Paisagem urbana a arte como ferramenta de expressão Diogo Mata

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DIOGO DA COSTA MATA DOMINGUES

PAISAGEM URBANA: A ARTE COMO FERRAMENTA DE EXPRESSÃO

Monografia apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do titulo Arquiteto e Urbanista. Orientadora: Amanda Machado

CORONEL FABRICIANO 2015


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Sumário 1. Introdução.......................................................................................................................................... 4 2. Arte x Cidade x Paisagem .............................................................................................................. 7 2.1 História da arte urbana .............................................................................................................. 7 2.2. Evolução Urbanística da Cidade .......................................................................................... 24 2.3. A cidade como plataforma da arte ....................................................................................... 35 2.3.1. Entrevista Wenderson Godoy – Arte x Cidade ........................................................... 36 2.3.2. Entrevista Brígida Campbell – Arte x Cidade .............................................................. 37 3. OBRAS ANÁLOGAS [Artistas que atuam na área] .................................................................. 38 3.1. Intervenções de Louise Gainz e Breno Silva...................................................................... 38 3.1.1. Perímetro [Passagens espontâneas] ........................................................................... 38 3.1.2. 100m² [interação da comunidade] ................................................................................ 39 3.1.3. Banquetes - em Belo Horizonte [expansões do doméstico para a rua] .................. 41 3.2. ENTRE - Carlos Teixeira [Formas de usos para espaços inexplorados] ....................... 41 3.3. OSSÁRIO - Alexandre Orion [eliminação da poluição] ..................................................... 43 3.4. Arte/cidade - Nelson Brissac [Formas alternativas de reestruturação urbana em grande escala] ................................................................................................................................. 45 3.5. Documentário – Poro [Valorização dos espaços públicos] .............................................. 49 3.6. SEMINÁRIO [BLOQUEIO]..................................................................................................... 51 4. Estudo de caso ............................................................................................................................... 54 4.1. História do crescimento do Vale do Aço ............................................................................. 54 4.2 Grupo Híbridus ......................................................................................................................... 55 4.2.1 Travessia – Experimentação da Cidade ....................................................................... 56 4.2.2 Corpo-Cidade: Território de relações ............................................................................ 58 4.3 Proposta de TCC2 [Documentário] ....................................................................................... 61 5. Considerações Finais .................................................................................................................... 69


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1. INTRODUÇÃO Este trabalho consiste em analisar a arte como meio transformador da cidade e como a mesma pode criar um novo olhar sobre a paisagem urbana. Com o cotidiano, a correria do trabalho, os compromissos, o trânsito, ocupam muito a vida das pessoas e isso bloqueia o seu olhar à cidade, e por não terem um olhar apurado muitas vezes passa despercebida e não vivencia a sua potencialidade, onde possui um lado artístico que melhora o bem-estar, a cidadania, permitindo a interação e troca de ideias, que mudam o desempenho da pessoa no trabalho ou na vida pessoal. Podemos articular arte, arquitetura e urbanismo, numa perspectiva de que a intervenção é uma ferramenta no processo de criação e expressão artística onde exerce uma função cultural, política, e até mesmo vínculos de socialização e percepção do indivíduo com o meio. Segundo Lurdi Blauth: “[...] a arte, ao propor outras possibilidades de percepção através dos sentidos, oportuniza a individualização dos lugares, dos locais e dos espaços”. (BLAUTH, pág. 149) O movimento da arte nas ruas começou no final da década de 60 em Nova Iorque, e chegou ao Brasil no final dos anos 70 na cidade de São Paulo e hoje faz parte da identidade visual dos grandes e pequenos centros. De acordo com MARTINEZ: [...] a arte deixou as galerias e os museus para fazer parte do cotidiano dos cidadãos. É assim em diversas cidades do mundo que apresentam verdadeiros museus ao ar livre, onde as ruas e os edifícios renovam a paisagem com enormes murais. (CONSTANZA Martinez Gaete, 02 NOV. 2014)

No início as expressões eram representações coletivas com opiniões comuns e na maioria delas com finalidades de manifestações. Com o crescimento das cidades e o aumento populacional foi difícil representar a opinião comum diversificando o resultado, e assim surgem várias formas de expressões realizadas por um só indivíduo ou até mesmo por grupos. A partir da leitura sobre arte urbana nas cidades da região serrana no site G1, segundo o Autor as “ações individuais e coletivas possuem um papel fundamental na democratização da arte e explora a interação e o diálogo entre diversas linguagens artísticas estimulando a reflexão e a transformação da cidades.” (Divulgado: 13/07/2014) Para isso é necessário leituras como referências em artistas contemporâneos que buscam valorizar e transformar a paisagem urbana através da arte. Destacam-se alguns artistas como o filósofo Nelson Brissac criador de um grupo de intervenção urbana chamado “Arte/Cidade” em São Paulo que busca destacar áreas críticas da cidade relacionadas com processos de reestruturação criando novas práticas urbanas e artísticas; o artista plástico e designer Alexandre Orion reconhecido com sua obra “Ossário” onde grafita na sujeira dos túneis de São Paulo; o Grupo Poro,


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de Belo Horizonte composto pelos artistas Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada, que segundo eles: “buscam apontar sutilezas e criar imagens poéticas [...] apropriando de meios de comunicação popular para realizar trabalhos e reivindica a cidade como espaço para a arte” (PORO 2013); os arquitetos e artistas plásticos Carlos Teixeira e Louise Ganz com suas várias obras de intervenções nos grandes centros; e Richard Serra com suas grandes obras de esculturas pelas cidades. Próximo ao nosso cotidiano, referência para vivenciar e entender acontecimentos dos artistas, há um estudo do Grupo Híbridus, com bons acervos de livros, conseguidos pelo autor e encontros para uma tentativa de parceria como proposta de tcc. As intervenções e os projetos artísticos variam em grandes e pequenas escalas. Alguns artistas, como Carlos Teixeira e Louise Ganz abrangem espaços como lotes vagos, calçadas, muros, postes, enquanto outros como Nelson Brissac trabalha com processo de reestruturação de bairros voltado para a dinamização cultural, e inserção da arte em comunidades. As intervenções abrangem diferentes proporções e sempre vivenciam a arte na cidade. Portanto, percebemos que a cidade não se constrói apenas de formas materiais, mas é formada também de signos. Segundo ALMEIDA: É muito mais do que seus edifícios e a sua arquitetura, é uma rede de interconexões e de estruturas que constituem parte da vida urbana e sua estrutura metropolitana. Quando se pensa no que é a cidade, percebe-se que ela é formada por uma diversidade de sentidos e sensações expressadas através da materialização de vários contextos e interações. (LYTHIELLE Almeida, 12 agosto 2011)

Para esse estudo surge um questionamento: como as pessoas vivenciam a cidade através da arte urbana? Como transformadora de olhares da paisagem busca-se como objetivo geral reconhecê-la como ferramenta de comunicação e expressão artística, seja ela uma manifestação ou uma mensagem reflexiva, e de forma especifica: aprimorar o conhecimento sobre a arte urbana; identificar um diálogo entre arte e cidade; traçar as diversas formas de expressões artísticas; estudar artistas que atuam na área e localizar principais áreas que ocorrem essas manifestações. A finalidade é aprimorar o conhecimento sobre a arte urbana e identificar as diferentes formas de expressões. Como catalisador de olhar, a arte, pode propiciar uma melhor qualidade ao ambiente, baseado na análise e compreensão da vida urbana. Através de mapeamentos dos espaços e seu entorno, análises de fluxo de pessoas, tempo de permanência no local, quantidade de pessoas que usam, incidência solar, ventilação, entre outros, ajudam a chegar a um produto com uma


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especificidade do local que nos permite agir de forma que as pessoas aproveitem melhor a intervenção, tendo um novo olhar naquela paisagem. As pessoas que vivenciam a arte tem um melhor convívio com os espaços públicos despercebidos, e a arte, é um meio que por si só potencializa o espaço com suas vivencias. Com a popularização da arte, faz com que não só artistas contemporâneos agem na cidade, mas também grupos, pensadores, ativistas, que intervêm com a propriedade de algum assunto na transmissão de um pensamento em sua finalidade. Torna-se importante a realização dessa pesquisa, a fim de contribuir para a que a arte urbana seja reconhecida e estudada em suas diversas formas de expressões, criando um novo olhar para a cidade e proporcionando uma melhor qualidade de vida e bem estar.


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2. Arte x Cidade x Paisagem Esse capítulo aborda o desenvolvimento da arte na cidade, seu início, formas de expressões e o crescimento urbanístico, como forma de entender a formação dos espaços e como as pessoas se comportavam artisticamente na urbe com o decorrer do crescimento. 2.1 História da arte urbana Inicialmente faz-se necessário, para um maior entendimento sobre esse trabalho, um conceito do que seja Arte Urbana. Ela está por todo lado, dos centros históricos aos subúrbios, e nós que vivemos rodeados por elas, não sabemos ao certo o que são. Desde a Grécia Antiga, os primeiros povos a vivenciar culturalmente a arte, a sociedade tinha hábitos de se encontrar em praça pública, faziam reuniões coletivas, exposições artísticas, como teatro, dança, música, entre outros. Segundo o site “História da Arte” A arte grega liga-se à inteligência, pois os seus reis não eram deuses, mas seres inteligentes e justos que se dedicavam ao bemestar do povo. A arte grega volta-se para o gozo da vida presente. Contemplando a natureza, o artista se empolga pela vida e tenta, através da arte, exprimir suas manifestações. Na sua constante busca da perfeição, o artista grego cria uma arte de elaboração intelectual em que predominam o ritmo, o equilíbrio, a harmonia ideal. Eles tem como características; o racionalismo; amor pela beleza; interesse pelo homem, essa pequena criatura que é „a medida de todas as coisas‟; e democracia. (História da arte) Disponível em: http://www.historiadaarte.com.br/linha/grecia.html

A cidade era um palco para a interação e as apresentações culturais. Na Grécia Antiga as cidades tinham um grande nível de independência, e eram conhecidas como Pólis. Segundo o site “Sua Pesquisa” A polis grega eram as cidades-estado da Grécia Antiga. Estas cidades possuíam um alto nível de independência, ou seja, tinham liberdade e autonomia política e econômica. Nas polis não existia separação entre as áreas rural e urbana, nem existiam relações de dependência. Muitos habitantes das polis, principalmente da nobreza, habitavam em casas de campo. O centro políticoadministrativo das polis era a Acrópolis (geralmente a região mais alta da cidade-estado). Na Acrópolis se encontravam o templo principal da polis, os edifícios públicos, a Ágora (espaço em que ocorriam debates e decisões). (Sua Pesquisa) Disponível em: http://www.suapesquisa.com/grecia/polis_grega.htm


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Figura 01: Vista panorâmica de Acrópolis Fonte: http://www.pullmantur.es/excursiones/cruceros/joyas-delegeo/atenas/excursiones.html

Com o passar dos séculos, esses hábitos artísticos urbanos foram desaparecendo do cenário. Na Grécia antiga houve um ápice de expressões e depois acaba esse hábito nas próximas civilizações, voltando a acontecer apenas no século XX. No início do século XX o cenário social tem uma grande mudança, devido a alguns fatores, como pós-guerra e revolução industrial que fazem aumentar o capitalismo e consequentemente a diferença de classe social. Segundo BENITES: O século XX é marcado por profundas mudanças históricas, as quais afetaram drasticamente o comportamento político-social do nosso tempo. Foi onde acentuaram-se as diferenças entre a alta burguesia e o proletariado, dando maior força ao capitalismo e fazendo surgir os primeiros movimentos sindicais, como algumas das consequências do Pós Guerra. (BENITES) Disponível em: http://www.infoescola.com/artes/principais-movimentos-artisticos-doseculo-xx/

Durante todos esses complexos acontecimentos do período, a arte se potencializa em uma grande área para criação de novos conceitos. Os Movimentos Artísticos realmente tinham novas identidades, como deformações das imagens conhecidos como Cubismo, desenhos com linhas e cores vibrantes representando os sentimentos da vida humana conhecida como Expressionismo, figuras com movimentos no espaço conhecida como Futurismo e entre outras ideias inéditas. Os lugares onde eram expostas essas obras eram espaços fechados, como as galerias e os museus, dificultando o acesso, passando ser elitizada e burguesa, diferente do que já existiu. Ainda segunda a autora:


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Mediante todo o acúmulo de acontecimentos pertencentes à esse período, cheio de contradições e complexidades, é possível encontrar um terreno farto para a criação de novos conceitos no campo das artes.Assim, os movimentos e as tendências artísticas, tais como o Expressionismo, o Fauvismo, o Cubismo, o Futurismo, o Abstracionismo, o Dadaísmo, o Surrealismo, a Op-art e a Pop-art expressam, de um modo ou de outro, a perplexidade do homem contemporâneo. (BENITES) Disponível em: http://www.infoescola.com/artes/principais-movimentos-artisticos-doseculo-xx/

Figura 02: Edvard Munch – O Grito (Expressionismo) “Um grito passou pela natureza, a cor uivava”. A emoção presente como nunca na história da pintura. Não há necessidade de representação perfeita para sentir, apenas linhas e cores. Fonte: http://www.naturale.med.br/artes/3_a_transicao_para_a_arte_do_secxx.html

A arte nos espaços privados, dificulta o acesso à grande parte da população e cria uma cultura de arte para a elite. A arte quando se populariza e fica próxima à diversidade da rua, ganha força e constrói grandes pensamentos, mesmos que introspectivos, mas em algum momento, algum cidadão expressará o seu diferente ponto de vista, deixando o espectador mais aberto a novos conceitos e opiniões. A troca de opiniões nos amadurece e quando as pessoas se identificam uma com as outras nos espaços públicos, a tendência é gerar mais gentilezas com o próximo, pois aumenta o senso crítico e a percepção do contexto em comum que é o lugar.


