Viana do Castelo

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004 Índice 006 Embarque 008 Prefácio VIANA 016 Foral de Viana do Castelo ORIGEM 026 Origem HISTÓRIA 030 História PATRIMÓNIO 034 Ponte Eiffel, Casa dos Cunhas 036 Igreja da Caridade 038 Estação de Caminhos de Ferro, Casa dos Melo Alvim 040 Casa dos Távoras, Casa dos Alpuins, Casa dos Monfalim 042 Chafariz da Praça e Capela das Malheiras 044 Casa das Varandas, Igreja da Misericórdia 046 Casa da Praça e Capela das Malheiras 048 Igreja Matriz, Casa dos Arcos 050 Museu do Traje, Casa da Vedoria 052 Palacete dos Barbosa Macieis, Convento de S. Domingos e Igreja de Sta Cruz 054 Igreja Nossa Senhora da Agonia 056 Castelo Santiago da Barra, Gil Eannes 058 Funicular, Santuário de Sta Luzia


060 Convento São Francisco do Monte 064 Localização ECONOMIA 068 Viana e o Mar 072 Viana e Outras Actividades 074 Fábrica de Chocolates “Avianense”, Vianagrés, Vi Ana. OURO VIANÊS 078 Ouro 080 Cordão 082 Arrecadas, Argolas Carniceiras, Brincos à Rainha, Colar de Contas, Cruzes 084 Memórias, Laças, Coração ARTESANATO 088 Origem Artesanato 090 Os Bordados, Aventais 092 Trajes à Lavradeira ou de Festa, Palmitos ou Ramo, Chinelos 094 Lenços dos Namorados ou de Amor 096 Pirotécnia, Vela Votiva TRAJES 100 Pequena História 102 Traje de Trabalho ou Caio 104 Traje de Domingar ou Lavradeira, Traje de Meia Senhora ou Morgada 106 Traje de Mordoma ou Morgada, Fato de Noiva ou das “Velhas”


006 108 Traje de Sargaceiro GASTRONOMIA 112 Gastronomia FESTAS TRADICIONAIS 118 Páscoa 120 Consoada, Maios 122 Reis ou “Reises”, Reis Antigos LENDAS, TRADIÇÕES & SUPERSTIÇÕES 126 Lenda do Rio Lima, Lenda de Viana 128 Lenda da Serra D’Arga, Origem da Mulher 130 Tradições 132 Tradições Rurais 134 Desfolhadas, Cultura do Linho 136 Matança do Porco 138 Tradições Religiosas e Crendices FESTAS & ROMARIAS 144 Festas 146 Festa de Nossa Sra das Neves 150 Festa das Rosas 152 Preparação do Cesto 156 Festa da Sra da Agonia 162 São João D’Arga


166 Nossa Sra do Minho, Feiras Novas - Ponte de Lima CANCIONEIRO 170 Cancioneiro Popular REGIONALISMOS 176 Regionalismos 180 Agradecimentos 182 Resumo, Cultura Visual Viana do Castelo - Símbolo de Cultura Visual, O Porquê do Projecto 184 Viana do Castelo - Origem Projecto


008 Embarque Entre sombras misteriosas Em rompendo ao longe estrelas Trocaremos nossas rosas Para depois esquecê-las

Poema de Pedro Homem de Melo, com o título de Embarque, contudo é conhecido por “Havemos de ir a Viana”, fado que Amália Rodrigues, mordoma e madrinha das Festas d’Agonia, tornou famoso, e que hoje é tocado e cantado por todos, durante as festas, e não só.

Se o meu sangue não me engana Como engana a fantasia Havemos de ir a Viana Ó meu amor de algum dia

Diga-se a propósito, que Pedro Homem de Mello, embora não fosse natural de Viana do Castelo, pois nasceu no Porto, tornou-se Vianense ao adoptar o lugar de Cabanas em Afife, como sua terra de adopção. Aí viveu e retratou os costumes e tradições do Minho. Foi talvez o que melhor cantou em verso, a alma boa, simples e alegre das gentes minhotas. Através dos seus poemas, “sentimos”o som, ritmo e cores desta região.

Ó meu amor de algum dia Havemos de ir a Viana Se o meu sangue não me engana Havemos de ir a Viana Partamos de flor ao peito Que o amor é como o vento Quem pára perde-lhe o jeito E morre a todo o momento. Ciganos, verde ciganos Deixai-me com esta crença Os pecados têm vinte anos Os remorsos têm oitenta. Pedro Homem de Melo

Cantou a alegria do vira e de todas as outras danças. Como ele escreveu, nas palavras de abertura de “Folclore” em Cabanas da Editora Mello em 1970: “Tudo aquilo que, até hoje escrevi e mostrei, resultou, apenas, do que sentiram durante meio século os meus olhos, os meus ouvidos, os meus pés (e o mesmo será dizer o meu corpo e a minha alma), de bailador”.



010 PREFÁCIO Viana do Castelo. Fidalga, elegante, colorida! A paisagem vianesa não tem igual. «É a porção de céu e de solo mais vibrantemente viva e alegre, mais luminosa e mais cantante, do nosso país», assim a descreve Ramalho Ortigão no seu romance “As Farpas”. Cidade situada a Noroeste do país, no chamado Alto Minho, capital de distrito, jardim de Portugal, nobre e muito antigo. Terra de pescadores, rica em cultura e tradições, capital do folclore nacional. Tem história e património. É das poucas cidades, que manteve o seu centro histórico preservado, mantendo a sua traça original. Em qualquer rua ou viela, existem casas com história e vestígios de outras eras. Muitos livros, estudos e obras mais ou menos exaustivos têm sido publicados. Uns temáticos, versando o ouro, o traje, as tradições, outros sobre a parte sócio-económica, escritos por outros abalizados para tal. Não sendo inovador, nem original, o tema do meu trabalho, assenta em tudo o que me tem sido contado, com tudo o que tenho visto e sentido, tem contribuído para que eu veja esta cidade e seu distrito de um modo diferente. Pretendo com este projecto dá-la a conhecer como eu a vejo e sinto. Vou assim mostrar os vários aspectos do Alto Minho, especialmente da zona de Viana do Castelo.

Por isso, e sendo daqui naturais a minha Mãe, tias e tios, pedi-lhes a título de prefácio, me «contassem», o seu amor a esta cidade princesa, sempre menina e bonita!


Ao responder ao pedido do André, para relatar o que “sinto” por Viana, é com emoção, alegria e até com alguma surpresa que o faço. Vejo, que consegui com bom resultado, incutir-lhe o amor e carinho que tenho por ela, sendo ele um “bichinho” da cidade grande! Quanto a mim é recuar no tempo, às minhas raízes e lembranças, aos aromas e vivências da minha infância e juventude. Os «alfacinhas» que me perdoem, sendo a minha Mãe de Lisboa, mas é mais forte a minha ligação a Viana, já que lá passei a minha infância e adolescência, saindo fisicamente de lá quando vim estudar para Lisboa, e depois casei. Vivi, cresci e estudei num berço de história, onde desde cedo, fui «alimentada», pelas origens, tanto do país, como de Viana, no colégio (bem perto da Igreja de S. Domingos) e no liceu, assim, como das tradições, através do meu Pai, tios e mais pessoas que tanto amavam a sua terra. Toda a cidade me abrigou, como um berço de carinho acolhedor. Todos praticamente se conheciam, o que transformava as fugas do colégio para “matar as aulas” em algo logo apercebido pelos pais. Nessa altura éramos bem controlados! Em todas as ruas e vielas se respira história e histórias, e, onde convivem

estilos clássicos e Arte Nova, com aberrações, como o famoso prédio do «Coutinho», construído no local do antigo mercado, e à mais recente, a estátua do Caramurú, posta, não em sossego em plena Praça da República!!! Como falar de tudo? A gastronomia imensa a despertar todos os sentidos!? E os farnéis que se levavam para as romarias! Os bolos; manjericos, os sidónios da Brasileira, o pão-de-ló, as bolas de Berlim do Natário, a torta de Viana, as empadas de pato ou lampreia, um sem fim de água na boca! As desfolhadas, que corriam pela noite dentro, as vindimas com merendeiro pelo meio, só terminando à tarde, com os cachos transportados em vagarosos carros de bois. As feiras semanais, onde todos se abasteciam, e onde eu ainda vi mulheres vestidas com o seu traje de «ir à feira», onde a venda de gado se realizava também, e os fogareiros, onde se fritava bacalhau, para alimentar quem quisesse, porque o dia era longo e a feira acabava à tardinha... O Natal e a Páscoa? Na primeira, enquanto a minha Mãe e Avó, confeccionavam os doces de Natal, depois da Missa do Galo, nós jogávamos ao rapa (rapa, tira, deixa e põe) a feijões com o meu Pai e Avô, enquanto se ouviam histórias, esperando pelo Menino Jesus e as ditas prendas.


012 Mais tarde as janeiras, que se ouviam na entrada da porta! Pela Páscoa, ansiosos para receber o Compasso (visita da Cruz), onde se misturavam os cheiros de alecrim e flores que atapetavam as entradas das casas. As romarias então, eram uma delícia! Procissão com muitos anjinhos, alguns, já desasados, a banda de música, as bancas forradas de lindas e brancas toalhas de linho, onde se vendiam enchidos, regueifas, pão que as mulheres transportavam como se fossem pulseiras, «engalhadas» nos pulsos, bolos brancos de gema, peras com marmelada, rosquilhos, papudos e beijinhos. Isto tudo exposto ao pó dos passantes! Também ainda não existia a ASAE! E a chieira (vaidade) de vestir aqueles trajes e ourar-me para o cortejo das Festas d´Agonia. E o dia do meu casamento, com aquele vestido preto de «luxo» sem igual! Nos dias das festas, basta vestir agora, uma camisa bordada com calças de ganga, porque o moderno convive bem com a tradição, pôr uns brincos à rainha, um colar de contas, uns chinelos bordados e... Estou pronta para a festa! As festas eram um corrupio, difícil era por vezes a escolha; Festa das Rosas, das Neves, S. João d´Arga pela serra acima, Nossa Senhora do Minho, as Feiras Novas em Ponte de Lima, estas entre outras, que eram muitas.

Viana chama sempre por mim. Revê-la, seja em que altura do ano for, é aconchegar-me a alguém muito querido, e à medida que Agosto se aproxima, há uma ansiedade nova que se instala., para a ver nas Festas d’Agonia. É repôr em mim a luz, cor alegria e hospitalidade. E é trazer comigo o som do vira nos pés. Ao vir embora, tenho a mesma sensação como Maria Emília de Vasconcelos escreveu: Tem sete espadas no peito como a Virgem d’Agonia quem Deus casa com Viana e lhe diz adeus um dia O amor que tenho a esta terra, que, embora estando longe, está sempre presente, faz com que a entendas e a queiras dar a conhecer. Mãe


As Vindimas da minha Vida Ai por volta de 1958 numa manhã de fim de Setembro fez-se a vindima na Ínsua, campo de vinha na margem direita do Rio Neiva, em Barroselas. Toca a levantar, quando começámos a ouvir o chiar das rodas do carro de bois, a descer a “ avenida de cima “ para em correria, aparecer na adega, onde se preparava a ida, não sem antes comermos papas doces de farinha de milho amarelo, que a D. Maria, minha Avó, fazia à moda da Serra da Estrela, de onde era natural. Ah!... Ela também as fazia com nabos e suas folhas verdinhas, para uma refeição rápida, saborosa e substancial. Bom, voltando à adega, tudo estava em rebuliço…Os cestos grandes encafuados uns nos outros, os mais pequenos, com um gancho de ferro para os pendurar na vinha à beira das mãos, esses, guerreavam o lugar pendurados na dorna (recipiente onde seriam transportados os cachos de uva), que estava a ser subida por uma rampa para o carro de bois. Já alguém mexia nas cordas grossas para a prender, e nuns pedaços de madeira para trancar esse aperto. Eram colocados também no carro de bois os escadotes “da casa”, e uma cesta com os utensílios para o jantar (no Minho o jantar era o almoço, sendo a ceia a última refeição do dia). Até que, o Sr. Moreira o encarregado de organizar esta labuta, disse na sua voz alta e

rouca, para o filho do Sr. Tiago Lima, caseiro que tratava do terreno: “Toca a andar”…então o pequeno, pegou na vara , batendo com ela nas costas dos bois, dizendo: aaaouou! Os grandes animais de pêlo amarelo, (eram mais altos que eu) começavam a andar e tudo rugia e chiava. Num barulho que me mata de saudades! Os bois olhavam-me com uns meigos e doces olhos grandes de castanho dourado, pacíficos, e cúmplices. Pareciam estar a dizer-me: vá, não demores, nós vamos andando devagarinho… Claro, nós íamos logo atrás deles, com o rancho de pessoas que acompanhavam o Sr. Moreira; Tia Teresa, Mãe dele, outra mulheres com as crianças, a Minha Avó “capataz”, o meu Avô Herculano que levava, seguramente alguns jornais de há uma semana (andava sempre atrasado com a sua leituras, pois lia-os de fio a pavio) e claro eu e a Zezinha, minha irmã e o Miguinho, apelido do nosso cão rafeiro que se chamava “Vem Comigo”. O Sr. Moreira homem alto e magro, usava um chapéu todo amarrotado. Se calhar era do meu Avô, pois ele muitas vezes sentava-se em cima dele, e, já não havendo remédio para o chapéu, era para quem precisasse dele. A Tia Teresa era a nossa lavadeira.”Lavava no tanque lavava”, e do tanque,


014 de onde via todo o quintal, tal qual como um vigia, avisava se alguém estava no portão de baixo ou se as meninas (éramos nós) estavam penduradas no muro. Ás vezes, estávamos á conversa com outras crianças que passavam no caminho que ladeava em todo o comprimento o nosso quintal. Avisava se o depósito de água estava cheio. Este, está no forro do telhado, em cima da cozinha, e tem um cano, chamado de “ladrão” que avisa quando está cheio), fazia “xôôô!” aos pardais que poisavam em cima da sua roupa branquinha a corar no coradouro ao lado do tanque… Enfim tinha uma série de “casos” a controlar simultaneamente. Vestia-se sempre de preto, com a saia até meio da perna, de socos, que faziam um delicioso “toc-toc” pelo cimento dos nossos pátios e usava um grande chapéu de palha de abas largas, atado com umas fitas debaixo do queixo. É que, se fazia vento, ou com o entusiasmo de lavar e bater a roupa, se ele fosse para a água, era um sarilho para o apanhar. E não ficava bem usar um dos chapéus amolgados do Meu Avô, Sr. Herculano!!! Quanto a chapéus. O Papá usava o seu, sempre preto. Para ir a Viana, visitar alguém, em casamentos baptizados e funerais. No dia a dia, quando saia para o “Laranjal”, “o seu menino dos olhos”, pois teve quatro filhas...

Usava um chapéu branco, tipo colonial, que usara no Congo Belga, para onde foi muito jovem com o pai. E foi, com esse chapéu, que ele nos apareceu mais tarde na Ínsua.... Sempre a fumar os seus cigarros “20-20-20”. Na Ínsua, o nosso grupo, arregaçou as mangas e juntou-se ao grupo do Sr. Tiago Lima, que chegara mais cedo, tendo já os seus cestos grandes cheios de belos cachos, de apetitosas uvas pretas pequeninas à espera. As mulheres vindimavam nos escadotes, os homens, que eram poucos acartavam em cima dos ombros os cestos para dentro da dorna, que permanecia imponente no alto do carro de bois. Quem não estava sereno, eram os bois, sabendo do trabalho esforçado, que dentro em breve teriam ao carregar as uvas para a adega. O rancho de crianças, filhas das mulheres que estavam a trabalhar e nós incluídas, enquanto as mais pequenas corriam e brincavam, as maiores, tinham por tarefa cuidar das mais novinhas e apanhar os bagos de uva que caíam no chão. Por volta das 11 horas o carro de bois, já cheio, gemia pelo caminho em direcção a casa, de onde voltava mais tarde com o jantar, composto de bacalhau cozido com batatas e couves.


Só eu e a Zezinha é que ficávamos na Ínsua, pois a Avó, o Avô e o Papá iam para casa. Adorávamos comer junto de tantas pessoas e com os seus filhos, sendo eles mais ou menos da nossa idade. A Sra. Cândida, tratava de nós. Era costume as pessoas juntarem-se à volta da travessa e comerem directamente de lá, mas na nossa casa não era assim; havia pratos para todos e também copos e malgas para beber. A responsável pela distribuição do almoço era a Sra. Cândida que trabalhava também durante o ano inteiro no nosso quintal, e que jeito tinha ela para as flores! Então estendia uma grande toalha à sombrinha de uma árvore, punha as panelas ao lado e servia o bacalhau e seu acompanhamento em várias travessas que dispunha à roda. No meio, havia uma grande broa. O garrafão do vinho passava de mão em mão e cada um servia-se à vontade. As conversas entre eles e elas eram divertidas, respirava-se alegria e boa disposição. No final do jantar, a cantar lá subiam de novo para os escadotes… De repente vemos o Miguinho passar a correr atrás de um desgraçado gato preto, que com o medo subiu para um arbusto e caiu ao rio. O meu furibun-

bundo cão atirou-se também… Foi uma confusão daquelas. Nós tínhamos medo que o nosso cão desaparecesse e o gato morresse afogado…”e foi assim Sr. Miranda, tivemos de ir buscar o Miguinho já perto da linha do comboio, e lá ficou com as meninas! Ao chegarmos perguntou o meu Pai: “Oh Cândida,o almoço chegou?” “Chegou sim Sr. Miranda. Era o comer a acabar e as pessoas a acabarem de comer.”

Tia Belinha


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A Afonso devo o berço, devo os foros, Ao rei afortunado o nobre escudo, A ti Senhora, as honras de cidade, E a glória de te ver, que é mais que tudo. As frescas margens do Lima Vem gozar perfume novo, Se deixas galas do paço, Recebes bênçãos do povo. Quadras colocadas nos arcos festivos a quando da visita de D. Maria II à cidade, em 8 de Maio de 1852.



018 FORAL DE VIANA DO CASTELO Em nome de Cristo e com sua graça. Porque a memória de dos homens tem seus termos limitados e he fraca, nenhuma cousa foi mais acertada para a conservar que o remédio da escritura para que os feitos e obras dignas de memória dos homens ficassem permanentes, firmes em seu vigor e ainda para os vindouros: pella qual rezão,eu Afonso, por graça de Deos Rey de Portugal e conde de Borgonha, juntamente com minha mulher, a Rainha D. Brites, filha do ylustre Rey de Castela e Leão, quero fazer hua povoação nova no lugar qu e se chama Átrio em a foz do rio Lima, à qual povoação dou de novo e ponho o nome Viana e dou a vós todos os povoadores de Viana assi aos que agora são como os que a adiante pello tempo nella viverem, por vossa herança própria, convem a saber, do rio pequeno de Biturinho, até o termo que parte com o lugar de Meadella e com Mealde, assi e da maneira que eu devo ter e aver no mesmo lugar de Meadella e em seu termo, e dou-vos e outorgo-vos por vosso couto e por vossso termo, convém a saber, assi como parte com o rio dito de Biturinho (Podre) e entra no Lima, e dahi pello mesmo rio Lima e da maneira que descarrega as suas águas, e correntes no mar e dahi pella marinha e praia do mar até a foz do Âncora e dahi assi como vai (o) Âncora com suas voltas pela terra dentro, assi como vay partindo com a terra de São Martinho e com Caminha, e dahi como vai demarcando com a Montaria e com Arga, e dahi assi como vai direito ao Rio Podre, e depois esse mesmo rio até entrar no Lima, de

sorte que tudo o que jaz dentro destes termos, assi divisados, e eu nelles tenho, e direito posso ter e aver, vos dou e outorgo, assi aos que agora fordes como aos que depois de vos vierem, isto por herdade e herança para sempre, salvo, que reservo para mim e para meus sucessores todo o direito aos padroados de todas as igrejas dessa vossa Villa e de seus termos, da maneira que vo-los agora demarquei, assi feitas como as que adiante se fizerem, as quaes igrejas reservo para minha pessoa e para os reis que depois de mim vierem, e mando, e hei por bem, que os povoadores de Viana usem do monte deArga para pasto de seus gados, e de maneira que nelle houver, assim como uzão os outros vizinhos que vivem ao pé do dito monte. Dou-vos mais a vós povoadores de Viana, e outorgo, assi aos que agora sois como aos que adiante vierem, por foro, o foral de Valença do Minho, o qual é este. Primeiramente, hei por bem que não deis nem pagueis por nenhu homicídio, de qualquer sorte e qualidade que seja, mais de trezentos soldos, por cada hu, que servirá de estimação geral, e desta quantia se pagará a septima parte a minha chancellaria geral por ordem do juis da terra. Item mais, em toda a cauza que se mover, ou denunciação que se der, não conhecerá nenhua minha justiça, senão o juis eleito por vós. A terceira parte dos homens da vossa villa e termo hirão rondar e velar ao estremo em as ocasiões de guerra, e as duas partes fiquem na dita villa, e aquelle da repartição da terceira parte, que não for rondar pagará por pena, que se


chama de fossadeira, cinco soldos, e não hireis a rondar em companhia de nenhua pessoa senão do eleito entre vós, ou do senhor da terra se ahi ouver, e isto será hua vez no anno, se não for por vosso gosto e beneplácito. Os clérigos e piães não hirão a rondar pera recado e ordem de algum homem de Viana. Todo aquelle que no termode Viana furtar filha alheia, contra sua vontade, pague na chancellaria real trezentos soldos. E se algum entre vós, moradores de Viana, ou na feira ou na igreja ou no paço do concelho, contando que a septima parte delles será para a chancellaria real, pagos por ordem do juiz da terra. De qualquer furto, o senhor a quem se fizer, receberá o que lhe couber, e as outo partes se dividirão e partirão com o juiz da terra. E todo aquelle que alevantar caza ou vinha ou herdade por sua e della estiver de posse por um anno, e querendo-a vender que a possa fazer livremente, e aforar pello foro de Viana. E todo o homem de Viana que contratar com outros homens de outras terras será segundo o seu foro. Item mais todo o fidalgo e cavaleiro de esporas douradas de Viana goze de preheminencias, foros e liberdades de que gozão os infanções de todo o Reino, assi em toda a acção que mover, como na forma e modo de jurar e de lhe tomarem seu depoimento e em juízo será ouvido com dar em seu abono duas testemunhas. O pião gozará de foro de fidalgo priviligiado como o lavrador das terras reguengas, todas as vezes que for chamado a juízo ou se lhe der juramento,

dando, porém duas testemunhas em seu abono e defesa. Os homens que saírem de suas terras, por rezão de algum homicídio ou por forçarem molher ou por qualquer outra culpa e malefício, tirando quando não tirarem a molher alheia das bençoens, estando-se velando e quando alguma pessoa se fizer criado e vassalo de algum homem de Viana, seja livre e em todas as suas couzas e acçoens será ouvido e defendido pello foro de Viana. Item se algum homem de qualquer outra terra vier por rezão della algua couza, este tal depois de entrar no termo de Viana, se o inimigo, vindo em seu seguimento, se entregar do penhor ou peça que lhe tinham tomado ou lhe fizer algum mal, pagará ao senhor da terra quinhentos soldos e o penhor em dobro àquele a quem o tomar e todas as mais querelas que fizer. E todo aquele que fizer penhora em home de Viana, não lha demandando primeiro no juízo ordinário, pagará na minha chancellaria sessenta soldos e dobrada a penhora àquele a que se tomou. E todo o homem de qualquer outra parte que fizer descer de seu cavalo a qualquer cavaleiro de Viana, pague sessenta soldos. E todo o home de Viana que fizer o mesmo a cavaleiro de outra parte pague cinco soldos. E se qulquer home de outra terra lançar mão de home de Viana e o poser em prizão e em ferros, pague trezentos soldos.E se qualquer home de Viana fizer o mesmo a qualquer home de outra terra, pague cinco soldos.


