Professor Tomás de Barros (1892-1948)

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PROFESSOR TOMÁS DE BARROS [1892-1948]


Trabalho da turma do 4.º ano da Escola Básica de Campo (Nevogilde), realizado no âmbito do referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”. Coordenação Prof. Luís Ângelo Fernandes Colaboração Profs. Sílvia Moreira, Cristina Matos, Hilária Leal, Nuno Costa, Lurdes Bessa e Joana Coelho, e Educadoras Iolanda Mateus e Rosa Moreira Investigação Álvaro Martim, Cristiano Rafael, Diana Filipa, Diogo António, Diogo Gonçalo, Francisco Coelho, Gonçalo Filipe, Jéssica Leonor, João Dinis, Lara Micaela, Lara Taís, Leonardo Rafael, Lisandro Miguel, Luana Sofia, Mafalda Maria, Maria Beatriz, Maria João Rodrigues, Maria Leonor, Paulo Gabriel, Rodrigo Cristiano, Rúben Alexandre e Sara Daniela Capa e Design Fedra Santos Fotos Carlos Mota (Presidente da Associação de Pais) Paginação e tratamento eletrónico Eduardo Ribeiro Edição Escola Básica de Campo (Nevogilde, Lousada), Agrupamento de Escolas de Lousada Oeste Maio de 2018 Foto da capa: Pelouro do Património Cultural (2002:91).

Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em partes, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros, sem prévia autorização escrita dos autores. Este livro respeita as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


PROFESSOR TOMÁS DE BARROS [1892-1948]


SIGLAS E ABREVIATURAS Arq. – arquivo Coord. – Coordenação D. – Dom / Dona Dr.(ª) – Doutor(a) EB – Escola Básica ed. – edição FC – Futebol Clube fl(s). – fólio(s), folha(s) inf. – informação p., pp. – página, páginas Pe. – Padre Prof.(ª) – Professor(a) R. – Rua SC – Sport Clube UD – União Desportiva


ÍNDICE Uma lição de vida ........................................................................................................... 7 Carta ao Prof. Tomás de Barros ........................................................................................ 8 O ano da bancarrota .............................................................................................. ...... 11 O professor dos professores .......................................................................................... 29 Uma nova didática .............................................................................................. ........ 49 Os jornais ..................................................................................................................... 59 Presidente da Junta de Freguesia .................................................................................. 69 Presidente do FC Lagoense .......................................................................................... 77 Saúde frágil, morte súbita ....................................................................... .................... 87 Agradecimentos ............................................................................................................. 95 Fontes e Bibliografia ....................................................................................................... 96



Uma lição de vida O Prof. Tomás de Barros foi um dos mais ilustres pedagogos na História da Educação em Portugal, aliás referido no "Dicionário de Educadores Portugueses", dirigido pelo Prof. António Sampaio da Nóvoa. Autor de inúmeras obras didáticas, ainda hoje relembradas pelos mais velhos, partidário de uma pedagogia funcional, enraizada na própria vida, e introduzindo novos métodos de ensino e de aprendizagem, tornou-se um educador brilhante e respeitado. Teve, também, outras intervenções na vida pública, nomeadamente enquanto diretor do “Jornal de Lousada” e do semanário “Educação Nacional”, presidente do FC Lagoense e presidente da Junta de Nevogilde, freguesia onde se radicou, trabalhou e faleceu. Ao passarem exatamente 70 anos sobre o seu falecimento, e em pleno Ano Europeu do Património Cultural, é da mais elementar justiça e um dever de memória conhecer o seu percurso e encontrar no seu exemplo o incentivo para uma escola melhor. É este o contributo da Escola Básica de Campo ao elaborar a sua biografia, no âmbito do referencial “Aprender com a Biblioteca Escolar”, procurando, assim, resgatar da penumbra do tempo a sua notável lição de vida.


Carta ao Prof. Tomás de Barros

Vimos por este meio, desde já, deixar o nosso apreço por tudo o que nos deixou e o imenso orgulho por ter sido nosso conterrâneo, apesar de ter nascido em Ferreira, no concelho de Paços de Ferreira. Mas, porque foi a Lousada a que tanto se dedicou, onde viveu e trabalhou, faleceu e está sepultado, é, ainda hoje, uma personagem muito ilustre do nosso concelho. Sabemos que está no sono eterno desde 1945 e, embora não o querendo interromper, embora gostássemos muito de o ter de volta, gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas e de tirar várias dúvidas sobre aspetos da sua vida tão preenchida. Numa pesquisa recente, soubemos que foi professor, aliás, um excelente professor, como dizem todas as pessoas mais idosas aqui na nossa região, e estamos muito curiosos por saber como seria ensinar em tempos tão antigos, onde não havia canetas, quadros interativos, internet ou biblioteca…Realmente, não sabemos como seria possível aprender sem estes materiais, pois, hoje em dia, temos tudo ao nosso alcance, enquanto na sua época nada disto existia e o outro material que havia era muito escasso. Sabemos, também, que foi autor de várias obras didáticas e manuais escolares que muito contribuíram para a evolução do ensino. Aliás, o livro que escreveu sobre a História de Portugal teve mais de 50 edições! Descobrimos, também, que escreveu a Gramática Portuguesa que foi muito divulgada e permitiu a milhares de alunos conhecer e defender a nossa Língua; que foi autor do livro “Ciências Naturais”, de um atlas de Geografia, de cadernos com exercícios de aritmética e geometria, e de livros de preparação para exames. Estamos impressionados com toda a sua inteligência e dedicação ao ensino! Nunca conhecemos uma pessoa assim, com tanto conhecimento em diferentes áreas: Português, Ciências, História, Matemática, Geografia…Realmente temos de estar orgulhosos por todo o seu trabalho e muito lhe devemos pelas suas obras! Além de tudo isto, como arranjou tempo para ser ainda diretor do semanário “Educação Nacional”? E, ao mesmo tempo, diretor do semanário “Jornal de Lousada”? Como conseguia descansar? Nós, com a escola e trabalhos de casa, quase nem temos tempo para brincar, como conseguia fazer isto tudo em 24 horas? Extraordinário! Gostaríamos de saber como era dirigir um jornal naquela época, tempo de fascismo, de repressão e de pouca liberdade de expressão. Não deve ter sido fácil! Na nossa pesquisa, soubemos que também foi Presidente da Junta de Nevogilde, com várias decisões a favor da população, como alargar o caminho do lugar do Monte, limpar sepulturas e muros no cemitério, e que ficou muito ofendido quando a Ditadura o obrigou a sair do cargo.


Agradecemos-lhe muito por tudo o que fez para o desenvolvimento da freguesia, pois nessa altura os tempos eram de muita pobreza e dificuldades. Descobrimos também, que muito ajudou no desenvolvimento desportivo da região e foi presidente do Futebol Clube Lagoense. Como era o campo nessa altura? Tinha balizas e marcas do terreno de jogo? Alguns de nós somos atletas do Lagoas e jogamos futebol. Ficamos muito contentes por saber que foi o senhor que desenvolveu o clube nessa altura, caso contrário não jogaríamos hoje futebol neste clube. Tivemos oportunidade de saber que ali promoveu várias atividades desportivas: jogos de futebol, provas de ciclismo, jogo do pau, tiro aos pratos…e que organizou jogos de futebol com equipas da primeira divisão: o Vitória de Guimarães e o Futebol Clube do Porto! Como conseguiu trazer aqui, à nossa humilde terra, estas grandes equipas? Quem nos dera que fosse vivo para trazer de novo estes ou outros grandes clubes! Acho que não teríamos espaço suficiente para receber todos os assistentes no nosso campo… Sabemos que, também mandou construir balneários novos para os jogadores e que mandou fazer equipamentos novos. Como eram? De que cor? Nós jogamos de preto e branco, seriam estas as cores dessa altura? Por tudo o que nos deixou, sendo conhecido em todo o país e constar no Dicionário dos Educadores Portugueses, temos muito orgulho em si e queremos muito seguir o seu exemplo!

Alunos da EB de Campo



O ano da bancarrota


E

ra muito difícil a situação em Portugal em 1892. Vivia-se sob o efeito da humilhação do Ultimato Inglês, da tentativa da revolta republicana de 31 de janeiro de 1891 e da nomeação de governos de salvação nacional. Também nessa altura sentia-se gravemente os efeitos da recessão económica provocada por uma crise da economia internacional, devido a investimentos especulativos dos bancos da Inglaterra na América Latina (MATA, 2011: 1), sobretudo do Banco Barings and Brothers, um dos principais credores portugueses. Uma situação a lembrar a crise iniciada em 2008 e que ainda estamos a viver. O elevado endividamento, a crise política no Brasil, a queda das exportações de vinhos, a diminuição do afluxo de capital fresco e de ouro aos bancos e aos títulos da dívida pública (SANTOS, 2001: 196), o decréscimo das remessas dos portugueses ali emigrados e a falta de crédito externo obrigaram o Governo a assumir que seria impossível pagar pontualmente os encargos da dívida, pelo que o país entrou em bancarrota, ou seja, em ruína financeira, agravando assim uma crise económica, financeira e política que seria decisiva para o fim da Monarquia. Reinava em Portugal D. Carlos I, casado com a Rainha D. Amélia, que nesse ano fundou o Instituto de Socorros a Náufragos, cuja Medalha veio a ser atribuída ao Contra-Almirante Sebastião Maria Pinto Garcês, senhor da Casa do Vale do Mezio (Nevogilde), que ele próprio mandou construir. O Governo era presidido por José Dias Ferreira, nomeado a 17 de janeiro e destituído a 27 de maio seguinte, que acumulou as pastas do Reino e da Fazenda e procurou recuperar as ideias do Ministro anterior, Oliveira Martins, “levadas à prática a 13 de junho de 1891, data do anúncio oficial da impossibilidade de o Estado garantir o pagamento integral dos juros da dívida externa” (NUNES, 2011: 749). A oposição republicana era favorável à declaração da bancarrota parcial, enquanto os credores se manifestavam contra. A solução definitiva apenas foi encontrada no convénio de 1902, com a dívida convertida num novo empréstimo amortizável a 99 anos, até 2001. Entretanto, o chefe do Governo parecia agradar igualmente ao Partido Regenerador, devido aos resultados eleitorais nas eleições de 1892 e da maioria mantida na Câmara dos Deputados. “Era a normalidade possível numa conjuntura de crise, não apenas portuguesa mas europeia” (NUNES, 2011: 750).

Edição do “Jornal do Porto” no dia do nascimento de Tomás de Barros.

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Se foi neste contexto que D. Carlos se apresentou ao exterior como Rei de Portugal (NUNES, 2011: 750), foi também neste ambiente que, a 23 de fevereiro de 1892, uma terça-feira, em São Pedro de Ferreira (Paços de Ferreira), nasceu Tomás Augusto Pinto de Barros, filho natural de Josefina Pinto de Barros, natural de Freamunde. Ao não ser registada a identidade do progenitor, supomos, por isso, ter sido ser filho de mãe solteira, que, à luz do cânone social da época, o obrigou a transportar para sempre a desagradável, injusta e incorreta filiação de “pai incógnito”. Desconhecemos, se, em algum momento, Tomás de Barros veio a tomar conhecimento da identidade paterna. Pelo menos, quer no assento de batismo da filha que perfilhou, quer no seu próprio registo de óbito, continuou a não ser mencionada a sua paternidade. A hipótese de ser o Prof. Joaquim da Costa Machado, com quem a mãe viria a casar oito anos depois, apresenta fraca consistência: por um lado, pela circunstância de ser mais velho apenas 16 anos e, assim, o ter gerado com 15 anos de idade, o que, não sendo impossível, é muito pouco plausível; por outro lado, a plena integração futura e a excelente harmonia familiar teriam levado, com toda a naturalidade, a assunção da paternidade. Sabe-se, sim, ter sido neto materno de José Pinto de Barros e de Rosalina Augusta Chaves Ferreira Velho. José Pinto de Barros, farmacêutico – inaugurando uma linhagem na área da farmácia prolongada até aos dias de hoje –, era natural de Nevogilde (Lousada), de onde provinha a ascendência materna, enquanto a parte paterna, de onde provém o apelido Barros, se radicava em São Martinho de Recezinhos (Penafiel). Por sua vez, os antepassados da avó materna, Rosalina Augusta Chaves Ferreira Velho, provinham, da parte paterna, de Freamunde e de Carvalhosa (Paços de Ferreira), e, do lado materno, de Fafe e de Chaves. Tomás Augusto, batizado a 25 de fevereiro de 1892, dois dias após o nascimento, na igreja de Ferreira pelo Pe. José Joaquim da Silva Machado, herdou o primeiro nome do padrinho, Tomás Ribeiro Machado, casado, proprietário, que o abençoou com a madrinha, Joaquina da Siva Barros1.

Assento de batismo de Tomás de Barros2.

1 N.º 6 Thomaz [em linha]. 2 N.º 6 Thomaz [em linha].

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Mosteiro de Ferreira, onde Tomás de Barros foi batizado. Arq. da Rota do Românico.

No mesmo ano nasceram outras figuras muito importantes para a História do concelho de Lousada: o Major Arrochela Lobo, natural de Vilar do Torno, Provedor da Santa Casa da Misericórdia, grande obreiro da construção do novo Hospital, secretário do Conselho Municipal e entusiasta do caminho-de-ferro de Penafiel à Lixa; o Prof. Dr. Hermenegildo Queirós, da Casa de Vilar (Lodares), doutorado em Ciências Matemáticas pela Universidade do Porto, onde foi professor catedrático de Geometria Descritiva e diretor da Faculdade de Ciências, e vereador da Câmara do Porto; e Álvaro Pacheco Teixeira Rebelo de Carvalho, natural de Silvares, Presidente da Câmara de Lousada, da Secção Concelhia da União Nacional e do Grémio da Lavoura. Também em 1892, o Presidente da Câmara Municipal era o Dr. José Camilo Alves Teixeira de Carvalho, o Conde de Alentém foi nomeado Governador Civil de Viana do Castelo e ficou concluída a construção do templo do Senhor dos Aflitos. Em Nevogilde, o Pe. Joaquim Gomes Pacheco de Carvalho, transferido para a paróquia de Pias, era substituído na presidência da Junta por Manuel Ribeiro Meireles. No plano internacional, nasciam Josip Broz Tito, presidente da Jugoslávia, Haile Selassie, Imperador da Etiópia, e Francisco Franco, ditador de Espanha. O mundo caminhava para o século XX, com todo o seu cortejo de conquistas e de horrores.

Major Arrochela Lobo3, Dr. Hermenegildo Queirós4 e Álvaro Rebelo de Carvalho5 também nasceram em 1892.

3 Arq. da Família. 4 Pelouro do Património Cultural, 2002: 93. 5 Pelouro do Património Cultural, 2002: 61.

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Genealogia ascendente do Prof. Tomás de Barros PROF. TOMÁS AUGUSTO PINTO DE BARROS, nascido a 23/2/1892, em Ferreira (Paços de Ferreira), filho natural de Josefina Pinto de Barros6. Faleceu em Lagoas, Nevogilde (Lousada), a 30/12/19487.

