[pós]CORPOS, Volume 03, Nº 16, Agosto/2022

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ISSN 2675-7281 Volume 03 - No 16, Agosto/2022


editorial

Esta revista leva o selo DUOCU, formado pelos artistas Bruno Novadvorski & Chris, The Red www.duocu.art.br

Chegamos a mais uma edição da [pós]CORPOS trazendo a Session 02 do projeto que iniciei em 2018 chamado Porn Therapy Sessions. Este projeto surgiu, principalmente, das minhas pesquisas sobre a Contrassexualidade e a Pós-Pornografia. Somos seres

Direitos e Comprometimento: As imagens constantes na [pós]CORPOS© são de autoria do seu criador – Chris, The Red – e por outros artistas que, gentilmente, as cederam para serem publicadas com as devidas permissões de direitos autorais. A [pós]CORPOS© está comprometida com artistas e todos os direitos autorais estão reservados. Nenhuma parte desta revista pode ser reproduzida de forma mecânica ou digital sem autorização prévia por escrito do editor-chefe da [pós]CORPOS ou do artista. Outras imagens – que possam ser utilizadas – são livres de direitos autorais. No entanto, se houver uso injusto e/ou direitos autorais violados, entre em contato.

pornográficos, mas escondemos nossos desejos, nossas taras debaixo do tapete por medo do julgamento da sociedade que nos diz que tudo isto é pecado. E assim, vamos adoecendo, nos tornando depressivos, reprimidos e violentos. Ao escondermos nossos sentimentos pornôs, nos subjugamos a um mundo de medo e preconceitos. Porn Therapy Sessions vem para mostrar que ser pornográfico é parte de nós. Um dos conteúdos mais

São Paulo - SP

[pós]Corpos© é uma publicação bimestral idealizada e criada pelo designer gráfico, artista visual e fotógrafo Chris, The Red, co-fundador do DUOCU em parceria com o artista visual Bruno Novadvorski. [www.thered.com.br] Volume 03, No 16, Agosto/2022 (ISSN 2675-7281) Edição e Redação Chris, The Red Capa Chris, The Red (fotografia, 2019) Ensaio Fotográfico Chris, The Red (2018/2019) Logotipo The Red Studio by Chris, The Red Projeto Gráfico e Direção de Arte The Red Studio by Chris, The Red


visitados na internet são sites pornográficos. No entanto, quando as pessoas são questionadas se visitam estes sites, poucas admitem que sim. Qual a razão desta disparidade? Por que têm vergonha de admitir que visitam e curtem conteúdo pornô? Em conversa com conhecides e amigues, ouvi “confissões” sobre taras pornográficas que gostariam de realizar, mas que tinham vergonha, pois cresceram aprendendo que era errado e a não realização destes desejos es deixavam tristes e deprimides. Muites até buscaram ajuda psicológica. Qual a importância da pornografia em nossa educação sexual? A repressão e opressão contribuem para casos, por exemplo, de homens que, não conseguindo realizar suas fantasias sexuais de forma saudável, tornam-se mentalmente perturbados, cometendo crimes e tornando-se violentos? Alguns casos de estupradores estariam diretamente relacionados a esta visão deturpada sobre a pornografia? Precisamos ressignificar a pornografia em nossa existência, mas não confundamos nossos desejos pornográficos com indústria pornográfica (esta cheia de questões e comportamentos abusivos e machistas de uma sociedade cisheteronormativa). Uma vez que compreendamos a pornografia como inerente a nossa natureza, convidar a ir além, a conhecer o mundo do pós-pornô. Então, não só falar sobre sexualidades, mas ir além: vamos ser deliciosamente pós-pornográficos! E na coluna Corpas Falantes desta edição, convidei a bacharelanda em História da Arte pelo Instituto de Artes da UFRGS, Su Gonçalves que nos honra com seu manifesto Puta. Sejamos PUTAS!.

Chris, The Red

bixa designer gráfico artista visual fotógrafo editor-chefe

Nota do editor Esta é uma publicação de arte e fotografia que contém cenas de nudez, sexo explícito e genitais. Consulte com cuidado caso sinta-se ofendido. Todas as imagens presentes nesta publicação são de autoria do editor/criador Chris, The Red. Assim, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida de forma mecânica ou digital sem prévia autorização. Se tiver interesse de participar como modelo nos ensaios fotográficos das próximas edições, entre em contato: conexao@duocu.art.br


Porn Therapy

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Fotografia: Chris, The Red [pós]Corpos: P., F., D., M., P., R., R., D., A. & T. Teresina, PI & São Paulo, SP, Brasil, 2018/2019


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CORPAS FALANTES


Puta Su Gonçalves

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Qual é a ofensa que as pessoas com buceta mais ouvem desde a infância?