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No Brasil na década de 70, as vanguardas artísticas revolucionaram a cidade e a vida das pessoas, porém muito inibidas com a forma de governo da época conhecida como Ditadura Militar, governada pelos militares do Brasil, caracterizada com a falta de democracia, perseguição política e repressão. Segundo (BULHOES, 1990) Perseguindo uma liberdade de pensamento e ação estas vanguardas contradiziam as restrições impostas pelo regime político a toda sociedade neste momento. A ênfase na liberdade individual fica evidente na afirmação de Cildo Meireles: “a criação não pode estar condicionada, tem que ser livre”. Que liberdade era esta, total, sem condicionamentos, dentro de um país que vivia em um regime de exceção? Na verdade, a arte negava a realidade social e política em que o artista vivia, como se o artista pudesse sair fora da realidade concreta do país, através do seu trabalho. (BULHÕES, 1990 pág. 59)

Após esse Regime Político (Ditadura), cansados de sofrer torturas, de não poderem se expressar livremente, vários cidadãos começam a se manifestar em muros, praças públicas, postes, e entre outros espaços públicos, querendo ser ouvidos e respeitados depois de tanta tortura e sufoco. Começa a partir daí a volta da arte para as ruas e a troca de informação de diversas classes sociais. Com o passar dos anos a arte de rua está cada vez mais forte e sendo representada por muitos artistas nos grandes centros urbanos. Os melhores artistas de ruas atualmente, são extremamente cobiçados para exporem seus trabalhos em galerias e eleva o nível da arte de rua, sendo cada vez mais valorizada, além de misturar os diversos públicos desses tipos de artes.

2.1.1. Expressões de rua Também conhecida como Street Art, são expressões e manifestações artísticas que interagem com os espaços externos da cidade e que está inserido no nosso cotidiano, sobre os mobiliários urbanos, nas paredes das ruas e principais avenidas, muros, placas e todo tipo de lugar que possibilita uma expressão. A arte urbana transborda os limites dos territórios. Segundo (FERREIRA, 2011 pág. 1) “Ela é transgressora já que, em certo sentido, não respeita os limites do público e do privado para se fazer expressar.” Podemos classificar diversas atividades artísticas que se encaixam no conceito de arte urbana. São elas: Música, Teatro, Dança, Circo, Estátua Viva, Grafite, Projeção, Literatura de Cordel, Le Parkour, Performance, Saraus e Intervenções.


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[Musica, Teatro e Dança] A música, o Teatro e a Dança estão ligados e conectados de certa forma. Estudos científicos não sabem ao certo quando eles surgiram, mas diversos autores como (ÁTICA, 2000) acreditam que essas artes tem a idade do homem e começaram seus primeiros aparecimentos na pré-história no paleolítico. Não existia a linguagem como nos dias de hoje, e a principal ferramenta de comunicação era o corpo. A música surgiu nos primeiros instrumentos feito pelo homem com caráter religioso, ritualístico em agradecimentos aos deuses como forma de proteção e boa caça. Os agradecimentos aos Deuses eram acompanhados das primeiras danças, também como forma de rituais, para a caça, a proteção, mudanças climáticas, entre outros. Segundo (ALVES, 2014) Se pensarmos que a dança aparece em pinturas rudimentares da pré-história não é difícil acreditar que a música também fazia parte dessas organizações. Nessa época podemos imaginar que muitos sons produzidos provinham, principalmente, dos movimentos corporais e sons da natureza e, assim como nas artes visuais e na dança, a música começou a ser aprimorada utilizando-se de objetos mais diversos. (ALVES, 2014 pág. 1)

Ainda no paleolítico, de tanto o homem observar os animais, acabou conseguindo imitá-los para se aproximar deles sem ser visto em uma caçada, por exemplo. Surge as primeiras formas de teatro, além de um encenar para o outro as melhores formas de caçar. Não eram espetáculos, mas começavam as encenações. Segundo o site “Artistas na Rua”, A música consegue combinar sons e silêncio como nenhuma outra arte existente. “Por ser variável possui elementos artísticos como melodia, harmonia, dinâmica e timbre, além de vários ritmos como as músicas eruditas, populares e folclóricas.” (Artistas de Rua)

Não há nenhuma civilização que não possua manifestações musicais próprias. Os músicos de rua usam dessa arte para chamar a atenção de seu público para passar sua mensagem. Culturalmente ou socialmente a música sempre estará presente na sociedade.


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Figura 03: Festival Brasileiro de Músicas de Rua - Caxias do Sul

Figura 04: Músico de rua – Avenida Paulista – São Paulo

Fonte: http://www.olaserragaucha.com.br /noticias/cultura/18308/Abertasinscricoes-para-o-FestivalBrasileiro-de-Musica-de-Rua-deCaxias-do-Sul.html

Fonte: http://www.artemudarua.com.br/2011 /11/o-explorador-da-avenida-paulista/

O teatro de rua é tipo de arte que mais exige ensaio e dedicação porque além de precisar decorar, ensaiar e encenar, o ator precisa estar preparado para interagir o público com a peça. Segundo “Artistas na Rua” “em todas as peças de teatro realizadas na rua, é fundamental o contato entre o público e o artista”, a interação deixa a peça mais interessante e emocionante. Esse tipo de arte colabora para a preservação dos espaços públicos, pois quando assistido uma peça em um parque, por exemplo, a pessoa cria um pertencimento com o espaço e descarta a possibilidade de depredação do local.

Figura 06: Teatro de Rua – Cia. São Jorge de Variedades – O santo Fonte: http://www.sortimentos.com/rs/porto- Guerreiro e o Herói Desajustado alegre-agenda-1-festival-teatro-de-ruaFonte: poa.htm https://foradopalco.wordpress.com/tea tro-de-rua/ Figura 05: Teatro de rua – Porto Alegre


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A dança de rua é uma junção de variados estilos musicais de origem do HIP HOP, onde demonstram sintonia, improvisação, agilidade, força e simetria. Para serem bem recebidos os dançarinos tem treinos intensos. Segundo “Artistas na Rua” “a adoção da dança de rua pelos negros fez com que vários ritmos musicais africanos se adaptassem a esse tipo de arte, até que fosse criada a dança de rua como conhecemos.”

Figura 07: Dança de Rua - Limeira - SP Fonte: http://www.objetivolimeira.com.br/8%C2%BAano1_projeto/Ma noelly/INDEX.HTML

Figura 08: Dança de rua do Grupo Sesc Taubaté Fonte: http://blog.agoravale.com.br/sesctaubate-realiza-workshop-de-dancade-rua-4558/

[Circo] Segundo ÁTICA (2000), os primeiros acontecimentos dos circos aconteceram na China onde foram encontradas pinturas com quase 5.000 anos exibindo acrobatas, equilibristas e contorcionistas. Ainda segundo o autor “Os guerreiros chineses usavam a acrobacia como forma de treinamento, já que isso exigia força, flexibilidade e agilidade.” (Ática, 2000) O circo é um grupo itinerante que reúne artistas de diferentes especialidades como acrobacia, malabarismo, equilibrismo, ilusionismo entre outros. Os artistas se apresentavam em praças públicas através de interpretações teatrais. Atualmente, o local de apresentação continua sendo o picadeiro, mas é possível atuações em eventos, centros culturais, e na rua onde palhaços e malabaristas levam os seus trabalhos, muitas das vezes, como forma de divulgação do circo e dão oportunidade para que as pessoas consumem arte.


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Figura 09: Circo de Rua – Sesc Santos - SP Fonte: https://opalcosantista.wordpress.co m/2011/07/29/sesc-santosexperimenta-o-circo/

Figura 10: Grupo de Circo Os Mamatchas Fonte: http://circoteatroosmamatchas.blogspot.co m.br/

[Estátuas Vivas] As Estátuas Vivas tiveram início na Grécia, e seus primeiros personagens vieram do teatro. Segundo Folha Online “Na Grécia Antiga, para tornar o ator mais visível, eram usados sapatos de plataformas altíssimas, túnicas amplas e máscaras, de tal forma que, quando permaneciam parados por muito tempo, também representavam estátuas.” (Folha Online - Divulgado em 21/03/2007) Para ser uma Estátua Viva tem que ter total controle sobre os movimentos do corpo. Ainda segundo o autor, a apresentação artística consiste em técnicas de respiração, ioga e mímicas e acontece principalmente em vias públicas. As estátuas criam um personagem e precisam de figurinos que dão mais originalidades às apresentações. A interação com o público é uma caixinha para depositar dinheiro por livre vontade e quando isso acontece a estátua ganha vida enaltecendo sua apresentação.

Figura 11: Estátua viva Charles Chaplin na Alemanha Fonte: http://www.fotografodigital.com.br/fotografi a/estatua-viva-charles-chaplin-121442.html

Figura 12: Atriz Deborah Evelyn gravando cena da novela “Sangue Bom” em São Paulo, como estátua viva


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[Grafite] A arte de se manifestar em paredes surgiu no paleolítico onde representavam suas caças, contabilizavam os dias, entre outros.Segundo Raí (2005): As mais antigas artes rupestres são datadas do período Paleolítico Superior, gravadas em abrigos ou cavernas, em suas paredes e tetos rochosos, ou também em superfícies rochosas ao ar livre, mas em lugares protegidos, normalmente datando de épocas pré-históricas. Na vida do homem pré-histórico tinham lugar a arte e o espírito de conservação daquilo de que necessitava. (Raí 2005) Disponível em: http://www.artes.raisites.com/historia-da-arte/71-a-arte-no-peropaleolco.html

Com o tempo essa técnica foi deixada de lado e só na década de 70 em Nova Iorque ressurge os escritos na parede, o grafite, em um novo cenário, moderno e com grandes edifícios. Segundo RIBEIRO: Consiste em um movimento organizado nas artes plásticas, em que o artista cria uma linguagem intencional para interferir na cidade, aproveitando os espaços públicos da mesma para a crítica social. (RIBEIRO Disponível em: http://www.mundoeducacao.com/artes/grafite.htm)

No Brasil surge no final da década de 70 em São Paulo. “O movimento apareceu quando um grupo de jovens começou a fazer desenhos nas paredes da cidade, ao invés de apenas escrever”, cita RIBEIRO. O grafite refere-se aos rabiscos bem elaborados ao ar livre, baseados em desenhos. As letras e figuras são pensadas, desenhadas e coloridas cuidadosamente pelos artistas representando aquilo que quer mostrar. Segundo ANTONACCI (2007) Ao contrário dos que condenam como poluição na cidade, os grafites constroem e valorizam espaços, fazem-nos perceber novos espaços, contam enredos das diferentes subjetividades e suas vivências cotidianas não comprometidas com a história oficial. (ANTONACCI 2007 pág. 9)


