Apocalipse cap. 6 - O primeiro cavalo e seu cavaleiro. Questões introdutórias Para entendermos melhor sobre a passagem, vamos entender um pouco melhor alguns aspectos gerais do livro, e ir afunilando até o capítulo 6. O nome do livro, quem em português é Apocalipse de João, em Grego é ΑΠΟΚΑΛΥΨΙΣ ΙΗΣΟΥ ΧΡΙΣΤΟΥ (apocalipse de Jesus Cristo). Isso nos revela sobre quem o livro fala e qual a mensagem do livro. Pode parecer ridiculo começar por aqui, mas é importante lembrarmos que este livro tem um assunto importante, uma mensagem, e não é o futuro, mas sim nosso Senhor Jesus Cristo. É verdade que o genitivo usado no título grego nos permite duas traduções (revelação feita por Jesus ou revelação sobre Jesus), mas não há dúvidas que Jesus é o grande tema e a grande revelação do último livro biblico. A palavra apocalipse significa revelação. Em grego temos duas palavras básicas para revelação (fora essas 2 ainda existem palavras que trazem a ideia de revelação, mas não entram no estudo em questão): (apocalipse) e (epifaneia). está associada a volta de Cristo. Seus significados são: aparecimento; revelação; poderoso, explendido; visível; evidente. Já no grego clássico, a palavra era usada no sentido de divindade “A epifania de um deus é celebrada no ritual como a festa do seu nascimento, da sua ascencão ao trono, de um milagre específico operado por ele”1. Seu uso em o NT está associado às passagens escatológicas, como 2 Ts 2.1-12, quando o “homem da iniquidade” antecede o aparecimento do (Senhor). essa palavra é formada por duas outras palavras do grego: (kalipto = oculto) e (apo = de). Com isso vemos que a idéia é revelar aquilo que estava oculto. Apocalipse apresenta um diferencial em sua estrutura literária. O livro é diferente de outros tratados apocalípticos extra-canônicos, pois oferece uma perspectiva positiva, uma santidade prática em vez de mero escapismo, enfatiza a perseverança no presente à luz das promessas do futuro, e apresenta o Senhor não apenas como Juiz, mas também como Redentor.2 Quanto a sua interpretação, é notável como apocalipse apresenta “pistas, indicações” de como o leitor deve observar e interpretar cada
1 Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento. Verbete: revelação, p. 2121 2 PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Apostila de Teologia Biblica do Novo Testamento 1 – Apocalipse. Atibaia: SBPV. Material não publicado.
verso. Sua “raiz” interpretativa encontra “ecos” em Testamento, fazendo uso de figuras e símbolos do mesmo.
o
Antigo
Desbravando o livro Entendendo que para interpretarmos o livro de apocalipse encontramos suas figuras e símbolos em o Antigo Testamento, há a necessidade de situarmos os acontecimentos do livro de acordo com as profecias apocalípticas prescritas nos profetas. Os capítulos 4-19 prescrevem o período que vai do aparecimento do anti-cristo por meio da aliança feita com muitos (Dn 9.29) à volta do Messias no Monte das Oliveiras no tempo da conflagração mundial (Zc 14.1). Agora precisamos de uma “cronologia” para os acontecimentos, já que sabemos qual o período. São sete selos, sete trombetas e sete taças. Tendo em vista a situação no final do sétimo selo e a situação final da tribulação, o quadro dos acontecimentos é assim: 3
Sete taças Sete 12 3 4 5 67 trombetas 12 3 4 5 67
Sete selos
1 2
3
4
5
6
7
Esses são os acontecimentos. Os sete selos sendo derramados. Durante ao sétimo selo, as trombetas, durante a sétima trombeta, as taças.
Propósito O contexto do livro nos dá seu propósito. O cristianismo havia adquirido identidade própria, principalmente depois da queda do templo e seu rompimento definitivo com o judaísmo. O culto ao imperador era obrigatório mas os cristãos e recusavam terminantemente. A perseguição levou os cristãos à pobreza, desânimo, falta de amor, à tolerância com o erro e até mesmo com a imoralidade.4 Sendo assim, o propósito do livro é: Estimular submissão a Jesus Cristo e Sua adoração revelando Sua transcendência divina, Seu controle
3 4
PINTO, Op. Cit. Idem.
soberano sobre as igrejas e Seu triunfo final sobre a iniqüidade.
