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o fashion-sustentavel em paraty ecomovimento
movimento Co2
pos rio+20
hi-lo sustentavel
editorial warriors (fashion food)
nara guichon
eduardo ferreira
Nossa matĂŠria-prima ĂŠ a natureza.
www.artmajeur.com/patricia | F:. (81) 9904-8021
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ecofashionhouse Leia Moda
ao leitor fashion-tablet É com grande satisfação que apresentamos a você nossa primeira Eco Fashion House Leia Moda. Uma publicação-fruto de um projeto que vem sendo trabalhado há mais de um ano no Rio e que vem tomando corpo nos últimos meses graças a uma mudança prático-social crucial em tempos atuais: a sustentabilidade. A Eco Fashion House Leia Moda era mais que uma inquietação pessoal de toda a equipe Leia Moda Mag Online, que todos já conhecem há 5 anos. Nossa House, com total foco na sustentabilidade, é a nossa contribuição via Comunicação, para fortalecer ideias, práticas, projetos, e o desejo por um mundo saudável e sustentável. Agora, nossa House excluiu as portas e janelas para o nosso leitor fashion-tablet, porque nada pode ser mais sustentável que formatado numa ferramenta inovadora como o tablet e ainda online, com acesso gratuito.
E como uma mudança de práticas sociais só depende de cada um de nós, nossa Redação também excluiu as portas e criou um espaço de acesso exclusivo com o leitor fashion-tablet por meio do canal de comunicação ecofashionhouse@ leiamoda.com.br. Por meio dele, você também pode contribuir para um mundo melhor, enviando suas sugestões, compartilhando sua prática sustentável, uma ideia bacana no seu bairro, na sua empresa, na sua casa. Quer começar agora? Flaviano Quaresma | Publisher | Eco Fashion House Leia Moda porque mudanças na prática começam em casa.
In House A Eco Fashion House é uma mensal publicação gratuita em formato folio para tablets da Leia Moda Mag Online sobre sustentabilidade, moda, design, cultura, negócios e responsabilidade social.
Publisher | Editor
Redação | ecofashionhouse@leiamoda.com.br
Flaviano Quaresma flaviano@leiamoda.com.br
Amanda Shad Raphael Uno Carol Porto
Design
Redação Rio
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Rua Carlos Sampaio 351 apto 220 Centro – Rio de Janeiro – RJ – 20231-084
ecoíndice ecomovimento paraty eco fashion 08 ecohouse pós rio+20 10 ecodesign tramas sustentáveis 13 econceito warriors (fashion food) 14 ecofriendly movimento Co2 23 ecopinião designer consciente 24 econline hi-lo sustentável 26 ecogiro etiqueta verde 27 green label 27 uma reflexão necessária 28 jeans seda sustentável 29 eco o que nos move 30 ecompartilhando costura sustentável 32
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Paraty eco fashion por
Amanda Shad
Nesta primeira edição, a nossa Eco Fashion House não poderia deixar de receber na sala de estar, o projeto fantástico que o Instituto Colibri vem realizando no município de Paraty, no Rio, culminado no evento Paraty EcoFashion, que segue para sua segunda edição na segunda quinzena de setembro próximo. Integrado por exposições, palestras, oficinas e workshops sobre a sustentabilidade no artesanato e no design, o Paraty EcoFashion nasceu para promover a união entre as comunidades, os artistas plásticos e outros profissionais e instituições com o propósito de unir a tradição local dos moradores com a visão e a técnica apuradas de profissionais experientes, visando a inclusão efetiva das populações no processo de desenvolvimento local, com foco no Design e na Moda de forma sustentável. O evento, que acontece nos dias 14, 15 e 16 de setembro, já está ampliando o seu olhar para além da confecção e dos acessórios. Apresenta o alcance do design sustentável às áreas de Arte e Decoração. Segundo o Instituto Colibri, com essa abertura na atuação, o Paraty EcoFashion abriu também maiores chances às comunidades envolvidas, que se viram com mais liberdade para utilizar seus conhecimentos sobre materiais e técnicas tradicionais de baixo impacto ambiental em suas produções de objetos em geral.
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E o mesmo estímulo à produção artesanal social e ambientalmente sustentável permaneceu vivo na área da Moda, não apenas potencializando a cultura local, mas também trazendo à tona um debate sobre os princípios éticos e estéticos da produção contemporânea. Neste ano, o Instituto Colibri convidou muita gente para pôr em prática o que sabem. Entre eles, estão o Instituto Zuzu Angel, o tecelão e designer de artesanato Renato Imbroisi, a artista têxtil Sandra Thaumaturgo e o artista plástico paratiense Lúcio Cruz. E o trabalho acontece em seis comunidades tradicionais de Paraty, oferecendo capacitação às populações do Pouso da Cajaíba, de Trindade, Praia do Sono, Ilha do Araújo, do Quilombo do Campinho da Independência e da Aldeia Indígena de Paraty-Mirim. Em um trabalho prévio de capacitação, homens e mulheres caiçaras, indígenas e quilombolas tiveram ainda a oportunidade de participar de oficinas de Corte e Costura, de Design e Papel Artesanal, Customização, e Vivência para Fortalecimento da Cadeia Produtiva do Artesanato – tudo como estímulo para a criação de peças do vestuário e objetos de decoração traduzindo o fruto das tradições com um olhar diferenciado, mais moderno e voltado para a arte contemporânea. Unidos a essa experiência, também estarão a estilista Lena Santana, a designer Mana Bernardes e a socióloga Nina Braga. O resultado dessas experiências entre profissionais e comunidades é o que fortalece o Paraty EcoFashion, que tem conteúdo mais que significativo para as exposições do evento. Uma delas com foco em Moda e Design, será realizada na Casa da Cultura de Paraty,
reunindo projetos de 13 equipes de diversas faculdades da área, com curadoria do Instituto Rio Moda. Na Tenda da Feira Criativa, no Centro Histórico, o público visitante vai poder contar com exposição e venda de produtos alinhados com os objetivos do projeto, que é fortalecer a economia local de forma sustentável. Outra mostra, Raízes de Paraty, vai acontecer na Casa Sesc. E não para por aí. A programação ainda inclui um ciclo de cinco palestras na Casa da Cultura, sob coordenação do Instituto Zuzu Angel, e workshops e oficinas ligadas à sustentabilidade, no Silo Cultural. De acordo com o Instituto Colibri, o Paraty EcoFashion é um evento comprometido com uma nova mentalidade e que se realiza para incentivar pesquisas e criações que contemplem a conservação do meio ambiente e o respeito à diversidade cultural do Brasil. É por esse motivo, que a cidade histórica, com quase 400 anos de existência, privilegiada por uma geografia das mais belas, entre a Mata Atlântica e a Serra do Mar, numa baía de mar calmo pontuado por ilhas paradisíacas, é o lugar onde a prática fashion-sustentável começa no Rio. Agora, além de destino turístico dos mais cobiçados devido às belezas naturais e históricas, somadas ao encontro da Literatura com a Festa Literária Internacional de Paraty, também está se transformando para a Moda e o Design sustentáveis. Acompanhe as últimas notícias em paratyecofashion. com.br e curta a fanpage www.facebook.com/paratyecofashion
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pós rio+20 por
Flaviano Quaresma
