Revista KRINA #0

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KRINA ANO UM - EDIÇÃO ZERO - JUNHO DE 2017 UMA PUBLICAÇÃO KRETZER



Aveia

ZANCHETA


EDITORIAL Assim como montar um cavalo é muito diferente do que passear com ele, o que aprendemos ao montar e treinar um cavalo é muito diferente do aprendizado que temos ao passar o tempo com ele. Gastar o tempo com os cavalos, seja para cuidar, escovar, alimentar (mesmo que seja só com petiscos), ou apenas ficar um tempo ao seu lado enquanto ele pasta são momentos únicos e trazem benefícios imensos aos seres humanos. Existe um “algo mais” na relação das pessoas com os cavalo. Aqueles que montam e interagem com um cavalo, de imediato, percebem que a ligação com eles é muito diferente do que com outros animais ou pessoas. Os cavalos são seres selvagens, inteligentes e intuitivos. Olhar para seus olhos grandes, brilhantes ou assisti-los aprender é uma experiência que não pode ser contada, você tem que experimentar. E ao experienciar você perceberá que está se comunicando com um animal realmente muito especial. Os cavalos são bons para nós por muitas razões. As pessoas aprendem a confiar, vêem melhorias na saúde, sentem a camaradagem, ganham confiança e divertem-se enquanto passam o tempo com cavalos. Mesmo em uma escala menor, passar tempo com cavalos é bom para nós em muitos níveis físicos e emocionais. E, não é só isso. O tempo gasto também ajuda na socialização. Sentir o movimento do cavalo sob você, observando-o responder ao comando, e confiar neles completamente é uma experiência inigualável que todos deveriam ter. Nesta edição da revista, abordaremos as diversas formas de obter as melhores experiências com este animal tão especial e companheiro, onde muitos depositam confiaça em vencer os obstáculos.

JULIA

LUIZA

VITOR

LIE

MEIRELLES

DUTRA


CALM - NEW

SEMPRE

AO SEU LADO


07 5 Mitos da Equitação

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Entrevista com Karina Johannpeter

13 Como os cavalos nos veem

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Collin, Uma história de conto de fadas

17 A elegante prática do Hipismo

23 Expedição de 2 meses a Cavalo pela Mongolia


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Novidades

33 Equoterapia

37 Amor e Carinho Equino

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Como um povo sanguinรกrio ajudou a domesticar os cavalos


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Curiosidades

Mitos da Equitação

Você frequentemente se pega explicando, educando, justificando, defendendo o seu amor pelos cavalos? Aqui está uma pequena lista com os mitos mais comuns poderá levá-los na direção correta!

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É ESPORTE DE RICOS

Quantas pessoas você conhece que desviam seus caminhos do trabalho para terem aulas de equitação diariamente? Quantos trocam os finais de semana comos amigos ou com suas famílias para irem às competições? É verdade que a conta para manter um cavalo pode ser ilimitada, ainda mais se contarmos que os objetivos de cada pessoa que monta são diferentes e podem representar gastos maiores ou menores. Assim, se você olhar cuidadosamente encontrará muitas pessoas assalariadas, que trabalham incansavelmente em empregos médios, mas que possuem uma paixão pelos cavalos muito acima da média.

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MONTAR CAVALOS É FÁCIL

Todo mundo que monta alguma vez na vida já discutiu sobre esse assunto: “montar é fácil, afinal quem faz todo o esforço é o cavalo”. Então, sem perder tempo, vou direto ao ponto: Montar cavalo NÃO é fácil. Fazer isso parecer fácil é algo ainda mais desafiador e, a maioria de nós gasta toda uma vida para aperfeiçoar as habilidades na equitação em busca desse “parecer fácil”. Os cavaleiros que conseguem apresentar um cavalo como se não estivessem fazendo nada, ou mesmo parece que estão passeando são precisamente aqueles que estão mais ocupados no dia a dia treinando e suando a camisa para fazer boas apresentações.

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MONTAR CAVALOS É FÁCIL

Todo mundo que monta alguma vez na vida já discutiu sobre esse assunto: “montar é fácil, afinal quem faz todo o esforço é o cavalo”. Então, sem perder tempo, vou direto ao ponto: Montar cavalo NÃO é fácil. Fazer isso parecer fácil é algo ainda mais desafiador e, a maioria de nós gasta toda uma vida para aperfeiçoar as habilidades na equitação em busca desse “parecer fácil”. Os cavaleiros que conseguem apresentar um cavalo como se não estivessem fazendo nada, ou mesmo parece que estão passeando são precisamente aqueles que estão mais ocupados no dia a dia treinando e suando a camisa para fazer boas apresentações.

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CAVALOS SÃO COMO CACHORROS, MAS MAIORES

Esse mito leva muito pouco tempo para ser desvendado. Para começar os cavalos são presas e cachorros predadores. Apesar de ambos terem como ponto comum serem companheiros para os humanos, eles são extremo oposto em termos de dinâmica social e comportamento. Como presa os cavalos possuem a sensibilidade e um instinto de fuga altamente desenvolvidos (mesmo os cavalos domésticos) e tendem a resistir apenas o tempo suficiente para fazer uma observação detalhada sobre uma situação de risco. A forma de comunicação do cavalo e a resposta à liderança humana é feita de maneira completamente diferente a dos cães. Os donos de cães rapidamente percebem a diferença no tratamento com cavalos. Os abraços e recompensas com comidas usadas com cachorros não funcionam bem com os cavalos. Logo eles percebem que se eles ouvirem atentamente eles irão aprender uma nova linguagem reservada especialmente para seus cavalos.

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CAVALOS AMAM AS PESSOAS QUE OS AMAM.

Leva um tempinho para aprender a interpretar a comunicação equina. O que nós pensamos sobre uma relação afetuosa pode não ser exatamente como o cavalo interpreta. Talvez ele se conecte com você porque com o tempo desenvolveu uma linguagem familiar e confortável com ele. Talvez ele o siga por saber que será alimentado logo que chegar a cocheira! Apesar de muitos filmes e livros abordarem a relação entre os cavalos e seus donos humanos, não fique desapontado ao compreender que os cavalos simplesmente esperam que você seja mais um membro de seu bando! Essa é a verdade pura, simples e certa de um cavalo.

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Entrevista

Entrevista exclusiva com a amazona

Karina Johannpeter

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esde 2010 a amazona gaúcha Karina Harbich Johannpeter está residindo, novamente, na Alemanha. O Jornal do Hipismo foi até Aachen para conversar com a amazona que conta seus objetivos, rotina de treinos e competições e afirma “Para estar no primeiro time do Brasil, tem que estar na Europa”.

