EDIÇÃO: TODA LUA CHEIA
SUSTENTABILIDADE
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ANO 1 - Nº 01 - NOVEMBRO 2008 - R$ 6,20
CULTURA
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TURISMO
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ARTE
A LUZ que ilumina
MINAS
É A LUZ QUE REVELA A SITUAÇÃO DO PLANETA. E SIMBOLIZA A MAIS NOVA PUBLICAÇÃO SOBRE SUSTENTABILIDADE, CULTURA, TURISMO, LAZER E ARTE, DE MINAS PARA O MUNDO TAMARA ALMEIDA
A MISS ESTRATÉGICA SEXO VERDE
COMO APIMENTÁ-LO FLÁVIO GIKOVATE
A ECOLOGIA DO AMOR
ESPECIAL: SUICÍDIO NO CAMPO E NA MESA
1 ZIRALDO
A VALE OFERECE MINÉRIO PARA SUA VIDA.
A mineração moderna, praticada pela Vale, usa tecnologia de ponta em seus processos produtivos e na sua gestão ambiental. A Mata do Jambreiro, localizada dentro da área da Mina de Águas Claras da Vale, permanece com seus 912 hectares intocados, um paraíso natural. A reserva continua sendo um santuário de diversas espécies de Mata Atlântica e Cerrado e mostra que, sim, é possível para a Vale preservar o meio ambiente enquanto trabalha para oferecer ingredientes essenciais para a nossa vida.
E CONSERVA UMA IMPORTANTE RESERVA DE BIODIVERSIDADE DA REGIテグ METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE, A MATA DO JAMBREIRO.
www.vale.com
1 ÍNDICE
ZIRALDO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .03 CARTA DO EDITOR . . . . . . . . . . . . . .08 COLUNA DO SAPO . . . . . . . . . . . . . .10 KID ITABIRITO . . . . . . . . . . . . . . . . .12 RECADO ECOLÓGICO . . . . . . . . . . . . .14 ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . .16 GIRO POLÍTICO . . . . . . . . . . . . . . . .20 AGROTÓXICO . . . . . . . . . . . . . . . . .22 RECONHECIMENTO PÚBLICO . . . . . . .30 VISÃO AMBIENTAL . . . . . . . . . . . . . .36 CIDADANIA ECOLÓGICA . . . . . . . . . . .38 OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .44 PERFIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46
MUNDO EMPRESARIAL . . . . . . . . . . .50 MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL . . . . . . . .54 BIODIVERSIDADE . . . . . . . . . . . . . . .58 PARQUES DE MINAS . . . . . . . . . . . . .60 UTILIDADE PÚBLICA . . . . . . . . . . . . .64 OLHAR EXTERIOR . . . . . . . . . . . . . . .66 DIREITO AMBIENTAL . . . . . . . . . . . . .68 ARTES CÊNICAS . . . . . . . . . . . . . . . .76 CULTURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .80 COMPORTAMENTO . . . . . . . . . . . . .84 ASSIM FALOU... . . . . . . . . . . . . . . . .86 ENSAIO VERDE . . . . . . . . . . . . . . . .90 IN MEMORIAM . . . . . . . . . . . . . . . .98
EXPEDIENTE CONSELHO EDITORIAL Ângelo Machado, Célio Valle, Evandro Xavier, José Cláudio Junqueira, José Fernando Coura, Maria Dalce Ricas, Maurício Martins, Nestor Sant’Anna, Paulo Maciel Júnior, Roberto Messias Franco, Vitor Feitosa e Willer Pós.
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DIRETOR GERAL E EDITOR Hiram Firmino hiram@revistaecologico.com.br
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3 EDITOR EXECUTIVO Luciano Lopes luciano@revistaecologico.com.br
3 REPÓRTERES ESPECIAIS Andréa Zenóbio, Vinícius Carvalho
3 COLABORADORES Ana Elizabeth Diniz, Luciana Morais e Mirtes Helena
DEPARTAMENTO COMERCIAL Ana Paula Borges revista@revistaecologico.com.br 3
MARKETING E ASSINATURA Lívia Goltara livia@revistaecologico.com.br 3
3 EDITORIA DE ARTE Marcos Takamatsu marcos@revistaecologico.com.br Sanakan Firmino sanakan@revistaecologico.com.br
3 FOTO DE CAPA Matthias Hiekel 3 PROJETO EDITORIAL E GRÁFICO EcológicoConsultoriaAmbiental&Comunicação ecologico@souecologico.com
A REVISTA ECOLÓGICO utiliza papéis Suzano com Certificado FSC (Forest Stewardship Council) para a sua impressão. Isto garante que a matéria-prima florestal provenha de um manejo econômico, social e ambientalmente sustentável.
3 VERSÃO DIGITAL www.revistaecologico.com.br 3
IMPRESSÃO: Lastro Editora
REDAÇÃO Rua Dr. Jacques Luciano, 276, Sagrada Família. Belo Horizonte-MG CEP 31030-320 - Tel.: (31) 3481-7755 redacao@revistaecologico.com.br 3
toda
Lua Cheia
Entre o mundo dos negócios e o mundo das pessoas, ficamos com os dois. Cemig, 9 anos como a única empresa de energia da América Latina no Índice Dow Jones de Sustentabilidade.
No ano em que a Joana e o Davi nasceram, foi criado o Índice Dow Jones de Sustentabilidade – DJSI World. Desde então, a Cemig é uma das duas únicas empresas do setor elétrico no mundo presentes no Índice. É que, ao gerar energia, a Cemig preserva, para a vida das pessoas, valores essenciais como ética, respeito, transparência e conservação do meio ambiente. Valores que nos inspiram a ser uma Empresa cada vez melhor. Produzir energia para mais de 17 milhões de pessoas é o nosso negócio. Criar valor para nossos clientes e acionistas, empregados e parceiros, e para esta e as futuras gerações é o nosso compromisso.
www.cemig.com.br
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3CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO (*)
EM NOME DO AMOR PREZADO LEITOR, PREZADO ANUNCIANTE, PREZADOS PARCEIROS E COLABORADORES. VOCÊS VÃO CONFERIR, NESSA NOSSA EDIÇÃO DE ESTRÉIA, QUE A REVISTA ECOLÓGICO FALA MUITO DE AMOR. Falamos sim, propositadamente de amor, quando, aconselhados que fomos, deveríamos estar falando de maneira mais assertiva, econômica, financista e moderna, sobre sustentabilidade. Tudo a favor. É sob a pirâmide do economicamente viável, do ambientalmente correto e do socialmentre justo que alicerçamos a nossa linha editorial. E acrescentamos outros focos: cultura, turismo (vide a Estrada Real que temos pela frente), lazer, poesia e arte. Acontece que, pra nós, mineiros neo-utópicos românticos e, por isso mesmo, amantes inveterados da natureza maravilhosa que nos cerca, resta e protege - e só por ser bela e nenhum outro motivo, deveria ser preservada - sustentabilidade não é apenas a tradução, lato sensu, de sobrevivência. Mas, sim, tão somente um novo nome de "Ama-te se puder, e não apenas a ti mesmo", como o ser humano mais ecológico que já pisou este planeta nos ensinou. É o "ame também o planeta, o país, o estado, a cidade, o município, o lugar e as pessoas onde vive, como a ti mesmo". Não existe outra forma de revolução mais acertada e eterna: ame, enquanto ainda há tempo. Nessa Terra e nessa Minas que nos mantêm vivos e privilegiados sobre elas. Quem sabe invertendo a ordem, a gente consegue acessar mais revolucionariamente esse amor, esse sentimento maior que temos dentro da gente e (puxa vida!) como é difícil de ser praticado! Revolte-se e aja diferentemente da boiada que só sabe ir pro matadouro comum. Apenas isso. Darmos a nossa contribuição à esta revolução necessária, ainda que tardia. Ajudarmos na causa hoje que mais comove a humanidade, vide a ameaça em curso do aquecimento global; as mudanças clímáticas e o desespero da natureza que iguala a todos, ricos e pobres brancos e negros, desenvolvidos e subdesenvolvidos, como mais uma espécie ameaçada. Queremos resgatar e atualizar a ideologia, o sentimento e o espírito de luta dos ambientalistas históricos (vide nosso conselho editorial), quem primeiro souberam gritar contra a injustiça ecológica, social e natural no nosso estado. E a eles somar a participação estratégica de novos companheiros, muitos deles hoje autoridades políticas e técnicas, gestores importantes à frente de entidades e de empresas com responsabilidade
08 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
"É esta a nossa teimosia: mostrar que o ser humano não destrói a natureza, a sua cultura e arte apenas por maldade. Mas por ignorância, egoísmo e escolha equivocada, escurecida"
como a lua, um pontinho de luz sobre a questão. Um olhar de Minas a refletir o que também acontece no planeta. Daí o amor, novamente. E a homenagem que prestamos e prestaremos sempre, mesmo que um dia ele não faça mais parte da nossa paisagem, ao nosso mais amoroso companheiro e exemplo de ser humano: Hugo Werneck. A ele e com ele, pai do ambientalismo brasileiro e de todos nós, que nos ensinou que primeiro temos de compreender e perdoar, e não julgar e condenar quem degrada a natureza. Vamos juntos, nos reunir doravante, a cada lua cheia, visível ou não no céu da nossa esperança. Vamos em frente! Como diria o poeta, não nos dispersemos. Vamos de mãos dadas. Até a próxima lua cheia! 8 (*) HIRAM FIRMINO, Diretor e Editor hiram@revistaecologico.com.br
PENHA WERNECK
socioambiental. E uma empatia de alma, mente e coração: o mesmo sonho e o compromisso ético com a causa onde atuam. Tal como nas histórias de luta e espada, queremos ser, mesmo na ingenuidade e pequenez que nos configura, os neomosqueteiros de uma Minas e um mundo em desequilíbrio. Não os mosqueteiros do rei, do governante e de poder algum, institucional ou econômico. Mas como seus parceiros naquilo que for sustentável, tal como a turma de D´Artagnan: "A Serviço da Natureza". Nessa ordem mesmo, como Galileu mostrou. A serviço, primeiro, de Deus, de quem criou a ordem ambiental universal e o nosso aprendizado dentro dela. Depois, a serviço da obra terrena, deste Planeta Azul, destas Minas Gerais maravilhosas da qual compomos parte perigosa, pra não dizer suicida, que precisamos preservar até por uma questão de inteligência. E aí, sim, por último ou concomitantemente, com sabedoria e por mais errantes, sermos serviçais de nós mesmos, carentes do mesmo afeto e cuidado que a natureza grita. Isso explica também o fato de nossa Revista circular, religiosamente, em toda lua cheia. A decisão é recorrente e ecológica. Escolhemos o calendário da própria natureza. A cada 28 dias, tal como os Maias perceberam, que é quando a lua completa seu ciclo, as mulheres trocam seu sangue no rebento que a sua natureza age e reclama, e começa tudo de novo. É quando a lua faz três quartos do planeta, que são os oceanos, se mexerem e levantarem até ela. Que dirá de e em nós, que somos 80% de água em nossos corpos! Mais: a escolha da lua é conceitual; diz da nossa esperança. Diante da escuridão universal, a luz da lua, ao refletir a luz maior do sol, nos lembra uma vela acesa que, mesmo tênue, ninguém consegue apagá-la no firmamento. Nem por muito tempo, mesmo que o céu esteja enegrecido por nuvens de poluição, diante do movimento e da impermanência de tudo. É esta nossa teimosia: mostrar, a cada nova lua cheia, que o ser humano não destrói a natureza, a sua cultura, poesia e arte, apenas por maldade, por querer e achar que isso é bom. Mas por ignorância, egoísmo e escolha equivocada, escurecida. Por desinformação. É a nossa linha editorial: disponibilizar e democratizar a informação ambiental. No dizer do nosso conselheiro maior, o secretário, amigo e companheiro de trincheira José Carlos Carvalho, mesmo que utópicos, queremos ser,
HUGO WERNECK: TRAJETÓRIA DE VIDA É EXEMPLO E INSPIRAÇÃO
ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008 ■ 09
UM ANFÍBIO EM BUSCA DE SUA LAGOA PERDIDA HF/ECOLÓGICO
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3O SAPO DE GAUDÍ
ALÔ, GOVERNADOR! CADÊ O VERDE DA LINHA VERDE? 3Meu querido Aécio. Esse anfíbio que vos fala, dessa lagoa comum, e falará sempre aqui na busca igual de uma Minas melhor pra se viver, só quer saber de uma coisa. Minto, duas. A primeira é: cadê o projeto paisagístico maravilhoso da nossa Linha Verde? Graças à sua gestão, em termos de fluidez do trânsito e economia de tempo, a gente hoje vai de BH a Confins como se estivéssemos numa cidade do Primeiro Mundo. Mas, cadê as árvores frondosas para quebrar a monotonia e dar sombra, as flores para amenizarem a visão do asfalto escaldante, as plantas ornamentais para nos desviar a visão de tanto cimento? Sei que o senhor é um político verde e senhor da obra. E quando ela foi anunciada, como redentora do nosso trânsito caótico, a questão ambientalpaisagística, e não apenas o plantio de grama, foi divulgada junto. Mas, até hoje, ainda não aconteceu e as empresas empreiteiras foram embora. Por quê? Ajude-nos a obtermos essa resposta e graça, em tempos mineiros de aquecimento global. Brigadão antecipado!
10 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
A PONTE DAS FLORES, LIGANDO OS BAIRROS SANTA EFIGÊNIA E SANTA TEREZA: BELEZA E ECOLOGIA SOCIAL
ALÔ, PREFEITO! CADÊ O NOSSO BOULEVARD? 3Meu querido Fernando. Como do Aécio, também sou seu fã de carteirinha e tenho uma questão correlata: cadê o nosso projeto original do Boulevard do Arrudas? Não, não tô falando da revitalização e paisagismo maravilhosos que vocês dois fizeram juntos na Avenida dos Andradas, desde a Praça da Estação até a Alameda Ezequiel Dias, e já prometeram estendê-lo até o Cardiominas, dando uma inegável cara de Paris à nossa roça grande amada. Falo do "Boulevard (e não Bulevar) do Arrudas", que vai da Ponte do Perrela até depois da Penitenciária Estevão Pinto, transformando em área social e de lazer toda a margem esquerda do Rio Arrudas. Um projeto que tem o dedo de pessoas históricas, como o saudoso Álvaro Hardy (Veveco), foi aprovado com unanimidade pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam) e contempla uma região esquecida, pobre e envelhecida, com seis bairros de classe média, ensurdecidos com o barulho dos trens. E, parece, está sendo proposto pelo Murilo Valadares, como compensação ambiental, aos proprietários do Boulevard Shopping, em construção onde antes era o campo do América. O projeto executivo final foi entregue pela população belo-horizontina, em caminhada pelo Arrudas, num Dia Mundial do Meio Ambiente, ao secretário ecológico do Célio, o nosso colega Paulo Lott, lembra-se? Pois é, Fernando! Só você, que como o Murilo, conhece bem esse projeto, esverdeou e floriu a nossa Beagá - como nenhum outro prefeito ou partido político havia feito. Só você pode fazer justiça a esse nosso boulevard primordial. A lagoa aguarda e agradece.
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3KID ITABIRITO O ESPÍRITO QUE ANDA PELAS GERAIS
Feiúra (I) Coisa feia a fumaça de poluição que sobe continuamente nos céus do Distrito Industrial de São João Del Rei e está há anos sem solução, na saída rodoviária para Lavras, meu caminho de roça. Ex-Companhia Paulista de Ferro-Ligas, não sei se ex-Vale Manganês também, e hoje Bozel Mineração, o que de fato funciona ali, aos olhos de uma população pobre e rural, e de uma fauna e flora igualmente devastada, é uma antiga metalurgia. E um conjunto danado de agressivo de chaminés ainda sem filtros, vociferando gases de efeito estufa que são vistos de longe, tipo rota de avião. Junto aos órgãos ambientais, a empresa está ok e ainda tem sua licença de operação validada até dezembro de 2009. Dá prá entender? ELOAH RODRIGUES
FUMAÇA DA BOZEL MINERAÇÃO POLUINDO O CÉU DE SÃO JOÃO DEL REI, NO CAMPO DAS VERTENTES: HORROR ANTIGO E DESAFIANTE
Feiúra (II) Idem, um novo espanto em construção ao lado da poluidora Bozel. Trata-se da fábrica de eucalipto tratado Esteio. Enorme e mesmo em se tratando de madeira ecológica, que substitui a devastação de espécies nativas, a empresa já peca pela quantidade de poluição atmosférica lançada dia e noite sem parar. Será que a Feam, para a nossa esperança, já esteve ali? Ou o Sindicato da Indústria de Base Florestal em Minas pode fazer alguma coisa, orientar a empresa antes que ela suje o nome em processo de limpeza do setor?
Pardini surdo Um absurdo de “desecologia” humana no Instituto Hermes Pardini da Avenida Bandeirantes, em BH. Co-
12 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
nhecido por afixar mensagens altruístas e edificantes em suas instalações, de uma hora para outra a instituição suspendeu a compra do jornal que seus clientes disputavam na sala de espera, enquanto aguardavam ser atendidos. Por economia? Pior é a questão deles verem a televisão ali instalada pelo mesmo motivo, que é fazer o tempo passar e distrair as pessoas inteligentemente, informando-as. O contraditório é que a televisão só funciona muda. Os clientes que pedem, inutilmente, para aumentar o som e assim não ficarem como bonecos surdos, só vendo imagens, recebem uma única explicação: "Não podemos aumentar o som para não atrapalhar o trabalho dos atendentes". Ué!? Então pra quê a televisão, se já cortou o jornal? Eu, hein...
