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Editorial
Caros amigos Umas das ferramentas mais surpreendentes inventadas pelo homem foi a internet. Com ela redefinimos as noções de compartilhamento, globalização e comunicação de massa. Agora podemos estar em todos os lugares ao mesmo tempo, dispondo do mesmo espaço que todos dispõe. Viajamos de um lugar para o outro em um único clique do mouse, acessamos informação em qualquer lugar e em qualquer língua, porque também dispomos de ferramentas que traduzem essas informações. Enfim, abraçamos o mundo, especificamente o mundo virtual. E nesse oceano de conteúdo totalmente livre e democrático em que vivemos, nasce a revista Drágeas Literárias, uma publicação dedicada aos amantes de café e literatura, não necessariamente nesta ordem. Queremos dar ao leitor um conteúdo lúdico e de fácil conexão, que traduza a experiência da leitura em algo tão agradável quanto tomar um delicioso café na companhia de amigos. Esperamos atender as expectativas daqueles que procuram algo novo nesse dinâmico mundo das letras. Um grande abraço! Alexandre Costa
Desconexos Literários
Mais uma vez, Alexandre Costa e Roberto Prado, qual um Quixote armados de lanças contra moinhos, lançam mais uma empreitada literária, as Drágeas Literárias, com seus contos, crônicas, poesias, haicais e outras elucubrações... Contamos com a sorte de encontrarmos colaboradores diletantes (ou seja, que não cobram nada, pois nada é tudo que nos propomos a pagar) que venham abrilhantar ainda mais cada edição dessa ditosa Revista. Seguimos com nossos sonhos que a vida teima em transmutar em pesadelos, suores noturnos e ranger de dentes, seguimos em frente mesmo quando os presenteados com nossos trabalhos (não, não declinarei nomes) literários os usam como porta-copos, descanso de pratos, calço de cadeira e mesas bambas.
4 | capa
Café com livro: o casamento perfeito
5 | Você Sabia? curiosidades sobre café
6 | Biografia Murilo Rubião
8 | Entrevista Roberto Prado
10 | Realismo Fantástico Alexandre Costa
14 | Sparce Notes
Rodrigo Lopes: colaborador direto de Londres
16 | Quadrinhos 17 | crônicas do prado
Minha relação com Hemingway
18 | crônicas do prado Minha relação com Hemingway
19 | Degustação Receita de café irlandês
Avante amigos! Roberto Prado
Leia Drágeas Literárias no:
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Drágeas Literárias Uma revista dedicada aos amantes de café e literatura
Leia Drágeas Literárias no seu celular ou tablet DOWNLOAD EM:
ANO I | Nº 000 | 2015 Diretores Alexandre Costa - Diretor de conteúdo Roberto Prado - Diretor Executivo Colaboradores Rodrigo Lopes - Inglaterra Magno Oliveira - Brasil Solange Gomes - Brasil Maryland Faillace - Brasil Design Gráfico | Diagramação Alexandre Costa
As imagens usadas na revista são livres de direitos, salvo as creditadas a seus autores.
Café com livro:
por: RobertoPrado
o casamento perfeito
Um café preto, forte e feito nesse ano! Raymond Chandler –“O Sono Eterno”
Sem grinaldas, sem pétalas de rosas, sem arroz, somente um bom livro e uma xícara de café, eis ai um casamento. Não em uma igreja ou templo, mas em uma mesa, no silencio de uma cafeteria, o aroma do grão torrado invade nossos sentidos e nos vemos completamente embriagados. Folheamos as páginas de um livro e mergulhamos de cabeça na história, é a comunhão perfeita entre o lugar, a bebida e a literatura. E assim, passamos minutos ou horas dedicados somente a nós mesmos, entregues àquela comunhão perfeita. Um paraíso com minutos contatos. Poucos hoje em dia curtem esse prazer, essa autoindulgência. Aquele momento íntimo entre você e você mesmo, aquele momento de reflexão, ou quem sabe, de uma boa conversa com uma boa companhia. Ah! O universo que é uma cafeteria... Escrevo essas linhas à mesa de um café enquanto aguardo minha xícara. Em algumas cafeterias, onde as mesas ficam nas calçadas, temos o privilégio da paquera, em outras, o