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Figura 13: Grafite de rua – Os gêmeos Fonte: http://www.imaginarium.com.br/blog/inspiracao/5-grafites-incriveis/

Figura 14: Grafite de Rua – Artista Polonesa Natalia Rak Fonte: http://www.imaginarium.com.br/blog/inspiracao/5-grafites-incriveis/


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A pichação refere-se ao ato de escrever ou rabiscar em muros, fachadas dos edifícios, asfaltos da rua ou monumentos públicos, usando spray aerosol e tinta de difícil remoção. A pichação não é considerada uma arte, é um ato de vandalismo e de violência. Em geral, são escritas frases de protestos, insultos, assinaturas pessoais, demarcação de territórios entre grupos e declarações de amor. Segundo SPINELLI (2007): O “crew”, também conhecido como „bonde‟ ou „coletivo‟, é o fator de coesão. A assinatura do nome do crew ao lado da firma individual identifica o assinante a um grupo, a um estilo e a uma região da cidade. Os crews, firmados pelo pertencimento a um bairro, respeitam os mesmos moldes organizacionais constatados por Glória Diógenes em seu estudo sobre as gangues urbanas. O grupo que picha tem no bairro, na zona em que mora, um referencial de territorialidade que acompanha a inscrição na parede. (SPINELLI 2007 pág.113)

A pichação é apontada como marginalismo e mal vista por muitas pessoas, principalmente por estarem presentes em lugares alheios e particulares. Os donos das propriedades não se agradam com tal ação. Em conversa com um pichador e ele diz que quanto mais alto for a pichação e maior for a movimentação de pessoas no local, mais poder tem a gangue que executa aquele picho. Os pichadores não só abusam das autoridades, por saírem escrevendo ilegalmente, como também da língua portuguesa pois denominam como Pixação, com X. Segundo ANTONACCI 2007: Com o intuito de afrontar ainda mais, jovens provenientes de grupos mais excluídos dos sistemas dominantes - especialmente os que se dedicam a escrever na cidade com um alfabeto criado e recriado constantemente por eles e grafado nas paredes dos prédios de difícil acesso assumiram a grafia da palavra pichação com X, afrontando assim não só a cidade com seu alfabeto vernáculo, mas também a gramática oficial da língua portuguesa. (ANTONACCI 2007 pág. 1266)

Figura 15: Pichação em São Paulo

Figura 16: Ato de pichação em São Paulo

Fonte: http://tossoffbowlines.com/2012/07/26/ graffiti-in-sao-paulo-art-and-protest/

Fonte: http://subsoloart.com/blog/2013/02/entrevistacom-o-fotografo-leandro-mantovani/fotografoleandro-mantovani-retrata-a-pichacao-e-a-rua-8/


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Apesar de o Grafite ser uma arte, é necessário ter licença para intervir em algum espaço. Com contextos diferentes, “a polícia tem como praxe enquadrar quem picha e quem grafita, no já referido artigo 163 do código penal brasileiro sobre o „dano ao patrimônio público‟”, cita Spinelli (2007 pág. 115).

[Projeções] A origem das projeções também acontece no paleolítico, onde havia um processo de projeção conhecido como câmera obscura natural. Segundo (Araújo,2014): Na era Paleolítica, que retrata as origens das imagens e da criação desses espaços de observação é a chamada camera obscura natural, em que através de um buraco lateral da caverna eram projetadas imagens aleatórias que representavam um objeto real para dentro da caverna, na posição invertida (Figura 03). 13 Era uma representação, uma aproximação bidimensional do mundo físico, que podia ser observada em grupo pelas pessoas dentro da caverna. (Araújo, 2014 pág. 12)

Figura 17: Projeção invertida dentro da caverna Fonte: http://www.artefact-festival.be/en/program/paleo-camera

Através da tecnologia e do desenvolvimento das artes visuais, a partir da leitura de (ÁTICA, 2000) sobre as projeções em fachadas nos dias de hoje, elas podem ser apresentadas filmes, curtas, longas metragem e registrar movimentos através de pintura e desenhos na parede, transmitindo uma mensagem às pessoas com fácil acesso. Elas podem ser vistas em datas importantes da cidade, em locais como prédios, museus, parques, praças, outros lugares públicos e tem uma grande conexão com as periferias das grandes cidades.


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Figura 18: Projeções na fachada da Catedral da Sé, no centro de São Paulo Fonte: http://noticias.uol.com.br/album/2014/11/29/cidades-brasileiras-se-enfeitampara-celebrar-o-natal-de-2014.htm#fotoNav=20

[Literatura de Cordel] Para BORGES, a história da Literatura de Cordel inicia na Idade Média, em Portugal. Segundo o autor, O nome está ligado à forma de comercialização desses folhetos em Portugal, onde eram pendurados em cordões, lá chamados de cordéis... foram os portugueses que trouxeram o cordel para o Brasil desde o início da colonização. Na segunda metade do século XIX começaram as impressões de folhetos brasileiros, com características próprias daqui. (BORGES, 2009 pág. 2)

A Literatura de cordel é um tipo de poesia popular, são versos impressos, vendidos e recitados ao ar livre, normalmente em praças públicas. Essa arte retrata temas do cotidiano, como brigas, fome, problemas da vida, regras impostas pela sociedade, entre outros, e se destaca por muitas serem bem-humorada. Outra característica forte da literatura de cordel, é a regionalidade que interage com as pessoas do local e chama atenção dos ouvintes. Apresentadas de diversas formas, a arte dissemina o hábito da leitura prazerosa identificada pelo seu público. “A literatura de cordel quase sempre se apresenta em folhetos e recitais, contudo, algumas vezes pode ser representada em forma teatral ou com acompanhamento de uma viola”, cita “Artistas na Rua”.


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Figura 19: Literatura de cordel Fonte: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventur as-historia/como-surgiu-literatura-cordel683552.shtml

Figura 20: Literatura de cordel no Mercado Central de Fortaleza Fonte: http://guiadoestudante.abril.co m.br/aventuras-historia/comosurgiu-literatura-cordel683552.shtml

[Le Parkour] A arte Le Parkour surgiu nos subúrbios de Paris, na França, em uma técnica que aplica o treinamento dado aos militares e ao método natural de educação física. O Parkour é considerado a arte do movimento, pelo modo de elaboração, avançado ao treinamento militar e bem trabalhado, e pela execução das ações. Segundo Colegio Web, “Essa prática teve seu início na França por volta de 1980, por David Belle. Ele cresceu vendo seu pai praticar exercícios relacionados às técnicas de combate de guerra, pois seu pai foi ex-combatente da Guerra do Vietnã.” Os criadores do Le Parkour acreditam que essa é a arte de locomover de forma a gastar o mínimo de energia possível, exige um grande preparo físico e concentração. É dividida em dois estilos, e ambas com intenso treinamento e objetivo de encontrar menores distâncias de forma rápida e direta. Segundo “Artistas na Rua” “O parkour divide-se em duas categorias, o „free style‟ ou „free runing‟, que defende o uso de movimentos artísticos e mais elaborados durante os percursos, e o parkour tradicional, que prega a objetividade.”


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Figura 21: Le Parkour na rua

Figura 22: David Belle, criador do Le Parkour

Fonte:

Fonte: http://voltzparkour.com/?p=2829

https://leparkourbrasil.wordpre ss.com/page/2/

[Performance] A performance surgiu no inicio da década de 60 em Nova Iorque, com expressões do corpo em ações efêmeras. Segundo o Infopedia, Esse tipo de Expressão Artística teve origem em algumas manifestações do movimento futurista, nomeadamente nas ações desenvolvidas pelo seu fundador, Filippo Marinetti e foi muito utilizada pelos artistas dadaístas e surrealistas, tal como pelos membros da escola de arte Bauhaus. (Infopedia)

A performance envolve diversas modalidades que pode combinar com música, teatro, poesia, vídeo, com ou sem público. Quando elaborada não envolve necessariamente a participação dos espectadores, podendo ser reproduzida em outros momentos ou locais. Por não depender da plateia há registros como fotos e vídeos para divulgação.


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Os principais locais de apresentações são nos espaços públicos, em eventos artísticos, na praça, na rua, no parque entre outros.

Figura 23: Performance “Corpo Estranho” do Artista capixaba Marcus Vinícius

Figura 24: Performance Urbana – Corpos Pintados (2005) 01

Fonte: https://smasotti.wordpress.com/2012/09/0 8/voce-finge-que-nao-tem-sotaque-mastem-arte/

Fonte: http://www.marcelodenny.com/perfo rmance/corpos-pintados-2006/

[Saraus] Segundo “Artistas de Rua”, nos séculos XIX eram comuns os saraus, mas nas décadas seguintes houve um desuso do movimento artístico. Nos últimos anos tem voltado esses acontecimentos organizados pelos artistas, principalmente por serem simples e agradáveis. Os saraus são grandes conectores da arte para o público. Reúne teatro, dança, música, poesia, pintura, e várias formas de expressões, como forma de apresentação. Atualmente nas grandes cidade, os saraus estão sendo uma forma de levar a arte às pessoas que não tem condições e fácil acesso à esse tipo de conhecimento. Fortemente expressadas nos parques, praças e grandes avenidas.

Figura 25: Sarau na Festa Literária de Paraty

Figura 26: Sarau do Binho, Periferia da zona Sul de São Paulo

Fonte: http://www.artefazparte.com/2012_07_ 01_archive.html

Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/9808


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[Intervenções] No início dos anos 60 intervenções artísticas marcaram a cena em Nova Iorque. Segundo PRADO (2006): a origem da Intervenção Urbana está remotamente localizada nas relações entre o Futurismo, o Dadaísmo, o Surrealismo e a Bauhaus como movimentos que deslocaram seus preceitos artísticos de lugares comuns e questionaram de forma incisiva os papéis atribuídos à arte, ao artista e ao público. (Prado, 2006 pág 2)

As intervenções são realizadas em espaços públicos com movimentos artísticos relacionados à arte visual. A intervenção é um meio que questiona e transforma a vida urbana, podendo ser de pequeno porte como adesivos e ações efêmeras ou até grandes instalações artísticas, que recriam a paisagem. Ainda segundo a autora, Intervenção Urbana introduz a premissa da arte como meio para questionar e transformar a vida urbana cotidiana. Os sujeitos são ativos e criadores e a realidade passa a ser não mais reproduzida e sim produzida. As propostas de ação nascem de estudos de campo, apoiados na percepção do fenômeno urbano como um todo e nas situações potenciais que vão catalisar os elementos da criação. As ações visam intervir diretamente no entorno onde se desenvolvem, alterando assim os fluxo do cotidiano e gerando novos códigos de leitura. (Prado, 2006 pág 3)

Figura 27: Intervenção Urbana “Jardim” do Grupo Poro – Belo Horizonte

Figura 28: Intervenção Urbana “Metabiótica” do Artista Alexandre Orion

Fonte: http://poro.redezero.org/intervencao/j ardim/

Fonte: http://www.alexandreorion.com/


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Apresentando as possíveis manifestações artísticas no espaço público, entendo que a arte sempre esteve presente nas diversas civilizações e culturas desde a origem do homem e a cidade é como uma plataforma que permeia essa troca de acontecimentos, cada época manifestadas por novas formas artísticas, com novos cenários urbanos, criando paisagens.

2.2. Evolução Urbanística da Cidade É importante o estudo do desenvolvimento da cidade para o conhecimento de como as civilizações se comportavam nas ruas, o uso, e como aconteciam as divisões e a organização urbana de cada época e o seu contexto. A relação do uso com a cidade tem grande aproximação em como e para que as formas de expressões acontecem.