PAIS PAI INCÓGNITO JOSEFINA PINTO DE BARROS, nascida a 10/7/1869 em Freamunde, filha de José Pinto de Barros e de Rosalina Augusta Chaves Ferreira Velho8. Veio a casar a 22/4/1900, em Freamunde, com o PROF. JOAQUIM DA COSTA MACHADO9 (nascido a 10/2/1876 em Freamunde, filho de Justino da Costa Machado e de Vitória Ribeiro de Sousa Neves10, e falecido a 26/4/1955 em Nevogilde11). Faleceu a 30/9/1950 em Nevogilde12.

Excerto do assento de batismo de Josefina. 6 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267528 6 tif (consulta em 12/1/2018). 7 Livro de Baptismos, Casamentos e Óbitos da Paróquia de Nevogilde, 1949, n.º 1. 8 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267812 76 tif (consulta a 2/4/2018). 9 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267835 27 e 28 tif (consulta em 4/4/2018). 10 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267812 192 tif (consulta em 9/1/2018). 11 Registo de Óbitos de Nevogilde de 1955, nº 4. 12 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267812 76 tif (consulta em 4/4/2018).

Genealogia ascendente do Prof. Tomás de Barros | 17


Assento de casamento de Josefina com o Prof. Joaquim da Costa Machado13. 13 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267835 27 tif (consulta a 6/4//2018).

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AVÓS JOSÉ PINTO DE BARROS, farmacêutico, nasceu a 5/3/1842 em Nevogilde, filho de Joaquim Pinto de Barros e de Luísa Maria Ribeiro da Silva14. Faleceu de tuberculose a 5/11/1875, no lugar da Feira, em Freamunde15. ROSALINA AUGUSTA CHAVES FERREIRA VELHO nasceu a 16/12/1847 em Freamunde, filha de José Maria Ferreira Velho e de Delfina da Conceição Chaves. Casou em segundas núpcias a 17/7/1894 com o DR. ANTÓNIO JOSÉ FERREIRA MARNOCO E SOUSA (viúvo, nascido em 1836 em São Vítor, Braga, e falecido a 17/3/190816), em Covas (Lousada), onde faleceu a 15/10/193317.

Assento de batismo do avô José Pinto de Barros.

Assento de batismo da avó Rosalina.

14 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1226252 96 tif (consulta em 4/4/2018). 15 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267845 104 tif (consulta em 4/3/2018). 16 Jornal de Lousada, 22/3/1908, p. 2. 17 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=900883 131 tif (consulta em 5/4/2018).

Genealogia ascendente do Prof. Tomás de Barros | 19


BISAVÓS JOAQUIM PINTO DE BARROS, farmacêutico, nasceu a 25/7/1808 em Leirós, São Martinho de Recezinhos (Penafiel), filho de José Pinto de Barros e de Maria Antónia18. Casou com Luísa Maria Ribeiro da Silva.

Assento de batismo do bisavô Joaquim.

LUÍSA MARIA RIBEIRO DA SILVA nasceu a 10/10/1806 em Nevogilde, filha de José Ribeiro da Silva e de Ana Luísa da Silva19.

Assento de batismo da bisavó Luísa.

JOSÉ MARIA FERREIRA VELHO nasceu a 26/7/1816 em Freamunde, filho de Luís António Ferreira Velho e de Rosa Joaquina de Oliveira. Casou com Delfina da Conceição Chaves20. Faleceu a 17/12/1884 em Freamunde21. 18 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=751673 116 tif(consulta em 5/4/2018). 19 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=540231 33 tif (consulta em 4/4/2018). 20 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=481379 577 tif (consulta em 14/3/2018). 21 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267845 174 tif (consulta em 14/3/2018).

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Assento de batismo do bisavô José Maria.

DELFINA DA CONCEIÇÃO CHAVES nasceu a 20/9/1822 na Rua de Cima (Santa Eulália de Fafe), filha de José Teixeira Chaves e de Luísa Rosa de Castro22. Faleceu a 30/10/1884 em Freamunde23.

Assento de batismo da bisavó Delfina.

TRISAVÓS JOSÉ PINTO DE BARROS nasceu em Leirós (São Martinho de Recezinhos) a 22/4/1785, filho de Custódio José Pinto e de Ana Maria de Barros. Casou com Maria Antónia. MARIA ANTÓNIA, filha de Luís Moreira e de Gertrudes Vieira. JOSÉ RIBEIRO DA SILVA nasceu a 19/12/1836 em Lagoas (Nevogilde), filho de António José Ribeiro e de Custódia Maria da Silva24. Casou com Ana Luísa da Silva. Faleceu a 19/12/1836 em Nevogilde25.

22 http://pesquisa.adb.uminho.pt/viewer?id=1006125 130 tif. (consulta em 5/4/2018). 23 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267845 172 tifn(consulta em 6/4/2018). 24 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=540229 803 tif (consulta em 6/4/2018). 25 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1226285 32 e 33 tif (consulta em 6/4/2018).

Genealogia ascendente do Prof. Tomás de Barros | 21


Assento de batismo do trisavô José.

ANA LUÍSA DA SILVA, filha de José Nunes e de Francisca Ferreira, faleceu a 18/12/1845, com cerca de 66 anos, em Nevogilde26. LUÍS ANTÓNIO FERREIRA VELHO, músico, nasceu a 10/12/1771 em Carvalhosa, filho de Rodrigo António e de Mariana Mendes da Costa27. Casou com Rosa Joaquina de Oliveira, a 20/9/1800, em Carvalhosa28. Faleceu a 20/6/1852, em Freamunde29. ROSA JOAQUINA DE OLIVEIRA, bordadeira, filha de pai incógnito e de Rosa da Costa. Faleceu a 10/10/1823, no lugar da Feira, em Freamunde30. JOÃO TEIXEIRA CHAVES nasceu em Chaves, filho de João Gonçalves e de Ana Teixeira. Casou com Luísa Rosa de Castro. LUÍSA ROSA DE CASTRO, natural de Fafe, filha de João José de Castro e de Maria Lopes.

TETRAVÓS CUSTÓDIO JOSÉ PINTO NUNES, natural de Silvares? Casou com Ana Maria Barros. ANA MARIA BARROS, de Venda do Campo (São Martinho de Recezinhos). 26 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1226285 51 tif (consulta em 5/4/2018). 27 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=480863 780 tif (consulta em 5/4/2018). Inicialmente dado como filho natural, deve ter sido posteriormente perfilhado. 28 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=480881 64 e 65 tif (consulta em 6/3/2018). 29 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267853 58 tif (consulta a 4/4/2018). 30 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267853 6 tif (consulta a 30/4/2018).

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LUÍS MOREIRA Casado com Gertrudes Vieira. GERTRUDES VIEIRA Residente no lugar de Leirós (São Martinho de Recezinhos). ANTÓNIO JOSÉ RIBEIRO, filho de José Ribeiro e de Josefa Luísa Teixeira. Casou com Custódia Maria da Silva. CUSTÓDIA MARIA DA SILVA, de Lagoas (Nevogilde), filha de João da Silva Coelho e de Catarina Ferreira, do Unhão. JOSÉ NUNES Casado com Francisca Ferreira. FRANCISCA FERREIRA Natural da Juía (Lodares). RODRIGO ANTÓNIO, natural de Carvalhosa (Paços de Ferreira), filho de João Velho e de Maria Ferreira, casou com Mariana Mendes da Costa e, em segundas núpcias, a 6/12/1825, com BERNARDINA RIBEIRO, viúva, nascida em 1781 e falecida a 6/6/183931. MARIANA MARTINS DA COSTA. Tetravô incógnito. ROSA DA COSTA. JOÃO GONÇALVES, natural de Santa Maria Maior (Chaves). ANA TEIXEIRA, natural de Santa Maria Maior (Chaves). JOÃO JOSÉ DE CASTRO nasceu a 31/1/1830 em Santa Eulália de Fafe, filho de Manuel de Castro e de Teresa de Castro32.

31 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=900885 10 tif (consulta a 7/4/2018). 32 http://pesquisa.adb.uminho.pt/viewer?id=1006126 4 tif (consulta a 7/4/2018).

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Assento de batismo do tetravô João José.

MARIA LOPES, do lugar de São Gemil (Santa Eulália de Fafe).

PENTAVÓS JOSÉ RIBEIRO, natural do Unhão (Felgueiras), casou com Josefa Luísa Teixeira33. JOSEFA LUÍSA TEIXEIRA, natural do Unhão (Felgueiras). JOÃO DA SILVA COELHO, natural do Carreiro (Nevogilde), casou com Catarina Ferreira. CATARINA FERREIRA, do lugar do Carreiro (Nevogilde). JOÃO VELHO MARIA FERREIRA Natural de Meixomil (Paços de Ferreira). MANUEL DE CASTRO, do lugar do Castro (Santa Eulália de Fafe), filho de Cristóvão de Castro e de Maria de Castro. Casou com Teresa de Castro. TERESA DE CASTRO, filha de José de Castro e de Josefa de Castro.

33 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=751671 834 e 835 tif (consulta a 7/4/2018).

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HEXAVÓS CRISTÓVÃO DE CASTRO, do lugar da Vale (Santa Eulália de Fafe). Casou com Maria de Castro. MARIA DE CASTRO, residente no lugar da Vale (Santa Eulália de Fafe). JOSÉ DE CASTRO, do lugar de Fafoa (Santa Eulália de Fafe). Casou com Josefa de Castro. JOSEFA DE CASTRO

Feira de Fafe no séc. XIX34.

Igreja de Santa Maria Maior, em Chaves35.

34 https://www.google.pt/search?q=fotos+antigas+de+fafe&rlz=1C1GCEA_enPT777PT777&biw=1242&bih=557&tbm=isch&source=iu&ictx=1&fir=q9skGsMP4rKvfM%253A%252Cfkdj1EcZylmR0M%252C_&usg=__FKmwe0uSxT_3eCc1QZBy08PK0_M%3D&sa=X&ved=0ahUKEwjwm4up6JzbAhUFsxQKHTGCAgMQ9QEIKTAA#imgrc=kiWzeBNbia-6qM 35 https://chavesantiga.blogs.sapo.pt/tag/1965

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26 | Genealogia ascendente do Prof. Tomรกs de Barros


O professor dos professores

Genealogia ascendente do Prof. Tomรกs de Barros | 27


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oucos anos decorridos após o nascimento de Tomás de Barros, surgiu um manifesto em favor da instrução popular e em defesa dos docentes do ensino primário, lançado na cidade do Porto em 1897, no âmbito de um congresso que reuniu o professorado primário português (BARREIRA, 2011: 2). Denunciava “o vergonhoso défice intelectual do país: cinco milhões de portugueses/quatro milhões de analfabetos”, ou seja, 80% de população iletrada. Iniciava-se, então, a luta contra o analfabetismo, bandeira de “uma geração que tentaria mudar os rumos da educação em Portugal” (BARREIRA, 2011: 2). De facto, a transição do século XIX para o século XX representou um momento decisivo no processo de construção da “escola de massas” em Portugal. Nesse momento, e ao longo de toda a Primeira República (1910-1926), a escola assumiu “uma grande centralidade no quadro do projeto de homogeneização cultural dirigido pela elite política e intelectual da época e centrado na ideia de Estado-nação” (BARREIRA, 2011: 3), tanto mais que “na prática discursiva dos ideólogos da Primeira República a educação escolar, ainda que mínima, para todos era concebida como um direito do cidadão e um dever do Estado republicano (BARREIRA, 2011: 3). Nisso mesmo se incorporou o princípio constitucional da gratuitidade e obrigatoriedade escolar de cinco anos, mas a diferença entre as intenções legislativas e a realidade do país era clamorosa: “Portugal, a avaliar pela legislação do ensino primário, seria, em matéria de educação, um país relativamente adiantado, porque no papel temos uma boa parte de quanto, em nossos dias, se exige para resolver, com acerto, o problema da cultura infantil (Alves dos Santos, diretor geral do ensino em 1910), mas, para quem, como nós, conhece a realidade das coisas, esses diplomas não passam de curiosos documentos da nossa hipocrisia oficial” (João Barroso, in CORREIA, 2007: 14). Neste ambiente se configurou o percurso académico de Tomás de Barros, no qual seguramente terá sido determinante a influência do padrasto, Prof. Joaquim da Costa Machado.

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PROF. JOAQUIM DA COSTA MACHADO

N

ascido a 10 de fevereiro de 1876 em Freamunde, filho de Justino da Costa Machado, natural de Freamunde, e de Vitória Ribeiro de Sousa Neves, de Valongo, casou com Josefina Augusta Pinto de Barros a 22 de abril de 1900 na igreja paroquial de São Salvador de Freamunde36. Foi professor em Nevogilde e Lustosa, Delegado Escolar de Lousada (julho de 1911-fevereiro de 1946) e Cavaleiro da Ordem da Instrução Pública, falecendo em Lagoas a 26 de abril de 1955. Sepultado em Nevogilde (FERNANDES, 2017: 97).

Prof. Joaquim da Costa Machado, padrasto de Tomás de Barros37.

Na mesma linha se inscreveu o itinerário dos outros filhos, meios-irmãos de Tomás Augusto: Adolfo, Amâncio, Eurico e José da Costa Machado. É curioso que todos eles tinham Augusto no segundo nome e, seguramente, por influência da mãe, progenitora comum. Na verdade, a avó Rosalina também era Augusta, à semelhança de mais três dos seus nove irmãos (tios-avós de Tomás): Augusto Maria, Maria Augusta e Amélia Augusta38. Era percetível uma forte ligação entre todos os membros do agregado familiar, bem patente no projeto da Editora Educação Nacional, de que Adolfo veio a assumir a gerência, com sede na R. do Almada, n.º 125, no Porto, e na qual Tomás de Barros veio a publicar a totalidade das obras didáticas e a dirigir o jornal homónimo. Também o prematuro falecimento de Eurico, com apenas 29 anos, professor em Mouriz (Paredes), abalou imenso a família, com Tomás de Barros a expressar no dia do funeral: “Morreste para viver! Intenso e ardente é o desejo que tenho em aproximar-me de ti, para viver morrendo também”39, para além, da dedicatória, anos mais tarde, numa das edições da “História de Portugal”: “À saudosa memória do meu querido irmão Eurico Augusto da Costa Machado” (BARROSd (s/d: [2]). Era, portanto, uma família unida e solidária, com elevada sensibilidade para a importância do prosseguimento de estudos e para as questões da Educação.

36 http://pesquisa.adporto.pt/viewer?id=1267835 27 tif (consulta a 6/4//2018). 37 Jornal de Lousada, 24/1/1950, p. 1. 38 Alexandrino Chaves [em linha]. 39 Arq. da Prof.ª Maria Eugénia Rocha.

