#OUTSIDE

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Outside Aventura, viagem e emoção

conheça o highline,o Slackline nas alturas

EDITORA

Nas alturas

Entrevista

Carlos Burle, bicampeão

mundial de ondas grandes

Bicicleta

De volta para a estrada

MAIO/JUNHO DE 2014 R$ 18,50


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DE NOVO, NA ÁFRICA!

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CONHEÇA O HIGHLINE

DO SLACKLINE PARA O HIGHLINE Apesar de ser uma das modalidade de Slackline, o Highline tem suas particularidades como esporte.

RECORDE DE ASA DELTA

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VIAGEM

NAS ALTURAS

AVENTURA

02 SUMÁRIO

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NA TERRA DOS DEVORADORES DE ARROZ NAM CURSUS UT EROS SIT Sed nec sapien malesuada, malesuada enim ut, condimentum turpis.

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LUXO SOB AS ESTRELAS

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DE VOLTA PARA ESTRADA

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TREINAMENTO

ENTREVISTA

DUAS RODAS

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CARLOS BURLE, BICAMPEテグ DE ONDAS GRANDES

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ENGULA ISSO

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HORA DO INTERVALO

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NAS ALTURAS

Conheça o Highline O Highline é uma das quatro modalidades de Slackline, sendo uma das vertentes mais desafiadoras. O esporte basicamente consiste em equilibrar-se em uma fita ancorada a mais de 10 metros de altura e pode ser feito entre formações rochosas, canyons e prédios. O Slackline surgiu no final dos anos 70, entre os escaladores do Parque de Yosemite (EUA). Quando as condições climáticas não eram favoráveis para a escalada ou nos momentos de tempo livre, os escaladores esticavam suas cordas entre dois postes para se equilibrarem em cima delas, como uma forma de aumentar o equilíbrio e a concentração. O Highline surgiu quando os praticantes de Slackline começaram a ancorar as suas cordas em lugares cada vez mais altos por influência de artistas de corda bamba que chamaram a atenção ao cruzar, em cabos de aço, alguns pontos famosos, como as Torres Gêmeas e o Canyon Eldorado.

Locais de ancoragem, as condições climáticas, o tensionamento da fita, a distância entre as duas pontas e as condições do local (tipo de rocha, exposição ao vento, etc) variam dependendo do local e do momento. Apesar de todos esses detalhes técnicos, o que vai levar a você a ser um bom highliner parte da sua cabeça. Não é fácil para ninguém equilibrar-se sabendo que está em uma fita ancorada a dezenas de metros do chão. Por isso, o seu desempenho vai depender muito da sua perseverança e da sua habilidade de se concentrar em uma situação de stress. O ideal é progredir lentamente, começando com alturas menores e aos poucos aumentando o seu limite.

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Do Slackline para o Highline Apesar de ser uma das modalidade de Slackline, o Highline tem suas particularidades como esporte. A diferença da altura da fita em relação ao solo gera riscos que precisam ser conhecidos e superados com equipamentos e preparação. Para equilibrar-se em uma corda ancorada a mais de dez metros de altura, é preciso estar por dentro das seguintes informações:

Nesse texto não vamos descrever como é montada uma fita segura para Highline, pois acreditamos que é necessário o suporte pessoal de um profissional com experiência para explicar a montagem, onde os mínimos detalhes é que vão garantir a sua segurança.

A exigência de segurança no Highline é muito maior e por isso exige experiência. A O Highline exige que o atleta esteja premontagem do Highline deve ser feita com parado para lidar com mudanças e impretodo o cuidado possível, já que sem equi- vistos. Cada travessia é sempre única: os pamentos de segurança qualquer queda pode levar a ferimentos graves ou até mesmo a morte. Para isso é necessário ter equipamentos de escalada e saber como utiliza-los para fazer a segurança em caso de algum imprevisto.