[Pré-História e a origem das cidades] De acordo com ARRUDA (1993) durante a Pré-História na Idade da Pedra (Paleolítico Inferior), o homem vivia em um estado cultural voltado para a caça, pesca, recolhendo alimentos da própria natureza e começando a fabricar os primeiros instrumentos (arcos e setas, objetos de pedra, etc.). No período Paleolítico Superior, ocorre uma diminuição das habituais fontes de carne, provavelmente em virtude das extremas variações de calor e frio, chuva e secas ocorridas nesse período. O homem para sobreviver, junta-se em grupos, à atividade da colheita. A necessidade de segurança, convivência, permuta e, principalmente, da impossibilidade da comunidade manter sem alimento, leva essas comunidades a passarem do nomadismo para a fixação em locais específicos. Segundo ABIKO (1995): quando o homem sai do estágio da colheita, e começa a desenvolver técnicas de pastoreio e agricultura, tem-se o início do período Neolítico ou a nova Idade da Pedra. Neste estágio civilizatório, o homem passa também a organizar o espaço em que habita, a irrigar o solo, a selecionar sementes e cultivar algumas plantas comestíveis, a domesticar um pequeno número de animais, a fabricar objetos de cerâmica, conhecer as estações do ano e, consequentemente, começa a modificar seu meio ambiente. (ABIKO, 1995 pág. 2)


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Figura 29: Plano de construção de uma comunidade Fonte: BENEVOLO (2001 pág. 17)

[Mesopotâmia] Com o avanço das técnicas agrícolas, ocorrido no período Neolítico (posterior ao paleolítico), provocou um acréscimo populacional nos locais onde o solo tinha maior fertilidade, principalmente na Baixa Mesopotâmia (ver figura 30). Os primeiros sítios habitados foram em volta dos rios devido à facilidade de irrigação e de transporte, por exemplo, o Nilo no Egito, e o Tigre e Eufrates na Mesopotâmia. Segundo ABIKO (1995): Começava assim, a partir IV milênio, nas cidades localizadas nas planícies pluviais do Egito, a aspiral de uma nova economia: o aumento da produção agrícola, da população e o início da concentração do poder e do excedente da produção nas cidades. (ABIKO 1995 pág. 5)


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As cidades se desenvolveram e formaram Estados independentes. A partir do início do II milênio a.C., as cidades da Mesopotâmia já eram muito grandes. Na cidade os templos se distinguem das casas comuns por serem maiores e mais elevados. Segundo BENEVOLO (2001), os terrenos da cidade são divididos em propriedades individuais entre os cidadãos, em oposição ao campo, que é administrado em comum por conta das divindades. (BENEVOLO, 2001 pág. 27)

Figura 30: Planta da cidade de UR – Mesopotâmia Fonte: BENEVOLO (2001 pág. 28)

[Grécia] Segundo MUMFORD (1982) a história grega começa no século VIII a.C., mas o período anterior parece ter sido longo, pois ao começar o período histórico, a língua grega já estava perfeitamente formada, bem como sua mitologia.


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Com o desenvolvimento da troca do comércio com a Ilha de Creta, surgem novas parcerias de povos e novas invasões. As invasões afastaram o povo nativo e a vida urbana acabou. Devido às dispersões para as áreas rurais, novas zonas e vilarejos se formam para se protegerem, garantir um controle econômico e uma típica política da Grécia antiga, que são as Cidade-Estado. Nasce assim um organismo diferenciado, onde cada elemento da natureza e da tradição é utilizado para uma função específica. A cidade, por outro lado, existe justamente para unificar muitos serviços diferenciados; é o centro político, comercial, religioso e o local de refúgio de uma população bastante esparsa pelo território. BENEVOLO (2001 pag. 87)

[A cidade Romana] Através da leitura de ABIKO (1995) a cidade de Roma, localizada na Península Itálica, no Mar Mediterrâneo, formou-se, no século VII a.C., com o crescimento de um agrupamento de aldeias e tribos montanhesas fixadas às margens do rio Tibre, na fronteira entre o território etrusco (ao norte da Itália) e o colonizado pelos gregos (ao sul da Itália). Segundo GOITIA apud ROSTOVTZEFF (1992): sob o ponto de vista urbanístico, as cidades do Império Romano foram herdeiras das gregas, das quais tomaram todos os refinamentos técnicos: esgotos, aquedutos, água corrente, balneários, pavimentos, serviço de incêndio, mercados, etc. Haviaas, como é natural, de vários tipos, conforme a sua evolução histórica, condições do solo, clima e características locais. Havia cidades comerciais e industriais que eram, na realidade, as mais importantes (Roma, Alexandria, Antioquia, Éfeso, Cartago, Leão, etc.); cidades caravaneiras, como as que faziam o comércio com o Oriente (Palmira, Petra, Bostra); cidades que eram capitais provinciais ou de departamentos agrícolas (Verona, Siracusa, Londres, Tarragona, Córdova, Mérida, Timgad, Cirene, Rodes, Esmirna, Pérgamo, Mileto). GOITIA apud ROSTOVTZEFF (1992 pág. 19)

Figura 31: Impressionante mapa em perspectiva de 1641 mostrando o Coliseu. De Matthus Merian Fonte: http://romaitalia.com.br/historia-de-roma.html


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[A cidade Medieval] Segundo GOITIA (1992), a cidade medieval desenvolve-se de forma marcante nos séculos XII e XIII e principalmente pelo desenvolvimento de grupos específicos do tipo mercantil e artesãos. Com o desenvolvimento do comércio vai se constituindo uma sociedade burguesa que é composta não só de viajantes, mas também onde outra gente se fixa permanentemente nos importantes tráfegos: portos, cidades de passagem, mercados importantes, vilas de artesões e etc. Por necessidade de defesa, as cidades medievais (ver figura 32) apresentam uma forte característica no aspecto físico: colinas, ilhas, imediações de rios e etc. procurando criar obstáculo para o inimigo. Para GOITIA (1992), em relação a morfologia apresentam três tipos fundamentais: as irregulares, as radiocêntricas (As ruas importantes partiam do centro e dirigiam-se radialmente para as portas do recinto fortificado. Outras ruas secundárias, em circulo a volta do centro, ligavam as primeiras entre si) e as regulares (quadricular e tabuleiro de xadrez).

Figura 32: Cidade Medieval de Arles, Gravura (1686) Fonte: http://www.estudoprevio.net/artigos/9/monicapacheco-.-suburbanismo

[A cidade Clássica – Renascimento] Ainda através da leitura de GOITIA (1992), o período do Renascimento tem origem em 1453. Com a queda de Constantinopla, as principais rotas comerciais do Mar Mediterrâneo se deslocaram para o Oceano Atlântico. A partir do século XVI tem início o período das grandes descobertas marítimas, a princípio reservadas às duas nações ibéricas: Portugal e Espanha. GOITIA (1992) afirma que a principal “a atividade urbanística durante o século XV e XVI consiste, em grande parte, em


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alterações no interior das velhas cidades que, geralmente, modificam muito pouco a estrutura geral”. Ainda segundo o autor: [...] abertura de algumas ruas novas, com edifícios solenes e uniformes, e sobretudo a criação de novas praças, regulares ou quase regulares, para enquadramento de um monumento destacado, uma estátua para honrar um rei ou um príncipe, ou para representações ou festejos públicos, são os empreendimentos urbanos mais apoiados, que o período barroco irá continuar ainda em maior escala. GOITIA (1992, pág. 31)

Figura 33: Mapa da Florença Renascentista, Francesco Rosseli Fonte: https://historiadegeloefogo.wordpress.com/2013/08/05/ci dades-livres-as-cinzas-de-valiria/

[A cidade Barroca] Segundo a leitura de ABIKO (1995) a transição do período renascentista para o barroco é caracterizado pelo aumento da importância das cidades, principalmente das capitais de Estados e aquelas ligadas ao comércio, com destaque para as portuárias. Essas cidades passam a ser também, as capitais políticas e fontes do poder econômico do Estado barroco. Para BENEVOLO (1993) a cidade barroca (ver figura 34), é a herdeira dos estudos teóricos do renascimento onde os esquemas se baseavam na pura harmonia geométrica com independência da percepção visual. Nesse período, desejava-se


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criar uma cidade como obra de arte de imediata percepção visual, usando como instrumento a perspectiva.

Figura 34: Cidade de Paris - Barroca Fonte: BENEVOLO (2001 pág. 515)

[A cidade na era industrial] A última e fundamental mudança das cidades foi gerada por uma complexidade de acontecimentos a que se denominou "Revolução Industrial". A revolução industrial é quase imediatamente seguida por um explosivo crescimento demográfico das cidades, primeiro na Inglaterra, seguida pela França e Alemanha. Através da leitura de MUMFORD (1982), a própria cidade consistia de fragmentos dispersos de terra, com formas estranhas e ruas e avenidas incoerentes, deixadas por acaso entre as fábricas, as ferrovias, os pátios de embarque e os montes de restos. Em lugar de qualquer sorte de regulamentação ou de planejamento municipal generalizado, era a própria ferrovia chamada a definir o caráter e projetar os limites da cidade. Segundo ABIKO (1995): A revolução demográfica e industrial transforma radicalmente a distribuição dos habitantes no território e as carências dos novos locais de fixação começam a manifestar-se em larga escala, na ausência de providências adequadas. As famílias que abandonavam o campo e afluíam aos aglomerados industriais ficavam alojadas nos espaços vazios disponíveis dentro dos bairros antigos, ou nas novas construções erigidas na periferia, que rapidamente se multiplicaram formando bairros novos e extensos em redor dos núcleos primitivos. (ABIKO 1995 pág. 35)


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Não havia um sistema razoável para controlar a cidade e seus processos, afetava o desenvolvimento da cidade e sua economia.

Figura 35: Bairro de Londres Fonte: BENEVOLO (2001 pág. 560)

[A evolução urbana e a teoria do urbanismo moderno] No período de 1800 a 1914 o volume populacional triplica. A grande insalubridade existente na cidade industrial, sem um sistema de abastecimento de água, esgoto sanitário e sem coleta de lixo atendendo os operários, surgem epidemias e doenças difíceis de serem controladas e prejudica a população como um todo.

Para BENEVOLO(1993) tal fenômeno traz em consequência, uma realidade que merece ser estudada e os problemas urbanos possibilitam propostas, projetos e ações procurando entender e solucionar os problemas. As cidades pós-industriais são caracterizadas pelo urbanismo sanitarista, com preocupação básica de melhorar as condições de salubridade. Foram reurbanizadas várias cidades como Manhattan, Londres, Liverpool, Viena, Bruxelas e entre outras da Europa, inclusive Paris que teve como mentor o importante Barão Haussman. Segundo ABIKO (1995): As leis sanitárias evoluíram para uma legislação especificamente de natureza urbanística, definindo as densidades, critérios para a implantação de loteamentos, distância entre edificações, seus gabaritos de altura, e até a característica de cada edificação, isto é, espaços, aberturas e materiais a serem empregados. Os regulamentos urbanísticos atualmente existentes, as leis de zoneamento, uso e ocupação do solo e os códigos de edificações,


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tem corno origem esta preocupação sanitarista de se criar um ambiente salubre e adequado. (ABIKO 1995 pág. 36)

Figura 36: As obras de reconstrução da cidade de Paris pelo prefeito Barão Haussmann. 1853-1869 Fonte: https://teoriadoespacourbano.wordpress.com/2013/03/26/vihaussmann-ou-as-barricadas-parte-i/

Ainda através da leitura de ABIKO (1995) o pensamento urbanista progressista e racionalista que procura conceber cidades ordenadas com uma conjugação de soluções utilitárias e plásticas concretiza-se, culminando com a criação em 1928, dos C.I.A.M., Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna. As idéias dominantes destes profissionais, entre eles, Le Courbusier, Gropius, Van Eesteren, Lucio Costa, e outros, foram condensadas no documento conhecido como a Declaração de La Sarraz, datado de 28 de junho de 1928, que assim conceitua o Urbanismo: O Urbanismo é a disposição dos lugares e dos locais diversos que devem resguardar o desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual, em todas as suas manifestações individuais e coletivas. Ao Urbanismo interessam tanto as aglomerações urbanas como os agrupamentos rurais. “As três funções fundamentais do Urbanismo são: habitar, trabalhar e recrear, e os seus objetivos são: a ocupação do solo, a organização da circulação e a legislação”. (BIRKHOLZ, 1967 pág. 158)

Segundo ABIKO (1995) iniciado em 29 de julho de 1933 a bordo do navio „Patris II‟, o quarto Congresso Internacional de Arquitetura Moderna - C.I.A.M., cujo tema foi a „Cidade Funcional‟, foi concluído dias após em Atenas. Durante a viagem, cem