Passados três meses da comentada Conferência Rio+20, a nossa Eco Fashion House vem apresentar um diálogo que começou antes dela acontecer, em junho. Mas, por que falar de Moda pós Rio+20? E por que não falar? O que seria pensar numa “Economia Verde” para a Indústria da Moda? A adoção de um novo sistema produtivo, com base na baixa emissão de poluentes, na eficiência no uso dos recursos naturais e na erradicação da pobreza (temas centrais da conferência) são questões muitos presentes, mas também questões que parecem não estar na pauta prática da política mundial. Como enfatiza Izabelle Barros, jornalista e mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco, a “Rio+20 foi, sim, uma nova oportunidade para empresas do setor de confecção e moda a repensarem suas práticas”. Embora, em sua opinião, muito se superestimou a importância do evento. “Vemos que o público consumidor começa a pressionar o ambiente empresarial da moda brasileira para a adoção de práticas ambientais mais responsáveis, com eventos, por exemplo, que alcançaram a certificação carbon free. Este movimento ainda está longe de sua intensidade ideal, mas ocorre em uma escala muito maior do que acontecia na época da Eco-92, há 20 anos. Ainda assim, vale lembrar que estamos em um país onde a consciência ambiental está longe de ser abraçada largamente por suas camadas sociais e até pelo governo – vide a construção iminente da hidrelétrica do Belo Monte, um retrocesso lamentável nas políticas públicas ambientais. E o que Belo Monte, por exemplo, tem a ver com moda? Um bocado: a partir daí, podemos
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lembrar de todo o potencial de matérias-primas naturais e culturais que o Brasil pode perder se sua iniciativa privada não tiver a competência de utilizá-las adequadamente, ao sucumbir à tentação de cometer o mesmo erro de sua contraparte pública”, disse. A crise ambiental está batendo à porta. Com mudanças climáticas comprovadas pela ciência como aumento da temperatura, maior demanda por recursos naturais e o encolhimento de 30% da biodiversidade em todo o mundo. O segundo maior polo produtor de moda do Brasil, o Agreste de Pernambuco, tem muito o que melhorar. “Principalmente depois daquele fato horroroso dos tecidos de lixo hospitalar em 2011”, ressaltou Izabelle. Segundo ela, o polo de confecções pernambucano é um exemplo cabal das tensões vividas pelo modelo industrial em larga escala que levou, por exemplo, a cidade de Toritama a responder por aproximadamente um quinto da produção de jeans nacional. “Foi necessário que o Ministério Público firmasse um Termo de Ajustamento de Conduta com as empresas da região, fixando punições em caso de descumprimento, para que os empresários locais se convencessem da importância de manter limpo o Rio Capibaribe, para onde o fluxo levava os efluentes da indústria têxtil. Para agravar o quadro, as caldeiras também eram alimentadas com lenha proveniente de madeira nativa, retirada de seu habitat sem maiores cuidados com o replantio das árvores. Essa é a mentalidade que precisa mudar: em vez de apenas reagirem a decisões externas ou ameaças de punições, os empresários locais deveriam constatar por si algo
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mais importante. Mais do que ser um bom negócio, a preservação do meio ambiente é a única saída para manter um mercado de moda saudável e perene”. Entretanto, mais empresas estão no curso para uma dita “Economia Verde”. E o primeiro passo é uma preocupação maior com as questões atuais. No dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, a C&A publicou sua segunda edição do relatório segundo as diretrizes estabelecidas pelo Global Reporting Initiative (GRI). Como afirma Elio França, diretor de Marketing, a C&A adotou essa prática de transparência junto aos seus públicos, para reafirmar seu compromisso com uma moda responsável. Iniciado em 2010 e consolidado em 2011, o Programa de Coleta de Lixo Eletrônico da empresa oferece aos clientes a possibilidade de descartar de forma ambientalmente correta pilhas, baterias, celulares ou outros aparelhos eletrônicos. O programa alcança 100% da rede de lojas. Os materiais coletados são encaminhados para reciclagem e reutilização dos componentes em bom estado, evitando que sejam descartados de maneira inadequada. Em 2010, quando foi lançado, o programa recuperou um total de 4.197 produtos. Em 2011, esse volume aumentou para oito vezes. De grande uso nas operações da C&A, os cabides têm merecido atenção especial: atualmente, 40% do volume total da matéria-prima utilizada neles é proveniente de reciclagem. Por ano, cerca de 70% do total de cabides usados nas lojas é reutilizado. Roberta Medina, diretora comercial da marca carioca Reserva Ambiental, afirma que a indústria da moda é uma das que mais consomem recursos naturais, como água e combustíveis fosseis e também uma das mais poluentes. Para ela, mudar esse comportamento não será uma tarefa tão fácil. “Sem sombra de dúvidas, a Conferência Rio+20 foi mais uma tentativa para quebrar essas barreiras comportamentais. As pessoas têm um papel fundamental porque suas escolhas podem mudar o processo produtivo de algumas empresas, em especial, as empresas do setor
da moda. Se, por exemplo, várias pessoas não comprarem uma roupa em uma determinada empresa que explora mão-de-obra e não descarta devidamente seus resíduos, provavelmente essa mesma empresa irá reavaliar o seu processo produtivo. Hoje em dia já podemos dizer, que práticas ambientais saudáveis são fundamentais para se destacar em um mercado tão competitivo. E a moda ecológica está trilhando esse caminho, quebrando antigos paradigmas e surgindo como a melhor alternativa para a indústria da moda”. O Rio é uma cidade que cresceu de forma desordenada, e sendo assim, possui vários problemas ambientais, como destaca Roberta. Um deles é a questão do LIXO. “É importante ressaltar que o lixo constituise num problema social, econômico, sanitário e ambiental. Para tanto, deveria ser levado mais a sério. O acúmulo de lixo provoca o entupimento de bueiros, desencadeando enchentes na cidade. E o descarte indevido do lixo, causa vários problemas para a população que vive no entorno. Portanto, se tomarmos algumas atitudes, como por exemplo, separar o lixo de casa e exigir que as autoridades tratem a questão com mais seriedade, poderemos alcançar índices de reciclagem de alguns países desenvolvidos, como a Holanda, que recicla 80% do seu lixo”. Desde o começo, a Reserva Ambiental tem se preocupado muito com a questão do Lixo, como conta Roberta. Por isso, para tentar diminuir o impacto no Meio Ambiente, foram adotadas algumas práticas: trabalhar somente com empresas que respeitam a biodiversidade; fornecer aos clientes embalagens que podem e devem ser reaproveitadas; usar tecnologias que diminuam consideravelmente o desperdício de tecidos; e ainda, utilizar matériasprimas sustentáveis. “O nosso desafio é provar que a consciência ecológica é mais do que uma alternativa, é uma necessidade para o futuro”, pontua. Na trilha e buscando a melhoria de processos no transporte, duas ações foram realizadas em 2010 pela C&A. Uma delas foi o incentivo ao frete retorno, inicia-
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tiva que colaborou para reduzir a emissão de CO2. A outra foi a otimização da ocupação do baú dos veículos que transportam as mercadorias, resultando no aumento na quantidade de peças transportadas por viagem. Outra medida implantada para controle de emissões é a substituição do diesel pelo biodiesel na frota, desde 2006. Além disso, a C&A se tornou signatária do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, em 2010. A empresa não apenas assumiu publicamente esse compromisso com o trabalho decente, como também mobilizou seus fornecedores para a questão, o que resultou na adesão voluntária de 40 de seus principais fornecedores ao Pacto. Muito diferente da Zara, flagrada em agosto do ano passado pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) com diversas oficinas contratadas com trabalhadores em situações análogas à escravidão. A operação descobriu 15 pessoas, incluindo uma adolescente de apenas 14 anos, que foram libertadas de duas oficinas - uma localizada no Centro da capital paulista e outra, na Zona Norte. Para agregar ainda mais força à palavra Moda em tempos pós Rio+20, vale ressaltar a iniciativa Coletivo Brasil, idealizado pela designer de biojoias alagoana Patrícia Moura. O Coletivo surgiu com o objetivo de agregar e promover designers e estilistas de todo o país que têm na base do seu trabalho a sustentabilidade. Hoje são 22 marcas que, além do compromisso socioambiental, fazem uma moda globalizada e com muita qualidade. “A sustentabilidade é um tema muito novo, e a ideia é popularizar, familiarizar a sociedade e, dessa forma, contribuir para transformar o comportamento através do conhecimento”, disse a designer. Em maio, as marcas Ecofriendly expuseram suas criações no Espaço Moda do Futuro em São Paulo, com a 1ª Mostra Nacional do Coletivo Brasil, com curadora da jornalista e consultora de moda Danielle Ferraz. Para ela, que desde 2003 realiza ações com esse viés,“é preciso desmistificar o conceito de moda sustentável e torná-la mais acessível. O Brasil é um celeiro de criadores sustentáveis, muitos deles celebrados fora do país”, enfatizou. Já a Avon voltou a comercializar em seus catálogos