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1) Como foi a mudança do Brasil para Alemanha em 2010? Como eu já havia morado na Alemanha por dez anos quando era mais jovem, não foi uma grande mudança. Minha mãe, Cristina Harbich, mora aqui, e eu vim com o objetivo de fazer uma preparação para tentar a vaga para a Equipe Brasileira dos jogos Pan- Americanos de Guadalajara em 2011. 2) Como funciona a rotina de treinos e competições? Tenho meus cavalos em um manege na cidade de Ibbenbüren, Alemanha, junto com meu namorado Torben Köhlbrandt. Treinamos praticamente todos os dias. Em média participo de duas competições por mês. Claro que isto depende da condição e saúde dos cavalos e também dos convites para os concursos, algo que está cada vez mais difícil aqui na Europa falando em concursos de nível 3 à 5 estrelas. 3) Que cavalos você compete hoje e em quais categorias? Tenho o alazão de dez anos, Ruswil, que este ano tem sido meu principal cavalo nas provas de 1m50. Ele está saltando com facilidade os Grandes Prêmios de 2 e 3 estrelas e este ano o objetivo é que ele suba ainda mais de patamar. Ele obteve um bom desempenho em Oliva, no circuito na Espanha onde ficou em 7º lugar no GP. Era com ele que estava previsto de ir saltar o The Best Jump em Maio deste ano. Há semanas atrás ele teve um acidente no caminhão e teve ¾ da língua cortados, mas já está operado e em recuperação. Este foi o motivo pelo qual tive que cancelar minha participação no CSIO Lisboa. No ano passado meu principal cavalo foi o Uraquay, tordilho de doze anos que adquiri no início de 2012, e que saltei o Grande Prêmio “Preis of Europe” em Aachen na edição passada. Depois do bom desempenho no GP de quarta em Aachen recebi a convocação para as Olimpíadas de Londres, o que me deixou extremamente feliz, porém somente por algumas horas, pois, na sexta pela manhã, ele (Uraquay), sofreu uma cólica e foi operado. Ele passou por oito meses parado e só retomou suas atividades inicio deste ano. No momento ainda está saltando somente as provas de 1m45 e deve levar mais um a dois meses para voltar a sua forma anterior. Estou fazendo a recuperação dele com bastante calma, afinal oito meses sem saltar é muito tempo e até a estrutura muscular se recuperar leva certo tempo. Ano passado ele provou que tem plenas condições de enfrentar percursos realmente difíceis, então tenho todo cuidado com este cavalo. Isso que

passou ano passado foi bastante duro, mas é assim o nosso esporte, uma hora no auge e horas depois... Mas faz parte! (risos). Tenho ainda a DragonFly, égua de dezesseis anos que saltei o Pan-Americano de Guadalajara em 2011. Como é uma égua mais velha e teve uma lesão no tendão após o Pan, compito nas provas de velocidade, de 1m45. Enquanto ela estiver fazendo estas provas com prazer e se classificando, mantenho ela no esporte. Provavelmente ano que vem devo coloca-lá na cria. Ela vai me dizer a hora de parar. Assumi agora mais novas montadas, a Skala, égua tordilha de dez anos que o Torben vinha saltando, e ainda uma égua jovem de sete anos, Vanilla, que tenho levado junto nos concursos. É algo bem bacana também sempre ter um cavalo novo se desenvolvendo junto com os cavalos mais experientes. E sempre é uma oportunidade para estes cavalos participarem de concursos de bom nível. Assim quando chegam aos oito ou nove anos já estão bastante experientes para enfrentar a série forte do esporte. Tenho ainda o Urolux. Ele ainda veio comigo do Brasil. Ele é um cavalo com a saúde bastante frágil então passa sempre algum tempo parado. Esta voltando depois de uma parada de seis meses. Ainda não sei se ele vai se recuperar plenamente. Acredito que até Setembro já deve estar competindo nas provas de 1,50m, se tudo der certo.

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Entrevista

4) Conte sobre sua participação no CHIO Aachen deste ano: Recebi o convite para participar em Aachen somente duas semanas antes do inicio do concurso. Realmente não esperava o convite. Acredito que o motivo pelo qual consegui a vaga foi a desistência do Rodrigo (Pessoa), que estaria participando de um concurso em Monte Carlo na mesma semana, e talvez também o bom desempenho da minha participação no ano passado. Além disto, acredito que a organização ficou comovida com o que aconteceu com Uraquay, minha entrada na equipe para Londres e um dia depois a cólica. O importante é poder estar fazendo parte de evento hípico incrível. Fico chateada de participar de um concurso deste nível, onde é muito difícil entrar, não estando com os cavalos 100% na forma como eu gostaria. O Uraquay é um cavalo que tem condições, e já mostrou, de fazer competições deste nível, mas não está em plena forma, ainda faltam um ou dois meses para ele chegar ao nível que estava antes da cólica, e juntou com o azar do acidente do Ruswil da língua e ai, realmente, um concurso deste sem estar com os dois principais cavalos 100% em forma é difícil. Mas até agora a Dragonfly fez seu papel e buscou duas escarapelas. Como diz meu irmão André: “escarapela em Aachen tem valor dobrado”!

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5) Mesmo com o azar dos cavalos não estarem em plenas condições, você aprecia a participação no CHIO Aachen 2013? Sem dúvida! Aachen é um sonho que todo cavaleiro tem de participar. Ano passado foi a primeira vez que participei e é uma sensação incrível, acho que todos cavaleiros brasileiros que já passaram por aqui sentem a mesma emoção. O público é muito conhecedor do esporte e vibra junto. É uma honra saltar em Aachen, além de a sensação ser muito especial. É o concurso mais incrível que já participei. 6) Qual o próximo objetivo na carreira atleta agora? O grande objetivo é no ano que vem saltar o Mundial pelo Brasil. Claro que existem várias etapas antes disso. A CBH está tentando fazer, junto ao chefe de equipe Jean Maurice, algumas Copas das Nações, como em Lisboa (Portugal), Bratislava (Eslováquia) em agosto, Arezzo (Itália) em setembro, e encerrando na final da Super Liga em Barcelona, onde dezoito equipes do mundo todo disputam a final. Fico bem contente que o Brasil esteja habilitado a participar desta final e espero poder participar e contribuir para um bom resultado pelo Brasil, caso convocada em alguma das copas que vamos participar, e talvez até da final.


7) Para o cavaleiro ou amazona participar destas competições existe um ranking?

viagens. Assim tentava ajustar da melhor maneira. 8) Quais são seus sonhos como amazona?

Isto é sempre complicado, pois o ranking da FEI (Federação Eqüestre Internacional) funciona por resultados do cavaleiro/amazona e não por resultados do conjunto. Então o chefe de equipe avalia os conjuntos e indica para participar das competições, e não olha necessariamente o Ranking da FEI que não espelha o resultado por conjunto.

Tenho vários. E acredito que depois de conquistar alguns deles novos sonhos surgem. Saltar em Aachen foi um que fico muito feliz em ter conseguido realizar. Outro grande objetivo era depois de participar do Pan em Santo Domingo, onde eu era muito jovem (18 anos) e inexperiente, saltar novamente um Pan. Com a medalha de prata por equipe em Guadalajara esse sonho também se concretizou. Uma olimpíada pelo Brasil, no Brasil claro que é outro sonho! Porém, somente participar não me bastaria. Tenho o objetivo de, se participar, alcançar um bom resultado pelo Brasil.