020 E se qualquer home de Viana ficar por algua fiança e não for requerido por espaço e tempo de meo anno, fique livre da fiança, e se quiserem obrigar a sua mulher e filhos, seião também livres della. E os homens de Viana não paguem nenhuma penhora por aquelle que for senhor da terra, nem pello meirinho ou qualquer justiça, nem lhe faça penhora por rezão de algum meirinho. E os cavaleiros de Viana não darão aposentadoria pello foral de Viana, se não os peães por ordem do juiz ordinário da terra, e isto por três dias e não mais. E os homes moradores no termo de Viana, ou que seião de fora della, de qualquer outra terra, os quais estando actualmente nas vossas herdades ou em vossos solares, e os seus senhorios não estiverem ahi, recorrerão ao juiz e darão fiança para que responda por elles em juízo quando vierem seus amos ou senhores, e se lhes fizerem algua injuria ou mal, pagarão a seus senhores e a septima parte a minha chancellaria, e estes não servirão a outra nenhua pessoa mais que a seus senhorios, estando em seus solares, e se tiverem searas, passaes ou vinhas del-Rey sua, e tenhao na pello foro e lei das vossas searas e vinhas. E todo aquelle que matar a seu cidadão e fugir para sua caza, aquelle que o seguir e matar dentro della, pagará trezentos soldos. E todo aquelle que forçar mulher e, dando doze gritos, se não se puder livrar delle, pague trezentos soldos.

E todo aquelle que ferir mulher alhea, pague a seu marido trinta soldos e a septima parte delles a minha chancellaria.E todo o home de Viana que quizer dar caução e fiança de qualquer acção que lhe for posta e der dous homes abonados, e com ele são três, se aquelle que lhe põem acção ou demanda quizer tomar os fiadores e o matar, pague o homicidio a seus parentes e a minha chancellaria, e toda a Villa goze de hu foral. E todo o home de Viana que, sendo fiador, entrar em juízo e não livrar da fiança, paggue por elle, e avendo contendor, lance-se da fiança para que o autor corra com ella, com pagar dez soldos, jurando pello menos com hu vezinho qual achar, e dê dez soldos jurando com dous vezinhos. E todo o home morador em Viana que se quizer acostar a outro senhor que lhe faça bem a sua casa, herdades, mulher e filhos serão livres e izentos e pagarão pello foro de Viana. Dou-vos mais por foro que não tenhais outro senhor se não a Nós e a Rainha, minha mulher, e a meus filhos. E todo o home de Viana que escolher mulher até ao tempo das bencoens e de se velar e a deixar, pague hu dinheiro ao juiz ordinário, e se a mulher deixar ao marido, tendo já as bençoens, pague trezentos soldos, a metade para a minha chancellaria e a outra para seu marido. E aquelle que romper casa e a entrar com lanças e escudos das portas a dentro, pagará trezentos soldos, a metade ao senhor da casa e a outra a chancellaria. Todo a aquelle que ferir a seu vezinho com espada, pagará


corenta soldos e a septima parte à chancellaria. O que ferir a seu vizinho com lança e andar à solta, de hua parte para a outra, pagará vinte soldod, a septima parte a chancellaria, e se não for para algua parte, pagará dez soldos; e ferida de que sahirem ossos, por qualquer osso, pagará dez soldos, a septima parte à chancellaria, e de qualquer outra ferida, sinco soldos, a septima parte à chancellaria; e por toda a penhora que se fizer assa por parte da Coroa como por parte do concelho recebão fiadores segundo o foro.Item mais lhes concedo que não tenhão deveza, nem monte particular, nem viveiro no rio ou pego particular para isso, se não que seja tudo comum e do concelho, e nenhua pesssoa receberá nem levará montado dos gados de Viana. Item mais os homens de Viana não pagarão portagem em todo o meu Reino, e mando que levem por portagem em Viana, convem a saber, de cada carrega de peão três mealhas, de cada carrega hu soldo e de mulo hu soldo, e de carro de bois seis dinheiros e toda a portagem, digo, e de tudo o que vier de carreto a Viana, o estalajadeiro onde pouzar receberá a terça parte e o porteiro as duas. Todo o vizinho de Viana não acudirá em suas queixas se não diante dos juízes ordinários, os quaes julgarão todas as cauzas por suas cartas e por arbítrio de homes bons. E eu assima dito Dom Afonso, por graça de Deos, Rey de Portugal e conde de Bolonha, juntamente com minha mulher, a Rainha Dona Brites, dou e

concedo a vós povoadores de Viana pera que seja melhor a dita Villa povoada e enobrecida que o meu rico home não entra nessa vossa villa ne no concelho e que pelo dereito da portagem, querelas e por todas as mais rendas, foros e dereitos assima referidos da dita villa de Viana e de todos os seus termos, vós e todos os vossos subcessores me deis e a todos os meus subcessores em cada hu anno mil e cem maravedis velhos, às terças do anno, a primeira será pela festa de S. João Baptista, a outra aos outo das callendas de Novembro e a outra aos outo das callendas de Março, e, alem destas couzas, reservo pera mim e pera todos os meus subcessores os padroados de todas as igrejas assi dessa vossa Villa como do termo, assi as que estão já feitas como das que daqui por deante se fizerem. Reservo também pera mim e pera todos os meus subcessores toda a dizima de todas as couzas que entrarem por foz do Lima a qual me pagarão. E, bem assi, reservo pera mim e todos os meus subcessores a portagem das couzas que entrarem e sahirem por foz do Lima e os pescadores que não forem vezinhos nem moradores de Viana, me darão, e a meus subcessores, Navaon, assi como o tinhão por estilo e costume de o dar na mesma marinha. E os vizinhos de Viana não darão nenhua dizima a el- Rey se não daquelas couzas que vierem dos portos de França e da terra dos Mouros. E os pescadores vizinhos de Viana não darão dizima do pescado, nem de seus navios.


022 E os vezinhos de Viana não darão ahi portagem nem em todo o meu reyno. Dou-vos mais e outorgo que o concelho de Viana tenha passagem do dito porto de Viana do rio Lima assi de hua parte como da outra. Foi feita esta carta em Guimarens aos dezoito dias do mês de Junho, por mandato de el-Rey, na era de mil duzentos e noventa e seis, achando-se presentes Dom Gonçalo Garcia, alferes-mor do Reyno, e Dom Gil Martins, mordomo-mor, e Dom Martim Afonso, tendo a praça e a fronteira de Bragança, e André Fernandes, a de Riba-Minho, e Dom Afonso Lopes, a de Lamego, e Dom Pedro Ponce, a de Bajão, e Martim Gil, aquella parte de Trás-os-Montes, e Gonçalo Mendes, aquela parte da terra de Panojas, aonde é Villareal, Dom Martinho, Arcebispo de Braga, Dom Ayres bispo de Lisboa, Dom Egas bispo de Coimbra, Dom Julião bispo do Porto, Dom Rodrigo bispo da Guarda, Dom Martinho bispo de Évora, Dom Matheus eleito de Vizeu, Dom Pedro eleito de Lamego, Dom Estêvão Anes chanceler-mor,. Assistirão por testemunhas Dom João d´Aboim, Dom Mem Soares, Dom Egas Lourenço, Dom Rodrigo Peres, Pêro Martins desembargador dos agravos, Petarinho Fernandes, digo, Pêro Martins Petarinho desembargador dos agravos, Fernan Fernandes Petarinho desembargador dos agravos, Fernan Fernandes Cogominho, Mestre P o dajão de Lisboa, Mestre Matheus mestre-escola de Lisboa, Rodrigo Anes mestre escola de Tuy, Lopo Rodrigues vice-mordomo, João Fernandes vice-chancelario, tes-

temunhas. Domingos Peres notário da Corte a fez.

«O qual foral da Villa da Foz de Lima estava escrito em hu pergaminho do tempo del-Rey Dom Duarte e delle, de verbo ad verbum, eu, escrivão abaixo nomeado, converti em português o latim em que estava, acomodando as palavras daquelle tempo às correntes do prezente, e vai tudo na verdade, dado em minhas pouzadas junto a Igreja de Santiago desta cidade de Lisboa, aos quinzew dias do mês de Novembro de mil e seiscentos e vinte e cinco, diz à margem da primeira cauda/devo, vai escrito em três folhas com esta, a entrelinha dis verbum». Gaspar Alvares Louzada

«Esta tradução deste foral feita por Gaspar Alvares Louzada, reformador dos Padroados e mais couzas da Torre do Tombo, do latim em nossa linguaje, se deve guardar muito e andar cozido no mesmo pergaminho pera declaração delle e se entender o que monta, porque custou muito trabalho traduzir-se tam bem.»1 Francisco Portocarreiro Pitta (Vereador Municipal)


Dom Affonso pella graça de Deos Rey de Portugall, a vós Joham Gonçalves meu povoador e aos alcaydes e ao concelho de Viannna saúde e amor e mandovos que poboredes bem essa villa e façades hy chegar todolos vezinhos e aduzer seo pam, seu vinho aa villa e correr todolos camynhos do couto pela villa: e mandovos que nom lexedes crear filho de cavaleyros no couto de Vianna, nem em aqueles lugares hu nunca foi usado, nem dyreito de os crearem e se per ventura hy houver alguns tan ousados que os criem em aquelles lugares hu nom for dyreito mandovos que esses pinhoredes pello em couto que hy hé posto.E mandovos que non lexedes fazer casas a nenhum cavalleiro em esse couto de Vianna nem em aquelles lugares hu nunca foi usado nem de dyreito de as fazerem e mando que esses foros das herdades de que ante soyas per dyreito a mym façom que todos esses foros façom a vós asy como manda vosso foro e salvo os meos dyreitos de mar e de ryo que ey daver e mando a esse meu porteiro que os constranja por esse dreitos que ante amym soyam adar e todos aquelles que forem de dyreito de hos darem em guisa que os dem avós asy como he contheudo em vosso foro salvos todos meos direitos de mar e de ryo.E sabede que amo muyto essa villa de Vianna asy como huma das villas do meo Reyno que muyto amo cá comecei por mym e quero lhe dar cima em meu tempo se quizer Deos onde vos mando que vos façades meu mandado firmemente asy como desuso dito he.Onde all nom façades se nom bem crede que me peytaredes porem

quinhentos soldos. E mando que esse meu tabelliam de Vianna tenha esta mynha carta aberta em testemunho para ver em como fazedes meu mandado. Dada em Coymbra primeiro de Agosto El-REY ho mandou. Paio Garcia a fez. Era de mil trezentos e três annos.2 Carta de D.Afonso III a João Gonçalves, povoador de Vianna 1265, Agosto, 1 – Coimbra


Se o meu sangue nĂŁo me engana, Como engana a fantasia, Havemos de ir a Viana Ă“ meu amor de algum dia! Pedro Homem de Melo



026 O Minho e a sua estrutura social, reflectiu-se na afirmação das linhagens a que deram origem, e que entroncam em algumas das mais antigas e poderosas famílias portuguesas. Estas tiveram grande influência na vida política e social no início da nossa nacionalidade. É nesta zona, a noroeste do país, que Viana do Castelo se situa, rodeada por verdes montes, o rio Lima, e o Oceano Atlântico. Situada originalmente no sopé do Monte Tarrujo (Santa Luzia), na PréHistória era frequentada por grupos nómadas, de caçadores recoletores. Viu chegar as primeiras comunidades sedentárias agro-pastoris, no período neolítico, com hierarquização social, que acompanhou a descoberta dos metais.3 Surge então um castro de origem celta, povoação fortificada com habitações de planta circular rectangular e elíptica, protegidas por um sistema defensivo de três ordens de muralhas. Os romanos chegaram aqui na idade do ferro. Por altura da queda do Império Romano, no sec.V, este castro sofreu as invasões dos suevos e visigodos , dos bárbaros no sec.XIII. Os povos do castro do Monte Tarrujo, ocuparam os terrenos baixos das terras férteis do vale, procurando peixe e marisco na costa marítima, e com a ligação a nascente com a Vila de Figueiredo, nasceu a paróquia de Santa

Maria da Vinha. Formada pelas «vilas» de Figueiredo (Areosa), Adro (núcleo) e Castro (Abelheira). Esta vila e igreja foram doadas à Sé de Lugo a 1 de Setembro de 915. Mais tarde foram oferecidas por Afonso IV de Leão ao bispo de Tui, que se recolheu ao mosteiro de Labruja, na Serra d’Arga, sendo o rio Lima, por esta altura o limite do território de Tui. Foram então doadas estas terras a Nuno Soares, que ao falecer as dividiu pelas filhas, como se fossem bens pessoais. Foram restituídas á igreja por Payo Vermudas. D. Afonso Henriques em 23 de Junho de 1130, criou por doacção o couto de Átrio ou Adro, aos frades beneditinos do convento de S. Salvador da Torre, fundado pelo Frei D. Ordonho. Comprometiam-se os frades a ajudar D. Afonso Henriques, nas suas lutas de conquista. Cedeu-lhes o Rei:« Paio Pais, Soeiro Goterres e Pedro Goterres, dois magníficos cavalos, outro de menor valor, uma mula e um copo de prata», em troca da ajuda dos frades. D. Afonso III chega à povoação de Átrio, quando ia em peregrinação a Santiago de Compostela, em 1253, estando então localizada a mil metros para nascente, e aí se atravessava a ponte e pagava portagem. Nesse local estava construída a Igreja de S. Salvador do Adro, ou S. Salvador das Almas,



028 e foi a primeira igreja matriz de Viana. É de estilo românico, e D. Afonso III, autorizou que o seu adro servisse de cemitério. Foi reedificada e aumentada em 1719, pelo padre Domingos Campos Soares, em estilo barroco.

cedendo-lhe todas as rendas, reservando apenas para o poder real, os padroados, as igrejas, a dízima, e as portagens do que entrasse pela Foz do Rio Lima.

Actualmente sobressai um frontão quebrado com volutas, e um campanário de dupla arcaria, nicho com retábulo das Alminhas, cruzeiros a norte do Sr. do Pão dos Pobres, a sul do Sr. da Boa Lembrança, com alpendre datado de 1646, e o arcossólio. No interior existe uma cruz bizantina, no altar- mor, da época de D.Sancho. No seu solo, estão à vista vários patamares de antigas civilizações e ossadas. Existem pinturas policromas em madeira dos Reis Magos datadas de 1771.

O concelho ficou obrigado a pagar ao rei o foro anual de 1100 maravedis velhos, e para governador foi nomeado a João Provedor. Comprometiam-se os habitantes de Viana, a muralhar a vila, e foi construída, junto á barra uma torre defensiva, a Roqueta.

D. Afonso III pelo contrato assinado em Ponte de Lima declara: «Entrego a terra de Vinea e seu padroado, bem como o Casal de Figueiredo e a bouça da Foz, com todas as suas pertenças. Quero fazer uma povoação nova, no lugar que se chama Átrio, em a foz do Lima, à qual povoação dou de novo e ponho o nome de Viana. 4 O primeiro foral foi concedido em 18 de Junho de 1258 em Guimarães, confirmado por outro em 1262. Naquele foral D. Afonso III comprometeu-se a proteger a vila de Viana,



Dancei a Góta em Carreço, O Verde Gaio em Afife, (Dancei-o devagarinho, como a lei manda dançar!) Dancei em Vile a Tirana E dancei por todo o Minho. E quem diz Minho, diz Viana… Ó minha terra vestida Da cor da folha da rosa! Ó brancas saias de Perre Vermelhinhas na Areosa! Pedro Homem de Melo – Canção de Viana Pecado


Hist贸ria


030 As muralhas foram construídas entre 1263 e 1374, já durante as guerras fernandinas, e, concluídas sob a direcção do Mestre Lopo Lopes de Lyra. Mediam 10m de altura, 2,20m de largura e as torres tinham a altura de 15m, apresentavam um perímetro ovaloide de 685m.

encontra-se na Igreja Matriz. D.Sebastião mandou construir o Forte de S. Sebastião da Barra, entre 1566 e 1569, e concedeu a Viana o título de notável. Foi artilhado em 1572, trabalho concluído já no reinado de Filipe I, por Pêro Bermudas de Santisso.

junto à Praça da República. A rainha D. Maria, reconhecida, pela contribuição dada pelos vianenses à sua causa, durante as lutas da Patuleia, decreta em 20 de Janeiro de 1848, que a vila de Viana do Lima, seja elevada a cidade, com o nome de Viana do Castelo.

O caminho da ronda era protegido por merlões ponteagudos. A Torre de Menagem erguia-se no local mais alto e as muralhas tinham quatro portas: do Postigo ou S. Crispim a sul, era a principal, do Forno ou São Tiago a norte, a de S. João ou da Ribeira a poente e a das Atafonas ou de S. Pedro ou da Piedade a nascente.

É um forte de forma poligonal, abaluartado, conservando ainda a norte, um revelim. Entre 1602 e 1638, foram chapeadas as portas e colocados ferrolhos, sob a ameaça dos ataques das armadas francesa e inglesa.

Por curiosidade diga-se, que desde a sua origem, foi Átrio, Viana da Riba do Minho, Viana do Lima, Viana de Caminha, Viana da Foz do Lima.

No sec XVI, foi aberta um nova porta a de S. Brás ou da Vitória, por aqui existir uma capela com esse nome. Foi demolida em 1911, para aí serem construídas as cavalariças da Guarda Civil! O seu rico altar de talha dourada encontra-se na Igreja da Meadela. A imagem da Sra. da Piedade

Em 1695, algumas pedras foram retiradas das muralhas, para reedificar a sacristia da Igreja Matriz. A 21 Julho de 1791, D. Maria autorizou, que se retirassem mais pedras para serem utilizadas na construção do cais. Em 1816 foram pavimentadas as ruas da Bandeira e S. Sebastião, com as pedras da muralha. Actualmente existem vestígios da antiga muralha,

Dentro das muralhas, existiam duas ruas principais, a da Praça Velha e a do Hospital, atravessadas por sete ruas, R. do Cais, Viela Cega, R. Grande, Judiaria, Tourinho, Poço e Forno. A Praça da Erva e o Penedo da Praça de Armas eram os dois largos existentes. Na R. do Poço, existia um que abastecia toda a população. Perto era o mercado, D. Dinis em 11 de Março de 1286, criou a primeira feira de Viana a realizar-se quinzenalmente à quinta-feira.5



Viana foge ao incessante beijo Que o Lima vejo a tentar de p么r, E a montanha, na materna costa A face encosta com gentil pudor. Sebasti茫o Pereira da Cunha



036 Ponte Eiffel

1

Casa dos Cunhas

2

A ponte férrea do Lima, devido à construção da via férrea, e à necessidade de substituir a velha ponte de madeira, iniciou-se a construção de uma nova ponte.

Foi Sebastião da Cunha Sotto-Maior, «capitão de companhia de sessenta cavalos armados e selados à sua custa», quem construiu esta casa senhorial nos primeiros anos do Séc. XVIII.

Com projecto de Gustave Eiffel, foi inaugurada em Junho de 1878. Esta ponte possui duplo tabuleiro, com rampas de subida, assente em nove pegões graníticos de 22m de altura. Aí, circulam os carros no tabuleiro superior, e os comboios no inferior.

De inspiração setecentista, com a conjugação harmoniosa de elementos Joaninos e Neoclássicos. Este palacete, foi ocupado pelo Liceu de 1855 a 1911. Mais tarde funcionou ali, a Junta Geral do Distrito e a Polícia. A partir de 1973 é sede do Governo Civil.



038 Igreja da Caridade

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Esta igreja e o edifício anexo, pertencem ao Real Mosteiro de Sant’Ana, das freiras beneditinas.

tendo obras de remodelação, sendo nesta altura o campanário mudado para junto do claustro.

Criado em 1510, para Albergar as filhas e parentes dos nobres, que “ficavam sem tomar estado”. O templo primitivo era gótico, obra do mestre Pêro Galego, media nove metros de altura, por dez de comprimento.

O seu património, merece visita demorada. Nos exteriores, salienta-se a torre da primeira igreja quinhentista, com o seu remate em forma de pirâmide cinzelada, com platibanda rendilhada e insígnias manuelinas.

Nos finais do sec.XVII, sofre obras de ampliação da casa conventual, com novos dormitórios e o mirante, mas é a partir de 1707, que se cuidou das obras da nova igreja, com o alargamento dos coros, edificação da nave, capela-mor e frontavria, em estilo barroco joanino, demolindo-se o antigo templo, com o aproveitamento de algumas cantarias.

O portal da capela, transferido para a entrada do horto, em estilo manuelino de inspiração gótica, onde consta o vulto de Jesus Cristo ladeado de anjos, e enriquecido com peças retiradas da antiga sala do capítulo.

Com a extinção do antigo convento, passou para a Congregação de Nossa Senhora da Caridade, para assistência de pobres, idosos e entrevados,

A frontaria da nova igreja, caracteriza a época de D. João V, conjugação do “claro-escuro” barroco, com a disposição simétrica das aberturas, cartelas, pilastras e platibanda vazada, sobressaindo da parede rectilínea e branca da parede. Por sua vez o pórtico, é imponente, de frontão curvilíneo,

aletas, imagem da Virgem com o Menino, resguardado por um dossel de sanefas e cortinas, e o escudo de D. João V, amparado por anjos. O seu interior, de nave única, tem tecto de masseira apainelado e pintado, existindo duplo coro, na zona poente.O coro superior, tem tecto de castanho, em caixotões lavrados, e o subcoro, tem pinturas a imitar charão e talha dourada com pinturas em tela e madeira, que representam Passos da Vida de Cristo. O corpo da igreja, é em talha dourada, (arco da capela-mor, retábulos dos altares e face exterior dos coros). Tem belas peças de imaginária, e azulejaria. De salientar ainda, algumas preciosidades existentes na sacristia, antiga sala do capítulo: relicário de madeira dourada, retábulo de S. Domingos de Gusmão, tecto policromo, nichos entalhados e arca tumular das primeiras abadessas.



040 Estação de caminho de ferro

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O caminho de ferro não era para passar por Viana, mas devido à sua localização, apresentava menor investimento construí-lo, passando por aqui, em vez de seguir a lógica das vias romanas, partindo de Braga em direcção a Ponte de Lima. Construída nos terrenos do antigo Convento de S. Teotónio ou dos Crúzios, fundado em 1631. De imponente arquitectura sob projecto do engenheiro Alfredo Soares. Sobre ela, Fontes Pereira de Melo disse ser “quase tão grande como a vila”, que incluía uma elegante escadaria virada a sul. Subsiste a obra dos alçados em cantaria, com a gare e coberturas laterais em ferro fundido. A coroa real sobrepuja a frontaria.

Casa dos Melo Alvim

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É um dos palacetes mais antigos de Viana, da primeira metade do séc XVI, com grande quintal, confinava com o Convento dos Crúzios, que foram expropriados a quando da construção, em 1876, da estação dos Caminhos de Ferro. Era seu proprietário Pêro Pinto, o Velho, almoxarife da cidade. Em estilo Manuelino, com janelas de mainel, duas frentes simétricas pré-renascentista, e com merlões de inspiração exótica. Tem na frontaria e fachada ocidental dois brasões. Está convertida em estalagem, respeitando e valorizando a sua traça arquitectónica, assim como o seu património.



042 Casa dos Távoras

Casa dos Alpoins

Casa dos Monfalim

É uma das mais belas casas senhoriais de Viana. Palácio urbano, começado a ser construído em 1519, quando veio viver para esta cidade Fernão Brandão, conhecido pelos seus feitos em Cafim e Azamor.

Deve a sua origem ao seu fundador, Godofredo de Puy em 1553. Passa mais tarde para a posse de Cristóvão de Alpuim da Silva.