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DUAS RODAS

Com o fim do inverno na Europa, começam as provas mais maravilhosas do ciclismo de estrada – veja aqui as novidades deste ano para as Grandes Voltas da modalidade. Por Leandro Bittar

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DUAS RODAS

De 9 de maio a 1 de junho

A prova

Depois de uma edição épica em 2013, com muita neve e frio, a primeira grande volta ciclística do ano apresenta um percurso mais “humano” e um dia a mais de descanso (três, no total) ao longo de suas 21 etapas. A disputa da maglia rosa (camisa rosa de primeiro colocado) vai começar em uma sexta-feira, com um contrarrelógio por equipes em Belfast, na Irlanda do Norte, e termina 3.450 quilômetros depois, em Trieste, no nordeste da Itália. O traçado atende a todo tipo de ciclista, com oito etapas planas para os velocistas, três contrarrelógios (um por equipes, um individual e uma crono-escalada) e nove chegadas em subida. Mesmo assim, o campeão será um grande escalador. O temido Monte Zoncolan, com trechos de 25% de inclinação, na penúltima etapa, será o auge da disputa.

Os caras

Vincenzo Nibali

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O atual campeão Vincenzo Nibali (da equipe Astana) abdicou de defender o título para lutar pela camisa amarela do Tour de France (TdF). Assim a grande estrela do Giro deste ano é o escalador colombiano Nairo Quintana (da Movistar), vice-campeão do TdF e um dos mais empolgantes ciclistas da atualidade. Dois rivais na disputa pela camisa rosa são o colombiano Rigoberto Urán (da Omega Pharma Quick-Step) e o australiano Richie Porte (do Team Sky), que lutarão em benefício próprio depois de anos trabalhando para a dupla de britânicos Bradley Wiggins e Chris Froome (ambos vencedores do TdF). Correm por fora os veteranos Joaquim Rodriguez (da Katusha), Cadel Evans (da BMC) e Ivan Basso (da Cannondale).


Por que assistir

Più bella, più dura. A linda paisagem italiana, favorecida pela época do ano, ainda com neve nas montanhas, torna o Giro d’Italia uma das Voltas mais interessantes de se acompanhar, mesmo para quem não entende nada de ciclismo. As duras montanhas garantem embates acirrados até o final. Não à toa, a organização define esta prova como a mais dura e mais bela da modalidade. Se você só tiver uma chance para confirmar isso, assista à 18ª etapa (dia 29 de maio), que percorrerá os míticos Passo di Gavia e Passo dello Stelvio, antes da escalada final, no Val Martello.

Marco Pantani

Este ano, a prova homenageia os dez anos da morte do ciclista Marco Pantani, o maior ídolo da história recente do país. O poderoso escalador será lembrado em duas mon56 tanhas duríssimas que brilhou: a Oropa (14ª etapa) e o Montecampione (15ª).

Novo ídolo

Entre os melhores ciclistas do mundo, existem alguns ainda mais especiais. Um deles é Nairo Quintana. O jovem colombiano de 24 anos pode fazer história ao levar seu país ao topo do Giro pela primeira vez. Com uma grande equipe para ajudá-lo (a Movistar), Quintana pode surpreender. Um título em uma grande volta é um passo importante para ele se firmar como um dos grandes nomes do esporte – e, ele vencendo ou não, com Quintana o espetáculo é garantido.

Barolo

A volta italiana possui inúmeras referências da cultura italiana, e poucas coisas revelam tanto do país quanto sua gastronomia. O decisivo contrarrelógio individual na 12ª etapa selecionará quem está apto ao título deste ano; o vencedor dessa etapa será recebido na cidade de Barolo com um belo brinde do vinho mundialmente reconhecido pelo mesmo nome.

Onde assistir

ESPN, Gazzetta.it e RAI

Site oficial

http://www.giroditalia.it

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DUAS RODAS

De 5 a 27 de julho

A prova

A mais famosa volta ciclística do planeta começa na Inglaterra, em Yorkshire, e roda pela Grã-Bretanha até a terceira etapa, que terá final em Londres. Depois do enorme sucesso de 2007, quando três milhões de espectadores acompanharam o Tour na terra da Rainha, espera-se novamente um grande público graças ao sucesso recente dos “locais” Bradley Wiggins e Chris Froome, campeões em 2012 e 2013, respectivamente. Froome, aliás, é o grande favorito. O percurso lhe favorece, principalmente o crono individual de 54 quilômetros, na penúltima etapa. A grande preocupação será sustentar esse favoritismo durante três semanas (3.656 quilômetros totais), incluindo alguns dias críticos, como o quinto, que percorrerá trechos de paralelepípedos da prova Paris-Roubaix, e a 18ª etapa, que passa pelo mítico Col du Tourmalet e termina na escalada do Hautacam, montanha famosa por ter decretado o fim do domínio do espanhol Miguel Indurain no Tour de France, no ano 1990.