O professor dos professores | 29


Prof. Adolfo Augusto da Costa Machado, com a esposa, Maria Isabel Cristo Machado, e o filho Fernando, na sua casa, em data e local incertos. Foi professor do ensino primário, proprietário da Editora Educação Nacional e tesoureiro do FC Lagoense. Coleção particular da Prof.ª Maria Eugénia Machado da Rocha.

O Prof. Eurico Augusto da Costa Machado nasceu a 22 de janeiro de 1903 e faleceu a 5 de junho de 1932 em Mouriz (Paredes), onde se encontra sepultado40. Professor e Juiz da Paz, casou com a Prof.ª Eva Augusta da Silva (2/1/190331/3/1970), de quem teve três filhos: Maria Josefina, Maria Emília e Maria José, de 6, 4 e 2 anos de idade à data do seu falecimento41.

Coleção particular da Prof.ª Maria Eugénia Machado da Rocha.

O Prof. Amâncio Augusto da Costa Machado lecionou em Lustosa (Lousada), transitando depois para o Porto, onde foi sócio-gerente da Editora Educação Nacional. A modéstia levou-o a solicitar à família que não fosse divulgado o seu falecimento, ocorrido a 10/12/1957. Foi a sepultar no cemitério de Agramonte, no Porto, deixando viúva D. Gracinda Cunha Carvalho e duas filhas: Prof.ª Maria da Graça e D. Maria José42.

40 Cemitério de Mouriz. 41 Arq. da Prof.ª Maria Eugénia Rocha. 42 Jornal de Lousada, 4/1/1958, p. 1.

30 | O professor dos professores


O Prof. José Augusto da Costa Machado nasceu a 3 de setembro de 1905 e faleceu no Porto a 4 de fevereiro de 199843. Professor primário em Louredo, Delegado Escolar de Paredes, diretor do jornal “Educação Nacional” e Presidente do Conselho Fiscal do FC Lagoense, casou com a Prof.ª Maria da Conceição Pimenta Lobo44.

Coleção particular da Prof.ª Maria Eugénia Machado da Rocha.

EM COIMBRA

T

omás de Barros ingressou no Liceu de Coimbra45, mas, devido à ausência de registos, subsiste a dúvida acerca das datas de frequência. Considerando que concluiu na mesma cidade o curso do Magistério Primário, com a duração de três anos, em 1919, admite-se como mais verosímil que os anos imediatamente anteriores tenham sido de estudos liceais, nos quais, assim sendo, terá ingressado já com cerca de 20 anos. Ou seja, uma idade relativamente tardia. Que condições se conjugaram para esta oportunidade? E porquê Coimbra, e não o Porto ou mesmo Penafiel, onde nessa época o Colégio do Carmo possuía já elevada reputação e acolhia estudantes de famílias gradas da região? De onde vinham os proventos para sustentar a sua vida académica? Que atividade desenvolveu desde o final da instrução primária, certamente concluída cerca de dez anos antes, até ao ingresso no liceu? São questões fundamentais a que não conseguimos responder de forma irrefutável no tempo útil desta investigação. No entanto, subsiste ainda na tradição oral da família a informação de que a entrada tardia no curso liceal se deveu ao facto de Tomás Augusto ter tido uma paralisia, eventualmente consequência de poliomielite ou meningite, que não só o terá impedido de prosseguir estudos em idade expectável como, pela deficiência com que ficou numa das pernas, não foi admitido nos liceus do Porto46. A opção por Coimbra deveu-se, também, à influência do Prof. Dr. Marnoco e Sousa47, cuja 43 Arq. do Registo Civil de Paredes, Registo de Óbitos de 1932, documento n.º 166, maço n.º 3. 44 Inf. da sobrinha-neta Prof.ª Maria Eugénia Rocha. 45 RIBEIRO (1999: 91) e “Educação Nacional” de 9/1/1949, p.2, referem ter sido o Liceu D. João III, mas esta designação só surgiu em 1936, quando o estabelecimento já funcionava noutras instalações, na sequência da fusão dos liceus José Falcão e Júlio Henriques (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 236). 46 Inf. da sobrinha-neta Prof.ª Maria Eugénia Rocha. 47 Inf. da sobrinha-neta Prof.ª Maria Eugénia Rocha.

O professor dos professores | 31


madrasta era avó materna de Tomás Augusto. Natural de Sousela e com residência em Covas, onde regularmente se deslocava para visita à família – e onde acabou por ser sepultado –, era, pois, muito próximo do círculo familiar do nosso biografado. Além disso, sendo um ilustre lente universitário, diretor da Biblioteca Joanina e Presidente da Câmara de Coimbra, para além de Ministro da Marinha e do Ultramar no último Governo da Monarquia, era uma presença muito prestigiada nos meios políticos e académicos, e com uma elevada consciência social, cuja monumentalidade da sua obra e da sua figura hoje “refulgem ainda mais imponentes” (MARCOS, 2008: 43), constantemente evocado no estudo do Direito e da Economia Social. Terá sido, pois, pela sua intercessão que se configurou a opção por Coimbra, permitindo, assim, a Tomás de Barros ingressar no ensino liceal e, seguidamente, enveredar pelo curso do Magistério Primário, que já estaria de antemão nas suas cogitações, imitando assim a saída profissional do padrasto e de todos os seus quatro meios-irmãos. Relativamente aos encargos, sendo embora de considerar a circunstância de o agregado já contar com sete pessoas, e com todos os filhos a estudar, o que naturalmente representava uma responsabilidade muito elevada, tanto mais que o padrasto era o único com rendimento fixo, poderemos descortinar outros proventos, quer na ascendência materna – o avô era farmacêutico e a avó proprietária –, quer do Prof. Joaquim da Costa Machado, que veio a legar aos filhos várias quintas, nomeadamente a de Santa Isabel (Lodares), deixada ao Prof. Adolfo; em Boim, herdada pelo Prof. José; uma designada Quinta do Paço, ao Prof. Amâncio48, e a Casa da Ponte, em Nevogilde, transmitida ao próprio Prof. Tomás de Barros, onde a sua filha viria a viver49. Estaríamos, assim, perante um agregado com bastante desafogo financeiro.

Colégio de São Bento, em Coimbra, na atualidade50 .

48 Inf. da Prof.ª Maria Eugénia Rocha. 49 Inf. de D. Felicidade Martins. 50 http://www.uc.pt/ruas/inventory/mainbuildings/bento (consulta a 16/2/2018).

32 | O professor dos professores


Situemo-lo então no liceu, que em 1914 adotou o nome de Liceu José Falcão, cujas instalações eram do Colégio de S. Bento, junto aos Arcos do Jardim51. Tratava-se de um estabelecimento frequentado, ao longo dos anos, por figuras que vieram a ter grande relevo da vida nacional, nomeadamente o escritor Almada Negreiros e os Presidentes da República António José de Almeida, Bernardino Machado e Manuel Teixeira Gomes52, sendo mesmo distinguido em 1906 pela Direção-Geral da Instrução Pública devido à qualidade do seu ensino, num panorama nacional pouco animador (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 235). No corpo docente estavam sete professores da universidade, “incluindo o seu reitor, Doutor António Garcia de Vasconcelos, que seria mais tarde o primeiro diretor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra” (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 235). A implantação da República, em 1910, não terá tido repercussões de maior no funcionamento do Liceu, “que manifestou o seu apoio à mudança do regime”, pelo que o reitor, António Thomé, manteve-se em funções, vindo mais tarde, tal como outros professores, designadamente o pedagogo João de Deus, a ser investido noutros cargos públicos ligados à Educação (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 235). Deve ter sido neste clima político de mudança que se deu o ingresso de Tomás de Barros, e que certamente muito o terá influenciado, sobretudo no seu pensamento pedagógico e na vida profissional. Começou a discutir-se um novo paradigma educativo, baseado na revisão dos conteúdos curriculares e na redistribuição da carga horária das diferentes disciplinas, pois o modelo vigente produzia “fadiga intelectual e psíquica nos alunos, transformando-os em aparelhos recetores, amortecendo-lhes a natural viveza e espírito de iniciativa que convém desenvolver” (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 235). “À prática antiga do professor tomar a lição deve suceder o princípio pedagógico de ensinar, que não quer dizer ministrar maior ou menor número de disciplinas” (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 236). Sobretudo, procurava-se estimular o desenvolvimento de um espírito livre, crítico e científico, devidamente acompanhado da formação de professores. No ano letivo 1915/16 era frequentado por cerca de 800 alunos de ambos os sexos (NÓVOA E SANTA-CLARA, 2003: 234), embora, naturalmente, separados no interior, como era inevitável na época.

51 Escola Secundária José Falcão [em linha]. 52 História [em linha].

O professor dos professores | 33


NO MAGISTÉRIO PRIMÁRIO

P

osteriormente, na mesma cidade frequentou a chamada Escola Normal Primária (Pelouro do Património Cultural, 2002: 91), onde cursou o Magistério Primário, concluído em 1919. Tratava-se de um estabelecimento de ensino anexo à Universidade de Coimbra, que revelou muito empenho no desenvolvimento moral e literário dos alunos, a quem sempre dedicou atenção especial, explicando os conteúdos “com a indispensável clareza” (MOTA, 2012: 4).

Professores da Escola Normal de Coimbra Professor

Disciplina

Alfredo de Freitas

Aritmética, Ciências e Pedagogia

António Augusto Cortesão

Desenho

António Cândido de Almeida Leitão

Direitos e deveres dos cidadãos/Instrução Cívica, Pedagogia e Português

António Couceiro Martins

Aritmética, Ciências e Desenho

Augusto da Costa Martins

Ginástica

Bernardino da Fonseca Lage

Aritmética, Ciências, Desenho e Pedagogia

Duarte Mendes da Costa

Desenho, Direitos/Instrução Cívica, Francês e Português

Francisco Lopes Lima de Macedo

Música

Guilhermino Augusto de Barros

Geografia e História

Ismael de Moura Tavares

Aritmética, Direitos/Instrução Cívica, Francês e Português

João dos Santos Donato

Aritmética, Ciências e Desenho

José Correia Marques Castanheira

Direitos/Instrução Cívica, Geografia e História e Português

José da Costa Henriques

Francês e Português

José Falcão Ribeiro

Direitos /Instrução Cívica, Geografia e História e Pedagogia

José Tomás da Fonseca

Geografia e História e Português

Macário da Silva

Direitos /Instrução Cívica e Português

Ricardo Simões dos Reis

Francês e Português

Disciplinas lecionadas por cada professor (1914-1919) (MOTA, 2012: 8).

34 | O professor dos professores


Escola Normal Primária de Coimbra, no Largo da Sé Velha. Coleção particular do Prof. Dr. Luís Mota.

O diretor, empossado em 12 de dezembro de 1910, era António Cândido de Almeida Leitão (1880-1949), grande republicano, que em Coimbra foi também Administrador do Concelho, membro do Senado Municipal e Vereador.

Horário da Escola Normal Primária de Coimbra (1918-1919). (MOTA, 2012: 7).

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Horário da Escola Normal Primária de Coimbra (1918-1919). (MOTA, 2012: 7). Classes

Horas por

1.ª

2.ª

3.ª

disciplina

3

3

3

9

3

3

3

9

3

3

3

9

1

1

3

5

2

2

2

6

3

3

3

9

Ginástica

4

2

2

6

Música

4

2

2

6

Português (Língua e Literatura Portuguesa)

3

3

3

9

2

3

3

8

?

?

0

Componentes

Disciplinas Aritmética (prática e geometria elementar; noções de escrituração comercial e agrícola) Ciências (Elementos de ciências naturais e suas aplicações à agricultura e à higiene; Desenho (Caligrafia; desenho linear e de ornato; cópia de mapas)

Formação Geral e Ciências da

Direitos/Instrução cívica (Moral e doutrina cristã; direitos e deveres dos cidadãos; economia doméstica) Francês (Língua Francesa)

Especialidade

Geografia e História (Geografia, cronologia e história, com especialidade a de Portugal)

Formação de

Pedagogia (e, em especial, metodologia do ensino

Pedagogia

primário; legislação primária portuguesa)

Prática pedagógica

Prática de ensino

Planos de Estudos 1918-1919 (MOTA, 2012: 7)

Aula do curso do Magistério Primário em Lisboa53.

53 http://lh6.ggpht.com/-fUWwy4ISklc/UeOsu0VHc1I/AAAAAAAA9To/ZdQpNR0P9Io/s1600-h/Escola-do-Magistrio-Primrio.21.jpg (consulta a 28/2/2018.).

36 | O professor dos professores


Tratava-se, como se conclui da carga horária, de um curso muito teórico, “com um peso significativo da formação geral, procurando dar resposta à baixa formação exigida como condição de admissibilidade e um conjunto de disciplinas da especialidade do professor do ensino primário, aparentemente, sem qualquer articulação com exercícios práticos de ensino” (MOTA: 2012: 8).

A primeira colocação foi recebida com entusiasmo54 .

CARREIRA PROFISSIONAL

T

omás de Barros ficou habilitado para a docência quando já tinha 27 anos, suscitando desde logo uma notícia entusiasmada do “Jornal de Lousada”: “O magistério primário muito tem a lucrar com a entrada para o seu seio deste belo espírito e formosa inteligência, rapaz cheio de boa vontade e facilidades de trabalho, condições essenciais para o desempenho da nobre missão a que vai entregar-se”55. E o jornal antecipava o regozijo por a sua primeira colocação se perspetivar para uma escola móvel a ser criada em Boim: “É motivo para felicitarmos os povos desta freguesia que terão ensejo de apreciar as esplêndidas qualidades de professor e de homem que possui aquele nosso amigo, a quem antecipadamente também felicitamos pela sua colocação em Boim”56. De facto, assim aconteceu, assumindo a regência a partir de 1 de outubro de 1919, numa sala de aula instalada na residência paroquial57. 54 Jornal de Lousada, 7/9/1919, p. 2. 55 Jornal de Lousada, 7/9/1919, p. 2. 56 Jornal de Lousada, 7/9/1919, p. 2. 57 Jornal de Lousada, 5/10/1919, p. 3.

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Residência Paroquial de Boim, onde Tomás de Barros se estreou como professor. Coleção particular de Carlos Mota.

Na sala do 1.º andar (à esquerda, antes da varanda), funcionou a antiga escola de Sousela. Coleção particular do Prof. Luís Ângelo Fernandes.

O seu início profissional dá-se exatamente no mesmo ano da entrada em vigor da grande reforma do ensino primário, implementada pelo ministro e filósofo Dr. Leonardo Coimbra, que, apesar de permanecer apenas um mês no cargo, fundiu os, até então, ensinos primários obrigatório de três anos e não obrigatório num ciclo único de cinco anos (entre os sete e os 12 anos de idade), designado Ensino Primário Geral. Seguidamente, surgia o Ensino Primário Superior, um ciclo de três anos correspondente ao primeiro ciclo liceal, medidas sobretudo destinadas às classes populares e na confirmação do pensamento da República segundo o qual “homem vale, sobretudo, pela educação que possui” (CORREIA, 2010: 1). Em 1923 é proposta uma reorganização do sistema educativo pelo Ministro da Instrução, Dr. João José Camoesas, conhecida por “Reforma Camoesas”, que teve contributos importantes, nomeadamente do filósofo e pedagogo António Sérgio, nunca concretizada devido à instabilidade política, mas com o mérito de ter sido a primeira tentativa de uma lei de bases do sistema educativo.