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a camiseta fabricada em tecido PET da campanha global Hello Green Tomorrow, no Brasil com o nome de Viva o Amanhã mais Verde. O objetivo é gerar recursos para o projeto Plant a Billion Trees, coordenado pela ONG The Nature Conservancy (TNC), que tem o compromisso de restaurar trechos da Mata Atlântica por meio do plantio de um bilhão de árvores, além de promover ações voltadas para a restauração de nascentes e com conteúdo educacional. Desde 2010, a Avon e as revendedoras de diversos países já contribuíram com mais de US$ 3 milhões para esse projeto. A parceria Avon e TNC ajudou a restaurar trechos da mata desmatados na região sudeste do Brasil, com cerca de 1,6 milhão de árvores. Vale ainda ressaltar que a fabricação das 252 mil camisetas em tecido PET que estão à venda retiraram 504 mil garrafas PET do meio ambiente, além de gerar economia de água e de energia elétrica. A Mata Atlântica é um dos biomas mais ricos em diversidade do planeta, seriamente ameaçado após um longo período de desmatamento que fez com que restasse apenas 7% da mata original. Outro exemplo de sustentabilidade é a Natural Cotton Color, da Paraíba. A matéria prima utilizada na produção de todas as peças da marca foi desenvolvida pela Embrapa e se trata de uma semente que já nasce com cor, evitando assim os processos químicos de tingimento, além de economizar 70% de água, que seria utilizada em processos convencionais de acabamento de algodão ou malha. Além de não agredir o meio ambiente, esse algodão não dá alergia para as pessoas que usam os produtos da marca. Mesmo que apenas quatro de 90 metas ambientais tenham apresentado mudanças significativas rumo ao desenvolvimento sustentável. Ainda contamos com os problemas do maior consumo de água e da dependência de energia suja. Entretanto, é possível criar estímulos para a energia limpa a partir do engajamento dos governos em acordos sobre mudanças climáticas. Além do engajamento dos governos, a sociedade civil também deve fazer o seu papel, principalmente na busca por melhorias das condições ambientais.
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Tramas sustentáveis por
Também utilizando tramas naturais, e ao longo de quase trinta anos de atividade, o ateliê Nara Guichon Têxtil tornou-se referência de design sustentável para a produção de roupas, acessórios e artigos de decoração, a partir do uso de fibras, em especial, das redes de pesca coletadas no mar e nas praias de Santa Catarina. A tecelã e designer gaúcha Nara Guichon, radicada em Floripa desde os anos 80, realiza uma produção que é um reflexo de sua própria filosofia de vida, baseada na valorização dos elementos naturais e do trabalho manual, aliando técnica e beleza. As peças de vestuário e decoração já foram premiadas internacionalmente ao longo dos anos - como a seleção para a Bienal do Design Brasileiro de 2009 e uma menção honrosa no Museu da Casa Brasileira. Nas criações, Nara aproveita a coloração natural da matéria-prima impressa pelas intempéries. Após um processo de limpeza e tratamento, as redes se tornam a trama básica para um vestido, uma bolsa, um colar, um lenço e dezenas de outras possibilidades.
Raphael Uno
Os anos passados entre a França e a Itália foram de grande aprendizado pessoal e de volta ao Brasil, Nara montou o primeiro restaurante vegetariano de Porto Alegre. Apesar do sucesso alcançado, a falta de liberdade imposta pela dura rotina atrás do balcão a fez abandonar de vez a cidade grande e se isolar na tranquila vila da Costa de Dentro, no sul da ilha de Santa Catarina, onde vive até hoje, cercada pela natureza. A designer tem um tear,onde aprendeu sobre tapeçaria com outros artesãos como o gaúcho Henrique Scuckmann, que realizava trabalhos primorosos, como retratos em tapeçarias a partir de lixo coletado nas praias. Foi ele que em 1998 mostrou a Nara as possibilidades criativas oferecidas pelas redes de pesca, que passou a ser o carro-chefe do trabalho dela desde então. “Meu desejo é usar a arte têxtil para cooperar com a preservação ambiental, o resgate cultural e a geração de trabalho e renda para mulheres de famílias pescadoras”, resume Nara. www.naraguichon.com
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warriors (fashion food) por
O homem é o que come? Foi pensando nisso que o beauty stylist Douglas Guerra criou o diálogo possível entre o conceito e o complexo padrão de beleza da atualidade, ressaltando o contraste do culto à beleza e da presença masculina num universo puramente feminino. O ponto de partida foi a própria história da maquiagem, que trata desde os primórdios, de um segmento especializado na força masculina. A maquiagem como ritual de guerra e de conquista de batalhas e temporadas de caça,quando a relação divina com a cultura dos povos das épocas antigas explicava o ato de se pintar ao status da força e das táticas de luta. Assim,avaliou a ausência de expressão mais delicada no processo: a fúria, a força, a dor, retratadas na expressão marcada de um homem que reconhece seu poder. Os pigmentos naturais foram concebidos de alimentos selecionados de maneira semelhante aos produtos cosméticos. A proposta partiu do princípio básico de que os pigmentos que compõem os produtos de hoje são tão naturais que poderiam ser comidos. Comida... Seria esse o motivo dos povos antigos prepararem verdadeiras expedições para a temporada de caça. O homem, para sobreviver, precisava ter dotes e táticas infalíveis para prover o futuro da espécie. A ligação precisa para o pensamento do editorial: A grande estratégia primitiva da força. A camuflagem utilizada pelos exércitos em suas atividades: riscos, manchas, traços faciais que possibilitem
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Douglas Guerra
que os soldados se confundam com as folhagens e paisagens dos ambientes de batalha. Esse procedimento é resgatado e traduzido numa proposta de moda masculina irreverente. É humana e puramente masculina a ideia de competição e de força.
Fotografia: Thiago Drummond
A masculinidade do editorial não é posta em xeque, o modelo a ser seguido é o do personagem masculino que incorpora todo o sentimento de poder, ira, fúria, força e disciplina no semblante e na postura, contrastando, mais uma vez, com a proposta de um ensaio de beleza e maquiagem para homens, sem transformar num caráter sexual duvidoso e pôr em questão a virilidade. A ideia de utilizar alimentos em uma proposta de beleza, surgiu em 2008, quando o Douglas Guerra pesquisava referências para novos projetos. Recentemente, a associação com o tema de guerra com foco no rosto masculino veio à tona numa nova pesquisa conceitual no curso de Criação de Imagem e Styling de Moda, do Senac São Paulo.
Assitente de Produção: Fabi Toledo
Sem pensar duas vezes, Guerra propôs parceria com o amigos produtores e fotógrafos de moda, com amplo portfólio e imaginação sem limites. O resultado da breve reunião são nove portraits de um ensaio beauty irreverente, moderno e visionáriio. Os ingredientes utilizados foram café, azeite, açúcar, canela, tomate, alho, urucum, pimenta do reino, milho, aveia, mel, trigo, curry, tinta de lula, ervas finas, beterraba e cera de abelha.