Os caras

O britânico Chris Froome (Team Sky) é o grande favorito, porém o Tour de France reúne sempre os melhores ciclistas da temporada, e neste ano não será diferente. A ausência mais sentida será do vice-campeão de 2013, o colombiano Nairo Quintana (da Movistar). Joaquim Rodriguez (da Katusha), que completou o pódio em 2013, também não estará na disputa. Campeão do Giro no ano passado, Vincenzo Nibali (da Astana) é considerado o principal rival, seguido dos espanhois Alberto Contador (da Tinkoff) e Alejandro Valverde (da Movistar). Há ainda novos nomes que rejuvenesceram a lista dos “top 10” do evento, como os norte-americanos TJ Van Garderen (da BMC) e Andrew Talansky (da Garmin), que correm por fora na disputa por um lugar entre os melhores.

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Por que assistir

Não existe evento mais importante para ciclistas, equipes, patrocinadores ou qualquer outra pessoa ligada ao ciclismo de estrada. Só para se entender a dimensão desta volta, o campeão do Tour do ano passado recebeu da organização uma premiação cinco vezes maior do que o campeão do Giro (450 mil euros contra 90 mil euros), e todos os ganhos indiretos acompanharam aproximadamente a mesma proporção. O nível da disputa é altíssimo, o que, inevitavelmente, transforma a competição em um jogo de xadrez cheio de estratégias para ver quem é o melhor.

Mulheres

Atendendo aos pedidos das ciclistas profissionais, a organização do Tour realizará uma disputa feminina antes da última etapa da volta francesa, na avenida Champs-Élysées, em Paris. Uma grande conquista para elas e um aquecimento mais do que especial para o encerramento da competição.

Pavés

Vários trechos de paralelepípedo do percurso da mítica prova Paris-Roubaix, como o Carrefour d’Arbre, estarão no traçado da 5ª etapa deste ano, somando 15,4 quilômetros de trepidações e pânico para os líderes. Eles sabem que esse tipo de terreno aumenta os riscos de queda e pode tirá-los da disputa pelo título, como aconteceu em 2010, quando o luxemburguês Frank Schleck quebrou a clavícula e Lance Armstrong teve um pneu furado.

Onde assistir

ESPN, TV5 e na internet (links em www.steephill.tv)

Site oficial

http://www.letour.com

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DUAS RODAS

De 23 de agosto a 14 de setembro

A prova

Última grande volta da temporada, a Vuelta é a “prima pobre” entre as três. Na maioria das vezes com menos estrelas e mais jovens promessas, a competição tem um menor nível técnico. Porém se trata de um evento repleto de surpresas, ataques e reviravoltas. A edição de 2014 será a mais curta das grandes voltas, com 3.181 quilômetros e toda disputada em solo espanhol, com largada no Sul, em Jerez de la Frontera, e final no norte, em Santiago de Compostela. Sua característica mais marcante na história recente são as duras montanhas. Neste ano, por exemplo, serão 40 escaladas categorizadas e oito finais em subida. A última etapa será um contrarrelógio individual com dez quilômetros de extensão. Talvez seja pouco para alterar algo na classificação geral, no entanto vale lembrar que o campeão de 2013, o norte-americano Chris Horner, tinha apenas três segundos de vantagem para o rival Vincenzo Nibali no último dia de disputa pela camisa vermelha.

Os caras

Com o percurso selecionado e a agenda dos rivais definida, o grande favorito para a Vuelta 2014 é Joaquim Rodriguez (da Katusha). Aos 35 anos, ele tem a melhor oportunidade de sua carreira para realizar o feito, que escapou de suas mãos em 2012. Os compatriotas Alejandro Valverde e Alberto Contador despontam como principais rivais, porém a briga pelo título da Vuelta sempre guarda surpresas, como ocorreram durante as vitórias recentes de Juan José Cobo (2011) e Chris Horner (2013).

