EXPRESSÃO GRÁFICA Autor – Carlos Eduardo Senna
Universidade Anhembi Morumbi
Universidade Salvador
Janes Fidelis Tomelin Diretor de EaD
Adriano Lima Barbosa Miranda Diretor de Educação Corporativa e Novos Projetos
Fabiano Prado Marques Diretor Acadêmico – Escola de Engenharia e Tecnologia Conrad Elber Pinheiro Revisor Técnico
Universidade Potiguar Barney Vilela Coordenador Geral do Núcleo de Coordenação a Distância Catarina de Sena Pinheiro Diretora da Escola de Engenharia e Ciências Exatas
Rafael Gonçalves Bezerra de Araújo Diretor da Escola de Engenharia e TI
Rede Laureate Internacional de Universidades Daniella Loureiro Koncz Coordenadora de Novos Negócios André Torres Gregório Designer Instrucional
FabriCO Projeto educacional Projeto gráfico Autoria do conteúdo Revisão ortográfica e gramatical
SUMÁRIO CARTA AO ALUNO................................................................................................................ 6 AULA 1 - INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO ................................................................... 7 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 7 OBJETIVOS................................................................................................................ 8 1.1 Comunicação através do desenho.................................................................... 8 1.2 Desenho artístico x desenho técnico.............................................................. 11 1.2.1 O desenho artístico................................................................................. 12 1.2.2 O desenho técnico.................................................................................. 13 1.3 A origem do desenho técnico........................................................................ 14 1.4 O desenho técnico na atualidade................................................................... 15 1.5 Normas associadas ao desenho técnico......................................................... 16 CONCLUSÃO........................................................................................................... 19 AULA 2 - ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO........................................................... 21 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 21 OBJETIVOS.............................................................................................................. 22 2.1 Instrumentos e acessórios ............................................................................. 22 2.1.1 Esquadros................................................................................................ 23 2.1.2 Compasso................................................................................................ 24 2.1.3 Régua e escalas ..................................................................................... 25 2.1.4 Lápis, lapiseiras e grafites...................................................................... 26 2.1.5 Borracha ................................................................................................. 27 2.2 Folhas de desenho ........................................................................................ 27 2.2.1 Formatos e tipos de papel ..................................................................... 27 2.2.2 Margem, legenda e moldura.................................................................. 29 2.2.3 Dobra da folha ....................................................................................... 32 2.3 Tipos de linhas e anotações .......................................................................... 33 CONCLUSÃO........................................................................................................... 35 AULA 3 - PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES.................................................. 37 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 37 OBJETIVOS.............................................................................................................. 38 3.1 O conceito de projeção................................................................................... 38 3.1.1 O modelo................................................................................................ 38 3.1.2 O observador........................................................................................... 39 3.1.3 O plano de projeção............................................................................... 39
3.2 Representação em diedros (planos de projeção).......................................... 42 3.3 Representação em múltiplas vistas................................................................ 50 3.4 Vistas auxiliares primárias.............................................................................. 53 CONCLUSÃO........................................................................................................... 57 AULA 4 - CORTES E SEÇÕES................................................................................................ 59 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 59 OBJETIVOS.............................................................................................................. 60 4.1 O conceito de corte........................................................................................ 60 4.2 Tipos de corte................................................................................................. 67 4.2.1 Corte composto....................................................................................... 67 4.2.2 Meio-corte............................................................................................... 68 4.2.3 Corte parcial............................................................................................ 69 4.2.4 Seção....................................................................................................... 70 CONCLUSÃO .......................................................................................................... 72 AULA 5 - COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO........................................................................ 73 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 73 OBJETIVOS.............................................................................................................. 74 5.1 O conceito de cotagem................................................................................... 74 5.1.1 Seta......................................................................................................... 74 5.1.2 Linha de Cota.......................................................................................... 75 5.1.3 Linha de Chamada.................................................................................. 76 5.1.4 Cota (valor numérico)............................................................................. 76 5.2 Inscrição das cotas.......................................................................................... 77 5.3 Aplicando os elementos de cotagem (regras gerais).................................... 80 5.3.1 Cotagem de circunferências.................................................................... 80 5.3.2 Cotagem de ângulos............................................................................... 81 5.3.3 Cotagem de arcos................................................................................... 82 5.3.4 Cotagem de chanfros.............................................................................. 82 5.3.5 Regras gerais ......................................................................................... 83 CONCLUSÃO........................................................................................................... 87 AULA 6 - ESCALA............................................................................................................... 89 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 89 OBJETIVOS.............................................................................................................. 90 6.1 O conceito de escala....................................................................................... 90 6.2 Escalas recomendadas pela ABNT.................................................................. 93 6.3 O uso do escalímetro...................................................................................... 94 CONCLUSÃO........................................................................................................... 97
AULA 7 - O DESENHO EM PERSPECTIVA............................................................................. 99 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 99 OBJETIVOS............................................................................................................ 100 7.1 O conceito de perspectiva............................................................................ 100 7.1.1 Perspectiva Cônica................................................................................ 102 7.1.2 Perspectiva Cavaleira............................................................................ 103 7.1.3 Perspectiva Isométrica.......................................................................... 106 7.1.4 Construindo a perspectiva isométrica simplificada.............................. 106 7.2 Indicações complementares (perspectiva explodida).................................. 115 CONCLUSÃO......................................................................................................... 117 AULA 8 - DESENHO ARQUITETÔNICO................................................................................ 119 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 119 OBJETIVOS............................................................................................................ 120 8.1 O conceito de desenho arquitetônico.......................................................... 120 8.1.1 Planta baixa.......................................................................................... 120 8.1.2 Planta de localização............................................................................ 122 8.1.3 Planta de Cobertura.............................................................................. 123 8.1.4 Cortes.................................................................................................... 124 8.1.5 Fachada (ou elevação).......................................................................... 128 8.2 Simbologia.................................................................................................... 129 CONCLUSÃO......................................................................................................... 131 REFERÊNCIAS................................................................................................................... 133
INFORMÁTICA APLICADA
CARTA AO ALUNO Conhecer os recursos de uma planilha eletrônica vai além dos básicos conceitos de tabelas e gráficos. Por isso mesmo, a disciplina foi estruturada com conteúdos realmente importantes e em linguagem objetiva e didática. Hoje, sem dúvida, a ferramenta Excel 2013 é o software de planilha eletrônica de maior produtividade entre as grandes empresas. Não é à toa que, cada vez mais, elas desejam funcionários com um nível avançado de conhecimento sobre seus recursos. Você, futuro engenheiro(a), aprenderá a usar o software para realizar diversas atividades do cotidiano com muito mais agilidade, organização e objetividade. Em cada aula você estudará um assunto diferente, todos interligados. Você terá sempre um apoio com dicas, curiosidades e recursos instrucionais que divulgarão informações interessantes para você pesquisar e se aprofundar no recurso específico da planilha eletrônica. Ao terminar a disciplina, você estará apto a criar e formatar de relatórios, além de montar e executar fórmulas características dos cursos de Engenharia. Com certeza, isso aumentará bastante a sua produtividade! Mãos à obra!
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AULA 1 Introdução ao Desenho Técnico
INTRODUÇÃO Antes de dar os primeiros passos no universo da expressão gráfica, que tal falarmos um pouco sobre os fundamentos teóricos? Eles serão de grande valia para a compreensão do tema, pois identificar as características do desenho é tão importante quanto saber desenhar. Portanto, neste capítulo, você conhecerá um pouco da origem da representação, assim como seus atributos e conceitos básicos. Comentaremos a respeito dos suportes necessários para o desenvolvimento dessa forma de comunicação, presente em praticamente toda atividade humana. Para completar, você conhecerá os benefícios de um desenho padronizado. Fique atento às principais normas utilizadas no Brasil. Boa aula!
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Compreender o desenho como forma de linguagem, utilizado por diferentes culturas. » » Diferenciar os tipos essenciais de desenho (artístico e técnico). » » Identificar as características e as instâncias do desenho técnico. » » Conhecer a evolução do desenho técnico e as bases conceituais da Geometria Descritiva. » » Conhecer as vantagens dos sistemas computacionais. » » Conhecer os benefícios da padronização no desenho técnico e saber as principais normas indicadas pela ABNT.
1.1 COMUNICAÇÃO ATRAVÉS DO DESENHO O homem começou a usar o desenho para se comunicar desde a Pré-História, quando usou a expressão oral e mais tarde a forma escrita. As primeiras tentativas de comunicação ocorreram por meio de pinturas feitas com materiais rudimentares, como carvão e pedra calcária, no interior de cavernas. Essas pinturas, denominadas representações rupestres, faziam referência a animais e situações da vida cotidiana, e os registros datam de 35.000 e 11.000 a.C.
Figura 1 - Representações rupestres na caverna de Altamira (Espanha). Fonte: <www.shutterstock.com>.
Essa forma de representação, excepcionalmente gráfica, trouxe grandes contribuições para a compreensão da História, pois revelou as diferentes técnicas utilizadas pelos povos primitivos, assim como seus hábitos e costumes. Uma das primeiras culturas a fazer uso de elementos gráficos foi a antiga civilização egípcia. Por volta de 4.000 a.C., os egípcios desenvolveram um sistema de escrita monumental, baseado em símbolos e referências icônicas. O hieróglifo, usado apenas por sacerdotes e membros da realeza, ficou conhecido por ser um padrão genuinamente religioso, presente nas paredes de templos e túmulos. Ainda hoje é difícil compreender qualquer expressão visual do Antigo Egito sem antes conhecer suas principais divindades. O desenho da figura humana, por exemplo, não é realista, e sim esquemático. Além disso, as representações são repletas de significados. Em geral, elas caracterizam figuras importantes, estabelecem níveis hierárquicos e descrevem acontecimentos históricos.
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AULA 1 – INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO
Figura 2 - Hieróglifos egípcios desenhados na pedra. Fonte: <www.shutterstock.com>.
Na Ásia, cinco séculos depois, os chineses criaram seus elementos gráficos. Aqui, podemos citar os caracteres chineses, que atuam como escrita progressivamente esquemática. O padrão de escrita oriental sempre foi considerado abstrato por não representar a realidade. Ainda assim cada desenho tem um significado próprio, composto de determinado número de traços, como você pode ver na figura a seguir. Note que os caracteres chineses seguem uma direção predefinida (de cima para baixo, por exemplo) e respeitam apurada ordem. Salvo algumas exceções, os desenhos são sempre dispostos em linhas verticais e feitos no sentido de leitura, da esquerda para a direita. Assim, podemos dizer que os chineses também inventaram um sistema único de comunicação, com símbolos e traços específicos, feitos manualmente.
Figura 3 - Exemplos de caracteres chineses tradicionais. Fonte: <www.shutterstock.com>.
O governo chinês promoveu, no final da década de 1950, a simplificação de muitos caracteres. Mesmo assim, o desenho continuou presente e entrelaçado à forma escrita, por meio da sequência e organização dos traços. A propósito, escrever nada mais é do que desenhar letras, não é mesmo?
Entre 3.500 e 3.000 a.C., os sumérios construíram suas cidades nos territórios férteis da Mesopotâmia, e utilizaram o desenho com objetivo diferente: demonstrar a superfície da Terra, indicando refúgios
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e rotas comerciais. No início, a representação do terreno baseava-se na observação direta e na descrição do ambiente. As primeiras anotações comerciais eram feitas na argila ainda úmida. Com o passar dos anos, surgiram os primeiros equipamentos de medição, fundamentais para a obtenção de dados e posterior representação da superfície. Os mapas ganharam destaque, principalmente, com a expansão do Império Romano. Em síntese, ao contrário dos chineses e egípcios, os mesopotâmicos desenvolveram uma relação atípica com o desenho, conferindo a eles significados e caracteres próximos à representação cartográfica (que prioriza a descrição de uma região ou de um lugar). Alguns projetos pioneiros ainda podem ser encontrados no Museu do Louvre, em Paris (França). Um exemplo clássico é a planta de um edifício da cidade de Lagash, na Suméria. O desenho foi gravado na estátua monumental de Gudeia, que você pode ver na figura a seguir, e ficou conhecido por ser um dos primeiros registros encontrados de uma planta, semelhante aos projetos feitos por arquitetos e engenheiros modernos.
Figura 4 - Planta de um Zigurate, desenhada na escultura de Gudeia (aproximadamente 2.125 anos a.C.). Fonte: Giesecke et al. (2002, p. 24).
Interessante, não é mesmo? A imagem faz menção ao desenho de um Zigurate, espécie de templo antigo. Podemos inferir que essa planta tenha sido usada por mestres e construtores. Supõe-se que muitos desenhos semelhantes desapareceram ao longo do tempo. Mas, mesmo que os primeiros registros não existam mais, sabemos que dificilmente as civilizações antigas teriam projetado algo sem fazer uso de anotações. Você já parou para pensar nos projetos erguidos pelos egípcios, como as pirâmides e os famosos monólitos de pedra? Ou, ainda, as barragens alçadas pelos povos da Mesopotâmia? São bem conhecidos, também, os grandes feitos romanos, como a construção de edifícios, aquedutos e fortalezas. Seria possível erguer obras desse porte sem um planejamento prévio, ou seja, um desenho, por mais arcaico que fosse?
A imagem original da estátua de Gudeia pode ser vista no site oficial do Museu do Louvre. Acesse <www.louvre.fr/routes/bible-et-mesopotamie>.
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AULA 1 – INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO
Finalmente, durante o Renascimento (período da História entre o fim do século XIV e meados do século XVI), os desenhos ganharam outro propósito. Alguns artistas da época usavam seus conhecimentos em anatomia e física para transmitir a sensação de veracidade às imagens. Leonardo da Vinci – cujo processo cognitivo chegou até nós pelos numerosos desenhos e experimentos de grande valor científico – foi pioneiro nesse aspecto. A partir do século XVI, o desenho começou a ser usado no processo de criação, pois ajudava os grandes artistas na idealização de seus projetos. Veja a figura a seguir.
Figura 5 - Desenhos feitos por Leonardo da Vinci (registros de estudos anatômicos e princípios mecânicos, datados de 1492 a 1503). Fonte: <www.shutterstock.com>.
Com o uso apropriado das técnicas do desenho, Leonardo da Vinci e outros mestres do Renascimento enxergavam a representação como forma de ciência. Vale registrar que naquela época o desenho era encarado como um método de investigação. Essas técnicas foram exploradas nas diversas obras de Leonardo, que usou recursos explodidos e elementos em corte para explicar o funcionamento interno de suas invenções. Ao longo dos anos, como você pôde perceber, o desenho foi utilizado com objetivos distintos, na forma escrita e como elemento de comunicação, excepcionalmente visual. Apesar das diferenças, em sua essência o desenho pode ser considerado um tipo de linguagem, usada para transmitir ideias e conceitos trabalhados pelo autor. Em outras palavras, o desenho pode ser entendido como uma forma de manifestação, em que o artista (ou responsável) transfere para o papel suas pretensões (SILVA, 1984).
1.2 DESENHO ARTÍSTICO X DESENHO TÉCNICO de forma genérica, o desenho é uma composição visual feita em duas dimensões, constituído por linhas, pontos e demais elementos (formas livres e geométricas). Nesse aspecto, difere da pintura e da gravura, em função da técnica e do objetivo para o qual foi concebido. Toda forma de comunicação é realizada por meio de códigos, que devem ser previamente conhecidos por quem receberá a mensagem. A escrita, por exemplo, é construída por letras que
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compõem palavras, e estas, de forma organizada, geram frases compreensíveis. Assim como a escrita, o desenho pode ser compreendido e ensinado como técnica. Sempre que algo é projetado, esboçado ou rabiscado, a expressão se dá a partir de elementos básicos (códigos visuais). Assim, o desenho é formado por uma sucessão de pontos que fundamentam linhas e, em seguida, criam formas igualmente compreensíveis, desde que organizadas adequadamente. Por ser considerado um tipo de linguagem, vale lembrar que o desenho é utilizado por diferentes profissionais, como engenheiros, arquitetos, artistas plásticos e desenhistas industriais. Para compreender esse universo, podemos diferenciar, por ora, dois tipos essenciais de desenho: o artístico e o técnico.
1.2.1 O desenho artístico Os desenhos artísticos são usados para expressar sentimentos, crenças e filosofias. A fim de compreender um desenho artístico, às vezes é necessário entender, em um primeiro momento, o autor. Observe as imagens selecionadas e veja a diferença nas formas de representação de um rosto infantil. Muitas vezes, os artistas tornam a abordagem da comunicação mais sutil e abstrata, ou seja, retratam a obra de maneira pessoal, sem o compromisso de indicar o objeto como ele realmente é.
La Penitente, pintado por Pietro Antonio Rotari (começo do séc. XVIII)
Paloma en bleu, pintado por Pablo Picasso, em 1952
Figura 6 - Exemplos de desenhos artísticos. Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rotari,_Pietro_Antonio_-_Portrait_of_a_Young_Girl,_La_Penitente.jpg> e <http://www.pablo-ruiz-picasso.net/work-1228.php>.
Perceba que, apesar das diferenças, em ambos os casos o desenho reflete o gosto e a sensibilidade do autor. Este fato pode sugerir diferentes interpretações, pois no desenho artístico prevalece a liberdade de expressão e a subjetividade. Em outras palavras, dois artistas, ao retratarem o mesmo tema, podem transmitir emoções bem diferentes. Além disso, o mesmo desenho pode provocar diversas reações, pois cada observador interpreta o resultado ou a obra da sua maneira.
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AULA 1 – INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO
1.2.2 O desenho técnico Por outro lado, temos o desenho técnico, que não pode ser ambíguo nem abstrato. Ele requer uma abordagem diferente, que precisa resultar na compreensão clara e concisa do produto a ser trabalhado. Esse tipo de desenho deve indicar com precisão todos os parâmetros necessários para a construção de um objeto, como o material, as especificações e as dimensões. Para Silva (1984), ao contrário do desenho artístico, o desenho técnico não só fornece a intenção do projetista como, também, dá informações exatas de todos os detalhes existentes do objeto. No caso da engenharia, esse objeto pode ser uma figura geométrica, um sólido, uma casa ou até mesmo um conjunto de peças. Veja alguns exemplos.
Figura 7 - Exemplos de desenhos técnicos para os segmentos arquitetônico e mecânico. Fonte: <www.shutterstock.com>.
O termo “desenho técnico” sugere o tipo de representação usado no setor produtivo por técnicos, engenheiros e responsáveis pelo registro de ideias, fabricação e reparo. Dentro dessa modalidade, podemos classificar o desenho técnico quanto ao grau de elaboração: a) desenho de esboço: busca resolver determinado problema, em nível de planejamento; b) desenho de execução: contempla informações ligadas à parte produtiva, nos estágios intermediários; c) desenho de definição: estabelece os parâmetros mínimos construtivos, assim como as tolerâncias necessárias, após o produto acabado. Saiba que essa classificação pode variar dependendo do autor escolhido para estudo do tema. A classificação apresentada aqui é indicada por Cunha (2004). Contudo, a nomenclatura só existe em função dos diferentes estágios envolvidos na elaboração de um projeto.
A classificação geral dos desenhos técnicos aplica-se essencialmente aos desenhos de ordem mecânica. Na internet, você pode encontrar outras nomenclaturas existentes. Procure por termos como desenho projetivo, desenho de fabricação e desenho de engenharia.
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1.3 A ORIGEM DO DESENHO TÉCNICO Muitos dos desenhos usados em engenharia evoluíram significativamente durante a Revolução Industrial, mais precisamente no final do século XVIII, quando o matemático francês Gaspard Monge obteve prestígio por sistematizar um método gráfico de comunicação. O método de Monge, denominado biprojetivo, possibilitava representar com maior exatidão objetos tridimensionais (indicados pela largura, altura e profundidade) em superfícies planas, como uma folha de papel. Veja o exemplo a seguir.
Altura
Profundidade
Largura
Figura 8 - Figura tridimensional desenhada em uma folha. Fonte: Adaptado de Senai (1982, p. 24).
Antes do século XVIII, a maioria dos desenhos era produzida de forma empírica, pouco compreensível quando utilizada nos meios de produção. Com a sistematização do processo, Monge introduziu os princípios gerais da Geometria Descritiva, considerada, ainda hoje, o verdadeiro alicerce do Desenho Técnico. É evidente que o uso da dupla projeção (ou método biprojetivo), na representação de objetos tridimensionais, existiu em outras épocas. De acordo com Flores (2007, p. 180), por volta de 1525, Albrecht Dürer publicou o tratado “De La Medida”, considerado o primeiro estudo matemático sobre as figuras no espaço. Apesar disso, as técnicas de representação ganharam um importante impulso somente em 1795, com a publicação do livro “La Géométrie Descriptive”, de Gaspard Monge. Em geral, os desenhos antecedentes à publicação de Monge tinham aspecto muito próximo ao desenho artístico, pois não recorriam a representações apuradas nem à simbologia própria. Alguns autores da época adotavam procedimentos como o uso de sombras, cores etc. No início do século XIX, quase todos os desenhos ligados à manufatura seguiram esse método de representação, que se consagrou nos anos posteriores. Num primeiro momento, pode parecer complicado entender a relação da Geometria Descritiva com o Desenho Técnico, mas não se preocupe. No decorrer do curso (mais precisamente na aula 3), você terá um contato maior com essa forma de representação. Alguns anos depois, em 1876, foi inventado o processo heliográfico, que permitia tirar cópias dos desenhos criados. Até então, a execução dos desenhos era feita exclusivamente de forma manual, o que exigia grande habilidade e destreza de mestres e desenhistas da época. Com o processo heliográfico, o desenho obteve melhores resultados, uma vez que podia ser replicado sem grandes erros e distorções. Para alguns autores, esse foi o início do desenho técnico moderno.
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AULA 1 – INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO
1.4 O DESENHO TÉCNICO NA ATUALIDADE Com o advento dos computadores, a partir da década de 1970, e com a chegada das plataformas pessoais, surgiram os primeiros programas de desenho, cada qual com a sua especialidade. Nasceu assim o termo Desenho Assistido por Computador, que passou a ser internacionalmente conhecido por CAD.
O termo CAD, do inglês Computer-Aided Design, é o nome genérico dado a sistemas computacionais utilizados para facilitar os meios de representação.