do anonimato. Há quem até as colecione através de fotos, textos em diários, recortes de revista. Não há nada melhor para o espírito do que a comunhão entre duas paixões. Desde a Absínia (hoje Etiópia) há mil anos atrás, aos dias de hoje, o café tem sido a bebida mais consumida do planeta depois da água. O que me faz pensar: que fariam os sumérios quatro mil anos antes se houvessem experimentado a Coffea arabica? O nome café não é originário da Kaffa, local de origem da planta, e sim da palavra árabe qahwa, que significa vinho. Por esse motivo, o café era conhecido como "vinho da Arábia" quando chegou à Europa no século XIV. E de lá para o resto do mundo. S o b re o l i v ro , t i ve ra m g ra n d e importância para a realização de registros
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históricos, a compilação de leis e a divulgação de ideias. Atualmente, a produção de livros chegou a tal ponto que, por exemplo, o século XX foi responsável por uma literatura histórica superior a de todos os outros séculos somados juntos! Ou seja, duas histórias de sucesso absoluto na evolução da humanidade. Então, não é de se estranhar que este casamento não fosse duradouro, quiçá eterno. Casais podem discutir suas diferenças religiosas, filosóficas, ideológicas; suas escolhas e orientações, e até se continuarão a viver juntos com isso, mas não há como discutir a perfeita união entre café e livro. E eu posso prometer a você que ela será duradoura, eterna enquanto durar e que só lhe trará benefícios. Imagine-se agora sentado à mesa de sua cafeteria favorita. Ao lado de sua xícara, aberto na página trinta e dois, o personagem abre a porta do vagão principal do expresso do Imalaia e vê sua amada pela primeira vez, ao mesmo tempo em que o aroma do café atinge seus sentidos. Então para sempre, aquela página estará gravada em sua memória. Todas as vezes em que sentir aquele aroma, se lembrará de cada detalhe da história, cada frase, e se sentirá mais uma vez dentro do livro. Não há sensação mais recompensadora. Mas se você ainda não se entregou a esta paixão, não perca mais tempo. Existem milhares de centenas de cafeterias neste mundo que proporcionarão a você uma experiência única e inigualável.
1. A palavra “café” vem do árabe “qahwah”, que está relacionada com a palavra vinho 2. Em todo o mundo são consumidas mais de 500 bilhões de xícaras de café por ano 3. O café pode diminuir o declínio cognitivo e ainda doenças neurodegenerativas 4. Produzido nas ilhas de Sumatra, Bali e Java, o quilo do Kopi Luwak custa, em média, US$ 500 (R$ 1.000), fazendo dele o café mais caro do mundo
imagens desta página: freepik.com
5. Homens que bebem seis ou mais xícaras de café diárias, diminuem o risco de desenvolver câncer da próstata em 20%
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biografia
Murilo Rubião
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Murilo Rubião nasceu na cidade de Silvestre Ferraz, hoje chamada de Carmo de Minas, em 1º de junho de 1916. Era filho de escritores. A família mudou-se para Belo Horizonte quando ele tinha sete anos. Foi lá que ele viveu até o final de sua vida, retirando-se para viver em Madri como adido junto à Embaixada do Brasil na Espanha por quatro anos. Foi jornalista, chefe de gabinete do governador Juscelino Kubitschek e fundador, em 1966, do Suplemento Literário do Minas Gerais. Sua carreira do escritor inicia-se com a publicação de seus poemas. Ele mesmo reconheceu que não era um bom poeta e desiste do gênero. Então em 1947, lançou seu primeiro livro de contos, "O ex-mágico", que não teve maior repercussão na época. No entanto, a publicação de "O pirotécnico Zacarias", em 1974, deu súbita fama a Murilo Rubião. Nos anos seguintes, sua obra passou a ser vista como a mais significativa manifestação da literatura fantástica no Brasil. Murilo Rubião influenciou diversos autores brasileiros, dentre eles, José J. Veiga e Moacyr Scliar.
