A RT I G O I N É D I TO
Tratamento ortodôntico com aparelho autoligável Resumo / Várias inovações tecnológicas são introduzidas com frequência no mercado ortodôntico. Entre elas, podemos destacar os aparelhos autoligáveis, que prometem encurtar o tempo de tratamento, pois têm como característica a baixa fricção, que facilita o início do movimento dentário, pela diminuição da resistência inicial à movimentação. Essa característica de autoligação, comum a todos os braquetes dessa geração, desperta bastante interesse entre os ortodontistas, pois esses acreditam que os tratamentos ortodônticos tornam-se mais fáceis e rápidos. Durante a movimentação dentária, o atrito pode ser estático ou dinâmico, e está intimamente relacionado com o material do braquete, com o contato do arco com o braquete e, principalmente, com o sistema de amarração. Devido à possibilidade de ter controle sobre essas variáveis que influenciam na movimentação ortodôntica, a escolha do sistema de braquetes deverá estar relacionada com os objetivos do tratamento, ou seja, em casos que demandam grandes movimentações por meio do deslizamento, onde o controle de torque não é relevante, braquetes autoligáveis terão melhor desempenho do que os convencionais. / Palavras-chave / Aparelho autoligável. Atrito. Tempo de tratamento.
Reginaldo Zanelato Mestre em Odontologia, UMESP.
Como citar este artigo: Zanelato R. Tratamento ortodôntico com aparelho autoligável. Rev Clín Ortod Dental Press. 2015 fev-
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Enviado em: 28/07/2014 - Revisado e aceito: 05/08/2014 O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo Endereço de correspondência: Reginaldo Zanelato
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faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
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Tratamento ortodôntico com aparelho autoligável
O ATRITO DURANTE A MOVIMENTAÇÃO ORTODÔNTICA Com a evolução das mecânicas de tratamento e a popularização dos aparelhos autoligáveis, faz-se necessário entender os fatores que facilitam ou dificultam o movimento dentário, em razão da baixa fricção ser uma das principais vantagens atribuídas aos braquetes autoligáveis, em comparação aos convencionais. O atrito, ou fricção, pode ser definido como a resistência, encontrada durante o movimento dentário, quando o fio ortodôntico e o braquete entram em contato, podendo ser estático ou dinâmico. O atrito estático é a resistência inicial à movimentação, ou seja, a força aplicada para iniciar o movimento dentário deverá suplantar a inércia (estado de equilíbrio). A musculatura, a intercuspidação, o material do braquete, o contato do fio com o braquete e, principalmente, o sistema de amarração, interferem no início da movimentação. Peterson, Spencer e Andersen10 encontraram resistência friccional de 100g em um braquete Edgewise slot 0,022" com um arco retangular de 0,019” x 0,025" instalado. Como a força necessária para mover o dente estaria em torno de 100g, seria necessário empregar 200g de força para iniciar o movimento dentário. Os braquetes metálicos fabricados em aço inoxidável possuem excelentes propriedades mecânicas, e a escolha das ligaduras metálicas ou elásticas deve ser um ponto de consideração no tratamento. Ligaduras elásticas aumentam o atrito estático, dificultando o início da movimentação. Quanto maior o atrito, maior deverá ser a força aplicada para superá-lo, aumentando, consequentemente, os efeitos colaterais. Com a possibilidade de se aplicar uma magnitude de força adequada, aumenta-se a possibilidade de respostas adequadas nos tecidos periodontais, causando movimentações mais eficientes e rápidas, repercutindo nos efeitos colaterais e no tempo de tratamento7. O atrito dinâmico ocorre, durante o deslizamento dentário, quando o fio ortodôntico se desloca dentro das canaletas dos braquetes e tubos. As variáveis que interferem nesse tipo de atrito estão relacionadas com o material dos braquetes e dos fios ortodônticos, e, também, com o sistema de amarração. Assim, a escolha do braquete e do sistema de amarração é imprescindível nos casos que demandam extensos movimentos dentários, como nos
