Empreendedorismo unifacs

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EMPREENDEDORISMO Autores - Carolina de Andrade Spinola e MoisĂŠs Conde Silva de Oliveira


© 2013. Universidade Salvador – UNIFACS – Laureate International Universities É proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização. Curso de Graduação Tecnológica em Negócios Imobiliários Universidade Salvador – UNIFACS Diretor Presidente Marcelo Henrik Chanceler Manoel Joaquim Fernandes de Barros Sobrinho Reitora Marcia Pereira Fernandes de Barros Pró-reitor de Educação Corporativa e EAD Adriano Lima de Barbosa Miranda Pró-reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Comunitária Carolina de Andrade Spinola Coordenadora do Eixo de Formação Humanística Sílvia Rita Magalhães de Olinda EAD UNIFACS Coordenador-Geral Luciano Pena Almeida de Souza Coordenador de Processos Operacionais Péricles Nogueira Magalhães Junior Coordenadora Pedagógica Maria Luiza Coutinho Seixas Coordenadora Acadêmico-Administrativa Rita de Cássia Beraldo Coordenadora do Curso Viviane Almeida Andrade Coordenador de Tecnologia da Informação Guna Alexander Silva dos Santos Coordenadora do Laboratório de Mídias Agnes Oliveira Bezerra Designers Jorge Antônio Santos Alves José Archimimo Costa Conceição Daniel Sousa Santos Apoio do Laboratório de Mídias Adusterlina Cerqueira Lordello Coordenadora SPACEAD Renata Lemos Carvalho Revisão / Estrutura Séfora Joca Maciel Sonildes de Jesus Sousa EAD UNIFACS - Av. Luís Viana, 3100. Paralela - Salvador - Bahia. CEP: 41.720-200 UNIFACS Atende (Salvador): 3535-3135 - Demais Localidades: 0800-284-0212 - http://www.unifacs.br/ead


Caro(a) estudante, Desde a criação da Universidade Salvador (Unifacs), acreditamos que formação é muito mais do que preparação técnico-científica e que nossa missão como Ensino Superior é proporcionar ao estudante uma educação para toda a vida, embasada no domínio do conhecimento, na fixação de valores e no desenvolvimento de habilidades e atitudes. É proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo. Mais do que profissionais, queremos formar pessoas com visão abrangente do mundo e das transformações da dinâmica social, com competência para avaliar de forma crítica e criativa as questões que nos cercam. Pessoas capazes de enfrentar os desafios que são colocados ao longo de sua vida e de sua trajetória profissional, e de aprender permanentemente e de forma autônoma. Buscamos atingir este objetivo - fundamentados na nossa missão e no nosso Projeto Pedagógico Institucional - por intermédio das diversas atividades acadêmicas, dentro e fora da sala de aula, que compõem o Currículo Unifacs e que desenvolvem e fortalecem habilidades essenciais para a formação do perfil do egresso Unifacs, como um “DNA” reconhecido pela sociedade e pelo mercado de trabalho. Este Currículo compõe-se dos elementos descritos a seguir: » » Disciplinas de Formação Humanística: são oferecidas em todos os cursos de Graduação da Unifacs; » » Disciplinas de Formação Básica: conferem conhecimentos e competências comuns aos cursos de uma mesma área do conhecimento para o futuro exercício profissional; » » Disciplinas de Formação Específica: proporcionam a formação técnica e o desenvolvimento de habilidades e atitudes necessárias ao perfil profissional do curso; » » Atividades Integradoras: permitem vivenciar na prática os conteúdos teóricos trabalhados em sala de aula,por meio do desenvolvimento de projetos específicos; » » Atividades Complementares: oferecem oportunidades de ampliação do conheci-mento fora da sala de aula, a exemplo da Iniciação Científica, ações comunitárias, programas de intercâmbio, cursos de extensão e participação em Empresas Juniores, entre outras; » » Estágio Supervisionado; » » Trabalho de Conclusão de Curso e demais atividades acadêmicas. As disciplinas de Formação Humanística, em especial, cumprem um papel fundamental na consecução deste perfil. Preparam uma sólida base de conhecimentos gerais, que permitirão uma compreensão mais ampla da formação técnica de cada curso, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando o estudante para as questões sociais, políticas, culturais e éticas que envolvem sua atuação como cidadão e profissional, motivando à busca do saber perene. Em complementação, portanto, à formação técnico-profissional proporcio-nada pelas disciplinas de Formação Básica e Específica, as disciplinas de Forma-ção Humanística possibilitarão ao estudante adquirir quatro importantes saberes: aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Esta é a concretização do nosso compromisso de formar pessoas melhores, cidadãos atuantes e profissionais comprometidos para a construção de um mundo melhor. Cordialmente, Prof. Manoel J. F. Barros Sobrinho Chanceler


FORMAÇÃO HUMANÍSTICA UNIFACS Conforme explicitado no Projeto Pedagógico Institucional da Unifacs, as disciplinas de Formação Humanística têm como objetivo: Possibilitar aos discentes a visão abrangente do mundo e da sociedade, propiciando aquisição de competências relativas ao processo de comunicação e raciocínio lógico, necessárias para a formação profissional; bem como conhecimentos inerentes aos direitos humanos, à ética, às questões socioambientais que envolvam aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos e culturais, delineando a formação cidadã.

As disciplinas de Formação Humanística e seus objetivos são: 1. Comunicação Desenvolver a capacidade de ler criticamente e produzir textos de forma autônoma, adequandose às diversas situações comunicativas presentes no dia a dia, e reconhecer a importância do desenvolvimento destas habilidades para sua vida pessoal e profissional. 2. Introdução ao Trabalho Científico Despertar o interesse pela ciência, apontando seu papel na construção do conhecimento e mostrar como o método científico pode ser utilizado para a solução de questões cotidianas. 3. Sociedade, Direito e Cidadania Promover uma reflexão sobre o exercício da cidadania e os mecanismos que garantem sua efetividade, bem como a participação nos processos sociais, de forma a interferir positivamente na sociedade. 4. Conjuntura Econômica Habilitar a compreensão da dinâmica da economia e do impacto das suas diversas variáveis e características no dia a dia de países, empresas e cidadãos. 5. Arte e Cultura Proporcionar o conhecimento e a valorização das manifestações artísticas e culturais, e ampliar a percepção estética como habilidade relevante para profissionais de qualquer área do conhecimento. 6. Meio Ambiente e Sustentabilidade Transmitir conceitos fundamentais sobre ambiente, sustentabilidade e suas relações com o desenvolvimento e despertar atitude político-ambiental nos estudantes, a partir do entendimento de seu papel como profissionais e cidadãos. 7. Psicologia e Comportamento Estudar as interações dos indivíduos no cotidiano, nos grupos dos quais fazem parte, e avaliar papéis e funções nas relações pessoais e profissionais. 8. Filosofia Discutir as grandes questões da vida humana pela compreensão das diversas correntes de pensamento filosófico e de suas contribuições.


9. Empreendedorismo Desenvolver a atitude empreendedora como elemento indispensável para o sucesso pessoal e profissional, seja trabalhando em organizações ou como empresário. 10. Saúde e Qualidade de Vida Enfatizar a importância dos cuidados preventivos com a saúde para obter melhor qualidade de vida dando a base para o pleno desenvolvimento dos projetos pessoais e profissionais.


©Copyright 2014 da Laureate. É permitida a reprodução total ou parcial, desde que sejam respeitados os direitos do Autor, conforme determinam a Lei n.º 9.610/98 (Lei do Direito Autoral) e a Constituição Federal, art. 5º, inc. XXVII e XXVIII, “a” e “b”.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Sistema de Bibliotecas da UNIFACS Universidade Salvador - Laureate International Universities)

S758e Spinola, Carolina de Andrade Empreendedorismo / Carolina de Andrade Spinola e Moisés Conde Silva de Oliveira. –Salvador: UNIFACS, 2014. 886 p. ISBN 978-85-8344-010-9 1.Administração. 2. Empreendedorismo. I. Oliveira, Moisés Conde Silva de. II.Título. CDD: 658.04


SUMÁRIO APRESENTAÇÃO................................................................................................................... 9 AULA 1 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO........................................................................................ 13 Acercando-se dos Conceitos Principais................................................................. 14 O empreendedorismo e a inovação............................................................... 18 O caráter multidisciplinar do empreendedorismo.......................................... 20 Síntese.................................................................................................................. 22 Questão para Reflexão......................................................................................... 23 Leituras Indicadas................................................................................................. 23 Sites Indicados...................................................................................................... 23 Referências........................................................................................................... 23 AULA 2 - A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE EMPREENDEDORISMO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O MUNDO DOS NEGÓCIOS................................................................ 25 A evolução do conceito desde a idade média..................................................... 25 O EMPREENDEDORIMO POR SCHUMPETER.............................................................. 28 O EMPREENDEDORISMO POR PETER DRUCKER....................................................... 29 Síntese.................................................................................................................. 30 Questão para Reflexão......................................................................................... 30 Leitura Indicada.................................................................................................... 31 Sites Indicados...................................................................................................... 31 Referências........................................................................................................... 31 AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR.................................................... 33 Perfil empreendedor............................................................................................. 34 Desenvolvendo uma visão e uma missão pessoal............................................... 37 O líder empreendedor.......................................................................................... 40 O empreendedor responsável.............................................................................. 41 Síntese.................................................................................................................. 44 Questão para reflexão.......................................................................................... 44 Leituras indicadas................................................................................................. 45 Sites indicados...................................................................................................... 45 Referências........................................................................................................... 45


AULA 4 - O EMPREENDEDOR CORPORATIVO...................................................................... 47 O espírito empreendedor nas organizações......................................................... 47 Panorama da inovação nas organizações brasileiras........................................... 51 Práticas de empresas inovadoras......................................................................... 53 Barreiras à inovação............................................................................................. 54 Síntese.................................................................................................................. 57 Questão para reflexão.......................................................................................... 57 Leitura indicada.................................................................................................... 57 Sites indicados...................................................................................................... 57 Referências........................................................................................................... 57 AULA 5 - O PROCESSO EMPREENDEDOR: COMO E QUANDO APROVEITAR UMA BOA IDEIA.59 Atenção às mudanças tecnológicas...................................................................... 59 O papel das mudanças políticas e regulamentares.............................................. 61 A mudança social e demográfica......................................................................... 61 Setores que favorecem a criação de novas empresas......................................... 64 Síntese.................................................................................................................. 65 Questão para Reflexão......................................................................................... 65 Leitura indicada.................................................................................................... 65 Sites Indicados...................................................................................................... 65 Referências........................................................................................................... 65 AULA 6 - A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE PARA O EMPREENDEDOR............................. 67 O que é criatividade?............................................................................................ 68 O processo criativo............................................................................................... 68 Identificação.................................................................................................... 68 Preparação...................................................................................................... 69 Incubação........................................................................................................ 69 Aquecimento................................................................................................... 69 Empreendedorismo e Iluminação................................................................... 69 Elaboração....................................................................................................... 69 Verificação....................................................................................................... 69 Fatores que podem prejudicar a criatividade....................................................... 70 Exercícios para estimular a criatividade............................................................... 70 Exercício “desnotícia”..................................................................................... 70 Exercício “veja que país”............................................................................... 71 Exercício “lustro no futuro”............................................................................ 71


Síntese.................................................................................................................. 71 Questão para reflexão.......................................................................................... 71 Leitura indicada.................................................................................................... 71 Sites indicados...................................................................................................... 72 Referências........................................................................................................... 72 AULA 7 - RECONHECENDO E AVALIANDO OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS......................... 73 A essência do reconhecimento das oportunidades.............................................. 73 Como avaliar uma oportunidade.......................................................................... 75 Diferenciando ideias de oportunidades................................................................ 76 Técnicas para aumentar o reconhecimento de oportunidades............................ 77 Questão para reflexão.......................................................................................... 78 Leituras indicadas................................................................................................. 78 Sites indicados...................................................................................................... 78 Referências........................................................................................................... 78 AULA 8 - COMO IMPLEMENTAR NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS............................ 79 Os formatos de negócio: próprio x franquia........................................................ 79 Marcas e patentes e a propriedade intelectual.............................................. 81 Aspectos societários........................................................................................ 83 Buscando apoio para a ideia.......................................................................... 85 Introdução ao plano de negócios......................................................................... 88 Síntese.................................................................................................................. 89 Questão para Reflexão......................................................................................... 89 Leituras indicadas................................................................................................. 90 Sites Indicados...................................................................................................... 90 Referências........................................................................................................... 90



APRESENTAÇÃO Prezado(a) aluno(a), Muito se tem falado sobre empreendedorismo nos últimos tempos. A mídia nos apresenta, todos os dias, exemplos e mais exemplos de iniciativas empresariais de sucesso engendradas por empresários destemidos, criativos e endinheirados. Vendo desta maneira, o empreendedorismo é apresentado como um processo muito distante da realidade da maioria de nós. Consequentemente, você pode se perguntar: “E o que isso tem a ver comigo?”; “Eu não sou da área de negócios, ou se for, não tenho dinheiro sobrando para investir em um empreendimento nascente”, ou, ainda, “Não pretendo ser dono de uma empresa, mas tecer uma carreira sólida em alguma grande organização”, dentre outros questionamentos apropriados para o contexto em que o tema é apresentado. A presente disciplina de empreendedorismo, que agora você começa a cursar, pretende, justamente, responder a esses questionamentos, desmitificar o entendimento sobre o assunto e mostrar que, independentemente da sua área de formação e projeto de vida, o tema está bem mais próximo dos seus interesses do que você imagina. Nós convidamos você para essa breve viagem, estruturada em oito aulas: Na primeira delas, o objetivo é discutir o tema e apresentar o empreendedorismo como uma capacidade de ver o mundo e as oportunidades que se nos apresentam, com olhos diferentes; em seguida, no segundo encontro, é apresentado o referencial teórico sobre o assunto e são apresentados os principais autores que construíram a fundamentação para o entendimento do processo empreendedor, desde as suas mais remotas origens; a terceira aula trata do espírito empreendedor como uma capacidade que devemos desenvolver e sobre como ela pode nos render frutos, mesmo em nossa vida pessoal; a aula quatro aborda o empreendedorismo corporativo e como ele pode auxiliar as organizações e os seus membros no mundo competitivo de hoje; as aulas cinco, seis e sete abordam o processo empreendedor, em suas etapas, e culminam com a descoberta da oportunidade de um empreendimento passível de implantação; por fim, na última aula, são apresentadas algumas informações de natureza prática, necessárias para a transformação desta oportunidade em realidade. O desafio proposto, sob a forma de trabalho semestral é fazê-lo(a) transpor a distância que o(a) separa da decisão de empreender, por meio da identificação de oportunidades interessantes em sua área de atuação. Esperamos que você se sinta desafiado(a) e motivado(a) a trilhar esse percurso. Boa viagem! Carolina Spinola e Moisés Oliveira

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AULA 1 Aproximação dos Conceitos de Empreendedorismo, Empreendedor e Empresário Autor(a): Carolina de Andrade Spinola

“Alguns homens veem as coisas como são, e perguntam: por quê? Eu sonho com as coisas que nunca existiram e pergunto: por que não?” Bernard Shaw

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lá! Seja bem-vindo(a) ao módulo sobre empreendedorismo! Com essa aula, iniciaremos uma breve jornada pelo mundo das ideias inovadoras e pelos caminhos onde elas podem nos levar. Uma jornada de autoconhecimento e de reflexão sobre as oportunidades que se apresentam, a cada dia, em nossa trajetória profissional e o que fazer com elas.

Sempre que falamos em empreendedorismo, associamos este termo às figuras de vários empresários bemsucedidos, que construíram impérios organizacionais, invariavelmente, partindo do nada, ou melhor, partindo do principal: uma boa e inovadora ideia. Este é o caso de pessoas como Bill Gates, Henry Ford, Steve Jobs e, ainda, Samuel Klein, Abílio Diniz, Francesco Matarazzo, dentre muitos outros, que seria exaustivo citar. Mas o que estes vultos do capitalismo recente têm em comum? O que os faz serem considerados empreendedores? Para ser empreendedor, é necessário montar um negócio de sucesso? Este empreendimento precisa ser de


EMPREENDEDORISMO

grande porte? É preciso que ele seja baseado em uma ideia revolucionária e inédita? Bem, estas são algumas das questões que serão discutidas nesse nosso primeiro encontro. Antes de começarmos, que tal combinarmos o primeiro desafio da disciplina? Você deve ter percebido que entre os exemplos citados, algumas linhas acima, não há sequer um único empreendedor baiano e isso foi proposital. Grande parte da literatura sobre empreendedorismo, inclusive algumas das referências que serão usadas por nós, se baseia no espírito empreendedor americano. Nossas referências, nesta área, estão sempre recheadas de exemplos distantes da nossa realidade, geográfica e profissional. Por isso, lançamos o desafio: que tal reunirmos o maior banco de dados possível sobre empreendedores baianos de sucesso? E, que tal, se esses exemplos forem provenientes de áreas profissionais diversas, mais especificamente, da sua área de atuação? Então, comece a pensar em algumas sugestões e até o final da aula você saberá avaliar o grau de empreendedorismo de cada um dos indivíduos em que pensou.

ACERCANDO-SE DOS CONCEITOS PRINCIPAIS Empreendedorismo, em linhas gerais, é uma palavra que designa o processo de empreender. A despeito de não constar dos dicionários mais usados da língua portuguesa, é um termo de uso corriqueiro e conhecido. Para Shane e Venkataraman (2000 apud BARON; SHANE, 2007, p. 6) o empreendedorismo é [...] uma área de negócios que busca entender como surgem as oportunidades para criar algo novo (novos produtos e serviços, novos mercados, novos processos de produção ou matérias-primas, novas formas de organizar as tecnologias existentes); como são descobertas ou criadas por indivíduos específicos que, a seguir, usam meios diversos para explorar ou desenvolver essas coisas novas, produzindo, assim, uma ampla gama de efeitos. (SHANE e VENKATARAMAN, 2000 apud BARON; SHANE, 2007, p. 6).

Mendes (2009, p. 13) segue a mesma linha de raciocínio e entende o empreen-dedorismo como o “processo de criação de valor e mudança de comportamento no mundo dos negócios por meio da inovação de serviços ou produtos oferecidos”. Para Dolabela (1999), o termo tem um entendimento mais abrangente: [...] é uma tradução da palavra entrepreneurship, que tem signifi-cado amplo. Além do tema criação de empresas, abrange também a geração do autoemprego, empreendedorismo comunitário, intra-empreendedorismo e políticas públicas para um determinado setor. (DOLABELA, 1999, p. 7).

Portanto, se analisamos as definições que constam na bibliografia acadêmica, percebemos que o termo empreendedorismo pode ser abordado e estudado de, pelo menos, três óticas distintas e complementares: » » Empreendedorismo como o estudo da capacidade individual das pessoas de transformar ideias criativas em oportunidades de negócios; » » Empreendedorismo como o processo de constituição de novas iniciativas empresariais; » » Empreendedorismo como um processo social capaz de desconcentrar a riqueza e de contribuir para o bem-estar da coletividade. Como se pode ver, o estudo do empreendedorismo se constitui em um campo bastante amplo e complexo. Neste contexto, essa disciplina tentará fazer uma apro-ximação a cada uma dessas óticas, procurando enfatizar a importância do processo empreendedor para a sociedade e desmistificar a 14


AULA 1 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO

figura do seu principal responsável, o empreendedor, e apresentá-lo como alguém que pode estar ao seu lado ou até mesmo escondido dentro de você. O empreendedorismo é a interseção entre oportunidades valiosas e indivíduos realizadores. Não há como falar de empreendedorismo sem entender a figura do em-preendedor. E, para fazê-lo, queríamos começar de uma maneira diferente, inspirada em um pequeno desafio que Baron (2007) sugere a seus leitores quando começa a tratar do tema. Mas, para isso, precisamos de sua participação. Observe as situações descritas abaixo. Em cada uma delas há a figura de um protagonista realizador. Tente identificar, partindo do seu entendimento presente sobre o assunto, quais destas per-sonagens podem ser consideradas empreendedores. Anote em um pedaço de papel as suas respostas e depois compare com a análise feita no final desta seção. Situação 1 - Regina trabalhou durante 20 anos em um escritório de contabi-lidade. Ao ser demitida, resolveu explorar uma habilidade que sempre havia lhe rendido muitos elogios na família: seu talento para a cozinha. Começou a comercializar doces e salgados caseiros sob encomenda e hoje possui dois dos mais renomados buffets da cidade. Situação 2 - Frederico é um estudante de Nutrição e trabalha em uma loja de suplementos alimentares. Sempre ficou intrigado com a incapacidade da empresa em atrair um público mais diversificado além daqueles praticantes de atividades físicas que já costumavam frequentar a loja. Resolveu sugerir uma modificação no posicionamento do negócio. A proposta foi aceita, e a loja em que trabalha passou a se direcionar para o público sedentário, de maior faixa etária, que pode obter nos produtos vendidos uma importante complementação da alimentação diária. Para atrair esses consumidores, Frederico sugeriu uma parceria com um nutricionista que dá todo o suporte necessário à elaboração da nova dieta e indica os produtos mais apropriados em cada caso. Situação 3 - Bárbara é pesquisadora de um instituto de pesquisas e atualmente desenvolve experimentos que buscam desenvolver um novo material sintético que possa vir a ser aplicado na recuperação de pacientes com queimaduras graves. Essa pesquisa foi encomendada por um grande laboratório farmacêutico que pretende dar um uso comercial à invenção. Situação 4 - Fábio é um biólogo especializado em aves. Em suas viagens pelo mundo, percebeu o interesse crescente das pessoas por esse tipo de fauna. De volta ao Brasil, resolveu abrir uma empresa de ecoturismo especializada em observação de pássaros ou ornitologia. Situação 5 - Paulo herdou o mercadinho de seu pai e, após concluir seu curso de Administração de Empresas, passou a administrá-lo junto com a sua esposa. É um excelente patrão e tem conseguido manter os negócios da família a despeito das incertezas do mercado. E então? Você acha que todos esses indivíduos possuem perfil empreendedor? Para começar a responder esta pergunta é preciso, antes, diferenciar as figuras do empreendedor, do empresário, do gestor e do inventor. Veja algumas definições de empreendedor listadas a seguir: O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente através da introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização, ou pela exploração de novos recursos e materiais. (SCHUMPETER, 1949 apud DORNELAS, 2001, p. 37). O empreendedor é aquele que faz acontecer, antecipa-se aos fatos e tem uma visão futura da organização. (DORNELAS, 2001, p. 35).

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O empreendedor é alguém capaz de identificar, agarrar e aproveitar oportunidade, buscando e gerenciando recursos para transformar a oportunidade em negócio de sucesso. (TIMMONS, 1994 apud DOLABELA, 2003, p. 37). O empreendedor imagina, desenvolve e realiza visões. (FILLION, 1999, p. 7). O empreendedor é alguém que sonha e tenta transformar o seu sonho em realidade. (DOLABELA, 2003, p. 34).

De uma maneira geral, na bibliografia referenciada, entende-se o empreendedor como uma pessoa sonhadora, visionária, que enxerga oportunidades onde ninguém mais vê. Estas oportunidades, por sua vez, podem conduzir à constituição de um novo negócio, ou não. Costuma-se considerar os termos empreendedor e empresário sinônimos. De fato, muitos empresários conhecidos, como os citados no início da aula, são empreendedores, mas essa não é a regra. Há muitos casos de empresários que apenas possuem a propriedade dos meios de produção e nem mesmo participam ativamente da administração de seus negócios. A concepção do termo empreendedor é mais ampla que a do empresário1. O empreendedor é o realizador, quer seja em sua própria iniciativa empresarial - e nesse caso ele também poderia ser considerado um empresário - ou no âmbito de outras organizações, o também chamado empreendedor interno, que será abordado de ma-neira mais aprofundada na aula 4. A sua contribuição se estende à criação de novos produtos, ao desenvolvimento de novos mercados, ao aproveitamento de novos materiais e à criação de novas estruturas e processos organizacionais, dentre outras. A ideia do empresário tem relação com a posse do capital. O empresário é o viabilizador da empresa e, em sendo assim, também requer uma dose de empreendedorismo. A interseção entre as figuras do empreendedor e do empresário acontece em pelo menos duas circunstâncias: na primeira, quando o descobridor da oportunidade é a mesma pessoa responsável pela sua implementação e gerenciamento, tem-se a figura do empreendedor-empresário; e, na segunda, quando um empresário, enquanto dirigente de uma organização, desenvolve seus negócios de maneira arrojada e inova-dora, tem-se a figura do empresário-empreendedor. O empreendedor sem o empresário não verá a sua oportunidade de negócios se concretizar. O empresário sem espírito empreendedor pode experimentar a obsolescência e ver os seus negócios serem suplantados pela concorrência. Em suma, em-bora distintas, as figuras do empreendedor e do empresário são interdependentes e precisam caminhar juntas. Todavia, o empreendedor pode não ter nenhuma aptidão para a administração e delega esta função a outra pessoa, contratada para tal fim. Neste momento, surge a figura do gestor. Este, por sua vez, é o profissional contratado para conduzir as atividades da organização, utilizando-se de seus conhecimentos técnicos em administração. E o que dizer do inventor? Como diferenciá-lo do empreendedor, já que este também se caracteriza pela busca da inovação? O foco do inventor está mais no objeto da sua criação do que na sua aplicação comercial. Em algumas ocasiões, o inventor pode ser o próprio empreendedor, mas, na maioria das vezes, o inventor necessita do empreendedor para dar continuidade à sua ideia, inseri-la na indústria e transformá-la em uma oportunidade viável de negócios. 1 Os conceitos sobre as figuras do empresário e do empreendedor sofreram mudanças significativas ao longo do tempo. Essa questão será abordada de maneira mais aprofundada na aula 2.

