ORIGENS DA PERMACULTURA Em meados dos anos 70 dois ecologistas australianos, Bill Mollison e David Holmgren,
começaram a desenvolver ideias que esperavam poder usar para criar sistemas agrícolas estáveis. Isto era uma resposta ao crescente uso de métodos agrícolas industriais destrutivos no pós-guerra que estavam a envenenar a terra e a água, reduzindo a biodiversidade e removendo milhões de toneladas de terra de paisagens anteriormente férteis. Uma abordagem de design chamada Permacultura foi o resultado e foi tornada pública pela primeira vez em 1978 com a publicação do livro “Permaculture One”. Depois da publicação do livro Mollison e Holmgren refinaram e desenvolveram os seus conceitos, desenhando uma série de “espaços de permacultura” e escrevendo outros livros. Mollison ensinou em mais de 80 países, e o curso de design de duas semanas foi dado a centenas de estudantes. No início dos anos 80 o conceito tinha deixado de ser predominantemente sobre sistemas agrícolas para ser um processo de design mais holístico para criar habitats humanos sustentáveis. Em meados dos anos 80 muitos dos estudantes tinham-se tornado praticantes bem sucedidos e começaram a ensinar. Num curto período de tempo estabeleceram-se grupos, projectos, associações e institutos de permacultura em mais de 100 países. A permacultura está agora bem estabelecida no mundo e há muitos exemplos inspiradores dos seu uso. No Zimbabué há 60 escolas desenhadas segundo o design permacultural, com uma equiopa nacional trabalhando na unidade de desenvolvimento dos curriculos escolares. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados produziu um relatório sobre o uso da permacultura em situações de refugiados, depois do uso com sucesso em campos de refugiados no Sul da África e na Macedónia. Uma tribo no Peru mudou de um estado de grande dependência do apoio do Estado para a auto-suficiência, prestando ainda apoio a outras tribos. Uma base militar nos EUA está a ser transformada num eco-negócio e parque de vida selvagem. Nos 27 anos que passaram desde a sua concepção a permacultura demonstrou que é uma abordagem com sucesso no desenho de sistemas sustentáveis, e pode ser utlizada em todas as regiões climáticas e culturais.
A VISÃO GLOBAL Há um velho ditado que diz: “O homem civilizado marchou pela face da terra e deixou um deserto nas suas pegadas”. Hoje, por todo o mundo, em terra que era antes rica e com vegetação natural, vemos desertos desnudados da sua manta morta, desertos de solo com sal devido a anos de irrigação, desertos devido a desflorestação que alterou o clima regional. O problema, na perspectiva da permacultura, foi a falta de design. A agricultura, desde a sua invenção e reinvenção durante 10 000 anos, envolveu um processo de limpeza da vida selvagem e estabelecimento de um ciclo de escavar ou arar, semear com algumas espeçies úteis, ervas principalmente, e colher para alimentar os humanos e os animais – e o ciclo começa todos os anos até que a terra fique exausta – após o que se irá limpar outra área selvagem. Talvez os humanos tenham criado este sistema depois de sobreviver por um milhão de anos caçando e colhendo comida, e aprendendo que o fogo regular encorajava a germinação das espécies pioneiras que eram mais nutritivas do que a floresta para as Iniciação à Permacultura, 15 a 18 de Junho, Couto de Esteves SOLIDÁRIOS – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário
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pessoas e para os animais caçados. A solução, na perspectiva da permacultura, é introduzir o design na agricultura para criar ecossistemas permanentes com colheitas abundantes, de forma que os humanos possam utilizar o mínimo possível de terra, deixando o máximo possível de vida selvagem, e, se possível, ajudando-a a restabelecer-se. Esta missão visionária global é expressa na palavra permacultura, uma forma abreviada de “agricultura permanente”. Para implementar esta visão global necessitamos de soluções locais, porque cada lugar na terra é diferente no que respeita ao clima, forma da terra, solos, e combinações das espécies que aí vivem. Não só a terra e o seu potencial variam de lugar para lugar, mas também as pessoas variam nas suas necessidades e preferências e nas suas capacidades. Cada lugar e comunidade requer o seu design particular. Portanto, ao nível local, os designers referem-se à permacultura como sendo design para “cultura permanente”. A visão global pode perder-se entre os pormenores do design da “cultura permanente” para a sustentabilidade local. Mas a visão é vital e pode inspirar-nos pra continuar