INTRODUÇÃO AO TRABALHO CIENTÍFICO Autores: André Santanchè, Maria Luiza Coutinho Seixas e Gismália Marcelino Mendonça
INTRODUÇÃO Você está ingressando em uma disciplina que resulta de um trabalho intenso de uma equipe multidisciplinar, que não mediu esforços para que, além de trazer informações relevantes para sua formação acadêmica e profissional, ela seja muito interessante. Imagine-se em uma sala de aula na qual, ao invés de ter um único professor, você tem um batalhão envolvendo autores, revisores, designers, animadores e cinegrafistas, todos envolvidos na tarefa de construí-la. Foi um trabalho de meses envolvendo debates, revisões e ajustes, e agora estamos todos atrás deste seu monitor, na expectativa de que você goste do que vai ver. Por isto escrevemos esta apresentação, não apenas para lhe dar as boas-vindas, mas para dar algumas orientações para que você aproveite o máximo do que preparamos. É possível que você esteja se perguntando: qual o propósito desta disciplina na minha formação? Esta é uma questão importante, e por isso vamos começar tratando dela. Se você traz uma percepção da ciência tal como ela é tratada na maioria das escolas de ensino fundamental e médio do nosso país, pode achar que a ciência interessa apenas a quem trabalha com química, física ou biologia. Se você tem uma visão um pouco mais ampla, saberá que a ciência atinge muitas outras áreas, no entanto ainda terá a ideia de que uma matéria como esta interessa, essencialmente, aos acadêmicos ou pesquisadores profissionais. De fato, a ciência interessará a quem pretende seguir tais carreiras, mas nossa disciplina, tal como foi preparada, tem uma ambição muito maior do que esta. Você já deve ter percebido que em diversas ocasiões, tanto em sua vida pessoal quanto na profissional, você se defronta com situações novas ou coisas que desconhece, diante das quais é necessário tomar uma decisão ou resolver um problema, não é mesmo? Em outras vezes, você recebe informações de diversas fontes e precisa filtrar e decidir em quais você deve confiar ou, ainda, compreender como estas informações podem afetá-lo pessoal ou coletivamente. Podemos citar inúmeros exemplos cotidianos que traduzem essa nossa necessidade, mas, no momento, destacaremos um deles para que você possa compreender melhor o que estamos falando: o consumo de alimentos transgênicos em nosso país foi “arrazoado” a partir do momento em que consumidores passaram a questionar se este tipo de alimento é prejudicial à saúde humana e, consequentemente, a consumi-lo comedidamente, até que processo produtivo e comercialização seguissem normas de biossegurança. Nesse caso, o papel da ciência foi fundamental porque possibilitou, a todos nós, seres humanos, uma compreensão mais
alargada do que implicava, no âmbito individual, consumir alimentos transgênicos. O tratamento dessa questão pelo viés da ciência permitiu que fossem reveladas questões que extrapolaram a dimensão do indivíduo (esse tipo alimento pode ou não fazer mal ao meu corpo?) e alcançaram a esfera coletiva (a quem interessa o consumo dos alimentos transgênicos? Aos governos? Aos produtores?). Nos dias atuais, investigar qualquer questão sem considerar o olhar da ciência é uma possibilidade muito remota. Existem, de fato, diversas maneiras de lidar com o desconhecido, de decidir em quais informações você confia e como deve tomar suas decisões. A sua cultura e crença cumprem papéis importantes neste processo. Em muitos casos você faz uso da sua experiência ou intuição. Mas como a ciência entra neste meio? Ela entra como um ingrediente adicional, um modo de proceder diante do mundo, tão importante quanto todos os outros. Muitas pessoas, no entanto, não entendem o papel da ciência por inteiro. Alguns a supervalorizam, lançando-a como moeda no enfrentamento de questões que não lhe cabem, ou elevando-a ao patamar de verdade absoluta; outros a subestimam ou lhe fazem oposição, como se um de seus resultados a representasse por inteiro. O propósito desta disciplina é ressaltar o devido lugar à ciência e mostrar que conhecê-la e conhecer o seu método pode ser uma ferramenta inestimável em muitos aspectos da sua vida. Conhecer o método científico lhe dará autonomia para julgar, por si mesmo, a ciência e seus resultados — com os quais você interage todos os dias —, incentivando-o a desenvolver um posicionamento crítico e pessoal em sua vida pessoal e profissional. O método sistematizado e objetivo, idealizado pela ciência, será apresentado a você. A prática de pesquisa científica geralmente é uma atividade realizada por quem resolve seguir a carreira de pesquisador que, no Brasil, usualmente está vinculada a uma instituição acadêmica. Ainda que o método seja um processo inerente à pesquisa, demonstraremos como a sua aplicação pode ser igualmente importante no seu campo profissional. Ao estudar como fazer revisão da literatura, você exercitará boas práticas de aquisição de conhecimento, que serão muito importantes no restante do seu curso e também depois disso, dado que estamos em uma sociedade em contínua transformação, na qual estudar passou a ser uma constante. Finalmente, a disciplina também trata de aspectos relacionados ao planejamento e à divulgação de resultados da pesquisa. Nas respectivas seções são apresentadas boas práticas para que você aprenda a planejar adequadamente o seu trabalho e a divulgar os resultados de sua pesquisa com a devida clareza e formalismo. Estes são, do mesmo modo, conhecimentos importantes para você, pois certamente será requisitado a apresentar novos projetos e relatórios de resultados na organização em que for atuar (ou já estiver atuando!) profissionalmente. Esperamos que a esta altura você já esteja convencido da importância desta disciplina, porque isso é muito importante para nós. De qualquer modo, durante o próprio curso lhe ofereceremos muitos outros elementos para refletir sobre a importância do que você está aprendendo. Esta introdução oferece uma panorâmica de como a disciplina está organi-
zada. Mais do que um catálogo de seções, concentra informações e recomendações importantes para que ocorram muitas aprendizagens. Imagine o conteúdo que lhe será apresentado neste curso como uma composição coerente de diversas unidades menores. Decidimos agrupar estas unidades conforme o enfoque do trabalho na forma de esferas temáticas, que estão organizadas dentro do seu ambiente virtual de aprendizagem, o Moodle, e são identificadas por imagens.
A mesma unidade pode aparecer em mais de uma esfera, a fim de facilitar o seu acesso ao conteúdo. Por exemplo, alguns projetos experimentais aparecerão na esfera “Mapa de Navegação”, associados ao conteúdo do curso, mas aparecerão novamente na esfera “Laboratório Mundo”, que concentra todos os projetos experimentais. Não se preocupe, você não vai se perder! As esferas foram criadas para facilitar o seu trabalho e tudo que precisa saber é que o conteúdo principal está estruturado na esfera Mapa de Navegação. As esferas também lançam destaques sobre aspectos importantes da disciplina que você está estudando e realizam hiperlinks com o conteúdo. O ambiente está organizado conforme as seguintes esferas: Mapa de Navegação. Organiza o conteúdo principal da disciplina de forma linear para orientá-lo na seqüência a ser seguida em seus estudos. O mapa de navegação está organizado em tópicos e subtópicos, seguindo a mesma organização apresentada no plano de ensino. Ciência do Colégio. Roteiro para reflexão sobre o modo como você aprendeu ciências no colégio. Esta será a base para que você compreenda a abordagem da práxis científica, permitindo que seja ampliada a sua perspectiva de ciência.
Ombro de Gigantes. Esta esfera se inspira na clássica afirmação de Isaac Newton: “Se eu consegui ver além foi porque me apoiei no ombro de Gigantes”. Ela reúne orientações relacionadas à prática do pesquisador no estudo de trabalhos relacionados à sua pesquisa, incluindo orientações sobre como encontrar material de leitura, como avaliar a sua qualidade e como referenciá-lo. Materialização da Ideia. Aqui estão reunidas orientações e ferramentas que irão ajudá-lo a materializar seus projetos e resultados de pesquisa. A materialização faz referência a dois momentos, o primeiro é o do projeto, quando você precisa transformar uma idéia ou uma inquietação em um plano concreto de execução, e o segundo é o da divulgação, que compreende toda a ação de compartilhar suas conquistas com a comunidade através de publicações e apresentações. Laboratório Mundo. A experimentação é uma das etapas mais marcantes do trabalho científico. Cientistas são conhecidos por suas abordagens inteligentes e criativas para testar hipóteses e provar suas teorias. Por este motivo, essa esfera reúne a apresentação dos experimentos científicos apresentados na disciplina e outros que estão disponíveis na rede. Apreciação da Aprendizagem. Aqui são explicadas, em detalhes, cada uma das três avaliações a que você será submetido; é apresentado o calendário das avaliações, bem como os conteúdos que a comporão.
Multiteca. A disciplina faz uso ou referência a diversos tipos de mídias. Entre elas destacamos: textos e livros disponíveis on-line, imagens e vídeos. Achamos conveniente reagrupá-los nesta esfera. Mas a esfera Multiteca não se limita a um reagrupamento. Nela, você encontrará comentários e recomendações relacionados às mídias, orientações sobre como encontrar livros na biblioteca da universidade e indicações de livros para a sua biblioteca particular. Em resumo, a esfera Multiteca é uma porta de acesso a recursos para expandir seus conhecimentos, além daqueles apresentados no material desta disciplina, é claro!
Além de conhecer as esferas temáticas é importante que você compreenda como o conteúdo do curso e as avaliações estão organizados no AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem:
O Conteúdo principal compreende o material textual produzido por nós, autores. Esse material cobre os principais assuntos do curso e deve ser lido por completo. O conteúdo aí presente fará parte das três avaliações principais desta disciplina. Você receberá todos os textos do conteúdo principal também em formato impresso para a sua maior comodidade na leitura. Além disso, há recursos multimídia diretamente associados a este material, que o ajudará a compreender o seu conteúdo.
O Conteúdo recomendado compreende vários outros textos e recursos multimídia aos quais o conteúdo principal faz referência e recomenda a leitura. Por exemplo, em muitos casos o texto principal indica textos de outros autores para leitura, ou recomenda que você assista a algum vídeo disponível na rede. Este conteúdo complementa a sua formação e, portanto, a sua leitura é recomendada. O conteúdo recomendado só estará disponível no ambiente virtual de aprendizagem (Moodle) e você não recebe uma cópia impressa dos mesmos.
Projetos experimentais. O curso foi projetado em torno de três projetos experimentais principais. Dois deles são apresentados gradativamente na medida em que se apresentam as etapas do método científico, de modo que você tenha
uma visão prática dos conceitos apresentados. O terceiro projeto experimental será utilizado no final do curso, quando fizermos algumas reflexões sobre a ciência. Os projetos experimentais também lhe guiarão na forma como você deve conduzir o seu próprio projeto experimental. Como você verá adiante este será o teor de uma das avaliações do curso.
Desafios. Durante o curso são propostos desafios para você. Os desafios servem para motivar a sua participação ativa no processo, através da resolução de problemas ou de pequenos jogos. Cada desafio foi planejado para enriquecer o seu aprendizado em uma parte do curso e, por isso, recomendamos fortemente que você resolva todos eles. O conhecimento obtido em cada desafio será vinculado com o conteúdo apresentado no curso, o que permitirá que você faça uma autoavaliação do seu desempenho e verifique o que aprendeu. Queremos evidenciar que você não receberá uma nota pela resolução dos desafios e, por isso, não será exigido o envio do seu resultado para o seu tutor; mas você pode pedir orientação a ele se tiver dificuldades e será estimulado a debater, em fórum apropriado, sobre dificuldades e descobertas relacionadas ao desafio.
Avaliações Principais. Você realizará três avaliações principais - dois trabalhos submetidos através do ambiente virtual e uma prova realizada presencialmente - e receberá uma nota por cada uma delas. Estas notas irão compor a sua média final na disciplina. Cada uma das avaliações tem uma data agendada no calendário da disciplina que está recebendo. Você será estimulado a desenvolver os trabalhos gradativamente durante o semestre e a interagir com os seus colegas e seu tutor para debater idéias, solicitar orientações, compartilhar descobertas etc. Entretanto, você produzirá uma versão final de cada um dos seus trabalhos, que será submetida integralmente até a respectiva data estabelecida no calendário.
Um Mapa Conceitual como este que você está vendo na imagem a seguir será usado como base para a construção de todo o curso. Mapas conceituais podem ser entendidos como diagramas que representam relações entre conceitos (MOREIRA; ROSA, 1986). Nesta disciplina, eles aparecem em dois momentos. Na esfera Mapa de Navegação do ambiente virtual de aprendizagem, como guia mais abrangente do curso, e nos textos que integram o conteúdo principal da disciplina, nos quais recortes do mapa aparecem para orientar a sua leitura.
Para finalizar esta introdução, achamos conveniente lhe dar algumas explicações sobre a forma como este curso será conduzido e o papel dos diversos atores no mesmo.
Como dissemos no início deste texto, o conteúdo deste curso foi criado por professores autores em colaboração com uma extensa equipe que realiza revisão, seleção e produção de mídias, roteiros e gravação de vídeo, montagem do ambiente virtual de aprendizagem etc. Em seguida, entra em cena o professor do curso, que acompanha a produção do conteúdo e será o responsável pela condução da disciplina durante este semestre. O professor do curso é assessorado por uma equipe de tutores. Cada tutor conduz uma turma de alunos e essas turmas são organizadas em um ambiente virtual de aprendizagem. Deste modo, você faz parte de uma turma alocada num ambiente virtual que é acompanhada diretamente por um tutor.
O tutor tem formação e preparo para dar orientação e suporte completos em todo o desenvolvimento da disciplina. Ele responderá a suas perguntas, lhe auxiliará nas dificuldades e lhe dará um feedback das atividades que você submeter. O tutor também acompanhará os fóruns de discussão, contribuindo e orientando os debates sempre que necessário. Além disso, o tutor está em contato constante e direto com o professor da disciplina, tendo sido preparado para solicitar orientação e encaminhar questões que exijam uma ação direta desse professor. Por intermédio dos tutores, o professor tem uma percepção global do andamento da disciplina e dá as diretrizes gerais para a condução da mesma.
Esta disciplina foi desenvolvida partindo do pressuposto que você dedicará algumas horas semanais do seu tempo para o estudo de seu conteúdo. Para planejar corretamente o tempo considere que, assim como você faz em uma disciplina presencial, deve dedicar algumas horas da semana para estar em “sala de aula”. No nosso caso, a sala de aula é o ambiente virtual de aprendizagem, espaço no qual está sistematizado o conteúdo (principal e recomendado) que foi preparado para você. Além disso, este é um espaço para participar das oportunidades de interação. Lembre-se que, assim como acontece no curso presencial, será preciso dedicar um tempo extra “fora da sala” na realização de exercícios, elaboração de trabalhos e preparação para a prova, estudos, pesquisas etc.
Concluímos aqui a nossa introdução declarando que estamos muito felizes com a sua participação. Desejamos que você obtenha sucesso e fique satisfeito com a disciplina. Durante todo o semestre, mas principalmente ao final dele, você terá a oportunidade de contribuir para a melhoria desta disciplina avaliando-a e nos dando feedback de suas impressões.
Bom estudo!
André Santanchè Maria Luiza Coutinho Seixas Gismália Marcelino Mendonça
REFERÊNCIAS MOREIRA, Marco Antônio; ROSA, Paulo. Mapas Conceituais. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. Florianópolis, v. 3, n. 1, p. 17-25, 1986. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index. php/fisica/article/view/7934/7300> Acesso em: 26 jun. 2010.
Na maioria das vezes, quando somos confrontados com essa pergunta, somos
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Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
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O QUE É CIÊNCIA?
levados a, de imediato, confundir ciência com tecnologia. Isso é muito habitual porque estes dois campos estão inexoravelmente entrelaçados; um é produto/resultado do outro. É tão habitual, que muitos estudiosos da ciência já se propuseram a escrever sobre essa “confusão”. Andery et al (2006), por exemplo, e outros estudiosos, nos lembram que existem, no mínimo, dois tipos de opinião, muito difundidos nos tempos atuais, sobre a ciência. No primeiro, a ciência é considerada como uma fonte de benefício para a humanidade; no outro, contraditoriamente, é percebida como uma força de opressão, como fonte de destruição da natureza e do próprio homem. Os resultados tangíveis da ciência lhe cercam por todos os lados. Você mora em uma casa ou apartamento, anda em automóveis, atravessa viadutos, viaja de avião, vai a um médico ou hospital, toma medicamentos receitados, utiliza artefatos de plástico e inox, usa eletrodomésticos e computadores. Poderíamos citar uma lista interminável de produtos da tecnologia que o cercam e que são consequência da ciência. É muito comum enfatizar os resultados, em detrimento do processo, porque os resultados da ciência lhe atingem de forma mais íntima. Você consome alimentos naturais cujas características sofreram influência direta de estudos científicos: seleção artificial, transgênicos etc.; ou produtos artificiais: adoçantes, conservantes etc. Você lê ou assiste notícias que se relacionam com a ciência o tempo todo: clonagem, energia atômica, novas curas, formas corretas de se alimentar etc. Tudo isso conduz a uma questão importante: você não acha que compreender a ciência pode ser muito importante, tanto no campo profissional, quanto no campo pessoal? Compreender a ciência lhe dará autonomia crítica de decidir por si mesmo como encarar as informações que recebe ou as decisões que deve tomar com relação à ciência. Mais do que isso, a formação desse entendimento muito se deve à forma como compreendemos a ciência quando frequentamos a escola. Como já nos referimos no texto de Introdução desta disciplina, o que está definido, na escola, com o nome de ciências é um conjunto estruturado de conhecimentos que são resultados da ciência, isto é, o aprimoramento tecnológico. Para além dessa definição, a ciência compreende o modo como estes resultados foram alcançados. Se ampliarmos nossa visão saindo de uma perspectiva individual e partindo para uma perspectiva da comunidade que nos cerca, podemos nos perguntar: a ciência pode nos ajudar na nossa atuação na sociedade? Como você já deve estar imaginando, a resposta é sim novamente. Você pode ajudar uma comunidade a resolver problemas práticos de alimentação, saúde, infra-estrutura; você pode melhorar um processo dentro da empresa que você trabalha.
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Você pode se considerar um indivíduo que nada tem a ver com a ciência, mas isso com certeza não é verdade, principalmente, porque prova dar algum valor a ela no momento em que se matriculou nesta universidade. O que você aprendeu até aqui não é, em grande parte, conhecimento científico acumulado e aperfeiçoado por gerações? Talvez você já se considere conhecedor da ciência, ou talvez esteja pensando: tarde demais, nunca demos atenção àquelas disciplinas de ciências que estudamos na escola. Neste ponto é introduzida a segunda parte deste texto, que trata das questões: “Por que eu estudei ciências na escola?”; “Que aspectos da ciência eu estudei na escola?”; “Ao conhecer química, física ou biologia, passamos automaticamente a saber o que é ciência?”. Antes de prosseguirmos na leitura, planejamos uma pequena atividade, a qual está descrita no quadro a seguir. É muito importante que você faça essa atividade antes de dar seguimento ao estudo.
Ciência do Colégio A forma como você aprendeu ciência no colégio tem uma grande influência sobre como você a vê hoje. Antes de seguirmos adiante, achamos importante uma atividade de análise e reflexão sobre ciência no ensino fundamental e médio. Utilizaremos os resultados desta reflexão como base para o que apresentaremos em seguida.
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Trata-se de uma atividade do tipo WebQuest. Você encontrará tudo o que precisa para realizar a atividade na esfera temática Ciência do Colégio (recomendamos) ou nas instruções que aparecem no final do capítulo.
Autor: Mehran Moghtadai - Arad Mojtahedi Fonte: Wikimedia Commons
Se você seguiu nossas recomendações na execução deste WebQuest, perceberá que o colégio projetou em sua mente uma imagem de ciência. Em grande parte dos casos, a forma como você usará a ciência na sua vida pessoal e profissional pode ser bem diferente da que você concebe hoje. Você pode achar que serão necessários conhecimentos profundos em uma das ciências que você estudou na escola, ou quem sabe em todas elas, tal como o Macgyver1. De fato, conhecimentos deste tipo são úteis, mas não é em uma extensa biblioteca de conhecimentos científicos que estamos interessados, mas sim na ciência e seu método, a fábrica destes conhecimentos científicos. Voltando à metáfora, a nossa expectativa que você aja mais como Sherlock Holmes, 1 Se você não é da geração que teve a oportunidade de assistir Macgyver, ele era um agente secreto que utilizava conhecimentos científicos para encontrar saídas nas ocasiões mais inusitadas. Veja mais sobre Macgyver em http://www.imdb.com/title/tt0088559/ ou então na nossa videoteca.
Se você limita a noção de ciência que aprendeu no colégio, achará que o conhecimento científico está relacionado com áreas específicas, como física, química e biologia; ou então que ciência é algo que interessa a acadêmicos e pesquisadores. Quando estas classificações não se aplicam a você, é natural que seja levado a pensar que a ciência não lhe diz respeito.
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cgyver, que apenas os utiliza.
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que combina observações e raciocínio para produzir conhecimento, do que como Ma-
Usualmente, o que aprendemos no colégio com o nome de ciências é um conjunto estruturado de conhecimentos que são resultados da ciência. Não é à toa que chamamos de “ciências” no plural, ao invés de “ciência” no singular. Estas “ciências” se referem às aplicações da ciência nas diversas áreas de conhecimento. Como veremos, a ciência na verdade abrange muito mais do que isso. Para compreendê-la em sua amplitude é necessário aprofundar o modo como os resultados que você aprendeu foram alcançados. No ensino fundamental e médio é muito comum a ênfase aos resultados. Se por um lado eles são muito importantes, por outro, são uma parte do que chamamos de ciência. Eventualmente, somos apresentados a alguns elementos das ciências em si. No seu WebQuest você deve ter visto um experimento em ciências (Telecurso 2000 - aula 69. Vendo o invisível), no qual é obtida uma conclusão a partir de um experimento; o primeiro tópico (1. A matéria e suas propriedades) do “Programa Educ@r” que estimula o estudante à observação; ou o vídeo “Ciência por miúdos Programa zero” que estimula a realizar um experimento que simula a formação da chuva. Mas este tipo de abordagem é esporádico em sala de aula, dado o volume de conteúdo que o professor precisa apresentar ao aluno. Além disso, a ciência em si e seu método são tratados de forma ainda primária e fragmentada. Se você estudou física no colégio, deve ter sido apresentado a uma dezena de fórmulas matemáticas que o conduziram a utilizá-las ora na resolução do problema de um carrinho, ora para analisar a trajetória do lançamento de uma pedra, e assim por diante. Entregaram-lhe algumas equações atribuídas a um antigo sujeito chamado Isaac Newton e o máximo que lhe contaram foi a estória de uma maçã – a respectiva aula que você viu no WebQuest, Telecurso 2000, (08. Eu tenho a força! Será?) deve ter refrescado a sua memória. Talvez você tenha perdido algum tempo, na época, tentando entender de onde foi que Newton tirou aquelas equações. Pense sobre isso: de onde foi que Newton tirou aquelas equações? Ele as inventou do nada? Retorne à aula 08 do Telecurso e veja como o tema é apresentado. Reflita sobre isto: de onde vieram estas fórmulas? Neste ponto, você pode ter pensado que a física é uma espécie de ramo da matemática e talvez tenha extrapolado isto para as ciências. Então pode parecer que o perfil do pesquisador é daquele sujeito versado em ciências exatas ou matemática, e isto é um equívoco. A matemática é, sem dúvida, uma ferramenta importante na mão do pesquisador, mas principalmente por ser uma poderosa linguagem para descrever relações de forma simples e compacta. A parte da ciência que vamos lhe mostrar neste curso está menos voltada às equações de Newton e mais voltada a responder: por que ele as fez e como ele as fez. Não tanto do ponto de vista da matemática, mas do momento em que ele olhou para o universo e para a terra e se perguntou: será que existe alguma força comum que faz
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cair a maçã e que atrai a Lua ao planeta Terra? Como ele procedeu desde o momento que se fez esta pergunta, passando por observações e experimentos, até produzir uma teoria poderosa? A partir daí será possível mostrar que, apesar de a ciência ter se estabelecido inicialmente em áreas como física, química e biologia – daí os principais exemplos sempre se inclinarem para estas áreas –, seu método vai muito além, podendo ser aplicado a muitas outras áreas de conhecimento, inclusive a sua.
SÍNTESE Neste capítulo você foi conduzido a fazer uma reflexão da sua imagem de ciência baseada no que você estudou no colégio. Apresentaremos a você uma perspectiva mais ampla de ciência, que vai além dos seus resultados e que poderá lhe ser útil nos diversos aspectos da sua vida. Esperamos que você tenha ficado satisfeito com os resultados que obteve no WebQuest porque a partir de agora entraremos em um percurso para ampliar a sua percepção de ciência e a reflexão sobre o passado será muito valiosa.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO
________________________ ________________________ Diariamente você sai de casa e vai à universidade e precisa, de algum modo, ________________________ garantir que chegará no horário. Você acha que a rotina que você desenvolveu para ________________________ conseguir isso tem algo a ver com a ciência? Pense sobre isso e nos encontramos de ________________________ novo na próxima seção para tratar desse assunto. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ REFERÊNCIAS ________________________ ANDERY, Maria Amélia et. al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 15. ed. Rio de ________________________ Janeiro: Garamond, 2006. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
Esta é uma atividade do tipo WebQuest. Se você ainda não participou de uma atividade deste tipo, faremos uma pequena introdução.
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Autor: André Santanchè
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CIÊNCIA NO COLÉGIO – WEBQUEST
Um WebQuest consiste em um formato para o desenvolvimento de uma investigação orientada, na qual a maior parte das informações que o estudante trabalha vem da Web. Ele foi proposto por Bernie Dodge em 1995 (DODGE, 1995; DODGE, 2001). Se você quiser se aprofundar mais neste modelo poderá encontrar informações úteis no site oficial (em inglês) http://webquest.org ou no site em português da Escola do Futuro da USP1. Nas páginas seguintes apresentaremos o nosso WebQuest.
Autor: Mehran Moghtadai - Arad Mojtahedi Fonte: Wikimedia Commons
Uma das características marcantes de um pesquisador é o costume de coletar dados, classificá-los e sistematizá-los. Neste WebQuest você vai praticar um pouco deste papel. Seu objeto de estudo: livros e conteúdo didático utilizado no ensino fundamental e médio. Sua tarefa: traduzir o conceito de ciências a partir do olhar de um estudante de ensino fundamental e médio.
TAREFA O objetivo deste WebQuest é analisar amostras de livros didáticos, vídeos e textos sobre ciências, direcionados a professores do ensino fundamental e médio, que estão disponíveis em sites na Web. Diferentemente de como aconteceu na sua época de colégio, agora você vai assumir uma atitude externa de pesquisador e seu objeto de estudo é o conteúdo das ciências estudadas. Você vai praticar também o ato de tentar se distanciar do objeto de estudo para analisá-lo, ou seja, não importa se você gosta ou não das ciências que aprendeu na escola, seu papel é “dissecá-las”. Esta será uma análise direcionada e não estamos considerando que você irá ler todo o material. Na próxima seção você será orientado sobre o que deve ler o que analisar e como obter os resultados esperados. 1 http://www.webquest.futuro.usp.br
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Depois de analisar os livros e material sugerido você responderá as seguintes perguntas: O que é ciência e quais as suas características? Por que nos referimos à “ciência” no singular neste texto e utilizamos “ciências” para nos referir ao que estudamos no colégio?
Note que para que esta atividade seja bem sucedida você não deve procurar a definição de ciência em outros sites, pelo contrário, se você fizer isso vai atrapalhar os resultados de sua atividade. Não tenho nenhuma intenção que você construa o conceito correto de ciência, não é este o propósito.
PROCESSO Montamos o quadro a seguir, no qual estão organizadas as referências para os sites e sugestões de tópicos para a leitura. Título do livro ou material
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Tópicos sugeridos para leitura
Telecurso 2000 Analise como os conteúdos são organizados; escolha uma ou http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/
duas amostras de aula e veja seu
telecurso_2000
conteúdo. Ciências no ensino fundamental:
Ciências – Ensino Fundamental (está com o título trocado como Ciências – Ensino Médio)
veja a primeira aula (01. Por dentro da ciência); veja a penúltima (69. Vendo o invisível) e última aulas (70. Ciência: produto ou método?). Física no ensino médio: veja a primeira aula do Volume 1 (01. O
Biologia – Ensino Médio Física – Ensino Médio
mundo da física) e as leis de Newton oitava aula deste volume (08. Eu tenho a força! Será?).
Química – Ensino Médio
Programa Educ@r Ciências para Professores do Ensino
Analise como os conteúdos são
Fundamental
organizados; veja como é abordada a primeira aula (1. A matéria e suas propriedades); escolha uma ou duas
http://educar.sc.usp.br/ciencias/
amostras e veja seu conteúdo.
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Wikibooks – biologia, física e química
http://pt.wikibooks.org/wiki/Biologia http://pt.wikibooks.org/wiki/F%C3%ADsica http://pt.wikibooks.org/wiki/Qu%C3%ADmica Analise como é organizado o O conteúdo da Wikipedia e sites relacionados deve ser usado com cautela e trataremos sobre esse
conteúdo de biologia, física e química.
assunto na seção onde abordamos como deve ser avaliada a qualidade de um texto. Como o propósito desta atividade não é aprender ciências através dos textos do Wikibook e sim analisá-los, eles poderão ser usados para esta atividade sem restrições.
Ciência por miúdos Programa zero
Analise a forma como o experimento científico é apresentado às crianças e como eles foram conduzidos a tirar conclusões.
http://www.youtube.com/watch?v=ZaHizBvf1sI
AVALIAÇÃO Nesta atividade você não receberá uma nota pelos seus resultados. Esta estratégia foi adotada para que você se concentre no principal objetivo da tarefa, ou seja, realizar uma reflexão sobre o seu aprendizado de ciências no colégio. É possível que uma nota nesta avaliação desviasse sua atenção e você se preocupasse mais em produzir um resultado para satisfazer a nossa expectativa do que para a sua aprendizagem pessoal. Contudo, esta é uma atividade muito importante para a continuidade de seus estudos nesta disciplina.
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CONCLUSÃO Espero que este WebQuest tenha sido proveitoso para você, principalmente porque você vai retornar ao nosso texto e iremos transformar os resultados desta atividade na matéria-prima para reflexões na introdução e em outros textos durante o curso.
REFERÊNCIAS DODGE, Bernie. WebQuests: a technique for internet – based learning. San Diego: The Distance Educator, 1995. p. 10-13.
DODGE, Bernie. FOCUS: five rules for writing a great webquest. Learning & Leading With Technology, 2001. p. 6-9.
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Compreendendo A CIÊNCIA através do Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas Para iniciarmos nossa conversa sobre essa temática, convidamos você para algo inusitado. O texto em destaque abaixo é um dos diálogos de um filme. Você consegue
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mito e da filosofia
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descobrir a que obra estamos nos referindo?
[...] - disse que a máquina está aqui... - exato. - Por que não a vemos? - porque estamos em 31 de dezembro de 1899 e a máquina está a centenas de anos a nossa frente. - talvez esta casa não exista daqui a 100 anos. - porém a máquina ocupa o mesmo espaço
________________________ ________________________ - se ocupa o mesmo espaço, por que não ________________________ posso tocá-la? ________________________ - Porque este espaço é o espaço de hoje e não ________________________ pode tocar no espaço de amanhã. ________________________ Fonte: http://www.webcine.com.br/filmesc1/webl1155.jpg - O espaço não se altera! Este espaço estará ________________________ aqui para sempre. ________________________ ________________________ - Não! o tempo altera o espaço! ________________________ - Este lugar pode ter estado no fundo do mar ________________________ tempos atrás... - e em um milhão de anos, ________________________ quem sabe, seja o interior de uma montanha. ________________________ - Se isto é verdade, que pretende que façamos ________________________ com sua máquina? ________________________ ________________________ - máquina? tenho a intenção de viajar ao futuro. ________________________ ________________________ - Ou, quem sabe, o doutor se ofereça como ________________________ voluntário? [...] ________________________ ________________________ Bem, se você não conseguiu descobrir, vamos soltar uma pista... o seu roteiro ________________________ foi adaptado de um best seller, editado pela primeira vez em 1895 e seu título acabou ________________________ por se tornar uma meta perseguida por muitos cientistas de várias partes do mundo ________________________ desde que foi cogitada como algo possível a ser construído. ________________________ que ocupava antes da viagem.
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Ah... agora você matou a charada, não foi? É isso mesmo! Estamos falando do filme “A máquina do tempo”. Tudo bem! Você deve estar estranhando a referência a esse filme de gosto duvidoso, que não faz jus ao romance de ficção científica escrito por H. G. Wells e certamente ganhou o prêmio Framboesa de Ouro1 de 2003, mas isso tem um motivo muito plausível. O que você faria se tivesse uma máquina do tempo estacionada na garagem de sua casa ou de seu prédio? Certamente não resistiria e sairia para dar uma volta, não é mesmo? O destino dessa viagem poderia ser o futuro (afinal, todos queremos saber como seremos daqui a dez anos, quais serão as nossas conquistas, ou quem será o campeão da Copa Mundial de Futebol de 2014), mas, como temos uma necessidade emergencial nessa disciplina - ... - destacaremos /retomaremos /retornaremos a alguns momentos da história da civilização ocidental para compreender o que é a ciência e como ela chegou a ser o que é.
MITO E LOGOS: BASES PARA EXPLICAR E COMPREENDER O MUNDO A ciência, como a conhecemos hoje, é algo que passou a ser produzida aproximadamente a partir do século X d.C., mas tem origens muito anteriores a isso, num tempo identificado como Antigüidade. Estamos falando do momento em que surgiu,
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no ser humano, a necessidade de explicar racionalmente o mundo e a natureza que o cercava. Pelas configurações social e produtiva características do momento histórico anterior (período micênico, configurado séculos XII a VIII a.C.) a essa necessidade - grupos organizados por relações de parentesco e em torno do totem (animal, planta ou instrumento de trabalho importante para a economia do grupo, organizada de forma a garantir apenas o consumo necessário para a sobrevivência deste), bastava a esse ser humano uma explicação/compreensão de mundo baseada na crença e na fé: a narrativa mítica ou, como mais comumente conhecemos, o mito. Conforme Andery et al (2006, p. 20), [...] o mito é uma narrativa que pretende explicar, por meio de forças de seres considerados superiores aos humanos, a origem, seja de uma realidade completa como o cosmos, seja de partes dessa realidade; [que] pretende explicar efeitos provocados pela interferência desses seres ou forças.
O mito era baseado na transmissão do conhecimento (principalmente para explicar o mundo e as formas de produzir condições para a sobrevivência) por meio de gerações e reforçava a idéia da coletividade: o que era produzido pelo grupo, era consumido por este mesmo grupo.
1 O Framboesa de Ouro, prêmio dado ao pior filme do ano, é uma versão escrachada do Oscar, o mais famoso e cobiçado prêmio do cinema.