HELENA LEÃO/ALMG
1 RECADO ECOLÓGICO
‘‘ESTAMOS IMERSOS NUMA CRISE SIMILAR ÀQUELA QUE DIZIMOU OS DINOSSAUROS HÁ 67 MILHÕES DE ANOS E CUJOS SINAIS HOJE SÃO AS EXTINÇÕES DE ESPÉCIES E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS.’’ 3MAURÍCIO ANDRÉS, AMBIENTALISTA E ESCRITOR
“É O FIM DA PICADA.” 3MÁRIO FONTANA, COLUNISTA DO JORNAL
SANAKAN
PROJETO MANUELZÃO
ESTADO DE MINAS, SOBRE UM GRUPO DE VEREADORES DA CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE QUE INSISTE NO PROJETO DE VERTICALIZAÇÃO DA REGIÃO DA PAMPULHA, A SERVIÇO DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
‘‘NADA MELHOR QUE A ÁGUA PARA DERRUBAR FRONTEIRAS DENTRO E FORA DE NÓS.’’ 3APOLO HERINGER, COORDENADOR DO PROJETO
“A CONSTRUÇÃO DO FUTURO NÃO SE FAZ APENAS ERGUENDO PRÉDIOS, MONUMENTOS E CIDADES. NOSSO AMANHÃ COMEÇA HOJE, COM A PRESERVAÇÃO DAS MARAVILHAS QUE A NATUREZA NOS OFERECE.”
MANUELZÃO E PRINCIPAL ARTICULADOR DO RECENTE “SEMINÁRIO INTERNACIONAL SOBRE REVITALIZAÇÃO DE RIOS”, EM BH
3PRISCILA FANTIN, atriz 14 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
LÚCIA SEBE/SECOM MG PAOLA CALLAHAN
“AS PESSOAS PENSAM QUE A ECOLOGIA É APENAS UMA MODA. MAS A REVOLUÇÃO DA CONSCIÊNCIA JÁ COMEÇOU.”
“SOU OTIMISTA: ACHO QUE O BRASIL SERÁ UMA ‘NAÇÃO LIMPA’, DAQUI A 30 ANOS, CAPAZ DE NAVEGAR, NADAR E PESCAR NÃO SÓ NO RIO DAS VELHAS, QUE ESTAMOS RECUPERANDO, COMO EM TODAS AS SUAS ÁGUAS, INCLUSIVE AS DO RIO TIETÊ E DO CANAL DO MANGUE.”
RICARDO BARBOSA/ALMG
3MARCUS VIANA, MÚSICO E COMPOSITOR
3JOSÉ CARLOS CARVALHO, EX-MINISTRO E ATUAL SECRETÁRIO ESTADUAL DE MEIO
DANTE BORGES
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DE MINAS
“A SOLUÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL NO BRASIL TAMBÉM PASSA PELAS EMPRESAS.” 3BERNARDO PAZ, PRESIDENTE
“DEVEMOS PREOCUPAR NÃO SÓ COM OS PROBLEMAS PONTUAIS, MAS COM A CONJUNTURA AMBIENTAL. TEM QUE TER ESPAÇO FIXO NOS JORNAIS, E COM PERIODICIDADE SEMANAL OU MENSAL.” 3LUIZ CARLOS BERNARDES, APRESENTADOR DO JORNAL DA BAND MINAS E MEMBRO DA DIRETORIA DO SINDICATO DOS JORNALISTAS DE MINAS
AJB
DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO INSTITUTO INHOTIM
‘‘PERTO DE MUITA ÁGUA, TUDO É FELIZ.’’ 3GUIMARÃES ROSA, NO LIVRO "GRANDE SERTÃO: VEREDAS"
ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008 ■ 15
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3ENTREVISTA
TAMARA ALMEIDA, MISS MUNDO BRASIL
FÁBIO NUNES
BELEZA MINEIRA, COM ANGRA DOS REIS AO FUNDO: “A MÍDIA ENGAJADA É A NOSSA GRANDE ESPERANÇA”
16 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
"As empresas também estão se conscientizando e reutilizando os recursos naturais, trazendo qualidade e melhoria de vida para as pessoas"
BELEZA ESTRATÉGICA DE MINAS PARA O MUNDO, a ipatinguense Tamara Almeida se tornará a primeira miss brasileira a apoiar a causa ecológica internacional ALEXANDRE SALUM redacao@revistaecologico.com.br
Convidada para o evento de abertura da Semana Florestal de Minas, promovida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) no dia 22 de setembro, a Miss Mundo Brasil, Tamara Almeida, participou do plantio de mudas de quaresmeira e ipê, no Parque do Rola Moça, uma das mais importantes áreas verdes da região metropolitana de Belo Horizonte. Mineira de Ipatinga, 23 anos, Tamara concluiu o segundo grau e veio para a capital em 2005, onde começou a cursar Direito na Faculdade Newton Paiva. Depois, foi trabalhar como modelo e ficou três anos no exterior, morando em países como Tailândia, Chi-
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na, Singapura, Hong Kong e Grécia. Em julho, foi eleita Miss Mundo Brasil em Angra dos Reis. Agora, vai disputar o título mundial em dezembro, na cidade de Johannesburgo, África do Sul. Para participar do evento, as candidatas têm que levar um projeto socioambiental desenvolvido em seu país de origem e Tamara escolheu um trabalho realizado na Amazônia pela ONG Amigos da Terra, chamando a atenção para a situação da floresta. Em entrevista exclusiva à Ecológico, ela falou sobre sua carreira e a preocupação com a ecologia.
SOU UMA MULHER QUE COLOCA A MÃO NA TERRA PARA AJUDAR O PLANETA. FAREI O O QUE PUDER PARA MOSTRAR AO MUNDO O NOSSO COMPROMETIMENTO
ECOLÓGICO - QUE PROJETO VOCÊ ESTÁ LEVANDO? Todos os 110 países que vão participar têm que levar algum projeto social. Então, juntamente com a organização do Miss Mundo, escolhemos um projeto sustentável, em parceria com a ONG paulista Amigos da Terra, como nosso ponto forte. Desde que fui eleita tenho participado de vários eventos enfocando este tema. Em breve viajarei para Manaus, onde vamos gravar um documentário mostrando a importância de se preservar a Amazônia. O trabalho
que é feito com sustentabilidade ambiental será apresentado em Johannesburgo. Uma das preliminares para a sua classificação é ter retorno social. Se ganhá-lo, automaticamente estarei na final do evento. QUAL A SUA RELAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE NO DIA-A-DIA? Ela é 100%. Sempre fui adepta de esporte, mas não sou de ficar só em academia. Pedalo todos os dias de manhã e gosto de curtir a natureza. Não tenho carro, mesmo morando em São Paulo. É uma contri-
buição pequena, mas acho que estou ajudando, porque o trânsito está cada vez mais louco e as pessoas estressadas. O contato com a natureza é muito importante. Sou mineira de Ipatinga, uma cidade historicamente voltada para a questão ambiental, em razão de sua vocação industrial, da sua poluição no passado e controle quase absoluto nos dias de hoje. A Usiminas, por exemplo, tem a sua sede lá e passou por essa transformação, mostrando que é possível desenvolver economicamente sem degradar a natureza. Sei disso. Morei
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3ENTREVISTA
TAMARA ALMEIDA, MISS MUNDO BRASIL
fora do Brasil muito tempo, estive na Grécia, Tailândia, China e Hong Kong, países que não têm este lado tão voltado para o meio ambiente. Eu sentia muita saudade do Brasil por causa disso. O QUE VOCÊ ACHA DA DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA? Eu acho que hoje é uma preocupação muito grande. O brasileiro tem que ter uma atenção maior para a solução desse problema. O país é atualmente o 32º. colocado na lista de países mais comprometidos com o meio ambiente. Justamente nós, que temos uma floresta daquele tamanho, então, tem que existir dentro do nosso povo um comprometimento ecológico. Essa questão do desmatamento da Amazônia é algo que tem que ser observado e encarado com respeito e responsabilidade. Não só pelos políticos, mas por todo povo brasileiro. Se a gente se movimentar e a sociedade se mobilizar em prol do meio ambiente, colocando-se disposta a fazer projetos que estimulem a conservação da natureza, principalmente na região amazônica, tudo vai melhorar. Acho que podemos fazer muitas coisas, e não só ficar esperando mudanças externas ou da política. Cada um, cada pessoa, contribuindo com uma pequena parcela, pode modificar um pouco este quadro atual e trazer para o Brasil só coisas boas. VOCÊ ACHA QUE OS BRASILEIROS SE PREOCUPAM COM O MEIO AMBIENTE? Estamos mudando. Cada ano que passa, a população tem se mostrado mais preocupada. Até na questão da reciclagem, no aproveitamento do lixo, isso está mais presente. As empresas também estão se conscientizando, reutilizando
18 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
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SÓ DE ALGUÉM LER ESTA ENTREVISTA E ACENDER NELA ALGO A FAVOR DO MEIO AMBIENTE, JÁ VALEU A PENA
mais os recursos naturais, trazendo qualidade e melhoria de vida para as pessoas. Há alguns anos, essa preocupação não era tão explícita como agora. O povo brasileiro está começando a criar um comprometimento maior. QUAL A IMPORTÂNCIA DE UMA MISS MUNDO BRASIL NESSA QUESTÃO? Se alguém ver uma foto minha plantando árvore ou dando entrevista, e isso acender uma luzinha na consciência e atitude dentro dela, já valeu a pena. O retorno da natureza para qualquer ação ecológica é tão valioso que não tem preço. Estou muito feliz em poder ajudar nisso. Sou uma mulher, uma miss que representa o Brasil, mas que apóia a questão ecológica e coloca a mão na terra para mostrar que a gente está aqui, como todas as pessoas deveriam, para ajudar o planeta. O QUE VOCÊ ACHA DO PAPEL DA MÍDIA NA DIVULGAÇÃO DESSA NECESSIDADE? A mídia engajada é a nossa grande esperança. A população não está ciente do que tragicamente está acontecendo na Amazônia e nos outros biomas, a devastação que mata e a gente sabe que existe mas não quer ver. A mídia é muito importante para mostrar esta contradição e nos instigar a lutar. A opi-
AMIGA E AMIGOS DA TERRA 3A organização Amigos da Terra - Amazônia Brasileira (AdT) atua, desde 1989, na promoção da cidadania e dos direitos humanos com foco prioritário na região amazônica. Por seu trabalho excepcional com o meio ambiente, não foi à toa que as ações e projetos da ONG foram escolhidos pela Miss Mundo Brasil 2008, Tamara Almeida, para serem divulgados durante a final do concurso de Miss Mundo a ser realizado na Àfrica, em dezembro. Todas as experiências exitosas da Amigos da Terra na Amazônia brasileira serão mostradas no concurso através de um documentário que Tamara irá gravar. Segundo Tamara, a intenção é mostrar ao mundo “que o Brasil vai além do carnaval e do futebol”. E ressalta, ainda, que o vídeo irá enfatizar a importância do bioma para o planeta. O apoio a um projeto socioambiental é um dos requisitos exigidos no concurso para que as modelos participantes sejam eleitas para a final.
nião pública precisa ver para acreditar. Está acontecendo algo muito grave com a natureza. Não só devemos acompanhar os noticiários, mas discutir, agir. E por isso que estou indo para a Amazônia fazer este documentário, para mostrar ao mundo o que fazemos por ela. O QUE VOCÊ ACHA DO LANÇAMENTO DA REVISTA ECOLÓGICO, UMA PUBLICAÇÃO QUE DIVULGA E DISCUTE EM ÂMBITO ESTADUAL AS QUESTÕES ECOLÓGICAS? Acho genial. Se quiserem enviar algum jornalista para me acompanhar na Amazônia e fazer uma reportagem, estou à disposição. Sou a primeira brasileira em um concurso internacional como este que está apoiando a causa ambiental, com projeto social voltado para a sustentabilidade. No que eu puder fazer para incentivar isso e mostrar para o mundo o nosso comprometimento, vai ser ótimo. 8
Investimentos em 2009
ALAIR VIEIRA/ALMG
A Assembléia Legislativa já recebeu os projetos do Orçamento para 2009 e da primeira revisão do Plano Plurianual de Ação Governamental (PPAG), referente a 2008-2011. Neles, o governo do Estado apresenta de que forma e onde será aplicado o dinheiro público no período. A soma total dos investimentos é de R$ 11 bilhões, cerca de 207% a mais do que o orçamento de 2004. Apenas os recursos previstos para os projetos do PPAG são da ordem de R$ 4,97 bilhões.
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Ampliação de escolas, construção de postos de saúde, banheiros e calçamento de ruas são algumas das intervenções realizadas pelo programa Travessia, do Governo de Minas, que está sendo um sucesso no estado. O objetivo é capacitar e dar oportunidade de emprego aos habitantes das cinco cidades atendidas: Setubinha, Franciscópolis, no Vale do Mucuri, Governador Valadares e Jampruca, no Leste, e Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana. Cerca de 400 moradores destas localidades foram treinados e já estão trabalhando nas obras.
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Apoio ambiental
O Projeto de Lei (PL) 301/07, que cria a Política Estadual de Apoio e Incentivo aos Serviços Municipais de Gestão Ambiental, está pronto para retornar ao Plenário e ser analisado em 2º turno. Ele estimula a criação e o desenvolvimento da infra-estrutura administrativa, de pessoal e de serviços necessários à gestão ambiental nos municípios. O autor do projeto é o deputado Carlos Pimenta (PDT) (foto).
20 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
Programa Travessia
Quem protege não paga
ASCOM SISEMA
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DA REDAÇÃO LÚCIA SEBE/SECOM MG
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GIRO POLÍTICO
Até setembro último, apenas 20% dos agricultores mineiros apresentaram formulário preenchido para o cadastramento de regularização do uso da água. A maior parte dos agricultores tem receio de que a iniciativa gere futuras cobranças pelo seu uso. Segundo Cleide Pedrosa (foto), diretora geral do IGAM, a intenção não é cobrar do produtor de água, que preserva as nascentes, mas sim de quem faz uso predatório. Os dados do cadastramento são para mapear o uso dos recursos hídricos no estado, identificar e solucionar possíveis problemas.
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Queijo artesanal
Para apoiar a produção de queijo artesanal em Minas, já está em debate na Assembléia Legislativa a construção de centros de maturação no Estado. Segundo a Emater, o número de produtores de queijo é estimado em 35 mil, e mais de nove mil estão locados nos 46 municípios que fazem parte do Programa Queijo Minas Artesanal.
SUICÍDIO NO CAMPO E NA MESA
SANAKAN/DENISE COELHO
ATRÁS DAS FRUTAS E VERDURAS COLORIDAS que enfeitam os pratos e satisfazem nossos paladares, um assassino silencioso continua sua jornada de destruição ambiental e humana. E ainda nos induz ao suicídio
22 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
LUCIANO LOPES luciano@revistaecologico.com.br
AJB
ENQUANTO O MERCADO MUNDIAL DE AGROQUÍMICOS E FERTILIZANTES MOVIMENTA US$ 80 BILHÕES POR ANO, ESTIMASE QUE, NO MESMO PERÍODO, MAIS DE TRÊS MILHÕES DE PESSOAS SOFREM INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICOS. Desse total, mais de 220 mil seres humanos morrem em conseqüência de doenças ou complicações decorrentes da ação de suas substâncias no organismo, afetando principalmente o nosso sistema neurológico. Os dados, da Organização Mundial da Saúde (OMS), são um alerta para o problema, que tem ceifado a vida de nossos trabalhadores rurais e animais do campo. Não é para menos. O Brasil é hoje o quarto maior consumidor de pesticidas do mundo, movimentando US$ 2,5 bilhões/ano. No campo econômico, é um mercado promissor, sem dúvida nenhuma. Mas, no entanto, por que nós, consumidores, continuamos alimentando um setor cujo produto principal é responsável por contaminar os alimentos, os solos e os cursos d´água espalhados pelo nosso país? A questão é mais complexa do que se pensa, uma vez que o setor e - pasmem - até o próprio trabalhador rural têm culpa no cartório do meio ambiente e da saúde. Segundo Rosany Bochner, coordenadora do
Sistema Nacional de Informação Tóxico-Farmacológica (SINITOX), da Fundação Oswaldo Cruz, mais de 51 mil pessoas sofreram algum tipo de intoxicação na região Sudeste em 2006. Essa região foi cenário de mais de 50% dos casos no país nesse período; e grande parte deles se devem ao fato de Minas Gerais ser um dos estados mais consumidores de agrotóxicos: "Dos 488 óbitos relacionados à contaminação por agentes tóxicos, há dois anos, no Brasil, 37,5% estavam relacionados ao uso de agrotóxicos agrícolas ou de uso doméstico. Apenas na capital mineira foram registradas 5.048 contaminações por agentes tóxicos, 10,1% a menos que 2002, com 14 vítimas fatais", aponta Rosany. Estima-se, ainda, que mais de 540 mil trabalhadores rurais brasileiros estejam contaminados por defensivos agrícolas. Entre os estados com maior incidência, além de Minas, destacam-se Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Carandaí e Barbacena, municípios localizados na porção centro-leste de nosso estado, estão entre as cidades brasileiras que registram os maiores índices de intoxicação entre os trabalhadores rurais. Já a cidade mineira de Luz, no
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IMAGEM DA AUTO-DESTRUIÇÃO: TRABALHADORES RURAIS AINDA IGNORAM A PROTEÇÃO AO BATER AGROTÓXICO NAS LAVOURAS
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ARQUIVO IMA
centro-oeste do estado, a 188 quilômetros de Belo Horizonte, é a campeã no número de suicídio entre trabalhadores rurais.