38 | O professor dos professores


A docência de Tomás de Barros era supervisionada pela figura do Inspetor de Círculo, com funções de conceção intermédia, coordenação e orientação pedagógica, controlo das Juntas Escolares e dos próprios professores, e, a nível concelhio, pela Câmara Municipal, a quem competia assegurar os vencimentos e o controlo de assiduidade (CORREIA, 2007: 16). Por sua vez, “as escolas eram governadas por dois órgãos: o Diretor, nomeado pelo governo, sob proposta do Inspetor de Círculo, e o Conselho Escolar, constituído por todos os professores efetivos da escola. O Diretor era o órgão de administração da escola, subordinado ao Inspetor de Círculo, assumindo ao mesmo tempo a função de coordenação dos professores do estabelecimento” (CORREIA, 2007: 16). Após exercer em Boim, transitou, sucessivamente, para Sousela, Louredo e Beire. Radicado na povoação de Lagoas, em Nevogilde, provavelmente desde 1900 – data do casamento da mãe, quando ele tinha oito anos –, na mesma casa onde vivia a sua família e que, no rés-do-chão, acolhia a escola masculina da localidade58, mais tarde veio a possuir também uma habitação no lugar da Caselha, devido ao facto de no mesmo lugar residir Felicidade de Jesus Martins, com quem veio a assumir relação íntima59, assim como foi proprietário da Casa da Ponte, junto ao Rio Mezio60. Ainda hoje há quem evoque o facto de trazer sempre chocolates para distribuir às crianças, uma raridade numa época de pobreza61.

Residência do Prof. Tomás de Barros. No piso de baixo funcionou a escola primária. Coleção particular de Carlos Mota.

58 Inf. de José Maria Vasconcelos e de “Nelinho da Padaria”. 59 Inf. de José Martins Nunes. 60 Inf. de José Martins Nunes. 61 Inf. de Maria Joana Teixeira de Sousa e Augusto Teixeira de Sousa.

O professor dos professores | 39


Escola Primária de Louredo em 1939. Arq. da Câmara Municipal de Paredes.

A instauração da Ditadura, com o golpe de 28 de maio de 1926, “construiu uma administração pública fortemente condicionadora das liberdades cívicas e dos direitos fundamentais, estruturando-se segundo modelos fortemente hierarquizados e centralizados”, em que o controlo “do poder político sobre o funcionalismo público foi absoluto” (CORREIA, 2007: 16). Com 70% da população ainda analfabeta em 1930, é neste ano que se inicia uma autêntica contrarreforma, com a definição da escola salazarista: diminuição do tempo de escolaridade obrigatória, que passa para quatro anos, exaltação dos valores da pátria, da religião e da família, cumprimento de obrigações morais e cívicas, fundação da Mocidade Portuguesa ou condicionamento do casamento de professoras primárias (CORREIA, 2007: 17), para além da criação de “postos de ensino, com professores sem qualquer tipo de habilitações académicas, designados por “regentes escolares”. E o resultado desta política traduziu-se em elevadas taxas de analfabetismo e de evasão escolar (CORREIA, 2007: 19). Depois de extintos os Conselhos Escolares e os Conselhos Administrativos das escolas, concentraram-se no Diretor e/ou Regente Escolar todas as funções administrativas. Foram também extintas as Juntas Escolares (CORREIA, 2007: 45). Por sua vez, as Inspeções de distrito passam a chamar-se Direções Escolares e a nível concelhio as Delegações de Inspeção de distrito tornam-se Delegações Escolares (CORREIA, 2007: 46). De acordo com o decreto nº 26.369, de 30/3/1933, ao Delegado competia, nomeadamente, cooperar com os serviços de recenseamento escolar e de estatística, organizar o serviço de matrículas, requisitar pessoal docente agregado e propor autorização de desdobramentos, controlar

40 | O professor dos professores


as faltas do pessoal docente, processar as folhas de vencimento, receber as relações dos alunos para admissão a exame e promover junto das entidades competentes a aquisição de mobiliário e material de ensino (CORREIA, 2007: 52). Tomás de Barros pouco podia fazer num estado fortemente centralizado, para quem a escola era apenas um serviço local, com a atividade pedagógica totalmente subordinada à organização administrativa, como refere o Dr. Henrique da Costa Ferreira: "O professor do ensino primário era, fundamentalmente, um órgão de informação no que respeita ao preenchimento de inquéritos estatísticos (...). Colocado na estrutura administrativa como o grau mais baixo da hierarquia, o professor relacionava-se privilegiadamente com a Junta de Freguesia e com o Pároco, a nível local, e com a Delegação Escolar e a Câmara Municipal, a nível concelhio (...) [mas] a comunicação com a Câmara Municipal e com a Direção Escolar tinha de ser mediatizada pela Delegação Escolar. Em nada tinha autonomia para decidir sobre a vida escolar e tudo o que não estivesse regulamentado deveria ser objeto de exposição superior" (FERREIRA, 1992: 135). É neste contexto que encontramos uma exposição efetuada por Tomás de Barros à Câmara de Paredes em 12 de dezembro de 1934, solicitando intervenção urgente perante a degradação da escola de Louredo, onde na altura lecionava, merecendo resposta quase imediata, pois a 14 de janeiro seguinte já as obras se tinham iniciado.

Carta à Câmara de Paredes solicitando a reparação da escola de Louredo. Arq. da Câmara Municipal de Paredes.

O professor dos professores | 41


42 | O professor dos professores


A transferência para Beire ocorreu depois de 1936, dado que a 28 de julho desse ano foi dirigido ao Ministro da Educação Nacional um abaixo-assinado de chefes de família e outros de maior idade, paroquianos da freguesia, referindo que o número de crianças em idade escolar era cerca de 130, das quais três partes ficam sem instrução elementar por não poderem ser admitidas na escola mista devido a excesso de lotação, pelo que solicitavam a urgente necessidade de criação doutro lugar do sexo masculino, até porque o edifício construído para o efeito dispunha de duas amplas salas62. Uma das signatárias era a Prof.ª Carlota Delfina de Barros, com quem o Prof. Tomás de Barros viria depois a trabalhar naquele núcleo. Devido à deficiência numa das pernas, provavelmente na perna esquerda63, sem, no entanto, nunca recorrer a bengala ou a qualquer outro acessório64, deslocava-se a cavalo – chamado Garrito65, que quando morreu foi enterrado no lugar do Monte66 – e posteriormente de bicicleta67.

Antiga escola primária de Beire, onde lecionou durante largo período. Coleção particular de Carlos Mota.

Não foi possível ter acesso a documentos comprovativos do seu desempenho docente, havendo, contudo, ainda hoje, testemunhos orais da sua competência e capacidade retórica de quem o conheceu ou dele ouviu falar, sendo mesmo considerado “o professor dos professores” (RIBEIRO, 1999: 91). O seu aluno Manuel Pinto Cardoso, residente em Matas (Beire), em depoimento recolhido antes de falecer, em 24/4/2014, afiançava tratar-se de um pedagogo muito competente e de elevada eloquência. Era, realmente, “um professor íntegro e muito considerado”68. 62 A União, agosto de 1936, p. 692. 63 Inf. de José Couto Moreira e José Maria Vasconcelos. 64 Inf. de José Maria Vasconcelos. 65 Inf. de D. Felicidade Martins. 66 Inf. de José “do Penedo”, Maria Joana Teixeira de Sousa, Augusto Teixeira de Sousa e Manuel Martins “Ninó”. 67 Inf. de José do Couto Moreira. 68 Inf. de José Maria Vasconcelos.

O professor dos professores | 43


“Partidário indefesso de uma pedagogia funcional, enraizada na própria vida e despida de obsoletos e dessorados formalismos, criou um conjunto de trabalhos, destinados às escolas primárias, que são verdadeiramente modelares.69” Uma das suas principais características foi a introdução de uma nova metodologia pedagógica: “Profligando velhos e cansados processos docentes, inadequados aos princípios da escola renovada, e haurindo a profunda lição de psicologia da vida infantil, estruturou novos métodos, realizando, no transcurso de escassos anos, o que poderíamos chamar o milagre da sua obra.70” Prestou, assim, à educação e ao país um contributo importantíssimo, justificando o apreço, admiração e estima de colegas e alunos, e merecendo a sofrida, mas sempre atual homenagem que o jornal “Educação Nacional” lhe tributou: “Curvamo-nos, reverentes, perante essas recônditas vozes do querido mestre que, mesmo do Além, continua a tutelar a áspera cruzada deste sacerdócio de longos anos em prol de uma classe que à Nação tem prestado o melhor do seu esforço e valimento. E do fundo da nossa alma, deixemos que brotem, em exuberante floração de sentido preito, o testemunho sincero do nosso reconhecimento”71.

Anúncio de equipamento de escola primária fabricado em Freamunde72 .

69 Jornal de Lousada, 29/1/1949, p. 1. 70 Jornal de Lousada, 29/1/1949, p. 1. 71 Educação Nacional, 9/1/1949, p. 2. 72 https://www.todocoleccion.net/antiguedades-tecnicas/portugal-escuela-muebles-catalogo-antonio-pereira-da-costa-freamunde-fabricante-leer-mas~x33528256#sobre_el_lote

44 | O professor dos professores


Mapa usado na escola primĂĄria em grande parte do sĂŠculo XX. Arq. da EB de Campo.

O professor dos professores | 45



Uma nova didรกtica


H

á registos de que, durante a sua vida estudantil em Coimbra, Tomás de Barros tenha assinalado algumas investidas literárias. Pelo menos, é o que recorda o “Jornal de Lousada” quando o apresenta como novo diretor, em 1945: “As suas faculdades de escritor, já conhecidas de muitos, e tão bem patentes já nos primeiros surtos literários da sua mocidade verdadeiramente acordada para a vida intelectual na olímpica “cidade dos doutores”, encontram-se em plena maturidade”73. Desconhecemos onde terá publicado, à exceção do artigo “Socialismo”, de que damos conta noutro capítulo desta obra, mas o mesmo jornal, justificando com encomiástica ênfase a sua escolha para o comando do periódico, garante estarmos perante um “espírito arguto, ponderado e firme, [que] desde cedo foi fadado para a difícil e privilegiada arte de manejar a pena”74. Logo na edição seguinte, surge um poema, intitulado “Canção da Dobadoira”, assinado por um Augusto Pinto, que, eventualmente, poderá ser uma incursão poética do próprio Tomás de Barros, recorrendo à assinatura dos seus dois restantes nomes.

O primeiro poema enquanto diretor do jornal”75.

73 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 74 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 75 Jornal de Lousada, 2/6/1945, p. 1.

48 | Uma nova didática


No entanto, ficou para a História como autor de uma vasta e preciosa obra didática, publicada pela Editora Educação Nacional, propriedade do seu meio-irmão Adolfo, que, em 1933, a havia comprado ao sócio António Figueirinhas, que a fundara cerca do ano 1900. Participavam também na sociedade outro meio-irmão, provavelmente o Prof. Amâncio, embora com uma cota mínima, e o Dr. Cristo (FIGUEIREDO, 2011: 3), sogro de Adolfo. Os trabalhos de impressão eram executados na Tipografia Modesta, com oficinas na R. dos Caldeireiros, no Porto. Desde a compra pelo Prof. Adolfo Machado até 1940 a empresa conheceu um significativo crescimento, sendo “um dos principais fornecedores de manuais escolares para Portugal e para as colónias, de tal modo que se formavam grandes filas à porta da editora para a compra dos livros escolares (FIGUEIREDO, 2011: 4). É precisamente neste período que intervém o nosso biografado. A publicação das suas obras, iniciada em 1939, conheceu, a partir daí, elevadas tiragens e múltiplas edições76, que “refletem, ao vivo, os preciosos atributos que exornam o seu autor: inteligência, perspicácia, cultura, sentido das realidades, operosidade, dotes de escritor77”. De facto, em apenas quatro anos, até 1943, foi autor de “Lições de Aritmética” para a 1.ª e 2.ª classe. “Lições de Aritmética”, para a 3.ª classe. “Lições de Aritmética”, para a 4.ª classe. “Caderno de Exercícios de Redacção”, para a 2.ª classe. “Caderno de Exercícios de Redacção”, para a 3.ª classe. “Caderno de Exercícios de Redacção”, para a 4.ª classe e Exame de Admissão aos Liceus. “Ponto de Admissão aos Liceus” (coleção de 20 números). “Pontos de Exames para Regentes de Postos Escolares” (coleção de 20 números). “Atlas de Geografia”. “Atlas mudo de Geografia” (contendo 62 exercícios). “Sumário de História de Portugal”. “Gramática Portuguesa”. “Ciências Naturais”.

Arq. da EB de Campo.

76 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 77 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1.

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Arq. da EB de Campo.

Outras publicações se seguiram, sempre com elevada aceitação, integradas na Série Escolar “Educação”, nomeadamente: “História de Portugal”. “Exercícios de Redacção para a 2.ª Classe”. “Livro de Leitura para 4.ª classe” (em coautoria com José Lobo). “16 Pontos para Admissão aos Liceus e Escolas Técnicas”. “Rudimentos de Gramática Portuguesa. Com exercícios graduados para todas as classes do ensino primário e admissão aos liceus”. “Exercícios e Problemas de Aritmética e Geometria (1.ª e 2.ª classe)”. “Exercícios e Problemas de Aritmética e Geometria (3.ª classe)”. “Problemas de Aritmética e Geometria (4.ª classe) e admissão aos Liceus” (coautoria de José Lobo). “História de Portugal” (coautoria de José Lobo).

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Arq. da EB de Campo.

Porém, “não é apenas pela quantidade que o nome do opulento semeador se impõe”, pois “há algo mais importante a valorizar-lhe o esforço: a qualidade”78. Na verdade, “escrever uma obra didática perfeita é, já por si, um trabalho árduo, porém, escrever a mesma obra para a Escola Primária é tarefa que nem a todos é dado a executar, não já pela soma de conhecimentos que exige da matéria a explanar, mas por um fundo de princípios psicopedagógicos e metodológicos que simplifica e é mister conhecer”79. Ele próprio esclarece na apresentação do "Sumário de História de Portugal”: “Como o próprio nome indica, não prima, porventura, nem pela vastidão dos conceitos nem pelo emaranhado dos factos históricos que mais viessem complicar, dificultar e confundir, ainda, o exercício desta importante disciplina, adentro da Escola Primária Portuguesa. Orientados por este critério, assim, procurámos ser sóbrios e compreensíveis, e também honestos e justos, limitando-nos, pois, a coligir os factos mais importantes, isto é, as verdades e tradições históricas que as crianças devem aprender, para a formação do seu carácter, num sentido utilitário e puramente nacionalista e cristão. Se a história é a grande mestra da vida e se a nossa é a mais bela do mundo, torna-se, por isso, mister que os pequeninos escolares a conheçam tanto quanto possível, a fim de, fortalecidos pelos sãos exemplos de tantos dos seus varões assinalados, poderem receber e legar depois às gerações vindoiras, num esplendor de beleza, de unidade e renovação, a sublime herança de Portugal eterno" (BARROSc, s/d: 4). Na apreciação crítica à sua bibliografia, eram normalmente sublinhados o apelo à intuição, lógica no desdobramento das noções, linguagem acessível e atraente aspeto gráfico. Além disso, “os seus livros testemunham uma lúcida visão do mundo espiritual da criança e ao mesmo tempo a clara compreensão dos métodos e processos a seguir. Há neles o que lhe prende a atenção, e a instrui e educa.80” 78 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 79 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 80 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2.