Através do mito foi possível estabelecer uma relação pessoal e intransferível entre alguns homens (representados pela figura do herói e do rei) e os deuses, fosse no exercício da justiça, fosse no exercício da religião? Pois é, os poemas de Homero (Ilíada e Odisséia) e os de Hesíodo (Os trabalhos e os dias e
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Você sabia que:
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Teogonia) revelam-se documentos importantes para a compreensão histórica deste período e também permitem desvelar as características do conhecimento até então produzido. Vejamos, abaixo, um trecho da Teogonia, de Hesíodo:
Em verdade, no princípio veio o Caos, mas depois veio Gaia (Terra) de amplos seios, base segura para sempre oferecida a todos os seres vivos [...].De Caos nasceram Érebo (treva) e a negra Noite. E da Noite, por sua vez, saíram Éter e Dia (que ela concebeu e deu à luz unida por amor a seu irmão Érebo) [...] (HESÍODO, 116-132).
Por conta de um melhor uso de ferramentas, utensílios e do desenvolvimento de técnicas que possibilitaram uma conseqüente produção excedente, as formas de produzir, fundamentadas nos princípios da coletividade referidos no parágrafo ante- ________________________ rior, foram paulatinamente abandonadas. Produzir em quantidade maior do que se ________________________ pode consumir, implicou o desenvolvimento da relação mercantil e de muitos dos as- ________________________ pectos que posteriormente a acompanharão: a divisão social do trabalho, apropriação ________________________ de produtos baseada na propriedade privada... O período seguinte, o arcaico (séculos VII e VI a.C.), caracterizou-se, principalmente, pelo desenvolvimento das pólis gregas, ou as denominadas cidades-Estado. As pólis possuíam uma economia monetária bem definida: cunharam moedas que eram usadas na troca de produtos e que representavam a garantia de autonomia econômica e política, autonomia esta que num primeiro momento, esteve pautada em princípios oligárquicos, mas que também contribuiu para o desenvolvimento da noção de cidadania e de democracia. [...] implicados na vida da pólis, o homem grego tornava-se capaz de transpor para o pensamento as várias instâncias presentes em sua vida: tornava-se capaz de reconhecer como distintos o próprio homem, a sociedade, a natureza, o divino; tornava-se capaz de refletir no conhecimento que produzia abstrações que, cada vez, marcavam as várias instâncias de sua vida (ANDERY et al, 2006, p. 35).
Está evidente, no trecho acima, que a nova configuração política e econômica, ocasionou uma nova organização social, na qual a narrativa mítica não era mais predominante e que, a partir do século VI a.C., provocou o surgimento de tentativas para explicar racionalmente o mundo, que culminaram no que ficou conhecido como o pensamento primordialmente sistematizado pelos gregos. Em contraponto à narrativa mítica surge o pensamento racional. A razão - ou
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logos, em seu sentido original - possui dois significados etimológicos: por um lado, reunir, ligar e, por outro, calcular, medir. Nos dois significados está claro que ambos relacionam-se com o pensar, capacidade intrínseca e atividade fundamental do ser humano. Razão, para os gregos, opõe-se ao ilusório e ao conhecimento que é dado pelo sentido; o conhecimento racional é aquele que faz ultrapassar as aparências e alcançar a realidade:
O conhecimento racional opõe-se ao mítico, pois é um conhecimento sobre o qual se problematiza, não simplesmente se crê; um conhecimento no qual a explicação demonstrada por meio da discussão, da exposição clara de argumentos [...] um conhecimento em que as explicações deixam de ser frutos da ação de seres sobrenaturais e divinos que agem a despeito do próprio homem, para se tornarem explicações baseadas em mecanismos imanentes à natureza ou ao próprio homem em sua ação sobre a natureza (ANDERY et al, 2006, p. 21).
Fundamentada nessas bases, nasce a Filosofia, uma nova forma de ver/perceber o mundo.
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A FILOSOFIA Vamos colocar nossa máquina do tempo para funcionar...
Zás! Chegamos num período que é considerado, até os dias atuais, como um divisor de águas no que se refere à maneira como as sociedades produziam conhecimento: o período em que surgiu a Filosofia. Temos como o primeiro filósofo importante Sócrates, mas antes dele, no âmago da sociedade grega que se ergue entre os séculos VII e V a.C., vários outros buscaram explicar racionalmente a natureza. Dentre eles, temos:
Anaxímenes, um dos primeiros a pensar o homem a partir da sua composição química e que tenta explicar a questão da vida e o que a compõe. Pitágoras, que traz a noção de número; de harmonia, no sentido da música, mas que se desloca para ajudar na compreensão do universo; e a noção de alma, como elemento que garante a vida;
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po da Astronomia, da Geometria e da Matemática.
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Tales e Anaximandro, que se preocuparam em desenvolver conhecimentos no cam-
A noção de número introduzida por Pitágoras fez com que o pensamento racional alcançasse um maior poder de abstração, pois permitiu que os gregos pudessem ir além dos elementos sensíveis e compreendessem o que é fundamental na natureza. Por se caracterizar como elemento não sensível (isto é originado pela abstração), a noção de número implicou na valorização da razão (logos) no processo de produção do conhecimento. Ainda no século V a.C., a Grécia entra em guerra com a Pérsia. O cenário das investigações filosóficas divide-se. Um deles passa a ser Éfeso (Grécia asiática) e o outro Eléia, no sul da Itália. Geograficamente opostas, estas regiões simbolizam as duas direções contrárias que a filosofia tomará, nos séculos seguintes. Essas direções têm o mesmo ponto de partida: o questionamento acerca da existência de “um princípio único que explique o mundo em seus diversos aspectos” (ABRÃO, 1999, p. 31). Originários de Éfeso e Eléia, dois grandes pensadores pré-socráticos merecem destaque, pois além de suas relevantes contribuições para esta questão filosófica/ científica, tornaram mais convincentes os argumentos de um dos principais sistemas filosóficos na antiguidade. Estamos nos referindo a Parmênides e Heráclito. Você já ouviu falar neles? Por conta do seu pensamento (exposto num poema filosófico intitulado Sobre a Natureza2, à Parmênides de Eléia (530 a.C. - 460 a.C.) é atribuído o próprio surgimento da ontologia; porque não se contentava com a aparência das coisas (busca da essência), Parmênides inaugura a metafísica e a lógica. Por sua vez, Heráclito de Éfeso (540 a. C - 470 a.C) foi quem problematizou o dinamismo da physis (natureza), já percebido anteriormente por Tales e Anaximandro. Heráclito acreditava que tudo é mutável. Ele exemplifica esta afirmação dizendo que nenhuma pessoa pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque, na segunda vez, não serão as mesmas águas e a pessoa mesma já será diferente. Parmênides afirmava que toda a mutação é ilusória, ou seja, que nada é mutável. As palavras a seguir expressam o seu pensamento: Indícios existem, bem muitos, de que ingênito sendo, é também imperecível, pois é todo inteiro, inabalável e sem fim.
No ano de 479 V a.C. Atenas venceu a guerra contra a Pérsia. Esta vitória marca a consolidação da democracia na cidade. Andery et al (2006) sinaliza que nesse contexto de crescente participação política, tornou-se necessário formar cidadãos aptos à 2 Este poema está dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião (dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza.
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vida pública. A filosofia torna-se um instrumento de educação nas mãos de um grupo de sábios, os sofistas3. Exímios argumentadores, para eles bastava que seus discípulos aprendessem a falar e a convencer sua platéia com seu discurso. Por serem estrangeiros, e, assim, excluídos da condição de cidadãos, não se preocupavam com o destino das cidades nem o que a argumentação podia ter de injusto ou imoral. Aliás, justeza e moralidade pouco importavam para eles. Por isso, eram considerados por muitos representantes da filosofia como inimigos, mercenários da arte do bem falar. Um aspecto, entretanto, depõe em benefício dos sofistas e não pode ser desconsiderado: para alguns historiadores da filosofia, a exemplo de Abrão (1999), foram os primeiros a se convencerem (e a defenderem!) que as verdades e os valores são instáveis e relativos. A afirmação de Protágoras (485-410 a.C.), considerado o primeiro sofista, expressa muito bem o pensamento deste grupo:
O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são, e das que não são, enquanto não são.
Você pode estar pensando com seus botões: Muito interessante, mas qual a importância que isso pode ter? Por mais que pareça óbvio e irrelevante para os dias
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atuais, isso significou dizer que o que estabelece uma verdade, por exemplo, é o contexto no qual ela surge. Para a época, essa percepção, sem sombra de dúvida, era muito inovadora. Então, a filosofia passa a se ocupar das questões propriamente humanas (como a linguagem, importante ferramenta do homem para exercer a democracia, na qual diferenças sociais e econômicas não contam), se afasta das investigações dos pré-socráticos acerca da natureza e do universo. Após a vitória sobre os persas, Atenas se tornou uma grande potência, estendendo sua influência por quase toda a Grécia. É neste clima de apogeu da civilização grega que viveu Sócrates (469-399 a.C. aproximadamente). Você já deve ter ouvido falar sobre ele, mas, pela importância que teve para a filosofia, e, conseqüentemente, para a ciência, vamos conhecer, agora, mais detalhes da sua história.
OS FILÓSOFOS E A CIÊNCIA Sócrates nasceu em Atenas, em uma família que não pertencia à aristocracia da pólis. Seu pai era pedreiro e sua mãe, uma parteira. Alguns autores dizem que seu pai era escultor, mas, como veremos adiante, esta não é a única nem a principal controvérsia de sua biografia. Apontado pelo Oráculo de Delfos como o homem mais sábio do mundo, Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada a sua própria ignorância - nosce te ipsum -, que traduzida diz “só sei que nada sei”. Existe a suspeita de que Sócrates nunca existiu e que o pensamento a ele atri3 O sentido original da palavra sofista é sábio.
Mas, alguns estudiosos como Jaeger (2001), interpretam o fato de Sócrates nunca ter escrito uma só linha como parte do seu compromisso com o método por ele proposto, a maiêutica, que exigia um autoconhecimento provocado por meio do diálogo constante e da troca de idéias. Dizia ele: Conhece-te a ti mesmo.
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pensadores para disseminar suas próprias idéias.
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buído, sua história e sua morte se configuram como alegorias utilizadas por outros
Observemos um trecho do diálogo que trava com Trasímaco:
— E então, Trasímaco? - repliquei – Não repara que os restantes cargos, ninguém quer exercê-los por sua vontade, mas exigem um salário, pensando que, do seu exercício, nenhum proveito pessoal lhes advirá, mas sim para seus súditos? E depois, diz-me: afirmamos nós sempre que cada uma das artes se diferencia das outras pelo fato de ter uma polêmica específica? [...] — Diferenciam-se por isso, sim. — E não é verdade que cada uma das artes nos proporciona qualquer vantagem específica, e não comum, como a da medicina, a saúde, a do piloto, a segurança de navegação, e assim por diante? — Exatamente. — Portanto, também a arte dos lucros tem o seu salário? Pois é esse o efeito que lhe é
________________________ ________________________ — Certamente que não. ________________________ — Nem chamarás assim à arte de lucros, segundo julgo, se alguém ficar são ao exercer uma ________________________ profissão lucrativa? ________________________ ________________________ — Com certeza que não. ________________________ — E então, chamarás à medicina arte dos lucros se alguém, ao curar uma pessoa, ganhar ________________________ um salário? ________________________ — Não. ________________________ ________________________ — Acaso não concordamos que há uma vantagem peculiar a cada arte? ________________________ — Seja. ________________________ — Se há uma vantagem de que gozam todos os artífices, em comum, é manifesto que ________________________ devem empregar alguma faculdade adicional, comum a todos, e daí derivarem a vantagem. ________________________ ________________________ — Assim parece. ________________________ — Ora nós afirmamos que a vantagem dos artífices, quando ganham um salário, lhes ________________________ advém de empregarem uma faculdade adicional à arte dos lucros. ________________________ Concordou a custo. ________________________ Fonte: Trecho extraído da obra “A República”, de Platão. ________________________ ________________________ Como você pode perceber, através da maiêutica, Sócrates apenas questiona. ________________________ Não se propõe a ensinar, quer aprender e, por isso, seu pensamento parece desprovido ________________________ de conteúdo. Contudo, quando põe em questionamento as verdades dos que com ele ________________________ peculiar. Ou dás a mesma designação à arte de curar e à arte de pilotar? [...]
dialogam, acaba por demonstrar que o pensamento deve ser prudente.
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Sócrates opunha-se radicalmente ao relativismo dos sofistas e também duvidava da idéia destes de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Para o filósofo ateniense existiam valores e virtudes permanentes, que precisavam ser conhecidos e seguidos em defesa do bem comum e não somente de alguns: [...] o conhecimento das virtudes humanas, como a coragem, a justiça, dependia, para Sócrates, do conhecimento da Virtude, do Bem. E isso era visto como algo imutável e universal [...]. O conhecimento era, portanto, visto como mecanismo de aprimoramento do homem e da sociedade, e, para Sócrates, o conhecimento era autoconhecimento, porque os homens já traziam em sua alma, necessitando apenas descobri-lo pelo esforço da busca de si mesmo (ANDERY et al, 2006, p. 63).
Através da utilização do seu método, Sócrates ganhou muitos seguidores. Foi acusado, entretanto, de corromper a mente dos jovens atenienses e por isso, foi condenado a escolher entre o exílio e a morte. Todos esperavam que ele fugisse da cidade, mas optou pela morte.
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Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:David_-_The_Death_of_Socrates.jpg
Sua morte foi drástica, mas foi bela, quem sabe se não uma metáfora para a decadência da democracia e da própria Atenas, que chegava a mais um momento de conflito: a guerra do Peloponeso. A tela de Jacques David (1787), intitulada ‘ A morte de Sócrates ‘, retrata esse momento. Nem o carcereiro, que representava as pessoas que o condenaram, parecia convencido de que aquela morte era necessária e era possível. Após a sua morte, os seus discípulos, dentre eles Platão, deram continuidade ao trabalho que ele começou. Mas a importância do pensamento socrático deve-se não só pelo fato de ter influenciado os pensadores que o sucederam (Aristóteles, inclusive, destaca que é Sócrates que introduz a questão dos conceitos universais e da indução, que fizeram parte da ciência até a Idade Média). Está, sobretudo, em ter sido capaz de fazer com que a visão naturalista de homem fosse complementada por uma visão ética do homem, ética esta que é transformada em conhecimento rigoroso.
Quer saber a história de Sócrates, considerado o pai da filosofia? Acesse o endereço eletrônico a seguir: Disponível em: http://www.acessasp.sp.gov.br/blog/index.php?itemid=240;
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DICA!!!
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Platão nasceu em Atenas, mas diferente de seu mestre, filho de uma família aristocrática. Elaborou uma vasta obra escrita que, além do imenso valor literário, tem inenarrável importância para a filosofia e a ciência. Como seu mestre, atribuía ao diálogo um estatuto metodológico, pois através dele era permitido demonstrar que o conhecimento — resultado da reflexão do homem consigo mesmo — “para ser atingido [dependia] da argumentação e da discussão que eram formas de se validar cada passo da reflexão” (ANDERY et al, 2006, p. 67). Assim se configurou a sua dialética. Dentre os discípulos de Sócrates, Platão é o que mais ganhou destaque, pois além de consolidar uma imagem definitiva de Sócrates, apresentando toda a originalidade de seu pensamento, elaborou um sistema filosófico que articulava princípios opostos: o de Heráclito, que afirma que tudo é mutável, e o de Parmênides, afirmando que nada se modifica e que o movimento não existe. Platão conseguiu dissolver essa tensão a partir da compreensão de que a realidade que nos cerca está dividida em dois mundos: o inteligível, no qual o conceito não pode ser mudado (este é também conhecido como o das idéias), e o outro, o mundo sensível, no qual é possível a mutabilidade. Para Platão, os conceitos universais e a Verdade estão no mundo inteligível, acessível a todos, mas não sai de lá... como ele próprio afirmava, o que existe no mundo concreto, ou sensível, é uma pálida reprodução do mundo das idéias. Ele explica a existência desses dois mundos, através do mito da caverna, conhecido também como alegoria da caverna.
DICA!!! Você quer conhecer o mito da caverna, de Platão? Então, leia o livro VII, da obra “A República”, de Platão. O texto está disponível na internet, como por exemplo, no endereço eletrônico a seguir: Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/caverna.htm http://educaterra.terra.com.br/ voltaire/cultura/caverna.htm
Platão indica que para encontrar a Verdade e o conhecimento é preciso afastarse da vida prática dos homens, desviando o olhar para um outro lugar, fazendo dela teoria de contemplação (theoría). E é nessas bases que funda a sua Academia, nos arredores de Atenas.
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O detalhe da tela pintada por Rafaello Sanzio, no período renascentista, ao lado, traz Platão apontando para o céu com o indicador, falando do conceito absoluto.
Detalhe de obra do período renascentista Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Sanzio_01_Plato_Aristotle.jpg
Ampliando a imagem e trazendo outros elementos da tela produzida por Rafaello, se vê Platão apontando para o céu e, ao seu lado, Aristóteles, seu mais ilustre discípulo, fazendo um gesto como se dissesse: você está enganado, a realidade e o conhecimento só podem existir a partir do mundo prático.
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É nesse ponto que Aristóteles discorda de Platão e vai dizer que o sistema organizado por ele é um equívoco muito forte, porque a separação entre mundo inteligível e mundo sensível não existe, e o conhecimento só é válido a partir da nossa experiência concreta. Esse é o princípio do pensamento aristotélico presente na frase a seguir:
O que está além da nossa experiência sensível não pode ser nada para nós.
Na mão esquerda, Platão segura o Timeu, um tratado teórico na forma de um diálogo socrático, que apresenta especulações sobre a natureza do mundo físico, enquanto Aristóteles segura sua obra Ética a Nicômaco, na qual expõe sua concepção teleológica4 de racionalidade prática, a concepção da virtude e as considerações sobre o papel da prudência e do hábito na Ética. Aristóteles nasceu em Estagira, cidade grega sob o domínio macedônico, e foi o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. Ao contrário de seu mestre Platão, que fazia essa distinção entre mundo inteligível e sensível, ele defendia a existência de um único mundo. A partição do pensamento filosófico entre platônico, de um lado, e o aristótelico do outro, inaugurou uma tensão que perpassou a produção do conhecimento e da ciência na Idade Antiga, passou pela Idade Média, chegou na Idade Moderna e na Contemporaneidade como as duas principais correntes epistemológicas, que se tem na Filosofia e na Ciência: o Racionalismo e o Empirismo. 4 Doutrina que estuda os fins últimos da sociedade, da humanidade e da natureza.
mas esta história já está longa demais e você deve estar cansado. Por isso, continuamos no próximo texto. Até lá!
SÍNTESE
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se desenvolvesse e dominasse o mundo ocidental por aproximadamente 11 séculos...
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Também, forneceu as bases para que o pensamento teológico/religioso cristão
Nesse texto apresentamos a contribuição do mito e da filosofia para a compreensão do mundo e a produção da ciência.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Para você, a construção do conhecimento pelo sujeito parte, como afirma Platão, da reflexão teórica ou, como destaca Aristóteles, da experiência concreta? Tente refletir sobre sua resposta...
LEITURAS INDICADAS Sugerimos a leitura do capítulo 3 “Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica”, de Maria Amélia Andery.
REFERÊNCIAS ABRÃO, Bernadette Siqueira. História dos pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Nova Cultural).
A MÁQUINA do Tempo. The time machine (título original). Direção e Roteiro: George Pal. Elenco Rod Taylor, Alan Young, Yvette Mimieux, Sebastian Cabot, Tom Helmore. Ficção Científica, 103 min, Estados Unidos/Inglaterra: Warner Home Video, Dolby Digital Stereo, Color., 1960.
ANDERY, Maria Amélia et. al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 15. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PLATÃO. A república. Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2003.
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Você acorda de manhã às 6h, come, toma banho e se arruma para sair; sabe que tem que chegar ao ponto de ônibus umas 6h50min, então se apressa e sai de casa às 6h45min; chega no ponto e toma o ônibus das 6h55min; às 7h20min chega na univer-
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Autor: André Santanchè
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Método Científico
sidade. Todos os dias da semana são assim, com variações menores para mais e para menos, e então perguntamos: como você consegue? Provavelmente você dará uma explicação mais ou menos assim:
— Depois de algum tempo aprendi que levo mais ou menos quarenta minutos para sair de casa depois que acordo, digamos que são uns vinte minutos para tomar banho e me arrumar, mais outros quinze a vinte minutos para tomar café, escovar os dentes e sair. O ônibus leva uns vinte e cinco minutos para chegar à universidade. Tem um que passa entre 6h50min e 7h05min. Se eu conseguir pegar esse, chego no horário, senão, é na base da sorte. O ônibus seguinte pode chegar 7h10min, mas costuma chegar entre 7h15min e 7h2min e daí chego atrasado na certa. Por este motivo, acordo às 6h e tento me aprontar em menos de quarenta minutos. Assim terei uma margem de segurança para chegar no horário.
Esta explicação parece bastante razoável e fundamentada em uma experiência sólida. As previsões são mais ou menos acertadas, uma vez que você acorda às 6h e consegue regularmente chegar no horário à universidade. A pergunta seguinte é: este é um conhecimento científico? Aqui apresentaremos o que é considerado por pesquisadores e pensadores uma característica distintiva da ciência em relação a outras formas de conhecimento: o método científico. Historicamente diversos cientistas e filósofos fizeram análises e críticas ao que chamamos de método científico. Muitas destas propostas atuam sobre aspectos diferentes do método e, em muitos casos, de forma complementar. Salvatore D’Onofrio (1999) faz, no capítulo 2 do seu livro, uma síntese interessante das diferentes perspectivas do método na história, iniciando com Pitágoras, há mais de quinhentos anos antes de Cristo; passando pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles; seguindo por René Descartes e Francis Bacon; e alcançando os pensadores mais modernos. O que apresentaremos aqui é a nossa perspectiva em relação ao método. Note que esta é apenas uma sistematização de ideias, ou seja, uma perspectiva particular, ordenada da maneira que apresentamos, para que você compreenda como se processa o método científico. Não é uma seqüencia rígida seguida por todos os cientistas e nem mesmo a única perspectiva para o método. A sistematização que fizemos para apresentar o método científico está apresentada na Figura 1 e traz idéias principalmente da sistematização feita por Bunge (2008)
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e é retomado e debatido por Marconi e Lakatos (2005). Recomendamos a leitura do capítulo 4 de Marconi e Lakatos (2005) para um aprofundamento sobre aspectos do método científico tratados neste tópico. A Figura 1 mostra um segmento do mapa conceitual desta disciplina ilustrando a nossa perspectiva sobre o ciclo de eventos que compõem o método científico. Para facilitar a compreensão dos eventos, os ordenamos em certa seqüencia de apresentação. Tal seqüencia não é necessariamente aquela em que acontecem os eventos no método científico, por dois principais motivos: primeiro porque, em muitos casos, ele não acontece nesta ordem e segundo porque estes eventos podem acontecer em paralelo ou se repetirem mais de uma vez se intercalando.
Figura 1. Mapa conceitual da nossa perspectiva de Método Científico.
________________________ ________________________ Cada um destes eventos será detalhado em um capítulo específico, no qual ________________________ apresentaremos o respectivo segmento deste mapa conceitual para você se orientar. ________________________ A seguir apresentamos uma síntese de cada um dos eventos: ________________________ Formulação do Problema: envolve o levantamento de dados, percepção de lacunas ________________________ no conhecimento e formulação do problema a ser pesquisado, geralmente na forma de ________________________ uma questão a ser respondida ou validada nas etapas subsequentes. ________________________ Pesquisa de Dados e Conhecimentos: compreende a busca por dados relevantes re________________________ lacionados ao problema em questão, como também a pesquisa de teorias e outras pes________________________ quisas ligadas ao mesmo; aqui se faz mais presente a revisão da literatura relacionada. ________________________ Construção de um Modelo Teórico: a partir dos dados coletados e analisados, este ________________________ evento consiste na formulação de uma ou mais hipóteses que de forma genérica expli________________________ quem o comportamento do que foi observado. ________________________ ________________________ Prova da Solução: as hipóteses formuladas são comprovadas e validadas de forma sistematizada. ________________________ ________________________ Apresentação de Resultados: os resultados alcançados são sistematizados, analisa________________________ dos e sintetizados para a apresentação para o público. ________________________ ________________________ Referências ________________________ ________________________ BUNGE, Mario. La ciencia: su método y su filosofia. Disponível em: <http://www.dcc.uchile. ________________________ cl/~cgutierr/cursos/INV/bunge_ciencia.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2008. p. 41-43. ________________________ ________________________ D’ONOFRIO, Salvatore. Metodologia do trabalho intelectual. São Paulo: Atlas, 1999. p. 26-39.
VANCLEAVE, Janice. Janice VanCleave’s guide to the best science fair projects. New York: John Wiley & Sons, Inc., 1997.
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São Paulo: Atlas, 2009. p. 83-85.
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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed.
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a escolha do tema e a FORMULAÇÃO do Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas “Saibamos honrar os problemas...”
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problema
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(GOETHE, 2003)
Olá,
A formulação de um problema parece talvez a etapa mais simples, mas, ao contrário, é uma etapa crítica na pesquisa. Formular corretamente o problema, de forma clara, simples e objetiva pode ser determinante no sucesso da pesquisa. Por este motivo, já ouvimos mais de uma vez a afirmação de que um problema bem definido é a metade do caminho para a solução. Neste texto apresentaremos os aspectos necessários para esta formulação. Vamos lá!
encontrando um problema de pesquisa Não estamos certos de que possamos lhe orientar em um procedimento específico para encontrar um problema de pesquisa, pois existem várias maneiras de se encontrar um problema e elas estão intimamente relacionadas com o contexto do pesquisador, mas um ponto é indiscutível: ele sempre nasce de uma inquietação que o pesquisador possui com relação a algo que não compreende (ou conhece) o tanto quanto gostaria ou a uma busca encontrar uma solução eficaz para algo, como encontrar um combustível menos poluente ou mais eficiente, quais os produtos que substituem o açúcar e não têm calorias. O mais interessante é que, não necessariamente, um problema científico está passível de surgir no âmbito de um laboratório secreto (como temos a impressão quando assistimos a programas de TV ou filmes de ficção científica); ele pode surgir, e certamente surgirá, dentro do próprio ambiente em que o pesquisador está inserido, quer seja na organização que estuda ou na empresa em que trabalha.
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Muitos problemas são identificados a partir da ação coletiva da ciência. Pesquisadores compartilham os resultados de suas pesquisas e nesse processo, novos problemas despontam como conseqüência de resultados encontrados em outras pesquisas; lacunas são identificadas; muitas vezes surgem discordâncias entre pesquisadores que atuam sobre o mesmo problema em perspectivas diferentes. No campo da ciência, os problemas são compreendidos a partir da coleta, sistematização e análise dos dados. Como veremos na próxima etapa, a ciência pode ser entendida como uma busca por padrões. Por este motivo, o problema pode ser resultante justamente da percepção de um padrão de ocorrência ou comportamento. Isaac Newton percebeu um padrão na forma como os corpos se comportam em queda-livre para então elaborar sua teoria em torno da gravidade; biólogos estão, o tempo todo, atrás de padrões na classificação dos seres vivos, seu comportamento e a relação entre eles (o que há por trás destas classificações senão a percepção de padrões: mamíferos têm pelos, aves põem ovos etc.). Como o método científico é um ciclo, significa também que os resultados alcançados por uma pesquisa irão produzir novos problemas de pesquisa. Isto porque as fronteiras da ciência estão em constante crescimento. Para se formular um problema é preciso encontrá-lo. Não existe uma receita exata e um método único para se encontrar um problema. Buscar um problema é buscar uma lacuna em uma área do conhecimento de seu interesse, transformando-a em
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um objeto de estudo. Você deve estar pensando nesse momento: “Certo, concordo... mas como fazer isso?”. Marconi e Lakatos (2005, p. 161) definem problema como “uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância para a qual se deve encontrar uma solução.” O primeiro passo para chegarmos à formulação de um problema científico, idéia central da investigação, é a escolha do tema, que deve ser claro e preciso. Escolher um tema pode parecer fácil, mas não se engane, pois indiscutivelmente não é! Por isso mesmo, é imprescindível que o pesquisador dedique tempo suficiente para realizar esta etapa. Podemos considerar o comportamento humano um tema de pesquisa? Não! E sabe por quê? Porque embora este seja um assunto que interesse muitos profissionais, principalmente das áreas da Psicologia e da Publicidade, por exemplo, ele não se apresenta com a devida exatidão. Para a escolha e a delimitação de um tema de pesquisa devemos organizar nossas idéias como se elas percorressem um caminho que se estreita a cada passo, isto é, criar um foco. Observe o esquema:
Educação e Biologia são alguns exemplos de área do conhecimento e vale lembrar que podemos realizar estudos sobre comportamento em qualquer área) e o tópico específico que, a depender do interesse e da aptidão do pesquisador, vai ser focado (no âmbito dessa área do conhecimento, o comportamento do consumidor), isto é, é necessário que ele faça aquilo que se costumou chamar de “recorte do objeto” e
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ado entre uma vasta área do conhecimento (Administração, Psicologia, Antropologia,
introdução ao trabalho
Como você pode perceber, o comportamento é um ponto de investigação situ-
explicite o que está incluído e o que fica de fora da sua pesquisa. Uma perspectiva de se tratar um problema é encará-lo como a relação entre duas ou mais variáveis (ALVES-MAZZOTT; GEWANDSZNAJDER, 2002, p. 149), (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 162). Por exemplo, qual a relação entre o “hábito de fumar” (variável 1) e o “câncer no pulmão” (variável 2). Uma recomendação útil para a caracterização de um problema é colocá-lo na forma de uma pergunta. Isto nos permite pensar na pesquisa como a busca para uma resposta à pergunta formulada. A fim de diferenciar problemas bem caracterizados daqueles que não são tão bem caracterizados, vamos a alguns exemplos práticos. No primeiro, apresentaremos as etapas para a composição de um problema para a ciência experimental; no segundo, focaremos a sua delimitação através da perspectiva mais frequentemente utilizada nas Ciências Humanas.
A questão do ônibus Primeira tentativa de caracterização do problema: Chegarei no horário ao trabalho? Esta caracterização está demasiadamente imprecisa; não dá para saber: Quais as condições a partir das quais eu pretendo saber se chegarei no horário ao trabalho? A que “horário” eu me refiro no problema?
Vamos tentar melhorar a caracterização para: Qual o horário máximo em que devo acordar para que consiga chegar ao trabalho às 8h no máximo?
Está bem melhor assim, mas ainda está parecendo um problema pessoal. É conveniente generalizá-lo para: Qual o horário que uma pessoa adulta deve acordar para que consiga chegar ao trabalho às 8h no máximo?
Uma orientação muito importante é que você deve aprender a limitar o problema da sua pesquisa. Do jeito que está caracterizado, estão inclusas quaisquer locali-
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dades, quaisquer meios de transporte e qualquer tipo de pessoa adulta. Isto produzirá uma infinidade de possibilidades, impossibilitando a pesquisa. Podemos então partir para: Qual o horário máximo em que um adulto saudável, com no máximo sessenta anos de idade deve acordar para que consiga, saindo do local X, chegar ao local Y de ônibus às 8h no máximo?
Bem melhor assim. Mas uma análise detalhada mostrará que ainda há aspectos imprecisos. No entanto, não tentaremos avançar na caracterização deste problema. Por quê? Porque em toda a caracterização você deve perceber o ponto em que irá parar. Qualquer definição de problema sempre possuirá aspectos subjetivos, pois ele trata de abstrações (tratamos a questão da abstração em mais detalhes aqui). Nosso propósito não é eliminar toda a subjetividade (porque isso não será possível!), mas minimizá-la. Abstração A importância deste tópico pode ser resumida nesta afirmação: a ciência trata o real através de abstrações. Ainda hoje me recordo de uma aula que tivemos no laboratório de física, na qual o professor solicitou que utilizássemos um paquímetro para realizar sucessivas medições no diâmetro de uma esfera metálica. A esfera era um daqueles rolamentos de alta precisão.
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Imaginei que seria uma tarefa inútil, porque todas as medidas resultariam no mesmo valor. Mas fiquei surpreso ao perceber que, mesmo tendo feito dezenas de medições, nenhuma delas resultava no mesmo valor. O que aprendi deste experimento? Que o mundo real é incrivelmente complexo. Ao contrário dos nossos modelos, não existem esferas de forma exata, chão perfeitamente plano, espaço com atrito constante para a queda de um corpo etc. Então, o que concluímos? Que a física que aprendemos na escola é inútil porque trata de um modelo que não tem paralelo no mundo real? Aí entra a questão da abstração. Vamos consultar a excelente definição do dicionário Aurélio (2004) sobre o verbete abstração: “Ato de separar mentalmente um ou mais elementos de uma totalidade complexa (coisa, representação, fato), os quais só mentalmente podem subsistir fora dessa totalidade”. O ato da abstração implica separar alguns elementos de uma totalidade complexa; geralmente os mais significativos para o contexto em que a abstração é utilizada. Um problema de física no qual adotamos esferas perfeitas, com pesos e medidas exatos, desconsiderando atrito, vento etc. é uma abstração da realidade. Para que serve então uma abstração? Posso lhe dar dois bons motivos. Em primeiro lugar, como a realidade é incrivelmente (senão infinitamente) complexa, tornase impossível tratar mentalmente tal realidade, em um tempo finito e de forma prática sem apelar para abstrações. Em segundo lugar, os nossos instrumentos de representação e tratamento de dados e o nosso próprio cérebro são finitos. Torna-se impossível lidar com a complexidade do mundo real senão através de abstrações. É importante lembrar que cada abstração despreza alguns aspectos da totalidade complexa que representa.
sam de uma solução, mas muitos deles não exigem uma pesquisa científica. Por exemplo, se o nosso problema fosse:
Qual é o primeiro ônibus do dia X que sai da local Y para o local Z?
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problema que possa ser resolvido experimentalmente. Existem problemas que preci-
introdução ao trabalho
Janice VanCleave (1996) dá uma orientação importante: procure um tipo de
Este não é um problema que exige qualquer tipo de experimentação, basta uma consulta em algum órgão oficial ou companhia de ônibus responsável pela montagem da programação dos ônibus. Todo o avanço da ciência começa a partir dos problemas. Então vamos tomar alguns exemplos como ponto de partida. Como sabemos que existem vários tipos de leitores, com interesses diversos, tentaremos tratar de exemplos diversificados. Utilizaremos exemplos mais clássicos de ciência associados à física, por exemplo. Mas também traremos exemplos na área das ciências sociais. Isso será importante para que você, que não estuda ciências exatas, entenda que a ciência não está restrita aos sujeitos que trabalham dentro dos laboratórios fazendo experimentos físicos ou químicos. Começaremos com um exemplo de física e depois um exemplo em ciências sociais. Ambos os exemplos tratam as mesmas questões, mas sugerimos que você leia ambos, porque eles se enriquecem mutuamente.
O Problema da Queda Livre Nosso primeiro problema não é novo. Vamos tentar refazer a rota de grandes cientistas. A questão é a seguinte: desde criança observamos que qualquer corpo cai em direção ao chão quando o soltamos, exceto, é claro, aqueles balões que flutuam (até hoje eu espero um que se perdeu no céu quando eu era criança :-) ). Vamos deixar convenientemente a questão dos balões que flutuam de lado e nos concentrar nos corpos que caem. Novamente tentaremos formular um problema de pesquisa. Vou repetir o mesmo caminho de antes. Como formularemos um problema cuja solução já foi extensamente pesquisada na ciência, vamos imaginar que estamos nos deslocando no tempo, para antes de qualquer especulação sobre a ação da gravidade sobre os corpos. Iniciaremos com a seguinte tentativa: Por que os objetos caem?