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delegados analisaram trinta e três cidades, de quatro continentes. As conclusões deste encontro foram reunidas na Carta de Atenas. A Carta de Atenas sintetiza o conteúdo do Urbanismo Racionalista, também chamado de Urbanismo Funcionalista, o qual “supunha a obrigatoriedade do planejamento regional e intra urbano, a submissão da propriedade privada do solo urbano aos interesses coletivos, a industrialização dos componentes e a padronização das construções, a edificação concentrada, porém adequadamente relacionada com amplas áreas de vegetação”, cita ABIKO (1995 pág. 39)

Figura 37: Brasília – Lúcio Costa e Niemeyer – 1960/70 – Conceitos da Carta de Atenas

Figura 38: Chandigarh – Le Corbusier e Pierre Jeanneret 1950 – Conceitos da Carta de Atenas

Fonte: https://portogente.com.br/colunistas/ edesio-elias-lopes/desenho-urbanoa-carta-de-atenas-56002

Fonte: https://portogente.com.br/colunistas/e desio-elias-lopes/desenho-urbano-acarta-de-atenas-56002

A partir da elaboração da Carta de Atenas, as idéias sobre Urbanismo se desenvolveram rapidamente. Em setembro de 1952, em La Tourrete - França, em reunião do “Grupo Economia e Humanismo”, são fixados as novas dimensões do Planejamento Territorial, através da “Carta do Planejamento Territorial”. Esse documento diz que: [...] objetivo do Planejamento Territorial é criar pela organização racional do espaço e implantação de equipamentos apropriados, as condições ótimas de valorização da terra e as situações mais convenientes ao desenvolvimento humano de seus habitantes. No documento estão estabelecidas as vinculações entre as quatro ideias básicas do Planejamento Territorial: a organização do espaço, o


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apetrechamento do território, o seu aproveitamento econômico e o desenvolvimento do homem. (BIRKHOLZ, 1967 pág. 169).

Ainda segundo BIRKHOLZ (1967) o planejamento é, portanto, um processo de pensamento, um método de trabalho e uma ferramenta para propiciar o melhor uso da inteligência e da capacidade do potencial do homem para benefício próprio e comum. [O urbanismo na cidade do presente] A cidade não é um feito recente, é resultante de um processo histórico. Ao longo deste século observa-se um rápido aumento da migração da população rural para as cidades. Esse acontecimento tem modificado a distribuição da população mundial. Uma das grandes marcas desse século tem sido para Goitia (1992): [...] formidável crescimento dos grandes centros urbanos, que não se verificava anteriormente porque o avanço demográfico geral era muito mais lento e porque esse excedente demográfico não era absorvido desproporcionadamente pelas grandes cidades. GOITIA (1992 pág. 196)

Uma parte da população que chega às cidades é forçada a se distribuir nos locais mais miseráveis e abandonados, invadindo propriedades alheias ou zonas com condições urbanas inadequadas, no Brasil conhecidas como favelas. Não há cidade em processo de crescimento agressivo que não sofra destas manifestações patológicas. Segundo GOITIA (1992): Organismos oficiais, planificadores e urbanistas são lentos nas previsões e ainda mais nas realizações. Enquanto delimitam as zonas convenientes e planificam na sua base, preparando soluções para o crescimento, a realidade, com os imperativos violentos, rompe pelos lugares mais imprevistos e incongruentes. Por conseguinte, esse crescimento urbano produz tanto problemas nos núcleos centrais, quanto nas periferias das cidades que sofrem com a falta de acessos e de transporte coletivo. Toda ordenação espacial é questionável se não existir uma adequada acessibilidade, meios de transporte público eficaz e uma rede viária capaz e inteligentemente planejada para atender toda a demanda necessária. (GOITIA 1992 pág. 214)

Segundo BENEVOLO (1993) o termo urbanismo é quase que empregado exclusivamente nas situações aonde irá se desenhar ou projetar uma nova cidade, a partir de um espaço desocupado e vazio. Esse fato não ocorreu especialmente nos países em desenvolvimento, onde se procura uma ação urbana sobre o existente, com recursos limitados e com todas as condicionantes de natureza social e política. Nessa direção, a ação urbana cada vez mais distancia-se do urbanismo clássico


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para aproximar-se de um entendimento da cidade enquanto um empreendimento. Segundo ABIKO (1995): para tanto devem-se articular recursos humanos, financeiros, institucionais, políticos e naturais para sua produção, funcionamento e manutenção. A este processo dirigido para operar a cidade, dá-se o nome de gestão urbana. A gestão urbana é conceituada como um processo de concepção, decisão, intervenção, regulação, mediação, que se desenvolve no espaço em função do embate ou conflito entre os diferentes fatores sociais. (ABIKO 1995 pág. 42)

Conclui-se, portanto, que a cidade enquanto empreendimento satisfaz às necessidades individuais e coletivas dos vários setores de sua população. 2.3. A cidade como plataforma da arte

Ressaltando sobre a arte contemporânea, a partir da década de 60 foi intensificada quando passam de galerias, museus, lugares considerados perfeitos e impecáveis para os espaços públicos. Os lugares fechados afastaram-se da realidade urbana e houve uma desconexão entra a arte e o real. O novo espaço de obras de manifestações interage com o público e vivencia melhor os espaços ofertados pela cidade. Segundo CARTAXO (2006): Quando a Arte deixou o Museu em busca de um público maior, tornou, consequentemente, e de forma mais incisiva, „pública‟ a presença da arte e do artista. O artista „público‟ contemporâneo trabalha in situ, ou seja, analisa meticulosamente as conduções do lugar (a escala, o usuário e a complexidade do contexto), visto que o sucesso da obra depende da recepção do observador. Com isto, o artista ampliou seus meios e passou, também, a construir incorporando novas fontes de referência como a ciência, a biologia, a construção, a iluminação, a decoração, o som, a moda, o cinema, os computadores, etc. A transição das instalações efêmeras para as construções permanentes estabelece aproximação com a arquitetura, principalmente no que se refere ao modo de conceber o espaço e sua psicologia de uso. Os limites entre a Arte e a Arquitetura tornam-se difusos à medida que, tanto uma quanto a outra, inspiram-se na experiência física do sujeito determinada pela natureza do lugar. A arquitetura sempre foi, por definição, pública, contudo, as transformações contextuais dos últimos vinte anos levaram esta disciplina a um processo de adaptação (tal qual a Arte). (Cartaxo, 2006, p. 73-79)

Foram também incorporados em lugares não físicos como revistas, jornais, livros, televisão entre outros. A vontade de conciliar diversas linguagens e aproximar o sujeito e o mundo transfere o suporte tradicional artístico para uma grande escala urbana. A adoção destes espaços da vida cotidiana revela a vontade de reaproximação entre o sujeito e o mundo. Segundo CARTAXO (2006):


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A arte pública terá papel relevante nesse processo, tendo em vista a sua inserção na cidade (agora lugar-realidade) e sua relação direta e imediata com os transeuntes ( agora o público de arte). Estas obrasmanifestações não possuem o seu valor estético aderente à forma, mas sim à sua condição de acontecimento-efêmero, em que a participação do público faz-se, muitas vezes, relevante e, simultaneamente, imperceptível. A arte pública interage de tal modo com a realidade da cidade e os seus fluxos que não é percebida como tal. A desmaterialização da arte é fruto das reflexões contemporâneas sobre o seu papel e lugar. A cidade como lugar da vida cotidiana, do coletivo, do fluxo de ações, dos acontecimentos e temporalidades e da acumulação histórica, oferece reflexão estética ao converter-se em parte das obras-manifestações de arte pública. (CARTAXO, 2006 p. 85)

Com o passar dos tempos, a forma de viver a cidade, modifica a forma de manifestação artística presente na sociedade e artes de diferentes áreas exploram a cidade como plataforma de apresentação. É de grande importância a arte vinculada à evolução urbana. Ela é educativa, cultural, e um grande meio comunicativo capaz de mudar olhares, paisagens, e a relação de vivência do corpo na cidade.

2.3.1. Entrevista Wenderson Godoy – Arte x Cidade De acordo com o bate papo que tive com o Godoy no espaço do Grupo Híbridus – Ipatinga MG, no dia 22 de Maio, a arte na cidade é expressa de dentro para fora. O Godoy acredita no mapeamento do corpo sobre o espaço, e a partir das performances e danças, as pessoas terão uma diferente reação ou pensamento sobre o lugar. O importante é plantar nas pessoas uma diferente visão do ambiente, mesmo que ela entenda aquilo como arte ou não. Despertar algo inusitado ao espectador cria possibilidade de requalificar e recriar novos olhares e conceitos sobre a cidade e a forma de uso. Para ele, a arte tem um importante papel de formar questionamentos e mesmo sem respostas, é um começo para a possibilidade de mudança e da apropriação dos espaços. É necessário agir, para transgredir.


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2.3.2. Entrevista Brígida Campbell – Arte x Cidade

Segundo o bate papo que tive por telefone com a Brígida, integrante do grupo Poro, no dia 18 de Maio, falar sobre a arte na cidade, é muito amplo definir o que é o espaço público da cidada, e até onde as pessoas usam esses espaços. Os centros culturais, por exemplo, são espaços fechados, mas é um espaço onde as pessoas tem acesso, entram e saem livremente. Para ela, a arte que acontece na rua, pode ser muito relativa e depender do ponto de vista de cada indivíduo. Se for adulto, criança, idoso, pobre, rico, e outros, a interpretação depende do seu contexto, do meio em que essas pessoas vivem, e vai além as formas de lidar e entender a situação. Uma intervenção, por exemplo, pode tirar diversas conclusões, inclusive as pessoas não entenderem que é arte. Brígida acha que espaços públicos onde as pessoas , discutem, interagem, planejam e ensaiam diversos tipos de manifestações artísticas são raros no Brasil. Para Brígida, existe esses espaços em alguns lugares em São Paulo, onde acredita ter a maior concentração de arte, e arquitetura para serem explorados. Ela acredita também que projetos que valorizam a cidade, que recriam e colorem paisagens, como o grafite, pode tornar muito mais agradável o clima tenso e corrido dos grandes centros urbanos e mudar o modo de relacionar das pessoas. “Imagina se os grandes centros fossem com todas as paredes coloridas?” brinca e cita Brígida, referindo-se que seria melhor. Perguntei a ela como ela acredita que as pessoas vivenciam as suas intervenções, e ela fala que não tem como imaginar ou saber ao certo. Ela não chega até esse ponto de definição, executar a intervenção é a felicidade concreta, é o apogeu da intervenção, independente de como chega até as pessoas, pois é impossível atender a todos.

O estudo desse capítulo facilitou o entendimento sobre a arte urbana, melhorou o senso crítico e os argumentos a serem levantados. É importante a análise do tema com um grande aprofundamento, apresentando a história e contextualização do assunto.


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3. OBRAS ANÁLOGAS [Artistas que atuam na área] Segundo o Arquiteto Edson Mahfuz em “Nada provém do nada” toda analogia, arquitetônica ou não, é a comparação entre dois casos paralelos, podendo ser positiva – quando baseada em similitudes existentes, ou negativas – baseada nas diferenças entre os objetos, ou ainda, na inversão de uma forma ou método estabelecido. Essa similitude não se refere somente a analogias formais, mas também a propriedade, isto é, leis e princípios de formação, comuns aos dois objetos ou situações. Com base na analogia positiva, o objetivo das diferentes obras apresentadas é mostrar possibilidades de usos para os espaços públicos. É importante discutir esses diferentes espaços na cidade e como interferem no cotidiano e apresentar formas de uso. A ação de uma ocupação urbana coletiva ou individual sobre o meio cria uma relação com a população e proporciona questionar o território.

3.1. Intervenções de Louise Gainz e Breno Silva

As três obras citadas a seguir, foram produzidas por Louise Gainz e Breno Silva que proporam várias ações coletivas de uso temporário em espaços públicos que se encontram livres. Cada obra tem uma especificidade que torna importante o estudo para esse trabalho porque tem idéias de projeto para intervir nos espaços e propiciar aos moradores de vários bairros o acesso a espaços públicos próximos, onde possam ocorrer atividades para o lazer, a cultura, a produção agrícola, ou outras não usuais na cidade.