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Por que assistir

Por pura emoção. Nos três últimos anos, foi sem dúvida a grande volta mais emocionante na disputa pelo título, como o embate entre Froome e Cobo, em 2011, o ataque surreal de Contador em 2012 e a milimétrica guerra entre Nibali e Horner na última edição.

Revelações

Leopold König, Warren Barguil e Kenny Elissonde foram alguns dos jovens que venceram etapas na última edição, mostrando que a Vuelta tem se tornado um palco de promissores talentos.

Ancares

A Vuelta sempre reserva uma subida colossal para a penúltima etapa. Este ano será Ancares, uma montanha com 17 quilômetros de extensão e 7% de inclinação média. Porém, como sempre dá para apimentar um pouco mais, a subida final será precedida de outras seis (!) montanhas categorizadas (geralmente são quatro categorias de dificuldade, além das ‘hors catégorie’, as mais longas e difíceis de uma competição).

Ataques

Uma série de fatores torna a Vuelta menos tensa que suas co-irmãs. Algumas equipes já cumpriram seus principais objetivos, outras já estão fisicamente no limite e várias estão pensando na temporada seguinte. Jovens nomes, atletas que tiveram imprevistos durante o ano (um acidente, por exemplo) e veteranos em busca de um último contrato disputam a competição de peito aberto, e o que se vê é uma briga mais acirrada do que nos demais eventos.

Onde Assistir

ESPN e na internet (links em www.steephill.tv)

Site oficial

http://www.lavuelta.com

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ENTREVISTA

BICAMPEÃO MUNDIAL DE ONDAS GRANDES A revista OutSide se encontrou com o campeão mundial de ondas grandes, Carlos Burle. Ele contou um pouco da sua trajetória de sucesso, dentro e fora do mar.

Texto por Laura O'Donnel

Maior expoente brasileiro do surfe em ondas grandes, o pernambucano Carlos Burle esteve em Florianópolis na semana passada para cumprir compromissos com patrocinadores. Aos 46 anos, o surfista profissional passou sua experiência para os acadêmicos da UFSC em palestra realizada no Centro Sócio Econômico da universidade e prestigiou coquetel da Loja Uber Store, representante da marca Redley, na Capital. Entre um compromisso e outro, Burle ainda achou tempo para remar de stand up paddle em Jurerê, e pagar ondas nas praias de Garopaba e no Pico do Riozinho, no Sul da Ilha. Conversei com ele na sexta-feira à tarde e falamos sobre vários assuntos, como a experiência e a repercussão da sessão de 28 de outubro em Nazaré e a expectativa para a indicação para o Billabong XXL, o oscar das ondas grandes. Confira a primeira parte da entrevista.

CARLOS BURLE

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ENTREVISTA

Outside - Como foi essa experiência em Nazaré e ao que você atribui o fato da Maya Gabeira ter caído (falta de experiência, azar) e como foi lidar com essa situação? Burle – O nosso esporte não é como o de quadra ou automobilístico, que você pode ter a melhor equipe, o melhor equipamento e treina na hora que quiser. Nós dependemos da natureza, e no caso de ondas gigantes, mais ainda. E você tem que estar no lugar certo, na hora certa para aproveitar, para evoluir. E o que aconteceu naquele momento foi justamente isso. Eu estava com aquele time, com idade média de 25 anos. Eles querem evoluir, precisam, então ficam se masturbando mentalmente, vou pegar uma onda de 100 pés, vou pegar uma onda gigante e aconteceu. Eles estavam lá, tinha um mar gigante e para evoluir você tem que se expor. E a Maya está evoluindo, tem treinado bastante, mas ainda não chegou no auge dela, não tem toda a técnica. Ela tem muito trabalho físico e psicológico. Ela caiu naquela onda e eu acho que outros surfistas poderiam

