Caderno Vida&Saúde Outubro 2014

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CÂNCER DE MAMA E DE PRÓSTATA Orientações médicas - Tratamento - Prevenção

CADERNO ESPECIAL OUTUBRO DE 2014

OUTUBRO ROSA | NOVEMBRO AZUL


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31 de outubro de 2014


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Entrevista: HUGO SCHÜNEMANN, oncologista O médico oncologista e diretor técnico do Centro Regional de Oncologia (Cron) de Lajeado, Hugo Schünemann, atualiza os leitores sobre os cânceres de mama e de próstata.

"As mulheres precisam se examinar" Vitória Stürmer Bortoletti

Vida & Saúde - Hoje, as pessoas são mais conscientes em relação à prevenção de doenças cancerígenas? Dr. Hugo Schünemann - Sim. O que vemos nos últimos anos é que as mulheres têm procurado fazer o exame e conseguido diagnosticar mais precocemente do que a 20, 25 anos atrás, havendo, sim, uma chance maior de cura. Existe uma difusão maior na região do Vale do Taquari de profissionais capacitados e equipamentos para fazer o diagnóstico, possibilitando que se chegue ao diagnóstico mais precoce. Porém, nunca é tarde. Temos que reforçar para que as mulheres se examinem, se conheçam e tenham uma boa relação com o seu ginecologista para realização de exames. O

Schünemann é diretor técnico do CRON, de Lajeado

diagnóstico precoce é uma das ferramentas para o sucesso do tratamento. Fazer o exame não evita o câncer, mas faz com que possamos detectá-lo precocemente e logo iniciar o tratamento, com uma chance de resultados muito maior do que em casos tardios. VS - O câncer de mama normalmente surpreende a paciente ou pode ser percebido precocemente pelo diagnóstico? Schünemann - Cerca de 80% das vezes é a mulher que traz a informação para o médico que existe algo errado. O restante é detectado em exame de rotina. Por que se faz exames de tempo em tempo? Pois, se uma mulher fizer uma mamografia agora, não aparecer nada, mas já está desenvolvendo a doença, daqui seis meses ou um ano esse nódulo será detectado pelo exame. Ainda que o nódulo esteja tão pequeno que o exame não detecte, no próximo exame ele vai ser detectado. VS - Normalmente a doença ocorre com mulheres na terceira idade. Mas a indicação é que as jovens também façam o procedimento? Schünemann Sim. A mamografia deve ser feita a partir dos 40 anos. Naqueles casos em que a pessoa tem histórico familiar deve ser feita antes. Porém, deixo claro que existem meninas

com 17, 18 anos que já possuem a doença. Não é o mais comum, mas também são situações mais agressivas. É uma doença que acomete qualquer pessoa até os 90, 95 anos. VS - Como é realizado o tratamento? Schünemann - A peça fundamental é a biópsia. Ela dirá se é uma doença maligna ou não. Após, é planejada a remoção cirúrgica de parte da mama. Em algumas situações se tira a mama toda ou ainda um íngua que possa estar comprometida a axila. De posse do material, ele segue para estudo que vai determinar em qual subgrupo essa paciente se encontra. Subdividimos a doença e para cada grupo existem tratamentos diferentes. Entre os tratamentos pós-cirúgicos há a radioterapia, quimioterapia, hormonoterapia e um método chamado vacina. Os pacientes são divididos em aqueles que possuem a doença mesmo depois de operados e os que não possuem. O tratamento é no sentido de aumentar a expectativa de vida da pessoa, manter a doença sob controle e fazer com que ela não sofra pela doença pelo maior tempo possível. VS - Existe a possibilidade da cura do câncer de mama? Schünemann - Sim. Quanto mais precoce for o diagnóstico da doença ou tumores muito iniciais temos a grande chance de curar esses pacientes. Isso não era assim há 25 anos. Na época, os pacientes vinham fazer consultas médicas com nódulos grandes e tumores de cinco ou mais centímetros. Isso era muito comum e hoje em dia é cada vez mais raro, pois as doenças são detectadas precocemente.

