METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS Autor - André Santanchè
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A231m Santanché, André Metodologia ciências e normas técnicas/ André Santanché –Salvador: UNIFACS, 2014. 142 p. ISBN 978-85-8344-020-8 1.Metodologia. 2. Normalização. I. Título. CDD: 808.066
SUMÁRIO 1. CONHECENDO A CIÊNCIA................................................................................................. 9 O que é ciência?..................................................................................................... 9 Síntese............................................................................................................. 12 Questão para reflexão.................................................................................... 12 Referências...................................................................................................... 12 Atividade: ciência no colégio - Webquest...................................................... 12 Tarefa.............................................................................................................. 13 Processo.......................................................................................................... 13 Avaliação......................................................................................................... 14 Conclusão.............................................................................................................. 14 Referências...................................................................................................... 14 Compreendendo a ciência através do mito e da Filosofia................................... 15 Mito e logos: bases para explicar e compreender o mundo.......................... 16 A filosofia........................................................................................................ 18 Os filósofos e a ciência................................................................................... 20 Síntese............................................................................................................. 25 Questão para reflexão.................................................................................... 25 Leituras indicadas............................................................................................ 25 Referências...................................................................................................... 25 2. TRILHANDO O MÉTODO CIENTÍFICO................................................................................ 27 Método científico.................................................................................................. 27 Referências...................................................................................................... 29 A escolha do tema e a formulação do problema................................................. 30 Encontrando um problema de pesquisa......................................................... 30 A questão do ônibus....................................................................................... 32 O Problema da Queda Livre............................................................................ 34 Problemas em Ciências Sociais....................................................................... 36 Síntese............................................................................................................. 36 Questão para Reflexão.................................................................................... 37 Leituras indicadas............................................................................................ 37 Referências...................................................................................................... 37 Pesquisa de dados e conhecimentos.................................................................... 38 Referencial teórico: revisão de literatura............................................................. 39 A busca por fundamentação teórica............................................................... 40 Síntese............................................................................................................. 41
Questão para Reflexão.................................................................................... 41 Leituras indicadas............................................................................................ 41 Referências...................................................................................................... 41 Veículos de divulgação científica: fontes primárias............................................. 42 Revistas científicas.......................................................................................... 42 Congressos acadêmicos e científicos.............................................................. 42 Dissertações e teses....................................................................................... 43 Publicações governamentais e jurídicas......................................................... 43 Organizações educacionais e de pesquisa...................................................... 43 Síntese............................................................................................................. 44 Questão para Reflexão.................................................................................... 44 Leituras indicadas............................................................................................ 44 Busca e seleção de material: fontes secundárias ............................................... 44 Conhecendo o território de caça..................................................................... 45 Bibliotecas digitais.......................................................................................... 46 Portais............................................................................................................. 47 Avaliando o alvo............................................................................................. 48 A questão da wikipédia.................................................................................. 48 Seguindo trilhas.............................................................................................. 49 Síntese............................................................................................................. 49 Referências...................................................................................................... 49 3. ORGANIZANDO OS ESTUDOS.......................................................................................... 51 Fichamentos, resumos e resenhas: organização de publicações consultadas1..........51 A identificação e a escolha das fontes de informação................................... 52 Fichamentos.................................................................................................... 54 Resumos.......................................................................................................... 56 Síntese............................................................................................................. 62 Questão para Reflexão.................................................................................... 62 Leituras indicadas............................................................................................ 62 Referências...................................................................................................... 62 Levantamento e seleção de dados ...................................................................... 63 Variáveis.......................................................................................................... 64 Amostra........................................................................................................... 64 Síntese............................................................................................................. 67 Questão para reflexão.................................................................................... 67 Leituras indicadas............................................................................................ 67 Sites Indicados................................................................................................ 67 Referências...................................................................................................... 68
4. CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO............................................................................ 69 Construção de um modelo teórico ...................................................................... 69 Padrões de comportamento e previsões........................................................ 70 Síntese............................................................................................................. 73 Sites Indicados................................................................................................ 73 Síntese – Galileu e o Plano Inclinado .................................................................. 74 Reproduzindo o experimento de Galileu........................................................ 77 O Experimento da Queda Livre....................................................................... 80 Induzindo um modelo Genérico...................................................................... 85 Síntese............................................................................................................. 89 Exercícios......................................................................................................... 89 Sites Indicados................................................................................................ 89 Referências...................................................................................................... 89 Construção do Modelo Teórico – Previsões ......................................................... 90 Utilizando a Dedução no Problema do Estoque Mínimo................................ 91 Utilizando a Dedução na Queda Livre............................................................. 92 O experimento da bola de basquete.................................................................... 94 Síntese............................................................................................................. 96 Questão para Reflexão.................................................................................... 96 Leituras indicadas............................................................................................ 96 Sites Indicados................................................................................................ 96 5. A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO.......................................................... 97 Organizando os dados da Pesquisa em Campo ................................................... 97 Etapa 1 - Conhecendo as Tecnologias............................................................. 98 Etapa 2 - Formulação do problema................................................................ 99 Etapa 3 - Definição da Amostra.................................................................... 100 Etapa 4 - Montagem e Distribuição do Formulário....................................... 101 Etapa 5 - Tabulação dos Dados..................................................................... 102 Etapa 6 - Análise dos Dados Tabulados........................................................ 105 Etapa 7 - Apresentação dos Resultados........................................................ 106 Referências.................................................................................................... 107 Submissão da Tarefa..................................................................................... 107 Prova da solução ............................................................................................... 108 Testando Hipóteses....................................................................................... 109 Isolando Variáveis......................................................................................... 109 Tendência...................................................................................................... 111 Experimento Cego......................................................................................... 112 Síntese........................................................................................................... 112
Leituras indicadas.......................................................................................... 112 Referências................................................................................................... 112 6. QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA................................................................. 113 Delineamento da Pesquisa – Parte 1: .............................................................. 113 Quadro de referência epistemológica................................................................ 113 O Positivismo................................................................................................ 114 A Fenomenologia.......................................................................................... 115 O Marxismo................................................................................................... 116 Síntese........................................................................................................... 117 Questão para reflexão.................................................................................. 118 Leituras indicadas.......................................................................................... 118 Referências.................................................................................................... 118 7. PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA........................................... 119 Delineamento da Pesquisa – Parte 2:................................................................. 119 Elaboração do projeto de pesquisa.................................................................... 119 Os objetivos do estudo................................................................................. 120 A justificativa................................................................................................ 121 A metodologia.............................................................................................. 122 Tipos de pesquisas........................................................................................ 122 Análise e tabulação de informações............................................................. 127 Síntese........................................................................................................... 130 Leituras indicadas.......................................................................................... 130 Referências.................................................................................................... 130 Apresentação e divulgação dos resultados da pesquisa ................................... 131 Normalização de trabalhos científicos.......................................................... 131 Síntese........................................................................................................... 132 Leituras indicadas.......................................................................................... 132 Referências.................................................................................................... 132
8. DIVULGAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS...................................... 133 Apresentação de trabalhos acadêmicos e científicos ........................................ 133 Estrutura dos Trabalhos Acadêmicos e Científicos........................................ 134 Síntese........................................................................................................... 136 Leituras indicadas.......................................................................................... 136 Referências.................................................................................................... 136 Citações e referências ........................................................................................ 137 Citações......................................................................................................... 137 Referências.................................................................................................... 139 Síntese........................................................................................................... 142 Leituras indicadas.......................................................................................... 142
AULA 1 Conhecendo a ciência Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
O QUE É CIÊNCIA?
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a maioria das vezes, quando somos confrontados com essa pergunta, somos levados, de imediato, a confundir ciência com tecnologia. Isso é habitual porque estes dois campos estão inexoravelmente entrelaçados; um é produto/resultado do outro. É tão habitual que muitos estudiosos da ciência já se propuseram a escrever sobre essa “confusão”. Andery. et al (2006), por exemplo, e outros estudiosos, nos lembram que existem, no mínimo, dois tipos de opinião, muito difundidos nos tempos atuais, sobre a ciência. No primeiro, a ciência é considerada como uma fonte de benefício para a humanidade; no outro, contraditoriamente, é percebida como uma força de opressão, como fonte de destruição da natureza e do próprio homem. Os resultados tangíveis da ciência lhe cercam por todos os lados. Você mora em uma casa ou apartamento, anda em automóveis, atravessa viadutos, viaja de avião, vai a um médico ou hospital, toma medicamentos receitados, utiliza artefatos de plástico e inox, usa eletrodomésticos e computadores. Poderíamos citar uma lista interminável de produtos da tecnologia que o cercam e que são consequência da ciência.
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Macgyver
Se você não é da geração que teve a oportunidade de assistir Macgyver, ele era um agente secreto que utilizava conhecimentos científicos para encontrar saídas nas ocasiões mais inusitadas. Veja mais sobre Macgyver em http://www.imdb.com/title/ tt0088559/ ou então em nossa videoteca.
É muito comum enfatizar os resultados, em detrimento do processo, porque os resultados da ciência lhe atingem de forma mais íntima. Você consome alimentos naturais cujas características sofreram influência direta de estudos científicos: seleção artificial, transgênicos etc.; ou produtos artificiais: adoçantes, conservantes etc. Você lê ou assiste notícias que se relacionam com a ciência o tempo todo: clonagem, energia atômica, novas curas, formas corretas de se alimentar etc. Tudo isso conduz a uma questão importante: você não acha que compreender a ciência pode ser muito importante, tanto no campo profissional, quanto no campo pessoal? Compreender a ciência lhe dará autonomia crítica de decidir por si mesmo como encarar as informações que recebe ou as decisões que deve tomar com relação à ciência. Mais do que isso, a formação desse entendimento muito se deve à forma como compreendemos a ciência quando frequentamos a escola. Como já nos referimos no texto de Introdução desta disciplina, o que está definido, na escola, com o nome de ciências é um conjunto estruturado de conhecimentos que são resultados da ciência, isto é, o aprimoramento tecnológico. Para além dessa definição, a ciência compreende o modo como estes resultados foram alcançados. Se ampliarmos nossa visão, saindo de uma perspectiva individual e partindo para uma perspectiva da comunidade que nos cercam, podemos nos perguntar: a ciência pode nos ajudar em nossa atuação na sociedade? Como você já deve estar imaginando, a resposta é “sim” novamente. Você pode ajudar uma comunidade a resolver problemas práticos de alimentação, saúde, infraestrutura; pode melhorar um processo dentro da empresa em que você trabalha. Você pode se considerar um indivíduo que nada tem a ver com a ciência, mas isso, com certeza, não é verdade, principalmente, porque prova dar algum valor a ela no momento em que se matriculou nesta universidade. O que você aprendeu até aqui não é, em grande parte, conhecimento científico acumulado e aperfeiçoado por gerações? Talvez você já se considere conhecedor da ciência, ou talvez esteja pensando: “Tarde demais, nunca demos atenção àquelas disciplinas de ciências que estudamos na escola”. Neste ponto, é introduzida a segunda parte deste texto que trata das questões: “Por que eu estudei ciências na escola?”; “Que aspectos da ciência eu estudei na escola?”; “Ao conhecer química, física ou biologia, passamos automaticamente a saber o que é ciência?”. Antes de prosseguirmos na leitura, planejamos uma pequena atividade, na qual está descrita no quadro a seguir. É muito importante que você faça essa atividade antes de dar seguimento ao estudo.
Ciência do Colégio A forma como você aprendeu ciência no colégio tem uma grande influência sobre como você a vê hoje. Antes de seguirmos adiante, consideramos importante a realização de uma atividade de análise e reflexão sobre ciência nos ensinos fundamental e médio. Utilizaremos os resultados desta reflexão como base para o que apresentaremos em seguida. Trata-se de uma atividade do tipo WebQuest. Você encontrará tudo o que precisa para realizar a atividade na esfera temática Ciência do Colégio (recomendamos) ou nas instruções que aparecem no final do capítulo. Se você seguiu nossas recomendações na execução deste WebQuest, perceberá que o colégio projetou em sua mente uma imagem de ciência. Em grande parte dos casos, a forma como você usará a ciência na sua vida pessoal e profissional pode ser bem diferente da que você concebe hoje. Você pode achar
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AULA 1 - CONHECENDO A CIÊNCIA
que serão necessários conhecimentos profundos em uma das ciências que você estudou na escola, ou quem sabe em todas elas, tal como o Macgyver1. De fato, conhecimentos deste tipo são úteis, mas não é em uma extensa biblioteca de conhecimentos científicos que estamos interessados, mas sim na ciência e seu método, a fábrica destes conhecimentos científicos. Voltando à metáfora, nossa expectativa é que você aja mais como Sherlock Holmes, que combina observações e raciocínio para produzir, do que como Macgyver, que apenas os utiliza. Se você limita a noção de ciência que aprendeu no colégio, achará que o conhecimento científico está relacionado com áreas específicas, como física, química e biologia; ou então, que ciência é algo que interessa a acadêmicos e pesquisadores. Quando estas classificações não se aplicam a você, é natural ser levado a pensar que a ciência não lhe diz respeito. Usualmente, o que aprendemos no colégio com o nome de ciências é um conjunto estruturado de conhecimentos que são resultados da ciência. Não é à toa que chamamos de “ciências” no plural, ao invés de “ciência” no singular. Estas “ciências” se referem às aplicações da ciência nas diversas áreas de conhecimento. Como veremos, a ciência, na verdade, abrange muito mais do que isso. Para compreendê-la, em sua amplitude, é necessário aprofundar o modo como os resultados, que você aprendeu, foram alcançados. No ensino fundamental e médio é muito comum a ênfase aos resultados. Se por um lado eles são muito importantes, por outro, são uma parte do que chamamos de ciência. Eventualmente, somos apresentados a alguns elementos das ciências em si. No seu WebQuest, você deve ter visto um experimento em ciências (Telecurso 2000 - aula 69. Vendo o invisível), no qual é obtida uma conclusão a partir de um experimento; o primeiro tópico (1. A matéria e suas propriedades) do “Programa Educ@r” que estimula o estudante à observação; ou o vídeo “Ciência por miúdos Programa Zero” que estimula a realizar um experimento simulando a formação da chuva. Mas este tipo de abordagem é esporádico em sala de aula, dado o volume de conteúdo que o professor precisa apresentar ao aluno. Além disso, a ciência em si e seu método são tratados de forma ainda primária e fragmentada. Se você estudou física no colégio, deve ter sido apresentado a uma dezena de fórmulas matemáticas que o conduziram a utilizá-las ora na resolução do problema de um carrinho, ora para analisar a trajetória do lançamento de uma pedra, e assim por diante. Entregaram algumas equações atribuídas a um antigo sujeito chamado Isaac Newton e o máximo que lhe contaram foi a história de uma maçã – a respectiva aula que você viu no WebQuest, Telecurso 2000, (08. Eu tenho a força! Será?) deve ter refrescado a sua memória. Talvez você tenha perdido algum tempo, na época, tentando entender de onde foi que Newton tirou aquelas equações. Pense sobre isso: “De onde foi que Newton tirou aquelas equações? Ele as inventou do nada?”. Retorne à aula 08 do Telecurso e veja como o tema é apresentado. Reflita sobre isto: “De onde vieram estas fórmulas?”. Neste ponto, você pode ter pensado que a física é uma espécie de ramo da matemática e talvez tenha extrapolado isto para as ciências. Então, pode parecer que o perfil do pesquisador é daquele sujeito versado em ciências exatas ou matemática, e isto é um equívoco. A matemática é, sem dúvida, uma ferramenta importante na mão do pesquisador, mas, principalmente, por ser uma poderosa linguagem para descrever relações de forma simples e compacta. A parte da ciência que vamos lhe mostrar neste curso está menos voltada às equações de Newton e mais voltada a responder: por que ele as fez e como ele as fez. Não tanto do ponto de vista da matemática, mas do momento em que ele olhou para o universo e para a terra e se perguntou: “Será que existe alguma força comum que faz cair a maçã e que atrai a Lua ao planeta Terra? Como ele 11
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procedeu desde o momento que se fez esta pergunta, passando por observações e experimentos, até produzir uma teoria poderosa? A partir daí será possível mostrar que, apesar de a ciência ter se estabelecido inicialmente em áreas como física, química e biologia – daí os principais exemplos sempre se inclinarem para estas áreas – seu método vai muito além, podendo ser aplicado a muitas outras áreas de conhecimento, inclusive a sua.
SÍNTESE Neste capítulo você foi conduzido a fazer uma reflexão da sua imagem de ciência baseada no que você estudou no colégio. Apresentaremos a você uma perspectiva mais ampla de ciência, que vai além dos seus resultados e que poderá ser útil nos diversos aspectos da sua vida. Esperamos que você tenha ficado satisfeito com os resultados obtidos no WebQuest, porque - a partir de agora - entraremos em um percurso para ampliar a sua percepção de ciência e a reflexão sobre o passado será muito valiosa.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Diariamente você sai de casa e vai à universidade e precisa, de algum modo, garantir que chegará no horário. Você acha que a rotina que você desenvolveu para conseguir isso tem algo a ver com a ciência? Pense a respeito e nos encontramos novamente na próxima seção para tratar desse assunto.
REFERÊNCIAS ANDERY, Maria Amélia et. al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 15. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2006.
ATIVIDADE: CIÊNCIA NO COLÉGIO - WEBQUEST Esta é uma atividade do tipo WebQuest. Se você ainda não participou de uma atividade como esta, faremos uma pequena introdução. Um WebQuest consiste em um formato para o desenvolvimento de uma investigação orientada, na qual a maior parte das informações, que o estudante trabalha, vem da Web. Ele foi proposto por Bernie Dodge em 1995 (DODGE, 1995; DODGE, 2001). Se você quiser se aprofundar mais neste modelo, poderá encontrar informações úteis no site oficial (em inglês) http://webquest.org ou no site em português da Escola do Futuro da USP1. Nas páginas seguintes, apresentaremos nosso WebQuest: Uma das características marcantes de um pesquisador é o costume de coletar dados, classificá-los e sistematizá-los. Neste WebQuest você vai praticar um pouco deste papel. Seu objeto de estudo: livros e conteúdo didático utilizado no ensino fundamental e médio. Sua tarefa: traduzir o conceito de ciências a partir do olhar de um estudante de ensino fundamental e médio.
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AULA 1 - CONHECENDO A CIÊNCIA
TAREFA
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O objetivo deste WebQuest é analisar amostras de livros didáticos, vídeos e textos sobre ciências, direcionados a professores do ensino fundamental e médio, que estão disponíveis em sites na Web. Diferentemente de como aconteceu na sua época de colégio, agora você vai assumir uma atitude externa de pesquisador e seu objeto de estudo é o conteúdo das ciências estudadas. Você vai praticar também o ato de tentar se distanciar do objeto de estudo para analisá-lo, ou seja, não importa se você gosta ou não das ciências que aprendeu na escola, seu papel é “dissecá-las”.
Escola do Futuro da USP
http://www.webquest.futuro. usp.br
Esta será uma análise direcionada e não estamos considerando que você irá ler todo o material. Na próxima seção você será orientado sobre o que deve ler o que analisar e como obter os resultados esperados. Depois de analisar os livros e material sugeridos, você responderá as seguintes perguntas: » » O que é ciência e quais as suas características? » » Por que nos referimos à “ciência” no singular neste texto e utilizamos “ciências” para nos referir ao que estudamos no colégio? Note que, para que esta atividade seja bem-sucedida, você não deve procurar a definição de ciência em outros sites, pelo contrário, se você fizer isso vai atrapalhar os resultados de sua atividade. Não tenho nenhuma intenção que você construa o conceito correto de ciência, não é este o propósito.
PROCESSO Montamos o quadro a seguir, no qual estão organizadas as referências para os sites e sugestões de tópicos para a leitura. TÍTULO DO LIVRO OU MATERIAL
TÓPICOS SUGERIDOS PARA LEITURA
Telecurso 2000 http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/ telecurso_2000 Ciências – Ensino Fundamental (Está com o título alterado para Ciências – Ensino Médio) Biologia – Ensino Médio Física – Ensino Médio Química – Ensino Médio
Analise como os conteúdos são organizados; escolha uma ou duas amostras de aula e veja seu conteúdo. Ciências no ensino fundamental: veja a primeira aula (01. Por dentro da ciência); veja a penúltima (69. Vendo o invisível) e última aula (70. Ciência: produto ou método?). Física no ensino médio: veja a primeira aula do Volume 1 (01. O mundo da física) e as leis de Newton, oitava aula deste volume (08. Eu tenho a força! Será?).
Programa Educ@r Ciências para Professores do Ensino Fundamental http://educar.sc.usp.br/ciencias/
Analise como os conteúdos são organizados; veja como é abordada a primeira aula (1. A matéria e suas propriedades); escolha uma ou duas amostras e veja seu conteúdo.
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Wikibooks – biologia, física e química http://pt.wikibooks.org/wiki/Biologia http://pt.wikibooks.org/wiki/F%C3%ADsica http://pt.wikibooks.org/wiki/Qu%C3%ADmica
Analise como é organizado o conteúdo de biologia, física e o conteúdo da Wikipédia e sites relacionados deve ser usado com cautela e trataremos sobre esse assunto na seção onde abordamos, como deve ser avaliada a qualidade de um texto. Como o propósito desta atividade não é aprender ciências através dos textos do Wikibook e sim analisá-los, eles poderão ser usados para esta atividade sem restrições.
Ciência por miúdos Programa zero
Analise a forma como o experimento científico é apresentado às crianças e como eles foram conduzidos a tirar conclusões.
http://www.youtube.com/watch?v=ZaHizBvf1sI
AVALIAÇÃO Nesta atividade você não receberá uma nota pelos seus resultados. Esta estratégia foi adotada para que você se concentre no principal objetivo da tarefa, ou seja, realizar uma reflexão sobre o seu aprendizado de ciências no colégio. É possível que uma nota nesta avaliação desviasse sua atenção e você se preocupasse mais em produzir um resultado para satisfazer a nossa expectativa do que para a sua aprendizagem pessoal. Contudo, esta é uma atividade muito importante para a continuidade de seus estudos nesta disciplina.
CONCLUSÃO Espero que este WebQuest tenha sido proveitoso para você, principalmente porque você vai retornar ao nosso texto e iremos transformar os resultados desta atividade na matéria-prima para reflexões na introdução e em outros textos durante o curso.
REFERÊNCIAS DODGE, Bernie. WebQuests: a technique for internet – based learning. San Diego: The Distance Educator, 1995. p. 10-13.
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DODGE, Bernie. FOCUS: five rules for writing a great webquest. Learning & Leading With Technology, 2001. p. 6-9.
COMPREENDENDO A CIÊNCIA ATRAVÉS DO MITO E DA FILOSOFIA Para iniciarmos nossa conversa sobre essa temática, convidamos você para algo inusitado. O texto em destaque abaixo é um dos diálogos de um filme. Você consegue descobrir a que obra estamos nos referindo?
- Disse que a máquina está aqui... - Exato. - Por que não a vemos? - Porque estamos em 31 de dezembro de 1899 e a máquina está a centenas de anos a nossa frente - Talvez esta casa não exista daqui a 100 anos. - Porém a máquina ocupa o mesmo espaço que ocupava antes da viagem. - Se ocupa o mesmo espaço, por que não posso tocá-la? - Porque este espaço é o espaço de hoje e não pode tocar no espaço de amanhã. - O espaço não se altera! Este espaço estará aqui para sempre. - Não! O tempo altera o espaço! - Este lugar pode ter estado no fundo do mar tempos atrás... - e em um milhão de anos, quem sabe, seja o interior de uma montanha. - Se isto é verdade, que pretende que façamos com sua máquina? - Máquina? Tenho a intenção de viajar ao futuro. - Ou, quem sabe, o doutor se ofereça como voluntário? [...]
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Prêmio Framboesa de Ouro
O Framboesa de Ouro, prêmio dado ao pior filme do ano, é uma versão escrachada do Oscar, o mais famoso e cobiçado prêmio do cinema.
Bem, se você não conseguiu descobrir, vamos soltar uma pista... o seu roteiro foi adaptado de um bestseller, editado pela primeira vez em 1895 e seu título acabou por se tornar uma meta perseguida por muitos cientistas de várias partes do mundo desde que foi cogitada como algo possível a ser construído. Ah... agora você matou a charada, não foi? É isso mesmo! Estamos falando do filme “A máquina do tempo”. Tudo bem! Você deve estar estranhando a referência a esse filme de gosto duvidoso, que não faz jus ao romance de ficção científica escrito por H. G. Wells e certamente ganhou o prêmio Framboesa de Ouro1 de 2003, mas isso tem um motivo muito plausível. O que você faria se tivesse uma máquina do tempo estacionada na garagem de sua casa ou de seu prédio? Certamente não resistiria e sairia para dar uma volta, não é mesmo? O destino dessa viagem poderia ser o futuro (afinal, todos queremos saber como seremos daqui a dez anos, quais serão as nossas conquistas, ou quem será o campeão da Copa Mundial de Futebol de 2014), mas, como temos uma necessidade emergencial nessa disciplina –[...] - destacaremos/ retomaremos/retornaremos a alguns momentos da história da civilização ocidental para compreender o que é a ciência e como ela chegou a ser o que é.
MITO E LOGOS: BASES PARA EXPLICAR E COMPREENDER O MUNDO A ciência, como a conhecemos hoje, é algo que passou a ser produzida aproximadamente a partir do século X d.C., mas tem origens muito anteriores a isso, num tempo identificado como antiguidade. Estamos falando do momento em que surgiu, no ser humano, a necessidade de explicar racionalmente o mundo e a natureza que o cercava. Pelas configurações social e produtiva, características do momento histórico anterior (período micênico, configurado séculos XII a VIII a.C.), a essa necessidade - grupos organizados por relações de parentesco e em torno do totem (animal, planta ou instrumento de trabalho importante para a economia do grupo, organizada de forma a garantir apenas o consumo necessário para a sobrevivência deste), bastava a esse ser humano uma explicação/compreensão de mundo baseada na crença e na fé: a narrativa mítica ou, como mais comumente conhecemos, o mito. [...] o mito é uma narrativa que pretende explicar, por meio de forças de seres considerados superiores aos humanos, a origem, seja de uma realidade completa como o cosmos, seja de partes dessa realidade; [que] pretende explicar efeitos provocados pela interferência desses seres ou forças. Andery. et al (2006, p. 20). O mito era baseado na transmissão do conhecimento (principalmente para explicar o mundo e as formas de produzir condições para a sobrevivência) por meio de gerações e reforçava a ideia da coletividade: o que era produzido pelo grupo, era consumido por este mesmo grupo.
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Através do mito foi possível estabelecer uma relação pessoal e intransferível entre alguns homens (representados pela figura do herói e do rei) e os deuses, fosse no exercício da justiça, fosse no exercício da religião? Pois é, os poemas de Homero (Ilíada e Odisseia) e os de Hesíodo (Os trabalhos e os dias e Teogonia) revelam documentos importantes para a compreensão histórica deste período e também permitem revelar as características do conhecimento até então produzidos. Vejamos, abaixo, um trecho da Teogonia, de Hesíodo: Em verdade, no princípio veio o Caos, mas depois veio Gaia (Tera) de amplos seios, base segura para sempre oferecida a todos os seres vivos [...].De Caos nasceram Érebo (treva) e a negra Noite. E da Noite, por sua vez, saíram Éter e Dia (que ela concebeu e deu à luz unida por amor a seu irmão Érebo) [...] (HESÍODO, p. 116-132).
Por conta de um melhor uso de ferramentas, utensílios e do desenvolvimento de técnicas que possibilitaram uma consequente produção excedente, as formas de produzir, fundamentadas nos princípios da coletividade referidos no parágrafo anterior, foram paulatinamente abandonadas. Produzir em quantidade maior do que se pode consumir, implicou no desenvolvimento da relação mercantil e de muitos dos aspectos que, posteriormente,a acompanharão: a divisão social do trabalho, apropriação de produtos baseada na propriedade privada... O período seguinte, o arcaico (séculos VII e VIIIa.C.), caracterizou-se, principalmente, pelo desenvolvimento das polis gregas, ou as denominadas cidades-estados. As polis possuíam uma economia monetária bem definida: cunharam moedas que eram usadas na troca de produtos e que representavam a garantia de autonomia econômica e política, autonomia esta que,em um primeiro momento, esteve pautada em princípios oligárquicos, mas que, também, contribuiu para o desenvolvimento da noção de cidadania e de democracia. [...] implicados na vida da polis, o homem grego tornava-se capaz de transpor para o pensamento as várias instâncias presentes em sua vida: tornava-se capaz de reconhecer como distintos o próprio homem, a sociedade, a natureza, o divino; tornava-se capaz de refletir no conhecimento que produzia abstrações que, cada vez, marcavam as várias instâncias de sua vida (ANDERY et al, 2006, p. 35). Está evidente, no trecho acima, que a nova configuração política e econômica ocasionou uma nova organização social, na qual a narrativa mítica não era mais predominante e que, a partir do século VI a.C., provocou o surgimento de tentativas para explicar racionalmente o mundo que culminaram no que ficou conhecido como o pensamento primordialmente sistematizado pelos gregos. Em contraponto à narrativa mítica, surge o pensamento racional. A razão - ou logos, em seu sentido original - possui dois significados etimológicos: por um lado, reunir, ligar e, por outro, calcular, medir.
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Nos dois significados está claro que ambos relacionam-se com o pensar, capacidade intrínseca e atividade fundamental do ser humano. Razão, para os gregos, opõe-se ao ilusório e ao conhecimento que é dado pelo sentido; o conhecimento racional é aquele que faz ultrapassar as aparências e alcançar a realidade: O conhecimento racional opõe-se ao mítico, pois é um conhecimento sobre o qual se problematiza, não simplesmente se crê; um conhecimento no qual a explicação demonstrada por meio da discussão, da exposição clara de argumentos [...] um conhecimento em que as explicações deixam de ser frutos da ação de seres sobrenaturais e divinos que agem a despeito do próprio homem, para se tornarem explicações baseadas em mecanismos imanentes à natureza ou ao próprio homem em sua ação sobre a natureza (ANDERY et al, 2006, p. 21). Fundamentada nessas bases, nasce a Filosofia, uma nova forma de ver/perceber o mundo.
A FILOSOFIA Vamos colocar nossa máquina do tempo para funcionar...
Zás! Chegamos num período que é considerado, até os dias atuais, como um divisor de águas no que se refere à maneira como as sociedades produziam conhecimento: o período em que surgiu a Filosofia. Temos como o primeiro filósofo importante: Sócrates, mas antes dele, no âmago da sociedade grega que se ergue entre os séculos VII e V a.C. -, vários outros buscaram explicar racionalmente a natureza. Dentre eles, temos: » » Tales e Anaximandro se preocuparam em desenvolver conhecimentos no campo da Astronomia, da Geometria e da Matemática. » » Anaxímenes, um dos primeiros a pensar no homem a partir da sua composição química e que tenta explicar a questão da vida e o que a compõe. » » Pitágoras traz a noção de número; de harmonia, no sentido da música, mas quese desloca para ajudar na compreensão do universo; e a noção de alma, como elemento que garante a vida; A noção de número introduzida por Pitágoras fez com que o pensamento racional alcançasse um maior poder de abstração, pois permitiu que os gregos pudessem ir além dos elementos sensíveis e 18
AULA 1 - CONHECENDO A CIÊNCIA
compreendessem o que é fundamental na natureza. Por se caracterizar como elemento não sensível (isto é, originado pela abstração), a noção de número implicou na valorização da razão (logos) no processo de produção do conhecimento. Ainda no século V a.C., a Grécia entra em guerra com a Pérsia. O cenário das investigações filosóficas divide-se. Um deles passa a ser Éfeso (Grécia asiática) e o outro Eléia, no sul da Itália. Geograficamente opostas, estas regiões simbolizam as duas direções contrárias que a filosofia tomará nos séculos seguintes. Essas direções têm o mesmo ponto de partida: o questionamento acerca da existência de “um princípio único que explique o mundo em seus diversos aspectos” (ABRÃO, 1999, p. 31). Originários de Éfeso e Eléia, dois grandes pensadores pré-socráticos merecem destaque, pois - além de suas relevantes contribuições para esta questão filosófica/científica - tornaram mais convincentes os argumentos de um dos principais sistemas filosóficos na antiguidade. Estamos nos referindo a Parmênides e Heráclito. Você já ouviu falar neles? Por conta do seu pensamento (exposto em um poema filosófico intitulado Sobre a Natureza2, à Parmênides de Eléia (530 a.C. - 460 a.C.) é atribuído o próprio surgimentoda ontologia; porque não se contentava com a aparência das coisas (busca da essência), Parmênides inaugura a metafísica e a lógica. Por sua vez, Heráclito de Éfeso (540 a.C. - 470 a.C.) foi quem problematizou o dinamismo da physis (natureza), já percebido anteriormente por Tales e Anaximandro. Heráclito acreditava que tudo é mutável. Ele exemplifica esta afirmação dizendo que nenhuma pessoa pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque, na segunda vez, não serão as mesmas águas e a pessoa mesma já será diferente. Parmênides afirmava que toda a mutação é ilusória, ou seja, que nada é mutável. As palavras a seguir expressam o seu pensamento:
“Indícios existem, bem muitos, de que ingênito sendo, é também imperecível, pois é todo inteiro, inabalável e sem fim.” No ano de 479 V a.C., Atenas venceu a guerra contra a Pérsia. Esta vitória marca a consolidação da democracia na cidade. Anderyet al (2006) sinaliza que, nesse contexto de crescente participação política, tornou-se necessário formar cidadãos aptos à vida pública. A filosofia torna-se um instrumento de educação nas mãos de um grupode sábios, os sofistas3. Exímios argumentadores, para eles bastava que seus discípulos aprendessem a falar e a convencer sua plateia com seu discurso. Por serem estrangeiros, e, assim, excluídos da condição de cidadãos, não se preocupavam com o destino das cidades nem o que a argumentação podia ter de injusto ou imoral. Aliás, justeza e moralidade pouco importavam para eles. Por isso, eram considerados - por muitos representantes da filosofia - como inimigos, mercenários da arte do bem falar. Um aspecto, entretanto, depõe em benefício dos sofistas e não pode ser desconsiderado: para alguns historiadores da filosofia, a exemplo de Abrão (1999), foram os primeiros a se convencerem (e a defenderem!) que as verdades e os valores são instáveis e relativos. A afirmação de Protágoras (485410 a.C.), considerado o primeiro sofista, expressa muito bem o pensamento deste grupo:
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“O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são, e das que não são, enquanto não são”. Você pode estar pensando com seus botões: Muito interessante, mas qual a importância que isso pode ter? Por mais que pareça óbvio e irrelevante para os dias atuais, isso significou dizer que o que estabelece uma verdade, por exemplo, é o contexto no qual ela surge. Para a época, essa percepção, sem sombra de dúvida, era muito inovadora. Então, a filosofia passa a se ocupar das questões propriamente humanas (como a linguagem, importante ferramenta do homem para exercer a democracia, na qual diferenças sociais e econômicas não contam), se afasta das investigações dos pré-socráticos acerca da natureza e do universo. Após a vitória sobre os persas, Atenas se tornou uma grande potência, estendendo sua influência por quase toda a Grécia. É neste clima de apogeu da civilização grega que viveu Sócrates (469-399 a.C. aproximadamente). Você já deve ter ouvido falar sobre ele, mas, pela importância que teve para a filosofia, e, consequentemente, para a ciência, vamos conhecer, agora, mais detalhes da sua história.