PUTA! Além das pessoas com buceta, também são chamadas de PUTAS aquelas mulheres com paus. Conclusão: toda pessoa que seja considerada mulher, ou tenha uma buceta (a sociedade insiste em achar que só mulher que tem buceta), em algum momento vai ser chamada/o/e de PUTA. Eu sou chamada de PUTA desde que comecei a ter pensamento crítico. Nem sabia o que era PUTA e já ouvia: “só não se veste, age, fala, ou se comporte como PUTA.” Às vezes, também era xingada no colégio: “Ô filha da PUTA!” O que raios minha mãe tem a ver com a história? E que porra interessa se minha mãe é PUTA ou não? Sinceramente, hoje espero que ela seja PUTA. Melhor do que ser mãe conservadora e careta. Ainda aos 12 anos, ouvi da minha mãe: “Nunca se ofenda em ser chamada de PUTA. PUTA trabalha e toma conta da própria vida em vez de ficar catando e infernizando a vida dos outros. Vagabunda sim, deve se ofender. Vagabunda é aquela que tem preguiça e não trabalha.” Vários pontos nessas frases são problemáticos, mas a ideia geral fez com que eu começasse a me interessar por esse termo.

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Saber o que é, como são designadas as PUTAS alheias, como nos tornamos PUTAS, como é a vida de uma PUTA, quais são as lutas que PUTAS enfrentam social e politicamente. Nesse ponto já deu pra notar que a PUTA tem mais de um sentido. Temos a PUTA que é profissional do sexo; a PUTA no sentido de raiva; a PUTA que não se cala; a PUTA do xingamento; a que gosta de fuder, trepar, gozar; a PUTONA da porra toda; a PUTINHA tímida ou “que se faz” (precisamos debater sériamente sobre esse “que se faz”); entre outras PUTAS infinitas. E os PUToS? Chamamos os “garotos de programa” de PUToS? Não. PUTo é aquele que tá com raiva, irritado, estourando como se fosse uma bomba. E PUTão? PUTInho? Esses são os viadinhos de plantão né. Os gay, as bixinhas, bixonas, bixérrimas. Sinceramente, não gosto desse termo como masculino. PUTA é PUTA, não PUTO. PUTA, seja homem, mulher ou não binárie, é poder. Poder ser quem é, poder usar a roupa que quer, poder transar com quem quer e quando quer, poder ter uma vida sem dar atenção para as críticas conservadoras desse mundo cisheterocapitalista. PUTA é gozo. Gozo é tesão. Tesão é vontade de viver.

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Quando você for chamada/o/e de PUTA, entenda isso como potência, pois vai ver o jogo virar, o mundo vai capotar e você se libertará das correntes que te prendiam. PUTA fala alto, dá gargalhada, dança, pula, é ridícula e, ao mesmo tempo, esplêndida. PUTA é pombagira, bebe, fuma, curte o tempo que tem na noite como se a vida já tivesse acabado. Falam que vida de PUTA é “vida fácil”, mas já pararam pra analisar quanto essas pessoas que são chamadas de PUTA trabalham? Como disse antes, PUTA não se resume apenas a profissionais do sexo, a pessoa independente também é chamada de PUTA. Aliás, qualquer pessoa que desafie esse sistema conservador patriarcal é chamada de PUTA. PUTA é política, sociologia, filosofia, história, literatura, linguagem, e certeza que arte. Com isso tomo a liberdade de questionar: o que é PUTA pra você? Como você usa essa palavra? Já pensou alguma vez nisso?

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Su Gonçalves é graduande do curso de Bacharelado em História da Arte pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Bolsista de Iniciação Científica vinculada ao projeto Historiografia feminista da arte: tendências e impasses. Atualmente, desenvolve pesquisas sobre historiografia das artes sexuais (ARS SEXUALIS) tendo foco principal nas sexualidades dissidentes do Sul Global. Co-criadore e Organizadore do Ars Sexualis - Seminário de Artes Visuais vinculado ao Instituto de Artes/UFRGS. Estagiárie do Núcleo Educativo da Casa de Cultura Mario Quintana. Integrante do corpo editorial da revista acadêmica Ícone: Revista Brasileira de História da Arte, vinculada ao Departamento de Artes Visuais e ao Bacharelado em História da Arte da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. @goncalvesm.su

Fotos: Chris, The Red [pós]Corpos: Suellen Gonçalves & Cláudio Honorato Porto Alegre, RS, Brasil, 2020

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