Introdução a engenharia [unifacs]

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA Autor – Rafael Santiago Floriani Pereira


Universidade Anhembi Morumbi

Universidade Salvador

Janes Fidelis Tomelin Diretor de EaD

Adriano Lima Barbosa Miranda Diretor de Educação Corporativa e Novos Projetos

Fabiano Prado Marques Diretor Acadêmico – Escola de Engenharia e Tecnologia

Rafael Gonçalves Bezerra de Araújo Diretor da Escola de Engenharia e TI

Adriana Trigolo Revisor Técnico

Diniz Alves de Sant’Ana Silva Revisor Técnico

Universidade Potiguar

Rede Laureate Internacional de Universidades

Barney Vilela Coordenador Geral do Núcleo de Coordenação a Distância Catarina de Sena Pinheiro Diretora da Escola de Engenharia e Ciências Exatas

Daniella Loureiro Koncz Coordenadora de Novos Negócios André Torres Gregório Designer Instrucional

FabriCO Projeto educacional Projeto gráfico Autoria do conteúdo Revisão ortográfica e gramatical


SUMÁRIO CARTA AO ALUNO................................................................................................................ 5 AULA 1 - CONCEITO DE ENGENHARIA.................................................................................. 7 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 7 OBJETIVOS................................................................................................................ 8 1.1 A história da engenharia.................................................................................. 8 1.2 Engenharia, ciência e tecnologia...................................................................... 9 1. A Engenharia no Brasil..................................................................................... 13 CONCLUSÃO........................................................................................................... 14 AULA 2 - FUNÇÕES DO ENGENHEIRO NO CONTEXTO TECNOLÓGICO E SOCIAL..................... 15 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 15 OBJETIVOS.............................................................................................................. 16 2.1 Engenharia, tecnologia e sociedade............................................................... 16 2.1.1 O engenheiro e a tecnologia.................................................................. 17 2.1.2 O engenheiro e a sociedade................................................................... 18 2.2 O engenheiro e seu ambiente de trabalho.................................................... 20 CONCLUSÃO........................................................................................................... 22 AULA 3 - ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ENGENHEIROS E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO... 23 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 23 OBJETIVOS.............................................................................................................. 24 3.1 O engenheiro no mercado de trabalho.......................................................... 24 3.2 A Engenharia e suas áreas............................................................................. 26 3.2.1 Especialização......................................................................................... 29 CONCLUSÃO........................................................................................................... 30 AULA 4 - O CONFEA/CREA E SUA LEGISLAÇÃO: ATRIBUIÇÕES LEGAIS DOS ENGENHEIROS.. 31 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 31 OBJETIVOS.............................................................................................................. 32 4.1 O surgimento de um sistema regulador........................................................ 32 CONCLUSÃO........................................................................................................... 39 AULA 5 - CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)......... 41 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 41 OBJETIVOS.............................................................................................................. 42


5.1 A padronização na ciência e Engenharia........................................................ 42 5.1.1 O Sistema Internacional de Unidades..................................................... 43 5.2 As normas técnicas......................................................................................... 48 5.3 Formatação de resultados.............................................................................. 50 5.3.1 Gráficos................................................................................................... 50 5.3.2 Tabelas.................................................................................................... 52 5.3.3 Quadros................................................................................................... 53 5.4 Modelagem e simulação ............................................................................... 53 CONCLUSÃO........................................................................................................... 55 AULA 6 - CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (II)........ 57 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 57 OBJETIVOS.............................................................................................................. 58 6.1 O trabalho científico e tecnológico na Engenharia........................................ 58 6.1.1 As publicações científicas e tecnológicas............................................... 61 6.2 PROJETO........................................................................................................... 64 6.2.2 Produtividade.......................................................................................... 68 6.2.2 Otimização.............................................................................................. 70 CONCLUSÃO........................................................................................................... 72 AULA 7 - INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE................................................................................ 75 INTRODUÇÃO......................................................................................................... 75 OBJETIVOS.............................................................................................................. 76 7.1 A criatividade na Engenharia........................................................................ 76 7.1.1 Inovação e empreendedorismo.............................................................. 80 7.1.2 Empresas inovadoras.............................................................................. 83 CONCLUSÃO........................................................................................................... 84 AULA 8 - ÉTICA PROFISSIONAL........................................................................................... 87 OBJETIVOS.............................................................................................................. 88 8.1 Os reguladores sociais.................................................................................... 88 8.1.1 Moral e ética........................................................................................... 88 8.1.2 Moral, ética e legislação......................................................................... 91 8.1.3 Os reguladores sociais no contexto da Engenharia................................ 91 CONCLUSÃO........................................................................................................... 94


CARTA AO ALUNO

CARTA AO ALUNO O profissional da Engenharia é muito requisitado no mercado de trabalho, seja como executor de projetos, gerenciador de equipes e até mesmo administrando empresas. Essas tarefas lhe são conferidas devido ao caráter sistemático de seu raciocínio, moldado durante o período acadêmico. Mas esta característica não surge ao acaso para o engenheiro. Ela possui um contexto histórico e, inclusive, evolutivo, que se fez necessário devido ao tipo de trabalho realizado historicamente pela classe, sempre vinculada à resolução de problemas. Muitas pessoas pensam em estudar Engenharia, mas poucos o fazem. Uma das razões é por tratarse de uma profissão bastante particular que deve aliar conhecimentos teóricos a aspectos práticos, números e teoremas. Outro motivo é o grau de exigência destes profissionais. Esta disciplina explicará melhor o porquê de estudar Engenharia, sua evolução, suas bases e como o engenheiro deve portar-se frente aos desafios que aparecerão ao longo de sua vida profissional. Com o conhecimento adquirido, será possível nortear seu caminho durante os anos de curso, facilitando o uso de ferramentas para a sua formação como um engenheiro de sucesso.

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AULA 1 Conceito de Engenharia

INTRODUÇÃO Conhecer a Engenharia envolve, de certa maneira, conhecer a história da humanidade, uma vez que o desenvolvimento de uma está intimamente ligado à outra. A evolução do ser humano em sociedade só foi possível graças ao aperfeiçoamento de suas técnicas e tecnologias, que contribuíram para que mais avanços sociais ocorressem, culminando em um ciclo responsável pela criação da ciência e da Engenharia. Das pontes feitas com troncos de árvores às estaiadas, das machadinhas de pedra à serra elétrica, das fogueiras aos fornos industriais, a Engenharia possibilitou ao homem modernizar seus costumes, concedendo mais estabilidade à vida em sociedade e moldando as características do ser humano contemporâneo. Nesta aula, você observará essa evolução, as dificuldades envolvidas neste processo e a incrível capacidade humana de interagir com o meio, modificando-o conforme sua necessidade ou vontade, até a chegada e o


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

desenvolvimento da Engenharia no Brasil. Você também conhecerá as diferenças entre Engenharia, tecnologia e ciência e a maneira com que uma age sobre a outra.

OBJETIVOS » » Conhecer a história da engenharia e o desenvolvimento tecnológico humano. » » Fixar os conceitos de: ciência, tecnologia e engenharia. » » Compreender a interdependência entre os conceitos fixados e de que maneira um interage sobre o outro. » » Definir a engenharia moderna. » » Conhecer o processo de desenvolvimento da engenharia no Brasil.

1.1 A HISTÓRIA DA ENGENHARIA A interação com objetos para a produção de bens não é exclusividade humana. Observar a natureza é uma maneira simples de percebermos o quanto evoluímos nossas habilidades como transformadores de nosso meio, diferenciando-nos de outros animais. Por exemplo, um pássaro, quando constrói sua casa de barro, utiliza a matéria-prima que lhe é disponível. Ele não precisa transformar materiais, mas sim dar forma a eles, atingindo seu objetivo. Sem grande poder de transformação de materiais, os primeiros hominídeos buscavam na natureza objetos que não necessitassem de grandes alterações para serem utilizados, como pedras para a fabricação de elementos cortantes.

Figura 1 - Artefato cortante utilizado na Pré-História. Fonte: Shutterstock (2014).

Essa capacidade de transformar objetos ao dar utilidade a eles foi o diferencial entre a espécie humana e outros primatas e pode ser atribuída à engenhosidade, que até hoje é responsável por nos auxiliar na solução de problemas práticos. Através da confecção desses objetos, os hominídeos conseguiam caçar e se defender de outros animais do seu meio. O primeiro período pré-histórico (paleolítico) já separava o homem do restante dos animais, entretanto, o grande salto evolutivo para a criação de comunidades e o aprimoramento de

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AULA 2 – CONCEITO DE ENGENHARIA

tecnologias foi o desenvolvimento da agricultura e a domesticação de animais, ocorridos no período neolítico. Com a redução cada vez maior do caráter nômade humano e o menor tempo necessário para a aquisição de alimentos, restava ao ser humano mais tempo para a criação e o aprimoramento de seus bens. Nessa era foram desenvolvidos, por exemplo, cerâmicas cozidas (de argila), que proporcionaram a criação de novos alimentos, como o pão. Posteriormente, a Pré-História passou por outra revolução técnica que alterou os padrões de vida humanos. É a terceira divisão desse período, a idade dos metais. Como o nome sugere, nessa fase evolutiva, o homem passou a ter domínio sobre alguns metais (inicialmente cobre e estanho), aprimorando ainda mais seus instrumentos de trabalho e, consequentemente, fortalecendo seus laços em sociedade. No período, o homem também inventou a roda, possivelmente na Mesopotâmia, e os egípcios passaram a escrever em papiros. Esses são alguns dos grandes marcos da história humana que podem ser atribuídos à engenharia antiga. Com a engenhosidade humana em pleno desenvolvimento e a possibilidade de documentar as descobertas realizadas (através da utilização de papiros), a engenharia passou por grandes revoluções. Mas ainda faltava uma aliança com outra área em ascensão: a ciência, que, até então, devido à dificuldade de documentação e falta de aplicação, fazia com que a fabricação dos engenhos humanos fosse realizada de forma artesanal, sem conhecimentos teóricos aprofundados. Assim, surgiram duas fases distintas: a engenharia antiga e a engenharia moderna.

1.2 ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA Para compreender melhor a revolução ocorrida na engenharia antiga, cabe uma abordagem contemporânea dessas três diferentes, porém interdependentes, palavras. Segundo o dicionário Michaelis (2014), a engenharia pode ser definida como a “[...] arte de aplicar os conhecimentos científicos à invenção, aperfeiçoamento ou utilização da técnica industrial em todas as suas determinações. Ciência ou arte de construções civis, militares e navais”. Com essas definições, é possível perceber a forte dependência da engenharia moderna à ciência, fato não observado na engenharia antiga, baseada no empirismo e na transferência de métodos de geração para geração. Mas se a engenharia moderna se diferencia justamente por conta da aplicação da ciência, qual é o conceito desta palavra? Por que ela não foi aplicada à engenharia desde os primórdios? A primeira pergunta pode ser respondida novamente com o auxílio do dicionário Oxford (2014), que define ciência da seguinte maneira: “A atividade intelectual e prática que abrange o estudo sistemático da estrutura e comportamento do mundo físico e natural através da observação e experiência”. Com base nessa definição, percebe-se que, nos primórdios da civilização, não existia ciência. Afinal, ainda não ocorria o estudo dos fatos com essa sistematização, para que fosse possível criar padrões para analisar o comportamento das coisas. Nesse ponto, o desenvolvimento das técnicas humanas foi de fundamental importância para o surgimento da ciência, uma vez que a escrita consolidou os conhecimentos adquiridos. Aqui outro conceito começa a ser formado: a tecnologia. Recorrendo mais uma vez ao dicionário Oxford (2014), encontramos esta definida como: “Aplicação do conhecimento científico para fins práticos, especialmente na indústria”.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Com o aprimoramento das técnicas disponíveis, os indivíduos responsáveis por solucionar problemas de ordem prática tornaram-se cada vez mais especialistas, tornando-se a categoria que hoje conhecemos como engenheiros. Essa mudança de um artesão especializado para o que conhecemos hoje é marcada, assim como a própria engenharia, pela aplicação da ciência no desenvolvimento de novas tecnologias. Um dos precursores desta nova fase da engenharia foi Leonardo da Vinci que, além de renomado artista, projetou diversos equipamentos, como um esboço de helicóptero, que pode ser visto na figura a seguir.

Figura 2 - Helicóptero de Leonardo da Vinci. Fonte: Shutterstock (2014).

Outro importante nome para essa revolução na aplicação da ciência foi Galileu Galilei, responsável pelo famoso experimento que comprovou que a aceleração de corpos em queda livre é constante, redator de diversas publicações científicas e considerado o provável elo entre a engenharia antiga e a Engenharia moderna.

A partir desse momento, com os métodos da ciência amplamente empregados, diversos inventos relacionaram ciência e Engenharia, culminando, ao final do século XVII, na Revolução Industrial, período marcado pela mecanização de processos de manufatura. Logo, as funções do engenheiro foram se tornando cada vez mais setorizadas e apareceram as primeiras escolas de engenharia, acrescendo ainda mais aos conhecimentos em expansão. Segundo Bazzo (2006), a primeira escola de engenharia foi criada na França em 1747. Bazzo (2006) relaciona alguns fatos que merecem destaque na evolução científica e tecnológica e, por consequência, na engenharia. 1620 – Francis Bacon preconiza o método experimental. 1637 – René Descartes publica o Primeiro Tratado da Geometria Analítica e formula as leis da refração. 1642 – Blaise Pascal constrói a primeira máquina de calcular.

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AULA 2 – CONCEITO DE ENGENHARIA

1660 – É estabelecida a lei de Hooke, princípio básico para o estudo da Resistência dos Materiais, ciência básica das Engenharias. 1674 – O cálculo infinitesimal, ferramenta básica para a análise matemática, é inventado por Newton e Leibniz. 1729 – Stephen Gray descobre que há corpos condutores e não condutores de eletricidade. 1745 – Ewald Jurgen Von Kleist inventa o capacitor elétrico. 1752 – Benjamin Franklin inventa o para-raios. 1764 – James Watt inventa o condensador, componente fundamental para o motor a vapor. 1768 – Gaspar Monge cria a geometria descritiva. 1775 – Pierre Simon inventa a turbina d’água. 1789 – Antoine Laurent Lavoisier enuncia a lei da conservação da massa. 1790 – Lavoisier publica a tábua dos 31 primeiros elementos químicos. 1800 – Alessandro Volta constrói a primeira bateria de zinco e chapas de cobre. 1802 – Joseph Gay-Lussac formula a lei da dilatação dos gases. 1805 – Joseph Furier formula a teoria do desenvolvimento das funções em séries trigonométricas. 1811 – Amedeo Avogadro formula a hipótese sobre a composição molecular dos gases. 1814 – George Stephenson constrói a primeira locomotiva. 1819 – Hans Derstedt descobre o eletromagnetismo. 1824 – Sadi Carnot cria a termodinâmica. 1825 – Nielson constrói o primeiro alto-forno. 1831 – Michael Faraday descobre a indução eletromagnética. 1834 – Charles Babbage inventa a máquina analítica (ancestral do computador). 1837 – Samuel Morse inventa o telégrafo elétrico. 1855 – Henry Bessemer constrói o primeiro conversor para produção do aço. 1867 – Joseph Monier inventa o processo de construção de concreto reforçado. 1878 – Thomas Edison inventa a lâmpada elétrica. 1885 – Gottlieb Daimler e Karl Benz constroem o primeiro automóvel. 1891 – É construída a primeira linha de transmissão elétrica em corrente alternada. 1892 – Rudolf Diesel estuda, inventa e patenteia, e em seguida produz industrialmente, o seu motor de combustão interna. O fato de existirem evoluções científicas e tecnológicas mostra que, apesar da conexão entre estes dois termos, há uma diferença entre eles. Da mesma forma, há uma diferença entre um cientista, “[...] homem ou mulher instruído em ciências ou em uma ciência, principalmente nas ciências naturais; sábio ou sábia” (MICHAELIS, 2014), e um engenheiro, “[...] profissional que,

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

diplomado por curso de Engenharia, se dedica à arte de construções civis e públicas, como edifícios, estradas, pontes, redes de distribuição e usinas elétricas e a invenções, construções e instalações de máquinas e equipamentos” (MICHAELIS, 2014). De fato, podemos classificar o cientista como o agente fomentador de ciência, enquanto o engenheiro é usuário desta. Para ilustrar melhor a dependência e a diferença entre os três conceitos, pense em algo do seu cotidiano, como os LEDs presentes em diversos utensílios domésticos. Esse componente eletrônico tem seu princípio baseado no fenômeno de eletroluminescência, que é a emissão de luz pela passagem de corrente elétrica e não deve ser confundido com a incandescência, que ocorre em altas temperaturas. O processo de invenção do LED não ocorreu, como em alguns casos, pela demanda por esta tecnologia, mas seguiu o caminho natural da Engenharia moderna. Inicialmente, cientistas descobriram, através de estudos, o comportamento supracitado. Após essa descoberta, foram vislumbradas novas aplicações para o fenômeno descoberto e coube à Engenharia usufruir disso.

Quando se encontra uma solução de Engenharia, está desenvolvida uma nova tecnologia. No caso do nosso exemplo, é o próprio LED..

Ciência » » Fundamento » » Fenômeno

Engenharia » » Aplicação » » Processamento

Ciência » » Produto

Figura 3 - Interação entre ciência, Engenharia e tecnologia. Fonte: Adaptado de Shutterstock (2014).

É importante que o engenheiro sempre tenha em mente que a ciência aplicada à Engenharia gera tecnologia, que é capaz de realimentar o processo, gerando mais ciência. Quando aplicada à Engenharia, ela gera ainda mais tecnologia, criando um ciclo de melhoramento técnico.

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AULA 2 – CONCEITO DE ENGENHARIA

1.3 A ENGENHARIA NO BRASIL No Brasil, a Engenharia como conhecemos chegou através dos portugueses. No século XVIII, eles experimentaram uma grande ascensão no estudo de ciências, impulsionada pelo rei Dom João V, que buscava minimizar o atraso tecnológico de Portugal frente às outras nações europeias. Antes disso, ainda no início do período colonial, as estruturas montadas em nosso território não eram exatamente obras de Engenharia, mas sim abrigos improvisados que serviam para os mais diversificados fins. Conforme Telles (1994), construções mais bem elaboradas, executadas por profissionais construtores, começaram a surgir com a fundação da cidade de Salvador em 1549. De acordo com Bazzo (2006), o desenvolvimento da Engenharia no Brasil manteve-se atrasado por muito tempo. Isso porque a economia era baseada na escravidão – que representava uma mão de obra bastante barata. Logo, não era do interesse da monarquia a instalação de indústrias na sua colônia. Um fato que comprova essa afirmação é o envio de engenheiros apenas para a construção de edificações, ruas, fortalezas e afins. Essas atividades não causavam impacto tecnológico no País, apenas proviam um local habitável e seguro (principalmente contra invasores) para os padrões da época.

Figura 4 - Fortaleza de São Marcelo, construída no século XVII. Fonte: Shutterstock (2014).

Com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, iniciou-se o processo de industrialização nacional. Devido ao caráter colonial brasileiro, a Engenharia moderna surgiu no exército, que, na época, ainda era português. Foi consolidada com a Proclamação da Independência, quando alguns dos engenheiros militares tornaram-se brasileiros, e pela supressão sucessiva do comércio de escravos. Assim, o ensino da Engenharia começou no Brasil. Após esse período, diversas escolas de Engenharia foram criadas no País, aumentando significativamente o número de engenheiros e fortalecendo a indústria em expansão. O reflexo disso pode ser observado durante o primeiro governo de Getúlio Vargas, que, no período da Segunda Guerra Mundial, experimentou um forte crescimento da indústria nacional. Foi aí que ocorreu a criação de importantes indústrias estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobras, o que abriu espaço para o contínuo processo de industrialização do País e para a redução do atraso tecnológico nacional. Hoje, o Brasil é competitivo internacionalmente em diversas áreas da Engenharia, como a indústria de petróleo, a produção de cerâmicas de revestimento, siderurgia, o setor aeronáutico, entre tantos outros setores. Obviamente, ainda necessitamos de maiores investimentos e cultura nas pesquisas de ciências naturais para que, embasados nela, possamos avançar ainda mais e nos tornarmos um país inventor, e não apenas produtor.

CONCLUSÃO Para que isso ocorra, é imprescindível que o País forme mais engenheiros, pois indústrias que possuem elevado valor tecnológico, como o caso da Embraer, necessitam de muitos profissionais que agreguem tecnologia, tanto em seu produto como em seus processos, fomentando empresas saudáveis financeiramente. Pesquisas recentes mostram que há um déficit de engenheiros em atividade no Brasil, e a situação é ainda mais agravada quando comparada a outros países emergentes, como China e Índia.

Você pode observar alguns dados sobre a situação profissional dos engenheiros no Brasil no link <http://www.seesp.org.br/site/ cotidiano/1213-brasil-deveria-formar-o-dobro-de- engenheiros.html.

A evolução humana está intimamente ligada à evolução da Engenharia, que, por sua vez, se encontra ligada ao desenvolvimento da ciência. As duas unidas podem fazer avançar ainda mais os recursos tecnológicos disponíveis no mundo, conferindo conforto e qualidade de vida aos seres humanos. Olhar para trás, principalmente após o surgimento da Engenharia moderna, e perceber o quão rápido é o crescimento tecnológico humano, consolida ainda mais a necessidade da utilização dos conceitos estudados, fazendo com que a Engenharia não seja algo primitivo, fruto de repetições, mas a aplicação das ciências básicas no dia a dia de trabalho. A aplicação da ciência na Engenharia para o fomento de tecnologia mostra-se desafiador e imprescindível para que o Brasil, refém dos atrasos oriundos do período colonial, progrida como país exportador de produtos de ponta, superando seus problemas internos.