a armadilha Alexandre Saldanha Ribeiro. Desprezou o elevador e seguiu pela escada, apesar da volumosa mala que carregava e do número de andares a serem vencidos. Dez. Não demonstrava pressa, porém o seu rosto denunciava a segurança de uma resolução irrevogável. Já no décimo pavimento, meteu-se por um longo corredor, onde a poeira e detritos emprestavam desagradável aspecto aos ladrilhos. Todas as salas encontravam-se fechadas e delas não escapava qualquer ruído que indicasse presença humana. Parou diante do último escritório e perdeu algum tempo lendo uma frase, escrita a lápis, na parede. Em seguida passou a mala para a mão esquerda e com a direita experimentou a maçaneta, que custou a girar, como se há muito não fosse utilizada. Mesmo assim não conseguiu franquear a porta, cujo madeiramento empenara. Teve que usar o ombro para forçá-la. E o fez com tamanha violência que ela veio abaixo ruidosamente. Não se impressionou. Estava muito seguro de si para dar importância ao barulho que antecedera a sua entrada numa saleta escura, recendendo a mofo. Percorreu com os olhos os móveis, as paredes. Contrariado, deixou escapar uma praga. Quis voltar ao corredor, a fim de recomeçar a busca, quando deu com um biombo. Afastou-o para o lado e encontrou uma porta semicerrada. Empurrou-a. Ia colocar a mala no chão, mas um terror súbito imobilizou-o: sentado diante de uma mesa empoeirada, um homem de cabelos grisalhos, semblante sereno, apontava-lhe um revólver. Conservando a arma na direção do intruso, ordenou-lhe que não se afastasse. Também a Alexandre não interessava fugir, porque jamais perderia a oportunidade daquele encontro. A sensação de medo fora passageira e logo substituída por outra mais intensa, ao fitar os olhos do velho. Deles emergia uma penosa tonalidade azul. Naquela sala tudo respirava bolor, denotava extremo desmazelo, inclusive as esgarçadas roupas do seu solitário ocupante: — Estava à sua espera — disse, com uma voz macia. Alexandre não deu mostras de ter ouvido, fascinado com o olhar do seu interlocutor. Lembrava-lhe a viagem que fizera pelo mar, algumas palavras duras, num vão de escada. O outro teve que insistir: — Afinal, você veio. Subtraído bruscamente às recordações, ele fez um esforço violento para não demonstrar espanto: — Ah, esperava-me? — Não aguardou resposta e prosseguiu exaltado, como se de repente viesse à tona uma irritação antiga: — Impossível! Nunca você poderia calcular que eu chegaria hoje, se acabo de desembarcar e ninguém está informado da minha presença na cidade! Você é um farsante, mau farsante. Certamente aplicou sua velha técnica e pôs espias no meu encalço. De outro modo seria difícil descobrir, pois vivo viajando, mudando de lugar e nome. — Não sabia das suas viagens nem dos seus disfarces. — Então, como fez para adivinhar a data da minha chegada? — Nada adivinhei. Apenas esperava a sua vinda. Há dois anos, nesta cadeira, na mesma posição em que me encontro, aguardava-o certo de que você viria. Por instantes, calaram-se. Preparavam-se para golpes mais fundos ou para desvendar o jogo em que se empenhavam. Alexandre pensou em tomar a iniciativa do ataque, convencido de que somente assim poderia desfazer a placidez
do adversário. Este, entretanto, percebeu-lhe a intenção e antecipou-se: — Antes que me dirija outras perguntas — e sei que tem muitas a fazer-me — quero saber o que aconteceu com Ema. — Nada — respondeu, procurando dar à voz um tom despreocupado. — Nada? Alexandre percebeu a ironia e seus olhos encheram-se de ódio e humilhação. Tentou revidar com um palavrão. Todavia, a firmeza e a tranqüilidade que iam no rosto do outro venceram-no. — Abandonou-me — deixou escapar, constrangido pela vergonha. E numa tentativa inútil de demonstrar um resto de altivez, acrescentou: — Disso você não sabia! Um leve clarão passou pelo olhar do homem idoso: — Calculava, porém desejava ter certeza. Começava a escurecer. Um silêncio pesado separava-os e ambos volveram para certas reminiscências que, mesmo contra a vontade deles, sempre os ligariam. O velho guardou a arma. Dos seus lábios desaparecera o sorriso irônico que conservara durante todo o diálogo. Acendeu um cigarro e pensou em formular uma pergunta que, depois, ele julgaria, desnecessária. Alexandre impediu que a fizesse. Gesticulando, nervoso, aproximara-se da mesa: — Seu caduco, não tem medo que eu aproveite a ocasião para matá-lo. Quero ver sua coragem, agora, sem o revólver. — Não, além de desarmado, você não veio aqui para matar-me. — O que está esperando, então?! — gritou Alexandre. — Mate-me logo! — Não posso. — Não pode ou não quer? — Estou impedido de fazê-lo. Para evitar essa tentação, após tão longa espera, descarreguei toda a carga da arma no teto da sala. Alexandre olhou para cima e viu o forro crivado de balas. Ficou confuso. Aos poucos, refazendo-se da surpresa, abandonou-se ao desespero. Correu para uma das janelas e tentou atirar-se através dela. Não a atravessou. Bateu com a cabeça numa fina malha metálica e caiu desmaiado no chão. Ao levantar-se, viu que o velho acabara de fechar a porta e, por baixo dela, iria jogar a chave. Lançou-se na direção dele, disposto a impedi-lo. Era tarde. O outro já concluíra seu intento e divertia-se com o pânico que se apossara do adversário: — Eu esperava que você tentaria o suicídio e tomei precaução de colocar telas de aço nas janelas. A fúria de Alexandre chegara ao auge: — Arrombarei a porta. Jamais me prenderão aqui! — Inútil. Se tivesse reparado nela, saberia que também é de aço. Troquei a antiga por esta. — Gritarei, berrarei! — Não lhe acudirão. Ninguém mais vem a este prédio. Despedi os empregados, despejei os inquilinos. E concluiu, a voz baixa, como se falasse apenas para si mesmo: — Aqui ficaremos: um ano, dez, cem ou mil anos.