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fechamentos de espaços das extrações de pré-molares. Nessas situações, os aparelhos autoligáveis têm melhor desempenho do que os aparelhos convencionais. De acordo com Cotrim-Ferreira7, os profissionais despreparados, que utilizam sistemas mecânicos que geram demasiado atrito em um aparelho fixo, frequentemente elevam o nível de força visando solucionar a lentidão dos deslocamentos dentários. Tal atitude ocasiona sobrecarga das unidades de ancoragem, além de poder gerar hialinização e danos teciduais nas regiões envolvidas na movimentação. AS VANTAGENS DO APARELHO AUTOLIGÁVEL Quando se começa a utilizar um “novo conceito de aparelho ortodôntico”, que garante algumas facilidades — tais como a redução do tempo de tratamento, menor tempo de cadeira ao paciente, mais facilidade para mover os dentes, maior expansão das arcadas e menos casos de extração dentária —, a expectativa em torno do tratamento se eleva, mas muitas vezes os resultados clínicos imediatos são frustrantes. Tais fatos ocorrem em razão da falta de experiência e do desconhecimento de alguns fatores sobre o conceito de autoligação. Em virtude de ser uma proposta nova de tratamento, introduzida recentemente no mercado, necessita-se de treinamento apropriado para ser utilizada corretamente. Paulatinamente, os resultados obtidos com o uso de tais aparelhos estarão de acordo com nossa expectativa, justificando o investimento. O objetivo do presente trabalho é mostrar algumas vantagens atribuídas ao aparelho autoligável, em comparação ao aparelho convencional. DIMINUIÇÃO DO ATRITO A diminuição da resistência friccional é a principal característica do aparelho autoligável, assim, observa-se maior facilidade do movimento dentário, principalmente nas fases iniciais do tratamento. O atrito está diretamente relacionado ao sistema de amarração e à espessura do fio ortodôntico. Dessa forma, nas fases iniciais do tratamento, nota-se diferença no movimento dentário com o aparelho autoligável e o convencional, em razão de se utilizar arco de baixo calibre e alta resiliência, e, também, devido à ausência de ligaduras convencionais (metálicas ou elásticas). Tal fato permite que o fio permaneça livre dentro das canaletas dos braquetes.
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Cada vez mais, os braquetes autoligáveis têm despertado o interesse dos ortodontistas, uma vez que, nesse sistema, a atividade friccional é consideravelmente reduzida e a liberação de forças mais leves é possibilitada, facilitando o movimento dentário, reduzindo o tempo de tratamento e otimizando o conforto ao paciente11.
tais situações acarretam em considerável perda de inclinação anterior, em razão da deficiência no controle de torque. Assim, cabe aos ortodontistas entenderem esse conceito e aplicá-lo corretamente, diminuindo a força durante as ativações do aparelho e aumentando os intervalos entre as consultas de controle.
Os principais fatores envolvidos na determinação do nível de fricção são o material de composição dos braquetes e dos fios, as condições de superfície dos fios e das canaletas dos braquetes, o calibre do fio, o torque na interface fio-braquete, a distância interbraquetes, o tipo e a força da amarração, a saliva e a influência das funções bucais. Adicionalmente, quanto mais mal posicionado estiver o dente, maior será a deflexão do fio; portanto, o contato desse com o braquete faz aumentar o atrito estático e a força necessária à movimentação. Quanto maior a área de contato com o material utilizado para amarrar o arco, maior poderá ser o atrito. Nos casos de amarrilhos metálicos, sabe-se que o atrito estático é significativamente menor, quando comparado às ligaduras elásticas; e, se as ligaduras elásticas forem utilizadas em forma de “8”, o atrito será ainda maior (de 70 a 220% maior)9.
Com a possibilidade de se usar braquetes autoligáveis e fios de alta flexibilidade — que reduzem o nível de força aplicada —, minimizam-se os danos teciduais no ligamento periodontal. Aplicando-se um nível de força adequado, ocorrerá diminuição de áreas hialinas e de lesões na camada cementoblástica, que poderiam induzir reabsorções radiculares.