De modo geral, os sistemas CAD são programas que executam desenhos de conjunto e verificam a integridade da proposta, com base em especificações e regras preestabelecidas. Além disso, ajudam o profissional a gerar toda a documentação técnica, como a construção de desenhos técnicos e as listas de materiais. A relação dessas plataformas computacionais com a engenharia está estreitamente ligada às potencialidades de cada ferramenta. Alguns softwares mais modernos são capazes de construir entidades bidimensionais (linhas, polígonos, curvas), em conjunto com recursos tridimensionais (cubos, pirâmides, esferas). O desenho feito no computador tem inúmeras vantagens em relação aos métodos tradicionais. No desenho clássico, elaborado na prancheta, qualquer alteração é crucial para o projeto. Além disso, outra vantagem evidente diz respeito ao tempo gasto com as propostas desenhadas manualmente. Com o uso dos sistemas CAD poupa-se bastante tempo do desenhista, que pode dar atenção a outras instâncias do projeto. No entanto, a aprendizagem tradicional do desenho técnico ainda inclui a produção à mão.
Figura 9 - Exemplo de desenho técnico feito à mão e em sistema CAD. Fonte: <www.shutterstock.com>.
Alguns alunos, principalmente os mais jovens, questionam a aprendizagem tradicional do desenho técnico, que ainda inclui o trabalho manual feito na prancheta. Em geral, eles querem trabalhar
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imediatamente com as plataformas computacionais, por conhecer os benefícios da ferramenta e por já estarem familiarizados com o “mundo digital”. Independentemente do produto final, o desenho técnico deve ser interpretado da mesma maneira por qualquer profissional. Para isso, o autor (que recebe o nome de desenhista ou projetista) deve obedecer a regras preestabelecidas, chamadas de normas técnicas. Neste curso, apresentaremos uma breve referência sobre os sistemas computacionais. Vamos estudar essencialmente os fundamentos e a padronização do desenho.
1.5 NORMAS ASSOCIADAS AO DESENHO TÉCNICO A necessidade de criar normas sempre foi uma preocupação do homem (normas de convivência, normas de linguagem e padrões de comportamento). Historicamente, o tema esteve presente em diversas civilizações. Contudo, somente a partir da Era Industrial o assunto ganhou maior destaque. Antes da Era Industrial, não existia exata padronização para as peças. A produção ocorria com inúmeras variações dimensionais em ferramentas, moldes e demais dispositivos industriais. Roscas, porcas e parafusos, por exemplo, não eram uniformizados. Em outras palavras, existia grande desigualdade na fabricação de um mesmo objeto. A dificuldade enfrentada, na época, ia além da fabricação. Os transtornos incluíam aspectos de fornecimento, utilização e reparo das peças. Observe a figura a seguir. Imagine se cada fabricante de lâmpadas fizesse a rosca com tamanho diferente. Dificilmente essa lâmpada se encaixaria nos soquetes existentes, não é mesmo? Essa não! Que soquête pequeno... Não é não! A rosca da lâmpada que é exageradamente grande!... Será que o fabricante nunca ouviu falar em normalização?
Figura 10 - Importância da normalização. Fonte: Malatesta (1990, p. 53).
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AULA 1 – INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO
Somente a partir do século XIX surgiram tentativas de regularizar essa situação. Um dos primeiros estudos foi realizado pelo inglês Joseph Whitworth, por volta de 1839, buscando padronizar os perfis de roscas de fixação de lâmpadas. O trabalho foi considerado de extrema importância e marcou, para alguns autores, o começo da normalização sistemática. Em seu estudo, Joseph criou critérios para a uniformidade dos parafusos. Mais tarde, esses critérios foram oficializados pela Inglaterra e exportados para outros países, que adotaram sua proposta. Como consequência, diversos debates foram realizados nos anos seguintes, no intuito de estabelecer uma cooperação entre diferentes áreas da produção industrial (principalmente na área de engenharia mecânica). Esses debates reuniram técnicos, engenheiros e fabricantes. O resultado foi que em 1901 surgiu a primeira associação de normas técnicas, conhecida hoje como Instituto Britânico de Normalização (BSI). Alguns anos depois, durante a Primeira Guerra Mundial, a normalização já havia sido reconhecida como um instrumento capaz de garantir a intercambialidade. A evolução da indústria introduzia padronização em escala crescente. Entretanto, somente a partir da Segunda Guerra Mundial é que o processo se tornou mais importante, devido à dificuldade de fornecimento de armas e sua necessária conformação às frentes de batalha. Na época, instalou-se um movimento de normalização em nível internacional. As experiências sofridas durante as guerras, como a escassez de peças, revelaram diversas vantagens de um sistema único e padronizado. Desta forma, a normalização, que teve seu início como um processo mecânico, evoluiu a fim de assegurar a uniformidade e a precisão em diversos segmentos. Em meados do século XX, os debates levaram à criação da ISO, entidade de reconhecimento internacional para padronização. Atualmente, a ISO é composta de diversos organismos nacionais, com representação em diferentes países, incluindo o Brasil.
A expressão ISO significa Organização Internacional para Padronização.
O nome ISO se originou da palavra grega “isos”, que indica igualdade.
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A missão da ISO é promover o sistema de troca e a prestação de serviços entre as nações. Em outras palavras, normas internacionais permitem que diferentes países “falem a mesma língua”, isto é, utilizem a mesma terminologia, a mesma simbologia e os mesmos procedimentos para fabricação. Isso aperfeiçoa o sistema de troca de informações e exige qualificação do sistema produtivo. No Brasil, em pleno processo de desenvolvimento industrial (ocorrido por volta de 1940), surgiu a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). A entidade estabeleceu-se como referência na elaboração e no incentivo do uso das normas, mantendo-as sempre atualizadas em parâmetro nacional. Para a ABNT (2014), uma norma técnica é um “[...] documento estabelecido por consenso e aprovado por um organismo reconhecido que fornece, para uso comum e repetitivo, regras, diretrizes ou características para atividades ou seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação em um dado contexto”. Se esse contexto estiver relacionado com a representação de um objeto, a norma técnica serve para que o desenho seja universalmente entendido, isto é, sem ambiguidades. No setor industrial, os desenhos são feitos por meio de traços, números, símbolos e indicações escritas, tudo de acordo com normas e padrões definidos pela ABNT. A seguir, veja algumas das normas que serão estudadas no decorrer desta aula. Elas fazem parte da coletânea de normas de desenho técnico (1990). » » NBR 10647 – Desenho técnico – terminologia. » » NBR 10067 – Princípios gerais de representação em desenho técnico. » » NBR 10068 – Folha de desenho – leiaute e dimensões. » » NBR 10582 – Apresentação da folha para desenho técnico. » » NBR 8402 – Execução de caracter para escrita em desenho técnico. » » NBR 8403 – Aplicação de linhas em desenhos. » » NBR 8196 – Desenho técnico – emprego de escalas. » » NBR 10126 – Cotagem em desenho técnico. » » NBR 13142 – Desenho técnico – dobramento de cópia. » » NBR 12298 – Representação de área de corte por meio de hachuras em desenho técnico. » » NBR 6492 – Representação de projetos de arquitetura. Uma das funções das normas é facilitar o processo de comunicação entre fabricantes, fornecedores e consumidores. No caso do desenho, as normas servem para auxiliar o processo de legibilidade e uniformidade dos elementos gráficos, pois no setor produtivo é essencial que todos os profissionais consigam compreender perfeitamente o que está sendo representado.
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AULA 1 – INTRODUÇÃO AO DESENHO TÉCNICO
Atualmente, os objetivos das normas vão além da padronização. Elas estão relacionadas à simplificação, à comunicação e, principalmente, à proteção do consumidor. Por exemplo: antes de comprar um produto, muitos consumidores têm por hábito verificar se ele foi aprovado pelo órgão regulamentador – que no Brasil é o Inmetro. A aprovação pelo Inmetro indica que aquele produto passou por um rigoroso controle de qualidade e está apto para consumo.
Inmetro – Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial.
Em resumo, é importante que profissionais e empresas, por meio de seus departamentos especializados, estejam atentos às normas, pois seu uso adequado licencia o produto e o certifica para o consumo. A ABNT disponibiliza na internet uma ferramenta de busca de normas. Assim, é possível identificar as normas de seu interesse e acessar informações como código, título, objetivo, comitê, data de publicação, status atual, preço etc. Para saber mais detalhes, acesse o site: <www. abntcatalogo.com.br>.
CONCLUSÃO Neste capítulo, descobrimos que o desenho é uma forma de linguagem usada para representar ideias. Muitas expressões foram registradas ao longo dos anos, por diferentes povos, como os egípcios, chineses, sumérios e outros. Com o Renascimento, em meados do século XVI, o desenho ganhou linhas distintas: a artística e a técnica. No desenho artístico, vimos que existe maior liberdade de expressão, pois as obras são retratadas de acordo com os anseios e as crenças de cada autor. Vimos também que os métodos de representação evoluíram, passando por um processo de sistematização, e que o desenho técnico surgiu da geometria descritiva, evidenciada nos estudos de Gaspar Monge (1746-1818). Com o método de Monge, tivemos um salto tecnológico que possibilitou a confecção de diversos produtos industriais. Hoje, quase todos os desenhos técnicos seguem esse método de representação, tenham sido feitos no computador ou de forma manual. Neste sentido, conhecemos as principais normas adotadas para o desenho, assim como os benefícios da padronização. Enfim, percorremos a história do desenho ao longo do tempo até os dias atuais, e percebemos a importância deste tipo de expressão para o desenvolvimento da humanidade em todos os aspectos: cultural, social, industrial etc. Na próxima aula, vamos falar sobre instrumentos e acessórios usados para desenhar. Até lá! 19
AULA 2 Aspectos gerais do desenho técnico
INTRODUÇÃO Mesmo com o advento dos computadores, o desenho técnico feito à mão ainda é considerado essencial para a formação de um profissional de engenharia. Isso porque o traçado manual ainda é a maneira mais rápida e barata de explorar as diferentes ideias acolhidas em um projeto. De acordo com Giesecke et al. (2002, p. 54), os esboços executados à mão livre ajudam a organizar o pensamento. São utilizados também para registrar ideias e esclarecer detalhes, pois fornecem minúcias sobre alterações no projeto. Para os autores, a expressão “esboço” não significa uma reprodução incompreensível, pelo contrário, mostra os aspectos gerais do desenho, tais como o uso de linhas e anotações pertinentes. Nesta aula, vamos estudar a classificação e o emprego das linhas, os formatos de papel e a simbologia adequada para a formulação de legendas e marcações. Você verá também uma breve referência às técnicas manuais, além de conhecer alguns instrumentos indispensáveis para o traçado preciso. Vamos adiante?
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Conhecer os principais materiais utilizados na estruturação do desenho. » » Conhecer os suportes físicos e as folhas de desenho técnico (dimensão, formato, proporção), assim como indicar as marcações para dobra. » » Conhecer as características de linhas, símbolos e números e indicar legendas e anotações pertinentes.
Você sabia que até mesmo nas grandes indústrias, como a automotiva, os projetistas iniciam o processo de desenvolvimento de um produto traçando as ideias à mão livre? Os desenhos manuais são imprescindíveis nas fases de criação.
Figura 11 - Desenhos manuais feitos nas fases de criação. Fonte: <www.shutterstock.com>.
2.1 INSTRUMENTOS E ACESSÓRIOS Até a década de 1960, os projetistas trabalhavam debruçados sobre pranchetas e com alguns instrumentos considerados raros hoje em dia. Era comum o uso de régua T, papel vegetal, curva francesa, régua de cálculo, transferidor, gabaritos e normógrafos. Todos esses equipamentos ajudavam a compor a arte-final, que era direcionada à produção. De fato, o desenho técnico era considerado uma atividade demorada, que podia levar um dia ou mais, dependendo da complexidade de cada projeto. Hoje, a maioria desses equipamentos caiu em desuso. Um estojo de desenho possui apenas instrumentos básicos, usados principalmente para auxílio na composição do traçado, entre eles o esquadro – para dar direção aos traços perpendiculares e paralelos – e o compasso, para formação de circunferências. Em alguns casos, podemos considerar outros acessórios que complementam a atividade. A seguir, vamos conhecer alguns desses materiais básicos.
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
2.1.1 Esquadros Os esquadros têm formato triangular e são vendidos, na maioria das vezes, em pares: um esquadro é isósceles (com ângulos internos de 45° e 90°) e o outro é escaleno (com os ângulos de 30°, 60° e 90°). O par possui dimensões compatíveis, ou seja, o cateto maior do esquadro escaleno tem a mesma medida da hipotenusa do esquadro de 45°. Observe a figura a seguir.
60° 90° 90° 45°
30°
45° Medida
Figura 12 - Par de esquadros. Isósceles à esquerda; escaleno no meio. Fonte: Pereira (1990, p. 14).
Saiba que esses instrumentos servem basicamente para traçar retas paralelas, porém também podem ser utilizados para obtenção de ângulos. No traçado de paralelas, podemos usar o par de esquadros ou ainda um esquadro e uma régua qualquer, que servirá de apoio. O manejo ocorre com um equipamento fixo e o outro em movimento. No que diz respeito à obtenção de ângulos, os esquadros de 30° e 45°, isolados ou combinados entre si, permitem traçar todos os ângulos múltiplos de 15° (entre 0° e 345°). Veja alguns exemplos.
150°
120° 30°
135°
60°
45°
165° 105°
75°
15°
Figura 13 - Possíveis ângulos traçados com auxílio dos esquadros. Fonte: Silva (1984, p. 7).
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EXPRESSÃO GRÁFICA
Os esquadros fabricados em material sintético (acrílico) e sem graduação são os mais indicados devido à transparência e rigidez. Para desenhos comuns, recomenda-se o comprimento de 20 mm a 26 mm (medida referente à hipotenusa do triângulo).
2.1.2 Compasso Os compassos servem para traçar circunferências e arcos de circunferências. Contudo, também são utilizados para tomar e transportar medidas. Um bom compasso deve apresentar as seguintes características: a) não ter folga nas articulações; b) ter o “porta-grafite” com possibilidade de ajuste; c) ter o grafite com a ponta em bisel (levemente inclinada); d) ter a ponta seca afiada.
Ponta seca
Ponta-grafite com ajuste
Figura 14 - Exemplo de compasso com a ponta seca e o porta-grafite. Fonte: Malatesta (1990, p. 16).
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
Para traçar uma circunferência, siga estes passos: 1) coloque o compasso na escala; 2) ajuste-o de acordo com o tamanho do raio desejado; 3) posicione a ponta seca sobre o centro do desenho e incline levemente o compasso na direção do traço, com a mão no balaústre (parte de cima do instrumento); 4) a curva deve ser feita de uma única vez, no sentido horário.
75° Figura 15 - Modo de usar o compasso com a ponta em bisel. Fonte: Malatesta (1990, p. 25).
2.1.3 Régua e escalas A régua mais usada no desenho técnico tem o comprimento de 30 centímetros, com o limbo graduado em milímetros. Serve, exclusivamente, para realizar medições. Para evitar erros cumulativos, as sucessivas medições – de uma mesma linha, por exemplo – devem ser feitas sem tirar a régua do lugar. Além disso, antes de manipular o objeto devemos consultar a escala informada no desenho. Há quem prefira trabalhar com o escalímetro (tipo de régua com diferentes graduações), para evitar o uso de operações matemáticas. O escalímetro é dividido em faces, cada qual com uma escala distinta. A forma triangular é a mais comum, porque apresenta seis escalas sobre uma única régua.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
Figura 16 - Uso do escalímetro. Fonte: <www.shutterstock.com>.
A principal vantagem do escalímetro está na economia de tempo para realizar cálculos necessários à representação do projeto. O escalímetro convencional, utilizado na engenharia e na arquitetura, é aquele que possui as seguintes escalas: 1:20; 1:25; 1:50; 1:75; 1:100; 1:125. Exceção a essa regra deve ser feita para a Engenharia Cartográfica, uma vez que as escalas normalmente empregadas são bem inferiores às apresentadas. Com o uso do escalímetro, podemos representar objetos em uma escala maior ou menor, dentro das medidas corretas. Se você não entendeu o uso do escalímetro, não se preocupe. O uso de escalas será explicado mais adiante, em uma aula a parte. Retomaremos o assunto no capítulo 6.
2.1.4 Lápis, lapiseiras e grafites Os grafites, ou as minas de grafite, são classificados em duros, médios e macios. Quanto mais argila houver no grafite, mais duro ele será. O ponto médio ou grau de dureza é indicado pela abreviação F ou HB. A terminologia B indica um lápis mais macio, com traço escuro. Por outro lado, temos o grafite H, com a mina mais dura e de cor cinza. No desenho técnico, as linhas finas são feitas com grafite duro (2H, por exemplo); as letras, cotagens e anotações, com HB; e as linhas de contorno, com grafite mais escuro (2B, por exemplo). Para a disciplina de Expressão Gráfica, usaremos pelo menos três tipos de grafite. Veja as variações existentes.
6B
macios
2B
HB
médios
F
H
duros
6H
Figura 17 - Classificação das minas de grafite. Fonte: Pereira (1990, p. 26).
Você também pode trabalhar com lapiseiras. Com minas de 0,3 mm, 0,5 mm, 0,7 mm e 0,9 mm, a lapiseira tem a vantagem de não precisar ser apontada. São mais práticas, confortáveis e possibilitam a troca rápida de grafites. Um detalhe importante é que o grafite de 0,3 mm tende a quebrar se aplicarmos muita pressão (é uma lapiseira indicada para quem já tem experiência com
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
o desenho). Com as lapiseiras de 0,5 mm, trabalhamos com o grafite do tipo H. Já a lapiseira de 0,9 mm requer um grafite mais macio, do tipo B. Outro ponto importante é que a lapiseira técnica tem a ponta em aço, com a função de proteger o grafite. A ponta também ajuda no momento do traçado, quando usada junto com o esquadro.
Figura 18 - Lapiseira técnica de mina fina. Fonte: Ching (2011, p. 10).
2.1.5 Borracha As borrachas macias são as mais apropriadas para trabalhar com grafite, enquanto as de vinil são indicadas para os desenhos a tinta. De modo geral, evite o uso de borrachas para tinta, geralmente abrasivas em contato com a superfície do desenho. Em ambos os casos, é aconselhável o tipo prismático, por ser fácil de manipular e pelos vértices cortados. O lápis-borracha também pode ser uma solução interessante para apagar detalhes.
Visite uma loja de materiais de desenho técnico ou uma papelaria especializada para conhecer mais sobre os instrumentos e acessórios utilizados.
2.2 FOLHAS DE DESENHO Tanto para o desenho manual quanto para os desenhos computacionais, feitos em plataformas CAD, a escolha da folha cabe ao desenhista. No desenho manual, devemos escolher inicialmente a escala de representação para distribuição do desenho na folha de papel. Já no CAD é possível realizar todo o projeto e, ao escolher a escala de reprodução, definir o tamanho do papel a ser impresso, buscando sempre a otimização. Muitas empresas padronizam o tamanho de suas folhas de forma a facilitar o manuseio e garantir a uniformidade em seus projetos.
2.2.1 Formatos e tipos de papel Os formatos de papel para execução de desenhos técnicos são padronizados pela ABNT e representados pela norma NBR 10068 (BRASIL, 1987). A série mais usada é originária da Alemanha e conhecida como DIN-A. Este padrão define os tamanhos de papel utilizados em quase todos os países, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
DIN-A, em alemão, é Deutsh Industrien Normes. Traduzindo: Normas Industriais Alemãs.
Já o formato de origem é o A0, cuja área é de 1 m2. Como se calcula essa área? A partir das dimensões do retângulo, que medem 1189 mm x 841 mm. Os tamanhos menores da série podem ser obtidos a partir do padrão A0. Cada elemento é adquirido pela subdivisão do anterior, como indica a imagem a seguir. A4 A3
A2
A1
Designação
Dimensões
A0
841 x 1189
A1
594 x 841
A2
420 x 594
A3
297 x 420
A4
210 x 297
A0
Figura 19 - Formatos e dimensões das folhas mais utilizadas para desenho técnico. Fonte: <www.design-technology.info/graphics/page14.htm>.
As folhas de desenho podem ser vendidas avulsas ou em blocos, nos formatos A1, A2, A3, A4 e A5. Esses são os tamanhos comerciais mais procurados. Em casos excepcionais, quando é necessário um tamanho especial de folha, usamos o fator multiplicador, que dá origem a padrões como 2A0, 4A0 etc. Além disso, vale lembrar que existem outros sistemas, como os plotters, cujo papel é vendido por metro e em rolos, com larguras variadas. Nesse caso, a dimensão do papel não tem relação direta com a norma alemã. O formato é escolhido pelo profissional na hora da impressão. No que se refere aos tipos de papel, Pereira (1990) relata que existem basicamente dois grupos principais: os opacos e os transparentes. Dos opacos, o mais utilizado para desenho definitivo é papel sulfite branco. A gramatura do papel é medida em g/m2 (gramas por metro quadrado). O
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
papel para esboço tem gramatura entre 50 e 70 g/m2. Já o papel para desenho técnico tem valores entre 70 e 96 g/m2. Dos transparentes, o de melhor qualidade é o papel-manteiga, que permite cópias diretas dos desenhos iniciais. Apesar das diferenças, utilizaremos somente o papel opaco, próprio para desenhos de precisão. Procure mais detalhes sobre os formatos de papel existentes. Algumas normas podem conter informações relevantes, como a ISO 216 e a norma Americana ANSI. Para tamanhos de papéis dependentes, existem séries suplementares. Nos Estados Unidos, por exemplo, os formatos são medidos em polegadas. O tamanho equivalente ao formato A4 é o USLetter (que mede 8½ x 11 polegadas).
2.2.2 Margem, legenda e moldura Qualquer desenho técnico, para estar completo, deve conter algumas marcações na estrutura da folha. Os itens observados pela ABNT são: a) margem e quadro; b) marcas de centro; c) legenda; d) escala métrica de referência; e) sistema de referência por malhas; e f) marcas de corte. De todos os itens citados, vamos concentrar os estudos nos três primeiros, fundamentais para a padronização da folha. Margem e moldura O primeiro item da lista é a margem, que é o espaço compreendido entre o quadro e o limite do papel. Em desenho técnico, o termo “quadro” é utilizado para designar um retângulo de traço contínuo, cuja finalidade é proteger o ambiente de trabalho. A marcação, feita ao redor da folha, também serve para destacar o desenho, pois funciona como um tipo de moldura. Veja os detalhes na figura a seguir. Espaço para desenho Margem Quadro
Limite do Papel
Figura 20 - Margem e moldura. Fonte: ABNT (1987, p. 3).