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Roberto Prado Este mês, o entrevistado é Roberto Prado Barbosa Junior, ou simplesmente como é conhecido pelos blogueiros Ranzinza. Ele fala de seu belo trabalho como escritor. Roberto Prado, já publicou dois livros pela CBJE, têm 54 anos, mora na bela cidade de Santos, é funcionário público e formado em Comunicação e Tecnologia. Drágeas Literárias - De onde você é e a quanto tempo escreve?
DL - Quanto tempo demorou para escrever e distribuir o doidinho? RP - O Doidinho começou com o nosso primeiro blog, o Contos & Cultos em 2002 mais ou menos como uma brincadeira, a necessidade de ter sempre um material para postar, e quando dei por mim o livro estava se formando, crescendo, nisso lá se vão mais de dez anos. Sobre a distribuição, não houve, como não houve dos outros. Não tenho conhecimento tampouco cacife para arrumar uma vitrine numa livraria. Diferente dos anteriores resolvi presentear os amigos com o Doidinho. Mas até ai é foda. Difícil presentear as pessoas com livros. Elas não lêem, às pessoas a quem entreguei, só pedi uma coisa em troca, que postassem no facebook uma foto com o livro na mão. Vão ao face e vejam quantas pessoas fizeram isso. Somente duas, uma velha amiga, poeta de mão cheia!, e minha tia. Por isso sempre
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DL - Como você desenvolveu seus personagens? RP - Muitas pessoas me perguntam isso. Resposta? Não tenho a menor ideia. Eles se escrevem praticamente sozinhos. DL - Eles existem na vida real? RP - Espero que não! DL - Você pensa em fazer um novo livro sobre o doidinho? RP - Não. DL - Quais outro livros você já escreveu? RP - Dois de contos. Um chamado Gringa & outras histórias e outro chamado Contos. Participei de uma Antologia pela Editora Pragmata chamado 'Sou Poeta com Orgulho', um outro que era uma crônica de memórias de uma amigo, e junto com o Alexandre Costa, chamado Drágeas Literárias. Eram pequenos contos envelopados para presentear os amigos. Teria sido um bom negócio e feito por uma editora grande. DL - Enfim, quais seus planos para o futuro? RP - Envelhecer um pouco mais, com saúde, dinheiro e um pulmão bom para continuar fumando.
A ENTREVISTA
Roberto Prado - Sou, com muito orgulho, de Santos. Sempre gostei de escrever e, principalmente, de ler. Mas escrever, escrever mesmo, acho que desde meus dezessete anos. Pena ter perdido todo o material daquela época. Tudo “datilografado”, mal datilografado, guardado em pastas organizadas.
me pergunto: Escrever para quê? Se ninguém lê!