Em algumas situações clínicas, dificulta-se o deslocamento dentário com a utilização de ligaduras elásticas sobre o arco onde os dentes estão sendo movimentados. A Figura 1 mostra os caninos sendo distalizados com lacebacks e os braquetes amarrados com ligaduras elásticas, dificultando o movimento dentário, pelo aumento do atrito estático. Nessa situação, é necessário aumentar a força aplicada sobre os caninos; esse excesso de força repercute nos efeitos colaterais e no tempo de tratamento. INTENSIDADE DA FORÇA DE MOVIMENTAÇÃO Como a característica principal do aparelho autoligável é a diminuição da fricção durante o movimento dentário, a força aplicada necessária para iniciar a movimentação é menor, repercutindo positivamente nos efeitos colaterais, danos teciduais e no tempo de tratamento. Normalmente, o excesso de força traduz-se em perda de ancoragem molar e de inclinação dos incisivos, efeitos, esses, indesejáveis durante a fase inicial do tratamento. Os braquetes autoligáveis passivos não aceitam excesso de força e sobreativações, pois
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REDUÇÃO DO TEMPO DE TRATAMENTO E MAIOR INTERVALO ENTRE AS CONSULTAS Quando comparado com o aparelho convencional ligado, o uso de braquetes autoligáveis pode diminuir o tempo de tratamento de quatro a seis meses, também reduzindo o tempo de cadeira para as trocas de arcos4. Por meio de uma revisão sistematizada da literatura, Chen et al.5 afirmaram que a diminuição do tempo de cadeira e a menor inclinação vestibular dos incisivos inferiores, ao redor de 1,5°, são as principais diferenças entre os aparelhos autoligáveis e os sistemas convencionais. Não foram encontradas diferenças entre os dois sistemas quanto ao tempo de tratamento e características oclusais pós-tratamento. Quanto à estabilidade pós-tratamento, estudos adicionais são necessários.
Figura 1: Ligadura elástica sobre os lacebacks, dificultando a retração dos caninos nos casos de extração de pré-molar.
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Essa diminuição no tempo total de tratamento será mais bem expressa nas fases iniciais, principalmente durante o alinhamento e nivelamento, fase em que o atrito estático estará reduzido, facilitando o movimento dentário. Já na fase de arcos retangulares, o atrito é significativamente aumentado, em razão do aumento da espessura do fio ortodôntico. A incapacidade de alguns ortodontistas em verificar o melhor desempenho do fio de níquel-titânio ativo sobre os demais ocorre porque o fio não é mantido por tempo suficiente. Recomenda-se que os de liga termoativada sejam mantidos na boca por 10 a 12 semanas, pois a liberação da força após a deformação é suave e gradual. Esses intervalos mais prolongados entre as ativações são intrigantes porque a manutenção desses fios instalados por mais tempo permite a verticalização dos dentes e a expansão lenta das arcadas dentárias sem provocar efeitos colaterais, como a fenestração óssea e o aumento exagerado da inclinação vestibular dos incisivos, fatos que causam instabilidade2. Assim, quando se usa braquetes autoligáveis e fios de alta flexibilidade (Fig. 2, 3), há uma inserção total do fio dentro da canaleta. Dessa forma, recomenda-se que o fio permaneça por mais tempo, o que evita as trocas mensais de fios realizadas durante o tratamento com aparelho convencional. A manutenção desses fios por mais tempo permite que os dentes se movimentem para áreas de menor resistência, causando expansões lentas das arcadas dentárias sem forçar o nivelamento.