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AULA 1 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO

Em síntese, o inventor diferencia-se do gestor pela sua alta capacidade criativa e do empreendedor pela dificuldade que tem para concretizar as suas ideias inovado-ras, como pode ser visualizado na figura seguinte:

Figura 1 - Interseção entre os conceitos de inventor, empreendedor e gerente administrador. Fonte: (DORNELAS, 2001, p. 27)

As definições apresentadas demonstram que se trata de um campo conceitual complexo e que a terminologia associada ao tema empreendedorismo comporta muitas nuances e sobreposições de situações que aproximam as figuras descritas em muitas situações concretas, tornando-as de difícil compreensão. Vejamos os exemplos descritos anteriormente:

Maria - Pode ser considerada uma empreendedora empresária. Mais precisamente, ela é o que se chama de empreendedor por necessidade, ou seja, o que a impulsionou a montar o seu negócio foi a perda do emprego. No entanto, ela foi capaz de identificar uma oportunidade de negócio que, apesar de não ser inovadora, encontrou um segmento de consumidores dispostos a adquirir seus produtos caseiros; transformou essa oportunidade em uma empresa própria e assumiu a liderança de todo o processo.

Frederico - É o empreendedor interno. Ele não é o gestor e nem tampouco o empresário, mas, como colaborador da organização, percebeu um nicho de mercado importante e foi decisivo na determinação de um novo posicionamento para a empresa e de novas estratégias empresariais.

Bárbara - É a inventora. Sua ênfase é na pesquisa e no progresso da ciência. O aproveitamento comercial de suas invenções foi percebido pela empresa-cliente.

Fábio - Também pode ser considerado um empreendedor empresário. Ele vislumbrou uma oportunidade de negócios relacionada com o crescimento do ecoturismo e abriu uma empresa para aproveitá-la, utilizando-se de seu conhecimento técnico profissional.

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Paulo - Pelo descrito no texto, se enquadraria como empresário. Ele é proprietário da empresa, mas nada indica que ele desenvolva alguma ação empreendedora que possa diferenciar o seu negócio.

Então, voltando às perguntas formuladas no início da aula: » » Para ser um empreendedor, não é preciso, necessariamente, constituir um negócio de sucesso. Não é preciso, tampouco, constituir um negócio. Para ser empreendedor é necessário apenas enxergar o mundo com olhos curiosos e procurar por oportunidades. A pessoa pode ser empreendedora em seu emprego, como foi o caso de Frederico. » » Também não é necessário que o negócio constituído seja de grande porte. Veja os exemplos de Maria e Fábio. Pequenas iniciativas podem ser muito bem-sucedidas. Nos dias de hoje, muitos negócios podem ser constituídos com investimentos bastantes modestos, é o caso de alguns tipos de serviços empresariais que requerem do seu proprietário apenas um número de telefone celular e um cartão de visitas. » » As novas oportunidades não precisam ser baseadas em ideias revolucionárias. A descoberta de um novo nicho de mercado ou de uma nova aplicação para um produto existente se constituem em oportunidades válidas e importantes. Esse tópico será melhor discutido na próxima seção dessa aula. Para concluirmos esta primeira seção, na qual procuramos desmistificar a figura do empreendedor, há mais alguns mitos que para Dornelas (2001) devem ser desfeitos: » » O empreendedorismo não é nato. Embora muitas das qualidades requeridas pelo empreendedor2 nasçam com as pessoas, a capacidade de identificar oportunidades é adquirida com as experiências de vida e aprimora-se com o tempo. » » Os empreendedores não são “jogadores” que assumem riscos muito altos. Assumir riscos é um pressuposto da atividade empreendedora, mas o verdadeiro empreendedor sabe calculá-los e avaliá-los. » » Os empreendedores não são “lobos solitários”. Eles precisam trabalhar em equipes, formar times e devem ser, para obter sucesso, excelentes líderes3.

O EMPREENDEDORISMO E A INOVAÇÃO Costuma-se acreditar que as iniciativas empreendedoras residem unicamente em invenções, ou seja, na criação de ideias radicalmente inéditas. Este é um engano muito comum2. O empreendedorismo guarda uma relação muito próxima com a inovação, cuja definição semântica, presente no dicionário significa “o ato ou efeito de inovar” (FERREIRA, 1999, p. 1115) que, por sua vez, de acordo com a mesma fonte, significa “tornar novo, renovar, introduzir novidade”. As inovações podem ser incrementais ou radicais. No primeiro caso, ela é entendida como um melhoramento ou releitura de algum produto ou processo já existente. No segundo caso, referese ao desenvolvimento de produtos e processos cujas carac-terísticas difiram significativamente, se comparados aos produtos e processos existen-tes. Podem ser fruto de uma tecnologia nova ou de uma nova maneira de combinar tecnologias pré-existentes3. 2 O perfil do empreendedor será abordado na aula 3. 3 O empreendedor líder será abordado na aula 3.

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AULA 1 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO

Não há dúvidas de que a invenção do telefone foi revolucionária, concorda? No entanto, ela se deveu à combinação de elementos já existentes, a exemplo do co-nhecimento sobre baterias elétricas e o comportamento do som. O que Alexandre Graham Bell4 fez foi combinar esses conhecimentos de uma maneira nova e gerar uma inovação radical. As inovações radicais trazem consigo uma revolução tecnológica que, muitas vezes, significa, ao mesmo tempo, o fim e o início de ciclos de desenvolvimento dentro de uma indústria. Isso é o que Schumpeter (1949) denominou de “processo de destrui-ção criativa”5, em que novos produtos e processos substituem produtos e processos antigos. Foi o que aconteceu com o CD e o LP, com o DVD e as fitas de vídeo VHS, com a lâmpada elétrica e os lampiões, dentre outros exemplos conhecidos. A maior parte das inovações, entretanto, se localiza no primeiro grupo. Esse foi o caso de Maria e Fábio, em nossos exemplos da seção anterior. A primeira identificou um mercado ávido por produtos caseiros fornecidos em quantidade, e o segundo identificou um nicho de mercado e adaptou técnicas da biologia para o desenvolvimento de uma nova forma de experimentar a natureza. O Manual de Oslo6, em sua terceira edição, define quatro tipos de inovação, a depender da sua área de aplicação (OECD, 2005, p.16-17; 48-49): » » Inovações em produto - Introdução de um benefício ou serviço novo ou significativamente melhorado nas suas especificações técnicas, componentes e materiais, software, interface com usuários e outras características funcionais. Exemplo: introdução de sistemas de navegação GPS em veículos automotivos; introdução de câmeras fotográficas em aparelhos celulares, etc. » » Inovações em processo - Implementação de novos processos ou melhorias significativas nos processos de produção, venda e logística dos produtos e serviços. Exemplo: introdução de softwares que permitam identificar as melhores rotas de entrega; introdução de códigos de barras para identificação do preço das mercadorias, etc. » » Inovações organizacionais - mudanças em práticas de negócios, na organização do ambiente de trabalho, ou nas relações externas da empresa. Exemplo: utilização, pela primeira vez, de sistemas de outsourcing (terceirização de funções) de atividades antes desempenhadas pelas empresas; adoção, pela primei-ra vez, da virtualização do trabalho mediante a descentralização dos funcionários em home-offices; etc. » » Inovações em marketing - Mudanças na aparência do produto e sua embalagem, divulgação e distribuição. Exemplo: mudanças de embalagem que confiram uma nova utilidade aos pro-dutos; utilização, pela primeira vez, de novas mídias de divulgação, como as mídias sociais. Ainda que a inovação radical seja oriunda de uma ideia totalmente nova, muito dificilmente ela surgirá de uma inspiração súbita e divina. É muito difícil ser original, mas isso não deve nos esmorecer. Thomas Edison, o inventor da lâmpada, costumava dizer: “O gênio é um por cento de inspiração e noventa e nove por cento de transpiração” 4 Embora exista uma polêmica sobre a verdadeira paternidade dessa invenção, consideramos o grande nome associado à sua criação e divulgação. 5 A contribuição de Schumpeter para o estudo do empreendedorismo está no capitulo 2. 6 Publicação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE - o Manual de Oslo é a principal fonte internacional de diretrizes para coleta e uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria.

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EMPREENDEDORISMO

Leia o quadro abaixo e entenda o que ele quis dizer com essa frase. O mundo moderno é um mundo eletrificado. A lâmpada elétrica, em particular, mudou profundamente a existência humana pela iluminação da noite, facilitando a realização de uma vasta gama de atividades noturnas e melhorando a segurança das cidades. A lâmpada que usamos hoje foi inventada por Thomas Alva Edison, em 1879. Desde 1910, ela é formada por um bulbo de vidro contendo um gás inerte e um filamento de tungstênio por onde passa a corrente elétrica. A energia elétrica faz com que o filamento atinja uma alta temperatura e se torne incandescente. Embora Edison mereça o crédito, ele não foi a primeira nem a única pessoa a trabalhar na invenção da lâmpada incandescente. Desde 1809, vários pesquisadores tentavam desenvolver uma lâmpada eficiente, durável e econômica. O grande problema a resolver era conseguir um filamento que não se consumisse com o calor. Os primeiros filamentos testados eram de madeira ou papel carbonizado, duravam poucas horas, virando cinzas. Os de metal se derretiam rapidamente. Entre 1878 e 1880, Edison e sua equipe testaram mais de 3.000 teorias para solucionar este problema. Tentaram milhares de materiais dos mais diversos tipos e origens. Ele reconheceu que o trabalho foi tedioso e muito exigente, especialmente para sua equipe. “Antes de chegar a uma solução,” ele lembrou, “eu testei nada menos de 6.000 espécies de vegetais, e revirei o mundo em busca do material mais apropriado”. Em 1880, ele desenvolveu um filamento derivado de bambu carbonizado, que durou 1.200 horas e deu início à sua comercialização. Em 1910, Willian David Coolidge inventou um método econômico para a produção de filamento de tungstênio, que substituiu os outros tipos de filamentos usados até aquela data. (SIQUEIRA, 2007, p. 1). Para Thomas Edison, “para termos uma grande ideia, temos que ter muitas”. (CI-TAÇÕES..., 2009). Alfred Nobel, aquele que teve seu nome associado ao mais famoso prêmio da genialidade humana, concordava com Thomas Edison. Ele dizia: “Se eu tiver mil ideias, e uma delas for uma boa ideia, já fico satisfeito.” (CITAÇÕES..., 2009) Portanto, devemos ter em mente que a inovação é algo que está ao alcance de todos, desde que se tenha um espírito inquieto e muita determinação. Ela é a premiação ao esforço contínuo. Ou, como dizia Albert Einstein: “o importante é não paramos de nos interrogarmos”.

O CARÁTER MULTIDISCIPLINAR DO EMPREENDEDORISMO Há outro mito muito difundido, não comentado anteriormente, que aborda o empreendedorismo como uma área de estudo exclusiva da Administração: os cursos de Administração se destacam na formação de empreendedores e no estudo do processo empreendedor. Este fato é facilmente compreensível, tendo em vista a sua natureza direcionada para o mundo dos negócios, pois eles não têm condições de, isoladamente, dar conta desse objeto de estudo. Retomemos a definição de empreendedorismo de Shane e Venkataraman (2000), constante do início de nossa aula. Por ser bastante abrangente, ela pode nos fornecer uma ideia de como o processo empreende-dor é dependente de inúmeras disciplinas de formação. Veja: 1. “Uma área de negócios que busca entender como surgem oportunida-des para criar algo novo [...]” As oportunidades são oriundas do ambiente e como tal requerem um profundo entendimento do comportamento de variáveis econômicas e políticas legais, ambien-tais, demográficas, tecnológicas, relacionadas com o comportamento do consumidor dentre outras, que, para ser obtido, além da 20


AULA 1 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO

Administração, necessita de conhecimen-tos oriundos de áreas de estudo tão diversas, como a Economia, o Direito, o Marketing, a Computação, a Engenharia, a Psicologia e a Demografia7. A descoberta de oportunidades relacionadas a um ramo de negócios deter-minado requer conhecimentos ainda mais específicos. Este é o caso, por exemplo, da Biologia e da Química, tão necessárias à área de saúde no que tange ao desenvolvi-mento de novas técnicas de tratamento e de novas substâncias ativas que possam originar medicamentos eficientes no combate a doenças. A necessidade do domínio de conhecimentos específicos para identificar opor-tunidades de negócios e fazê-los funcionar está ilustrada nos exemplos descritos nos quadros abaixo: Miguel Krigsner, um dos fundadores da maior indústria de perfumes e cosméticos genuinamente brasileira, O Boticário, reconhecida internacionalmente pela inovação e qualidade de seus produtos, nunca abriu mão do desejo de ser farmacêutico, embora o pai desejasse vê-lo formado em Medicina. [...] Um ano depois de formado, Miguel iniciou seu pequeno grande negócio na Rua Saldanha Marinho - Centro Histórico de Curitiba - uma farmácia da manipulação de fórmulas, cuja ideia surgira ao fazer uma viagem a Porto Alegre, percebendo as tendências de expansão das farmácias de manipulação, segundo declarou posteriormente: “Achei esse ramo de atividade muito interessante, porque não era monótono. Permitia um alto nível de criatividade, não era nem farmácia, nem indústria, ficava no meio. E nasceu “O Boticário”, em março de 1977, resultado da sociedade entre dois farmacêuticos e dois médicos dermatologistas”. Fonte: (Época Negócios, edição nº 4, jun. 2007, p. 109. apud MENDES, 2009, p. 17). Penido Stahlberg Filho e seu sócio, Fredy Valente, aproveitaram a experiência acumulada em durante anos de ensino e a somaram a uma oportunidade de mercado para montar uma empresa de tecnologia. Eles se conheceram durante o curso de Graduação em Engenharia. Juntos, deram aulas na Universidade de Ribeirão Preto, onde coordenaram a criação do Departamento de Pesquisa em TI. O negócio começou a surgir quando Fredy voltou do exterior. Ele per-cebeu que havia várias iniciativas bem-sucedidas em tecnologia de uma forma geral e que poderiam tentar a sorte no mercado brasileiro. Só não sabiam que tipo de produto ou serviço oferecer. Até que a oportunidade bateu à porta deles. “Estávamos tomando vinho em uma noite fria de inverno com um amigo que trabalhava na Phillips quando descobrimos os smart cards (cartões inteligentes que carregam chips).” diz, “Decidimos abrir um negócio focado nisso”. Para começar e fugir da concorrência dos grandes do setor, apostaram em mercados de nicho, focando em duas oportunidades: universidades e controle de acesso físico. Assim nasceu a S&V Consultoria, que hoje, dez anos depois, já possui em seu portfólio, clientes de nível internacional, como Siemens, Grupo Gerdau, CSN, Usiminas/Cosipa, Transpetro, Petrobras, AmBev, dentre outras companhias relevantes. Fonte: (INSTITUTO EMPREENDEDOR ENDEAVOR, 2005, p.17).

Nos dois exemplos acima, fica clara a importância do conhecimento da Farmacologia e da Tecnologia da Informação, respectivamente, para a identificação precisa das oportunidades e para a implementação técnica dos negócios criados. Poderia, alguma dessas duas empresas, ter sido constituída sem a contribuição dessas duas áreas do conhecimento? 2. “[...] Como são descobertas ou criadas por indivíduos específicos [...]” Entender o perfil do empreendedor e como se desenvolvem os processos mentais associados ao pensamento criativo são preocupações que abrem caminho para estudos no âmbito da 7 O processo de identificação de oportunidades será estudado na aula 5.

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EMPREENDEDORISMO

Psicologia, Sociologia, Antropologia e das Ciências do Comportamento. Explicar o motivo pelo qual algumas pessoas conseguem ter uma visão mais inovadora do que as outras ou, ainda, algumas sociedades são mais pródigas em exemplos de empreendedorismo bem-sucedidos são desafios que se situam dentro da área de interesse das ciências citadas, e de extrema importância para o desenvolvimento do processo empreendedor. 3. “[...] Que, a seguir, usam meios diversos para explorar ou desenvolver essas coisas novas [...]” Esta etapa da definição se refere aos conhecimentos gerenciais que se constituem no suporte necessário para a implementação das oportunidades, assim como no entendimento de toda a estrutura jurídica existente, e dentro da qual o novo empreendimento vai funcionar. 4. “[...] Produzindo, assim, uma ampla gama de efeitos” Por fim, a definição de empreendedorismo faz alusão ao caráter dinamizador do processo nas realidades socioeconômicas em que é inserido. Para entender a di-mensão e extensão de suas consequências, novamente são acionadas as ciências so-ciais, que além de procurar entender como o processo tem se efetivado, deve, também, propor medidas que potencializem as suas externalidades positivas no caminho da geração de riquezas e de bem-estar coletivo. Uma vez que já discutimos a natureza do empreendedorismo, é importante ressaltar, também, a sua estrutura processual. Ao longo do texto dessa aula, temos nos referido, constantemente, ao empreendedorismo como processo empreendedor. De fato, a transformação de ideias em oportunidades viáveis e sua posterior concretização sob a forma de um produto, uma estratégia diferenciada, uma empresa ou tecnologia, dentre as inúmeras formas que a inovação pode assumir se constitui em um conjunto de etapas encadeadas e interdependentes, com início, meio e fim. O processo empreendedor será detalhado e aprofundado nas aulas 6,7 e 8 deste curso. Toda a argumentação dessa seção tem como objetivo evidenciar o caráter mul-tidisciplinar de estudo desse objeto, o empreendedorismo, ou como diz Baron (2007, ) que “o campo do empreendedorismo não existe em um vácuo intelectual; pelo contrário, suas raízes estão firmemente assentadas em várias disciplinas mais antigas que, juntas, lhe dão sustentação”. (BARON, 2007, p. 11). Espero que tenha gostado deste nosso primeiro encontro e que tenha sido possível perceber o quão instigante é o tema de nossa disciplina. Esse, aliás, foi o prin-cipal objetivo dessa aula introdutória: despertar o interesse para o tema e enumerar as diversas temáticas relacionadas com o empreendedorismo que serão abordadas durante o curso. No nosso próximo encontro, veremos como o conhecimento a respeito do em-preendedorismo foi construído, as diferentes interpretações que o tema teve ao longo da história da humanidade e as principais contribuições dos teóricos que ajudaram a solidificar as suas raízes conceituais. Espero você lá!

SÍNTESE Nessa aula, apresentou-se o empreendedorismo como um processo multidis-ciplinar de geração de inovação, com grande importância social e econômica. Procu-rou-se desmistificar a figura do empreendedor, diferenciando a sua figura da do em-presário, do administrador e do inventor. Por fim, delinearam-se os meios pelos quais o empreendedorismo e a inovação se encontram, mostrando que empreender e/ou inovar é uma ação que está ao alcance da maioria de nós.

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AULA 1 - APROXIMAÇÃO DOS CONCEITOS DE EMPREENDEDORISMO, EMPREENDEDOR E EMPRESÁRIO

QUESTÃO PARA REFLEXÃO E então? Lembra-se do desafio lançado no inicio da aula? Pensou em alguns nomes para o nosso banco de dados? Escreva um pequeno texto com a apresentação do empreendedor escolhido por você, com a justificativa do motivo da escolha e poste em nosso fórum. Criamos fóruns por área de conhecimento. No final da disciplina, compartilharemos os resultados com todos e veremos a quantidade de empreende-dores locais que conseguimos catalogar.

LEITURAS INDICADAS INSTITUTO EMPREENDER ENDEAVOR. Como fazer uma empresa dar certo em um país incerto: conselhos dos 51 empreendedores mais bem sucedidos do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. Os caminhos da inovação: versão integral do Manual de Oslo. Conceitos, legislação, fontes de recursos e endereços úteis. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/dcom/ brasil_inovador/menu.html>. Acesso em: 3 nov. 2009.

SITES INDICADOS Babson College. Disponível em: <www.babson.edu> Empreendedorismo. Prof. José Dornelas. Disponível em: <www.josedornelas.com.br Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Disponível em: <www. anprotec.org.br> Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras. Disponível em: <www.anpei.org. br>

REFERÊNCIAS BARON, R. A.; SHAN, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007. Citações sobre criatividade e inovação.. Disponível em: <http://ndsim. esec.pt/pagina/iwe2009/paggenericas/Citacoes.pdf>. Acesso em: 12 nov. 2009. DOLABELA, F. O segredo de Luísa - uma ideia, uma paixão e um plano de negócios: como nasce o empreendedor e se cria uma empresa. São Paulo: Cultura Editores Associados, 1999. ______.. Empreendedorismo - uma forma de ser: saiba o que são empreendedores individuais e coletivos. Brasília: AED, 2003. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios, Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. FILLION, L. J. Empreendedorismo: empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. RAUSP – Revista de Administração da Universidade de São Paulo. São Paulo, v. 34, n. 2, p. 5-28, abr./ jun.1999. Disponível em: <www.rausp.usp.br/download.asp?file=3402005.pdf>. Acesso em 12 nov. 2009.

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EMPREENDEDORISMO

Inovar. In: FERREIRA, A. B. de H. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 1115. INSTITUTO EMPREENDER ENDEAVOR. Como fazer uma empresa dar certo em um país incerto: conselhos dos 51 empreendedores mais bem-sucedidos do Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. MENDES, J. Manual o empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009. Os caminhos da inovação: versão integral do Manual de Oslo. Conceitos, legislação, fontes de recursos e endereços úteis. Disponível em: <http://www.finep.gov.br/dcom/brasil_inovador/menu.html>. Acesso em: 3 nov. 2009. SIQUEIRA, J. Anatomia das grandes invenções. 4 fev. 2007. Criatividade e inovação. Disponível em: <http://criatividadeaplicada.com/2007/02/04/anatomia-das-grandes-invencoes/>. Acesso em: 3 nov. 2009.

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AULA 2 A Evolução do Conceito de Empreendedorismo e sua Importância para o Mundo dos Negócios Autor: Moisés Conde Silva de Oliveira

S

“Onde quer que você veja um negócio de sucesso, pode acreditar que ali houve, um dia, uma decisão corajosa”. Peter Drucker

audações a você!!

Na aula anterior, trabalhamos alguns conceitos a respeito dos termos empre-endedorismo, empreendedor e empresário, na visão de alguns autores, e pudemos observar o quão rico e ao mesmo tempo cheio de nuances estes podem ser apresen-tados. Veremos agora como ocorreu a evolução desses conceitos desde a Idade Média, passando pelas ideias de alguns teóricos do assunto como Schumpeter e Drucker até identificarmos a importância do empreendedor nos nossos dias.

A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DESDE A IDADE MÉDIA Na Idade Média o termo empreendedor definia aquele indivíduo que era responsável pela administração dos grandes projetos de construção financiados pelo governo. A definição de empreendedor como aquele que corre risco só surge pouco depois, passando a definir aquela pessoa corajosa e pronta para assumir os riscos financeiros.


EMPREENDEDORISMO

O enriquecimento pessoal e o êxito comercial eram os únicos meios permitidos àqueles que viviam à margem da sociedade (aqueles que não se submetiam à ordem do clero e da nobreza) de instalarem-se em uma sociedade muito hierarquizada e muito rígida. (MENDES, 2009, p. 3).

O primeiro personagem da história mundial a receber o título de empreendedor foi o explorador italiano Marco Pólo, que, juntamente com seu pai, Nicolau Pólo, e seu tio, Matteo, foram os primeiros ocidentais a percorrer a Rota da Seda em 1272. Para dar início à sua aventura, Pólo assinou um contrato com o que hoje conhecemos como capitalista para comercializar suas mercadorias, ficando para ele todos os riscos físicos e emocionais que um empreendimento desse porte possuía. Na Idade Média, os empresários tiveram uma participação fundamental no desenvolvimento das artes. Nesse período, não tínhamos ainda consumo de massa, fazendo com que o artista fosse responsável pela criação de trabalhos únicos e ino-vadores com o intuito de atender as encomendas dos ricos comerciantes e, principal-mente, da Igreja. Leonardo da Vinci, por exemplo, foi um desses grandes inovadores. Naquela época, era costume os artistas em começo de carreira trabalharem em um atelier de um mestre mais conhecido; no caso de da Vinci foi o mestre Andréa, em troca de moradia. O uso mais comum dos termos empresário e empresa, que se originam do ver-bo empreender, em francês, data do século XIV. Nos séculos seguintes, esse termo de-nominava aquele indivíduo que tinha como atividade a especulação, e não a geração de algum produto, tornando, assim, um sinônimo também de uma pessoa desonesta. Nesses tempos pré-capitalistas, o termo ainda não designava o fabricante nem o vendedor ou o negociante, mas o ato pelo qual o monarca ou uma instituição pública ou semipública firmava um contrato com uma pessoa, afortunada ou qualificada para cons-truir um prédio público qualquer. (MENDES, 2009, p. 3). O primeiro autor a cunhar uma definição mais clara para o termo empreendedor foi Richard Cantillon (1680-1734), em seu livro intitulado Ensaio sobre a natureza do comércio em geral, obra escrita por volta de 1730 e publicada anonimamente em 1755. Segundo ele, o empreendedor é aquele que assume riscos ao comprar serviços ou componentes por preço certo com a intenção de revendê-los mais tarde a um preço incerto. Todas as ideias até agora relacionam o empreendedorismo ao ato de lucrar na diferença do preço de mercado na hora da sua compra e venda. Para Cantillon (1755) apud Mendes (2009), a existência dessa lucratividade além da esperada era um indicativo de que o empreendedor havia inovado, fazendo algo novo no processo. Por volta do ano de 1800, o economista francês Jean-Batiste Say (1757-1832) empregou o uso do termo empreendedor definindo uma pessoa que era capaz de transferir a produtividade de uma determinada área onde ela seria alta para uma outra baixa. Essa análise era de fundamental importância econômica, pois nesse momento o empreendedor era colocado como um agente também responsável pelo desenvolvimento da própria economia, por meio do desenvolvimento da atividade que essa pessoa estava inserida. Indo mais além, ele ainda considerou esse desenvolvimento econômico como sendo o resultado direto da criação de novos empreendimentos, além de fazer a distinção entre o empreendedor e o capitalista. Segundo Dornelas (2001), nesse século, o capitalista e o empreendedor foram finalmente diferenciados, provavelmente devido ao início da industrialização. Podemos citar como exemplo o de Thomas Edison. Suas pesquisas sobre eletricidade e química só foram possíveis porque ele obteve o auxílio de investidores que estavam dispostos a financiar a pesquisa. Ao longo da história, vemos uma sucessão de conceitos referente à figura do empreendedor, porém, independentemente da época e dos teóricos que trabalhemos, ele sempre será associado ao ser ousado,

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AULA 2 - A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE EMPREENDEDORISMO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O MUNDO DOS NEGÓCIOS

sujeito a erros e acertos, sucessos e fracassos, seja profissional ou pessoalmente. É o ser criativo por excelência, mas, acima de tudo, com a capacidade e a vontade de colocar em prática suas ideias. No quadro abaixo, temos alguns destes conceitos relacionados ao nosso tema de estudo e que ilustra melhor nossas discussões. PERÍODO

AUTOR

CONCEITO

Idade Média

Desconhecido

Participante e pessoa encarregada de produção em grande escala.

