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rio das arraias

Carlos Roberto Brito Cardoso (Carlos Carlos) ilustraçþes Jailton Ferreira



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Ficha técnica - Coordenação e pesquisa; Conceição Santos - Direção de produção: Katia Fugita; - Projeto gráfico, ilustrações e diagramação: Jailton Ferreira ; - Texto: Carlos Roberto Brito Cardoso; - Fonte de pesquisa: Fundação Joaquim Nabuco Lobler, Hernani A bacia hidrográfica do rio Beberibe Hernani Lobler Campos Departamento de Geografica - UFPE 1991 FIDEM - Plano estruturador para bacia hidrográfica do rio Beberibe


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Rio das Arraias



Jabebyrype No berço da nacionalidade, curumins tomavam banho, cunhãs faziam rondas entre rituais sagrados de profunda gratidão pelas dádivas do rio: camarões, arraias, peixes de escama ou de couro, jabotis, mussuns... E Jabebyrype nem sabia que futuro lhe aguardava. Que futuro?

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O tempo transcorria sem temer-se a dor da vida, pois a pesca, as caçadas, a guerra e a rotina das aldeias não traziam o fim do mundo, até que começou uma devastação.

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Tudo era só floresta, quando as embarcações chegaram. A notícia foi de muita gente estranha na colina. Da Marim dos Caetés se avistaram as canoas com suas enormes asas brancas, carregando seres igualmente brancos, recobertos de peles de estranhas cores com detalhes reluzentes onde se dependuravam lanças leves e de corte sibilante.

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Vieram para devorar as ĂĄrvores e tirar da terra coisas nĂŁo criadas por TupĂŁ, que as canoas transportavam o tempo todo junto com alguns que retornavam.

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A Marim, agora, era dos povos que vieram do mar. Chamavam-na Olinda e a praia não era mais do índio, era do português, que trouxe gente negra como a noite para trabalhar na cana e colorir ainda mais a descendência ribeirinha. Branco, negro e índio sobre o mesmo chão sagrado, cores sons e movimentos nunca vistos pelos ancestrais. Muita miscigenação e luta, crença, festa e muita dor, construindo uma nação alegre em meio a abandono e resistência à dominação que gerou nossos avós, os filhos do Brasil, iguais a todos nós, os donos do destino desse rio.

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O rio Beberibe vem morrendo desde a chegada dos colonizadores, mas até há poucas décadas os nossos pais, igualmente aos curumins do começo dessa história, ainda tomavam banho nele, pescavam camarões, lavavam roupa... Em pouco tempo, no entanto, assistiram a agonia que o tornou o que é hoje em sua extensão urbana: não um rio, mas um depósito pastoso do lixo que restou dos anos de exploração inconsequente e desprezo pela vida.

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Nossos ancestrais deixaram que mudassem seu curso por mais de uma vez, que devastassem suas Nossos ancestrais margens o deixaramprovocando que mudassem seu curso por mais de assoreamento uma vez, que de terra (deslizamento devastassem suas que destrói o leito) eo margens provocando que intoxicassem assoreamento (deslizamento de terra suas águas com o que destrói o leito), vinhoto dos que intoxicassem engenhos. suas águas com o vinhoto Agora, dos nas últimas engenhos. décadas, Agora, nas últimas décadas, deixamos que as deixamos que as indústrias,os os indústrias, matadouros matadouroseetoda todaa população da qual a população da fazemos parte qual fazemos lançassem seusparte lançassem dejetos sobreseus o que resta do sobre berço do dejetos o que Brasil. resta do berço do

Brasil.

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Em 1530, o donatário da capitania de Pernambuco, Duarte Coelho, iniciou a exploração que hoje pode significar a morte do rio Beberibe. Muitos são os fatores de destruição deste importante curso d`água, um marco na história do Brasil. O descaso com o nosso patrimônio natural, porém, é o principal motivo da pobreza em que vivemos, e não a falta de recursos. Estes na verdade, existem em abundância e são hoje, mais do que nunca, cobiçados pelos novos colonizadores invadindo nossas praias não com caravelas, mas com a pior globalização que elas podem significar, a que nos escravisa sem sabermos. Herdamos dos dominadores do passado o hábito de depredar nossos valores naturais, o que eles não aceitam em suas terras de origem, e nos entregamos à rotina dos desperdícios confundindo isto com abundância.

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Temos muito ainda a aprender com os índios, não compreendidos pelo português e considerados uma civilização atrasada, “ainda na idade da pedra”. Não consta, porém, que houvesse entre as tribos, curumins abandonados e idosos desprezados, entregues à própria sorte. Os antigos donos dessa terra sabem entender e respeitar os diversos níveis de existência dos seres, preservando o que é essencial dentro e fora do homem. Sabem que o solo é sagrado, assim como tudo que existe sobre ele, apesar das diferenças, falhas e conflitos humanos, por isso priorizam viver em paz com a natureza, sem destruí-la, recebendo dela tudo que precisam para viver, e assim o fazem, quando não são dizimados e alijados de seus direitos sobre suas terras.

