1
Edição Especial
Editorial
ANOS
T
Os artigos desta edição discorrem sobre os mais variados aspectos do desenvolvimento agropecuário, e se estendem a partir da Seção Agrossíntese, onde a pujança da agricultura é traduzida pela quebra de mais um recorde na produção de grãos, a maior safra já colhida no Estado.
emos muito que comemorar. De agosto de 1895 até os dias de hoje são 116 anos contribuindo para o crescimento e desenvolvimento agropecuário do Estado. São notáveis os avanços aos quais se somam as promissoras iniciativas que buscam alicerçar a primeira de todas as atividades econômicas sob o novo paradigma de crescimento sustentável.
A seção Comunicação registra possibilidades de utilização e aproveitamento de importantes produtos agrícolas do Estado, discorre sobre um modelo de desenvolvimento integrado e sustentável capaz de tornar próspera e dinâmica uma área rural estagnada, com grande patrimônio ambiental, fixando os jovens talentos no campo, entre outros artigos de suma relevância.
Se examinarmos o período recente, é notório e ao mesmo tempo gratificante verificarmos que a agropecuária baiana mudou. Hoje, atende os anseios da sociedade no combate a fome e a miséria com incentivos à produção de alimentos. São repetidos os recordes de produção e produtividade, que se elevam continuamente com investimentos crescentes. Ações inéditas que certamente contribuirão para impulsionar, ainda mais, este importante setor da economia baiana tais como: a agricultura familiar passou a ter prioridade nas políticas de desenvolvimento da agropecuária baiana; inovando com a criação das Câmaras Setoriais, importante fórum de interlocução entre o Estado e os diversos representantes das cadeias produtivas do setor agropecuário; e, ainda, a elaboração do Planejamento Estratégico da Agropecuária para os próximos 20 anos.
Na seção Socioeconomia são tratados importantes temas. Eleita como prioridade de governo, essa seção é aberta por um artigo que aborda as conquistas e desafios do Cooperativismo de Crédito e suas contribuições para agricultura familiar. Na sequencia, estratégias para inserção no mercado dos produtos do semiárido, uma análise das questões da citricultura do Estado da Bahia e outras grandes contribuições para a agropecuária baiana. Em Pesquisa Agrícola, dois artigos trazem excelentes registros. Por fim, a Revista Bahia Agrícola apresenta aos seus leitores uma nova proposta gráfica, com um selo comemorativo dos seus 15 anos, e aproveita para agradecer aos seus colaboradores pelo conjunto dinâmico e interessante de artigos que caracteriza esta edição.
Nesta edição em que a revista Bahia Agrícola comemora 15 anos, além de brindar o leitor com artigos técnicos de grande relevância, marca o retorno desta importante publicação, que tem contribuído para uma discussão mais consistente sobre o cenário agrícola do Estado, sinalizando seus problemas, apresentando alternativas de investimentos e os avanços tecnológicos.
Boa leitura! Feliz 2012! 3
AGROSSÍNTESE
A Bahia bate recorde na safra de grãos em 2011
6
Governador Jaques Wagner Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária Eduardo Seixas de Salles Chefe de Gabinete Jairo Alfredo Oliveira Carneiro Diretora Geral Jucimara Rodrigues dos Santos Superintendente de Desenvolvimento Agropecuário Raimundo Sampaio de Carvalho Superintendente de Irrigação Marcello Nunes Superintendente de Política do Agronegócio Jairo Pinto Vaz Superintendente de Agricultura Familiar Wilson José Vasconcelos Dias
BAHIA AGRÍCOLA é uma publicação quadrimestral da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária – SEAGRI - com o objetivo de divulgar estudos de interesse da agricultura baiana, produzidos pelo seu corpo técnico e colaboradores externos. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores.
14
Situação atual do sisal na Bahia e suas novas possibilidades de utilização e aproveitamento
COMUNICAÇÃO
Conselho Editorial
José Mário Carvalhal de Oliveira (Presidente) – ADAB Aldo Vilar Trindade – Embrapa Mandioca e Fruticultura Antônio Vicente da Silva Dias – EBDA Augusto Sávio Mesquita – MAPA/SFA Carlos Armando Barreto de Santana – SEAGRI Jucimara Rodrigues dos Santos – SEAGRI Maria Auxiliadora Lobo Alvim – SEAGRI/SUAF Mário Luiz Albuquerque Tavares – CEPLAC Paulo Emílio Landulfo Medrado de Vinhaes Torres – ADAB
BAHIA AGRÍCOLA – Editoria/Revisão: Rosangela Barbosa Machado; Colaboração: Diogo Cardoso de Oliveira e Fernanda Sousa Conceição; Colaboração editorial: Assessoria de Imprensa SEAGRI; Capa, projeto gráfico e diagramação: Editora Dendê Capa – Fotos: Sílvio Ávila e Heckel Júnior; Fotografias: Acervo SEAGRI, Heckel Júnior e Sílvio Ávila (imagens gentilmente cedidas pela Editora Gazeta Santa Cruz – RS); Supervisão gráfica: Rosangela Barbosa Machado; Distribuição: Biblioteca SEAGRI. Apoio para esta edição: Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia – ACCOBA. ISSN 1414-2368 A reprodução total ou parcial dos artigos é permitida desde que citada a fonte. Tiragem: 5.000 exemplares Esta publicação também está disponível na Internet, no endereço http://www.seagri.ba.gov.br/bahiagricola.asp Endereço: 4ª Avenida, 405 – Térreo Centro Administrativo da Bahia CEP 41745-002 – Salvador – Bahia – Brasil Tel.: (71) 3115-2783 e-mail: agronews@seagri.ba.gov.br
COMUNICAÇÃO
Certificação de Indicação Geográfica Uma estratégia de inserção no mercado para produtos do Semiárido
42
Programa de desenvolvimento integrado sustentável do mosaico de APAs do Baixo Sul da Bahia
SOCIOECONOMIA
24
ABC das ações de defesa fitossanitária para o HLB em São Paulo: lições para a Citricultura do Nordeste
84
SOCIOECONOMIA
SOCIOECONOMIA
64
Análise dos custos do programa de controle das moscas-das-frutas na cultura da manga no polo frutícola do Vale do Rio Brumado, BA
Avaliação da cultura da rúcula em cultivo hidropônico
106
COMUNICAÇÃO
SOCIOECONOMIA
PESQUISA AGRÍCOLA INFORMAÇÕES E SERVIÇOS
PESQUISA AGRÍCOLA
Situação atual e perspectivas de aproveitamento do coco e da casca
20
Sementes sadias: um meio de reduzir perdas agrícolas
28
Agroecologia:manejo de pragas e doenças de plantas
32
Cooperativismo de crédito – Conquistas e desafios de uma história escrita por muitas mãos: ferramentas que mudam a realidade na agricultura familiar
34
Comportamento dos preços, existência de ágio ou deságio, margens, instituições e canais na comercialização de cacau no ano de 2009
50
Um olhar sobre a citricultura do Estado da Bahia
72
Certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose animal na Bahia
94
UMBU-CAJAZEIRA: boas perspectivas para o semiárido baiano
100
EBDA - 20 anos trabalhando para o desenvolvimento da agricultura familiar
110
Divulgação SEAGRI
115
Cartas 117
Foto: Silvio Ávila/Editora Gazeta
AGROSSÍNTESE
A Bahia bate recorde na safra de grãos em 2011 E
m 2011, a Bahia colheu 7,73 milhões de toneladas de grãos, a maior safra registrada em todos os tempos. Em comparação com o ano passado, houve um crescimento de 13,17% na produção, enquanto a área colhida foi de 2,78 milhões de hectares, mantendo-se inalterada. O crescimento da produção é explicado pela evolução da produtividade, que cresceu 13,10%, passando de 2.463 kg/ha para 2.786 kg/ha (Tabela1).
SOJA A soja baiana, em 2011, apresentou a sua maior safra, com um volume colhido de 3,51 milhões de toneladas ante aos 3,11 milhões de toneladas do ano anterior, ou seja, uma elevação de 12,91%. A área plantada elevou-se em 2,83%, saindo de 1,02 milhões de hectares em 2010 para 1,07 milhões de toneladas em 2011. A produtividade superou todas as médias históricas com 9,80% de crescimento, chegando a 3.360 kg/ha contra 3.060 kg/ha no ano passado (Tabela 2). As boas condições climáticas no Oeste da Bahia e o empreendedorismo dos produtores, que estão sempre adotando o que há de
Edilson de Oliveira Santos1
1– Mestre em Economia, Gestor Governamental da SEAGRI; e-mail: edilsonsantos@seagri.ba.gov.br
TABELA 1
SAFRA DE GRÃOS E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
B
B/A%
Área (ha)
2.773.514
2.775.201
0,06
Produção (t)
6.830.873
7.730.515
13,17
2.463
2.786
13,10
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010 B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
6
mais avançado em tecnologia, além das modernas práticas de gestão, foram decisivos para a Bahia alcançar elevadas produtividades no segmento. A SEAGRI, por meio da ADAB e em parceria com os produtores e instituições de pesquisas, vem desenvolvendo ações importantes do sentido de manter a fitossanidade da cultura. Isso tem sido de suma importância, na medida em que previne e contém as principais doenças na lavoura no Estado. A Bahia tornou-se referência nacional no combate à ferrugem asiática, doença que causa enormes prejuízos aos sojicultores.
Neste ano, a cotação da soja, tanto no mercado interno como no externo, está situada num patamar superior ao do ano passado. De janeiro a outubro de 2011, a saca de 60 kg foi cotada, em média, em Barreiras, a R$ 42,37, enquanto que no mesmo período do ano passado a média foi de R$ 35,19. TABELA 2
Em Chicago, a cotação do buschell para os dois períodos foi de US$ 13,32 e US$ 10,06, respectivamente (Gráficos 1 e 2). Como houve redução na safra dos Estados Unidos e a demanda chinesa continua em alta, a tendência é que os preços sigam firmes pelos próximos meses.
SAFRA DE SOJA, VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
B
B/A%
Área (ha)
1.017.250
1.046.070
2,83
Produção (t)
3.112.929
3.514.713
12,91
3.060
3.360
9,80
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010 B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
7
Foto: Acervo SEAGRI
MILHO A colheita de milho na Bahia em 2011 foi 2,09 milhões de toneladas, 5,81% menor que os 2,22 milhões de toneladas na safra de 2010. A área de milho no Estado caiu de 724,10 mil hectares para 626,40 mil hectares, ou seja, uma redução de 13,49%. A produtividade elevou-se em 8,9%, 3.343 kg/ha contra 3.070 kg/ha no ano passado (Tabela 3). O Oeste responde por 75% da produção do Estado. O rendimento
TABELA 3
SAFRA DE MILHO E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
Área (ha) Produção (t)
B
B/A%
724.102
626.400
-13,49
2.223.302
2.094.228
-5,81
3.070
3.343
8,89
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010 B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
médio da região supera os 6.000 kg/ha, uma das mais elevadas do Brasil, sendo que no município de São Desidério, a produtividade é de 8.000 kg/ha. 8
O Nordeste da Bahia, que é referência na produção de feijão há alguns anos, vem se destacando também na produção de milho. A produtividade em alguns municípios como
A Secretaria da Agricultura, com apoio da Fundação Bahia, da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (ABAPA) e do Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão (FUNDEAGRO), está contratando a Fundação Getúlio Vargas para realizar um estudo econômico no Oeste no sentido de sinalizar a estratégia para a verticalização das cadeias produtivas de grãos, dentre elas a cadeia do milho. Três grandes empreendimentos integrantes da cadeia do milho já estão implantando unidades fabris, o que vai agregar valor a este produto na região de origem.
Foto: Heckel Júnior/SEAGRI
Paripiranga já alcança os níveis do Oeste da Bahia. Experimentos da EMBRAPA em outros municípios dessa região indicam que a mesma deve se configurar como área de excelência na produção de milho. Todavia, neste ano, a região sofreu estiagem, prejudicando sensivelmente a colheita, com reflexo na produção total do Estado.
A demanda interna do milho tem se mantido aquecida desde o segundo semestre de 2010. Além disso, as cotações internacionais do produto estão em patamares elevados. A junção desses fato-
9
res tem pressionado a cotação do produto no mercado doméstico, proporcionando alta rentabilidade aos produtores. Atualmente, a saca de 60 kg está cotada a R$ 25,00 em Barreiras (Gráfico 3).
Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta
ALGODÃO Mantendo-se em segundo lugar na cotonicultura nacional, a Bahia colheu, em 2011, 1,58 milhões de toneladas de algodão, a maior safra de todos os tempos. Comparando com a safra do ano passado, a colheita deste ano é 58,59% maior, enquanto que a área elevou-se em 53,58%, passando de 270,17 mil hectares para 415,72 mil hectares. Já a produtividade obteve um ganho de 3,07%, passando 3.684 kg/ha para 3.797 kg/ha, a maior obtida pelo Estado (Tabela 4). A região Oeste é a grande responsável pela pujança da cotonicultura baiana, respondendo por 95% da produção do Estado, tendo o município de São Desidério como principal produtor, produzindo mais de 50% do total da Bahia, e mais que o dobro da produção de Goiás, o terceiro maior estado produtor.
cionalmente como no mercado interno, a níveis jamais vistos no ano passado e neste ano. Em março, a cotação da arroba da pluma em Barreiras foi R$ 128,00, sendo que TABELA 4
SAFRA DE ALGODÃO E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
B
B/A%
Área (ha)
270.173
415.716
53,87
Produção (t)
995.346
1.578.522
58,59
3.684
3.797
3,07
Rendimento (kg/ha)
A baixa nos estoques mundiais, aliada ao aquecimento da demanda, elevou o preço, tanto interna-
arrefeceu no segundo semestre, mas continua num nível elevado. Atualmente, a arroba da pluma em Barreiras está cotada a R$ 70,00 (Gráfico 4).
A – REFERENTE AO ANO 2010 B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
10
Com uma retração de 21,54% em relação à safra de 2010, a Bahia está colhendo 241,21 mil toneladas de feijão. A área colhida passou de 552,11 mil hectares no ano passado para 423,56 mil hectares no ano corrente, uma redução de 23,28%. O rendimento médio por hectare, no entanto, cresceu 2,28%, quando passou de 557 kg para 569 kg (Tabela 5). O Nordeste da Bahia é a principal região produtora de feijão do Estado, com destaque para o polo de Adustina/Paripiranga. Como houve estiagem naquela região, tanto a produção local como a estadual foram bastante prejudiTABELA 5
Foto: Roberto Viana
FEIJÃO
cadas. A frustração de safra na região foi de 85% da previsão inicial no momento do plantio. Com isso, a safra do Nordeste foi de 18,45 mil toneladas contra 124,24 mil toneladas no ano anterior. A segunda região mais importante para este produto é o Oeste, que neste ano produziu 82,61 mil
SAFRA DE FEIJÃO E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
B
B/A%
Área (ha)
552.113
423.561
-23,28
Produção (t)
307.417
241.210
-21,54
557
569
2,28
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010 B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
11
toneladas, 34,31% da produção baiana. Da produção total do Cerrado, 63,46% provêm dos plantios irrigados. A região de Irecê, que já foi uma das mais importantes produtoras do país, praticamente desapareceu do cenário da lavoura no Estado. Em 2011, a produção da região não passou das 16,75 mil toneladas, ou seja, menos de 7% da produção estadual. A queda na safra manteve a cotação feijão no Estado elevada em 2011. Em Ribeira do Pombal, a saca de 60 kg foi cotada, em média, a R$ 105,00 no mês de outubro (Gráfico 5).
Foto: Silvio Ávila/Editora Gazeta
MAMONA
mento médio por hectare manteve-se praticamente estável, 698 kg contra 692 kg no ano anterior (Tabela 6).
A safra de mamona na Bahia em 2011 foi de 95,82 mil toneladas, 29,38% maior que a safra de 2010, que foi de 74,06 mil toneladas. A área colhida de 137,29 mil hectares foi 28,25% maior que os 107,05 mil hectares colhidos em 2010. O rendi-
TABELA 6
A região de Irecê é a mais importante produtora de mamona na Bahia, respondendo por mais de 75% da produção estadual. Neste ano, a região teve um bom desempenho, colhendo 71 mil toneladas da lavoura.
SAFRA DE MAMONA E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011
Área (ha) Produção (t)
A
B
B/A%
107.051
137.291
28,25
74.055
95.815
29,38
692
698
0,89
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010 B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
TABELA 7
SAFRA DE ARROZ E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
B
B/A%
Área (ha)
18.371
17.902
-2,55
Produção (t)
33.370
34.926
4,66
1.816
1.951
7,40
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010
B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
12
ARROZ A produção de arroz na Bahia em 2011 foi 34,93 mil toneladas, enquanto no ano passado o Estado colheu 33,37 mil toneladas, portanto, um acréscimo de 4,66%. A área colhida retraiu 2,55%, quando saiu de 18,37 mil hectares no ano anterior para 17,90 mil hectares no ano corrente. A produtividade obteve um incremento de 7,40%, 1.816 kg/ha e 1.951 kg/ha, respectivamente, no ano passado e neste ano (Tabela 7). Neste ano, a cotação do arroz tem se situado num nível abaixo dos praticados no ano passado, porém começou reagir no segundo semestre do ano corrente. O Governo Federal adotou uma política de incentivo às exportações, que enxugou o mercado, pressionando o preço no mercado interno. Em outubro, a saca de 60 kg estava cotada a R$ 24,00 em Luís Eduardo Magalhães (Gráfico 6).
SORGO A produção baiana de sorgo mais que dobrou neste ano, cuja colheita foi de 171,10 mil toneladas contra 84,45 mil toneladas no ano passado, sendo que a área colhida aumentou 28,19%, fechando em 108,26 mil hectares. A produtividade obteve um ganho expressivo, saindo de 1.000 kg/ha para 1.580 kg, ou seja, uma elevação de 58% (Tabela 8) Até o ano passado, o sorgo era produzido em sua maior parte na região de Irecê, que detinha 65% da produção da Bahia. Neste
ano, porém, outras regiões produziram o grão em grande quantidade, como aconteceu com o Oeste e a Serra Geral, fato que contribuiu para elevação da produção estadual. A despeito de ter ocorrido incremento nas safras estadual e nacioTABELA 8
nal, o preço do sorgo está elevado, em comparação com o ano passado. Tal fato se explica pela elevação da demanda e a alta do preço do milho, que têm sustentando a cotação do sorgo. Em Irecê, tem sido observado esse comportamento, sendo a saca de 60 kg vendida em outubro a R$ 24,00 (Gráfico 7).
SAFRA DE SORGO E VARIAÇÃO PERCENTUAL BAHIA, 2010-2011 A
B
B/A%
Área (ha)
84.454
108.261
28,19
Produção (t)
84.454
171.101
102,60
1.000
1.580
58,04
Rendimento (kg/ha) A – REFERENTE AO ANO 2010
B – REFERENTE AO ANO 2011 Fonte: IBGE / SEAGRI
13
COMUNICAÇÃO
Foto: SINDIFIBRAS
Situação atual do sisal na Bahia e suas novas possibilidades de utilização e aproveitamento
Robson Andrade1 Jackson Ornelas2 Weliton Brandão3
O
sisal (Agave sisalana pierre) foi introduzido na Bahia, mais especificamente, no município de Santaluz, localizado na região sisaleira, por volta de 1910. Porém, só passou a ser explorado comercial1— Engenheiro Agrônomo, Pós-Graduando em Gestão da Inovação Tecnológica, Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS; e-mail: robsonandrad@yahoo.com.br 2— Economista, Professor da Universidade Federal da Bahia – UFBA; e-mail: jornelas@gmail.com 3— Engenheiro Agrônomo, Analista da Embrapa Semiárido e Coordenador do Núcleo da Agricultura Familiar do Território do Sisal; e-mail: weliton. brandao@cpatsa.embrapa.br
mente a partir do final da década de 30. Sua adaptação às condições edafoclimáticas da região semiárida do Nordeste, onde as opções de cultivo são limitadas, confere ao sisal uma grande importância sócio-econômica, gerando emprego e renda em uma das regiões possuidoras do IDH (0,589) mais baixo do Estado da Bahia. Estima-se que, atualmente aproximadamente, 400 mil agricultores familiares cultivam o sisal em suas propriedades. Ademais, postos de trabalhos diretos são gerados nas etapas de beneficiamento e industrialização do sisal, sendo estes gerados, em sua maioria, nos centros urbanos. 14
No Estado da Bahia, no ano de 2010, a produção da fibra de sisal atingiu aproximadamente 140 mil toneladas, cultivados em 68 municípios, alguns desses com maior expressão em termos de produção, como por exemplo: Conceição do Coité, Campo formoso, Valente, dentre outros. No entanto, a produtividade média por hectare concentra-se em 1200 kg/ha. Ressalte-se que esta produtividade ainda é baixa, quando comparada aos índices de produtividade encontrados na Tanzânia e Kenya, superiores a 2800 kg/ha. A Bahia é responsável por 90% da produção de fibra de sisal do
Brasil, seguida pelos Estados da Paraíba e Pernambuco. Na Bahia, a produção de sisal concentra-se na região denominada “região sisaleira”. A maior parte da fibra de sisal é destinada para o mercado externo, seja na forma de fibra bruta, seja na forma manufaturada.
A CULTURA O sisal é uma planta originada do México, fazendo parte da família Agavaceae. Possui sistema radicular fibroso, no entanto, pode-se encontrar raízes desenvolvidas horizontalmente com comprimento de 1,5 a 3m. Segundo a literatura, a temperatura diurna ideal para o bom desenvolvimento da cultura gira em torno de 20° a 28°C, porém noites com temperatura amenas, típicas da região sisaleira da Bahia, favorecem a absorção de água pela planta, através do orvalho que cai durante este turno. A planta se adéqua bem às regiões da Bahia onde a pluviosidade não ultrapassa 400 mm/ ano. No que concerne ao solo, o sisal é cultivado em diferentes tipos de solo encontrados no semiárido baiano, na sua maioria de baixa fertilidade. O plantio é feito utilizando os rebentões que nascem na base da planta mãe ou por meio dos bulbilhos, emitidos pela planta quando atinge o final do ciclo de vida. Após
o plantio, o sisal leva aproximadamente três anos para ser colhido pela primeira vez, com folhas variando entre 90 a 120 cm de comprimento. Após a primeira colheita, o sisal é colhido anualmente.
COLHEITA, BENEFICIAMENTO E PROCESSAMENTO A colheita é realizada manualmente, por trabalhadores utilizando uma faca. Em seguida as folhas de sisal são transportadas no lombo de um animal até o local onde se encontra o motor desfibrador ou “motor paraibano”, como é conhecido. No desfibramento remove-se a parte verde da folha, restando a fibra em estado úmido. Já desfibradas, as fibras em estado úmido são levadas e estendidas em varais, permanecendo sob a luz solar por um período de 72 horas, para que ocorra o processo de secagem uniforme. Após a secagem, a fibra deve apresentar umidade entre 10 e 13 %, sendo um dos parâmetros avaliados no momento da compra do sisal para beneficiamento. Na seqüência, as fibras são enfardadas e transportadas pelos agricultores até a unidade de beneficiamento. Nesse momento, são classificadas em função do tamanho e qualidade e, em seguida, são submetidas ao beneficiamento, 15
utilizando a máquina conhecida como “batedeira”, onde são removidas as impurezas aderidas às fibras, deixando-as com aspecto brilhoso. Após essa etapa, as fibras são organizadas em fardos de aproximadamente 250 kg, identificados segundo normas do Ministério de Agricultura e Abastecimento (MAPA) e comercializados para as indústrias da Bahia, para outros Estados ou para o mercado internacional. Uma pequena quantidade de fibra é destinada às cooperativas ou associações de artesanato de sisal. Segundo estudos, existem aproximadamente 60 unidades de beneficiamento (“batedeiras”) nos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe, ambos situados na região sisaleira da Bahia. Na indústria, a fibra de sisal é transformada em variedades de fios, cordas, tapetes, capachos, mantas de sisal, etc. Atualmente existem 14 indústrias de sisal localizadas na
PRINCIPAIS PRODUTOS Fios e cordas: no que tange à produção de fios, destaca-se, em termos de produção, o fio agrícola (baler twine), responsável por 60% do destino da fibra de sisal produzida na Bahia. O baler como é largamente conhecido é comercializado no mercado interno, nos principais estados do Sul, em especial, o Paraná e Rio Grande do Sul, no Sudeste, destacando-se São Paulo, em alguns estados do Centro-Oeste,
mantas para sela de montaria. O principal mercado consumidor está nos estados do Sudeste e Centro-Oeste.
onde destaca-se o Estado do Góias e Nordeste, sendo o Estado de Pernambuco um polo de distribuição para os demais estados do Nordeste. No mercado externo, é comercializado para a Ásia, Europa e, principalmente, para a América Central.
Artesanato: são produzidos bolsas, tapetes manuais de macramê e tricô, descansadores para panelas, porta jóias, porta material didádico, etc. Após melhorias no design e qualidade do acabamento, o artesanato de sisal baiano vem abrindo novos mercados, sendo encontrado nas principais lojas de decoração de Salvador, assim como, em outras capitais do país.
Tapetes e Capachos: ambos são encontrados em diversas tramas e acabamentos especiais. Como exemplo destaca-se os tapetes com bordas em couro ou tecidos especiais. O principal mercado é o internacional, atendendo alguns países da Europa, como França, Espanha e Alemanha. No entanto, o mercado interno vem apresentando crescimento significativo, principalmente nas grandes capitais do Brasil.
NOVAS POSSIBILIDADES PARA A FIBRA DO SISAL E SEUS SUBPRODUTOS
Mantas de sisal: são utilizadas na produção de estofados e
No desfibramento, apenas 4% da folha do sisal é aproveitada na forma de fibra, 16 % são resíduos sólidos e 80 % são resíduos líquidos. Nos últimos anos, através de pesquisas, vem surgindo algumas alternativas de aplicabilidade tanto para a fibra quanto para seus resíduos. Como por exemplo:
Foto: SINDIFIBRAS
Bahia, sendo 12 dessas no Território do Sisal, constituindo um aspecto positivo, vez que proporciona a interiorização das indústrias.
16
Compósitos plásticos: com a necessidade de se produzir produtos cada vez mais limpos, objetivando reduzir a utilização de produtos a partir das reservas
naturais, a exemplo do petróleo, a fibra de sisal, surge como opção para ser utilizada na produção de compósitos. Em 2008, a Ford, empresa do setor automotivo, apresentou, no salão do Automóvel em São Paulo, um veículo com alguns componentes plásticos (painéis e revestimentos internos, dentre outros) contendo fibra de sisal, polipropileno virgem e polipropileno reciclado. Estima-se que em cada veículo produzido seja utilizado 9 kg de fibra de sisal. Vale a pena salientar que essa nova aplicabilidade em forma de compósitos plásticos pode se estender aos setores de eletrodomésticos e de informática, dentre outros. Líquido do sisal ou suco do sisal: responsável por 80% do peso da folha do sisal é deixado nos campos sem nenhum tipo de utilização. Porém, alguns estudos preliminares constataram a eficácia da utilização do resíduo líquido, como bioinseticida e bio-herbicida, em culturas a exemplo, milho e algodão. A eficácia, eficiência e viabilidade da utilização do resíduo líquido do sisal são objetos de estudos utilizando recursos disponibilizados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO, em parceria com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia e o Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais no Estado da Bahia – SINDIFIBRAS. Briquetes: no sistema de produção de sisal, alguns tratos culturais são essenciais para a manutenção da produção ou,
até mesmo, para o aumento da produtividade. Dentre eles, podemos destacar a retirada do excesso de perfilos que crescem na base da planta “mãe”, assim como a retirada da socas – como é conhecida a planta que completou seu ciclo de vida, ambos possuidores de altos teores de fibra. Análises realizadas pelo Instituto Tecnológico do Paraná sobre o poder calorífico desses materiais, após transformados em briquetes, demonstraram potencialidade para a utilização como fonte de energia, podendo ser empregados nos fornos das panificadoras da região sisaleira, dentre outros, evitando a devastação da vegetação nativa do semiárido baiano. Contudo, se faz necessário ampliar as pesquisas sobre sua utilização, assim como estudos de viabilidade técnica econômica. Utilização do resíduo de sisal na alimentação de ruminantes: a utilização do resíduo na forma de feno, silagem ou amonizado, como ração para produção de leite ou carne, e, principalmente, para o sustento dos animais no período de estiagem é uma prática ainda pouco utilizada por agricultores da região sisaleira da Bahia. Normalmente, esse resíduo é deixado amontoado nos campos de sisal. Para a utilização na alimentação de ruminantes é necessária a extração dos restos de fibra de sisal presentes na mucilagem, oriundos da má regulagem da máquina desfibradora. Para isso, utiliza-se um equipamento chamado “gaiola giratória”. 17
Nos últimos anos, pesquisas estão sendo realizadas objetivando potencializar a utilização desse subproduto, adicionando aditivos nutricionais (ureia, soja, milho, etc.) associados à forma de armazenamento e utilização, a fim de elevar os valores nutricionais desse alimento. Dentre as instituições envolvidas com essas pesquisas, pode-se destacar a EMBRAPA Semiárido, EMBRAPA Algodão e Universidade Federal do Recôncavo Baiano – UFRB.
EVOLUÇÃO DO ARRANJO: CERTIFICAÇÃO DA FIBRA E REGULAMENTAÇÃO DE NÃO CONFORMIDADE No início do segundo semestre de 2009, iniciou-se o processo para adequação às normas para a certificação da fibra de sisal na Batedeira Comunitária da Associação de Desenvolvimento Sustentável Solidário da Região Sisaleira – APAEB. Durante esse período foram realizadas adequações conforme determina a portaria 196 do MAPA, onde prioriza a qualidade da fibra, classificação, rastreabilidade, maior segurança para os trabalhadores envolvidos, menor impacto ambiental, etc. Após essa etapa, o empreendimento recebeu a auditoria do IBAMETRO e INMETRO, obtendo com sucesso as
Certificações de ISO 9001:2008 e RAC – Regulamento de Avaliação de Conformidade no mês de outubro de 2010. A certificação da fibra de sisal é importante para elevar o nível de competitividade do empreendimento, principalmente no mercado internacional.
ALGUMAS DIFICULDADES DO ARRANJO PRODUTIVO zz Problemas fitossanitários
A planta, uma vez atacada, apresenta coloração amarelada e, em seguida, ocorre a morte. Na parte interna da planta, quando se realiza um corte transversal na base, observa-se um filamento de cor vermelha. Segundo dados de pesquisas realizadas pela UFRB e Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, a podridão vermelha é encontrada em todos os municípios produtores de sisal do Estado da Bahia, com maior incidência nos municípios de Araci e Conceição do Coité, ambos localizados no Território do Sisal.
Foto: SINDIFIBRAS
Causada pelo fungo Aspergilo ninger, a podridão vermelha vem trazendo sérios prejuízos pra o arranjo produtivo. Um dos principias
métodos de disseminação da doença é o plantio de mudas já contaminadas pelo fungo, bem como a utilização, no momento da colheita, do mesmo utensílio utilizado na colheita tanto para a planta sadia quanto para a contaminada, sem nenhuma medida de desinfecção.
18
Como medida de controle para plantios já existentes, deve-se retirar a planta contaminada, queimando-a em seguida. Já para novos plantios, recomenda-se o plantio utilizando rebentões oriundos de campos livres de infestação da doença ou a utilização de mudas produzidas a partir do bulbilho. Ambas as recomendações são preconizadas por pesquisadores da doença. zz Qualidade da fibra A baixa qualidade da fibra é um dos grandes desafios a ser superado no sistema de produção de sisal na Bahia. É comum as fibras chegarem às unidades de beneficiamento apresentando umidade superior a 13% fruto de um sistema de secagem precário, com coloração escurecida, apresentando fibras curtas misturadas com fibras longas, com danos causados por animais, dentre
outros problemas que acarretam uma depreciação no valor pago aos agricultores, podendo chegar a R$ 0,50, quando a fibra é classificada como refugo, aproximadamente a metade do valor pago pela fibra tipo 1 (R$ 1,04). zz Parque industrial O parque tecnológico, que compreende as máquinas de desfibramento da folha de sisal no campo, conhecida popularmente como motor paraibano, a máquina de beneficiamento da fibra de sisal (“batedeiras”) e as máquinas e equipamentos das indústrias, são apontados como uma das fragilidades da cadeia produtiva do sisal, em estudo realizado para a elaboração do plano de melhoria da competitividade – PMC do Arranjo Produtivo Local do Sisal.
Algumas dessas máquinas ainda são as mesmas utilizadas no início do processo de mecanização do sisal, ocorrido por volta da década de 40, como, por exemplo, o “motor paraibano”, causador de inúmeras mutilações dos “sevadores”, como são conhecidos os desfibradores. Estima-se que a região sisaleira possui aproximadamente 3000 mil motores paraibanos. Outro exemplo, são as máquinas conhecidas como “batedeiras”. Já na indústria, as máquinas e equipamentos existentes foram adaptadas a partir das máquinas destinadas ao beneficiamento do algodão. Tais adaptações foram realizadas, ao longo dos anos, por profissionais liberais. Só após a década de 70, passou-se a encontrar no mercado, máquinas e equipamentos específicos para o beneficiamento da fibra de sisal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar das dificuldades atuais do arranjo produtivo do sisal da Bahia as expectativas são grandes no que tange aos aspectos inovadores para o arranjo. Desses, podemos destacar as novas aplicabilidades da fibra de sisal e aproveitamento dos resíduos oriundos da cultura, tendo em vista que proporcionará a abertura de novos canais de comercialização e consequentemente a melhoria das condições sócio econômicas da população que depende da cultura do sisal, direta ou indiretamente. Porém, será necessário um maior envolvimento, dedicação e compromisso dos setores (sociedade civil, poder público e privado) em buscar de forma participativa um objetivo único para desenvolvimento e estruturação do arranjo produtivo do sisal.
Referências BAHIA. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. Plano de Melhoria da Competitividade do Arranjo Produtivo Local de Sisal: relatório técnico. Salvador: SECTI, 2009. 120p. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. As câmaras do MAPA: um instrumento democrático e transparente de interlocução com a sociedade. Brasília: MAPA, 2009. 20p. FIBRA de futuro: sisal, já utilizado em polímeros, poderá ser usado na produção de etanol. Disponível em < http://revistapesquisa.fapesp. br/?art=3863&bd=1&pg=1>. Acesso em 20 out.2009. FORD utiliza sisal para interior dos veículos. Disponível em < http://www.automotivebusiness.com.br/noticia_det.asp?id_noticia=376 > Acesso em 16 out.2009. IBGE. Disponível em < www.ibge.br > Acesso em 06 out. 2009. MARQUES, Antônio Nonato. O sisal na Bahia. Salvador, 1978. 67p. (Apresentado na V Convenção Regional do Sisal). SILVA, O. R. R. da; BELTRÃO, N. E. M. O agronegócio do sisal no Brasil. Campina Grande: EMBRAPA/CNPA, 1999. 205p. 19
COMUNICAÇÃO
Situação atual e perspectivas de aproveitamento do coco e da casca Fernando Florence1 1— Engenheiro Agrônomo, Especialista em Agroindústria, Técnico da EBDA; e-mail: fjrflorence@hotmail.com
O
Estado da Bahia é o maior produtor de coco do Brasil, ocupando a vanguarda na produção nacional, com uma área cultivada de mais de 76 mil hectares. Tomando-se como referência o ano de 2010, a produção anual foi superior a 500 milhões de frutos contribuindo com mais de R$ 221 milhões para a composição do Valor Bruto da Produção Agrícola, além de gerar cerca de 240 mil postos de trabalho. O Gráfico 1 apresenta os principais estados produtores de coco do país.
20
Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta
A
cultura do coqueiro é a atividade tradicional dos terrenos arenosos da faixa costeira do Estado. Seu cultivo e produção destinam-se em grande parte, à extração da água in natura que no Brasil é crescente e significativa. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) são consumidos no país 10 bilhões de litros/ano de refrigerantes. O consumo de água de coco representa 1,4% deste mercado, ou seja, 140 milhões de litros, o que é considerado muito pequeno, pretendendo-se atingir 5% deste mercado, ou seja, 500 milhões de litros.
O crescimento do consumo da água de coco, registrado nos últimos anos contribuiu para a geração de um resíduo (casca) de difícil degradação. Alguns Estados do Norte e do Nordeste apresentam programas e trabalhos de aproveitamento integral do coco, em especial a casca, que compete com trabalhos semelhantes feitos, por exemplo, a partir da samambaiaçu (xaxim). Infelizmente, na Bahia o aproveitamento é insignificante. Uma indústria no município do Conde, Saturno Fibras, é a mais conhecida, existindo algumas unidades artesanais. 21
A sua utilização, além do valor econômico e social é também importante do ponto de vista ambiental. Deve-se salientar que 80 a 85% do peso bruto do coco verde é considerado lixo, e que 70% do lixo gerado nas praias é composto por casca de coco verde. Diante deste quadro, o beneficiamento do coco verde apresenta-se como um projeto de inclusão social, como forma de agregar valor não só ao coco como também aos resíduos da cultura/casca, além de contribuir para o fomento e incremento de renda da população excluída. Com isto a casca de coco deixará de ser “LIXO” para se tornar “MATÉRIA-PRIMA”.