OS FILÓSOFOS E A CIÊNCIA Sócrates nasceu em Atenas, em uma família que não pertencia à aristocracia da polis. Seu pai era pedreiro; e sua mãe uma parteira. Alguns autores dizem que seu paiera escultor, mas, como veremos adiante, esta não é a única nem a principal controvérsia de sua biografia. Apontado pelo Oráculo de Delfos como o homem mais sábio do mundo, Sócrates sempre dizia que sua sabedoria era limitada a sua própria ignorância - nosce teipsum -, que traduzida diz: “Só sei que nada sei”. Existe a suspeita de que Sócrates nunca existiu e de que o pensamento a eleatribuído, sua história e sua morte se configuram como alegorias utilizadas por outros pensadores para disseminar suas próprias ideias. Mas alguns estudiosos, como Jaeger (2001), interpretam o fato de Sócrates nunca ter escrito uma só linha como parte do seu compromisso com o método por ele proposto, a maiêutica, que exigia um autoconhecimento provocado por meio do diálogo constante e da troca de ideias. Dizia ele: “Conhece-te a ti mesmo”. Observemos um trecho do diálogo que trava com Trasímaco:
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— E então, Trasímaco? - repliquei – Não repara que os restantes cargos ninguém quer exercêlos por sua vontade, mas exigem um salário, pensando que, do seu exercício, nenhum proveito pessoal lhes advirá, mas sim para seus súditos? E depois, diz-me: afirmamos nós sempre que cada uma das artes se diferencia das outras pelo fato de ter uma polêmica específica? [...] — Diferenciam-se por isso, sim. — E não é verdade que cada uma das artes nos proporciona qualquer vantagem específica, e não comum, como a da medicina, a saúde, a do piloto, a segurança de navegação, e assim por diante? — Exatamente. — Portanto, também a arte dos lucros tem o seu salário? Pois é esse o efeito que lhe é peculiar. Ou dás a mesma designação à arte de curar e à arte de pilotar? [...] — Certamente que não. — Nem chamarás assim à arte de lucros, segundo julgo, se alguém ficar são ao exercer uma profissão lucrativa? — Com certeza que não. — E, então, chamarás à medicina arte dos lucros se alguém, ao curar uma pessoa, ganhar um salário? — Não. — Acaso não concordamos que há uma vantagem peculiar a cada arte? — Seja. — Se há uma vantagem de que gozam todos os artífices, em comum, é manifesto que devem empregar alguma faculdade adicional, comum a todos, e daí derivarem a vantagem. — Assim parece. — Ora nós afirmamos que a vantagem dos artífices, quando ganham um salário, lhes advém de empregarem uma faculdade adicional à arte dos lucros. Concordou a custo.
Fonte: Trecho extraído da obra “A República”, de Platão
Como você pode perceber, através da maiêutica, Sócrates apenas questiona. Não se propõe a ensinar, quer aprender e, por isso, seu pensamento parece desprovido de conteúdo. Contudo, quando põe em questionamento as verdades dos que com ele dialogam, acaba por demonstrar que o pensamento deve ser prudente. Sócrates opunha-se radicalmente ao relativismo dos sofistas e também duvidava da ideia destes de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Para o filósofo ateniense existiam valores e virtudes
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
permanentes que precisavam ser conhecidos e seguidos em defesa do bem comum e não somente de alguns: [...] o conhecimento das virtudes humanas, como a coragem, a justiça, dependia, para Sócrates, do conhecimento da Virtude, do Bem. E isso era visto como algo imutável e universal [...]. O conhecimento era, portanto, visto como mecanismo de aprimoramento do homem e da sociedade, e, para Sócrates, o conhecimento era autoconhecimento, porque os homens já traziam em sua alma, necessitando apenas descobri-lo pelo esforço da busca de si mesmo (ANDERY et al, 2006, p. 63). Através da utilização do seu método, Sócrates ganhou muitos seguidores. Foi acusado, entretanto, de corromper a mente dos jovens atenienses e, por isso, foi condenado a escolher entre o exílio e a morte. Todos esperavam que ele fugisse da cidade, mas optou pela morte.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:David_-_The_Death_of_Socrates.jpg
Sua morte foi drástica, mas foi bela, quem sabe se não uma metáfora para a decadência da democracia e da própria Atenas, que chegava a mais um momento de conflito: a guerra do Peloponeso. A tela de Jacques David (1787), intitulada como ‘A morte de Sócrates‘, retrata esse momento. Nem o carcereiro, que representava as pessoas que o condenaram, parecia convencido de que aquela morte era necessária e possível. Após a sua morte, os seus discípulos, dentre eles Platão, deram continuidade ao trabalho que ele começou. Mas a importância do pensamento socrático deve-se não só pelo fato de ter influenciado os pensadores que o sucederam (Aristóteles, inclusive, destaca que é Sócrates que introduz a questão dos conceitos universais e da indução que fizeram parte da ciência até a Idade Média). Está, sobretudo, em ter sido capaz de fazer com que a visão naturalista de homem fosse complementada por uma visão ética do homem, ética esta que é transformada em conhecimento rigoroso.
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Quer conhecer sobre a história de Sócrates, considerado o pai da filosofia? Acesse o endereço eletrônico a seguir: http://www.acessasp. sp.gov.br/blog/index.php?itemid=240
Platão nasceu em Atenas, mas diferente de seu mestre, filho de uma família aristocrática. Elaborou uma vasta obra escrita que, além do imenso valor literário, tem inenarrável importância para a filosofia e a ciência. Como seu mestre, atribuía ao diálogo um estatuto metodológico, pois através dele era permitido demonstrar que o conhecimento — resultado da reflexão do homem consigo mesmo — “para ser atingido [dependia] da argumentação e da discussão que eram formas de se validar cada passo da reflexão” (ANDERY et al, 2006, p. 67). Assim se configurou a sua dialética. Dentre os discípulos de Sócrates, Platão é o que mais ganhou destaque, pois - além de consolidar uma imagem definitiva de Sócrates, apresentando toda a originalidade de seu pensamento -, elaborou um sistema filosófico que articulava princípios opostos: o de Heráclito, afirmando que tudo é mutável, e o de Parmênides, afirmando que nada se modifica e que o movimento não existe. Platão conseguiu dissolver essa tensão a partir da compreensão de que a realidade que nos cerca está dividida em dois mundos: o inteligível, no qual o conceito não pode ser mudado (este é também conhecido como o das ideias), e o outro, o mundo sensível, no qual é possível a mutabilidade. Para Platão, os conceitos universais e a Verdade estão no mundo inteligível, acessível a todos, mas não sai de lá... como ele próprio afirmava, o que existe no mundo concreto, ou sensível, é uma pálida reprodução do mundo das ideias. Ele explica a existência desses dois mundos, através do mito da caverna, conhecido também como alegoria da caverna.
Você quer conhecer o mito da caverna, de Platão? Então, leia o livro VII, da obra “A República”, de Platão. O texto está disponível na internet, no endereço eletrônico a seguir: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/caverna.htm http:// educaterra.terra.com.br/ voltaire/cultura/caverna.htm
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Platão indica que, para encontrar a verdade e o conhecimento, é preciso afastar-se da vida prática dos homens, desviando o olhar para outro lugar, fazendo dela teoria de contemplação (theoría). E são nessas bases que funda a sua Academia, nos arredores de Atenas. O detalhe da tela pintada por Rafaello Sanzio, no período renascentista, abaixo, traz Platão apontando para o céu com o indicador, falando do conceito absoluto.
Figura 1 - Detalhe de obra do período renascentista
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Sanzio_01_Plato_Aristotle.jpg
Ampliando a imagem e trazendo outros elementos da tela produzida por Rafaello, se vê Platão apontando para o céu e, ao seu lado, Aristóteles, seu mais ilustre discípulo, fazendo um gesto como se dissesse: “Você está enganado, a realidade e o conhecimento só podem existir a partir do mundo prático”. É nesse ponto que Aristóteles discorda de Platão e vai dizer que o sistema organizado por ele é um equívoco muito forte, porque a separação entre mundo inteligível e mundo sensível não existe, e o conhecimento só é válido a partir da nossa experiência concreta. Esse é o princípio do pensamento aristotélico presente na frase a seguir:
“O que está além da nossa experiência sensível não pode ser nada para nós”. Na mão esquerda, Platão segura o Timeu, um tratado teórico na forma de um diálogo socrático, que apresenta especulações sobre a natureza do mundo físico, enquanto Aristóteles segura sua obra Ética a Nicômaco, na qual expõe sua concepção teleológica4 de racionalidade prática, a concepção da virtude e as considerações sobre o papel da prudência e do hábito na Ética. Aristóteles nasceu em Estagira, cidade grega sob o domínio macedônico, e foi o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. Ao contrário de seu mestre Platão, que fazia essa distinção entre mundo inteligível e sensível, ele defendia a existência de um único mundo. A partição do pensamento filosófico entre platônico, de um lado, e o aristotélico do outro, inaugurou uma tensão que perpassou a produção do conhecimento e da ciência na Idade Antiga, passou pela Idade Média, chegou na Idade Moderna e na Contemporaneidade como as duas principais correntes epistemológicas que se tem na Filosofia e na Ciência: o Racionalismo e o Empirismo.
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AULA 1 - CONHECENDO A CIÊNCIA
Também forneceu as bases para que o pensamento teológico/religioso cristão se desenvolvesse e dominasse o mundo ocidental por aproximadamente 11 séculos...mas esta história já está longa demais e você deve estar cansado. Por isso, continuamos no próximo texto. Até lá!
SÍNTESE Nesse texto, apresentamos a contribuição do mito e da filosofia para a compreensão do mundo e a produção da ciência.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Para você, a construção do conhecimento pelo sujeito parte, como afirma Platão, da reflexão teórica ou, como destaca Aristóteles, da experiência concreta? Tente refletir sobre sua resposta...
LEITURAS INDICADAS Sugerimos a leitura do capítulo 3 “Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica”, de Maria Amélia Andery.
REFERÊNCIAS ABRÃO, Bernadette Siqueira. História dos pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Nova Cultural). A MÁQUINA do Tempo. The time machine (título original). Direção e Roteiro: George Pal. Elenco Rod Taylor, Alan Young, Yvette Mimieux, Sebastian Cabot, Tom Helmore. FicçãoCientífica, 103 min, EstadosUnidos/Inglaterra: Warner Home Video, Dolby Digital Stereo, Color, 1960. ANDERY, Maria Améliaet. al. Para compreender a ciência: umaperspectivahistórica. 15. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2006. JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001. PLATÃO. A república. Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2003.
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AULA 2 Trilhando o método científico Autor: André Santanchè
MÉTODO CIENTÍFICO
V
ocê acorda pela manhã às 6h, come, toma banho e se arruma para sair; sabe que tem que chegar ao ponto de ônibus umas 6h50, então, se apressa e sai de casa às 6h45; chega no ponto e adentra no ônibus das 6h55; às 7h20 chega na universidade. Todos os dias da semana são assim, com variações menores para mais e para menos, e então perguntamos: “Como você consegue”?
Provavelmente você dará uma explicação mais ou menos assim: — Depois de algum tempo, aprendi que levo, mais ou menos, quarenta minutos para sair de casa - depois que acordo -, digamos que são uns vinte minutos para tomar banho e me arrumar, mais outros quinze a vinte minutos para tomar café, escovar os dentes e sair. O ônibus leva uns vinte e cinco minutos para chegar à universidade. Tem um que passar entre 6h50 e 7h05. Se eu conseguir pegar esse, chego no horário, senão, é na base da sorte. O ônibus seguinte pode chegar 7h10, mas costuma chegar entre 7h15 e 7h20 e daí chego atrasado na certa. Por este motivo, acordo às 6h e tento me aprontar em menos de quarenta minutos. Assim, terei uma margem de segurança para chegar no horário.
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Esta explicação parece bastante razoável e fundamentada em uma experiência sólida. As previsões são mais ou menos acertadas, uma vez que você acorda às 6h e consegue regularmente chegar no horário à universidade. A pergunta seguinte é: este é um conhecimento científico? Aqui apresentaremos o que é considerado por pesquisadores e pensadores uma característica distintiva da ciência em relação a outras formas de conhecimento: o método científico. Historicamente, diversos cientistas e filósofos fizeram análises e críticas ao que chamamos de método científico. Muitas destas propostas atuam sobre aspectos diferentes do método e, em muitos casos, de forma complementar. Salvatore D’Onofrio (1999) faz, no capítulo 2 do seu livro, uma síntese interessante das diferentes perspectivas do método na história, iniciando com Pitágoras, há mais de quinhentos anos antes de Cristo; passando pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles; seguindo por René Descartes e Francis Bacon; e alcançando os pensadores mais modernos. O que apresentaremos aqui é a nossa perspectiva em relação ao método. Note que esta é apenas uma sistematização de ideias, ou seja, uma perspectiva particular, ordenada da maneira que apresentamos, para que você compreenda como se processa o método científico. Não é uma sequencia rígida seguida por todos os cientistas e nem mesmo a única perspectiva para o método. A sistematização que fizemos para apresentar o método científico está apresentada na Figura 1 e traz ideias principalmente da sistematização feita por Bunge (2008) e é retomado e debatido por Marconi e Lakatos (2005). Recomendamos a leitura do capítulo 4 de Marconi e Lakatos (2005) para um aprofundamento sobre aspectos do método científico tratados neste tópico. A Figura 1 mostra um segmento do mapa conceitual desta disciplina ilustrando a nossa perspectiva sobre o ciclo de eventos que compõem o método científico. Para facilitar a compreensão dos eventos, os ordenamos em certa sequencia de apresentação. Tal sequencia não é necessariamente aquela em que acontecem os eventos no método científico, por dois principais motivos: primeiro porque, em muitos casos, ele não acontece nesta ordem; e segundo porque estes eventos podem acontecer em paralelo ou se repetirem mais de uma vez, intercalando-se.
Figura 2 - Mapa conceitual da nossa perspectiva de Método Científico
Cada um destes eventos será detalhado em um capítulo específico, no qual apresentaremos o respectivo segmento deste mapa conceitual para você se orientar. A seguir, apresentamos uma síntese de cada um dos eventos: » » Formulação do Problema: envolve o levantamento de dados, percepção de lacunasno conhecimento e formulação do problema a ser pesquisado, geralmente, na forma de uma questão a ser respondida ou validada nas etapas subsequentes.
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AULA 2 - TRILHANDO O MÉTODO CIENTÍFICO
» » Pesquisa de Dados e Conhecimentos: compreende a busca por dados relevantes relacionados ao problema em questão, como também a pesquisa de teorias e outras pesquisas ligadas ao mesmo. Aqui se faz mais presente a revisão da literatura relacionada. » » Construção de um Modelo Teórico: a partir dos dados coletados e analisados, esteevento consiste na formulação de uma ou mais hipóteses que, de forma genérica, expliquem o comportamento do que foi observado. » » Prova da Solução: as hipóteses formuladas são comprovadas e validadas de formasistematizada. » » Apresentação de Resultados: os resultados alcançados são sistematizados, analisados e sintetizados para apresentação ao público.
REFERÊNCIAS BUNGE, Mario. La ciencia: su método y su filosofía. Disponível em: <http://www.dcc.uchile. cl/~cgutierr/cursos/INV/bunge_ciencia.pdf>. Acesso em: 02 ago. de 2008. p. 41-43. D’ONOFRIO, Salvatore. Metodologia do trabalho intelectual. São Paulo: Atlas, 1999. p. 26-39. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed.São Paulo: Atlas, 2009. p. 83-85. VANCLEAVE, Janice. Janice VanCleave’s guide to the best science fair projects.New York: John Wiley& Sons, Inc., 1997.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
A ESCOLHA DO TEMA E A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA “Saibamos honrar os problemas...” (GOETHE, 2003)
Olá, A formulação de um problema parece, talvez, a etapa mais simples, mas, ao contrário, é uma etapa crítica na pesquisa. Formular corretamente o problema, de forma clara, simples e objetiva pode ser determinante no sucesso da pesquisa. Por este motivo, já ouvimos mais de uma vez a afirmação de que um problema bem definido é a metade do caminho para a solução. Neste texto, apresentaremos os aspectos necessários para esta formulação. Vamos lá!
ENCONTRANDO UM PROBLEMA DE PESQUISA Não estamos certos de que possamos lhe orientar em um procedimento específico para encontrar um problema de pesquisa, pois existem várias maneiras de encontrar um problema e elas estão intimamente relacionadas com o contexto do pesquisador, mas um ponto é indiscutível: ele sempre nasce de uma inquietação que o pesquisador possui, com relação a algo que não compreende (ou conhece), o tanto quanto gostaria ou a uma busca encontrar uma solução eficaz para algo, como encontrar um combustível menos poluente ou mais eficiente, quais os produtos que substituem o açúcar e não têm calorias. O mais interessante é que, não necessariamente, um problema científico está passível de surgir no âmbito de um laboratório secreto (como temos a impressão quando assistimos a programas de TV ou filmes de ficção científica); ele pode surgir, e certamente surgirá, dentro do próprio ambiente em que o pesquisador está inserido, quer seja na organização que estuda ou na empresa em que trabalha. Muitos problemas são identificados a partir da ação coletiva da ciência. Pesquisadores compartilham os resultados de suas pesquisas e, nesse processo, novos problemas despontam como consequência de resultados encontrados em outras pesquisas; lacunas são identificadas; muitas vezes, surgem discordâncias entre pesquisadores que atuam sobre o mesmo problema em perspectivas diferentes. No campo da ciência, os problemas são compreendidos a partir da coleta, sistematização e análise dos dados. Como veremos na próxima etapa, a ciência pode ser entendida como uma busca por padrões. Por este motivo, o problema pode ser resultante justamente da percepção de um padrão de ocorrência ou comportamento. Isaac Newton percebeu um padrão na forma como os corpos se comportam em queda livre para, então, elaborar sua teoria em torno da gravidade; biólogos estão, o 30
AULA 2 - TRILHANDO O MÉTODO CIENTÍFICO
tempo todo, atrás de padrões na classificação dos seres vivos, seu comportamento e a relação entre eles (o que há por trás destas classificações senão a percepção de padrões: mamíferos têm pelos, aves põem ovos etc.). Como o método científico é um ciclo, significa também que os resultados alcançados por uma pesquisa irão produzir novos problemas de pesquisa. Isto porque as fronteiras da ciência estão em constante crescimento. Para formular um problema, é preciso encontrá-lo. Não existe uma receita exata nem um método único. Buscar um problema é buscar uma lacuna em uma área do conhecimento de seu interesse, transformando-a em um objeto de estudo. Você deve estar pensando nesse momento: “Certo, concordo...mas, como fazer isso?”. Marconi e Lakatos (2005, p. 161) definem problema como “uma dificuldade, teórica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância para a qual se deve encontrar uma solução.” O primeiro passo para chegarmos à formulação de um problema científico, ideia central da investigação, é a escolha do tema - que deve ser claro e preciso. Escolher um tema pode parecer fácil, mas não se engane, pois, indiscutivelmente, não é! Por isso mesmo, é imprescindível que o pesquisador dedique tempo suficiente para realizar esta etapa. Podemos considerar o comportamento humano um tema de pesquisa? Não! E sabe por quê? Porque embora este seja um assunto que interesse muitos profissionais, principalmente das áreas da Psicologia e da Publicidade, por exemplo, ele não se apresenta com a devida exatidão. Para a escolha e a delimitação de um tema de pesquisa, devemos organizar nossas ideias como se elas percorressem um caminho que se estreita a cada passo, isto é, criar um foco. Observe o esquema:
Como você pode perceber, o comportamento é um ponto de investigação situado entre uma vasta área do conhecimento (Administração, Psicologia, Antropologia, Educação e Biologia são alguns exemplos de área do conhecimento e vale lembrar que podemos realizar estudos sobre comportamento em qualquer área) e o tópico específico que, dependendo do interesse e da aptidão do pesquisador, vai ser focado (no âmbito dessa área do conhecimento, o comportamento do consumidor), isto é, é necessário fazer aquilo que se costumou chamar de “recorte do objeto” e explicitar o que está incluído e o que fica de fora da pesquisa. Uma perspectiva de se tratar um problema é encará-lo como a relação entre duas ou mais variáveis (ALVES-MAZZOTT; GEWANDSZNAJDER, 2002, p. 149), (MARCO-NI; LAKATOS, 2005, p. 162). Por exemplo, qual a relação entre o “hábito de fumar” (variável 1) e o “câncer no pulmão” (variável 2)?
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Uma recomendação útil - para a caracterização de um problema - é colocá-lo na forma de uma pergunta. Isto nos permite pensar na pesquisa como a busca para uma resposta à pergunta formulada. A fim de diferenciar problemas bem caracterizados daqueles que não são, vamos a alguns exemplos práticos. No primeiro, apresentaremos as etapas para a composição de um problema para a ciência experimental; no segundo, focaremos a sua delimitação através da perspectiva mais, frequentemente, utilizada nas Ciências Humanas.
A QUESTÃO DO ÔNIBUS Primeira tentativa de caracterização do problema: Chegarei no horário ao trabalho? Esta caracterização está demasiadamente imprecisa; não dá para saber: » » Quais as condições, a partir das quais eu pretendo saber, se chegarei no horário ao trabalho? » » A que “horário” eu me refiro no problema? Vamos tentar melhorar a caracterização para: » » Qual o horário máximo em que devo acordar para chegar ao trabalho às 8h no máximo? Está bem melhor assim, mas ainda está parecendo um problema pessoal. É conveniente generalizá-lo para: » » Qual o horário que uma pessoa adulta deve acordar para chegar ao trabalho às 8h no máximo? Uma orientação muito importante é que você deve aprender a limitar o problema da sua pesquisa. Do jeito que está caracterizado, estão inclusas quaisquer localidades, quaisquer meios de transporte e qualquer tipo de pessoa adulta. Isto produzirá uma infinidade de possibilidades, impossibilitando a pesquisa. Podemos então partir para: » » Qual o horário máximo em que um adulto saudável, com no máximo sessenta anos de idade, deve acordar para que consiga, saindo de um local X, chegar ao local Y de ônibus às 8h no máximo? Bem melhor assim. Mas uma análise detalhada mostrará que ainda há aspectos imprecisos. No entanto, não tentaremos avançar na caracterização deste problema. Por quê? Porque em toda a caracterização você deve perceber o ponto em que irá parar. Qualquer definição de problema sempre possuirá aspectos subjetivos, pois ele trata de abstrações (tratamos a questão da abstração em mais detalhes aqui). Nosso propósito não é eliminar toda a subjetividade (porque isso não será possível!), mas minimizá-la.
Abstração A importância deste tópico pode ser resumida nesta afirmação: a ciência trata o real através de abstrações. Ainda hoje me recordo de uma aula que tivemos no laboratório de física, na qual o professor solicitou que utilizássemos um paquímetro com o objetivo de realizar sucessivas
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medições no diâmetro de uma esfera metálica. A esfera era um daqueles rolamentos de alta precisão. Imaginei que seria uma tarefa inútil, porque todas as medidas resultariam no mesmo valor, mas fiquei surpreso ao perceber que, mesmo tendo realizado dezenas de medições, nenhuma delas resultava no mesmo valor. O que aprendi deste experimento? Que o mundo real é incrivelmente complexo. Ao contrário dos nossos modelos, não existem esferas de forma exata, chão perfeitamente plano, espaço com atrito constante para a queda de um corpo etc. Então, o que concluímos? Que a física na qual aprendemos na escola é inútil porque trata de um modelo que não tem paralelo no mundo real? Aí entra a questão da abstração. Vamos consultar a excelente definição do dicionário Aurélio (2004) sobre o verbete abstração: “Ato de separar mentalmente um ou mais elementos de uma totalidade complexa (coisa, representação, fato), os quais só mentalmente podem subsistir fora dessa totalidade”. O ato da abstração implica separar alguns elementos de uma totalidade complexa; geralmente, os mais significativos para o contexto em que a abstração é utilizada. Um problema de física no qual adotamos esferas perfeitas, com pesos e medidas exatos, desconsiderando atrito, vento etc., é uma abstração da realidade. Para que serve, então, uma abstração? Posso lhe dar dois bons motivos. Em primeiro lugar, como a realidade é incrivelmente (senão infinitamente) complexa, torna-se impossível tratar mentalmente tal realidade, em um tempo finito e de forma prática sem apelar para abstrações. Em segundo lugar, os nossos instrumentos de representação e tratamento de dados e o nosso próprio cérebro são finitos. Torna-se impossível lidar com a complexidade do mundo real senão através de abstrações. É importante lembrar que cada abstração despreza alguns aspectos da totalidade complexa que representa.
Janice VanCleave (1996) revela uma orientação importante: procure um tipo de problema que possa ser resolvido experimentalmente. Existem problemas que precisam de uma solução, mas muitos deles não exigem uma pesquisa científica. Por exemplo, se o nosso problema fosse: » » Qual é o primeiro ônibus do dia X que sai da local Y para o local Z? Este não é um problema que exige qualquer tipo de experimentação, basta uma consulta em algum órgão oficial ou companhia de ônibus responsável pela montagem da programação dos ônibus. Todo avanço da ciência começa a partir dos problemas. Então, citemos alguns exemplos como ponto de partida. Como sabemos, existem vários tipos de leitores, com interesses diversos, tentaremos tratar de exemplos diversificados. Utilizaremos exemplos mais clássicos de ciência associados à física, por exemplo, mas também traremos exemplos na área das ciências sociais. Isso será importante para que você, que não estuda ciências exatas, entenda que a ciência não está restrita aos sujeitos que trabalham dentro dos laboratórios fazendo experimentos físicos ou químicos. Começaremos com um exemplo de física e depois um exemplo em ciências sociais. Ambos os exemplos tratam as mesmas questões, mas sugerimos que você leia ambos, porque eles se enriquecem mutuamente.
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O PROBLEMA DA QUEDA LIVRE Nosso primeiro problema não é novo. Vamos tentar refazer a rota de grandes cientistas. A questão é a seguinte: desde criança observamos que qualquer corpo cai em direção ao chão quando o soltamos, exceto, é claro, aqueles balões que flutuam (até hoje eu espero um que se perdeu no céu). Vamos deixar convenientemente a questão dos balões que flutuam de lado e nos concentrar nos corpos que caem. Novamente tentaremos formular um problema de pesquisa. Vou repetir o mesmo caminho de antes. Como formularemos um problema cuja solução já foi extensamente pesquisada na ciência, vamos imaginar que estamos nos deslocando no tempo, para antes de qualquer especulação sobre a ação da gravidade sobre os corpos. Iniciaremos com a seguinte tentativa: » » Por que os objetos caem? Genérico e subjetivo demais. O que procuramos? Uma força, um princípio? Como vamos experimentar e provar o que queremos? Tentativa de aperfeiçoamento: » » Como a força da gravidade faz os objetos caírem? Existe um risco ao definir um problema desta maneira: misturar o problema que pesquisamos com alguma hipótese sobre as causas do problema. Por exemplo, considerando que estamos em uma época na qual ainda não sabemos se existe uma força da gravidade atuando sobre os corpos, então, assumir isto como existente no tratamento do nosso problema é arriscado. Tentaremos utilizar outro exemplo para esclarecer nosso ponto aqui: suponha que um pesquisador tenha constatado um índice elevado de mortes em uma certa cidade do interior do Brasil. Então, ele resolve fazer uma pesquisa para entender o que está elevando o índice de mortalidade. Considere que o pesquisador está ainda no início da pesquisa, ainda não visitou a cidade, nem coletou dados específicos. Sua formulação do problema poderia ser assim: » » Por que a dengue aumentou o índice de mortalidade na cidade X? Se o pesquisador não tem nenhum elemento ainda, considerar a priori - que a dengue está causando estas mortes - significa descartar outras causas que ainda não foram verificadas, como a desnutrição, por exemplo. Então, não é adequado - em um primeiro momento - estabelecer a dengue como parte do problema. Se estivermos interessados em uma investigação dela, é imprescindível que seja apresentada como parte da pergunta que vai ser respondida a partir da pesquisa: O aparecimento da dengue favoreceu o aumento do índice de mortalidade na cidade X, no período Y? Voltando ao nosso problema dos corpos que caem, é importante o cuidado em saber limitar o problema. Ainda que, definir as causas que fazem um corpo cair, seja legitimamente um problema de pesquisa científica, trata-se de um problema bastante amplo. Em 1637, René Descartes, ao escrever o seu Discurso do Método (DESCARTES, 1903) já propunha - em seu método cartesiano - que um problema deve ser dividido em quantas partes for possível; cada parte é, então, tratada individualmente e o conhecimento obtido pelas partes é depois combinado em um conhecimento mais complexo. René Descartes escreveu em 1637 o clássico Discurso do Método (DESCARTES, 1963), no qual propõe um método com quatro preceitos: 1) “Nunca aceitar como verdadeiro nada que eu não saiba claramente que o seja”1;
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2) “dividir cada um dos problemas examinados em tantas partes quanto possível e necessárias para a sua solução adequada”2; 3) iniciar obtendo o conhecimento dos objetos mais simples e, gradualmente, associá-los para obter conhecimentos mais complexos; 4) “em cada caso, fazer enumerações tão completas e inspeções tão gerais que eu possa estar seguro de que nada foi omitido”3. Os preceitos de Descartes refletem a forma como a ciência atua e deve lhe servir sob dois aspectos: primeiro na forma como você vai conduzir a sua pesquisa que, possivelmente, também será dividida em pedaços menores de estudo, segundo na formulação do seu problema, na medida em que você toma consciência de que seu problema é parte de um esforço maior (um problema maior) e que a sua pesquisa contribuirá com um bloco do edifício. A questão é dimensionar corretamente o bloco. Como seu tempo e os recursos são limitados, você deve aprender a ser comedido. Então, o nosso problema pode ser formulado assim: Considerando que soltemos um corpo qualquer em queda livre, em uma altura A, quanto tempo ele leva para chegar na altura B? Queremos agora retomar uma observação feita no início deste capítulo: que o problema pode ser visto como uma relação entre duas ou mais variáveis. Neste caso estamos interessados em relacionar a variável altura com a variável tempo. Castro (2006) indica que todo pesquisador deve considerar, no momento da escolha do tema, três critérios: » » Importância: no campo científico/acadêmico, um tema é considerado relevantequando está relacionado a uma questão que afeta um “segmento substancial das sociedades” ou, ainda, de uma questão teórica que esteja merecendo atenção continuada na literatura especializada. » » Originalidade: um tema é considerado original quando tem possibilidades de surpreender tanto aquele que o realiza, como aquele que se beneficiará dele. Acontece algo curioso com relação a esse critério: para ser original, não basta que um determinado tema nunca tenha sido trabalhado anteriormente; se não fosse dessa maneira, não teríamos, a cada ano, incontáveis monografias, teses e dissertações que versam/discutem temáticas semelhantes; contudo, deve-se buscar focar a pesquisa nas frestas/brechas teóricas que os estudos antecedentes não desenvolveram. Por exemplo, já foram realizados incontáveis estudos que enfocaram a contribuição de Adam Smith para o campo da administração. Contudo, o pesquisados pode querer tomar como base as contribuições desse economista para analisar uma questão que esteja relacionada a seu campo de atuação profissional – e por isso, muito específica - que não foi tratada anteriormente por outros pesquisadores. » » Viabilidade: esse é o critério mais tangível para a escolha do tema, pois só é possívelconcluir a pesquisa considerando recursos financeiros e humanos, prazos suficientes, tempo disponível para realização da pesquisa etc. Assim, quando escolhemos um tema e definimos um problema a ser investigado com relação a esse tema, é necessário que, além do seu interesse, o pesquisador faça, a si mesmo, os seguintes questionamentos:
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» » Trata-se de um problema relevante? » » Ainda que seja “interessante”, é adequado para mim? » » Existem possibilidades reais e concretas para executar tal estudo? » » Por fim, existem recursos (financeiros, materiais, humanos, etc.) para o estudo?
