No Ùltimo Volume (COMPLETO) - Divino Batista

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Copyright © 2015 by Divino B’atista

Romance preparação de texto: Divino B’atista

projeto da capa: Divino B’atista Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos, mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem a permissão escrita do autor. ..

Batista, Divino
 No último volume / Divino Batista – Belo Horizonte: Em Foco Editora – Selo Paris, 2016. 242p. ; 21 cm ISBN ..... 1. Literatura Brasileira. 2. Romance Brasileiro Juvenil. I. Título. ... …

1ª edição – Setembro – 2016 Reprodução proibida 
Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. ~6~


Prólogo Pessoas são como músicas. São feitas para que a gente ouça e compreenda. Algumas, nós gostamos desde o início. Outras, gostamos depois de um tempo. Poucas tocam a nossa vida, mas tem uma, aquela especial, que é a nossa trilha sonora. E esta, eu ouço No Último Volume.

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Lista de cantores que

mudaram minha vida:

1. Adam Lambert 2. Adele 3. Aerosmith 4. Akon 5. Alanis Morissette 6. Alejandro Sanz 7. Alexandra Burke 8. Alfonso Herrera 9. Alicia Keys 10. All Stone 11. Alphaville 12. Amanda Seyfried 13. Amy Winehouse 14. Anahí 15. Anna Kendrick 16. Anitta 17. Aretha Franklin 18. Ariana Grande 19. Austin Mahone 20. Avacii 21. Avril Lavigne 22. B.o.B 23. The Band Perry 24. Barbie 25. Barry White 26. Bastille 27. The Beatles 28. Belinda 29. Berlin 30. Beyoncé 31. Bianca Merhy 32. Black Eyed Peas 33. Bonnie Tyler

34. Boys Like Girls 35. The Bravery 36. Brian McKnight 37. Britney Spears 38. Britt Nicole 39. Bruno Mars 40. Bryan Adams 41. Calvin Harris 42. Carly Rae Jepsen 43. Carly Simon 44. Carrie Underwood 45. Celine Dion 46. Charice 47. Cher Lloyd 48. Cheryl Cole 49. Chris Brown 50. Chris Tian 51. Christina Aguilera 52. Christina Perri 53. Ciara 54. Clockwork 55. Cobra Starship 56. Colbie Caillat 57. Coldplay 58. Conor Maynard 59. Creed 60. CymcoLé 61. Cyndi Lauper 62. Daft 63. Danielle Bradbery 64. Daughter 65. David Carreira 66. David Guetta

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67. Demi Lovato 68. Dido 69. Dionne Warwick 70. Drake 71. Dream Theater 72. Dulce Maria 73. Duran Duran 74. Ed Sheeran 75. Elli Goulding 76. Elton John 77. Emily Jaye 78. Emily Osment 79. Eminem 80. Enrique Inglesias 81. Eric Berdon 82. Esmee Deanters 83. Evanescence 84. The Ex-Grilfrends 85. Far East Movement 86. Fat Joe 87. Fergie 88. Fifth Harmony 89. Filipe Guerra 90. Flípsyde 91. Flo Rida 92. Foster the People 93. The Fray 94. Fun. 95. Gabrielle Aplin 96. The Game 97. Gamu 98. Glee Cast 99. Gloria Estefan 100. A Great Big World 101. Green Day 102. Gummy Bear 103. Gun N’ Roses 104. Guru Josh Project 105. Gyn Glass Heroes 106. Hilary Duff

107. Hilltop Hoods 108. Iggy Azalea 109. Ii Volo 110. Imagine Dragons 111. Isa TKM 112. Isabella Castillo 113. James Arthur 114. James Blunt 115. James Morrison 116. Jamie Cullum 117. Jamie O’Neal 118. Jana Kramer 119. Jeson Derulo 120. Jason Mraz 121. Jay-Z 122. Jennifer Lopez 123. Jeremih 124. Jessie J 125. Jesuton 126. John Legend 127. John Lennon 128. John Newman 129. John Tyree 130. JoJo 131. Juanes 132. Justin Bieber 133. Justin Timberlake 134. Kathryn Dean 135. Katy Perry 136. Ke$ha 137. Kelly Clarkson 138. Kirsch & Bass 139. KT Tunstali 140. Kyle Casteliani 141. Kylie Monigue 142. Lay Antebellum 143. Lady GaGa 144. Lana Del Rey 145. Lane Brody 146. Lara Fabian

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147. Las Ketchup 148. Laura Bell Bundy 149. Laura Pausini 150. Lea Michele 151. Leighton Meester 152. Lena Katina 153. Lenny Kraier 154. Lenny Kravitz 155. Leona Lewis 156. Leonard Cohen 157. Lifehouse 158. Lil Jon 159. Lil Wayne 160. Lilly Wood 161. Linkin Park 162. Lisa Sommers 163. Little Big Tow 164. Lorde 165. Lucy Hale 166. Ludacris 167. Luis Miguel 168. Madona 169. Maejor Ali 170. Magic! 171. Maite Perroni 172. Maluna 173. Mandy Moore 174. Manu Gavassi 175. Mariah Carey 176. Mark Ronson 178. Maroon 5 179. Matchbox Twenty 180. Meghan Trainor 181. Melissa Gorga 182. Michael Jackson 183. Mickael Carreira 184. MIKA 185. Miley Cyrus 186. Miranda Cosgrove 187. Miranda!

188. Mister Jam 189. Mitchel Musso 190. Moby 191. Muse 192. Mystery Alaska 193. M83 194. Natasha Bedingfield 195. Naya Rivera 196. Nazareth 197. The Neighbourhood 198. Netsky 199. New Radicals 200. Nick Jonas 201. Nickelback 202. Nicki Minaj 203. Nico & Vinz 204. Nina Kinert 205. Nirvana 206. Oasis 207. Olly Murs 208. One Direction 209. OneRepublic 210. Owl City 211. P!nk 212. P9 213. Pagan John 214. Paramore 215. Paris Hilton 216. Pee Wee 217. Pez 218. Phantom Planet 219. Pharrell Williams 220. Phil Collins 221. Pitbull 222. Plan B 223. PSY 224. The Pussycat Dolls 225. Rachel Platten 226. Rascal Flatts 227. RBD

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228. Remy Zero 229. Ricardo Arjona 230. Rich Homie Quan 231. Ricky Martin 232. Rihanna 233. Rita Ora 234. Robbie Williams 235. Rod Stewart 236. Roxette 237. Rudimental 238. Sam Smith 239. Sara Bareilles 240. Sarah Brightman 241. Schiller 242. The Script 243. Selena Gomez 244. September 245. Shaki 246. Shakira 247. Shania Twain 248. Sia 249. Sidney Bowen 250. Silentó 251. Silverchair 252. Simply Red 253. Skrillex 254. Slash 255. Sleeperstar 256. Snoop Dogg 257. Snow Patrol 258. Son Of Levi 259. Sonna Rele

260. Spice Girls 261. Sugababes 262. Suzanne Ciani 263. Swedish House Mafia 264. T.I. 265. Taio Cruz 266. Tanner Patrick 267. Tash Phillips 268. Taylor Swift 269. Taylr Renee 270. Tiësto 271. Tigertown 272. Tim Mcgraw 273. Timbaland 274. Tony Bennett 275. Tony Braxton 276. Train 277. U2 278. Union J 279. Vanessa Hudgens 280. Vannessa Carlton 281. Vengaboys 282. The Wanted 283. The Weeknd 284. Whitney Houston 285. Will.i.am 286. Wisin 287. Wiz Khalifa 288. Zedd 289. 3 Doors Down 290. 3OH!3

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1 Eu estava com uma enorme dor de cabeça quando por fim a minha mãe cedeu e resolveu me entregar os seus cartões de crédito. O motivo de tanta insistência surgiu devido ao fato de que a mais nova blusa da ''Paramore'' (a minha Banda de Rock favorita) havia acabado de ser lançada nas melhores vitrines do mundo a fora, e é obvio que eu – fã assídua da banda, tremendamente fanática e totalmente Paramorenática (segundo sou chamada pela minha melhor amiga Eloísa) – não poderia ficar sem um item desses, poderia? Bem que eu tentei contar a verdade a minha mãe, mas se eu tivesse feito exatamente o que uma garota obediente faz, tenho quase certeza de que os seus cartões de crédito não estariam nas minhas mãos há essa hora. — Finalmente, Mariana, você concordou em ir ao Baile de Formatura deste ano. — pude ver um enorme sorriso amarelo transparecer em seu rosto — Tenho certeza de que você irá amar o evento estudantil desse ano, pois fiquei responsável pela decoração e tudo. — Ahã. — confirmei, tentando não parecer tão irônica no momento — Assim espero, mãe. Sei que mentir não é uma das minhas melhores habilidades desde quando decidi conseguir algo de tão valioso da minha mãe, mas… ~ 13 ~


como uma paramorenática, nada do que tiver relacionado a ética e moral fará parte disso agora. Tudo começou em 2010 quando eu tinha apenas nove anos de idade e, se não me falha a memória, nesse dia estava chovendo muito forte, era uma tempestade pra lá de assustadora. Sei disso porque foi exatamente esse o motivo pelo qual acabei trancada dentro de casa, deitada no sofá completamente solitária assistindo televisão. Eis que então, sem querer, acabei enfiando o meu enorme traseiro em cima do controle remoto, e isso certamente fez com que a TV mudasse de canal descontroladamente logo em seguida. Droga, Mariana! Logo agora que iria começar o Sítio do Pica pau amarelo, você faz uma burrada dessas? Odeio-me eternamente por ter feito isso – gritei eufórica comigo mesma (como se aquilo fosse resolver alguma coisa). Lembro-me que fiquei uma fera por causa disso, mas por fim acabei me agradecendo por ter sido tão desastrada (já explico). É o seguinte, com a mudança dos canais da TV a cabo, acabei fazendo uma das maiores descobertas da minha vida, a MTV, pois quando finalmente consegui fazer com que a TV voltasse ao normal, a primeira imagem que apareceu na tela foi a do Justin Bieber cantando e interpretando a música pela qual fez com que ele estourasse aqui no Brasil: Baby. Na época o Justin Bieber não era assim tão conhecido com é atualmente, pois no dia seguinte, quando finalmente assistir pela terceira vez o vídeo clipe e anotei o nome da música para poder ~ 14 ~


baixá-la logo em seguida, fiz uma entrada triunfal pelos corredores do colégio sendo a primeira garota a obter a música Baby em um aparelho celular. — Amigaaa, que música é essa? — Eloísa foi a primeira a perguntar — Necessito urgentemente dela, será que você poderia me passar via Bluetooth? — Mas é claro, quero que todos conheçam o meu futuro namorado. — não consegui segurar um sorriso — Ele é lindo, não é mesmo? — e acabei mostrando uma das centenas de outras fotos que eu havia baixado da internet para o meu celular. Naquele tempo cheguei até a acreditar que era – eu – a responsável pelo Justin ser tão conhecido aqui no Brasil como é hoje, pelo simples fato de levantar-me todos os dias às 6h em ponto, compartilhando no Orkut e mandando por SMS, para todas as minhas amigas, o link do melhor clipe do mundo. Convocando todos a comentar e dividir aquela belezura com pai, mãe, irmãos, primos, amigos, conhecidos e vizinhos! Eu estava completamente apaixonada pelo Justin, prometendo-me casar com ele assim que completasse os meus 16 anos de idade. Foram dois anos seguidos comprando todos os pôsteres, revistas e CDs dele, mas assim que espalharam a notícia de que ele estava namorando uma cantora e atriz da Disney, o meu mundo virou de cabeça para baixo literalmente (mas é claro, porque não havia pensando nisso antes? Eu teria que cursar Artes Cênicas e Aulas de Canto antes de me casar ~ 15 ~


com ele… Droga!). — Amigaaa, Já soube da última do seu futuro namorado? Ou seria melhor chamá-lo de ex-futuro namorado? — lembro-me perfeitamente que a Eloísa segurava uma revista da Capricho nas mãos entreaberta justo na página onde a trágica notícia estava visivelmente bem destacada. — Nããããooo… — gritei aos prantos após ter lido tudo aquilo. Depois de uma notícia bombástica dessas, passei a desligar a TV toda vez que um vídeo clipe do Justin aparecia na tela. Embora eu ainda me lembre que a pior das notícias foi ter descoberto que a minha concorrente era, nada mais nada menos, que a própria Selena Gomez. Passei a odiar um dos meus seriados americano favorito por causa disso ''Wizards of Waverly Place'' (Os feiticeiros de Wayerly Place). Pelo menos ele havia escolhido alguém há minha altura, modéstia parte. Porém, descobri mais tarde que a minha maior paixão mesmo era pela a música. As responsáveis por essa maravilhosa descoberta agora eram as minhas divas Avril Lavigne e Katy Perry. — Mãeee… deixa eu pintar o meu cabelo, por favor? Eu já tenho trezes anos. — eu implorava aos berros enquanto tentava fazê-la assistir os melhores vídeos clipes já produzidos pelas minhas divas: ''Wide Awake'' e ''Smile''. — Você parece uma maluca chorando desse jeito, Mariana! — reclamou minha mãe — Vai acabar desidratando! Elas nem sabem que você existe! ~ 16 ~


— Mas mãe, todo mundo está usando esse novo visual lá no colégio. — tentei inventar uma meia mentira a ponto de fazê-la ceder em relação a minha insistente proposta. Mas pelo visto minha mãe sempre guardava uma carta na manga. — Todo mundo? Então por que eu ainda não vi ninguém usando esse novo visual lá no meu trabalho? — minha mãe era, nada mais nada menos, do que a diretora do colégio onde eu freqüentava — Aliás, a aluna que me aparecer por lá com esse tipo de visual novo ficará suspensa até a segunda ordem. — ela engoliu a saliva antes de acrescentar — Aonde já se viu isso, será que vocês, adolescentes, ainda não perceberam que essas cantoras estão usando perucas? — Que nada, mãe, a senhora é quem devia se atualizar, sabia? A Avril Lavigne nunca usaria uma peruca. A Katy Perry até pode ter feito isso, mas a Avril não. — desabafei por fim, defendendo uma das minhas divas. Foi então que, para a minha alegria, quando o vídeo clipe ''Smile'' havia acabado, a minha maior inspiração apareceu na tela. Sim, era ela. Deslumbrante, e dona de uma voz maravilhosamente estupenda, Hayley Williams me cativou no mesmo instante (é claro que eu não sabia o nome dela quando a descobri, é obvio. Por isso é que existe a internet. Salve o Google!). Foi amor a primeira ouvida. Sendo que, o que mais me chamou a atenção foi a cor do seu cabelo: era totalmente laranja. — Olha só, não te falei, não te falei, mãe, que todo mundo estava usando esse novo visual? — ~ 17 ~


pulei feito uma maluca na frente da TV mostrando as cenas em que Hayley aparecia de cabelo laranja em ''The Only Exception''. — Que fofa essa cantora, filha, adorei essa música. Se você me pedisse para usar um estilo como o dela, eu até poderia abrir uma exceção em relação a esse tal novo visual que você tanto diz, mas… — Sério, mãe? — eu a interrompi enquanto os meus olhos brilhavam — Mas porque não poderei usar o estilo da Avril ou da Katy, a senhora tem algo contra as minhas divas? — Chega de perguntas, Mariana, você quer ou não quer usar esse visual novo? — O que a senhora acha? — tentei não parecer irônica no momento, até porque eu ainda não conseguia acreditar que minha mãe, depois de tantos nãos, finalmente tinha deixado eu pintar o cabelo. Mais tarde, de frente ao computador, descobri o porquê da minha mãe ter mudado de ideia tão rápido, ''The Only Exception'' significa ''A Única Exceção''. OH. MY. GOD. Irônico mesmo foi ter descoberto o significado da palavra Paramore (que soa idêntica a Paramour): Amante secreto. E assim, P-A-R-A-MO-R-E havia se tornado o meu amante (nada) secreto. Será que agora vocês conseguem entender por que sou uma Paramorenática? Se a cor do meu cabelo é laranja hoje, ao invés daquele loiro sem graça, é por culpa da Hayley Williams.

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♫♪♫♪ ''That's what you get when you let your heart win, whoa… That's what you get when you let your heart win, whoa…'' ♫♪ Esse era o som do meu telefone celular berrando em cima da minha cama, enquanto eu ainda procurava algo decente para sair. Afinal, não é todo dia que uma paramorenática consegue enganar a sua mãe assim tão facilmente para simplesmente obter o mais novo item da sua banda predileta. — Amigaaa, finalmente uma notícia boa, hein? — Eloísa berrava do outro lado da linha quando finalmente peguei o aparelho e o coloquei sobre a orelha — Porque não me avisou antes? Você sabe o quanto odeio ser a ultima a saber das coisas, não sabe? — Do que você está falando, Eloísa? — Ai, sua besta! Não vai me dizer que você já desistiu de comparecer ao Baile de Formatura, desistiu? — pude sentir uma mudança no seu tom de voz, era como se ela passasse de eletrizante para totalmente decepcionada — A sua mãe mau me avisou que você iria. Argh! Não me faça ficar triste outra vez, Mariana, por favor. Você sabe o quanto eu gostaria que você fosse, não sabe? — O quê? Como assim a minha mãe te avisou? — eu realmente havia sido pega de surpresa. A minha mãe não tinha nada que ter contado para a Eloísa sobre eu ter concordado em aparecer ao Baile de Formatura, mas, como ~ 19 ~


sempre, a emoção fala mais alto, e quando dou por mim, toda a vizinhança já estar sabendo da novidade. — Ué, Mariana, ela apenas telefonou para perguntar se eu estava sabendo de alguma coisa, tipo: por qual motivo de você ter finalmente aceitado ir ao Baile de Formatura deste ano. Daí eu respondi que ainda não estava sabendo de nada disso, e que certamente iria te ligar para perguntar o motivo. Depois ela desligou. Você sabe como a sua mãe é controladora, não sabe? Aliás, falando em controlar, você não vai acreditar no número de visualizações que o ''The only exception - cover by Mariana'' alcançou durante esses sete últimos dias… — Quantos? — perguntei, pra lá de curiosa. Afinal, não fazia ideia do número de pessoas que haviam visualizado o mais novo vídeo, que por sinal, não seria o último no meu canal ''PARAMOUR'' no YouTube. — Preparada? — acrescentou, tentando fazer um breve suspense. — Espera só um momentinho… — respirei fundo, entrando na brincadeira — Agora sim, estou preparada. — Vamos lá, então… — eu a interrompi antes dela começar a falar novamente: — Calma! — gritei, jogando as blusas que eu havia retirado de dentro do meu guarda-roupa antes de atender o telefonema da Eloísa, ligando o meu computador de mesa logo em seguida — Agora você já pode falar, criatura. Como você já deve ter percebido, ~ 20 ~


certamente eu não iria acreditar em nenhuma palavra da Eloísa (mesmo sendo best-friends e tudo mais), por isso, tratei logo de me certificar pessoalmente. Abri o link no mesmo segundo e aguardei a página carregar, sem nem piscar os olhos. A velocidade da internet era uma droga, então fiquei observando os elementos surgirem lentamente na tela…

_________________________________ * É isso que você ganha quando deixa seu coração ganhar, whoa É isso que você recebe ao deixar seu coração ganhar, whoa

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2 Argh! Odeio pessoas sem criatividade, mortas de espirito e, principalmente, sem compaixão pelo próximo. É o cúmulo do impossível alguém não conseguir gostar dos meus vídeos no YouTube. Todo mundo sabe como é difícil ficar esperando por horas e horas para finalmente poder publicar um vídeo no meu canal ''PARAMOUR''. É quase um milagre quando o botão PUBLISH aparece disponível, esperando apenas que o mouse dê um click ali em cima. E depois de pronto, com o pensamento positivo lá nos 99,99% de esperanças de obter 1 milhão de VIEWS (visualizações) em uma semana, você vai lá toda esperançosa e descobre que apenas 3 pessoas visualizaram. Isso é, apenas 1 Curtiu, 2 Gostaram do meu vídeo e nenhum comentário sequer. Como podem existir pessoas nesse mundo com esse tipo de desprezo ao próximo? Deus deixou isso bem claro na bíblia: ''amar o próximo como a ti mesmo''. Cadê? Cadê o amor que Deus pediu, seres humanos? Hein? Custava levar a mão no mouse e centralizar a seta em cima da palavra COMPARTILHAR, CURTIR, e COMENTAR? Sem mencionar o quando dá um trabalhão ~ 22 ~


ter que divulgar o vídeo para todos os meus ''amigos'' do meu Facebook – todos anônimos, tanto nas relações financeiras quanto nas fraternas (porque, Deus que me livre, como é que uma pessoa tem tantos amigos em uma rede social, mas quando se está em prantos não vem um se quer ajudar a limpar suas lágrimas?). Até entendo que não sou assim tão POPULAR como eu queria, mas, pelo amor de Deus, Brasil, Planeta, Galáxia, Universo, cadê a compaixão? Onde é que foi parar o amor ao próximo? Quero ser FAMOSA, será que vocês não entendem isso? Tudo bem, Mariana, respira! Conte de 1 a 1.000 que tudo passará (como se alguém fosse conseguir contar até mil). — Olááá? Terra chamando Mariana! — Eloísa ainda berrava do outro lado da linha — Você ainda está aí, amiga? Responde. — Nossa, não consigo acreditar que o meu vídeo só conseguiu obter 3 visualizações. — realmente eu estava decepcionada com o mundo virtual. Não apenas pelo fato de não ter conseguido um número de visualizações decente como eu esperava, mas porque no dia anterior da gravação do clipe eu havia inventado uma outra meia mentira para conseguir arrancar dinheiro o suficiente da minha mãe para finalmente ter a honra de poder comprar um lindo vestido de cor preto rodado, e volumoso, especialmente para ter certeza de que eu estaria bem vestida nesse clipe. O que certamente não adiantou em nada. ~ 23 ~


Droga! — A culpa é toda sua, Mariana! — prosseguiu Eloísa, quebrando o silêncio que havia se instalado por pelo menos vinte segundos depois dessa trágica descoberta — Ninguém mandou você ter tanta certeza assim de que os garotos iriam adorar o seu novo visual, enquanto você cantava perfeitamente a letra em inglês sem errar nenhuma palavra… — eu a interrompi, dizendo: — Não! — neguei, com toda certeza — Que culpa eu tenho se os garotos de hoje, em pleno século XXI, não conseguem notar o talento que nós, meninas, temos a oferecer? — Concordo plenamente, amiga. Além do mais, nenhuma garota é capaz de fazer o que você faz. Aliás, não é qualquer garota que segue os passos de todos os cantores e autores desse mundo como você, amiga. Me sinto privilegiada de ser a sua best-friend. Certamente a Eloísa estava repleta de razão. E daí se o meu vídeo só teve apenas três visualizações no YouTube? Ninguém consegue seguir os passos dos cantores internacionais e nacionais, atualizar um blog diariamente, ler todos os livros já lançados e os que acabaram de ser lançados, resenhá-los lá no blog em seguida, decorar todas as músicas internacionais e nacionais, gravar vídeos, editá-los, postá-los, divulgá-los, e ainda conseguir levar uma vida pra lá de normal ao mesmo tempo. Realmente sou uma adolescente incrível aos dezesseis anos de idade. — Falando em autores, vou aproveitar que já liguei o meu computador e checar se algumas ~ 24 ~


das minhas escritoras lançaram algum livro novo. — Antes disso será que você poderia me revelar o motivo de ter aceitado ir ao Baile de Formatura deste ano, amiga? — Eloísa gritou antes do link abrir. Enquanto eu esperava a página do blog carregar, aproveitei para desabafava fielmente com a Eloísa, revelando o porquê de ter dito a minha mãe que eu participaria do Baile de Formatura deste ano, e… — Pelo visto você vai acabar não encontrando essa nova blusa da Paramore, amiga, se você continuar aí lendo todos os comentários do seu blog. — ouvi gritos que pareciam ser da mãe dela tipo: Eloíííísaaaa — Tenho que ir agora, amiga, se não a minha mãe irá acabar me matando por eu não ter lavado as louças do almoço como eu prometi, se ela me desse de presente o livro que você me indicou lá no blog. — Vai lá, amiga, afinal você está precisando. — Me deseje sorte. — e antes dela desligar ainda teve a honra de acrescentar — E para de enrolar e vá logo atrás dessa nova blusa, amiga, antes que você acabe ficando sem ela. Bufei, e acabei optando por uma calça jeans um pouco mais escura e uma blusinha de pano fino roxa. Teria que servir. Era só me maquiar, pentear o cabelo, pôr um All Star no pé e pronto. Não importava quantas roupas eu colocasse, quão perfeita eu ficasse, eu ainda não tinha o novo item do Paramore nas minhas mãos, ninguém tinha ainda na verdade, e isso nenhuma garota Paramorenática pode agüentar. Afinal, eu tenho ~ 25 ~


roupas legais, cintura 36 e o poder de ficar perfeita independente do que se coloque no corpo! O que mais eu poderia querer (além do novo item do Paramore, é claro)? Por fim, enfiei tudo de que iria precisar numa mochila, tentando ao máximo não amassar nada, e a coloquei nas costas. Peguei o dinheiro do ônibus, o celular, os meus documentos, dei um tchau rápido pra minha mãe e fui.

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3 Finalmente instalada na confortável poltrona, assim que entrei no ônibus, respirei fundo e deixei que o cheiro gostoso de diesel queimado adentrasse minhas narinas, antes de pegar o celular na mochila para que pudesse escutar alguma música da Paramore. Acabei optando pelo segundo álbum da minha banda preferida, o Riot!! Que é um dos melhores álbuns que esse mundo já teve a honra de ouvir, se você quer compartilhar da minha opinião. As músicas são animadas e enevoadas, ótimas para se escutar em um ônibus, onde eu, milagrosamente, não estava viajando em pé. Isso parecia bom. Agora, eu só precisava fechar os olhos por alguns minutos, esperar a reprodução mp3 do celular atingir a faixa 10 (Fences), e descer do ônibus assim que eu avistar a nova blusa da Paramore estampada na primeira vitrine de qualquer uma dessas lojas, sem dor nas pernas dessa vez. Olha. Isso não estava tão ruim assim. Não, até, é claro, alguém arrancar um dos meus fones de ouvido no meio da faixa cinco (uma das melhores na minha opinião, When it Rains). Virei-me para matar. — Oh meu Deus, Mari! Mariana Carey! — oi? Como é? O cara pálida que eu ia matar me ~ 27 ~


conhecia? — Cara, é você mesmo! Quanto tempo, hein? Devo ter olhado para ele com a maior cara de… ''de onde diabos você surgiu?'', porque ele sorriu e perguntou: — Não se lembra de mim? Franzi o cenho, olhando para o garoto que ainda me encarava, sorrindo. Ainda sentia vontade de matá-lo, e fiz questão de deixar isso bem explícito em minha expressão. Também na minha educação. De modo que respondi, apenas: — Não. E recoloquei meu fone bem lentamente, subtendendo: e não puxe esse fio de novo, seu grande filho de uma vaca gorda. Aonde foi que você tirou essa ideia de me irritar justo agora que uma das melhores canções da minha banda predileta estava tocando? O rapaz sorriu de novo, mas acho que captou a mensagem subtendida, pois não retirou meus fones. Bom para ele. Com os fones, Hayley Williams gritando em meus ouvidos, Paramore tocaram sua música a todo vapor. O que não pôde impedir que eu escutasse a voz do rapaz ao meu lado: — Fiz a quarta série com você. — ele tentou mais uma vez, retirando minha mochila que estava milagrosamente descansando no banco ao lado para se sentar. Sair com uma mochila nas costas cansa, sabia? No entanto, o que mais chamou minha atenção foi como ele usou a cabeça para me ~ 28 ~


distrair enquanto ocupava o banco ao lado. Muito espero você, hein? Aproveitando que a minha mochila estava ali para mencionar que estudava comigo! Como se, alguma vez na vida, eu tivesse frequentado um hospício. E eis que surge mais um motivo para que eu desejasse matá-lo de uma vez, pois, além disso, não me lembro de ter dado oportunidade alguma a ele para invadir a minha privacidade como passageira. Submetendo a me manter no controle no segundo seguinte, varri qualquer pensamento diabólico do tipo ‘’como matar esse garoto dentro de um ônibus evitando ser presa em seguida’’, pois nem tinha visto que, em poucos minutos, o corredor do ônibus já estava super lotado de passageiros. — Matheus Figueiredo. — ele prosseguiu, enquanto eu ainda o encarava. Foi nesse momento que pequenos fragmentos de lembranças surgiram em minha mente, devolvendo quase setenta e oito por cento da minha memória — Não lembra mesmo, nem um pouquinho? Ai, meu Deus! Não pode ser quem eu estou pensando que é, pode? OH. MY. GOD. Por incrível que pareça é ele mesmo, o único, o insubstituível, o próprio Matheus Figueiredo em pessoa. Culpado pelo meu maior sofrimento amoroso. O garoto pela qual dei o meu primeiro selinho por não suportar ser chamada de BV (como chamam aqueles que nunca beijaram na vida: ou seja, boca virgem) antes dele se mudar para um outro colégio aqui da capital. ~ 29 ~


— Como você mudou, está mais… — ele parou de dizer por alguns segundos enquanto me olhava de cima a baixo. — É, eu sei! Estou mais apresentável do que a cinco anos atrás, certo? Você também mudou, sabia? Está mais… — parei por ai mesmo, antes de acabar cometendo uma burrada dizendo: bonito e charmoso. A verdade é que o Matheus estava muito mais lindo do que eu imaginava que ele acabaria se tornando quando ainda estudávamos na quarta série. E para ser bem sincera mesmo, bonito era pouco para aquela perfeição que agora estava sentado bem ao meu lado. — Na verdade mesmo eu iria dizer ''radical''. Já pintou até o cabelo de laranja. — ele sorriu em seguida, mostrando as covinhas — Gostei dessa cor. Está parecendo a Hayley Williams. OXIGÊNIO, CADÊ VOCÊ QUANDO EU MAIS PRECISO??? Como assim, o Matheus conhece a Hayley? Será que ele também é um Paramorenático como eu?