ter caído naquela onda também. Agora, a melhor coisa que ela fez foi pegar aquela onda, porque vai demorar muito para ela pegar uma onda daquela, para passar por aquela situação, para aprender, para evoluir. O que aconteceu naquele dia foi justamente isso. Ela precisou se expor numa situação que não conhecia para evoluir e ajudar na evolução do esporte, não só na performance, como na segurança. Todo universo do surfe de ondas grandes parou para se perguntar “o que que uma mulher está fazendo ali dentro?”, “ela não tinha capacidade?”, vários comentários, mas ela mostrou que tem preparo físico, pois tomou duas ondas grandes na cabeça. Nunca ninguém havia passado aquilo e ela sobreviveu. Então, na realidade quem salvou a Maya foi a própria Maya. Eu estava ali, tive a atitude também para ajudar nesse resgate, as pessoas me ajudaram a leva-lá pra praia, mas basicamente isso, a gente precisa se expor. A condição podia ser melhor, poderia, se o investimento fosse maior, se tivesse helicóptero, um barco, mais skis, mais equipe, mas a condição perfeita não existe. Perfeito não existe. Acho que o mundo perfeito está no céu.

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“Ela precisou se expor numa situa- Outside — Na palestra você disse que a reperção que não conhecia para evoluir cussão na comunidade do surfe foi muito negativa. Porque? É muita vaidade, ego? e ajudar na evolução do esporte” Burle — É, eu acho que é muito ego, mas é

Outside – A repercussão foi tão grande quanto o normal. O ego é importante para a evolução do ser humano. A competição vem do a onda surfada em Nazaré? Carlos Burle - Eu acho que o ingrediente da Maya (Gabeira) fez o diferencial. Tudo que aconteceu fez daquele dia um dia pra sempre, como escreveu o Tulio Brandão (colunista do site Waves). Acho que foi a história de surfe mais comentada no mundo porque aconteceu tudo, as ondas grandes, o que a Maya fez, surfou aquela onda enorme, as pessoas tem que se lembrar disso. Ela passou por aquela dificuldade porque ela surfou a maior onda já conquistada por uma mulher. Depois eu voltei para a água para ver o Gordo (Felipe Cesarano) e o (Pedro) Scooby porque eu estava de olho neles, e aconteceu aquilo. O Gordo pegou as ondas gigantes, o Scooby também e eu consegui pegar uma onda boa. Então foi um momento histórico para gente, para o Brasil e para o esporte. Então Nazaré trouxe tudo isso para minha vida, mais responsabilidade, comprometimento, mais prazer de fazer a coisa certa, mas também muita coisa ruim. Não é possível fugir dos seus obstáculos, do seu medo. Se eu fugir, ele vai aparecer de novo ali na frente. Aconteceu tudo aquilo com a Maya, eu vou pegar essa onda e acho que foi um presente que a natureza, que Deus me deu. Essa onda de Nazaré foi um presente.

ego, um quer ser melhor do que outro. Agora, quando você coloca sua emoções e sentimentos acima do bem comum, acho que a coisa perde um pouco do sentido. Noventa por cento ou até mais da comunidade não entendeu. A recepção foi muito difícil, muitas críticas, muita inveja porque a gente explodiu. Meu nome aqui no Brasil ficou fortalecido, o da Maya também. Mas os surfistas infelizmente tem uma mentalidade muito limitada, de tribo mesmo. Esse lance do localismo, do meu pico. Então tudo de bonito que o esporte tem – relação com a natureza, seu corpo, autoconhecimento saúde – que está na hora de compartilhar, tudo isso acaba. E você não compartilha só com surfistas, você compartilha com bodyboarder, banhista, kitesurfista, e o espaço é muito reduzido. E o surfista tem essa tendência de se proteger. A gente demorou um tempo para entender o que estava acontecendo. Você comentar e entender a situação de uma forma totalmente diferente é compreensível. Mas começaram a inventar um bocado de coisas. Inventaram que eu havia pedido para a minha assessoria para falar que a minha onda era maior. Tinha 500 pessoas em cima do cliff (rochedo), tudo acontecendo ao vivo, e aconteceu isso.