PROBLEMAS EM CIÊNCIAS SOCIAIS Já foram apresentados a você problemas que foram ou podem ser desenvolvidos nos campos das Ciências Exatas e das Ciências da Saúde. Vamos, agora, formular um problema no âmbito das Ciências Humanas! Suponhamos que um estudante de Ciências Sociais tenha que desenvolver um Trabalho de Conclusão de Curso, e, para isso, precise definir um tema para seu trabalho monográfico. Resolve dissertar sobre um tema atual, relevante para a área de conhecimento em que está se graduando: a violência. Vai para sua primeira reunião com o seu orientador e, ao ser questionado sobre o tema que desenvolverá no estudo, diz: “Bem, pretendo fazer um estudo sobre a violência”. Certamente, ao ouvir sua declaração, o orientador observará que seu tema está muito amplo, será necessário definir inúmeros aspectos, para que ele, o graduando, tenha condições de realizá-lo: qual o tipo de violência, qual o lugar que será definido campo de pesquisa, qual período será tomado como referência etc. Fazer esse recorte no momento da formulação do problema é muito importante quando se pretende fazer uma investigação científica no campo das Ciências Sociais e Humanas porque esta possui uma configuração bem diferente (principalmente porque o que mais importa não é uma busca por padrões ou por controle das variáveis) daquela que é produzida pelas Ciências Exatas. Considerando todos os aspectos que devem ser considerados no processo de formulação do problema, este estudante poderia tê-lo definido da seguinte maneira: A presença e a ação da Polícia Comunitária favoreceram o aumento da violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI? Bem, esperamos que esse texto tenha sido elucidativo para você. Por ora, fica mos por aqui, mas não se esqueça de que ainda nos encontraremos muitas e muitas vezes.
SÍNTESE Nesse texto discutimos aspectos relevantes acerca da escolha do tema e da formulação do problema de pesquisa, dentre eles: estabelecer um problema com clareza e de forma objetiva é fundamental para a condução adequada de uma pesquisa; uma das formas de pensarmos em um problema é encarando-o através da relação entre duas ou mais variáveis; é importante delimitar o universo espacial e temporal do problema, bem como escolher problemas que possam ser tratados através de uma pesquisa. Nesse capítulo, apresentamos vários exemplos práticos de definição de um problema e agora você está pronto para definir o seu e seguir para a próxima etapa, para a Pesquisa de Dados e Conhecimentos. Até a próxima!
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QUESTÃO PARA REFLEXÃO Diante de tudo que foi discutido, sugerimos que você faça uma reflexão acerca das palavras do respeitado professor Cláudio Moura e Castro: “[...] uma escolha infeliz do tema torna a pesquisa inviável, metodologicamente insolvente ou irrelevante”; e tente delinear um problema que você gostaria de investigar em sua área de formação. Dentre as atividades que você fará neste curso, está incluído o desenvolvimento de um projeto de pesquisa. Por esse motivo, acho conveniente que você tente, neste momento, definir o problema de sua pesquisa.
LEITURAS INDICADAS Para aqueles que desejam mais orientações sobre como delimitar um problema no âmbito da ciência, pode ser interessante as leituras: » » dos capítulos 3 (De tópicos a perguntas) e 4 (De perguntas a problemas) do livro “A arte da pesquisa”, de Wayne C. Booth e outros autores (2005, p. 45). » » do capítulo 3 (A escolha do tema e o risco de um erro fatal), do livro “A prática da pesquisa” de Cláudio de Moura Castro.
REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER.O método nas ciências naturais e sociais: pesquisaquantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. BOOTH, W. C.; COLOMB, G.G.; WILLIAMS, J. M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. CASTRO, C. M. A prática da pesquisa. 2. ed., São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. DESCARTES, R. Discourse on the method of rightly conducting the reason, and seeking truth inthe sciences. Londres: Chicago, Open court pub. co., 1963. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. VANCLEAVE, J. Janice Vancleave’s guide to the best science fair projects.New York: John Wiley& Sons Inc., 1996.
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PESQUISA DE DADOS E CONHECIMENTOS Cada pesquisa científica não é uma ilha isolada no universo do conhecimento. Ao contrário, ela envolve duas dimensões complementares: uma em direção ao passado - no estudo do trabalho de outros que nos precederam, seja na pesquisa de registros de dados das mais diversas naturezas coletados e minuciosamente arquivados por pesquisadores, seja na pesquisa de conhecimento produzido por outros pesquisadores - e outra em direção ao futuro, na coleta de novos dados e na investigação do novo. Isaac Newton disse: “Se eu consegui ver além, foi porque me apoiei no ombro de Gigantes”. Assim funciona a ciência, ela é um processo de construção incremental. O cientista tem consciência de que qualquer trabalho científico deve ser precedido de um minucioso estudo do que já foi pesquisado sobre o tema. O vídeo “Legendas da Ciência – Emergir” faz uma interessante analogia da construção da Ciência com a formação de um rio. Recomendamos que você faça uma pausa e assista ao vídeo que está disponível em http://www.youtube.com/watch?v=hAt4Tt1BcBw. E como a ciência caminha para o futuro? Aí entra a visão mais ampla do método científico. Novas hipóteses, teorias e experimentos podem ser produzidos sobre dados e estudos passados, como também novos dados são coletados, analisados e experimentados. Esta etapa da metodologia científica que intitulamos “Pesquisa de Dados e Conhecimentos” envolve principalmente este processo de levantamento e seleção dedados (passados e novos) relevantes à pesquisa, como também a pesquisa e estudo de conhecimento produzido por outros pesquisadores que esteja relacionado com o tema pesquisado (referencial teórico). O mapa conceitual da Figura 1 ilustra alguns aspectos relevantes desta etapa que aprofundaremos em capítulos específicos.
Figura 3 - Mapa conceitual relacionado à Pesquisa de Dados e Conhecimentos
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REFERENCIAL TEÓRICO: REVISÃO DE LITERATURA
Olá! Você já sabe que, de forma genérica, pesquisar significa buscar por uma informação que não se sabe e que precisa saber. Para isso, quem busca pela informação consultará livros, revistas, examinará documentos, conversará com pessoas... Quando, por exemplo, resolvemos adquirir um aparelho eletrônico, não efetuamos a compra na primeira loja que entramos. Estamos acostumados a procurar por menores preços, condições de pagamento e prazos de entrega porque, de posse destas informações, certamente fecharemos o negócio mais vantajoso. Portanto, estamos realizando “pesquisas” a todo o tempo. Um processo similar - mas com maior aprofundamento, rigor e método - acontece quando propomos produzir conhecimentos de base científica: existe uma questão a ser elucidada e, para isso, o pesquisador não pode ficar satisfeito com uma primeira percepção acerca do objeto estudado. Neste caso, é necessário recorrer às fontes e aos métodos para que se chegue mais rapidamente e com segurança à informação desejada. Carvalho (1989, p. 100) nos lembra que “sem um método eficiente de obtenção de informações, perde-se um precioso tempo acadêmico”. Como você sabe, embora existam diferentes formas de iniciar uma pesquisa científica, o processo de investigação e a construção do conhecimento no espaço acadêmico partem, inicialmente, da definição/delineamento de um projeto no qual o pesquisador deve apresentar o tema escolhido, o problema formulado, os objetivos definidos, a justificativa para que o estudo a que propõe seja realizado... Quando o pesquisador chega nesse ponto do trabalho, é muito provável que ele sinta que será preciso examinar mais intensamente como o tema e o seu objeto de estudo são tratados por outros estudiosos. Muitos autores, a exemplo de Boaventura (2004), vão considerar que a maneira mais eficaz para que o pesquisador realize esse aprofundamento será buscar pela literatura da área específica, tendo em mente duas questões: O que já se publicou acerca do meu tema de estudo? Quais as lacunas existentes?
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Já foram dadas para você pistas sobre o que, em processos de pesquisa, denominamos de revisão de literatura; mas, ainda, é necessário aprofundar nossa compreensão em alguns aspectos. Vamos a eles!
A BUSCA POR FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A revisão de literatura consiste em um texto que analisa e sintetiza informações, estabelecendo nexos entre conhecimentos existentes, ou já publicados, e o assunto pesquisado. Como a expressão indica, Boaventura (2004) sinaliza que a revisão de literatura analisa a produção bibliográfica – composta por livros e artigos científicos, publicados em suporte papel e/ou disponíveis na internet1 - numa área temática, que fornece um panorama geral sobre um tema específico, possibilitando ao pesquisador tomar conhecimento do que tem ocorrido periodicamente no campo estudado. O processo de análise e compilação da literatura existente acompanha aquele que realiza a investigação em todas as etapas da pesquisa - em seu planejamento, na sua execução e, ainda, publicização/ socialização -, contudo, em cada uma delas tem uma função muito específica. Você, certamente, neste momento está perguntando-se: “Como assim?” Calma!! Vamos explicar essas especificidades. Na fase de planejamento da pesquisa (ou elaboração do projeto), a revisão da literatura tem por função auxiliar o pesquisador na elaboração da justificativa do estudo. A partir dela, poderá potencializar seus argumentos (por que é interessante a realização desse estudo?), demonstrar o “estado da arte” em relação ao foco/tema escolhido, indicando de que lugar específico sua pesquisa partirá, e, também, sinalizar quem serão os seus “companheiros de viagem”, isto é, os autores serão imprescindíveis para que consiga dar conta do estudo que está propondo. Por exemplo: Se decidirmos fazer um estudo antropológico sobre a formação do povo brasileiro, certamente, vamos/podemos ter como referência três obras: “Casa grande e senzala”, de Gilberto Freyre, “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, ou, ainda, “Viva o povo brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro.
Na etapa de execução do estudo, a revisão de literatura se assemelha a uma das técnicas de que o pesquisador pode-se valer para realizar o seu estudo – a pesquisa bibliográfica – e tem como função auxiliá-lo no aprofundamento teórico das principais questões tratadas por ele. O levantamento bibliográfico pode ser realizado através das fontes de informação que Umberto Eco (1992) chama de fontes de primeira e segunda mão e que outros autores denominam de primárias e secundárias. Fontes primárias - têm a função de publicar e divulgar as informações produzidas diretamente por autores através de revistas, livros, monografias, dissertações, teses, normas técnicas, patentes e outros documentos. Fontes secundárias - têm como função auxiliar os pesquisadores na identificação e localização, o que foi publicado nas fontes primárias, através de bases de dados especializadas e buscadores da internet, ferramentas que catalogam documentos como: artigos de revistas, trabalhos de congressos, etc.
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SÍNTESE Nesse texto, apresentamos aspectos relacionados ao processo de revisão de literatura, destacando sua importância em diferentes fases da pesquisa científica. No próximo texto, apresentaremos a você alguns dos principais recursos de divulgação científica que serão muito importantes na revisão da literatura.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Pensando no tema em que escolhemos para pesquisar, quais seriam as fontes/autores imprescindíveis para compor a revisão da literatura de nosso trabalho?
LEITURAS INDICADAS Para aprofundar seus conhecimentos acerca da temática discutida nesse texto, sugerimos a leitura do capítulo 3 do livro “Como se faz uma tese”, de Umberto Eco, editado em 1992.
REFERÊNCIAS BOAVENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo: Atlas, 2004. CARVALHO, Maria Cecília M. de (org.). Construindo o saber – metodologia científica: fundamentos e técnicas. 8. ed. São Paulo: Papirus, 1989. ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
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VEÍCULOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: FONTES PRIMÁRIAS
É importante conhecer os principais tipos de divulgação da ciência para que você saiba não apenas onde buscar informações relevantes, mas onde você também poderá, futuramente, publicar seus trabalhos.
REVISTAS CIENTÍFICAS É importante que você saiba diferenciar dois tipos de revistas: aquelas que recebem um tratamento de revisão pela comunidade científica e as demais revistas. Você está acostumado a ler revistas que são vendidas em bancas, tais como: Veja e Istoé, ou até mesmo revistas especializadas em pesca, música, literatura etc. Algumas destas revistas, ainda mais especializadas, geralmente voltadas para o público profissional, não estão disponíveis em bancas e são adquiridas através de assinaturas. Mas é importante que você aprenda a diferenciar outro conjunto bem distinto de revistas, que são usualmente chamadas de revistas científicas. As revistas científicas ou periódicos científicos recebem um tratamento bem diferente das demais revistas. Ela é produzida a partir de artigos que são escritos por pesquisadores da área em questão. Os artigos são submetidos a um corpo editorial, formado usualmente por pesquisadores especializados no domínio de conhecimento da revista. Este corpo avalia os artigos submetidos e eventualmente encaminha, também, para revisores externos, que têm conhecimento atestado no tema. Os membros do corpo editorial e revisores seguem critérios bem definidos para avaliar cada artigo submetido. Usualmente, são atribuídas notas a cada um dos aspectos do artigo. Cada artigo submetido pode ser aprovado, rejeitado, ou pode ser pedida uma revisão (mais superficial ou profunda) de aspectos do artigo que não estão claros, ou que os revisores discordam. A depender da revista, o artigo pode passar por mais de um ciclo de revisão, até que atinja a qualidade desejada. Por este motivo, é comum que artigos levem dois ou três anos desde a sua submissão, até que sejam publicados.
CONGRESSOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS Congressos acadêmicos e científicos têm, principalmente, dois propósitos simultâneos. O primeiro é reunir periodicamente pesquisadores e interessados, em torno de um domínio específico de
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conhecimento, para promover o intercâmbio de ideias e experiências, proporcionando uma sinergia e motivação para o crescimento conjunto das pesquisas naquele domínio. Este tipo de congresso pode ser organizado de diversas formas. Uma das formas mais usuais é um cronograma que inicia muito antes do congresso em si, no que denominamos “Chamada de Trabalhos”. Nessa chamada, é fixada uma data e formato para que autores submetam seus artigos para o congresso. Em seguida, os artigos passam por uma revisão semelhante à descrita anteriormente para a revista. Todo o congresso tem um comitê de programa formado por especialistas na área que realizam a revisão e avaliação dos artigos. Como usualmente os congressos são realizados anualmente, o tempo entre a submissão do trabalho e a sua aceitação ou rejeição é bem menor que a das revistas (geralmente varia de um a três meses). Por esse motivo, não é usual que o congresso realize mais que um ciclo de revisão de artigos. Geralmente o artigo é aceito (com solicitações de ajustes) ou rejeitado. Esta característica, na maioria das vezes, confere mais dinâmica aos congressos, quando comparados a revistas. Por outro lado, revisões realizadas por revistas podem ser mais primorosas, dado o tempo dedicado à sua revisão e o fato de que os revisores têm a oportunidade de reavaliar modificações solicitadas, para ver se os autores atenderam as suas expectativas. Os artigos selecionados para o congresso são apresentados no evento pelos autores e usualmente são publicados no que se denomina “anais do congresso”.
DISSERTAÇÕES E TESES São documentos originados das atividades dos cursos de pós-graduação. Estes cursos visam, principalmente, capacitar professores para o ensino superior, além de pesquisadores de alta qualificação em vários níveis. No nível de mestrado, o aluno deve produzir uma tese.
PUBLICAÇÕES GOVERNAMENTAIS E JURÍDICAS Os órgãos públicos, em geral, no exercício de suas atividades, são responsáveis pela publicação de documentos que objetivam tanto orientar o público na utilização de serviços, como prestar contas à sociedade das ações que desenvolvem. As publicações originadas de órgãos governamentais são numerosas e são apresentadas em diversos formatos. Com as facilidades de acesso oferecidas pela internet, grande parte desses documentos pode ser acessada via on-line, através do site do Senado, ministérios, secretarias e diversas entidades governamentais brasileiras.
ORGANIZAÇÕES EDUCACIONAIS E DE PESQUISA Universidades, centros de pesquisa, bibliotecas, arquivos, museus, ONGs, sociedades científicas e entidades de profissionais também produzem um grande volume de documentos técnicos de suas especialidades e que também podem ser acessados via internet. Ao selecionar as fontes de informação para pesquisa, é preciso analisar criticamente a confiabilidade das informações levantadas, observando a credibilidade dos autores e dos veículos de divulgação. Do ponto de vista científico, uma informação é confiável quando foi produzida a partir da utilização de métodos científicos e julgada pela comunidade científica.
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SÍNTESE Você foi apresentado aos principais veículos de divulgação de informação. No próximo texto, trataremos de aspectos relacionados à busca e seleção de material, principalmente em meios digitais. Os conceitos que você aprendeu aqui serão muito importantes para o próximo texto.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Procure-se informar quais são os principais congressos acadêmicos e revistas científicas da sua área. Conhecê-los é uma etapa importante para você aprimorar o modo como se informa e como você vai divulgar o que produzir.
LEITURAS INDICADAS CAMPELLO, Bernadete Santos; CENDÓN, Beatriz Valadares; KREMER, Jeannette Marguerite (Org.) Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2003, p. 319.
BUSCA E SELEÇÃO DE MATERIAL: FONTES SECUNDÁRIAS
A pesquisa e a seleção de material é uma tarefa que está intimamente relacionada à revisão da literatura e é uma atividade que pode ser tão motivante e interessante quanto à própria atividade de buscar o novo. Resolvemos dedicar uma atenção especial a esta tarefa - dada a sua importância - dentro do processo de revisão da literatura. A busca eficiente de material e a seleção de boas referências serão determinantes para a qualidade do que você vai produzir. Neste tópico, trataremos das questões de onde procurar material para revisão e orientações para a seleção de material relevante. As tarefas de pesquisar e selecionar material podem ser comparadas à atividade de um caçador em busca de uma presa. Por esse motivo, vamos adotar a metáfora do caçador para apresentar cada um dos tópicos a seguir. Atualmente existem dois principais tipos de material a serem pesquisados: impresso e digital. Existem várias maneiras de se ter acesso a material impresso e a mais importante é sem dúvida a biblioteca. Na biblioteca você encontra não apenas livros, como também revistas especializadas, revistas científicas e anais de congressos (apresentados anteriormente). Você pode também comprar
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livros em livrarias, assinar revistas (científicas ou não) e participar de congressos, em que, usualmente, são distribuídos anais em papel ou formato digital. O principal meio de compartilhamento de material digital é, sem dúvida, a Internet e por este motivo vamos gastar mais tempo discutindo onde encontrar material de relevância na Internet. A Internet tem uma gigantesca quantidade de material publicado de todo tipo e procedência. Na Internet está disponível material de excelente qualidade, como também uma grande quantidade de material ruim, de procedência duvidosa, com erros e sem respeitar a autoria. Então, como proceder neste território tão heterogêneo?
CONHECENDO O TERRITÓRIO DE CAÇA Um bom caçador não caça em qualquer lugar. Ele sabe onde buscar e encontrar a sua presa. Caçar em qualquer lugar é uma tarefa que fará você desperdiçar tempo e energia. Mas quais são os lugares em que você deve pesquisar o material na Internet?
Mecanismos de Pesquisa Especializados O Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br) é um mecanismo de pesquisa direcionado a publicações acadêmicas. Diferentemente do mecanismo Google, mais geral, o Google Acadêmico indexa publicações com alguma procedência acadêmica, tais como: artigos de revistas científicas, artigos publicados em anais de congressos, publicações apoiadas por universidades e assim por diante. Esse direcionamento na pesquisa, por si só, torna mais eficiente a busca por material relevante. Por exemplo, suponha que você queira pesquisar material relevante sobre o tema “mapas conceituais”. Uma abordagem que foi utilizada na construção deste material. A Figura 1 apresenta os resultados desta pesquisa.
Figura 4 - Tela do Google Acadêmica com resultados da pesquisa “mapas conceituais”
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Vamos analisar uma destas entradas mais de perto na Figura 2. No topo aparece o formato do conteúdo, que neste caso é PDF. Logo, em seguida, aparece o título da publicação, que é um link para a mesma. Abaixo do título aparecem resumidos, em verde, alguns dados relacionados à publicação (autores, meio de publicação e site). Abaixo deste resumo aparece um seguimento do texto no qual foram encontradas as palavras que você digitou na pesquisa (em negrito).
Figura 5 - Ampliação de resultado retornado pelo Google Acadêmico
Na última linha aparecem dados e links que podem ser muito importantes para uma primeira avaliação do documento. Primeiro aparecem artigos disponíveis na base do Google Acadêmico, citam o artigo em questão. O número de citações pode ser um indicador de qualidade ou popularidade do artigo. Mas lembre-se de que, isoladamente, nenhum destes indicadores é significativo. O link leva para a relação dos artigos que citaram este artigo. O link “Artigos relacionados” leva para artigos semelhantes a este, conforme um critério de avaliação do mecanismo de pesquisa. Os dois últimos links levam para uma versão HTML do artigo ou para uma pesquisa no Google sobre este artigo, respectivamente. O Google Livros (http://books.google.com.br) disponibiliza acesso parcial ou integral de texto de livros que fazem parte do programa de parceria do Google junto a autores, editoras e bibliotecas.
BIBLIOTECAS DIGITAIS Além dos mecanismos de pesquisa, contamos também com bibliotecas digitais que são especializadas na área acadêmica.
SCIELO Scientific Eletronic Library Online (SciELO) é uma biblioteca eletrônica que reúne uma coleção selecionada de periódicos científicos do Brasil e diversos outros países (http://www.scielo.br). A seleção dos periódicos que irão compor a biblioteca SciELO é feita por um comitê de consultores que estabelece critérios rígidos de qualidade para seleção das publicações que compõem a base de dados. A Figura 3 ilustra o resultado de uma pesquisa por mapas conceituais. Note que o SciELO retorna uma ficha completa da publicação, contendo sua referência, resumo, além de uma série de serviços relacionados listados à direita.
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Figura 6 - SciELO apresentando um artigo sobre mapas conceituais disponível em sua biblioteca
BDTD A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) (http://bdtd.ibict.br) é uma biblioteca eletrônica que integra em um mesmo portal, em texto completo, teses e dissertações defendidas na maioria das universidades brasileiras. Integra também base de dados internacional Networked Digital Library ofThesesandDissertations (NDLTD) (http://www.ndltd.org).
PORTAIS Portal Capes Portal Capes (http://www.periodicos.capes.gov.br) reúne mais de 15 mil títulos de periódicos em texto completo e cerca de 100 bases de dados referenciais em diversas áreas do conhecimento, inclui também uma seleção de importantes fontes de informações para pesquisa como patentes, teses e dissertações, estatísticas e outras publicações de acesso, mantidos por importantes instituições científicas e profissionais e por organismos governamentais e internacionais.
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BVS A Biblioteca Virtual de Saúde (http://www.bireme.br), rede brasileira de informação em ciências da saúde, em parceria com a Organização Mundial de Saúde e diversos países da América Latina e do Caribe, oferece acesso livre e gratuito à informação técnico-científica integrada em um único portal
AVALIANDO O ALVO Utilizar qualquer material encontrado na Internet de forma indiscriminada é como atirar indiscriminadamente para todos os lados, na esperança de que alguma bala atinja - por si própria - o alvo. Graham e Metaxas (2003) escreveram um artigo com o curioso título “É Claro que é Verdade; Eu Vi na Internet!”1. Este artigo reflete uma questão moderna relacionada à pesquisa de dados na grande rede. Há uma tendência à busca e uso de conteúdo da Internet de forma indiscriminada. Para muitos, a Internet tem um poder “mágico” de dar credibilidade ao conteúdo encontrado. Hoje em dia, qualquer pessoa pode publicar conteúdo na Internet. Isso significa que o simples fato de que uma informação foi encontrada nesta rede não dá a ela qualquer status de informação confiável. Quando você estiver procurando material científico relevante para pesquisa na Internet, deve considerar quem atesta a qualidade da informação que lhe está sendo fornecida. No capítulo de divulgação científica lhe apresentamos diversos meios de divulgação, como revistas e congressos, que são validados por especialistas da área. A maioria do conteúdo produzido por estes meios está disponível na Internet e no início deste texto lhe apresentamos alguns mecanismos que permitem encontrá-los.
A QUESTÃO DA WIKIPÉDIA A Wikipédia (http://wikipedia.org) é uma enciclopédia construída de forma colaborativa por pessoas do mundo todo. Desde a sua criação tem ganhado muitos adeptos e críticos. De fato, devido ao vasto número de autores espalhados por todo o mundo, a Wikipédia tornou-se uma enciclopédia bastante rica e ilustrada e, por esse motivo, grande fonte de consulta para muitas pessoas. Do ponto de vista de publicação científica, a Wikipédia encontra alguns problemas, uma vez que seu conteúdo não é validado por nenhum comitê especializado nos assuntos que nela são publicados. Isto não quer dizer que, necessariamente, o conteúdo encontrado na Wikipédia seja incorreto, mas ele carece do rigor científico mínimo necessário, para que seja utilizado como fonte segura e referenciado em qualquer trabalho científico. Talvez uma aplicação interessante para a Wikipédia seja utilizá-la como ponto departida. Muitos assuntos estão bem delineados e estruturados nesta enciclopédia. Deste modo, você pode partir do conhecimento encontrado na Wikipédia e, a partir daí, buscar fontes de informações que atestem as informações encontradas. Mas lembre-se de que, de uma forma geral, referências diretas a conteúdo da Wikipédia não são bem aceitas pela comunidade acadêmica em geral.
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SEGUINDO TRILHAS Retomando a metáfora do caçador. Usualmente, a presa deixa rastros característicos que permitem ao caçador encontrá-la. Muitas vezes, encontrar um artigo desejado pode ser resultado de um paciente trabalho de seguir trilhas. Há duas formas de seguir trilhas, mas elas sempre estão relacionadas às citações. A primeira começa a partir de um artigo que você considera que trate um tema de forma consistente. Você pode verificar as referências deste artigo e ir atrás delas, a fim de conhecer as bases teóricas que foram usadas como subsídios para o artigo. Seguir este tipo de trilha também pode ser usado como indicador de qualidade, uma vez que um artigo qualificado usualmente cita outros trabalhos qualificados. A outra forma de seguir trilhas é ao inverso. Considere novamente que você leu um artigo qualificado. Usando sistemas como o Google Acadêmico ou SciELO, relacionando outros artigos que citam o artigo lido por você, poderá encontrar trabalhos que tomam como base o que você leu e levam o tema adiante.
SÍNTESE Neste tópico, apresentamos a importância de você saber realizar busca e seleção de material, principalmente, na Internet. Você deve avaliar a qualidade do que lê - analisando a procedência e outros indicadores - e deve aprender a seguir trilhas. No próximo texto, discutiremos as formas que o pesquisador dispõe para identificar, escolher e organiza-los os textos e obras consultadas por ele no processo de investigação, especialmente na etapa de revisão de literatura. Até lá!
REFERÊNCIAS GRAHAM, Leah; METAXAS, P. Takis.Of course it’s true; I saw it on the internet!: critical thinking in the internet era. Communications of ACM, 46(5): 2003, p. 70-75.
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AULA 3 Organizando os estudos autora: Maria Luíza Coutinho Seixas
FICHAMENTOS, RESUMOS E RESENHAS: ORGANIZAÇÃO DE PUBLICAÇÕES CONSULTADAS1
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lá! Já apresentamos a você alguns aspectos relacionados ao processo de revisão de literatura. Agora, seguindo com as informações acerca do tratamento do material “bibliográfico”, discutiremos as formas/instrumentos de que o pesquisador dispõe para identificar, escolher e organizar os textos
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Fichamentos, resumos e resenhas: organização de publicações consultadas 1
Tomamos como base para a elaboração deste texto a aula “Suporte para elaboração de trabalhos acadêmicos: resumos e resenhas”, produzida pela professora Noemi Santana.
e obras consultadas por ele nos processos de investigação, especialmente na etapa de revisão de literatura e de produção de escrita acadêmica/ científica. Você certamente está se perguntando: “Por que esta ressalva com relação à fase de revisão de literatura? Ela não está presente no processo de planejamento, execução e finalização da investigação científica?” A nossa resposta é: “Sim, ela está!”. Contudo, como já dissemos anteriormente, existem textos que podem ser consultados e que não são considerados como referência bibliográfica, como por exemplo, documentos oficiais, leis, cartas etc. Por isso, antes de tratarmos sobre os aspectos concernentes às formas de organização do material consultado (fichamentos, resumos e resenhas), discorreremos sobre os passos iniciais do que é denominado revisão de literatura/pesquisa bibliográfica na investigação científica, aqui se confundindo com os passos seguidos para todo e qualquer processo de estudo: a identificação e a escolha das referências que serão utilizadas. Vamos lá!
A IDENTIFICAÇÃO E A ESCOLHA DAS FONTES DE INFORMAÇÃO Se você teve acesso a essa disciplina é fato de que já possui e faz uso de um dos fatores decisivos para iniciar e implementar qualquer programa de estudo, quer seja ele sugerido por um de seus professores, quer seja incitado por um tema pelo qual desenvolveu um interesse pessoal/profissional: a capacidade de utilizar a leitura como fonte de novas ideias e saberes. Pode parecer que estamos, como expressa o dito popular, “chovendo no molhado”, mas não é bem assim. No trabalho que desenvolvemos no âmbito acadêmico, como confirmam Lakatos e Marconi (2005, p. 19), ler significa “[...] conhecer, interpretar, decifrar, distinguir os elementos mais importantes dos secundários, [...] através dos processos de busca, assimilação, retenção, comparação, verificação, e integração do conhecimento”. Apesar da certeza de você realiza leituras cotidianas “desde que se entende por gente”, outro dito da sabedoria popular, consideramos que é imprescindível expor acerca dos elementos que, ao serem considerados no processo de leitura, favorecerão/facilitarão o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e da pesquisa científica. Isso porque, na maioria das vezes, a escrita acadêmica é bastante diferente daquela a que estamos acostumados a utilizar. Em minha percepção, por exemplo, existem dois tipos de leitura: a que fazemos por prazer/deleite e aquela que fazemos por obrigação; acontece que, para realizar uma boa revisão de literatura, você não pode selecionar suas obras a partir desse critério (excluir textos “obrigatórios”). Porque não podemos contar com nossa afeição em relação à leitura por obrigação, insistimos em descrever esses elementos. Lakatos e Marconi (2005) destacam que são seis os elementos auxiliares na identificação de textos no momento de busca de material adequado à investigação e/ou estudos, a saber: » » O título: apresentando-se acompanhado (ou não) de subtítulo, estabelece o assunto e, às vezes, a intenção do autor. » » A data de publicação: a qual fornece elementos quanto à atual obra, bem como a sua aceitação na área específica através do número de edições, salvo quando o texto/obra é um clássico – A crítica da razão pura, de Immanuel Kant, por exemplo, pois o que menos importa é atualidade.
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» » A orelha/contracapa permite que as credenciais ou qualificações do autor possam ser verificadas. » » O índice/sumário apresenta os assuntos/pontos tratados na obra. » » O prefácio da obra proporciona indícios sobre os objetivos do autor, bem como sobre a metodologia utilizada para elaborar a sua obra. » » A bibliografia revela obras consultadas pelo autor para elaborar a sua. Fonte: Adaptado de Lakatos e Marconi (2005)
Para trazer resultados satisfatórios, cinco aspectos fundamentais devem ser considerados no processo de leitura. A atenção é o primeiro deles, porque é muito difícil apreender um texto plenamente se não estiver concentrado para isso. É certo que existem pessoas que conseguem dividir a sua atenção e realizam duas ou mais coisas ao mesmo tempo, como, por exemplo, ouvir música e ver televisão, ou ainda, ouvir música e estudar, mas isso não é predominante; para a maioria delas, é preciso escolher entre o que é prioritário e o que pode vir depois; dirigir a atenção para o que está lendo, portanto, pode garantir que a sua elucidação seja mais rápida e eficiente. A intenção é mais um aspecto que deve ser considerado. É importante que o leitor não perca de vista o propósito do estudo/investigação que está realizando. Reflexividade e criticidade são aspectos também muito importantes, pois é imprescindível que o leitor pondere sobre o que leu, observando todos os ângulos, descobrindo novas perspectivas, o que favorece a assimilação das ideias que o texto traz. Da mesma forma, é necessário que o texto seja avaliado; ler implica julgar, comparar, indicando se aquele(a) que lê aprova, reprova, aceita ou refuta as ideias que o autor apresenta. Por fim, o leitor não pode se esquecer de que ler implica proceder à análise – segmentação do tema em partes, determinando as relações que existem entre essas; e a síntese, que se configura na reconstituição das partes decompostas no processo deanálise, isto é, na elaboração de um resumo que retoma os pontos essenciais do texto, sem perder de vista a logicidade do pensamento do autor. Por conta da complexidade que caracteriza os textos científicos, recheados de termos técnicos e/ou específicos de uma área do conhecimento, o leitor pode sentir que ele (o texto) não será compreendido “de primeira”. Quando isso acontecer, não duvide da sua capacidade de compreensão: retome o texto quantas vezes forem necessárias para compreendê-lo, faça a sua leitura tentando identificar e separar a ideia central do que é secundário... Somente depois que fizer essa diferenciação você deverá marcar os trechos que considera mais importantes (confecção de esquema de compreensão), primeiro passo para organizar o material consultado. A respeito disso, vale dizer que, ao sublinhar (ou marcar) um texto - para destacar algo de seu interesse - deve-se fazer com critério, pois se você sai sublinhando tudo, equivale a não ter sublinhado nada! Quando estiver sublinhando, cabe ter alguns cuidados: » » Se encontrar considerações importantes sobre mais de um assunto, cabe utilizar estratégias de marcação. » » Use siglas para marcar trechos mais importantes ou pontos que devem ser retomados.
