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GRAFFITI EM SALCITY
from GRAFFITI SALVADOR
by RIMA
O graffiti em Salvador, na forma como ficou conhecido pelo mundo, começou a esboçar-se ainda nos anos 80, através de trabalhos de artistas como Miguel Cordeiro, Nildão, Renato da Silveira, Bel Borba e Ray Vianna. A década seguinte, cheia de possibilidades de informação, aguçou a curiosidade e ampliou o repertório de muitos jovens que se tornaram grafiteiros. O consumo de revistas e vídeos especializados possibilitou um incremento da cena local. Nesse período, muitos jovens “migraram” da pichação para o graffiti como uma nova forma de expressão, uma maneira de comunicar-se mais diretamente com as pessoas nas ruas. Apesar de ser considerada atualmente uma cidade boa para produzir – pela quantidade de muros e pela facilidade de pintar sem sofrer discriminação ou violência –, cerca de 15 anos atrás não se distinguia o que era graffiti e pichação em Salvador. Em 2005, uma iniciativa do então governo municipal conseguiu mudar um pouco esse quadro. Contratados pela prefeitura, diversos grafiteiros soteropolitanos passaram a pintar temas pré-determinados em passarelas, muros, viadutos e trens indicados pela coordenação do projeto. Um dos objetivos do Salvador Graffita era justamente o de sensibilizar e cooptar jovens que atuavam como pichadores no Centro e na periferia, através da arte. Assim, alguns desses jovens considerados como “transgressores” foram integrados à equipe do projeto e ainda são grafiteiros. Um ponto positivo do projeto foi justamente o de chamar a atenção da população para o graffiti como arte. Muitos artistas entrevistados declararam que por conta da sua divulgação, boa parte da população passou a valorizar os seus trabalhos, distinguindo-os de uma pichação ou de um ato de vandalismo. A repressão policial de outrora passou a dar lugar à permissividade e até certa cordialidade. Muita gente aproveitou a situação para ir às ruas pintar, e o resultado disso foi um aumento significativo no número de produções. O graffiti passou a ter espaço em lugares antes inimagináveis, como vitrines de lojas de grife, fachadas e pátios de universidades. Com o tempo, outros fatores contribuíram para uma mudança de mentalidade. A maior emissora de televisão brasileira, a Rede Globo, contribuiu para isso com a inserção de personagens em suas telenovelas e matérias em programas de variedades e telejornais. Além disso, em 2011, a presidente Dilma Roussef sancionou uma lei que diferencia graffiti de pichação, e determina que a sua prática não constitui crime, desde que realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado. Nos anos de 2000, houve ainda um incremento da produção soteropolitana. Muitas crews, formadas nos anos 90, evoluíram seus trabalhos e as formas de mobilização e organização. Alguns
bairros, a exemplo de Castelo Branco e Cajazeiras, tornaram-se guetos do graffiti soteropolitano e assim se mantiveram até os dias de hoje. No Cabula, surgiu o Projeto Cidadão, fundado pelo pedagogo Antonio Jorge, que, além de promover oficinas há mais de dez anos, já realizou concursos de graffiti que deram visibilidade a trabalhos de artistas como Denissena e Zezé Olukemi. Na mesma década, uma quantidade considerável de grafiteiros iniciou seus estudos na Escola de Belas Artes da UFBA, onde formaram equipes como a 071 Crew, fundada em 2004. Em 2005, chegou a circular pela cidade um zine exclusivamente dedicado ao segmento, capitaneado por dois experientes artistas: Neuro e Dimak. O “Na Lata” teve ainda colaboradores como Bigod, Fozi e Andréa May. Um
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dos grafiteiros precursores na cidade, Neuro, também foi a primeira pessoa a comercializar material apropriado, como sprays importados e bicos. Os primeiros dez anos de 2000 foram frutíferos, com muitas exposições individuais e coletivas. Além das ruas, o graffiti passou a ocupar museus e galerias como a da Caixa Cultural, da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (ACBEU), Solar Ferrão, Centro Cultural Brasil-Itália e Centro Cultural Correios. Os mutirões se multiplicaram e eventos como o Mutirão Mete Mão, iniciativa do coletivo MiniStereo Público (que, além do graffiti, leva um sistema de som especializado em reggae), permanecem. Até 2008, aconteceram também duas edições do evento anual Meeting of the Acarajé, promovido pela Bomb Bahia, loja especializada nesse segmento artístico. Em julho de 2009, aconteceu o encontro nacional da Rede Grafiteiras BR, tendo as artistas Mônica, Kátia, Profana e Tétis como organizadoras. Alguns eventos importantes como a Bienal do Recôncavo, Circuito das Artes e Visio Pontos já incluíram trabalhos de grafiteiros soteropolitanos. Chama atenção a participação desses artistas em eventos realizados pelo
movimento negro soteropolitano, apesar da maioria ter declarado não ser militante. É nítido o recorte racial que o movimento hip hop assume na capital baiana, sendo parte de políticas públicas para a juventude local. Entre as ações promovidas, destaca-se o Núcleo de Graffiti da Rede Aiyê, formada por todas as posses do movimento na cidade. Numa época em que se confundia muito graffiti com pichação, o Núcleo conseguiu organizar um seminário que reuniu grafiteiros, pichadores e poder público. O evento realizado na Fundação Gregório de Matos foi um marco para o graffiti soteropolitano. Nos últimos anos, algumas novidades como o Museu de Street Art de Salvador (MUSAS), iniciativa da crew Nova10Ordem, que se instalou (e que foi muito bem recebida) na comunidade da Gamboa. Ocupando uma casa que recebia exposições e que abrigou artistas de todos os cantos, o MUSAS promoveu, além das intervenções artísticas na localidade, intercâmbio com artistas nacionais e internacionais. Boa parte da comunidade do Solar do Unhão (casas, muros, arcos dos viadutos) foi pintada durante a ocupação do imóvel até agosto de 2014.