Neurocirurgia Pediátrica

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NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS



NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS

EditorEs ricardo santos dE olivEira, Md, P

hd

Médico-Assistente de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN Doutor e Pós-Doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Especialização em Neurocirurgia – HCFMRP/USP Clinical Fellowship em Neurocirurgia Pediátrica – Hôpital Necker-Enfants Malades, Paris, França

Hélio rubEns MacHado, Md, P

hd

Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Chefe da Divisão de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN


NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA – FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS Copyright © 2009 by Di Livros Editora Ltda.

ISBN 978-85-86703-71-3

Rua Dr. Satamini, 55 – Tijuca Rio de Janeiro – RJ/Brasil CEP 20270-232 Telefax: (21) 22540335 dilivros@dilivros.com.br www.dilivros.com.br

Revisão prévia dos originais Fabiana Luísa Mattar de Oliveira Ilustrações e imagens Hermes Prado Júnior

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, total ou parcialmente, por quaisquer meios, sem autorização, por escrito, da Editora. Nota A medicina é uma ciência em constante evolução. As precauções de segurança padronizada devem ser seguidas, mas, à medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhecimento, são necessárias e apropriadas modificações no tratamento e na farmacoterapia. Os leitores são aconselhados a verificar as informações mais recentes fornecidas pelo fabricante de cada produto a ser administrado, a fim de confirmar a dose recomendada, o método e a duração do tratamento e as contraindicações. Ao profissional de saúde cabe a responsabilidade de, com base em sua experiência e no conhecimento do paciente, determinar as doses e o melhor tratamento para cada caso. Para todas as finalidades legais, nem a Editora nem o(os) Autor(es) assumem qualquer responsabilidade por quaisquer lesões ou danos causados às pessoas ou à propriedade em decorrência desta publicação. A responsabilidade, perante terceiros e a Editora Di Livros, sobre o conteúdo total desta publicação, incluindo ilustrações, auto rizações e créditos correspondentes, é inteira e exclusivamente do(s) autor(es) da mesma. A Editora

Capa: Bernard Design Editoração Eletrônica: REDB STYLE Impresso no Brasil – Printed in Brazil


Agradecimentos

Agradecimentos especiais aos colegas que aceitaram o convite para, gentilmente, elaborarem os vários capítulos deste livro. À Editora DiLivros, uma vez que sempre são as pessoas, e não as instituições, que permitem a realização de um projeto desta importância. Gostaríamos de agradecer àqueles que cuidaram de sua elaboração no âmbito editorial. À Dabasons e à Technicare, por acreditarem num trabalho sério e responsável e por viabilizarem a qualidade iconográfica deste livro. Ao colega Dr. Hermes Prado Jr., pelas belíssimas ilustrações e pela padronização das imagens. Ao Prof. Dr. Hélio Rubens Machado, pelo apoio e pela assistência na preparação deste livro. Sua elevada capacidade de mediação, principalmente em situações difíceis, caracterizou sua postura e sua ética indeléveis durante as inúmeras discussões que mantivemos com ele. Assim, é digno merecedor de nossos mais sinceros e cordiais agradecimentos. À Fabiana e à Mirella, os mais belos presentes da minha vida, agradeço o incentivo e o apoio incondicionais, em todos os momentos dedicados a este livro.



Prefácio

O desafio de compilar um livro sobre neurocirurgia pediátrica motivou-nos a desempenhar a tarefa árdua de escrever e organizar um trabalho que representasse a importância da neurocirurgia pediátrica nos contextos nacional e internacional. A ideia surgiu a fim de procurarmos diversos profissionais que representassem a excelência nos diferentes campos que envolvem a nossa especialidade, permitindo que compartilhassem sua experiência pessoal aliada à literatura internacional, para viabilizarem “dicas e armadilhas” em cada capítulo, ou seja, “o pulo do gato”! Diante deste quadro, um dos objetivos centrais da concepção deste livro foi a criação de um “ambiente de aprendizado” bem estruturado para o leitor. Para alcançar esse objetivo, a escolha cuidadosa dos tópicos foi muito importante, pois eles permitem estabelecer conexões básicas para a atividade clínica no campo da neurocirurgia pediátrica. A linguagem técnica, atual e única do texto orienta o leitor, de maneira clara e concisa, sobre os vários aspectos da neurocirurgia pediátrica, desde a sua história até as perspectivas futuras, distribuídos em 42 capítulos.

A atenção especial dada às figuras e às ilustrações deste livro resultaram num verdadeiro modelo. Cada ilustração demonstra, de maneira objetiva e didática, os diferentes assuntos e os pontos essenciais, eliminando detalhes desnecessários. Apenas as estruturas importantes foram consideradas. Mesmo quando as figuras são “autoexplicativas”, o texto relacionado aumenta a compreensão, por meio da explanação do conteúdo das imagens e através de “dicas” para o aprendizado. O texto foi revisado, mas permanece concisamente concentrado em assuntos técnicos e não pretende ser um compêndio. Para tanto, existem excelentes livros disponíveis na literatura internacional. O resultado final obtido pode ser um excelente guia para jovens neurocirurgiões, médicosresidentes e colegas de áreas afins com interesse nesta fascinante especialidade que é a neurocirurgia pediátrica.

Ricardo Santos de Oliveira Hélio Rubens Machado Editores



Mensagem

A neurocirurgia e a neurocirurgia pediátrica são áreas da Medicina que cuidam de um dos principais sistemas do corpo humano, o sistema nervoso central. É fantástico manifestar qualquer palavra sobre o assunto, devendo-se comentar a singularidade entre Medicina e fé, porque, dentre inúmeros casos que podem ser inexplicáveis, temos como identificar a essência da vida, entregue pela fé dos pacientes, que acreditam na capacidade dos profissionais dessa especialidade. Difundir o conhecimento entre a classe médica é de extrema importância para a so-

ciedade. A Technicare é uma grande incentivadora e colaboradora do crescimento tecnológico dessa área, realizando e participando de inúmeros treinamentos, palestras e workshops práticos, com especialistas inclusive internacionais, inserindo no mercado nacional equipamentos, produtos e serviços de ponta, agregando maior precisão e confiabilidade em procedimentos de risco. A Technicare deseja que este livro seja mais uma porta aberta para promover e compartilhar os conhecimentos nesta grande luta pela vida.