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AULA 2 Funções do engenheiro no contexto tecnológico e social

INTRODUÇÃO Com a Engenharia em pleno desenvolvimento e cada vez mais dependente das inovações científicas, a sociedade, de maneira geral, alcançou um novo patamar de conforto e interação com novas tecnologias. É difícil imaginarmos a vida sem a conectividade e a praticidade de um telefone celular, pensarmos em como eram realizadas buscas sem o auxílio da internet ou então como estariam os níveis de poluição de grandes metrópoles com os antigos carros carburados. Todos esses avanços foram possíveis através do melhoramento e da aplicação da Engenharia em novas tecnologias ou em processos, gerando bens, permanentes ou de consumo, à sociedade. O avanço tecnológico, entretanto, traz consigo diversos problemas decorrentes das falhas de nossa natureza humana. Apesar de termos a Engenharia como grande aliada para o nosso conforto (através da criação de equipamentos e processos que minimizam o esforço humano), ela contribui efetivamente para a poluição do mundo, como com a criação de embalagens não retornáveis.


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Com esses dois lados da geração de tecnologia em suas mãos, cabe ao engenheiro mensurar a forma menos impactante de realizar seu trabalho. Isso deve ser feito através do aprimoramento de seu conhecimento, não apenas nas áreas técnicas, mas também no desenvolvimento do pensamento coletivo e na interação com a sociedade na qual a Engenharia será aplicada.

OBJETIVOS » » Compreender o papel do engenheiro no desenvolvimento tecnológico da sociedade. » » Compreender a responsabilidade social inerente ao desenvolvimento de tecnologias e processos. » » Ressaltar a importância das relações humanas no ambiente de trabalho inerente à Engenharia.

2.1 ENGENHARIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE Como você viu na aula anterior, Engenharia e tecnologia estão intimamente ligadas e são capazes de transformar os hábitos e costumes da sociedade. Assim, o engenheiro possui em suas mãos a possibilidade de mudar seu ambiente em aspectos da natureza, do bem-estar humano, econômicos e até mesmo políticos. A globalização, palavra muito utilizada na virada do século XX para o XXI, é o maior exemplo de como a Engenharia é capaz de transformar o mundo moderno. Diversas invenções e melhoramentos fizeram com que as pessoas de todo o planeta pudessem estar conectadas em tempo real. Computadores, celulares, internet, aviões, satélites, fibra ótica e até o túnel sob o canal da mancha são exemplos de desenvolvimentos da Engenharia que propiciam acessibilidade a pessoas de diferentes partes do globo.

Figura 5 - A aplicação da Engenharia alterando a interação entre pessoas. Fonte: Shutterstock (2014).

Segundo Bazzo (2006), o estudante de Engenharia pode contribuir com o desenvolvimento da

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AULA 2 – FUNÇÕES DO ENGENHEIRO NO CONTEXTO TECNOLÓGICO E SOCIAL

tecnologia através de uma formação profissional consistente, de uma conscientização das necessidades da sociedade em que vive e de uma visão realística de uma perspectiva de futuro para a humanidade. Desenvolver confiança, interesse, trabalho em equipe, perseverança, bom senso e uma boa capacidade para solucionar problemas também é um bom caminho para isso. Com tanta influência sobre as transformações do mundo, é imprescindível que o engenheiro tenha conhecimento sobre aquilo que está desenvolvendo, tanto do ponto de vista técnico quanto do social.

2.1.1 O engenheiro e a tecnologia Como agente responsável pelo uso e fomento da tecnologia, o engenheiro deve, antes de tudo, ter o conhecimento básico das ciências que a regem. Isso significa que ele deve estudar com afinco o que chamamos de “ciências naturais”, como Química, Física e Matemática. É embasado nesses conhecimentos que o engenheiro será capaz de desenvolver e aplicar a tecnologia. Normalmente, esses conhecimentos serão aplicados para a resolução de problemas. Por isso, é importante que o engenheiro desenvolva seu raciocínio lógico, aumentando sua capacidade de entender e sistematizar problemas para, então, aplicar seus conhecimentos teóricos. Aliando os dois fatores – o conhecimento e um raciocínio lógico sistematizado –, é possível não apenas solucionar desconformidades, mas também fazer melhoramentos na tecnologia disponível. Nesse contexto, se encaixa um departamento específico e que ainda carece de investimentos no Brasil, o de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Quando um engenheiro inicia seu processo de descobertas através das diversas disciplinas técnicas que lhe são oferecidas, sua bagagem teórica científica ganha robustez. Assim, ele é capaz de analisar seus desafios de maneira a encontrar a melhor solução possível, sem a preocupação de cumprir prazos que acarretem em prejuízos corporativos. Porém, entrando no mercado de trabalho, a dinâmica industrial é ligeiramente diferente e o profissional torna-se normalmente um solucionador de problemas com embasamento científico. Ou seja, ele não tem tempo suficiente para buscar soluções inovadoras, ficando restrito a corrigir os defeitos com a melhor solução possível para o curto espaço de tempo disponível. Esse é o chamado “engenheiro de chão de fábrica” ou “engenheiro de campo”. Sua atuação é importantíssima para a manutenção da produtividade industrial, mas sua contribuição para o desenvolvimento tecnológico não costuma ser significativa. Por outro lado, há o “engenheiro de pesquisa e desenvolvimento”, responsável pela pesquisa e pelo desenvolvimento de novos produtos, normalmente aliados a novas tecnologias. Esse profissional encontra-se alocado no departamento de P&D e é responsável pela inovação em produtos e processos da indústria. Seu trabalho é menos dinâmico e mais teórico, normalmente envolvendo o desenvolvimento de projetos que podem durar de meses a anos. No Brasil, essa é uma cultura ainda em desenvolvimento, visto que a maioria das indústrias nacionais possui seu departamento de Engenharia focado na produção, utilizando tecnologias importadas. A importância do P&D é tão grande para a indústria de um país que o governo federal subsidia, através de programas e leis específicas, pesquisas realizadas em empresas com foco na inovação.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Você pode obter mais informações sobre incentivos à inovação em: <http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,mesmo-com-subsidio-do-governo-total-de-investimentos-em-inovacao-recua,1123766,0.htm>.

A indústria necessita de profissionais dedicados exclusivamente a solucionar problemas de maneira rápida, conferindo produtividade. Ao mesmo tempo, precisa de empregados que tragam inovação, garantindo que a empresa continue no mercado. O posicionamento do engenheiro em determinada função dependerá muito de suas características pessoais e de sua realização pessoal, nunca deixando de lado seu compromisso com a sociedade, desenvolvendo ou produzindo bens para a população.

2.1.2 O engenheiro e a sociedade Sabendo que somos capazes de influenciar diretamente a sociedade, cabe a nós engenheiros possuirmos discernimento sobre a melhor maneira de realizar nossa tarefa. Apenas isso, porém, não basta. É preciso estar atento para utilizar a tecnologia de maneira consciente. A sociedade se beneficia do desenvolvimento tecnológico, como você já viu nesta aula, mas também pode ser vítima dele. Um exemplo importante é o desenvolvimento da arma mais mortal já vista pelo ser humano, a bomba nuclear. Sua construção partiu das teorias desenvolvidas por Albert Einstein, que não era um engenheiro, mas sim um físico. Ele admitiu ter escrito pessoalmente uma carta ao presidente dos Estados Unidos recomendando o estudo dessa arma, o que acabou culminando em um dos episódios mais dramáticos da História, quando duas dessas bombas foram lançadas em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial.

Você pode saber mais sobre o ponto de vista de Einstein sobre esse assunto em um especial publicado pela Veja, disponível em: <http:// veja.abril.com.br/especiais_online/segunda_guerra/edicao010/pontodevista.shtml>.

Algumas pessoas próximas a Einstein dizem que, anos após a guerra, ele se arrependeu amargamente pelo ocorrido. Provavelmente por ter percebido que, por mais que desejasse o fim rápido do conflito, a solução encontrada alimentou ainda mais a necessidade humana por poder. O lançamento das bombas nucleares alterou completamente o rumo do planeta, criando uma posterior Guerra Fria, que polarizou o mundo e fortaleceu uma política armamentista que dura até hoje.

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AULA 2 – FUNÇÕES DO ENGENHEIRO NO CONTEXTO TECNOLÓGICO E SOCIAL

Figura 6 - Reprodução da Little Boy, uma das bombas lançadas no Japão em 1945. Fonte: Shutterstock (2014).

É claro que a culpa pela situação Pós-Guerra não pode ser atribuída inteiramente ao fatídico episódio ocorrido no Japão. Muitos engenheiros já haviam tomado decisões contrárias ao bem-estar social ao desenvolver outras armas durante a Grande Guerra. A produção de tanques, navios, aviões, armas e todo o aparato militar passava pelas mãos de engenheiros. Por mais que devessem lealdade a seu país, será que a postura do engenheiro deve ser essa perante o desenvolvimento tecnológico? Inúmeros engenheiros trabalham aprimorando e criando novos armamentos e novas maneiras de deixar a sociedade mais protegida. Mas aqui cabe uma reflexão: será que a sociedade está realmente mais segura com o desenvolvimento desse tipo de tecnologia? Ou isso fomenta um ciclo vicioso no qual nos tornamos vítimas daquilo que estudamos? O exemplo da guerra é o mais trágico, em curto prazo, de como a tecnologia pode estar de encontro aos nossos interesses, mas não é o único. Por muito tempo, o desenvolvimento tecnológico foi realizado sem a preocupação com os impactos ambientais causados. Essa consciência ambiental está cada dia mais crescente, porém ainda temos muito que evoluir. Avançamos em alguns aspectos e regredimos em outros. Por exemplo, nas embalagens retornáveis. O vidro não é um material biodegradável, mas, em tempos antigos, os frascos de refrigerante (e até leite) eram devolvidos à fábrica para serem lavados e reaproveitados. Hoje, grandes montantes de recursos são gastos no desenvolvimento de embalagens em plástico biodegradável, que evitam a poluição através da rápida degradação quando abandonadas no ambiente. Com isso, não deixamos de produzir plástico, alimentando a indústria responsável por ele. Mas será que essa é a alternativa mais eficiente? Muitas vezes, cabe ao engenheiro desenvolver, aprimorar ou mesmo acompanhar processos de produção. Esses processos são afetados diretamente pelo uso da tecnologia, que possibilita o melhor aproveitamento de matérias-primas, a menor emissão de poluentes e até mesmo a otimização de condições de trabalho. Porém, quando a tecnologia é aplicada equivocadamente, pode passar de aliada à vilã, como no caso da incorporação de chumbo no processamento de produtos elétricos e eletrônicos. Apesar de promover o desenvolvimento tecnológico, foi a causa de diversos casos de câncer em trabalhadores da indústria.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Várias outras situações poderiam ser citadas como modelo de desenvolvimento inadequado da tecnologia, ou sua aplicação meramente comercial, sem o intuito de realmente promover o desenvolvimento social. Laudares (2001, p. 492) fez uma análise do novo posicionamento dos engenheiros perante a sociedade e o mercado de trabalho, mostrando a importância em extrapolar o conhecimento técnico adquirido durante o período acadêmico: As mudanças ocorridas na organização do trabalho passaram a utilizar, em maior escala, o componente intelectual do trabalhador, em detrimento do componente físico-manual. Dessa forma, articula-se uma nova base técnica com a lógica sistêmica de organização da produção e formas participativas de atuação. O engenheiro, nesse contexto, ocupa posição estratégica, assumindo responsabilidades de gerenciamento de pessoas e processos que lhe exigem conhecimentos humanos e sociais somados àqueles de cunho puramente técnicos. Os cursos universitários, outrora baseados numa lógica instrumental e tecnicista, vêm discutindo a urgência de um novo modelo que possibilite uma formação mais ampliada do engenheiro, envolvendo questões que incluem as dimensões humana e social, econômica e política.

Para que o engenheiro tenha consciência de seu papel, no momento de sua formatura, ele faz o juramento: No cumprimento do meu dever de engenheiro, não me deixarei levar pelo brilho excessivo da tecnologia, esquecendo-me completamente de que trabalho para o bem do homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou que o poluam. Colocarei todo meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz comigo e com Deus.Com isso, fica evidente o papel crítico que o engenheiro deve ter para resguardar a sociedade o máximo possível de tecnologias prejudiciais. Esse senso crítico só pode ser alcançado através de informação, estudo e reflexão, para que o viés técnico e científico do engenheiro não ofusque completamente seu dever como cidadão pensante.

Apesar de todo o contexto social envolvido no desenvolvimento de tecnologias, os empresários buscarão no mercado engenheiros que possam lhes garantir lucratividade. Cabe ao profissional adequar-se a esta realidade, porém sem esquecer os princípios contidos no juramento realizado durante sua formatura, os quais devem nortear seu trabalho.

2.2 O ENGENHEIRO E SEU AMBIENTE DE TRABALHO O engenheiro ingressa no mercado de trabalho para que possa reduzir gastos, propor soluções inteligentes e ainda respeitar leis ambientais, trabalhistas e de controle de qualidade, sendo sempre produtivo. Para isso, muitas vezes, conhecimento não basta. É necessário que o profissional também tenha um bom poder de comunicação. Como agente executor das ciências, muitas vezes o trabalho do engenheiro está voltado para a resolução de problemas de forma individual. Isso faz com que os estudantes de Engenharia, por 20


AULA 2 – FUNÇÕES DO ENGENHEIRO NO CONTEXTO TECNOLÓGICO E SOCIAL

vezes, esqueçam a importância de se comunicar de maneira clara com seus colegas de trabalho ou de estudo.

Durante sua vida profissional, tenha a comunicação como sua aliada. Gerenciar processos, emitir laudos, desenvolver produtos, e todas as outras possíveis tarefas inerentes à profissão dependem fortemente de se expressar de maneira clara e concisa.

Por mais que o campo estudado esteja dentro das ciências exatas, e não nas ciências humanas, o contato com uma grande equipe de trabalho é iminente e provavelmente caberá ao profissional da Engenharia transmitir orientações, fazendo da comunicação uma ferramenta de trabalho. Não é possível fazer uma predição do público e do ambiente que o engenheiro encontrará depois de formado. Mesmo dentro de uma área específica, muitas são as possibilidades de atuação do engenheiro. Os profissionais da Engenharia Civil, por exemplo, podem trabalhar em campo, projetando e acompanhando a execução de obras, ou mesmo em um escritório, desenvolvendo softwares para o cálculo estrutural de construções. Já os engenheiros mecânico e de produção estão sujeitos tanto ao ambiente fabril, controlando processos ou solucionando problemas in loco, quanto ao ambiente de escritório, projetando e desenvolvendo produtos e a melhor maneira de produzilos. É notável a diferença entre estas duas alocações em termos físicos, psicológicos e inclusive no relacionamento pessoal exigido.

Figura 7 - Engenheiro supervisionando um processo. Fonte: Shutterstock (2014).

Com isso, cabe ao engenheiro saber adequar-se ao ambiente no qual está inserido, possuindo uma conduta maleável, uma boa capacidade de expressão e, sobretudo, não se esquecendo de seu embasamento teórico no momento de resolver problemas práticos.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

CONCLUSÃO A profissão de engenheiro possui grandes responsabilidades diante da sociedade, não apenas como elemento de modificação de costumes e técnicas, como também no contexto político e econômico. Conhecer as bases teóricas científicas e a maneira correta de aplicá-las é apenas uma parte da formação de um profissional engajado na sociedade. É necessária a formação de uma análise crítica a respeito das mudanças que seu trabalho pode causar no ambiente em que ele está inserido. As responsabilidades do profissional da Engenharia vão muito além de solucionar os problemas decorrentes de sua profissão, passando pelo trato com seus colegas de trabalho, pela avaliação dos impactos ambientais e sociais provenientes de seus projetos e inclusive pela qualidade e necessidade daquilo que está sendo produzido. Com isso em mente, você provavelmente será um grande profissional, com a consciência tecnológica necessária para aplicar seus conhecimentos científicos e também com a consciência social para que seu trabalho venha a contribuir para a sociedade e não se tornar um problema.

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AULA 3 Atividades desenvolvidas por engenheiros e suas áreas de atuação INTRODUÇÃO Você provavelmente escolheu seu curso de Engenharia refletindo sobre suas aptidões e a estabilidade financeira que a área é capaz de fornecer. Talvez tenha pesado na sua decisão a facilidade com números, a prática em montar e desmontar os mais variados equipamentos (e fazê-los funcionar) e o prazer de construir estruturas em madeira. Ou, então, quem sabe você almeje um cargo diferenciado na empresa em que trabalha, atuando na área de planejamentos, projetos, cargos de gerência ou até mesmo diretoria. Independentemente do motivo da sua escolha, o conhecimento abrirá novas portas para sua vida profissional, e o diploma que você receberá terá sido apenas uma entre várias outras decisões que terá de tomar quanto à sua futura carreira. Em posse do grau de bacharel, você terá de decidir, por exemplo, com o que trabalhará, onde, como, com quem e até mesmo quanto valerá o seu tempo. Todas essas escolhas são duras e muitas vezes o levarão a


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

repensar seu futuro. A experiência e o amadurecimento como engenheiro o auxiliarão nas melhores escolhas. Esta aula exibirá algumas alternativas, tanto em relação a futuros profissionais quanto a estudantes de Engenharia.

OBJETIVOS » » Compreender as diferentes colocações do engenheiro nas diversas áreas de atuação relacionadas à profissão. » » Obter uma visão geral sobre as áreas da Engenharia, bem como suas subdivisões e os diversos cursos criados.

3.1 O ENGENHEIRO NO MERCADO DE TRABALHO Nas aulas anteriores, você conheceu características inerentes ao trabalho com Engenharia, como o senso prático, raciocínio lógico, conhecimento científico e até mesmo a colocação do profissional como cidadão. Essas qualidades reunidas conferem ao engenheiro a possibilidade de executar as mais diferentes tarefas. Bazzo (2006, p. 88) elenca as seguintes: Tabela 1 - Tarefas executadas pelo engenheiro

Administrar

Analisar

Assessorar

Avaliar

Construir

Consultar

Controlar

Desenvolver

Dirigir

Emitir Parecer

Ensinar

Ensaiar

Especificar

Estudar

Executar

Experimentar

Fiscalizar

Gerenciar

Manter

Operar

Pesquisar

Planejar

Produzir

Projetar

Supervisionar

Testar

Vender

Vistoriar

Fonte: Bazzo (2006, p. 88).

Possuindo toda essa gama de habilidades, é esperado que o engenheiro, com o passar do tempo, adquira segurança em determinada área e passe a evoluir em outra, o que traz versatilidade ao profissional mais experiente. Isso possibilita a migração para setores de caráter administrativo onde ele executará funções como gerenciar equipes ou até mesmo dirigir uma empresa. O trabalho técnico em indústrias é o destino da maioria dos engenheiros formados, mas essa não é a única opção após a obtenção de seu grau de bacharel. Muitos profissionais buscam traçar seu próprio caminho utilizando a versatilidade dos cursos de Engenharia para o início e a condução de um novo negócio. Por conhecer processos, possuir noções de administração e recursos matemáticos, o empreendedorismo soa como algo tangível. E realmente é. Do nascimento ao início da produção de uma indústria, podemos diferenciar três categorias de trabalhadores responsáveis pelo seu funcionamento: o empreendedor, o administrador (ou gerenciador) e o técnico. O primeiro é o responsável por criar coisas (ou empresas) novas, não possuindo necessariamente as qualidades dos outros dois. Suas principais características costumam ser a criatividade, visão de futuro e inquietude. O segundo é o responsável por fazer com que a engrenagem corporativa

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AULA 3 – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ENGENHEIROS E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO

funcione, comandando equipes. Esse indivíduo costuma ser um líder, é organizado e tem boa voz de comando. Já o terceiro é o profissional que faz parte da maioria do mercado, o responsável por aplicar a Engenharia de forma pura, atuando diretamente na solução de problemas de ordem técnica. Seu principal aliado é o conhecimento das ciências naturais.

Você pode encontrar mais informações sobre esses três diferentes tipos de profissionais em: <www.prolucroconsultoria.com.br/blog/tecnico-x-gerente-x-empreendedor-quem-voce-e/>.>

Essas três características podem ser intrínsecas à personalidade do indivíduo, mas também não é raro que a experiência faça o profissional mudar seu curso. Como dito anteriormente, a segurança em determinada área faz com que o engenheiro arrisque-se em outra. Assim, uma carreira iniciada no âmbito técnico pode progredir para um setor administrativo. A curiosidade por explorar novos horizontes pode criar um empreendedor. Existe também o profissional autônomo, que está situado entre o técnico e o empreendedor. Ele atua, normalmente, de forma individual, aplicando seus conhecimentos técnicos com a inquietude de explorar seus próprios horizontes, embora sem a necessidade (ou capacidade) de gerir uma equipe. Atua normalmente como consultor de empresas, aplicando seus conhecimentos técnicos sem a necessidade de reportar-se a um superior. Outra abordagem de carreira é a acadêmica. No Brasil, o curso natural dessa modalidade é a continuidade no meio universitário, através de pós-graduações, até que se atinja o nível necessário (de grau e conhecimento) para atuar na área de interesse. Por vezes, engenheiros alocados em P&D de indústrias (ou os que desejam migrar para este departamento) também buscam conhecimento através de cursos de pós-graduação. A essência é a mesma para os dois casos: aprofundar o conhecimento. Existe ainda a possibilidade de o engenheiro buscar emprego fora do País, normalmente como empregado de alguma empresa multinacional. Com a escassez cada vez maior de profissionais no mercado, diversos países europeus buscam mão de obra qualificada em outros territórios, abrindo oportunidades aos brasileiros que buscam por experiência internacional.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Figura 8 - Professor universitário, uma opção de carreira aos engenheiros. Fonte: Shutterstock (2014).

Em suma, o engenheiro recém-formado poderá escolher diversas maneiras de conduzir sua carreira dentro da Engenharia. Após formado, você poderá atuar como empreendedor, empregado (técnico ou administrador), autônomo ou acadêmico. A escolha ou o direcionamento para cada área dependerá das características desenvolvidas por cada indivíduo. Alocações malfeitas culminarão em um profissional inquieto ou insatisfeito. Além dessas escolhas, que deverão ser realizadas depois de adquirir o conhecimento na área de atuação, o estudante deve fazer uma nova escolha: em qual área da Engenharia investir?

