O custo do discipulado

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O CUSTO DO DISCIPULADO (Mateus 10.34-39)

INTRODUÇÃO Ser cristão nos dias de hoje parece ser coisa fácil. O crente vive tranqüilo, ninguém nem nada lhe perturba a vida. Pode ser que certos dias ele é zombado pelo fato de dizer que é cristão, mas isso não passa de ser muitas vezes uma brincadeira. Ele tem amigos não crentes e passa grande parte do seu tempo com eles. Talvez fale como esses amigos periodicamente e nunca recebe nenhum tipo de crítica quando está com eles devido a sua fé. Na igreja primitiva a coisa era totalmente diferente. Ser crente era proibido e o só fato de que alguém soubesse que tal pessoa era cristã podia ser motivo de denuncia perante as autoridades e por isso receber uma dura punição. Bem conhecidos são os relatos dos antigos mártires. Eles eram levados a morte simplesmente por afirmar que eram cristãos. Que tempos difíceis foram esses. Uma pessoa sabia que ser cristão era o caminho mais rápido para a morte. Esses homens e mulheres sabiam por experiência própria o que significa tomar a cruz e seguir ao Senhor. Muitos foram assassinados, privados da vida, só por dizer que eram servos de Cristo. Hoje estamos livres disso. A liberdade de consciência e de culto permite que cada pessoa professe a fé que quiser. O Governo não tem direito de intervir nem de punir ninguém por ser cristão. Graças a Deus por isso. Certamente a Providência do Senhor fez com que o mundo progredisse nesse sentido e que certos direitos fossem consagrados como inalienáveis. Mas isso também trouxe conseqüências fatais. Ser cristão passou a ser uma coisa comum e aceitável. Muitos que se dizem cristãos hoje, nunca sofreram sequer uma só vez por causa da fé. Muitos crentes nem sabem o que é levar a cruz, não conhecem o custo de ser seguidor de Cristo. Cristo não nos chamou para uma vida mansa. Ao contrário, Ele afirmou que no mundo passaríamos por muitas aflições. Ele falou de levar a cruz, de que todo


2 crente sofreria algum tipo de tribulação, de que se Ele sofreu os seus discípulos também sofreriam. CONTEXTUALIZAÇÃO No contexto de nossa passagem vemos que o Senhor Jesus chamou os seus doze discípulos, lhes deu autoridade para expelir espíritos imundos e para curar todo tipo de doenças e enfermidades (10.1). Logo, Jesus envia estes doze homens a pregar em diversas cidades, mas antes lhes dá uma série de instruções, a saber: Pregar primeiramente para os Israelitas, não levar suprimentos para a viagem, etc. Além disso, Jesus lhes adverte que são enviados como ovelhas para o meio de lobos (10.16), afirmando com isto que existe perigo na missão. Logo Jesus lhes fala acerca das injurias que sofreriam, já que se Ele que é o Senhor sofreu afrontas, certamente os discípulos também seriam objeto delas. Finalmente chegamos a nosso texto onde Jesus fala sobre as dificuldades que viriam sobre aqueles que o seguem, isto é, Cristo fala sobre o CUSTO DO DISCÍPULADO.

I.

O CUSTO SOCIAL: O DISCÍPULO SOFRERÁ OPOSIÇÃO POR PARTE DOS HOMENS (V.34, 35).

O primeiro que o texto nos diz é que Cristo é causador de oposição, de conflito, de divisão com o mundo. Portanto, todo aquele que quiser seguir ao Senhor deve saber que ser cristão não significa ter uma vida de paz e tranqüilidade. Ele diz: “Não penseis que vim para trazer paz à terra; não vim para trazer paz, mas espada”. Logo no verso seguinte Cristo afirma: “Pois vim causar divisão entre o homem e seu pai; entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra”. Mas, por que Jesus faria uma declaração assim? Acaso não é Ele o Príncipe da Paz? Certamente devemos entender uma coisa. Cristo foi rejeitado. Desde o início de sua vida como o Verbo encarnado, Jesus padeceu oposição. Sendo ainda um nenê, Jesus teve que fugir para o Egito com seus pais, pois o rei Herodes procurava matá-lo. Logo de iniciar seu ministério público, foi criticado, injuriado, contradito com um monte de falsidades. Parece que ele nunca conseguiu estar em paz com os