Genérico e subjetivo demais. O que procuramos? Uma força, um princípio? Como vamos experimentar e provar o que queremos?
Tentativa de aperfeiçoamento: Como a força da gravidade faz os objetos caírem?
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Existe um risco ao se definir um problema desta maneira: misturar o problema que pesquisamos com alguma hipótese sobre as causas do problema. Por exemplo, considerando que estamos em uma época em que ainda não sabemos se existe uma força da gravidade que atua sobre os corpos, então assumir isto como existente no tratamento do nosso problema é arriscado. Tentaremos utilizar outro exemplo para esclarecer nosso ponto aqui: suponha que um pesquisador tenha constatado um índice elevado de mortes numa certa cidade do interior do Brasil. Então ele resolve fazer uma pesquisa para entender o que está elevando o índice de mortalidade. Considere que o pesquisador está ainda no início da pesquisa, ainda não visitou a cidade, nem coletou dados específicos. Sua formulação do problema poderia ser assim: Por que a Dengue aumentou o índice de mortalidade na cidade X?
Se o pesquisador não tem nenhum elemento ainda, considerar a priori que a Dengue está causando estas mortes significa descartar outras causas que ainda não foram verificadas, como a desnutrição, por exemplo. Então não é adequado em um primeiro momento estabelecer a Dengue como parte do problema. Se estivermos interessados em uma investigação da Dengue, é imprescindível que ela seja apresentada como parte da pergunta, que vai ser respondida a partir da pesquisa: O Aparecimento da Dengue favoreceu o aumento do índice de mortalidade na cidade X, no
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período Y?
Voltando ao nosso problema dos corpos que caem, é importante o cuidado em saber limitar o problema. Ainda que definir as causas que fazem um corpo cair seja legitimamente um problema de pesquisa científica, trata-se de um problema bastante amplo. Em 1637, René Descartes ao escrever o seu Discurso do Método (DESCARTES, 1903) já propunha em seu método cartesiano que um problema deve ser dividido em quantas partes for possível; cada parte é então tratada individualmente e o conhecimento obtido pelas partes é depois combinado em um conhecimento mais complexo.
Retrato de René Descartes Autor: Frans Hals Museu do Louvre, Paris (veja reprodução na Wikipedia)
(1) “nunca aceitar como verdadeiro nada que eu não saiba claramente que o seja” 1; (2) “dividir cada um dos problemas examinados em tantas partes quanto possível e necessárias para a sua solução adequada” 2; (3) iniciar obtendo o conhecimento dos objetos mais simples e, gradualmente,
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no qual propõe um método com quatro preceitos:
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René Descartes escreveu em 1637 o clássico Discurso do Método (DESCARTES, 1963),
associá-los para se obter conhecimentos mais complexos; (4) “em cada caso fazer enumerações tão completas, e inspeções tão gerais, que eu possa estar seguro de que nada foi omitido” 3. Os preceitos de Descartes refletem a forma como a ciência atua, e devem lhe servir sob dois aspectos: primeiro na forma como você vai conduzir a sua pesquisa, que possivelmente também será dividida em pedaços menores de estudo, segundo na formulação do seu problema, na medida em que você toma consciência de que seu problema é parte de um esforço maior (um problema maior) e que a sua pesquisa contribuirá com um bloco do edifício. A questão é dimensionar corretamente o bloco. Como seu tempo e os recursos são limitados, você deve aprender a ser comedido. Então, o nosso problema pode ser formulado assim:
Considerando que soltemos um corpo qualquer em queda livre em uma altura A, quanto tempo ele leva para chegar na altura B?
Queremos agora retomar uma observação feita no início deste capítulo: que o problema pode ser visto como uma relação entre duas ou mais variáveis. Neste caso estamos interessados em relacionar a variável altura com a variável tempo. Castro (2006) indica que todo pesquisador deve considerar, no momento da escolha do tema, três critérios: Importância: no campo científico/acadêmico, um tema é considerado relevante quando está relacionado a uma questão que afeta um “segmento substancial das sociedades” ou, ainda, de uma questão teórica que esteja merecendo atenção continuada na literatura especializada; Originalidade: um tema é considerado original quando tem possibilidades de surpreender tanto àquele que o realiza, como àquele que se beneficiará dele. Acontece algo curioso com relação a esse critério: para ser original não basta que um determinado tema nunca tenha sido trabalhado anteriormente; se não fosse dessa maneira, não teríamos, a cada ano, incontáveis monografias, teses e dissertações que versam/discutem temáticas semelhantes; contudo, deve-se buscar focar a pesquisa nas frestas/brechas teóricas que os estudos antecedentes não desenvolveram. Por exemplo, já foram realizados incontáveis estudos que enfocaram a contribuição de Adam Smith para o campo da 1 Tradução para o português feita pelo autor de versão traduzida para o inglês: “never to accept anything for true which I did not clearly know to be such” (Descartes, 1903). 2 Tradução para o português feita pelo autor de versão traduzida para o inglês: “to divide each of the difficulties under examination into as many parts as possible, and as might be necessary for its adequate solution” (Descartes, 1903). 3 Tradução para o português feita pelo autor de versão traduzida para o inglês: “in every case to make enumerations so complete, and reviews so general, that I might be assured that nothing was omitted” (Descartes, 1903).
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administração, contudo, o pesquisador pode querer tomar como base as contribuições
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atuação profissional – e por isso, muito específica - que não foi tratada anteriormente
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desse economista para analisar uma questão que esteja relacionada a seu campo de por outros pesquisadores. Viabilidade: esse é o critério mais tangível para a escolha do tema, pois só é possível concluir a pesquisa, considerando recursos financeiros e humanos, prazos suficientes, tempo disponível para realização da pesquisa etc.
Assim, quando escolhemos um tema e definimos um problema a ser investigado com relação a esse tema, é necessário que, além do seu interesse, o pesquisador faça, a si mesmo, os seguintes questionamentos: Trata-se de um problema relevante? Ainda que seja “interessante”, é adequado para mim? Existem possibilidades reais e concretas para executar tal estudo? Por fim, existem recursos (financeiros, materiais, humanos, etc.) para o estudo?
Problemas em Ciências Sociais Já foram apresentados a você problemas que foram ou podem ser desenvolvidos, nos campos das Ciências Exatas e das Ciências da Saúde. Vamos agora, formular
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um problema no âmbito das Ciências Humanas. Suponhamos que um estudante de Ciências Sociais tenha que desenvolver um Trabalho de Conclusão de Curso, e, para isso, precise definir um tema para seu trabalho monográfico. Resolve dissertar sobre um tema atual, relevante para a área de conhecimento em que está se graduando: a violência. Vai para sua primeira reunião com o seu orientador e, ao ser questionado sobre o tema que desenvolverá no estudo, diz: “Bem, pretendo fazer um estudo sobre a violência”. Certamente, ao ouvir sua declaração, o orientador observará que seu tema está muito amplo, será necessário definir inúmeros aspectos, para que ele, o graduando, tenha condições de realizá-lo: qual o tipo de violência, qual o lugar que será definido campo de pesquisa, qual período será tomado como referência etc. Fazer esse recorte no momento da formulação do problema é muito importante quando se pretende fazer uma investigação científica no campo das Ciências Sociais e Humanas porque esta possui uma configuração bem diferente (principalmente porque o que mais importa não é uma busca por padrões ou por controle das variáveis) daquela que é produzida pelas Ciências Exatas. Considerando todos os aspectos que devem ser considerados no processo de formulação do problema, este estudante poderia tê-lo definido da seguinte maneira:
A presença e a ação da Polícia Comunitária favoreceram o aumento da violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI?
Bem, esperamos que esse texto tenha sido elucidativo para você. Por ora, fica-
Nesse texto discutimos aspectos relevantes acerca da escolha do tema e da formulação do problema de pesquisa. Dentre eles: estabelecer um problema com clare-
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Síntese
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mos por aqui, mas não esqueça que ainda nos encontraremos muitas e muitas vezes.
za e de forma objetiva é fundamental para a condução adequada de uma pesquisa; uma das formas de pensarmos em um problema é encarando-o através da relação entre duas ou mais variáveis; é importante delimitar o universo espacial e temporal do problema, bem como escolher problemas que possam ser tratados através de uma pesquisa. Nesse capítulo apresentamos vários exemplos práticos de definição de um problema e agora você está pronto para definir o seu e seguir para a próxima etapa, para a Pesquisa de Dados e Conhecimentos.
Até a próxima!
questão para Reflexão Diante de tudo que foi discutido nesse texto, sugerimos que você faça uma reflexão acerca das palavras do respeitado professor Cláudio Moura e Castro: “[....] uma escolha infeliz do tema torna a pesquisa inviável, metodologicamente insolvente ou irrelevante”; e tente delinear um problema que você gostaria de investigar em sua área de formação. Dentre as atividades que você fará neste curso está incluído o desenvolvimento de um projeto de pesquisa. Por esse motivo, acho conveniente que você tente, neste momento, definir o problema de sua pesquisa.
Leituras indicadas Para aqueles que querem mais orientações sobre como delimitar um problema no âmbito da ciência pode ser interessante a leitura:
dos capítulos 3 (De tópicos a perguntas) e 4 (De perguntas a problemas) do livro “A arte da pesquisa”, de Wayne C. Booth e outros autores (2005, p. 45). do capítulo 3 (A escolha do tema e o risco de um erro fatal), do livro “A prática da pesquisa” de Cláudio de Moura Castro.
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Referências ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
BOOTH, W. C.; COLOMB, G.G.; WILLIAMS, J. M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CASTRO, C. M. A prática da pesquisa. 2. ed., São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
DESCARTES, R. Discourse on the method of rightly conducting the reason, and seeking truth in the sciences. Londres: Chicago, Open court pub. co., 1963.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
VANCLEAVE, J. Janice Vancleave’s guide to the best science fair projects. New York: John Wiley & Sons Inc., 1996.
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Autor: André Santanchè
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PESQUISA DE DADOS E CONHECIMENTOS
Cada pesquisa científica não é uma ilha isolada no universo do conhecimento. Ao contrário, ela envolve duas dimensões complementares: uma em direção ao passado - no estudo do trabalho de outros que nos precederam, seja na pesquisa de registros de dados das mais diversas naturezas coletados e minuciosamente arquivados por pesquisadores, seja na pesquisa de conhecimento produzido por outros pesquisadores - e outra em direção ao futuro, na coleta de novos dados e na investigação do novo.
Isaac Newton disse que “Se eu consegui ver além foi porque me apoiei no ombro de Gigantes”. Assim funciona a ciência, ela é um processo de construção incremental. O cientista tem consciência de que qualquer trabalho científico deve ser precedido de um minucioso estudo do que já foi pesquisado sobre o tema.
O vídeo “Legendas da Ciência – Emergir – Parte 1 de 5” faz uma interessante analogia da construção da Ciência com a formação de um rio. Recomendamos que você faça uma pausa e assista ao vídeo que está disponível em http://br.youtube.com/ watch?v=jX9AV3_bqzA.
E como a ciência caminha para o futuro? Aí entra a visão mais ampla do método científico. Novas hipóteses, teorias e experimentos podem ser produzidos sobre dados e estudos passados, como também novos dados são coletados, analisados e experimentados.
Esta etapa da metodologia científica que intitulamos “Pesquisa de Dados e Conhecimentos” envolve principalmente este processo de levantamento e seleção de dados (passados e novos) relevantes à pesquisa, como também a pesquisa e estudo de conhecimento produzido por outros pesquisadores que esteja relacionado com o tema pesquisado (referencial teórico).
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O mapa conceitual da Figura 1 ilustra alguns aspectos relevantes desta etapa que aprofundaremos em capítulos específicos.
Figura 1. Mapa conceitual relacionado à Pesquisa de Dados e Conhecimentos.
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Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
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RATURA
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REFERENCIAL TEÓRICO: Revisão DE LITE-
Olá!
Você já sabe que, de forma genérica, pesquisar significa buscar por uma informação que não se sabe, e que se precisa saber. Para isso, quem busca pela informação consultará livros, revistas, examinará documentos, conversará com pessoas... Quando, por exemplo, resolvemos adquirir um aparelho eletrônico, não efetuamos a compra na primeira loja que entramos. Estamos acostumados a procurar por menores preços, condições de pagamento e prazos de entrega porque, de posse destas informações,
certamente fecharemos o negócio mais vantajoso. Portanto, estamos realizando “pes- ________________________ quisas” a todo o tempo. Um processo similar - mas com maior aprofundamento, rigor e método - acontece quando propomos produzir conhecimentos de base científica: existe uma questão a ser elucidada e, para isso, o pesquisador não pode ficar satisfeito com uma primeira percepção acerca do objeto estudado. Neste caso, é necessário recorrer às fontes e aos métodos para que se chegue mais rapidamente e com segurança à informação desejada. Carvalho (1989, p. 100) nos lembra que “sem um método eficiente de obtenção de informações, perde-se um precioso tempo acadêmico”. Como você sabe, embora existam diferentes formas de iniciar uma pesquisa científica, o processo de investigação e a construção do conhecimento no espaço acadêmico partem, inicialmente, da definição/delineamento de um projeto no qual o pesquisador deve apresentar o tema escolhido, o problema formulado, os objetivos definidos, a justificativa para que o estudo a que propõe seja realizado... Quando o pesquisador chega nesse ponto do trabalho, é muito provável que ele sinta que será preciso examinar mais intensamente como o tema e o seu objeto de estudo são tratados por outros estudiosos. Muitos autores, a exemplo de Boaventura (2004), vão considerar que a maneira mais eficaz para que o pesquisador realize esse aprofundamento será buscar pela literatura da área específica, tendo em mente duas questões: O que já se publicou acerca do meu tema de estudo? Quais as lacunas existentes?
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Já foram dadas para você pistas sobre o que, em processos de pesquisa, denominamos de revisão de literatura; mas, ainda é necessário aprofundar nossa compreensão em alguns aspectos. Vamos a eles!
A BUSCA POR Fundamentação Teórica A revisão de literatura consiste num texto que analisa e sintetiza informações, estabelecendo nexos entre conhecimentos existentes, ou já publicados, e o assunto pesquisado. Como a expressão indica, Boaventura (2004) sinaliza que a revisão de literatura analisa a produção bibliográfica – composta por livros e artigos científicos, publicados em suporte papel e/ou disponíveis na internet1 - numa área temática, que fornece um panorama geral sobre um tema específico, possibilitando ao pesquisador tomar conhecimento do que tem ocorrido periodicamente no campo estudado. O processo de análise e compilação da literatura existente acompanha aquele que realiza a investigação em todas as etapas da pesquisa - em seu planejamento, na sua execução e, ainda, publicização/socialização -, contudo, em cada uma delas tem uma função muito específica. Você, certamente, neste momento está perguntando-se:
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Como assim? Calma!! Vamos explicar essas especificidades. Na fase de planejamento da pesquisa (ou elaboração do projeto), a revisão da literatura tem por função auxiliar o pesquisador na elaboração da justificativa do estudo. A partir dela, poderá potencializar seus argumentos (por que é interessante a realização desse estudo?), demonstrar o “estado da arte” em relação ao foco/tema escolhido, indicando de que lugar específico sua pesquisa partirá, e, também, sinalizar quem serão os seus “companheiros de viagem”, isto é, os autores serão imprescindíveis para que consiga dar conta do estudo que está propondo. Por exemplo:
Se decidirmos fazer um estudo antropológico sobre a formação do povo brasileiro, certamente, vamos/podemos ter como referência três obras: “Casa grande e senzala”, de Gilberto Freyre, “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, ou, ainda, “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro.
Na etapa de execução do estudo, a revisão de literatura se assemelha a uma das técnicas de que o pesquisador pode se valer para realizar o seu estudo – a pesquisa bibliográfica – e tem como função auxiliá-lo no aprofundamento teórico das principais questões tratadas por ele. O levantamento bibliográfico pode ser realizado através das fontes de informação que Umberto Eco (1992) chama de fontes de primeira e segunda mão e que outros autores, denominam de primárias e secundárias. 1 Apesar de se configurar num espaço aberto para a difusão e disseminação de informações e de ser necessário ter muito cuidado quando utilizamos a como fonte, existem muitos sites confiáveis e produções interessantes na internet. Ao longo das aulas, socializaremos alguns deles com você.
teses, normas técnicas, patentes e outros documentos. Fontes secundárias - têm como função auxiliar os pesquisadores na identificação e localização o que foi publicado nas fontes primárias, através de bases de dados especializadas e buscadores da internet, ferramentas que catalogam documentos como: artigos de revistas, trabalhos de congressos, etc.
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zidas diretamente por autores através de revistas, livros, monografias, dissertações,
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Fontes primárias - têm a função de publicar e divulgar as informações produ-
Síntese Nesse texto apresentamos aspectos relacionados ao processo de revisão de literatura, destacando sua importância em diferentes fases da pesquisa científica. No próximo texto apresentaremos a você alguns dos principais recursos de divulgação científica, que serão muito importantes na revisão da literatura.
questão para Reflexão Pensando no tema que escolhemos para pesquisar, quais seriam as fontes/autores imprescindíveis para compor a revisão da literatura de nosso trabalho?
________________________ ________________________ ________________________ Leituras indicadas ________________________ ________________________ Para aprofundar seus conhecimentos acerca da temática discutida nesse texto ________________________ sugerimos a leitura do capítulo 3 do livro “Como se faz uma tese”, de Umberto Eco, ________________________ editado em 1992. ________________________ ________________________ ________________________ Referências ________________________ ________________________ ________________________ BOAVENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo: Atlas, 2004. ________________________ ________________________ CARVALHO, Maria Cecília M. de (org.). Construindo o saber – metodologia científica: fundamentos e ________________________ técnicas. 8. ed. São Paulo: Papirus, 1989. ________________________ ________________________ ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992. ________________________ ________________________ LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. ________________________ São Paulo: Atlas, 2005. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
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Autor: André Santanchè
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FONTES PRIMÁRIAS
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Veículos de Divulgação Científica:
É importante conhecer os principais tipos de divulgação da ciência para que você saiba não apenas onde buscar informações relevantes, mas onde você também poderá, futuramente, publicar os seus trabalhos.
Revistas Científicas É importante que você saiba diferenciar dois tipos de revistas: aquelas que recebem um tratamento de revisão pela comunidade científica e as demais revistas. Você está acostumado a ler revistas que são vendidas em bancas, tais como Veja e Istoé, ou até mesmo revistas especializadas em pesca, música, literatura etc. Algumas destas revistas, ainda mais especializadas, geralmente voltadas para o público profissional, não estão disponíveis em bancas e são adquiridas através de assinaturas. Mas é importante que você aprenda a diferenciar um outro conjunto bem distinto de revistas, que são usualmente chamadas de revistas científicas. As revistas científicas ou periódicos científicos recebem um tratamento bem diferente das demais revistas. Ela é produzida a partir de artigos que são escritos por pesquisadores da área em questão. Os artigos são submetidos a um corpo editorial, formado usualmente por pesquisadores especializados no domínio de conhecimento da revista. Este corpo avalia os artigos submetidos e eventualmente encaminha, também, para revisores externos, que têm conhecimento atestado no tema. Os membros do corpo editorial e revisores seguem critérios bem definidos para avaliar cada artigo submetido. Usualmente são atribuídas notas a cada um dos aspectos do artigo. Cada artigo submetido pode ser aprovado, rejeitado, ou pode ser pedida uma revisão (mais superficial ou profunda) de aspectos do artigo que não estão claros, ou que os revisores discordam. A depender da revista, o artigo pode passar por mais de um ciclo de revisão, até que atinja a qualidade desejada. Por este motivo, é comum que artigos levem dois ou três anos desde a sua submissão, até que sejam publicados.
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Congressos Acadêmicos e científicoS Congressos acadêmicos e científicos têm principalmente dois propósitos simultâneos. O primeiro é reunir periodicamente pesquisadores e interessados em torno de um domínio específico de conhecimento, para promover o intercâmbio de idéias e experiências, proporcionando uma sinergia e motivação para o crescimento conjunto das pesquisas naquele domínio. Este tipo de congresso pode ser organizado de diversas formas. Uma das formas mais usuais tem um cronograma que inicia muito antes do congresso em si, no que denominamos “Chamada de Trabalhos”. Nessa chamada é fixada uma data e formato para que autores submetam seus artigos para o congresso. Em seguida, os artigos passam por uma revisão semelhante à descrita anteriormente para a revista. Todo o congresso tem um comitê de programa formado por especialistas na área, que realizam a revisão e avaliação dos artigos. Como usualmente os congressos são realizados anualmente, o tempo entre a submissão do trabalho e a sua aceitação ou rejeição é bem menor que a das revistas (geralmente varia de um a três meses). Por esse motivo, não é usual que o congresso realize mais que um ciclo de revisão de artigos. Geralmente o artigo é aceito (com solicitações de ajustes) ou rejeitado. Esta característica geralmente confere mais dinâmica aos congressos, quando comparados a revistas. Por outro lado, revisões realizadas por revistas podem ser mais primorosas, dado o tempo dedicado à sua revisão e o fato de que os revisores têm a oportunidade de reavaliar modificações solicitadas,
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para ver se os autores atenderam as suas expectativas. Os artigos selecionados para o congresso são apresentados no evento pelos autores e usualmente são publicados no que se denomina “anais do congresso”.
Dissertações e teses São documentos originados das atividades dos cursos de pós-graduação. Estes cursos visam principalmente a capacitar professores para o ensino superior, além de pesquisadores de alta qualificação em vários níveis. No nível de mestrado, o aluno deve produzir uma tese.
Publicação governamentais e jurídicas Os órgãos públicos em geral, no exercício de suas atividades, são responsáveis pela publicação de documentos, que objetivam tanto orientar o público na utilização de serviços, como prestar contas à sociedade das ações que desenvolvem. As publicações originadas de órgãos governamentais são numerosas e são apresentadas em diversos formatos. Com as facilidades de acesso oferecidas pela internet, grande parte desses documentos pode ser acessada via online através do site do Senado, ministérios, secretarias e diversas entidades governamentais brasileiras.
dades científicas e entidades de profissionais também produzem um grande volume de documentos técnicos de suas especialidades e que também podem ser acessados via internet. Ao selecionar as fontes de informação para pesquisa é preciso analisar critica-
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Universidades, centros de pesquisa, bibliotecas, arquivos, museus, ONGs, socie-
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Organizações educacionais e de pesquisa
mente a confiabilidade das informações levantadas, observando a credibilidade dos autores e dos veículos de divulgação. Do ponto de vista científico, uma informação é confiável, quando ela foi produzida a partir da utilização de métodos científicos, e julgada pela comunidade científica.
Síntese Você foi apresentado aos principais veículos de divulgação de informação. No próximo texto trataremos de aspectos relacionados à busca e seleção de material, principalmente em meios digitais. Os conceitos que você aprendeu aqui serão muito importantes para o próximo texto.
________________________ ________________________ questão para Reflexão ________________________ ________________________ Procure se informar quais são os principais congressos acadêmicos e revistas ________________________ científicas da sua área. Conhecê-los é uma etapa importante para você aprimorar o ________________________ modo como se informa e como você vai divulgar o que produzir. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ leituras indicadas ________________________ ________________________ CAMPELLO, Bernadete Santos; CENDÓN, Beatriz Valadares; KREMER, Jeannette Marguerite (Org.) Fon________________________ tes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2003, 319 p. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
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secundárias
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Busca e seleção de material: fontes
A pesquisa e a seleção de material é uma tarefa que está intimamente relacionada à revisão da literatura e é uma atividade que pode ser tão motivante e interessante quanto a própria atividade de buscar o novo. Resolvemos dedicar uma atenção especial a esta tarefa dada a sua importância dentro do processo de revisão da literatura. A busca eficiente de material e a seleção de boas referências serão determinantes para a qualidade do que você vai produzir. Neste tópico trataremos das questões de onde ________________________ procurar material para revisão e orientações para a seleção de material relevante. As tarefas de pesquisar e selecionar material podem ser comparadas à atividade de um caçador em busca de uma presa. Por esse motivo, vamos adotar a metáfora do caçador para apresentar cada um dos tópicos a seguir. Atualmente existem dois principais tipos de material a serem pesquisados: impresso e digital. Existem várias maneiras de se ter acesso a material impresso e a mais importante é sem dúvida a biblioteca. Na biblioteca você encontra não apenas livros, como também revistas especializadas, revistas científicas e anais de congressos (apresentados anteriormente). Você pode também comprar livros em livrarias, assinar revistas (científicas ou não) e participar de congressos, em que usualmente são distribuídos anais em papel ou formato digital. O principal meio de compartilhamento de material digital é sem dúvida a Internet e por este motivo vamos gastar mais tempo discutindo onde encontrar material de relevância na Internet. A Internet tem uma gigantesca quantidade de material publicado de todo tipo e procedência. Na Internet está disponível material de excelente qualidade, como também uma grande quantidade de material ruim, de procedência duvidosa, com erros e sem respeitar a autoria. Então como proceder neste território tão heterogêneo?
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Conhecendo o território de caça Um bom caçador não caça em qualquer lugar. Ele sabe onde buscar e encontrar a sua presa. Caçar em qualquer lugar é uma tarefa que fará você desperdiçar tempo e energia. Mas quais são os lugares em que você deve pesquisar o material na Internet?
Mecanismos de Pesquisa Especializados O Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br) é um mecanismo de pesquisa direcionado a publicações acadêmicas. Diferentemente do mecanismo Google, mais geral, o Google Acadêmico indexa publicações com alguma procedência acadêmica, tais como artigos de revistas científicas, artigos publicados em anais de congressos, publicações apoiadas por universidades e assim por diante. Esse direcionamento na pesquisa, por si só, torna mais eficiente a busca por material relevante. Por exemplo, suponha que você queira pesquisar material relevante sobre o tema “mapas conceituais”. Uma abordagem que foi utilizada na construção deste material. A Figura 1 apresenta os resultados desta pesquisa.
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Figura 1. Tela do Google Acadêmica com resultados da pesquisa “mapas conceituais”.
Vamos analisar uma destas entradas mais de perto na Figura 2. No topo aparece o formato do conteúdo, que neste caso é PDF. Logo em seguida aparece o título da publicação, que é um link para a mesma. Abaixo do título aparecem, em verde, resumidos alguns dados relacionados à publicação (autores, meio de publicação e site). Abaixo deste resumo aparece um seguimento do texto no qual foram encontradas as palavras que você digitou na pesquisa (em negrito).
Figura 2. Ampliação de resultado retornado pelo Google Acadêmico.
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Na última linha aparecem dados e links que podem ser muito importantes para uma primeira avaliação do documento. Primeiro aparece quantos artigos, que estão disponíveis na base do Google Acadêmico, citam o artigo em questão. O número de citações pode ser um indicador de qualidade ou popularidade do artigo. Mas lembrese de que isoladamente nenhum destes indicadores é significativo. O link leva para a relação dos artigos que citaram este artigo. O link “Artigos relacionados” leva para artigos semelhantes a este, conforme um critério de avaliação do mecanismo de pesquisa. Os dois últimos links levam para uma versão HTML do artigo ou para uma pesquisa no Google sobre este artigo, respectivamente. O Google Livros (http://books.google.com.br) disponibiliza acesso parcial ou integral de texto de livros que fazem parte do programa de parceria do Google junto a autores, editoras e bibliotecas.
Bibliotecas Digitais Além dos mecanismos de pesquisa, contamos também com bibliotecas digitais que são especializadas na área acadêmica.
SciELO Scientific Eletronic Library Online (SciELO) é uma biblioteca eletrônica que reúne uma coleção selecionada de periódicos científicos do Brasil e diversos outros países (http://www.scielo.br). A seleção dos periódicos que irão compor a biblioteca SciELO é feita por um comitê de consultores que estabelece critérios rígidos de qualidade para seleção das publicações que compõem a base de dados. A Figura 3 ilustra o resultado de uma pesquisa por mapas conceituais. Note que o SciELO retorna uma ficha completa da publicação, contendo sua referência, resumo, além de uma série de serviços relacionados listados à direita.
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Figura 3. SciELO apresentando um artigo sobre mapas conceituais disponível em sua biblioteca.
BDTD A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) (http://bdtd.ibict.br) é uma biblioteca eletrônica que integra e um mesmo portal, em texto completo teses e dissertações defendidas na maioria das universidades brasileiras. Integra também base de dados internacional Networked Digital Library of Theses and Dissertations (NDLTD) (http://www.ndltd.org).
PORTAIS Portal Capes Portal Capes (http://www.periodicos.capes.gov.br) reúne mais de 15 mil títulos de periódicos em texto completo e cerca de 100 bases de dados referenciais em diversas áreas do conhecimento, inclui também uma seleção de importantes fonte de informações para pesquisa como patentes, teses e dissertações, estatísticas e outras publicações de acesso, mantidos por importantes instituições científicas e profissionais e por organismos governamentais e internacionais.
mação em ciências da saúde em que em parceria com a Organização Mundial de Saúde e diversos países da América Latina e do Caribe oferecer acesso livre e gratuito à informação técnico-científica integrada em um único portal
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A Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br) rede brasileira de infor-
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Avaliando o Alvo Utilizar qualquer material encontrado na Internet de forma indiscriminada é como atirar indiscriminadamente para todos os lados, na esperança de que alguma bala atinja por si própria o alvo. Graham e Metaxas (2003) escreveram um artigo com o curioso título “É Claro que é Verdade; Eu Vi na Internet!”1. Este artigo reflete uma questão moderna relacionada à pesquisa de dados na grande rede. Há uma tendência à busca e uso de conteúdo da Internet de forma indiscriminada. Para muitos, a Internet tem um poder “mágico” de dar credibilidade ao conteúdo encontrado. Hoje em dia qualquer pessoa pode publicar conteúdo na Internet. Isso significa que o simples fato de que uma informação foi encontrada nesta rede, não dá a ela qualquer status de informação confiável. Quando você estiver procurando material científico relevante para pesquisa na Internet, deve considerar quem atesta a qualidade da informação que lhe está sendo fornecida. No capítulo de divulgação científica lhe apresentamos diversos meios de divulgação, como revistas e congressos, que são validados por especialistas da área. A maioria do conteúdo produzido por estes meios está disponível na Internet e no início deste texto lhe apresentamos alguns mecanismos que permitem encontrá-los.
A Questão da Wikipedia A Wikipedia (http://wikipedia.org) é uma enciclopédia construída de forma colaborativa por pessoas do mundo todo. Desde a sua criação tem ganhado muitos adeptos e críticos. De fato, devido ao vasto número de autores espalhados por todo o mundo, a Wikipedia tornou-se uma enciclopédia bastante rica e ilustrada e, por esse motivo, grande fonte de consulta para muitas pessoas. Do ponto de vista de publicação científica, a Wikipedia encontra alguns problemas, uma vez que seu conteúdo não é validado por nenhum comitê especializado nos assuntos que nela são publicados. Isto não quer dizer que necessariamente o conteúdo encontrado na Wikipedia seja incorreto, mas ele carece do rigor científico mínimo necessário, para que seja utilizado como fonte segura e referenciado em qualquer trabalho científico. Talvez uma aplicação interessante para a Wikipedia seja utilizá-la como ponto 1 Tradução feita pelo autor do original “Of Course it’s True; I Saw it on the Internet!” (Graham & Metaxas, 2003).
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de partida. Muitos assuntos estão bem delineados e estruturados nesta enciclopédia. Deste modo, você pode partir do conhecimento encontrado na Wikipedia e, a partir daí, buscar fontes de informações que atestem as informações encontradas. Mas lembre-se que, de uma forma geral, referências diretas a conteúdo da Wikipedia não são bem aceitas pela comunidade acadêmica em geral.
Seguindo Trilhas Retomando a metáfora do caçador. Usualmente a presa deixa rastros característicos que permitem ao caçador encontrá-la. Muitas vezes encontrar um artigo desejado pode ser resultado de um paciente trabalho de seguir trilhas. Há duas formas de seguir trilhas, mas elas sempre estão relacionadas às citações. A primeira começa a partir de um artigo que você considera que trate um tema de forma consistente. Você pode verificar as referências deste artigo e ir atrás delas, a fim de conhecer as bases teóricas que foram usadas como subsídios para o artigo. Seguir este tipo de trilha também pode ser usado como indicador de qualidade, uma vez que um artigo qualificado usualmente cita outros trabalhos qualificados. A outra forma de seguir trilhas é ao inverso. Considere novamente que você
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leu um artigo qualificado. Usando sistemas como o Google Acadêmico ou SciELO que relacionam outros artigos que citam o artigo que você leu, você pode encontrar trabalhos que tomam como base o que você leu e levam o tema adiante.
Síntese Neste tópico apresentamos a importância de você saber realizar busca e seleção de material, principalmente na Internet. Nele mostramos que você deve saber onde procurar. Você deve avaliar a qualidade do que lê - analisando a procedência e outros indicadores - e deve aprender a seguir trilhas. No próximo texto, discutiremos as formas que o pesquisador dispõe para identificar, escolher e organizar os textos e obras consultadas por ele no processo de investigação, especialmente na etapa de revisão de literatura. Até lá!
Referências GRAHAM, Leah; METAXAS, P. Takis. Of course it’s true; I saw it on the internet!: critical thinking in the internet era. Communications of ACM, 46(5):70-75, 2003.
Autora: Maria Luíza Coutinho Seixas
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ganização de Publicações consultadas1
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Fichamentos, resumos e resenhas: Or-
Olá!
Já apresentamos a você alguns aspectos relacionados ao processo de revisão de literatura. Agora, seguindo com as informações acerca do tratamento do material “bibliográfico”, discutiremos as formas/instrumentos de que o pesquisador dispõe para identificar, escolher e organizar os textos e obras consultadas por ele nos proces- ________________________ sos de investigação, especialmente na etapa de revisão de literatura, e de produção de ________________________ escrita acadêmica/ científica.
Você certamente está se perguntando: por que esta ressalva com relação à fase de revisão de literatura? Ela não está presente no processo de planejamento, execução e finalização da investigação científica? A nossa resposta é: “Sim, ela está!”. Contudo, como já dissemos anteriormente, existem textos que podem ser consultados e que não são considerados como referência bibliográfica, como por exemplo, documentos oficiais, leis, cartas etc. Por isso, antes de tratarmos sobre os aspectos concernentes às formas de organização do material consultado (fichamentos, resumos e resenhas), discorremos sobre os passos iniciais do que é denominado revisão de literatura/pesquisa bibliográfica na investigação científica, aqui se confundindo com os passos seguidos para todo e qualquer processo de estudo: a identificação e de escolha das referências que serão utilizadas. Vamos lá!
A identificação e a escolha das fontes de informação Se você teve acesso a essa disciplina é fato que já possui e faz uso de um dos fatores decisivos para iniciar e implementar qualquer programa de estudo, quer seja ele sugerido por um de seus professores, quer seja incitado por um tema pelo qual desenvolveu um interesse pessoal/profissional: a capacidade de utilizar a leitura como 1 Tomamos como base para a elaboração deste texto a aula “Suporte para elaboração de trabalhos acadêmicos: resumos e resenhas”, produzida pela professora Noemi Santana.