O CONTO
O ÚLTIMO CAFÉ DO DIA
Sentando-se à mesa, o velho poeta pede um café e acende um cigarro, folheia erraticamente uma revista, deixando seus olhos correrem por todas as páginas, mas sem nada ler. Seus pensamentos voam longe deixando o corpo sonâmbulo, o café frio, o cigarro queimando e a revista desfolhada e amassada. Ansioso, o garçom olha par o relógio de cinco em cinco minutos esperando a hora em que fechará o café. O chão já esta varrido, os copos e xícaras lavados, o lixo recolhido, no entanto, o velho continua sentado com o olhar perdido, esperando sabe Deus o quê. No céu as primeiras estrelas piscam suas luzes, na rua, os ônibus lotados levam as pessoas de volta para suas casas e, ele continua ali, esperando o sujeito ir embora. - Hoje perco a hora, o ônibus e a minha novela. – resmunga para o velho na mesa ouvir, mas nada acontece, pois o velho agora começa a mexer o café frio com uma colherzinha e acende outro cigarro. O garçom olha para a placa na parede onde se lê “SÓ FECHAMOS QUANDO O ÚLTIMO FREGUÊS SAIR" - O último freguês pagante! – completa rangendo os dentes. O tempo passa e ele varre o chão mais uma vez. Vê que na rua o caminhão do lixo recolhe os sacos e latas deixadas na calçada, nota também que os ônibus agora passam mais vazios e velozes, as ruas esvaziam, mas o velho na mesa quatorze continua sentado.
- Pelo menos agora ele fumou um cigarro inteiro! Fala o garçom para seu reflexo na prateleira do bar. Ele já não tem mais o que fazer. Olha para o relógio, mas não há mais o que limpar, e olha para o relógio de novo, maos não há mais o que arrumar, e olha para o relógio pela milésima vez. Coloca as cadeiras sobre as mesas e põe-se a apagar as luzes – olhando para o relógio - pois assim, quem sabe, o velho se levanta e vai embora. Uma a uma, ele começa a apagar as luzes até que falte apenas a luz sobre a mesa com o velho. Ele exita um pouco antes de se aproximar para pedir para o velho se retirar. Mas encontra apenas um cliente frio, duro e com os dedos médio e indicador queimados pela brasa do cigarro. - Meu São Jorge, mas era só o que me faltava hoje! – grita o garçom jogando a vassoura contra a parede.
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REALISMO FANTÁSTICO O realismo mágico é uma escola literária surgida no início do século XX . Também é conhecida por realismo fantástico ou realismo maravilhoso, sendo este último nome utilizado principalmente em espanhol. É considerada a resposta latino-americana à literatura fantástica européia. Entre seus principais expoentes estão o colombiano Gabriel García Márquez, Premio Nobel de Literatura, o peruano Manuel Scorza em suas cinco novelas onde são descritas as lutas do campesinato dos Andes Centrais e os argentinos Julio Cortázar e Jorge Luis Borges. Muitos consideram o venezuelano Arturo Uslar Pietri o pai do realismo mágico. No Brasil, destacam-se os nomes de Murilo Rubião e José J. Veiga e parte da obra de Dias Gomes. O cubano Alejo Carpentier, no prólogo de seu livro Reino deste mundo, enquadra sua obra no conceito de realismo maravilhoso, definindo este como semelhante ao conceito de realismo mágico característico da obra de Gabriel García Márquez, sem, no entanto, confundir um com o outro. O realismo mágico se desenvolveu fortemente nas décadas de 1960 e 1970, como produto de duas visões que conviviam na América hispânica e também no Brasil: a cultura da tecnologia e a cultura da superstição. Surgiu também como forma de reação, através da palavra, contra os regimes ditatoriais deste período. Este conceito pode ser definido como a preocupação estilística e o interesse em mostrar o irreal ou estranho como algo cotidiano e comum. Não é uma expressão literária mágica: sua finalidade é a de melhor expressar as emoções a partir de, sobretudo, uma atitude específica frente à realidade. Uma das obras mais representativas deste estilo é Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez. Apesar de aparentemente desatento à realidade, o realismo mágico compartilha algumas características com o realismo épico, como a
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intenção de dar verossimilhança interna ao fantástico e ao irreal, diferenciando-se assim da atitude niilista assumida originalmente pelas vanguardas do início do século XX, como o surrealismo. Aspectos destacados do Realismo mágico Os seguintes aspectos estão presentes em muitos romances e contos do realismo mágico, mas não necessariamente estão todos presentes em todas as obras desta escola. Do mesmo modo, obras pertencentes a outras escolas podem apresentar algumas características dentre aquelas aqui listadas: - Conteúdo de elementos mágicos ou fantásticos percebidos como parte da "normalidade" pelos personagens; - Elementos mágicos algumas vezes intuitivos, mas nunca explicados; - Presença do sensorial como parte da percepção da realidade; - Os acontecimentos são reais mas têm uma conotação, pois alguns não têm explicação, ou é muito improvável que aconteçam; - O tempo é percebido como cíclico, como não linear, seguindo tradições dissociadas da racionalidade moderna; - O tempo é distorcido, para que o presente se repita ou se pareça com o passado; - Transformação do comum e do cotidiano em uma vivência que inclui experiências sobrenaturais ou fantásticas; - Preocupação estilística, partícipe de uma visão estética da vida que não exclui a experiência do real. Fonte: Wikipédia
Na página ao lado você pode ler um conto de realismo fantástico de Alexandre Costa.