De um modo geral as principais características dos produtores de coco no Brasil podem ser definidas assim: 88% são proprietários; 90% possuem área inferior a 50 ha; 60% não utilizam tecnologias como adubação, controle de pragas e doenças e praticam sistema de produção pouco intensiva em tecnologia;
TABELA 1
PRINCIPAIS MUNICÍPIOS PRODUTORESDE COCO DO ESTADO BAHIA, 2010
Município Conde
Área Plantada (ha) 13.500
Jandaíra
9.000
Esplanada
6.000
Acajutiba
4.800
Valença
3.595
Cairu
3.540
Camavieiras
2.500
Porto Seguro
2.000
Maraú
2.000
Juazeiro
1.957
Alcobaça
1.800
Belmonte
1.800
Eunápolis
1.750
Prado
1.700
Entre Rios
1.550
Caravelas
1.500
Ituberá
1.220
Camaçari
1.200
Rio Real
74% comercializam de sua produção por meio de intermediário. Em relação a casca do coco, quando reciclada é rica em fibras (longas e curtas), pó e sais minerais podendo propiciar: destino ambientalmente nobre; economicamente rentável; socialmente desejável. A Região Metropolitana de Salvador e os principais municípios ao longo do litoral possuem um alto consumo de coco verde, sendo as suas cascas de difícil degradação (8 a 10 anos), diminuindo a vida útil dos aterros sanitários, tornando-as foco de proliferação de doenças, além do desperdício pelo não reaproveitamento do material. A Tabela 1 apresenta os principais municípios produtores de coco do Estado da Bahia. O aproveitamento da casca do coco será uma atividade que virá gerar emprego e renda. O principal uso do pó é a produção de substraFoto: Aurelino Xavier/EBDA
720
Fonte: IBGE/PAM
22
to agrícola em substituição a outros produtos como areia lavada, pó de xaxim, vermiculita, turfa, casca de arroz carbonizada e outros. A fibra tem uma infinidade de usos, dentre eles podem ser destacados: A produção de estofamentos; Forramento interno de automóveis; Vasos, placas e bastões; Mantas para contenção de encostas e fabricação de palmilhas para calçados; Divisórias, etc. Quase todos os Estados do Nordeste e o Pará têm trabalhos e projetos utilizando como matéria-prima a casca do coco. Apesar de ser o maior produtor brasileiro, o Estado da Bahia tem apenas duas empresas, no município do Conde e pequenas unidades ar-
tesanais o que torna insignificante o aproveitamento da casca do coco. A seguir experiências em outros estados. zz Pará: POEMATEC Este é um empreendimento de caráter público-privado: uma parceria entre o setor privado, a DaimlerChrysler, e o setor público, nas figuras do Governo do Estado do Pará, do Banco da Amazônia – BASA, da Universidade Federal do Pará – UFPA e da Deutsche Inventitions – und Entwicklungsgesellschaft – DEG. As atividades da empresa Comércio de Tecnologia Sustentável – POEMATEC para a Amazônia tiveram início em março de 2001, com a construção da fábrica mais moderna do mundo, no que diz respeito à produção de artefatos de fibra de coco e látex. A POEMATEC também vem finalizar uma cadeia produtiva sustentável no Estado do Pará, que tem seu início na coleta dos recursos naturais, passando pelo processamento, atualmente ocorrendo em oito unidades de beneficiamento da casca do coco, até chegar ao produto final para ser comercializado. As principais aplicações dos materiais são assentos e bancos para a indústria automobilística, substituindo produtos à base de petróleo como a espuma de poliuretano. A alta qualidade aliada a um design superior e inovador, o conforto, a reciclabilidade e a biodegradação, fazem a grande
diferença em relação aos produtos sintéticos similares. zz Ceará A primeira unidade de beneficiamento de casca de coco verde do Nordeste é resultado do projeto “Uso da casca de coco verde como forma de conservação da biodiversidade”, apresentado no programa de competição global Development Marketplace do Banco Mundial pela Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza/CE), Unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A inauguração aconteceu no dia 2 de julho de 2005, em Fortaleza (CE). A unidade de beneficiamento está instalada na estação de triagem e transbordo de resíduos sólidos de Fortaleza, no bairro do Jangurussu, em uma área de 3.000m², e vai fabricar produtos a partir do pó e das fibras extraídas da casca, com capacidade para processar 30 toneladas de casca/dia. Cerca de 1.600t/ano de pó serão produzidos para utilização como substrato agrícola e composto orgânico e as 530t/ano de fibra bruta geradas pela unidade vão servir como matéria-prima para a fabricação de 27.600 peças de derivados da fibra, como placas, vasos e bastões e 25.000 peças de artesanatos diversos. A fábrica também vai abrigar um espaço para a confecção dos produtos derivados da casca de coco verde. 23
O projeto, que tem a parceria da Associação dos Barraqueiros da Beira Mar (ABBMar), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), da Secretaria do Trabalho e Empreendedorismo do Estado do Ceará, da Prefeitura de Fortaleza, da Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), da Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano, do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e da Faculdade Christus, recebeu US$ 245 mil do Banco Mundial, gerando cerca de 130 empregos diretos e indiretos nas comunidades envolvidas no processo, que inclui a coleta seletiva da casca de coco verde na orla de Fortaleza. Os dados apresentados permitem uma reflexão, aos empresários e ao Governo sobre a possibilidade de implantação de uma unidade de beneficiamento do coco, agregando valor ao produto e aos resíduos. O potencial do Estado da Bahia é enorme já que só o município do Conde, com 15.000ha, tem uma área plantada superior aos estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio de Janeiro e Espírito Santo separadamente e colhemos cerca de três vezes o segundo colocado, o Ceará. Por outro lado, já que a maioria dos produtores é de base familiar, o beneficiamento do coco, além de gerar mais empregos e renda, vai promover a inclusão social.
Foto: Eduardo Moody/Fundação Odebrecht
COMUNICAÇÃO
Programa de desenvolvimento integrado sustentável do mosaico de APAs do Baixo Sul da Bahia Jackson Ornelas Mendonça1
1— Economista, Professor da UFBA e da UCSAL e ex-Diretor Executivo da Associação Guardiã da APA do Pratigi; e-mail: jackson.ornelas@gmail.com
A
Fundação Odebrecht foi criada em 1965 e, em 1988, assumiu como missão a educação de jovens, como uma forma de capacitá-los para a vida e desse modo evitar a sua emigração para os centros urbanos e para a capital, onde geralmente as condições de vida se tornam piores do que na região de origem. Com a concretização dessa iniciativa, ainda em 1998, foi construída a Aliança 24
com Adolescentes pelo Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, com a participação da Fundação Kellogg, BNDES, Instituto Ayrton Senna, além da própria Fundação Odebrecht. O trabalho abrangia três regiões: Baixo Sul na Bahia, Goitá em Pernambuco e Médio Jaguaribe no Ceará. Quando o programa foi concluído, a Fundação Odebrecht elegeu o
Baixo Sul da Bahia, região com qual mantinha bastante intimidade, vez que nela tiveram início, desde os anos 40’ vários empreendimentos da Construtora Norberto Odebrecht. Assim, em 2003, foram criadas as bases do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia – PDIS, batizado pelos jovens alunos, naquele ano, como “DIS Baixo Sul”. Em 2004, foi assinado entre a Fundação Odebrecht, a Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia – AMUBS, o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia – IDES e o Governo do Estado da Bahia, um Protocolo de Intenções para a implantação de um modelo de governança tripartite (Poder Público, Iniciativa Privada e Sociedade Civil), capaz de orientar as ações de um Programa de Desenvolvimento Regional. O objetivo do programa é a inclusão social que permita a emergência de uma classe média rural em decorrência de ações que melhorem a educação e criem oportunidades de trabalho e renda.
OBJETIVOS, ABRANGÊNCIA E ESTRATÉGIA O Programa é inspirado nos oito “Objetivos do Milênio” estabelecidos pela ONU e subscritos por todos os países filiados, inclusive Brasil, quais sejam: 1 – Acabar
desenvolvimento. Desse modo, o objetivo do programa é a inclusão social sustentável, baseada em elevações da produtividade, da produção e da renda, conservando-se o meio ambiente.
O Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Mosaico de Áreas de Proteção Ambiental do Baixo Sul da Bahia (PDIS) abrange todos os 11 municípios integrantes da AMUBS (Associação dos Municípios do Baixo Sul da Bahia), e envolve uma população de aproximadamente 280 mil habitantes. O foco são as famílias, que precisam ser fortalecidas como unidades da sociedade, evitando-se a emigração decorrente da Foto: Almir Bindilatti/Fundação Odebrecht falta de oportunidade de com a fome e a miséria; 2 – Edu- trabalho para os jovens. A estracação Básica e de qualidade para tégia consiste em proporcionar todos; 3 – Igualdade entre sexos e educação profissionalizante aos valorização da mulher; 4 – Reduzir jovens e ao mesmo tempo gerar a mortalidade infantil; 5 – Melhorar oportunidades de trabalho e rena saúde das gestantes; 6 – Com- da com o seu engajamento em bater a Aids, a malária, e outras cooperativas de produtores. doenças; 7 – Qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; e O Programa também identifica 8 – Todo mundo trabalhando pelo parceiros industriais e comer25
Foto: Almir Bindilatti/Fundação Odebrecht
ciais capazes de compartilhar seus resultados sob um selo de qualidade de “comércio justo”, com escolha preferencial dos consumidores mais conscientes, nos mercados mais exigentes. O resultado é a maior facilidade de colocação dos produtos transformados em importantes redes varejistas como EBAL, Walmart, Pão de Açúcar, Tok & Stok, Mundo Verde, GBarbosa e Perini. Para se alcançar uma melhoria dos níveis educacionais foram implantadas modernas unidades de ensino: a Casa Jovem, uma escola de ensino médio e fundamental na zona rural do município de Igrapiúna, além de escolas de educação rural conhecidas como Casas Familiares, que adotam o método conhecido como “pedagogia de alternância”, nos municípios de Presidente Tancredo Neves, Nilo Peçanha e Igrapiúna. Foi implantada também uma Casa Familiar do Mar em Cairu, atual-
mente transferida para o município de Nilo Peçanha. Desde então, os produtores rurais de mandioca, palmito, criadores de tilápia e artesãos passaram a receber assistência técnica e apoio para a produção e comercialização, através da estruturação de cooperativas: COOPATAN (Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves), COOPALM (Cooperativa dos Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia – Sede em Igrapiúna), COOPRAP (Cooperativa das Produtoras e Produtores Rurais da APA do Pratigi – Sede em Nilo Peçanha) e COOPEMAR (Cooperativa Mista de Marisqueiros, Pescadores e Aquicultores do Baixo Sul da Bahia – Sede em Ituberá). Quando do início do Programa, constatou-se que além dos baixos níveis de IDH dos municípios da região, era muito elevada a proporção de pessoas que necessi26
tavam de documentação básica, o que motivou a implantação de um serviço com o nome de “Balcão de Direitos”, atualmente IDC – Instituto Direito e Cidadania, que permitiu a milhares de moradores do território o acesso ao Registro Civil, à Carteira de Identidade e à Carteira de Trabalho, sem ônus e com rapidez. Para apoiar na coordenação das ações do Programa, a Fundação Odebrecht fomentou a criação do IDES – Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia, sediado em Nilo Peçanha.Todas as ações do Programa são aprovadas pelo Conselho de Governança, formado desde 2003, por representantes dos municípios, da Fundação Odebrecht e do Governo Estadual. A partir de 2006, além das ações desenvolvidas no Baixo Sul, a Fundação Odebrecht passou a concentrar esforços na Área de
CONSIDERAÇÕES FINAIS Muitos agricultores e jovens já foram beneficiados pelo programa. Os produtos das cooperativas são comercializados nas principais redes de varejo, beneficiando indiretamente cerca de 3.500 pessoas, enquanto as unidades de ensino abrigam atualmente 1.200 alunos. O Instituto Direito e Cidadania já realizou mais de 290 mil atendimentos, fornecendo documentos e atuando em mediação de conflitos entre moradores dos municípios da região. Em alguns municípios da APA do Pratigi, mais de metade dos recursos aplicados pelo PRONAF destina-se ao público do programa, o que inclui importantes assentamentos de reforma agrária como a “Mata do Sossego”, em Igrapiúna.
Os resultados alcançados pelo programa atraíram parcerias importantes como a Microsoft, Dell, Mitsubishi, Michelin, BNDES, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), SEBRAE, Governo Federal, Governo Estadual, SENAI, Embrapa, Oi Telecomunicações, Banco do Brasil, Fundação Banco do Brasil, Exército Brasileiro, FAO, ONU, entre outros. O Programa recebeu em 2008, o prêmio ODM – Brasil, iniciativa da Secretaria Geral da Presidência da República. Em 2010, conquistou o primeiro lugar na América Latina e Caribe no Prêmio ao Serviço Público das Nações Unidas. Em 2010, A COOPALM conquistou o Prêmio Cooperativa do Ano 2010 (categoria: Gestão da Qualidade) e, também, a autorização para uso dos selos Identificação da Participação da Agricultura Familiar (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e Agricultura Familiar da Bahia (Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária) nas embala-
Foto: Almir Bindilatti/Fundação Odebrecht
Proteção Ambiental – APA do Pratigi, uma das mais importantes reservas de mata atlântica do país, com 86 mil hectares, criada em 1998, aonde a cobertura vegetal foi reduzida em um terço, nos últimos 40 anos. Para isso, incentivou a estruturação das associações comunitárias, que se uniram e criaram a AGIR – Associação Guardiã da APA do Pratigi, uma OSCIP apoiada pela Fundação Odebrecht. O Plano de Trabalho da OSCIP é aprovado por uma Assembléia formada pelas 31 associações sediadas na APA do Pratigi.
27
gens do palmito de pupunha Cultiverde. Além disso, o Colégio Estadual Casa Jovem foi reconhecido com o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar. Além dos projetos em andamento, foram desenhados em parceria com o governo estadual, três Projetos Estruturantes, com o objetivo de restabelecer os “corredores ecológicos da Mata Atlântica”, implantar a “Estrada Parque da Cidadania” ligando a BR-101 em Ibirapitanga à BA-001 em Ituberá, e recuperar a geração hidrelétrica por pequenas usinas desativadas nos anos 60. Os resultados alcançados no Baixo Sul da Bahia revelam que o modelo adotado para o projeto de desenvolvimento regional contém os princípios básicos para se construir em outros territórios da Bahia ou do país, modelos semelhantes capazes de melhorar a vida das pessoas e contribuir para a preservação dos recursos naturais.
COMUNICAÇÃO
Sementes sadias: um meio de reduzir perdas agrícolas Maria Zélia Alencar de Oliveira1 Paulo Prates Júnior2
N
o Brasil, a agricultura sustentável é uma resposta relativamente recente à degradação dos recursos naturais, associada com a agricultura moderna. O desafio central do século XXI é o de alcançar os objetivos da conservação da biodiversidade e da produção agrícola de forma simultânea – e, em muitas situações no mesmo espaço (MCNEELY; SCHERR, 2009). Torna-se fundamental acrescentar que a melhoria do bem estar da população do campo deve constar do processo de desenvolvimento do setor rural. A Agroecologia exerce essa função, uma vez que procura demarcar um novo foco de necessidades humanas, qual seja o de orientar a agricultura à sustentabilidade no seu sentido multidi1— Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: zeliaao@ gmail.com 2— Biólogo, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: junior_prates2005@yahoo.com.br
mensional. Numa acepção mais ampla, ela se concretiza quando, concomitantemente, cumpre com os ditames da sustentabilidade econômica (potencial de renda e trabalho, acesso ao mercado), ecológica (manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais e das relações ecológicas de cada ecossistema), social (inclusão das populações mais pobres e segurança alimentar), cultural (respeito às culturas tradicionais), política (organização para a mudança e participação nas decisões) e ética (valores morais transcendentes) (EMBRAPA, 2006).
temas agrícolas. Afirma que com uma visão agroecológica, a pesquisa tende a penetrar nas técnicas e no conhecimento de cada agricultor para desenvolver agroecossistemas sem dependência de agrotóxicos, contribuindo para uma melhor qualidade de vida na propriedade, com produção de alimentos de alto padrão biológico. Entretanto, algumas práticas alternativas devem ser incentivadas para que o agricultor familiar possa ter sucesso no seu empreendimento.
Destaca-se que a agricultura familiar brasileira tem esse cunho, o da manutenção das potencialidades produtivas do meio natural. Blum (1999) confirma que por sua própria vocação de unidade de produção e consumo, esse sistema agrícola valoriza a diversidade através da associação do policultivo e criações, distribuídos de forma equilibrada no espaço e no tempo.
Dentre outros aspectos, a sustentabilidade agrícola implica, necessariamente, na resolução dos problemas relacionados à ocorrência de doenças de plantas, com base, principalmente, na conservação dos recursos naturais e no aumento de diversidade biológica (THURSTON, 1992). E, para tal, uma questão que deve ser vista diz respeito à semente utilizada na agricultura, inclusive na de pequena escala ou de subsistência.
Altieri (2001) reconhece que os agroecossistemas integram os princípios agronômicos, ecológicos e socioeconômicos dos sis-
O equilíbrio dos ecossistemas permeia, indubitavelmente, o domínio das fitomoléstias e as práticas empregadas para o seu controle. Esse
28
deve estar fundamentado numa ampla visão do agroecossistema foco, evitando impactos de ordem ambiental, como a contaminação dos alimentos, do solo, da água e dos animais; a resistência de patógenos a certos defensivos agrícolas; a intoxicações de agricultores; o desequilíbrio biológico; a redução da biodiversidade, dentre outros. De acordo com Silva-Mann et al. (2002) o aspecto de sanidade de sementes, do ponto de vista de prognóstico e controle de doenças em plantas, tem assumido uma posição de destaque mundial, devido ao acentuado número de patógenos que podem ser por elas transmitidos. Vale ressaltar que a associação de patógenos com sementes é um episódio amplamente debatido em todo o mundo por ser responsável por uma série de consequências danosas - (a) no campo de cultivo: redução do poder germinativo e nível de vigor das sementes; introdução precoce e aleatória de focos de infecção nas áreas de plantio; acúmulo de inóculo no campo; formação de sementes anormais; e (b) na pós-colheita: disseminação de doenças a longas distâncias; deterioração de sementes durante o armazenamento; meio de perpetuação de doenças entre gerações. Segundo Tropaldi et al. (2010), para o bom estabelecimento da cultura, associado a uma produção satisfatória, a utilização, no plantio, de sementes de qualidade é de suma importância. Marcos Filho (1994) descreve que a
qualidade de um lote de sementes é expressa por uma série de características que determinam o seu valor para semeadura, sendo as mais relevantes as de natureza genética, fisiológica e sanitária. Dentre os patógenos que atacam sementes, predominam os fungos da classe dos deuteromicetos, principalmente, as espécies patogênicas pertencentes aos gêneros Alternaria, Cladosporium, Colletotrichum, Diplodia, Drechslera, Fusarium, Lasiodiplodia, Macrophomina e Rhizoctonia, bem como Aspergillus e Penicillium, considerados de armazenamento. Há registros da associação de organismos dessa classe em sementes de feijão (Figura 1) (OLIVEIRA; BOLKAN, 1981; OLIVEIRA, 1984; MARINO et al., 2008); mamona (Figuras 2, 3 e 4) (OLIVEIRA; MELLO, 1986a e 1987; NASCIMENTO et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2011a); milho (OLIVEIRA; MELLO, 1986b; Pinto, 2003; CAPPELINI et al., 2005); pinhão-manso (OLIVEIRA et al., 2011b) e ornamentais (Figura 5) (OLIVEIRA et al., 1999). Figura 1 - Sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) em meio de cultura batata-dextrose-ágar: abaixo, sementes sadias; logo após, infectadas pelo fungo Rhizoctonia solani. Figura 2 - Colônias de Aspergillus spp. em sementes de mamona (Ricinus communis L.), incubadas em meio batata-dextrose-ágar. Figura 3 - Colônias de Fusarium spp. em sementes de mamona 29
Figura 1
Figura 2 (Ricinus communis L.), incubadas em meio de batata-dextrose-ágar. Figura 4 - Sementes de mamona (Ricinus communis L.), com colônias de Aspergillus niger. Figura 5 - Sementes de plantas ornamentais em meio batata-dextrose-ágar (A e B) e em papel-de-filtro – Blotter Test (C): A apresentando colônias de Aspergillus niger; B colônias de Alternaria alternata; e C de Alternaria sp. e Fusarium sp.
da capacidade germinativa, a descoloração ou a formação de manchas, transformações bioquímicas, perda de peso, produção de toxinas, podridão, aquecimento, mofo e modificações celulares. A
Figura 3
B
C
Figura 4
Figura 5
No caso específico do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) mais de 50% das suas principais enfermidades, têm seus agentes causais transmitidos através das sementes (NEERGAARD, 1979).
para o controle da doença. Por sua vez, Lima et al. (1997) observaram que Fusarium sp., Rhizoctonia solani e Alternaria ricini são transmitidos pela semente e causam tombamento das plântulas.
Araújo et al. (2007) relacionam Fusarium oxysporum como responsável pela murcha-de-fusário em mamoneira e recomendam o tratamento de sementes como uma das táticas fundamentais
Cabe distinguir que fungos dos gêneros Penicillium e Aspergillus acarretam danos às sementes, originando perdas significativas. Provocam, dentre outros efeitos, a redução 30
Devido, portanto, à natureza dos problemas ocasionados por fungos a diversas culturas, dentre elas, feijão, mamona e milho, torna-se indispensável a adoção de um manejo adequado nas áreas de cultivo, bem como a procura por produtos alternativos que atuem como defensivos e contribuam para minimizar os danos ambientais, além de verificar a possibilidade de, através do controle biológico, reduzir a incidência/ocorrência da microflora fitopatogênica sobre as sementes. Nesse contexto, é evidente que a identificação dos patógenos associados às sementes é imprescindível, por possibilitar o incremento de medidas de controle. Os testes de sanidade de sementes fornecem, ainda, informações precisas para programas de quarentena, produção de semente certificada, melhoramento de plantas e para os serviços de vigilância vegetal. Convém salientar que o controle de doenças por meio do tratamento de sementes é visto, na agricultura moderna, como uma medida preventiva que concorre para diminuir o custo de produção e evitar a poluição ambiental.
Referências ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3.ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. 110 p. ARAÚJO, A. E.; SUASSUNA, N .D.; COUTINHO, A. E. Doenças e seu manejo. In: AZEVEDO, D. M. P.; BELTRÃO, N. E. de M. (Eds.). O Agronegócio da mamona no Brasil. 2.ed. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2007. p.282-303. BLUM, R. Agricultura familiar: estudo preliminar da definição, classificação e problemática. In: TEDESCO, J. C. (Org). Agricultura familiar: realidades e perspectivas. Passo Fundo: EDIUPF,1999. p.57-107. CAPPELINI, L. T. D. et al. Efeito de Fusarium moniliforme na qualidade de sementes de milho. Científica, Jaboticabal, v.33, n.2, p 185-191, 2005. EMBRAPA. Marco referencial em agroecologia. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2006. 70p. LIMA, E. F.; BATISTA, F. A. S.; SANTOS, J. W. Fungos causadores de tombamento transportados e transmitidos pela semente da mamoneira. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasilia, v.32, n.9, p.915-918, 1997. MARINO , R. H. et al. Incidência de fungos em sementes de Phaseolus vulgaris L. provenientes do Estado de Sergipe. Revista Brasileira de Ciências Agrárias, v. 3, n. 1 p.28-30, 2008. MARCOS FILHO, J. A. Avaliação da qualidade de sementes. Informativo Abrates, Londrina, v. 4, n. 2, p.33-35, 1994. MCNEELY, J. A.; SCHERR, S. J. Ecoagricultura: alimentação do mundo e biodiversidade. São Paulo: SENAC São Paulo, 2009. 459 p. NASCIMENTO, A. L. et al. Sanidade de sementes crioulas de mamona. Rev. Bras. de Agroecologia, v. 4, n. 2, p.2830-2833, 2009. NEERGAARD, P. Seed pathology. London: Mac Millan Press, 1979. 538p. OLIVEIRA, M. Z. A. de; BOLKAN, H. A. Microflora fúngica de sementes de dezoito variedades de Caupi cultivadas em vários estados do Brasil. Fitopatologia Brasileira, v.6, p.576, 1981. OLIVEIRA, M. Z. A. de et al. Fungos associados a sementes de pinhão-manso oriundas da Região de Irecê na Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SEMENTES, 17., 2011, Natal – RN: ABRATES, 2011b. 1 CD-ROM. OLIVEIRA, M. Z. A. de al. Incidência de fungos em sementes de mamona provenientes da Região de Irecê na Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SEMENTES, 17., 2011, Natal – RN: ABRATES, 2011a. 1 CD-ROM. OLIVEIRA, M. Z. A. de. Fungos associados a sementes de feijão procedentes da Região Nordeste do Estado da Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 17, 1984, São Paulo. Fitopatologia Brasileira. Brasília: SBF, 1984. v. 9. p. 379-379. OLIVEIRA, M. Z. A. de; LONGA, C. M. O. ; BARBOSA, M. C. F. Fungos associados a sementes de ornamentais na Bahia. In: XXXII CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 1999, Curitiba-PR. Fitopatologia Brasileira. Brasília: SBF, 1999. v.24. p.313-313 OLIVEIRA, M. Z. A.; MELLO, S. C. M. Doenças da mamoneira nas regiões de Irecê e Vale do Paraguaçu da Bahia. Salvador-BA: Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia, 1986a. 3p. (EPABA. Comunicado Técnico, 17). OLIVEIRA, M. Z. A. de; MELLO, S. C. M. Fungos associados à mamoneira (Ricinus communis), nas regiões de Irecê e Vale do Paraguaçu da Bahia. Fitopatologia Brasileira, v.12, n.2, p.154,1987. OLIVEIRA, M. Z. A. ; MELLO, S. C. M. . Qualidade sanitária de sementes de milho (Zea mays) das regiões de Irecê e do Vale do Paraguaçu, Bahia. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE FITOPATOLOGIA, 19, 1986, Brasília. Fitopatologia Brasileira. Brasília: SBF, 1986b. v. 1. p.283-283. PINTO, N. F. J. de A. Tratamento de sementes de milho com fungicidas. Revista Ceres, v. 50, n.291, p.681-686, 2003. SILVA-MANN, R. et al. Variabilidade genética de isolados do complexo Colletotrichum associados a sementes de algodoeiro, por meio de técnicas moleculares e inoculação em plantas. Fitopatologia Brasileira, v. 27, n. 1, p. 27-32, 2002. THURSTON, H. D. Sustainable practices for plant disease management in traditional farming systems. Boulder: Westview Press, 1992. 263p. TROPALDI, L. et al. Qualidade fisiológica e sanitária de sementes de mamona submetidas a diferentes tratamentos químicos. Pesq. Agrop. Trop., v.40, n 1, p. 89-95, 2010. 31
COMUNICAÇÃO
meta a passagem de um modelo convencional de produção para um modelo de agricultura que incorpore princípios e tecnologias de base ecológica, ou seja, fontes de recursos bióticos e de insumos locais, obtidos na própria propriedade, contrastando, também, com o modelo orgânico.
Agroecologia: manejo de pragas e doenças de plantas Paulo Prates Júnior1 Maria Zélia Alencar de Oliveira2 Cristiane de Jesus Barbosa3
A
Agroecologia é uma ciência em construção que busca modificar o curso alterado dos processos de uso e manejo dos recursos naturais, de forma a ampliar a inclusão social, reduzir os danos ambientais, fortalecer a autonomia 1— Biólogo, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: junior_prates2005@yahoo.com.br 2— Engenheira Agrônoma, Mestre em Fitopatologia, Bolsista FAPESB, Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola – EBDA, Salvador – BA; e-mail: zeliaao@terra.com.br 3— Engenheira Agrônoma, Doutora em Fitopatologia, Pesquisadora da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Salvador – BA; e-mail: barbosa@cnpmf.embrapa.br
e segurança alimentar. Sendo assim, exige dos extensionistas, agricultores e pesquisadores a modificação dos sistemas de produção que causam degradação social e ecológica. Para tanto, faz-se necessário pensar no sistema agrícola ao longo do tempo, a partir do conhecimento popular que, integrado ao conhecimento científico, poderá transformar a realidade local, melhorando, sobretudo, a qualidade de vida das pessoas. Em Agroecologia é central o conceito de transição agroecológica, entendida como um processo gradual e multilinear de mudança, que ocorre através do tempo, nas formas de manejo dos agroecossistemas. Neste sentido, tem como 32
A agricultura “modernista” (convencional) apresenta uma série de desvantagens, como aceleração dos processos de erosão, êxodo rural, aumento dos custos, intensificação da incidência de pragas e doenças, contaminação dos alimentos, visto que os campos de cultivo são tratados geralmente por meios químicos (agrotóxicos). Por outro lado, o transporte vertical dos pesticidas no perfil do solo (lixiviação) tem sido apontado como a principal forma de contaminação do lençol freático (águas subterrâneas). Convém enfatizar que a utilização de agrotóxicos na agricultura preocupa tanto agricultores quanto consumidores, na medida em que são muitos os exemplos de ações pontuais para o controle de pragas e doenças, de pouca importãncia econômica, porém com efeitos colaterais prejudiciais ao meio ambiente e à saúde. Sob esse ponto de vista, um dos enfoques da Agroecologia é o controle alternativo de pragas e doenças, o qual inclui, dentre outros, o controle biológico (Figuras 1 e 2) e a indução de resistência nas plantas. Atualmente, alternativas pesquisadas envolvem, por exemplo, o uso
Salienta-se que o ideal para assegurar a proteção das plantas é considerar alguns princípios básicos, tais como: a) todo parasita tem pelo menos um inimigo natural; b) toda planta suporta um determinado nível de dano; c) os sistemas agrícolas (agroecossistemas) podem atingir equilíbrio na natureza; d) os controles podem ser seletivos; e) toda planta com nutrição sadia e equilibrada dificilmente é atacada por parasitas. Em contraste com a agricultura convencional a Agroecologia busca tratar, primariamente, o solo, não apenas a planta, na tentativa de manter o equilíbrio ambiental. A recuperação do solo envolve a
incorporação de matéria orgânica, policultivo, rotação de culturas, plantio direto, adubos verdes, cultivo consorciado, dentre outras práticas. Um bom manejo envolve a manutenção de vegetação natural perto de áreas cultivadas, visando à diversificação e o aumento da eficiência dos agentes de controle biológico, elevação da umidade, regulação do clima e chuvas. Na realidade, a diversidade na agricultura não somente é essencial para a supressão dos parasitas, como é também crucial para satisfazer as necessidades dos agricultores, através de colheitas mais estáveis, com qualidade e sem agrotóxicos. A revitalização da Clínica Fitopatológica da EBDA, a partir do ano de 2009, permitiu atender, sobretudo, agricultores e extensionistas, bem como possibilitou a incorporação de princípios agroecológicos em nossas pesquisas, articulando, principalmente, o conhecimento gerado pela Agronomia, Socio-
logia e Ecologia, em uma visão sistêmica dos campos de cultivo. Sendo assim, para maiores informações sobre o monitoramento de parasitas no espaço e no tempo, o Laboratório de Fitopatologia da EBDA – Serviços de Laboratórios e Classificação de Produtos de Origem Vegetal (SLC) Ondina, está à inteira disposição.
Figura 1
Figura 2
Referências ALTIERI, Miguel. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3. ed. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001. 110 p. ALTIERI, M. A.; SILVA, E. do N.; NICHOLLS, I. C. O papel da biodiversidade no manejo de pragas. Ribeirão Preto: Holos, 2003. 226 p. EMBRAPA. Marco referencial em agroecologia. Brasília, DF: Embrapa informação tecnológica, 2006. 70p. PAULUS, G.; MULLER, A. M.; BARCELLOS, L. A. R. Agroecologia aplicada: práticas e métodos para uma agricultura de base ecológica. Porto Alegre: EMATER-RS, 2000. 86 p. GUTERRES, I. (org.). Agroecologia militante: São Paulo: Expressão Popular, 2006. 179 p. VENZON, M.; PAULA JÚNIOR, T. J.; PALLINI, A. (Coord.). Controle alternativo de pragas e doenças na agricultura orgânica. Viçosa, MG: EPAMIG, 2010. 232p. 33
Foto: Acervo do Autor
de extratos vegetais e seus derivados para o controle de parasitas (praga e/ou patógeno), vez que a sustentabilidade agrícola implica, necessariamente, na resolução desses problemas, com base, principalmente, na conservação dos recursos naturais e no aumento da biodiversidade nos campos de cultivo.
COOPERATIVISMO DE CRÉDITO
Conquistas e desafios de uma história escrita por muitas mãos: ferramentas que mudam a realidade na agricultura familiar Leive Almeida1
O Cooperativismo de Crédito, que já tem mostrado sua força nas regiões mais desenvolvidas, tem tudo para contar uma história de sucesso também no Nordeste do país.
1— Assessora de Comunicação, Jornalista, Técnica da Superintendência de Agricultura Familiar – SUAF/ SEAGRI; e-mail: leivealmeida@yahoo.com.br 34
N
ão seria diferente com o Sistema Ascoob que apoia e fomenta o cooperativismo de crédito, amparado por um marco legal em aperfeiçoamento constante, prosseguindo de forma transparente e focado no atendimento das necessidades de seus associados. Em todas as organizações sociais, o processo de formação apresenta-se como importante instrumento na busca de qualificar as intervenções desenvolvidas pelas entida-
Foto: Cláudio Zakka
SOCIOECONOMIA
des. A formação desenvolvida com uma metodologia adequada permite ampliar e melhorar processos organizacionais. Acredita-se que toda organização necessite formar e capacitar os membros que a compõe, caso contrário, incorrerá em isolar e/ou fragmentar suas ações, podendo perder o foco de atuação pela estagnação no tema do conhecimento por parte dos seus membros. A partir desta afirmação é que desenvolveremos uma reflexão concernente a um conjunto de aspectos que se referem à necessidade e importância da formação para o fomento do cooperativismo, enfatizando o fortalecimento do Sistema Ascoob. Pretendemos apontar um conjunto de avanços importantes dentro das cooperativas, na medida em que aconteçam processos formativos com os sujeitos envolvidos. Nesse contexto, o presente artigo tem como objetivo fazer uma apresentação sobre a importância do Sistema Ascoob, visando compreender sua missão e estrutura, bem como campo de atuação de uma entidade não governamental. Em particular, apresentaremos estratégia de erradicação da pobreza extrema rural, a partir das ações do cooperativismo de crédito, bem como uma reflexão sobre seus principais desafios e os investimentos das políticas públicas – o que tem provocado inserção de milhões de indivíduos em novos patamares sociais. Além disso, destacando a importância
do cooperativismo, no qual promove várias ferramentas para concretização de ações voltadas para o desenvolvimento local e regional, organizados com instrumentos que fortalecem a gestão de cada comunidade e o envolvimento das pessoas em processos inclusivos de formação, autonomia e decisão.