3.2 A ENGENHARIA E SUAS ÁREAS Recorde rapidamente o aspecto histórico da Engenharia, que você viu na aula 1. O engenheiro era a pessoa capaz de solucionar problemas práticos. Através do desenvolvimento de tecnologias e da incorporação da Ciência, nasceu a Engenharia Moderna, fornecendo base científica ao desenvolvimento tecnológico humano. Esse novo formato deu origem aos ramos básicos da Engenharia: Engenharia Civil, Engenharia Química, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica. Com o aprofundamento dos conhecimentos humanos em diferentes áreas da ciência, a Engenharia sofreu ainda mais divisões e, assim, pôde ser mais bem explorada. Essas divisões acontecem conforme a sociedade sente a necessidade de explorar melhor um novo campo dentro de uma grande área já existente. Um exemplo desse aprofundamento é a Engenharia de Materiais, um campo novo no Brasil. Como o nome sugere, é voltada ao desenvolvimento e estudo de materiais e seus processamentos para aplicação nos mais variados produtos. Inicialmente, os estudos a respeito de materiais eram realizados dentro de outras Engenharias, como a Química e a Mecânica. Com o desenvolvimento científico e tecnológico, por exemplo, com a otimização de microscópios de luz refletida e a invenção do microscópio eletrônico de varredura, tornou-se possível estudar com mais profundidade os diversos materiais já existentes e também projetar novos, evidenciando a necessidade da criação de um curso específico para a área. Esta tendência repete-se em outros cursos. O Ministério da Educação (MEC) possui cadastrados em seu site mais de 100 diferentes cursos de graduação em Engenharia. Alguns destes são exibidos a seguir. 26


AULA 3 – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ENGENHEIROS E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO

Engenharia Acústica Engenharia Aeroespacial Engenharia Aeronáutica Engenharia Agrícola Engenharia Agronômica Engenharia Ambiental Engenharia Automotiva Engenharia Bioenergética Engenharia Biomédica Engenharia Cartográfica Engenharia Cerâmica Engenharia Civil Engenharia da Computação Engenharia da Mobilidade

Engenharia de Produção Elétrica Engenharia de Produção Eletromecânica Engenharia de Produção em Controle e Automação Engenharia de Produção Mecânica Engenharia de Produção Química Engenharia de Recursos Hídricos e do Meio Ambiente Engenharia de Redes de Comunicações Engenharia de Segurança no Trabalho Engenharia de Sistemas Engenharia de Software Engenharia de Telecomunicações Engenharia de Teleinformática Engenharia de Transportes Engenharia de Transportes e Logística

Engenharia de Agrimensura Engenharia de Agronegócios Engenharia de Alimentos Engenharia de Aquicultura Engenharia de Bioprocessos Engenharia de Biossistemas Engenharia de Biotecnologia Engenharia de Computação Engenharia de Comunicações Engenharia de Controle e Automação Engenharia de Energia Engenharia de Energias Renováveis Engenharia de Energias Renováveis e Ambiente Engenharia de Fortificação e Construção Engenharia de Gestão Engenharia de Infraestrutura Engenharia de Inovação Engenharia de Instrumentação, Automação e Robótica Engenharia de Manufatura Engenharia de Materiais Engenharia de Minas Engenharia de Minas e Meio Ambiente Engenharia de Pesca Engenharia de Petróleo Engenharia de Petróleo e Gás Engenharia de Plásticos Engenharia de Produção Engenharia de Produção Agroindustrial Engenharia de Produção Civil

Engenharia Elétrica Engenharia Eletrônica Engenharia Eletrotécnica Engenharia em Energia Engenharia em Nanotecnologia Engenharia em Sistemas Digitais Engenharia Ferroviária e Logística Engenharia Ferroviária e Metroviária Engenharia Física Engenharia Florestal Engenharia Geológica Engenharia Hídrica Engenharia Industrial Engenharia Industrial Elétrica Engenharia Industrial Elétrica Engenharia Industrial Madeireira Engenharia Industrial Mecânica Engenharia Industrial Química Engenharia Mecânica Engenharia Mecatrônica Engenharia Metalúrgica Engenharia Naval Engenharia Naval e Oceânica Engenharia Nuclear Engenharia Portuária Engenharia Química Engenharia Sanitária Engenharia Sanitária e Ambiental Engenharia Têxtil

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Figura 9 - Plataforma de petróleo, o lar de muitos engenheiros. Fonte: Shutterstock (2014).

Você pode obter mais informações sobre a atuação de algumas destas engenharias em: <http://guiadoestudante.abril.com.br/blogs/pordentrodasprofissoes/conheca-os-35-tipos-de-engenharia-que-existem/>.

Este número deve aumentar cada vez mais, uma vez que o ciclo Ciência-Engenharia-Tecnologia é autoalimentado, criando fatalmente a necessidade de aplicações mais aprofundadas para as novas descobertas científicas. A escolha de um campo da Engenharia é apenas o início de um longo aprendizado. Depois de formado, você será alocado em uma subárea no seu emprego, onde adquirirá um conhecimento mais profundo. Isso porque, mesmo com as diversas divisões, cada curso ainda abrange uma grande quantidade de conteúdo. A base de conhecimentos adquirida na faculdade será aprofundada somente após os anos de experiência profissional. Um exemplo é o da Engenharia de Produção. Quem optar por essa área não chegará ao mercado como um “engenheiro de produção”, mas sim como um profissional de uma área específica dentro desse ramo de atuação. Segundo dados da Associação Brasileira de Engenharia de Produção, o engenheiro por ela representado pode atuar nas seguintes áreas: Engenharia de operações e processos da produção, logística, pesquisa operacional, Engenharia da qualidade, Engenharia do produto, Engenharia organizacional, Engenharia econômica, Engenharia do trabalho e Engenharia da sustentabilidade.

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AULA 3 – ATIVIDADES DESENVOLVIDAS POR ENGENHEIROS E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO

Todas estas categorias ainda contam com subcategorias, que podem ser exploradas no website da instituição, disponível em: <www.abepro.org. br/interna.asp?c=362>.

3.2.1 Especialização Dentro do contexto do aperfeiçoamento, ou setorização, surgem as pós-graduações, nas quais o profissional tem a oportunidade de estudar especificamente aquilo que lhe interessa, ou que lhe faz falta durante sua atuação profissional. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, 2014) classifica os cursos de pós-graduação da seguinte maneira: No Brasil há dois tipos de pós-graduação: lato sensu (conhecida como especialização ou MBA) e stricto sensu (que abrange os cursos de mestrado e doutorado). A primeira, como o próprio nome diz, designa todo e qualquer curso que se segue à graduação. Normalmente os cursos de especialização e aperfeiçoamento têm objetivo técnico profissional específico sem abranger o campo total do saber em que se insere a especialidade. São cursos destinados ao treinamento nas partes de que se compõe um ramo profissional ou científico. Sua meta é o domínio científico e técnico de uma certa e limitada área do saber ou da profissão, para formar o profissional especializado. A pós-graduação stricto sensu é o ciclo de cursos regulares em segmento à graduação, sistematicamente organizados, visando desenvolver e aprofundar a formação adquirida no âmbito da graduação e conduzindo à obtenção de grau acadêmico. Ela se subdivide em dois ciclos: mestrado e doutorado. Ambas compreendem a definição de pós-graduação stricto sensu, com a diferença no grau de profundidade dedicado ao estudo do objeto de pesquisa. Embora representem um escalonamento na pós-graduação, esses cursos podem ser considerados relativamente autônomos. Isto é, o mestrado não constitui obrigatoriamente requisito prévio para inscrição em um curso de doutorado.

Comumente, os cursos de especialização são procurados por profissionais já inseridos no mercado de trabalho, que buscam o aperfeiçoamento em sua área específica de atuação. Já os cursos de mestrado são frequentados em sua maioria por recém-formados, que buscam melhorar o currículo ou seguir a vida acadêmica. Há também casos de profissionais já inseridos na indústria que procuraram esta modalidade de pós-graduação tanto por terem interesses similares aos que buscam a especialização quanto por buscarem a alocação em um departamento de pesquisa e desenvolvimento. Por fim, assim como o curso de mestrado, o doutorado é majoritariamente procurado por quem busca a atuação na área acadêmica. No entanto, é a escolha de poucos industriais devido ao seu longo tempo de conclusão – normalmente quatro anos – e seu caráter mais teórico e científico. Com tantas possibilidades, escolher um curso torna-se uma tarefa muitas vezes difícil. A escolha com base em projeções salariais ou mercadológicas pode vir a ser rentável financeiramente, mas a insatisfação com seu trabalho torna-se um risco iminente.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

A melhor maneira de fazer essa escolha é comparando suas aptidões às áreas de atuação dos cursos.>

Em uma sociedade comandada pelo consumo e pelo capital, vale a reflexão sobre como você deseja construir seu futuro profissional. Trabalhar diariamente em algo que não lhe satisfaça não é uma opção saudável. Lembre-se: você deixará ao menos oito horas do seu dia em seu emprego, logo, deverá estar contente consigo mesmo ao realizar suas tarefas.

CONCLUSÃO A opção de cursar Engenharia abre diversas portas no mercado de trabalho, mas a construção de um bom profissional passa pela realização de diversas escolhas que só poderão ser feitas após o amadurecimento profissional do engenheiro. Com o desenvolvimento de habilidades específicas através de experiências profissionais ou da realização de cursos de pós-graduação, você, futuro engenheiro, poderá realizar as mais diferentes tarefas dentro de sua área de atuação, ampliando seus horizontes para variados enquadramentos profissionais. Suas escolhas durante a graduação, seu modo de lidar com as pessoas e sua criatividade são algumas das características que determinarão qual tipo de profissional você será. Suas opções de carreira poderão estar voltadas à criatividade e inovação, ao gerenciamento e à instrução de pessoas ou puramente à solução de problemas. Todos esses campos contribuirão de alguma forma com o desenvolvimento tecnológico da sociedade, cabendo a você realizar as melhores escolhas quanto à sua satisfação pessoal, de acordo com suas prioridades.

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AULA 4 O CONFEA/CREA e sua legislação: Atribuições legais dos engenheiros INTRODUÇÃO Diversas áreas da Engenharia surgindo sem um padrão de qualidade, muitas pessoas com senso prático – mas sem conhecimento teórico – executando projetos, erros recorrentes, produtos falhando, obras ruindo, pessoas morrendo por falhas em equipamentos, ausência de culpados, a tecnologia sem espaço para evoluir e sem conhecimento para ser aplicada. Este cenário parece improvável? Pois saiba você que, apesar dos exageros, algumas dessas situações poderiam se tornar corriqueiras se não fosse por um mecanismo responsável por garantir a qualidade dos serviços de Engenharia prestados, criando responsáveis, designando competências e validando diplomas. Todas essas características que certificam a confiança no engenheiro brasileiro são definidas e fiscalizadas por um sistema instituído legalmente, chamado Confea/Crea, ao qual os engenheiros se reportam enquanto exercem suas atividades profissionais. Nesta aula, você saberá mais detalhes sobre os conselhos reguladores da profissão e as normas que você, como futuro engenheiro, precisará obedecer.


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

OBJETIVOS Conhecer os conselhos reguladores da profissão e seu papel no desenvolvimento legal das atividades dos engenheiros. » » Introduzir o conceito das atribuições legais específicas para cada curso de Engenharia e as normas especificadas pelo Confea/Crea.

4.1 O SURGIMENTO DE UM SISTEMA REGULADOR Relembre um pouco as aulas anteriores, quando você aprendeu sobre os primórdios da Engenharia. Antigamente, o responsável por construir e projetar era o indivíduo que possuía habilidades para isso, e seus conhecimentos eram transferidos de geração a geração. Conforme a humanidade evoluiu, mais as técnicas de construção foram aperfeiçoadas e menos pessoas passaram a ter o domínio para a fabricação de determinado objeto (ou construção). Esse cenário fomentou o surgimento do engenheiro como conhecemos hoje, ou seja, o responsável pela aplicação da ciência e das técnicas para a manufatura de algo. No entanto, nada impedia que um cidadão não diplomado na área de Engenharia atuasse como engenheiro, como ainda ocorre na execução de pequenas obras ou na construção de engenhos domésticos. Isso pode colocar em risco a saúde dos utilizadores das obras e acarretar sansões legais para os executores. Para impedir a ocorrência deste tipo de prática, foram criadas legislações específicas, protegendo a população de profissionais que não possuem embasamento suficiente para a prática da Engenharia. No Brasil, essa regulamentação foi feita através do Decreto Federal no 23.569 de 1933, mas foi a Lei no 5.194 de 1966 que definiu o engenheiro profissionalmente da seguinte maneira: Art. 1 – As profissões de engenheiro, arquiteto e engenheiro-agrônomo são caracterizadas pelas realizações de interesse social e humano que importem na realização dos seguintes empreendimentos: a) aproveitamento e utilização de recursos naturais; b) meios de locomoção e comunicações; c) edificações, serviços e equipamentos urbanos, rurais e regionais, nos seus aspectos técnicos e artísticos; d) instalações e meios de acesso a costas, cursos e massas de água e extensões terrestres; e) desenvolvimento industrial e agropecuário.

Você pode ter acesso a essa e mais leis referentes à atuação de engenheiros no website: <http://normativos.confea.org.br/apresentacao/ apresentacao.asp>.

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AULA 4 – O CONFEA/CREA E SUA LEGISLAÇÃO: ATRIBUIÇÕES LEGAIS DOS ENGENHEIROS

Figura 10 - Exemplo de mau projeto. Fonte: Shutterstock (2014).

Em seu segundo artigo, a mesma lei ainda define os critérios que o profissional deve atender para que possa exercer a profissão de engenheiro: Art. 2o - O exercício, no País, da profissão de engenheiro, arquiteto ou engenheiro-agrônomo, observadas as condições de capacidade e demais exigências legais, é assegurado: a) aos que possuam, devidamente registrado, diploma de faculdade ou escola superior de engenharia, arquitetura ou agronomia, oficiais ou reconhecidas, existentes no País; b) aos que possuam, devidamente revalidado e registrado no País, diploma de faculdade ou escola estrangeira de ensino superior de engenharia, arquitetura ou agronomia, bem como os que tenham esse exercício amparado por convênios internacionais de intercâmbio; c) aos estrangeiros contratados que, a critério dos Conselhos Federal e Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, considerados a escassez de profissionais de determinada especialidade e o interesse nacional, tenham seus títulos registrados temporariamente.

Com a Lei no 5.194 de 1966, foram criados ainda os Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), subordinados ao Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Engenharia (Confea), como descrito no artigo a seguir. Eles possuem a incumbência de fiscalizar e determinar a atuação dos engenheiros. Art. 24 - A aplicação do que dispõe esta Lei, a verificação e a fiscalização do exercício e atividades das profissões nela reguladas serão exercidas por um Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CONFEA), e Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA), organizados de forma a assegurarem unidade de ação. 33


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

O Conselho Federal de Engenharia e Agronomia foi criado em 1933, no governo de Getúlio Vargas, muito antes da criação dos Creas.

O artigo 27 da Lei no 5.194 de 1966 visa estabelecer as competências do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, que tem como uma de suas principais funções o gerenciamento dos Conselhos Regionais e suas normas. Além disso, cabe ao Confea a determinação e publicação, em última instância, das atribuições legais dos engenheiros, bem como o julgamento de recursos relativos ao exercício incorreto da profissão. Art. 27 - São atribuições do Conselho Federal: a) organizar o seu regimento interno e estabelecer normas gerais para os regimentos dos Conselhos Regionais; b) homologar os regimentos internos organizados pelos Conselhos Regionais; c) examinar e decidir em última instância os assuntos relativos ao exercício das profissões de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, podendo anular qualquer ato que não estiver de acordo com a presente Lei; d) tomar conhecimento e dirimir quaisquer dúvidas suscitadas nos Conselhos Regionais; e) julgar em última instância os recursos sobre registros, decisões e penalidades impostas pelos Conselhos Regionais; f) baixar e fazer publicar as resoluções previstas para regulamentação e execução da presente Lei, e, ouvidos os Conselhos Regionais, resolver os casos omissos; g) relacionar os cargos e funções dos serviços estatais, paraestatais, autárquicos e de economia mista, para cujo exercício seja necessário o título de engenheiro, arquiteto ou engenheiro-agrônomo; h) incorporar ao seu balancete de receita e despesa os dos Conselhos Regionais; i) enviar aos Conselhos Regionais cópia do expediente encaminhado ao Tribunal de Contas, até 30 (trinta) dias após a remessa; j) publicar anualmente a relação de títulos, cursos e escolas de ensino superior, assim como, periodicamente, relação de profissionais habilitados; k) fixar, ouvido o respectivo Conselho Regional, as condições para que as entidades de classe da região tenham nele direito à representação; l) promover, pelo menos uma vez por ano, as reuniões de representantes dos Conselhos Federal e Regionais previstas no Art. 53 desta Lei; m) examinar e aprovar a proporção das representações dos grupos profissionais nos Conselhos Regionais; n) julgar, em grau de recurso, as infrações do Código de Ética Profissional do engenheiro, arquiteto e engenheiro-agrônomo, elaborados pelas entidades de classe; 34


AULA 4 – O CONFEA/CREA E SUA LEGISLAÇÃO: ATRIBUIÇÕES LEGAIS DOS ENGENHEIROS

o) aprovar ou não as propostas de criação de novos Conselhos Regionais; p) fixar e alterar as anuidades, emolumentos e taxas a pagar pelos profissionais e pessoas jurídicas referidos no Art. 63. q) autorizar o presidente a adquirir, onerar ou, mediante licitação, alienar bens imóveis.

Figura 11 - Logotipo do Confea. Fonte: <http://blog.construir.arq.br/>.

Já os Conselhos Regionais são instituições estaduais, responsáveis pela aproximação com a comunidade local. Os Creas possuem uma responsabilidade com maior caráter executivo, reportando suas atividades ao Confea. Entre suas atribuições, estão a expedição de registros profissionais (necessários para a atuação do engenheiro), a fiscalização e o julgamento de inconformidades e o cadastro das instituições responsáveis pela formação acadêmica dos profissionais representados pelo conselho. As funções dos Creas são definidas pelo Artigo 34. Art. 34 - São atribuições dos Conselhos Regionais: a) elaborar e alterar seu regimento interno, submetendo-o à homologação do Conselho Federal; b) criar as Câmaras especializadas atendendo às condições de maior eficiência da fiscalização estabelecida na presente Lei; c) examinar reclamações e representações acerca de registros; d) julgar e decidir, em grau de recurso, os processos de infração da presente Lei e do Código de Ética, enviados pelas Câmaras Especializadas; e) julgar, em grau de recurso, os processos de imposição de penalidades e multas; f) organizar o sistema de fiscalização do exercício das profissões reguladas pela presente Lei; g) publicar relatórios de seus trabalhos e relações dos profissionais e firmas registrados; h) examinar os requerimentos e processos de registro em geral, expedindo as carteiras profissionais ou documentos de registro; i) sugerir ao Conselho Federal medidas necessárias à regularidade dos serviços e à fiscalização do exercício das profissões reguladas nesta Lei; j) agir, com a colaboração das sociedades de classe e das escolas ou faculdades de engenharia, arquitetura e agronomia, nos assuntos relacionados com a presente Lei; k) cumprir e fazer cumprir a presente Lei, as resoluções baixadas pelo Conselho Federal, bem como expedir atos que para isso julguem necessários;

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

l) criar inspetorias e nomear inspetores especiais para maior eficiência da fiscalização; m) deliberar sobre assuntos de interesse geral e administrativos e sobre os casos comuns a duas ou mais especializações profissionais; n) julgar, decidir ou dirimir as questões da atribuição ou competência das Câmaras Especializadas referidas no artigo 45, quando não possuir o Conselho Regional número suficiente de profissionais do mesmo grupo para constituir a respectiva Câmara, como estabelece o artigo 48; o) organizar, disciplinar e manter atualizado o registro dos profissionais e pessoas jurídicas que, nos termos desta Lei, se inscrevam para exercer atividades de engenharia, arquitetura ou agronomia, na Região; p) organizar e manter atualizado o registro das entidades de classe referidas no artigo 62 e das escolas e faculdades que, de acordo com esta Lei, devam participar da eleição de representantes destinada a compor o Conselho Regional e o Conselho Federal; q) organizar, regulamentar e manter o registro de projetos e planos a que se refere o artigo 23; r) registrar as tabelas básicas de honorários profissionais elaboradas pelos órgãos de classe; s) autorizar o presidente a adquirir, onerar ou, mediante licitação, alienar bens imóveis.

As diferenças encontradas entre os conselhos federal e regional estão em suas atribuições, uma vez que o Confea é responsável por gerir os Creas.

Como você viu na aula anterior, diversos cursos de Engenharia têm surgido no Brasil, criando a possibilidade de desenvolvimento tecnológico em diferentes áreas. Com o avanço e a documentação dessas áreas, foi criada uma base de dados robusta, minimizando os erros cometidos por engenheiros durante a fase de projetos, a fim de evitar que estes se tornem produtos defeituosos ou que não atendam corretamente as especificações desejadas. Isso criou a necessidade legal das divisões de competência das diversas áreas da Engenharia, com a criação de atribuições para cada uma delas. Essa formalização foi realizada, como já previsto em lei, através da resolução 218 publicada pelo Confea em 29 de junho de 1973, discriminando as diversas áreas de atuação dos engenheiros formados na época. Veja, como exemplo, os artigos 7º e 12, que estipulam a atuação dos Engenheiros Civis e Mecânicos, respectivamente. I - o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referentes a edificações, estradas, pistas de rolamentos e aeroportos; sistema de transportes, de abastecimento de água e de saneamento; portos, rios, canais, barragens e diques; drenagem e irrigação; pontes e grandes estruturas; seus serviços afins e correlatos.