Séc. XVII

Desconhecido

Pessoa que assumia riscos de lucro (ou prejuízo) em um contrato de valor fixo com o governo.

1725

Richard Cantillon

Pessoa que assume riscos é diferente da que fornece capital.

1803

Jean Baptiste Say

Lucros do empreendedor separados dos lucros do capital.

1876

Francis Walker

Distinção entre os que forneciam fundos e recebiam juros e aqueles que obtinham lucro com habilidade administrativa.

1934

Joseph Schumpeter

O empreendedor é um inovador e desenvolve tecnologia que ainda não foi testada.

1961

David McClelland

O empreendedor é alguém dinâmico que corre riscos moderados.

1964

Peter Drucker

O empreendedor maximiza oportunidades.

1975

Albert Shapero

O empreendedor toma a iniciativa, organiza alguns mecanismos sociais e econômicos e aceita os riscos do fracasso.

1980

Karl Vésper

O empreendedor é visto de modo diferente por economistas, psicólogos, negociantes e políticos.

1983

Gifford Pinchot

O intraempreendedor é um empreendedor que atua dentro de uma organização já estabelecida.

1985

Robert Hisrich

O empreendedorismo é o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e os esforços necessários, assumindo riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal.

2001

José Carlos Assis Dornelas

O empreendedor é aquele que faz as coisas acontecerem, se antecipa aos fatos e tem uma visão futura da organização.

2007

Jerônimo Mendes

É o indivíduo criativo capaz de transformar um simples obstáculo em oportunidade de negócios.

Quadro 1 - Desenvolvimento da teoria do empreendedorismo e do termo empreendedor a partir da Idade Média. Fonte: (MENDES, 2009, p. 7)

Podemos notar que, ao longo dessa jornada, a evolução do conceito nos mostra a relação do empreendedorismo inicialmente com o ato de executar uma tarefa ape-nas. Em um segundo momento, o risco se tornou também importante na análise, bem como essa distinção entre o lucro do empreendedor e o lucro do capital. Ao chegarmos no meado do século XX, especialmente com as teorias de Joseph Schumpeter que trabalharemos a seguir, o conceito de empreendedor e a sua capacidade de inovar é tratado de forma mais clara, além de surgir agora a figura do empreendedor interno ou intraempreendedor, que será trabalhado na aula 4.

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EMPREENDEDORISMO

O EMPREENDEDORIMO POR SCHUMPETER Falar em empreendedorismo sem falar no cavalheiro é cometer um pecado grave. Joseph Alois Schumpeter foi um economista nascido na região da Moravia, antigo território do Império austrohúngaro, hoje República Tcheca, no ano de 1883. Segundo Brue (2006), durante a Segunda Guerra Mundial Schumpeter foi um pacifista e, mesmo sendo austríaco, nunca fez segredos dos seus sentimentos pró-britânicos e antigermânicos. Um dos pontos fundamentais no pensamento de Schumpeter é a teoria da “Destruição Criativa”. Para ele, o motor que impulsiona o progresso econômico é a inovação. É ela a responsável por renovar constantemente as estruturas do sistema capitalista com novas empresas, novos produtos, novas funções que substituem as antigas. Como a inovação não ocorre de forma totalmente organizada, estas novas es-truturas também produzem os ciclos de prosperidade e de depressão na economia. A força-motriz do progresso econômico é a inovação. Riqueza, prosperidade e desenvolvimento vêm da inovação e somente dela. Para Schumpeter, a inovação tem um significado preciso: é a substituição de formas antigas por formas novas de produzir e consumir. Produtos novos, processos novos, modelos de negócios novos. Essa substituição é permanente, e ele a chamou de “destruição criativa” – expressão muito utilizada atualmente. É este processo faz o sistema capitalista ser o melhor que existe para gerar riqueza e pro-duzir crescimento econômico. O que Einstein chamou de “anarquia do sistema capitalista” é exatamente sua força. Segundo Schumpeter, sem “destruição criativa” não há riqueza. (MENDES, 2009, p.11).

A inovação para ele era muito mais do que a pura invenção, pois, se não uti-lizada, a invenção não será nada mais que uma boa ideia sem uso. Uma invenção se torna uma inovação somente quando ela é coloca em produção e comercializada no mercado. Sem ela, a economia estaria constantemente em um equilíbrio nocivo, pois os fluxos de mercadorias e de dinheiro seguiriam os mesmos caminhos ano após ano. O lucro e os juros acabariam e o acúmulo de riqueza cessaria. Vivemos diariamente alguns exemplos desse movimento. Você já se perguntou, nos últimos anos, quantas profissões estão desaparecendo e quantas estão surgindo? Quantos de nós conhecemos alguém que exerce a profissão de lambe-lambe ou de cobrador de bonde atualmente? Podemos citar uma série de profissões que há pouco mais de vinte anos eram encontradas na sociedade e que hoje em dia estão total-mente ou praticamente extintas, como: chapeleiro, datilógrafo, perfurador de cartões de computador e muitas outras. Ao mesmo tempo, uma série de novas profissões surge a cada dia, nas mais diversas áreas do conhecimento. Quem um dia imaginou se formar em uma faculdade de Design de Jogos ou ser um webdesigner, termo ainda desconhecido de boa parte da população? No centro de todo este processo estão os empreendedores. Eles são os agentes da inovação, responsáveis por todo o desenvolvimento do sistema. Para Schumpeter (1988), são as pessoas, não os governos, as instituições e os partidos que são força-motriz da economia. Por causa da “destruição criativa”, homens de negócios prósperos pisam num terreno que está permanentemente “se esfarelando embaixo de seus pés”. A instabilidade, o nãoequilíbrio, a desigualdade e a turbulência são inevitáveis – o preço a pagar pelo progresso. (MENDES, 2009, p. 11).

Qualquer dirigente ou gerente de uma empresa pode se considerar um empreendedor somente se estiver, constantemente, pondo novas ideias em prática. O mesmo ocorre com os capitalistas, que são os indivíduos responsáveis por correr o risco do negócio.

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AULA 2 - A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE EMPREENDEDORISMO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O MUNDO DOS NEGÓCIOS

Para Schumpeter (1988), os empreendedores devem ter apenas ligações temporárias com as empresas, mas sempre sendo os primeiros na criação e introdução, seja de novos produtos, novos processos ou novas formas de organização no mercado. São aqueles indivíduos que aproveitam qualquer boa oportunidade que muitas vezes não são percebidas por outras pessoas ou mesmo criam oportunidades por meio da imaginação e ousadia. De acordo com Brue (2006), os empreendedores tiram a economia do processo nocivo de equilíbrio descrito anteriormente ao buscar o lucro pela inovação, transformando este panorama estático em um dinâmico. Todo este processo gera uma série de ciclos na economia, de alta e de baixa, fazendo com que a renovação seja constante, já que a cada instabilidade todo o sistema luta para entrar em um novo equilíbrio. Na aula seguinte, trabalharemos o perfil desse agente fundamental no desen-volvimento econômico, principalmente as características, as virtudes e os valores.

O EMPREENDEDORISMO POR PETER DRUCKER Assim como Schumpeter, outro nome que não podemos deixar de mencionar quando falamos em empreendedorismo é o de Peter Drucker (1909-2005). Também nascido na Áustria, filho de um membro do alto escalão do governo com uma médica, Drucker estudou na Universidade de Frankfurt obtendo Doutorado em Direito Internacional e Direito Público. Teve como grande influência o próprio Schumpeter, de quem seu pai era muito amigo. Assim como Schumpeter, Drucker creditava à inovação a responsabilidade de gerar riqueza e recurso. Os empreendedores inovam. A inovação é o instrumento específico do espírito empreendedor. É o ato que contempla os recursos com a nova capacidade de criar riqueza. A inovação, de fato, cria recursos. Não existe algo chamado de ”recurso” até que o homem encontre um uso para alguma coisa. (DRUCKER, 2002, p. 39).

A figura do empreendedor nesse processo é fundamental, pois ele não se contenta em apenas melhorar o que já existe, e sim em buscar a criação de novos diferentes e valores. Esta criação de valor se dá pela transformação de materiais em recursos ou mesmo na combinação de recursos existentes em uma nova ou mais produtiva configuração. No quadro abaixo, temos as principais ideias de Drucker a respeito da inovação e do papel do empreendedor na economia. Empreendedores procuram por mudanças. Olhe para cada janela e pergunte-se: “Isso poderia ser uma oportunidade?”. Não perca algo somente porque não faz parte de seu planejamento. O inesperado é frequentemente a melhor fonte de inovação. Nada fracassa tanto quanto o sucesso. Você deve sempre se perguntar: ”Se eu já não estivesse nesse negócio, eu ingressaria nele hoje?”. O abandono de negócios e práticas deve ser exercido sistematicamente. Você pode estabelecer, por exemplo, que haverá uma reunião de abandono toda primeira segunda-feira do mês. Ideias são como bebês: nascem pequenas, imaturas, sem forma. São mais promessas do que realizações. Por isso, o executivo da organização inovadora não diz: “Que ideia fantástica”. Ele pergunta: “O que é preciso fazer para transformar essa ideia em uma oportunidade?”. O executivo da organização inovadora sabe que muitas ideias acabam se mostrando sem sentido e que é preciso correr riscos para converter uma pequena ideia em uma grande inovação.

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EMPREENDEDORISMO

Da mesma forma que empreendimento exige administração empreendedora, isto é, praticas e diretrizes dentro da empresa, também exige praticas e diretrizes exteriores no mercado. Ele requer estratégia empreendedora. A inovação é o instrumento específico dos empreendedores, o meio pelo qual eles exploram a mudança como oportunidade para um negocio diferente ou um serviço diferente. Ela pode ser apresentada como uma disciplina, ser aprendida e praticada. Os empreendedores precisam buscar com propósito deliberado, as fontes de inovação, as mudanças e seus sintomas que indicam oportunidades para que uma inovação tenha êxito. Os empreendedores precisam conhecer e por em pratica os princípios da inovação bem-sucedida. Empreender é uma iniciativa “arriscada”, principalmente porque tão poucos dos assim chamados empreendedores sabem o que estão fazendo. Falta a eles metodologia. Eles violam regras elementares e bem conhecidas. Isso é especialmente verdadeiro no caso dos empreendedores de alta tecnologia. A inovação baseada no conhecimento é a “superestrela” do espírito empreendedor. Ela ganha a publicidade. Ela ganha o dinheiro. Ela é o que as pessoas normalmente querem dizer quando falam sobre inovação. Naturalmente, nem toda inovação baseada em conhecimento é importante. Algumas são verdadeiramente triviais, mas dentre as inovações que fizeram história, as inovações baseadas em conhecimento se sobressaem bastante. Inovações baseadas em uma ideia brilhante provavelmente são mais numerosas do que todas as demais categorias. No entanto, ideias brilhantes são as mais arriscadas e as e as menos bem-sucedidas fontes de oportunidade inovadoras. Quadro 2 - O empreendedorismo por Peter Drucker (continua). Fonte: (MENDES, 2009, p. 12-13).

Observe a importância que Drucker dá ao papel da inovação, especialmente a baseada em conhecimento. Este tipo de inovação é o resultado do monitoramento contínuo do ambiente no qual o empreendedor está inserido. Na aula 6 deste módulo, trabalharemos os aspectos que devemos observar na nossa realidade a fim de iden-tificar as oportunidades de negócios no nosso ambiente. São essas observações que ajudam a formular esse conhecimento, parte integrante do espírito empreendedor.

SÍNTESE Nessa aula, estudamos a evolução dos conceitos do empreendedorismo desde a Idade Média até os nossos dias. De forma mais aprofundada, vimos dois dos principais teóricos do assunto, Joseph Schumpeter e Peter Drucker. A importância da inovação é trabalhada pelos dois como sendo a grande responsável pelo sucesso nos negócios, bem como a força-motriz do desenvolvimento de toda a economia.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Tomando com base o conceito de “destruição criativa de Schumpeter”, aponte algumas profissões que não existem mais e algumas novas e curiosas que evidenciem esse processo no qual novas estruturas substituem as antigas na economia.

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AULA 2 - A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE EMPREENDEDORISMO E SUA IMPORTÂNCIA PARA O MUNDO DOS NEGÓCIOS

LEITURA INDICADA MENDES, J. Manual do empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009.

SITES INDICADOS Pensamento Econômico. Disponível em: <www.pensamentoeconomico.ecn.br> The Drucker Institute. Disponível em: <www.druckerinstitute.com>

REFERÊNCIAS BRUE, S. L. História do pensamento econômico. São Paulo: Thomson Learning, 2006. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. DRUCKER, P. F. Inovação e espírito empreendedor (entrepreneurship): práticas e princípios. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. MENDES, J. Manual do empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009. SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. 3. São Paulo: Nova Cultural, 1988.

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AULA 3 O Espírito Empreendedor: Características, Vantagens e Desvantagens de ser Empreendedor Autora: Carolina de Andrade Spinola

O

“Todo homem é um empreendedor de si mesmo.” Oriovisto Guimarães, Fundador e Presidente do Grupo Positivo.

lá! Agora que estamos iniciando o nosso terceiro encontro e que os conceitos sobre empreendedorismo já foram abordados nas aulas anteriores, vamos seguir nossa trajetória desvendando o perfil desse agente de mudanças que é o empreendedor.

Quais as suas características? É possível desenvolver o perfil empreendedor? Que habilidades e competências devem ser priorizadas para obter sucesso como empreendedor? Por outro lado, a decisão de se tornar um empreendedor pode não ser muito fácil e, embora traga momentos de autorrealização, pode também trazer uma série de custos pessoais. Estes são os temas que abordaremos nessa aula. Desejamos que ela sirva de provocação para que você pense sobre o seu futuro e sobre as suas possibilidades de sucesso como empreendedor. No final da aula lhe faremos um convite especial!


EMPREENDEDORISMO

PERFIL EMPREENDEDOR O que é um empreendedor? Como podemos classificar uma pessoa como empreendedora? Como saber se você tem aquele perfil inquieto, aquele espírito que move o indivíduo sem tréguas em busca da realização de um sonho? Evidentemente, e já discutimos isso em nossa primeira aula, nem todas as pessoas são empreendedoras. E nem se espera que isso aconteça. O empreendedor necessita formar equipes, liderar, esquematizar, definir táticas e estratégias, e, sobretudo dar uma direção. Se todas as pessoas de uma determinada equipe forem empreendedoras, a empresa terá grande probabilidade de não dar certo. Desta forma, a característica empreendora está associada à criação, à realização de novos projetos, à inovação. A maioria das atividades profissionais, entretanto, requer a execução de tarefas rotineiras, tais como a emissão de notas fiscais, o transporte de mercadorias, o inventário de estoques, o atendimento ao consumidor, seja em um call center, seja em um balcão de loja, ou mesmo no atendimento de um paciente em uma clínica ou na representação de um cliente em uma querela judicial. Estas pessoas não devem e não podem inventar atividades todos os dias, pois o andamento de inúmeras atividades humanas requer a execução de rotinas. Muitas pessoas, a maioria até, precisa da rotina, de uma rotina diária, com horá-rio certo para começar e terminar o dia de trabalho, com dia certo para o recebimento do salário, férias determinadas e uma perspectiva de ganho salarial na medida em que seja promovida na empresa ou consiga obter resultados para ela. A maioria das pes-soas necessita ter apenas a certeza do dia do recebimento do salário, sem se importar, muitas vezes, em como a empresa auferiu recursos para remunerá-la. Muitas dessas pessoas, e até mesmo alguns de vocês, que estão lendo este texto agora, sonham com o emprego público, que seduz, sobretudo, aqueles que necessitam de estabilidade e de uma extrema previsibilidade. O empreendedorismo é para aqueles que estão dispostos a lidar com o impre-visto, com o risco e, de certa forma, com uma vida de aventuras. Entender o que não é empreendedorismo também ajuda a determinar o perfil do empreendedor. No Brasil, existe uma massa de trabalhadores que, por falta de opção de emprego, rumam para o negócio informal1. Dentre estes, haverá empreendedores legítimos, mas ter um negócio próprio, por falta de opção, não torna ninguém um empreendedor, vide a igualmente grande quantidade de iniciativas empresariais que não dão certo. Costuma-se confundir empreendedorismo com falta de oportunidade, principalmente em um país como o Brasil. O ambiente de negócios no Brasil também não é favorável para estimular o empreendedorismo. De acordo com a edição de 2010 do relatório “Doing Business” do Banco Mundial, a posição de nosso País no ranking internacional que avalia a qua-lidade das condições empresariais de 183 países foi a 129ª em 2009, atrás da Nigéria (125ª), Bangladesh (119ª), Etiópia (111ª) e Zâmbia (90º). Mesmo dentro da América do Sul, o Brasil só ficou à frente da Venezuela (177ª), Bolívia (161ª) e Equador (138ª). (BANCO MUNDIAL, 2009). À dificuldade estrutural para empreender no Brasil alia-se a um estado cultural da sociedade. No Brasil – e isto é algo que vem mudando com o estímulo ao empreendedorismo que vem sendo dado por instituições de ensino superior, pelo Governo e pelo terceiro setor -, as pessoas cursam a universidade

1 No sentido de negócios não legalizados. As pessoas que empreendem forçadas por um motivo externo, como a perda do emprego, são classificadas como “empreendedores por necessidade”.

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AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR

no intuito de “arrumar um emprego”, quando se formarem. Nos Estados Unidos, as pessoas sonham em fundar o próprio negócio ou participar de algo inovador. Ainda assim, o Brasil é um país de empreendedores. O Brasil ocupou a 13ª posição no ranking mundial de empreendedorismo em 2008. O Relatório Empreendedorismo no Brasil (GEM, 2009) calcula que a Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA) brasileira foi de 12,02 no mesmo ano, o que significa, segundo os autores da pesquisa, que de cada 100 brasileiros, 12 realizavam alguma atividade empreendedora naquele ano. Como explicar esse paradoxo? Em um ambiente destes, a atratividade da atividade burocrática estatal deveria ser total, mas não o é. Eis que neste momento aparece a questão do perfil empreendedor. As pessoas empreendedoras o serão em qualquer regime e circunstância. Em um ambiente de negócios mais apropriado, os resultados serão muito melhores do que em uma sociedade que estrangula a atividade privada, contudo, o espírito empreendedor será sempre o mesmo, independentemente da época, país ou regime. Independentemente do contexto, então, deve existir um espírito empreendedor de caráter universal e atemporal. A primeira qualidade do empreendedor, antes de todas as demais, deve ser a afeição ao risco, seja ele o risco de ousar, inventar, propor algo diferente, apostar numa ideia, agarrar o sonho. O empreendedor deve ser em primeiro lugar, um especulador – no bom sentido da palavra –, um jogador, um apostador. Para obter sucesso, o empreendedor deve ser perseverante e otimista, princi-palmente em um ambiente de negócios desfavorável. Apostar seus próprios recursos, estar disposto ao sacrifício e lidar com as incertezas exigem estas duas qualidades. Não existe negócio que dê retorno imediato, sobretudo se for inovador, e haverá momentos de muita dificuldade. O otimismo, nestes casos, tornase essencial para que o negócio prospere e não naufrague nos momentos de dificuldades. Empreendedores também gostam da independência, de seguir seus instintos e não necessitam de ninguém para dizer-lhes o que fazer. Preferem a incerteza a traba-lhar para os outros, ainda que isto signifique trabalhar muito mais e, por muitas vezes, ganhar muito menos, até colher os frutos do seu investimento. Não é tarefa simples determinar o perfil do empreendedor. Até porque o com-portamento das pessoas não pode ser homogeneizado e rotulado. Ademais, dificilmente uma pessoa conseguirá reunir todas as características listadas. Todavia, a possibilidade de adquirir ou moldar um comportamento está aberta a todas as pessoas que desejam um melhor desempenho profissional. Portanto, o que se pode propor é um conjunto de habilidades e competências que confiram ao seu portador maiores condições de sucesso como empreendedor. Cada autor ou entidade que trabalha com o tema tem a seu próprio rol de características desejáveis. Vamos, aqui, reunir aquelas que compreendemos serem mais aceitas e presentes na bibliografia consultada, de acordo com o quadro 1 abaixo: VISIONÁRIO

Sabe onde quer chegar. Tem a visão de como será o futuro para seu negócio e sua vida. Planeja cada etapa do seu empreendimento.

DECISOR COMPETENTE

Sabe tomar as decisões corretas na hora apropriada. Tem competência para separar as variáveis fundamentais para a resolução do problema daquelas que não têm importância.

DETERMINADO E DINÂMICO

É inconformado com a rotina. Faz com que as coisas aconteçam.

DEDICADO

Entende que o sucesso é fruto da dedicação constante. Abdica de momentos de lazer em nome do seu empreendimento.

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EMPREENDEDORISMO

OTIMISTA E ENTUSIASTA

É apaixonado pelo que faz. Trabalha em seu empreendimento por prazer e acredita no que faz.

INDEPENDENTE

Prefere se dedicar a um negócio próprio ao invés de trabalhar para outros e seguir ordens.

LÍDER E FORMADOR DE EQUIPES

Tem habilidade para trabalhar com pessoas, liderá-las e formar equipes coesas e colaborativas.

BEM-RELACIONADO ORGANIZADO

Deve saber construir uma rede de relacionamentos e tirar proveito dela. Sabe alocar corretamente os recursos que dispõe.

CURIOSO

Nunca está satisfeito com o que já aprendeu. Sempre está em busca de mais conhecimento. Orientado para “aprender a aprender”.

CRIATIVO

Busca novas maneiras de resolver problemas e enxerga oportunidades onde os outros não percebem.

ARROJADO

Assume riscos. Gosta de arriscar em suas decisões, de sair na frente dos outros.

PERSISTENTE

EXIGENTE

Não desanima face às adversidades. É perseverante e acredita em sua ideia. Não confundir essa característica com a teimosia, que seria a insistência em continuar em uma atividade que não tem futuro, apesar de todos os sinais. Perfeccionista e obcecado pela qualidade.

AUTOCONFIANTE

Acredita em seu julgamento e não se deixa abalar ou desencorajar facilmente.

INFLUENCIADOR

Tem grande capacidade de persuasão.

BOM OUVINTE

Sabe ouvir e está atento às informações trazidas por seus colaboradores.

INFORMADO

Busca estar sempre atualizado sobre tudo. Entende que todo tipo de informação é útil e enriquecedora.

Quadro 3 - Principais características desejáveis em um empreendedor. Fonte: Elaboração própria, baseado em Dornellas (2001), McClelland (1972 apud SILVA, 2008), Maximiano (2006).

A decisão de se tornar um empreendedor implica algumas consequências po-sitivas e negativas. Como vantagens oriundas dessa decisão, Maximiano (2006) cita a autonomia de poder tomar as suas próprias decisões; o sentimento de realização e o controle financeiro sobre os resultados obtidos. Como desvantagens, o autor lembra que esta decisão implica em uma alta dose de sacrifício pessoal em termos de jornada de trabalho; sobrecarga de responsabilidades em relação aos resultados e às decisões tomadas e a pressão por operar com pequenas margens de erro. Obviamente que o autor se refere ao empreendedor-empresário, posto que o empreendedorismo, enquanto processo pessoal de busca pelo aprimoramento profissional, não apresenta desvantagens, só contribui para o crescimento daqueles que o desenvolvem. Sobre esse tema, falaremos na próxima seção.

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AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR

DESENVOLVENDO UMA VISÃO E UMA MISSÃO PESSOAL “Toda grande caminhada começa sempre com o primeiro passo”, diz o provérbio chinês. Todavia, é fundamental saber para onde vamos caminhar. A maioria dos livros sobre empreendedorismo trata da visão e da missão do negócio no âmbito de um processo de planejamento estratégico. Queremos fazer diferente aqui. Vamos parar um pouco a aula para um momento de reflexão:

Você já se decidiu sobre o seu futuro? Já sabe o que deseja para sua vida profissional?

Caso ainda não esteja certo(a) ou não tenha parado para pensar no assunto, saiba que o momento está chegando. A maioria de vocês que está acompanhando este curso está no sexto período ou o que lhe equivalha. Em pouco tempo, estará no mercado, como um(a) profissional formado(a)... E aí? Ter uma visão de futuro significa antecipar mentalmente uma situação desejável. Você se vê um(a) empresário(a) de sucesso ou, ao menos, realizado(a) profissionalmente? Você se vê trabalhando para uma grande organização dentro da sua área de formação escolhida? Ou será que você se imagina como um(a) autônomo(a) e bem-sucedido(a) profissional liberal? ”Através da imaginação conseguimos visualizar os mundos possíveis potencialmente existentes dentro de nós” (COVEY, 1990). Em seguida, se pergunte: o que você tem feito para concretizar a sua visão de futuro? Tem aproveitado bem as matérias que se relacionam com a sua área de inte-resse? Frequentado congressos, seminários, palestras, workshops e similares que dis-cutam temas afetos à sua formação? Comprado livros e se inscrito em cursos de curta duração extrafaculdade? Procurou exercer alguma prática profissional, ainda que com baixa remuneração, mas que lhe desse experiência e contatos importantes? A visão serve para isso: indicar o destino, o ponto de chegada. Como um norte para as bússolas. De posse deste direcionamento, cabe a cada um de nós buscar os elementos necessários para ir ao seu encontro. Ser visionário é ser planejador. Qualquer pessoa possui desejos e necessidades insaciáveis sob pontos de vista diferentes. Poucos disciplinados alimentam os planos na mente, de forma estruturada, para atingir os seus objetivos. O que diferencia os realizadores dos expectadores é a disciplina empreendida para a realização a partir de uma ideia ou de um simples lampejo. Sem a visão e a consciência do planejamento, a direção tomada não faz a menor diferença. (MENDES, 2009, p.100).