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4 — Aceita tomar um milk-shake? Eu pago. — ele sorriu gentilmente assim que descemos do ônibus. — Claro! Por que não? — tentei parecer normal, enquanto me segurava para não insultá-lo com um pequeno comentário ofensivo sobre eu estar com os cartões de crédito da minha mãe e por isso ele não precisaria pagar absolutamente nada. Não me interprete mal, não sou egoísta, de maneira alguma, apenas não acho certo os garotos ficarem bancando as garotas de hoje. Isso é meio clichê. E até demais. Além do mais, Hello? Garotas do século XXI, não precisamos disso, somos independentes, lembram? Por mais que eles sejam LINDOS, e irresistíveis, mantenha o total controle, o.k.? Ele me agarrou pelo braço, me guiando em direção a uma das dez mesas desocupadas, enquanto eu o encarava em um só suspiro, assim que adentramos em uma sorveteria qualquer na primeira esquina. Ele ainda fez questão de puxar a cadeira para que eu pudesse me sentar, acenando em direção ao balcão em seguida para fazer o pedido. — Já vão pedir? — perguntou a garçonete. — Uma banana split e uma coca-cola, por ~ 31 ~


favor. — falei e Matheus me olhou surpreso. Já que eu estava em uma sorveteria, por que não pedir logo algo que me agrade, não é mesmo? A garçonete anotou meu pedido, encarando meu acompanhante em seguida. — O mesmo pra mim, por favor. — Matheus sorriu enquanto pedia e a garçonete anotou, nos deixando a sós novamente. — Pensei que iria pedir alguma coisa light. – ele respondeu, ainda surpreso. — Não gosto de ficar me incomodando com o que comer. Não ligo para o que os outros pensam, obviamente, mas eu corro duas vezes por semana. E mesmo que eu quisesse ou tentasse, eu não engordaria. Essa é uma das minhas qualidades. — sorri sem mostrar os dentes. Não sei por que, mas me senti um pouco nervosa — E, por favor, não me olhe assim. — Às vezes, eu chamo uma garota pra sair e ela pede água. — ele não desviou o olhar, certamente achando que me intimidaria — Eu fico irritado e acabo indo embora. — pude ver um sorriso torto em seus lábios — Não faz nenhum sentido convidar alguém, se ela não come nada. — ele diz e eu acabei rindo com o desabafo. — Então o que você gosta de fazer? — perguntei quando nossos pedidos chegaram. — O de sempre, mas... eu odeio! — falou — E você? — Ler, ouvir música, cantar. No chuveiro, é claro. — falei. — Que tipo de música? — perguntou. — Sou totalmente eclética, mas sempre tem ~ 32 ~


aquela fase em que ficamos presos a um ritmo apenas, e no momento é o Rock — falei e mais uma vez ele me olhou surpreso — Que tipo de rock? — perguntou. — U2, Nirvana, Rascal Flatts. — respondi, empolgada — Mas ultimamente estou ouvindo muito Paramore. Tipo, muito meeesmoo. — Cara, que legal, você também curte Paramore. — prosseguiu, ainda mais radiante. — Como não curtir? É a melhor banda do mundo! — tentei segurar um meio sorriso, mas acabei falhando vergonhosamente. — Meu Deus, quando eu vou achar outra garota tão bonita, que gosta de banana split com coca-cola, rock e que, principalmente, curte a mesma banda que eu? Sorri, e completei: — E de carros. — ao dizer isso, ele me olhou um pouco surpreso e assustado. Não sou do tipo ‘’interesseira’’, mas eu já não aguentava mais andar de coletivo. Essa é a verdade. Eu não via à hora da minha mãe tirar a carteira de motorista e comprar o nosso próprio carro. Oh, Deus, porque não temos um carro? — Quer casar comigo? — perguntou e eu ri alto. Eu sabia que aquilo era brincadeira, mas, por algum motivo parei quando o pensamento de que talvez pudesse vir a ser verdade me consumiu. No entanto, caso algum dia eu tenha que escolher com quem devo me casar, obviamente eu escolheria um que tivesse seu próprio automóvel, porque pegar o coletivo é um saco. E, pelo que eu ~ 33 ~


sei, o Matheus também não tinha automóvel algum. Super bem vestido por sinal para um simples passageiro, eu admito, mas não tinha. — Acho que isso é um não. — ele devolveu o sorriso pelo canto da boca. — Ainda não consigo acreditar que os irmãos Faro tocavam na garagem depois da escola. — tentei mudar de assunto, pois notei que o clima havia pesado. E deu certo. — Pena que eu não tive oportunidade de tocar nenhum instrumento em uma garagem.— consegui ver um sorriso crescer em seus lábios — Já imaginou quão legal seria fazer isso? — ele sorriu ainda mais, pensativo. — Talvez não fosse necessário mudar de cidade. — sugeri sem pensar, pois não queria perdê-lo outra vez. Era gratificante diverti-lo. — Como assim? — ele me olhou confuso. — Você não conhece a história? — desta vez quem ficou confusa fui eu — Que eles só chegaram a conhecer a Hayley pelo fato dela ter se mudado de cidade? — tentei parecer convincente, falhando milagrosamente outra vez já que ele sorriu bastante desta vez. ''Mariana, Mariana, cadê o seu poder de controladora?'' pensei enquanto ele ainda sorria pra mim (ou de mim). Eis então que decidi jogar as cartas na mesa logo de uma vez — Afinal, por onde você andava esse tempo todo? Não que fosse da minha conta, de maneira alguma, mas, de toda forma, eu deveria saber o que aconteceu após aquele nosso beijo. Eu merecia saber se ele tinha sofrido como eu sofri. Ou se ao menos se lembrara da garota pela qual lhe deu a ~ 34 ~


chance de não ser rotulado de BV outra vez (ou quem sabe, pelo resto da vida). — Por nenhum lugar onde eu tenha me dado bem, se é isso que você quer saber. — toma, Mariana. Isso é pra você aprender a não ser tão intrometida — Mas… sabe de uma coisa, Mari? — continuou ele, agora me olhando timidamente. Ai, meu Deus! Seguuuura coração! Ele não vai dizer o que eu estou pensando que ele vai dizer, vai? Ai, ele vaaai, vai siiiim, e é agooora — Desde aquele dia em que nós… você sabe, nós… quando demos o nosso primeiro… — Beijo? — acrescentei, nervosa. — É, o nosso beijo. — ele sorriu envergonhado e logo corrigiu — Quero dizer, nosso primeiro e último beijo, se é que você me entende. — Ai, Matheus, naquele dia eu não sei onde eu estava com a cabeça, sabe? — ''mas o que é que você está falando, Mariana? Você sempre quis beijálo, e agora vem com esse papinho de que…'' — Já não suportava mais ser chamada de BV, e certamente você também não, e eu sei que parecia uma boa ideia na época, mas já passou. É passado. Não se preocupe com isso. Sim, eu tenho milhaaares de defeitos, alguns medos, e vááários problemas. Mas e daí? — Isso não estava me incomodando, Mari, de modo algum. — ele parou para segurar minhas mãos que estavam sobre a mesa — Eu só acho que deveria… — Sei que existe alguma coisa incomodando você. — lancei aquele olhar de ''nunca mais faça ~ 35 ~


isso, certo?'', senti um arrepio constante naquele momento e retirando minhas mãos debaixo das dele senti meu rosto corar. Droga, Mariana, agora não! Tudo bem, eu adoooro pessoas que me deixam sem saber o que dizer, mas… como expressar nas palavras, os gestos que eu queria fazer, as coisas que eu gostaria de ver, os belos amanhecer e entardecer? Vocês sabem, não sabem? Não? Não tem problema, mas, será que ninguém vê o caos em que vivemos? — Nossa... Já são nove da manhã. — falei surpresa, olhando no celular. — Já? — ele pareceu perdido — Parece que nós acabamos de nos sentar. — É o que acontece quando estamos ao lado da pessoa certa! — brinquei, citando uma das frases que eu tinha lido recentemente de um blog chamado ‘’Lições de Amor’’, cujo a autora adorava usar crônicas como desabafo. — Desculpa ter quer sair agora, Mari, mas é que eu preciso ir. Você entende, não entende? — disse ele olhando desesperadamente para o seu relógio de pulso. Era como se o Matheus estivesse atrasado para algo importante, sabe? E é lógico que eu não poderia atrapalhá-lo em uma situação dessas, né? — Claro que não, Matheus, o que isso! — tentei parecer o mais convincente possível desta vez. O que certamente deu certo já que agora ele se encontrava de pé sobre a mesa em menos de dois segundos. — Devíamos nos esbarrar outras vezes, ~ 36 ~


sabia? Adorei conversar contigo novamente, Mari. — ele me deu um beijo na bochecha. — Bobo, também adorei conversar contigo. — não sei aonde eu estava com a cabeça, mas quando dei por mim, estava completamente derretida com aquele beijo (mesmo que tenha sido apenas na minha bochecha). Pelo visto o tempo não mudou nadinha o Matheus, pois ele ainda continuava sendo muito atencioso (sem comentar o quanto ele está mais lindo do que aparentava ser). Droga! O que é que eu estou falando? — Acho que para isso acontecer, precisaremos estar mais próximos do que estivemos nesses últimos dias. — ele agarrou um guardanapo e começou a escrever rapidamente com uma caneta esferográfica que se escondia entre os bolsos daquele blusão azul-marinho — Aqui está. — ele me entregou o pedaço do guardanapo — Esse é o número do meu telefone. Me chama qualquer dia desses lá no WhatsApp, certo? — e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele se virou em direção a placa escrito ''exit'' visivelmente bem destacável, desaparecendo rapidamente entre a multidão. Como o Matheus era atencioso e… inteligente, meu Deus! Como não pensei nisso antes?!

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5 ♫♪ ♫♪ I miss you I miss you so bad I don't forget you Oh! It's so sad. I hope you can hear me I remember it clearly. The day you slipped away Was the day I found It won't be the same.

♫♪ Eu chorava constantemente ouvindo ''Slipped Away'', da minha diva Avril Lavigne antes de entrar na primeira loja (Claro que eu deveria escolher algo meloso para lembrar do Matheus, o que mais eu poderia fazer?), mas não era aquele choro de inundar rios e rios de lágrimas, estava mais para aquele choro de quando você descobre que alguém muito especial decidiu se mudar para bem, mais bem, mais bem looonge mesmo. O que certamente era o caso, já que foi exatamente isso que separou o Matheus de mim. Ele havia mudado de Colégio e não de cidade, é claro, mas já era o suficiente para não nos aproximarmos mais. No entanto, eu chorava por outro motivo. Ou melhor, ~ 38 ~


pelo o que acabara de acontecer. Acredita que depois daquela pressa toda, o Matheus acabou esquecendo de pagar a conta? Era só o que me faltava! Quero dizer, não que eu esperava que ele pagasse a conta, tinha motivos satisfatórios para não pensar em tal coisa, e… Resumindo: não preciso disso. Corrigindo: não preciso que nenhum garoto pague coisa alguma pra mim, os cartões de crédito em minhas mãos (melhor dizer, na minha bolsa) era o suficiente para provar isso (pelo menos não enquanto estivesse com eles). Mas, de toda forma, isso só me ajudou a pagar o maior mico na frente dos outros clientes ali presentes. Confesso que acabei não prestando tanta atenção assim se o Matheus havia pagado ou não a maldita conta, por culpa daquele imprevisto e maravilhoso beijo que minhas bochechas receberam a pouco menos de um minuto. E por isso, segui em direção a saída também, logo atrás dele, enquanto guardava o pedaço do guardanapo na minha bolsa. Mas, como vocês já devem ter percebido, antes que eu pudesse chegar até a porta, senti uma mão gelada (caramba, aquela mão era pra lá de gelada) segurar fortemente o meu braço. — Aonde a senhorita pensa que está indo? — ela me encarava toda eufórica. — Ora essa! Quem a senhora pensa que é pra me agarrar desse jeito? — eu a encarei bufando de raiva — Poderia me soltar, por favor? A senhora está me machucando. ~ 39 ~


— Primeiro que eu não penso, eu sou a dona dessa sorveteria. — então começou a soltar o meu braço lentamente enquanto falava — E segundo, a senhorita não acha que seria melhor pagar o que deve primeiro, ao invés de sair sorrateiramente sem me pagar? Foi nesse momento – e da pior forma possível – que me lembrei que ainda não havíamos pagado a conta. — M-me perdoe-me, m-minha senhora! E-eu juro que não pretendia fazer isso… — tentei dizer, enquanto o meu rosto corava diante dos olhares que me cercavam. Fiquei completamente vermelha como um pimentão nessa hora. Senti tanta vergonha. Até gaguejei. No mesmo instante, retirei os cartões de credito da minha mãe de dentro da minha bolsa, deixando-os visivelmente a mostra. — Que tipo de garota é você, afinal? — a dona daquela espelunca me encarou de cima a baixo quando finalmente paramos. Odeio quando as pessoas fazem isso! — Você pretende pagar os dois milk-shakes com cartão de crédito? — E porque não? — dei de ombros — Vocês não aceitam cartões de crédito como forma de pagamento, é isso? Ela me encarou por um tempo como se eu fosse uma alienígena, antes de abrir a boca outra vez e dizer: — Ainda estamos no século XXI, garota, não me diga que não tenha nenhum trocado nessa sua bolsa? — Não senhora! — objetei. ~ 40 ~


— Mas é claro que não, garota. Afinal, para quem não tinha a mínima intenção de sair sorrateiramente sem pagar, até que você me enganou direitinho, sabia? — me senti ofendida com o seu comentário. O que ela quis dizer com isso, afinal? — Isso significa que não? — tentei não parecer medrosa perante essa situação. Além do mais, não estava nos meus planos ter de lavar louças como forma de pagamento. Não que eu não tenha lavado louça uma única vez na vida, mas, por dois míseros milk-shakes? Isso era o apocalipse! Aos finais de semana minha mãe sempre dizia: — Hoje é o seu dia de organizar o apartamento, Mariana. — aquela voz autoritária de sempre — Assim, você evitará… Chega! Essa já é uma outra história que não vem ao caso. Quero dizer, prefiro não comentar isso agora, certo? Tenho coisas mais importantes para resolver no momento. Eu ficaria presa naquele lugar por culpa de dois míseros milk-shakes? É isso mesmo, Brasil? Que espécie de lugar é esse que não aceita cartões de crédito como forma de pagamento? Matheus, seu filho de uma vaca gorda, olha só no que você me meteu? – pensei exasperada. A dona daquela espelunca me encarava com tanta frieza, que comecei a imaginar que ela não só me colocaria para lavar as louças, como também, me obrigaria a lavar o chão. E o pior, com uma escova ~ 41 ~


de dentes nas mãos, igual as vilãs dos meus livros fazem com as princesas. Argh! Me arrepiei só de pensar. — Olha, garota, o número de clientes que tentam me passar a perna é do tamanho de um oceano, e eu até já perdi as contas de quantas vezes tentavam me enganar com suas desculpinhas esfarrapadas. — ela me encarou severamente — Mas desta vez eu não usarei a máscara de cidadã boazinha, quero dizer, ou você paga com dinheiro vivo, ou então, terá que… — o telefone fixo em cima do balcão a interrompeu tocando escandalosamente — …só um minuto. — ela agarrou o telefone e o colocou sobre a orelha — Sorveteria do Amor, em que posso ajudar? — ela parecia uma secretária enraivecida por ter que passar a maior parte do tempo atendendo aos telefonemas de uma empresa (e… como assim 'sorveteria do amor'? Ali não tinha nada de amor, principalmente na forma como fui tratada) — Sim. Entendo. Claro. Pode deixar. Não, senhor Figueiredo, já compreendi o ocorrido. Certo. Obrigada. — e desligou agarrando um bloco de anotações. Era impressão minha, ou ela disse ''senhor Figueiredo'' ao telefone? — Você está liberada. — e finalmente me olhou, após ter guardado o seu bloco de anotações — Pode ir embora, garota. — Posso? — eu meio que quase gritei ao dizer isso. Isso significa que eu não teria que lavar nadinha de nada, e muito menos esfregar o chão. ~ 42 ~


Não que eu fosse esfregá-lo se caso não tivesse sido liberada dessa forma. Hello? Os cartões de credito foram feitos para o quê então? Certamente eu teria que ser liberada, de um jeito ou de outro, mas… como assim? O que aconteceu para fazê-la mudar de opinião de uma hora pra outra? — Como assim eu posso ir embora? — perguntei um pouco apreensiva. — Para a sua sorte, o senhor Figueiredo me ligou e alertou sobre o ocorrido e disse que seu filho havia sido convocado para uma reunião importantíssima da empresa, mas que acabou se atrasando um pouco. Disse também que o jovem revelou por onde andava antes de aparecer por lá e que no embalo acabou esquecendo de pagar a conta. Neste caso, o que eu creio, você estava acompanhada do filho do senhor Figueiredo, e pelo que entendi, você não tem culpa de nada. Ele me ligou para acertamos a conta, e acrescentou que você não tinha culpa do que aconteceu porque foi convidada. Obviamente devem ter se lembrado dos meus bons modos de recepção com certos tipos de clientes que saem sem pagar a conta. — e sorriu de si mesma antes de continuar — Adorável o senhor Figueiredo, você não acha? — e me encarou aliviada. Matheus, seu filho de uma vaca gorda, eu poderia te matar por ser tão burro e tão inteligente ao mesmo tempo, sabia? Aliás, como você fez isso? — Não vejo porque te manter presa aqui, garota. — a moça ainda estava sentada em sua cadeira antes de se levantar — Como eu disse, e ~ 43 ~


repito, pode ir embora. Não consegui responder, apenas tentava assimilar o quão bonito e atencioso o Matheus era. Foi então que recoloquei os meus fones de ouvido e soltei a faixa melosa da minha diva Avril: Slipped Away. ♫♪ ♫♪ — Você tem o que eu quero? — perguntei um pouco sem paciência para a vendedora que me encarava como se eu tivesse entrado na loja errada. Ela já estava me deixando um pouco estressada. — Acho que sim! — ela parecia confusa — Não compreendi nada do que disse enquanto chorava. Será que você poderia repetir novamente? Era só o que me faltava! Além de ter passado um sufoco danado naquela maldita sorveteria do 'amor' (que não tinha absolutamente nada de amor ali), ainda por cima eu tinha que fazer a minha entrada triunfal pela loja aos prantos?

_________________________________ * ''Sinto sua falta/ Eu sinto a sua falta/ Eu não esqueço você/ Ah! É tão triste.//Espero que você possa me ouvir/ Eu me lembro claramente.// O dia em que você partiu/ Foi o dia em que eu percebi/ Que nada mais será igual.''

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6 — Ei, garota, eu estou falando com você! — a vendedora de cabelos loiros me lançou um olhar tão reprovador, que eu a amaldiçoei por ter feito isso — Será que você poderia repetir o que disse? Deixei o assunto de lado assim que olhei para a vitrine. Ah! Tantos modelos, tantas possibilidades ao meu alcance — desde que parcelassem no cartão de crédito, claro. Sentia-me como uma criança numa loja de brinquedos. — E-eu q-queria saber se chegaram os novos modelos de blusas Modas Fashion? — tentei não gaguejar, enquanto limpava as lágrimas. Mariana, Mariana, o que deu em você? Está mais fresca do que o normal, sabia? — Porque não disse isso antes? — prosseguiu a vendedora enquanto sorria gentilmente — Venha! É por aqui. — e me mostrou as imensas pilhas de blusas presas em cabides. — Sinta-se a vontade. — e me deixou sozinha. Fiquei ali parada, diante das múltiplas opções. Todas as blusas eram da Paramore, o que me deixou ainda mais indecisa no quesito ter que escolher apenas uma. Droga, Mariana! Nesse momento lembrei-me de uma frase que a Eloísa costumava dizer sempre que desejava ~ 45 ~


algo além do que era capaz de pagar, enfatizando como era duro ser pobre: — Ai, sua besta! Duro não é ser pobre, Mariana, duro é ser pobre e ter bom gosto! Não levou mais de dois segundos para que outra vendedora – agora de cabelos castanho-claro – aparecesse ao meu lado. — Procurando por algum modelo em especial, querida? — ela perguntou com sua voz suave. — Hum... Não. Quero dizer… Sim! — Me sentirei útil em ajudá-la. — um sorriso transpareceu em seu rosto de porcelana. — Estou a procura de um modelo novo, sabe? Da melhor Banda que esse mundo já viu. A banda das bandas. A única banda que possui uma vocalista linda, carismática, linda, e com uma voz maravilhosamente impecável-avassaladora e de anjo. Ela também é responsável por essa belezura de cabelo que é o meu. — soltei de uma vez só, sem recuperar o fôlego — Já ouviu falar na Paramore? Eu ri e esperei que ela fizesse o mesmo, mas a vendedora de cabelos e olhos castanho-claro e bonitas feições não achou graça na minha brincadeira. Seu rosto de repente ficou pesaroso e eu comecei a ficar um pouco tensa. — Você tem o que eu quero? — perguntei um pouco apreensiva. Ela estava me deixando um pouco estressada. — Acho que não entendi o que disse, mas pelo o que notei, você procura algo relacionado à Paramore, não é mesmo? — e me lançou um olhar ~ 46 ~


de súplica. Assenti com a cabeça. Um sorriso apareceu em seu rosto novamente. — Certo. — e me entregou os diversos modelitos novos, me indicando os provadores ao nosso lado esquerdo logo em seguida — Sinta-se a vontade. — e me deixou sozinha. Segui rumo ao provador e me tranquei lá dentro. Só Deus sabe como eu adoro experimentar roupas. Experimentar, comprar, tudo isso me deixa alegre. Eu nasci pra ser consumista, e definitivamente tinha sido feita pra ficar horas e horas trocando de roupa pra me olhar num espelho. Como sempre, depois de provar milhões de peças de roupa, todas elas pareciam perfeitas pra mim, o que certamente me fez ficar em dúvida em qual delas escolher. Afinal, eu não poderia comprar mais do que o esperado, minha mãe saberia quando fosse tirar o extrato bancário, por isso apenas uma delas teria que servir! Eu não tinha tempo para escolher, mas ainda me restava muita paciência pra arranjar alguma coisa nova, única e original, sabe? Nesse momento, Eloísa me ligou, causandome um pequeno susto. Certamente ela queria detalhes sobre eu ter ou não conseguido a blusa da Paramore. Contei tudo o que aconteceu durante o caminho até a loja: da conversa desnecessária com a dona da soverteria minutos depois do encontro com o Matheus, sobre o seu número de telefone registrado no guardanapo, e até o momento em que ~ 47 ~


ele se demonstrou satisfeito por me encontrar dentro do ônibus. — E se ele não me ligar? — perguntei insegura. Afinal, depois que o Matheus se mudou para um outro colégio, dificilmente tínhamos um assunto decente para dialogar no dia seguinte. — A vida segue, você não vai morrer e, bonitona do jeito que é, vai encontrar alguém rapidinho. — Eloísa não me pareceu nada eletrizante como imaginei que ela ficaria assim que contasse a ela sobre o meu reencontro com Matheus — Alguém que valha a pena, é o que quero dizer. — O Matheus vale muito a pena! — garanti, convicta de que o Matheus é um cara diferente comparado a todos os outros garotos que conheci depois dele ter me abandonado. — Ai, sua besta! Você entendeu o que eu quis dizer, não entendeu? — ela berrou, furiosa. Respondi que sim — Então, porque é que você complica tanto? — Quem está complicando algo nessa história não sou eu, sua espertalhona. Eu só disse que o Matheus era o cara certo. E foi você quem veio mudando de assunto. — tentei parecer normal, não gosto de dar sermões por telefone. Principalmente se tratando da Eloísa no outro lado da linha. — Tudo bem, chega de conversa fiada. Sabe o que você poderia fazer, Mariana? Não sei se você se lembrou, mas, amanhã é o meu aniversário. Caso queira aproveitar a oportunidade de estar em uma loja, você bem que poderia escolher um ~ 48 ~


modelito ao meu alcance, sabe? Não quero passar despercebida no baile de formatura. Principalmente porque você também estará lá. Ah, e não precisa embrulhar no papel de presente, tá? Só de ganhar algo escolhido por você já é o suficiente. — Eloísa parecia não ter controle sobre seus lábios, e continuava a falar feito uma matraca — Ai, vai ser tão legal. Você vai ver o quanto é divertida a galera que costuma frequentar os bailes e… — enquanto ela berrava do outro lado da linha, um flash-black veio a tona. Da última vez em que decidi comparecer ao um evento como este, foi como se minha vida tivesse acabado para sempre (literalmente). E eu me lembro vagamente desse maldito incidente. Como eu poderia esquecer? Foi em 2011, e, se não me falha a memória, meus longos cabelos já estavam distribuindo seu novo tom laranja para a sociedade. Lembro-me que a maioria do pessoal do colégio ficaram surpresos. Alguns chegavam a dizer: — Aonde a sua mãe estava com a cabeça quando lhe permitiu fazer um estrago desses, Mariana? — com a maior cara-de-pau. Recordo de ter dado uma resposta que os fizeram calar no mesmo instante. No entanto, quando os apresentadores do evento anual estavam prestes a revelarem os escolhidos para os títulos de Rei e a Rainha do Baile, o terrível aconteceu. — E os vencedores ao título de Rei e a Rainha do baile são… — o nosso querido Diretor seguia com seu discurso, agora tentando fazer um ~ 49 ~


pouco mais de suspense — …Matheus Figueiredo e Mariana Carey. — e todos começaram aplaudir. Sim, isso parecia ser ótimo! Vai por mim. — Eu GANHEI! Eu GANHEI! — lembro-me de ter gritado feito uma idiota, modéstia parte. Tá, tudo bem! Era só um baile da quinta série, mas, e daí? Eu tinha ganhado, e era isso que importava naquele tempo. Pela a primeira vez na vida eu tinha ganhado alguma coisa. Tudo parecia uma maravilha, até que… — NÃÃÃÃO!!! — gritou alguém, antes mesmo de eu ter noção do que estaria prestes a acontecer. E o pior, comigo! Claro, tinha mesmo que ser comigo, não é mesmo? No teto do salão de festas havia uma corda (daquelas que as crianças usam para brincar de pular, sabe?) e um balde preso, obviamente, nela. E, antes que eu conseguisse pensar em alguma coisa, alguém puxou a maldita corda. Sim! Era uma ARMADILHA. E é lógico que euzinha aqui era a vítima. Para o meu total constrangimento, o líquido que haviam colocado ali dentro daquele maldito balde não era uma simples água gelada (pelo menos eu acreditava ser um balde de água fria). Mas, não! Era pura graxa. Sim, sim! G-R-A-X-A. Imaginem o nível de crueldades que essa pessoa é capaz de exercer. E o pior, comigo! Sim, isso foi pior, muito pior! — …você sabe, Mari, desta vez você não ~ 50 ~


precisará se esconder daquele maldito balde de graxa. Ainda me lembro bem quando lhe deram aquele banho nojento na hora da coroação. — Eloísa finalizava, adivinhando os meus pensamentos — Da última vez em que você não compareceu ao baile estudantil, o grupinho dos populares escolheram outros nerds para zoarem. — Como? Quer dizer então que se eu tivesse comparecido nos eventos seguintes, eu continuaria sendo a vítima? — eu a interrompi, incrédula com tudo aquilo, imaginando o tamanho da maldade que pretendiam fazer comigo. Pelo menos uma vez na vida eu tinha que ter tomado a decisão certa, não é mesmo? Tipo, não comparecer mais em Bailes de Formaturas?! — Se você quer saber o que eu acho sobre isso, Mari, pois saiba que eu só tenho uma palavra a dizer: esqueça. Desnecessário recordar esse incidente toda vez em que você tiver que ir a um evento desses. Claro que a Eloísa deveria me compreender e tudo mais, me tranquilizando e dizendo o quanto eu estava certa em não comparecer a tipos de bailes novamente — principalmente depois de tudo o que fizeram injustamente com a minha pessoa —, mas… é claro, com o título de minha melhor amiga, Eloísa tinha sempre que me colocar para cima. Embora, definitivamente, não acho sensato pensar que o fato de os miseráveis causadores do meu sofrimento na época terem escolhido outro pobre inocente para elaborar – e por em prática – seus maquiavélicos planos diabólicos, significa que eu deveria esquecer algo ~ 51 ~


tão INESQUECÍVEL assim, de uma hora para outra. Impossível. — Pare de ser cara-de-pau, Eloísa! Eu irei compra um presente pra você sim, afinal, somos melhores amigas, certo? Mas não precisa me recordar sempre, não é mesmo? Assim, perde toda a graça do presente surpresa, você sabe.

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7 — Ai. Meu. Deus! — eu disse, perplexa com o que os meus olhos viam. Não pode ser! Não pode ser! NÃO PODE SER! — O que aconteceu, amiga? Me conta? — Eloísa notou a mudança radical no meu tom de voz — Amigaaaa, você está ai? — Elô, você não vai acreditar no que eu acabei de descobrir. Ou melhor, no que estou vendo. — eu disse, tentando notificá-la do grau da situação. Havia acabado de experimentar os novos modelitos da minha banda predileta, com exceção apenas de uma peça. E esta, estava nas mãos de uma certa concorrente. Só que desta vez, não era uma concorrente qualquer, era a própria Letícia Gomes. Em pessoa. E sabe o que me deixa ainda mais indignada com toda essa situação?! O fato de que o único modelito que restara, a qual eu ainda não havia provado (e que eu desejava debilmente) estava em suas mãos. Por quê? — Amigaaaa, você está me ouvindo? — ignorei qualquer possibilidade de ter que dar detalhes para minha amiga e, aproveitando os berros de Eloísa, desliguei o meu aparelho olhando para a vendedora, a única ali desocupada, que se aproximou com um sorriso no rosto e disse: ~ 53 ~


— Já escolheu qual desses devo embrulhar, querida? — e eu continuei interpretando meu lindo papel de pedra, paralisada bem ali na sua frente por um bom tempo, ainda não acreditando no que os meus lindos par de olhos me revelavam. Porém, eu já havia tido tempo o suficiente para planejar mentalmente o que viria a acontecer nos próximos quinze minutos. — Sim! — me ouvi dizer, segura do que eu estava prestes a fazer — Eu já escolhi o que vou levar, moça.

♥♥♥ — Aqui está! — sorri, enquanto a moça do caixa me devolvia os cartões de credito e eu segurava com as minhas próprias mãos a sacolinha de plástico obtendo o meu novo item da banda — Tenha um belo dia, querida, e volte sempre. Agradeci e, para evitar que o meu plano fosse por água abaixo (ou, talvez, antes que o meu plano pudesse vim a ser descoberto), escapei do local o mais rápido que pude. De maneira alguma eu poderia ser desmascarada ali dentro daquela loja. Justamente naquela loja, onde eu sempre posso me gabar por ser uma das clientes mais consumistas. Lógico. Quando tornei a ligar o meu aparelho celular, descobri que havia me metido em uma bela enrascada:

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Você tem 52 ligações perdidas E para tornar toda essa situação em uma catástrofe ainda maior, lógico, a maioria das ligações eram da minha mãe (45 ligações perdidas para ser mais exato. As outras 7 ligações perdidas eram da Eloísa). Entre retornar para o número da minha mãe e da Eloísa, preferi a segunda opção, claro! Pois, já que eu supostamente iria ganhar uma bela de uma bronca, porque não adiá-la por mais alguns míseros minutos, não é mesmo? Ao menos assim eu poderia recebê-la pessoalmente. Liguei de volta para a minha amiga, na tentativa de colocá-la a par dos acontecimentos atuais, cometidos por, nada mais nada menos do que, eu mesma. — O que foi que aconteceu para você ter desligado assim na minha cara? Ou melhor, por qual motivo você está me retornando mesmo, depois de ter feito o que fez? — Eloísa estava obviamente brava comigo pela atitude que tomei — Lembrou que tem uma amiga, foi? — Oi pra você também! — resolvi abrir a boca assim que ouvi a voz da minha amiga — Perdoe-me por ter desligado na sua cara, mas é que infelizmente (e totalmente contra a minha vontade) tive um belo de um imprevisto imenso, sabe? Do tamanho do Monte Everest, eu creio. Juro. Ok. Talvez eu não devesse usar justamente essa figura de linguagem, mas, que culpa eu tenho se constantemente uma das minhas figuras de ~ 55 ~


linguagem a qual uso com frequência é exatamente a Hipérbole? — Como assim, do tamanho do Monte Everest? — minha amiga quis saber, supostamente curiosa. É como eu digo: a curiosidade sempre fala mais alto que a razão. E é exatamente aí que entre mais um dos motivos pelo qual adoro usar essa figura de linguagem: o fato dela ser obviamente a isca perfeita para que eu possa fisgar a Eloísa de volta para o meu lado do campo de batalha. — Amigaaaa, pelo amor de Deus, me diga o que realmente aconteceu? Não disse?! — Você nem imagina o que aconteceu, Elô. — disse, quando eu finalmente havia chegado no ponto de ônibus. Certamente esse era o único ponto mais próximo do local onde eu me encontrava, e de maneira alguma eu iria caminhar mais do que cinco quilômetros a pé. — Ai, sua besta! Para de enrolar e me conta logo o que foi que aconteceu, você está acabando com as minhas unhas, sabia? — ouvi-a dizer enquanto me posicionava no banco de espera, olhando vagamente para os lados, na esperança de que o próximo ônibus não enrolasse tanto. — Que culpa eu tenho se toda vez que sua curiosidade fala mais alto, você torna a roer as unhas? — tentei me defender, aliás, eu não tinha nada haver com isso, certo? — Mas, mudando de assunto (ou melhor, voltando nele), acredita que acabei me encontrando com a Letícia dentro de ~ 56 ~


uma das lojas a qual costumo ir com frequência? — admito, tentei fazer um pouco de suspense, mas Eloísa precisava saber assim, de uma vez por todas. E de uma só vez, é claro. — A Letícia? Você se esbarrou com a Letícia Gomes? — notei o grito de indignação da Eloísa do outra lado da linha, com sucesso. Se tem uma coisa que eu posso confiar é: nas reações que consigo causar na minha amiga — Aquela víbora nojenta, repugnante, que se acha a maioral e que, inclusive, foi a responsável pelo incidente do balde de graxa que evidentemente foi proposital? — Exatamente, amiga! A própria. — confirmei, com todas as letras. — E o que aconteceu? Conta logo, Marianaaaaa… — tive que afastar o aparelho celular do meu ouvido para não prejudicar os meus pequeninos e sensíveis tímpanos, evitando, também, qualquer problema de audição futuramente, é claro! — Tudo bem! Eu conto! — respondi em meio aos berros da Eloísa — Foi o seguinte, quando eu estava prestes a segurar a tão sonhada blusa da minha banda de rock, eu a vi. Sim, eu tive um treco na hora, mas me saí bem! Digamos que coloquei o meu Super-Cérebro para funcionar e exatamente nessa hora tive um plano cujo resultado foi estupendo. — contei tudo para ela, detalhe por detalhe. Porém, Eloísa pareceu não acreditar quando lhe contei que fingi ser uma das funcionárias da loja: — Como assim, você se disfarçou de funcionária da loja? — o tom de sua vóz revelava ~ 57 ~


total surpresa — Duvido, amiga! — ela parou de falar por um instante, enquanto parecia recuperar o fôlego — Se bem que, para conseguir a famosa blusa da Paramore, tenho certeza de que você realmente é capaz de qualquer coisa. Digo isso porque te conheço muito bem. Aliás, sou a única garota neste mundo que te conhece bem, e por isso eu vou lhe dar um crédito e fingir que acredito, tá? — e logo em seguida começou uma crise de risos do outro lado da linha e, evidentemente, eu sorri junto. Mais pela gargalhada do que pela a piada, eu confesso. — Bom, também irei fingir que não estou brava e contar que o que aconteceu depois foi maldade da minha parte. — realmente eu me senti culpada por uns instantes, mas, quando a lembrança do balde de graxa veio a tona, passou. — Por que… você está… dizendo isso? — quis saber Eloísa, quando por fim recuperou o fôlego perdido pela crise de risos — Porque está se julgando um ser maldoso? — Eu não queria fazer isso, mas… — desabafei total, colocando-lhe a par dos mínimos detalhes. Contei como consegui a blusa, e por fim, a frase fenomenal que a Letícia disse quando descobriu que eu havia trancado-a dentro do provador: ‘’Hei? Qual é o seu problema, garota? Me tira daqui, agooooraaaa’’ — Você tinha que ter visto, Elô, foi hilário. E o melhor, acredita que a víbora maldita nem me reconheceu? Fiquei chateada por isso. Brincadeirinhaaa. Na verdade até que foi super útil ela não ter se lembrado, ela acabou colaborando ainda mais no meu suposto ~ 58 ~


plano de matê-la presa em um daqueles provadores. No fundo, no fundo, eu sentia uma raivinha por aquela víbora maldita não ter, ao menos, conseguido se lembrar de mim. Como isso é possível? Bem, na verdade isso é bem possível mesmo, se tratando daquela ali. O que só pode significar uma coisa: ela é oficialmente um ser sem cérebro. Obviamente, também não iria dar à cara a tapa indo na direção dela e dizendo: ‘’Oi, querida, lembra de mim? Sou aquela garota que você derramou um balde cheinho de graxa. Se lembra? Não? Melhor, eu vou soletrar então para ver se você consegue me entender: G-R-A-X-A. Muito obrigada pelo presente dos velhos tempos, tá? Você não sabe o quanto foi desagradável retirar toda aquela graxa do meu lindo e sedoso corpinho. Acredita que o que você fez acabou me ajudando? É verdade. Veja! Veja com seus próprios olhos’’. Sim, eu reconheço que estou sendo bastante abusada (bastante é pouco, isso é verdade), mas, só de quebra, eu ainda teria a honra de cantarolar a minha versão da cantora Kelly Key: ‘’Baba, baby! Baby, baba, baba!’’. Segundo o velho ditado popular: ‘’quem apanha nunca esquece’’, certo? Não que eu não quisesse dar um soco no meio daquele focinho magrelo dela, claro. Mas, diferente dela, a minha mãe tinha me dado alguma educação. Para a minha tristeza, a bateria do meu celular apitou, alertando-me que em breve descarregaria, me deixando completamente sem ~ 59 ~


opção sobre: ‘’o que fazer dentro do ônibus durante todo o trajeto de volta para casa?!’’. — Amiga, vou ter que desligar porque o traidor ameaçou descarregar a qualquer instante. Te mando mensagens assim que chegar em casa. — eu disse, enquanto observava um deus grego se aproximando. — Aaaah nããão, eu queria muito poder ver a tal blusa que você supostamente raptou daquela víbora merecedora de todos os males dessa terra. Ou seria melhor usar a palavra: ‘’sequestrou’’? — e mais uma vez ela sorriu do outro lado da linha, me fazendo rir com ela. O garoto lindo acabou sentando no mesmo ponto de espera onde eu aguardava ansiosamente pelo primeiro ônibus que passasse. Porém, ao me ver sorrir, ele sorriu de volta, esperançoso. Como se eu tivesse dado alguma chance pra ele. Aiii, meu Deus! Cadê o ar quando eu preciso dele? — Amiga, você não vai acreditar no… — sussurrei, tentando mais uma vez notificar Eloísa dos atuais acontecimentos da minha vida. No entanto, antes mesmo que eu pudesse dizer mais uma palavra sequer, o maldito aparelho descarregou. Fiquei sem saber o que fazer, agora que havia um deus grego me encarando. Fixamente. Ele vestia roupas leves, como se acabasse de sair da academia. E o seu corpo maravilhosamente escultural apenas apontava que eu estava certa mais uma vez. Pensei em dizer algo, mas meu raciocínio ~ 60 ~


lógico não me permitiu dizer uma palavra sequer, ou que eu fizesse qualquer tipo de atrocidade insana no momento. Prefiro chamar isso de: Alerta! Não cometa nenhuma burrada, Mariana. O que obviamente iria acabar acontecendo ao deixarem esse maravilho, encantador, e impecável deus grego na minha frente. E ainda por cima me flertando, imagine só! Porém, não sei se devo chamar isso de: sorte, salva pelo gongo, ou azar. Pois, nesse mesmo instante, o ônibus apareceu à vista e estacionou bem na nossa frente. Alguns passageiros desciam enquanto eu me levantava do banco de espera e, ao notar que não havia mais ninguém do nosso lado, ele se aproximou mais. Meu coração deu um salto mortal e eu até pensei que ele poderia mesmo sair pela boca, mas o que aconteceu em seguida supostamente não estava no roteiro que eu vinha imaginando há alguns segundos atrás. — Ei? — acredita que ele esticou as mãos e me roubou? Digo, sequestrou o meu único e insubstituível aparelho celular? — Devolve. — gritei, enquanto tentava assimilar o que realmente estava acontecendo — PERDEU! PERDEU! — sua voz era sexy, porém, eu não deveria de modo algum me importar tanto com isso — Passa a sacola! ANDA! — Ladrããão. — exatamente nessa hora em que eu gritava ensurdecidamente, rapidamente ele enfiou, entre a virilha, a outra mão que estava obviamente livre, me deixando um tanto curiosa em relação ao volume transcendente ali dentro (não me entenda mal, oportunidades como essa não se ~ 61 ~


encontra em qualquer esquina, acredite!), mas o arrependimento bateu na minha porta no segundo seguinte. Eu julguei o livro pela a capa. Ou melhor, esse marginal pela definição esbelta do seu escultural e bem definido corpo. Pior coisa que já fiz em toda a minha vida. Mariana, Mariana, você é burra, é? Revelando-me sua arma, logo após retirar sua mão daquele local, ele a apontou em minha direção enquanto me arrancava à sacola cujo novo modelito da minha banda estivera. Eu só consegui dizer uma palavra apenas: — SOCORROOO! — gritei, totalmente apavorada com aquilo, enquanto observava desesperadamente aquela beldade maligna desaparecer de vista com o meu único e insubstituível aparelho celular nas mãos. E o pior, com o novo item da minha banda junto. E bem na minha frente.

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8 Quando cheguei em casa, não encontrei minha mãe em lugar algum. O que é totalmente estranho de se acontecer em dias não tão bem ensolarados como o de hoje. Procurei em todos os cômodos existentes em nossa casa, mas nenhum sinal sequer da minha mãe. Decidi ir até a cozinha. Se tem um local ao qual posso recorrer em situações como esta é a cozinha, pois, mantemos o velho hábito de deixar recados quando uma de nós não estivera presente no momento e, adivinhem só o que a minha mãe havia deixado escrito no bilhetinho pendurado na porta da geladeira?

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Quero nem ver qual vai ser a reação da minha mãe quando ela descobrir que o meu aparelho celular foi roubado no ponto de ônibus. Ainda bem! Pelo menos assim eu não ficarei de castigo quando minha mãe resolver confiscar o meu aparelho exatamente por eu não ter feito o que combinamos: jamais perder uma de suas ligações. Não que eu gostasse da ideia de ter perdido o meu único e insubstituível aparelho celular, eu perdi 1.384 faixas de músicas, e entre a maioria delas eram justamente da minha banda preferida, mas quando se é forçada a escolher entre entregar o meu aparelho e me salvar, ao invés de ficar com ele e levar um tiro, fico com o: prefiro não correr nenhum risco. Apesar de que ele já tinha roubado o meu aparelho celular antes mesmo de me apontar àquela arma. Tudo bem que eu ainda tenho um iPod para ouvir minhas faixas, mas, porra, era o meu celular! ~ 64 ~


A catástrofe perfeita mesmo foi ter perdido o único modelito da minha banda de rock predileta que, estranhamente, estava nas mãos da minha pior arqui-inimiga (não que eu tivesse outras, claro). E olha que eu sou dessas que não acreditam em destino e, muito menos, em coincidências. Mas… Do que me adiantou se, no final, acabei ficando sem poder usá-lo? Qual foi a lógica de ter me fantasiado de funcionária da loja e ter prendido a Letícia se, no fim, nenhuma de nós duas podemos usar o modelito? Bem, acho que adiantou sim, pelo simples momento de vingança (pois é, também acho que passei tempo demais assistindo o seriado da Emily Thorne. Qual é mesmo o nome? Ah, sim: Revenge). Aquela víbora realmente merecia, mas, a minha mãe não merecia pagar por algo que eu não usarei. O que eu vou fazer quando a minha mãe decidi ver o modelito? E o que eu mostrarei a ela? Qual a desculpa que eu vou ter de inventar quando isso realmente acontecer? Só perguntas e nenhuma resposta que pudesse me consolar no momento. Resolvi deixar os cartões de crédito da minha mãe em cima da cama. Obviamente dentro do quarto dela. E logo após me hibernei dentro do quarto. Desta vez no meu, é claro. Neste momento, eu não queria ver ninguém, não queria falar com ninguém, e muito menos ouvir alguém dizer abobrinhas pelo resto da tarde. Eu podia fazer isso se eu quisesse, pois, segundo o bilhete, minha mãe chegaria muito tarde hoje. Aleluia! Por esse motivo, me joguei na cama com tudo, como se naturalmente esse fosse o único ~ 65 ~


objeto no mundo capaz de transmitir paz e tranquilidade em situações desagradáveis. Foi quando eu apaguei.

♫♪♫♪ A luz do sol inundou meus olhos e senti o cheiro de café recém-coado. Minha janela estava aberta, com a cortina escancarada, a luz do sol estava batendo na metade da minha cama. — Mãe! – resmunguei. Ela havia aberto a janela em uma tentativa de me acordar. E conseguiu. — É hora de acordar, Bela Adormecida. — ela anunciou enquanto retirava o edredom macio de cima de mim. — Deixa eu dormir só mais vinte minutinhos? Por favor, por favor, por favor! — disse aos bocejos. Eu estava super cansada e mesmo eu tendo dormido mais do que o normal ainda me sentia como se acabasse de deitar. — Não posso, querida! — ela sorriu ao perceber que sua filhinha estava recentemente acabada — Preciso que você faça um favor para mim antes. Eu sabia! Minha mãe nunca se encaixou no papel de ‘’vamos despertar porque o dia está lindo’’, ou de qualquer outra maneira parecida. Exceto, quando precisa de algum favor meu. — Quero que você vá até a panificadora da esquina e compre alguns biscoitos de queijo. ~ 66 ~


— Pede para a Matilda, mãe. — sugeri. Matilda é nossa empregada. Não que eu goste de tratar as pessoas com arrogância, mas, o fato é que a Matilda é quem sempre compra o nosso café da manhã. Porque a minha mãe decidiu me acordar justo hoje? Será que, ela descobriu? — Hoje é folga da Matilda, filha. — ela insistiu, me jogando um balde de água fria. No sentido literário, claro! Eu havia me esquecido de que hoje era sábado, e que supostamente esse é um dos únicos dias em que a Matilda não trabalha. Azar o meu, lógico! — Tudo bem, mãe! — concordei, ainda discutindo com o meu inconsciente que desejava desesperadamente dormir por mais algumas horas — Vou só vestir uma roupa decente, tudo bem? — Claro, filha! — e me deixou sozinha no quarto — O dinheiro está em cima da geladeira. Eu ainda estava com o mesmo modelito de ontem, pelo simples fato de ter apagado e por isso não tive tempo de colocar o meu pijama. E isso, provavelmente, me deixou feliz já que eu não tinha mais o porquê de me trocar. E ela nem estava tão amassada assim. Fiz a minha higiene matinal de sempre antes de sair rumo à panificadora. Passei pela cozinha para pegar o dinheiro que estava em cima da geladeira, segundo minha mãe havia mencionado antes de entrar no elevador. — Ei, filha! — ouvi a voz de minha mãe vindo da varanda dos fundos, e, pelo que notei em sua sombra, ela parecia estar segurando uma xícara — Você vai mesmo deixar a sua mãe morrendo de ~ 67 ~


curiosidade em relação ao seu novo modelito? Droga! Eu não podia contar a ela. Não agora! — Assim que chegar eu lhe mostro, mãe. — tentei parecer convincente, e rapidamente fechei a porta atrás de mim. Eu não poderia esperar por nenhuma outra pergunta óbvia, já que o timbre da minha voz me ameaçava falhar a qualquer momento. O dia estava realmente desagradável, o sol estava muito quente e desconfortável e uma brisa suave trazia o perfume das flores da pequena praça próxima ao meu prédio – embora um pouco de poluição no ar fizesse parte do pacote. E, para piorar ainda mais a situação, um aroma de comida no ar fez meu estômago se agitar fora do normal quando a lembrança de que eu tinha dormido sem jantar ontem à noite me veio à cabeça. Passei pela praça e notei com estranheza, que haviam poucas pessoas ali. Normalmente, sempre ficava cheia de ciclistas e pessoas fazendo suas corridas, famílias com seus filhos correndo na grama e até cachorros levando seus donos para um passeio matinal. Naquela manhã, porém, estava quase deserta. Talvez por que já estivesse perto da hora do almoço, pensei. Entrei na panificadora e, estranhamente, também estava vazia, apenas uma vendedora ali sem cliente algum. Será que era feriado ou coisa assim e eu não estava sabendo? No entanto, lá estava ele. Meus Deus! Se tivessem me avisado, eu teria ~ 68 ~


acordado mais cedo pra arrumar melhor o cabelo! Mariana, o que você está fazendo com essa roupa sem graça? Por que eu não passei perfume? Minhas olheiras devem estar terríveis! Mas o que está acontecendo comigo? Desde quando eu me importei com isso? Matheus, seu filho de uma vaca gorda. Porque você não me avisou que frequentávamos a mesma panificadora? Se eu viesse neste mesmo horário, ao invés de vir como o de costume, eu provavelmente o encontraria todos os dias? É! A resposta é obvia.

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9 Sabe aquele momento em que você se pega olhando para a boca alheia e nem ouve quando a outra pessoa está falando com você? Então, é exatamente o que está acontecendo agora, só que neste caso, a Márcia (a única funcionária ali presente e também quem sempre me atende) era quem estava tentando falar comigo. — O que você vai levar hoje, Mari? — ela esbanjava um sorriso enorme, como de costume. Mesmo não olhando para ela, eu sabia pelo seu simples timbre alegre — Ah, espera um pouco, deixa eu adivinhar; “o de sempre’’. Acertei? — Yes! — foi o que eu consegui dizer enquanto ainda olhava para o Matheus guardando as sacolinhas de pães no carro. Ele não tinha me visto, então eu era capaz de observá-lo, sem ele saber. Sinceramente, eu estava encarando-o. Ele parecia ainda mais incrível sem o blusão de ontem. Mas, o que está acontecendo comigo? Porque não posso simplesmente olhar para o corpo do Matheus sem imaginar o que tinha ali dentro? — Parece que temos uma pessoa apaixonada aqui. — Márcia me despertou com essa sua piadinha nada engraçada. Será que isso era possível? Eu poderia está me apaixonando pelo Matheus de verdade? E ele se apaixonaria por mim, ~ 70 ~


se soubesse? Bem, isso sendo verdade ou não, ele não podia me achar uma menina fácil. Aproveitei a oportunidade de ser sempre atendida pela Márcia e desviei o olhar, encarando-a em seguida. Márcia pareceu entender o meu olhar terrorista. — Não me olhe assim, Mari. — Então me responda uma coisa. Porque você acha que eu estou apaixonada? — eu quis saber, enquanto ela finalizava meu pedido. — Eu não acho, Mari, eu tenho certeza. — ela me entregou o saquinho de biscoitos que ainda estavam quentes. — E porque você tem tanta certeza assim? — indaguei, atônita. — Talvez seja porque nessa sua carinha linda tem dois corações no lugar dos seus olhos?! — ela arqueou as sobrancelhas, como se isso fosse óbvio. Enrubesço com a descrição super detalhada. — Mas quem não se apaixona por uma coisa dessas? — ela encarava o Matheus agora, imitando aquelas menininhas super apaixonadas. Senti um pouquinho de raiva. Não pelo que a Márcia dissera, mas, pelo jeito como ela o olhava. — Não tem nada a ver com beleza, você olha para a pessoa e sente algo bom, positividade... sei lá! — Ahãã! O que eu disse? — Márcia parecia ter ganhado na loteria pela sua expressão de vitória — Sabia que você estava apaixonada, Mari. Não adianta negar. Ninguém olha para outra pessoa do jeito que você olhou para ele, só por olhar. ~ 71 ~


Principalmente quando esse “outro alguém’’ é do sexo oposto. — ela sorria, orgulhosa de si mesma. Tudo bem, vai, era possível sim! E graças a Matilda. Anotei mentalmente para não me esquecer de agradecê-la por hoje ser sua folga. — Digamos que você esteja certa em relação ao que disse, mas, o que você ganha com isso? — não me entendam mal, ela merecia. — Além do mais, não fico por aí tentando adivinhar o que acontece na vida dos outros. — não resisti, acabei empinando o nariz para fechar meu discurso com maestria. É como eu sempre digo: quem fala o que quer, escuta o que não quer. — Nossa, Mari! Também não precisava ser tão grosseira assim, né? — quem mandou se meter onde não é chamada?, pensei — Eu só achei que seria legal falar sobre relacionamentos. A Eloísa sempre se abre comigo, se você quer saber, e é verdade que ela fala algumas asneiras na maioria das vezes, mas, enfim, ao menos ela se abre. Certo tipo de gente não me engana. Se falam mal de alguém pra mim, é bem provável que fale mal de mim pra alguém. Disso eu tenho certeza! Por isso, decidi acabar logo com isso. — Às vezes, não precisamos dizer nada. Só aquela troca de olhares basta. — pelo menos por um tempo, pensei — Ei, aquele celular é o meu… eu o conheceria a quilômetros de distância. — gritei ao notar o bandido safado mexendo no meu aparelho celular e tomando café no banquinho da praça. — O quê? — Márcia parecia pasma, e um ~ 72 ~


pouco enfurecida com a minha confissão — Quer dizer que aquele ladrão ali roubou o seu celular, Mari? — confirmei com a cabeça e ela saiu de trás do balcão vindo até mim, como se fosse resolver todos os meus problemas — Que tal darmos uma lição nesse marginal? — olhei pra ela incrédula. O que ela poderia fazer, afinal? — Não me olhe assim, eu sei muito bem lhe dar com esse tipo de gente. Confia em mim. — O que você vai fazer? — tentei evitar que ela caminhasse até ele, enquanto sentia o olhar fixo do Matheus em mim, mas, lá estava ela, já na metade do caminho. A coisa ia ficar preta. Por minha causa. E, em milésimo de segundos, tudo acontece muito rápido. E, enquanto aquele desconhecido cai no chão, corro em disparada em direção a Márcia que, não me pergunte como, estava com o meu celular nas mãos. Ela havia conseguido recuperar o meu aparelho, meu Deus. — Quando foi que você aprendeu a lutar daquele jeito? — eu realmente estava de quatro pra ela. Foi incrível. — Você foi incrível! — Tem muita coisa que você não sabe sobre mim, Mari, e não é por falta de interesse não. Nós duas sabemos que eu sempre quis me abrir com você, estou mentindo? — dessa vez doeu. Era como se ela tivesse cravado uma adaga em meu peito. Ou pior, como se ela tivesse feito em mim o que ela fez no ladrão cujo agora eu só conseguia sentir pena. — Mari? — nem vi quando o Matheus se aproximou — O que aconteceu? Pelo que entendi ~ 73 ~


aquele cara havia te roubado, e acabou aprendendo uma lição da sua… — ele parecia confuso, sua face demonstrava isso. — Não somos amigas, guri, se é isso que você ia dizer. — ela o interrompeu, completando o que ele provavelmente ia dizer — Não ainda. — e então ela piscou pra mim, enquanto devolvia o meu aparelho. — Obrigada! — foi só o que consegui dizer enquanto segurava, com as minhas próprias mãos, o meu aparelhinho celular outra vez. Márcia voltou para o seu posto, pois ela ainda estava no horário de trabalho. — Hoje é o aniversário da Eloísa, estou certa? — ela quis saber, como se planejasse alguma coisa. Apenas confirmei com a cabeça, um tanto curiosa, confesso. Porém, ao revelar isso, acabei me recordando que eu ainda não havia comprado um presente para minha amiga — Isso significa que teremos muito tempo para conversar, não é mesmo? Além do mais, ela também me convidou. E eu sei que você não perderia um evento desses, não é verdade? — ela me lançou um olhar cúmplice, e isso foi o bastante. — Sim! É verdade. — eu disse, me virando para o Matheus. Eu queria muito agradecer a Márcia por ela ter resgatado o meu aparelhinho de volta, mas, ela estava repleta de razões. Eu, no lugar dela, não gostaria de atrapalhar este momento inesperado ao lado do Matheus. Por isso, decidi aproveitá-lo. — Já liguei para a polícia e eles estão a caminho. — Matheus quis me confortar, já que ~ 74 ~


todos nós sabíamos que aquele deus grego ladrão iria se recuperar do golpe – que, segundo a Márcia, era apenas de defesa pessoal –, e se levantar a qualquer momento. — Olha, estão todos aqui. — exaltei tamanha alegria ao notar que os meus dois chips e o meu cartão SD ainda estavam ali no aparelho. Recuperei o meu aparelho, mas… o modelito que eu havia libertado das mãos daquela víbora, ainda estava perdido por ai. Talvez o ladrão já o tivesse vendido para a primeira que apareceu na sua frente, mas não custava nada ir lá dar uma conferida, não é mesmo? — Se você não falar nada, como é que eu vou te ajudar? — tentei parecer amigável, mesmo sabendo que deveria agir ao contrário com o cara que havia me roubado. Se passaram apenas dois minutos após o Matheus tê-lo despertado e por isso decidi arriscar, pois eu ainda tinha esperanças de conseguir recuperar o modelito. Por isso eu não deveria, de maneira alguma, ser grosseira no momento. — Não sabem o tamanho da burrada que se meteram, seus idiotas. — ele respondeu, com um olhar vitorioso. Nesse momento o carro da polícia apareceu na esquina. Finalmente!, agradeci em pensamento. Matheus acenou, indicando onde estávamos. — Tudo bem. Se quer seguir por este caminho, só tenho a dizer que a sua carona acaba de chegar. — eu até que iria ajudá-lo inventando uma desculpa qualquer se, ao menos, me contasse para quem ele havia vendido o meu modelito. ~ 75 ~


Matheus parecia tentar explicar ao policial o que havia acontecido enquanto ambos caminhavam em nossa direção. — Lúcio? — o policial o encarou. Pera aí, Brasil, o ladrão e o policial se conhecem? — Não posso acreditar que cometeu mais uma das suas, meu filho. — prosseguiu o policial, agora fechando a cara. Oi? Como assim ele o chamou de ’’meu filho’’? O ladrão é filho do policial? O policial é pai do ladrão? Um mais um são dois? Qual é a raiz quadrada de nove? Será que eu bebi e não lembro? — Pai, eu… — o deus grego maligno parecia envergonhado, e isso acabou resolvendo todas as minhas dúvidas. — Espera um pouco! — Matheus disse, tão surpreso quanto eu — Vocês são pai e filho? — Anda logo, mocinho, entre já no carro. — o policia obviamente ignorou a pergunta que o Matheus o havia feito, ainda olhando para o seu filho — Anda! Você quer que eu repita mais uma vez, é isso? — e, quando pronunciava tais palavras, ele rapidamente passou a mão na cintura e nos apontou sua arma. — Agora sabemos por que o ladrão tinha uma arma. — eu disse, incrédula. — Isso explica tudo. — ouvi o Matheus dizer antes de o policial atirar nele, com sua arma elétrica. — Viu no que você me meteu, filho? — enquanto ele discutia, Matheus já se encontrava no chão, se contorcendo dos pés a cabeça com a ~ 76 ~


potência do choque elétrico — Agora vou ter que limpar sua sujeira. — mas, antes de qualquer movimento meu, ele me acertou também — Aonde a mocinha pensa que vai? — foram as últimas palavras que consegui ouvir antes de adormecer com toda aquela carga elétrica.

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10 De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 10 de Março, 16:15 Assunto: ME DÊ NOTÍCIAS, POR FAVOR!!!!!! Oi, Mari, resolvi te escrever por e-mail já que o traidor descarregou, e eu sei que, assim que você chega na sua casa a primeira coisa que você faz é ligar o computador, então… E ai, conta, o que você queria me contar naquela hora que o seu aparelho descarregou??? Afinal, você me deixou curiosa aqui, né? Conta, conta, conta!!! Argh! Já comecei até a roer as unhas de tanta curiosidade. AMIGAAAAAA, por favor, me conta looogooooooooooooo??? P.S.: É sério! Ou melhor, me liga assim que ver esse e-mail, pode ser? ___________________________________________________

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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 10 de Março, 17:45 Assunto: EI???????

Amiga, CADÊ VOCÊ?????????? O que aconteceu?????? Perdeu o celular no ônibus, foi??? Foi assaltada? Encontrou outra blusa da Paramore e teve que dar o celular como forma de pagamento??? Porque eu sei que você OBVIAMENTE não ultrapassará o limite do cartão de crédito da sua mãe, não é verdade? Ai, sua besta, vou acabar ficando sem minhas unhas aqui! P.S: Como assim, Mari, você não vai mesmo responder???????????? ___________________________________________________

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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 10 de Março, 21:02 Assunto: DESCULPAAAAAA!!!!!!

Oi, amiga. Desculpa pelo que escrevi no outro e-mail. É que você me deixou bastante curiosa aqui, sabia? Afinal, você não vai mesmo me contar o que aconteceu???? Bom, só quero deixar claro que já pedi pra Lorena convidar toda a galera da nossa sala para o meu NIVER. Você vem, né? Não vai me dizer que pegou uma gripe, ou ficou doente na volta para casa, porque você está totalmente PROIBIDA de adoecer justo no dia do meu aniversário, senhora Mari. Estamos entendidas? Pelo menos vou poder usar o meu presente no Baile. Presente esse que eu sei que você não se esqueceu de comprar e me entregará amanhã, não é mesmo? Porque será horrível não receber um presente justo de

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VOCÊ, amiga. P.S: Você nem me ligou! Fiquei chateada por isso, mas… ainda dá tempo de eu te perdoar. Só se você me ligar agora, claro! ___________________________________________________

De: Eloísa <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey

Prado

<Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 08:15 Assunto: NIVEEEEEEEER!!!!!! AMIGAAAAAAAAAAA, vamos fazer academia????????? Vamos, vamos vamos??????????? A minha mãe disse que eu preciso entrar em forma e eu resolvi seguir os conselhos dela. Claro que eu não iria me jogar do precipício sozinha, né? É lógico que você vai junto. Não vai??? Afinal, somos best-friend e tudo mais. E como melhores amigas você bem que poderia pedir para a Sra. Christina (a sua mãe), nos dar uma carona, nós duas sabemos que ela passa

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em frente à academia todos os dias. Afinal, não custa nada levar a filha e sua melhor amiga. P.S: Obrigada pelos parabéns, tá??? ___________________________________________________

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11 Sempre tive curiosidade em saber: qual o nível da dor que uma arma elétrica é capaz de causar em nosso corpo no momento em que somos atingidos. No entanto, me arrependo amargamente por ter tido essa curiosidade na vida. Acredite, não queira saber. É HORRÍVEL. — Mariana, minha filha, você está bem? — ouvi uns ruídos, ou eram gritos, não faço ideia. Que pareciam ser da Márcia, enquanto eu voltava subitamente para a realidade. Foi quando me lembrei que o Matheus também havia ganhado a mesma carga elétrica que eu. Acho que um pouco mais forte na verdade, já que ele ainda permanecia desacordado no chão, mas não no mesmo lugar. Aliás, eu não sabia em qual lugar estávamos na verdade. A dor seguia ardente por todas as minhas vértebras, mas eu consegui me mover para vê-lo antes de responder. — Matheus? — foi o que eu consegui dizer, pois qualquer esforço me causava dor. Sem perceber, e sem dar muita importância para a dor, acabei me erguendo até conseguir ficar, ao menos, sentada, já que deitada a dor parecia aumentar a cada segundo — Márcia, onde estamos? — Em primeiro lugar, você está bem? — Márcia quis saber, vindo até mim, pois ela estava tentando acordar o Matheus depois de me acordar ~ 83 ~


— Ei, Guri, acooorda! — ela realmente estava preocupada. E eu ficaria mais ainda, se o Matheus não acordasse logo — MATHEEEUS? — foi a última tentativa antes dele gemer ''Humm'' enquanto se contorcia para o lado esquerdo. Quando finalmente consegui enxergar com mais nitidez, é que eu me dei conta de uma coisa: algo estava me machucando muuuito, e isso apenas provocou ainda mais o meu desespero quando notei que estávamos acorrentados. Sim! ACORRENTADOS! — Mas que diabos aconteceu? Porque estamos presos a isto? — segurei com todas as minhas forças a maldita corrente, tentando esperançosamente tirar aquilo de mim. Falhando vergonhosamente em seguida. Mariana, Mariana, aonde é que já se viu tentar tirar uma corrente do tornozelo com suas proporias mãos? Ah, lembrei. Nos filmes de ação, e principalmente os de terror, as personagens cometem qualquer idiotice para tentar escapar o mais rápido possível quando descobrem que estão entre a vida e a morte. O que eu já não sabia se era o nosso caso. — Márcia? — eu quis saber, enquanto começava a pensar em alguma coisa — Como você veio parar aqui conosco? — a encarei, enfatizando saber toda a verdade e nada além do que isso. Afinal, eu merecia saber, não é mesmo? Márcia pareceu ter me compreendido e não enrolou nenhum segundo sequer: — Co-como? — quero dizer, na verdade, ela bem que tentou não se enrolar — Você não faz ~ 84 ~


ideia do que aqueles dois cretinos, fora da lei, foram capazes. — ela parecia revoltada ao se lembrar do ocorrido — Para a sorte deles é que os malditos safados tinham e ainda tem aquela maldita arma elétrica. Se não... oh, DEUS! Como eu teria gostado de aplicar o famoso e dolorido golpe que aprendi durante os meus sete meses de Jiujitsu. — acho que vi um pequeno sorrisinho torto transparecer em seus lábios — Eu só tenho medo mesmo, Mari, é do que eles pretendem, e vão, fazer com a gente. — senti um nó no peito nessa parte — Eles não estão de brincadeira, nisso eu tenho certeza. E outra certeza que eu tenho é que devemos, o mais rápido possível, sairmos desse cativeiro. — O que eles pretendem fazer, Márcia? — eu ordenei, com todas as minhas forças, já sentindo minhas pernas bambearem com as possíveis cenas que começaram a surgir em minha mente – O que você sabe? O que eles vão fazer com a gente? — nesse momento, Matheus pareceu acordar. E a Márcia acabou não me respondendo como eu desejava, indo de encontro ao Matheus para socorrê-lo. — Márcia? — eu implorei. — O que aconteceu? — a voz do Matheus era fraca, como se tivesse levado uma surra daquelas. Mas não deixou de ser sexy também. Parecia que ele tinha acabado de despertar do sono mais longo de sua vida — Márcia... parece que eu fui picado por milhões de formigas... — ele parecia conferir se havia ganhado algum hematoma depois do enorme choque levantando a camiseta de leve, deixando seu não muito definido ~ 85 ~


abdome a vista. MEU DEUS, COMO ELE CONSEGUE FICAR AINDA MAIS LINDO?, eu me perdi completamente nesse instante, sentindo meu coração perder o ritmo. Até que... — Cadê a Mari? Onde está a Mari? Eles fizeram alguma coisa com ela? — vi que seus olhos me procuraram por todo o local até se fixarem aos meus, que brilharam no mesmo instante. Mas o que é que está acontecendo comigo, meu Deus? Porque meu coração errou uma batida ao vê-lo me olhar desse jeito? — Oi? — foi o que ele conseguiu dizer depois de alguns segundos em silêncio, o que pareceu décadas, me encarando como se estivéssemos nos conhecendo pela primeira vez. Sei que a dor me consumia muito, mas muuuito mesmo. No entanto, consegui me erguer, e corri para abraçá-lo. Ele pareceu compreender o que eu queria fazer antes mesmo de ter feito, abrindo os braços antes mesmo de eu ter me aproximado. — Matheus! — disse, abraçando-o — Você acordou. Era estranho essa sensação. Como se o Matheus fosse o único conforto no momento.