face à obstrução e à apatia. Bill Mollison diz: “Abusámos da terra e deixámos desperdícios em lugares que não seria necessário se tivessemos atendido aos nosso quintais e assentamentos. Se precisamos de uma ética sobre os sistemas naturais ela será: 1. Oposição implacável a mais perturbação de qualquer floresta existente onde as espécies ainda estão em equilíbrio; 2. Reabilitação vigorosa de sistemas naturais degradados para sistemas estáveis; 3. Estabelecimento de sistemas de plantas para o nosso uso no mínimo espaço de terra que possamos usar; 4. Estabelecimento de refúgios para espécies raras ou ameaçadas. A permacultura lida primeiramente com o terceiro ponto mas todas as pessoas que agem responsavelmente subscrevem o primeiro e segundo pontos. Dito isto acredito que devíamos usar nos nossos assentamentos todas as espécies de que precisamos ou que conseguimos encontrar, desde que não sejam invasivas ou descabidas localmente. O mundo muda continuamente, quer achemos bem ou não. Alguns gostariam de manter tudo como está, mas a história, a palentologia e o senso comum dizem-nos que tudo mudou, muda ou mudará. Num mundo em que estamos a perder florestas, espécies e ecossistemas inteiros, há respostas concorrentes e paralelas: 1. Cuidar dos sistemas naturais sobreviventes, deixar a vida selvagem curar-se a si própria; 2. Reabilitar terra degradada ou em erosão, usando associações complexas de espécies pioneiras e duradouras (árvores, arbustos, ervas rasteiras); 3. Criar o nosso próprio ambiente complexo de vida com todas as espécies que possamos salvar, ou de que necessitemos, venham de onde vierem. Estamos a aproximar-nos do momento em que precisamos de refúgios para todas as formas de vida globais, assim como parques regionais, nacionais para formas indígenas de Iniciação à Permacultura, 15 a 18 de Junho, Couto de Esteves SOLIDÁRIOS – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário
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plantas e animais. Enquanto vemos as nossas flora e fauna locais como nativas, logicamente também podemos ver toda a vida como nativa da Terra. Enquanto tentamos preservar sistemas que ainda são locais e diversos, devíamos também construir novas ecologias para recursos globais, especialmente para estabilizar terras degradadas.”
DESIGN PERMACULTURAL A permacultura é um processo de desenho/design ecológico. O design é a nossa oportunidade para observar a situação e criar um plano de acção que nos permitirá fazer o melhor uso dos recursos disponíveis e criar um sistema mais produtivo, que vai ao encontro das nossas necessidades e cria menos poluição. Existe um grande conjunto de técnicas e processos que são usados. Eles são usados em conjunção com os princípios e a ética da permacultura para criar um padrão ou desenho abrangente. Aqui abaixo descrevemos alguns dos processos e técnicas usados.
Processos de design OBREDIM em português OFRADIM
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OBSERVAÇÃO – é chave para a boa permacultura. Use todos os seus sentidos. Registe as observações sistematicamente. Tente observar a terra ao longo das quatro estações e em diferentes condições de tempo, especialmente extremas como – gelo/ geada, chuva forte, muito calor... Onde é que a neve acaba primeiro? Onde se junta a geada/ gelo? Onde fica molhado ou pantanoso? Como é o vento no Inverno e no Verão? Onde gostam os gatos de se sentar?(Nos lugares mais quentes!) Que vida selvagem existe? Como é o solo e como varia ao longo do tereno? etc
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F FRONTEIRAS - Quais são as fronteiras do terreno? Percorra-as a pé e veja o que encontra. O que está para além da cerca, como é que isso o afectará a si? Qual é o alcance do seu projecto?
R
RECURSOS - Que recursos existem? Recursos financeiros – que dinheiro está disponível para investir no projecto? Está disponível todo de uma vez ou em pequenas somas todos os meses? Que competências/ capacidades existem? Que plantas, estruturas ou outros recursos estão disponíveis? Existe a possibilidade de financiamento a partir de organismos exteriores?
A
AVALIAÇÃO - Análise daquilo que tem – como interagem os elementos? Avalie os seus recursos, tornarão possível um grande projecto ou precisa de desenhar um programa longo de pequenas mudanças?
D
DESENHO/ DESIGN - É neste momento que pode jogar com todos os seus lápis coloridos! Um mapa base do que existe pode ser feito em camadas de papel vegetal e pode começar a ver como diferentes aspectos do design podem ficar. Existem muitas técnicas de design e na maioria são fáceis de usar.
