• RELATÓRIO DE GESTÃO DA ABRAPA
Associação Brasileira dos Produtores de Algodão Biênio 2008 / 2010
• CRIAÇÃO / EDIÇÃO / DIAGRAMAÇÃO / PRODUÇÃO Stap Comunicação & Marketing
• FOTOGRAFIA
Carlos Rudiney Sílvio Ávila Renata Castello Branco Sandra Moraes Glastone Campos / RealPhotos Divulgação
• IMPRESSÃO
Cromosete Gráfica e Editora Ltda.
A ABRAPA É O ALGODÃO DO BRASIL
A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) foi fundada há mais de 10 anos. Desde a sua criação, sempre trouxe em sua essência dois preceitos básicos: o associativismo e a representatividade dos interesses do cotonicultor brasileiro. O associativismo é expresso na congregaçao de nove associadas que reúnem grandes, pequenos e médios produtores, que, por natureza, são agricultores, seja de soja, milho, feijão, arroz ou salgado algodão. Eles estão em Minas Gerais, na Bahia, no Maranhão, no Piauí, em Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul, em Goiás, em São Paulo e no Paraná. Juntos são responsáveis por 96% da área de algodão plantada no país, 99% da produção e 100% da exportação, 99% da produção e 100% da exportação. Unidos na Amipam, Abapa, Amapa, Apipa, Ampa, Ampasul, Agopa, Appa e Acopar, eles são a Abrapa. A representatividade foi construída ao longo de anos, por meio de um trabalho sério, engajado e ideologicamente traçado por quem está no campo e não só sabe, mas também vive as dificuldades de ser produtor rural no Brasil.
A representatividade é uma conquista renovada a cada dia mediante postura ética e responsável junto a todos os elos da cadeia, órgãos governamentais e mercado internacional. A trajetória é de uma entidade que espelha o empreendedorismo do setor que representa. Setor que reverteu a condição do Brasil de grande importador para um dos maiores exportadores de pluma do planeta, que tem o maior índice de produtividade em sequeiro do mundo, que, com o governo federal, contesta subsídios que distorcem o mercado internacional, que busca reduzir custos e ser cada vez mais competitivo. O futuro é um tempo que para a Abrapa e o algodão brasileiro se constrói hoje. É momento de reforçar os compromissos com uma produção social e ambientalmente responsável e garantir a sustentabilidade financeira do negócio. É tempo de intensificar o combate do bicudo-do-algodoeiro e incentivar o consumo de algodão. É momento de inovar, renovar os propósitos de coletividade e não só acreditar, mas seguir em frente realizando dias melhores para a cotonicultura brasileira.
EQUIPE ABRAPA Biênio 2008 / 2010
DIRETORIA Presidente Haroldo Rodrigues da Cunha Vice-presidentes Eduardo Silva Logemann
conselho consultivo
Presidentes das estatuais
João Luiz Ribas Pessa
Almir Montecelli - Acopar
Jorge Maeda João Carlos Jacobsen Rodrigues
1º Secretário Almir Montecelli 2º Secretário Walter Yukio Horita 1º Tesoureiro Paulo Kenji Shimohira 2º Tesoureiro Rudy Scholten
Conselho Fiscal Titular Darci Agostinho Boff
Darci Agostinho Boff - Ampasul Fábio Pereira Júnior - Apipa Gilson Ferrúcio Pinesso - Ampa
Sérgio De Marco Gilson Ferrúcio Pinesso
Arlindo Moura - Amapa
Secretaria executiva
Inácio Carlos Urban - Amipa
Assessoria da presidência Silmara Salvati Ferraresi
Ronaldo Spirlandelli de Oliveira - Appa
Banco de dados Allan Thiago Ferreira Pequeno
Delegados nas assembleias gerais
Assistente de projetos Fabiana Feldkircher Bogeah
Isabel da Cunha - Abapa Marcelo Jony Swart - Agopa
Celito Missio (BA)
Departamento administrativo / financeiro Soraya Teixeira Alves
João Carlos Jacobsen Rodrigues (BA)
Coordenação de sustentabilidade Andréa Rosemback Simões Aragon
Paulo Sérgio de Aguiar (MT)
Carlos Ernesto Augustin (MT)
Pedro Valente (MT)
Secretaria Marly da Silva Alves
Suplentes Luiz Renato Zaparolli Mário Maeda Ide Paulo Henrique Piaia Conselho consultivo João Luiz Ribas Pessoa Jorge Maeda João Carlos Jacobsen Rodrigues
SGAN Quadra 601 Módulo K Térreo Edifício Antônio Ernesto de Salvo Asa Norte - Brasília/DF CEP 70.830-010 Fone: (55) 61 2109 1606 Fax: (55) 61 2109 1607 abrapa@abrapa.com.br www.abrapa.com.br
ÍNDICE
26
26
26
1- M apeamento e Quantificação da Cadeia Brasileira do Algodão Safra 2009/2010 1.1 - Quantificação dos fluxos financeiros da cadeia e geração de emprego
2 - Mapeamento da Economia Algodoeira
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2.1 - O setor algodoeiro no Brasil
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2.2 - PIB brasileiro no cenário internacional
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2.3 - Algodão brasileiro no cenário internacional