No tapete vermelho Alexandre Costa
Corbel toma um chá na cafeteria mais famosa da cidade, enquanto Allura acorda entre os braços de Lucida a alguns quilômetros dali. O chá, ralo demais para seu paladar, é deixado de lado, enquanto as meninas dividem o chuveiro. Nem as manhãs para ele, ou a noite para elas, são capazes de evitar a fadiga de mais um dia de trabalho; no entanto é preciso, e se preciso é, preciso será feito, e ambos aceitam resignados seus destinos. Corbel olha no relógio e vê o tempo que ainda pode desperdiçar, Allura sai do banho, enquanto Lucida, quase pronta beija sua boca com paixão. Ele imagina olhando para o movimento na rua, que hoje encontrará alguém para dividir e compartilhar a noite; elas saem apressadas pelas escadarias de olho no tempo que não podem desperdiçar. E se tudo pudesse ser colocado em um livro, com certeza os três ficariam excitados com a possibilidade de um encontro assim; e essa possibilidade toma forma devagar e sorrateiramente, enquanto Corbel decide ficar ali na cafeteria até que o destino mostre sua cara. A quilômetros dali, Lucida e Allura esperam o mesmo para ambas, e decidem encarar o dia como se o destino tivesse enviado a mesma mensagem para as duas. E não há dor, nem há razão, nem há motivo ou circunstância que desvie o efeito da causa, ou do que está por vir. E assim acontece que tudo está marcado desde sempre para se realizar. Corbel espalha o olhar pela calçada, alcançando o máximo possível de tudo e todos ao seu redor. Lucida aponta para a cafeteria e senta-se a mesa com Allura. No cardápio, o capuccino chama atenção pelo preço e ambas decidem pelo mesmo, mostrando um sorriso cúmplice. Na mesa da frente, Corbel deixa escapar um sorriso malicioso e discreto ao mesmo tempo. Nos planos do destino, os três só sairiam dali com a lua em suas cabeças e o desejo em seus corpos. O dia estava perdido, e estava ganho também. E foi numa bobagem dita por alguém na mesa, que se juntaram de vez.
E se essa história não estivesse num livro, onde estaria? Se não estivesse nos três onde estaria? Se não fosse tão banal e corriqueira, o que seria? E feito óculos de sol, onde se vê sem ser visto, o destino levou os três dali sem ao menos perguntar se queriam sua companhia. Nenhuma palavra foi dita no caminho nem no tempo, nenhuma pergunta foi feita, pois nenhuma resposta seria necessária. Ao entrarem no apartamento, Corbel tirou os sapatos e pisou no tapete vermelho da sala. Lucida tirou a roupa enquanto Allura fechava a porta. Lucida puxou-o com força de encontro a sua boca e Allura arrancou sua camisa. Corbel fechou os olhos e deitou-se no sofá. Lucida sentou-se em seu colo e Allura foi buscar uma taça de vinho na cozinha. E os três pareciam apenas um no emaranhado de corpos quentes e suados; e os três pensavam como um entre a loucura e a falta de medo. Corbel entrava e saía de dentro das duas; e os três aos gritos se saciavam um do outro. Os corpos espalhados pelo tapete vermelho, não indicavam o fim daquela noite, não para as duas mulheres. Corbel sentiu a boca de Lucida em seu pescoço e, enquanto gritava e debatia-se tentando em vão escapar das suas garras, sentiu seus dentes afiados atingirem seu pescoço. Allura segurou a cabeça de Corbel apoiada em suas coxas e encheu a taça de vinho com seu sangue. Para sempre jovem, para sempre as duas, para sempre o eterno destino que une a presa e o predador. A taça de sangue estava cheia, o corpo no tapete vermelho, vazio. Nem todas as noites são assim, às vezes só o sono mata a fome.