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fonte de novas idéias e saberes. Pode parecer que estamos, como expressa o dito popular, “chovendo no molhado”, mas não é bem assim. No trabalho que desenvolvemos no âmbito acadêmico, como confirmam Lakatos e Marconi (2005, p. 19), ler, significa “[...] conhecer, interpretar, decifrar, distinguir os elementos mais importantes dos secundários, [...] através dos processos de busca, assimilação, retenção, comparação, verificação, e integração do conhecimento”. Apesar da certeza de você realiza leituras cotidianas “desde que se entende por gente”, outro dito da sabedoria popular, consideramos que é imprescindível expor acerca dos elementos que, ao serem considerados no processo de leitura, favorecerão/facilitarão o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e da pesquisa científica. Isso porque, na maioria das vezes, a escrita acadêmica é bastante diferente daquela a que estamos acostumados a utilizar. Em minha percepção, por exemplo, existem dois tipos de leitura: a que fazemos por prazer/deleite e aquela que fazemos por obrigação; acontece que, para realizar uma boa revisão de literatura, você não pode selecionar suas obras a partir desse critério (excluir textos “obrigatórios”). Porque não podemos contar com nossa afeição em relação à leitura por obrigação, insistimos em descrever esses elementos. Lakatos e Marconi (2005) destacam que são seis os elementos auxiliares na identificação de textos no momento de busca de material adequado à investigação e/ou estudos, a saber:
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o título: apresentando-se acompanhado (ou não) de subtítulo, estabelece o assunto, e, às vezes, a intenção do autor; a data de publicação: a qual fornece elementos quanto à atualidade obra, bem como a sua aceitação na área específica através do número de edições, salvo quando o texto/obra é um clássico – A crítica da razão pura, de Immanuel Kant, por exemplo, pois o que menos importa é atualidade; a orelha/contracapa, que permite que as credenciais ou qualificações do autor possam ser verificadas; o índice/sumário, que apresenta os assuntos/pontos tratados na obra; o prefácio da obra, que proporciona indícios sobre os objetivos do autor, bem como sobre a metodologia utilizada para elaborar a sua obra; a bibliografia, que revela as obras consultadas pelo autor para elaborar a sua obra. Fonte: Adaptado de Lakatos e Marconi (2005)
Para trazer resultados satisfatórios, cinco aspectos fundamentais devem ser considerados no processo de leitura. A atenção é o primeiro deles, porque é muito difícil apreender um texto plenamente se não estiver concentrado para isso. É certo que existem pessoas que conseguem dividir a sua atenção e realizam duas ou mais coisas ao mesmo tempo, como, por exemplo, ouvir música e ver televisão, ou ainda, ouvir música e estudar, mas isso não é predominante; para a maioria delas é preciso escolher ente o que é prioritário e o que pode vir depois; dirigir a atenção para o que está lendo, portanto, pode garantir que a sua elucidação seja mais rápida e eficiente.
flexividade e criticidade são aspectos também muito importantes, pois é imprescindível que o leitor pondere sobre o que leu, observando todos os ângulos, descobrindo novas perspectivas, o que favorece a assimilação das ideias que o texto traz. Da mesma forma, é necessário que o texto seja avaliado; ler implica julgar, comparar, indicando se aquele(a) que lê aprova, reprova, aceita ou refuta as idéias que o autor apresenta.
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leitor não perca de vista o propósito do estudo/investigação que está realizando. Re-
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A intenção é mais um aspecto que deve ser considerado. É importante que o
Por fim, o leitor não pode esquecer que ler implica proceder à análise – segmentação do tema em partes, determinando as relações que existem entre essas; e a síntese, que se configura na reconstituição das partes decompostas no processo de análise, isto é, na elaboração de um resumo que retoma os pontos essenciais do texto, sem perder de vista a logicidade do pensamento do autor. Por conta da complexidade que caracteriza os textos científicos, recheados de termos técnicos e/ou específicos de uma área do conhecimento, o leitor pode sentir que ele (o texto) não será compreendido “de primeira”. Quando isso acontecer, não duvide da sua capacidade de compreensão: retome o texto quantas vezes forem necessárias para compreendê-lo, faça a sua leitura tentando identificar e separar a idéia central do que é secundário... Somente depois que fizer essa diferenciação você deverá marcar os trechos que considera mais importantes (confecção de esquema de compreensão), primeiro passo para organizar o material consultado. A respeito disso, vale dizer que, ao sublinhar (ou ________________________ marcar) um texto, para destacar algo de seu interesse, deve-se fazer isso com critério, ________________________ pois se você sai sublinhando tudo, equivale a não ter sublinhado nada! Quando estiver ________________________ sublinhando, cabe ter alguns cuidados: Se encontrar considerações importantes sobre mais de um assunto, cabe utilizar estratégias de marcação; Use siglas para marcar trechos mais importantes ou pontos que devem ser retomados;
Marcar as ideias sublinhadas é perfeitamente viável para textos muito extensos, a exemplo de livros e teses. Nestes casos, é aconselhável trabalhar por parágrafo, sendo preciso desenvolver duas capacidades: a de síntese do assunto e a de análise de partes do texto (ANDRADE; HENRIQUES, 1996).
MAS, ATENÇÃO!!!!! Se o livro não for seu, ou mesmo se for, mas representar uma obra rara ou antiga... NÃO ANOTE, NEM RISQUE!
Depois que fez a leitura do material e que já elaborou seu esquema de compreensão do texto, o pesquisador deve considerar a oportunidade de organizar suas leituras, de modo que tenha consigo um material de consulta permanente. Por isso, veremos agora alguns instrumentos que podem auxiliar o pesquisador na organização
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das obras e dos textos a que teve acesso, objetivando a produção acadêmica.
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UMA DICA!!!!! Sugerimos que leia o texto “Sugestões úteis: leitura rápida”, do livro a arte da pesquisa, de Wayne Booth e outros autores. Nele os autores indicam os passos para que você faça uma primeira avaliação da fonte a ser consultada.
Fichamentos O fichamento é a transcrição em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado, de dados/informações das fontes de referência. Nele, o pesquisador deve registrar os trechos do texto que mais chamaram sua atenção, e que fazem parte do seu esquema de compreensão do texto. Observe o exemplo:
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Como podemos perceber na representação acima, existem algumas informações que não podem deixar de constar num fichamento. São elas:
1) Indicações bibliográficas precisas. Para que não corra o risco de perder a referência da obra que está fichando, esta é a primeira informação que aparece na ficha. A disposição das informações da obra deve seguir o padrão da NBR 6023 da ABNT, que trataremos detalhadamente mais adiante. 2) Identificação do tema/conceito a que os trechos destacados fazem referência. Isso permite a ordenação do assunto; 3) Transcrição dos trechos destacados da obra, com indicação da(s) página(s); isso vai
comentários pessoais no começo, meio ou fim da citação. Para não confundi-los com as palavras do autor, coloque-os [entre colchetes];
científico
Outras informações podem ser incluídas, como por exemplo:
75 introdução ao trabalho
permitir que você utilize o trecho destacado numa produção escrita, com facilidade.
informações sobre o autor (quando não se tratar de uma autoridade notória); quando existir, o número de registro do livro na biblioteca; endereço eletrônico do documento na Internet.
Com o fichamento de qualquer obra e/ou texto, você conseguirá resumi-lo, resenhá-lo, ou elaborar textos fundamentados teoricamente com muito mais facilidade. Ainda, se o pesquisador organizar corretamente as suas leituras, ele terá consigo um material de consulta permanente, que poderá ser utilizado quando você estiver elaborando diferentes tipos de textos acadêmicos relacionados ao seu curso (Relatórios Técnicos, TCCs, Monografias, Teses e Dissertações) e/ou de comunicação científica (artigos, capítulos de livros ou obras completas), dentre outros. Qualquer um de nós que já se propôs à escrita de um desses tipos textuais, deve saber que esta não é uma tarefa fácil! Um cientista experiente em uma determinada área do conhecimento, por exemplo, pode ver rejeitado um artigo científico que submeteu a uma revista especializada de outra área – as Ciências Humanas – porque não atendeu às normas concernentes dessa comunidade científica. Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004a, p. 13) nos lembram que a complexidade característica do processo de elaboração textual na/da ciência “exige que sejam desenvolvidas múltiplas capacidades, que vão muito além da mera organização ou do uso das normas gramaticais do português padrão”. Como dissemos anteriormente, o estudante/pesquisador deve proceder à análise, à reflexividade e à crítica. Hum... Você pode estar, nesse momento, se perguntando: “Mas como fazer isso?”. E nossa resposta não podia ser outra: apesar de entendermos que o processo de escrita é marcado pela subjetividade, produzir bons textos acadêmicos/científicos é algo que vai depender (e aí destacamos, com o mesmo grau de importância!) do domínio técnico que cada um possui. É necessário que siga uma disciplina para a leitura e a esquematização do material, e também, que utilize mais dois instrumentos obrigatórios de trabalho: o resumo e a resenha. Lakatos e Marconi (2005) sinalizam que essas ferramentas têm uma função muito especial na produção da escrita acadêmica. Elas auxiliam o pesquisador na: compreensão e fixação de leituras realizadas; reelaboração de informações; síntese de idéias; consulta a dados para produção de conhecimento; organização de material de consulta.
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Saber como essas ferramentas podem nos ajudar, não basta. Passaremos, a seguir, a descrever as características dos resumos e das resenhas. Vamos começar tratando dos resumos.
resumos Tal e qual o fichamento, resumos e resenhas se configuram como ferramentas que facilitam a vida do pesquisador: organizam as leituras e podem se tornar material de consulta permanente, caso o texto resumido apresente idéias ou posições importantes para desenvolver as diversas etapas do estudo/investigação a que se dedica. Como o próprio nome sugere, resumir é uma atividade que exige a capacidade de condensar as informações, destacando suas principais idéias. O autor de um resumo deve ser fiel ao desenvolvimento de conteúdo original destacando apenas seus elementos essenciais. Para realizar este intento com êxito, é preciso considerar alguns pontos. O primeiro deles é que você deve evitar a elaboração do resumo antes de levantar o esquema do texto ou de preparar as anotações, o que requer leitura preliminar para identificação de palavras-chave. Em outras palavras, separar o joio do trigo, buscando perceber as idéias principais e quais são as idéias secundárias.
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O resumista precisa familiarizar-se com o assunto e deve apresentar o assunto da obra, respeitando a ordem das ideias e fatos apresentados, bem como evitando a transcrição de frases do texto original procurando apresentar idéias principais. Na comunicação do resumo é muito importante tentar reproduzir com clareza as ideias do autor, utilizando-se, para atingir este intento, recursos como a supressão de elementos supérfluos, valorizando-se as idéias que registram informações mais gerais e explicitam de forma sintética os destaques do assunto abordado. Um resumo deve vir precedido da referência bibliográfica do texto original. É preciso adicionar uma apresentação breve, concisa e seletiva de um conteúdo trabalhado, permitindo ao destinatário (o leitor) tomar conhecimento do assunto abordado, sem a necessidade de que o trabalho original seja consultado. Além disso, não podemos esquecer, como bem dizem Machado, Lousada e Abreu-Martelli (2004b), um resumo é sempre um texto sobre outro texto. Sendo assim, para que o leitor não se confunda e considere as ideias originais do texto como pertencentes ao resumista, é relevante que o autor do texto que é resumido seja frequentemente citado. Observe o exemplo: ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 184 p.
RESUMO Neste estudo, Maria Thereza Rocco examina redações de vestibulandos da FUVEST, com base nas novas tendências dos estudos da linguagem, buscando construir uma gramática e uma teoria do texto. Os focos de seu estudo são a coesão, o clichê, a frase feita, o “não-texto” e o discurso indefinido. [...]
mativo ou analítico; e o resumo crítico. Vamos desdobrar cada uma delas, a partir da percepção de Lakatos e Marconi (2005).
Resumo descritivo ou indicativo
77 científico
resumos que atendem a finalidades determinadas: o indicativo ou descritivo; o infor-
introdução ao trabalho
De acordo com a NRB 6028/2003 da ABNT, há vários tipos de elaboração de
Este tipo de resumo descreve os principais componentes do texto original em frases curtas, indicando-se com brevidade sua natureza e seus objetivos, de preferência sem ultrapassar o limite de 15 a 20 linhas. O resumo descritivo ou indicativo segue as recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT e está previsto pela NBR 6028/2003. Esta norma define que o resumo é a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto” e deve ser composto por um único parágrafo, observando-se algumas regras quanto à extensão, que estão associadas à finalidade da apresentação: - Notas e comunicações breves: o resumo deve possuir até 100 palavras; Exemplo:
Para Henri Cartier-Bresson, o objetivo da fotografia era captar o momento decisivo de uma cena ou evento. Geoff Dyer, que não é fotógrafo mas escritor, está interessado em captar o oposto - a continuidade, os temas que se repetem e se renovam, as fotos que dialogam umas com as outras ao longo da história da fotografia. Longe do manual acadêmico e dentro da melhor tradição do ensaio, este livro é como uma conversa, em que um assunto puxa outro livremente, ao sabor da inspiração.
Fonte: Catálogo on-line da Livraria Cultura. http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2509925&sid=01121725210717695768288967&k 5=1B12FB6B&uid=
- Monografias e artigos extensos: o resumo deve possuir até 250 palavras; Exemplo: RESUMO O trabalho discute, numa abordagem filosófica, a formação ética, a partir das possibilidades da arte de viver. Explicita que a arte de viver tem uma dimensão estética em que própria obra da vida tem a arte como modelo, por meio da criação de diferentes estratégias (desde as interativas até as literárias), articuladas com princípios universais. Esta ética, com seu apelo às condições concretas da vida e aos sentimentos, não exclui o reconhecimento de uma normatividade que ultrapassa as regras criadas pelo próprio sujeito, ou seja, universalidade e particularidade não se excluem. O texto apresenta (1) a contribuição helenística para a arte de viver, por meio do modelo terapêutico de filosofar, e (2) o papel das emoções e da phronesis na articulação entre o universal e o particular, para apontar que (3) uma educação ético-estética se constitui pelo reconhecimento da tensão entre o eu singular e o nós (ethos comum). Fonte: Hermann (2008)
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- Relatórios, dissertações ou teses, até 500 palavras. Exemplo:
RESUMO O estudo discute a evolução da Web como um espaço para publicação/consumo de documentos para um ambiente para trabalho colaborativo, por meio do qual o conteúdo digital pode viajar e ser replicado, adaptado, decomposto, fundido e transformado. Designamos esta perspectiva por Fluid Web. Esta visão requer uma reformulação geral da abordagem típica orientada a documentos que permeia o gerenciamento de conteúdo na Web. Esta tese apresenta nossa solução para a Fluid Web, que permite nos deslocarmos de uma perspectiva orientada a documentos para outra orientada a conteúdo, onde “conteúdo” pode ser qualquer objeto digital. A solução é baseada em dois eixos: (i) uma unidade auto-descritiva que encapsula qualquer tipo de artefato de conteúdo - o Componente de Conteúdo Digital (Digital Content Component - DCC); e (ii) uma infraestrutura para a Fluid Web que permite o gerenciamento e distribuição de DCCs na Web, cujo objetivo é dar suporte à colaboração na Web. Concebidos para serem reusados e adaptados, os DCCs encapsulam dados e software usando uma única estrutura, permitindo deste modo composição homogênea e processamento de qualquer conteúdo digital, seja este executável ou não. Estas propriedades são exploradas pela nossa infra-estrutura para a Fluid Web, que engloba mecanismos de descoberta e de anotação de DCCs em
________________________ múltiplos níveis, gerenciamento de configurações e controle de versões. Nosso trabalho ________________________ explora padrões de Web Semântica e ontologias taxonômicas, que servem como uma ponte semântica, unificando vocabulários para gerenciamento de DCCs e facilitando as ________________________ tarefas de descrição/indexação/descoberta de conteúdo. Os DCCs e sua infra-estrutura ________________________ foram implementados e são ilustrados por meio de exemplos práticos, para aplicações ________________________ científicas. As principais contribuições desta tese são: o modelo de Digital Content ________________________ Component; o projeto da infra-estrutura para a Fluid Web baseada em DCCs, com suporte ________________________ para armazenamento baseado em repositórios, compartilhamento, controle de versões e ________________________ gerenciamento de configurações distribuídas; um algoritmo para a descoberta de conteúdo ________________________ digital que explora a semântica associada aos DCCs; e a validação prática dos principais conceitos desta pesquisa, com a implementação de protótipos. ________________________ ________________________ ________________________ Fonte: Santachè (2006) ________________________ ________________________ Consideramos relevante lembrar que o resumo indicativo se configura em um ________________________ componente obrigatório de trabalhos elaborados para obtenção de títulos acadêmi________________________ cos (graduação, mestrado e/ou doutorado) e também na publicação de artigos/textos ________________________ científicos em periódicos. Algumas dicas podem lhe ajudar nessa elaboração: ________________________ Abstenha-se de frases negativas, fórmulas, símbolos, citações bibliográficas; ________________________ ________________________ A frase de abertura deve ressaltar o tema abordado e indicar sua categoria (memória, estudo de caso etc.); ________________________ ________________________ Expresse-se na terceira pessoa do singular, preservando o verbo na voz ativa; ________________________ Apresente, no final, as palavras-chaves, representativas do conteúdo, extraídas da fi________________________ cha catalográfica. ________________________
Resumo informativo ou analítico No processo de formação universitária, graduação e pós-graduação, é muito comum que os professores solicitem a elaboração de resumos informativos ou analíti-
79 científico
de resumos.
introdução ao trabalho
Observe, em seguida, outras normas de comunicação requeridas na elaboração
cos como atividades avaliativas. Este tipo de resumo é uma proposta que reduz o texto a um terço (1/3) ou um quarto (1/4) do original. Ao elaborá-lo, o resumista deve ter bastante cuidado: deve empregar linguagem clara e objetiva, apontar as conclusões do autor, sem assumir juízos ou comentários pessoais. É estruturado por parágrafos, apresentando as idéias discutidas no texto, seguindo a estruturação lógica construída pelo autor. Como no resumo indicativo, ainda que se mantenha a estrutura das idéias principais, deve-se excluir gráficos e evitar citações. Lakatos e Marconi (2005) assinalam que por se apresentar como uma condensação do texto, o resumo informativo ou analítico não deve conter comentários pessoais, juízos valorativos ou críticas. Veja, abaixo, os pontos que são importantes para a sua elaboração: seja seletivo, isto é, atenha-se à explicitação das principais idéias tratadas; utilize, preferencialmente, suas próprias palavras; caso cite algum trecho do texto que está resumindo, na íntegra, coloque as palavras do autor entre aspas; componha o resumo com uma seqüência de frases concisas e nunca em tópicos; ao final do resumo, assim como no resumo indicativo, devem-se mencionar as palavras-chaves do texto.
Resumos críticos e resenhas Certamente um de seus professores já solicitou a você que fizesse um resumo ou uma resenha. Tão comum como esta solicitação é a sensação de não saber, com clareza, o que deve ser feito. Isso porque não são raras as situações em que não é sinalizado para você qual o tipo de resumo ou qual a diferença que estes têm com relação à resenha. Você já sabe o que é um resumo indicativo ou um resumo informativo... Por isso, destacaremos os aspectos referentes aos resumos críticos e às resenhas. Em primeiro lugar, vale dizer que resumos críticos e resenhas possuem a mesma finalidade: reúnem informações sobre o conteúdo de um texto ou obra e o seu autor, buscando, não somente, sintetizar a mensagem e posições adotadas, mas também expor posicionamentos críticos, fundamentados em conhecimentos sólidos sobre o tema abordado.
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Você deve estar perguntando: então: são a mesma coisa? No sentido que nos referimos acima, sim! Mas eles têm uma diferença muito importante. Quando resumimos um texto, um artigo científico ou parte de uma obra, por exemplo, produzimos um resumo crítico; quando nosso foco recai sobre uma obra completa – um livro, um filme –, produzimos uma resenha. Tal como o resumo informativo, o resumo crítico condensa o texto original em 1/3 ou 1/4 de sua extensão. Isto quer dizer que um artigo com 12 páginas, será produzido um resumo de aproximadamente de três ou quatro páginas. É evidente que essa métrica não funciona para uma resenha! Como você já deve ter percebido, resumos críticos e resenhas possuem dois movimentos básicos: a descrição da obra e os comentários de quem os produz. A resenha, conforme Lakatos e Marconi (2005), é antes de tudo uma descrição minuciosa que se atem a determinado número de fatos passiveis de crítica no que diz respeito à apresentação de uma obra. Admite-se, portanto ser de dois tipos: descritiva ou crítica, considerando-se quase imperceptíveis as diferenças entre as duas modalidades. Vejamos alguns detalhes sobre os dois tipos. A resenha descritiva busca demonstrar a estrutura da obra, sua perspectiva teórica, o método adotado, sem dispensar, contudo, a criticidade. Muitas vezes, a re-
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senha descritiva se configura como uma estratégia de vendas: as editoras convidam especialistas com experiência, capacidade de juízo crítico e conhecimento profundo do assunto para elaborarem resenhas, divulgando, dessa forma, as obras e livros que lançam no mercado literário. A resenha crítica possui todos os elementos da descritiva, mas toma a forma de uma apreciação que consiste no julgamento da obra, na qual procura-se destacar o seu mérito (contribuições) e como se situa o autor em relação ao conjunto da abordagem. É certo que não existe uma “receita” para elaborar resenhas. Nem queremos sinalizar isso, mas há algumas indicações de procedimentos que podem auxiliá-lo nesta tarefa. O resenhista deve dominar o assunto tratado pela obra e ter habilidade para, além de resumir as idéias fundamentais, reconhecer falhas e méritos, o que requer capacidade de juízo de valor necessário à crítica de caráter construtivo. Com estes requisitos, certamente é possuidor de “ferramentas” que podem facilitar a elaboração da resenha e do resumo crítico. Todo trabalho científico requer planejamento e método para facilitação do processo de construção do conhecimento e a resenha crítica, na medida em que integra o rol das atividades acadêmicas, não dispensa esta característica de normalização. Uma apresentação bastante objetiva da estrutura de resenhas é a apresentada por Lakatos e Marconi (2005). Estes autores sugerem um tipo de composição integrada por seis itens com desdobramentos de subitens. São eles:
- Credenciais do Autor: Informações gerais sobre o autor; autoridade no campo científico: quem fez o estudo? Quando? Por quê? Onde? - Conhecimento: Resumo detalhado das idéias principais (de que trata a obra, o que diz? Possui alguma característica especial? Como foi abordado o assunto?, Exige conhecimentos
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data); número de páginas; ilustrações (tabelas, gráficos, fotos etc.)
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- Referência Bibliográfica: Autor (es), título (subtítulo), Imprensa (local da edição, editora,
prévios para entendê-lo?) - Conclusão do Autor: O autor faz conclusões? (ou não?), Onde foram colocadas? (final do livro ou dos capítulos?), Quais foram? - Quadro de referências/modelo teórico do Autor: (que teoria serviu de embasamento? Qual o método utilizado?). - Apreciação a) Julgamento da obra: como se situa o autor em relação às escolas ou correntes científicas, filosóficas, culturais e às circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas etc.? b) Mérito da obra: qual a contribuição dada? Idéias verdadeiras, originais, criativas? Conhecimentos novos, amplos, abordagem diferente? c) Estilo: conciso, objetivo, simples? Claro, preciso, coerente? Linguagem correta? Ou o contrário? d) Forma: lógica, sistematizada? Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes? e) Indicação da Obra: a quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes? Fonte: Lakatos e Marconi (2005, p. 266)
Depois que apresentamos os aspectos que você deve considerar ao organizar suas leituras, chegamos ao final do texto. Antes, porém, queremos chamar a sua atenção para mais uma coisa: ao escrever um resumo ou uma resenha, leve em consideração que seu professor conhece a obra indicada e, sendo assim, estará atento e perceberá se você se dedicou à tarefa e a sua capacidade de opinar sobre ela. Bem, é isso aí... até à próxima!
Síntese Nesse texto apresentamos aspectos relacionados à organização de textos e obras consultadas no processo de investigação, com destaque para a elaboração de fichamentos, resumos e resenhas. No próximo texto trabalharemos em um contexto diferente, mas que tem relações com o que apresentamos até agora. Trata-se do Levantamento e Seleção de Dados.
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questão para Reflexão Sugerimos que você inicie a busca por possíveis fontes para que desenvolva um projeto de pesquisa na sua área de estudo.
Leituras indicadas Para ampliar seus conhecimentos, recomendamos que você consulte as seguintes obras: - “Resenha” e “Resumo”, Anna Rachel Machado (Coord.) e outros autores, publicadas em 2004. - livro “Fundamento de metodologia científica”, de Eva Lakatos e Marina Marconi, publicada em 2005.
Referências ANDRADE, M.M.; HENRIQUES, A. Língua portuguesa: noções básicas para cursos superiores. 5. ed. São
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Paulo: Atlas, 1996.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: informações e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002, 24 p.
______. NBR 6023: informações e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003, 2 p.
HERMANN, Nadja. Ética: a aprendizagem da arte de viver. Educ. Soc. , Campinas, v. 29, n. 102, 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302008000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 17 Jul 2008. doi: 10.1590/S010173302008000100002
MACHADO, Anna Rachel (Coord.); LOUSADA, Eliane G.; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Resenha. 4. ed., São Paulo: Parábola Editorial, 2004a.
________. Resumo. 5. ed., São Paulo: Parábola Editorial, 2004b.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimento básico, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicação e trabalhos científicos. 6. ed., São Paulo: Atlas, 2001. 220 p.
SANTANCHÈ, André. Fluid Web e componentes de conteúdo digital: da visão centrada em documentos para a visão centrada em conteúdo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação do Instituto de Ciência de Computação. Campinas: Universidade de Campinas, 2006.
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Autor: André Santanchè
83 introdução ao trabalho
Levantamento E SELEÇÃO DE DADOS
Dados compõem um elemento essencial para qualquer pesquisa científica. Por isso merecem um tratamento específico neste capítulo. Ao realizar uma pesquisa você pode utilizar dados levantados e tabulados por terceiros; são chamados dados secundários. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (http://www.ibge.gov.br) é uma instituição federal cuja missão é “Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania.” (http://www.ibge.gov. br/home/disseminacao/eventos/missao/default.shtm) Deste modo, o IBGE é o princi- ________________________ pal provedor de dados para estatísticas do país. Como está ilustrado na Figura 1, você ________________________ pode ter acesso a muitos destes dados e estatísticas no site de downloads, no endere- ________________________ ço: http://www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/. ________________________
________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 1. Tela de download de resultados de levantamentos de dados e estatísticas do IBGE. ________________________ ________________________ Em muitas situações, os dados desejados não estão disponíveis e é necessário ________________________ coletá-los em primeira mão. Esses são os dados primários. Em todos os casos, cuidados ________________________ específicos são necessários no levantamento e seleção destes dados, conforme trata________________________ remos a seguir. ________________________
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Variáveis Um desafio na observação e compreensão de um problema e do caminho para a sua solução é a percepção de como certos aspectos de um fenômeno variam e como a variação de um elemento afeta outro. Usualmente utilizamos a noção de variável para representar cada elemento que varia dentro do fenômeno observado. Uma variável é um conceito abstrato que pode ser interpretado sob várias perspectivas. Ela pode ser associada a uma característica que sofre mudanças observáveis (JARRARD, 2001, p. 15), como por exemplo, o tempo, uma medida espacial, ou a intensidade de um fenômeno. Marconi e Lakatos (2005) consideram que uma variável pode ser: [...] uma classificação ou medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, que contém ou apresenta valores; aspecto, propriedade ou fator, discernível em um objeto de estudo e passível de mensuração. (MARCONI; LAKATOS, 2005, p.139).
Apesar de ser um conceito abstrato, a noção de variável é uma ferramenta imprescindível para interpretar como fenômenos se comportam. Vamos retomar a perspectiva tratada no capítulo de “Formulação do Problema” de um problema como uma relação entre variáveis. Thurstone (1925, p. 187) dizia que “Cada problema científico é
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a busca de um relacionamento entre variáveis”1. Considere que estamos analisando um conjunto de dados que envolvem duas variáveis X e Y, no qual pretendemos estabelecer que a variável Y é determinada, afetada ou influenciada por X. Chamamos então X de variável independente, que está associada à causa e Y variável dependente, que está associada à conseqüência (JARRARD, 2001, p. 15) (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 140). Por exemplo, se estamos tentando relacionar o efeito da vitamina C sobre a doença escorbuto. Nesse caso, a vitamina C é a variável independente e o escorbuto é a variável dependente.
Amostra Imagine que você viajou em uma nave espacial para um planeta distante para observar um animal que você nunca viu na vida, um asdruborrino. A nossa nave está muito próxima do solo e dela você só consegue observar um único asdruborrino. Você vê um animal que nunca viu na vida, de cor vermelha, como mostra a Figura 22.
Figura 2. Um asdruborrino.
Daí eu lhe pergunto, que cor têm os asdruborrinos? Você me dirá: cor vermelha.
1 Tradução do original em inglês feita pelo autor: “Every scientific problem is a search for the relationship between variables” (Thurstone, 1925, p. 187). 2 Se você está lendo a versão impressa não verá as cores. Recomendo que leia na versão on-line colorida.
85 científico
3 marrons, conforme a Figura 3.
introdução ao trabalho
A nave se afasta do solo e agora você pode ver 9 asdruborrinos, 6 vermelhos e
Figura 3. Nove asdruborrinos.
Então você aprimora a sua resposta dizendo alguns são vermelhos, outros marrons. Em que proporção? Eu pergunto. Provavelmente 2/3 são vermelhos e 1/3 é marrom. A nave vai se afastando mais e mais, e você vê 25 asdruborrinos, sendo 16 vermelhos, 7 marrons e 2 amarelos, como apresentado na figura:
Figura 4. Vinte e cinco asdruborrinos.
Então você corrige a sua resposta dizendo: provavelmente a maioria é vermelha, existem alguns marrons e raros amarelos. Se eu perguntar: existem asdruborrinos azuis? Você dirá: não. Você se afasta mais e consegue agora ver 49 asdruborrinos, 27 vermelhos, 10 marrons, 5 amarelos, 4 azuis e 3 verdes.
Figura 5. Quarenta e nove asdruborrinos.
A esta altura você tem certeza de que a maioria dos asdruborrinos são vermelhos, não importa o quanto se afaste. Mas então a nave pára de se afastar e começa a planar sobre o planeta. Você decide fechar a janela e descansar um pouco. Quando a abre de novo, vê a imagem da Figura 6, com 49 asdruborrinos, sendo 31 azuis, 7 ver-
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des, 6 amarelos, 3 marrons e 2 vermelhos.
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Figura 6. Quarenta e nove asdruborrinos, segunda vista.
Agora você fica confuso. Você achou que a maioria dos asdruborrinos eram vermelhos e vê uma amostra com a maioria azul. Suponha que a população de asdruborrinos está toda apresentada na Figura 7 e que os retângulos em cinza representam os recortes das janelas mencionados anteriormente.
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Figura 7. População de asdruborrinos e demarcações das janelas de observação3.
Estes recortes produzidos pela janela da nossa espaçonave é uma metáfora para o que chamamos de amostra. Chamamos de amostra a um subconjunto de um certo universo ou população analisada (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 165). Note que em nenhuma das amostras foi possível perceber a real distribuição das cores de asdruborrinos na amostra. Pense comigo, o que você aprendeu neste exemplo? Você é capaz de intuitivamente perceber duas coisas que nos ensina a estatística: Quanto maior a amostra analisada tanto mais seu comportamento estará correlacionado com o da população completa (AJENEYE, 2006, p.988). Devemos considerar que a forma como escolhemos os elementos da amostra pode 3 Esta imagem foi gerada por uma aplicação on-line chamada Candies (http://lstat.kuleuven.be/env2exp/intro/index.html) que faz parte da coleção de applets (programas Java que rodam no navegador) do catálogo env2exp – environments to experiment (ambientes de experimentação).
considerar que nem sempre os indivíduos estão uniformemente distribuídos por toda a amostra. Veja, por exemplo, na Figura 7 que na parte norte (parte superior da figura) estão mais concentrados asdruborrinos vermelhos, enquanto na parte sul (parte inferior da figura) estão os azuis. Diversos fatores podem causar uma distribuição não homogênea, que variam em cada tipo de pesquisa. Por exemplo, pode ser que o norte
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Em relação à forma como os elementos da amostra são escolhidos, deve-se
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afetar na correlação entre a amostra e a população.
tenha clima mais quente que o sul e que os asdruborrinos vermelhos prefiram o norte, enquanto os azuis o sul. Uma seleção aleatória de indivíduos, em geral, produz uma melhor correlação da distribuição da amostra em relação à distribuição da população, mas nem sempre isto é um aspecto imperativo. Veja uma discussão a respeito no livro de Cláudio de Moura Castro (2006). Com esta observação sobre o tamanho da amostra você pode inferir porque cada vez mais empresas dão importância a um registro histórico de seus dados, para utilizá-los em projeções futuras. Existe até mesmo uma área da computação, conhecida como datawarehousing que se dedica a este assunto. Mas isto não está limitado a empresas: economistas registram dados econômicos históricos, diariamente são catalogados milhões de registros dos mais variados fenômenos naturais, vão até os pólos na busca de dados climatógicos de milhões de anos atrás. Você já se perguntou por que isso? Por que os seres humanos se tornaram ávidos colecionadores de tantos dados? A primeira resposta que me vem à mente é: reconhecer melhor padrões de comportamento e fazer previsões mais precisas. Se você assistiu ao filme intitulado “O Dia Depois de Amanhã”4, viu um clássico exemplo do que eu acabei de mencionar. Um cientista paleoclimático (que estuda fenômenos climáticos pré-históricos) reconheceu um padrão de comportamento do clima da terra nos últimos milhões de anos que, somado a acontecimentos recentes, levou à previsão de uma nova era glacial na terra. Recomendo que você assista e preste atenção na coleta de amostras feita no início que são a chave para o estudo de climas pré-históricos.
Síntese Tratamos aqui de duas questões fundamentais relacionadas ao levantamento e seleção de dados: a questão das variáveis e aspectos relacionados à seleção da amostra (tamanho e distribuição). Diversos outros textos neste curso remeterão aos aspectos aqui apresentados, você verá que a qualidade dos dados é fundamental para que se obtenha sucesso em uma pesquisa.
questão para Reflexão Uma parte da pesquisa de campo é definir as variáveis e as características da amostra. Este é um bom momento para você fazê-lo.
4 Original em inglês “The Day After Tomorrow”. Veja detalhes sobre o filme nos sites: http://www.foxhome.com/dayaftertomorrow/ e http:// www.imdb.com/title/tt0319262/.
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Leituras indicadas Existem técnicas estatísticas para se definir tamanhos de amostra a depender do nível de confiança que se deseja no resultado. Este tema não será detalhado neste curso, mas você encontrará mais detalhes relacionados ao tamanho da amostra e como calculá-lo no livro de Mario F. Triola (2008, p. 250).
