomia na UFSM

21 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Pedagogia na UFSM

Weber May

Rosa da Cruz

grande “ Um lutador, que teve

de batalhar muito, por exemplo, pelo sonho de cursar Agronomia.

dinâmica, “ Jovem, alegre e cheia de sonhos.

lição veio do jeito mais doloroso. Mas é consenso que a morte de 242 pessoas, a maioria jovens, em decorrência do incêndio na Kiss, não pode ter sido em vão e deve servir de aprendizado para Santa Maria, para o Estado, para o país e para o mundo. A lição mais imediata foi tornar os estabelecimentos – bares, boates, restaurantes e locais de reunião de público em geral – mais seguros quanto à prevenção de incêndio. Forçados por vistorias ou por iniciativa própria, todos por aqui tiveram de ser adequar. Durante 30 dias (de 30 de janeiro a 1º de março), um decreto municipal manteve as casas noturnas de portas fechadas. Uma forçatarefa de fiscais da prefeitura percorreu todos os estabelecimentos do município, um a um, e verificou a documentação e os alvarás – sanitário, ambiental, de localização (aquele que permite o funcionamento) e o dos bombeiros. O resultado foi que a maioria apresentava algum tipo de irregularidade. Para reabrir, todas as casas noturnas tiveram de se adequar. Neste quesito, uma antiga boate da cidade, o Corujão, que estava fechada e reabriu pouco mais de 10 meses após a tragédia, em 30 de novembro, tornou-se referência. Atualmente, é recomendada pelo Corpo de Bombeiros como exemplo de prevenção.

MAIS DO QUE EXIGE A LEI

SINALIZAÇÃO As 12 portas do Corujão foram reformadas e se transformaram em saídas de emergência. Os acessos a todas elas estão identificados com placas indicativas

■ Comando da BM instaura inquérito para apurar falsidade ideológica na concessão de alvarás no âmbito do 4º CRB

4 DE SETEMBRO

9 DE SETEMBRO

Santa Maria, 27/01/2014

■ Vítimas de incêndio em frigorífico em Júlio de Castilhos recebem tratamento para inalação de cianeto. A experiência adquirida durante o atendimento às vítimas da Kiss ajudou na hora de tomar a decisão sobre como deveria ser o socorro aos funcionários

19 DE SETEMBRO

PÁGINA 20

JEAN PIMENTEL, 23/08/13

■ Familiares de vítimas entregam documentos novos ao Conselho Superior do MP, com pedido de não homologação do arquivamento de casos de improbidade por servidores municipais

Basta entrar na boate, na subida da serra para Itaara, para perceber que ela em nada lembra o ambiente fechado e de labirintos da Kiss. O prédio é arejado, espaçoso e sem obstáculos. Foi colocada nova rede elétrica, e os degraus que ofereciam risco na parte interna foram substituídos por rampas. A saída deixou de ser a mesma escadaria de entrada e passou a ser uma longa rampa que dá acesso aos cadeirantes. O palco foi rebaixado e ganhou guarda-corpos para evitar quedas. O capim santafé da cobertura ganhou tratamento que retarda as chamas. Mas a preocupação foi além do que exige a lei. As 12 portas foram adaptadas para saídas de emergência, e há itens de prevenção de incêndio espalhados pela área de 700 metros quadrados. São 15 extintores, com centrais de alarmes. A casa também implantou sistema de cartões de recarga para consumo, o que eliminou a necessidade de pagar comandas para deixar o lugar. Junto ao bar de entrada, um vídeo explicativo é apresentado aos clientes, orientando onde ficam as centrais de alarmes, as saídas e os extintores. Placas trazem os números de telefones


Mônica

Murilo

Andressa Glänzel

de Souza Baroni Silveira

18 anos, nasceu em Ibarama e estudava Matemática na UFSM

22 anos, nasceu em Cachoeira do Sul,trabalhava em uma loja de baterias para automóveis e fazia curso de piloto agrícola

mecânica, sonho dela, “ Adorava “ Odesde mas um de seus crianca, era ser professora de matemática.

maiores sonhos era poder pilotar.

Murilo

Natana

Natasha

Nathiéle

Neiva Carina

Odomar

Octacilio

Pâmella

23 anos, nasceu em São Francisco de Assis e estudava Farmácia na UFSM

20 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Direito na Fames e era telefonista do Tribunal de Justiça

20 anos, nasceu em Uruguaiana e estudava Economia na UFSM

21 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava como atendente em um restaurante

18 anos, nasceu em Jaguari e trabalhava como operadora de caixa

27 anos, nasceu em Canoas, estudava Ciências Econômicas na UFSM e era supervisor de loja

19 anos, nasceu em São Gabriel e estudava Zootecnia na UFSM

19 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Administração no Senac e trabalhava na boate Kiss

Garcez Fumaco

Pereira Canto

Era, ao mesmo tempo, responsável e moleque. Facilmente, fazia seus amigos rirem de suas dancinhas divertidas.

Estava sempre presenteando as pessoas e ajudando a quem precisava. Seu sonho era ser juíza.

Urquiza de Oliveira

dos Santos Soares

“ Adorava acompanhar jogos

do seu time do coração, o Grêmio. E tinha planos de conhecer o novo estádio do tricolor, a Arena.

muito alegre. “ EraAdorava se divertir com os amigos.

de Oliveira Marin

de seus “ Um sonhos era

prestar vestibular para Medicina Veterinária porque amava os animais, em especial, o cachorro Dudu.

Gonzaga Noronha

muito “ Gostava de ver filmes de

diferentes gêneros. Era apaixonado por cinema.

fazia “ Ofelizqueeraoestar

de Jesus Lopes

entre os amigos e familiares, assistir aos jogos do Grêmio, ir ao cinema e viajar.

muito adulta “ Eraquando precisava

lutar por algo que desejava, mas uma criança grande quando queria ganhar algo.

FOTOS RONALD MENDES – 9/01/14

EXEMPLO Corpo de Bombeiros indica a boate na subida da serra como um local ideal para a segurança

de emergência. Uma equipe de socorristas contratada fica permanentemente durante as festas com uma ambulância de plantão. A mesma empresa deverá fornecer o brigadista de incêndio que será obrigatório nos locais com mais de 250 pessoas. Parte da equipe da casa também fez o treinamento contra incêndio e passou os conhecimentos aos demais. Neste ano, a administração deve oferecer curso de primeiros socorros aos funcionários e deve realizar uma simulação de evacuação, com a participação dos clientes, que serão orientados antecipadamente. Do início do projeto, passando pela reforma até a abertura, foram sete meses. Os administradores contam que abriram a boate para visitas durante o dia, antes da reinauguração. Na opinião dos donos, a transparência, somada à reforma feita, aos equipamentos colocados e aos novos sistemas instalados, fez com que, aos poucos, os clientes que passaram a temer por sua segurança ganhassem confiança na casa. – Nós temos de nos sentir seguros como profissionais para ajudar os clientes a se sentirem seguros. Eles precisam saber que estamos fazendo nosso trabalho – explica Bárbara Weise, assessora do Corujão. – No que foi pedido (pelos bombeiros), colocamos algo a mais – diz Luciano Stefanello, sócio proprietário.

LONGO CAMINHO PARA A REGULARIZAÇÃO

A BALADA COMEÇA BEM MAIS CEDO Chocada com a tragédia, a vida noturna de Santa Maria mudou. Com a maioria dos estabelecimentos fechados, mesmo após o período de luto, devido à necessidade de adequações, os bares que restaram abertos eram disputados pelo público. Habituadas a rodar pelas ruas e entrar nos locais só depois da meia-noite, as pessoas começaram a sair mais cedo de casa para garantir o ingresso nos estabelecimentos. Longas filas se formavam em frente aos bares já por volta das 22h. Mesmo com relatos de lotação excessiva, a ordem era número de clientes conforme a capacidade. Aos poucos, a normalidade voltou, e antigos hábitos até foram retomados. Muita gente já anda saindo de casa mais tarde, mas, quem quer mesmo entrar em uma casa noturna sabe que precisa chegar cedo.

Altissimo Gonçalves

PARA SAIR A principal saída da casa noturna foi adaptada. É uma rampa, que também dá acesso a cadeirantes e não tem obstáculos para os clientes

26 DE SETEMBRO

■ Ocorre a primeira reunião de avaliação do atendimento à saúde dos sobreviventes com representantes de órgãos das esferas municipal, estadual e federal. É criado o Grupo de Gestão do Cuidado, com responsáveis por gerenciar, avaliar e definir rumos nos tratamentos

28 DE SETEMBRO

PÁGINA 21

JEAN PIMENTEL, 30/08/13

FERNANDA RAMOS, ESPECIAL – 28/03/13

■ É publicada, no Diário Oficial da União, uma portaria chamada informalmente de “Santa Maria”. Ela prevê que todos os estabelecimentos de lazer, cultura e entretenimento do país informem, em ingressos, nos materiais de divulgação e nas entradas dos prédios, os alvarás de funcionamento e de bombeiros, com datas de validade, e a capacidade de pessoas no local. A medida, motivada pela tragédia na boate Kiss, passou a valer 90 dias depois

O projeto do novo Corujão foi encaminhado à prefeitura no final de junho. A tramitação levou cinco meses. Para a casa, o processo de obtenção de alvará foi tranquilo e a demora ocorreu por causa do excesso de demanda. A tragédia gerou uma avalanche de procura por regularização. Os órgãos públicos ficaram mais receosos, criteriosos e exigentes. Os bombeiros voltaram a exigir a portaria 64, que regra a prevenção de incêndios no Estado, mas que havia sido abandonada na cidade com a implantação do Sistema Integrado de Gestão de Prevenção de Incêndio (Sigpi) a partir de 2007. Na prefeitura, mais documentos passaram a ser exigidos. O tempo de espera para liberação dos alvarás aumentou, e os empresários reclamaram.