Última casa que completa este magnífico quarteirão. Dela pouco se sabe, apenas que pertencia ao Arcipreste Ruy Anes em 1531. Mais tarde pertenceu à família de António Jácome do Lago.

De inspiração quinhentista com janelas e portais ricamente lavrados, com fachada corrida de dois pisos, alternando o ritmo das janelas de sacada e de peito, no andar superior, com os vãos do piso inferior. A disposição regular e simétrica dos vãos da frontaria, tem a forma clássica quinhentista, reservando a ondulação dos arcos polilobados e dos encordoamentos, ao estilo manuelino.

De estilo neomanuelino, com uma torre ameada setecentista. A sua frontaria é encimada por uma cornija com merlões, as suas portas são rectangulares de verga em arco abatido, as janelas de arco bilobado, com moldura de colunelos e cornija encimada por volutas. No topo da fachada, tem um brasão rococó, com cinco flores-de-lis. Funciona aqui a Biblioteca Municipal.

Tem um estilo mais simples, de linhas sóbrias, mas senhoriais, com torreão ameinado. Aí esteve instalado o Hotel Central em 1878, o seu dono era o Caroça, que tivera uma hospedaria no Largo do Pombal. Nele esteve hospedado Guerra Junqueiro, enquanto foi secretário do Governo Civil. Aí, entre muitos, escreveu o poema A Moleirinha, inspirado numa moleira de Carreço. Funciona aqui, hoje em dia a Repartição de Finanças.

No início do sec.XVIII, Mestre Vila Lobos restaura o palacete, e a capela, e inclui elementos barrocos. Na frontaria, está o brasão dos Abreu Lima, que substitui o dos Távoras, destruído durante a vigência do Marquês de Pombal. Em 1970 foi restaurada, abrindo-se nesta altura, uma abertura interna para o palacete contíguo, mas respeitando a antiga traça, e aí funciona desde então a Câmara Municipal.

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044 7

Chafariz da Praça

Casa da Câmara

No antigo Campo do Forno, hoje Praça da República, e que já foi Praça da Rainha, está localizado o antigo centro cívico de Viana. A norte, fica a rua onde residiam os nobres, enquanto que para sul, a burguesia se instalava.

Chafariz da Praça ou “da Vila” construído sobre placas de granito circular, de dupla taça, com quatro carrancas de onde jorra água para uma taça, obra executada pelo canteiro João Lopes, o Velho e concluído em 1559.

Casa da Câmara ou antigo Paços do Concelho. Tem estilo manuelino, mas de raiz gótica. A sua construção foi iniciada no reinado de D. Manuel e concluída já no reinado de D. João III.

Fazem parte deste conjunto, o Chafariz, Casa da Câmara e Casa das Varandas.

A sua coluna fusiforme, termina com vários elementos fitomórficos e zoomórficos e é encimada por uma esfera armilar em ferro. Inclui figuras de índios, lembrando os descobrimentos. Substitui, no abastecimento público de água, a antiga cisterna medieval da R. do Poço.

Casa sobradada. Primeiro andar sobre lógia, com cinco arcadas de ponto subido. No primeiro andar existem três portadas rectangulares na frontaria, rodeadas pelo símbolo hierárquico de Viana (nau de dois mastros com dupla vela redonda e mezena de velas latinas, a esfera armilar e a Cruz de Cristo. Recorte ameiado, com merlões chanfrados. O piso térreo, servia de abrigo a pessoas e a escribas, que redigiam os documentos endereçados à Câmara.



046 7

Casa das Varandas

Igreja da Misericórdia

Ou antiga Casa dos Quesados, considerada por alguns historiadores, a construção quinhentista mais original e única da Europa, e atribuída a João Lopes o Moço A sua construção foi iniciada em 1520 e prolongou-se até finais do século.

À Casa das Varandas, pertence ainda esta Igreja.

Estilo maneirista, com elementos tardo-renascentistas, de influência italiana: lógia aberta sobre a praça constituída por cinco arcos com colunas jónicas. Nas varandas alpendradas de influência flamenga, com colunas profusamente esculpidas, com caríatides adossadas a pedestais invertidos. Estas assentam numa arcaria de volta redonda com colunas jónicas. A encimar a fachada tem um frontão triangular, com a representação do sol no tímpano, a cruz de Cristo no vértice e duas imagens de devotos nas extremidades. No lado poente está o Portal das Chagas, que dava acesso ao cemitério, à sacristia da igreja e ao hospital que se manteve aí até 1983.

O acesso ao interior faz-se através de um pórtico de arco pleno quinhentista, com coroamento já de influência barroca. Do templo primitivo restam algumas preciosidades como, os azulejos (azuis sobre fundo branco), de autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes, zimbório da capela-mor, corredor da Porta das Chagas e o claustro que foi o antigo cemitério da Misericórdia. As obras decorreram nos finais do Sec XVII sob o risco do engenheiro Manuel Pinto Vila Lobos. A sobriedade exterior, contrasta com a profusão de azulejos, talha e pinturas interiores, a capelamor, é de planta rectangular e coberta por uma cúpula com lanternim, e aberto à nave por meio de um arco triunfal com painel de azulejos. De estilo barroco , com elementos rococó nos retábulos de talha dourada.



048 Casa da Praça e Capela das Malheiras

8 Construída na segunda metade do Séc. XVIII, é um dos melhores testemunhos da arquitectura barroca no nosso país. A fachada principal, de dois pisos, tem grande simetria, fazendo corresponder as portas do piso inferior, com as janelas de avental, no piso superior. Foi-lhe acrescentado um mirante em 1823. A capela deste palacete, é uma verdadeira joia em estilo Rococó, atendendo à interpretação vigorosa dos elementos rocaille, que existem no pórtico e envolvendo o fenestrão. No seu interior destacam-se a pia de água benta, talhas policromadas, sendo as colunas e pilastras de tons marmóreos, envolvidos de ornatos a ouro.

Parte do seu património, paramentos, peças sacras e imagens, devem-se a D. António do Desterro, bispo do Rio de Janeiro. Está instalado aqui o restaurante A Cozinha das Malheiras.



050 Igreja Matriz

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Devido à construção das muralhas, a Igreja Matriz original ficou fora delas, e tornou-se necessário construir-se uma nova, localizada no sítio da Torre de Menagem, no período que decorreu entre 1400 a 1483. De estilo Romano-Gótico, com duas torres ameiadas e quadrangulares, que ladeiam o corpo principal onde se abre o pórtico e a rosácea. Interior de planta de cruz latina, constituída por três naves, cruzadas por um transepto de 45 metros. Tem diversas capelas no seu interior, de várias épocas, portanto de vários estilos: neoclássico, barroco, gótico-final, rococó e manuelino.

Casa dos Arcos Lateralmente a esta igreja, está a Casa dos Arcos ou dos Velhos, onde residiu o navegador João Velho. De estilo gótico, com primeiro andar sobreposto a uma lógia, definida por três arcos de aresta boleada, com escadaria exterior de acesso ao andar nobre. No piso superior, abrem-se duas janelas quadradas de caixilhos de pedra cruciformes ladeados por colunelos. Na fachada principal está o escudo de João Velho. O alpendre integrava-se no conjunto de arcadas que envolviam a Praça Velha. É uma das raras casas de habitação urbana de pedra, em estilo gótico, existente no país.



052 Museu do Traje

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Construído entre 1954 e 1958, sob traço de Sousa Araújo, José Cabral e Moura Alves, em arquitectura típica do “Estado Novo”. Foi edificada de raiz, para aí se instalar o Banco de Portugal, que foi encerrado no início da década de 90. Adquirido pela Câmara Municipal de Viana, depois de obras de remodelação, reabriu como Museu do Traje. Tem várias exposições temáticas, mantendo uma permanente, “A lã e o linho no traje do Alto Minho”, onde se pode acompanhar as várias fases, por que passam estes produtos, até chegarem às mãos das lavradeiras, que teciam e bordavam os seus trajes, interpretando a sua cultura regional.

Casa da Vedoria

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Concluída em 1691, sob projecto de Manuel Pinto de Vilalobos, é de composição clássica na sua frontaria, com frontões triangulares, falsas aduelas, molduras rectangulares nas portas e janelas e nas pilastras. Esteve aqui instalada a Vedoria Militar, hoje depois de obras de restauro, alberga o Arquivo Municipal.



054 Palacete dos Barbosa Macieis Mandado construir pelo cónego António Felgueira Lima, entre 1724 e 1726. A fachada é imponente, rematada por uma balaustrada oitocentista. Tem trabalho em granito rectilíneo e interligado nos dois pisos. As janelas do piso superior têm varandas e frontões triangulares. No piso inferior, está o portal encimado pela pedra de armas. O rodapé, as pilastras e as padieiras apresentam almofadas à romana. Aqui está instalado o Museu Municipal.

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Convento de S. Domingos e Igreja de Sta Cruz Fundado no Séc. XVI por Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo de Braga, cujos restos mortais foram transladados para Viana em 1609. O autor do risco foi o frade dominicano Frei Julião Romero, e executado por João Lopes o Moço. Templo imponente de estilo renascenço-maneirista, tem fachada retábulo em granito moreno, de composição maneirista. O pórtico é delimitado por colunas caneladas, assentes em plintos rectangulares e coroadas por capitéis cinzelados, com as figuras de apóstolos. Por cima, existem três nichos, ocupados por estátuas, por último uma grande janela oval, rematada por um frontão triangular. Na parte lateral esquerda está a torre sineira setecentista. Interior austero, de uma só nave, com planta cruciforme, com capelas laterais intercomunicantes, separadas por arcaria de ordem jónica, tem cobertura de madeira apainelada, e forrada de azulejos de finais do sec XVII. Tem valioso recheio artístico, onde se destacam dois retábulos, Um de talha maneirista datado de 1613, outro em estilo rocaille.



056 Igreja Nossa Sra. D’Agonia

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Num morro onde estivera localizada a forca, e de onde se via a barra, foi construída uma capela, em 1674, pelo Frei João Jácome do Lago, dedicada ao Bom Jesus do Santo Sepulcro. Mais tarde, os frades franciscanos, levantaram uma via-sacra em Viana, e esta ermida passou a chamar-se Bom Jesus da Via-Sacra. Existindo no seu interior, uma imagem de Nossa Senhora da Soledade, depressa os pescadores lhe dedicaram devoção, pedindo-lhe protecção para a faina do mar, passando a chamar-se Senhora d’Agonia, nome por que já era conhecida em 1744. Templo setecentista, com adro pitoresco, com três ramos de escadarias, a sua torre sineira, encontra-se nas traseiras, de remate bolboso. No portal, apresenta um frontão entrecortado e invertido, que lembra as asas de morcego (muito em voga nos fins do Séc. XVIII). No óculo, com desenho sinuoso, está sobreposto um nicho de estilo rocaille, com a imagem da padroeira. O seu remate, tem empenas de perfil ondulado em “S”, e nos flancos, pirâmides ligadas por platibandas. Toda a iconografia está relacionada ao tema da Paixão, com a representação dos Sete Passos da Vida de Cristo, e as imagens no altar mor da Deposição de Jesus no Túmulo. À entrada da nave, existem dois oratórios em talha neoclássica. As pinturas, são atribuídas ao mestre Pascoal Parente, pintor italiano, que viveu em Portugal.

O púlpito rococó é único, em Viana, com dossel e tribuna adornados com volutas e pequenos frontões, tendo composições de conchas espargadas com algas marinhas, sobre molduras convexas. Tem um pedestal em granito lavrado, da autoria do mestre João de Brito. Deste autor, é também a talha do órgão, assim como ao gradeamento de balaústres do coro e capela-mor. Num dos altares, o da Flagelação, estão as relíquias de S. Severino, transladadas para aqui em Setembro de 1783.Toda a igreja, possui rica talha dourada, que interliga os retábulos e fecha o arco da capela-mor. O tecto abobadado do corpo da igreja tem pinturas a óleo sobre estuque. A imagem de roca de Nossa Senhora d’Agonia, é setecentista, apresenta-se envolta em manto e túnica.



058 Castelo Santiago da Barra

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Gil Eannes

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Remonta ao reinado de D. Afonso III a construção da Roqueta, primeiro sistema defensivo da cidade e foz do Lima.

Navio hospital construído nos Estaleiros Navais de Viana, foi lançado ao mar em 1955, para apoio à frota pesqueira do bacalhau.

Mais tarde no reinado de D. Sebastião, foi iniciada a construção do forte, sob projecto de Filippo Terzi e obras do mestre Pedro Bermudes de Santisso em 1567, sofrendo obras de ampliação, principalmente sob o domínio de Filipe I.

Está ancorado junto ao Lima, depois de resgatado em boa hora à sucata, pelo empenho da Câmara Municipal, outras entidades, escolas e pelo povo.

Tem planta pentagonal, com um sistema de baluartes à italiana, conservando ainda a norte, um revelim.

Hoje é museu, para honrar e recordar os humildes pescadores, que se afoitaram pelos mares da Terra Nova.

Vale a pena apreciar a requalificação da cidade e da zona ribeirinha, com projecto do arquitecto Fernando Távora, onde está situada a nova Biblioteca Municipal, enquadrada numa bela zona de lazer.



060 Funicular

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Situa-se na encosta meridional do monte de Santa Luzia, ligando a cidade ao Santuário. Sob o projecto do engenheiro Bernardo Abrunhosa, foi construído por Brown Boveri em 1923. Tem 664m, é do tipo funicular de cremalheira, com tracção eléctrica. A estação interior, é um pequeno edifício revivalista, composto por um corpo central com três portas, tendo de cada lado torreões poligonais copulados.

Santuário de Sta. Luzia

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Já na idade média, existia uma ermida no Monte de Santa Luzia, uma ermida, cuja padroeira era Santa Águeda. Em 1712, esta ermida foi ampliada, e consagrada à Senhora da Abadia, e num altar lateral ficou a imagem de Santa Luzia, advogada da vista. Vem de longa data a devoção ao Coração de Jesus em Viana, e em 21 de Agosto realizou-se uma peregrinação ao monte de Santa Luzia, e resolveu-se a construção do santuário. O templo ergue-se sobre vestígios castrejos da Idade do Bronze. As obras, com projecto de Miguel Ventura Terra, iniciaram-se em 1904 prolongando-se pela década de quarenta. É de raiz neo-românica, de planta em cruz grega, com alçados bem ritmados e harmónica distribuição dos espaços. Na fachada principal, a imagem do Sagrado Coração de Jesus está abrigado num nicho. Coroando o conjunto, eleva-se a cúpula assente em pendentes. No interior há pilastras adossadas na cabeceira ,e rosáceas de pedra nas paredes laterais. É todo executado em cantaria de granito. Tem um zimbório até à torre, que é rematada por uma cruz. Daqui, em dias abertos consegue-se avistar a Póvoa de Varzim e o Sameiro em Braga. Por volta de1918, espalhou-se pelo mundo uma epidemia conhecida pela Pneumónica, tendo morto cerca de 20 milhões de pessoas, estando todos assustados, pois a zona de Viana do Castelo, foi também duramente atingida, tendo até morrido famílias inteiras. No dia 10 de Novembro de 1918, houve uma procissão em Viana, com missa, e o Padre Manuel Lopes pro-meteu, em nome de todos, que se a dita epidemia parasse de atormentar a região, todos se comprometiam ir, em romaria, agradecer ao Coração de Jesus, em Santa Luzia.O que é certo, é que, se na véspera, tinham morrido 24 pessoas, naquele dia 2, a partir da tarde desse dia, não morreu mais ninguém. Desde então, todos os anos se realiza, uma peregrinação a Santa Luzia, lembrando esta promessa.



062 Convento S. Francisco do Monte

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Situado na base e a nascente do monte de Santa Luzia, no meio de arvoredo. Próprio para a meditação e contemplação, foi aqui criado o primeiro convento existente, nos arredores de Viana do Castelo. O seu fundador, frei Gonçalo Marinho, cavaleiro galego, que depois das guerras de Castela, mandou construí-lo em 1392, quando se tornou frade franciscano. Era de construção de rés-do-chão e térrea, muito pobre, vivia de esmolas, tendo, a Câmara de Viana, por incumbência real, de fornecer, semanalmente, uma arroba de carne ou peixe, até ao Séc. XVI. Em 1584, a expensas de benfeitores, sofreu uma grande reforma, com a construção de um segundo piso. Vale a pena a visita a este local, embora em ruínas, pois, apesar de construção pobre é lindo pela sua arquitectura. Chega-se lá através de uma calçada, e encontra-se um cruzeiro, e mais acima um magestoso pórtico seiscentista em granito, com as estátuas de S. Francisco, Santo António e S. Pedro de Alcântara. Do interior da Capela, pouco existe, pois o seu valioso património em talha barroca, como o retábulo-mor e imagens, levaram outros destinos, por incúria das entidades responsáveis. Restam dois brasões, um do fundador do convento, outro da família de Rego de Meresse (Calvelo), sepulturas, a arcaria do claustro, e alguns frescos muitos danificados. Imagem do Senhor dos Passos, e Santa Madalena ou Sra. de Boa Morte e o Senhor da Prisão, muito visitado por romeiros e gente da Ribeira, que ainda levam azeite e velas, em pagamento de promessas. Nas traseiras, e também muito danificada a imagem em granito do Santo Taumaturgo.6



064

Muito mais havia a dizer sobre outras casas de Viana. Em qualquer rua ou viela estreitinha, se encontram casas brasonadas, com história, ou outras, com simples apontamentos arquitectónicos. Limitei-me somente a algumas, as mais “vistosas”, mas não deixem de as procurar. Aguço assim a curiosidade de futuros visitantes. Neste distrito, convivem casas humildes, com a austeridade dos solares que se podem encontrar um pouco por todo o lado, surgindo ao dobrar de cada curva de estrada, no meio de alguma aldeia, como o solar de Bertiandos em Ponte de Lima, e o solar da Brejoeira nos arredores de Monção. Em louvor de Viana escreveu Frei Luís de Sousa: «Terra de gente rica e muito nobre, de grande trato e comércio, por parte com as conquistas de Portugal, ilhas e terras novas do Brasil, por outra com a Flandres, Inglaterra e Alemanha, donde e para onde recebia de ordinário muitos géneros de mercadorias, e despedia outras; para os tais tratos traziam os moradores no mar grande número de naus e caravelas com grossas despesas, a que respondiam iguais retornos e proveitos que tinham a vila florentíssima e em estado de uma nova Lisboa.» Por isso, proponho uma visita demorada a esta cidade, onde até sobre pedras da muralha, caminhamos nalgumas ruas. Sobre a História, apreciamos a História.

Viana foge ao incessante beijo Que o Lima vejo a tentar de pôr, E a montanha, na materna costa A face encosta com gentil pudor. Sebastião Pereira da Cunha



066 1

PonteEiffel

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Museu do Traje

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Casa dos Cunhas (Governo Civil)

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Casa da Vedoria

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Igreja da Caridade

Palacete dos Barbosa Macieis; Convento de S. Domingos 12 e Igreja de Sta Cruz

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Estação Caminhos de Ferro

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Igreja Nossa Sra D’Agonia

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Casa dos Melo Alvim

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Castelo Santiago da Barra

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Casa dos Abreu Távora (Câmara Municipal); Casa dos Alpoins; Casa dos Monfalim (Antiga Biblioteca Municipal)

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Gil Eannes

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Funicular

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Praça da República (Casa das Varandas e Igreja da Misericórdia; Casa da Câmara ou Antigo Paços do Concelho; Chafariz)

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Santuário de Sta Luzia

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Palacete Malheiro Reymão ou Casa da Praça e Capela das Malheiras

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Igreja Matriz e Casa dos Arcos ou dos Velhos

18 Convento S. Francisco do Monte


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9 1

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Porque ser谩 que n贸s temos Na frente, aos montes, aos molhos Tantas coisas que n茫o vemos Nem mesmo perto dos olhos? Ant贸nio Aleixo



068 Viana e o Mar A história de Viana e de Portugal, entrecruzase, desde sempre. Vem desde cedo a sua ligação ao mar, devido à sua proximidade tanto do rio como do mar, à pobreza das terras de cultivo, e ao exemplo dos marinheiros galegos, que desde cedo aportavam a Viana.

Séc. XV, comércio entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte - comercializava-se trigo, sal e frutos;

Primeiro a pesca, depois o comércio de cabotagem, marcaram-na desde o reinado de D. Afonso III. Mais tarde D. João I, mandou construir a alfândega, D. Afonso V, mandou edificar os primeiros molhes do cais. No início do Séc. XVI, D. Manuel I, incentiva a construção naval, sendo assim que Viana se vai desenvolvendo, quer a nível comercial, quer socialmente.

Séc. XXII, época áurea de Viana. Daqui parte João Álvares Fagundes em direcção aos bancos da Terra Nova, trazendo bacalhau, comercializado em Viana pelos ingleses. Comércio de ferro com as Astúrias e Biscaia. Exportação de linho para o Brasil, França e Países Bálticos. Época do transporte e venda do açúcar vindo do Brasil. Nesta época, existia uma frota naval de setenta navios de alto porte, segundo Frei Luís de Sousa. Nesta mesma altura, instalaram-se em Viana, famílias de mercadores flamengos, alemães, ingleses e franceses.

Como já foi referido, os primeiros mareantes a chegarem a Viana, foram os galegos, que nessa altura eram conhecedores profundos das águas do Canal da Mancha e Mar Cantábrico. Aportavam trazendo sardinha e ferro e levavam vinho, sal, doces e frutas.

Gradualmente, deu-se a derrocada, tanto do porto, como do comércio vianense. Deveu-se principalmente à emigração dos mareantes para o Brasil e outras zonas do nosso país. Por sua vez, a burguesia vira-se para o cultivo das suas quintas ou propriedades rurais.

Entre os Sécs. XV a XVII, houve três fases importantes no desenvolvimento do comércio naval: Subi a Santa Luzia E vi espelhado no mar Um outro mar de alegria: Viana inteira a cantar.

Séc. XV, comércio entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte, comercializava-se trigo, sal e frutos;

Séc. XVI, existe a chamada rota triangular, unindo o Continente, Europa Central, Madeira e Açores, transaccionavam-se rendas e panos da Flandres e Inglaterra, branqueta francesa (tipo de tecido), e exportavam sal e pão.

A exploração do milho e vinho verde, através do Tratado de Methuen (1703), fez com que o porto de Viana servisse de ponto de escoamento. Por pouco tempo, pois com a criação das companhias monopolistas criadas pelo Marquês de Pombal, o escoamento passou a fazer-se noutros portos. Aliado a tudo isto, o assoreamento da barra, devido ao agravamento do clima, contribuiu para que o porto de Viana deixasse de ter importância a nível nacional. Seguiram-se 200 anos de adormecimento…



070 Em 1944, retomou-se o sonho de reanimar a tradição antiga da construção naval, embora se atravessasse um período de guerra na Europa. Portugal «tendo estatuto de neutralidade», sentia os efeitos económicos desse conflito.

João Álvares Fagundes, achou as terras da Gronelândia, e deu a conhecer esse peixe tão apreciado pelos portugueses.

Nessa altura, os estaleiros, a laborar com duas docas secas, estava virado para a construção e reparação de navios para a pesca do bacalhau, actividade encerrada depois do 25 de Abril de 1974.

Do porto de Viana, em meados do Sec. XIX , saíram equipados cem barcos, para a pesca do bacalhau. Existiram duas secas de bacalhau, um em Darque outra na Meadela, de onde saía o famoso bacalhau de cura amarela.

Em 1956 estabelece com a marinha portuguesa, um contrato para a construção de dois navios patrulha, e mais tarde, com o início da guerra colonial, mantém-se o contrato, para a construção de mais barcos. Esta actividade acaba em 1968. No início dos anos setenta, os estaleiros consolidam-se e expandem-se, pela construção de novas instalações e pela compra de novos equipamentos. Construíram-se aqui navios para o transporte de produtos químicos. entre 1976 e 1993, navios de rio e de mar, com destino ao leste europeu.