Sites Indicados Sample Size Calculator - Este site possui um programa que, baseado em técnicas estatísticas, calcula o tamanho da amostra automaticamente. Para usá-la, você precisará de mais conhecimentos de estatística do que aqueles que obteve aqui. Para obtê-los veja a leitura de Mario F. Triola (2008, p. 250) indicada no tópico anterior. Apesar de estar em inglês, você pode ativar à esquerda dele um tradutor do Google. http://www.surveysystem.com/sscalc.htm
Referências AJENEYE, Francis. Power and sample size estimation in research. The biomedical scientist. Novembro,
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2006. on-line: http://www.ibms.org/pdf/bs_articles_2006/power_sample_size_nov06.pdf. Acessado em julho de 2008.
CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
JARRARD, Richard D. Scientific Methods. 2001. Disponível em: https://webct.utah.edu/webct/RelativeResourceManager/288712009021/Public%20Files/sm/sm0.htm. Acesso em julho de 2008.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
TRIOLA, Mario F. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
THURSTONE, Louis Leon. The fundamentals of statistics. New York: Macmillan Co., 1925.
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Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
89 introdução ao trabalho
Construção de um modelo teórico
Em etapas anteriores você coletou dados, fez uma revisão de trabalhos relacionados e formulou um problema. Agora chega o momento chave, em que você deve propor um modelo teórico que será a chave da solução do problema formulado. Este é um processo que envolve uma combinação de criatividade, trabalho meticuloso e rigor em algumas partes. Para entender como acontece a construção de um modelo teórico, vamos utilizar um exemplo na área industrial. Apesar deste exemplo não poder ser considerado ciência num senso estrito, ele está sendo utilizado como recurso pedagógico por envolver a aplicação de aspectos do método científico.
Armazenando o mínimo Qualquer empresa que mantém um estoque de produtos, para produção ou venda, compartilha
________________________ ________________________ um estoque excessivo significa: desperdiçar espaço, investimento desnecessário de capital e aumentar a depreciação média dos produtos. Por outro lado, manter um estoque insuficiente ________________________ significa principalmente a possibilidade de não atender à demanda dos clientes. Ambos os ________________________ extremos são igualmente indesejáveis, por isso a grande questão é: como alcançar o equilíbrio? ________________________ A solução desta questão pode não ser trivial e envolve uma meticulosa observação, registro e ________________________ ________________________ análise de como se comporta a produção na empresa, a relação com os fornecedores e o processo de vendas. Por este motivo, eu acho que a melhor maneira para entender esta questão é através ________________________ de um desafio. ________________________ A seguir lançaremos um desafio para você. Recomendamos fortemente que você tente resolver ________________________ o desafio antes de prosseguir adiante na leitura. Depois do desafio descreveremos a sua solução,________________________ porque ela será necessária para você entender como se constrói um modelo teórico. ________________________ ________________________ A ciência é um desafio para a nossa mente. Existe uma especial satisfação em descobrir por ________________________ si mesmo padrões por trás das observações, em usar a lógica para desvendar o mundo e em ________________________ constatar a aplicação prática do conhecimento que produzimos (não é à toa que o famoso Sherlock Holmes faz uso de instrumentos comuns à ciência para desvendar casos misteriosos). ________________________ Para isso, não são necessárias grandes descobertas científicas. Se pudermos fazer uma empresa ________________________ funcionar melhor já é uma grande satisfação. ________________________ Você pode se sentir tentado a pular do desafio imediatamente para a solução, mas irá perder a ________________________ oportunidade de experimentar por si mesmo, ainda que em pequena escala, o que acabamos ________________________ de descrever. Nosso objetivo é que você se defronte com os principais aspectos relacionados à ________________________ construção de um modelo teórico, para que depois possamos partir da prática para a teoria. Por ________________________ isso nós lhe pedimos que resista à tentação e só prossiga na leitura depois que resolver por si ________________________ mesmo o desafio. ________________________ ________________________ o problema de decidir a quantidade que deve ter disponível em estoque de cada produto. Manter
introdução ao trabalho
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90
Padrões de comportamento e previsões Encontrar padrões de comportamento a fim de prever comportamentos futuros faz parte da essência da metodologia científica. Note que apesar de a ciência sistematizar esta prática, ela não é uma exclusividade da mesma. Mais do que isso, todo o comportamento humano e de qualquer ser vivo do planeta depende da previsibilidade. Pense comigo o seguinte: você observa, desde que nasceu, uma tendência que as coisas mais pesadas que o ar têm de serem atraídas ao chão; esta tendência se aplica também a você. Então você formulou na sua mente a seguinte previsão: dado um dia qualquer no futuro, se você pular de cima de uma cadeira, você cairá em direção ao chão. É uma previsão tão segura que o seu próprio organismo é construído baseado nestas previsões. O seu aparelho locomotor, por exemplo, é todo construído baseado no pressuposto da existência da força que te atrai para o chão. Seu aparelho digestivo é construído baseado na previsibilidade da interação dos componentes químicos. Então observe que a previsibilidade é tão importante que se ela não fosse possível você simplesmente não existiria. E onde entra a ciência neste contexto? Ela tem a tarefa de perceber tais padrões de comportamento, de formalizá-los em modelos e de testar sua validade, provando a sua capacidade de prever comportamentos futuros. Pense sobre isso. O que é que as ciências que você conhece tentam fazer o tem-
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po todo (a física, a química, a biologia, as ciências sociais e econômicas)? Não tentam criar modelos para prever a posição de um objeto lançado, como irão interagir dois componentes químicos, como se comportará um organismo vivo, ou uma sociedade? É claro que a depender do problema em questão o modelo pode ser mais ou menos complexo e as previsões mais ou menos precisas. Vamos introduzir algumas noções relacionadas à construção do modelo teórico sintetizando a questão da seguinte maneira: reconhecer padrões de comportamento permite estimar comportamentos futuros. É fácil entender esta afirmação a partir de alguns exemplos simples. Na Figura 2 é apresentada uma sequência de formas geométricas1.
Figura 1. Início de uma seqüencia que segue um padrão de comportamento.
Considerando que existe um padrão de comportamento, você pode deduzir quais as formas que ocupam os espaços numerados de 6 a 16? Esta é uma tarefa que seu cérebro consegue fazer rapidamente e o resultado é apresentado na Figura 2. 1 Esta é uma tela e as três subseqüentes são capturadas da atividade interativa Pattern Generator (Gerador de Padrões) da SHODOR Interactive (http://www.shodor.org/interactivate/activities/PatternGenerator/).
Figura 2. Sequência completa que segue um padrão de comportamento.
introdução ao trabalho
científico
91
A fim de enfatizar a capacidade singular do cérebro humano, vamos tornar a sequência um pouco mais complexa. Veja a Figura 3 e tente deduzir as figuras que ocupam os espaços numerados de 8 a 15.
Figura 3. Início de uma seqüencia mais avançada que segue um padrão de comportamento.
________________________ ________________________ Você vai provavelmente deduzir a sequência que está ilustrada na Figura 4. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 4. Seqüência completa mais avançada que segue um padrão de comportamento. ________________________ ________________________ Na sua mente você conseguiu perceber um padrão de comportamento e, a par- ________________________ tir dele, prever ou estimar os elementos que ocupam os espaços vazios. O diagrama da ________________________ Figura 5 ilustra de forma simplificada a sequência de eventos que se passaram na sua ________________________ mente nesta tarefa. ________________________ ________________________ ________________________ Generalização Previsão repete-se ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 5. Diagrama ilustrando a seqüencia mental do reconhecimento de um padrão.
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92
Primeiro você tenta formar na sua mente um modelo abstrato que generalize o comportamento do que você observou. Em seguida você o aplica na previsão das unidades que não aparecem na figura. Essa seqüência é uma síntese simplificada do que denominamos construção do modelo teórico. Nas seções seguintes, vamos analisar etapas parciais desta construção, primeiro apresentando a síntese como processo de generalização que produz hipóteses, em seguida, veremos como as hipóteses são usadas para a previsão de comportamentos futuros. Na Figura 6 é apresentado um mapa conceitual que guiará o detalhamento que faremos a seguir.
Figura 6. Mapa conceitual de Construção do Modelo Teórico.
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Síntese A construção do modelo teórico está no núcleo da metodologia científica. Essencialmente um modelo teórico consiste em uma generalização concebida a partir da percepção de padrões de comportamento. Tal generalização é posteriormente a chave para a previsão de comportamentos futuros. Neste ponto você já deve ter tentado resolver ou já resolveu o problema do estoque mínimo. Nos tópicos a seguir trabalharemos na solução deste problema mostrando como a síntese, as hipóteses e a previsão atuam neste contexto.
Sites Indicados Shodor Interactive http://www.shodor.org/interactivate/ Os exemplos iniciais de reconhecimento de padrões utilizaram o Pattern Generator (Gerador de Padrões) da SHODOR Interactive. (http://www.shodor.org/interactivate/ activities/PatternGenerator/).
93 introdução ao trabalho
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SÍntese – Galileu e o Plano Inclinado Autor: André Santanchè
Muito bem. Já lhe apresentamos a noção de síntese. Vamos agora trabalhar esta noção com exemplos mais específicos aplicados à ciência, começando com um exemplo clássico da física. Para isso vamos nos transportar para o tempo de Galileu Galilei e nos colocar em seu lugar, ao observar e tentar entender a lógica por detrás dos objetos que invariavelmente caem em direção ao solo. O objetivo não é replicar exatamente o raciocínio de Galileu, mas deixar temporariamente para trás os conhecimentos que temos hoje sobre a ação da gravidade sobre os corpos, e tentar reconstruí-los com os conhecimentos disponíveis na época de Galileu. A nossa vantagem será dispor de um grande aparato tecnológico que Galileu não dispunha em seu tempo.
Galileu Deixe-me lhe situar no tempo e no espaço. Galileu nasceu em 1564 em Pisa (ANDERY, 2004) e foi uma figura central na revolução científica do século 17 (MACHAMER, 2008). Dentre os seus experimentos e estudos, ele se interessou pelo movimento dos corpos em queda livre e escreveu um manuscrito intitulado De Motu (Do Movimento)1. Isso ocorreu quase um século antes de Isaac Newton formular o princípio da gravitação universal, em sua clássica publicação chamada Principia (Princípios) (ANDERY, 2004), na qual mudou a história da ciência e da física trazendo uma
Galileo Galilei florentino por Ottavio Leoni (1578-1630)
visão unificada para a força que
Fonte: Wikimedia Commons
rege o movimento dos astros e ao mesmo tempo faz os objetos caírem: a gravidade.
1 Veja uma bela versão digitalizada deste manuscrito na biblioteca digital do Istituto e Museo di Storia della Scienza: http://fermi.imss.fi.it/rd/ bdv?/bdviewer/bid=354789.
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Então estamos fazendo parte de um tempo em que a natureza desta força que atrai corpos para o solo ainda é pouco conhecida. Nosso trabalho será observar os corpos que caem na busca de padrões de comportamento, tal como fizemos com o problema do estoque mínimo. Vamos iniciar relembrando o nosso problema formulado anteriormente: Considerando que eu solte um corpo qualquer em queda livre em uma altura A, quanto tempo ele leva para chegar na altura B?
Galileu não tinha em sua época um ferramental tão sofisticado quanto o que temos agora e que utilizaremos neste estudo. Por esse motivo, ele teve que fazer uso de técnicas criativas para superar estes obstáculos. Nós também vamos utilizar a criatividade para registrar observações de movimento em queda livre utilizando equipamentos domésticos, de tal maneira que você possa reproduzi-los em casa se quiser. Uma forma bastante interessante de observar o comportamento de um corpo em queda livre é através do registro das posições de um objeto solto em queda livre à medida que o tempo varia. O problema que temos que resolver é que este objeto cai em uma velocidade muito alta, o que dificulta tal registro. A depender da altura o objeto chega ao solo em menos de um segundo. Foi por este motivo que Galileu desenvolveu uma técnica engenhosa para medir este aceleração utilizando planos inclinados. Antes de seguir adiante, recomendamos que você perca algum tempo conhecendo
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um pouco mais sobre Galileu e especialmente seus experimentos em torno do plano inclinado. Fizemos uma seleção de museus, animações multimídia e vídeos para você ver. É importante ressaltar que esta é uma atividade bastante recomendada, mas não obrigatória, dado que a maioria dos recursos está em inglês ou italiano. Poeira das Estrelas – Parte 02 http://br.youtube.com/watch?v=LkYrmgkJp5c Neste episódio da série Poeira nas Estrelas programa Fantástico da Rede Globo é apresentado Galileu em seu contexto histórico e ideológico. O programa apresenta como algumas idéias de Galileu se opuseram às idéias estabelecidas de Aristóteles. Este vídeo é excelente para contextualizar Galileu e suas idéias dentro do seu tempo. Ele também apresenta a experiência de queda-livre feita por Galileu que detalharei neste material. Galileo Portal http://brunelleschi.imss.fi.it/portalegalileo/ Fonte de referência riquíssima sobre Galileu organizada pelo Institute and Museum of the History of Science em Florença – Itália. Inclui acesso a uma biblioteca digital com cópias digitalizadas completas das obras de Galileu. The Galileo Project http://galileo.rice.edu Projeto mantido pela Rice University no Texas – EUA, reúne uma grande variedade de recursos multimídia sobre Galileu.
Digitalização de notas sobre estudos de movimento (Notes on Motion) feitos por Galileu. Excelente sistema de navegação que permite visualizar as páginas em diferentes resoluções. Galileu e o Plano Inclinado Galileo’s Inclined Plane
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http://www.imss.fi.it/ms72/
95 introdução ao trabalho
Galileo Galilei’s Notes on Motion
http://www.teachersdomain.org/resources/phy03/sci/phys/mfw/galileoplane/ Dentre os vídeos sobre plano inclinado que assisti este é o melhor e mais completo, mas você precisa saber inglês para assisti-lo. Há uma opção de ativação de legendas em inglês.
From Aristotle to Galileo http://www.teachertube.com/view_video.php?viewkey=10da82c15dca2f86a138 Apresenta o método experimental de Galileu como uma oposição às idéias de Aristóteles (não testadas experimentalmente). Apresenta e equaciona de forma muito didática o experimento do plano inclinado. Este é o vídeo que apresenta melhor a equação de velocidade x tempo alcançada por Galileu.
The Experiment Group’s Exciting Experiments Grupo que reproduz alguns experimentos feitos por Galileu relacionados a movimento dos corpos. O grupo detalha como os experimentos foram construídos, como os dados foram coletados e as conclusões alcançadas. Este relato aparece como parte do portal Galileo Project. http://galileo.rice.edu/lib/student_work/experiment95/
Visita virtual ao Istituto e Museo di Storia della Scienza Este museu apresenta experimentos que permitem alcançar as mesmas conclusões de Galileu em seus experimentos. Dentre eles está um interessante plano inclinado com sinos (será comentado adiante) em: http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=404013 http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=100198
Além disso, há alguns vídeos sobre o tema com links para peças da exposição relacionadas: Galileo and the science of motion (Galileu e a ciência do movimento) http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=500012 Law of free-falling bodies (Lei dos corpos em queda livre) http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=500065
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Reproduzindo o experimento de Galileu Neste nosso estudo reproduziremos o experimento de Galileu de forma mais simplificada e utilizando material caseiro, de modo que você possa realizá-lo em casa, se quiser. O experimento consiste em fazer uma bola rolar por um plano inclinado e medir o seu deslocamento conforme o tempo varia. Como está ilustrado na Figura 1, foi utilizada uma tábua de cozinha como plano inclinado e uma bola de frescobol. Um livro não muito espesso foi utilizado como suporte para inclinar o plano e uma régua foi utilizada para permitir medições de posição. O experimento foi registrado por uma webcam e você pode assisti-lo no ambiente virtual de aprendizagem.
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Figura 1. Fotografia de uma tela do experimento do plano inclinado.
A webcam permite registrar posições consecutivas da bola em intervalos de tempo aproximadamente regulares. É importante que você perceba que este experimento tem propósitos pedagógicos e é apenas uma ilustração, portanto, os seguintes aspectos irão afetar a precisão dos dados coletados: A webcam não é um equipamento com precisão adequada para um experimento mais apurado. Ela não garante que a captura dos quadros será em intervalos regulares. A tábua de cozinha possui imperfeições que provocam uma descida irregular da bola. A bola de frescobol é bastante irregular.
Estamos chamando a sua atenção para este fato, pois tais fatores irão causar algumas irregularidades nos resultados observados. Em um experimento mais apurado todos estes fatores podem ser minimizados (nunca eliminados). De qualquer modo, as irregularidades não invalidam o procedimento que pretendo lhe mostrar. Como já foi feito no caso anterior do estoque mínimo, nosso objetivo nesta etapa é sair à procura de padrões de comportamento. Vamos realizar isto em partes e, nesta primeira parte, vamos responder a seguinte pergunta: o tempo que a bola leva para descer a ladeira é regular? Para responder esta pergunta deixamos a bola rolar quatorze vezes pelo plano e medimos seu tempo. Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 2. Note
97
que nos adiantamos e colocamos ao lado dos dados coletados o gráfico, de modo que
introdução ao trabalho
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você possa observar o padrão de comportamento. Utilizaremos esta prática daqui por diante. tempo (seg.) 2,3 2,2 2,1 2,2 2,3 2,2 2,1 2,3 2,3 2,3 2,3 2,1 2,1 2,1 2,2
Tempo de descida no plano inclinado tempo total de descida (seg.)
número do experimento 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 média
3,0 2,9 2,8 2,7 2,6 2,5 2,4 2,3 2,2 2,1 2,0 1,9 1,8 1,7 1,6 1,5 1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
número do experimento
Figura 2. Dados de tempo de descida registrados no experimento do plano inclinado.
Note que, mesmo com as imprecisões causadas pelas condições em que foi feito o experimento, observa-se um padrão de comportamento no tempo de descida, que é em média 2,2 segundos de descida e varia no máximo de 0,1 segundo para mais ou menos. Deste modo, podemos concluir que o tempo de descida se comporta em ________________________ um padrão estável e suscetível a previsões. Muito bem, mas pretendemos alcançar mais do que isso. Precisamos estabelecer como um corpo se desloca em função do tempo. Se você assistiu ao vídeo percebeu que o corpo iniciou parado e gradativamente foi se deslocando mais rápido. A Figura 3 apresenta uma seqüência de quadros capturados pela webcam no experimento do plano inclinado. O tempo transcorrido entre um quadro e outro é aproximadamente o mesmo. Você percebe intuitivamente que a variação de deslocamento vai aumentando, mesmo se o tempo entre um quadro e outro é aproximadamente o mesmo. A questão é: de quanto é este aumento?
Figura 3. Seqüencia de imagens capturadas do experimento do plano inclinado.
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Para tentar descobrir um padrão de comportamento no aumento da velocidade da bola, vamos tabular os dados e analisá-los mais detalhadamente. A Figura 4 apresenta as mesmas imagens da Figura 3 sobrepostas por um registro das posições da bola em cada um dos quadros (visite a esfera Laboratório Mundo no ambiente virtual de aprendizagem, em que estão disponíveis imagens de maior resolução e dados mais detalhados deste experimento).
Figura 4.Registro das posições da bola em intervalos de tempo regulares.
________________________ ________________________ Os dados registrados da Figura 4 foram tabulados em uma planilha apresenta________________________ ________________________ da na Figura 5. Na coluna com o título “tempo (ut)” está registrado o tempo. Na coluna ________________________ “posição (uda)” está registrada a posição verificada na régua. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Se você observar na tabela, não utilizamos medidas convencionais (tais como segundos e centímetros) para medir o tempo e a posição. Ao contrário, usamos duas medidas chamadas ________________________ ut (unidade de tempo) e ud (unidade de deslocamento). Inventamos estas unidades de ________________________ medida para este exemplo e elas têm o propósito de simplificar a explicação. Se você está ________________________ curioso para saber quais são estas medidas: ________________________ ________________________ ________________________ 1 ut = 65 milisegundos (tempo entre cada quadro da webcam) ________________________ 1 uda = 1 cm ________________________ ________________________ ________________________ Ou seja, a distância de tempo entre cada quadro da captura corresponde a um ut. Quanto ________________________ a unidade ud, ela é como se fosse uma escala. Nesse caso, a escala é simples um ud a ________________________ corresponde exatamente a um centímetro. Daqui para adiante, utilizaremos a letra subscrita ________________________ depois de ud para diferenciar as diferentes escalas. ________________________ ________________________ ________________________
0 1,5 4,9 9,3 15,8 25,3
Posição ´ tempo no plano inclinado 30 25
Posição (ud)
0 1 2 3 4 5
introdução ao trabalho
Observado tempo posição (ut) (uda)
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99
20 15 Observado
10 5 0 1
2
3
4
5
6
Tempo (ut) Figura 5. Posição da bola de frescobol no plano inclinado em função do tempo.
O reconhecimento deste padrão é um pouco mais desafiador do que os anteriores. Não se trata apenas de reconhecer uma média de comportamento, mas uma relação entre duas variáveis. Você se lembra da nossa discussão tratada no capítulo Coleta e Seleção de Dados, em que Thurstone (1925, p. 187) define problemas científicos como uma busca de relações entre variáveis? Pois bem, é exatamente isto que estamos tentando fazer aqui. Não existe um método padronizado para reconhecer um padrão de comportamento. Vários fatores estão envolvidos neste processo, tais como, uma observação meticulosa dos dados, criatividade na concepção de modelos e experiência baseada em casos anteriores analisados. Outro aspecto importante, que não está sendo contemplado neste material por questões didáticas, é que geralmente uma observação é repetida várias vezes em condições diferentes a fim de se perceber um padrão entre as diferentes observações.
O Experimento da Queda Livre
Para enriquecer a nossa análise, vamos inserir um segundo exemplo. Desta vez utilizaremos recursos que vão um pouco além da época de Galileu, utilizando a webcam para capturar o deslocamento de uma bola de papel em queda livre. A Figura 6 ilustra as imagens desta captura.
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________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 6. Seqüência de imagens de uma bola de papel em queda livre. ________________________ ________________________ Mais uma vez é possível observar um efeito semelhante à sequência anterior: a ________________________ ________________________ bola de papel cai cada vez mais rápida à medida que o tempo passa. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
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Figura 7. Registro das posições da bola em queda livre em intervalos de tempo regulares.
Os dados da Figura 7 foram tabulados e estão apresentados na Figura 8. Na coluna posição está registrada a posição vertical da bola. Considere que a posição inicial onde a bola foi solta é a posição zero e esta posição aumenta à medida que ela se aproxima do chão. O tempo também foi registrado na medida ut, equivalente àquela do plano inclinado. A posição foi registrada em udb. Como a escala utilizada aqui foi diferente, neste caso: 1 udb = 2,3 cm Observado tempo posição (ut) (udb) 0,0 1,7 4,1 8,8 15,0 24,2 36,5
40,0 35,0 30,0
posição (ud)
0 1 2 3 4 5 6
Posição ´ tempo na queda livre
25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 1
2
3
4 tempo (ut)
Figura 8. Posição da bola de papel em função do tempo.
5
6
7
________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Observado ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
introdução ao trabalho
científico
102
Com estes dados já é possível tirarmos algumas conclusões. Observe a tabela a seguir e compare os valores de posição obtidos no experimento do plano inclinado e da queda livre. Note como os valores se aproximam. Plano Inclinado
Queda Livre
tempo (ut)
posição (uda)
posição (udb)
0
0,0
0,0
1
1,5
1,7
2
4,9
4,1
3
9,3
8,8
4
15,8
15,0
5
25,3
24,2
É importante notar que as unidades de medida de posição (uda e udb) usadas foram diferentes nos dois experimentos, ou seja, trabalhamos com escalas diferentes em cada um dos casos. Isso foi feito de propósito, pois como a bola de papel em queda livre cai mais rápido que a bola de frescobol desce no plano inclinado, usando escalas diferentes podemos verificar a mesma variação de deslocamento.
O Papel da escala Você deve entender o papel que cumpre a escala nestes nossos experimentos. A escala é um recurso freqüentemente utilizado por cartógrafos, arquitetos e engenheiros
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para representar mapas e plantas que não podem ser representadas no tamanho real. Desse modo, eles utilizam um artifício equivalente ao que utilizamos aqui, definindo que uma unidade na planta ou mapa corresponde a X metros ou quilômetros na situação real. O recurso da escala não altera os resultados obtidos, ela apenas permite ver os resultados em uma perspectiva diferente. Por exemplo, no caso da queda livre utilizamos uma escala 1 udb = 2,3 cm. A Figura 11 ilustra o efeito da escala sobre o resultado. Ela causa um efeito de diminuição do tamanho. É como se nos afastássemos da imagem e a víssemos menor do que é.
Figura 11. Sequência de imagens da queda livre em escalas diferentes.
Mas é muito importante que você perceba que, neste caso, o uso de diferentes escalas não afeta o padrão de comportamento que pretendemos observar.
científico
escalas no tempo.
103 introdução ao trabalho
O mesmo resultado aferido por escalas diferentes no espaço também vale para diferentes
Os resultados traçados nos gráficos dos dois experimentos produziram curvas semelhantes, o que nos leva a pensar em um mesmo padrão de comportamento. É importante que você note que organizamos este experimento de tal forma a conduzi-lo naturalmente a observar os padrões de comportamento que regem o movimento dos corpos em queda livre. Do modo que organizamos, pode parecer simples o processo de observar um fenômeno natural e extrair dele um padrão de comportamento. Tal como acontece com os melhores trabalhos científicos, Galileu gastou anos da sua vida em um longo processo de observação, experimentação e registro, para alcançar os resultados que agora reproduzimos. Alguns de seus experimentos e conclusões se opunham a ideias de Aristóteles (MACHAMER, 2008) que viveu quase dois mil anos antes de Galileu. A chave da questão para perceber o padrão de comportamento é perceber que existe uma relação direta entre a variação do tempo e o aumento na velocidade que o corpo desce o plano inclinado, ou cai em queda livre, ou seja, estamos procurando uma relação entre uma variável independente (tempo) e uma variável dependente (posição). Repetiremos os valores da Figura 5 com um ajuste para facilitar a sua observação: vou arredondar os valores. Tempo 0 1 2 3 4 5
Posição 0 1 5 9 16 25
Destes valores, o único que ficou fora do padrão com os erros resultantes das imperfeições da captura e com o arredondamento foi a posição relativa ao tempo dois. Não queremos alterar os dados originais que coletamos (um pesquisador nunca deve fazer isso), mas pedimos para você imaginar que esse número é o quatro, ao invés do cinco. Agora pedimos que você dê uma boa olhada nestes números e nas curvas da Figura 5 e da Figura 8 (você já viu alguma curva parecida com estas na escola?). Tente identificar por conta própria uma relação entre os valores antes de seguir adiante neste texto.
Induzindo um modelo Genérico Talvez você tenha percebido por conta própria o que Galileu percebeu há mais
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104
de quatro séculos atrás: a posição aumenta na proporção do quadrado do tempo. Vamos rever os números apresentados anteriormente:
Você deve estar se perguntando como concluiria isso com o cinco (aproximação de 4,9) no lugar do quatro. Se você se recorda do exemplo dos asdruborrinos no capítulo de Coleta e Seleção de Dados, então deve estar lembrando da relação que fizemos do tamanho da amostra com a precisão dos dados. O mesmo acontece neste caso. Se aumentássemos o número de observações o valor de aproximaria de quatro. Usualmente trabalhamos com médias de valores de várias observações e não fizemos isso aqui para simplificar a explicação.
Posição (ud)
________________________ Observe agora o gráfico da Figura 9 onde confrontamos as posições observa________________________ das e calculadas usando o quadrado do tempo. Veja como os gráficos se aproximam e ________________________ como alcançamos a percepção de um padrão. ________________________ ________________________ Observado Calculado tempo Posição ´ tempo no plano inclinado posição ________________________ 2 (ut) tempo (uda) 30 ________________________ 0 0 0 ________________________ 1 1,5 1 25 2 4,9 4 ________________________ 3 9,3 9 20 ________________________ 4 15,8 16 5 25,3 25 15 ________________________ Observado ________________________ Calculado 10 ________________________ 5 ________________________ ________________________ 0 1 2 3 4 5 6 ________________________ Tempo (ut) ________________________ ________________________ Figura 9. Posição observada x calculada da bola de frescobol no plano inclinado em função do tempo. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
Observaremos como a posição também varia em função do quadrado do tem-
105 introdução ao trabalho
científico
po na queda livre:
Veja graficamente na Figura 10 como a curva calculada se aproxima da observada no caso da bola de papel em queda livre. Observado Calculado tempo posição 2 tempo (ut) (udb) 0,0 1,7 4,1 8,8 15,0 24,2 36,5
0 1 4 9 16 25 36
40,0 35,0 30,0
posição (ud)
0 1 2 3 4 5 6
Posição ´ tempo na queda livre
25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 1
2
3
4
5
6
7
tempo (ut) Figura 10. Posição observada x calculada da bola de papel em função do tempo.
Então note que, tal como Galileu já havia observado, a posição varia proporcionalmente ao quadrado do tempo. Tal como fizemos no problema anterior do estoque mínimo, usando a síntese vou partir de observações específicas e propor uma hipótese. Esta hipótese tem o formato da seguinte proporção:
posição ~ tempo2
O símbolo de ~ indica proporcional, ou seja, indica que a posição é proporcional ao quadrado do tempo.
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introdução ao trabalho
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106
Mas, por que não dizemos que a posição é igual ao quadrado do tempo? Como mencionamos anteriormente, ao invés de medir o tempo em uma medida convencional usamos a medida ut. A distância também foi medida em ud. Fizemos isso de propósito para trabalhar com escalas diferentes e para facilitar a percepção de um padrão. Usando nossas medidas adaptadas, o tempo ao quadrado, sem nenhum cálculo adicional, resulta na posição. Mas é muito importante ressaltar que, se não tivéssemos adaptado as escalas, o cálculo não seria tão direto assim. Isso se deve ao fato de que a posição – em uma escala qualquer – não é sempre exatamente o quadrado do tempo – em uma escala qualquer. Para resolvermos as diferenças de escala podemos utilizar uma constante assim: posição = constante x tempo2
Esta constante ajusta as diferenças de escala entre a posição e o tempo. Não vamos trabalhar com esta versão porque não estamos interessados em cálculos precisos de física, mas apenas em conceitos. Para o nosso trabalho neste curso vamos dispensar a constante e considerar
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que ajustaremos o tempo e a posição para escalas que a tornem desnecessária (como fizemos nos exemplos). Deste modo a nossa hipótese será simplificada da seguinte maneira: posição = tempo2
Note que fazendo isso não estamos alterando os fatos reais. Apenas os observaremos na escala que nos parecer mais adequada. É muito importante que você entenda que esta não é uma aula de física. Não esperamos, com o que foi apresentado, que você seja capaz de resolver problemas de física. Esperamos que ao final desta apresentação você seja capaz de compreender como, a partir de observações individuais, Galileu formulou uma relação genérica entre o tempo e o deslocamento entre os corpos. Estas fórmulas são muito usuais na ciência porque estabelecem relações entre variáveis. Nem sempre um modelo teórico ou hipótese tem a forma de uma fórmula. Por exemplo, quando Charles Darwin propôs seu modelo de evolução baseado na seleção natural ele não utilizou uma fórmula. Nesta hipótese estamos tirando conclusões baseadas em um conjunto bastante limitado de dados. Adotamos um conjunto limitado para simplificar o exemplo, já que o nosso enfoque é no aprendizado do processo e não tanto na precisão do modelo. O modelo poderia ser mais preciso se tivéssemos um número maior de observações. Você será apresentado a esta questão no capítulo de Coleta e Seleção de Dados. De qualquer modo, esse é apenas o primeiro estágio. Nos próximos estágios nossa hipótese passará por testes para verificar a sua validade.
sível perceber o papel da síntese no método científico. A partir do registro minucioso de dados e de sua análise percebemos um padrão de comportamento na forma como a bola de frescobol e a bola de papel se deslocam com o tempo, e estabelecemos uma hipótese para descrever a relação entre a variável tempo e posição.
científico
Seguindo a rota de Galileu no seu experimento com o plano inclinado, foi pos-
107 introdução ao trabalho
Síntese
A esta altura você já teve condições de compreender como funciona a síntese. No próximo tópico iremos explorar como hipóteses são utilizadas para realizar previsões.
exercícios Na Pesquisa de Campo existe uma etapa em que você deve, a partir de dados coletados por questionários, estabelecer relações entre as variáveis analisadas. Este é um bom momento para você aplicar o que aprendeu aqui.
Sites Indicados Teachers’ Domain http://www.teachersdomain.org Reúne uma grande variedade de recursos multimídia para suporte a atividades em sala de aula. Aqui está disponível um excelente vídeo mostrando o experimento do plano inclinado de Galileu Galilei em http://www.teachersdomain.org/resources/ phy03/sci/phys/mfw/galileoplane/
Referências MACHAMER, Peter. Galileo Galilei (Summer 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.), Disponível em: http:// plato.stanford.edu/archives/sum2008/entries/galileo/
THURSTONE, Louis Leon. The fundamentals of statistics. New York: Macmillan Co., 1925.
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Autor: André Santanchè
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visões
109 introdução ao trabalho
Construção do Modelo Teórico – Pre-
As hipóteses do nosso modelo teórico devem ser capazes de prever algum tipo de resultado que seja passível de teste. Como utilizamos as hipóteses para realizar previsões? Em geral deduzindo as conseqüências da aplicação da hipótese em um caso específico. Este processo de construção de hipóteses e dedução de conseqüências da aplicação da hipótese
Desafio de Dedução: VAMU na “Casa do Chapéu”
Antes de prosseguir adiante, recomendo que faça uma pausa para tentar resolver o Desafio de Dedução. Trata-se de um desafio baseado em um clássico chamado Einstein Puzzle. A realização deste desafio não é obrigatória e se por algum motivo você não o resolver, isto não prejudicará o bom andamento do seu curso. Entretanto, nós estamos certos de que resolver este desafio pode ser uma atividade interessante e até divertida. Você pode formar grupos com seus colegas para tentar resolvê-lo. O desafio tem o objetivo de ilustrar de forma descontraída alguns conceitos que trataremos a seguir.
Se você trabalhou no Desafio de Dedução foi capaz de perceber um componente essencial nesta etapa de pesquisa. Pense a respeito. Quais as habilidades mais exigidas neste desafio? (i) você teve que ser capaz de relacionar variáveis (lembra-se que relacionar variáveis é uma forma de encarar problemas de pesquisa?); (ii) você teve que deduzir fatos a partir de evidências encontradas. Deduzir fatos a partir de evidências é justamente o que vamos tratar agora.
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A dedução pode ser compreendida como um processo que funciona de forma complementar à síntese. O dicionário Houaiss (2006) traz a seguinte definição de dedução: [...] processo de raciocínio através do qual é possível, partindo de uma ou mais premissas aceitas como verdadeiras (p.ex., A é igual a B e B é igual a C) a obtenção de uma conclusão necessária e evidente (no ex. anterior, A é igual a C).
Desse modo, a dedução é um processo da lógica. Ela pressupõe a existência de premissas verdadeiras para, a partir delas, alcançar uma conclusão. Leia as seguintes declarações:
Todos os vegetais precisam de água para crescer. A alface é um vegetal.
O que você consegue deduzir a partir delas? Exatamente o que você pensou:
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A alface precisa de água para crescer.