UM POUCO DE HISTÓRIA: CONTRIBUINDO NO FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR E ECONOMIA SOLIDÁRIA Qualquer esforço empreendido para a redução da pobreza e para a melhoria dos demais indicadores que refletem as desigualdades regionais passa, necessariamente, por ações efetivas em apoio ao segmento da Agricultura Familiar e Economia Solidária. Foi com base nesses argumentos, e alinhado com as Políticas do Governo Federal para a agricultura familiar, que o Sistema Ascoob inseriu como prioridade nas suas ações o apoio a esse segmento produtivo. Caracterizado como uma rede de cooperativas de crédito rural com interação solidária, a Associação das Cooperativas de Apoio à Economia Familiar – Ascoob, busca promover a inclusão so35
cial de agricultores e agricultoras familiares, e facilitar o acesso a produtos e serviços para a ampliação de suas rendas, diferenciando-se das demais instituições financeiras. Para tanto, a Ascoob tem como missão fortalecer a economia familiar solidária, através do cooperativismo de crédito e fomentar os processos de desenvolvimento local integrado, sustentável e solidário do Estado da Bahia, bem como aprofundar o combate às desigualdades sociais por meio de ações no campo da inclusão produtiva e do fortalecimento da agricultura familiar e economia solidária. É a partir desses objetivos que há doze anos a Ascoob vem exercendo ações importantes na articulação das cooperativas, com uma dimensão em razão da confiança e do apoio de seus associados. A Ascoob Associação foi criada em setembro de 1999, por cinco Cooperativas de Crédito Rural, nas microrregiões semiáridas e litorâneas da Bahia, com a finalidade de aglutinar forças para o cumprimento dos princípios do cooperativismo de crédito tendo por base o fortalecimento da economia familiar rural. Atualmente, conta com 10 cooperativas filiadas, com pontos de atendimento em 36 municípios do Estado presentes nos territórios do Sisal, Bacia do Jacuípe, Portal do Sertão, Recôncavo Sul, Piemonte da Diamantina, Litoral Norte e Agreste de Alagoinhas, Irecê e Baixo Sul. A Ascoob é uma referência no cooperativismo de crédito no Brasil,
O projeto continua fiel aos princípios de interação solidária: descentralização, participação dos associados, profissionalização e ampliação do apoio e acesso ao crédito, transparência em todo o processo e contribuição para o desenvolvimento alternativo, socialmente justo e não degradante do meio ambiente. Reconhecendo o seu valor e importância para toda a sociedade brasileira, e atendendo ao compromisso de promover políticas públicas de geração de trabalho, renda e promoção da qualidade de vida no campo, o Sistema Ascoob estabelece canais de financiamento adequados para sua realidade – a exemplo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF, na agricultura familiar, em suas diversas modalidades, proporcionando condições de produção e agregação de valor à grande maioria dos agricultores: assistência técnica,
suporte aos empreendimentos nos mais diversos setores e nos vários estágios organizativos em que se encontram e oferecendo mecanismos que facilitem o acesso dos produtores ao crédito. O pioneirismo da Cooperativa mostrou que a sustentabilidade de instituições financeiras não convencionais, como é caso do Sistema Ascoob, depende muito mais de fatores não econômicos, ou seja, da rede de relações sociais construídas na convivência solidária dos agricultores familiares. “Estar entre as primeiras cooperativas do sistema é um privilégio para os/as agricultores/ as familiares, mas também representou um grande desafio”, admite o agricultor e sindicalista Dionísio Pereira (Entrevista realizada no dia 10 de outubro de 2011, em Feira de Santana/BA), primeiro pre-
sidente da Ascoob Associação, demonstrando o orgulho de ser um dos fundadores da entidade. Já o atual presidente, José Paulo
Crisóstomo (Entrevista realizada no dia 13 de outubro de 2011, em Feira de Santana/BA), ao avaliar as pers-
pectivas para o cooperativismo de crédito no Brasil, afirma que: “Estamos assistindo, de maneira crescente, à conscientização da sociedade de que o cooperativismo de crédito é a grande alavanca para resolver os problemas sociais das comunidades pela via econômica”. O segmento experimenta uma fase de franca expansão nos últimos doze anos. Sucesso que lhe é atribuído, em primeiro lugar, à ação dos pioneiros, que souberam conduzir o projeto apesar das limitações impostas, até então, desde a criação do Sistema Ascoob foram realizadas várias atividades nas cooperativas filiadas ao Sistema, como oficinas e cursos com representantes de entidades dos municípios, diretores, associados e funcionários, discutindo a importância da participação, educação e cooperação para o processo de
Foto: Cláudio Zakka
pois é dirigida pelos agricultores familiares sem subordinação a outro tipo de agricultor, bem como são cooperativas que estimulam a participação das mulheres e dos jovens. Além disso, conta com o apoio e convênios com o Banco do Brasil e o Banco do Nordeste do Brasil, como também as redes da sociedade civil, com destaque para a Rede de Assistência Técnica e Extensão Rural das Organizações Não-Governamentais do Nordeste (Rede Ater/NE) e organizações em nível local e regional, nos municípios e estado voltados para a promoção da agricultura familiar e da economia solidária.
36
crescimento e comprometimento dos parceiros, com o desenvolvimento local sustentável.
NASCE UM NOVO COOPERATIVISMO: CENTRAL DE COOPERATIVAS A Cooperativa Central de Crédito da Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bahia – Ascoob Central foi autorizada no dia 30 de janeiro de 2008, estando possibilitada a realizar seus atos de constituição, que aconteceram no dia 12 de abril de 2008, em Feira de Santana/BA. Em 25 de Agosto de 2008, começou efetivamente a operar com suas cooperativas. A entidade surgiu a partir de uma necessidade para ser representante legal das suas Cooperativas de Crédito Rural e fruto de um processo natural de evolução e amadurecimento da Ascoob Associação. A instituição é uma das quatro do semiárido baiano autorizadas pelo Banco Central a formar a primeira cooperativa central de crédito do país, dentro das novas normas para a profissionalização do setor, estabelecidas por Resolução 3106/2003, que tem como objetivo executar serviços administrativos, financeiros, econômicos, creditícios e educativos em benefício de suas Cooperativas filiadas, e promover a integração financeira do cooperativismo de crédito em sua área de atuação, com o propósito
de cumprir sua missão no fortalecimento das práticas de agricultura familiar e economia solidária, e de desenvolvimento sustentável, conforme podemos ver na Figura 1 na qual destacam as cooperativas filiadas à Ascoob Central. Ao longo de sua trajetória, as cooperativas filiadas à Ascoob Central têm se empenhado em configurar o papel importante do sistema, sobretudo, através do cooperativismo e a união coletiva do Sistema. O papel da Ascoob Central é intermediar os interesses das cooperativas filiadas, capacitando os cooperados, dirigentes e técnicos, além de manter o Banco Central informado sobre as atividades desenvolvidas. Dessa forma, tomou-se a iniciativa da nova Cooperativa Central, sob as principais motivações: Foco na agricultura familiar. Todas as cooperativas são ligadas a esse segmento e a prioridade de aplicação de recursos, a exemplo do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar); Desenvolvimento de um sistema de Gestão Financeiro adequado; Possibilidade de ofertar melhores condições operacionais e apoio às filiadas; Incrementar programas financeiros mais adequados aos associados principalmente crédito rural e microcrédito; 37
Contribuir com a Associação Nacional do Cooperativismo de Crédito da Economia Familiar e Solidária – Ancosol, principalmente em apoio às cooperativas do Nordeste Brasileiro. Numa perspectiva de constituir um “estado” de relações entre sujeitos, é que se consolida a proposta dessa cooperativa, ao mesmo tempo em que comunga com as ideias do educador Paulo Freire (1977, p. 27) ao afirmar que: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam juntos mediados pelo mundo”. Nesses entrelaces de pesquisas experimental e busca de soluções, tornam-se notórias as relações entre sujeitos com características próprias de indivíduos, que em grupo, realizam o processo do cooperativismo. [...] de refletir sobre um ato. Existe uma reflexão do homem face à realidade. O homem tende a captar uma realidade, fazendo-a objeto de seus conhecimentos. Assume a postura de um sujeito cognoscente de um objeto cognoscível. Isto é próprio de todos os homens e não privilégio de alguns, por isso a consciência reflexiva deve ser estimulada: conseguir que o educando reflita sobre sua própria realidade (FREIRE, 1981, p. 30). Com esta afirmação, o Sistema Ascoob, promove um cooperativismo atendendo às necessidades dos seus cooperados, na medida em que as cooperativas se desafiam a construir e a pensar ações que permitam aos sujeitos se sentirem envolvidos no
processo, sendo “fiéis” a um dos sete princípios do cooperativismo que trata exatamente da formação, educação e informação, ou seja, é missão, função do cooperativismo fazer com que seus cooperativados possam receber formação, capacitação, informações e que este processo lhes traga primeiramente a qualificação pessoal, para que esta possa ser colocada a serviço da cooperativa no sentido de garantir o seu próprio fortalecimento. Percebe-se, portanto, que com o acesso ao crédito e à assistência técnica os agricultores e agricultoras familiares vêm conseguindo estruturar suas propriedades. Além disso, é importante destacar que os resultados desse processo apresentam pontos positivos ao combate da extrema pobreza rural e os avanços são notáveis em termos de inclusão social, devido a assessoria de Assistência Técnica e Extensão Rural – Ater, que são realizadas de forma sistemática, através de reuniões, oficinas e intercâmbios. E, a partir dessas iniciativas, a Ascoob Credimonte, localizada no município de Jacobina, território Piemonte da Diamantina tem beneficiado inúmeras famílias e pequenos empreendedores. Um deles é Juscelino Martins da Silva, produtor rural e cultivador de abacaxi, que mora na comunidade de Serra do São Maurício, município de Umburanas/BA (Com informações do Assessor de Crédito Rural e de Ater, da Ascoob Credimonte, Leonardo Lino). Para ele, depois do crédito e da assistência técnica sua vida melhorou bastante, e se
orgulha de ser filiado à Cooperativa de Crédito Rural do Piemonte, em Jacobina/BA. “A cooperativa vem contribuindo para que o agricultor tenha espaço na sociedade”, acentuando que hoje a família tem mais animais, já existe energia solar na casa e o potencial da unidade de produção melhorou bastante. “Hoje está tudo muito bom, estamos avançando e podemos contar com o apoio da Ascoob, e depois desta parceria estamos comercializando os nossos produtos”, comemora seu Juscelino. A Ascoob Central conta ainda com outro importante órgão para melhoria da eficiência de suas filiadas: a Ascoob Baser. É uma base de serviços que congrega funções como suporte em tecnologia, assessoria à gestão e contabilida-de das cooperativas, qualificando mais o trabalho e potencializando 38
os controles internos. Observa-se que as cooperativas de crédito vêm ampliando também sua visibilidade sociopolítica. Além do trabalho de divulgação efetuado pelas organizações do próprio setor, entidades privadas de ação internacional passaram a fomentar a sua expansão no país, como Rabobank, um dos maiores bancos de crédito cooperativo do mundo, tem se dedicado a popularizar o debate sobre o cooperativismo de crédito enquanto instrumento estratégico para a consolidação de programas de desenvolvimento e fortalecimento de arranjos produtivos locais. Com o objetivo em contribuir para a expansão dos serviços de microfinanças no Nordeste do Brasil – um projeto pioneiro no país, a Ascoob Central e o BID/FOMIM se uniram e criaram o Programa de Fortalecimento da Ascoob Central
para Expansão dos Serviços de Microfinanças Cooperativas no interior da Bahia (Figura 2). Dessa forma, utiliza-se das cooperativas filiadas a Ascoob Central para gerir eficiência de serviços, de forma a atender a infindável demanda de agricultores familiares, trabalhadores da economia solidária e microempreendedores em geral. Além disso, o programa pretende criar condições favoráveis para a ampliação de ofertas, destacando três eixos: constituição de novas Cooperativas, abertura de novos PAC’s e Caixas Avançadas das Cooperativas filiadas; e ade-
são de Cooperativas existentes. E, para o alcance dos objetivos o programa dividiu-se em quatro componentes:
4. Fortalecimento da Ascoob Central para acompanhar e supervisionar as cooperativas de crédito singulares.
1. Planejamento de negócios para o desenvolvimento das microfinanças;
Para complementar o programa, a Ascoob Central está desenvolvendo outras ações que visam ampliar a disponibilidade de recursos para funding. Nesse sentido organizações nacionais e internacionais têm demonstrado interesses em parceria com a Central para ampliar o volume de crédito para o desenvolvimento das comunidades atendidas pelo programa. Participam inicialmente do programa as
2. Desenho e ajustes de produtos e metodologias de microfinanças; 3. Fortalecimento da capacidade gerencial das cooperativas de crédito singulares para expandir serviços de microcrédito;
39
cooperativas e cidades abaixo elencadas: Ascoob Itapicuru: Santa Luz, Queimadas, Cansanção, Quijingue e Nordestina; Ascoob Cooperar: Araci, Teofilândia, Tucano e Euclides da Cunha; Ascoob Serrinha: Serrinha, Barrocas e Ichú;
lhoria da qualidade de vida dos agricultores e agricultoras familiares, tais como: Ascoob Móvel: veículo equipado com tecnologias para atender os cooperados em suas comunidades; Ascoob Fácil: instalação de um ponto de atendimento nos espaços físicos dos nossos parceiros.
Ainda nesta perspectiva, a Ascoob Central pretende consolidar o sistema e, ao mesmo tempo, atender plenamente as demandas das cooperativas, buscando estratégias para me-
Assim sendo, é inquestionável a necessidade da implementação de políticas públicas fundamentadas no desenvolvimento rural sustentável, principalmente, para a região semiárida,
CONSIDERAÇÕES FINAIS No Sistema Ascoob é perceptível que, na medida em que o processo é construído e desenvolvido de forma conjunta e participativa, ocorre um aumento no comprometimento de todos para com as ações da cooperativa, pois os cooperados passam a perceber-se como atores sociais do projeto e não como meros espectadores. O conjunto de ações diferenciadas no âmbito do modelo desenvolvido e implantado pelo Sistema Ascoob, destaca-se na metodolo-
Foto: Cláudio Zakka
Ascoob Costa do Dendê: Valença e Taperoá.
Placa: implantação de Placas para divulgação dos empreendimentos financiados com o Crédito das Cooperativas Ascoob.
Ascoob Credimonte: Jacobina;
direcionadas, sobretudo, para o agricultor e agricultora familiar.
40
Entre as ações voltadas para estimular o desenvolvimento socioeconômico nas diversas regiões do país, as cooperativas de crédito, têm incentivado e apoiado projetos empreendedores nas formas associativista e cooperativista. Dessa forma, a assessoria aos agricultores e suas famílias não está apenas vinculado ao projeto de crédito, mas ao enfoque sistêmico aplicado a projetos com
Foto: Cláudio Zakka
gia específica empreendida pelos assessores de crédito, que atuam junto aos agricultores familiares em todo o ciclo do processo, associado às parcerias institucionais com o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), a Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária do Estado da Bahia, através da Superintendência de Agricultura Familiar - SUAF, a Associação Nacional do Cooperativismo de Crédito de Economia Familiar e Solidária (Ancosol) e a União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária (Unicafes), o que têm permitido grandes avanços em termos de aprimoramento e expansão do sistema.
alternativas para erradicação da extrema pobreza rural. Vale ressaltar que são essas ações que estimulam a criação e manutenção de postos de trabalho, resultando na geração de renda. Contudo, o diferencial que
o Sistema Ascoob vai promover aos seus associados é a permanência, de forma satisfatória e sustentável, do produtor rural no campo, reduzindo significativamente migrações aventureiras dos filhos do semiárido a grandes centros urbanos.
LEITURAS COMPLEMENTARES ASSOCIAÇÃO DAS COOPERATIVAS DE APOIO À ECONOMIA FAMILIAR. Estatuto e regimento geral (com últimas emendas e atualizações). Feira de Santana/BA, 2011. ASSOCIAÇÃO DAS COOPERATIVAS DE APOIO À ECONOMIA FAMILIAR. Institucional. Disponível em: <http://www.ascoobcentral.com.br/ nossa-historia> Acesso em: 11 out. 2011. FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 4.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? 12.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
41
SOCIOECONOMIA
Foto: Haroldo Abrantes/SECOM
Certificação de Indicação Geográfica Uma estratégia de inserção no mercado para produtos do Semiárido Clovis Guimarães Filho1
1— Médico Veterinário, M.Sc., Consultor em agronegócio da Caprino-ovinocultura, Ex-pesquisador da Embrapa Semiárido; e-mail: clovisgf@uol.com.br
A
valorização dos produtos caprinos e ovinos através da fixação de um padrão diferenciado de qualidade e de sua certificação é, no contexto atual de grande expansão da caprino e da ovinocultura, a grande, senão única, alternativa estratégica capaz de assegurar a plena expressão do potencial dessas atividades no semiárido e, ao mesmo tempo, de preservar os recursos da caatinga e promover o bem estar das populações que nela vivem e dela dependem. 42
A mesma afirmação pode ser feita também para outros produtos típicos do semiárido, tanto animais, como os produtos apícolas, suinícolas e avícolas, quanto vegetais, como os feijões, os derivados do caju e as frutas nativas, entre outros. A diferenciação dos produtos se dá a partir da incorporação aos mesmos de uma identidade territorial e cultural ligada estreitamente ao ambiente geográfico onde são produzidos.
O CONCEITO DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA A certificação de indicação geográfica é obtida mediante registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, com base na legislação em vigor (atos normativos 134/97 e 143/98 e resolução 075/2000).
A escolha deve ser definida mediante uma análise criteriosa da natureza do produto e de vários outros fatores. Ambas as certificações contemplam uma abordagem territorial, porém para a IP as exigências com relação à vinculação do produto com os fatores naturais e humanos são bem menores, acarretando a vanta-
Foto: Heckel Júnior/SEAGRI
O produto pode ser certificado como Denominação de Origem (DO) ou como Indicação de Procedência (IP), ambas certificações similares às existentes em vários países, sobretudo na Europa. O selo IP certifica um produto de uma região que se tenha notabilizado como centro de produ-
ção de um determinado produto. Podem ser certificados com o selo DO todos os produtos cuja autenticidade e tipicidades se devam exclusiva ou essencialmente ao meio geográfico, incluídos aí fatores naturais (solo, clima) e/ ou humanos (tradição, cultura). É necessário que haja uma clara ligação estabelecida entre o produto, o território e o talento do homem (o saber-fazer).
gem de se acelerar e simplificar o processo de concessão do selo. Tanto a DO como a IP constituem um poderoso instrumento de organização profissional do produtor rural, não sendo possível a utilização da sua marca por produtores de outras regiões. Entre os maiores benefícios da certificação de indicação geográfica está a melhoria acentuada do produto, estabelecendo sua diferenciação em relação a produtos similares. Além disso, a certificação agrega valor ao mesmo, facilita a inserção do produtor no mercado, protege o produto, fortalece as organizações dos produtores e, sobretudo, valoriza a região pela promoção e preservação da cultura e da identidade locais.
Cachaça de Abaíra: reconhecido potencial para certificação
43
Por referir-se também aos aspectos culturais de produção, que incluem a obediência a padrões tradicionais e a características únicas de uma determinada região, a indicação geográfica se presta a angariar a confiança do público e oferecer opções às suas preferências individuais, contemplando, em sua essência, ideias como know-how, qualidade, extração controlada, além de outros fatores predominantemente subjetivos, tais como tradição, charme, sofisticação e simpatia pessoal por uma determinada região ou país (BARROS; SOUZA, 2004).
CERTIFICAÇÕES DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA NO MUNDO E NO BRASIL Dentre as DOs e IPs europeus mais conhecidas no mundo podem ser citados o “Champagne” e os vinhos “Bordeaux”, para vinhos das regiões francesas do mesmo nome, os vinhos “Madeira” da Ilha da Madeira, os queijos franceses “Camembert” (leite de vaca) e “Roquefort” (leite de ovelha) e os presuntos crus “de Parma” e “Pata Negra” espanhol. Em termos de América Latina estão os mais conhecidos “Café da Colômbia”, “Tequila” do México, “Pisco” do Peru e o “Cordeiro Patagônico”
argentino, sem esquecer os tradicionais charutos cubanos. Na Europa, os produtos caprinos e ovinos com certificação de origem são inúmeros. Os exemplos mais conhecidos são o borrego e o queijo “Serra da Estrela”, em Portugal, os cordeiros “Ternasco de Aragon” e “Manchego”, na Espanha, os queijos “Roquefort”, de leite de ovelha, e “Chabichou de Poitou”, de leite de cabra, na França, e os queijos Feta, de leite de ovelha, na Grécia. No Brasil o processo é relativamente recente. Existem apenas dois produtos certificados como Denominação de Origem: o café do cerrado mineiro e o arroz do litoral norte gaúcho. A Indicação de Procedência foi a opção escolhida pelos produtos nacionais que já detêm certificação de indicação geográfica: o “Vinho do Vale dos Vinhedos”, RS, o “Gado do Pampa Gaúcho da Campanha Meridional”, RS, a “Cachaça de Parati”, RJ, os vinhos da Pinto Bandeira, RS, as peles do Vale dos Sinos, RS e a manga e a uva do Vale do São Francisco. Outras iniciativas em busca dessa certificação estão em andamento, entre elas o algodão colorido e têxteis do semiárido paraibano (Denominação de Origem), os queijos do Serro e o da Serra da Canastra-MG e o queijo de coalho do Agreste Pernambucano e os vinhos do Vale do São Francisco. Existe, ainda, o caso da “cachaça do Brasil”, único produto certificado por decreto presidencial, em função, segundo Barros e Sou44
za (2003), da falta de diferenciação desse produto em relação à aguardente de cana proveniente de outros países, ocasionando maiores taxas alfandegárias nos EUA e até mesmo o uso desta expressão para identificar destilados fabricados em outros países.
OS PRODUTOS POTENCIALMENTE CERTIFICÁVEIS NO SEMIÁRIDO Somente a diferenciação dará condições de competitividade aos nossos produtos caprinos e ovinos. A criação de uma ou mais marcas de cabrito, de borrego ou de queijo de cabra da caatinga, com certificação de Indicação de Procedência (IP) ou de Denominação de Origem (DO), se fundamentaria nas relações do animal com o bioma, via um sistema produtivo utilizador de um mínimo de insumos externos e maximizador de tipicidades locais/regionais disseminados pelos distintos espaços do semiárido.
A ideia inicial é de trabalhar mais com o caprino que com o ovino, em função da maior facilidade de associação desta espécie com o bioma caatinga, responsável maior pelas suas especificidades (GUIMARÃES FILHO, 2005). Outro fator favorável ao caprino diz respeito às maiores limitações de
competitividade do ovino face à forte concorrência que se delineia com o crescimento exponencial da atividade, especialmente no Centro-Oeste e Sudeste. Entre os produtos típicos do semiárido brasileiro potencialmente elegíveis para um processo de avaliação, melhoria da qualidade e posterior certificação podemos citar a “carne de sol de Picuí” e o “queijo de manteiga”, ambos do Seridó paraibano/norte riograndense, estes já com ações iniciais junto ao INPI, o “cordeiro de Tauá-CE”, o “cabrito de Uauá-BA”, o “cabrito do Sertão pernambucano do São Francisco”, o “queijo de leite de cabra do Cariri”, o “queijo de coalho de Bodocó-PE”, o “mel de abelhas do Araripe-PE”, a “galinha caipira do semiárido piaueinse“ e o “doce de leite de Afrânio-PE”, entre outros. A “manta do bode dos sertões pernambucano e baiano do São Francisco”, cujas possibilidades para certificação como DO foram levantadas desde 2002 por pesquisadores da Embrapa Semiárido, já é objeto de estudo inicial pelo Instituto Nacional do Semiárido (INSA), em parceria com aquela unidade da Embrapa. Podem ser citados também potenciais produtos de origem vegetal, como a “cajuína dos tabuleiros litorâneos do Ceará e da região de Picos-PI”, a “castanha-de-caju da Serra do Mel-RN”, o “arroz vermelho do vale do Piancó-PB”, o “feijão Canapu do Vale do Guaribas-PI”, a “rapadura de Triunfo-PE” e o “abacaxi de Souza-PB”. Entre os produtos baianos com grande potencial, poderiam ser destacados, além do “cabri-
to de Uauá” e a “manta retalhada do bode do sertão baiano do São Francisco”, “o cordeiro de Casa Nova-Remanso”, a “cachaça de Abaíra”, o ”umbu de Canudos”, o “mel de abelhas de Tucano”, o “tapete de sisal de Valente”, a “pinha de Presidente Dutra”. Outros produtos apresentam potencial, mas precisam ainda de um levantamento e caracterização mais precisa, como alguns queijos de leite de vaca, como o “requeijão Cardoso” da região de Remanso, as farinhas de mandioca, o mel de melipônidas e o coco licuri, entre outros. Uma proposta para produção e certificação para cabritos com IP foi elaborada e apresentada ao Sebrae-BA e à Secretaria de Agricultura deste Estado e ao MAPA ainda no início de 2008, até agora sem retorno, em termos de iniciativas. O “cabrito de Uauá” é uma das propostas mais viáveis, inclusive para uma Denominação de Origem. A região de Uauá, na Bahia, já ganhou notoriedade nacional como a “capital do bode”, o que deve ajudar muito no processo de obtenção do selo de Indicação de Procedência. A proposta do “cabrito de Uauá” prevê um processo de produção em bases agroecológicas, incluindo entre suas qualidades mercadológicas: (1) uso mínimo de agroquímicos e rigoroso controle higiênico-sanitário na produção, processamento e distribuição; (2) baixos teores de gordura, colesterol e calorias, em relação aos demais tipos de carne; (3) sabor característico associado ao pasto natural (sabor da caatinga), maciez e suculên45
cia; (4) forte identidade com os fatores naturais (solo, clima, vegetação, raças autóctones) e humanos (tradição, cultura) do meio geográfico onde é produzida em harmonia com o bioma caatinga. O sabor da caatinga, implícito na carne do “cabrito de Uauá”, viria da associação dos genótipos nativos (Repartida, Marota, Canindé, Curaçá, etc. e seus mestiços) com a vegetação de caatinga, da qual se alimentam, pelo menos em parte de sua vida. Na realidade, as qualidades da sua carne e da sua pele estão intrinsecamente associadas ao processo de seleção natural a que foram submetidos os caprinos trazidos pelos colonizadores a partir de 1535, permeado por longas caminhadas através da vegetação seca e espinhosa, ingerindo uma dieta natural extremamente diversificada e submetido a intensa incidência solar, a altas temperaturas, a prolongados períodos de escassez de água e de outros alimentos. Essa condição lhes acarretou uma alta rusticidade, sem perda de prolificidade, embora em detrimento da função leiteira e do porte. É, portanto, uma carne construída ao longo de 470 anos, o que lhe dá, no caso dos animais jovens, uma coloração tendendo para rósea e um sabor agradável bastante característico, diferente do observado em qualquer outro tipo. O cabrito seria abatido com idade entre 6 e 10 meses (dente-de-leite), com peso vivo médio de 23 a 28 kg e peso de carcaça de 10 a 12 kg e sua
produção estaria delimitada a uma área correspondente ao Território Sertão do São Francisco, composto por 14 municípios, abrangendo uma superfície total superior a 61 mil km2 e com um rebanho caprino da ordem de 2 milhões de cabeças, correspondendo a aproximadamente 20% do rebanho nordestino (IBGE, 2008). A área proposta para a etapa piloto do projeto é constituída dos municípios de Uauá, Canudos, Curaçá e Juazeiro, se possível em comunidades de fundo de pasto (Figura 1). O sistema produtivo proposto é apenas uma referência, devendo ser adaptado às circunstâncias de cada unidade e de cada produtor. Não é flexível, contudo, no que con-
cerne à exigência da predominância de raças nativas e de processos agroecológicos de cultivo e criação. Nesse sentido, o sistema procura contemplar as principais práticas de convivência com a seca e de preservação ambiental recomendadas pelas instituições de pesquisa, para zonas semiáridas, sistematizadas no uso preferencial de recursos autóctones, de pastos cultivados tolerantes a seca, de métodos racionais de uso da vegetação nativa, de arborização dos pastos cultivados, de suplementação alimentar nos períodos secos com bancos de proteína/ energia, de estabelecimento de reservas estratégicas alimentares para períodos de estiagem prolongada, de uso mínimo de insumos externos e de interação com agricultura, ex-
46
trativismo e outros subsistemas da propriedade. O “Gado do Pampa Gaúcho” segue, de alguma forma, muitas dessas premissas, mesmo elegendo raças exóticas (Hereford e Angus) como as únicas aceitas pelo seu Regulamento Técnico. A sua base alimentar é constituída de pastagens nativas e nativas melhoradas e pastagens cultivadas de inverno em regime extensivo, não sendo permitido o uso de pastagens de verão. Os animais devem permanecer livres todo o ano, não sendo permitido suplementação alimentar com grãos no último ano antes do abate do animal. A utilização da vegetação da caatinga e de raças nativas são premissas básicas no processo produtivo
do “cabrito de Uauá”. Mesmo que esses fatores limitem um pouco a capacidade de um abate em idade mais precoce, isto não constitui problema maior, já que essa aparente desvantagem poderia ser neutralizada pela produção de carcaças mais leves ou largamente compensada, tanto por custos unitários de produção menores, quanto pelo maior valor agregado ao produto pelas suas especificidades mercadológicas. Carcaças mais leves têm também larga aceitação no mercado brasileiro. No exterior, um dos mais famosos cordeiros da Espanha, o “cordero Manchego”, com Denominação de Origem, é abatido aos 90 dias, com peso vivo de 22 a 28 kg e carcaça de 10 a 14 kg. Em outras palavras, o produtor do “cabrito de Uauá” não teria maiores preocupações com comparações de ganhos-de-peso ou idade ao abate em relação às raças exóticas especializadas. A qualidade do produto teria uma maior relevância. Como importante instrumento do sistema de gestão de qualidade,
Foto: Alberto Coutinho/AGECOM
Tapete de sisal de Valente, produto baiano de grande potencial para certificação
a rastreabilidade será priorizada no processo de produção do “cabrito de Uauá”. O objetivo é que todos os produtos dentro de um supermercado, de um açougue ou de um restaurante sejam conhecidos e controlados, bem como todas as unidades produtoras e transformadoras que enviam esses produtos. Os procedimentos, inicialmente, terão como base aqueles estabelecidos pelo MAPA, consideradas as naturais adaptações à espécie caprina e às nossas condições de produção. O sistema identificará animais, carcaças e cortes em suas embalagens e configurações de transporte e estocagem, em todas as etapas de produção e suprimento. Por sua complexidade e por implicar significativos custos adicionais, o sistema de rastreamento deverá ter uma implantação gradativa (período de carência mínimo de 36 meses), visando sua consolidação em uma etapa posterior do empreendimento. 47
O PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO UMA AGENDA DE TRABALHO O reconhecimento de uma indicação geográfica ao INPI pode ser requerido por um sindicato, associação, instituto ou qualquer outra pessoa jurídica de representatividade coletiva, com legítimo interesse e estabelecida no respectivo território. A certificação de IP ou de DO credencia a organização requerente como responsável pelo monitoramento regular da qualidade do produto e pelo atendimento às exigências de certificação. Para isso, a associação tem que estar formalmente constituída e possuir um sistema de controle interno (Conselho Regulador). Ao Conselho Regulador caberá a elaboração e implementação de um regulamento técnico, uma espécie de “manual de obrigações” (normas e proce-
dimentos de criação, seleção dos animais a certificar, rastreabilidade, transporte, abate, processamento final, rotulagem, não esquecendo as infrações e penalidades) a serem cumpridas pelos produtores. Antes, porém, é necessário que se identifiquem e definam as especificidades do produto a ser certificado, vinculando-as a uma ou mais características próprias daquele espaço e se delimite a sua zona de produção. O meio geográfico marca e personaliza o produto pelo que a delimitação da zona produtora torna-se pré-requisito indispensável. O processo junto ao INPI é ilustrado na Figura 2. No pedido de registro de uma IP constam elementos específicos que devem ser apresentados. São eles: Elementos que comprovem ter o nome geográfico se tornado conhecido como centro de extração, produção ou fabricação do produto de prestação de serviço;
estabelecidos na área geográfica demarcada e exercendo, efetivamente, as atividades de produção ou de prestação de serviço. Para um programa estadual voltado para certificação de seus produtos, as etapas de implantação poderiam compreender: 1. Formação de competências regionais em organização e implementação de processos de IGs; 2. Identificação, zoneamento e seleção dos produtos de maior potencial para serem trabalhados e submetidos à certificação; 3. Fortalecimento do nível organizacional dos produtores (associações, cooperativas, etc.) e formação de conselhos reguladores e grupos gestores e formatação de arranjos organizacionais que permitam a incorporação de novos atores;
Elementos que comprovem a existência de uma estrutura de controle sobre os produtores ou prestadores de serviços que tenham o direito ao uso exclusivo da indicação de procedência, bem como sobre o produto ou a prestação do serviço distinguido com a Indicação de Procedência;
4. Estruturação de redes locais de apoio técnico e gerencial (capacitações e assistência técnica qualificada);
Elementos que comprovem estar os produtores ou prestadores de serviços
6. Pesquisas e ações de apoio à regulamentação técnica do produto a certificar (especi-
5. Estabelecimento de programa de financiamento direcionado para estruturar a produção, beneficiamento e comercialização dos produtos;
48
ficidades técnicas e mercadológicas, padronização da qualidade, definição de DO ou IP, delimitação e caracterização geográfica, sistemas de produção e beneficiamento, rastreabilidade, rotulagem, controle da produção, etc.). A estratégia de lançamento de cada produto no mercado se baseará, ainda, em um plano de marketing a ser desenvolvido pela associação/cooperativa, com o apoio do Sebrae-BA, o qual procurará criar, desenvolver e fixar a imagem dessa linha de produtos junto aos consumidores. Esse plano deve começar com a escolha da marca, definindo-se por uma que se identifique com o produto e se adeque às embalagens, equipamentos de exposição e peças publicitárias a serem criadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suma, é necessário que políticas públicas sejam implementadas no sentido de buscar consolidar o reconhecimento local e regional de produtos regionais como os acima sugeridos, iniciando a caminhada para sua valoração e um posterior reconhecimento nacional. Uma ação inicial por parte da pesquisa seria essencial para fundamentar um processo de identificação e espacialização das potenciais marcas de cabritos, borregos, queijos, méis e outros produtos, baseados em elementos de identidade coletiva
e ativos e fatores diferenciais que, segundo Flores (2003), permitiriam desenvolver novos negócios relacionados com agregação de valor, aproveitando as tipicidades e os patrimônios culturais e sociais específicos, tão abundantes no Semiárido. É bastante procedente o alerta de Altmann (2006) de que a simples aplicação de um selo de garantia de qualidade por si só não assegura a colocação dos produtos no
mercado em condições vantajosas. O produto e seu sistema têm que ser plenamente conhecidos e respeitados por produtores, processadores e distribuidores e, sobretudo, reconhecido pelos consumidores, o que exige, também, concomitantes investimentos em marketing. Concebido e operado dessa maneira, tais empreendimentos permitiriam a obtenção de resultados
efetivamente impactantes na melhoria dos processos de utilização dos recursos naturais de solo, água, planta e animal do bioma caatinga e de gestão do espaço rural como um todo, na maior valorização da cultura e do saber-fazer locais e no melhor ordenamento e equilíbrio no processo de integração econômica e social entre as distintas condições agroecológicas e sócio-econômicas existentes nessa região.