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São disto exemplo as “Lições de Aritmética”, manual esclarecedor para uma disciplina tão abstrata: “Recheiam esses cadernos, profusamente, exercícios e problemas muito práticos, bem seriados e por vezes apresentados graficamente. Precedem-nos sempre resumos da matéria a versar.81” Por sua vez, a temática dos “Cadernos de Exercícios de Redação”, com notas explicativas, gravuras, contos morais, fábulas e desenhos, inscrevia-se numa ideologia educativa, nacionalista e cristã, enquanto o “Atlas de Geografia”, profusamente ilustrado com gravuras e mapas, “e acompanhado de elucidativos resumos, encontra o escolar o suficiente para se tornar senhor da matéria que lhe é exigida pelos programas82”. Em nova edição de “Ciências Naturais” (BARROSa, s/d: 2), o autor adverte que o livro “não tem a pretensão de se impor como compêndio erudito e desenvolvido de factos e conhecimentos” tratados na disciplina, antes procura “sintetizar em linguagem simples e clara, sempre acessível e adequada à fase intelectual dos seus pequenos leitores, a matéria elementar exigida” pelos programas em vigor. “Outra joia é a Gramática Portuguesa. Veio a lume em 1941. Honra-a um prefácio de Augusto Moreno83, mestre dos mestres [que afirma, na 14ª edição]: “o livro satisfaz plenamente as exigências dos programas e da pedagogia. O autor não faz inovações, que seriam descabidas na fase e no grau de ensino a que o livro é destinado: limita-se a expor com bastante desenvolvimento as doutrinas correntes da gramática tradicional” (BARROSb, s/d: [2].)

Anúncio no jornal Educação Nacional84.

81 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 82 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 83 Professor, linguista, tradutor, poeta e prosador (1870-1955). 84 Educação Nacional, 7/1/1945, p. 5.

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Todavia, foi a sua “História de Portugal”, com mais de 50 edições, que mais se enraizou na memória coletiva, constituindo um compêndio prático e acessível, “sem esquecer ou mutilar o que é mister conhecer-se na Escola Primária”, seguindo “o critério, digno de todos os aplausos, que à História atribui uma função educativa e um sentido de formação nacionalista”85. O manual “tornou-se conhecido de lés a lés, passando a constituir como que livro de uso obrigatório, embora os professores dispusessem de liberdade de escolha” (MAGALHÃES, 2017: 3), mas “a atraente exposição de factos e a elegância e simplicidade da escrita conseguiam superar as dificuldades de um programa reconhecidamente extenso”, afirmando-se, ainda agora, como instrumento de consulta rápida (MAGALHÃES, 2017: 3). O compêndio conheceu uma “triunfal existência de quase cinco lustros e foi mestre seguro de mais de um milhão de pequenos portugueses e auxiliar preferido” do professorado (BARROS e LOBO, s/d: 3). “Pela sua operosidade tão profícua, [o Prof. Tomás de Barros} tornou-se verdadeiramente credor dos agradecidos aplausos dos que aprendem e dos que ensinam. A Escola Primária deve-lhe muito. O mesmo a Nação.86” Com efeito, é “hoje consensual a opinião de com ele se iniciou, em Portugal, uma nova era no campo da didática” (MAGALHÃES, 2017: 3). Aliás, em “Problemas de Aritmética e Geometria”, confessa, juntamente com o coautor José Lobo, que este manual de apoio aos professores “não tem outro intuito que não seja o de facilitar a onerosa tarefa do Mestre adentro da Escola, facultando-lhe apreciável economia de tempo, quer pela apresentação esquemática de raciocínio a fazer (…), quer por alguns indículos de carácter metodológico, conducentes a integrar o ensino da matéria versada nos princípios de uma boa didática (BARROS e LOBO, [1945: 2]. Afirmou-se, assim, num expoente da didática, mobilizando mesmo a editora a desfazer quaisquer equívocos relativamente à propriedade autoral, vincando expressamente todos os direitos quando da criação da Livraria Figueirinhas, em 1946.87

Esclarecimento no jornal Educação Nacional88.

85 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 86 Jornal de Lousada, 30/1/1943, p. 2. 87 Educação Nacional, 15/12/1946, p. 16. 88 Educação Nacional, 15/12/1946, p. 16.

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A morte prematura, com apenas 56 anos, impediu-o de uma produção editorial ainda mais alargada. Mesmo assim, deixou-nos um aparatoso legado, resultante do seu espírito indómito, extraordinária dedicação e intensa capacidade de trabalho, como bem resumiu o jornal “O Educador”: “Espírito trabalhador e fecundo, metodólogo ativo e consciente, (…) foi, incontestavelmente, como professor e como autor, um incansável batalhador contra o analfabetismo no nosso país”89.

Prof. Tomás de Barros em 194890.

89 Educação Nacional, 6/2/1949, p. 1. 90 Educação Nacional, 9/1/1949, p. 1.

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Os jornais


O

utra das incursões do Prof. Tomás de Barros foi o jornalismo. É certo que, em 1918, publicou um artigo no “Jornal de Lousada” criticando o que designava “utopia socialista”, e que em 1934 assinou, no mesmo periódico, textos plenos de romantismo acerca de uma prova de tiro aos pratos, “festa elegante, simpática e de elite”, a ser disputada por iniciativa do FC Lagoense, de que era presidente da direção. Provavelmente também terá subscrito o intenso noticiário que, a partir da sua tomada de posse naquele cargo, passou a constar das edições do “Jornal de Lousada” e do “Heraldo” entre 1934 e 1935. No entanto, foi preciso esperar dez anos, até à edição n.º 2.490, de 26 de maio de 1945, para o encontrarmos a diretor do “Jornal de Lousada”, cargo que exerceu até à data do seu falecimento, coincidindo com o n.º 2.675, de 25 de dezembro de 1948, embora o número seguinte, de 1 de janeiro de 1949, ainda apresentasse o seu nome no cabeçalho, pelo facto de a morte inesperada, ocorrida a 30 de dezembro, ter surpreendido o jornal, já em fecho de edição. Foi o 7.º diretor, após Artur Bivar, José Teixeira da Mota (duas vezes), Alfredo José Ferreira, Joaquim Augusto da Silva Moura, Antero Pacheco da Silva Moreira e Manuel Pires Teixeira da Mota, de um jornal fundado em 1907 que ao longo da sua existência foi reunindo colaborações de reputadas figuras da intelectualidade nacional. Tomás de Barros inicialmente declinou o convite, invocando obrigações profissionais, prosseguimento do trabalho bibliográfico e impreparação para o cargo, mas as sucessivas insistências, nas quais se envolveram também razões de amizade pessoal, quebraram a resistência, pelo que o convite reiterado acabou por ser aceite91. As razões de amizade tinham fundamento. Tomás de Barros era amigo íntimo da família de José Teixeira da Mota, fundador do jornal, padrinho do filho Augusto e visita frequente do outro filho, Manuel Pires Teixeira da Mota, secretário da Câmara Municipal92. No entanto, estamos em crer que um importante critério para a escolha de Tomás de Barros residiu numa razão política. Embora não seja notório o posicionamento do novo diretor, sabe-se que o “Jornal de Lousada” assentou desde a sua fundação numa matriz progressista e republicana, corporizada por José Teixeira da Mota. Tendo este falecido apenas seis anos antes e tendo toda a estrutura do jornal (direção, administração e propriedade) permanecido na família, com o mesmo alinhamento ideológico, não é crível que a opção por Tomás de Barros não tivesse levado em linha de conta a identificação com a herança memorialística do fundador. No texto de apresentação, que intitula “Explicação desnecessária”, Tomás de Barros frisa aceitar desinteressadamente o novo desafio, apenas acalentado pela ideia de servir, “tanto quanto melhor a nossa missão jornalística, posta, como até agora, ao serviço do bem e para o bem sempre votada”93. E assume um compromisso público: “Hoje como ontem, amanhã como sempre, defenderemos, sem medo ou hesitação, a verdade e a justiça, a força do direito contra o direito da força; seremos impiedosos contra a postergação das leis e dos princípios da boa socio91 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 92 Inf. de Rui Luís Teixeira da Mota, filho de Manuel Pires Teixeira da Mota, em 24/1/2018. 93 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1.

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logia que giram em torno das noções de ordem, de disciplina, de família, de Pátria e de Estado; propugnaremos fervorosamente pelos interesses legítimos do concelho, como mensageiros das suas reivindicações, das suas belezas e honras, e como paladinos dos seus valores históricos, turísticos, económicos e espirituais”94. O periódico manifestou elevado orgulho ao anunciar a escolha: “O Jornal de Lousada considera-se em festa – festa íntima, nimbada de claridades espirituais, sem exteriorizações vãs ou artificiosos aparatos que tolham a espontânea e grata emoção que sentimos ao vermo-nos sob o comando de um homem cujo nome, nos últimos tempos, rompeu, em prestígio, o apertado círculo do meio em que vive para projetar-se Nação em fora”, (…) tornando-se, presentemente, conhecido nos quatro cantos do País e até em algumas paragens do nosso Império.95” Após sublinhar que o indigitado “reúne todos os predicados exigidos para as nobres funções a que gentilmente, e embora com sacrifícios, se prestou a desempenhar”, salienta o seu “espírito arguto, ponderado e firme, desde cedo fadado pelo destino para a difícil e privilegiada arte de manejar a pena96”. A apresentação foi mesmo encomiástica: “Tomás de Barros imprime nos seus escritos, de qualquer feição que sejam, rasgada convicção, vivacidade, que se traduzem numa prosa cintilante e viril, contundente em lances de diatribe, e maviosa em tiradas de lirismo.97”

Em 1945 tornou-se diretor do “Jornal de Lousada”98.

94 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 95 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 96 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 97 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1. 98 Jornal de Lousada, 26/5/1945, p. 1.

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Será, eventualmente, da sua autoria o poema “Canção da Dobadoira”, publicado no número seguinte, mas assinado como Augusto Pinto, os seus dois restantes nomes. Embora não originais, a inclusão de textos de escritores consagrados começou a normalizar-se, surgindo nomes como Fialho de Almeida, Gomes Leal, António Nobre, Júlio Dantas, Luís de Montalvor, Florbela Espanca, António Feliciano de Castilho, João de Deus e Miguel Torga, para além de originais de Lanardo Saquetim, anagrama de Arnaldo Mesquita, advogado e antifascista, natural da Senhora Aparecida, que viria a ser preso e torturado pela PIDE, falecido em 2011; do Prof. Fernando Soares, entretanto colocado em Nevogilde; do Consultor Vaz-Osório da Nóbrega, especialista em Heráldica e autor de “Pedras de Armas do Concelho de Lousada”, e de Orlando de Sotto Mayor futuro coordenador de uma secção literária. A linha editorial explorou a aparente abertura política de Salazar logo após o fim da Segunda Grande Guerra, surgindo intervenções na defesa dos direitos das mulheres e, principalmente, várias crónicas extraídas do jornal “República”, destacado protagonista das ideias laicas e liberais do regime republicano e vincado opositor ao salazarismo. Num dos excertos, reproduzido no “Jornal de Lousada” em setembro de 1945, era reclamado o direito para “todos os portugueses irem às urnas, para todos se inscreverem nos cadernos eleitorais e votarem em quem quiserem”99. Na edição de 27 de outubro, ao mesmo tempo em que era noticiada a atividade da Oposição Democrática, a manchete reproduzia declarações do Dr. Carlos Olavo, figura republicana madeirense: “Eleições livres! Só depois delas o Governo poderá dizer que está com ele a Nação”100.

Em defesa da democracia101.

99 Jornal de Lousada, 20/10/1945, p. 1. 100 Jornal de Lousada, 27/10/1945, p. 1. 101 Jornal de Lousada, 27/10/1945, p. 1.

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O movimento reivindicativo prosseguia, e nas semanas seguintes destacava artigos de Rocha Martins, novamente retirados do “República”, criticando Oliveira Salazar. Aliás, o escritor celebrizou-se pelos escritos naquele jornal, levando os ardinas a gritar: “Fala o Rocha! Fala o Rocha!,” e em surdina: “E o Salazar à brocha!”. Apesar de o periódico lousadense ainda inserir referências aos vultos da causa republicana, como António José de Almeida e José Relvas102, o certo é que a inserção, em finais de 1945, de um artigo, extraído do “Diário Popular”, da autoria de Ramiro Valadão, destacado político ligado ao Estado Novo e responsável pela propaganda da União Nacional, marcou uma nova fase na orientação editorial, a partir daí politicamente bem mais discreta. Mesmo assim, é de salientar a denúncia do incumprimento no concelho do regime de horário laboral, com empregados comerciais a permanecerem nos estabelecimentos cerca de 12 horas por dia, com curtos períodos de descanso para almoço e sem receberem o pagamento de horas suplementares. Desta vez, a notícia foi reproduzida no “República”103. Prosseguiu, também, a enumeração de carências e realizações do concelho e contou com a colaboração regular do Prof. Manuel Vieira Dinis, futuro editor, com artigos de fundo sobre problemas, carências e aspirações locais, enquanto Augusto Soares de Moura, o futuro “Coronel da Lama”, apresentava importantes estudos sobre a História do concelho.

Estabelecimento comercial “A União” em 1928, onde veio a funcionar a redação do “Jornal de Lousada” e, mais tarde, a Ourivesaria Lousada104.

102 Jornal de Lousada, 10/11/1945, p. 1. 103 Jornal de Lousada, 29/6/1946, p. 1. 104 ANTT.

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"EDUCAÇÃO NACIONAL"

S

imultaneamente, Tomás de Barros foi também diretor do semanário “Educação Nacional”, com sede na cidade do Porto, propriedade da editora homónima, tendo como editor o seu meio-irmão Prof. Adolfo Machado. Com publicação iniciada a 4 de outubro de 1896 e editado durante quase um século, embora com algumas interrupções de permeio, foi um dos periódicos sobre educação e ensino com mais longevidade no nosso país, projeto editorial de António Figueirinhas (1865-1965), constituindo um instrumento defensor da dignidade da profissão docente. Por exemplo, escrevia o próprio Figueirinhas em 1904: “O professor, dia-a-dia, pela sobrecarga constante de deveres e pela forçada miséria material, se afirma um mártir heroico, que morre no reduto esgotado aos primeiros ataques da ignorância e da rotina. Junca-se a gleba de cadáveres de professores primários ignorados, como alguns campos de batalha dos de soldados obscuros, à voz de conquistadores desdenhosos.

