Caderno Vida & Saúde

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• As histórias de Marília e Janaína

• ENTREVISTA Médica Caroline Chiarelli

Caderno Especial JANEIRO DE 2014

Suelen Miglioranza

Parto Humanizado

Com Pedro nos braços, Marília observa o companheiro Moisés cortar o cordão umbilical

A forma com que o bebê chegará ao mundo é uma das principais preocupações de 10 entre 10 gestantes. Desde fins do século XIX, quando a medicina conseguiu difundir as técnicas de anestesia e os procedimentos para evitar infecções, realizar os partos por meio de um procedimento cirúrgico é uma opção ao alcance da maioria das mulheres. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os hospitais realizem no máximo 15% dos procedimentos por cesáreas. Segundo o Ministério da Saúde, na última década, o procedimento aumentou de 37% para mais de 52%. Em 2012, foram realizados 1.123.739 partos normais e

753.766 cesáreas pelo SUS. No ranking da Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil aparece em segunda colocação entre os países com mais cesarianas em relação ao total de nascimentos. De 2000 a 2010, dos novos brasileiros que vieram ao mundo, 43,8% foram partos por cesariana, deixando o país atrás apenas do Chipre, que teve 50,9%. Quando a situação exige, a cirurgia cesariana traz benefícios à gestante e ao recém-nascido. Mas, quando feita de forma indiscriminada, como vem ocorrendo, pode implicar em riscos para a mãe ou para o feto. Para impedir que o parto cirúrgico ocorra sem necessidade, a saída é o parto humanizado.


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31 de janeiro de 2014

Entrevista

Caroline Chiarelli ginecologista e obstetra

"Humanização é quando a mulher torna-se protagonista do parto"

JO - Quais locais são propícios para o nascimento natural? Caroline - Casa de parto, maternidade, hospital, em casa, na

JO – Qual é a importância do acompanhamento durante o parto? Caroline – O companheiro é de fundamental importância. De tudo que envolve o parto humanizado, talvez a coisa mais importante é o apoio contínuo, que é oferecido pelos familiares, principalmente pelo pai, ou por aquelas pessoas que ela considera de sua confiança, desejando que estejam presentes no parto, além disso, a presença da doula e da equipe que assiste o procedimento também são fundamentais.

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JO - Quais são os profissionais que atuam em partos humaniza-

JO – Quanto tempo dura o parto humanizado? Caroline – Ele pode ser rápido e pode demorar bastante. Têm vários aspectos envolvidos nisso também, inclusive emocionais e psicológicos com os quais a mulher precisa confrontar-se. A equipe que atende o parto tem que garantir o bem-estar da mãe e do bebê, esperando o tempo necessário. JO - Quais são os maiores mitos em relação ao procedimento? Caroline – São muitos. Bebê muito grande ou pequeno, mulher com quadril pequeno, cordão enrolado, no pescoço, parto seco, passou das 42 semanas e falta de dilatação.

Caroline explica que o parto humanizado respeita o tempo da criança

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JO - Antigamente as parteiras conduziam o procedimento de dar à luz ao filho. Hoje, as doulas atuam fortemente no conforto da mãe e do bebê. O que são doulas? Caroline - As mulheres de antigamente geravam seus filhos em casa. Elas sabiam que teriam que passar por isso. Quando o parto chegou ao hospital, o médico que adonou do procedimento. Essa transição foi muito ruim. Todos os países em que se perderam parteiras, acabou-se realizando muito mais cesarianas que partos normais. Atualmente, doulas são mulheres que dão suporte físico e emocional a outras mulheres.

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JO - Como uma mulher se prepara para o parto? Caroline - Solicitamos que ela faça um plano de parto, onde ela coloca tudo que deseja para o procedimento. A mulher apenas deve pensar que o parto é uma coisa normal, natural e fisiológica.

TEXTOS: Vitória Stürmer Bortoletti

dos? Caroline – A equipe atende o parto humanizado, e não faz ele. Quem tem essa função é a mulher. São ginecologistas, obstetrícias, enfermeiras, pediatras e doulas.

JO - É possível definir qual o perfil da mulher que realiza o parto humanizado? Caroline - Toda a mulher pode fazer o parto humanizado. Porém, algumas são consideradas de alto risco, não chegando a 10% do total. Entre os fatores que levam à cesariana está a obstrução do colo do útero pela placenta ou seu descolamento; se o bebê estiver na posição transversa ou anormalidades durante o trabalho de parto.

