Revista Baixo Brasil _ed.01

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BORORÓ ENÉIAS XAVIER THIAGO ESPIRITO SANTO AULAS: SLAP, HARMONIA, ACÚSTICO, ROCK...

PACA TATU, COTIA NÃO Nico Assumpção FORA DA LEI Ed Motta MELANCIA Cama de Gato

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TRANSCRIÇÕES COMENTADAS

DIDÁTICA VELOCIDADE, TÉCNICA E SONORIDADE

JAMIL JOANES UM PAPO COM O SWING DO SAMBA-FUNK

R$ 5,00

out/nov 2008 edição histórica

LUIZÃO MAIA O GRANDE MESTRE DO CONTRABAIXO BRASILEIRO

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(•••• índice)

14 Luizão

Maia o grande mestre do contrabaixo brasileiro baixistas 10 Perfil Bororó

conversa

20 Perfil Enéias Xavier

38 Didática Velocidade, Técnica e Sonoridade

de Goiás para o mundo

ecletismo mineiro

24 Ascendente Ricardinho do Recife 32 Entrevista Jamil Joanes

um papo com swing do samba-funk

de olho

no Brasil

8 Gravando

O que rola no mundo da música

28 Som

Alternativo

De Brasília o som gospel do Livre Arbítrio e de Guarulhos o som pesadíssimo do Chipset Zero e o CD Red-O Matic

34 Armazém

Sugestões de Dvds, CDs, equipamentos, livros e sites

técnica

método de estudo da Berklee College of Music

Colunas

12 Slap Junior Primata

19 Harmonia Ebinho Cardoso

22 Fretless Thiago Espirito Santo

26 Estudando Oswaldo Amorim

30 Acústico Evaldo Guedes

37 Rock Ronaldo Lobo

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Transcrições

44 Fora da Lei Ed Motta

46 Melancia Cama de Gato

42 Paca Tatu, Cotia Não Nico Assumpção

4 Editorial 6 alto-falante 48 Ponto Final

Festival Baixo Brasil festival@revistabaixobrasil.com.br Tel. (11) 2202-4040 www.revistabaixobrasil.com.br

Fale com a gente redação redacao@revistabaixobrasil.com.br para assinar contato@revistabaixobrasil.com.br para anunciar comercial@revistabaixobrasil.com.br 2 8 r e v i s ta b a i xo b r a s i l . c o m . b r

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Nos adicione Skype revistabb MSN revistabaixobrasil@hotmail.com Comunidade no Orkut http://www.orkut.com.br/Community. aspx?cmm=61808261 out/nov 2008

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(•••• editorial)

Começando

uma história

A origem m 2006, quando comecei juntamente com Nilton Wood a fazer festivais de Baixo pelo Brasil, fiquei muito surpreso com o altíssimo nível dos baixistas de cada região do país. Músicos que a princípio não tinham nenhuma divulgação e visibilidade e estavam escondidos em seus estados. Após três anos de festival, tive a idéia de fazer a Baixo Brasil, enfocando os baixistas brasileiros em todos os gêneros musicais. Só assim poderemos dar oportunidade de mídia a esses profissionais que dependem da divulgação para sobreviver da música e difundir seu trabalho. A Baixo Brasil não terá preconceito de estilos musicais e com certeza é um projeto inédito em nosso país. Salve o Baixista Brasileiro! Celso Pixinga

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A identidade uando recebi o convite do Pixinga para fazer o projeto da Baixo Brasil, fiquei muito feliz, pois através dela, poderemos mostrar o trabalho de vários baixistas, que além de excelentes músicos, são pessoas maravilhosas e humanas, que conheci ao longo dos anos, em minhas viagens em festivais de baixo pelo Brasil. Nos últimos quatro meses, quando decidimos realmente lançar a revista, fiquei impressionado com a aceitação e vontade dos contatados em contribuir, o que traduz o que faremos: ajudar, somar, aprender, e divulgar. A equipe Baixo Brasil não será a única responsável pelo teor da publicação. Seremos simplesmente organizadores dos conteúdos feitos por vocês leitores de todo o Brasil! Sim, nossa idéia é que a revista seja feita pelo leitor. Com a dimensão do Brasil, é impossível ter conhecimento e informar tudo o que está acontecendo, mas com a participação de todos, certamente estaremos em todos os lugares. Portanto, fiquem atentos a tudo que acontece em sua cidade e nos relate, para que quem saia ganhando seja o contrabaixo. Espero de coração que gostem deste primeiro exemplar, pois foi feito com muito amor e dedicação. O Brasil e o baixista merecem uma revista assim! Abraços Deivid Miranda

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A realização povo brasileiro sempre foi musical. O próprio Brasil em si já lembra música. Por isso me identifico inteiramente com a proposta da Baixo Brasil: Abrir espaço para os inúmeros talentos que estão espalhados por este país tão grande quanto a musicalidade existente nele. E falar de baixo pra baixistas, sem limitações ou preconceitos certamente é um sonho coletivo. Baixistas estão em todas as tribos, segmentos, estilos musicais. O baixo cria o clima, dá o ritmo, a condução, daí a paixão que ele nos desperta, a sua voz é a que fala mais baixo aos arranjos e mais alto aos nossos corações. E pra dar início a esta grave jornada, sendo fiéis ao conceito de valorização do músico brasileiro, nada nos pareceu mais justo que destacar como capa e matéria principal o pai do contrabaixo elétrico no samba, um dos maiores nomes do instrumento em todos os tempos na história da música popular brasileira. Luizão Maia! Também nesta edição histórica, conheceremos um pouco mais de alguns talentos veteranos no baixo como Bororó e Jamil Joanes, mas também teremos espaço aberto para aqueles que estão começando este caminho inspirador que o baixo nos leva. A revista percorre o país de norte a sul, com informações, perfis, entrevistas, colunas, resenhas, matéria didática, e muito mais. Tudo feito com muito coração e verdade. Então, vamos juntos neste primeiro passo de muitos que virão pela frente!!! Karla Maragno

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Diretor de Marketing Deivid Miranda Diretor de Conteúdo Celso Pixinga Editora Chefe Karla Maragno Editor Técnico Ney Neto 4 r e v i s ta b a i xo b r a s i l . c o m . b r

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Editor de Arte e Projeto Gráfico Marco Basile Colunistas Ebinho Cardoso, Evaldo Guedes, Junior Primata, Oswaldo Amorim, Ronaldo Lobo e Thiago Espirito Santo Colaboradores Hamilton Pinheiro, Marcus Braga, Mauro Sérgio e Paulo Dantas

Colaboraram nesta edição Cadinho Batera, Cledson Rochellini, Guilherme Maragno, Luciano Sendenari, Roberta Carvalho, William Parron e Zé Luiz Maia Impressão e fotolito: Studio 4 - Soluções em mídia impressa www.studio4.com.br

BAIXO BRASIL é uma publicação bimestral da DPX Editorial Ltda. Todos os artigos aqui publicados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias, transcrições e fotos aqui publicadas. Tiragem 15 mil exemplares Distribuição Nacional out/nov 2008

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(•••• alto-falante) O país dos graves

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e tivermos que eleger um país para representar o Baixo, este país é o Brasil. A lista de exclelentes baixistas é extensa... Celso Pixinga, Itamar Colaço, Sizão Machado, Zuzo, Arismar e Thiago Espírito Santo, Arthur Maia e muitos outros! Sim é verdade, o Brasil é o país dos graves. Baixistas de bom gosto, com rítmica, técnica e sentimentos aguçados. Mesmo com dificuldades, o brasileiro sempre encontra uma forma de contornar os problemas de falta de informação, custo de equipamentos e instrumentos elevados, irregularidades legais na profissão de músico e tantos outros problemas corriqueiros. Daí a importância de um veículo de comunicação sério, competente, preocupado com o baixista brasileiro, e que disponibilize informações importantes, para a atualização e enriquecimento da cultura “baixística” brasileira.

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Conhecendo a realidade do nosso país e confiando na competência e seriedade da equipe desta nova revista eu respiro aliviado e desejo vida longa à Baixo Brasil. Ricardo Moreira Baixista Ao longo dos shows

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oi com admiração e respeito que recebi a notícia que os baixistas brasileiros ganhariam este espaço com uma nova publicação do segmento. Sei que o Brasil tem baixistas muito valorosos dos quais já tive a oportunidade de realizar diversas apresentações em minha casa noturna, o GATE`S PUB em Brasília/DF, como, Nico Assumpção, Arismar Espirito Santo, Toni Botelho, Arthur Maia, Jorge Helder, Nema Antunes, Yuri Popoff, Oswaldo Amorim, Paulo Russo, André Vasconcellos, Thiago Espirito Santo, Ney Conceição e muitos grandes outros. Desejo sucesso a toda equipe da Baixo Brasil! Rubens Carvalho Produtor musical e empresário

A missão

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ssa confraria do contrabaixo é admirável! O baixista tem perfil diferente: é geralmente convicto, obstinado e a música lhe seduz mais do que a posição de vitrine no palco. A Baixo Brasil chega com a missão de se comunicar com esse público especial e não há duvidas que conseguirá em razão do talento das pessoas envolvidas. Parabéns pela iniciativa e que a revista tenha o merecido sucesso, com a cumplicidade do IB&T - Instituto de Baixo e Tecnologia. Célio Ramos Diretor de Marketing EM&T-Escola de Música e Tecnologia.

Bem-vinda

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uero falar aqui da Baixo Brasil, uma revista tão aguardada desde a sua divulgação pelos músicos, lojistas, anunciantes e para quem gosta de boa música. Creio que vai ser um grande sucesso, até por não termos muitas no mercado brasileiro, alías, só temos uma. Com minha experiência no mercado musical, acredi-

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to muito nesse projeto e também na equipe que está à frente dela. Quero parabenizar o Deivid, o Celso Pixinga e toda a equipe que está lançando mais esse produto. Parabéns galera e boa sorte. José Carlos de Oliveira Free Note - S.P Coração e experiência

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projeto da Baixo Brasil está encabeçado por duas pessoas de suma importância para o nosso mercado. Celso Pixinga dispensa apresentações. Além de ser um dos melhores baixistas do mundo é uma das pessoas mais inteligentes e de maior coração que eu conheci. Deivid Miranda é um excelente profissional e possui larga experiência em publicações. Portanto, com uma dupla dessa competência, a revista terá sucesso garantido. E eu assino embaixo. Eduardo Vilaça Representante Comercial, consultor em comércio exterior e administrador de empresas

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Do baixo de salto alto

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arabéns Celso Pixinga, Karla Maragno, Deivid Miranda e a todos os envolvidos na idéia e na realização da Baixo Brasil!!! Que essa revista consiga sempre reunir as contrabaixistas e os “contrabaixistos” do Brasil num só lugar: de “baixo” dos olhos, nas suas páginas!!! Vida longa para a Baixo Brasil!!! Abraços contrabaixísticos Voila Marques Profª de contrabaixo acústico da Escola de Música Villa-Lobos (RJ) e ex-contrabaixista da Orquestra Sinfônica Brasileira.