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Marcar as ideias sublinhadas é perfeitamente viável para textos muito extensos, a exemplo de livros e teses. Nestes casos, é aconselhável trabalhar por parágrafo, sendo preciso desenvolver duas capacidades: a de síntese do assunto e a de análise de partes do texto (ANDRADE; HENRIQUES, 1996).
Se o livro não for seu, ou mesmo se for, mas representa uma obra rara ou antiga, NÃO ANOTE, NEM RISQUE!
Depois que fez a leitura do material e que já elaborou seu esquema de compreensão do texto, o pesquisador deve considerar a oportunidade de organizar suas leituras, de modo que tenha consigo um material de consulta permanente. Por isso, veremos agora alguns instrumentos que podem auxiliar o pesquisador na organização das obras e dos textos a que teve acesso, objetivando a produção acadêmica.
Sugerimos que leia o texto “Sugestões úteis: leitura rápida”, do livro “A arte da pesquisa”, de Wayne Booth e outros autores. Nele os autores indicam os passos para que você faça uma primeira avaliação da fonte a ser consultada.
FICHAMENTOS O fichamento é a transcrição em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado, de dados/informações das fontes de referência. Nele, o pesquisador deve registrar os trechos do texto que mais chamaram sua atenção, e que fazem parte do seu esquema de compreensão do texto. Observe o exemplo:
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Como podemos perceber na representação acima, existem algumas informações que não podem deixar de constar num fichamento. São elas: 1) Indicações bibliográficas precisas: para que não corra o risco de perder a referência da obra que está fichando, esta é a primeira informação que aparece na ficha. A disposição das informações da obra deve seguir o padrão da NBR 6023 da ABNT, na qual trataremos detalhadamente mais adiante. 2) Identificação do tema/conceito a que os trechos destacados fazem referência. Isso permite a ordenação do assunto; 3) Transcrição dos trechos destacados da obra, com indicação da(s) página(s); isso vai permitir que você utilize o trecho destacado em uma produção escrita, com facilidade. Outras informações podem ser incluídas como, por exemplo: » » comentários pessoais no começo, meio ou fim da citação. Para não confundi-los com as palavras do autor, coloque-os [entre colchetes]; » » informações sobre o autor (quando não se tratar de uma autoridade notória); » » quando existir, o número de registro do livro na biblioteca; » » endereço eletrônico do documento na Internet. Com o fichamento de qualquer obra e/ou texto, você conseguirá resumi-lo, resenhá-lo ou elaborar textos fundamentados teoricamente com muito mais facilidade. Ainda, se o pesquisador organizar corretamente as suas leituras, ele terá consigo um material de consulta permanente, na qual poderá ser utilizado quando você estiver elaborando diferentes tipos de textos acadêmicos relacionados ao seu curso (Relatórios Técnicos, TCCs, Monografias, Teses e Dissertações) e/ou de comunicação científica (artigos, capítulos de livros ou obras completas), dentre outros.
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Qualquer um de nós, que já se propôs à escrita de um desses tipos textuais, deve saber que esta não é uma tarefa fácil! Um cientista experiente em uma determinada área do conhecimento, por exemplo, pode ver rejeitado um artigo científico que submeteu-se a uma revista especializada de outra área – as Ciências Humanas – porque não atendeu às normas concernentes dessa comunidade científica. Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004a, p. 13) nos lembram que a complexidade - característica do processo de elaboração textual na/da ciência - “exige que sejam desenvolvidas múltiplas capacidades, as quais vão muito além da mera organização ou do uso das normas gramaticais do português padrão”. Como dissemos anteriormente, o estudante/pesquisador deve proceder à análise, à reflexividade e à crítica. Hum... Você pode estar, nesse momento, se perguntando: “Mas como fazer isso?”. Nossa resposta não podia ser outra: apesar de entendermos que o processo de escrita é marcado pela subjetividade, produzir bons textos acadêmicos/científicos é algo que vai depender (e aí destacamos com o mesmo grau de importância!) do domínio técnico que cada um possui. É necessário que siga uma disciplina para a leitura e a esquematização do material, e também, que utilize mais dois instrumentos obrigatórios de trabalho: o resumo e a resenha. Lakatos e Marconi (2005) sinalizam que essas ferramentas têm uma função muito especial na produção da escrita acadêmica. Elas auxiliam o pesquisador na: » » compreensão e fixação de leituras realizadas; » » reelaboração de informações; » » síntese de ideias; » » consulta a dados para produção de conhecimento » » organização de material de consulta. Saber como essas ferramentas podem nos ajudar, não basta. Passaremos, a seguir, a descrever as características dos resumos e das resenhas. Vamos começar tratando dos resumos.
RESUMOS Tal e qual o fichamento, resumos e resenhas se configuram como ferramentas que facilitam a vida do pesquisador: organizam as leituras e podem se tornar material de consulta permanente, caso o texto resumido apresente ideias ou posições importantes para desenvolver as diversas etapas do estudo/ investigação a que se dedica. Como o próprio nome sugere, resumir é uma atividade que exige a capacidade de condensar as informações, destacando suas principais ideias. O autor de um resumo deve ser fiel ao desenvolvimento de conteúdo original destacando apenas seus elementos essenciais. Para realizar este intento com êxito, é preciso considerar alguns pontos. O primeiro deles é que você deve evitar a elaboração do resumo antes de levantar o esquema do texto ou de preparar as anotações - o que requer leitura preliminar para identificação de palavraschave. Em outras palavras, separar o joio do trigo, buscando perceber as ideias principais e quais são as ideias secundárias. O resumista precisa familiarizar-se com o assunto e deve apresentar o assunto da obra, respeitando a ordem das ideias e fatos apresentados, também evitando a transcrição de frases do texto original procurando apresentar ideias principais. 56
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Na comunicação do resumo é muito importante tentar reproduzir com clareza as ideias do autor, utilizando-se, para atingir este intento, recursos como a supressão de elementos supérfluos, valorizando-se as ideias que registram informações mais gerais e explicitam, de forma sintética, os destaques do assunto abordado. Um resumo deve vir precedido da referência bibliográfica do texto original. É preciso adicionar uma apresentação breve, concisa e seletiva de um conteúdo trabalhado, permitindo ao destinatário (o leitor) tomar conhecimento do assunto abordado, sem a necessidade de que o trabalho original seja consultado. Além disso, não podemos nos esquecer, como bem dizem Machado, Lousada e Abreu-Martelli (2004b), um resumo é sempre um texto sobre outro texto. Sendo assim, para que o leitor não se confunda e considere as ideias originais do texto como pertencentes ao resumista, é relevante que o autor do texto que é resumido seja frequentemente citado. Observe o exemplo: ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo: Mestre Jou, 1981. 184 p.
Resumo Neste estudo, Maria Thereza Rocco examina redações de vestibulandos da FUVEST, com base nas novas tendências dos estudos da linguagem, buscando construir uma gramática e uma teoria do texto. Os focos de seu estudo são a coesão, o clichê, a frase feita, o “não-texto” e o discurso indefinido [...]. De acordo com a NRB 6028/2003 da ABNT, há vários tipos de elaboração de resumos que atendem a finalidades determinadas: o indicativo ou descritivo; o informativo ou analítico; e o resumo crítico. Vamos desdobrar cada uma delas, a partir da percepção de Lakatos e Marconi (2005).
Resumo descritivo ou indicativo Este tipo de resumo descreve os principais componentes do texto original em frases curtas, indicandose com brevidade sua natureza e seus objetivos, de preferência, sem ultrapassar o limite de 15 a 20 linhas. O resumo descritivo ou indicativo segue as recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT e está previsto pela NBR 6028/2003. Esta norma define que o resumo é a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto” e deve ser composto por um único parágrafo, observandose algumas regras quanto à extensão que estão associadas à finalidade da apresentação: » » Notas e comunicações breves: o resumo deve possuir até 100 palavras.
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Exemplo: Para Henri Cartier-Bresson, o objetivo da fotografia era captar o momento decisivo de uma cena ou evento. GeoffDyer, que não é fotógrafo, mas escritor, está interessado em captar o oposto - a continuidade, os temas que se repetem e se renovam, as fotos que dialogam umas com as outras ao longo da história da fotografia. Longe do manual acadêmico e dentro da melhor tradição do ensaio, este livro é como uma conversa, em que um assunto puxa outro livremente, ao sabor da inspiração. Fonte: Catálogo on-line da Livraria Culturahttp://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2 509925&sid=01121725210717695768288967&k 5=1B12FB6B&uid=
» » Monografias e artigos extensos: o resumo deve possuir até 250 palavras. Exemplo:
Resumo O trabalho discute, numa abordagem filosófica, a formação ética, a partir das possibilidades da arte de viver. Explicita que a arte de viver tem uma dimensão estética em que a própria obra da vida tem a arte como modelo, por meio da criação de diferentes estratégias (desde as interativas até as literárias), articuladas com princípios universais. Esta ética, com seu apelo às condições concretas da vida e aos sentimentos, não exclui o reconhecimentode uma normatividade que ultrapassa as regras criadas pelo próprio sujeito, ou seja, universalidade e particularidade não se excluem. O texto apresenta (1) a contribuição helenística para a arte de viver, por meio do modelo terapêutico de filosofar, e (2) o papel das emoções e da phronesis na articulação entre o universal e o particular, para apontar que (3) uma educação ético-estética se constitui pelo reconhecimento da tensão entre o eu singular e o nós (ethos comum). Fonte: Hermann (2008)
» » Relatórios, dissertações ou teses até 500 palavras. Exemplo:
Resumo O estudo discute a evolução da Web como um espaço para publicação/consumo de documentos para um ambiente para trabalho colaborativo, por meio do qual o conteúdo digital pode viajar e ser replicado, adaptado, decomposto, fundido e transformado. Designamos esta perspectiva por Fluid Web. Esta visão requer uma reformulação geral da abordagem típica orientada a documentos que permeia o gerenciamento de conteúdo na Web. Esta tese apresenta nossa solução para a Fluid Web, que permite nos deslocarmos de uma perspectiva orientada a documentos para outra orientada a conteúdo, onde “conteúdo” pode ser qualquer objeto digital. A solução é baseada em dois eixos: (i) uma unidade autodescritiva que encapsula qualquer tipo de artefato de conteúdo - o Componente de Conteúdo Digital (Digital Content Component - DCC); e (ii) uma infraestrutura para a Fluid Web que permite o gerenciamento e distribuição de DCCs na Web, cujo objetivo é dar suporte à colaboração na Web. Concebi-
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bidos para serem reusados e adaptados, os DCCs encapsulam dados e software usando uma única estrutura, permitindo deste modo composição homogênea e processamento de qualquer conteúdo digital, seja este executável ou não. Estas propriedades são exploradas pela nossa infraestrutura para a Fluid Web, que engloba mecanismos de descoberta e de anotação de DCCs, em múltiplos níveis, gerenciamento de configurações e controle de versões. Nosso trabalho explora padrões de Web Semântica e ontologias taxonômicas servindo como uma ponte semântica, unificando vocabulários para gerenciamento de DCCs e facilitando as tarefas de descrição/indexação/descoberta de conteúdo. Os DCCs e sua infraestrutura foram implementados e são ilustrados por meio de exemplos práticos, para aplicações científicas. As principais contribuições desta tese são: o modelo de Digital Content Component; o projeto da infraestrutura para a Fluid Web baseada em DCCs, com suporte para armazenamento baseado em repositórios, compartilhamento, controle de versões e gerenciamento de configurações distribuídas; um algoritmo para a descoberta de conteúdo digital que explora a semântica associada aos DCCs; e a validação prática dos principais conceitos desta pesquisa, com a implementação de protótipos. Fonte: Santachè (2006)
Consideramos relevante lembrar que o resumo indicativo se configura em um componente obrigatório de trabalhos elaborados para obtenção de títulos acadêmicos (graduação, mestrado e/ou doutorado) e também na publicação de artigos/textos científicos em periódicos. Algumas dicas podem lhe ajudar nessa elaboração: » » Abstenha-se de frases negativas, fórmulas, símbolos, citações bibliográficas; » » a frase de abertura deve ressaltar o tema abordado e indicar sua categoria (memória, estudo de caso etc.); » » expresse-se na terceira pessoa do singular, preservando o verbo na voz ativa; » » apresente, no final, as palavras-chave, representativas do conteúdo, extraídas da ficha catalográfica. Observe, em seguida, outras normas de comunicação requeridas na elaboração de resumos.
Resumo informativo ou analítico No processo de formação universitária, graduação e pós-graduação, é muito comum que os professores solicitem a elaboração de resumos informativos ou analíticos como atividades avaliativas. Este tipo de resumo é uma proposta que reduz o texto a um terço (1/3) ou a um quarto (1/4) do original. Ao elaborá-lo, o resumista deve ter bastante cuidado: deve empregar linguagem clara e objetiva, apontar as conclusões do autor, sem assumir juízos ou comentários pessoais. É estruturado por parágrafos, apresentando as ideias discutidas no texto, seguindo a estruturação lógica construída pelo autor. Como no resumo indicativo, ainda que se mantenha a estrutura das ideias principais, deve-se excluir gráficos e evitar citações. Lakatos e Marconi (2005) assinalam que, por se apresentar como uma condensação do texto, o resumo informativo ou analítico não deve conter comentários pessoais, juízos valorativos ou críticas. Veja abaixo os pontos que são importantes para a sua elaboração:
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» » seja seletivo, isto é, atenha-se à explicitação das principais ideias tratadas; » » utilize, preferencialmente, suas próprias palavras; » » caso cite algum trecho do texto que está resumindo, na íntegra, coloque as palavras do autor entre aspas; » » componha o resumo com uma sequência de frases concisas e nunca em tópicos; » » ao final do resumo, assim como no resumo indicativo, devem-se mencionar as palavras-chave do texto.
Resumos críticos e resenhas Certamente, um de seus professores já solicitou a você que fizesse um resumo ou uma resenha. Tão comum como esta solicitação é a sensação de não saber, com clareza, o que deve ser feito. Isso porque não são raras as situações em que não é sinalizado para você qual o tipo de resumo ou qual a diferença que estes têm com relação à resenha. Você já sabe o que é um resumo indicativo ou um resumo informativo... Por isso, destacaremos os aspectos referentes aos resumos críticos e às resenhas. Em primeiro lugar, vale dizer que resumos críticos e resenhas possuem a mesma finalidade: reúnem informações sobre o conteúdo de um texto ou obra e o seu autor, buscando, não somente, sintetizar a mensagem e posições adotadas, mas também expor posicionamentos críticos, fundamentados em conhecimentos sólidos sobre o tema abordado. Você deve estar se perguntando: “Então são a mesma coisa?” No sentido em que nos referimos acima, sim! Mas eles têm uma diferença muito importante. Quando resumimos um texto, um artigo científico ou parte de uma obra, por exemplo, produzimos um resumo crítico; quando nosso foco recai sobre uma obra completa – um livro, um filme –, produzimos uma resenha. Tal como o resumo informativo, o resumo crítico condensa o texto original em 1/3 ou 1/4 de sua extensão. Isto quer dizer que um artigo com 12 páginas, será produzido um resumo de aproximadamente de três ou quatro páginas. É evidente que essa métrica não funciona para uma resenha! Como você já deve ter percebido, resumos críticos e resenhas possuem dois movimentos básicos: a descrição da obra e os comentários de quem os produz. A resenha, conforme Lakatos e Marconi (2005), é- antes de tudo - uma descrição minuciosa que se atem a determinado número de fatos passiveis de crítica no que diz respeito à apresentação de uma obra. Admite-se, portanto, ser de dois tipos: descritiva ou crítica, considerando-se quase imperceptíveis as diferenças entre as duas modalidades. Vejamos alguns detalhes sobre os dois tipos. A resenha descritiva busca demonstrar a estrutura da obra, sua perspectiva teórica, o método adotado, sem dispensar, contudo, a criticidade. Muitas vezes, a resenha descritiva se configura como uma estratégia de vendas: as editoras convidam especialistas com experiência, capacidade de juízo crítico e conhecimento profundo do assunto para elaborarem resenhas, divulgando, dessa forma, as obras e livros que lançam no mercado literário. A resenha crítica possui todos os elementos da descritiva, mas toma a forma de uma apreciação que consiste no julgamento da obra, na qual procura-se destacar o seu mérito (contribuições) e como se situa o autor em relação ao conjunto da abordagem. 60
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É certo que não existe uma “receita” para elaborar resenhas. Nem queremos sinalizar isso, mas há algumas indicações de procedimentos que podem auxiliá-lo nesta tarefa. O resenhista deve dominar o assunto tratado pela obra e ter habilidade para, além de resumir as ideias fundamentais, reconhecer falhas e méritos, o que requer capacidade de juízo de valor necessário à crítica de caráter construtivo. Com estes requisitos, certamente, é possuidor de “ferramentas” que podem facilitar a elaboração da resenha e do resumo crítico. Todo trabalho científico requer planejamento e método para facilitação do processo de construção do conhecimento e a resenha crítica, na medida em que integra o rol das atividades acadêmicas, não dispensa esta característica de normalização. Uma apresentação bastante objetiva da estrutura de resenhas é a apresentada por Lakatos e Marconi (2005). Estes autores sugerem um tipo de composição integrada por seis itens com desdobramentos de subitens. São eles:
» » Referência Bibliográfica: Autor(es), título (subtítulo), Imprensa (local da edição, editora,data); número de páginas; ilustrações (tabelas, gráficos, fotos etc.) » » Credenciais do Autor: Informações gerais sobre o autor; autoridade no campo científico:quem fez o estudo? Quando? Por quê? Onde? » » Conhecimento: Resumo detalhado das ideias principais (de que trata a obra, o que diz?Possui alguma característica especial? Como foi abordado o assunto? Exige conhecimentos prévios para entendê-lo?) » » Conclusão do Autor: O autor faz conclusões? (ou não?), Onde foram colocadas? (final dolivro ou dos capítulos?), Quais foram? » » Quadro de referências/modelo teórico do Autor: (que teoria serviu de embasamento?Qual o método utilizado?). » » Apreciação a) Julgamento da obra: como se situa o autor em relação às escolas ou correntes científicas, filosóficas, culturais e às circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas etc.? b) Mérito da obra: qual a contribuição dada? Ideias verdadeiras, originais, criativas? Conhecimentos novos, amplos, abordagem diferente? c) Estilo: conciso, objetivo, simples? Claro, preciso, coerente? Linguagem correta? Ou o contrário? d) Forma: lógica, sistematizada? Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes? e) Indicação da Obra: a quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes? Fonte: Lakatos e Marconi (2005, p. 266)
Depois que apresentamos os aspectos que você deve considerar ao organizar suas leituras, chegamos ao final do texto. Antes, porém, queremos chamar a sua atenção para mais uma coisa: ao escrever um resumo ou uma resenha, leve em consideração que seu professor conhece a obra indicada e, sendo
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assim, estará atento e perceberá se você se dedicou à tarefa e a sua capacidade de opinar sobre ela. Bem, é isso aí... até a próxima!
SÍNTESE Nesse texto, apresentamos aspectos relacionados à organização de textos e obras consultadas no processo de investigação, com destaque para a elaboração de fichamentos, resumos e resenhas. No próximo texto trabalharemos em um contexto diferente, mas que tem relações com o que apresentamos até agora. Trata-se do Levantamento e Seleção de Dados.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Sugerimos que você inicie a busca por possíveis fontes para que desenvolva um projeto de pesquisa na sua área de estudo.
LEITURAS INDICADAS Para ampliar seus conhecimentos, recomendamos que você consulte as seguintes obras: » » “Resenha” e “Resumo”, Anna Rachel Machado (Coord.) e outros autores, publicadas em 2004. » » Livro “Fundamento de metodologia científica”, de Eva Lakatos e Marina Marconi, publicada em 2005.
REFERÊNCIAS ANDRADE, M.M.; HENRIQUES, A. Língua portuguesa: noções básicas para cursos superiores. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1996. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: informações e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002, p. 24. ______. NBR 6023: informações e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003, p. 2. HERMANN, Nadja. Ética: a aprendizagem da arte de viver. Educ. Soc. , Campinas, v. 29, n. 102, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010173302008000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 17 jul.De 2008. MACHADO, Anna Rachel (Coord.); LOUSADA, Eliane G.; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Resenha. 4. ed., São Paulo: Parábola Editorial, 2004a. ________. Resumo. 5. ed., São Paulo: Parábola Editorial, 2004b. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedimento básico, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicação e trabalhos científicos. 6. ed., São Paulo: Atlas, 2001. p. 200. SANTANCHÈ, André. Fluid Web e componentes de conteúdo digital: da visão centrada em documentos para a visão centrada em conteúdo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação do Instituto de Ciência de Computação. Campinas: Universidade de Campinas, 2006.
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LEVANTAMENTO E SELEÇÃO DE DADOS
Dados compõem um elemento essencial para qualquer pesquisa científica, por isso merecem um tratamento específico neste capítulo. Ao realizar uma pesquisa, você pode utilizar dados levantados e tabulados por terceiros; são chamados dados secundários. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (http://www.ibge.gov.br) é uma instituição federal cuja missão é “Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania.” (http://www.ibge.gov.br/home/disseminacao/eventos/missao/default.shtm) Deste modo, o IBGE é o principal provedor de dados para estatísticas do país. Como está ilustrado na Figura 1, você pode ter acesso a muitos destes dados e estatísticas no site de downloads, no endereço: http://www.ibge. gov.br/servidor_arquivos_est/.
Figura 7 - Tela de download de resultados de levantamentos de dados e estatísticas do IBGE
Em muitas situações, os dados desejados não estão disponíveis e é necessário coletá-los em primeira mão. Esses são os dados primários. Em todos os casos, cuidados específicos são necessários no levantamento e seleção destes dados, conforme trataremos a seguir.
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“Cada problema científico é a busca de um relacionamento entre variáveis” 2
Tradução do original eminglês feita pelo autor: “Every scientific problem is a search for the relationship between variables” (Thurstone, 1925, p. 187).
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Cor vermelha
VARIÁVEIS Um desafio na observação e compreensão de um problema e do caminho para a sua solução é a percepção de como certos aspectos de um fenômeno variam e como a variação de um elemento afeta outro. Usualmente utilizamos a noção de variável para representar cada elemento que varia dentro do fenômeno observado. Uma variável é um conceito abstrato que pode ser interpretado sob várias perspectivas. Ela pode ser associada a uma característica que sofre mudanças observáveis (JARRARD, 2001, p. 15), como, por exemplo, o tempo, uma medida espacial ou a intensidade de um fenômeno. Marconi e Lakatos (2005) consideram que uma variável pode ser:
Se você está lendo a versão impressa, não verá as cores. Recomendo que leia na versão on-line colorida.
[...] uma classificação ou medida; uma quantidade que varia; um conceito operacional, que contém ou apresenta valores; aspecto, propriedade ou fator, discernível em um objeto de estudo e passível de mensuração (MARCONI; LAKATOS, 2005, p.139). Apesar de ser um conceito abstrato, a noção de variável é uma ferramenta imprescindível para interpretar como fenômenos se comportam. Vamos retomar a perspectiva tratada no capítulo de “Formulação do Problema” de um problema como uma relação entre variáveis. Thurstone (1925, p. 187) dizia que “Cada problema científico é a busca de um relacionamento entre variáveis”1. Considere que estamos analisando um conjunto de dados que envolvem duas variáveis X e Y, no qual pretendemos estabelecer que a variável Y é determinada, afetada ou influenciada por X. Chamamos então X de variável independente, pois está associada à causa, e Y a variável dependente, pois está associada à consequência (JARRARD, 2001, p. 15) (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 140). Por exemplo, se estamos tentando relacionar o efeito da vitamina C sobre a doença escorbuto. Nesse caso, a vitamina C é a variável independente e o escorbuto é a variável dependente.
AMOSTRA Imagine que você viajou em uma nave espacial para um planeta distante a fim de observar um animal que você nunca viu na vida, um asdruborrino. A nossa nave está muito próxima do solo e dela você só consegue observar um único asdruborrino. Você vê um animal que nunca viu na vida, de cor vermelha2, como mostra a Figura 22.
Figura 8 - Um asdruborrino
Daí eu lhe pergunto:“Que cor têm os asdruborrinos?” Você me dirá: “Cor vermelha”. A nave se afasta do solo e agora você pode ver 9asdruborrinos, 6 vermelhos e 3 marrons, conforme a Figura 3.
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AULA 3 - ORGANIZANDO OS ESTUDOS
Figura 9 - Nove asdruborrinos
Então você aprimora a sua resposta dizendo alguns são vermelhos, outros marrons. “Em que proporção?” Eu pergunto. Provavelmente 2/3 são vermelhos e 1/3 é marrom. A nave vai se afastando mais e mais e você vê 25 asdruborrinos, sendo 16 vermelhos, 7 marrons e 2 amarelos, como apresentado na figura:
Figura 10 - Vinte e cinco asdruborrinos
Então você corrige a sua resposta dizendo: “Provavelmente a maioria é vermelha, existem alguns marrons e raros amarelos”. Se eu perguntar: “Existem asdruborrinos azuis?” Você dirá: “Não”. Você se afasta mais e consegue agora ver 49 asdruborrinos, 27 vermelhos, 10 marrons, 5 amarelos, 4 azuis e 3 verdes.
Figura 11 - Quarenta e nove asdruborrinos
A esta altura você tem certeza de que a maioria dos asdruborrinos são vermelhos, não importa o quanto se afaste. Mas, então, a nave para de se afastar e começa a planar sobre o planeta. Você decide fechar a janela e descansar um pouco. Quando a abre de novo, vê a imagem da Figura 6, com 49 asdruborrinos, sendo 31 azuis, 7 verdades, 6 amarelos, 3 marrons e 2 vermelhos.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Figura 12 - Quarenta e nove asdruborrinos, segunda vista
Agora você fica confuso. Você achou que a maioria dos asdruborrinos eram vermelhos e vê uma amostra com a maioria azul. Suponha que a população de asdruborrinos está toda apresentada na Figura 7 e que os retângulos em cinza representam os recortes das janelas mencionados anteriormente.
Figura 13 - População de asdruborrinos e demarcações das janelas de observação3
Estes recortes produzidos pela janela da nossa espaçonave é uma metáfora para o que chamamos de amostra. Chamamos de amostra a um subconjunto de um certo universo ou população analisada (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 165). Note que em nenhuma das amostras foi possível perceber a real distribuição das cores de asdruborrinos na amostra. Pense comigo: “O que você aprendeu neste exemplo?”. Você é capaz de, intuitivamente, perceber duas coisas que nos ensina a estatística: » » Quanto maior a amostra analisada tanto mais seu comportamento estará correlacionado com o da população completa (AJENEYE, 2006, p.988). » » Devemos considerar que a forma como escolhemos os elementos da amostra pode afetar na correlação entre a amostra e a população. Em relação à forma como os elementos da amostra são escolhidos, deve-se considerar que nem sempre os indivíduos estão uniformemente distribuídos por toda a amostra. Veja, por exemplo, na Figura 7 que, na parte norte (parte superior da figura), estão mais concentrados asdruborrinos vermelhos, enquanto na parte sul (parte inferior da figura) estão os azuis. Diversos fatores podem
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AULA 3 - ORGANIZANDO OS ESTUDOS
causar uma distribuição não homogênea, que variam em cada tipo de pesquisa. Por exemplo, pode ser que o norte tenha clima mais quente que o sul e que os asdruborrinos vermelhos prefiram o norte; enquanto os azuis, o sul. Uma seleção aleatória de indivíduos, em geral, produz uma melhor correlação da distribuição da amostra em relação à distribuição da população, mas nem sempre isto é um aspecto imperativo. Veja uma discussão a respeito no livro de Cláudio de Moura Castro (2006). Com esta observação - sobre o tamanho da amostra - você pode inferir porque cada vez mais empresas dão importância a um registro histórico de seus dados, para utilizá-los em projeções futuras. Existe até mesmo uma área da computação, conhecida como data warehousing, que se dedica a este assunto. Mas isto não está limitado a empresas: economistas registram dados econômicos históricos, diariamente são catalogados milhões de registros dos mais variados fenômenos naturais, vão até os polos na busca de dados climatógicos de milhões de anos atrás. Você já se perguntou por que isso? Por que os seres humanos se tornaram ávidos colecionadores de tantos dados? A primeira resposta que me vem à mente é: reconhecer melhor padrões de comportamento e fazer previsões mais precisas. Se você assistiu ao filme intitulado “O Dia Depois de Amanhã”4, viu um clássico exemplo do que eu acabei de mencionar. Um cientista paleoclimático (que estuda fenômenos climáticos pré-históricos) reconheceu um padrão de comportamento do clima da terra nos últimos milhões de anos que, somado a acontecimentos recentes, levou à previsão de uma nova era glacial na terra. Recomendo que você assista e preste atenção na coleta de amostras feita no início que são a chave para o estudo de climas pré-históricos.
SÍNTESE Tratamos aqui de duas questões fundamentais relacionadas ao levantamento eseleção de dados: a questão das variáveis e aspectos relacionados à seleção da amostra (tamanho e distribuição). Diversos outros textos, neste curso, remeterão aos aspectos aqui apresentados.Você verá que a qualidade dos dados é fundamental para quese obtenha sucesso em uma pesquisa.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Uma parte da pesquisa de campo é definir as variáveis e as características da amostra. Este é um bom momento para você fazê-lo.
LEITURAS INDICADAS Existem técnicas estatísticas para definir tamanhos de amostra, a depender do nível de confiança que se deseja no resultado. Este tema não será detalhado neste curso, mas você encontrará mais detalhes relacionados ao tamanho da amostra e como calculá-lo no livro de Mario F. Triola (2008, p. 250).
SITES INDICADOS SampleSizeCalculator - Este site possui um programa que, baseado em técnicas estatísticas, calcula o tamanho da amostra automaticamente. Para usá-la, você precisará de mais conhecimentos de estatística do que aqueles que obteve aqui. Para obtê-los, veja a leitura de Mario F. Triola (2008, p.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
250) indicada no tópico anterior. Apesar de estar em inglês, você pode ativar à esquerda dele um tradutor do Google: http://www.surveysystem.com/sscalc.htm
REFERÊNCIAS AJENEYE, Francis. Power and sample size estimation in research. The biomedicalscientist. Novembro, 2006. on-line: http://www.ibms.org/pdf/bs_articles_2006/power_sample_size_nov06.pdf. Acessado em julho de 2008. CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. JARRARD, Richard D. Scientific Methods. 2001. Disponível em: https://webct.utah.edu/webct/ Relative-ResourceManager/288712009021/Public%20Files/sm/sm0.htm. Acesso em julho de 2008. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005. TRIOLA, Mario F. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. THURSTONE, Louis Leon. The fundamentals of statistics. New York: MacmillanCo.
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AULA 4 Construindo um modelo teórico autor: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
CONSTRUÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO
E
m etapas anteriores você coletou dados, fez uma revisão de trabalhos relacionados e formulou um problema. Agora chega o momento chave em que você deve propor um modelo teórico que será a chave da solução do problema formulado. Este é um processo que envolve uma combinação de criatividade, trabalho meticuloso e rigor em algumas partes. Para entender como acontece a construção de um modelo teórico, vamos utilizar um exemplo na área industrial. Apesar deste exemplo não poder ser considerado ciência num senso estrito, ele está sendo utilizado como recurso pedagógico por envolver a aplicação de aspectos do método científico.
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Armazenando o mínimo Qualquer empresa que mantém um estoque de produtos, para produção ou venda, compartilha o problema de decidir a quantidade que deve ter disponível em estoque de cada produto. Manter um estoque excessivo significa: desperdiçar espaço, investimento desnecessário de capital e aumentar a depreciação média dos produtos. Por outro lado, manter um estoque insuficiente significa principalmente a possibilidade de não atender à demanda dos clientes. Ambos os extremos são igualmente indesejáveis, por isso a grande questão é: como alcançar o equilíbrio? A solução desta questão pode não ser trivial e envolve uma meticulosa observação, registro e análise de como se comporta a produção na empresa, a relação com os fornecedores e o processo de vendas. Por este motivo, eu acho que a melhor maneira para entender esta questão é através de um desafio. A seguir, lançaremos um desafio para você. Recomendamos fortemente que você tente resolver o desafio antes de prosseguir adiante na leitura. Depois do desafio descreveremos a sua solução, porque ela será necessária para você entender como se constrói um modelo teórico. A ciência é um desafio para a nossa mente. Existe uma especial satisfação em descobrir por si mesmo padrões por trás das observações, em usar a lógica para desvendar o mundo e em constatar a aplicação prática do conhecimento que produzimos (não é à toa que o famoso Sherlock Holmes faz uso de instrumentos comuns à ciência para desvendar casos misteriosos). Para isso, não são necessárias grandes descobertas científicas. Se pudermos fazer uma empresa funcionar melhor já é uma grande satisfação. Você pode se sentir tentado a pular do desafio imediatamente para a solução, mas irá perder a oportunidade de experimentar por si mesmo, ainda que em pequena escala, o que acabamos de descrever. Nosso objetivo é que você se defronte com os principais aspectos relacionados à construção de um modelo teórico para que depois possamos partir da prática para a teoria. Por isso nós lhe pedimos que resista à tentação e só prossiga na leitura depois que resolver por si mesmo o desafio.