Preface Message

In spite of its fiftyyear longlife – the effective treatment of hydrocephalus became possible only in late fifties (the first Society, the European Society for Pediatric Neurosurgery, was founded in 1967) –, Pediatric Neurosurgery is still in its early spring. Indeed, it is still blooming, flourishing, thriving. This book, edited by Ricardo Santos de Oliveira and HÊlio Rubens Machado just represents its last blossom, flourishing in a country which has become a new fertile soil, after the United States, Europe and Japan. At the base of this bloom are certainly the new role that Brazil is assuming in the world, due to its spectacular technical and economic progresses and the characteristics of a society, where the percentage of the young population is particularly elevated. The phenomenon, however, could not have happened unless the dedicated efforts by a group of enthusiast neurosurgeons, here represented by the two Editors, who have decided to promote pediatric neurosurgery and have succeeded in diffusing its main philosophy. That is the concept that pediatric neurosurgery is not only an acute care but a continuous commitment with the young patient, with the goal

of assuring his normal development and not merely the temporary control of his disease. In organizing this book, the editors have brought together their training abroad and the Brazilian experiences by gathering a group of leading pediatric neurosurgeons representing all the important centers of the country. Most of these neurosurgeons are internationally known because of their excellent scientific contributions and participation in international scientific events. Their knowledge, profuse throughout this book, is going to educate the young neurosurgeons and wanted-to-be pediatric neurosurgeons, hopefully stimulating their interest in entering the exciting field of pediatric neurosurgery, a field still to be explored fully. The Editors should be praised to have devised and implemented this important project. Similarly, the Brazilian colleagues should be proud to have contributed at their best. To all of them, the best wishes of a great success for the sake of our most young and most fragile patients. Concezio Di Rocco



Comece fazendo o que é necessário; depois, o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível. São Francisco de Assis (1181–1226)



Colaboradores

alEssandro MacHado Médico-Residente de Neurocirurgia do Hospital Beneficência Portuguesa e do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica, Hospital da Criança Santo Antônio, Complexo Hospitalar Santa Casa, Porto Alegre/RS alEXandrE P accHioni Anestesiologista com Título Superior em Anestesiologia pela Sociedade Brasileira de Anestesiologia, TSA – SBA Médico-Assistente do Serviço de Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Corresponsável pelo Centro de Ensino e Treinamento em Anestesiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP aloYsio da costa val Coordenador do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Biocor Instituto, Belo Horizonte/MG Coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Leopoldo Furtado da Polícia Militar de Minas Gerais – Mandic, Belo Horizonte/MG Álvaro Massao noMura Ortopedista da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília/DF ana Paula dE carvalHo P anZEri carlotti Professora Doutora do Departamento de Pediatria e Puericultura da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Responsável pelo CTI Pediátrico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP

andré bEdin Neurocirurgião do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio, Complexo Hospitalar Santa Casa, Porto Alegre/RS Neurocirurgião do Núcleo de Neurocirurgia Pediátrica, Serviço de Neurocirurgia, Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre/RS andré nunEs MacHado Médico Graduado pela Faculdade de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo/SP antonio auGusto vElasco E cruZ Professor Titular de Oftalmologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Responsável pelo Setor de Oculoplástica e Membro do Centro de Cirurgia Craniofacial do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP antonio carlos dos santos Professor Livre-Docente de Radiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Responsável pelo Setor de Neurorradiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP antônio rosa bEllas Neurocirurgião do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Instituto Fernandes Figueira – Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), Rio de Janeiro/RJ bEnicio oton dE liMa Neurocirurgião Pediátrico e Coordenador da Unidade de Neurocirurgia do Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília/DF


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Colaboradores

bruno liMa PEssoa Médico-Residente do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Antônio Pedro – Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói/RJ Estagiário do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Instituto Fernandes Figueira – Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), Rio de Janeiro/RJ

carlos Eduardo barros JucÁ Neurocirurgião e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN Médico-Assistente de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP

cHarlEs KondaGEsKi Neurocirurgião do Instituto de Neurologia de Curitiba/PR – INC, Divisão de Neurocirurgia Pediátrica

daniEl GiansantE abud Neurorradiologista do Centro de Ciências das Imagens e Física Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Responsável pelo Setor de Neurorradiologia da Documenta – Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem, Ribeirão Preto/SP

Fabiana luÍsa Mattar dE olivEira Colaboradora do Núcleo de Estudos em Neuropediatria e Motricidade (NENEM) da Universidade Federal de São Carlos/SP – UFSCar Graduação em Fisioterapia e Especialização em Intervenção em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos/SP – UFSCar Mestrado em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Aprimoramento Profissional e Aperfeiçoamento em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Aperfeiçoamento em Fisioterapia Pediátrica pelo Hôpital d’Enfants Armand Trousseau, Assistance Publique, Hôpitaux de Paris, França FErnando caMPos GoMEs Pinto Professor Colaborador de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP Coordenador do Grupo de Hidrodinâmica Cerebral da Divisão de Clínica Neurocirúrgica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFM/USP Preceptor dos Médicos-Residentes de Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo/SP Doutor pelo Departamento de Fisiopatologia Experimental da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP

EidMar auGusto nEri Neurocirurgião da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília/DF

Francisco dE assis v aZ-GuiMarãEs FilHo Neurocirurgião do Hospital São Paulo da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

Elvis tErci valEra Oncologista e Hematologista Pediátrico Médico-Assistente de Oncologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Professor Doutor de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP

GEraldo José dantas Furtado Professor-Assistente de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas de Pernambuco, Universidade Estadual de Pernambuco – UPE Tutor de Medicina da Escola Pernambucana de Saúde – Faculdade Boa Viagem – Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira, FBV/IMIP Mestre em Saúde MaternoInfantil

ErasMo barros da silva Jr. Neurocirurgião do Instituto de Neurologia de Curitiba/ PR – INC

GEraldo PianEtti Professor-Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte/MG


Colaboradores Neurocirurgião Pediátrico do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte/MG GraciEla Zuccaro Professora de Neurocirurgia Infantil da Universidade de Buenos Aires, Argentina Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Nacional de Pediatria Prof. Juan P. Garrahan, Buenos Aires, Argentina Gustavo novElino siMão Médico-Assistente de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Neurorradiologista do Centro de Diagnóstico por Imagem de Ribeirão Preto – CEDIRP Doutor em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP HaMilton MatusHita Professor-Assistente Doutor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP Responsável pelo Serviço de Neurocirurgia Pediátrica da Disciplina de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFM/USP HEldEr ZaMbElli Professor Doutor de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas/SP – UNICAMP Responsável pela Disciplina de Neurocirurgia Pediátrica da Universidade Estadual de Campinas/SP – UNICAMP Hélio rubEns MacHado Professor Titular de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Chefe da Divisão de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN JorGE WladiMir JunQuEira biZZi Diretor do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital da Criança Santo Antônio, Complexo

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Hospitalar Santa Casa, Porto Alegre/RS Coordenador do Núcleo de Neurocirurgia Pediátrica do Serviço de Neurocirurgia, Hospital Moinhos de Vento, Porto Alegre/RS Professor Adjunto Doutor da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), Canoas/RS José Francisco ManGanElli saloMão Chefe do Serviço de Neurocirurgia Pediátrica do Instituto Fernandes Figueira – Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz), Rio de Janeiro/RJ José GilbErto brito HEnriQuEs Neurocirurgião Pediátrico Professor Doutor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte/MG Professor da Faculdade de Medicina da Universidade José do Rosário Vellano – UNIFENAS/MG Doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte/MG José luiZ roMEo boullosa Médico-Assistente de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Neurocirurgião e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN Especialização em Cirurgia da Coluna Vertebral KosHiro nisHiKuni Neurocirurgião Pediátrico do Serviço de Neurocirurgia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo/SP lucival silva dos santos Neurocirurgião Pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe – Curitiba/PR MarcElo caMPos MoraEs aMato Médico-Residente de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP MarcElo volPon santos Médico-Residente de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP


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Colaboradores

MÁrcia cristina da silva Residência Médica em Neurocirurgia pelo Hospital São Francisco de Assis, Belo Horizonte/MG Research Fellowship em Neurocirurgia Pediátrica – Hospital for Sick Children, Toronto, Canadá Clinical Fellowship em Neurocirurgia Pediátrica – Hospital for Sick Children, Toronto, Canadá Masters of Science – University of Toronto, Canadá

Paulo ronaldo Jubé ribEiro Neurocirurgião Pediátrico do Hospital da Criança, Goiânia/GO Neurocirurgião do Hospital Geral de Goiânia/GO

Marcia noriKo dE olivEira HoMa Neurocirurgiã Pediátrica do Hospital Beneficência Portuguesa e do Hospital Municipal Prof. Alípio Correia Netto, São Paulo/SP

raQuEl olivEira carMo Médica-Residente de Pediatria do Hospital Leopoldo Furtado da Polícia Militar de Minas Gerais – Mandic, Belo Horizonte/MG

Marco tÚlio sallEs rEZEndE Neurorradiologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Hospital Felício Rocho, Belo Horizonte/MG Neurorradiologista do Hospital Mater Dei, Belo Horizonte/MG MaurÍcio coElHo nEto Neurocirurgião do Instituto de Neurologia de Curitiba/PR – INC, Divisão de Neuro-Oncologia Mércia JEannE duartE bEZErra Clinical Fellowship em Neurocirurgia Pediátrica – Hôpital Necker-Enfants Malades – Paris, França Neurocirurgiã Pediátrica do Serviço de Neurocirurgia do Hospital Infantil Varela Santiago, Natal/RN nElci Zanon-collanGE Neurocirurgiã Pediátrica da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo/SP Clinical Fellowship do Hôpital de La Timonne, Marseille, França Doutora em Neurocirurgia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) nivaldo alonso Professor Livre-Docente da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP Chefe do Serviço de Cirurgia Craniofacial da Disciplina de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFM/USP Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Craniomaxilofacial (2006–2008)

raFaEl loduca Neurocirurgião e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN

rEGis tavarEs da silva Neurocirurgião da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília/DF rEnato da silva FrEitas Professor Adjunto III da Disciplina de Cirurgia Plástica da Universidade Federal do Paraná – UFPR, Curitiba/PR Cirurgião Craniofacial do Centro de Atendimento Integral ao Fissurado Labiopalatal – CAIF, Curitiba/PR ricardo dE aMorEira GEPP Neurocirurgião da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília/DF Mestre em Ciências da Reabilitação pela Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, Brasília/DF ricardo raMina Chefe do Serviço de Neurocirurgia do Instituto de Neurologia de Curitiba/PR – INC Professor Colaborador de Pós-Graduação em Cirurgia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUC/PR Ex-Professor Adjunto Associado de Neurocirurgia – George Washington University, EUA ExChefe de Clínica (Oberarzt) da Clínica Neurocirúrgica Nordstadt Krankenhaus, Hannover, Alemanha (Prof. Madjid Samii) ricardo santos dE olivEira Médico-Assistente de Neurocirurgia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Membro Titular da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia – SBN


Colaboradores Doutor e Pós-Doutor em Cirurgia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – FMRP/USP Especialização em Neurocirurgia – HCFMRP/USP Clinical Fellowship em Neurocirurgia Pediátrica – Hôpital Necker-Enfants Malades, Paris, França Professor-Assistente da Disciplina de Neuroanatomia do Departamento de Cirurgia e Anatomia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP saMuEl daMin carr dE MuZio Neurocirurgião do Hospital São Paulo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP saMuEl t au ZYMbErG Neurocirurgião do Hospital São Paulo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Doutor em Neurocirurgia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP sérGio cavalHEiro Professor Titular e Chefe do Serviço de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP

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Neurocirurgião Pediátrico do Hospital São Paulo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP Especialização em Neurocirurgia Pediátrica no Hôpital de La Timonne, Marseille, França silvio MacHado Neurocirurgião Pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe – Curitiba/PR tHiaGo GiansantE abud Neurorradiologista do Centro de Ciências das Imagens e Física Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo – HCFMRP/USP Neurorradiologista da Documenta – Centro Avançado de Diagnóstico por Imagem, Ribeirão Preto/SP vEra cristina tErra bustaMantE Médica-Assistente do Centro de Cirurgia de Epilepsia de Ribeirão Preto – CIREP do Departamento de Neurologia, Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – HCFMRP/USP Mestre e Doutora em Neurologia pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – FMRP/USP



Sumário

PartE i – introdução à nEurocirurGia PEdiÁtrica

8 Encefaloceles, 83 Nelci Zanon-Collange Marcia Noriko de Oliveira Homa

1 História da Neurocirurgia Pediátrica, 3 Hélio Rubens Machado

2 Neuroanestesia Pediátrica, 15 Alexandre Pacchioni

3 Diagnóstico Pré-Natal em Neurorradiologia, 21 Gustavo Novelino Simão Antonio Carlos dos Santos

4 Diagnóstico Neurorradiológico, 33 Antonio Carlos dos Santos

PartE ii – anoMalias do dEsEnvolviMEnto 5 Cirurgia Fetal na Mielomeningocele, 51 Helder Zambelli

6 Mielomeningocele, 61 José Francisco Manganelli Salomão Antônio Rosa Bellas

7 Lipomas Lombossacrais, 69 Jorge Wladimir Junqueira Bizzi Alessandro Machado André Bedin

PartE iii – HidrocEF

alia

9 Prematuridade, 93 Mércia Jeanne Duarte Bezerra

10 Derivação Ventricular Externa, 99 Márcia Cristina da Silva

11 Derivação Ventriculoperitoneal, 107 Geraldo José Dantas Furtado

12 Complicações das Derivações Liquóricas, 111 Ricardo Santos de Oliveira

13 Neuroendoscopia, 121 Sérgio Cavalheiro Francisco de Assis Vaz-Guimarães Filho Samuel Tau Zymberg Samuel Damin Carr De Muzio