Aqui foram construídos os famosos lugres: Santa Luzia, Gaspar e Rio Lima, e os navios bacalhoeiros Senhor dos Mareantes, Senhora das Candeias e Gonçalinho.

Em 2002, e saindo de uma nova crise, provocada pela falta de mercado, reatam o contrato com a marinha portuguesa, com a construção de novos navios. Hoje em dia mantém uma actividade constante, com a construção de navios para todo o mundo. Saíram destes estaleiros, navios patrulha, lanchas fluviais, tais como o Corubal e Formosa, e o navio escoltador oceânico Almirante Magalhães Coutinho. Uma actividade marítima importante a que Viana está ligada, e que trouxe grande movimento comercial é a pesca do bacalhau.

A gentinha da Ribeira, é fidalga e altaneira e de bairrista se ufana… Neste canteiro do Minho é o Bairro mais velhinho desta tão linda Viana!



072 Viana e Outras Actividades Nos campos e veigas da Ribeira Lima, o povo dedicou-se sempre à agricultura. Terras de minifúndio, aproveitadas, até em mínimos pedaços, para cultivo de árvores de fruto, batatas, milho a que eles chamam “pão”, e cultura do vinho verde, que hoje em dia está em grande expansão. Existiram vários moinhos nas margens dos rios, hoje em ruína, para moerem farinha. Com ela preparava-se a broa, cozida em fornos de lenha. Viana sempre teve indústrias; pirotecnia, cortumes, serração de madeiras, olarias, tamanqueiros, e muitas mais, hoje encerradas por diversas causas, a que não é alheio o progresso. Algumas com métodos artesanais e muito antigas, como a extracção do barro e o fabrico de telhas, de que a Freguesia de Alvarães é a pioneira. Embora o seu fabrico tenha sido desactivado, permaneceram aqui até meados do Séc. XX. Existiam aqui fornos desde o Séc. XVI, embora se pense serem anteriores, pois há indícios de terem sido aqui fabricadas, parte das telhas que cobriu o Mosteiro da Batalha. Há hoje um forno, recuperado, para fins turísticos e pedagógicos.

É das barreiras do finíssimo caulino desta freguesia que sai a matéria para a Fábrica de Loiça de Viana. Desde sempre a faiança de Viana se distinguiu pela qualidade e valor artístico, e para os coleccionadores, uma das mais conceituadas. Desde o início da sua existência, além de louça utilitária, se fabricaram, ricamente pintados à mão, utensílios para farmácias, igrejas e mosteiros. Esta fábrica foi fundada em 1774, por João Araújo Lima e Carlos de Araújo Lemos, de sociedade com João Rego e António Alves Pereira Lima, estando localizada no outro lado do rio, em Darque, passando, em 1947, para a Meadela, com o nome de Fábrica de Louça Regional de Viana. Ao caulino, junta-se barro e areia e apura-se o “grés fino”, que depois de cozido, é pintado à mão. Cada peça é, rigorosamente pintada à mão, portanto única. O mesmo artista, não tem a mesma “personalidade”, de manhã e à tarde, portanto cada peça é individual. Os motivos foram buscá-los aos bordados regionais, e não ao contrário, como muitos pensam. A cor, azul, começa no tom mais intenso, diluindo-se em vários outros tons, lembrando as águas que banham Viana, para as peças utilitárias. Outras peças, as decorativas, têm as cores azul, verde, amarelo e cor-de-vinho. Existem também outras, exclusivamente para coleccionadores, de edição limitada a 500 exemplares.



074 Fábrica de Chocolates “Avianense”

Vianagrés

A mais antiga de Portugal, fundada em 1914, fabricando chocolate em barra, chocolate e cacau em pó, napolitanas e os famosos bombons “Imperadores”. A barra de chocolate Nº 5, excelente, para a confecção de bolos e mousse, era vendido aos quadrados, que se comiam com pão. Conta a minha mãe que à hora da merenda, era uma delícia!

Tipo de Artesanato: Cerâmica Empresa de média dimensão, situada no lugar de Algares, freguesia de Carvoeiro, Viana do Castelo.

Em 2004, devido ao decreto de falência da sociedade, encerrou, retomando a sua actividade, na freguesia de Durrães, em Barcelos, onde continua a laborar.

Vi a Ana É um produto inteiramente nacional criado pelo GAF, com o objectivo de dinamizar o conceito de lembranças e souvenirs regionais. Conciliando a história, as lendas e os valores regionais, enquadrando-os no território e no tempo. E dessa forma valorizar o gosto pela história e pela região , quer por parte dos turistas, quer por parte dos habitantes locais... Vi a Ana! Os amores na história, e a história com amor.

Constituiu-se há cerca de dez anos, sob a forma de uma sociedade por quotas, com sete sócios que ainda hoje se mantêm, e emprega cerca de sessenta pessoas. Dotada de uma estrutura comercial e administrativa organizada, a produção tem características industriais, uma vez que a louça é produzida com meios industriais (máquinas etc). Há, todavia, grande quantidade de operações de fabrico manuais que lhe conferem, também, características artesanais- a pintura manual, o vidrado, a cozedura. A matéria prima das peças é o grês cerâmico, formado por areia siliciosa e areia fina de que resulta uma pasta muito resistente e sonora, mas difícil de trabalhar, pela sua dureza. A pasta usada na Viana Grés, de fundo beige claro é o suporte de motivos diversos-folhas, flores, desenhos geométricos ou de mão livre- com pinturas de cor predominantemente azul, cor emblemática da fábrica. As peças fabricadas, que se destinam a uso doméstico e (ou) a decoração, são de diversos tipos, com saliência para os pratos, as jarras, as terrinas, as canecas, os serviços de chá ou café.



078

Peixeirinha de Viana, S達o dois peixes do teu seio, Que eu pesco mesmo sem cana, Durante o Fogo do Meio. Quadras e contos da Agonia



078 Arte ornamental muito antiga, pois já no Séc.XVII, a.C. se trabalhava o ouro. Brincos e colares, muito parecidos aos que hoje se vêm, foram encontrados nos trabalhos arqueológicos, realizados em Afife. São de influência Fenícia e Celta e contêm significados ocultos sagrados, míticos e supersticiosos.

Mais tarde, por altura dos descobrimentos, os homens partem, e elas, tomam outra vez o poder das propriedades. A princípio, o ouro não era usado como riqueza, mas como algo sagrado, como um talismã, para a sua própria fecundidade. Sendo elas o sustento da família, investiam no ouro, riqueza usada, quando havia grande dificuldade na família.

Para que a vida de um recém-nascido fosse repleta de venturas, a mãe, no primeiro banho, colocava uma peça de ouro dentro da água. Pelo sim, pelo não, e mantendo a tradição, a minha mãe deu-me assim o primeiro banho!

Erradamente chamado ouro de Viana, pois a “capital” é na Póvoa de Lanhoso, é contudo nesta região, que a mulher faz, através do seu peito ourado, a sua melhor montra. Como já foi dito, o ouro está ligado a símbolos, assim ele não é colocado ao acaso. É preso no vestuário, para que todo o peito fique coberto, de forma triangular, com o vértice voltado para baixo, nunca podendo ultrapassar a linha da cintura, simbolizando o sexo feminino pela semelhança à púbis e ligado à fertilidade.

Tudo terá começado então na Pré-História, onde o ouro era usado por quem tinha mais poder. Segundo Estrabão, autor romano (65 a 25 a.C.), na época dos castrejos Galaicos, as mulheres, no Noroeste da Península, eram donas de proprie6 dades. Sendo a matriarca da família, todos os bens, tal como o ouro, eram transmitidos pela linha feminina. Perdem contudo esse poder, sob o domínio Romano e Árabe, incidindo na religião. Nessa altura, passou a adorar-se um deus masculino e criador da vida. As mulheres, contudo privilegiaram a adoração a entes femininos, transformando o sentido de sacrifício em festa e alegria.

Georges! Anda ver o meu país de romarias e procissões! Olha essas moças, olha estas Marias! Caramba! Dá-lhes beliscões! Os corpos delas, vê! São ourivesarias, Gula e luxúria dos Maneis! António Nobre in Romaria Senhora d’Agonia 2009.

Os botões eram a primeira peça de ouro que as meninas tinham, oferecidos pela madrinha, quando nascia. Se a criança morresse, eram vendidos para pagar o funeral, se não, eram trocados pela madrinha, à medida que ela crescesse, até ter os Brincos à Rainha. Não se sente “ourada” a mulher de Viana, que traz o seu colar de contas e os brincos no dia-a-dia. Em caso de necessidade, as arrecadas eram as últimas peças a “pôr no prego”, e mesmo assim era uma de cada vez, pois eram chamadas de “fanadas”.Ocultavam essa situação besuntando a orelha com unguento ou pintando-a de alvaiade.



080 Cordão Ás raparigas namoradeiras era oferecido pela madrinha o primeiro cordão, usado no traje de domingar e no de ir à feira. Quando fosse mordoma, a mãe oferecia-lhe outro que era usado com o traje de festa ou de luxo. Era a mãe que escolhia, se o cordão era grosso (soga) ou fino (linha), nunca a lavradeira usava o oco. Nesses cordões, com dois metros ou mais, para poder dar várias voltas ao pescoço, tinham já várias peças: libras ou meias libras, borboletas (corações invertidos, mais uma vez lembrando a fertilidade), laça, a custódia. Nas orelhas, os brincos à rainha. Era esta oferta feita pelo S. João, altura em que ela colocava também, ao pescoço da filha, o amuleto das três moedas de vintém, ou de um conjunto de três moedas furadas.

Por estes orifícios passava um fio de linha, com as pontas unidas, com três nós sobrepostos. A filha, por sua vez, prometia-lhe não mostrar este amuleto a ninguém, e que só lho tiraria quem lho colocou.

é a mais trabalhada e expoente do ouro no Minho. Tem estes nomes, pois associam-nos às correntes que sustentavam os potes à lareira ou às escamas da pele da cobra.

Antes de sair para a igreja, para casar, era também a mãe, que o tirava. Dizem aqui, que aquela expressão popular “tiraram-lhe os três”, não era mais que o resultado deste acto. No dia do casamento, o marido oferecia-lhe outro, e, nesta altura ela já podia ter um trancelim. Peça mais trabalhada, que pode ser chamado de lampião, de rodilhão ou de losangos, conforme o formato das peças que o formam. Quando eram mais velhas, sendo morgadas, sinal de casa farta e boa lavoura, passavam a usar a Gramalheira, o Gramalhão ou a Bicha, peça que

Trazer ouro no pescoço Brinquinhos a dar a dar, É bonita, gosto dela Tem olhos de namorar. Cancioneiro Popular



082 Arrecadas

Colar de Contas

Conhecidos também por de Bambolina ou Pelicanos, são brincos usados pelas mulheres mais humildes. De origem castreja, de forma lunar. A bambolina representa o filho, tendo estes brincos a virtude de afastar espíritos maléficos.

De origem Etrusca e Fenícia, produzidas também pelos gregos, sendo as contas primitivas em ouro maciço. Ainda hoje, qualquer rapariga gosta de ter o seu colar de contas.

Argolas Carniceiras

Antigamente, as raparigas compravam-nas, uma a uma, à custa da venda dos ovos, dos produtos da horta e das galinhas, enfiadas depois num fio de correr rematado por dois pompons.

Argolas ocas, de influência castreja, assim chamadas, por serem usadas pelas mulheres de donos de talhos.

Não tinham número certo, mas iam até meio do pescoço, aumentando o seu tamanho, conforme a necessidade, através do nó corrediço. Ainda hoje o preço de uma conta pequena é equivalente ao valor de uma galinha do campo.

Brincos à Rainha

Cruzes

De inspiração rocaille, do período de D. Maria II. São amuletos de fecundidade, arredondados e com o vértice para baixo.

Podem ser de canovão, de resplendor, barrocas e de malta.



084 Memórias

Coração

Peças ocas de abrir, redondas, ovais ou quadrangulares e que podem conter: madeixas de cabelos, frases, orações, fotografias, normalmente lembrando alguém.

Foi oferta de D. Maria I, como ex-voto, ao Coração de Jesus, para obter a graça de ter um filho varão, e mandando-o timbrar nas condecorações nacionais: Ordem de Cristo, Avis e Santiago.

Laças

Hoje é a peça que, no ouro, melhor espelha o Amor de Viana. O ouro no Alto Minho é usado, ainda hoje, embora de forma inconsciente, como forma de rito e de louvor à vida.

Atribuída a D. Maria Ana da Áustria, a célebre “laça de esmeraldas”, sendo a primeira jóia, verdadeiramente do Minho. Tem este nome, pela existência de uma argola colocada na parte de trás, para ser usada com uma fita de seda.



Muito bem parece o ouro, No peito de uma donzela, Menina se quer ter honra; Menina faรงa por ela. Cancioneiro Popular



088 O lema da cidade é: VIANA É AMOR. Nada mais apropriado para a qualificar, assim como ao seu artesanato, muito rico em qualidade e cor, e sem dúvida alguma feito com muito amor. As rendas, foram os primeiros trabalhos conhecidos a ser comercializados com a Flandres no Séc. XVI. Pode-se dizer que o artesanato nasce por acção da mulher. Desde tempos ancestrais, a mulher do Alto Minho tem grande importância na vida económica familiar. A ela cabia o cuidar da educação dos filhos, cuidar dos campos e gerir o património. Ausente o marido, emigrante ou pescador, era ela que tomava as rédeas do governo da casa, sendo também mais arreigada à terra e aos costumes locais. D. António Costa em 1874 observava que: “ao contrário do que em toda a parte sucede, a mulher, no Minho, é que toma verdadeiramente o lugar do homem, e o homem não passa de acessório”.7 È ela, que depois dos trabalhos do campo feitos, a lida da casa realizada, para quebrar a monotonia das noites, fiava, tecia e bordava, fazendo os fatos que vestia. Ramalho Ortigão escreveu que “a camponesa de Viana é donairosa, fértil, hospitaleira e coquette, que quando traja à vianesa atinge o auge do encanto e está dos pés à cabeça, ricamente vestida pelo trabalho que ela só executou”. Bordava o enxoval das filhas, bordando também por encomenda para vender, obtendo assim, um dinheirinho extra, que amealhava.

No campo cultivava o linho, que “dá muitos tormentos”, como diz o povo, e buscava a inspiração, que transportava, para toalhas, camisas de romaria, aventais e, para os lenços de amor que ofereciam ao seu amado. Alguns estudiosos, crêem, que talvez a origem das cores, viessem, de povos nórdicos, que povoaram a zona de Afife e Areosa. Ainda há poucos anos, se encontravam mulheres e meninas, já que as mães cuidavam em ensinar-lhe o “regional”, nas escadas das casas, ao sol a bordar. A indústria dos bordados surgiu a partir de 1917. D. Geminiana Abreu Lima, recolheu bordados feitos pelas mulheres das aldeias, e fundou o primeiro atelier com três bordadeiras.



090 Os Bordados

Aventais

São em lã e fio de algodão sobre linho, meio linho, tule e veludo. Os bordados a lã nasceram, para uso no traje regional, e a lã empregue era tingida em casa, por meio de infusão em corantes vegetais.

Os aventais assim como as saias, são tecidos em lã. Originalmente os motivos eram geométricos, que só depois de dominarem a arte de tecer, passaram a ter motivos florais como rosas e japoneiras (camélias). No traje de mordoma, o avental é em veludo bordado a vidrilhos “cor de luar”, que é o mesmo do fato preto ou de noiva.

Os de linha, são para bordar em linho, nas toalhas, camisas e lenços de amor, sendo os de veludo, para os aventais do traje de noiva. Usavam também fios de ouro e prata, mas só empregue em paramentaria. As cores tradicionais dos bordados regionais são o azul, vermelho e branco. Os pontos empregues são vários; crivo, caseado, pé-de-flor, cadeia, recorte, o de formiga simples ou duplo. Os motivos como já foi referido, são essencialmente florais; rosas, uvas, gavinhas de videira, camélias, etc. Nas toalhas bordam-se os cantos, orla e centro, raramente se enche toda a superfície.

Esse “abantal aos cadrados É cortina colorida Da fonte dos nossos sonhos, Da porta da nossa vida. Cancioneiro Popular



092 Trajes de Lavradeira ou de Festa

Palmitos ou Ramo

Chinelas

O traje de lavradeira e as sacas de romaria são mais berrantes na cor e aplicações. Pode ter missangas, lantejoulas e palhetes, no forro e nos coletes, e os motivos são contornados a trena, cordão formado por vários fios dourados.

Símbolo cristão, usado na Quaresma e benzido no Domingo de Páscoa. São feitos de folha de palmeira natural, trabalhada. Entrançada e encanastrada, é depois decorada com flores de cera, pano ou papel e fios de trena.

São também confeccionadas manualmente. Podem ser de verniz, com um laço de fita preta, utilizadas com o traje de mordoma ou de noiva, as outras são bordadas a lã, e são utilizadas com os fatos à lavradeira.

Nos coletes, as costas são as mais ornamentadas, pois a frente, já tinha o peito para ser mostrado. Nas camisas de mulher, borda-se o colarete (preocupação erótica), para atrair os olhares para a zona do pescoço.

Não são de palha, embora pareçam, mas a folha de palmeira, depois de seca, fica com este aspecto. São usados pelas mordomas, no dia de festa do padroeiro da terra, e o ramo era oferecido pela noiva como homenagem e jeito de pedido de protecção a Nossa Senhora.

Borda-se o tufado das ombreiras, que sugeria mulher farta (gordura era formosura) e a silva que orna o forro (orla da saia), atrai os olhos para os tornozelos, pois nenhum traje era comprido, tapando os pés.

Fazem-se palmitos, em folhas douradas, prateadas, formando flores, sendo os centros em espelho.

A lã, deu-lhe a ovelhinha branca O linho, esse, nasceu no seu linhar Depois, foi trabalhar com perseverança: Fiar, dobar, tecer, coser, bordar...

Chinela dos meus desejos Calça pezinhos de fada E faz subir meus desejos P’la linda meia rendada.

Alfredo Reguengo in Guião da Festa do Traje 1953.

Cancioneiro Popular



094 Lenços dos Namorados ou de Amor Na sociedade rural pobre, dos fins do Séc. XIX e princípio do Séc. XX, eram objectos carregados de um grande peso simbólico. Confeccionados em linho fino bordados a ponto cruz, a vermelho e muito raramente a preto, eram testemunhos de amor. Peças únicas para amores únicos, eram usados nos bolsos, preso à cintura ou escondido no seio ou punhos e nas mãos.

seu fato de mordoma, que mais tarde será o mesmo do fato de noiva. A simbologia dos motivos empregues estão todos relacionados com o amor. Corações enlaçados, amor, chaves, para abrir ou fechar os corações, cães fidelidade, trevos, sorte, fortuna, pombas, ternura de namorados. Por vezes aparecem também as custódias ou os relicários, pois consideravam que o amor que os unia era sagrado.

Eram um penhor de amor e fidelidade em dramáticos momentos de despedida, por isso também lhe davam o nome de Lenços da Tropa. A rapariga que o recebia, usava-o só em momentos especiais: em dia de festa do santo padroeiro, quando era mordoma, para segurar a vela votiva ou palmito, no dia do casamento, em que ele abraçava o seu ramo de noiva, e aquando da sua morte para lhe cobrir o rosto.

Algibeiras: Ó meu amor; ó Maria Meu carinho e meu enleio, És fogo nesta Agonia. No começo, fim e meio.

Por sua vez, o rapaz, se aceitasse o compromisso, usava-o em público, no bolso esquerdo do casaco, e daí o tirava para o pôr no ombro onde apoiava a vara do andor, em dia de procissão. Quando oferecidos pela namorada ao rapaz do seu encanto, ela exprimia os seus sentimentos em verso, com expressões de amor, fidelidade e dedicação. No centro do campo figura sempre o escudo real, igual ao do avental, do

Peça de pequenas dimensões, carregada de profundo simbolismo, quer pela sua forma de coração, quer pela colocação, quer à esquerda ou à direita da saia, que revela a existência ou não de namorado. No dia do casamento passa definitivamente para a esquerda, pois era já casada. Nela prendia o lenço, e na pequena bolsa que tem no interior, escondia os bilhetes do namorado.

Meu lenço recorda o dia Que um amor feliz deixou, Ou abafa a agonia De quem sofreu, porque amou um dia.. Cancioneiro Popular



096 Pirotecnia

Vela Votiva

Para o minhoto, romaria que não meta foguetes e lágrimas e um vira geral não é festa. São verdadeiros espectáculos de luz e cor, que deixa a todos boquiabertos e de cabeça no ar, para ver o rebentar das bombas, das bichas e serpentinas de fogo! Viana sempre teve pirotécnicos famosos como José de Castro e Manuel da Silva & Filhos conhecidos aqui e no estrangeiro.

Vela usada pelas mordomas no dia da festa do padroeiro da aldeia, era símbolo de pureza exigida às jovens. Oferecida pela madrinha, à rapariga que fosse mordoma, segurando-a acesa durante a missa. Se ela se apagasse, punham em causa a pureza da mordoma. Contam até, que os rapazes, também mordomos, que assistindo à missa por de trás delas, por malandrice, passavam o tempo todo tentando apagar a vela.

Trabalho artesanal perigoso, provocando por vezes acidentes terríveis e até mortais, não deixam por isso de obter verdadeiras obras de arte, que nas Festas da Agonia atingem o esplendor máximo na Serenata sobre o rio. Muitos outros artesãos existiram, mas que se foram perdendo, pois o progresso e a melhoria de vida assim levaram que acontecesse.Foi o caso dos tanoeiros, funileiros, latoeiros e tamanqueiros, sendo estes últimos, os únicos, que ainda fazem tamancos para os ranchos folclóricos. O plástico, o metal e a loja dos chineses acabaram com estes tipos de artesanato!

Este fogo é da Santa Quem havia de dizer? A minha farra foi tanta, Que me botei a perder. Cancioneiro Popular

Também são executadas manualmente, em linha de algodão as meias rendadas que usam, ou as de lã grosseira, para os trabalhos do campo. Os motivos são empregues em todo o tipo de artesanato, caixas em forma de coração, tabuleiros, álbuns de fotografias, carteiras. Com o aparecimento de novos designers, modernizou-se o artesanato, não perdendo contudo a cor e o encanto do tradicional. Desta forma eram também feitas as flores que enfeitavam os andores, no dia da procissão. Também são executadas manualmente, as meias, em algodão para os dias festivos, em lã grosseira, para os trabalhos do campo.