3 homens. João confirma isto ao dizer: “Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo. 1.11). Os homens odiavam a Jesus, não somente porque tinham ciúmes dele, mas porque Cristo falava do pecado que existia no coração deles e, para quem conhece bem a natureza humana, não existe coisa pior para o ser humano que ouvir que é um miserável pecador. Foi tal o ódio que esses homens sentiram por Jesus que os levou a matá-lo como o pior dos criminosos. Nós sabemos que tudo isso aconteceu segundo o conselho eterno de Deus o Pai, mas não podemos negar que Jesus sofreu oposição todos os dias de sua vida. Da mesma forma, todos os verdadeiros discípulos sofrerão oposição e se você ainda não experimentou nenhum tipo de conflito com os homens do mundo, seria bom refletir sobre seu testemunho cristão. Será que estou manifestando com minhas palavras, atitudes, pensamentos e ações que sou um filho de Deus? A oposição faz parte da vida do discípulo. Muitas vezes você será chamado de louco, de fanático, de fundamentalista, etc. O mundo todo sentirá raiva de você porque sua vida reflete o caráter do Deus Santo. Não se espante, nem fique perturbado. Ser perseguido, injuriado, ofendido, por causa da fidelidade ao Evangelho faz parte do nosso discipulado. F.T = Logo de dizer que o discípulo sofrerá aflições, Cristo se enfoca no âmbito das prioridades, isto é, quem deve ter a primazia em nossas vidas. II.

O CUSTO AFETIVO: O DISCÍPULO DEVE AMAR A CRISTO EM PRIMEIRO LUGAR (V.37).

Ele diz: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim”. Aqui devemos notar duas coisas importantes, a saber, os tipos de relacionamentos contrastados e a importância de amar a Cristo por sobre todas as coisas. O primeiro relacionamento contrastado é o relacionamento entre um filho (ou filha) e seus pais. Jesus diz: “Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a


4 mim...”. Todos nós somos filhos de um homem e uma mulher e sabemos muito bem quão próximo é este relacionamento. É o que conhecemos como parentesco ou filiação. Esse vínculo é tão firme que nada o pode destruir. Por mais que queiramos nunca poderemos deixar de estar unidos aos nossos pais. Todo filho deve respeitar aos pais. A própria Palavra do Senhor é clara nisso. “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Dt. 20.12). Este relacionamento estreito é contrastado com a obediência que devemos a Cristo, já que o fato de pertencer a Cristo supera qualquer tipo de relacionamento. Ser discípulo de Cristo é um dever tão imperativo que nossa obrigação como filhos não pode superá-la. Em Atos 5.29 lemos: “Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. Se nossa escolha é entre nossos pais ou Cristo, sempre devemos escolher a Cristo, já que nosso amor por ele deve predominar. O segundo relacionamento contrastado é entre um pai (ou mãe) e seus filhos. Jesus diz: “quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim...”. Quem é pai (ou mãe) sabe quão importantes são os filhos. Eles foram gerados pelos pais e, de certa forma, são uma extensão dos pais. Eu tenho visto o rosto dos pais no hospital quando um filho nasce; eles têm uma expressão indescritível no rosto. É uma mistura de alegria e orgulho. Depois quando os filhos crescem cada pequena coisa que eles fazem é motivo de alegria para os pais (ex. meu filho fez isto e aquilo). Sabemos que os filhos são um presente do Senhor. Salmo 127.3 diz: “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão”. Mas Jesus diz que o discípulo não pode amar mais os filhos do que a Ele. Se existe uma escolha entre um filho e Cristo, não importando quão veemente seja a vontade do filho, deve ser refreada e o discípulo deve escolher a Cristo. Nada pode superar nosso compromisso com Cristo, nada pode ser de maior valor em nossa vidas do que Cristo, nada pode ocupar o centro de nosso coração senão Cristo. A importância de amar a Cristo por sobre qualquer outro tipo de relacionamento nos leva a entender o custo afetivo que implica nos entregar a Ele com todo nosso coração. Nosso coração deve estar comprometido com Cristo. Quem não está disposto a agir, quem não quer renunciar aos


5 relacionamentos humanos por amor de Cristo, recebe as palavras: “não é digno de mim”, isto é, não merecem ser chamados filhos de Deus e não merecem ser honrados por Cristo, já que preferiram os homens antes que a Deus. F.T = Depois de nos dizer que o discípulo deve privilegiar a Cristo por sobre qualquer outra pessoa, inclusive pai, mãe, filho ou filha nos leva para o aspecto dos sofrimentos. III.