■ As primeiras duas sobreviventes da tragédia se formam em Engenharia Florestal pela UFSM

30 DE SETEMBRO Santa Maria, 27/01/2014


Porto Rodrigues Costa 19 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava como vendedora

Era a princesa do rock. Adorava, também, o pop punk de Avril Lavigne.

C

Patrícia

Paula

Paula Simone

Pedro

Pedro

Pedro

Pedro

Priscila

Rafael

27 anos, nasceu em Alegrete e trabalhava como auxiliar odontológica

19 anos, nasceu em Tapera e estudava Agronomia da UFSM

32 anos, nasceu em Recife (PE) e cursava Magistério na Escola Estadual Olavo Bilac

20 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava em uma loja de eletrodomésticos

25 anos, nasceu em Santana do Livramento, estudava Direito na Unifra e trabalhava na ALL

17 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Agronomia na UFSM

25 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava em um laboratório de medicamentos

20 anos, nasceu em Santa Maria e era secretária no Hospital de Caridade

31 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Ciência da Computação e Sistemas da Informação na Unisinos

Pazini Bairro

Batistella Gatto

Melo Prates

pura e “ Sempre tudo radiante, encantou “ Oparafilhoela.eraAntes as com seu amor e “ Todas crianças do nascimento respeito à família. do Gabriel, havia perdido uma filha. O filho era a sua maior alegria.”

Provou que a meiguice também se planta, cultiva e colhe.

omo organizar de forma emergencial um sistema de atendimento de saúde para centenas de vítimas de uma tragédia sem precedentes no Estado? Santa Maria conseguiu se tornar referência para o país e para o mundo. Depois do incêndio na boate Kiss, uma rede de profissionais de diversas áreas da saúde – convocados pela prefeitura e pela Universidade Federal de Santa Maria ou voluntários vindos de várias cidades gaúchas e de fora do Estado – formouse para atender sobreviventes e dar assistência psicológica aos familiares. Equipamentos e materiais vieram de outros países. As Forças Armadas também fizeram parte do mutirão. Depois da assistência inicial, em fevereiro, foi criado o Centro Integrado de Assistência às Vítimas de Acidente (Ciava), a partir de um termo de compromisso entre esferas municipal, estadual e federal publicado no Diário Oficial da União. O centro foi uma resposta do Hospital Universitário (Husm) para a exigência do Sistema Único de Saúde (SUS) que tornou o Husm referência nos atendimentos dos sobreviventes por cinco anos. Com o crescimento da demanda, a equipe do centro se tornou multidisciplinar. Uma das maiores demandas foi na área de fisioterapia, que criou um núcleo de reabilitação. O Ciava começou como projeto de extensão e, em agosto de 2013, foi transformado em grupo de pesquisa. Até o final do primeiro semestre deste ano, os procedimentos adotados junto aos pacientes serão publicados em um livro técnico-científico que servirá de referência para serviços de saúde no mundo. Para os professores do setor, o caminho que levou à pesquisa foi natural. Onze professores formaram o grupo de pesquisa Atenção Multidisciplinar às Vítimas de Acidentes. – Queremos criar um banco de dados, ver se a forma como avaliamos e propomos os tratamentos são eficazes. O projeto de pesquisa possibilita que todas as áreas investiguem os seus casos e publiquem os registros – disse a integrante do núcleo de pesquisa e professora de Fisioterapia Ana Lucia Cervi Prado. Para a líder do grupo, a professora Adriane Schmidt Pasqualoto, o serviço é uma forma de resposta à comunidade: – Essa é a grande contribuição do serviço, porque de todas as tragédias que ocorreram (antes da Kiss) não têm ou têm muito pouca publicação sobre quais protocolos utilizar. Com o que aprendemos aqui, cada área organizou o seu protocolo, que servirá de referencial sobre como fazer o manejo, como avaliar, como acompanhar casos como este.

gostavam dela, e ela as amavam muito. Era bonito ver.

Almeida

sorriso era “ Seu contagiante,

Falcão Pinheiro

seus ‘grilos’, inesperados e suas coreografias sempre inusitadas.

tradicionalista “ Um apaixonado pelos

costumes do seu Estado e que não perdia um passeio a cavalo.

Tinha como uma de suas paixões o culto às tradições gaúchas.

Morgental Silva

abria mão “ Não de estar entre

os amigos e na companhia da família.

Equipes que trabalham nos cuidados dos feridos vão publicar livro

Uma rede que se tornou referência

RONALD MENDES – 23/01/14

Ferreira Escobar

de Oliveira Dorneles

que mais “ Ogostava era

dançar e se divertir com as amigas.

música e, “ Adorava sempre que podia, estava com os amigos.

■ O socorro inicial mobilizou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de 6 municípios, e a internação dos pacientes contou com vagas em 13 hospitais de 5 cidades ■ O serviço de atenção psicossocial as vítimas, familiares, amigos e profissionais realizou 8 mil atendimentos em 2013 ■ A rede organizada para dar continuidade à assistência em saúde atende hoje 1.610 pessoas ■ Bancos de pele nacionais e internacionais foram mobilizados pela Central de Transplantes do Estado para o reforço do estoque de tecidos necessários ao tratamento dos pacientes com queimaduras ■ A estrutura dos hospitais de Santa Maria e na Região Metropolitana foi reforçada com doações de medicamentos ■ Em fevereiro, foi instituído o Centro de Atendimento às Vítimas de Acidente (Ciava), no Hospital Universitário de Santa Maria, que passou a ser referência para o acompanhamento dos pacientes

TRATAMENTO Paula Fensterseifer, 23 anos, sentiu cansaço para percorrer longas distâncias, por isso, faz exercícios respiratórios

A pesquisa foi desenvolvida com testes ou questionários aplicados aos pacientes. Os resultados preliminares foram apresentados em um congresso europeu na área de pneumologia, em setembro de 2013. O grupo também publicou um editorial em uma revista inglesa internacional de fisioterapia. – Tivemos a preocupação de fazer um levantamento científico com dados que pudéssemos demonstrar para a comunidade científica internacional, mas, ao mesmo tempo, com o cuidado com o paciente – garantiu a professora Isabella Martins de Albuquerque. O livro não tem fim comercial. Devem ser impressos mil exemplares que serão doados aos serviços de atendimento da cidade. A fase

LIZIE ANTONELLO, 11/10/13

■ Diário divulga documentos de dois inquéritos da Polícia Civil que reabrem discussão sobre possíveis irregularidades na elaboração de laudos por parte dos donos da Kiss para obtenção de alvarás da prefeitura. O material inclui, ainda, a possível aceitação desses papéis pela prefeitura para concessão de licenças. Os papéis foram apresentados por familiares ao Conselho Superior do MP, dias antes, com pedido de não homologação do arquivamento de casos de improbidade por servidores municipais

atual, que deve seguir até meados de fevereiro, é de revisão em cada especialidade. Depois, o material deve ser encaminhado para a editora. O lançamento deve ocorrer até o final do primeiro semestre. Paula Fensterseifer, 23 anos, estudante da UFSM que estava na boate na madrugada do incêndio, é uma das pacientes do núcleo de reabilitação. Ela sentia cansaço excessivo ao subir escadas e percorrer longas distâncias. No núcleo, ela faz nebulizações e exercícios respiratórios duas vezes por semana. – Acho ótimo, porque quando aconteceu com a gente, ninguém estava preparado. Tem de haver bastante investimento nessa área de pesquisa – declarou Paula, sobre a pesquisa.