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AULA 4 – O CONFEA/CREA E SUA LEGISLAÇÃO: ATRIBUIÇÕES LEGAIS DOS ENGENHEIROS

I - o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º desta Resolução, referentes a processos mecânicos, máquinas em geral; instalações industriais e mecânicas; equipamentos mecânicos e eletromecânicos; veículos automotores; sistemas de produção de transmissão e de utilização do calor; sistemas de refrigeração e de ar condicionado; seus serviços afins e correlatos.

A legislação que define as atividades referentes às diversas modalidades da Engenharia pode ser vista em: <http://normativos.confea.org.br/ ementas/visualiza.asp?idEmenta=266.

Depois de formalizadas legalmente, as competências tornam-se atribuições legais, que serão atualizadas conforme as Engenharias ramificam-se ou se fundem, formando profissionais ainda não regulamentados. A atualização curricular dos cursos de Engenharia também faz com que as competências do engenheiro mudem, podendo causar alterações em suas atribuições legais. Um exemplo da atualização das atribuições legais é demonstrado no artigo 1o da resolução n o 218 de 1973, em que o Confea discrimina a atualização dos engenheiros de produção através do seguinte texto: Art. 1º - Compete ao Engenheiro de Produção o desempenho das atividades 01 a 18 do artigo 1º da Resolução nº 218, de 29 JUN 1973, referentes aos procedimentos na fabricação industrial, aos métodos e sequências de produção industrial em geral e ao produto industrializado; seus serviços afins e correlatos.

Atribuir competências a cada profissional é essencial para que haja segurança na aplicação correta da Engenharia. Essa divisão possibilita que, durante a execução de projetos, a soma de conhecimentos relativos a cada área resulte em saídas mais bem estruturadas e inteligentes, através da interação entre profissionais de diferentes ramos.

Entre em contato com o Crea de sua região quando existir dúvida a respeito de suas atribuições legais.

Como exemplo dessa interdisciplinaridade, podemos citar a construção de uma usina hidrelétrica. Os engenheiros civis são responsáveis pelo projeto estrutural da obra, os engenheiros eletricistas respondem pelas instalações elétricas e os engenheiros mecânicos cuidam dos componentes mecânicos. Estes últimos são atendidos por diversos outros profissionais também reconhecidos pelo Crea e responsáveis por diferentes tarefas, como determinar a rota de produção dos componentes utilizados (engenheiros de produção), projetar os materiais envolvidos (engenheiros de materiais),

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

entre outras atribuições que estão relacionadas diretamente ao sucesso do empreendimento, mas não são observadas no canteiro de obras.

Figura 12 - Usina hidrelétrica, a aplicação de diversas Engenharias. Fonte: Shutterstock (2014).

É comum você passar por grandes obras e encontrar uma placa com indicação da empresa responsável, do valor investido, da área do terreno e do fator que muitas vezes passa despercebido: o responsável técnico pela obra, como seu nome e registro no Crea. Essa informação é imprescindível, principalmente para os fiscais do conselho, que podem atestar que o serviço está sendo executado com as diretrizes de um profissional capacitado. Essa responsabilidade legal foi decretada através da Lei nº 6.496, de 7 de dezembro de 1977, que instituiu a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), como você pode observar nos artigos a seguir. Art. 1o - Todo contrato, escrito ou verbal, para a execução de obras ou prestação de quaisquer serviços profissionais referentes à Engenharia, à Arquitetura e à Agronomia fica sujeito à “Anotação de Responsabilidade Técnica” (ART). Art. 2o - A ART define para os efeitos legais os responsáveis técnicos pelo empreendimento de engenharia, arquitetura e agronomia.

A ART é o registro, junto ao Crea, das atividades para que o profissional, ou empresa, foi contratado. É um documento que deve ser preenchido por um profissional devidamente habilitado pelo Crea. Além de definir o responsável legal pela execução de serviços, a ART também serve como registro de serviços prestados pelo profissional, dando origem a um acervo técnico dele. Para que seja considerada válida, é importante que a ART seja assinada pelo responsável técnico e pelo contratante, além de devidamente quitada. No caso de uma obra ou um serviço ser iniciado por um profissional credenciado sem o preenchimento da ART, o Crea dará um prazo para que sejam apresentados os documentos necessários para a regularização da situação. Se descumprido, o notificado será multado. O procedimento é semelhante no caso de obras clandestinas (sem a presença de um profissional credenciado), situação na qual o executor da obra deverá procurar um profissional habilitado para assumir a ART. O engenheiro deverá apresentar um laudo técnico se responsabilizando por aquilo que já foi executado, executar os projetos necessários e preencher a ART correspondente.

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AULA 4 – O CONFEA/CREA E SUA LEGISLAÇÃO: ATRIBUIÇÕES LEGAIS DOS ENGENHEIROS

Nas situações em que o projeto é executado por pessoa não habilitada, os executantes estarão cometendo uma contravenção penal, penalizada com multa ou prisão de 15 dias a três meses, como descrito pelo artigo 47 do Decreto-Lei no 3.688 de 1941. Esse tipo de ação pode ser muito agravado em caso de morte causada por falha no serviço executado, que poderá ser julgada como homicídio doloso (com intenção de matar) por parte dos executores. Por isso é importante que, durante sua atuação profissional, você não apenas execute seus serviços de maneira tecnicamente correta, mas que também observe o cumprimento da legislação vigente. Muitas vezes alguém executa um projeto e solicita a assinatura de um engenheiro e o preenchimento da respectiva ART. Saiba que, apesar da regularização do serviço perante o Crea, toda a responsabilidade por ele será do engenheiro cadastrado, e a falha do projeto será cobrada judicialmente de seu responsável técnico. Dentro da Lei nº 6.496, também foi criada a Mútua, que é definida como “[...] uma sociedade civil sem fins lucrativos” e possui como objetivo “[...] oferecer a seus associados planos de benefícios sociais, previdenciários e assistenciais, de acordo com sua disponibilidade financeira, respeitando o seu equilíbrio econômico-financeiro” (CONFEA, 2014). Com isso, os Creas passam a ser não só agentes regulares e fiscalizadores, para também oferecerem apoio ao engenheiro através de palestras, previdência privada, plano de saúde, entre outros benefícios.

CONCLUSÃO Você, futuro engenheiro, ao terminar sua faculdade, contará com um sistema responsável por fiscalizar e regulamentar seu campo de trabalho, atribuindo-lhe direitos e deveres. Esse sistema é baseado em dois órgãos distintos, mas atuantes de maneira conjunta, o Confea e o Crea. O primeiro será a instância máxima de sua profissão, responsável pela criação de leis e pelo gerenciamento do segundo, que atuará como agente fiscalizador. São os conselhos regionais que garantem que seus concorrentes no mercado de trabalho possuam formação acadêmica compatível com sua atuação profissional, através da aplicação de suas atribuições legais, instituídas pelos dois órgãos. Vale lembrar que você, como engenheiro, será membro atuante na sociedade e suas decisões profissionais podem influenciar a vida de muitas pessoas. Assim, o sistema Confea/Crea é uma ferramenta importante para garantir que apenas profissionais habilitados possam exercer a Engenharia como profissão.

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AULA 5 Conceitos Introdutórios de Engenharia, Ciência e Tecnologia (I) INTRODUÇÃO Imagine que você deseja comprar um tênis em outro país, mas lá você não pode prová-lo. Após escolher o modelo de interesse, você olha a numeração e percebe que ela não está nem perto de ser aquilo que está acostumado a ver. Os números não possuem nenhum significado aparente. Como proceder? Ou você desiste da compra ou confia seu dinheiro em sua acuidade dimensional. Suponha, nessa mesma viagem, que você está interessado em adquirir um capacete para dirigir sua moto, mas não sabe se ele possui os requisitos de segurança necessários ou mesmo se é regulamentado para a utilização no Brasil. Como saber se o produto atende aos critérios mínimos esperados? Novamente, você estará correndo risco ao realizar a compra. No caso do tênis, a existência de uma numeração diferente é uma situação provável, uma vez que existe divergência nos padrões entre os países do globo. Já para o caso do capacete, é necessário que exista alguma


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

forma de regulamentar a sua produção, classificando seus processos e materiais a fim de que o consumidor tenha esclarecimento sobre aquilo que está adquirindo em qualquer parte do planeta. A ciência e a Engenharia também estão sujeitas a esses tipos de problemas: é a falta de padrão. Mesmo com o problema dos padrões resolvidos, como garantir que o projeto de um novo capacete não falhará durante o seu uso? Não seria nada agradável descobrir um erro da pior maneira possível. Nesta aula, você descobrirá como a Engenharia e a ciência vêm atuando para garantir que seus desenvolvimentos sejam aplicados e previsíveis por todo o mundo, ultrapassando as diferenças culturais encontradas.

OBJETIVOS » » Explicitar a importância do Sistema Internacional de Unidades, desde sua origem até a necessidade da padronização de medidas. » » Expor a necessidade da criação de normas técnicas. » » Elencar diferentes métodos para a exibição de resultados, como tabelas e gráficos, e a diferença na leitura e elaboração de ambos. » » Conceituar modelo e simulação e sua importância para a Engenharia.

5.1 A PADRONIZAÇÃO NA CIÊNCIA E ENGENHARIA Você viu nas aulas anteriores que a Engenharia surgiu em diversas partes do mundo; ramificouse, possibilitando o aprofundamento de seus conhecimentos; e que existem meios legais de regulamentá-la, garantindo que apenas profissionais capacitados exerçam a profissão. Um item em especial da aula 4 pode causar certa curiosidade: a possibilidade de estrangeiros exercerem a profissão em outros países. Como é possível garantir que alguém formado em outra cultura tenha o conhecimento necessário para atuar como engenheiro no Brasil? Isso pode ser assegurado através da padronização. Seja de conhecimentos, de grades curriculares, de instrumentos de medição, das unidades utilizadas, da maneira com que os testes são realizados e até mesmo da formação do raciocínio aplicado à Engenharia. É esperado que o engenheiro faça a padronização com relativa naturalidade, facilitando a comparação entre comportamentos de diferentes problemas. Assim como no exemplo do tênis que você viu na introdução desta aula, a Engenharia pode passar por problemas de falta de padrão, dificultando a execução de projetos, compra de insumos, replicação de métodos, entre outros. Para evitar esses contratempos, duas ferramentas importantíssimas permitem a aplicação da Engenharia em qualquer parte do mundo: o Sistema Internacional de Unidades (SI) e as normas técnicas.

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AULA 5 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)S

5.1.1 O Sistema Internacional de Unidades A necessidade de padronização de valores não nasceu apenas para as ciências e a Engenharia. A falta de um sistema amplamente aceito para atribuir valor às coisas gerava dificuldades no comércio. As unidades adotadas para tornar possível a comparação entre produtos eram arbitrárias e, normalmente, baseadas em partes do corpo do rei de determinada região. Foi assim que surgiram as unidades de dimensão pé, polegada e palmo, por exemplo. Segundo o Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (IPEM/SP, 2014), “[...] a necessidade de converter uma medida em outra era tão importante quanto a necessidade de converter uma moeda em outra. Na verdade, em muitos países, inclusive no Brasil dos tempos do Império, a instituição que cuidava da moeda também cuidava do sistema de medidas.” Observando a necessidade de padronização de unidades, foram realizadas, principalmente na França e Inglaterra, tentativas de determinar unidades utilizando como base constantes físicas, como a circunferência da Terra. Sua precisão, entretanto, esbarrava nas dificuldades técnicas da época (fim do século XVII a meados do XVIII). Até que foi proposto na França, em 1789, o estudo para a oficialização de um sistema padronizado, que só foi de fato concluído uma década depois. Daí resultaram três unidades padrão: o metro, baseado na distância entre meridianos terrestres; o litro, correspondente ao volume de um decímetro cúbico; e o quilograma, que é a massa de um litro de água em sua temperatura de maior densidade. Assim, nasceu o sistema métrico decimal.

Figura 13 - Padrão de 1 kg. Fonte: Shutterstock (2014).

Essa uniformização de unidades na França ocorreu no tempo em que o Brasil ainda era colônia de Portugal. Assim, a vinda da família real portuguesa para o País teve importante papel na escolha do sistema oficial de unidades adotado, como descrito na página do Inmetro. Durante o Primeiro Reinado, as tentativas de uniformização das unidades de medida brasileiras se apoiaram em padrões oriundos da Corte Portuguesa. Em 1830, um ano antes da abdicação ao trono por D. Pedro I, o deputado gaúcho Cândido Baptista de Oliveira sugeriu a adoção do sistema métrico decimal em vigor na República Francesa. Entretanto, apenas em 26 de junho de 1862, já no Segundo Reinado, Dom Pedro II promulga a Lei Imperial no 1157 e com ela oficializa, em todo o território nacional, a utilização do sistema métrico decimal francês. O Brasil foi uma das primeiras nações a adotar 43


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

o novo sistema como signatário da Convenção do Metro, instituída em 20 de maio de 1875. (INMETRO, 2014).

Com a disseminação das novas unidades e o seu caráter científico, foi proposta a criação de uma comissão internacional, com sede em Paris, responsável pela regulamentação de unidades e conservação dos protótipos das medidas padrão, bem como pela comparação dessas medidas. Assim, em 1889, foram atualizadas as medidas padrão com base em novos parâmetros, criando o Sistema Internacional de Unidades. O metro e o quilograma, nesse sistema, foram fixados através da manufatura de novos protótipos padrão em platina. Depois de replicados, foram distribuídos entre os países membros da nova comissão. Considerando que o metro e o quilograma internacionais e os metros e quilogramas nacionais preenchem as condições exigidas pela Convenção do Metro. Sanciona: A) No que concerne aos protótipos internacionais: 1o O protótipo do metro escolhido pelo Comitê Internacional. Este protótipo representará, de agora em diante, na temperatura do gelo fundente, a unidade métrica do comprimento. 2o O protótipo do quilograma adotado pelo Comitê Internacional. Este protótipo será considerado, de agora em diante, como unidade de massa. 3o A escala termométrica centígrada a hidrogênio, em relação à qual as equações dos metros protótipos foram estabelecidas. B) No que concerne aos protótipos nacionais: 1o Os metros de platina iridiada, cujas equações, em relação ao protótipo internacional, estão compreendidas no limite de 0,01 milímetro (com um erro provável não excedente a ± 0,0002 do milímetro). 2o Os quilogramas de platina iridiada, cujas equações estão compreendidas no limite de 1 miligrama (com um erro provável não excedendo ± 0,005 do miligrama). C) No que concerne às equações dos protótipos nacionais: As equações dos protótipos nacionais, tais como foram determinadas pelo Bureau Internacional, sob a direção do Comitê Internacional, e inscritas no relatório deste Comitê e sobre os certificados que acompanharam estes protótipos (DIAS, 1998, p. 29).

Com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, a comissão internacional passou a observar a necessidade de estabelecer mais unidades básicas de medidas, assim como de alterar os parâmetros de comparação das já existentes. Assim, o Sistema Internacional de Unidades foi fixado em 7 grandezas, definidas como mostra o quadro a seguir. GRANDEZA

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UNIDADE

SÍMBOLO

DEFINIÇÃO

Distância

metro

m

O metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de um segundo.

Peso

quilograma

kg

O quilograma é igual à massa de seu protótipo internacional.


AULA 5 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)S

Tempo

segundo

s

O segundo é a duração de 9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133.

Temperatura

Kelvin

K

O Kelvin é a fração de 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto triplo da água.

A

O Ampere é a corrente constante que produz uma força igual a 2 × 10-7 Newton por metro entre dois condutores paralelos em linha reta, de comprimento infinito, de secção transversal circular desprezível, colocados a 1 metro entre si no vácuo.

cd

A candela é a intensidade luminosa, em determinada direção, de uma fonte de que emite uma radiação monocromática de frequência 540 × 1.012 hertz e cuja intensidade energética nessa direção é de 1/683 watt por esterradiano.

mol

O mol é a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quantos átomos existem em 0,012 quilogramas de carbono 12.

Corrente elétrica

Intensidade luminosa

Quantidade de matéria

Ampere

candela

mol

Quadro 1 - Unidades básicas do SI.

Fonte: Taylor (2008).

Através da combinação dessas unidades, é possível obter outras tantas, assim como a combinação entre grandezas é capaz de dar origem a uma nova. Muitas vezes, as novas unidades possuem uma sigla diferente do esperado, mas sua essência permanece a mesma, sendo essa “nova unidade” apenas uma simplificação do que ela realmente representa. O quadro a seguir mostra alguns exemplos de unidades que são derivadas das 7 principais.

Para conferir a unidade de uma grandeza que não consta entre as 7 principais, basta aplicar a equação que a rege sobre suas unidades.

GRANDEZA

FÓRMULA

UNIDADES USADAS

UNIDADE RESULTANTE

UNIDADE UTILIZADA

Área

LxL

m.m

Volume

LxLxL

m.m.m

Velocidade

Distância/Tempo

m/s

m/s

m/s

Aceleração

Velocidade/Tempo

(m/s)/s

m/s²

m/s²

Força

Massa x Aceleração

kg . m/s²

kg . m/s²

Newton (N)

Tensão

Força/Área

N/m²

N/m²

Pascal (Pa)

Quadro 2 - Unidades derivadas do SI.

Fonte: Pereira (2014).

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Apesar de ser amplamente utilizado no mundo, ainda existem países que não aderiram ao Sistema Internacional de Unidades, como os Estados Unidos. Isso ocorre devido à sua colonização pela Inglaterra, que possui suas grandezas definidas em outras bases. Trata-se de um país com grande influência para a Engenharia e, por isso, não será incomum você encontrar medidas de comprimentos em polegadas (como o caso das televisões) ou milhas (medida utilizada no setor naval), o que pode vir a se tornar um problema. Porcas e parafusos sextavados, por exemplo, existem nos dois sistemas (o internacional e o americano), tanto para sua rosca (que não são compatíveis uma com outra), quanto para sua respectiva chave. Porém, são raros os casos nos quais não é possível realizar uma conversão que resolva o problema. Muitas vezes, isso pode ser resolvido rapidamente com a ajuda de um conversor de unidades on-line.

Você pode converter unidades facilmente utilizando o endereço: <www. convertworld.com/pt>.

Figura 14 - Diferentes unidades para medir distâncias. Fonte: Shutterstock (2014).

A importância de medidas exatas é tão grande que existe uma ciência responsável por seu estudo, a Metrologia.

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AULA 5 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)S

A adoção de unidades visando quantificar medidas criou alguma dificuldade quando estas deveriam representar valores muito grandes ou muito pequenos. Se você fosse medir o raio atômico de determinado elemento, por exemplo, necessitaria sempre expressar suas medidas em 10-10 metros. A distância até a Lua, por sua vez, seria expressa em milhões de metros (106 m). Para solucionar esses problemas de grandezas, foram estipulados prefixos, que tornam as unidades do SI múltiplos decimais delas mesmas. A seguir, você pode ver alguns deles. PREFIXO

FATOR

SÍMBOLO

pico

10

p

nano

-9

10

n

micro

10-6

µ

mili

10-3

m

centi

10

c

deci

10

d

deca

101

da

hecto

102

h

quilo

10

k

mega

10

M

giga

10

G

tera

1012

T

-12

-2 -1

3 6 9

Quadro 3 - Prefixos utilizados no SI.

Fonte: Pereira (2014).

Dessa maneira, quando uma unidade do sistema internacional aparece precedida por um destes prefixos, ela deve ser multiplicada pela base correspondente. Como exemplo, imagine que você possua a pressão de 9 MPa e deseje realizar alguma operação matemática com esse número. Para isso, você o deve transformar na unidade do SI correspondente, que é o Pascal. Nesse caso, a pressão deverá ser expressa como 9x106Pa, ou 9.000.000 Pa. Por motivos históricos, a única unidade do SI que possui prefixo é o kg. A conversão da unidade de massa em seus múltiplos deve ser realizada utilizando apenas a palavra “grama”, gerando unidades como o miligrama ou o centigrama, por exemplo. Da mesma maneira, algumas unidades não inclusas no SI tornaram-se necessárias e foram aceitas devido à sua difusão pelo mundo. Alguns exemplos são listados a seguir. UNIDADE

VALOR NO SI

SÍMBOLO

GRANDEZA

Grau Celsius

O valor em Celcius somado a 273 K

°C

Temperatura

Minuto

60 segundos

min

Tempo

Litro

10-3 m3

l

Volume

Tonelada

10 kg

t

Massa

3

Quadro 4 - Unidades aceitas, mas não pertencentes ao SI.

Fonte: Pereira (2014).

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

5.2 AS NORMAS TÉCNICAS Mesmo com a padronização das unidades de medida, os experimentos científicos e de Engenharia ainda necessitavam de repetibilidade. Ou seja, a garantia de que algo feito uma vez, em algum lugar do mundo, poderia ser reproduzido tanto no mesmo local quanto em qualquer outra parte do globo. Isso não vale apenas para experimentos, mas também é aplicável à própria manufatura, que necessitava de registros exatos para que seus produtos e processos pudessem ser reproduzidos. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2011, p. 7): Antes do século XIX, um registro histórico preciso das tecnologias empregadas pelas sociedades humanas é raro. O mero curso do tempo, as guerras e as revoluções políticas fizeram desaparecer prédios, documentos, objetos e bibliotecas. O próprio progresso tecnológico contribuiu para apagar o passado. O moderno triunfa e o obsoleto e atrasado perecem. Quando os enciclopedistas franceses decidiram, no final do século XVIII, publicar volumes e volumes contendo descrições detalhadas das técnicas produtivas de seu tempo, a iniciativa foi considerada ousada e potencialmente revolucionária.

Essa repetitividade exata é o intuito das normas técnicas, que visa, através da descrição detalhada, a reprodução de técnicas e a classificação de produtos e de processos, garantindo, em diversas áreas, o bom funcionamento do que está sendo produzido. Ainda segundo a página de internet da ABNT (2006), a normalização possui os seguintes objetivos: Economia: Proporcionar a redução da crescente variedade de produtos e procedimentos. Comunicação: Proporcionar meios mais eficientes na troca de informação entre o fabricante e o cliente, melhorando a confiabilidade das relações comerciais e de serviços. Segurança: Proteger a vida humana e a saúde. Proteção do Consumidor: Prover a sociedade de meios eficazes para aferir a qualidade dos produtos. Eliminação de Barreiras Técnicas e Comerciais: Evitar a existência de regulamentos conflitantes sobre produtos e serviços em diferentes países, facilitando assim o intercâmbio comercial.