MORTE POR SUICÍDIO? A resposta é sim. E a sua ocorrência é mais grave não apenas em Minas, como também no estado do Mato Grosso do Sul. Em um estudo realizado pelos pesquisadores Dario Xavier e Maria Celina Piazza, do Departamento de Química da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, e Eloíza Dutra Caldas, da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), entre 1992 e 2002 foram registradas 1.355 notificações de intoxicação por agrotóxicos. Destas, 506 foram tentativas de suicídio, que resultaram em quase 140 mortes. Dário Xavier, organizador do estudo, junto com os demais pesquisadores, continuam desenvolvendo trabalhos de campo, levantando o número de intoxicados no interior do estado, através da coleta de sangue e urina dos agricultores para a realização de exames, sem qualquer apoio do estado. Vários outros estudos científicos realizados no país já conseguiram comprovar que os trabalhadores rurais que ficaram mais tempo expostos aos agrotóxicos ou que consumiram alimentos contaminados apresentaram mudanças de comportamento e tentaram o suicídio. Segundo análise do SINITOX, do total de 23.089 casos de intoxicação relacionados às tentativas de suicídio, 14.263 casos (61,8%) estão relacionados a medicamentos, 2.642 (11,4%) aos raticidas e 2.515 aos agrotóxicos de uso agrícola (10,9%), sendo que 81,4% do total das tentativas de suicídio em
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2006 foram causados por três agentes tóxicos. "Só o suicídio respondeu por 67,8% do total dos óbitos, sendo a faixa etária entre 20 e 59 anos a mais atingida, com 331 óbitos. "A maioria destes casos se deram pela ingestão de agrotóxico. Mas a parcela de suicídios causados por depressão e outros fatores decorrentes do contato com o produto, apesar de pequena, também apresenta uma preocupação para os órgãos de saúde do país", acrescentou a coordenadora do SINITOX. Eloíza Abreu Azevedo, médica nefrologista e mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG, explica que, para cultivar o tomate, a batata e frutas como o morango, por exemplo, os produtores utilizam agrotóxicos à base de organofosforados, carbamatos e organoclorados, substâncias causadoras de doenças neurocomportamentais, como a depressão. No caso dos organofosforados, eles atuam como degeneradores do sistema nervoso central, inibindo a produção de acetilcolinesterase, uma das enzimas responsáveis pela propagação dos impulsos nervosos. "A exposição crônica a essas
PARA MACEDO, OS PRODUTORES RURAIS NÃO SE PREPARAM PARA O USO DE AGROTÓXICOS
OS SINTOMAS Os efeitos do agrotóxico em trabalhadores rurais que não usam proteção podem aparecer tanto a curto como a longo prazos. Entre os sintomas mais comuns de intoxicação estão: 3Ansiedade; nervosismo; indisposição; tremores pelo corpo; aumento da salivação e sudorese; fraqueza; dores de cabeça; tonturas; náuseas e vômitos; tosse; lacrimação; alteração da cor da urina; insônia.
substâncias pode provocar de tumores a esterilidade e lesões cerebrais, sem contar outras enfermidades, que podem surgir dentro de um quadro depressivo. Isso pode levar sim uma pessoa a tentar contra a própria vida, como tem sido registrado", afirmou a médica. Márcio José da Silva, Presidente da Comissão Permanente de Saúde e Segurança Ambiental do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barbacena, confirmou que 70% dos trabalhadores rurais da região sofrem com a contaminação por agrotóxicos, sendo que 81% deles já apresentam algum tipo de sintoma. "Felizmente, este quadro já está sendo revertido. O sindicato tem incentivado a agricultura familiar e é parceiro de instituições como a Funasa e a Universidade Federal de Viçosa, desenvolvendo pesquisas e trabalhando a conscientização das comunidades rurais", pontuou.
ÓBITOS NO CAMPO Quanto aos dados relativos às mortes e suicídios de trabalhadores do campo na região, Márcio desconhece números. O próprio vice-prefeito de Barbacena, Jairo Toledo, que é psiquiatra, confirmou que o município não possui este tipo de estatística. Mas, em sua
clínica particular, ele diz atender "um número cada vez maior de trabalhadores rurais, alguns jovens ainda, com sintomas graves de depressão e tendência ao suicídio". Segundo o médico, o município já vem desenvolvendo uma série de ações para conscientizar a população sobre os efeitos do agrotóxico na saúde humana. Para se ter uma idéia, as escolas municipais de Barbacena já trabalham temas como "Saúde e Segurança do Trabalhador" em seu currículo, para disseminar informações sobre a prevenção de doenças no campo e o uso de equipamentos de proteção individual. Os moradores da comunidade de Costas, ao sul de Barbacena, têm consciência da importância do uso de equipamentos para evitar a contaminação por agrotóxicos. Albertino José da Costa, de 61 anos, que há mais de três anos perdeu a esposa, vítima de câncer, disse que grande parte dos agricultores da região já se protegem hoje antes de "bater" o defensivo nas plantas. "A gente ia pra lavoura só de calça, camisa e bota. Como não tínhamos informação, continuávamos fazendo aquilo todo dia. Hoje, não. O sindicato realiza reuniões com a gente e nos explica tudo". Já Vair Ferreira da Costa, 32 anos, conta que a sua vida mudou muito deste as últimas visitas ao médico. Seu último exame de sangue indicou alterações no nível de colinesterase. "Antes eu não usava proteção nenhuma e o agrotóxico escorria no corpo todo, principalmente nas costas. Depois de algum tempo comecei a sentir dores de cabeça e ficava tonto direto. Foi aí que o médico disse para eu me afastar da lavoura e fazer um tratamento. Agora estou parado e tomando os remédios", afirmou o agricultor, que hoje limita-se a
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VAIR, DIANTE DA PLANTAÇÃO DE COUVE NO FUNDO DA SUA CASA: ALTERAÇÃO NO NÍVEL DE COLINESTERASE O IMPEDIU DE CONTINUAR NA LAVOURA
plantar hortaliças no quintal de casa para vender na região. Em artigo publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (nº 116, de 2007), os pesquisadores Tufi Meyer, Ione Resende e Juscélio Abreu apresentaram um estudo impressionante (baseado na dissertação de mestrado de Ione) sobre a incidência de suicídios na mineira Luz. O município, hoje com mais de 17 mil habitantes, teve 19 suicídios entre 2000 e 2004, com média de 22,6 tentativas de suicídio (por 100 mil hab./ano). Em 57,9% dos casos, o mecanismo de suicídio foi o envenenamento por agrotóxicos. Dos agricultores entrevistados pelos pesquisadores, 98% relataram usar regularmente os agentes tóxicos e 56% nunca leram a bula dos produtos. Destes, 72% eram do sexo masculino, 28%
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O BRASIL É HOJE O QUARTO MAIOR CONSUMIDOR DE PESTICIDAS DO MUNDO, MOVIMENTANDO US$ 2,5 BILHÕES/ANO
do feminino e faixa etária entre 12 e 78 anos. Em relação aos equipamentos de proteção, 72% deles não utilizaram nenhum. Dez por cento afirmaram usar luvas, outros 10% máscara e 8% apenas óculos. Daí a contaminação deles primeiro e, depois, na nossa mesa, quando ingerimos as verduras e legumes que
eles cultivam "batendo veneno", como se diz na roça.
DISCUSSÃO ANTIGA Culpar o governo e as empresas fabricantes pelos casos de intoxicação por agentes agroquímicos não é a saída para resolver o problema. Segundo Jorge Macedo, bacharel em Química Tecnológica, Doctor Scientiae em Ciência e Tecnologia de Alimentos e professor/pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e das Faculdades Integradas Vianna Jr., a grande questão a ser debatida hoje é a desinformação do agricultor em relação ao uso destas substâncias químicas. "Nem sempre ele sabe usar a quantidade recomendada. Isso explica o número crescente de doenças causadas pelas intoxica-
FOTOS LUCIANO LOPES/SANAKAN
CUIDADOS NA APLICAÇÃO O Instituto Mineiro de Agropecuária, no seu site oficial (www.ima.mg.gov.br) lista uma série de cuidados que o agricultor deve ter antes, durante e depois de aplicar o agrotóxico na lavoura. Confira: 3
Leia as instruções na bula do produto;
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Lave todo material usado para misturar e aplicar os agrotóxicos;
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Faça uma revisão no equipamento observando se está em perfeita condição de uso;
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Use Equipamento de Proteção Individual (EPI): macacão ou avental de borracha ou plástico, chapéu, calçado, óculos e máscara com filtro contra pó e gás;
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Prepare a calda na quantidade certa, longe de casas e cursos de água;
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Não fume, não beba e nem coma durante as aplicações de preparo da calda e aplicação;
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Nunca aplique o produto contra o vento;
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Após a aplicação faça a tríplice lavagem;
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Jogue o conteúdo da lavagem dos equipamentos da aplicação no solo da lavoura;
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Lave os equipamentos de aplicação longe das casas, rios, represas, etc.
ELOÍSA, MÁRCIO E JAIRO: UNIÃO QUE ESTÁ MUDANDO O CENÁRIO SOMBRIO EM BARBACENA
ções no país. O nosso produtor não está preparado para o uso adequado dos agrotóxicos e a maioria ignora os efeitos nocivos destes produtos, transformandoos em vítimas e também o meio ambiente e o consumidor final",
afirmou. Tal preocupação fez Macedo incluir um capítulo especial sobre os agroquímicos na edição atualizada de seu livro "Introdução À Química Ambiental", lançado em 2005, com um apanhado geral sobre os efeitos destes agentes na saúde humana e animal, no meio ambiente e na agricultura brasileira. A mesma opinião é compartilhada pelo médico e vice-prefeito de Barbacena, Jairo Toledo: "Recentemente atendi um trabalhador que reclamou da desinformação. Ele disse que as pessoas falam muito da importância de usar o equipamento de proteção, mas às vezes trabalha muito em cima do quanto precisa produzir e isso acaba por atrapalhar esta produtividade". "Se a informação chegar ao agricultor", acrescenta, "e ele souber dos riscos e mudar sua cultura, estes índices irão cair. Precisamos deixar claro que o risco não é imediato e o efeito é acumulativo". No entanto, a discussão sobre o nível de desinformação dos trabalhadores não é um assunto novo na sociedade, garantem os pesquisadores Wagner Soares e Sueli Moro, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Renan Almeida, do Programa de Engenharia Bio-
médica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em um estudo realizado entre 1991 e 2000 (publicado na edição nº 4, do Caderno de Saúde Pública, da Fiocruz), com 1.064 agricultores de nove municípios do estado de Minas, eles confirmaram que um trabalhador rural que não usa equipamentos de proteção tem 72% mais chances de se intoxicar do que aquele que se protege. E os agricultores que têm o vendedor do produto como orientador na compra e no uso de agrotóxicos acabam por ter 73% a mais de chance de se intoxicar do que se orientado por um agrônomo. Em artigo sobre o tema, o professor Wilson Bueno, especialista em Comunicação Rural e doutor em Ciências da Computação pela Universidade de São Paulo (USP), faz uma ressalva: boa parte da imprensa brasileira não tem cumprido à risca o seu papel quanto à informação científica, principalmente no caso dos agrotóxicos. "A exemplo do que ocorre, de maneira geral, na cobertura de temas ambientais vinculados à saúde humana, a mídia tem trilhado, preferencialmente, os caminhos do sensacionalismo ou da omissão. Em ambos os casos, ela penaliza o cidadão, que se vê mal informado e, portanto, o deixa sem defesa contra os interesses comer-
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ASCOM/PREFEITURA DE LUZ
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NEM SEMPRE O AGRICULTOR USA A QUANTIDADE RECOMENDADA. ISSO EXPLICA O AUMENTO DAS INTOXICAÇÕES 3JORGE MACEDO,
DOCTOR SCIENTAE EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS
ciais que afrontam os seus direitos básicos, como o da qualidade de vida”, afirmou.
RISCO AMBIENTAL A exposição crônica a agrotóxicos também pode causar lesões cerebrais, esterilidade, alterações comportamentais e tumores, um dos principais riscos que o contato que os agroquímicos traz para a saúde humana a longo prazo. A Fiocruz Pernambuco recentemente investigou o potencial de desenvolvimento de tumores malignos (carcinogênicos) a partir do uso de agrotóxicos empregados na fruticultura da região do submédio São Francisco. Foi constatado que dos 43 ingredientes ativos pesquisados, presentes nos agroquímicos usados na região, 81% deles foram classificados como potencialmente carcinogênicos. Outro problema da utilização indiscriminada de agroquímicos é sua ação nociva ao meio ambiente. Segundo o IBGE, mais de 5,2 mil municípios brasileiros desenvolvem atividades agrícolas, sendo que 21,5% deles já têm o solo contaminado por agrotóxicos. Das cidades brasileiras que regis-
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A CIDADE DE LUZ REGISTROU O MAIOR ÍNDICE DE SUÍCIDIO ENTRE TRABALHADORES RURAIS EM 2004
SUICÍDIO BRASILIS 3Um dos maiores países agrícolas do mundo, é responsável pelo consumo de 50% dos agrotóxicos produzidos na América Latina, cujo total equivale a 0,73% do mercado internacional. Segundo a OMS, o comércio de defensivos agrícolas movimenta mais de US$ 80 bilhões por ano, sendo que o Brasil contribui com mais de US$ 2,5 bilhões deste total. Em uma pesquisa realizada pelo IBGE, mais de 90% dos municípios brasileiros desenvolvem atividades agrícolas e 21,5% deles já têm o solo contaminado por agrotóxicos. A situação é ainda mais grave com nosso ecossistema aquático - rios, lagos, represas e córregos: os defensivos agrícolas já contaminaram as águas de 16,2% dos municípios brasileiros, grande parte causada pelo descarte irregular das embalagens dos produtos.
Para saber mais www.anvisa.gov.br
traram poluição de suas águas, 43% indicam que eles são os causadores do problema, através da contaminação de lençóis freáticos pelo descarte irregular no meio ambiente e utilização de dosagem acima do nível indicado e permitido pelos fabricantes e pelos órgãos oficiais competentes, como o Ministério da Agricultura. Segundo a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, o Estado possui mais de 300 pontos de monitoramento de águas. E, garante, a forma mais adequada de controlar a ação do agrotóxico na natureza ainda é o uso correto de sua aplicação, já que, em nosso país, a cultura de utilização dos produtos químicos é basicamente preventiva, pouco importando-se com a qualidade do alimento no processo final. 8
3Em nosso estado, felizmente, a atenção do governo à questão dos agrotóxicos surgiu com a implementação da política ambiental de Minas, no final da década de 70, reforçando o pioneirismo do estado em relação aos temas que envolvem o meio ambiente. O processo de descarte de embalagens, por exemplo, teve um grande avanço graças às ações da Secretaria de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), através do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) que, em 2007, regulamentou o comércio, a armazenagem e a destinação final das embalagens de agroquímicos. Agora, todos os estabelecimentos que comercializam e armazenam estes produtos têm que efetuar registro no IMA, ato instituído pelo órgão na Portaria nº 862, de 29 de agosto do ano passado, que trouxe duas mudanças importantes: a primeira foi a exigência da cópia do credenciamento em posto ou central de recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos, feita pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (INPEV), quando se tratar de estabelecimento comercial, a fim da obtenção de registro no IMA. E a segunda exige dos estabelecimentos que comercializam agrotóxico ou prestam serviços de aplicação já registrados no IMA, a apresentação da cópia da licença ambiental, expedida pelo órgão estadual competente, que, no caso de Minas Gerais, é o Instituto Estadual de Florestas (IEF). A iniciativa foi um sucesso. Apenas em 2008 houve um crescimento de 12,5% na devolução de embalagens vazias de agrotóxicos, no acumulado de janeiro a março, em relação ao mesmo período do ano passado. Em abril, Minas foi o quarto estado brasileiro que mais devolveu embalagens, com um total de quase 230 mil quilos, representando 12% do total recebido pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Inpev). É muito importante que a embalagem, depois da utilização do produto, seja recolhida pelos fabricantes ou entregue pelos agricultores nos postos de coleta, ao invés de enterrá-las no solo. Isso provoca sua contaminação e a dos lençóis freáticos. Segundo a Fundação Estadual do Meio Ambiente, ao chegar nos postos de coleta, os recipientes passam pela chamada "Tríplice Lavagem", que consiste em lavar as embalagens três vezes com água. O processo, segundo informa, pode retirar 99% dos resíduos de agrotóxicos presentes, facilitando, na seqüência, a reciclagem do material, bastante utilizado pela empresa de construção civil. Outra vitória na nossa legislação ambiental foi o levantamento dos indicadores ambientais do es-
SEBASTIÃO BRITO/IMPRENSA MG
ESPERANÇA MINEIRA
SEGUNDO ANÁLISE DA ANVISA, O MORANGO TEVE UM ÍNDICE DE CONTAMINAÇÃO DE QUASE 44% tado, a partir de 2003. Com ele, foi possível estabelecer uma série de diretrizes e prioridades para reduzir qualquer impacto nos recursos naturais mineiros, principalmente pelos agrotóxicos, já que o estado já chegou a ter 9,72 kg por área plantada, índice muito acima do permitido no país. Felizmente, em três anos este valor já foi reduzido em 36% e hoje encontra-se em 6,2 Kg. 3A preocupação com o índice de contamina-
ção no país levou o Ministério da Saúde, através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a pesquisar a influência dos defensivos agrícolas nos alimentos. Em parceria com as secretarias de saúde de todo o país, através do "Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos", realizado desde 2001, foi possível avaliar a quantidade de resíduos de defensivos agrícolas em frutas e hortaliças e até que ponto eles afetam os alimentos. Entre as culturas pesquisadas estão o morango, alface, banana, batata, tomate, cenoura, laranja, maçã e mamão. O tomate, o morango e o alface apresentaram os maio-
res índices de contaminação, com, respectivamente, 44,7%, 43,6% e 40% das amostras coletadas em todas as regiões brasileiras. Estima-se que, apenas na microrregião de Barbacena, mais de 80% do morango esteja contaminado. As informações levantadas foram encaminhadas ao Ministério da Agricultura para tomar as devidas ações relativas à fiscalização e monitoramento das lavouras, dos agroquímicos e das empresas que produzem tais substâncias. A Anvisa também criou o "Disque-Intoxicação", que atende pelo número 0800-722-6001, para que a população e os profissionais de saúde tirem dúvidas ou façam denúncias relacionadas a intoxicações, inclusive de natureza alimentar. A ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat). Em Belo Horizonte, os interessados podem procurar o Serviço de Toxicologia de Minas Gerais, locado na Avenida Professor Alfredo Balena, 400, 1º andar, no Bairro Santa Efigênia. Ou ligar nos telefones (31) 3224-4000 ou (31) 3239-9308.