■ Em março, todas as pessoas que tiveram contato com a fumaça tóxica liberada pelo incêndio foram cadastradas e atendidas em mutirões ■ Até 31 de dezembro, o Ciava realizou 4.329 consultas ambulatoriais ■ A assistência especializada é realizada no Ciava, onde 241 pessoas ainda têm acompanhamento em pneumologia, 67 em tratamento de queimaduras, 66 em fonoaudiologia e 43 em fisioterapia Fonte: Secretaria Estadual de Saúde

■ Um inquérito conclui que houve falsificação da consulta popular que integra o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV). Do total das 60 assinaturas recolhidas em 2009 pelos antigos donos a favor da Kiss, apenas 21 (35%) moravam no perímetro exigido para que o documento fosse válido (100 metros do prédio). O restante, 39 (65%) ou moravam fora do entorno ou eram funcionários de estabelecimentos que atendiam em horário comercial, ou seja, não sofreriam com os efeitos sonoros da danceteria. Os 83 moradores dos edifícios vizinhos que encaminharam abaixo-assinado à prefeitura e Ministério Público reclamando do barulho causado pela boate não foram consultados

10 DE OUTUBRO Santa Maria, 27/01/2014

de Oliveira Salla

O ATENDIMENTO

Paola

PÁGINA 22


Rafael

Dias Ferreira 21 anos, nasceu em Belém (PA), estudava Biologia na UFSM e era professor voluntário do Práxis Popular

Rafael Paulo Nunes de Carvalho

32 anos, nasceu em Santo André (SP) e era representante comercial

de música, “ Gostava era compositor e “ Tinha uma adorava ler, mas seu maior sonho era ser professor e pesquisador.

inquietude incessante, parecia que queria abraçar o mundo.

Rafael

Quilião de Oliveira 26 anos, nasceu em Cachoeira do Sul e estudava Engenharia da Computação na Unipampa

Rafaela

Raquel

Rhaissa

18 anos, nasceu em Santa Maria e pretendia cursar Fotografia na Unisc

18 anos, nasceu em Horizontina e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

21 anos, nasceu em Porto Alegre e estudava Agronomia na UFSM

Schmitt Nunes

muito de “ Gostava “ Erapor apaixonada internet e de ficar literatura, com os amigos, que organizavam jantares juntos.

por fotografia e adorava escrever.

Daiane Fischer

Gross Cúria

da música, valorizava muito a sua família e suas amizades.

Fazia amizades facilmente. Queria estar sempre perto dos amigos.

Ricardo

19 anos, nasceu em Santa Maria e era soldado da Aeronáutica

27 anos, nasceu em Farroupilha e trabalhava no marketing da Grendene

24 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava como auxiliar financeiro

também sabia ser sério quando a situação exigia. Sonhava em seguir carreira militar.

Custódio

Ricardo

Dariva

“ Extremamente querido e

popular. Para ele, a vida era uma grande festa.

um cara “ Eratranquilão.

Adorava um futebolzinho, trilhas, rapel e junção com os amigos.

Stefanello Piovesan 18 anos, nasceu em Nova Palma e estudava Agronomia na UFSM

“ Brincalhão e sorridente,

adorava a natureza e os animais.

Depois do sofrimento, a gravidez

CLAUDIO VAZ – 9/01/14

H

Fernanda disse ao pai, que, se tiver um menino, ele será colorado. Entusiasmado, o vovô comprou uma roupinha do Inter para o bebê, que simboliza o recomeço para a família

■ Juiz Ulysses Louzada determina que a prefeitura providencie a limpeza do prédio da Kiss e considera a possibilidade de reconstituição no local

11 DE OUTUBRO

16 DE OUTUBRO

á três meses, Fernanda Machado Bittencourt, 20 anos, ainda estava fazendo o tratamento por ter aspirado a fumaça tóxica da Kiss quando descobriu, em um exame, uma notícia que a deixou de pernas bambas. A jovem santa-mariense, que era caixa da boate quando o incêndio aconteceu, soube que estava grávida de dois meses. – No início, foi um susto. Tem muita coisa que eu não fiz na minha vida ainda. Mas, agora, é só felicidade. Estamos todos na expectativa pelo nascimento do bebê – conta Fernanda, que acaba de completar cinco meses de gestação. No armário da jovem, que trabalha como caixa de um restaurante, as roupinhas do primeiro filho dela e do sushiman Igor Greff, 24 anos, começam a tomar conta do espaço. O pai de Fernanda já comprou uma roupinha do Inter para o neto. Fernanda, que é gremista, fez um trato com ele: se for menino, não terá outra escolha a não ser torcer para o colorado. Se for menina, quem escolhe o time para qual irá torcer será Fernanda. É claro que tudo não passa de brincadeira, mas é uma forma de pai e filha dividirem uma grande alegria depois de terem enfrentado um ano tão complicado. – Sei que nunca ninguém vai preencher o espaço que as pessoas que morreram deixaram. Mas eu sinto como se a chegada do meu filho fosse uma renovação da vida – diz a futura mamãe. Fernanda e Igor já conversaram bastante sobre o nome do primeiro filho do casal. João Vitor será o nome do primogênito, se for menino. Se for menina, Fernanda quer fazer uma homenagem a uma colega e amiga que morreu na tragédia da Kiss. – Por enquanto, prefiro não contar o nome porque quero procurar a família dela e saber se eles concordam. Mas era uma pessoa

muito especial para mim – diz Fernanda. Ao contrário de muitas pessoas que ficaram meses internadas devido aos ferimentos e por terem inalado a fumaça tóxica, Fernanda saiu da boate e não foi hospitalizada. Foi dois dias depois da tragédia, ao visitar um amigo no hospital, que a sua tosse chamou a atenção de um médico. O profissional decidiu interná-la porque ela apresentava sintomas de intoxicação.

O ALÍVIO FOI SABER QUE O BEBÊ É SAUDÁVEL Depois de três dias no hospital, ela teve alta, mas não teve coragem de sair de casa ao longo de quatro meses. – Eu não lembro de muita coisa dentro da boate. As pessoas ficavam me perguntando muitas coisas, queriam saber de tudo, e eu não conseguia contar. Mas no dia da tragédia eu fiquei lá na frente da Kiss até sair o último caminhão, na esperança de que algum dos meus colegas que não tinha sido encontrado estivesse vivo. Até hoje, tenho momentos em que preciso parar, ficar um pouco sozinha, chorar. Não saio gritando para todo mundo que estou triste, mas preciso desse momento para mim. Agora, com o bebê, tenho tentado focar nisso e, quando começo a ficar triste, tento pensar em outra coisa – conta Fernanda. Para o jovem casal, um dos maiores alívios veio quando, ao fazer os exames para saber como estava o bebê, o médico afirmou que está tudo muito bem com a criança. – Hoje, eu entendo que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida. É assim que irei recomeçá-la. Sinto como se fosse a vida de volta a Santa Maria – diz a futura mamãe.

■ Técnicos da Sulclean, contratada pela dona do prédio onde funcionava a Kiss, a Econn Empreendimentos de Turismo e Hotelaria, fazem vistoria no interior da boate. Eles constatam que é impossível retirar pó e fuligem sem remover os escombros

CLAUDIO VAZ, 18/10/13

■ Promotores santa-marienses recebem documentos dos novos inquéritos policiais enviados de volta a Santa Maria pelo Conselho Superior do MP com pedido de revisão. É aberta a possibilidade de reabrir inquérito civil que apurou improbidade por parte de servidores municipais

PÁGINA 23

Ricardo

Scherer de Andrade

alegre e “ Eraextrovertido, mas

do “ Amante esporte e

Sobrevivente do incêndio espera, há cinco meses, por seu primeiro filho

EXPECTATIVA

Rhuan

18 DE OUTUBRO Santa Maria, 27/01/2014


Robson

Van Der Ham 32 anos, nasceu em Ijuí e era baixista da banda Pimenta e Seus Comparsas

considerado “ Eratranquilo, bem-

humorado e gostava de estar sempre perto dos amigos.

Rodrigo

Dellinghausen Bairros Costa 20 anos, nasceu em Caçapava do Sul e era soldado da Aeronáutica

Rodrigo Taugen

29 anos, nasceu em Santa Maria e era segurança

Roger

Roger

22 anos, nasceu em Santa Maria e era segurança da Kiss

21 anos, nasceu em Paraí e trabalhava na Polidora de Basalto Junior

Barcellos Farias

responsável, seguir “ Muito “ Pretendia era um dos pilares carreira militar e gostava muito de informática. Estava fazendo cursos de montagem de computadores.

financeiros da família e nunca negava a ajuda a quem dele precisava.

Não perdia um baile e adorava ouvir música sertaneja.

Dall’Agnol

Rogério

Rogério

Rosane

Ruan

27 anos, nasceu em Santiago e trabalhava como barman na Kiss

25 anos, nasceu em Santa Maria e era cabo do Exército

45 anos, nasceu em Uruguaiana e era oficial escrevente da Comarca de Santa Maria

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Medicina Veterinária na UFSM

Cardoso Ivaniski

Floriano Cardoso

piá, com “ Um postura de homem Ele gostava da feito, responsável, “ banda Legião consciente. Colecionava troféus e medalhas de laçador.

Fernandes Rehermann

A família e o quartel eram o que o mais o deixavam feliz.

Soares Mendes 18 anos, nasceu em Tubarão (SC), queria estudar Medicina

quis um “ Sempre de mundo melhor. “ Gostava videogame, de ficar Ficava estressada

muito “ Eratrabalhadora,

Urbana e de ver comédias como Todo Mundo em Pânico e American Pie.