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12 De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 10:15 Assunto: Marianaaa

Hey, sra. Carey... Será que a senhora, humildemente, poderia me informar em quais mediações da nossa não tão pequena cidade, a sua filha, Mariana, se encontra neste exato momento???? Desculpe incomodar, mas é que a Mari não responde as minhas ligações. O que é super estranho, a senhora não acha??? Ela sempre atende. Enfim... sei que não é da minha conta, mas, a Mari me contou sobre o combinado entre mãe e filha sobre atenderem SEMPRE as ligações, e, como eu sei que ela está totalmente incapacitada de me responder, achei que, sei lá, talvez a senhora soubesse me informar alguma coisa. Se souber, por favor, me avisa??? Obrigada pela atenção! P.S.: Da próxima vez, prometo mandar um

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torpedo ao invés de lhe incomodar por email. Como eu sei que a senhora passa mais tempo no computador, achei que essa seria a forma mais viável de conseguir me comunicar. ___________________________________________________

De: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 10:20 Assunto: RE: Marianaaa

Olá, querida! Não se preocupe, você jamais me atrapalharia em algo. Gostaria muito que a Mariana se comportasse como você. E falando nela, também não recebi nenhuma mensagem. Eu tentei ligar agora para ela, assim que vi seu e-mail, mas ela também não me atende. O que já não é nenhuma novidade, não é mesmo? Na verdade mesmo, ela ficou de trazer o nosso café da manhã, mas parece que se perdeu no caminho. Como eu estava atrasada para o trabalho, acabei não esperando-a. Ela obviamente já deve ter chegado em casa a essa hora, e... conhecendo a minha filha, ela deve está lendo algum livro novo que comprou. E como de costume, deve está com os fones no ouvido no último volume. Deve ser por isso que não ouviu o celular tocar quando ligamos. Tente

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novamente mais tarde, ela obviamente lhe atenderá. Ou retornará. Ela sempre lhe atende ou retorna. Depois me ensina como você faz isso? P.S: Você acertou em cheio em relação ao e-mail. Certamente não veria sua mensagem por torpedo, pois sempre deixo o meu aparelho dentro da bolsa. Aguardarei sua resposta. Não conte nada para a Mariana, tudo bem? ___________________________________________________

De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 11:04 Assunto: RE: RE: Marianaaa

Fico feliz que não tenho atrapalhado senhora. E Obrigado por responder!!!!

a

P.S: Ajudo sim! Pode deixar. ___________________________________________________

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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Mariana Carey <Marianaanacarey@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 14:40 Assunto: CADÊ VOCÊÊÊ??????????

NOSSA!!! Você nem me desejou PARABÉNS. Grande amiga você é, viu? Aposto que nem leu os outros e-mails que eu te mandei. SIM! Eu te enchi de e-mail, afinal, também uso meu computador. E nem adianta falar que teve um imprevisto que eu não vou cair nessa outra vez, tá legal? O que eu fiz de tão ruim assim ao ponto de você não querer mais falar comigo? Se for porque eu ainda não devolvi aquele livro que você me emprestou mês passado, eu devolvo, tudo bem? Mesmo que eu ainda não tenha terminado de ler. Tudo bem, não vamos exagerar, afinal, HOJE é um dia especial, não é mesmo? Seja lá o que tenha acontecido com você, eu compreenderei. É pra isso que servem as amigas, né? P.S: Promete que vai me ligar dessa vez??? ___________________________________________________

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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 15:00 Assunto: NADAAAA

Hey, sra. Carey... Desculpe incomodar-lhe novamente, mas acho que a senhora vai ter que cancelar as nossas aulas sobre como fazer a Mari lhe atender, pois nem a mim mesmo ela está atendendo. A Mari, ao menos, me retornava após 30 minutos, mas NADA. Já se passaram seis horas seguidas sem nenhum telefonema, recado ou resposta. Já tentei ver se eu encontrava algum sinal de vida dela nas redes sociais, como: Facebook, Whatsapp, Twitter, Instagram, Snapchat, mas... NADA. N-A-D-A. Nadinha de nada. Será que aconteceu alguma coisa com a Mari, e ela não pode nos retornar por esse motivo??? Oh, GOD!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não consigo nem imaginar uma coisa dessas! Já fiquei toda arrepiada aqui. A Nathalie ficou de avisar se caso ela a respondesse no WhatsApp. Vou continuar ligando. Qualquer coisa me avisa?? ___________________________________________________

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13 Toda primeira vez é como o riso de um bebê ao ver a mãe. É sem um antes ou um depois. É um acontecimento literalmente do presente, sem preparação ou palavras ensaiadas, é um momento que você acha que nunca vai existir e quando acontece você fica torcendo para que seja verdade e que se repitam muitas outras vezes. Foi assim quando fiquei a primeira vez a sós com o Matheus. Era noite e todas as luzes da cidade estavam apagadas, não sei por qual motivo. Blackout? Talvez, mas, isso não importa agora. Apenas fui ao seu encontro. Estava nervosa, com raiva. Com muuita raiva, na verdade. Mas é claro, como não sentir raiva quando se é pega de surpresa por um balde cheio de graxa no meio de um baile? E o pior: justo no momento em que você é anunciada como a ‘’Rainha’’ da noite? Isso é o suficiente? Pois pra mim era a gota d’água. E, como o Matheus havia sido eleito o ‘’Rei’’, de certo quis me confortar depois do ocorrido. Ele estava com roupas de dormir, e eu, obviamente, também. Claro que, antes de sair de casa, resolvi mexer nos produtos de beleza da minha mãe. Mas nada de mais, apenas o básico. O essencial para aquele momento. Afinal, havia ~ 92 ~


acabado de levar um banho de graxa, certo? Eu conheço o Matheus desde quando andava só de calcinha e de maria-chiquinha pela casa. Seus ‘’melhores amigos’’ viviam tirando sarro na época por ele ter um famoso playStation 2 e não usá-lo, principalmente por ser filho único. Mas ele nunca foi muito fã de videogames. E por esse motivo, sua mãe o trazia para brincar comigo quase todos os dias pelo simples fato de estudarmos no mesmo ano letivo. Nossas brincadeiras inventadas sempre foram mais interessantes e, depois do que aconteceu no baile, Matheus previu o quanto eu necessitava delas. — Sabe, Theus, é como se eu tivesse perdido a minha vida. Dói tanto que eu tenho vontade de me jogar em um buraco sem fundo e cair pela eternidade. — lembro de ter o abraçado bem forte enquanto pronunciava tais palavras — Só não fiz isso ainda porque, não quero perder o meu melhor amigo. — Mas é claro que você não vai fazer isso... — ele retribuiu o abraço me apertando ainda mais forte — Veja pelo lado bom, Mari: você me ama e eu te amo. E isso é o que importa agora. Já passou. — Não, Theus! Não passou. Eles ainda vão continuar no nosso pé. Vão continuar rindo da nossa cara como sempre fizeram. Irão inventar mil desculpas para nos implicar, como naquele dia em que nos apelidaram de boca virgem só porque ainda não beijamos ninguém. — Isso não importa, Mari. Somos felizes juntos e, é isso que causa inveja em todos eles. Não ~ 93 ~


é atoa que fomos os ganhadores ao título de Rei e Rainha do Baile essa noite. Embora eu tivesse tudo a ver com o Matheus, sempre o enxerguei como meu melhor amigo. Ele era sinônimo de sorriso, não de beijo. Bem… pelo menos era, até esse momento. — Mari? — ainda estávamos abraçados quando ele sussurrou e por isso apenas objetei fazendo um ‘’hum’’ sem abrir a boca. — Eu posso…? — mas ele não terminou. Por causa disso, tive que desfazer do nosso abraço para lhe perguntar o que mais ele queria dizer, pois havia conseguido me deixar curiosa o bastante. Foi quando… aconteceu. Fomos iluminados pela luz do luar e, talvez, isso aniquilou toda a sua timidez. Não foi O BEIJO como esses que são reproduzidos pelo cinema. Afinal, nunca havíamos feito aquilo e, mesmo assim, foi perfeito. Era o nosso primeiro beijo. Clichê? Talvez, mas… ainda assim era um lindo cenário para o que me aconteceu. E se tornou uma das melhores lembranças da minha vida. — Porque você fez isso? — foi só o que eu consegui dizer, ainda perdida em meus sentimentos. — Não nos veremos por um tempo. — Como assim? O que você quer dizer com isso? — eu estava surpresa pelo beijo, mas, acima de tudo, não queria perde-lo. — Meu pai conseguiu um emprego fora, mas para isso terá que me transferir de colégio. — ~ 94 ~


lembro de ter visto uma lágrima escorrer por sobre seu rosto. E isso fez com que os meus olhos transbordassem de lágrimas também. ♫♪ ♫♪ Recordar isso, de certo, causou-me uma sensação superior a tudo que eu já havia sentido na vida. Principalmente porque, era dessa maneira que o Matheus me abraçava. Eu realmente tinha me esquecido o quanto ter um cara – de verdade – do lado era bom. O tempo passou rápido, já era hora de dizer adeus de novo. — Estou feliz por você estar viva. — ele disse, quando enfim, nos desgrudamos. — Estou feliz por você ter acordado. — respondi, sem conseguir quebrar nosso duelo de olhares. — Desculpem interromper, mas… será que dá para os dois focarem um instantinho aqui, pois, se não se lembram, ainda estamos em apuros. — Márcia nos fez voltar para o presente neste momento — Algum plano em mente? — Podemos ligar para os nossos pais e pedir ajuda. — Sugeri, afinal, foi à primeira coisa que passou pela minha cabeça. — Ah, claro, Mari! — senti um certo deboche no timbre da Márcia — Só me diga como iremos fazer isso sem nossos aparelhos. Você não acha mesmo que eles seriam tão idiotas assim, ao ponto de esquecer que somos adolescentes maníacos por redes sociais, e que, para isso, ~ 95 ~


necessitamos de um celular, acha? Nesse momento eu me toquei o porquê da Sra. Carey me fazer prometer sempre ligar. Não que eu já não soubesse desse detalhe, mas, isso realmente fez o maior sentido agora. — Não é a toa que nos acorrentaram. — Márcia prosseguiu, ainda com o seu discurso. — Eu tenho uma ideia. — Matheus interviu, aflito — Mas não tenho certeza se dará certo.

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14 De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Nathalie Ferraz <natnatferraz@gmail.com> Dudu <DuduEdu@hotmail.com>, Lorena <Lorenagata2000@gmail.com>, Fábio <Fabinhobinho@outlook.com>, Sá <Sabrinabriina@gmail.com>, Felipe <Felipeounicogato@hotmail.com>, Enviada: 11 de Março, 14:15 Assunto: NOTÍCIAS DA MARI

Oi, galera, criei esse e-mail coletivo para saber se, algum de vocês conversaram ou viram a Mari hoje. Pois ela não me dá sinal de vida nenhuma, acreditam? Justo no dia em que eu mais preciso dela. Se souberem, por favor, me avisem??? P.S.: É sério! Ela não me responde. ___________________________________________________

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De: Sá <Sabrinabriina@gmail.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 14:20 Assunto: RE: NOTÍCIAS DA MARI

Olá, Elo! Feliz aniversário, amiga! Já marquei com a Vic e a Lorena. O Dudu e o Fábio (ai, meu coração) também confirmaram presença, assim como o Chris, a Nanda. Acho que o Felipe também virá pois ele não desgruda da Vic. Não se preocupe, a Mari tem essa mania mesmo de desaparecer. Afinal, aposto que ela deve estar perdida em um desses livros de romance. Da última vez que a vi, ela estava lendo ‘’Mentira Perfeita’’ da Carina Rissi. P.S: Como assim, ela não responde? A Mari SEMPRE te responde. ___________________________________________________

De: Lorena <Lorenagata2000@gmail.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 14:36 Assunto: RE: NOTÍCIAS DA MARI

Feliz aniversááário, amigaaaaaaaaa! Já convidei a galera da nossa sala,

~ 98 ~

e


todos confirmaram presença. A Nathalia disse q ia ver com os meninos do segundo se eles queriam participar da sua festa, mas não sei ao certo o que eles disseram a ela. Pelo menos vou poder me encontrar com o Fábio sem estar vestida com aquele uniforme horrível. P.S: Não conta pra Sabrina. Sabemos que ela tem uma quedinha por ele, mas creio que passará. Principalmente quando a Sá me ver abraçada a ele. ___________________________________________________

De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Sá <Sabrinabriina@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 15:04 Assunto: RE: RE: NOTÍCIAS DA MARI

Simples, Sabrina. Ela não responde, não liga, não atende a porra do celular. Não sei o que está acontecendo. Estou começando a ter um ataque aqui. P.S: Obrigada, pelos parabéns!!! E, cuidado, a Lorena está caidinha pelo Fábio. Mas nós duas sabemos que ele não gosta de garotas atiradas. Eu sou muito mais você. ___________________________________________________

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De: Fábio <Fabinhobinho@outlook.com>, Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 15:22 Assunto: RE: NOTÍCIAS DA MARI

Feliz aniversário, Elo! Já tá ficando velha, heim? Cuidado para não cair os dentes… rsrsrs Brincadeiriiiinhaaa. Adoro quando você faz essa cara de garota brava… P.S: Não colégio.

vejo

a

Mari

desde

ontem

no

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De: Dudu <DuduEdu@hotmail.com>, Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 15:27 Assunto: RE: NOTÍCIAS DA MARI

Parabéns, Eloísa! Acho que agora eu terei de deixar você

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sentar no meu lugar lá na sala, por ser mais velha. Hahaha Zuando. P.S: Agora é sério. Se você quiser sentar na cadeira da frente, adoraria te ter ao meu lado. E também não encontrei com a Mari hoje. ___________________________________________________

De: Felipe <Felipeounicogato@hotmail.com>, Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 15:43 Assunto: RE: NOTÍCIAS DA MARI

Feliz aniversário, Elo! Olha, da última vez que eu vi a Mari, ela estava na panificadora onde a Márcia conseguiu um emprego. Se quiser, depois te passo o endereço do lugar. Talvez a Márcia saiba de alguma coisa. ___________________________________________________

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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Nathalie Ferraz <natnatferraz@gmail.com>, Dudu <DuduEdu@hotmail.com>, Lorena <Lorenagata2000@gmail.com>, Fábio <Fabinhobinho@outlook.com>, Sá <Sabrinabriina@gmail.com>, Felipe <Felipeounicogato@hotmail.com>, Enviada: 11 de Março, 16:15 Assunto: PRESSENTIMENTO

Galera… Agradeço pelos parabéns, mas eu realmente estou preocupada com a MARI. Tenho um leve pressentimento que não é boa coisa, Galera. Hoje de manhã, quando acordei, senti um aperto no coração. Nem liguei muito, minha mãe diz que isso é sinal de que precisamos entrar em forma, e então decidi começar a fazer academia hoje (sim, galera, estou fazendo academia… e não Dudu, não quero sua ajuda na academia). Enfim, liguei pra Mari pra contar a novidade, mas ela não deu sinal de vida. Foi então, que eu me lembrei de uma coisa. Eu sonhei com a Mari. Mas como de costume, acabei esquecendo o sonho assim que despertei. Vocês sabem como são essas coisas de sonhos, amnésia… enfim. Não me recordo muito, mas, no sonho, lembro que estávamos voltando do colégio e

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um garoto apareceu e roubou meu aparelho celular. Dai a Mari, sendo minha amiga como ela é, foi atrás do pivetinho metido a ladrão de celulares. Tenho tanto orgulho da minha amiga, somos best-friend até nos sonhos. Ok, parei! Enfim, nisso o ladrãozinho estava acompanhado de mais três outros garotos que o esperavam logo a nossa frente e agarraram a Mari e começaram a bater nela. Nesse momento eu corri para ajudá-la, afinal, ela só estava ali por minha causa (ou melhor, por causa do meu aparelho), e então, eles também começaram a me espancar. Foi quando acordei. Depois disso, lembro de ter tomado meu café da manhã. Já até procurei a mãe da Mari se ela saberia me informar alguma coisa, mas… nada. P.S: Será que era um aviso? Vocês acham que podemos prever o que está pra acontecer (ou já aconteceu) nos sonhos? ___________________________________________________

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15 Eu estava pensando em comida. Muuita comida, na verdade. Eu não tinha comido nada desde ontem, e isso provavelmente me deixara exausta como um bicho preguiça. Pensando em como continuarei viva até termos conseguido escapar. E não em ‘’determinação, disciplina, respeito e autoconhecimento’’, como Márcia acabara de mencionar ao nos revelar onde havia aprendido a lutar daquele jeito hoje de manhã. — Karatê, Kung Fu, Taekwondo e Jiu-Jitsu. Conheço todas elas. E se me permitirem, é claro, darei um jeito de usá-las para fugirem daqui. — notei uma extrema sinceridade em suas palavras — Eu me viro depois, contando que vocês estejam sã e salvos. — e piscou para mim, como se tivesse certeza disso. Isso, é claro, se deu, devido ao plano de fulga que o Matheus teve. Porém, era muito arriscado realizá-lo sem a ajuda da Márcia. — Eu discordo! — objetei, negando tudo. Afinal, não queria que a Márcia se sacrificasse assim, sem se preocupar com a sua própria vida — Ainda assim acho muito arriscado. — Mari, minha querida, você tem outro plano? Acho que não, né? — Márcia parecia confiante com o suposto (e super arriscado) plano de fuga — Além do mais, como eu disse: Karatê, ~ 104 ~


Kung Fu, Taekwondo e Jiu-Jitsu. Conheço todas elas. Ou já se esqueceu do que aconteceu hoje de manhã? — lembrar dos golpes da Márcia, e, principalmente, recordar as cenas em que ela massacrava o ladrão do meu celular, me deu um pouco de esperança em relação ao plano — Só precisamos seguir tudo que combinamos e… — Rezar. — o Matheus sugeriu, intervindo — Rezar muito para que esse plano dê certo. A voz do Matheus parecia distante. Como se ele tivesse em outro planeta, e não ali do meu lado. ‘’RHUOOOOOOOCK’’ Meu estômago roncou tão alto desta vez, que eu poderia jurar que o Matheus e a Márcia haviam escutado também. Fechei os olhos, tentando não pensar em nenhum alimento escandalosamente delicioso no momento, falhando miseravelmente em seguida. Eles pareciam estar esperando que eu dissesse alguma coisa. Droga. Obviamente ouviram meu estômago. — Desculpem, é que eu não comi nada desde ontem. — desta vez não precisei me esforçar tanto para parecer convincente. — Não haverá jeito de fugirmos daqui com você fraca e… morrendo de fome, Mariana — Márcia esbanjou medo com sua frase. — Você precisa comer alguma coisa, Mari. — Matheus sugeriu, parecia mais uma ordem e não uma sugestão — Não digo isso pelo plano, mas, por você. Matheus, Matheus, não bastava você ter só um bom coração, tinha que ser lindo de morrer fisicamente também? Era difícil acreditar que ~ 105 ~


alguém tão lindo (por dentro e por fora, claro) pudesse ser real. Tive medo de que ele pudesse desaparecer numa nuvem repentina de fumaça e eu acordasse. — Bom… — eu parei, e depois o resto das palavras saíram num jato — Eu concluí que, caso a gente consiga sair deste cativeiro, terei de ser forte o bastante. Se possível, até o último minuto. — bem, isso era realmente verdade — Não posso deixar que uma simples fome destrua o plano de vocês. — quem eu queria enganar? O meu estômago, é claro. — NOSSO! — pude ouvir a voz de ambos formar um único timbre. — NOSSO PLANO! Nesse momento, ouvimos um estrondo avassalador. Parecia que alguém do lado de fora estava tentando abrir a enorme e enferrujada porta de ferro bem a nossa frente. E realmente estava. Senti um aperto enorme no coração, e meus cabelos do braço se arrepiarem de uma só vez. — É agora! — Márcia murmurou, como se implorasse para nos prepararmos tanto fisicamente quanto psicologicamente. Embora eu ainda não estivesse emocionalmente preparada para isso.

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16 Há várias maneiras de dizer adeus. Ao que sabemos, entre outros termos, os franceses dizem au revoir, os ingleses goodbye, os espanhóis adios, os italianos arrivederci e os holandeses tot ziens. Há centenas de outras línguas e milhares de variações. Não importa qual você usufrui no momento de despedida, porque um adeus seria definitivamente um adeus. Quando a enorme e enferrujada porta de ferro se abriu, senti que esse era um desses momentos. No entanto, enquanto desejava desesperadamente não rever aquele maldito policial, filho de uma vaca gorda, que provavelmente estava pronto para acabar com nossas vidas, sou pega de surpresa. Não era o pivetinho que havia me roubado. Muito menos o pai dele. — Olha só o que temos por aqui… — sua voz era rouca e grossa. Voz de um… assassino a sangue frio. Ele era forte ao extremo. Parecia ter entrado para academia desde que nasceu. Havia tanta massa muscular em seus braços que cheguei a pensar que: com apenas um movimento qualquer, as suas veias visivelmente bem destacáveis estourassem de uma vez. ‘’Mas, cadê o policial?’’ pensei comigo mesma, completamente confusa. — É de vocês que eu terei que me livrar? — soou mais como uma ~ 107 ~


frase de música. Seria engraçado se não fosse tráfico. Tráfico de pessoas, é claro. — Seu corrupto imprestável, maldito, ladrão! — Márcia parecia cuspir fogo enquanto pronunciava tais palavras. Pude ver chamas vermelhas de ódio em seus olhos. — Não será difícil para mim mandá-la para o inferno, gracinha. — ele rosnou enquanto encarava Márcia nos olhos, agora com muita raiva por sinal. É como eu sempre digo: quando se está entre a vida e a morte, não é nada aconselhável jogar aos quatro ventos toda a sua raiva. Principalmente quando se tem um plano de fuga em mente. E bem… Juro que eu tentava transmitir essa mensagem para a Márcia por telepatia, mas, me lembrei que eu já não estava lendo nenhum livro de fantasia, aqueles onde as mocinhas em perigo tem poderes sobrenaturais. Pois, quando eu leio um livro, tenho a sensação de estar dentro dele. Eu devia saber que isso não era nenhum livro de fantasia. Era a pura realidade. — Será que… antes de me matar, o senhor poderia gentilmente me arrumar um pouco de comida? — implorei, fraca o bastante para impedir qualquer raciocínio lógico no momento — Se é pra morrer, que seja de estômago cheio. Eu não estava tentando ser engraçada, nem nada semelhante, juro juradinho. Apenas, aproveitei para ganhar tempo. Afinal, eu realmente estava morrendo de fome. E de medo. O grandalhão se aproximou um pouco mais, antes de pronunciar: — Mas é CLARO QUE NÃO, Princesa! ~ 108 ~


Ele disse ‘’princesa’’ com tanta malícia, que eu cheguei a imaginar que fosse ser abusada sexualmente. E, ao contrário da Márcia, ele pareceu ler meus pensamentos. — Se bem que… eu posso tirar proveito disso com você. — e me encarou por um tempo, olhando na direção da Márcia logo em seguida. — Prefiro mil vezes morrer de estômago vazio, do que ser usada sexualmente por você. — exaltei, completamente enfurecida. — As duas são marretinhas, que gracinha. — ouvir ‘’gracinha’’ com tanta malícia me deixou ainda mais vermelha e… com medo. — Por favor, não as machuque. — Matheus interveio, impedindo-me de soltar mais uma frase absurda. No entanto, aproveitei a oportunidade para descobrir se a chave das correntes estavam penduradas em algum local do seu corpo. — Eu faço o que você quiser, mas, não as machuque. — Ora, ora. O que temos por aqui: um puta de um senhor HERÓI. Que maravilha! — era notório o ar de sua graça — Afinal, você também me é aproveitável, sabia? Depois de traçar as duas, eu posso usá-lo como sobremesa, o que você acha, garotão? Perdi a vontade de viver ao imaginar o Matheus sendo abusado por esse cara do mau. Principalmente após ser abusada antes. — Por favor, eu imploro. — nem vi quando o Matheus se ajoelhou, eu ainda estava perdida em cenas terrivelmente constrangedoras. Foi quando notei o olhar cúmplice da Márcia. — Tudo bem! — gritou ela — Eu aceito a sua ~ 109 ~


proposta! Sou toda sua. — O que?, pensei, indignada. Não sei se, eu vomitava de nojo com as cenas que rondavam na minha cabeça, ou se aproveitava o curto tempo que nos restara para seguir com o plano. Acho melhor optar pela segunda opção, já que eu não tinha nem mesmo o que vomitar.

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17 O que se sabe sobre o certo e o errado? Se a pessoa escolheu, então para ela é o certo, correto? O que é errado para uns pode ser certo para outros. Então, analisando bem, o errado não existe quando se fala de si próprio, pois, se escolhemos, foi porque para nós aquilo é certo, correto? Errado. Porque muitas vezes, escolhemos o caminho mesmo sabendo que ele é errado. Às vezes o errado parece tão certo que se torna certo por si só. Mas, muitas vezes, o errado é sempre errado, e mesmo assim nosso coração nos guia até ele, o que torna a escolha certa. Era exatamente dessa forma que Márcia decidira se sacrificar. Ela sabia o quão errado era, e mesmo assim, acreditou que era o certo a se fazer. E era difícil para mim aceitar tal escolha, mesmo sabendo o quão fiel ela foi até o último suspiro. No fim, o errado e o certo não existem. E sim, o que decidimos em relação a isso e como lidamos com as consequências causadas no final de tudo, é quem realmente define se a sua escolha é provavelmente ‘certa’ ou ‘errada’. — Foi… muito gentil da sua parte. — eu disse por fim, quando recuperamos o fôlego depois da longa corrida que fizemos — Eu agradeço muito. — ~ 111 ~


Não era necessário acrescentar que, para mim, era impossível ser feliz sem ele. Ele não precisava sofrer junto comigo. — Não foi nada. — murmurou ele, constrangido com a minha gratidão. Notei que seus olhos vasculhavam por todo o local ao nosso redor, para ter certeza de que não havíamos sido seguidos — Você… está bem? — Um pouco cansada, na verdade. — tentei não demonstrar as minhas lágrimas, mas era tarde demais. Matheus notou quando elas caíram por sobre o meu rosto, trazendo soluços de desespero logo em seguida. — Por quê? — eu ainda tentava compreender o que havia acontecido — Ela não devia ter feito aquilo. Ela NÃO deveria. — comecei a chorar, enquanto despejava palavras e sentimentos. Matheus não disse nada, apenas me abraçou com mais força. Notei que havia caído uma lágrima de seus olhos, mas ele secou-as rapidamente com as costas da mão. — Ela estava disposta a nos ajudar, Mari. — foi só o que eu consegui ouvir do Matheus antes de começar a rodar as cenas na minha cabeça como um filme. E eu ainda não conseguia acreditar que a culpa disso tudo era minha… O plano era bem simples: enquanto a Márcia distraísse o grandalhão, o Matheus o derrubaria com uma barra de ferro que nós supostamente havíamos escondido sobre alguns destroços de um automóvel velho. E se por acaso não desse certo, a Márcia usaria os seus golpes para nocauteiá-lo de uma vez. ~ 112 ~


Porém, quando ele começou a passar as mãos no corpo dela, esfregando-as com muita força por sinal, Márcia não resistiu e acabou dando-lhe um golpe certeiro. Nunca, em toda a minha vida – bem louca, assumo – vi uma garota nocautear um cara daquele jeito. Ela simplesmente esmagou as bolas do cara. Ela esmagou as bolas do cara. ESMAGOU AS BOLAS DO CARA! O pensamento que se repete feito um eco atrasa minha reação, e só me dou conta do que eu deveria ter feito quando o vejo socá-la bem no rosto, deixando-a completamente desmaiada sobre o piso imundo. — MÁÁÁRCIA? — é só o que eu consigo dizer enquanto acompanhava as cenas em câmera lenta. Eu sabia, de muitas maneiras diferentes, que estava fazendo tudo errado. — Seu desgraçado, ASASSINO. A-S-A-S-S-I-N-O! — gritei entre os dentes, perdida e completamente irada com aquele maldito. Ele começou a tirar as roupas dela deixando-a quase nua, e logo em seguida, puxou o cinto com um só movimento. Abaixando as calças enquanto tentava colocar aquilo dentro dela. Foi quando notei as chaves caírem do bolso da calça, a poucos metros de distância entre mim e ele. E não sei como aconteceu, mas, quando finalmente consegui agarrá-las, fui puxada pelos cabelos. — Aonde é que princesinha pensa que vai, hã? — e me levantou como se eu fosse uma boneca, enquanto eu encarava aquilo duro bem na minha frente — Tá na hora do leitinho, bebê. — e apertou ~ 113 ~


minhas bochechas com bastante força. Tentei esmurrá-lo, socá-lo, tocá-lo, mas ele era muito mais forte do que eu. Foi quando ouvi um barulho parecido com um cilindro batendo. E nós dois caímos no chão. — Mari, você está bem? — ouvi a voz do Matheus, e no mesmo instante entendi o que havia acontecido. Ele me salvou. — Matheus. — eu disse, desesperada, enquanto esmagava-o com um abraço. — Temos que sair daqui o mais rápido possível, Mari. Ele não ficará desacordado por muito tempo. — Matheus beijou-me sobre a testa, antes de eu ter desfeito nosso abraço. No segundo seguinte, recuperei as chaves que eu havia deixado cair após ter sido puxada pelos cabelos, e conseguimos retirar as correntes do nosso tornozelo. Porém, as chaves não destravaram o cadeado da corrente da Márcia. Matheus me olhou desesperado, como se ordenasse para sairmos dali o mais rápido possível. — Não podemos simplesmente deixá-la aqui. — eu implorei, sentindo lágrimas inundarem meus olhos outra vez — Por favor? Decidi dar uma olhada no restante dos bolsos da calça daquele marginal enquanto ele ainda estava inconsciente no chão, quando de repente ouvimos um barulho de carro sendo estacionado em algum lugar. Obviamente muito próximo do local. — Mari, vamos embora daqui! — Matheus sussurrou alto, espantado — Não dá tempo de salvá-la. ~ 114 ~


— NÃO! NÃO! NÃO! — objetei — Eu não vou sem levar ela, Matheus. Foi quando o maldito grandalhão abriu os olhos, deixando-me completamente sem reação. Eu estava congelada quando senti as mãos do Matheus me puxarem com força. — Mari, vamos embora daqui! — ele repetiu, agora em desespero total. Eu não sabia o que fazer. Eu não queria deixá-la lá, mas sabia que, se ficasse, acabaríamos mortos e não teria valido a pena todo o sacrifício feito pela Márcia. — Seus moleques, miseráveis! — foi só o que consegui ouvir daquele canalha quando finalmente passamos por sobre a enorme porta enferrujada. Não sabíamos onde diabos haviam nos levado, só conseguíamos enxergar árvores e mais árvores. A única alternativa era correr como se a minha vida dependesse disso. O que realmente dependia. Não sei ao certo quantos quilômetros conseguimos percorrer, mas parei quando senti meus pés arderem. Estavam fracos de mais para continuar. Era impossível não imaginar tudo isso sabendo que, a essa altura, Márcia está sendo abusada sexualmente por aquele marginal. — Você prometa que, assim que encontrarmos ajuda, voltaremos para resgatá-la? — pedi por garantia, afinal, eu precisava ajudá-la. — Sim, eu prometo, Mari! — ele disse e eu o abracei novamente. Trocamos mais alguns comentários sobre o ~ 115 ~


clima, que estava úmido, e a maior parte da conversa não passou disso. Ficamos olhando o território em silêncio. Era lindo, é claro; eu não podia negar isso. Tudo era verde: as árvores, os troncos cobertos de musgo, os galhos que pendiam das copas, a terra coberta de samambaias. Até o ar filtrava o verde das folhas. Era verde demais — um planeta alienígena. Por fim, quando o choro cessou, decidimos caminhar mais um pouco. Principalmente porque já estava começando a escurecer e precisávamos encontrar algum abrigo para passar a noite. Eu queria voltar, juro que queria poder salvála, mas o errado é sempre errado, e mesmo assim nosso coração nos guia até ele, o que torna a escolha certa. E a escolha certa agora seria continuar.