De baixista para baixista

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inalmente teremos uma revista feita de baixista para baixista, com uma linguagem objetiva e com destaque para os baixistas nacionais. Entrevistas, material de estudo, testes de equipamentos e muita informação sobre o mundo dos graves! Vida longa para a Baixo Brasil! Adriano Giffoni Baixista

Participação do leitor

A Baixo Brasil é uma revista que pretende mostrar o pluralismo no universo do contrabaixo brasileiro, que mesmo em meio a tanta multiplicidade cultural, está voltado pra mesma finalidade: trocar idéias sobre nosso instrumento querido! Por isso abrimos um espaço na revista pra você leitor. Participe mandando sua matéria ou sua resenha de livros, CDs e DVDs. Descubra um baixista em sua cidade que manda muito bem e fale dele com a gente. Dê sugestões de entrevistas, músicas para serem transcritas, enfim, ajude a fazer a revista que tanto queremos ler! Redação Baixo Brasil: Rua Periperi,142 – Socorro São Paulo-SP – CEP: 04760-060 redacao@revistabaixobrasil.com.br

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lançamentos Gravado ao vivo, o CD HEMISFÉRIOS traz sete composições de Thiago Espirito Santo. O trio formado pelo baixista, Edson Sant’Anna (piano) e Alex Buck (bateria) mostra grande entrosamento nesse álbum, que traz uma performance primorosa de Thiago ao baixo fretless. Tem que ter em casa! Aguarde matéria com o músico aqui na Baixo Brasil. Mais informações: www.thiagoespiritosanto.com.br FUNDAMENTOS, é o nome da videoaula lançada pelo baixista Nilton Wood, direcionado para os iniciantes do contrabaixo. Entre

os assuntos abordados, ergonomia, fundamentos e técnicas de execução das mãos direita e esquerda, cromatismo e execução de escalas, além de apresentar alguns temas de sua autoria. O baixista Marcelo Goes lança seu CD instrumental chamado INTUIÇÃO. Para mais informações acesse www.marcelogoes.com.br. Através do site, é possível ouvir parte de cada faixa e adquirir o disco.

baú do

“as pessoas não morrem, ficam encantadas” JOÃO GUIMARÃES ROSA

O contrabaixista Toinho Alves, um dos fundadores do grupo Quinteto Violado, nos deixou no último dia 29/05/2008, vítima de um infarto fulminante. Expressamos nossa admiração e respeito a este músico de Garanhuns/PE. Nos anos 60, POr Onde anda? criou o grupo vocal Os Bossa Uma boa maneira de se dimensionar a importância de um músico, é saber que seu Norte, do qual também fizetrabalho como mestre produziu bons frutos e alguns dos maiores baixistas do país. Esram parte Naná Vasconcelos e tamos falando de Gabriel Balis, sobre quem muitos querem saber o que anda fazendo. Marcelo Melo. Voz e contrabaiBalis continua tocando na Jazz Sinfônica, podendo ser encontrado também no Centro xo do Quinteto Violado, do qual Tom Jobim, no qual é professor, contribuindo para a formação de inúmeros alunos. também faziam parte Luciano Pimentel e Sérgio Kyrillos, tOQue das ruas ele também era o responsável Na década de 80, surgiu um baixista que tocava um fretless Giannini, de uma forpela coordenação musical dos ma que até Nico Assumpção chegou a pegar um avião no Rio só para vê-lo tocar arranjos, repertório, produção em São Paulo. Seu nome: Ricardo Marão. Ele não está na mídia, mas vale confeartística dos discos e direção rir... basta ir até a Teodoro Sampaio na Bass Center(SP) onde ele costuma tocar, musical dos espetáculos. para conferir sua performance .

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e ainda... “O Caminho das Árvores” Este é o nome do novo projeto dos contrabaixistas Celso Pixinga e Ebinho Cardoso. O duo será acompanhado pelos músicos Sandro Souza (bateria) e Sidnei Duarte (guitarra). O quarteto entrou em estúdio em agosto para a gravação do primeiro CD. Em Cuiabá, durante o Festival Calango, fizeram duas apresentações com as composições que estarão no CD. Pela reação do público presente... deu pra perceber que este projeto será um sucesso. Fique ligado! Em breve Caminhos das Árvores estará nas páginas da nossa Baixo Brasil.

Fusão de ritmos e estilos O baixista Oswaldo Amorim está em fase de finalização de seu disco, em parceria com o violonista Paulo André Tavares, intitulado “Brasil Sem Fronteiras”. O trabalho é o retrato da trajetória musical desses dois instrumentistas e compositores, fruto de treze anos de parceria em diversos trabalhos no Brasil e no exterior.

Festival BaiaCool Jazz

A edição de verão do Festival BaiaCool Jazz ocorreu no balneário de Salinas, na praia do Farol Velho, em Belém do Pará, durante os finais de semana do mês de julho passado, contando com a presença de atrações regionais, nacionais e internacionais, como Amazônia Jazz Band, Fernando Noronha Black Soul, Mark Lambert, Mundo Mambo, Leo Gandelman, Baiacool Jazz Ensemble e J.J. Jackson. A edição principal deste badalado encontro musical acontece no mês de novembro de cada ano, mas durante o verão sempre ocorre o que a organização chama de prévia do festival. O Baiacool também Faculdade Souza Lima & Berklee trouxe ao Pará nomes como Através da AESM (Associação de Ensino Superior de Música) a Souza Lima é a Hermeto Pascoal, Cama única representante do Brasil em congressos de música na Letônia (18° Encontro de Gato, Ricardo Silveira, IASJ - Internacional Association of School of Jazz, realizado entre 21 e 27 de junho), Duofel, Carlos Malta, dentre e Alemanha (BIN – Berklee International Network, realizado na escola The Jazz & outros. Vale lembrar que o Rock Schule em Freiburg, entre 29 de junho e 05 de julho). evento é organizado pelo Em ambos, foi reforçada a candidatura do Brasil para ser sede dos eventos. Como conceituado baixista paraenresultado, o Brasil será o primeiro país da América Latina a sediar o IASJ. O enconse Minni Paulo Medeiros. tro está confirmado para 2010 ou 2011. Outro fruto da viagem foi uma parceria com a Advanced Music que, firmou o intercâmbio com escolas de Israel e Espanha. Além disso, os livros lançados pela Editora Souza Lima no Brasil sairão no exterior pela Advanced Music em cinco idiomas.

trancados

em estúdio Depois de 15 anos de estrada, os “veteranos” do Death Metal “Oligarquia” se encontram em estúdio preparando seu terceiro álbum. A banda tem uma nova formação: Max Hideo (Voz), Roque (Guitarra), Ártour (baixo), Panda Reis (batera), Guilherme (guitarra/voz). O grupo também se prepara para uma turnê sul-americana de lançamento do novo disco em 2009, com projetos e propostas para rodar a Europa em 2010.

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(•••• perfil)

A base na raiz!

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Horizonte, e depois de mais algumas mudanças e vinte e cinco anos de Rio de Janeiro,

Bororó volta às origens

vivendo em sua terra natal

Por Karla Maragno  fotos: Rubens Cerqueira lém de excelente músico, Boro-

ró demonstra uma vasta consciência artística, e tem como seu maior propósito, fazer um trabalho verdadeiramente brasileiro, conectado com suas raízes e com o olho no mundo. Em sua vivência ao longo de muitos anos, experimentou valores, construiu uma carreira distinta e adquiriu uma visão própria da música. De forma muito especial ele transmite estes conceitos aos leitores da Baixo Brasil. Sonoridade

A sonoridade única e a linguagem própria de seu instrumento foram conquistadas ao longo dos anos com muita estrada e diferentes sons, que vão de bandas de bailes, acompanhamentos de grandes nomes da música brasileira até a orquestra sinfônica. Além disso, muitas pesquisas de ritmos e percussões brasileiras que Bororó levou para o seu contrabaixo. Sua visão de si mesmo enquanto músico é de alguém preocupado com o modo de sentir... que vai gerar a forma de tocar a música. Não tem a característica de solar incessantemente e tocar muitas notas. Para ele o virtuosismo está em como conceber uma música, está na maneira de se interpretar, acompanhar, de saber onde colocar determinada nota, ou deixar o silêncio, perceber a hora de alongar uma nota... é o contraponto, é tocar ouvindo os demais instrumentos, é ter a capacidade de se posicionar diante de um trabalho que se

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Nascido em Goiânia, crescido em Belo

apresenta, é acrescentar algo mais a ele e personalidade. É saber atuar nos espaços. Composição

Para Bororó quem compõe deve ter o entendimento do originário da música. O compositor que faz um trabalho consciente do contexto no qual a obra está inserida, tem os condimentos certos para fazê-la crescer ainda mais e contribuir culturalmente. Criar é sair do óbvio e do comum, sem a preocupação comercial, sem a ânsia de encontrar o filão do momento para tocar em rádio. Fazer arte não é trilhar pelos caminhos impostos pelas gravadoras ao

longo dos anos. Isso significa não ser escravo da ditadura musical comercial. Pois é viável e possível se ter um trabalho de alto nível nas mãos e transformá-lo em produto, porque é claro que quem faz música tem o sonho de que este chegue ao público, quer ser ouvido. E até mesmo isso é importante para que as pessoas tenham um referencial do que é arte e o que não é. Arte é aprofundar de fato, é buscar referências e seguir com sua própria identidade. Consciência

Bororó julga interessante o músico ter uma proposta em

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relação à música que vai além da sonoridade. Poder antever a música e criar possibilidades com a sua obra. É além de simplesmente tocar, se posicionar e conhecer quais as “armas” se tem para acrescentar em valores artísticos em todo um processo cultural. A pesquisa constante e a busca das origens e raízes musicais fazem toda diferença. É básico. Fundamental. No caso de Goiás, Bororó encontrou em festas populares como a Folia de Reis, a Congada, na Dança Catira, nos Kalungas, que são os últimos remanescentes dos quilombos, além de significativa inspiração para sua música, o levou a descoberta da importância da manutenção destas culturas para a preservação de nossa própria história. As pesquisas

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com os Kalungas duraram vinte anos, e gerou um trabalho que brevemente será lançado. Uma junção de documentário, livro de fotografias, e um CD com uma bela trilha sonora.

“Na busca de obter uma linguagem própria, o que eu fiz foi pesquisar os ritmos brasileiros e africanos, as percussões que os permeiam e trazer esta percussão para o contrabaixo”

Jornada

Atualmente Bororó tem um trabalho instrumental com um quarteto, mas constantemente participa de gravações no Rio de Janeiro e São Paulo. Em seu trabalho como sideman, acompanhou grandes nomes da MPB, e participou de gravações inesquecíveis, entre elas a “Estória de JoãoJoana”, um cordel escrito por Carlos Drumond de Andrade, musicado por Sergio Ricardo, com arranjos de Radamés Gnattali. Trata-se de um disco com ênfase nos ritmos brasileiros, e tem entre seus intér-

pretes Chico Buarque, Elba Ramalho e João Bosco. Seu trabalho solo, o disco Fogaréu, reúne as manifestações culturais do estado de Goiás com a África, e ainda ritmos populares e referências musicais experimentadas ao longo dos anos, com sua participação na orquestra sinfônica. É um trabalho brasileiríssimo que foi indicado ao Prêmio Tim e lançado na Europa, onde foi muito elogiado tendo sido considerado uma sinfonia brasileira. Este veterano da música sem limitações de estilos musicais, que permeia em todas as direções e sem rótulos, certamente ainda nos reserva muitas :|| surpresas boas para o futuro!

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 Por Junior Primata

Fusão nordestina F

ala camaradas! É com grande satisfação que estréio essa coluna. Nessa primeira oportunidade apresentarei os rudimentos técnicos dos arranjos desenvolvidos no projeto Groove & Primata, um duo composto juntamente com o Sérgio Groove, que tem como proposta fazer com que nossos contrabaixos ocupem todas as sessões nos arranjos (rítmica, harmônica e melódica). Para tanto, fundimos as mais diversas técnicas e nossas experiências para adaptarmos músicas conhecidas, bem como composições próprias aos nossos arranjos. As técnicas empregadas são baseadas em recursos já conhecidos e bem explorados nos mais diferentes estilos. Contudo, há algumas adaptações. São justamente essas peculiaridades que farão parte de nossa coluna. Nos exemplos a seguir, apresento alguns movimentos simples. A partir deles será possível a compreensão e o aprendizado dos fundamentos rítmicos e técnicos dos nossos arranjos. No primeiro exemplo, os primeiros compassos apresentam as figuras rítmicas principais de células comuns aos arranjos do nosso duo. A técnica aplicada é o Slap, com a utilização de double pluckings, e adição de movimentos que visam dar mais suporte rítmico ao arranjo. Esses movimentos percussivos adicionais são: o hammer on “H”

(mão esquerda), e o Right Down “Rd” (mão direita), que consiste num movimento descendente similar a uma levada de violão. Nesse exercício, o movimento “Rd” é seguido pelo Right Up “Ru”, que tem sentido contrário ao primeiro, ou seja, ascendente. O exemplo do terceiro exercício é baseado na técnica two hands, ou tapping. Contudo, a função da mão direita é fundamentalmente percussiva. A abreviação “RM” (right muted) se refere às batidas executadas com a mão direita. Essa técnica é aplicada sobre o acorde Dm7, em ritmo de frevo. Pratique os três exemplos inicialmente em andamentos lentos. Procure, ao compreender e assimilar os movimentos, desenvolver idéias próprias. Valeu camaradas!!!! exemplo 1

exemplo 2

exemplo 3

Junior Primata é baixista, integra o Duo Groove & Primata e leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. marioprima@hotmail.com

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(•••• luizão maia)

Um baixista brasileiro! Luizão Maia! Nome que ecoa como força e predestinação a música. Nome que traduz alguém com as qualidades daqueles que tem em si uma arte audaciosa e sem lei! Alguém que faz diferença, muda a história e imprime a imagem da felicidade que se tem em expressar-se através da música!

o dono do swing do país?!” Era a pergunta com ar

A criação de uma marca

de “deboche carinhoso” que Elis Regina usava se referindo a Luizão Maia durante seus shows. Ela sabia a resposta, e muita gente pelo mundo afora também. Tanto que, em alguns países, existem universidades de música, que adotaram em seus currículos o legado histórico e as gravações de Luizão Maia como referências do contrabaixo no samba. Tal fato demonstra que a relevância de sua música foi antes descoberta fora das fronteiras do país do samba. Porém, a Baixo Brasil, ligadíssima na música brasileira, em reverência a importância de um dos mais notáveis baixistas de nossa história, só poderia fazer sua edição de estréia e histórica com ele!!!