O CUSTO DAS AFLIÇÕES: O DISCÍPULO DEVE TOMAR A CRUZ (V.38). O verso 38 diz: “e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é

digno de mim”. Aqui é bom clarificar o que é a cruz. Certamente o texto não está falando de aquele instrumento de punição utilizado pelos romanos onde o criminoso ficava pendurado até a morte (coisa que nosso Senhor Jesus Cristo sofreu). A cruz neste texto significa aflições, sofrimentos, dores, tribulações por causa do Evangelho. Todo discípulo deve estar disposto a suportar todo tipo de agonias por causa de Cristo. Agora que tipos de aflições são estas? Podemos dizer primeiramente que se trata do martírio, isto é, de morrer por causa do Evangelho, de viver como um criminoso sentenciado que é forçado a levar o madeiro da cruz ao lugar da execução. Mas também podemos dizer que se trata de uma vida de sofrimentos, de dificuldades, de privações. Isto lhe surpreende querido irmão? É bom deixar claro uma coisa. O custo das aflições faz parte do chamado do discípulo. Paulo em Fp. 1.29 escreve: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes (sofrer) por Cristo e não somente de crerdes nele”. Este versículo é esclarecedor. Todo discípulo terá que passar pelos sofrimentos, todo filho de Deus haverá de sofrer, mas isso é GRAÇA de Deus, é um presente que ele nos dá. Parece estranho não é? Como o sofrimento pode ser um presente? O Senhor não tem um presente melhor para mim?


6 Achamos maior claridade sobre este assunto na carta de Paulo aos Romanos. No capítulo 5.3-4, Paulo diz que os sofrimentos produzem em nós diversos efeitos: a) Ele produz perseverança, ou paciência duradoura. Enquanto os tempos não ficam difíceis, não experimentamos e não sabemos realmente se somos cristãos só de bons momentos. b) Ele produz experiência, ou caráter aprovado (a experiência de ser testado e aprovado). Poderíamos dizer aprovação. Se você perseverar no meio das tribulações, você sairá dessa experiência com um sentimento mais forte da realidade da fé. Sua fidelidade e lealdade foram testadas e passaram no teste. c) Ele produz esperança. A vida cristã começa e termina com esperança nas promessas divinas no Evangelho. A esperança cresce quando experimentamos o caráter real da autenticidade por meio teste. Aprendemos por meio da dor a fidelidade de Deus e a realidade de nossa fé.

Como vemos, tomar a cruz é um chamado a passar por muitas aflições, mas todas elas têm um propósito sublime. Paulo escrevendo aos Coríntios afirma: “Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que se não vêem são eternas” (2ª Cor. 4.17-18). Ele nos diz que os discípulos sofrem, mas o fim será glorioso. Querido irmão, você esta disposto a sofrer pela causa do Evangelho? Você esta disposto a passar por muitas tribulações sabendo que elas glorificam ao Senhor?


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F.T = Finalmente o texto nos leva para o último preço a pagar, a saber: IV.

O CUSTO TOTAL: O DISCÍPULO DEVE ESTAR DISPOSTO A TODO POR CAUSA DE CRISTO (v.39).

Neste ponto é bom nos perguntar: o que é a vida segundo este texto? Com toda certeza significa a própria pessoa, ou a integridade física da pessoa. Isto se faz claro à luz de outras passagens. Lucas 9.23-24 diz: “Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará”. Conseqüentemente, e também à luz de passagens paralelas, as palavras de Cristo podem ser parafraseadas da seguinte forma: “A pessoa que, quando a questão é entre mim e o que ela considera de seu próprio interesse, escolhe o último, crendo que ao fazer assim está ‘achando’ a si própria, ou seja, está encontrando uma posição mais firme para sua vida plena, será amargamente decepcionada. Ela perderá em vez de ganhar. Sua felicidade e utilidade diminuirão e murcharão em vez de aumentar. Por fim perecerá eternamente. Em contrapartida, aquele que, confrontado com a escolha, se entrega a si mesmo, ou seja, nega a si mesmo por lealdade a mim, dispondo-se, se necessário for, a pagar com um sacrifício supremo, alcançará uma auto-realização completa. Terá vida, e a terá da forma mais plena, até que, finalmente, participe comigo da glória da minha segunda vinda e do novo céu e nova terra”. Meus irmãos, realmente estamos dispostos a entregar todo quanto somos, todos nossos desejos, sonhos, anseios, por causa de Cristo? Entendemos que não existe coisa alguma que tenha maior importância nesta vida? Entendemos o que é despojar-nos de nós mesmos e render-nos aos pés do Senhor?


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APLICAÇÕES: Temos visto que para ser discípulos de Cristo devemos pagar um preço. É certo que a graça do Senhor nos auxilia nesta determinação. Mas não esqueçamos que o discípulo, 1. Sofrerá oposição, será rejeitado, insultado, ofendido, desprezado. 2. Deve colocar seu coração em Cristo, Ele é quem tem a primazia, Ele é o principal em nossas vidas. 3. Passará por muitas aflições, mas de todas elas o Senhor o liberará. 4. Deve estar disposto a dar todo por causa do amor ao seu Senhor e Salvador.


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