Sabrina

Pendeza Callegaro

uma guerreira, e gostava de se divertir. Era fã da escola de samba Os Rouxinóis.

no computador e de jogar futebol. Muito educado, jamais ofenderia alguém.

com ganância e egoísmo. Queria fazer Medicina para aprender a salvar vidas.

FOTOS JEAN PIMENTEL – 8/01/14

Uma nova vida renova a força Joana Treulieb, que nasceu depois da tragédia e é filha de uma vítima, é a alegria da família

FACEIRA

O

RECORDAÇÕES Desde que João morreu e Joana nasceu, Patrícia começou a escrever um diário (acima)

escritor gaúcho Mário Quintana, em um de seus poemas, conta a história de uma louca que vive bem no alto de um prédio, no décimo segundo andar. A cada janeiro, ela é encontrada na calçada, outra vez criança. E, sempre, todos querem saber quem é aquela meninazinha, tão linda. Nos versos do poeta, ela dá a resposta bem devagarinho, para que ninguém esqueça: – O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA... Mas como falar em esperança em meio a um assunto tão dolorido quanto a maior tragédia gaúcha? É que o tema pode despertar muitos desejos: a esperança que uma tragédia como essa nunca mais se repita, a esperança que a cidade possa se reconstruir, a esperança que as famílias das vítimas consigam motivos para seguir em frente, a esperança que os sobreviventes tenham sucesso em seus tratamentos, a esperança que haja justiça...

JEAN PIMENTEL, 14/10/13

■ Juiz Ulysses Louzada acompanha a primeira audiência para ouvir depoimento de sobrevivente fora de Santa Maria ■ Familiares das vítimas montam tenda em frente à sede do MP em Santa Maria. Eles querem a reabertura do inquérito civil e a troca dos promotores no caso

No colo da mãe, Patrícia, a pequena, que nasceu há 10 meses, abre o sorriso quando enxerga sua boneca preferida

Na casa da advogada Patrícia Carvalho, 36 anos, há 10 meses, a esperança ganhou nome, sobrenome e uma deliciosa risada que emoldura um rostinho de boneca. Joana Carvalho Treulieb, 10 meses, ri muito, ri gostoso, parece usufruir de toda a sua inocência para, com sua simplicidade de criança, de ser aquilo que cada um de nós quer ser: feliz. Patrícia estava grávida de sete meses quando o marido, João Treulieb, 29 anos, gerente da Kiss, morreu no incêndio. Na sala do apartamento onde viviam, ficou inacabado o aquário que João estava construindo para a primeira filha. Como aquele, eram tantos os planos: o berço, quem trocaria as fraldas, como seria o primeiro banho e a escolinha. Depois de 10 anos de namoro, os dois viviam os seus 10 primeiros meses de casamento, e Joana era esperada com muito amor.

■ A Justiça Militar começa a ouvir testemunhas apontadas pelo Ministério Público. São ouvidas 18 das 19 pessoas previstas – 17 em Santa Maria e uma em Porto Alegre. A última, a engenheira Josy Maria Gaspar Enderle, profissional que fez o projeto de Plano de Prevenção e Combate a Incêndio (PPCI) da danceteria, na época de abertura do estabelecimento, está marcada para 12 de março, às 14h. Depois, serão ouvidas testemunhas de defesa

4 DE NOVEMBRO

22 DE OUTUBRO Santa Maria, 27/01/2014

Quando a menina nasceu, antes do previsto, em 15 de março do ano passado, tudo era muito diferente do que João e Patrícia planejaram ao longo de sete meses. As pessoas eram diferentes, a cidade estava triste, o povo parecia carregar uma ferida aberta no peito. Os amigos ajudaram a tentar amenizar a dor. Eles terminaram, por exemplo, o aquário que João queria que estivesse pronto antes da chegada de Joana. Ao longo dos meses em que esperou pela chegada da filha, Patrícia refletiu sobre como um dia contaria à menina o que aconteceu naquele 27 de janeiro. – Em família, a gente pouco tratava do assunto. O motivo das conversas passou a ser a Joana. E eu não me sentia à vontade para falar sobre a morte do João, pois olhava em volta e achava que algumas pessoas estavam pior do que eu. Foi a Joana que nos manteve em pé. Ela nos envolveu – conta a advogada.

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Sandra

Leone Pacheco Ernesto 42 anos, nasceu em Dom Pedrito e trabalhava como servente na boate Kiss

sempre “ Estava disposta e de bem com a vida.

Sandra

Victorino Goulart 19 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava nas Lojas Americanas

Por trás daquele jeito meigo de falar, existia uma mulher muito batalhadora.

Shaiana

Silvio

Stefani

Susiele

22 anos, nasceu em Santa Maria, era cantora e estudava Publicidade na Unifra e Artes Cênicas na UFSM

31 anos, nasceu em Santa Maria, cuidava de uma fazenda da família em São Pedro do Sul e cursava Agronomia na URI-Santiago

18 anos, nasceu em Marau e estudava Odontologia da UFSM

19 anos, nasceu em Nova Prata e estudava Tecnologia em Alimentos na UFSM

Tauchem Antolini

Beuren Junior

pela “ Apaixonada arte e louca pela família. Cantava com o coração.

Posser Simeoni

o talento de Era carinhosa “ Tinha transformar momentos “ e solidária. em acontecimentos. Pescador nato, era admirador da cultura gaúcha.

Conseguia cativar a todos com a sua simpatia.

Cassol

Taís

Taíse Carolina

Taise

18 anos, nasceu em Santa Maria e fazia o Ensino Médio na Escola Básica Estadual Cícero Barreto

27 anos, nasceu em Caçapava do Sul e estudava Artes Visuais na UFSM

24 anos, nasceu em Santa Maria, estudava Sistemas de Informação na Unifra e trabalhava na Zipline

da Silva Scaphin de Freitas

Era muito carinhosa com todos e costumava frequentar rodeios e bailes, pois era apaixonada pela cultura gaúcha.

dançar, “ Amava nunca ficava de

baixo-astral e estava sempre disposta a ajudar a quem precisasse.

Viñas da Silveira

de viajar “ Gostava com a família

e os amigos, tinha sonhos de conhecer lugares e pessoas interessantes pelo mundo.

Tanise

Santos dos Santos

Lopes Cielo 23 anos, nasceu em Santa Maria e participava de um grupo de dança

atrás dos “ Corria objetivos, era a

primeira em quase tudo. Poucas vezes se viam lágrimas nos olhos esverdeados.

paixão “ Aerasuaa dança de salão.

A DOR VIROU UMA HISTÓRIA DE AMOR Já que queria desabafar, Patrícia foi encorajada pela sua psicóloga a fazer um diário. E ela, que não gostava muito de escrever, começou a colocar no papel tudo o que sentia. Escolheu folhas com detalhes em cor de rosa e desenhos que agradariam a qualquer menina, afinal, tudo está sendo escrito para, um dia, ser lido por Joana. A advogada ainda tomou outro cuidado: criou o diário em um fichário e, assim, quando acha necessário, pode retirar determinadas folhas e reescrever algo que não tenha ficado como gostaria. De tempos em tempo, ela relê algumas das páginas e troca o que acha que

não está adequado. – Comecei a escrever para a Joana, contando desde quando eu e o João nos conhecemos. Mas notei que, às vezes, escrevia coisas que não eram para ela, eram um desabafo meu. Era muita informação colocada no papel, em uma época em que eu não tinha condições de filtrar muita coisa e acabava fazendo muitas cobranças. Colocar isso para fora me fez muito bem, mas não era para a Joana ler aquilo – conta Patrícia, que ainda não decidiu até quando continuará escrevendo. A mãe de Joana pretende entregar o diário à

menina quando ela aprender a ler e tiver condições de entender as anotações. – Procuro não fazer planos a longo prazo. O dia que tenho é o de hoje, e o momento é esse – afirma Patrícia. Mas o que a bebê que nasceu com 46,5 centímetros e 2,41 quilos e que hoje é tão, tão esperta, tem a ver com essa história toda de esperança? É que Joana, assim como outros filhos de vítimas e sobreviventes da tragédia, representa o futuro da cidade, um tempo no qual o que se espera é que a vida seja plena de alegria e que tragédias como as da Kiss nunca se repitam. JEAN PIMENTEL – 8/01/14

ALEGRIA Projetado pelo pai, o aquário que diverte a pequena foi terminado pelos amigos de João, que era gerente da Kiss

■ Ocorre a primeira audiência no processo por falso testemunho na Justiça Estadual. Os réus não aceitam acordo com a Justiça e seguem sendo processados. Apenas uma das quatro testemunhas de acusação previstas comparece

CLAUDIO VAZ, 5/11/13

CLAUDIO VAZ, 5/11/13

■ Na primeira audiência do processo por fraude processual na Justiça Estadual, um dos réus aceita o benefício de suspensão do processo, paga dois salários mínimos e deve comparecer à Justiça a cada três meses pelo prazo de dois anos para informar o endereço atualizado. Ainda, por cinco anos, não pode se envolver em qualquer tipo de crime ou delito sob pena de ter o benefício revogado. Depois desse prazo, se cumprir todas as determinações, tem o processo extinto, sem registro na Justiça. O outro réu não aceitou o benefício e segue sendo processado

13 DE NOVEMBRO

5 DE NOVEMBRO

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Santa Maria, 27/01/2014


Thailan

Thailan

de Oliveira o Leitão, 18 anos, nasceu em Agudo e trabalhava na distribuição de frutas vindas da Serra aos mercados da região

Gostava de atividades ligadas ao campo.