14 Complicações da Neuroendoscopia, 141 Koshiro Nishikuni

PartE iv – trauMatisMo 15 Traumatismo Cranioencefálico, 149 Fernando Campos Gomes Pinto


xxii

Sumário

16 Traumatismo Raquimedular na Infância e na Adolescência, 155

25 Tumores da Região Pineal, 255 Paulo Ronaldo Jubé Ribeiro

José Luiz Romeo Boullosa

26 Tumores dos Ventrículos Laterais, 261

PartE v – cranioF

acial

17 Cranioplastia, 169 Silvio Machado Lucival Silva dos Santos Ricardo Santos de Oliveira

José Gilberto Brito Henriques Geraldo Pianetti

27 Tumores do Terceiro Ventrículo, 267 Marcelo Campos Moraes Amato Ricardo Santos de Oliveira

18 Craniossinostoses Não Sindrômicas, 175 Ricardo Santos de Oliveira Hélio Rubens Machado Carlos Eduardo Barros Jucá

19 Craniossinostoses Sindrômicas, 185 Nivaldo Alonso Renato da Silva Freitas Hamilton Matushita

28 Ependimomas, 275 Graciela Zuccaro

29 Cavernomas, 283 Marcelo Campos Moraes Amato Ricardo Santos de Oliveira

30 Tumores Raquimedulares, 293

PartE vi – oncoloGia 20 Lesões do Crânio e do Couro Cabeludo, 203 Carlos Eduardo Barros Jucá Ricardo Santos de Oliveira Hélio Rubens Machado

Carlos Eduardo Barros Jucá Ricardo Santos de Oliveira André Nunes Machado Hélio Rubens Machado

31 Tumores Orbitários, 301 Antonio Augusto Velasco e Cruz

21 Tumores da Fossa Posterior, 217 Benicio Oton de Lima

22 Craniofaringiomas: Tratamento Multimodal e Individualizado, 225 Hélio Rubens Machado Ricardo Santos de Oliveira Carlos Eduardo Barros Jucá

23 Tumores do Tronco Encefálico, 239 Sérgio Cavalheiro Rafael Loduca

24 Tumores Gigantes do Lactente, 247 Aloysio da Costa Val Raquel Oliveira Carmo

32 Tratamento Cirúrgico dos Tumores da Base do Crânio em Neurocirurgia Pediátrica, 307 Charles Kondageski Ricardo Ramina Maurício Coelho Neto Erasmo Barros da Silva Jr.

33 Quimioterapia em Neuro-Oncologia Pediátrica, 317 Elvis Terci Valera

PartE vii – Funcional/coluna 34 Espasticidade, 327 Aloysio da Costa Val


Sumário

35 Cirurgia da Epilepsia, 333 Vera Cristina Terra Bustamante Hélio Rubens Machado Ricardo Santos de Oliveira

xxiii

40 Complicações Neurocirúrgicas das Infecções Bacterianas do Sistema Nervoso Central, 383 Marcelo Volpon Santos Ricardo Santos de Oliveira

36 Malformação de Chiari e Siringomielia, 339 José Francisco Manganelli Salomão Bruno Lima Pessoa

37 Neurorradiologia Intervencionista, 349 Daniel Giansante Abud Thiago Giansante Abud Marco Túlio Salles Rezende

PartE viii – acoMP anHaMEnto Pós-oPEratório 38 Cuidados no Pós-Operatório, 367 Ana Paula de Carvalho Panzeri Carlotti

39 Neurorreabilitação na Infância: Considerações Biomecânicas e Cinético-Funcionais, 373 Fabiana Luísa Mattar de Oliveira

41 Tratamento Neurocirúrgico das Deformidades Espinhais em Crianças, 393 Ricardo de Amoreira Gepp Eidmar Augusto Neri Regis Tavares da Silva Álvaro Massao Nomura

PartE iX – Futuro 42 Perspectivas Futuras: em Busca da Excelência, 411 Ricardo Santos de Oliveira Hélio Rubens Machado

Apêndices, 415 Índice Remissivo, 423



NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS


Parte I Introdução à Neurocirurgia Pediátrica



Capítulo

1

História da Neurocirurgia Pediátrica Hélio Rubens Machado

A NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA NO MUNDO De Cushing a Matson Os neurocirurgiões sempre se interessaram pelo tratamento de crianças com lesões do sistema nervoso. Sir William Macewen, um cirurgião escocês, publicou, em 1883, uma monografia sobre infecções intracranianas em crianças, detalhando seu quadro clínico e o tratamento. Entretanto, no início do século passado, o grande neurocirurgião norte-americano Harvey Cushing foi quem realmente se dedicou à patologia pediátrica, com vasta contribuição para o assunto. Seus trabalhos compreendem várias entidades nosológicas, desde a hemorragia noenatal até o tratamento de tumores cerebrais e medulares. Meticulosamente, Cushing relatava seus procedimentos e tem-se hoje registro da maioria de seus casos, muitos deles sob a forma de esquemas com anotações pessoais, de valor inestimável (Fig. 1-1). Um de seus alunos, Walter Dandy, interessou-se particularmente pela técnica cirúrgica pediátrica e suas contribuições foram inúmeras, como por exemplo a abordagem de tumores da região da pineal e a terceiroventriculostomia para tratamento da hidrocefalia.

Incentivado por Cushing, o neurocirurgião Frank Ingraham idealizou seu Serviço de Neurocirurgia, no Children’ s Medical Center, em Boston, em 1929, e a associação a Donald Matson realmente tornou os pioneiros da neurocirurgia pediátrica organizada e moderna. Em 1954, publicaram seu monumental livro Neurosurgery of Infancy and Childhood, obra que não pode faltar em qualquer centro disposto a se engajar no tratamento de crianças (Fig. 1-2).

O Início – As “Válvulas” para Hidrocefalia Após aquele período inicial e pioneiro e principalmente depois da II Grande Guerra, na década de 1950 pôde-se realmente apontar o grande ímpeto no desenvolvimento da neurocirurgia pediátrica, com a descoberta e o uso prático das derivações liquóricas (as “válvulas”), após a publicação de Nulsen e Spitz, em 1952, do trabalho Treatment of Hydrocephalus by Direct Shunt from Ventricle to Jugular Vein,1 o que fez com que a maior doença malformativa neurocirúrgica – a hidrocefalia – passasse a ser tratável com um método que dava resultados convincentes e duradouros.


PARTE I

Introdução à Neurocirurgia Pediátrica

Os Serviços de Neurocirurgia Pediátrica Estados Unidos Naquele período, já se identificavam no mundo vários locais onde a neurocirurgia pediátrica era considerada uma subespecialidade, com pessoas dedicadas trabalhando em ambientes organizados e distintos, como por exemplo: em Chicago (Prof. Amador), Baltimore (Prof. Crosby), Nova Iorque (Prof. Ransohoff), entre outros. Embora, nos Estados Unidos, vários locais tenham-se sobressaído, a enorme influência da escola de Tony Raimondi, em Chicago, movimentou as décadas de 1960–70 e produziu líderes mundiais em neurocirurgia pediátrica: o livro Pediatric Neuroradiology, publicado em 1972, tornou-se um dos ícones da época. Raimondi foi sucedido por David McLone, o qual, por sua vez, revolucionou o tratamento multidisciplinar e humanizado da hidrocefalia e do disrafismo espinhal.

Canadá

Figura 1-1. Ilustrações de Harvey Cushing sobre a técnica cirúrgica para exérese de neoplasia da fossa posterior.