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Não é um sacerdócio: é um suicídio. Não é uma dedicação: é uma abdicação dos direitos mais rudimentares da existência (Educação Nacional, n.º 381, 10/01/1904, citado por BARREIRA, 2011: 6-7). Tomás de Barros, que substituiu o fundador imediatamente após a morte deste, assumiu funções em 1 de abril de 1945. Na crónica de apresentação confessava: “Ao confiarem-me a árdua tarefa de dirigir um jornal como a Educação Nacional, confesso, sinceramente, que me senti inquieto por temer não fruir os predicados indispensáveis que tal função exige e não poder realizar tudo quanto de mim esperam, tão difíceis e graves me parecem as responsabilidades do encargo. [...] Sem alteração do programa que há 42 anos está abrilhantando a trajetória gloriosa da Educação Nacional, cumpre-me ainda evidenciar algumas aspirações que, naturalmente, trago no pensamento – fazer realçar, tanto quanto puder e souber, a prestimosa Classe do Professorado Primário”105. Comprometia-se, também, a “diligenciar para que este jornal nunca se apresente retrógrado, porque tem de seguir as evoluções dos tempos e das ideias, nem revolucionário, sinónimo de subversivo, porque a ordem e a disciplina são os pilares em que se apoia a grandeza moral de uma Nação”106. A estrutura do periódico estava dividida em duas partes. Na designada “secção consultiva” eram tratados assuntos de pedagogia, linguística, gramática, ortografia, aritmética e geometria, enquanto na “secção oficial” era abundante o noticiário sobre a classe docente: transferências, prorrogações, provimentos, contratos, diuturnidades e autorizações, inclusive as permissões de as professoras poderem contrair matrimónio. Ou seja, uma publicação que acentuava a dimensão formativa e informativa: “Na primeira, com trabalhos de reconhecido mérito das áreas pedagógica e didática, na segunda, levando atempadamente ao professor do mais afastado lugarejo aquilo que de seu interesse houvesse sido publicado no então Diário do Governo” (MAGALHÃES, 2017: 3). Tomás de Barros “apresta a sua pena e escreve… – escreve de alma em fogo, ao jeito apostólicos dos velhos semeadores e da verdade e dos ardentes defensores das grandes causas”107, sem, contudo, lhe serem conhecidas polémicas ou roturas. Aliás, “perante o entrechoque de ideias ou conflituosas situações, quer entre amigos, quer entre conhecidos, a sua palavra serena e meditada, revérbero de um espírito límpido e bem formado, sempre indicara o roteiro pacífico das melhores soluções”108. Se “a sua vida foi uma lição de boa camaradagem”109, teve, porém, uma existência breve. E, após o falecimento, assumiu a direção do semanário “Educação Nacional” o seu meio-irmão José Machado. Mas a linha editorial prosseguiu.

105 Educação Nacional, 1/4/1945, p. 1. 106 Educação Nacional, 1/4/1945, p. 1. 107 Educação Nacional, 9/1/1949, p. 1. 108 Educação Nacional, 9/1/1949, p. 1. 109 Educação Nacional, 9/1/1949, p. 1.

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BOLETIM “DOURO LITORAL”

F

oi possível, ainda, descortinar uma participação de Tomás de Barros no “Douro Litoral”, Boletim da Comissão Provincial de Etnografia e História, editado no Porto por Domingos Barreira, com publicação de 1940 a 1959. O registo é respeitante a Jogos e Brinquedos Tradicionais usados na Escola Masculina de Beire, no qual o autor descreve os jogos do pião, do botão, da barra e alerta110.

110 Douro Litoral, Volume VII, 2.ª Série, ano de 1947, pp. 40-41.

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Colaboração no Boletim “Douro-Litoral”111.

111 Douro Litoral, Volume VII, 2.ª Série, ano de 1947, pp. 40-41.

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Presidente da Junta de Freguesia


N

ão possuímos elementos suficientemente claros para enquadrar o pensamento político do Prof. Tomás de Barros. Sabe-se que as suas obras didáticas se integravam na ideologia nacionalista e cristã do regime do Estado Novo, exaltando os valores da Pátria e os feitos heroicos. Conhece-se, também, um texto muito crítico sobre as doutrinas socialistas, publicado em 1918, no qual, embora reconhecendo que “o socialismo é um sonho bonito, mas perigoso”, afirma tratar-se de “um sistema político que foi posto em uso para simular a ideia de comunismo, que numa certa época caracterizava determinadas sociedades secretas e sanguinárias”112. Mais adiante, sublinhava: “Esforçam-se pela uniformidade económica e moral da Humanidade, querem a emancipação do trabalhador, a liberdade do proletariado e reclamam, simultaneamente, o sacrifício deste à comunidade! Ora isto é um dogma, e um dogma foi sempre, através de todos os tempos, uma coação, um constrangimento. A teoria dos socialistas é só mentira, falsidade, simulação.113”

Manifesto contra as doutrinas socialistas114.

112 Jornal de Lousada, 8/12/1918, p. 1. 113 Jornal de Lousada, 8/12/1918, p. 1. 114 Jornal de Lousada, 8/12/1918, p. 1.

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No entanto, como que em contraditório de ambos os posicionamentos, surge uma intervenção assumida quando da dissolução dos corpos administrativos do país, pelo governo da Ditadura Militar saído da Revolução de 28 de maio de 1926. Tomando conhecimento do decreto publicado no “Diário do Governo” de 13 de julho de 1926, Tomás de Barros, na altura presidente da Junta de Nevogilde, convocou uma sessão extraordinária para 18 de julho, da qual saiu exarado um vigoroso protesto, que ele mesmo lavrou: “Os membros da Junta desta freguesia de Nevogilde abaixo assinados, legitimamente eleitos pela vontade dos seus paroquianos, vêm expressar e manifestar o seu mais enérgico e veemente protesto contra o referido decreto que dissolve os corpos administrativos, o que bem representa uma violência para as regalias populares e um grave melindre para todas as liberdades públicas. Antes, porém, de deixarem os lugares que por direito lhes pertencem à face das leis da República, querem ainda salientar o seu reconhecimento ao povo que os elegeu e, cônscios de terem sabido honrar o seu mandato, esperam confiantes que a normalidade constitucional não se fará demorar para, assim, poderem novamente ocupar os seus lugares, prosseguindo na sua patriótica tarefa do engrandecimento desta freguesia e na sua obra administrativa de bem servir o povo que em si plenamente confiou.115”

“Um enérgico protesto” contra o ataque às liberdades. Actas, fl. 33 e 33vº.

115 Livro das Actas, fls. 33vº-34.

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Após a votação da proposta, aprovada por unanimidade, foi encerrada a sessão com vivas à Pátria e à República por ele próprio proferidos, “os quais foram por todos os membros presentes delirante e entusiasticamente correspondidos”116. Tomás de Barros tinha-se iniciado na atividade autárquica a 2 de janeiro de 1923, como vogal da Junta de Nevogilde, presidida pelo Tenente Pedro Lobo Machado de Sousa Meireles, da Casa do Carreiro de Cima, após eleição verificada a 26 de novembro do ano anterior117. Integravam também o executivo Belmiro Francisco Dias, Américo Moreira Lobo e Manuel Magalhães, enquanto o Prof. Joaquim da Costa Machado, seu padrasto, assumia as funções de secretário. As sessões decorriam nas instalações da residência paroquial, quinzenalmente, no segundo e quarto domingo de cada mês, pelas 12h00118.

Na Residência Paroquial decorriam as reuniões da Junta de Freguesia. Coleção particular de Carlos Mota.

Devido ao poder limitado e à insuficiência de meios, pouca atividade há a registar neste mandato, que se prolongou até 1925, tão-somente vendas de sepulturas e fixação da percentagem sobre as contribuições industrial e predial. Curiosa a deliberação de aumentar para 45 escudos anuais o vencimento do encarregado de olhar pelo cemitério e de dar corda ao relógio da igreja. O total da receita em 1923 foi de 359$50 e da despesa 150$59119.

116 Livro das Actas, fl. 34. 117 Livro das Actas, fl. 1. 118 Livro das Actas, fl. 1vº-2. 119 Livro das Actas, fl. 10.

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Foi precisamente neste mandato que a sua mãe, Josefina Augusta Pinto de Barros, solicitou a compra no cemitério de 4m2 de terreno para a construção de duas sepulturas perpétuas120, uma das quais ele próprio viria a ocupar quando do seu falecimento, em 1948. Em 27 de dezembro de 1925 foi eleito Presidente da Junta, sendo o restante executivo composto por Américo Moreira Lobo, António Martins e Ligardo Ferreira121. Empossado a 2 de janeiro de 1926, a prioridade foi a rede viária, avançando o processo de reparação e alargamento do caminho do lugar do Monte, cujo estado era “verdadeiramente intransitável”, implicando a demolição de uma ramada ilegalmente levantada122, facto contestado pelo proprietário, o que obrigou ao recurso a instâncias judiciais123. Na mesma sessão foram igualmente aprovados os trabalhos de limpeza e caiação do cemitério, sendo avisados os proprietários das sepulturas para procederem ao seu devido asseio, dado o estado de abandono de algumas delas124. O ritmo deliberativo era intenso. A 13 de junho foi aprovada a notificação por edital aos interessados na aquisição de sepulturas perpétuas, para, no prazo de 15 dias, procederem à respetiva contratualização, findo o qual ficariam sem efeito as concessões anteriormente acordadas. Foi, ainda, fixada a percentagem de 3% sobre as contribuições diretas do Estado e autorizada a realização de pagamentos diversos125. Porém, esta importante dinâmica veio a ser interrompida pela decisão do Governo de proceder à destituição dos órgãos autárquicos, sob o argumento de não ser lógico que, após a revolução de 28 de maio, “continuem os corpos administrativos a funcionar com gerências saídas das últimas eleições, por não estarem integradas no espírito que a fez eclodir”126. A 28 de agosto era empossada pelo Administrador do Concelho, Tenente António da Cunha, uma Comissão Administrativa, presidida por Salvador José Rodrigues127. Assim terminava, de forma abrupta, a experiência autárquica do nosso biografado.

120 Livro das Actas, fl. 15. 121 Livro das Actas, fl. 28. 122 Livro das Actas, fl. 30. 123 Livro das Actas, fl. 31. 124 Livro das Actas, fl. 30vº. 125 Livro das Actas, fl. 31vº. 126 Diário do Governo, p. 1. 127 Livro das Actas, fl. 34.

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O “Diário do Governo” que irritou o Prof. Tomás de Barros.

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Mas a liberdade e as causas sociais não saíram das suas cogitações. Não terá sido inocente, já como diretor do “Jornal de Lousada”, em 1945, a publicação de um excerto do Pe. António Vieira: “Entre todas as injustiças, nenhumas clamam tanto ao céu como as que tiram a liberdade aos que nasceram livres e as que não pagam o suor aos que trabalham”128. Na mesma linha se inscreve a inserção no mesmo periódico de vários recortes do jornal “República”, declaradamente oposicionista a Salazar, entre os quais o texto “Viva a Liberdade!”, reivindicando a instauração do regime democrático e a libertação dos presos políticos, nomeadamente do campo de concentração do Tarrafal129. Publicado em outubro de 1945, na reconfiguração europeia e mundial do pós-guerra, afirmava: “Portugal não pode ser uma exceção, não pode ignorar o mundo, não pode calcar princípios e fórmulas dominantes por toda a parte, não pode opor-se a que o sol da Democracia irradie por todos os recantos da terra portuguesa, o sol dessa democracia já hoje triunfante em todo o mundo”130. Apelos em vão, pois a repressão salazarista inviabilizou qualquer tentativa de democratização, pelo que Tomás de Barros, falecido em dezembro de 1945, jamais veria a Liberdade que tanto defendia.

128 Jornal de Lousada, 9/6/1945, p. 1. 129 Jornal de Lousada, 20/10/1945, p. 1. 130 Jornal de Lousada, 20/10/1945, p. 1.

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Presidente do FC Lagoense


A

s intervenções públicas do Prof. Tomás de Barros, embora centradas no contexto pedagógico, no jornalismo e na Junta de Freguesia, conheceram, também uma importante participação na vida associativa local, confirmando que “a sua vida foi uma lição de bairrismo”131. A 15 de abril de 1934 era eleito presidente da Direção do FC Lagoense132, fundado em outubro de 1931 e uma das primeiras coletividades responsáveis pela introdução do futebol no concelho de Lousada. Acompanharam-no no elenco diretivo, José Mendes Soares, ligado à Padaria de Lagoas (vice-presidente), Adolfo Augusto da Costa Machado, meio-irmão de Tomás de Barros (tesoureiro), José Joaquim Nunes Rolindo, presidente da Junta (primeiro secretário), e João Peixoto (segundo secretário)133. Na designada “Comissão do Desporto” estavam António Barbosa Regadas (presidente), António Afonso Sistelo, professor, e Joaquim da Silva Neto (fiscais) e Cipriano Afonso Sistelo (zelador do material). O Conselho Fiscal era composto pelos seus meios-irmãos José Augusto (presidente) e Amâncio Augusto da Costa Machado (vice-presidente), e por João Moreira dos Santos, provável fundador do clube (adjunto). Finalmente, integravam a mesa da assembleia geral Carlindo de Sousa Oliveira, o comerciante José Freire de Sousa Lopes e Francisco Peixoto Soares de Moura, respetivamente como presidente, vice-presidente e secretário134. As iniciativas tiveram sempre por palco o Campo do Sobreiro (assim designado devido a um sobreiro, junto à atual estrada nacional Lousada-Paredes, e contíguo ao Apeadeiro). A primeira, ocorrida logo no domingo imediato à tomada de posse, constou de um “Torneio Relâmpago” entre a equipa local, o Lousada FC, SC de Penafiel e o Scouts Vasco da Gama de Paços de Ferreira para a disputa de uma taça135, que veio a ser conquistada pela equipa de Penafiel ao bater o Lagoense por 3-2 e o Lousada por 1-0136. “Foi uma autêntica tarde de futebol, em que todos os contendores se houveram com honra e qualidade, apesar de muito prejudicados pela chuva, por vezes torrencial, acompanhada de fortes cargas de granizo137.”

O Campo do Sobreiro situava-se junto ao Apeadeiro. Coleção particular de Carlos Mota.

131 Educação Nacional, 9/1/1949, p. 1. 132 Heraldo, 21/4/1934, p. 1. 133 Heraldo, 21/4/1934, p. 2. 134 Heraldo, 21/4/1934, p. 2. 135 Heraldo, 21/4/1934, p. 1. 136 Heraldo, 28/4/1934, p. 1. 137 Heraldo, 28/4/1934, p. 1.