3.1.1. Perímetro [Passagens espontâneas] Segundo Louise e Breno, o lote consiste em uma área de cerca de 2000m², sem muros ou limites precisos separando a propriedade particular de seu entorno ver figura 39). Tal característica propiciou apropriações espontâneas pelos moradores da região, que utilizam o lote como passagem e acesso para o Aglomerado Morro das Pedras, conjunto de vilas que cresceu em torno de um antigo lixão. Os constantes percursos pelo terreno estabeleceram vários caminhos informais, não previstos por qualquer projeto urbanístico. Optaram por uma ocupação pontual, de caráter efêmero, e que intenta dialogar com o principal uso conferido ao lote: PASSAGEM. A ação consistiu em acompanhar as pessoas que atravessaram o lote em um dia durante 12 horas ininterruptas, “desenhando”, os seus trajetos no solo. Proporam uma situação de estranhamento,


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uma possível indagação que pudesse conduzir a atenção do transeunte para sua relação com o entorno.

Figura 39: Resultados das intervenções “Perímetro” Fonte: Lotes Vagos - Ação Coletiva de Ocupação Urbana Experimental

Concluo que qualquer tipo de intervenção que acontece nos espaços públicos, principalmente nos mais abandonados, cria um novo olhar para aquele espaço e recria comportamentos e atitudes que podem estar sendo feitos ali. A intervenção chama atenção de uma forma que valoriza o espaço, e desperta nas pessoas a possibilidade de diferentes formas de uso.

3.1.2. 100m² [interação da comunidade]

Segundo a explicação dos artistas, 100m² é um projeto que desenvolveu a população local e teve início com o plantio de placas de grama em um lote de 500m² (ver figura 40). Os 100m² de grama foram plantados por entre cintas de concreto, por um grupo de pessoas, vizinhos, amigos e passantes na rua, numa 3ª feira.

Os outros 400m² de área, inteiramente marcados pelas estruturas de fundação de concreto, ficam potencialmente sob tensão, esperando as ações que iriam surgir dos


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grupos de moradores ou passantes, através de plantações ou mesmo deixando áreas de matos brotando espontaneamente. Os 100m² de grama são o ativador do lugar, os outros 400m² ficam à espera de que as pessoas passem a incorporá-los em suas ações cotidianas e os transformem. O processo de uso do lote durou 1 mês e nesse período plantaram flores e hortaliças. Em um sábado o lote se transformou em um pequeno balneário, com piscina de plástico e churrasco, com vizinhos e amigos.

Figura 40: Ações dos “100m²” Fonte: Lotes Vagos - Ação Coletiva de Ocupação Urbana Experimental

Após apresentar explicações e imagens dos artistas criadores da intervenção, concluo que o uso do lote alheio próximo à você, cria uma extensão do quintal de casa, e possibilita a interação de pessoas e vizinhanças em áreas ociosas, com grande potencial, e que deixam de ser valorizadas quando sujas, mal cuidadas, e tornam excludentes propiciando a marginalidade. Intervenções e extensões como essas deveriam ser mais frequentes nos bairros e em nossas vidas, ajudando a diminuir a criminalidade, aumentando a segurança, além de dar uso a uma área na forma de lazer.


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3.1.3. Banquetes - em Belo Horizonte [expansões do doméstico para a rua] Segundo Louise e Breno, desde 2005 fizeram almoços em áreas públicas ou residuais da cidade, com amigos ou grupos locais (ver figura 41). Os primeiros foram na calçada em frente à casa da Louise, como uma varanda muito familiar. Depois outros aconteceram em praças, sob torres de alta tensão, em rótulas de circulação, em terrenos baldios, às margens da lagoa, em calçadas, todos eles como expansão do espaço doméstico para a rua. Em 2007 finalizaram um curta-metragem em vídeo, intitulado Banquetes, patrocinado pelo Programa Petrobras 2005/2006.

Figura 41: Banquete nos passeios Fonte: http://lotevago.blogspot.com.br/

Concluo que trazer o doméstico para a rua é algo novo no cotidiano das pessoas e válido. As pessoas precisam sentir a rua, vivenciar, e ver a grande troca que é capaz de acontecer ali, o quanto te enriquece e favorece usar aquele espaço, deixando de ser apenas um passageiro na cidade que vai de locais fechados, pra lá e pra cá.

3.2. ENTRE - Carlos Teixeira [Formas de usos para espaços inexplorados]

Segundo Martí, Folha de São Paulo, Entre é um conjunto de projetos de Teixeira que começa com História do Vazio em Belo Horizonte (1999) e termina com Outro, o Mesmo (2010). Partindo da aceitação à cidade, o livro é um ensaio sobre a informalidade urbana escrito paralelamente a uma análise da fotografia da periferia e


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dos vazios urbanos, delineando uma possível forma de atuação na cidade em construção, exaltando a destruição, provocando uma leitura estética invertida do cartão postal, e atentando para os vazios latentes da cidade. O terreno acidentado do bairro de Buritis, Belo Horizonte, não permitia a construção linear de prédios. Arquitetos fizeram construções sobre hastes de concreto fincadas no solo. Utiliza das palafitas dos edifícios na zona sul de Belo Horizonte, o arquiteto Carlos Teixeira percebe uma beleza estranha. "Esse lugar é um labirinto de proporções colossais", diz Teixeira em entrevista à Folha. "É um tipo de arquitetura mal acomodada nos terrenos, não existe por ali uma relação com a topografia." Nem sempre os moradores desciam andares a mais para ver de perto o que se formava de forma espontânea nas frestas da arquitetura, mas Teixeira conseguiu transformar essas ocupações efêmeras numa espécie de manifesto a favor de uma relação dialética com a arquitetura. Não considerava denúncia de construções ruins, mas uma tentativa de transformar um problema no embrião de uma solução. Embaixo desses prédios começam pesquisas unindo urbanismo, arte urbana e cenografia. Para Teixeira, ainda em entrevista à folha, arquitetura é "a mais erótica das artes", capaz de "revelar a razão e uma experiência sensual dos espaços”.

Figura 42: Intervenções realizadas Fonte: TEIXEIRA (2010 pág. 122)

A obra “entre” apresenta formas de uso para espaços abandonados e esquecidos pelo o usuário. Tem a importância de mostrar a possibilidade de inserção à cultura, arte e entretenimento em espaços mal vistos, não só áreas públicas das cidades, mas também resultados de uma arquitetura construída em terrenos de grande declive.


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3.3. OSSÁRIO - Alexandre Orion [eliminação da poluição] O artista plástico paulistano Alexandre Orion, de 35 anos, faz intervenções urbanas com um material incomum, que está sob os olhos de todas as pessoas mas nem sempre pode ser vista. Orion faz arte com a poluição da cidade. Segundo Orion sobre a sua intervenção Ossário, na madrugada do dia 13 de julho de 2006, comecei uma intervenção no túnel que liga a Av. Europa e a Cidade Jardim em São Paulo. A intervenção ocorre por processo de subtração, limpando a fuligem produzida pelos carros que se deposita nas paredes do túnel produzo imagens de crânios humanos. Segundo uma entrevista a Orion: Durante as madrugadas em que trabalhei na “limpeza” do túnel, foram várias abordagens policiais. Porém, como previsto, ninguém podia me impedir de desenhar as caveiras no túnel. Não havia crime em “limpar”. O crime era ambiental: Poluição pra ninguém botar defeito. E, como também era previsto, o Estado não deixou barato. Só existiu uma forma de impedir a “limpeza” a minha maneira, limpando também. E assim foi! A intervenção tinha alcançado 160m de extensão quando a prefeitura de São Paulo efetuou a primeira limpeza. Mas, ao contrário do que eu esperava, eles não fizeram limpeza completa do túnel. O que realmente me impediria de continuar seria a remoção de toda sujeira, matéria prima utilizada no trabalho. A intenção do Estado foi apenas remover a intervenção. Eles anularam a mensagem criando uma grande área limpa e deixando o restante do túnel sujo como deve ser. O crime passou a ser outro: Censura! RS... Mas como a matéria prima ainda continuava lá, voltei com a provocação no dia 13 de agosto. Depois de algumas madrugadas de trabalho, a intervenção alcançara em torno de 120m, a equipe da prefeitura, acompanhada da CET e da Polícia Militar, apareceu para efetuar a limpeza de todo o túnel. Desde então, todos os túneis da cidade foram limpos. A limpeza do túnel da Cidade Jardim foi concluída, em seguida a limpeza do túnel da Rebouças, e de outros tantos túneis da cidade. Em menos de 4 meses tudo estará suja de novo. Melhor do que limpar seria pararmos de poluir.


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Figura 43: Ossário – Alexandre Orion Fonte: http://cargocollective.com/alexandreorion/OSSARIO

Com a retirada da fuligem dos túneis, Orion começa com um novo projeto chamado “Poluição sobre Muro” onde ele grafita através da poluição urbana. Segundo Politi a munido de pano e água, Orion retirou a sujeira acumulada nas paredes do túnel para formar as imagens da intervenção. Ele deixou a água escura restante da “limpeza” evaporar e, com o pó preto que sobrou, misturado a uma base acrílica, obteve sua “tinta de fuligem”. Quando a matéria-prima da tinta se esgotava, nova intervenção era realizada em outro túnel da cidade. Quando uma parede recebe um grafite, ela passa a conter em si um discurso, um recorte da cidade que estimula a dúvida. Tudo depende do quão profundamente aquele que passa pelo local está disposto a parar, entrar, se mesclar nas veias escondidas que a cidade propõe. No Grajaú, por exemplo, na obra “Apreensão” (2014), uma criança gigante destrói casas, em um discurso tão pueril, quanto refinado. Segundo Orion, “Algo me chamava de volta para o Grajaú. Minha última intervenção foi um painel de 15 x 32m no CEU Navegantes. Não é uma parede voltada pra rua, mas para uma arquibancada de casa, para o bairro. O que importa ali nem é tanto o lugar, mas o discurso colocado e o quanto ele dialoga com o espaço. Quando eu estava fazendo a intervenção, um cara me perguntou: „Mas, ela está brincando? Porque pra mim parece que ela está destruindo as casas‟”. Ainda segundo Politi, a divisão do elemento é o tema da intervenção “Apreensão”, uma composição cruzada, mas não contrárias, da brincadeira e da destruição; da inocência e da inconsequência; do fazer por querer e querer fazer. O cenário, que se concretiza na realidade com as frequentes desapropriações na região, mostra uma criança brincando de casinhas. A imagem por si é inocente. Mas se nos permitimos olhar de novo, a criança brinca, na realidade, com as casinhas. A brincadeira passa


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pela destruição, pois ela é real. As casas também não são aquelas dos blocos infantis. Elas retratam exatamente a textura da periferia com seus tijolos expostos, lajas, quartos, cozinha e pessoas nas casas. (ver figura 44)

Figura 44: APREENSÃO – CEU NAVEGANTES – São Paulo 2014 . 15 x 32m Poluição Mesclada a base acrílica – Fonte: http://alexandreorion.format.com/untitled-gallery#no1

Acredito que “Ossário” tem bons pontos positivos pelo fato dele ter criado repercussão o suficiente para chegar um órgão da prefeitura com caminhão pipa e ter limpado a arte e algo que vai além de limpar as fuligens do lugar, melhorou a poluição do ar, a poluição visual, entre outros. A arte traz qualidade de vida para as pessoas mesmo o contato sendo indireto (aquelas que não viram a ação e se beneficiam com isso), obtendo soluções que entidades públicas não conseguem administrar e agir para melhorias. Vejo “Apreensão” como uma obra de extrema sutileza e veracidade. Ingenuidade e inocência da criança acarretada pela violência imposta. É o dia a dia da comunidade expressada no paredão, um aviso para a realidade que se oculta entre as ruas.

