Mamã e eu quero mamar Posted on 11/08/2011
Mamã e eu quero mamar Posted on 11/08/2011
Acolher e apoiar mã es que aleitam os ilhos na creche é um compromisso que deve ser assumido por todos os pro issionais responsá veis pelas creches Domingo à tarde, 27 de fevereiro de 2011, ao som de um bloco que canta na rua a marchinha de carnaval Mamã e eu quero1, inicio este artigo. Com o desenvolvimento cultural e cientı́ ico dos ú ltimos 30 anos, surgiram recomendaçõ es novas sobre a alimentaçã o infantil, sobretudo relacionadas à importâ ncia do resgate do aleitamento materno. Isso me instiga, com todo respeito aos autores da marchinha de carnaval, a propor uma mudança em um dos versos da letra da mú sica: “Dá o peito pro bebê nã o chorar!”, no lugar de “Dá a chupeta pro bebê nã o chorar!”3, isto porque, segundo especialistas, deve-se evitar interferê ncias na instituiçã o bemsucedida do aleitamento materno, especialmente nos primeiros meses de vida. Como favorecer o aleitamento em uma é poca em que a maioria das mulheres, terminada a licença-maternidade, volta a trabalhar? Esta é uma questã o ainda sem soluçã o para grande parte das mã es que estã o no mercado de trabalho. As creches instaladas em algumas empresas, poucas ainda, tê m como um de seus principais objetivos apoiar as mã es que retornam ao trabalho. També m compartilham com essas mulheres os cuidados e a Educaçã o Infantil, possibilitando a continuidade do aleitamento materno. Outra iniciativa que merece destaque é o fato de algumas empresas ampliarem o perıo ́ do de licençamaternidade para seis meses, o que contribui para o aleitamento materno exclusivo – sem a oferta de outro lıq ́ uido ou alimento nessa fase –, recomendado pela Organizaçã o Mundial da Saú de (OMS)3 e por outras instituiçõ es, como o Ministé rio da Saú de4, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) 5 e a Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras (SOBEP) 6. Alimentar o bebê exclusivamente com leite do peito nos primeiros meses de vida é , de acordo com a pesquisa realizada no Brasil, em 2006, pelo epidemiogista Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas – RS, em parceria com centros de pesquisa de outros paıśes, uma possibilidade de promover o crescimento e o desenvolvimento saudá vel; a melhor regulaçã o da saciedade; a prevençã o de males que a ligem a humanidade até a idade adulta e que sã o as principais causas de adoecimento e morte, como obesidade, hipertensã o arterial, lipidemias, câ ncer, diabetes e outras doenças cardiovasculares. Pelo aleitamento materno Observo em minha prá tica em creches de empresas, con irmada pela pesquisa que está sendo realizada sob minha orientaçã o, que inú meras crianças chegam à instituiçã o com complemento de outro leite, à s vezes, prescrito pelo pediatra para atender a uma preocupaçã o da mã e, que se sente insegura, muitas vezes, em conciliar o aleitamento exclusivo no momento do retorno ao trabalho. Mesmo mulheres que nã o estã o inseridas no mercado de trabalho, por in luê ncia cultural ou por di iculdade no processo de aleitamento, sem contar com o apoio dos pro issionais de Saú de e de Educaçã o, podem optar pela mamadeira, o que quase
sempre é uma escolha que tem consequê ncias para a saú de dos pequenos a curto e a longo prazo. As creches fora dos locais de trabalho As creches, por serem instituiçõ es que compartilham cuidados e educaçã o de crianças menores de trê s anos, desde os primeiros meses de vida, sã o consideradas espaço privilegiado para a promoçã o de prá ticas saudá veis de alimentaçã o, uma das dimensõ es da aprendizagem sobre o cuidado de si, do outro e do ambiente previstas nas Orientaçõ es Curriculares para a Educaçã o Infantil. O que se observa, entretanto, é que nem sempre essa prá tica é abordada nos cursos ou em programas de formaçã o inicial e continuada de professores, coordenadores e gestores de Educaçã o Infantil, o que contraria a concepçã o de acolhimento e de apoio à s mã es de bebê s matriculados em creches pú blicas e privadas, previstas nas Orientaçõ es Curriculares Nacionais para a Educaçã o Infantil. Parto da concepçã o de cuidado expresso nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educaçã o Infantil7: A dimensão do cuidado, no seu caráter ético, é assim orientada pela perspectiva de promoção da qualidade e sustentabilidade da vida e pelo princípio do direito e da proteção integral da criança. O cuidado, compreendido na sua dimensão necessariamente humana que coloca homens e mulheres em relações de intimidade e afetividade, é característico não apenas da Educação Infantil, mas de todos os níveis