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2.4 - Exportações do algodão
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2.5 - Destinos das exportações brasileiras
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2.6 - Taxas de câmbio
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2.7 - Tributação
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2.8 - Logística
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3 - Mapeamento da Produção Algodoeira
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3.1 - Evolução da produção mundial de algodão
26
3.2 - Evolução da produção brasileira de algodão
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3.3 - Especialidade dos principais países produtores
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3.4 - Principais regiões produtoras no Brasil
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3.5 - Estratificação da produção pelo perfil do produtor (por nível tecnológico)
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3.6 - Variedades na cotonicultura
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3.7 - Pragas e doenças na cotonicultura
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3.8 - Custos de produção do algodão
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3.9 - Agroquímicos na cotonicultura
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3.10 - Emprego na cotonicultura
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3.11 - Beneficiamento e classificação de algodão
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3.12 - Inovação na cotonicultura brasileira
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3.13 - A busca pela sustentabilidade na cotonicultura
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4- M apeamento do Consumo dos Produtos de Algodão
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4.1 - O mercado mundial de fibra de algodão
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4.2 - O mercado brasileiro de fibra de algodão
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4.3 - A indústria têxtil e de confecção no Brasil e no mundo
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4.4 - Os concorrentes do algodão na indústria têxtil e na confecção
26
4.5 - O mercado de caroço de algodão
26
4.6 - Novos produtos e possibilidades para a cadeia
Evolução da produção mundial de algodão 3.1
O valor total da produção de algodão no mundo tem apresentado flutuações históricas entre crescimento e declínio, destacando-se o aumento consecutivo nas últimas duas safras. Dentre os fatores que incidem sobre a cultura e afetam diretamente na quantidade produzida estão o clima, as condições fitossanitárias, as políticas voltadas à cotonicultura nos principais
22
países produtores e as condições da economia internacional. Contudo, o setor do algodão vem apresentando dados animadores. Nos últimos 10 anos o setor vem acumulando crescimento de aproximadamente 7% ao ano, chegando ao montante de mais de 36 milhões de hectares (gráfico 3.1).
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALGODÃO 38,00 36,00 34,00 32,00 30,00 28,00 26,00 2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Produção mundial de algodão em milhões de toneladas por safra Evolução da produção mundial de algodão entre 2001 e 2011 Gráfico 3.1 - Evolução da produção mundial de algodão, em milhões de toneladas, entre as safras de 2001 a 2011. Fonte: USDA (2011)
23
Apesar do aumento do total produzido no mundo, não se observou um aumento expressivo da área destinada ao seu cultivo (6%), que passou de 31 milhões de hectares em 1965 para 33 milhões em 2010 (Gráfico 3.2) . Para justificar o incremento da produção deve-se observar a produtividade, que saltou de 365 Kg/ha em 1965 para 732 Kg/
ha em 2010, ou seja, mais de 200% de aumento da quantidade de algodão produzida por unidade de área. Este aumento de produtividade ocorreu principalmente devido aos resultados dos programas de melhoramento das espécies de algodão e ao aumento na utilização de fertilizantes, defensivos e mecanização da cultura.
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO MUNDIAL DE ALGODÃO 40.000
900
35.000
800 700
30.000
600
25.000
500
20.000
400
15.000
300
10.000
200
5.000
100
0
Área
Produção
2009
2007
2005
2003
2001
1999
1997
1995
1993
1991
1989
1987
1985
1983
1981
1979
1977
1975
1973
1971
1969
1967
1965
0
Produtividade
Gráfico 3.2 - Evolução da produção mundial de algodão (mil toneladas), área destinada para a produção de algodão (mil hectares) e produtividade (Kg/ha) entre as safras de 1965 a 2010. Fonte: USDA (2011).