Produção de Moda: Douglas Guerra
Conceito, Styling e Beleza: Douglas Guerra Acervo: Milla Pedrosa Modelos: Leandro Ferrer, Theo Heidemann e André Kherwald Apoio: Hao Ping Lin, Maira Medeiros, Shell Manga, José Fábio Toledo
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ecofashionhouse Leia Moda ecofriendly
Movimento Co2 por
O mercado brasileiro agora já pode contar com tecidos elaborados com as fibras produzidas a inovadora tecnologia neutra em carbono chamada Edelweiss. Isso mesmo. A nova tecnologia é uma inovação ambiental, baseada em um processo químico derivado do oxigênio químico – mais eco-friendly que os anteriores –, que permite a fabricação de uma microfibra dentro dos mais altos padrões ambientais e cumpre todos os requisitos do programa Carbono Neutro graças a uma integração total em seu processo de fabricação. As fibras são produzidas de forma ecológica desde a polpa até a fibra. Até 95% dos materiais da produção são recuperados graças ao pioneiro processo ambiental desenvolvido pela Lenzing Fibers, na área de refinaria de madeira orgânica e ao uso térmico dos componentes da madeira. Edelweiss é o nome da flor branca considerada o símbolo da Áustria, país de origem da empresa. Ela e a Santaconstancia é que trazem para o mercado brasileiro os novos tecidos elaborados com as fibras Lenzing MicroModal e Lenzing Modal. O primeiro lançamento aconteceu no dia 13 de agosto em São Paulo, previstas mais duas apresentações em evento batizado de “Movimento Co2 Neutro” nas cidades do Rio e Balneário Camboriú, em Santa Catarina. A programação conta com as palestras “Movimento Co2 Neutro”,de Jose Favilla, consultor da Santaconstancia, formado em Tecnologia Têxtil com pós-graduação em economia e marketing; “Retail Placement”, por Giselle Araújo, gerente de marketing da Lenzing
Carol Porto
Fibers para a América Latina; e “Eco Consumer”, por Camila Toledo, diretora de tendências do Stylesight. O evento apresenta também peças-conceito desenvolvidas nos novos tecidos Santaconstancia nos segmentos Fashion, assinados pela marca Six One Seven; Infantil, por Miss Cecile; e Intimate, por Verve. Conheça a matéria-prima 100% sustentável A Lenzing Modal é extraída da madeira de faia, conhecida como “a Mãe da Floresta”, uma árvore típica da Europa Central e Setentrional. Ela é extremamente resistente a pestes e não causa danos ao meio ambiente. O crescimento da faia é caracterizado pelo processo de multiplicação via “rejuvenescimento”, o que significa que as árvores crescem por si só, sem necessidade de plantio ou irrigação, tornando os bosques de faia recursos completamente sustentáveis. Mais de metade da madeira utilizada pela Lenzing vem da Áustria e o restante é de países vizinhos, entretanto todo o material usado é de florestas manejadas de acordo com a legislação florestal local. Isso significa que o equilíbrio ecológico da floresta é mantido e ela continua a funcionar como escudo protetor contra os perigos naturais, além de ser um reservatório de água potável, lugar de lazer e habitat natural de animais e plantas. www.lenzing.com/textile www.santaconstancia.com.br
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Designer Consciente por
Um dos fatores fundamentais a ser levado em consideração por uma empresa que almeja trabalhar de forma consciente visando à sustentabilidade no planejamento e desenvolvimento de seus produtos, agregando atributos de consciência socioambiental, é uma equipe de profissionais comprometidos com essa causa. Designer com projetos inovadores e criativos, que possuam visão de produto, valorização da marca, imagem da empresa e preocupação com o meio ambiente. O designer é solicitado o tempo todo pelas empresas para produzirem soluções novas para os produtos que serão oferecidos aos consumidores. Segundo Lobach, “o designer industrial pode ser considerado como produtor de ideias, recolhendo informações e utilizando-as na solução de problemas que lhe são apresentados”. Para exercer essa função várias características são analisadas e consideradas fundamentais como a criatividade, a capacidade intelectual, i.e. , capacidade de reunir informações e utilizá-las em diversas situações. A criatividade do designer se manifesta quando, baseando-se em seus conhecimentos e experiências, ele for capaz de associar determinadas informações com um problema, estabelecendo novas relações entre elas. Na criação e desenvolvimento de produto do vestuário isso é um trabalho árduo, pois os critérios de moda mudam constantemente e poucas informações de superiores responsáveis pela aprovação do produto estão em pauta, o que dificulta o trabal-
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Márcia Ruiz, Eliane Pinheiro & Dorotéia Baduy
ho. É necessário que o designer se desprenda da insegurança, incerteza e dos conceitos propostos para realizar novos testes e mostrar que é um procedimento possível. Com o alto nível de obsolescência, com a concorrência acirrada e consumidores cada vez mais exigentes, é necessária muita habilidade. Segundo Manzini & Vezzoli esse tipo de desenvolvimento de novos produtos deve considerar todas as fases do ciclo de vida do produto (Life Cycle Design- LCD), identificando problemas e objetivos que culminem no aumento da sustentabilidade. A introdução do quesito produtos sustentáveis delimitará com precisão a margem de criação que os designers poderão utilizar. Podendo incentivar o grupo de criadores, a utilizar materiais diferenciados, novas tecnologias artesanais e de inserção social. Sendo assim, deve os designers possuir diferentes contatos e favorecer ligação entre os setores. Desde a extração da matéria-prima necessária para a produção dos materiais, e já no início também analisar a relação do produto com o meio ambiente, devem ser consideradas todas as relações recíprocas entre a possível solução e o meio ambiente onde será utilizado, bem como os danos de seu descarte. Vezzzolli relata que o critério de sustentabilidade está na base desse tipo de atuação para o desenvolvimento de projetos (contida em sua própria definição) é que o projetar deve adotar uma relação
sistêmica: o projetista precisa ampliar a sua atenção para todas as fases do ciclo de vida do produto. Ao projetar o produto com um ciclo de vida sustentável caberá ao designer examinar minuciosamente o produto, detalhando as matérias-primas utilizadas, bem como, os seus processos de fabricação, tais como: lavagens, processos de tingimentos e aviamentos a serem utilizados. Esta análise deve ocorrer a partir da extração da matéria prima, composição do material, mão-de-obra, transporte, processo de industrialização, descarte de resíduos do processo, estocagem e descarte final do produto. A análise no momento da escolha dos materiais deverá ser bastante rigorosa levando em consideração até mesmo os aviamentos que ornamentam a peça, evitando produtos decorativos que possam apresentar agentes poluentes que agravem e prejudiquem o meio ambiental durante o processo de execução ou após o seu descarte. Cabe ao designer, a escolha e seleção desses materiais e o descarte daqueles que não correspondem com o objetivo do projeto. Outro quesito a ser acompanhado por este profissional é de que após o produto finalizado, será o de análise do projeto de embalagem que transportará o mesmo, qual material utilizar tendo em mente o intuito do projeto que é a diminuição do impacto ambiental. Em seguida a forma de transporte, comercialização e por último o descarte final do produto analisando
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todas as hipóteses possíveis de reciclagem, reinvenção de um novo produto ou formas de degradação mais rápidas que causem o menor impacto ambiental. O profissional de moda deve demonstrar interesse na busca de pesquisas de materiais e de processos sustentáveis para os seus projetos. Três pilares são necessários para que ocorra a sustentabilidade: a disponibilidade e interesse do criador, indústrias e comunidades. O tingimento natural faz parte da vida de trinta artesãs que participam do projeto Arteciga em Cidade Gaúcha ao noroeste do Paraná. Os tingimentos são todos extraídos de plantas como tagetes ou cravo de defunto, como é popularmente conhecido; casca de cebola, que gera um tom de amarelo envelhecido muito bonito; e anileira, uma planta que dá o tom de azul; entre outras. É um conhecimento cheio de especificidades. Conforme Cleide Ferreira Mattos, professora de Artes no município de Cidade Gaúcha e pesquisadora sobre corantes naturais, representante do projeto, a tonalidade pode mudar devido à forma de retirar a planta ou conforme a época do ano. O envolvimento de pessoas ligadas à criação e o trabalho das artesãs resultaram no desenvolvimento de dois mostruários que recentemente seguiram para Milão onde se transformaram em produtos corretos nas mãos de designers italianos. Para Rita Maria de Souza Couto, em seu artigo “Pequenas Digressão sobre a Natureza do Design”, a tarefa de definir o Design já foi enfrentada por um sem-
número de autores. Rita Maria mostra que a bibliografia especializada apresenta uma série de definições dessa atividade, que expressam maneiras diversas de conceber o papel e os objetivos do designer. A diversidade de opiniões que existe sobre o tema pode ser ilustrada, por exemplo, através de conceituações que ora entendem o design como uma atividade voltada para o descobrimento dos verdadeiros componentes de uma estrutura física, ora como uma atividade criativa, que supõe a consecução de algo novo e útil, sem existência prévia, ora como atividade criadora, voltada à construção de um ambiente material coerente, para atender de maneira ótima as necessidades materiais do homem. Uma visão bastante ampla do que é o design é apresentada por Buchanan, que entende essa disciplina como uma atividade projetual de criação, recriação e avaliação de objetos, presente no cotidiano das pessoas, assumindo diversas formas e operando em diferentes níveis. Para ele, o campo de atuação do designer é potencialmente universal, porque a teoria de projeto pode ser aplicada a qualquer área da experiência humana. Fica evidente a visão de que o designer utiliza métodos para organizar seu trabalho e aumentar sua eficácia, não se limitando a propor soluções meramente intuitivas, cuja justificativa não possa convincentemente defender.