I IMPLEMENTAÇÃO - Considere como podem ser concretizados os seus planos, considere o faseamento do projecto. Faça um plano de acção e assegure que todos sabem que plano é esse (é melhor envolvê-los desde o início!).
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MANUTENÇÃO - Quando estiver a planear considere que manutenção será necessária. Não faz sentido criar um sistema que precisa de manutenção de 3 dias se só tem 2 dias disponíveis.
Técnicas de design Planeamento por sectores O terreno é desenhado e acrescentam-se linhas mostrando o Norte, Sul, Este e Oeste (sectores). Acrescentam-se os ventos, o percurso do sol (no Inverno e no Verão), o movimento da água, os padrões e movimentos da vida selvagem, os veículos e outras energias, para construir uma imagem do fluxo das coisas. Compreendendo isto poderemos definir estratégias para reter as energias úteis e construir fertilidade e colheitas proveitosas. Zoneamento É uma forma de design para maximizar a eficiência energética, em que as actividades são colocadas em diferentes zonas, dependendo da frequência do uso, manutenção, visitas etc... Geralmente as zonas são localizadas da seguinte forma:
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Zona 0 – centro das actividades – a casa. Alta manutenção, muito uso e considerável investimento de tempo e energia. Zona 1 – plantas anuais, ervas, composto, arrumação de bicicletas e outras actividades de muito uso. Zona 2 – galinhas, outros animais, pomar, estufa. Zona 3 – armazenamento de água, principais plantações, abrigos de campo. Zona 4 – floresta, pasto, barragens, forragem. Zona 5 – zona selvagem, onde a natureza reina e onde vamos aprender e colher apenas o que é abundante. Análise de Investimento-resultado (Input-Output) É um processo para estabelecer o que o sistema precisa e o que produz. Pode também ajudar a medir a viabilidade de um plano. 1. 2. 3. 4.
Quais os custos para implementar o design, dinheiro, tempo, recursos disponíevis etc O mesmo para a manutenção Que resultado/ colheita o sistema produzirá? Onde há escassez nos recursos, no presente?
Escala de permanência relativa de Yeoman Propõe que há diferentes escalas de permanência que guiam a ordem pela qual prestamos atenção ao design da paisagem. O primeiro ponto em que podemos intervir é a água (visto que não podemos controlar o clima ou a paisagem mais ampla).Assim sendo, a primeira coisa a fazer quando estamos a planear é considerar como poderemos guiar e usar a água de modo mais eficaz e como poderemos fazê-la cumprir o máximo de funções antes de sair do nosso terreno. Yeoman foi um Australiano que desenvolveu o Keyline system, que tem sido usado com bons efeitos, transformando muitas paisagens antes degradadas. É muito usado em Permacultura, a sua escala de permanência é: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8.
clima forma do terreno água estradas árvores edifícios cercas e fronteiras solo
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Análise da pegada ecológica Pode ser usada como ferramenta de design em particular para verificar o impacto de diferentes designs e situações existentes. Também é usada para calcular o impacto individual ou de comunidades sobre o planeta. ÉTICA DA PERMACULTURA
Cuidar da terra – aprovisionar para que todos os sistemas de vida continuem e se multipliquem. A permacultura é um sistema de design baseado em princípios naturais. Trat-se de trabalhar com a natureza e não contra ela – não usando recursos naturais desnecessariamente ou a um nível que não permite o seu restabelecimento. Significa também usar os residuos ou restos de um sistema como recursos de outro sistema (restos de vegetais como composto por exemplo), minimizando os desperdícios.
Cuidar das pessoas – aprovisionar para que as pessoas tenham acesso aos recursos necessários à sua existência. Cuidar das pessoas ao nível individual e comunitário. A auto-suficiência, cooperação e apoio devem ser encorajados. É importante também tratar de nós indiviudalmente. As nossas capacidades não são úteis se estivermos demasiado cansados! Cuidar das pessoas significa ainda cuidar do legado para as gerações futuras.
Colocar limites à população e ao consumo – ao governar as nossas necessidades podemos guardar recursos para satisfazer os outros 2 princípios. Só temos uma terra e temos de a partilhar com outros humanos, com outros seres vivos, e com as gerações futuras. Isto significa limitar o nosso consumo, especialmente de recursos naturais, e trabalhar para que todos tenham acesso à satisfação de todas AS necessidades fundamentais da vida – água limpa, ar limpo, comida, abrigo, emprego com significado e contacto social.