PADRÕES DE COMPORTAMENTO E PREVISÕES Encontrar padrões de comportamento a fim de prever comportamentos futuros faz parte da essência da metodologia científica. Note que, apesar de a ciência sistematizar esta prática, ela não é uma exclusividade da mesma. Mais do que isso, todo o comportamento humano e de qualquer ser vivo do planeta depende da previsibilidade. Pense comigo o seguinte: você observa, desde que nasceu, uma tendência que as coisas mais pesadas que o ar tem de serem atraídas ao chão; esta tendência se aplica também a você. Então, você formulou na sua mente a seguinte previsão: dado um dia qualquer no futuro, se você pular de cima de uma cadeira, você cairá em direção ao chão. É uma previsão tão segura que o seu próprio organismo é construído baseado nestas previsões. O seu aparelho locomotor, por exemplo, é todo construído baseado no pressuposto da existência da força que te atrai para o chão. Seu aparelho digestivo é construído baseado na previsibilidade da interação dos componentes químicos. Por isso, observe que a previsibilidade é tão importante que se ela não fosse possível você simplesmente não existiria.
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
E onde entra a ciência neste contexto? Ela tem a tarefa de perceber tais padrões de comportamento, de formalizá-los em modelos e de testar sua validade, provando a sua capacidade de prever comportamentos futuros. Pense sobre isso. O que é que as ciências que você conhece tentam fazer o tempo todo (a física, a química, a biologia, as ciências sociais e econômicas)? Não tentam criar modelos para prever a posição de um objeto lançado, como irão interagir dois componentes químicos, como se comportará um organismo vivo ou uma sociedade? É claro que, dependendo do problema em questão, o modelo pode ser mais ou menos complexo e as previsões mais ou menos precisas.
Sequência de formas geográficas 1
Esta é uma tela e as três subsequentes são capturadas da atividade interativa Pattern Generator (Gerador de Padrões) da SHODOR Interactive (http:// www.shodor.org/interactivate/ activities/PatternGenerator/).
Vamos introduzir algumas noções relacionadas à construção do modelo teórico sintetizando a questão da seguinte maneira: reconhecer padrões de comportamento permite estimar comportamentos futuros. É fácil entender esta afirmação a partir de alguns exemplos simples. Na Figura 2 é apresentada uma sequência de formas geométricas1.
Figura 1 - Início de uma sequencia que segue um padrão de comportamento
Considerando que existe um padrão de comportamento, você pode deduzir quais as formas que ocupam os espaços numerados de 6 a 16? Esta é uma tarefa que seu cérebro consegue fazer rapidamente e o resultado é apresentado na Figura 2.
Figura 2 - Sequência completa que segue um padrão de comportamento
A fim de enfatizar a capacidade singular do cérebro humano, vamos tornar a sequência um pouco mais complexa. Veja a Figura 3 e tente deduzir as figuras que ocupam os espaços numerados de 8 a 15.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Figura 3 - Início de uma sequencia mais avançada que segue um padrão de comportamento
Você vai provavelmente deduzir a sequência que está ilustrada na Figura 4.
Figura 4 - Sequência completa mais avançada que segue um padrão de comportamento
Na sua mente você conseguiu perceber um padrão de comportamento e, a partir dele, prever ou estimar os elementos que ocupam os espaços vazios. O diagrama da Figura 5 ilustra (de forma simplificada) a sequência de eventos que se passaram na sua mente nesta tarefa.
Figura 5 - Diagrama ilustrando a sequencia mental do reconhecimento de um padrão.
Primeiro você tenta formar na sua mente um modelo abstrato que generalize o comportamento do que você observou. Em seguida você o aplica na previsão das unidades que não aparecem na figura. Essa sequência é uma síntese simplificada do que denominamos construção do modelo teórico. Nas seções seguintes, vamos analisar etapas parciais desta construção, primeiro apresentando a síntese como processo de generalização que produz hipóteses. Em seguida, veremos como estas hipóteses são usadas para a previsão de comportamentos futuros. Na Figura 6 é apresentado um mapa conceitual que guiará o detalhamento que faremos a seguir. 72
AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Figura 6 - Mapa conceitual de Construção do Modelo Teórico
SÍNTESE A construção do modelo teórico está no núcleo da metodologia científica. Essencialmente, um modelo teórico consiste em uma generalização concebida a partir da percepção de padrões de comportamento. Tal generalização é, posteriormente, a chave para a previsão de comportamentos futuros. Neste ponto você já deve ter tentado resolver ou já resolveu o problema do estoque mínimo. Nos tópicos a seguir trabalharemos na solução deste problema mostrando como a síntese, as hipóteses e a previsão atuam neste contexto.
SITES INDICADOS Shodor Interactive - http://www.shodor.org/interactivate/. Os exemplos iniciais de reconhecimento de padrões utilizaram o Pattern Generator (Gerador de Padrões) da SHODOR Interactive. (http://www.shodor.org/interactivate/activities/PatternGenerator/).
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
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De Motu
SÍNTESE – GALILEU E O PLANO INCLINADO
Veja uma bela versão digitalizada deste manuscrito na biblioteca digital do Istituto e Museo di Storia della Scienza: http://fermi.imss.fi.it/rd/ bdv?/bdviewer/bid=354789.
Muito bem. Já lhe apresentamos a noção de síntese. Vamos agora trabalhar esta noção com exemplos mais específicos aplicados à ciência, começando com um exemplo clássico da física. Para isso, vamos nos transportar para o tempo de Galileu Galilei e nos colocar em seu lugar, ao observar e tentar entender a lógica por detrás dos objetos que invariavelmente caem em direção ao solo. O objetivo não é replicar exatamente o raciocínio de Galileu, mas deixar temporariamente para trás os conhecimentos que temos hoje sobre a ação da gravidade sobre os corpos e tentar reconstruílos com os conhecimentos disponíveis na época de Galileu. A nossa vantagem será dispor de um grande aparato tecnológico que Galileu não dispunha em seu tempo.
Galileu Deixe-me lhe situar no tempo e no espaço. Galileu nasceu em 1564, em Pisa (ANDERY, 2004), e foi uma figura central na revolução científica do século 17 (MACHAMER, 2008). Dentre os seus experimentos e estudos, ele se interessou pelo movimento dos corpos em queda livre e escreveu um manuscrito intitulado De Motu (Do Movimento)1. Isso ocorreu quase um século antes de Isaac Newton formular o princípio da gravitação universal, em sua clássica publicação chamada Principia (Princípios) (ANDERY, 2004), na qual mudou a história da ciência e da física trazendo uma visão unificada para a força que rege o movimento dos astros e ao mesmo tempo faz os objetos caírem: a gravidade.
Galileo Galilei florentino por Ottavio Leoni (1578-1630) Fonte: Wikimedia Commons 74
AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Então estamos fazendo parte de um tempo em que a natureza desta força que atrai corpos para o solo ainda é pouco conhecida. Nosso trabalho será observar os corpos que caem na busca de padrões de comportamento, tal como fizemos com o problema do estoque mínimo. Vamos iniciar relembrando o nosso problema formulado anteriormente: Considerando que eu solte um corpo qualquer em queda livre em uma altura A, quanto tempo ele leva para chegar na altura B?
Galileu não tinha em sua época um ferramental tão sofisticado quanto o que temos agora e que utilizaremos neste estudo. Por esse motivo, ele teve que fazer uso de técnicas criativas para superar estes obstáculos. Nós também vamos utilizar a criatividade para registrar observações de movimento em queda livre utilizando equipamentos domésticos, de tal maneira que você possa reproduzi-los em casa, se quiser. Uma forma bastante interessante de observar o comportamento de um corpo em queda livre é através do registro das posições de um objeto solto em queda livre à medida que o tempo varia. O problema que temos que resolver é que este objeto cai em uma velocidade muito alta, o que dificulta tal registro. A depender da altura, o objeto chega ao solo em menos de um segundo. Foi por este motivo que Galileu desenvolveu uma técnica engenhosa para medir este aceleração utilizando planos inclinados. Antes de seguir adiante, recomendamos que você perca algum tempo conhecendo um pouco mais sobre Galileu e especialmente seus experimentos em torno do plano inclinado. Fizemos uma seleção de museus, animações multimídia e vídeos para você ver. É importante ressaltar que esta é uma atividade bastante recomendada, mas não obrigatória, dado que a maioria dos recursos está em inglês ou italiano. Poeira das Estrelas – Parte 02 http://br.youtube.com/watch?v=LkYrmgkJp5c Neste episódio da série Poeira nas Estrelas, programa Fantástico da Rede Globo, é apresentado Galileu em seu contexto histórico e ideológico. O programa apresenta como algumas ideias de Galileu se opuseram às ideias estabelecidas de Aristóteles. Este vídeo é excelente para contextualizar Galileu e suas ideias dentro do seu tempo. Ele também apresenta a experiência de queda livre feita por Galileu que detalharei neste material. Galileo Portal http://brunelleschi.imss.fi.it/portalegalileo/ Fonte de referência riquíssima sobre Galileu organizada pelo Institute and Museum of the History of Science em Florença – Itália. Inclui acesso a uma biblioteca digital com cópias digitalizadas completas das obras de Galileu.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
The Galileo Project http://galileo.rice.edu Projeto mantido pela Rice University, no Texas – EUA, reúne uma grande variedade de recursos multimídia sobre Galileu. Galileo Galilei’s Notes on Motion http://www.imss.fi.it/ms72/ Digitalização de notas sobre estudos de movimento (Notes on Motion) feitos por Galileu. Excelente sistema de navegação que permite visualizar as páginas em diferentes resoluções. Galileu e o Plano Inclinado Galileo’s Inclined Plane http://www.teachersdomain.org/resources/phy03/sci/phys/mfw/galileoplane/ Dentre os vídeos sobre plano inclinado que assisti este é o melhor e mais completo, mas você precisa saber inglês para assisti-lo. Há uma opção de ativação de legendas em inglês. From Aristotle to Galileo http://www.teachertube.com/view_video.php?viewkey=10da82c15dca2f86a138 Apresenta o método experimental de Galileu como uma oposição às ideias de Aristóteles (não testadas experimentalmente). Apresenta e equaciona, de forma muito didática, o experimento do plano inclinado. Este é o vídeo que apresenta melhor a equação de velocidade x tempo alcançada por Galileu. The Experiment Group’s Exciting Experiments Grupo que reproduz alguns experimentos feitos por Galileu relacionados a movimento dos corpos. O grupo detalha como os experimentos foram construídos, como os dados foram coletados e as conclusões alcançadas. Este relato aparece como parte do portal Galileo Project. http://galileo.rice.edu/lib/student_work/experiment95/ Visita virtual ao Istituto e Museo di Storia della Scienza Este museu apresenta experimentos que permitem alcançar as mesmas conclusões de Galileu em seus experimentos. Dentre eles está um interessante plano inclinado com sinos (na qual será comentado adiante) em: http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=404013 http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=100198 Além disso, há alguns vídeos sobre o tema com links para peças da exposição relacionadas: Galileo and the science of motion (Galileu e a ciência do movimento). http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=500012 Law of free-falling bodies (Lei dos corpos em queda livre). http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=500065 76
AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
REPRODUZINDO O EXPERIMENTO DE GALILEU Neste nosso estudo reproduziremos o experimento de Galileu de forma mais simplificada e utilizando material caseiro, de modo que você possa realizá-lo em casa, se quiser. O experimento consiste em fazer uma bola rolar por um plano inclinado e medir o seu deslocamento conforme o tempo varia. Como está ilustrado na Figura 1, foi utilizada uma tábua de cozinha como plano inclinado e uma bola de frescobol. Um livro não muito espesso foi utilizado como suporte para inclinar o plano e uma régua foi utilizada para permitir medições de posição. O experimento foi registrado por uma webcam e você pode assisti-lo no ambiente virtual de aprendizagem.
Figura 7 - Fotografia de uma tela do experimento do plano inclinado
A webcam permite registrar posições consecutivas da bola em intervalos de tempo aproximadamente regulares. É importante que você perceba que este experimento tem propósitos pedagógicos e é apenas uma ilustração, portanto, os seguintes aspectos irão afetar a precisão dos dados coletados: » » A webcam não é um equipamento com precisão adequada para um experimento mais apurado. Ela não garante que a captura dos quadros será em intervalos regulares. » » A tábua de cozinha possui imperfeições que provocam uma descida irregular da bola. » » A bola de frescobol é bastante irregular. Estamos chamando a sua atenção para este fato, pois tais fatores irão causar algumas irregularidades nos resultados observados. Em um experimento mais apurado, todos estes fatores podem ser minimizados (nunca eliminados). De qualquer modo, as irregularidades não invalidam o procedimento que pretendo lhe mostrar. Como já foi feito no caso anterior do estoque mínimo, nosso objetivo nesta etapa é sair à procura de padrões de comportamento. Vamos realizar isto em partes e, nesta primeira parte, vamos responder a seguinte pergunta: o tempo que a bola leva para descer a ladeira é regular? Para responder esta pergunta deixamos a bola rolar quatorze vezes pelo plano e medimos seu tempo. Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 2. Note que nos adiantamos e colocamos ao lado dos dados coletados o gráfico, de modo que você possa observar o padrão de comportamento. Utilizaremos esta prática daqui por diante.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Figura 8 - Dados de tempo de descida registrados no experimento do plano inclinado
Note que, mesmo com as imprecisões causadas pelas condições em que foi feito o experimento, observa-se um padrão de comportamento no tempo de descida, que é em média 2,2 segundos de descida, e varia no máximo de 0,1 segundo para mais ou menos. Deste modo, podemos concluir que o tempo de descida se comporta em um padrão estável e suscetível a previsões. Muito bem, mas pretendemos alcançar mais do que isso. Precisamos estabelecer como um corpo se desloca em função do tempo. Se você assistiu ao vídeo percebeu que o corpo iniciou parado e gradativamente foi se deslocando mais rápido. A Figura 3 apresenta uma sequência de quadros capturados pela webcam no experimento do plano inclinado. O tempo transcorrido entre um quadro e outro é aproximadamente o mesmo. Você percebe intuitivamente que a variação de deslocamento vai aumentando, mesmo se o tempo entre um quadro e outro é aproximadamente o mesmo. A questão é: de quanto é este aumento?
Figura 9 - Sequencia de imagens capturadas do experimento do plano inclinado
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Para tentar descobrir um padrão de comportamento no aumento da velocidade da bola, vamos tabular os dados e analisá-los mais detalhadamente. A Figura 4 apresenta as mesmas imagens da Figura 3 sobrepostas por um registro das posições da bola em cada um dos quadros (visite a esfera Laboratório Mundo no ambiente virtual de aprendizagem, onde estão disponíveis imagens de maior resolução e dados mais detalhados deste experimento).
Figura 10 - Registro das posições da bola em intervalos de tempo regulares
Os dados registrados da Figura 4 foram tabulados em uma planilha apresentada na Figura 5. Na coluna com o título “tempo (ut)” está registrado o tempo. Na coluna “posição (uda)” está registrada a posição verificada na régua. Se você observar na tabela, não utilizamos medidas convencionais (tais como segundos e centímetros) para medir o tempo e a posição. Ao contrário, usamos duas medidas chamadas ut (unidade de tempo) e ud (unidade de deslocamento). Inventamos estas unidades de medida para este exemplo e elas têm o propósito de simplificar a explicação. Se você está curioso para saber quais são estas medidas: » » 1 ut = 65 milissegundos (tempo entre cada quadro da webcam). » » 1 uda = 1 cm Ou seja, a distância de tempo entre cada quadro da captura corresponde a um ut. Quanto a unidade ud, ela é como se fosse uma escala. Nesse caso, a escala é simples um uda corresponde exatamente a um centímetro. Daqui para adiante, utilizaremos a letra subscrita depois de ud para diferenciar as diferentes escalas.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Figura 11 - Posição da bola de frescobol no plano inclinado em função do tempo
O reconhecimento deste padrão é um pouco mais desafiador do que os anteriores. Não se trata apenas de reconhecer uma média de comportamento, mas uma relação entre duas variáveis. Você se lembra da nossa discussão tratada no capítulo Coleta e Seleção de Dados, em que Thurstone (1925, p. 187) define problemas científicos como uma busca de relações entre variáveis? Pois bem! É exatamente isto que estamos tentando fazer aqui. Não existe um método padronizado para reconhecer um padrão de comportamento. Vários fatores estão envolvidos neste processo, tais como: uma observação meticulosa dos dados, criatividade na concepção de modelos e experiência baseada em casos anteriores analisados. Outro aspecto importante, que não está sendo contemplado neste material por questões didáticas, é que geralmente uma observação é repetida várias vezes em condições diferentes a fim de se perceber um padrão entre as diferentes observações.
O EXPERIMENTO DA QUEDA LIVRE Para enriquecer a nossa análise, vamos inserir um segundo exemplo. Desta vez utilizaremos recursos que vão um pouco além da época de Galileu, utilizando a webcam para capturar o deslocamento de uma bola de papel em queda livre. A Figura 6 ilustra as imagens desta captura.
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Figura 12 - Sequência de imagens de uma bola de papel em queda livre
Mais uma vez, é possível observar um efeito semelhante à sequência anterior: a bola de papel cai cada vez mais rápida à medida que o tempo passa.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Figura 13 - Registro das posições da bola em queda livre em intervalos de tempo regulares
Os dados da Figura 7 foram tabulados e estão apresentados na Figura 8. Na coluna posição está registrada a posição vertical da bola. Considere que a posição inicial onde a bola foi solta é a posição zero e esta posição aumenta à medida em que ela se aproxima do chão. O tempo também foi registrado na medida ut, equivalente àquela do plano inclinado. A posição foi registrada em udb. Como a escala utilizada aqui foi diferente, neste caso: » » 1 udb = 2,3 cm.
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Figura 14 - Posição da bola de papel em função do tempo
Com estes dados já é possível tirarmos algumas conclusões. Observe a tabela a seguir e compare os valores de posição obtidos no experimento do plano inclinado e da queda livre. Note como os valores se aproximam. PLANO INCLINADO
QUEDA LIVRE
TEMPO (ut)
POSIÇÃO (uda)
POSIÇÃO (udb)
0
0,0
0,0
1
1,5
1,7
2
4,9
4,1
3
9,3
8,8
4
15,8
15,0
5
25,3
24,2
É importante notar que as unidades de medida de posição (uda e udb) usadas foram diferentes nos dois experimentos, ou seja, trabalhamos com escalas diferentes em cada um dos casos. Isso foi feito de propósito, pois como a bola de papel em queda livre cai mais rápido que a bola de frescobol desce no plano inclinado, usando escalas diferentes, podemos verificar a mesma variação de deslocamento.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
O Papel da escala Você deve entender o papel que cumpre a escala nestes nossos experimentos. A escala é um recurso frequentemente utilizado por cartógrafos, arquitetos e engenheiros para representar mapas e plantas que não podem ser representadas no tamanho real. Desse modo, eles utilizam um artifício equivalente ao que utilizamos aqui, definindo que uma unidade na planta ou mapa corresponde a X metros ou quilômetros na situação real. O recurso da escala não altera os resultados obtidos, ela apenas permite ver os resultados em uma perspectiva diferente. Por exemplo, no caso da queda livre, utilizamos uma escala 1 udb = 2,3 cm. A Figura 11 ilustra o efeito da escala sobre o resultado. Ela causa um efeito de diminuição do tamanho. É como se nos afastássemos da imagem e a víssemos menor do que é.
Figura 15 - Sequência de imagens da queda livre em escalas diferentes
O mesmo resultado aferido por escalas diferentes no espaço também vale para diferentes escalas no tempo. Mas é muito importante que você perceba que, neste caso, o uso de diferentes escalas não afeta o padrão de comportamento na qual pretendemos observar.
Os resultados traçados nos gráficos dos dois experimentos produziram curvas semelhantes, o que nos leva a pensar em um mesmo padrão de comportamento.
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
É importante que você note que organizamos este experimento de tal forma a conduzi-lo naturalmente a observar os padrões de comportamento que regem o movimento dos corpos em queda livre. Do modo que organizamos, pode parecer simples o processo de observar um fenômeno natural e extrair dele um padrão de comportamento. Tal como acontece com os melhores trabalhos científicos, Galileu gastou anos da sua vida em um longo processo de observação, experimentação e registro, para alcançar os resultados que agora reproduzimos. Alguns de seus experimentos e conclusões se opunham a ideias de Aristóteles (MACHAMER, 2008) que viveu quase dois mil anos antes de Galileu. A chave da questão para perceber o padrão de comportamento é perceber que existe uma relação direta entre a variação do tempo e o aumento na velocidade que o corpo desce o plano inclinado, ou cai em queda livre, ou seja, estamos procurando uma relação entre uma variável independente (tempo) e uma variável dependente (posição). Repetiremos os valores da Figura 5 com um ajuste para facilitar a sua observação e arredondarei os valores. TEMPO
POSIÇÃO
0
0
1
1
2
5
3
9
4
16
5
25
Destes valores, o único que ficou fora do padrão com os erros resultantes das imperfeições da captura e com o arredondamento foi a posição relativa ao tempo 2 (dois). Não queremos alterar os dados originais que coletamos (um pesquisador nunca deve fazer isso), mas pedimos para você imaginar que esse número é o 4 (quatro), ao invés do 5 (cinco). Agora pedimos que você dê uma boa olhada nestes números e nas curvas da Figura 5 e da Figura 8 (você já viu alguma curva parecida com estas na escola?). Tente identificar por conta própria uma relação entre os valores antes de seguir adiante neste texto.
INDUZINDO UM MODELO GENÉRICO Talvez você tenha percebido por conta própria o que Galileu percebeu há mais de quatro séculos atrás: a posição aumenta na proporção do quadrado do tempo. Vamos rever os números apresentados anteriormente:
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Você deve estar se perguntando como concluiria isso com o 5 (cinco) - aproximação de 4,9 - no lugar do 4 (quatro). Se você se recorda do exemplo dos asdruborrinos no capítulo de Coleta e Seleção de Dados, então deve estar se lembrando da relação que fizemos do tamanho da amostra com a precisão dos dados. O mesmo acontece neste caso. Se aumentássemos o número de observações o valor se aproximaria de 4 (quatro). Usualmente trabalhamos com médias de valores de várias observações e não fizemos isso aqui para simplificar a explicação. Observe agora o gráfico da Figura 9 onde confrontamos as posições observadas e calculadas usando o quadrado do tempo. Veja como os gráficos se aproximam e como alcançamos a percepção de um padrão.
Figura 16 - Posição observada x calculada da bola de frescobol no plano inclinado em função do tempo
Observaremos como a posição também varia em função do quadrado do tempo na queda livre:
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Veja graficamente na Figura 10 como a curva calculada se aproxima da observada, no caso da bola de papel, em queda livre.
Figura 17 - Posição observada x calculada da bola de papel em função do tempo.
Então note que, tal como Galileu já havia observado, a posição varia proporcionalmente ao quadrado do tempo. Tal como fizemos no problema anterior do estoque mínimo, usando a síntese vou partir de observações específicas e propor uma hipótese. Esta hipótese tem o formato da seguinte proporção: posição ~ tempo2
O símbolo de ~ indica proporcional, ou seja, indica que a posição é proporcional ao quadrado do tempo. Mas, por que não dizemos que a posição é igual ao quadrado do tempo?
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Como mencionamos anteriormente, ao invés de medir o tempo em uma medida convencional, usamos a medida ut. A distância também foi medida em ud. Fizemos isso de propósito para trabalhar com escalas diferentes e para facilitar a percepção de um padrão. Usando nossas medidas adaptadas, o tempo ao quadrado, sem nenhum cálculo adicional, resulta na posição. Mas é muito importante ressaltar que, se não tivéssemos adaptado as escalas, o cálculo não seria tão direto assim. Isso se deve ao fato de que a posição – em uma escala qualquer – não é sempre exatamente o quadrado do tempo – em uma escala qualquer. Para resolvermos as diferenças de escala podemos utilizar uma constante assim: posição = constante x tempo2
Esta constante ajusta as diferenças de escala entre a posição e o tempo. Não vamos trabalhar com esta versão porque não estamos interessados em cálculos precisos de física, mas apenas em conceitos. Para o nosso trabalho, neste curso, vamos dispensar a constante e considerar que ajustaremos o tempo e a posição para escalas que a tornem desnecessária (como fizemos nos exemplos). Deste modo, a nossa hipótese será simplificada da seguinte maneira: posição = tempo2
Note que, fazendo isso, não estamos alterando os fatos reais. Apenas os observaremos na escala que nos parecer mais adequada. É muito importante que você entenda que esta não é uma aula de física. Não esperamos, com o que foi apresentado, que você seja capaz de resolver problemas de física. Esperamos que ao final desta apresentação você seja capaz de compreender como, a partir de observações individuais, Galileu formulou uma relação genérica entre o tempo e o deslocamento entre os corpos. Estas fórmulas são muito usuais na ciência porque estabelecem relações entre variáveis. Nem sempre um modelo teórico ou hipótese tem a forma de uma fórmula. Por exemplo, quando Charles Darwin propôs seu modelo de evolução baseado na seleção natural ele não utilizou uma fórmula. Nesta hipótese estamos tirando conclusões baseadas em um conjunto bastante limitado de dados. Adotamos um conjunto limitado para simplificar o exemplo, já que o nosso enfoque é no aprendizado do processo e não tanto na precisão do modelo. O modelo poderia ser mais preciso se tivéssemos um número maior de observações. Você será apresentado a esta questão no capítulo de Coleta e Seleção de Dados. De qualquer modo, esse é apenas o primeiro estágio. Nos próximos estágios, nossa hipótese passará por testes para verificar a sua validade.
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
SÍNTESE Seguindo a rota de Galileu no seu experimento com o plano inclinado, foi possível perceber o papel da síntese no método científico. A partir do registro minucioso de dados e de sua análise percebemos um padrão de comportamento na forma como a bola de frescobol e a bola de papel se deslocam com o tempo e estabelecemos uma hipótese para descrever a relação entre a variável tempo e posição. A esta altura você já teve condições de compreender como funciona a síntese. No próximo tópico iremos explorar como hipóteses são utilizadas para realizar previsões.
EXERCÍCIOS Na Pesquisa de Campo existe uma etapa em que você deve, a partir de dados coletados por questionários, estabelecer relações entre as variáveis analisadas. Este é um bom momento para você aplicar o que aprendeu aqui.
SITES INDICADOS Teachers’ Domain - http://www.teachersdomain.org Reúne uma grande variedade de recursos multimídia para suporte a atividades em sala de aula. Aqui está disponível um excelente vídeo mostrando o experimento do plano inclinado de Galileu Galilei: http://www.teachersdomain.org/resources/phy03/sci/phys/mfw/galileoplane/
REFERÊNCIAS MACHAMER, Peter. Galileo Galilei (Summer 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.), Disponível em: http://plato.stanford.edu/archives/sum2008/entries/galileo/. Acesso em: ________ THURSTONE, Louis Leon. The fundamentals of statistics. New York: Macmillan Co., 1925.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
CONSTRUÇÃO DO MODELO TEÓRICO – PREVISÕES
As hipóteses do nosso modelo teórico devem ser capazes de prever algum tipo de resultado que seja passível de teste. Como utilizamos as hipóteses para realizar previsões? Em geral, deduzindo as consequências da aplicação da hipótese em um caso específico.
Desafio de Dedução: VAMU na “Casa do Chapéu”
Antes de prosseguir adiante, recomendo que faça uma pausa para tentar resolver o Desafio de Dedução. Trata-se de um desafio baseado em um clássico chamado Einstein Puzzle. A realização deste desafio não é obrigatória e, se por algum motivo você não o resolver, isto não prejudicará o bom andamento do seu curso. Entretanto, nós estamos certos de que resolver este desafio pode ser uma atividade interessante e até divertida. Você pode formar grupos com seus colegas para tentar resolvê-lo. O desafio tem o objetivo de ilustrar de forma descontraída alguns conceitos que trataremos a seguir.
Se você trabalhou no Desafio de Dedução foi capaz de perceber um componente essencial nesta etapa de pesquisa. Pense a respeito. Quais as habilidades mais exigidas neste desafio? (i) você teve que ser capaz de relacionar variáveis (lembra-se que relacionar variáveis é uma forma de encarar problemas de pesquisa?); (ii) você teve que deduzir fatos a partir de evidências encontradas. Deduzir fatos a partir de evidências é justamente o que vamos tratar agora. A dedução pode ser compreendida como um processo que funciona de forma complementar à síntese. O dicionário Houaiss (2006) traz a seguinte definição de dedução: [...] processo de raciocínio através do qual é possível, partindo de uma ou mais premissas aceitas como verdadeiras (p.ex., A é igual a B e B é igual a C) a obtenção de uma conclusão necessária e evidente (no ex. anterior, A é igual a C). 90
AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Desse modo, a dedução é um processo da lógica. Ela pressupõe a existência de premissas verdadeiras para, a partir delas, alcançar uma conclusão. Leia as seguintes declarações: Todos os vegetais precisam de água para crescer. A alface é um vegetal.
O que você consegue deduzir a partir delas? Exatamente o que você pensou: A alface precisa de água para crescer.
No contexto do método científico utilizamos a síntese para obter um conjunto de hipóteses. Estas hipóteses assumem um caráter genérico, tais como as premissas apresentadas anteriormente. Ou seja, podemos considerar a premissa “Todos os vegetais precisam de água para crescer” como uma hipótese da nossa pesquisa. Como se trata de uma hipótese e não uma premissa verdadeira, utilizamos a dedução não para alcançar outra conclusão verdadeira, mas para validar a premissa (hipótese). Por exemplo, considere a nossa hipótese “Todos os vegetais precisam de água para crescer”. Se “o alface é um vegetal”, então eu faço uma previsão de que “o alface precisa de água para crescer”. Ora, se por acaso eu encontrar algum alface que não precise de água para crescer, então eu invalido a hipótese. Por enquanto, vamos nos concentrar em estudar como utilizamos as hipóteses para realizar as previsões. Mais adiante estudaremos a questão dos testes na seção de Prova da Solução. Vamos retomar os exemplos trabalhados na síntese para compreender como uma hipótese aliada à dedução é utilizada para a previsão de novas ocorrências.
UTILIZANDO A DEDUÇÃO NO PROBLEMA DO ESTOQUE MÍNIMO No tópico de síntese obtivemos a seguinte hipótese que define como estabelecer o estoque mínimo de um produto a partir do volume de vendas e tempo de entrega de um fornecedor: Estoque Mínimo = Média Volume Vendas Diário * Média Tempo de Entrega
Esta equação foi uma generalização obtida através da análise da matéria prima Primatonina e do produto final Criptotex. Uma vez que ela assume este formato genérico, podemos aplicar a dedução para estabelecer o estoque mínimo de outros produtos. Por exemplo, considere os seguintes produtos: Matéria-prima Produto final
Outranina Maisumtex
média de tempo de entrega = 5 dias média de volume de vendas = 20 kg/dia
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
3
Outranina
Para fins de simplificação estamos considerando as mesmas condições do Criptotex, ou seja, cada quilo de Outranina produz um quilo de Maisumtex e o seu tempo de produção é de uma hora.
Considerando a fórmula e os dados apresentados acima como premissas, deduzimos o estoque mínimo da Outranina da seguinte maneira1: Estoque Mínimo Outranina = 20 kg/dia * 5 dias = 100 kg
Seguindo esta lógica, utilizamos a dedução para prever o estoque mínimo de qualquer produto com as mesmas características de produção do Criptotex usando Primatonina.
UTILIZANDO A DEDUÇÃO NA QUEDA LIVRE Vamos agora nos deslocar para o problema do plano inclinado e da queda livre. Como ambos os casos temos o mesmo padrão de comportamento, vamos nos concentrar na queda livre. Ao final do capítulo que tratamos sobre este assunto, deduzimos a seguinte hipótese: posição = tempo2
A fim de analisar como esta equação pode ser usada para deduzir a posição de um objeto em queda livre, em um certo momento do tempo, vou utilizar um software auxiliar chamado Modellus. O Modellus é um software educacional que permite a criação interativa de modelos matemáticos. Tais modelos podem ser usados como base para simulações. Trata-se de um software que tem versão em português e está disponível para download no site: http://modellus.fct.unl.pt/ Neste site você também encontrará documentação em português sobre o software. O primeiro passo é registrar na janela de modelos a equação apresentada anteriormente, conforme está ilustrado na Figura 1.
Figura 18 - Janela de descrição matemática do modelo no software Modellus
A variável “t” registrada no modelo é uma variável interna do Modellus que varia conforme o tempo passa.
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
O próximo passo é criar uma janela de animação, na qual iremos animar uma bola de acordo com a equação que digitamos na janela de modelos. A Figura 2 ilustra uma tomada mais ampla do Modellus em que está sendo apresentada a janela de modelos (apresentada anteriormente), mais a janela de controle do tempo (rótulo “Controlo”) e a de animação (rótulo “Animação 1”). A bola que aparece dentro da janela de animação representa um objeto que se deslocará de acordo com a equação da janela de modelos. Para isso, informamos ao software que a posição vertical da bola é definida pela variável posição da janela de modelos. Além disso, também definimos que o valor da posição aumenta de cima para baixo.
Figura 19 - Janelas do software Modellus relacionadas com a simulação de queda livre (antes simulação)
Na janela de controle do tempo existe um botão de execução (símbolo clássico de play) que inicia a simulação fazendo o tempo correr. A cada variação do tempo: » » o valor do tempo (t) é aplicado na equação e é calculada a posição; » » a posição vertical da bola é atualizada conforme o valor da variável posição. A Figura 3 ilustra a tela do Modellus ao final da execução da simulação. Note que a janela de controle do tempo registra o tempo=6, indicando que se passaram 6 (seis) unidades de tempo, e janela de animação registra a posição da bola em cada um dos instantes de tempo.