24
Com relação à quantidade produzida de algodão em cada país, a China (6,4 milhões de toneladas) ocupou a primeira colocação em 2010, a Índia (5,3 milhões) ficou com a segunda posição, e os Estados Unidos (3,9 milhões) alcançam a terceira posição (3,9 milhões), como pode ser observado no Gráfico 3.4. O Brasil, com 2 milhões de toneladas, ocupou em 2010 a 4ª posição na produção mundial de algodão, ultrapassando o Paquistão (1,9 milhões) e mantendo-se a frente do Uzbequistão (0,9 milhões). Tal posição não era obtida pelo Brasil desde os anos 70. A partir dos anos 80 a produção do Paquistão aumentou e manteve-se estável, enquanto a do
Brasil diminuiu, o que consolidou o país da ex-União Soviética uma posição acima do Brasil desde então. Algumas projeções mostram que o Brasil voltará a perder esta posição na safra de 2011/12, quando a produção do Paquistão deverá ser ligeiramente maior do que a brasileira. No entanto, até mesmo entre os três principais países produtores, como China, Índia e Estados Unidos, não existem posições consolidadas; visto que em 2007 a Índia ultrapassou a produção de algodão em caroço dos EUA pela primeira vez em décadas, mantendo a 2º posição no mercado mundial até os dias atuais.
PRODUÇÃO DE ALGODÃO 30 25 20 15 10 5 0 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12
Outros Pasquitão
Uzbequistão EUA
Brasil Índia
China
Gráfico 3.4 - Produção de algodão organização pela contribuíção por país entre as safras de 2006 à 2011 em milhões de toneladas. Fonte: ICAC (2011).
25
A produtividade, que é a relação entre o que foi produzido por unidade de área, é tradicionalmente uma especialidade brasileira. Dentre os principais produtores, apenas o Estados Unidos, a China e o Brasil ficam acima da média mundial na relação entre a produção de algodão e as respectivas áreas plantadas. Neste quesito, o Brasil tem ocupado a liderança mundial, tendo apresentado o melhor aproveitamento de área para produção de algodão nas últimas duas safras, o que deverá voltar a ocorrer na safra 2011/12. Como pode ser observado no Gráfico 3.5, o Brasil
alcançou valores impressionantes em 2009 quando a produtividade média de1.419 Kg/ha foi quase o dobro da média mundial, de 733 Kg/ha, 8% acima média Chinesa (1315 Kg/ha), 292% superior à média da Índia (486 Kg/ha), e 63% maior que a dos Estados Unidos (871 Kg/ha). Ainda, segundo projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para a safra 2011/12, o valor da produtividade brasileira tende a aumentar para 1457 Kg/ha, quando a média mundial deverá permanecer em 751,5 Kg/ha.
PRODUTIVIDADE DE ALGODÃ 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 0
2009/10
Brazil Uzbekistan
2010/11
China
United States
Pakistan
Índia
World
Gráfico 3.5 - Produtividade (Kg/ha) de algodão dos principais produtores mundiais nas safras de 2009 à 2011. Fonte: USDA (2011).
26
Projeção para 2011/12
No que se refere à área destinada ao cultivo no mundo, o ranking dos principais países se difere daquele dos maiores produtores em volume. Representados pelo Gráfico 3.3, os países que detêm as maiores áreas plantadas em 2010 foram a Índia (11 milhões de hectares), a China (5,3 milhões), e os Estados Unidos (4,3 milhões). A tríade Brasil, Paquistão e Uzbequistão também sofre mudanças. O Brasil, com 1,4 milhões de hectares, passa a representar o 5º país com área dedicada à
cotonicultura, caindo uma posição, e ficando bem atrás do Paquistão com aproximadamente 3 milhões de hectares. No entanto, a diferença da área brasileira para o 6º colocado nessa classificação, o Uzbequistão, é bem pequena, com pouco mais de 60 mil hectares. O Uzbequistão inclusive já cultivou valores superiores a 1,4 milhões de hectares na safra 2008/09, quando colheu uma área w65% maior do que a brasileira.
ÁREAS DE PRODUÇÃO DE ALGODÃO 40.000 35.000 30.000 25.000 20.000 15.000 10.000 5.000 0 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11 2011/12
Outros Pasquitão
Uzbequistão EUA
Brasil China
Índia
Gráfico 3.3 - Áreas destinadas à produção de algodão organizada pela contribuição por país entre as safras de 2006 a 2011 em mil hectares. Fonte: ICAC (2011).
27
Dentre as áreas destinadas ao cultivo de culturas agrícolas no mundo, a porção destinada para a produção de algodão é uma das mais representativas. Dados consolidados do setor (Tabela 3.1) mostram que a cotonicultura era a sétima maior em relação às outras grandes culturas na safra de 2010/11, perdendo apenas para trigo, arroz, milho, soja, cevada e sorgo. Entre principais produtos agrícolas, a área de algodão representa 2,2% do total, valor bastante expressivo considerando a área de cana (1,6%) ou a de café verde (0,9%). No
entanto o percentual da cultura já foi maior sendo que, em 2000, chegou a ser de 3,0%. Tal recuo foi observado ao mesmo tempo em que aumentaram as áreas destinadas à produção dos principais grãos para a alimentação e também mediante ao aumento da produtividade do cultivo do algodão. Portanto não houve prejuízo à produção de algodão, que saltou de 19,4 milhões de toneladas produzidas em 2000 para mais de 25 milhões em 2010.