O espaço indicado pela margem é interditado. Isso significa que o desenho não pode entrar em contato com a região. Para evitar esse tipo de problema, devemos levar em consideração a escala e o formato de folha antes de iniciar o projeto.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
A margem esquerda tem sempre a dimensão de 25 mm. Este valor é estabelecido em norma para facilitar a furação e o arquivamento do papel. Os demais valores, indicados para as outras margens (esquerda, superior e inferior), dependem do formato escolhido de folha. Nos formatos A0 e A1, a dimensão mínima é 10 mm. Nos formatos A2, A3 e A4, esse valor passa a ser 7 mm. Sempre desenhamos no sentindo horizontal: o único que serve para desenhar na vertical é o A4.
210
7
7 Formato A4
7
Formato A3
25 297
25
297
7
7
420
Figura 21 - Dimensão da folha com identificação da margem (formato A3 e A4). Fonte: Adaptado de Malatesta (1990, p. 57).
O segundo item diz respeito às marcas de centro, que servem de parâmetro para a construção do layout da página. De acordo com a ABNT (BRASIL, 1987), “[...] nas folhas de formatos de série ‘A’ devem ser executadas quatro marcas no centro. Estas marcas devem localizar duas linhas de simetria (horizontal e vertical)”.
Figura 22 - Marcas de centro. Fonte: Adaptado de ABNT (BRASIL, 1987).
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
Legenda O último item é a legenda, que deve ser inserida no canto inferior direito da folha e sempre na parte interna da margem. De acordo com Silva et al. (2006, p. 34), na legenda são incluídas informações necessárias para compreensão do desenho, tais como: » » título do projeto; » » identificação dos projetistas e responsáveis; » » executora (nome da firma/empresa); » » número do desenho (com espaço para reedição); » » data; » » escala; » » unidade de medida; » » observações; » » tolerância etc.
O que é tolerância? Ela define o grau de aceitação que, por sua vez, define parâmetros de qualidade de uma peça.
A legenda pode apresentar ainda outras informações, convenientes à natureza do desenho. Isso significa que indicações complementares podem ser igualmente incluídas, conforme necessário. Quando se trata de um desenho de conjunto (que contém um número maior de peças), é importante listar acima ou à esquerda da legenda o nome de cada peça, assim como a quantidade exigida para fabricação. Esta é uma indicação direta da NBR 13272 (BRASIL, 1999). Por fim, vale lembrar que a legenda deve conter 178 milímetros de comprimento nos formatos A4, A3 e A2, e 175 milímetros nos formatos A1 e A0 (ABNT, 1987, p. 3). Estas são as especificações trabalhadas pelos projetistas para os diferentes formatos de folha. A norma NBR 10068 (BRASIL, 1987) define apenas as dimensões máximas para o comprimento da legenda, isto é, não há valor referenciado para altura. No Brasil, existem poucas orientações para a confecção de legendas. Em geral, cada empresa produz a sua própria estrutura, com base nas informações necessárias. Contudo, se você quiser buscar alguns exemplos, existe uma norma portuguesa que prevê sete tipos diferentes de legendas. Esta norma é a NP 204 (BRASIL, 1968).
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EXPRESSÃO GRÁFICA
2.2.3 Dobra da folha Uma vez executados, os desenhos devem ser dobrados e arquivados. O sistema de dobra deve respeitar a norma NBR 13142 (BRASIL, 1999), que estabelece critérios básicos para esta atividade. Após dobrar a folha, o formato final deve ser sempre o A4, com dimensões de 210 mm x 297 mm, seguindo orientação vertical. Além disso, a folha deve ser dobrada de tal maneira que a legenda fique sempre visível, isto é, na parte da frente, para facilitar uma possível busca. Veja alguns exemplos na figura a seguir. 130
297
297
123
105
g. Le
185
130
210
b
a
Formato A1 (594x841mm) g. Le
a
g. Le
185
297 297 297
210
119,5
. Leg
185
Leg.
105
96 9 6 192
297 297
105
Leg.
210
Formato A3 (297x420mm)
Formato A2 (420x594mm)
b
Formato A0 (841x1189mm)
a
b
Leg.
Figura 23 - Padrão para dobra nos diferentes formatos de folha: A3, A2, A1 e A0. Fonte: Silva (1984).
A dobra é feita a partir do lado direito da folha e deve seguir as medidas apresentadas. Depois de dobrados, os desenhos são normalmente colocados em pastas – essa é a principal justificativa para se considerar o tamanho A4 como o formato padrão. Um comentário importante, nesse sentido, diz respeito à margem de 25 mm, localizada no lado esquerdo da folha. Mesmo com a dobra, essa margem deve permanecer intacta, pois serve para indicar o espaço reservado à furação. Em outras palavras, isso significa dizer que as dobras são realizadas até o quadro, nunca até a extremidade do papel. Depois de realizar todas as dobras no sentido horizontal e vertical, você vai notar a presença de uma dobra menor, localizada na parte superior esquerda da folha. Essa dobra está presente nos formatos A2, A1 e A0. Com dimensão de 105 milímetros, a dobra menor é feita de forma inclinada
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
em relação às demais. Na prática, utilizamos o espaço para manipular a folha de papel, para auxílio na abertura e no fechamento da folha após arquivamento.
Ficou curioso para saber como dobramos uma folha de desenho técnico? Na internet, você pode encontrar alguns vídeos demonstrando o passo a passo. Procure pelo link: <www.youtube.com/watch?v=iJUs1yhky9Y>.
2.3 TIPOS DE LINHAS E ANOTAÇÕES As linhas são de extrema importância para o desenho técnico. Combinando-se linhas, de diferentes tipos e espessuras, é possível descrever graficamente qualquer objeto. No caso da engenharia, é importante ter conhecimento sobre o assunto para representar com precisão os diversos elementos necessários à fabricação de uma peça. De forma genérica, os projetistas usam duas espessuras de linhas – larga e estreita – e variados estilos para indicar os parâmetros de construção do objeto. Algumas linhas são utilizadas para demonstrar a parte interna da estrutura. Outras descrevem os elementos formais e os aspectos dimensionais. A seguir, veremos a denominação de cada linha e as principais aplicações.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
Tabela 1 - Tipos de linhas e sua aplicação no desenho técnico
LINHA
DENOMINAÇÃO
APLICAÇÃO GERAL
A
Contínua larga
B
Contínua estreita
B1 linhas de interseção B2 linhas de cotas B3 linhas auxiliares B4 linhas de chamadas B5 hachaduras B6 conforto de seções rebatidas na própria vista B7 linhas de centros curtas
C
Contínua estreita a mão livre
C1 limites de vistas ou cortes parciais ou interrompidas se o limite não coincidir com linhas traço e ponto
D
Contínua estreita em ziguezague
D1 esta linha destina-se a desenhos confeccionados por máquinas
E
Tracejada larga
F
Tracejada estreita
G
Traço e ponto estreita
H
A1 contornos visíveis A2 arestas visíveis
E1 contornos não visíveis E2 arestas não visíveis F1 contornos não visíveis F2 arestas não visíveis G1 linhas de centro G2 linhas de simetrias G3 trajetórias
Traço e ponto estreita, larga nas ex- H1 planos de cortes tremidades e na mudança de direção
J
Traço e ponto largo
K
Traço e dois pontos largo estreita
J1 indicações das linhas ou superfícies com indicação especial K1 contornos de peças adjacentes K2 posição limite de peças móveis K3 linhas de centro de gravidade K4 cantos antes da conformação K5 detalhes situados antes do plano de corte
Fonte: ABNT (BRASIL, 1984).
O exemplo apresentado foi extraído da NBR 8403 (BRASIL, 1984), que cita dez tipos de linhas. Em um primeiro momento, esse assunto pode assustar um pouco, por causa do grande volume de informação e da especificidade de cada elemento representado. Como você pode observar, em desenho técnico cada tipo de linha tem uma função e um significado próprio. No entanto, não se preocupe em decorar todas as denominações. No decorrer das aulas, veremos mais detalhes e exemplos a respeito desse assunto. Por enquanto, a tabela deve funcionar como um guia, para eventuais consultas. Toda vez que você se deparar com um tipo de linha, procure retomar o tópico e ver sua aplicação.
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AULA 2 – ASPECTOS GERAIS DO DESENHO TÉCNICO
CONCLUSÃO Nesta aula, vimos os principais materiais usados no desenho técnico manual. Estudamos os instrumentos básicos e as ferramentas disponíveis para nos guiar enquanto desenhamos. Escolher os materiais antes de desenhar – o formato da folha, o tipo de papel, o grafite etc. – é importante e, às vezes, decisivo, porque cada elemento determinará, de certa maneira, os aspectos da representação. Depois de conhecer os materiais, vimos as características de cada linha, os símbolos e as anotações pertinentes. Lembre-se de que tudo deve estar de acordo para que a comunicação não seja prejudicada. Bem, chegamos até aqui e você já deve ter percebido que o desenho apresenta múltiplas possibilidades de produção e de uso. No entanto, precisamos conhecer alguns detalhes antes de dar os primeiros passos rumo à técnica propriamente dita Até a próxima aula!
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AULA 3 Projeções ortogonais e vistas auxiliares
INTRODUÇÃO Nos capítulos anteriores, construímos a base da disciplina Expressão Gráfica. Vimos os fundamentos do desenho e os aspectos gerais, como a classificação de folhas, as linhas e outros elementos. Diante disso, podemos partir para o segundo estágio do nosso aprendizado, que se refere à representação de uma forma qualquer. Quem já teve contato com o setor produtivo sabe que, na hora de confeccionar um objeto, o ponto de partida é o desenho. Normalmente, o profissional encarregado da produção recebe a estrutura desenhada com absoluta precisão, só possível graças a um método específico de representação chamado “projeção”. Portanto, guarde bem esse nome. Nesta aula, vamos estudar as características desse método. Veremos como se dá o processo de construção de vistas e a importância de trabalhar com planos inclinados, para alterar e representar o objeto com maior exatidão. Boa aula!
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Distinguir os vários tipos de projeção. » » Conhecer os conceitos de projeção ortogonal para indicar a representação em vistas ortogonais. » » Caracterizar o método europeu e o método americano de projeção (representação no 1º e no 3º diedros). » » Esboçar as seis vistas essenciais de um objeto, utilizando a caixa de projeção. » » Decidir o número de vistas necessárias e indicar a vista principal. » » Entender o conceito de face oblíqua e trabalhar com o plano auxiliar para determinar a Verdadeira Grandeza (VG).
3.1 O CONCEITO DE PROJEÇÃO Para entender o que é projeção, você precisa conhecer, antes de tudo, três itens básicos: o modelo, o observador e o plano de projeção. Vamos começar pelo modelo.
3.1.1 O modelo O modelo é o objeto que será representado (BRASIL, 2003). No caso da Engenharia, esse objeto pode ser uma figura geométrica, um sólido, uma casa ou até mesmo um conjunto de peças. Veja alguns exemplos.
Figura 24 - Exemplos de modelos. Fonte: <www.shutterstock.com>.
Mesmo que exista a possibilidade de representar figuras planas, como triângulos, quadriláteros e polígonos, no desenho técnico priorizam-se formas tridimensionais, com indicação de altura, largura e profundidade. Note que quase todos os objetos representados possuem aspecto volumétrico. Isso significa dizer que trabalharemos, essencialmente, com a projeção de sólidos e formas equivalentes. Uma particularidade, nesse sentido, é a representação de conjuntos, que corresponde à associação de vários componentes. É comum dividirmos o desenho principal em subconjuntos, podendo estes ser divididos novamente até que a linguagem se torne compreensível. O desenho de conjunto é um caso particular que não será abordado nesta aula. A base da disciplina está na representação de objetos individuais. Basicamente, resolveremos problemas por meio da geometria e da linguagem gráfica.
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AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
3.1.2 O observador Primeiramente é preciso entender o modelo. O observador é a pessoa que vê, analisa e reproduz a peça. Ele deve analisá-la cuidadosamente, em diferentes posições (de frente, de cima e de lado), para indicar todos os aspectos construtivos do objeto (BRASIL, 2003). No caso de sólidos geométricos, os aspectos construtivos são: vértices, arestas, planos e demais elementos que compõem a forma. Para quem lida com desenho técnico, é muito importante conhecer esses aspectos construtivos. Vejamos o exemplo de um sólido na figura a seguir. faces
arestas
vértices
Figura 25 - Exemplo de sólido geométrico com seus elementos principais. Fonte: Brasil (2003, p. 10).
3.1.3 O plano de projeção O último item que precisamos conhecer diz respeito ao plano de projeção. A palavra projeção refere-se ao ato de representar o modelo sobre determinada superfície (BRASIL, 2003). A tela do cinema é um bom exemplo de plano de projeção. Nela podemos enxergar qualquer imagem gerada por um dispositivo óptico.
Figura 26 - Exemplos de plano de projeção. Fonte: <www.shutterstock.com>.
Em uma condição ideal, a tela do cinema deve ser plana, de modo que a imagem não fique distorcida. Esse mesmo conceito é aplicado ao desenho técnico, por meio dos planos de projeção. Depois de entender os três itens básicos, vamos ver as diferenças existentes nos sistemas de projeção.
39
EXPRESSÃO GRÁFICA
Atualmente, o sistema de projeção é classificado em dois tipos: sistema cônico e sistema cilíndrico. Essa classificação baseia-se no posicionamento ocupado pelo centro de projeção (foco) e pela forma na qual os raios (ou projetantes) incidem na superfície. Observe a figura a seguir e imagine um objeto sendo iluminado por uma lanterna. A sombra que esse objeto faz sobre uma superfície é a projeção do objeto. A luz proveniente da lanterna são os raios projetantes e o ponto luminoso é considerado o centro de projeção.
Raios Projetantes
Foco (perto)
Objeto
Sombra
Plano de projeção
Figura 27 - Exemplo de projeção cônica. Fonte: França (1984, p. 28).
Na projeção cônica, os raios projetantes são convergentes e se unem em um único ponto. Espacialmente, essa condição forma um cone – que sugere o nome do sistema. Nesse caso, o foco situa-se a uma distância conhecida do plano de projeção. Quando o foco se localiza a uma distância conhecida, temos a sombra resultante maior que o objeto. Isso significa dizer que, “[...] na projeção cônica, a imagem projetada apresenta sempre deformação em relação à figura real” (SILVA, 1984, p. 35). É o que podemos observar na figura anterior. A sombra fica ampliada, com grandezas diferentes das do objeto original. A projeção cônica também é conhecida como projeção central. Ela é raramente aplicada no desenho técnico e tem interesse na representação de elementos arquitetônicos, em especial no design de interiores. O estudo da projeção cônica requer a definição prévia de uma série de elementos, como o ponto de fuga, a linha do horizonte etc.
À medida que afastamos o ponto luminoso (foco) e conservamos a distância do objeto, a sombra vai se reduzindo. Isso acontece sucessivamente, até levarmos o ponto luminoso a uma distância extrema, considerada infinita. Nessa condição, os raios projetantes tornam-se paralelos. Preste atenção na figura a seguir.
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AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
Raios Projetantes
Sombra
Objeto
Foco (no infinito)
Plano de projeção
Figura 28 - Exemplo de projeção cilíndrica. Fonte: França (1984, p. 28).
Nesse caso, temos a sombra e o objeto do mesmo tamanho. Esta é uma característica marcante desse tipo de projeção, que, por esse motivo, é chamada de projeção cilíndrica (pois, em um cilindro, as geratrizes são paralelas). No sistema cilíndrico, as projeções também podem ser ortogonais ou oblíquas em relação ao plano. Nas projeções ortogonais, os raios interceptam o plano com ângulo exato de 90°. Já nas oblíquas, elas encontram o plano em um ângulo qualquer, diferente de 90°. Observe que, mesmo com a diferença no ângulo de incidência, ainda temos os raios projetantes paralelos. Objeto Objeto
Plano
Plano Projeção Ortogonal
Projeção Oblíqua
Figura 29 - Sistema de projeção cilíndrica (ortogonal e oblíqua). Fonte: Silva (1984, p. 35).
Quando os raios projetantes são perpendiculares ao plano de projeção, temos um caso especial de projeção cilíndrica, denominada projeção cilíndrica ortogonal (ou, simplesmente, projeção ortogonal). Ela será nosso objeto de estudo.
41
EXPRESSÃO GRÁFICA
A sigla VG, presente na imagem, significa Verdadeira Grandeza. Esse é um termo técnico utilizado em geometria para descrever a dimensão real do objeto (PEREIRA, 2001). O vocábulo sugere uma representação sem deformações, ou seja, a sombra é exatamente igual ao formato do objeto. Isso acontece porque temos algumas faces paralelas ao plano de projeção. Toda vez que o objeto estiver posicionado com uma face paralela ao plano, podemos garantir maior precisão no desenho. No final do século XVIII, o sistema de projeção ortogonal foi amplamente divulgado pelo matemático Gaspard Monge. Para demonstrar suas relações geométricas, Monge dividiu o espaço em quatro partes, usando dois planos perpendiculares. Em seguida, cada parte recebeu o nome de diedro.
3.2 REPRESENTAÇÃO EM DIEDROS (PLANOS DE PROJEÇÃO) Imagine um plano na posição vertical colocado aleatoriamente no espaço. A expressão “espaço” refere-se a um ambiente com grandes proporções. Agora, imagine esse mesmo plano sendo cortado por outro plano horizontal. Com essa composição, o espaço divide-se em quatro regiões. Cada região corresponde a um diedro, que é numerado no sentido anti-horário. Repare que cada diedro é formado por um semiplano horizontal e um semiplano vertical.
1º diedro Plano Vertical
2º diedro
Plano Horizontal
3º diedro
4º diedro
Figura 30 - Representação com diedros. Fonte: Brasil (2003, p. 54).
42
AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
No Brasil, a ABNT estabelece a representação dos objetos no 1º diedro. Atualmente, a maioria dos países segue essa orientação. Entretanto, temos como exceção os Estados Unidos, que representam seus desenhos no 3º diedro. Em desenho técnico, não utilizamos o 2º nem o 4º diedro, pois a planificação provoca a superposição das imagens.
O método de representação com o uso de diedros foi amplamente divulgado por Gaspar Monge, e ficou conhecido como método mongeano. Nele, a concepção é “descritiva”, isto é, busca-se descrever os objetos com absoluta precisão. Logo, Monge levou em consideração o sentido da palavra para denominar o que realmente fazia. Na prática, o método consiste em representar o objeto em dupla projeção. Isso significa dizer que um objeto, colocado em qualquer diedro, terá uma projeção no semiplano vertical e outra no semiplano horizontal. A exigência principal do método está no sistema escolhido. Para conseguir uma representação fiel, devemos trabalhar com o sistema de projeção ortogonal.
Figura 31 - Sistema de dupla projeção (método de Monge). Fonte: Brasil (2003, p. 5).
No caso do sólido apresentado (uma pirâmide de base quadrada), essa seria a representação com o uso dos diedros. No entanto, do modo como foi proposta, a concepção tem aspecto tridimensional. Perceba que para desenhar e interpretar as projeções é necessário que os dois planos de projeção sejam representados na mesma superfície. De acordo com Pereira (1990, p. 67), “[...] conseguimos fazer isso da seguinte forma: um dos planos deve ser rebatido sobre o outro. O plano horizontal, por exemplo, é rebatido para baixo, perfazendo um giro de 90° em torno da linha central”.
43
EXPRESSÃO GRÁFICA
Feito isso, teremos as duas projeções no mesmo plano. Isso significa que o desenho passa a ser bidimensional, ao passo que ele pode ser estruturado em uma folha de papel. Em outras palavras, teremos a vista de frente e a vista de cima de um objeto, de forma simples e simultânea, em um único plano.
A
B
Figura 32 - Rebatimento dos planos de projeção para formar a épura. Fonte: Brasil (2003, p. 5).
Como o objetivo é visualizar o objeto em um único plano, o desenho é denominado, posteriormente, de “épura”. O termo “épura” significa o estado encontrado pelo diedro, que foi planificado na rotação apresentada. Para que isso ocorra, a linha que determina o encontro dos dois planos é chamada de Linha de Terra (ou linha central).
A épura é muito utilizada no estudo de geometria descritiva. O encontro do plano vertical com o plano horizontal servirá de referência para a tomada de medidas como altura e largura do objeto.
Na época em que o método de Monge foi proposto, duas projeções eram suficientes para representar um objeto. Isso se deve ao fato de a representação ser feita com objetos simples. Porém, no Desenho Técnico atual, é imprescindível o uso de mais planos de projeção. De acordo com Pereira (2001, p. 37), “[...] de início, instituiu-se o plano lateral, de modo que, além de ter o objeto visto de cima e de frente, ele também pode ser visto de perfil”. A introdução do 3º plano, perpendicular aos outros dois, constitui a base do sistema de projeção utilizado na indústria.
44
AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
Para entender a projeção ortogonal com três planos, faremos a demonstração com um sólido, que possui faces paralelas ao plano na figura a seguir. Considere o passo a passo da construção gráfica para depois representar o objeto por completo. A vista de frente (VF) equivale à projeção vertical do objeto. A vista superior (VS) indica a projeção horizontal. Já a vista lateral esquerda (VLE) corresponde à projeção no plano de perfil. A imagem da direita (identificada pela letra d) tem a junção das três vistas anteriores. VS
VF
A
B
VLE
C
D
Figura 33 - Sólidos representados em épura. Fonte: Brasil (2003, p. 80).
Depois de obter a representação espacial, vamos trabalhar o rebatimento dos planos. No caso do plano de perfil, imaginemos que ele passa por uma rotação de 90° para a direita. Essa rotação é feita sobre o plano vertical. Assim, a estrutura se abre e as vistas ocupam lugares definidos na folha de papel. Para uma pessoa que desconhece o sistema de projeção, é difícil imaginar que sejam estruturas idênticas.
45
EXPRESSÃO GRÁFICA
PP
PH
PV
PV = Plano Vertical PH = Plano Horizontal PP = Plano de Perfil
Frontal
Lateral
Superior
Figura 34 - Formação das três vistas essenciais. Fonte: Adaptado de Provenza (1978, p. 54).
Juntas, as três vistas contemplam todos os detalhes construtivos do objeto (relação de altura, largura e profundidade). Para entender o desenho, devemos olhar atentamente para as três imagens (VF, VS e VL) de forma complementar. A leitura rápida das projeções só é possível quando se tem alguma prática. Dependendo da geometria do objeto, devemos utilizar diferentes tipos de linhas para representálo. Diante de elementos que não são visíveis ao observador, devemos indicá-los com uma linha tracejada estreita. A situação é bem comum quando a peça possui furos, rebaixos, cortes e entalhes. Veja a aplicação desse tipo de linha na figura a seguir.