No Canadá, a neurocirurgia iniciou-se em Toronto, em 1933, por William Keith, no Hospital for Sick Children (conhecido mundialmente por “sick kids”). Anos após, em 1953, Bruce Hendricks juntou-se a ele, inicialmente trabalhando em tempo parcial, mas, como acontece até hoje, logo o volume de crianças aumentou tanto que Hendricks abandonou o trabalho com os adultos para se dedicar em tempo integral às crianças. Hendricks havia sido treinado por Donald Matson e Frank Ingraham, em Boston, e estava perfeitamente familiarizado com a pediatria. Hendricks tinha especial carinho e dedicação para com as crianças, especialmente as portadoras de hidrocefalia e mielomeningocele. Tinha sua própria maneira de tratar as crianças e fundou o Centro de Reabilitação Hugh McMillan, onde mantinha seu ambulatório multidisciplinar. Em 1964, o serviço expandiu-se com a contratação de Harold J. Hoffman (Fig. 1-3), o qual trabalhou incansavelmente, contribuindo sobretudo nos casos de craniossinostose, epilepsia e cirurgia dos craniofaringiomas. Hoffman tornou-se um dos grandes divulgadores do novo campo da neurocirurgia pediátrica em todo o mundo. Em 1971, Robin Humphreys aliou-se a Hoffman e esses três grandes personagens da nossa história ficaram carinhosamente conhecidos como os “3 H” da neurocirurgia pediátrica (Hendricks, Hoffman e Humphreys). Posteriormente, James Drake e James Rutka uniram-se ao grupo, sendo que o serviço de Toronto continua como um dos locais líderes mundiais no campo.


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História da Neurocirurgia Pediátrica

Figura 1-2. Frank Ingraham e o livro Neurosurgery of Infancy and Childhood (1954).

Figura 1-3. Da esquerda para a direita: Harold Hoffman (em companhia de Benicio Oton de Lima e Sra. e Hélio Rubens Machado).

França Em Paris, na década de 1960, no Hôpital Foch, Jacques Rougerie ocupava-se da cirurgia pediátrica. Foi considerado o fundador da neurocirurgia pediátrica francesa. Grande amigo de Tony Raimondi, dos Estados Unidos, muito contribuiu nos campos da craniossinostose e dos craniofaringiomas. Rougerie, juntamente com Gérard Guiot e Patrick Derome, associaram-se a um genial cirurgião maxilofacial (Paul Tessier) e desde então foi criada uma nova

era no tratamento dos defeitos congênitos craniofaciais (craniossinostoses). O Hôpital Foch, de renome internacional, tornou-se o local obrigatório de peregrinação dos neurocirurgiões do mundo todo, pelas suas remarcáveis contribuições para a neurocirurgia. Oriundo desse grupo, o cirurgião craniofacial Daniel Marchac aliou-se ao neurocirurgião Dominique Renier (Figs. 1-4 e 1-5), no Hôpital Necker-Enfants Malades, e ambos têm a maior experiência mundial na cirurgia da craniossinostose, com mais de 3.000 crianças operadas. Cabe ressaltar que o Hôpital des Enfants Malades, fundado em 1802, foi o primeiro hospital europeu para o tratamento de crianças. O Serviço de Neurocirurgia Pediátrica desse hospital, dirigido inicialmente por Jean-François Hirsch, é há muitos anos um dos mais ativos do mundo na especialidade. Alain Pierre-Kahn (Fig. 1-6) o sucedeu, mantendo o mesmo elevado nível de conhecimento e tradição: sob sua responsabilidade, houve grande ímpeto no tratamento multidisciplinar do disrafismo espinhal oculto. Atualmente, um grupo prospectivo de crianças é acompanhado sem indicação cirúrgica por Michel Zerah, e a comunidade neurocirúrgica espera os resultados desse trabalho, que certamente mudarão o paradigma atual de tratamento. A medicina fetal e a neonatologia também sempre foram áreas de interesse de Pierre-Kahn.


PARTE I

Introdução à Neurocirurgia Pediátrica

Figura 1-4. Da esquerda para a direita: Charles Raybaud, Maurice Choux, Nelson Martelli, Christian Sainte-Rose, Dominique Renier, Hélio Rubens Machado e Michel Zerah, durante o IV Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica, em Ribeirão Preto, 2001.

Figura 1-5. Da esquerda para a direita: Hélio Rubens Machado, Dominique Renier e Ricardo Santos de Oliveira, durante o II Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica, em Brasília, 1997.

Christian Sainte-Rose, o inventor da válvula OrbisSigma 2 para tratamento da hidrocefalia, assumiu a chefia do serviço a partir de 2007 e desde então im-

primiu forte dinamismo na neurocirurgia pediátrica. Sua marcante atuação internacional foi responsável pela implantação dos três atuais cursos de treinamento de neurocirurgiões ao redor do mundo (Europa, Ásia e Oceania, América Latina). Em Marselha, Maurice Choux tornou-se, desde o início do seu serviço, um dos maiores líderes mundiais no ensino e na divulgação da neurocirurgia pediátrica. O evento World Conference on Pediatric Neurosurgery – State-of-the-Art and Perspectives for the Third Millenium, que aconteceu em Fort-de-France, Martinica, organizado por Maurice Choux, Christian Sainte-Rose e Concezio Di Rocco, em 1999 –, marcou uma liderança mundial e a divulgação de conhecimentos na neurocirurgia pediátrica. A Sociedade Europeia de Neurocirurgia Pediátrica (ESPN), em 2005 e 2006 dirigida por Christian Sainte-Rose, repetiu o mesmo congresso na Martinica, em 2006, com um enfoque diferente e intrigante, mas relacionado com o anterior. O tema foi: 2006 What Have We Achieved in the Past 5 Years? Foi feita uma reflexão sobre a evolução do conhecimento neurocirúrgico pediátrico no período, novamente coordenada pelos citados três líderes mundiais do setor, Sainte-Rose, Di Rocco e Choux (Fig. 1-7). A infatigável e imensa contribuição desses neurocirurgiões faz com que sejam hoje os mais renomados neurocirurgiões pediátricos no mundo: não existe um local do planeta, por mais longínquo, que não tenha sido visitado por um deles, especialmente Choux.


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História da Neurocirurgia Pediátrica

Figura 1-6. Da esquerda para a direita: Alain Pierre-Kahn, Benicio Oton de Lima, José Francisco Salomão, Hélio Rubens Machado, Ricardo Santos de Oliveira, Gabriel Lena, Sérgio Cavalheiro, Luiz Cláudio Rocha, Hamilton Matushita, Jeffrey Wysoff e Christian Sainte-Rose, durante o I Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica, em São Paulo, 1995.

Figura 1-7. Líderes mundiais da neurocirurgia pediátrica internacional: Concezio Di Rocco, Maurice Choux e Christian Sainte-Rose.

