Samuel Regis Araujo
Citologia Cervicovaginal Passo a Passo Atlas fotográfico com mais de 690 imagens
2ª Edição
Citologia Cervicovaginal – Passo a Passo, 2ª Edição Copyright © 2012 by Di Livros Editora Ltda.
ISBN 978-85-8053-026-1
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Editoração: BAW Editoração Eletrônica Ltda. Impresso no Brasil – Printed in Brazil
Citologia Cervicovaginal – Passo a Passo
Prefácio da 2ª Edição . É com muita honra que tenho a satisfação de entregar ao público nova edição deste meu livro, dentro de tão curto prazo a partir de seu primeiro lançamento em 2010, o qual está com a edição já esgotada. Tal sucesso serve de grande estímulo para a consecução futura de obras cada vez mais completas sempre com vistas à proposição original de disponibilizarmos ferramentas de alto padrão para o aprendizado e a educação continuada da Citopatologia. Embora seja práticamente uma reimpressão dado o pouco prazo de seu lançamento, já foram incluídos alguns novos assuntos e também novas fotos, de modo a acompanhar a evolução constante do assunto. Samuel Regis Araujo
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Citologia Cervicovaginal – Passo a Passo
Prefácio da 1ª Edição (2010)
A citopatologia brasileira recebe mais um excelente instrumento de aprendizagem e fonte de estudo continuado. A organização e o empenho de Samuel Regis Araujo no sentido de construir um livro visando ao ensino prático da citopatologia nos brinda com “Citologia Cervicovaginal – Passo a Passo”. Baseado na experiência diária e sobretudo no seu trabalho junto ao Controle de Qualidade do Programa de Prevenção de Câncer Ginecológico do Estado do Paraná (PPCG), o autor reuniu milhares de imagens didáticas que guiaram a formação deste livro, o qual demonstra de forma sequenciada como deve ser construído o conhecimento na Citologia Ginecológica. É um Passo a Passo com fotos de qualidade, esquemas e notas explicativas que permitem ao iniciante, citotécnicos, médicos-residentes e também àqueles que desejarem realizar uma revisão objetiva, uma noção exata do que encontrará nos preparados citopatológicos e como interpretá-los. Semelhante ao seu livro anterior direcionado aos ginecologistas, Samuel dirige os assuntos de forma objetiva e clara, sobretudo com um tom prático, o que certamente remete este material àqueles que deverão estar juntos à mesa de trabalho para uma consulta rápida. Samuel Regis Araujo é médico patologista formado pela UFPR, fez sua especialização em Patologia em São Paulo e há vários anos milita como patologista e citopatologista em Curitiba (PR). É um dos idealizadores do PPCG e desde a sua implantação tem fornecido enorme contribuição em todas as áreas vinculadas ao Programa. Este produto é apenas uma das vertentes de sua atuação e, por que não dizer uma de suas paixões, pois no dia a dia, como no passo a passo, coleciona imagens, arquiva e as compara com as existentes na literatura. Foi esse comportamento metódico que nos possibilitou hoje contarmos com mais esta obra que será sem dúvida de valia a todos aqueles que a descobrirem. Samuel, muito obrigado pela sua generosidade em compartilhar conosco este seu tesouro!
Luiz Martins Collaço Presidente da Sociedade Brasileira de Citopatologia
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Dedicatória
A todos que se iniciam no estudo da citologia cervicovaginal, em especial aos profissionais citotecnologistas (os “citotécnicos”), os quais, na sua interminável rotina de leitura de lâminas, muito têm contribuído para o avanço na detecção precoce e prevenção do câncer de colo uterino no Brasil.