8) Como você enxerga o hipismo no RS hoje? No momento é difícil avaliar porque tenho ido pouco, e quando vou passo na hípica para dar “oi” para o pessoal, sem ter um olhar muito voltado para avaliar o esporte no RS. Mas o que eu tenho visto são as melhorias que, às vezes, são mais lentas do que gostaríamos, mas acontecem. Temos uma grande dificuldade no nosso país que são as distâncias e as estradas que, a meu ver, são extremamente desgastantes para os animais. Eu me lembro que quando morava no Brasil, depois do The Best Jump levava meus cavalos para São Paulo e ficava lá até meados de junho, após, retornava para Porto Alegre mais um mês e voltava para São Paulo para mais campeonatos até Outubro, para tentar fugir das

10) Você pensa em voltar a treinar no Brasil? Neste momento com os objetivos que almejo, infelizmente, não. Na minha visão, em nível de PanAmericano, nós temos boas condições de fazer uma preparação no Brasil, mas em nível de Mundial e Olimpíadas é importante passar um longo período aqui na Europa/ EUA. Temos inúmeros exemplos que comprovam isso. Não acho nem que tem somente a ver com a dificuldade das competições entre Brasil, Europa e Estados Unidos, mas muito também com a concorrência.

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Coluna

Como os Cavalos nos Veem São essas razões que me levam sempre a insistir que o mais difícil é aprender como cavalo pensa e, mais ainda, como ele vê o mundo. Eduardo Borba

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epois do advento chamado Horsemanship Natural, muito se fala a respeito da psicologia do cavalo. Como ele opera sua própria vida e também que sua linguagem é feita de expressões corporais e sensações. São essas razões que me levam sempre a insistir que o mais difícil é aprender como cavalo pensa e, mais ainda, como ele vê o mundo. Sempre menciono que os predados são orientados pelo instinto de auto preservação. Nos cavalos isso é ainda mais aguçado, porque ele não tem nada para se defender, a não ser as patas para escapar. Por terem os olhos posicionados ao lado da cara, sua maneira de ver é chamada de mono visão, isto é, conseguem ver uma coisa com o olho direito e outra com o olho esquerdo. Portanto, estamos montando um animal que escapa e que tem uma visão completamente diferente da nossa. Daí a importância de compreender a respeito de como o cavalo vê e a sua tendência de escapar, impacta a sua maneira de aprender. Outro aspecto importante é que não podemos acreditar que a atitude do cavalo de “não fazer o que estamos querendo” seja pessoal. Precisamos aprender a tirar o “Ego” da frente. Precisamos ensiná-lo a não ter a necessidade de escapar, mas sim procurar pelo alívio. Assim que o cavalo percebe essa nova situação, já posso dizer que estamos com meio caminho andado. Quando baseamos o nosso programa de trabalho nas maneiras de como o cavalo reage ao treinamento, isto é, em como ele enxerga e pensa, fica muito mais fácil para ensinarmos a ele qualquer coisa que quisermos. Mas, ainda existe outra dificuldade, talvez a maior e mais complexa delas. A chave de todo o sucesso do treinamento está em como o treinador usa a sua “sensibilidade, timing e bom senso”. Acertar o timing do alívio é que faz toda a diferença. Aqui uns exemplos bem práticos. Muitas vezes quando colocamos uma pressão nas rédeas, nosso cavalo joga a cabeça para cima. Isso significa que ele está resistindo à pressão. Se aliviarmos as rédeas nesse momento, como é que ele vai aprender a procurar pelo alivio? É claro que é jogando a cabeça para cima. Essa é uma das maiores responsabilidades do cavaleiro, porque nos cavalos, a partir de três experiências construimos um hábito.

Se aliviarmos as rédeas quando o cavalo levanta a cabeça por três vezes, ele vai entender que é exatamente isso que queremos que ele faça. Na verdade, qualquer coisa que o cavalo aprenda primeiro é para lá que ele vai quando se assusta ou fica com medo. A técnica da pressão e do alívio precisa ser colocada gradualmente. O cavaleiro precisa estar atento (sensibilidade) para perceber quando o cavalo está escapando da pressão, quando ele está procurando pelo alívio. Por exemplo: quando o meu cavalo começa a compreender que aquela pressão não é para ele ir para frente, e sim para ele arquear o corpo e mudar de direção, ele está começando a compreender o significado do treinamento. Assim como quando coloco uma pressão nas rédeas ele sai daquela pressão abaixando a cabeça, cedendo suavemente e colocando uma flutuação nas rédeas.

“Precisamos aprender a tirar o “Ego” da frente. Precisamos ensiná-lo a não ter a necessidade de escapar, mas sim procurar pelo alívio. Assim que o cavalo percebe essa nova situação, já posso dizer que estamos com meio caminho andado.”

Acredito que uma das maiores lições que recebi na minha vida tenha sido em 1978, quando estava no Atlasta Ranch, trabalhando para o Joe Moreno Jr. Estava trabalhando um cavalo muito lerdo, disperso e sem sensibilidade nenhuma para sair da pressão das minhas pernas. Um dia estava dando uma volta fora do Rancho e como não conseguia a sua atenção, perdi a paciência e abusei do uso das esporas e do chicote. O cavalo ficou exausto e continuou lerdo e desatento. Quando voltei, o Joe me chamou e perguntou qual tinha sido a razão que

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Coluna

me fez decidir por aquele procedimento. Respondi: “a gente não tem que mostrar quem manda?”. “Não”, disse ele, “temos que deixá-lo na dúvida”. E completou colocando dois pontos extremamente importantes: “Se precisarmos, por qualquer razão,

“Foi ai que compreendi que cada cavalo é um individuo único, como cada um de nós e que o verdadeiro respeito é justamente conseguir elaborar um programa sob medida para cada indivíduo.”

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esquentar a sessão, é muito importante ficar com o cavalo até que ele retome a respiração e o suor comesse a secar, e mais importante, o cavalo percebe rapidinho que em casa, se ele não fizer o que você quer, ele apanha. Mas lá no show ele percebe que

você não é o mesmo. Lá você está constrangido, inibido e não pode espancá-lo. Não precisa de mais de três competições para ele perceber isso. Ai você já está sem cavalo, porque em casa ele vai fazer tudo, mas quando chega lá ele vai te dar o troco.” Foi ai que compreendi que cada cavalo é um individuo único, como cada um de nós e que o verdadeiro respeito é justamente conseguir elaborar um programa sob medida para cada indivíduo.


Coluna

Collin,

Uma história de conto de fadas Ana Paula

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o meu pensar, toda amazona como eu, ou cavaleiro, possui um desejo de encontrar um cavalo especial. Especial assim que nem do filme que recentemente indicamos do Netflix “Harry e Snowman”. Uma história tão incrível que parece que só contece no cinema! E, apesar de saber que vez ou outra escutarmos histórias desse tipo, desacreditamos no nosso sonho de encontrar um cavalo especial. Mas histórias de superação de cavalos especiais não são poucas em nosso esporte. Recordo do fantástico cavalo “MUMU”, que foi ‘encontrado” no Rio e sob a sela do cavaleiro “Cacá” Mota Ribas cansou de vencer provas internacionais. E mais recentemente, um “conto de fadas” aconteceu! O cavalo Collin, montado por Luiz Francisco Azevedo, que chegou muito perto de ser descartado, venceu na semana passada a prova de velocidade a 1,45m do WEF da Flórida.