3.4. Arte/cidade - Nelson Brissac [Formas alternativas de reestruturação urbana em grande escala] Segundo Nelson Brissac, Arte/Cidade é um projeto de intervenções urbanas, que se realiza em São Paulo desde 1994. Busca destacar áreas críticas da cidade diretamente relacionadas com processos de reestruturação e projetos de redesenvolvimento, visando identificar seus agentes e linhas de força e ativar sua dinâmica e diversidade. Segundo o site do Nelson Brissac:


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Reunindo artistas e arquitetos, internacionais e brasileiros, voltados para situações urbanas complexas, o projeto visa desenvolver repertório – técnico, estético e institucional - para práticas artísticas e urbanísticas não convencionais. No momento em que se processa a inserção do Brasil no sistema econômico e cultural globalizado, Arte/Cidade pretende discutir os processos de reestruturação urbana e os dispositivos institucionais da produção cultural. Trata-se de, no cenário vigente da administração das cidades e da cultura, dominado por operações corporativas e institucionais de grande poder econômico e político, criar novas práticas urbanas e artísticas. Os projetos de Arte/Cidade indicam abordagens alternativas para a megacidade, baseadas na ativação dos espaços intersticiais, na diversificação do uso da infra-estrutura, na dinamização sem concentração excludente e na heterogeneidade espacial e social. Propostas que buscam detectar o surgimento de novas condições urbanas, identificar suas linhas de força e instrumentalizar seus agentes para intervir em processos dinâmicos e complexos. O primeiro bloco de Arte/Cidade - Cidade sem janelas, realizado em 1994, ocupou o antigo Matadouro Municipal da Vila Mariana, em São Paulo (ver figura 45 e 46). Havia aí um espaço murado, uma estrutura arquitetônica pesada e isolada do resto da cidade. Ela recebeu artistas voltados para um corpo a corpo com a matéria, a inércia e o peso das coisas.

Figura 45: Arte/cidade – Cidade sem janelas, 1994. Nelson Brissac Fonte: http://vitruvius.com.br/jornal/agenda/ read/3336

Figura 46: Instalação de Carmela Gross, Arte/cidade – Cidade sem janelas, Matadouro Municipal, São Paulo, 1994. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/rea d/entrevista/11.043/3482?page=3


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Em A cidade e seus fluxos, que ocupou o topo de três edifícios na região central de São Paulo (ver figura 47), a questão era: numa área urbana sem limites precisos, cortada por inúmeras vias de trânsito, tinha-se três prédios, com obras que tratavam do movimento, da luz, da leveza e da escala desmedida do lugar.

Figura 47: A cidade e seus fluxos – São Paulo – 1994 - Nelson Brissac Fonte: http://vitruvius.com.br/jornal/agenda/read/3336

Em A cidade e suas histórias, realizado em 1997, tinha-se uma estação de trens (Estação da Luz) e um trecho ferroviário que atravessa os locais significativos do período fabril da cidade de São Paulo: os silos do antigo Moinho Central, e os galpões e chaminés que restam das Indústrias Matarazzo (ver figura 48). O público percorreu de trem esses diversos lugares, em uma composição especialmente configurada para o projeto. As intervenções voltaram-se para a grande escala deste recorte, com suas áreas inacessíveis à observação ocular e desconectadas da organização urbana da metrópole atual.


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Figura 48: Estação da Luz, Moinho, Matarazzo – A cidade e suas Histórias 1997 Fonte: http://www.pucsp.br/artecidade/ac3prehome.htm


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Figura 49: A cidade e suas histórias, 1997 – São Paulo Fonte: http://www.pucsp.br/artecidade/novo/ac1/21_18.htm

Arte/Cidade - Zona Leste ocorreu em 2002, numa área de cerca de 10 km2, na região leste de São Paulo. Palco da imigração e da primeira industrialização da cidade, a região atravessou longo período de desinvestimento, além da implantação de grandes sistemas de transporte. Recentemente, surgiram ali enclaves corporativos e condomínios habitacionais modernizados. Nos vastos intervalos abandonados, porém, proliferam favelas, comércio de rua e outros modos informais de ocupação do espaço urbano. Vejo que Arte/cidade é uma mega intervenção urbana, reunidos por diversos profissionais que trabalham na prefeitura de São Paulo e tem esse projeto em paralelo seguindo as necessidades das diretrizes urbanas que não favorecem e atendem algumas regiões. Um projeto com grande potencial de expansão da arte, e valorizando a identidade da cidade que se perde no crescimento desacelerado da cidade de São Paulo. Acredito que Arte/Cidade é uma nova política do governo para criar uma dinâmica cultural que proporcione grandes expectativas e gere demanda para novas produções. 3.5. Documentário – Poro [Valorização dos espaços públicos]

Segundo o site Poro, o Grupo é uma dupla de artistas formada por Brígida Campbell e Marcelo Terça-Nada! ; atua desde 2002 com trabalhos que buscam apontar sutilezas, criar imagens poéticas, trazer à tona aspectos da cidade que se tornam invisíveis pela vida acelerada nos grandes centros urbanos, estabelecer discussões sobre os problemas das cidades, que faz refletir sobre as possibilidades de relação entre os trabalhos em espaço público e os espaços “institucionais”. Lançar mão de meio de comunicação popular para realizar trabalhos, reivindicar a cidade como


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espaço para a arte. Com a realização de Intervenções urbanas e ações efêmeras, o Poro procura levantar questões sobre os problemas da cidade através de uma ocupação poética dos espaços. Ainda através do Poro, este documentário aborda as principais intervenções urbanas realizadas entre 2000 e 2009 pelo Poro. Além das imagens e registros, boa conversa sobre arte no espaço público e questões tangentes. Produzido pela Rede Jovem de Cidadania em parceria com o Poro. O documentário (ver imagem 50) foi produzido durante o ano de 2009 e finalizado em fevereiro de 2010.

Figura 50: Vídeo Intervenções urbanas e ações efêmeras

Disponível em: <https://vimeo.com/8725870>

Gosto e me identifico com a sutileza que o grupo Poro lida com cada intervenção urbana. Eles são singelos e delicados com as situações, criam imagens poéticas, destacam aspectos da cidade que se tornam invisíveis na correria da vida. O olhar recebe novas energias ao se deparar com um novo horizonte criado pelo artista. O Poro questiona a cidade como plataforma para a arte. Ao analisarmos as obras com olhar critico, conclui-se que trazem a necessidade de discussão com um olhar minucioso para os espaços públicos da cidade, sejam eles os lotes, praças, trevos, ou mesmo o resultado de uma arquitetura construída, entre outros. Intervenções nessas áreas acrescentam uma melhoria de vida às pessoas que estão ao redor, introduzindo a arte, a cultura, e possibilita a interação e trocas


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de conhecimento e experiências da população sobre o ambiente. A apresentação das obras análogas implica em um conjunto de informações similares necessárias para a realização e a evolução do projeto de proposta de tcc.

3.6. SEMINÁRIO [BLOQUEIO] [redirecionar o olhar] Para um melhor desenvolvimento de uma obra artística, tenho como referência o Richard Serra com sua obra de Intervenção, Tilted Arc – 1987, Federal Plaza, Nova York, E.U.A (ver figura 51). Richard e seus companheiros tinham uma linha de pensamento conhecida como “site-specific”, que segundo eles, lidam com as dimensões físicas e específicas do lugar. Para Richard, Tilted Arc retrata as dimensões da cidade (cultural, social, psicológicas, política, e etc). Outro importante Artista que retrata bem a realidade do lugar, o Christo, em suas obras de “embrulhamento” diz que elas estimulam o desenvolvimento de uma nova consciência da realidade. (ver figura 52)

Figura 51: Tilted Arc – Federal Plaza Nova York - Richard Serra 1987 Fonte: http://cfa.arizona.edu/are476/files/ tilted_arc.htm

Figura 52: Palácio Reichstag embrulhado por tecido – Christo e Jeanne Claude

Fonte: http://portalarquitetonico.com.br/christoe-jeanne-claude/


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Trazendo esses conceitos para o nosso cotidiano, a obra BLOQUEIO, valoriza o caminho de modo a entender não só as dimensões físicas do espaço mas também absorver a essência que nos proporciona. Muitos reclamam o caminho que percorre de um lado para o outro mas não veem que a sutileza e simplicidade aparecem em sintonia suficiente para nos sentirmos leves, tranquilos, e inspirados, nesse ambiente que se faz tão necessário. BLOQUEIO inibe a conexão do corpo com o entorno e atrofia alguns sentidos como a visão, audição e o tato, através do material. Na correria do dia-a-dia, no cansaço mental, há nos pequenos detalhes, a fuga do descanso mesmo que seja tão efêmero. (ver figuras 53, 54, 55)

Figura 53: Obra Bloqueio

Figura 54: Obra Bloqueio

Fonte: Acervo pessoal – 10/04

Fonte: Acervo pessoal – 10/04

Figura 55: Obra Bloqueio Fonte: Acervo pessoal – 10/04


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Repercussão e Conclusão: No semana integrada, projetaram um filme em um pano branco, próximo à obra Bloqueio, no bosque. Em alguns momentos percebi que a obra repercutiu incômodos quando as pessoas estavam ali assistindo a filmagem reclamando que o espaço não estava aberto, e não tinha como vê a filmagem quando se passava pela passarela. As pessoas sentiram o incômodo que a obra queria gerar, tiveram momentos, oficinas, e situações o suficiente para serem exploradas no espaço instalado (bosque e passarela) e perceber que aquele lugar tem um valor que vai além do físico. Como propósito de intervenções artísticas, viso na melhoria do bem estar e qualidade de vida do ser no espaço. Ressaltei ali, o ar fresco, a pouca presença de poluição visual e sonora, entre outras boas sensações que a passarela proporciona ao usuário.


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4. Estudo de caso A proposta a ser realizada na próxima etapa do trabalho, o TCC 2, apresenta espaços que, através de pesquisa, deverá gerar formas de usos. Com uma boa produção e que afetará positivamente a qualidade de vida da sociedade, possibilitará novos olhares para o espaço público. O motivo do local escolhido é o Vale do Aço, onde apresenta uma relação com o autor por morar em uma das cidades, Coronel Fabriciano, e participar do cotidiano do lugar. Com o conhecimento e vivência da área, facilita a percepção da essência do lugar e aumenta a autonomia para a produção de um trabalho de qualidade e adequado ao seu entorno. Nesse capítulo retrata o surgimento do Vale do Aço, os espaços urbanos da Região Metropolitana onde acontecem algumas intervenções artísticas, e ações efêmeras e a relação que eles tem com as pessoas que ali circulam, resultando em um documentário como proposta de TCC 2.

4.1. História do crescimento do Vale do Aço

Para um melhor entendimento sobre a região, é necessária uma breve explicação do crescimento do Vale do aço. Segundo o PDDI(Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado): a urbanização provocada por grandes indústrias deu nome à região. Quanto à ocupação do vasto e diverso território do Vale do Aço ocorreu tardiamente. Sabe-se que, no final do século XVII, o bandeirante Borba Gato teria vivido na confluência dos rios Piracicaba e Doce. A exploração inicial da região também foi marcada pela evolução dos mineradores que fundaram o Estado de Minas Gerais.

Com o surgimento de grandes fazendas, no auge da fase do ouro, evidencia-se a necessidade do desenvolvimento da agricultura de pequeno porte como atividade de abastecimento da população que se formava. Muitas vezes, a atividade era até mais lucrativa que a própria mineração. Já no século XIX, o café para exportação passa a ser cultivado em muitas fazendas. Também, ocorrem evoluções da mineração de ouro para o beneficiamento do minério de ferro, logo evoluindo para a siderurgia. Nessa época, foram significativas as explorações e visitas à região do Vale do Aço por viajantes e pesquisadores estrangeiros.