VS - O câncer de mama afeta não somente a saúde da mulher, mas a vaidade também. Como isso ocorre? Schünemann - O câncer de mama ataca a mulher de duas formas muito características: por um lado atinge a sexualidade e por outro o lado "mãe" das mulheres. A cirurgia para a mama foi descrita há mais de 150 anos. Inicialmente ela era muito agressiva e trazia muitas sequelas. Ao longo das décadas de 60 e 70 veio se tentando diminuir a agressividade da cirurgia, mas com os mesmos resultados. Na década de 80, quando surgiram técnicas novas de operação, tirando menos mama e/ou fazendo a reconstrução imediata, se viu que isso poderia ser feito, desde que fossem complementados outros tratamentos para que o resultado fosse igual do que retirar todas as mamas. E é o que se faz hoje. Tira-se um pedaço da mama, se faz radioterapia e o resultado a médio e longo prazo é o mesmo que se tu fizesse uma grande cirurgia. VS - Como a paciente reage ao tratamento? Schünemann - Tentamos que a pessoa tenha a vida mais normal possível. Para alguns protocolos de quimioterapia a queda de cabelo é inevitável, infelizmente, e isso é uma coisa complicada para as mulheres. Porém, temos que passar que perde-se o cabelo agora, mas vive-se muitos e muitos anos. O cabelo vai voltar a crescer e isso não fará diferença. É importante que saibamos que os efeitos colaterais são transitórios. Apesar do tratamento, as mulheres levam uma vida normal. Já foi algo pior do que é hoje.

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VS - O que leva uma pessoa da faixa etária de 20 anos desenvolver o câncer de mama? Schünemann - Algumas pacientes têm o fator genético participando do desenvolvimento da doença. As pessoas tem o gene que pode causar a doença. VS - Como profissional, como é o desenvolver da doença, desde a má notícia para a paciente até informar que ela está curada? Schünemann - A cura da doença é com o tempo. A gente termina se envolvendo. Não é somente uma paciente doente. É uma paciente que tem filhos, marido, trabalho e isso realmente "sacode" muito a gente. É muito fácil a gente se colocar no lugar dessa pessoa e imaginar seu sofrimento, mas temos que dar a perspectiva que existe um futuro a sua espera. VS - As mulheres procuram ajuda no diagnóstico. Isso também ocorre com os homens em relação ao câncer de

próstata? Schünemann - Ainda existe um tabu. O diagnóstico do câncer de próstata é feito pelo toque retal. O médico insere o dedo pelo ânus e consegue sentir a próstata. É um exame rápido e indolor. Sei que é um pouco constrangedor, mas é tão simples, barato e pode trazer tanta informação médica. Num exame de 30 segundos ele pode dizer se tem algo acontecendo. Os homens ficam encabulados, mas esse exame é muito importante. O exame de sangue não substitui o do toque. Os urologistas da região são pessoas extremamente capacitadas para fazer essa avaliação. Os homens têm que se motivar a ter esse cuidado. É muito triste quando chega um homem de cadeira de rodas porque a doença começou na próstata, foi para os ossos e a pessoa não consegue caminhar direito pois está doente simplesmente porque nunca se preocupou com isso. A partir dos 40 anos tem que fazer uma visita ao urologista.

VS - Quais são os sintomas do câncer de próstata? Schünemann - Existe uma condição médica chamada hiperplasia benigna da próstata, que é o crescimento benigno da próstata. Esse é o sintoma mais comum: a pessoa tem que levantar muitas vezes durante a noite para urinar. O procedimento é fazer a avaliação, ver o que está acontecendo e, se for o caso, tratar a doença. O principal objetivo do exame do toque é observar se a próstata está crescendo. É no exame que o médico percebe que a próstata tem características suspeitas que podem ser malignas. VS - Qual é a faixa etária que a doença se manifesta? Schünemann - O câncer de próstata é uma doença mais tardia. A partir dos 50, 55 anos vai aumentando o risco. É muito mais comum mulheres com 35 anos terem câncer de mama do que homem com 35 anos terem câncer de próstata. Pode até ocorrer, mas não é o mais comum.