Os empreendedores são realizadores por natureza e apresentam a incrível habi-lidade de projetar o futuro. Em diferentes níveis, as pessoas utilizam este mesmo prin-cípio em várias esferas de suas vidas pessoais: quando decidem casar, viajar de férias, comprar um bem e fechar um negócio. Mendes (2009) cita o exemplo de Salim Matar, fundador da Localiza Rent a Car para ilustrar o resultado de uma visão duradoura: Eu sempre senti vontade de ter um negócio próprio, mas não sabia qual. Quando trabalhava como office boy de uma empresa de Engenharia de Belo Horizonte para custear os meus estudos de Administração - que me preparariam para esse negócio -, o destino me apresentou o caminho. Essa empresa alugava carros esporadicamente em uma locadora local. Um dia, meu chefe pediu que levasse um cheque para pagar essa locadora e me ensinou a conferir o valor e os dados do recibo. Quando vi o valor do recibo, fiz automaticamente uma regra de três: se uma diária de aluguel de carro custa x, 365 diárias representam 365x de faturamento anual; é o melhor negócio do mundo! Naquele momento, decidi que abriria uma empresa daquelas para mim. (MATAR, 2006 apud MENDES, 2009, p. 110).

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EMPREENDEDORISMO

O exemplo colhido por Mendes (2009) é muito feliz para ilustrar o que estamos discutindo nesta aula. Perceba que Salim Matar tinha um objetivo, uma visão de futuro: ele se via proprietário de seu próprio negócio. Para isso, ingressou em um curso de Administração e, para possibilitar pagar esse curso que, segundo acreditava, o prepararia para realizar sua visão, trabalhava de office boy em uma construtora. Quando detectou a oportunidade de negócio, focou em sua concretização e hoje é dono da maior locadora de veículos da América Latina. Algumas organizações possuem o que se pode chamar de visões inspiradoras. Este é o caso da Natura, por exemplo, que foi construída de acordo com a filosofia de vida de seus fundadores. Atualmente, a visão da empresa é a sua visão de mundo e reflete, além dos seus valores, a segmentação de mercado que pretende alcançar e a dimensão futura de suas operações: A Natura, por seu comportamento empresarial, pela qualidade das relações que estabelece e por seus produtos e serviços, será uma marca de expressão mundial, identificada com a comunidade das pessoas que se comprometem com a construção de um mundo melhor através da melhor relação consigo mesmas, com o outro, com a natureza da qual fazem parte e com o todo. (NATURA, 2009).

Para Senge (1998), não há uma fórmula para encontrar a visão, mas orientações que devem ser observadas quanto ao seu conteúdo. Essas orientações foram inicialmente direcionadas para o ambiente organizacional, no entanto se adaptam perfeitamente à ótica do empreendedor: » » A visão deve retratar um estado futuro desejado. » » A visão deve ser de longo prazo. O que se entende por longo prazo varia de autor para autor e, no nosso caso, variará de indivíduo para indivíduo. O que ele quer dizer é que não se deve estabelecer uma visão para o fim do ano, mas para o fim de ciclo de nossas vidas. » » A visão deve ter uma descrição clara. Collins e Porras (1995) complementam que é essencial “pintar um quadro” do cenário futuro desejado. Para eles, a imagem propicia uma tangibilidade que as palavras não têm. » » A visão deve estar alinhada com os nossos valores centrais2. » » A visão deve ser inspiradora e impulsionadora. Para Senge (1998), o “gap” entre o estágio atual de nossas vidas e aquele desejável no futuro deve ser capaz de gerar uma energia criativa. » » A visão deve prover focalização e alinhamento e, com isso, direcionar todos os esforços da pessoa. » » A visão deve confrontar padrões atuais. O estabelecimento de uma visão implica em vislumbrar uma situação além das nossas capacidades atuais. E quais as semelhanças e diferenças entre a visão pessoal e a visão organizacional? Collins e Porras (1995) propõem um quadro comparativo entre estas duas dimensões, listando as perguntas fundamentais para a sua determinação:

Visão Empresarial 1) O que queremos ser? 2) Qual a força que nos impulsiona para esta situação? 3) Quais os nossos valores básicos? 4) O que fazemos melhor e nos diferencia dos concorrentes? 5) Quais as barreiras que podem surgir no processo evolutivo de mudança? 6) Quais as expectativas do mercado que estaremos atendendo? 7) Como conseguir a adesão dos colaboradores, executivos e proprietários da empresa para consolidar uma visão? 8) Qual a expectativa de sobrevivência da empresa com a visão construída? 2  Originalmente, os autores formularam essa orientação como sendo: “A visão deve estar alinhada com os valores centrais da organização”.

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AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR

Visão Pessoal 1) O que eu quero ser? 2) Qual a motivação (vocação) que me impulsiona para o futuro? 3) Quais os meus valores essenciais? 4) O que posso fazer melhor para agregar valor às vidas das pessoas? 5) Quais as habilidades, valores e virtudes que devo adotar para atingi-las? 6) Quais as expectativas e as necessidades do público que desejo atender? 7) A quem eu devo recorrer para me ajudar a construir e consolidar uma visão de futuro duradoura? 8) É isso que eu gostaria de fazer durante a minha jornada na terra? quando você descobre a sua natureza essencial, quando sabe quem realmente é, encontra toda a sua potencialidade. É no conhecer-se que reside a capacidade de realização de todos os sonhos, porque você mesmo representa a possibilidade eterna, a imensurável potencialidade de tudo o que foi e poderá vir a ser. (CHOPRA, 1994, p. 15).

Mas para alcançar a visão estabelecida e até mesmo para saber se ela foi determinada corretamente, é preciso que o indivíduo se conheça profundamente, saiba quais os seus valores, a razão da sua existência. As palavras de Deepak Chopra (1994) fazem um elo entre a visão e a missão pessoal. Pensando nisso, alguma vez você já perguntou o motivo pelo qual veio ao mundo? Será que você existe apenas por existir e acorda todos os dias apenas para esperar o momento de dormir novamente? Pois bem, a razão mais profunda de nossa existência, aquela que está relacionada com as nossas aptidões e com as coisas que nos trazem realização pessoal, é a que podemos chamar de missão. No campo da Administração, a missão de uma organização também é definida assim: a razão de sua existência (AT&T, 1992; COLLINS; UGE, 1993; JOHNSTON; DANIEL, 1993; SENGE et al., 1994; HUNGER; WHEELEN, 1995; BABICH, 1996 apud COLLINS; PORRAS, 1995). Segundo os mesmos autores, para concebê-la adequadamente, deve-se imaginar o seu propósito básico e os valores que nortearão a sua trajetória. Veja os exemplos abaixo: Missão de O Boticário: contribuir para um mundo mais belo. Missão do Grupo Pão de Açúcar: garantir a melhor experiência de compra para todos os nossos clientes, em cada uma das nossas lojas. Missão da Gol: popularizar o transporte na América Latina. Missão da Tecnisa: ser, em cada detalhe, mais construtora por metro quadrado. Missão da Natura: criar e comercializar produtos e serviços que promovam o bem-estar/estar bem. Bem-estar é a relação harmoniosa, agradável do indivíduo consigo mesmo, com seu corpo. Estar bem é a relação empática, bem-sucedida, prazerosa do indivíduo com o outro, com a natureza da qual faz parte e com o todo. Fonte: (HOMEPAGES INSTITUCIONAIS).

A missão é um caminho para se alcançar a visão. Enquanto a visão nos direciona para o futuro, a declaração de missão nos posiciona em relação a questões mais profundas e intimas. Ela se torna o critério pelo qual o empreendedor passa a medir tudo em sua vida, e, de posse desta compreensão, coloca-se a trabalhar. Conhecendo mais sobre nós mesmos, teremos melhores condições de idealizar um cenário futuro desejável.

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EMPREENDEDORISMO

Um exemplo de missão pessoal descoberta tardiamente e levada a sério é o de Mauricio de Sousa. Mendes (2009, p.148-149) relata que para ajudar no orçamento doméstico, ele desenhava pôsteres e cartazes para o comércio de uma pequena cidade do interior de São Paulo. Chegou a fazer ilustrações para os jornais de Mogi das Cruzes, mas para desenvolver a técnica, a arte e para não deixar morrer o seu sonho de ser um cartunista renomado, procurou os grandes centros, onde editoras e jornais pudessem se interessar pelo seu trabalho. Durante cinco anos, Mauricio atuou em reportagens policiais, até o dia em que decidiu entre o dinheiro e a arte e, a partir da decisão, sua missão pessoal passou a ser construída. Depois de criar personagens como Cebolinha, Mônica, Magali, Cascão, Franjinha, Chico Bento e o cãozinho Bidu, a trajetória empresarial de Mauricio de Sousa tornou-se um exemplo de empreendedorismo através do licenciamento da marca e de parques temáticos. (MENDES, 2009, p.148-149).

Tanto a missão como a visão pessoal são de extrema importância para o sucesso profissional de cada indivíduo, independentemente do seu nível de empreendedorismo. Para finalizar esta seção, o quadro abaixo resume as principais diferenças entre a missão e a visão pessoal. VISÃO

MISSÃO

É o que se sonha para o futuro

É a identificação da vocação, da razão de existir

Para onde vou?

Onde estou?

Passaporte para o futuro

Carteira de Identidade

Inspiradora

Motivadora Quadro 4 - Principais diferenças entre visão e missão pessoal. Fonte: Adaptado de Mendes, 2009.

O LÍDER EMPREENDEDOR Quando analisamos o perfil do empreendedor na primeira seção dessa aula, observamos que dentre as características consideradas desejáveis estava a capacidade de liderar equipes. De maneira indireta, outras características citadas também fazem alusão à figura do líder: poder de persuasão, autoconfiança, determinação e capacidade para tomar decisões. Todavia, muitos empreendedores com excelente iniciativa fracassam quando se veem obrigados a liderar pessoas e trabalhar em equipe. Da mesma forma, excepcionais líderes podem se constituir em péssimos empreendedores. Os fundamentos e princípios da liderança têm sido ensinados, e, a despeito de algumas características dos líderes serem inatas, é sempre possível desenvolver um pouco mais essa habilidade. Dificilmente um empreendedor terá sucesso sem conse-guir liderar equipes. Para Peter Drucker (2006): O mais importante é que os executivos tenham em mente o seguin-te: são as pessoas que realizam o trabalho, não é o dinheiro, não é a tecnologia. Portanto, a principal tarefa do executivo - eu diria “seu principal desafio” é tornar as pessoas produtivas. Isso vai ser um desafio ainda maior com o passar dos tempos, pois os trabalhadores do conhecimento não se veem como empregados, e sim como parceiros das empresas. (DRUCKER, 2006, p. 21).

O líder empreendedor deve desenvolver condições e ferramentas para despertar as habilidades de seus colaboradores. Goleman (2007) descreve algumas ações que considera necessárias para desenvolver a habilidade dos colaboradores, dentre elas destacamos:

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AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR

1) Aquisição - Atração de novos talentos para a organização. 2) Construção - Desenvolvimento contínuo da equipe, empowerment3. 3) Benchmarking - Adoção em sua organização das melhores técnicas de gestão de pessoas do mercado. 4) Busca de Recursos - Parcerias com consultores, vendedores, clientes e fornecedores da organização para reunir novas ideias. 5) Cuidado com o Feedback - Críticas em particular e elogios em público. O líder empreendedor não gerencia pessoas, lidera pessoas. Mendes (2009, p. 60) destaca que “líderes de fato lideram pelo exemplo e pela energia que empreendem em uma determinada missão”.

O EMPREENDEDOR RESPONSÁVEL Entende-se por empreendedor responsável aquele que concebe as implicações de sua atuação profissional em pelo menos três importantes dimensões: a social, a ambiental e a econômica. E aqui não estamos nos referindo aos empresários, apenas. Qualquer empreendedor, nos dias de hoje, deve entender e avaliar as consequências das suas decisões para o meio que o circunda. Hoje, os empreendedores responsáveis são vistos de maneira diferente no mercado. Mas nem sempre foi assim. A tradição cultural brasileira, e a própria história econômica de nosso país, calcada nos modelos de exploração dos recursos naturais e humanos, construíram, ao longo do tempo, uma imagem negativa do empresariado, o que terminava por atingir os novos empreendedores. Uma história recheada de casos de usos e abusos de recursos públicos e longa tradição de exploração de trabalhadores, seja em canaviais seja em empreendimentos insalubres, ainda em anos recentes vem valorizar ainda mais a importância e a urgência da questão do empreendedorismo responsável. Torres (2009) calcula que, apenas a partir do final da década de 80, uma peque-na parcela das empresas brasileiras passaram a incorporar práticas relacionadas com uma preocupação socioambiental. Os anos 90 marcaram o surgimento de importan-tes fundações, institutos e organizações da sociedade civil ligadas ao meio empresarial e defensoras de um modelo de operação mais ético e correto. Dentre estas organiza-ções pioneiras, podem ser citadas o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas - Gife4 (1995), a Fundação Abrinq pelos Direitos das Crianças5 (1990) e o Instituto Ethos de Responsabilidade Social (1998)6. A modernização das comunicações, com o advento da internet e da propagação das redes sociais, também tende a estimular este processo em pelo menos duas maneiras: aproximando a questão da responsabilidade do empreendedor brasileiro com as práticas adotadas em países mais desenvolvidos; dando publicidade à atuação da empresa, denunciando condutas irregulares e publicizando suas ações positivas. Um exemplo emblemático dessa argumentação foi o escândalo envolvendo a multinacional Nike em 2001, acusada de ser conivente com o trabalho infantil em fábricas do Camboja e Paquistão e de pagar 3  Termo em inglês que, traduzido livremente, significa “empoderamento”. Trata-se da delegação de poder, autonomia e autoridade para os colaboradores da organização. 4  O GIFE gerencia uma rede que reúne 112 empresas, institutos e fundações de origem privada que praticam investimentos socioambientais. 5 Instituição sem fins lucrativos com o objetivo de mobilizar a sociedade para questões relacionadas aos direitos da infância e da adolescência. 6  Organização sem fins lucrativos, com 1.380 associados, que tem como objetivo mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma sustentável.

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EMPREENDEDORISMO

salários “indecentes” a seus colaboradores de países subdesenvolvidos. As desculpas apresentadas pelos dirigentes da empresa não foram suficientes para convencer a opinião pública e algumas organizações defensoras dos direitos humanos. Um site de monitoramento, chamado Oxfam´s Nike Watch, foi criado para acompanhar a conduta da Companhia. Embora tais práticas fossem comuns no passado e de fato propiciaram lucros extraordinários para os empreendedores de uma determinada época, a estrutura de comunicação hoje vigente não as admite mais. A responsabilidade social do empreendedor é definida por Oded Grajew (1999), idealizador e fundador do Instituto Ethos, como: [...] uma forma de gestão empresarial que envolve a ética em todas as atitudes. Significa fazer todas as atividades da empresa e promover todas as relações - com os seus funcionários, fornecedores, clientes, o mercado, o governo, o meio ambiente e a comunidade - de uma forma socialmente responsável. Ética não é discurso, é o que se traduz em ação concreta. Na hora de escolher um produto, um processo de fabricação, uma política de recursos humanos, o que fazer com o lucro da empresa; qualquer decisão deve ser pautada por estes valores. (GRAJEW, 1999, p. 84).

Há muito o empreendedorismo responsável se tornou, antes de tudo, uma questão de sobrevivência, visto que é cada vez mais difícil lucrar, ou, pelo menos, passar despercebido, com práticas irresponsáveis ou até mesmo criminosas. Robbins e Coulter (1998 apud TORRES, 2009) citam uma pesquisa realizada com aproximadamente dois mil consumidores norte-americanos, em que mais de 65% dos entrevistados afirmaram que trocariam a marca habitualmente consumida por outra em que o fabricante apoiasse uma causa em que eles acreditassem. Segundo mesma pesquisa, um terço dos entrevistados se dizia mais influenciado pelo ativismo social do que pela propaganda dos produtos. Campanhas de boicotes direcionadas a fabricantes que utilizam testes com animais ou matériasprimas consideradas inadequadas são cada dia mais comuns. Por outro lado, as boas práticas também têm se multiplicado. O Instituto Ethos tem um banco de dados que reúne casos de sucesso relacionados com a preservação do meio-ambiente, redução da desigualdade social, relacionamento com fornecedores, consumidores, comunidade, governo e sociedade, dentre outros temas. No quadro abaixo, estão listados alguns programas e projetos de destaque, dentre os mais de duzentos compilados no site. Vale a pena dar uma conferida: Fundação O Boticário de Proteção à Natureza

Fundo de Apoio a Projetos de Ecodesenvolvimento Programa Áreas Naturais Protegidas Programa Educação e Mobilização

Itaú S.A.

Programa Itaú Social

McDonald´s

Campanha McDia Feliz

COELBA

Projeto Agente Coelba em Comunidades Populares

Mundo Verde

Movimento por um Mundo Verde Melhor

Phillips

Programa Aprendendo com a Natureza

IBM Brasil

Programa e-Voluntários

Motorola

Projeto Papyrus

Souza Cruz

Programa Clube da Árvore

Natura

Programa de Apoio a Projetos Sociais

Quadro 5 - Organizações e práticas de responsabilidade socioambiental. Fonte: Instituto ETHOS, 2009.

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AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR

A propagação da ideia do empreendedorismo responsável originou uma variante com o conceito: o empreendedorismo social. Diz-se que alguém é um empreendedor social quando as suas ações têm foco na busca de soluções para problemas sociais, na mudança de comportamentos e atitudes que ocasionem em melhores condições de vida para toda a sociedade. [...] os empreendedores sociais têm o papel de agentes de mudan-ças no setor social por: adotar uma missão de gerar e manter valor social (não apenas valor privado); reconhecer e buscar implacavel-mente novas oportunidades para servir tal missão; engajar-se num processo de inovação, adaptação e aprendizado contínuo; agir de modo arrojado sem se limitar pelos recursos disponíveis; e exibir um elevado senso de transparência para com seus parceiros e público e pelos resultados obtidos. (DEES, 1998, p. 1).

Reforçando a importância que este tipo de empreendedor tem conquistado na sociedade moderna, a Fundação Schwab, com sede na Suíça, promove o Prêmio Empreendedor Social, presente em mais de 20 países. No Brasil, ele é realizado anualmente em parceria com o jornal Folha de São Paulo e tem por objetivo: Identificar líderes de cooperativas, ONGs, empresas sociais (do setor privado e que distribuem o lucro em benefício da sociedade) e pessoas físicas que desenvolveram iniciativas inovadoras e sustentáveis para benefício da coletividade. (EMPREENDEDOR SOCIAL, 2009).

Dentre os vencedores das diversas edições do concurso, entre padres chilenos que constroem casas de madeira para populações carentes, projetos de permacultura e de utilização de papel reciclado para reinserção de portadores de problemas psíquicos (veja quadro abaixo), está Ismael Ferreira, um baiano de Valente, que ganhou o prêmio pela sua contribuição para o desenvolvimento de sua região: Ismael fundou a Associação de Desenvolvimento Susten-tável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb) - uma cooperativa criada em 1980, que emprega mais de 900 pessoas e comercializa tapetes e carpetes para a Europa a partir da fibra de sisal produzida por cerca de 1.200 agricultores. Ele também construiu uma escola familiar agrícola, na qual meninos da zona rural passam uma semana, em tempo integral, aprendendo teoria e prática da agricultura e pecuária do semiárido, e outra em casa, ensinando o que aprenderam aos pais. Mas ele fez mais pela cidade de Valente: Ismael também produz queijo e iogurte a partir do leite de cabra de 200 produtores da região. Reflorestamento com plantas nativas da região, combate à seca com a construção de cisternas, microcrédito para pequenos investidores, internet gratuita e um supermercado, em que os produtos são vendidos a preços pouco acima do de custo, também são outras invenções de Ismael.(EMPREENDEDOR SOCIAL, 2009).

O empreendedorismo social está presente em todas as áreas de atuação e campos do conhecimento. Para ilustrar este fato, observe no quadro abaixo a natureza dos projetos premiados pela Fundação Schwab e pela Folha de São Paulo nos últimos quatro anos7. NOME

FORMAÇÃO

ANO

ORGANIZAÇÃO

PROJETO

André Albuquerque

Advogado

2008

Terra Nova

Resolução de conflitos de terra

Rodrigo de Meéllo

Administrador

2008

Aliança Empreendedora

Metodologia de empreendedorismo sustentável para as classes C2/D/E

7  Para mais detalhes sobre os projetos e informações sobre outras iniciativas premiadas, acesse o link <http://www2.uol.com.br/empreendedorsocial/finalistas.shtml>.

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EMPREENDEDORISMO

NOME

FORMAÇÃO

ANO

ORGANIZAÇÃO

PROJETO Projeto que educa crianças com brincadeiras e bibliotecas ambulantes.

Tião Rocha

Educador

2007

Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD)

Vinicius Ferreira

Engenheiro Agrônomo

2007

Maria de Barro

ONG que transforma em parques ecológicos grandes áreas devastadas por erosão.

Turma do Bem

Fundador de grupo com 650 voluntários que atende gratuitamente crianças carentes

Casa da Criança

ONG que mobiliza 20 mil voluntários e 2.000 arquitetos e decoradores na reforma e na construção de abrigos, creches e casas de apoio a portadores de deficiências

2005

Papel de Gente

Utilização de papel reciclado na reinserção social de portadores de distúrbios psíquicos

2005

Projeto Saúde e Alegria

Idealizador de ONG que estimula a cidadania de mais de 140 comunidades extrativistas do Pará

Fábio Bibancos de Rosa

Dentista

Patricia Chalaça

Arquiteta

Eliana Tiezzi Nascimento

Psicóloga e Psicanalista

Eugenio Scannavino Netto

Médico

2006

2006

Bem, estamos chegando ao fim de nossa aula, mas antes de encerrarmos é necessário fazermos um link entre a temática do empreendedorismo responsável e do líder empreendedor com o perfil de habilidades e competências descrito na primeira seção. E, nesse caso, falaremos dos valores e das virtudes que são desejáveis em um indivíduo dotado de tanto poder de transformação. Para Mendes (2009), o empreendedor, em tudo o que faz, deve sempre estar em busca da felicidade, liberdade, plenitude, excelência, autonomia e do sentido de realização. Para o mesmo autor, virtudes tais como a honestidade, humildade, integridade, o respeito e a equanimidade, antes desprezadas hoje são embasamento para o sucesso dos empreendedores contemporâneos.

SÍNTESE O objetivo desse encontro foi o de estimular, em você, uma reflexão pessoal sobre o seu futuro profissional e sobre o que você pretende realizar na sua vida. Nesse processo, destacou-se a importância de se construir uma visão e uma missão pessoal. Foram apresentadas as características, os valores e as virtudes desejáveis em um em-preendedor e a necessidade do desenvolvimento de uma visão sócio-ambiental, quer seja no exercício da liderança ou num âmbito mais amplo, com repercussões na vida da comunidade.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO A reflexão que fica desse nosso encontro não poderia ser outra: com base em tudo o que foi discutido, na leitura complementar sugerida e no conhecimento que você tem a seu respeito, você se considera

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AULA 3 - O ESPÍRITO EMPREENDEDOR: CARACTERÍSTICAS, VANTAGENS E DESVANTAGENS DE SER EMPREENDEDOR

uma pessoa empreendedora? De que maneira você pode fazer a diferença no caminho que você escolheu seguir? Bem, lembra-se do convite que mencionei no início da aula? Pois é, preparamos uma atividade que dará uma ajudinha nesse exercício de autoanálise. É o jogo Oto-max, que você pode acessar no link contido no ambiente, que também estão descritos as instruções e o objetivo da atividade. Vai ser bem divertido. Bom proveito!!

LEITURAS INDICADAS BANCO MUNDIAL. Doing business 2010. Disponível em: <http://portugues. doingbusiness.org/>. Acesso em: 3 nov. 2009. GOLEMAN, D. Os grandes empreendedores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

SITES INDICADOS FUNDAÇÃO ABRINQ. Disponível em: <www.fundabrinq.org.br> FUNDAÇÃO O BOTICÁRIO. Disponível em: <http://internet.boticario.com.br> GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR (GEM). Disponível em: <http://www.gembrasil.org.br> GRUPO DE INSTITUTOS, FUNDAÇÕES E EMPRESAS (GIFE). Disponível em: <www.gife.org.br> INSTITUTO ETHOS. Disponível em: <www..ethos.org.br> PRÊMIO EMPREENDEDOR SOCIAL. Disponível em: <www2.uol.com.br/empreendedorsocial>

REFERÊNCIAS BANCO MUNDIAL. Doing business 2010. Disponível em: <http://portugues. doingbusiness.org/>. Acesso em: 3 nov. 2009. CHOPRA, D. As 7 leis espirituais do sucesso. 16. ed. São Paulo: Best Seller, 1994. COLLINS, J. C., PORRAS, J. I. Feitas para durar: práticas bem sucedidas de empresas visionárias. Rio de Janeiro: Rocco, 1995. DEES, J. G. O significado de empreendedorismo social. 1998. Disponível em: <www4.fe.uc.pt/cec/ significadoempreendedor.pdf>. Acesso em: 5 nov. 2009. DRUCKER, P. Árvores não crescem até o céu. HSM Management, jan-fev. 2006, p. 21. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR (GEM). Empreendedorismo no Brasil. Relatório global, 2008. GOLEMAN, D. Os grandes empreendedores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. GRAJEW, O. Entrevista. Revista Você S.A., ano 2. n. 15, set. 1999. MAXIMIANO, A. C.A. Administração para empreendedores: fundamentos da criação e da gestão de novos negócios. São Paulo: Pearson, 2006. 45


EMPREENDEDORISMO

MENDES, J. Manual o Empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009. NATURA. Homepage institucional. Disponível em: <http://www2.natura.net/Web /Br/Inst/ About/ src/In-dex.asp?about=visao> . Acesso em: 3 nov. 2009. SENGE, P. M. A Quinta Disciplina: arte e prática da organização de aprendizagem, 2. ed. São Paulo: Best Seller Círculo do Livro, 1998. SILVA, S.S. et al. Características comportamentais empreendedoras: um estudo comparativo entre empreendedores e intraempreendedores. Revista Cadernos de Administração, v. 1, n. 2, jul.-dez. 2008, p. 27-38. TORRES, C. Responsabilidade social das empresas. 2002. Disponivel em: <www.balancosocial.org.br/ media/ART_2002_RSE_Vertical.pdf>. Acesso em: 2 nov. 2009.