O que surpreende é que comprar um cavalo que já é bom todo mundo faz. Mas o Collin, há dois anos e meio atrás ninguém queria. Luiz Francisco conta que: “Ele era realmente selvagem e difícil de montar. Então um amigo meu me chamou e disse que encontrou um cavalo que eu poderia pular. Ele tinha sete anos, mas nunca tinha feito uma competição em sua vida. Meu amigo me disse que o cavalo era um pouco diferente, mas eu disse: ‘Ok, vamos ver o que ele pode fazer.’ “ “Chiquinho” adquiriu uma metade do KWPN filho de Colandro e dupla participou da sua primeira competição duas semanas depois. “Ele saltou no primeiro dia com 1,30m, o segundo dia com 1,35m e o terceiro dia de 1,40m na primeira competição de sua vida“, disse Luiz. “Agora ele é meu segundo cavalo, e eu tenho muita sorte em tê-lo. ”.

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Esporte

A elegante prรกtica do

HIPISMO


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eja na caça, na guerra, nas viagens, homem e cavalo sempre tiveram uma relação próxima. Tudo começou nas antigas civilizações quando o homem utilizava o cavalo como transporte passando a adestrá-lo, entretanto, só por volta dos anos 20 que o esporte deu um salto, principalmente com a Federação Equestre Internacional. O hipismo é um esporte conhecido pela elegância e surgiu com os nobres Europeus, principalmente os Ingleses, que praticavam caça a pequenos animais, como a raposa, onde os cavalos precisavam saltar os obstáculos que encontravam pela floresta. No Brasil, o Hipismo tem origem na cidade de Recife, Pernambuco e foi trazido pelo príncipe holandês Maurício de Nassau no ano de 1641. Vale salientar que o hipismo também fez parte da primeira Olimpíada da Era Moderna, em Atenas, em 1986, apena como demonstração. Depois de um tempo, com a oficialização do esporte, surgiu a divisão em três modalidades; concurso completo de equitação, salto e adestramento.

PRIMEIROS SALTOS O ideal é começar cedo, a partir dos dois anos a criança já pode fazer equitação e saltar a partir dos 7, mas isso não impede que você possa começar aos 20, 30, 40, 50... Não há limites de idade ou qualquer outro tipo de restrição para a prática deste esporte.

O CAVALO A raça de cavalos mais usado no esporte é o Inglês, que além de velocista, é usado como saltador de obstáculos e também para passeio; é também uma das raças mais famosas e valiosas do mundo. A sua excepcional mecânica de salto permite um excelente resultado no hipismo. O cruzamento de garanhões ingleses com éguas das antigas linhagens de sela ou trotadoras Anglo-normandas, resulta na raça Sela francesa, do famoso cavalo tricampeão brasileiro Baloubet du Rouet, montado por Rodrigo Pessoa. Vale dizer também, que há estudos avançados para clonagem do Baloubet du Rouet e outros cavalos campeões, o que custará em média US$ 200.000,00. Os especialistas ensinam que ao escolher um cavalo deve-se ter em mente que para um cavaleiro novo o ideal é um cavalo velho e para um cavaleiro velho, um cavalo novo. Isso implica em segurança para quem estar começando, já que o cavalo velho

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Esporte é mais experiente no trato com cavaleiros, já está mais acostumado a ser montado. Uma vez que você já escolheu o seu cavalo chega a hora de escolher a hípica ou o haras onde ele irá viver. Repare bem nas instalações e infra-estrutura do lugar, conheça o veterinário que trata dos animais, como é a prática de exercícios e os cuidados no dia-a-dia. O cavalo é um animal que não deve ficar parado por muito tempo sob o risco de sofrer atrofia, tanto é que ele até dorme “em pé”, ficando deitado por cerca de no máximo uma hora, por isso é imprescindível a escolha de um bom lugar para ele ser cuidado e treinado.

DRESS CODE Para a prática de hipismo existe como em outros esportes uma indumentária própria que deve ser adquirira pelo praticante. Você vai precisar de um cap que é capacete apropriado para equitação, um Culote, a calça para montaria e um par de botas apropriadas para pratica. Nas competições costumase usar uma gravata de crochê e uma casaca (espécie de blazer) vermelha ou preta.

MONTAR PARA COMPETIR

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Caso você opta pela competição além da prática em si do hipismo, é importante sabe que dedicação é fundamental. Segundo Carlos Avelar, cavaleiro e dono de uma hípica em Pernambuco, “Hipismo é uma opção de vida, a dedicação deve ser obrigação, pois os cavalos devem e precisam ser trabalhados 6 dias por semana tendo apenas um dia de descanso para poderem ser atletas e prontos a qualquer esforço.” As dificuldades vão variar de acordo com as categorias de salto que se pretende competir, quanto mais alto, mais necessidade de treino, mais investimento de tempo e dedicação. A prática do hipismo também requer um bom aporte financeiro, a começar pela compra do cavalo que fica em uma média de R$ 50.000,00 a depender da idade e condições do animal, que geralmente é da raça BH, raça brasileira desenvolvida especialmente para hipismo; dos custos com a hípica para treinos e cuidados com o cavalo. Mas para quem ainda não está certo sobre levar a prática e a competição à sério, podese fazer aulas sem necessariamente precisar ser proprietário de um cavalo, pois as hípicas têm


animais especialmente para este fim. Dessa maneira os custos caem vertiginosamente para mensalidades de R$ 180,00, por exemplo, para aulas e treinos.

AS COMPETIÇÕES O hipismo consiste basicamente na arte de montar e comandar o cavalo, o que exige muita técnica, ao passo que o atleta e o animal formam um conjunto. Isto é tão levado à sério, que o hipismo é um dos únicos esportes onde homem e mulher competem juntos, na mesma prova. O concurso completo de equitação é uma categoria que envolve adestramento, prova de fundo (subdividida em quatro etapas) e salto, chegando a durar três dias. No adestramento, existe um julgamento que avalia as performances, movimentos obrigatórios e a coreografia. Por fim, a categoria mais popular é a de saltos onde sobe ao pódio quem somar o maior numero de pontos, derrubando o menor número de obstáculos e chegando ao fim do percurso no menor tempo possível. Os campeonatos são um espetáculo à parte e movimentam e muito o mercado. Recentemente, a etapa final do campeonato mundial de hipismo ocorreu na cidade do Rio de Janeiro ano passado, no evento Athina Onassis International Horse Show. O porte deste acontecimento foi cavalar e contou com um investimento superior a quinze milhões de reais, com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e patrocínio de empresas como Bradesco Private, CN e CN Worldwide, Copacabana Palace, Daslu, Gerdau, Rolex e Pamcary.