Figura 20 - Janelas do software Modellus relacionadas com a simulação de queda livre (depois simulação)
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
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Wikimedia Commons
Se você não conhece o Wikimedia Commons esta é uma boa oportunidade. Trata-se de um repositório de recursos multimídia (principalmente imagens) que em sua maioria são de uso livre. Acesse o endereço: http://commons. wikimedia.org; para versão em português acesse o endereço http://commons.wikimedia. org/wiki/P%C3%A1gina_ principal.
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Para analisar o quanto esta simulação corresponde ao que foi observado no mundo real, decidimos colocar as imagens capturadas da bola de papel em queda livre ao lado das imagens capturadas pela nossa webcam da bola de papel em queda livre. A Figura 4 apresenta o resultado. Note que a escala da simulação foi ajustada para ficar compatível com a fotografia. Conforme comentado no capítulo de Síntese, se não pudéssemos ajustar a escala internamente no Modellus, seria necessária uma constante na equação.
Luz estroboscópica
Se você quer ver um vídeo onde um professor de física realiza um experimento como este com luz estroboscópica, visite o site: http://ocw.mit. edu/OcwWeb/Physics/801Physics-IFall1999/ VideoLectures/index.htm e assista o vídeo número 2 de título “ 1D Kinematics - Speed Velo-city - Acceleration”
Figura 21 - Simulação de queda livre no Modellus ao lado de imagens reais capturadas
Este é um exemplo prático de como utilizamos uma hipótese, que é resultante da etapa de síntese, para fazer uma dedução. Nesse caso, deduzimos as posições em que a bola de papel em queda livre apareceria. Se você é observador perceberá que não utilizamos, neste caso, a dedução para prever um acontecimento que desconhecíamos. De fato, o modelo foi extraído justamente deste experimento da bola de papel em queda livre. Para testarmos o verdadeiro potencial de previsão do modelo, temos que testá-lo em outro experimento, no qual desconheçamos, a priori, as posições do corpo em queda livre.
O EXPERIMENTO DA BOLA DE BASQUETE Para isso utilizaremos um experimento cujo autor é MichaelMaggs (http://com-mons.wikimedia.org/ wiki/User:MichaelMaggs) que foi executado com uma bola de basquete e está disponível na Web, mais especificamente no Wikimedia Commons, no endereço2: http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Falling_ball.jpg
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AULA 4 - CONSTRUINDO UM MODELO TEÓRICO
Neste experimento uma bola de basquete foi solta em queda livre e foi usada uma técnica fotografia com luz estroboscópica. Esta é uma técnica de fotografia em que algo se desloca num local escuro (usualmente sobre um fundo preto), em que uma luz estroboscópica emite flashes de luz em tempos regulares. Uma máquina fotográfica mantém o filme exposto durante todo o processo de movimento e captura as diversas posições do que está se deslocando, cada vez que o flash o ilumina3. As imagens ficam sobrepostas no filme, causando um efeito que você vê na Figura 5. Este experimento foi realizado nas seguintes condições: » » A queda durou meio segundo. » » A luz estroboscópica emitiu 20 flashes por segundo. » » O autor do experimento utilizou a mesma técnica que apresentamos no capítulo de síntese, ou seja, adotou uma escala própria de medida em que cada unidade corresponde a12mm (as medidas apresentadas na fotografia ao lado usam esta medida).
A fotografia apresentada foi colocada ao lado da nossa simulação no Modellus e foram feitos dois ajustes no modelo: » » o tempo foi aumentado de 6 para 10 unidades; » » a escala da animação foi ajustada para se tornar compatível com a escala da fotografia. O resultado você pode observar na Figura 6. Desta vez utilizamos o modelo para deduzir o comportamento da bola de basquete. Nesse caso, podemos considerar que fizemos uma previsão de comportamento, cujo resultado se aproxima bastante do observado no mundo real.
Figura 22 - Simulação de queda livre no Modellus ao lado da fotografia de MichaelMaggs
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
A técnica aqui empregada para deduzir as posições da bola é um excelente exemplo para você perceber como as hipóteses, produzidas como parte do método científico, são utilizadas para realizar previsões de comportamento. Seguindo este mesmo raciocínio, cientistas começaram a perceber que poderiam modelar o movimento dos astros, o comportamento da luz, a ação dos componentes químicos etc.
SÍNTESE Neste capítulo definimos dedução como um processo de se obter conclusões a partir de hipóteses. Estudamos exemplos de como este processo se liga as hipóteses formuladas pelo processo anterior (a síntese), a fim de se realizar previsões de comportamento. No capítulo seguinte estudaremos como estas hipóteses passam por testes rigorosos, a fim de serem corroboradas, ajustadas ou refutadas.
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Recomendamos como exercício que você tente fazer ou reproduzir por si mesmo alguns destes experimentos. Se você está interessado, todos os dados coletados e os modelos produzidos no Modellus estão disponíveis para download no ambiente.
LEITURAS INDICADAS Se você tem interesse no uso de software educacional para o aprendizado de matemática e/ou física, então recomendamos um texto produzido por um dos autores deste curso, que está disponível para download no ambiente virtual: SANTANCHE, André. O computador como ambiente para exploração da matemática e física. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO - SBIE 112, Vitória, ES, 2001. Neste texto você encontrará o mesmo problema de física sendo tratado de diversas perspectivas. Uma atividade interessante pode ser aplicar a mesma técnica nos experimentos realizados neste capítulo.
SITES INDICADOS Se você achou interessante o desafio de dedução e quer outros desafios como esse, provavelmente vai querer conhecer o Einstein Puzzle. O jogo clássico conhecido como “Who owns the fish?” pode ser encontrado em sua versão em inglês neste endereço: http://www.atkielski.com/inlink.php?/ ESLPublic/, ou na versão em português no endereço: http://rachacuca.com.br/teste-de-einstein/. Esta versão em português é feita para funcionar on-line, enquanto a versão em inglês é feita em papel (eu prefiro em papel). No site do Modellus (http://modellus.fct.unl.pt/) está disponível não apenas o software para download, mas diversas atividades relacionadas com matemática e física. Trata-se de uma excelente ferramenta para aprofundar os temas tratados neste capítulo.
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AULA 5 A pesquisa de campo e a prova da solução autor: André Santanchè
ORGANIZANDO OS DADOS DA PESQUISA EM CAMPO
V
ocê está acompanhando ou acompanhou a execução de uma pesquisa completa relacionada à queda livre. Nessa pesquisa você propositalmente assume a posição de expectador. Agora estou lhe propondo participar desta segunda pesquisa adotando uma postura diferente: você se torna agora coparticipante do experimento.
A proposta é a seguinte: nós dois vamos desenvolver esta pesquisa juntos; eu do meu lado vou conduzir uma pesquisa passo a passo e vou lhe explicando como você fará o mesmo de sua parte. As duas pesquisas (a minha e a sua) seguem a mesma metodologia, mas deverão ser diferentes no conteúdo. Isto significa que você não vai reproduzir exatamente o que eu faço, apenas seguirá a mesma metodologia. O produto final desta atividade será apresentado na forma de um relatório que deve utilizar um arquivo modelo (template) do Word. Clique aqui para baixar o arquivo modelo. Este arquivo modelo é diferente do documento convencional do Word. Ele tem também uma extensão diferente (extensão .dot ao invés de .doc). Para usá-lo você deve primeiro gravar em seu computador e, em seguida, dar
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
um duplo clique no arquivo para abri-lo. O Word abrirá um arquivo novo seguindo as especificações do arquivo de modelo. Esta pesquisa será desenvolvida de acordo com os seguintes passos: 1) Conhecendo as Tecnologias; 2) Formulação do Problema; 3) Definição da Amostra; 4) Montagem e Distribuição do Formulário; 5) Tabulação dos Dados; 6) Análise dos Dados Tabulados; 7) Apresentação dos Resultados.
ETAPA 1 - CONHECENDO AS TECNOLOGIAS O nosso experimento gira em torno de um conjunto de tecnologias específicas, por este motivo, eu lhe convido a conhecê-las. É importante que você note que o uso específico das ferramentas aqui apresentadas foi uma escolha nossa para trazer para você uma perspectiva da aplicação das mais novas tecnologias aplicadas à pesquisa. Serão utilizadas principalmente as seguintes ferramentas: » » planilhas eletrônica; » » formulários de pesquisa pela Internet. Mais especificamente utilizaremos o Google Spreadsheet que combina ambas as tecnologias em um formato dinâmico através da Web. O Google Spreadsheet faz parte de um projeto mais amplo da Google (http://www.google.com) para a disponibilização de um pacote de aplicativos de produtividade disponíveis on-line chamado Google Docs (http://docs.google.com), no qual estão inclusos o processador de textos, a planilha eletrônica e o software de apresentação. Esse projeto envolve não apenas o uso de tecnologias interativas que estão sendo denominadas de Web 2.0, como também provê um espaço na rede para o armazenamento e compartilhamento dos documentos produzidos. Ele também possibilita a autoria colaborativa, controlando múltiplos autores e versões. Especificamente o Google Spreadsheet traz uma planilha eletrônica completa, com recursos de fórmulas, funções e gráficos. Além disso, ele inclui uma funcionalidade extra que é a possibilidade de se elaborar questionários on-line que podem ser respondidos pela Web por pessoas específicas (através de convites personalizados) ou pelo público em geral.
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AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
O propósito desta etapa é que você conheça o Google Spreadsheet e as tecnologias a ele relacionadas, antes de prosseguir no trabalho. Para isso, você deve criar uma conta no Google (se ainda não tem), ler o nosso Tutorial do Google Spreadsheet e experimentar por si mesmo.
ETAPA 2 - FORMULAÇÃO DO PROBLEMA Esta etapa parte do pressuposto de que você já leu o capítulo “A Escolha do Tema e a Formulação do Problema” no qual tratamos em detalhes a questão da formulação do problema. Para formular o nosso problema nesta pesquisa vamos partir da perspectiva de um problema como a relação entre variáveis. Por exemplo, eu quero estabelecer uma relação entre o gênero (masculino ou feminino) de indivíduos (variável 1) e o seu comportamento na Internet (variável 2). Ao invés de definir o problema logo de cara, vamos usar a mesma técnica de refinamento adotada no capítulo de formulação do problema. Primeira tentativa de formulação do problema: O gênero de um indivíduo influencia em sua confiança em utilizar a Internet?
Esta definição de problema precisa melhorar em dois aspectos. Primeiro, precisamos limitar o universo da pesquisa tanto no tempo quanto no espaço, pois não pretendemos entrevistar pessoas em todo o mundo, nem podemos estabelecer esta influência sem caracterizar a que período temporal ou histórico estamos nos referindo, já que esta relação pode mudar com o tempo. Segundo, “confiança em utilizar a Internet” é uma expressão por demais subjetiva. O que quer dizer exatamente isso? Segunda tentativa:
No ano de 2005, o gênero dos brasileiros influenciou em sua opção de comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet?
Note que agora este problema pretende relacionar duas variáveis bem definidas - o gênero e a opção - por comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet. Neste ponto, precisamos definir de onde vêm os nossos dados, pois a depender da origem dos dados o universo de indivíduos o problema precisará ser mais limitado ainda. Além disso, se estes dados não foram coletados em 2005, não será possível fazer a coleta. Escolhi este problema de propósito, pois eu já sabia que estes dados foram coletados pelo IBGE em 2005 e está disponível na base deles. Veja no link: http://www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/ que está ilustrado na Figura 1.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Figura 23 - Tela de download de resultados de coletas de dados e estatísticas do IBGE
Há uma pesquisa rotulada como Acesso_a_Internet_e_posse_celular. Esta pesquisa coletou em 2005, no Brasil inteiro, dados relativos ao acesso à Internet e posse de celular. Então vou fazer um paralelo entre a pesquisa do IBGE e uma realizada por nós mesmos. Este paralelo tem propósitos didáticos. De sua parte, você não precisará fazer este paralelo na sua pesquisa. Com os dados do IBGE poderemos trabalhar em um escopo maior: o Brasil, mas em paralelo vamos conduzir uma pesquisa na qual coletaremos dados por nós mesmos. Nesse caso, vamos limitar o problema da seguinte maneira: No ano de 2008, o gênero dos colaboradores da Unifacs influenciou em sua opção de comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet? Com relação a este problema, pode surgir a seguinte indagação: para que eu vou estabelecer esta relação entre variáveis? Lembre-se que este problema pode fazer parte da solução de um problema maior, na qual relaciona de forma mais ampla o gênero de um indivíduo e seu comportamento frente às novas tecnologias, por exemplo. Pronto, conforme combinamos, agora é a sua vez. Nesta etapa você deve definir o seu problema de pesquisa.
ETAPA 3 - DEFINIÇÃO DA AMOSTRA A técnica para a coleta de dados que empregaremos envolve a aplicação de questionários de pesquisa que serão enviados e preenchidos por uma amostra selecionada de indivíduos. Para isso, é necessário o planejamento do tamanho da amostra e de como selecionaremos os indivíduos que compõem a mesma. Portanto, antes de prosseguir, é necessário que você tenha lido o capítulo sobre Coleta e Seleção de Dados, a fim de compreender como a escolha do tamanho da amostra e a forma como você selecionará os indivíduos, da mesma, afetará nos resultados.
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AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
Como o material deste curso não trata especificamente de detalhes para calcular o tamanho da amostra, para alcançar o nível de confiança desejado para fins de simplificação, não realizaremos este cálculo aqui. Entretanto, a consciência de como a amostra deve ser escolhida contribuirá no confronto dos dados que iremos coletar com os dados do IBGE, bem como permitirá a construção de uma declaração clara e precisa sobre as nossas opções na escolha da amostra e suas limitações.
ETAPA 4 - MONTAGEM E DISTRIBUIÇÃO DO FORMULÁRIO O formulário é etapa importante do processo. As questões devem ser escolhidas com cautela para que possibilitem a obtenção dos dados desejados com clareza e objetividade. As recomendações e a técnica específica para a construção de bons formulários de pesquisa vão além do escopo deste curso. Deste modo, caso se interesse no aprofundamento deste assunto recomendamos a leitura do texto “Como Elaborar um Questionário” (GÜNTHER, 2003) que está disponível on- -line. O questionário que adotamos em nossa pesquisa de campo foi inspirado na pesquisa Acesso_a_ Internet_e_posse_celular realizada pelo IBGE, conforme está descrito na etapa 2. A Figura 2 ilustra o formulário de pesquisa que construí utilizando o Google Spreadsheet.
Figura 24 - Formulário de Pesquisa no Google Spreadsheet
O questionário possui as seguintes questões: » » Gênero: masculino ou feminino. » » Idade. » » Frequência de utilização da Internet no local de trabalho: » » Pelo menos uma vez por dia. » » Pelo menos uma vez por semana, mas não todo dia. » » Pelo menos uma vez por mês, mas não toda semana.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
» » Menos de uma vez por mês. » » Não acesso no trabalho. » » Frequência de utilização da Internet em seu domicílio: » » (mesmas opções da anterior). » » Frequência de utilização da Internet na lanhouse: » » (mesmas opções da anterior). » » Finalidade do acesso à Internet (múltipla escolha). » » Educação e aprendizado. » » Comunicação com outras pessoas. » » Atividade de lazer. » » Leitura de jornais e revistas. » » Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo. » » Comprar ou encomendar bens ou serviços. » » Transações bancárias ou financeiras. » » Buscar informações e outros serviços. » » Indique como a Internet afetou e modificou seu modo de vida (questão aberta). O questionário foi enviado para uma amostra de 44 pessoas (27 homens e 17 mulheres) todos eles da Unifacs. Escolher apenas o universo da Unifacs causa, sem dúvida, uma tendência nos resultados. Para saber mais sobre tendência, leia nosso texto sobre Prova da Solução. Temos consciência de que os resultados terão uma tendência. Mas como esta é apenas uma ilustração didática, trabalharemos mesmo assim com esta tendência. Nesta etapa, a sua tarefa será criar um formulário de pesquisa. Note que aqui há uma diferença essencial entre a minha opção para construir o formulário e a sua. Na minha opção, me baseei em uma pesquisa prévia do IBGE para fins didáticos, porque, posteriormente, estabelecerei um confronto entre esta coleta de dados e a do IBGE. Entretanto, no seu caso, você deve construir um formulário por si mesmo, sem se basear em uma pesquisa prévia do IBGE. Caso você faça escolhas que impliquem em tendência, é importante que você as relate para que fique claro que tem consciência delas. Se você não sabe utilizar o Google Spreadsheet para construir formulários de pesquisa, acompanhe o tutorial a seguir.
ETAPA 5 - TABULAÇÃO DOS DADOS Agora chegou a etapa em que os dados resultantes dos questionários recebidos. De todos os questionários enviados, recebemos 28 questionários preenchidos. Se o Google foi um precioso aliado na aplicação dos questionários também será na tabulação dos resultados. Como você vê ilustrado na Figura 3, os resultados dos questionários são automaticamente lançados na planilha. Isso é muito interessante. Deixei a minha planilha aberta por algumas horas enquanto trabalhava e percebi que sempre que alguém preenchia um questionário ele atualizava on-line.
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AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
Figura 25 - Tela ilustrando planilha no Google Spreadsheet com resultados da aplicação dos formulários.
Metade do processo de tabulação já foi feito pelo Google. Agora você precisa rá utilizar conhecimentos de planilha eletrônica para tabular os resultados obtidos. Se você se sentir mais confortável trabalhando com o Microsoft Excel ou OpenOffice poderá utilizar a opção “Arquivo > Exportar “ para exportar a planilha ao formato que desejar. Agora faremos estatísticas sobre os dados coletados. Você pode fazê-las utilizando os recursos da própria planilha (para isso, retome o tutorial da planilha) ou, então, manualmente. Alguns recursos da planilha descritos no tutorial, tais como: somatório, média, contagem e tabulação condicional serão bastante úteis nesse momento. Nesta etapa, a sua tarefa será tabular os dados resultantes dos questionários. Algumas tabulações podem exigir o conhecimento de técnicas mais sofisticadas, como o uso de condicionais. Por esse motivo, você pode alternativamente realizar toda a tabulação à mão. Como não pretendemos que você trabalhe com uma amostra muito grande (entre 15 a 20 pessoas), a tabulação - manual nesse exercício - pode ser mais simples que o uso da planilha. Entretanto, será um aprendizado muito rico para você utilizar a planilha, mesmo que dê mais trabalho. Lembre-se que, quando você for realizar pesquisas deste tipo com muitos dados, a tabulação manual pode não valer a pena. O que você vai tabular depende dos resultados que pretende obter. Na próxima seção discutiremos isso. Um lugar onde você pode encontrar modelos de referência interessantes de formas de tabulação de dados é no IBGE. Veja na Figura 4 uma das tabulações de pesquisa realizada pelo IBGE sobre acesso à Internet, conforme comentado na Etapa 2.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Tabela 1 - Pessoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a Internet, no período de referência dos últimos três meses, por Grandes Regiões, segundo o sexo e a finalidade o acesso à Internet - 2005
PESSOAS DE 10 ANOS OU MAIS DE IDADE QUE UTILIZARAM A INTERNET, NO PERÍODO DE REFERÊNCIA DOS ÚLTIMOS TRÊS MESES SEXO E FINALIDADE DO ACESSO À INTERNET
NORTE
NORDESTE
SUDESTE
SUL
CENTROOESTE
Total
32.109.939
1.365.237
4.912.172
17.492.193
5.829.100
2.511.237
Educação e aprendizado (1)
23.020.966
1.058.687
3.711.981
12.153.852
4.219.384
1.877.062
Comunicação com outras pessoas (1)
22.040.184
787.955
3.190.456
12.256.394
4.177.432
1.627.947
Atividade de lazer (1)
17.432.108
704.579
2.679.747
9.244.718
3.397.421
1.405.643
Leitura de jornais e revistas (1)
15.065.370
671.780
2.406.969
7.943.552
2.731.423
1.311.646
8.810.894
337.697
1.353.124
4.931.563
1.435.401
753.109
4.395.891
213.752
561.372
2.474.798
761.160
384.809
6.135.728
185.125
728.162
3.642.728
1.075.187
504.526
7.852.581
269.414
1.156.760
4.422.158
1.372.709
631.540
Homens
16.211.545
676.930
2.454.082
8.874.190
2.939.889
1.266.454
Educação e aprendizado (1)
11.092.119
496.190
1.785.551
5.866.884
2.042.253
901.241
Comunicação com outras pessoas (1)
11.152.684
387.236
1.590.577
6.236.974
2.112.040
825.857
Atividade de lazer (1)
9.474.549
378.376
1.446.071
5.056.935
1.833.905
759.262
Leitura de jornais e revistas (1)
7.810.649
334.274
1.237.900
4.157.079
1.412.685
668.711
4.763.704
178.220
732.258
2.660.293
781.915
411.018
2.680.897
129.038
351.861
1.487.932
475.662
236.404
3.521.881
110.203
422.797
2.073.180
623.068
292.633
3.876.254
134.487
584.072
2.174.785
674.726
308.184
Mulheres
15.898.394
688.307
2.458.090
8.618.003
2.889.211
1.244.783
Educação e aprendizado (1)
11.928.847
562.497
1.926.430
6.286.968
2.177.131
975.821
Comunicação com outras pessoas (1)
10.887.500
400.719
1.599.879
6.019.420
2.065.392
802.090
Atividade de lazer (1)
7.957.559
326.203
1.233.676
4.187.783
1.563.516
646.381
Leitura de jornais e revistas (1)
7.254.721
337.506
1.169.069
3.786.473
1.318.738
642.935
4.047.190
159.477
620.866
2.271.270
653.486
342.091
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1) Comprar ou encomendar bens ou serviços (1) Transações bancárias ou financeiras (1) Buscar informações e outros serviços (1)
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1) Comprar ou encomendar bens ou serviços (1) Transações bancárias ou financeiras (1) Buscar informações e outros serviços (1)
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1)
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GRANDES REGIÕES BRASIL
AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
Comprar ou encomendar bens ou serviços (1) Transações bancárias ou financeiras (1) Buscar informações e outros serviços (1)
1.714.994
84.714
209.511
986.866
285.498
148.405
2.613.847
74.922
305.365
1.569.548
452.119
211.893
3.976.327
134.927
572.688
2.247.373
697.983
323.356
Fonte: IBGE , Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005.
Dentre as tabulações de dados que fizemos, apresentamos: MULHERES
HOMENS
TOTAL
Responderam o Questionário
10
18
28
Selecionaram “Comprar ou encomendar bens ou serviços” para a pergunta: “Finalidade do acesso à Internet”
7
17
24
ETAPA 6 - ANÁLISE DOS DADOS TABULADOS Esta etapa corresponde ao que apresentamos nos textos de Síntese, Previsões e Prova das Hipóteses. Nestes textos fizemos uma divisão de como o trabalho científico se processa para fins puramente didáticos. Na prática, a síntese de um modelo teórico pode ocorrer concomitante com o processo em que tentamos realizar previsões. Muitas vezes a síntese exige o levantamento de muitos dados que servem ao mesmo tempo como teste e prova das hipóteses. Você virá exatamente esta combinação nesta etapa. Uma vez que coletamos uma quantidade significativa de dados, o próximo passo é tentar perceber padrões de comportamento. Como já tratamos antes, esta percepção se dará na forma de relacionamento entre variáveis. Como já anunciamos no problema, pretendemos definir se o gênero (masculino ou feminino), que é a nossa variável independente, influenciou a sua opção de comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet. Como faremos isso? Note que não existe uma forma padrão de estabelecer relações entre variáveis. Nesse caso, computaremos qual percentual entre as mulheres entrevistadas respondeu que uma das finalidades de acesso à Internet é “Comprar ou encomendar bens ou serviços”. Faremos o mesmo com os homens. Neste tipo de problema em que se conhece (mesmo que aproximadamente) o tamanho da população, a estatística define técnicas precisas de testar a forma como uma variável afeta outra. Este tema em estatística é conhecido como Teste de Hipótese. Usando técnicas estatísticas é possível testar a nossa hipótese para uma probabilidade de erro específica. Pesquisas profissionais deste tipo, tais como as realizadas pelo IBGE, utilizam teste de hipótese. Neste curso não aprofundaremos esta questão, mas se você está interessado no assunto veja o capítulo Teste de Hipótese de Mário Triola (2008, p. 304) que possui uma explanação completa sobre o assunto do ponto de vista da estatística. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 74) também têm uma explanação interessante sobre o assunto, ainda que não aprofundem muito os aspectos estatísticos.
105
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Aqui apresentaremos uma análise mais superficial, apenas para que você entenda o que exatamente se busca neste tipo de pesquisa. Pela tabulação realizada anteriormente, percebemos que 70% das mulheres entrevistadas usam a Internet para comprar ou encomendar bens e serviços, contra 94,4% dos homens. Isto pode apontar para o fato de que os homens no universo Unifacs têm uma tendência maior a realizar compras deste tipo pela Internet, mas temos consciência de que nossa pesquisa nesse sentido é demasiadamente limitada por três motivos: o tamanho da amostra é muito pequeno; a escolha dos indivíduos não foi aleatória; e um número muito maior de homens foi entrevistado do que o de mulheres. Quando você fizer a sua pesquisa, provavelmente terá as mesmas limitações. Como o propósito da pesquisa é apenas a aprendizagem da técnica, sabemos que você terá as mesmas limitações que nós na pesquisa. Deste modo, você também pode trabalhar com uma amostra pequena (entre 15 a 20 pessoas) e com tendências, tal como fizemos. Mas tal como estamos fazendo aqui, você deve relatar que tem consciência das limitações e tendências da sua pesquisa. Apenas a título didático, vamos comparar a nossa pesquisa com a do IBGE, que selecionou uma amostra verdadeiramente significativa e aleatória. Na pesquisa do IBGE 10,8% das mulheres compram bens e serviços pela Internet, contra 16,5% dos homens. Esta pesquisa aponta para um percentual maior de homens e por outro lado, comparada com a nossa pesquisa, um percentual global bem menor de pessoas que compram pela Internet. A diferença pode estar relacionada a duas questões: (1) a nossa pesquisa foi feita em 2008 e a do IBGE em 2005 - espera-se naturalmente um crescimento; (2) a nossa pesquisa foi feita no universo da Unifacs que tem um perfil bem diferente da população em geral (mais uma vez, lembre-se que o tamanho da nossa amostra é bem pequeno e sujeito a tendências). Note que, com os resultados que obtivemos, podemos realizar um rico conjunto de análises, comparando variáveis das mais diversas maneiras e é isso que esperamos que você faça na sua análise. Apresentamos aqui análises principalmente quantitativas, mas as pesquisas deste tipo não se restringem a este tipo de análise. Você se lembra de que o formulário define a seguinte questão aberta?: “Indique como a Internet afetou e modificou seu modo de vida”. Pois bem, esta questão foi criada para realizar outro tipo de análise que não envolve estatísticas com números. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que envolve uma leitura da resposta de cada pergunta e análise dos resultados. A análise qualitativa atua de forma complementar à quantitativa. Ela permite a percepção de elementos e nuances no universo analisado que não pudemos prever quando fizemos o nosso questionário. O que será analisado do ponto de vista qualitativo está fortemente atrelado com o domínio da sua pesquisa e foge do escopo deste texto detalhá-la. Se você quer aprofundar este estudo deve ler a segunda parte do livro de Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 109) onde detalha o assunto.
ETAPA 7 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Esta é uma etapa estratégica do seu trabalho porque aqui você dá visibilidade a tudo o que fez. Em uma pesquisa a apresentação dos resultados usualmente envolve a construção de tabelas e/ou gráficos, nos quais são apresentados não apenas os dados levantados, mas os resultados obtidos. Nesta etapa você organiza, formata e apresenta tudo o que você fez nas etapas anteriores, sem se esquecer de mencionar as condições em que você fez sua pesquisa (características e tamanho da amostra), como você levantou os dados (detalhes sobre o formulário), tabulações dos dados, análise dos resultados e as considerações finais sobre o seu trabalho.
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AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
Lembre-se de deixar claras as limitações do seu trabalho. É importante deixar registrado para quem lê quais as limitações observadas, tais como: tamanho reduzido da amostra, tendências etc. e as possíveis interferências disso nos resultados que você está apresentando.
REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. GÜNTHER, Hartmut. Como elaborar um questionário (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências Sociais, Nº 01). Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental, 2003. On-line: http://www. psi-ambiental.net/pdf/01Questionario.pdf. Acessado em 28 jul. 2008. TRIOLA, Mário F. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
SUBMISSÃO DA TAREFA Uma vez que você concluiu a sua tarefa, clique no link a seguir para submetê-la ou, então, a submeta através do link específico no ambiente Moodle cujo título é “Submissão da Atividade: Pesquisa em Campo”.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
1
Estereograma colorido
PROVA DA SOLUÇÃO
Na versão impressa este estereograma aparece em preto e branco e não sabemos se isto afetará o resultado do experimento. Por este motivo, recomendamos que você olhe a versão a cores no ambiente virtual.
No século XIX existia um acalorado debate em torno da seguinte questão: como somos capazes de ver em três dimensões? O que parece uma questão simples implica em uma discussão bem mais complexa. De um lado estavam aqueles que defendiam a ideia de que a percepção de três dimensões era resultante do fato de que temos dois olhos. Como cada olho vê a mesma imagem em uma perspectiva levemente diferente, o cérebro combina as duas e forma uma imagem mental tridimensional. Em outras palavras, somo capazes de ver em três dimensões porque temos dois olhos. Do outro lado, estavam aqueles que acreditavam que características da imagem vista, tais como o efeito de perspectiva, as sombras e o tamanho relativo da imagem, nos permitem perceber a tridimensionalidade. A realização de experimentos científicos para comprovar uma ou outra hipótese (ou ambas) seria uma solução. Mas neste caso, como acontece em muitos na ciência, não parecia possível a separação das variáveis, para analisá-las individualmente. No final da década de 50 entra neste cenário Bela Julesz (SIEGEL, 2004) que formulou um experimento bastante criativo para resolver a questão. Ele utilizou uma técnica conhecida como estereogramas de pontos aleatórios. Por enquanto, não vamos nos adiantar nos detalhes de como ele fez isso. Vamos pedir apenas que você faça um experimento simples. Olhe um exemplo deste tipo de estereograma na Figura 1. Aparentemente você só está vendo um conjunto de pontos coloridos1, mas se você aplicar uma técnica especial de visualização verá surgir como, por enquanto, uma imagem tridimensional. Cada um consegue ver de uma forma diferente; algumas possíveis técnicas são: » » Imagine que existe um objeto atrás desta imagem bem distante. Tente focalizar neste objeto que não existe. Os seus olhos vão desfocalizar do estereograma, mas é este mesmo o propósito. » » Algumas pessoas relatam que se cruzarem o ângulo de visão esquerda e direita, como se estivessem estrábicos, em seguida, conseguem ver a imagem. » » A terceira forma é tentar entender o que você tem que fazer e tentar aplicar a técnica. Você precisa olhar com o olho esquerdo a metade da esquerda da imagem e com o olho direito a metade da direita. Não é algo que os seus olhos estejam acostumados e isto exige algum esforço. Desenvolver a habilidade de conseguir ver este tipo de imagem é geralmente uma técnica que exige tempo e paciência. Poucas pessoas conseguem ver a imagem em pouco tempo. Não se preocupe muito se você não conseguir visualizar a imagem, porque esta é apenas uma atividade interessante para enriquecer o debate que faremos no final deste texto. Mas visualizar a imagem não é essencial para a compreensão do texto e você pode seguir adiante mesmo que não tenha conseguido ver nada.
108
AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
Figura 26 - Estereograma de pontos aleatórios (autor: Fred Hsu, março/2005)
Fonte: Wikimedia Commons
TESTANDO HIPÓTESES Na medida em que evoluímos no método científico vamos percebendo como ele se delineia. Primeiro identificamos um problema; em seguida, coletamos dados e estudamos materiais relacionados; depois partimos para a construção de um modelo teórico, primeiro tentando generalizar as nossas observações (síntese), para depois aplicar a nossa generalização na previsão de eventos (dedução). Isto pode ter lhe parecido o suficiente, mas ainda não é. Chegamos agora no ponto nevrálgico do método científico no qual teremos que colocar à prova o nosso modelo. Vamos retomar o exemplo da queda livre que tratamos anteriormente. Será que baseados apenas nas observações que fizemos: podemos afirmar com segurança que a nossa hipótese é verdadeira? O teste das hipóteses é justamente uma forma sistemática de aumentar a confiança que temos nas hipóteses levantadas. Seguindo a concepção de Karl Popper (1975) que tratamos no texto sobre síntese, nunca poderemos afirmar com certeza que uma hipótese é verdadeira; o que fazemos na prova das hipóteses é aplicar os testes mais rigorosos para tentar invalidá-la. Se ela passar nestes testes, então ela será corroborada e integrada no nosso referencial teórico. Neste contexto devem ser considerados diversos aspectos para garantir o rigor dos testes.