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AULA 4 O Empreendedor Corporativo Autora: Carolina de Andrade Spinola

S

“Existem três classes distintas de pessoas nas organizações: os sonhadores, os que participam do sonho e os burocratas”. Jurandir Mendes

eja bem-vindo(a) à nossa quarta aula!

Nesse encontro, discutiremos o papel do empreendedor interno, ou seja, do empreendedor que age dentro da organização em que trabalha. Analisaremos o perfil das organizações que fomentam este tipo de comportamento no Brasil e as principais barreiras, impostas por outras tantas, para que as boas ideias de seus colaboradores se transformem em oportunidades de negócios. Então, em qual destas situações se enquadra a empresa em que você trabalha?

O ESPÍRITO EMPREENDEDOR NAS ORGANIZAÇÕES A imagem mais comumente difundida do empreendedor está associada ao fundador de novas empresas. Conforme foi discutido na primeira aula desse curso, esta é uma visão restrita do tema e deve, em grande parte, ao fato de que o início dos estudos sobre empreendedorismo tenha acontecido em cursos de constituição de


EMPREENDEDORISMO

novos negócios (DRUCKER, 1987 apud MENDES, 2009). De fato, na bibliografia consultada sobre o tema para a elaboração desse curso, a ênfase dos trabalhos é totalmente voltada para o desenvolvimento dos planos de negócios, a discussão de outras temáticas relacionadas com o empreendedorismo ocupa, na melhor das hipóteses, um ou dois capítulos iniciais. Mas, além da criação de novas iniciativas empresariais, há o empreendedoris-mo que se manifesta no âmbito de organizações já estabelecidas, conhecido como empreendedorismo corporativo, interno ou intraempreendedorismo. O estudo do empreendedorismo interno é bem mais recente. Segundo Dornellas (2004), a referência mais antiga ao tema data da década de 80 do século passado, quando Gifford Pinchot publicou o livro “Intrapreneuring”1 em que apresentava o termo intrapreneurship pela primeira vez e destacava a importância desse processo para a obtenção de inovação por parte das empresas estabelecidas. Para Dornellas (2003), o empreendedorismo corporativo pode ser definido como [...] o processo pelo qual um indivíduo ou um grupo de indivíduos, associados a uma organização existente, criam uma nova organização ou instigam a renovação ou inovação dentro da organização existente.(DORNELLAS, 2003 apud COSTA; CERICATO; MELO, 2005, p. 5).

A definição de empreendedorismo corporativo pressupõe a existência de uma organização, e a atuação do indivíduo empreendedor em função dos interesses desta organização, quer seja criando novos negócios subsidiários, quer seja criando produtos, processos, tecnologias ou formas de gestão. O advento da competição global e o aumento na velocidade das mudanças do ambiente empresarial tornaram a inovação uma necessidade fundamental para a sobrevivência das organizações. Neste contexto, que se acelerou nos anos 90, cada vez mais a figura do executivo e do empreendedor interno deve se sobrepor. No mercado de trabalho atual, espera-se das pessoas, como uma qualidade distintiva e valorizada, a capacidade de idealizar e implementar projetos, processos e atividades que se convertam em resultados positivos. É importante ressaltar que o idealizador e o implementador podem não ser a mesma pessoa, e que, nessa nosta abordagem, o segundo ganha maior importância. Pinchot (1987, p. 1) explica a impor-tância do implementador fazendo uma analogia ao funcionamento das células: Imagine a organização como uma célula, com a área de Pesquisa e Desenvolvimento produzindo novos genes. Na célula, também há a capacidade produtiva dos ribossomos, que são como fábricas prontas para usar a informação nestes novos genes para produzir novos produtos. O que está faltando na maior parte das grandes organizações é a ligação entre as ideias e sua operacionalização, na analogia ao RNA. Na maioria das grandes organizações há excepcionais novos genes, novas tecnologias, mas nenhum sistema efetivo de transferência desta tecnologia. O que está faltando é um grande número de empreendedores internos, devotados em transformar novas tecnologias em negócios lucrativos [...]2. (Tradução própria) (PINCHOT, 1987, p. 1).

Para ele, o empreendedor é “o sonhador que faz”. Pinchot (1987) complementa, diferenciando a imaginação do inventor da do empreendedor interno: inventores olham cinco ou dez anos à frente e dizem: “Não seria maravilhoso se...”. Mas eles não imaginam, em detalhes, como chegar nesse 1  Intrapreneuring significa, em tradução livre, empreendedor interno. Intrapreneurship significa empreendedorismo interno. 2  “Imagine the organization as a Cell, with R&D producing new genes. In the cell, there are also the productive capacity of the ribosomes, which are like factories ready to use the information in those new genes to produce new products. What’s missing in most large organizations is linkage from idea to operation-by analogy the RNA. In most large organizations there are exciting new genes-new technologies but no broadly effective system of technology transfer. What is absent are large numbers of intrapreneurs devoted to turning new technologies into profitable new businesses, [...]”.

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AULA 4 - O EMPREENDEDOR CORPORATIVO

futuro desejado. Um empreendedor in-terno, por outro lado, tendo visto a “terra prometida” volta para o presente e assume todas as tarefas mundanas e práticas que podem transformar a ideia de um protótipo em um sucesso de mercado. E para isso também é necessária muita imaginação. Observe alguns exemplos de empreendedores internos a seguir: Gustavo Diament, 38 anos, VP de marketing da Nextel Dono de uma personalidade inquieta e questionadora, Gustavo Diament gosta de percorrer caminhos menos usuais. Criado em Higienópolis, bairro de classe média alta de São Paulo, cursou Engenharia de Alimentos em Viçosa e iniciou sua carreira na Unilever. Ali, deu os primeiros sinais de seu potencial empreendedor. Na época, ele propôs a criação de produtos para cabelos escuros. Pode parecer comum, mas ninguém tinha apostado nisso até então. Como argumento, usou uma pesquisa que mostrava a demanda pelos produtos. A linha foi criada e foi um sucesso. Quando saiu da Unilever, foi recrutado, em 2004, pela Diageo, fabricante de bebidas. De novo foi contra a corrente para convencer os chefes a investir numa campanha mais arrojada para o rum, que tinha um modelo de negócio mais conservador. “Cansei de ouvir ‘não’, mas por acreditar na ideia me sentia ainda mais estimulado”. Depois de um ano, veio a autorização para seguir em frente. O produto ganhou mercado rapidamente e passou a ser prioridade de investimento em 15 países. Há três meses, ele trocou o posto de VP de marketing para a categoria rum na Diageo em Londres, para assumir o marketing da Nextel em São Paulo. O que faz dele um intraempreendedor? A capacidade de visualizar cenários futuros e descobrir formas diferentes de atingir resultados. (DESENVOLVA..., 2009, p. 5).

Mauro Bentes Castella, 31 anos, gerente de TI da Lazam-MDS Eduardo Bom Ângelo, presidente da corretora de seguros Lazam-MDS, costuma dizer que o tecnólogo Mauro Bentes tem cabeça de dono - uma das características de um empreendedor corporativo. Há dois anos, Mauro observou que os computadores da empresa precisavam ser trocados, pois estavam obsoletos e tornavam as estações de trabalho desconfortáveis. Ele propôs o desenvolvimento de um computador pequeno,econômico e potente. Mauro projetou e negociou o preço com um parceiro e apresentou o projeto aos chefes. Este mês, a Lazam recebe 270 máquinas cuja CPU é 90% menor do que a convencional. Os novos computadores são mais silenciosos, emitem menos calor e vão reduzir 73% do consumo de energia por ano. (DESENVOLVA..., 2009, p. 5).

Letícia Torres, 30 anos, diretora de impostos da GE A administradora de empresas Letícia Torres tem algumas características que definem um bom empreendedor: senso de oportunidade, iniciativa e perseverança. Em 2006, depois de seis anos na Procter&Gamble, ela foi contratada como gerente de impostos na General Electric (GE). Seu objetivo é reduzir o peso dos impostos nos contratos da empresa. Mas quando ingressou na empresa, ela rapidamente notou que poucas áreas sabiam de seu trabalho. Como efeito, muitos acordos eram fechados sem que ela e sua equipe fossem consultadas. Em outras palavras, quando entrava em jogo era para apagar incêndios. Como boa empreendedora, ela viu na adversidade uma oportunidade e começou a desenhar, em 2007, com o time e o chefe um programa de 20 cursos. Sem recurso extra, ela cuidou da elaboração da grade de disciplinas, da preparação das aulas e estratégia de divulgação. Em seis meses, os treinamentos saíram do papel, já receberam 370 participações e têm servido de modelo para outras unidades da GE no mundo. Em julho, Letícia recebeu um prêmio internacional da GE pela ideia. (DESENVOLVA..., 2009, p. 5).

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EMPREENDEDORISMO

A busca por pessoas com essa qualidade tem se intensificado. Esta realidade é bem evidenciada nas publicações periódicas de negócios, nas quais, a cada nova edição, multiplicam-se as matérias sobre a importância da atitude empreendedora no perfil dos colaboradores desejados pelas organizações, principalmente as de grande porte. Vejam esse excerto retirado da revista Você S.A.: A habilidade de dar vida aos próprios projetos, tirando-os do papel e transformando-os em novos produtos, processos ou serviços, é atualmente uma das qualidades mais valorizadas pelo mercado. As empresas querem, mais do nunca, saber quem são os funcionários, em todos os níveis, que têm a veia empreendedora à flor da pele. Este movimento é percebido nas organizações mais tradicionais, como a fabricante de máquinas agrícolas Caterpillar, de Piracicaba, em São Paulo, e vem sendo aprimorado até no Google, cuja sede no Brasil fica na capital paulista. “Quanto mais pessoas você tiver com espírito empreendedor, se sentindo donas do negócio, mais bem posicionada a companhia estará no futuro”, diz Luiz Carlos Calil, presidente da Caterpillar, a primeira colocada no Guia VOCÊ S/A-EXAME - As Melhores Empresas para Você Trabalhar 2009. (DESENVOLVA..., 2009, p. 1)

Segundo a mesma matéria, nos processos seletivos destas empresas, privilegiam-se candidatos questionadores, que possuam senso crítico, criativos, que tenham um retrospecto de iniciativas inovadoras em sua carreira profissional - ainda que no âmbito de sua vida escolar ou como voluntário em projetos sociais - destemidos e arrojados. Mas a procura pelos candidatos e a contratação dos colaboradores empreendedores se constitui, apenas, no primeiro passo. É preciso que a organização se estruture para lidar com o empreendedorismo interno, construa uma cultura de estímulo à inovação, propicie canais de divulgação para as ideias, tenha competência para reconhecer as boas oportunidades que emanam dessas ideias e possua contrapartidas orçamentárias para a sua implementação. Em outras palavras, é preciso que ela se transforme em uma organização empreendedora, abordando o empreendedorismo como uma estratégia de gestão. O gerenciamento eficaz da inovação requer o trabalho conjunto de colaboradores e estrategistas com visão de longo prazo, buscando orientar novos projetos de desenvolvimento de negócios na organização. (PINCHOT, 2004 apud COSTA; CERICATO; MELO, 2005, p. 5).

De acordo com Birley e Muzyka (2001), para que o empreendedorismo corporativo funcione, as empresas devem3: » » Desenvolver novas capacidades de processo – Isto pode envolver a entrada de pessoas de fora da organização, mas, também, e principalmente, significa que a empresa deve desenvolver uma cultura voltada para a inovação. » » Encorajar a experimentação e recompensar o sucesso como uma forma de motivar o espírito empreendedor sem, no entanto, esquecer de gerenciar o fracasso. » » Aprender a trabalhar em dois horizontes temporais: o presente, fazendo o que precisa ser feito agora; e o futuro, estimulando o desenvolvimento de cenários alternativos. » » Liberar o empreendimento dentro da organização, definindo o risco de forma diferente e tendo pessoas “empreendedoras” tomando decisões - chave sobre os recursos.

3  As práticas das empresas inovadoras serão aprofundadas na seção 3 dessa aula.

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AULA 4 - O EMPREENDEDOR CORPORATIVO

Para Costa, Cericato e Melo (2005, p. 41), as organizações empreendedoras devem ser organizações com grande capacidade de aprendizagem, uma vez que [...] favorecem novos relacionamentos estabelecidos entre indivíduos e equipes, o que permite a mudança da cultura organizacional. Estas relações estabelecem um novo padrão de trabalho, no qual o relacionamento entre as pessoas e a empresa terá maior liberdade e capacidade de promover a ordem em um mercado complexo que muda rapidamente. (COSTA; CERICATO; MELO, 2005, p. 41).

Para ilustrar essa relação necessária entre o empreendedor interno e as organi-zações empreendedoras, os mesmos autores idealizaram o diagrama a seguir:

Figura 2 - Síntese da integração entre os empreendedores internos e as organizações empreendedoras. Fonte: (COSTA; CERICATO e MELO,2005).

Procuramos demonstrar a relação que existe entre o empreendedorismo corporativo e as organizações empreendedoras, entendendo estas últimas como aquelas organizações atentas às mudanças do mercado e ávidas pela inovação. Você deve estar pensando: “Muito interessante isso, mas será que as empresas brasileiras estão preparadas para esse desafio?”. Bem, este é o assunto que vamos desenvolver em nossa próxima seção.

PANORAMA DA INOVAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS Os dados disponíveis para se traçar um panorama da inovação nas organiza-ções brasileiras são escassos e insuficientes por três motivos: a) são desatualizados: os dados mais recentes são de 2005; b) referem-se, prioritariamente, à indústria e aos setores considerados mais dinâmicos, como os de telecomunicações e informática; e c) acompanham indicadores de inovação baseados em investimentos de P&D voltados para o lançamento de novos produtos e modificação de processos, deixando de lado dimensões importantes da inovação, como as mudanças nas práticas de negócios e no ambiente de trabalho e as inovações em marketing - apesar de entendermos que se trata de dimensões da inovação muito difíceis de serem visualizadas e quantificadas em termos de resultados. As duas principais fontes de informação sobre o assunto são a Pesquisa Industrial Inovação Tecnológica (Pintec) realizada pelo IBGE, com o apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), realizada

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EMPREENDEDORISMO

de dois em dois anos e a base de dados da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei). A última Pintec abrangeu 91 mil empresas em todo o Brasil e refere-se ao biênio 2004-20064. Tratase de uma pesquisa cuja metodologia baseia-se no Manual de Oslo e visa a avaliar parâmetros relacionados com o nível de inovação da organização, tais como: lançamentos de novos produtos (com tecnologia inovadora), utilização de novos processos de produção, pessoal ocupado com P&D e registros de patentes. De acordo com essa pesquisa, o número de empresas que implementou produto e/ou processo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado correspondeu a, apenas, 33,4% do total. Esse contingente, entretanto, já representou um avanço, embora lento, em relação às pesquisas anteriores, tendo em vista que nos biênios 1998-2000 e 2001-2003, essa participação tenha sido de 31,5% e 33,3%, respectivamente. As três atividades com maiores percentuais de inovação no biênio 2001-20035 foram: fabricação de máquinas para escritório e equipamentos de informática (71,2%), fabricação de material eletrônico básico (61,7%) e fabricação de automóveis, caminhonetas e similares (57,5%) (CARNEIRO, 2008). Quanto aos gastos com P&D no cômputo dos gastos totais da indústria, eram de 10% em 2000 e caíram para apenas 6,3% em 2003. No panorama baiano, foram pesquisadas 2.201 empresas, das quais apenas 28,76% podem ser consideradas, pelo critério do lançamento de novos produtos e idealização de novos processos, inovadoras, com destaque para o setor de fabricação de produtos de minerais não metálicos (52,97%). A análise dos especialistas no assunto é de que o problema do País não está na falta de pesquisa básica, mas na inexistência de um ambiente encorajador para a inovação e na escassez de empreendedores interessados em assumir os riscos associados à implementação dessas ideias inovadoras. Para criar um cenário encorajador, no qual as empresas invistam mais em pesquisa e desenvolvimento, é preciso melhorar vários aspectos simultaneamente: é muito difícil abrir uma empresa no Brasil, há uma série de políticas que podem ser modificadas, o sistema de patentes pode ser mais eficiente e o acesso ao capital de risco precisa melhorar. (RYAN, 2007 apud CASTRO, 2007, s. p.).

Os dados da Anpei, embora referentes a 2001, endossam os resultados da Pintec. De acordo com o presidente da Associação, Ronald Dauscha, apenas 30% de todas as empresas brasileiras fazem alguma inovação, sendo os setores de informática, eletrônico e químico os que mais inovam. (EMPRESAS..., 2005). Ainda que tímidas e pouco divulgadas, algumas medidas vêm sendo tomadas para modificar esse quadro, como é o caso da “Lei de Inovação”6, que permite as empresas inovadoras abaterem, no Imposto de Renda, 160% do total investido em P&D, podendo chegar a 200% de abatimento, caso possuam em seus quadros mestres e doutores. Dentre as medidas sugeridas para melhorar o potencial inovador das empresas brasileiras, como a diminuição da carga tributária e simplificação no processo de abertura de novas iniciativas empresariais, está o fomento ao empreendedorismo em todas as esferas e níveis de ensino, começando pela educação fundamental. Para al-guns estudiosos do tema, apenas uma mudança cultural é tida como capaz de reverter estes indicadores. (RAW, 2007 apud CASTRO, 2007).

4  A quarta edição da pesquisa, referente ao biênio 2006-2008, foi lançada em julho de 2010. 5  Muitas das informações da Pintec 2004-2006 não estão disponíveis no site no IBGE. 6  Lei nº 10.973, de 2 de dezembro de 2004.

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AULA 4 - O EMPREENDEDOR CORPORATIVO

PRÁTICAS DE EMPRESAS INOVADORAS Pelo que vimos na seção anterior, a inovação ainda não é uma característica inerente às empresas brasileiras. Assim como fizemos com o perfil do empreendedor, que práticas as empresas que se situam no seleto grupo destacado pela pesquisa Pin-tec possuem em comum? Coral, Ogliari e Abreu (2008) em seu livro “Gestão Integrada da Inovação” fazem uma compilação das principais práticas presentes nas empresas consideradas inovadoras. Abaixo, comentamos cada uma delas, vejamos: Desenvolvimento de uma cultura que apoia a criatividade e a participação dos colaboradores. Esta prática inclui a disponibilização de canais pelos quais os eles possam fazer as suas sugestões livremente e de métodos e ferramentas de suporte ao desenvolvimento de produtos e processos.

O Google promove, de duas a três vezes por semana, sessões para debater novas ideias. Foi em uma dessas reuniões que surgiu a home page personalizada do Google. Mobilização de equipes: as equipes que avaliam e desenvolvem as ideias são multifuncionais, envolvendo colaboradores de diversas áreas. A mobilização destas pessoas em torno de um projeto em comum é um desafio de comunicação que deve ser vencido.

Também no Google, oito vezes por ano, são realizadas sessões de brainstorm, nas quais mais de uma centena de engenheiros e técnicos de diversas áreas discutem conceitos associados a seis ideias préselecionadas buscando enriquecê-las. Implantação de um sistema de recompensas baseado em resultados devem haver parâmetros de mensuração do retorno gerado pela inovação e os responsáveis por sua implementação devem ser recompensados proporcionalmente. É importante destacar que a recompensa não se limita ao aspecto financeiro, mas outros benefícios podem ser acrescentados como um maior nível de liberdade, estímulo à educação continuada, flexibilização de carga horária, etc.

A Nutrimental recompensa as equipes responsáveis pela sugestão de produtos aprovados com a participação sobre os resultados da venda da novidade durante o primeiro ano. Entendimento do mercado e do consumidor - As empresas inovadoras partem de pesquisas que detalham o perfil de seus consumidores, da concorrência e antecipam as tendências do mercado. A inovação não pode ser criada em um vácuo de conhecimento mercadológico.

A Procter & Gamble, além das pesquisas de mercado convencionais, com seus executivos e colaboradores, observam o comportamento de compra de seus clientes no ponto de venda e visitam suas casas para descobrir mais sobre os seus hábitos de consumo. Monitoramento constante de tecnologias - Assim como acontece com o mercado consumidor e a concorrência, também as tecnologias-chave que interferem na sua indústria devem ser acompanhadas. As mudanças tecnológicas são grandes fontes de ameaças e oportunidades para as empresas, a depender de como elas estejam preparadas para enfrentá-las.

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EMPREENDEDORISMO

Mobilização de recursos externos - A busca de parcerias externas, emparcerias e alianças estratégicas com fornecedores, clientes, consultores, institutos de pesquisa, etc. pode ser muito útil para diluir o investimento com a inovação.

A Procter & Gamble mantém redes de inovação com seus fornecedores, universidades e laboratórios de pesquisa na busca por novas ideias de produtos. Gerenciamento de uma carteira de inovações equilibrada e baseada em critérios de priorização - O fomento ao empreendedorismo interno pode gerar uma carteira de inovações muito numerosa. A empresa deve ter critérios para priorizar as inovações mais importantes e/ou mais urgentes, balancear a aplicação dos seus recursos entre todas as opções válidas e gerenciar o risco inerente a cada uma delas. Planejamento amplo e orientado à solução de problemas - a determinação da visão, da missão e dos objetivos organizacionais deve preceder o processo de inovação. Apenas depois de determinada a direção do progresso devem ser mobilizados os recursos de inovação disponíveis.

A Natura é um exemplo de empresa que explora seus valores, suas inovações são guiadas pelos valores da marca. Foi assim com a criação do óleo de massagem para bebês, baseado na importância dispensada ao relacionamento entre mães e filhos.

BARREIRAS À INOVAÇÃO Toda boa ideia terá sempre seus detratores. Sempre haverá quem tentará lhe dissuadir de seu objetivo e provar que o que você planeja implementar não terá chan-ces de sucessos. Não há dúvidas de que ser um empreendedor interno é difícil. Até mesmo as organizações mais abertas e flexíveis estão sujeitas ao conservadorismo e ao entrincheiramento de posições quando uma determinada situação de conforto é alcançada. Nestas empresas, a constituição de feudos internos prontos a defender cargos, posições, comissionamentos e receitas é bastante recorrente. O Manual de Oslo (Os caminhos da inovação..., 2009) classifica em cinco categorias as barreiras existentes à inovação nas organizações: » » Fatores relativos ao custo - Riscos percebidos como excessivos, custos muito elevados, carência de financiamento interno e carência de outras fontes de financiamento.

» » Fatores relativos ao conhecimento - Conhecimento ou tecnologia

insuficiente, carência de pessoal qualificado e de informações sobre o mercado, dificuldades para encontrar parcerias para o desenvolvimento da ideia, atitude negativa dos colaboradores em relação à mudança e incapacidade de direcionar os funcionários para as atividades de inovação em função dos requisitos de produção.

» » Fatores de mercado - Demanda incerta para bens e serviços inovadores, mercado potencial dominado pelas empresas estabelecidas.

» » Fatores institucionais - Carência de infraestrutura, fragilidade dos direitos de propriedade, legislação, regulações e tributação e não necessidade, devido à falta de demanda por inovações.

» » Outras razões para não inovar - não necessidade de inovar devido a inovações antigas 54


AULA 4 - O EMPREENDEDOR CORPORATIVO

É fato sabido que a Microsoft foi uma empresa inovadora em sua área de negócios e, sobretudo, definiu o modelo de negócios de software vencedor. Por muitos anos, a Microsoft tem se mantido líder e em determinados modelos de negócios, até mesmo quase monopolista. Embora tenha sido caracterizada por sua grande capacidade inovadora nos anos em que a IBM era a grande potência da Informática, dominando quase todo o setor corporativo de informática, detendo a quase totalidade do poder computacional das grandes empresas, a Microsoft rompeu essa barreira e veio a superar a própria IBM em valor de mercado. Contudo, com o passar dos anos, a Microsoft tornou-se prisioneira de seu modelo de negócios e sucesso e vem sendo considerada uma força conservadora no mundo dos negócios. Desde a maturação da empresa, a Microsoft vem se limitando a lançar novas versões de seus produtos da suíte Office e Windows, sem, contudo, apresentar ou liderar qualquer processo inovador no mundo dos negócios.

Além destes fatores, Coral; Ogliari e Abreu (2008) enumeram os seguintes: » » O poder decisório na empresa - Em algumas organizações, algumas áreas têm mais prioridade do que as outras, possuindo privilégios em relação ao processo decisório. A política interna pode atrapalhar a correta priorização dos projetos de investimento.

O advento da tecnologia de voz sobre IP propiciou a possibilidade de os usuários de telefonia realizarem interurbanos – ligações DDD e DDI, com custo muito baixo e, às vezes, até mesmo zero. É fato que tal possibilidade não passou despercebida e recebeu grande atenção e muitos recursos de pesquisa e desenvolvimento de plataformas de telefonia que comportassem esta nova tecnologia por parte das grandes operadoras. É de conhecimento público, do pessoal da área de telefonia, que a adoção de serviços VoIP, com tarifas bastante favorecidas para os usuários de telefonia das Operadoras sofreu intensa oposição das Unidades de Negócio internas responsáveis pela área de DDD e DDI das grandes operadoras, visto que tal modelo de negócios poderia significar uma grande diminuição ou praticamente a extinção destes setores, comprometendo as receitas destas Unidades de Negócios e, consequentemente, posições, cargos, funções, comissionamentos e empregos. Em geral, a área responsável pelo DDD/DDI, que ainda possui grande poder financeiro e capacidade de geração de receita, tem conseguido comprovar que para as Operadoras tornarem-se pioneiras neste tipo de serviço, seria contraproducente em termos de receita. Os argumentos a favor da manutenção do status quo até o momento têm se mantido vencedores e impedido a evolução dos investimentos nesta tecnologia. (Informação Verbal)1. 1  Relato fornecido por funcionário de operadora de telefonia.