VS - Como funciona o tratamento? Schünemann - A primeira etapa do tratamento é a cirurgia e a radioterapia. Em alguns momentos considerase a hormonioterapia. Já a quimioterapia se usa em situações mais especiais ou em casos mais tardios. VS - O tratamento provoca impotência? Schünemann - Infelizmente sim. Compromete o desempenho sexual, mas é uma situação que o homem deve avaliar: ele prefere morrer cedo vigoroso ou viver mais sem ter sua atividade sexual normal. VS - Qual é a orientação para os homens em relação ao exame? Schünemann - Procurar o médico para realização de exames. Assim como controlamos a pressão e o colesterol, devemos saber que essas doenças também podem matar. Viver é tão bom. É importante se cuidar para

aproveitar a vida. Morrer todos vão, mas que seja o mais tarde possível e com os cuidados necessários. VS - Ao longo dos anos, a medicina evoluiu na busca da cura dessas doenças? Schünemann - É impressionante como evoluiu. Há 26 anos atrás, quando me formei, a expectativa dos pacientes com câncer era muito mais curta que hoje. Atualmente há uma quantidade muito maior de pacientes curados da doença. Tenho certeza que nos próximos anos virão novas tecnologias para tratar a doença. O arsenal terapêutico que temos hoje não se compara com o que tínhamos há 20 anos. Paralelo a isso houve uma democratização dos meios de diagnóstico. Ressonância, tomografia e cirurgias podem ser feitas na região, o que antigamente não era realizado. Mesmo os pacientes que dependem de SUS têm um acesso muito mais fácil aos exames. Isso faz uma grande diferença.

Outubro Rosa

O Brasil deve contabilizar até o fim do ano aproximadamente 576 mil novos casos de câncer diagnosticados. A estimativa é do Instituto Nacional do Câncer (Inca) e do Ministério da Saúde. Os dados fazem parte da publicação Estimativa 2014 Incidência de Câncer no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, os tipos de câncer que mais atingirão brasileiros são os de pele (182 mil casos), de próstata (68,8 mil), de mama (57,1 mil), de intestino (33 mil) e de pulmão (27 mil). O Ministério também aponta que mais homens vão

ser atingidos pela doença. Aproximadamente 204 mil novos casos de câncer vão ocorrer entre eles. Já os casos entre as mulheres vão estar em torno de 190 mil. Maiores incidências de câncer serão de pele (não melanoma), próstata, pulmão, cólon e reto e estômago. Entre as mulheres, após o câncer de pele, vêm o câncer de mama, o de cólon e reto, o de colo do útero e o de pulmão. Foram coletados dados em 23 cidades do Brasil. A estimativa do Inca acontece de dois em dois anos e, em 2012, a previsão era

de que o país teria 520 mil novos casos.

Ações para conscientizar

Durante os meses de outubro e novembro são realizadas ações em todo o mundo em alusão ao Outubro Rosa e Novembro Azul. As campanhas têm o intuito de dar visibilidade à causa do câncer de mama, de colo uterino e de próstata, fortalecendo a importância do diagnóstico na busca de melhor qualidade de vida.

O movimento que teve seu início marcado pela iluminação de monumentos históricos tomou proporções mundiais passando pela Torre de Pisa na Itália, Arco do Triunfo na França e chegou ao Brasil. O nome remete à cor do laço rosa que simboliza a luta contra o câncer de mama. O movimento começou na Califórnia, Estados Unidos, na década de 1990, onde vários Estados tinham ações isoladas referentes ao câncer de mama e/ou mamografia no mês de outubro. A primeira iniciativa vista no Brasil em relação ao movimento foi a iluminação em rosa do monumento Mausoléu do Soldado Constitucionalista, situado em São Paulo, em outubro de 2002.

Novembro Azul

O mês de novembro é internacionalmente dedicado às ações relacionadas ao câncer de próstata e à saúde do homem. O movimento surgiu na Austrália, em 2003, aproveitando as comemorações do Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, realizado em 17 de novembro.


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