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A nova direção anunciava de imediato um torneio de tiro aos pratos, para senhoras e cavalheiros, a decorrer a 20 de maio seguinte138, congratulando-se pelas “valiosas adesões que dia a dia vai recebendo de toda a parte”139. A prova decorreu com brilhantismo, com 52 atiradores inscritos, oito deles senhoras, pertencendo a vitória a Manuel Faria de Almeida, do clube organizador, e a D. Amélia Pacheco de Magalhães, de Paredes, “reunindo as melhores famílias do concelho e limítrofes (…) [constituindo] uma festa elegante digna do melhor registo”140. Se o ambiente aristocrático foi marcante, mais se acentuou devido à presença do “elemento feminino, cujas «toilletes» vistosíssimas e vaporosas davam ao recinto um extraordinário tom de fidalguia e distinção141”. Não deixa de ser curioso que, para o autor do texto – pelo estilo de escrita, provavelmente o próprio Tomás de Barros –, veiculando a mentalidade da época, a presença da mulher nos espetáculos desportivos funcionava como adereço para legitimar a supremacia masculina (FERNANDES, 2015: 17).

“Heraldo”, 26/5/1934, p. 1.

138 Heraldo, 5/5/1934, p. 2. 139 Heraldo, 26/5/1934, p. 1. 140 Heraldo, 26/5/1934, p. 1. 141 Jornal de Lousada, 26/5/1934, p. 1.

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A dinâmica era intensa e o clube, que entrava num período áureo da sua atividade, comunicava “uma importante gincana de motos”, com a colaboração do Moto Clube de Portugal142, desafios de futebol, nomeadamente com as reservas do Sport de Penafiel e União Desportiva Penafidelense143, quermesse e jogo do pau144, confirmando assim a especial capacidade de liderança do Prof. Tomás de Barros. A 1 de julho de 1934 novo torneio de futebol, agregando o SC de Penafiel, FC da Lixa, União Sport Clube de Paredes e Aliados FC de Vilela, para a disputa da “Taça Estádio do Sobreiro”, previamente exposta no estabelecimento de modas de Alberto F. Basto, o Barateiro, na vila de Lousada145. Tratou-se, na verdade, apesar dos exageros da imprensa da época, de “uma grande jornada desportiva146”: o recinto “mais parecia um dos grandes estádios, onde, por vezes, se disputam as faladas pugnas internacionais147”, pois “raramente se terá presenciado em terras de província um certame tão completo148”, excedendo toda a expectativa, com “ótima organização, de efeitos surpreendentes, já pelo valor das equipas que se litigaram, já pelo conjunto de pequenos e grandes nadas, que tudo foi posto em execução, da maneira mais feliz e atraente149”, mesmo obrigando a direção “a enormes e pesadas despesas”150, que as receitas de bilheteira não cobriram. A vitória pertenceu ao União de Paredes, sob arbitragem, considerada competente, de António Gomes Luzia, do Colégio Portuense de Árbitros de Futebol. No domingo seguinte, disputou-se mais um torneio de tiro aos pratos, desta vez impulsionado pelo Tenente Eurico Malafaia, a reverter para a corporação dos Bombeiros de que era comandante151, e no qual a ação do Prof. Tomás de Barros foi publicamente reconhecida152. Com efeito, a capacidade organizadora, o ritmo e diversidade da programação, o envolvimento de agentes e instituições desportivas, a adesão do público e a curiosidade da imprensa testemunham bem a credibilidade do FC Lagoense sob a liderança do nosso biografado, que, dias depois, promovia um invulgar duelo de jogo de pau, quando João Quinteiro, campeão do Norte, aceitou o desafio de António Quintela, “natural de Nevogilde, homem valente e muito conhecido entre nós como o mais competente e mérito jogador de pau que se criou nesta região, nunca vencido até à data”153. O embate seria antecedido de mais dois confrontos, entre José Ferreira, discípulo de Quintela, e Joaquim Ferreira, discípulo de Quinteiro, e entre José Afonso e João Oliveira, ambos do Porto e elementos do Centro do Jogo do Pau do Norte de Portugal, para além de uma demonstração por Quinteiro e Ferreira, e da exibição de um grupo 142 Heraldo, 26/5/1934, p. 1. 143 Heraldo, 9/6/1934, p. 2. 144 Heraldo, 16/6/1934, p. 2. 145 Heraldo, 30/6/1934, p. 2. 146 Heraldo, 7/7/1934, p. 2. 147 Jornal de Lousada, 7/7/1934, p. 2. 148 Heraldo, 7/7/1934, p. 2. 149 Heraldo, 7/7/1934, p. 2. 150 Jornal de Lousada, 23/6/1934, pp.1, 2. 151 Heraldo, 30/6/1934, p. 1. 152 Jornal de Lousada, 14/7/1934, p. 1. 153 Jornal de Lousada, 14/7/1934, p. 1.

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de rapazes do mestre Quintela154. A organização assegurou policiamento, quermesse, serviço de bar e bancadas cobertas, assim como a apresentação da equipa de honra de futebol155 no âmbito de um torneio quadrangular, ou seja, um evento de elevado aparato, pouco habitual para a época. “Infelizmente, não tivemos mais notícias da refrega, apenas que todos os jogadores estiveram à altura dos seus méritos e que nunca no Campo do Sobreiro se registou tão grande enchente” (FERNANDES, 2015: 14). Após uma pausa exigida pelos regulamentos desportivos, nova atividade foi agendada para 30 de setembro seguinte: gincana de bicicletas, seguida de prova de ciclismo, com partida do campo do Sobreiro e passagem por Lousada, Santa Margarida, Barrosas, Lustosa e Casais156, enquanto outra prova, para a categoria de principiantes, apresentava um trajeto alternativo mais curto157. Devido ao facto de não ter sido autorizada pelo Governo Civil, os concorrentes tiveram de assinar um termo de responsabilidade para a participação158, mas não diminuiu o entusiasmo, pois as provas “caíram otimamente no ânimo dos inúmeros aficionados159”. A comemoração do 3.º aniversário do clube prometia ser a festividade mais imponente jamais realizada no designado estádio do Sobreiro, com salva de morteiros, banda musical de Paços de Ferreira, sessão solene na sede social, cortejo até ao campo de jogos com as três equipas de futebol que disputariam o torneio incorporadas, e bazar de prendas160. No entanto, devido ao adiantado da hora, o ansiado jogo da final de futebol não se disputou, ficando agendado para o domingo seguinte. A assistência esteve excessivamente empolgada com as incidências dos desafios, que envolveram o FC Lagoense, Desportivo de Freamunde (também designado Onze Vermelhos de Freamunde) e SC de Penafiel, “invadindo por vezes a área de jogo e esboçando gestos um tanto ou quanto conflituosos, prontamente sufocados pela autoridade local, que muito bem se houve na manutenção da ordem”161.

A visita do Vitória de Guimarães Quando, em janeiro de 1935, recebeu o Estrelas FC de Rio de Moinhos, que venceu por 4-0162 – visita retribuída em março –, a coletividade já havia empreendido uma reestruturação no plantel, com a “entrada de valorosos elementos” e “terem sido irradiados, extirpados do grupo, certos elementos que, por heterogéneos e mercenários, vinham comprometendo a disciplina dos filiados, contaminando a vida do clube”163. 154 Heraldo, 14/7/1934, p. 2. 155 Heraldo, 14/7/1934, p. 2. 156 Heraldo, 22/9/1934, p. 2. 157 Heraldo, 29/9/1934, p. 2. 158 Heraldo, 6/10/1934, p. 2. 159 Jornal de Lousada, 29/9/1934, p. 2. 160 Heraldo, 27/10/1934, p. 2. 161 Heraldo, 3/11/1934, p. 1. 162 Jornal de Lousada, 26/1/1935, p. 1. 163 Jornal de Lousada, 2/2/1935, p. 1.

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Posteriormente, assegurou ainda a distribuição de novos equipamentos aos jogadores e a construção de dois balneários, retomando um impressionante dinamismo com encontros de futebol e um torneio de tiro aos pombos, a reverter para a corporação dos Bombeiros de Lousada164. Entretanto, duas iniciativas de elevada envergadura estavam já a ser preparadas. A primeira ocorreu a 9 de junho de 1935 com a presença da equipa principal do Vitória de Guimarães para dirimir um troféu com o SC de Penafiel, enquanto a equipa reservista defrontava o FC Lagoense. Foi um investimento muito elevado para garantir um acontecimento histórico, não apenas para Nevogilde, mas para toda a região. Uma carta de Guimarães mencionava: “Camionetes e automóveis de praça está tudo mobilizado. Automóveis particulares, nem se fala. Conte aí com a cidade quase em peso!”165 De Penafiel, registavam: “O senhor Alberto Pinto vai pôr todas as suas camionetes em serviço permanente pelo preço da gasolina! Pelo entusiasmo que aqui reina estou em afirmar que Penafiel vai descongestionar-se para aí, na sua maior força166.” Além disso, houve ainda “serviço combinado de camionetes entre a cidade de Guimarães e Lagoas, assim como de Penafiel, cujo preço inclui bilhete de ingresso no campo167.

Jornal de Lousada, 8/6/1935, p. 1.

Os vimaranenses já eram um conjunto muito respeitado, campeão distrital de Braga, ultrapassando equipas igualmente bem preparadas, treinado pelo internacional António Augusto, antigo guarda-redes do Benfica, e com o admirado Ricoca como guarda-redes168. O Penafiel, que comandava o Campeonato Regional, apresentava Bernardino, popularmente conhecido por Canário, considerado “o melhor guarda-redes desta região”169.

164 Jornal de Lousada, 13/4/1935, p. 2. 165 Jornal de Lousada, 27/4/1935, p. 2. 166 Jornal de Lousada, 27/4/1935, p. 2. 167 Jornal de Lousada, 13/4/1935, p. 2. 168 Jornal de Lousada, 20/4/1935, p. 2. 169 Jornal de Lousada, 23/3/1935, p. 2.

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Os visitantes chegaram às 14h00, e, na sessão de boas-vindas, com um Porto de Honra na sede do clube, aclamações efusivas e muito fogo170, discursou o Prof. Tomás de Barros, com “palavas vibrantes de entusiasmo adequadas ao ato”171, confirmando assim os dotes de oratória que lhe eram reconhecidos. No desafio inaugural, a equipa reservista do Guimarães superou por 3-1 a formação de honra do FC Lagoense. Antes da partida principal, entre Vitória de Guimarães e SC Penafiel, “um grupo de gentis meninas, envergando «toilettes» com as cores do clube local, [ofereceu], no campo, um ramo de flores naturais a cada um dos capitães dos grupos, sendo estes, seguidamente, condecorados com lindas medalhas comemorativas”172. Contra todas as previsões, o Penafiel triunfou por 2-1173, sendo recebido na chegada à cidade com muitas aclamações e muito fogo174. Entretanto, “as riquíssimas e valiosas taças de prata, confecionadas pela acreditada ourivesaria Aliança, do Porto, estiveram em exposição na cidade de Penafiel, seguindo na próxima semana, destinadas a igual fim, para a cidade de Guimarães”175. O FC Lagoense retribuiu a visita a Guimarães no dia 16 de junho, e os adeptos puderam inscrever-se junto de Joaquim Neto ou Joaquim Nunes Ribeiro176. “O jogo reuniu inúmeras peripécias, com uma arbitragem considerada inqualificável, suscitando até protestos da própria assistência da casa, obrigando a direção do Vitória a intervir e a fazer regressar ao jogo o guarda-redes Toneca, indevidamente expulso (FERNANDES, 2015: 72).

Equipa do Vitória de Guimarães em 1935177.

170 Jornal de Lousada, 15/6/1935, p. 2. 171 Jornal de Lousada, 15/6/1935, p. 2. 172 Jornal de Lousada, 20/4/1935, p. 2. 173 Jornal de Lousada, 15/6/1935, p. 2. 174 Heraldo, 22/6/1935, p. 2. 175 Jornal de Lousada, 27/4/1935, p. 2. 176 Jornal de Lousada, 30/3/1935, p. 2. 177 https://sites.google.com/site/portefoliofilipe/vitoria-guimaraes-fotos (consulta a 1/3/2018).

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A visita do FC Porto A segunda iniciativa de grande relevo promovida pelo clube ocorreu a 8 de setembro de 1935, com a visita do FC Porto, na altura campeão nacional, para defrontar no Campo do Sobreiro uma seleção regional. Era garantido que a direção do Lagoense iria tratar com a CP a organização de um comboio especial do Porto para Novelas, de onde haveria transbordo e serviço de camionetas178. Estava, assim, anunciado um estrondoso início de temporada, tanto mais ser muito raro a deslocação à província da equipa portista179. O FC Porto, que venceu por 9-1, alinhou com Soares dos Reis; Avelino e Sacadura; Carlos Pereira, Álvaro Pereira e Nova; Lopes Carneiro, Carlos Mesquita, Acácio, Pinga e Nunes. O treinador era o mítico húngaro Joseph Szabo. A seleção regional formou com Bernardino (Penafiel), (depois Oliveira, do Lagoas); Vítor (Penafiel); Zeferino e Silva (Paredes); Maneca e Oliveira (Penafiel); Jacinto (Felgueiras), Bento (Paredes); Monteiro (Penafiel), Abílio (Felgueiras) e Queirós (Lixa)180.

Jornal de Lousada, 24/8/1935, p. 1.

Equipa do FC Porto em 1935181. 178 Jornal de Lousada, 24/8/1935, p. 1. 179 Jornal de Lousada, 31/8/1935, p.2. 180 Jornal de Lousada, 14/9/1935, p. 2. 181 http://www.fcporto.pt/pt/noticias/Pages/a_primeira_edicao_da_taca_iberica.aspx?p_page=1 (consulta a 1/3/2018).

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“Foi o culminar de um período áureo, de dinamismo e de capacidade organizativa” (FERNANDES, 2015: 73), coincidindo com o mandato do Prof. Tomás de Barros, substituído em dezembro de 1935182. Pouco depois, “os ânimos refrearam e vários meses decorreram sem a realização de qualquer desafio, o que levou o correspondente do “Jornal de Lousada” a um comentário mordaz: “O Campo do Sobreiro, que foi criado à custa de incalculáveis sacrifícios, jaz em lento abandono. O tapamento está a alagar-se e no solo encontram-se buracos que servem para enterrar camelos. Uma verdadeira lástima! Pobre Campo! Quem te viu e quem te vê! Está visto que o futebol numa terra onde não haja gente para o praticar, nunca pode progredir.” (FERNANDES, 2015: 73). O fim do clube estava próximo, não desmerecendo, contudo – antes acentuando –, a dinâmica do corpo dirigente presidido pelo Prof. Tomás de Barros, que, em pouco tempo, e com recursos escassos, garantiu ao FC Lagoense um elevado ecletismo, capacidade mobilizadora e iniciativas de prestígio para o concelho e para a região.