Inglaterra Wilder Penfield, em seu livro No Man Alone: a Neurosurgeon’ s Life,3 relata que a neurocirurgia inglesa iniciou-se em Londres, com Sir Victor Horsley, em 1886, no National Hospital Queen Square. Horsley, entretanto, faleceu em 1916, sem deixar uma verdadeira “escola” neurocirúrgica. O National Hospital, também conhecido como National Hospital for the Paralysed and Epileptic, foi fundado em 1860, tendo como diretor (physician-in-chief) o grande neurologista Charles-Edouard Brown-Séquard, que em 1862 convidou John Hughling’ s Jackson para ser seu assistente. A neurologia começava a se desenvolver rapidamente e, incentivado por Brown-Séquard, Jack-

son foi logo elevado à categoria de full physician, em 1867, e a consulting physician até sua aposentadoria, em 1906. Dentre as inúmeras contribuições de Jackson no campo da neurologia, destaca-se a progressão de uma crise convulsiva que se inicia na área motora, a “marcha ou epilepsia jacksoniana”, detectada inicialmente em sua própria esposa, acometida por um tumor cerebral. Os estudos de Jackson sobre a localização de lesões no cérebro, assim como os de David Ferrier, levaram à sugestão de um mapeamento cerebral funcional e influenciaram profundamente um dos pioneiros da neurocirurgia, William Macewen (professor de cirurgia em Glasgow). Macewen demonstrou, em 1876, que era possível, usando unicamente o exame clínico, determinar a localização de um tumor ou lesão cerebral, observando seus efeitos sobre as alterações motoras e sensitivas do paciente, fato decisivo na história da neurocirurgia, alterando profundamente sua evolução, pois os cirurgiões passaram a ser também competentes neurologistas, decidindo sua tática operatória de acordo com seu conhecimento clínico. O sucessor de Horsley no National Hospital foi Percy Sargent, mas, na época, a hegemonia americana já era evidente, com gigantes como Harvey Cushing e Walter Dandy, além de muitos outros. A moderna neurocirurgia inglesa derivou então do trabalho de Hugh Cairns, Geoffrey Jefferson, Norman Dott, após passarem períodos com Cushing, em Boston (o mesmo aconteceria com Clovis Vincent, de Paris). Embora tanto Horsley como Macewen tenham operado crianças, foi Kenneth Till4 quem introduziu a neurocirurgia pediátrica na Inglaterra. Till era discípulo de um grande neurocirurgião in-


PARTE I

Introdução à Neurocirurgia Pediátrica

glês, Wylie McKissock, que exercia a especialidade no Atkinson’ s Morley Hospital, em Winbledon, e o nomearia seu assistente. K. Till então assumiu seu novo posto no Hospital for Sick Children, ao lado do National Hospital. O próprio K. Till relatou que sua acentuada curva de aprendizado incluiria um ano trabalhando com Donald Matson, em Boston, e muitas viagens, além do frequente contato com um dos líderes da neurocirurgia pediátrica latino-americana, Raúl Carrea, de Buenos Aires. K. Till faleceu recentemente.5

SOCIEDADES DE NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA O primeiro grupo organizado de neurocirurgia pediátrica foi fundado em Viena, no primeiro congresso da ESPN – European Society for Paediatric Neurosurgery – em 1966 e, em seguida, a ISPN – International Society for Pediatric Neurosurgery – nasceu em 1972 (na prática, havia sido criada no ano anterior, em uma reunião no Hospital Foch, em Paris, em 1971). O primeiro congresso internacional organizado pela ISPN aconteceu em Tóquio, em 1973. A primeira revista especializada em neurocirurgia pediátrica, a Child’ s Brain, foi posteriormente rebatizada como Child’ s Nervous System. Dentre as 14 revistas especializadas em neurocirurgia atualmente publicadas no mundo, três dedicam-se à neurocirurgia pediátrica: Child’ s Nervous System, Pediatric Neurosurgery e o suplemento Pediatrics do Journal of Neurosurgery. A ASPN (American Society for Pediatric Neurosurgery) foi fundada nos Estados Unidos em 1972 e tem hoje suas próprias regras, treinamento específico, exames de qualificações próprios, sem, entretanto, desejar desvincular a formação do neurocirurgião de uma formação geral prioritária, previamente à subespecialização. Assim o faz também a Sociedade Francesa de Neurocirurgia Pediátrica. Atualmente, a ISPN tem cerca de 350 membros espalhados ao redor do mundo.

Ensino da Neurocirurgia Pediátrica Maurice Choux, Concezio Di Rocco e o neurocirurgião pediátrico europeu Karl Rovind criaram, em 1986, o European Post-Graduate Course in Pediatric Neurosurgery, sob os auspícios da World Federation on Neurosurgical Societies (WFNS) e da ESPN, anual e dividido em três partes (ciclos), compreen-

dendo toda a neurocirurgia pediátrica e ministrado por professores de reconhecida competência internacional. O número de alunos é limitado a 90, de forma que há contato e intercâmbio contínuos entre alunos e professores, que permanecem no local durante todo o evento. O curso acontece em diferentes locais da Europa e o idioma oficial é o inglês. Os alunos participam ativamente das sessões de discussões de casos apresentados por eles e pelos professores, assim como das sessões práticas (hands-on). Hovind foi logo sucedido por Christian Sainte-Rose, que passou a coordenar cientificamente o evento. A intenção de Sainte-Rose era internacionalizar o curso, ainda sob o controle da WFNS e da ESPN, com a mesma filosofia do curso europeu. Atualmente, os cursos ocorrem em fases diferentes na Europa, na América Latina e na Ásia. Em 2003, Ricardo Santos de Oliveira, recém-egresso do estágio de aperfeiçoamento no Hôpital Necker-Enfants Malades, trouxe a ideia do curso para o Brasil e organizou o primeiro ciclo do curso de especialização em neurocirurgia pediátrica, em Florianópolis/SC, em 2004, sob os auspícios da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica (SBN Ped) em conjunto com a WFNS e a ESPN (Fig. 1-8). O comitê científico do curso latino-americano ficou constituído por José Francisco Salomão (Rio de Janeiro – Brasil), Hélio Rubens Machado (Ribeirão Preto – Brasil) e Graciela Zuccaro (Buenos Aires – Argentina). O segundo curso ocorreu em abril de 2005, em Puerto Iguazu, Argentina, organizado por Graciela Zuccaro; e o terceiro curso, coordenado por José Francisco Salomão, finalizando o ciclo, ocorreu em Mangaratiba/RJ. Os três cursos tiveram a coordenação científica de Hélio Rubens Machado (Brasil), José Francisco Salomão (Brasil) e Graciela Zuccaro (Argentina), e a coordenação internacional de Christian Sainte-Rose, Maurice Choux e Concezio Di Rocco. O sucesso foi extraordinário, superando todas as expectativas. Ao final, os alunos que completaram o ciclo receberam um certificado oficial da WFNS e da ESPN. Tal sucesso pôde ser avaliado pela participação, em maio de 2008, em Montreux (Suíça), do Biennial Meeting of European Society for Pediatric Neurosurgery (Fig. 1-9), participação que se deu como invited society e, dentre 130 trabalhos selecionados para apresentação plenária, 34 foram de neurocirurgiões brasileiros, o que certamente teve grande repercussão naquela sociedade europeia, com grandes elogios à expressiva representação brasileira.