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JO - Quais são as vantagens do procedimento para a criança? Caroline - Ao nascer de forma humanizada o bebê está exposto a todos os processos natural do parto. Quando o procedimento começa, iniciam as contrações, gerando um processo hormonal entre mãe e bebê, que faz com o sistema neurológico, respiratório e imunológico dessa criança seja

JO - Quais são os cuidados com a mulher pré, durante e pós-parto? Caroline – Os cuidados são sempre os mesmos, independente do tipo de parto. O pré-natal é muito importante. Durante o período são feitos exames e ecografias. Todos os cuidados são necessários e não podem ser dispensados. Inclusive na fase do pré-natal que vemos qual é a gestante de alto risco e que talvez precise de uma cesariana.

água, onde a mulher decidir e se sentir bem.

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JO - Quais são os benefícios do parto humanizado para a mãe? Caroline - A mulher que teve seu parto humanizado tem como vantagem ter um vínculo com o bebê muito fortalecido, pois esse bebê, ao nascer, vai direto para o colo da genitora, onde fica durante sua primeira hora de vida sem ser manipulado por nenhuma outra pessoa; a cascata hormonal desenvolvida durante e pós-parto é desencadeada normalmente, sem a influência externa; menos dor; fácil recuperação; alta precoce.

aperfeiçoado. A transição da vida uterina para extrauterina é realizada suavemente; há um maior contato com a mãe, a qual o esquenta de forma natural. Além disso, no momento em que o bebê sofre a pressão das contrações uterinas, passa a ter contato com a flora vaginal bacteriana da mãe, onde encontra anticorpos necessários para o seu futuro. O cordão umbilical apenas é cortado quando para de pulsar ou quando a placenta sai totalmente. Isso gera um ganho de cerca de 100ml a mais de sangue, além dos nutrientes, vitaminas e oxigênio.

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Jornal Opinião – O que é o parto humanizado? Caroline Chiarelli - É o parto onde a mulher e seus desejos são respeitados. Onde ela é protagonista. É um procedimento onde não ocorrem intervenções médicas, a mulher pode ter toda a liberdade para gerar seu filho, desde a posição, local, seus acompanhantes e demais confortos. O trabalho de parto humanizado está dizendo que chegou a hora do bebê sair da vida uterina para a extrauterina. A gestação dura de 38 e 42 semanas, portanto, poderá nascer a qualquer momento, sem data marcada, apenas precisamos respeitar o tempo da criança.

Para mudarmos o mundo, primeiro é preciso mudar a forma de nascer. A frase de Michel Odent, um dos percussores do parto humanizado, tem influenciado na vida de milhares de famílias brasileiras. O Jornal Opinião conversou com a ginecologista e obstetra, Caroline Chiarelli, que falou sobre o método. Você verá as vantagens do procedimento, tipos de parto e depoimentos emocionantes de mães que deram à luz através desse método.


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"Jamais vou esquecer este momento" Para Marília Graziola, 25 anos, a opção pelo parto humanizado deve-se à magia do processo. "Queria muito que o Pedro nascesse da forma mais amorosa e natural possível, porque acredito que a maneira como nascemos determina quem somos no mundo. Durante a minha gestação eu li muito a respeito das formas de nascer, procurei informações e decidi que meu filho e eu deveríamos ser respeitos, que o meu parto era "meu" e que somente eu poderia determinar como o momento deveria ser. Por um parto digno, respeitoso, sem intervenções, pressa, soros e cortes, foi que eu escolhi o parto humanizado", diz. Marília entrou em trabalho de parto às 14h do dia 29 de novembro de 2013. Pedro Vicente Graziola Blume nasceu apenas às 23h do dia 30. Ter o filho nos seus braços logo nos primeiros minutos de vida será lembrado para sempre por Marília. "A experiência

de trazer um filho ao mundo pelo meu esforço e ser a primeira a tê-lo nos braços é mágica, única e transformadora. Ter segurado o Pedro no colo no primeiro segundo de sua vida é uma sensação que está impressa em mim e no amor que tenho por ele. Jamais vou esquecer este momento.", sustenta. Em relação ao acompanhamento do companheiro durante o parto, ela relata que sua presença é indispensável. "No meu caso a presença foi determinante e fundamental. O Moisés me encorajou o tempo inteiro, me transmitindo segurança. A presença dele influenciou até mesmo a frequência das minhas contrações, sendo importantíssimo para o desenrolar do parto. Além disso, o fato de ter participado ativamente, ter me amparado e cortado o cordão umbilical do bebê, intensificou ainda mais a sua ligação com o Pedro. Ele viveu, de fato, o parto junto comigo", conclui. Marília Graziola e Moisés: participação do companheiro é indispensável

Vitória Stürmer Bortoletti

Varlei e Janaína esperaram três horas para conhecer Yasmin, a primeira menina do casal

"Três horas que valeram mais que tudo" Janaína Nunes dos Santos, 33 anos, também aprova o procedimento, assim como seu esposo Varlei da Silva, 37 anos. A primeira menina do casal, Yasmin dos Santos da Silva, nasceu às 9h4min do dia 22 de janeiro de 2014. A gestante entrou em trabalho de parto às 6h. “Foram três horas que valeram mais que tudo. Minha filha nasceu saudável e eu não precisei ser cortada e fazer pontos. Faria novamente se engravidasse mais uma vez”, diz. A muçunense tem três filhos. Nenhum nasceu de cesárea. Janaína é uma das mulheres que optam pelo parto da forma mais humana possível.