Mordoma, vela pela vela. Não a deixes apagar; Se a vela se vai à vela, Podes ficar por casar! Cancioneiro Popular



Minhas mãos, tão pobrezinhas, P’ra se aquecer, não tem meios; Na Agonia, coitadinhas, Aninham-se entre os teus seios. Quadras e contos da Agonia



100 Pequena História O povo aldeão, naturalmente artista, Imitador dos dons da natureza, Criou a maravilha colorista Que hoje se chama o Traje à Vianesa Reproduziu as cores que viu nos prados, Nas folhagens, nas flores ornamentais E estilizou-as todas em bordados E no tecido em floridos aventais… Lançou depois estrelas em seus brilhos Junto às linhas de cor das bordadeiras, Na refulgência estranha dos vidrilhos Que ornamentam coletes e algibeiras. A lã, deu-lha a ovelhinha branca e mansa, O linho, esse, nasceu no seu linhar; Depois, foi trabalhar com preserverança: Fiar, dobar, tecer, cozer, bordar… E desse imaginar de artista nato E desse trabalhar em sonho e beleza, Nasceu a maravilha desse fato - o inimitável Traje à vianesa. Alfredo Reguengo in “Guião da Festa do Traje 1953”

Comentou Ramalho Ortigão aquando uma visita ao Alto Minho, em 1885: “Prezo-me de ter visto mulheres e de ter reparado nelas em vários locais, e eram a legenda da formosura: Pois bem! Eu acho-me hoje na obrigação de declarar que nunca, em parte alguma, vi mulheres mais bonitas do que algumas das que vi a vender na feira de Viana”. 8 Durante as festas cruzamo-nos constantemente com esta beleza e cor, vestidas de lavradeira, onde é rainha. Como dizia Felipe Fernandes, “as raparigas de Viana são donas das bocas mais lindas do mundo, bocas sangrentas, moldadas pelo inventor do beijo, bocas que sa9 bem beijar.” Confirma também já em 1934, que as mulheres de Viana são: “de olhos so-nha10 dores, bocas rubras a prometerem carícias loucas, corações ardentes palpitando de amor”. São sedutoras, mas é na Festa do Traje, a sua festa, que melhor estão representados os seus costumes, tradições, e os trajes, que só ela soube tão bem executar e preservar, num espectáculo de cor e alegria. Pelos nossos olhos passam: o namoro junto ao cruzeiro, o casamento, o baptizado, o morgado, o malhar do milho, o velório mais as carpideiras, e os ranchos, com os seus cantares e dançares. É no traje que as atenções se prendem. O vermelho, o azul, o verde, o preto, o bordado das camisas, os aventais, a graça das algibeiras, as chinelinhas de verniz, o ouro ao peito? Não há olhos que cheguem para ver tudo!



102 Traje de Trabalho ou Cotio O traje à Lavradeira nasceu do traje de trabalho ou de cotio. Pode variar de aldeia para aldeia, mas a sua origem está no traje da Areosa. Explicam-se estas diferenças pela situação geográfica das várias aldeias.

Também conhecido por “traje da erva, de ir ao monte ou fato do mato”, usado nos trabalhos do 12 campo, na veiga, na monda.

Por um lado, as povoações do litoral, eram menos fartas embora com muito trabalho, de que só as mulheres se encarregavam, pois os homens, ou eram pescadores, ou estucadores, o que os fazia sair da terra. Não sobrava tempo à mulher para se dedicar à parte estética do seu traje.

Tem saia de riscas brancas e pretas e forro (faixa de 30 cm, que remata a saia) aos quadrados pretos e brancos, apertada na cintura por fitas de algodão, com que se faz um laço deixando uma abertura chamada de “bichaneira”.

Por outro lado, nas aldeias da Ribeira Lima, os homens estavam ligados à lavoura, eram mais caseiros, e as mulheres tinham mais fartura de meios e x mais tempo para se dedicarem ao seu trajar.

O avental é de lã; camisa de linho grosso, sem bordados; colete de barra preta e tecido de fantasia, sem enfeites. Na cabeça, lenço vermelho com ramagens ou chapéu grande de palha; nos pés socos, sem meias, podendo andar descalças. No caso de irem “ao mato”, usavam umas caneleiras de lã grosseira, para não se arranharem com os picos.

Cláudio Basto definiu-o bem ao escrever: “Se, dos trajes à lavradeira o de Afife é o mais simples, o vermelho de Santa Marta de Portuzelo é o mais complexo na riqueza de ornatos e de cores, e o da Areosa o mais vermelho e o mais “à vianesa” dos trajes.” 11 Quero dizer com isto que é o mais “conservador”, ou antes o mais “conservado”. Menina da mordomia, Não sejas tão altaneira! Lembra-te bem que um dia Já te entrei p’la bichaneira! Cancioneiro Popular



104 Traje de Domingar ou Lavradeira

Traje de Meia Senhora ou Morgada

Destinado a ir à missa, ao terço, para namorar, e para fazer os pequenos trabalhos de Domingo. Varia conforme o colorido do “forro” da saia: saia branca com forro azul, liso.

Fato “copiado” às senhoras da sociedade de Viana, embora com interpretação própria.

Avental de cós e listas horizontais, com motivos geométricos em “puxados” de lã de várias cores; camisa branca de linho, bordada a branco, nas ombreiras e punhos. O colete com cinta preta, sendo a parte superior em azul com aplicações em zig-zag em fio de algodão. Lenço na cabeça apertado atrás, e nos pés, meias brancas de algodão e socos. Neste grupo existem também em azul ou roxo, chamado de “nojo” ou luto. O traje verde pertence só às terras de Geraz do Lima, na margem esquerda do Rio Lima, que foi buscar a cor ao verde das terras fartas das margens do rio. Surgiram em 1848, havendo quem diga ter sido criado em homenagem à rainha D. Maria II, aquando da sua visita à cidade de Viana.

Este fato diz-nos que, a lavradeira, mesmo com o casamento, não atingiu o estatuto de “senhora”, conforme as distinções sociais da época. Contudo era significado de casa farta, boa lavoura, soalhos encerados e criadagem. Larga o avental símbolo de trabalho, os tamancos por botinhas, mantendo no entanto o lenço na cabeça, que desta vez é de seda. Um saco de algodão na mão substitui a algibeira e a saia passa a ser em tecido leve de cores, lavrado ou florido, e, na mão um guarda-sol.



106 Traje de Mordoma ou Morgada

Fato de Noiva ou das “Velhas”

Tem saia de fazenda preta, com forro de veludo bordado a vidrilhos. Avental de veludo, com a coroa real e outros motivos bordados a vidrilhos e com guarnições de cetim. A casaca é preta, também bordada a vidrilho, com renda nos punhos e colarinho. A algibeira, è preta, também bordada.

Hoje em dia já há quem não desdenhe de vestir este fato, no dia de “cruzar o arco” da igreja, o dia do casamento. É em tudo igual ao de mordomia, difere apenas na substituição do lenço, que é branco de tule (balbinete), delicadamente bordado.

Na cabeça, lenço de seda natural, franjado. Meias brancas de algodão e chinelas pretas, bordadas a branco. Na mão, segura a vela votiva envolta no lenço de amor.

O trajar do homem é mais simples. No trabalho, é de tecido grosseiro, camisas de cor bege, e tamancos nos pés, distinguindo-se o fato de morgado, que por ser o filho do dono das terras, é todo em linho.

Este traje de mordoma, existe também em azul cobalto, com a diferença de ter camisa branca de linho bordada a azul, e colete bordado a retrós e vidrilhos Indica que a casa é “farta”, tendo possibilidade de fazer um traje para cada ocasião. O outro mostra que a “casa”, já não è tão abastada, e que mais tarde este fato era usado no dia do casamento.

Nas mãos, o ramo de noiva. Os chinelos são em verniz guarnecidos a cetim.

Nos dias de festa, os fatos são em fazenda preta, as camisas, em linho bordadas a vermelho. No casamento, a camisa passava a ser bordada a branco.



108 Traje de Sargaceiro Característico de Castelo de Neiva empregue na apanha do sargaço, que servia, depois de seco, para adubar as terras. Este traje é muito simples, além de andarem descalços, pois andavam sempre dentro de água. É feito em branqueta (fazenda que não transmite ao corpo a sensação de molhado). Por isso, tanto o homem, como a mulher se metem na água do mar sem qualquer outra peça de vestuário. Nos homens é uma espécie de casaco comprido, com roda que chega aos joelhos, justo ao peito, apertado na cintura por uma correia. As mulheres usam uma saia curta, pouco rodada e uma casaca, apertada ao lado por botões, na mesma branqueta. Na cabeça, em vez de um carapuço em lã, usam o sueste (chapéu de oleado, influência dos usados nos bacalhoeiros da Terra Nova).

A festa faz-se, acompanhada de muita música. O toque dos ferrinhos e o trilho dos cavaquinhos misturam-se com a melodia das braguesas. À ordem do mandador para “virar” as chinelas delicadas batem no chão, e rodam com os bailadores, dando-nos também a nós a vontade para dar as voltas do malhão e da cana verde. E depois há o Vira Geral, onde todos, forasteiros e bailadores, se envolvem neste bailar de encanto! Calam-se os últimos foguetes. As últimas lágrimas da Serenata apagam-se no sereno Lima. Emudeceram os sons da festa, deixando-nos no coração uma imensa saudade. Todos partem... Com a certeza de que dia em que se encontrarão outra vez! E com Viana? Ficarei sempre com ela...



Deixa o gado, anda bailar, Maria dos meus desejos... Anda para a roda danรงar, Juntar os teus, aos meus beijos. Cancioneiro Popular



112 Qual gavião esfaimado, Pairando sobr’Agonia, Meu olhar voa picado P´ro decote da Maria! Ao falar da gastronomia, não nos podemos esquecer da hospitalidade franca e amiga dos minhotos, onde todos são bem recebidos, com simpatia, fartura e alegria! As refeições, são em geral demoradas, onde há tempo e se come devagar, e há sempre qualquer iguaria nova a experimentar, ou a recordar o sabor, como a marmelada com queijo à sobremesa. É difícil falar dela, não que não haja do que falar, a dificuldade está na escolha. Desde o arroz de lampreia, lampreia à bordalesa, o bacalhau à Margarida da Praça, o sável de escabeche, ou assado no forno, onde as espinhas se separam completamente, o cabrito à Serra d´Arga, os rojões e papas de sarrabulho, o arroz pica no chão, o arroz de feijão com pastéis de bacalhau, o arroz de pato! Nos doces é um sem fim: Arroz doce cremoso, leite creme à Prior de Vila Franca (com pinhões), mexidos de amêndoa, que antigamente só se faziam pelo Natal, formigos, migas doces, sopa dourada, torta de Viana,

pão-de-ló, cozido em formas de barro tapadas e forradas de papel cavalinho, bolo obrigatório nas mesas, no Domingo de Páscoa. Em Viana, quem nunca provou os Sidónios e Jesuítas da Brasileira, os manjericos de ovo do Zé Natário, as meia luas, massa tenra recheadas de gila e amêndoa receita do antigo convento de Santiago, as empadas de lampreia, as bolas de Berlim e o pão-de-ló do Manel Natário, tão gabados por Jorge Amado, não conhece o doce vianês! Aguço-vos o apetite com a receita de alguns petiscos:

Rojões para 6 pessoas 1,500 kg de perna de porco, mas com gordura 500 g de chouriço de verde 1 kg de belouras 1 kg de tripa enfarinhada Meio litro de vinho branco, aproximadamente Cortam-se os rojões em bocados grandes, que se marinam em vinho branco verde, sal, pimenta, louro e cominhos e alho. Levam-se ao lume numa panela, de início só na marinada, juntando a banha necessária para acabar de cozinhar e alourar os rojões, somente quando o vinho branco ficar consumido. No fim, adiciona-se um pouco de colorau dissolvido em vinho, só para dar cor ao molho. À parte, numa frigideira, fritam-se as tripas enfarinhadas, a chouriça de verde e as belouras. Servem-se com batatinhas alouradas na gordura onde se fritaram os enchidos.


Papas de Sarrabulho para 6 pessoas

Torta de Viana

Sopa Dourada

Meia galinha gorda 500 g de costeletas de porco frescas e magras 125 g de presunto 500 g de carne de vaca 500 g de sangue de porco ¼ kg de miolo de pão de regueifa Sal, pimenta e cominhos q.b.

10 gemas de ovo 4 ovos inteiros 200 g de açúcar 170 g de farinha Raspa de limão ou laranja

Partem-se fatias de pão-de-ló da grossura de um dedo, que se embebem, numa calda de açúcar com canela em pó, em ponto de pérola. As fatias são retiradas da calda e espremidas, antes de se colocarem numa travessa de ir à mesa.

Batem-se as gemas com o açúcar, e junta-se a raspa de laranja ou limão. Batem-se as claras em castelo, que se juntam também à massa. A seguir, deita-se a farinha, já peneirada, e batese levemente. Vai a cozer num tabuleiro forrado de papel vegetal, não se deixando cozer de mais, para ser mais fácil de enrolar.

Quando se esgotarem as fatias, fazem-se os ovos moles, com meio quilo de açúcar, coberto apenas de água, e faz-se atingir o ponto de fio. Nessa altura, misturam-se doze gemas de ovos, apenas cortadas, não batidas,e vai ao lume a engrossar.

Põe-se a cozer em 2 litros e meio de água fria a galinha, costeletas, presunto e a carne de vaca ,ficando tudo bem cozido, para que se possa desfiar à mão todas as carnes. A espuma que se forma à superfície, deve ser toda retirada. Retiram-se as carnes e côa-se o caldo, a que se junta o miolo do pão e as carnes já desfiadas e volta ao lume, mexendo sempre, até ficar uma açorda consistente. Num tacho à parte coze-se o sangue de porco num litro de água com sal, até ficar cozido por dentro. Quando o sangue estiver cozido, retira-se da água, espreme-se muito bem e esfarrapa-se à mão, juntando-se então na panela onde já está o pão e as carnes. Deixa-se levantar fervura em lume brando, tendo o cuidado para não pegar ao fundo da panela. Se necessário, acrescenta-se água de cozer o sangue. Rectifica-se de sal e pimenta, e juntam-se os cominhos. Tanto estes, como a pimenta devem sentir-se bem.

Faz-se um creme com 4 gemas e 100g de açúcar. Desenforma-se a massa sobre um pano humedecido e polvilhado de açúcar. Recheia-se com o creme, e enrola-se cuidadosamente.

Deitam-se os ovos moles em cima do pão-de-ló, que se cobre de canela.


114 Leite de creme à Prior de Vila Franca

Mexidos à moda do Neiva

Água de Unto

250 g de açúcar 1 litro de leite 2 colheres de sopa de farinha maizena 8 gemas Casca de limão Pinhões

Era uma sobremesa de Natal, feita pelas famílias menos abastadas. Os ingredientes, existiam em casa, e a sua confecção, não requer dotes culinários.

50 g de unto (gordura da barriga do porco) 1 cebola 2 colheres de sopa de azeite 200 g de broa 3 ovos

Batem-se as gemas com o açúcar e a casca de limão, até estarem bem fofinhas, junta-se então o leite a que se misturou a farinha. Vai ao lume até levantar fervura, tendo o cuidado de mexer sempre, para não se pegar ao fundo do tacho. Juntam-se então, os pinhões a gosto, retira-se a casca do limão, e deita-se em travessas. Queima-se com o ferro próprio de queimar o açúcar, depois de frio.

Água, mel ou açúcar, sal, pingue d’unto (gordura de porco),canela e petim (como é chamado o pão das rabanadas). Numa panela de barro deita-se a água, depois o pão em pequenos pedaços, junta-se uma colher de pingue d’unto, adoça-se com mel ou açúcar e acrescenta-se uma pitada de canela. Estando bem fervido, põe-se em travessas, e enfeita-se com canela. As famílias de maiores posses, juntavam vinho do Porto, amêndoas, nozes e pinhões.

Põe-se ao lume 1,5 l de água com o unto, o azeite e a cebola, cortada em rodelas muito finas. Tempera-se de sal. À parte, batem-se os ovos, que se juntam à sopa, só na altura de servir, deixando-os cozer. Distribuem-se por malgas (tigelas), onde se deita a broa esfarelada. No tempo da guerra, quando o açúcar faltava, substituía o café e o leite, na primeira refeição da manhã.


Caldo dos Pobres

Vinho Quente

200 g de toucinho entremeado 8 folhas de couve-galega Meia chávena de chá de arroz, e meia chávena de arroz de massinhas 1 colher de sopa de azeite Sal

6 ovos 250 g de açúcar 2,5 dl de vinho verde tinto 2,5 dl de vinho Moscatel ou Madeira 2,5 dl de vinho do Porto Pão duro 1 l de água temperada de sal

Põe-se ao lume o toucinho com bastante água. Quando estiver quase cosido, junta-se a couve cortada em tiras largas, o arroz e as massinhas. Tempera-se com azeite e sal, e deixa-se apurar. Pode também juntar feijão canário, neste caso, o feijão coze ao mesmo tempo que o toucinho. Vulgarmente, a gente do campo, retirava o conduto, que comiam separado do caldo. Esta sopa, era muito importante no meio rural. Fazia-se todos os dias, em quantidade suficiente, para a refeição do meio-dia, e da ceia.

Batem-se os ovos com o açúcar, até fazer gemada. Leva-se ao lume o litro de água com sal, deixando levantar fervura, juntando nesta altura os vinhos, menos o vinho do Porto, que voltam a ferver. Fora do lume, e lentamente, junta-se à gemada, levando novamente ao lume brando até ferver, para cozer as gemas. Fora do calor, junta-se o vinho do Porto, mexese, e, se necessário, junta-se mais um pouco de açúcar. Na altura de servir, aquece-se o vinho, em banho-Maria, e serve-se em chávenas, com bocadinhos de pão, fazendo sopas. É tradição servir-se este vinho, com os fritos depois da Missa do Galo. Por curiosidade, dou a seguir duas receitas, que embora estejam em desuso, há ainda quem se lembre de as tomar, quando os tempos eram de maiores necessidades.


Ó meu São João Baptista De que quereis as capelas? De crabos e mais de rosas, Com crabinas amarelas? Cancioneiro popular



118 Páscoa Na Primavera, quando tudo começa a estar florido e verde, chega a Páscoa, depois de um tempo de Quaresma bem cumprido. Todos se empenham nas limpezas de Primavera, e se as casas precisam de pintura, faz-se, para se celebrar o Domingo de Páscoa. Depois do Sábado de Aleluia, com os sinos a anunciar a Ressurreição de Cristo, todos se preparam para a visita do Compasso, como é chamado ao grupo que acompanha a cruz. Normalmente o dia é de sol, embora, em certos anos a chuva estrague a festa, que não deixa de fazer-se, e depois de uma missa bem cedo, todos vão ultimar os preparativos para a chegada da cruz. Formam-se tapetes de flores à entrada das casas; alecrim, rosmaninho, erva doce, pétalas de flores, folhas de palmeira, que depois de pisadas, exalam um perfume doce, põe-se a mesa com pão-de-ló (é tradição do Domingo de Páscoa), amêndoas, queijo, bolos brancos, rebuçados da Páscoa e vinho do Porto. Acompanhado pela banda de música, chega o “Compasso”. À frente vem o rapaz da campainha, que anuncia a chegada da Cruz, o rapaz da caldeira da água benta, o Sr. Abade, o juiz da Cruz e os mordomos da cesta, para recolherem o folar, e os visitantes que desejam beijar a Cruz naquela casa.

Ao entrar diz: Aleluia! Aleluia! Aqui entra Jesus Cristo ressuscitado, aleluia, aleluia! Salpicando de água benta todos os presentes, e dá a cruz a beijar, todos respondem; Aleluia, Aleluia. Depois é uma correria pois temos os vizinhos e amigos para visitar, e repetese a mesma cerimónia. Á noite, entre o repicar dos sinos, cânticos e a presença da banda de música, a Cruz recolhe à igreja, com a bênção do Sr.Abade. Há no lugar das Neves, que pertence a três freguesias; Barroselas, Mujães e Vila de Punhe, a mesa dos três abades, onde estes se encontram no fim da visita Pascal, para confraternizar.



120 Consoada

Maios

“Há só um banquete português que desbanca todos os jantares de Paris, mas que os desbanca inteiramente, é a ceia da véspera de Natal das nossas terras do Minho”, assim dizia Ramalho Ortigão.13

Festa de origem pagã, representa a chegada da Primavera, o início do ano agrícola, o rito da fecundidade, com o desejo de boas colheitas.

A Ceia de Natal ou Consoada é motivo de grande alegria. Todas as chaminés fumam com o cepo de madeira de carvalho, com as pinhas a abrirem para soltarem os pinhões, envolvendo todos no mesmo espírito, aquecendo a noite fria. Geralmente é na casa dos avós ou dos pais que todos se reúnem. Na mesa há bacalhau, que deve ser de lasca de lombo grosso, batatas, que para além de serem grandes, não se devem esfarelar, cebolas cozidas e couve-galega, tudo cozido no ponto, polvo cozido e bem temperado de bom azeite. Tudo isto bem acompanhado por bom vinho verde tinto, encorpado, negro, que deixa marca na malga e nos dentes. Os doces são muitos: filoses (filhoses), rabanadas ou fatias paridas, mexidos, formigos, arroz doce, leite-creme, aletria, sonhos de abóbora menina. Também há nozes, castanhas, avelãs, amêndoas e pinhões, que vão saindo das pinhas, que estão a abrir, com o calor da lareira. Conversa-se, joga-se às cartas ou ao rapa, esperando a hora de abrir os presentes. E chegando a meia-noite vão à Missa do Galo. No Alto Minho, há a tradição, de se pôr um lugar a mais na mesa, em memória de todos os que já faleceram.

Conta a lenda que, Herodes, soube que a Sagrada Família, na sua fuga para o Egipto, passaria a noite em certa aldeia. Por isso, resolveu matar todas as crianças do sexo masculino desse local. Alguém lhe disse não ser necessária tal mortandade, e, embora não lhe dissesse onde dormia o Menino Jesus, lhe disse que iria colocar, um raminho de giesta no local onde ele estivesse. Na manhã seguinte, com grande surpresa dos legionários, todas as portas das casas da aldeia, tinham o tal raminho de giesta, impedindo-os de fazer o que lhes tinha sido ordenado. Nos tempos mais antigos o Maio, era um homem ou rapaz, coberto de flores, que seguido de moços ou crianças, em procissão, percorria outrora as ruas das nossas vilas e aldeias. Antes do nascer do dia 1 de Maio, põem-se raminhos de giesta em flor, nas portas, janelas e no linho, para afastar a fome, doenças, feitiços… e a entrada das bruxas! Dizem que nesse dia o diabo anda à solta, e, que não entra onde houver o Maio. É para o “burro” não morder o gado, ou dar cabo dos cereais, burro é um bichinho que sobe pela palha dos cereais. No Alto Minho, não é só nas casas que se põe o raminho de giesta, o gado, os carros de bois, e também se ornamentam os tractores e automóveis. O Maio não é retirado no dia a seguir, deve murchar, e há quem o deixe ficar até ao ano seguinte.



122 Reis ou “Reises”

Reis antigos

Realizam-se a 6 de Janeiro. Um ou mais grupos de pessoas, vão de casa em casa cantar versos alusivos aos Reis Magos, e de saudação às pessoas da casa, depois da Ceia de Reis. Antigamente, eram cantadas por grupos de rapazes, que ensaiavam as quadras, e que tinham por acompanhamento tudo o que servisse para marcar o ritmo. Ferrinhos, pandeiros, por vezes um cavaquinho, mas também serviam as latas, tampas de panelas e até pinhas.

Aqui estão os Reis à porta Dispostos para os cantar. Se os Senhores nos dão licença Nós os Reis vamos cantar. Entrai pastores entrai Por esses portais sagrados, Lá vereis o Deus Menino Numas palhinhas deitado Que menino será aquele Q’inda há pouco foi nascido. É o verbo feito homem O Messias prometido. Depois dão-se vivas aos donos da casa. Ai viva lá o Senhor ( nome da pessoa) Ai raminho de laranjeira. Ai Deus queira que para o ano, Ai esteja da mesma maneira.

Hoje em dia, é um pouco diferente, são grupos adultos que se esforçam para que a tradição não se perca, e servem os “Reises”, para recolher fundos para alguma associação necessitada. Ganhase em qualidade, mas perde-se o improviso e a genuinidade. 14 Em Barroselas, uma vila do distrito de Viana do Castelo, e através do grupo Cantadeiras do Vale do Neiva, muitos desses cantares foram recolhidos e preservados:

Se os patrões da casa, não ofereciam nada aos cantadores, saía logo esta: As Janeiras que aqui cantamos As tornamos a descantar Esta alma do diabo Não tem nada p’ra nos dar 15

Ou então em tom de troça: Esta casa cheira a unto, aqui mora algum defunto!