46
AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
VS
VF A
B
linha tracejada
XY
VLE C
D
Figura 35 - Indicação de linha tracejada. Fonte: Brasil (2003, p. 84).
Na VLE (indicada pela letra C), temos as arestas X e Y ocultas. São detalhes que fazem parte do objeto, mas que não conseguimos visualizar. Nessa situação, usamos uma linha tracejada como solução gráfica. A linha tracejada é um recurso eficaz para demonstrar a linha não visível nessa peça. Em seguida, indicamos o rebatimento para obtenção do desenho bidimensional. Pense que cada plano será desdobrado em função da VF. Como resultado, apresentamos novamente as três vistas essenciais. A diferença é que agora temos a apreciação do detalhe interno.
47
EXPRESSÃO GRÁFICA
PP
PV
PH
PV = Plano Vertical PH = Plano Horizontal PP = Plano de Perfil
Frontal
Lateral
Superior
Figura 36 - Formação das três vistas essenciais com apreciação do detalhe interno. Fonte: Adaptado de Provenza (1978, p. 54).
Na hora de representar os elementos ocultos, um cuidado que devemos ter diz respeito à sobreposição de linhas. Na projeção de uma face, são representados somente os elementos internos que não coincidirem com os contornos visíveis. Em outras palavras, se tivermos uma aresta sobrepondo uma linha tracejada, a opção deve ser pela representação da primeira alternativa. A aresta visível tem preferência sobre a aresta invisível.
Na construção das vistas, é frequentemente necessário traçar linhas auxiliares, principalmente para quem está iniciando o estudo. As linhas servem para manter as projeções em seu alinhamento original, transferindo as distâncias existentes entre as vistas. Essas linhas são imaginárias, portanto, não são representadas no desenho técnico definitivo. Além disso, não é necessário indicar por escrito os nomes das vistas. Identificamos cada vista pela posição que ela ocupa no conjunto. Com o passar do tempo, você vai perceber que as vistas possuem lugares definidos na folha de papel. Em relação à vista principal, a VLE, por exemplo, encontra-se à direita da VE (isso acontece
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AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
quando a representação é feita no 1º diedro). Ainda no 1º diedro, temos a VS localizada abaixo da VF. Essa distribuição já é esperada, uma vez que realizamos o rebatimento dos planos de projeção. O desenho dos objetos no 1º diedro é conhecido como “método europeu” e, no 3º diedro, como “método americano”. No Brasil, a ABNT segue a indicação do método europeu. Contudo, nos Estados Unidos, no Canadá e em outros poucos países, os objetos são representados com uma pequena diferença, que origina a mudança completa de raciocínio. Os objetos representados no 3º diedro ganham distribuição diferente na folha de papel. Após realizarmos o rebatimento, teremos a VS indicada acima da VF. Símbolo do 1º Diedro
Símbolo do 3º Diedro
Figura 37 - Comparação do método europeu com o método americano. Fonte: Dozzi e Francisco (1982, p. 55).
Essa não é a única particularidade do método americano. Quando inserimos o plano de perfil, as diferenças se evidenciam, pois não teremos mais a representação da VLE ao lado da VF, e sim a indicação da VL direita para a mesma posição. Em suma, a abertura dos planos de projeção mantém a regra do 1º diedro, porém as vistas assumem posições distintas. Guarde bem isso!
A norma que estabelece a posição relativa das vistas é a NBR 10067 (1995). Sempre que você tiver dúvida, pode recorrer a esta referência. Vale lembrar que a norma nacional foi escrita a partir da ISO 128. Nela encontramos a denominação de cada vista e as condições específicas de representação. Algumas dificuldades de leitura e até mesmo erros na fabricação podem ocorrer quando um desenho de 1º diedro é confundido com um desenho de 3º diedro. Além do posicionamento das vistas, podemos identificar o método utilizado por um símbolo. O símbolo indica em qual diedro o objeto foi representado. Ele deve aparecer no canto inferior da folha, dentro da legenda. Cuidado para não se confundir! Procure gravar, pelo menos, o símbolo do 1º diedro, que você usará com mais frequência.
49
EXPRESSÃO GRÁFICA
3.3 REPRESENTAÇÃO EM MÚLTIPLAS VISTAS As duas vistas básicas (VF e VS), mesmo auxiliadas pela VL, por vezes não conseguem esclarecer todos os detalhes de alguns objetos. Atualmente, em casos mais complexos – peças multifacetadas, por exemplo –, torna-se necessário recorrer a outros planos de projeção, envolvendo o modelo em uma caixa completamente fechada, permitindo analisar o objeto em seis vistas. 5
2
3
4 1
6
Vista Inferior (raramente utilizada) Vista Lateral Direita
4
Vista Posterior 5
2
3
6 Vista Lateral Esquerda
Vista Superior
1
Vista Frontal (Principal
Figura 38 - Objeto representado em seis vistas (no 1o diedro). Fonte: Montenegro (2000, p. 43).
Dentro da caixa, as seis vistas também são formadas pelo sistema de projeção ortogonal. Esse é o caso mais completo de representação, já que temos todas as faces do objeto destacadas. Para planificar as vistas, utilizamos novamente o rebatimento, de tal forma que a caixa é aberta por completo. No rebatimento, destacamos a VF como sendo a de maior importância para a representação. A VF deve ser escolhida de modo a fornecer a maior quantidade de informações sobre o objeto. A vista mais importante do objeto deve ser a VF. Geralmente, ela é escolhida em função de alguns critérios, tais como: a) maior número de detalhes visíveis ao observador; b) posição de uso, fabricação ou montagem. Pense bem antes de escolher a VF. Uma vez escolhida, as outras vistas serão automaticamente definidas.
50
AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
A NBR 10067 (1995) apresenta um tópico específico sobre o posicionamento das vistas no 1º e no 3º diedro. Na norma, você pode encontrar a relação de espelhamento entre as vistas. Você também pode procurar outros exemplos na internet. Se a intenção for estudar objetos no método americano, procure pela expressão “projection third angle” (que significa projeção no 3º diedro).
Depois de conhecer as múltiplas vistas, o desafio do profissional passa a ser outro: determinar a quantidade necessária de vistas para a representação do objeto. Em muitos casos, pecamos por utilizar um número excessivo de vistas, o que acaba prejudicando a interpretação do desenho. Nesse sentido, Giesecke et al. (2002, p. 110) ressaltam que o número de projeções deve ser apenas o suficiente para descrever o objeto. Sempre que determinada vista não trouxer informação adicional, ela não deverá ser representada. Diante de tal situação, teremos diferentes composições, que podem ir de uma a seis vistas. O desenho com uma única vista é frequentemente adequado para representar objetos planos, de espessura uniforme, sendo esta especificada por meio de uma anotação. Peças como calços, juntas de vedação, chapas metálicas e muitas outras podem ser representadas dessa maneira. Em casos específicos, podemos definir a forma do objeto por duas vistas. É o que acontece, por exemplo, com peças simples ou com peças que possuem um eixo ou um plano de simetria. Projeção da pirâmide
Projeção do cone
Projeção do cilíndro
Projeção de uma peça
Figura 39 - Objeto descrito com duas vistas. Fonte: Adaptado de Provenza (1978, p. 3).
No entanto, muitos objetos precisam ser descritos com mais vistas. O desenho mais comum é obtido com a projeção em três planos, dando origem a VF, VS e VLE (essa combinação já foi
51
EXPRESSÃO GRÁFICA
mostrada anteriormente). Com as três vistas, temos as principais dimensões do objeto, suficientes para descrever todos os detalhes construtivos.
Figura 40 - Objeto descrito com as três vistas principais. Fonte: Adaptado de Malatesta (1990, p. 118).
10
10
10
10
6
18
6
10
24
10
10
6
Antes de passar para o próximo tópico, procure treinar a representação com alguns sólidos. Desenhe as vistas principais das peças em uma folha a parte, utilizando régua (ou escalímetro), compasso e o par de esquadros. Observe cuidadosamente as projeções e decida quais vistas serão necessárias. Para isso, considere a face em cinza como sendo a VF. Não se esqueça: as medidas estão em milímetros e devem ser respeitadas.
10
7
5
10
15
10
20
35
5
15 10 35
6
10
7
Figura 41 - Verificando entendimento (vistas ortogonais). Fonte: Pereira (1990, p. 73).
Se você achou difícil, procure traçar, em um primeiro momento, as vistas a mão livre. Faça um esboço antes de começar o desenho com os instrumentos. Esse é o processo básico de rebatimento. Depois de entender esse processo, as vistas devem ser distribuídas na folha, de modo que haja um espaço razoável entre e em torno delas. No que diz respeito ao espaçamento das vistas, ainda não existe um critério definido em norma para essa questão. Em geral, utilizamos distâncias arbitrárias, 52
AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
que obedecem às regras decorrentes do próprio mecanismo de projeção e rebatimento dos planos. O ideal é não trabalhar com grandes espaçamentos, uma vez que as vistas estão relacionadas. Além disso, temos de deixar um pequeno espaço para adicionar as dimensões (estudaremos este assunto nas próximas aulas). A seguir, temos as vistas construídas do exercício anterior. Vista Frontal
Vista Frontal
Vista Superior
Vista Superior
Vista Frontal
Vista Frontal
Vista L.E
Vista L.E
Vista Superior Vista Superior
Figura 42 - Respostas (vistas construídas). Fonte: Adaptado de Pereira (1990, p. 73).
No conjunto de três vistas de alguns sólidos (como o cilindro, o cone etc.), podemos constatar que duas vistas são iguais. Nesse caso, eliminamos uma delas para não causar duplicidade na informação.
3.4 VISTAS AUXILIARES PRIMÁRIAS As peças utilizadas nos exemplos anteriores servirão de base para ilustrar as regras para a representação em projeção ortogonal. Na maioria dos casos, podemos verificar que as faces são paralelas em relação aos planos. Por essa razão, as projeções aparecem em verdadeira grandeza. Essa realidade já foi constatada nos tópicos anteriores. Porém, o que talvez você não tenha notado é o comportamento de uma face oblíqua em projeção ortogonal. Veja a figura a seguir. Observe que uma das faces (indicada pela letra A) é formada por um elemento inclinado em relação ao plano horizontal. É comum as peças possuírem uma ou mais faces inclinadas em relação aos planos de projeção.
53
EXPRESSÃO GRÁFICA
VS
VS A
A
VF
A
B
VS
A A
VF
VLE
VLE
VF
C
D
Figura 43 - Projeção ortogonal de face oblíqua. Fonte: Brasil (2003, p. 88).
Na figura anterior, temos duas projeções menores que o tamanho real (itens B e C). Apesar de a VF indicar a verdadeira grandeza da peça, a VS e a VLE fogem dessa realidade e apresentam a face “A” com tamanhos distorcidos, diferentes do tamanho original. No caso da peça escolhida, a representação seria aceita assim mesmo (com a presença das deformações), pois teríamos a verdadeira grandeza em pelo menos um dos planos trabalhados. É evidente que no exemplo apresentado temos uma peça simples, de baixa complexidade. No entanto, muitos objetos são criados sem que suas faces principais sejam paralelas aos seis planos existentes. Nessa situação, recorremos a um tipo especial de representação, que permite simplificar o desenho da estrutura. Usamos, no caso, um plano auxiliar, paralelo à face inclinada, para descobrir a dimensão real do objeto. Antes de estudar como é feita a representação de peças com faces oblíquas, observe a figura seguinte. Veja como ficaria a projeção do objeto nos três planos essenciais. Vista Frontal
VS
VLE
VF
Vista Superior
Figura 44 - Projeção sem o uso de vista auxiliar. Fonte: Brasil (2003, p. 187). 54
Vista Lateral
AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
Repare que a parte oblíqua apareceu novamente deformada, dessa vez para a VS e para a VLE. O furo e a parte arredondada possuem dimensões diferentes das do objeto original. Além disso, os elementos aparecem superpostos, o que dificulta a leitura do desenho. No processo de fabricação, não podemos ter valores aproximados nem distorções, tampouco um desenho incompreensível. É necessário conhecer o valor real de ângulos entre arestas e de faces inclinadas. Quando esses valores não aparecem nas vistas principais, temos de construir os planos auxiliares, como mostra a figura a seguir. Imagine um plano paralelo à face oblíqua. É nele que construiremos a projeção ortogonal. Plano de projeção vertical
Plano de projeção lateral
Vista auxiliar Vista frontal
Plano de projeção auxiliar Vista superior
Plano de projeção horizontal
Figura 45 - Projeção com o uso da vista auxiliar. Fonte: Brasil (2003, p. 187).
Na representação com vistas auxiliares, todos os elementos figurados aparecem em verdadeira grandeza. Isso significa dizer que o furo e a parte arredondada agora possuem medidas reais. Uma dúvida recorrente, depois do rebatimento, diz respeito à representação da vista auxiliar, que parece estar inacabada.
Vista auxiliar
linha de ruptura
Vista frontal
Vista superior
linha de ruptura
Figura 46 - Detalhe da vista auxiliar. Fonte: Brasil (2003, p. 187).
55
EXPRESSÃO GRÁFICA
Sobre esse tipo de questionamento, vale lembrar que a vista auxiliar não precisa estar completa: basta que tenha a representação da superfície em projeção ortogonal para a leitura se tornar eficaz. O mesmo acontece com a VS. As partes sobrepostas foram cortadas por uma linha sinuosa, de ruptura, que ajuda na descrição do objeto. No desenho técnico, podemos ter apenas o detalhe aparente, omitindo o restante ou mostrando somente as linhas adjacentes. A linha de ruptura é utilizada para lembrar que a parte deformada não precisou ser representada. O traçado que realmente importa foi descrito em conjunto com as outras vistas. Em geral, o uso de uma vista auxiliar possibilita a omissão de uma ou mais vistas regulares. Além disso, a linha de ruptura é utilizada para indicar a quebra imaginária da vista. Ao traçar a linha de ruptura, tome cuidado para não coincidir com uma aresta visível ou um elemento oculto.
Na prática, você pode utilizar o par de esquadros para desenhar rapidamente linhas paralelas e linhas perpendiculares. Depois de esboçar a vista principal, estabeleça a direção do observador, que deve ser perpendicular à face inclinada. Agora que você já aprendeu a parte teórica, vamos treinar um pouco. Observe a figura a seguir e tente refazer o desenho das vistas, de acordo com as seguintes orientações: a) use uma folha à parte, no formato A4, para completar o exercício. b) você deve apresentar as projeções em conjunto com a vista auxiliar. Para ajudar na compreensão do desenho, repare que iniciamos o traçado da peça e, além disso, já temos a orientação do observador. c) por enquanto, não se preocupe com as medidas. d) ao refazer a proposta, não se esqueça de considerar o furo, que nesse caso atravessa a peça. e) faça o esboço das projeções indicadas (VF, VS e vista auxiliar). Observador
Figura 47 - Verificando entendimento (vista auxiliar). Fonte: Brasil (2003, p. 195).
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AULA 3 – PROJEÇÕES ORTOGONAIS E VISTAS AUXILIARES
Agora, a imagem auxiliar que você gerou já pode ser compreendida sem deformações, pois está em verdadeira grandeza. Para abreviar a execução do desenho, recorremos a convenções e simplificações de traçado. Você se lembrou da linha de ruptura? Se não lembrou, tente refazer a estrutura com esta simplificação. Aqui, as vistas representadas são: VF, VS e vista auxiliar.
A representação com a vista auxiliar pode ser feita com mais de um plano. Para representar duas faces oblíquas em VG, são necessários dois planos de projeção auxiliares. O procedimento é o mesmo. Após o rebatimento, todas as vistas são mostradas na mesma superfície e suas posições ficam definidas no desenho técnico.
CONCLUSÃO Neste capítulo, buscamos entender o conceito de projeção, inicialmente formado com a ajuda de três itens básicos: o modelo, o observador e o plano de projeção. Dependendo da posição relativa entre os elementos, vimos que é possível classificar os sistemas em Sistema de Projeção Central (ou Cônico) e Sistema de Projeção Cilíndrico. No setor industrial, utilizamos o Sistema de Projeção Cilíndrico Ortogonal, que tem como característica a formação das vistas. Com esse tipo de projeção, é possível obter representações exatas de objetos tridimensionais, desde que estes estejam posicionados paralelos ao plano de projeção. A operação básica para formação das vistas é indicada pelo rebatimento e pela planificação dos diedros. No momento da planificação, descobrimos duas possibilidades de representação: no 1o e no 3o diedro. Ao escolher o diedro, sugerimos também o método utilizado (que pode ser o método europeu ou o método americano de projeção). É evidente que uma única vista pode ser ambígua para representar uma peça. Por esta razão, vimos que é necessário usar duas ou mais vistas, dispostas de modo coerente para expor os diferentes detalhes do objeto. Nesse sentido, decidir o número de vistas é um critério importante para uma representação inequívoca. Por fim, vimos que, quando o objeto possui uma face oblíqua, são necessárias operações básicas para obter a verdadeira grandeza. Nesses casos, usamos planos auxiliares de projeção para a construção do desenho. Encerramos, assim, um capítulo importante da disciplina, que enfatiza a representação de formas tridimensionais. No entanto, nem todos os detalhes foram expostos. Por isso, na próxima aula, vamos falar sobre cortes e seções, matéria que prioriza a representação interna das peças. Até lá!
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AULA 4 Cortes e seções
INTRODUÇÃO Na aula anterior, destacamos a representação da forma, com o uso de vistas e planos auxiliares de construção. Você aprendeu que, pelos princípios da projeção ortogonal, as partes internas das peças são representadas por meio de linhas tracejadas. Esse é um artifício muito utilizado em desenho técnico, que mostra detalhes importantes para a fabricação do objeto. Entretanto, quando essas linhas são numerosas, a compreensão do desenho pode se tornar difícil. É o caso, por exemplo, de peças com muitas reentrâncias e/ou com elementos vazados. Nesses casos, é preferível trabalhar com um recurso específico do desenho, conhecido por corte. A representação por corte obedece a regras predeterminadas, que devem ser seguidas para que o desenho seja legível. Nesta aula, conheceremos um pouco mais sobre esse recurso. Você terá contato com os vários tipos de cortes e com a simbologia adequada. As representações são normalizadas pela ABNT, pela norma NBR 10067 (1995). Portanto, fique atento às principais características. Bom estudo!
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Entender o significado de corte. » » Identificar os tipos de cortes existentes e optar pelo recurso. » » Trabalhar com simbologia apropriada (conhecer a indicação de materiais, o uso de hachuras e os elementos vazados).
4.1 O CONCEITO DE CORTE Começaremos a aula de hoje falando sobre a definição de corte. Cortar, segundo Ferreira (2008), quer dizer dividir, fracionar, separar partes. Este é um conceito comum, que não se aplica, exclusivamente, ao desenho técnico. O corte é um recurso utilizado em outras áreas do conhecimento, visando facilitar o estudo dos elementos internos. Vejamos alguns exemplos.
Figura 48 - Exemplos de modelos trabalhados com corte. Fonte: <www.shutterstock.com>.
Sem o corte, não seria possível analisar os detalhes de cada estrutura. Pense num estudo geológico que não contasse com esse recurso. Como poderíamos representar a composição da Terra sem mostrar camadas e superfícies? Certamente teríamos outro olhar sobre este campo de conhecimento. O mesmo ocorreria com as áreas humanas e da saúde. Você consegue imaginar a aprendizagem na medicina se não fosse possível conhecer a anatomia dos órgãos? Na engenharia, não é diferente. Utilizamos os modelos representados em corte para facilitar o estudo estrutural e funcional dos objetos. A representação por corte é um recurso que permite indicar os elementos internos do objeto, sendo uma vantagem quando se trata de peças com configurações difíceis de definir em projeção ortogonal. Imagine como ficaria a VF de uma peça de maior complexidade, como um registro de gaveta, usado em instalações hidráulicas. Se fôssemos desenhar o registro com os elementos conhecidos até então (como linha contínua larga e linha tracejada), a interpretação ficaria um pouco confusa, como mostra a figura a seguir. Olhando para o objeto da esquerda, você consegue entender o que se passa dentro dele? Agora, compare com o outro desenho, feito com a indicação de corte. Mesmo sem saber interpretar todos os detalhes, você concorda que a representação da direita é mais simples?
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AULA 4 – CORTES E SEÇÕES
Desenho feito com contornos náo visíveis
Desenho feito com indicação de corte
Figura 49 - Representação do registro de gaveta. Fonte: Brasil (2003, p. 115).
A diferença é apontada na forma de representação. A representação em corte é usada quando os detalhes internos de uma peça são tão complicados que sua compreensão pela representação normal se torna difícil, como no caso do registro de gaveta. Em um primeiro momento, pode parecer complicado perceber todos os elementos trabalhados. Mas não se preocupe. No decorrer da aula, veremos outros exemplos de menor complexidade.
Como você deve ter percebido, o desenho feito em corte é mais fácil de analisar, pois são usadas linhas contínuas, no lugar de arestas e contornos tracejados (invisíveis). O uso do corte é utilizado para favorecer a leitura do desenho.
De acordo com Silva et al. (2006, p. 74), “[...] a representação em corte consiste em imaginar a peça separada por um ou mais planos, sendo suprimida uma de suas partes”. Em outras palavras, corta-se o objeto com um plano secante imaginário. Depois disso, é feita a projeção da parte cortada, da mesma maneira que é feita a projeção de uma vista. Vejamos um exemplo na figura a seguir. Imagine a peça sendo visualizada de frente por um observador. Nesta posição, ele não consegue distinguir os furos nem o corte existente, realizado na base. Mesmo com a linha tracejada, o observador só consegue saber que existe um elemento que atravessa a peça, sem saber exatamente do que se trata.
61
EXPRESSÃO GRÁFICA
VF Figura 50 - Representação da peça na vista frontal. Fonte: Brasil (2003, p. 117).
Para tornar a visualização compreensível, é necessário deixar os elementos internos destacados. Para isso, vamos imaginar um plano atravessando a peça. O plano de corte, paralelo ao plano vertical (PV), divide o modelo ao meio, atingindo a estrutura por completo. Ao retirar a parte que impedia o observador de ver os detalhes, fica mais fácil analisar a peça. Observe a projeção do objeto no plano vertical.
PL
PV
VF
plano de corte
PH
a
c
b Figura 51 - Representação de corte. Fonte: Brasil (2003, p. 118).
A partir desse desenho, podemos ver que a VF passa a ser representada em corte, com as partes maciças destacadas, como você pode ver na figura a seguir. Um olhar mais atento pode perceber que os furos não recebem o mesmo destaque pois são considerados partes ocas da peça, não atingidos pelo plano. Observe novamente o modelo. A vista principal foi substituída pelo corte AA, uma vez que o plano de corte passou por ela. Já as vistas superior e lateral esquerda permanecem inalteradas, indicando a localização do plano de corte.