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18 — Matheus? — gritei, desesperada. Ele rapidamente me encarou, um pouco surpreso com o volume da minha voz — Olhe! — e apontei o dedo na direção de uma fazenda velha, bem a nossa frente. — Mari, isso é fantástico! — Matheus sorriu com a ideia. Afinal, ainda havia um pouco de esperança. E eu estava em seus braços antes de abrir a boca outra vez e agradecer a Deus por isso. Não! Você não entendeu direito! Eu estava sendo carregada por ele. Meus pés já não aguentavam mais. Seria impossível continuar. Estavam doendo muuuito. O que já não era nenhuma novidade quando se está a beira da morte e sua única opção é correr em disparada, como se você estivesse em uma maratona a qual o ‘prêmio’ era nada mais nada menos do que: sua própria vida. Por esse motivo Matheus aceitou me carregar em seus braços por um tempo. Acho que já era hora de deixá-lo respirar de verdade, não é mesmo? — Podemos pedir ajuda. — sugeri, enquanto sentia pela milésima vez meu estômago roncar. Matheus ficou calado por um instante antes ~ 117 ~


de me colocar no chão outra vez. — Será que… tem alguém lá dentro? — ele parecia preocupado. — Deve ter. — respondi de imediato — Mas, por precaução, vamos lá dar uma olhada? Eu disse isso e comecei a caminhar com mais velocidade do que o normal em direção ao local, pois, eu já não aguentava mais de tanta fome. No entanto, Matheus não me seguiu. Apenas continuou parado atrás de mim. — Você vem ou não? — questionei. Matheus fez cara feia antes de responder: — E se o proprietário for um dos seqüestradores, Mari? Afinal, aquele cativeiro não está tão distante assim, você não acha? — e me encarou, com dúvida. Eu ainda não havia pensado nisso, pois, a única coisa com a qual eu conseguia pensar era: comer (além de fugir, é claro). E se for verdade? E se ele estiver certo? — Só saberemos se tentarmos. — eu realmente precisava comer alguma coisa e tentei focar nisso, ao invés de produzir apenas pensamentos negativos — Na dúvida, podemos conferir de perto se há alguém ou não na casa, antes de começarmos a pedir ajuda em voz alta. O que você acha? — Tudo bem, mas, eu vou na frente. — e me encarou, como se pedisse minha permissão. Eu não disse nada. Apenas afirmei com a cabeça. E eu ainda sentia muita vontade de chorar, acredite, mas, obviamente, isso me deixaria ainda ~ 118 ~


mais desidratada. Vai por mim. Depois do longo trajeto que percorremos a pé, jurava ser um ‘milagre’ eu ainda estar andando. Caminhamos com cuidado e sem fazer muito barulho, lógico, olhando sempre para os lados. Não seria nada mal dar uma conferida de vez em quando, certo? — Parece que não tem ninguém. — sussurrei. — Vou dar uma olhada nos fundos primeiro. — e fez sinal com as mãos para que eu o esperasse. Fiz exatamente o que ele mandou, enquanto interpretava o meu lindo papel de espiã. Era meu dever ficar de olhos abertos e em qualquer movimento suspeito, afinal, não tínhamos total certeza se estávamos em um território seguro ou não. Quando de repente, vi a maçaneta da porta se mover bem na minha frente. OH. MY. GOD. E agora? Mariana, Mariana, porque você não pediu a Márcia para lhe mostrar alguns truques de Karatê, antes disso tudo acontecer? Eu queria gritar o Matheus, queria notificá-lo de que estávamos totalmente errados em relação a nossa estúpida teoria de que não havia ninguém ali, quando por fim, a porta… se abriu. — Não tem ninguém… — Matheus não sussurrou e, obviamente, eu não o deixei que terminasse a frase, pois, quando dei por mim, eu já havia socado-o bem no meio do nariz. As cenas da Márcia socando aquele pivete hoje de manhã ainda permaneciam na memória e isso me fortaleceu um pouco. ~ 119 ~


— Seu… Seu filho de um vaca gorda miserável! — gritei exasperada, e parei, antes de iniciar uma sessão de xingamentos obscenos. O que ele acha que está fazendo?, respirei fundo e disse — …Tá tentando me matar também, é? — e soquei-o de leve no ombro. — Ei? — gritou ele, fazendo drama pelo o meu suposto movimento de defesa enquanto deixava cair alguma coisa no chão. Acho que doeu um pouco, ou seja: ponto pra mim. — Desculpa ter lhe assustado, Mari, mas… essa não era minha intenção, tá legal? — Agora é tarde. — objetei, um pouco furiosa na verdade. Porém, seguida pelo impulso, e sem o mínimo de controle sobre mim, abracei-o. Era como se fosse uma obrigação minha protegê-lo. Até mesmo de mim, se fosse necessário. — Como eu estava dizendo, antes de ser supostamente atacado, está tudo limpo. Não tem ninguém lá atrás. — e me abraçou de volta. Aquilo era boooom. Matheus, seu filho de uma vaca gorda, como você consegue fazer com que cada abraço seu, se torne ainda mais delicioso e aconchegante? Droga! O que é que eu estou falando? No entanto, meu estômago começou a roncar outra vez, e isso não era nada bom. — Alguém aqui precisa se alimentar com urgência. — e sorriu com o seu próprio comentário. E eu ainda tinha vontade de socá-lo um pouco mais, acredite, mas… ~ 120 ~


— Acho que eu preciso urgentemente comer alguma coisa, não é mesmo? — respondi, desfazendo o abraço. Foi quando esmaguei com os pés algum tipo de embalagem plástica. — Eu peguei isso pra você lá na cozinha. — ouvi ele dizer antes de vê-lo agachar e pegar o pacote de salgadinho (ou o que havia sobrado dele), entregando-me em seguida — Acho que ainda dá pra aproveitar o resto. Não pensei duas vezes, antes de agarrar o saquinho. Matheus sorriu com o meu gesto animal. — Acho que alguém aqui ganhou na mega sena, não é mesmo? — Engraçadinho. — não ri com o seu comentário, e logo o ofereci. Afinal, ele também devia estar com fome. E, enquanto eu me reabastecia literalmente, comecei a observar o local. Havia muitos quadros pendurados nas paredes. A maioria eram retratos antigos. Um por sinal, conseguiu me roubar a atenção. — NÃO PODE SER! — gritei, ao mesmo tempo que as lembranças surgiram feito um colapso em meu cérebro. — O que aconteceu, Mari? — Matheus parecia confuso com o meu surto — O que não pode ser? — Você não reconhece esse lugar na foto? — e fiz um circulo invisível com o dedo sobre a imagem. — Não pode ser, Mari! — finalmente Matheus havia se lembrado — Não pode ser que esse seja… ~ 121 ~


— O pátio do nosso antigo colégio. O mesmo onde aconteceu a coroação do nosso Baile. — O mesmo em que você foi vítima de um… ‘’Balde de graxa’’ — dissemos em uníssono. E eu rapidamente me lembrei daquele maldito incidente. Porém, no retrato, o pátio estava um pouco diferente do que costumava ser. — Olha essa data, Mari. — Matheus me mostrou os números pequenos bem abaixo, ao lado direito da imagem — Essa foto foi tirada em 1975. — Isso quer dizer que: os proprietários deste local velho já frequentaram o nosso Colégio. Como isso é possível?— me ouvi dizer, confusa — Não sabia que o colégio era tão antigo assim… — parei de falar quando observei outro retrato — Ei, todos eles foram tirados no mesmo local. — São recordações dos… ‘’Bailes’’ — unimos nossa voz outra vez. — E olha esse aqui. — Matheus parecia incrédulo com o retrato a seguir — Essa não é… você? — e me encarou, agora completamente surpreso. Passei um bom tempo admirando o retrato, ao qual, eu, obviamente, havia acabado de levar um banho de graxa. E, pelo que consigo me lembrar, essa foto foi tirada segundos depois do ocorrido, e… — AI. MEU. DEUS. — gritei, totalmente perplexa com o que os meus olhos conseguiam ver — Essa é a… Letícia Gomes. — meu dedo deslizou por sobre o local onde ela se destacava na imagem. Ela segurava minha coroa de Rainha do Baile nas mãos. Nenhuma novidade, obvio. Mas, ao vê-la toda sorridente naquela imagem, tudo fez sentido… ~ 122 ~


— NÃO É POSSÍVEL! — exaltei enquanto piscava três vezes seguida. Eu queria ter certeza de que eu não estava sonhando — Matheus, esse aqui não é… — …O garoto que roubou o seu celular. — Matheus o reconheceu também, assim que deslizei o dedo sobre a antiga imagem do Lúcio. A única diferença é que, naquela época, ele não tinha tantos músculos assim. E para tornar essa situação em uma catástrofe ainda maior, lógico, ele também segurava uma coroa. Desta vez a do Rei, é claro. Passei a olhar pro nada, enquanto finalizava as últimas peças desse quebra-cabeça. Eu queria estar errada em relação a isso, mas, era impossível não ser verdade. Foi quando ouvimos um barulho no andar de cima. Um barulho ao qual eu o reconheceria até mesmo em MARTE. — Está tocando PARAMORE. — Matheus parecia surpreso ao reconhecer a voz da Hayley. O som estava abafado e muito baixo por sinal, mas isso não nos impediu de ouvir perfeitamente a faixa “That's What You Get”. — MEU CELULAR! — gritei de alegria — Esse é o ‘toque de chamada’ que eu havia colocado. — não sei como isso era possível, mas, meu aparelho estava em algum cômodo desta casa — Eu tenho que antender. Pode ser a minha mãe. — e sai em disparada em direção a escada. — Mari? — Matheus gritou, tentando me segurar pelos braços, mas era tarde demais. Eu já estava no sétimo degrau, subindo ~ 123 ~


desesperadamente, e, rezando para conseguir chegar antes que ligação caísse.

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19 De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 17:15 Assunto: MARIANAAA!

Hey, a Mari já voltou? É que eu preciso da ajudinha dela com o que vestir. A senhora sabe como nós mulheres gostamos de nos vestir bem, não é mesmo? ___________________________________________________

De: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 17:17 Assunto: RE: MARIANAAA!

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Eu pensei que ela estivesse com você, afinal, não é exatamente hoje o dia em que você completa mais um ano de vida? Achei que ela estivesse ai com você, fazendo companhia, ou, sei lá, lhe ajudando nos preparativos da sua festa. A propósito, eu não poderei comparecer, então… meus Parabéns, querida!!! ___________________________________________________

De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 17:20 Assunto: RE: RE: MARIANAAA!

Desculpa dizer (escrever) isso, mas, a Mari não me responde desde ontem à tarde. E se a senhora quer saber o que eu acho, então lhe direi (escreverei): Acho que o certo a se fazer é dar parte. Digo… procurar ajuda de pessoas especializadas nessa área. Em outras palavras: Comunicar aos policias o desaparecimento dela. É isso que eu quero dizer. ___________________________________________________

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De: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com) Para: Eloísa Prado (eloelo@gmail.com) Enviada: 11 de Março, 17:25 Assunto: RE: RE: RE: MARIANAAA!

Olha, eu não acho que seja necessário exagerar tanto em relação a isso, mas, irei pensar sobre o assunto caso ela não apareça por aqui até as 18:00 de hoje. Afinal, ela precisa se arrumar para ir a sua festa, não é mesmo? ___________________________________________________

De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 17:27 Assunto: S.O.S

Segundo esse site, uma funcionária, com faixa de 17-18 anos desapareceu em pleno expediente, e, a luz do sol. “Segundo uma garotinha de 9 anos, a jovem estava sendo carregada por um policial. O fato é que essa tal garota jamais fez algo gravemente importante, ou sequer, havia

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passagens pela polícia que resultasse em tal ato agressivo.” Copiei essa parte da matéria que você poderá ler mais detalhada se preferir. O link é esse aqui: Http://www.desaparecidos.com.br/curiosidad es ___________________________________________________

De: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 17:32 Assunto: RE: S.O.S

Olá, querida! Não entendi o “real motivo” deste outro email que você me mandou, mas ao ler a matéria completa, comecei a desconfiar de uma coisa. Não posso dizer ainda se é mentira, ou se é apenas uma historinha inventada por aquela garotinha (o que eu super considero falso, porque, quem seria carregada por um policial em plena luz do dia assim?). No entanto, talvez essa jovem seja mais uma ladra na sociedade, ou algo do tipo. Certamente o policial quer que ela pague pelos erros cometidos, por que... o que é de adolescentes que se metem em “furadas” (segundo o vocabulário de vocês), não há

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como não duvidar disso. Não creio que a minha envolvida nisso. Mas, preocupação.

filhinha esteja obrigada pela

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De: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Para: Christina Carey <ChrisCarey@outlook.com> Enviada: 11 de Março, 17:35 Assunto: RE: RE: S.O.S

Bom, pode até ser verdade. Mas acho que a senhora não entendeu. Segundo o relato, este mesmo policial abordou dois jovens antes deste ocorrido. E pela descrição detalhada, acho que a Mari possa ser um deles. E eu espero estar totalmente errada quanto a isso. Sem querer aprofundar no assunto, mas… eu sonhei com a Mari sendo ESPANCADA. ___________________________________________________

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20 — Achei! — eu disse, quase em um grito. Depois de revirar todos os cômodos do segundo andar, eu jurava que a qualquer momento a ligação poderia cair e, seja lá quem estivesse me ligando, desistisse de tentar ligar outra vez. Porém, eu finalmente o havia encontrado. Não pensei duas vezes, arrastei o dedo pela tela do meu aparelho celular e atendi na, talvez, décima quinta ligação. — Ilha… dê você?… Porque você não… — a ligação estava uma droga, mas isso não me impediu de reconhecer a voz do outro lado da linha. — Eu não estou conseguindo entender nada do que a senhora está falando, mãe, acho que o sinal está ruim. — eu disse isso enquanto olhava para o Matheus, agora bem na minha frente. No entanto, antes mesmo que eu pudesse dizer mais uma palavra sequer, o maldito aparelho desligou. Fiquei sem saber o que fazer, e, quando tornei a ligar o aparelho celular, descobri que o traidor estava totalmente sem carga, pois, desligou novamente no segundo seguinte. — Precisamos encontrar um carregador o mais rápido possível, Matheus. — gritei em desespero. Era tão bom ouvir aquela voz outra vez. ~ 130 ~


Da minha mãe. E, quando dei por mim, já estava com os olhos marejados. — Calma, Mari! — ele me abraçou com força — Nós vamos encontrar sim um carregador. Então, senti outra vez. Aquela sensação estranha com a qual eu vinha sentindo desde que acordei naquele cativeiro imundo. Aquela vontade imensa de tê-lo para sempre ao meu lado. Não sei onde eu estava com a cabeça (ou talvez eu até saiba), mas nos últimos momentos, eu só queria ficar ali, abraçada a ele. E apenas isso. — Sabe aquele momento em que você se sente um personagem de um filme? — e passei a olhar pro nada, enquanto recordava os melhores momentos em que passei ao lado dele. — Hã? — Matheus pareceu não ter me compreendido. — Deixa pra lá. — respondi enfim, e decidi voltar para a realidade. — Me conta. Me conta. ME CONTA. — ele segurou a minha mão, bastante curioso, enquanto parecia ter a mesma idade de uma criança — Seja o que for, eu preciso saber. Por favor… Não sei por onde começar, então recorro a música. Assim como eu, Matheus era apaixonado por qualquer tipo de música, o que nos aproximou ainda mais. — Você conhece ‘’Empty Handed’’? — Empty Handed? — ele levantou os cílios, em dúvida — Qual cantor? — Não é ‘cantor’, é cantora! — e deixo escapar um meio sorriso — Da Lea Michele? ~ 131 ~


— Acho que sim. Adorava vê-la interpretando a Rachel em Glee. — Como não amar a Rachel. — não era uma pergunta — Ela é incrível. — não sei como, mas eu estava sorrindo com os olhos. — Mas eu ainda não ouvi todas as faixas do seu EP. — nesse momento eu fiz cara feia pra ele, como se perguntasse mentalmente “como assim, você ainda não ouviu todas as faixas do EP dela?”. Ele sorriu e então continuou — Sabe de uma coisa? Fiquei com saudades daquele tempo. Assistindo a todos os episódios das duas primeiras temporadas. — e ao finalizar, corei ao sentir seu olhar totalmente fixo em mim. Como se eu fosse a caça, e ele o predador. Senti isso ao me lembrar também daquela época. Mal tínhamos descoberto a existência do seriado Glee, e já havíamos assistido mais da metade da primeira temporada com a nossa imprevisível maratona. Lembro claramente que isso aconteceu uma noite antes do baile. Gostávamos de qualquer filme: romance, terror, fantasia. Principalmente os musicais, que eram os nossos prediletos. Foi assim que eu me apeguei ainda mais ao Matheus, pois, diferente de todos os outros garotos que eu havia conhecido, ele era o único que apreciava o mesmo gosto pela música como eu. Sem picuinha. Sem criticar. Sem reclamar. Passávamos boa parte do tempo ouvindo músicas. E cantando-as também. Essa era a melhor parte. ~ 132 ~


— “Se eu caísse dentro de você, seria perto o suficiente?’’ — ele disse cantando (em inglês), antes de me encarar seriamente. Fiquei um tempo calada, tentando digerir tais palavras e o que elas queriam realmente me dizer. Foi quanto me dei conta de que era um trecho da música Empty Handed, a qual eu havia acabado de mencionar. Fazia tempo que eu não o via cantar entusiasmado assim e então… — “Se eu finalmente deixar você entrar, você iria me mostrar o que é o amor?’’ — respondi (cantando também) em inglês, dando sequência a letra da música. Ele parou de cantar por um tempo, e depois me abraçou antes de abrir a boca e dizer (sem cantar desta vez): — Sei que não é o momento certo para isso, mas… Nem sei direito o que estou sentido agora, só sei que é forte. Muito forte, por sinal. E eu não quero te assustar, mas… — ele sussurrou no meu ouvido — …Eu nunca vi uma garota que, mesmo depois de tudo o que passamos, por mais perigoso e sombrio que tenha sido, ainda consiga manter esse brilho resplandecente no olhar. Eu parei de respirar neste instante. Juro! O que ele pensa que está fazendo, afinal? Me deixando sem ar, é claro, só poderia ser! Afinal, ele havia conseguido. E eu provavelmente não saberia como reagir a esse momento um tanto imprevisível, por assim dizer, mas respondi: — Você não está me assustando, Matheus. — ou ao menos eu fingia que não, pois me sentia completamente perdida no mesmo instante em que ~ 133 ~


fui pega de surpresa por suas íris encandecestes. Virei o rosto levemente, até que meu nariz encontrou a ponta do seu. Nossos olhares se prenderam, e havia tanto calor em seus olhos que senti como se estivesse derretendo. — Me beija logo, Matheus — sussurrei. — Mari — ele gemeu e então me beijou. Na boca. De língua. Assim que seus lábios finalmente me tocaram, agressivos e macios, uma explosão de cores, luzes e calor me inundou. Senti como se realmente flutuasse, e a única coisa que me mantinha presa no chão eram seus braços ao meu redor. Eu não estava esperando aquele tipo de beijo. Quero dizer, eu estava. Acabei flutuando em pensamentos, e isso fez com o meu celular, que estava nas minhas mãos, caísse sobre o chão. E certamente o Matheus se assustou com o barulho, pois, no segundo seguinte o momento mágico cessou. — Eu não devia ter feito isso — Matheus murmurou. — Devia — objetei, ainda sem fôlego — Devia sim. — Não, Mari. Eu não devia. Não posso me aproveitar de você desse jeito. Você está frágil e carente, e eu… — ele sacudiu a cabeça atormentado — Desculpa. Você é linda e eu agi sem pensar. — Adorei te ver agindo sem pensar. Na verdade mesmo, eu sempre agi assim. — o que certamente era verdade — Afinal, não foi tão ruim assim, foi? — e antes que o Matheus me ~ 134 ~


respondesse, ouvi um barulho vindo do andar de baixo. — Você ouviu isso? — ele me encarou, agora frustrado e ao mesmo tempo com medo. Muito medo, na verdade. Não deu tempo de responder. O medo começou a dominar cada centímetro do meu corpo também. Impedindo-me de pensar ou arquitetar qualquer plano de fuga ao qual éramos necessitados no momento. Eu queria gritar, mas seria idiotice se eu fizesse isso. Então, quando avistei o Matheus gesticulando os braços na tentativa de tentar me dizer para que eu me escondesse debaixo da cama sem abrir a boca, não pensei duas vezes antes de me enfiar lá em baixo. Matheus havia se escondido dentro de um guarda-roupa, que estava um pouco acabado na verdade, mas que era enorme. Perfeito para um esconderijo. E eu ainda havia conseguido vê-lo fechar uma das portinhas do guarda-roupa antes de um par de botas escuras adentrarem no quarto. Essa era a única visão que eu conseguia ter no momento.

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21 Nunca fiquei tão apavorada em toda minha vida. Eu corria tanto e tão depressa, que minha respiração chegava a arranhar a garganta. Nem sei por quanto tempo eu estava correndo. A cada passo que eu dava, sentia fisgadas terríveis nas pernas. Mas não podia parar. Nem me atreveria. Estava escuro, mas eu não queria enxergar. Também não queria ouvir, mas não conseguia evitar. Recusei-me a ouvi. Melhor assim. Continuei a correr. Um rosto surgiu de repente em meio a escuridão, bloqueando meu caminho. Era ele. Tinha que ser ele. Ou então, eu estava oficialmente ferrada de vez. No momento em que eu me escondi debaixo daquela cama, um tanto desconfortável na verdade, senti que em poucos minutos eu teria um ataque cardíaco. Já que, as batidas do meu coração estavam tão rápidas (e tão fortes), que, quem estivesse por perto, seria capaz de ouví-las. E, enquanto o dono daquelas botas de couro escura caminhava pelo quarto, eu tentava não respirar em momento algum. Pois, essa, era a única ~ 136 ~


maneira que eu tinha para permanecer em total silêncio. E é claro que eu não me atreveria. Pelo menos, não até ter avistado o maldito aparelho estilhaçado no chão. — Eu podia jurar que alguém estava conversando por aqui. — a voz rouca ecoou pelo quarto, me dando pequenos calafrios. Ele ainda conseguiu dar alguns passos antes do meu celebro começar a funcionar de verdade e reconhecer aquele timbre. Só poderia ser… “Sim, era ele!” pensei, ainda mais confiante do que nunca, “o mesmo canalha que havia tentado me abusar”. Os passos cessaram em frente a cama onde eu estava “escondida” em baixo, obviamente ele viu o meu aparelho celular sobre o chão e… Oh, Deus! Meu coração parecia uma bomba nuclear, prestes a explodir a qualquer momento quando aquelas mãos enormes e grossas, tocaram o piso frio ao lado da cama. Eu estava pronta para gritar. Pronta para o ataque (e piripaque também). No entanto, antes que eu conseguisse ver o rosto do “sequestrador”, ouvi uma das portas do guarda-roupa (onde o Matheus estava) se abrir com força. E isso provavelmente acabou chamando a atenção dele, que, em menos de segundos, já se encontrava de pé outra vez. Matheus, seu filho se uma vaca gorda, o que você pensa que está fazendo? “Te salvando!”, meu subconsciente automaticamente me devolveu a resposta da minha própria pergunta. Era óbvio que ele estava me ~ 137 ~


‘salvando’ pela terceira vez, mas… “quem iria salválo?”. Foi então que eu comecei a pensar em todas as possibilidades negativas desta história. Do que adiantaria, se, por via das dúvidas, eu sobrevivesse a tudo isso e ele não? O que seria de mim sem ele ali por perto, para me proteger quantas vezes eu precisasse? O que seria do nosso futuramente “nós” de agora em diante? Em meio a esse amontoado de perguntas, eu tinha certeza apenas de uma coisa: eu o amava. Digo isso não por ele ter me salvado duas vezes, ou muito menos por se sacrificar (como acabou de fazer no exato momento). Eu sempre o amei, na verdade. Apenas não queria aceitar isso facilmente, talvez por medo ou de não ser correspondida da mesma forma, mas… após aquele beijo, algo instantaneamente fez com que eu acordasse de uma vez por todas. E agora tenho certeza de que esse amor é recíproco e real. Por isso, quando vi que o sequestrador iria agarrá-lo prontamente assim que o Matheus havia saído de dentro do guarda-roupa, não pensei duas vezes e eu mesma o agarrei. Digo, não o Matheus, mas, o sequestrador. Segurando em uma de suas pernas com todas as minhas forças, fazendo com que o tal brutamontes caísse direto ao chão. Eu não estava tentando ser uma ‘Heroína’, ou coisa do tipo, de maneira alguma. Apenas, estava tentando fazer a coisa certa desta vez. Ou seja, protegê-lo da mesma forma com que ele me protegia. Apenas isso. E conseguimos sair dali, já que a cama ficava bem no meio do quarto e o Matheus rapidamente ~ 138 ~


havia derrubado uma das partes inteira do guardaroupa (que era muito grande por sinal) em cima do sequestrador. Aquilo me deixou de boca aberta, pois, eu jamais imaginei o quão forte o Matheus poderia ser. Foi então que eu comecei a observar-lo com mais atenção. Refiro-me a sua estrutura física, lógico. No mesmo segundo, eu lancei um olhar questionador a ele, como se perguntasse mentalmente “aonde foi que você conseguiu toda essa força?”… e ele me olhou de volta, como se respondesse “Na hora do medo somos capazes de tudo”. Não necessariamente dessa maneira, mas foi o que eu consegui interpretar até então. E, enquanto eu me rastejava para sair debaixo daquela cama, notei que o Matheus havia retirado a chave da porta e estava recolocando-a no segundo seguinte pelo lado de fora, trancando-a, assim que conseguimos sair do quarto. Tudo aconteceu muito rápido, como se naquele momento tivéssemos adquirido o mesmo poder do personagem Flash. — Corre, Mari! — ele gritou, enquanto eu pulava os degraus da escada de três em três — Estarei logo atrás de você. E agora, eu estava ali, correndo feito uma louca sem direção. No escuro. E… Sozinha. Pelo menos, era isso que eu achava, até ter esbarrado em alguém ao qual eu rezava para ter sido o Matheus, já que suas últimas palavras até então foram: “Estarei logo atrás de você”. ~ 139 ~


No entanto, eu estava errada. O vulto que eu tinha visto (e esbarrado), não era quem eu realmente esperava que fosse, e sim… — Márcia? É você? — eu disse, perplexa com o que os meus olhos viam.

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22 Matheus Meu coração estava a mil. Quando eu pedi a Mari para que corresse em disparada, eu não tinha tanta certeza assim se eu realmente “estaria logo atrás dela” como eu havia prometido, simplesmente para confortá-la em relação a tudo isso. Eu só queria protegê-la. Esse era o meu dever. Senti minhas pernas bambearem no momento em que a vi virando as costas para mim e pulando desesperadamente os degraus da escada. Ela é incrível. E nesse momento, eu tive certeza de uma coisa: Eu a amava enlouquecidamente. E, talvez, por ter tido toda essa certeza no mundo, é que, independente do que pudera vir a me acontecer no momento seguinte, eu estava feliz em saber que ela estaria segura. Ou eu não me chamaria Matheus Figueiredo de Albuquerque. Disso eu tinha certeza! Como dizia um livro que li uma vez: “Todos os jovens se preocupam com as coisas: é parte natural e inventável de crescer”. E, a essa altura, minha maior preocupação na vida era a de nunca mais alcançar nada tão bom, tão nobre ou verdadeiro ~ 141 ~


quanto o amor que eu sentia por Mariana Carey. Ela é de fato a pessoa mais nobre que eu já conheci, e ainda assim, eu preciso me afastar dela para protegê-la. Ouvi um estrondo, como se algo grande ou pesado se colidisse com o solo. Senti um pequeno terremoto – já que a casa havia sido construída totalmente com madeira – balançar os meus pés, e então eu percebi o que estava prestes a acontecer. A porta. Ele estava tentando derrubá-la a força. E eu sabia que em questões de minutos ela se romperia com tanto peso sobre ela, já que, pela estrutura velha de madeira, ela não iria suportar por tanto tempo. Só tive tempo de me virar de frente para a escada quando ouvi o estrondo que a porta fez ao cair no chão. Era tarde demais! Eu estava correndo em direção a escada quando, de repente, senti uma pancada forte na cabeça, fazendo com que eu tropeçasse nas minhas próprias pernas sobre a escada. E, quando dei por mim, eu já estava “descendo” rápido demais. Sentir que estar caindo é algo assustador. É como se você estivesse criando um castelo de cartas e ele caísse graças a um pequeno erro seu. E o meu erro, foi ter ficado tanto tempo ali. Quando finalmente acabou, senti todo o meu corpo doer com as pancadas que cada degrau me proporcionou e, depois disso, não vi mais nada. A dor era incessante e, em menos de segundos, eu já não conseguia respirar direito. Eu falhei. ~ 142 ~


23 Mariana — Como você conseguiu? — eu disse, ainda perplexa com o que os meus olhos viam. Pois, no momento em que avistei Márcia sobre a escuridão permanente, pensei que já estava começando a ficar biruta de vez. E talvez isso explique o porquê de eu ter desmaiado no segundo seguinte. Quando voltei a abrir os olhos novamente, lá estava ela outra vez me encarando. E então eu soube que eu não estava ficando maluca, ou coisa parecida, ela simplesmente havia conseguido. — Foi mais fácil do que eu pensei que seria, Mari. — ela enfim respondeu, agora totalmente aliviada. Eu sabia que algo teria acontecido com o Matheus naquele momento e, por isso, optamos pelo plano B do nosso arriscado plano de fula desta vez, já que agora seria só eu e ela no comando até então. No entanto, eu ainda queria saber como ela realmente havia conseguido escapar daquele lugar. Por isso, eu perguntava insistentemente sobre isso, principalmente depois de tudo o que aconteceu. — Quando despertei da pancada que aquele brutamontes me deu, notei que eu estava ~ 143 ~


totalmente sozinha naquele lugar. Não tinha absolutamente nenhuma alma viva a não ser a minha, graças a Deus. — ela uniu as duas mãos sobre o peito (como se fosse rezar) em forma de agradecimento — E a bendita porta enferrujada ainda estava aberta. E isso não foi o melhor, Mari, você não sabe o quanto eu fiquei aliviada ao olhar para o chão e encontrar todas aquelas chaves ali na minha frente. Meu coração até parou de bater descompassado. — vi que ela tinha sorrido, mas, eu ainda não conseguia imaginar aquilo e consegui sorrir também — De início, nenhuma daquelas malditas chaves estavam destrancando o cadeado que me prendia aquela corrente, e isso certamente me deixou muito preocupada já que, a qualquer momento, eles poderiam voltar e talvez aquela fosse a minha única chance. E ainda por cima eu nem tinha certeza se vocês haviam conseguido fugir ou não, então… — seus olhos pareciam ter se teletransportado para outra dimensão. Logo imaginei que ela estaria revivendo tudo aquilo — …imagina quão desesperador foi esse momento. — e eu já estava imaginando, óbvio — Ainda bem que eu consegui encontrar a bendita chave debaixo da tábua que estava me machucando. Foi então que eu me toquei. No momento em que o maldito me agarrou pelos cabelos, me erguendo como se eu fosse uma barbie, eu devia saber que uma das chaves teria se soltado ou escorregado (sei lá), e por isso eu não encontra-a como deveria. Ou teria sido naquela hora em que o Matheus o atacou por trás?! Ah, Droga! ~ 144 ~


Me lembrar disso certamente fez com que eu tivesse outras mil dúvidas que ainda rondavam em minha cabeça, e, graças a isso, tudo começou a fazer sentido. — ESPERA! — eu disse, como se eu realmente começasse a entender tudo aquilo — …então quer dizer que… — O nosso plano deu certo, Mari! — ela piscou e, rapidamente, me abraçou, entrelaçando (um pouco forte demais, por assim dizer) seus fortes braços entre minha cintura. — Ei, Márcia, Calma! — tentei fazer com que ela notasse de uma vez por todas que iria acabar me sufocando se continuasse me apertando daquele jeito, quando, de repente, ouça-a cantar: “If I die young bury me in satin Lay me down on a bed of roses Sink me in the river at dawn Send me away with the words of a love song” Eu reconheceria aquela letra em qualquer lugar. “If I Die Young” é uma das minhas faixas prediletas da banda The Band Perry. E eu sabia a tradução perfeitamente: “Se eu morrer jovem, enterre-me em cetim Deite-me em um mar de rosas Afunde-me no rio na madrugada Deixe-me ir com as palavras de uma canção de amor” — “A faca afiada de uma vida curta, bem… eu ~ 145 ~


tive apenas o tempo suficiente”. — Márcia diz sem cantar desta vez, começando a soluçar — Se eu morrer jovem, quero que façam exatamente o que está descrito nesta música. — Ei? — eu disse em meio a um sussurro, no momento em que notei com os olhos cheios de lágrimas. — Essa não é a Márcia que eu conheço, sabia? — era só dizer isso, para que ela começasse a responder com dificuldades: — As vezes… — ela disse, em meio aos soluços que apareceram — …precisamos por para fora, — e mais soluços a interrompeu — …tudo aquilo que nos prende ao medo. — E foi então que, pela a primeira vez na vida, eu a vi chorar. Nesse momento eu a abracei com mais força, antes de cantarolar o refrão da música: “Um centavo pelos meus pensamentos, oh não, eu vou vendê-los por um dólar… E então, Márcia me acompanhou: Eles valerão muito mais quando eu for um caso perdido E talvez então você ouça as palavras que cantei Engraçado, quando se está morto pessoas começam a ouvir” Quando a música enfim acabou, sorrimos para o nada. Isso a acalmou um pouco. Ela pisca para mim. Encaro isso como um adeus e boa sorte, então pisco de volta com os dois ~ 146 ~


olhos — o que significa “boa sorte em dose dupla para você, Márcia”, o que eu acho que ela entende, já que grunhe e começa a caminhar em disparada. Fazendo exatamente o que havíamos combinado.