Porque ser谩 que n贸s temos Na frente, aos montes, aos molhos Tantas coisas que n茫o vemos Nem mesmo perto dos olhos? Ant贸nio Aleixo



128 Lenda do Rio Lima Um dia, nasceu numa serra galega um rio calmo azul e liso, que foi descendo curioso até encontrar o mar e uma povoação tranquila no seu labor diário, cultivando as terras ou pescando. De repente, esta tranquilidade desaparece, com a chegada de soldados estranhos, que invadiram à força das suas lanças, dos escudos e do tropel dos cavalos a tranquilidade daquelas gentes.

Lenda de Viana Quero viver a sorrir Quero viver a cantar Viana a mais linda terra Que é beijada pelo mar. Cancioneiro popular

Chegados que foram à margem sul deste rio, estacaram deslumbrados! Os soldados julgaram tratar-se do Rio Lethes, o rio do esquecimento, de que falavam as lendas do seu país, que diziam que, quem se atrevesse a atravessá-lo, se esqueceria da pátria, família e do seu próprio nome. Em vão os comandantes os mandavam avançar, ameaçando-os com a prisão e a morte. Ninguém se movia!

É também conhecido pelo rio das três senhoras: Senhora da Peneda, da Guia e d’Agonia.

Escutava-a deliciado, um barqueiro de água-arriba, que descarregava sal, milho, vinho, madeiras, ali no cais, ou transportava lavradores e mercadorias pelo rio acima até Ponte de Lima. De tanto olhar e ouvir Ana, começou o barqueiro a apaixonar-se pela linda rapariga. Amor esse, que ia aumentando dia a dia, e que fez com que compartilhasse com os seus companheiros de lida, o que lhe ia na alma.

Então Décio Júnio Bruto, apeando-se do seu cavalo, atravessou a vau o rio, e chegando à outra margem, chamou pelo nome cada um dos seus legionários, mostrando-lhes não lhe faltar a memória. Desta forma, mostrou a seus homens, que este rio, apesar de ser lindo e exercer fascínio sobre eles, não era o Lethes. Então todos atravessaram as águas claras e tranquilas sem receio. Esse rio tem hoje o nome de Lima, e continua a encantar pela sua beleza, a todos os que dele se abeiram.

Havia na povoação de Átrio, terra de pescadores, uma linda rapariga, de seu nome Ana, alegre, de feições delicadas e rosadas, que se dedicava à venda do peixe, que seu pai trazia para terra, sempre com uma canção nos lábios.

Estes sorriam, quando o moço barqueiro regressava de Átrio lhes gritava feliz da vida: - Vi Ana! Vi Ana! Deixa agora o teu penar Rio Lima trovador E diz-me no teu cantar Onde pára o meu amor. Cancioneiro pupular

Passaram os dias, e não satisfeito de só olhar para ela, resolveu falar-lhe, ficando a saber que era também amado pela linda rapariga. Casaram, sendo aplaudidos no dia da boda, com brados de Vi Ana! Vi Ana!, por amigos e convidados. Quem sabe se não teriam contado, a D. Afonso III, esta história de amor, pois ao dar foral a Átrio lhe mudou o nome para Viana.



130 Lenda da Serra D’Arga

Origem da mulher

Um rei visigodo Evígio de seu nome, governava na altura a Península Ibérica. Tinha uma filha única, Eulália, muito bela, e prometida em casamento, por seu pai ao valente guerreiro Regismundo.

Dizem na aldeia de Outeiro, nos arredores de Viana do Castelo, que Deus fez a mulher a partir do rabo de uma raposa.

Mas, Eulália, amava Egica, nobre de sangue real, mas que o rei não desejava para marido de sua filha. Resolveram fugir para encontrarem a felicidade juntos, sendo perseguidos pelos soldados do rei. Procuraram ajuda no mosteiro de Frei Gondemaro, amigo de Egica, que os acolheu e deu dormida, situado no monte Medúleo.

Tirou Deus a costela a Adão e, quando ia para fazer a mulher, veio uma raposa e roubou-lha, fugindo com ela. Correram atrás da matreira e agarraram-na pelo rabo. Porém este rebentou e, para não correrem mais, resolveu Deus fazer dele a mulher.

Na manhã seguinte, dia de sol radioso, os enamorados puderam apreciar uma paisagem esplendorosa, de densos arvoredos, de campos cultivados, rebanhos e animais bravios. Eulália, sugeriu que se chamasse Agro em vez de Medúlio, uma vez que as terras eram tão prósperas. Tendo casado nesse mesmo dia, partiram para um reino bem distante do rei ofendido. Mas sofria de saudades Eulália de seu pai, que por meio de Frei Gondomaro lhes fez saber, que os perdoava se lhe dessem um filho varão, para lhe herdar a coroa. Teve a princesa um filho, e pensando regressar, desejaram passar pela serra onde tinham casado, chamada agora Serra d`Arga, pelo povo, que deturpara a palavra Agro (raiz da palavra agricultura). Até hoje é assim chamada, mantendo o mesmo esplendor doce, agreste e fecundo, onde quem sobe até ao alto, e a volta a descer pode maravilhar-se com cavalos selvagens, nascentes de água e uma paisagem sem igual.

Assim explica o povo a “manha” da mulher.

A pombinha já morreu, Já num tenho portador; Já num tenho quem me lebe As cartas ao meu amor. Cancioneiro popular

Abaixa-te, ó Serra d´Arga, Q´eu quero ver S. Lourenço Quero ver o meu amor Acenar-me com o lenço. Cancioneiro popular



132 “Lembrei-me com olhos humedecidos, da minha aldeia do Minho. Do seu adro sombreado de carvalheiras, a venda com o ramo de louro à porta, o alpendre do ferrador, e os ribeiros tão frescos onde verdejam os linhos...”

para abater na Páscoa. Os feirantes, é que não ficavam muito satisfeitos, porque nessa feira as pessoas conviviam mais do que feiravam.

Eça de Queiroz, “O Mandarim”

Era também dia de troca de namorados, quem não estava satisfeito com o que tinha, trocava-o.

Tradições

Outra tradição desse dia, tanto na feira como em todas as casas da terra, era a de se comer arr-oz doce, feito de véspera.

É rico em tradições o Alto-Minho, que se vão mantendo, umas, porque estão fortemente enraizadas, outras, devido à boa vontade de muitos que procuram preservá-las, mostrando-nos como se vivia noutros tempos. Na vila de Barroselas realiza-se semanalmente uma feira, ás quarta-feira, e não há muitos anos, era famosa a Feira de Cinzas, logo a seguir ao Carnaval. Era muito concorrida e festiva, embora fosse já tempo de Quaresma. Vinha gente de todo o lado, com os seus fatos domingueiros, e até o gado, estava enfeitado com flores, uma fita vermelha ao pescoço com um chocalho, e os cornos eram limpos para irem bem reluzentes. Levar o gado enfeitado era chieira (vaidade) dos lavradores, que levavam sempre a melhor junta de bois para venda. Esses bois, geralmente, eram

Aqui fica a receita, dada por uma pessoa da terra: Leite, uma pitada de sal, açúcar (q.b.), casca de limão e ovos. Abre-se o arroz, em água a ferver temperada com uma pitada de sal. Deixa-se o leite levantar fervura, deita-se o arroz, escorrido da água, a casca de limão e quando estiver já meio encalido (cozido), tira-se p’ra trás e deita-se o açúcar e as gemas batidas, muito lentamente, mexendo sempre para não “emberbeter”, não esquecendo de tirar a casca do limão! Vai recozendo, tira-se para pratos ou travessas, e fazem-se feitios com canela.



134 Antoninho pede e quer Eu não tenho que lhe dar. Darei-lhe um cachinho d’uvas Quando o meu pai vindimar.

ção das vasilhas para as vindimas, a incubação do vinho, a apanha da lenha, para estar seca para a lareira no Inverno.

Cancioneiro popular

De resto, não é preciso pensar em datas, porque os adágios populares ajudam:

Tradições Rurais

- As favas devem ouvir o vinho a cantar no lagar. - Até S. Pedro tem a vinha medo - Bácoro de Janeiro com seu pai vai ao fumeiro. - Barra preta de Caminha a Fão, chuva na mão. - Chovendo no dia da Ascenção, todas as beiradinhas dão pão. - Dos Santos ao Natal, um salto de pardal. - Em Janeiro põe os presuntos ao fumeiro. - Fraco é o Maio em que o boi não bebe no rego - Janeiro fora mais uma hora. - Janeiro molhado, se não é bom para o pão, não é mau para o gado. - Não é bom ano de pão e de vinho, se não caírem sete camadas de neve no Minho. - Natal a assoalhar, Páscoa ao mar. - O cuco a recucar, pega na cestinha, vai semear. - O frio em Março, leva o pelo e o pelaço. - Onde alhos há, vinho haverá. - Os alhos… Pelo Natal bico de pardal. - Pela Santa Marinha pinta a vinha e pelo Santiago pinta o bago

A actividade rural do Minho enaltece a natureza. Em sistema de entre ajuda, num ambiente de alegria, realizam os trabalhos que exigem mais braços e animais, recorrendo também a alguma máquina agrícola quando necessário. Todas as parcelas são aproveitadas para a produção de tudo aquilo que irá abastecer-lhes a mesa: alfaces, cenouras, tomate, ervilhas, feijão verde, couve-galega, batatas, ocupando os campos maiores e as veigas, para a cultura do milho, linho e a vinha. Na Primavera, com as lavradas e sementeiras, do milho, melões, melancias, batatas, necessitando mondar as ervas daninhas, e as primeiras sulfatadas às vinhas, o trabalho aperta. Depois, “em Junho foucinhas em punho”, com as primeiras colheitas, do centeio, batatas e cebolas. A seguir, as malhadas e as desfolhadas, a prepara-

- Pelo S. João pinga a sardinha no pão. - Pelo S. Martinho abatoca o teu vinho. - Pelo São Lourenço, vai à vinha e enche o lenço. - Pelo São Mateus, pega no arado e lavra com Deus. - Pelo São Vicente, alça a mão da semente. - Quem em Abril não varre areia e em Maio não sacha a leira, anda todo o ano de canseira. - Santa Justa com touca (nevoeiro), temos chuva e não é pouca. - Vermelho ao mar, pega nos bois e vai lavrar. - Vermelho ao nascente, chuva de repente.



136 Cultura do Linho

Desfolhadas As voltas que o linho dá Até chegar ao tear! Não são tantas como aquelas, Que por ti me fazes dar!

Hoje em dia, já poucas desfolhadas se fazem, escolhendo os lavradores, desfolhar o milho no campo, mas eram uma festa. Começava-se de véspera, com o corte do milho, que era transportado para a eira, espalhado em redor, à espera de quem vier.

Cancioneiro Popular

De linda flor azul, fica transformado em baganha de cor castanha escura, é colhido, passada pelos ripos, para retirar as sementes, atado em molhos, que são levados ao rio, onde fica de molho. Estende-se a secar no paul soalheiro e vai para o engenho (fulão).

Na manhã da desfolhada, coze-se a broa, e as sardinhas são amanhadas, e esperam a sua hora de serem fritas. Pela tardinha, começam a chegar os vizinhos e amigos, que vêm ajudar, com o seu desfolhador na mão, para facilitar o trabalho. O vinho roda de vez em quando, para refrescar as gargantas, pois as cantorias e as gargalhadas são muitas, e quando aparece uma espiga vermelha, é um delírio de abraços e gargalhadas, principalmente da parte dos rapazes. As maçarocas vão em cestos para o espigueiro, e a palha é amontoada, em palheiros, que servem mais tarde para “fazer a cama ao gado”, no Inverno. Só quando o milho acaba, há ordem de levantar, chegando a altura de comer as sardinhas fritas, a broa, sempre regadas do bom vinho verde, e canta-se, e dança-se, pelo resto da noite fora.

A sua cultura já vem de tempos muito remotos. Já poucos o cultivam, pois dá muito trabalho, mas, como dele vive uma parte do artesanato do Alto Minho, e qualquer moça casadoira gosta de o ter no enxoval, aqui estão as várias fases, por que passa o linho até chegar às nossas mãos.

Mais tarde é espadelado, para retirar alguma aresta que reste, passado pelos dentes do rastelo ou sedeiro, e posto em estrigas até ser fiado. Entra nas rocas, que as mulheres, ,à conversa nas longas noites de Inverno à volta da lareira, faziam deslizar o fuso por entre os dedos.

Enquanto desfolham a espiga Sardinhas vão a fritar P´rá ceia de toda a gente Com verdinho a acompanhar. Cancioneiro Popular

Passa a meadas nos sarilhos, a novelo nas dobadouras, o caneleiro leva-o para as lançadeiras e o tear transforma-o em lindas toalhas, colchas, camisas, lenços, etc.



138 Matança do Porco

Meu lindo lençol de linho Tanto trabalho me deu Desde o campo onde cresceste Ao tear que te teceu.

É motivo de grande alvoroço, a matança do porco, depois de alguns tempos de engorda. De véspera, lavam-se os alguidares, o pote com água, aguardente, e bastante lenha, e alinham-se os temperos; sal, pimenta, colorau, alhos, louro, cominhos, cebolas, vinho verde, e claro as tripas para os chouriços.

Pelas minhas mãos passaste Desde a ripada ao tear Eu te arranquei e embrulhei Eu te juntei para atar.

Pela madrugada chega o matador, que mata o animal, que depois é, “esqueimado”,(chamuscado), de preferência com palha, para lhe retirarem todos os pelos. É então lavado, com água a escaldar, e depois é aberto ao alto, retirando-lhe todas as miudezas, é pendurado para escorrer, de cabeça para baixo, ficando assim até ao dia seguinte.

Nas águas do rio Lima Foste então mergulhado Trinta dias lá passaste Sem que me desses cuidado. Tirei-te então do rio No terreiro te sequei Daí foste para o engenho E a faina continuei. Foste então repartido E depois espadelado Dia a dia ensedado Dia a dia ensarilhado. Só depois da cozedura Te levei à dobadoura Deixaste de ser meada Belo linho de cor loura

Foste então ao caneleiro Em canelas te enrolou E o tear que te esperava Em bom pano te tornou. Os fatos do nosso grupo São a prova mais segura Que a cultura do linho Na nossa terra perdura. Cantiga do Grupo de Lavradeiras de Vila Franca do Lima

Então, bem escorrido o sangue, começa o desmancho do bicho, separando os presuntos, as barrigas, cabeça, orelheiras, tudo bem passado por uma mistura de vinho verde tinto, alho, pimenta e louro, bem esfregados com sal, e guardado na salgadeira, ou ficando no alguidar, para outros fins. Vem sempre gente de fora da casa para ajudar, e ao almoço, é o sarrabulho. Pedaços de bofe, verde (sangue cozido), e outras carnes, e rojões no pingue. Pela tarde e noite fora continua o trabalho, arrumando as carnes, e enchendo-se os farinhotos e chouriças: de carne e de verde (cebola e sangue). Põe-se entretanto no fumeiro, para começarem a secar. Nas pessoas mais antigas, fica na memória, a vida difícil, penosa e desgastante, mas onde tudo se fazia a cantar, tocar e dançar. Recordam as lavradas, sementeiras, as ceifas, malhadas, desfolhadas, vindimas e os serões, onde tudo servia de motivo, para contar ‘histórias ‘de antigos namoricos, novas anedotas, e até algumas bisbilhotices.



140 Tradições Religiosas e Crendices No Alto Minho, o povo, é por natureza religioso. A fé e a mística de milénios, obrigaram à construção de mosteiros, santuários e capelas, dedicados a imagens milagrosas, corpos incorruptos como o Santo Aginha, ou, aparições como a Nossa Senhora do Minho. Baptizam-se os filhos, pouco depois do nascimento, vão depois à catequese, assistem à missa, e ninguém falta à desobriga (confissão pela Páscoa). Pelas estradas e caminhos existem cruzes, oratórios e alminhas que recordam, no imaginário, mortes e assassínios, que todos lembram e pedem bênçãos, através de orações. Em todas as cidades e aldeias há igrejas e capelas, e no meio dos montes muito verdes, as ermidas branquinhas, destacam-se na paisagem. Cumprem-se as promessas com voltas ao santuário, muitas vezes de joelhos, com dádivas ao santo.

Podem ser de várias espécies: Santa Justa – frango branco e estrigas de milho Santo António – pernis e orelheiras de porco São Bento – cravos São Cristóvão – bolos, galinhas e vinho São João d’Arga – sal e telhas, se roubadas melhor São Mamede – leite Senhora da Agonia e Senhora da Bonança - mortalhas Senhora de Saúde e Senhora da Boa Morte – caixões de “vivos”, como agradecimento por terem escapado da morte. Todos reforçam a presença junto ao santo da devoção, comendo e até dormindo junto à igreja, sendo as merendas de primeira qualidade! Por outro lado contam-se histórias de lobisomens, do diabo, e de bruxas, e muitos afirmam ter visto tais criaturas. O meu avô contava que uma pessoa que ele conhecia, viu a procissão dos defuntos, a passar à noitinha; Uma outra pessoa que ainda estava viva,

ía no caixão, acompanhado por familiares e amigos, já falecidos, todos com uma vela acesa. Sabia de quem se tratava, mas não podia dizer quem era, pois se contasse, era ele que falecia. Há rezas, mezinhas, e também benzedeiras ou “mulheres de virtude”, que por vezes ainda desempenham o seu saber. Defumam quem se encontra tolhido de algum susto, dando três voltas em redor do doente dizendo: Assim como Nossa Senhora defumou o Menino para cheirar, assim eu te defumo para sarar. Para curarem pulsos abertos, usam água a ferver, um púcaro, um alguidar, tesouras, um novelo de linhas, uma agulha, um dedal, e a fórmula: - Eu que coso? O doente responde: - Pulso aberto e fio torto.



142 Para curar uma borbulha infectada, fazem uma mistura de azeite, alecrim e um dente de alho, espalhando-a com um raminho de alecrim, por cima do local infectado, dizendo: Se és de sapo, sapão Se és de saramela, saramelão Se és de salagata, salagetão Se és de cobra, cobrão Se és de porco chia Se és de gato mia, E pelo poder de Deus e da Virgem Maria Um Padre Nosso e uma Ave Maria. Fazia-se isto durante nove dias, o tempo necessário para as borbulhas desaparecerem. Para que uma peladura (queimadura) não lavrar (empolar), pega-se em três pontas novas de mato, silva e rosa e diz-se: A água não tem cabelos, O lume não tem raízes E assim como isto é verdade, A peladura que não lavre. Diz-se isto várias vezes, mas tem que ser pernão (número impar), 3, 5, 7 ou 9 vezes.

Se uma criança, está magrinha e apática, dizem que está «augada» (aguada), e só pode curar-se com o bolo das sete massas, ou bolo da madrinha, pois só poderá ser feito por ela, não podendo a criança dar nenhum bocado a ninguém e comendo-o atrás de uma porta para ninguém ver. Ainda se recorre às mezinhas, para tratar males menores, como o vinho quente com açúcar, se há tosse. Aguardente queimada com açúcar até ficar em xarope, para as constipações. Para as dores das pedras na bexiga, chá de barbas de milho. Há pessoas que fazem mal só com o olhar, deitam o «mau olhado», a pessoas ou aos animais. Contra isso, defendem-se com amuletos, ferraduras e figas, pregadas nas portas ou nos carros de bois, cruzes presas nas roupas das crianças. E existem várias superstições: - Entrar com o pé direito na casa nova, ou novo emprego, é importante para o sucesso da nova vida. - Sentarem-se 13 pessoas à mesa, ou entornar azeite, dá azar. - Quando mochos vêm piar perto de casa, quer dizer que vai morrer alguém em breve. - Quando se vê uma estrela cadente, diz-se logo: Deus te guie.

- Se o galo canta à meia-noite, quer dizer que quer o patrão fora, isto é, morto. - Uma borboleta que anda à volta da luz, pode ser sinal de boas notícias se for branca, ou luto se for escura. - Uma aranha que se passeia por uma pessoa, è sinal de dinheiro se for pequena, ou è desgosto se for preta. - No dia de São Pedro de Rates, não cangar gado, nem pegar em agulha ou sachola, principalmente se em casa houver mulher grávida, ou animal. - Não se deitar galinha a chocar, senão em quarto crescente ou lua nova, colocando sempre ovos em número ímpar. Ao pô-los no cesto, dizem: Em louvor de São Gonçalo, todas galinhas e só um galo. - Ninguém conte as estrelas, porque nascem cravos nos dedos das mãos. - Burro velho não toma andadura (puxar a carroça) e se a toma pouco dura. Para quem dá ordens, sem que para isso ter autoridade, ouve logo: - Hom´ela! (Hom´essa!). Vá lá mandar porcos na feira. - Se a orelha direita ficar vermelha, é porque estão a dizer mal de nós. Costumava-se atirar uma manada de sal para o lume e dizer: Assim rebente quem está a dizer mal de mim. - Se uma visita já está a aborrecer, põe-se uma vassoura, com o cabo virado para baixo, atrás de uma porta, e logo ela se vai embora.


Muito haveria para dizer sobre crendices e superstições, que se vai esbatendo com o aumento da instrução, mas nunca fiando. Como dizem os espanhóis: «Eu não acredito em bruxas, mas que há, há!».

Se a chuva é desejada: - Chuvinha vem, vem Que te dou um vintém Por cima do telhado Que te dou um cruzado.

Há orações para todas as ocasiões. Quando se vê um raio, numa trovoada: - São Jerónimo, Santa Bárbara Virgem!

Se ela incomoda: - Chuvinha passa, passa, pró lado de Cortegaça.

Caso a trovoada se torne mais forte: S. Jerónimo se levantou, Seu sapatinho calçou, Nossa Senhora encontrou, e lhe perguntou: - Aonde vais tu Jerónimo? - Vou espalhar esta trovoada, que por cima de nós está armada. Espalha lá para bem longe, onde não haja nem eira nem beira, nem mulher nem menino, nem vaca nem bezerrinho, nem pedrinha de sal, nem coisa a que fazer mal. Amén.

Se alguma coisa ou animal está perdida, reza-se a Santo António: - Santo António se vestiu, - Santo António se calçou, Na sua cajeirinha (cajado) pegou, Nosso Senhor encontrou: - Tu António onde vás? - Eu? Senhor, convosco vou - Tu, António não virás, Por esse mundo ficarás, Toda las coisas perdidas, a todas acharás, Pai Nosso, Ave Maria.

Ao ver o arco íris: - Arco-da-velha, sai-te daí, que as moças bonitas não são para ti.

Ao deitar: - Com Deus me deito, com Deus me levanto, Divina Graça e Espírito Santo

Nesta caminha me deitei, Sete anjinhos nela achei, Quatro aos pés, três à cabeceira, Nossa senhora à dianteira. Ao acordar: Bendita seja a luz do dia Bendito seja quem a cria, Bendita seja a Virgem Maria, Bendito seja o Anjo da Guarda Que anda em nossa companhia. Assim como nos livrou dos p’rigos da noite, Assim nos livre dos do dia. Quando se amassa o pão: São Vicente te acrescente, São Mamede te levede… Em louvor de São Gonçalo Nem insosso, nem salgado. Quando se mete o pão no forno: Deus te acrescente, Dentro do forno, fora do forno, Para pobres e ricos, Todos os que baterem ao portal. Ao acabar as refeições: - Graças a Deus para sempre, como eu estou, esteja toda a minha gente!


São as cadeias mais fortes, As tuas tranças, Maria... Que prendem meu coração, Quando ando na Romaria. Cancioneiro Popular



146 É por natureza, alegre e folgazão o povo do Alto Minho. Onde quer que haja uma capela ou ermida, por perto ou longe, com acesso difícil, ou lá se chegue facilmente, há com certeza festa, e da rija! O sol caloroso, e o luar de sedução, convidam a que as romarias tenham um cunho muito especial. E mal se ouvem os ferrinhos e os cavaquinhos, há cantorias ao desafio, forma-se uma roda e dança-se. Cumpre-se a parte religiosa, e depois é folgar, com muito ruído e alegria. Começam cedo, logo em Janeiro, com o Santo Amaro, o S. Brás logo a seguir, Senhora das Boas Novas e do Crasto, pela Pascoela. O Maio Florido; Festa das Rosas, Festa da Santa Cruz. São João em Junho. Em Agosto as festas da Senhora das Neves, Meadela, Santa Marta e Senhora da Agonia, a Senhora do Minho e São João d’Arga.