DESVANTAGENS DO APARELHO AUTOLIGÁVEL O objetivo do presente trabalho é descrever algumas desvantagens atribuídas ao sistema de aparelhos autoligáveis, pois tais informações serão importantes para fundamentar a escolha do sistema de braquetes de acordo com os objetivos do tratamento. As opiniões são relativamente convergentes no que tange às desvantagens do sistema autoligável: alto custo, perfil mais alto dos braquetes, maior possibilidade de desconforto nos lábios e possibilidade de interferências oclusais, falhas no controle rotacional e dificuldade na finalização dos casos, devido à expressão incompleta dos arcos retangulares. CONTROLE DE TORQUE O controle de torque é um dos pontos críticos de um tratamento ortodôntico (Fig. 4 a 9), devido à falta de expressão total de alguns sistemas de braquetes durante as mecânicas de tratamento. Para que haja a expressão de torque nos braquetes pré-ajustados, recomenda-se preencher totalmente a canaleta com um arco ideal (calibre total) ou pressionar o arco contra o fundo da canaleta dos braquetes, pois nesses sistemas de braquetes o torque está contido na base dos braquetes. Thiesen et al.12 escreveram sobre a importância do controle de torque durante algumas fases do tratamento, como, por exemplo, na fase de fechamento de espaços das extrações, bem como em casos tratados de maneira compensatória que visam mascarar discrepâncias esqueléticas das bases ósseas.
Figura 2, 3: Utilização de braquetes autoligáveis passivos e fio de alta flexibilidade com inserção total do arco na canaleta, notando-se, algum tempo depois, bom alinhamento da arcada dentária superior.
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De acordo com Bennett3, algumas características importantes devem ser observadas durante a seleção dos braquetes para um tratamento ortodôntico. O controle de torque ainda é um grande problema para os braquetes de aletas duplas, considerando-se a obtenção da sua expressão total. Sendo assim, alguns fatores devem ser observados, como a precisão na manufatura dos braquetes (as aletas devem ser paralelas); espessura da base do braquetes, ou seja, quanto mais próxima da superfície dentária, mais o torque se expressará; a eficiência do mecanismo de fechamento da canaleta e a dimensão do braquete, pois os braquetes pequenos têm mais dificuldade em expressar torque. Fica evidente que a escolha do sistema de braquetes está diretamente relacionada aos objetivos do tratamento; assim, em casos que demandam melhor controle de torque, deve-se optar por braquetes convencionais ou autoligáveis que permitam ligaduras convencionais — por expressarem melhor a prescrição de torque, dando, com isso, maior segurança à execução das mecânicas de tratamento.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A FORMA E A EXPANSÃO DA ARCADA DENTÁRIA Entre todas as vantagens atribuídas ao sistema de braquetes autoligáveis, a mais controversa é, seguramente, a expansão progressiva das arcadas dentárias, realizada com a intensão de ganhar espaços para diminuir a quantidade de casos de extração dos pré-molares. A manutenção da forma original da arcada dentária durante o tratamento ortodôntico é considerada um dos principais critérios de estabilidade pós-tratamento. A forma original da arcada dentária deve ser um guia para o tratamento ortodôntico. Assim, alterações drásticas em sua forma poderão estar associadas a recidivas severas pós-tratamento. Na tentativa de desenvolver conceitos e parâmetros para a obtenção da forma do arco ideal, Andrews e Andrews1 definiram o conceito da borda Wala, uma linha imaginária, imediatamente acima da junção mucogengival (Fig. 10). Segundo os autores, essa é uma referência estável aos efeitos ambientais e, ainda, passível
Figura 4, 5, 6: Em casos de uso prolongado de elástico de Classe II, recomenda-se utilizar ligaduras elásticas nos dentes anteroinferiores, para a expressão do torque lingual resistente contido nos braquetes.
Figura 7, 8, 9: Caso finalizado, tratado com aparelho autoligável passivo SmartClip13, prescrição MBT, e elástico intermaxilar de Classe II.