Rehbein de Oliveira 21 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava na Bottero Calçados

Gostava tanto de carros e motos e queria fazer cursos na área de mecânica.

Thaís

Zimmermann Darif

Sonhava em poder ajudar os animais abandonados e maltratados, em casar, ser mãe de gêmeos e levar uma vida simples e feliz.

Familiares querem fazer um memorial. Especialista acredita que pode ser positivo

Tiago

Tiago

Ubirajara

Vagner

Vandelcork

Vanessa

18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Filosofia na Unifra

19 anos, nasceu em Ijuí e estudava Agronomia na UFSM

19 anos, nasceu em Uruguaiana e estudava Agronomia na UFSM

28 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava com sonorização de eventos

18 anos, nasceu em Ivorá e estudava Agronomia na UFSM

30 anos, nasceu em Alegrete e era vigilante terceirizado na UFSM

25 anos, nasceu em Santiago, estudava Administação na Unifra e era cabeleireira

Corrêa Garcia

19 anos, nasceu em Guaraciaba (SC) e estudava Medicina Veterinária na UFSM

Thanise

um senso “ Tinha crítico único e vocação para a política.

Amaro Cechinatto

paixões eram “ Suas a agronomia, a música, o chimarrão, as tradições gaúchas e o Grêmio.

Dovigi Segabinazzi

pressa em “ Tinha decidir tudo logo,

gostava de reunir amigos e familiares. Estava sempre disposto a fazer uma festa. E, é claro, ficar até o final.

Soares Bastos Junior

tanto “ Gostava da vida noturna que trabalhava com eventos.

Rolim Marostega

o aperto “ Tinha de mão firme de

quem sabia o que queria. Era dedicado aos estudos e queria fazer mestrado e doutorado.

N Derrubar o

prédio e erguer a cidade

JEAN PIMENTEL – 8/11/13

HOMENAGENS Fachada da boate está tomada cartazes, lembranças e pedidos de justiça. De tempos em tempos (na foto, no último dia 22), familiares organizam e limpam o local

Marques Lara Junior

Vancovicht Soares

dançar, “ Adorava alegre, ir a festas, estar “ Muito gostava de brincar entre amigos e com as pessoas e conquistar o sorriso de alguém.

familiares e tinha adoração por seu cachorro Tunico.

os dias seguintes à tragédia, aos velórios coletivos e aos sepultamentos, Santa Maria viveu um luto desolador. A cidade silenciou. Os semblantes entristeceram. As sacadas, fachadas de lojas e antenas de carros foram tomadas por faixas e fitas pretas. O Coração do Rio Grande se solidarizou com as famílias enlutadas e chorou. Muitas pessoas se perguntavam: como reerguer uma cidade que, de um só golpe, perdeu 242 vidas? Seríamos capazes? Quanto tempo levaria? O que fazer com o lugar que virou símbolo de tanta dor e sofrimento? Até hoje, o prédio 1.925 da Rua dos Andradas, onde funcionava a Kiss, é ponto de homenagens às vítimas. Flores, cartazes, fotos e imagens religiosas são dispostas junto aos tapumes. O local também é visitado por pessoas de outras cidades. Em entrevista à Agência RBS, quando falou sobre o caso de Santa Maria, o médico e especialista em trauma e estresse pós-traumático Rodrigo Figueroa, diretor da Unidade de Trauma, Estresse e Desastre do Departamento de Psiquiatria da Universidade Católica do Chile, disse que é preciso saber a opinião da população, mas, de forma geral, “à medida em que se permite às comunidades ritualizarem certos eventos, por meio de um memorial ou atos de recordação, por exemplo, essas comunidades saem fortalecidas”. Construir um memorial no prédio onde ficava a boate é uma das ações que a Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) pretende colocar em prática. – Aquele local ficou marcado. O memorial será para lembrarmos e fazermos homenagens. Também será um meio de as pessoas não esquecerem o que houve para que nunca mais aconteça – disse o presidente da AVTSM, Adherbal Ferreira. Para tornar o projeto realidade, há um longo caminho. O prédio está interditado e sob os cuidados da Justiça, que determinou a limpeza e a remoção de escombros e entulhos do local (veja quadro na página ao lado).

■ Elissandro Spohr, o Kiko, comparece no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, para o que deveria ser um novo depoimento à Polícia Civil, mas se cala. Marlene Callegaro e Ângela Callegaro, mãe e irmã dele, respectivamente, também se apresentam e, da mesma forma, reservam-se ao direito de não dar declarações. Eles falariam sobre dois inquéritos em andamento: um que trata de possíveis irregularidades por parte da casa noturna para a obtenção de licenças junto à prefeitura e outro sobre suposto crime ambiental por parte da boate

■ Assembleia Legislativa aprova lei estadual de prevenção a incêndios

■ Depoimento de Mauro Hoffmann à Polícia Civil é adiado a pedido de advogados. Ele falaria sobre dois inquéritos em andamento: um trata das possíveis irregularidades por parte da casa noturna para a obtenção de licenças junto à prefeitura e o outro sobre suposto crime ambiental por parte da boate

26 DE NOVEMBRO

11 DE DEZEMBRO

16 DE DEZEMBRO

Santa Maria, 27/01/2014

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Victor

Vinicius

21 anos, nasceu em Cruz Alta e estudava de Agronomia na UFSM

o Alemão, 24 anos, nasceu em Tupanciretã e estudava Zootecnia na UFSM

Datria Macagnan

Pinton Greff

três grandes “ “ Tinha paixões: o campo, o seu time do coração, o Grêmio e a banda inglesa de rock Pink Floyd.

Sempre arrancou aplausos pela beleza com que cultuou a tradição gaúcha. Era um peão que dançava com maestria.

Vinícius

Vinícius

Marconato Uggeri

Montardo Rosado

23 anos, nasceu em Santo Ângelo e estudava Direito na URI

Desde criança, falava que gostaria de trabalhar de terno e gravata. Queria concluir o Direito e prestar concurso público.

26 anos, nasceu em Cruz Alta e estudava Educação Física na Fames

Um gigante, muito forte, mas doce e tranquilo. Suas paixões: a família, os amigos, o rúgbi, o Internacional e a Educação Física.

Vinícius

Vinícius

Pagnossim de Morais 18 anos, nasceu em Santa Maria e estudava de Engenharia de Controle e Automação na UFSM

Silveira Marques de Mello 20 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava em um estacionamento

Vitória

Viviane

22 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Nutrição na UFSM

22 anos, nasceu em Santa Maria e trabalhava nas lojas Renner

Dacorso Saccol

Tólio Soares

de festas por “ Gostava “ Apaixonado e de estar entre e com carros, já havia “ Autêntico amigos. Conseguia animais. personalidade forte, feito vários cursos “ Adorava tudo que queria Seu sonho era comovia-se com de mecânica, com a desigualdade social.

a pretensão de se especializar.

com um sorriso no rosto.

cursar Medicina Veterinária.

Walter

Wicton

20 anos, nasceu em Santa Maria e estudava Direito na Unifra

21 anos, nasceu em São Borja, estudava Direito na URI, em Santiago e trabalhava na empresa da família

de Mello Cabistani

Martins Schmitz

ele, não “ Com existia tempo ruim, era só alegria. Mostrou a quem conviveu com ele que, na vida, o mais importante são as amizades.

era motivo “ Tudo para festa! Para

estar com seus amigos, fazer um jantar. Era ótimo cozinheiro.

NO EMBALO Músicos da cidade foram para o Calçadão e apresentaram uma nova versão da música ‘Santa Maria’, que virou clipe

A MISSÃO ERA LEVANTAR A AUTOESTIMA E foi no meio daquele turbilhão de tristeza, em fevereiro de 2013, que um grupo de músicos se reuniu com o objetivo de fazer a cidade voltar a sorrir e olhar para o futuro. No total, 49 artistas, representantes do nativismo, da MPB, do samba e do rock, regravaram a música Santa Maria, de Beto Pires. A canção também virou vídeo gravado pela TV OVO. Entusiasmados com a nova roupagem para a canção, que conta com banjo e acordeon, os músicos foram para o Calçadão, coração da cidade e ponto de encontro dos santa-marienses, soltaram a voz e arrepiaram. O vídeo teve

mais de 100 mil visualizações na internet. E, depois disso, a Santa Maria que há meses nos escapava aos olhos, embaçados de lágrimas, ressurgiu simples e cheia de cor no olhar do fotógrafo Janio Seeger. As imagens captadas por ele se transformaram em cartões-postais que foram entregues aos turistas que passaram pelos estabelecimentos do município. Apesar de não ter relação com a tragédia, a iniciativa conseguiu captar e mostrar cenas peculiares da cidade, que, muitas vezes, na correria do dia a dia, passam despercebidas. Uma nova edição está prevista.