» » A história e cultura organizacional - Alguns componentes da cultura organizacional podem bloquear as inovações. Uma cultura passiva e apática, acostumada com o status quo, dificilmente abrigará projetos inovadores.

Até os anos 80, o cenário da aviação comercial nacional era dominado praticamente pela Varig, Vasp e, mais distante, pela Transbrasil. O modelo de negócios baseado em oligopólio baseava-se em reserva de mercado – apenas um pool de companhias tinham o direito, por exemplo, de transportar na ponte-aérea Rio-São Paulo. Até a fundação da GOL, a aviação brasileira era marcada pela pouca disponibilidade de assentos e preços elevados, garantindo o menor custo, o maior preço e elevadas taxas de funcionários por assento. A GOL, com a sua chegada agressiva ao mercado, foi a primeira companhia a introduzir o bilhete eletrônico e a venda de bilhetes na web, o que viria a revolucionar o segmento. Esse novo conceito viria a ser copiado pela TAM e permitiu revolucionar o conceito de viagens aéreas no Brasil.

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EMPREENDEDORISMO

Hoje, o preço da passagem aérea compete com o preço da passagem de ônibus. Como resultado, apenas as novas companhias (TAM e GOL) foram capazes de sustentar o novo modelo, que acabou se tornando o novo modelo da aviação brasileira, adotado até mesmo pelas entrantes do mercado (Azul, Webjet). As companhias tradicionais e conservadoras, primeiro a Transbrasil, seguida pela Vasp e mais tarde a Varig, sucumbiram, pois seu modelo de negócios esteve sempre baseado no oligopólio, exclusividade (ponteaérea Rio-São Paulo), e tarifas internacionais protegidas. Com a abertura do mercado e exigência de eficiência, essas companhias mais antigas não foram capazes de transformar a cultura vigente, fortemente calcada na proteção e tutela do Estado, financiamento ilimitado, e grandes passivos trabalhistas. O modelo adotado pelas novas companhias requeria um número muito menor de funcionários por assento e a agilidade conferida pelos novos sistemas de check-in reduziu substancialmente a necessidade de pessoal em terra. Dessa forma, com os custos mais baixos dessas companhias, decretou-se de forma inevitável a morte das companhias mais antigas. A maior barreira à inovação daquelas companhias foi a sua cultura organizacional e a grande resistência de todo o corpo de funcionários, que viam na reestruturação o fantasma das demissões. (POSSAS, 2006).

» » O ambiente externo - Neste item, os autores incluem todos os fatores externos à organização (clientes, fornecedores, governo, etc.). Estes agentes podem atuar de maneira restritiva por regulamentações ou de um comportamento conservador.

Por fim, há que se considerar a oposição maior de todas: as barreiras impostas por nós mesmos, quando não acreditamos em nosso potencial realizador. O verdadeiro empreendedor não se deixa abater por estas dúvidas e, para cada argumento em contrário, já dispõe de respostas que os refute. Para Pinchot (1987, p. 1), uma das melhores maneiras de identificar um empreendedor é ver como eles lidam com as barreiras ás suas ideias. Quando for analisar um empreendedor interno, pense em todas as possibilidades em que o seu projeto pode dar errado. Pergunte-lhe como solucionar cada problema. Os verdadeiros empreendedores já terão explorado essa questão em suas imaginações e pensado em três, cinco ou até dez possíveis soluções para o mesmo. (Tradução própria7, PINCHOT, 1987, p.1).

Para finalizar, não importa qual seja a natureza da barreira imposta à sua ideia, Pinchot (1997) destaca algumas atitudes que o empreendedor interno deve tomar para assegurar a sua implementação: » » Faça qualquer coisa necessária para levar sua ideia adiante. Se o problema é de marketing, faça sua própria pesquisa de mercado; se é de fabricação, imagine um novo processo. Não precisa dizer que isso nem sempre é apreciado e você deve se lembrar disso.

» » É mais fácil pedir desculpas do que permissão. Se você sair perguntando, irá receber respostas que você não quer. Então, faça as coisas que têm que ser feitas e pergunte depois.

» » Venha para o trabalho a cada dia esperando para ser demitido. Pinchot faz uma analogia com o espírito dos combatentes em guerras. Segundo ele, um sargento uma vez lhe dissera que o soldado deve ir para cada combate pensando em já estar morto; se você pensa assim, você consegue pensar claramente e tem uma boa chance de sobreviver.

7  “One of the best ways to identify the intrapreneurs is to see how they handle, and even how they think about, barriers to their ideas. When analyzing a potential intrapreneur, think of some of the ways their project might go wrong. Ask them how they might handle such a problem. Real intrapreneurs will have explored these problems in their imagination. [...] The real intrapreneur has thought of three, five, or even ten possible solutions.”

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AULA 4 - O EMPREENDEDOR CORPORATIVO

» » Trabalhe na surdina. Preserve sua ideia da cobiça e inveja alheias enquanto puder. Divulgue-a apenas quando achar que está pronta para captar simpatizantes.

Pinchot (1997, p. 1) complementa que empreendedores, como soldados, têm que ter a coragem de fazer o que deve ser feito ao invés de fazer apenas o que vai agradar a seus superiores hierárquicos. E usando a mesma metáfora celular sugerida no início da aula, ele completa: Se eles forem muito cautelosos, estão perdidos. Se forem temerosos, o “cheiro” do medo será um sinal químico para o sistema imunológico da organização que irá, rapidamente, neutralizar a ideia diferente. (Tradução Própria8, PINCHOT, 1987, p.1).

SÍNTESE Nessa aula, discutimos o conceito e o papel do empreendedor interno, assim como a natureza das organizações que podem ser consideradas inovadoras. Percebemos as inúmeras dificuldades que permeiam a missão do empreendedor e averiguamos o nível de inovação das empresas brasileiras.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Você considera a organização em que você trabalha inovadora? Por quê? Caso não a considere, que barreiras você impedem a concretização deste processo?

LEITURA INDICADA BIRLEY, S.; MUZYCA, D. Dominando os desafios do empreendedor. São Paulo: Makron Books, 2001.

SITES INDICADOS PINTEC – Disponível em: <www.pintec.ibge.gov.br> ANPEI – Disponível em: <www.anpei.org.br>

REFERÊNCIAS BIRLEY, S.; MUZYCA, D. Dominando os desafios do empreendedor. São Paulo: Makron Books, 2001. CASTRO, F. Faltam condições para inovação tecnológica nas empresas brasileiras. 2007. Disponível em: < http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=010175070518> Acesso em: 10 nov. 2009. COSTA, A. M.; CERICATO, D.; MELO, P. A. O empreendedorismo corporativo como estratégia de gestão em organizações contemporâneas. In: XXV Encontro Nacional de Engenharia de Produção – Porto Alegre, 29 out. a 01 de nov. de 2005. Anais... Disponível em: <http://www.abepro.org.br/.../ ENEGEP2005_Ene-gep0707_1043.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2009.

8  If they are too cautious, they are lost. If they are fearful, the smell of fear is a chemical signal to the corporate immune system, which will move in quickly to smother the “different” idea.

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EMPREENDEDORISMO

Desenvolva seu perfil empreendedor. Revista Você S.A., São Paulo, ed. 0136, 10 out. 2009. Disponível em: <http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/desenvolva-seu-potencialempreende-dor-504852.shtml>Acesso em: 10 nov. 2009. DORNELLAS, J.C. Empreendedorismo corporativo: conceitos e aplicações. Revista de Negócios, Blumenau, v. 9, n. 2, p. 81-90, abr./jun. 2004. Empresas brasileiras investem pouco em inovação. 2005. Disponível em: < http://idgnow.uol.com. br/ mercado/2005/07/22/idgnoticia.2006-03-12.0170480493/> Acesso em: 8 nov. 2009. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa industrial de inovação tecnológica – PINTEC. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. ______. Pesquisa industrial de inovação tecnológica – PINTEC. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. MENDES, Jerônimo. Manual do e empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009.

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AULA 5 O Processo Empreendedor: Como e Quando Aproveitar uma Boa Ideia Autora: Moisés Conde Silva de Oliveira

S

“O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem sua própria razão de existir.”. Albert Einstein

audação!

Agora que você já sabe o que é ser um empreendedor moderno, já conhece suas características, bem como as vantagens e desvantagens de se tornar um, partiremos agora para explorar o campo das ideias, da tão falada criatividade, que é uma característica essencial do empreendedor. Nessa aula, identificaremos quais as situações que podemos encontrar boas ideias que podem vir a ser tornar boas oportunidades de negócios.

ATENÇÃO ÀS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS No ambiente em que vivemos, algumas situações se configuram como um ambiente favorável para o surgimento de ideias inovadoras com forte potencial para se tornarem produtos inovadores. Vamos conhecer


EMPREENDEDORISMO

a partir de agora alguns desses momentos, nos quais podemos nos situar, e quais ideias podemos implementar, levando em conta cada situação. A primeira delas é quando tomamos conhecimento de alguma nova tecnologia. Ao longo da história, encontramos muitos exemplos de como inovações tecnológicas abriram caminho para a criação de outras, como a invenção do laser: ele tornou possível a criação dos leitores de código de barras, dos mouses ópticos, das impressoras a laser e de uma série de outros produtos do nosso cotidiano. “Mudanças tecnológicas são uma fonte de oportunidades de empreendedorismo porque possibilitam que as pessoas as coisas de forma nova e mais produtiva.” (BARON e SHANE, 2007, p. 35, grifo nosso). Uma grande mudança tecnológica como a internet abriu caminho para o surgimento de diversas de ideias, começando pelo próprio e-mail. Embora não tenha substituído por completo o correio tradicional, ele passou a se um meio muito mais produtivo para se trocar informações. Pesquisadores explicam que grandes mudanças tecnológicas são maiores fontes de oportunidades que pequenas mudanças tecnológicas, pois as primeiras permitem maiores alterações na produtividade pela exploração da nova tecnologia. (BARON; SHANE, 2007, p. 36).

No quadro 1, temos alguns exemplos de ideia que surgiram em decorrência de uma mudança tecnológica significativa na economia mundial:

Forma de oportunidade

Mudança tecnológica

Exemplo de uma ideia de negócio em resposta à Oportunidade

Justificativa

Novo produto ou serviço

Motor de combustão interna

Automóvel

O motor de combustão interna é utilizado para fornecerem energia aos automóveis.

Nova forma de organização

Internet

Venda de livros on line

A internet permite que as pessoas vendam produtos sem precisarem de lojas.

Novo mercado

Refrigeração

Navios refrigerados

Os navios refrigerados permitem aos pecuaristas de um país venderem sua produção em outro país.

Novos métodos de produção

Computador

Projetos auxiliados por computador

Os computadores permitem aos projetistas desenvolverem produtos sem a necessidade de protótipos físicos.

Nova matéria-prima

Petróleo

Produção de gasolina

O petróleo é refinado em forma de gasolina para fornecer energia aos veículos.

Quadro 1 - Exemplos de diferentes formas de oportunidade de empreendedorismo que resultam de mudança tecnológica. FONTE: BARON; SHANE, 2007, P. 40.

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AULA 5 - O PROCESSO EMPREENDEDOR: COMO E QUANDO APROVEITAR UMA BOA IDEIA

Note como todos esses produtos mostrados no quadro acima quase que automaticamente se tornaram uma fonte inesgotável de ideias para novos negócios. Todos eles foram grandes mudanças tecnológicas que, além de causarem elas próprias mudanças profundas na sociedade contemporânea, ainda hoje são um campo fértil para que empreendedores criativos pensem novos produtos derivados delas.

O PAPEL DAS MUDANÇAS POLÍTICAS E REGULAMENTARES Outra situação que também se torna uma fonte para o surgimento de novas ideias é quando ocorre alguma mudança política ou governamental no país. Quem não se lembra das privatizações que ocorreram no Brasil desde a década de 1990? Empresas como a CSN, privatizada em 1993, a Embraer, em 1994 e muitas outras se tornaram grandes oportunidades para empreendedores atentos e com disponibilidade de capital para promoverem mudanças significativas na nossa sociedade. Segundo Baron e Shane (2007), no entanto, nem sempre mudanças nos regulamentos ou nas políticas governamentais, apesar de serem grandes oportunidades empreendedoras, geram ganhos de produtividade. Em alguns casos, elas geram ganhos financeiros apenas para o empreendedor. Por exemplo, suponha que a cidade em que você viveu aprove uma lei determinando que todas as casas históricas sejam pintadas utilizando o mesmo tipo de tinta que usada 100 anos atrás. Um empreendedor atento poderia tirar proveito dessa mudança se obtivesse os direitos exclusivos sobre todas as fórmulas das tintas do século passado. Os lucros desse empreendedor nada teriam a ver com a produtividade. Eles decorreriam simplesmente do preço mais elevado que as pessoas da cidade teriam de pagar pelas tintas que atendessem aos padrões da regulamentação, em vez do preço das tintas mais baratas que eles poderiam comprar em outra situação. (BARON; SHANE, 2007, p. 36).

No caso das mudanças regulatórias, como no exemplo acima, sejam elas ações para impor medidas de regulação ou para desregular algum setor especifico, são fontes valiosas de ideias. No caso da primeira, quando temos leis que protegem alguma atividade, os empreendedores se sentem encorajados para atuar nesse ramo e no caso da segunda, a desregulamentação, por tornar mais fácil o ingresso de novos empreendedores justamente com novas ideias.

A MUDANÇA SOCIAL E DEMOGRÁFICA Outro momento propício para pensar novas ideias empreendedoras, ocorre quando o lugar em que vivemos passa por transformações, sejam de caráter demográfico ou social. No âmbito das mudanças sociais, estas podem acontecer de diversas maneiras; uma delas, por exemplo, são os modismos. Observe as duas fotos a seguir, as duas são fotos do Carnaval de Salvador.

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EMPREENDEDORISMO

Figura 1 - Foliões com abadá. FONTE: HTTP://COMMONS.WIKIMEDIA.ORG/WIKI/FILE:FIESTA1.JPG

Figura 2 - Pierrot. FONTE: HTTP://WWW.SXC.HU/PHOTO/117068

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AULA 5 - O PROCESSO EMPREENDEDOR: COMO E QUANDO APROVEITAR UMA BOA IDEIA

Qual é a principal diferença que podemos notar nas duas fotos? Na primeira, as pessoas mostradas estão usando o famoso abadá, enquanto que na segunda, usam ainda as antigas fantasias de pierrot, muito comum nos Carnavais de século passado. Essa mudança é fruto de uma tendência da própria indústria do carnaval e, como consequência disso, muitos empresários atentos a essa tendência, passaram a fabricar a nova vestimenta explorando esse movimento social. A realidade está cheia de exemplos que mostram como o surgimento de várias empresas é fruto da observação das tendências de comportamento da sociedade. [...] o empreendedor tem de compreender as tendências que influenciam o nosso dia a dia e tentar prever quais e quanto vão ocorrer mudanças e como vão nos afetar. As mudanças acabam gerando novas tendências, que podem trazer novas oportunidades. Não raro, essas novas oportunidades tornam obsoletos negócios já existentes. (DEGEN, 1989, p. 26).

Além das mudanças sociais, as mudanças demográficas também se constituem em um excelente momento para as ideias inovadoras. Analisemos o quadro abaixo:

ANO DE NASCIMENTO

ANOS DE VIDA

1940

42.74

1950

45.90

1960

52.37

1970

52.49

1980

61.74

1990

65.78

1991

66.03

1998

68.10

2000

68.55

Quadro 2 - Esperança de vida da população brasileira. FONTE: IBGE (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA).

Observe como a expectativa de vida da população brasileira vem crescendo ao longo das décadas: ela aumentou em mais de vinte anos em apenas seis décadas. Uma população mais idosa é carente de uma série de produtos e serviços, desde medicamentos, serviços médicos até pacotes turísticos específicos. Segundo Baron e Shane (2007), as mudanças sociais e demográficas são uma fonte de ideias por dois motivos: Observe como a expectativa de vida da população brasileira vem crescendo ao longo das décadas: ela aumentou em mais de vinte anos em apenas seis décadas. Uma população mais idosa é carente de uma série de produtos e serviços, desde medicamentos, serviços médicos até pacotes turísticos específicos. Segundo Baron e Shane (2007), as mudanças sociais e demográficas são uma fonte de ideias por dois motivos: Primeiro, as mudanças sociais e demográficas alteram a demanda por produtos e serviços. Uma vez que os empresários ganham dinheiro vendendo produtos e serviços que os clientes desejam, mudanças na demanda criam oportunidades de

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EMPREENDEDORISMO

produzir coisas diferentes. Segundo, porque as mudanças sociais e demográficas possibilitam a criação de soluções para as necessidades dos clientes que são mais produtivas do que aquelas disponíveis no momento. (BARON; SHANE, 2007, p. 8).

O empreendedor é um ser inserido no seu ambiente, além de um grande observador dos fatos a sua volta. O ser criativo, a fábrica de ideias que ele é, tem sua fonte na própria observação dos fatos a sua volta, por isso, estar atento às mudanças que mencionamos acima é fundamental.

SETORES QUE FAVORECEM A CRIAÇÃO DE NOVAS EMPRESAS Até agora discutimos em que situações somos mais propícios a aproveitar para pensarmos em negócios empreendedores. Porém um ponto que também devemos levar em consideração é o fato que, segundo Baron e Shane (2007), alguns setores da economia são mais favoráveis do que outros para a formação de novas empresas. A própria dinâmica do ramo de atividade que escolhemos para atuar pode vir a favorecer mais ou menos a nossa ação como empreendedor e o surgimento de novas ideias. A primeira característica é com relação à gestão do conhecimento no setor. São as formas como as informações que estão por trás dos processos de fabricação ou da prestação de serviços são organizadas. Baron e Shane (2007) vão apontar três dimensões do conhecimento de um setor que influenciam o surgimento de novas ideias: a primeira é a intensidade de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento); a segunda, o lócus de inovação; e a terceira, a própria natureza do processo de inovação dentro do setor. Em setores onde a pesquisa e o desenvolvimento de novos produtos são mais intensos, existe mais possibilidade do surgimento de novas ideias. No caso do lócus de inovação, se refere em que tipo de empresa é produzido o conhecimento. Se um determinado ramo de atividade requer a participação de universidades ou outras organizações do setor público, por exemplo, a chance de surgirem novas ideias aumenta. Isso ocorre pelo fato de por se tratar de organismos públicos: eles têm menos preocupação com vazamento das informações, tornando o conhecimento também público. Por fim, com relação à terceira dimensão do conhecimento, o processo de inovação e os surgimentos de novas ideias se concentram naquelas empresas que, devido ao seu porte ou à sua agilidade, dominam o setor. Em alguns setores, como o automobilístico, a inovação e o desenvolvimento de novas tecnologias, requerem uma escala muito grande de operações e um volume muito grande de capital, fazendo que a maioria das inovações seja produzida pelas grandes empresas já existentes [...]. Em outros setores, como o desenvolvimento de software, inovações e tecnologias de computadores, requerem organizações flexíveis e ágeis, o que faz com que a maior parte das inovações seja feita por empresas novas e pequenas. (BARON; SHANE, 2007, p. 42).

Outro aspecto de relevante como determinante do surgimento de novas ideias é a condição da demanda do setor no qual o empreendedor atua. Para Baron e Shane (2007), três fatores impulsionam a formação de novas empresas sob o aspecto da demanda: tamanho, crescimento e segmentação do mercado. Novas ideias podem ser viabilizadas de forma mais fácil em mercados maiores, pois os empreendedores poderiam diluir os custos fixos da nova empresa no maior número de vendas. Mercados com crescimento mais rápido também são mais favoráveis para as novas ideias, já que elas, quando colocadas em prática, podem atender a uma demanda que as empresas que já atuam no setor não conseguem atender. E nos setores mais segmentados, a chance de surgir um número de ideias é

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AULA 5 - O PROCESSO EMPREENDEDOR: COMO E QUANDO APROVEITAR UMA BOA IDEIA

maior, pois novas empresas, por atuarem em segmentos específicos, não precisam correr atrás de grande parte dos clientes das empresas estabelecidas. Outros dois aspectos que também podem influir na geração de novas ideias, segundo os mesmo autores, dentro do setor de atuação do empreendedor, é o ciclo de vida do setor e sua estrutura. È mais fácil novas ideias darem certo em setores que estão em crescimento, pois não estarão em desvantagem com relação aos seus concorrentes. Novas ideias também se saem melhor em setores formados por pequenas e médias empresas. Como na sua maioria, as empresas que começam com um desses dois tamanhos não estarão em desvantagem em relação aos seus concorrentes.

SÍNTESE Ao longo dessa aula, discutimos em que situações o surgimento das ideias são favorecidas. Quando devemos estar mais atentos às perspectivas que nos são apresentadas. Mudanças sociais e demográficas, assim como o ambiente em que atuamos, podem ser mais ou menos favoráveis para as inovações. As tendências de comportamento e o envelhecimento da população são exemplos de situações onde muitas ideias inovadoras afloram da mente dos empreendedores, necessitando apenas serem colocadas em prática.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Como vimos ao longo dessa aula, as mudanças sociais e demográficas são momentos propícios para o surgimento de ideias inovadoras. Pensar então quais outras mudanças que estão acontecendo na nossa população podem nos servir de fonte de boas ideias empreendedoras.

LEITURA INDICADA BARON, R. A.; SHANE, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

SITES INDICADOS www.ideias10.com.br www.papodeempreendedor.com.br www.empreendedores.net

REFERÊNCIAS BARON, R. A.; SHANE, S. A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007.

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AULA 6 A Importância da Criatividade para o Empreendedor Autora: Moisés Conde Silva de Oliveira

“Viver não é necessário. Necessário é criar.” Fernando Pessoa

S

audação!

Na aula anterior, vimos as situações mais propícias para o surgimento de novas ideias empreendedoras. No entanto, o surgimento de ideias é diretamente ligado a uma das principais características do empreendedor, a criatividade. Por isso, nessa aula, abordaremos alguns conceitos relacionados ao tema e seu papel fundamental no processo da descoberta de oportunidades além de nos divertimos com alguns exercícios muito interessantes.


EMPREENDEDORISMO

O QUE É CRIATIVIDADE? Depois da ideia, a criatividade é o passo seguinte no caminho do empreendedor para descobrimento de uma boa oportunidade de negócio, como veremos na aula 7. Muitas vezes relacionamos a criatividade apenas com pensar algo novo, porém a criatividade vai além da simples novidade. Criatividade é, segundo Baron e Shane (2007), a produção de ideias para algo novo, mas que também tenha utilidade. Duallibi e Simonsen (2000, p. 16) a definem como sendo “uma técnica de resolver problemas”, e a empresa é a solução criativa para uma angústia gerada por um problema. As soluções criativas são o resultado de um esforço feito para que essa angústia seja acabada. No caso das oportunidades, elas não são somente novas e com alguma utilidade, mas também têm potencial para gerar valor econômico. Podemos visualizar melhor esse caminho no esquema abaixo:

Figura 1 - Geração de ideias, criatividade e reconhecimento de oportunidades FONTE: (BARON E SHANE, 2007, P. 61)

Podemos notar que a criatividade para o empreendedor é a característica que se configura, depois da ideia, na força-motriz que o leva a reconhecer as oportunidades de negócios existentes no seu ambiente. Por isso, nessa aula, vamos explorar mais esse campo até porque, no mundo mutante em que vivemos, treinar sua criatividade é essencial para o sucesso.

O PROCESSO CRIATIVO Quais as etapas do desenvolvimento criativo que o empreendedor deve percorrer para promover uma mudança significativa na sua vida? De acordo com Dualibi e Simonsen (2000), podemos dividir o processo criativo para a solução de problemas no ambiente empresarial em sete estágios: identificação, preparação, incubação, aquecimento, iluminação, elaboração e verificação.

IDENTIFICAÇÃO O primeiro passo no processo criativo é a clara identificação do problema. Identifique pontualmente qual a necessidade que você acredita como sendo um potencial, fonte de oportunidade.

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AULA 6 - A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE PARA O EMPREENDEDOR

PREPARAÇÃO Ela pode ser direta ou indireta. Segundo Dualibi e Simonsen (2000), ela é direta quando acumulamos informações pertinentes ao problema que deve ser resolvido, isto é, quando buscamos somente informações que contribuam para uma possível solução. Ela é indireta quando buscamos informações sobre tudo que possa colaborar para a uma solução, mesmo que a primeira vista não tenha nada haver com o problema. Portanto, o segundo passo do processo criativo é o de acumulo de conhecimento. Busque informações, de forma direta ou indireta, daquela atividade na qual você, como empreendedor, teve uma ideia para um negócio.

INCUBAÇÃO A incubação é o momento em que vamos refletir sobre as informações coletadas na etapa da preparação. A incubação, portanto, depois da acumulação consciente de dados diretos ou indiretos, é uma reação da mente humana contra a pressão angustiante. A mente, no plano inconsciente, começa a trabalhar praticamente sozinha. Essa angústia, necessidade de liberação de energias, pode, muitas vezes, assumir a forma de trabalho manual. (DUALIBI; SIMONSEN, 2000, p. 27).

Muitas pessoas auxiliam a essa etapa com a prática de determinadas atividades esportivas ou manuais como forma de aumentar o poder de concentração e reflexão sobre as informações.

AQUECIMENTO É a fase em que retornamos ao problema depois de termos refletido sobre todas as informações pensadas na fase de preparação. É quando sentimos que a solução está próxima, no nosso caso, é quando identificamos onde está a real oportunidade de negócio.

EMPREENDEDORISMO E ILUMINAÇÃO A fase de iluminação é quando falamos o famoso “eureka”. É quando a solução do problema aparece pela primeira vez, ou seja, vislumbramos claramente onde podemos encontrar uma oportunidade de negócios. Ela é resultado de todo esforço feito durante o período no qual você compilou e refletiu sobre todas as informações coletadas no ambiente que você, como empreendedor, teve a ideia.

ELABORAÇÃO Essa fase corresponde à formalização do processo criativo. Aqui começamos a elaborar como nossas ideias de fato se transformarão em boas oportunidades de negócio. O planejamento do negócio será trabalhado melhor na aula 8 quando falarmos de plano de negócios.