Referências ALTMANN, R. Certificação de qualidade e origem e desenvolvimento rural. In: LAGES, Vinicius et al. (Org.). Valorização de produtos com diferencial de qualidade e identidade: indicações geográficas e certificações para competitividade nos negócios. Brasília: Sebrae, 2005. p.133-140 BARROS e SOUZA ADVOGADOS. Panorama interno e externo da proteção às indicações geográficas. 2004. 9p. (disponível na internet) FLORES, M. X. Projeto de fortalecimento das capacidades competitivas dos pequenos produtores rurais: desenvolvimento territorial e estratégias inovadoras. Brasília: EMBRAPA/CONTAG/Fundação Lyndolpho Silva/SEBRAE-BID, 2003. 46 p (documento de trabalho não publicado). GUIMARÃES FILHO, C. Uma estratégia de inserção no mercado para a caprino e a ovinocultura de base familiar do Semi-Árido. In: SEMINÁRIO NORDESTINO DE PECUÁRIA – PECNORDESTE, 9. 2005, Fortaleza, CE: FAEC/CNA/SENAR/SEBRAE, 2005. CD-ROM OSÓRIO, J. C. S. et al. Sistema de produção de cordeiros para abate: produção integrada Herval Premium.In: SEMINÁRIO NORDESTE RURAL, Aracaju-SE, 2005. CD-ROM. 49
Foto: Heckel Júnior/SEAGRI
SOCIOECONOMIA
Comportamento dos preços, existência de ágio ou deságio, margens, instituições e canais na comercialização de cacau no ano de 2009 Antonio César Costa Zugaib1-2
O
Mercado de cacau em amêndoas no Brasil já experimentou diversos períodos de excedentes e déficits. Atualmente, vivenciamos uma fase de déficits, em que, por causa dos baixos preços praticados na década de 80 e principalmente na década
1— MS em Economia Rural-UFV e Especialista em Comércio Exterior-FGV/FUNCEX, Técnico em Planejamento da CEPLAC-MAPA e Professor do Departamento de Economia da UESC-BA; e-mail: zugaib@cepec.gov.br 2— O autor agradece a Thomas Hartmann e Geraldo Dantas Landim pelos esclarecimentos sobre os custos na formação de preços.
de 90, o baixo uso dos fatores de produção e o aparecimento da doença vassoura-de-bruxa fizeram com que a produção baiana e consequentemente a produção brasileira de cacau tenham se reduzido drasticamente e não acompanhado a demanda. Esse comportamento se refletiu na existência de déficits no mercado interno que tem sido suprido com importações de cacau (Tabela 1). A procura por cacau em amêndoas aumentou significativamente no mercado interno em virtude desses déficits e as indústrias para 50
honrarem seus compromissos tanto internos quanto externos instituíram o que podemos chamar de um ágio, ou seja, um prêmio em US$/t pago no mercado nacional, em cima do preço em tonelada do cacau em amêndoas cotado na bolsa de mercadoria de Nova York. No período compreendido entre 21/04/95 e 25/05/95 esse mesmo mercado já experimentou ágio, variando entre 10,55% e 32,22%. O que significa que o exportador que desejasse vender para o mercado externo teria um prejuízo, já que as indústrias locais estariam pagando um preço superior ao preço pago
TABELA 1
COMPORTAMENTO DO MERCADO BRASILEIRO DE CACAU
Ano Agrícola Internacional
Produção Brasileira
Importação
1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98 1998/99 1999/00 2000/01 2001/02 2002/03 2003/04 2004/05 2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11
347.900 368.100 306.200 308.600 282.700 225.000 230.700 185.000 170.000 137.500 123.500 162.800 123.600 162.600 163.400 170.800 161.600 126.200 170.500 157.000 161.200 198.000
– – 721 1.898 2.438 5.182 136 9.909 16.882 48.058 90.065 41.726 46.170 66.033 43.845 44.608 49.594 74.395 108.687 61.104 47.076 31.281
Período, 1989/90 a 2009/10
Exportação
Consumo Aparente
Moagens Aparente
Sup/Def Antes Imp
Sup/Def Depois Imp
116.695 107.360 75.553 95.511 90.377 40.979 27.382 11.615 6.697 4.272 2.234 2.482 3.495 2.468 1.564 965 855 559 563 240 288 338
231.205 260.740 231.368 214.987 194.761 189.203 203.454 183.294 180.185 181.286 211.33 202.044 166.275 226.165 205.681 214.43 210.339 200.036 278.624 217.864 207.988 228.943
236.300 260.000 230.000 225.000 225.000 195.000 205.300 180.000 187.800 192.400 201.600 194.900 172.600 195.500 206.800 208.800 222.700 226.300 231.700 216.100 226.100 232.000
111.600 108.100 76.200 83.600 57.700 30.000 25.400 5.000 -17.800 -54.900 -78.100 -32.100 -49.000 -32.900 -43.400 -38.000 -61.100 -100.100 -61.200 -59.100 -64.900 -34.000
111.600 108.100 76.921 85.498 60.138 35.182 25.536 14.909 -918 -6.842 11.965 9.626 -2.830 33.133 445 6.608 -11.506 -25.705 47.487 2.004 -17.824 -2.719
Produção e Moagens - Dados ICCO - Outubro a Setembro Importação e Exportação - Dados MDIC - Outubro a Setembro Exportação e Importação até Outubro a Junho
no mercado internacional. A partir de 25/05/95, o ágio começou a cair chegando a 10,24% provando que as importações de cacau realmente fizeram com que os preços despencassem no mercado interno (ZUGAIB, 1995). O objetivo deste trabalho é verificar se o preço em R$/@ recebido pelo produtor de cacau em amêndoas no ano de 2009 está contendo ágio ou deságio. Mensurar esse ágio ou deságio, calcular as margens de comercialização, identificar as instituições e analisar os canais de comercialização existentes no mercado de cacau.
zz Cálculo do ágio ou deságio Para analisar se o preço do cacau em amêndoas está contendo ágio ou deságio este trabalho fez uma comparação entre o preço em R$/@ recebido pelo produtor na praça de Ilhéus-Bahia, com o preço do cacau integral ou bruto cotado na bolsa de Nova York em amêndoas convertido em R$/@ ao produtor, e também com o preço de cacau em amêndoas em R$/@ ao produtor cotado na bolsa de Nova York exportado, ou seja, abatendo os custos de comercialização e administrativos na 51
exportação, ambos os preços repassado para o produtor. Foi calculado um fator que multiplicado pelo preço ao produtor, transformado em toneladas e convertido em US$, nos dava exatamente o ágio ou deságio que estava sendo pago no mercado, além daquele cotado em bolsa, ou seja, o preço exportado bruto. Usando o mesmo raciocínio também foi calculado o ágio ou deságio caso o cacau fosse ou não exportado, ou seja, mantendo ou retirando todos os custos de exportação: corretagem, comissão, custos gerais (frete fazenda/ar-
mazém, armazém/manipulação, frete armazém/porto, capatazia e desembarque, sacaria e fio e emissão do conhecimento de embarque (um contrato em bolsa). Se o resultado fosse positivo o mercado estaria pagando ágio, caso contrário, o mercado estaria pagando deságio. zz Instituições de comercialização As instituições de comercialização são constituídas de indivíduos ou organizações que operam nos diversos segmentos de mercado. As instituições constituem-se nos agentes do sistema de comercialização, os quais possuem características e padrões específicos de comportamento que os distinguem entre si, no desempenho das diversas funções da comercialização. zz Canais de comercialização De acordo com Massilon (2009), os caminhos percorridos pelos produtos são denominados canais de comercialização, que variam de acordo com cada produto e região, envolvem diferentes agentes comerciais (ou intermediários), agroindústrias e serviços e demandam diferentes infraestruturas de apoio (logística). Para identificação dos canais de comercialização tomou-se como referência a divisão feita em níveis por Massilon (2009). O estudo de canais de comercialização é útil como forma de ampliar a compreensão da organização da comercialização nos seus aspectos externos ou estruturais. A identificação de canais
de comercialização serve para dar uma visão ampla do sistema de comercialização, sua organização e funcionamento. zz Margens de comercialização A margem de comercialização (Mc) refere-se a diferença entre os preços em níveis diferentes do sistema de comercialização. No caso do cacau usaremos a diferença entre o preço de venda para exportação (Pve) e os preços recebidos pelos produtores (Prp). É também representada pela distância vertical entre as curvas de demanda (D) e oferta (O). A Margem de comercialização refere-se apenas à diferença de preço, e não diz coisa alguma sobre a quantidade de produto comercializado. Há diversas maneiras de quantificar as margens, dependendo dos objetivos que se têm em mente. Neste estudo, usaremos três maneiras: a) Margem de comercialização absoluta (MCA); b) Margem de comercialização relativa total ou margem do exportador (ME); c) Margem do produtor (MP) ou participação do produtor.
RESULTADOS E DISCUSSÕES zz Ágio e deságio De acordo com a Tabela 2 podemos verificar que os resultados 52
foram compostos apenas por ágio e não por deságio, isto pode ser explicado pelo déficit existente no mercado nacional nos últimos anos. Convertendo o preço bruto cotado na bolsa de Nova York (US$ 2.565,00/t) para Reais/@ (R$ 87,34/@) e comparando com o preço recebido pelo produtor R$ 90,00/@, o ágio encontrado para o dia 05/01/2010 foi de US$ 78,17/t. Esse ágio somado a US$ 2.565,00/t perfaz US$ 2.643,17/t convertidos em R$/@ dar justamente o preço pago ao produtor R$ 90,00/@. Os resultados comprovaram no ano de 2009 a existência de um ágio no preço em US$/t ofertado pelas indústrias no mercado interno que variou de US$ 5,94/t a US$ 314,53/t (Tabela 2 e Gráfico 1). Podemos verificar ainda que se o cacau fosse exportado o mercado teria de arcar ainda com os custos de exportação de US$ 226,95/t que somados ao preço de mercado na bolsa de Nova York US$ 2.565,00/t totalizaria US$ 2.791,95/t. Esse deveria ser o preço cotado em bolsa que o mercado teria que pagar se o cacau fosse exportado, justifica-se pela agregação do custo de exportação. Acrescentando o ágio de US$ 78,17/t que o mercado está pagando chegaria ao preço de US$ 2.870,14/t. Na verdade, o que nós estamos chamando de ágio se o cacau fosse exportado seria o ágio puro real US$ 78,17/t mais o custo da exportação que o mercado teria que arcar US$ 226,95/t que totalizaria US$ 305,14/t (Tabela 2 e Gráfico 2).
Verificou-se um comportamento inverso entre a cotação do cacau no mercado internacional e a taxa de câmbio em 2009, ou seja, a partir de julho enquanto o preço do cacau em amêndoas subiu no mercado internacional houve uma sobrevalorização cambial. Duas variáveis influenciam diretamente na formação do preço de
US$ 3.233,00/t, a taxa de câmbio sofreu uma valorização indo para R$1,74=US$ 1,00 contribuindo para que o preço ao produtor caísse para R$ 87,00/@. Apesar da elevação do preço da tonelada do cacau em amêndoas no mercado internacional, a valorização do real frente ao dólar fez o preço cair no mercado interno (Grá-
CÁLCULO DO ÁGIO OU DESÁGIO NO MERCADO DE CACAU EM AMÊNDOAS EM 2009
TABELA 2
Data
cacau em amêndoas: a sua cotação na bolsa de mercadorias e a taxa de câmbio. No início do ano (05/01/2009) o preço do cacau em amêndoas estava sendo cotado no mercado internacional em US$ 2.565/t, a taxa de câmbio R$ 2,27=US$1,00 com o preço ao produtor R$ 90,00/@, já no final do ano o preço aumentou para
Preço Bolsa Ny Câmbio US$/t US$/R$
Ágio ou Ágio ou Preço ao Preço Bolsa NY Deságio Preço Bolsa NY Deságio Produtor Exportação Base, Bolsa Bruto R$/@ Base, Bolsa R$@ R$/@ NY NY - Bruto Exportação
Pve
Prp
Fator
Fator
Ágio ou Deságio Base, Bolsa NY - Bruto
Preço Bolsa Ny Bruto com Ágio
US$/t
US$/t
Ágio ou Deságio Preço Exportação Base, Bolsa com Ágio NY Exportação
US$/t
US$/t
05/01/2009
2.565,00
2,27
90,00
87,34
79,61
0,03
0,12
78,17
2.643,17
305,14
2.870,14
06/01/2009
2.606,00
2,18
90,00
85,22
77,56
0,05
0,14
146,29
2.752,29
380,43
2.986,43
07/01/2009
2.636,00
2,21
90,00
87,38
79,65
0,03
0,12
78,93
2.714,93
312,22
2.948,22
08/01/2009
2.634,00
2,26
90,00
89,29
81,50
0,01
0,09
20,87
2.654,87
250,74
2.884,74
09/01/2009
2.582,00
2,28
90,00
88,30
80,54
0,02
0,11
49,58
2.631,58
276,61
2.858,61
12/01/2009
2.506,00
2,29
90,00
86,08
78,40
0,04
0,13
114,09
2.620,09
337,70
2.843,70
13/01/2009
2.456,00
2,30
90,00
84,73
77,10
0,06
0,14
152,70
2.608,70
373,91
2.829,91
14/01/2009
2.376,00
2,33
93,00
83,16
75,47
0,11
0,19
281,18
2.657,18
500,86
2.876,86
16/01/2009
2.461,00
2,32
91,50
85,79
77,98
0,06
0,15
163,78
2.624,78
387,84
2.848,86
19/01/2009
2.463,00
2,33
91,00
86,07
78,40
0,05
0,14
140,94
2.603,94
360,55
2.823,55
20/01/2009
2.479,00
2,35
90,00
87,53
79,66
0,03
0,11
69,85
2.548,85
292,83
2.771,83
21/01/2009
2.600,00
2,35
92,00
91,79
79,66
0,00
0,09
5,94
2.605,94
233,12
2.833,12
22/01/2009
2.598,00
2,33
95,00
90,77
83,77
0,04
0,13
121,22
2.719,22
344,91
2.942,91
23/01/2009
2.661,00
2,36
95,00
94,04
82,50
0,01
0,09
27,17
2.688,17
248,16
2.909,16
26/01/2009
2.660,00
2,31
99,00
92,33
86,23
0,07
0,15
192,08
2.852,08
424,36
3.084,36
27/01/2009
2.757,00
2,31
96,00
95,53
84,27
0,00
0,09
13,44
2.770,44
245,01
3.002,01
28/01/2009
2.757,00
2,30
100,00
95,01
87,51
0,05
0,13
144,83
2.901,83
374,05
3.131,05
29/01/2009
2.797,00
2,28
100,00
95,46
87,11
0,05
0,14
133,02
2.930,02
401,12
3.198,12
30/01/2009
2.778,00
2,32
100,00
96,48
88,61
0,04
0,11
101,27
2.879,27
327,95
3.105,95
53
fico 3). Outro fator que contribuiu também para a redução do preço do cacau em amêndoas no mercado interno apesar do aumento no mercado externo (Gráfico 4) foi a redução gradual do ágio no segundo semestre (Gráfico 5).
zz Margens na Comercialização As margens de comercialização do produtor se concentraram (média) na faixa dos 90,8%, variando entre 85,11% e 91,84%. Já
54
as margens de comercialização do exportador se concentraram (média) na faixa dos 9,2%, variando entre 8,16% e 14,89%. Isto pode ser explicado porque o imposto de exportação e o imposto sobre circulação de mercadorias
e serviços – ICMS, com 10% e 13%, respectivamente, sobre as exportações foram retirados, assim como, o PIS e CONFINS não incidem também sobre as exportações de cacau (Gráfico 6). zz Instituições e canais de comercialização A comercialização de cacau passou por duas fases no passado: o livre comércio e a intervenção estatal. No livre comércio o grande objetivo da comercialização era o mercado externo. Caracterizava-se por um movimento interno com a presença de intermediários e casas comissárias e um movimento externo com a presença
de exportadores e países consumidores, proporcionando uma concentração e uma forma atomizada e dispersiva de produção. A partir de 1929, o Estado interfere na economia do cacau criando o Instituto de Cacau da Bahia (ICB), favorecendo o crédito, diminuindo as taxas de juros e monopolizando o transporte, armazenamento, industrialização e compra e venda do produto. Mais adiante com a chegada de algumas indústrias processadoras na região, a exemplo da Joanes, Cargill, Barreto de Araújo, Itaísa, entre outras, o processo de comercialização se torna mais complexo. A comercialização do 55
cacau no eixo Ilhéus-Itabuna, que antes só tinha a participação dos agentes, filiais e pequenos comerciantes, passa a ter a participação dos exportadores, corretores, dealers e indústrias processadoras, que ficavam em Salvador e no sul e sudeste do Brasil. O processo de comercialização se torna mais profissional com as indústrias e cooperativas comercializando cacau na bolsa de mercadorias de Londres e Nova York (Figura 1). Porém, os produtores atuam no contexto como meros tomadores de preços. Com a crise instalada na região consequência da chegada da vassoura-de-bruxa, as institui-
ções integrantes dos canais de comercialização do cacau foram extintas e deixaram de operar, a exemplo das processadoras Barreto de Araújo, Berkau, Chadler e várias agências exportadoras. Mas, o que realmente interrompeu o processo de independência do produtor na cadeia produtiva do cacau foi o processo de liquidação da Copercacau Central e da ITAÍSA. O produtor que já estava produzindo líquor, torta, manteiga e pó, viu interromper o sonho de produzir o produto final, chocolate, aumentando sua dependência vinculada diretamente às indústrias de processamento (Figura 2). Zugaib et al (2009), analisaram o mercado processador através dos índices de concentração das quatro maiores firmas
(CR4) e de Herfindahl-Hirschman (IHH) e concluíram que o índice de concentração calculado para 1990/91, levando em consideração as participações das indústrias processadoras no mercado do cacau, apontou para um CR4 de 65% e o IHH de 1.406. Os resultados evidenciaram a presença de competição no mercado processador de cacau, considerada uma competição moderada. Entretanto, em relação ao período de 2004/05, já sentindo os efeitos da crise pode-se constatar uma mudança na estrutura de mercado processador de cacau no Brasil. Os resultados para o Índice CR4 de 94% e IHH de 2.592 evidenciaram alta concentração do mercado, portanto, oligopsônico, apontando para a ausência ou uma competição extremamente 56
baixa, mostrando imperfeições no mercado (Figura 2). Depois da crise podemos dizer que os canais de comercialização voltaram a ter uma estrutura parecida com a original, porém no seu fluxo pode-se notar uma tímida aparição de exportadores e uma participação mais ativa do produtor de cacau através da constituição de agroindústrias cooperativas na fabricação de chocolate. Tomando como referência Massilon (2009) e fazendo algumas adaptações, os canais de comercialização de cacau foram classificados em oito níveis: Nível 1 – composto por produtores de cacau. A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPLAC através dos Centros
de Pesquisa – CEPEC e Extensão Rural - CENEX exerce as funções respectivas. A Universidade Estadual Santa Cruz – UESC também se faz presente no agronegócio. Nível 2 - encontram-se os intermediários que são os agentes, filiais e pequenos comerciantes. São também chamados de partidistas. Pessoas ou empresas que compram o cacau dos produtores e o repassa para outros níveis de comercialização, ou mesmo para intermediários menores. Nível 3 - estão as agroindústrias, que podem processar ou industrializar o cacau adquirindo-o diretamente dos produtores ou de intermediários. Processing/Processadoras – estão incluídas as empresas que produzem o produto semi-elaborado (líquor, torta, manteiga e pó). No Brasil temos Cargil, Joanes, Delfi, Barry Calebaut e Indeca. Manufatories/Merchants (Indústrias) – definido como as indústrias que produzem o produto final chocolate. De modo geral preferem adquirir cacau diretamente dos dealers, que honram seus compromissos. Para a fabricação do chocolate no Brasil, identificam-se 100 indústrias associadas a Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate, Amendoins e Balas - ABICAB, sendo três delas de grande porte (com cerca de 4.000 empregos gerados), seis de médio porte (entre 1.000 e 2.000 empregos gerados),
1 pequeno porte (entre 500 e 1.000 empregos gerados) e 90 de mini porte (com menos de 500 empregos gerados). Destas empresas, quarenta e seis são responsáveis por 90% das vendas externas, referente ao cacau já processado ou industrializado na forma de chocolate. Juntas faturaram, em 2008, R$ 7,2 bilhões (ABICAB, 2009). Os maiores fabricantes mundiais de chocolate faturaram em 2011 US$ 67,59 bilhões. A empresa Kraft Foods Inc lidera as vendas com US$ 16,82 bilhões, seguido pela Mars Inc US$ 15 bilhões e pela Nestlé US$ 11,26 bilhões (CANDY INDUSTRY/ICCO, 2011). Atualmente, os produtores através da Cooperativa Cabruca e Associação dos Produtores de Cacau – APC, tendo o suporte técnico da CEPLAC, estão se estruturando para reduzir a dependência da cadeia produtiva do cacau a essa estrutura de mercado. Algumas iniciativas têm sido realizadas através da Cooperativa CABRUCA e da APC Cooperativa Agroindustrial de Cacau e Chocolate, a primeira produzindo um cacau fino, orgânico, buscando indústrias no exterior que dêem um preço mais justo por agregar mais valor, enfim tratando o cacau não mais como uma commodity cotada nas bolsas de mercadorias (NY e Londres), mas um produto especializado com mais valor agregado que necessita ter preços mais compensadores e a segunda procurando nichos de mercado para consumir um cacau fino, com fermentação e secagem adequada para produção de um 57
chocolate ecológico, de origem única com indicação geográfica, com rastreabilidade, com um sistema de produção integrado bem definido, um chocolate negro com alto teor de cacau e baixo teor de açúcar, meio amargo, enfim, que responda a questões éticas e ambientais. Participações no Salão do Chocolate em Paris e na China já acontecem como iniciativas dos produtores de cacau. Esse comportamento aliado ao aumento do consumo devido à utilização de um maior teor de cacau no chocolate tem deixado as instituições atuantes no mercado de cacau sem parâmetros eficientes com relação aos fatores fundamentais, pressionando os preços de cacau em amêndoas nas bolsas de mercadorias para cima. Quando se falava em agregação de valores para aumento da renda dos produtores de cacau, o conceito que vinha a mente imediatamente era a diferenciação do produto, ou seja, com investimentos em equipamentos, tecnologia e marketing poderia sair da produção de amêndoas para produção e comercialização de líquor, torta, manteiga, pó e o próprio chocolate. Com a evolução passamos a enxergar que para agregar valor ao produto podemos usar de novos conceitos como certificação, rastreabilidade, indicação geográfica, boas práticas, análise de perigos e pontos críticos de controle - APPCC e finalmente produção integrada. A Associação dos Produtores de Cacau APC realizou recentemente um
convênio de nº 753292/10 com a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo - SDC do Ministério de Agricultura Pecuária e Abastecimento - MAPA, visando apoiar o projeto de criação e implantação de indicação geográfica para o Cacau Cabruca Bahia (Figura 3). Dadas as condições para a recuperação da cacauicultura baiana, tanto em termos de resolução das dívidas existentes, quanto da liberação de crédito a custos compatíveis para novos investimentos em pesquisa, infraestrutura e renovação dos cacauais por clones mais resistentes e de alta produtividade hoje disponíveis, esta poderá alcançar rapidamente a produção outrora obtida e contribuir para o país voltar ao topo do mercado internacional, desta vez, com um cacau de alta qualidade, com novos nichos de mercado e em bases mais sustentáveis.
Nível 4 - encontram-se os representantes comerciais que são pessoas físicas ou jurídicas que representam determinadas empresas, recebendo comissões (percentagens) sobre vendas efetuadas com base em preços préestabelecidos, sem vínculos empregatícios e, geralmente, sem a responsabilidades da operação da entrega. Corretores – São firmas normalmente instaladas nos países produtores que, de modo geral, vendem o cacau físico aos dealers ou recebem destes ofertas para serem repassadas aos exportadores. O corretor é um simples intermediário entre o dealer e o exportador não detendo, portanto, a posse da mercadoria e, normalmente quando os negócios são concretizados recebem uma comissão de 0,375% sobre o valor FOB (Free on Board), paga pelo vendedor.
Nível 5 - encontram-se o Governo e as bolsas de mercadorias. As bolsas de mercadorias têm a função de ofertar serviços de pregão de produtos agropecuários, diretamente ou por intermédios de representantes comerciais comissionados. O cacau em amêndoas é cotado nas bolsas de mercadorias de Londres e Nova York. As características da produção de cacau contribuem para um ciclo de preço de longo prazo. Em outras palavras, é difícil ajustar a oferta rapidamente às necessidades da demanda. Oferta excessiva ou oferta insuficiente podem causar fortes oscilações de preço muito antes que o mercado à vista possa equilibrar a oferta. Por esse motivo, o mercado futuro de cacau da NYBOT lista contratos com mais de 18 meses. Por exemplo, em setembro de 2010, a Bolsa estava listando contratos de julho de 2011 e já estava negociando contratos de maio de 2012. O contrato futuro de cacau (CC) listado na NYBOT prevê a entrega de 10 toneladas métricas de amêndoas de cacau (22.046 libras). O contrato é calculado em dólares por tonelada métrica e a flutuação mínima de preço (tick) é de um dólar por tonelada métrica (cada tick equivalendo a US$ 10/contrato). Cada lote de cacau é então classificado através de amostragem por profissionais licenciados pela Bolsa e o preço pode ser ajustado quando há imperfeições em relação aos padrões estabelecidos.
58
Conhecer o histórico das oscilações de preço é um componente fundamental do planejamento e gerenciamento de risco. Um gráfico com o histórico de dez anos dos preços dos contratos futuros de cacau com data de vencimento mais próxima oferece uma visão clara das tendências do mercado no longo prazo. No curto prazo também o gráfico auxilia nas tendências de mercado (Gráfico 7). O mercado global de cacau da NYBOT oferece serviços e ferramentas cruciais para toda a indústria do cacau. Embora apenas um pequeno percentual dos contratos futuros de cacau resulte em entrega, a New York Board of Trade está extremamente comprometida com a armazenagem, a amostragem e a classificação da commodity. A presença da NYBOT no mercado físico envolve a entrega do cacau como previsto no contrato. Em 1990, a Bolsa começou a usar um sistema eletrônico interno – o Commodity Operations and Processing System (COPS®), para rastrear os embarques de café e de cacau certificados para entrega através
da Bolsa, com a respectiva documentação. Em 2003, a NYBOT transformou o pioneiro sistema COPS em eCOPS®, que permite a transferência de toda a documentação crítica, e da propriedade, via internet. Com a expansão do eCOPS, a indústria do cacau pode transferir todo o processo de documentação manual, que exige mão-de-obra intensiva e é mais passível de erros, para uma plataforma eletrônica, com economia de custo e maior eficiência. O sistema gerencia entregas de ativos negociados à vista, assim como entregas previstas nos contratos negociados na Bolsa. A NYBOT também oferece às indústrias do cacau e do café modernas instalações para a classificação dos produtos. O processo de classificação está a cargo de profissionais licenciados. O cacau é classificado através da análise das amêndoas, verificando-se os pontos fortes e os pontos fracos relacionados ao padrão estabelecido pela Bolsa. A NYBOT também
59
oferece apoio administrativo à Cocoa Merchants Association of America (CMAA), outro exemplo de comprometimento com as indústrias representadas nos contratos. Além dos tradicionais contratos futuros, o mercado de cacau da NYBOT oferece contratos de opções sobre contratos futuros de cacau. As opções de cacau (CO) começaram a ser negociadas em 1986, na Coffee, Sugar & Cocoa Exchange (CSCE), uma das bolsas predecessoras da NYBOT. Os contratos de opções oferecem grande flexibilidade para estratégias de gerenciamento de risco. Enquanto os contratos futuros permitem que os usuários do mercado fixem um preço específico, os contratos de opções permitem que os compradores determinem um teto ou piso para o preço, limitando o risco ao prêmio, evitando o compromisso com os depósitos de margem e mantendo a possibilidade de aproveitar mudanças favoráveis no preço à vista. As estratégias com contratos de opções são particularmente úteis em períodos de queda ou aumento brusco do preço.
Para se ter uma ideia, durante os primeiros nove meses de 2002, quando os preços do cacau subiram 65%, o número de contratos de opções de cacau em aberto aumentou cerca de 73% registrando um novo recorde, 96.454 contratos. Para o operador ou hedger experiente, a venda de opções também é uma possibilidade. A liquidez e o serviço especializado disponíveis no mercado de opções de cacau da NYBOT permitem que hedgers e especuladores desenvolvam e executem pacotes de contratos personalizados que atendem aos objetivos de uma variada gama de negócios. Analisando o mercado futuro de cacau Pereira (2009), concluiu que é altamente volátil a qualquer distúrbio ou informação relacionada à commodity. A elevação nos preços futuros do cacau observada nos últimos anos se deve, em grande parte, a depreciação do dólar e também a crise americana, uma vez que, a expectativa de desaceleração da economia dos Estados Unidos tem ocasionado uma fuga dos investidores de títulos para aplicação em commodities. Desse modo, o efeito alavancagem suporta os argumentos da Teoria da Perspectiva no sentido em que os investidores são mais sensíveis as perdas do que aos ganhos, entende-se dessa maneira, que os investidores são mais sensíveis as informações negativas e por isso estas tem um impacto maior na volatilidade, ocasionando implicações potenciais na formação do preço do cacau.
Pereira (2009), conclui, portanto, que o preço cotado no mercado de Ilhéus no Estado da Bahia é formado no mercado futuro de Nova York revelando que o preço futuro constitui-se numa boa estimativa do preço à vista. Além disso, o mercado de cacau que anteriormente era determinado, basicamente, pelos fatores reais de oferta e demanda passa a ter influencia também de fatores comportamentais refletidos em fortes movimentos especulativos, com efeito direto na formação do preço do cacau. Mercado Futuro e de Opções - As expectativas sobre a demanda e oferta das commodities têm um papel importante na definição dos preços. A situação social, política e econômica dos países produtores exercem, também, uma influência indireta. Existem, entretanto, algumas atividades diárias nos mercados futuros, que têm um forte efeito na determinação dos preços internacionais das commodities. Dentre estas se destacam (AMIN, 1995): compras/vendas das indústrias; hedging de produtores, exportadores, processadores e indústrias; liquidações especulativas em curto e longo prazos; compras/vendas especulativas dado a algum aumento/queda de preço em outras commodities;compra/ venda especulativa dos Fundos; arbitragem de mercado; arbitragem cambial. Observa-se, portanto, que a formação diária dos preços internacionais, nos mercados futuros, de60
corre, além da contribuição dada pelas tradicionais forças do mercado, de três atividades conjuntas: a) a “administração do risco” pelos hedgers; b) a “especulativa”, decorrente da atuação de um seleto grupo de agentes altamente especializados; e c) da “arbitragem”, que aproveita a diferença entre os mercados futuros. Hedger - Neste grupo podem ser incluídos produtores, traders, processadores, distribuidores, exportadores, importadores e indústrias. O objetivo dos hedgers, de acordo com Lozardo (1998) é diminuir o risco de mercado no preço do seu produto. No mercado financeiro, o emprego da palavra hedging refere-se “a uma modalidade operacional que visa proteger uma carteira de commodities contra mudanças adversas de preços”. Especuladores - São investidores, pessoas físicas ou jurídicas que optam pela bolsa, para aplicarem suas poupanças. Muitas vezes grandes clientes assumem elevadas posições especulativas em função de dados fundamentais (produção, moagens, tarifas, subsídios, consumo, renda, índices de inflação, etc,) ou através de uso de chats (gráficos que mostram a tendência de mercado, se de alta ou baixa). Este grupo é bastante amplo e mais ativo que os hedgers. Formam parte dele, pessoas físicas, corretoras, empresas, instituições filantrópicas e instituições educativas. No mercado de cacau podemos identificar certos elementos intervenien-
mercado é fator determinante no processo de definição dos preços internacionais. Os Fundos mais fortes e mais ativos nos mercados futuros são os Fundos de Hedge e os Fundos de Commodities. Em geral, este grupo é formado por agentes a procura de uma rápida diversificação do portfólio de aplicações financeiras. O mercado internacional de cacau é o exemplo de um mercado caracterizado por um amplo processo especulativo. Grande parte desse processo é realizado pelos Fundos de Hedge e pelos Fundos de Commodities, cuja participação nos mercados futuros visando lucros em curto prazo, passa a alterar drasticamente a formação dos preços. A participação dos agentes especuladores nas bolsas de mercadorias afeta, sobremaneira, as decisões dos produtores de cacau e das processadoras
dessa matéria-prima. Isto porque, a realização de hedge para minimizar eventuais riscos dos investimentos realizados pelos cacauicultores e processadoras, é impraticável às categorias de mini e pequenos produtores rurais, uma vez que eles se encontram desorganizados e, por si só, não têm condições de acessarem as bolsas de mercadorias (MONTE; AMIN, 2006). Arbitragem - Processo muito utilizado nos mercados futuros de moedas e derivativos, a arbitragem está presente, também, nos negócios realizados nos mercados futuros de commodities. É considerada como uma forma de especulação, uma vez que aproveita a diferença entre dois mercados ou ativos, para a realização de lucros. Nível 6 - encontram-se os segmentos para o comércio internacional (exportação) e os que
Foto: Heckel Júnior/SEAGRI
tes como os brokers, comission house, dealers, shippers (exportadores), agents (corretores), manufactories/mercants (indústrias), os especuladores. Brokers – São firmas que operam exclusivamente no mercado de futuros, atendendo pedidos de clientes para comprar e vender contratos e/ou realizar outras operações em bolsa mediante pagamento de comissões. Comission House – Podem ser considerados brokers, mas estão melhor estruturados que estes, possuindo analistas para físico e conseguindo informações de produção, moagens, de interesses de seus clientes. Dealers – Basicamente são firmas que operam com cacau físico em diferentes países, mas também operam no mercado de futuros. Os principais dealers que operam com cacau são Gill & Duffus, J.H. Rayner e Cocoa Merchants. Fazem parte, também, deste grupo de especuladores, os poderosos Fundos, cuja participação no
se encontram em contato direto com os consumidores: supermercados, lojas de conveniência, confeitarias, etc. Shippers – Nesta categoria estão incluídas as firmas exportadoras de cacau em amêndoas e derivados, assim como, de produtos de chocolate instalados nos países produtores de cacau. Podem vender cacau em amêndoas diretamente para processadoras existentes no mercado interno, como derivados e chocolates para chocolateiras existentes no mercado nacional e internacional. Na maioria das vezes as agroindústrias processadoras e também indústrias de chocolate também funcionam como exportadoras de derivados do cacau e produtos de chocolate, respectivamente. Nível 7 - encontram-se os consumidores, cada vez mais exigentes quanto a qualidade, formas de apresentação, preços e direitos. Os consumidores assumem o papel mais importante em todo o processo comercial. No mercado de cacau
eles estão exigindo um cacau fino, com fermentação e secagem adequada para produção de um chocolate ecológico, de origem única com indicação geográfica, com rastreabilidade, com um sistema de produção integrado bem definido, um chocolate negro com alto teor de cacau, portanto um alto teor de flavanóides e baixo teor de açúcar, meio amargo, enfim, que responda a questões éticas e ambientais. Nível 8 - encontra-se todo o segmento importador que interfere diretamente em toda a comercialização interna, cujos produtos importados percorrem caminhos bastante similares aos produtos nacionais. Como já foi dito no trabalho o Brasil atualmente importa cacau em amêndoas. As principais importadoras de cacau são as agroindústrias processadoras de cacau, principalmente a Cargil e a Joanes Industrial. Na safra 2008/2009 foram importados 61.104 toneladas de cacau em amêndoas para suprir o parque moageiro brasileiro. A Figura 4 identifica os fluxos de comer-
62
cialização do cacau e derivados (líquor, torta, manteiga e pó), inclusive do chocolate das várias instituições existentes no mercado de cacau.
CONCLUSÕES Os resultados comprovaram a existência de um ágio no preço de cacau em amêndoas no ano de 2009 ofertado pelas indústrias aos produtores de cacau no mercado interno que variou entre US$ 5,94/t a US$ 314,53/t. Esses ágios foram pagos aos produtores devido à ocorrência de déficits existentes no mercado interno de cacau em amêndoas a partir da safra 97/98. Importações foram realizadas para cobrir esses déficits, mas, mesmo assim, o mercado continuou a pagar ágios. A redução do ágio no segundo semestre devido principalmente ao aumento de importação no segundo semestre e consequente redução de déficit no mercado interno e a valorização do câmbio (real) contribuíram para
a queda dos preços de cacau em amêndoas no mercado interno no ano de 2009, apesar da alta dos preços ocorrida no mercado internacional. A média das margens de comercialização ao produtor foi de 90,8% e ao exportador de 9,2%. Essa grande participação das margens do produtor nos preços de cacau em amêndoas podem ser explicadas pela retirada dos impostos de exportação de 10% e do ICMS de 13%, assim como, dos impostos PIS e CONFINS.
O trabalho mostra também que antes da crise os canais de comercialização do cacau em amêndoas se apresentavam como mais completos e dinâmicos. Na crise houve uma perda de algumas instituições como exportadoras e cooperativas e depois da crise os produtores estão se organizando melhor e buscando a organização da produção em torno de cooperativas agroindustriais de chocolate, em que o produtor associado entregaria a produção de cacau em amêndoas a cooperativa e receberia o preço do dia da arroba, a cooperativa transformaria em chocolate agre-
gando valor ao produto, e distribuiria as sobras aos seus associados, de acordo com as operações realizadas, ou seja, proporcionalmente ao cacau entregue, obtendo assim, um melhor desempenho dentro dos canais de comercialização. Com relação ao mercado futuro de cacau que era determinado, basicamente, pelos fatores reais de oferta e demanda passa a ter influência, também, de fatores comportamentais refletidos em fortes movimentos especulativos, com efeito direto na formação do preço do cacau.
Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CHOCOLATE, CACAU, AMENDOIM, BALAS E DERIVADOS. Disponível em: <www.abicab.org.br>. AMIN, M. M. A ação especulativa dos fundos hedge e de commodities nos mercados futuros de cacau. CEPLAC, 2002. BIALOSKORSKI NETO, S. Fundamentos de mercado futuro agropecuário. In: MARQUES, P. V. (Coord.). Seminário: Estratégias para os mercados de soja e açúcar. Piracicaba: Bolsa de Mercadorias & Futuros, apostila 1, itens 2-3, p. 25-26, 1995. THE CHOCOLATE INDUSTRY. Disponível em: <http://www.icco.org/about/chocolate.aspx>. Acesso em: 09 ago.2010. LANDIM, A. D. Comercialização externa de Cacau: uma abordagem dos mercados físicos e futuro. CEPLAC. 1981. LOZARDO, E. Derivativos no Brasil: fundamentos e práticas. 2.ed. São Paulo: Bolsa de Mercadorias & Futuros, 1998. MASSILON, J. A. Fundamentos do agronegócio. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2009. MBA AGRONEGÓCIO. Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão do Agronegócio. Comercialização e Marketing no Agronegócio. Viçosa: UFV, 2003. MONTE, L. de F. de O.; AMIN. M. M. Análise da volatilidade do preço do cacau no mercado de futuros de Nova York (CSCE): uma aplicação do modelo Garch. Universidade da Amazônia - UMAMA. Belém - PA – Brasil. In: SOBER, 2006, Fortaleza. Anais ... Fortaleza: SOBER, 2006. CD-ROM. NEW YORK – BOARD OF TRADE. Cacau Futuro & Opções. PEREIRA, E. S. Formação de preços e finanças comportamentais: um estudo empírico no mercado futuro de cacau. João Pessoa: UFPB, 2009. 83p. Dissertação de Mestrado. SCHWAGER, J. D. A complete guide to the futures markets. New York: John Wiley & Sons, 1984. FORBES, L. F. Princípios básicos para aplicar nos mercados futuros. São Paulo: BM&F, 1991. TEIXEIRA, M. A., Mercados Futuros: fundamentos e características operacionais., São Paulo: BM&F, 1992. ZUGAIB, A. C. C. O preço do cacau contém ágio. A Tarde Rural, 26.set.1995. ZUGAIB, A. C. C. et al. Análise do mercado processador de cacau no Brasil vista sob o modelo estrutura-conduta-desempenho. Disponível em: <http://www.ceplac.gov.br/radar.htm>. 63
Foto: Acervo SEAGRI
SOCIOECONOMIA
ABC
das ações de defesa fitossanitária para o HLB em São Paulo: lições para a Citricultura
do Nordeste
Sílvia Helena G. de Miranda1 Renato B. Bassanezi2 Andréia Cristina de Oliveira Adami3
1—Professora Doutora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP e pesquisadora do CEPEA. e-mail: smiranda@esalq.usp.br. 2—Doutor em Fitopatologia e pesquisador científico do Fundo de Defesa da Citricultura - Fundecitrus. e-mail: rbbassanezi@fundecitrus.com.br 3—Economista, doutora em Economia Aplicada. Pesquisadora do Cepea – ESALQ. e-mail: adami@cepea.org.br (Este trabalho é parte de um relatório apresentado ao projeto CNPq - “Inovação Tecnológica para Defesa Agropecuária”, que está sendo editado como um capítulo de livro.) 64
O
Huanglongbing (HLB), doença também conhecida como Greening no Brasil, está presente no Estado de São Paulo e sua disseminação aumenta significativamente desde março de 2004, quando foi registrada pela primeira vez. Nesse mesmo ano, em outubro, já atingia, em média, 3,4% dos talhões do Estado. Em agosto de 2011, os levantamentos amostrais de HLB realizados pelo Fundecitrus apontaram 53,4% dos talhões com pelo menos uma planta sintomática e 3,78% de plantas com sintomas no campo. Atualmente, o HLB está presente também no Sul do Triângulo Mineiro, Sul de Minas Gerais e no Norte e Noroeste do Paraná, com possibilidade de atingir também outras regiões, inclusive a Nordeste (“Encontro HLB: Ameaça iminente à citricultura do Nordeste Brasileiro”. Embrapa/MAPA/ADAB/EBDA. Salvador, Bahia, 27 e 28 de setembro de 2011).
A citricultura responde por US$6,5 bilhões do PIB nacional e o Estado de São Paulo representa cerca de 51% da produção mundial de suco de laranja (NEVES et al, 2010). Um comprometimento dessa cultura no Estado poderia representar, no médio e longo prazos, a migração da indústria de suco e de significativa parcela na agregação do valor do produto agrícola para outros estados, bem como de perdas de empregos melhor remunerados na agricultura. O HLB afeta diversas espécies de citros, incluindo laranjas do-
ces, tangerinas, pomelos, cidra e limões, e outras espécies relacionadas, como a murta (Murraya spp.). Os prejuízos da doença compreendem a eliminação de árvores; a queda na produtividade e qualidade de frutas (BASSANEZI et al., 2011a); e a elevação dos custos de produção devido ao aumento de inspeções e pulverizações para controle do psilídeo transmissor, o que pode levar, no limite, à inviabilidade financeira da atividade e à saída de produtores da citricultura. Nesse contexto da doença e do peso da citricultura brasileira é relevante discutir o papel do Estado e do setor privado nas ações para controle do HLB e de seus impactos. Em março de 2005, o governo federal promulgou a Instrução Normativa/MAPA no 10, posteriormente substituída pela IN/MAPA no 32 de 2006, que determinou a eliminação de plantas cítricas sintomáticas e comprovadamente infectadas pela bactéria do HLB. Em 2008, uma nova Instrução, a IN no 53, visou uma maior agilidade ao processo de eliminação das plantas sintomáticas no campo e de fiscalização, trazendo mudanças principalmente nos critérios para inspeção, erradicação, elaboração e entrega dos relatórios de vistoria pelos produtores (RUIZ et al., 2010). As inspeções e erradicação de plantas sintomáticas em cumprimento à IN 53 tiveram o apoio do Fundecitrus até o final de 2009. As ações da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA) do Estado, em atendimento às legis65
lações específicas para o HLB, continuam sendo executadas, porém sem agentes de defesa suficientes para a fiscalização do cumprimento da Instrução. A eliminação de plantas com sintomas de HLB tem sido praticamente voluntária e ineficiente por não estar sendo realizada por todos os citricultores, o que leva a um aumento da incidência da doença, ano após ano, como constatado pelos levantamentos do Fundecitrus. Neste artigo, propõe-se a aplicação da Análise Custo-Benefício (ABC) para avaliar os custos e benefícios envolvidos nas ações dos governos e do Fundecitrus no controle do HLB em São Paulo. A relação benefício-custo pode subsidiar a discussão sobre as vantagens e a importância de se manter ações integradas e coordenadas público-privadas, tendo em vista os potenciais prejuízos do avanço do HLB. A ABC tem sido aplicada para analisar impactos das ações de regulação de países como instrumento de apoio na formulação de políticas públicas (MIRANDA et al, 2009). Contudo, essa ferramenta aplicada ao estudo de políticas sanitárias e fitossanitárias é relativamente recente e, segundo Áragon (2003), pode ser usada na determinação de impactos também sociais de um projeto. Assim, o objetivo deste estudo é evidenciar os benefícios de medidas de defesa fitossanitária para o HLB, através dos resultados da ABC aplicada ao caso de São
Paulo, bem como discutir como a experiência paulista pode contribuir para a implementação de políticas fitossanitárias, não só de controle, mas também de prevenção da doença, principalmente em estados em que a doença ainda é ausente, como a Bahia.
PROCEDIMENTOS DO CÁLCULO DA ABC A ferramenta de Análise Benefício-Custo (ABC) é usada para avaliar a magnitude dos prejuízos evitados pela ação conjunta em defesa fitossanitária dos órgãos oficiais de Defesa e do Fundecitrus, para um horizonte de projeção de 20 anos, tendo como período de referência o ano de 2009, quando houve uma mudança na política fitossanitária estadual para a citricultura. O modelo de ABC para o caso de políticas de defesa agropecuária implica na identificação dos benefícios e custos (tangíveis e intangíveis; diretos e indiretos) envolvidos na ação analisada. Na prática, criam-se cenários, para os quais se calculam o valor presente dos benefícios e dos custos projetados para o horizonte temporal de análise. Estimam-se os benefícios pela valoração das perdas que são evitadas pela ação das políticas de prevenção, controle e erradicação da doença. Os custos, por sua vez, compreendem as despesas dos governos com os programas de defesa e do Fundecitrus.
Levantados os dados das perdas evitadas (benefícios) e dos custos, estes são convertidos a valor presente por uma taxa de desconto, cuja escolha é relevante por afetar os resultados em termos de relação benefício-custo. A partir da soma dos valores presentes dos benefícios e custos associados com os programas de defesa e com cenários alternativos, torna-se possível compará-los e calcular a relação benefício/custo. Uma referência para a aplicação da ferramenta da ABC é Contador (1997). Neste estudo, considerando-se a ação de defesa fitossanitária como investimento, adotou-se a TJLP como taxa de desconto, em valores reais de dezembro de 2009, de 7,1% a.a.. Para avaliar a importância da política pública através do Programa para Monitoramento, Controle e Erradicação do HLB em São Paulo, dois cenários foram propostos. No cenário A, não há dispêndio do governo e do Fundecitrus com programa de defesa para o HLB.
TABELA 1
As perdas acarretadas pela bactéria são consideradas máximas; considerando-se que apenas 30% dos produtores adotarão, espontaneamente, o manejo adequado e procedimentos previstos pela IN 53, erradicando plantas às taxas indicadas pelo levantamento do Fundecitrus. No cenário B pressupõe-se que o Programa é mantido ao longo dos 20 anos de projeção, assumindo-se que 100% dos produtores eliminarão árvores às taxas indicadas pelo Fundecitrus para manejo adequado da doença. Desta forma, a produtividade dos pomares pode ser mantida nos níveis atuais. Para os Cenários A e B considera-se a mesma taxa de reforma anual do pomar. Na Tabela 1 apresentam-se os dados de pés de citros nas zonas citrícolas consideradas pelo Fundecitrus, para 2009, bem como a incidência do HLB nessas zonas para o mesmo período. Na Tabela 2, observa-se o número de plantas por idade no Estado, que foi usa-
DISTRIBUIÇÃO DE NÚMERO DE PLANTAS DE LARANJA NOS POMARES DO ESTADO DE SÃO PAULO POR ZONAS DO FUNDECITRUS E LEVANTAMENTO DE INCIDÊNCIA DO HLB 2010
Zona
2009
% de plantas com HLB
Número de árvores
% de árvores por região
% de árvores com HLB
Noroeste
0,0530
18.950.278
8,85
0,008
Norte
0.3905
45.184.964
21,10
0,0376
Centro
3,5103
71.161.424
33,22
1,3594
Oeste
0,3400
8.248.289
3,85
0,0636
2,0007
70649.853
32,98
1,2303
1,8700
214.194.808
100
0,8680
Sul Total
Fonte: Levantamento amostral do Fundecitrus
66
do para projetar a evolução dos pomares e o avanço da doença. Dadas as informações de árvores e de incidência da doença para as cinco zonas, projetou-se a evolução do número de árvores nos cenários descritos, adotando-se como modelo epidemiológico o proposto por Bassanezi e Bassanezi (2008). A parcela de plantas com sintoma inicial foi obtida no levantamento amostral de abril de 2009 do Fundecitrus (BARBOSA et al., 2009). De posse de todas as informações projetou-se a incidência ao longo
TABELA 2
Idade das árvores (anos)
dos 20 anos, para cada categoria de idade da planta, conforme a idade em que se observaram os primeiros sintomas; e a proporção de perda de produtividade para cada situação dessas em relação a uma planta sadia, utilizando-se o programa construído por Bassanezi et al (2011; não publicado). Na sequência, o número de árvores doentes foi estimado por região, para os cenários, com base na perda de produtividade em relação às sadias. A partir dessas informações, foram calculadas as produções anuais de caixas de laranja.
LEVANTAMENTO AMOSTRAL DE HLB (ABRIL/2009) PELO FUNDECITRUS: NÚMERO DE ÁRVORES POR IDADE DO POMAR E PARCELA DE PLANTAS DOENTES IDADE DAS ÁRVORES (ANOS) Número de árvores
% de árvores/ idade
% árvores com HLB
0-2
17.452.128
8,15
0,1499
3-5
40.663.482
18,98
0,7053
6-10
45.878.755
21,42
1,3759
>10
11.200.445
51,45
0,8302
Total
214.194.808
100
0,8680
A queda no Cenário A, para a região de Itápolis é rápida devido ao insucesso no replantio de novos pomares, devido ao aumento do risco do negócio decorrente da alta pressão de inóculo existente. Entretanto, ressalta-se que no Cenário B, pressupõe-se que o manejo indicado pelo Fundecitrus e a observância da IN53 garantirão a manutenção do número de plantas no Estado pelo replantio das plantas doentes eliminadas. Com base no padrão de 2009 para a incidência da doença nas
Foto: Sílvio Ávila/Gazeta Mercantil
Fonte: Barbosa et al (2009)
A evolução do stand de plantas para a região de Itápolis, considerada de alta gravidade para o HLB, e de Jales, considerada de baixa gravidade (e também uma região de fruta de mesa), constam do Gráfico 1. Observa-se, primeiramente, que no Cenário A o stand dos pomares cai significativamente na região de alta gravidade da doença em relação ao Cenário B, mas fica praticamente igual ao número de pés no Cenário B, quando se considera o município de baixa gravidade da doença.
67
diferentes regiões e na consulta a especialistas, propôs-se uma classificação das regiões em quatro categorias, para a definição de suas taxas anuais de renovação do pomar, também adotada em Miranda et al. (2010).
Estas despesas não são computadas no presente artigo, mas Miranda et al (2010) incluem esses custos privados para implantação da IN 53 na análise custo-benefício, obtendo relações mais baixas do que as obtidas neste artigo.
Os preços para valorar as caixas de laranja nos 20 anos projetados foram obtidos pelo procedimento de simulação com base em valores históricos, pagos ao produtor no período de safra, para São Paulo, entre 1995 a 2010 (Gráfico 2). Esta metodologia pressupõe que os movimentos cíclicos do mercado se manterão nos períodos seguintes.
Os custos utilizados ao longo do horizonte temporal foram estimados através de dados fornecidos pelo Fundecitrus, assim como o montante necessário para se cumprir eficientemente a IN 53/2008 em São Paulo. Segundo pesquisadores do Fundecitros os recursos do MAPA repassados em 2009, através de convênios, para a campanha de erradicação do HLB em São Paulo totalizaram R$2,8 milhões, enquanto os recursos alocados diretamente pelo Fundecitrus, decorrentes de contribuições dos citricultores e da indústria moageira atingiram pouco mais de R$7,8 milhões. Estes dados não foram usados neste trabalho. A estimativa total de dispêndio é da ordem de R$ 99 milhões anuais, dos quais o montante diretamente incidente sobre o Fundecitrus e governo seria da ordem de R$33 milhões ao ano,
No Cenário A não há custos do governo ou do Fundecitrus com programas de controle e erradicação. No Cenário B, os custos correspondem aos gastos tanto do Fundecitrus quanto do Governo Federal. Além destes dois, grande parte dos gastos são de responsabilidade dos produtores rurais, por exemplo, com inspeção e execução da eliminação das plantas doentes de seus pomares, conforme obriga a legislação.
68
em valores reais de 2009. O restante seria despendido pelos próprios produtores. Assumiu-se que os R$33 milhões foram mantidos como despesa com o programa durante os 20 anos de projeção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO As perdas econômicas causadas pelo HLB, computadas para os dois cenários, referem-se basicamente à redução da produtividade (produção) e do stand dos pomares e são apresentadas no Gráfico 3. Nota-se que no caso do Cenário B não há perdas de produção futura pela não renovação, já que se assume que com o manejo adequado da doença, os produtores seriam capazes de manter o número de árvores de seus pomares.
Nos dados divididos por regiões e zonas do Fundecitrus, evidencia-se que conforme a gravidade da doença no período inicial, para o
Cenário B, as perdas poderão ser significativas com a eliminação de plantas doentes e de uma margem de segurança na erradicação no inicio do período. Assim, nessas regiões, as perdas se concentram na eliminação de pés. Contudo, ao longo do período, com a recuperação do pomar e a redução na taxa de disseminação da doença no Cenário B, reduz-se este componente. É interessante comparar esses resultados com os do Cenário A nos primeiros anos, quando os produtores não utilizam a taxa de erradicação recomendada para o HLB e adotada no Cenário B. Por outro
lado, no Cenário A, com a perda gradual do stand e com a queda de produtividade resultante do aumento da severidade dos sintomas nas plantas doentes mantidas, as perdas de produção se acentuam após os primeiros três anos. Dados os dispêndios do Fundecitrus e do governo de cerca de R$33 milhões, em valores reais de 2009, pressupondo-se que este montante se mantenha pelo prazo de 20 anos, e trazendo a valor presente pela TJLP, chega-se a um custo total de R$371,5 milhões para todo o período de projeção (Quadro 1). No mesmo quadro, observa-se que o total de
69
perdas acumuladas no Cenário A, ou seja, entendidas como perdas evitadas pelo Programa de Defesa chegam ao montante de mais de R$25,4 bilhões. Assim, verifica-se que a relação benefício-custo do programa de defesa fitossanitária para o HLB, apenas considerando o retorno para cada real investido pelo Estado e pelo Fundecitrus é de 53,4. Ou seja, para cada R$1,00 investido, o retorno é de R$53,40, o que evidencia claramente os benefícios dos investimentos do governo na fitossanidade dessa cultura. Outro impacto econômico que pode ser identificado em estudos
futuros é aquele sobre a arrecadação tributária dos governos, seja federal, estadual ou municipal. Neste artigo também não se apresentam os resultados das estimativas de perdas sócio-econômicas no mercado de trabalho, embora se pressuponha que à medida que os impactos produtivos ocorram na citricultura, haverá uma redução nos postos de trabalho e uma migração de parte desta mão-de-obra para outras atividades. Levando-se em conta a dificuldade de se quantificar os impactos sociais e ambientais, pode-se dizer que esta relação benefício-custo calculada ainda subestima o efetivo impacto da disseminação da doença na citricultura paulista, com potenciais externalidades negativas (aumento do inóculo) para outros estados produtores que não apresentam a doença atualmente. Ações coordenadas entre as agências governamentais e setor privado
são essenciais para o sucesso do controle e da redução da taxa de dispersão da doença, principalmente ações envolvendo os próprios produtores. Bassanezi et al. (2011b) comprovaram experimentalmente que a adoção das medidas de controle do HLB em áreas extensas é fundamental para viabilizar o plantio de novos pomares, garantindo sua produtividade e longevidade e reduzindo os custos para o controle desta doença. A partir deste trabalho e das observações no campo, iniciou-se a aplicação do conceito de Manejo Regional (ou wide-area management) do HLB em São Paulo e na Flórida.
CONCLUSÕES
Um entrave ao controle de sua disseminação é que as medidas recomendadas para o manejo do
RESULTADOS DA ABC PARA O PROGRAMA DE DEFESA FITOSSANITÁRIA DO HLB DO ESTADO DE SÃO PAULO. HORIZONTE DE PROJEÇÃO: 2009 A 2028 (TAXA DE DESCONTO TJLP)
QUADRO 1
Ano Base 2009
VPL (R$ 1.000) – Taxa de Desconto = TJLP (20 anos)
Cenário A
(Com a Doença e sem Programa Fitossanitário)
Valor de Produção
22.682.216,28
Perdas de Produção
23.979,243 25.431.129,08
Perdas Totais (Perdas Evitadas) Benefícios = Perdas Evitadas no Cenário pelo Programa Fitossanitário
Cenário B
(Com Programa Fitossanitário)
40.899.872,53 4.157.128 4.157.128,18
19.822.114,85
Custos Governo + Fundecitrus
0
371.531,68 371.531,68
Custo Líquido Perdas Líquidas Evitadas (Perdas Evitadas – Custos)
19.450.583,17
Relação Benefício – Custo do Programa Defesa Governo + Fundecitrus
53,4 70
HLB devem ser adotadas de maneira conjunta por todos os citricultores. Em São Paulo, apenas uma parte dos citricultores tem adotado a erradicação sistemática de plantas com sintomas de HLB, medida fundamental para o controle da doença, porque a eliminação de plantas doentes e ainda produtivas representa uma perda imediata de receita e necessita de equipes treinadas para a inspeção frequente dos pomares, o que aumenta os custos e o efeito desta medida não é sentido localmente na propriedade, mas apenas em escala regional. A relevância deste estudo dá-se pela importância de se avaliar impactos potenciais da doença a fim de se antecipar as ações para evitar sua expansão nas regiões em que já está presente e sua introdução em áreas ainda livres. Os resultados da análise podem também subsidiar o planejamento e as ações dos setores privados potencialmente afetados pelas pragas, como o de defensivos químicos, o de pesquisa agropecuária genética, e os próprios agentes produtivos e industriais. A adoção da ferramenta analítica de Custo-Benefício permitiu evidenciar que os retornos aos investimentos do Estado e entidades no controle fitossanitário são elevados, mesmo não quantificando todos os impactos econômicos, sociais e ambientais. Este tipo de análise pode alertar as autoridades e os segmentos da iniciativa privada sobre a necessidade de se investir na defesa e
Foto: Acervo SEAGRI
minação da doença em estados hoje livres da doença.
de adotar ações coordenadas e regionais. O Estado de São Paulo, que atualmente sofre perdas significativas pelo HLB, pode servir de exemplo para os demais estados dos prejuízos que podem decorrer da doença, assim como a experiência acumulada
com a mesma desde 2004 e o intercâmbio com pesquisadores da Flórida produzem recomendações essenciais para que outros estados possam adotar políticas preventivas e de controle mais eficazes. Mais além, podem contribuir com subsídios para a estruturação de medidas emergenciais no caso da disse-
A ausência do efetivo cumprimento do programa oficial de erradicação do HLB em São Paulo pode facilitar a disseminação da doença para outros estados do país, o que amplia seus efeitos e compromete ainda mais a atividade, levando ao risco de gerar elevada capacidade ociosa na indústria e choques sobre a exportação brasileira de suco. No Nordeste, onde a fruta é produzida para consumo in natura e a estrutura de produção é menos integrada com a indústria, os efeitos de uma possível introdução da doença podem ser ainda mais drásticos, principalmente socialmente.
REFERÊNCIAS ÁRAGON, E. M. Normatividad para La evaluación econômica de programas agrosanitários. 2003. BARBOSA, J. C.; MASSARI, C. A.; AYRES, A. J. Incidência e a Distribuição do Greening (HLB) no Estado de São Paulo. Fundecitrus. Slides de apresentação realizada na UNESP. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. 2009. BASSANEZI, R. B. et al. Regional HLB management on the effectiveness of local strategies of inoculum reduction and vector control. Proceedings of the 2nd International Research Conference on Huanglongbing, p.10.3, 2011. BASSANEZI, R. B. et al. Yield loss caused by huanglongbing in different sweet orange cultivars in São Paulo, Brazil. European Journal of Plant Pathology, v.130, p.577-586, 2011a. CONTADOR, C. R. Projetos sociais: avaliação e prática, impacto ambiental, externalidades, benefícios e custos sociais. São Paulo: Atlas, 1997. BASSANEZI, R. B.; BASSANEZI, R. C. An approach to model the impact of Huanglongbing on citrus yield. Proceedings of the International Research Conference on Huanglongbing. Dec.2008: www.plantmanagementnetwork.org. p.301-304. MIRANDA, S. H. G. et al. Uma aplicação da Análise Benefício-Custo para políticas de Defesa Sanitária: alguns estudos de caso para o Brasil. Relatório de Pesquisa (Projeto CNPq n. 505157/2007-1 - “Inovação Tecnológica para Defesa Agropecuária”). Agosto de 2010. 110p. MIRANDA, S. H. G.; BARTHOLOMEU, D. B.; LIMA, L .M. Guia para avaliação de impacto regulatório com sustentabilidade (AIR-S). FEALQ-INMETRO. 2009. (Relatório de pesquisa). NEVES, M. F. (Coord.). O retrato da citricultura brasileira: Ribeirão Preto, Markestrat, 2010. 138p. RUIZ, G. J. P. et al. Ações de defesa sanitária vegetal no Estado de São Paulo contra o huanglongbing. Citrus Research & Technology, v.31, n.2, p.155-162, 2010. 71
SOCIOECONOMIA
Foto:Sílvio Ávila/Editora Gazeta
Um olhar sobre
a citricultura
do Estado da Bahia
Joelito de Oliveira Rezende1
1—Engenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia, Professor Titular do Centro de Ciências Agrárias Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB, dedicado a estudos nas áreas de Física e Manejo dos solos agrícolas. joelitorezende@gmail.com
O
Estado de São Paulo tem atuação destacada nessa atividade econômica, gerando mais de 500 mil empregos diretos e indiretos. Os principais fatores responsáveis por esse desempenho são: condições ecológicas favoráveis; grande disponibilidade de área; demandas de suco concentrado de laranja no mercado externo e de frutos in natura no mercado interno para fabricação do suco, além de suporte tecnológico dado por instituições de pesquisa e desenvolvimento. Como desvantagem, aparece, principalmente, a vulnerabilidade às doenças, especialmente viróticas e bacterianas. A Tabela 1 contém informações sobre área colhida, produção e rendimento de laranja, limão e tangerina nos principais estados produtores brasileiros, em 2009 (IBGE, 2010). 72
A Bahia é o segundo produtor nacional e primeiro das Regiões Norte e Nordeste. A Figura 1 mostra a distribuição geográfica das principais regiões produtoras e potenciais de citros no Estado. Em extensão de área plantada (igual à área colhida), tem como principais produtores as Regiões Litoral Norte/Agreste de Alagoinhas (64,4 %) e o Recôncavo Sul (13,1%) (IBGE, 2010). O município de Rio Real, localizado no Litoral Norte da Bahia, participa com cerca de 35,4% da área colhida (igual à area plantada) e de 39,9 % da produção, destacando-se como primeiro produtor de citros do Estado e das Regiões Norte e Nordeste do Brasil. Nesse município, além da laranja, responsável por 93,1% da produção, os agricultores também
TABELA 1
Estado
ÁREA COLHIDA, PRODUÇÃO E RENDIMENTO DE LARANJA, LIMÃO E TANGERINA NOS PRINCIPAIS ESTADOS PRODUTORES BRASILEIROS, EM 2009 Área Colhida
Produção
Rendimento
Laranja São Paulo Bahia Sergipe Minas Gerais Paraná Outros BRASIL
551.901 55.755 53.001 30.549 20.000 76.044 787.250
13.642.165 906.965 784.382 749.987 520.000 1.014.951 17.618.450
24,72 16,27 14,80 24,55 26,00 13,35 22,38
São Paulo Bahia Minas Gerais R. G. do Norte Acre Outros BRASIL
24.714 2.761 2.990 119 121 10.324 41.029
Limão 674.104 53.004 51.191 45.614 29.340 119.184 972.437
27,28 19,20 17,12 38,31 24,48 11,54 23,70
São Paulo Paraná Rio G. do Sul Minas Gerais Rio de Janeiro Outros BRASIL
15.852 10.684 12.520 6.911 1.771 7.076 54.814
Tangerina 415.054 271.845 146.352 132.795 36.646 91.737 1.094.429
26,18 25,44 11,69 19,22 20,69 12,96 19,97
Fonte: IBGE, 2010
73
cultivam limão (5,1%) e tangerina (1,8%). Metade da produção abastece indústrias e mercado interno. Em ordem decrescente de participação, seguem os municípios de Itapicuru e Inhambupe, localizados na Regiäo do Agreste, os quais contribuem, respectivamente, com 16,8 % e 10,1 % da área colhida e de 15,5 % e 7,4 % da produção. O principal berço da citricultura baiana é a Grande Unidade de Paisagem Tabuleiros Costeiros. Trata-se de “formações terciárias que se distribuem por quase toda a faixa litorânea do Brasil. Estima-se que, no Brasil, as áreas de tabuleiros abrangem 20 milhões de hectares, sendo que nove a dez milhões encontram-se na Região Nordeste, constituindo a principal base de sustentação agrícola dos estados e capitais da costa oriental do Brasil. Tais áreas são predominantemente úmidas, com precipitações pluviais médias anuais,
no Nordeste, variando de 400 a 600 mm nos Sertões de Pernambuco, Bahia e Piauí. Na Bahia, a temperatura média anual varia de 23 a 24 ºC, no litoral, e de 24 a 26 ºC, nas regiões mais secas” (JACOMINE, 1996). A importância social e econômica dos Tabuleiros Costeiros deve-se às grandes concentrações urbanas, à diversidade de exploração agrícola – com grande potencial para a produção de alimentos, à ampla infraestrutura de transporte rodoviário e terminais marítimos para escoamento da produção e por abrigar grande parte da Mata Atlântica ainda existente no país. Nessa Grande Unidade de Paisagem, os principais solos (Latossolos Amarelos Coesos e Argissolos Amarelos Coesos) caracterizam-se como profundos, ácidos, álicos [CTC ≥ 50% de saturação por alumínio trocável], baixa capacidade
de troca catiônica e presença frequente de horizontes coesos (Figura 2). As espécies vegetais, temporárias e perenes, cultivadas nesses solos, algumas vezes com irrigação suplementar apresentam, em geral, baixo vigor vegetativo, reduzida longevidade e baixas produções, comparativamente aos mesmos cultivos instalados em outras unidades de paisagem devido a uma relação solo-planta fortemente influenciados pela baixa disponibilidade de nutrientes, acidez elevada e pela estrutura peculiar dos horizontes coesos (REZENDE, 2000). Historicamente, esses problemas foram subestimados em virtude da paisagem aparentemente favorável ao uso agrícola, representada pelo relevo plano a suave ondulado, solos profundos e clima (CINTRA, 1997). O termo coeso, com significado de tenaz, tem sido empregado para distinguir horizontes minerais subsuperficiais do solo que se 74
apresentam duros, muitos duros ou até extremamente duros quando secos, e friáveis quando úmidos. Tais horizontes não exibem agregados, salvo alguns relacionados com a atividade biológica – na verdade, o horizonte todo é um único e gigantesco agregado, pois não mostra planos de clivagem, apresentando, do ponto de vista da Pedologia, uma estrutura maciça que se quebra em fragmentos angulosos. Essa variação da consistência desses solos – de dura (ou tenaz) quando secos a fiável quando úmidos – “é uma característica relevante, pois sugere que as práticas de manejo devem contribuir para conservar a umidade do solo não apenas como fator de produtividade, mas como benefício à menor resistência física à penetração de raízes” (SOUZA et al., 2000). A faixa de solos onde se encontram os principais polos citrícolas
dos Estados da Bahia e Sergipe é mostrada na Figura 3. No mapa, a cor amarelo corresponde aos Latossolos Amarelos; a cor vermelho-claro, aos Argissolos Amarelos. Nota-se que a citricultura dos dois Estados está assentada predominantemente nos Argissolos, seguido dos Latossolos. A faixa de solos onde se encontram os principais pólos citrícolas dos Estados da Bahia e Sergipe. No mapa, as classes de solos são distinguidas pelas cores: amarelo corresponde aos Latossolos Amarelos; vermelho-claro, aos Argissolos Amarelos. Nota-se que a citricultura dos dois Estados está assentada predominantemente nos Argissolos, seguido dos Latossolos.
Além de solos férteis (permeáveis, com fraca acidez, adequado suprimento de nutrientes, ar e água) “a planta cítrica vive melhor em áreas com pluviosidade mínima de 1300 mm de chuvas bem distribuídas ao longo do ano. Entretanto, o balanço hídrico climatológico de várias localidades dos Tabuleiros Costeiros, calculado para 100 mm de capacidade de armazenamento de água no solo, apresenta déficit hídrico durante um período do ano” (SOUZA et al., 2000). Atualmente, face à limitação de área disponível e ao preço das terras na faixa dos Tabuleiros Costeiros, o cultivo dos citros tem-se expandido para a Região do Agreste, mais seca, a exemplo do que ocorrem nos municípios
Quanto ao clima, sabe-se que a água requerida nos processos metabólicos e de transferência das plantas pode ser dificultada bela baixa aeração do solo, e/ ou pela alta resistência mecânica em solo à penetração, e/ou pelo pequeno intervalo de água disponível (LETEY et al., 1962). É bastante conhecido o efeito provocado pelos veranicos nas plantas com sistema radicular pouco desenvolvido: quando o desenvolvimento dessas plantas é prejudicado pela falta de oxigênio no solo, aumenta a resistência das raízes para extrair água (KRAMER, 1983) e a resistência dos estômatos para liberá-la na forma de vapor (SOJKA; STOLZY, 1980), causando diminuição da absorção de nutrientes e da fotossíntese. 75
de Itapicuru, Inhambupe e outros, com pluviosidade média anual em torno de 750 mm. Apesar dessas limitações agrícolas, os Tabuleiros Costeiros têm revelado grande capacidade atual e potencial para a produção de alimentos, principalmente fruticultura (laranja, limão, mamão, graviola, banana, abacaxi, maracujá, acerola, goiaba, coco, etc.), matéria-prima para a indústria e biocombustíveis (SOUZA et al., 2000). São notáveis os exemplos de êxitos de empreendimentos agrícolas localizados nesse ecossistema, devido, entre outras causas, ao consciente e adequado manejo que os produtores dispensam a suas terras (REZENDE et al., 2002).