Luizão Maia revelou-se no cenário da música brasileira, libertando o baixo para trilhar outros caminhos até então não atribuídos ao instrumento. A linguagem antes de Luizão era completamente diferente. A participação do contrabaixo na música brasileira era restrita ao baixo acústico ou ao violão 7 cordas. As linhas do acústico eram extremamente simples, apenas repetindo a marcação do tempo com as fundamentais do acorde. Luizão adotou de forma pioneira o baixo elétrico e, com total domínio do samba, criou a forma de se tocá-lo usada até hoje: simular o efeito sonoro do surdo, com diferenças de intensidade, variedades de notas (não existentes no surdo), e acrescentando artifícios rítmicos. Um destes recursos é colocar ghost notes nas levadas, a nota que interfere sem ser tocada, fazendo a percussão. Luizão descobriu desta forma o tempero, o swing. Luizão também valorizava a pegada, a técnica e o trabalho com a mão, acima de efeitos de amplificadores. Possuía um timbre característico e uma técnica de se tocar pizzicato com o uso das unhas. Mesmo sendo o samba sua marca registrada, Luizão tocava outros ritmos como jazz, e chegou a acompanhar Lee Ritenour, George Benson, Herbie Hancock, Wayne Shorter, Sadão Watanabe e Toots Thielemans. Tocava também baião, bolero, valsa, blues, xote, sambaião, música latina e o que mais precisasse.

Por Karla Maragno  fotos: Yoko B. Maia 14 revistabaixobrasil.com.br

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(•••• luizão maia) pondo um olhar inverso: Como seria a MPB sem Luizão e seus 30 anos de swing e tempero oferecidos a ela? E estejam atentos a um detalhe: Luizão Maia gravava Gravando... e se vira... em uma época em que o arranjador não levava ao estúOs sons divinos de seu baixo são consideravelmente dio de gravação a música escrita, mas apenas dava sua fáceis de serem encontrados e, provavelmente, em alsugestão de harmonia e sua idéia do que tinha em mente. gum momento da vida, quem está lendo este texto, já A partir destas informações, deixava por conta dos músiteve esta experiência. Luizão foi responsável pelo baixo cos a criação de todo o ambiente do arranjo. Ali na hora. nos discos dos maiores artistas brasileiros das décadas de E Luizão gravou desta forma uma enormidade de dis70 e 80. Foram mais de setecentas cos com arranjos de baixo absurmúsicas em mais de uma centena damente perfeitos, lindíssimos, O ponto de discos. Vamos descobrindo sua bons de ouvir, que davam o clima de partida assinatura em clássicos da MPB e faziam diferença na música. que marcaram a história de váLuizão não tinha estudo forNo dia 03/04/1949, na cidarios movimentos importantes no mal em música, mas consciente da de do Rio de Janeiro, nasce Brasil. Expressões, frases, refrões necessidade de ter conhecimento Luiz Oliveira da Costa Maia. que se perpetuaram nas vozes em leitura, estudava constanteMais precisamente em estrelares deste país. E quem esmente, se aperfeiçoando e pesquiVila Isabel, como ele fazia tava ali no baixo era ele: Luizão! sando. Ele dizia que em orquestras questão de destacar com O que podemos perceber é que os músicos recebiam o que tocar orgulho, e citar Noel Rosa, junto com Luizão está a história com um tempo para estudar. Já em como um dos símbolos dos anos esplendorosos da MPB. estúdio os músicos saíam de casa, do bairro que dizia: “Vila Aquela que ninguém esquece e e quando chegavam lá, que descoIsabel dá samba”. é tida como inigualável. Ouçam bririam o que tocar e... “ tinham Luizão começou a “dar clássicos que fizeram a história e que resolver na hora”. samba” enquanto obserdescubram Luizão! Ouçam Elis vava seus irmãos tocarem Regina, Chico Buarque, Gal Cose ensaiarem em sua casa. Superação ta, Sivuca, Leni Andrade, Maria Quando paravam, e deixaNo início da década de 90, Betânia, Tim Maia (veja discogravam o violão de lado, ele teve seu lado direito do corpo fia completa no site: www.revistao pegava e repetia alguns paralisado em conseqüência de baixobrasil.com.br). Ouçam, com acordes feitos por eles. um derrame. O que para muitos um bom fone de ouvido para esDesta forma aprendeu a músicos poderia ser algo que deficutar bem o baixo! Independente tocar e descobriu com o nitivamente e irremediavelmente de seu estilo e gosto musical, pois violão seu talento natural acabasse com uma carreira de sucultura sempre faz bem e inforpara a música. Aos quinze cesso, para Luizão foi uma questão mação não ocupa espaço. Ouçam! anos, substituiu o violão de adaptação e superação. Com Pois além de ouvir Luizão, vão pelo contrabaixo acústico. determinação, desenvolveu uma degustar boa música. Nosso orguCom ele gravou alguns disnova forma de tocar, apenas com lho. O melhor produto de exporcos de música brasileira, a mão esquerda batendo os dedos tação. A música brasileira! mas achava que o instrunas notas, algo como a técnica de Com Luizão percebemos mento não era “escutado” tapping. Assim, continuou no Japão como é importante o trabalho como ele desejava que atuando, paralelamente, em shows de acompanhamento do baixista! fosse, percebeu que com o de música brasileira e em 1998, Abro aqui um parêntese pra falar elétrico era mais “ouvido”. participou do show “Tributo a Elis do momento presente, em que a Na mesma época começou Regina”, ao lado de Helio Delmiro valorização ao trabalho solo do a tocar jazz com o saxofoe Nana Caymmi, no Town Hall de baixista é exagerada. Parece obrinista Victor Assis Brasil, e New York (EUA), tocando o baixo gatório o músico ter seu trabalho em seguida formou o resapenas com sua mão esquerda e solo para provar que é bom. Há peitado grupo Formula 7. conquistando a admiração do púum endeusamento aos que tocam Por ele passaram o guitarblico e da crítica. Um de seus últimais notas do que interpretam, e rista Hélio Delmiro, Marcio mos trabalhos foi a Banda Banzai, uma tendência à reduzida imporMontarroyos no trompete, que em seu repertório tocava suas tância àqueles que acompanham. Cláudio Caribé na bateria, músicas autorais. Nada contra trabalhos solos, muiJoão Luis na outra guitarra to pelo contrário. Só estou proe Hélio Celso no piano. 16 revistabaixobrasil.com.br

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“o momento que a gente está no palco não existe dinheiro que pague” o leGAdo

No dia 28 de janeiro de 2005, aos 55 anos, após um terceiro derrame cerebral Luizão se foi, deixando além de tudo o que foi citado como herança de valor incalculável, cerca de 50 composições próprias, entre elas “Chorinho com Xis’, gravada pelo dinamarquês Niels Pedersen. Esta gravação deixou Luizão muito orgulhoso e feliz. Niels era um de seus contrabaixistas favoritos e faleceu três meses após Luizão com a mesma idade. Também deixou um disco inédito com 10 músicas, gravado por ele mesmo. Esse trabalho seu filho Zé Luiz Maia planeja lançar em 2009. Zé Luiz que também é baixista está ainda nos presenteando com o lançamento do primeiro disco de composições de Luizão Maia Tal Pai. Aos poucos pretende registrar toda a obra de Luizão. Esta é parte da história de um brasileiro magnífico! E para contar esta história, agradeço o carinho que Zé Luiz Maia teve ao me revelar tanto de seu out/nov 2008

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pai: presença marcante em sua vida, e fonte de sua inspiração para seguir a mesma carreira. Contar que aos 9 anos de idade seguia Luizão a shows e estúdios de gravação, que um dia ganhou um baixo dele junto com a frase: “toca aí”! Contar que encontra músicos que gostam de lhe falar que o pegaram no colo. Falar dos últimos anos de Luizão no Japão, país onde vivia. O assunto é inesgotável e emocionante. Por isso para relatar esta história mergulhei no “Mundo Luizão”, ouvindo dias seguidos a riqueza rítmica e melódica de seu groove em centenas de músicas e experimentando em cada linha, uma viagem, uma descoberta, um prazer, um “uaaauu” ou um “o que que é isso!?” Troquei minha admiração por paixão e de quebra, ainda descobri mais o Brasil. O Brasil de Luizão, que foi, é, e sempre será um mestre. Um mestre do som. :|| Um brasileiro: Luizão Maia.

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(•••• luizão maia)

Samba grooves

 Por Paulo Dantas

Os exemplos a seguir das linhas de baixo de Luizão Maia possuem elementos que podem auxiliá-lo a criar suas próprias linhas, ou desenvolver um estilo próprio. Exemplo 1 Repare a seqüência cromática com saltos de oitavas em direção a fundamental do acorde E7. Observe o glissando no segundo compasso e a variação rítmica dos compassos dois, três e quatro além do ghost note no terceiro compasso. Exemplo 2 Veja a utilização da sétima menor no lugar da fundamental do acorde G7 no segundo compasso. No mesmo compasso ocorre a antecipação da seqüência harmônica dos compassos três e quatro seguidos de uma seqüência rítmica característica de Luizão Maia que pode ser encontrada em várias de suas gravações. Exemplo 3 Neste exemplo, Luizão fez uso de notas aproximação cromática no primeiro e segundo compassos além da utilização da escala do acorde de F7M em movimento descendente executada em staccato. Exemplo 4 Observe a utilização de oitavas, com o ritmo padrão de samba e da utilização da nota Fá# (sétima maior do acorde G7M) a fim de utilizar o caminho mais curto para encontrar o próximo acorde. No segundo compasso Luizão fez uso da nota de tensão nona aumentada do acorde E7#9 além de uma variação rítmica do terceiro compasso e a escala ascendente com aproximação cromática no quarto compasso. Exemplos 5 e 6 Estes dois exemplos são uma síntese dos exemplos anteriores. Repare a utilização de variações rítmicas, notas de aproximação cromática, escala do acorde e ghost note. No exemplo 5, observe a

utilização da nota Sol# ao invés da nota Sol natural como no exemplo 4. Exemplo 7 O uso de double stops é outra característica do estilo de Luizão Maia. Neste caso, as notas de partida estão de acordo com o acorde do momento (Fundamental e quarta justa de Bsus) e caminham em direção as notas do acorde seguinte (Sétima menor e terça menor de Em). Atenção para o glissando nas notas em bloco e da continuidade do groove de samba nos compassos três e quatro. Exemplo 8 Embora seja uma linha simples, atenção para o staccato e a acentuação nos dois primeiros compassos e a mudança de articulação e da utilização das três primeiras notas da escala de Fá menor nos compassos seguintes.