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hi-lo sustentável Quem é que não gosta de se vestir bem sem gastar muito e, de quebra, seguindo conceitos que respeitam o meio ambiente? O que muita gente não sabe é que é possível usar as melhores marcas de luxo do mundo de modo sustentável, gastando muito menos do que se imagina para estar na moda. Afinal,o que a moda tem a ver com reciclagem e economia? A resposta é uma só:brechó. Os brechós vêm se tornando uma tendência cada vez mais forte no universo fashionista. As peças cuidadosamente garimpadas já figuram na lista must have de 10 entre 10 it girls. Isso porque o que não serve mais pra uma pessoa pode ser um verdadeiro achado para outra, inserindo no universo da moda o conceito de sustentabilidade. Em uma realidade na qual a conscientização ambiental fala mais alto, os brechós tem papel fundamental: comprando itens usados, o consumo de novos diminui,
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por
Carol Porto
e o planeta agradece. Sem falar no bolso, e sem deixar de seguir as tendências de moda. É o caso da tendência Hi-Lo, que consiste em misturar peças extremas: o original e caro com a modinha acessível, o festivo com o básico, e assim por diante. E é justamente nesse conceito que a Luxury2ndHand tem muito a acrescentar. Baseada no conceito de brechó de luxo, a boutique virtual comercializa marcas Hi, como Christian Loubotin, Prada, Céline, Dior, Gucci, Louis Vuitton, entre muitas outras, sempre por um preço Lo. Para que não haja receio na hora da compra, as peças vendidas no portal passam por rigorosa seleção, feita por profissionais com muitos anos de experiência no mercado mundial de alto luxo. Conheça: www.luxury2ndhand.com.br
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Etiqueta verde Produtos ecologicamente corretos estão em alta e nada mais “trendy” do que colocá-los também no visual. Por isso, a empresária Luciene Caribé abriu há poucos dias a multimarcas Etiqueta Verde, na Conselheiro Portela, no Espinheiro, no Recife. Por lá, tênis, bolsas, t-shirts em algodão e seda ecológicos e orgânicos, ecopet e até tecno-bamboo. Tudo assinado por grifes masculinas, femininas e até infantis (de zero a quatro anos) que são destaques no cenário fashion, como Eden Organic, Green Co e acessórios Flávia Aranha e Flavia Amadeu. Em tempo, o espaço físico da loja também assumiu o perfil do bem, investindo em décor natural, como retalhos de madeira, pedras, palhas e até carreteis transformados em bancos.
Green
Label
Dando continuidade ao projeto de incorporar em sua coleção produtos ecologicamente corretos, a tng lançou sua linha Green Label, composta apenas por peças desenvolvidas com produtos reciclados e processos sustentáveis. Os consumidores da marca já podem encontrar nas lojas peças como calças jeans, t-shirts, vestidos e bolsas da linha sustentável. Todas as t-shirts tng Green Label foram confeccionadas com malha 50% algodão e 50% poliéster reciclado de garrafa pet. O resultado é uma malha resistente, macia e muito confortável. Para cada camiseta, são retiradas 2,5 garrafas do meio ambiente. Para a confecção dos fios, as garrafas PET são separadas por cor. Em seguida são moídas e descontaminadas. Após esse processo, são fundidas em uma temperatura média de 300ºC
para filtrar as impurezas. Finalmente, são moldadas em filamentos para tecelagem de malhas. As peças jeans da tng Green Label foram criadas com produtos Canatiba. São jeans com diferenciais ecológicos, desenvolvidos em denim Canatiba Hi-Comfort, com Tencel, marca da fibra Liocel da Lenzing Fibers, elaborada a partir da celulosa da polpa de madeira. Tencel é uma matériaprima obtida através de processo ecológico que utiliza madeira certificada de fontes renováveis. Além da busca por matérias-primas sustentáveis para o desenvolvimento das coleções, a tng investe em material sustentável para suas lojas. O maior exemplo disso é a sacola entregue ao cliente. As sacolas tng, produzidas com papel 100% reciclado,
fazem parte de um movimento de consumo consciente que evita o aumento do desmatamento de matas virgens e contribui para assegurar os direitos dos trabalhadores e de populações que vivem nas florestas. “Nossas sacolas possuem o selo FSC, que garante que o produto teve origem em florestas manejadas de acordo com os padrões ambientalmente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis”, conta Tito Bessa Jr, Diretor da marca. Essa iniciativa da tng faz com que sua produção de um ano de sacolas economize energia elétrica equivalente ao consumo de 220 famílias, água para suprir o consumo anual de 580 pessoas, evite o corte de 1800 novas árvores e retire rejeitos sólidos de lixões e aterros.
27 set2012
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Uma reflexão necessária A Editora Estação das Letras está com previsão de lançamento de mais uma produção científica na área de moda, é o livro Moda e Sustentabilidade: uma reflexão necessária, de Lilyan Berlim, autora que marca presença no Paraty Eco Fashion 2012, no Rio. Este livro reúne importantes informações sobre as relações entre e Moda e os princípios da Sustentabilidade. Apresenta uma série de dados, propondo uma maior contextualização do assunto e reflexões no que tange nosso estilo de vida, nossos hábitos de consumo e nossos modelos de negócios. Designers de Moda atuam em áreas que envolvem as relações sociais, ambientais e econômicas e, as informações aqui propostas podem ser refletidas gerando conhecimento e possibilitando transformação na área e no processo criativo. Dividido em quatro capítulos, o livro aborda o campo da Moda, o consumo e suas implicações com a sustentabilidade; as questões de responsabilidade socioambiental na moda enquanto gestão, difusão, criação, formação acadêmica e marcas pioneiras; os principais materiais, matérias primas e serviços considerados sustentáveis e seus aspectos sociais, ambientais e econômicos; reflexões sobre a dicotomia consumo/moda; e uma abordagem sobre as novas percepções dos estudantes e profissionais de Design de Moda quanto a materialidade, conceitos e consciência sobre o referido assunto: sustentabilidade. Mais informações: http://www.estacaoletras.com.br
28 set2012
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Jeans seda sustentavel por
A fiação artesanal de seda O Casulo Feliz, sediada na cidade paraense de Maringá, acaba de lançar o jeans de seda no mercado brasileiro. O tecido é composto de 50% seda, 25%pet e 25%algodão. Segundo Glicínia Seterenaski, designer e diretora de O Casulo Feliz, o algodão foi agregado à composição porque o pet esquenta muito no corpo por ser um poliéster. “O algodão neutraliza a temperatura do pet e dá mais conforto ao consumidor”, explica. Devido a esse processo, o jeans de seda se torna um produto ambientalmente sustentável. A fibra do pet e do algodão costumam ser dispensadas pela indústria, assim como o casulo que é usado tradicionalmente na produção da Casulo. É um processo revolucionário
Flaviano Quaresma
tecnologicamente, que dispensa lavanderia e amaciamento.“Assim, contribuímos ainda mais a um processo ambientalmente sustentável, ao não dispensar produtos químicos na natureza e economizar, pelo menos, 80 de litros de água por peça lavada”, ressalta Glicínia. O jeans de seda é leve, macio, confortável e tem uma característica única: o visual com tons de prata acentuado. Importantes grifes do Brasil e do exterior já demonstraram interesse em adquirir o tecido para usar em suas coleções. Entre as principais marcas brasileiras estão a Empório Beraldin, a Vivienne Westwood, a Osklen, Animale e Cantão.