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ENTREVISTA Outside — Houve um comentário de que o tornozelo da Maya havia sido quebrado quando você passou com o jet ski por ela, no momento do resgate… Burle — Milhões de coisas aconteceram que não fazem parte daquele dia e eu sei que isso é muito da mente do ser humano. Eles tentam criar desculpas para justificar de alguma forma a falta de sucesso, não sei. Isso me tira um pouco de tesão, porque será que não dá para entender que seria melhor que a gente trabalhasse junto, remasse junto para um lugar só. No fundo, se o meu maior competidor ganhar mais, eu ganho mais. O que a galera do surfe parece não entender é que quanto mais medíocre o esporte, quando menor o pensamento, pior para tudo mundo. Na hora de renovar contrato eu falo “olha você sabe quanto o Pato (Everaldo Teixeira) ganha, o Rodrigo (Resende), o Eraldo (Gueiros), o Danilo (Couto) ganha?. Se essa galera não ganhar bem, é ruim para mim. Eu não preciso apagar ninguém, para mim é o contrário, eu tenho que levantar todo mundo, entendeu. Se eu não tiver um paralelo de pessoas positivas, bem sucedidas, que eu possa me comparar, para mim é horrível. Agora minha maior felicidade é saber que a Maya está super bem, deu a volta por cima, apesar de ter recebido muitas críticas. Ela está sendo considerada uma super atleta, nomeada para prêmio e daqui a pouco você vão ver ela em várias campanhas na televisão e isso é bom para a gente. Isso é bom para o esporte da gente. O que eu faço tem tudo a ver com aquele pensamento de garoto quando saí de Recife, eu quero melhorar a imagem do esporte. O que eu faço em um quarto, diz respeito a mim. O nariz é meu eu faço o que eu quiser. Quando eu sou referência de um esporte eu tenho que ter cuidado o que eu falo, com as coisas que eu penso, com as minhas ações, quando eu estou no público. Eu estou representando meus patrocinadores, meu esporte e meu país. Essas coisas tem que ser levadas em consideração e parece que o surfe ainda tem aquele problema, geográfico, de localismo e tudo. Mas as coisas estão melhorando.

Outside – A indicação para o prêmio Billabong XXL, o oscar das ondas gigantes, deve sair nos próximos dias. Qual a sua expectativa? Burle — Eu acho que eles vão colocar a gente como concorrente, mas eu não acho que a gente vai ganhar. Teve (o swell provocado pela tempestade) Hércules, e depois teve aquela onda do Andrew

Cotton (também em Nazaré), e na realidade, a comunidade não quer me dar nada. Já foi um ano muito bom para a gente. Já foi um ano onde a Maya teve uma outra oportunidade de vida, não quero pedir mais nada, acho muito egocentrismo e egoísmo eu sair pedindo mais alguma coisa.

Outside - O Felipe Cesarano, o Gordo, um dos seus pupilos, fez um desabafo via Facebook, de forma respeitosa, falando que a onda surfada por ele é maior do que a sua. Como você recebeu esse desabafo? Burle — Totalmente natural. Eu acho que naquele dia tinha 10, 12 surfistas na água. Cada um vai achar que sua onda é melhor que a outra. Isso que é legal. O importante é que eu não falei que a minha onda era maior. Tinha 500 pessoas no cliff, no dia antes acho que tinha duas mil pessoas em um domingo de sol, só que o swell atrasou e bateu na segunda-feira, e as 500 pessoas que viram o que aconteceu falaram aquilo. O surfe é um esporte muito subjetivo e eu já estou meio velho para ficar com essa história. Mas está tranquilo, não muda a minha relação com ele. Acho até pior se ele achasse e não falasse e a coisa ficasse guardada. Ele foi verdadeiro.

Outside - Nesta temporada havaiana você teve a oportunidade de conversar com o havaiano Laird Hamilton, que o criticou via CNN pelo fato da Maya Gabeira ter surfado em Nazaré. Como foi esse encontro? Burle — Foi na casa dele, no mar, em Jaws (ilha de Maui). E foi interessante porque ele se mostrou maduro também. As vezes as pessoas até brigam, brigam por coisas que nem acreditam. Ele foi conversar comigo e eu disse que o comentário dele havia sido muito profissional, cada um fala o que pensa. Mas em contrapartida eu estou indo em um caminho que eu tenho certeza que é o correto, o caminho que eu plantei lá atrás quando eu ainda era surfista em Recife. Eu não quero que o esporte tenha essa imagem atrelada a vagabundos que não sabem se expressar.

“Se eu não tiver um paralelo de pessoas positivas, bem sucedidas, que eu possa me comparar, para mim é horrível”

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