Paulo Dantas é professor da Escola de Música de Brasília e mestrando em performance do contrabaixo na Universidade Federal de Goiás. Atua como contrabaixista elétrico e acústico na região do Distrito federal. Email: paulodantasjr@gmail.com; Site: www.myspace. com/paulodantasjr 18 revistabaixobrasil.com.br

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(•••• harmonia)

 Por Ebinho Cardoso

Propagando

Harmonia! O lá, saudações a todos. A partir de agora nos encontraremos nesse novo e valioso veículo de propagação do contrabaixo, onde estarei passando meu conhecimento sobre harmonia, sempre de modo gradativo e em etapas, do básico ao avançado. É importante que o músico busque informações em todas as fontes possíveis, a fim de criar sua própria maneira de pensar e tocar, ou seja, sua identidade. Para o estudante de baixo elétrico que pretende desenvolver os seus conhecimentos de harmonia, recomendo que todas as informações sejam aplicadas diretamente no contrabaixo. Sugiro ainda a utilização do instrumento de 6 cordas pois, com o acréscimo da corda DÓ (aguda), teremos maior clareza na execução dos acordes e muito mais possibilidades de formação. Além disso, estudar harmonia no próprio instrumento não só acrescentará uma visão técnica e teórica, mas também uma visão profunda, onde o músico começa a perceber a relação da natureza e do seu cotidiano com a música, onde cada acorde produz uma sensação diferente, uma imagem diferente, seja ela qual for além de proporcionar

profunda intimidade com o instrumento. Foi pensando dessa forma que comecei a pesquisar e compor, utilizando acordes e compreendendo harmonia no meu próprio instrumento, (o que não é muito convencional para a comunidade dos graves, que geralmente escolhe o violão ou o piano para estudar a verticalidade da música). Assim me apaixonei por essa linguagem e decidi aprofundar-me no assunto e com isso, notei que o material existente no mercado era bastante escasso no que

O estudo da harmonia (pelos veículos da notação e audição, através de demonstração, análise, harmonização e percepção) leva à compreensão e ao enriquecimento de uma linguagem, desde que ela já esteja em fase de aquisição diz respeito a esse conteúdo direcionado ao nosso instrumento, esse é o motivo pelo qual desenvolvi o livro “Harmonia e dicionário de acordes para baixo elétrico” e as videoaulas “Técnicas alternativas para baixo elétrico” e “Conceitos e concepções práticas sobre aplicação de acordes” que também tratam do assunto harmonia. O estudo da harmonia (pelos veículos da notação e audição, através de demonstração, análise, harmonização e percepção) leva à compreensão e ao enriquecimento de uma linguagem, desde que ela já esteja em fase de aquisição. Por isso mãos à obra! Espero que a troca de informações que faremos nesta coluna ajude não só aos estudantes, mas também aos músicos profissionais e experientes a aprofundarem-se no estudo da harmonia. Acredito que a fonte da criatividade esteja em arriscar, se jogar no abismo sem medo, errando para acertar; como diz meu mestre Ian Guest “a música só é produto final para quem ouve, não para quem participa dela”.

Ebinho Cardoso é baixista, compositor e arranjador. Autor do livro “Harmonia aplicada ao baixo elétrico” e do DVD aula “Técnicas alternativas para baixo elétrico”. E-mail: ebinhocardoso@hotmail.com. Para saber e ouvir: www. myspace.com/ebinhocardoso

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(•••• perfil)

Ecletismo

mineiro

Enéias Xavier tem se destacado além das montanhas de

Minas Gerais e se firmado no cenário musical brasileiro

com um trabalho bem diversificado

ineiro de Belo Horizonte, Enéias

poderia ter a vida bem parecida com a de muitos meninos, que por serem filhos de pastores de igrejas batistas, desde cedo têm contato com a música, vão crescendo e aprendendo a tocar instrumentos, sem sair daquele ambiente sem maiores pretensões musicais. O começo foi exatamente assim, mas o desdobramento da história foi bem diferente. Dono de um talento musical notável, após aprender a tocar violão e piano em sua igreja, um dia ouviu um certo baixista chamado Celso Pixinga em

ação, e ficou fascinado pelo instrumento e pela técnica dele. Enéias quis fazer igual! Começou então a estudar as técnicas, formou uma banda de rock pop evangélica, e declara: “ninguém gostava do som que fazíamos, era só a gente mesmo”. A banda pode não ter agradado, mas Enéias, aos poucos, foi trilhando um caminho de vitórias e conquistando grandes nomes nacionais e internacionais com quem já dividiu palcos e gravações, entre eles, Maria Schneider, Eileina Williams, Tony Baker, Nenê, Neném, Chico Amaral, Toninho Horta, Vinicius Dorin, Ricardo Fiúza, André

“Depois de ouvir sua música, conclui que estava diante de um talento excepcional” Jose Domingos Raffaelli – crítico de jazz com mais de quinze anos de experiência nos jornais O Globo e Jornal do Brasil, colaborador de diversos sites especializados em Jazz.

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Mehmari, Harvey Wainapel, Márcio Montarroyos, Hélio Delmiro, Robertinho Silva, Idriss Boudrioua, Alexandre Carvalho, Zé Eduardo Nazario, Túlio Mourão, Flávio Henrique, Sandro Haick, Alex Buck, Paulo Russo, João Alexandre, Celso Adolfo, Juarez Moreira, e mais uma lista enorme. Multi-instrumentista,com 18 anos de carreira, Enéias trabalha como sideman, produtor, arranjador, e tem no baixo acústico, elétrico e na música instrumental seu maior entusiasmo. Fruto desta paixão, há dez anos tem, também, se dedicado à carreira solo, concomitantemente com suas outras atividades. O baixo acústico entrou em sua vida em 95, quando estudou com Fausto Borén. Sua técnica tanto no elétrico quanto no acústico foi desenvolvida segundo ele, “conversando com os músicos e tirando solos de Jaco Pastorius, Marcus Miller, Dave Holland, John Patitucci”. Seu premiado primeiro disco solo, Jamba, que é a mistura de jazz com samba, Enéias classifica como “um trabalho que músico que gosta, tem muito compasso composto, mas não é um disco que agra-

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 Por Karla Maragno

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da muito o público que não está acostumado com música instrumental” Já o recém lançado O Peregrino (World Music) é uma fusão de todas as influências de Enéias. Um álbum que vai do Clube da Esquina ao Gospel, passando pelo Samba e pelo Funk, e conta com a presença de Rudi Berger, Fernando Vidal, Toninho Horta, Dean Brown, Ana Paula Valadão, Lincoln Cheib, André ‘Limão’ Queiroz, Ricardo Fiúza, Chico Amaral, Beto Lopes e Wender Pereira. Atualmente, Enéias é responsável pela produção musical, tecladista e arranjador, do Ministério “Diante do Trono”, que mesmo na onda da pirataria e downloads na Internet, vende cerca de 200 mil discos por lançamento.

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Isto confirma que o mercado musical de louvor e adoração tem público no Brasil. Enéias lecionou no CEM (Curso de Extensão da Escola de música da UFMG), e atualmente dá aulas na Faculdade de Música Popular de Barbacena - Bituca – que tem como padrinho – Milton Nascimento. Então, se você estiver pensando agora em ouvir Enéias Xavier não hesite. A estética sonora deste músico com jeitinho reconhecidamente mineiro merece toda a sua atenção! :||

Enéias Xavier foi vencedor do terceiro Prêmio BDMG Instrumental(2003) e do Prêmio Conexão Telemig Celular (2004). Em seu último trabalho, O Peregrino, Enéias prova que representa a nata dos instrumentistas mineiros que estão surpreendendo o cenário musical. Além da musicalidade do baixista, o disco conta a com a presença de Rudi Berger, Fernando Vidal, Toninho Horta, Dean Brown, Ana Paula Valadão, Lincoln Cheib, André “Limão” Queiroz, Ricardo Fiúza, Chico Amaral, Beto Lopes e Wender Pereira.

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(•••• fretless)

 Por Thiago Espirito Santo

Afinação

O

lá amigos! Para aprender a tocar qualquer instrumento musical, é necessário educar e desenvolver o nosso cérebro, programando a nossa mente para executar exatamente aquilo que desejamos em nossa música. Acredito que o baixo fretless tenha vida própria, devido à sua extensa gama de sonoridades e possibilidades de ser tocado, e é com grande prazer que falarei um pouco sobre esse instrumento que mudou a minha maneira de tocar e enxergar a música. Separei algumas dicas para tornar o seu estudo mais prático e objetivo.

jam reguladas, caso contrário seu instrumento nunca irá afinar. Agora, com o fretless devidamente regulado, é hora de identificar e saber exatamente onde fica cada nota no braço do seu instrumento e como tocá-la afinada. Eu uso um baixo fretless com marcação, tornando-o mais fácil de afinar. Essa marcação fica exatamente no lugar do traste e basta colocar o dedo em cima da marca para que a nota saia afinada. (figura 1) Pratique, com o metrônomo em um andamento lento, todas as escalas maiores partindo da nota mais grave até a nota mais aguda do instrumento, utilizando toda a extensão do braço (veja o exemplo 1 em Dó maior no pentagrama). Esse exercício tem como finalidade o conhecimento do instrumento e a digitação.

Primeiro passo: AFINAÇÃO

Muitos baixistas perguntam o que fazer para estudar afinação ou como tocar sempre afinado. Para estudar afinação é imprescindível que as oitavas do seu baixo este-

figur a 1

Obs: Para obter sucesso no exercício é necessário tocá-lo em todos os tons. Galera, pra fechar a tampa eu vou recomendar dois discos de cabeceira. Até a próxima!

Jaco Pastorius, 1976 (Jaco Pastorius) Esse álbum dispensa comentários.

Bent, 1998 (Gary Willis) Vale a pena escutar com carinho o solo de baixo da faixa “It’s Only Music”.

Reconhecido como um dos mais notáveis músicos da atualidade, Thiago Espirito Santo tocou e gravou com grandes artistas como: Hermeto Pascoal, Yamandú Costa, Dominguinhos, Helio Delmiro, George Benson entre outros. Hoje divulga seu segundo CD solo “Hemisférios”. www.thiagoespiritosanto.com.br.

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(•••• ascendente) Da terra do frevo para os improvisos do

jazz, o jovem talento Ricardinho

do Recife já começa a imprimir

Jazz pernambucano

sua marca na forma de

tocar contrabaixo Por Deivid Miranda  foto: Caio Alencastro

A

princípio, para quem não conhe-

ce e escuta o nome Ricardinho do Recife, a associação imediata é com sons nordestinos e regionais e dificilmente há uma relação com o jazz e a música instrumental. Mas do jeito que as coisas acontecem de forma rápida na carreira deste músico que apesar da pouca idade já é super respeitado, e requisitado, breve seu nome será de imediato relacionado a um som diferente vindo de Pernambuco. A Baixo Brasil já de olho no futuro, apresenta um pouco de Ricardinho através desta entrevista:

Ricardinho, conte pra nós por que a música e especificamente o baixo? Tudo começou quando meu

pai me presenteou com um violão aos 14 anos, e comecei a tocá-lo na Igreja. O grupo no qual tocava estava sem baixista, e aos 16 anos comecei a tocar baixo. Apesar de tocar e dar aulas, nunca pensei em ser músico profissional. Aos 17 anos fiz minha primeira apresentação de jazz, e aos 18 anos decidi por estudar música na universidade federal, iniciando meus estudos em baixo acústico. Até então você nunca havia tido um estudo formal de música? Inicialmente, recebi algumas orientações de

um cara da igreja mesmo. Depois, entrei para o curso de bacharelado em baixo acústico e comecei a dar aulas no Centro Educacional de Olinda e em seguida no Conservatório Pernambucano. 24 revistabaixobrasil.com.br

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E este fato mudou sua carreira? O que significou pra você?

Hoje sabemos que você é um dos “frutos” dos Festivais de Baixo. Como você foi descoberto? Um dos workshops que

o conservatório promovia aconteceu em Caruaru onde fiquei uma semana dando aulas. Nos muitos contatos feitos com o pessoal da cidade, fiquei sabendo do Festival que aconteceria por lá e fiquei louco. Dei um jeito de ficar pra assistir o festival. E um dia o Pixinga me viu tocando no “Espaço da Condor”, eu estava lá “brincando” entre um show e outro. Mas ele já estava decidido a me colocar pra tocar no festival, e falou comigo, ele, o Niltão(Wood) e eu todo sem graça, pois pra mim já era uma honra conhecer os caras.