Apocalipse 6 Não há como negar a semelhança entre as visões dos selos apocalípticos e os discursos escatológicos dos evangelhos. Adolph Pohl5 sugere a seguinte comparação com o capítulo 24 de Mateus: Cristo falso Guerras Fomes, terremotos localizados, conf. Lc 21.11: pestes Perseguições Abalos do mundo Lc 21.25: angústia mundial Segunda vinda
Mateus 24 4,5 6,7a 7b 9-25 29 30, 31
Apocalipse 6 1,2 3,4 5-8 9-11 12-17 (Ap 8.1)6
Primeiro cavaleiro – o anticristo
Sendo que o livro do Apocalipse i.e., da revelação de Jesus nos apresenta Jesus como o aquele que recebeu do Pai a prerrogativa de julgar toda a terra conf. João 5.22 (todas as pessoas de todas as épocas), é difícil imaginar que Jesus recebe ordens (verso 1 “Vem e vê – apesar de não aparecer em algumas traduções em português, o cavaleiro recebe essas duas ordens).
No capítulo seis Jesus já foi apresentado como o Cordeiro, o único que poderia abrir os selos, i.e., Ele já estava presente no capítulo. Dificilmente Ele seria o que abriu o selo (dando permissão à saída do cavaleiro) e ao mesmo tempo é o cavaleiro.
Isso é muito importante por que nos mostra o anticristo aparecendo logo após Cristo abrir os selos, como o Todo Poderoso. O anticristo não fica por baixo, mas ataca tentando demonstrar também seu poder. Idéia do anticristo sempre é de se apresentar como um Cristo substituto. “Ele é um grande deslumbrador, e através dos seus sucessos podem deixar Cristo praticamente nas sombras”.7
O que se “acompanha” o cavaleiro branco é: guerra, fome e destruição.
POHL, Adolf. Apocalipse de João I. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2001. p. 169. 6 Pohl coloca aqui a segunda vinda de Cristo, mas conforme o livro de apocalipse, a segunda vinda acontece somente no capítulo dezenove. 7 Idem. p. 174. 5
O cavaleiro branco recebe uma coroa, o que é também difícil de imaginar na pessoa de Cristo, que já é o Rei desde toda Eternidade.
O instrumento de guerra na mão do cavaleiro branco do capítulo seis é o mesmo utilizado na mão dos inimigos de Deus (o arco) conf. Dt 32. 23, 42 e Ez 39.3
O livro de apocalipse apresenta em vários aspectos as artimanhas de Satanás no engano daquilo que é Divino. O cavaleiro branco recebe uma coroa porque não é o “príncipe” por nascimento e detentor da coroa por direito como Jesus A meretriz do capítulo 17 em contraste com a noiva de Cristo (a Igreja) capítulo 19.7 A Babilônia, cidade do anticristo com a Nova Jerusalém, a cidade de Deus A Besta que foi golpeada e sua ferida foi curada e o Cordeiro que foi morto e ressuscitou.
A grande dúvida: a vitória do cavaleiro branco Talvez essa seja a duvida que ainda fica na mente, se esse cavaleiro não é Jesus, como ele será vitorioso? Que vitória será essa? Bem, não é a primeira passagem no livro de apocalipse onde Satanás e seus seguidores recebem autoridade e poder até mesmo para vencer contra os santos (Ap 13.7). Deus permite que Satanás obtenha vitória durante o período da tribulação contra Seu Povo Santo como forma também de punição ao mesmo. O período bíblico conhecido como Tribulação é dividido em duas partes, onde a primeira é marcada pela governo universal da besta que tem um governo de paz e de união com o Israel. A segunda metade deste período, conhecido como Grande Tribulação acontece com o rompimento da paz com Israel e então grandes e graves guerras acontecem. Satanás será vencedor de uma boa parte dessa guerra, até que então o Rei de Israel vem para lutar pelo Seu povo e prender Satanás por mim anos (Ap 20). Essa vitória é momentânea e controlada por aquele que deu a coroa ao cavaleiro branco. Seu poder e autoridade logo lhe será cobrada e então, não obstante suas vitórias, será subjugado por Aquele que vem e é o Grande Rei.