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TIME DE EQUITAÇÃO KRETZER

AMOR E RESPEITO AO CAVALGAR


Expedição


Expedição de 2 meses a Cavalo pela Mongólia Ícone nacional e querido pela população, o cavalo mongol pode até ser domesticado pelos nômades, mas sua alma continua buscando a liberdade total nas planícies

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cavalo faz parte da alma da Mongólia. Dos 3 milhões de habitantes que vivem no país, quase 1 milhão de pesso as são nômades. No deserto, nas estepes e nas montanhas, o cavalo é vital para os nômades. Ele permite vencer as grandes distâncias das estepes. É o principal meio de transporte para essa gente altiva que ainda troca de morada duas ou três vezes por ano. As crianças aprendem a montar aos 4 de idade. Foram os cavalos que moldaram o país. O imperador Gêngis Khan só conquistou meio mundo após ter desenvolvido uma cavalaria vigorosa. Por isso, os mongóis respeitam muito o animal, presente nos mais diversos aspectos de sua cultura, desde as corridas de cavalos de 25 quilômetros durante a festa do Naadam até o instrumento musical nacional – o morin khuur –, um violino de duas cordas feito com a crina de cavalo.

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Expedição

Essa intrínseca relação entre o ser humano e o cavalo chamou a atenção de Danilo Perrotti, um mineiro de 36 anos radicado em São Paulo. Ele resolveu ir à Mongólia para realizar uma expedição solo a cavalo. Longe de ser um marinheiro de primeira viagem, Danilo já possuía um currículo respeitável como viajante. De 2008 a 2011, deu uma volta ao mundo de bicicleta, pedalando 50.000 quilômetros por 59 países, durante três anos, três meses e três dias. Inspirado pela jornada, lançou o livro Homem livre, hoje na 3ª edição, com vendas pelo site www.homemlivre. com.br. Danilo produziu também o documentário Homem livre, sobre a viagem de bike. Durante seu périplo de bicicleta, quando passou pela Ásia, ele ouvira falar muito da Mongólia. “Fiquei fascinado pela cultura nômade e por esse povo considerado tão hospitaleiro. Foi quando resolvi que faria uma expedição a cavalo”, diz Danilo. Para a nova aventura, Danilo aterrissou na capital Ulan Bator em final de abril de 2017 e logo decidiu voar a Olgii, uma cidade de 28 mil habitantes no extremo oeste do país, onde começaria sua travessia. Entretanto, no aeroporto da capital, foi obrigado a redesenhar seu itinerário. O fogareiro a gás que trazia – essencial para cozinhar durante o trajeto – não poderia entrar, de forma nenhuma, em um voo comercial. Sabendo que não encontraria em Olgii esse tipo de equipamento, resolveu fazer a viagem de 1.600 quilômetros em um ônibus local e manter seu fogareiro na mochila. “Foi muito bom ter ido por terra, pois pude ver como o país é desértico. Observei que seria praticamente impossível fazer o trajeto a cavalo na segunda parte da viagem, no oeste”, afirma Danilo. Suas inquietações foram confirmadas ao chegar em Olgii, dois dias depois de sair de Ulan Bator. Todos os mongóis foram unânimes em aconselhar a ele que regressasse ao meio do caminho. “Além do mais, o preço de qualquer cavalo em Olgii custava três vezes mais que o valor em meu orçamento”, diz Danilo. O aventureiro deu meia-volta e, ouvindo os conselhos, regressou a Bayankhongor, a 1.000 quilômetros de Olgii. Mesmo assim, para chegar à capital, seu destino final, ele teria ainda de cavalgar 630 quilômetros. Danilo chegou em Bayankhongor às 4 horas da madrugada e logo foi procurado por um amigo de um amigo que conhecera em Olgii

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que possuía cavalos. Às 9 horas ele já estava na estepe, cercado por dezenas de animais. “Já levei toda minha bagagem, inclusive sela, arreios, equipamento de camping, barraca, GPS, bússola, mapas e até comida para as primeiras três semanas”, afirma Danilo. A negociação para a compra dos cavalos, como qualquer compra e venda na Ásia, levou um certo tempo. Danilo precisava de um animal para montar e outro para levar a carga. Ofereceu US$ 200 por cada um, mas o preço final dos dois animais acabou ficando em US$ 450 (R$ 1.400). Negócio fechado. Para Danilo, mais uma etapa de sua expedição havia sido conquistada: a aquisição de sua montaria. “Pensei que o processo seria mais complicado. O preço estava bom, dentro de meu orçamento. Poderia começar imediatamente a expedição”, diz Danilo. Sua intenção teria sido ficar um pouco mais de tempo com os animais em algum lugar sossegado para que o trio começasse a se conhecer. Mas, no meio da estepe, com dois cavalos nas mãos e um monte de bagagens, ele só tinha uma solução: ir em direção a um vilarejo para passar a primeira noite. Segue agora, nas próprias palavras de Danilo, o que aconteceu na primeira hora da expedição: “Uma difícil e perigosa travessia estava por começar, desde a temperatura – que beirava a marca de zero grau durante o dia – à paisagem inóspita mongol. Eu precisava cruzar mais de 600 quilômetros por desertos e montanhas. Sabia que poderia até mesmo ser vítima de um ataque de lobos durante a noite, muito comum nessas áreas. Para evitar esse risco eu deveria passar as noites perto da estrada principal, pois os lobos não chegam perto da rodovia.” “Cavalos mongóis são livres, vivem soltos e em grupos nas planícies do país. Só são separados, dominados e presos quando o homem vem e o laça. Mesmo assim, são mansos com os seres humanos, que os capturam. A partir daí, o cavalo é propriedade do homem e ele pode fazer o que quiser com o animal – até mesmo comê-lo em momentos de privação, quando não há ovelhas ou cabras disponíveis. É evidente que meu objetivo era bem mais nobre do que saciar a fome.” “Estava com os dois cavalos prontos, um para carregar os equipamentos e outro para me transportar. O percurso seria duro e longo, mas a verdade é que apenas o homem estava pronto para aquele grande

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Expedição

“Alguma coisa saiu errado, algo que ainda não consegui decifrar. De repente, o animal de carga se assustou e começou a correr loucamente – como se corresse por sua própria vida – enquanto eu tentava dominar o cavalo que eu montava, que também corria feito louco.” “Meus alforjes, que não estavam tão seguros como eu imaginava, foram caindo pelo caminho. Perseguindo o fugitivo, só via os equipamentos estraçalhados para todos os lados. E os cavalos continuavam em disparada.” “Após alguns minutos, a rédea do cavalo que transportava os equipamentos acabou se enrolando nas pernas do animal e ele precisou parar. Foi a oportunidade que tive para chegar perto e retirar todos os equipamentos que sobravam.” “Tentei acalmar o animal. Desci e desfiz os nós das cordas. Mas, quando terminei, eles não perderam tempo. Em um instante, ambos cavalos começaram novamente a pular e a correr. Mais uma debandada! E eu, parado no chão. Desta vez, só vi os dois cavalos desaparecerem no horizonte.” “A expedição mal tinha começado e havia terminado em um piscar de olhos. Cavalos, sela e arreios estavam longes. Tudo o que me ligava aos cavalos havia partido, assim como meu desejo de realizar aquela travessia.” “A quase 1.900 metros de altitude, eu me sentia exausto. Minha boca estava seca, meu coração batia em disparada tal como os cavalos. Olhei a meu redor e percebi apenas um grande vazio.” “Saí apenas com um arranhão. Reencontrei todos os meus pertences essenciais, incluindo passaporte e dinheiro. Caminhando em direção ao vilarejo para encontrar um transporte de volta à capital, concluí que realizar a expedição era um desejo apenas meu, não dos cavalos. Minha vontade de me aventurar na Mongólia era muito pequena diante dos anseios de liberdade dos animais.” “A vontade do cavalo prevaleceu. Desta vez, o cavalo vencera o homem. Respeito, aceito e acolho o final com serenidade.” Esse episódio com Danilo Perrotti aconteceu há duas semanas. O aventureiro já regressou ao Brasil e, incansável, se prepara para navegar o Rio Amazonas em caiaque em setembro. desafio. Os cavalos, não!”