Então você foi pra assistir um festival e já participa dele como uma das atrações?

Sim, o Pixinga falou comigo num dia e no outro eu já estava lá tocando.

Primeiro foi a realização de um sonho. Eu via as matérias na revista de baixo e dizia pro meu pai que um dia ia estar na revista. E a partir daí outras portas se abriram. Qual foi o passo seguinte?

Já fui pro festival seguinte em Brasília como endorse da De Oliveira. Ganhei um baixo seis cordas muito legal. E comecei a rodar o Brasil com os Festivais. Este convívio com diversos baixistas nestes festivais influenciou no seu som atual?

Eu creio que sim. Costumo dizer que o músico é um pouquinho de cada coisa que ele escuta, então tanto o que eu pesquiso em casa, como o que eu ouço na rua de alguma forma me influencia. Aproveitando que estamos falando de influências, quais são as suas hoje e quais foram no início? O que você ouvia e ouve mudou?

O Pixinga foi minha pri­mei­ ra grande influência, assim como o Bráulio Araújo também. O Pixinga de ver em

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várias videoaulas e o Bráulio ao vivo em Recife onde ele tocava com “todo mundo”. Você está lançando um disco agora. Qual o estilo e concepção deste trabalho?

Mistura de minha identidade. Músicas que compus mostrando o jeito que toco com as influências que tive como jazz, bossa nova, baladas, pop, salsa, baião. É uma mistura. Não é rotulado. São vários elementos que “coloquei num liquidificador” e saiu o disco. Morar numa cidade extremamente musical como Recife influenciou sua música? Com

certeza. Pela musicalidade e por ter vários estilos, como frevo, maracatu, batucadas na rua. Isso vai formando na cabeça uma noção muito forte de ritmos. Você convive muito com músicos e vai ficando com as melodias na cabeça. Eu tenho influências de frevo também por ter crescido em Recife. Apesar de ser um músico bem novo, você já está fazendo uma história bacana no contrabaixo. Como é esse mercado pra você que está chegando agora? Estou

concluindo meu bacharelado de contrabaixo acústico, e este é um dos “leques” que vou seguir. Tentar uma orquestra sinfônica, algo assim que eu possa ter um ganho fixo e poder intercalar alguns trabalhos com o baixo elétrico. Em Recife é complicado você viver da música out/nov 2008

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que você toca, como nos festivais? Você acha que a galera está aberta pra novos nomes, ou preferem os músicos conhecidos? Acho que a aceitação é legal. Hoje

lá, pois tem os artistas já com os músicos certos. Ou então toca qualquer tipo de música que não te agrada só pra ganhar dinheiro. E isso eu não quero. Prefiro ser fiel aos estilos que eu gosto.

em dia acho que tem muita gente tocando bem. Então o que vai diferenciar um músico do outro é sua identidade. É você criar um som que as pessoas escutem e já :|| identifiquem. Eu trabalho neste sentido.

Como é a aceitação de sua música em outras cidades

Atualmente Ricardinho é apoiado e usa cubos e baixos Art Wood e pedal da Boss. revistabaixobrasil.com.br 25

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(•••• estudando)

 Por Oswaldo Amorim

O contrabaixo

e sua função

C

riar uma levada é uma forma de composição. Porém, inúmeras vezes, nos vemos obrigados a “compor” em tempo real, seja durante um show, um ensaio ou mesmo uma gravação. Por isso precisamos estar preparados e com as “ferramentas” necessárias para a concepção de uma boa linha de baixo. Tente criar várias levadas, até encontrar a que melhor se encaixe, que faça a música soar melhor. A concepção de uma levada, se bem feita e adequada, pode enriquecer e melhorar substancialmente a música, bem como, se inadequada, empobrecer e até torná-la desagradável. Apesar de o baixo exercer também um papel de solista, a sua função primordial é saber acompanhar. Isso que todos esperam de um baixista quando querem contratá-lo. Porém, hoje se espera que além de acompanhar, o baixista saiba harmonizar no instrumento, tocar as melodias, improvisar, dominar diferentes técnicas (slap, tapping, acordes, harmônicos, chord melody, fretless, etc.), conhecer vários estilos, e o que muitos ainda relutam: saber ler e escrever música. Devido a esse acúmulo de funções, muitas vezes nos dispersamos no estudo do instrumento. Através da Baixo Brasil, espero poder ajudar você leitor, nessa caminhada pelo mundo dos graves.

Começo pelo mais importante fundamento que um baixista pode ter: Tempo, ou seja, ter domínio e controle da pulsação musical, e precisão rítmica. Por isso ressalto a importância do estudo com o metrônomo, que vai auxiliar no desenvolvimento da precisão que buscamos. Vale dizer, que se você consegue groovar com o metrônomo, meu amigo, com um bom batera então será muito mais fácil. Para tanto, um bom estudo é o de cordas soltas, em que será trabalhada a mão direita (sempre alternando os dedos) e a questão da pulsação e subdivisões rítmicas. Nos exercícios devem ser priorizados os andamentos lentos, e ao invés de aumentar o andamento, variar a execução com diferentes subdivisões. Sugiro começar com 50 bpm e depois de alguns dias ir aumentando gradualmente. Exercícios com cordas soltas

Obs: fique livre para criar e modificar estes exercícios, seja lendo de trás para frente ou mesmo misturando o compasso de um exercício com o de outro, bem como utilizando diferentes subdivisões rítmicas. Divirta-se!

Oswaldo Amorim é contrabaixista, compositor, arranjador e educador, graduado em Licenciatura em Música pela Universidade de Brasília. Possui mestrado em Jazz Performance na Manhattan School of Music – e especialização em contrabaixo pela Bass Collective – NY filbass@hotmail.com

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(•••• som alternativo)

Vinte segundos

para o sucesso

com um golpe seco do baterista Jamil Pilli que

a banda paulista Chipset Zero abre o CD Red-O-Matic. Em menos de vinte segundos da primeira faixa “Metal Cage”, percebi que estava ouvindo o disco de uma das grandes promessas do trash metal nacional. Vocais excelentes em inglês, percussões afro-brasileiras, samplers muito bem feitos sem exageros, insights de rap, muita criatividade e grandes execuções por parte dos instrumentistas, somados à energia do metal fazem de RedO-Matic um disco que quebra tabus, desafiando a máxima de que para fazer metal, só é necessário “porrada”. Além do peso em todas as faixas do disco, sacadas inteligentes, bom gosto nos arranjos e letras interessantes, como na faixa Hybrid Song, que conta com a participação do vocalista Egypcio do Tihuana. Confesso que já fazia um bom tempo que eu não “batia cabeça”. Então, para ter mais referência ao escrever esta resenha, voltei aos discos antigos e ouvi Slayer, Pantera, Biohazard, Prong, Deftones. E pra me “atualizar”, IOWA, Slipknot, Soulfly para prestar atenção nas linhas dos baixistas. Aí sim, com essas informações “carregadas no drive” ouvi novamente o disco do Chipset prestando mais atenção aos graves, comandados pelo baixista Ayka Zero. Suas linhas são encorpadas e o som do

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baixo é demolidor. Não tenho dúvida de que quando está tocando com a banda, Ayka sente o som do baixo bater no peito de verdade, principalmente em faixas como Eternal Flames, quando o baixista lança mão de uma inusitada afinação A-D-AD, extraindo um grave poderoso em seu instrumento. Destaco ainda um mérito especial a Ayka, por ser quem programa os samplers da banda com muita competência. As linhas de baixo do disco trazem o peso necessário ao estilo e foram muito bem executadas, sendo que a linha que mais gostei foi a da faixa Dead Eyes, que mostra que o músico vai muito bem em compassos mais quebrados, convenções com a guitarra e contratempos. Em termos de gravação e mixagem, o disco não deve nada aos álbuns lançados por bandas estrangeiras consagradas. Foi produzido por Brendan Duffey e Adriano Daga, que sabem o que fazem. O projeto gráfico merece atenção especial, o digipack que embala o disco está muito bem elaborado e a arte visual é mais um ponto alto do disco. Mais alguns destaques do CD: a linha de baixo da faixa M76 - uma das músicas mais legais do disco - a participação do guitarrista Edu Ardanuy (Dr. Sin) na faixa Bio-Chip e a abertura da faixa Hipnox, com direito a canto gregoriano. Não tenho duvidas que estamos diante de um grande sucesso! Mais informações: www.chipsetzero. com.br, e sugiro que a banda disponibilize no site um link para a galera poder baixar as letras. (Ney Neto)

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Jesus is my rock

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cionado pelo rock em

Tipicamente brasiliense, o Livre Arbítrio encontrou seu público em todo o Brasil, identificado por sua boa energia no palco e seu som descontraí­ do e alegre. Apesar do grupo ser “antigo”, esteve “parado” durante algum tempo. Agora de volta a ativa está passando por uma renovação após alguns anos de altos e baixos, mudanças e transições. Nos shows, ouve-se ainda sucessos do passado reestilizados, com arranjos novos e modernos, além de covers de músicas relacionadas ao motociclismo. Jaziel, o baixista da banda, define-se como um rockeiro clássico e associa em sua técnica slaps e ainda busca uma liberdade maior para o uso do tapping nas músicas do grupo. Alternativo, underground, aliando muito rock e consciência social, o Livre Arbítrio tem tudo pra dar certo neste seu retorno... e os fãs de todas as idades vão se amarrar! (Karla Maragno)

nes ta pág . foto: Rodrigo Ono; pág. ao lado foto: divulgação

todas as suas vertentes desde o Pop Rock, baladas, até o HardAdoração, e unido pela motivação de falar de Deus através da música, o grupo Livre Arbítrio, desde 1989, faz parte do movimento gospel no Brasil. Atualmente, a banda acompanha o ministério de motociclistas do Esquadrão de Cristo, que além de eventos musicais e da paixão pelas duas rodas, desenvolvem vários projetos sociais. Com 3 discos gravados (Corsário do Rei, Liberdade de Expressão e Livre ArbítrioAcústico), a banda planeja lançar um novo Cd em dezembro de 2008. Neste novo trabalho, o grupo que recebeu grande influência das bandas de rock dos anos 80, planeja alcançar uma geração posterior àquela que já os conhecem, trazendo novas influências musicais.

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(•••• acústico)

 Por Evaldo Guedes

Conhecendo

o instrumento

O

lá a todos! No Brasil ainda existe grande carência de material a respeito do “gigante”. Por isso esse espaço na Baixo Brasil é muito importante no cenário musical atual, principalmente em um momento em que a procura e o interesse pelo baixo acústico vem aumentando, e o acesso ao instrumento sendo gradativamente facilitado. Nessa coluna, reforçada pelos vídeos na internet, abordaremos de maneira prática os principais fundamentos para quem deseja tocar o instrumento.

culo, com o desenvolvimento da música popular, o baixo acústico começou a ser utilizado também sem o arco. No jazz, por exemplo, seu uso rítmico é profundamente explorado com o tradicional walking-bass. Nesse estilo, é predominante a técnica do pizzicato. Durante toda a primeira metade do século XX, ocorre a popularização do jazz, onde surgem vários baixistas que até hoje são referências, como Jimmy Blanton, Scott LaFaro, Paul Chambers, Charles Mingus e outros. O resto é história!

Breve História

Afinação

do Baixo Acústico

A afinação tradicional do Contrabaixo Acústico é igual à utilizada nos baixos elétricos. O instrumento é afinado em quartas, da corda mais grave para a mais aguda, temos E-A-D-G.