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24 De: Eloísa Prado (eloelo@gmail.com) Para: Nathalie Ferraz <natnatferraz@gmail.com) Dudu <DuduEdu@hotmail.com), Lorena <Lorenagata2000@gmail.com), Fábio <Fabinhobinho@outlook.com), Sá <Sabrinabriina@gmail.com), Felipe <Felipeounicogato@hotmail.com>, Enviada: 11 de Março, 16:15 Assunto: CANCELAMENTO

Oi, galera, mas uma vez estou escrevendo por esse e-mail coletivo para comunicar o CANCELAMENTO da minha festa de aniversário. Não, vocês não leram errado! Eu estou mesmo cancelando a minha festa justamente por motivos maiores. Ou seja, o desaparecimento da Mariana. Pois ela AINDA não me deu nenhum sinal de vida e, pelo que eu fiquei sabendo, a Márcia também desapareceu. Sei disso porque o Felipe me passou o endereço onde ela trabalha e os moradores

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de lá confirmaram o que eu já suspeitava. Desculpem por estar desmarcando/desconvidando todos vocês, mas alguma coisa tem que ser feita. E eu acredito imensamente que a Mari foi sequestrada. Como título de melhor amiga, eu não quero dar uma festa enquanto ela está por ai, talvez, passando até fome, ou sei lá o quê. P.S.: O assunto é sério, galera!!! ___________________________________________________

De: Dudu <DuduEdu@hotmail.com>, Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 16:20 Assunto: RE: CANCELAMENTO

Ahhh, mas isso não vai ficar assim, viu? Vou querer algo em troca… gata! ♥ P.S: Agora é sério. Se você quiser sentar na cadeira da frente, ela será toda sua. Sou todo seu, na verdade! ___________________________________________________

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De: Sá <Sabrinabriina@gmail.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 16:27 Assunto: RE: CANCELAMENTO

Olá, Elo! Agora eu fiquei preocupada! Já desmarquei com a Vic e a Lorena. A Mari tem essa mania mesmo de desaparecer, mas eu nunca ouvi falar que ela desapareceu por tanto tempo assim antes. Se precisar, eu estarei por aqui. P.S: Já tentou conversar com a mãe dela? ___________________________________________________

De: Lorena <Lorenagata2000@gmail.com> Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 16:36 Assunto: RE: CANCELAMENTO

O QUÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊÊ??????? Só porque convidei a galera da nossa sala, e todos confirmaram presença você me faz isso? Pelo amor, Elô! Não se atreva!!! E outra, comprei um vestido, fiz as unhas, passei quase toda à tarde no salão pra nada??? Tudo isso por causa daquela maníaca por músicas?????????????????

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Duvido nada se ela não tá lá, ouvindo aquelas faixas estranhas no último volume. Para de ser idiota, garota, ela nem deve estar se lembrando de você e você aí cancelando sua própria festa por gente como ela. Me diga, como é que eu irei me encontrar com o Fábio agora sem ter motivos? P.S: Droga de Mariana!!!!! ___________________________________________________

De: Fábio <Fabinhobinho@outlook.com>, Para: Eloísa Prado <eloelo@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 17:22 Assunto: RE: CANCELAMENTO

Ei, Elô, que Droga!!!! Porque você não avisou antes que não teria mais festa??? Fez eu alugar um smoking pra nada????? Só porque eu queria dar uns amassos na Mari, ela decide brincar de escondeesconde??? Uma pena para ela. Brincadeiriiiinhaaa. Mas, eu super apoio se, por acaso, ela mudar de ideia! P.S: Se você tiver afim também, é só me falar. ___________________________________________________

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De: Eloísa Prado (eloelo@gmail.com) Para: Sá <Sabrinabriina@gmail.com> Enviada: 11 de Março, 17:43 Assunto: RE: RE: CANCELAMENTO

Obrigada amiga. Pode deixar. Sei que posso contar com você sempre. Qualquer coisa eu te aviso sim. P.S: Sinceramente, eu não sei o que você viu no Fábio! Mesmo tipinho da Lorena, um completo IDIOTA depravado, sabia? ___________________________________________________

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25 — Vamos resolver isso de uma vez por todas. — Márcia estava super confiante. Já eu, por outro lado, ainda permanecia com medo (óbvio) só de me lembrar daquelas veias enormes que pulsavam sobre o braço do marginal que, por mera consequência deste nosso plano, está nos observando neste exato momento. Quando decidimos acabar com isso eu sabia que, a única maneira de darmos um fim nesse pesadelo todo, era enfrentando aquele brutamontes cara a cara. E a Márcia estava ciente deste ponto (pois é, nós perdemos a sanidade geral, eu sei). Porém, tudo isso é por um motivo muito maior, ou seja… ele: Matheus Figueiredo. O meu Matheus Figueiredo. Minha situação já não estava tão boa, por assim dizer, ao ponto de eu querer me isolar perdida no meio dessa floresta sem ele. Por essa razão é que decidimos ir adiante. Estávamos seguindo o nosso curso agora, desviando de todos os trilhos possíveis até chegar ao nosso destino final o mais rápido que conseguíamos. Ou seja: se ele nos quer, ele nos terá. É como eu sempre digo: quem sonha demais, um dia há de respirar aquele sonho. Essa era a ideia sobre a qual usaríamos como isca perfeita para ~ 153 ~


finalmente colocarmos o nosso Plano B em ação. Era agora, ou nunca. Já estou com a corda no pescoço mesmo. E, se você parar pra pensar, vai ver que já passamos por coisas piores até aqui, então, o que mais pode acontecer de tão ruim assim? — Que seja! — após a exclamação, o marginal contra a lei sacou sua arma elétrica e avançou em nossa direção. Exatamente neste instante, tudo congelou na minha frente. ***

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26 CURIOSO CASO ENVOLVENDO SEQUESTRO EM BH TERMINA EM MORTE (E FINAL FELIZ?)! Vítimas se tornam “assassinas” e matam o próprio sequestrador.

Quando comparamos o biótipo entre os dois sexos podemos constatar que o homem tem maior massa muscular que as mulheres e, portanto uma força física superior; graças a isso, muitos criminosos conseguem subjugar suas presas sem a necessidade de armas. Um dos princípios básicos de criminosos é escolher sempre o mais fácil – normalmente representado pela fragilidade e desatenção da vítima. As mulheres desacompanhadas são vítimas preferenciais por sua fragilidade. Digamos agora que uma mulher tente

se defender dando socos ou chutes no oponente, este se defenderá com relativa facilidade e pior, o agressor passará a atacar com maior força, não é difícil encontrar casos com mulheres que foram desfiguradas ou tiveram ossos quebrados. Imagine agora, essa mulher tirando uma faca, o marginal ao ver aquele instrumento que ele utilizou a vida inteira para cortar seus alimentos, agora servindo para cortar a sua carne. O olhar da vítima se transforma, seu instinto de sobrevivência fala mais alto, existe uma única opção, se sujeitar à violência física e

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moral, ou fazer o que for necessário para escapar viva. Em um movimento rápido o agressor avança, sem hesitação a mulher desfere um rápido movimento de corte em direção ao pescoço, seguido por outro em direção aos olhos do marginal. A violência existe, não podemos negar o fato. Nos confrontos reais, a mulher nesse momento acaba se submetendo ao agressor com medo de ser morta, porém, não reagir não garante sua vida. Foi assim que as duas jovens Márcia Castellino e Mariana Carey arquitetaram seu arriscado plano de fuga na noite de

ontem, após terem conseguido escapar de um cativeiro escondido no meio da floresta densa pouco menos de duzentos quilômetros da Capital Mineira. As supostas vítimas tiveram que se transformarem em “Assassinas Complexas” para, por fim, saírem vivas do sequestro. O que de fato, assustou até mesmo os próprios familiares, pois, as vítimas permanecerão detidas até o julgamento final. Mesmo que as jovens alegam ter sido em legítima defesa, ambas não podem voltar para suas casas até a segunda ordem judicial.

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27 VÍTIMAS DE SEQUESTRO TORNAMSE ASSASSINAS E SÃO DETIDAS PELA POLÍCIA! Entenda o curioso caso que assustou toda a região mineira. Segundo os policiais, as jovens Márcia Castellino e Mariana Carey conseguiram escapar do cativeiro localizado em Formiga, no interior do estado a duzentos quilômetros da Capital Mineira, onde eram mantidas, desde sexta-feira, quando foram sequestradas. Um dos sequestradores (que conseguiu fugir) está sendo procurado pela polícia. Uma das jovens, Márcia Castellino, confirmou quase ter sido abusada sexualmente por um dos sequestradores, antes de conseguirem escapar do primeiro local onde eram mantidas presas. “Lembro dele esfregar aquelas mãos

imundas nas minhas partes íntimas antes de ser golpeada na cabeça” afirma a jovem em seu depoimento, “Quando acordei, ele já estava despido da cintura para baixo”. Tudo começou quando uma das jovens, Mariana Carey, reconheceu o assaltante: Lúcio Teixeira (que estava sendo procurado pela polícia há dois dias, e que também é acusado de ter roubado o celular dela). Sem conhecimento dos riscos, a jovem conseguiu ver naquele momento a sua chance de conseguir seu aparelho de volta. O que acabou

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chamando a atenção de sua amiga, formada em Karatê, Kung Fu, Taekwondo e JiuJitsu, Márcia Castellino resolveu tirar satisfações com o meliante para tentar resgatar o aparelho. Porém, nenhuma das duas imaginavam que o jovem assaltante é filho do ex-policial Ricardo Teixeira (que abandonou o seu cargo naquela manhã por má competência), fazendo com que o mesmo chegasse ao local minutos depois. Mas, o que parecia ser a solução, tornou-se o motivo de sequestro. “Quando eu ouvi o policial chamando aquele ladrãozinho de “filho”, meu coração congelou na hora e, mesmo que eu tentasse ou pensasse em fugir, era tarde demais”, revela Mariana, afirmando que o próprio expolicial foi quem as atacou

com uma arma elétrica no momento seguinte, (levando-as para um cativeiro logo em seguida). O que ninguém sabe, até o momento, é o motivo verdadeiro ao qual transformaram as vítimas em “Assassinas Complexas”, e, para averiguação dos fatos e o levantamento de mais informações, as vítimas permanecerão detidas até o esclarecimento final mesmo que aleguem terem sido em sua legítima defesa. O delegado afirmou que, para tomar a decisão, baseou-se também na reconstituição do crime, que foi feita durante a madrugada desta segunda, com os próprios envolvidos. Até lá, elas não poderão retornar para as residências (onde vivem) em Belo Horizonte.

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28 FILHO DO MILIONÁRIO AFONSO FIGUEIREDO É ENCONTRADO DESACORDADO POR POLICIAIS! Matheus Figueiredo estava desaparecido desde a sexta-feira passada.

"Boatos"

de

que Matheus Figueiredo teria desaparecido na manhã de uma sexta-feira, na semana passada, percorreu durante 24 horas antes de uma coluna – sobre o mesmo – ter sido publicada na noite de anteontem pelo Jornal Cidade, que afirmou o caso. Este, que mescla com a noticia de que supostas "vítimas" de um sequestro em BH acabam matando o seu próprio sequestrador para por fim receberem a sua liberdade de volta. O que de fato, chamou a atenção do nosso repórter investigativo Cláudio Antônio, que por sua vez,

não tardou em solucionar este "misterioso" caso (o mesmo que parece ter sido revelado ontem, após os esclarecimentos das vítimas que afirmaram ter total conhecimento sobre a identidade do rapaz – já que o mesmo alega não ter conhecimento nenhum dentre as partes). Matheus Figueiredo, de 19 anos, é filho único do casal milionário Afonso Figueiredo Coimbra e

Rosilda Adellard Figueiredo que estavam de viagens marcadas para a Europa ainda esta semana, onde revelariam ao filho a espetacular notícia sobre

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sua oportunidade profissional na França (como produtor musical carreira pela qual o próprio jovem almeja desde a sua infância). Segundo fontes seguras – e importantíssimas –, o jovem teria sido encontrado desacordado ao lado do corpo de Marcos Alberto (um dos sequestradores) no mesmo local onde Márcia Castellino e Mariana Carey estavam sendo mantidas presas. O jovem já havia sido levado para o hospital em Belo Horizonte, onde mais tarde, teria sido diagnosticado. A boa notícia, é que o jovem tenha sim recebido tratamentos

médicos e psicológicos antes das vítimas prestarem seus esclarecimentos ao delegado, reinando total alívio para as famílias de ambas as partes. O Delegado responsável pelo caso, Rogério Fonseca, afirma que Matheus Figueiredo também teria sim sido seqüestrado na noite de sexta-feira junto com as jovens, porém, prefere manter em segredo os detalhes sobre o ocorrido. Tudo indica que o jovem pode ter sim sofrido algum acidente no local, mas, no entanto, fontes asseguram esperar o resultado da perícia antes de qualquer revelação abstrata.

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30 Matheus A primeira coisa de que tive consciência foi à constante sensação de dor em minha cabeça, que parecia ter aumentado a todo custo. Mexi devagar, com movimentos mínimos, e ouvi o arranhar suave de atadura raspando em algodão. Tentei levantar um braço para investigar, mas me detive ao sentir o puxão doloroso de algo enfiado em meu antebraço. Parecia que eu estava ligado a uma máquina. Sim, uma máquina. Um “bipe” persistente vindo de um equipamento atrás de mim confirmava que eu devia estar conectado a algum dispositivo de monitoramento, assim como ao soro. Era óbvio que eu me encontrava em um hospital, mas... Por que eu não conseguia ver nada? Pisquei várias vezes. Era estranho, mas minhas pálpebras pareciam ter dificuldade em responder. De todo modo, isso não fez nenhuma diferença, tudo ainda estava na escuridão. Por que eu não conseguia ver? O que acontecera comigo? Senti uma poderosa onda de pânico começar a ~ 161 ~


me envolver. Por que eu não me lembrava? Qual era o problema com a minha cabeça? — Matheus, meu filho, vai ficar tudo bem. Mamãe e papai estão aqui, ta? Durma bem, querido.

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29 CURIOSO CASO DE SEQUESTRO ENVOVENDO A FAMÍLIA “FIGUEIREDO” FINALMENTE CHEGA AO FIM! Tudo foi esclarecido. Entenda o que realmente aconteceu. Após a notícia de que único filho, Matheus Figueiredo, havia sido seqüestrado na última sexta-feira, fez com que o milionário Afonso Figueiredo impedisse a entrada de qualquer “colega” ou conhecido do jovem no local, ao qual, o mesmo se encontra em estado grave. seu

Matheus Figueiredo havia batido a cabeça ao cair de uma escada segundos antes de tentar fugir de um dos seqüestradores. Nada foi confirmado ainda, mas, há hipóteses de que a polícia acredita que o motivo seja justamente esse e por isso

defenderá este argumento. Já que, segundo os depoimentos das duas jovens (Márcia Castellino e Mariana Carey), o jovem havia tentado salvar a vida de Mariana antes do ocorrido. “Estarei logo atrás de você!” Foram às últimas palavras que Mariana ouviu do Matheus antes dela passar pela porta (a tão sonhada liberdade) e mergulhar sobre a escuridão da noite, totalmente perdida e apavorada. “Quando eu

me encontrei com a Márcia naquela escuridão profunda da mata, percebi que eu ainda tinha mais uma chance de recuperar as nossas vidas e a de

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Matheus, que não apareceu como combinado. Eu juro que não fazia idéia do que tinha acontecido com ele, e muito menos que aquele marginal seria capaz de tal atrocidade”, revelou Mariana em seu depoimento a polícia. “Nunca tive medo

de ninguém, e muito menos de seres covardes como o troglodita miserável que nos seqüestrou.”, diz Márcia, em seu depoimento, “Eu juro que se eu soubesse do desenrolar que isso me daria, eu teria feito a mesma coisa quantas vezes fosse preciso para recuperar o aparelho da minha amiga.”. Apesar de terem sido acusadas de “assassinas”, as jovens alegam não terem encostado um dedo sequer em Marcos Alberto – acusado de ter empurrado Matheus da escada -, e por ironia da vida (bandida), Marcos também pagou com a mesma moeda. “Quando

Márcia seguiu em direção dele, eu só conseguia pensar em uma coisa: fazêlo cair da escada. E foi o que aconteceu.”, revela Mariana sobre o seu plano

de última hora para, por fim, resgatarem o corpo de Matheus (que permanecia desacordado no momento), segundos antes de fazer com que Marcos Alberto rolasse escada a baixo. O plano parecia simples: desacordar o vilão e fugir do local. Mas, o que nenhuma das jovens previram é que, diferente do Matheus (que apenas permanecia desacordado), Marcos Alberto sofreria de traumatismo craniano com a queda (e morreria na hora). O Delegado Rogério Fonseca (responsável pelo caso), decidiu manter o corpo de Marcos Alberto ainda na autópsia para demais averiguações. No fim das contas, as vítimas (que teriam sido acusadas de assassinato) estavam apenas praticando mais um ato heróico para continuarem vivas até o surgimento do “resgate”. Resgate este, que foi feito por Eloísa Prado (amiga de longa data de Mariana), que informou de imediato a polícia no

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momento exato o local onde justamente a sua amiga estava sendo mantida presa. “Eu e a Mari somos

muito amigas, mas muito amigas mesmo, e... por isso é que eu consegui rastear o aparelho da Mari sem mais delongas, pois, se ela não tivesse me passado a sua senha e o código de rastreamento, sabe se lá o que poderia ter acontecido.” “A minha filha jamais seria

Ela passa a maior parte do dia ouvindo músicas. Ela grava vídeos também, e vocês podem confirmar isso com uma breve pesquisa no Youtube”, Christina Carey (mãe de Mariana) desabafa em seu depoimento. Após os esclarecimentos finais, as jovens finalmente deixaram a delegacia na noite de ontem para voltarem as suas residências, a qual estavam proibidas de frequentar durante as averiguações.

capaz de matar uma barata.

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31 Mariana Eram umas 13:54 quando decidi ir a cozinha tomar o meu café da manhã. Sim! Você não leu errado, vou tomar o meu café da manhã mesmo! E para minha surpresa, minha mãe ainda estava ali. Obrigada, Senhor! Isso só poderia significar uma coisa: oportunidade. E eu realmente estava cheirando oportunidade por todo o ambiente da cozinha. Após tantas entrevistas e depoimentos, quase tive certeza de que, cedo ou tarde, me tornaria um zumbi se minha mãe não tivesse implorado para o Delegado Rogério me liberar. Márcia havia permanecido por lá quando seu pai finalmente apareceu, pois, o senhor Pablo não deixaria que sua única filha fosse embora sem antes esclarecer tudo de uma vez. Decidi aproveitar o milagre divino que me foi concebido, com sucesso, para tentar convencer a dona Christina (especificamente conhecida como a minha mãe) de que eu já não estava mais a fim de comparecer ao tal Baile de Formatura. Principalmente depois de tudo o que aconteceu. ~ 166 ~


— Oi, mãe! — tentei parecer convincente. — Oi, filha. — ela abriu um sorriso. Bem, estava funcionando. Ótimo! — Como à senhora está? — prossegui, e logo ela fechou a cara. — Mariana, o que você quer? — e me olhou de cima a baixo. Eu já devia saber que, cedo ou tarde, ela acabaria agindo dessa forma. Minha mãe jamais me perdoaria por eu ter mentido apenas para usufruir dos seus cartões de crédito, mas... De todo modo, essa era a minha única chance de... — Não comparecer ao Baile de Formatura? — arrisquei, fazendo uma careta. Esse é um daqueles tipos de pergunta que você faz mesmo sabendo que a resposta será um “não” bem redondo, sabe? Até fechei os olhos pra não ver a reação dela. — Como é que é, Mariana? — a sua voz era tipo “você ficou maluca?” — Você ficou maluca? O que foi que eu disse? — Mãe, qual é! — exclamei, fazendo beicinho — Não custa nada! Eu vou ficar trancada no meu quarto ouvindo músicas, lendo alguns livros novos que eu comprei na semana passada, e resenhandoos lá no meu blog. Quem sabe eu possa até gravar alguns vídeos cantando para postar no meu Canal no Youtube. — e comecei a olhar pro nada, já imaginando qual seria o tema da vez. — Você me prometeu com todas as letras, mocinha, que iria a este baile e não adianta desistir. — ela estava séria. Muito séria, por sinal — Sem ~ 167 ~


comentar o quanto você ficou torrando a minha paciência de tanto blá-blá-blá para poder comprar algo descente, enquanto eu fiz questão de lhe entregar os meus cartões de crédito. Deveria ter repensado sobre antes de mentir para a sua mãe. Agora é tarde! E você não está em condições de escolher nada no momento, estamos entendidas? — Nunca mais eu irei falar com você, está me ouvindo? — e fechei os olhos, como se tentasse fazer com que ela sumisse da minha frente. Mariana, Mariana, isso é jeito de se comportar? Principalmente com a sua mãe? O que mais eu poderia fazer? Por causa desse maldito sequestro eu perdi o meu celular e, principalmente, o modelito que eu pretendia usar. É muita covardia com uma só pessoa, se quer saber o que acho. E... como se já não bastasse, agora, também tinha perdido o Matheus. Justo na hora em que nos reencontramos. — Estou pouco ligando se você nunca mais vai falar comigo, Mariana. Mas desta vez, você vai sim, nem que eu tenha que te amarrar para isso, está me ouvindo? — ela desabafou, com a cara fechada em plena sanidade. Eu abro um olho para poder espiá-la e isso a deixa feliz outra vez (pelo menos é o que acho) — Sabia que você estava me ouvindo, filha. — Então me amarre. — eu disse, da boca pra fora— Se a senhora conseguir, é claro! Mas o que é que eu estou dizendo, meu Deus? Caramba, nunca pensei que diria isso! Principalmente para a minha mãe. ~ 168 ~


Quero dizer, nunca achei que recusaria uma festa à qual todo mundo ia! Lembrei do verdadeiro motivo: era por causa do maldito Baile de Formatura. Droga! Certo, e o que eu devo fazer agora? Eu não tenho nenhuma chance de ficar em casa trancada ao invés de perder uma festa à qual todo mundo ia e… a qual eu realmente detestava. Droga dupla! Deixei a minha mãe falando sozinha na cozinha e voltei pro meu quarto. Eu não tinha mais o que fazer, então, resolvi checar as minhas redes sociais pelo meu computador só para me certificar de que realmente o Matheus não havia atualizado seu perfil ou publicado algo novo na sua linha de tempo. Na verdade eu queria mesmo era deixar tocar uma das minhas playlist que eu havia salvo no meu computador, já que agora eu já não tinha mais o meu aparelho para adiantar o processo. Droga tripla! Com a raiva aumentando em minhas veias, acabei agredindo o meu próprio guarda-roupa, chutando-o sem motivo algum. Foi quando senti algo cair sobre a minha cabeça. Tentei segurando antes de deixar o que quer que fosse cair no chão, mas, já era tarde demais. Quando me virei para descobrir o que era, avistei uma das caixas de sapato, aonde eu guardava os objetos do passado que costumava colecionar, como cartas ou coisas que eu jurava ser importantes na época. Decidi mergulhar de volta no passado, já que ~ 169 ~


não tinha outra coisa para se fazer (além de revirar as minhas redes sociais) e retirei as caixas lá de dentro. Realmente havia vários bilhetinhos, cartas antigas, questionários de muitas das minhas antigas amigas do ensino fundamental. Tinha até uma foto minha abraçada com a Eloísa quando nós duas ainda tínhamos sete aninhos de idade, se eu não me engano. Ao ler o primeiro bilhete, eu quase desmaiei.

Questionário Nome: Mariana Carey Quantidade de velas do seu último aniversário: 13 Já chorou por alguém? Sim Música preferida: Não posso escolher. Desculpe. Melhor amigo: Matheus. Melhor amiga: Eloísa Amor da sua vida: Justin Bieber. Matheus. Se o telefone tocasse agora, quem você gostaria que fosse? Justin Bieber. Matheus. Homem bonito: Justin Bieber. Matheus. O primeiro pensamento que você tem ao acordar: Matheus. ~ 170 ~


Nome da pessoa com quem você gostaria de estar nesse momento: Justin Bieber. Hayley Williams. Matheus. Quer dizer então que, naquela época, o Matheus já tinha sido o meu primeiro pensamento ao acordar? O Justin nem tinha sido mencionado ainda? Oh, Deus! Como isso era possível? E… Porque eu não consigo me lembrar disso? Eloísa Prado está on-line.

O toque de aviso sobre as novas “notificações” ecoou por todo o ambiente do quarto, fazendo com que eu me posicionasse de volta sobre a minha cadeira giratória antes de ler a mensagem… Eloísa Prado diz; Amigaaaaaaaaaaaa! Preciso te contar uma coisa urgeeenteeee. Porque demorou tanto para ficar on???

Eu obviamente não estava com cabeça para isso, mas, se tratando da Eloísa, resolvi atender ao pedido… Afinal, graças a minha amiga, Márcia e eu conseguimos sair sãs e salvas daquele maldito pesadelo. Além do Matheus, é claro! ~ 171 ~


Mariana Carey diz; Eloííísaaaaa,dá pra parar de suspense e me contar logo o que é que você tem de tão urgente assim? Eloísa Prado diz; Ai, sua besta! Você vai pirar quando ficar sabendo. Eu ainda não sei como você já não ficou sabendo disso até agora. O que aconteceu com você, afinal? Tá mais desatualizada do que tudo.

Ok. Ela já estava passando dos limites. Mariana Carey diz; Desculpa, mas, se você não se lembra, eu fui vitima de um ‘sequestro’, baby. Não tenho culpa se o melhor a se fazer no momento é descansar um pouco. u.u Eloísa Prado diz; Tudo bem! Chega de enrolar e vamos ao que te interessa. Mariana Carey diz; Ótimo! Já estava na hora, né? Eloísa Prado diz; Lembra do seu vídeo no Youtube? Mariana Carey diz;

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Qual deles? Tenho tantos… Eloísa Prado diz; O “The Only Exception Mariana”, né?!. Dããã

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cover

by

Ah! Minha grande decepção virtual. O que poderia ter de tão emocionante nisso? Por outro lado, eu já estava um tanto curiosa para saber do que realmente se tratava, e então… Mariana Carey diz; O que tem ele? Eloísa Prado diz; Dê uma olhadinha visualizações agora.

no

número

de

Eu não precisava fazer isso. Eu sabia muito bem que ele nem se quer havia conseguido atingir cinco visualizações. Porém, talvez pela curiosidade, e também, pela empolgação da Eloísa, não pensei duas vezes antes de abri uma outra aba no meu navegador e digitar o link que já estava salvo como uma das minhas páginas favoritas. Aguardei a página carregar, sem nem piscar os olhos novamente. E eu já estava acostumada com a droga da velocidade, mas, quase tive um treco quando os elementos surgiram lentamente na tela e… Mariana Carey diz;

~ 173 ~


OOOOH. MYYYYY. GOOOOOOOOOOOOOOOOOOD!!!! Eloísa Prado diz; E ai, amiga, pirou com números??? E olha, isso não é tudo. Okay?

tantos

Mariana Carey diz; Pera! Tem mais????????????? Eloísa Prado diz; SIIIIIIIM! Dê uma olhadinha no seu canal agora.

E mais uma vez, lá estava eu na minha sessão de tortura. O vídeo agora marcava 2.423.350 visualizações. OH. MY. GOD. Mariana Carey diz; Amigaaaaaaaaaaaaaaaaa! Eu não estou acreditandooo!

Quando olhei para quantidade de números, meu coração perdeu uma batida. Duas. Três. Eu quase tive um infarto. ESPERA UM POUCO! Isso está correto, Youtube? Eu tenho 8.487 inscritos também? Eloísa Prado diz; Aqueles

primeiros

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289

inscritos


ficaram no passado agora, amiga! Ou melhor, estão todos perdidos ai no meio desses 8.487… NOSSA!!! Nem consigo acreditar… Você finalmente conseguiu, amiga. Estou muito feliz por você. Mariana Carey não pode responder por que está off-line. Eloísa Prado diz; Ótimo! Me deixou aqui falando sozinha... 

Eu havia ficado off por dois únicos motivos: O primeiro, por não conseguir acreditar no quão assustador era para mim ver tamanha mudança de visualizações nos meus vídeos no Youtube em apenas uma semana. E, o segundo, por que, no mesmo instante, a minha mãe começou a me gritar, do nada. E eu obviamente ainda era obrigada a sair da internet para socorrê-la, é claro. — Mariaaanaaaaa, corre aqui! — ela gritou pela milésima vez, se eu não me engano. — Não precisa gritaaar, mããe. — eu tinha a sensação de ficar dez anos mais nova toda vez que ela gritava comigo. Como se eu ainda tivesse 5 anos de idade ou coisa parecida. Quando comecei a abrir a porta do meu quarto, percebi que a televisão tinha sido ligada. E, assim que sai, avistei minha mãe diante a televisão, de boca aberta. Pois, a menina de cabelos alaranjados que aparecia na tela da tevê, neste momento, era eu. E eu até pude ouvir a repórter ~ 175 ~


contando a minha histรณria como se eu fosse uma celebridade.