Agradecimentos A todos que participam do Programa de Prevenção e Controle do Câncer de Colo Uterino do Estado do Paraná, em particular à Secretaria de Estado da Saúde (SESA), pelo grande empenho com que tem patrocinado as atividades do mesmo. À Diretoria da Associação Paranaense de Patologia (APP), biênio 2010-2011, nas pessoas de Dr. Avelino Ricardo Hass, Dra. Lúcia de Noronha, Dra. Ana Paula Sebastião e Dr. Joel Takashi Totsugui, pela oportunidade oferecida de editar este livro. À minha esposa Sandra e aos meus filhos Samuel e Pedro, pelo apoio familiar. Ao Professor Edison Luiz Almeida Tizzot, UFPr, pela cortesia de me disponibilizar excelentes imagens de cervicografia e colposcopia. Ao Professor Marcos Takimura, UFPr, pelas ótimas imagens de colposcopia e exame a fresco que tão gentilmente me forneceu. À Dra. Rose Marie Fischer, pelo incentivo e pelas inumeráveis sugestões. À Dra. Raquel Wal e ao Dr. Avelino Ricardo Hass, pelas ótimas revisões. Ao designer Ricardo Gamper Junior, pelos estudos na elaboração da capa desta obra. Utilizo neste livro algumas imagens do livro “Colposcopia”, dos Professores Clóvis Salgado e João Paulo Ripper, MEC, 1973, como uma homenagem à excelência e pioneirismo desta publicação, exemplar que possuo desde meus tempos de estudante de Medicina e que me despertou o ensejo de escrever esta obra. Alguns dos desenhos de colposcopia de minha autoria são obviamente inspirados nas pranchas maravilhosas da obra “Colposcopia Prática”, Roca, 1994, de René Cartier e Isabelle Cartier, qualquer semelhança devendo ser entendida como uma homenagem a estes grandes mestres. Também busquei inspiração para ilustrações em algumas gravuras do livro “Biologia e Patologia do Colo Uterino”, Revinter, 1994, de Edgar da Rosa Ribeiro.
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Citologia Cervicovaginal – Passo a Passo
Apresentação da 1ª Edição (2010) O presente livro é uma tentativa de construir um guia de aprendizado o mais sucinto, e também o mais abrangente possível. Não pretende ser um tratado, antes porém, uma compilação de fatos e conceitos bem estabelecidos e fartamente documentados por imagens. A grande demanda por treinamento propiciada pelo Programa de Prevenção e Controle do Câncer do Estado do Paraná, gerenciado pela Secretaria de Estado da Saúde, nos motivou grandemente a nos engajar neste trabalho. É um esforço de “tomar pela mão” e desvendar o universo da citologia cervicovaginal ao iniciante, procurando dosar cuidadosamente o volume da informação necessária com a demonstração em fotos, desenhos e gráficos, em sequência prática, de modo a facilitar o aprendizado. Dei mais ênfase também aos aspectos mais basilares do estudo, procurando não forçar demais assuntos mais específicos, como, por exemplo, a carcinogênese e as vacinas, em que muito há para se considerar e escrever, mas que assim sendo fugiria do escopo almejado para esta obra. Sou um documentador compulsivo – todas as fotos de citologia e histologia são minhas, como o são os desenhos e muitos gráficos; a fotografia e a impressão digitais tornaram muito acessível a documentação ampla. Assim, este livro é também um esforço para compartilhar minha experiência.
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Parte I
Aspectos Básicos
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O colo uterino
Fig. 1 - O colo uterino e suas relações anatômicas imediatas.
O colo uterino, objeto de nosso estudo, considerado atualmente quase como um órgão à parte, dada a sua grande importância, aqui representado nas suas relações anatômicas – vagina e fundos de saco vaginais, corpo uterino, tubas uterinas, ovários, ligamentos largos, paramétrio e artérias uterinas. Neste local origina-se um grupo de neoplasias, ditas em comum como carcinoma do colo uterino, que tem se constituído como um grande assassino, matando mulheres acometidas em geral em idade funcional e produtiva, frequentemente mães, esposas e filhas. É um órgão de fácil acesso à inspeção; as tecnologias de seu exame e da prevenção e tratamento do câncer que aí nasce há muito são estabelecidas, consistentes, relativamente baratas e eficazes, e no entanto esta doença continua sendo em muitos países o segundo e até mesmo o primeiro a encabeçar a lista das causas de morte por neoplasias em mulheres. A era das vacinas chegou e provavelmente irá mudar muito este panorama, mas ainda há muito o que se fazer, e as armas tradicionais ainda serão valiosas por muito tempo. Vamos aqui neste pequeno livro dar nossa contribuição a esta luta.
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Estrutura do colo uterino
Fig. 3 - Colo uterino. Desenho mostrando a linha de encontro das duas mucosas. A ectocervical, externa e mais clara; e a endocervical, mais interna e escura.