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1 RECONHECIMENTO PÚBLICO
30 ANOS DE MILITÂNCIA VERDE ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE DEFESA DO AMBIENTE é homenageada pela Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais A CASA ESTAVA CHEIA DE AUTORIDADES, EMPRESÁRIOS, AMIGOS ANTIGOS, RESGATADOS DEPOIS DE VÁRIOS TELEFONEMAS, GENTE QUE VEIO DO INTERIOR E DE OUTROS ESTADOS E PARCEIROS AMBIENTAIS. Eles foram comemorar os 30 anos de fundação e militância verde da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (AMDA), homenageada recentemente pela Assembléia Legislativa do Estado de Minas Gerais. E quando se fala em AMDA, falase principalmente em Maria Dalce Ricas, a aguerrida defensora da natureza e fundadora da entidade que surgiu em 1978, no final do governo Geisel, em um momento em que o Brasil vivia sob o regime militar, com fortes restrições à liberdade individual. Aqueles jovens estudantes de Ciências Econômicas e Biológicas, da Universidade Federal de Minas Gerais, se reuniam para falar de um assunto que ninguém nem sabia direito o que era: meio ambiente. "Éramos tidos como românticos, excêntricos e inimigos do progresso. A direita nos apelidou de 'melancias', verdes por fora, mas vermelhos por dentro. Não foram poucas as vezes que tivemos que enfrentar a polícia e a repressão. Tudo porque nos
posicionávamos radicalmente contra toda e qualquer forma de degradação ambiental", lembra Dalce. O amadurecimento foi inevitável. A AMDA "abandona a posição dicotômica e maniqueísta que debitava ao setor produtivo todas as mazelas ambientais. Passa a identificar o papel negativo de ações ou a omissão do setor público e as raízes históricoculturais da degradação no comportamento dos indivíduos. Aproximamos do setor empresarial, por meio do diálogo e da atuação conjunta em áreas de interesse comum. Os poluidores tiveram que incorporar a vertente ambiental ao desenvolvimento de suas atividades, uma vez que a legislação recém implantada e a sociedade organizada nos movimentos ambientalistas exigiam essa mudança", reforça a ambientalista. Dalce, com a irreverência e alegria que lhe são peculiares, contou histórias sobre a trajetória da entidade, falou dos apuros vividos, da verba escassa, da luta pela sobrevivência, mas destacou que a "história da AMDA é feita pelas pessoas, por todos que já passaram por lá e deixaram uma parte de si. Nesses 30 anos vivemos situações engraçadas e outras
GLADSTONE CAMPOS
MARIA DALCE RICAS, ENTRE OS DEPUTADOS LAFAIETE ANDRADE, FÁBIO AVELAR E O VICE-GOVERNADOR, ANTONIO ANASTASIA: LUTA RECONHECIDA
quase trágicas. Mas conseguimos chegar até aqui lutando pela preservação do meio ambiente". Nessa trajetória de denúncias, brigas, diálogos exaustivos, não podem ficar de fora a defesa da Amazônia, a luta contra o acordo nuclear Brasil/Alemanha, o Projeto Jaíba, a revisão da Lei Florestal mineira, a luta contra o consumo ilegal de carvão por indústrias siderúrgicas, a defesa do Parque Estadual do Rio Doce, a mobilização pela preservação das bacias hidrográficas urbanas, a consolidação da Apa-Sul, a luta contra a atividade minerária e insustentável, a transposição do Rio São Francisco e a criação da memorável Lista Suja, em 1982, que teve sua última publicação em 2006.
LUTA SEM FIM Consciente de que a batalha em defesa do meio ambiente ainda não terminou, a ambientalista ponderou que "as mudanças ocorridas estão ainda muito aquém do que gostaríamos e do que é necessário para revertermos a situação de risco representada pelo efeito estufa, resultante das atividades humanas. Mas, vendo
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ÉRAMOS TIDOS COMO ROMÂNTICOS, EXCÊNTRICOS E INIMIGOS DO PROGRESSO 3DALCE RICAS
SUPERINTENDENTE DA AMDA
esse auditório cheio de pessoas que acreditam e militam por essa causa, a presença de tantos que fazem parte da história da AMDA, digo novamente, que a esperança e a luta se mantêm, se renovam e se fortalecem", emocionou-se. O vice-governador Antonio Anastasia representou o governador Aécio Neves e provocou risos ao assumir, para um plenário lotado, que "não estava previsto que eu falasse, mas quem pode resistir a uma determinação da Maria Dalce?". Ele elogiou a atuação da ambientalista à frente da AMDA, "seu entusiasmo, capacidade de articulação, liderança, espírito de preservação e progresso, permitindo às
futuras gerações o legado de um meio ambiente melhor. De coração à larga, falo que ideais são lastreados pelas lutas dos indivíduos. E esse é o caso de Maria Dalce". O deputado Fábio Avelar, autor do requerimento que homenageou a AMDA, ressaltou o "papel forte e consciente da associação, entidade parceira da Assembléia Legislativa, e que tem feito um trabalho extraordinário pela qualidade de vida e sustentabilidade ambiental". Para o deputado, a postura do empresariado mineiro pode ser considerada uma vitória das ações da AMDA. "Ele passou a respeitar mais a legislação, adequando suas atividades às exigências da sociedade e dos movimentos ambientalistas. A entidade abandonou o radicalismo e o romantismo que a marcaram nos anos 70 e hoje sabe conciliar proteção ambiental com as atividades econômicas: respeito à biodiversidade, independência político-partidária, defesa do bem comum e consumo consciente", elogiou. 8 CONFIRA, NAS PÁGINAS SEGUINTES, AS CHARGES DE GENIN, QUE ILUSTRARAM A TRAJETÓRIA DA AMDA NESTES 30 ANOS:
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1 AMDA: 30 ANOS
GENIN GUERRA RITA LEONARDO
3Nascido em Itabira, em 1959, o cartunista, desenhista e artista plástico se tornou um dos mais celebrados de Minas. Seu primeiro desenho de sucesso foi o que fez de sua professora no pré-primário. Estudou engenharia civil, mas escolheu a arte como caminho profissional, tornando-se um dos fundadores do jornal "O Cometa Itabirano". Colaborador do "Ambiente Hoje", desde 1994, fez um retrospectiva de suas charges no jornal da Amda, marcando a comemoração dos 30 anos da associação e seus 14 anos no "Ambiente Hoje". Contato: genin.guerra@uol.com.br.
1 AMDA: 30 ANOS
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3VISÃO AMBIENTAL JOSÉ CLÁUDIO JUNQUEIRA RIBEIRO (*)
A questão do licenciamento O LICENCIAMENTO AMBIENTAL NO BRASIL, NO NÍVEL FEDERAL, FOI CRIADO PELA LEI DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI Nº. 6.938, DE 31 DE AGOSTO DE 1981, REGULAMENTADA PELO DECRETO Nº 88.351, DE 1º DE JUNHO DE 1983 E SUBSTITUÍDO PELO DECRETO Nº. 99.274, DE 06 DE JUNHO DE 1990). Esta legislação foi recepcionada pela Constituição Federal de 05 de outubro de 1988, que instituiu a obrigatoriedade do licenciamento para as atividades de significativo impacto ambiental, em todo o país. Anteriormente, alguns estados da federação, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, já haviam instituído este instrumento como ferramenta para a implementação de suas políticas ambientais, aplicando a exigência da autorização ambiental em duas fases: licença de instalação e licença de funcionamento, inspirados no modelo da agência norte americana EPA, até hoje usado largamente na América Latina. A normativa federal brasileira manteve o sistema trifásico: Licença prévia - LP, Licença de Instalação - LI, e Licença de Operação - LO, provavelmente o único sistema onde o licenciamento ocorre em três fases. A justificativa para a inclusão da LP foi o argumento de que a análise prévia seria altamente desejável para evitar investimentos em projetos executivos e aquisição de terrenos, sem a certeza da viabilidade do empreendimento. Esta alternativa tornou-se bem aceita, pois se acreditou que uma fase prévia, quando se discutiria a concepção e a localização, com suas alternativas tecnológicas e locacionais, poderiam evitar que empreendimentos sem viabilidade ambiental prosperassem. Essa questão tornava-se ainda mais relevante ao se considerar a falta de planejamento que imperava, e ainda impera, no Brasil. Entretanto, a LP não tem conseguido atingir os objetivos para os quais foi concebida. Primeiramente, porque o setor empresarial ainda não incorporou realmente a variável ambiental nos seus estudos de viabilidade técnica e econômica. E, dessa forma, os estudos ambientais têm sido um instrumento utilizado muito mais para cumprir a exigência legal do que para subsidiar a tomada de decisão. Normalmente, os estudos ambientais são contratados quando a decisão já está tomada e o licenciamento ambiental é visto como mais um obstáculo da pesada burocracia brasileira, que exige inúmeras autorizações para a regularização de um empreendimento. Apenas na área ambiental são três: o próprio licenciamento por parte das agências ambientais, a outorga do direito de uso de recur-
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sos hídricos, por parte das agências de águas, e a autorização para supressão de vegetação, por parte dos órgãos florestais; isso sem considerar os casos em que haja necessidade de anuência prévia dos órgãos federais. Nesse contexto, a LP tornou-se realmente apenas mais um obstáculo a ser vencido. A fragilidade da administração pública, dos órgãos de meio ambiente em especial, no país, decorrente de muita intervenção política em suas direções, equipes sub-dimensionadas e baixos salários, tem contribuído para as dificuldades presentes, com a redução de sua independência e credibilidade. As pressões que são exercidas acabam tornando quase todos os empreendimentos viáveis na fase da licença prévia, postergando para as fases seguintes, de LI e LO, os ajeitamentos necessários a uma solução palatável. OS ESTUDOS Esta é uma das AMBIENTAIS SÃO principais causas do elevado número de CONTRATADOS condicionantes, meQUANDO A DECISÃO didas mitigadoras e de compensação amJÁ ESTÁ TOMADA E biental, no processo O LICENCIAMENTO É de licenciamento ambiental brasileiro. VISTO COMO UM Em uma análise mais acurada, não raro, OBSTÁCULO pode-se perceber que muitas dessas medidas não são nem uma coisa, nem outra, mas apenas formas de postergação de estudos e projetos que deveriam ter sido apresentados e outras de interesse dos órgãos ambientais para o desenvolvimento de seus programas institucionais, sem nexo causal com os impactos ambientais verificados. O processo de negociação para esses acertos é demorado e essa morosidade ainda se volta contra a administração pública, na forma de reclamação da falta de previsibilidade, por parte do setor empresarial. 8
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(*) DOUTOR EM SANEAMENTO, MEIO AMBIENTE E RECURSOS HÍDRICOS. PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE - FEAM /MG E PROFESSOR TITULAR DE GESTÃO AMBIENTAL DA UNIVERSIDADE FUMEC.
1 CIDADANIA ECOLÓGICA
Recados do lixo e do
CIDADÃO
A MENSAGEM DO 7º FESTIVAL LIXO E CIDADANIA, que discutiu a inclusão social de quem recolhe e recicla diariamente o lixo que produzimos FOTOS ELIAS RODRIGUES
ALEXANDRE SALUM redacao@revistaecologico.com.br
"OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS SÃO OS PROFETAS DA ECOLOGIA". Nas palavras do escritor e teólogo Leonardo Boff, estava dado o tom que marcaria o 7º Festival Nacional Lixo e Cidadania, realizado em setembro último. Em cinco dias, mais de seis mil pessoas passaram pelo Centro Mineiro de Referência em Resíduos, em Belo Horizonte. Foram oito painéis, três conferências, vários debates, palestras, exposições, desfile de moda, oficinas e inúmeras atividades paralelas. O evento foi realizado pela Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reciclado (Asmare), Fórum Estadual Lixo e Cidadania, Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis e Fundação France Libertés, com o apoio do Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). DESFILE DE ROUPAS COM MATERIAL RECICLADO MARCOU O EVENTO
dade de elaborar e garantir políticas pú bli cas que sus ten tem o acesso da população de rua ao trabalho e à moradia.
AVANÇOS
LULA COM FERNANDO PIMENTEL: PRIMEIRO PRESIDENTE A PARTICIPAR DO FESTIVAL EM BH
Tendo como tema os "60 anos da Declaração Universal dos Direi tos Hu ma nos", o en con tro contou com as presenças do presidente Lula e do vice José Alencar, dos ministros do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias; da Previdência Social, Luiz Pimentel; das Cidades, Márcio Fortes; do escritor e filosófo Leonardo Boff; da presidente da Fundação France Liber tés, Da nie l le Mit te rand; do ex-ministro e atual secretário estadual de Meio Ambiente e Desen vol vi men to Sus ten tá vel de Minas, José Carlos Carvalho; e do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. A intenção do festival é propôr o debate de temas discutidos de modo transversal à promulgação do texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que já completa seis décadas. Mas o grande destaque desse evento foi
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BASTA UM POUCO DE COMIDA, ROUPA LIMPA E AUTO-ESTIMA ELEVADA QUE TODOS NÓS SOMOS IGUAIS EM QUALQUER LUGAR DESTE PLANETA
3LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA,
PRESIDENTE
a representatividade: 38 cidades mineiras, 15 estados e quatro países. A presença e o discurso do presidente Lula reforçaram a importância dos gestores públicos locais em reconhecerem a relevância do trabalho dos catadores de materiais recicláveis, na coleta seletiva, e a necessidade de incluí-los de maneira remunerada neste serviço. E, ainda, a necessi-
Bem humorado e quebrando todos os protocolos, Lula destacou os avanços do movimento dos catadores e elogiou a mobiliza ção so cial da coo pe ra ti va. "Ainda temos um caminho a percorrer. E ele não pode ser rápido, como se o poder público pudesse fazer um pacote de coisas boas e dar para vocês. Isto terminaria não valendo muito. Degrau por degrau, as nossas conquistas são o resultado do acúmulo da consciência política e da experiência", completando que "uma cooperativa não se organiza de cima para baixo. Se o presidente da República quisesse chegar a qualquer lugar do Brasil e criar uma cooperativa, reunisse 100 pessoas e decretasse: 'Está criada a Cooperativa de Belo Horizonte', na hora que virasse as costas, ela iria se desfazer. Uma cooperativa só dá certo quando é o resultado das con quis tas co ti dia nas de ca da segmento organizado", afirmou. Lula lembrou que desde 2003 participa e se reúne com os catadores de materiais recicláveis do país. "Todo dia 23 de dezembro estamos lá embaixo de um viaduto, em São Paulo, discutindo, assumindo compromissos e atenden do às rei vin di ca ções. Ca da vez que a gente atendia uma, apresentavam logo outras duas, três. Saía agradecido, mas cobrado, com novas tarefas. Eu espero que as várias cooperativas de vocês comecem a apresentar meninos e meninas para fazerem universidade”, afirmou. O presidente disse mais: "Mesmo assim vocês são tratados por alguns, que jogam lixo na rua, como se fossem lixo. Quantas vezes
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FOTOS ELIAS RODRIGUES
as pessoas ainda olham para vocês com certo desdém, exatamente aquelas que não aprenderam a cuidar do lixo dentro de suas casas e ainda jogam lixo na rua? Vocês, que estão prestando um serviço à sociedade catando o lixo e elas ainda acham que vocês não deveriam ser cidadãos brasileiros?", finalizou o presidente.