~ 176 ~


32 Eu estou oficialmente ferrada! Em outras palavras, minha vida havia se tornado uma das maiores catástrofes desse mundo. O motivo disso tudo? Bem, vamos aos fatos… A minha história logo ganhou repercussão na imprensa. Não teve um só jornal que não anunciou todo o ocorrido, e, quase todas as emissoras de tevê da região também. “Após terem sido sequestrados por policiais corruptos, os três jovens: Mariana Carey, Márcia Castellino e, o milionário…” A minha mãe mudou de canal nessa hora, interrompendo o repórter, como se tentasse me mostrar o que eu já sabia. “A identidade do cúmplice ainda é desconhecida. Até agora, apenas uma coisa é certa… E mais uma vez, minha mãe mudou de canal no mesmo instante. “Agora falaremos mais sobre o caso que assustou, não só BH, mas o Brasil inteiro também…” Agora um outro repórter (o terceiro até o momento) aparecia na tela. — Mãe? — gritei, incrédula, tomando o controle remoto de sua mão e rapidamente desligando a tevê em seguida — Eu não preciso ficar vendo isso, tá legal? ~ 177 ~


— Ah, mas você precisa sim. — e tomou o controle de volta, ligando a tevê outra vez — Vocês estão em todos os jornais, querida. E você ainda não sabe da pior. Minha mãe tinha razão: crescer não é tão legal assim. E eu já ía virando as costas para ela, depois de ter fechado a cara por isso, quando escutei o “sobrenome” dele ser mencionado pela repórter… “Filho do famoso milionário Afonso Figueiredo se encontra em estado grave após sequestro…” Enquanto a repórter repetia toda a história do sequestro, mil perguntas apareceram no momento seguinte como: se a repórter havia mesmo dito “Filho do famoso milionário” durante a matéria, e o principal: se eu realmente tinha ouvido direito? O Matheus era milionário? Isso não fazia sentido algum na minha cabeça. Bem, ao menos, um dos fatos não conseguia se encaixar direito nessa história: se o Matheus era realmente filho de um milionário, então… porque é que nós nos reencontramos dentro de um ônibus ao invés de ter sido em uma limusine? Não que eu estivesse acostumada a andar de limusine, é claro, mas… “Segundo informações, o jovem se encontra em estado grave, pois, a perca de memória ainda continua devido ao colapso extremo causado pela forte pancada do agressor, seguido pelo tombo da escada. Matheus Figueiredo sofreu traumatismo craniano, e quando despertou, já não reconhecia a própria família, o que deixou todos assustados com a situação. Continuaremos por dentro do caso e…” ~ 178 ~


Eu não precisava ouvir mais nada. Era obvio que eu já havia escutado o suficiente. “Matheus Figueiredo sofreu traumatismo craniano, e quando despertou, já não reconhecia a própria família” essa frase ecoava em minha mente como a letra de uma das minhas músicas prediletas. Agora tudo fazia sentido. Ele não me reconheceu porque ainda não havia conseguiu recuperar totalmente a memória. Foi quando eu tive uma idéia. Porém, agora, o telefone fixo continuava tocando sem parar. Bastava desligar uma ligação que outra chamada já começava. E o pior é que na maioria das vezes era apenas alguém perguntando coisas completamente irrelevantes — como a cor do meu esmalte, qual o penteado que eu estava acostumava a usar ultimamente, e o principal e mais bizarro: o nome da minha verdadeira identidade secreta ou algo parecido — ou simplesmente fazendo hora com a minha cara. Pode uma coisa dessas? Mariana, Mariana, onde é que você foi se meter? Eu já havia recebido tantos trotes na noite anterior que nem me permiti passear por aí sem conseguir chamar tanta atenção assim, mas, agora, eu precisava fazer isso. Dei um beijo na minha mãe e fui colocar mais um dos meus planos em ação. No caminho, acabei atendendo a mais de 56 ligações e já sem tanta cabeça para o mesmo, e por isso não consegui responder as maiorias delas. ~ 179 ~


33 Assim que cheguei, dei meia volta e marchei para o quarto onde o Matheus estava. Ao chegar lá, percebi uma grande movimentação no ambiente. Uma movimentação pra lá de incomum para ser verdade. Logo vi o senhor Afonso se preparando para o que parecia ser mais uma entrevista ao vivo. Tive certeza disso no segundo seguinte que avistei quatro repórteres impecavelmente bem vestidos, segurando seus microfones nas mãos e fazendo algum tipo de sinal mudo para o câmera-man. Droga! Isso será mais difícil do que eu imaginava. Por algum milagre, ou por intervenção divina (sei lá), percebi que a dona Rosilda (mãe do Matheus) estava em frente a porta onde seu filho obviamente permanecia sobre os cuidados médicos, observando minuciosamente tudo aquilo. Decidi me arriscar, indo de fininho até ela, tentando ao máximo não chamar a atenção dos repórteres ali presentes, e, para a minha/sua/nossa alegria, deu certo (ou quase deu certo). Porque, assim que consegui chegar bem perto, um dos repórteres gritou: — Ei? Aquela mocinha ali não é uma das ~ 180 ~


garotas que foram vítimas do sequestro? — ele me olhava como se eu fosse a Beyoncé. E rapidamente, todos olharam em nossa direção também. Ótimo! Agora sim eu estou oficialmente ferrada. *** Matheus estava dormindo quando eu finalmente consegui entrar. De início, seu Afonso não hesitou em renegar minha visita ao seu filho, mas... Após a repercussão que os jornalistas estavam fazendo entre si, e, talvez por intervenção divina, Dona Rosilda veio até mim. — Pode ir, querida! — e permitindo a minha entrada, ela apenas balançou a cabeça e me olhou como se a vida de seu filho dependesse disso. Fiquei um tempo apenas observando-o dormir. Parecia uma criança indefesa. Era tão fofo. — Matheus, seu filho de uma vaca gorda, ficou rico e não me contou, né? — eu disse em voz baixa, mais para mim mesma do que para ele que permanecia desacordado. Como ele conseguia ser tão lindo dormindo daquele jeito? Oh, Deus! Eu queria beijá-lo. Será que, se eu o beijasse, ele se lembraria de mim como geralmente acontece nos contos de fadas? Será que o meu beijo poderia desencantá-lo desse maldito feitiço que lhe fez perder a memória? Eram muitas perguntas, e eu não tinha ~ 181 ~


tempo para respostas. Fiz o que tinha que fazer, e, enquanto o mundo acontecia ao nosso redor, ele e eu estávamos unidos pela distância mínima entre duas pessoas. Sua boca devia ter algum poder místico, ou... Sei lá, porque ela aqueceu toda minha circulação sanguínea e, ao mesmo tempo, pausou meu coração para que todo meu corpo soubesse que aquele momento existiu, misturando medo e prazer, felicidade e incerteza. Sua pele tocou meu rosto e eu me senti inteira e segura outra vez. Nunca havia sentido a pele de um menino assim como a dele antes, quente e fina. Não que eu já tivesse feito isso com mais alguém, claro! Sempre fui reservada e gostava disso. Mas com o Matheus era diferente. Até o beijo era diferente, já não era o mesmo daquela noite horrorosa. Por isso, pedi a Deus para que ele não percebesse minhas lágrimas insistentes. No entanto, ele me segurou com muita força no segundo seguinte, completamente assustado ao acordar, me machucando pra valer sem se dar conta disso. — O que você pensa que está fazendo, sua maluca? — eu podia sentir a raiva transbordando em suas veias. Porém, eu não tive medo. — Te beijando, ora essa! — eu sorri para ele, na esperança de que o meu plano estivesse dado certo — Agora você consegue se lembrar de alguma coisa? Aquilo tinha que dar certo. ~ 182 ~


Sem querer, meus olhos começaram a arder pra valer com as lágrimas. — Ao menos quem eu sou? — foi minha última tentativa, e, mais lágrimas já ameaçavam cair, porém, tive forças e logo as empurrei para o lado. No entanto, ao contrário do que eu esperava ouvir, Matheus foi bem grosso comigo. Tão grosso quanto qualquer vilão dos contos de fadas poderia ter sido. — Mas é claro que eu sei quem você é! — ele disse, em um tom de deboche — Você é uma louca, maluca, psicopata, retardada, que apareceu por aqui para tentar se aproveitar do meu momento amnésico, achando que ficará rica dizendo que somos namorados ou coisa do tipo. Isso significa que você não tem o direito de se aproveitar de mim dessa maneira. — sua voz enche meu coração de dor e suas palavras me deixam aos pedaços. Nunca, em toda a minha vida, eu me senti tão, mais tão, mais tão “rejeitada” por alguém. E esse não era o motivo pelo qual eu havia começado a chorar sem perceber, mas, por ter sido rejeitada por ele. Justo ele. Quem eu tanta amava. E ainda amo. E por esse motivo é que eu ainda queria falar. Queria me desculpar. Dizer que não tem nada a ver o que ele insinuara, e poder finalmente lhe entregar a lista de músicas que eu havia especialmente selecionado, mas... ~ 183 ~


A expressão do Matheus era um misto de confusão e raiva e isso deixava tudo claro. Acho que nem preciso mencionar o quando fiquei arrasada ao sair daquele quarto. Meu coração estava em pedaços. Ou melhor, em pedacinhos. Pequenos pedacinhos, se isso não for um exagero. Só para ter uma ideia do tamanho da frustração, o meu mundo tinha perdido totalmente a cor, e, modéstia parte, agora ele estava mais cinza do que as capas dos EPs da Ariana Grande. “I wish i was strong enough to lift not one, but both of us Some day i will be strong enough to lift not one, but both of us” ♫♪ De repente, comecei a ouvir a voz da Taylor Swift cantando “Both Of Us” na minha cabeça. Certamente estava tentando me dizer alguma coisa. Sabe aquele momento em que uma música começa a tocar na sua mente automaticamente? Pois é, minha dica é: pare já o que quer que você esteja fazendo no momento e tente entender o que a letra dela realmente está tentando lhe dizer. Pois, ela sempre nos diz alguma coisa. E eu sabia perfeitamente o que ela estava tentando me dizer: “Eu queria ser forte o suficiente para levantar não um, mas nós dois Algum dia eu vou ser forte o suficiente para levantar não um, mas nós dois” ~ 184 ~


Eu tive uma ideia! Rapidamente, passei pela recepção do hospital e pedi a moça de olhos gentis atrás dos óculos para que me arrumasse uma folha de papel em branco e uma caneta. Eu precisava escrever alguma coisa para acompanhar as músicas que eu havia selecionado especialmente para ele, pois… Ele precisava disso. E não só ele, como eu também precisava. É como eu sempre digo: é horrível você fingir que não sente nada quando você sente coisas demais. Por isso, eu precisava (e muito) me desabafar e, não economizei palavras na hora de colocar para fora tudo que era necessário no momento. *** Assim que cheguei em casa, avistei minha mãe ainda em frente a tevê. Certamente porque queria estar por dentro de qualquer novidade em relação ao estado grave em que o Matheus se encontrava. E isso, obviamente, me fez ter certeza de que faltava muito pouco para que todos ficassem sabendo do ocorrido no hospital.

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34 Matheus Mais um sorriso forçado. A porta se abre e uma jornalista se senta no banco com elegância e entusiasmo surpreendentes. Descobri que eu havia tornado o assunto da vez e por isso ela parecia ter ganhado na loteria por estar aqui. Sinto um nó na garganta. É como se ela estivesse tão grata por me ver que chega a sentir uma dor física, real. — Prazer em conhecê-lo, Matheus! — ela finalmente abre a boca. E, novamente, mais um sorriso forçado. Ela sorri também. Acho que ela notou. — Prazer em conhecê-la — repito, meio de longe, o que foi a única coisa que disse a todos eles durante todo esse tempo. Um fotógrafo, um jovem com aparência de uns vinte e seis anos, e muito bem-vestido está tirando fotos minhas. Isso é um pouco perturbador, na verdade. Lembrei na hora de como o meu pai se sentia diante das câmeras. Sei o quanto ele detesta isso, mas, nunca demonstrou sua insatisfação ~ 186 ~


diante delas. Acho que, se eu quisesse, poderia ser como ele também. Sou um ótimo ator. Mas, no momento, eu era o único peixe fora d’água ali. Por isso soltei um sorriso forçado. Faz duas horas que estamos aqui, mas já quero ir embora deste hospital. O Doutor finalmente aparece de volta. Papai tira o braço das minhas costas, como se tivesse sido pego fazendo algo errado. — Desculpa, eu não quis… — ele correu com as palavras. — Deu tudo certo. — comenta o Doutor, agora sorrindo — Sem problemas. Seu filho já pode ir pra casa. Papai dá um soco no ar. — Isso! — sua voz entonava um entusiasmo fantástico, ele realmente parecia feliz. — Mas ainda creio que ele deverá ficar sobre os cuidados médicos por, no mínimo, uma semana. — prosseguiu o Doutor, fazendo uma careta, mas, sorrindo em seguida marcando o ar de sua graça — O visitarei de dois em dois dias, se não acharem muito, para ter certeza de que ele está melhorando ao ambiente familiar. Eu mal via a hora de sair deste lugar. E novamente a porta se abre e, desta vez, é a minha mãe quem aparece sobre a porta. Mamãe parece ainda mais triste agora, segurando um pedaço de papel que parecia ser uma carta. Seria de despedida? Um aviso sobre algum ente da família que ~ 187 ~


havia falecido? Alguém que eu não conseguia me lembrar? Eu não sabia qual resposta era a certa, mas todas elas resultavam na forma como ela me olhava. Papai inclinou o corpo para frente. Ela sussurrou alguma coisa no ouvido dele. Depois ele sussurra algo no dela. Não sabia ao certo do que se tratava, mas, acho que tem algo a ver comigo, já que os dois me encaram por alguns segundos.

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35 *** — Você deveria ler, sabia? — minha mãe fez cara feia, e eu a ignorei por isso. — Não! Eu não deveria, mãe. O assunto sobre essa carta havia morrido há durante duas semanas desde que eu recebera alta. Até que, pela curiosidade, resolvi perguntar do que se tratava. Logo, minha mãe revelou quem havia escrito aquela carta. Eu jamais iria ler algo escrito por aquela aproveitadora. — Matheus, meu filho, me escute. É a última coisa que lhe peço. Por favor! — ela insistiu, me entregando pela milésima vez o papel dobrado que estava em suas mãos. O grande senhor Afonso percebe que fiz uma careta e sorri. Então percebi que havia um plano por trás disso. ~ 189 ~


— Tudo bem, eu vou ler. — fingi ter baixado a guarda, somente para agarrar o envelope e ver do que realmente se tratava. Meu coração palpitou quando li meu apelido de infância escrito ali: THEUS Ninguém me chamava assim desde… Abri o papel no mesmo instante e, sem pensar duas vezes, resolvi ler o que estava escrito ali dentro. Se a minha mãe disse que eu “deveria” ler, era isso que eu iria fazer.

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… ” Fico sem reação. Fiz o que estava escrito e apertei o botão player do iPod que minha mãe me entregara junto com a carta. No segundo seguinte, melodias adentraram sobre a minha mente, e, não sei ao certo o que aquilo tudo significou, mas… Alguma coisa aconteceu. Há uma coisa que não deveria dizer, mas que por alguma razão terrível e desconhecida, preciso dizer de qualquer jeito. Eu devia guardá-la para um momento mais apropriado e menos estressante. Eu devia guardar isso para um momento a sós. Eu nunca deveria dizer isso. Não diga. — EU TE AMO, MARI! — gritei, sem o mínimo controle dos meus lábios. Não acredito que estou dizendo essas coisas em voz alta. E ainda por cima na frente dos meus pais. Não sei o que está acontecendo comigo, mas alguma coisa dentro de mim entrou em curtocircuito. Estou surtando. E por fração de segundos, vejo toda a minha ~ 193 ~


vida ao lado dela. Os momentos em que passamos juntos. As brincadeiras. Os sorrisos. O maldito sequestro, e... O beijo. O instante em que nossos lábios se tocaram, foi como se eu estivesse acabado de nascer por várias e várias vezes. O ponto final que começava. O beijo era tudo que faltava entre nós, quer dizer, tudo o que fazia começar uma linda história. O que provocou a volta da minha memória. Sim, é isso! Por isso o Doutor Fábio me deu alta, meu Deus. Meus pais me encararam com um olhar incrédulo e totalmente espantado, como se eu tivesse acabado de dizer algo insano e ficado biruta de vez. — Você se lembra dela, meu filho? — minha mãe inquiriu, com um olhar sutil e esperançoso. Aquilo era o seu ponto mais fraco, eu sentia isso. E eu sabia perfeitamente o que havia acontecido. — Mas é claro que eu sei quem ela é, mãe! — eu disse, com um sorriso bobo no rosto. — Essa é a melhor resposta que você poderia ter dado. — meu pai, enfim, decidiu se manifestar. E então, eu os abracei com força.

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36 Mariana — Respire e conte até mil. — eu disse em voz alta para o meu reflexo— Ok. Isso é ridículo. Desisti de tentar ficar à altura lá pelas seis e meia, quando já estava vestida e maquiada. O espelho gritava que eu estava um desastre, mas eu olhei pra ele e mostrei a língua. Qualquer garota no meu lugar se sentiria igual, então, eu não devia dar crédito aos meus pensamentos autodestrutivos hoje. Não hoje. Oito horas, saímos de casa. Eram quase oito e meia na verdade. Achei que fôssemos de ônibus, mas pra minha surpresa, tinha um carro esperando na frente. Era um último modelo do SUV prateado, perfeito para a minha entrada triunfal. Só haveria um pequeno probleminha em questão: a minha mãe tinha acabado de tirar a sua carteira de motorista e, embora estes tipos de carro tenham o câmbio automático, tremia dos pés a cabeça só de imaginar o que poderia me acontecer dali pra frente. Jesus me salve! ~ 195 ~


Realmente, seria uma viagem tremendamente agradável, tirando esse pequeno detalhe, é claro! Felizmente, o trânsito deu uma trégua naquele domingo, e conseguimos chegar ao salão de festas em menos de meia hora. Mamãe dirigia bem, embora tivesse um fraco pela faixa do ônibus e não fosse muito fã de parar nos faróis amarelos. Mas nunca acelerava demais, nem fazia ultrapassagens indevidas, e não causou nenhum problema enquanto o semáforo estava verde. E, por fim, chegamos. Minha mãe preferiu estacionar o SUV do lado de fora do estacionamento para não ter que tirar nenhum centavo do bolso. Era só o que me faltava: ter uma mãe economista. Quando desci do carro, fiquei confusa se deveria acompanhar minha mãe ou a Eloísa, uma vez em que ambas se encontravam em frente à entrada do salão. Me senti dividida, e isso era bem desagradável. Por fim, olhei para minha mãe, e ela fez sinal para que eu fosse atrás da minha amiga, já uns passos à nossa frente. Corri até ela. — Oi, Eloísa. — cumprimentei-a, ela sorriu ao me ver. — Pronta para arrasar? Ultimo ano!! – ela comemorou. — Finalmente. — Cadê a alegria? Somos veteranas, sonhamos com esse posto desde que entramos ~ 196 ~


nessa escola! É um dia incrível. Esta sentindo o poder por suas veias? — Ok, alegria e poder por minhas veias – eu disse, meio sem vontade, o que eu acho que ela notou, pois, sacudiu a cabeça em negação. — Ai, nem acredito que você estar aqui, amiga. — ela sorria de orelha a orelha. — Nem eu acredito que estou aqui, amiga. — tentei não parecer infeliz já que ela transmitia estar radiante com minha presença. — Então, vamos lá? — e deu um passo a frente, parando logo depois, como se estivesse esperando minha confirmação. Assenti com a cabeça e seguimos em frente. Quando por fim adentramos o salão de dança, me senti uma completa surda ao ouvir ''All About That Bass'' no último volume, logo mudou para “Me Too”. — Confesso, músicas internacionais são bem legais, mas não gosto muito da Meghan Trainor. — Eloísa não parecia convincente, já que seu corpo começara a entrar no ritmo da música. E isso me fez rir um pouco. Eu estava realmente a fim de sair correndo dali e desistir daquela festa, mas eu já tinha ido longe demais. Eu tinha dito que ia àquela festa e ir embora dela seria pior do que não ter ido. — Talvez seja porque ainda não conheceram as faixas do novo álbum da Paramore, amiga. — disse, brincando, vasculhando o local discretamente, mas nada ali me alegrava — Aposto que todos iriam vibrar ao som de ''Still Into You'' ~ 197 ~


com esse volume. Não só pelo fato da música significar ''Ainda Afim de Você'', por mais verdadeiro que seja (oh, Deus!), mas pelo fato de que poderia vim bem a calhar. Foi quando o avistei, do outro lado do salão. No mesmo instante, senti como se fosse explodir a qualquer momento. Ele era o único que conseguia me causar essa sensação. “Matheus, como assim? Você veio?” eu disse a mim mesma, em pensamentos. Senti meus pés bambearem, e então, me sentei em uma das cadeiras mais distantes do centro, onde obviamente nós duas estávamos. Haviam muitos corpos dançantes lá no centro e, ao contrário de mim, Eloísa continuou de pé, caminhando naquela direção. — Então... você... — ela abafou uma risada ao notar que eu o havia visto, e se recompôs — Vai ficar aí sentada ao invés de ir lá conversar com o Matheus? — ela me encarou como se fosse pecado eu continuar ali parada. E talvez fosse mesmo, já que ele parecia está procurando algo, até que, nossos olhares se encontraram de uma só vez. Matheus estava elegantíssimo de terno branco e gravata de seda. Ao vê-lo daquela maneira, meu coração errou uma batida. Duas. Três. Eu já não sabia mais quantas eu continuaria perdendo, mas tinha certeza de uma coisa nesse momento: era ele quem eu queria ter ao meu lado pelo resto da minha vida. As luzes piscando eram engraçadas, mas me ~ 198 ~


deixavam meio tonta. Vi que a Eloísa havia começado a dançar, e entendi que talvez dançar melhorasse a tontura. Ele começou a caminhar em nossa direção. Comecei a me mexer e a pular enquanto caminhava em sua direção também, lentamente, repetindo os movimentos dela. Mas não ajudou muito. Na verdade, meu estômago estava uma droga. Alguém esbarrou em mim, e eu xinguei. Não sei a quem exatamente. Eu não estava enxergando muito. Talvez eu precisasse de óculos. Foi quando, desastrosamente, acabei tropeçando entre as próprias pernas e, antes que eu me desse conta do que estava acontecendo, me joguei nos braços do Matheus para não acabar de cara no chão. O que certamente ajudou muito, já que naquele momento estar em seus braços era tudo o que eu mais queria. Virei o rosto levemente, até que meu nariz encontrou a ponta do seu. Nossos olhares se prenderam, e havia tanto calor em seus olhos que senti como se estivesse derretendo. Senti os seus lábios se aproximando e então… — Me beija logo, Matheus — sussurrei. — Mari — ele gemeu e então me beijou. Um beijo longo e demorado. — Como se lembrou? — eu quis saber, depois do beijo, pois, aquilo já estava me corroendo por dentro de tanta curiosidade. Ele pareceu engolir a saliva antes de abri a boca. — Na verdade, Mari, — sem querer, acabei ~ 199 ~


deixando um sorriso aparecer entre os lábios. — eu vim até aqui para... — e o meu sorriso morreu com a frase não finalizada. Matheus notou a minha cara de trouxa varrida, prosseguindo: — Bem, se você quer mesmo saber como eu me lembrei de tudo... — Matheus respirou fundo antes de prosseguir — ...Depois de ter lido aquela carta que você me escreveu, contando o quanto a gente havia passado tanto tempo juntos, é que eu comecei a ter algumas faíscas de lembranças. Porém, não foram suficientes para tanto. Então, como você havia me pedido na carta, eu resolvi ouvir as músicas. E foi só então que eu consegui me lembrar de tudo. Lembrar de que eu estava perdendo a garota que eu vinha sonhando desde o dia em que meus pais decidiram se mudar. A garota que eu havia aprendido a amar e prometido a mim mesmo jamais esquecê-la. Mas... — Acho que no final das contas você acabou se esquecendo, não é mesmo? — Acho que sim. Você me perdoa? — Matheus, eu te amo. — eu disse, e logo selamos outro beijo. Ainda mais maravilhoso que o anterior. — Oi? Acho que eu não ouvi direito. — ele me encarou, segundos depois do nosso beijo, como se pedisse para eu repetir o que havia dito. E foi o que eu fiz. — Eu acabei de dizer que te amo, Matheus. — e comecei a alterar a minha voz, pois eu queria que todos ali em volta me ouvissem — EU TE AMO! ~ 200 ~


— Você é louca? — ele fez cara feia por eu ter gritado tão alto, com o rosto corado pelos olhares a nossa volta. Apenas fiz que não me importava com isso e… — Você não faz ideia do quanto. — e sorri diabólica, beijando-o ferozmente em seguida. Ele retribuiu. E então nos beijamos pela primeira vez depois de tanto tempo. Foi um beijo intenso e demorado. Olho no olho, fora de foco. Como se tivéssemos esperado a vida toda por aquilo. Ouvi alguém dizer pelo microfone que uma banda iria começar a se apresentar, ou algo do tipo, mas nem liguei. Eu estava muuuito ocupada beijando o cara que eu tanto amava, então… — Mari… — ele tentou dizer alguma coisa, enquanto ainda estávamos perdidos em meio aos beijos. Eu não queria que ele desse um fim no nosso, agora, maravilhoso beijo, e então, eu levantei a mão, mas não disse nada. Pois, eu não estava muito a fim de mexer a boca, sabe como é. Pelo menos não para dizer alguma coisa. Apenas para continuar ali, beijando-o. No entanto, ele se contorceu e enfiou uma das mãos dentro do bolso, retirando o que parecia ser uma carta lá de dentro. — Matheus? — eu tentei dizer algo, mas a minha cara de assustada não me permitiu. Assim como eu, ele também havia escrito algo. E isso fez com que eu me sentisse ainda mais ~ 201 ~


especial. E Ê claro que eu estava louquinha para saber quais eram aquelas palavras que estavam ali dentro. E, para minha total surpresa, senti como se o meu mundo fosse desmoronar no segundo seguinte, ao ler o primeiro parågrafo, onde ele havia escrito o seguinte‌

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Fico sem reação. E tudo que consigo fazer no momento é deixar o papel cair enquanto corro para o banheiro mais próximo.

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37 Matheus Senti minhas pernas bambearem por completo no momento em que Mariana virou as costas para mim. — EU TE AMO, MARI! — gritei com todas as minhas forças, na tentativa de fazê-la voltar para os meus braços — MARIANAAAAAAA! Porém, tudo o que ela fez foi adentrar o banheiro feminino, sem se quer me lançar um olhar, seja de compaixão ou desprezo. O que talvez pudesse significar uma coisa: que havia mais uma chance. E eu não iria desperdiçá-la. Sem pensar duas vezes, fui em direção ao banheiro feminino e entrei, sem se quer me importar com o que os outros garotos pensariam. — Ei! — uma das garotas que estava diante ao espelho, retocando a maquiagem, me lançou um olhar reprovador — Não sabe ler não, é? Este é o banheiro feminino, sabia? — TARADO! — a que estava ao lado, gritou com deboche. E as duas saíram do banheiro. — Hmmm. — outra garota me encarou ao entrar no banheiro, dessa vez com um sorrisinho ~ 205 ~


malicioso nos lábios — Procurando alguém em especial, garanhão? — e colocou o seu dedo indicador dentro da boca. Argh! Odeio garotas atiradas. Resolvi procurar Mariana, batendo em cada porta que estava fechada. Eu não devia perder tempo. — MARIANAAAAAAA! — enquanto eu gritava, ouvi vozes de dentro de uma das repartições bastante irritada. Obviamente por eu ter lhe atrapalhado, seja lá o que estivera fazendo não me importava agora. Eu só queria olhar em seus olhos outra vez e dizer o quanto a amo. Mesmo que seja pela última vez. — Por favor, Mari, me escute. Eu não vou desistir. Você é minha única exceção. No entanto, ao contrário do que eu esperava ouvir, Mariana gritou alto e em bom som: — Vá embora! É o melhor que você sabe fazer, Matheus. Pude sentir o olhar de “pena” que aquela garota, que permaneceu com o dedo sobre a boca, havia me lançado, segundos antes do meu coração despedaçar-se por completo. Foi quando desisti de continuar ali dentro.

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38 Mariana Algumas coisas precisam de um certo tempo para se resolverem, mas, neste momento, saber que o Matheus irá passar um bom tempo em um outro continente (mesmo aceitando a ideia de ficarmos juntos) só tornava aquilo ainda mais difícil. E isso era assustador. E não era só por esse motivo que tudo parecia ter ficado cinza como as capas dos EPs da Ariana Grande (novamente), mas, por cada momento que passamos desde então. E agora, ele estaria jogando tudo no lixo outra vez. — MARIANAAAAAAA! — enquanto Matheus gritava meu nome, eu só conseguia pensar em uma coisa: eu estava totalmente ferrada. — Por favor, Mari, me escute. — eu não queria, e, ao mesmo tempo, queria sim — Eu não vou desistir. Você é minha única exceção. Uma parte minha estava louca para pular no colo dele e enterrar a cabeça em seu pescoço, me embriagar com seu perfume. A outra, a sensata, não estava certa do que devia fazer. Por isso, acabei ~ 207 ~


dizendo o que não deveria: — Vá embora! É o melhor que você sabe fazer, Matheus. Juro que eu não tinha nenhuma intenção de magoá-lo. Ok, talvez... 1% queria sim, mas... Senti algo chacoalhar em meu íntimo. Havia algo estranho no ar. Não que eu fosse sensitiva nem nada, mas, era tarde demais! Quando enfim abri a porta para tentar concertar a burrada que eu havia feito, dei de cara com Letícia em frente ao espelho preso na parede. Ela parecia retocar a sua maquiagem. — Ora, ora, se não é a famosíssima Mariana. — ela me encarou pelo meu reflexo no espelho — Quanto tempo, hein? — Q-quanto t-tempo... — eu repeti sem reação, tentando no máximo não gaguejar na sua frente. Ela era tudo o que eu não precisava no momento. Letícia (conhecida também como minha arquiinimiga) revirou os olhos antes de abrir a boca outra vez. — Ah, sim! É verdade. — e guardou seu batom dentro da sua bolsinha alaranjada — Dá última vez que nos esbarramos, querida, você tentou se passar por uma vendedora e, olha, você conseguiu me enganar direitinho, hein? Eu continuei muda, plantada na frente dela. Não estava em condições de iniciar uma discussão com ela ou com qualquer um que aparecesse na minha frente neste momento. Eu me sentia tão ~ 208 ~


despedaçada psicologicamente quanto fisicamente. — Ah, fala sério, Mari! — Letícia ergueu sua bolsinha antes de começar a caminhar em minha direção — Eu sou um fantasma, por acaso? Pensei em dizer algo, mas meu raciocínio lógico não me permitiu dizer uma palavra sequer. — Qual é o seu problema, garota? — ela se aproximou bem de perto, mas tão perto, que cheguei a pensar que eu seria beijada pela minha própria arquiinimiga, argh! — Segundo li nos jornais, você tem garra quando quer. Matou o próprio sequestrador, quanta audácia. E muita coragem, devo acrescentar. Ou seria burrice da sua parte? — e se distanciou com um sorrisinho no rosto, dando um passo para trás — Mas... O que eu não entendo, Mariana, é... Por qual motivo você me trancou naquele provador? — e começou a andar em círculos na minha frente — Sério, me conta. Eu roubei algum namoradinho seu? — e parou, olhando em meus olhos — Ou... — e voltou a andar em círculos — ...Sei lá, talvez eu tenha feito algo que não lhe agradou, certo? — e parou novamente, olhando em meus olhos outra vez — Então, acabe logo com essa minha curiosidade e me diga: o que eu te fiz, garota? — a víbora maldita nem me reconheceu? Nem mesmo de tão perto ela seria capaz de um milagre desses, eu já devia saber. Mariana, Mariana, o que você está esperando? Essa é a sua chance. Vamos, garota, diga! Diga logo de uma vez e acabe com isso. Prefiro chamar isso de: Alerta! Cometa uma loucura, Mariana. O que obviamente iria acabar ~ 209 ~


acontecendo ao deixarem essa víbora maldita na minha frente. E ainda por cima me desafiando, imagine só! — Pode me chamar do seu pior pesadelo, meu bem! — eu disse por fim, pronta para o combate, pois, minha armadura já estava exposta. Agora é só atacar, Mariana. — Quem você pensa que é, afinal? — ela me encarou, fingindo estar totalmente surpresa. — Quem eu sou? — fingi estar decepcionada, sorrindo de sua expressão facial patética — Esta é uma boa pergunta, Letícia. E tenho certeza de que você vai adorar conhecer quem sou. — e deixei outro sorriso ainda maior que o anterior escapar entre os lábios — Lembra do baile da quinta série? Pois é, eu sou aquela garota que você derramou um balde cheinho de graxa. Se lembra disso, querida? — foi quando consegui ver pequenos fragmentos de lembranças surgir em seus olhos. Em um tom de surpresa, seus lábios formaram um “O” bem redondo quando, por fim, abriu a boca, mas não disse uma palavra — Sim! Você se lembra. — e aquilo a fez dar dois passos para trás, ainda de frente para mim, agora completamente surpresa — Muito obrigada pelo presente dos velhos tempos, tá? — Mari, eu.... — ela começou a abanar a cabeça enquanto tentava correr com as palavras, mas, eu fui mais rápida e prossegui: — Você não sabe o quanto foi desagradável retirar toda aquela graxa do meu lindo e sedoso corpinho. Acredita que o que você fez acabou me ~ 210 ~


ajudando? — ela parecia não entender o que eu acabara de lhe dizer, olhando-me de cima abaixo — É verdade. Veja! Veja com seus próprios olhos. — e ergui meus braços para que ela pudesse ver com seus próprios olhos, dando-me a oportunidade de me agarrar em seus cabelos e acabar com a sua raça ali mesmo. Porém, não sei se devo chamar isso de: sorte, ou azar. Pois, nesse mesmo instante, Lúcio entrou no banheiro. — Amorzinho, pra quê tanta frescura em uma simples noite de... — ele ainda olhava para ela antes de me reconhecer e... — Ora, ora, se não é a legítima dona do aparelho que eu confisquei aquele dia. Eu não sabia que vocês duas eram amigas. — e nos encarou, como se assistisse a um jogo de pingue pongue. — Eu adoro essa sua ironia, meu querido! Mas eu jamais seria “amiga” dessa daí. Lembra do balde de graxa na quinta série? Então, ela era a garota que você escolheu, se lembra dela? — e o agarrou pelos braços antes de lhe dar um beijo sem se importarem com a minha presença. Foi quando eu finalmente notei que ela estava usando o mesmo modelito que eu havia resgatado de suas mãos naquela noite em que fui supostamente assaltada por ele. — Agooora eu entendi tudo. — me ouvi dizer, em voz alta. Sim, eu reconheço que estou sendo bastante idiota (bastante é pouco, isso é verdade), mas, como eu não havia percebido antes? ~ 211 ~


39 Argh! Não sei se, eu vomitava de nojo ao ver os dois se agarrando diante dos meus olhos, ou se eu aproveitava o curto tempo que ainda me restava para fugir dali o mais rápido possível. E acho que já sabemos qual a decisão certa a tomar, não é mesmo? Por favor, Deus, não brinque comigo agora... — Aonde é que a princesinha pensa que vai, hã? — Lúcio me segurou pelo braço, antes que eu conseguisse passar pela porta. Droga! — Por sua culpa, o meu pai está atrás das grades a essa hora. E sabe o que isso significa, princesa? Hã? Ele disse que era minha culpa? Eu realmente ouvi direito? — Significa que eu terei que acabar com você. — eu disse, antes de repetir exatamente o que Márcia havia feito ao esmagar as bolas daquele marginal fora da lei. Seus movimentos ficaram gravados em minha mente, prontos para serem usados a qualquer instante desde que conseguimos fugir daquele local. E eu ainda havia tido algumas aulinhas práticas com a Márcia antes de esclarecermos o caso por completo. ~ 212 ~


Eu estava com tanta, mas com tanta raiva desse mauricinho metido a contra lei, que nem me deixei levar pelo medo de que os meus movimentos falhassem no momento da execução e eu fosse golpeada por ele no segundo seguinte. Por sorte, Márcia era ótima como professora de artes marciais e havia me ensinado exatamente o que eu precisava saber. — Isso, foi pelo balde de graxa, seu idiota! — e cuspi, enquanto ele ainda se contorcia de dor no chão do bainheiro feminino — E você... — olhei bem no fundo dos olhos de Letícia antes de qualquer outro movimento meu, fazendo com que ela jamais se esquecesse deste momento. — Mari, finalmente eu te encontrei! — Eloísa acabara de entrar no banheiro antes de se dar conta do que estava acontecendo — Le-Letícia? O que você está fazendo aqui? — Ligue para a Polícia, Elô. — eu disse — E avise que o fugitivo foi encontrado.