Em 1996, a UFBA por intermédio da Escola de Agronomia e do Instituto de Geociências e a EMBRAPA por intermédio do CNPMF e CPATC, com o apoio financeiro da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária da Bahia, reuniram um expressivo número de estudiosos (professores, pesquisadores, estudantes, etc.) para avaliar os solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros. Essa Excursão iniciou em Cruz das Almas, Bahia, e terminou no Platô de Neópolis, Sergipe. Devido ao interesse dos participantes e resultados positivos dessa excursão, outra, com o mesmo propósito, organizada pela CEPLAC (1988), e novamente financiada pela SEAGRI-BA, contou novamente com a participação de renomados cientistas de solos do Brasil. Na Bahia, com algumas exceções, o preparo do solo é feito com arados de disco e/ou grade pesada. Esses equipamentos não resolvem o problema causado pelo adensamento dos solos coesos dos Tabuleiros Costeiros. Haynes (1970), pesquisador e consultor estadunidense, trabalhando juntamente com Luiz Bezerra de Oliveira, então pesquisador do Instituto de Pesquisas e Experimentação Agropecuária do Nordeste (IPEANE), ao avaliarem alguns desses solos no Estado de Pernambuco recomendaram a prática da subsolagem para melhorar sua estrutura e, conseqüentemente, aumentar a produção agrícola nos Tabuleiros Costeiros Estudo dessa natureza, iniciado em 1988 na Fazenda Lagoa do
Coco, município de Rio Real-BA, mostraram que a subsolagem associada ao calcário dolomítico + gesso agrícola melhorou o ambiente radicular de plantas cítricas: a subsolagem reduziu significativamente a resistência do solo à penetração das raízes, contribuindo inclusive para melhorar a circulação de ar, água e nutrientes ao longo do perfil: as plantas mais desenvolvidas, vigorosas e com frutos de melhor qualidade foram aquelas cujas raízes exploraram um volume maior de solo distribuído pelas hastes subsoladoras (BRANDÃO, 2005). Motivados pelos excelentes resultados desse trabalho e de outros realizados por pesquisadores do CNPMF, o Governo do Estado da Bahia, com o apoio técnico da EBDA, ADAB, UFRB e CNPMF, lançou o Programa de Revitalização da Citricultura do Estado (BAHIACITROS) - com ênfase no manejo dos solos Coesos dos Tabuleiros Costeiros – o qual, nos dois anos seguintes, resultou em significativos benefícios ambientais, econômicos, sociais e científicos. No ano 2000, na Fazenda Lagoa do Coco, Em Rio Real, sob a coordenação da UFRB, estudos com o objetivo de se avaliar a possibilidade de plantas com porta-enxertos plantados no local definitivo desenvolverem-se bem em solos com horizontes densos, sem a necessidade de subsolagem (prática dispendiosa) e sem prejuízo da produtividade (Figura 4). Os pomares instalados dessa maneira têm-se revelado fitotécnica, econô76
mica, social e ambientalmente mais vantajosos do que aqueles originários do plantio de mudas. Até o momento, a análise estatística tem mostrado que não há diferença significativa entre as áreas com e sem subsolagem, ou seja, nesse sistema de plantio a subsolagem é dispensável – o que é excelente, principalmente para o pequeno citricultor, pois essa prática é cara. Resultados semelhantes, com o mesmo porta-enxerto, têm sido obtidos com tangerineira tangelo ‘Page’ e limeira ácida ‘Tahiti’. Também com as cultivares laranjeira ‘Pêra’, tangerineira tangor ‘Murcot’ e limeira ácida ‘Tahiti` enxertadas nos limoeiros ‘Cravo’ e “Volcameriano”, tangerineiras ‘Cleópatra’ e ‘Sunki Tropical’, além de TSK x TRENG 256 (híbrido de ‘Sunki Tropical’ com ‘Poncirus trifoliata’). O pior desempenho dos pomares originárias do plantio de mudas, formadas principalmente em viveiros telados, deve-se ao fato de que esse sistema de produção é uma simplificação grosseira do sistema natural de produção agrícola solo-planta-clima. No processo de formação de mudas, substitui-se o solo natural por uma bolsa plástica, impermeável e intransponível, contendo um volume de substrato artificial, fofo, na qual as raízes ficam confinadas, enoveladas e impedidas de se expandir (Figura 5). Além disso, o clima natural é também substituído pelo clima artificial do viveiro no qual as plantas
fisiologia da planta prejudicando seu desenvolvimento, pois ela passa a utilizar energia metabólica para repor partes danificadas (REZENDE, et al., 2002).
são submetidas à fertiirrigações diárias e, por isso, não sofrem estresses hídricos nem de nutrição, como sói acontecer no ambiente natural. Tais plantas ao deixarem essa hospedaria, limpas, porém não imunes às pragas, passarão a enfrentar os rigores do meio natural, sem a devida aclimatação, resultando em pomares menos vigorosos, com desenvolvimento deficiente – fato que tem sido relatado por inúmeros citricultores baianos e sergipanos. O Ministério da Agricultura estabeleceu alguns requisitos para a conformação e vigor da muda cítrica, entre os quais se encontram os seguintes: apresentar sistema radicular bem desenvolvido, sem raízes enoveladas,
retorcidas ou quebradas, com a raiz principal direita [?] e comprimento mínimo de 25,0 cm [?] (COELHO, 1996). Analisando-se cuidadosamente tais requisitos, chega-se à conclusão de que é impossível produzir plantas com tais características, quer seja em viveiros instalados em campo, a céu aberto, ou em viveiros telados nos quais as mudas são produzidas em recipientes rígidos e de pequeno volume (tubetes, vasos plásticos, bolsas de polietileno etc.). Nesses recipientes, as raízes jamais se desenvolverão bem, o enovelamento delas é inevitável e as drásticas e sucessivas podas que sofrem quando da realização do transplantio sementeira-viveiro-local definitivo, com eliminação da raiz principal, alteram a morfologia e 77
Segundo Cutter (1986), a coifa da raiz é aparentemente o local de percepção da gravidade. Parece ser ela capaz de controlar no meristema apical da raiz a produção de substâncias reguladoras do crescimento envolvidas no geotropismo positivo, ou seja, no crescimento das raízes ao longo do perfil do solo. Ao se eliminar a coifa, deixando-se o resto da raiz intacta, não haverá prejuízo no crescimento, porém a raiz não mais reagirá ao estímulo da gravidade, crescendo aleatoriamente. Subentende-se que, ao se podar a raiz principal acima do meristema, muda-se a arquitetura original do sistema radicular pivotante, transformando-o num sistema radicular formado por raízes adventícias (que brotam na base do caule), superficiais, ficando as plantas mais vulneráveis às intempéries, especialmente em regiões de solos adensados de baixa fertilidade e com má distribuição de chuvas, tal como ocorre nas principais regiões produtoras de citros dos Estados da Bahia e Sergipe. Desde que iniciaram as pesquisas com o plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo, há treze anos, alguns pesquisadores têm manifestado preocupação quanto aos riscos da pronta infestação de pragas nos pomares recém implan-
tados – a exemplo das que são responsáveis pela Clorose Variegada do Citros – CVC, conhecida popularmente como amarelinho, baseando-se no fato de que mudas formadas a céu aberto ficam mais vulneráveis a elas. Recentemente, esse assunto foi muito discutido durante uma recente excursão técnica, interdisciplinar e interinstitucional, que teve por objetivo: reunir profissionais envolvidos na cadeia produtiva dos citros a fim de se avaliar aspectos técnicos da citricultura nas principais regiões produtoras da Bahia (Litoral Norte e Agreste de Alagoinhas); identificar ações emergenciais de pesquisa e financiamento para os Estados da Bahia e Sergipe, cujas áreas produtivas apresentam características similares. Esta Excursão Técnica com visitas a diversas propriedades citrícolas localizadas nas Regiões
Agreste e Litoral Norte do Estado da Bahia, em setembro de 2011, contou com a participação de 63 representantes de 23 instituições (ensino, pesquisa, assistência técnica, agências de crédito e fomento, secretarias municipais de agricultura, associações técnicas e de citricultores, entre outras).
da ao tecido, entre outros fatores. Normalmente os insetos sugadores de seiva, preferem as plantas mais vigorosas; alguns fungos que causam doenças de plantas podem ter agravado o seu quadro sintomatológico em plantas menos vigorosas ou com nutrição inadequada. Tenho tentado fundamentar alguns pontos de vista meus sobre plantio de porta-enxerto no local definitivo com outros
De acordo com o pesquisador Hermes Peixoto Santos Filho, fitopatologista da Embrapa Mandioca e Fruticultura (comunicação pessoal),
colegas e as respostas não são animadoras para o sistema em face da CVC e do greening. (...) Em minha opinião, teremos que criar um grupo de trabalho, interdisciplinar, para discutir sobre o
...baseando-se em trabalhos científicos
plantio de porta-enxerto em local defini-
publicados, pode-se verificar que o vigor
tivo, avaliando o tema com rigor científi-
da planta pode torná-la mais resistente
co, sem achismos ou paixões.
a determinada praga ou mais suscetível à outra dependendo da sua forma de penetração e colonização dos tecidos, do modo de ataque à especificas partes da planta, tipo de anormalidade causa-
As ponderações do pesquisador. Hermes Peixoto sobre a necessidade de pesquisas para se avaliar os riscos de infestação de pragas em pomares originários do plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo são indiscutíveis. Trata-se de uma nova frente de trabalho a ser abraçada principalmente por pesquisadores envolvidos com genética, nutrição de plantas, fisiologia vegetal, entomologia, fitopatologia, entre outras. Cumpre pesquisar! Convém considerar, entretanto, que os dados científicos sobre os quais se referiu o Dr. Hermes Peixoto são resultantes de pesquisas realizadas em viveiros a céu aberto. Na concepção da prática, há clara diferença entre esses viveiros e a implantação do pomar utilizando-se o sistema de “plantio direto”: no primeiro caso, há um grande número de plantas por unidade de área – o que
78
concorre para a proliferação das pragas e dificuldade para controlá-las; no segundo caso, tal qual se faz com o plantio de mudas, os porta-enxertos são plantados no espaçamento definitivo, largos, com baixa quantidade de plantas em relação ao viveiro. Visto dessa maneira, conclui-se que os riscos de infestação são os mesmos para os dois sistemas de plantio (convencional e porta-enxerto no local definitivo). É necessário, entretanto, cuidar mais cedo dos pomares originários de porta-enxerto plantado no local definitivo. O Ministério da agricultura estabeleceu, por meio de regulamentação, que as mudas produzidas para fins comerciais têm que ser formadas obrigatoriamente em ambiente protegido (telado) a fim de se garantir, ao usuário, plantas
livres de pragas; entretanto, segundo essa mesma regulamentação, o produtor rural que desejar poderá instalar em sua propriedade pomares originários de plantas formadas no próprio local. Trata-se aqui de plantas para uso próprio, e não para venda.
pa Mandioca e Fruticultura, fez as seguintes considerações no relatório que apresentou a sua Instituição quando do término da Excursão Técnica: ...Os objetivos da viagem foram plenamente cumpridos. É grande o interesse pelo uso da técnica do “plantio direto”
Os enfáticos testemunhos dos citricultores visitados durante a Excursão Técnica atestam que pomares cítricos resultantes do plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo são mais vigorosos, precoces, produtivos e menos vulneráveis a pragas do que aqueles resultantes do plantio de mudas. Atualmente há cerca de 500 hectares de citros na Bahia plantados por meio dessa técnica. O geneticista Walter dos Santos Soares Filho, da Embra-
de citros na região, sendo flagrante a disposição de sua adoção, tanto da parte de pequenos como de grandes citricultores, conforme se verificou nos assentamentos de produtores de base familiar e nas fazendas de maior porte visitadas. Diante desse fato, cabe à Equipe Citros da Embrapa Mandioca e Fruticultura intensificar esforços no sentido de oferecer aos produtores que estão aplicando a referida técnica informações que permitam a sustentabilidade da citricultura na região, atualmente a maior produtora de citros do Estado da Bahia, particularmente no que concerne ao controle de doenças com grande potencial destrutivo, com destaque para a CVC e o HLB. Notou-se claramente o interesse dos citricultores, notadamente aqueles de maior porte, relativamente à diversificação de variedades, tanto copas como porta-enxertos. Nesse contexto, a tangerineira ‘Sunki Tropical’ destaca-se como porta-enxerto com grande potencial de uso imediato.
Entende-se que o melhor negócio para a citricultura é a semeadura do porta-enxerto no local definitivo, na cova de plantio, como se faz na Fazenda Lagoa do Coco há onze anos; ou a semeadura deles em bolsas plásticas, levadas em momento oportuno para o campo, onde se fará a enxertia, a exemplo do que tem sido feito por outros citricultores. Em ambos os casos, 79
a utilização de sementes e borbulhas certificadas é obrigatória. Produzir apenas porta-enxertos em viveiros telados resulta nos seguintes benefícios principais: 1) o tempo de permanência deles nesses viveiros será muito menor do que aquele dispensado às mudas (levará apenas alguns dias, isto é, da germinação da semente até a chegada da raiz pivotante da planta ao fundo do recipiente, sem enovelar - isso contribuirá para diminuir sensivelmente o estresse da planta, resultando em pomares mais vigorosos e produtivos; 2) necessidade de viveiros mais simples, mais econômicos e mais fáceis de manejar; 3) aumento da rotatividade de plantas dentro do viveiro, o que otimizará o espaço disponível no telado; 4) preço de compra do porta-enxerto menor do que o de mudas, o que beneficiará principalmente os pequenos produtores - para os viveiristas, essa diminuição do preço da planta vendida seria compensado pelo número de plantas produzidas por unidade de área e por unidade de tempo; 5) oportunidade de trabalho para enxertadores qualificados, que poderão ser contratados para fazerem a enxertia das plantas originárias desse sistema de plantio, como se faz, por exemplo, na Fazenda Lagoa do Coco. Entende-se ainda, que a proposta de adoção do plantio do porta-enxerto cítrico no local definitivo – uma técnica viável inclusive para outros cultivos perenes, tais como, coco, caju,
cacau, café, etc. – não exclui a importância econômica e social da produção de mudas como parte do agronegócio citros. Tal importância é inegável. Os dois sistemas de plantio, não são excludentes, e sim complementares. Aos interessados na compra de mudas – e são muitos! – deve-se assegurar a aquisição de material genético de qualidade, limpo, ou seja, livre de pragas – e isso só será possível em ambiente protegido. Esses citricultores precisam saber, entretanto, que tais mudas são apenas limpas, porém não imu80
nes às pragas; por isso, ao instalarem seus pomares, têm que lhes dispensar os devidos tratos culturais, principalmente quanto ao rigoroso controle fitossanitário, pois muitos deles pensam que ao comprar uma muda protegida estarão livres disso... O desafio maior que se impõe atualmente aos que atuam na cadeia produtiva dos citros na Bahia é viabilizar uma citricultura predominantemente de base familiar (80% de propriedades menores do que dez hectares) e que abriga, veste e alimenta milhares de pessoas
Foto: Acervo SEAGRI
que dependem exclusivamente dessas propriedades. Nesse contexto, as seguintes limitações precisam ser superadas:
solo, adubação, controle de pragas, podas, etc., imprescindíveis para se conseguir produtividades compensadoras;
a) baixo ou nenhum grau de escolaridade de expressiva maioria dos pequenos citricultores – o que dificulta a todos eles tocarem sozinhos seus pomares, pois jamais conseguirão decodificar, sem a intervenção da assistência técnica continuada, o complicado linguajar da Agronomia (casamento de engenharia com biologia), para compreender e por em prática recomendações sobre manejo do
b) baixa relação número de técnicos extensionistas/número de citricultores carentes de assistência. Em que pese o reconhecido empenho e competência dos profissionais que atualmente militam nessa interface, na Bahia, é impossível imaginar – e desumano exigir – que os que estão atualmente disponíveis consigam assistir de forma eficiente ao atual contingente de produtores carentes de orien81
tação. Os números são claros: a área plantada de citros na Bahia aumentou significativamente nos últimos anos, aumentando significativamente o número de pequenos citricultores engajados nesse processo. No entanto, não tem havido a devida contrapartida da contratação de técnicos para assistir a essa amazônia de produtores rurais – situação agravada pela diminuição gradativa do número de técnicos inclusive por aposentadorias. Torna-se urgente, portanto, uma pronta intervenção dos governos estadual e municipal para que essa relação se torne mais justa, eficiente e humana nesse processo de ensino-aprendizagem. Entendemos que a relação ideal seria um técnico para cerca de 40 a 50 famílias, exigindo-se desse técnico uma produtividade mensal preestabelecida. Salvo melhor juízo, isso seria possível compartilhando-se responsabilidades mediante parceria entre o Governo do Estado, Senar, Prefeituras Municipais, entre outras; c) carência de mais pesquisas voltadas para a citricultura familiar, pois pacotes tecnológicos disponíveis considerados ideais nem sempre alcançam o pequeno produtor, por estarem fora de sua realidade; d) dificuldade de recursos financeiros enfrentada principalmente pelos pequenos citricultores, para implantação das práticas agrícolas e de outras benfeitorias necessárias em suas propriedades. O que fazer, por exemplo, para se evitar uma possível crise so-
e) falta de mercado justo e seguro, que possibilite confiança aos produtores para investirem mais em seus pomares. f) falta e/ou deficiente organização dos produtores em asso-
ciações ou cooperativas, pelas seguintes razões: desmotivação, por já terem sido enganados ou porque alguns administradores dessas entidades de ação coletiva mostraram-se monopolista (decidiam sozinhos); mau uso do bem comum, inclusive dinheiro; intervencionismo político partidário, gerando intrigas, discórdias e desavenças entre associados e/ ou cooperados; falta de compromisso coletivo (individualismo), entre outras. Se não conseguirem superar essas dificuldades – o que não é fácil –, fica difícil uma ação coletiva e necessária contra, por exemplo, a avareza de contumazes atravessadores e de indústrias de esmagamento de frutos. Nos últimos quinze anos vimos participando de discussões (em seminários, dias de campo, simpósios, congressos, reuniões técnicas, elaboração de planos de
governo, palestras, etc.), relacionadas com a citricultura baiana. Temos compartilhado da preocupação de muita gente envolvida e interessada na solução dos problemas dessa citricultura. Durante essa caminhada, vivenciamos satisfações (quando das questões resolvidas – e muito se fez!) e desalentos (pela energia dispendida e não devidamente aproveitada, por descaso e/ou desinteresse). O fato é que a luta continua. Nesse sentido, um passo de notável qualidade foi dado recentemente pelo atual Governo do Estado, por intermédio da Secretaria da Agricultura: a criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva dos Citros. Nessa Câmara, um grupo de pessoas pretende, com fidelidade, profissionalismo, dedicação e zelo, ser o sonante grito da citricultura e dos citricultores nos atentos ouvidos do Governo. Que assim seja!
Foto: Acervo SEAGRI
cial, com tensões no campo, se os pequenos produtores de mudas – das quais dependem para sobreviver –, ficarem fora desse processo por falta de condições financeiras para instalar os viveiros telados, obrigatórios a partir de 2013? Se isso ocorrer, beneficiará exclusivamente a quem tem poder aquisitivo... É preciso, portanto, viabilizar crédito tempestivo, suficiente e justo para esses credores, resolvendo-se, inclusive, de forma a não prejudicar nenhuma das partes envolvidas, a situação dos que estão inadimplentes, vitimas das oscilações do mercado;
82
Algumas sugestões de caráter emergencial foram apresentadas, recentemente, à SEAGRI por essa Câmara, para pronta ação do Governo, entre as quais se encontra a imperiosa necessidade de se conter e/ou evitar o célere e silencioso avanço – por terra, ar e mar –, de terríveis inimigos naturais dos citros,
a exemplo dos insetos vetores do patógeno responsável pela Clorose Variegada dos Citro – devastadores e presentes em várias zonas citrícolas da Bahia –, assim como dos insetos vetores do patógeno responsável pela HLB (huanglongbing, ex-greenin), conhecida como “doença do ramo
amarelo” – que tem inviabilizado a citricultura em muitas partes do mundo, a exemplo do que ocorre no Brasil, no Estado de São Paulo. Ainda não chegou à Bahia, mas certamente chegará. É apenas uma questão de tempo! Ganhar essa guerra é dever pátrio, portanto, de todos os cidadãos baianos!
Referências BALDASSARI, R. B.; GOES, A.; TANNURI, F. Declínio dos citros: algo a ver com o sistema de produção de mudas? Rev. Bras. Frut., Jaboticabal-SP, v. 25, n 2, ago.2003. BRANDÃO, F. J. C. Subsolagem em Latossolo Amarelo coeso dos Tabuleiros Costeiros e conseqüências no desenvolvimento do cultivar tangor Murcote, 2005. 71p. Dissertação (Mestrado em Ciências Agrárias – Uso, Manejo e Conservação dos Recursos Naturais Solo e Água) - Universidade Federal da Bahia, Cruz das Almas, 2005. CINTRA, F. L. D. Disponibilidade de água no solo para porta-enxertos de citros em ecossistema de Tabuleiro Costeiro, 1997, 89 p. Tese Doutorado em Física do Solo pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1997. COELHO, Y. DA S. Tangerina para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: Embrapa-SPI, 1996. 42 p. (Série Publicações Técnicas FRUPEX, 24). CUTTER, E. G. Anatomia Vegetal. Tradução de Gabriela Vera Maria Caruso Catena. 2. ed. São Paulo: Rocca, 1986. 304 p. HAYNES, J. L. Uso agrícola dos tabuleiros costeiros do Nordeste do Brasil, um exame das pesquisas. Recife: SUDENE, 1970. BGE. Produção Agrícola Municipal. Consultado em 05/11/2010 por Clóvis Oliveira de Almeida, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura. JACOMINE, P. K. T. Distribuição geográfica, características e classificação dos solos coesos dos tabuleiros costeiros. In: REUNIÃO TÉCNICA SOBRE SOLOS COESOS DOS TABULEIROS COSTEIROS, 1996. Cruz das Almas, BA: Anais... Aracaju-SE: EMBRAPA-CPATC, EMBRAPA-CNPMF/EAUFBA/IGUFBA, 1996. 80p. KRAMER, P. J. Plant Water Relationship London: Academic Press. 1983 Cap. 4. p. 84 -119 LETEY, J. et al. Influence of soil oxygen on growth and mineral concentration of barley. Agronomy journal, Madison, n.54, p.538-540, 1962. REZENDE, J. O. Solos coesos dos tabuleiros costeiros: limitações agrícolas e manejo. Salvador: SEAGRI/SPA, 2000. (Série Estudos Agrícolas, 1) REZENDE, J. O. et al. Citricultura nos solos coesos dos tabuleiros costeiros: análise e sugestões. Salvador: SEAGRI/SPA, 2002. (Série Estudos Agrícolas, 3). SILVA, F. B. R. et al. Zoneamento Ágroecológico do Nordeste: Diagnostico do quadro natural e agrossocioeconômico. Petrolina, PE: EMI3RAPA CPATSA / Recife: EMBRAPA CNPS. Coordenadoria Regional Nordeste, 1993. v2.il. SOJKA, R. E.; STOLZY, L. H. Soil-oxigen effects on stomatal response. Soil Science, Baltimore, n.130, p.350-358, 1980. SOUZA, L. da S. et al. Perspectiva do uso dos solos dos tabuleiros costeiros. In: REUNIÃO BRASILEIRA DE MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA AGUA, BA. Anais...Ilhéus, BA: SBCS, 2000, 57p.
83
SOCIOECONOMIA
Análise dos custos do programa de controle das moscas-das-frutas na cultura da manga no polo frutícola do Vale do Rio Brumado, BA Weber Marcilio Malheiro Aguiar1 Antônio Souza do Nascimento2
A
manga é uma fruta nativa da Índia, sudeste do continente asiático e das ilhas circunvizinhas, sendo um dos melhores e dos mais largamente aproveitados frutos de origem tropical. É interessante comentar que o pro1— Engenheiro Agrônomo, Msc, Fiscal Estadual Agropecuário da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia - ADAB – Livramento de Nossa Senhora – BA; e-mail: weber.aguiar@adab.ba.gov.br
cesso de disseminação dessa fruta foi bastante lento, visto que, ela somente alcançou outras terras depois de ser cultivada a mais de quatro séculos em suas regiões de origem. A viagem da manga pelo mundo iniciou-se apenas com a descoberta das rotas comerciais marítimas entre a Europa e a Ásia no início do século XVI. Foram os portugueses que tiveram o mérito de executar esse deslocamento, levando a manga primeiro para as costas leste e oeste da África e trazendo-a depois para a América (ARAÚJO, 2004).
2— Engenheiro Agrônomo, Dsc, Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura – Cruz das Almas – BA; e-mail: antnasc@embrapa.br
84
A entrada da manga no Brasil foi por volta de 1700 na Bahia, sendo as mudas procedentes da Índia. Daqui, foram para o México no século XIX, de onde seguiram para a região da Flórida. Atualmente a manga é cultivada em todos os países da faixa tropical e equatorial do planeta (SILVA, 1999). Moscas-das-frutas é o termo usado para designar um grupo de pragas da família Tephritidae cujos efeitos econômicos têm sido mundialmente reconhecidos. São insetos que causam dano direto ao produto final, o fruto, sendo classificados como pragaschaves das fruteiras e, como tal, atinge o nível de dano econômico em densidades populacionais baixas, merecendo cuidados especiais durante o período de frutificação, sobretudo em pomares orientados para o mercado externo. Por causa dos inúmeros prejuízos que causam, têm sido estabelecidas numerosas barreiras fitossanitárias entre países e regiões, e organizadas continuamente campanhas multimilioná-
rias para a sua erradicação. As finalidades básicas do monitoramento podem ser resumidas em: pesquisa científica – identificação e distribuição de espécies; certificação de uma região ou pais quanto à ausência de uma determinada espécie-praga – área livre; programa de erradicação de uma espécie-praga; programa de manejo integrado. A eficiência do monitoramento de adultos de moscas-das-frutas está na dependência da qualidade do atrativo (alimentar ou sexual), do tipo de armadilha utilizado e de sua localização no campo (NASCIMENTO et al., 2000). A análise dos custos do Programa de Controle das Moscas-das-frutas busca caracterizar essa atividade, identificando os seus pontos vulneráveis e frágeis, e dessa forma auxiliar na definição de novos rumos para a atividade agroindustrial da manga na região. A importância econômica das moscas-das-frutas pode variar segundo o país, região, hospedeiro e época do ano. Em algumas regiões elas chegam a comprometer 100% da produção de frutos e podem infestar mais de 400 espécies de frutas, sendo considerada uma das principais pragas, que afeta a fruticultura em todo o mundo. Os países importadores da manga in natura estabelecem fortes barreiras quarentenárias, com destaque para as moscas-das-frutas, resultando em uma série de exigência para o sistema
de produção como monitoramento populacional da praga, cadastramento dos pomares e tratamento pós-colheita da fruta (ARAÚJO et al., 2004) Um dos maiores obstáculos à produção e livre comercialização de frutas frescas no Brasil e no resto do mundo é a presença de mosca-das-frutas nas áreas comerciais. As moscas-das-frutas são uma preocupação constante nos países livres dessas pragas e, para proteger sua agricultura, levantam inúmeras barreiras quarentenárias impedindo a importação de frutas produzidas em países onde elas ocorrem (MALAVASI, 2000). O monitoramento populacional permite o acompanhamento da flutuação da praga em certa área, ou a detecção de espécies exóticas ou quarentenárias. Assim, o monitoramento permite caracterizar a população dos tefritídeos do ponto de vista quantitativo e qualitativo (NASCIMENTO et al., 2000). Atualmente, o Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, localizado na região sudoeste do Estado da Bahia, compreendido pelos municípios de Livramento de Nossa Senhora e D. Basílio, distante cerca de 700 km de Salvador, possui aproximadamente 11.500 hectares de manga plantados, dos quais, cerca de 8.500 hectares estão em plena produção. O clima é ameno, onde a temperatura média anual é de 22,6º C e uma altitude de 480 metros. O presente trabalho tem como objetivo analisar e avaliar os custos 85
das atividades inerentes ao Programa de Controle das Moscas-das-frutas no Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, nas safras 2006 a 2008. E, ainda: determinar os custos de produção da cultura da manga nas safras 2006 a 2008, no polo; determinar os custos de execução do Programa nas safras 2006 a 2008; determinar os custos das atividades de controle das moscas-das-frutas nas safras 2006 a 2008; identificar os pontos fracos e corrigir os rumos; possibilitar a auto-sustentabilidade dessa atividade, gerando dessa forma divisas para o Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado.
MONITORAMENTO POPULACIONAL E ATIVIDADES DE CONTROLE O monitoramento populacional permite o acompanhamento da flutuação populacional da praga em certa área, ou a detecção de espécies exóticas ou quarentenárias. Assim, o monitoramento permite caracterizar a população dos tefritideos do ponto de vista quantitativo e qualitativo (NASCIMENTO et al., 2000) A instalação e a adequada verificação das armadilhas são a base para um eficiente programa de controle. Através destas, obtêm-se dados sobre a presença e abundância de uma determinada praga, o que contribui para o planejamento das atividades
Um bom programa de monitoramento depende de um planejamento minucioso levando em conta as características físicas e ambientais da região onde será implementado. Com relação a densidade populacional e nível de controle, há uma padronização internacional. Essa padronização é necessária, pois permite uniformizar os índices de captura e níveis de controle entre diferentes regiões ou países. O nível de controle recomendado para moscas-das-frutas é de um adulto/armadilha/dia, tanto para as armadilhas Mcphail como para a Jackson (NASCIMENTO et al., 2000).
A flutuação populacional de adultos de moscas-das-frutas está diretamente relacionada com a disponibilidade de hospedeiros e aos fatores climáticos, especialmente chuvas. Em pomares comerciais onde predomina um único hospedeiro, o pico populacional ocorre na época de maior concentração de frutos maduros. Em pomares com grande diversidade de espécies frutíferas, onde existem frutos maduros durante a maior parte do ano, a população de adultos se mantém em níveis elevados durante praticamente todo o ano. Cabe ao produtor-exportador exercer um controle rigoroso sobre esta praga, principalmente se tiver em vista os mercados dos Estados Unidos e do Japão, pois esses países impõem rigorosas medidas quarentenárias às frutas de exportação que possam abrigar larvas
de tefritídeos (CUNHA et al., 2000). Tradicionalmente, o controle dos tefritídeos é feito por meio da aplicação de iscas tóxicas a base de proteína hidrolisada associada a um inseticida. Embora o controle seja efetivo, acarreta problemas de desequilíbrio ambiental, segurança alimentar (resíduos de agrotóxicos nos frutos) e de ordem fitossanitária (CARVALHO, 2006). Na pós-colheita e por exigência quarentenária, é utilizado o tratamento hidrotérmico, que consiste em mergulhar os frutos em água a temperatura de 46,1ºC durante o tempo de 70 a 90 minutos, de acordo com o peso do fruto. Esse tratamento vem sendo utilizado em manga e atende as exigências fitossanitárias do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (MORGANTE, 1991).
Fonte: Weber Marcílio Malheiro Aguiar
de controle. A armadilha mais utilizada em escala comercial é a McPhail de plástico (Figura 1), onde se utiliza o atrativo alimentar a base de proteína hidrolisada, sendo que nesse caso, capturam-se moscas-das-frutas de forma genérica, independentemente da espécie. Para a captura específica da mosca-do-mediterrâneo (Ceratitis capitata), ou da mosca da carambola (Bactrocera carambolae), utiliza-se a armadilha Jackson (Figura 2). Esta armadilha, de cor branca é confeccionada em papelão parafinado, ou plástico ondulado, e tem como isca o trimedilure para a C. capitata ou o metil-eugenol para B. carambolae. A padronização é necessária, pois permite uniformizar os índices de captura e níveis de controle entre diferentes regiões ou países.
Figura 1 – Armadilha Mcphail. Livramento de Nossa Senhora, 2009 86
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA DA CULTURA DA MANGA
Com uma área cultivada com manga superior a 31,2 mil hectares, dos quais 26,2 mil hectares irrigados, a Bahia é o principal estado produtor e exportador de manga do país, tendo produzido em 2008 mais de 1,11 milhão de toneladas dessa fruta, o que corresponde a mais de 51 % da safra nacional. Nos últimos oito anos a área plantada com essa fruta apresentou uma variação de 136 % saindo de 13 mil hectares no ano 2000 para mais de 31 mil hectares em 2008 (OLIVEIRA; ANJOS, 2008). A maior parte das áreas plantadas nos últimos anos está representada pelas variedades americanas Tommy Atkins, Haden, Keit, Palmer, Van Dyke, Kent, em detrimento das variedades brasileiras como a Bourbon, a Rosa e a Espada; a variedade que mais cresceu no Nordeste foi a Tommy Atkins (FAVERO, 2007).
Fonte: Weber Marcílio Malheiro Aguiar
Embora a manga possa ser cultivada sob as mais variadas condições climáticas, prevalece a tendência de instalação de pomares comerciais em regiões onde o florescimento e a frutificação ocorrem durante uma estação seca bem definida. Tais vantagens constituem uma das razões do estimulo à implantação de pomares de manga para a exportação em áreas do semiárido nordestino.
Figura 2 – Armadilha Jackson. Livramento de Nossa Senhora, 2009
ASPECTOS INERENTES AOS CUSTOS DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DA MANGA A utilização de estimativas de custos de produção na administração do negócio agrícola tem apresentado importância crescente na análise da eficiência da produção de determinada atividade e também de processos específicos de produção. Ao mesmo tempo, o custo de produção constitui informação importante no processo de decisão, pois serve como elemento auxiliar da administração do negócio, influenciando a escolha das culturas e das práticas a serem utilizadas (MARTIN et al., 1998). 87
A demanda de manga no mercado internacional é muito sensível às variações de preço da fruta e da renda dos consumidores. No mercado japonês, a demanda é mais sensível às variações da renda dos consumidores que nos mercados americano e europeu. A quantidade de fruta demandada no mercado europeu depende fortemente do seu preço, o qual flutua quando a oferta é instável (ALMEIDA et al., 2000). O mercado internacional de manga é abastecido por vários países e o Brasil está entre os maiores exportadores juntamente com México, Filipinas, Índia, Paquistão e África do Sul (ALMEIDA et al., 2000). Os principais concorrentes do Brasil são Peru e Israel. África do
Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta
África, que comercializa a maior parte da sua produção no mercado europeu. Em relação à união européia, os países americanos tendem a exportar basicamente para a Holanda, enquanto Costa do Marfim, Mali e Israel exportam para a França e o Paquistão exporta preferencialmente para o Reino Unido, devido à grande parte da sua população de imigrantes preferirem variedades indianas (ARAÚJO, 2004).
Sul, Honduras, Costa Rica, Equador e Guatemala são concorrentes potenciais, em decorrência de baixo custo da mão-de-obra, condições climáticas favoráveis, localização e época de produção, embora ainda exportem pequenas quantidades, exercendo pouca pressão sobre os preços vigentes no mercado. No médio e longo prazo, o problema de oferta pode ser resolvido, o que poderá impor fortes perdas para a mangicultura nacional. Apesar de existirem fatores limitantes ao comércio de manga, o Brasil vem apresentando uma
taxa de crescimento médio anual de 27,06 % nas exportações, estando acima da média mundial de 13,45 % (ARAÚJO, 2004). Podemos dividir o mercado importador em dois principais grandes blocos: o americano, representado pelos Estados Unidos, e o europeu. Internacionalmente, três fluxos de comércio se destacam no mercado de manga: a América do Sul e Central que abastecem o mercado norte americano, Europa e Japão; a Ásia, que preferencialmente exporta para países dentro de sua própria região e para o Oriente Médio; a 88
Os exportadores brasileiros concentram suas exportações no mercado norte americano, entre os meses de agosto até meados de novembro e, para o mercado europeu, de meados de novembro até o final de dezembro. Com relação ao mercado norte americano, os produtores brasileiros, tem ampliado o período de exportação, já que antes só começava a partir do mês de setembro, para não coincidir com o final da safra mexicana. De janeiro até março, o Brasil exporta um volume relativamente pequeno de manga, que é basicamente destinada ao mercado europeu; nesta época, os preços no mercado interno alcançam maiores cotações. (ARAÚJO, 2004).
ANÁLISE DA ATIVIDADE ECONÔMICA A análise da atividade econômica, através dos custos de produção, é uma grande contribuição para a
tomada de decisões na empresa agrícola. No momento econômico em que vive o país, com o fim do subsídio e incentivos e a globalização da economia, intensifica-se a necessidade de buscar informações mais confiáveis para tornar-se mais competitivo no mercado.
Localização: Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado Período: safras de 2006 a 2008 Cultivar: Tommy Atkins Área plantada: 5,0 ha
Modelo de produção: familiar com a contratação eventual de funcionários.
Espaçamento: 8 x 8 metros (156 plantas/ha) Produtividade: 20 toneladas/ha Os custos de produção estão sujeitos aos riscos de variação, em função dos preços dos insumos, que são caracterizados por acentuadas flutuações, assim como o nível de utilização dos mesmos, que dependem
No Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, o monitoramento populacional das moscas-das-frutas é executado pelos próprios produtores, através da Associação dos Produtores de Manga de Livramento e Região para o Controle das Moscas-das-Frutas – APROMOL, sendo coordenado e fiscalizado pela Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abaste-
Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta
Neste estudo foram feitas análises dos custos de produção da cultura da manga, referente a execução das atividades de monitoramento populacional e de controle das moscas-das-frutas em um pomar padrão e característico existente no Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado, conforme dados abaixo:
das condições climáticas e do tipo de manejo adotado, com reflexos sobre os riscos de produção. O custo de produção está diretamente relacionado com as pretensões produtivas e o objetivo da propriedade, bem como as restrições que a mesma possui.
89
TABELA 1
COMPARATIVO DOS CUSTOS/HA DE PRODUÇÃO, EXECUÇÃO DO MONITORAMENTO E CONTROLE DAS MOSCAS-DAS-FRUTAS NO POLO FRUTÍCOLA DO VALE DO RIO BRUMADO NAS SAFRAS 2006 A 2008. LIVRAMENTO DE NOSSA SENHORA, BA. 2009 ITEM
Custo total de produção de manga/ha – R$
2006
2007
2008
4.851,71
5.152,46
5.478.17
Incremento no período - % Custo com a Execução do monitoramento/ha – R$
12,9 72,00
Incremento no período - % Participação no custo total de produção - % Custo com a execução das atividades de controle (aquisição e aplicação de isca tóxica; catação e destruição dos frutos maduros) – R$
72,00
0 1,5
1,4
1,3
380,76
404,66
431,31
Incremento no período - % Participação no custo total de produção - %
72,00
13,3 7,8
7,9
7,9
Fonte: Autores
cimento – MAPA, supervisiona e audita regularmente essas ações. Atualmente a área monitorada é de cerca de 2.400 ha, compreendendo cerca de 400 propriedades nos municípios de Livramento de Nossa Senhora e Dom Basílio.
produtores filiados no que tange às ações de controle preconizadas pela ADAB, sendo todos os custos inerentes a essas atividades divididos entre os filiados na forma de prestações mensais que são pagas através de boletos bancários.
A APROMOL possui uma equipe formada por três Técnicos em Agropecuária, um Assistente Administrativo e um Engenheiro Agrônomo que atuam somente nas atividades de monitoramento e orientação dos
Os custos operacionais foram determinados a partir de matrizes de coeficientes técnicos referentes a quantidade de horas-máquinas, mão-de-obra, insumos e seus respectivos preços.
90
Os valores dos insumos nas planilhas de custeio são fruto de observações e coleta de informações no comércio local, e os serviços com máquinas e equipamentos foram obtidos através na Associação do Distrito de Irrigação do Projeto Brumado – ADIB. Os dados relativos à mão-de-obra são baseados no salário mínimo oficial do ano em curso. Os custos da cultura da manga no Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado: Os custos de produção na safra 2006 somaram R$ 4.851,71/ha; na safra 2007 somaram R$ 5.152,46/ha; na safra 2008 somaram R$ 5.478,17/ha; Os custos de produção tiveram um incremento da ordem de 12,9 % no período compreendido entre as safras 2006 a 2008 (Tabela 1); Os custos de execução do monitoramento se mantiveram estáveis (Gráfico 2), provocados pelo fato de que no período a ADAB, promoveu um aporte sig-
GRÁFICO 2
80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0
EVOLUÇÃO DOS CUSTOS DE EXECUÇÃO DO MONITORAMENTO DAS MOSCAS-DAS-FRUTAS NO POLO FRUTÍCOLA DO VALE DO RIO BRUMADO NO PERÍODO 2006 A 2008. BAHIA, 2009 Em R$
2006
2007
2008
Fonte: Autores
nificativo de suprimentos (armadilhas, feromônios, pisos adesivos, e proteína hidrolisada) para a APROMOL, visando propiciar a permanência dos pequenos produtores no Programa de Monitoramento e Controle das Moscas-das-Frutas; Os custos inerentes às atividades de controle das moscas-das-frutas tiveram um incremento da ordem de 13,3 % no período compreendido entre as safras 2006 a 2008 (Tabela 1); Os custos referentes a execução do monitoramento das moscas-das-frutas representaram em média nas safras de
2006 a 2008, 1,4 % do valor total do custo de produção (Tabela 1); Os custos referentes às atividades de controle das moscas-das-frutas representaram em média, nas safras de 2006 a 2008, 7,8 % do valor total do custo de produção (Tabela 1); Os dados referentes a evolução da área monitorada, da quantidade de propriedades inseridas e do índice MAD – Mosca/Armadilha/Dia, no período compreendido entre as safras 2006 a 2008, pode ser observado no Gráfico 1; Os dados referentes a evo91
lução dos custos de produção, no período compreendido entre as safras 2006 a 2008, pode ser observado na Gráfico 3; Os dados referentes a evolução dos custos de execução das atividades de controle das moscas-das-frutas, no período compreendido entre as safras 2006 a 2008, pode ser observado na Gráfico 4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS No período 2006 a 2008 verificou-se que a densidade populacio-
pelos métodos cultural, químico e legislativo. Considerando que somados os custos de execução do monitoramento e controle das moscas-das-frutas correspondem a 9,2% do custo total de produção de manga, pode-se inferir que esse investimento adicional representa muito pouco frente à ameaça da fruta perder qualida-
de, ou seja, chegar ao mercado interno infestada por larvas de mosca-das-frutas e mais crítico ainda ter as exportações de manga suspensas como já ocorreu em setembro de 1999, quando as exportações para o mercado norte-americano foram suspensas, em função de ter sido encontrado larvas de moscas-das-frutas em lotes de frutos destinados aos EUA. O Programa de Controle das Moscas-das-Frutas no Polo Frutícola do Vale do Rio Brumado têm sido executado adequadamente pela APROMOL, porém isso não seria possível sem o indispensável apoio de entidades como a ADAB, EMBRAPA, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Prefeituras Municipais que têm propiciado um suporte logístico, favorecendo a permanência dos pequenos produtores no referido Programa.