de ensino. Na Educação Infantil, todavia, a especi icidade da criança bem pequena, que necessita do professor até adquirir autonomia para os cuidados de si, expõe de forma mais evidente a relação indissociável do educar e do cuidar nesse contexto 8. Destaco a seguir, entre os dezenove parâ metros para uma creche saudá vel previstos nas Orientaçõ es Curriculares, os subitens do parâ metro relativo ao aleitamento materno: (…) 5. Alimente os bebês, atenda às necessidades nutricionais, afetivas e de aprendizagens de novos paladares e consistências, com base nas recomendações para o processo de desmame e nas normas de higiene para ambientes coletivos; 6. Acolha as mães dos lactentes e ofereça condições para que elas conciliem aleitamento e trabalho e sigam regras de higiene para ambientes coletivos; 7. Organize as refeições em ambiente higiênico, seguro, confortável, belo e que possibilite autonomia, socialização e boa nutrição a todos os grupos etários; 8. Ajude as crianças que recusam alimentos ou que apresentem di iculdades para se alimentar sozinhas; 9. Disponibilize água potável e utensílios limpos individualizados para que as crianças possam beber água quando desejarem e sejam incentivadas a fazê-lo durante todo o dia (…)
Alé m de destacar esse parâ metro, é preciso que os educadores, coordenadores e gestores planejem os espaços e as açõ es que tornam possıv́el essa prá tica em creches de empresas privadas ou pú blicas. Algumas dessas instituiçõ es possuem um local para que a mã e possa aleitar o ilho, seja ao chegar à escola, nos horá rios que consiga comparecer à unidade ou no im da tarde, antes de ir para casa com o ilho. E o caso do Programa Mama Nenê , da Prefeitura de Curitiba (PR), que existe há quatro anos. O Programa incentiva o aleitamento materno nas creches com turmas de berçá rio (de 3 meses a 2 anos) e, desde 2007, já bene iciou 1.073 bebê s em Centros Municipais de Educaçã o Infantil (CMEIs) e em Centros de Educaçã o Infantil conveniados, e 239 bebê s receberam o leite materno armazenado 9.
Fonte: fô lder Programa Mama Nenê / Prefeitura da Cidade de Curitiba – PR
Em salas reservadas e confortá veis, as mã es podem amamentar os ilhos ou retirar o leite para deixar armazenado no lactá rio. Posteriormente, o leite é oferecido em copinhos aos bebê s, pelas educadoras. Todos os CMEIs com berçá rio receberam a poltrona de amamentaçã o. A amamentaçã o exclusiva, até os seis meses de idade, complementada até os dois anos ou mais, possibilita inú meras vantagens para a criança, mã e, famıĺia, sociedade e Estado. Favorece a construçã o e o fortalecimento do vın ́ culo mã e- ilho, o desenvolvimento neuromotor infantil, a melhoria no desempenho escolar, a reduçã o da mortalidade infantil e a melhoria na qualidade de vida. Para que as mã es possam compreender os benefıćios do aleitamento materno e perceber a importâ ncia da amamentaçã o ou da administraçã o do leite armazenado, a prefeitura capacita semestralmente lactaristas, educadores, pedagogos, diretores e pro issionais das unidades de saú de. O Programa já quali icou 266 lactaristas e
3.310 educadores, professores, diretores e pedagogos de CMEIs e de creches conveniadas. O treinamento é contın ́ uo 10. Essa infraestrutura é pré -requisito previsto pela Agê ncia Nacional de Vigilâ ncia Sanitá ria (Anvisa)11. No entanto, vale a pena destacar que é preciso rever atitudes e procedimentos. O acolhimento de uma criança que mama no peito deve ser previsto na formaçã o dos professores. A maneira de organizar os momentos das refeiçõ es també m, uma vez que, no espaço coletivo, os pequenos interagem com crianças que usam mamadeira e chupeta, e podem querer imitá -las. Como lidar com essas situaçõ es? As bonecas e os livros oferecidos à s crianças, e manipulados por elas, precisam contemplar modelos que incluam iguras que mamam no peito, conforme já se encontra em modelos fabricados por grupos favorá veis ao aleitamento materno. O uso indiscriminado de mamadeira e de chupeta naturaliza de tal maneira esses objetos em nosso meio que nã o conseguimos conceber a infâ ncia sem eles. Como mudar essa cultura? Por que devemos contribuir para combater a cultura da mamadeira e das fó rmulas lá cteas? Essas sã o algumas questõ es que propomos aos educadores, convidando-os a escrever para a Revista avisa lá sobre suas prá ticas, dú vidas e experiê ncias sobre como conciliar aleitamento materno e Educaçã o Infantil. (Damaris Gomes Maranhã o, enfermeira e formadora do Instituto Avisa Lá , em Sã o Paulo – SP) Texto retirado site: h ps://avisala.org.br/index.php/assunto/jeitos-de-cuidar/mamae-euquero-mamar/