VERIFICAÇÃO É a fase na qual comprovamos realmente se nossas ideias se tornaram efetivamente boas oportunidades de negócios. No nosso caso, isso só poderá ser comprovado a partir do momento em que a empresa 69


EMPREENDEDORISMO

estiver funcionando. Só podemos fazer a previsão com base nos dados obtidos na fase anterior, a fase da elaboração.

FATORES QUE PODEM PREJUDICAR A CRIATIVIDADE Algumas circunstâncias podem diminuir o nível de criatividade do ambiente em que o empreendedor atua. De acordo com Duallibi e Simonsen (2000, p. 80-81), Ralph L. Hallman apontou os seguintes fatores impeditivos da criatividade: » » Atitude e meio excessivamente autoritários – identificável principalmente na frase atribuída a Ruben Berta, pioneiro da Varig: “Nesta companhia há sempre três opiniões: a errada, a certa e a minha”. Ou naquela atribuída a Henry Ford: “Você pode comprar um carro Ford de qualquer cor, desde que seja preta”. » » Medo do ridículo - quando o executivo se recusa a correr riscos por temer a opinião de seus colegas, concorrentes ou de seus subordinados. » » Intolerância para com as atitudes joviais – empresas que exigem uma atitude compenetrada de seu pessoal, mesmo quando há razões para alegria. Um famoso banqueiro brasileiro, por exemplo, chegou a proibir a entrada de gente com barba ou cabelos compridos nas dependências de seu banco. » » Excesso de ênfase nas recompensas e no sucesso imediatos – em oposição ao exercício de solucionar os problemas pelo simples prazer de resolvê-los. » » A busca excessiva de certeza – em flagrante contradição com a primeira Lei de Murphy e com o mote de Harold Koenig (“seja exaustivo”). O executivo tem de se convencer de que é melhor fazer qualquer coisa, mesmo com riscos, do que não fazer nada. » » Hostilidade para com a personalidade divergente – a sabedoria política já nos mostrou que a existência de qualquer oposição é sempre salutar, por mais irritante que possa parecer. » » Falta de tempo para pensar – há empresas que sobrecarregam seus executivos de tal forma e por tão longos períodos, que não lhes sobra tempo para dedicarem-se a soluções novas ou mesmo para enunciar novos problemas. » » Rigidez da organização – é a chamada “prosão do organograma”: em geral, o caso de empresas superestruturadas, cheias de manuais de procedimento, que carecem do ambiente estimulante para a criatividade.

EXERCÍCIOS PARA ESTIMULAR A CRIATIVIDADE Neste tópico da aula, daremos alguns exemplos de exercícios que podem ser feitos para aprimorar a sua capacidade criativa descritos em Predebon (1999):

EXERCÍCIO “DESNOTÍCIA” Neste exercício, escolha uma matéria de um jornal do dia. Você vai usar sua criatividade para reescrever a notícia utilizando uma das cinco formas descritas abaixo:

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AULA 6 - A IMPORTÂNCIA DA CRIATIVIDADE PARA O EMPREENDEDOR

» » Deforme a notícia, sob a ótica de uma jornalista parcial, esclarecendo antes qual o engajamento adotado por você, como redator desonesto. » » Reescreva a notícia situando-a 50 anos antes e 50 anos depois. » » Faça uma paródia da notícia, como se fosse para um programa humorístico. » » Em vez de reescrever, componha uma música inspirada na notícia. » » Reescreva a notícia como se você fosse um Extra Terrestre escrevendo em jornal local do seu mundo.

EXERCÍCIO “VEJA QUE PAÍS” Para começar, imagine-se como imigrante chegando ao Brasil. Escolha um país de origem e uma profissão, antes de tudo. Agora, na pele dessa nova pessoa, imagine-se escrevendo um texto de um cartão postal para uma pessoa amiga, relatando três aspectos e/ou fatos curiosos do nosso país.

EXERCÍCIO “LUSTRO NO FUTURO” Você vai ativar a sua imaginação como “bola de cristal” para ver seu futuro: » » Comece lembrando, durante cinco minutos, como você estava em 2004. Posições pessoais, profissionais, afetivas e etc. » » Depois faça, em três minutos, um balanço de como você está hoje. » » Agora, criatividade e otimismo: como você estará em 2014? Se você estiver melhor do que há cinco anos, acredite que em 2014 estará melhor ainda. Se sua situação era melhor antes, apoiese no fato de que as fases ruins um dia passam. Descreva sua feliz visão. Lembre-se: são exercícios com o intuito de estimular sua criatividade, portanto, antes de tudo, DIVIRTA-SE.

SÍNTESE Nesta aula abordamos o conceito do que é criatividade, bem com sua diferença com o conceito de ideia e oportunidade. Continuamos com o processo criativo e as situações que não favorecem o indivíduo criativo. Encerramos com alguns exercícios para estimular a criatividade.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Após a aula de hoje, você se vê como um indivíduo criativo ou ainda precisa exercitar melhor esse lado?

LEITURA INDICADA DUALIBI, Roberto; SIMONSEN, Harry. Criatividade e marketing. São Paulo: Makron Books, 2000.

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EMPREENDEDORISMO

SITES INDICADOS www.criatividadeaplicada.com www.3m.com/inovação http://www.possibilidades.com.br/criatividade/voce_eh_criativo.asp

REFERÊNCIAS BARON, Robert A; SHANE, Scott A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007. DUALIBI, Roberto; SIMONSEN, Harry. Criatividade e marketing. São Paulo: Makron Books, 2000. PREDEBON, José. Criatividade hoje: como se pratica, aprende e ensina. São Paulo: Atlas, 1999.

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AULA 7 Reconhecendo e Avaliando Oportunidades de Negócios Autora: Moisés Conde Silva de Oliveira

S

“Pequenas oportunidades são muitas vezes o começo de grandes empreendimentos” Demóstenes

audação!

Nessa aula falaremos de um tema fundamental para o empreendedor moderno: como reconhecer e avaliar oportunidades de negócio. Fizemos um caminho até agora que começou por entendermos o que é ser um empreendedor, como esse conceito evoluiu, vantagens e desvantagens de ser um empreendedor até como este, através da criatividade e da capacidade de implementar novas ideias, pode ser o promotor do desenvolvimento de uma nação. Agora falaremos sobre como ele, utilizando todas as suas características, pode buscar novas oportunidades de negócios.

A ESSÊNCIA DO RECONHECIMENTO DAS OPORTUNIDADES Na essência do reconhecimento das oportunidades está o acesso à informação. Não podemos negar que quanto mais informação estiver disponível para o empreendedor, maior será sua chance de identificar uma


EMPREENDEDORISMO

oportunidade de negócio. Baron e Shane (2007) afirmam que algumas pessoas estão mais aptas do que outras para reconhecer oportunidades por dois motivos: porque têm acesso a determinados tipos de informação e porque são capazes de utilizar essa informação mais rapidamente. Com relação ao primeiro quesito, alguns indivíduos acabam tendo acesso privilegiado às informações em virtude do seu próprio histórico profissional, do tipo de trabalho que desenvolve ou pela quantidade de pessoas que se relaciona. Lembre-se de que, quando falamos de informações privilegiadas aqui, não nos referimos a nada ilegal, são simplesmente situações em que os indivíduos têm acesso, antes dos outros, a informações importantes. Não podemos nos esquecer de que não basta apenas estar na situação ou no local certo para ter acesso às informações que nos levem a reconhecer uma boa oportunidade. Os que descobrem as oportunidades normalmente estão a procura dela. De acordo com Gaglio e Katz (2001), apud Baron e Shane (2007), os empreendedores possuem uma espécie de esquema mental que os mantêm alertas para a oportunidade. É uma espécie de programa de computador que processa todas as informações que o empreendedor tem acesso, compara com suas experiências no passado e dispara um alerta mental que aponta para uma oportunidade de negócio. Resumido, a peça fundamental no reconhecimento da oportunidade é a informação. Quanto mais abundante, maiores as possibilidades para aproveitá-la transformando em negócio de sucesso. A seguir, temos um esquema que compila essas ideias que abordamos até agora.

Figura 1 - Reconhecimentos das oportunidades: o papel central da informação FONTE: (BARON; SHANE, 2007, P. 81)

O acesso às informações levará o empreendedor a ter acesso às fontes das oportunidades. Mendes (2009) aponta diversas fontes, dentre elas: a identificação de uma necessidade; a observação de deficiências ou mesmo a exploração de um hobby que o empreendedor já possua, e chegando a imitação do sucesso alheio, dentre outras.

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AULA 7 - RECONHECENDO E AVALIANDO OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

Qualquer empresa surge com o objetivo de atender às necessidades de um mercado específico, no entanto, a todo o momento essa massa de consumidores com os mais diversos perfis tem as mais variadas necessidades. Saber ver tais desejos é um passo importante para identificar oportunidades empreendedoras. Outra fonte importante de oportunidades é quando o empreendedor observa que em um determinado setor existe alguma deficiência a ser superada ou mesmo que há possibilidade de oferecer o mesmo produto ou serviço por um preço menor. Suponhamos que você contrate uma empresa de jardinagem para sua casa, mas que não fique satisfeito com o serviço prestado, ao procurar outra empresa esta deverá saber identificar essa deficiência passada e aproveitar a oportunidade aberta pela concorrente. Outra fonte de oportunidades pode vir de um hobby que o empreendedor tenha. Segundo Mendes (2009), deve-se levar em conta, no entanto, que nem todo hobby pode virar um oportunidade. O empreendedor deve realmente ser bom na atividade, pois só assim seus clientes estarão dispostos a pagar um pouco mais para aprender com você. Outra fonte de oportunidades para iniciar um negócio é tentar imitar o sucesso de outro empreendedor. Mendes (2009), ao mencionar esse fenômeno, também afirma que é o processo menos arriscado para a abertura de uma empresa. Porém, para que dê certo, o empreendedor deve conhecer profundamente as razões para esse sucesso e, na medida do possível, introduzir melhorias no produto ou serviço.

COMO AVALIAR UMA OPORTUNIDADE Já sabemos que no centro do reconhecimento das oportunidades está a informação que é matériaprima para o reconhecimento das oportunidades. O segundo passo desse processo é avaliar a real chance dessa oportunidade e de se tornar um negócio de sucesso. O aspecto mais complicado e crítico na análise de oportunidade é a avaliação. Oportunidades surgem a todo instante e em diferentes fases da vida do potencial empreendedor, porém, transformá-las em oportunidades de negócio requer habilidades que vão além do simples desejo de empreender. (MENDES, 2009, p. 178).

A seguir temos algumas perguntas que podem nos ajudar a avaliar se realmente essa oportunidade é valiosa ou não (MENDES, 2009, p. 178): » » A que necessidade de mercado ela atende? » » Que observações pessoais você fez ou registrou quanto à necessidade de mercado? » » Que condição social está por trás dessa necessidade de mercado? » » Que dados de pesquisa de mercado podem ser utilizados para descrever essa necessidade de mercado? » » Que tipo de concorrência existe nesse mercado? » » Como você descreveria o comportamento de concorrência? » » Onde está o dinheiro a ser gerado nessa atividade? Note que uma palavra é recorrente na maioria das perguntas dessa lista: MERCADO. O comportamento do mercado, no qual o empreendedor identifica uma boa oportunidade de negócio, é primordial para que ele saiba como implementar sua ideia de negócio. Na aula seguinte serão abordados, dentro do roteiro do plano de negócios, os itens a serem avaliados em um bom plano de negócios.

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EMPREENDEDORISMO

Algumas características mercadológicas devem ser levadas em consideração na hora de avaliarmos as possibilidades da nossa ideia. Segundo Dornelas (2005), os mercados que apresentam bom potencial de crescimento, como também de operar em escala, são os mais atrativos para a criação de novos negócios, pois possibilitam a inserção mais rápida da empresa no mercado além do fortalecimento da marca. Outro ponto a ser considerado é o tipo de concorrência que predomina nesse ambiente. Mercados onde não existe a liderança incontestável de poucas empresas, abrem espaço para as empresas mais criativas e ágeis alcançarem o sucesso mais rápido. Ainda de acordo com Dornelas (2005), deve-se prestar atenção na estrutura do mercado, mais especificamente nas seguintes características: » » o número de competidores; » » o alcance (capilaridade) dos canais de distribuição desses mesmos competidores; » » os tipos de produtos e serviços que se encontram no mercado; » » o potencial de compradores (número de clientes potenciais e quanto consomem, com que periodicidade, onde costumam comprar, quando e como); » » as políticas predominantes e etc.

DIFERENCIANDO IDEIAS DE OPORTUNIDADES Um equívoco que muitos cometem ao pensar em uma ideia empreendedora é o de achar que obrigatoriamente ela deve ser única, que ninguém nunca deve a ter tido antes. O fato de ela ser única tem relevância, mas o mais importante é como o empreendedor utiliza essa ideia de maneira a gerar ganhos de produtividade para seu negócio. Ideias revolucionárias são raras, produtos únicos não existem e concorrentes com certeza existirão. Isso deve ficar claro. E o fato de tentar preservar uma ideia revolucionária, a ponto de não conversar a respeito com ninguém, também pode levar o empreendedor a acreditar que realmente tem algo espetacular na mão, pois nesse momento está mais envolvido pela paixão do que pela razão. (DORNELAS, 2005, p. 54).

Outro ponto a ser levado em conta é o momento que a ideia foi concebida (timing). Em setores em que a tecnologia evolui muito rapidamente, como nos de informática, o ciclo de vida do produto se torna mais curto, ou seja, o tempo que leva do momento que ele é introduzido no mercado até o momento de declínio é muito curto, o que exige das empresas mais agilidade. Portanto boas ideias podem, simplesmente, não se tornarem boas oportunidades por terem sido formuladas no momento errado. Temos ainda o caso de quando um empreendedor tem a intenção de atuar em um ramo de atividade no qual ele não tem nenhum conhecimento prévio, embora a ideia seja muito boa. Dornelas (2005) aconselha que você procure criar negócios em áreas que conhece, em que já tem alguma experiência ou já trabalhou. Não se arrisque em ramos de atividade no qual você não tem conhecimento apenas pela paixão, pois a boa ideia pode se tornar um pesadelo se mal executada. Outro conselho que dou para aqueles que acreditam nas suas ideias é de que, mesmo que elas pareçam estúpidas e sem sentidos, trate-as com carinhos. Algumas ideias que aparentemente eram sem sentido acabaram se tornando grandes negócios. Abaixo nos temos uma lista de ideias que parecem esdrúxulas, mas se tornaram grandes oportunidades de negócio.

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AULA 7 - RECONHECENDO E AVALIANDO OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

» » 1 Million Dollar Homepage, um cara resolve vender 1 milhão de pixels na Internet cada um por 1 dólar e consegue em menos de 3 meses! » » SantaMail, os pais que querem mandar cartas para os filhos como se fosse o Papai Noel podem fazer isso por 10 dólares no SantaMail. O Byron Reese arranjou um endereço no Alaska para que fossem mandadas as cartas, e já enviou mais de 250,000 desde 2001. » » Doggles, vender acessórios para animais pela internet rende dinheiro sim. » » Del.icio.us, site de compartilhamento de links foi feito por Joshua Schachter. A ideia é você fazer um página pessoal com seus links favoritos e que você possa compartilhar esses links. Foi vendido segundo especuladores num valor entre 15 e 30 milhões de dólares para o Yahoo. » » Twitter, um micro-blogging que tem por objetivo original saber o que as pessoas estão fazendo, as pessoas atualizam e avisam aos seus seguidores o que estão fazendo. Recentemente recebeu investimentos da ordem de 15 milhões de dólares (www.inovacaoenegocios.com). Leandro Reinaux. Ideias idiotas que deram certo. Disponível em: http://www.inovacaoenegocios. com/2008/07/ideias-idiotas-que-deram-certo.html. Acesso em: 11 jul. 2008.

TÉCNICAS PARA AUMENTAR O RECONHECIMENTO DE OPORTUNIDADES Para concluirmos essa aula, segue alguns conselhos bem práticos para aumentar sua habilidade em reconhecer oportunidades de acordo com Baron e Shane (2007). » » Construa uma ampla e rica base de conhecimento: aprenda tudo que puder aprender, quanto mais informação tiver melhor será sua capacidade de reconhecer boas oportunidades. » » Organize seu conhecimento: à medida que adquirir novas informações, organize e relacione-as com as que você já possui, de forma a criar conexões entre as novas e as já existentes. » » Melhore seu acesso à informação: procure se colocar mais frequentemente em situações nas quais você fique exposto às informações. Você pode fazer isso ocupando cargos na área de pesquisa e desenvolvimento, além de procurar ter uma maior diversidade de experiências pessoais e profissionais. » » Crie conexões entre os conhecimentos que você já tem: procure estabelecer vínculos entre as os conhecimentos armazenados na memória e as informações guardadas em outros sistemas cognitivos, ou seja, exercite sua imaginação e raciocínio formulando novas ideias de negócios com base nas informações que possui. » » Construa sua inteligência prática: significa pensar em novas e melhores maneiras de lidar com os diversos problemas. Pense em um problema do cotidiano e tente elaborar ao menos três maneiras de solucioná-lo. » » Equilibre a ansiedade por acertos com o receio de alarmes falsos: o empreendedor por natureza é um ser otimista. Se você deseja ser bem-sucedido como empreendedor e identificar oportunidades genuínas lute contra sua tendência de ser otimista demais. Ponha os pés no chão e avalie as oportunidades de modo racional e equilibrado.

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EMPREENDEDORISMO

SÍNTESE Durante essa aula abordamos alguns assuntos referentes a como identificar e avaliar oportunidades de negócios. Vimos a importância de se ter o acesso a informação e, a partir disso, identificar oportunidades. Com a ideia em mente, vimos como devemos avaliá-la, principalmente em sua perspectiva mercadológica. Diferenciamos o que apenas uma ideia do que é uma oportunidade genuína; e, por fim, apresentamos alguns conselhos de como melhorar sua habilidade para identificar boas oportunidades de negócio.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Reflita sobre todos esses conceitos apresentados na aula de hoje e se pergunte se você vem cultivando suas habilidades de identificar oportunidades. Você está atento às mudanças tecnológicas ou de mercado no seu ramo de atuação? Você se coloca em posição de ter acesso primeiro às informações?

LEITURAS INDICADAS MENDES, Jerônimo. Manual do empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009. SEBRAE. Como reconhecer uma oportunidade. Disponível em: <http://www. sp.sebrae.com.br/faq/ criacao_empresa/empreendedor/reconhecer_oportunidade>. Acesso em: 3 dez. 2009.

SITES INDICADOS www.administradores.com.br www.superempreendedores.com www.boasideias.com.br www.inovacaoenegocios.com

REFERÊNCIAS BARON, Robert A., SHANE, Scott A. Empreendedorismo: uma visão do processo. São Paulo: Thomson Learning, 2007. DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. MENDES, Jerônimo. Manual do empreendedor: como construir um empreendimento de sucesso. São Paulo: Atlas, 2009. SEBRAE. Como reconhecer uma oportunidade. Disponível em: <http://www.sp.sebrae.com.br/faq/ criaao_empresa/empreendedor/reconhecer_oportunidade>. Acesso em: 3 dez. 2009. STARTPHUB. Disponível em: <http://startuphub.com.br/>. Acesso em: 3 dez. 2009.

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AULA 8 Como Implementar Novas Oportunidades de Negócios Autora: Carolina de Andrade Spinola

E

sse é o nosso último encontro. Chegou o momento de discutirmos as decisões práticas que devem ser tomadas para a implementação das oportunidades detectadas na aula anterior. Vamos abordar questões relativas ao registro da ideia e à sua transformação em um negócio. Você pode estar pensando: mas eu não quero montar um negócio, não tenho perfil para isso e etc. O objetivo dessa aula é explicar como isso pode ser feito e as etapas que devem ser seguidas, por você ou por parceiros que você escolha. Trata-se de um conhecimento necessário e que lhe pode ser muito útil no futuro. Vamos lá! Vamos concretizar nossos sonhos!

OS FORMATOS DE NEGÓCIO: PRÓPRIO X FRANQUIA Abrir uma franquia é uma das opções mais populares para aqueles que pensam em montar um negócio. A franquia ou franchising É um sistema pelo qual um franqueador concede a um franqueado o direito de uso da marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e


EMPREENDEDORISMO

administração do negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante a remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício. (BRASIL, 1994 apud MDIC, 2005, p. 8).

Entende-se por franqueador quem desenvolveu o negócio, baseado em um produto ou serviço e concede a sua operacionalização a terceiros, denominados de franqueados. O sistema de franchising é uma maneira interessante de expandir o raio de atuação geográfica da empresa através da captação de parceiros capitalizados. Para o franqueado, constitui-se em uma alternativa segura de acesso ao mundo dos negócios mediante a integração a uma rede construída em torno de uma ideia testada e bem-sucedida. Portanto, para ser um franqueado não é preciso ser empreendedor. Ao oferecer segurança e retorno garantido, por um lado, a adesão ao sistema de franchising pode significar a perda de algo que é muito caro ao empreendedor: a sua liberdade de pensamento e execução. Para uma determinada classe de empresários, ser um franqueado não é uma atividade empreendedora, apenas um investimento onde, por acaso, o investidor pode ser o gestor. O único empresário/empreendedor neste negócio seria o franqueador. Para esse publico, ser um franqueado equivale a “comprar um emprego”. Um emprego como gestor, é verdade, mas o fato é que em muitas situações é disto que se trata, ou seja, comprar uma posição. Em termos gerais, o modelo de franquias é recomendado para aqueles que queiram fazer investimentos financeiros (dispondo de recursos para tal), que toleram menos o risco e requeiram uma maior previsibilidade das receitas. Em geral, as franquias mais bem-estruturadas já possuem a fórmula pronta e possuem os requisitos prontos para o estabelecimento do negócio. O mesmo somente seguirá adiante de tudo passar pelo checklist, inclusive da capacidade financeira do franqueado1. Para ingressar em uma rede de franquias, o interessado deve desembolsar uma taxa de admissão, chamada de Taxa de Franquia, e periodicamente, a depender da franquia escolhida, contribuir com o pagamento de royalties2 e da taxa de publicidade. Com isto, o investimento em franquia tende a ser elevado e de retorno mais comedido, porém mais seguro e previsível, sem maiores emoções ou sobressaltos, por estar baseado em um modelo já testado. As franquias consagradas tendem também a cobrar um prêmio maior por esta previsibilidade (taxa de franquia) e pelos custos de implantação embutidos, taxas de administração, marketing, etc. Quadro 1 - Ranking das maiores redes de franquias - 2009

CLASSIFICAÇÃO

REDE

SEGMENTO

TOTAL DE UNIDADES

O BOTICÁRIO

Cosméticos e Perfumaria

2834

KUMON

Educação e Treinamento

1555

COLCHÕES ORTOBOM

Móveis, Decoração e Presentes

1313

WIZARD IDIOMAS

Escolas de Idiomas

1246

ESCOLAS FISK

Escolas de Idiomas

1001

L´ACQUA DI FIORI

Cosméticos e Perfumaria

966

HOKEN

Beleza, Saúde e Produtos Naturais

898

1  Para consultar as condições das melhores franquias do mercado, acesse o site da Associação Brasileira de Franquias <www.abf.com.br> 2  Royalties são o pagamento pelo direito de uso de uma propriedade registrada, quer seja uma marca, um produto, um processo, etc.

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AULA 8 - COMO IMPLEMENTAR NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

CLASSIFICAÇÃO

REDE

SEGMENTO

TOTAL DE UNIDADES

CCAA

Escolas de Idiomas

808

MICROLINS

Educação e Treinamento

747

10ª

AM PM MINI MARKET

Negócios, Serviços e Conveniência

725

11ª

CACAU SHOW

Bebidas, Cafés, Doces e Salgados

700

12ª

BOB´S

Alimentação

656

13ª

JET OIL

Serviços Automotivos

622

14ª

ÁGUA DE CHEIRO

Cosméticos e Perfumaria

580

15ª

CNA

Escolas de Idiomas

580

16ª

MCDONALD´S

Alimentação

567

17ª

BR MANIA

Negócios, Serviços e Conveniência

517

18ª

DROGARIAS FARMAIS

Beleza, Saúde e Produtos Naturais

470

19ª

CASA DO PÃO DE QUEIJO

Bebidas, Cafés, Doces e Salgados

441

20ª

LOCALIZA RENT A CAR

Serviços Automotivos

431

21ª

YÁZIGI INTERNEXUS

Escolas de Idiomas

420

22ª

SUBWAY

Alimentação

330

23ª

JADLOG

Negócios, Serviços e Conveniência

324

24ª

HABIB´S

Alimentação

317

25ª

GIRAFFAS

Alimentação

309

FONTE: ABF, 2009.

Por outro lado, a decisão de constituir um negócio independente diz respeito àquele tipo de pessoa de quem vimos falando ao longo deste curso, dotada de alto grau de inventividade e alguma afeição ao risco: o empreendedor. Como em toda atividade empresarial, o maior risco tende a estar associado ao maior retorno. Desta forma, investir na própria ideia e ter o domínio e independência decorrentes dessa decisão, pode significar um retorno maior do que um negócio baseado em franquia. Todavia, esse resultado dependerá de alguns aspectos ponderados nas aulas anteriores, como a capacidade do empreendedor, a sua visão pessoal, a sua habilidade para identificar oportunidades de negócios e, então, entramos no tema desse encontro: a observância das etapas de planejamento necessárias a qualquer empreendimento, que vamos abordar nas seções seguintes.

MARCAS E PATENTES E A PROPRIEDADE INTELECTUAL O registro da propriedade intelectual sobre as ideias que podem ser objeto de uma exploração comercial futura deveria ser uma das primeiras preocupações do empreendedor. Contudo, não é muito

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EMPREENDEDORISMO

comum, no Brasil, o empreendedor iniciante pensar na proteção de sua ideia, havendo muitos casos em que invenções brasileiras posteriormente são patenteadas por estrangeiros. De acordo com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), a propriedade intelectual é uma [...] expressão genérica que pretende garantir a inventores ou responsáveis por qualquer produção do intelecto (seja nos domínios industrial, científico, literário e/ou artístico) o direito de auferir, ao menos por um determinado período de tempo, recompensa pela própria criação. Constituem propriedade intelectual as invenções, obras literárias e artísticas, símbolos, nomes, imagens, desenhos e modelos utilizados pelo comércio (WIPO, 2009).