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40 Matheus “Não se pode ter tudo nessa vida, meu filho!” Lembro-me bem de ouvir o meu pai dizer essa frase desde que eu tinha nove anos de idade, mas, nunca (jamais) eu havia realmente compreendido o verdadeiro significado desta frase. Pelo menos não até agora. Mas o que eu queria e o que eu devia fazer eram coisas diferentes no momento. E ela havia feito a sua escolha, assim como eu havia feito a minha. E eu jamais poderia culpá-la por isso. Bom trabalho, babaca! Eu queria socar alguma coisa. Minha cabeça, por exemplo. Com um pouco de sorte, eu ficaria inconsciente e esqueceria toda a merda que eu havia feito até o momento. “Vá embora! É o melhor que você sabe fazer, Matheus.” As palavras de Mariana ainda ecoavam na minha cabeça, mesmo depois de ter deixado o baile e seguido em direção a minha casa. Eu só queria que ela dissesse “sim”, para que pudéssemos suportar juntos esse tempo em que ~ 214 ~


ficaremos, mais uma vez, distantes um do outro. Droga! Não era isso que eu queria. Nem de longe. E jamais passou pela minha cabeça que fazer a coisa certa doeria tanto. Eu não precisava sofrer mais do que o suficiente. Não tê-la em meus braços já era um eterno pesadelo que eu teria de enfrentar de agora em diante. “É o melhor que você sabe fazer, Matheus.” Eu estou ferrado! A voz de Mariana jamais se dissipará da minha mente e isso obviamente me fará sofrer o triplo do que realmente deveria... ESPERA! Mariana tem toda razão. Dei a ré, e fiz o caminho de volta para o local da festa. Eu iria provar que o melhor que eu sabia fazer era não ir embora. Ok, talvez fosse, mas, a partir de agora não seria mais! *** Assim que cheguei, havia três viaturas paradas no meio da rua, as luzes piscando no teto, tingindo todo o ambiente escuro em nossa volta de vermelho-sangue. Logo consegui ver um dos policias segurando o... Não pode ser! Diante dos meus olhos, lá estava o mesmo pivetinho que havia assaltado a Mari e resultado em nosso sequestro. Por sorte, ele já havia sido algemado e estava sendo levado direto ao camburão. ~ 215 ~


Um arrepio subiu por minha coluna. Aquilo nĂŁo parecia nada bom Nada bom.

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41 Mariana — Letícia, a polícia quer falar com você. — eu disse por fim, olhando para ela, que parecia pálida com o rumo que a situação tomou. — E com quem eles não querem? — ela rosnou — Eu sou inocente, eu juro! Eu não fiz nada. — A senhorita deve permanecer em silêncio, ou tudo que disser será usado contra você no tribunal. — o policial respondeu, calmamente. Obriguei-me a ficar de pé e me juntar ao grupo de pessoas que na saída lateral do salão, todas assustadas com o acontecimento. Eloísa roia as unhas num canto enquanto minha mãe (responsável pelo evento) murmurava alguma coisa ao policial de cabeça raspada. Foi quando eu o vi descer do carro e, tudo que eu conseguia pensar era: “Eu não vou desistir. Você é minha única exceção.” Fui obrigada a parar de pensar sobre o assunto quando um barulho (que, meu Deus) ecoou por todo o salão, fazendo com que todos olhassem ~ 217 ~


furiosos para o palco por dois segundos. Era um daqueles sons que o microfone faz quando dá alguma interferência. Logo avistei dois jovens se instalando em seus lugares atrás dos instrumentos. Um parecia ser o baterista, e o outro estava segurando um contrabaixo nas mãos. E isso acabou me dando uma ideia. Eu fui até lá. Ele merecia isso. Eu merecia isso. O palco ficava bem próximo, e por isso não levou mais de um minuto para que eu chegasse até ele. Os dois garotos, que pareciam adorar os instrumentos, nem notaram a minha presença quando me aproximei. — Será que vocês aprovam a ideia de eu cantar a próxima música com vocês? — falei quase que em um grito, de tão animada e confiante que eu estava. Eles riram um pouco do meu entusiasmo e logo disseram que sim, perguntando apenas que música eu gostaria de cantar, até que… — Ei? — o baterista, que tinha uma cara de Jacob do crepúsculo, me encarou um pouco surpreso. E eu acabei ficando surpresa também pela tamanha semelhança entre ele e o Taylor Lautner. — Você não é aquela mocinha do canal Paramour no Youtube? — — Mariana Carey, acertei? — perguntou o outro, que estava segurando o contrabaixo com as mãos e… meu Deus, ele também era muuito parecido com o Taylor. Apenas com um pouco mais ~ 218 ~


de idade do que o baterista aparentava ter. Imaginei logo que os dois eram irmãos, só podia ser — E não! Não somos irmãos, tá legal? — os dois disseram de uma só vez, adivinhando os meus pensamentos. — Tá legal! — eu disse, levantando os braços como se eu estivesse me rendendo. Acabei sorrindo por isso, feliz por eles terem se lembrado de mim apenas pelos vídeos no Youtube e não pelo ocorrido que mudou toda a minha vida desde então — Vocês conhecem “Your Love's A Drug” da Leighton Meester? — Claro, mas… pensei que você fosse cantar alguma música da Paramore. — e sorriu, meio envergonhado pelo próprio comentário — Eu adorei você cantando “The Only Exception”. E mais uma vez, as palavras de Matheus ecoaram em minha mente. — Obrigada! — agradeci e, isso acabou me dando uma outra ideia. Fiz sinal para que eles se aproximassem mais perto e sussurrei como se tivesse toda a intimidade do mundo: “Vamos fazer um Madley com as duas faixas, ok?”. — Mas isso será impossível, as duas faixas são muito diferentes. — o baterista sussurrou, me encarando, como se eu tivesse revelado que iria matar alguém. Acabei contando como isso deveria ser feito e expliquei em qual parte eles deveriam fazer a troca das músicas. Eles vibraram com a ideia e pediram para me posicionar atrás do microfone. Não demorou muito para que o Matheus aparecesse entre a multidão de ~ 219 ~


corpos no centro do salão. Ele parecia assustado, procurando por alguém. Seria... eu? E então eu rapidamente disse em voz alta no microfone: — Essa vai para a pessoa mais especial que eu já conheci. — notei que, enquanto eu dizia isso, Matheus me encontrou com um olhar supresso por, talvez, me vê ali em cima. Eu sorri pra ele e dei uma piscadinha de leve, como se tentasse consolá-lo de que eu estava bem. Diferente de muitos, eu não tinha nem um pouco de vergonha por estar ali em cima. Principalmente com todos aqueles olhares sobre minha direção. Olhei para os meninos que estava com os instrumentos e fiz sinal de que estava pronta. Não levou nem dois segundos para que eles começassem a tocar exatamente como eu imaginei. Eu gosto, eu quero O modo como você faz meu corpo se mover Eu entonei as primeiras palavras da música (em inglês) e reparei que algumas pessoas pararam e começaram a cochichar entre si. Me tornei um escravo do meu hábito Me alimentando do seu amor Preciso disso agora E eu realmente precisava fazer isso. Me concentrei na direção do Matheus e apenas nele, que, soltou um sorriso em seguida. Eu me arrepiei dos pés a cabeça por isso. Muitas ~ 220 ~


pessoas me olhavam, agora surpresas por me verem cantando pela primeira vez em público, ou talvez, pela minha coragem após o ocorrido há cinco minutos atrás. Você é tudo de que preciso O seu amor é uma droga, não me canso O seu amor é uma droga E eu não consigo dormir Não me canso, o seu amor é uma droga O seu amor é uma droga O seu amor é uma Fechei os olhos e imaginei tudo o que estava escrito naquela carta. Foi quando mudamos de música: Eu tenho muita noção de realidade, mas eu não consigo Deixar o que está na minha frente Eu sei que você está partindo quando você acordar de manhã Me deixe com uma prova de que isso não é um sonho Eu já estava cantando um trecho de “The Only Exception” (em inglês também) quando o encarei mais uma vez. Ele estava com os olhos marejados, segurando as lágrimas. Os meus logo se encheram d’água também. E eu me foquei para cantar a melhor parte. Você é a única exceção ~ 221 ~


Você é a única exceção Você é a única exceção Mas, você é a única exceção E ele era. Ele é! A música, então, acabou e o salão pareceu explodir em gritos e palmas. Eu fiquei totalmente feliz e acabei deixando cair uma lágrima. Notei que o Matheus tentava vir em minha direção, tentando passar entre os corpos ali presentes, e eu, rapidamente, me joguei do palco. Fiquei surpresa quando vi que as pessoas ali abriram um espaço para que eu pudesse caminhar até ele sem ser interrompida. Matheus parou no meio do caminho, faltando pouco para chegar até mim. Eu suspirei enquanto tudo parecia estar em câmera lenta. Foi quando senti alguém me beliscar no momento seguinte, e, quando virei de lado para ver quem tinha sido o responsável, avistei Eloísa toda sorridente com um pedaço de papel nas mãos. Ela rapidamente me entregou, fazendo sinal para que eu mostrasse ao Matheus o que estava escrito ali. E, mesmo sem ter o conhecimento daquilo, foi isso que eu fiz. Sorri ao ler (de trás pra a frente) o que estava escrito ali:

Matheus sorriu, e em seguida, enfiou a mão entre os bolsos, como havia feito ao pegar aquela ~ 222 ~


carta. Fiquei em estado de choque ao notar que aquilo tudo havia sido arquitetado pelos dois (digo, por ele e por… Eloísa). Matheus repetiu o que eu estava fazendo com o papel, só que desta vez, não estava escrito “quer namorar comigo” ou “aceito”… e sim:

Eu queria? Eu estava disposta a passar todos os meus dias com ele? Eu precisava mesmo responder essa pergunta? — Não é óbvio? — eu disse, quase chorando de tanta alegria, felicidade, e um amontoado de outros sentimentos. Voando em cima dele em seguida, para enfim, por o nosso delicioso beijo em ação (agora diferente e… único), quando fomos interrompidos pela Diretora (ou seja, a minha mãe) anunciando pelo microfone o gran finale. Esse era o momento em que todos os participantes teriam, finalmente, conhecimento dos merecedores aos títulos de Rei e Rainha do Baile. E é claro que eu e o Matheus não cansamos de dizer: “Eu amo você”. E essas palavras se transformam em um cântico enquanto nos movimentávamos juntos, devagar. Depois, rápido. Devagar. Rápido de novo. Todos começaram a formar filas indianas, criando, enfim, quatro longas filas no centro do salão. A qual, provavelmente, um por um iria ~ 223 ~


anotando em um pequeno pedaço de papel (que estava sendo oferecido gratuitamente a todos), quem realmente deveria ser eleito aos títulos. Eu não queria votar, queria sair daqui o mais rápido possível com o Matheus para, por fim, ficarmos a sós. Mas... Eu iria fazer isso por ele. Eu queria que, ao menos, ele ganhasse o título já que da última vez que isso lhe aconteceu, ele não pegou a coroa exatamente por ter me visto toda suja e ensebada de graxa, há cinco anos atrás. Como eu poderia esquecer? E eu também merecia (é claro), mas, segundo o ditado popular: um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar, não é mesmo? Exceto, é claro, por um milagre. E eu não era muito fã de milagres devido aos últimos acontecimentos em minha vida, então…

~ 224 ~


42 — Ai, amigaaa, nem acredito que vocês finalmente poderão ficar juntos agora! — Eloísa nos abraçava constantemente, minutos depois da votação. — Graças a sua brilhante idéia, Elô. Obrigada! — e a apertei com mais força ainda. Ela pareceu não ter gostado muito disso, já que me encarou com seriedade. — Calma, calma! Assim você vai acabar me esmagando, Mari. Ainda preciso estar viva para o casamento de vocês dois, esqueceu? — e concertou o vestido, que ficou um pouco amassado depois do abraço que eu dei nela — E nem adianta dizer o contrario, porque eu serei sim a madrinha e pronto. — e fez uma cara feia, como sempre fazia quando queria me pedir algo que eu não podia recusar. — Não consigo pensar em mais ninguém para ocupar esse cargo a não ser você, Elô! — e então, sorrimos juntas. Ouvimos alguns “Ownnn” das pessoas a nossa volta, mas não me importei. Porém, quando minha mãe voltou para o centro do palco com um envelope vermelho nas mãos, não foi preciso espiar para ter certeza de que todos já não prestavam tanta atenção assim em nós. ~ 225 ~


— E agora, o momento mais esperado! — berros. Gritos. Todos ansiosos pelo resultado, até que… — Estou realmente surpresa com esse resultado! — notei o olhar de espanto que a minha mãe fazia ao ter tirado o lacre do envelope e lido o papel em seguida — E o vencedor ao título de Rei deste ano é… — Notei que seu olhar rapidamente pousou sobre o local onde estávamos, eu já sabia o resultado — …Matheus Figueiredo. Todos aplaudiram histericamente no momento em que ele foi iluminado pelos holofotes, gritando eufóricos como se a vida do Matheus dependesse disso. No mesmo instante, vi um sorriso esplandecer entre os lábios do Matheus, que até então, estavam colados nos meus. O que foi? Ele merecia um beijo de recompensa por aquilo, não é mesmo? — E agora… — minha mãe continuou e seu olhar ainda permanecia fixo em minha direção, porém, cheios de lágrimas. NÃO! Isso era impossível! Eu não poderia ser eleita novamente a… — A vencedora ao título de Rainha deste ano é… — lágrimas começaram a cair sobre seu rosto. Provavelmente emocionada e, ao mesmo tempo, surpresa — …você, minha filha, Mariana Carey. — Eu GANHEI. — não era uma pergunta. E mais uma vez, todos aplaudiram histericamente, como se tivesse acabado de assistir o último capítulo da novela das nove com final feliz. ~ 226 ~


E eu nem vi quando o Matheus me agarrou pela cintura e me levantou em um só movimento, me colocando sentada sobre seus ombros. — Vocês não querem a coroa de vocês? – ouvi uma voz por atrás de mim. Virei a cabeça para tentar ver de quem era aquela voz, e quando consegui, vi uma garota descabelada e com um olhar cintilante e ao mesmo tempo triste. Na hora eu saquei o que deveria fazer. Pedi ao Matheus para que me colocasse de volta ao chão, e, quando ele o fez, segurei mão da garota e a puxei em direção ao palco no segundo seguinte, onde minha mãe continuava de pé. Agora, segurando as duas coroas. Dei um abraço nela e, em seguida, peguei a minha coroa. Ela era muito linda, modéstia parte, mas eu precisava fazer isso. A garota ao meu lado me olhou sem entender muito sobre o que eu estava prestes a fazer, e então, quando ela finalmente se tocou, notei que seus olhos já estavam cheios d’água também. — Todo esse tempo, desde o meu último baile até aqui, eu consegui aprender algo que eu considero bastante representativo ao momento. — comecei o meu discurso com o microfone em uma das mãos, e a coroa na outra — E agora eu entendi o verdadeiro sentido da coisa. — e tomei fôlego antes de prosseguir — Porque eleger apenas UMA quando podemos eleger TODAS as garotas? — e levantei a coroa para cima. A garota ao meu lado suspirou, emocionada. E chorando. Eu continuei — A partir de hoje, os bailes não terão apenas uma ~ 227 ~


rainha, mas… uma família real. Vamos fazer algumas mudanças nessas regras, não é mesmo, mamãe? — e a encarei, sorrindo da sua expressão facial incrédula. Eles riram um pouco do meu entusiasmo e logo disseram que sim em coro, perguntando apenas que música eu gostaria de cantar. Isso me deixou um pouco surpresa na verdade. — Vocês querem que eu cante outra vez? — olhei para os meninos da banda, que sorriam com a minha pergunta boba. Provavelmente eles também estavam esperando por isso. Todos gritaram um “Siiiiiiiiim” bem alto e aconchegante, que me fez repensar no assunto no mesmo instante. — Bem, então… — prossegui, com um sorrisinho de lado — Eu tenho uma surpresa para vocês. — e encarei o Matheus neste exato momento, acrescentando de imediato — Especialmente para você. — e pisquei, mais confiante do que nunca. Olhei para os meninos dos instrumentos e sibilei com os lábios “a música um” do mesmo jeito que eu havia feito minutos antes. Eles pareciam ter me compreendido já que, rapidamente, começaram a tocar “Your Love's A Drug” da Leighton Meester outra vez como eu esperava. Só que desta vez, eu não cantei exatamente a mesma letra, eu havia decidido me arriscar com o “repente” (Cantando uma letra de minha autoria: onde mais tarde a batizaria de “Teu Beijo”): ~ 228 ~


Na noite, do Baile Acho que foi milagre A Rainha, do Baile Não serei um desastre Depois que você se foi, eu sei como dói E então eu quis, você só pra mim Todos ficaram surpresos com a mudança da letra, já que desta vez eu estava cantando em português. Até mesmo os meninos da banda, mas, graças a Deus eles continuaram a tocar os instrumentos sem me interromper. E isso provavelmente fez com que eles achassem que, talvez, eu estivesse cantando a “tradução” da letra anterior. Pobres inocentes, mal sabem que tudo não passa de puro “improviso” mesmo. Eu havia visto muito isso nos vídeos do Youtube, mas, eu jamais havia tentado fazer igual. Até agora. Eu sempre sonhei, acompanhá-lo Mas agora que eu provei… sua boca: Eu sempre quis Teu beijo quente, eu inocente e nada mais E foi exatamente assim Que aconteceu, teu beijo é meu, não volto atrás... (Não volto…) E era impossível não sorrir para mim mesma ao notar o quão eu estava sendo boa com a letra de ~ 229 ~


improviso. Notei uma garota com um vestido parecido com o que a Taylor Swift usara no clipe “Shake It Off”, e, foi então que decidi cantá-la assim que minha música improvisada havia chegado ao fim. Não precisou nem duas palavras para que os meninos da banda entendessem qual seria a próxima música quando eu disse “I stay out too late… Got nothing in my brain”. Todos deram um grito, aprovando a minha playlist e começaram a se mexer também. Mas eu continuo em frente Não posso parar, e nem vou parar de me mexer É como se tivesse uma música na minha mente Dizendo que tudo vai ficar bem No fim das contas, eu estava gostando disso tudo, e os meninos da banda eram excelentes, então… — Acho que acabei de descobrir o meu mais novo talento. — sussurrei para o Matheus, que ainda me olhava congelado no mesmo lugar assim que a música acabou. Seus olhos brilhavam, e então, fiz sinal para que ele subisse no palco antes de começar a cantar “All You Had To Do Was Stay”, também da Taylor Swift. E para a minha surpresa, ele o fez. Não era uma indireta pra ele, mas foi o que ele imaginou já que a letra dizia tudo o que eu não fui capaz de dizer até o momento. E acabamos os dois ali, até o final da noite. Aqui está você agora, me chamando ~ 230 ~


Mas eu não sei o que dizer Eu estive juntando os pedaços Da bagunça que você fez Pessoas como você sempre querem de volta O amor que deixaram de lado Pessoas como eu vão embora para sempre Quando você diz adeus (Ficar) Hey, tudo o que você precisava fazer era ficar

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Epílogo A razão pela qual eu estou aqui com o meu cartão de embarque na mão, esperando para voar 11.000 quilômetros para uma aventura em um novo país, é ele. Matheus Figueiredo. Ele é a memória que eu escolhi carregar pelo resto da minha vida. Pois, ele entrou como uma onda do mar gigante e mudou tudo. Tudo, tudo, TUDO! Estou segurando meu cartão de embarque como a minha vida, ainda não acreditando no que eu estou prestes a fazer. Mas, então, eu o vejo segurando nosso café da manhã improvisado. Havia um jornal também. Estava perfeito. Pego o jornal em suas mãos, enquanto um sorriso bobo escapava entre os meus lábios, pois, uma das matérias acabou me roubando a atenção…

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CASAL “MATHIANA” FINALMENTE ASSUME O NAMORO E JÁ MARCAM DATA DO CASAMENTO Para quem achava que era impossível, a música provou o contrário.

Após serem sequestrados por policiais da máfia, Mariana Carey e Matheus Figueiredo finalmente decidiram assumir o namoro em plena noite do Baile de Formatura, na unidade escolar onde a jovem “talentosa” decidiu fazer uma surpresinha para o mocinho, apresentando seu primeiro single oficial “Teu Beijo”... E tudo aconteceu de improviso. Ao receber a notícia de que o seu amado iria passar seus próximos seis anos em um outro continente, Mariana Carey armou de última hora, junto com a We’re Young (banda vencedora de um dos concursos musicais da própria unidade), um

show pra lá de emocionante. Com direito a pedido de namoro, trilha sonora, e tudo mais. Porém, quem acabou dando a maior surpresa de todas foi o próprio rapaz, que, a surpreendeu com o seu pedido de “casamento” segundos depois de ter recebido o pedido de namoro da jovem, que no dia seguinte acabou postando esse momento fofo em seu canal “Paramour” no Youtube (que foi criado em homenagem a sua banda preferida), e que agora, possui mais de um milhão de inscritos. Se engana quem pensa que os dois viviam em um mar de rosas, pois, após serem salvos

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do sequestro, Matheus Figueiredo (filho do famoso milionário Afonso Figueiredo), acabou perdendo a memória. Deixando o coração da jovem em mil pedaços, pois, a mesma, foi acusada de oportunista e tudo mais pelo próprio rapaz. Mas… o que talvez parecesse impossível tornou-se realidade. Graças a música (a qual Mariana Carey deixou como “despedida”), fez com que Matheus Figueiredo se lembrasse dos momentos de intimidade que tiveram juntos: desde o primeiro

beijo (ainda na infância), até o reencontro atual. É isso mesmo, galera! A música quebrou o feitiço do esquecimento que os separavam, e o amor uniu estes dois jovens da melhor forma possível. — “Nunca é

tarde para começa a ser feliz. Devemos sempre acreditar que todos temos um par perfeito, e que, a música, sempre será o seu melhor cupido!” — Afirma o casal, super alegres, antes de embarcarem juntos para Paris, a qual, permaneceram durante todo o noivado.

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Teu Beijo (Your Love’s A Drug) Divino Batista

Na noite, do Baile Acho que foi milagre A Rainha, do Baile Não serei um desastre Depois que você se foi, eu sei como dói E então eu quis, você só pra mim

Mas agora mudei, vou fazer o que eu sei Não me diz, eu sou o que eu sempre quis Eu sempre sonhei, acompanhá-lo Mas agora que eu provei, sua boca:

Eu sempre sonhei, acompanhá-lo Mas agora que eu provei… sua boca:

Eu sempre quis Teu beijo quente, eu inocente e nada mais E foi exatamente assim Que aconteceu, teu beijo é meu, não volto atrás... (Não volto…)

Refrão: Eu sempre quis Teu beijo quente, eu inocente e nada mais E foi exatamente assim Que aconteceu, teu beijo é meu, não volto atrás... (Não volto…) O único, da vila E eu sempre na minha Me entenda, não mente Eu era uma insolente

Você prometeu Que teu beijo era só meu Não adianta querer voltar atrás... Eu sempre quis Teu beijo quente, eu inocente e nada mais E foi exatamente assim Que aconteceu, teu beijo é meu, não volto atrás...

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Cantores NACIONAIS que

mudaram a minha vida: 1. Adair Cardoso 2. Adriana Calcanhotto 3. Adryana 4. Alex Ferrare 5. Aliados 6. Aline Barros 7. Ana Carolina 8. Anayle 9. Anderson Freire 10. Anitta 11. Arthur Danni 12. As meninas 13. Athos Prado & Delluca 14. Aviões do Forró 15. Babi Hainni 16. Banda Calypso 17. Banda Uó 18. Belo 19. Bernado Falcone 20. Blitz 21. Brian Cohen 22. Bruna Karla 23. Bruninho & Davi 24. Brunna & Mateus 25. Bruno & Marrone 26. Buchecha 27. Capital Inicial 28. Carlos & Jader 29. Cazuza 30. Chay Suede 31. Check in the Dark 32. Chicabana 33. Chipmunks 34. Chitãozinho & Xororó

35. Chris Brown Jr. 36. Cine 37. Clarice Falcão 38. Claudia Leitte 39. Cleber & Cauan 40. Conrado & Aleksandro 41. Cristiano Araújo 42. Damares 43. Dan Torres 44. Danilo Mendes 45. Darvin 46. Davi Sacer 47. Dener Ferrari 48. Dennis 49. Dream Team do Passinho 50. Erikka Rodrigues 51. Faibe 52. Fernanda Brum 53. Fernanda Pinho 54. Fernandinho 55. Fernando & Sorocaba 56. Fiuk 57. Flora Matos 58. Fly 59. Fresno 60. Gabriel Gava 61. Gabriel Valim 62. Gaby Amarantos 63. Gal Costa 64. Girls 65. Giselli Cristina 66. Grupo Tradição 67. Guilherme & Santiago

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68. Gusttavo Lima 69. Hellen Lya 70. Heloisa Rosa 71. Henrique & Juliano 72. Hugo & Tiago 73. Hugo Henrique 74. Humberto & Ronaldo 75. Israel Novais 76. Ivete Sangalo 77. Ivo Mozart 78. Jads & Jadson 79. Janayna 80. João Bosco & Vinícius 81. João Lucas & Marcelo 82. João Neto & Frederico 83. Jorge & Mateus 84. Jota Quest 85. Jullie 86. Kelly Key 87. KLB 88. Laís 89. Legião Urbana 90. Lexa 91. Lolita 92. Luan Santana 93. Lucas Lucco 94. Ludmila 95. Luiza Possi 96. Luka 97. Lulu Santos 98. Maisa Silva 99. Malta 100. Mamonas Assassinas 101. Manu Gavassi 102. Marcos & Belutti 103. Maria Cecilia & Rodolfo 104. Maria Gadú

105. Michel Teló 106. Milky Mota 107. Munhoz & Mariano 108. Naldo Benny 109. Nara Leão 110. Natiruts 111. Nechivile 112. NX Zero 113. Oba Oba Samba House 114. Octávio Cardozzo 115. Paula Fernandes 116. Paulo Ricardo 117. Pitty 118. Pollo 119. Projota 120. Restart 121. Rita Lee 122. Roberta Campos 123. Rosa de Saron 124. Rouge 125. Sam Alves 126. Sandy & Junior 127. Santorine 128. Scracho 129. Secos & Molhados 130. Skank 131. Sophia Abrahão 132. Strike 133. Suricato 134. Tânia Mara 135. Thaeme & Thiago 136. Tiago Iorc 137. Tiê 138. Titãs 139. Up N' Go 140. Valesca Popozuda 141. Victor & Léo 142. Wanessa

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Agradecimentos Ai, meu Deus! São tantas pessoas nessa minha jornada até aqui. Okay. Vamos lá (mais uma vez)! Jaqueline Pereira, que, além de me fez ser o escritor mais desejável e feliz do mundo, foi quem leu pela primeira vez a história da Mariana até (quase) o final e acabar se apaixonado pelo Matheus antes mesmo da Mari. Sem você, este livro não existiria. Obrigado! E, é claro, por me incentivar a mostrar esse meu lado escritor ao mundo. A Thata Gomes, eu nunca vou deixar de me lembrar de você… Ela merece mais do que ninguém, por simplesmente ser ela: por ser guerreira: e por me aguentar todo esse tempo que passei tentando dar um ponto final nesta história. E por ser a melhor leitora que eu já tive até então. Conseguimos, temos mais um livro. Ter de escolher entre as duas era uma tarefa árdua e desesperadora, acreditem, mas, eram pelo lado bom, vocês estão no mesmo patamar agora (Risos). E é claro que eu não poderia esquecer de mencionar a Giovanna... por ter sido um BETA exepcional, e muuuito dedicada. Pri Assis, que já era fã desde o primeiro capítulo, assim como a Andressa Castilho. Vocês são o meu ponto de equilíbrio. Obrigado pelas ~ 241 ~


resenhadas, as mensagens inspiradoras, e, acima de tudo, a amizade sincera. Gostaria de agradecer imensamente ao meu amigo João David Alves que, além de ter adorado todo o contexto em si, foi o melhor Beta que eu já encontrei por esse mundo afora. Obrigado por aceitar desenquadrar a minha obra e deixá-la ainda mais especial. Gabriel Caetano, que, mesmo não tendo o conhecimento disso, foi essencial para o andamento desta história. Fernando Nery, por ter me presenteado com o melhor vídeo resenha deste mundo, e, a Natália Sophia, quem merece mais do que nunca todos os meus exemplares. Aproveitando para deixar um recadinho aqui para todos os Autores de plantão: mandem seus livros para esses dois leitores voraz (Risos). Amanda Batista, minha irmã de alma, mas que poderia ser de sangue, e que jamais tirarei do coração. Mesmo estando longe de mim, esteve tão perto. Todo esse tempo. Eu simplesmente acho incrível ela ser a única capaz de entender e falar a mesma língua que eu, e que me aguenta mais do que qualquer um! Principalmente quando abro a boca e começo a falar das minhas idéias. E já que eu toquei nessa parte, ao Rafael Lopes, por se tornar um verdadeiro amigo, me acolhendo em sua humilde residência sem nem ao menos ter conhecimento da minha insanidade intelectual como escritor. Aos meus familiares que, apesar de não ~ 242 ~


entenderem muito bem “esse negócio de escrever”, não acreditaram que um escritor na família conseguiria ir tão longe. Bem, olha no que deu. Mislene Rosa, que, desde o início (quando eu ainda era só mais um blogueiro metido a escritor), acreditou em mim e continuou sendo essa pessoa maravilhosa que é. Vânia Barbosa, a quem eu conheci em uma viagem dentro de um ónibus e desde então eu levo no coração. Vâ, prometo devolver o seu livro, tá? Coisa feia, né? Você me emprestou um livro e eu até hoje nunca devolvi. (Risos) Lorena …, por ter sido a primeira leitora a qual tive o privilégio de conhecer pessoalmente, me proporcionando e mostrado o quão confortante é conhecer de perto os meus leitores. Você não se tornou só apenas uma amiga leitora, mas sim, uma amiga de verdade. Ao ponto de concordar viajar comigo para um outro país. Obrigado! Maria Luiza Magalhães, que, sem perceber, foi desistindo de mim aos poucos. Eu jamais esquecerei o quão fundamental você foi. Never. Afinal, tínhamos um projeto juntos e que não acabou como o esperado, mas, no fim das contas, erros acontecem, não é mesmo? E, acima de tudo, você é a responsável pelo o andamento e finalização do meu primeiro livro, sabia? Eu não teria conhecido os meus primeiros leitores se não fosse por você. Muito obrigado mesmo! Agradeço de coração. A Geane Santos, Kalita Cássia, Bruno Luiz, Luciana Souza, que, muitas vezes mantinham-se ~ 243 ~


ocupados compartilhando minhas publicações no Facebook. Vocês não sabem o quanto eu adoro isso. Ao Rubens Francisco Lucchetti, que, em um dia chuvoso, trouxe luz com o seu pedido tão inesperado. A Isabela Freitas, que, foi uma fofa ao extremo e me pediu um exemplar na sua noite de autógrafos. A Paula Pimenta e a Carina Rissi, que, mesmo sem ter o conhecimento disso, me fez ter a certeza do que eu realmente queria ser assim que li todos os seus livros. Essas duas são inacreditáveis! Como podem ser tão talentosas, meu Deus? A Deus, que acima de tudo, sempre esteve ao meu lado. Sendo meu alicerce, minha base, minha fortaleza. Meu tudo.

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