ESPERANÇA Na opinião de Maria das Graças Marçal (mais conhecida como Dona Geralda), uma das fundadoras da Asmare, entidade criada em parceria com a Pastoral de Rua em 1990, o evento foi histórico: "Para mim o mais importante do festival foi que os catadores ganharam mais reconhecimento com a vinda do Lula. É o primeiro presidente da República que visita o nosso festival e reconhece o nosso trabalho. Isso faz com que as pessoas fiquem com a auto-estima alta e descubram que é possível melhorar, dentro da categoria de catadores". Ela começou a trabalhar aos oito anos e agora, aos 58, tem a possibilidade de se aposentar na categoria: "Esta é a nossa grande esperança. Antigamente os catadores eram vistos como lixo e hoje são reconhecidos como cidadãos que preservam o nosso meio ambiente", afirmou orgulhosa.
HOMENAGEM Para o coordenador do 7º Festival Lixo e Cidadania, José Aparecido Gonçalves, o encontro não quis somente prestar uma homenagem à Declaração dos Direitos Humanos, mas documentar uma realidade viva no cotidiano das pessoas. "Queremos alertar a sociedade sobre as pessoas que ainda sobrevivem nos lixões ou debaixo das marquises dos viadutos das cidades". Como acrescentou o diretor executivo do Centro Mi-
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MAIS DE SEIS MIL PESSOAS PARTICIPARAM DOS CINCO DIAS DE EVENTO, REALIZADO NO CENTRO MINEIRO DE REFERÊNCIA EM RESÍDUOS, NA CAPITAL MINEIRA
neiro de Referência em Resíduos, José Osvaldo Guimarães Lasmar, a proposta do órgão é ser um espaço multi-institucional que permita a articulação dos diversos atores para a construção de um modelo sustentável de desenvolvimento, sejam eles poder público, empresários, movimentos sociais ou acadêmicos. "O Festival Lixo e Cidadania é um exemplo concreto dessa articulação. Por aqui passaram catadores, ministros de estado, professores universitários e empresários. Eventos como esse concretizam a nossa missão. Essa é uma oportunidade ímpar para formatar as nossas novas parcerias de trabalho".
NAZISMO ECONÔMICO Para o presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam), José Cláudio Junqueira Ribeiro, o trabalho realizado pelos catadores é um importante fator dos índices ambientais e destacou as inúmeras possibilidades de parcerias com as empresas privadas para a reciclagem dos resíduos. "Os catadores são agentes ambientais. Ao promover a coleta do lixo reciclável, eles contribuem para a melhoria da qualidade do ar, água e solo, além de aumentarem a vida útil dos aterros sanitários e promoverem o
PESQUISA 3Na “Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua”, realizada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, revela que de cada 100 pessoas nessa situação, 71 trabalham e 52 possuem pelo menos um parente na cidade em que vivem. A maioria tem como principal atividade a coleta de material reciclável. A pesquisa foi realizada no final do ano passado em 71 municípios, sendo 23 capitais e 48 cidades com mais de 300 mil habitantes. De acordo com o levantamento, existem 31.992 catadores com 18 anos ou mais. Desse total, 72% revelaram que exercem algum tipo de atividade remunerada, 75% possuem algum tipo de documento e 59% têm carteira de identidade. Apesar de viveram nas ruas, 52% dos entrevistados declaram que têm parente na cidade em que vivem e, destes, 34% mantêm freqüentes contatos com seus familiares e 39% classificam como boa esta relação. Outro dado surpreendente é que 46% sempre viveram no município onde moram atualmente e a maioria, 88,5%, não é atendida por programas governamentais, que atingem pouco mais de 3% da população.
uso racional dos recursos naturais. Temos muito orgulho do trabalho que vem sendo realizado nos últimos 50 anos", enfatizou. Visivelmente emocionada, a presidente da Fundação France Li ber tés, Danie l le Mit ter rand, lembrou que nasceu entre duas guerras, viu a ascensão do nazis-
ROBÔ SUSTENTÁVEL
DANIELLE MITTERRAND, EX-PRIMEIRA DAMA DA FRANÇA: CONTRA A UTOPIA E O AUTORITARISMO
JORGE SAMEK: APOIANDO O DESENVOLVIMENTO E A CAUSA SOCIOAMBIENTAL NO PAÍS
JOSÉ OSVALDO LASMAR: ARTICULAÇÃO E PARCERIAS SUSTENTÁVEIS
mo e do fascismo e lutou contra as ditaduras, o que a levou a resistir contra toda e total violação dos direitos humanos: "Hoje, no final da minha vida, lembro que Hitler falava que o nazismo iria durar mil anos e ele só durou cinco. Precisamos resistir contra uma outra forma de autoritarismo, uma forma que produz miséria e não considera movimentos que melhorem a qualidade de vida para as gerações futuras. Para lutar contra o nazismo e o facismo, foi criada a resistência que veio do povo. Por isso, sem a participação popular, da sociedade civil, o desenvolvimento sustentável vai continuar somente nos discursos oficiais, nas cartilhas e nos livros". A viúva do ex-presidente francês François Mitterrand afirmou que o sonho pós-guerra, quando a Segunda Guerra terminou, era criar uma Europa solidária. Mas ele foi substituído pelo interesse econômico e deixou de lado seu objetivo maior. "Nós temos parte da responsabilidade do progresso, que hoje é insustentável. Não podemos ser somente um álibi para países que continuam pro-
movendo desigualdades sociais. Essas são frutos das ditaduras do poder econômico", continuou. Mitterrand enfatizou, ainda, que a água tem de ser um bem acessível a todos. "Isso é uma utopia? Sei que muitos governantes dizem que é uma utopia. Mas não é dar água de graça, é conseguir mecanismos para que não seja somente aos membros da OMC (Organização Mundial do Comércio), aos acordos comerciais e as leis do mercado. Essa acusação de utopia eu já ouço há muito tempo. Mas isto é possível, e a própria associação dos catadores é um exemplo de uma nova maneira. Os catadores do Brasil são exemplos para o mundo no que diz respeito aos Direitos Humanos", finalizou.
RODRIGO DIAS/ALMG
PARA O PROFESSOR E TEOLÓGO LEONARDO BOFF, OS CATADORES SÃO OS PROFETAS DA ECOLOGIA
FORÇA DO MOMENTO Durante seu discurso, o escritor e teólogo Leonardo Boff afirmou que a Declaração dos Direitos Humanos é uma espécie de contrato social universal que todas as nações do mundo devem respeitar. "O ser humano é uma realidade digna. Ele é algo sagrado e a dignidade põe limite ao poder da
3Um das inúmeras curiosidades e que fez muito sucesso no 7º Festival Lixo e Cidadania foi o robô que divulgava o programa AmbientAÇÃO, Educação Ambiental nos Prédios do Governo de Minas Gerais. Com muitas luzes piscando, e andando de um lado para o outro, o robô brincava com os participantes, fazendo perguntas sobre o meio ambiente ou respondendo qual a melhor forma de reciclar os materiais. Bastante assediado pelas crianças, que queriam tirar uma foto com ele, a máquina ensinava como fazer uma coleta seletiva, em linguagem acessível e por meio de brincadeiras. Coordenado pela Feam, seu objetivo é sensibilizar os funcionários públicos mineiros para a mudança de comportamento, com a promoção do consumo consciente e a gestão dos resíduos. O programa, por meio da coleta seletiva, ajuda na geração de renda e trabalho, através de doações dos resíduos recicláveis para associações e cooperativas de catadores. O AmbientAÇÃO está presente em 21 órgãos estaduais.
dominação. Cada ser humano é filho e filha de Deus. Os direitos todos que eles têm correspondem a deveres de uns para com outros. Hoje temos cada vez mais a consciência que o planeta é vivo, é a casa comum que habitamos. Se nós olharmos para os direitos humanos, é sempre a luta de defender a vida. Já o estado neoliberal privatiza e faz tudo virar mercadoria. Impede que os direitos humanos, que são inalienáveis, sejam respeitados. Só tem direito quem pode pagar. Isso é errado. É
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CARRINHOS ELÉTRICOS O presidente Luís Inácio Lula da Silva e Jorge Samek, presidente da Itaipu Binacional entregaram cinco carrinhos elétricos concebidos e feitos pela empresa. Ainda em fase de testes, já foram fabricadas 50 unidades. Os veículos possuem motores de 1,0 HP, têm capacidade de carga de até 300 quilos, funcionam com duas baterias automotivas comuns de 24 volts, e têm autonomia de quatro a cinco horas de trabalho, com uma velocidade de até seis quilômetros por hora. Com um gasto estimado mensal de R$ 7,50 com a recarga, o valor de compra é de R$ 4 mil. Estão em estudos várias propostas para financiamento dos carrinhos pela Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Comentando a apresentação do carrinho elétrico, movido à bateria, desenvolvido por técnicos da Itaipu Binacional e que está em fase de testes em cinco cidades brasileiras, Lula lembrou quando morava em Santos. "Imagino o pulo que às vezes vocês têm que dar quando o carrinho está levantado, para abaixar o bicho, para poder sair com ele no meio do umbigo. Lembro disso porque quando eu morava em Santos, em 1956, não puxava carrinho, mas puxava barril de água de 200 litros na areia, areia de praia, sabe o que é? O bicho pesava 400 quilos. Então sei como é o trabalho de vocês. Vou falar com o Aécio para fazer uma experiência. Acho que a Cemig poderia, aqui em Belo Horizonte, em cada posto de gasolina da BR, colocar uma tomada para vocês recarregarem de graça essa bateria. Cada governador, em cada estado, principalmente nas capitais, nos postos da BR, poderia fazer isso para que vocês chegassem e colocassem na tomada. Em vez de gastar 7 ou 8 reais por mês, já colocariam isso no orçamento, para comprar mais pão para casa", explicou. Segundo o diretor-geral de Itaipu Binacional, Jorge Samek, a idéia é que as cooperativas dos catadores possam adquirir o sistema de inteligência, que custa R$ 800 e os construam nas próprias cidades. Em Foz do Iguaçu, os carrinhos elétricos em teste produzem uma renda média de R$ 20 por viagem, ou carga. Isso significa, no final do mês, um lucro de R$ 500 por catador. Com o novo carrinho, muitos catadores estão fazendo até duas cargas por dia, o que pode dobrar esta renda. Os carrinhos comuns rendem R$ 10 ou seja, a metade disto, sendo impossível fazer duas cargas por dia. A história dos carrinhos começou no natal do ano passado, quando Lula entregou ao Movimento Nacional dos Catadores o primeiro protótipo de um carrinho elétrico para a coleta de materiais, desenvolvido por técnicos de Itaipu. O primeiro rodou em São Paulo, onde foi testado por vários catadores e em julho foram entregues mais 50, sendo 30 para Foz do Iguaçu e os outros 20 distribuídos para as cooperativas das cidades de Recife, Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. O acordo baseado nos princípios da Economia Solidária estipula que o Movimento Nacional dos Catadores será a única instituição que distribuirá os carrinhos elétricos no Brasil sempre através das cooperativas de catadores ligadas ao movimento. Também está sendo montado um Cadastro Geral Brasileiro de Veículos Elétricos, com base no número de série gravado nos chassis, e a estruturação de um sistema de montagem e assistência técnica aos veículos.
OS CATADORES NOS AJUDAM A TORNAR HABITÁVEIS OS LUGARES ONDE MORAMOS E MELHORAM A QUALIDADE DE VIDA 3
LEONARDO BOFF
ELIAS RODRIGUES
professor e teólogo
preciso que não tenhamos só consumidores, mas cidadãos. Temos de respeitar os seres humanos, as plantas e os animais, as florestas, as águas, enfim todos os seres. Porque eles valem por si mesmos. Os catadores não podem se sentir como cidadãos de segunda classe. Pelo contrário, eles são os profetas da ecologia, que nos ajudam a tornar habitáveis os lugares onde moramos e melhoram a qualidade de vida das cidades. Eles merecem, como a Terra, o nosso amor", afirmou. O secretário de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, José Carlos Carvalho, observou que a exclusão social existente ainda hoje é resultado da falta de amor. "É muito fácil declarar direitos, mas há uma enorme capacidade de resistir a reconhecer esses direitos. O que está em risco é toda a humanidade e não o planeta, que já viveu e sobreviveu várias eras geológicas". Ainda citou Drummond: "A lei não basta. O lírio não nasce da lei. Porque o amor não nasce da lei”. E completou: “A força mais importante que pode unir a humanidade é a força do amor. Sua ausência nos faz uma sociedade robotizada, e nossa da capacidade de amar o outro é cada vez mais apartada da natureza". 8
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3OPINIÃO ECOLÓGICA RONALDO VASCONCELLOS (*)
OS VERDES NA POLÍTICA DESNECESSÁRIO CATALOGAR OS PROBLEMAS E SUAS CONSEQÜÊNCIAS. QUASE TODO MUNDO JÁ SABE E RECENTES PESQUISAS DÃO CONTA DE QUE CERCA DE 80% DOS SERES HUMANOS, EM ALGUM NÍVEL, TÊM CONSCIÊNCIA OU ESTÃO INFORMADOS DOS RISCOS QUE CORREMOS. Chegamos a um ponto da história em que não é mais possível descrever o planeta Terra como fonte inesgotável de recursos e suporte de vida. Portanto, era plenamente previsível que, em algum momento, a parte mais consciente e atuante destes indivíduos enxergasse a necessidade de unir suas idéias e sua luta em torno de um movimento político: o Partido Verde (PV). Por isso mesmo, no começo de 1986, um grupo de ecologistas, intelectuais, artistas, jornalistas e também de exexilados políticos brasileiros, começou a dar forma ao PV. As circunstâncias políticas eram positivas e influenciadas também por idéias ecológicas e alternativas que vinham da Europa, especialmente dos Verdes da Alemanha Ocidental e da Austrália. O movimento começou pelo Rio de Janeiro. Como era previsível, até pelas idéias que defendia como políticas ambientais, feministas, anti-racistas e incluindo a reforma da legislação sobre drogas, recebeu uma violenta reação da mídia conservadora. Tanto que, além das dificuldades de superar a fase das ações diretas e isoladas, visando à montagem de uma estrutura formal e partidária, enfrentou também todas as dificuldades impostas pela legislação vigente. Mas boas idéias se defendem por si. Apenas dois anos depois, em 1988, o PV já havia se espalhado por quase todo o país, especialmente na Amazônia, onde teve como aliado o célebre Chico Mendes, líder dos seringueiros que, aliás, deu a vida pela causa. A trajetória do PV, ao longo destes 22 anos, passou pela luta da sua definitiva legalização como partido político, que só se deu no começo dos anos 90, e de suas primeiras lideranças, como Fernando Gabeira, Carlos Minc ou Alfredo Sirkis, só conseguiam se eleger a partir de alianças com outras legendas. O caminho foi longo e difícil e, como a maioria das organizações que compõem o (convenhamos) inchado leque político-partidário brasileiro, temos problemas. A blindagem é difícil. Inclusive por nossa índole democrática, reconhecemos que, pequena parte dos companheiros que se dizem defensores da causa, está entre os verdes menos por ideologia e mais por questões de comodidade eleitoral.
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A bem da verdade, para traçar uma linha de comparação, assim como o PT (que também levou um longo tempo para atingir seu objetivo de aglutinar e se transformar no braço político dos movimentos sindicais); o PV tem a mesma missão: aglutinar os interesses, propostas e ações de todas as ONGs que lutam pela preservação do meio ambiente, a sobrevivência do homem e do planeta. É preciso considerar também que os jovens que formariam o melhor setor de defesa das causas ecológicas e os melhores militantes do PV andam desiludidos com a política. Para ficar nos números do TSE, enquanto o eleitorado geral do país, no período de 2004 a 2008, aumentou em 7,43%, o número de jovens, entre 16 e 18 anos com direito a voto, decresceu em 19%. Vai levar tempo. Assim como na natureza, lembravam os alquimistas, tudo é uma questão de decantação, ou como diriam os sociólogos e historiadores, uma questão de aprendizagem. Reconhecendo as NÃO É MAIS POSSÍVEL culpas que os verdes ainda DESCREVER O PLANETA têm no proTERRA COMO FONTE cesso de implantação, INESGOTÁVEL DE não somente RECURSOS E SUPORTE do PV como da consciênDE VIDA cia ecológica, utilizamos as palavras de um dos mais respeitados intelectuais do país, que foi um dos primeiros a avançar no tema da sobrevivência ambiental do planeta, o sociólogo Helio Jaguaribe: "Hoje, o nosso destino depende inteiramente de uma gestão eqüitativa do mundo, como planeta e humanidade. Deixou de depender dos deuses e da inesgotabilidade da natureza. Passou a depender integralmente, de um apropriado comportamento do próprio homem". 8
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(*) VICE-PREFEITO DE BELO HORIZONTE, COORDENADOR DO COMITÊ MUNICIPAL DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS E ECOEFICIÊNCIA, VICE-PRESIDENTE DO PV/BH E MEMBRO DA EXECUTIVA DO PV/MG.