vadores do bicho-da-seda na região conhecida como Vale da Seda, no Paraná. Os casulos rejeitados são levados para a fabricação de seda por meio de certa forma artesanal, em pleno século XXI. Cerca de 70 funcionários utilizam, manualmente, máquinas de tecelagem, água de poço artesanal, água de captação da chuva, tinturas de folhas (mangas, espinafre, erva-mate etc.), cascas (cerragem de eucalipto, pinhos etc.), raízes (cebola, açafrão etc), sementes (urucum, índigo etc.). Em julho deste ano, a empresa recebeu o Prêmio Ecochic Day, que reconhece e incentiva nomes e empresas da moda sustentável do Brasil.
A Casulo trabalha com a chamada seda sustentável, produzida a partir de casulos rejeitados pelos culti-
29 set2012
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Painéis solares na Índia. Photographer: Avijit Bhakta, CDM Project: 0087 - 20 MW Kabini Hydro Electric Power Project, SKPCL, India
o que nos move por
Flávia Vanelli
No Outono de 1939, nos primeiros meses da 2º Guerra, a Inglaterra impôs um rigoroso blecaute na tentativa de impedir qualquer ataque da força aérea alemã. Durante três meses, era ilegal mostrar qualquer luz à noite, mesmo que fraca. Nem na idade média a Inglaterra foi tão escura e as consequências foram profundas e ruidosas. Sem iluminação nas ruas, as pessoas corriam perigo constante. Mais de 4 mil pessoas morreram vítimas da falta de luz. Grande parte atropeladas. Felizmente as coisas se acalmaram e logo foi permitido um pouquinho de iluminação. Mas, esse fato lembrou as pessoas até que ponto haviam se acostumado a viver com iluminação e energia abundante. Grande parte dessa energia deve-se hoje ao petróleo. Um único litro fornece energia equivalente à força de 100 braços. Engraçado é constatar que foi a descoberta dele que evitou a extinção por completo das baleias cachalotes. Até então era seu óleo que lubrificava motores, e proporcionava fontes de energia. O petróleo é um tesouro de valor inestimável para o desenvolvimento da humanidade, mas precisamos de bom senso e uma nova perspectiva para um crescimento econômico mais justo e equilibrado.
30 set2012
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Estudos recentes de segurança energética apontam tendências para grandes desafios: as emissões de CO2 relacionadas com a energia estão em um pico histórico, a economia global permanece em um estado frágil, e a demanda por energia continua a aumentar. Nos últimos dois anos (2010 e 2011) vimos o derramamento de petróleo ao largo do Golfo do México, o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, e a Primavera Árabe, que levou a redução de fornecimento de petróleo pelos grandes produtores do norte da África. Já as ações em direção à extração do pré-sal no Brasil, que necessita de tecnologia delicada e experimental de perfuração, não afasta a possibilidade de desastres ecológicos. Com uma natureza tão linda, poderíamos direcionar nossos esforços para as energias limpas – mais seguras e tão competitivas quanto. De acordo com o mais abrangente relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), agência da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), utilizaremos em 2012-2013 cerca de 300 a 400 mil barris de petróleo por dia, e no ritmo atual, a demanda deverá chegar a quase 110 milhões de barris de ouro negro por dia em 2035. Muito mais do que os sumidouros podem nos dar. Em 2035, a frota de carros do mundo deverá dobrar em volume de 1,7 bilhões de veículos. E no planeta, as emissões de dióxido de carbono estão previstas para serem superiores a 20% até 2035, segundo a AIE, que voltou a soar o alarme em novembro de 2011. Dado o fracasso das últimas conferências do cli-
ma, a quota das energias renováveis (hídrica, biomassa, eólica, solar, resíduos, etc.) no mix global de energia só deve subir 13,2% de 2009 a 2035, a menos que seja criada uma dramática mudança na política de energia das grandes nações. Como é o caso para a maioria dos recursos naturais, a energia beneficia apenas uma parte do Planeta. Um americano consome anualmente 7,5 toneladas de óleo equivalente, quando outra pessoa de Bangladesh consome apenas 0,17. Mais de 2,7 bilhões de pessoas não têm acesso real à eletricidade. Segundo os especialistas da AIE, deveria ser investido um trilhão de dólares hoje para todos os seres humanos finalmente terem acesso à energia em 2030. O problema ambiental e a escassez conferem urgência à questão energética ambiental. Surge a importância da passagem cada vez mais rápida para fontes limpas, renováveis e que não coloquem em risco a segurança dos países. Observar nosso entorno tão diferente e complexo, é condição inerente de nosso comportamento impactando de maneira inesperada nosso estilo de agir, pensar, vestir, nos encorajando a tomar decisões, e nos fazer ativos. Observar essas novas configurações é a chave para a definição de tendências no futuro próximo.
Fonte: IEA - Agência Internacional de Energia http://www.iea.org/ Energy Technology Perspectives 2012.