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Novidades

Fim das ferraduras? Empresa cria tênis para cavalos feitos de plástico e com amortecedor A empresa austríaca Megasus Horserunner trabalha há 20 anos trabalha no desenvolvimento de ferraduras feitas de plástico, que estão sendo popularizadas sob o nome de “tênis para cavalos”. Segundo a empresa, mais de 50% dos cavalos machucados morrem por problemas nas patas e/ou no casco. A Megasus quer uma substituta funcional para as ferraduras de ferro e, por isso, lançou a versão que não só é feita de plástico, mas que também tem uma espécie de clipes que permitem que ela seja colocada e removida com facilidade. Assim, ela também se ajusta melhor ao pé do animal. Os “tênis” são leves, flexíveis, tem amortecedores e a sola se adapta aos diferentes tipos de solo. Quem se interessar, a empresa ainda está trabalhando em pré-venda e as peças devem ser entregues em agosto deste ano. A ferradura completa custa € 119 (R$ 407).

Conheça o Cavalo friesian Nobre holandês que ganhou passaporte mineiro. Uma raça de cor negra, porte que chama atenção e temperamento muito dócil. Assim é o cavalo friesian, originário da Frísia, litoral norte da Holanda, e que vem ganhando o carinho dos brasileiros. Um friesian, que pode medir até 1,75 m no garrote, costuma comer cerca de 4 quilos de ração por dia. A alimentação e os cuidados com vacinação e vermifugação são semelhantes aos dos outros equinos. O poder de atração decorre das características marcantes desses cavalos. “A raça tem uma pelagem preta fechada, não existe pelagem diferente ou manchada. Eles têm um andamento trotado, são animais muito inteligentes que têm facilidade de aprendizado. Por isso são muito utilizados no adestramento clássico e artístico. Outras características são a pelagem nas patas, a crina longa e essa postura aristocrática”, afirma o criador Rogério Marques da Silva.

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A contribuição dos Cavalos para a História Dois novos livros mostram, com visões diferentes, como os cavalos ajudaram os seres humanos a explorar o mundo, conquistar territórios e evoluir Há 6 mil anos, cavalos selvagens percorriam as planícies e estepes do mundo. Mais tarde, os botai os domesticaram. O povo botai e as sucessivas civilizações encontraram nos cavalos, animais fortes, espertos e de boa índole, o melhor dos parceiros. Com o passar do tempo e anos, os cavalos acompanharam a evolução dos seres humanos e foram protagonistas, assim como eles, de importantes acontecimentos na história da humanidade como descrito em dois novos livros excelentes, The Age of the Horse: An Equine Journey Through Human History de Susanna Forrest e Farewell to the Horse: The Final Century of our Relationship de Ulrich Raulff. A autora conta histórias curiosas como, por exemplo, a dos sibaritas no século VI no sul da Itália que “ensinaram seus cavalos a saltar ao ouvirem o som de flautas”. Ou na antiga Gana, onde os cavalos “dormiam em tapetes nos palácios da família real e eram cuidados por três cavalariços que seguravam potes de cobre para colher a urina deles”. Agora, resta a pergunta. Assim como os seres humanos substituíram os cavalos por motores mais velozes e de menor custo, algum dia os homens também poderão ser substituídos por máquinas?

Rachel Weisz monta cavalo de Game of Thrones, mas o animal só sabia “morrer”

Em entrevista concedida ao Graham Norton Show, Rachel Weisz contou uma história curiosa sobre as gravações de My Cousin Rachel, refilmagem do clássico suspense noir de 1952 Eu Te Matarei, Querida! A atriz disse que um cavalo treinado na produção de Game of Thrones foi levado ao set para uma cena na qual ela montaria – mas não deu muito certo. “Aparentemente, aquele cavalo havia sido treinado para morrer. Então, se você puxasse a rédea para o lado esquerdo bem forte, ele elegantemente cairia e morreria (…). Eu estava do lado esquerdo, então ele ‘morreu’ em cima de mim”, relatou a atriz, acrescentando que não se machucou nem sentiu dores. De fato, não foram poucos os cavalos que morreram em cenas de Game of Thrones, já que grandes batalhas com cavaleiros já foram retratadas na série da HBO.

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Saúde


EQUOTERAPIA

Entenda como a relação com cavalos beneficia os humanos.

A

relação entre os humanos e os cavalos é antiga e está em vários setores da sociedade, que vão das atividades do campo até os mais variados esportes. De acordo com a Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Sistema Famasul), até mesmo para promover a inclusão social e o aumento da autoestima o cavalo tem importância, já que é utilizado como recurso terapêutico na equoterapia. “A técnica proporciona à pessoa com necessidades especiais e/ou deficiência o desenvolvimento de suas potencialidades conforme seus limites físicos e psicológicos”, afirma a Famasul. A prática une saúde, educação, equitação e trato do animal, possibilitando que o praticante se relacione melhor com as pessoas e o ambiente onde vive. A equoterapia foi reconhecida como método terapêutico em 1997, pelo Conselho Federal de Medicina. De acordo com as recomendações da Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil), o trabalho com a equoterapia deve ser realizado com uma equipe multidisciplinar, com no mínimo, três profissionais: equitador, fisioterapeuta e psicólogo. O atendimento só é indicado para pacientes aprovados por uma avaliação médica.

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Saúde Centro de Equoterapia Assim como acontece em Rio Brilhante e em Jardim, o Sindicato Rural de Aparecida do Taboado, em parceria com o Senar/MS – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, vem transformando a vida da comunidade local com a reabilitação de pessoas com necessidades especiais, por meio da equoterapia. No início de 2016 o sindicato rural cedeu um espaço dentro do recinto de leilões para a implantação do Centro de Equoterapia que desde maio do ano passado está a galope, literalmente, que conta com uma estrutura própria para a atividade, com salas de atendimento, recepção banheiros adaptados, picadeiro, rampa baias e pastagens reformadas para atender a alimentação dos quatro cavalos que são utilizados na equoterapia. De acordo com a Famasul, todos os colaboradores envolvidos no projeto são contratados pelo sindicato rural que recebe incentivos de empresas privadas do setor, como usina sucroenergética e frigoríficos parceiros, e também do apoio de produtores rurais da região. O Centro de Equoterapia do Sindicato Rural de Aparecida do Taboado realiza de 30 a 40 atendimentos por semana, de segunda à sextafeira em horários alternados. Cada sessão dura 30 minutos. Os profissionais atendem pacientes com paralisia cerebral, lesão medular, síndrome de Down, autismo, Síndrome de Noonan – considerada um tipo de nanismo, sequelas de cerebelite e dificuldades de aprendizagem.