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Já os colonizadores, não aprenderam com as lições do passado nem se importaram com o futuro, tentando sempre se apossar de coisas muito valiosas dando em troca quase nada. Tal a relação do homem "civilizado" com ele mesmo, buscando nas diferenças de raça, posição social, religião e gênero motivos para a exploração uns dos outros, que não poderia ser diferente sua relação com o meio ambiente, devastando tudo quanto possa alcançar.

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Assim foi com a monocultura da cana de açúcar, a exploração mineral das zonas ribeirinhas e o uso do rio como esgoto. Se a atividade açucareira em si já era fator de empobrecimento do solo, ao desmatarem vastas proporções de terra para o plantio da cana, a extração da pedra calcária era pior ainda. Não somente porque a escavação da terra provoca o aumento da erosão, como feridas alastrando seus tentáculos de aridez sobre o solo outrora verdejante, mas porque, neste caso, a extração de madeira tornara-se acelerada, para alimentar os fornos processadores da cal destinada ás casas e igrejas de Olinda e Recife.

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Mal sabiam os religiosos e demais moradores das cidades que a brancura das paredes a baixo custo tinha como preço a morte. Não por sua inevitável condição de fim, mas pelo pesar irreparável de perder um bem que poderia ter permanecido entre nós, enriquecendo nossas vidas e tornando menos vã nossa existência tão efêmera.

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Naqueles dias, o óbvio, embora inesperado: homens, bichos, fornos e prensas foram lançados ao rio, muitos escravos fugiram e, reunidos em quilombos às margens do Beberibe, puderam reviver por algum tempo a liberdade silvestre da distante mãe África.

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Entre índios, negros e portugueses, conviveram outros imigrantes d´além mar. De repente, Holandeses aportaram no Recife e, como hordas de hominídeos cruéis e desumanos, vieram incendiar Olinda, destruindo engenhos e saqueando as propriedades, tal qual os portugueses fizeram com as tribos milenares.

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PORTUGUESES EXPULSAM HOLANDESES DO BRASIL

Poucos anos depois chegou Maurício de Nassau com ideias progressistas de promover a produção mercantil, a cultura e o comércio, refazendo tudo o que os primeiros emissários da Companhia das Indias Ocidentais haviam destruido. Àquela época, depois de terem construido o magnífico centro do Recife, chamado de Mauricéia, foram expulsos pela ação conjunta das três raças. Os méritos, porém, foram para os portugueses. Especuladores outros, vários, vieram da Europa, como franceses, suecos e alemães, que foram trazidos, inclusive, para desalojar os quilombos e explorar as terras ribeirinhas, também varridos pela implacável mão do tempo. Não deixaram de plantar aqui seus rebentos de vida, geradores de tantas vidas, assim como nós, que somos a origem de tantos outros a gerarem nossa descendência.

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Depois, toda região se transformou em sítios de produção agrícola distantes dos centros de Olinda e Recife. Mas a evolução dos transportes dissolveu as distâncias, os sítios dividiram-se em ruas e pequenas propriedades, tornando-se bairros. O matadouro, o curtume, as muitas indústrias de diversos fabricos, instalaram-se ao longo do ainda saudável rio Beberibe., Espalhando por ali populações ávidas por trabalho em um país recém abolido de seu vergonhoso escravagismo. A rotina da sobrevivência ensinava a não viver, e o rio, que significava vida, com o lixo se fundia, embora fôssemos ainda agraciados com as águas que levavam nossas imundícies para o mar, sem sabermos aonde isso poderia nos levar.

Os bondes, que eram puxados por burros, ganharam motores e passaram a ser chamados de maxambombas, os trilhos que ainda hoje riscam o chão, ao emergirem às vezes do asfalto, vez por outra nos transportam para aqueles tempos; já o rio Beberibe, com a sua atmosfera fétida, nada nos diz de seu passado de beleza em meio à mata em flor, e a nenhum futuro nos remete quando vemos sua crosta imunda estagnada, sem mover-se para lugar algum no tempo e no espaço.

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Será que nos faltou amor ao rio desde quando iniciamos nossa história inaugurada por Duarte Coelho? Ou, na verdade, não amamos a nós mesmos, não cabendo então, saber amar o rio, assim como a tudo e a todos que nos cercam desde então. Um rio não sabe transformar a natureza, mas é nossa responsablidade construir essa história. Podemos preservar o que nos é tão caro quanto a vida, ou não. Isto, o tempo já vem nos ensinando. Sabemos também que o povo é cada um, e todos juntos somos uma poderosa força sobre a terra, basta querer construir um mundo melhor, começando pelo nosso ambiente, nosso rio. Se nossos antepassados não pensaram em nós, isto é mais um grande motivo para assumirmos a tarefa de preparar algo melhor para os nossos descendentes.

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