31 set2012
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costura sustentável por
Raquel Medeiros
Originalmente publicado no site http://www.nasentrelinhas.com.br
A percepção do estilista continua aguçada, similar à da infância na ambiência recifense em meados da década de 1970. Aos 44 anos, o pernambucano Eduardo Ferreira mantém uma sintonia vivaz com o garoto urbano que agarrava a primeira oportunidade e corria “danado” para o município de Catende, interior de Pernambuco. Lá, passava férias na casa das tias e mergulhava no entorno dos engenhos de cana-de-açúcar. Em meio ao ritmo frenético das brincadeiras não deixava escapulir do canto do olho nenhum detalhe da “civilização açucareira” e dos trajes dos canavieiros que no retorno à casa viravam croquis nos espaços em branco dos livros de receita da Dona Eulina, sua mãe. Do olhar fez registro e da memória afeto que dá sentido à paixão pela moda. Sentimentos que compõem uma estética ousada, revolucionária, sustentável, primitiva e plural nas referências da cultura brasileira. Estética também irrestrita às influências de territórios além mar. Laços embrionários que pontuam a criação elaborada na costura que põe lado a lado das linhas e agulhas o artesanato e suas tipologias. Rendas, crochê, tricô, tapeçaria, fuxico, bordados... E filmes, teatro, cordel, sincretismo, xilogravura, tratados, maracatu rural, poesia e personagens múltiplos. Entre Gilberto Freire, Ariano Suassuna, Zuzu Angel, Oswald de Andrade, Manoel Bandeira, Josué de Castro, Vivienne Westwood e Dior, tudo é lido, visto, analisado, percebido e consumido enquanto estética. Como ele próprio define, moda é ferramenta e linguagem de expressão. E demonstrou o vocabulário diverso nas formas e elementos que utilizou no início dos anos de 1990, em Recife, para criar a marca e coleção
32 set2012
Mangue Fashion, inspirada na atmosfera efervescente e musical do Mangue Beat de Chico Science & Nação Zumbi. O movimento da contracultura - ambientado no processo de globalização e novas tecnologias compunha na mistura de ritmos do maracatu, hip hop, funk e música eletrônica uma mensagem clarividente que denunciava o descaso econômico e social do mangue e dos “homens caranguejos” atolados na miséria. Na moda, como linguagem e expressão, o Mangue Fashion foi um grito que ecoou além das fronteiras para colocar o Nordeste e Eduardo Ferreira em pauta dentro e fora do Brasil. A sua assinatura inequívoca transborda na diversidade cultural e em ideais de sustentabilidade. Em entrevista concedida ao site Nas Entrelinhas, Eduardo expõe a retrospectiva da carreira consolidada que tem aconchego no ateliê do bairro Apipucos, em Recife; fala de memórias e projetos emblemáticos e faz um apanhado da história do “menino de engenho”. O olhar doce sobre a moda e seu universo é também crítico e rotundo. Bate-papo Raquel | O que a moda representa para você e em que contexto ela começa a fazer parte da sua história? Eduardo | A moda é paradoxalmente minha zona de desconforto! Onde me desconstruo sobre vários aspectos, inclusive no sensorial. Tenho uma paixão absurda pela atividade e por quase tudo que a compõe. Tão grande é minha paixão que tenho até dificuldade em falar dessa instituição tão poderosa, síntese
de inúmeras questões tão relevantes ao comportamento humano. Por meio do trabalho de criação e observação que faço é que me reelaboro em forma e conteúdo. A moda para mim funciona como a ferramenta mais precisa de minha existência e é meu principal foco e interesse. Um vício perigoso e sem volta. É por esse canal que me vejo e compreendo melhor o meu redor. A moda para mim também representa inclusão, transformação, beleza e prazer. A Regina Guerrero dizia que “moda é uma louca multifacetada, olhando para todos os lados, querendo seduzir a todos”. Gosto do humor contido nessa definição. Foi no
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contexto familiar que a moda começou a fazer parte da minha história. Minha mãe era uma exímia bordadeira de enxovais e meu padrasto era ligado ao sindicato dos tecelões. Cresci entre os delicados e singelos bordados da minha mãe e a dura realidade da crise industrial têxtil em Pernambuco. Clichê da vida real: desenho roupas desde a primeira infância e meu primeiro vestido confeccionado foi de noiva aos onze anos de idade. Sempre sonhei trabalhar com moda, mas na adolescência achava moda algo fútil. Observando as coleções de Jean Paul Gautier, Zuzu Angel e Vivienne Westwood percebi que moda, história e política eram conciliáveis. Comecei a trabalhar como assistente de estilo no início dos anos 90. Antes trabalhava como figurinista em teatro e televisão e produzia figurinos de novas bandas de rock em Recife. Raquel | O fato de ser autodidata impôs barreiras na profissão? Eduardo | Quando comecei, no início dos anos 90, era caro e difícil fazer um curso superior de moda. Fiz alguns cursos com Marie Ruckie, do Berçot de Paris, que foram muito importantes para minha formação. Com ela aprendi um método de criação e estilo que através de análises semiológicas, técnicas de modelagens e desenho, passei a desenvolver meus projetos com mais precisão. Outro aprendizado importante tive em quase quatro anos de atividades na grife Beto Kelner, quando pude vivenciar todo processo de verticalização de uma confecção. Fazia da criação ao corte, montagem e acabamento das peças. Ainda produzia os catálogos e desfiles para o lançamento das coleções... Sempre grandes shows. Era o auge da marca. Ainda auxiliava nos treinamentos dos vendedores e fazia as vitrines das lojas. Por quatro anos essa foi minha “faculdade”. Claro que o embasamento acadêmico
é bacana, mas a prática pode ser uma boa formação. Gostaria muito de estudar alfaiataria na Inglaterra ou na Itália. Sou apaixonado por ambas as técnicas.
los e vice-versa. Já fui muito taxado sobre o fato de que minhas roupas parecem figurinos. Sei bem das diferenças e semelhanças. Salve Nelson Rodrigues!
Raquel | Instintivamente, você antecipou um conceito de brasilidade ainda nos anos 80 que mexeu com a estética vigente do figurino do teatro e da televisão. O que lhe abastecia?
Raquel | Você é criador da estética“Mangue Fashion” inspirado no movimento musical “Mangue Beat” que atravessou as fronteiras de Pernambuco e atraiu a atenção do País. O que compunha essa estética?
Eduardo: Tive a sorte de ser iniciado no teatro por Moncho Rodriguez, um profundo conhecedor e homem de teatro dos bons. Um gênio até hoje! Com ele participei de inúmeras montagens como figurinista... É o melhor figurinista de teatro que já conheci; uma grande referência. Como dramaturgo e encenador que é, aprendi muito sobre a psicologia da roupa e da personagem. Trouxe para a moda os ensinamentos. A luz, cor e ambiência também tem muita importância para um bom resultado. Sinceramente não acredito que antecipei nenhum conceito novo, apenas pessoal. A questão da brasilidade se dá pelo aprofundamento das pesquisas, outra prática herdada, e investigações quanto às origens das personagens seja na ficção, seja na vida real. Os indícios iconográficos da brasilidade estão por toda a parte. Vê quem quer, incorpora quem pode. Adoro a possibilidade de livres diálogos com vários contextos estéticos. Adoro a antropofagia de Oswald e Mário de Andrade! Eles sim foram precursores! Às vezes até ser óbvio se faz necessário... Engraçado: nunca me achei figurinista de verdade, pois nunca vivi de teatro. Tenho enorme respeito e admiração pelos profissionais. Fui fazer uma retrospectiva e cheguei à conclusão que fiz cerca de trinta espetáculos como figurinista, seja em teatro, dança ou em shows. Aí, percebi que realmente já posso me considerar figurinista de fato. Trago muito das minhas experiências de moda para os espetácu-
Eduardo | Bem antes do surgimento do Movimento Mangue Beat eu já tinha o interesse por questões levantadas por Josué de Castro e seus estudos sobre o processo de miserabilidade urbana proveniente do êxodo rural em Pernambuco. O Homem Caranguejo trata desse empobrecimento, inclusive cultural, e retrata grupos de pessoas que só tinham como sobrevivência os manguezais. A estética do processo era forte e isso me inspirou a criação de um look enviado para o concurso Smirnof Award de moda. Erika Palomino e Glória Coelho eram responsáveis e, claro, não fui classificado. Isso, em meados dos anos 80. Na década de 90, quando assisti pela primeira vez um show de Chico Science e Nação Zumbi, fiquei petrificado e pensei que aquele conceito de unir tradição com pós-modernidade era o que queria fazer na moda. Fiz uma leitura pessoal do movimento, claro, com minhas referências. O conceito central era unir elementos do “primitivismo cultural”, arte rupestre e indígena, xilogravura de cordel em estampas; artesanato em crochê, fuxico e tapeçaria; história da moda, citações a Worth, Dior e Vivienne Westwood com comportamento urbano, life style bem recifense, pegada praieira inspirada nos mangue boys e mangue girls dos anos 90. O desfile foi uma grande performance e a coleção se chamou Mangue Fashion. Mais que alusão ao movimento, a coleção e a marca surgiram inspiradas na diversidade cultural, na biodiversidade do ecossistema
33 set2012
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e nos ideais de sustentabilidade já trabalhando com cooperativas de artesãs da terceira idade. Cooperativas de costureiras, tapeceiras, rendeiras e bordadeiras. Sempre inspirado pela cultura popular, pelo comércio justo e pelo uso de matéria prima natural e orgânica. Preocupações que permeiam minha estética. Raquel | Que impacto o Mangue Fashion causou na sua carreira e como foi recebido pela crítica da moda nacional? Eduardo | O impacto da coleção foi enorme e meio que me jogou na “cova dos leões”. O Ponto de Vista, quadro da Cristina Franco no Jornal Hoje, da Rede Globo, em 1994, foi uma vitrine decisiva! O texto sintético e uma visão exata sobre meu trabalho foi muito importante para a visibilidade de minha carreira. A Cristina Franco é uma mulher muito inteligente e segura de suas convicções. Meses depois estava em São Paulo participando do Phytoervas Fashion e na manhã seguinte era notícia em todos os jornais e televisões. Depois vieram as revistas especializadas e em pouco tempo era conhecido por todo o País. É curioso como moda sempre foi assunto de interesse popular. Eu era constantemente abordado por taxistas, policiais e pessoas comuns que perguntavam sobre a coleção e quando lançaria uma nova. A recepção da crítica foi bem equilibrada. A maioria bem positiva, entusiasta, curiosa e carinhosa. Até afetuosa. Estive inúmeras vezes nas maiores redações de jornais e revistas importantes. Lembro-me de uma frase bastante contundente da Erika Palomino sobre a primeira coleção: “As roupas são horríveis e de tão horríveis chegam a ser lindas”. Sinceramente, achei até bacana a opinião dela. Foi bem emblemática e eu propunha ruptura. Como diria Caetano: “Narciso acha feio o que não é espelho”. Na segunda coleção ela foi só elogio. As roupas eram mais sofisticadas e quase formais. Na época existia realmente crítica de moda no Brasil. Havia mais especialistas de fato.