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História da Neurocirurgia Pediátrica

Figura 1-8. Primeiro Curso Latino-Americano de Neurocirurgia Pediátrica, realizado em Florianópolis, 2004.

Figura 1-9. Programa do XXI Biennial Meeting of European Society for Pediatric Neurosurgery, realizado em Montreux (2008) e organizado pelo Prof. Benedict Rillet, presidente da ESPN (2007–2008).

NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA BRASILEIRA Os Pioneiros A neurocirurgia pediátrica latino-americana foi criada por Raúl Carrea, um grande líder da medicina ar-

gentina. No Brasil, até a década de 1990, nunca houve um movimento específico em direção à criação de um grupo autóctone dedicado à neurocirurgia pediátrica, embora tenha havido grandes nomes que, desde cedo, se dedicaram à especialidade, como o


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PARTE I

Introdução à Neurocirurgia Pediátrica

Prof. Gilberto Machado de Almeida (HC–FMUSP), o qual sempre foi um grande incentivador do desenvolvimento da especialidade, inclusive por meio de vários de seus alunos, produzindo teses sob sua orientação (Jorge e Nubor Facure, José Píndaro Pereira Plese, Hamilton Matushita) ligadas a temas pediátricos. Píndaro Plese destacou-se, na Faculdade de Medicina da USP e no Hospital das Clínicas, por uma longa carreira acadêmica e grande contribuição à neurocirurgia pediátrica. Sempre foi um entusiasta da ideia de uma disciplina específica, comprometida com a neurocirurgia pediátrica, e dentre suas contribuições destaca-se a criação de cursos de pós-graduação na Universidade de São Paulo, com temas pediátricos (malformações congênitas, craniossinostoses, entre outros). Em várias outras cidades brasileiras surgiram neurocirurgiões identificados com a pediatria, embora não trabalhando em regime de dedicação exclusiva, como no Rio de Janeiro, com Luiz Cláudio da Rocha (provavelmente o criador da expressão medula ancorada, em português) e em Brasília, onde a figura precursora e mais proeminente da neurocirurgia pediátrica foi Márcio Horta. Deve-se também destacar o trabalho de José Geraldo Pianetti, em Belo Horizonte, com extensa contribuição para a neurocirurgia pediátrica. Leo Ditzel, em Curitiba, foi discípulo de um dos líderes da neurocirurgia latino-americana, com importante participação pediátrica, que foi o chileno Luciano Basauri. Sylvio de Vergueiro Forjaz (Fig. 1-10), originário da escola de Rolando Tenuto, da FMUSP, criou o Serviço de Neurocirurgia em Ribeirão Preto/SP, em 1955. Forjaz foi convidado pelo Prof. Ruy Ferreira Santos para integrar um grupo de personalidades médicas do Brasil e do exterior, lideradas por Zeferino Vaz, para criar uma escola de medicina fora das capitais, com um novo conceito em educação: a permanência do professor em tempo integral, dedicado ao ensino, à pesquisa e à assistência. Com isso, um grupo de pioneiros já de renome nacional e internacional fundou a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Forjaz havia acabado de chegar de longa permanência na Europa, onde visitou vários serviços e estagiou em centros locais. Em Paris, trabalhou com Gérard Guiot, grande mestre da neurocirurgia francesa que havia deixado Clovis Vincent na Salpetrière, para fundar um novo serviço no recém-inaugurado Hôpital Foch. Conheceu também os serviços de Jacques LeBeau, Marcel David e Petit-Dutaillis, em Paris; H. Olivecrona, em Estocolmo, e Hugo Krayen-

Figura 1-10. O Prof. Sylvio de Vergueiro Forjaz (à esquerda), fundador da Neurocirurgia na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, operando um paciente com neoplasia da fossa posterior com seu aluno, Hélio Rubens Machado, em foto de 1970. Pode-se notar ao fundo (seta) a pneumoventriculografia central, exame radiológico realizado na época, fruto de seu trabalho pioneiro com Nelson Martelli.

buhl, em Zurique. Forjaz era exímio neurocirurgião e ocupou todos os cargos importantes na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, desde chefe do Departamento de Cirurgia a diretor da instituição, e foi o introdutor da residência médica e da pós-graduação em nosso meio. O primeiro residente de seu serviço foi Nelson Martelli, logo incorporado à instituição, e ambos foram responsáveis pela formação de uma geração de neurocirurgiões. No início da década de 1960, com a dificuldade de importação das recém-descobertas válvulas para o tratamento da hidrocefalia, Forjaz e Martelli entraram definitivamente para a história da neurocirurgia, com uma contribuição técnica singular: o cateterismo do terceiro ventrículo e a ventriculostomia com implantação de um cateter deixado no local (derivação trans-hipotalâmica), técnica publicada em 1968.6 A facilidade e a habilidade com que esses neurocirurgiões, às cegas, cateterizavam o terceiro ventrículo através do forame de Monro (Fig. 1-11) levou Nelson Martelli, em 1970, a propor e defender a tese de Doutorado intitulada Contribuição para o Estudo da Pneumoventriculografia Central em Crianças (Fig. 1-12). Numa era anterior ao advento da tomografia computadorizada, as lesões tumorais (ou outras, como a neurocisticercose) eram facilmente diagnosticadas por essa técnica, que minimizava o volume de ar injetado nas cavidades ventriculares, reduzindo, assim, o risco de se injetar ar pela via lombar (como na pneumoencefalografia) ou pela ventricular (como na ventriculografia descrita por Dandy). Martelli tor-


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História da Neurocirurgia Pediátrica

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Figura 1-11. (A e B) Derivação trans-hipotalâmica com cateter, técnica pioneira descrita por Forjaz, Martelli e Latuf em 1968 e utilizada em dezenas de pacientes, com sucesso.

Figura 1-12. Tese de doutorado do Prof. Nelson Martelli, defendida em 1970, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

nou-se o primeiro neurocirurgião no interior de São Paulo a se dedicar à neurocirurgia pediátrica, sucedido posteriormente, na FMRP/USP, por Hélio Rubens Machado, atualmente o chefe da neurocirurgia pediátrica e Professor Titular de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Compõem também

a equipe da neurocirurgia pediátrica do HCFMRP/ USP Ricardo Santos de Oliveira e Eduardo Jucá. Ricardo Santos de Oliveira foi o primeiro R5 com dedicação exclusiva à neurocirurgia pediátrica do HCFMRP/USP e atualmente é o responsável pelo Setor de Cirurgia Craniofacial.