Bons Resultados

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A equoterapia é importante porque corrige postura, melhora equilíbrio, concentração, coordenação, auxilia no desenvolvimento da marcha, e ainda trabalha a mente, diz o Sistema Famasul. “A evolução depende muito de cada um, porém cada um apresenta um desenvolvimento, ganho de equilíbrio, melhora na escola tanto na leitura quanto na escrita, melhora de comportamento e ganho de força muscular. É uma alegria a cada relato, uma vitória, conquistas de que o meu trabalho está ajudando cada um de alguma forma”, diz a fisioterapeuta Bruna Félix Martins. A iniciativa deu mais que certo. “Os resultados são promissores. No início atendíamos apenas os alunos da Associação de Pais e Amigos Excepcionais (Apae) da cidade e passamos a auxiliar

o tratamento também de quem é da comunidade. A demanda aumentou muito e em breve vamos contratar outro profissional de fisioterapia para o atendimento”, diz o presidente do Sindicato Rural de Aparecida do Taboado, Eduardo Sanchez. “Além disso, demos uma utilidade maior ao recinto de leilões sem que atrapalhe os nossos eventos.”

Atividades com Cavalos O Centro de Equoterapia é fundamental para o desenvolvimento das crianças da Apae, que careciam de atendimento especializado e atividades complementares para diminuir as habilidades deficitárias, que o ensino


regular não supre. “Utilizamos técnicas didáticas e psicopedagógicas pra estimular a motricidade e amenizar o déficit de atenção. São atividades integradas com os cavalos, argolas, cores, e claro que a família também é fundamental nesse apoio, tanto que ela é um agente colaborador da terapia”, fala a psicóloga Cristina Pires.

Equoterapia na Prática Plinio, três anos de idade, é um dos praticantes da equoterapia pela Apae. Ele tem paralisia cerebral. No nascimento faltou oxigenação no cérebro o que prejudicou seu desenvolvimento hoje, em especial a coordenação motora e a fala. “O Plinio chorava muito

e não aceitava que outras pessoas fora da família pegasse ele no colo. Não falava nada e tinha déficit de atenção. Ele está lá desde o início do projeto e hoje já é perceptível a mudança no seu equilíbrio e até no manuseio com ele. E o mais importante é que já está falando algumas palavras e tem respondido aos nossos chamados com o olhar. Sou muito grata a eles todos pela evolução do meu filho”, diz a gerente administrativo e mãe do garoto, Cleonice Zeato. Daniel Zanino Alves, 33 anos, também é um dos praticantes da equoterapia. Há um ano e meio ele sofreu uma lesão medular após um acidente de trabalho. “Eu perdi todos os movimentos e a sensibilidade dos mamilos para baixo. Hoje graças a Deus e à equoterapia já consigo relaxar os músculos, firmar o tronco e ter equilíbrio.


Social

Amor e Carinho Equino Como são tratados os cavalos e encaminhados para o abrigo da Capital e que depois podem ser adotados. Bárbara Müller

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F

az pouco mais de um mês que Fiapo foi encontrado em uma via pública da zona sul da Capital e levado para o abrigo de animais de grande porte da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), no bairro Lami. Desnutrido, o cavalo era pele e osso quando foi resgatado, não tinha forças nem para ficar em pé. Após 15 dias de cuidados, o ânimo é diferente. “Agora, fica no pasto, caminha. Entro aqui no campo com o balde de ração e ele já vem” conta Denísio Pires Correa, conhecido como Castelhano por sua origem uruguaia, que cuida do abrigo por meio de um contrato de prestação de serviços com a EPTC até novembro deste ano. Abandonada em vias da cidade e vítima de maustratos, a maioria dos animais de grande porte resgatados pela EPTC é encontrada em condições preocupantes, como magreza extrema decorrente de desnutrição, patas bichadas e corpo machucado. Mantido com verba pública, o abrigo tem como objetivo retirar esses animais das ruas e de situações violentas para que, após cuidados veterinários, possam encontrar um lar definitivo e saudável. Em casos de cavalos roubados que acabam ficando soltos na via, o dono tem um prazo de 15 dias para a retirada do animal. Atualmente, cerca de 60 cavalos vivem no abrigo, 33 deles aptos para adoção — os demais ainda passam por tratamento.“Quando o animal vem muito debilitado, encaminhamos para o hospital veterinário da UFRGS. Eles passam por uma série de cuidados para depois serem adotados. Só liberamos quando estão saudáveis” diz Tiago Oliveira, coordenador do abrigo. Desde 2008, o programa de adoção da EPTC já garantiu que 757 cavalos ganhassem um novo lar. Gostar muito de cavalo e ter um espaço fora da área urbana — sítio ou chácara — são requisitos essenciais para aqueles que têm interesse em levar um deles para casa. De acordo com Oliveira, gente de todos os cantos do Estado aparece em busca dos bichos.“São

pessoas que gostam da lida do campo, que querem ter um cavalo para estimação, montaria e corte de grama” conta o coordenador. O perfil do interessado é analisado junto à Secretaria Especial dos Direitos Animais (Seda). É verificado se há histórico de maus-tratos — de qualquer tipo de animal — e ocorrências criminosas, se a pessoa vai deixar o cavalo em um lugar apropriado e se tem condições para manter o bicho. Essa consulta é feita para garantir que o cavalo não volte a uma condição de sofrimento. Segundo Correa, para manter um cavalo, é preciso reservar de R$ 300 a R$ 500 por mês para gastos com ração, medicamentos e vacinas — são cinco por ano. O valor varia porque depende da situação do cavalo e se ele se alimenta só de ração ou de pasto também. Após a adoção, um acompanhamento anual é realizado. Além de vistorias nos locais, os agentes da EPTC monitoram os cavalos por meio de um microchip, implantado na chegada ao abrigo.

“Quando o animal vem muito debilitado, encaminhamos para o hospital veterinário da UFRGS. Eles passam por uma série de cuidados para depois serem adotados. Só liberamos quando estão saudáveis”

Em 2017 foram realizados quase 150 resgates No ano passado, 546 cavalos foram levados ao abrigo — 71% a mais do que em 2015, quando 319 animais foram para o local. Só neste ano, até sábado, 147 resgates foram contabilizados. Oliveira acredita que esse aumento ocorreu devido ao Programa Todos Somos Porto Alegre, que oferece alternativas de trabalho a carroceiros em razão da lei municipal de 2008, que proíbe carroças de circularem na cidade. A medida passaria a vigorar em setembro de 2016, mas teve prazo prorrogado para 10 de março deste ano. A atividade é permitida na zona rural e nas ilhas. “Chegamos a receber 30 cavalos em um mês de forma espontânea, mas conseguimos encaminhálos” afirma Oliveira, ressaltando que, em alguns casos, os carroceiros venderam as carroças e ficaram com os animais por estimá-los.