Foto: Sílvio Ávila/Editora Gazeta
nal de moscas-das-frutas na área estudada foi relativamente baixa; o índice MAD (Mosca/Armadilha/ Dia) foi de no máximo 0,25 (Gráfico 1). Essa baixa densidade populacional pode ser atribuída a dois fatores: – baixa diversidade de frutas hospedeiras da praga na área: as áreas comerciais são plantadas quase que exclusivamente com manga; – ações de controle das moscas-das-frutas
A Bahia é o principal estado produtor e exportador de manga do país.
Face à característica da praga e do risco da perda de qualidade da fruta, a manutenção de um programa permanente de controle 92
das moscas-das-frutas no polo frutícola do Vale do Rio Brumado é imprescindível.
tinuar a ser adotado nos moldes de associativismo, e em sistema de economia de larga escala.
O custo de execução do monitoramento das moscas-das-frutas neste determinado polo frutícola não pode ser considerado oneroso, pois representa 1,4 % mesmo para o pequeno produtor, se con-
O sucesso no controle das moscas-das-frutas exige um conjunto de ações, tais como: rigoroso planejamento espacial, forte conscientização dos produtores/empresários no sentido de implantação de
medidas eficientes e implantação de controle em área ampla. Novos estudos, buscando avaliar o quanto representa os custos do controle das moscas-das-frutas em diferentes escalas e sistemas de produção, frente risco de perda de qualidade do fruto para os mercados interno externos, devem ser efetuados.
Referências ALMEIDA, C. A. et al. Manga: fitossanidade. In: FRUTAS do Brasil: aspectos sócio-econômicos. Brasília: Embrapa-SPI, 2000. P.11-14. ARAÚJO, J. L. P. Cultura da mangueira: mercado e comercialização, sistema de produção. 2.ed. Embrapa, 2004. (Versão Eletrônica) ARAÚJO, J. L. P. et al. CORREIA, R. C.; GUIMARAES, J.; ARAÚJO, E. P. Análise do custo de produção e comercialização da manga produzida e exportada na região do Submédio São Francisco. EMBRAPA Semi-Árido, Petrolina, 2002. CARVALHO, R. da S.; NASCIMENTO, A. S.; MATRANGOLO, W. J. R. Controle biológico. In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R. A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil: conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000. p.113-117. CARVALHO, R. da S. Controle biológico de moscas-das-frutas (Tephritidade) no Brasil, USP. Apostila distribuída aos participantes do I Curso Nacional de Capacitação em Moscas-das-Frutas de Importância Econômica e Quarentenária: Biologia, Monitoramento e Controle, São Paulo – SP, 2003. FAVERO, L. A. (Coord.). Limites, oportunidades e posicionamento estratégico para a cultura da manga no Submédio São Francisco; resumo executivo. Recife: URFPE, 2007 ANUÁRIO Brasileiro da Fruticultura. Santa Cruz do Sul: Gazeta Santa Cruz, 2005. 117p. LOPES, P. R. C. et al. Produção integrada de manga. Informe Agropecuário, Belo Horizonte: EPAMIG, v.22, n.213, p 67-71, nov/dez 2001. MALAVASI, A. Áreas livres ou de baixa prevalência. In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R. A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil: conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000. p.109-112. MATOS, A. P. de (Org.). Manga: produção, aspectos técnicos. Brasília: EMBRAPA SPI, 2000. 63p. MARTIN, N. B. et al. Sistema Integrado de Custos Agropecuários – CUATAGRI. Informações Econômicas, São Paulo: IEA, v.28, n.21, jan.1998. MORGANTE, S. Boletim técnico de recomendações para os perímetros irrigados do Vale do S. Francisco, Brasília, n. 2, 1991. 19 p NASCIMENTO, A. S.; CARVALHO, R. da S.; MALAVASI, A. Monitoramento populacional. In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R. A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil; conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000. p. 109-112. NASCIMENTO, A. S.; CARVALHO, R. da S. Manejo integrado de moscas-das-frutas. In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R. A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil; conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000. p.169-73. OLIVEIRA, J. M. C. de; ANJOS, A. P. A. dos. Frutas da Bahia: desempenho e perspectivas. Revista Bahia Agrícola, Salvador: SEAGRI, v. 8, n 2, p.3-11, nov. 2008. SILVA, P. C. G.; CORREIA, R. C. Cultura da mangueira, sistema de produção; socioeconomia. Brasília: Embrapa, 2004. Versão eletrônica. ZUCCHI, R. A. Taxonomia. In: MALAVASI, A.; ZUCCHI, R. A. (Eds.). Moscas-das-frutas de importância econômica no Brasil; conhecimento básico e aplicado. Ribeirão Preto: Holos, 2000b. p.13-24. 93
Foto: Heckel Junior/SEAGRI
SOCIOECONOMIA
Luciana Niedersberg de Ávila1 Márcio Santos Batista2 Overlaque Brito Dourado2 Riva Braga Pedra2 Camila Cunha Sampaio3
1 — Médica Veterinária, MSc., Saúde Pública Internacional, Agência Estadual Defesa Agropecuária da Bahia -ADAB, Salvador – BA; e-mail: luciana.avila@adab.ba.gov.br 2 — Médico Veterinário, Agência Estadual Defesa Agropecuária da Bahia – ADAB, Salvador – BA; e-mail: marcio.batista@adab.ba.gov.br e-mail: riva. pedra@adab.ba.gov.br e-mail: overlaque.dourado@adab.ba.gov.br 3 — Graduanda de Medicina Veterinária, Salvador – BA; e-mail: camilasampaioccs@gmail.com
Certificação de propriedades livres de brucelose e tuberculose animal na Bahia 94
rebanho bovino brasileiro se estima em mais de 195 milhões de cabeças e ambas as enfermidades se encontram generalizadas em todo o país.
A
tuberculose bovina é uma enfermidade infecto-contagiosa, de evolução crônica, de distribuição em todo o mundo, que ocasiona prejuízos na atividade pecuária e riscos mais ou menos severos para a saúde da população que consome produtos de origem animal (CAMPOS, 2008). A brucelose também é uma zoonose de distribuição mundial, que causa problemas de saúde e prejuízos econômicos consideráveis. As principais manifestações nos animais – tais como abortos involuntários, parto prematuro, esterilidade e diminuição na produção de leite – contribui para uma redução substancial da produção de alimentos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2009), o
Estudos recentes sugerem que a infecção por tuberculose se concentra em rebanhos leiteiros, mas principalmente naqueles rebanhos com certo grau de melhora tecnológica (ROXO, 1997), onde as taxas de infecção podem variar entre 6,2% a 26,3% dos rebanhos infectados (RIBEIRO et al., 2003; CAMPOS, 2008; AMORIM; ANTUNES, 2008; FLORES et al., 2005) e cerca de 10% das vacas leiteiras (ABRAHÃO et al., 2005). A variação na prevalência da tuberculose nas diferentes regiões pode estar relacionada com vários fatores tais como: fonte de aquisição dos animais, a gestão, o clima, serviços de diagnóstico da tuberculose em cada propriedade (OLIVEIRA et al., 2008; POLETTO et al., 2004) e o sistema de produção, o tamanho do rebanho, idade, raça e presença de animais para produção de carne e de leite no mesmo rebanho (ELIAS; HUSSEIN, 2008; FLORES et al., 2005; PÉREZ, 2002). De 1986 a 1998, uma série de estudos sorológicos realizados por amostragem, demonstraram que a brucelose bovina está disseminada em todo o país e sua prevalência difere nas diferentes regiões, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Paraná, possuíam taxas de prevalência: 0,3%, 0,6%, 6,3%, 6,7% e 4,6% respec95
tivamente, e foram os mais afetados. As cifras oficiais, publicadas no Boletim de Defesa Sanitária Animal, indicam que a prevalência de animais positivos no Brasil se manteve entre 4% e 5% entre 1988 e 1998 (MAPA, 2006). O Estado da Bahia, com uma área de 567.295,669 km², possui o sétimo maior rebanho bovino do país, o que representa cerca de 11 milhões de cabeças. A produção de leite é outro importante setor da economia, sendo o sétimo Estado na produção de leite do país (30% do total nacional), sendo que sua perspectiva de desenvolvimento está estritamente relacionada com a qualidade higiênica dos alimentos produzidos (IBGE, 2009). Tanto a brucelose como a tuberculose bovina é prevalente na Bahia. Recentemente, em 2004, realizou-se um estudo de sorologia para brucelose no Estado, onde se estimou uma prevalência de brucelose em fêmeas bovinas de 24 meses de idade ao redor de 0,66%, variando de 0,41% a 0,93%, segundo o circuito produtor estudado. Ademais, se sugere que a compra de reprodutores e a presença de zonas inundadas são fatores de risco para a enfermidade, sendo que a vacinação das bezerras de 3 a 8 meses atuaria como fator protetor contra a enfermidade, em todo o Estado (ALVES, 2008). No Brasil, o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal –
PNCEBT tem como objetivo combater estas enfermidades, reduzir sua incidência e prevalência, a fim de minimizar os prejuízos econômicos e garantir a segurança alimentar, aumentando a competitividade de nossos produtos no mercado internacional (MAPA, 2006a). O programa tem características similares aos programas de controle e erradicação da tuberculose e brucelose bovina desenvolvidos em vários outros países, especialmente nas Américas, que se baseiam no uso da prova cutânea de tuberculina para tuberculose e a vacinação das bezerras de três a oito meses para brucelose, além do diagnóstico e sacrifício dos animais reagentes, segundo o recomendado pelas normas internacionais. Ademais contemplam: o controle do movimento dos animais, a formação e capacitação de veterinários para o diagnóstico da tuberculose bovina e a cer-
tificação de propriedades livres ou monitoradas para a tuberculose e brucelose (ARCELLES et al., 2005; OLIVEIRA, 2007). O número de propriedades certificadas como livres para brucelose e tuberculose é pequeno em todo o Brasil, a Bahia encontra-se hoje em terceiro lugar no ranking de propriedades certificadas como livres de tuberculose e brucelose (MAPA, 2011). Desde o ano de 2009, a Bahia iniciou o processo de certificação de propriedades livres e já foram certificadas 17 propriedades em um rebanho total de 281 animais (ADAB, julho de 2011), estando todas elas localizadas na regional de Irecê (Figura 1), em sua quase totalidade no município de Uibaí (11 propriedades). Segundo o inquérito de brucelose realizado em 2004 no Estado da 96
Bahia, a regional de Irecê localizada no circuito produtor definido como estrato de número 4, apresentou as menores prevalências dentre os circuitos amostrados, com prevalências de 0,60% de focos e 0,07% de fêmeas adultas soropositivas, o que justificaria a tomada de ações com o objetivo de erradicar essas enfermidades nessa regional. Este estudo tem como objetivo relatar o processo de certificação de propriedades livres de tuberculose e brucelose no Estado da Bahia e descrever o perfil epidemiológico sanitário do município de Uibaí.
RELATO DE CASO A regional de Irecê é formada por 17 municípios, com um to-
tal de 6.555 propriedades rurais e 173.324 cabeças de bovinos, segundo informações da ADAB (campanha de vacinação contra febre aftosa 2011-1). A bovinocultura de leite tem grande potencial econômico na região, segundo dados do IBGE (2006), com 3.375 estabelecimentos agropecuários da regional dedicados à produção de leite, dispondo ainda da infraestrutura de um laticínio e três usinas de beneficiamento de leite. O município de Uibaí, onde se localizam a maioria das propriedades certificadas, hoje conta com um total de 213 propriedades e um rebanho de 2.697 cabeças. O processo inicial de certificação das propriedades em Uibaí, contou com a participação do órgão oficial do Estado (ADAB), MAPA, médico veterinário do setor privado e arranjo produtivo do leite. A disponibilidade de apoio municipal (através da prefeitura de Uibaí), o apoio de entidades do setor agropecuário (cooperativas, associações agropecuárias) e a relativa organização dos produtores da região foram fatores que contribuíram para a certificação das propriedades. Foi realizado o recadastramento georreferenciado das propriedades que aderiram ao processo de certificação e, para o saneamento, testaram-se todos os animais, de acordo com a faixa etária, para brucelose pelo teste do antígeno acidificado tamponado (AAT) e para tuberculose pelo teste alérgico de tuberculinização intradérmi-
agente positivo, num intervalo de 90 a 120 dias entre o primeiro e o segundo e de 180 a 240 dias entre o segundo e o terceiro. O médico veterinário oficial supervisionou a
ca e procedeu-se ao sacrifício dos reagentes positivos. As provas em todo o rebanho se repetiram até a obtenção de três testes consecutivos, sem um único animal re-
FREQUÊNCIA DAS VARIÁVEIS QUALITATIVAS NO MUNICÍPIO DE UIBAI-BA, 2011
TABELA 1
TIPO DE CRIAÇÃO Confinado
Semi-confinado
Extensivo
Total
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
43
21,1
[15,727,3]
116
56,9
[49,863,8]
45
22,1
[16,628,4]
204
TIPO DE EXPLORAÇÃO Corte
Leite
Mista
Total
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
30
14,3
[9,919,8]
25
11,9
[7,917,1]
155
73,8
[67,379,6]
210
RAÇA PREDOMINANTE Zebu N 2
Europeu de Leite
%
IC 95%
1
[0,13,5]
N 2
Mestiça
Total
%
IC 95%
N
%
IC 95%
1
[0,13,5]
202
98,1
[95,199,5]
206
ASSISTÊNCIA VETERINÁRIA Não
Sim
Total
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
193
94,1
[90,0-96,9]
12
5,9
[3,1-10,0]
205
UTILIZAÇÃO DE INSEMINAÇÃO ARTIFICIAL (IA) Não usa IA N 195
Usa IA e Touro
%
IC 95%
95,6
[91,898,0]
N 8
Usa Apenas IA
%
IC 95%
N
%
IC 95%
3,9
[1,77,6]
1
0,5
[0,02,7]
Total
204
CONSUMO DE LEITE CRU Não
Sim
Total
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
194
94,6
[90,6-97,3]
11
5,4
[2,7-9,4]
205
RESFRIAMENTO DO LEITE Não Faz
Faz
Total
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
201
98
[95,1-99,5]
4
2
[0,5-4,9]
205
PRODUÇÃO DE QUEIJO E OU MANTEIGA NA PROPRIEDADE Não
Sim
Total
N
%
IC 95%
N
%
IC 95%
189
95,5
[91,5-97,9]
9
4,5
[2,1-8,5]
198
LOCAL DE ABATE DE BOVINOS NO FIM DA VIDA REPRODUTIVA Na Própria Fazenda N 108
%
IC 95%
50,7
[43,857,6]
Fonte: Ávila & Batista, 2011
97
Estab. Sem Inspeção N 17
Não Abate
Total
%
IC 95%
N
%
IC 95%
8
[4,712,5]
88
41,3
[34,648,2]
213
última colheita de sangue, sendo o teste para brucelose realizado em laboratório oficial credenciado, bem como o último teste de tuberculinização do rebanho. O médico veterinário privado habilitado pelo MAPA para atuar junto ao PNCEBT procedeu de acordo com o que preconiza a Instrução Normativa SDA nº 06, de 08 de janeiro de 2004. Os procedimentos para a certificação das propriedades livres de brucelose e tuberculose cumpriram os princípios técnicos estabelecidos pela Organização Mundial de Sanidade Animal (OIE).
DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
pio de Uibaí é do tipo semiconfinado que representa um percentual de 57% dos diferentes tipos de criação, caracterizado por um tipo de exploração em sua grande maioria (73,8%) de uma pecuária do tipo mista (corte e leite) e um rebanho predominantemente do tipo mestiço (98,1%). A atividade pecuária é exercida em sua maioria por pequenos produtores, com uma média de 13 cabeças/propriedade (mínimo de um e máximo de 98 cabeças/propriedade), produção diária de leite na propriedade de aproximadamente 18 litros (mínimo de dois e máximo de 160), sem assistência veterinária (94,1%) e que não utilizam inseminação artificial (cerca de 96%).
Pode-se notar através da Tabela 1, nas análises das frequências, que o principal tipo de criação do municí-
Quanto ao hábito dos produtores, a maioria deles (94,6%) afirma não consumir leite cru e o destino final dos animais (bovinos) para
Todas as informações geradas pelo trabalho de campo foram inseridas em um banco de dados de domínio público (Epi Info 3.5.4) e posteriormente realizadas as análises epidemiológicas.
Foto: Heckel Junior/SEAGRI
Como parte de um projeto de incentivo a certificação de propriedades livres de tuberculose e brucelose no Estado da Bahia,
foi realizado um estudo do perfil sanitário produtivo dos produtores agropecuários do município, a partir da aplicação de um questionário epidemiológico e georreferenciamento de todas as propriedades rurais do município.
98
abate serem na própria propriedade (50,7%) ou não realizarem abate (41,3%). A maioria dos produtores afirma ainda não produzirem queijo ou manteiga na propriedade (95%) e não resfriarem leite para entrega (97,1%). Esse trabalho gera subsídios para uma expansão do número de propriedades certificadas a partir do município de Uibaí, iniciado por interesse dos produtores locais em parceria com a prefeitura e a ADAB,
incentivando um processo de certificação em massa a promover a erradicação dessas enfermidades. A presença de certas enfermidades, como a tuberculose e a brucelose, limita o potencial do setor pecuário e o comércio com outros países, causando prejuízos não só à indústria pecuária em si, quanto principalmente à saúde humana. No Brasil, projetos pioneiros de certificação em massa de propriedades livres como o do estado do
RS, vêm se destacando por representarem uma importante iniciativa no controle e erradicação dessas enfermidades. Sugere-se como principal causa dos baixos números de propriedades certificadas como livre no Brasil, a falta de suficiente divulgação e motivação para que os agricultores se unam a esta medida. A adesão ao processo de certificação é voluntária e contempla a introdução de mecanismos de incentivos e compensação.
Referências ABRAHÃO, R. M. C. M.; NOGUEIRA, P. A.; MALUCELLI, M. I. C. O comércio clandestino de carne e leite no Brasil e o risco da transmissão da tuberculose bovina e de outras doenças ao homem: um problema de saúde publica. Archives of Veterinary Science, v.10, n.2, p.1-17, 2005. ALVES, A. J. S. Caracterização epidemiológica da brucelose bovina no Estado da Bahia, Brasil. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2008. (dissertação de mestrado). AMORIM, B. M.; ANTUNES, J. M. A. P. Prevalência da tuberculose em bovinos diagnosticados pelo teste de tuberculinização na regiões do estado do Espírito Santos, Brasil. (monografia de pós-graduação). Vitória (ES): Universidade Castelo Branco; 2008. ARCELLES, M. et al. Prevalência de tuberculosis bovina em el distrito de Végueta, Huaurá – Peru. Revista de Investigación Veterinária de Peru, v.16, n.2, p.154-157, 2005. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Manual Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal. Brasília: MAPA, 2006a. CAMPOS, S. Prevalência de tuberculose bovina. Revista Eletrônica CESVA, Valença, Bahia, v.1, n.1, p.245, 2008. ELIAS, K. et al. States of bovine tuberculosis in Addis Abada dairy farms. Rev. Sci. tech. Off. Int. Epiz., v.27, n.3, p.915-923, 2008. FLORES, C. et al. Determinación de la presencia de tuberculosis bovina en la provincia de Canta, Lima – Peru. Revista Investigación Veterinaria de Peru,v.16, n.1, p.65-70, 2005. IBGE. SIDRA. Disponivel em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/tabela/listabl.asp?z=t&o=22&i=P&7>. Acesso em 03 out. 2011 OLIVEIRA, I. et al. Prevalência de tuberculose no rebanho bovino de Mossoró, Rio Grande do Norte - Brasil. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v.44, n.6, p.395-400, 2007. OLIVEIRA, V. et al. Análise retrospectiva dos fatores associados à distribuição da tuberculose bovina no Estado do Rio de Janeiro – Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.60, n.3, 2008. PEREZ, A. M. Epidemiología de la tuberculosis bovina en rodeos lecheros de Santa Fe: Dinámica de la enfermedad y análisis económico de su erradicación. (tesis de doctorado). Buenos Aires: Universidad de Buenos Aires; 2002. POLETTO, R. et al. Prevalência de tuberculose, brucelose e infecções víricas em bovinos leiteiros do município de Passo Fundo, Rio Grande do Sul – Brasil. Revista Ciência Rural, v.34, n.2, p.595-598, 2004. RIBEIRO, A. et al. Prevalência da Tuberculose e Brucelose bovina no município de Ilhéus, Bahia - Brasil. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.55, n1, p.120-122, 2003. 99
PESQUISA AGRÍCOLA
UMBU-CAJAZEIRA: boas perspectivas para o Semiárido baiano
Ivonilda Barbosa Brito Santana1 Walter dos Santos Soares Filho2 Rogério Ritzinger2 Maria Angélica Pereira de Carvalho Costa3
O
bserva-se que há uma demanda cada vez maior no mercado internacional por frutas com novos aromas, sabores e texturas. Neste contexto, o Brasil, em função da enorme biodiversidade e condições edafoclimáticas, é um país com imenso potencial para fornecer esses recursos naturais vegetais (SCHWARTZ et al., 2009). Entre as frutíferas nativas, o gênero Spondias merece destaque com representantes como o umbuzeiro (S. tuberosa Arruda
1 — Engenheira agrônoma, Mestre em Recursos Genéticos Vegetais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia; e-mail: ivonsantana@ig.com.br 2 — Pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Doutor em Melhoramento Genético de Plantas; e-mail: walter@cnpmf.embrapa.br; e-mail: rogerio@cnpmf.embrapa.br 3 — Professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Doutora em Fitotecnia; e-mail: mapcosta@ufrb.edu.br
O presente artigo contempla parte da dissertação da primeira autora apresentada ao Programa de Pós-graduação em Recursos Genéticos Vegetais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-Embrapa Mandioca e Fruticultura e tem como objetivo divulgar os resultados apontados pela pesquisa sobre a divergência genética entre acessos de umbu-cajazeira mediante análise multivariada utilizando marcadores morfoagronômicos e moleculares Câmara) e a umbu-cajazeira (Spondias sp.). A exploração destas fruteiras nativas do Nordeste do Brasil ainda ocorre de forma extrativista, em razão da falta de conhecimento fitotécnico de quem as utiliza, sem noção do que são recursos genéticos e da importância da conservação de germoplasma (CARVALHO et al., 2002).
DESCRIÇÃO BOTÂNICA E OCORRÊNCIA A umbu-cajazeira é uma frutífera típica da região semiárida, encon trada também em outros ecossistemas, como o da Mata Atlântica e em regiões litorâneas, mais úmidas, provavelmente em decorrên100
cia de movimentos antrópicos. As plantas, se encontram próximas a residências (Figura 1), indicando estreita dependência da presença humana no que concerne à sua propagação e dispersão (SOARES FILHO; RITZINGER, 2006). Na Bahia, ocorre nas regiões fisiográficas da Chapada Diamantina, Litoral Norte, Nordeste, Paraguaçu, Recôncavo e outras ainda não prospectadas. É uma planta arbórea (Figura 2), com porte relativamente elevado, a copa é aberta, podendo atingir de 6 a 8 m de altura e até 20 m de diâmetro de copa. O tronco é semiereto, rugoso e apresenta coloração acinzentada (SILVA, 2008). Sua floração concentra-se de novembro a dezembro e a frutificação de março a maio, geralmente com três picos de colheita. A inflo-
Usualmente é propagada pelo método vegetativo, mediante estacas de 35 cm de comprimento e 1,5 cm de diâmetro (LOPES, 1997; SOUZA, 1998) ou por enxertia, sobre portas-enxerto de umbuzeiro (RITZINGER et al., 2008), pois apresenta cerca de 90% dos frutos desprovidos de sementes (SOUZA et al., 1997), o que dificulta sua propagação sexual. Os frutos são do tipo drupa (Figura 4) e têm participação crescente no agronegócio da região Nordeste, principalmente no comércio como fruta fresca e processamento de polpa, com grande aceitação no mercado pelo seu sabor, aroma, excelente qualidade e boas características agroindustriais, como rendimento da polpa acima de 60% e sólidos solúveis em torno de 10º Brix sendo utilizados como matéria-prima no preparo de sucos, picolés, sorvetes, néctares, geleias e vinhos.
RECURSOS GENÉTICOS Apesar de todo este potencial, não existem pomares comerciais e as agroindústrias ficam totalmente dependentes da produção obtida
do extrativismo, que é sazonal e insuficiente para operacionalização das fábricas durante todo o ano (MARTINS; MELO, 2006). Segundo Alves (2009), a demanda pelo fruto tem aumentado, devido ao amplo consumo de sua polpa, despertando assim o interesse para o cultivo da espécie, que ainda é considerada em fase de domesticação, com poucas informações disponíveis sobre o manejo dessa cultura. Em trabalhos de melhoramento genético, a caracterização de genótipos constitui uma das principais etapas do processo, pois permite identificar, selecionar e indicar materiais superiores, principalmente quando se trata de espécies perenes (FARIAS NETO et al., 2005). Com relação a Spondias, a seleção de plantas que apresentam características de boa produtividade e precocidade na produção de frutos são aspectos importantes no seu melhoramento genético (VILLACHICA, 1996), bem como a qualidade na composição química dos frutos. O uso de cultivares adaptadas às diferentes condições de clima, solo e sistema de produção é o princípio fundamental para a obtenção de incrementos de produtividade e de qualidade de qualquer vegetal (NOGUEIRA et al., 2006); portanto, a geração de novas cultivares mais produtivas e com características qualitativas superiores, como cor do fruto, sabor, odor, textura e coloração da polpa, teor de açúcares, acidez, resistência ao transporte, entre outros, tem sido o grande 101
Fotos: Rogério Ritzinger
rescência é uma panícula terminal (Figura 3) onde se encontram, ao mesmo tempo, flores masculinas (estaminadas) e hermafroditas (perfeitas), sendo a umbu-cajazeira uma planta andromonóica (CRUZ et al., 2009).
Figura 1 – Planta de umbu-cajazeira (Spondias sp.) ao lado de residência.
Figura 2 – Detalhe da planta de umbu-cajazeira (Spondias sp.) – acesso ‘Boa Vista
Figura 3 – Detalhe da inflorescência
desafio do melhoramento genético de fruteiras. Por conseguinte, a caracterização físico-química de frutos de acessos de espécies frutíferas é de inquestionável valor na fase de seu pré-melhoramento genético, visto que são quantificadas propriedades organolépticas de frutos de genótipos com potencial de uso per se bem como em futuros programas de melhoramento genético (SANTANA et al., 2009). Desde o ano 2000, a Embrapa Mandioca e Fruticultura vem realizando trabalhos de prospecção genética no Estado da Bahia, em 24 municípios baianos, 18 dos quais situados em região
semiárida (Amargosa, Andaraí, Boa Vista do Tupim, Cabaceiras do Paraguaçu, Iaçu, Ipirá, Itaberaba, Itaetê, Itatim, Milagres, Santa Bárbara, Santanópolis, Santa Teresinha, Santo Estevão, Serra Preta, Serrinha, Tanquinho de Feira e Utinga) e seis em região de clima subúmido (Coração de Maria, Cruz das Almas, Irará, Muritiba, São Gonçalo dos Campos e Sapeaçu), no sentido de localizar áreas de ocorrência, preservar, caracterizar e avaliar genótipos de umbu-cajazeiras. Os materiais genéticos coletados foram georeferenciados, estabelecendo-se uma coleção in situ dos mesmos. Avaliações preliminares foram realizadas nos frutos desses indivíduos, no sentido de detectar genótipos superiores em relação a caracteres morfoagronômicos. Aqueles que se destacaram a partir dessas análises, foram clonados e compõem o Banco Ativo de Germoplasma de Fruteiras Tro-
Figura 4 – Detalhe do fruto
Figura 5 – Visão geral do BAG Fruteiras Tropicais da Embrapa Mandioca e Fruticultura; acessos (A) ouro, (B) Princesa, (C) Pomar e (D) Primavera II.
picais - BAG Fruteiras Tropicais, atualmente com 26 acessos, sendo 20 de umbu-cajazeiras, constituindo o primeiro banco de germoplasma desta espécie no Estado da Bahia (Figura 5). Recursos genéticos de Spondias também estão disponíveis em bancos ativos de germoplasma da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA-PE) e da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. (EMEPA-PB).
MELHORAMENTO GENÉTICO Tradicionalmente, a caracterização dos genótipos é feita baseando-se em marcadores morfológicos, herdáveis, facilmente visíveis e mensuráveis, que, a princípio, são expressos em todos os ambientes (IPGRI, 1996). Um dos grandes problemas na utilização dos marcadores fenotípicos é seu número reduzido, a ausência de ligação destes com características de importância econômica e os efeitos deletérios das mutações, que limitam sua utilização (GUIMARÃES; MOREIRA, 1999). Assim, a seleção de descritores com alta herdabilidade e estáveis é de grande importância na caracterização genotípica da umbu-cajazeira. Neste aspecto, os marcadores moleculares permitem compreender e organizar a variabilidade genética de um programa de 102
melhoramento de forma única, acessando a variabilidade em nível de DNA, sem os inconvenientes de influências do meio ambiente, contribuindo no processo de caracterização e seleção de genótipos superiores (MILACH, 1998). Assim, um marcador molecular com grande potencial para a aplicação em programas de melhoramento genético é o ISSR (Inter Simple Sequence Repeat) (ZIETKIEWICZ et al., 1994), que se baseia na amplificação de regiões entre sequências microssatélites adjacentes do DNA via PCR (Polymerase Chain Reaction) e se destaca devido ao elevado grau de polimorfismo, reprodutibilidade e baixo custo (SALIMATH et al., 1995), além de não exigir um conhecimento prévio do genoma (GONZALÉZ et al., 2002). Os principais estudos envolvendo a umbu-cajazeira baseiam-se, predominantemente, em avaliações morfológicas de plantas e frutos (Figura 6), estes caracterizados mediante parâmetros físicos, químicos e físico-químicos (Tabela 1). Relata-se que em tais pesquisas observa-se grande variabilidade dentro de caracteres. No entanto, estudos de diversidade genética em umbu-cajazeira, usando marcadores moleculares, são incipientes. Portanto, o objetivo desta pesquisa foi quantificar a variabilidade genética entre 17 acessos de umbu-cajazeira pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Fruteiras Tropicais da Embrapa Mandioca e Fruticultura, Cruz das Almas-BA, por meio de 25 iniciadores ISSR (Inter Simple Sequen-
Figura 6 – Frutos de umbu-cajá (Spondias sp.) de diferentes acessos do BAG Fruteiras Tropicais da Embrapa Mandioca e Fruticultura (A) Formas, tamanhos e cores variados, sendo 1 – piriforme, 2 – ligeiramente piriforme, 3 – ovalado e 4 – redondo. (B) Acessos selecionados pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, sendo 1 – Pingo de Mel, 2 – Preciosa, 3 – Princesa, 4 – Boa Vista, 5 – Esperança, 6 – Suprema, 7 – Favo de Mel, 8 – Ouro, 9 – Aurora e 10 – Santa Bárbara
ce Repeat). Dos 249 fragmentos amplificados, 80% geraram polimorfismo, com média de oito bandas polimórficas por iniciador. A distância genética calculada através do coeficiente de Jaccard indicou alto grau de divergência genética, variando de 0,247 a 0,665. Os acessos foram agrupados em cinco grupos principais de diversidade genética (Figura 7). O fato da umbu-cajazeira ser uma frutífera ainda em domesticação explica a elevada variabilidade genética existente entre os acessos. Espécies tradicionalmente multiplicadas via assexual, caso da umbu-cajazeira, apresentam-se mais
TABELA 1
Acessos
uniformes em localidades próximas. Ainda assim, mesmo em tais circunstâncias, constata-se a existência de considerável diversidade, que não se deve ao efeito ambiental, mas à origem genética, provavelmente decorrente da manifestação de mutações naturais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que os recursos genéticos possam ser incorporados ao agro-
negócio é imprescindível que os mesmos sejam utilizados de forma mais dinâmica nos programas de melhoramento genético das diversas espécies. Neste contexto, a Embrapa Mandioca e Fruticultura tem se destacado em pesquisas na área de recursos genéticos e pré-melhoramento do germoplasma de Spondias, particularmente da umbu-cajazeira, fruteira nativa do semiárido nordestino, que apresenta enorme potencial de cultivo, com reflexos positivos nas áreas social e econômica para a região.
Os resultados encontrados nesta pesquisa possibilitam as seguintes conclusões: Com base na divergência genética associada a estudos de caracteres morfoagronômicos de grande interesse nesta cultura, os resultados permitem orientar a recomendação de materiais, a saber: os acessos ‘Esperança’ e ‘Princesa’ são adequados ao consumo in natura, por apresen-
VALORES MÉDIOS OBTIDOS PARA CARACTERES FÍSICOS, QUÍMICOS E FÍSICO-QUÍMICOS DE FRUTOS DE UMBU-CAJAZEIRA (SPONDIAS SP.). CRUZ DAS ALMAS-BA, 2009 Diâmetro longi- Diâmetro transtudinal (cm) versal (cm)
Massa (10 frutos) (g)
Sólidos Solúveis (ºBrix)
Acidez Titulável (% ácido cítrico)
Relação SST/ATT
pH
Aurora Esperança Favo de mel Preciosa Princesa Santa Bárbara Suprema Tendas
4,52 a 4,31 ab 3,89 c 4,00 bc 4,32 ab 3,76 c 4,41 a 3,27 d
3,39 a 3,50 a 2,94 a 3,03 a 2,86 a 3,29 a 3,17 a 2,76 a
306,61 a 230,52 bcd 198,03 de 210,22 cd 189,84 de 248,54 bc 260,07 ab 155,65 e
13,67 a 10,73 b 10,93 b 10,67 b 10,97 b 10,93 b 11,53 b 10,33 b
1,66 b 0,25 e 1,23 cd 1,34 cd 1,14 d 1,41 c 1,77 b 2,07 a
8,19 c 12,83 a 8,85 b 7,95 c 9,67 b 7,76 c 6,53 d 5,00 e
2,69 b 3,03 a 2,79 ab 2,79 ab 2,87 ab 2,69 b 2,69 b 2,38 c
MÉDIA DMS CV (%)
4,06 0,3317 2,89
3,12 0,8246 9,35
224,94 47,8706 7,52
11,22 1,6727 5,27
1,36 0,2397 6,24
8,35 1,6933 7,17
2,74 0,245 3,16
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade (P<0,05); DMS = diferença mínima significativa; CV = coeficiente de variação 103
tarem baixa acidez e alta relação sólidos solúveis/acidez; ‘Santa Bárbara’, ‘Suprema’ e ‘Tendas’, por possuírem alta acidez e coloração de fruto variando de amarelo-ouro (‘Suprema’) a amarelo-claro (‘Santa Bárbara’ e ‘Tendas’), mostram-se adequados ao processamento; ‘Aurora’ apresenta maior massa, importante atributo para o mercado de frutas frescas; Os acessos preservados na coleção da Embrapa Mandioca e Fruticultura possuem
considerável diversidade genética. Contudo, torna-se necessário ampliar a área de coleta e aumentar o número de genótipos prospectados; A técnica de marcadores ISSR é eficiente em analisar a diversidade genética entre os acessos de umbu-cajazeira, confirmando a existência da ampla variabilidade genética, sendo assim importante em estudos futuros acerca da análise da diversidade genética das populações naturais de umbu-cajazeira e,
Futuros estudos com umbu-cajazeira devem centrar-se nos seguintes objetivos: (1) desenvolvimento de uma biblioteca de DNA, visando à construção de microssatélites (SSR) para investigar as relações parentais e a origem genética desta planta, (2) continuidade dos estudos da biologia reprodutiva, ecologia de polinizadores, dinâmica de populações e (3) ampliação da lista de descritores morfológicos, com vistas à recomendação de cultivares.