Tabela 3.1 - Participação da produção de algodão no Brasil com as principais culturas agrícolas. Cultura
Área Plantada (mil hectares)
1
Mundo
Brasil
Prod Participação do Brasil em Relação ao mundo
2
2000/01
2010/11
2000/01
2010/11
Trigo
218.031
222.478
1.728
2.033
1%
Arroz
152.447
158.593
3.143
2.752
Milho
137.284
163.060
12.335
Soja
75.439
102.717
Cevada
53.869
Sorgo
Algodão
Cana
2000/01
2010/11
1%
583.105
648.198
2%
2%
399.411
451.185
13.323
9%
8%
591.393
823.965
13.985
24.071
19%
23%
175.759
264.120
50.758
143
89
0%
0%
133.075
124.072
41.155
40.852
490
735
1%
2%
55.337
65.360
31.995
33.511
3%
4%
19.399
24.942
19.330
4
Café verde
10.720
Laranja
3.776
Outros
650.314
Total
1
Mundo
4
24.680
9.761
868
6
4.196 5
1.394.360
691.765
6
1.502.372
3
1.392
3
4
4.958
9.081
26%
37%
2.336
2.132
22%
22%
7.564
8.442
825
796
22%
19%
61.922
68.475
8.745
6.555
1%
1%
49.557
62.960
4%
4%
1.212.000
4.688.118
5
7.927.083
1.731.000
4
6
5.395.917
6
9.605.676
Fonte: 1- USDA (2011), 2- IBGE (2011), 3- ABRAPA (2011), 4- FAPR a partir de dados da FAO (2011).
28
e no mundo nas safras de 2000/01 e 2010/11 comparadas
dução (mil toneladas)
Brasil
Produtividade Participação do Brasil em Relação ao mundo
2
2000/01
2010/11
3.367
6.094
1%
10.184
11.309
41.862
56.060
1
Brasil
Mundo
Participação do Brasil em Relação ao mundo
2
2000/01
2010/11
2000/01
2010/11
1%
2.674
2.914
1.948
2.997
-27%
3%
3%
3%
2.620
2.845
3.240
4.109
24%
44%
7%
7%
4.308
5.053
3.394
4.208
-21%
-17%
37.907
68.519
22%
26%
2.330
2.571
2.711
2.847
16%
11%
298
274
0%
0%
2.470
2.444
2.083
3.085
-16%
26%
914
1.499
2%
2%
1.345
1.600
1.865
2.040
39%
27%
5%
8%
606
744
3
78%
87%
69.443
79.196
11%
13%
1.558
1.348
121%
56%
20.594
24.007
26%
47%
5.341
7.915
-26%
1%
10.233
14.910
80%
133%
939
3
1.942
3
4
344.293
719.157
28%
42%
3.639
2.874
48%
34%
706
16.983
19.112
27%
28%
16.401
46.707
51.889
1%
1%
7.209
507.094
938.729
6%
10%
62.700
5.685
4
70.138
865
5
1.081
6
16.317
7.800
6
6.394
3
1.395
RI (2011), 5- FAO (2011), 6- Projeção da Markestrat
29
3.2
evolução da produção brasileira de algodão A produção brasileira de algodão é caracteriza por altos e baixos durante a sua análise histórica. Entre 1980 e 2010, observou-se uma queda expressiva da área destinada à produção de algodão, partindo de mais de 4,1 milhões de hectares para chegar a aproximadamente 1,4 milhões de hectares, ou seja, uma redução de 66% (Gráfico 3.4). Dentre os principais fatores que justificam esta queda destaca-
30 22
se o bicudo, uma praga que dizimou as áreas brasileiras. No entanto, de 2002 até 2009, a produção de algodão não ficou abaixo de 710 mil toneladas, atingindo o patamar recorde de mais de 1,3 milhões de toneladas em 2007.
ÁREAS DE ALGODÃO NO BRASIL 4.500,0 4.500,0 3.500,0 3.000,0 2.500,0 2.000,0 1.500,0 1.000,0
MT
BA
GO
MS
MG
MA
SP
PI
PR
CE
RN
PB
PE
Outros
BRASIL
2010/11
2008/09
2006/07
2004/05
2002/03
2000/01
1998/99
1996/97
1994/95
1992/93
1990/91
1988/89
1986/87
1984/85
1982/83
1980/81
500,0
Gráfico 3.4 - Área de algodão no Brasil em mil hectares entre os anos de 1980 a 2010. Fonte: CONAB (2011) e ABRAPA (2011).