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de mensuração, permitindo a aferição do contorno ideal das arcadas dentárias, individualmente, para cada paciente. Existe uma correlação direta entre os pontos centrais das coroas clínicas e a borda Wala. Os caninos inferiores, em vista oclusal, deverão estar sobrepostos à borda; e os primeiros molares inferiores, distantes em 2mm. Quando os valores estiverem próximos dessas médias, não é boa ideia planejar a expansão da arcada dentária inferior, pois haverá uma grande possibilidade de mover as raízes através das corticais alveolares. Segundo Consolaro et al.6, a movimentação ortodôntica de dentes em contato e/ou através das corticais tende a intensificar as forças no ligamento periodontal, pois falta elasticidade a essas estruturas. Induzir a movimentação ortodôntica sobre a borda Wala não só aumenta as chances de recidiva na prática ortodôntica, mas também pode aumentar o risco de reabsorções dentárias maiores e clinicamente mais significativas.
Figura 10: Modelo de estudo inferior: em vermelho, a borda Wala, que serve como referência para o contorno ideal da arcada dentária; em verde, a linha do centro das coroas clínicas. Nesse modelo em questão, permite-se o planejamento de expansão para ganhar espaço, pois os centros das coroas clínicas estão distantes da referência.
Se houver expansão sem controle das arcadas dentárias, com a utilização de aparelhos autoligáveis e fios ortodônticos suaves, contenções permanentes podem prevenir recidivas. Entretanto, o uso prolongado dessas contenções, mantendo a sobre-expansão da distância intercaninos em uma região instável, com pouco suporte ósseo, poderá levar a um colapso periodontal severo e de difícil tratamento4. Durante a execução de um diagnóstico para definir o plano de tratamento, pode-se encontrar casos com extração e casos de expansão. Assim, cabe ao ortodontista estar preparado para tomar a decisão correta, mediante as várias linhas de diagnósticos e os diversos protocolos de tratamentos exaustivamente estudados ao longo do tempo. CONSIDERAÇÃO SOBRE A MECÂNICA DE TRATAMENTO COM APARELHO AUTOLIGÁVEL A mecânica de tratamento com o sistema de aparelho autoligável está embasada em três pilares fundamentais, sendo: fios de alta tecnologia, desarticulação dentária inicial e uso precoce de elásticos intermaxilares (Fig. 11). Os fios de ligas termoativadas devem ser utilizados nas fases iniciais do tratamento com o sistema de braquetes autoligáveis. Tal fato dá-se em razão desses fios serem
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Figura 11: Conceitos básicos da mecânica com braquetes autoligáveis.
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bastante flexíveis e possuírem alta resiliência, permitindo a inserção total do fio dentro das canaletas dos braquetes. Outro ponto que deve ser observado é o aumento dos intervalos entre as trocas de arco, em razão do desempenho dessas ligas, que liberam forças de maneira suave e gradual. Outro conceito é a desarticulação inicial da oclusão, sendo uma manobra que permite que os dentes fiquem livres das forças oclusais, possibilitando uma movimentação dentária mais rápida e eficiente. Existem várias maneiras de se desarticular os dentes, podendo-se atuar tanto no setor anterior quanto no posterior. No paciente braquifacial, recomenda-se atuar no setor anterior, com placas acrílicas removíveis ou stops palatinos, para permitir a extrusão dos dentes posteriores. Já no padrão dolicofacial, recomenda-se a desarticulação no setor posterior, com blocos de acrílicos oclusais, para inibir a extrusão posterior e melhorar o controle vertical dos molares durante o tratamento (Fig. 12, 13).
O uso de elásticos nas fases iniciais e intermediárias do tratamento também é recomendado no sistema de braquetes autoligáveis. Como se faz necessário iniciar antes o uso dos arcos retangulares superelásticos, para se obter maior eficiência do controle rotacional e de torque, elásticos leves (2oz) intermaxilares estarão bem indicados nessas fases do tratamento. Já na fase de arco de trabalho (retangular 0,019” x 0,025”), os elásticos médios devem ser recomendados (4oz) (Fig. 14). O ponto frágil da mecânica de tratamento com o sistema autoligável é que, em alguns casos, torna-se um sistema “elástico-dependente”. Se tivermos em mãos um paciente colaborador, que usa os elásticos de maneira correta, a mecânica funcionará bem. Em contrapartida, quando o paciente não cumpre sua parte durante o tratamento, o sistema não funcionará bem; assim, mecânicas convencionais de tratamento deverão ser aplicadas, inviabilizando a escolha por braquetes autoligáveis.