1 PERFIL: AÉCIO NEVES
O político VERDE AO LONGO DE SUA TRAJETÓRIA E ESTRELA, o governador de Minas consolida sua aliança com os ambientalistas e a busca da sustentabilidade REELEITO EM 2006, COM O RECORDE DE MAIS DE SETE MILHÕES DE VOTOS VÁLIDOS (77% DA CONFIANÇA DOS MINEIROS), ALÉM DE ZERAR AS DÍVIDAS PÚBLICAS E MODERNIZAR A MÁQUINA ADMINISTRATIVA, com a implantação de uma gestão de estímulos e resultados, um inegável feito de Aécio Neves foi priorizar e verticalizar de verdade a sustentabilidade em todos os níveis do Estado, considerado berço da luta ambiental no país. Antes dele e depois do avô materno, Tancredo Neves, que dizia quem "só quem é ortodoxo não gosta do verde", somente dois governadores mineiros tiveram sensibilidade real para o tema: Aureliano Chaves que, além do Parque Nacional da Serra do Cipó, também criou os 14 parques urbanos na Região Metropolitana de BH (dos quais hoje só restaram os parques municipais Ursulina e Lagoa do Nado) e deu início ao atual Sistema Estadual de Meio Ambiente/Sisema, formado pela Feam, Igam e IEF, capitaneada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). E o senador Eduardo Azeredo, a quem os ambientalistas e o país todo hoje devem a idéia do ICMS ecológico. Mas foi com Aécio, sem dúvida, que a luta ecológica mais ganhou força, ganhou núcleos que também pensam a questão em todas as demais secretarias e órgãos de governo. Jovem, amigo pessoal de vários ambientalistas, de Hugo Werneck a Maria Dalce, com quem se encontra para se aconselhar e compartilhar planos, e com visão de futuro e estadista globalizado, sem perder o jeito de ser mineiro, tal como JK sonhou e realizou Brasília, ele declarou, usando a primeira pessoa do plural, quando reempossado: "No nosso governo, dentre outras realizações, quero que fique nos mineiros pelo menos isso: a consciência de que preservar o meio ambiente é uma obra que merece ser multiplicada e inaugurada todos os dias". E o fez. No dia 13 de agosto último, ao lado do secretário José
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Carlos Carvalho, como exemplo para outros estados e o próprio governo federal, além de sair na frente colocando Minas como o primeiro "Estado-Amigo da Amazônia, Aécio anunciou uma série de medidas transformando a legislação ambiental estadual na mais rigorosa do país. Isto inclui o gradativo "desmatamento zero" perante o setor florestal-siderúrgico, o fortalecimento da fiscalização, o estímulo à produção de energia limpa, a recuperação das matas nativas e a despoluição perseguida dos nossos rios, nascentes e demais cursos d´água do Estado, a exemplo do Rio das Velhas, onde se comprometeu a colocar um calção, mergulhar e nadar com os ambientalistas até 2010. Ações, enfim, que traduzem as idéias que ele tem e vem declarando sobre o assunto em toda sua trajetória política. Uma coerência ideológica, pragmática e contagiante que a Revista Ecológico pesquisou e selecionou aqui, neste Perfil inaugural. Toda revolução, pessoal e coletiva, já dizia Freud, começa antes na consciência, no campo das idéias. Acompanhe:
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GOVERNAR SEM MEIO AMBIENTE É IMPOSSÍVEL. A POLÍTICA HOJE NÃO PODE SER FOCADA SOMENTE NO PRESENTE E NO PASSADO. MAS, PRINCIPALMENTE, COM O OLHAR DO FUTURO QUE CONSTRUÍMOS TODOS OS DIAS
OMAR FREIRE/IMPRENSA MG
GOVERNO
3"O Rei Arthur fez uma mesa redonda, a távola redonda, que revolucionou a forma de governar. A mesa que simboliza o meu governo também é diferente. Ela só tem um lado. E nela ficam todos aqueles, governo, setor produtivo e sociedade organizada, que querem o desenvolvimento sustentável e a proteção da natureza." 3"O que dá sentido às minhas ações é a criação de bases sólidas para que nossos filhos e netos tenham uma vida melhor do que a que temos agora."
SUSTENTABILIDADE
3"Estamos solucionando o antagonismo que muitos julgavam existir entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental. Isso é a confirmação de que podemos construir uma agenda comum e negociada para equilibrar a expansão produtiva com as exigências de conservação e recuperação do nosso patrimônio natural."
AÉCIO NEVES: POLÍTICA SOCIOAMBIENTAL ENGAJADA
RIO-92
3"A atmosfera generosa que cercou a realização da RIO-92, iluminada pela crença de se construir um mundo melhor, nos deu a oportunidade de celebrar acordos e compromissos inéditos em relação ao meio ambiente." 3"Mas
MEIO AMBIENTE
3"A questão ambiental não pode mais funcionar como uma área estanque de governo." 3"Meio ambiente não é mais uma grife para ser incorporada em discursos." 3"Ou os governos e governantes fazem um planejamento de longo prazo, tendo a questão ambiental como base fundamental, ou eles vão continuar se iludindo e iludindo os outros." 3"Atingimos
patamares de produção e consumo que se encontram bem acima da capacidade de regeneração natural do planeta. Isso significa a exaustão e o esgotamento de recursos naturais vitais à manutenção dos ecossistemas e à própria sobrevivência dos seres humanos."
o alento despertado em 1992 vem se esvaindo progressivamente, na medida em que as nações, assoberbadas pelos seus problemas domésticos, se distanciam cada vez mais do espírito fraternal que a magia da solidariedade planetária fez surgir no Rio." 3"Assumimos novos compromissos, mas eles não se transformaram em novas condutas e em novas formas de promover o desenvolvimento e a proteção do meio ambiente na escala exigida pela magnitude dos problemas." 3"Essa realidade, embora preocupante, não pode ignorar os grandes avanços e iniciativas exitosas no campo da sustentabilidade. E reside aí a nossa esperança de que é plenamente possível construir um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável." 3"É absolutamente necessário revigorarmos o espírito do Rio."
PRODUÇÃO LIMPA
3"A produção mais limpa, o desenvolvimento de tecnologias poupadoras de recursos naturais e a reestruturação de nossa matriz energética em escala mundial, ao lado do consumo consciente, se colocam como premissas fundamentais à construção de um novo tempo e de uma nova ordem global."
BRASIL
3"O Brasil adquiriu o respeito do mundo por sua postura ambiental. Hoje não podemos mais pensar no futuro sem contemplarmos a preocupação com o meio ambiente."
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1 PERFIL: AÉCIO NEVES MINAS
AMAZÔNIA
guém tem. É uma irresponsabilidade não tratarmos com prioridade a preservação e a exploração sustentável deste patrimônio, transformando-o em emprego e renda para as comunidades do seu entorno."
melhor maneira de exercê-la é promovendo o seu desenvolvimento, sem prejuízos ao meio ambiente. Mas criando riquezas, gerando renda e emprego, através do melhor aproveitamento ecológico das áreas já desmatadas, do uso sustentável da biodiversidade e do imenso potencial de seus recursos naturais, sem a necessidade de derrubar a floresta."
3"O que existe de beleza natural aqui em Minas nin-
3"Vou cumprir o meu compromisso de transformar Minas no maior centro de ecoturismo do Brasil. Noventa e cinco por cento dos estrangeiros que vêm ao Brasil estão em busca da beleza natural que temos e ainda não aprendemos preservar."
RIO DE JANEIRO
3"O Rio é um patrimônio de todos os brasileiros. Ainda tenho uma razão a mais para gostar e torcer pelo futuro desta cidade maravilhosa. Só que o Rio, hoje, vive um drama enorme, sobretudo com relação à segurança. Se a questão da violência não for resolvida, vai ser impossível de se viver ali." 3"Torço
muito para que o Rio enfrente e solucione os seus problemas, porque é um lugar abençoado por Deus, tamanha e privilegiada a natureza que ainda tem."
DESENVOLVIMENTO
3 "Chega de conflito e disputa entre meio ambiente e agricultura, por exemplo, que historicamente eram inimigos. Chega de postergarmos decisões, atravancarmos projetos limpos e importantes ou permitirmos, à política antiga, aqueles que poderão causar impactos. Esta é a visão do desenvolvimento sustentável, que temos e será um modelo a inspirar o Brasil."
3"A soberania da Amazônia está em nossas mãos e a
3"Não podemos dar grande importância às eventuais ameaças à soberania da Amazônia vindas de fora. Elas fazem parte da retórica política e, certamente, esbarrarão na ordem jurídica internacional que protege a soberania dos estados nacionais. Se alguma ameaça pode existir, elas estriam dentro de nossas próprias fronteiras, em virtude da presença frágil do Estado brasileiro, da nossa incapacidade de conter o desmatamento e tolerar a ocupação desordenada da região."
OTIMISMO
3"Sou otimista. O otimismo faz a gente viver bem. Acho que a minha filha, como todas as futuras gerações, tem que estar preparada, desde agora, para as dificuldades que virão. O que nós podemos deixar para elas, no mínimo, é um mundo com mais consciência ecológica." 3"Que as pessoas larguem o imediatismo atual e compreendam que, até como alimento para a alma, é muito bom podermos construir obras que nós não veremos, pois toda obra ambiental, de preservação e de melhoria de nossa qualidade de vida, é uma obra para o futuro."
CAUSA
VIDA HUMANA 3"Vivemos
um daqueles períodos únicos da historia, nos quais somos sacudidos pelo choque de uma realidade nova e pungente. Começamos o século XXI e o terceiro milênio redescobrindo que a vida humana jamais será perpetuada se não estiver plenamente integrada ao ambiente natural do qual é parte inseparável, na medida em que o planeta é o lar dos homens e de todos os seres vivos."
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3"As pessoas que militam na área ambiental têm uma atuação política distinta e singular. Não as move a luta por interesses de grupos ou corporações, mas a defesa de valores. Elas lutam por uma causa."
MISSÃO
3"Defender o meio ambiente é exercer a cidadania planetária. Somos todos habitantes de um pequeno planeta, uma poeira na imensidão infinita do universo. A proteção ao meio ambiente é missão de todos, porque, neste campo, tudo se relaciona."
FOTOS OMAR FREIRE/IMPRENSA MG
COMPLEMENTAÇÃO
3"Desenvolvimento
e proteção ao meio ambiente não são excludentes nem inconciliáveis, mas complementares."
PREVISÃO
3"A questão ambiental pode se transformar em pesadelo para os anos vindouros se não tomarmos decisões firmes e bem direcionadas para assegurar a proteção dos nossos rios, de nossas florestas, da biodiversidade que nos sustenta e protege."
LUTA
3"A luta dos militantes, daqueles que pesquisam, trabalham e somam esforços na área, ainda está longe do final. Ela é longa e áspera, mas não devemos esmorecer."
COMPROMISSO
3"Nosso compromisso é com a sorte do planeta, com a vida e os direitos das gerações futuras."
ESTRATÉGIA
3"A proteção do meio ambiente não é e nem pode ser tratada como uma política setorial. Seus objetivos perpassam literalmente todas as intervenções e políticas públicas."
ALTERNATIVA
3"Temos de gerar alternativas de emprego e renda para aqueles que encontram na degradação ambiental a única fonte de sua sobrevivência."
VELHO CHICO
3"Ou nos mobilizamos para despoluir o Rio São Francisco e livrá-lo dos esgotos que são lançados em suas águas, ou em um futuro não muito distante será apenas um retrato na parede, para utilizar a imagem do poeta." 3"Por esta razão, serenamente, mas com a altivez que naturalmente se eleva das nossas montanhas, continuaremos exigindo do Governo Federal uma nova postura em relação à transposição de suas águas." 8
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1 MUNDO EMPRESARIAL
Minas-Rio tem SEAT da
ANGLO AMERICAN
PROJETO DA MMX agora é da Anglo American, que, através da Anglo Ferrous Brazil, chega com uma nova gestão socioambiental HIRAM FIRMINO
redacao@revistaecologico.com.br
O CENÁRIO É O MESMO, JÁ DEBATIDO À EXAUSTÃO: AS RESERVAS DE MINÉRIO DE FERRO QUE JAZEM NO SUBSOLO DA SERRA DO ESPINHAÇO/RESERVA MUNDIAL DA BIOSFERA, abrangendo os municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, seriam exploradas inicialmente pela MMX de Eike Batista. O principal executivo do projeto, já conhecido tanto pelos órgãos ambientais como pelas prefeituras e comunidades locais, continua o mesmo: trata-se de Carlos Gonzalez, engenheiro de minas e geólogo formado pela Escola de Minas, de Ouro Preto, com MBA em Economia e Administração. Ou simplesmente o "seu" Carlos da MMX, como já se tornou conhecido na região. O que muda, então? Em termos do projeto técnico, já na sua fase de implantação e com investimentos de US$ 3 bilhões, dependendo apenas do licenciamento ambiental do Estado, o projeto Minas-Rio continuará assegurando à Anglo Ferrous CARLOS GONZALEZ: "JÁ NASCEMOS SIGNIFICATIVOS NO MERCADO"
LUIZ CLÁUDIO OLIVEIRA
CÂNION DO PEIXE TOLO, EM CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO: BELEZA A SER PRESERVADA PELO EMPREENDIMENTO
Brazil uma produção anual de 26,6 milhões de toneladas de pellet feed (finos de minério). O projeto consiste na construção de um complexo mineral, com minas e unidade de beneficiamento em Conceição e Alvorada. E um mineroduto (já licenciado pelo Ibama, de 525 quilômetros, passando por 32 municípios até o Porto do Açu (idem, pela Feema), no município de São João da Barra, no litoral norte fluminense. Todos programados para entrarem em operação: a partir do final de 2010, gerando cerca de quatro mil empregos diretos e indiretos, e com data de validade para, no mínimo, 30 anos de atividades na região: "Já nascemos significativos no mercado. E nossas empresas (incluindo o Projeto Amapá, também adquirido da MMX) serão fundamentais para a consolidação da Anglo American na produção e transporte oceânico de mi-
nério de ferro, com os procedimentos de sustentabilidade já adotados pela Anglo" - assegura Carlos Gonzalez, dentro da estratégia global da empresa de produzir 150 milhões de toneladas, a partir de 2017.
NOVA VISÃO O que muda é o conceito e a forma de agir da nova empresa controladora do negócio, principalmente nas relações socioambientais. E vai ao encontro das preocupações e exigências dos ecologistas mineiros. Trata-se do SEAT, sigla de Socio-Economic Assessement Tolbox, considerado e premiado pela World Business Award 2006 como a melhor ferramenta de análise e gestão dos impactos socioeconômicos empresariais, já adotado tradicionalmente pela Anglo American nos países onde atua, aliando a lucratividade do negócio ao desenvolvimento
das comunidades onde opera: "Essa é a novidade, o principal valor da nossa nova controladora que, agora, com o porte do Projeto Minas-Rio, ganhará a devida visibilidade e credibilidade por se somar ao trabalho inovador e ousado que já vínhamos fazendo. A ferramenta SEAT é aplicada pela Anglo American no Brasil desde 2004 para diagnosticar e reduzir impactos sociais negativos e potencializar os impactos positivos de suas operações. A ferramenta também define indicadores de desempenho, elabora planos de gestão e monitoramento dos impactos, de emergência e de engajamento com as comunidades. E mais que isso. A metodologia do SEAT também enfatiza a interação, a prestação de contas e atribuições de responsabilidade de todas as partes envolvidas, e não apenas do empreendedor", garante Gonzalez.
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EXTENSÃO DO MINERODUTO QUE LIGARÁ O INTERIOR DE MINAS COM O LITORAL NORTE DO RIO, CUJO PROJETO JÁ FOI LICENCIADO PELO IBAMA
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NÃO VAMOS CRIAR ILHAS DE PROSPERIDADE, MAS SIM DESENVOLVER, DE MANEIRA SUSTENTÁVEL E EQÜITATIVA, TODA A REGIÃO 3CARLOS GONZALEZ
DIRETOR DE OPERAÇÕES DO PROJETO MINAS-RIO
Isso resulta, segundo ele, em um avanço, uma ação efetiva de responsabilidade social corporativa e desenvolvimento sustentável: "Se antes já prometíamos e acreditávamos ser possível minerar assim, com experiência brasileira e tecnologia de ponta, responsabilidade humana e ecológica, agora temos certeza. Estamos desenvolvendo um projeto de mineração sustentável, que não se trata de um ideal, e sim de uma necessidade. E estamos comprovando que isso é possível". Prova concreta disto foi a assinatura, no final de outubro, de um convênio entre a Anglo Ferrous Brazil e a Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
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ANGLO BRASILIS 3A empresa atua no país desde 1973. Opera as minerações Catalão (nióbio e fosfato), Codemin (níquel) e Copebrás (fosfato) nos estados de Goiás e São Paulo, empregando 4.200 pessoas.
Mucuri, para estudos e projetos voltados para a pesquisa e conservação dos biomas do entorno do Projeto Minas-Rio.
NOVO MODELO A afirmação do diretor do Projeto Minas-Rio está respaldada na própria missão e nos valores da sua nova controladora, a qual ele afirma ter uma longa tradição de envolvimento comunitário e investimento social: "A Anglo sempre viu a complementariedade existente entre os objetivos de procurar proporcionar retornos aos acionistas e a de assumir sua parcela de responsabilidades sociais e ambientais: "No Brasil e, em particular, em Minas, estado-
modelo de militância e políticas públicas, principalmente na área ambiental, a prática não será diferente", acredita. O Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema), através da fiscalização e estudo integral de todas as suas pastas juntas (Feam + Igam + IEF = Semad), utilizou um efetivo nunca visto de 31 técnicos debruçados sobre um mesmo projeto, o Minas-Rio, tamanha a sua dimensão e risco socioambiental caso não proceda um licenciamento condizente e responsável. E também vê a nova empresa como uma possibilidade única. Um alento à atividade sustentável tão sonhada pelos mineiros. E não o seu contrário, ainda hoje vivido na pele e na paisagem degradada de suas montanhas. Isso explica o cuidado no processo de licenciamento que ainda passa por avaliação criteriosa. O Estado de Minas, através da Semad, não vê nem quer proceder a aprovação do Minas-Rio às pres-
apoiando também as áreas de turismo (Estrada Real), agropecuária e patrimônio ambiental e cultural". É o que ainda está sendo trabalhado e proposto antes da aprovação oficial. São os mineiros, as várias Minas de Guimarães Rosa querendo confiar no justo e no seguro antes, para mostrar o seu querer no depois. E aí, sim, com todos os convites para provar o seu café, pão de queijo e outras intimidades típicas do ser mineiro.