Suprema Ouro Princesa Esperança Pomar Primaver a I Primaver a II Pingo de mel Aurora Favo de mel Boa Vista Preciosa Monte Castelo Santa Bárbar a Gig. Sta. Bárbara Tendas Brandão 0.70
0.60
0.50
0.40
0.30
Figura 7 – Dendrograma representativo da divergência genética entre os 17 acessos de umbu-cajazeira (Spondias sp.), obtido pelo método UPGMA (Unweighted Pair Group Method with Arithmetic Mean), utilizando o complemento aritmético do índice de Jaccard como medida de dissimilaridade, com base em marcadores ISSR (Inter Simple Sequence Repeats). Cruz das Almas-BA, 2009. Valor cofenético = 0,83. 104
Referências CARVALHO, P. C. L. de et al. Conservação de germoplasma de fruteiras tropicais com a participação do agricultor. Rev. Bras. Fruticultura, Jaboticabal, v.24, n.1, p. 277-281, abr. 2002. CRUZ, E. S. da; RITZINGER, R.; SOARES FILHO, W. dos S. Avaliação do florescimento de acessos de umbu-cajazeira. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA DO RECÔNCAVO DA BAHIA, 3.; SEMINÁRIO ESTUDANTIL DE PESQUISA DA UFRB, 3.; SEMINÁRIO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFRB, 3., 2009, Cruz das Almas. Evolução do conhecimento e o desenvolvimento social: [resumos...]. Cruz das Almas: Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, 2009. 01 CD-ROM. FARIAS NETO, J. T. de et al.; Variabilidade genética em progênies jovens de açaizeiro. Cerne, Lavras, v. 11, n. 4, p. 336-341, out./dez. 2005. FAO. FaoStat. Disponível em: <http://faostat.fao.org > Acesso em: 20.ago.2008 GIACOMETTI, D. G. Recursos genéticos de fruteiras nativas do Brasil. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE RECURSOS GENÉTICOS DE FRUTEIRAS NATIVAS. 1992, Cruz das Almas-BA. Anais... Cruz das Almas: Embrapa-CNPMF, 1993. p.13-27. GONZÁLEZ, A., COULSON, M.; BRETTELL, R. Development of DNA markers (ISSRs) in mango. Acta Horticulturae, v. 575, p. 139-143, 2002. GUIMARÃES, C. T.; MOREIRA, M. A. Genética molecular aplicada ao melhoramento de plantas. In: BORÉM, A. (Ed.). Melhoramento de espécies cultivadas. Viçosa: UFV, 1999. p.715-740. INTERNATIONAL PLANT GENETIC RESOURCES INSTITUTE. Descriptors for banana (Musa spp.). Roma: IPGRI, 1996, 55 p. LOPES, W. F. Propagação Assexuada de Cajá (Spon¬dias mombim L.) e Cajá-umbu (Spondias spp) através de Estacas. Areia: UFPB/CCA, 1997. 40 p. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Agro¬nomia). Universidade Federal da Paraíba, Paraíba. MARTINS, S. T.; MELO, B. Característica do cajá. TodaFruta, 04 jan. 2006. Disponível em: <http://www.todafruta.com.br/todafruta/mostra_conteudo.asp?conteudo=11025>. Acesso em: 20 mar. 2008. MILACH, S. C. K. Marcadores de DNA. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento, Brasília, v. 1, n. 5, p. 14 – 17, 1998. NOGUEIRA, O. L.; FIGUERÊDO, F. J. C.; MULLER, A. A. Sistema de Produção do Açaí. Belém: Embrapa Amazônia Oriental, 2006. (Sistemas de Produção, 4) OLIVEIRA, J. M. C. de. Mosca Negra dos Citros: possíveis impactos na fruticultura baiana. 2009. 63 p. Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Defesa Sanitária) – União Metropolitana de Educação e Cultura, Lauro de Freitas. RITZINGER, R.; SOARES FILHO, W. dos S.; CASTELLEN, M. da S. Coleção de Spondias sp. da Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. In: LEDERMAN, I. E.; LIRA JUNIOR, S. de; SILVA JUNIOR, F. de. (Ed.) Spondias no Brasil: umbu, cajá e espécies afins. Recife: IPA / UFPE, 2008. p. 86-90. SALIMATH, S. S. et al. Assessment of genome origins and genetic diversity in the genus Eleusine with DNA markers. Genome, 1995, v.38, p.757-763. SANTANA, I. B. B. et al. Da análise da diversidade genética de acessos de umbu-cajazeira (Spondias spp.) mediante caracterização físico-química de frutos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS, 5., 2009, Guarapari. O melhoramento e os novos cenários da agricultura: anais. Vitória: Incaper, 2009. SCHWARTZ, E. et al. Avaliação de populações de Butia capitata de Santa Vitória do Palmar. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-29452010005000089&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 16.set.2010. SILVA, L. R. da. Qualidade e atividade antioxidante de frutos de genótipos de umbu-cajazeiras (Spondias sp.) oriundos da microrregião de Iguatu, CE. 2008. 135p. Dissertação (Mestrado em Agronomia) – UFPB. SOARES FILHO, W. dos S.; RITZINGER, R. Pré-melhoramento genético de fruteiras nativas: caso da umbu-cajazeira na Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical. In: LOPES, M. A. et al. (Org.). Curso internacional de pré-melhoramento de plantas. Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, 2006. p.126-128. SOUZA, F. X. Spondias Agroindustriais e os seus métodos de propagação (Frutas tropicais: cajá, ciriguela, cajarana, umbu, umbu-cajá e umbuguela). Fortaleza: Embrapa Agroindústria Tropical/Sebrae/CE, 1998. 28p. (Documento 27). SOUZA, F. X. de.; SOUZA, F. H. L.; FREITAS, J. B. S. Caracterização morfológica de endocarpos de umbu-cajá. In: CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 48., 1997, Crato, CE. Resumos... Fortaleza: SBB/BNB, 1997. p. 121. VILLACHICA, H. Frutales y hortalizas promisorios de la Amazonia. Lima: Tratado de Cooperacción Amazonia,1996. p. 33-42. ZIETJIEWICZ, E.; RAFALSKI, A.; LABUDA, D. Genome fingerprinting by simple sequence repeat (SSR)-anchored polymerase chain reaction amplification. Genomics, v. 20, p.176-183, 1994. 105
Foto: Manuela Cavadas/Acervo SEAGRI
PESQUISA AGRÍCOLA
Avaliação da cultura da rúcula em cultivo hidropônico Jorge de Almeida1 Carlos Alan Couto dos Santos2 Anacleto Ranulfo dos Santos3 Clovis Pereira Peixoto3 Jamile Maria da Silva dos Santos4 Jorge de Almeida Filho5 1 — Engenheiro Agrônomo, D.Sc., EBDA; e-mail: jorgealmeida46@bol.com.br 2 — Engenheiro Agrônomo, Doutorando UFRB; e-mail: alanbiologia@ig.com.br 3 — Engenheiro Agrônomo, D.Sc., UFRB; e-mail: anacletors@ufrb.edu.br; e-mail: cppeixoto@ufrb.edu.br 4 — Engenheiro Agrônomo, Mestranda UFRB; e-mail: agromyle@hotmail.com 5 — Acadêmico em Ciências Biológicas UFRB; e-mail: jhoif@hotmail.com
A
rúcula (Eruca sativa Miller) é uma hortaliça folhosa herbácea pertencente à família Brassicaceae, de rápido crescimento vegetativo, ciclo curto, porte baixo, folhas relativamente espessas, divididas, tenras com nervuras verdearroxeadas (FILGUEIRA, 2003; AMORIM et al., 2007; HENZ; MATTOS, 2008). A espécie mais cultivada no Brasil é a Eruca sativa Miller, representada principalmente pela folha larga. Também se encontram cultivos em menor escala da espécie Diplotaxis tenuifolia 106
(L.) DC. conhecida como rúcula selvática. As principais cultivares de rúcula apresentam diferenças quanto ao tipo de folha, que podem ter bordas lisas até bastante recortadas (SALA et al., 2004). Em países da Europa a rúcula é muito apreciada sendo consumida em larga escala de diferentes maneiras. No Brasil, é consumida preferencialmente na forma de salada crua e em pizzas. O mercado consumidor dessa hortaliça é muito variável e regionalizado
apresentando exigências diferentes de produtos. Certas regiões preferem para o consumo in natura folhas grandes e outras apreciam folhas pequenas. Além disso, a forma de utilização dessa hortaliça também dita como deve ser seu tamanho. Para a utilização em pizzas, onde as folhas são picadas, folhas grandes são preferíveis. Para utilização em restaurantes do tipo “self service”, onde existe a necessidade de folhas que caibam dentro dos recipientes onde são servidas, “rechaud”, folhas menores são mais interessantes (PURQUERIO; TIVELLI, 2009). A hidroponia é uma técnica alternativa de cultivo em ambiente protegido, na qual o solo é substituído pela solução nutritiva, onde estão contidos todos os nutrientes essenciais ao desenvolvimento das plantas. O termo hidroponia é de origem grega: Hydro = água e Ponos = trabalho, cuja junção significa trabalho em água. As primeiras tentativas de cultivo sem solo ocorreram por volta do ano de 1700, mas a hidroponia como técnica de cultivo comercial é recente. No Brasil, ela entrou em expansão no início da década de 90, em São Paulo. Hoje é bastante difundida, principalmente, próximo a grandes centros para a produção de hortaliças folhosas (SEDIYAMA; PEDROSA, 2007). A escolha da solução nutritiva deve ser formulada de acordo com as necessidades nutricionais da espécie (FURLANI et al., 1999). O sucesso do cultivo hidropônico
está diretamente relacionado à solução nutritiva, atentando para o cálculo, o preparo e manejo, pois é ela quem determina o crescimento das plantas e a qualidade do produto final (GUERRA et al. 2009; Martinez, 1999). Deve ser monitorada periodicamente e promovendo-se ajustes no pH e na condutividade elétrica. O pH das soluções em geral, deve ser mantido na faixa de 5,5 a 6,5, sendo esta a mais adequada para absorção de nutrientes, pelas espécies vegetais (MORAES, 1997; SEDIYAMA; PEDROSA, 2007). Grande parte das soluções nutritivas não tem poder tamponante, consequentemente, quando utilizadas em cultivos hidropônicos comerciais observam-se variações contínuas de pH (FURLANI ET AL.,1999). Valores muito baixos de pH podem afetar a integridade das membranas celulares, favorecendo a redução na absorção de nutrientes, como também a instalação de doenças, pelo sistema radicular das plantas. Por outro lado, níveis de pH altos podem favorecer a precipitação de fósforo, boro, manganês e ferro nas soluções nutritivas utilizadas em hidroponia (MORAES, 1997). Armstrong e Armstrong (1999) estudando os ácidos orgânicos propiônico, butírico e capróico, concluíram que níveis baixos de pH da solução nutritiva aumentam a fitotoxidez desses ácidos. Segundo Marschner (1995), o principal efeito dos ácidos orgânicos diz respeito ao seu poder de lipossolubilidade das membranas celulares, que é aumentado quando estes 107
ácidos encontram-se na forma não dissociada. Para Jackson e Taylor (1970) e Lynch (1978), esta forma não dissociada destes ácidos está intimamente relacionada como pH do meio onde se encontram, sendo que cerca de 63 a 70% destes ácidos encontram-se nesta forma a um pH de 4,5 e conseqüentemente causando fitotoxidez. A absorção de nutrientes pela raiz é afetada pelo pH ou acidez do meio, que sendo eles de valores muito baixos ou muito altos influenciam negativamente no desempenho produtivo das plantas. Diante do exposto, a utilização da hidroponia é uma atividade que requer conhecimentos técnicos sobre o manejo da cultura, da solução nutritiva e do ambiente. Nesse sentido, este trabalho teve por objetivo, avaliar a influência dos níveis de pH em solução nutritiva de Hoagland e Arnon, no desenvolvimento de rúcula em cultivo hidropônico.
METODOLOGIA O estudo foi realizado em casa de vegetação e no Laboratório de Fisiologia Vegetal do Centro de Ciências Agrárias, Ambientais e Biológicas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB, localizado no município de Cruz das Almas, Bahia. A rúcula utilizada foi a cultivar “folha larga” (Eruca sativa Miller) ciclo 40 a 45. O delineamento experimental
RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados obtidos demonstraram efeito significativo para as variáveis altura de haste, massa seca de folhas e área foliar, indicando que as mesmas foram influenciadas pela variação do pH das soluções nutritivas. O crescimento das plantas pode ser estudado através de medidas de diferentes tipos quais sejam, lineares, superficiais, volumétricas, peso e número de unidades estruturais, para detectar diferenças entre os tratamentos estabelecidos (BENICASA, 2004). Assim sendo, utilizou-se a medida linear altura da haste, como um dos parâmetros de avaliação. As plantas de rúcula apresentaram aumento
da altura da haste à proporção em que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH 0,5 acrescentado ocorreu aumento 0,53 cm. A altura estimada de 2,71cm foi obtida no pH máximo estudado de 6,5 da solução nutritiva, representando um acréscimo de 98 % em relação a altura da haste 1,37cm observada no pH 4,0.
No que diz respeito à área foliar, foi obtida 361,63 cm2 no pH 6,5 representando um incremento de 70,4% em relação a área de 212,2cm2 observada no pH 4,0. As plantas apresentaram aumento desta variável à proporção que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH acrescentado de 0,5 ocorreu aumento de 59,75cm2 .
Quanto a massa seca de folha, foi obtido 2,34g no tratamento onde a solução tinha pH 6,5 representando um incremento de 67% em relação a massa seca de 1,40 g observada no pH 4,0. As plantas apresentaram aumento desta variável à proporção que foram aumentados os níveis de pH da solução nutritiva. A cada pH acrescentado de 0,5 ocorreu aumento de 0,3744 para esta variável. As informações das quantidades de massa da matéria seca e da área foliar de uma planta, em função do tempo, são utilizadas na estimativa de vários índices relacionados ao desempenho da mesma espécie e das comunidades vegetais cultivadas em diferentes ambientes (BRANDELEIRO et al., 2002). A massa seca é o produto final da atividade fotossintética da planta que tem como matriz a área foliar.
As folhas são as principais responsáveis pela captação de energia solar e pela produção de matéria orgânica através da fotossíntese (MAGALHÃES, 1985). A área foliar de uma planta constitui a matéria prima para a fotossíntese e como tal, é muito importante para a produção de carboidratos, lipídios e proteínas (PEIXOTO, 1998). Neste trabalho de pesquisa, conclui-se que o melhor desempenho da planta de rúcula quanto a altura da haste, massa seca de folhas e área foliar aconteceu com pH 6,0 e 6,5. Trabalhos de Sediyama e Pedrosa (2007) e Moraes (1997), indicam que em geral o pH deve ser mantido 5,5 a 6,5, pois esta é a faixa mais adequada na absorção de nutrientes, para a maioria das espécies vegetais.
Foto: Manuela Cavadas/Acervo SEAGRI
utilizado foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos: pH 4,0, 4,5; 5,0; 5,5; 6,0; 6,5 e quatro repetições. Cada parcela foi representada por quatro plantas, sendo uma planta por vaso. A colheita ocorreu no 45º dias após a semeadura analisando-se as variáveis: comprimento da raiz (CR), altura da haste (AH), número de folhas (NF), massa seca da folha (MSF) e área foliar (AF). Os dados obtidos foram submetidos a análise estatística, aplicando-se a regressão polinomial para interpretação dos resultados (BANZAT; KRONKA, 1995), utilizando-se o programa estatístico SISVAR (FERREIRA, 2000).
108
Referências AMORIM, H. C; HENZ, G. P.; MATTOS,L. M. Caracterização de maços de rúcula comercializados no Distrito Federal e estimativa de perdas. Brasília, Embrapa, 2007. 7p. (Boletim de pesquisa e desenvolvimento 35). <http://www. google.com/> Acesso em: 30 jul. 2009. ARMSTRONG, J.; ARMSTRONG, W. Phragmites dieback: toxic effects of propionic, butyric and caproic acids in relation to pH. New Phytologist,New York, v. 142, n. 2, p. 201-217, 1999. BANZATTO, D. A.; KRONKA, S. do N.; Experimentação Agrícola. Jaboticabal: Fundação de Estudos e Pesquisa em Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia. 1995. 245 p. BENICASA, M. M. P. análise de crescimento de plantas (noções básicas). Jaboticabal. FUNEP. 2004. 42p. BRANDELERO, E. M. et al. Índices fisiológicos e rendimento de cultivares de soja no Recôncavo Baiano. Magistra, Cruz das Almas, v.14. n.2 p.77-88, jul/dez 2002. FERREIRA, D. F. Análises estatísticas por meio do Sisvar para Windows versão 4.0 In: REUNIÃO ANUAL DA REGIÃO BRASILEIRA DA SOCIEDADE INTERNACIONAL DE BIOMETRIA, 45, São Carlos, Programa e resumos... São Carlos: UFSCar, Julho de 2000, p.255-258. FILGUEIRA, F. A. R. Novo manual de olericultura: agrotecnologia moderna na produção e comercialização de hortaliças. 2. ed. Viçosa, MG: UFV, 2003. 412 p. FURLANI, P. R. et al. Cultivo hidropônico de plantas. Campinas: Instituto Agronômico, 1999. 52p. (Boletim Técnico IAC, 180). GUERRA G. M. P.e t al. Cultivo hidropônico de rúcula em diferentes concentrações de solução nutritiva, em sistema NFT. Disponível em <http://www.abhorticultura.com.br> acesso em: 30 jul.2009. GENÚNCIO G. C. et al. Cultivo hidropônico de rúcula (Euruca sativa) em diferentes níveis de pH. Disponível em <http://www. abhorticultura.com.br> acesso em: 30 jul.2009. HENZ, P. G.; MATTOS, L.M. Manuseio póscolheita de rúcula. Brasília, DF, Embrapa. Junho, 2008. 7 p. (Comunicado técnico 64). Disponível em www.cnph.embrapa.br acesso em: 30 jul.2009. JACKSON, P. C.; TAYLOR, J. M. Effects of organic acids on ion uptake and retention in barley roots. Plant Physiology. ,Rockville, v. 46, n. 4, p. 538-542, 1970. LYNCH, J.M. Production and phytotoxicity of acetic acid in anaerobic soils containing plant residues. Biology Biochemistry, Oxford, v.10, n. 2, p.131-135, 1978. MAGALHÃES, A. C. N. Análise quantitativa do crescimento. In: FERRI, M. G. Fisiologia vegetal. São Paulo, EPU, 1985. v.1, p.363-50. MARTINEZ, H. E. P. et al. Solução nutritiva para a hidroponia: cálculo, preparo e manejo. Brasília: SEBRAE, 1999. 107 p. (Trabalhador em hidroponia 1) MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. London: AcademicPress, 1995. 889p. MORAES, C. A. G. Hidroponia: como cultivar tomate em sistema NFT. Jundiaí: DISQ. Editora, 1997. 143 p. PURQUERIO, L. F. V.; TIVELLI, S. W. O mercado de rúcula. Disponível em: <http://www. google.com/> Acesso em: 30 jul.2009. SALA, F. C. et al. Caracterização varietal de rúcula. In: Anais do 44o Congresso Brasileiro de Olericultura. Horticultura Brasileira, Campo Grande, v.22, n.2, jul. 2004. Suplemento 2. CD-ROM. SEDIYAMA, M. A. N.; PEDROSA, M. W. Hidroponia: uma técnica alternativa de cultivo. (Documento EPAMIG), 2007.
109
INFORMAÇÕES E SERVIÇOS
NOTAS ESPECIAIS
20 anos P
restação de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), desenvolvimento de pesquisas, classificação de produtos de origem vegetal, fomento em agropecuária e em agroindustrialização, estímulo e apoio as iniciativas de desenvolvimento rural sustentável são ações que compõem a missão da EBDA, vinculada à SEAGRI, que há 20 anos oferece serviços de qualidade voltados para o desenvolvimento da agricultura familiar da Bahia.
A edição 2011 da Revista Bahia Agrícola marca a retomada da publicação, passando por transformações na sua produção. A nossa linha editorial está mais moderna e a seção INFORMAÇÕES E SERVIÇOS foi incrementada com um formato especial e a definição de uma seção mais aberta, permitindo variações a cada edição.
trabalhando para o desenvolvimento da agricultura familiar A EBDA quer alcançar os 665 mil agricultores familiares baianos, com Ater de qualidade. Essa é a meta da empresa para os próximos anos, que já contabiliza o atendimento, no último quadriênio 2007-2011, de 424.926 mil agricultores familiares. Outras metas estão previstas em um projeto de reestruturação da empresa, que contempla um Planejamento Estratégico, realizado em parceria com a Se110
cretaria da Administração do Estado da Bahia (SAEB), com a finalidade de impulsionar a EBDA para assistir, mais e melhor, o seu público-alvo. Desde a sua fundação, em 1991, a EBDA é parceira no desenvolvimento de programas federais e na implantação de programas estaduais de agricultura, a exemplo do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que engloba o Progra-
ma Garantia Safra, do Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), parceiro ainda no Projeto Pacto Federativo, junto com a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb). Esta parceria possibilitou a contratação de 647 bolsistas, para atuarem em nove Territórios de Cidadania e em Salvador. Sobre o Garantia Safra, que beneficia unidades familiares com um seguro de renda mínima de R$680 reais, caso haja perda comprovada de mais de 50% da safra de determinadas culturas, por seca ou excesso hídrico, a empresa visa alcançar a meta estabelecida de adesão de 200 mil agricultores familiares, para as safras de inverno e verão/2011. Para a safra de verão 2010/2011, a EBDA cadastrou 94.500 agri-
cultores, em 128 municípios, faltando contabilizar a safra de inverno, ainda em andamento.
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater).
Um dado estratégico da ação da empresa é sobre a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), emitida com o apoio da EBDA. Até setembro passado, foram contabilizadas 390.547 DAPs válidas e ativas, na Bahia.
Desenvolvimento da pecuária
No campo, persiste a busca por condições efetivas que possibilitem, aos profissionais da empresa, compreenderem e atuarem dentro do novo ciclo da agricultura, fundamentalmente ligada à sustentabilidade e preservação do meio ambiente, com ações agroecológicas. Nesse contexto, todos os projetos, seja de pesquisa, seja de ATER, serão prioritariamente desenvolvidos com base agroecológica e atendendo à 111
O destaque da EBDA para a pecuária baiana fica com a Unidade de Coleta de Sêmen, inaugurada este ano pela empresa, no município de Utinga, que já possibilitou a realização de 2.630 inseminações artificiais, beneficiando a mais de 534 agricultores familiares. Este trabalho faz parte do Programa de Melhoramento Genético de Rebanho Bovino para a Agricultura Familiar, desenvolvido em parceria com o Fundo Estadual de Combate e Erradicação à Pobreza (FUNCEP), que prioriza a bovinocultura leiteira.
Outro trabalho de destaque é o Programa de Segurança Alimentar do Rebanho da Agricultura Familiar do Estado da Bahia, que tem o objetivo de orientar os agricultores a fazerem reserva estratégica de alimentos para os rebanhos, no período de estiagem. Estas são ações estruturantes que têm como objetivo o aumento da produção/produtividade e da renda do agricultor familiar, contribuindo para a produção de ali-
mentos e a geração de trabalho e inclusão produtiva dessa parcela da população.
História A EBDA surgiu a partir da incorporação das atividades de pesquisa, desempenhadas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária da Bahia (EPABA), e das ações da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia (EMATERBA). Esta sociedade tem como acionistas o Governo do Estado e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Como empresa de maior abrangência e cobertura, no Estado, a EBDA atua nos 417 municípios
baianos e conta com mais de dois mil profissionais, entre pesquisadores, extensionistas, pessoal de apoio e administrativos. É nesse contexto que se insere a EBDA, uma empresa que une o passado ao presente, o antigo ao moderno, a cultura popular ao conhecimento científico, o artesanato ao tecnológico, o simples ao complexo, na busca constante de valores que atendam à agricultura familiar, na perspectiva de melhores condições de vida para os agricultores, mas, também, que reflitam nas condições alimentares das populações rurais e urbanas do Estado e do país, para onde vão as produções agrícolas baianas.
Assessoria de Imprensa da EBDA ebda.imprensa@ebda.ba.gov.br
Foto: Rejane Carneiro/ EBDA
Ao lado da pecuária leiteira, voltada para a agricultura familiar, a empresa também desenvolve ações com a caprinovinocultura, para atender aos agricultores familiares. Melhoramento de pastagens, reprodução animal, melhoramento genético e manejo animal são temas de ações desenvolvidas para a caprinovinocultura estadual.
112
I Encontro da SEAGRI
M
ODERNIZAÇÃO E EFICIÊNCIA. Essas são as palavras chaves que nortearam o I Encontro da SEAGRI, ação inédita, que reuniu no dia 07 de novembro de 2011, mais de mil servidores da Secretaria da Agricultura e órgãos vinculados, (ADAB, EBDA, BAHIA PESCA, CDA, Superintendências e Coordenadorias), em Salvador, com o objetivo de debater as formas de tornar mais eficiente a gestão pública e a prestação de serviços à população, além de proporcionar a integração e o conhecimento do Sistema SEAGRI. Este encontro foi o primeiro passo no processo de busca da excelência da gestão pública, durante o qual os funcionários conheceram as ações desenvolvidas por toda a secretaria e pelos órgãos vinculados. Agora, eles vão encaminhar opiniões e sugestões, através de um canal aberto no site da SEAGRI. O II Encontro da SEAGRI já foi marcado para abril de 2012, com a participação de dois mil servi-
dores. A atual gestão quer fazer da Secretaria da Agricultura da Bahia uma gestão pública que seja exemplo para o Brasil. O objetivo é prestar serviços modernos e mais eficientes à população baiana. Na abertura do encontro, o consultor Cesar Almeida ministrou palestra motivacional com o enfoque “Fazer o que gosta, gostar do que faz”, estimulando os servidores a superar sempre os desafios. Na sequência, os superintendentes de Agricultura Familiar, de Política do Agronegócio, de Desenvolvimento da Agrope113
cuária, e de Irrigação, apresentaram os avanços e os desafios de suas pastas. O dirigentes da EBDA, ADAB, BAHIA PESCA e CDA, demonstraram as ações dos respectivos órgãos. A missão da SEAGRI é ser uma grande prestadora de serviços à população, com eficiência, qualidade e comprometimento, e suas ações refletem na segurança pública, na saúde e segurança alimentar, pois a agricultura é a base da pirâmide. Ascom Seagri (imprensa@seagri,.ba.gov.br)
SEAGRI ITINERANTE
O
Projeto SEAGRI ITINERANTE tem o objetivo de conhecer in loco as dificuldades de cada região e município baiano, e fazer com que o produtor sinta mais de perto a presença do Estado. Nestas oportunidades, o corpo técnico da Secretaria ouve as demandas dos produtores e discute com eles alternativas de solução para os problemas detectados, demonstrando o papel articulador da Secretaria. Dessa forma, a SEAGRI divulga ao público em geral, e em especial aos agricultores familiares, as oportunidades que o programa enseja. O Projeto SEAGRI Itinerante foi concebido para viabilizar condições para o desenvolvimento e fortalecimento da agropecuária baiana, levando o Governo ao encontro do produtor para conhecer de perto suas dificuldades e buscar, em conjunto, as soluções. Ao reafirmar o seu papel de articuladora, com esta iniciativa, a Secretaria poderá prestar esclarecimentos e alavancar os
programas que já estão em andamento e, com relação às demandas elencadas, estas darão maior embasamento para a elaboração de novas políticas públicas e programas voltados para o setor agropecuário. O evento já aconteceu em mais de 200 municípios do Estado e em cada edição são realizadas audiências com os produtores dos vários segmentos, com a participação de agricultores, representantes dos sindicatos e entidades de classe, levantando os problemas e dificuldades de cada cadeia produtiva. Próxima parada: 07 e 08 de dezembro de 2011, cidade polo – Bom Jesus da Lapa. Reuniões temáticas com a presença dos dirigentes da SEAGRI, das superintendências de Desenvolvimento Agropecuário, Agricultura Familiar, Política do Agronegócio e Irrigação, das empresas vinculadas – EBDA, BAHIA PESCA, ADAB e CDA e dos técnicos da 114
SEAGRI, representantes da CODEVASF, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, prefeituras e secretarias municipais, agricultores familiares e as lideranças das várias cadeias produtivas dos Territórios da Bacia do Rio Corrente e Velho Chico. Municípios Participantes: Bom Jesus da Lapa, Carinhanha, Ibotirama, Paratinga, Riacho de Santana, Santa Rita de Cássia, Wanderley, Igaporã, Serra do Ramalho, Santa Maria da Vitória, Cocos, Coribe, Correntina, Santana, Serra Dourada, Feira da Mata, Mansidão, Morpará, Matina, Igaporã, São Félix do Coribe, Canápolis, Sítio do Mato, Tabocas do Brejo Velho, Muquém do São Francisco. Cadeias Produtivas envolvidas: Fruticultura, Pecuária leiteira e de corte, Apicultura, Mandioca culturas de subsistência (milho, feijão, horticultura e outras).
Ascom Seagri (imprensa@seagri,.ba.gov.br)
INFORMAÇÕES E SERVIÇOS
DIVULGAÇÃO SEAGRI
Publicações produzidas pela SEAGRI, no período 2010-2011, disponíveis na Biblioteca para distribuição. Mais informações: (71) 3115-2783
agronews@seagri.ba.gov.br
Bahia, terra das oportunidades Divulgação das principais oportunidades de investimentos no setor agropecuário da Bahia.
Diagnósticos e propostas para a cadeia produtiva do café da Bahia (Autor: Renato Hortélio Fernandes)
Estratégias para a agropecuária baiana: visão das Câmaras Setoriais Este documento busca direcionar esforços e investimentos para o setor agropecuário da Bahia, a partir das demandas e do ponto de vista das Câmaras Setoriais, evidenciando os principais desafios e a agenda que devem ser priorizados, por meio de políticas públicas, por cada segmento produtivo.
Planejamento estratégico para a agropecuária baiana: diretrizes gerais Fruto do trabalho das Câmaras Setoriais de cadeias produtivas consideradas prioritárias, este documento tem por objetivo pensar sobre o setor agropecuário do Estado da Bahia para os próximos 20 anos, apresentando diretrizes para a construção de um processo consistente de desenvolvimento, direcionando investimentos e ações estruturantes para o setor. 115
Apresenta uma análise da competitividade da cadeia produtiva do café da Bahia por meio de uma pesquisa qualitativa realizada em seis regiões produtoras de café do Estado.
Plano safra da agricultura e pecuária da Bahia 2011/2012 Este Plano contempla uma série de contribuições para o fortalecimento e a expansão da agropecuária baiana, tais como: crédito assistido, programa Garantia Safra, apoio à comercialização, entre outros.
Plano safra da agricultura e pecuária da Bahia 2011 /2012: guia para renegociações das dívidas e para o acesso às linhas de crédito
Projeto entreposto frigorífico modular O projeto de construção e implantação de entrepostos frigoríficos, elaborado pela SEAGRI/ ADAB, viabiliza um modelo padrão de equipamento modular que atenderá a demanda dos municípios baianos, objetivando a organização da cadeia produtiva, tornado-a segura, da produção ao consumo.
Site SEAGRI Ferramenta dinâmica que oferece informações diversificadas aos agricultores e os aproxima das oportunidades geradas pelo Estado por meio da SEAGRI. Navegue, se informe, saiba mais sobre o cenário agropecuário baiano: www.seagri.ba.gov.br. Entre em contato com a SEAGRI: agronews@seagri.ba.gov.br
116
CARTAS
Sou Engº Agrônomo, gostaria de saber da possibilidade de me cadastrar para receber a revista Bahia Agrícola, pois a mesma contém ótimas informações para a função que exerço e estou sentindo falta, não tenho mais visto esta revista em circulação. Marlus Carapia Lima de Barros e Silva, INCRA, Salvador-Bahia. Recebemos a comunicação da continuidade da publicação da Revista Bahia Agrícola, decisão louvável, pois o Estado da Bahia merece uma publicação (conceituada) representativa do setor agrícola. Agradecemos pela publicação da matéria “Rapadura: uma arte que atravessa os tempos. Fonte de renda para a agricultura familiar de Senhor do Bonfim”, Bahia, na edição anterior. Agradecemos por ajudar a comunidade pesquisada a divulgar seu produto e possibilitar o incremento na renda familiar, com as futuras parcerias. E, ainda, divulgar a cidade de Senhor do Bonfim como opção de turismo e lazer. José Dionísio Borges de Macêdo, Professor da Escola Agrotécnica Federal de Senhor do Bonfim-BA. Tomamos conhecimento da Revista Bahia Agrícola. Essa publicação é de primeiríssima ordem, em especial para o Agronegócio Baiano. O enfoque dado às matérias é perfeito. Vemos nela reportagens e artigos, que tratam dos assuntos em profundidades e completudes, com riqueza de informações. A linguagem fácil também é uma característica dessa publicação. Porém, por morar numa região carente de informações relacionada ao Agribusiness, resolvemos montar uma Biblioteca Comunitária Rural e não
A seção CARTAS, que traduz de modo direto e verdadeiro como nosso trabalho está chegando a cada leitor, nosso valioso indicador, retornará na próxima edição registrando as manifestações referentes a esta edição. Ocupamos, então, esse espaço, com as correspondências recebidas no período 2010-2011 mencionando o apoio à continuidade desta publicação. A revista desfruta de um amplo reconhecimento entre as instituições agrícolas, entre os técnicos e pesquisadores que encontram nesse veículo uma oportunidade de escoar a produção de seus estudos e resultados de pesquisas e, também, de divulgar alternativas tecnológicas que possam incrementar a produção e eliminar algumas barreiras no desempenho das culturas. Para ilustrar, destacamos alguns registros e depoimentos recebidos pela editoria da Revista:
dispondo de verbas públicas, para a compra de publicações para o acervo, recorremos a vocês para solicitar, por cortesia, uma assinatura da Revista acima citada. Gostaríamos também de receber todas as edições atrasadas a partir do mês de janeiro/2006. Na certeza do interesse em colaborar com a nossa Instituição, desde já nossa comunidade agradece. Romualdo Bitencourt, Biblioteca Comunitária Rural de São Manoel, Ipiranga – PR.
tempo, revelo meu descontentamento em não poder difundir resultados científicos obtidos para o nosso estado, em nosso estado. Percebo que os resultados aqui obtidos (mesmo aqueles fomentados pela FAPESB), estão sendo divulgado fora do estado e em locais de difícil acesso ao público alvo (os produtores Baianos). Alisson Jadavi Pereira da Silva, Eng. Agrônomo-UFRB, Mestre, Irrigação e Drenagem-USP, Professor, Irrigação-IFBaiano.
Você tem alguma previsão de publica-
A Revista Bahia Agrícola paralisada
ção de nosso artigo? Será uma pena, se depois de conseguir tanto espaço e projeção no Brasil, a revista deixar de circular. Esse é um espaço que a Bahia não pode perder. Um abraço. Clóvis Oliveira de Almeida, Pesquisador Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical.
desde a sua última edição em 2007, deixou uma lacuna muito grande na agropecuária baiana. Infelizmente, pesquisas desenvolvidas e tecnologias geradas deixaram de chegar ao conhecimento do produtor, maior interessado e responsável pelo aumento da produção e produtividade, variáveis tão importantes para o aumento do valor da produção e consequentemente aumento da arrecadação de impostos na Bahia. Um veículo de informação e conhecimento como a revista Bahia Agrícola certamente será alvo de análise e voltará com certeza a ser editada o mais breve possível. Antonio Zugaib, Gerente de Administração e Planejamento do Centro de Pesquisas do Cacau da CEPLAC.
A Revista Bahia Agrícola é um importante veículo de comunicação que presta relevante serviço ao setor agropecuário principalmente do nosso Estado da Bahia, com as suas seções de Pesquisa Agrícola, Agrossíntese, Comunicação, Socioeconomia, Agronegócio, etc. Neste sentido, na condição de Engenheiro Agrônomo atuando principalmente na Área de Pesquisa Agropecuária, solicito, que na medida do possível, todo empenho seja feito para esse conceituado periódico volte a ser editado e distribuído regularmente como em períodos anteriores. Na certeza de que tudo farão para alcançar esse objetivo, antecipo meus agradecimentos. Jorge de Almeida, Engenheiro Agrônomo, EBDA. Gostaria de saber como anda a edição da Revista Bahia Agrícola. Em 117
Cartas para Redação Revista Bahia Agrícola SEAGRI – 4ª Av. 405, Térreo – CAB Salvador – Bahia – CEP 41.745-002 (71) 3115-2783 agronews@seagri.ba.gov.br
118
119
120