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A permacultura não fornece soluções precritivas para os problemas do mundo – ninguém exigirá que ponha uma espiral de ervas no seu qiuntal ou que use apenas roupas feitas à mão ou provenientes do comércio justo ou fibras biológicas. Trata-se de lhe dar a liberdade de observar o que o rodeia e tomar decisões que funcionarão para si, na sua situação, usando os recursos que tem. A única decisão ética é tomar responsabilidade pela nossa existência e a dos nossos filhos. É importante sublinhar que esta ética não é exclusiva dos praticantes da permacultura. Bill Mollison na sua pesquisa procurou o máximo denominador comum – uma ética inclusiva e alargada o suficiente para que o máximo de pessoas a adoptasse. “Se queremos avançar e criar sustentabilidade e uma qualidade de vida melhor, a melhor forma de o fazer é compreender a natureza do mundo e viver criativa e harmoniosamente com ela – para compreender que somos uma parte da teia da vida e não separados dela.” Auto-suficiência e suficiência comunitária “Tentamos dar poder às pessoas para tomarem as suas vidas nas suas mãos. Se vê que há algo que precisa de ser feito, permita a si próprio fazê-lo.” A permacultura procura estimular as capacidades, confiança e imaginação que permitam às pessoas serem autosuficientes e procurarem soluções para os problemas numa escala local ou global. Enquanto o indivíduo tem um papel a desempenhar, em muitos casos não é realista que uma única casa forneça tudo o que necessita em termos de comida, roupa, trabalho etc, e a ênfase é mais na auto-suficiência ao nível da comunidade. Na prática, isso não significa que cada pessoa tenha que produzir toda a sua comida no seu quintal. Significa que a maior parte dos recursos investidos na comunidade deverão vir dela mesma – talvez na forma de esquemas de produção comunitária, sistemas de troca locais para trocar competências e produtos. A permacultura significa diferentes coisas para diferentes pessoas. Uma pessoa pode interpretá-la num sentido prático em termos da produção de comida, enquanto outra poderá focar-se mais no lado espiritual. Esta diversidade é importante, ajuda a manter o equilíbrio, e encoraja as pessoas a partilhar os seus recursos e conhecimentos com os outros. Trabalhar juntos é a chave – retira muita tensão do indivíduo. Também é importante estar informado e se puder ajudar os outros espalhar o seu conhecimento.
PRINCÍPIOS DA PERMACULTURA São linhas gerais universalmente aplicáveis que podem ser usados em design de sistemas sustentáveis. Estes princípios são inerentes a qualquer design permacultural, em qualquer clima e em qualquer escala. Foram retirados a partir da observação reflexiva da natureza e dos primeiros livros de ecologistas, designers de paisagem e ciência ambiental. Princípios definidos no livro Introduction to Permaculture (bill Mollison e Reny Mia Slay) • localização relativa • cada elemento cumpre várias funções • cada função importante é assegurada por vários elementos Iniciação à Permacultura, 15 a 18 de Junho, Couto de Esteves SOLIDÁRIOS – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário
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planeamento eficiente da energia: zonas, sectores e desníveis uso de recursos biológicos ciclo de nergia, nutrientes e recursos sistemas intensivos de pequena escala aceleração da sucessão e evolução diversidade efeitos de fronteira princípios em atitudes: tudo funciona para os dois lados, e a permacultura é intensiva no uso da informação e imaginação.
Princípios definidos no livro Permaculture, a Designer's manual (Bill Mollison) • • • • •
trabalhar com a natureza em vez de contra ela o problema é a solução mudar o menos possível para ter o maior efeito possível a colheita/produção de um sistema é ilimitada (ou apenas limitada pela informação e imaginação do designer) tudo modifica o ambiente
Princípios definidos no livro Permaculture and pathways beyond sustainability (David Holmgren) • • • • • • • • • • •
observar e interagir “A beleza está nos olhos de quem olha” apanhar e armazenar energia “Faz feno enquanto o sol brilha” Obter uma colheita “Não se pode trabalhar com o estômago vazio” Use e valorize os recursos e serviços renováveis “Deixa a natureza seguir o seu caminho” Porduzir nenhum desperdício “Não desperdiçar, não querer. Um ponto agora poupa nove depois” design dos padrões até aos pormenores. “Não se vê a floresta a partir das árvores” integrar em vez de segregar. “a união faz a força” use soluções pequenas e lentas. “Quanto mais alto se sobe maior é a queda” use e valorize a diversidade. “Não guarde todos os ovos numa só cesta” use as fronteiras e valoriza as margens. “Não pense que está no bom caminho só porque ele está em boas condições” use a mudança e responda-lhe de forma criativa “A visão não é ver as coisas como são mas vê-las como serão”
PERMACULTURA NA PRÁTICA A permacultura prcura criar habiats humanos sustentáveis seguindo os padrões da natureza. usa a diversidade, estabilidade e resiliência dos ecossistemas naturais para fornecer uma grelha e guia para as pessoas desenvolverem as suas próprias soluções sustentáveis para os problemas que o mundo enfrenta numa escala local, nacional ou global. Baseia-se na filosofia da cooperação com a natureza e cuidado da terra e das pessoas.