No contexto do método científico utilizamos a síntese para obter um conjunto de hipóteses. Estas hipóteses assumem um caráter genérico, tais como as premissas apresentadas anteriormente. Ou seja, podemos considerar a premissa “Todos os vegetais precisam de água para crescer” como uma hipótese da nossa pesquisa. Como se trata de uma hipótese e não uma premissa verdadeira, utilizamos a dedução não para alcançar outra conclusão verdadeira, mas para validar a premissa (hipótese). Por exemplo, considere a nossa hipótese “Todos os vegetais precisam de água para crescer”. Se “o alface é um vegetal”, então eu faço uma previsão de que “o alface precisa de água para crescer”. Ora, se por acaso eu encontrar algum alface que não precise de água para crescer, então eu invalido a hipótese. Por enquanto, vamos nos concentrar em estudar como utilizamos as hipóteses para realizar as previsões. Mais adiante estudaremos a questão dos testes na seção de Prova da Solução. Vamos retomar os exemplos trabalhados na síntese, para compreender como uma hipótese aliada à dedução é utilizada para a previsão de novas ocorrências.
Utilizando a Dedução no Problema do Estoque Mínimo No tópico de síntese obtivemos a seguinte hipótese, que define como estabelecer o estoque mínimo de um produto a partir do volume de vendas e tempo de
111
Estoque Mínimo = Média Volume Vendas Diário * Média Tempo de Entrega
introdução ao trabalho
científico
entrega de um fornecedor:
Esta equação foi uma generalização obtida através da análise da matéria prima Primatonina e do produto final Criptotex. Uma vez que ela assume este formato genérico, podemos aplicar a dedução para estabelecer o estoque mínimo de outros produtos. Por exemplo, considere os seguintes produtos:
Matéria prima Outranina média de tempo de entrega = 5 dias Produto final Maisumtex média de volume de vendas = 20 kg/dia
Considerando a fórmula e os dados apresentados acima como premissas deduzimos o estoque mínimo da Outranina da seguinte maneira1:
Estoque Mínimo Outranina = 20 kg/dia * 5 dias = 100 kg
Seguindo esta lógica utilizamos a dedução para prever o estoque mínimo de qualquer produto com as mesmas características de produção do Criptotex usando Primatonina.
Utilizando a Dedução na Queda Livre Vamos agora nos deslocar para o problema do plano inclinado e da queda livre. Como ambos os casos temos o mesmo padrão de comportamento, vamos nos concentrar na queda livre. Ao final do capítulo que tratamos sobre este assunto deduzimos a seguinte hipótese: posição = tempo2
A fim de analisar como esta equação pode ser usada para deduzir a posição de um objeto em queda livre em um certo momento do tempo, vou utilizar um software auxiliar chamado Modellus.
1 Para fins de simplificação estamos considerando as mesmas condições do Criptotex, ou seja, cada quilo de Outranina produz um quilo de Maisumtex e o seu tempo de produção é de uma hora.
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introdução ao trabalho
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112 O Modellus é um software educacional que permite a criação interativa de modelos matemáticos. Tais modelos podem ser usados como base para simulações. Trata-se de um software que tem versão em português e está disponível para download no site: http://modellus.fct.unl.pt/ Neste site você também encontrará documentação em português sobre o software.
O primeiro passo é registrar na janela de modelos a equação apresentada anteriormente, conforme está ilustrado na Figura 1.
Figura 1. Janela de descrição matemática do modelo no software Modellus.
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A variável “t” registrada no modelo é uma variável interna do Modellus que varia conforme o tempo passa. O próximo passo é criar uma janela de animação, na qual iremos animar uma bola de acordo com a equação que digitamos na janela de modelos. A Figura 2 ilustra uma tomada mais ampla do Modellus em que está sendo apresentada a janela de modelos (apresentada anteriormente), mais a janela de controle do tempo (rótulo “Controlo”) e a de animação (rótulo “Animação 1”). A bola que aparece dentro da janela de animação, representa um objeto que se deslocará de acordo com a equação da janela de modelos. Para isso informamos ao software que a posição vertical da bola é definida pela variável posição da janela de modelos. Além disso, também definimos que o valor da posição aumenta de cima para baixo.
Figura 2. Janelas do software Modellus relacionadas com a simulação de queda livre (antes simulação).
po: o valor do tempo (t) é aplicado na equação e é calculada a posição; a posição vertical da bola é atualizada conforme o valor da variável posição.
113 científico
sico de play), que inicia a simulação fazendo o tempo correr, a cada variação do tem-
introdução ao trabalho
Na janela de controle do tempo existe um botão de execução (símbolo de clás-
A Figura 3 ilustra a tela do Modellus ao final da execução da simulação. Note que a janela de controle do tempo registra o tempo=6, indicando que se passaram 6 unidades de tempo, e janela de animação registra a posição da bola em cada um dos instantes de tempo.
Figura 3. Janelas do software Modellus relacionadas com a simulação de queda livre (depois simulação).
Para analisar o quanto esta simulação corresponde ao que foi observado no mundo real, decidimos colocar as imagens capturadas da bola de papel em queda livre ao lado das imagens capturadas pela nossa webcam da bola de papel em queda livre. A Figura 4 apresenta o resultado. Note que a escala da simulação foi ajustada para ficar compatível com a fotografia. Conforme comentado no capítulo de Síntese, se não pudéssemos ajustar a escala internamente no Modellus, seria necessária uma constante na equação.
Figura 4. Simulação de queda livre no Modellus ao lado de imagens reais capturadas.
Este é um exemplo prático de como utilizamos uma hipótese, que é resultante da etapa de síntese, para fazer uma dedução. Nesse caso, deduzimos as posições em que a bola de papel em queda livre apareceria.
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114
Se você é observador perceberá que não utilizamos neste caso a dedução para prever um acontecimento que desconhecíamos. De fato, o modelo foi extraído justamente deste experimento da bola de papel em queda livre. Para testarmos o verdadeiro potencial de previsão do modelo, temos que testá-lo em outro experimento, no qual desconheçamos, a priori, as posições do corpo em queda livre.
O experimento da bola de basquete Para isso utilizaremos um experimento cujo autor é MichaelMaggs (http://commons.wikimedia.org/wiki/User:MichaelMaggs), que foi executado com uma bola de basquete e está disponível na Web, mais especificamente no Wikimedia Commons, no endereço2: http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Falling_ball.jpg
Neste experimento uma bola de basquete
foi solta
em queda livre e foi usada uma técnica fotografia com luz estroboscópica. Esta é uma técnica de fotografia em que algo se desloca num local escuro (usualmente sobre um fundo preto), em que uma luz estroboscópica emite flashes de luz em tempos regulares. Uma máquina fotográfica mantém o filme exposto
________________________ durante todo o processo de movimento e captura as diversas ________________________ posições do que está se deslocando, cada vez que o flash o ilumina3. ________________________ As imagens ficam sobrepostas no filme, causando um efeito que ________________________ você vê na Figura 5. ________________________ Este experimento foi realizado nas seguintes condições: ________________________ ________________________ ________________________ A queda durou meio segundo. ________________________ A luz estroboscópica emitiu 20 flashes por segundo. ________________________ O autor do experimento utilizou a mesma técnica que apre________________________ sentamos no capítulo de síntese, ou seja, adotou uma esca________________________ la própria de medida em que cada unidade corresponde a Figura 5 ________________________ 12mm (as medidas apresentadas na fotografia ao lado usam ________________________ esta medida). ________________________ 3 Se você quer ver um vídeo onde um professor de física realiza um experimento como este com luz estroboscópica, visite o site: http://ocw. ________________________ mit.edu/OcwWeb/Physics/8-01Physics-IFall1999/VideoLectures/index.htm e assista o vídeo número 2 de título “ 1D Kinematics - Speed - Velo________________________ city - Acceleration”. ________________________ A fotografia apresentada foi colocada ao lado da nossa simulação no Modellus ________________________ e foram feitos dois ajustes no modelo: ________________________ ________________________ O tempo foi aumentado de 6 para 10 unidades. ________________________ A escala da animação foi ajustada para se tornar compatível com a escala da fotogra________________________ fia. ________________________ ________________________ 2 Se você não conhece o Wikimedia Commons esta é uma boa oportunidade. Trata-se de um repositório de recursos multimídia (principalmente imagens) que em sua maioria são de uso livre. Acesse o endereço: http://commons.wikimedia.org; para versão em português acesse o endereço http://commons.wikimedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal.
para deduzir o comportamento da bola de basquete. Nesse caso, podemos considerar que fizemos uma previsão de comportamento, cujo resultado se aproxima bastante do observado no mundo real.
Figura 6. Simulação de queda livre no Modellus ao lado da fotografia de MichaelMaggs.
A técnica aqui empregada para deduzir as posições da bola é um excelente exemplo para você perceber como as hipóteses, produzidas como parte do método científico, são utilizadas para realizar previsões de comportamento. Seguindo este mesmo raciocínio cientistas começaram a perceber que poderiam modelar o movimento dos astros, o comportamento da luz, a ação dos componentes químicos etc.
Síntese Neste capítulo definimos dedução como um processo de se obter conclusões a partir de hipóteses. Estudamos exemplos de como este processo se liga as hipóteses formuladas pelo processo anterior (a síntese), a fim de se realizar previsões de comportamento. No capítulo seguinte estudaremos como estas hipóteses passam por testes rigorosos, a fim de serem corroboradas, ajustadas ou refutadas.
introdução ao trabalho
O resultado você pode observar na Figura 6. Desta vez utilizamos o modelo
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questão para Reflexão Recomendamos como exercício que você tente fazer ou reproduzir por si mesmo alguns destes experimentos. Se você está interessado, todos os dados coletados e os modelos produzidos no Modellus estão disponíveis para download no ambiente.
Leituras indicadas Se você tem interesse no uso de software educacional para o aprendizado de matemática e/ou física, então recomendamos um texto produzido por um dos autores deste curso, que está disponível para download no ambiente virtual: SANTANCHE, André. O computador como ambiente para exploração da matemática e física. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO - SBIE 112, Vitória, ES, 2001. Neste texto você encontrará o mesmo problema de física sendo tratado de diversas perspectivas. Uma atividade interessante pode ser aplicar a mesma técnica nos experimentos realizados neste capítulo.
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Sites Indicados Se você achou interessante o desafio de dedução e quer outros desafios como esse, provavelmente vai querer conhecer o Einstein Puzzle. O jogo clássico conhecido como “Who owns the fish?” pode ser encontrado em sua versão em inglês neste endereço: http://www.atkielski.com/inlink.php?/ESLPublic/, ou na versão em português no endereço: http://rachacuca.com.br/teste-de-einstein/. Esta versão em português é feita para funcionar on-line, enquanto a versão em inglês é feita em papel (eu prefiro em papel). No site do Modellus (http://modellus.fct.unl.pt/) está disponível não apenas o software para download, mas diversas atividades relacionadas com matemática e física. Trata-se de uma excelente ferramenta para aprofundar os temas tratados neste capítulo.
Autor: André Santanchè
científico
Campo
117 introdução ao trabalho
ORGANIZANDO OS DADOS DA Pesquisa em
Você está acompanhando ou acompanhou a execução de uma pesquisa completa relacionada à queda livre. Nessa pesquisa você propositalmente assume a posição de expectador. Agora estou lhe propondo participar desta segunda pesquisa adotando uma postura diferente: você se torna agora co-participante do experimento. A proposta é a seguinte: nós dois vamos desenvolver esta pesquisa juntos; eu do meu lado vou conduzir uma pesquisa passo a passo e vou lhe explicando como você fará o mesmo de sua parte. As duas pesquisas (a minha e a sua) seguem a mesma metodologia, mas deverão ser diferentes no conteúdo. Isto significa que você não vai reproduzir exatamente o que eu faço, apenas seguirá a mesma metodologia. O produto final desta atividade será apresentado na forma de um relatório, que deve utilizar um arquivo modelo (template) do Word. Clique aqui para baixar o arquivo modelo. Este arquivo modelo é diferente do documento convencional do Word. Ele tem também uma extensão diferente (extensão .dot ao invés de .doc). Para usá-lo você ________________________ deve primeiro gravar em seu computador e, em seguida, dar um duplo clique no ar- ________________________ quivo para abri-lo. O Word abrirá um arquivo novo seguindo as especificações do ar- ________________________
________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Esta pesquisa será desenvolvida de acordo com os seguintes passos: ________________________ 1 Conhecendo as Tecnologias ________________________ ________________________ 2 Formulação do Problema ________________________ 3 Definição da Amostra ________________________ ________________________ 4 Montagem e Distribuição do Formulário ________________________ 5 Tabulação dos Dados ________________________ ________________________ 6 Análise dos Dados Tabulados ________________________ 7 Apresentação dos Resultados ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Etapa 1 - Conhecendo as Tecnologias ________________________ ________________________ O nosso experimento gira em torno de um conjunto de tecnologias específicas, ________________________ por este motivo, eu lhe convido a conhecê-las. ________________________ quivo de modelo.
É importante que você note que o uso específico das ferramentas aqui apresen-
introdução ao trabalho
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118
tadas foi uma escolha nossa para trazer para você uma perspectiva da aplicação das mais novas tecnologias aplicadas à pesquisa. Serão utilizadas principalmente as seguintes ferramentas:
planilhas eletrônicas formulários de pesquisa pela Internet
Mais especificamente utilizaremos o Google Spreadsheet que combina ambas as tecnologias em um formato dinâmico através da Web. O Google Spreadsheet faz parte de um projeto mais amplo da Google (http://www.google.com) para a disponibilização de um pacote de aplicativos de produtividade disponíveis on-line chamado Google Docs (http://docs.google.com), no qual estão inclusos o processador de textos, a planilha eletrônica e o software de apresentação. Esse projeto envolve não apenas o uso de tecnologias interativas que estão sendo denominadas de Web 2.0, como também provê um espaço na rede para o armazenamento e compartilhamento dos documentos produzidos. Ele também possibilita a autoria colaborativa, controlando múltiplos autores e versões. Especificamente o Google Spreadsheet traz uma planilha eletrônica completa,
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com recursos de fórmulas, funções e gráficos. Além disso, ele inclui uma funcionalidade extra que é a possibilidade de se elaborar questionários on-line que podem ser respondidos pela Web por pessoas específicas (através de convites personalizados) ou pelo público em geral. O propósito desta etapa é que você conheça o Google Spreadsheet e as tecnologias a ele relacionadas, antes de prosseguir no trabalho. Para isso, você deve criar uma conta no Google (se ainda não tem), ler o nosso Tutorial do Google Spreadsheet e experimentar por si mesmo.
Etapa 2 - Formulação do problema Esta etapa parte do pressuposto de que você já leu o capítulo “A Escolha do Tema e a Formulação do Problema” no qual tratamos em detalhes a questão da formulação do problema. Para formular o nosso problema nesta pesquisa vamos partir da perspectiva de um problema como a relação entre variáveis. Por exemplo, eu quero estabelecer uma relação entre o gênero (masculino ou feminino) de indivíduos (variável 1) e o seu comportamento na Internet (variável 2). Ao invés de definir o problema logo de cara, vamos usar a mesma técnica de refinamento adotada no capítulo de formulação do problema.
Esta definição de problema precisa melhorar em dois aspectos. Primeiro, pre-
científico
O gênero de um indivíduo influencia em sua confiança em utilizar a Internet?
119 introdução ao trabalho
Primeira tentativa de formulação do problema:
cisamos limitar o universo da pesquisa tanto no tempo quanto no espaço, pois não pretendemos entrevistar pessoas em todo o mundo, nem podemos estabelecer esta influência sem caracterizar a que período temporal ou histórico estamos nos referindo, já que esta relação pode mudar com o tempo. Segundo, que: “confiança em utilizar a Internet” é uma expressão por demais subjetiva. O que quer dizer exatamente isso? Segunda tentativa:
No ano de 2005, o gênero dos brasileiros influenciou em sua opção de comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet?
Note que agora este problema pretende relacionar duas variáveis bem definidas: o gênero e a opção por comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet. Neste ponto precisamos definir de onde vêm os nossos dados, pois a depender da origem dos dados o universo de indivíduos o problema precisará ser mais limitado ainda. Além disso, se estes dados não foram coletados em 2005, não será possível fazer a coleta. Escolhi este problema de propósito, pois eu já sabia que estes dados foram coletados pelo IBGE em 2005 e está disponível na base deles. Veja no link: http://www. ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/ que está ilustrado na Figura 1.
Figura 1. Tela de download de resultados de coletas de dados e estatísticas do IBGE.
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introdução ao trabalho
científico
120
Há uma pesquisa rotulada como Acesso_a_Internet_e_posse_celular. Esta pesquisa coletou em 2005, no Brasil inteiro, dados relativos ao acesso à Internet e posse de celular. Então vou fazer um paralelo entre a pesquisa do IBGE e uma realizada por nós mesmos. Este paralelo tem propósitos didáticos. De sua parte, você não precisará fazer este paralelo na sua pesquisa. Com os dados do IBGE poderemos trabalhar em um escopo maior: o Brasil. Mas em paralelo vamos conduzir uma pesquisa na qual coletaremos dados por nós mesmos. Nesse caso, vamos limitar o problema da seguinte maneira:
No ano de 2008, o gênero dos colaboradores da Unifacs influenciou em sua opção de comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet?
Com relação a este problema pode surgir a seguinte indagação: para que eu vou estabelecer esta relação entre variáveis? Lembre-se que este problema pode fazer parte da solução de um problema maior, que relaciona de forma mais ampla o gênero de um indivíduo e seu comporta-
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mento frente às novas tecnologias, por exemplo. Pronto, conforme combinamos, agora é a sua vez. Nesta etapa você deve definir o seu problema de pesquisa.
Etapa 3 - Definição da Amostra A técnica para a coleta de dados que empregaremos envolve a aplicação de questionários de pesquisa, que serão enviados e preenchidos por uma amostra selecionada de indivíduos. Para isso, é necessário o planejamento do tamanho da amostra e de como selecionaremos os indivíduos que compõem a mesma. Portanto, antes de prosseguir é necessário que você tenha lido o capítulo sobre Coleta e Seleção de Dados, a fim de compreender como a escolha do tamanho da amostra e a forma como você selecionará os indivíduos da mesma afetará nos resultados. Como o material deste curso não trata especificamente de detalhes para calcular o tamanho da amostra, para alcançar o nível de confiança desejado, para fins de simplificação não realizaremos este cálculo aqui. Entretanto, a consciência de como a amostra deve ser escolhida contribuirá no confronto dos dados que iremos coletar com os dados do IBGE, bem como permitirá a construção de uma declaração clara e precisa sobre as nossas opções na escolha da amostra e suas limitações.
das com cautela para que possibilitem a obtenção dos dados desejados com clareza e objetividade. As recomendações e a técnica específica para a construção de bons formulá-
científico
O formulário é etapa importante do processo. As questões devem ser escolhi-
121 introdução ao trabalho
Etapa 4 - Montagem e Distribuição do Formulário
rios de pesquisa vão além do escopo deste curso. Deste modo, caso se interesse no aprofundamento deste assunto recomendamos a leitura do texto “Como Elaborar um Questionário” (GÜNTHER, 2003) que está disponível on-line. O questionário que adotamos na nossa pesquisa de campo foi inspirado na pesquisa Acesso_a_Internet_e_posse_celular realizada pelo IBGE, conforme está descrito na etapa 2. A Figura 2 ilustra o formulário de pesquisa que construí utilizando o Google Spreadsheet.
Figura 2. Formulário de Pesquisa no Google Spreadsheet.
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introdução ao trabalho
científico
122 O questionário possui as seguintes questões: Gênero: masculino ou feminino Idade Frequência de utilização da Internet no local de trabalho
Pelo menos uma vez por dia
Pelo menos uma vez por semana, mas não todo dia
Pelo menos uma vez por mês, mas não toda semana
Menos de uma vez por mês
Não acesso no trabalho
Frequência de utilização da Internet em seu domicílio
(mesmas opções da anterior)
Frequência de utilização da Internet na lan house
(mesmas opções da anterior)
Finalidade do acesso à Internet (múltipla escolha)
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Educação e aprendizado
Comunicação com outras pessoas
Atividade de lazer
Leitura de jornais e revistas
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo
Comprar ou encomendar bens ou serviços
Transações bancárias ou financeiras
Buscar informações e outros serviços
Indique como a Internet afetou e modificou seu modo de vida (questão
aberta)
O questionário foi enviado para uma amostra de 44 pessoas (27 homens e 17 mulheres) todos eles da Unifacs. Escolher apenas o universo da Unifacs causa sem dúvida uma tendência nos resultados. Para saber mais sobre tendência leia o nosso texto sobre Prova da Solução. Temos consciência de que os resultados terão uma tendência, mas como esta é apenas uma ilustração didática, trabalharemos mesmo assim com esta tendência. Nesta etapa a sua tarefa será criar um formulário de pesquisa. Note que aqui há uma diferença essencial entre a minha opção para construir o formulário e a sua. Na minha opção me baseei em uma pesquisa prévia do IBGE para fins didáticos. Porque posteriormente irei estabelecer um confronto entre esta coleta de dados e a do IBGE. Entretanto no seu caso você deve construir um formulário por si mesmo, sem se basear em uma pesquisa prévia do IBGE. Caso você faça escolhas que impliquem em
Se você não sabe utilizar o Google Spreadsheet para construir formulários de pesquisa, acompanhe o tutorial a seguir.
Etapa 5 - Tabulação dos Dados
123 científico
delas.
introdução ao trabalho
tendência é importante que você as relate para que fique claro que tem consciência
Agora chegou a etapa em que os dados resultantes dos questionários recebidos. De todos os questionários enviados, recebemos 28 questionários preenchidos. Se o Google foi um precioso aliado na aplicação dos questionários também será na tabulação dos resultados. Como você vê ilustrado na Figura 3, os resultados dos questionários são automaticamente lançados na planilha. Isso é muito interessante. Deixei a minha planilha aberta por algumas horas enquanto trabalhava e percebi que sempre que alguém preenchia um questionário ele atualizava on-line.
Figura 3. Tela ilustrando planilha no Google Spreadsheet com resultados da aplicação dos formulários.
Metade do processo de tabulação já foi feito pelo Google. Agora você precisará utilizar conhecimentos de planilha eletrônica para tabular os resultados obtidos. Se você se sentir mais confortável trabalhando com o Microsoft Excel ou OpenOffice poderá utilizar a opção “Arquivo > Exportar “ para exportar a planilha para o formato que desejar. Agora faremos estatísticas sobre os dados coletados. Você pode fazê-las utilizando os recursos da própria planilha (para isso retome o tutorial da planilha) ou então manualmente. Alguns recursos da planilha descritos no tutorial, tais como: somatório, média, contagem e tabulação condicional serão bastante úteis nesse momento. Nesta etapa a sua tarefa será tabular os dados resultantes dos questionários. Algumas tabulações podem exigir o conhecimento de técnicas mais sofisticadas, como o uso de condicionais. Por esse motivo, você pode alternativamente realizar toda a tabulação à mão. Como não pretendemos que você trabalhe com uma amostra muito grande (entre 15 a 20 pessoas), a tabulação manual nesse exercício pode ser mais simples que o uso da planilha. Entretanto, será um aprendizado muito rico para você uti-
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124
lizar a planilha, mesmo que dê mais trabalho. Lembre-se que quando você for realizar
introdução ao trabalho
científico
pesquisas deste tipo com muitos dados a tabulação manual pode não valer a pena. O que você vai tabular depende dos resultados que pretende obter. Na próxima seção discutiremos isso. Um lugar onde você pode encontrar modelos de referência interessantes de formas de tabulação de dados é no IBGE. Veja na Figura 4 uma das tabulações de pesquisa realizada pelo IBGE sobre acesso à Internet, conforme comentado na Etapa 2. T abela 1.26.1 - P es s oas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a Internet, no período de referênc ia dos últimos três mes es , por G randes R egiões , s egundo o s exo e a finalidade do ac es s o à Internet - 2005 P es s oas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a Internet, no período de referência dos últimos três mes es
S exo e finalidade do aces s o à Internet B ras il T otal
G randes R egiões Norte
Nordes te
S udes te
S ul
C entro-Oes te
32 109 939
1 365 237
4 912 172
17 492 193
5 829 100
2 511 237
E ducação e aprendizado (1)
23 020 966
1 058 687
3 711 981
12 153 852
4 219 384
1 877 062
C omunicação com outras pes s oas (1)
22 040 184
787 955
3 190 456
12 256 394
4 177 432
1 627 947
Atividade de lazer (1)
17 432 108
704 579
2 679 747
9 244 718
3 397 421
1 405 643
Leitura de jornais e revis tas (1)
15 065 370
671 780
2 406 969
7 943 552
2 731 423
1 311 646
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1)
8 810 894
337 697
1 353 124
4 931 563
1 435 401
753 109
C omprar ou encomendar bens ou s erviços (1)
4 395 891
213 752
561 372
2 474 798
761 160
384 809
1 075 187
504 526
1 372 709
631 540
2 939 889
1 266 454
2 042 253
901 241
2 112 040
825 857
1 833 905
759 262
1 412 685
668 711
781 915
411 018
475 662
236 404
623 068
292 633
674 726
308 184
2 889 211
1 244 783
2 177 131
975 821
2 065 392
802 090
1 563 516
646 381
1 318 738
642 935
653 486
342 091
285 498
148 405
452 119
211 893
697 983
323 356
________________________ T rans ações bancárias ou financeiras (1) 6 135 728 185 125 728 162 3 642 728 ________________________ B us car informações e outros s erviços (1) 7 852 581 269 414 1 156 760 4 422 158 ________________________ Homens 16 211 545 676 930 2 454 082 8 874 190 ________________________ E ducação e aprendizado (1) 11 092 119 496 190 1 785 551 5 866 884 ________________________ C omunicação com outras pes s oas (1) 11 152 684 387 236 1 590 577 6 236 974 ________________________ Atividade de lazer (1) 9 474 549 378 376 1 446 071 5 056 935 ________________________ Leitura de jornais e revis tas (1) 7 810 649 334 274 1 237 900 4 157 079 ________________________ Interação com autoridades públicas ou ________________________ ou órgãos do governo (1) 4 763 704 178 220 732 258 2 660 293 ________________________ C omprar ou encomendar bens ou s erviços (1) 2 680 897 129 038 351 861 1 487 932 ________________________ T rans ações bancárias ou financeiras (1) 3 521 881 110 203 422 797 2 073 180 ________________________ B us car informações e outros s erviços (1) 3 876 254 134 487 584 072 2 174 785 ________________________ ________________________ Mulheres 15 898 394 688 307 2 458 090 8 618 003 ________________________ E ducação e aprendizado (1) 11 928 847 562 497 1 926 430 6 286 968 ________________________ C omunicação com outras pes s oas (1) 10 887 500 400 719 1 599 879 6 019 420 ________________________ Atividade de lazer (1) 7 957 559 326 203 1 233 676 4 187 783 ________________________ Leitura de jornais e revis tas (1) 7 254 721 337 506 1 169 069 3 786 473 ________________________ Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1) 4 047 190 159 477 620 866 2 271 270 ________________________ C omprar ou encomendar bens ou s erviços (1) 1 714 994 84 714 209 511 986 866 ________________________ T rans ações bancárias ou financeiras (1) 2 613 847 74 922 305 365 1 569 548 ________________________ B us car informações e outros s erviços (1) 3 976 327 134 927 572 688 2 247 373 ________________________ F onte: IB G E , Diretoria de P es quis as , C oordenação de T rabalho e R endimento, P es quis a Nacional por Amos tra de Domicílios 2005. ________________________ (1) Inclus ive as pes s oas que utilizaram a Internet para mais de uma finalidade. ________________________ Figura 4. Uma das tabulações de pesquisa de acesso à Internet realizada pelo IBGE em 2005.
Responderam o questionário
Mulheres
Homens
Total
10
18
28
7
17
24
Selecionaram
introdução ao trabalho
Dentre as tabulações de dados que fizemos, apresentamos:
científico
125
“Comprar ou encomendar bens ou serviços” para a pergunta “Finalidade do acesso à Internet”
Etapa 6 - Análise dos Dados Tabulados Esta etapa corresponde ao que apresentamos nos textos de Síntese, Previsões e Prova das Hipóteses. Nestes textos fizemos uma divisão de como o trabalho científico se processa para fins puramente didáticos. Na prática, a síntese de um modelo teórico pode ocorrer concomitante com o processo em que tentamos realizar previsões. Muitas vezes a síntese exige o levantamento de muitos dados, que servem ao mesmo tempo como teste e prova das hipóteses. Você virá exatamente esta combinação nesta etapa. Uma vez que coletamos uma quantidade significativa de dados, o próximo passo é tentar perceber padrões de comportamento. Como já tratamos antes, esta percepção se dará na forma de relacionamento entre variáveis. Como já anunciamos no problema, pretendemos definir se o gênero (masculino ou feminino), que é a nossa variável independente, influenciou a sua opção de comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet. Como faremos isso? Note que não existe uma forma padrão de estabelecer relações entre variáveis. Nesse caso, computaremos qual percentual entre as mulheres entrevistadas respondeu que uma das finalidades de acesso à Internet é “Comprar ou encomendar bens ou serviços”. Faremos o mesmo com os homens. Neste tipo de problema em que se conhece (mesmo que aproximadamente) o tamanho da população, a estatística define técnicas precisas de testar a forma como uma variável afeta outra. Este tema em estatística é conhecido como Teste de Hipótese. Usando técnicas estatísticas é possível testar a nossa hipótese para uma probabilidade de erro específica. Pesquisas profissionais deste tipo, tais como as realizadas pelo IBGE, utilizam teste de hipótese. Neste curso não aprofundaremos esta questão, mas se você está interessado no assunto veja o capítulo Teste de Hipótese de Mário Triola (2008, p. 304) que possui uma explanação completa sobre o assunto do ponto de vista da estatística. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 74) também têm uma explanação interessante sobre o assunto, ainda que não aprofundem muito os aspectos estatísticos.
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introdução ao trabalho
científico
126
Aqui apresentaremos uma análise mais superficial, apenas para que você entenda o que exatamente se busca neste tipo de pesquisa. Pela tabulação realizada anteriormente, percebemos que 70% das mulheres entrevistadas usam a Internet para comprar ou encomendar bens e serviços, contra 94,4% dos homens. Isto pode apontar para o fato de que os homens no universo Unifacs têm uma tendência maior a realizar compras deste tipo pela Internet, mas temos consciência de que nossa pesquisa nesse sentido é demasiadamente limitada por três motivos: o tamanho da amostra é muito pequeno, a escolha dos indivíduos não foi aleatória e um número muito maior de homens foi entrevistado que o de mulheres. Quando você fizer a sua pesquisa, provavelmente terá as mesmas limitações. Como o propósito da pesquisa é apenas a aprendizagem da técnica, sabemos que você terá as mesmas limitações que nós na pesquisa. Deste modo, você também pode trabalhar com uma amostra pequena (entre 15 a 20 pessoas) e com tendências, tal como fizemos. Mas tal como estamos fazendo aqui, você deve relatar que tem consciência das limitações e tendências da sua pesquisa. Apenas a título didático, vamos comparar a nossa pesquisa com a do IBGE, que selecionou uma amostra verdadeiramente significativa e aleatória. Na pesquisa do IBGE 10,8% das mulheres compram bens e serviços pela Internet, contra 16,5% dos homens. Esta pesquisa aponta para um percentual maior de homens e por outro lado, comparada com a nossa pesquisa, um percentual global bem menor de pessoas que
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compram pela Internet. A diferença pode estar relacionada a duas questões: (1) a nossa pesquisa foi feita em 2008 e a do IBGE em 2005 - espera-se naturalmente um crescimento; (2) a nossa pesquisa foi feita no universo da Unifacs que tem um perfil bem diferente da população em geral (mais uma vez lembre-se que o tamanho da nossa amostra é bem pequeno e sujeito a tendências). Note que, com os resultados que obtivemos, podemos realizar um rico conjunto de análises, comparando variáveis das mais diversas maneiras e é isso que esperamos que você faça na sua análise. Apresentamos aqui análises principalmente quantitativas, mas as pesquisas deste tipo não se restringem a este tipo de análise. Você se lembra que o formulário define a seguinte questão aberta?: “Indique como a Internet afetou e modificou seu modo de vida”. Pois bem, esta questão foi criada para realizar um outro tipo de análise que não envolve estatísticas com números. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que envolve uma leitura da resposta de cada pergunta e análise dos resultados. A análise qualitativa atua de forma complementar à quantitativa. Ela permite a percepção de elementos e nuances no universo analisado, que não pudemos prever quando fizemos o nosso questionário. O que será analisado do ponto de vista qualitativo está fortemente atrelado com o domínio da sua pesquisa e foge do escopo deste texto detalhá-la. Se você quer aprofundar este estudo deve ler a segunda parte do livro de Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 109) que detalha o assunto.
Etapa 7 - Apresentação dos Resultados Esta é uma etapa estratégica do seu trabalho porque aqui você dá visibilidade a tudo o que fez. Em uma pesquisa a apresentação dos resultados usualmente envol-
apresenta tudo o que você fez nas etapas anteriores, sem esquecer de mencionar as condições em que você fez sua pesquisa (características e tamanho da amostra), como você levantou os dados (detalhes sobre o formulário), tabulações dos dados, análise dos resultados e as considerações finais sobre o seu trabalho. Lembre-se de deixar claras as limitações do seu trabalho. É importante deixar
127 científico
dados levantados, mas os resultados obtidos. Nesta etapa você organiza, formata e
introdução ao trabalho
ve a construção de tabelas e/ou gráficos, nos quais são apresentados não apenas os
registrado para quem lê quais as limitações observadas, tais como: tamanho reduzido da amostra, tendências etc. e as possíveis interferências disso nos resultados que você está apresentando.
Referências ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
GÜNTHER, Hartmut. Como elaborar um questionário (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, Nº 01). Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental, 2003. On-line: http://www.psiambiental.net/pdf/01Questionario.pdf. Acessado em 28/07/2008.
TRIOLA, Mário F. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
________________________ ________________________ Submissão da Tarefa ________________________ ________________________ Uma vez que você concluiu a sua tarefa, clique no link a seguir para submetê-la, ________________________ ou então a submeta através do link específico no ambiente Moodle cujo título é “Sub- ________________________ missão da Atividade: Pesquisa em Campo”. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
introdução ao trabalho
científico
128
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científico
Autor: André Santanchè
129 introdução ao trabalho
PROVA DA SOLUÇÃO
No século XIX existia um acalorado debate em torno da seguinte questão: como somos capazes de ver em três dimensões? O que parece uma questão simples implica em uma discussão bem mais complexa. De um lado estavam aqueles que defendiam a idéia de que a percepção de três dimensões era resultante do fato de que temos dois olhos. Como cada olho vê a mesma imagem em uma perspectiva levemente diferente, o cérebro combina as duas e forma uma imagem mental tridimensional. Em outras palavras, somo capazes de ver em três dimensões porque temos dois olhos. Do outro lado, estavam aqueles que acreditavam que características da imagem vista, tais como o efeito de perspectiva, as sombras e o tamanho relativo da imagem, nos permitem perceber a tridimensionalidade. A realização de experimentos científicos para comprovar uma ou outra hipóte- ________________________ se (ou ambas) seria uma solução. Mas neste caso, como acontece em muitos na ciên- ________________________ cia, não parecia possível a separação das variáveis, para analisá-las individualmente. No final da década de 50 entra neste cenário Bela Julesz (SIEGEL, 2004) que formulou um experimento bastante criativo para resolver a questão. Ele utilizou uma técnica conhecida como estereogramas de pontos aleatórios. Por enquanto, não vamos nos adiantar nos detalhes de como ele fez isso. Vamos pedir apenas que você faça um experimento simples. Olhe um exemplo deste tipo de estereograma na Figura 1. Aparentemente você só está vendo um conjunto de pontos coloridos1, mas se você aplicar uma técnica especial de visualização verá surgir, como que por encanto, uma imagem tridimensional. Cada um consegue ver de uma forma diferente; algumas possíveis técnicas são: Imagine que existe um objeto atrás desta imagem bem distante. Tente focalizar neste objeto que não existe. Os seus olhos vão desfocalizar do estereograma, mas é este mesmo o propósito. Algumas pessoas relatam que se cruzarem o ângulo de visão esquerda e direita, como se estivessem estrábicos, em seguida conseguem ver a imagem. A terceira forma é tentar entender o que você tem que fazer e tentar aplicar a técnica. Você precisa olhar com o olho esquerdo a metade da esquerda da imagem e com o olho direito a metade da direita. Não é algo que os seus olhos estejam acostumados e isto exige algum esforço.