Fig. 2 - Colo uterino normal.*
Fig. 4 - Corte sagital do colo uterino ressaltando a estrutura do canal cervical, com pequenos óstios e tunelizações.
O colo uterino tem a forma básica de um cone ou cilindro, atravessado longitudinalmente pelo canal cervical. Observando a figura, vemos claramente o Orifício Cervical Externo (OCE). Já internamente não há um orifício interno bem definido, sendo mais uma transição com a cavidade endometrial ou istmo. Na figura identificamos os dois tipos de mucosa, a mucosa ectocervical ou escamosa e a mucosa endocervical ou colunar, mais interna e mais avermelhada, pois, sendo mais delgada que a primeira, aparece melhor a sua vascularização. A primeira é contínua lateralmente com a mucosa vaginal e a segunda sofre uma lenta transição em direção à cavidade endometrial acima. Percebemos também nestas duas figuras que o OCE pode ser puntiforme (à esquerda), em geral em mulheres nulíparas, e em fenda transversal
(à direita), frequente nas mulheres que já pariram. O canal cervical acompanha a conformação cilíndrica do colo uterino, sendo visíveis na superfície interna sulcos longitudinais com segmentos tunelizados e pequenos óstios glandulares. O encontro entre a mucosa ectocervical ou escamosa, mais clara, e a endocervical ou glandular ou colunar, mais escura, chama-se Junção Escamocolunar (JEC) e se constitui em marco importante na localização dos eventos da patologia cervical.
* Cervicografia – Gentileza do Prof. Edison Luiz Almeida Tizzot.
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As duas mucosas originais
Fig. 5 - Colo uterino com eversão acentuada, bem evidentes as duas mucosas originais.*
Fig. 6 - Colo uterino. Na porção de cima, a mucosa escamosa, lisa; abaixo, a mucosa glandular, de aspecto papilar.
Fig. 7 - Corte histológico da mucosa escamosa.
Fig. 8 - Corte histológico da mucosa endocervical.
Estas duas mucosas são os revestimentos originais do colo uterino. Analisando as figuras desta página, vemos que a mucosa ectocervical é espessa, recoberta por epitélio com vários estratos de células muito parecido com nossa pele, com a diferença maior de, ao contrário desta, não se queratinizar superficialmente (a sua denominação técnica correta é epitélio pavimentoso pluriestratificado não queratinizante). Ela nos parece mais clara em virtude de, por sua espessura, permitir pouco a visualização da cor vermelha dos vasos sanguíneos presentes no tecido conjuntivo de sustentação (córion ou estroma) abaixo. Esta estratificação é dinâmica, sendo que as células são continuamente descamadas na superfície e continuamente repostas pela divisão das células da camada mais baixa, a camada basal. O epitélio, por sua vez, não se assenta
diretamente no córion, mas é separado desta por uma finíssima membrana, a membrana basal, sobre a qual está ancorada. Já a mucosa endocervical é composta basicamente por papilas recobertas por uma coluna ou paliçada de células cilíndricas, secretoras de muco, colocadas lado a lado. Na verdade, há algumas células pequenas abaixo delas, que são as chamadas células de reserva, que, como o nome bem diz, fornecem a reposição das células do epitélio glandular. Igualmente, o epitélio colunar assenta-se sobre o córion com a interposição também de membrana basal. A integridade das membranas basais é critério importante na avaliação de invasão do processo neoplásico. Em um esfregaço citológico, a presença de células das duas mucosas é sinal de bom procedimento de colheita do material.
*Do livro “Colposcopia” de Clóvis Salgado e João Paulo Rieper, MEC.
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A junção escamocolunar
Fig. 9 - A junção escamocolunar (JEC), com a mucosa escamosa à esquerda e a colunar à direita.
Fig. 10 - Idem, desenho evidenciando bem a transição abrupta com o degrau entre as duas mucosas.
Fig. 11 - Representação citológica da junção escamocolunar (células escamosas e células colunares).
Fig. 12 - Citologia cervicovaginal, junção escamocolunar.