62
AULA 4 – CORTES E SEÇÕES
Somente a vista atingida pelo plano é representada com o corte. Assim, a VS e a VL esquerda não devem ser representadas da mesma maneira, pois o observador não as imaginou atingidas pelo plano de corte.
Corte AA
VF A
A
Figura 52 - Representação de corte usando a vista frontal. Fonte: Brasil (2003, p. 118).
Este tipo de corte é classificado como corte total, exatamente por atravessar a peça e separá-la em duas partes. No corte total, o plano de corte pode passar no meio do objeto, como mostra a figura anterior, ou pode haver deslocamento, modificando a direção do plano para frente ou para trás. Em geral, ele é utilizado em modelos com estruturas alinhadas, pois ajuda a imaginar a parte da peça sendo removida. No entanto, nada impede que o mesmo seja feito em outras geometrias, com o objetivo de destacar um ou outro detalhe, como furos, rebaixos e elementos vazados. No primeiro exemplo, vimos que o corte pode ser representado na VF. Mas isso não é uma regra. Na verdade, podemos trabalhar com a indicação do corte em outras vistas. A escolha da vista depende do elemento que se quer ressaltar. Vejamos o mesmo exemplo representado com o corte na VS na figura a seguir. Para a nova proposta, temos um plano de corte paralelo ao plano de projeção horizontal.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
VS
A
A
Corte AA
Figura 53 - Representação de corte total usando a vista superior. Fonte: Brasil (2003, p. 118).
Interessante, não é? Repare que o procedimento é idêntico. Pelo menos duas vistas foram representadas normalmente (a VF e a VLE). No entanto, a VS recebeu evidência, pois foi atingida pelo plano de corte. Os seguintes pontos também podem ser observados quando se representa um corte. a) Linha de corte: presente na vista adjacente, a linha é indicada por um padrão especial (por meio de traço e ponto estreito). “Esta linha indica o local por onde se imaginou passar o plano” (BRASIL, 2003, p. 119). b) Setas: localizadas nas extremidades da linha de corte, as setas direcionam o olhar. Essa simbologia deve ser respeitada para induzir a leitura correta da imagem. Mostra que o corte é realizado na projeção indicada pela seta. c) Letras maiúsculas: a ABNT recomenda o uso de duas letras maiúsculas repetidas para designar o corte. Pode ser AA, BB, CC etc., dependendo do número de cortes existentes na peça. A denominação fica exatamente embaixo da vista seccionada. d) Hachuras: são linhas estreitas que indicam a parte maciça da peça interceptada pelo plano de corte. Sempre que possível, as linhas são representadas em ângulos de 45° a partir das faces da peça e paralelas entre si, com linha fina.
64
AULA 4 – CORTES E SEÇÕES
VS
A
A
Setas
Linha de corte
Hachura
Uso de letras maiúsculas
Corte AA
Figura 54 - Indicação dos elementos utilizados no corte. Fonte: Adaptado de Brasil (2003, p. 118).
De acordo com Silva et al. (2006, p. 75), o tipo de hachura pode ser usado também para distinguir os materiais utilizados. A norma NBR 12298 (1995) também trata desse assunto: mostra a representação de cada material e o exemplo de diferentes traçados para as hachuras. Uma observação importante é que, na prática, o traçado não determina necessariamente a propriedade física do material. Isso significa dizer que a hachura é considerada apenas uma indicação, e ajuda a orientar o profissional na leitura e interpretação do desenho. Quer ver um exemplo? O tipo de hachura da imagem anterior sugere que o material usado para confecção do modelo é metal. No entanto, não sabemos qual o tipo de metal (se é alumínio, aço, cobre ou outro elemento), mas o traçado já orienta o técnico para a composição da peça. A figura a seguir mostra algumas hachuras convencionais.
65
EXPRESSÃO GRÁFICA
Metal em geral
Ferro fundido
Ferro forjado
Metal branco
Cobre e ligas
Aço inox
Pedra artificial
Cerâmicas resist.
Alumínio, magnesio
Madeira
Contraplacado
Aglomerados madeira
Cortiça, couro
Plásticos, borrachas
Concreto
Estanho, chumbo
Figura 55 - Hachuras de diferentes materiais (alguns exemplos). Fonte: Silva et al. (2006, p. 76).
Hoje, com a quantidade elevada de materiais existentes, o símbolo de hachura não deve ser visto como um item restritivo. Normalmente se fornecem especificações detalhadas do material em uma nota ou em um local próximo da legenda. Em muitos casos, a hachura é utilizada, apenas, de forma genérica, com o propósito de comunicar a área preenchida da peça.
Quando temos um corte em uma peça isolada, as hachuras devem seguir um único sentido de representação (linhas inclinadas e paralelas entre si). No entanto, em um desenho de conjunto, as peças devem ser hachuradas em sentido divergentes, permitindo a interpretação de cada peça. De acordo com Silva et al. (2006, p. 81), podemos utilizar diferentes orientações. Quando se trata de um corte em conjunto, podemos trabalhar com ângulos diversos (de 30°, 45° ou 60°) ou com maior espaçamento entre linhas, de modo que fique perfeitamente clara a situação do corte e ocorra a identificação das peças, como você pode ver na figura seguinte.
66
AULA 4 – CORTES E SEÇÕES
Figura 56 - Conjunto representado com corte (variação na hachura). Fonte: Silva et al. (2006, p. 82).
De acordo com a NBR 10067 (1995), alguns elementos podem ser representados sem a hachura. Quando temos o corte no sentido longitudinal, por exemplo, dentes de engrenagem, parafusos, porcas, eixos, nervuras, pinos, arruelas e outros não são hachurados. Procure outros exemplos na norma.
4.2 TIPOS DE CORTE Até aqui, você estudou conceito de corte. Viu que o corte total possibilita a exibição de reentrâncias e de elementos vazados, principalmente quando esses elementos estão alinhados. No entanto, algumas questões ainda podem existir. Tente responder à seguinte pergunta: como imaginar um corte em peças cujos elementos internos estejam fora de alinhamento? Esta situação é bem comum no desenho técnico.
4.2.1 Corte composto Para resolver a questão proposta no item anterior, você deve trabalhar com outro tipo de corte, classificado como corte composto.
Corte AA
A
A
Figura 57 - Corte composto, para peças com elementos internos não alinhados. Fonte: Brasil (2003, p. 136).
67
EXPRESSÃO GRÁFICA
Com o corte composto, podemos representar os diferentes elementos internos ao mesmo tempo. Isso ocorre porque realizamos um desvio na direção do plano. Na figura, a vista destacada foi a VF, na qual os diferentes elementos foram atingidos (os furos e o corte retangular). Porém, aqui temos de fazer uma ressalva: se você olhar somente para a VF, não vai conseguir identificar os locais por onde passaram os planos de corte. Assim, você deve examinar as vistas de forma complementar, ou seja, deve olhar para a linha de corte exposta na VS para entender como o desvio foi realizado. Repare também que a VL não foi exibida. No caso desta peça, duas vistas são suficientes para indicar todos os detalhes construtivos. Vejamos mais um exemplo de corte composto para reforçar o conteúdo. Na figura seguinte, temos um furo com rebaixo, um furo passante (que atravessa a peça) e uma ranhura reta, espécie de rasgo arredondado. Assim como na imagem anterior, são necessários três planos de corte para atingir os elementos desalinhados. 3 2 1
Corte AA
A A
Figura 58 - Outro exemplo de corte composto. Fonte: Brasil (2003, p. 137).
Em suma, o corte composto é formado por dois ou mais cortes realizados no mesmo modelo. Dependendo da complexidade da peça, um corte total pode não ser suficiente para mostrar todos os elementos internos. Neste caso, o corte composto pode ser uma solução interessante.
4.2.2 Meio-corte Outro tipo de corte que podemos citar é o meio-corte. Diante de peças simétricas, é preferível usar o meio-corte, em vez de usar o corte total ou o corte composto. Neste caso, utilizamos dois planos perpendiculares entre si, que passam pelo eixo de simetria da peça. Vejamos a aplicação do meio-corte em uma peça com essas características na próxima figura. Imagine que parte da peça foi atingida e que um quarto do modelo foi removido.
68
AULA 4 – CORTES E SEÇÕES
Corte AA
A
A
Figura 59 - Meio-corte, para peças simétricas. Fonte: Brasil (2003, p. 147).
Este é um caso particular de corte. Observe que só a metade da VF foi atingida pelo plano. Para a outra metade, temos uma vista convencional, com aparição da parte externa, com linhas visíveis e sem indicação das linhas tracejadas. Essa representação você já viu na aula anterior, lembra?
O meio-corte tem a vantagem de indicar as duas soluções em uma única vista (o elemento interno e o elemento externo).
4.2.3 Corte parcial O terceiro tipo de corte é o corte parcial. Em determinadas circunstâncias, uma única região da peça pode trazer toda informação útil para a construção. Nestes casos, não é necessário imaginar cortes que atravessam toda a extensão do modelo. É por isso que o corte parcial tem esse nome. Ele foi idealizado para representar um local estratégico da peça. A figura a seguir mostra um exemplo de corte parcial. Ele é muito utilizado em peças cilíndricas. linha de ruptura
Figura 60 - Corte parcial, para apreciar pequenas porções da peça. Fonte: Brasil (2003, p. 153).
69
EXPRESSÃO GRÁFICA
Repare na linha de ruptura. Ao contrário das outras linhas que formam o desenho, a linha de ruptura é desenhada à mão livre, isto é, sem o auxílio de instrumentos. Essa linha mostra justamente o local onde o corte foi imaginado, deixando o elemento interno visível. A linha é classificada como contínua, estreita, irregular e à mão livre, e também aparece nas vistas.
4.2.4 Seção O último tipo de corte que veremos é a seção. Secionar significa cortar. Assim, de acordo com Silva et al. (2006, p. 74), a representação em seção também é feita imaginando que a peça sofreu o corte. No entanto, existe uma pequena diferença conceitual entre a representação em corte e a representação em seção. Você vai compreender essa diferença comparando as duas figuras seguintes. Imagine o modelo representado com um corte total. A vista permite analisar a parte atingida pelo plano e os demais elementos internos, como o furo e o corpo da peça. A
A
Corte AA
Figura 61 - Representação com corte total. Fonte: Brasil (2003, p. 160).
Veja, agora, o mesmo modelo representado com uma seção, na próxima figura. A seção apresenta somente a parte atingida pelo plano de corte, isto é, o perfil interno da peça. “Conceitualmente, uma seção é uma superfície resultante da interseção de um plano secante com um corpo” (SILVA et al., 2006, p. 83). Olhe para a seção posicionada no lugar da VL. A
A
Figura 62 - Representação com seção. Fonte: Brasil (2003, p. 160). 70
Seção AA
AULA 4 – CORTES E SEÇÕES
E, então, você conseguiu perceber a diferença? A representação em seção é extremamente útil quando queremos destacar a superfície interna da peça. Observe o próximo exemplo, na figura a seguir. Vamos tratar de uma peça com alguns elementos em destaque (duas espigas, um rasgo e um rebaixo). Neste caso, é aconselhável imaginar várias seções, para entender o perfil de cada elemento. De acordo com Brasil (2003), no desenho técnico as seções também podem ser representadas de duas maneiras: a) próximas da vista e ligadas por linha fina; ou b) em posições diferentes, mas identificadas pelo nome – que é o que acontece no próximo exemplo. espiga quadrada
espiga redonda rasgo de chaveta
rebaixo
A
A
B
B
C
C
Seção AA
Seção BB
Seção CC
Figura 63 - Representação com seções sucessivas. Fonte: Brasil (2003, p. 162).
Vamos analisar a figura anterior: a seção AA representa o perfil da espiga redonda, e parte dessa espiga apresenta um rebaixo. Sabemos que há um rebaixo por conta do contorno da seção. A seção BB sugere o perfil da parte cilíndrica da peça, composta de uma circunferência e um rasgo. Por fim, a seção CC indica a espiga quadrada que, junto com o as linhas cruzadas, caracterizam uma superfície plana. Se todas as simbologias estiverem corretas, basta uma vista para representar esta peça. Muito bem! Agora que você já conheceu os diferentes tipos de cortes e a simbologia utilizada em desenho técnico, tente trabalhar a lista de exercícios.
71
EXPRESSÃO GRÁFICA
CONCLUSÃO Nesta aula, vimos que, para representar os detalhes internos de uma peça, o engenheiro lança mão de um recurso muito usado no desenho técnico, conhecido como corte. O corte possibilita a representação eficaz de reentrâncias e elementos vazados, com o uso de arestas e contornos visíveis. No decorrer da aula, estudamos os vários modos de dividir uma peça, com o plano horizontal e com o plano vertical. Vimos que existem diferentes tipos de corte e que cada um possui a sua especificidade. A escolha dos planos de corte fica a critério do profissional, que também deve trabalhar com a simbologia apropriada, indicando materiais e traços característicos. Por fim, vimos que existe uma pequena diferença quando falamos em seção. O assunto foi colocado em pauta com auxílio de algumas imagens. Na próxima aula, vamos falar sobre cotas. Você vai aprender que o corte também ajuda a dimensionar os elementos internos. Até lá!
72
AULA 5 Cotagem em desenho técnico
INTRODUÇÃO Nas aulas anteriores, você viu os métodos adequados à representação de um objeto. Utilizamos projeções ortogonais, cortes e seções. Em um primeiro momento, nosso objetivo foi representar a forma, incluindo as características internas de cada peça. Do ponto de vista geométrico, você já sabe desenhar, com precisão, a aparência de um objeto de pequena e média complexidade. Todavia, a correta representação da forma não é o suficiente para a sua fabricação. Além da forma, precisamos trabalhar com outro aspecto muito importante do desenho, que define as dimensões e o posicionamento de alguns elementos na estrutura. As dimensões mostradas no desenho técnico recebem o nome de cotas, e a técnica de lançá-las é chamada de cotagem, ou dimensionamento (SILVA, 1984). Saber cotar é muito mais do que colocar as dimensões no desenho. As cotas são dadas na forma de ângulos e distâncias e podem ser distribuídas tanto no desenho manual quanto no desenho computacional (sistemas CAD). Nesse sentido, você estudará algumas regras gerais para a inserção de cotas, assim como a simbologia adequada para a representação. As cotas devem ser indicadas com o máximo de clareza, de modo a admitir uma única interpretação. Lembre-se disso!
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Conhecer os aspectos gerais para o dimensionamento. » » Conhecer os critérios para distribuição das cotas em desenho técnico. » » Aplicar os elementos de cotagem em geometrias de baixa e de média complexidade.
5.1 O CONCEITO DE COTAGEM Para construir qualquer tipo de objeto, precisamos de uma informação básica: sua dimensão. No desenho técnico, a dimensão deve ser indicada com a forma de medida, que recebe o nome de cota. O verbo “cotar” significa dimensionar, isto é, refere-se à representação gráfica com o uso de alguns elementos, tais como: linhas, símbolos, notas e um valor numérico, dado por uma unidade de medida (ABNT, 1987). Um aspecto importante a frisar é que as cotas sempre representam as dimensões reais do objeto e não dependem, portanto, da escala selecionada. As cotas servem, principalmente, para a fabricação do objeto. Nesse sentido, antes de colocar as dimensões no desenho, você aprenderá os elementos utilizados. Veja na figura a seguir o exemplo de uma forma geométrica com a denominação dos principais elementos que compõem a cotagem.
Linha do Desenho
Seta
Linha de Cota
50
Linha de Chamada Cota
Figura 64 - Elementos de cotagem. Fonte: Adaptada de Silva et al. (2006, p. 118).
O primeiro objetivo da aula diz respeito ao conhecimento completo dos elementos de cotagem. As linhas, os símbolos e as anotações são os componentes essenciais para a representação clara e concisa da forma. Portanto, fique atento às particularidades de cada elemento.
5.1.1 Seta Quando trabalhamos com o desenho manual, as setas devem ser cuidadosamente desenhadas. Elas devem ter o comprimento aproximado de 3 mm (quando o formato for de uma flecha) e as extremidades devem encostar na linha de chamada. De acordo com a NBR 10126 (1987), as terminações podem ser de diferentes tipos, como mostra a figura a seguir. A seta pode ser aberta ou fechada e preenchida. Sem a flecha, quando o traço encosta na extremidade, deve-se desenhar uma linha curta, inclinada a 45°, como no exemplo (c). A norma não deixa claro o uso do último tipo de seta, com os pontos na extremidade, embora alguns autores comentem que é permitido
74
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
substituir a flecha por pequenos pontos. “O emprego do ponto se justifica pela falta de espaço para colocar as setas” (PEREIRA, 1990, p. 52).
A
B
C
D
38
38
38
38
Figura 65 - Terminações com o uso de diferentes setas. Fonte: Adaptada da ABNT (1987, p. 4).
Em Engenharia Mecânica, são preferencialmente usadas as setas preenchidas, enquanto na Engenharia Civil o mais comum é adotar os traços ou pontos. Independentemente do formato escolhido, o importante é ter todas as setas padronizadas. Isso significa dizer que não podem existir variações na simbologia no decorrer da representação. Se você optar por usar um tipo de seta, trabalhe com essa mesma estrutura até concluir o desenho.
Setas malfeitas estragam a aparência do desenho. Por isso, evite algumas situações, como o uso de setas com grande espessura ou alongadas em relação à linha de cota. O tamanho da seta deve ser proporcional à grossura da linha de cota. Lembre-se disso!
5.1.2 Linha de Cota As linhas de cota são representadas por um traço contínuo, com as setas nas extremidades. Nessas linhas, são colocadas as diferentes medidas da peça. Em geral, as linhas de cota são paralelas à linha do desenho, com afastamento que pode variar de 7 a 10 mm. O afastamento também pode ser angular, como mostra a próxima imagem. Nesse caso, a linha de cota forma um arco interno ou externo à forma do objeto.
50
Afastamento de 10mm
Cotagem com ângulo
50°
11
° 65
5°
Figura 66 - Linha de cota com afastamento. Fonte: Elaborada pelo autor, com base nas indicações da ABNT (1987, p. 4).
75
EXPRESSÃO GRÁFICA
5.1.3 Linha de Chamada Dependendo do autor, a linha de chamada pode ser encontrada com outros nomes, como “linha de extensão” ou “linha auxiliar”. Para Silva et al. (2006), a linha de chamada é representada por um traço fino, normalmente perpendicular à linha de cota. São linhas que se prolongam para fora do modelo, a fim de definir as extremidades da medida, como você pode observar na imagem a seguir. Quando você for traçar uma linha de chamada, tome cuidado para não tocar na linha do desenho, pois elas são iniciadas próximas do contorno do objeto. Outra indicação importante é que ela deve ultrapassar a seta em aproximadamente 2 mm.
Não tocar no contorno do desenho
50 A linha de chamada deve passar a seta em 2mm
Figura 67 - Características da linha de chamada. Fonte: Elaborada pelo autor com base nas indicações da ABNT (1987, p. 4).
5.1.4 Cota (valor numérico) O número que representa a cota deve ser cuidadosamente exposto. Ele não pode ser grande demais para atingir a linha do desenho nem pequeno ao ponto de ser ilegível. Para isso, deixamos um espaço acima da linha de cota para colocar o valor. Outra opção é trabalhar com a linha de cota interrompida pelo algarismo, como indica a figura adiante. Em desenho técnico mecânico, a unidade de medida mais utilizada é o milímetro. Já na construção civil, emprega-se o metro como unidade regular. Essa unidade é sempre apresentada na legenda. Na cota, o algarismo fica centralizado – equidistante das extremidades – e não pode conter a unidade de medida.
50 mm
50
Algarismo centralizado (sem a unidade de medida) Figura 68 - Escrevendo os valores de cota. Fonte: Elaborada pelo autor com base nas indicações da ABNT (1987, p. 4).
76
Linha de cota interrompida
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
Há uma exceção a essa regra. É quando é necessária mais de uma unidade de medida no desenho. Quando for conveniente usar uma unidade diferente do padrão descrito na legenda, você deve indicar o símbolo ao lado da cota, como mostra a imagem a seguir. No exemplo, há uma cota especificada em polegadas, diferente das demais.
9
5/8’’
25
40 Figura 69 - Desenho com uma cota especificada em polegadas. Fonte: Elaborada pelo autor com base nas indicações da ABNT (1987, p. 4).
5.2 INSCRIÇÃO DAS COTAS Depois de conhecer os elementos de cotagem, podemos partir para o segundo objetivo da aula. Aqui, você verá alguns critérios para a distribuição das cotas, levando em consideração tanto o tamanho quanto o posicionamento de cada detalhe construtivo. Observe o objeto representado na figura adiante e acompanhe a sequência realizada. As cotas serão colocadas nas três vistas principais do objeto (vista frontal, vista superior e vista lateral esquerda).
Figura 70 - Objeto a ser dimensionado. Fonte: Senai (1982, p. 17).
77
EXPRESSÃO GRÁFICA
Para cotar esse objeto, primeiro você precisa identificar suas medidas máximas. A configuração inicial é a de um paralelepípedo, certo? Assim, a cota de 20 indicará a altura. A cota de 35 representará a largura e a cota de 16 revelará a profundidade. Como todos os sólidos possuem três dimensões básicas (altura, largura e profundidade), temos de levar em consideração tais distâncias, que representam o tamanho total do objeto. Para entender melhor, observe a próxima imagem.
16 20
35
16
20
25
Figura 71 - Identificando as medidas máximas (seleção de distâncias). Fonte: Senai (1982, p. 17).
Depois de determinar as cotas máximas (que indicam o tamanho total), você pode fornecer outras dimensões intermediárias. Nesse sentido, pense que qualquer objeto pode ser decomposto em um conjunto de formas. No caso da peça do nosso exemplo, você precisa de duas medidas para determinar o rasgo realizado na parte superior, como indica a figura a seguir. Essas medidas são reconhecidas com o auxílio das cotas de 10. 10
10
20
10
10
16
35
Figura 72 - Identificando as medidas intermediárias (para descrever o tamanho). Fonte: Senai (1982, p. 17).
Repetindo o processo para os outros cortes, você terá todas as medidas imprescindíveis para a fabricação da peça. Além das cotas que indicam o tamanho, é preciso reconhecer também as cotas que indicam o posicionamento de cada elemento, com base em algumas referências, que podem ser superfícies, linhas de centro ou arestas.