Mesmo com a tendência da padronização global, cada país ou indústria pode adotar suas próprias normas técnicas com base em seu conhecimento sobre as condições de reprodução daquilo que deseja ser realizado. Por isso, existem órgãos variados responsáveis pela elaboração das normas aplicadas em indústrias e instituições de pesquisa. No Brasil, por exemplo, essa normalização é comumente realizada através da ABNT, nos Estados Unidos, pela ASTM, na Europa pela CEN e assim por diante. Isso não significa que as indústrias brasileiras necessitem seguir especificamente uma norma da associação local, dando margem às escolhas que atendam melhor aos interesses da organização. A criação de diferentes normas para o mesmo propósito gera diferentes resultados para aquilo que é esperado. A escolha da melhor opção sobre a norma a ser utilizada está ligada diretamente à aplicação daquilo que está sendo normatizado. Imagine que você pretende fabricar bicicletas. Para isso, existem normas que detalham o processo de fabricação, mas cada uma terá como resultado um estilo diferente de bicicleta. Perceba que a sua escolha possibilitará a construção exata do modelo normatizado, através da replicação da metodologia contida no documento. Ou seja, se você 48


AULA 5 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)S

deseja a manufatura de um exemplar utilizado em corridas de velocidade, deverá escolher a norma específica para esse tipo de modelo. Se por acaso você aplicar as normas específicas da construção de mountain bikes, o resultado será esse tipo de bicicleta. Assim, você não atingirá seu objetivo inicial, que era o de desenvolver um modelo de velocidade.

Um exemplo de norma amplamente adotada por empresas para garantir seu bom funcionamento é a ISO 9001. Você pode obter mais informações sobre essa norma em <http://blog.inntelectus.com.br/o-que-eiso-9001>.

Figura 15 - O certificado ISO 9001, responsável por garantir a qualidade de uma empresa. Fonte: Shutterstock (2014).

Para melhor ilustrar a aplicação das normas, imagine que você deseja construir um balanço para crianças que deve ser suspenso em um tubo de aço. Para garantir realmente que o brinquedo não falhe durante seu funcionamento, você deve conhecer o projeto desse balanço. Você poderia buscar uma norma detalhando como construí-lo, quais partes devem ser montadas, quais materiais comprar, o tipo de encaixe, entre outras especificações que garantiriam que sua construção não viria a ruir. Mas essa é só uma das normas envolvidas. Para a manufatura do tubo de aço, a empresa fabricante necessita saber suas propriedades mecânicas e, para isso, existem normas que regem os ensaios que determinam, controlando a velocidade do ensaio, o formato do material a ser testado, a temperatura em que o teste deve ser realizado e outras variáveis que possibilitam que o tubo de aço seja caracterizado da mesma forma em outra parte do mundo. Existem ainda as normas de inspeção – que garantem a conformidade do seu processo de fabricação –, as normas ambientais – que certificam que a empresa produz em conformidade com as políticas de meio ambiente vigentes – e assim por diante.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Assim como a criação do Sistema Internacional de Unidades, a elaboração de normas tem o objetivo de padronizar algo de interesse, facilitando sua comparação com uma amostra ideal.

Você pode saber mais a respeito de normas no endereço eletrônico da Associação Brasileira de Normas Técnicas: <www.abnt.org.br>.

5.3 FORMATAÇÃO DE RESULTADOS Agora que você já possui unidades definidas para mensurar as coisas e normas que garantem que seus resultados poderão ser comparados com um padrão ótimo, você vai precisar exibir os resultados daquilo que foi feito. Muitas vezes, o engenheiro obtém uma série de dados sobre determinado assunto e a sua exposição não pode ser realizada de maneira direta, um a um, mas sim de forma condensada, através da utilização de gráficos e tabelas.

5.3.1 Gráficos Os gráficos são formas ilustrativas de apresentar dados, facilitando a comparação entre resultados. Mas eles devem ser criados com cuidado para que não se tornem complexos ou confusos a ponto de dificultar sua interpretação. Para que isso não ocorra, é recomendável adotar alguns bons costumes. 1) O título do gráfico deve ser autoexplicativo. 2) Escolha uma escala condizente com as grandezas obtidas. 3) Os valores mínimos dos eixos devem ser tratados com atenção, pois alteram significativamente a proporcionalidade do gráfico. 4) Casas decimais só devem ser utilizadas nos eixos quando a variação de resultados é condizente com a situação. 5) Se o gráfico possuir mais de uma série de dados, não se esqueça de indicar qual é qual. Lembrese de utilizar cores contrastantes ou formas geométricas diferentes em cada série. 6) Descreva claramente os eixos e utilize suas unidades. 7) Escolha o tipo mais apropriado de gráfico, conforme os exemplos a seguir. 50


AULA 5 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)S

O gráfico de linhas deve ser utilizado para demonstrar a evolução de um comportamento de acordo com algum parâmetro. Comumente, dados relacionados ao tempo são expressos em gráficos desse tipo. No exemplo a seguir, você pode ver a mudança no número de empresas instaladas em uma cidade hipotética ao longo de um período de tempo determinado. Empresas na cidade Y

Número de empresas

20 15 10 5 0 0

2

4

6

8

Tempo (anos)

Figura 16 - Exemplo de gráfico com linha. Fonte: Pereira (2014).

Faturamento (em milhões de reais)

Já o gráfico de barras é mais adequado para fazer comparações entre grandezas. Perceba que, neste caso, não existe um cenário de evolução dos dados: eles não são conectados entre si, apenas servem de referência um para o outro. O gráfico adiante mostra o faturamento de diferentes empresas, servindo como ferramenta de comparação entre elas. Faturamento de empresas do ramo 14 12 10 8 6 4 2 0 AAA

SSS

DDD

FFF

ZZZ

XXX

CCC

Empresa Figura 17 - Exemplo de gráfico com barras. Fonte: Pereira (2014).

Por último, conheça o gráfico de pizza, que é o mais adequado para mostrar proporcionalidades. No exemplo a seguir, é possível observar que a indústria de plásticos representa pouco menos da metade das indústrias na cidade Y. Mesmo sem acesso aos números, esse tipo de gráfico fornece uma boa percepção visual sobre a distribuição de um conjunto de valores.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Indústrias na cidade Y Sapatos Automóveis Alimentos Aeronáutico Bebidas Plásticos Figura 18 - Exemplo de gráfico pizza. Fonte: Pereira (2014).

5.3.2 Tabelas As tabelas, assim como os gráficos, devem ser confeccionadas com cuidado para que seus dados sejam relevantes e suas informações possam ser facilmente utilizadas. Em geral, busca-se separar os campos mais importantes do restante da tabela através de linhas horizontais. Dados comparativos devem ser colocados, quando possível, na mesma linha, pois fica mais fácil compará-los nesse formato. De maneira geral, os gráficos são ferramentas mais didáticas do que tabelas, já que possuem uma interpretação mais intuitiva. Todavia, o uso de tabelas é indispensável quando existem diversas informações correlacionadas ou quando não há espaço suficiente para a confecção de um gráfico. O exemplo a seguir mostra dados de indústrias fictícias, classificadas de acordo com quatro diferentes parâmetros: Faturamento Anual, Funcionários, Lucratividade Anual e Setor. Perceba que a confecção de um gráfico com todos esses dados geraria um excesso de parâmetros, o que deixaria o gráfico menos explicativo. Neste caso, a visualização fica mais fácil e eficiente no formato de tabela. Tabela 5 - Descrição das indústrias da cidade Y no ano de 2002

EMPRESA

FATURAMENTO ANUAL (R$)

FUNCIONÁRIOS

LUCRATIVIDADE ANUAL (R$)

SETOR

XXX

12.000.000

2.000

2.000.000

Aeronáutico

AAA

10.000.000

1.600

1.000.000

Automóveis

SSS

9.000.000

1.500

900.000

Automóveis

DDD

9.000.000

1.300

1.100.000

Bebidas

ZZZ

8.000.000

1.300

900.000

Alimentos

CCC

6.000.000

1.000

800.000

Plásticos

FFF

5.000.000

600

800.000

Plásticos

Fonte: Pereira (2014).

Assim como os gráficos, as tabelas também necessitam de cuidados ao serem confeccionadas. O primeiro deles é quanto ao título, que deve ser autoexplicativo e contextualizá-las com a situação exposta. No exemplo, o cabeçalho contempla as três informações pertinentes à tabela exibida: o

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AULA 5 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (I)S

local dos dados (cidade Y), o ano dos dados (2002) e sobre o que eles tratarão (a descrição das indústrias). Abaixo do título vem o cabeçalho, que nomeia as informações presentes em cada coluna. No nosso exemplo, são elas: empresa, faturamento anual, funcionários, lucratividade anual e setor. Perceba que, também no cabeçalho, foi inserida a unidade monetária utilizada (reais). Comumente, é nele também que são inseridas as unidades de medida dos dados registrados. Porém, quando a tabela trata de apenas um dado, sua unidade pode ser colocada no título. Em seguida devem constar os resultados propriamente ditos, em um campo chamado “corpo da tabela”. Para evitar poluição visual, é importante que ele não contenha unidades de medida. Outro aspecto que deve ser observado ao se construir uma tabela é que suas laterais não devem ser fechadas. A utilização de linhas verticais para separar os dados pode ser realizada nas colunas centrais da tabela, mas nunca em suas bordas verticais, como foi demonstrado no exemplo acima.

5.3.3 Quadros Os quadros são graficamente muito semelhantes às tabelas, mas diferem no fechamento das laterais. Eles costumam expressar dados não relacionados ou em forma de texto. Durante esta aula, você viu alguns quadros. Eles foram utilizados para passar informações complementares e seus dados não possuem relações numéricas entre si. A escolha entre a confecção de um quadro ou de uma tabela pode ser realizada intuitivamente da seguinte maneira: os dados apresentados podem ser expressos em forma gráfica? Se sim, provavelmente eles possuem relação entre si e a escolha é por uma tabela. Se não, a melhor escolha é a construção de um quadro. Como exemplo, veja o quadro 4 desta aula. Nele, são exibidas algumas unidades utilizadas no dia a dia que não pertencem ao SI. Você percebe que a construção de um gráfico não é possível através dos dados deste quadro? Essa é a razão pela qual optamos pela construção de um quadro, e não de uma tabela.

5.4 MODELAGEM E SIMULAÇÃO Agora que você já possui suas ferramentas para expor seus resultados em suas devidas grandezas – provavelmente seguindo alguma norma –, é hora de utilizar na prática os seus dados obtidos, transformando-os em algo que virá a se tornar seu produto final. É a chamada modelagem. Segundo Bazzo (2006), modelar é representar o sistema físico real, ou parte dele, em forma física simbólica, convenientemente preparada para predizer ou descrever o seu comportamento. Modelagem é o ato de modelar, ou seja, é a atividade de construir o modelo para representar o sistema físico real. Por ser uma predição daquilo que será construído, ou de um comportamento, a modelagem pode ser encontrada de diferentes maneiras: a construção de um esboço fiel daquilo que se pretende obter como saída é chamada de modelo icônico e tem o objetivo de fornecer detalhes dos aspectos aparentes daquilo que se está projetando. Já modelos que visam exibir as funcionalidades de componentes são desenhados via diagramas (como os de circuitos elétricos), facilitando sua 53


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interpretação funcional. Modelos matemáticos descrevem, em forma de números e símbolos, o comportamento das coisas. São exibidos em forma de equações que servem para antever o funcionamento de elementos de um sistema, sem a necessidade de que ele seja efetivamente construído. Por fim, há a opção dos modelos gráficos, construídos, por exemplo, a partir de fórmulas ou através da compilação de dados.

Figura 19 - a) Modelo Icônico b) Modelo Diagramático. Fonte: Shutterstock (2014).

Figura 20 - a) Modelo Matemático b) Modelo Gráfico. Fonte: Shutterstock (2014).

Lembre-se das suas aulas de Química, quando você aprendeu que as descobertas em torno da estrutura do átomo geraram diversos modelos. Em nenhum deles o proponente conseguia ver, de fato, o átomo. Mas, através de dados obtidos com experimentações, foi possível elaborar modelos, como o de Rutherford, que utilizou uma analogia com o sistema solar. Por muito tempo, a Química foi desenvolvida utilizando esse modelo – que fornecia informações suficientes para o desenvolvimento tecnológico da época –, até que ele sofreu aprimoramentos compatíveis com os sistemas desenvolvidos para obtenção de dados. Isso mostra que, por mais informações que se tenha, o modelo nunca é perfeito e é, portanto, sujeito a incertezas. Mas deixa claro também o importante papel que a modelagem pode ter no desenvolvimento de algo. O 54


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modelo de Rutherford, por exemplo, mesmo com a necessidade de aprimoramento, pôde prever diversos comportamentos químicos, economizando tempo e recursos. Segundo Bazzo (2006), os modelos são úteis para: pensar, comunicar, prever, controlar, ensinar e treinar, formando uma importante ferramenta no desenvolvimento de projetos de Engenharia. Após o desenvolvimento de um modelo, é natural que ele seja colocado à prova para predizer determinado comportamento de um parâmetro ou do item a ser produzido. Para isso, o modelo é utilizado em ensaios, ou simulações computacionais, sob as condições às quais o projeto estará sujeito. Com o desenvolvimento de softwares e a facilidade em realizar formulações matemáticas, muitas vezes as simulações são feitas em computador, considerando os mais variados parâmetros possíveis de um projeto. Mas existem casos nos quais a complexidade matemática é muito avançada, e o caminho mais seguro é a reprodução em escala do que se pretende testar. Outras situações exigem que o método computacional seja utilizado primeiro para verificar se não existem erros grosseiros de projeto. Depois, um modelo em 3D é adotado, por ser mais confiável devido à complexidade dos cálculos e à quantidade de parâmetros a serem considerados. Um caso prático da aplicação de diferentes tipos de simulação é o teste aerodinâmico de aviões. Durante o desenvolvimento de uma aeronave, são realizadas diversas simulações computacionais, verificando tensões atuantes, temperaturas, encaixe de peças e assim por diante. Mas o estudo detalhado do fluxo de ar através do avião é realizado utilizando um protótipo 3D em um túnel de vento.

Figura 21 - Engenheiro em um túnel de vento. Fonte: Shutterstock (2014).

CONCLUSÃO A ciência e a Engenharia evoluíram, promoveram o desenvolvimento tecnológico e ajudaram o ser humano a formar sociedades com identidades distintas e culturas próprias. Com isso, além do surgimento de diversas línguas, foram criados diferentes sistemas para comparar o valor e a quantidade das coisas. Com o latente desenvolvimento global, essas diversas culturas entraram em contato permanente, fazendo com que fosse necessária a criação de meios que viessem a amenizar as diferenças existentes, facilitando o comércio de produtos e o desenvolvimento de tecnologias.

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Nesse sentido, o pensamento de padronização foi essencial para a condensação do conhecimento científico e de Engenharia presente no mundo, e a criação de um sistema internacional capaz de atribuir valor para as coisas fez parte diretamente desse processo. Mesmo após boa parte do mundo entrar em comum acordo sobre suas unidades de medida, foi necessário adotar outro nível de padronização para que os processos adotados em um país, ou região, pudessem ser replicados e garantidos em outro. Assim, surgiu a normalização, ou criação de normas, que garantiu a repetitibilidade científica e industrial. Com tudo isso assegurado, os conhecimentos puderam avançar de maneira rápida, de forma que já é possível predizer o comportamento de determinado produto antes mesmo que ele seja posto em operação. É o papel da simulação, que tem como base a utilização de modelos construídos através da aquisição e do tratamento de dados oriundos de experimentação. Todas essas ferramentas formam, juntas, um poderoso sistema, capaz de minimizar perdas, antever problemas e fornecer maior segurança, tanto para o engenheiro, que terá de projetar algo, quanto para o usuário daquilo que será desenvolvido.

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AULA 6 Conceitos introdutórios de engenharia, ciência e tecnologia (II) INTRODUÇÃO Você aprendeu que a Engenharia avançou através da utilização da ciência. Viu também que a ciência é capaz de fomentar novas tecnologias através da Engenharia. Mas você já pensou em como se dá o processo de evolução da ciência e da tecnologia? Quais os meios utilizados para que o conhecimento seja distribuído de maneira inteligente e não se torne repetitivo? A maneira encontrada para investigar a ciência e a tecnologia para evoluir a Engenharia é conhecida como pesquisa. Ela deve ser realizada conforme os modelos da Engenharia, através de padronização e sistematização de métodos. Como aluno do Ensino Fundamental e Médio, como você costumava buscar informações extra-aulas? Boa parte dos nascidos no século XX aprendeu a buscar seu conhecimento em fontes físicas, principalmente livros. Agora, é bem mais fácil encontrar informações sobre tudo o que se deseja sem sequer sair de casa.


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

A introdução da internet como ferramenta na disseminação das informações proporcionou um salto gigantesco na absorção de conhecimentos nos mais diversos níveis de aprendizado. A Engenharia também foi beneficiada por essa facilidade em adquirir e espalhar conteúdo ao redor do globo. Milhares de publicações científicas e tecnológicas são elaboradas todos os meses em todo mundo, e o melhor: estão acessíveis a qualquer pessoa ou instituição interessada em obtê-las. Mesmo com trabalhos de pesquisa e com a publicação dos conhecimentos adquiridos, o grande diferencial da Engenharia é a maneira com que esses aprendizados são aplicados. Do que valem as descobertas da Física e da Química se não trouxerem benefícios à sociedade? Para que o engenheiro estuda tanto cálculo durante sua formação se não sabe aplicá-lo? Esses são só dois exemplos de um grande campo de fatores que auxilia os engenheiros a executarem aquilo para o que são preparados durante sua graduação: a arte de projetar. Nesta aula, você perceberá a importância que o projeto tem na vida profissional de um engenheiro.

OBJETIVOS » » Explicitar a importância do trabalho científico no desenvolvimento tecnológico de alta qualidade. » » Mostrar a importância dos congressos e das publicações técnicas e científicas na dispersão do conhecimento desenvolvido, tanto como fonte de pesquisa quanto como fonte de publicação. » » Introduzir o conceito de projeto, suas fases, dificuldades e as abordagens científica e tecnológica, além do processo de otimização, tanto de projeto quanto de processos. » » Fixar o conceito de produtividade.

6.1 O TRABALHO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO NA ENGENHARIA Como você já viu em aulas anteriores, a Engenharia utiliza a ciência como forma de produzir tecnologia. Quando falamos em ciência, estamos nos referindo principalmente às naturais: Química, Física, Biologia e Matemática. Quando um engenheiro passa a estudar os fundamentos científicos de um problema, ele está, na verdade, atuando nos campos básicos do conhecimento. Quando sua busca é por resolver problemas tecnológicos, o profissional está, de fato, praticando Engenharia. Para ilustrar melhor esta sutil, porém, importante diferença, você pode recordar algumas descobertas citadas em aulas anteriores, como o desenvolvimento do LED. Como você viu na aula 1, o funcionamento desse componente eletrônico é baseado no fenômeno da eletroluminescência. E é nesse ponto que entram as ciências. Através da Física, foi possível observar e explicar esse comportamento, que é intrínseco à matéria. A Química também se beneficia dos experimentos científicos: através deles, Rutherford elaborou seu modelo atômico. A Matemática, por sua vez, é uma importante ferramenta para ambas. Utilizando essas descobertas científicas, a Engenharia pode criar tecnologias e desenvolver materiais.

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AULA 6 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (II)

A ciência preocupa-se em explicar os fenômenos que regem as leis da natureza, enquanto a Engenharia procura soluções tecnológicas com base nos fundamentos científicos.

Tanto os avanços científicos quanto os tecnológicos são alcançados através de pesquisa. Como você viu na aula 3, empresas dispõem de departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que possuem, normalmente, o objetivo de desenvolver tecnologia através da pesquisa e aplicar as descobertas científicas. O departamento de P&D das indústrias e os grandes institutos fazem pesquisa. E, é claro, as universidades também, nos cursos de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) e através da iniciação científica para alunos da graduação. Mas, afinal, o que pode ser entendido como pesquisa? Segundo Bazzo (2006), é um conjunto de investigações racionais, operações e trabalhos intelectuais ou práticos que objetiva a criação de novos conhecimentos, a invenção de novas técnicas e a exploração ou criação de novas realidades; e uma busca minuciosa com o intuito de averiguar um evento, uma hipótese, um fato ou uma ideia. De maneira geral, a pesquisa pode ser dividida em dois campos diferentes: a científica e a tecnológica (ou aplicada), e a diferença entre uma e outra é o objetivo final a ser alcançado. Na primeira, o que se busca é a explicação para determinado problema de ordem fundamental. A segunda procura resolver problemas práticos com base em variáveis da sociedade (custo, viabilidade, cultura etc.). A pesquisa científica é responsável, por exemplo, por explicar fenômenos da mecânica quântica, como a dualidade da luz, que pode ser considerada uma onda ou uma partícula. Perceba que as investigações realizadas sobre o tema terão como resposta uma propriedade da matéria (neste caso, explicações sobre o comportamento da luz). Já a pesquisa tecnológica ou aplicada busca solucionar problemas através da aplicação prática de princípios científicos. Para o caso citado, a pesquisa realizada poderia ser sobre a otimização de computadores quânticos, que utilizam a luz para transmitir dados. Em outras palavras, os resultados alcançados não explicarão fenômenos físicos, mas sim os utilizarão para justificar um melhor ou pior desempenho do novo sistema proposto.

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Figura 22 - O computador quântico, um exemplo aplicado de pesquisa tecnológica. Fonte: Shutterstock (2014).