O CAMINHO ATÉ O MEMORIAL

PAULO TAVARES, DIVULGAÇÃO

O que já foi feito e o que ainda falta fazer para que seja construído um monumento em homenagem às vítimas da Kiss: ■ O prédio está interditado pela Polícia Civil desde o incêndio ■ Durante o processo criminal que tramita na 1ª Vara Criminal em Santa Maria, advogados dos réus pediram a realização de uma reconstituição dentro da danceteria

avaliar as condições do lugar, concluiu ser praticamente impossível fazer a remoção de resíduos tóxicos (pó e fuligem) sem remover os entulhos (garrafas, calçados etc.) e escombros (ferros caídos do forro e restos de espuma)

■ No início de dezembro, Louzada determinou que seja feito um minucioso levantamento fotográfico do ■ Em março, profissionais do Centro de Referência interior da casa noturna, com medição e descrição em Saúde do Trabalhador (Cerest) coletaram pó de cada peça. Ele solicitou, ainda, que peritos do Insno interior do prédio e enviaram para análise em tituto-Geral de Perícias (IGP) recolham amostras das laboratório em São Paulo substâncias que entraram em combustão. A defesa ■ Os laudos comprovaram a existência de mais de de Mauro Hoffmann pediu, especificamente, análise do gesso inferior e superior que cobria o teto da bo200 tipos de produtos químicos tóxicos no interior ate e da lã de vidro que permeava as duas placas de do prédio, 17 deles altamente cancerígenos. Os gesso no teto. A defesa de Kiko pediu a verificação documentos foram encaminhados à Justiça de materiais que revestem a parte superior do palco ■ Em agosto e setembro, o juiz Ulysses Fonseca e adjacências. Depois dessas medidas, a Econn Louzada pediu providências aos órgãos competentes poderá contratar a empresa que fará a limpeza e a (Ministério Público Estadual, prefeitura e Fundação remoção de escombros e entulhos do local Estadual de Proteção Ambiental) para descontami■ O levantamento do IGP estava marcado para o nar o local último dia 23 de janeiro, mas deverá ser reagendado ■ O MP instaurou inquérito civil para apurar a depois que o juiz voltar do período de férias. Réus existência dessas substâncias no local e realizou no processo poderão nomear representantes para reuniões com os envolvidos – órgãos públicos e acompanhar o trabalho dentro da Kiss empresa dona do imóvel, Econn Empreendimentos ■ Após a limpeza do prédio, a Justiça irá reavaliar de Turismo e Hotelaria, de Porto Alegre a possibilidade de fazer uma reconstituição do que ■ A Econn se prontificou a contratar uma empresa ocorreu na Kiss especializada para fazer a descontaminação ■ Só depois disso, será possível dizer se o prédio ■ O juiz assinou novo ofício à prefeitura, determiserá demolido e desapropriado e se um memorial nando a limpeza será mesmo construido no local ■ Em 18 de outubro, uma equipe da empresa Sulclean de Santa Maria, que entrou na boate para

FOTOS JANIO SEEGER, DIVULGAÇÃO

PARA VER Imagens de pontos importantes de Santa Maria, captadas por Janio Seeger, foram transformadas em cartões-postais e distribuídas para visitantes, em uma tentativa de mostrar que, apesar da tristeza, também havia beleza na cidade

■ Governador Tarso Genro sanciona a lei de prevenção a incêndios

26 DE DEZEMBRO

■ Mauro Hoffmann presta depoimento na Delegacia Regional de Santa Maria. A imprensa não é informada para evitar que tumulto no local

27 DE DEZEMBRO

PÁGINA 27

■ Prefeito Cezar Schirmer sanciona lei da superlotação. A legislação altera o Código de Posturas e determina que as casas noturnas, bares (com música ao vivo) e casas de shows instalem controladores eletrônicos de público na entrada e dentro do estabelecimento

■ O prefeito Cezar Schirmer decreta luto oficial no município no dia 27 de janeiro de 2014

17 DE JANEIRO DE 2014

27 DE JANEIRO Santa Maria, 27/01/2014


DIÁRI DE SANTA MARIA Um jornal do Grupo RBS

R$ 1,00

ANO 12 . SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2014 . Nº 3.603

diariosm.com.br

Este é o retrato de Santa Maria hoje, quando lembra das 242 pessoas mortas há um ano na boate Kiss Caderno especial e páginas 2, 4, 6 e 7


SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2014


Editor: Deni Zolin ☎ 3220-1853 ✉ deni.zolin@diariosm.com.br

OPINIÃO

Um ano depois...

A

pesar de parte dos santa-marienses querer esquecer a tragédia e tentar levar a vida adiante, enquanto o processo da Kiss estiver correndo na Justiça, esse assunto e a cidade de Santa Maria ficarão no centro das atenções de toda a mídia brasileira. E mesmo que a Justiça condene alguém, provavelmente não será o suficiente para satisfazer o ímpeto de pessoas que esperam por penas mais severas e a punição de gente que nem está sendo processada. Até porque nada amenizará realmente a dor das famílias das 242 vítimas. Olhando para a frente, a maior lição dessa tragédia deve ser o foco em mais segurança. Já tivemos avanços, como novas leis de combate a incêndio, maior rigor na liberação de obras e a exigência de planos de prevenção em prédios públicos e privados que estavam há décadas fora da lei. Mas isso é muito pouco. Espero que, pelo menos, essa tragédia deixe um legado com a maior preocupação em segurança. Penso que, nas escolas, é preciso que todos os jovens passem a ter aulas práticas de primeiros socorros e de prevenção a incêndio. Afinal, aprender matemática e português é fundamental, mas na vida prática, também são fundamentais noções básicas para salvar uma pessoa em risco? Apesar de algumas empresas de Santa Maria já terem instalados os chuveirinhos automáticos (sprinklers), que se abrem em caso de incêndio, tomara que a nova lei federal que está por ser votada traga mais avanços. Ela deveria obrigar todas as boates, bares e grandes empresas a ter esses sistemas de sprinklers, que, comprovadamente, são eficazes ao combater focos de incêndio logo no início, evitando tragédias e perdas materiais. Ele é caro, mas seu custo compensará. Santa Maria deve dar o exemplo e ser uma referência em segurança. Para que, em todo 27 de janeiro, possamos orar e prestar homenagens aos inocentes que tiveram suas vidas ceifadas, mas também para termos certeza de que, à base da dor, nos tornamos melhores.

DIÁRIO DE SANTA MARIA SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2014

REGIÃO

Imprudência em Rosário

Você participou ou pretende participar de algum ato em homenagem às vítimas da Kiss? Vote em diariosm.com.br

EDUARDO COVALESKI, ARQUIVO PESSOAL – 19/01/14

CONTRA A COPA

Um ferido em protesto No mesmo local onde duas irmãs gêmeas morreram afogadas, em dezembro, banhistas ignoram as placas e se arriscam. É sinal de que mesmo as mortes e as tragédias não servem de lição para algumas pessoas. Para elas, a palavra prevenção não existe.

Ontem, um dia depois do protesto contra a Copa do Mundo, no Centro de São Paulo, a Corregedoria da Polícia Militar informou que investigará os policiais envolvidos na ação que resultou em um jovem ferido a tiros. Os disparos acertaram o peito e a virilha de Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves, 22 anos, que, após participar da manifestação, teria sido seguido pela polícia e, segundo a PM, reagido à abordagem.

3222-7755 www.apul.com.br FROTA DE SANTA MARIA EM 2013

TRÂNSITO

Cidade fecha o ano com 134 mil veículos Segundo o Detran, Santa Maria atingiu uma frota circulante de 134 mil veículos no fim de 2013. Em 2004, a cidade tinha 74.311 veículos. Desde

lá, Santa Maria ganhou mais 60.086 carros, motos e outros – um crescimento de 80,8%. É por isso que falta espaço nas nossas ruas e estradas.