Desenvolver a habilidade de conseguir ver este tipo de imagem é geralmente uma técnica que exige tempo e paciência. Poucas pessoas conseguem ver a imagem 1 Na versão impressa este estereograma aparece em preto e branco e não sabemos se isto afetará o resultado do experimento. Por este motivo, recomendamos que você olhe a versão a cores no ambiente virtual.
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introdução ao trabalho
científico
130
em pouco tempo. Não se preocupe muito se você não conseguir visualizar a imagem, porque esta é apenas uma atividade interessante para enriquecer o debate que faremos no final deste texto. Mas visualizar a imagem não é essencial para a compreensão do texto e você pode seguir adiante mesmo que não tenha conseguido ver nada.
Figura 1. Estereograma de pontos aleatórios (autor: Fred Hsu, março/2005) Fonte: Wikimedia Commons
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Testando Hipóteses Na medida em que evoluímos no método científico vamos percebendo como ele se delineia. Primeiro identificamos um problema, em seguida coletamos dados e estudamos materiais relacionados, depois partimos para a construção de um modelo teórico, primeiro tentando generalizar as nossas observações (síntese), para depois aplicar a nossa generalização na previsão de eventos (dedução). Isto pode ter lhe parecido o suficiente, mas ainda não é. Chegamos agora no ponto nevrálgico do método científico no qual teremos que colocar à prova o nosso modelo. Vamos retomar o exemplo da queda livre que tratamos anteriormente. Será que baseados apenas nas observações que fizemos: podemos afirmar com segurança que a nossa hipótese é verdadeira? O teste das hipóteses é justamente uma forma sistemática de aumentar a confiança que temos nas hipóteses levantadas. Seguindo a concepção de Karl Popper (1975) que tratamos no texto sobre síntese, nunca poderemos afirmar com certeza que uma hipótese é verdadeira; o que fazemos na prova das hipóteses é aplicar os testes mais rigorosos para tentar invalidá-la. Se ela passar nestes testes, então ela será corroborada e integrada no nosso referencial teórico. Neste contexto devem ser considerados diversos aspectos para garantir o rigor dos testes.
Isolando Variáveis Como tratamos no início deste curso, problemas de pesquisa podem ser vistos em uma perspectiva de relações entre variáveis. Mas quando tratamos da perspectiva
a variável que pretendemos testar das demais. Por exemplo, no caso do nosso experimento da queda livre, existem múltiplas forças atuando e o que parece uma relação simples entre tempo e deslocamento, mostrar-se-á com testes mais minuciosos, bem mais complexa. Considere a seguinte situação: ao invés de soltarmos em queda livre uma bola de papel, que soltemos uma folha aberta. O que acontecerá? A folha de
131 científico
o nosso objeto que será testado e precisamos criar meios de isolar o máximo possível
introdução ao trabalho
dos testes, precisamos considerar que, no mundo real, múltiplas variáveis atuam sobre
papel não cairá da mesma forma. Ela provavelmente sairá deslizando lateralmente e certamente não observaremos o mesmo padrão de comportamento visto até então. Note que isto acontece porque outras forças (o atrito do ar), além daquela que observamos inicialmente, estão atuando. Neste caso, para alcançar testar adequadamente a nossa hipótese precisaremos isolar a variável que pretendemos estudar. Uma possível forma de fazer isso é testar as quedas livres no vácuo. O experimento de Bela Julesz, ilustrado na Figura 1, é um exemplo de como cientistas desenvolvem técnicas geniais para testar suas hipóteses. No caso de Bela, ele precisava isolar uma variável particular para provar que vemos em três dimensões porque temos dois olhos. Para fazer isto ele utilizou o recurso de estereograma de pontos aleatórios ilustrados na Figura 1. Um esterograma é uma projeção de uma imagem (fotografia ou ilustração) em duas partes. Cada uma delas representa a perspectiva de um dos olhos humanos. Veja o exemplo da Figura 2. Trata-se de uma fotografia aérea na forma de estereograma. A imagem da esquerda corresponde à perspectiva do olho esquerdo e a da direita à do olho direito. Utilizando a mesma técnica explicada ante- ________________________ riormente para o estereograma de pontos aleatórios, você conseguirá ver o lago em ________________________
________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ Figura 2. Stereograma de uma fotografia aérea do lago Palanskoye Landslide, Kamchatka Peninsula, Russia - Fonte: NASA (http://visibleearth.nasa.gov/view_rec.php?id=338). ________________________ Retornando ao experimento de Bela, ele se baseou nesta técnica para fazer o ________________________ três dimensões.
seu experimento. Mas no caso de Bela, ele precisava isolar qualquer outra variável que
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possibilitasse uma visão tridimensional, ou seja, efeito perspectiva, sombra etc. Para fazer isso criou um tipo de estereograma especial, no qual uma imagem tridimensional, produzida por computador, é coberta por pontos aleatórios. O fundo sobre o qual esta imagem está também é coberto pelo mesmo padrão de pontos. Então, ele monta um estereograma (projeção da esquerda e da direita lado a lado) sem qualquer outra pista visual, como a sombra da imagem. Deste modo, a única forma de você ver a imagem em três dimensões é se você puder fazer seu olho esquerdo ver a projeção da esquerda e seu olho direito a projeção da direita. As dicas que lhe demos para visualizar os estereogramas servem exatamente para que você alcance este efeito. Bela provou que as pessoas conseguem ver estes estereogramas e que a única hipótese que torna isso possível é que somos capazes de ver em três dimensões porque possuímos dois olhos (SIEGEL, 2004). Ou seja, com este experimento, Bela conseguiu isolar a única variável que lhe interessava testar, a visão binocular (visão por dois olhos).
Quantidade de Experimentos Não existe uma métrica específica de quantidade de experimentos que garanta a validade de uma hipótese. Mesmo porque, como apresentamos anteriormente, uma
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hipótese não se torna verdadeira, apenas corroborada. Entretanto, alguns parâmetros devem ser considerados, principalmente quando as variáveis que estão sendo testadas envolvem uma população cujo tamanho é conhecido. Nesse caso, remeteremos-lhe novamente ao texto que você já deve ter lido sobre Levantamento e Seleção de Dados no qual é tratada a questão da amostra. Os mesmos critérios que guiam o levantamento de dados devem guiar a seleção de amostras para testes.
Variedade de Condições Outro aspecto relevante a ser considerado no planejamento do experimento é submeter as hipóteses à maior variedade de condições possíveis. No caso da queda livre, por exemplo, é conveniente testá-la com diferentes objetos, de diferentes tamanhos, em diferentes alturas. Realizar testes em diferentes lugares, sob diferentes condições ambientais.
Tendência Todo o teste, por mais bem planejado que seja, sofre influência direta ou indireta do observador, o que causa distorções nos resultados obtidos. O que denominamos tendência ou viés de informação (tradução da palavra bias em inglês) resulta de uma determinação incorreta de um resultado (GRIMES; SCHULZ, 2002). Gluud (2006) define uma tendência na perspectiva de testes clínicos como um erro sistemático. Tal erro pode conduzir a conclusões incorretas sobre resultados.
dados relevantes, faz aproximações tendenciosas ou seleciona os resultados que mais lhe convém. Tendências podem ser causadas também no processo de seleção das amostras. Em muitos casos, ao invés de ser realizada uma seleção aleatória, o pesquisador seleciona amostras mais convenientes, que podem distorcer os resultados. Por este
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pesquisador no afã de provar a sua hipótese despreza (ainda que inconscientemente)
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Diversos aspectos podem causar uma tendência na observação. Muitas vezes o
motivo, fazer uma seleção aleatória pode contribuir para a redução da tendência.
Experimento Cego No contexto de pesquisas médicas, por exemplo, de efeitos de medicamentos em pacientes, é muito comum o uso de “experimentos cegos”. Um experimento é considerado cego quando as pessoas que o estão executando não sabem a priori que tipo de intervenção está sendo realizada (GLUUD, 2006). É usual em experimentos realizados com medicamentos que se trabalhe com dois grupos distintos: no primeiro, os pacientes tomam o medicamento e no segundo, os pacientes tomam o que se chama de placebo, ou seja, algum produto que imite características de apresentação, cheiro e gosto do medicamento, mas que não tenha nenhum efeito sobre os pacientes. Um experimento é considerado “cego simples” quando os pacientes que estão tomando o medicamento não sabem, a priori, quem ________________________ está tomando o medicamento de verdade e quem está tomando o placebo. Além dis- ________________________ so, um experimento pode ser “duplo cego” quando nem os pacientes, nem as pessoas ________________________ que estão executando o experimento sabem quem está tomando o medicamento e ________________________ quem está tomando o placebo. Um teste duplo cego bem feito minimiza a interferência do observador nos resultados do experimento, reduzindo a tendência do mesmo.
Síntese Neste texto, tratamos a importância dos experimentos na prova das hipóteses. Tratamos aspectos como a importância de se isolar variáveis, a influência do tamanho da amostra e variedade de condições em que se realiza o experimento. Por fim, tratamos da questão da tendência ou viés, sua influência nos testes e técnicas para minimizá-lo, tal como o experimento cego.
Leituras indicadas Os artigos citados nas referências (GLUUD, 2006) e (GRIMES; SCHULZ, 2002) tratam em mais detalhes a questão da tendência e os recomendamos para leitura. O artigo de (GLUUD, 2006) trata especificamente de experimentos clínicos e fala dos experimentos cegos.
Referências ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e
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sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
GLUUD, Lise Lotte. Bias in clinical intervention research. American Journal of Epidemiology Advance Access. v. 163, n. 6, p. 493-501, 2006.
GRIMES, David A.; SCHULZ, Kenneth F. Bias and casual associations in observational research. The Lancet. v. 359, n. 9302, p. 248-252, 2002.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: EdUSP, 1975.
SIEGEL, Ralph M. Choices: the science of bela julesz. PLoS Biol. 2004 Junho; v. 2, n. 6, p. 172, 2004. Disponível: http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=423145.
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Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
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QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA
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DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 1:
“o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade”
Karl Marx
Olá!
Já indicamos para você como uma pesquisa se inicia e, por isso, esperamos que se lembre quais são os primeiros passos de um processo investigativo: a escolha do tema e a formulação do problema de uma pesquisa científica. Também esperamos que você já saiba como deve proceder para fazer uma revisão de literatura eficiente e proveitosa. Pois bem, começar um trabalho de pesquisa é fruto do querer do pesquisador... implementá-lo com êxito e finalizá-lo, porém, requer que ele ponha ordem nas suas idéias. Não se iluda, não basta que tenhamos boas idéias (ou bons temas) para que a ciência se efetive. Boaventura (2004, p. 61) nos lembra que é através desse delineamento que o pesquisador/estudante consegue atender a pelo menos uma finalidade: “traçar o caminho a seguir na investigação”. Por isso, vamos adiante! Eis a etapa que dá seguimento aos passos iniciais: delineamento da pesquisa, ou se quiser que sejamos mais claros, a elaboração do projeto de pesquisa. Antes de apresentarmos os itens que, junto àqueles que você já conhece, constituem o projeto da investigação (justificativa, objetivos descrição metodológica e cronograma) que pretende realizar, precisamos assinalar alguns pontos. O primeiro deles será esclarecer algumas das perspectivas epistemológicas que podemos assumir na prática investigativa. Vamos lá! De modo geral, quando tentamos conceituar o processo de pesquisa, quase sempre o definimos como aquele cercado de ritos especiais, cujo acesso é particular a poucos iluminados. Fazem parte desses ritos certa trajetória acadêmica, domínio de sofisticadas técnicas de investigação, de exame estatístico e desenvoltura informática... É certo que esses aspectos são importantes, mas não são as únicas coisas que contam. A pesquisa é a parte intrínseca do processo de apreensão/construção do conhecimento e, por isso, é necessária a adoção de uma atitude investigativa. Compreendida como instituinte desses processos, devemos perceber a prática científica, a partir de uma multiplicidade de horizontes (embora seja comum prendê-la à sua construção empírica, experimental). E isso é facilmente compreensível! Principalmente porque, até bem pouco tempo atrás, para fazer Ciência se deveria, inexoravelmente, estabelecer processos controlados, isto é, ser científico corresponde àquilo que é mensurável,
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experimental, observável... É claro que, por sermos indivíduos imersos na contemporaneidade, não pensamos dessa maneira, não é mesmo? Mesmo tendo essa certeza, consideramos imprescindível trazer outros argumentos: a ciência não pode estar aliada apenas a uma dimensão empírica, nem tampouco a uma preocupação teórica somente; não pode estar restrita a apresentar números estatísticos através de textos áridos, mas deve buscar estabelecer uma relação dialógica com o cotidiano, permitindo olhar profunda e amplamente a realidade que nos cerca. É evidente que para consolidar uma nova forma de produzir ciência, faz-se necessário, em primeiro lugar, percebê-la a partir de um prisma diferente daquele que serviu de base para o que já foi instituído. Foi mais ou menos isso que aconteceu quando o Positivismo perdeu o status de única perspectiva epistemológica válida para a produção da ciência. Positivismo... será o mesmo positivismo que é responsável pela inscrição “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira? E o que é epistemológico mesmo? Hum! Começou a complicar, não é mesmo? Mas vamos com calma...
O POSITIVISMO ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________
A palavra epistemologia (do grego episteme, ciência, conhecimento; + logos, razão, discurso) é um ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí ser também designada de filosofia do conhecimento). Conforme o dicionário Houaiss (2008, s.p.), a palavra significa “estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral”. Agora, se você associou a perspectiva positivista da ciência àquela que inspirou a inscrição em nossa bandeira, acertou parcialmente! O Positivismo, corrente inaugurada por Augusto Comte (1798-1857), representa umas das bases do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e, também, do nascimento da sociedade industrial. Entretanto, não podemos deixar de mencionar o neopositivismo (também conhecido como positivismo lógico), instaurado pelo Círculo de Viena, que teve como um de seus membros mais proeminentes Rudolf Carnap (1891-1970), que traz muitas contribuições para o que vamos conhecer como perspectiva positivista da ciência. Vamos pontuar algumas delas. Para o neopositivismo:
a realidade é formada por partes isoladas e o mundo se configura como um “amontoado de coisas separadas, fixas” (TRIVIÑOS, 1987, p. 36); é inaceitável outra realidade que não sejam os fatos que possam ser observados; as causas dos fenômenos não devem ser objeto de interesse da ciência. À ciência cabe descobrir como se produzem as relações entre os fatos, buscando suprimir qualquer subjetividade nesta descoberta (princípio da objetividade científica); não interessa, também à ciência, conhecer a conseqüência de suas “descobertas”. Triviños (1987) comenta que este propósito engendrou o que ficou conhecido como
neutralidade da ciência. A partir dessa compreensão, o papel do cientista é exprimir a
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Ainda, foi o neopositivismo que formulou o princípio da verificação, a partir do qual, considera-se como verdadeiro aquilo que é empiricamente verificado. Mesmo desnecessário, vale salientar que todos os postulados atribuídos à ciência por essa
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realidade, não julgá-la.
perspectiva se “ajustaram” mais perfeitamente a uma área do conhecimento (as ciências naturais, por exemplo) do que às ciências sociais. Como realizar estudos no campo da Antropologia, por exemplo, que não busquem conhecer as causas do fenômeno cultural? Ou então, como podemos atestar, a um fenômeno social, o princípio da verificação? Por conta dessas questões e, principalmente, por perceberem que não há possibilidade de o conhecimento produzido pela ciência ser neutro, é que estudiosos da área das ciências sociais foram os primeiros a combater a perspectiva epistemológica positivista. Como contraponto à forma de produção da ciência, surgem a Fenomenologia e o Materialismo Dialético.
A FENOMENOLOGIA ________________________
A Fenomenologia representa uma tendência do idealismo filosófico e traz, ________________________ como um dos conceitos fundamentais, a intencionalidade: A psique está sempre dirigi- ________________________ da para algo, “é intencional”, diria Husserl, seu precursor e um de seus maiores expoen- ________________________ tes. Como esta intencionalidade é, inexoravelmente, da consciência em direção a um ________________________ objeto, conclui-se que não existe objeto sem o sujeito e, por conseguinte, não existe a ________________________ objetividade destacada da subjetividade, tal e qual assinalava a perspectiva positivista ________________________ da ciência. Sobre esse aspecto, Bardin (s.d. apud TRIVIÑOS, 1987, 43) vai afirmar:
[...] tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a partir da minha visão pessoal ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência nada significariam. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido e, se quisermos pensar na própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido seu alcance, convém despertarmos primeiramente esta experiência do mundo da qual ela é expressão segunda...
A Fenomenologia husserliana nasce da tentativa de fazer da filosofia uma ciência rigorosa e, sendo assim, deveria ter como tarefa o estabelecimento de categorias puras do pensamento científico. Trata-se, portanto, da “ambição de uma filosofia que pretende ser uma ciência exata” (TRIVIÑOS, 1987, p. 43). Mais tarde voltou-se para a investigação do “mundo vivido”. Como abordagem epistemológica para a produção da ciência e do conhecimento, não pretende explicar, nem analisar fatos, mas, antes de qualquer coisa, descrever os fenômenos. É uma abordagem que exalta a interpretação. Como método,
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deve seguir dois passos: um é a questionabilidade do conhecimento; o outro é a redução fenomenológica. Ao contrário do que possa parecer, questionar o conhecimento não é a mesma coisa de negá-lo ou ter uma concepção cética a respeito dele, mas tomá-lo a partir da idéia de que é possível descrever o dado (a consciência intencional perante o objeto) em toda a sua pureza. O segundo passo (a redução fenomenológica) fornece uma nova objetividade (a da essência) para que surja a consciência pura. A respeito da Fenomenologia, Triviños (1987, p. 47) faz a seguinte observação:
[...] os positivistas reificaram o conhecimento, transformaram-no num mundo objetivo, de ‘coisas’. A fenomenologia, com sua ênfase no ator, na experiência pura do sujeito, realizou a desreificação do conhecimento, mas a nível da consciência.
Por priorizar a busca da essência, ou seja, o que o fenômeno é após ter sofrido o isolamento da redução, através da qual se elimina o “eu” que vivencia, a cultura e o mundo..., fica evidente que não está preocupada em relevar a historicidade dos fenômenos, o que vai se configurar numa das críticas dirigidas a ela e, também, ponto de
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partida para o surgimento de uma nova perspectiva epistemológica: o Marxismo.
O MARXISMO A perspectiva marxista figura como uma tendência do materialismo filosófico e tem como base filosófica o materialismo dialético. Este último tenta buscar explicações racionais, lógicas e coerentes para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento, a partir de uma concepção científica da realidade enriquecida pela prática social. Ter ressaltado a prática social (portanto, histórica) como critério de verdade é, sem sombra de dúvida, uma de suas idéias mais originais, porque criou um forte argumento para compreender que as verdades científicas significam graus de conhecimento limitados pela história. Conforme Triviños (1987), de forma geral, podemos dizer que a concepção materialista de ciência está pautada em três aspectos:
o primeiro deles diz respeito à materialidade do mundo, isto é, a compreensão de que todos os fenômenos, objetos e processos são materiais; o segundo assinala que a matéria é anterior à consciência, ou seja, o que existe objetivamente é a matéria e a consciência é apenas um reflexo desta; o terceiro aspecto refere-se à afirmação de que o mundo é conhecível e o homem realiza este conhecimento de forma gradativa.
porque se configura em uma “forma mais criativa e versátil de construir uma realidade também criativa e versátil”. Essa abordagem, portanto, trata-se de uma interpretação possível, que participa do jogo interminável de aproximações sucessivas e crescentes do objeto, rumo à cientificidade. Como metodologia, este autor destaca algumas características, que veremos a seguir:
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materialismo é a perspectiva epistemológica mais condizente com as ciências sociais,
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Alguns pesquisadores compreendem, a exemplo de Demo (1987, p. 98), que o
como problematiza a relação sujeito-objeto, superando posições estereotipadas ligadas à objetividade e à neutralidade, o materialismo faz do conhecimento um processo; considera que para uma realidade dinâmica é preciso um instrumental de captação também dinâmico e, para isso, opera através da concepção de unidade dos contrários, assumindo a contradição como categoria teórica; percebe que as teorias científicas não são produtos acabados e, portanto, sua superação é tão natural quanto a superação histórica; encontra certo meio termo entre os condicionamentos objetivos da realidade (o que está posto) e a possibilidade de o homem planejar a história. “Nesse sentido, não reduz a história social a uma estática repetitiva, nem coloca os subjetivismos como o mais importante” (DEMO, 1987, p. 98); convive com estruturas, nas quais vê a fonte do dinamismo histórico, e adapta-se melhor ao conceito de regularidade, ao contrário do de determinação, que está à sombra da relação causa/efeito; desde que não seja concebida como regra única, não vê a necessidade de combater a postura científica adotada pelas ciências naturais e exatas (o positivismo); propõe a visão de totalidade, no sentido de não perceber a realidade de forma estanque e fragmentada; a realidade social é dinâmica, complexa, totalizante e conflituosa e, sendo assim, excede a possibilidade de quantificação, classificação, de teste; compreende que a participação humana é um fenômeno de configuração própria, contraditório, versátil, para além de qualquer equação matemática; Por fim, o materialismo se configura como uma metodologia mais crítica e autocrítica, como demanda uma dinâmica realidade social. Sobre essa característica, Demo (1987, p. 100) vai dizer “[...] é chão da boa discussão, da polêmica construtiva, da visão multifacetal, que exige o constante estado de alerta contra posturas fechadas, pequenas, medíocres”.
SÍNTESE O que fizemos nesse texto foi apresentar, brevemente, as características principais das três perspectivas que mais comumente fundamentam a prática científica e, conseqüentemente os procedimentos metodológicos de nosso estudo. Mas, não pára por aí, não! Continuaremos no próximo texto, seguindo os passos do delineamento da pesquisa. Até lá!
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Sugerimos que você reflita e identifique qual a perspectiva que mais se aproxima da sua concepção de mundo e de ciência. Que tal registrar essa reflexão? Ela poderá ser valiosa no momento que você estiver construindo seu projeto de pesquisa.
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LEITURAS INDICADAS Sugerimos a leitura do capítulo 1 da obra Introdução à pesquisa em ciências sociais, de Augusto Triviños.
REFERÊNCIAS DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed., São Paulo: Atlas, 1987.
BOAVENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo: Atlas, 2004.
EPISTEMOLOGIA (verbete) Dicionário Houaiss. Disponível em http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?ve rbete=epistemologia&stype=k Acesso em 21 jul.2008.
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação - o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo: Atlas, 1987.
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Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas Olá!
Na primeira parte desse texto apresentamos, brevemente, as características
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elaboração do projeto de pesquisa
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DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 2:
principais das três perspectivas que mais comumente fundamentam a prática científica e, conseqüentemente, os procedimentos metodológicos de nossos estudos. Continuaremos seguindo os passos do delineamento da pesquisa. Vamos lá! Você já sabe que para produzir conhecimento científico é necessário mais do que boas idéias ou temas originais e que é preciso colocar essas idéias em ordem, isto é, planejar suas ações. Em qualquer tempo que você deseje elaborar um projeto de pesquisa deve fazer, a si mesmo, as seguintes questões:
o que pesquisar? Esse questionamento esclarece e define o tema a ser estudado; para que realizar essa pesquisa? Diz respeito às finalidades do estudo; por que desejo realizar esse estudo? A essa pergunta associamos o texto de justificativa; como vou pesquisar? Que se refere à definição dos procedimentos metodológicos; em quanto tempo vou realizar esse estudo? Que supõe a definição de um cronograma para execução do estudo.
Portanto, para constituir um projeto de pesquisa, deve apresentar, além de todos os elementos que você já conhece (tema, problema, variáveis...), três elementos: os objetivos, a justificativa e a metodologia.
Os objetivos do estudo Como indicamos acima, a definição dos objetivos da pesquisa responde à questão “para que realizar essa pesquisa?”. Em outras palavras, os objetivos indicam as metas que se deseja alcançar: o que se pretende conhecer, ou medir, ou provar no decorrer da pesquisa. Objetivos sempre são compostos de duas partes: uma ação a ser aplicada sobre um conteúdo. Por isso, os verbos iniciais e estão sempre postos no modo infinitivo. Na elaboração do projeto, os objetivos são de dois tipos: os Gerais e os Específicos. Os objetivos gerais estão diretamente relacionados ao tema e ao problema da pesquisa. Esse tipo de objetivos constitui a espinha dorsal do trabalho. Mas queremos
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ilustrar a sua composição com algo mais concreto. Você se lembra do problema relacionado à violência que apresentamos anteriormente? Não? Então será necessário relembrá-lo. O problema a que estamos nos referindo é esse: Se o problema de nossa pesquisa for esse:
A presença e a ação da Polícia Comunitária favoreceram o aumento da violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI?
... o objetivo geral de nosso estudo pode ser esse:
Analisar a relação existente entre presença/ação da Polícia Comunitária e o aumento dos índices de violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI.
Como você pode perceber, na prática, organizar o objetivo geral consiste em antepor à hipótese (ou à questão principal do estudo) um verbo que expresse uma
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ação intelectual. No caso do objetivo geral que formulamos, a ação intelectual é “analisar”. Outros verbos podem ser usados nessa condição. São eles: estudar, explicar, entender, compreender, avaliar, conhecer.
Se os objetivos gerais estão diretamente relacionados ao tema e ao problema da pesquisa, os objetivos específicos relacionam-se aos procedimentos metodológicos. Isto é, se temos uma ”meta” a ser alcançada com a pesquisa, os objetivos específicos indicarão os passos que serão dados para que esta meta seja alcançada. Mais uma vez, forneceremos um exemplo prático. Tomando o problema e o objetivo geral apresentados acima, nossos objetivos específicos podem ser os seguintes:
Levantar os índices de violência; Identificar os tipos de violência; Relacionar os tipos de violência existentes com as ações realizadas pela Polícia Comunitária.
Outros verbos podem ser utilizados, como por exemplo, distinguir, numerar, identificar, classificar, caracterizar, comparar, relacionar, verificar, listar, levantar.
razões suficientes para que algo venha a acontecer ou tenha acontecido. No âmbito da pesquisa científica, a justificativa representa uma apresentação de bons motivos para que o estudo acerca do tema seja desenvolvido. Por isso, quando estiver elaborando a justificativa de um projeto, não deixe de considerar os aspectos abaixo relacionados.
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Como é possível perceber em nossa experiência cotidiana, justificar é oferecer
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A JUSTIFICATIVA
O primeiro deles refere-se à importância que a realização do estudo possui. Nesse aspecto é sempre interessante indicar a relevância social, acadêmica etc., ou se ele poderá trazer contribuições para a solução de um tema atual. Sobre esse aspecto, Santos (2006,) vai afirmar que, além dessas dimensões, o estudo pode beneficiar: [...] de imediato a ciência, contribuindo com as informações para o avanço de determinado estudo científico. Pode, ainda, beneficiar o processo acadêmico, facilitando ou inovando o ensino/aprendizado de um assunto (SANTOS, 2006, p. 82).
Um segundo aspecto que pode oferecer elementos para a construção da justificativa é a abrangência do tema, isto é, quem mais, além do autor da pesquisa considera, o tema do estudo relevante. A abrangência do tema é demonstrada pela inserção do tema no contexto atual. A incidência de eventos sociais, científicos e/ou acadêmi- ________________________ cos para discutir com questões relacionadas ao tema escolhido por aquele que propõe ________________________ a pesquisa pode expressar a sua abrangência. O que se pretende, com a justificativa, é que o leitor se convença da relevância do estudo a partir dos argumentos que o pesquisador expressou. E, sendo assim, é importante que ele demonstre que o tema realmente o interessa e que, de alguma maneira, o afeta. Por isso, não tente realizar um estudo somente porque ele é relevante ou possui a abrangência. Antes disso, tenha a certeza que você tem vínculos com ele. Você verá que será muito mais fácil executar a pesquisa.
A metodologia A partir deste ponto, nos dedicaremos a compreender a etapa que se configura, indubitavelmente, naquela que vai dar contornos mais definidos para o trabalho científico: a definição da metodologia. Esta etapa se configura, sem sombra de dúvida, naquela que vai dar contornos mais definidos para o trabalho científico. Você já sabe que o pesquisador não pode deixar de explicitar o paradigma teórico-epistemológico (positivismo, fenomenologia ou materialismo) que sustentará a investigação; mas que outras informações devem constar nesse item? Em linhas gerais, deverá fazer o traçado do caminho que seguirá para se aproximar do objeto (foco) de sua pesquisa, indicando, principalmente, quais os métodos e
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técnicas serão utilizados para levantar, organizar e analisar informações e dados coletados. Em outras palavras, é preciso definir: a caracterização da pesquisa quanto aos seus objetivos (É exploratória? Descritiva? Explicativa?) qual o tipo, no que diz respeito aos procedimentos, será realizado: Levantamento/Survey? Documental? Estudo etnográfico? que técnicas/instrumentos de coleta de dados (ou levantamento de informações) serão utilizados? Pesquisa on-line? Questionários? Entrevistas? Grupos focais?
Vamos tratar detalhadamente cada um desses aspectos.
TIPOS DE PESQUISAS Antônio Raimundo Santos (2006) classifica os tipos de pesquisas considerando dois critérios: com base em seus objetivos e com base nos procedimentos técnicos adotados. Quanto à classificação com base em seus objetivos, as pesquisas podem ser exploratórias, descritivas e explicativas. A pesquisa é exploratória quando proporciona
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maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e de estudo de caso. A pesquisa é do tipo descritiva quando expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação. Um exemplo claro desse tipo de pesquisa são os estudos etnográficos. A preocupação central da pesquisa explicativa é identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. É o tipo que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. Quanto à classificação com base nos procedimentos técnicos adotados proposta por Santos (2006), além da pesquisa experimental, os tipos de pesquisa podem ser:
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA Já apresentamos para você a pesquisa bibliográfica no texto dedicado à revisão da literatura, mas consideramos que ainda é necessário pontuar mais um aspecto: desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, a pesquisa bibliográfica é o primeiro estágio de toda e qualquer investigação científica, devendo ser realizada em paralelo à pesquisa de campo ou de laboratório.
ção da outra. A diferença está na natureza das fontes: vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, como por exemplo, cartas, diários, documentos encontrados em arquivos públicos, documentos institucionais...
científico
Muito parecida com a bibliográfica. Há quem diga, inclusive, que uma é varia-
145 introdução ao trabalho
PESQUISA DOCUMENTAL
PESQUISA EXPERIMENTAL Quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo e definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.
A PESQUISA DE CAMPO Desenvolvimento de coleta de dados e registro de variáveis in loco através da observação dos fatos e registro de informações através de aplicação de técnicas específicas como entrevistas e questionários. Como dissemos anteriormente, a pesquisa de campo, aplicável nas diferentes áreas como psicologia, educação, sociologia etc., não prescinde da investigação bibliográfica.
LEVANTAMENTO É a pesquisa que busca informação diretamente com um grupo de interesse a respeito dos dados que se deseja obter. Trata-se de um procedimento útil, especialmente em pesquisas exploratórias e descritivas. (SANTOS, 2006).
ETNOGRAFIA Consiste num método/técnica de pesquisa em que o pesquisador procura o conhecimento de uma realidade específica a partir de sua imersão nesta realidade. Os estudos etnográficos se originaram na Antropologia Social, por conta da necessidade que esta área de conhecimento possui em compreender as relações socioculturais, os comportamentos, ritos, técnicas, saberes e práticas das sociedades até então desconhecidas. A etnografia, pautada na perspectiva interacionista da Escola de Chicago, contribuiu para “dar legitimidade às técnicas e métodos quantitativos na pesquisa socioló-
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gica em grandes centros urbanos” (GOLDEMBERG, 2005, p. 25). De forte preocupação empírica, a Escola de Chicago foi a responsável pelo desenvolvimento de métodos bastante originais para a pesquisa de abordagem qualitativa, principalmente no que se refere às fontes de investigação, passando a utilizar cientificamente documentos pessoais, como cartas e diários íntimos, bem como desenvolver trabalho de campo sistemático no espaço urbano.
ESTUDO DE CASO Consiste no estudo profundo e exaustivo (intensivo) de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. O que vai determinar a estratégia que será utilizada na pesquisa dependerá do objeto focado e da perspectiva que o pesquisador imprimirá no estudo. O estudo de caso é indicado quando as situações da vida real são complexas demais para que sejam tratadas através de estratégias experimentais ou de levantamento de dados.
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Tipo de pesquisa cooperativa ou colaborativa, com base empírica, que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo.
Tendo compreendido que existem várias formas de investigação e de formas de obtenção de dados vamos destacar dois tipos de pesquisa: a Bibliográfica e a Pesquisa de campo. Mas não esqueça! Independentemente do tipo de pesquisa que seja escolhido, o plano geral da pesquisa deve prever: Adoção de um modelo teórico; Universo ou população: grupo dos indivíduos que podem participar da pesquisa; Amostragem: parcela, ou subconjunto da população, que realmente será alvo de investigação.
Técnicas e Instrumentos de investigação científica Você já conhece e sabe como elaborar um questionário, não é mesmo? Ele é um instrumento de investigação que pode atender à maioria dos tipos de pesquisa de campo satisfatoriamente e, por isso, é muito utilizado. Contudo, nem sempre o questionário vai possibilitar que o pesquisador tenha acesso às informações necessárias à elucidação que o seu estudo se propôs. Por isso, além do questionário, que você já teve a oportunidade de conhecer,
Diários de campo. Observação participante, que permite, ao pesquisador, adentrar nas tarefas realizadas pelos indivíduos no seu cotidiano, conhecendo mais de perto suas expectativas,
147 científico
as informações necessárias ao seu estudo. O pesquisador pode lançar mão de
introdução ao trabalho
vamos apresentar outros instrumentos que o pesquisador pode utilizar para levantar
atitudes e condutas diante de determinados estímulos. Caso seja uma técnica de coleta escolhida pelo pesquisador para o seu estudo, ele deve agir com naturalidade dentro do grupo pesquisado, incorporando-se às atividades que desenvolvem seus integrantes (SORIANO, 2004). O uso desse instrumento de coleta é sempre estará articulado a outras formas de coleta, como por exemplo, a entrevista ou o grupo focal. Entrevista individual: técnica que tem como princípio o encontro entre duas pessoas que tem como finalidade a obtenção de informações por uma delas (o pesquisador) mediante uma conversação de natureza profissional; Grupos focais: grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter informações de caráter qualitativo em profundidade; Coleta de narrativas e histórias de vida: técnica que substitui as entrevistas tradicionais e através da qual o sujeito protagonista (o informante) retorna às suas próprias lembranças para que “o pesquisador conheça de forma mais exata fatos importantes e peculiares que o entrevistado viveu e experimentou de perto” (SORIANO, 2004, p. 189)
Dentre os instrumentos citados, apresentaremos com mais detalhes dois deles: as entrevistas e os grupos focais.