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SEU AMIGO NOS DIAS DE SOL A COLOR & FASHION AJUDA VOCÊ A CRIAR SEU ESTILO
Sparce Notes Just a little bit of sunshine Rodrigo Lopes Lead Technical Architect at Transport for London and Internet Entrepreneur Londres | England
It’s quarter to eleven I hear its noise with a smile on my face it might be today São quinze para as onze Eu ouço o seu som com um sorriso em meu rosto talvez seja hoje
Behind that door the dawn of 153 new worlds from red to white light Atrás daquela porta o amanhecer de 153 novos mundos de vermelho à luz branca
ust a little moment of solitude and I was magically whisked away. In the clouds the contour of past lives Só um momento de solidão e como mágica fui transportado. Nas nuvens o contorno de vidas passadas
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A handmadebook fabrica e distribui a sua embalagem e a sua marca
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Quadra colaborativa O PESSIMISTA DE PLANTÃO!
minha vida tá um caos. vou ver o que o google me aconselha!
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TRADUZINDO... DIAS PIORES VIRÃO!!!
TEXTO: ALEXANDRE COSTA
O PESSIMISTA DE PLANTÃO!
JORGE, VIM AQUI LHE DIZER QUE VOU CORTAR GASTOS NA EMPRESA! ISSO É MUITO BOM CHEFE, PRECISAMOS ECONOMIZAR!
O SEU EMPREGO! E O QUE VAMOS CORTAR?
TEXTO: ALEXANDRE COSTA
O PESSIMISTA DE PLANTÃO!
MEU DEUS! ME MATEI DE ESTUDAR PRA ESSE CONCURSO...
ME ACABEI FAZENDO CURSOS PRA CRESCER AQUI... E o tempo de aposentar não chega nunca!
TEXTO: ROBERTO PRADO
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Minha relação com Hemingway As primeiras linhas são as piores, as mais doídas. É nessa primeira linha que os neurônios mostram a que vieram, as sinapses desenferrujam e, para o bem ou para mal, fisga o leitor. Há muito tempo li – e depois disso o releio todos os anos – Paris é uma Festa de Ernest Hemingway, onde ele descreve seus dias de jovem escritor numa Paris que não existe mais. Inverno, duro cinzento e faminto. Mas o que me encantou nesse livro, foi sua descrição do café onde ele se abrigava do frio cortante, com um bloquinho, um lápis e uma fumegante xícara de café. Antes que algum desafeto venha a contrariar esse texto, admito que ele também tomava um conhaque, que acompanha muito bem essa bebida milenar. Apaixonado por esse livro/diário, alguns anos depois fui à França. Era janeiro e inverno, andei pelas ruas onde ele perambulou. La Closerie des Lilas, Café les Deux Magots, Café de Flore, onde tirei uma foto na porta (se acharmos publicamos para ilustrar e mostrar que isso é verdade!). Era muito caro tomar um mísero café ali, e vejam só, quando fui lá a moeda era o humilde e charmoso franco, nada de euro. Café e livros - aqui, para eterno desgosto de nosso Editor, acrescento para meu exclusivo prazer, um cigarrinho. Como a vida com tal companhia pode ser ótima. Então, caro leitor, dedique alguns minutos a você mesmo, pegue um livro, quiçá nossa revista, sente-se à mesa de uma cafeteria, peça um espresso e deixe-se levar. Garanto a vocês que será uma viagem daquelas.
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Roberto Prado Escritor e cronista
Degustação... CAFÉ IRLANDÊS Tempo de Preparo: 10min Ingredientes *3/4 a 1 xícara de chá de café forte preparado *1 cálice de uísque *1 colher de chá de açúcar *1 colher de sopa de creme de chantilly Modo de preparo: 1.Misturar o café, o uísque e o açúcar em uma caneca ou copo 2.Levar ao microondas por 1 a 2 minutos na potência alta, para aquecer 3.Acrescentar o chantilly Recomenda-se a leitura de Ulisses de James Joyce, ou não, pois há nas cafeterias opções de jornais com desgraças diárias, caras sorridentes e outras misérias impressas, mas se o leitor for um sortudo, mesas nas ruas para se fumar um cigarro em paz.