Vemos nestas fotos a representação da junção escamocolunar (JEC), ou seja, a linha irregular de encontro das duas mucosas originais do colo uterino, a escamosa, mais externa; e a glandular, mais interna. Percebe-se de imediato que existe uma transição relativamente abrupta entre elas, com a formação de um “degrau” no encontro entre a mucosa ectocervical, mais espessa; e a endocervical, mais delgada, degrau este perceptível à colposcopia. Entre as duas mucosas desenvolve-se a zona de transformação (ZT), região em que, sob estímulos variados, observa-se a transformação da mucosa endocervical em mucosa de tipo escamoso, por metaplasia (processo em que um tecido diferenciado transforma-se em outro tecido também diferenciado, em geral com efeitos protetores – no caso o epitélio colunar
ou glandular endocervical mais frágil se transformando em epitélio de tipo escamoso, dito metaplásico escamoso, mais espesso). Esta área, a zona de transformação, é importante porque se considera que é nesta região que atuam preponderantemente os fatores que propiciam a alteração genômica de células que vão originar os processos neoplásicos do colo uterino. A compreensão destes aspectos é fundamental para se entender o porquê da necessidade de uma coleta de material bem feita no Teste de Papanicolaou, representando as duas mucosas e a zona de transformação.
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O Teste de Papanicolaou
Fig. 13 - Dr. George Papanicolaou ao microscópio.
George N. Papanicolaou ou Georgios N. Papanicolaou, ilustre médico grego, cujo nome ficou definitivamente vinculado ao diagnóstico citológico do câncer de colo uterino e à sua prevenção. Estudou na Grécia e Alemanha e, por fim, radicou-se nos Estados Unidos da América. Seu primeiro trabalho sobre o diagnóstico do câncer de colo uterino utilizandose de esfregaços cervicovaginais data de 1928, porém a importância deste fato só ficou patente ao mundo científico em 1943 com a publicação, em parceria com Herbert Traut, do livro “Diagnosis of Uterine Cancer by the Vaginal Smear”. A partir desta data, seu nome associou-se de maneira indissolúvel ao diagnóstico citológico e à prevenção do câncer de colo uterino, tanto que a realização de tal procedimento chama-se quase universalmente de Teste de Papanicolaou e em países de língua inglesa com a familiaridade de “Pap Smear” ou “Pap Test”. Seu nome e suas realizações já foram destacadas em vários selos postais e em cédulas de dinheiro de vários países.
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Técnica de colheita do exame
Fig. 14 - Técnica de colheita ecto/endocervical com espátula + escova. Repare no movimento de rotação. A forma cônica fornece melhor adaptação ao orifício cervical externo.
Fig. 15 - Idem, utilizando somente escova, com formato especial.
Fig. 16 - Técnica de feitura do esfregaço. Repare que a escova cônica deve rotacionar ao mesmo tempo que desliza.
Fig. 17 - Fixação imediata e identificação da embalagem.
Agora que vimos quais áreas (e seus respectivos tipos de células) do colo uterino devem estar representadas em um esfregaço cervicovaginal, entenderemos melhor os procedimentos de técnica de colheita de material. Seja de modo dual, isto é, colheita de material da ectocérvice por espátula e da endocérvice por escova, seja a colheita em um só tempo das duas mucosas por escova, o que deve sempre ser obedecido no proceder da colheita é que, se possível, a maior área de cada mucosa deve ser representada nesta colheita, tanto em direção à ectocérvice quanto em direção ao canal, e sempre em toda a sua circunferência. Para tanto, espátula e/ou escova devem sempre girar um pouco mais que 360o, no mínimo. Não são aconselhadas muitas voltas, principalmente da escova de cerdas duras, para se evitar maiores traumas com eventuais sangramentos de colheita, que inclusive, se presentes, diminuem a qualidade da lâmina. A fixação, quer mergulhando no álcool, quer com “spray”, quer com
gotejamento de fixador, deve ser sempre imediata. A fixação em frasco contendo álcool é mais imediata, porém permite desprendimento de muitas células no momento do mergulho da lâmina. Já na fixação por solução alcoólica de resinas de tipo carbowax (o fixador neste caso na verdade continua sendo o álcool; a resina serve para fazer um filme superficial que protege o material de dessecar rapidamente) não há perda de células. Mas, por outro lado, quando transcorre muito tempo entre a colheita e a coloração pode haver certo grau de dessecamento, principalmente em regiões de clima quente. Por último, lembramos que não adianta uma lâmina bem colhida mas não identificada ou mal identificada, que permita dúvidas quanto à sua procedência. É de responsabilidade total de quem colhe que o material para exame colhido seja identificado inquestionavelmente.