O surgimento do contrabaixo remonta ao século XV. Entretanto, somente a partir do século XVIII, Domenico Dragonetti introduziu sua utilização em orquestras, com o contrabaixo de três cordas, e ensinou suas vantagens ao mundo. A partir do século XIX surgiu o contrabaixo de quatro cordas, e o instrumento passou a ser utilizado em passagens de efeito mais vir­tuoso, em momentos dramáticos e de revolta das peças executadas. Ainda no final desse sé-

dar, aprenda a regular o espigão de forma que a posição do baixo fique correta em relação a sua altura. Uma dica para saber se a altura está indicada: o dedo indicador da mão esquerda na altura dos olhos. Depois de regular a altura do baixo, você deverá aprender equilibrar o instrumento, observando a posição das pernas, tronco e aprendendo a apoiar o corpo do baixo em seu osso ilíaco. É muito importante não transferir o peso do instrumento para o braço esquerdo. Você deve conseguir deixar o baixo em pé somente com esse apoio. Assista aos vídeos com dicas sobre como regular a altura do espigão e equilibrar o baixo em www.revistabaixobrasil.com.br/guedes. Na próxima aula veremos como segurar o arco e os primeiros exercícios de arcada em cordas soltas. Um abraço a todos! voluta pestana tarrachas

faixa lateral

Ergonomia

O posicionamento do corpo em relação ao instrumento é fundamental. Uma postura ruim poderá limitar os movimentos das mãos, além de trazer prejuízos para a integridade dos músculos e articulações do baixista. Antes de começar a estu-

braço

espelho tampo frontal cavalete

F

alma (parte interna) barra harmônica (parte interna) estandarte espigão

Com mais de 30 anos de carreira, Evaldo Guedes leciona baixo acústico em São Paulo e já tocou ao lado de Herbie Hancock, Dexter Gordon e Dave Douglas. Foi baixista da Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal de São Paulo por sete anos e acompanhou artistas como Ivan Lins, Nana Caymmi, Zizi Possi e Jane Duboc, entre outros. www.myspace.com/evaldoguedes

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(•••• entrevista)

Swing de idéias Destaque nos graves da história da música brasileira,

Jamil Joanes,um dos precursores do chamado

samba-funk, fala de sua carreira e da

situação atual do baixista no Brasil Por Ney Neto  foto: Cadinho Batera

Q

uando se fala em Jamil Joanes, o

que sobrevém ao pensamento é o samba-funk e, é claro, a Banda Black Rio, grupo carioca do qual fez parte, no início do grupo, nos anos 70, com repertório fundamentado no funk, misturado ao samba, ao jazz e a outros ritmos brasileiros. Mas, apesar da relevância deste seu trabalho, Jamil transcende rótulos e se firmou como um dos baixistas mais prestigiados da música brasileira, com um swing inconfundível. Já gravou ao lado de artistas como Gilberto Gil, João Donato, Caetano Veloso, Ivan Lins, João Bosco e muitos outros. Com um histórico invejável e com um mundo de realizações musicais, Joanes demonstra que continua aberto para novidades, tendências e prova que, além de grande músico, é um cara “antenado” e cheio de idéias. Revelando simpatia e humildade, apresento a vocês o swing de Jamil Joanes.

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Jamil, como foi sua história de começar a música com o violão e se tornar baixista? Aprendi a tocar

violão de ouvido e, aos 13 anos, já fazia parte de uma banda em Belo Horizonte, formada por pelo menos 4 violões, escaleta, acordeon, bateria, percussão, saxofone, crooner, mas não tinha contra-baixo. Então alguém disse: “Temos que ter um baixo no nosso conjunto, toda banda tem!!” Na hora eu tirei o Mi e o Si do meu violão e disse: “Agora nós temos contrabaixo”, mesmo só com aquelas cordas finas.

Bem instintivo! E depois disso você providenciou um baixo? A princípio a grana era curta, não havia

a menor possibilidade de comprar um baixo de qualidade como gostaria, mas uma pessoa que acompanhava nosso trabalho fez um baixo pra mim. Foi uma alegria enorme quando ele chegou com o instrumento cheirando a tinta, com um braço da grossura do braço humano, pesando mais que o corpo do instrumento, sem trastes, sem capa, mas era um baixo elétrico. Aliás, a alegria foi geral, pois a banda teria um contra-baixo de verdade daquele dia em diante. Depois comprei um Apollo da Gianinni, um Phelpa, um Berger e, em 1973, consegui comprar um Fender Jazz Bass.

Naquela época, não existia muito material para contrabaixo, qual era sua fonte de pesquisa e seus métodos de estudo? Minha fonte de informação

era o rádio. Eu grudava o ouvido no rádio ou vitrola, tentando assimilar o que o baixo fazia e tirar o mais próximo possível. Também procurava assistir grupos e orquestras que se apresentavam em BH, observando cada baixista tocar, procurando repetir em casa o que eu conseguia assimilar. As bolhas

e os calos nos dedos logo apareceram, porém a teoria só veio mais tarde. Atualmente, pela facilidade de comunicação, existe uma avalanche de informação a respeito do contrabaixo. Você acha que essas mudanças influenciam a forma de estudar e de tocar dos músicos? Com

certeza facilitou em todos os sentidos o aprendizado. Hoje em dia, os iniciantes têm facilidade de aprender teoria musical, escalas, baixar aulas pela Internet, adquirir métodos, aprender por videoaulas, além de várias escolas de música que dão acesso a informações que, há 30 anos, eram inacessíveis. Há algum ponto preocupante que mereça cuidado em relação a essa enxurrada de informações? Informações

sempre precisam ser peneiradas e, a partir daí, se dá continuidade à evolução. Não podemos imaginar até onde vai a evolução tecnológica; e out/nov 2008

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os computadores são peças indispensáveis nesse processo, tendo permitido um salto gigantesco na rapidez de realização, assim como também no lado qualitativo, proporcionando segurança e precisão nas informações. Na música, não foi diferente, e os trabalhos realizados em estúdios caseiros (demos) podem ser feitos com qualidade, no que se refere aos áudios, sem perder aquele barulhinho criado pelos dedos ao ferir as cordas: faz parte da execução. O que é primordial para que os novos baixistas encontrem seu próprio som? Cada

um ouve o que gosta e o estilo que mais gostaria de aprender, mas como músico, acho que devemos ouvir de tudo, tocar todos os gêneros, pois, dessa maneira, você abre um leque de opções, se posicionando no mercado de forma eclética.

Você segue alguma rotina de estudos hoje em dia?

Deveria seguir, mas confes-

so que não tenho tido essa disciplina, por causa de outros trabalhos como produção e composição. Mas voltarei a dar maior atenção a isso. Nosso objetivo é dar espaço ao baixista brasileiro. Como você enxerga o mercado nacional hoje em dia? Os anos passam e

a cultura brasileira não evolui, uma vez que os órgãos governamentais responsáveis pelo setor não dão a atenção necessária. Não é de hoje, sempre foi assim, e não acredito que vá mudar tão cedo. O povo brasileiro é muito musical, mas não tem a oportunidade de comparar a qualidade desse ou daquele estilo de música, porque o que é imposto à eles ouvir é o Créu, o Tchan e por aí vai. Poucos têm acesso a uma música de qualidade e têm que pagar caro por isso.

Como você pensa na situação de ser baixista no Brasil? Não é somente ser bai-

xista e sim ser músico no Brasil. É complicado, por esses motivos anteriormente citados. A grande massa popular é injetada com um conteúdo musical de baixo nível e, nós músicos, temos que nos adaptar para sobreviver. Mas tudo isso é conseqüência: depende do que se lê, da qualidade do ensino escolar, do nível das faculdades, etc... Quanto ganha um professor de escola pública? Quanto ganha um médico de hospital público, em média, e em quais condições trabalham esses profissionais? São situações interligadas que só melhorarão quando o país tiver um comando realmente interessado em mudar. Por enquanto, outros interesses prevalecem.

BB

recomenda

MARIA FUMAÇA Banda Black Rio Este trabalho trouxe o funk e o soul para a música brasileira, figurando na lista dos discos que agregam as melhores qualidades musicais. Gravado em 1977, mescla composições do grupo, com arranjos personalizados para clássicos de Edu Lobo, Luiz Gonzaga, Ary Barroso e entre outros. Destaques para a faixa que deu nome ao disco – Maria Fumaça (Oberdan e Luiz Carlos) - marca registrada do grupo, que foi tema de abertura da novela “Locomotiva” da Rede Globo, Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso) e Urubu Malandro (João de Barro). A formação da banda neste CD foi: Oberdan P. Magalhães (sax), Lucio J. Silva (trombone), J. Carlos Barroso (trompete), Jamil Joanes (baixo), Cristovão Bastos (teclados) e Luiz Carlos Santos (bateria e percussão).

Quais projetos você tem trabalhado ultimamente?

Tenho trabalhado, junto com Cláudio Mazza, no CD de músicas inéditas da Banda Vitória Régia. Sinto-me orgulhoso em participar desse projeto, pois posso ser também o artista, criando a oportunidade de ser meu próprio chefe. Também tenho trabalhado em shows com Luiza Possi, Miúcha e Clara Becker. O que você diria aos novos baixistas, que estão iniciando agora a carreira musical? Ti-

rem proveito de todas essas novas fontes de informação como a Internet, o acesso aos métodos, videoaulas e ouçam bastante de tudo, para criar sua identidade musical. Ter o seu próprio som e a sua maneira própria de tocar é fundamental.

Curte aí: http://www.youtube.com/watch?v=2Y7GgaHfGGQ&feature=related out/nov 2008

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(•••• armazém) JaZZ Para GrInGo VEr “Oh! My God! This guy is killer!” Com uma expressão de espanto no rosto, foi o que disse, surpreso, o baixista Dani Morris, professor da Berklee College of Music, uma das mais reconhecidas escolas de música dos Estados Unidos. Ele ouvia a versão de “Triste”, de Tom Jobim, uma das faixas do décimo quarto disco solo de Celso Pixinga, Bossa Jazz. No disco, Pixinga toca baixo elétrico, vertical e midi. Sua marca é notada na construção de suas levadas, sempre com muito swing, idéias de frases e contrapontos interessantes e bem elaborados. Distante do taca-tica-tum que marca a maioria das regravações desses temas, em Bossa Jazz é possível ouvir um poderoso groove de funk pulsando junto com a bateria e inesperadas harmonias, além de improvisos que fluem cheios de

virtuosismo, criatividade, refinamento e sabor de liberdade. Sem sombra de barreiras de linguagem, estilo, técnica ou qualquer bobagem inventada para sufocar a musicalidade. O clássico “Wave”, é um exemplo de entrosamento e funcionamento baixo-bateria em uma banda, gerando o terreno perfeito para o ótimo solo de Fabio Santini ao violão. Em “Triste”, o solo de baixo não tirou à toa o fôlego de Dani Morris. É realmente fantástico, e vem seguido por um não menos “mortal” Wagner Barbosa, com um improviso de sax alto, muito técnico e virtuoso. Pixinga ainda mostra sua intimidade com o jazz em um walking-bass e um belo improviso de baixo acústico em “It Had to Be You”. Fato Consumado! Bossa Jazz é um álbum excelente. Também é Fato Consumado, de Djavan, a música que fecha o disco, com a técnica de slap, marca da carreira de Pixinga. (NN)

ProcESSador dE EFEItoS BoSS Gt-10B

rItmoS BraSILEIroS Marco Pereira Este é um livro de música com uma abordagem dos ritmos brasileiros, trazendo uma breve descrição de suas origens, além das características técnicas e culturais. Apesar de ser um livro para violonistas, é bastante útil, também, para baixistas. São 70 exemplos de vários ritmos brasileiros, escritos em forma de partitura, e exemplificados no CD anexo. Linhas de baixo são sugeridas na própria levada do violão, em alguns exemplos que servem como referência rítmica. Em outros exemplos, cabe ao baixista criar células a partir da rítmica do violão. Muitos destes são ritmos que não possuem baixo na execução original, como cateretê, capoeira, maculelê e boi-do-Maranhão. Para os baixistas mais experientes, e também para os arranjadores, é uma ótima referência para variações de levadas, que podem ser adaptadas ao contrabaixo ou a outros instrumentos, compondo a seção rítmica de uma música. (HAMILTON PINHEIRO) encontre esse produto na Free note: www.freenote.com.br - tel.: (11) 3085-4690