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Um sistema de design “Contemplação máxima, acção mínima” Pensar antes de agir. A permacultura é um processo de design baseado em princípios encontrados no mundo natural, de cooperação e relações mutuamente beneficiais, traduzindo estes princípios em acções. Esta acção pode ir desde a escolha do que se come, como se viaja, tipo de trabalho que se faz, onde se vive, até ao trabalho com outros para criar um projecto de cultivo de alimentos a nível comunitário. Trata-se de tomar decisões que se relacionam com todas as outras decisões; nenhuma área da nossa vida trabalha contra a outra. Por exemplo, se está planear uma viagem, considere outras tarefas que podem ser completadas a caminho do seu destino (combinar uma viagem ao centro de lazer com a compra de comida no regresso a casa). Significa pensar na sua vida ou projecto como um sistema – descobrir as formas mais eficazes para fazer as coisas envolvendo o mínimo de esforço e o mínimo dano para outros, procurando formas de tornar as relações mais proveitosas. É essencial observar o que nos rodeia antes de fazer escolhas. No início de um projecto (seja construir uma casa ou plantar uma floreira à janela) olhe os recursos disponíveis e pense como eles poderão relacionar-se em termos de utilidade para desenhar um sistema sustentável e eficaz. Tomando o exemplo de um quintal – a observação cuidada ao longo de alguns meses pode dar-lhe informação sobre os lugares mais solarengos, o percurso da raposa vizinha, as áreas abrigadas do vento. Tal informação não está sempre disponível no imediato, mas pode ser muito importante. Uma característica chave do processo de design em permacultura é o zoneamento. Localizar as coisas apropriadamente em relação umas com as outras, baseando-se no princípio de que aquelas coisas que requerem muita atenção serão colocadas mais perto da casa. Trata-se de usar sabiamente o tempo, energia e recursos.
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Princípio: Localização relativa – Relações funcionais e beneficiais
Esta janela a Sul recolhe o calor e luz para esta casa, enquanto o painel solar aquece a água. Através da localização correcta da janela e do painel usamos a luz e calor do sol para satisfazer as nossas necessidades. Localização e projecto: Bryn Llwyn, Wales Fotografia de: Steve Jones
Princípio:
Múltiplas funções para cada elemento
Este espaço de trabalho bem desenhado foi um elemento chave numa iniciativa de formação e produção alimentar na Escócia. este espaço permite o armazenamento seco para a criação, espaço de escritório, estufa, recolha e armazenamento de água, arrumação de ferramentas, recepção, e outras coisas. muito mais que um alpendre! Localização e projecto: Earthward, Borders, Escócia. Fotografia: Andy Goldring
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Princípio:
Vários elementos desempenham a mesma função
Este quintal em Hertfordshire, demonstra quão produtivo pode ser um pequeno quintal. A comida é fornecida por vários elementos do quintal ao longo do ano. Alguns dos alimentos provêm de plantas perenes, outros de canteiros anuais. A germinação de sementes feita no interior, os fornecedores locais e alimentos selvagens complementam a produção do quintal, reduzindo a dependência num só elemento. Localização e projecto: Quintal de Michael e Julia Guerra, Herts. Fotografias: Michael Guerra
Princípio:
Sucessão natural e stacking
Esta floresta selvagem foi desenhada para produzir uma variedade ervas, frutos, e madeira, com o mínimo de manutenção. Ela imita as camadas encontradas na floresta natural. A colocação das plantas por camadas chama-se stacking. Na natureza a terra nua é rapidamente coberta de plantas pioneiras, depois arbustos e pequenas árvores, até que uma nova floresta é criada. Compreendendo este processo podemos acelerar o processo natural e criar quintais florestais produtivos, que satisfazem as nossas necessidades e são habitats para outras espécies. Localização e projecto: Earthward Forest Garden, Escócia. Fotografia: Andy Goldring Iniciação à Permacultura, 15 a 18 de Junho, Couto de Esteves SOLIDÁRIOS – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário
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Princípio:
Diversidade – da monocultura à policultura.