78
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
Veja como isso acontece: olhando novamente para a peça, com base na figura a seguir, tente identificar o corte retangular feito na base. Conseguiu? Esse corte possui duas medidas básicas: a cota de 10 e a cota de 8. As medidas descritas são lineares, portanto, elas identificam o tamanho real da estrutura. Por outro lado, há uma cota que determina a posição do corte. A medida de 12,5 não mostra uma dimensão linear do elemento, mas sim a localização do centro do retângulo. Sem ela, não saberíamos o local exato para realizar o corte. 6
20
10
8
10
,5
12
12,5
16
8
10
10
35
Figura 73 - Identificando as medidas que descrevem a posição dos elementos. Fonte: Senai (1982, p. 18).
Resumindo, o corte retangular é localizado com ajuda da cota de 12,5. A posição relativa é dada por uma referência – no caso, uma aresta da peça. Sem essa informação, não poderíamos estabelecer o corte, por não sabermos o posicionamento exato da estrutura.
As cotas indicadas no desenho são sempre os valores reais, independentemente da escala usada.
O que você acabou de ver pode ser compreendido como uma categorização para as cotas. Isso ocorre porque nem todos os valores descrevem a mesma informação. De fato, “[...] as medidas podem então ser classificadas em dois grupos: cotas relativas ao tamanho e cotas de posição” (FRENCH, 1995, p. 409). E, então, conseguiu entender a diferença entre os dois grupos? Se sim, você poderá trabalhar com outras geometrias, sempre levando em consideração o tamanho e a localização de cada elemento. O emprego das cotas exige atenção. De acordo com French (1995, p. 400), “[...] depois de selecionar as distâncias, o próximo passo é a própria distribuição dos valores. As cotas devem ser dispostas ordenadamente para que sejam fáceis de ler, e em posições que possam ser prontamente encontradas”. 79
EXPRESSÃO GRÁFICA
Depois de realizar a distribuição das cotas, procure olhar atentamente para o desenho. Tente se colocar no lugar da pessoa que confeccionará a peça. A empatia, aqui, ajuda muito. Procure responder à seguinte questão: com as medidas apresentadas, eu consigo fabricar a peça? Se a resposta for positiva, você pode dar sequência com a proposta do desenho. Caso contrário, é melhor rever o dimensionamento.
5.3 APLICANDO OS ELEMENTOS DE COTAGEM (REGRAS GERAIS) Para auxílio na distribuição das cotas, você pode contar com algumas regras gerais. As informações a seguir foram extraídas do livro de Provenza (1978) e têm o objetivo de facilitar a leitura e interpretação do desenho. São situações que podem ajudar na distribuição dos elementos estudados. Veja alguns casos a seguir.
5.3.1 Cotagem de circunferências As circunferências são cotadas pelo valor do diâmetro, nunca pelo valor do raio. O dimensionamento pode ser interno ou externo, dependendo do espaço disponível para a inscrição da cota. Junto com o numeral, você pode indicar o símbolo ø, que significa diâmetro. Ø14 Ø40
Ø
40
circunferências grandes
8
Ø8
Ø8
Ø
circunferências pequenas
Figura 74 - Diferentes opções para cotagem de circunferência. Fonte: Provenza (1978, p. 5-18).
O caractere que representa o diâmetro não é o único símbolo utilizado no desenho técnico. A NBR 10126 (1987) apresenta outras soluções no subitem 4.4.5. Na norma, você também vai encontrar alguns parâmetros para o uso correto dos símbolos.
Para especificar o posicionamento da circunferência, você deve indicar a cota levando em consideração o centro, nunca a sua extremidade, como ilustra a imagem a seguir. Essa regra também serve para a representação de furos. Para tanto, pense no próprio uso do equipamento. Não é mais
80
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
fácil indicar o furo pensando no uso da broca? Pensando dessa maneira, pinos, parafusos, rebites etc. devem ter os furos posicionados pelo centro, com o uso de linhas de referência. Além disso, os elementos devem ser cotados, preferencialmente, na vista que fornece mais informações em relação à forma e à localização.
errado
22
certo
35
Figura 75 - Posicionamento da circunferência. Fonte: Provenza (1978, p. 5-17).
5.3.2 Cotagem de ângulos Conforme o espaço disponível no desenho, os ângulos podem ser cotados como indica a figura adiante. As medidas devem ser escritas em graus e o símbolo deve ser acompanhado do valor da cota.
°
12
40
°
°
30
15
0°
Figura 76 - Diferentes opções para cotagem de ângulo. Fonte: Provenza (1978, p. 5-19).
Note que as linhas de cota são sempre radiais. Além disso, tradicionalmente, existe a preferência pela indicação de ângulos agudos, isto é, valores menores que 90°. Isso não é uma regra, porém é algo que ocorre com mais frequência nos desenhos. São ângulos mais fáceis de trabalhar, que aparecem com maior incidência nos equipamentos de medição manual existentes no mercado. A seguir, separamos três peças com a disposição de cotas angulares. 29
12
0°
12
24
60
°
40
20°
80
°
20°
53
140
22
10
°
18
°
30°
°
°
53
60
120
Figura 77 - Peças com cotagem de ângulo. Fonte: Provenza (1978, p. 5-19).
81
EXPRESSÃO GRÁFICA
5.3.3 Cotagem de arcos Na cotagem de arcos, a letra “R” deve aparecer junto com o valor numérico. Essa simbologia indica a presença de um raio, com o centro geralmente conhecido. A linha de cota para o raio deve ser sempre uma linha inclinada, em ângulo, como mostra a próxima figura, e nunca uma linha horizontal ou vertical (FRENCH, 1995). Nessa composição, não podemos colocar setas no centro do arco. No formato original, a seta é colocada nos dois lados da linha de cota. Aqui, ela só fica aparente em um dos lados.
R
R1
15
5
R
5
r3
Figura 78 - Cotagem de arco. Fonte: Provenza (1978, p. 5-15).
R 80
Dependendo do tamanho do raio, você pode trabalhar com um centro arbitrário. Quando o centro do arco for grande o bastante, o raio deve ser representado por uma linha quebrada, indicando um “falso” centro. Veja um exemplo a seguir.
R6 0
22
Figura 79 - Cotagem de raios com centros inacessíveis. Fonte: Provenza (1978, p. 5-18).
5.3.4 Cotagem de chanfros O chanfro é um elemento oblíquo que indica um corte diagonal em uma aresta. É utilizado para quebrar os cantos de uma peça, aparando possíveis rebarbas (FRENCH, 1995).
82
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
chanfro chanfro
Figura 80 - Peças chanfradas. Fonte: Brasil (2003, p. 237).
A cotagem de chanfros pode ser feita de diferentes formas, indicadas pela imagem adiante. Todas as opções são adequadas. Quando o ângulo de corte for de 45°, a representação pode ser simplificada, mostrando a abreviação dada pela letra “ch” e sem a indicação do ângulo. 6
.3
ch
ch
.3
6
30°
4
30°
chanfros a 45° dispensam a indicação do ângulo
Figura 81 - Diferentes opções para cotagem de chanfro. Fonte: Provenza (1978, p. 5-20).
5.3.5 Regras gerais Evite, sempre que possível, o cruzamento de linhas. É por isso que as cotas maiores devem ser colocadas por fora das menores, como mostra a próxima figura. 37
65
48
48
65
37
correto
errado
Figura 82 - Como evitar o cruzamento de linhas. Fonte: Provenza (1978, p. 5-17).
83
EXPRESSÃO GRÁFICA
O cruzamento só é permitido entre linhas de chamada. Qualquer outro cruzamento que envolva uma linha de cota deve ser poupado.
As cotas devem ser localizadas, preferencialmente, fora do contorno da peça, por questão de clareza e legibilidade. Quando não houver essa possibilidade, a cota pode ser colocada dentro da vista, de forma que o contorno da peça seja o ponto terminal das setas, conforme a figura adiante. Mesmo não recomendado, isso pode ocorrer, em virtude do espaço limitado. Nesse caso, a linha do desenho pode substituir a linha de chamada.
20
60
Figura 83 - Cotas terminando nos contornos visíveis. Fonte: Provenza (1978, p. 5-14).
Ø 50
Quando a cota for colocada no interior da vista, preste atenção nas hachuras. Como a distribuição das cotas deve atender aos requisitos de maior clareza e compreensão, é preciso evitar qualquer linha que interfira na visualização. Assim, no caso de uma vista em corte, as hachuras devem ser interrompidas. Observe a imagem adiante.
R2
5
Figura 84 - Cotas internas (vista em corte). Fonte: Provenza (1978, p. 5-14).
84
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
Cotas que tenham a mesma direção devem ser alinhadas. Ao trabalhar o dimensionamento, você pode distribuir as linhas de cotas de forma contínua ou escalonada, dependendo da adequação do desenho. No entanto, existe uma preferência pelas cotas contínuas, alinhadas para auxílio na leitura do desenho, como mostra a figura a seguir. 76 19
8,5
19
76 19
19
8,5
errado
38
19
19
38
certo
Figura 85 - Cotas dispostas de forma contínua (alinhadas). Fonte: Provenza (1978, p. 5-16).
Em alguns casos, uma cota máxima, que representa o limite da peça, também pode ser bem-vinda. É o caso da cota de 100, mostrada na figura adiante. Ela não é considerada obrigatória. No entanto, ocasionalmente, pode ser útil para um operário, para fins de referência e verificação. Sem ela, o profissional teria de realizar a soma das cotas parciais para determinar o valor total da estrutura. 100 20
5
50
5
20
Figura 86 - Cotas parciais e total. Fonte: Provenza (1978, p. 5-17).
Quando a peça contém elementos repetitivos, basta cotar um elemento e indicar a quantidade. Essa derivação é permitida pela ISO 129 (2004), que indica esse parâmetro para evitar ambiguidades na escrita. Qualquer peça com elementos espaçados igualmente pode ser cotada dessa forma. O teclado do computador, por exemplo, possui algumas peças desse tipo. Em muitos casos, temos a necessidade de apontar informações complementares por meio das cotas, como o caso da quantidade exigida de furos ou o tipo de parafuso. A próxima imagem distingue a quantidade e a disposição dos furos.
85
Ø 50
Ø 37
Ø 20
Ø 25
EXPRESSÃO GRÁFICA
6 furos equidistantes Ø 4
Figura 87 - Cotas com informações complementares. Fonte: Provenza (1978, p. 5-15).
A representação de elementos repetitivos também pode ser simplificada pela letra x. Nesse caso, teríamos a notação: 6 x ø4 sobre uma linha de chamada, que indicaria 6 furos com diâmetro de 4.
Por fim, vale lembrar que, quando o espaço for reduzido ao ponto de não acomodar o algarismo, as setas podem ultrapassar os limites da linha de chamada. Nesse caso, você deve deslocar a cota para a extremidade da seta. Não reduza o número, de maneira nenhuma, para encaixar no espaço.
5
3
2
Figura 88 - Cotas com espaço reduzido. Fonte: Pereira (1990, p. 53).
Podemos comparar o processo de cotagem ao processo de escrita de um texto. Depois de conhecer as regras gramaticais, cada pessoa pode desenvolver uma forma específica de escrita. No entanto, a mensagem final do texto deve ser clara e objetiva. O mesmo ocorre com a distribuição das cotas em desenho técnico. Depois de conhecer as normas gerais de cotagem, cada pessoa vai procurar seu próprio método, que deve ser sempre uma maneira eficiente de dimensionar o objeto.
86
AULA 5 – COTAGEM EM DESENHO TÉCNICO
Antes de finalizar a aula, veja dois exemplos de peças já dimensionadas (geometrias de média complexidade). Observe cuidadosamente as cotas e a distribuição realizada para os diferentes elementos e procure distinguir as simbologias utilizadas, as cotas relativas ao tamanho e as cotas de posição. É importante treinar o olhar antes de realizar os exercícios. R 10
R5 R9 10
Ø 13
R9
14
62
R3
1
R 25
10
40
Ø 10
R2
10
40
2
R2 2
R1
Figura 89 - Exemplos de peças dimensionadas. Fonte: Silva (1984, p. 25).
CONCLUSÃO Nesta aula, você viu que o conceito de cotagem está interligado à descrição da peça. Nos capítulos anteriores, você também aprendeu a descrever a peça, porém apenas na ordem gráfica. Você deve lembrar que, na Aula 3, fizemos a determinação da verdadeira grandeza com o auxílio da construção geométrica. Agora, vimos a descrição da peça com outro olhar. Uma vez estudados os métodos de representação – projeções ortogonais, cortes e seções –, nesta aula o foco foi o aspecto dimensional, indicando a cota exata entre dois pontos. Além da representação da forma, foi necessário quantificá-la, isto é, definir, com precisão, os ângulos, as distâncias lineares e o posicionamento dos diferentes elementos que caracterizam o objeto. Só assim conseguimos direcionar o produto para a fabricação.
87
AULA 6 Escala
INTRODUÇÃO Na aula anterior, você teve contato com um aspecto muito importante do desenho: o processo de cotagem, com a distribuição de todos os elementos necessários para a fabricação de uma peça. Os desenhos feitos até então possuem as mesmas dimensões do objeto real. As peças foram estudadas em tamanho natural, ou seja, com as mesmas medidas das do objeto a ser produzido. Existem peças que podem ser representadas dessa maneira. Porém, isso nem sempre é possível. O desenho de uma peça de relógio em seu tamanho natural, por exemplo, ficaria muito pequeno, ao passo que o desenho de um prédio ficaria excessivamente grande. Você já parou para pensar nisso? Imagine representar uma máquina ou até mesmo um prédio no desenho técnico. É lógico que o desenho não caberia na folha de papel. Por maior que fosse o tamanho da folha – um formato A0, por exemplo – seria impossível representar a estrutura por completo, com todas as medidas do objeto. Para resolver esse problema, é necessário reduzir a representação. Mas a pergunta é: quantas
EXPRESSÃO GRÁFICA
vezes devemos reduzir as medidas de um prédio para que ele caiba na folha de papel? Além disso, se um engenheiro ou um operário observar o desenho, como ele vai saber quantas vezes o objeto foi reduzido? Para responder a essas questões, você vai aprender um elemento novo do desenho, conhecido como escala. “Manter, reduzir ou ampliar o tamanho de alguma coisa é possível através da representação em escala” (BRASIL, 2003, p. 269). Portanto, fique atento aos parâmetros indicados nesta aula!
OBJETIVOS » » Entender o significado de escala. » » Conhecer as escalas recomendadas pela ABNT. » » Aplicar os instrumentos para conceber desenhos em escalas (uso do escalímetro).
6.1 O CONCEITO DE ESCALA Para tornar o desenho possível e para que se consiga encaixá-lo em uma folha de papel, você viu que é necessário realizar alguns ajustes. Nesse sentido, é preciso ampliar ou reduzir o desenho, conservando suas medidas lineares. De acordo com Silva et al. (2006), sempre que possível, as peças devem ser representadas em tamanho natural. Na prática, entretanto, sabemos que isso não acontece. Para que as peças sejam representadas de forma clara e precisa, em um formato de folha adequado, temos de usar uma proporção. Por isso, entendemos escala como uma razão, entre as medidas do desenho e as medidas reais do objeto (MONTENEGRO, 1997). Por ser uma razão, podemos escrever a escala com a seguinte notação, em que M representa o denominador da escala, D equivale à medida no desenho e R corresponde à medida real do objeto:
Ø12
Quando o tamanho do desenho é igual ao tamanho físico da peça, temos uma escala denominada natural, ou escala 1:1 (lê-se: escala um para um). A leitura significa a relação existente. É comum estabelecer essa relação pensando em uma unidade de medida. Se essa unidade estiver em milímetros, podemos pensar da seguinte forma: para cada 1 mm do desenho, temos 1 mm do tamanho real do objeto. Veja um desenho técnico em escala natural:
105 ESC 1:1 Figura 90 - Desenho técnico em escala natural (Unid.: mm). Fonte: Brasil (2003, p. 271).
De acordo com a ABNT (1999), a palavra escala pode ser abreviada na forma ESC, seguida pelos numerais: o da esquerda representa a medida do desenho, enquanto o da direita indica a medida real da peça. Na imagem anterior, você viu a representação de uma ferramenta manual (uma lima,
90
AULA 6 – ESCALA
que serve para desbastar outras peças), com uma dimensão total de 105 mm. É o tipo de peça que cabe facilmente em uma folha de papel. A escala deve ser escrita em um lugar próprio reservado na legenda do desenho. Se houver mais de uma escala no mesmo desenho, devemos inserir a abreviatura seguida dos numerais próximo da vista, para que o leitor entenda a variação existente. Podemos ter duas escalas na mesma folha de desenho? A resposta é sim!
Ø74
Quando o desenho do objeto for menor que o tamanho real da peça, a escala é denominada escala de redução. Veja um exemplo:
2360 ESC 1:20 Figura 91 - Desenho técnico em escala de redução. Fonte: Brasil (2003, p. 272).
A peça foi desenhada na escala 1:20 (se lê: um para vinte). Isso significa dizer que “[...] as medidas do desenho são vinte vezes menores que as medidas físicas do objeto” (BRASIL, 2003, p. 272). Aqui, temos a representação de um eixo de vagão, com dimensionamento total de 2.360 mm, ou seja, mais de 2 m de largura, portanto, uma peça relativamente grande. Nenhum formato de folha, padronizado pela ABNT, pode ser utilizado para representar essa peça. Assim, a opção que temos é reduzir o objeto proporcionalmente. De acordo com Brasil (2003, p. 272), “[...] na indicação da escala de redução, o numeral à esquerda dos dois pontos é sempre 1. Logo, o numeral à direita, é sempre maior que 1”. Guarde bem isso! No caso do exemplo anterior, provavelmente, a escala 1:20 foi escolhida para encaixar a peça no formato de folha A4 (que mede 297 mm x 210 mm). Para saber quantas vezes você precisa reduzir as medidas do eixo de vagão para colocar o desenho na folha, utilize a fórmula apresentada anteriormente. Vamos aos cálculos: Resolvendo a equação, você chegará ao valor de D, que mede 118 mm. Essa medida, por ser menor que o padrão A4, permite a você inserir o desenho no formato indicado. Independentemente da orientação da folha (horizontal ou vertical), repare que a cota de 2360 permanece na estrutura (veja a figura a seguir, com a folha na orientação horizontal). As cotas indicadas no desenho são sempre 91
EXPRESSÃO GRÁFICA
os valores reais, mesmo que a representação tenha, de fato, 118 mm de largura. Repare na unidade de medida. Tanto o desenho quanto o objeto real devem ser indicados pela mesma unidade.
7
297
210
25
2360
7
ESC 1:20
Formato A4
Figura 92 - Desenho do eixo de vagão na folha A4 depois de reduzido. Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas indicações de Brasil (2003, p. 272).
Para decidir a escala ideal, você deve cogitar alguns fatores. Antes de fazer o desenho, tente levar em consideração o tamanho do objeto que será representado, as dimensões da folha de papel e a clareza da imagem. Lembre-se de que, ao reduzir o tamanho de uma estrutura, deixamos de enxergar alguns detalhes, que podem ser importantes para a fabricação do objeto.
Por fim, temos a escala de ampliação. Veja a próxima imagem. Trata-se da representação de uma agulha de injeção. As dimensões do desenho são duas vezes maiores que as dimensões lineares da agulha. Isso ocorre porque o objeto tem pequenas proporções. Seu desenho foi feito na escala 2:1 (se lê: dois para um).
0,8
30
ESC 2:1 Figura 93 - Desenho técnico em escala de ampliação. Fonte: Brasil (2003, p. 273).
92
AULA 6 – ESCALA
De acordo com Brasil (2003), a indicação na escala de ampliação é feita da mesma maneira que as demais: a palavra aparece abreviada (ESC), seguida de dois numerais separados por dois pontos. Porém, ao contrário do que ocorre na escala de redução, na escala de ampliação o numeral da esquerda – que representa as medidas do desenho – é sempre maior que 1, enquanto o da direita é sempre 1.
6.2 ESCALAS RECOMENDADAS PELA ABNT Depois de entender o significado de escala e conhecer as possíveis relações existentes (escala natural, escala de redução e escala de ampliação), é hora de trabalhar algumas diretrizes da ABNT. As escalas são normalizadas de acordo com a NBR 8196 (1999) e são utilizadas dentro dos moldes de cada área de conhecimento. Nos projetos de Engenharia Civil, as escalas mais utilizadas são as de redução. Isso ocorre porque, nessa área, os engenheiros trabalham com objetos de grandes proporções, como o planejamento regional, de infraestrutura ou de instalações prediais. Assim, encontramos com maior facilidade as escalas de 1:100, 1:200, 1:500 etc. Porém, para definições arquitetônicas, são mais comuns as escalas de 1:100, 1:50, 1:20 e 1:10, por conta dos detalhes internos da edificação. No caso da Engenharia Mecânica, você vai encontrar variações. Escalas de redução são comuns na confecção de projetos que envolvem maquinário em geral. Por outro lado, escalas de ampliação são utilizadas em pormenores, tais como: o detalhamento de peças, a construção de componentes internos e os recursos de ferramentaria. Mesmo assim, com todas as particularidades existentes, a ABNT recomenda o uso de algumas escalas. Ao prestar atenção na tabela a seguir, você vai perceber que as variações ocorrem em função dos numerais 2, 5 e 10. Tabela 2 - Escalas recomendadas pela ABNT
TIPO DE ESCALA Ampliação
ESCALAS RECOMENDADAS 20:1
50:1
100:1
2:1
5:1
10:1
Real
Redução
1:1 1:2
1:5
1:10
1:20
1:50
1:100
1:200
1:500
1:1000
1:2000
1:5000
1:10000
Fonte: ABNT (1999, p. 3).
Outras escalas, não indicadas na tabela, também podem ser utilizadas, desde que obtidas a partir dos números existentes e com o fator 10 como multiplicador. É o caso da escala 200:1, que pode ser usada por respeitar as recomendações citadas anteriormente. Aqui, vale a pena ressaltar que você pode encontrar algumas divergências na literatura. Alguns autores indicam que “[...] podem ser usadas escalas intermediárias em casos excepcionais” (SILVA et al., 2006, p. 36). Mesmo assim, lembre-se: é altamente recomendável trabalhar com as escalas da ABNT, principalmente pela
93
EXPRESSÃO GRÁFICA
dificuldade existente na realização de cálculos. Você não concorda que é bem mais fácil trabalhar a proporção utilizando os numerais 2, 5 e 10? É uma maneira de simplificar as frações.