34 set2012
Raquel | Da literatura de cordel, Maracatu e artesanato ao Expressionismo Alemão, novas tecnologias e a estética de Vivienne Westwood. Como você unifica um caldeirão de elementos tão díspares para dar suporte a uma coleção? Eduardo | No início de carreira tinha a necessidade de sintetizar todas as minhas impressões e predileções. Uma espécie de manifesto da memória. Aliás, a memória é sempre minha grande aliada no processo criativo. É meu maior patrimônio. Apesar de estar sempre aberto para o desconhecido é através da memória afetiva que unifico essa referência que você citou. Na infância lia muito literatura de cordel. Sou encantado com o preciosismo dos trajes dos caboclos de lança do maracatu rural, herança afroindígena, puro sincretismo! Sou apaixonado pelo Expressionismo Alemão, sobretudo no cinema e filmes como Metrópolis, O Gabinete de Dr. Caligari, M. O Vampiro e outras pérolas do cinema desta época me encantam. Adoro a leitura dramática e reinventada da realidade! Vivienne para mim é uma das maiores criadoras da história, com uma trajetória no mínimo inspiradora. Sempre lembro dela nos momentos difíceis(risos). A unificação é naturalmente matemática e o estilo, a moda, a construção técnica das roupas, suas formas, cores e texturas é que dão a unidade à coleção. Um forro personalizado, um botão exclusivo, um detalhe que às vezes nem é visto a princípio funcionam muito na narrativa dramatúrgica da coleção! Raquel | Qual a sua opinião sobre o momento atual da moda global? Eduardo | No sentido geral, acho impressionante o desenvolvimento da moda contemporânea. Apesar das inúmeras mazelas que o mundo enfrenta, que vão desde crises financeiras a conflitos políticos e religiosos, a moda continua de certa maneira “cumprindo” seu papel de unificação e de síntese cultural. Mesmo sendo extremamente elitista e excludente. Apesar
dos problemas gravíssimos que vão desde a questão da mão de obra escrava com condições de trabalhos sub-humanos e a utilização de matérias-primas que não sabemos da origem e que resultam em preços incompreensíveis que desestruturam a cadeia produtiva mundial, a moda ainda tem espaço e é lugar para o sonho para a poesia e encantamento. A indústria, o consumo inconsequente e os excessos tecnológicos ainda não descaracterizaram o sentido humano na moda. Raquel | A moda brasileira está no caminho de constituir uma identidade própria capaz de conquistar espaço no cenário mundial? Eduardo | Claro! Nossos designers são muito criativos e talentosos. A moda brasileira começa a esboçar sua identidade, seu particular, seu estilo. Nos últimos anos evoluímos muito nesse sentido. Estilistas como o Alexandre Herchovitch, Carlos Mielle e a marca Osklen vêm desbravando de certa maneira o mercado mundial. A moda praia brasileira é algo sempre surpreendente, uma amostra de nossa inventividade e capacidade criativa. Nosso problema maior está na falta de políticas públicas para o setor! É impressionante o quanto é difícil e caro produzir moda no Brasil. Nossa indústria têxtil já nasceu com dificuldade e é impressionante a ausência de bons tecidos no mercado. Algodão virou artigo de luxo e raro. Um absurdo pelas condições climáticas e geográfica que temos! Definitivamente, não pensamos e não projetamos nosso futuro neste sentido. Raquel | Junto ao Sebrae você consolidou trabalhos de consultoria em moda e artesanato. Essa é a receita do novo luxo? Eduardo | Meu interesse pelo artesanal é anterior ao do Sebrae. Vem da tal memória afetiva que já falei. Historicamente moda e artesanato são na maioria das vezes complementares. O artesanal na roupa agrega o aspecto do exclusivo do pessoal e único. Neste sen-
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tido é realmente uma receita para o novo luxo. O luxo eterno como diria Gilles Lipovetsky. O artesanato tem haver com heritage, com tradição, que pode e deve ser modernizado. Durante anos da minha vida vivi literalmente o universo do artesanato brasileiro e em Pernambuco passei a conviver durante muito tempo nas comunidades produtoras da renda renascença. Meu interesse era e ainda é antropológico. Queria saber do cotidiano das artesãs, de como vivem, como se alimentam e como se divertem. Passei a frequentar todas as feiras e rotas da renda no estado. Vivi praticamente um road movie! Acordando às três horas da madrugada para ir ao encontro das artesãs em feiras e mercados em locais ermos. Independente, só e com meu próprio dinheiro. Foi difícil no início me fazer entender. Mesmo sendo uma realidade distante da minha quando ficou claro o meu desejo criativo, começamos a falar a mesma “língua”. Foi uma experiência muito rica e naquele momento fundamental para a ratificação do meu produto. Desenvolvi inúmeras coleções em parceria com diversos polos de artesanato, mas, a renda renascença é uma grande paixão. Aprendi a desenhar a trama da renda o que me trouxe certo respeito e admiração em algumas comunidades. Conseguimos durante anos renovar o repertório e motivos da renda. Desenvolvi muitos seminários, palestras e apresentações de moda com a produção feita em conjunto. Foi uma troca muito bacana onde pude mostrar para as rendeiras do potencial ilimitado dessa matéria. Com informação de moda e design conseguimos excelentes resultados, ótimos mercados e vitrines. Uma verdadeira utopia!
afastado das passarelas nacionais, exercito diariamente minha criatividade, meu olhar, minha técnica. Faço um trabalho de atendimento personalizado aqui em Recife, no bairro de Apipucos, onde desenvolvo roupas exclusivas e sob medida para uma clientela diversificada. Mas, com foco na roupa de festa. É uma atividade prazerosa, de olho no olho e com o desafio de traduzir e materializar o desejo do outro. Um ótimo exercício diário!
Raquel | Dos trabalhos como sócio educador às parcerias com artistas, marcas e estilistas renomados. O que falta experimentar e o que lhe motiva? Eduardo | Continuo com o mesmo sonho do início da carreira: sedimentar a produção e distribuição da minha marca de maneira sustentável e ética. Continuo motivado pelo desejo da criação. Mesmo estando Eduardo Ferreira | Atelier: Rua Caetés, 87. Apipucos, Recife-PE | edu.designer@hotmail.com | (81) 8477.6355 | (81) 9752.3237
35 set2012
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