Para que seja considerada relevante, a pesquisa, tanto científica quanto tecnológica, deve apresentar uma metodologia, ou seja, uma padronização sobre a maneira de interpretar e estudar o problema a ser resolvido. Segundo Lakatos (2003), o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo – conhecimentos válidos e verdadeiros –, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Esse método de pesquisa, ou metodologia científica, é apresentado por Bazzo (2006) em quatro etapas. Observação Perceber o problema Hipótese Formular uma solução prévia Experimentação Pôr a hipótese à prova Teoria Formular uma resposta explicativa

Figura 23 – Método científico. Fonte: Adaptada de Bazzo (2006).

As etapas apresentadas servem como base para a construção de um pensamento sistemático. Nelas estão inseridos aspectos específicos, necessários para uma melhor compreensão do problema a ser abordado. Para entender melhor como funciona a metodologia científica, veja a explicação de cada passo.

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Observação: nesta etapa, são coletados dados do problema a ser solucionado. É importante delimitar bem esse problema e elaborá-lo na forma de uma pergunta que permitirá uma resposta. Nesta primeira fase, também é feita a classificação das variáveis envolvidas, a análise das suas interações e a observação dos fenômenos. Em posse das possíveis causas do problema, é feita uma revisão da literatura que compreende o fenômeno em questão, com intuito de buscar alternativas para o seu esclarecimento. Essa revisão bibliográfica, também conhecida como pesquisa bibliográfica, é realizada consultando livros, artigos e demais documentos que contenham estudos a respeito daquilo que se pretende resolver. Hipótese: baseado no conhecimento adquirido, o pesquisador faz suposições simplificadas do contexto geral do problema. Essas suposições servem como orientação de quais atitudes devem ser tomadas para contornar a inconformidade em questão. Experimentação: formuladas as possíveis causas do problema, são tomadas ações para corrigi-lo, variando os possíveis parâmetros causadores e as hipóteses até que se obtenha uma conclusão. Nesta etapa é imprescindível que o pesquisador saiba exatamente quais variáveis estão sendo alteradas e quais permanecem fixas, facilitando a interpretação final do problema. Teoria: por fim, com as causas identificadas, é formulada uma teoria que explica o surgimento do problema detectado ou a explicação para um fenômeno inesperado. Esse tipo de metodologia é aplicado não somente na pesquisa, mas também durante o nosso dia a dia. Suponha que você esteja dirigindo seu carro e, repentinamente, uma luz acenda no painel. Sua primeira reação é procurar no manual o que significa aquela luz (revisão bibliográfica). Descobrindo do que se trata – a luz da temperatura, por exemplo, você vai procurar informações sobre as possíveis causas da anomalia. Até então, você aplicou a etapa de observação do problema. Observando qual parte do sistema está falho, você levantará hipóteses (a ventoinha do carro parou de funcionar, o radiador está sem água ou entupiu etc.) e testará as que forem possíveis até encontrar uma resposta. Supondo que o problema é de fácil detecção visual (falta de água, por exemplo), você o repara e testa novamente o carro, que já não apresenta mais o defeito. Então, você formula a sua teoria: a luz de temperatura acendeu porque o radiador estava sem água. Esse é um exemplo bastante simplificado que demonstra a racionalidade e lógica de nosso pensamento. Vale salientar que a pessoa deve sentir-se minimamente segura dentro do tema que tentará abordar. Alguém sem nenhum conhecimento a respeito de mecânica de automóveis provavelmente não buscará adquiri-lo nas condições citadas. Por isso, é importante que, durante a fase de observação, o pesquisador obtenha a maior quantidade de informação possível a respeito do trabalho que será desenvolvido. Além de observar o objeto de estudo, é imprescindível a busca por conhecimento na área de interesse, através da leitura de publicações científicas e tecnológicas.

6.1.1 As publicações científicas e tecnológicas Pessoas mais velhas devem se lembrar de como o acesso à informação era difícil há 20 anos. O que, hoje, obtemos digitando palavras-chave em um mecanismo de busca virtual, necessitava de horas ou dias de pesquisa em sumários de livros e índices de publicações. Os dados condensados

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em diversos volumes de enciclopédia não podem, nem de longe, ser comparados ao alcance da internet. A popularização da internet não suprimiu a edição de livros, mas criou uma nova forma de disseminálos (que passa a ser cada dia mais virtual) e, sobretudo, expandiu a utilização de conhecimento no desenvolvimento científico e tecnológico. O conhecimento é encontrado em diferentes mídias, como livros, revistas, jornais, boletins e assim por diante, e boa parte deles possuem versões digitais, facilitando o acesso dos interessados. Com a disseminação do saber, os integrantes da indústria tornaram-se mais do que simplesmente usuários de informação, mas passaram a fomentá-la, seja através da publicação de artigos para revistas, da apresentação de resultados em congressos ou da troca de experiências com outros profissionais.

Figura 24 – As publicações como fonte de conhecimentos em diversas áreas. Fonte: Shutterstock (2014).

Apesar da inclusão cada vez maior da indústria nos meios informativos, a maior contribuição para o setor é realizada por universidades e faculdades, que, através de verbas do governo e incentivos privados, são capazes de realizar pesquisa e desenvolvimento, gerando tecnologia e, acima de tudo, informação. Por isso é importante que você, futuro engenheiro, tenha consciência de que a evolução científica e tecnológica do Brasil passa também por suas mãos, através da publicação de trabalhos técnicos e da valorização da pesquisa nacional, que deve ser desenvolvida com seriedade, adotando padrões e métodos aceitos pela comunidade mundial. Assim como a pesquisa, suas publicações exigem uma construção lógica de raciocínio, a fim de facilitar a leitura e compreensão daquele que busca conhecimento. Por ser uma explicação de porque, como e qual o resultado da pesquisa realizada, a publicação

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(seja ela técnica ou científica) deve abordar ao menos essas três questões, normalmente divididas em: » » introdução: visa contextualizar o leitor no tema a ser abordado, introduzindo os principais conceitos do que será exposto, assim como o que motivou a realização do trabalho em questão (seja a falta de conhecimento naquela área ou um problema encontrado durante a realização de uma tarefa); » » metodologia: é a parte do texto responsável por descrever de forma clara os experimentos que foram realizados, os materiais utilizados, os parâmetros adotados, as variáveis não controladas etc. Nesta seção, você deve fazer um raio x de sua pesquisa experimental, descrevendo tudo o que for relevante; » » resultados: aqui são colocados os dados obtidos de seus experimentos. Também cabe discutilos, mostrando o porquê de determinado comportamento. O pesquisador também deve elaborar mais duas seções, que, apesar de não fazerem parte da construção da pesquisa, são de suma importância para que o leitor possa selecionar sua leitura com antecedência. São o resumo e a conclusão. No resumo, você deverá sintetizar todo o trabalho, com aspectos da introdução, metodologia e alguns resultados alcançados. Na conclusão, você deve filtrar as informações contidas nos resultados, concluindo os objetivos alcançados.

Você deve ter em mente que o leitor não possui o mesmo conhecimento que você sobre o assunto, então seu texto deve ser claro e explicativo, facilitando e tornando agradável sua leitura.

Durante a elaboração de seu trabalho, você deverá buscar informações nas mais variadas fontes possíveis. Com certeza, a internet será uma boa fonte de ajuda, mas você deve usá-la de maneira prudente e bastante crítica. Lembre-se sempre de verificar a confiabilidade daquilo que está sendo utilizado. Por abrir espaço à opinião de todos, a internet, muitas vezes, fornece dados controversos, sendo necessária uma pesquisa densa sobre aquilo que se deseja estudar. Para que você possa fazer sua revisão bibliográfica de maneira segura e bem fundamentada, alguns dispositivos são aconselhados por sua universidade, como o Google Acadêmico, que é uma fonte de busca de artigos acadêmicos. Também existe a biblioteca virtual da Laureate, que possui diversos títulos disponíveis, e as bases de dados públicas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Através da internet, você pode ter acesso a periódicos e eventos, nacionais e internacionais, disponíveis on-line, como as revistas Produção Online, Manufatura em foco e Téchne.

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Você pode encontrar a revista Produção Online em <www.producaoonline.org.br/rpo>. Para estudantes de Engenharia de Produção, o site da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (Abepro) traz várias publicações que também podem ser acessadas via internet. O endereço é: <www.abepro.org.br/interna.asp?p=399&m=887&ss=1&c=396>.

6.2 PROJETO Você já viu que a Engenharia possui como principal objetivo a solução de problemas. Para isso, é necessário que eles sejam estruturados, cabendo ao engenheiro identificar as necessidades, os objetivos e o melhor caminho para alcançar os resultados desejados. Após o estudo e a compreensão de um problema, ele precisa ser solucionado. Sua solução passa por um processo de ordenamento e sistematização, criando uma cadeia de tarefas a serem executadas. Toda essa cronologia (desde a detecção de um problema até sua resolução) é chamada de projeto, que pode ser realizado com o intuito de desenvolver um novo produto ou processo, no reparo ou aperfeiçoamento daquilo que se deseja e até mesmo no desenvolvimento de pesquisas. Aqui, você pode se deparar com uma semelhança entre projeto e o conceito estudado anteriormente: o de pesquisa. Por possuírem estruturas parecidas, sistematizadas, é natural que sejam semelhantes na teoria. Mas, na prática, não são. A principal diferença entre um conceito e outro está no resultado esperado. Quando o profissional faz uma pesquisa, ele procura encontrar a resposta para algo. Já o projeto visa construir, otimizar e utilizar as ferramentas disponíveis para a criação de algo (que pode ser um documento, um objeto, uma construção, um processo etc.). Os departamentos de P&D buscam melhorias nas tecnologias aplicadas em suas empresas, muitas vezes gerando projetos. Mas, para isso, precisam também realizar pesquisas. Um interage com o outro diretamente: quando não existe conhecimento para realizar determinado projeto, é necessário pesquisar. Apesar de ser um estereótipo ligado à Engenharia, a capacidade de projetar é inerente a todos os profissionais e também aos não profissionais. Suas definições linguísticas são variadas, por exemplo: “Uma iniciativa individual ou coletiva que é planejada e designada cuidadosamente para atingir um objetivo particular. Uma atribuição escolar realizada por estudantes ou grupo de estudantes, tipicamente uma tarefa longa que necessita de pesquisa independente” (OXFORD, 2014). Outro significado é “[...] redação provisória de qualquer medida (estatuto, lei etc.)” (MICHAELIS, 2014). É comum você ouvir a expressão “projeto de lei”, usada para designar a redação de um texto normativo que tem como objetivo se transformar em legislação. Ou seja, é um planejamento que visa a solução de um problema (normatizar aquilo que se precisa). Já a expressão “projeto de vida” remete a um objetivo que você possui em sua vida e os meios que você planejou para alcançálo. Esses são só alguns exemplos de projetos que pessoas não relacionadas à Engenharia podem executar.

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AULA 6 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (II)

Mas se todos somos projetistas, por que os engenheiros, em especial, costumam ser rotulados dessa maneira? A resposta talvez esteja no caráter técnico e na complexidade daquilo que é projetado. Para a Engenharia, projetar envolve estudos amplos, planejamento, sistematização e garantias mínimas daquilo que será obtido como resposta, além dos aspectos envolvidos em projetos cotidianos. Segundo Bazzo (2006), projetar é estabelecer um conjunto de procedimentos e especificações que, se postos em prática, resultam em algo concreto ou em um conjunto de informações. Portanto, o processo de projetar é a aplicação específica de uma metodologia de trabalho para a resolução de problemas.

Figura 25 – O projeto como visualização de algo por vir. Fonte: Shutterstock (2014).

Nesta aula, você viu que a pesquisa pode ser científica ou tecnológica. Com os projetos, ocorre algo semelhante. Do ponto de vista científico, projetar está mais fortemente associado ao fato de organizar experimentos, ideias ou até mesmo equipamentos, com o fim de averiguar e formular teorias que compõem a natureza. Já o projeto técnico normalmente possui natureza mais prática. Esse tipo de projeto não necessariamente resultará em novas tecnologias, mas sempre terá como meta a solução de um problema. Dessa forma, pode-se dizer que projetos técnicos podem ser utilizados para a construção de projetos científicos, que desenvolverão conhecimentos básicos das ciências. Elas, por sua vez, alimentam a Engenharia, que poderá formular novas tecnologias. Um bom exemplo é o do CERN, uma entidade de pesquisa científica da Europa. Apesar de ser uma instituição que fomenta a ciência, foram desenvolvidos inúmeros projetos técnicos para que ele pudesse funcionar: a construção das instalações e dos equipamentos, o leiaute dos laboratórios, entre outros. Todos esses projetos fornecem suporte aos projetos científicos, que são a visão sistêmica de como desenvolver pesquisas (desde a captação de recursos até o tratamento dos dados obtidos).

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Figura 26 – Instalações do CERN, um dos institutos de pesquisa científica mais famosos do mundo. Fonte: Shutterstock (2014).

Assim como a pesquisa, projetar envolve a execução sequencial de fases distintas a fim de atingir um objetivo. O ato de pesquisar, inclusive, envolve uma etapa prévia de projeto, que é definição dos meios pelo qual será realizada a pesquisa, abrangendo conhecimentos específicos, processos, recursos, impactos e a resposta esperada.

Entradas • Documentos • Planejamentos • Desenhos • Outros Técnicas e ferramentas • Mecanismos aplicas às entradas Saídas • Documentos • Desenhos • Outros Figura 27 – Elementos do processo. Fonte: Adaptada de Project Management Institute (2008).

Para a execução do projeto, é preciso que ele esteja estruturado. Portanto, é necessária a sua divisão em fases, que podem variar segundo o grau de detalhamento atribuído a cada uma delas. A seguir, você conhecerá algumas dessas fases. Fase de iniciação: é quando determinada necessidade é identificada e transformada em um problema estruturado que deve ser resolvido. Essa estruturação é realizada especificando um ponto da necessidade. Por exemplo, deseja-se construir um carro que consome menos combustível. Nesse caso, o problema a ser abordado pode ser a eficiência do motor ou o peso do carro. Como uma

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necessidade possui mais de uma abordagem, esta é uma importante fase do processo, sendo necessário, por vezes, que os executores retornem a este ponto para realizar um novo projeto. Nesta fase, a sua missão e o seu objetivo são definidos. Um exemplo da importância da fase de iniciação é encontrado em uma história contada sobre a época da corrida espacial, entre 1957 e 1975. Durante as missões no espaço, os astronautas precisavam fazer anotações de experimentos, mas por não possuir gravidade e nem pressão atmosférica, a utilização de canetas de tinta tornava-se inviável, criando a necessidade do desenvolvimento de algo que permitisse a escrita no espaço. A necessidade teria sido resolvida de diferentes maneiras por americanos e russos. Enquanto os primeiros gastaram milhões de dólares desenvolvendo uma caneta capaz de tal feito, os segundos utilizaram uma tecnologia já disponível, o lápis. A história não é verdadeira (apesar de tal caneta ter sido, de fato, desenvolvida), mas ilustra como é importante selecionar o problema a ser resolvido. No caso, a necessidade era a de escrever no espaço e o problema era o de utilizar algo para esse fim. Bola de carbeto Bola carbeto de de de tungstênio tungstênio ultra dura ultra dura Reservatório de gás

Boia deslizante que separa a tinta do gás de nitrogênio

Tinta tixotrópica em um reservatório pressuriza e hermeticamente selado. Escreve trêz vezes mais que uma caneta esferográfica comum

Figura 28 - Caneta desenvolvida para utilização no espaço. Fonte: Adaptada de Project Management Institute (2008).

Fase de planejamento: é a etapa na qual são selecionadas as melhores estratégias do projeto, detalhando tudo aquilo que será realizado: cronogramas, distribuição de recursos, custos etc., para que, no final desta fase, ele esteja suficientemente detalhado para ser executado. Aqui, entra um conhecimento que você adquiriu na aula anterior: a construção de modelos. É nesta etapa que o engenheiro determinará as diretrizes contidas no projeto, através da utilização de desenhos, diagramas, equações e gráficos. Também é aqui que entram as simulações, evitando que sejam encontrados problemas oriundos de falhas de projetos. Nesta fase, planos auxiliares de comunicação, qualidade, riscos, suprimentos e recursos humanos também são desenvolvidos. A comunicação é um importante aspecto do projeto que, por vezes, é tratado sem a devida importância. Através dela, o desenvolvimento, a alteração e os avisos relativos ao projeto serão facilitados. O projeto é um trabalho normalmente realizado em equipe, por profissionais de diversas áreas da Engenharia e também externos a ela, em que cada indivíduo envolvido deve fornecer seu parecer ou sua contribuição sobre determinado aspecto. Por isso, a ferramenta utilizada, a hierarquia de dados e até mesmo a maneira de lidar com as outras pessoas e a facilidade de expressão influenciarão positiva ou negativamente o desenrolar do projeto. A falta de organização no processo comunicativo pode levar a erros, conflitos profissionais e pessoais e atrasos consideráveis no planejamento estipulado. Por isso, saber se comunicar e utilizar as ferramentas adequadas é de suma importância para o sucesso.

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Fase de execução: como o próprio nome indica, é a etapa em que os conhecimentos adquiridos e as decisões tomadas se revelarão acertadas ou não. Nesta fase, os recursos financeiros são aplicados com maior intensidade e erros nos planejamentos anteriores trarão consequências irreversíveis do ponto de vista econômico. De maneira geral, é preferível consumir muito tempo nas etapas anteriores, que não possuem custo tão alto, do que chegar a executar algo sem o devido estudo. Fase de monitoramento e controle: deve ser realizada desde o planejamento até a execução do projeto. Seu objetivo é acompanhar e controlar aquilo que está sendo realizado, formando um ciclo retroalimentado que garante a qualidade do projeto. Esta fase não deve ser abandonada até que o projeto esteja finalizado, pois garante a redução dos gastos oriundos de falhas. Fase de finalização: é quando aquilo que foi projetado é avaliado externamente, fornecendo como resultados dados que serão aproveitados em projetos futuros. Quando a avalição é positiva, podem ser criadas normas, fazendo com que o que foi desenvolvido sirva de padrão de qualidade para projetos futuros.

Monitoramento • Avaliação interna

Iniciação • Determinar necessidades

Planejamento • Definir estratégias

Execução • Executar o planejado

Finalização • Avaliação externa

Figura 29 - Etapas de um projeto. Fonte: Elaborada pelo autor (2014).

Com o projeto definido e funcional, cabe agora seu monitoramento para assegurar sua eficiência. Tratando-se de processos desenvolvidos, um importante conceito é utilizado para medir o quão satisfatório está seu funcionamento: a produtividade.

6.2.2 Produtividade Muitas vezes, em sua atuação como engenheiro, você estará de frente a um processo que está funcionando normalmente, mas que não apresenta o resultado esperado. Nesse momento, dois importantes conceitos poderão ser utilizados: produção e produtividade. Produção é definida como “[...] a ação de fazer ou de fabricar, através de componentes ou matériasprimas” (OXFORD, 2014). Ou seja, o conceito é utilizado quando se deseja apenas mensurar algo que foi fabricado. Por exemplo: a produção de carros da empresa X é de 5 milhões por ano. Esse número exprime a ordem de grandeza da produção, mas não fornece maiores detalhes de quais os impactos envolvidos para que ela ocorra, por exemplo, na quantidade de empregos, custos ou matéria-prima necessária.

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AULA 6 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (II)

Para que exista uma comparação entre entradas e saídas (input/output) do sistema de produção, foi criada a produtividade, definida como “[...] a eficácia do esforço produtivo, especialmente na indústria, tal como medido em termos da taxa de saída por unidade de entrada” (OXFORD, 2014). Entradas: tudo o que é inserido antes e durante o processo, como funcionários, matéria-prima, custo de processo, tempo de processo etc. Saídas: tudo o que sai do processo, como o valor do produto, sua quantidade, qualidade, entre outras características. Eficiência: está relacionada em como realizar determinada tarefa. Quanto melhor realizada, mais eficiente. É “como fazer” algo. Eficácia: está relacionada aos resultados de determinada tarefa. Quanto melhores os resultados, mais eficaz. É “o que fazer”.

Figura 30 - O computador quântico, um exemplo aplicado de pesquisa tecnológica. Fonte: Shutterstock (2014).

Com a produtividade, é possível mensurar o quanto está sendo ganho, de fato, em determinado sistema. Ela pode ser expressa em termos de dinheiro, horas, trabalhadores, matéria-prima e assim por diante. O exemplo da quantidade de carros produzidos mostra que determinado número de carros foi produzido em um ano. Mas se uma segunda empresa Y produz 3 milhões, não significa que tenha uma produtividade pior, mas sim uma produção mais baixa. Para entender melhor esse conceito, considere que a empresa X e a Y produziram o mesmo modelo de carro, mas a primeira utilizou 1.000 funcionários, enquanto a segunda precisou de apenas 500. Calculando a produtividade como a razão entre a produção anual pela quantidade de funcionários da empresa, X produz 5 mil carros por funcionário ao ano, enquanto Y produz 6 mil, possuindo uma produtividade maior por funcionário. Você pode ainda adicionar mais parâmetros para sua conta. Imagine que a empresa X gasta por ano, em média, 50 mil reais por cada funcionário, enquanto Y gasta 60 mil. Assim, sua produtividade poderá ser encontrada pela equação: P’=

p (nxs) 69


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Em que P’ é a produtividade, p é a produção, n é o número de funcionários e s é o valor anual que eles custam à empresa. Substituindo os valores para as empresas X e Y, você obterá: 5.000.000 P’x = 1000×50.000 P’X= 0,1 carros/R$ do custo de cada funcionário. 3.000.000 P’y = 500×60.000 P’y= 0,1 carros/R$ do custo de cada funcionário. Se você fizer essas contas, chegará à conclusão de que a empresa X gasta o mesmo valor, em termos de custo de funcionários, que a empresa Y para produzir seus carros. Essas contas podem ficar bem mais complexas, dependendo das variáveis que você quiser envolver: o valor da produção de cada empresa, o custo de insumos, o tempo de processo e diversos outros fatores. Mas o importate é que você perceba que os cálculos sempre retornam números que comparam os valores de entrada e os de saída, mostrando o quão eficiente é o processo sob a análise das variáveis escolhidas.