31 23
também como cerrado brasileiro. O crescimento mais surpreendente foi o do estado de Mato Grosso, que tinha apenas 6,6 mil hectares plantados em 1980 e em 2010 alcançou 723,7 mil hectares, ou seja, quase 1000% de aumento. Vale destacara também o crescimento do estado de Goiás, que passou de 63 mil hectares para 160 mil (159%), e a Bahia, que de 327 para 403 mil hectares (23%). Nos últimos dez anos a Bahia, que teve uma grande queda de área plantada em 1998, aumentou em quase seis vezes a sua área e o Mato Grosso em mais de duas vezes, em um processo quase que contínuo. Os dados do Gráfico 3.4 mostram também que nos últimos 20 anos, o algodão migrou do estado do Paraná e São Paulo para áreas antes marginais, como Mato Grosso e Bahia, onde o clima e temperatura são favoráveis para o desenvolvimento da cultura e a topografia facilita a
A distribuição espacial das lavouras de algodão no Brasil mudaram intensamente nos últimos 30 anos. Em 1980, o cultivo concentrava-se na região nordeste (Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte). A partir de 1985, elevou-se a importância dos estados do Paraná e São Paulo como principais polos na produção de algodão, juntamente com os estados da região nordeste. Já em 1991, o Paraná se tornou o maior produtor nacional (37%), com a área praticamente igual ao total da região nordeste. Esta situação, contudo, não durou muito. Já em meados da década de 1990 a produção paranaense havia sofrido acentuado declínio. Atualmente, o Paraná, juntamente com Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte representam pouco mais de 1% da área plantada no país. Apesar desta redução histórica nas áreas da região nordeste, sudeste e sul, a área de algodão foi intensamente expandida na região centro-oeste e na região oeste do estado da Bahia, conhecido
mecanização e o plantio em grandes escalas.
VOLUME DE PRODUÇÃO DE ALGODÃO NO BRASIL 6.000,0 5.000,0 4.000,0 3.000,0 2.000,0 1.000,0
MT
BA
GO
MS
SP
MA
PR
Outros
2010/11
2008/09
2006/07
2004/05
2002/03
2000/01
1998/99
1996/97
1994/95
1992/93
1990/91
1988/89
1986/87
1984/85
1982/83
1980/81
-
MG
Gráfico 3.5 - Volume da produção de algodão no Brasil em mil toneladas entre os anos de 1980 a 2010. Fonte: CONAB (2011) e ABRAPA (2011).
Em razão sobretudo da redução da área plantada e da incidência do Bicudo, entre 1985 e 1997, observou-se uma queda vertiginosa da produção brasileira de algodão, partindo de mais de 940 mil toneladas para chegar a pouco mais de 270 mil toneladas (Gráfico 3.5). . No entanto, de 2002 até 2009, a produção de algodão se recuperou e não ficou abaixo de 710 mil toneladas, atingindo inclusive valores recordes de mais de 1,3 milhões de toneladas em 2007.
32 22
33 23
3.3
ESPECIALIDADE DOS PRINCIPAIS PAíSES PRODUTORESRES De acordo com o ICAC (2011), o fornecimento de algodão no mundo pode ser classificado em seis categorias de qualidade:extralonga, longa, médialonga, média, curta e descarte. Entre os principais produtores mundiais de algodão, existem diferentes aptidões para a produção da fibra. Enquanto alguns apresentam uma grande quantidade de volume produzido, outros se destacam por possuir uma fibra de alta qualidade. Dentre os principais produtores de fibras de algodão que se destacaram pela qualidade de fibras longas e extralongas estão o Egito, , a China, os Estados Unidos, a Índia, o Sudão e Turquemenistão. Segundo dados do ICAC, em 2009 esses seis países produziram, respectivamente, 30%, 25%, 20%,
34 22
20% e 4% da produção mundial de fibras longas em extralongas. A principal vantagem em produzir estes tipos de fibras é o incremento no valor pago pelo fardo de algodão, que no caso de fibras longas fica em torno de 15% e em fibras extralongas a mais de 100%. No entanto, o Brasil que é um dos maiores exportadores de algodão (6º), nem sequer tem a sua produção listada entre os principais países produtores de algodão com qualidade superior. Estes dados mostram que o país esta perdendo uma ótima oportunidade para alavancar sua competitividade no cenário internacional.