Você pode encontrar escalas diferentes das apresentadas da normal, como 1:25 e 1:75, por exemplo, que estão presentes no escalímetro e são muito usadas na Arquitetura. Além disso, você pode se deparar com valores fracionados (escritos em polegadas). No entanto, é importante ressaltar que essas não são escalas recomendadas pela ABNT.
6.3 O USO DO ESCALÍMETRO Existem escalímetros de diferentes formatos. O mais popular mede 30 cm e possui aspecto triangular, como mostra a figura a seguir. De acordo com Kubba (2014), os três lados do escalímetro possuem duas escalas em cada face. Cada escala é aparente no instrumento: um lado é lido da esquerda para a direita e o outro, da direita para a esquerda. Além disso, continua o autor, uma escala geralmente corresponde à metade ou ao dobro da escala do mesmo lado do escalímetro. Por exemplo, na face que apresenta a escala de 1:100 (um para 100) também encontramos a escala de 1:50.
Figura 94 - Escalímetro no Sistema Internacional (à esquerda) e com marcação em polegadas (à direita). Fonte: Kubba (2014, p. 55).
Existem escalímetros com graduações diferentes voltados para projetos arquitetônicos e para projetos de Engenharia. A razão de se ter diferentes instrumentos está nas proporções utilizadas em cada campo de conhecimento.
Veja como utilizar o escalímetro: imagine que você precise desenhar uma parede que possui 4 metros de extensão (4 metros = 400 cm reais). Sabendo que essa parede não caberia em um formato de folha padronizado pela ABNT (A0, A1, A2, A3 ou A4), torna-se necessária a sua redução 94
AULA 6 – ESCALA
proporcional, certo? Agora, suponha que a redução seja de 100 vezes. Você teria, então, a escala de 1:100, em que 1 m (ou 100 cm do objeto) seria equivalente a 1 cm no instrumento. Se cada centímetro do escalímetro equivale a 1 m, então 4 cm, visualizados no escalímetro, indicariam a dimensão total da parede na folha.
4 metros 1:100
0
1
2
3
4
5
6
7
Figura 95 - Uma parede de 4 m, na escala 1:100, deve ser desenhada com 4 cm. Fonte: Elaborado pelo autor (2014).
Observe que, para ajudar na conversão, alguns escalímetros já indicam a abreviação de metro (com a letra m) depois do número 1. Assim, cada unidade inteira (1, 2, 3 etc.) descrita no instrumento representa 1 metro. Veja agora outro exemplo, enfatizando a parte de leitura com o instrumento. Imagine que o desenho de uma peça, representado na imagem a seguir, foi feito em uma escala 1:20, ou seja, uma escala de redução. Para saber esse valor, localize essa informação na folha, que deve estar na legenda.
0
1
1:20 ESCALA 1:20 Figura 96 - Leitura com escalas de redução. Fonte: Gomes (2014, p. 4).
95
EXPRESSÃO GRÁFICA
Para saber quanto mede a peça, siga dois passos. Primeiro, você deve determinar quanto vale a menor divisão no escalímetro. Para isso, escolha a régua que corresponde à escala do desenho. Com a própria graduação 1:20, verifique quantas divisões existem de 0 até o número 1. Olhando para a imagem, você verá que existem 50 divisões. Logo, cada divisão vale 0,02 metros (ou 2 cm). Para dar o segundo passo, você deve contar quantas frações existem de 0 até o final da peça. Novamente, olhe para a imagem: você encontrará o resultado de 65 unidades. Sabendo disso, multiplique 65 pelo valor de 0,02 metros. Você terá a medida real da peça, que é de 1,3 m. Resumindo, as subdivisões utilizadas nos escalímetros são: » » escalas de 1:100 e 1:125 estão divididas em frações de 10 em 10 cm; » » escalas de 1:50 e 1:75 estão divididas em frações de 5 em 5 cm; » » escalas de 1:20 e 1:25 estão divididas em frações de 2 em 2 cm.
Se ainda assim você ficou com dúvidas quanto ao uso do escalímetro, procure por alguns vídeos na internet. Utilize a expressão “Utilizando o escalímetro” para encontrar exemplos sobre o tema.
Apesar de o escalímetro ser considerado uma peça fundamental no desenho técnico, você deve tomar cuidado com algumas questões de uso do instrumento. O principal cuidado diz respeito à mensuração direta no desenho. Nunca devemos utilizar o escalímetro para tirar a medida diretamente de arquivos impressos. Em geral, vale o que está escrito na cota. Isso porque, durante o processo de impressão, podem haver distorções. Desse modo, a medida trazida pela cota pode ficar diferente da verificada com o instrumento. Segundo Kubba (2014, p. 54), “[...] muitos arquitetos e engenheiros incluem uma nota em seus desenhos afirmando que as dimensões apresentadas devem prevalecer sobre a escala”. Alguns dos problemas associados com o desenho em escala incluem alterações no tamanho devido a métodos de reprodução, mudanças de dimensão de última hora e graus variáveis de precisão, dependendo das habilidades do desenhista.
96
AULA 6 – ESCALA
CONCLUSÃO Nesta aula, você teve contato com um elemento novo do desenho, conhecido como escala. Viu que existem três tipos de escalas: a natural, a de redução e de ampliação. O assunto é trazido à tona porque o desenho pode ser do mesmo tamanho do objeto ou pode ser representado proporcionalmente na folha de papel. Conhecendo o assunto, você já pode desenhar, por exemplo, uma máquina com a metade do seu tamanho. Pode, também, desenhar um prédio, indicando a razão exata entre a edificação e a medida que encaixaria em uma prancha técnica. Para quem trabalha com desenho, é fundamental seguir os parâmetros da ABNT. Nesse sentido, você aprendeu, também, as diferentes escalas recomendadas. Nos projetos de Engenharia Civil, as escalas mais utilizadas são as de redução. Nos projetos de Engenharia Mecânica, já não podemos pensar dessa forma. Agora que você já aprendeu a teoria, saiba que desenho técnico requer, acima de tudo, prática. Por isso, faça os exercícios para ficar atento ao tema.
97
AULA 7 O desenho em perspectiva
INTRODUÇÃO Na aula 3, você teve contato com uma forma de representação chamada projeção ortogonal, lembra? Ela é considerada consistente quando se pretende definir rigorosamente um objeto. Você viu como direcionar um desenho para a fabricação e, para isso, aprendeu o método sistemático de Gaspard Monge. No entanto, a projeção ortogonal tem um inconveniente: não é facilmente compreensível por uma pessoa sem o domínio do desenho técnico, ou seja, uma pessoa não familiarizada com o uso das vistas. Para evitar tal transtorno, você pode recorrer à outra forma de representação, que procura identificar os objetos como eles realmente são percebidos. Essa “nova” forma de representação tem a designação genérica de perspectiva, um nome que você provavelmente já ouviu falar. Seu uso proporciona a compreensão clara da forma do objeto. Isso ocorre porque ela indica graficamente as três dimensões do produto em um único plano. De acordo com Bornancini (1981), mesmo pessoas leigas podem facilmente compreender a perspectiva, por ser um desenho inerente à nossa experiência visual. Portanto, fique atento às suas principais características!
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Entender o uso da perspectiva. » » Construir peças no método isométrico. » » Interpretar geometrias diversas (desenvolvendo a capacidade de visualização espacial). » » Reconhecer a perspectiva explodida.
7.1 O CONCEITO DE PERSPECTIVA Quando você olha para um objeto, tem a sensação de profundidade e relevo, certo? As partes que estão mais próximas parecem maiores. Por outro lado, as partes mais afastadas possuem configurações menores (BRASIL, 2003). Uma boa maneira de perceber isso é estender o braço para frente, como na imagem a seguir.
Figura 97 - Compreendendo a visão (sensação de profundidade). Fonte: D’amelio (2004, p. 9).
Como você pode perceber, é nítido que, quanto mais afastada estiver a pessoa ou os objetos observados, menores eles serão. O desenho, para transmitir essa mesma sensação de profundidade, precisa recorrer a um modo especial de representação, denominado perspectiva. De acordo com Ferreira (2008), o termo perspectiva é dado a uma série de técnicas que possibilitam desenhar um objeto tridimensional sobre uma superfície plana. Essa superfície pode ser um quadro-negro ou uma folha de papel, que receberá o esboço de uma peça com a ideia imediata de volume. Ao ler o parágrafo anterior, você pode ter ficado com dúvida, achando que o conteúdo já foi visto na aula 3, quando o assunto foi projeção ortogonal. De fato, já trabalhamos com algo similar. Na aula 3, para representar um cubo com as 3 dimensões bem definidas (altura, largura e profundidade), você desenhou as vistas do objeto, lembra?
100
AULA 7 – O DESENHO EM PERSPECTIVA
Figura 98 - Objeto desenhado em superfície plana, usando o método de projeção ortogonal. Fonte: Senai (1982, p. 24).
Agora, você não vai mais precisar desenhar as vistas do objeto, tampouco trabalhar com o método mongeano. Na verdade, você necessitará compreender a orientação da peça, pois o objetivo da perspectiva é recriar, no plano, a impressão de profundidade (FERREIRA, 2008). De acordo com Santos Neto (2010, p. 71), “[...] trata-se de uma ilusão, uma espécie de efeito visual, utilizado para garantir a visão espacial da peça”. Ao contrário do que temos na projeção ortogonal, a perspectiva não precisa de nenhuma experiência prévia para auxílio na interpretação. O simples fato de olhar o objeto em perspectiva já fornece uma visão global da estrutura. Além disso, detalhes que não ficam claros em projeção podem ser desenhados em perspectiva, de forma complementar. Daí, decorrem as suas aplicações no desenho técnico. Ela pode ser usada em ilustrações (visando a confecção de catálogos), durante o planejamento de peças (indicando a apresentação para clientes) ou, simplesmente, para auxílio na comunicação. Em suma, é um poderoso instrumento, que pode ajudá-lo nas fases de criação e análise do projeto.
Em alguns momentos, você realizará o pensamento inverso: com base nas vistas principais do objeto, representará a peça em perspectiva. Essa lógica pode parecer simples, mas você precisa estar atento para o fato de que existem diferentes tipos de perspectiva.
Figura 99 - Objeto desenhado em perspectiva, com base nas vistas principais. Fonte: Senai (1982, p. 24). 101
EXPRESSÃO GRÁFICA
Ao trabalhar com a perspectiva, você pode optar pelo sistema cônico (que é o tipo de perspectiva que mais se aproxima da visão humana) ou pelo sistema paralelo (respeitando, assim, as dimensões gerais do objeto). Se a opção for o sistema paralelo, você ainda pode representar o produto em perspectiva isométrica ou perspectiva cavaleira. A seguir, são apresentados os principais tipos. Cada um mostra o objeto de um jeito diferente:
Perspectiva Isométrica
Perspectiva Cônica Perspectiva Cavaleira Figura 100 - Tipos de perspectiva Fonte: Brasil (2003, p. 21).
Ao olhar para as três formas de representação, você vai notar que a perspectiva isométrica é a que menos deforma a peça. Por isso, ela será trabalhada com mais ênfase na nossa aula. Antes, porém, você aprenderá um pouco a respeito das outras opções.
7.1.1 Perspectiva Cônica A perspectiva cônica utiliza o princípio da projeção cônica, que você já viu na aula 3. Nela, temos um observador posicionado em uma distância finita (conhecida), formando uma espécie de cone visual para enxergar o objeto.
Figura 101 - Princípio da perspectiva cônica. Fonte: D’amelio (2004, p. 53).
102
AULA 7 – O DESENHO EM PERSPECTIVA
Quando o conceito de perspectiva começou a ser construído cientificamente, ocorreram muitos progressos nas artes visuais. Pouco a pouco, o campo de conhecimento em Expressão Gráfica evoluiu e possibilitou mergulhar em um novo espaço, que indica a representação tridimensional. De acordo com Pipes (2010), foi o arquiteto Filippo Brunelleschi que ganhou maior crédito pela descoberta da perspectiva, por volta do ano 1420. Isso não quer dizer que não existiram outros estudos anteriores, em culturas e épocas remotas. O que Filippo registrou foram os princípios da perspectiva cônica, como mostra a imagem a seguir. Seus principais elementos são: o ponto de fuga (indicado pela letra F) e a linha do horizonte, que é caracterizada pela altura dos olhos do observador. F1
F2
F1
F2
F1
F3
Figura 102 - Perspectiva cônica com indicação do ponto de fuga. Fonte: Adaptado de Bornancini (1981, p. 7).
Na perspectiva cônica, as linhas de profundidade são convergentes e se prolongam. Elas se unem no chamado ponto de fuga. Esse tipo de representação é amplamente divulgado no Design e na Arquitetura. Por isso, falaremos pouco a respeito. São representações direcionadas para fins artísticos.
Para relembrar as diferenças entre o desenho técnico e o desenho artístico, retorne à aula 1.
7.1.2 Perspectiva Cavaleira A perspectiva cavaleira fundamenta-se no sistema cilíndrico, que você também viu na aula 3. Ela é usada quando a vista frontal do objeto (VF) tem particular importância. Essa é uma realidade para alguns tipos de projetos, que não têm grande ênfase no parâmetro de profundidade. Aparece constantemente em projetos de mobiliário, dada a singularidade desse tipo de produto. No caso de um móvel, a face frontal é evidenciada, em virtude das ferragens e elementos construtivos.
103
EXPRESSÃO GRÁFICA
Trata-se de um caso particular de representação, devido à condição de paralelismo existente em uma das faces do objeto (BORNANCINI, 1981). Nesse tipo de configuração, a face frontal (VF) é exibida em verdadeira grandeza, ou seja, as arestas são representadas sem redução. Por outro lado, as outras faces aparecem oblíquas e distorcidas, unidas pelas arestas da face frontal, como mostra a imagem a seguir.
Vista de cima e da esquerda
Vista de cima e da direita
V.S. V.L.E.
V.S.
V.F.
Vista inferior e da esquerda
V.F.
V.L.D.
V.F.
Vista inferior e da direita
V.F.
V.L.E.
V.L.D. V.I.
V.I.
Figura 103 - Perspectiva cavaleira com diferentes posicionamentos do objeto. Fonte: Adaptado de Bornancini (1981, p. 37).
Ao olhar para a imagem anterior, você vai notar que a perspectiva cavaleira não é tão realista. Na verdade, ela oferece uma estranha sensação espacial. Isso ocorre porque não podemos dar os valores reais das medidas às faces laterais. Em geral, aplicamos um coeficiente de redução para dar a sensação de profundidade. Ele é determinado pelo ângulo da base, que pode ser de 30°, 45° ou 60°. Veja a figura adiante. No caso do desenho técnico, utilizamos com maior frequência o ângulo de 45°. Nesse caso, a profundidade (indicada pela letra P) é representada com a metade do seu valor original. Veja um exemplo: se o valor real da profundidade for 30 mm, a perspectiva será traçada com 15 mm.
104
H
AULA 7 – O DESENHO EM PERSPECTIVA
P
α = 45°
L Figura 104 - Perspectiva cavaleira com ângulo de 45° Fonte: Adaptado de Bornancini (1981, p.37)
Outra particularidade da perspectiva cavaleira é que ela fornece um método fácil para desenhar detalhes circulares, desde que eles estejam na face frontal. Repare na circunferência desenhada na imagem anterior. Ela tem as mesmas dimensões tanto para a vista ortogonal quanto para a perspectiva. Das três opções de perspectiva, a cavaleira é a mais intuitiva. Em geral, temos o primeiro contato com essa forma de representação ainda no Ensino Fundamental. Por isso, ela é considerada “evidente” por um grande número de pessoas. Se, em uma sala de aula, o professor pedir para cada aluno desenhar um cubo, mais de 90% provavelmente desenhará o objeto em perspectiva cavaleira. Procure fazer esse teste, de preferência, antes de mostrar os outros tipos existentes. Você verá o quanto ela é intuitiva! Em geral, desenhamos o cubo dessa forma por desconhecer outros métodos de representação tridimensional.
Apesar de ser mais intuitiva, a perspectiva cavaleira não é indicada nos ambientes computacionais. Dificilmente você terá contato com esse tipo de representação nos sistemas CAD. Para os modelos virtuais, utilizamos, com frequência, a perspectiva isométrica.
105
EXPRESSÃO GRÁFICA
7.1.3 Perspectiva Isométrica A perspectiva isométrica é a mais usada no desenho técnico, principalmente porque ela é de fácil construção. A palavra isométrica quer dizer “mesma medida”, que está diretamente associada aos 3 eixos principais (altura, largura e profundidade). Isso significa dizer que, neste caso, o desenho mantém as mesmas proporções do objeto, como mostra a figura a seguir. P
P
H
L
Figura 105 - Perspectiva Isométrica. Fonte: Bornancini (1981, p. 10).
Em quase todos os usos práticos da perspectiva isométrica, não são consideradas reduções para as linhas de profundidade. A representação é feita com base no valor fornecido pela cota.
Assim, para facilitar o traçado, utilizaremos sempre a perspectiva isométrica simplificada. Guarde bem isso! Na forma simplificada, você pode considerar o valor absoluto da cota para traçar a perspectiva. Se a escala for natural, melhor ainda! Você pode realizar a mensuração direta, sem se preocupar com qualquer tipo de cálculo. Veja, agora, como construir esse tipo de representação.
7.1.4 Construindo a perspectiva isométrica simplificada O traçado da perspectiva isométrica é relativamente simples. De acordo com Giesecke et al. (2002), para fazer o esboço de um objeto real, primeiro você deve segurar o objeto em sua mão e inclinálo em sua direção, como mostra a imagem a seguir. Nessa posição, cada aresta que indica a altura aparecerá na vertical. Já as duas arestas laterais, que oferecem a sensação de profundidade, formarão ângulos de 30° com a horizontal.
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Aresta na vertical Linhas paralelas
120º 30º
30º
30º
30º
Figura 106 - Perspectiva Isométrica de um objeto real. Fonte: Adaptado de Giesecke et al. (2002, p. 158).
Você pode pensar no ângulo de 30° ou considerar os eixos, que formam, entre si, o ângulo de 120°. Além disso, na prática, você deve respeitar o paralelismo existente para as demais linhas que formam o objeto. Fique atento ao passo a passo de construção para não perder nenhum detalhe. Agora, você vai construir a perspectiva isométrica de um sólido geométrico simples: um prisma retangular. Imagine o desenho de uma caixa de fósforos fechada. Iniciaremos o processo pela construção do ângulo. Para o traçado de perspectivas isométricas, você vai precisar dos materiais de desenho. Utilizaremos o esquadro de 30° e outro instrumento, que pode ser uma régua ou um esquadro de 45º, para fixá-lo. Você também pode realizar o traçado em um papel especial, chamado de papel reticulado.
A primeira coisa a fazer é fixar uma régua na horizontal. Veja na imagem a seguir que a régua está representada pela cor amarela. Coloque, acima dela, o esquadro com o ângulo de 30°. Com base em um marco inicial qualquer (um ponto de partida na folha), faça a primeira linha de forma contínua. Essa linha ficará inclinada e acompanhará o ângulo do esquadro. Repita o processo para o outro lado, utilizando o mesmo ângulo (basta inverter o esquadro). Em seguida, construa uma linha vertical, utilizando o ângulo de 90°. Resumindo, todas as três linhas são feitas a partir do marco inicial. As linhas, assim dispostas, recebem o nome de eixos isométricos, e cada um deles corresponde a uma dimensão do objeto (BRASIL, 2003).
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EXPRESSÃO GRÁFICA
Figura 107 - Primeiro passo: traçar os eixos isométricos. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 4).
Depois de traçar os eixos isométricos, procure marcar as medidas gerais do objeto. No caso de uma caixa de fósforos, temos como dimensões totais 50 x 35 x 15 mm (que correspondem à largura, à altura e à profundidade, respectivamente). Dessa maneira, você pode determinar cada face do prisma.
H L P
Figura 108 - Segundo passo: marcar as dimensões gerais do objeto. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 4).
Com as marcações realizadas, o terceiro passo consiste em traçar as linhas paralelas, que é uma condição essencial da perspectiva isométrica. Para isso, você deve deslocar o esquadro sobre a régua até o local que pretende realizar o traçado, identificado pelas medidas gerais do objeto. Ao traçar as linhas paralelas, você finalmente terá todas as faces aparentes.
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AULA 7 – O DESENHO EM PERSPECTIVA
Figura 109 - Terceiro passo: traçar as linhas paralelas. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 4).
Daí em diante, para concluir o modelo, basta reforçar os traços que formam as arestas do objeto. Apague os excessos que serviram de base para a representação da caixa. Pronto! Você já tem um prisma desenhado em perspectiva isométrica simplificada.
Figura 110 - Quarto passo: reforçar os traços que formam as arestas. Fonte: Adaptado de Granato, Santana e Claudino (2014, p. 5).
A condição anterior é bastante simples, uma vez que não existem planos inclinados nem arcos que caracterizam circunferências. Caso exista um plano inclinado, mais uma vez, as medições devem ser feitas ao longo dos eixos isométricos. Assim, você pode traçar a interseção do plano inclinado com os planos do prisma retangular. Em suma, a representação é mais complexa com superfícies inclinadas, porém, o princípio é o mesmo: achar primeiro a interseção do plano com o paralelepípedo (veja a figura a seguir).
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EXPRESSÃO GRÁFICA
Figura 111 - Representação com um plano oblíquo. Fonte: Adaptado de Granato, Santana e Claudino (2014, p. 4).
Grande parte das peças na Engenharia possui formas mais complexas. Por isso, é importante que você treine a perspectiva isométrica de elementos inclinados e a perspectiva isométrica com circunferências. No caso da perspectiva com circunferência, ela se transforma em uma elipse com o efeito tridimensional. É isso mesmo! Quando posicionamos a peça em perspectiva, a circunferência assume a forma de uma elipse (BRASIL, 2003). Basta olhar as partes arredondadas das peças abaixo para entender o efeito.
Figura 112 - Peças que apresentam partes arredondadas. Fonte: Adaptado de Brasil (2003, p. 36).
Utilizando a técnica adequada, você pode desenhar algo similar com o compasso. Para traçar a perspectiva com circunferências, é necessário construir, primeiro, um quadrado auxiliar. Levando em consideração os eixos isométricos e o angulo de 30° com a horizontal (que você já aprendeu anteriormente), desenhe a face de um cubo. Considere o valor de 60 mm para cada aresta.
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AULA 7 – O DESENHO EM PERSPECTIVA
Figura 113 - Primeiro passo: desenhe uma das faces do cubo. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 6).