Encontre mais informações sobre produtividade no site: <www.produtividade.net>

Agora que você está familiarizado com o conceito de produtividade, poderá perceber o quão importante ele é para a Engenharia. Ela será abordada neste e em outros módulos de estudo, assim como durante toda sua vida profissional.

6.2.2 Otimização Durante toda sua vida, você será capaz de traçar as condições ótimas sobre determinado aspecto que gostaria de melhorar. Seja seu salário, seu emprego, a quantidade de viagens que faz por ano, como gostaria que fosse a sua casa, qual carro gostaria de ter e assim por diante. Naturalmente, essas condições mudam de acordo com suas experiências e conforme você avança perante as ambições alcançadas. A Engenharia funciona da mesma maneira. O desenvolvimento de um processo ou produto raramente chegará a um estado ótimo e cabe ao engenheiro projetar melhorias para alcançar patamares cada vez maiores de qualidade. Para o Inmetro (2014), a qualidade compreende o grau de atendimento (ou conformidade) de um produto, processo, serviço ou um profissional a requisitos mínimos estabelecidos em normas ou regulamentos técnicos.

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AULA 6 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (II)

É importante que você perceba que, assim como em sua vida, o estado ótimo muda de acordo com o tempo, ficando defasado na medida em que a tecnologia avança. Segundo Bazzo (2006), otimização é o processo de procura por uma solução que forneça o máximo benefício segundo algum critério; ou seja, é a busca da melhor condição. Você acabou de ver que a produtividade pode ser calculada de acordo com as variáveis que lhe interessam. Os processos de otimização também utilizam essa ferramenta, visto que, muitas vezes, a otimização é realizada em um produto ou processo de forma pontual, e não sobre todo o seu sistema, respeitando os aspectos econômicos envolvidos. Um bom exemplo são os carros, que constantemente são frutos de pesquisas para que sejam otimizados. Porém, existem diversas categorias de automóveis e nem sempre é possível utilizar tecnologias de ponta em todos os modelos produzidos. Assim, o estado ótimo para determinada categoria é aquele que alia o preço compatível com ela e a tecnologia possível de ser fornecida pelo valor investido. Ou seja, nesse caso, o estado ótimo não depende somente dos fatores tecnológicos envolvidos, mas também dos financeiros.

Esses aspectos serão vistos diversas vezes durante seu curso de Engenharia. Otimização e produtividade são atividades atribuídas diretamente aos engenheiros e é muito importante trabalhar esses dois conceitos.

A otimização visa também reduzir a quantidade de resíduos de processo, visto que o desperdício deixa claras duas falhas de sistema: o mau aproveitamento de materiais e o impacto ambiental gerado pelo processamento. Aqui, cabe ao engenheiro repensar o processo, em uma busca constante por melhorias. Os conceitos relacionados à qualidade e melhoria contínua possuem grande importância. Por este motivo, serão tratados com mais profundidade em disciplinas posteriores. Algumas ferramentas de gestão de qualidade são utilizadas para que haja constante otimização de produtos e processos, como o PDCA (plan, do, check, act, ou em português: planejar, fazer, checar e agir), que busca evitar a defasagem – seja tecnológica, produtiva, organizacional etc. – através do monitoramento do que se deseja melhorar.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Figura 31 – O ciclo PDCA, uma ferramenta de otimização. Fonte: Shutterstock (2014).

Você pode obter mais informações a respeito do PDCA em: <www.infoescola.com/administracao_/pdca-plan-do-check-action/>

É importante que você tenha sempre em mente que o estado ótimo raramente é alcançado. Na verdade, sendo bastante crítico, ele nunca será. Diversas razões farão com que o produto ou processo desenvolvido possa ser otimizado, por exemplo, o desenvolvimento tecnológico, fatores financeiros e ambientais. Desse modo, mesmo que um processo ou produto possa parecer em um estado ótimo, com o passar do tempo ficará defasado. Isso mostra que a otimização é uma condição temporal e relativa aos parâmetros escolhidos.

CONCLUSÃO A evolução da Engenharia passa pela ciência e pela tecnologia que, por sua vez, avançam através de pesquisas padronizadas e sistêmicas. Pesquisar é criar uma metodologia de raciocínio com o intuito de responder às questões desejadas. No atual cenário mundial, fazer pesquisa é imprescindível para a mudança de status de exportador de matéria-prima para a exportação de produtos e processos com tecnologia aplicada. Nesse sentido, uma maneira de medir o quão evoluída – científica e tecnologicamente – se encontra a pesquisa de um país, mensura-se a qualidade e quantidade de suas publicações. Com a globalização do conhecimento e a facilidade em obter informações, os trabalhos técnicos e científicos ganharam força e espalharam-se ao redor do mundo, criando um cenário de maior igualdade no que tange o acesso às informações. Esse é o momento de o Brasil passar de usuário 72


AULA 6 – CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DE ENGENHARIA, CIÊNCIA E TECNOLOGIA (II)

a fomentador de tecnologia e conhecimento avançado. Isso passará pela conscientização de nossos cientistas e engenheiros e pelo incentivo financeiro necessário. A aplicação das tecnologias pesquisadas é realizada através de engenheiros, que utilizam sua capacidade de projetar para o desenvolvimento de novos produtos e processos. A arte de projetar não é exclusividade da Engenharia, mas é em suas aplicações que os projetos ganham seu sentido mais técnico e puro. Indicadores como a produtividade são capazes de mensurar o quão otimizado se encontra um processo. Por consequência, medem o estado de desenvolvimento tecnológico da indústria, uma vez que a tecnologia visa aumentar a qualidade daquilo que é produzido, assim como otimizar a fabricação. Você viu nesta aula que a pesquisa científica e tecnológica gera conhecimento que, quando publicado, fomenta o desenvolvimento tecnológico da indústria. Isso faz com que novos projetos sejam realizados contendo maior tecnologia, melhorando a qualidade de produtos e processos, influenciando diretamente em sua produtividade.

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AULA 7 Inovação e criatividade

INTRODUÇÃO Um engenheiro jamais terá criatividade suficiente para pintar uma obra de arte. Nunca será bom com poesias. Engenheiros não são criativos. Generalizações como essas e estereótipos são comumente atribuídos a profissionais da Engenharia e da maioria das ciências exatas. Mas será que isso é verdade? Será que você, futuro engenheiro, é incapaz de ser criativo? Não possui realmente dons para ter ideias diferentes do que lhe é ensinado? Como explicar, então, Leonardo da Vinci, que pintou uma das obras de arte mais valiosas do mundo e também projetou diversas engenhocas? Será que apenas gênios podem exercer sua habilidade inventiva e artística ao mesmo tempo? Nesta aula, você verá que não. Engenheiros possuem criatividade e, várias vezes, suas tarefas envolvem o desenvolvimento de uma solução criativa e original para que algo funcione. As inovações surgem por ideias criativas. Novos produtos, novas empresas, novos mercados, tudo isso pode ser criado por engenheiros.


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Você também verá que é importante que você busque esse viés criativo e o alie a mais uma qualidade: a proatividade, que o fará um profissional requisitado e abrirá suas asas para que, se for de seu interesse, você construa sua própria empresa.

OBJETIVOS » » Conceituar criatividade, mostrando as bases do processo criativo e suas etapas. » » Relacionar criatividade e inovação. » » Exibir os conceitos de empreendedorismo e proatividade e sua relação com os processos de inovação e criatividade. » » Exemplificar casos de empresas de sucesso que apostam nos conceitos estudados.

7.1 A CRIATIVIDADE NA ENGENHARIA CO estereótipo do engenheiro é o de um sujeito pragmático, sistêmico, prático, técnico, bom solucionador de problemas, calculista, entre outros vários outros adjetivos que lhe conferem virtudes relacionadas à lógica. A criatividade só é atribuída a esse profissional muito raramente. A razão para isso, talvez, esteja no fato de que a criatividade é popularmente associada a atividades artísticas. Porém, a definição de criatividade, segundo o dicionário Oxford (2014), é “[...] o uso da imaginação ou ideias originais para criar algo; inventividade.”. Perceba que, na maior parte do tempo, fazer Engenharia é adaptar soluções, empregar fórmulas conhecidas, utilizar pensamentos já estruturados. Mas isso não significa que não exista criatividade. Projetar, saber utilizar soluções elaboradas anteriormente e adaptá-las para uma nova realidade, é ser criativo! Existe uma palavra que define bem a capacidade criativa de um engenheiro: a engenhosidade, que é “[...] a qualidade de ser inteligente, original e inventivo” (OXFORDxford, 2014). Essa característica, intrínseca à Engenharia, é o que fará com que, muitas vezes, seus amigos lhe chamem para resolver problemas práticos, que necessitam de um tipo de criatividade diferente: a de inventar soluções. Com o tempo e a prática, você perceberá que a engenhosidade fará parte de sua vida e você terá sugestões empíricas para a solução de problemas de ordem prática, como suspender objetos, consertar coisas, organizar sequencialmente, montar equipamentos e muitas outras tarefas. Segundo Bazzo (2006), para podermos solucionar de forma adequada as nossas questões técnicas, devemos ter quantidade, qualidade e diversidade de ideias úteis, e isso pode ser conseguido com esforço, força de vontade e a aplicação de alguns procedimentos técnicos. Essa quantidade, qualidade e diversidade de ideias é o que podemos chamar, para a Engenharia, de criatividade. A aplicação de conceitos técnicos utilizando as diferentes ideias elaboradas fomentará diversas soluções para o mesmo problema, cabendo ao engenheiro, ou ao corpo de engenheiros, definir qual será a mais adequada para cada situação.

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AULA 7 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

Como exemplo, pense em um engenheiro desenvolvendo uma ponte que deve ligar duas margens de um rio. Existem diversas maneiras de construí-la e cabe ao responsável pelo projeto escolher a melhor maneira de fazê-lo. Para tal, o engenheiro deverá possuir em sua mente o conhecimento necessário: seja quanto aos custos da obra, aà beleza, à estrutura mais adequada, aos fatores ambientais e outras diversas variáveis possíveis. O bom profissional será capaz de utilizar a escolha mais adequada, usando a sua criatividade para contornar o problema.

Figura 32 - A Puente de la Mujer, em Buenos Aires, alia beleza e funcionalidade. Fonte: Shutterstock (2014).

Bazzo (2006) cita 4quatro fatores básicos que influenciam a criatividade para o ambiente da Engenharia.: Conhecimentos: é toda a informação que o engenheiro possui acerca de um problema, oriunda de sua formação técnica ou de outras áreas, como, ambiental, econômica, política etc. No caso da ponte, os conhecimentos que o profissional possui determinarão qual a sua escolha em termos estruturais, arquitetônicos e assim por diante. Esforço exercido: muitas vezes, a ideia ou solução para determinado problema não aparece rapidamente (na verdade, quase nunca aparece na velocidade que gostaríamos), mas uma dose extra de esforço e estudo costuma resolver o caso. Certamente, o esforço sem o conhecimento técnico não resolverá nada, mas a aliança entre ambos é capaz de criar coisas incríveis. Aptidão: existem pessoas com mais facilidade de aprendizado para uma determinada área do que outra. Aqui, aprendizado não é, necessariamente, estudo teórico. Algumas pessoas possuem facilidade em se expressar, em se comunicar. Outras, em cálculos, projeções em três dimensões. Há quem tenha mais aptidão para os esportes., Ee assim por diante. Portanto, para elas, será mais fácil aprender aquilo que é necessário para o desenvolvimento do que já é inerente. Isso não significa que uma dose de esforço não faça com que os menos aptos alcancem bons resultados e nem que aqueles que possuem facilidade não precisem se dedicar. A aptidão apenas facilita o desenvolvimento do processo criativo.

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Método empregado: o método utilizado para encontrar uma solução pode facilitar o livre caminho para a criatividade. O estudo e a sistematização de tarefas eliminam processos desnecessários e agilizam a busca por conhecimento, concedendo maior tempo para que ocorra o processo criativo. A adoção de um método adequado poderá gerar novas e boas ideias, pois, depois de estudada e definida, a metodologia escolhida evitará imprevistos que necessitariam de novas soluções. Para que uma ideia criativa e nova possa florescer, é necessário estar envolvido com o que se deseja produzir. A inserção no contexto do problema leva à formulação de diversas hipóteses, algumas originais e outras nem tanto. Após algum tempo de reflexão sobre o assunto, as ideias começam a ser moldadas de acordo com as condições de contorno do problema. Porém, não é incomum que você esteja refletindo muito sobre determinado assunto conforme uma linha de raciocínio definida, quando outra pessoa lhe diz algo óbvio, mas que você ainda não havia se dado conta. Isso ocorre pelo condicionamento de seu raciocínio, que necessita de um afastamento sobre aquilo que está sendo estudado. Além disso, o cansaço também tende a afastar boas ideias, de maneira que, às vezes, um descanso para a mente faz bem para o processo de criação. Então, uma série de etapas para que você possa desenvolver uma ideia é:

Inserir-se no contexto Buscar diversas ideias Afastar-se do problema Lapidar as ideias promissoras Obter a ideia final Figura 33 - Dica para a maturação de ideias. Fonte: Elaboradao pelo autor (2014)

Vale salientar novamente que esse processo é vicioso e as novas ideias que surgirão, provavelmente, possuirão um formato preé-definido, necessitando de um novo afastamento do problema para que ideias frescas surjam, possibilitando soluções inéditas. Um exemplo da necessidade do afastamento é quando você está estudando algo por muito tempo e o conhecimento já não é mais absorvido. Se descansar, seu rendimento voltará a ser alto e o melhor: o conhecimento adquirido terá sido processado por sua mente e auxiliará nos novos aprendizados. 78


AULA 7 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

Quanto ao vício de ideias, é comum que as pessoas pensem em utilizar soluções existentes para a resolução de um novo problema. Porém, nem sempre as respostas disponíveis atendem aos atributos necessários para novos casos. Enquanto você estiver preso a uma solução pré-eexistente, dificilmente terá novas ideias. Assim, será preciso se afastar um pouco do problema para que apareçam soluções inéditas.

Você pode obter novas dicas de como construir ideias assistindo ao vídeo disponibilizado pela Revista Época, em: <https://www.youtube.com/watch?v=CKVmDvE-6CE.>.

O fomento de novas ideias leva à criação de coisas inéditas. Sejam processos, produtos ou padrões, a criatividade tem auxiliado a Engenharia em sua forma de fazer diferente, trazendo à tona um aspecto imprescindível para a sociedade atual: a inovação. Inovar é “[...] fazer mudanças em algo estabelecido, especialmente através da introdução de novos métodos, ideias ou produtos” (OXFORD, 2014), sendo um resultado direto da capacidade criativa humana, que busca a evolução através de novas ideias.

Você pode saber mais sobre a tendência da inovação nas empresas através do endereço: <http://www.portaleducacao.com.br/administracao/artigos/3395/criatividade-e-inovacao-o-verdadeiro-diferencial-das-empresas>

Lembre-se de registrar aquilo que foi desenvolvido, pois boas ideias são difíceis de surgir, mas muito fáceis de perder .>

Quando um produto inovador é desenvolvido, seu criador provavelmente espera possuir sua originalidade por algum tempo. Isso pode ser garantido através da patente, que é “[...] um título de propriedade temporária sobre uma invenção ou modelo de utilidade, outorgado pelo Estado aos inventores ou autores ou a outras pessoas físicas ou jurídicas detentoras de direitos sobre a criação” (INPI, 2014). O registro de patentes é realizado através do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que colhe todas as informações sobre o que se deseja patentear, verifica sua originalidade e relevância e decide sobre o patenteamento ou não. É importante que você saiba que, ao patentear 79


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

determinado produto, terá de fazer toda a descrição dele, abrindo seus segredos de originalidade. Após 15 ou 20 anos (dependendo do tipo de patente), seu invento se tornará aberto, podendo ser copiado por qualquer pessoa que tiver interesse. Por isso, você terá qude mensurar o quão válido é protegê-lo. Se for algo facilmente replicável através de engenharia reversa (processo de desmontar e analisar como um produto foi feito), ter a patente é recomendável. Mas se for algo dificilmente replicável, talvez valha a pena manter o segredo longe de registros públicos. Um exemplo clássico é o da Coca-Cola, um dos maiores segredos industriais do mundo. Como o refrigerante nunca foi patenteado, ninguém sabe qual é a sua fórmula. Caso os donos da empresa tivessem feito o registro, toda a composição do produto teria qude ser explicitada e, como a patente expira no período de 20 anos, após esse prazo, qualquer outro fabricante poderia produzir uma bebida idêntica.

O site do INPI esclarece diversas dúvidas sobre o patenteamento de produtos. Você pode acessá-las em: <http://www.inpi.gov.br/portal/ acessoainformacao/artigo/patente_1351691647905#2>

A partir do momento em que você buscar alternativas criativas e inovadoras, provavelmente estará iniciando um processo de inquietude dentro de si. Conviver com a mesmice não será mais uma alternativa e você buscará sempre introduzir novos conceitos em sua vida profissional e pessoal. Isso pode culminar em uma vontade de traçar seu próprio caminho, fazendo com que você se torne um empreendedor.

7.1.1 Inovação e empreendedorismo A criatividade é uma característica importante para um profissional que visa ao sucesso. Quando ele decide aventurar-se na criação de sua própria empresa, a inovação torna-se fundamental para que o novo empreendimento possua o diferencial necessário para o seu crescimento. Você viu na aAula 3 que um dos caminhos possíveis para o engenheiro formado é o empreendedorismo, que é a atuação como empresário, dono de seu próprio negócio. Tornar-se um empreendedor requer mais do que conhecimentos técnicos: é preciso ter criatividade, tanto para explorar novos mercados quanto para inovar na maneira de interagir com os tradicionais.

Você sabia que o brasileiro é um dos povos mais empreendedores do mundo? Acesse: <http://exame.abril<.com.br/pme/noticias/brasil-e-pais-mais-empreendedor-do-g20http://exame.abril.com.br/pme/ noticias/brasil-e-pais-mais-empreendedor-do-g20> e saiba mais.

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AULA 7 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

Nesse sentido, inovar não precisa ser necessariamente explorar um nicho de mercado ainda não descoberto, como foi o caso da expansão da Google, por exemplo. Também não precisa ser o lançamento de um produto exclusivo, como o primeiro iPhone, lançado pela Apple em 2007. Logicamente, esses dois caminhos são ótimos, pois tratam de oferecer um serviço, ou produto, sem concorrência. Mas também são casos raros, fruto de uma excelente ideia e de investidores convencidos em seu retorno financeiro. Por vezes, bastam diferentes abordagens logísticas, detalhes de processo ou mesmo aplicações, para que um produto que já exista no mercado possa se tornar algo novo. É o ciclo que ocorre com os carros de passeio, por exemplo. Quando todos se encontram no mesmo patamar de tecnologias aplicadas, uma montadora adiciona um novo item, fazendo com que seu modelo seja diferente dos outros. Esse é um exemplo de um mercado tradicional que necessita de inovações para tornar diferenciados os seus produtos.

Figura 34 - Carro da Google responsável por mapear ruas em todo o mundo. Fonte: Shutterstock (2014).

Algumas perguntas devem ser feitas para assegurar-se de que sua ideia terá lugar no mercado.: 1) Existe necessidade de mercado que não é suprida, ou é suprida com deficiências? 2) Como funcionam empresas similares? 3) Qual o mercado para o negócio (clientes potenciais, perfil, localização)? 4) Como é a concorrência (pontos fortes e fracos)? 5) Quais as ameaças? 6) Quais valores o produto/serviço agregam para os clientes? 7) O momento é agora? 8) Qual a inovação do produto/serviço?

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INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

Você pode encontrar a revista Produção Online em <www.producaoonline.org.br/rpo>. Para estudantes de Engenharia de Produção, o site da Associação Brasileira de Engenharia de Produção (Abepro) traz várias publicações que também podem ser acessadas via internet. O endereço é: <www.abepro.org.br/interna.asp?p=399&m=887&ss=1&c=396>.

Uma forma segura e especializada de iniciar uma empresa é através das incubadoras empresariais. Esses locais estimulam o empreendedorismo, fornecendo conhecimento e estrutura física, apoiando as ideias daqueles que buscam a estabilidade de seu negócio. Instalando-se em incubadoras, as empresas podem contar com assessorias diversas, treinamentos e também com o network disponibilizado.

Você pode obter mais informações sobre incubadoras de empresas em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/trabalho/ empreendedorismo/incubadora/http://www.prefeitura.sp.gov.br/ cidade/secretarias/trabalho/empreendedorismo/incubadora/>.

A Associação Nacional dos Inventores oferece muitas informações e o auxílio necessário para quem quer investir nas próprias ideias. Confira no site <http://www.inventores.com.br/>.

Com o conhecimento necessário, o empreendedor também é capaz de buscar fundos para seu negócio. Tanto o governo federal quanto os estaduais lançam anualmente diversos editais, buscando incentivar a criação de empresas inovadoras. A possibilidade de iniciar seu negócio com recursos a fundo perdido, ou mesmo com boas condições de financiamento, faz com que diversas pessoas busquem esses editais. Por isso, se você pensa em iniciar um novo negócio, é importante que leve em consideração a busca por tais recursos, que, quando aplicados de maneira correta, podem alavancar o estágio inicial de uma empresa. No momento em que você identificar qualquer necessidade no mercado e conseguir formular uma boa ideia para atendê-la, você deve possuir uma qualidade que o fará desbravar novos horizontes: a proatividade, que é “[...] criar ou controlar uma situação, em vez de apenas responder a ela depois que aconteceu” (OXFORD, 2014). Sem a proatividade, o empreendedor torna-se um membro passivo, não justificando o investimento do seu tempo e de sua renda. Essa característica, porém, não deve ser buscada apenas por empreendedores, visto que ela é muito importante para que você esteja sempre no comando das situações. Um sujeito proativo

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AULA 7 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

buscará novas ideias para contornar problemas, alcançará inovação, não desistirá em seu primeiro fracasso e terá facilidade em lidar com desafios.