S
35 23
Entre os fatores destacados para se conseguir um algodão de qualidade superior estão principalmente a escolha da variedade e a colheita manual. O Brasil possuiu um forte programa de melhoramento vegetal, mas demonstra constante preocupação em investimentos com o aumento da mecanização em suas áreas. De fato, isso possibilitou
ao país possuir um dos maiores índices de mecanização para o cultivo do algodoeiro em todo o mundo. No entanto deve-se repensar esta estratégia para conseguir também uma melhor participação neste mercado diferenciado, aumento a competitividade da cultura no cenário mundial.
Tabela 3.2 - Produção de algodão extra longo no mundo n 2000
2001
2002
2003
20
Egito2
08
313
287
197
2
China6
2
97
67
101
85
152
148
94
Índia8
5
80
60
70
Sudão1
9
27
45
42
20
30
20
27
Israel
8
19
17
9
Peru
13
6
4
4
1
15
17
17
10
18
33
17
9
13
6
4
528
770
701
583
Estados Unidos
Turquemenistão
Uzbequistão1 Tajiquistão Outros Total
7
1- Estimativa da produção de fibras de qualidade superior; de qualidade superior. Fonte: ICAC (2010).
36 22
nas safras de 2000/01 e 2010/11 em mil toneladas. 2008
1
2009
2
2010
2
004
2005
2006
2007
290
202
211
222
105
100
132
112
119
178
153
108
111
127
162
137
167
185
94
87
109
70
52
69
78
77
77
84
44
37
31
13
10
4
17
23
12
26
26
23
21
14
15
13
20
18
8
7
7
8
14
17
16
7
8
7
15
12
14
13
3
2
4
14
8
10
8
4
1
1
5
4
6
4
3
3
3
758
609
748
736
442
421
504
; 2- Projeção da população de fibras
37 23
3.4
principais regiões produtoras no Brasil O cultivo de algodão está presente na maioria dos estados brasileiros. Com aproximadamente 1,4 milhões hectares na safra 2010/11, o algodão é também uma das principais culturas do país. No Brasil, a área cultivada de algodão representa o maior acréscimo de área plantada com as principais culturas agrícolas em relação à safra anterior, com o incremento de mais 66%. Comparativamente, as lavouras de algodão possuem uma área equivalente a 5,9% das lavouras de soja, 10,4% das lavouras de milho e 15,3% das lavouras de cana (ver Tabela 3.1).
38 22
No cenário atual, despontam como principais produtores os estados de Mato Grosso, com 50,6% do algodão produzido no país, seguido pela Bahia com 28,2% e Goiás com 11,2%. Os estados de São Paulo e Paraná, que já foram tradicionais na produção de algodão aparecem com 1,3% e 0,01% de participação na safra 2010/11. Isso demostra uma alta concentração na região do cerrado brasileiro (Centro-Oeste e Bahia), que soma mais de 92% da área destinada a cotonicultura no país.
PRODUÇÃO BRASILEIRA DE ALGODÃO • 2010/11
4,3%
11,2%
2,2%
50,6% 28,2%
1,3%
1,3%
0,01%
1%
MT
BA
GO
MS
MG
MA
SP
PI
PR
Gráfico 3.6 - Participação dos estados na produção de algodão no Brasil na safra 2010/11. Fonte: ABRAPA (2011).
39 23
Em relação a produção de pluma (Gráfico 3.7), os principais produtores continuam mantendo suas posições, porém observa-se uma maior participação do estado da Bahia, que passa de 28,2% para 34% do total produzido de plumas no país. os estados de Mato Grosso, com 50,6% do algodão produzido no país, seguido pela Bahia com 28,2% e Goiás com 11,2%. Os estados de São Paulo e Paraná, que já foram tradicionais na produção de algodão aparecem com 1,3% e 0,01% de participação na safra 2010/11. Isso demostra uma alta concentração na região do cerrado brasileiro (Centro-Oeste e Bahia), que soma mais de 92% da área destinada a cotonicultura no país.
32% 8%
5%
48% 1%
MT
BA
2%
GO
MS
MG
PI
SP
MA
Gráfico 3.7 - Participação dos estados na produção de algodão em pluma no Brasil na safra 2010/11. Fonte: ABRAPA (2011).
40 22
Entretanto, ao se tratar da produtividade de pluma (Gráfico 3.8), ou relação do que é produzido por unidade de área, observa-se uma mudança no potencial de cada estado. Na safra 2010/11 o primeiro colocado passa a ser Goiás com 1569 Kg de pluma por hectare, seguido pelo estado de São Paulo (1539 Kg/ha), Bahia (1533 kg/ha), e Mato Grosso do Sul (1521 Kg/ha). Os outros estados ficam abaixo da média brasileira (1475 kg/ha), o que inclui o maior produtor do país, Mato Grosso, que assume 8ª posição na produtividade de pluma com 1447 Kg por hectare.