Em Setembro as Feiras Novas de Ponte de Lima, que fecham o ciclo. Estas são algumas das muitas que se realizam, pois no mesmo fim-de-semana pode haver mais do que uma romaria. Em todas elas se mistura o lado religioso com o pagão, com as suas procissões, pagamento de promessas, as bandas de música, folclore e arraial, e não podendo falar de todas, vou “mostrar” o que de mais característico têm algumas delas.



148 Nossa Sra das Neves No lugar das Neves, confluência de três freguesias; Barroselas, Mujães e Vila de Punhe, com um vasto largo, ergue-se a capela de Nossa Senhora das Neves. Mandada erigir, em cumprimento de uma promessa por João Pires Ramalho, primeiro morgado da Casa da Torre, em 1554. Foi votada ao abandono e, só em 1862, depois de obras feitas pelos moradores locais, foi autorizada pelo Papa Pio IX. 16

Nossa Senhora das Neves, Quando era o seu dia: A cinco do mês de Agosto Quando a calma caía. Cancioneiro Popular

É na praça, em torno de uma antiga quinta e de um antigo souto, que se realiza todos os anos, no dia 5 de Agosto, o popular Auto de Floripes, encenação popular guerreira, representada desde o Séc. XVI. Não há guiões escritos, pois tudo era transmitido oralmente, de geração em geração e a representação é toda em verso e dançada. A sua representação faz-se no exterior, e a sua origem crê-se que esteja nos autos cavalheirescos, elaborados a partir de lendas, romances e narrativas épicas. Relata a luta entre turcos e cristãos. Os comediantes são pessoas do povo, sem preparação teatral, que neste dia, se transformam em Carlos Magno e nos Doze de França ou nos terríveis e ferozes turcos do exército do Almirante Balaão, e na formosa Floripes. A representação faz-se em cima de um 17 estrado, e aí se recita o drama de Ferrabraz e Floripes.

Neste auto, representa-se a rivalidade e desejo de guerra entre cristãos e mouros, neste caso substituídos por turcos. Começa com a chegada de quinze cavaleiros (conta sempre fixa), escarranchados nos seus “cavalos”, fazendo-os girar meia dúzia de vezes, alinhados em campos opostos, acompanhados de bandas de música que tocam as Contradanças. Uma das linhas representa os Doze de França, entre os quais se encontra o Conde de Oliveiros, 18 com o seu chefe Carlos Magno. A outra é de turcos, às ordens de Balaão, e Ferrabraz, seu filho e rei de Alexandria. Ferabraz soube que Carlos Magno se encontrava com o seu exército em Mormionda, e arrogante para lá partiu, sozinho, para desafiar os Doze de Inglaterra.



150 Do lado dos cristãos:

Do lado dos turcos:

Termina com cânticos a Nossa Senhora das Neves:

Eu sou o nobre cristão Das terras mui generoso, Venço em todas as terras Com meu braço generoso.

Eu sou o rei da Turquia A quem o respeito inclina; Sou eu que tenho o poder Nesta terra argelina.

Nossa Senhora das Neves, Principiemos um baile, Sois guia de toda a terra, Adeus, adeus regalar, Já se renderam os turcos, Dai-nos licença senhores, Já se acabou toda a guerra. Agora vamos dançar.

Vinde cá, ó meus vassalos Com prazer e alegria, Defender o nosso reino, Aqui, hoje neste dia.

Vinde cá, ó meus vassalos Com prazer e alegria, Defender o nosso reino, Aqui, hoje neste dia.

Nossa Senhora das Neves, Demos fim a este baile, Quando era o seu dia: Pois que assim nos convém; A cinco do mês de Agosto, Regalem-se meus senhores, Quando a calma caía. Até ao ano que vem!

Lutam, cabendo a vitória aos cristãos. Sobem ao palco, desenrolando-se aí o resto da representação, onde aparece Floripes, filha do Almirante turco e namorada de Guy de Borgonha.

Ao som das Contradanças, retiram-se do palco, para regressarem ao local de onde partiram para a representação, não sem antes fazerem uma vénia, em frente da capela da padroeira, Nossa Senhora das Neves.

Esta, atraiçoa o pai, dando a liberdade aos prisioneiros cristãos, assim como ao seu amado, fugindo para junto de Carlos Magno. Há uma grande batalha, que ocupa grande parte do auto e termina com a rendição dos turcos.



152 Festa das Rosas Ainda no início do século passado era vulgar a confecção de cestos de flores, no dia da festa, em muitas freguesias da Ribeira Lima: em Santa Marta, Perre, Meadela Outeiro, Darque e Mazarefes. Coube a Vila Franca do Lima a conservação deste costume, em grande parte devido ao entusiasmo e incentivo do Padre António Quezado, colocado aqui como Prior. No segundo Domingo de Maio, realiza-se nesta freguesia, do lado esquerdo do rio Lima, uma festa em honra de Nossa Senhora do Rosário, desde o princípio do Séc. XVII. Velho voto beneditino, que obrigava as raparigas a oferecerem flores a No-ssa Senhora, transformados mais tarde em belos e ricos cestos floridos, das mordomas jovens que nesse ano completam os 18 anos. Todos na freguesia se compenetraram da beleza dos cestos que já são conhecidos em todo o mundo.

A mordoma atarefada, anda em brasa a compilar, botões das flores mais formosas, para no dia das Rosas, o seu cestinho bordar. Excerto do Hino das Rosas

A arte floral tem aqui o seu apogeu, feitos com arte e principalmente com muito amor. É uma mistura de cor e de cheiros, dado pelas mordomas que os transportam, e pelas flores de que são feitos. 19

pampilhos, malmequeres, e é claro rosas. Umas são agrupadas em pequenos molhos, outras irão singelas ou desfolhadas, para contornarem e encherem os desenhos, com paciência e carinho, pelos “bordadores”, e metem-se ao trabalho!

São confeccionados em segredo, em casa de cada uma, durante uma semana, com a ajuda de familiares e amigos, cerca de vinte pessoas, a quem ela alimenta, por noites e dias até o trabalho estar concluído.

A estrutura ou “miolo” do cesto é feito com raminhos de cegudas, sendo em seguida pregado o desenho escolhido, é então tempo de o preencher. Trabalho delicado, este de bordar os cestos!

Primeiro colhem as flores, faça chuva ou sol, no meio de muita alegria, correndo os campos das aldeias vizinhas, até mais longe, e a beira-rio à procura do necessário. Cegudas, soagens, pampilhos, marcela, trevo, sementes do mato, línguas de coelho, olhos-defreira, bucho. As outras, colhem-se nos jardins: chorões, perpétuas roxas e brancas, sardinheiras,

Folhas de japoneira (camélia) dão cor aos telhados, junco e palha formam cunhais de portas e colunas de monumentos. Folhagem de giesta e folhas de oliveira são efeitos de mar, as ilhas são de musgo, o céu, de flores de bálsamo ou sardinheiras, emprega-se feitilha dos rios ou ribeiros, a cal das paredes, nasce da corola do milho. A completar o cesto vêm as rosas!



154 Preparação do cesto



156



158 Festa da Sra Da Agonia Nada é pintado. São necessários vários quilos de flores, pregadas com cerca de três quilos de alfinetes, que originalmente eram pedacinhos de gravalha (caruma dos pinheiros), e os cestos chegam a pesar cerca de 70 Kg. Os motivos são diversificados, já que cada mordoma quer o seu cesto mais bonito que o das outras. Na década de 30, os motivos eram geométricos, passando depois a representar motivos eucarísticos. Hoje, os motivos são variados, desde retratos, paisagens minuciosas ou monumentos locais e outros. Todos os cestos têm as iniciais das mordomas, sendo transportados à cabeça, desde as suas casas até à Igreja, entre música e foguetes, aí, ficando junto ao altar da Senhora do Rosário. No Domingo seguinte à Festa, e transmitindo esta tradição aos mais novos, as meninas, entre os quatro e doze anos, fazem também os seus cestinhos, que oferecem também na Igreja.

Rainha das festas em Portugal! Onde as mulheres são as rainhas, tal como escreveu Elina da Palma Carlos em 1979: «é a beleza das mulheres minhotas e os seus trabalhos que mantêm aceso o fogo das Festas de Viana do Castelo sendo elas a sua mola real.» Tem origem, na capela particular dedicada ao Bom Jesus do Santo Sepulcro, bem perto de outra, situada no “Cerro dos Enforcados”, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Só em 1744 passou a ter como padroeira a Senhora d’Agonia, em vez de Nossa Senhora da Soledade, pertencente, nessa altura aos Frades Franciscanos. Erguia-se a capela num morro, de onde se via a barra, suscitando desde logo a devoção de pescadores, mareantes e suas famílias, que a ela recorriam em horas de aflição. O Rei D. José, por Provisão Régia, de 15 de Julho de 1772, autorizava a realização de três dias de feira, denominada já nessa altura Feira da Agonia. Anda comigo Maria, Ver as Festas d’Agonia, Esse famoso arraial! Que maior não viste ainda; É a romaria mais linda Das terras de Portugal. Francisco Silva



160 Em 1783, a Congregação dos Santos Ritos concedeu a licença para a celebração de uma Missa Solene, no dia 20 de Agosto, dia da padroeira, que mais tarde se tornou feriado Municipal.

no cebolão (relógio) do espanhol! Vinha gente das aldeias, a pé, de carro e pelo rio, para negociar, mas também para se divertirem, chegando em grupos, com os seus trajes, rusgas e tocatas.

Em 1865, a festa resumia-se a três dias, onde: “se ouvia música sacra em redor da capela, ao cuidado de Mestre Francisco Fernandes, a outra, a profana, tocaria no campo e nas ruas da cidade e seria dos artistas da terra. Vinte peças de fogo divididos por dois mestres: José Araújo Soares Viana e José Rodrigues Silva. As iluminações: dois arcos vistosos e iluminados à entrada do adro da igreja”.20

A afluência de pessoas aumentou, com a criação do Caminho de Ferro, foi fixado o calendário das Festas, fazendo-as coincidir numa sexta, sábado e Domingo. Por essa altura e daí em diante, estipulado que o dia do meio, o da feira, com o “fogo da Santa”, seria o mais importante, não podendo ocorrer a romaria antes do dia quinze nem depois do 25 de Agosto.

Havia novena, procissão, barracas e tendas de comércio e pouco mais. Naquele tempo, mil pessoas que se juntassem era um assombro! Uma notícia curiosa, relatada no jornal “A Aurora do Lima“ em 1872, conta que até de Espanha vinham à feira, alguns com certa esperteza. É o episódio de um certo galego que alugava rebuçados! “Eram do tamanho de ovos de pomba e custavam dez reis por chuchar 5 minutos; vinte reis por 10 minutos e um pataco o rebuçado inteiro”. Conta o repórter como assistiu “embatocado” (envergonhado) ao espectáculo de três labrostes, a passarem o rebuçado uns aos outros, depois de esportelarem dez reis por chuchar cinco minutos, contados

Vai aumentando a importância das festas, até que surgiu a “era prodigiosa”. Nas duas últimas décadas do Séc. XIX, com o aparecimento da serenata (fogo no rio), a procissão, percorrendo todas as ruas da cidade e o aparecimento dos Cabeçudos, ideia importada da Galiza que, acompanhados pelos Zés Pereiras, anunciavam as festas. Em 1907 acrescentam um dia à festa, que chega aos nossos dias. Em 1908, há a primeira Parada Agrícola, transformada, mais tarde em cortejo etnográfico, onde todas as aldeias do distrito estão presentes e mostram os seus costumes.



162 A Festa do Traje, realizada pela primeira vez no Jardim público em 1931, é o resultado etnográfico e social das gentes do Alto Minho. Afonso do Paço, Abel Viana, Manuel Couto Viana, entre outros, dedicaram-se a estudar os usos e costumes, trajes e cancioneiro regional, dando-os a conhecer, incentivando e classificando o traje à vianesa. Viana torna-se então na capital do folclore, e a Romaria da Agonia no seu expoente máximo, passando a ser a mais variada e deslumbrante montra da tradição do Alto-Minho. Em 20 de Agosto de 1968, realizou-se pela primeira vez a Procissão ao Mar da Senhora da Agonia, a estátua viva da dor. Festa das gentes da Ribeira, que a ela recorrem em horas de aflição. Durante toda a noite, dedicam-se com empenho e carinho a desenhar tapetes de sal em todas as ruas do bairro da Ribeira. Por aí passará a procissão da sua Padroeira. Da Capela vai em direcção ao cais, onde é recebida pelos silvos de todas as embarcações, entre orações, cânticos, foguetes e palmas de onde sai de barco, acompanhada por todos os pescadores, pelo rio acima e até à barra, abençoando o “campo” do seu trabalho, de onde lhes vem o sustento, mas também é o cemitério de tantos que se choram.

Há lenços brancos no ar e até lágrimas nos olhos de muitos. Romaria de sonho, que leva muitos forasteiros a Viana, que aí chegam de carro, camioneta, de comboio e até a pé. Ansiosos, que o movimento é muito, a festa está aí, e os olhos gulosos têm pressa de ver tudo! O trilho dos cavaquinhos e das braguesas mistura-se com o toque dos ferrinhos e as chinelas batem no chão, enquanto as raparigas dançam. A concertina chega a todo o lado, e o rufo dos tambores dos Zés Pereiras esse, vai directo ao coração do povo: “Eh, gaitas! Eh, zabumbagens! Tocai e rufai na praça! Sois vós a sonora imagem. Deste povo a sua raça”. Mesmo que não se saiba, é contagioso, e todos dão o seu pézinho de dança… Há fogos de artifício; o preso, do campo ou da Santa e a Serenata, sobre o rio, com a famosa cachoeira de fogo. Chega ao fim todo este encantamento! É como escreveu no programa das Festas de 1996, o Conde d’Aurora: “Ah! Minhas festas d’Agonia: alegres, sadias, cristãs. Todos nos conhecemos, até os estranhos, os estrangeiros são nossos velhos amigos… Calou-se o último foguete e foram mudar de fato os músicos escarlates da aldeia. Viana, linda, deslumbrante de encantos, começa o toucado maravilhoso dos seus coloridos outonais: Viana a Bela, envolta em silêncio e na sua eterna beleza, seguindo o ditame daquele filósofo gaulês com todo o rigor e exactidão: sois belle e tais toi! Que saudades! Até ao ano.”



164 São João D’Arga No alto da serra, fica a capela dedicada a S. João d’Arga, também conhecida por Montanha Sagrada. Dão-lhe este nome porque, semeadas ao acaso, outros santos de devoção das gentes do Neiva e Vale do Lima, e os vestígios de anacoretas e ermitérios, os leva a afirmar como tal: Santa Justa, Senhora da Serra, Santo Aginha, Santo Antão e a capela de S. Paulo Eremita ou Santo do Chocalho, que, por ter um na mão, acredita-se ser o padroeiro dos leprosos, pois consta que era para aqui que se retiravam os doentes deste mal. A sua imagem, de tão rústica e tão feia que é, deu origem ao dito popular: “Não te rias do santinho, que o teu mal vem pelo caminho”. Vários mosteiros beneditinos existiram, sendo o Mosteiro Máximo fundado no séc.VII, o mais antigo de que há memória. No local chamado Fonte dos Frades, existe ainda um cano de pedra, que vai até ao adro da capela, que conduzia a água para este convento, que segundo a tradição local, serviria para albergar frades castigados. A própria lenda da Serra d’Arga está repleta de segredos e enigmas, muitos relacionados com este mosteiro Celebra-se esta festa em 29 de Agosto. Mantém esta romaria o aspecto típico de outrora, que se faz em grupos, pela serra acima a pé, por locais de difícil acesso, como diziam a cantar os roÓ meu rico S. João d’Arga Casai-me, que bem podeis. Já tenho teias de aranha Naquilo que bem sabeis… Cancioneiro Popular

meiros: “Ó meu Senhor S. João, Dai-me a mão pela janela, Que eu venho cansadinho, De subir a vossa serra.” Tem esta serra paisagem rude mas belíssima, onde se podem ver ainda cavalos bravos águias e açores. Não há programa das festas. No dia todos aparecem! Partem os grupos com merendas e horas marcadas: os de Barroselas às 22h da noite do dia 27, os de Mazarefes às 23h e os de Nogueira e Santa Marta às 24h, atravessando sete serras para lá chegarem. O Santo, advogado contra males de toda a espécie, em especial de quistos, verrugas e doenças da pele, era pago em sal, que se carrega às costas, por galinhas, cravos, e telhas que se forem roubadas melhor. Os que prometem ir em silêncio, e para que todos saibam, levam um cravo ou um raminho de oliveira trilhado nos dentes.



166 Pelo caminho, passam pelo Penedo do Gatanhal ou do Casamento. É um grande penedo com uma cova no cimo, onde as raparigas solteiras lançam uma pedra. Se a pedra ficar no cimo, casam nesse ano, se não, têm de esperar tantos anos, quantas tentativas fizeram até acertar. Ao chegar, paga-se a promessa, dando três voltas à capela, entrando depois para “cumprimentar” o santo, através de uma cruz em madeira, com que os romeiros tocam no santo e depois beijam, pois S. João, está no altar-mor, num sítio onde eles não chegam. Existe na capela uma imagem de S. Gabriel degolando o demónio, chamada erradamente de imagem do diabo, à qual dão também esmola. Dizem os romeiros: “que nem de mal com o santinho, nem com o demónio; por isso dá-se aos dois e assim não temos problemas”.21

Há pessoas, que chegam com antecedência e acampam nas cercanias da capela, onde pela noite fora há concertinas a tocar ao desafio, muitos petiscos, e uma bebida que è uma mistura de bagaço e mel, que aquece a alma e entorta as pernas aos foliões. É uma das romarias onde se mantém o que é genuíno e verdadeiramente popular.



168 Nossa Senhora do Minho

Igreja situada na Chã Grande da Serra d’Arga, a 700 metros de altitude, com uma paisagem esplendorosa. A devoção a Nossa Senhora da Conceição do Minho é relativamente recente. Surgiu devido à acção de dois sacerdotes de Ponte de Lima, que desejavam erguer um cruzeiro no alto da serra. 22 A imagem da Senhora do Minho tem a particularidade de estar vestida com traje à lavradeira..

Feiras Novas de Ponte de Lima Por altura do São Miguel, em Setembro realizam-se as “Feiras de Ponte”, como é costume chamar-lhe. Feira e festa, encerra o ciclo de romarias da Ribeira Lima. Continuam a tradição das “feiras velhas”, que se realizavam quinzenalmente por foral de D. Teresa, em 4 de Março de 1125. D. Pedro IV, por provisão régia de 5 de Maio de 1826, autoriza a realização de uma feira anual. A sua padroeira é Nossa Senhora das Dores e a festa dura três dias e três noites. Foram evoluindo, mantendo contudo o teor genuíno popular e tradicional de outros tempos. Tem como cenário o Rio Lima e o areal, onde ondas de gente se comprimem para viver o arraial. Há bandas de música por entre a gente, há ritmo e cor com as danças, desgarradas com cantares ao desafio, tocatas... O ritmo das concertinas e cavaquinhos atraem qualquer um, e a cor dos fatos dos ranchos, enfeita ainda mais as ruas engalanadas. Todos se encontram nas tasquinhas, onde, entre petiscos e a verdadeira cozinha minhota, há um convívio são entre todas as classes sociais, não esquecendo o vinho verde tinto, bebido pela “maurguinha” (malga, tigela). Naturais e forasteiros sentem o ambiente, pois não podem ficar indiferentes ao que os rodeia. Nesta festa canta-se, bebe-se, dança-se, namora-se e sonha-se. É preciso ir às Feiras Novas, para “provar” as mais castiças festas populares do país.

Nossa Senhora do Minho À vianesa vestida, Veste de lã e de linho, A nossa Mãe tão querida Duas espigas de milho, Seguras na tua mão. Nossa Senhora do Minho, Abençoa o nosso pão Do cimo da Serra d’Arga Tendes olhar maternal. Protegei o nosso Minho Cantinho de Portugal Saúdas do teu altar Com um gesto de carinho, Quem a teus pés vem rezar Nossa Senhora do Minho. Se soubesses o que são As Feiras Novas do Minho, Vinhas ver a tradição E também dar ao pezinho.



Quem abala de Viana Leva no peito a Agonia; O Lima a correr no sangue, Nos olhos Santa Luzia. Canioneiro Popular



170 O povo, é alegre por natureza, e aqui no Alto-Minho não foge à regra, criando quadras a propósito de tudo, algumas com certa malícia e brejeirice. Sou do Minho, sou do Minho De Viana natural. Quem não conhece Viana, Não conhece Portugal.

Minha boca é uma rolinha Numa agonia sem jeito, Por querer dormir, coitadinha, C’o as rolinhas do teu peito.

N’Agonia esses teus olhos Lembram o bico de um gaio: Picam corações aos molhos Como cerejas de Maio.

Minha sogra tem um filho Que parece um general; Minha mãe tem-me a mim, Rainha de Portugal.

Não me ponha a mão na cinta, Não me suje a romaria: Quero rezar de alma limpa À Senhora d’Agonia.

Ó meu amor, se te vires No tribunal das formosas, Apega-te ás trigueirinhas, Que as brancas são enganosas.

Mordoma vela pela vela, Não a deixes apagar; Se a vela se vai à vela, Podes ficar por casar!

Tenho carta no correio Ai, Jesus! De quem será?! Se é do António não a quero Se é do José traga-a cá.

Não me ponha a mão na cinta, De longe diga o que quer; Não perde você, que é homem, Perco eu que sou mulher.

Coitadinho de quem dorme À porta do seu amor; Das pedras faz travesseiro, Das estrelas cobertor.

Menina da mordomia, Não sejas tão altaneira! Lembra-te bem que um dia Já te entrei p’la “bichaneira”!

José amo, José quero, José trago no sentido. Por causa de ti José Trago o meu sono perdido!

Meu olhar é um passarinho Num’agonia sem jeito: Só quer poisar o biquinho Nos biquinhos do teu peito.

Quatro castanhas assadas, Duas pingas de água-pé, Quatro beijos d’uma moça, Fazem pôr um velho a pé.

Os olhos da minha sogra São duas sardinhas fritas; Em eu vendo o raio da velha, Té me revolvem as tripas.

Por António dou a vida, Por José peixes do mar, Por Manuel, a mim mesma Que não tenho mais que dar.

Teus seios são limõezinhos Na Agonia a bailar; À noite já cansadinhos, Aos meus lábios vêm parar.

Eu mandei um passarinho Procurar-te n’Agonia Enganou-se coitadinho, Poisou na Virgem Maria!

O teu pai diz que não quer, Tua mãe diz que não gosta. Metam-te numa vidraça, Andem contigo de amostra.

Abaixa-te Serra d’Arga Donde o penedo caiu; Ninguém diga o que não sabe, Nem afirme o que não viu.


Meu rico São João d’Arga Onde vos vieram pôr! No meio de duas serras Com pinheiros ao redor. Eu prendi o sol à lua, As campainhas ao sino, O meu coração ao teu Com correntes de ouro fino. Hei-de deixar ao relento Uma folha de figueira, Se S. João a orvalhar Hei-de encontrar quem me queira. As voltas que o linho dá Até chegar ao tear! Não são tantas como aquelas Que por ti me fazes dar! Eu hei-de ir pendurar-me No arco que tem a lua, Para ver o que o meu amor Anda a fazer pela rua!