ISOLANDO VARIÁVEIS Como tratamos no início deste curso, problemas de pesquisa podem ser vistos em uma perspectiva de relações entre variáveis. Mas quando tratamos da perspectiva dos testes, precisamos considerar que, no mundo real, múltiplas variáveis atuam sobre o nosso objeto que será testado e precisamos criar meios de isolar o máximo possível a variável que pretendemos testar das demais. Por exemplo, no caso do nosso experimento da queda livre, existem múltiplas forças atuando e o que parece uma relação simples entre tempo e deslocamento, mostrar-se-á com testes mais minuciosos, bem mais complexa. Considere a seguinte situação: ao invés de soltarmos em queda livre uma bola de papel, que soltemos uma folha aberta. O que acontecerá? A folha de papel não cairá da mesma
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
forma. Ela provavelmente sairá deslizando lateralmente e certamente não observaremos o mesmo padrão de comportamento visto até então. Note que isto acontece porque outras forças (o atrito do ar), além daquela que observamos inicialmente, estão atuando. Neste caso, para alcançar testar adequadamente a nossa hipótese, precisaremos isolar a variável que pretendemos estudar. Uma possível forma de fazer isso é testar as quedas livres no vácuo. O experimento de Bela Julesz, ilustrado na Figura 1, é um exemplo de como cientistas desenvolvem técnicas geniais para testar suas hipóteses. No caso de Bela, ele precisava isolar uma variável particular para provar que vemos em três dimensões porque temos dois olhos. Para fazer isto ele utilizou o recurso de estereograma de pontos aleatórios ilustrados na Figura 1. Um esterograma é uma projeção de uma imagem (fotografia ou ilustração) em duas partes. Cada uma delas representa a perspectiva de um dos olhos humanos. Veja o exemplo da Figura 2. Trata-se de uma fotografia aérea na forma de estereograma. A imagem da esquerda corresponde à perspectiva do olho esquerdo e a da direita à do olho direito. Utilizando a mesma técnica explicada anteriormente para o estereograma de pontos aleatórios, você conseguirá ver o lago em três dimensões.
Figura 27 - Estereograma de uma fotografia aérea do lago Palanskoye Landslide, Kamchatka Peninsula, Russia - Fonte: NASA (http:// visibleearth.nasa.gov/view_rec.php?id=338)
Retornando ao experimento de Bela, ele se baseou nesta técnica para fazer o seu experimento. Mas no caso de Bela, ele precisava isolar qualquer outra variável que possibilitasse uma visão tridimensional, ou seja, efeito perspectiva, sombra etc. Para fazer isso criou um tipo de estereograma especial, no qual uma imagem tridimensional, produzida por computador, é coberta por pontos aleatórios. O fundo sobre o qual esta imagem está também é
110
AULA 5 - A PESQUISA DE CAMPO E A PROVA DA SOLUÇÃO
coberto pelo mesmo padrão de pontos. Então, ele monta um estereograma (projeção da esquerda e da direita lado a lado) sem qualquer outra pista visual, como a sombra da imagem. Deste modo, a única forma de você ver a imagem em três dimensões é se você puder fazer seu olho esquerdo ver a projeção da esquerda e seu olho direito a projeção da direita. As dicas que lhe demos para visualizar os estereogramas servem exatamente para que você alcance este efeito. Bela provou que as pessoas conseguem ver estes estereogramas e que a única hipótese que torna isso possível é que somos capazes de ver em três dimensões porque possuímos dois olhos (SIEGEL, 2004). Ou seja, com este experimento, Bela conseguiu isolar a única variável que lhe interessava testar, a visão binocular (visão por dois olhos).
Quantidade de Experimentos Não existe uma métrica específica de quantidade de experimentos que garanta a validade de uma hipótese. Mesmo porque, como apresentamos anteriormente, uma hipótese não se torna verdadeira, apenas corroborada. Entretanto, alguns parâmetros devem ser considerados, principalmente quando as variáveis, que estão sendo testadas, envolvem uma população cujo tamanho é conhecido. Nesse caso, remeteremos-lhe novamente ao texto que você já deve ter lido sobre Levantamento e Seleção de Dados no qual é tratada a questão da amostra. Os mesmos critérios que guiam o levantamento de dados devem guiar a seleção de amostras para testes.
Variedade de Condições Outro aspecto relevante a ser considerado no planejamento do experimento é submeter as hipóteses à maior variedade de condições possíveis. No caso da queda livre, por exemplo, é conveniente testá-la com diferentes objetos, de diferentes tamanhos, em diferentes alturas. Realizar testes em diferentes lugares, sob diferentes condições ambientais.
TENDÊNCIA Todo o teste, por mais bem planejado que seja, sofre influência direta ou indireta do observador, o que causa distorções nos resultados obtidos. O que denominamos tendência ou viés de informação (tradução da palavra bias em inglês) resulta de uma determinação incorreta de um resultado (GRIMES; SCHULZ, 2002). Gluud (2006) define uma tendência na perspectiva de testes clínicos como um erro sistemático. Tal erro pode conduzir a conclusões incorretas sobre resultados. Diversos aspectos podem causar uma tendência na observação. Muitas vezes o pesquisador no afã de provar a sua hipótese despreza (ainda que inconscientemente) dados relevantes, faz aproximações tendenciosas ou seleciona os resultados que mais lhe convém. Tendências podem ser causadas também no processo de seleção das amostras. Em muitos casos, ao invés de ser realizada uma seleção aleatória, o pesquisador seleciona amostras mais convenientes, que podem distorcer os resultados. Por este motivo, fazer uma seleção aleatória pode contribuir para a redução da tendência. 111
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
EXPERIMENTO CEGO No contexto de pesquisas médicas, por exemplo, de efeitos de medicamentos em pacientes, é muito comum o uso de “experimentos cegos”. Um experimento é considerado cego quando as pessoas que o estão executando não sabem a priori que tipo de intervenção está sendo realizada (GLUUD, 2006). É usual em experimentos realizados com medicamentos que se trabalhe com dois grupos distintos: no primeiro, os pacientes tomam o medicamento e no segundo, os pacientes tomam o que se chama de placebo, ou seja, algum produto que imite características de apresentação, cheiro e gosto do medicamento, mas que não tenha nenhum efeito sobre os pacientes. Um experimento é considerado “cego simples” quando os pacientes que estão tomando o medicamento não sabem, a priori, quem está tomando o medicamento de verdade e quem está tomando o placebo. Além disso, um experimento pode ser “duplo cego” quando nem os pacientes, nem as pessoas que estão executando o experimento sabem quem está tomando o medicamento e quem está tomando o placebo. Um teste duplo cego bem feito minimiza a interferência do observador nos resultados do experimento, reduzindo a tendência do mesmo.
SÍNTESE Neste texto, tratamos a importância dos experimentos na prova das hipóteses. Tratamos aspectos como a importância de se isolar variáveis, a influência do tamanho da amostra e variedade de condições em que se realiza o experimento. Por fim, tratamos da questão da tendência ou viés, sua influência nos testes e técnicas para minimizá-lo, tal como o experimento cego.
LEITURAS INDICADAS Os artigos citados nas referências (GLUUD, 2006) e (GRIMES; SCHULZ, 2002) tratam em mais detalhes a questão da tendência e os recomendamos para leitura. O artigo de (GLUUD, 2006) trata especificamente de experimentos clínicos e fala dos experimentos cegos.
REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. GLUUD, Lise Lotte. Bias in clinical intervention research. American Journal of Epidemiology Advance Access. v. 163, n. 6, p. 493-501, 2006. GRIMES, David A.; SCHULZ, Kenneth F. Bias and casual associations in observational research. The Lancet. v. 359, n. 9302, p. 248-252, 2002. POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: EdUSP, 1975. SIEGEL, Ralph M. Choices: the science of bela julesz. PLoS Biol. 2004 Junho; v. 2, n. 6, p. 172, 2004. Disponível em: http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=423145.
112
AULA 6 Quadro de referência epistemológica autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 1: QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA “o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade”
O
(Karl Marx)
lá!
Já indicamos para você como uma pesquisa se inicia e, por isso, esperamos que se lembre de quais são os primeiros passos de um processo investigativo: a escolha do tema e a formulação do problema de uma pesquisa científica. Também esperamos que você já saiba como deve proceder para fazer uma revisão de literatura eficiente e proveitosa. Pois bem, começar um trabalho de pesquisa é fruto do querer do pesquisador... implementá-lo com êxito e finalizá-lo, porém, requer que ele ponha ordem nas suas ideias.
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Não se iluda, não basta que tenhamos boas ideias (ou bons temas) para que a ciência se efetive. Boaventura (2004, p. 61) nos lembra de que é através desse delineamento que o pesquisador/ estudante consegue atender a pelo menos uma finalidade: “traçar o caminho a seguir na investigação”. Por isso, vamos adiante! Eis a etapa que dá seguimento aos passos iniciais: delineamento da pesquisa, ou se quiser que sejamos mais claros, a elaboração do projeto de pesquisa. Antes de apresentarmos os itens que, junto àqueles que você já conhece, constituem o projeto da investigação (justificativa, objetivos descrição metodológica e cronograma) que pretende realizar, precisamos assinalar alguns pontos. O primeiro deles será esclarecer algumas das perspectivas epistemológicas que podemos assumir na prática investigativa. Vamos lá! De modo geral, quando tentamos conceituar o processo de pesquisa, quase sempre o definimos como aquele cercado de ritos especiais, cujo acesso é particular a poucos iluminados. Fazem parte desses ritos certa trajetória acadêmica, domínio de sofisticadas técnicas de investigação, de exame estatístico e desenvoltura informática... É certo que esses aspectos são importantes, mas não são as únicas coisas que contam. A pesquisa é a parte intrínseca do processo de apreensão/construção do conhecimento e, por isso, é necessária a adoção de uma atitude investigativa. Compreendida como instituinte desses processos, devemos perceber a prática científica, a partir de uma multiplicidade de horizontes (embora seja comum prendê-la à sua construção empírica, experimental). E isso é facilmente compreensível! Principalmente porque, até bem pouco tempo atrás, para fazer Ciência se deveria, inexoravelmente, estabelecer processos controlados, isto é, ser científico corresponde àquilo que é mensurável, experimental, observável... claro que, por sermos indivíduos imersos na contemporaneidade, não pensamos dessa maneira, não é mesmo? Mesmo tendo essa certeza, consideramos imprescindível trazer outros argumentos: a ciência não pode estar aliada apenas a uma dimensão empírica, nem tampouco a uma preocupação teórica somente; não pode estar restrita a apresentar números estatísticos através de textos áridos, mas deve buscar estabelecer uma relação dialógica com o cotidiano, permitindo olhar profunda e amplamente a realidade que nos cerca. evidente que, para consolidar uma nova forma de produzir ciência, faz-se necessário, em primeiro lugar, percebê-la a partir de um prisma diferente daquele que serviu de base para o que já foi instituído. Foi mais ou menos isso que aconteceu quando o Positivismo perdeu o status de única perspectiva epistemológica válida para a produção da ciência. Positivismo... será o mesmo positivismo que é responsável pela inscrição “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira? E o que é epistemológico mesmo? Hum! Começou a complicar, não é mesmo? Mas vamos com calma...
O POSITIVISMO A palavra epistemologia (do grego episteme, ciência, conhecimento; + logos, razão, discurso) é um ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento (daí ser também designada de filosofia do conhecimento). Conforme o dicionário Houaiss (2008, s.p.), a palavra significa “estudo dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e práticas em geral”.
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AULA 6 - QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA
Agora, se você associou a perspectiva positivista da ciência àquela que inspirou a inscrição em nossa bandeira, acertou parcialmente! O Positivismo, corrente inaugurada por Augusto Comte (1798-1857), representa umas das bases do Iluminismo, das crises social e moral do fim da Idade Média e, também, do nascimento da sociedade industrial. Entretanto, não podemos deixar de mencionar o neopositivismo (também conhecido como positivismo lógico), instaurado pelo Círculo de Viena, que teve como um de seus membros mais proeminentes Rudolf Carnap (1891-1970), na qual traz muitas contribuições para o que vamos conhecer como perspectiva positivista da ciência. Vamos pontuar algumas delas. Para o neopositivismo: » » a realidade é formada por partes isoladas e o mundo se configura como um “amontoado de coisas separadas, fixas” (TRIVIÑOS, 1987, p. 36); » » é inaceitável outra realidade que não sejam os fatos que possam ser observados; » » as causas dos fenômenos não devem ser objeto de interesse da ciência. À ciência cabe descobrir como se produzem as relações entre os fatos, buscando suprimir qualquer subjetividade nesta descoberta (princípio da objetividade científica); » » não interessa, também à ciência, conhecer a consequência de suas “descobertas”. Triviños (1987) comenta que este propósito engendrou o que ficou conhecido como neutralidade da ciência. A partir dessa compreensão, o papel do cientista é exprimir a realidade, não julgá-la. Ainda, foi o neopositivismo que formulou o princípio da verificação, a partir do qual, considera-se como verdadeiro aquilo que é empiricamente verificado. Mesmo desnecessário, vale salientar que todos os postulados atribuídos à ciência por essa perspectiva se “ajustaram” mais perfeitamente a uma área do conhecimento (as ciências naturais, por exemplo) do que às ciências sociais. Como realizar estudos no campo da Antropologia, por exemplo, que não busquem conhecer as causas do fenômeno cultural? Ou então, como podemos atestar, a um fenômeno social, o princípio da verificação? Por conta dessas questões e, principalmente, por perceberem que não há possibilidade de o conhecimento produzido pela ciência ser neutro, é que estudiosos da área das ciências sociais foram os primeiros a combater a perspectiva epistemológica positivista. Como contraponto à forma de produção da ciência, surgem a Fenomenologia e o Materialismo Dialético.
A FENOMENOLOGIA A Fenomenologia representa uma tendência do idealismo filosófico e traz, como um dos conceitos fundamentais, a intencionalidade: A psique está sempre dirigida para algo, “é intencional”, diria Husserl, seu precursor e um de seus maiores expoentes. Como esta intencionalidade é, inexoravelmente, da consciência em direção a um objeto, conclui-se que não existe objeto sem o sujeito e, por conseguinte, não existe a objetividade destacada da subjetividade, tal e qual assinalava a perspectiva positivista da ciência. Sobre esse aspecto, Bardin (s.d. apud TRIVIÑOS, 1987, 43) vai afirmar: [...] tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a par-tir da minha visão pessoal ou de uma experiência do mundo sem a qual os símbolos da ciência nada significariam. Todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido e, se quisermos pensar na própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido seu alcance, convém despertarmos primeiramente esta experiência do mundo da qual ela é expressão segunda...
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
A Fenomenologia husserliana nasce da tentativa de fazer da filosofia uma ciência rigorosa e, sendo assim, deveria ter como tarefa o estabelecimento de categorias puras do pensamento científico. Tratase, portanto, da “ambição de uma filosofia que pretende ser uma ciência exata” (TRIVIÑOS, 1987, p. 43). Mais tarde voltou-se para a investigação do “mundo vivido”. Como abordagem epistemológica para a produção da ciência e do conhecimento, não pretende explicar, nem analisar fatos, mas, antes de qualquer coisa, descrever os fenômenos. É uma abordagem que exalta a interpretação. Como método, deve seguir dois passo: um é a questionalidade do conhecimento; o futuro é a redução fenomenológica. Ao contrário do que possa parecer, questionar o conhecimento não é a mesma coisa de negá-lo ou ter uma concepção cética a respeito dele, mas tomá-lo a partir da ideia de que é possível descrever o dado (a consciência intencional perante o objeto) em toda a sua pureza. O segundo passo (a redução fenomenológica) fornece uma nova objetividade (a da essência) para que surja a consciência pura. A respeito da Fenomenologia, Triviños (1987, p. 47) faz a seguinte observação: [...] os positivistas reificaram o conhecimento, transformaram-no num mundo objetivo, de ‘coisas’. A fenomenologia, com sua ênfase no ator, na experiência pura do sujeito, realizou a desreificação do conhecimento, mas a nível da consciência. Por priorizar a busca da essência, ou seja, o que o fenômeno é após ter sofrido o isolamento da redução, através da qual se elimina o “eu” que vivencia, a cultura e o mundo..., fica evidente que não está preocupada em relevar a historicidade dos fenô-menos, o que vai se configurar numa das críticas dirigidas a ela e, também, ponto de partida para o surgimento de uma nova perspectiva epistemológica: o Marxismo.
O MARXISMO A perspectiva marxista figura como uma tendência do materialismo filosófico e tem como base filosófica o materialismo dialético. Este último tenta buscar explicações racionais, lógicas e coerentes para os fenômenos da natureza, da sociedade e do pensamento, a partir de uma concepção científica da realidade enriquecida pela prática social. Ter ressaltado a prática social (portanto, histórica) como critério de verdade é, sem sombra de dúvida, uma de suas ideias mais originais, porque criou um forte argumento para compreender que as verdades científicas significam graus de conhecimento limitados pela história. Conforme Triviños (1987), de forma geral, podemos dizer que a concepção materialista de ciência está pautada em três aspectos: » » o primeiro deles diz respeito à materialidade do mundo, isto é, a compreensão de que todos os fenômenos, objetos e processos são materiais; » » o segundo assinala que a matéria é anterior à consciência, ou seja, o que existe objetivamente é a matéria e a consciência é apenas um reflexo desta; » » o terceiro aspecto refere-se à afirmação de que o mundo é conhecível e o homem realiza este conhecimento de forma gradativa.
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AULA 6 - QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA
Alguns pesquisadores compreendem, a exemplo de Demo (1987, p. 98), que o materialismo é a perspectiva epistemológica mais condizente com as ciências sociais, porque se configura em uma “forma mais criativa e versátil de construir uma realidade também criativa e versátil”. Essa abordagem, portanto, trata-se de uma interpretação possível, que participa do jogo interminável de aproximações sucessivas e crescentes do objeto, rumo à cientificidade. Como metodologia, este autor destaca algumas características, que veremos a seguir: » » como problematiza a relação sujeito-objeto, superando posições estereotipadas ligadas à objetividade e à neutralidade, o materialismo faz do conhecimento um processo; » » considera que para uma realidade dinâmica é preciso um instrumental de captação também dinâmico e, para isso, opera através da concepção de unidade dos contrários, assumindo a contradição como categoria teórica; » » percebe que as teorias científicas não são produtos acabados e, portanto, sua superação é tão natural quanto a superação histórica; » » encontra certo meio termo entre os condicionamentos objetivos da realidade (o que está posto) e a possibilidade de o homem planejar a história. “Nesse sentido, não reduz a história social a uma estática repetitiva, nem coloca os subjetivismos como o mais importante” (DEMO, 1987, p. 98); » » convive com estruturas, nas quais vê a fonte do dinamismo histórico, e adapta-se melhor ao conceito de regularidade, ao contrário do de determinação, que está à sombra da relação causa/efeito; » » desde que não seja concebida como regra única, não vê a necessidade de combater a postura científica adotada pelas ciências naturais e exatas (o positivismo); » » propõe a visão de totalidade, no sentido de não perceber a realidade de forma estanque e fragmentada; a realidade social é dinâmica, complexa, totalizante e conflituosa e, sendo assim, excede a possibilidade de quantificação, classificação, de teste; » » compreende que a participação humana é um fenômeno de configuração própria, contraditório, versátil, para além de qualquer equação matemática; » » Por fim, o materialismo se configura como uma metodologia mais crítica e autocrítica, como demanda uma dinâmica realidade social. Sobre essa característica, Demo (1987, p. 100) vai dizer “[...] é chão da boa discussão, da polêmica construtiva, da visão multifacetal, que exige o constante estado de alerta contra posturas fechadas, pequenas, medíocres”.
SÍNTESE O que fizemos nesse texto foi apresentar, brevemente, as características principais das três perspectivas que mais comumente fundamentam a prática científica e, consequentemente, os procedimentos metodológicos de nosso estudo. Mas, não para por aí, não! Continuaremos no próximo texto, seguindo os passos do delineamento da pesquisa. Até lá!
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
QUESTÃO PARA REFLEXÃO Sugerimos que você reflita e identifique qual a perspectiva que mais se aproxima da sua concepção de mundo e de ciência. Que tal registrar essa reflexão? Ela poderá ser valiosa no momento que você estiver construindo seu projeto de pesquisa.
LEITURAS INDICADAS Sugerimos a leitura do capítulo 1 da obra Introdução à pesquisa em ciências sociais, de Augusto Triviños.
REFERÊNCIAS BOAVENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo: Atlas, 2004. DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed., São Paulo: Atlas, 1987. EPISTEMOLOGIA (verbete). Dicionário Houaiss. Disponível em http://houaiss.uol.com.br/busca. jhtm?ve rbete=epistemologia&stype=k Acesso em 21 jul. 2008. TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação - o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo: Atlas, 1987.
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AULA 7 Passos para a construção do projeto de pesquisa autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 2: ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
O
lá!
Na primeira parte desse texto apresentamos, brevemente, as características principais das três perspectivas que mais comumente fundamentam a prática científica e, consequentemente, os procedimentos metodológicos de nossos estudos. Continuaremos seguindo os passos do delineamento da pesquisa. Vamos lá! Você já sabe que para produzir conhecimento científico é necessário mais do que boas ideias ou temas originais e que é preciso colocar essas ideias em ordem, isto é, planejar suas ações. Em qualquer tempo que você deseje elaborar um projeto de pesquisa deve fazer, a si mesmo, as seguintes questões:
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
» » O que pesquisar? Esse questionamento esclarece e define o tema a ser estudado. » » Para que realizar essa pesquisa? Diz respeito às finalidades do estudo. » » Por que desejo realizar esse estudo? A essa pergunta associamos o texto de justificativa. » » Como vou pesquisar? Que se refere à definição dos procedimentos metodológicos. » » Em quanto tempo vou realizar esse estudo? Que supõe a definição de um cronograma para execução do estudo. Portanto, para constituir um projeto de pesquisa, deve apresentar, além de todos os elementos que você já conhece (tema, problema, variáveis...), três elementos: os objetivos, a justificativa e a metodologia.
OS OBJETIVOS DO ESTUDO Como indicamos acima, a definição dos objetivos da pesquisa responde à questão “para que realizar essa pesquisa?”. Em outras palavras, os objetivos indicam as metas que se deseja alcançar: o que se pretende conhecer, ou medir, ou provar no decorrer da pesquisa. Objetivos sempre são compostos de duas partes: uma ação a ser aplicada sobre um conteúdo. Por isso, os verbos iniciais e estão sempre postos no modo infinitivo. Na elaboração do projeto, os objetivos são de dois tipos: os Gerais e os Específicos. Os objetivos gerais estão diretamente relacionados ao tema e ao problema da pesquisa. Esse tipo de objetivos constitui a espinha dorsal do trabalho. Mas queremos ilustrar a sua composição com algo mais concreto. Você se lembra do problema relacionado à violência que apresentamos anteriormente? Não? Então será necessário relembrá-lo. O problema a que estamos nos referindo é esse: Se o problema de nossa pesquisa for esse: A presença e a ação da Polícia Comunitária favoreceram o aumento da violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI? ... o objetivo geral de nosso estudo pode ser esse: Analisar a relação existente entre presença/ação da Polícia Comunitária e o aumento dos índices de violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI.
Como você pode perceber, na prática, organizar o objetivo geral consiste em antepor à hipótese (ou à questão principal do estudo) um verbo que expresse uma ação intelectual. No caso do objetivo geral que formulamos, a ação intelectual é “analisar”. Outros verbos podem ser usados nessa condição. São eles: estudar, explicar, entender, compreender, avaliar, conhecer.
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AULA 7 - PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
Se os objetivos gerais estão diretamente relacionados ao tema e ao problema da pesquisa, os objetivos específicos relacionam-se aos procedimentos metodológicos. Isto é, se temos uma ”meta” a ser alcançada com a pesquisa, os objetivos específicos indicarão os passos que serão dados para que esta meta seja alcançada. Mais uma vez, forneceremos um exemplo prático. Tomando o problema e o objetivo geral apresentados acima, nossos objetivos específicos podem ser os seguintes: » » Levantar os índices de violência; » » Identificar os tipos de violência; » » Relacionar os tipos de violência existentes com as ações realizadas pela Polícia Comunitária.
Outros verbos podem ser utilizados como, por exemplo, distinguir, numerar, identificar, classificar, caracterizar, comparar, relacionar, verificar, listar, levantar.
A JUSTIFICATIVA Como é possível perceber em nossa experiência cotidiana, justificar é oferecer razões suficientes para que algo venha a acontecer ou tenha acontecido. No âmbito da pesquisa científica, a justificativa representa uma apresentação de bons motivos para que o estudo acerca do tema seja desenvolvido. Por isso, quando estiver elaborando a justificativa de um projeto, não deixe de considerar os aspectos abaixo relacionados. O primeiro deles refere-se à importância que a realização do estudo possui. Nesse aspecto é sempre interessante indicar a relevância social, acadêmica etc., ou se ele poderá trazer contribuições para a solução de um tema atual. Sobre esse aspecto, Santos (2006,) vai afirmar que, além dessas dimensões, o estudo pode beneficiar: [...] de imediato a ciência, contribuindo com as informações para o avanço de determinado estudo científico. Pode, ainda, beneficiar o processo acadêmico, facilitando ou inovando o ensino/aprendizado de um assunto. (SANTOS, 2006, p. 82). Um segundo aspecto que pode oferecer elementos para a construção da justificativa é a abrangência do tema, isto é, quem mais, além do autor da pesquisa considera, o tema do estudo relevante. A abrangência do tema é demonstrada pela inserção do tema no contexto atual. A incidência de eventos sociais, científicos e/ou acadêmicos para discutir com questões relacionadas ao tema escolhido por aquele que propõe a pesquisa pode expressar a sua abrangência. O que se pretende, com a justificativa, é que o leitor se convença da relevância do estudo a partir dos argumentos que o pesquisador expressou. E, sendo assim, é importante que ele demonstre que o tema realmente o interessa e que, de alguma maneira, o afeta. Por isso, não tente realizar um estudo somente porque ele é relevante ou possui a abrangência. Antes disso, tenha a certeza que você tem vínculos com ele. Você verá que será muito mais fácil executar a pesquisa.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
A METODOLOGIA A partir deste ponto, nos dedicaremos a compreender a etapa que se configura, indubitavelmente, naquela que vai dar contornos mais definidos para o trabalho científico: a definição da metodologia. Esta etapa se configura, sem sombra de dúvida, naquela que vai dar contornos mais definidos para o trabalho científico. Você já sabe que o pesquisador não pode deixar de explicitar o paradigma teóricoepistemológico (positivismo, fenomenologia ou materialismo) que sustentará a investigação. Porém, que outras informações devem constar nesse item? Em linhas gerais, deverá fazer o traçado do caminho que seguirá para se aproximar do objeto (foco) de sua pesquisa, indicando, principalmente, quais os métodos e técnicas serão utilizados para levantar, organizar e analisar informações e dados coletados. Em outras palavras, é preciso definir: » » A caracterização da pesquisa quanto aos seus objetivos (É exploratória? Descritiva? Explicativa?). » » Qual o tipo, no que diz respeito aos procedimentos, será realizado: Levantamento/Survey? Documental? Estudo etnográfico? » » Que técnicas/instrumentos de coleta de dados (ou levantamento de informações) serão utilizados? Pesquisa on-line? Questionários? Entrevistas? Grupos focais? Vamos tratar detalhadamente cada um desses aspectos.
TIPOS DE PESQUISAS Antônio Raimundo Santos (2006) classifica os tipos de pesquisas considerando dois critérios: com base em seus objetivos e com base nos procedimentos técnicos adotados. Quanto à classificação com base em seus objetivos, as pesquisas podem ser exploratórias, descritivas e explicativas. A pesquisa é exploratória quando proporciona maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e de estudo de caso. A pesquisa é do tipo descritiva quando expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação. Um exemplo claro desse tipo de pesquisa são os estudos etnográficos. A preocupação central da pesquisa explicativa é identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. É o tipo que mais aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. Quanto à classificação com base nos procedimentos técnicos adotados proposta por Santos (2006), além da pesquisa experimental, os tipos de pesquisa podem ser:
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AULA 7 - PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
Pesquisa Bibliográfica Já apresentamos para você a pesquisa bibliográfica no texto dedicado à revisão da literatura, mas consideramos que ainda é necessário pontuar mais um aspecto: desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos, a pesquisa bibliográfica é o primeiro estágio de toda e qualquer investigação científica, devendo ser realizada em paralelo à pesquisa de campo ou de laboratório.
Pesquisa Documental Muito parecida com a bibliográfica. Há quem diga, inclusive, que uma é variação da outra. A diferença está na natureza das fontes: vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, como por exemplo, cartas, diários, documentos encontrados em arquivos públicos, documentos institucionais...
Pesquisa Experimental Quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo e definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto.
A Pesquisa de Campo Desenvolvimento de coleta de dados e registro de variáveis in loco através da observação dos fatos e registro de informações através de aplicação de técnicas específicas como entrevistas e questionários. Como dissemos anteriormente, a pesquisa de campo, aplicável nas diferentes áreas como psicologia, educação, sociologia etc., não prescinde da investigação bibliográfica.
Levantamento É a pesquisa que busca informação diretamente com um grupo de interesse a respeito dos dados que se deseja obter. Trata-se de um procedimento útil, especialmente em pesquisas exploratórias e descritivas. (SANTOS, 2006).
Etnografia Consiste num método/técnica de pesquisa em que o pesquisador procura o conhecimento de uma realidade específica a partir de sua imersão nesta realidade. Os estudos etnográficos se originaram na Antropologia Social, por conta da necessidade que esta área de conhecimento possui em compreender as relações socioculturais, os comportamentos, ritos, técnicas, saberes e práticas das sociedades até então desconhecidas.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
A etnografia, pautada na perspectiva interacionista da Escola de Chicago, contribuiu para “dar legitimidade às técnicas e métodos quantitativos na pesquisa sociológica em grandes centros urbanos” (GOLDEMBERG, 2005, p. 25). De forte preocupação empírica, a Escola de Chicago foi a responsável pelo desenvolvimento de métodos bastante originais para a pesquisa de abordagem qualitativa, principalmente no que se refere às fontes de investigação, passando a utilizar cientificamente documentos pessoais, como cartas e diários íntimos, bem como desenvolver trabalho de campo sistemático no espaço urbano.
Estudo de caso Consiste no estudo profundo e exaustivo (intensivo) de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento. O que vai determinar a estratégia que será utilizada na pesquisa dependerá do objeto focado e da perspectiva que o pesquisador imprimirá no estudo. O estudo de caso é indicado quando as situações da vida real são complexas demais para que sejam tratadas através de estratégias experimentais ou de levantamento de dados.
Pesquisa-ação Tipo de pesquisa cooperativa ou colaborativa, com base empírica, que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Tendo compreendido que existem várias formas de investigação e de formas de obtenção de dados vamos destacar dois tipos de pesquisa: a Bibliográfica e a Pesquisa de campo. Mas não esqueça! Independentemente do tipo de pesquisa que seja escolhido, o plano geral da pesquisa deve prever: » » adoção de um modelo teórico;
» » universo ou população: grupo dos indivíduos que podem participar da pesquisa; » » amostragem: parcela, ou subconjunto da população, que realmente será alvo de investigação.
Técnicas e instrumentos de investigação científica Você já conhece e sabe como elaborar um questionário, não é mesmo? Ele é um instrumento de investigação que pode atender à maioria dos tipos de pesquisa de campo satisfatoriamente e, por isso, é muito utilizado. Contudo, nem sempre o questionário vai possibilitar que o pesquisador tenha acesso às informações necessárias à elucidação que o seu estudo se propôs. Por isso, além do questionário que você já teve a oportunidade de conhecer, vamos apresentar outros instrumentos que o pesquisador pode utilizar para levantar as informações necessárias ao seu estudo. O pesquisador pode lançar mão de: » » diários de campo; » » observação participante, que permite, ao pesquisador, adentrar nas tarefas realizadas pelos indivíduos no seu cotidiano, conhecendo mais de perto suas expectativas, atitudes e condutas diante de determinados estímulos. Caso seja uma técnica de coleta escolhida pelo pesquisador 124
AULA 7 - PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
para o seu estudo, ele deve agir com naturalidade dentro do grupo pesquisado, incorporando-se às atividades que desenvolvem seus integrantes. (SORIANO, 2004). O uso desse instrumento de coleta é sempre estará articulado a outras formas de coleta, como por exemplo, a entrevista ou o grupo focal; » » entrevista individual: técnica que tem como princípio o encontro entre duas pessoas que tem como finalidade a obtenção de informações por uma delas (o pesquisador) mediante uma conversação de natureza profissional; » » grupos focais: grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito de obter informações de caráter qualitativo em profundidade; » » coleta de narrativas e histórias de vida: técnica que substitui as entrevistas tradicionais e através da qual o sujeito protagonista (o informante) retorna às suas próprias lembranças para que “o pesquisador conheça de forma mais exata fatos importantes e peculiares que o entrevistado viveu e experimentou de perto”. (SORIANO, 2004, p. 189). Dentre os instrumentos citados, apresentaremos com mais detalhes dois deles: as entrevistas e os grupos focais. O pesquisador pode optar pela adoção de entrevistas como instrumento para levantamento das informações do seu estudo quando ele pretende: » » conhecer o que as pessoas pensam ou acreditam a respeito de fatos que ocorreram ou como estas percebem determinados fenômenos; » » compreender a conduta de alguém, através de seus sentimentos e anseios; » » descobrir, por meio das definições individuais dadas, qual a conduta adequada em determinadas situações, a fim de prever qual seria a sua; » » inferir que conduta a pessoa terá no futuro, conhecendo a maneira pela qual ela se comportou no passado ou se comporta no presente, em determinadas situações.