O pesquisador pode optar pela adoção de entrevistas como instrumento para levantamento das informações do seu estudo quando ele pretende:
conhecer o que as pessoas pensam ou acreditam a respeito de fatos que ocorreram ou como estas percebem determinados fenômenos; compreender a conduta de alguém, através de seus sentimentos e anseios; descobrir, por meio das definições individuais dadas, qual a conduta adequada em determinadas situações, a fim de prever qual seria a sua; inferir que conduta a pessoa terá no futuro, conhecendo a maneira pela qual ela se comportou no passado ou se comporta no presente, em determinadas situações.
TIPOS DE ENTREVISTAS Padronizada ou estruturada: é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, isto é, as perguntas feitas aos indivíduos são predeterminadas; Não-estruturada: é aquela em que o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação, em qualquer direção, que considere adequada; Entrevista focalizada: há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai es-
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tudar e o entrevistador, a depender do andamento da entrevista, tem a liberdade de improvisar e fazer as perguntas que quiser, desde que seja para o esclarecimento ou aprofundamento de algum aspecto relacionado ao foco de seu trabalho;
Como qualquer técnica de coleta de dados, a entrevista oferece vantagens e limitações. As suas principais vantagens são:
A técnica da entrevista pode ser utilizada com todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados; assim, fornece uma amostragem muito melhor da população geral, pois ao contrário do questionário, que precisa que o informante domine as técnicas de leitura e de escrita para preencher o formulário. Como a entrevista é realizada com a presença do entrevistador, há possibilidade de conseguir informações mais precisas, podendo ser comprovada, de imediato, as discordâncias que o informante possa ter com relação ao que foi perguntado. Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistador observar o seu informante e relacionar o que ele diz e como diz; isto é, num caderno de anotações – ou diário de campo – registrar as reações, gestos etc. do informante quando a este é solicitado responder as questões que provoquem melindres; Dá oportunidade para obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que sejam relevantes e significativos;
________________________ Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas, for________________________ mular de maneira diferente; especificar algum significado, com garantia de estar sendo ________________________ compreendido. Por exemplo, se foi feita uma pergunta que, por algum motivo, o infor________________________ mante não entendeu, o entrevistador pode reformulá-la, usar outros termos e, assim, ________________________ garantir que a pergunta seja respondida; ________________________ ________________________ ________________________ Em contrapartida, na utilização de entrevistas também existem limitações. As ________________________ principais são: ________________________ ________________________ ________________________ Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes; isso geralmente acon________________________ tece quando o entrevistador não se aproxima do universo lexical do entrevistado. Da mesma forma, se o entrevistador não for uma pessoa sensível, poderá interpretar erro________________________ neamente os termos utilizados pelo informante (uso de gírias, por exemplo); ________________________ ________________________ Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da pesquisa, o ________________________ que pode levar a uma falsa interpretação; ________________________ A possibilidade de o informante ser influenciado, consciente ou inconscientemente ________________________ pelo entrevistador, devido a seu aspecto físico, suas atitudes, idéias, opiniões etc. é maior ________________________ do que se o instrumento utilizado fosse o questionário, por exemplo; ________________________ Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias ou retenção de alguns ________________________ dados importantes, pelo informante, receando que sua identidade seja revelada. Isso ________________________ geralmente acontece quando o entrevistador não consegue estabelecer uma relação de ________________________ confiança com o seu informante; ________________________
que inspire confiança a seu informante acerte nos detalhes! Por isso, eis algumas dicas que você pode adotar quando for realizar alguma entrevista: Contato inicial: você já ouviu falar que a primeira impressão é a que fica? Pois bem, quando necessitar que alguém seja o seu informante isso é verdade! Por isso, o pesquisador deve estabelecer, com o entrevistado uma relação amistosa, cordial, respeitosa
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entrevistado, pode-se obter informações que talvez não fossem possíveis. Então, para
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Quando o entrevistador consegue estabelecer uma relação de confiança com
(em diversos sentidos. Por isso nem pense em realizar uma entrevista com a roupa que você iria para a praia; da mesma forma que você não deve ir para um ambiente mais despojado de terninho ou gravata. isto é, o entrevistador deve manter a compostura). É extremamente relevante que o entrevistador se identifique e explicite os fins e a importância da pesquisa que está realizando. Formulação de perguntas: as perguntas devem ser feitas de acordo com o tipo de entrevista. Muito cuidado também para não induzir a resposta do informante com a sua pergunta. Por exemplo, nunca comece uma pergunta com “Você não acha...” “Você percebe que”... Pois há uma possibilidade maior em influenciar a resposta do informante. Registro de respostas: se possível, as respostas devem anotadas no momento da entrevista. Por isso, sempre tenha em mãos um caderno para anotações; Término da entrevista: a entrevista deve terminar como começou, isto é, em ambiente de cordialidade para que o entrevistador possa voltar a obter novos dados.
Uma outra possibilidade é a realização de grupos focais, que se configura como uma entrevista aberta e centrada (SIDNEI, 2000, p. 178), o grupo focal é uma técnica rápida e de baixo custo para avaliação e obtenção de dados e informações qualitativas. Suas principais características são:
é organizado com pequeno número de pessoas (entre 7 e 12) para incentivar a interação entre os membros; a conversação concentra-se em poucos tópicos (no máximo 5 assuntos); cada sessão não deve ultrapassar a duração de duas horas; o moderador tem uma agenda onde estão delineados os principais tópicos a serem abordados. Estes tópicos são geralmente pouco abrangentes, de modo que a conversação sobre os mesmos se torne relevante; pode haver a presença de observador externo (que não se manifesta, nem interage com os outros) para captar reações dos participantes
Também é preciso definir, na metodologia, os procedimentos metodológicos referentes às técnicas que serão adotadas pelo pesquisador quando este chegar ao momento de análise e tabulação de informações. Por isso, vamos tratar algumas delas para você.
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Análise e tabulação de informações Após reunir as informações acerca do seu objeto o pesquisador chega a um momento crucial da pesquisa: o de tabular e analisar os dados e informações que teve acesso. Booth, Colomb e Williams (2005) nos lembram que o que determina a forma como sistematizaremos o material coletado durante a pesquisa depende de três aspectos: os tipos dos dados/informações levantadas; como seus leitores poderão entendê-los melhor; e como você quer que seus leitores reajam a eles. Esses autores vão dizer: Você comunica melhor com palavras quando a informação é qualitativa e não facilmente apresentada de modo formal, ou quando seus leitores são fortemente orientados para a palavra. [...] com outros leitores, você pode se comunicar de forma eficiente com tabelas, gráficos ou diagramas (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2005, p. 229)
Uma exigência metodológica na realização de uma pesquisa qualitativa, por exemplo, é a formação de categorias, ou áreas de significação. Minayo (2004, p.94), por exemplo, enuncia que as categorias podem ser analíticas ou empíricas:
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As primeiras são aquelas que retêm historicamente as relações sociais fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais. Elas mesmas comportam vários graus de abstração, generalização e de aproximação. As segundas são aquelas construídas com finalidade operacional, visando ao trabalho de campo (a fase empírica) ou a partir do trabalho de campo. Elas têm a propriedade de conseguir apreender as determinações e as especificidades que se expressam na realidade empírica. (MINAYO, 2004, p. 94)
Já foram vistos, em alguns textos dessa disciplina, métodos quantitativos para a análise de dados. Contudo, convém apresentar a você outras técnicas de análise. Quando a pesquisa tem uma abordagem quantitativa, você ainda pode se valer de uma técnica pouco difundida, que é a análise de conteúdos. A análise de conteúdo é uma técnica para análise de textos que busca examinar minuciosa e numericamente a freqüência de ocorrência de determinados termos, construções e referências em um dado texto. Na área da Comunicação, é freqüentemente usada como contraponto à análise do discurso, técnica eminentemente qualitativa, proposta a partir da filosofia materialista. Análise do Discurso ou Análise de Discursos é um campo (e uma prática) da lingüística e da comunicação especializado em examinar construções ideológicas expressos em um texto. Para compreender como se dá esta análise, convém definir,
so é uma construção social, não individual, que deverá ser analisado considerando o seu contexto histórico-social e suas condições de produção; significa ainda dizer que o discurso é resultado de um processo de elaboração, através do qual o sujeito eviden-
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Discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discur-
151 introdução ao trabalho
primeiro, o que considera como discurso.
cia suas formas de ver (e refletir sobre) o mundo, de senti-lo e de percebê-lo. Além da técnica de análise de discurso, pode ser usada na pesquisa de abordagem qualitativa, a hermenêutica.
A Hermenêutica, originalmente método de interpretação da Bíblia e de outros textos religiosos, ganhou estatuto de teoria da interpretação de textos e do discurso filosófico-científico através de Friedrich Schleiermacher (1768-1834).
Posteriormente, Wilhelm Dilthey (1833-1911) buscou aplicá-la a todos os atos e produtos humanos. Mais adiante, Heidegger estendeu a compreensão hermenêutica ao ser humano (Dasein).
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É importante ressaltar que técnicas de análise quantitativas e qualitativas não ________________________ estabelecem, entre si, contraposição. Elas podem (em muitos casos, devem!) conviver. ________________________ Exemplo disso são as chamadas pesquisas quanti-qualitativas, nas quais os pesquisa- ________________________ dores propõem uma articulação de técnicas dessas duas abordagens. ________________________
Quer saber mais sobre técnicas qualitativas de análise? Então, acesse o endereço eletrônico a seguir. Aposto que você vai gostar! http://www.cin.ufpe.br/~pcart/metodologia/pos/Mayring043.pdf
Por fim, fechando as informações que devem constar no projeto, vem o cronograma. Vamos fazer referência.
O cronograma
Se você propõe uma investigação, certamente deverá definir em quanto tempo você vai executá-la. Esta definição diz respeito ao Cronograma de execução. Aqui você responde à questão: “Quando ou em quanto tempo será realizada a pesquisa?” Para tanto, você deve elencar as etapas da pesquisa e relacionar com o tempo necessário para executar cada uma. Geralmente um cronograma de pesquisa é apresentado em forma de tabela, por exemplo:
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152 Período de implementação Ações
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
1. Pesquisa bibliográfica e/ou documental 2. Leitura e fichamento da bibliografia 3. Elaboração dos instrumentos de coleta dos dados (questionário, entrevista) 5. Levantamento dos índices de violência 6. Identificação dos tipos de violência 7. Processamento e análise dos dados 8. Escrita do relatório 9. Entrega do relatório
Como você pode perceber, no cronograma estão previstas todas as etapas que o pesquisador planejou para sua pesquisa, desde que definiu os objetivos. Lembra que nós dissemos que os objetivos específicos estão diretamente relacionados aos procedimentos metodológicos? Pois é, as etapas definidas naquele momento devem compor a relação de ações que devemos expor no cronograma.
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Considerando todas as informações que dispomos para você nesse texto, creio que você ampliou seus conhecimentos acerca dos elementos que devem compor um projeto de pesquisa. Agora, é colocar a mão na massa!
Síntese Bem, nesse texto apresentamos aspectos relacionados ao delineamento da pesquisa, em especial, à definição dos objetivos, à elaboração da justificativa do estudo, à metodologia e ao cronograma de execução.
Leituras indicadas GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002, 175 p.
Referências BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 9. ed.
educação. Salvador: EDUFBA, 2000.
MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed., São Paulo: Hucitec, 2004.
científico
MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na
153 introdução ao trabalho
Rio de Janeiro: Record, 2005.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 6. ed. rev., Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Petrópolis: Vozes, 2004.
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Autora: Gismália Marcelino Mendonça
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TADOS DA PESQUISA
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APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO DOS RESUL-
Agora que você já conhece as diversas etapas que envolvem a produção de uma pesquisa científica, vamos falar das formas de apresentação e divulgação dos resultados das pesquisas. Talvez você possa estar pensado que ainda é muito cedo para aprender estes recursos, mas mesmo que você não pretenda realizar uma pesquisa científica neste momento, essas informações serão bastante úteis ao longo da sua formação acadêmica, pois durante o seu curso de graduação os professores de diversas disciplinas solicitarão a elaboração de trabalhos acadêmicos que deverão seguir as mesmas orientações normativas dos trabalhos científicos.
NORMALIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS A normalização está ligada à origem das civilizações. Desde a formação dos primeiros grupos humanos, fazia-se necessária a criação de regras para troca de produtos
e serviços, visando à sobrevivência. Com o uso de sinais padronizados, o homem con- ________________________ seguiu descrever formas, figuras e outras maneiras de se comunicar. Através da comunicação, torna-se possível a materialização do conhecimento, que registrado fora da memória biológica do homem, pode ultrapassar os limites geográficos e de tempo possibilitando a interlocução entre povos de contextos sociais e históricos diferentes. Para minimizar as barreiras de comunicação como diversidade de línguas, culturas e realidades sócio-históricas, foi necessário estabelecer normas para facilitar a disseminação, o acesso, a leitura e a compreensão de textos científicos. A falta de conhecimento sobre a importância e necessidade de adoção destas normas para padronização normalização de documentos científicos faz com que alguns estudantes vejam essa etapa do trabalho de forma reducionista, representado para eles uma mera formalidade acadêmica. Mas a normalização não deve ser encarada como um obstáculo ou, como uma amarra à criatividade do pesquisador, e sim como um processo necessário ao sucesso de sua ação comunicativa. (GOMES, 1999). A normalização de documentos visa à padronização e simplificação no processo de elaboração de qualquer trabalho científico. Facilita também o processo de comunicação e intercâmbio dentro da comunidade científica, possibilitando o processo de transferência de informação. Sendo assim, a normalização não tem o propósito de cercear a criatividade e a liberdade dos autores, mas sim o de facilitar aos diferentes leitores das diversas culturas o acesso às suas ideias e concepções científicas. A normalização não só confere um grau e qualidade aos documentos produzidos como facilita as operações documentais e diminui o custo e o tempo necessários para realizá-las, viabilizando o intercâmbio e a recuperação de informações (CURTY; BOCATTO, 2005, p. 96).
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No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) atua como foro nacional para normalização. A ABNT é constituída de 60 comitês em diversas áreas do conhecimento onde a padronização se faz necessária como: construção civil, mineração, petroquímica, transporte, segurança só para citar algumas. Para a produção de trabalhos acadêmicos existe um conjunto de normas, denominadas normas sobre Informação e Documentação que orientam a padronização de elaboração de documentos. A seguir são indicadas as normas da ABNT que lhe auxiliarão na apresentação de trabalhos acadêmicos no decorrer do seu curso. Algumas destas normas serão apresentadas de forma detalhada. Número da
Título
Norma/Data
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NBR 6022/2003
Apresentação de Artigo em Publicação Periódica Científica
NBR 6023/2002
Elaboração de Referência
NBR 6024/2003
Numeração Progressiva das Seções de um Documento Escrito
NBR 6027/2003
Sumários
NBR 6028/2003
Resumos
NBR 10520/2002
Citações em Documentos
NBR 10719/2009
Apresentação de Relatórios Técnicos ou Científicos
NBR 14724/2005
Apresentação de Trabalhos Acadêmicos
NBR 15287/2005
Apresentação de Projeto de Pesquisa
SÍNTESE Neste texto tratamos da importância da normalização e indicamos as normas técnicas da ABNT que orientam a produção dos trabalhos acadêmicos e científicos.
LEITURAS INDICADAS DIAS, M. M. K. Normas técnicas. In: CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; KREMER, J. M. (Org.) Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2000. p. 137-151.
REFERÊNCIAS CURTY, M. G.; BOCCATO, V. R. C. O artigo científico como forma de comunicação do conhecimento na área de ciência da informação. Perspectiva da Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 94-107, jan./jun. 2005. Disponível em:<http://revista.ibict.br/pbcib/index.php/pbcib/article/view/20> Acesso em: 30 jun 2010.
GOMES, H. F. A normalização do trabalho científico: algumas reflexões sobre a indicação das fontes na documentação pessoal do autor e no texto final. In: MATOS, M. T. N. B. Saúde e informação. Salvador: EDUFBA, 1999. p. 97-105.
APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMI-
introdução ao trabalho
científico
COS E CIENTÍFICOS
157
Autora: Gismália Marcelino Mendonça
Conforme propomos anteriormente, apresentaremos a seguir os elementos que compõem a estrutura dos trabalhos acadêmicos e científicos, especialmente aqueles que você será solicitado a desenvolver durante seu curso e que poderão servir de apoio a várias atividades futuras. Mas antes, leia no quadro abaixo a descrição dos documentos da comunicação científica mais utilizados na área acadêmica. Isto certamente vai facilitar a sua compreensão.
Documentos
Descrição Texto com autoria declarada que apresenta resultado de
Artigos
pesquisa e/ou revisão de literatura destinado à publicação e à divulgação através de periódicos Documento que representa o resultado de um trabalho experimental, de tema bem delimitado em sua extensão, com o
Dissertações
objetivo de reunir e interpretar informações publicadas sobre o assunto. O autor deve evidenciar a capacidade de sistematizar os conhecimentos adquiridos para obtenção do título de mestre. É uma publicação de conteúdo científico, literário ou artístico
Livros
formada por um conjunto sequenciado de folhas impressas e revestida por capa. Documento que descreve um estudo minucioso sobre
Monografias/TCC
determinado tema. Solicitado como trabalho de conclusão nos cursos de graduação e pós-graduação lato sensu. Texto elaborado sobre um tema determinado ou resultado de
Paper
um projeto de pesquisa para ser comunicado em congressos ou outras reuniões científicas.
Periódicos ou Revistas Científicas Projeto de Pesquisa Relatórios Técnicos e Científicos
Publicações editadas em intervalos prefixados, por tempo determinado, com a colaboração de diversos autores, sob a responsabilidade de um editor e/ou comissão editorial. Documento que descreve os planos, fases e procedimentos de um processo de investigação científica a ser realizado. Documento que relata formalmente os resultados ou progressos obtidos em investigação de pesquisa, ou que descreve uma observação técnica como estágio ou viagem.
Quadro 1 - Tipos de trabalhos acadêmicos e científicos
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ESTRUTURA DOS TRABALHOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS1 Os trabalhos acadêmicos e científicos descritos no quadro 1, com exceção dos artigos e paper, possuem a mesma estrutura de apresentação, são construídos de elementos pré-textuais, textuais, de apoio e pós-textuais. Vejamos, então, as várias divisões de cada um desses elementos para apresentação dos trabalhos relacionados no quadro no capítulo anterior. Os elementos pré-textuais são aqueles que antecedem o texto e fornecem dados de identificação dos autores e do conteúdo do trabalho. Estes elementos devem ser apresentados na seguinte ordem:
A capa deve conter sempre as seguintes informações essenciais para a identificação de um trabalho: nome da instituição, nome do autor, título e subtítulo, cidade em que está localizada a instituição e ano de produção.
A folha de rosto deve conter: nome do autor; título e subtítulo do trabalho; natureza do trabalho (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso, etc.) e objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido, etc.); nome da instituição à qual é submetido o trabalho, área de concentração; nome do orientador; cidade da instituição; ano;
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Se for um trabalho final de conclusão de curso como monografia, dissertação e tese deve ser apresentada também: folha de aprovação do trabalho, dedicatórias, agradecimentos e uma epígrafe.
É comum que os trabalhos acadêmicos apresentem um resumo em português e uma versão para o inglês, denominada abstract, sua elaboração é orientada pela NBR 6027. O resumo deve apresentar concisamente os pontos relevantes do trabalho, fornecendo sempre uma visão rápida e clara do seu conteúdo e das suas conclusões. Deve-se utilizar, de preferência, a terceira pessoa do singular e verbo na voz ativa. Deve-se evitar o uso de parágrafos. O resumo deve ter no máximo 500 palavras e ser seguido de palavras-chave.
O trabalho pode também apresentar listas (relações seqüenciais dos títulos ou legendas) de ilustrações, tabelas, reduções e símbolos, acompanhadas sempre dos respectivos números de páginas.
O sumário deve ser o último elemento pré-textual, sua elaboração é orientada pela NBR 6028. O sumário deve enumerar as principais divisões, seções e outras partes do trabalho, sempre indicando os números das páginas. 1 Se desejar ver exemplos e modelos de apresentação destes elementos consulte o Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNIFACS disponível em: http://www.unifacs.br/upload/biblioteca/ManualdeNormalizacao.pdf
A introdução é o primeiro elemento propriamente textual do trabalho, tem a função de antecipar o conteúdo apresentado, as principais ideias discutidas, permitindo que o leitor tenha uma visão de conjunto do trabalho.
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conteúdo da pesquisa na seguinte ordem:
introdução ao trabalho
Os elementos textuais representam a parte do trabalho em que é exposto o
O desenvolvimento é a parte mais extensa do trabalho, é onde o autor deve apresentar as ideias de forma bem encadeadas, de modo que o leitor possa acompanhar seu raciocínio e entender seus argumentos. Para facilitar a exposição do assunto deve ser adotado o sistema de numeração progressiva das seções de um documento que é orientada pela NBR 6024. Desta forma, o assunto principal será indicado por um número e a sua hierarquização, pela subdivisão deste número formando assim, as seções primárias, secundárias, terciárias e outras.
Diversos recursos podem servir de apoio no desenvolvimento do texto como: notas de rodapé, reduções (abreviaturas e siglas), equações e fórmulas, ilustrações (incluindo desenhos, imagens, gravuras, esquemas, diagramas, fluxogramas, organogramas, fotografias, retratos, gráficos, mapas e plantas), quadros e tabelas.
A conclusão é o último elemento textual. É nesta parte que o autor deve expor claro e conciso seu ponto de vista sobre o que conseguiu demonstrar no desenvolvimento do trabalho.
Os elementos pós-textuais destinam-se a esclarecer e a complementar o texto, sem, contudo, fazer parte deste:
A lista de referências deve aparecer após a conclusão, indicando as fontes consultadas, utilizadas e citadas no trabalho. A elaboração das referências é orientada pela NBR 6023 e será apresentada no próximo capítulo.
O glossário é constituído de uma relação de palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, e acompanhadas das respectivas definições. Este item é opcional.
Os apêndices (elaborados pelo autor) e os anexos (não elaborados pelo autor) são textos ou documentos que servem de fundamentação, comprovação ou ilustração do trabalho. Devem ser identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão, e pelos respectivos títulos. Assim como o glossário, este item é opcional.
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Conforme informado no início deste capítulo, os artigos e papers possuem forma de apresentação diferente dos demais trabalhos acadêmicos. Embora sua estrutura também seja constituída de elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, definidos pela NBR 6022, a formatação destes elementos é mais flexível. Isto acontece porque os artigos e papers são publicados em revistas especializadas ou anais de eventos que possuem suas próprias normas de editoração. No entanto, ao submeter um artigo ou um paper para avaliação e publicação, você deve observar os critérios e normas estabelecidas pelo conselho editorial da revista ou do evento, pois essa flexibilidade não se aplica para a apresentação de citações e referências, normas que trataremos no próximo capítulo.
SÍNTESE Neste texto abordamos os elementos necessários para organização e apresentação de trabalhos científicos, especialmente, os acadêmicos que você será solicitado a desenvolver durante seu curso, e que poderão servir de apoio a várias atividades acadêmicas e científicas que você poderá fazer no futuro.
LEITURAS INDICADAS ________________________ ________________________ MENDONÇA, Gismália Marcelino. Manual de normalização para apresentação de ________________________ trabalhos acadêmicos. Salvador: Unifacs, 2009. 83 p. Disponível em: http://www. ________________________ unifacs.br/upload/biblioteca/ManualdeNormalizacao.pdf> Acesso em: 01 abr. 2010. ________________________ ________________________ ________________________ REFERÊNCIAS ________________________ ________________________ ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação: artigo em ________________________ publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5 p. ________________________ ________________________ ______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24 p. ________________________ ________________________ ______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um documento escrito. Rio de Janeiro, 2003. 3 p. ________________________ ________________________ ______. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p.. ________________________ ________________________ ______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p. ________________________ ________________________ ______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: : apresentação. Rio de ________________________ Janeiro, 2002. 7 p. ________________________ ________________________ ______. NBR 15287: informação e documentação: projeto de pesquisa: apresentação. Rio de Janeiro, ________________________ 2005. ________________________
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Autora: Gismália Marcelino Mendonça
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CITAÇÕES E REFERÊNCIAS
Você já deve ter observado, não só aqui como em outras publicações, que parte do texto vem acompanhado de indicação de sobrenomes de autores e datas. Este tipo de indicação é denominado Citação, que é uma das características dos trabalhos acadêmicos e científicos. As citações devem ser acompanhadas também das Referências das fontes indicadas e utilizadas no trabalho. A elaboração de Citações e de Referências é orientada, respectivamente, pelas NBR 10520 e NBR 6023 da ABNT que serão detalhadas a seguir.
CITAÇÕES Para realizar seus trabalhos, os autores precisam conhecer a produção de seus pares. O famoso matemático e físico inglês Isaac Newton não desconheceu as contribuições dos que o antecederam, especialmente as de Kepler e Galileu. Por este motivo, ________________________ vale repetir sua frase: “Se vi mais longe que os outros homens, foi porque me coloquei ________________________ sobre os ombros de gigantes”. Ou seja, assim com Isaac Newton, ao publicar os resul- ________________________ tados de suas pesquisas, os pesquisadores fazem citações a outros autores que funda- ________________________ mentaram o seu trabalho.
As citações são introduzidas no texto com o propósito de fundamentar, esclarecer e fornecer exemplos de pontos de vista semelhantes ou divergentes sobre o assunto da pesquisa. Ao elaborar um trabalho acadêmico e científico o autor do texto não pode deixar de informar as fontes de informações usadas para o embasamento teórico do trabalho. Indicar as fontes de onde foram extraídas as informações é, antes de tudo, dar créditos aos autores pesquisados, respeitando assim a Lei de Direitos Autorais - Lei 9.610 de 1988. A citação pode ocorrer em forma de transcrição literal ou como paráfrase. A transcrição literal (citação direta ou textual) ocorre quando são produzidas as próprias palavras do autor do texto citado. A paráfrase (citação indireta ou livre) ocorre quando se reproduzem ideias e informações do documento, sem, contudo, reproduzir as próprias palavras do texto citado. As citações devem ser indicadas no texto por um dos seguintes sistemas de chamada: numérico ou autor-data. Embora as duas formas sejam orientadas pela ABNT, apresentaremos a seguir mais exemplos do sistema autor-data por ser o mais utilizado nos trabalhos acadêmicos, por sua simplicidade e facilidade de compreensão. No Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNIFACS e na NBR 10520 da ABNT você encontrará informações mais detalhadas sobre os dois sistemas.
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No sistema numérico, a identificação da fonte da qual foi extraído o trecho citado é feita com a utilização de algarismos arábicos, inserido no final da citação, correspondendo ao respectivo item na lista de referências.
Para Chiavenato habilidade técnica “é a habilidade de fazer coisas concretas e práticas, como desenhar um projeto, compor um cronograma, elaborar um programa de produção, entre outras.” (1) Ou Para Chiavenato habilidade técnica “é a habilidade de fazer coisas concretas e práticas, como desenhar um projeto, compor um cronograma, elaborar um programa de produção, e outras.” 1
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1 CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
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No sistema autor-data, a chamada da fonte de informação citada é feita pelo sobrenome do autor ou pela instituição responsável pelo mesmo ou até mesmo pelo título da publicação, se não for identificada a autoria, na sequência o ano de publicação e o número da página onde foi retirado o trecho, entre parêntese e separadas por vírgula.
De acordo com Nassar (2005, p.26) nos anos 80, a Administração Japonesa se consolida no mundo ocidental.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2008, p.12), o Brasil terá uma produção de 12 milhões de toneladas de arroz em 2008.
Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas ligadas ao conflito (BALANÇO..., 2008, p.24).
Quando a citação literal ou direta possui até 3 três linhas, acompanha o corpo do texto e se destaca com “aspas duplas”. Para as citações diretas longas, com mais de 3 três linhas, deve-se fazer um recuo de 4,0 cm na margem esquerda, diminuindo a fonte e sem as aspas, utilizando espaço simples entrelinhas, conforme demonstrados nos seguintes exemplos:
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Você já deve ter observado em alguns textos que as citações dos sobrenomes dos autores, às vezes, são grafadas de forma diferente, como nos exemplos a seguir. A diferença é a seguinte: quando o sobrenome do autor da citação faz parte do texto, este deve ser grafado com a primeira letra em Maiúscula e as demais em minúscula e quando o sobrenome do autor citado estiver entre parênteses deve ser grafado em letras MAIÚSCULAS.
Eco (1999, p. 5) destaca que “fazer uma tese significa aprender a por as idéias em ordem”. “Fazer uma tese significa aprender a por as idéias em ordem.” (ECO, 1999, p. 5)
Nas paráfrases (citação livre ou indireta) se reproduzem as informações, sem transcrever as palavras do autor texto original. Neste caso, não é necessário o uso de aspas e a indicação das páginas consultadas é opcional. Moreira (2003) destaca em um estudo realizado sobre atendimento a menores, que as creches comunitárias expressam uma relação diferente dos orfanatos. As fontes de informação são classificadas em primárias, secundárias e terciárias (CAMPELLO, 2003)
Sempre que possível a citação deve ser feita a partir de documentos originais, mas na impossibilidade de ter acesso direto à fonte, você pode reproduzir uma informação já citada por outros autores. Este tipo de procedimento é denominado de citação de citação onde é transcrito, de forma direta ou indireta, trecho do texto em que não se teve acesso ao documento original. Deve-se citar o sobrenome do autor e a data do texto original (documento que você não consultou) seguindo da expressão latina apud, que significa “citado por”, e logo após, o sobrenome do autor e a data do texto onde você encontrou a citação. “É impossível argumentar que a ciência, a alquímica e a teologia representavam aspectos complementares na busca do divino”. (DOBBS, 1991, p. 293 apud GLEISER, 1997, p. 169).
Para Silva (1983 apud ABREU, 1993, p.8) de forma geral, existem, e continuarão a existir, dificuldades na implantação de programas efetivos de educação continuada.
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REFERÊNCIAS As referências são o conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento, que permitem a identificação das obras citadas, consultados, ou cuja leitura é sugerida em determinado trabalho. A elaboração das referências é orientada pela NBR 6023 da ABNT. Esta norma estabelece regras específicas e relaciona modelos e exemplos de referência para diversos tipos de documentos impressos e eletrônicos. Veja a seguir um exemplo de referência com os elementos descritivos essenciais de um livro que faz parte da bibliografia da disciplina Introdução a Pesquisa Científica.
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E por falar nisto, você sabe qual é a diferença entre referência e bibliografia? Bibliografia é o conjunto de publicações que registram a literatura produzida sobre um determinado assunto. Referências é lista das publicações selecionadas da bibliografia do tema da pesquisa que foram utilizadas na elaboração de um trabalho acadêmico e científico. Ainda ficou confuso? Vamos dar um exemplo para esclarecer melhor. Você vai a uma biblioteca ou a uma livraria e se dirige às estantes onde as publicações estão organizadas por grandes assuntos como: administração, computação, direito, engenharia e muitas outras, pois bem, o conjunto das publicações reunidas em grandes assuntos são bibliografias, e a seleção de algumas publicações dessas bibliografias que você utiliza para fazer seu trabalho são as referências. Para elaborar referências de documentos em meio eletrônico, a NBR 6023 orienta que deve ser seguido o mesmo padrão indicado para documentos impressos, acrescentando as informações relativas à descrição física do meio (DVD, CD-ROM etc). Já para os documentos consultados via online, deve ser indicado o endereço eletrônico, entre os sinais < > precedido da expressão Disponível em: e da data do acesso ao documento (dia, mês, ano) e da expressão Acesso em:
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Os elementos para elaboração da referência devem ser retirados do próprio documento. Nas publicações impressas como livros e outros trabalhos monográficos, os elementos para elaboração da referência podem ser retirados da folha de rosto ou da ficha catalográfica. Nos periódicos científicos (revistas) essas informações geralmente estão disponíveis no cabeçalho ou no rodapé do artigo.
A localização das referências dependerá do sistema de chamada utilizado para indicação das citações: caso seja usado o sistema numérico para citação no texto, as referências podem
________________________ ________________________ obra aparece no texto; ________________________ as citações do sistema autor-data devem figurar no fim do documento em or- ________________________ ________________________ dem alfabética única de autor(es) e/ou título(s). ________________________ ________________________ Veja a seguir alguns exemplos de citações autor-data e suas respectivas refe- ________________________ ________________________ rências: ________________________ ________________________ Citação no texto: ________________________ “É preciso que se saiba com muita clareza por onde corre a fronteira atingida pela ciência”. ________________________ (GOMES, 2000, p. 6). ________________________ ________________________ ________________________ Referência de artigo de revista: ________________________ ________________________ GOMES, H. M. Desenvolvimento da ciência. Revista Bahiana de Ciências. Salvador, v. 3, n. 8, p.5-12, ________________________ jan, 2000. ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ ________________________ aparecer em nota de rodapé e no fim do texto, apresentadas na ordem em que cada
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Citação no texto: Para Veiga e Ribeiro (1996) “o saber pedagógico não é simplesmente a aplicação de técnicas de educação”.
Referência de paper apresentado em congresso: VEIGA, P. O; RIBEIRO, B. M. Analisando proposta de cursos de pedagogia. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 8, 1996, Curitiba. Anais ... Curitiba, ABEC, 1996. (CD-ROM)
Citação no texto: Uma atualização da A Lei do Direito Autoral ocorreu em 19 de fevereiro de 1998, quando entrou em vigor a Lei 9.610/98 que amplia os suportes possíveis para difusão da informação, englobando as novas tecnologias. (BRASIL, 1988).
Referência de documento jurídico: BRASIL. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/legis/leis/9610_98.htm>. Acesso em: 12 jun 2008.
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Para conhecer as regras de elaboração de referência consulte a NBR 6023 ou o Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNIFACS e/ou o site da Biblioteca da Universidade de Santa Catarina, estas fontes oferecem diversos exemplos de referências.
SÍNTESE Neste capítulo, apresentamos as normas técnicas que lhe auxiliarão na elaboração de citações e referências das fontes de informação utilizadas para fundamentar seus trabalhos acadêmicos. A utilização correta desses recursos garantirá o reconhecimento da qualidade de seus trabalhos por parte da comunidade acadêmica.
LEITURAS INDICADAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24 p.
______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 7 p.
unifacs.br/upload/biblioteca/ManualdeNormalizacao.pdf> Acesso em: 01 abr. 2010.
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trabalhos acadêmicos. Salvador: Unifacs, 2009. 83 p. Disponível em: http://www.
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MENDONÇA, Gismália Marcelino. Manual de normalização para apresentação de
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