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PARTE I

Introdução à Neurocirurgia Pediátrica

DEPARTAMENTO DE NEUROCIRURGIA PEDIÁTRICA DA SBN Em 1994, na gestão de Leo Ditzel (1994-1996) na presidência da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), pela primeira vez um grupo determinado assumiu a direção e a organização do recém-criado Departamento de Neurocirurgia Pediátrica, e esse grupo de neurocirurgiões, que havia completado seu treinamento em várias partes do mundo, decidiu dinamizar o Departamento de Neurocirurgia Pediátrica. Aliás, sempre houve motivação para isso por parte de nossos colegas do exterior, especialmente da França. Ex-Presidentes da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica: Dr. Hamilton Matushita – Hospital das Clínicas, FMUSP, São Paulo/SP Dr. Benicio Oton de Lima – Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília/DF Dr. José Francisco Manganelli Salomão – Instituto Fernandes Figueira, IFF, Rio de Janeiro/RJ Dr. Hélio Rubens Machado – Hospital das Clínicas, FMRP/ USP, Ribeirão Preto/SP Dr. Sérgio Cavalheiro – Hospital São Paulo, UNIFESP, São Paulo/SP

Congressos Brasileiros O I Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica foi realizado em São Paulo, em 1995, sob a égide de Hamilton Matushita. O II Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica foi organizado em Brasília, em 1997, por Benicio Oton de Lima e, em 1999, José Francisco Salomão presidiu o III Congresso Brasileiro de Neurocirurgia Pediátrica. A partir deste e por orientação da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, presidida na época por Carlos Teles, o Departamento de Neurocirurgia Pediátrica tornar-se-ia Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica, após a aprovação de novos estatutos. Tal decisão tornou a Sociedade mais ágil, no sentido de cuidar de seus próprios caminhos, mas não significando separação da SBN, à qual permanecerá ligada e dependente, principalmente em termos corporativistas. O IV Congresso Brasileiro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia Pediátrica (SBN/Ped), organizado por Hélio Rubens Machado, em Ribeirão Preto, em março de 2001, discutiu os rumos da emergente

sociedade. Ao mesmo tempo, várias atividades foram discutidas e implementadas, sendo a principal tarefa desse grupo buscar individualidade e personalidade própria para cada serviço, dentro de sua respectiva instituição, o que trouxe uma série de benefícios e obrigações. A partir dessas reuniões, inúmeros centros já vêm demonstrando interesse específico na área em várias cidades do país, e há necessidade de se reordenar esse esforço de todos numa direção única. Após esse, já foram realizados o V Congresso da SBN/Ped (2003, Recife, organizado por Artur da Cunha), o VI Congresso da SBN/Ped (2005, Belo Horizonte, organizado por José Geraldo Pianetti) e o VII Congresso da SBN/Ped (2007, Curitiba, organizado por Silvio Machado). Atualmente, a SBN/Ped está madura e atuante. As principais metas atingidas e os projetos futuros podem ser resumidos como a seguir: 1. Inclusão internacional da neurocirurgia pediátrica brasileira. 2. Estabelecimento de programas e políticas de pre venção de malformações congênitas do sistema nervoso, ou seja, dos defeitos de fechamento do tubo neural. 3. Estabelecimento de programas e políticas de pre venção de acidentes pediátricos, incluindo a criança vitimizada. 4. Participação efetiva nos rumos da SBN, principalmente no que diz respeito ao treinamento em neurocirurgia pediátrica e à influência em sua programação científica. 5. Cooperação com os diferentes serviços de neurocirurgia brasileiros, no sentido de ajudar a criar setores especializados em neurocirurgia pediátrica, dada a especificidade da abordagem neurocirúrgica na criança. Conhecer os fatores ligados ao exercício profissional da neurocirurgia pediátrica nos diferentes estados brasileiros. 6. Estabelecimento de meios de comunicação ágeis (através da página eletrônica da SBN) para divulgação científica, intercâmbio, troca de experiências, entre outros.

MOTIVAÇÃO PARA DEDICAÇÃO EXCLUSIVA A neurocirurgia pediátrica no Brasil teve enorme avanço nos últimos anos. Embora inicialmente os procedimentos cirúrgicos tenham sido realizados por neurocirurgiões sem treinamento específico, nos


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países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, a situação começou a se alterar aproximadamente há 30 anos. No Brasil, nos últimos 15 anos, uma série de procedimentos tem sido realizada quase exclusivamente por neurocirurgiões pediátricos, como, por exemplo, as grandes correções de deformidades craniofaciais. O primeiro congresso internacional específico sobre neurocirurgia pediátrica ocorreu em 1973, data que marca a criação da Sociedade Internacional de Neurocirurgia Pediátrica por um grupo de neurocirurgiões, que na época já se dedicava em tempo integral à neurocirurgia pediátrica. Desde então, ela não cessa de crescer, se desenvolver e tomar caminhos próprios e independentes da neurocirurgia geral, uma vez que, reconhecidamente, o pequeno paciente tem problemas específicos e particulares, jamais podendo ser considerado um “adulto pequeno”, como outrora. Nos Estados Unidos, inicialmente, mas em outros países, logo em seguida, um esforço contínuo e permanente tem sido feito no sentido da individualização, da caracterização e do desenvolvimento da neurocirurgia pediátrica, com sociedades próprias, programas específicos de treinamento complementando o treinamento geral do residente, hospitais especializados, exames de qualificação próprios, entre outros.

CONCLUSÃO A neurocirurgia pediátrica brasileira, embora jovem, é dinâmica e atuante. Conhecer sua história

História da Neurocirurgia Pediátrica

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é importante para valorizar o caminho percorrido e traçar metas ambiciosas. Grande parte do nosso país ainda não tem cobertura neurocirúrgica pediátrica especializada. Cabe a cada um facilitar o acesso ao conhecimento por parte de todos os neurocirurgiões, não importando se sua atividade será exclusivamente ligada à criança ou não. Entretanto, para organizar de forma lógica e eficiente o sistema de saúde, alguns tipos de procedimentos devem ficar reservados a poucos centros, o que inclui, por exemplo, cirurgia craniofacial complexa, cirurgia da epilepsia, determinados tipos de cirurgia oncológica e outras, que necessitem de alta tecnologia e especialização.

REFERÊNCIAS 1. Nulsen FE, Spitz EB (1952) Treatment of hydrocephalus by direct shunt from ventricule to jugular vein. Surg Forum 2:339-41. 2. Sainte-Rose C, Hooven MD, Hirsch JF (1987) A new approach in the treatment of hydrocephalus. J Neurosurg 66(2):213-26. 3. Wilder Penfield (1977) No man alone: a neurosurgeon ’s life. Little, Brown & Co, Boston. 4. Till K (1997) One pediatric neurosurgeon ’s story. Childs Nerv Syst 13:471. 5. Hockley AD, Hayward R (2008) Kenneth Till (1920–2008). Childs Nerv Syst 24:1381. 6. Forjaz S, Martelli N, Latuf N (1968) Hypothalamic ventriculostomy with catheter. Technical note. J Neurosurg 29(6):655–9.



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