Ao desenhar a face de cubo, aproveite para marcar o ponto médio das arestas que determinam o quadrado. Se preferir, divida o quadrado auxiliar em quatro partes iguais – o resultado será o mesmo. Depois de marcar os quatro pontos, inicie o traçado das curvas, como na imagem a seguir. Com a ponta seca do compasso no número 1, abra o instrumento até o ponto médio do lado adjacente e faça o primeiro raio. Em seguida, repita o processo com a ponta seca no número 2.
1 2
Figura 114 - Segundo passo: desenho do primeiro raio. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 6).
Antes de dar sequência com o desenho, você deve determinar os pontos 3 e 4, como mostra a próxima imagem. Para isso, faça uma linha assistencial, ligando o número 1 ao ponto médio do
111
EXPRESSÃO GRÁFICA
lado adjacente. Não faça um traço muito forte, pois o importante é localizar o cruzamento das linhas. Os pontos 3 e 4 serão os centros dos arcos concordantes.
3
1
2 4
Figura 115 - Terceiro passo: determine os números 3 e 4. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 7).
Para finalizar a construção, falta a composição do segundo arco. Com a ponta seca no número 3, abra o compasso até o ponto médio mais próximo e complete a circunferência. Tome cuidado, pois qualquer desvio, por mínimo que seja, pode prejudicar a concordância dos arcos. Em seguida, apague as linhas de construção e reforce o contorno do desenho.
Figura 116 - Quarto passo: desenho do segundo raio com reforço das linhas. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 7).
Você pode seguir os mesmos procedimentos para traçar a elipse em outras faces do cubo, isto é, nas faces superior, posterior e lateral. De acordo com Brasil (2003, p. 43), “[...] os modelos 112
AULA 7 – O DESENHO EM PERSPECTIVA
prismáticos com elementos circulares e arredondados também podem ser considerados como derivados do prisma”. Sabendo disso, você conseguirá interpretar geometrias diversas. Pode, por exemplo, olhar para uma peça e imaginar sua perspectiva isométrica, desenvolvendo, assim, sua capacidade de visualização espacial. Na prática, você encontrará peças que reúnem elementos diversos. Veja como ficou a continuação do desenho, depois do traçado na face oposta do cubo e da união por pontos de tangência.
Figura 117 - Finalização do desenho. Fonte: Granato, Santana e Claudino (2014, p. 7).
Agora que você já sabe trabalhar com a perspectiva isométrica, que tal praticar um pouco mais? Antes de passar para o próximo tópico, tente refazer os modelos propostos na figura a seguir. Seu desenho deve ficar bem parecido. Lembre-se de que o objetivo desta disciplina não é transformá-lo em um desenhista. No entanto, se você exercitar o traçado da perspectiva, estará familiarizando com a representação tridimensional.
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Figura 118 - Verificando o entendimento (perspectivas isométricas). Fonte: Pereira (1990, p. 73).
Outra boa maneira de exercitar a perspectiva isométrica é construir uma peça a partir da sua representação em múltiplas vistas. Para isso, você deve observar cuidadosamente cada projeção e imaginar o objeto tridimensionalmente. Comece o esboço pela construção de um paralelepípedo, que deve ser elaborado a partir das medidas gerais do objeto. Depois disso, você pode pensar nos diversos detalhes existentes em cada face, seguindo a sequência apresentada na imagem. As distâncias serão marcadas sobre os eixos isométricos para facilitar a construção.
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A
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D B E
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A
C
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G
F
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4.
5.
Figura 119 - Construção da perspectiva isométrica com base nas múltiplas vistas Fonte: Adaptado de Silva et al. (2006, p. 102).
As perspectivas, em geral, não são cotadas. Elas servem, principalmente, para auxiliar a visualização. Apesar disso, em alguns projetos executivos, elas podem trazer informações complementares. É o caso, por exemplo, das perspectivas explodidas, muito comuns no desenho técnico.
7.2 INDICAÇÕES COMPLEMENTARES (PERSPECTIVA EXPLODIDA) A perspectiva explodida é um caso particular de representação (SILVA et al., 2006). Ela foi originalmente desenvolvida para esclarecer partes específicas de estruturas pictóricas. Trata-se de uma indicação complementar do desenho técnico por ser trabalhada como um diagrama, ou seja, ela é geralmente estruturada em conjunto com outros desenhos. Alguns desenhos explodidos foram encontrados nos manuscritos de Leonardo da Vinci. No início do século XVI, Leonardo aplicou esse método de apresentação em vários estudos, incluindo projetos de máquinas. Ficou curioso com o fato? Procure na internet pela expressão “Leonardo da Vinci’s exploded view”.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
De acordo com Silva et al. (2006), a perspectiva explodida é utilizada, sobretudo, em desenhos de montagem, pois dá uma boa ideia do conjunto. Em outras palavras, esse tipo de vista permite estabelecer as diferentes relações existentes entre as peças, como mostra a imagem a seguir.
Figura 120 - Exemplo de perspectiva explodida. Fonte: <www.shutterstock.com>.
Apesar de trabalhosa, essa forma de representação enriquece a composição visual, uma vez que oferece a possibilidade de visualizar as diferentes articulações entre as partes. Muitas vezes, esse tipo de representação evita o uso de cortes, por mostrar os detalhes internos do conjunto. Quando o conjunto possuir um elevado número de peças, é natural que se faça uma série de desenhos. Assim, você pode trabalhar os desenhos na ordem em que o objeto se monta ou desmonta. A montagem é um processo sequencial, certo? Já os desenhos de Engenharia nem sempre respeitam a lógica de construção do objeto. Nesse sentido, perspectivas explodidas e ilustrações técnicas (com notas de operações sequenciais) podem guiar o operário no processo de união das partes. Na prática, o objeto é representado como se tivesse ocorrido uma pequena “explosão” de forma controlada. Suas partes ficam ordenadas estrategicamente, sem grandes espaçamentos. Normalmente, a vista explodida é mostrada em diagonal, como ilustrado a seguir. 12 13
10 2
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Figura 121 - Exemplo de perspectiva explodida com relação entre as partes. Fonte: Adaptado de Pipes (2010, p. 190).
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De acordo com Pipes (2010), as perspectivas explodidas são usadas em documentos de apoio e registro do produto, tais como: guias de instalação, guias de operação, ordens de serviço, manuais descritivos, guias de manutenção, patentes e catálogos promocionais. São documentos que dependem da representação exata das diferentes peças.
CONCLUSÃO Nesta aula, você aprendeu que a perspectiva é uma forma de representação extremamente útil, por possibilitar a visão espacial do objeto. No decorrer da aula, você viu que existem diferentes tipos de perspectivas, incluindo algumas mais “artísticas”. No caso da perspectiva isométrica, você aprendeu como desenhá-la minuciosamente. Viu as principais técnicas para a construção de círculos e superfícies inclinadas. Aprendeu, também, os pormenores dessa forma de expressão, que possui os três eixos igualmente dimensionados por conta dos ângulos. Por fim, tomou conhecimento de que a perspectiva não é indicada para os desenhos de fabricação. Elas acompanham os desenhos em projeção ortogonal, para maior clareza da peça.
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AULA 8 Desenho arquitetônico
INTRODUÇÃO Nesta aula você terá acesso a uma especialidade do desenho técnico. A partir de agora, o assunto estará voltado para a representação de projetos de arquitetura. Isso significa dizer que você trabalhará com um conjunto de símbolos adequados a uma nova realidade, que expressa uma linguagem própria entre o desenhista e o leitor do projeto (que pode ser o cliente ou o operário de obra). Entre as Engenharias, esse tipo de desenho é direcionado, por exemplo, para a Engenharia Civil, que trabalha com projetos variados de construção, de infraestrutura e de instalações. A norma que fixa exigências para o desenho arquitetônico é a NBR 6492 (1994). Nela, você encontrará os principais conceitos apresentados nesta aula. A norma deixa claro que não vamos trabalhar com critérios de projeto, mas sim com a parte de Expressão Gráfica, que visa a boa compreensão de elementos como plantas, cortes e detalhes internos da edificação. Em outras palavras, você vai lidar com a representação daquilo que deseja construir (que é o projeto).
EXPRESSÃO GRÁFICA
OBJETIVOS » » Entender o conceito de desenho arquitetônico. » » Entender as particularidades do desenho arquitetônico. » » Conhecer: planta baixa, planta de localização, cortes (transversal e longitudinal), fachada e simbologia adequada para representação.
8.1 O CONCEITO DE DESENHO ARQUITETÔNICO O desenho arquitetônico é uma especialidade do desenho técnico, que contém informações sobre a dimensão, o material e a composição dos elementos necessários à construção de uma edificação de um empreendimento. De acordo com Kubba (2014), no desenho arquitetônico, são descritos todos os componentes estruturais da edificação. Ele abrange plantas baixas, plantas de fundação, plantas estruturais, elevações, cortes, detalhes, tabelas e memoriais descritivos. A seguir, você conhecerá o significado de cada elemento.
8.1.1 Planta baixa O termo “planta” costuma ser utilizado para qualquer desenho detalhado da edificação. No caso da planta baixa, ela é resultado de um corte horizontal, como demonstrado na imagem a seguir. O corte é feito à altura de 1,50 m do chão. No entanto, para traçar a correta representação da planta, você deve admitir a retirada da parte de cima do plano, como apresentado na imagem pela letra “b” (MONTENEGRO, 1997). O sentido de observação é sempre em direção ao piso, ou seja, de cima para baixo. Resumindo, todo o material seccionado é representado por meio de linhas, que podem ser grossas ou finas, dependendo do que se pretende representar.
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1.50
1.
2.
S A L A
D E P Ó S I TO
PL ANTA
3.
BAIXA
T E R R A Ç O
4. ENTRADA
Figura 122 - Obtenção de uma planta baixa (com corte horizontal). Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 48).
De acordo com Kubba (2014, p. 114), “[...] a principal função de uma planta baixa é definir o uso dos espaços”. Isso ocorre porque ela mostra a exata localização de cômodos, banheiros, portas, janelas, escadas, elevadores e rotas de fuga. Além disso, ela também apresenta a disposição das paredes externas e internas, assim como as dimensões do ambiente. Na maioria dos desenhos, a planta baixa apresenta-se na escala 1:50. Quando se trata de uma construção com poucas paredes (ou de maior proporção), você pode utilizar a escala 1:100. Por outro lado, se a intenção for mostrar algum espaço reservado, utilize a escala 1:20, sobretudo para detalhar os elementos internos.
Apesar de o termo “planta baixa” aparecer na literatura com mais frequência, você vai encontrar o termo “planta de edificação” na norma NBR 6492 (1994) com a mesma descrição. As duas nomenclaturas são aceitas e reconhecidas.
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EXPRESSÃO GRÁFICA
8.1.2 Planta de localização Os desenhos de localização servem para definir o local de implantação da obra. Por isso, você pode apresentar os contornos gerais do terreno, assinalando, ao mesmo tempo, todos os elementos pertinentes à edificação, por exemplo: arruamento, limites entre propriedades, recuos, rede hidráulica, rede de esgoto, rede elétrica e escoamento pluvial (que são considerados serviços básicos no Código de Obras do Município). 12.00
DIVISA
DE
LOTE
20.00
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R
U
A NORTE
ALINHAMENTO FRENTE
5.00
OU
CALÇADA R
U
MEIO FIO
A
Figura 123 - Planta de localização (à direita). Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 57).
Com a edificação definida e posicionada no terreno, são representados os tratamentos externos, como: muros, cercas, caminhos, playgrounds, piscinas, passeios e acessos. De acordo com Silva et al. (2006), os desenhos de localização são feitos em escalas 1:1.000, 1:500 ou 1:100, conforme a necessidade de detalhes e níveis de implantação da obra.
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AULA 8 – DESENHO ARQUITETÔNICO
8.1.3 Planta de Cobertura Pode ser compreendida como uma vista superior da edificação. De acordo com Schuler e Mukai (2014, p. 87), “[...] a finalidade da planta de cobertura é a representação de todos os elementos do telhado, ou a ele vinculados, do ponto de vista externo”. Além do aspecto funcional (que o próprio nome sugere), pode apresentar diferentes tipos de configuração e ressaltar os materiais e os processos construtivos necessários ao projeto. As superfícies inclinadas dos telhados recebem o nome de “águas”. O encontro de duas águas que formam um ângulo reentrante, criando uma aresta inclinada, é chamado de rincão, ou calha, e serve como captador de águas. Nos edifícios com planta retangular, são muito comuns as coberturas de apenas duas águas. Nesse caso, não temos o rincão. Veja na imagem a seguir uma cobertura mais simples e outra mais bem elaborada, com algumas terminologias utilizadas no meio profissional.
CALHA OU RINCÃO
CUMEEIRA
ESPIGÃO OU TA C A N I Ç A
Figura 124 - Planta de cobertura com representação das águas. Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 100).
A planta de cobertura é desenhada, na maioria das vezes, na escala de 1:100. No entanto, podem acontecer variações (MONTENEGRO, 1997). Você pode encontrar desenhos com a escala 1:200 ou até 1:50. O último caso é usado quando há a necessidade de expor maiores detalhes.
Ao representar a planta de cobertura, não se esqueça de indicar o caimento do telhado por meio das setas. A informação ajuda a conceber o desenho da rede pluvial da construção.
123
EXPRESSÃO GRÁFICA
8.1.4 Cortes Os cortes são sempre verticais e estrategicamente localizados para completar a informação adquirida na planta baixa. Nele, são indicadas algumas dimensões do desenho. Geralmente, fazemos dois cortes perpendiculares, que podem ser transversais (cortando a menor dimensão) ou longitudinais (cortando a maior dimensão). A imagem a seguir mostra um corte no sentido transversal.
B
B
B
PLANO VERTICAL
A A
CORTE A B CORTE B A
Figura 125 - Plano seccionando a construção, que vai gerar um corte transversal. Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 54).
Ao realizar o corte, ficam evidentes as partes internas da edificação. De acordo com a NBR 6492 (1994), o corte deve ser feito de forma a mostrar a maior quantidade de detalhes construtivos. No caso da imagem anterior, separamos alguns elementos que devem ser compreendidos pelo profissional de Engenharia. 1) Cumeeira: a parte mais alta do telhado. 2) Água: representa as partes inclinadas do telhado. 3) Beiral: parte saliente do telhado em relação à parede externa, para proteção de chuva e sol. 4) Verga: corresponde à viga na parte superior de uma porta ou janela. 5) Peitoril: indica a altura da alvenaria abaixo da janela. 6) Pé-direito: corresponde à altura da parte mais baixa do telhado até o piso.
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AULA 8 – DESENHO ARQUITETÔNICO
CUMEEIRA
BEIRAL
ÁGUA
VERGA
PEITORIL PÉ DIREITO Figura 126 - Objeto cortado verticalmente, com a indicação dos elementos internos. Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 56).
Sabendo dos detalhes construtivos, você pode conversar tranquilamente com um arquiteto utilizando os mesmos termos, para auxílio na construção do projeto. Vale lembrar que, com o corte, também podem ficar representadas as fundações da obra (vigas baldrame, sapatas e blocos de concreto), as lajes, os forros e os equipamentos internos do estabelecimento (sanitários). Veja a distribuição dos elementos na imagem adiante.
Viga WC
VAR ANDA Laje
+0,50
Piso
Parede
+0,35 Viga baldrame
00
Hachura terra
BLOCOS DE CONCRETO
Figura 127 - Representação em corte, com indicação da laje, viga, piso, hachura e parede. Fonte: Adaptada de Schuler e Mukai (2014, p. 71).
125
EXPRESSÃO GRÁFICA
Outro elemento que também deve ser representado é a indicação de nível. A simbologia utilizada para indicação dos níveis em cortes é:
00
+0,30
-0,15
Figura 128 - Representação de nível ao realizar o corte. Fonte: Schuler e Mukai (2014, p. 69).
Os números representam a altura em relação a um marco de referência (zero). Por recomendação da NBR 6492 (1994), as cotas de nível são sempre indicadas em metros. Além disso, elas são acompanhadas de um sinal, que pode ser positivo ou negativo. O sinal positivo indica a presença de uma elevação no piso. O negativo faz menção a um rebaixo (uma depressão existente na edificação).
Na representação de planta baixa, a simbologia para indicação de nível é diferente, ou seja, temos outro símbolo quando se trata de um corte horizontal. Veja mais detalhes no item A-10.3 da NBR 6492 (1994).
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AULA 8 – DESENHO ARQUITETÔNICO
A imagem a seguir sugere uma planta baixa com mais detalhes. Observe a cota de nível. Ela foi marcada de acordo com as diferentes alturas dentro do mesmo pavimento. Na planta baixa, o símbolo é dado por uma circunferência, com o sinal positivo ou negativo do lado.
120x100/90
60x60/140
90x210
SALA 13.75 M²
70x210
BANHO 5.70 M²
+0.50
+0.48
100x60/140
+0.50
TERRAÇO 21.20 M²
+0.35
00
Figura 129 - Representação de nível ao realizar o corte horizontal (planta baixa). Fonte: Schuler e Mukai (2014, p. 40).
127
EXPRESSÃO GRÁFICA
8.1.5 Fachada (ou elevação) São desenhos que representam as faces externas da edificação ou os planos internos (NBR 6492, 1994). Em ambos os casos, a fachada é representada por duas dimensões, isto é, pela largura e altura do objeto, como você pode perceber na imagem a seguir. Considerando a área externa, as fachadas podem ser denominadas de acordo com a localização da obra e indicadas com o auxílio das vistas (frontal, posterior ou lateral), pela orientação geográfica (norte, leste, sudeste etc.) ou pelo nome da rua. Os desenhos de fachada trazem, nomeadamente, informações complementares da edificação, pois ressaltam os materiais de revestimento, o tipo de telhado (com o grau de inclinação) e as superfícies da edificação. São desenhos que respeitam a mesma escala da planta baixa.
TELHA CERÂMICA i=30%
REBOCO LISO COR AMARELO
TIJOLO À VISTA
TIJOLO À VISTA SÓCULO CONCRETO
SÓCULO CONCRETO
Figura 130 - Fachada com representação de telhado e materiais de revestimento. Fonte: Adaptado de Schuler e Mukai (2014, p. 84).
De acordo com Schuler e Mukai (2014), a quantidade de fachadas representadas em um projeto é variável. Fica a critério do engenheiro determinar o número necessário, geralmente adotando critérios como: informações essenciais de acabamento, número de frentes do lote, posição da porta principal e irregularidade nas paredes externas. Quando falamos de elevações e fachadas, “[...] a principal indicação é de que os elementos devem ser representados com a máxima fidelidade possível, dentro dos recursos disponíveis de instrumental e de escala” (SCHULER; MUKAI, 2014, p. 76). Depois de finalizado, o projeto é enviado à Secretaria Municipal, para garantir que ele esteja de acordo com todas as exigências de regulação. O projeto completo, com plantas, cortes e fachadas, além de planta de localização, detalhes de implantação e tabelas, é normalmente executado na escala 1:100 e ainda contém a folha de rosto com dados do terreno, do proprietário e do responsável técnico. Para saber mais detalhes, procure pelo Código de Obras da sua cidade. Veja os principais requisitos para solicitar um alvará.
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AULA 8 – DESENHO ARQUITETÔNICO
8.2 SIMBOLOGIA Em uma condição ideal, o desenho arquitetônico possui uma linguagem própria. Em uma construção de pequeno porte (uma casa, por exemplo), quando a escala é menor que 1:200, as paredes são representadas por duas linhas paralelas. Essa é uma convenção habitualmente usada por arquitetos e engenheiros. Pela mesma razão, as portas internas e externas ganham representações compatíveis para o desenho na planta baixa e em corte.
PLANTA
CORTE
Figura 131 - Simbologia utilizada para a representação de portas. Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 64).
Ao indicar uma porta, você deve prestar atenção no seguinte detalhe: na planta baixa, a porta é desenhada aberta (para demarcar o espaço ocupado). Para o corte, ela sempre aparece fechada, onde as duas linhas externas representam a parede e as duas linhas internas representam a espessura da porta. As janelas também são representadas por convenções, simbolizadas por linhas paralelas. O traçado respeita o corte horizontal feito pela planta baixa. O resultado pode ser observado na imagem a seguir. LAR
RA
GU
Janela
TAL
NO
PLA L TA
ON RIZ
ON RIZ
HO
IL
R TO
PEI
O
OH
AN
PL
Parede 1.50
Janela
Figura 132 - Simbologia utilizada para a representação de janela. Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 64).
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EXPRESSÃO GRÁFICA
Nos projetos arquitetônicos e de Engenharia, é comum ter a representação dos equipamentos instalados de forma permanente. As convenções mais utilizadas são as de peças sanitárias, por exemplo: banheiras, lavatórios e bacias sanitárias, como você pode ver na próxima imagem. Mesmo assim, você pode encontrar outros aparelhos, como fogões, geladeiras, máquinas de lavar etc. Os principais símbolos são recomendados pela norma ISO 4067 (1980), que indicam a representação simplificada do equipamento. LAVATÓRIO
PLANTA
CORTE OU VISTA LATERAL
BACIA
PLANTA
CORTE OU VISTA EM BACIA
Figura 133 - Simbologia utilizada para a representação de peças sanitárias. Fonte: Adaptada de Montenegro (1997, p. 64).
Existem dois interesses principais na representação de equipamentos. O primeiro é colocar em evidência o espaço ocupado, o que pode influenciar a circulação das pessoas e a adequação do espaço. O segundo tem relação com a utilização do próprio equipamento. Em geral, eles são posicionados a fim de localizar pontos estratégicos, para abastecimento das redes de distribuição de água e eletricidade.
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AULA 8 – DESENHO ARQUITETÔNICO
CONCLUSÃO Nesta aula você teve uma breve exposição do desenho arquitetônico. De modo geral, agora você já consegue interpretar plantas, cortes e detalhes internos de uma edificação, algo extremamente válido para o profissional de Engenharia, que precisa estabelecer diálogos produtivos com o arquiteto, com o operário e com o cliente. A correta interpretação consiste em encontrar informações básicas, como linhas e símbolos próprios contidos nas plantas. Por isso, você aprendeu as diferenças existentes entre planta baixa, planta de localização e planta de cobertura. Nas plantas, você compreendeu o que acontece com os planos horizontais. Enquanto isso, para os cortes e as elevações, você viu a relação existente com os planos verticais. À primeira vista, pode parecer um conteúdo difícil. No entanto, se você estudar os diferentes conceitos, vai perceber que esta aula tem relação direta com os capítulos anteriores. Para o aluno que está cursando Engenharia Civil, vale a pena se aprofundar no conteúdo. Se é o seu caso, busque mais informação em livros específicos. Alguns deles foram citados na bibliografia.
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REFERÊNCIAS
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