ALÉM DA MINA
sas, apenas como mais um projeto minerário a se somar a outros passivos ambientais. Mas tornálo, por isso mesmo, um modelo a ser implantado e seguido, não somente na área socioambiental, mas inovadoramente como exemplo de justiça, de modo que cada região ou comunidade a ser impactada receba equitativamente (da agora Anglo American e além da compensação natural) o seu quinhão de impostos, geração de empregos, capacitação profissional e qualidade de vida. É o que garante o diretor do projeto: "Não vamos criar ilhas de prosperidade, mas sim nos inserirmos equitativamente no desenvolvimento sustentável da região,
Manter o homem no campo, priorizando a contratação de mão-deobra local e a recuperação da natureza à sua volta. É esta a política socioambiental que a Anglo American promete otimizar com um investimento de US$ 72,5 milhões a partir de 2009, e durante 10 anos, nas comunidades que foram e serão impactadas nos estados do Amapá, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Com a utilização da ferramenta SEAT, seu programa top de sustentabilidade, que inclui uma avaliação socioeconômica do universo humano e natural no entorno de suas atividades, antes de qualquer ação pontual, a proposta mais verde da nova controladora será a aplicação de US$ 19,5 milhões, durante cinco anos, no plantio de mudas e na recuperação das nascentes da região de Minas Gerais. Mais notadamente através de parceria com o Instituto BioAtlântica, na bacia hidrográfica do Rio Santo Antônio, subbacia do Rio Doce, onde a sua operação industrial acontecerá, com um programa de recuperação de nascentes e o plantio de mil hectares/ano de mudas de espécies nativas da região.
VISÃO "ONE ANGLO" 3 Um dos maiores grupos mundiais de mineração e recursos naturais, com suas subsidiárias, joint ventures e associadas, a Anglo American é líder global na produção de platina e diamantes. Possui participação significativa em metais básicos, minério de ferro e carvão. Estas suas cinco unidades de negócios, que produzem itens presentes no cotidiano e são essenciais para a vida moderna, trabalham de acordo com a visão "One Anglo". Ou seja, são regidas mundialmente pelos mesmos valores e diretrizes. Criada em 1917 com minas na África do Sul, a Anglo American possui operações em 40 países nos cinco continentes, fala 20 idiomas e gera mais de 90 mil empregos diretos e faturamento anual em torno de US$ 25 milhões. Atualmente tem projetos aprovados que somam US$ 12 bilhões e também estuda o investimento de mais US$ 29 bilhões em futuros projetos, o que garante a continuidade do negócio. Dentre suas unidades está a Anglo Ferrous, a quarta maior produtora global de minério de ferro transportado por via marítima. Possui operações na África do Sul, com a Kumba Mineração e, agora no Brasil, com a aquisição dos projetos Minas-Rio e Amapá, antes pertencentes à MMX.
Declaração recente da CEO da Anglo American, Cynthia Carroll, garante este projeto de reflorestamento no estado, o qual será feito em parceria com as comunidades, ONGs e governanças locais: "Estou encantada de ver que estamos numa posição que nos permite fazer esse investimento social e ambiental tão significativo no Brasil. Faz parte do nosso histórico operarmos dentro dos mais elevados padrões internacionais, assegurando que nossas atividades permitam que os benefícios sejam usufruídos pelas comunidades e países que nos recebem muito além da vida útil da mina". 8
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1 MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL
FINOS DE
OURO
DE EX-VILÃ, empresa pode se tornar vítima e exemplo de como transformar rejeitos em desassoreamento de rios e valor de mercado ALBERTO SENA
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COM A CHEGADA DA TEMPORADA DAS ÁGUAS, SE A FUNDAÇÃO ESTADUAL DE MEIO AMBIENTE (FEAM) NÃO FISCALIZAR COM MAIS FREQÜÊNCIA E OLHAR GLOBAL AS MINERAÇÕES DA SERRA DO ITATIAIUÇU, MUNICÍPIO DE RIO MANSO, NA PARTE OESTE DO CHAMADO QUADRILÁTERO FERRÍFERO DE MINAS, ALGO INÉDITO PODE ACONTECER: a Emicon Mineração e Terraplenagem, a menor delas, de vilã que foi considerada durante duas décadas - porque deixou escorrer da sua cava milhões de toneladas de "rejeitos" que assorearam ribeirões e parte do Reservatório Rio Manso, da Copasa, na região - corre o risco de se tornar uma vítima. Segundo a própria direção da Emicon, finos de minério de ferro empilhados em áreas de outras minerações próximas estariam sob risco de serem carreados para as barragens que financiou por exigência de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) preliminar, assinado com o Ministério Público Ambiental, em Ação Civil Pública contra a empresa, movida pela Comarca de Brumadinho. Se chover forte e pesa-
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do, como a meteorologia prevê, um desastre ambiental ganhará contornos, embora a FEAM, por intermédio do técnico Claudinei Oliveira Cruz, assegure que não há mais riscos de assoreamento dos ribeirões com as obras de contenção realizadas, duas barragens e cinco diques. Mas nem por isso, defendem os ambientalistas, a FEAM deve se descuidar da fiscalização das minerações no Itatiaiuçu, cuja serra explorada de maneira anti-ecológica tem aspecto lunar e carece de um projeto ambiental conjunto para resgatar a sua antiga paisagem. O juiz da ação, Paulo Sérgio Ferreira, oficiou ao órgão ambiental, em novembro de 2007, quando as obras da Emicon ficaram prontas, solicitando fiscalização. Não foi atendido. Repetiu o ato em fevereiro passado. Em vão. Oficiou outra vez à Feam em maio, depois em junho e em agosto. E também não foi atendido. Ele, então, achou por bem proibir a retirada de minério que a AVG, absorvida pela MMX, adquiriu da Emicon.
FINOS DE MINÉRIO JÁ CONCENTRADOS E CLASSIFICADOS, PRONTOS PARA A VENDA: VALOR ECONÔMICO ONDE ANTES ERA SÓ REJEITO E POLUIÇÃO
São, ao todo, 10 milhões de toneladas de finos que estão sendo retirados. Metade desse montante foi oferecida em garantia da realização de obras ambientais que agora, segundo denuncia a empresa, correm risco por causa das chuvas e de minério mal empilhado. Bancadas pela Emicon, elas interromperam, já há dois anos, a descida de rejeitos para dentro dos ribeirões Quéias, Veloso, Vieiras e Vermelho, que abastecem o Reservatório da Copasa. Mas, diante do atual quadro pintado pela meteorologia, o temor de Sérgio Duarte, proprietário da empresa, é que novos assoreamentos possam comprometer as medidas de contenção e proteção ambientais em curso. "Será um desastre sem precedentes, se acontecer das barragens transbordarem", alerta o empresário. De vilã, a sua empresa passará a ser vítima, juntamente com a natureza já agredida da região, a Copasa e boa parte dos consumidores da Região Metropolitana de Belo Horizonte que recebem em casa água de Rio Manso.
FRANS KRAJCBERG
LANCES CURIOSOS A história da Emicon é marcada por lances, no mínimo, curiosos. Tudo começou quando Sérgio Duarte comprou a mineração, em 1988, sem saber do seu passivo ambiental acumulado. Quando deu pela coisa, foi que entendeu o porquê de tê-la comprado por um preço tão baixo. Em 1984, chuvas fortes e intensas caíram na região e uma quantidade enorme de rejeitos de minério escorreu, igualmente, de todas as minerações da Serra do Itatiaiuçu, assoreando os ribeirões e parte do Reservatório da Copasa. Em conjunto, as minerações foram multadas e pagaram as multas, menos a Emicon, a essa altura paralisada devido ao fato de a exploração comercial adquirida não compensar o investimento. Resultado: porque, à época, não pagou as multas (o que o fez em
2006), a Emicom ficou com a fama de vilã e acabou sozinha responsabilizada pelo assoreamento dos ribeirões e de parte do reservatório. A Promotoria Pública de Brumadinho indiciou a empresa em Ação Civil Pública pelos danos ao meio ambiente, ficando a empresa com a responsabilidade de retirar os rejeitos de todos os ribeirões e do reservatório. Só que nesse tempo, além de poluição, rejeitos de minério de ferro faziam jus ao nome: serviam para nada. Com o passar do tempo, porém, a exploração mineral evoluiu tanto que hoje já há tecnologia capaz de reaproveitá-los industrialmente. Ou seja, de lixo ambiental viraram "finos de ouro", por valerem dinheiro, tamanha a quantidade existente. Somente ali, nos ribeirões e no Reservatório da Copasa, eles hoje somam 150 milhões de toneladas à disposição do mercado. O Rio Manso abastece um terço da população da Grande Belo Horizonte e, há mais de duas décadas, sua capacidade de armazenar água foi comprometida pelo assoreamento crescente ao longo do tempo, só interrompido em 2006. A retirada do minério que hoje ocupa o espaço da água resgatará a capacidade original do reservatório. Ganharão, com isto, a empresa de água do Estado e um terço da população da Grande Belo Horizonte abastecida por aquele sistema hídrico. Ganhará também o meio ambiente porque, concomitantemente à retirada dos finos de minério que assorearam os ribeirões e o reservatório, as matas ciliares serão recompostas e a tendência é o resgate da biodiversidade comprometida há duas décadas. Serão plantadas milhares de mudas de árvores características da região da Serra do Itatiaiuçu, onde se pode desfrutar de paisagem natural exuberante. Claro, para além da paisagem lunar deixada pelas empresas mineradoras da região.
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PLANO AMBIENTAL Menos de 15 dias depois que técnicos da FEAM estiveram na Serra do Itatiaiuçu para vistoriar também duas outras minerações (Minerminas e Comisa), a superintendente da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Maria Dalce Ricas, visitou a área e ficou impressionada com o que viu. "Aqui está o maior passivo ambiental de Minas Gerais", ela declarou. Foi depois de ver e aprovar as obras de contenção que a Emicon pagou com minério, em cumprimento do TAC preliminar, que a ambientalista teve a idéia de estimular a criação do que chamou de "Conselho Permanente da Serra do Itatiaiuçu". Segundo ela, este conselho seria formado por um representante de cada segmento do setor minerário ali atuante, sem necessariamente a participação e/ou intervenção do Estado. E, pelo menos uma vez por mês, seus membros se reuniriam e iriam à Serra do Itatiaiuçu para verificar, "in loco", o andamento das ações tomadas em conjunto para resgate do passivo ambiental da região. Para a representante da Amda, fechar as mineradoras em débito com a recuperação paisagística da região não resolverá o problema ambiental gerado. O importante, defende, é haver fiscalização permanente e sustentavelmente indutória para que os proprietários das empresas mineradoras entendam e pratiquem a necessidade de recompor o terreno enquanto exploram minério. Ao tomar conhecimento da proposição da Amda, o empresário Sérgio Duarte se adiantou e aderiu à idéia: "Vejo, na criação deste plano ambiental integrado, uma maneira de harmonizar as questões econômicas, ambientais e sociais. O que, aliás, a
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Emicon já vem fazendo e quer investir para zerar o passivo ambiental herdado dos antigos proprietários". Com mentalidade adequada aos tempos atuais, cuja preocupação com o destino do planeta é crescente, além de apoiar a idéia, Duarte afirmou que destinará mais de 15 hectares da sua área na Serra do Itatiaiuçu como Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). "Daqui para frente serei ambientalista. Já me filiei à Amda e estão me chamando de "Serginho Greenpeace”, brincou.
ATIVOS REAVALIADOS Até o encerramento desta edição, a Emicon se achava em vias de assinar o TAC definitivo com a Justiça de Brumadinho, se comprometendo a realizar outras obras ambientais e indenizar os danos que causou à região durante duas décadas; e também um contrato com a MMX Sudeste, para avaliação dos seus ativos na Serra do Itatiaiuçu. A partir da assinatura do contrato, a MMX, arrendatária de dois decretos de lavra da Companhia de Mineração Serra das Farofas, proprietária da AVG e Minerminas, em até 30 dias instalará na área máquinas para fazer a cubagem do minério da Emicon. Na sua área ali próxima, a MMX já instala uma planta de beneficiamento de minério para ampliar sua produção em quatro milhões de toneladas. Segundo o diretor de Operações da empresa, Vítor Feitosa, a planta beneficiará o minério das pilhas existentes na área e tem função ambiental: consumir os finos em um horizonte de quatro a cinco anos. Para isto, conta com cinco poços artesianos com a devida outorga. "Instalamos um sistema de recuperação e tratamento da água, serão 750 metros cúbicos de
SANAKAN
1 MINERAÇÃO SUSTENTÁVEL
SÉRGIO DUARTE, DA EMICON: CONVERTIDO
água reaproveitada por hora. Só 7% serão de água nova", disse. Feitosa explica que, na Serra do Itatiaiuçu, a exploração de minério de ferro sempre teve à frente grupos familiares sem a devida capacidade técnica. Exploravam o minério granulado e os finos eram estocados porque não tinham valor econômico. Isso inclusive gerou uma série de problemas devido ao assoreamento dos ribeirões, para onde o minério era carreado pelas chuvas. As técnicas de estocagem eram rudimentares. Por isso, a região tem hoje uma aparência lunar, cheia de buracos. "Mas esse aspecto vai mudar, pois temos um plano ambiental aprovado no órgão oficial", afirmou. Segundo ele, a MMX trouxe tecnologia de ponta para fazer o planejamento da área. Fez trabalhos emergenciais para contenção dos finos e vai processar todas as pilhas. Iniciou operação em janeiro e promete fazer ali uma cava verdadeira para acabar com a má impressão do lugar. Mas diz que precisa de tempo para maturação. "Se a Amda está com disposição de promover um plano ambiental integrado para todas as minerações, será bemvindo. Nós iremos aderir porque, juntos, poderemos articular mais e melhores ações", concluiu. A metereologia confirmou a chegada, em breve, das chuvas. A temporada de riscos ou soluções está aberta. 8
EVANDRO RODNEY/IMPRENSA MG
1 BIODIVERSIDADE
RIQUEZA NATURAL MINEIRA: O PARQUE ESTADUAL CAMINHOS DOS GERAIS É UMA DAS VÁRIAS ÁREAS PROTEGIDAS LEGALMENTE PELO ESTADO
Arcas VERDES de Noé
PROTEGER o que sobrou da fauna, flora e espécies ameaçadas de extinção pela ignorância humana é função maior dos parques estaduais ANA ELIZABETH DINIZ redacao@revistaecologico.com.br
VOCÊ JÁ PAROU PARA PENSAR NOS PARQUES ESTADUAIS COMO ESPAÇOS DE PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE OU DO QUE SOBROU DELA? São as modernas arcas de Noé que abrigam espécies nativas, raras e em
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extinção, recursos hídricos (nascentes, rios e cachoeiras) e formações geológicas. Lugares de grande beleza cênica e relevância ecológica. Neles se realizam pesquisas científi-
cas e se desenvolvem atividades de educação e integração ambiental, de recreação e ecoturismo. São redutos preservacionistas. Atualmente, o Instituto Estadual
3HUMBERTO CANDEIAS,
DIRETOR GERAL DO IEF
de Florestas (IEF), criado em 1962, é o órgão executor da política florestal do Estado e tem como competência garantir o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais renováveis, da pesca e ainda a realização de pesquisa em biomassa e biodiversidade. São 33 parques estaduais, sendo seis abertos à visitação pública. Para proteger esses santuários ecológicos, foi criado, em 2004, o Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio) que tem em Curvelo o seu centro geodésico, devido à sua localização geográfica estratégica para o deslocamento das unidades socorristas aos locais onde se registram focos de incêndio. Segundo o diretor geral do IEF, Humberto Candeias Cavalcanti, fo-
CARLOS HUNGRIA/GREENPEACE
OSVALDO AFONSO/SECOM MG
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É PRECISO AUMENTAR A CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O PAPEL QUE CADA INDIVÍDUO TEM SOBRE A PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE
ram formadas brigadas com 2.000 voluntários em todo o Estado, 20 profissionais contratados e novos equipamentos, como roupas contra chama, foram comprados. São nove aeronaves de lançamento de água, um "air tractor" com capacidade entre 1.500 a 3.000 mil litros de água, outras aeronaves especiais para reconhecimento e planejamento, transporte de brigadistas e quatro helicópteros. "O combate ao incêndio florestal é um problema antigo, mas que hoje conta com soluções mais ágeis devido à tecnologia moderna, como os programas de satélite monitorados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que detectam em tempo real os focos de incêndio. Essa informação é imediatamente repassada às nossas centrais, que acionam as unidades de combate mais próximas ao parque em questão. O segredo para debelar com rapidez um incêndio é chegar cedo, antes que as chamas fiquem altas", explica Candeias. Por isso, a importância de uma equipe bem treinada e equipamentos modernos. Segundo o dirigente, o período crítico de queimadas varia de região para região e das condições meteorológicas que coincidem com temperaturas mais altas e baixa umidade do ar. "Em 2001, por exemplo, o período crítico ocorreu entre maio e novembro. Este ano, começou no final de junho e deve durar até novembro. O Parque Estadual do Rola Moça uma área sempre exposta aos incêndios já chegou a perder cerca de 2.000 hectares. Hoje, na época crítica, helicópteros e aeronaves já ficam em alerta e, no último incêndio, ocorrido em setembro, foi queimada uma área de 100 hectares", pontua Candeias. Mas quais as causas dos incêndios florestais? "É muito difícil a ocorrência de um incêndio natural (raios, tempestade). A maior causa é a ação humana, as pontas de cigar-
A MAIOR CAUSA DOS INCÊNDIOS SÃO AS PONTAS DE CIGARRO E AS QUEIMADAS PROVOCADAS
ro, as queimadas e o vidro, que, exposto à radiação solar, provoca um efeito do tipo lupa. É preciso aumentar a conscientização sobre o papel que cada indivíduo tem sobre a preservação do meio ambiente", ressalta Candeias ao anunciar que o orçamento para 2008 do Previncêndio foi de R$ 10 milhões. Além disso, o IEF anunciou, durante a abertura da Semana Florestal, no dia 22 de setembro, cujo tema foi "Plante para o Futuro", a redução do desmatamento em cerca de 30% nos últimos dois anos de trabalho. Candeias afirmou que, embora não sejam ideais, os dados indicam que o caminho trilhado é o correto. Ele ressaltou, ainda, as metas arrojadas estabelecidas pelo Estado para os próximos anos. "Entre 2008 e 2009, pretendemos recompor 17 mil hectares de matas nativas e, em 2010, 33 mil hectares. Anteriormente, a nossa meta era de 3.000 hectares anuais", comparou. A Ecológico inicia nesta edição, em parceria com o IEF, uma série sobre os parques estaduais de Minas. Confira a seguir.