Esta fotografia mostra um grupo plantando um canteiro levantado. Os canteiros darão um par de colheitas, mas incluem-se num projecto mais amplo que inclui saladas, maçãs, ameixas, pêras, ervas, batatas... O homem de branco está prestes a sair para ver as abelhas que asseguram a polinização e produção de mel. Os espaços agrícolas mais produtivos são os quintais de camponeses, são espaços maravilhosamente diversos, em tudo diferentes das grandes monoculturas que são menos produtivas mas mais lucrativas (no momento) porque usam combustíveis fósseis baratos que estão a causar mudanças climáticas, poluição e perda de solos através da desflorestação e mecanização. Localização e projecto: Projecto de permacultura, Offshoots Burnley Fotografia: Andy Goldring
Princípio: Usar tecnologia apropriada
esta foto mostra a construção um edifício que usa métodos de contrução fáceis de aprender.Isto permite às pessoas sem competências de construção anteriores a possibilidade de criarem os seus próprios edifícios. O edifício está virado a Sul para usar a luz e calor, a sua energia provém de um gerador eólico, painel solar, e forno de lenha que usa a lenha deixada pela câmara municipal. O telhado em turfa fornece um habitat que de outra forma desapareceria debaixo do edifício! Localização e projecto: Projecto de permacultura, Offshoots Burnley Fotografia: Andy Goldring Iniciação à Permacultura, 15 a 18 de Junho, Couto de Esteves SOLIDÁRIOS – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário
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Princípio: Planeamento eficiente da energia – Zona, Sector e Declive
Planeamento. Através do design temos a oportunidade de experimentar as coisas no papel primeiro, fazendo erros que se podem apagar, em vez de lamentar. Através do envolvimento das pessoas, e usando técnicas de aprendizagem simples podemos dispôr os elementos num design completo para que funcionem bem juntos e sejam energeticamente eficientes. Localização e projecto: Curso de design em Permacultura,Esh Winning, nr Durham, 2000. Fotografia: Wilf Richards
Princípio: Fechando os ciclos da energia, nutrientes e recursos.
O canteiro da consolda – centro do universo conhecido. A consolda é alimentada pela água e urina que escorrem dos currais das vacas. Isto é canalizado para consolda, fechando um ciclo de nutrientes e evitando que verta para o rio causando todos os problemas de poluição associados aos res+iduos agrícolas. A fertilidade é reciclada colhendo a consolda para ração de porcos e fertilizante biológico para plantas, ambos vendidos localmente. as raízes da consolda são vendidas para propagação A colheita é permanente e rendeu £1500 numa área de 1350m2 em 1999 . Localização projecto: Ragmans Lane Farm, Gloucestershire. Fotografia: Matt Dunwell Iniciação à Permacultura, 15 a 18 de Junho, Couto de Esteves SOLIDÁRIOS – Fundação para o Desenvolvimento Cooperativo e Comunitário
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Princípio: Uso de recursos e soluções biológicas
A permacultura baseia-se na ideia de que natureza funciona e de que todos os seres vivos têm valor intrínseco para além do valor financeiro que possam ter para os humanos. Amamos a vida e queremos mais seres vivos à nossa volta. Uma forma de o fazermos é usar sistemas vivos para satisfazer as nossas necessidades. Um exemplo clássico é o tratamento de águas através de plantas. neste sistema a água entre suja e sai limpa pela acção de plantas. A fotografia mostra o lago no fim de um sistema de tratamento de águas com plantas em Newcastle. Localização projecto: projecto Drift Permaculture, Newcastle Fotografia: Ken Bradshaw
Princípio: Escala apropriada
É importante usar estratégias que são relevantes para a escala certa. A casa é varrida pelo vento e usou uma série de pequenas estratégias para reduzir isso. plantou-se salgueiros para quebrar o vento e cercas para abrigo. Isto permitiu à Dorothy criar técnicas que se combinaram para fzaer um quintal bonito e produtivo. Estas estratégias não resultariam na escala dos charcos que se vêem ao fundo. No entanto a estratégia de “design através da identificação e remoção de factores limitadores” pode ser feita à escala. O factor limitador do quintal é o vento, por isso são criadas cercas. O factor limitador do charco são as ovelhas que comem as árvores novas. Remover as ovelhas permitirá a regeneração natural. Localização e projecto: Casa de Dorothy em Nenthead Fotografia: Andy Goldring
informação retirada do www.permaculture.org.uk
site
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