PRODUTIVIDADE DE ALGODÃO EM PLUMA 1.800 1.600 1.400 1.200 1.000 800 600 400 200 -
2010/11 GO
SP
BA
MS
PI
MG
MT
TO
MA
Gráfico 3.8 - Relação dos estados quanto a produtividade de algodão em pluma no Brasil na safra 2010/11. Fonte: ABRAPA (2011).
41 23
A história da produção de algodão no Brasil é marcada por altos e baixos. E apesar da crise do setor com o surgimento do bicudo, falta de políticas públicas e queda nos preços, o algodão se recuperou e volta a ocupar uma posição de destaque na produção brasileira. Apoiando esta recuperação destacam-se os papéis das pesquisas apoiadas pelos fundos de apoio ao algodão (i.e. Facual, Fialgo, Fundeagro e Pluma), os programas de melhoria de qualidade (Proalgo e Proalba) e principalmente a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão e suas filiadas estaduais (Tabela 3.2).
42 22
As associações são entidades que reúnem e defendem os interesses dos produtores para que estes se fortaleçam e tenham representatividade em todos os elos da cadeia no Brasil e no exterior. Esta estratégia ajuda aos produtores diminuir seus riscos, estruturar melhor a cadeia, e para facilitar disseminação da industrialização e a mecanização às lavouras de algodão do país. Observa-se também que estas associações têm auxiliado os produtores a desenvolverem projetos sociais e de sustentabilidade respeitando ainda a particularidade de cada região. O crescimento da área de algodão em todas as regiões do país é justificado pela alta do preço do algodão nos últimos anos. Este, no entanto ocorreu de forma desordenada. Um dos problemas apontados nessa expansão, e que grande parte das áreas são de solos marginais, que possuem uma estrutura e qualidade abaixo do que seria recomendado para a cultura. Apesar da entrada em solos mais pobres, observa-se o aumento da produtividade do país, que se destaca como uma das melhores do mundo, e que vem evoluindo nos últimos anos.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO
43 23
3.5
estratificação da produção pelo perfil do produtor De acordo com Batalha (2007), as áreas em que se instalou a produção brasileira de algodão a partir da década de 1990 são provenientes de propriedades com área extensas antes destinadas à sojicultora no centro-oeste do Brasil, que também tinham um alto nível tecnológico. Porém, ao se tratar do número de propriedades, a maioria é caracterizada por pequenas propriedades rurais com menos de 100 ha (Tabela 3.3). Do total de estabelecimentos, mais
44 22
de 92% são áreas com menos de 100 hectares, 5% são produzidos em áreas entre 100 e 1000 hectares, e apenas 3% em áreas maiores que 1000 hectares. Destaca-se o alto número de estabelecimentos pequenos na Bahia (34,4%) e que no maior produtor Mato Grosso a maior presença é de grandes áreas com mais de 1000 hectares, o que, entretanto, representa apenas 1,2% dos estabelecimentos no país.
Tabela 3.3 - Número de estabelecimentos e participação por grupo de área produtora de algodão na safra 2006/07. nº de estabelecimentos
% de estabelecimentos
< 100 ha
100 ha a < 1000ha
> 1000 ha
< 100 ha
100 ha a < 1000ha
> 1000 ha
11997
663
399
92%
5%
3%
MT
19
28
162
0,1%
0,2%
1,2%
BA
4491
175
119
34,4%
1,3%
0,9%
GO
12
26
43
0,1%
0,2%
0,3%
MS
276
18
20
2,1%
0,1%
0,2%
MG
634
43
21
4,9%
0,3%
0,2%
PI
283
35
4
2,2%
0,3%
0,0%
SP
381
95
5
2,9%
0,7%
0,0%
MA
23
3
4
0,2%
0,0%
0,0%
PR
1664
33
1
12,7%
0,3%
0,0%
Outros
4214
207
20
32,3%
1,6%
0,2%
BRASIL
Fonte: IBGE (2011).
45 23
No Brasil, apesar da maioria estabelecimentos estar alocada em áreas menores de 100 hectares, a maior parte do volume produzido de algodão é cultivado em grandes propriedades. A Tabela 3.4 nos mostra que a produção se inverte em relação ao número de propriedades, 92% dos produtores do Brasil são de pequeno porte (11997 produtores) produzindo em propriedades com menos de 100 hectares. Esses pequenos produtores detêm apenas 2% da produção de algodão, os demais produtores se dividem da seguinte forma 6% são produtores de médio porte (entre 100 a 1000 hectares), compreendendo 663 produtores que detinham 6% da produção, e 3% são de grande porte (acima de 1000 hectares), totalizando 399 produtores que possuindo 92% da produção de algodão no Brasil.