Uns olhos negros bonitos De luar sobre os cabelos Lábios vermelhos, castiços Quem me dera conhecê-los! Sapato branco, bicudo, Não entra no meu quinteiro. Que o meu pai é lavrador Não quer genro caloteiro.

Cantando Viana Ò minha Mãe, vem aí o gaiteiro, andam do vira os acordes no ar já enxergo o bombo e o tamborileiro... abra-me a porta que eu quero passar. Tenho no canto da arca minha chinela bordada p’ra que a quero, senão p’ra bailar? Tenho uma saia de riscas tecida no meu tear, A minha saia rodada, p’ra que a quero senão p’ra bailar? Tenho camisa de fole do linho que eu quis fiar, Minha camisa enfolada, p’ra que a quero senão p’ra bailar? Tenho dois lenços de cores que ainda ontem fui mercar, E o meu avental de flores? p’ra que os quero senão p’ra bailar? Ó minha Mãe! Pela sua saúde! Que andam do vira os acordes no ar. Maria Manuela Couto Viana - Romaria d’Agonia 1942


172 Quadrinhas de Agosto Viana é bruxa: todos sabem Que, no chafariz da praça, Os fios de água são corda Que prende o passo a quem passa. Viana é frívola e vaidosa... Mas há desculpa talvez: Tem tanto sino a gabá-la E o rio sempre a seus pés! Há festa rija em Viana, Crepitam socos... foguetes... E crepitam corações Dentro e fora dos coletes! O lenço branco bordado De que a mordoma se ufana, Lembra-me as velas dos barcos Saindo a barra de Viana...

De Alma de Viana... Viana escreve a lã: V-I-A-N-A, nos aventais. Viana marca a fogo preso Viana, na alma dos mortais! Perdi um brinco em Viana: Que o guarde bem quem o tem... Sem achá-lo, não abalo, E estou por cá muito bem. Tem sete espadas no peito, Como a Virgem d’Agonia Quem Deus casa com Viana E lhe diz adeus um dia... Maria Emília de Vasconcelos

No riso aliciante dos “ferrinhos” que o eco , pelos caminhos, leva em estranhas toadas... Naquele tic tac harmonioso, compassado e harmonioso, das chinelinhas bordadas... Nas vozes dos harmónios, alcateia que leva aos cantos da aldeia os domingueiros bons-dias... Nos cantares de timbre doce, argentino, dançando num desatino em boda de sinfonias... Na quente melopeia das violas, no sorrir das castanholas discreto e ameninado... No gargalhar vaidoso e divertido, do cavaquinho atrevido brincalhão e agaiatado...

No meigo trinar da água das fontes, ou a balada que os montes se não cansam de rezar... Naquele tom de festa que se aposta subir a íngreme encosta boieiro carro a cantar... Em tudo, enfim, que é graça e harmonia, por feitiço, por magia sonho que em sonhos delira, Nasceu o rodopio apaixonante do bailado alucinante que tomou por nome: O VIRA!... José Figueiras – Romarias Portuguesas


P’ra Romaria Anda comigo Maria, Ver as Festas d’Agonia, Esse animado arraial! Que maior não viste ainda; É a romaria mais linda Das terras de Portugal. Vais ver troféus e bandeiras, Descantes, danças, Zés Preiras, Uma alegria infinita. Faço questão que tu vás, A mais o nosso rapaz Ver a festa mais bonita. Depois de Santa Luzia, Iremos ver a magia Da paisagem surpreendente. As casas muito branquinhas, As remotas ermidinhas, O rio manso, dormente.

E o mar? A espuma parece, Que no seu ondular tece De noiva o fino véu! E se vai de encontro à praia À hora que o sol desmaia Confunde-se com o Céu! Verás como esse tratante, Numa loucura de amante Que abrasa todos em desejos, Se lança à linda Princesa, Dando-lhe toda a pureza Dos seus românticos beijos. Vais ver o fogo do ar, A maravilha sem par, Dum estranho encantamento: Tu vendo o espaço a arder, Maria vais - te benzer Com tanto deslumbramento.

Dançaremos uma roda, Lembraremos nossa boda, Pois a vida é um sopro, é um ar! Quem vier que feche a porta, Depois de a gente estar morta É que não pode folgar. Vais, pois, comigo, Maria Ver as Festas d’Agonia, Esse animado arraial! Que maior não viste ainda; É a romaria mais linda Das terras de Portugal. Francisco Silva – Os Meus Cantares


Uns olhos negros bonitos De luar sobre os cabelos Lábios vermelhos, castiços Quem me dera conhecê-los! Cancioneiro Popular



176 No Alto-Minho, o falar é muito característico, simples e cheio de expressões populares. Com a troca do v pelo b, pela entoação, meio cantada, e com certas palavras, que lembram outras tais de origem galega, como: dês que, razon, sabedes, fermusura, e tantas outras, fazem-na muito própria e genuína.. Pessoas mais antigas, acrescentam o prefixo “a” às palavras como: alembrar, ajuntar, arrebentar, ou a letra l a outras, como, aquilho (aquilo), bilha (vila). É também muito empregue o sufixo eiro/eira: Milheiro - milho, «deita aí um milheiro às galinhas» Cisqueiro - cisco, poeira, «entrou-me um cisqueiro para o olho» Palheira - palha, «ainda não levantou uma palheira», quer dizer que não fez nada. Empregam-se também muito, os diminutivos: milhinho, binhinho (vinhinho). Engraçados são certos termos muito em uso: À beira - junto; vem para a beira de mim Aboado - intervalo entre duas chuvadas; vou a casa neste aboadinho. Adeus Viana que vou p’ro norte - exclamação de enfado Advertir - divertir Ameina-te - mexe-te Andar pelo beicinho - estar apaixonada/o. Aninhar - abaixar Aviar - mexer

Borracheira - bebedeira Cabaneira - pessoa que fala da vida alheia. Cadrar - calhar; se cadrar, também vou. Caruma - gravalha Chegou e disse, pôs o chapéu e foi-se - se alguém dá uma opinião com sentido Chieira - vaidade Deitar o barco ao rio - arranjar o primeiro namorado. Doutor da mula ruça, tira o chapéu põe a carapuça - expressão de desdém Enrodilhadeira - pessoa que arranja intriga. Fiquei como a noite - ficar triste. Fiquei que nem um cuco - estar contente. Frigir - fritar Levar o arco ao cruzeiro - é levar a noiva á igreja, no dia do casamento. Peleiro - cabelo Pelo visto e pelos altos, andam as pulgas aos saltos - expressão de gozo, quando alguém se arma “aos cucos”. Pôr a careca ao léu - contar segredos de alguém Prantado - parado; estás prantado a fazer o quê? Pró’mor - razão, motivo; agasalha-te, pro’mor do frio. Quando a calma cai - entardece Que de - quantidade; Ih! Que de gente! Quem te fez que te ature - quando alguém está a aborrecer Talheiro - atalho Ter lei - ter respeito; tenho muita lei ao meu home. Topar - encontrar; topas os meus óculos? Trago a alma num sino - estou alegre.


Transcrição de uma passagem do romance «Transviados», de Francisco Pitta, em que um criado de lavoura, conta uma aventura, em puro linguarejar do Alto Minho:

E assim foi, ele lá passou, aquele burro preto e enorme! Nisto, oubi dar a meia- noute! Caramba! Que faz arrepiar os cavelos, isto de oubir dar a meia – noute, assim num sítio! Lá o lobisome inda era o menes (menos)...

«Quer atom oubir, tia Carlota, uma para si? Habia, na minha terra, um sítio, onde toda a gente tinha medo de passar, de noute, porque deziam qu’apar’cia lá a cousa má.

Ele lá passou…Ia na figura dum vurro belho (velho), saurbo seja (salvo seja) com’ó vurro do Ti Bento Moleiro, que parece que num come há mais de um ano. Num m’importei munto. Já o tinha bisto e bem savia que s’a gente num se metesse co’ele num fazia mal.

Pois eu, um dia, fiz uma aposta im como era capaz de ir lá sozinho, à meia-noute. E... Bai, lá me ponho a caminho - um bô lode (pau) na mão, dous alhos porros no borso e um terço ò pescoço. Berdade, berdade, lá munto assossegado da bida num ia eu, porque, reaurmente o sítio era munto feio – uns caminhos fundos e scuros, entre pinheiros e aquelipes, sirbados (silvados) enormes, onde nem caijo (quase) de dia passaba bib’aurma (alma). Ora, ia eu seguindo, a assoviar, q’ando bejo, lá muito ao loins (longe) umas luzes. Pus-me a olhar prà’quilo e sempre me arrepiei um bocado. Mais (mas), tinha apostado e… claro, foi dezendo comigo: Pois bortar (voltar) pra trás é que num borto. E lá foi (fui) prá frente. Mais, ó som (maneira) qu’eu ia andando, as luzes apar’cium cada bez mais bibas e par’cia-me ber umas abantesmas munto negras, munto grandes, mesmo de pôrim medo. Bem q’ria continuar, mas bai, começum-me as pernas a tremer, a tremer, e é que num fui capaz. Pego, biro pra trás, mais inda fiquei mais tolo. Tinha dado meia dúzia de passos e ouço um barulho terrible, como dum vurro (burro) que fugisse a trote. Era o lobisome!, pensei c’os meus betões. E desbiei-me munto pra um canto, pró deixar passar.

Benho atom pra vaixo e, ó chigar a um regato, onde há uma presa chamada das Feiticeiras, bejo uma sere (série) de figuras brancas, c’um rapaz de barrete bermelho na cabeça e ouço uma grande balbúrdia de vozes, com palabras qu’eu num entendia. Reaurmente elas cá andum! Num me assustei tamém (também); ia até pra passar, muito sorrateiro. Mais q’ando tal, o rapaz atrabessa-se-me na frente, elas fechum-me naquela roda e... Lá bou eu, no meio daquilo tudo, a pisar matos e sirbas, pró monte arriba. Bem sabia que, pra me ber libre daquela alhada, bastaba prenunciar o nome de Jasus, falar em cruzes ou auga-benta. Mais, lá eu m’alumbrava disso! Lá ia eu aos tropegões, o pau nunca o larguei de mão! Ia sempre à mão, para manobrar, se fosse preciso. Mais não! Elas nunca se chigaram a mim. Ora, íamos todos lá pró pico do monte, os penedos a impedir-nes a passage, a carreira a apertar-se munto, antre penedos e sirbas, qu’ando tal eu bou, atropeço numa pedra e lá se me sai esse nome vendito: Ai Jasus! E, minha tia Carlota, num te digo mais nada!... tudo botou somisso!»


Ă“ meu amor, quem te disse qu´eu a dormir suspiraba? Quem to disse num mintiu, que eu por ti suspiros daba. Cancioneiro popular



182 Agradecimentos

Muito mais havia a dizer sobre o carinho, o amor e a amizade que sinto por Viana e suas gentes, gentis como ninguém, que prontamente se disponibilizaram a ”mostrar-me” o que lhes estava na memória de outros tempos. Ao Professor Fernando Oliveira, percursor no acompanhamento de todo o projecto. Á minha mãe, pelo carinho respeitoso, dedicação e paciência, com que acompanhou cada passo deste projecto. Aos meus tios pela disponibilidade de me cederem o seu tempo, material e informação. Aos tios Alfredo e Anabela, esta última, médica, e “Meia Senhora” no Rancho das Lavradeiras de Vila Franca do Lima, e ao mesmo grupo, devo agradecer terem-me cedido, cantares do Alto Minho. Ao Sr. Floriano Lima e D. Elvira grandes entusiastas da Festa das Rosas, explicações sobre a mesma, provérbios e ditos populares. Ao Grupo de Cantadeiras do Lima, através da recolha de antigos cantares. Sra professora Doutora Maria Cecília moura da Silva (Professora de estatistica no ISEL). Joaquim Rodrigues Ribeiro (Secretário Geral da Viana Festas). Manuel Freitas, Proprietário do Museu do Ouro em Viana. A todos eles a minha sentida gratidão, por me terem ajudado a ver com outros olhos, uma região, amada por todos, e que cada vez mais sinto como minha. Não é de Viana quem quer! É preciso vivê-la, percorrer aqueles lugares, “beber” das águas do manso Rio Lima, para, como pensavam os romanos, esquecermo-nos, de toda a vida de correrias e sentirmo-nos acarinhados. Para melhor a conhecerem, é irem lá, e verem com os vossos olhos e coração, o que aqui vos mostrei. E eu também!

APAREÇAM! QUE VIANA AGRADECE...



184 Resumo

Cultura Visual

No âmbito do estudo da cidade de Viana do Castelo e seu distrito, situado no Alto Minho, a área de investigação para fundamentar o meu projecto, cingese à sua Origem, História, Tradições, ao Folclore, rico em cor e único no País e às festas e romarias.

Cultura visual é tudo aquilo que nos rodeia. Quase tudo do pouco que sabemos sobre o conhecimento, chega-nos através dos meios de informação e comunicação. Estes, constroem imagens do mundo, que por sua vez definem a nossa cultura visual.

O nosso País é rico em História e tradições, que por vezes se vão desvanecendo na memória, embora, pessoas dedicadas a mantenham, transmitindo-as às novas gerações. O principal objectivo deste projecto, estará assente também, nesse combate ao esquecimento, principalmente aos que ainda apreciam as suas raízes.


Viana do Castelo - Símbolo de cultura visual

O Porquê do Projecto e sua importância

Os elementos mais importantes para o desenvolvimento deste projecto, são a Cidade de Viana do Castelo, a sua Cultura e Tradições.

Como foi referido anteriormente, Portugal é um País rico em Cultura. São as tradições do povo, que marcam a a História de um País. Contudo, existem cidades e locais, onde estes elementos vão desaparecendo, muitas vezes por causa de pessoas que não se interessam pelo nosso passado, pela origem das coisas.

A Cidade, é caracterizada pelas festas, e pelas tradições que conseguiu manter preservadas até aos dias de hoje. O Folclore, as Romarias, o artesanato, são elementos que distinguem a cidade, e a tornam única. A sua cultura, o ouro, os trajes, o centro Histórico, são elementos que tornam a Cidade um Símbolo da Cultura Portuguesa.

Com o envelhecer da População, há hábitos que se perdem, há Histórias que se apagam, e com elas vai o que caracteriza o nosso país. Não existe a vontade de querer conhecer, nem de explorar o que é nosso. No entanto, a Cidade de Viana, conseguiu, até aos dias de hoje manter os traços mais importantes da sua Cultura, e transmitir aos habitantes mais novos, os hábitos e costumes do passado. Com isto, o objectivo deste projecto tende a contrariar este desvanecimento de uma das mais importantes Culturas Portuguesas, tentando mantê-la viva aos olhos de todos. Em suma, a criação deste projecto vai ser um factor importante para a divulgação e enaltecimento da Cidade de Viana do Castelo, tanto para os próprios habitantes, como para a dar a conhecer aos Portugueses.


186 Viana do Castelo - Origem A sua origem data da Pré-História, com grupos Nómadas de caçadores a frequentá-la, assistiu mais tarde, na Idade do ferro, às primeiras comunidades agro-pastoris, que se instalaram e se dedicaram também à pesca e ao comércio com a Galiza. Contudo, é no Reinado de D. Manuel I, no início do Século XVI, que Viana se desenvolve, quer a nível comercial, quer socialmente, devido à sua proximidade com o Oceano, onde teve grande importância a construção e intercâmbio de mercadorias entre esta Cidade e Países como Inglaterra e o Brasil.

Em todas as ruas e vielas se respira História, e onde convivem estilos Clássicos e Arte Nova. Foi das poucas Cidades que conseguiu manter o seu centro Histórico preservado, mantendo o seu traço inicial.

Na cidade, são de extrema importância duas vertentes; uma que retrata a estrutura social dos seus habitantes, a outra, a vivência de outras eras e as tradições mantidas. Falar de Viana do Castelo é falar do Minho e da sua estrutura social que se reflectiu na formação das linhagens a que deram origem, e que entroncam em algumas das mais antigas e poderosas famílias Portuguesas, de grande influência na vida política e social, no início da nossa Nacionalidade.

O projecto apresentado tem como principal objectivo dar a conhecer a Cidade, demonstrar a sua importância Cultural e Histórica, incentivando o Turismo na Região.

A essência desta cidade está na Agricultura, no Comércio, na Indústria e no Turismo. O Património, a História, as Tradições, a Gastronomia, as festas, fazem da cidade um potencial ponto de Turismo. O seu reconhecimento Internacional, pela distinção como Capital do folclore Português.

Com o passar dos anos e das transformações tecnológicas, alguns dos costumes do dia-a-dia foram desaparecendo, ficando na memória e nos costumes das suas gentes. No entanto, as Tradições, a Cultura, o Regionalismo e a História, são passados aos mais novos.

O levantamento dos dados está baseado na pesquisa bibliográfica, na consulta de documentos Históricos e através de depoimentos orais de habitantes locais.


Projecto - “Livro Viana” O emissor do projecto, será uma peça editorial, um livro e packaging. Está será a principal referência para a divulgação da Cidade de Viana do Castelo.

O Livro contará ainda com um packaging, um saco em linho branco, bordado a ponto de cruz vermelho, simbolizando o comércio de Artesanato da Cidade.

A origem do livro e do seu nome está directamente relacionado com tudo o que envolve a Cidade e o seu distrito. A História e a Cultura de um Povo, são a chave para o desenvolvimento do mesmo, pois são estes os traços que marcam a Cidade.

“Viana”, será o nome pelo qual tudo o que está relacionado com a região de Viana do Castelo, será divulgado, numa tentativa de apelar ao Turismo da Cidade, e cativar o interesse de todos. Mostrando a importância das Culturas e Tradições do nosso País.

Será dividido por capítulos, nos quais estarão os elementos mais importantes, tanto da Cidade antiga, como da dos dias de hoje. Origem, História, Património, Festas Tradicionais, Lendas, Tradições e Superstições, Trajes, Gastronomia, Ouro Vianês, Artesanato, Cancioneiro Popular e Regionalismos. Serão utilizadas 4 cores no projecto, estas irão ser baseadas nas cores tradicionais da Cidade. O Azul, das loiças e artesanato, O Amarelo, do ouro, o Vermelho, dos bordados, e o Preto, dos trajes. A Tipografia utilizada para o texto, a font Goudy Old Style, para os Títulos, a Font Cochin, com alterações. Os títulos dos Capítulos estão personalizados conforme o nome dos mesmos, e por elementos alusivos à Cidade e ao capítulo em questão. O final de cada capítulo é encerrado com uma quadra Regional alusiva ao tema.


188 Bibliografia PAÇO, Afonso de. (1994) - Etnografia Vianesa, Viana do Castelo. (1925) - Notas do Folclorismo Minhoto. Lisboa, Revista Lusitana. COELHO, Adolfo. (1993) - Festas, Costumes e outros materiais para uma etnologia de Portugal, Vol. I. Lisboa: Publicações D.Quixote. VASCONCELOS, Maria Emilia Sena de. (1984) - Sobre os trajes do Minho e da Galiza. In Actas del II Colóquio Galaico-Minhoto, II. Compostela. SAMPAIO, Francisco (1986) - Alto Minho - Região de Turismo. Viana do Castelo. ESCALEIRA, José e LOUREIRO, José Carlos. (2001) - Feiras e Mercados de Viana, GDCTENVC. (1997) - Viana: Cidade e Circunstância. Viana do Castelo. FERNANDES, Francisco José Carneiro. (1999) -Tesouros de Viana. Viana do Castelo GONÇALVES, Albertino, MARTINS, Moisés e PIRES Helena. (2000) - A Romaria da Senhora da Agonia, GDCTENVC. Viana do Castelo. CARVALHO, António. (2001) - Viana do Castelo Século XX. Viana. MACEDO, Maria de Fátima. (1993) - Raízes do ouro Popular, no Noroeste Português, Porto. VIANA, António Manuel Couto. (2002) - Lendas do Vale do Lima, Ponte de Lima. RIOS, Euclides. (2003) - Quadras e contos da Agonia. Viana Festas. VIEIRA, Carlindo. (1984) - Barqueiros do Lima. Viana do Castelo. SAMPAIO, Gonçalo. (1944) - Cancioneiro Minhoto, 2ª Edição. Livraria Educação Nacional, Porto.


COUTINHO, Artur. (1997) - Mosaicos da Serra D’arga. Viana do Castelo. MALAFAIA, Dores. (2006) - Feiras Novas Meus Amores. Ponte de Lima. Catálogo do Museu Municipal e do Traje de Viana do Castelo, 2005. Brochura da Festa do Traje Martins, Moisés Lemos, Meira, Gonçalo F. (2004) - Os Estaleiros Navais e a sociedade Vianense, GDCTENVC. IPPAR. (1993) - Património Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa. Moreira, Manuel António Fernandes. (1985) - O Município e os Forais de Viana do Castelo, Braga. Pereira, Manuel Delfim (2007) - Memórias do Nosso Povo. Barroselas. Abreu, Alberto A. (2001) - Auto da Floripes.Viana do Castelo. Junta da Freguesia das Neves (2008) - Festa das Neves 1 a 6 Agosto 2008. Viana do Castelo. Coutinho, Artur (1998) - A Cidade de Viana no Presente e no Passado. Viana do Castelo. Pitta, Francisco. (1987) - Lendas e Tradições do Alto Minho. Viana do Castelo. (1987) - Barqueiros do Lima. Viana do Castelo. D’Alpuim, Maria Augusta e Vasconcelos, Maria Emilia (1983) - Casas de Viana Antiga. Viana do Castelo. Basteo, Cláudio. (1991) - Traje à Vianesa. Viana do Castelo. Câmara Municipal de Viana do Castelo - Os Bordados de Viana do Castelo. Viana do Castelo, 2005.


190 Notas Bibliográficas 1. Manuel António Fernandes Moreira, “O Município e Os Forais de Viana do Castelo”, 1986, pp. 235-241 2. Manuel António Fernandes Moreira, “O Município e Os Forais de Viana do Castelo”, 1986, p. 261 3. GPCTENVC, “Viana: Cidade e circunstância”, 1997, pp. 29. 4. António Carvalho, “Viana do Castelo Século XX”, 2001, pp. 8-10. 5. Maria Augusta d’Alpuim e Maria Emilia Vasconcelos, “Casas de Viana Antiga”, 1983, pp. 20-24 6. Declaração oral Manuel Freitas, Conhecedor do Ouro Português 7. Moisés Martins, Albertino Gonçalves e Helena Pires, “A Romaria da Senhora da Agonia - Vida e Memória da cidade de Viana”, 2000, p. 66 8. Francisco Samapaio, “Programa da festa do Traje”, 2008 9. Idem 8 10. Idem 8. 11. GPCTENVC, “Viana: Cidade e circunstância”, 1997, pp 133. 12. Declaração oral de Manuel Freitas, Conhecedor do Ouro Português. 13. Programa das Festas, 1986 14. Manuel Delfim Pereira, “Memórias do Nosso Povo: Para Uma Etnografia do Vale do Neiva”, 2007. 15. Grupo de Cantadeiras do Vale do Neiva 16. Luís Alberto Dias Franco, “Auto de Floripes”, 2009 17. Alberto A. Abreu, “Auto da Floripes”, 2001, pp 13 - 25 18. Comissão das Festas de Nossa Senhora das neves, “Festas das Neves - A Romaria das Três Freguesia”, 2008 19. Declarações orais Sr. Floriano Lima, Grupo de Lavradeiras de vila Franca do Lima e ARVF. 20. Moisés Martins, Albertino Gonçalves e Helena Pires, “A Romaria da Senhora da Agonia - Vida e Memória da cidade de Viana”, 2000, p. 21 - 23 21. Artur Coutinho, “Mosaicos da Serra D’Arga”, 1997. 22. Declarações orais Passadas por Familiares



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