Os baixistas também podem desfrutar dos timbres matadores da superpedaleira BOSS GT-10, mas com recursos e efeitos projetados exclusivamente para eles. O novo processador customizado da BOSS e a tecnologia COSM de simulação estão integrados à GT-10B, perfeita para os amantes dos registros mais graves. Recursos supermodernos, como LOOP de áudio, porta USB e saída balanceada XLR, estão alinhados com a função EZ Tone, que permite a criação de timbres profissionais em questão de segundos. E tudo isso montado em um “pacote” de metal tão resistente quanto um tanque de guerra. Efeitos como compressor/limiter, oitavador/synth, overdrive/distorção, equalizador e chorus, entre outros, e simulação de amplificadores e gabinetes externos, garantem timbres topo de linha sem sacrificar a riqueza do instrumento do músico. Mais informações: www.bossbrasil.com.br - tel.: (11) 3087-7700

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AMPLIFICADOR PORTÁTIL MICRO CUBE BASS RX A Roland acaba de lançar a versão para contrabaixistas do renomado Micro Cube RX, amplificador portátil com timbres de qualidade, que oferece, além de muito volume, efeitos BOSS e levadas de bateria. O cubo possui dois pré-amplificadores estéreos e quatro alto-falantes de 10 cm de altíssimo rendimento, afora oito simulações de amplis, seis efeitos profissionais e afinador embutido. Para proporcionar ainda mais flexibilidade, o equipamento oferece entrada auxiliar, para iPods ou CD players, e saída, para linha ou fones de ouvido, ideal para gravações realizadas diretamente na mesa de som. Compacto e fácil de carregar, o amplificador com 5 Watts de potência pode ser utilizado com uma correia para guitarra, também funcionando à pilha, permitindo até 13 horas de duração em uso contínuo. Roland Brasil: www.roland.com.br Tel.: (11) 3087-7700

Encordoamento GK Uma corda produzida na Argentina e elaborada com os materiais usados nas melhores cordas do mundo. Tem ótima durabilidade e mantém a qualidade por mais tempo, além da vantagem de ter um valor baixo. Nesse caso é uma ótima opção custo beneficio. Encontre esse produto na Bass Center www.basscenter.com.br - Tel.: (11) 3063-5725

DOIS MUNDOS Scott Feiner & Pandeiro Jazz Os dois mundos de um americano que toca pandeiro no país do samba, colocando o instrumento no jazz, deram nome ao mais novo disco de Scott Feiner & Pandeiro Jazz. Trata-se de um CD de jazz, com a formação “quase” tradicional do gênero: baixo acústico(Alberto Continentino), trompete(Jessé Sadoc), piano(David Feldman), saxofone(Marcelo Martins) e pandeiro tocado por Scott Feiner. O resultado é um som prazeroso aos ouvidos, e ainda com sotaque brasileiro! Destaque para o baixista Alberto Continentino. Encontramos dois solos notáveis nas faixas “Retrato em Branco e Preto” e “All of You”. Sentimos, ainda, em todo trabalho, seu feeling perfeito e sua forma de exprimir-se através do instrumento, como o groove na faixa “Dois Mundos”. Vale ainda destacar a forma que o baixista trata uma música trabalhosa, como “7 na Ciranda”, que tem partes em 7/8, 6/8 e 5/8. Uma mistura que deu muito certo! (km) out/nov 2008

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Preciosidade

Brasil

Montreaux Jazz Festival (1982) Elis Regina Luizão Maia elegeu, dentre todas as formações que tocou na MPB, a que se apresentou ao lado da cantora Elis Regina no Festival de Jazz de Montreux em 1979 como “a ideal”: César Camargo Mariano, piano, Hélio Delmiro, guitarra, Paulo Braga, bateria e Chico Batera, percussão. Esta apresentação gerou um disco essencial na coleção de todo baixista do mundo: Elis em Montreux Jazz Festival, que só foi lançado em 1982, ano da morte da cantora. No repertório, sambas inesquecíveis e clássicos da “bossa nova” como “Corcovado” e “Garota de Ipanema”, o baião “Asa Branca”, musicas memoráveis como “Madalena”, “Águas de Março”, “Amor até o fim”, entre outras. Tudo isso com o baixo de Luizão Maia, fazendo com todo swing, arte e intensidade, a cama onde se deitam e rolam as grandes harmonias de César Camargo Mariano, banda e a voz que carrega primazia, técnica e emoção de Elis! Destaque para a música “Cobra Criada”, um marco histórico no avanço técnico do baixo na música brasileira. Este é puramente um Brasil bem representado! Orgulho total! Algo que escutamos e pensamos: esta é realmente a melhor música do mundo... e é nossa! (KM) revistabaixobrasil.com.br 35

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(•••• armazém) www.leftybass.com

Baixo SX Shelther Com opção de melhor custo beneficio, o SX Shelther é um baixo que reproduz alguns modelos jazz bass de porte. Seu acabamento é muito bom e as madeiras usadas em sua fabricação são de ótima qualidade (corpo, ash e braço, maple). É indicado por profissionais aos seus alunos, por se tratar de um instrumento intermediário e com um custo acessível aos baixistas iniciantes que sonham com seus Jazz Bass vintage. Vale a pena ressaltar que por se tratar de um captador de cerâmica, e com magneto de ferrite seu timbre não é como de um alnico que capta com mais qualidade. (Alnico=alumínio,cobre e cobalto). O entrastamento é bom, porém, alguns ajustes podem somar ao seu rendimento. (Luciano Caetano Sendenari) Encontre esse produto na Bass Center

A Arni’s Lefthand Bassplayer Community (www. leftybass.com) é um espaço criado pelo baixista alemão Volkmar Arnecke, que reúne informações sobre baixos e baixistas canhotos do mundo inteiro. Em sua coleção pessoal, estão os modelos: Rickenbacker originais e cópias, Alembics, Hofners, Fender, MusicMan e outros. Na seção LH Basses estão baixos produzidos por variadas marcas e luthiers. Na seção LH Bassists é possível conhecer mais sobre o trabalho de mais de 500 baixistas dos cinco continentes, entre eles, seis brasileiros. Arni sempre busca novas “biografias” de baixistas canhotos. Então, se você é baixista e canhoto, envie uma foto, setup e biografia em inglês, para o email: ArniBi@gmx.net. Nas seções Secondhand são anunciados baixos canhotos à venda, e Links, nos quais constam lojas e luthiers. Do Brasil, marcam presença construtores como Igor Porto, D’Alegria, Andréllis Guitarras, Ladessa, Tiguez, Lancer (do luthier Doni), N.Zaganin, entre outros. (William Parron)

www.basscenter.com.br - Tel.: (11) 3063-5725.

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(•••• rock)

 Por Ronaldo Lobo

Fritação V

amos inaugurar essa coluna com técnicas de velocidade no rock. A fritação que nos referimos aqui nada mais é do que o virtuosismo que alguns músicos tentam buscar e muitos conseguem atingir no Hard Rock, Rock Progressivo e no Hevy Metal. Para alcançar esse objetivo são necessárias muitas horas de estudo, dedicação e disciplina. Por volta dos anos 70 surgiram bandas como Emerson, Lake and Palmer, Yes e Rush, que chamaram nossa atenção pela complexidade de suas composições, principalmente para os baixistas que se destacaram com ritmos quebrados, mudanças de compassos e andamentos numa mesma música, contrapontos e dobras com guitarras e teclados. Mas o que queremos ressaltar são as “técnicas de velocidade“ e os “fraseados”, que quando não são dobras com guitarra ou teclados, são contrapontos, ou são parte do próprio groove ou solos. Uma observação importante é que, para técnicas de velocidade, o cotovelo do braço direito deve ficar para cima. Isso deixará os tendões mais livres e aumentará a velocidade.

Exercício 1

Começamos com exercícios de coordenação que chamamos de digitações, esse exercícios são importantíssimos para atingirmos nossos objetivos. Façam cada digitação dessas no braço todo. Obs.: Esses números são os dedos da mão esquerda e não as casas, você irá usar um dedo para cada casa (dedo correspondente). Quanto a mão direita, você pode usar tanto a técnica de dois dedos como a de três. Inicie em 60 bpm tocando uma nota por tempo ( ), depois duas ( ) e por último quatro ( ). (em um compasso quatro por quatro). Dedos mão esquerda: 1 – indicador 2 – médio 3 – anelar 4 - mínimo

1234 1243 1324 1342 1423 1432

2134 2143 2314 2341 2413 2431

3124 3142 3214 3241 3412 3421

4123 4132 4213 4231 4312 4321

Exercício 2

Nesse exercício trabalharemos a coordenação motora entre mão direita e esquerda, e a divisão rítmica, já aplicadas na escala Maior (modo jônio).

Ronaldo Lobo é autor do DVD Contrabaixo na Linha de Frente e do método Toque de Mestre – Fundamentos, leciona no IB&T e na rede municipal de Barueri. ronaldolobo@superig.com.br

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(•••• didática)

Velocidade, técnica

e sonoridade “Estudo técnica por horas a fio para tocar

rápido, mas quando toco o mesmo lick do meu

baixista favorito, a sonoridade não é igual.

Por que o som dele é mais bonito?”

M

 Por Ney Neto e fizeram esta pergunta após um

workshop, imprimi essa frase e colei no monitor do meu computador: “Por que o som dele é mais bonito?”. Com essa questão em mente, comecei a tirar licks de solos de vários baixistas. Depois de assimilar bem as frases, toquei na mesma velocidade, mas sem acentuar nenhuma nota, com uma intensidade linear na mão direita. Por incrível que pareça, muitas frases geniais ficaram sem graça quando foram tocadas dessa maneira. Ou seja, velocidade não é tudo! Ao estudar técnica, é preciso uma preocupação com a clareza do som, com a intenção da frase e com a sonoridade obtida. Por isso a importância de direcionar o estudo para melhorar a velocidade das frases, mas sem deixar de lado a busca pela própria sonoridade. Claro que unir boa técnica e uma sonoridade expressiva, ao tocar fará com que o seu som seja mais bonito, mas é importante lembrar que os grandes mestres do contrabaixo têm ainda um cuidado especial na escolha de seus instrumentos, cordas, cabos e equipamentos. Mas o foco nessa matéria é fazer com que você tire um som legal do equipamento que você já tem! Pensando nisso, estou trazendo nessa matéria um método de estudo da Berklee College of Music, conceituada escola de música situada em Boston (Estados Unidos). Um professor chamado Jim Stinnet foi quem me chamou atenção para a questão de buscar sonoridade enquanto se estuda técnica, e não apenas velocidade. Um dia, Jim entrou em uma classe onde todos estavam tocando o mesmo exercício de forma bem rápida e disse: “Isso não é música! Vocês estão parecendo robôs. E robôs, meus amigos, não têm musicalidade“. A partir desse episódio, procuro estudar técnica e

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desenvolver a velocidade e clareza das notas de maneira muito mais objetiva. O som é tudo! Então, as frases deixam de ser uma seqüência de notas, passando a ter intenção, sonoridade e objetivo. Mesmo uma simples escala de Dó tocada em semicolcheias, deve soar como música, e não como exercício. Se você tem acesso à internet, acesse a página www. revistabaixobrasil.com.br/neyneto e assista ao vídeo 1, que demonstra exemplos de frases rápidas, mas sem boa sonoridade. Essa é a resposta para a pergunta que me fizeram naquele workshop: Virtuosismo sim, mas nunca antes da musicalidade! Os mestres como Celso Pixinga, Arthur Maia, John Patitucci, Richard Bona, e outros grandes baixistas, têm musicalidade saindo pelos poros. Quando fazem um solo, não é apenas velocidade: é uma união de musicalidade + técnica + clareza + intenção + bons equipamentos. Por isso, um solo de um desses mestres nunca será apenas uma seqüência de notas super-rápidas. Nosso Objetivo: Estudar técnica com musicalidade.