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A coloração de Papanicolaou
Fig. 18 - Esfregaço cervicovaginal a fresco, sem coloração alguma com células transparentes.
Fig. 19 - Após o primeiro passo da coloração: Hematoxilina.
Fig. 20 - Após o segundo passo: Orange G.
Fig. 21 - Em seguida ao terceiro e último passo: EA-36, cada corante definindo seletivamente as estruturas.
A Coloração de Papanicolaou é uma coloração sequencial de 3 corantes, os quais se sobrepõem uns aos outros, permitindo melhor diferenciação de estruturas. O primeiro corante é a Hematoxilina, em geral de Harris, que cora em azul-escuro profundo os núcleos celulares e levemente o citoplasma, corando também a parede dos lactobacilos e outras bactérias, se presentes. O segundo corante é o Orange G, que cora em amarelo ou alaranjado o citoplasma das células escamosas mais altas; tende a corar também parcialmente hifas de fungos. Por terceiro e último, temos o EA-36, que cora em verde brilhante o citoplasma das células escamosas mais profundas e o citoplasma das células glandulares. Cora também o citoplasma das trichomonas e outros protozoários.
Ocasionalmente (e preferencialmente para avaliação hormonal) utiliza-se a coloração de Shorr, que é uma variante da coloração de Papanicolaou, mantendo-se a Hematoxilina, mas substituindo-se o Orange G e o EA-36 pelo chamado corante de Shorr, que promove de uma vez só a coloração diferenciada do citoplasma celular.
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A mucosa escamosa
Fig. 22 - PIS - proporção de estratos celulares da mucosa escamosa (Profundas/Intermediárias/Superficiais).
Fig. 23 - Idem, demonstrado em desenho esquemático.
Fig. 24 - Epitélio escamoso - coloração de PAS sem diastase para evidenciar os vacúolos contendo glicogênio.
Fig. 25 - Células escamosas no esfregaço cervicovaginal; as verdes são intermediárias; as alaranjadas, superficiais.
O epitélio da mucosa que reveste a vagina e a porção ectocervical do colo constitui-se, tecnicamente falando, em epitélio de revestimento ou pavimentoso (de proteção), pluriestratificado (várias camadas celulares), escamoso (descamação de células achatadas na superfície), não queratinizantes, isto é, normalmente não formando capa queratinizada na superfície, como a da pele. Fato muito importante é que este epitélio é hormônio-dependente, sofrendo alterações paralelas ao ciclo menstrual da mulher. Didaticamente é dividido em 3 camadas: profunda (P) (células basais e parabasais pequenas, citoplasma verde-escuro, núcleos proporcionalmente grandes), intermediária (I) (células maiores, já poligonais, mas de cantos arredondados, citoplasma ainda verde-claro, contendo glicogênio, núcleos arredondados, menores) e superficial ( S) (células
maiores ainda, cantos angulados, citoplasma amareloalaranjado já com glicogênio pouco aparente, núcleos pequenos e compactos (picnóticos). O efeito hormonal faz com que a espessura e o aspecto do epitélio escamoso do colo uterino e da vagina se alterem ao longo do ciclo. São dois hormônios atuando: o primeiro, o estrogênio, aumenta a espessura do epitélio ao promover a diferenciação celular a partir das células basais; e o segundo, a progesterona, que promove a maturação deste epitélio, a partir da segunda metade do ciclo. Desta maneira, a proporção entre os três estratos de células (profundas, intermediárias e superficiais), que é abreviada como PIS, reflete de maneira bastante sensível o efeito hormonal global sobre este epitélio. A coloração de Shorr é mais usada para avaliação hormonal porque permite uma pequena melhor diferenciação entre o tipo (estrato) das células.
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Células escamosas no esfregaço
Fig. 26 - Esfregaço cervicovaginal - células escamosas intermediárias e superficiais.
Fig. 27 - Esfregaço cervicovaginal - Idem, predominando as superficiais.