Busque trabalhar sua proatividade desde já! Funcionários e empresários de sucesso possuem essa característica fortemente desenvolvida.

7.1.2 Empresas inovadoras Agora que você já conhece a construção do processo de inovação, que tal conhecer alguns exemplos de empresas que apostaram nela e ganharam mercado? Desde que a informação tomou conta das casas através de computadores, o mundo tornou-se dinâmico e globalizado, e a Engenharia foi incluída nesse ciclo. Onde se buscava a padronização, a facilidade de projetos, a simplificação, foi instaurada a política do original, do diferente. Empresas como a Apple e o Google tornaram-se referência por ousar, pela criatividade, pela arte de inovar. São ícones da inovação contemporânea, mas estão longe de serem os únicos casos de sucesso de companhias que apostaram em novas ideias para seu crescimento. Para melhorar a amplitude do conceito de inovação, é importante que você saiba que não só produtos são alvos dela, mas também processos. Como exemplo, pode-se citar a Toyota, fabricante japonesa de automóveis. Após a Segunda Guerra Mundial, o Japão sofria com a falta de recursos para a produção e necessitava melhorar sua produtividade. Com isso, engenheiros e proprietários da montadora criaram um novo sistema de produção, que substituiu o modelo de produção em massa utilizado até então. Esse caso de sucesso desafiou os paradigmas de produção da época e foi um dos grandes avanços na área de produção, sendo utilizado até hoje.

Você pode saber mais sobre o sistema criado pela Toyota acessando o endereço: <http://www.administradores.com.br/artigos/academico/ sistema-toyota-de-producao/72757/>

Outro caso de indústria que apostou e venceu foi a brasileira Embraco, que fornece compressores para diversas marcas de refrigeradores. A empresa tem investido constantemente em inovações, que culminaram na incorporação de novas tecnologias na fabricação e composição dos compressores, como o aço autolubrificante, por exemplo. Existem ainda multinacionais, como a 3M, que investe pesado na área de inovação nos mais diferentes ramos da indústria, como o biomédico e o de construção civil. Para isso, ela precisa da participação direta de um grande e variado corpo de engenheiros, que se especializam nas 83


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

mais diversas áreas, com o intuito de aplicar seus conhecimentos em Engenharia na solução de problemas pontuais. A inovação aparece também em áreas onde a concorrência praticamente não existe, como o setor aeronáutico. Apesar de existirem duas grandes e sólidas concorrentes no mundo, Airbus e Boeing, ambas necessitam estar em constante desenvolvimento, pois é o que o mercado exige. Na última década, suas grandes inovações giraram em torno da eficiência de seus aviões, tornando-os menos poluentes. Estudos em torno dessa demanda originaram as aeronaves A-350 e 787, que já possuíam centenas de encomendas antes mesmo de seus projetos estarem finalizados.

Figura 35 - O A350 surgiu da necessidade em inovação sustentável. Fonte: Shutterstock (2014).

CONCLUSÃO A evolução da Engenharia passa pela ciência e pela tecnologia que, por sua vez, avançam através de pesquisas padronizadas e sistêmicas. Pesquisar é criar uma metodologia de raciocínio com o intuito de responder às questões desejadas. No atual cenário mundial, fazer pesquisa é imprescindível para a mudança de status de exportador de matéria-prima para a exportação de produtos e processos com tecnologia aplicada. Nesse sentido, uma maneira de medir o quão evoluída – científica e tecnologicamente – se encontra a pesquisa de um país, mensura-se a qualidade e quantidade de suas publicações. Com a globalização do conhecimento e a facilidade em obter informações, os trabalhos técnicos e científicos ganharam força e espalharam-se ao redor do mundo, criando um cenário de maior igualdade no que tange o acesso às informações. Esse é o momento de o Brasil passar de usuário a fomentador de tecnologia e conhecimento avançado. Isso passará pela conscientização de nossos cientistas e engenheiros e pelo incentivo financeiro necessário. A aplicação das tecnologias pesquisadas é realizada através de engenheiros, que utilizam sua capacidade de projetar para o desenvolvimento de novos produtos e processos. A arte de projetar

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AULA 7 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

não é exclusividade da Engenharia, mas é em suas aplicações que os projetos ganham seu sentido mais técnico e puro. Indicadores como a produtividade são capazes de mensurar o quão otimizado se encontra um processo. Por consequência, medem o estado de desenvolvimento tecnológico da indústria, uma vez que a tecnologia visa aumentar a qualidade daquilo que é produzido, assim como otimizar a fabricação. Você viu nesta aula que a pesquisa científica e tecnológica gera conhecimento que, quando publicado, fomenta o desenvolvimento tecnológico da indústria. Isso faz com que novos projetos sejam realizados contendo maior tecnologia, melhorando a qualidade de produtos e processos, influenciando diretamente em sua produtividade.

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AULA 8 Ética profissional

E se todas as pessoas fizessem aquilo que bem entendessem? Se não nos preocupássemos com o próximo, com a natureza, se agíssemos sempre de acordo com os nossos interesses? Pense como seria viver em um ambiente completamente poluído, com pessoas mal-educadas o tempo todo, onde ninguém respeitasse ninguém e todos obedecessem estritamente à lei, nada mais além disso. Agora, imagine que boa parte das coisas ruins dessa sociedade foram criadas por engenheiros, despreocupados com o mal que poderiam causar, regidos apenas por aquilo que está regulamentado de forma legal. Você perceberá que não são apenas leis que fazem com que a sociedade caminhe de forma mútua. Existem definições humanas, intrínsecas a cada um de nós, que nos fazem agir de maneira que possamos coexistir como sociedade. Este será o assunto desta aula, que abordará dois importantes conceitos: a moral e a ética, que tornam possível a convivência racional em grupo e, por consequência, também nortearão sua vida profissional.


INTRODUÇÃO À ENGENHARIA

OBJETIVOS » » Fixar os conceitos de moral e ética. » » Relacionar o desenvolvimento da ética com o desenvolvimento da civilização. » » Mostrar a importância da ética no ambiente da Engenharia.

8.1 OS REGULADORES SOCIAIS Se você recordar a primeira aula desta disciplina, lembrará que o homem, desde sempre, tendeu a viver em grupos, que cresceram na medida em que as técnicas disponíveis permitiram maiores populações aglomeradas. Vivemos em um mundo globalizado e estamos caminhando para as reduções de diferenças entre sociedades. Já é possível converter moedas de diferentes países, e o comércio ao redor do globo ocorre de maneira relativamente fácil. Podemos nos comunicar com outros povos com eficiência, e a comunicação em tempo real com outras culturas já é uma realidade doméstica. A Engenharia, por sua vez, possui suas normas e diretrizes que possibilitam que ela seja aplicada igualmente em qualquer parte do planeta. Essa aglutinação de conhecimentos e costumes faz com que as sociedades evoluam. A maneira com que algo é tratado em determinada parte do mundo pode servir de exemplo, bom ou ruim, para que leis sejam corrigidas, atitudes sejam repensadas e o convívio humano se torne cada vez mais harmonioso. Isso faz com que mudemos constantemente nossa percepção sobre o que é certo e o que é errado, alterando o que pensamos ser moral e o que é ético.

8.1.1 Moral e ética Desde que os seres humanos passaram a conviver em grupos maiores, formando povoados, foi necessário o estabelecimento de regras para tornar possível o convívio em sociedade. Muitas delas eram determinadas por líderes locais, mas também passaram a existir aquelas consideradas como “justiça coletiva”, que eram normas não explicitadas, mas comum a todos. A consolidação de regras sociais, ou bons costumes, tornou possível a convivência em sociedade. Esse conjunto de regras pode ser encarado como algo mutável de sociedade para sociedade e de geração para geração, e são chamadas de moral. Formalmente, a moral é definida como a “[...] parte da Filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres do homem em sociedade e perante os de sua classe. Conjunto de preceitos ou regras para dirigir os atos humanos segundo a justiça e a equidade natural” (MICHAELIS, 2014). Ou seja, a moral é fruto de um consenso social que não tem a necessidade de ser explicitado em forma de lei. Por ser fruto de uma definição social, a moral está sujeita a mudanças, conforme as próprias evoluções sociais ocorrem. O tempo em que você está inserido em uma cultura que possui diferentes valores morais também fará com que você altere sua percepção do que é moralmente correto. Vale observar que, mesmo sendo um conceito criado por uma sociedade específica, você

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AULA 7 – INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

carrega seus conceitos morais consigo, não os alterando, de imediato, por conta de uma viagem ou de uma mudança de residência. Um bom exemplo da relação entre moral e sociedade são os trajes de banho utilizados nas praias brasileiras. Os biquínis usados hoje em dia pelas mulheres seriam considerados completamente imorais antigamente. Com a evolução da sociedade e o maior grau de liberdade dado à mulher no Brasil, o conceito sobre o traje adequado para se utilizar na praia mudou e o biquíni não é mais visto como algo imoral. Esse exemplo vale também para o contexto geográfico. O fato de o traje ser aceito em nosso país não faz com que seja globalmente moralizado, ou seja, existem países que ainda desaprovam seu uso.

Figura 43 - Roupas de banho comuns nos anos 1950. Fonte: Shutterstock (2014).

Você pode concluir que diversos fatores são capazes de influenciar o julgamento social sobre o que é ou não moralmente aceito. Aspectos religiosos, crenças populares e imposições das classes dominantes são exemplos de fatores capazes de criar convenções aceitas pela sociedade. Porém, em muitas situações algo dentro de você diz que determinada escolha não é errada, apesar de moralmente parecer equivocada, ou vice-versa. Esse é o conceito de ética. Diferentemente da moral, a ética é uma resposta pessoal sobre as convenções sociais. Etimologicamente, ela é derivada do grego ethos, que significa caráter, sendo algo relativo ao indivíduo. Segundo o dicionário Michaelis (2014), ela é a “[...] parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática. Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão.” A ética também é uma ferramenta que permite aos seres humanos o convívio em sociedade e caminha lado a lado com a moral na maior parte do tempo. Diariamente, você provavelmente utiliza com mais frequência aspectos morais (de ordem coletiva), mas, de vez em quando, uma atitude considerada moralmente correta pela maioria pode parecer antiética para você. Bernardo (2011) cita um exemplo histórico bastante ilustrativo para que você reflita em dois aspectos. O primeiro diz respeito à diferença entre o que é moral e o que é ético. Já o segundo mostra o quanto os conceitos de moralidade são influenciados pelas condições da sociedade que os definem. Em seu relato, ele conta a história de Rosa Parks, uma costureira negra que, em meados da década de 1950, morava em Montgomery, nos Estados Unidos. A cidade é capital do Estado do Alabama, 89


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onde existia uma norma que garantia a reserva da maior parte dos lugares dos ônibus às pessoas brancas, reflexo da forte segregação racial que o país vivia naquela época. Já com certa idade, cansada da humilhação moralmente oficial, ela negou-se a levantar e dar lugar a um branco. O motorista chamou a polícia, que prendeu a mulher e a multou em dez dólares. As consequências desse fato foram grandiosas. O movimento que pregava igualdade racial foi fortalecido, culminando na equidade dos direitos civis entre negros e brancos nascidos nos Estados Unidos. Perceba como os conceitos morais podem ser injustos diversas vezes. Para a sociedade branca, seria imoral um negro permanecer sentado enquanto havia um branco de pé no ônibus. Claramente, o conceito de moral, nesse caso, foi determinado pela sociedade dominante, a branca. Porém, Rosa fez sua análise ética da situação e optou por contrariar os moralistas brancos.

Figura 44 - Rosa Parks lutou contra os princípios morais de sua época. Fonte: Shutterstock (2014).

Para os padrões daquela sociedade, Rosa estaria sendo imoral em não ceder seu assento ao homem branco, mas ela agiu de acordo com seus princípios éticos, contrariando a moral da época. Isso fez com que a sociedade pudesse refletir (e também legislar), chegando à conclusão de que todos devem ser tratados igualmente.

Você pode ler mais sobre a indagação ética de Rosa e seus resultados em: <http://veja.abril.com.br/historia/morte-martin-luther-king/ causa-direitos-civis-onibus-rosa-parks.shtml>.

Você percebeu que uma reflexão ética foi capaz de alterar os conceitos morais da época? Mas não foram apenas os princípios morais que foram alterados: a legislação que tratava sobre questões raciais também passou por mudanças, mostrando que reflexões éticas causam alterações legais. Então, qual é a relação entre estes três conceitos?

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8.1.2 Moral, ética e legislação Como você acabou de ver, é nítido que a moral é diferente da ética. Mas esses dois reguladores sociais possuem uma relação direta com a aplicação do Direito no cotidiano das pessoas. A ética, por ser uma análise pessoal, pode ser encarada como elemento transformador, tanto da moral quanto das leis. Ao infringir uma regra moral, você está apenas desobedecendo a uma convenção social não sancionada, não estando sujeito a punições legais. Já ao infringir uma lei, mesmo possuindo um argumento ético, você poderá enfrentar sanções normativas e será julgado por isso. Alguns autores afirmam que o Direito é um subconjunto da Moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral e o Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate uma determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral e o Direito, apesar de referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter perspectivas discordantes. (GOLDIN, 2003).

Você pode obter detalhes sobre a relação ética – moral – direito em: <www.bioetica.ufrgs.br/textos.htm#conceito>.

8.1.3 Os reguladores sociais no contexto da Engenharia Agora que você já possui definidos os conceitos de ética e moral e sabe que também pode existir uma legislação específica que regulamenta formalmente as atitudes dos indivíduos que compõem a sociedade, deve ficar atento para situações que causam conflitos entre estes três reguladores sociais em seu ambiente de trabalho. Muitas vezes, durante o exercício da Engenharia, ocorrem casos em que a empresa que você está representando infringe leis ou princípios morais. Caberá a você analisar o conflito ético que isso pode gerar dentro de si, tornando seu trabalho mais, ou menos, satisfatório.

Através de seu canal no YouTube, o Confea/CREA disponibiliza um vídeo que trata de ética profissional. Você pode acessá-lo através do endereço: <www.youtube.com/watch?v=ZnZ995xeNEg>.

Como mostrado no vídeo, o sistema Confea/CREA elaborou um código de ética com o intuito de nortear o profissional da Engenharia em seu dia a dia. Em seu artigo 8o, é possível encontrar princípios éticos relativos aos seguintes tópicos: objetivo, natureza e honradez da profissão, eficácia 91


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profissional, relacionamento profissional, intervenção profissional sobre o meio e liberdade e segurança profissionais. Seus conflitos morais e éticos mais corriqueiros devem ocorrer no convívio com seus colegas de trabalho. Você terá responsabilidades perante a empresa que lhe contrata, ou a que você mesmo criou, e não deverá fugir delas em caso de problemas. O bom trato e a transparência perante seus subordinados também podem se tornar uma questão de ética, por exemplo, se você necessitar demitir algum funcionário ou se descobrir a conduta irregular de alguém. Sobre isso, o art. 8o do código de ética dos profissionais de Engenharia determina que: V) A profissão é praticada através do relacionamento honesto, justo e com espírito progressista dos profissionais para com os gestores, ordenadores, destinatários, beneficiários e colaboradores de seus serviços, com igualdade de tratamento entre os profissionais e com lealdade na competição.

Figura 45 - O bom trato com seus subordinados é importante para uma equipe satisfeita. Fonte: Shutterstock (2014).

O art. 9o do código de ética elenca os deveres do engenheiro, tanto ante o ser humano e aos seus valores quanto ante a profissão. O artigo 10o também é uma leitura fundamental, uma vez que lista quais são as condutas vedadas ao profissional.

Você pode ter acesso ao código de ética dos profissionais da Engenharia em: <www.confea.org.br/media/codigo_etica_ sistemaconfea_8edicao_2014.pdf>. Sua leitura é muito importante!>

Existem diversas empresas que, por exemplo, deixam de cumprir leis ambientais. Muitas vezes, o governo e os órgãos de fiscalização não se preocupam com a aplicação de determinada lei, pela relevância dela no contexto de uma empresa específica ou mesmo pela obsolescência legal existente. Essa frouxidão para algumas leis faz com que outras não sejam seguidas e caberá à sua consciência e ética profissional tomar um posicionamento. Também pode acontecer de você achar uma situação eticamente incorreta mesmo quando a legislação for aplicada. Um exemplo 92


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é a demissão indevida por justa causa de algum funcionário. Isso pode acontecer por desavenças pessoais ou profissionais, quando o superior causa atitudes forçadas em seu subordinado para que ele seja demitido. É importante, desde já, você estar atento ao que foi abordado no tópico anterior: nem sempre a legislação vigente é moralmente correta. Na aula 2, você viu o juramento que fará quando receber o título de Engenheiro. Você se lembra? A partir dele, é possível retirar diversos princípios morais e éticos que nortearão sua carreira profissional. No cumprimento do meu dever de engenheiro, não me deixarei levar pelo brilho excessivo da tecnologia, esquecendo-me completamente de que trabalho para o bem do homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou que o poluam. Colocarei todo meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz comigo e com Deus.

Não serão raras as vezes em que você precisará de uma análise crítica ao desenvolver determinado projeto. Você deverá juntar o juramento às suas percepções pessoais sobre moral e ética. Se quiser um exemplo de situação na qual essa análise é necessária, reveja a aula 2, mais especificamente a parte sobre o desenvolvimento de armas e a sua relevância para o bem-estar humano. Será que, refletindo sobre seus conceitos éticos e aliando-os ao trecho do texto que diz “Colocarei todo meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da sociedade”, você concordará com o desenvolvimento de armas?

Figura 46 - O desenvolvimento de armas é uma questão ética. Fonte: Shutterstock (2014).

Essa é uma questão pessoal que não envolve uma legislação específica e muito menos um conceito moralmente unânime. Algumas pessoas possuem a opinião que o desenvolvimento de armas é importante para que haja proteção pessoal e garantem a soberania de países e povos, enquanto outras acreditam que a fabricação de produtos bélicos apenas fomenta essa indústria e contribui para o caos no mundo. O fato é que não existe uma opinião comumente aceita ou ao menos maciçamente. Assim, essa é uma análise que deve ser feita de acordo com a consciência e os valores de cada indivíduo.

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A questão ética se encontra em sua consciência e, valendo-se da honestidade, você fará a escolha que o deixará mais satisfeito, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.

CONCLUSÃO A sociedade contemporânea dispõe de leis que limitam e ordenam seu comportamento, mas elas não são o único elemento que norteiam as ações dos seres humanos no convívio em grupos. O fato de a raça humana formar povoados, aldeias, vilas e cidades fomentou a crescente padronização dos comportamentos aceitos por diferentes sociedades. Essa regulamentação social foi importante para o crescimento do caráter coletivo dos diversos grupos formados ao redor do planeta. Aos padrões comportamentais aceitos de forma não imposta, foi dado o nome de moral, que é intrínseca aos cidadãos inseridos em contextos sociais diferentes. Os valores morais de cada pessoa são, dessa forma, moldados pelo ambiente em que cada indivíduo se desenvolve. Os padrões variam de acordo com características que compõem o ambiente, como classes dominantes, cultura presente, religião majoritária e principalmente o tempo, que, através do conhecimento, causa alterações nos entendimentos sobre moralidade. A ética, como reflexão pessoal sobre os aspectos morais, é capaz de alterá-los quando aliada ao tempo e ao conhecimento. Isso faz com que valores antes aceitos como padrões de moralidade sejam modificados, proporcionando evoluções sociais e legais. Para nortear sua carreira com base nos princípios éticos, você também conheceu, nesta aula, o código de ética dos profissionais de Engenharia, que lista, além dos princípios éticos, os deveres do profissional e as condutas vedadas. Dentro do contexto profissional, você poderá deparar-se com questões que, apesar de não ferirem sua moral, causarão impacto em seu senso ético. Por isso, é importante que você esteja preparado e aja de acordo com sua consciência. Seguindo atitudes eticamente corretas, você poderá mudar os padrões morais aceitos, melhorando seu ambiente de trabalho e permitindo que você trabalhe com satisfação.

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ENCERRAMENTO

CARTA DE ENCERRAMENTO Desde os primórdios da Engenharia moderna, sua interação com a ciência resultou no desenvolvimento de novas tecnologias, que são de suma importância por permitir mais descobertas científicas. Aplicadas à Engenharia, essas descobertas promovem mais melhoramentos tecnológicos, formando um ciclo. Com a evolução das Engenharias, os responsáveis por sua aplicação passaram cada vez mais a possuir um papel importante perante a sociedade. Isso fez com que eles necessitassem de senso crítico durante seus desenvolvimentos tecnológicos, criando a necessidade de divisões das áreas existentes da profissão. Com isso, surgiram órgãos reguladores responsáveis por atribuir competências a cada uma das áreas criadas. No Brasil, esse controle é realizado pelo sistema Confea/CREA. Com tantas subdivisões e com o crescimento latente, foi necessário criar artifícios para que a Engenharia se tornasse uma ciência global e replicável em qualquer parte do mundo, dando origem ao Sistema Internacional de Unidades e também às normas, possibilitando a padronização de resultados e de projetos. Todas essas evoluções, aliadas aos estudos tecnológicos e científicos, culminaram em importantes desenvolvimentos, como a arte de simular, que fez com que seja possível a elaboração e predição de projetos, antevendo seus problemas. O projeto foi apresentado como uma das grandes aptidões do engenheiro, sendo necessário seu bom planejamento em suas diferentes fases para que, no final, ele seja útil, com um resultado rentável. Para isso, você deve lembrar-se de sempre buscar a inovação, que é um diferencial durante o desenvolvimento de produtos e processos valorizados.

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Por fim, você deve sempre buscar aliar Engenharia e sociedade, não fazendo com que seu trabalho prejudique outras pessoas, direta ou indiretamente. O engenheiro deve usar seus conhecimentos para produzir coisas que melhorem a vida das pessoas, e nunca deixar que eles sejam utilizados para gerar o efeito contrário.

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REFERÊNCIAS

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