182 Jornal de Lousada, 14/12/1935, p. 1

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Saúde frágil, morte súbita


A

modéstia do Prof. Tomás de Barros impediu-o de aceitar chamamentos mais apelativos, optando sempre por manter-se quase no anonimato da escola, numa vocação quase sacerdotal (MAGALHÃES, 2017: 3). “Por temperamento e por formação, avesso ao fogo-fátuo de vãs glórias, sempre fugira em humílima atitude, a ocupar posições que o mundo de sobejo lhe ofertara. A tudo preferiu encerrar o ciclo da sua vida numa simples escola de recatada aldeia.183” Em tom premonitório, escreveu na crónica de apresentação como diretor do jornal “Educação Nacional”: “Quando um dia tiver de abandonar este posto, que todos possam dizer: Cumpriu o seu dever!”184. E, na realidade, cumpriu com toda a dedicação, elegendo a escola e a sua casa como dois templos de trabalho: “Acolá, desbravando inteligências e esculturando almas; aqui, consolidando o seu saber e trabalhando incessantemente”185. “E quando a abalada saúde e até a relativa estabilidade material aconselhavam, prudentemente, o merecido descanso, Tomás de Barros não para: escassos dois meses antes do passamento, desbaratava as depauperadas forças na total remodelação das suas obras. Forças que se esgotaram no verdor dos 56 anos e 29 de uma multifacetada vida docente.” (MAGALHÃES, 2017: 3) De saúde frágil, veio a falecer inesperadamente a 30 de dezembro de 1948. Tinha-se deslocado à vila de Lousada e, no regresso a Lagoas, foi vítima de síncope cardíaca186, na via pública, logo após ter saído da casa da Emilinha “Neivas”, na atual Rua do Apeadeiro, com quem, alegadamente, segundo a voz popular da época, mantinha uma relação íntima187.

Assento de óbito188.

183

Jornal de Lousada, 29/1/1949, p. 1.

184 Educação Nacional, 1/4/1945, p. 1. 185

Jornal de Lousada, 29/1/1949, p. 1.

186

Jornal de Lousada, 1/1/1949, p. 2.

187

Inf. de D. Maria de Belém Vasconcelos e de José Maria Vasconcelos.

188

Livro de Baptismos, Casamentos e Óbitos da Paróquia de Nevogilde, 1949.

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O súbito falecimento gerou ainda maior consternação pela perda de uma figura muito popular e extremamente respeitada. As exéquias, realizadas a 1 de janeiro de 1949, reuniram, apesar do mau tempo189, um elevado número de pessoas de todas as condições sociais do concelho e da região, que choraram a sua perda: “Viam-se lágrimas em muitos olhos e a classe pobre, que via nele sempre abertas a sua alma e a sua bolsa, perdeu um grande amigo”190.

Presumível local do falecimento. Coleção particular de Carlos Mota.

Antes do corpo descer à última jazida no cemitério de Nevogilde, o Prof. António Neto, do Porto, proferiu o elogio fúnebre, “exaltando e enaltecendo os excelsos dotes de inteligência, carácter e bondade do ilustre finado”191. E “centenas de “bouquets” foram carinhosamente colocados na sua campa”192. A Missa de 7.º Dia, celebrada a 5 de janeiro, esteve igualmente muito concorrida, lotando por completo a capela da Senhora da Ajuda193.

Notícia do falecimento no “Jornal de Lousada”.

189

Educação Nacional, 9/1/1949, p. 2.

190

Jornal de Lousada, 8/1/1949, p. 1.

191

Jornal de Lousada, 8/1/1949, p. 1.

192

Jornal de Lousada, 8/1/1949, p. 1.

193

Jornal de Lousada, 8/1/1949, p. 1.

Saúde frágil, morte súbita | 87


Elogio fúnebre no jornal “Educação Nacional”.

88 | Saúde frágil, morte súbita


Embora não tendo casado, viveu intimamente com Felicidade de Jesus Martins (4/4/189724/7/1977), do lugar da Caselha, filha de Joaquim Martins e de Isabel Ribeiro194. Tiveram uma filha, Maria da Glória Pinto de Barros Martins (23/8/1924-24/4/1993), mas o assento de batismo aponta-a como filha de pai incógnito195, situação posteriormente corrigida no registo de óbito196. Mãe e filha fixaram residência na Casa da Ponte, na margem direita do rio Mezio. Por ter falecido entretanto, Tomás de Barros não chegou a assistir ao casamento da filha, ocorrido a 11 de dezembro de 1949, com o Dr. Manuel da Silva Brás, conceituado médico-dentista e diretor clínico do Hospital de Lousada, natural de Angeiras (Matosinhos) e radicado em Nevogilde (FERNANDES, 2017: 16), nem ao nascimento do único neto, que herdou o seu nome: Tomás Augusto de Barros Brás, nascido em Nevogilde a 15 de novembro de 1950 e tragicamente falecido na explosão de um avião militar que tripulava em Vila Pery (Moçambique), em 22 de maio de 1974 (FERNANDES, 2017: 16). A linha genealógica terminava, assim, de forma, trágica.

Assento de batismo de Felicidade de Jesus Martins197.

194

N.º 8 Felicidade [em linha].

195

Livro de Baptismos, Casamentos e Óbitos da Paróquia de Nevogilde, 1924.

196

Livro de Baptismos, Casamentos e Óbitos da Paróquia de Nevogilde, 1977.

197

N.º 8 Felicidade [em linha].

Saúde frágil, morte súbita | 89


Felicidade de Jesus (companheira). Coleção particular de Felicidade Martins.

Casa de Felicidade de Jesus, no lugar da Caselha. Arq. da EB de Campo.

Maria da Glória (filha) e Dr. Manuel da Silva Brás (genro). Coleção particular de Felicidade Martins.

Tomás Augusto (neto). Coleção particular de Felicidade Martins.

90 | Saúde frágil, morte súbita


Casa da Ponte. Coleção particular de Carlos Mota.

É triste que uma figura desta dimensão educativa, cultural e cívica esteja hoje quase completamente esquecida. “E razões não escasseiam para que se evoque a memória daquele cuja vida constituiu uma maravilhosa lição” (MAGALHÃES, 2017: 3).

Sepultura do Prof. Tomás de Barros (à esquerda), no cemitério de Nevogilde. Coleção particular de Carlos Mota.

Saúde frágil, morte súbita | 91


92 | Siglas e Abreviaturas


AGRADECIMENTOS Além das fontes orais, importa registar os seguintes agradecimentos: Pais e Encarregados de Educação da turma do 4.º ano da EB de Campo; Associação de Pais; Junta de Freguesia de Nevogilde; Câmara Municipal de Lousada; Padre José Ribeiro da Mota (Pároco de Nevogilde); José Pacheco “do Penedo” (Penedo de Baixo); Maria Joana Teixeira de Sousa, Augusto Teixeira de Sousa e Manuel Martins “Ninó” (Monte); D. Maria de Belém Vasconcelos e Manuel Duarte Magalhães – “Nelinho da Padaria” (Rua da Padaria); José Martins Nunes (Boavista, Nespereira); Dr. Pedro Magalhães (Nespereira); D. Susana Nunes (Quinta da Tapada); Dr. Luís Sousa e Dr. Cristiano Cardoso (Câmara Municipal de Lousada); Eduardo Ribeiro, D. Maria Felicidade Pacheco Martins, José Maria Vasconcelos, Dr. José Luís Pereira Gonçalves e Dr. José Carlos Carvalheiras (Lousada); Carlos Ferraz (Arquivo Municipal de Paredes); Dr.ª Beatriz Meireles (Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Paredes); Prof.ª Maria Eugénia Machado da Rocha e D. Paula Regalo (Paredes); José do Couto Moreira (Beire, Paredes); Manuel Ferreira Coelho (Cete, Paredes); Fedra Santos e Joaquim Pinto (Freamunde); Dr.ª Adelaide Galhardo (Biblioteca Municipal de Penafiel); Prof.ª Palmira Martins (Vila Nova de Gaia); Dr.ª Isabel Bessa Garcia (Biblioteca Escolar Pedro da Fonseca, Proença-a-Nova); Prof. Dr. Luís Mota e Prof. Dr. Luís Reis Torgal (Universidade de Coimbra); Dr.ª Carla Matos Dias (Escola Superior de Educação de Coimbra); Dr. João Oliveira (Hemeroteca de Lisboa), Dr. Rui Miguel Infante (Secretaria-Geral da Educação e Ciência), Dr.ª Elisabete Viais (Biblioteca da Faculdade de Psicologia e Instituto de Educação da Universidade de Lisboa) e Cupertino Santos (Rio de Janeiro, Brasil).

Agradecimentos | 93


Fontes e Bibliografia

94 | Fontes e Bibliografia


FONTES ORAIS Augusto Teixeira de Sousa, de 81 anos, Monte (Nevogilde). Depoimento recolhido a 22/1/2018. José Araújo Rebelo, de 96 anos, da Senhora Aparecida (Lousada), a 19/4/2018. José Couto Moreira, de 85 anos, Boavista (Beire, Paredes), a 25/1/2018. José “do Penedo” Pacheco, de 81 anos, Penedo de Baixo (Nevogilde), a 22/1/2018. José Maria Vasconcelos, de 87 anos, Av. Sá e Melo (Lousada), a 31/1/2018 e 21/3/2018. José Martins Nunes, de 78 anos, de Boavista (Nespereira, Lousada), a 15/1/2018, 23/1/2018 e 2/2/2018. Manuel Martins “Ninó”, de 81 anos, Monte (Nevogilde), a 22/1/2018. Maria de Belém Vasconcelos, 80 anos, da Rua da Padaria (Nevogilde, Lousada), a 30/1/2018. Maria Joana Teixeira de Sousa, de 81 anos, Monte (Nevogilde), a 22/1/2018. Maria da Felicidade Martins (afilhada da filha de Tomás de Barros, com quem viveu), de 73 anos, de Lousada, a 4, 10 e 19/4/2018. “Nelinho da Padaria” (Manuel Duarte Magalhães), da Rua da Padaria (Nevogilde, Lousada), 87 anos, a 30/1/2018. Prof.ª Maria Eugénia Machado da Rocha (sobrinha-neta), de 66 anos, Paredes, a 3, 12 e 30/4/2018.

DOCUMENTOS MANUSCRITOS E FOTOGRÁFICOS ANTT, Empresa Pública do Jornal O Século, Ficheiro Central, Fichas Ilustradas de “Louzada”, N.º 007. Arq. da Câmara Municipal de Paredes (Arquivo Fotográfico e Arquivo de Obras: Freguesia de Louredo – 9 (12) 1.2). Arq. da EB de Campo. Arq. do Registo Civil de Paredes. Livro das Actas das Sessões da Junta de Freguesia de Nevogilde, Lousada. De 27 de janeiro de 1923 a 22 de dezembro de 1935.

DOCUMENTOS POLICOPIADOS CORREIA, Maria Manuela Ramos Lacerda (2007). O Delegado Escolar contributos para a memória de um grupo profissional. Mestrado em Ciências da Educação. Área de Especialização em Administração Educacional. Lisboa: Universidade de Lisboa Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação.

DOCUMENTOS DIGITAIS Alexandrino Chaves [em linha]. In http://freamundense.blogspot.pt Disponível em http:// freamundense.blogspot.pt/search?q=alexandrino+chaves Consulta em 16/1/2018.

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Fontes e Bibliografia | 97


Pelo desporto. Heraldo, 7 de julho de 1934, p. 2. Em Lagoas. Heraldo, 14 de julho de 1934, p. 2. Notícias de Lagoas. Heraldo, 22 de setembro de 1934, p. 2. Notícias de Lagoas. Heraldo, 29 de setembro de 1934, p. 2. Notícias de Lagoas. Heraldo, 6 de setembro de 1934, p. 2. Notícias de Lagoas. Heraldo, 3 de novembro de 1934, p. 1. Carta de Guimarães. Heraldo. 22 de junho de 1935, p. 2.

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98 | Fontes e Bibliografia


O horário de trabalho não é cumprido em Lousada. Jornal de Lousada. 29 de junho de 1946, p. 1. Faleceu inesperadamente o Sr. Prof. Tomaz de Barros. Jornal de Lousada. 1 de janeiro de 1949, p. 2. DINIZ, M. Vieira. Honra à sua memória! Jornal de Lousada.8 de janeiro de 1949, p. 1. Prof. Tomás de Barros. Jornal de Lousada. 8 de janeiro de 1949, p. 1. Tomás de Barros. Jornal de Lousada. 29 de janeiro de 1949, pp. 1-2.

DOCUMENTOS IMPRESSOS BARROSa, Tomás de (s/d). Ciências da Natureza. Nova edição. Porto: Educação Nacional. BARROSb, Tomás de (s/d). Gramática Portuguesa. 14ª ed.. Porto: Educação Nacional. BARROSc, Tomás de (s/d). Sumário da História de Portugal. Porto: Educação Nacional. BARROSd, Tomás de (s/d). História de Portugal. Porto: Educação Nacional. BARROS, Tomás de e LOBO, José (s/d). História de Portugal, segundo os novos programas. Porto: Educação Nacional. BARROS, Tomás de e LOBO, José [1944]. Problemas de Aritmética e Geometria. Porto: Educação Nacional. FERNANDES, Luís Ângelo (2015). Uma História do Desporto em Lousada. Lousada: Câmara Municipal de Lousada. FERNANDES, Luís Ângelo (Coord.) (2017). A Terra de Leovigildo. Lousada: Escola Básica de Campo, Nevogilde, Lousada. Também disponível em https://issuu.com/eb1campolousadaoeste/docs/a_terra_de_leovigildo GOMES, Joaquim Ferreira (1989). A Escola Normal Superior da Universidade de Coimbra (1911-1930). Lisboa: Instituto de Inovação Educacional. MARCOS, Rui Figueiredo (2008). A Figura Insigne do Doutor Marnoco e Souza. Lousada: Câmara Municipal de Lousada. MOTA, Luís e FERREIRA, António Gomes (2012). Instituições de Ensino Normal Primário Público em Coimbra (1901-1989). In PINTASSILGO, Joaquim (Coord.). Escolas de Formação de Professores em Portugal. Lisboa: Colibri.

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NÓVOA, António (Dir.) (2003). Dicionário de Educadores Portugueses. Porto: Asa. NÓVOA, António e SANTA-CLARA, Ana Teresa, (Coord.) (2003). Liceus de Portugal. Histórias, Arquivos, Memórias. Porto: Asa. NUNES, Teresa Maria Sousa (2011). D. Carlos, O Diplomata. In MENDONÇA, Manuela (Coord.) e Academia Portuguesa da História. História dos Reis de Portugal. Da Monarquia dual à implantação da República. Vol. 2. Matosinhos: Quidnovi. Pelouro do Património Cultural (2002). Colectânea de Autores Locais. Volume 1. Lousada: Câmara Municipal de Lousada. RIBEIRO, Lígia (1999). O Século XX em Lousada. 100 Factos e Personalidades. Lousada: Câmara Municipal de Lousada.

100 | Fontes e Bibliografia


Fontes e Bibliografia | 101


102 | Fontes e Bibliografia


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