CADERNO VIDA & SAÚDE Encartado no Jornal Opinião na última sexta-feira do mês

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As diferenças de partos Cesárea

Esse tipo de parto é cirúrgico. A mamãe recebe a anestesia peridural (em alguns casos, a geral é necessária) e por isso não sentirá dor alguma. É colocada uma tela na região do seu tórax para melhor assepsia e a mamãe não acompanha o parto.O médico corta sete camadas até chegar ao útero por uma incisão de 10 centímetros feita acima dos pêlos púbicos. Ao alcançar o bebê, o médico irá tirá-lo suavemente. A equipe removerá a placenta e a examinará e o corte será fechado com pontos.

dilatação do colo do útero. Se as dores forem intensas, normalmente é aplicada uma anestesia peridural. Quando o espaço para o bebê passar for insuficiente, é realizada uma episiotomia, que consiste em um corte cirúrgico feito na região perineal para auxiliar a saída do bebê e evitar ruptura dos tecidos perineais. Quando o colo do útero estiver dilatado por completo e as contrações tornarem-se muito fortes, as paredes do útero farão pressão sobre o bebê e, em conjunto com o esforço da mãe, impulsionarão a criança para fora. Após o alívio da expulsão do bebê, há a saída da

Cócoras

O parto de cócoras é realizado da mesma forma que o natural mudando a posição da mãe, que, em vez de ficar na posição ginecológica normal, mantém-se de cócoras. Esse tipo de parto só pode ser realizado se o feto estiver de cabeça para baixo.

Fórceps

É o parto via vaginal (parto normal) no qual se utiliza um instrumento cirúrgico semelhante a uma colher, que é colocado no canal genital da mulher, ajustando-se nos lados da cabeça do bebê para ajudar o obstetra a retirá-lo do canal de parto em casos de emergência ou sofrimento fetal. É utilizado quando o parto já está no final poupando desgastes da mãe e do bebê.

Saiba mais

Doulas Antes do parto, a doula orienta o casal sobre o que esperar do procedimento. Explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar, física e emocionalmente para o parto, das mais variadas formas. Durante o ato, ela funciona como uma interface entre a equipe de atendimento e o casal. Ela explica os complicados termos médicos e os procedimentos hospitalares e atenua a eventual frieza da equipe de atendimento num dos momentos mais vulneráveis de sua vida. Ela ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto e mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento. Após o parto ela faz visitas à nova família, oferecendo apoio para o período pós-procedimento, especialmente em relação à amamentação e cuidados com o bebê.

DICA DE FILME Parto de Cócoras

Humanizado

Humanizar o parto é dar liberdade às escolhas da mulher, prestar um atendimento focado em suas necessidades, e não em crenças e mitos. O médico deve mostrar todas as opções que a mulher tem de escolha baseado na história do pré-natal e desenvolvimento fetal e acompanhar essas escolhas, intervindo o menos possível.

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O parto é feito com os seguintes requisitos: pouca luz para não incomodar o nenezinho, silêncio principalmente depois de nascer, banho perto da mãe após o nascimento que poderia ser dado pelo pai e colocação do bebê no colo da mãe.

Na água

O parto na água se caracteriza quando a mãe dá a luz com os genitais totalmente cobertos de água. A mãe fica sentada em uma banheira e o pai também pode entrar na banheira e apoiar a mulher, como no parto de cócoras.

Natural

É o parto onde o médico simplesmente acompanha o parto. É o parto normal sem intervenções como anestesias, cortes e indução.

Normal

Quando a mamãe chega ao hospital, vários procedimentos de rotina são realizados, como aferição de temperatura, pressão arterial e frequência cardíaca. Durante as contrações, o médico avalia a

placenta onde o útero se contrai mais uma vez para expulsá-la. A sutura da episiotomia quando necessária é feita imediatamente após o parto, cicatrizando em poucos dias.

Indução

A indução consiste em acelerar o trabalho de parto e pode ser feito através do rompimento precoce da bolsa ou com medicamentos.

Sem dor

No Brasil, parto sem dor é o parto feito com a aplicação de anestesia peridural ou raquianestesia. A maneira mais moderna e eficaz de tirar a dor do período de dilatação é a anestesia peridural, pois alivia ou quase anula a dor, mas as contrações se mantêm.

Parto na água


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