Tipos de Entrevistas » » Padronizada ou estruturada: é aquela em que o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido, isto é, as perguntas feitas aos indivíduos são predeterminadas. » » Não estruturada: é aquela em que o entrevistador tem liberdade para desenvolver cada situação, em qualquer direção, que considere adequada. » » Entrevista focalizada: há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai estudar e o entrevistador, a depender do andamento da entrevista, tem a liberdade de improvisar e fazer as perguntas que quiser, desde que seja para o esclarecimento ou aprofundamento de algum aspecto relacionado ao foco de seu trabalho. Como qualquer técnica de coleta de dados, a entrevista oferece vantagens e limitações. As suas principais vantagens são: » » A técnica da entrevista pode ser utilizada com todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados; assim, fornece uma amostragem muito melhor da população geral, pois ao contrário do questionário, precisa que o informante domine as técnicas de leitura e de escrita para preencher o formulário.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
» » Como a entrevista é realizada com a presença do entrevistador, há possibilidade de conseguir informações mais precisas, podendo ser comprovada, de imediato, as discordâncias que o informante possa ter com relação ao que foi perguntado. » » Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistador observar o seu informante e relacionar o que ele diz e como diz; isto é, num caderno de anotações – ou diário de campo – registrar as reações, gestos etc. do informante quando a este é solicitado responder as questões que provoquem melindres. » » Dá oportunidade para obtenção de dados que não se encontram em fontes documentais e que sejam relevantes e significativos. » » Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas, formular de maneira diferente; especificar algum significado, com garantia de estar sendo compreendido. Por exemplo, se foi feita uma pergunta que, por algum motivo, o informante não entendeu, o entrevistador pode reformulá-la, usar outros termos e, assim, garantir que a pergunta seja respondida. Em contrapartida, na utilização de entrevistas também existem limitações. As principais são: » » Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes; isso geralmente acontece quando o entrevistador não se aproxima do universo lexical do entrevistado. Da mesma forma, se o entrevistador não for uma pessoa sensível, poderá interpretar erroneamente os termos utilizados pelo informante (uso de gírias, por exemplo). » » Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da pesquisa, o que pode levar a uma falsa interpretação. » » A possibilidade de o informante ser influenciado, consciente ou inconscientemente pelo entrevistador, devido a seu aspecto físico, suas atitudes, ideias, opiniões etc. é maior do que se o instrumento utilizado fosse o questionário, por exemplo. » » Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias ou retenção de alguns dados importantes, pelo informante, receando que sua identidade seja revelada. Isso geralmente acontece quando o entrevistador não consegue estabelecer uma relação de confiança com o seu informante. Quando o entrevistador consegue estabelecer uma relação de confiança com entrevistado, pode-se obter informações que talvez não fossem possíveis. Então, para que inspire confiança a seu informante acerte nos detalhes! Por isso, eis algumas dicas que você pode adotar quando for realizar alguma entrevista: » » Contato inicial: você já ouviu falar que a primeira impressão é a que fica? Pois bem, quando necessitar que alguém seja o seu informante isso é verdade! Por isso, o pesquisador deve estabelecer, com o entrevistado uma relação amistosa, cordial, respeitosa (em diversos sentidos. Por isso nem pense em realizar uma entrevista com a roupa que você iria para a praia; da mesma forma que você não deve ir para um ambiente mais despojado de terninho ou gravata. isto é, o entrevistador deve manter a compostura). É extremamente relevante que o entrevistador se identifique e explicite os fins e a importância da pesquisa que está realizando. » » Formulação de perguntas: as perguntas devem ser feitas de acordo com o tipo de entrevista. Muito cuidado também para não induzir a resposta do informante com a sua pergunta. Por exemplo, nunca comece uma pergunta com “Você não acha...” “Você percebe que”... Pois há uma possibilidade maior em influenciar a resposta do informante.
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AULA 7 - PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
» » Registro de respostas: se possível, as respostas devem anotadas no momento da entrevista. Por isso, sempre tenha em mãos um caderno para anotações. » » Término da entrevista: a entrevista deve terminar como começou, isto é, em ambiente de cordialidade para que o entrevistador possa voltar a obter novos dados. Uma outra possibilidade é a realização de grupos focais, que se configura como uma entrevista aberta e centrada (SIDNEI, 2000, p. 178), o grupo focal é uma técnica rápida e de baixo custo para avaliação e obtenção de dados e informações qualitativas. Suas principais características são: » » é organizado com pequeno número de pessoas (entre 7 e 12) para incentivar a interação entre os membros; » » a conversação concentra-se em poucos tópicos (no máximo 5 assuntos); » » cada sessão não deve ultrapassar a duração de duas horas; » » o moderador tem uma agenda onde estão delineados os principais tópicos a serem abordados. Estes tópicos são geralmente pouco abrangentes, de modo que a conversação sobre os mesmos se torne relevante; » » Pode haver a presença de observador externo (que não se manifesta, nem interage com os outros) para captar reações dos participantes. Também é preciso definir, na metodologia, os procedimentos metodológicos referentes às técnicas que serão adotadas pelo pesquisador quando este chegar ao momento de análise e tabulação de informações. Por isso, vamos tratar algumas delas para você.
ANÁLISE E TABULAÇÃO DE INFORMAÇÕES Após reunir as informações acerca do seu objeto o pesquisador chega a um momento crucial da pesquisa: o de tabular e analisar os dados e informações que teve acesso. Booth, Colomb e Williams (2005) nos lembram que o que determina a forma como sistematizaremos o material coletado durante a pesquisa depende de três aspectos: os tipos dos dados/informações levantadas; como seus leitores poderão entendê-los melhor; e como você quer que seus leitores reajam a eles. Esses autores vão dizer: Você comunica melhor com palavras quando a informação é qualitativa e não facilmente apresentada de modo formal, ou quando seus leitores são fortemente orientados para a palavra. [...] com outros leitores, você pode se comunicar de forma eficiente com tabelas, gráficos ou diagramas (BOOTH; COLOMB; WILLIAMS, 2005, p. 229); Uma exigência metodológica na realização de uma pesquisa qualitativa, por exemplo, é a formação de categorias, ou áreas de significação. Minayo (2004, p.94), por exemplo, enuncia que as categorias podem ser analíticas ou empíricas:
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
As primeiras são aquelas que retêm historicamente as relações sociais fundamentais e podem ser consideradas balizas para o conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais. Elas mesmas comportam vários graus de abstração, generalização e de aproximação. As segundas são aquelas construídas com finalidade operacional, visando ao trabalho de campo (a fase empírica) ou a partir do trabalho de campo. Elas têm a propriedade de conseguir apreender as determinações e as especificidades que se expressam na realidade empírica. (MINAYO, 2004, p. 94). Já foram vistos, em alguns textos dessa disciplina, métodos quantitativos para a análise de dados. Contudo, convém apresentar a você outras técnicas de análise. Quando a pesquisa tem uma abordagem quantitativa, você ainda pode se valer de uma técnica pouco difundida, que é a análise de conteúdos. A análise de conteúdo é uma técnica para análise de textos que busca examinar minuciosa e numericamente a frequência de ocorrência de determinados termos, construções e referências em um dado texto. Na área da Comunicação, é frequentemente usada como contraponto à análise do discurso, técnica eminentemente qualitativa, proposta a partir da filosofia materialista. Análise do Discurso ou Análise de Discursos é um campo (e uma prática) da linguística e da comunicação especializado em examinar construções ideológicas expressos em um texto. Para compreender como se dá esta análise, convém definir, primeiro, o que considera como discurso. Discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, que deverá ser analisado considerando o seu contexto histórico-social e suas condições de produção; significa ainda dizer que o discurso é resultado de um processo de elaboração, através do qual o sujeito evidencia suas formas de ver (e refletir sobre) o mundo, de senti-lo e de percebê-lo. Além da técnica de análise de discurso, pode ser usada na pesquisa de abordagem qualitativa, a hermenêutica. A Hermenêutica, originalmente método de interpretação da Bíblia e de outros textos religiosos, ganhou estatuto de teoria da interpretação de textos e do discurso filosófico-científico através de Friedrich Schleiermacher (1768 -1834). Posteriormente, Wilhelm Dilthey (1833-1911) buscou aplicá-la a todos os atos e produtos humanos. Mais adiante, Heidegger estendeu a compreensão hermenêutica ao ser humano (Dasein). É importante ressaltar que técnicas de análise quantitativas e qualitativas não estabelecem, entre si, contraposição. Elas podem (em muitos casos, devem!) conviver. Exemplo disso são as chamadas pesquisas quanti-qualitativas, nas quais os pesquisadores propõem uma articulação de técnicas dessas duas abordagens.
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AULA 7 - PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
Quer saber mais sobre técnicas qualitativas de análise? Então, acesse o endereço eletrônico a seguir. Aposto que você vai gostar! http://www.cin.ufpe.br/~pcart/metodologia/pos/Mayring043.pdf
Por fim, fechando as informações que devem constar no projeto, vem o cronograma. Vamos fazer referência.
O cronograma Se você propõe uma investigação, certamente deverá definir em quanto tempo você vai executá-la. Esta definição diz respeito ao Cronograma de execução. Aqui você responde à questão: “Quando ou em quanto tempo será realizada a pesquisa?” Para tanto, você deve elencar as etapas da pesquisa e relacionar com o tempo necessário para executar cada uma. Geralmente um cronograma de pesquisa é apresentado em forma de tabela, por exemplo: AÇÕES
PERÍODO DE IMPLEMENTAÇÃO AGO.
SET.
OUT.
NOV.
DEZ.
1. Pesquisa bibliográfica e/ou documental. 2. Leitura e fichamento da bibliografia. 3. Elaboração dos instrumentos de coletados dados (questionário, entrevista). 4. Levantamento dos índices de violência. 5. Identificação dos tipos de violência. 6. Processamento e análise dos dados. 7. Escrita do relatório. 8. Entrega do relatório.
Como você pode perceber, no cronograma estão previstas todas as etapas que o pesquisador planejou para sua pesquisa, desde que definiu os objetivos. Lembra que nós dissemos que os objetivos específicos estão diretamente relacionados aos procedimentos metodológicos? Pois é, as etapas definidas naquele momento devem compor a relação de ações que devemos expor no cronograma. Considerando todas as informações que dispomos para você nesse texto, creio que você ampliou seus conhecimentos acerca dos elementos que devem compor um projeto de pesquisa. Agora, é colocar a mão na massa! 129
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
SÍNTESE Bem, nesse texto apresentamos aspectos relacionados ao delineamento da pesquisa, em especial, à definição dos objetivos, à elaboração da justificativa do estudo, à metodologia e ao cronograma de execução.
LEITURAS INDICADAS GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002, 175p.
REFERÊNCIAS BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005. GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005. MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na educação. Salvador: EDUFBA, 2000. MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed., São Paulo: Hucitec, 2004. SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 6. ed. rev., Rio de Janeiro: DP&A, 2006. SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Petrópolis: Vozes, 2004.
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AULA 7 - PASSOS PARA A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA Agora que você já conhece as diversas etapas que envolvem a produção de uma pesquisa científica, vamos falar das formas de apresentação e divulgação dos resultados das pesquisas. Talvez você possa estar pensado que ainda é muito cedo para aprender estes recursos, mas mesmo que você não pretenda realizar uma pesquisa científica neste momento, essas informações serão bastante úteis ao longo da sua formação acadêmica, pois durante o seu curso de graduação os professores de diversas disciplinas solicitarão a elaboração de trabalhos acadêmicos que deverão seguir as mesmas orientações normativas dos trabalhos científicos.
NORMALIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS A normalização está ligada à origem das civilizações. Desde a formação dos primeiros grupos humanos, fazia-se necessária a criação de regras para troca de produtos e serviços, visando à sobrevivência. Com o uso de sinais padronizados, o homem conseguiu descrever formas, figuras e outras maneiras de se comunicar. Através da comunicação, torna-se possível a materialização do conhecimento que, registrado fora da memória biológica do homem, pode ultrapassar os limites geográficos e de tempo possibilitando a interlocução entre povos de contextos sociais e históricos diferentes. Para minimizar as barreiras de comunicação como diversidade de línguas, culturas e realidades sócio históricas, foi necessário estabelecer normas para facilitar a disseminação, o acesso, a leitura e a compreensão de textos científicos. A falta de conhecimento sobre a importância e necessidade de adoção destas normas para padronização normalização de documentos científicos faz com que alguns estudantes vejam essa etapa do trabalho de forma reducionista, representado para eles uma mera formalidade acadêmica. Mas a normalização não deve ser encarada como um obstáculo ou como uma amarra à criatividade do pesquisador, e sim como um processo necessário ao sucesso de sua ação comunicativa. (GOMES, 1999). A normalização de documentos visa à padronização e simplificação no processo de elaboração de qualquer trabalho científico. Facilita também o processo de comunicação e intercâmbio dentro da comunidade científica, possibilitando o processo de transferência de informação. Sendo assim, a normalização não tem o propósito de cercear a criatividade e a liberdade dos autores, mas sim o de facilitar aos diferentes leitores das diversas culturas o acesso às suas ideias e concepções científicas. A normalização não só confere um grau e qualidade aos documentos produzidos como facilita as operações documentais e diminui o custo e o tempo necessários para realizá-las, viabilizando o intercâmbio e a recuperação de informações. (CURTY; BOCATTO, 2005, p. 96). No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) atua como foro nacional para normalização. A ABNT é constituída de 60 comitês em diversas áreas do conhecimento onde a padronização se faz necessária como: construção civil, mineração, petroquímica, transporte, segurança só para citar algumas. Para a produção de trabalhos acadêmicos existe um conjunto de normas, denominadas normas sobre Informação e Documentação que orientam a padronização de elaboração de documentos. A seguir são indicadas as normas da ABNT que lhe auxiliarão na apresentação de trabalhos acadêmicos no decorrer do seu curso. Algumas destas normas serão apresentadas de forma detalhada.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
NÚMERO DA NORMA/DATA
TÍTULO
NBR 6022/2003
Apresentação de Artigo em Publicação Periódica Científica
NBR 6023/2002
Elaboração de Referência
NBR 6024/2003
Numeração Progressiva das Seções de um Documento Escrito
NBR 6027/2003
Sumários
NBR 6028/2003
Resumos
NBR 10520/2002
Citações em Documentos
NBR 10719/2009
Apresentação de Relatórios Técnicos ou Científicos
NBR 14724/2005
Apresentação de Trabalhos Acadêmicos
NBR 15287/2005
Apresentação de Projeto de Pesquisa
SÍNTESE Neste texto tratamos da importância da normalização e indicamos as normas técnicas da ABNT que orientam a produção dos trabalhos acadêmicos e científicos.
LEITURAS INDICADAS DIAS, M. M. K. Normas técnicas. In: CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. V.; KREMER, J. M. (Org.) Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2000. p. 137-151.
REFERÊNCIAS CURTY, M. G.; BOCCATO, V. R. C. O artigo científico como forma de comunicação do conhecimento na área de ciência da informação. Perspectiva da Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 94-107, jan./jun. 2005. Disponível em:<http://revista.ibict.br/pbcib/index.php/pbcib/article/ view/20> Acesso em: 30 jun 2010. GOMES, H. F. A normalização do trabalho científico: algumas reflexões sobre a indicação das fontes na documentação pessoal do autor e no texto final. In: MATOS, M. T. N. B. Saúde e informação. Salvador: EDUFBA, 1999. p. 97-105.
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AULA 8 Divulgação e normatização de trabalhos científicos autora: Gismália Marcelino Mendonça
APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS
C
onforme propomos anteriormente, apresentaremos a seguir os elementos que compõem a estrutura dos trabalhos acadêmicos e científicos, especialmente aqueles que você será solicitado a desenvolver durante seu curso e que poderão servir de apoio a várias atividades futuras. Mas antes, leia no quadro abaixo a descrição dos documentos da comunicação científica mais utilizados na área acadêmica. Isto certamente vai facilitar a sua compreensão. DOCUMENTOS Artigos
DESCRIÇÃO Texto com autoria declarada que apresenta resultado de pesquisa e/ou revisão de literatura destinado à publicação e à divulgação através de periódicos.
METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Trabalhos acadêmicos e científicos
Dissertações
Documento que representa o resultado de um trabalho experimental, de tema bem delimitado em sua extensão, com o objetivo de reunir e interpretar informações publicadas sobre o assunto. O autor deve evidenciar a capacidade de sistematizar os conhecimentos adquiridos para obtenção do título de mestre.
Livros
É uma publicação de conteúdo científico, literário ou artístico formada por um conjunto sequenciado de folhas impressas e revestida por capa.
Monografias/TCC
Documento que descreve um estudo minucioso sobre determinado tema. Solicitado como trabalho de conclusão nos cursos de graduação e pós-graduação lato sensu.
Paper
Texto elaborado sobre um tema determinado ou resultado de um projeto de pesquisa para ser comunicado em congressos ou outras reuniões científicas.
Periódicos ou Revistas Científicas
Publicações editadas em intervalos prefixados, por tempo determinado, com a colaboração de diversos autores, sob a responsabilidade de um editor e/ou comissão editorial.
Projeto de Pesquisa
Documento que descreve os planos, fases e procedimentos de um processo de investigação científica a ser realizado.
Relatórios Técnicos e Científicos
Documento que relata formalmente os resultados ou progressos obtidos em investigação de pesquisa, ou que descreve uma observação técnica como estágio ou viagem.
1
Se desejar ver exemplos e modelos de apresentação destes elementos consulte o Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNIFACS disponível em: http://www. unifacs.br/upload/biblioteca/ ManualdeNormalizacao.pdf
Tabela 1 - Tipos de trabalhos acadêmicos e científicos
ESTRUTURA DOS TRABALHOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS1 Os trabalhos acadêmicos e científicos descritos no quadro 1, com exceção dos artigos e paper, possuem a mesma estrutura de apresentação, são construídos de elementos pré-textuais, textuais, de apoio e pós-textuais. Vejamos, então, as várias divisões de cada um desses elementos para apresentação dos trabalhos relacionados no quadro no capítulo anterior. Os elementos preá-textuais são aqueles que antecedem o texto e fornecem dados de identificação dos autores e do conteúdo do trabalho. Estes elementos devem ser apresentados na seguinte ordem: A capa deve conter sempre as seguintes informações essenciais para a identificação de um trabalho: nome da instituição, nome do autor, título e subtítulo, cidade em que está localizada a instituição e ano de produção. A folha de rosto deve conter: nome do autor; título e subtítulo do trabalho; natureza do trabalho (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso, etc.) e objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido, etc.); nome da instituição à qual é submetido o trabalho, área de concentração; nome do orientador; cidade da instituição; ano; Se for um trabalho final de conclusão de curso como monografia, dissertação e tese deve ser apresentada também: folha de aprovação do trabalho, dedicatórias, agradecimentos e uma epígrafe.
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AULA 8 - DIVULGAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
É comum que os trabalhos acadêmicos apresentem um resumo em português e uma versão para o inglês, denominada abstract, sua elaboração é orientada pela NBR 6027. O resumo deve apresentar concisamente os pontos relevantes do trabalho, fornecendo sempre uma visão rápida e clara do seu conteúdo e das suas conclusões. Deve-se utilizar, de preferência, a terceira pessoa do singular e verbo na voz ativa. Deve-se evitar o uso de parágrafos. O resumo deve ter no máximo 500 palavras e ser seguido de palavras-chave. O trabalho pode também apresentar listas (relações sequenciais dos títulos ou legendas) de ilustrações, tabelas, reduções e símbolos, acompanhadas sempre dos respectivos números de páginas. O sumário deve ser o último elemento pré-textual, sua elaboração é orientada pela NBR 6028. O sumário deve enumerar as principais divisões, seções e outras partes do trabalho, sempre indicando os números das páginas. Os elementos textuais representam a parte do trabalho em que é exposto o conteúdo da pesquisa na seguinte ordem: A introdução é o primeiro elemento propriamente textual do trabalho, tem a função de antecipar o conteúdo apresentado, as principais ideias discutidas, permitindo que o leitor tenha uma visão de conjunto do trabalho. O desenvolvimento é a parte mais extensa do trabalho, é onde o autor deve apresentar as ideias de forma bem encadeadas, de modo que o leitor possa acompanhar seu raciocínio e entender seus argumentos. Para facilitar a exposição do assunto deve ser adotado o sistema de numeração progressiva das seções de um documento que é orientada pela NBR 6024. Desta forma, o assunto principal será indicado por um número e a sua hierarquização, pela subdivisão deste número formando assim, as seções primárias, secundárias, terciárias e outras. Diversos recursos podem servir de apoio no desenvolvimento do texto como: notas de rodapé, reduções (abreviaturas e siglas), equações e fórmulas, ilustrações (incluindo desenhos, imagens, gravuras, esquemas, diagramas, fluxogramas, organogramas, fotografias, retratos, gráficos, mapas e plantas), quadros e tabelas. A conclusão é o último elemento textual. É nesta parte que o autor deve expor claro e conciso seu ponto de vista sobre o que conseguiu demonstrar no desenvolvimento do trabalho. Os elementos pós-textuais destinam-se a esclarecer e a complementar o texto, sem, contudo, fazer parte deste: A lista de referências deve aparecer após a conclusão, indicando as fontes consultadas, utilizadas e citadas no trabalho. A elaboração das referências é orientada pela NBR 6023 e será apresentada no próximo capítulo. O glossário é constituído de uma relação de palavras ou expressões técnicas de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, e acompanhadas das respectivas definições. Este item é opcional. Os apêndices (elaborados pelo autor) e os anexos (não elaborados pelo autor) são textos ou documentos que servem de fundamentação, comprovação ou ilustração do trabalho. Devem ser identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos. Assim como o glossário, este item é opcional.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Conforme informado no início deste capítulo, os artigos e papers possuem formas de apresentação diferente dos demais trabalhos acadêmicos. Embora sua estrutura também seja constituída de elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais, definidos pela NBR 6022, a formatação destes elementos é mais flexível. Isto acontece porque os artigos e papers são publicados em revistas especializadas ou anais de eventos que possuem suas próprias normas de editoração. No entanto, ao submeter um artigo ou um paper para avaliação e publicação, você deve observar os critérios e normas estabelecidas pelo conselho editorial da revista ou do evento, pois essa flexibilidade não se aplica para a apresentação de citações e referências, normas que trataremos no próximo capítulo.
SÍNTESE Neste texto abordamos os elementos necessários para organização e apresentação de trabalhos científicos, especialmente, os acadêmicos que você será solicitado a desenvolver durante seu curso, e que poderão servir de apoio a várias atividades acadêmicas e científicas que você poderá fazer no futuro.
LEITURAS INDICADAS MENDONÇA, Gismália Marcelino. Manual de normalização para apresentação de trabalhos acadêmicos. Salvador: Unifacs, 2009. 83p. Disponível em: http://www.unifacs.br/upload/biblioteca/ ManualdeNormalizacao.pdf> Acesso em: 01 abr. 2010.
REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação: artigo em publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5p. ______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24p. ______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um documento escrito. Rio de Janeiro, 2003. 3p. ______. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p. ______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p. ______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 7 p. ______. NBR 15287: informação e documentação: projeto de pesquisa: apresentação. Rio de Janeiro, 2005.
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AULA 8 - DIVULGAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
CITAÇÕES E REFERÊNCIAS Você já deve ter observado, não só aqui como em outras publicações, que parte do texto vem acompanhado de indicação de sobrenomes de autores e datas. Este tipo de indicação é denominado Citação, que é uma das características dos trabalhos acadêmicos e científicos. As citações devem ser acompanhadas também das Referências das fontes indicadas e utilizadas no trabalho. A elaboração de Citações e de Referências é orientada, respectivamente, pelas NBR 10520 e NBR 6023 da ABNT que serão detalhadas a seguir.
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Citação
CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
CITAÇÕES Para realizar seus trabalhos, os autores precisam conhecer a produção de seus pares. O famoso matemático e físico inglês Isaac Newton não desconheceu as contribuições dos que o antecederam, especialmente as de Kepler e Galileu. Por este motivo, vale repetir sua frase: “Se vi mais longe que os outros homens, foi porque me coloquei sobre os ombros de gigantes”. Ou seja, assim com Isaac Newton, ao publicar os resultados de suas pesquisas, os pesquisadores fazem citações a outros autores que fundamentaram o seu trabalho. As citações são introduzidas no texto com o propósito de fundamentar, esclarecer e fornecer exemplos de pontos de vista semelhantes ou divergentes sobre o assunto da pesquisa. Ao elaborar um trabalho acadêmico e científico o autor do texto não pode deixar de informar as fontes de informações usadas para o embasamento teórico do trabalho. Indicar as fontes de onde foram extraídas as informações é, antes de tudo, dar créditos aos autores pesquisados, respeitando assim a Lei de Direitos Autorais - Lei 9.610 de 1988. A citação pode ocorrer em forma de transcrição literal ou como paráfrase. A transcrição literal (citação direta ou textual) ocorre quando são produzidas as próprias palavras do autor do texto citado. A paráfrase (citação indireta ou livre) ocorre quando se reproduzem ideias e informações do documento, sem, contudo, reproduzir as próprias palavras do texto citado. As citações devem ser indicadas no texto por um dos seguintes sistemas de chamada: numérico ou autor-data. Embora as duas formas sejam orientadas pela ABNT, apresentaremos a seguir mais exemplos do sistema autor-data por ser o mais utilizado nos trabalhos acadêmicos, por sua simplicidade e facilidade de compreensão. No Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNI-FACS e na NBR 10520 da ABNT você encontrará informações mais detalhadas sobre os dois sistemas. No sistema numérico, a identificação da fonte da qual foi extraído o trecho citado é feita com a utilização de algarismos arábicos, inserido no final da citação, correspondendo ao respectivo item na lista de referências.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Para Chiavenato habilidade técnica “é a habilidade de fazer coisas concretas e práticas, como desenhar um projeto, compor um cronograma, elaborar um programa de produção, entre outras.” (1) Ou Para Chiavenato habilidade técnica “é a habilidade de fazer coisas concretas e práticas, como desenhar um projeto, compor um cronograma, elaborar um programa de produção, e outras.”1
No sistema autor-data, a chamada da fonte de informação citada é feita pelo sobrenome do autor ou pela instituição responsável pelo mesmo ou até mesmo pelo título da publicação, se não for identificada a autoria, na sequência o ano de publicação e o número da página onde foi retirado o trecho, entre parêntese e separadas por vírgula. De acordo com Nassar (2005, p.26), nos anos 80, a Administração Japonesa se consolida no mundo ocidental. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2008, p.12), o Brasil terá uma produção de 12 milhões de toneladas de arroz em 2008. Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à guerra do Vietnã deu início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas ligadas ao conflito (BALANÇO, 2008, p.24).
Quando a citação literal ou direta possui até 3 três linhas, acompanha o corpo do texto e se destaca com “aspas duplas”. Para as citações diretas longas, com mais de 3 três linhas, deve-se fazer um recuo de 4,0 cm na margem esquerda, diminuindo a fonte e sem as aspas, utilizando espaço simples entrelinhas, conforme demonstrados nos seguintes exemplos:
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AULA 8 - DIVULGAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
Você já deve ter observado em alguns textos que as citações dos sobrenomes dos autores, às vezes, são grafadas de forma diferente, como nos exemplos a seguir. A diferença é a seguinte: quando o sobrenome do autor da citação faz parte do texto, este deve ser grafado com a primeira letra em Maiúscula e as demais em minúscula e quando o sobrenome do autor citado estiver entre parênteses deve ser grafado em letras MAIÚSCULAS. Eco (1999, p. 5) destaca que “fazer uma tese significa aprender a por as ideias em ordem”. “Fazer uma tese significa aprender a por as ideias em ordem.” (ECO, 1999, p. 5).
Nas paráfrases (citação livre ou indireta) se reproduzem as informações, sem transcrever as palavras do autor texto original. Neste caso, não é necessário o uso de aspas e a indicação das páginas consultadas é opcional. Moreira (2003) destaca em um estudo realizado sobre atendimento a menores, que as creches comunitárias expressam uma relação diferente dos orfanatos. As fontes de informação são classificadas em primárias, secundárias e terciárias (CAMPELLO, 2003).
Sempre que possível a citação deve ser feita a partir de documentos originais, mas na impossibilidade de ter acesso direto à fonte, você pode reproduzir uma informação já citada por outros autores. Este tipo de procedimento é denominado de citação de citação onde é transcrito, de forma direta ou indireta, trecho do texto em que não se teve acesso ao documento original. Deve-se citar o sobrenome do autor e a data do texto original (documento que você não consultou) seguindo da expressão latina apud, que significa “citado por”, e logo após, o sobrenome do autor e a data do texto onde você encontrou a citação. “É impossível argumentar que a ciência, a alquímica e a teologia representavam aspectos complementares na busca do divino”. (DOBBS, 1991, p. 293 apud GLEISER, 1997, p. 169). Para Silva (1983 apud ABREU, 1993, p.8) de forma geral, existem, e continuarão a existir, dificuldades na implantação de programas efetivos de educação continuada
REFERÊNCIAS As referências são o conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados de um documento que permitem a identificação das obras citadas, consultadas, ou cuja leitura é sugerida em determinado trabalho.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
A elaboração das referências é orientada pela NBR 6023 da ABNT. Esta norma estabelece regras específicas e relaciona modelos e exemplos de referência para diversos tipos de documentos impressos e eletrônicos. Veja a seguir um exemplo de referência com os elementos descritivos essenciais de um livro que faz parte da bibliografia da disciplina Introdução a Pesquisa Científica.
E por falar nisto, você sabe qual é a diferença entre referência e bibliografia? Bibliografia é o conjunto de publicações que registram a literatura produzida sobre um determinado assunto. Referências é lista das publicações selecionadas da bibliografia do tema da pesquisa que foram utilizadas na elaboração de um trabalho acadêmico e científico. Ainda ficou confuso? Vamos dar um exemplo para esclarecer melhor. Você vai a uma biblioteca ou a uma livraria e se dirige às estantes onde as publicações estão organizadas por grandes assuntos como: administração, computação, direito, engenharia e muitas outras, pois bem, o conjunto das publicações reunidas em grandes assuntos são bibliografias, e a seleção de algumas publicações dessas bibliografias que você utiliza para fazer seu trabalho são as referências. Para elaborar referências de documentos em meio eletrônico, a NBR 6023 orienta que deve ser seguido o mesmo padrão indicado para documentos impressos, acrescentando as informações relativas à descrição física do meio (DVD, CD-ROM etc.). Já para os documentos consultados via on-line, deve ser indicado o endereço eletrônico, entre os sinais < > precedido da expressão Disponível em: e da data do acesso ao documento (dia, mês, ano) e da expressão Acesso em:165
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AULA 8 - DIVULGAÇÃO E NORMATIZAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
Os elementos para elaboração da referência devem ser retirados do próprio documento. Nas publicações impressas como livros e outros trabalhos monográficos, os elementos para elaboração da referência podem ser retirados da folha de rosto ou da ficha catalográfica. Nos periódicos científicos (revistas) essas informações geralmente estão disponíveis no cabeçalho ou no rodapé do artigo. A localização das referências dependerá do sistema de chamada utilizado para indicação das citações: » » caso seja usado o sistema numérico para citação no texto, as referências podem aparecer em nota de rodapé e no fim do texto, apresentadas na ordem em que cada obra aparece no texto; » » as citações do sistema autor-data devem figurar no fim do documento em ordem alfabética única de autor(es) e/ou título(s). Veja a seguir alguns exemplos de citações autor-data e suas respectivas referências: Citação no texto: “É preciso que se saiba com muita clareza por onde corre a fronteira atingida pela ciência”. (GOMES, 2000, p. 6). Referência de artigo de revista: GOMES, H. M. Desenvolvimento da ciência. Revista Bahiana de Ciências. Salvador, v. 3, n. 8, p.5-12, jan. 2000.
Citação no texto: Para Veiga e Ribeiro (1996) “o saber pedagógico não é simplesmente a aplicação de técnicas de educação”. Referência de paper apresentado em congresso: VEIGA, P. O; RIBEIRO, B. M. Analisando proposta de cursos de pedagogia. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 8, 1996, Curitiba. Anais ... Curitiba, ABEC, 1996. (CD-ROM)
Citação no texto: Uma atualização da A Lei do Direito Autoral ocorreu em 19 de fevereiro de 1998, quando entrou em vigor a Lei 9.610/98 que amplia os suportes possíveis para difusão da informação, englobando as novas tecnologias. (BRASIL, 1988). Referência de documento jurídico: BRASIL. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/legis/leis/9610_98.htm>. Acesso em: 12 jun 2008.
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METODOLOGIA CIÊNCIAS E NORMAS TÉCNICAS
Para conhecer as regras de elaboração de referência, consulte a NBR 6023 ou o Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNIFACS e/ou o site da Biblioteca da Universidade de Santa Catarina. Estas fontes oferecem diversos exemplos de referências.
SÍNTESE Neste capítulo, apresentamos as normas técnicas que lhe auxiliarão na elaboração de citações e referências das fontes de informação utilizadas para fundamentar seus trabalhos acadêmicos. A utilização correta desses recursos garantirá o reconhecimento da qualidade de seus trabalhos por parte da comunidade acadêmica.
LEITURAS INDICADAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24p. ______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 7p. MENDONÇA, Gismália Marcelino. Manual de normalização para apresentação de trabalhos acadêmicos. Salvador: Unifacs, 2009. 83p. Disponível em: http://www.unifacs.br/upload/biblioteca/ ManualdeNormalizacao.pdf> Acesso em: 01 abr. 2010.
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