Figura 12, 13: Métodos de desarticulação dentária: stops palatinos e resina oclusal.
Figura 14: Elástico intermaxilar médio (4oz), usado na fase de arco retangular de 0,019” x 0,025".
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DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo feminino (Fig. 15 a 43), com 11 anos e 6 meses de idade ao início do tratamento ortodôntico. Apresentava padrão mesofacial de crescimento, com suave Classe III esquelética. O apinhamento anteroinferior estava em torno de 5mm, e a ausência de sobremordida profunda inviabilizava o tratamento sem extrações dentárias. Foi utilizado, para o tratamento ortodôntico, o sistema autoligável passivo SmartClip, com a prescrição de braquetes MBT.
Figura 15, 16: Fotografias faciais iniciais.
Figura 17, 18, 19: Fotografias intrabucais iniciais.
Figura 20, 21, 22: Modelos de estudos iniciais em vistas frontal e laterais.
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Figura 23, 24: Modelos de estudo iniciais, em vistas oclusais.
SNA ........... 82° SNB ........... 80° ANB ........... 02°
85 85 0.0
Padrão do Esqueleto Cefálico
Ocl.SN ....... 14° GoGn.SN ... 32° GnSN ......... 67° Mx.SN ......... 7°
15 25 61 3
Arcos Dentais x Bases Apicais
1.NA .......... 22° 1-NA ....... 4mm 1.NB ......... 25° 1-NB ...... 4mm P-NB ..............
30 5 25 4 1
A-NFH .... 0mm P-NFH ... -4mm
1 3
FH.Md ....... 26° Mx.Md ....... 28° FH.Mx ....... 02°
20 24 3
Análise Comparativa
al
erm
Fin
Perfil esquelético e relação das bases
Int
Inic
ial
ed
iár
ia
Figura 25: Radiografia panorâmica inicial.
Figura 26, 27: Telerradiografia e valores cefalométricos iniciais.
1. P1 Mx ... 110° 118 1-AP ......... 5mm 6 1-P1 Mand .. 95° 93 1-AP ......... 2mm 3
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R. Inter-bases
Wits...............
-6
Análise Facial
Esp. Lábio ..... Ân. Lab .......... NA-Nar ...........
10 87 23
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Figura 28, 29, 30: Aparelho autoligável SmartClip, na fase inicial do tratamento ortodôntico.
Figura 31, 32, 33: Fase de fechamento de espaços com arco de trabalho de 0,019” x 0,025", de aço inoxidável.
Figura 34, 35, 36: Fotografias intrabucais finais.
Figura 37, 38: Fotografias intrabucais finais em vistas oclusais.
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Figura 39: Telerradiografia final.
Figura 40: Radiografia panorâmica final.
Figura 41, 42, 43: Fotografias faciais finais.
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DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo feminino (Fig. 44 a 73), com 17 anos e 6 meses de idade ao início do tratamento ortodôntico. Apresentava padrão mesofacial de crescimento, com uma moderada Classe II esquelética. A relação interarcadas inicial era de Classe II, medindo 5mm do lado direito e 3m do lado esquerdo. Apresentava, também, sobremordida profunda e agenesia de um incisivo inferior. Para solucionar o caso, foi recomendado aparelho autoligável SmartClip, prescrição MBT, combinado com placa de acrílico anterior, para levantar a mordida, e elástico intermaxilar de Classe II.
Figura 44, 45: Fotografias faciais iniciais.
Figura 46, 47, 48: Fotografias intrabucais iniciais.
Figura 49, 50, 51: Modelos iniciais, em vistas frontal e laterais.
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Figura 52, 53: Modelos de estudo em vistas oclusais.
SNA ........... 82° SNB ........... 80° ANB ........... 02°
81,9 79,2 2,7
Padrão do Esqueleto Cefálico
Ocl.SN ....... 14° GoGn.SN ... 32° GnSN ......... 67° Mx.SN ......... 7°
7,2 28,5 65,4 4,7
Arcos Dentais x Bases Apicais
1.NA .......... 22° 1-NA ....... 4mm 1.NB ......... 25° 1-NB ...... 4mm P-NB ..............