Fig. 28 - Esfregaço cervicovaginal - Idem, grupamento bem compacto.
Fig. 29 - Esfregaço cervicovaginal - células escamosas profundas (parabasais e mesmo basais descamadas).
As células escamosas são a parte mais evidente do esfregaço cervicovaginal, sendo vistas na mulher adulta principalmente células da camada intermediária, poligonais, de citoplasma esverdeado, núcleos centrais arredondados, vesiculosos; em menor proporção, são vistas também células da camada superficial, também poligonais, de citoplasma avermelhado ou alaranjado, núcleos centrais pequenos e compactos, tendendo à picnose (compactação extrema da cromatina, que aparece homogênea e escura). Na verdade, para avaliação hormonal, são estritamente consideradas células superficiais as de forma poligonal com núcleos picnóticos (sua contagem chama-se Índice de Cariopicnose). A cor do citoplasma, alaranjada ou avermelhada, auxilia um pouco na discriminação das células superficiais, sendo chamado
Índice de Eosinofilia ou de Orangiofilia , que complementa o Índice de Cariopicnose, porém de maneira bem menos sensível. Células profundas, bem menores, arredondadas, cor verde-azulado denso, núcleos redondos centrais, com maior RNC, são vistas em proporção bem menor em um esfregaço trófico de mulher adulta, sendo descamadas principalmente ao longo da JEC, naquela região que referimos haver um “degrau” entre a mucosa escamosa externa mais espessa e a glandular mais fina. Nos esfregaços hipotróficos e atróficos, nos dois extremos da vida (menina pequena e mulher idosa sem reposição hormonal) elas podem predominar, agora ao longo de toda a mucosa ectocervical e vaginal.
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A mucosa endocervical
Fig. 30 - Mucosa endocervical - corte histológico mostrando glândulas mucosas.
Fig. 31 - Desenho esquemático da mucosa endocervical, pondo em evidência as glândulas e seus óstios abrindo-se na superfície.
Fig. 32 - Mucosa endocervical - corte histológico mostrando criptas e canais ou túneis.
Fig. 33 - Mucosa endocervical - desenho evidenciando o aspecto de canalização, isto é, formação de sulcos profundos e comunicantes.
A mucosa endocervical, ao contrário da escamosa, que é quase plana, apresenta uma topografia bastante complexa, principalmente no nível do canal cervical. Esta mucosa é essencialmente papilar, isto é, com projeções vasculoconjuntivas recobertas por epitélio, com óstios glandulares e também sulcos e canais intercomunicantes, atingindo por vezes vários milímetros para dentro do estroma. Este grau de aprofundamento já nos configura como preocupante quando pensamos na possibilidade de invasão de processos neoplásicos neste tipo de mucosa. Além da profundidade, a arquitetura canalizada ou tunelizada aumenta também a possibilidade de expansão e propagação local dos processos malignos.
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A mucosa endocervical
Fig. 34 - Corte histológico evidenciando o revestimento de superície da mucosa endocervical.
Fig. 35 - Idem, desenho esquemático. Repare nas células de reserva, logo abaixo das colunares.
Fig. 36 - Epitélio colunar de revestimento, destacando-se o muco em azul-celeste pela coloração de Alcian Blue.
Fig. 37 - Coloração de Alcian Blue evidenciando as glândulas, profundamente.
A mucosa endocervical, ou glandular, ou colunar, secretora de muco, é constituída por córion altamente vascularizado, recoberto em geral por uma só camada de células colunares, de pequenos núcleos em porção semibasal. Sua reposição se faz a partir de pequenas células arredondadas espremidas entre elas e a membrana basal do epitélio, que são as células de reserva, com potencial de diferençiação bem maior, tanto que acredita-se que, em consequência à exposição de fatores de agressão, multiplicam-se mais aceleradamente (hiperplasia de células de reserva) e transformam-se em células escamosas menos diferenciadas e progressivamente mais diferenciadas no sentido escamoso (metaplasia escamosa imatura e madura). Este tipo de epitélio, o colunar, responde bem menos à
variação hormonal do ciclo da mulher que o escamoso do colo, e sua resposta é mais em função do aumento ou da diminuição da secreção mucosa, de modo a facilitar eventos que visem à fecundação do óvulo em cada ciclo.
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