Primeiramente, vamos relembrar a escala básica que utilizaremos em nosso estudo: a escala maior. Nesse caso, utilizaremos a tonalidade de Dó como exemplo. Escala de Dó Maior (movimento ascendente e descendente)

Veja a digitação dessa escala no vídeo 2 – Acesse www.revistabaixobrasil.com.br/neyneto

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Para esse método de estudo, utilizaremos o shape da escala maior, conforme exemplo acima, mas será fundamental que você conheça o Ciclo das Quartas, pois nossas progressões serão feitas sempre sobre o Ciclo das Quartas, partindo da tonalidade de Dó. Sempre começaremos nosso exercício partindo de Dó, depois faremos o mesmo lick no quarto grau, ou seja, Fá, depois Si bemol, Mi bemol, e assim por diante. Para lembrar o ciclo das quartas, aqui está um gráfico I C F Bb Eb Ab Db Gb B E A D G

IV F Bb Eb Ab Db Gb B E A D G C

No quadro ao lado você encontra o Ciclo das Quartas, escrito progressivamente e partindo de nossa tonalidade de saída: Dó. Resumindo, podemos escrever o Ciclo das Quartas da seguinte maneira: DO | FA | SI b | MI b | LA b | RE b | SOL b | Si | MI | LA | RE | SOL |

Agora vamos unir as duas partes do estudo: 1 - O shape da escala maior; 2- O Ciclo das Quartas. Como já foi dito, a “harmonia” básica para nosso estudo será o ciclo das quartas, considerando dois compassos em cada tonalidade. Todo exercício proposto a seguir deverá iniciar em Dó e se repetir até o Sol, mantendo o shape e transpondo a nota de partida, passando por todo o ciclo das quartas.

Você encontrará o play-along em 120 bpm e 140 bpm Toque os exercícios a seguir ouvindo o playback, ou então utilizando um metrônomo. Exercício 1: Dó Maior - semínima

Prossiga tocando esse exercício iniciando em F, Bb, Eb, Ab, Db, Gb, B, E, A, D, G Exercício 2: Dó Maior - colcheias

Prossiga tocando esse exercício iniciando em F, Bb, Eb, Ab, Db, Gb, B, E, A, D, G Exercício 3: Dó Maior – semicolcheias

Prossiga tocando esse exercício iniciando em F, Bb, Eb, Ab, Db, Gb, B, E, A, D, G Assista a este exercício inteiro no vídeo 3 – Acesse www.revistabaixobrasil.com.br/neyneto Exercício 4: Dó Maior – tétrade

As idéias de exercícios serão passadas sempre em Dó, utilizando dois compassos. Para fazer o ciclo todo, basta você ir mudando a nota de partida, tocando o mesmo lick. Baixe o mp3 com essa base harmônica do ciclo das quartas maior. Acesse www.revistabaixobrasil. com.br/neyneto.

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Prossiga tocando esse exercício iniciando em F, Bb, Eb, Ab, Db, Gb, B, E, A, D, G

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(•••• didática) Exercício 5: Dó Maior colcheias descendentes

Prossiga tocando esse exercício iniciando em F, Bb, Eb, Ab, Db, Gb, B, E, A, D, G

em algumas frases rápidas, que muitas vezes ocorrem por falta de força, principalmente no dedo 3 da mão esquerda. Além disso, praticar esses padrões utilizando o Ciclo das Quartas te dará um bom reconhecimento visual da escala maior ao longo do braço, o que chamamos de fingerboard knowledge. Haverá uma melhora significativa na velocidade e limpeza de sua técnica de mão direita, utilizando o pizzicato. Não perca o foco!

Assista ao exemplo dos 5 exercícios, no vídeo 4 – Acesse www.revistabaixobrasil.com.br/neyneto Resultados esperados

Esses exercícios te ajudarão a tocar bem mais rápido, sem dúvida, pois aumentam a velocidade de resposta dos dedos aos comandos que partem do cérebro. É como se fosse uma re-educação de seus dedos, que vão ganhar resistência e agilidade. As articulações ficarão mais fortes, evitando as “traves”

Para encerrar essa matéria, quero lembrar nosso objetivo: Estudar técnica com musicalidade. Ao estudar, mantenha em mente que o mais importante é o som, que deve ser limpo, definido e bonito. Procure encontrar seu melhor som de pizzicato e crie uma personalidade sonora própria, mas nunca esqueça o principal: Seja Musical! Continue essa aula online, estudando exercícios como esses na escala menor e dominante. Acesse www.revista:|| baixobrasil.com.br/neyneto. Um abraço a todos.

Ney Neto estudou baixo acústico no Conservatório Souza Lima e baixo elétrico no IBT e na Berklee College of Music. Tem diversos trabalhos gravados como músico e produtor e atualmente viaja pelo Brasil apresentando seu trabalho solo, que une jazz e funk com elementos da música brasileira. www.myspace.com/neynetobass

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Paca tatu, cotia não O solo de Nico Assumpção em “Paca tatu, cotia não” é mais um exemplo de sua maestria. Cada seção é perfeitamente elaborada e com idéias distintas. A música foi composta em Cm onde Nico optou por usar basicamente as notas da escala e aproximações cromáticas. Destaca-se nos compassos 5 e 6 um grupo de tercinas, que enfatizam a nota F, que é 9ªM de Eb, 9ªaum de D e 7ªm de G. A segunda parte A, começa com o desenvolvimento da idéia inicial de arpejos e notas da escala. A frase em sextinas quebra o ritmo exposto e prepara para a parte B da música. Neste trecho nota-se o uso de arpejos e cromatismos, destacando a repetição em oitavas diferentes da mesma idéia. A parte B é construída em cima do IV grau e destaca o uso de arpejos diferentes sobrepostos ao acorde. Nos compassos 17 e 18 aparecem respectivamente Eb, Fm7, Gm7 e Ab7M. Além de ser um recurso extremamente melódico enfatiza as diferentes tensões da harmonia. A partir do compasso 23 o maior uso de notas fora da escala dão uma nova sonoridade ao improviso. Caracterizado pelo uso de aproximações cromáticas e alterações, é um recurso explorado pelos jazzistas por causa da surpresa que causa aos ouvidos. Para finalizar o improviso nota-se o interessante uso de um “freio” rítmico. Notas em semicolcheias, passando para tercinas e chegando em colcheias, dando fechamento ao solo. CD Três Ano 2000 Artista Nico Assumpção, Lincoln Cheib e Nelson Faria Autor Nico Assumpção Transcrito por Hamilton Pinheiro

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Fora da Lei

Melancia

Como excelente músico e pesquisador que é, Ed Motta mostra na harmonia de “Fora da Lei” o bom gosto para escolher acordes e encadeamentos. O centro tonal de “ Fora da lei “ é Sol maior (G 7+), como a linha de baixo desta música é relativamente simples, vou enfatizar a harmonia que é bem trabalhada. Reparem que na parte “A” é tocado G7+ e em seguida G/F (Sol com baixo em Fá) voltando depois para Sol. Este G/F e um acorde dominante (G7) ou seja um V grau, tencionando para Cm (Dó menor) que é o IV grau do tom central, criando um efeito interessante pois não resolve em Dó, volta para Sol. Na mesma parte “A” temos um Db7 que é um sub V ( substituto do V grau), que está funcionando ai como um acorde de passagem para o C7+ (IV7+, lídio) É importante quando nós baixistas tocamos uma harmonia bem trabalhada, aproveitar as idéias de encadeamentos e tenções, escolhendo notas interessantes, criando linhas de baixo marcantes e colaborando para o efeito que a harmonia quer dar.

A música “Melancia” de Rique Pantoja é até hoje um dos maiores sucessos do grupo Cama de Gato. Com uma concepção bem moderna, a música começa com uma introdução no ritmo partido alto, com o baixo e o piano dobrando a melodia que irá acontecer três vezes na música. Já nas primeiras notas constatamos que o groove e a precisão na execução, do então jovem baixista Arthur Maia, é impecável e cheia de personalidade, com glissandos, puxadas e vibratos. No tema, marcado pela flauta, com o piano dobrando a melodia em vários momentos, Arthur mostra seu repertório de variações melódicas aplicadas à divisão do samba. Utiliza ainda a substituição da tônica do acorde por outros graus, como no compasso 11 e 13 que se vale da sétima no lugar da tônica, ou mesmo no compasso 22 utilizando a terça, e ainda mais ousado no compasso 14, tocando a segunda maior no lugar da fundamental do acorde. Outro ponto é o uso constante de notas mortas, principalmente a semicolcheia que antecede o segundo tempo de cada compasso. Ao final do tema, pontuando a frase quartal do piano e da flauta, Arthur finaliza a exposição do primeiro chorus da música com slap em oitavas, sobre os dois últimos compassos.

CD Manual Prático Para Festas, Bailes e Afins Ano 1997 Artista Ed Motta Autor Ed Motta/Rita Lee Transcrito por Ronaldo Lobo

CD Cama de Gato Ano 1986 Artista Cama de Gato Autor Rique Pantoja Transcrito por Oswaldo Amorim revistabaixobrasil.com.br 41

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A música perde espaço para o

consumo exibicionista

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Por Célio Ramos  ilustração: Marco Basile

pas, a última palavra em celular, uma TV com tela de LCD, etc. Tudo bem, nada contra o consumo que, no mínimo, serve para está na contra mão de um movimento onde amenizar as ansiedades ou o desejo de afirmação pessoal, mas a arte é coisa secundária. Observe que, cada acontece que o orçamento da maioria das famílias de classe vez mais os meios de comunicação criam média não comporta tudo isso. Não comporta inclusive, pagar um consciente coletivo que padroniza o aulas de música aos filhos. comportamento e até as emoções humanas. Freqüentar academia, comprar um novo celular, ou estuA globalização faz extrapolar os hábitos de dar piano? Advinha qual a prioridade? Sem querer depreciar, consumo. Com as modificações sociais e ecode modo algum, a importância das conquistas tecnológicas, nômicas advindas dessa globalização, acentuo processo precisa ser repensado. O problema deste munam-se as necessidades criadas que, através dos do contemporâneo não é a evolução meios de comunicação, seduzem as material, mas a involução cultural. No pessoas a novos hábitos e induzem Um olhar sobre bojo desta involução está, entre outras a um consumo exibicionista, consa valorização do coisas, a decadência das artes. Afinal, pícuo e às vezes tolo. quem duvida que nossos programas de Não é difícil compreender, por consumo banal televisão e novelas, não eram mais inteexemplo, porque certas mulheres em contraposição ligentes no passado? têm dezenas de pares de sapato, à música e à arte Ou que a música popular contemporâou porque alguns compram relónea não esbarra no grosseiro? Lembro-me gios de milhares de dólares: o glaque uma crônica, falsamente atribuída a Luis Fernando Veríssimo, mour, ou a posse exibicionista existe desde o com o título “Diga não às drogas” falava de um texto em que o início dos tempos. Mas o que era privilégio autor, com humor, se confessava usuário de drogas, mas não era das cortes e monarquias européias e dos farade substâncias psico-ativas que ele se referia: ele confessava ter ós contamina agora a classe média. Com isso, ganho um CD de uma dupla sertaneja, gostou e quando perceas atividades construtivas, como as artes e a beu, estava numa loja comprando CD de pagode. Em seu estágio música, têm sido deixadas de lado. mais avançado, já estava consumindo o “Bonde do Tigrão”. Mas A prioridade é o culto ao corpo nas acaele agora está em tratamento para reverter o quadro e precisa de demias, ou a compra de cosméticos e roudoses maciças de música clássica e jazz. Procure reparar que, à medida que a tecnologia progride, parece estar comprometendo a evolução das artes. O computador, por exemplo, é uma máquina abstrata e, quando a arte começou a se utilizar dele, afastou-se da esfera dos sentimentos. O computador é uma ferramenta que ajuda a produzir músicas e artes visuais, mas tudo que produz parece frio e pasteurizado. O computador parece de fato, uma ferramenta ideal para a evolução dessa tendência de encarar a arte como se fosse ciência. O pior de tudo é que a música e a cultura em geral não são responsáveis por esse comprometimento da renda das pessoas. Na verdade, elas estão comprometidas com um tipo de consumo que promove a involução cultural. A grande pergunta que fica no ar é se realmente as pessoas querem a evolução ou preferem manter-se no nível da estagnação (ou até mesmo do retrocesso). Se você decidiu dedicar-se à música, parabéns. Está na contramão dessa tendência infernal. Se acha que essas afirmativas são exageradas, experimente sintonizar qualquer uma das 58 emissoras de rádio que cobrem a Grande São Paulo ou assista :|| a um desses programas de domingo na TV. e você resolveu se dedicar à música, parabéns:

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