23,0 6,4 23,5 3,8 3,0
A-NFH .... 0mm P-NFH ... -4mm
-0,4 -2,8
FH.Md ....... 26° Mx.Md ....... 28° FH.Mx ....... 02°
23,3 25,9 -2,5
Análise Comparativa
al
erm
Fin
Perfil esquelético e relação das bases
Int
Inic
ial
ed
iár
ia
Figura 54: Radiografia panorâmica inicial.
Figura 55, 56: Telerradiografia e medidas cefalométricas iniciais.
1. Pl Mx ... 110° 109,7 1-AP ......... 5mm 5,5 1-Pl Mand .. 95° 93,7 1-AP ......... 2mm 0,5
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R. Inter-bases
Wits ..............
4,5
Análise Facial
Esp. Lábio ..... Ân. Lab .......... NA-Nar ...........
9,2 116,1 27,9
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Figura 57, 58, 59: Fase inicial do tratamento ortodôntico, utilizando o aparelho autoligável passivo SmartClip e placa acrílica anterior.
Figura 60, 61, 62: Fase de arcos de trabalho retangulares de 0,019” x 0,025".
Figura 63, 64, 65: Fotografias intrabucais finais.
Figura 66, 67: Fotografias intrabucais finais, em vistas oclusais.
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Figura 68: Telerradiografia final.
Figura 69: Radiografia panorâmica final.
Figura 70, 71: Fotografias faciais finais.
Figura 72, 73: Fotografias do sorriso.
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Tratamento ortodôntico com aparelho autoligável
CONSIDERAÇÕES FINAIS Os atuais avanços tecnológicos introduzidos na Ortodontia têm como objetivo facilitar a prática diária, oferecendo soluções de tratamentos mais simples e mais objetivas. Seguramente, os conceitos que regem a Ortodontia como ciência não mudaram. Conceitos, esses, que já foram exaustivamente estudados ao longo dos anos. Ao meu ver, realizar um bom diagnóstico é essencial para o sucesso de um tratamento, e a seleção dos braquetes estará na dependência do objetivos de cada tratamento. Assim, em casos clínicos em que se necessite de um melhor controle de torque, os aparelhos ligados convencionais superarão os sistemas autoligáveis. ABSTRACT Orthodontic treatment with self-ligating appliance Several technological innovations are frequently introduced into the orthodontic market, among which we
Referências: 1. Andrews LA, Andrews WA. The six elements of oral facial harmony. The Andrews J. 2000;1(1):33-9. 2. Bagden A. The Damon system: questions and answers. Clin Impress. 2005;9(1) 4-13. 3. Bennett JC. Fundamentals of orthodontic bracket selection. Dubai: LeGrande Orthodontic; 2010. 4. Berger J. Self ligation in the year 2000. J Clin Orthod. 2000;34(2):74-81. 5. Chen SS, Greenlee GM, Kim JE, Smith CL, Huang GJ. Systematic review of self-ligating brackets. Am J Orthod Dentofacial Orthop. 2010;137:726.e1-18.
can point out self-ligating appliances. The use of such appliances emphasize reduction in treatment time, as they have low friction as a feature, which makes the initiation of tooth movement easier by reducing the initial resistance to movement. Self-ligating appliances have raised great interest among clinicians, as they believe that orthodontic treatment becomes easier and faster. During tooth movement, friction can be static or dynamic, being closely related to the bracket material, contact between the archwire and the bracket and, mainly, the ligating system. Due to the possibility of having control over these variables, which influence orthodontic movement, the choice of bracket system should be related to treatment goals. In other words, in cases that demand a great amount of dental movement by means of sliding mechanics, in which torque control is not relevant, self-ligating brackets will present a better performance when compared to conventional brackets. / Keyword / Self-ligating appliance. Friction. Treatment time.
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