Tabela 3.4 - Quantidade produzida (Kg) e participação por grupo de área produtora de algodão na safra 2006/07. Produção por tamanho do estabelecimento < 100 ha
100 ha a < 1000ha
> 1000 ha
< 100 ha
100 ha a < 1000ha
> 1000 ha
41971
137860
2170150
2%
6%
92%
MT
484
25232
1204769
0,0%
1,1%
51,3%
BA
4945
20725
623676
0,2%
0,9%
26,5%
GO
351
30553
108765
0,0%
1,3%
4,6%
MS
1708
11514
54064
0,1%
0,5%
2,3%
MG
1665
14837
48127
0,1%
0,6%
2%
PI
2753
2635
697
0,1%
0,1%
0,0%
SP
8450
27482
7631
0,4%
1,2%
0,3%
MA
2
1
98008
0,0%
0,0%
4,2%
PR
16728
3433
0
0,7%
0,1%
0,0%
Outros
4885
1448
24413
0,2%
0,1%
1%
BRASIL
Fonte: IBGE (2011).
46 22
% da produção por tamanho do estabelecimento
Mesmo com um cenário favorável, e com boa disponibilidade de informações, é preciso agir estrategicamente para obter rentabilidade e sucesso no cultivo do algodão. Pois na cotonicultura, assim como em qualquer atividade econômica, as pequenas margens que são repassadas ao produtor, remetem a um investimento em um aumento da produtividade. E o algodão, por ser uma das culturas mais mecanizadas no Brasil, tem sua produção favorecida em grandes áreas de cultivo.
para a indústria têxtil brasileira, pois as margens são mais reduzidas. Para ser competitivo adotando esta estratégia é preciso ter escala de produção. Adquirir insumos a preços mais baixos depende de alto volume de compra e/ou planejamento para realizar a compra no período que não há demanda para o insumo, o que pode ser facilitado via associação ou cooperativa. Se a aquisição do insumo está alta, é preciso compralo em grandes volumes para conseguir desconto juntos aos fornecedores.
Para ter rentabilidade destinando a produção para a indústria é requisitado ao produtor ter escala de produção. Outra crescente preocupação é a adequação à legislação trabalhista e ambiental, tais como registro de funcionários, respeito ao uso de defensivos aprovados para a cultura, a proteção adequada dos funcionários responsáveis pela aplicação dos defensivos, e o bem-estar dos trabalhadores envolvidos na produção. Tais fatores estão se tornando indispensáveis para os comprados internacionais da fibra do algodão. Grande parte destes requisitos é atendida mais facilmente em propriedades maiores que empregam alta tecnologia e geralmente tem um bom dimensionamento de equipamentos, um controle adequado de pessoal e práticas de sustentabilidade. Guanambi
Na estratégia de diferenciação os produtores devem conduzir o algodão com atributos valorizados pelos consumidores dispostos a pagar um preço mais alto pelo produto. Estes atributos têm sido alcançados produzindo-se algodão de qualidade superior, com apelo de sustentabilidade social, sem a utilização de agrotóxicos, ou mesmo algodão que não necessita de tingimento. Esta estratégia tem se mostrado interessante para pequenos e médios produtores, mas é visto por especialistas do setor como a tendência para não ficar fora do mercado em um futuro próximo.
O que se observa é que estes pequenos produtores estão se concentrando em associações fortes e cooperativas modernas em redes integradas, aumentando a eficiência e a velocidade de resposta do setor. A solução encontrada para os pequenos produtores deve ser condizente com a eficiência reduzida na produção, adequando-se para cada perfil de propriedade, ou seja, a definição de uma estratégia para conduzir sua propriedade, podendo ser liderança em custo, diferenciação ou diversificação (Figura 5).
Outra estratégia adotada por pequenos e médios produtores de algodão é a diversificação da atividade. São produtores de algodão que podem alternar o cultivo do algodão com outras culturas como (milho, soja etc.), reduzindo o risco de se dedicar a uma única atividade, tomando sempre o cuidado em não se desviar muito do foco do negócio, o que é facilitado muito nesta cadeia, visto que a decisão de plantar mais ou menos de uma cultura anual é tomata principalmente pelo preço de mercado da mesma.
A estratégia de liderança em custos concentra esforços para manter baixos os custos de produção e distribuição, sendo necessário possuir fortes competências em processos produtivos, rendimentos operacionais e aquisição de insumos a preços mais baixos. É esta estratégia de custos baixos que devem buscar os cotonicultores que destinam sua produção
47 23