A propriedade intelectual está dividida em duas categorias: a propriedade industrial, que inclui invenções (patentes), marcas comerciais, design industrial e designações de origem geográfica3; e os direitos autorais (copyright) que se aplicam a criações literárias e artísticas como romances, poemas, filmes, peças, composições musicais, desenhos, pinturas, fotografias, esculturas e designs arquitetônicos. Dentro da propriedade industrial, o registro das patentes e marcas são os elementos que guardam uma relação mais próxima com o nosso tema. As patentes se aplicam nos casos em que a oportunidade de negócios identificada seja oriunda de uma invenção. O seu registro assegura ao empreendedor que a sua invenção não será copiada e explorada por possíveis concorrentes que poderiam se beneficiar de tê-la encontrado pronta, sem ter necessitado incorrer em nenhum custo de desenvolvimento. Todavia, o processo é demorado, podendo chegar ultrapassar os 5 anos. A patente [...] é um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgados pelo Estado aos inventores ou autores ou outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação. Em contrapartida, o inventor se obriga a revelar detalhadamente todo o conteúdo técnico da matéria protegida pela patente. (INPI, 2009).

O registro das patentes é normatizado pela Lei 9.279 de 14 de maio de 1996, conhecida como Lei de Patentes Industriais (LPI). De acordo com o seu artigo 42, ela estabelece que a patente [...] confere ao seu titular o direito de impedir terceiro, sem o seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ou importar com esses propósitos: 1. Produto objeto de patente; 2. Processo ou produto obtido diretamente por processo patenteado. (BRASIL, 1996).

De acordo com a WIPO, cerca de 600 mil patentes foram concedidas, no mundo, em 2005. O Japão é o pais que detém a maior relação entre números de patentes e população (3 mil patentes em cada grupo de 1 milhão) e os Estados Unidos lideram o ranking geral, detendo quase um terço de todas as patentes solicitadas. O Brasil ocupa o 12º lugar. Nessa relação, mas de acordo com o mesmo relatório o número de patentes solicitadas por não residentes é superior ao de residentes. Já na questão das marcas, a preocupação é maior, pois a reputação e a credibilidade estão associadas à marca, após alguns anos de atividade tornam o negócio conhecido e têm a capacidade de atrair, por si só, novos clientes4. Nestes casos, o registro da marca ganha importância cada vez mais crescente e crucial para a estratégia do negócio. 3  Também conhecida como denominação ou indicação de origem, se constitui em uma alternativa de agregação de valor aos produtos de uma região que passam a ter uma designação controlada e restrita. É o que acontece com a bebida “chamapgne” cujo termo só pode ser empregado às bebidas espumantes produzidas na região homônima, situada na França. 4  As marcas assumiram um papel tão importante nos negócios que há uma nova especialidade do marketing chamada “branding” (em alusão ao termo marca em inglês) que é responsável pelo gerenciamento e valoração das marcas. Há muitos casos de empresas em que suas marcas valem mais que todos os demais ativos da companhia.

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AULA 8 - COMO IMPLEMENTAR NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

O registro da marca comercial não é obrigatório, mas garante uma proteção quanto ao uso indevido da imagem de sua empresa e/ou produto ao mesmo tempo em que agrega valor de mercado e favorece a sua diferenciação. A marca é [...] um nome, termo, sinal, símbolo ou a combinação dos mesmos, que tem o propósito de identificar bens ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e de diferenciá-los dos concorrentes. (KOTLER, 1998, p. 393).

O registro da marca tem um prazo de validade de dez anos contados a partir da data de concessão, podendo ser prorrogados por períodos iguais e sucessivos. No Brasil, a entidade responsável pelo registro das marcas e patentes é o Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI)5 vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. E, então, você deve estar pensando: é importante para fazer esses registros? Bem, a patente é mais importante para o inventor, ou pequena empresa inventora, quando esta se dedica a implementar novas tecnologias. Invenções, notadamente no Brasil, são mais características em setores como: fórmulas químicas aplicadas à petroquímica e à indústria de cosméticos; softwares; novos tipos de materiais e tecidos; novos tipos de máquinas aplicadas ao processo produtivo de fármacos, drogas e remédios. (ANI, 2009). Até mesmo a questão da marca depende da característica do negócio. Se você abre um restaurante, talvez o registro desta marca não seja tão importante em um primeiro momento, porém, se este negócio virar uma franquia ou você tiver planos de expandi-lo para outros mercados, o registro da marca se tornará fundamental.

ASPECTOS SOCIETÁRIOS Se a decisão foi tomada e existe a disposição para se levar adiante a oportunidade, é preciso saber como legalizá-la e, nesse caso, a primeira providência de ordem prática diz respeito à constituição do empreendimento, à determinação da sua natureza jurídica. A nova organização que surge pode ser uma iniciativa pessoal ou de um grupo; pode ter, ou não, fins lucrativos. Quando uma organização tem fins lucrativos, a chamamos de empresa, e é por ela que vamos começar. De acordo com o novo Código Civil Brasileiro, aprovado pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, mas que passou a vigorar a partir de 2003, as figuras jurídicas que designam uma empresa são: empresário, autônomo, sociedades simples, sociedades empresárias e sociedades cooperativas. Caso uma pessoa pretenda desenvolver a atividade sozinha, sem o concurso de nenhum sócio, irá se enquadrar como empresário ou autônomo. A diferença entre as figuras do empresário e do autônomo reside no aspecto econômico da atividade escolhida: o primeiro se ocupa de atividades destinadas à produção ou circulação de bens e serviços (fabricação, comércio e prestação de serviços em geral); o segundo, ao exercício de profissão legalmente regulamentada, o chamado profissional liberal, a exemplo dos advogados, dentistas, médicos, etc. que vendem serviços de natureza intelectual. Já quando a iniciativa é coletiva, diz-se que se constitui em uma sociedade e [...] celebram contrato de sociedades as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços, para o exercício da atividade econômica (um ou mais negócios determinados) e a partilha, entre si, dos resultados. (BRASIL, 2002, Art.981).

5  A descrição das etapas necessárias para a realização dos registros, assim como seus custos, associados podem ser encontrados no site do INPI.

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EMPREENDEDORISMO

As sociedades se dividem em empresariais e não empresarias. A reunião de dois ou mais empresários para exercer profissionalmente certa atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços origina a sociedade empresária. Sendo assim, uma loja, uma fábrica, um hotel e uma assistência técnica autorizada são exemplos de sociedades empresárias. A sociedade empresária tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro, inclusive a sociedade por ações, devendo inscrever-se na Junta Comercial do respectivo Estado. (BRASIL, 2002, Art.982). As sociedades empresárias podem ser constituídas por meio de um dos seguintes tipos: a) Sociedade em nome coletivo; b) Sociedade em comandita simples; c) Sociedade em comandita por ações; d) Sociedade Limitada; e) Sociedade Anônima. Conforme vocês devem ter percebido, as duas últimas categorias são as mais comuns, sendo que as sociedades limitadas são as mais utilizadas nas micro e pequenas empresas. O que caracteriza a sociedade limitada é que a responsabilidade dos sócios é limitada, como o próprio nome já diz, a sua participação na sociedade, ou seja, caso a empresa tenha dívidas, os sócios respondem por ela, com o seu patrimônio, até o limite do valor das suas quotas. As sociedades não empresariais referem-se às sociedades simples e às sociedades cooperativas. As sociedades simples são aquelas que em seu quadro social existem sócios que exercem profissão intelectual de natureza semelhante à prevista no caso dos autônomos. Portanto, trata-se da reunião de duas ou mais pessoas que, se atuassem sozinhas, pela natureza da sua atividade, seriam registradas como autônomas. As cooperativas são definidas como “empresas formadas e dirigidas por uma associação de usuários, que se reúnem em igualdade de direitos, com o objetivo de desenvolver uma atividade econômica ou prestar serviços comuns, eliminando os intermediários”. (COOPERATIVA, 2009). Outra maneira de concretizar a sua ideia pode ser através da criação de uma Organização Não Governamental (ONG)6, caminho escolhido por muitos jovens, notadamente aqueles imbuídos de um forte empreendedorismo social. Todavia, é preciso esclarecer que ONG é tão somente uma sigla que expressa genericamente as organizações do terceiro setor, tais como: associações, fundações, institutos e, até mesmo, as já citadas cooperativas7 (SEBRAE, 2009). Mas o que são cada uma delas? As Associações são “entidades de direito privado, dotadas de personalidade jurídica e caracterizadas pelo agrupamento de pessoas para a realização e consecução de objetivos e ideais comuns, sem finalidade econômica, isto é, sem interesse de lucros”. (DORNELAS, 2005, p. 214). As Associações se diferenciam das cooperativas por essa natureza social e filantrópica. As cooperativas visam os interesses econômicos de seus sócios.

6  As ONGs passaram, a partir da Lei 9.790 de 23 de março de 1999, a ser conhecidas também como OSCIPs (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). O que as diferencia é que a OSCIP é como se fosse uma ONG com a atuação certificada pelo poder público federal, através da emissão de um certificado comprobatório de seus serviços e de sua relevância social. 7  Para obter maiores informações sobre como constituir uma ONG, visite o site do Sebrae no endereço http://www.sebraemg.com.br/ cultura-dacooperacao/oscip/02.htm.

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AULA 8 - COMO IMPLEMENTAR NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

As Fundações têm a mesma finalidade social das Associações, mas, para a sua constituição, é necessária a doação de um patrimônio que passe a dela fazer parte. Os Institutos normalmente têm fins científicos e estão vinculados a Universidades e outras entidades da esfera do conhecimento. Bem, agora que você conhece todas as formas possíveis de constituir um empreendimento pela legislação brasileira, o próximo passo é encontrar as fontes de financiamento e apoio que podem concretizá-lo.

BUSCANDO APOIO PARA A IDEIA É bem provável que você já tenha pensado em empreender, mas tenha desistido da ideia por pensar que esse tipo de caminho é para aqueles que têm dinheiro, que o valor requerido pelo investimento necessário para concretizar a sua ideia está muito acima das suas possibilidades, não é verdade? Bem, se isso não aconteceu com você, certamente aconteceu com alguém que você conhece, pois é um dos principais motivos que interferem na continuidade dos empreendimentos. É desse tema que trata essa seção: as possíveis fontes de apoio financeiro e tecnológico para o seu empreendimento. De acordo com Dornellas (2005), as fontes mais usuais de apoio financeiro para os empreendimentos são as seguintes: 1) Economia pessoal, família e amigos; 2) Investidor Anjo; 3) Fornecedores, parceiros estratégicos e funcionários; 4) Capital de risco (Venture Capital); 5) Programas Governamentais, O primeiro caso refere-se a aquelas pessoas que não tem problema de financiamento, pois ou possuem os recursos ou pertencem a famílias que dispõem de condições de auxiliá-los nesse momento inicial. A decisão de empréstimo baseada em uma relação de parentesco se norteia muito mais pela confiança pessoal do que pela rentabilidade do empreendimento. Muitas vezes o empréstimo é feito sob a forma de participação societária, em que o sobrinho convida o tio para ser sócio, por exemplo. O investidor anjo é uma pessoa que dispõe de recursos para investir em novos empreendimentos. Normalmente se constitui em empresários bem sucedidos que procuram alternativas rentáveis para a aplicação de seu dinheiro. Diferentemente do primeiro caso, aqui, o mais importante na decisão de apoiar uma ideia é a sua viabilidade, demonstrada através de um plano de negócios bem estruturado, fundamentado e consistente. Nos Estados Unidos, segundo Dornellas (2005), eles se constituem na principal fonte de financiamento das “start-ups8”. Os anjos não se expõem, tampouco colocam anúncios nos jornais, para achá-los é necessário acionar a sua rede de relacionamentos. A terceira alternativa aplica-se ao caso de empresas existentes que necessitem de apoio para a inovação. Elas podem ser financiadas por fornecedores, que podem alongar o prazo de pagamento dos insumos; por clientes, que podem se tornar parceiros estratégicos no desenvolvimento de alguma nova aplicação; por parceiros como os franqueados, que entram com seu próprio capital e contribuem para a expansão do empreendimento; e por funcionários, que podem abrir mão de suas remunerações em troca de participações nos resultados. 8  Designação atribuída a empresas recém-criadas.

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EMPREENDEDORISMO

O capital de risco ou venture capital corresponde à versão corporativa dos anjos, ou seja, trata-se de empresas, normalmente bancos de investimentos, que formam carteiras de investimentos baseadas em negócios com perspectiva de retorno acima da média do mercado e a um prazo curto (de 3 a 5 anos). A análise desses negócios também é profissional e baseada nos indicadores do plano de negócios. Ela é feita por profissionais muito experientes, contratados para tal fim. A prática revela que não se trata de uma alternativa comum para start-ups, mas para empreendimentos que já estejam saindo da sua fase inicial. Segundo Dornellas (2005), as empresas de base tecnológica e com foco em inovação são o principal alvo do venture capital. Os capitalistas não costumam participar da administração do empreendimento, mas assim como no caso dos anjos, serão sócios minoritários e terão direito de interferir nos seus rumos. A decisão de buscar esse tipo de apoio diminui a independência do empreendedor e, por esse motivo, deve ser pensada. O Ministério da Ciência e Tecnologia, através da Finep, criou o programa Inovar, que visa aproximar os empreendedores dos investidores de risco a partir da realização de uma série de rodadas de negociação (Ventures Fóruns). Os programas governamentais referem-se às fontes de financiamento oriundas de recursos dos governos municipais, estaduais e federais. Muitos desses recursos são a fundo perdido (que não precisam ser devolvidos) ou repassados através de linhas de financiamento subsidiadas, com juros bem abaixo do praticado no mercado. Os principais agentes fomentadores são, no âmbito federal, o Ministério da Ciência e Tecnologia e, no âmbito estadual, o Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), conforme pode ser visto no quadro abaixo, onde foram reunidos alguns dos principais programas disponíveis. Quadro 2 - Relação de principais programas de apoio ao empreendedorismo

NOME DO PROGRAMA

LINK

Programa RHAE Inovação

Ministério da Ciência e www.mct.gov.br/prog/rhae/Default.htm Tecnologia

Programa Softex

Ministério da Ciência e http://www.softex.br/_asoftex/programaSoftex.asp Tecnologia/CNPq

Programa Prosoft

Progex

Inova Brasil Prime- Primeira Empresa Inovadora Sibratec

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MANTENEDOR

BNDES

http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/ Institucional/Apoio_Financeiro/Linhas_ Programas_e_Fundos/Prosoft/prosoft_comercializacao.html

Ministério da Ciência e www.finep.gov.br/programas/progex.asp Tecnologia Ministério da Ciência e http://www.finep.gov.br/programas/inovabrasil.asp Tecnologia Ministério da Ciência e http://www.finep.gov.br/programas/prime.asp Tecnologia Ministério da Ciência e http://www.finep.gov.br/programas/sibratec.asp Tecnologia


AULA 8 - COMO IMPLEMENTAR NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

NOME DO PROGRAMA

MANTENEDOR

LINK

Subvenção Econômica

Ministério da Ciência e Tecnologia

http://www.finep.gov.br/programas/subvencao_economica.asp

Bahia Inovação

Fapesb

http://www.fapesb.ba.gov.br/apoio/bahia-inovacao/ apresentação

Empreende Bahia

Fapesb

http://www.fapesb.ba.gov.br/apoio/empreende_bahia/ apresentação

Programa de Apoio a Tecnologias Sociais e Ambientais

Fapesb

http://www.fapesb.ba.gov.br/apoio/tecsocialambiental/ apresentação

FONTE: ELABORAÇÃO PRÓPRIA COM BASE NOS SITES DA FINEP, FAPESB E SEBRAE.

Além do apoio financeiro, as empresas nascentes precisam de apoio tecnológico e de um ambiente propício para o desenvolvimento de suas atividades. No início de sua trajetória, os empreendimentos não possuem marca conhecida e, a depender da sua área de origem, se ressentem da falta de conhecimento de práticas gerenciais básicas. É muito comum, também, que a disponibilidade financeira não seja suficiente para custear a sua estrutura física. Nesse momento crítico, o apoio de entidades como as incubadoras de negócios, o Sebrae, instituto de pesquisa e de estímulo ao empreendedorismo, são cruciais. As incubadoras de empresas são entidades sem fins lucrativos que proporcionam “ambientes dotados de capacidade técnica, gerencial, administrativa e infraestrutura para amparar o pequeno empreendedor. Elas disponibilizam espaço apropriado e condições efetivas para abrigar ídeias inovadoras e transformá-las em empreendimentos de sucesso”. (ANPROTEC, 2009). Segundo a Anprotec (2009), o Brasil possui 383 incubadoras, sendo 339 em operação (com empresas incubadas), 32 em implantação (em processo de estruturação) e 12 em projeto. A Unifacs tem uma incubadora. Sabiam disso? Ela funciona desde 2007, no Prédio de Aulas 8, do Caminho das Árvores. Foi montada com o apoio da Fapesb e do Sebrae. É classificada como uma incubadora de inovação, ou seja, apoia todo o tipo de empreendimento inovador, conforme discutido nas aulas anteriores. Para maiores informações sobre a incubadora ou sobre como participar dela, contate <http://www.incubadora.unifacs.br>. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) também é uma possibilidade de apoio muito valiosa. Ela assessora os empreendedores desde o momento da realização do plano de negócios, passando pela constituição formal da empresa, disponibilização de cursos, consultorias, até a divulgação dos negócios através da organização de caravanas que possibilitam a participação das pequenas empresas em feiras e rodadas de negócios. Em Salvador, o Sebrae, anualmente, realiza um grande evento destinado ao fomento e divulgação do empreendedorismo, chamada Feira do Empreendedor. Por fim, gostaríamos de destacar o apoio fornecido pelo Instituto Empreender Endeavor. Trata-se de uma entidade internacional, com sede em Nova York, que atua no Brasil desde 2000. Ela oferece

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EMPREENDEDORISMO

suporte aos empreendedores através do oferecimento de cursos, biblioteca virtual, guias de consulta, boletins informativos, premiações e uma consultoria especializada para projetos selecionados. Além disso, atua junto a investidores, como uma ponte de ligação entre os investidores de risco e anjos e os start-ups.

INTRODUÇÃO AO PLANO DE NEGÓCIOS Falamos muito de Plano de Negócios na seção anterior, da sua importância para os empreendedores como um sinalizador da viabilidade de sua oportunidade de negócios - e para os eventuais investidores que procuram nesse documento informações sobre a sua rentabilidade. O Plano de Negócios é um documento escrito pelo empreendedor em que ele descreve a sua ideia dentro de um contexto mercadológico, explicitando as suas características relacionadas com os aspectos operacionais ou técnicos, administrativos, financeiros e econômicos. Existem inúmeros modelos de Planos de Negócios e, se você procurar, facilmente encontrará na internet os modelos do Sebrae, ou do Prof. José Dornellas - referência usual no material desse curso - e ainda outras fontes que listaremos na bibliografia complementar. Todavia, vamos descrever, nessa última seção, a metodologia empregada nos cursos de negócios da Unifacs. Diferentemente, das fontes citadas, entendemos que o plano de negócios deve transcender a ideia do projeto da nova empresa e, antes de mais nada, verificar se essa ideia é viável, do ponto de vista de uma análise de competitividade. Entende-se por competitividade, em linhas gerais, a capacidade que uma empresa tem de competir na indústria em que atua. Ora, sabemos que algumas atividades são de mais difícil inserção do que outras. Sabemos que alguns setores, inclusive, em tempos de globalização, enfrentam uma competição nacional e/ou global em que fatores relacionados às características econômicas, mercadológicas, infraestruturais e físicas dos estados e/ou países serão ainda mais importantes do que a competência do empreendedor individual. A concorrência da China em muitos segmentos industriais tem comprovado isso. Então, antes de descrever a ideia e projetar os seus resultados futuros, cabe, ao nosso ver, uma análise que valide e legitime essa decisão de investimento. A análise de competitividade levada a cabo nesse estágio inicial é baseada nos modelos teóricos da Análise Estrutural da Indústria (5 Forças) e do Diamante Nacional, ambos de Michael Porter, e do Estudo da Competitividade da Indústria Brasileira (ECIB) de Luciano Coutinho e João Carlos Ferraz. Bem, uma vez vencida essa etapa, passamos à ideia do projeto que está dividido segundo Spinola (2000) em 5 partes, descritas a seguir: 1) Estudo Administrativo - nesse capítulo são inseridos os dados de identificação do negócio, seus aspectos jurídicos e tributários, bem como a estrutura organizacional da empresa (descrição dos cargos, alocação de pessoas e distribuição de tarefas), aspectos trabalhistas e as estratégias mercadológicas, operacionais e financeiras do negócio; 2) Estudo de Mercado - esse é o coração do projeto. Trata da descrição detalhada do produto/ serviço, da determinação das condições de mercado existentes para o seu sucesso, do estudo do comportamento da clientela e da concorrência. Tudo isso é feito para determinar o espaço existente no mercado para a entrada de um novo empreendimento e as possíveis expectativas de faturamento;

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AULA 8 - COMO IMPLEMENTAR NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS

3) Estudo Técnico ou Operacional - nesse capítulo são detalhados os aspectos tecnológicos relacionados com produção/comercialização do produto ou prestação do serviço. As medidas de segurança e de prevenção a danos ambientais também são abordadas. Ainda nessa etapa, o investimento fixo necessário para a montagem do empreendimento é totalizado. 4) Estudo Financeiro - trata do investimento financeiro requerido e das opções de financiamento que serão consideradas. 5) Estudo Econômico - apresenta a estrutura de custos do projeto, a demonstração de resultados e o cálculo dos principais indicadores de viabilidade microeconômica e macroeconômica. Os primeiros se referem aos indicadores procurados pelos investidores de risco e anjos e, dizem, de maneira objetiva, quão interessante é o empreendimento enquanto uma alternativa de investimento financeiro. Os segundos, são observados pelas entidades públicas de fomento que, ao selecionar um negócio para apoiar, procuram saber sobre a sua contribuição para a economia em termos de geração de empregos, impostos e valor agregado para a renda nacional. A elaboração do Plano de Negócios requer algum conhecimento de administração e, portanto, é ensinada nos cursos de gestão, em matérias que sucederão essa disciplina. Os empreendedores oriundos de outras áreas podem recorrer ao auxílio das incubadoras e do Sebrae, conforme já mencionado, para realizá-la. Há também livros bem accessíveis que introduzem esse assunto e estão listados abaixo. Mas, independentemente da estratégia escolhida para a sua realização, o mais importante é não deixar de fazê-lo. Bem, chegamos ao fim do nosso curso. Espero encontrá-lo em outras ocasiões para podermos discutir melhor o tema. Nossa intenção foi aproximá-lo um pouco dessa oportunidade de futuro profissional que representa o empreendedorismo, em qualquer uma das suas concepções: como uma postura profissional dentro de organizações constituídas ou como a possibilidade de gerar um novo empreendimento, quer seja ele lucrativo ou de cunho social. Desejamos que as provocações trazidas tenham contribuído para que você, hoje, se conheça um pouco melhor e tenha melhores condições de sonhar uma visão de futuro inspiradora. Boa sorte!

SÍNTESE A última aula do curso discutiu as providências necessárias para a concretização da oportunidade de negócio, apresentou as principais alternativas de financiamento para os novos empreendimentos e mostrou algumas das mais importantes entidades de apoio e fomento a novos negócios. Por fim, apresentamos, em linhas gerais, as principais etapas de um plano de negócios.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO Faça uma avaliação das opções de financiamento e fomento apresentadas nessa aula e responda: você considera que elas atendem às iniciativas empreendedoras da sua área de atuação profissional? Caso contrário, colabore conosco e nos envie o seu comentário. Ajude-nos a procurar novas maneiras de estimular a inovação. Quem sabe não conseguimos, no futuro, ampliar a lista de empreendedores locais que montamos em nosso primeiro encontro?

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EMPREENDEDORISMO

LEITURAS INDICADAS FARAH, O.E.; CAVALVANTI, M.; MARCONDES, L.P. Empreendedorismo estratégico: criação e gestão de pequenas empresas. São Paulo: Cengage Learning, 2008. SPINOLA, Noelio. Projetos empresariais e planejamento de negócios: uma abordagem para as micro e pequenas empresas. Salvador: Edição do autor, 2000.

SITES INDICADOS Associação Brasileira de Franchising (ABF) - <www.abf.com.br>. Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) - <www. anprotec.org.br>. Associação Nacional dos Inventores (ANI) - <www.inventores.com.br>. Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) - <www.finep.gov.br>. Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) - <www.fapesb.ba.gov.br>. Instituto Endeavor - <www.endeavor.org.br>. Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) - <www.inpi.gov.br>. Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) <www.sebrae.com.br>. World International Property Organization (WIPO) - <www.wipo.int>.

REFERÊNCIAS ANI. Desenvolvido pela ANI. Busca incentivar e orientar inventores e empreendedores. Disponível em: <http://inventores.com.br>. Acesso em: 10 nov. 2009. ANPROTEC. Desenvolvido por Homepage da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores. Disponível em: <http://www.anprotec.org.br>. Acesso em: 24 nov. 2009. BRASIL. Lei 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 15 maio 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br /ccivil_03/Leis/L9279.htm>. Acesso em: 10 nov. 2009. BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: http://www.planalto. gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm. Acesso em: 11 nov. 2009. CARNEIRO, A. P. M.; II simpósio internacional de transparência nos negócios. Estudo da importância da inovação tecnologica no Brasil através da PINTEC (Pesquisa Inovação Tecnológica /IBGE), 2008. (UFF/ Univ Nacional de Missiones), Disponível em: <http://www.latec.uff.br/transparencia/documentos/ anais_transparencia2/T6_0111_0425.pdf.>. Acesso em: 27 mai. 2013. COOPERATIVA. Desenvolvido pela Webmillenium. Homepage que reúne informações sobre cooperativismo. Disponível em: http://www.cooperativa.com.br/ V6/default.asp>. Acesso em: 12 nov. 2009.

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