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Social

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Os xodós do rebanho

Denúncias:

Dupla de cegos é tratada com carinho especial pelo cuidador do abrigo Foto: Mateus Bruxel / Agencia RBS Dois cavalos são os xodós de Correa. O guardião da área de 27 hectares fala que Ceguinho e Ceguinho Dois — batizados assim, por não enxergarem — são patrimônios do abrigo. ” Deles, eu não me desfaço. Eles sentem a minha presença. O Ceguinho está comigo desde 2013. O Dois chegou depois, mas não desgrudou mais do primeiro” brinca.“Se um começa a se distanciar um pouco, o outro já começa a relinchar” completa o cuidador. Ceguinho foi encontrado no Arroio Dilúvio, com os olhos sangrando, durante a madrugada. Há quatro anos, o cavalo vive no abrigo aos cuidados de Correa. Resgatado em 2015, o Ceguinho Dois foi abandonado em uma via da Capital por não enxergar. Agora, os dois têm um pelo castanho claro brilhoso que denuncia a vida boa que levam desde que chegaram ao abrigo

Pelos telefones 118 e 156. A EPTC apenas recolhe os cavalos que estão abandonados ou vítimas de maus-tratos se eles estiverem soltos. Caso o animal esteja amarrado dentro de uma propriedade e ficar constatada a situação de abandono, a EPTC aciona o trabalho específico do Batalhão Ambiental da Brigada Militar.

Para adotar: O cavalo não poderá ser vendido, em hipótese alguma. É preciso ter chácara, fazenda ou sítio de, no mínimo, um hectare. O animal não poderá ser utilizado para puxar carroças, charretes ou para atividades esportivas como corridas e saltos.


No Passado

Como um povo sanguinário ajudou a domesticar os cavalos Genes de 13 ossadas encontradas no Cazaquistão dão detalhes dos usos civis e militares dos cavalos pela civilização Cita, contemporânea da Grécia Antiga.

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ma análise genética dos ossos de 13 cavalos sacrificados por nômades Citas há 2,3 mil anos conta a história da domesticação desses animais pela espécie humana. O DNA contido nos esqueletos, encontrados n o território do atual Cazaquistão, revela características anatômicas e comportamentais vantajosas que foram selecionadas para torná-los mais dóceis e adequados a subsistência e a aplicações militares. Os cavalos ganharam um lugar nas fazendas humanas há 5,5 mil anos, inicialmente para fornecer leite e carne. Mais algumas centenas de anos se passaram até que eles dominassem os campos de batalha – onde foram relevantes até o começo do século 20, quando o uso de metralhadoras e veículos blindados sobre esteiras os tornou frágeis e obsoletos. Os citas dominaram o centro da Ásia, entre a Rússia e o atual Irã, do século 9 a.C. até o início do Império Romano. Eles eram nômades e, segundo o historiador grego Heródoto, cruéis – tinham o hábito de cegar seus prisioneiros de guerra e beber o sangue do primeiro inimigo morto em uma batalha. Foram cavaleiros talentosos, conhecidos pela habilidade de disparar flechas envenenadas do topo de animais em movimento. Além da boa relação com os cavalos, também eram especialistas na domesticação de mamíferos como vacas e ovelhas.

Os esqueletos encontrados no Cazaquistão foram preservados pelo solo permanentemente congelado das regiões mais frias do país, conhecido como permafrost. Além dos 13 cavalos mencionados no início da matériaA, que têm entre 2,3 mil e 2,7 mil anos de idade, também foi encontrada uma égua muito mais antiga, com 4,1 mil anos. Os citas traziam animais de todos os cantos para sacrificá-los em rituais religiosos dedicados à realeza – o que torna essa espécie de “vala comum” um mapa genético abrangente dos cavalos que viveram entre a Ucrânia e a China naquele período. Para preservar os ossos, o DNA é extraído de fragmentos de menos de meio grama. No artigo científico, publicado na Science, os pesquisadores, liderados pelo geneticista Pablo Librado, revelam as preferências citas na hora de escolher seus Rocinantes. Animais com pernas dianteiras mais grossas e musculosas eram favoritos – afinal, correr mais rápido que o inimigo é sempre uma boa ideia. Genes associados à retenção de água também foram encontrados. Nas éguas, eles são sinônimo de mais leite. Os citas não faziam questão de uma cor específica. Foram encontrados genes de cavalos pretos, marrons e beges – essa variedade toda na funilaria e pintura é comum em espécies domesticadas, e vem acompanhada, em

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No Passado

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geral, de orelhas caídas, cérebros menores e uma redução no número de hormônios responsáveis por comportamento arisco e violento. Eles também não ligavam para o conforto. Nos cavalos, a presença ou ausência de um gene específico associado à coordenação motora dá a eles a habilidade de trotar – um meio termo entre uma corrida e uma simples caminhada que torna o balanço menos desgastante. As montarias citas, porém, não continham esse “botão mágico”. Na média, o povo asiático foi mais consciente na hora da domesticação que os criadores de cavalos contemporâneos. Os citas mantinham grupos de cavalos muito heterogêneos, com saúde forte e adaptados para diferentes finalidades na vida civil e militar. Hoje, só um pequeno número de machos com características desejáveis é usado para fecundar todas as fêmeas – o que gera descendentes bons para uma finalidade específica, no caso, as corridas, mas com pouquíssima variabilidade genética e maior propensão a várias doenças. Segundo o famoso jornal norte-americano Washington Post, esse não é um problema contemporâneo. É provável que a rápida expansão do Império Romano – e com ele, a disseminação de “famílias” muito específicas de cavalos por todo o mundo ocidental – tenha sido o gatilho desse processo de seleção artificial. Para os pesquisadores, foi essencial encontrar esqueletos que têm em média 2,5 mil anos. Eles estão bem no centro da relação de 5 mil anos entre humanos e cavalos, e permitem estabelecer até que ponto o processo de domesticação havia caminhado naquele período. Ser ou não capaz de domesticar animais foi uma habilidade decisiva na história da civilização. No livro Armas, Germes e Aço, o biólogo e geógrafo Jared Diamond constrói uma teoria que explica o ritmo do desenvolvimento tecnológico de povos de diversas partes do planeta com base nas oportunidades que cada uma teve de domesticar animais e plantas úteis ainda na pré-história. As vacas, por exemplo, são descendentes de animais chamados auroques, extintos em 1627. Eles eram grandes, chifrudos e nada dispostos a colaborar conosco – milhares de anos de seleção artificial os transformaram nas vacas atuais, gordinhas e simpáticas. A disponibilidade de animais como elas, os camelos e os cavalos na Eurásia e não nas Américas, segundo Diamond, teria dado aos povos do Velho Mundo uma dianteira razoável – a disponibilidade de comida permite que uma população se dedique a outras atividades além da caça e da coleta. No caso dos cavalos, essa vantagem vai além – pois permitiu vitórias militares que, se não tivessem ocorrido, teriam mudado a história da humanidade. Responsabilidade, não?


TIME DE EQUITAÇÃO KRETZER

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