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A partir da primeira metade do século XIX, disseminou-se o acesso à região por meio do Rio Doce. Logo em seguida, boa parte da consolidação da ocupação da regional foi possível com a criação de importantes escolas federais no alto do Piracicaba, como a Escola de Minas de Ouro Preto (1876) e o Instituto Agronômico, em Itabira (1881). As instituições de ensino e as indústrias, além do desenvolvimento econômico, refletiram significativas mudanças socioeconômicas em curso no Vale do Rio Piracicaba. A partir daí, a mineração e a siderurgia caracterizaram fortemente o Vale do Rio Piracicaba, especialmente o Vale do Aço. Até meados do século XX, as cidades da região eram compostas por pequenas aglomerações ligadas à agricultura e/ou à mineração, tendo a dinâmica da região permanecido mais rural do que urbana até a década de 40. Só a partir de então, foram consolidadas as facilidades para a criação de grandes indústrias (terreno plano, condições naturais, abundância de recursos hídricos, madeira, carvão, minério, dentre outros), que culminaram em intenso processo de urbanização. A siderurgia ganhou força na região com a implantação, em 1937, da Companhia Aços Especial Itabira - Acesita (atual Aperam South America), em Timóteo; e a Usiminas, em 1956, em Ipatinga. Foi então que a urbanização do Vale do Aço acelerou-se em virtude dos grandes investimentos e construções de vilas e cidades necessárias para dar sustentação às siderúrgicas. Atualmente, o Estado de Minas Gerais considera o Vale do Aço como região metropolitana, ainda que se caracterize por baixa integração urbanística e pela ausência de uma metrópole.

4.2 Grupo Híbridus

A partir do decorrer do trabalho, apresento formas de se manifestar no espaço público e procurei um grupo artístico, conhecido no Vale do Aço, que aproxima com a proposta de intervenção de tcc2, para divulgar a importância e a necessidade da arte como ferramenta de expressão. Segundo a um acervo de livros sobre o grupo conseguidos pelo autor do trabalho, em 2002, em Ipatinga-MG, foi criado a Híbridus Cia de Dança Contemporânea. Mas, com o passar do tempo e, em coerência com as pesquisas e atividades desenvolvidas, a Companhia passou a ser o Grupo Híbridus de Dança, assumindo, assim, suas características e postura de Coletivo. Desde a sua criação, o grupo produziu bons trabalhos, dentre eles: Impermanência ou (in)congruência?; Abrindo Minhas Gavetas; Ossos Secos; Dois; Carne e Pedra; Travessia; O estável pertence ao que muda; Entre; e Corpo – Cidade. Com alguns destes trabalhos o Híbridus Dança circulou pelo Brasil, passando por seis Estados,


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cerca de 17 cidades, além de receber artistas da Argentina, e fazer residências no país passando por algumas cidades inclusive Buenos Aires, a capital do País. Segundo o grupo, todo esse tempo de estrada, o Híbridus Dança notou a necessidade de criar uma infraestrutura que atendesse as demandas e viabilizasse a produção, organização e realização dos seus projetos. Diante disso, hoje o grupo dispões de três salas onde funcionam: o escritório, onde é realizada a parte administrativa, o Estúdio Hibrídus onde o grupo faz suas pesquisas e o disponibiliza para o projeto –Qcult, e por fim, a sala onde fica o Acervo Híbridus. Formado pelos artistas da dança Luciano Botelho, Rosângela Solidade e Wenderson Godoi, o Híbridus Dança mantém vivo seu intento de desenvolver processos investigativos em dança e possibilitar o intercâmbio de experiências entre artistas. Com esse espírito de colaboração e troca, o Grupo Híbridus Dança é o realizador do ENARTICi – Encontro de Dança Contemporânea de Ipatinga, evento que hoje, faz parte do circuito nacional de dança no país. Ainda segundo o Híbridus, desde 2005, se inclinaram a desenvolver investigações e trabalhos artísticos por meio dos quais aborda questões acerca do corpo no espaço público, especialmente naquele constituído no espaço urbano. Tal inclinação situa, no cerne da temática “CORPO, ESPAÇO, CIDADE”. O estudo crítico dessas questões deu origem ao trabalho denominado “Travessia” (2005), resultado da bolsa FID – Fórum Internacional de Dança. Em 2007, o processo de investigação da referida temática teve continuidade com o projeto “Corpo-Cidade: Território de Relações”, resultado do prêmio Klauss Vianna de Dança da FUNARTE 2007, o qual propiciou a construção do ultimo trabalho do grupo: “Entre”.

4.2.1 Travessia – Experimentação da Cidade

Realizado em 2005, em algumas cidades como Ipatinga e Belo Horizonte, segundo Godoy, Travessia acontece nos espaços públicos onde tem um intenso fluxo de pessoas, em um lugar de passagem. É o mapeamento do corpo livre, até onde o outro ser passa e ocupa aquele mesmo espaço, portanto uma dança que tem coreografia e passos a serem seguidos, pode limitar no outro, sendo uma troca, uma ligação e interação dos corpos no espaço.


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Figura 56: Travessia – IpatingaMG – Portaria Central da Usiminas Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=Xi3u6AnHKWg

Figura 57: Travessia – Ipatinga MG Fonte: Ficha Técnica – Acervo do Autor


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4.2.2 Corpo-Cidade: Território de relações

Segundo o Livro do Grupo sobre Corpo-Cidade, o trabalho busca compreender a natureza das conexões existentes entre as categorias de corpo, arte e cidade no contexto da construção das narrativas cotidianas que tomam forma na espacialização de paisagens de fronteira em Ipatinga. Além de estudar cada categoria separadamente – arte urbana, corpo urbano e o próprio território urbano – definiram e identificaram o que se chamou de paisagem de fronteira, locais particulares. Elaboraram procedimentos de mapeamento subjetivo e registro do lugar, bem como de intervenção efêmera. A intervenção se fundamentou na compreensão, construção e potencialização de subjetividades particulares a certas paisagens de fronteira selecionadas em locais do cotidiano das cidades. O projeto surgiu através de desejos de Wenderson Godoy, Janaina Chavier e Renata Moreira do Grupo de Pesquisa Arquitetura e Artes, do CAU UnilesteMG, cujo interesse é justamente estudar as interfaces da arquitetura como outros campos da cultura, criando uma sistemática de diálogos. [Piquenique no Espaço Público]

Figura 58: Piquenique em uma rotatória em Ipatinga – MG, realizado pelo grupo Híbridus Fonte: Livro Corpo – Cidade: Território de Relações, Diário a Bordo – Acervo do Autor


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Figura 59: Corpo – Cidade Fonte: Livro Corpo – Cidade: Território de Relações, Diário a Bordo – Acervo do Autor

O grupo lista uma série questões que eles identificam e mapeam com o corpo sobre a cidade correlacionados à ação do piquenique. São registros do pensamento, dos percursos de idéias, rabiscos, imagens, textos, experimentações, mapas dos caminhos e outros.

Figura 60: Intervenção Urbana Coletiva Fonte: Livro Corpo – Cidade: Território de Relações, Diário a Bordo – Acervo do Autor


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Após o piquenique, os participantes colocaram diversas sombrinhas e guardachuvas pendurados nas árvores, uma intervenção com o objetivo de mudar a paisagem e recriar conceitos. Segundo Godoy, no dia seguinte já não havia mais nada, e sabe-se lá quem que tirou.

[O Sopro do Público] Segundo Godoy, o Sopro do Público foi realizado no centro de Ipatinga, na FEIRARTE, onde o público era convidado a escrever um desejo, colocar dentro do balão, e registrar também o seu sopro enchendo o balão. Após vários participarem, estenderam aquele lindo varal com balões no evento, e a ação tinha como objetivo receber uma mensagem anônima de outra pessoa, no espaço público, avulsa, que te incentive, ou que mostre a realidade de um desejo de uma pessoa que você não conheça. Há uma interação, e troca de ideias entre as pessoas, é uma valorização do espaço, recriando olhares, formando novas paisagens.

Figura 61: o Sopro do Público – Feirarte, Ipatinga MG Fonte: Livro Corpo – Cidade: Território de Relações, Diário a Bordo – Acervo do Autor


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4.3 Proposta de TCC2 [Documentário]

Como proposta de TCC2 a partir do levantamento de dados, estudos, e conversas com o Grupo Híbridus, pretendo criar um documentário em que mostre ações do grupo no espaço público, e relatar como as pessoas vivenciam essas ações através de depoimentos de quem vê, com o objetivo de catalogar dados de identidade da população. Os primeiros passos a se fazer um documentário, é montar a metodologia de filmagem, e abaixo solucionei em forma de diagrama:

Figura 62: Metodologia do Documentário

Após a metodologia de filmagem, é necessário levantar dados e mapeamentos de onde são os espaços a serem intervindos. Através de mapas, apresento os espaços, principais fluxos, características, e possíveis propostas.


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Figura 63: Mapeamento das รกreas


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Figura 64: Dados da Portaria da Usiminas e Proposta na รกrea


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Figura 65: Dados do Ponto de テ馬ibus e Proposta na テ。rea


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Figura 66: Dados da Praça da Bíblia e Proposta na área


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Figura 67: Dados do Parque Ipanema e Proposta na รกrea


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Os lugares e as ações nos espaços, não se limitam nos atos em si. Através deles, terei dados e informações que vão gerar conclusões com finalidade de qualidade de vida urbana através da percepção da cidade. No diagrama abaixo, apresento a ideia básica do Grupo Artístico, e eu, como Estudante de Arquitetura. A fusão dos dois gera grandes resultados.

Figura 68: Diagrama Documentário

O Grupo Artístico trabalha diretamente com o corpo no espaço através da dança e da performance, mas além dos itens gerados como Estudante de Arquitetura no diagrama acima, o mapeamento e estudo de dados da arte no espaço público que vai articular arte, arquitetura e urbanismo, numa perspectiva de que a intervenção é uma ferramenta no processo de criação e expressão artística onde exerce uma função cultural, política, e até mesmo vínculos de socialização e percepção do indivíduo com o meio. Como a arte é vista pelo espectador, acontecerá através de depoimentos das pessoas de, como elas vivenciam a cidade através da arte? , e ter em registro dados relevantes da identidade das pessoas que circulam e usam a determinada área, podendo propiciar uma melhor qualidade ao ambiente, baseado na análise e compreensão da vida urbana.


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A formação do Documentário tem como objetivo mostrar o registro da interação entre corpo e paisagem como forma de incentivar intervenções artísticas e fazer entender a importância delas. Para Arquitetos e Artistas é uma forma de catalogar relevantes informações, dados e mapeamentos, para quando forem intervir naquele meio ter conhecimento da identidade. A próxima fase para fechamento da proposta é apresentar as etapas a serem seguidas no decorrer do semestre. Abaixo, um diagrama que apresente isso:

Figura 69: Diagrama Etapas


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5. Considerações Finais Nesse trabalho, buscou-se a análise do entendimento de quais são as manifestações artísticas que acontecem na cidade e como interferem em nossas vidas. A melhor forma de valorizar os espaços públicos mal aproveitados é atribuir a eles um uso compatível com a necessidade da sociedade que está no entorno. A sociedade e suas necessidades são mutáveis, portanto as intervenções também devem ser. Cada lugar e espaço têm suas especificidades que potencializam a forma de ocupação, visando repensar o território e as relações que a população pode criar. A interação permite trocas de conhecimento e consequentemente um amadurecimento como um todo pensando no bem coletivo e no próximo, que visa melhorar a qualidade de vida social. Por isso a proposta a ser realizada no tcc2 aprofunda a relação entre corpo x cidade, como forma de contribuição ao desenvolvimento de um olhar mais sensível à produção arquitetônica artística.


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CRONOGRAMA: 03/03 - Entrega da Pesquisa Inicial. 03/03 até 16/03 - Desenvolvimento do primeiro capítulo – “Aprimorar o conhecimento sobre a arte urbana” e Desenvolvimento do segundo capítulo – “Identificar um diálogo entre arte e cidade”. 16/03 a 30/03 - Desenvolvimento do seminário – Referências e Apresentação 30/03 a 13/04 - Desenvolvimento do terceiro capítulo – “Traçar as diversas formas de expressões artísticas” e Desenvolvimento do quarto capítulo – “Estudar artistas que atuam na área”. 13/04 até 17/04 – seminário e participação como ouvinte nas bancas intermediárias de TCC2 17/04 até 27/04 – Desenvolvimento do quinto capítulo – “Localizar principais áreas que ocorrem essas manifestações” e orientação da metodologia, levantamento de dados e definição da proposta de TCC2 com o orientador. 27/04 até 11/05 – Fechamento da proposta de TCC2 e finalizar TCC1. 01/06 - Entrega da monografia. 02/06 até 29/06 - Orientação apresentação Banca de Qualificação com o orientador e postagem da monografia corrigida. 29/06 até 03/07 - Banca de Qualificação e participação como ouvinte nas bancas de TCC2.


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