VEÍCULOS NA REGIÃO Cidade Agudo Caçapava do Sul Cruz Alta Júlio de Castilhos Restinga Seca Rosário do Sul Santa Maria Santiago São Gabriel São Pedro do Sul São Sepé Tupanciretã

2007 5.819 9.796 20.782 5.763 4.503 10.019 89.231 15.996 15.761 4.739 6.824 5.830

Reboque

4.389 Caminhonete, camioneta e utilitário

15.327

2012 7.821 14.228 29.139 8.252 6.494 14.700 127.049 23.169 22.746 7.011 9.682 8.426

2013 8.361 15.448 31.230 9.020 6.918 15.709 134.397 24.937 24.363 7.522 10.506 9.214

Moto

26.495

Caminhão

4.227

Ônibus e micro-ônibus

1.353

Trator

197

Outros

143

Automóvel

82.266


OPINIÃO

Editora: Thaise Moreira ☎ 3220-1870 thaise.moreira@diariosm.com.br

OPINIÃO DA RBS

DIÁRIO DE SANTA MARIA SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2014

CARTAS

ELIAS

O que ficou em nós

Oração para a saudade O mundo é estranho na maioria das vezes. Justo no dia 27, está marcado para nascer diversos bebês de amigas. Seria Deus batendo com uma mão e abraçando com a outra, acalentadora? Não sei. Contudo, a dor não é cicatrizada tão fácil. Precisa em primeiro lugar do remédio que só a justiça pode dar. Porém, o exemplo já foi dado. O dia 27 de outrora mostrou ao mundo o que é a abominação pela vida humana, mostrou o que as pessoas fazem pelo dinheiro, mesmo que praticando uma tal banalidade do mal. Se pudéssemos todos fazer uma linda oração para aquela saudade que bate, vamos todos numa corrente mística nos acalentar. Por enquanto vamos rezar para nossos amigos, tenho certeza que a justiça não tarda. Josué Feltrin, escritor

A

dor dos familiares e amigos das vítimas ainda não arrefeceu – e talvez nunca venha a diminuir. A sensação de impunidade ainda martela nossos corações e mentes, pois todos os apontados e indiciados pela investigação policial permanecem livres. A irresponsabilidade, a inoperância, o desleixo, a ganância e tantos outros fatores que geraram a maior tragédia da história do Estado ainda se mantêm latentes em muitas instituições públicas e organizações privadas. A burocracia e a leniência continuam igualmente entravando alterações urgentes e necessárias na legislação preventiva. Porém, um ano depois do infortúnio que comoveu o país e marcou Santa Maria para sempre, pode-se dizer que houve, sim, uma importante mudança na vida de gaúchos e brasileiros. Apesar de quase imperceptível, seu significado é imenso. As pessoas tornaram-se mais conscientes em relação à própria segurança, especialmente quando frequentam locais fechados e de grande afluência de público. Parece pouco, mas esta transformação interna e individual pode ser o embrião da cultura de responsabilidade que o país precisa desenvolver para nunca mais ter que viver um luto A tragédia da boate semelhante. A Kiss que ficou Kiss jamais nos gravada na alma de deixará esquecer que cada brasileiro grita a juventude precisa a todo momento que somos também resser protegida, ponsáveis pela nossa amada e celebrada segurança, dos nossos filhos e amigos e pela fiscalização permanente daqueles que escolhemos para nos representar nos governos e nos serviços públicos. A Kiss de fogo e fumaça, que ainda assombra os sonhos dos jovens e tira o sono dos pais, também nos mantém em alerta permanente contra as armadilhas da negligência, contra os relapsos, contra exploradores da boa-fé, contra gananciosos de todos os calibres e nenhum escrúpulo. A Kiss das piores lembranças não nos deixa esquecer que a juventude precisa ser protegida, amada e celebrada como a mais preciosa das dádivas. Um ano, todos sabemos, não é tempo suficiente para curar feridas que jamais cicatrizarão. Mas permite uma reflexão mais serena e distanciada sobre as causas, as razões e os ensinamentos do episódio. E algum significado maior tem que ser tirado daquele martírio coletivo. As famílias dos meninos e das meninas que partiram sem aviso na noite de festa vêm nos ensinando todos os dias, com inaudita coragem, que a vida sempre faz sentido quando a alma não esmorece. Pais, mães, avós, irmãos e namorados mostram a cada momento, com suas mensagens amorosas e cheias de saudade, com suas iniciativas sociais e com a pressão civilizada por justiça, que o ser humano se engrandece e se fortalece quando respeita seus semelhantes e honra seus afetos. Os sobreviventes da tragédia também dão lições de força e destemor ao retomar os movimentos da vida. Neles devemos nos espelhar para podermos efetivamente construir um futuro melhor, mais seguro e mais digno para todos.

eliasramiresmonteiro@gmail.com

ARTIGO

Não podemos, não devemos esquecer! JORGE LUIZ DA CUNHA

H

oje, dia 27 de janeiro de 2014, rememoramos um ano do acontecimento que marca nossas vidas e que marcará a vida de nossa cidade por toda a eternidade. A tragédia,por muitos justamente chamada de massacre, que vitimou com a morte 242 jovens e afeta ainda mais de 600 sobreviventes, além de milhares de familiares, não pode e não deve ser esquecida por nenhum de nós, os afetados diretamente por viver aqui, e por todos aqueles que deste acontecimento tomaram conhecimento. Devemos lembrar sempre, por meio das ações dos movimentos organizados em torno do 27 de janeiro de 2013, por meio das manifestações nas redes sociais, mas também por meio de marcos materiais, como monumentos, memoriais, museus e publicações. Não porque queremos ficar presos ao passado, escravos de uma memória traumática e mal resolvida; mas, porque lembrar nos leva a pensar, a discutir, a opinar e a dialogar. E, somente quando lembramos e conversamos, somos capazes de ressignificar os acontecimentos passados e dar novos sentidos ao presente. José Murilo de Carvalho, historiador e escritor

As cartas e os artigos publicados nesta página também podem ser conferidos no blog Opinião do Leitor, no site do Diário. Acesse o blog e comente os textos

Nelson Pacheco Sirotsky Conselheiros:

Fundador: Maurício Sirotsky Sobrinho (1925-1986)

membro da Academia Brasileira de Letras, afirmou em uma entrevista recentemente publicada, que “um povo desmemoriado é um amontoado de gente, um rebanho”. Penso que a frase é muito apropriada para refletir sobre a necessidade de lembrar sempre do que ocorreu naquele domingo de janeiro de 2013.A memória, que precisa de estímulos para ser acionada, nos leva ao diálogo – uma viagem em que cada um de nós sai de si mesmo, alcança o outro em sua diferença, reconhece o valor dessa diferença, conversa com ela e, quando volta a si, já não é o mesmo. É por isso que acredito que a lembrança, permanentemente renovada, do acontecido, é saudável, ainda que dolorida, porque nos ajuda a ser mais solidários, mais justos e até nos torna capazes de perdoar, inclusive a nós mesmos. Um ato de coragem individual e coletivo necessário, que pode nos tornar melhores uns com os outros. Não esquecer também significa agir com autodeterminação, e somente isso caracteriza a liberdade humana e nos identifica como um povo que sabe prantear seus mortos, que busca corrigir seus erros e assim torna-se capaz de viver o presente, recobrando a fé no futuro e a alegria de existir na e pela memória dos que se foram. Não podemos esquecer, não devemos esquecer! Professor

Publique um artigo no ‘Diário’. Mande seu texto de 35 linhas de 60 toques (2.100 caracteres em Word) para ‘Opinião’, ou Avenida Maurício Sirotsky Sobrinho, 25, Patronato, ou pelo e-mail opiniao@diariosm.com.br. Os artigos são selecionados e podem ser resumidos

Presidente do Conselho de Administração e Comitê Editorial

Presidente Emérito: Jayme Sirotsky

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Betania Tanure Carlos Melzer Cláudio Thomaz Lobo Sonder Israel Vainboim Jayme Sirotsky

Marcelo Sirotsky Nelson Mattos Pedro Sirotsky Régis Dubrule

Gostaria de saber por que nossa cidade não tem mais aqueles painéis com termômetros pelas ruas. Só tem aquele do Calçadão.”

MARCELO RUMPEL, fiscal

A luta continua Agradeço e parabenizo ao jornalista Marcelo Canellas, sobre o excelente artigo do dia 25 de janeiro. Mesmo que as omissões, egoísmos e indiferenças aconteçam, principalmente por parte de pessoas que não perderam ninguém, o fato existiu e já faz parte da história mundial. Se não cobramos que a justiça seja feita aqui, em nossa cidade, então não teremos moral para cobrar nada dos absurdos que ocorrem aqui, no Estado, e no país. Mesmo que alguns não queiram, a luta vai continuar, até o final do processo. Mas a vida continua, a dor é nossa, a cidade não pode parar por isso, mas a justiça tem de prevalecer. Paulo Flores, bancário Cartas com até 10 linhas devem ser enviadas à Avenida Maurício Sirotsky Sobrinho, 25, CEP 97020-440, por fax para (55) 3220-1855 ou para o e-mail leitor@diariosm.com.br, contendo nome completo, carteira de identidade, profissão e telefone. As cartas são selecionadas e podem ser resumidas para se adequarem ao espaço.

Diretoria Executiva

Gerente Regional RBS Santa Maria:

Presidente-executivo: Eduardo Sirotsky Melzer

Neimar Beschoren

Jornais, Rádios e Digital: Eduardo Magnus Smith Televisão: Antônio Augusto Pinent Tigre Jornalismo: Marcelo Rech Finanças: Claudio Toigo Filho Pessoas e Tecnologia: Deli Matsuo Estratégia e Desenvolvimento de Negócios: Luciana Antonini Ribeiro Negócios Digitais – e.Bricks: Fabio Bruggioni Brasília: Alexandre Kruel Jobim

DIÁRIO DE SANTA MARIA Fundado em 19 de junho de 2002 Editora-Chefe: Andreia Fontana Gerente Comercial: Rodrigo Farina Mello

www.diariosm.com.br


GERAL RICARDO DUARTE

KISS Homenagens às vítimas no 1º ano da tragédia usaram a cor para pedir pa

Para não passar em b 1

2 RICARDO DUARTE

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EM PROTESTO

Por volta das 23h de ontem, grupo que participava de vigília começou a pintura de 242 corpos brancos na Rua dos Andradas, b LIZIE ANTONELLO E MAURÍCIO ARAÚJO

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PELA CIDADE

Centenas de pessoas passaram na frente da boate para prestar homenagens (fotos 1 e 2) no final de semana. Nas ruas, fitas brancas foram distribuídas (3). Nas igrejas católica (4) e evangélica (5), familiares se uniram em orações

sus em meu coração e sinto alegria. Segundo o pastor Eliezer Oliveira Cezar, a celebração foi direcionada às famílias e aos sobreviventes: – Desde o dia 27 de janeiro, as portas da igreja estiveram abertas com um objetivo: orar por essas pessoas para que Deus dê a elas consolo e força. As homenagens também ocorreram em outras cidades, como a capital gaúcha. Um grupo de cerca de 50 pessoas, entre parentes e amigos de uma das vítimas da tragédia, fizeram uma caminhada no Parque da Redenção. Vestindo branco, os manifestantes utilizaram apitos, balões, carregaram cartazes e proferiram gritos por Justiça.

O branco uniu Santa Maria nas homenagens às 242 vítimas do incêndio na boate Kiss. Na véspera da data que marca um ano da maior tragédia do Rio Grande do Sul, a cor esteve presente em balões, flores, fitas, banners, roupas, vitrines, templos religiosos e casas... Mas a cor da paz não abrandou os pedidos por justiça, que deram o tom da maioria dos eventos programados por associações de pais, familiares e sobreviventes. – Não queremos que a tragédia caia no esquecimento da Justiça nem da sociedade. O ato de hoje (madrugada de segunda), será um protesto e uma homenagem – afirmou Flávio Silva, coordenador da associação Luto à Luta, horas antes do ato que ocorreria durante a vigília em frente à boate Kiss, marcada para começar por volta das 3h. A vigília, que estava programada para atravessar a madrugada, começou às 23h de ontem em dois pontos: na frente da Kiss e na barraca dos familiares montada na Praça Saldanha Marinho. A ideia dos pais era fazer a concentração nas proximidades da barraca e, às 2h, caminhar até a Rua dos Andradas. No final da noite de ontem, cerca de 50 pessoas estavam na vigília. Por volta das 23h30min, um grupo começou a pintura de 242 corpos na frente da Kiss, COM A PROTEÇÃO DA MÃE Imagens de Nossa Senhora puderam ser vistas em pontos da cidade neste final de simbolizando as vítimas. Antes da vigília, às 20h, canções e semana, sempre acompanhadas da cor branca, um símbolo nas homenagens às vítimas RICARDO DUARTE

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orações foram entoadas por um coro de mais de 200 pessoas na Catedral. Durante o sermão, um chamamento: – Jovens, levantem-se. Não estejamos abatidos, não estejamos caídos por terra, porque Deus nos levanta. Somente Deus pode ressuscitar esta cidade, depois de tanta dor. Nas fileiras da igreja, mães e pais pareciam implorar por força e esperança. Às 20h47min, todos se deram às mãos e, em uma só voz, rezaram. Em um culto na Igreja Evangélica Assembleia de Deus, o pai de uma jovem que morreu no incêndio deu um relato emocionado aos fiéis: – Eu choro e fico triste, mas sinto Je-


DIÁRIO DE SANTA MARIA SEGUNDA-FEIRA, 27 DE JANEIRO DE 2014 RICARDO DUARTE

az, prevenção e Justiça

branco

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PASSO FUNDO FERNANDA DA COSTA

FOTOS RONALD MENDES

Pilar cai e fere três em boate NO SEMINÁRIO

Pais e familiares de vítimas participam dos debates desde a manhã de sábado

Foco na prevenção: o que é preciso fazer? HELOISA ARUTH STURM

cêndio da boate Kiss, mas sim como a cidade que conseguiu se reerguer das cinzas e se tornar mais segura O congresso que ocorre na cidade para a comunidade. desde sábado na programação do primeiro ano do incêndio na boate Faltam estatísticas, análise de dados e um plano de ação para incêndios Kiss definiu o foco que deverá ser seguido para evitar que tragédias A falta de estatísticas oficiais sobre como essa se repitam: a prevenção. Nos dois primeiros dias do 1º Con- incêndios no país dificulta a elaboragresso Internacional Novos Caminhos ção de planos de ação mais eficientes. – A Vida em Transformação, pales- Um levantamento do Projeto Brasil trantes apresentaram propostas de em Chamas, em 2004, mostrou que criação de grupos de pesquisa, con- foram cerca de 138 mil ocorrências selhos e regulamentação de novas naquele ano. Em apenas 12% delas leis: ações para transformar em prá- as causas foram identificadas. Paulo Chaves de Araújo, coronel tica as lições aprendidas. Para o especialista em segurança J. da reserva do Corpo de Bombeiros Pedro Corrêa, falta ainda no país de- de São Paulo e idealizador do Brasil senvolver uma cultura de segurança, em Chamas, propôs a criação de um prática já adotada em locais como observatório nacional para coletar, Austrália, Nova Zelândia, Estados organizar e disponibilizar as inforUnidos e Japão. É necessário criar mações sobre a segurança contra o conselhos municipais de seguran- incêndio no país, identificando leis ça, com legislação específica sobre e regulamentações conflitantes, além o assunto, e promover a inserção do de criar bases de dados e indicadores tema nas salas de aula, a exemplo do que ajudem na tomada de decisões. O tenente-coronel Luis Gonçalque ocorre com a lei de trânsito. A participação de universidades é ves Maya, comandante do 4º CRB, essencial, avalia Corrêa, para elabo- de Santa Maria, citou o episódio do ração de um projeto que minimize a fechamento temporário de dois estáexposição a situações de risco e para dios como exemplo do aprendizado. – Hoje não se discute a aplicação ajudar no mapeamento de cidades com objetivo de identificar e corrigir da legislação em Santa Maria. Em outros momentos, seríamos pressiolocais mais propícios a acidentes. – É um esforço complicado, mas é nados a liberar os estádios. Existiam do tamanho da dor de Santa Maria, CTGs que, há nove anos, estavam por isso, indispensável. A ideia é que com notificação de correção e, agora, daqui a 5, 10 anos, Santa Maria não cumpriram nossas orientações. Essa seja lembrada como a cidade do in- foi uma mudança importante. heloisa.sturm@zerohora.com.br

bem em frente à boate Kiss

Relatos, vídeo e doações também homenagearam

O 1º Congresso Internacional Novos Caminhos – A Vida em Transformação, promovido pela Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), começou no sábado e termina amanhã com o objetivo de avançar no tema prevenção (leia texto ao lado). Entre tantas palestras e rodas de debate, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir relatos de familiares de vítimas e sobreviventes do incêndio na discoteca República Cromañon, ocorrido em 2004, na cidade de Buenos Aires, Argentina. Os convidados compartilharam experiências, falaram sobre a luta por Justiça e atuações para que os responsáveis por aquela tragédia não ficassem impunes. O documentário Janeiro 27, dirigido por Luiz Alberto Cassol e Paulo Nascimento e produzido pelo ator Leonardo Machado, foi exibido pela primeira vez no sábado, no congresso. O público lotou o salão de atos do campus 1 da Unifra e se emocionou com o filme. No bairro Nova Santa Marta, a Associação Ah... Muleke!, composta por familiares de Vinícius, Danilo, Luana e Rogério, vítimas do incêndio, fez a entrega de mais de 200 brinquedos a crianças da Escola Adelmo Simas Genro. Mas foi no entorno da Praça Saldanha Marinho e na frente da boate que NO TELÃO as homenagens se concentraram. Documentário ‘Janeiro 27’ foi apresentado aos participantes do congresso

A queda de um pilar na boate Tai Tzu Lounge (foto), de Passo Fundo, deixou três jovens feridos na madrugada de domingo. Uma jovem teve ferimentos no ombro esquerdo e nas costas. A outra sofreu ferimentos na perna esquerda depois que parte do pilar, localizado no meio da pista de dança, caiu sobre ela. O terceiro ferido teve lesão nas costas. Todos foram atendidos e já receberam alta do hospital. A casa noturna foi interditada e passará por avaliação do Instituto Geral de Perícias (IGP). De acordo com os bombeiros, a boate tem Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI). O dono da Tai Tzu, Arthur Viacelli Falcão, afirma que a estrutura nunca foi alterada, e as reformas preservam a construção histórica do local, de 1930. Após o acidente, Falcão disse que a banda orientou os frequentadores a se dirigirem com calma até as saídas de emergência.


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