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TRILHA CÓRREGO DAS ÁGUAS: BELEZA GRATUITA APENAS DUAS LÉGUAS DE SÃO GONÇALO, NO CAMINHO DOS DIAMANTES
1 TURISMO/PARQUES DE MINAS (I)
A MARAVILHA DO RIO PRETO
EVANDRO RODNEY
Localizado no Complexo da Serra do Espinhaço, a área verde pública comemora 15 anos IMAGINE-SE AGORA CAMINHANDO EM UMA PRAIA DE AREIA BRANCA, OUVINDO O CANTO DO BEIJA-FLOR DE GRAVATA VERMELHA, do lenheiro-da-serra-do-cipó e do ticotico-do-campo. Ou ainda escutando o som da queda da cachoeira e se extasiando com o colorido dos ipêsamarelos. De repente, você é surpreendido pelo macaco-guingó que pula de galho em galho em busca de frutos, folhas e sementes. Não é sonho. Você está no Parque Estadual do Rio Preto, localizado a 15 quilômetros de São Gonçalo do Rio Preto, no alto do Vale do Jequitinhonha, uma das áreas verdes mais belas de Minas. Inserido no complexo da Serra do Espinhaço, o parque tem relevo acidentado, abriga rochas de quartzo, nascentes, cachoeiras, piscinas naturais, corredeiras, sumidouros, cânions e praias. A vegetação inclui espécies típicas do cerrado e campos de altitude. Criado em 1993 e aberto ao público, o parque seduz os visitantes pela riqueza de sua biodiversidade: "A percepção da comunidade local sobre a necessidade de preservação sustentável é um exemplo de como iniciativas locais são importantes para uma gestão sustentável do patrimônio natural. O parque abriga paredões com pinturas rupestres produzidas há milhares de anos, bem como tem sua história ligada às lendas e mitos do histórico Distrito Diamantino,
FIQUE POR DENTRO 3ÁREA DO PARQUE: 12.185 hectares 3ONDE: Serra do Espinhaço, em São
Gonçalo do Rio Preto 3DISTÂNCIA: 340 quilômetros de Belo Horizonte. 3ACESSOS: Saindo da capital é possível
chegar de carro a São Gonçalo do Rio Preto pela rodovia BR-040, em direção ao Norte, acessando a BR-135 em direção a Curvelo. Daí siga pela BR-259, no sentido Leste. Após a entrada para Datas, pegue a BR-367 para Diamantina. A partir de lá, é só seguir por oito quilômetros pela BR-367 após Couto Magalhães de Minas, na MG-214. Vire a direita, sentido São Gonçalo do Rio Preto. Da sede do município até o parque, a distância é de 15 quilômetros. A estrada de acesso acompanha, em parte do percurso, o rio Preto. 3CLIMA: Tipicamente tropical com duas
estações bem definidas, a chuvosa e a média de 18 graus. A estação chuvosa se estende de dezembro a julho. 3HORÁRIO E FUNCIONAMENTO: Diaria-
mente, das 7h às 17hs. 3CONTATO: (38) 3531-3919 ou através do
e-mail riopreto@ief.mg.gov.br.
com inúmeros relatos sobre o auge da mineração", comenta Humberto Candeias Cavalcanti, diretor geral do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
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FAUNA E FLORA Devido aos diferentes tipos de vegetação, relevo, clima e hidrografia, existem variações na composição da fauna local. Por isso, o parque exibe um mosaico de sistemas ecológicos que geram miscigenações de faunas oriundas de diversos biomas vizinhos, além da presença local de espécies endêmicas das formações campestres da Serra do Espinhaço. Foram levantadas 276 espécies de vertebrados terrestres distribuídos em 49 espécies de mamíferos, 194 aves e 33 répteis, sendo várias endêmicas. O parque abriga espécies ameaças de extinção como o tatu-canastra, a jaguatirica, a suçuarana, a onça-pintada, a anta e o veado-campeiro. A cadeia do Espinhaço apresenta endemismo de répteis, sendo 33 espécies, e 18 de serpentes. Segundo antigos moradores das comunidades vizinhas, durante muitos anos jacarés foram caçados na região. A Fundação Biodiversitas fez um levantamento da
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FOTOS EVANDRO RODNEY
Aline Tristão, diretora de Áreas Protegidas do IEF, ressalta que o grande diferencial desse parque é o fato de ele abrigar uma das maiores biodiversidades do planeta e um potencial de belezas naturais ainda desconhecidas pela população mineira. "Além disso, ele tem uma ligação cultural fortíssima com a comunidade que ainda mantém viva manifestações populares como a marujada e o congado. E elas acontecem dentro do parque, um espaço aberto ao público". O parque integra o Circuito dos Diamantes e abriga resquícios importantes da Estrada Real, como caminhos oficiais por onde circulavam pessoas, mercadorias, ouro e diamante. Ao longo do caminho formaram-se arraiais, povoados e vilas com seus armazéns, vendas, capelas, oficinas, ranchos de tropas e paradouros. "Muitas das atuais cidades mineiras, paulistas e fluminenses tiveram sua origem nesses pontos de parada das tropas, ao longo da Estrada Real, nos áureos tempos das minerações", pontua Candeias.
SEMPRE-VIVA
CANÁRIO DA TERRA
Bacia do Rio Jequitinhonha e listou 36 espécies de peixes, dos quais 25 são reconhecidas como restritas, só se reproduzem em determinado bioma. Minas Gerais responde ainda por 33% da riqueza de anfíbios do Brasil, sendo que 200 espécies são restritas à Serra do Espinhaço. A região do parque é representada por tipos de vegetação característicos do cerrado, com predominância para as campestres e de savana, sendo também encontradas áreas com floresta estacional semidecidual. Árvores inclinadas, tortuosas, com ramificações irregulares e distorcidas, medindo de três a seis metros. Cedro, ipê-amarelo, candeia e jatobá-docerrado são as principais espécies.
INFRA-ESTRUTURA
OURIÇO OU CAIXEIRO
VEGETAÇÃO TÍPICA
Programe sua viagem ao Parque Estadual do Rio Preto. Ele oferece área de camping localizada próxima à Prainha, com capacidade para 15 barracas e equipada com quatro quiosques com churrasqueiras, vestiários feminino e masculino, área comum para lavagem de roupas e louça, chafariz e ducha. O turista pode também optar pelo alojamento com 12 quartos independentes, com chuveiro, varanda e capacidade para até seis hóspedes. A cozinha tem capacidade para servir até 500 refeições por dia. E prepare-se para viver dias de emoções intensas. São diversas trilhas, desde as mais curtas, para o Poço de Areia e para a Forquilha, por exemplo, até caminhadas mais longas para se conhecer as trilhas de acesso às cachoeiras que são várias e maravilhosas, algumas como a Prainha, pequena e charmosa, areia branca e diminutas quedas d´água. 8 SAIBA MAIS www.ief.mg.gov.br
Apoio
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1 UTILIDADE PÚBLICA
Não tenha
MEDO!
AO CONTRÁRIO DO QUE SE PENSA, doar sangue é simples, rápido e não dói
MAIS QUE LOUVÁVEL, A DOAÇÃO VOLUNTÁRIA DE SANGUE EM NOSSO ESTADO É UM GESTO QUE REPRESENTA ESPERANÇA DE VIDA PARA MUITA GENTE. Se cada cidadão saudável doasse sangue pelo menos duas vezes por ano, o dinheiro gasto em campanhas emergenciais para reposição de estoques poderia ser empregado em outras iniciativas, como a contratação e capacitação de mais profissionais de saúde e melhoria e ampliação de nossos centros de coletas. Os hemocentros de nosso país e de nosso estado ainda sofrem muito com a pouca quantidade de doadores voluntários. Segundo estimativa do Hemominas, órgão responsável pelo sistema hemoterápico e hematológico no estado, Belo Horizonte tem uma média de 300 doadores por dia, número abaixo da capacidade de atendimento na capital, que é de 450, necessários para um bom equilíbrio no estoque. No âmbito estadual, o índice é ainda assustador: a média fica entre 700 e 800 pessoas por dia! De acordo com a assessoria de comunicação do órgão, a falta de conscientização ainda é um grande problema, já que as pessoas costumam procurar o Hemominas apenas no momento de crise, quando é preciso fazer uma série de campanhas emergenciais na mídia, na sociedade e nas empresas. Se 3% da população doasse com regularidade, explica o órgão - que tem 19 unidades espalhadas pelo estado -, não haveria falta de sangue em hospitais, nos bancos de coleta e nos centros médicos mineiros. Portanto, pegue seu documento de identidade e, com base nas informações a seguir, dirija-se à unidade do Hemominas mais próximo de sua casa, faça a doação e salve muitas vidas! 3
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SAIBA MAIS, NA PRÓXIMA EDIÇÃO, SOBRE DOAÇÃO DE MEDULA ÓSSEA.
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DOAR É UM GESTO DE AMOR AO PRÓXIMO E À VIDA. É UMA OPORTUNIDADE DE AJUDAR SEM INTERESSE. É UMA DEMONSTRAÇÃO DE SOLIDARIEDADE, DE EVOLUÇÃO ESPIRITUAL. É UM ATO DE FÉ E BONDADE
3DOE SANGUE, DOE VIDA
www.huav.com.br/sangue
FELIPE IZAR/IMPRENSA MG
VOCÊ PODE SALVAR UMA VIDA, DOE SANGUE!
CURIOSIDADES
3Ter mais de 18 e menos de 60 anos;
COMO A FALTA DE CONSCIENTIZAÇÃO AINDA É GRANDE NA SOCIEDADE, É PRECISO QUE ALGUNS MITOS SEJAM DERRUBADOS PARA APROXIMAR MAIS A POPULAÇÃO DOS CENTROS DE DOAÇÃO. CONHEÇA ALGUNS DELES: 3Doar sangue não engorda nem
emagrece;
3Não afina o sangue e nem vicia; 3Não dói; 3O procedimento para coleta dura aproximadamente 40 minutos; 3O organismo repõe o sangue doado em 24 horas; 3Dietas de emagrecimento não impedem
a doação; doar sangue; 3Quem fez tatuagem há mais de um ano também pode doar; 3Pessoas que passam por tratamentos homeopáticos estão aptas a doar; 3Diabéticos que fazem uso de insulina não podem doar; 3Pessoas com gripe também não podem doar. 3Mulheres menstruadas podem
REQUISITOS
PARA REALIZAR A DOAÇÃO, O VOLUNTÁRIO TEM QUE PREENCHER ALGUNS REQUISITOS BÁSICOS, EXIGIDOS PELA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) E INFORMADOS PELOS ÓRGÃOS DE SAÚDE RESPONSÁVEIS:
3Ter peso superior a 50 kg; 3Se homem, deve ter doado há mais de 60 dias; 3Se mulher deve ter doado há mais de 90 dias; não estar grávida; não estar amamentando; já terem se passado pelo menos três meses de parto ou aborto; 3Não ter tido Hepatite após os 10 anos de idade; 3Não ser portador de doença sexualmente transmissível; 3Não ter usado drogas intravenosas; 3Não ser diabético; 3Não sofrer de epilepsia; 3Se estiver alimentado e com intervalo mínimo de duas horas do almoço; 3Se você dormiu pelo menos seis horas nas 24 horas que antecederam a doação; 3Informar ao profissional de hemoterapia o uso de medicamentos.
FIQUE POR DENTRO
@ Acesse www.hemominas.mg.gov.br ou ligue para (31) 32484515 para saber mais informações sobre o endereço das unidades do órgão e a doação de sangue comum e de medula óssea. Outras informações em www.inca.gov.br.
ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008 ■ 65
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3OLHAR EXTERIOR ANDREA GUNNENG (*)
“O QUE SABEMOS DOS LUGARES É COINCIDIRMOS COM ELES DURANTE UM CERTO TEMPO NO ESPAÇO QUE SÃO. O LUGAR ESTAVA ALI, A PESSOA APARECEU, DEPOIS A PESSOA PARTIU, O LUGAR CONTINUOU. O LUGAR TINHA FEITO A PESSOA E ELA HAVIA TRANSFORMADO O LUGAR” José Saramago
UMA APRESENTAÇÃO ESCOLHER UM NOME PARA ESTA COLUNA FOI O MESMO QUE ME NOMEAR MAIS UMA VEZ. AFINAL, ATRAVÉS DESTE TÍTULO EU ESTOU COMUNICANDO A VOCÊ COMO ME PERCEBO HOJE EM DIA E COMO EU GOSTARIA DE SER PERCEBIDA POR VOCÊ. 'Olhar Exterior' não faz referência apenas à minha localização física neste Planeta, atualmente perto do Polo Ártico. De fato, 'Olhar Exterior' representa simbolicamente a minha condição de 'ser' neste mundo enquanto cidadã global. Sim, eu sou brasileira. Não apenas porque geograficamente eu nasci no Brasil, mas porque é brasileira a maneira com que eu dou vazão à minha chama de vida. Mas o fato de não estar fisicamente enraizada em nenhuma nação, me dá a fantástica possibilidade de absorver o mundo ao meu redor através de um olhar exterior. Como partilha conosco o escritor Saramago em seu blog (blog.josesaramago.org): "O que sabemos
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dos lugares é coincidirmos com eles durante um certo tempo no espaço que são. O lugar estava ali, a pessoa apareceu, depois a pessoa partiu. O lugar continuou, o lugar tinha feito a pessoa, a pessoa havia transformado o lugar". E são exatamente os lugares que este meu olhar exterior vem capturando que eu gostaria de compartilhar com você!
UM DESAFIO O primeiro lugar - e o mais absoluto - que abriga a todos nós, é o nosso febril planeta Terra. Ser jornalista, e ainda por cima jornalista ambiental, em tempos de mudança climática global, é uma tarefa que desafia e conseqüentemente 'alonga' os compromissos éticos do jornalista para com o meio ambiente e com o ser
‘‘Escrever sobre mudança climática vem demandando um novo jornalismo, uma nova ciência da comunicação. Para atender a esta exigência, jornalistas do mundo inteiro estão tendo de reinventar a si mesmos’’
humano. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália revelam que a maioria absoluta dos habitantes deste planeta não aprendem sobre mudança climática diretamente através de relatórios científicos ou artigos publicados em revistas acadêmicas. O que a maioria de nós, em todo o mundo, sabe sobre aquecimento global é aprendido através da leitura de artigos editados em jornais ou revistas, escutando programas de rádio e assistindo a documentários na televisão. A responsabilidade dos meios de comunicação - ou melhor, dos jornalistas - de traduzir complexos conceitos científicos para o público em geral é cada vez maior. Além de ser uma responsabilidade enorme, é um desafio dificílimo de lidar. Principalmente se considerarmos que os jornalistas, em sua prática diária, necessitam de dramas, novidades, imagens chocantes, opiniões conflitantes e histórias interessantes para atrair a atenção dos leitores. Resultado: escrever sobre mudança climática vem demandando um novo jornalismo, uma nova ciência da comunicação. Para atender a esta exigência, jornalistas do mundo inteiro estão tendo de reinventar a si mesmos. A responsabilidade ética do jornalismo em tempos de mudança climática não é apenas a de informar, mas também a de preparar e capacitar politicamente os cidadães para atuar frente às conseqüências da mudança climática. E tal processo de capacitação inicia-se com o uso correto dos termos científicos ao se escrever para o público leigo.
DOIS ESCLARECIMENTOS EFEITO ESTUFA não é o mesmo que mudança climática. Estes dois termos não podem, de maneira alguma, serem usados como sinônimos ou como opções lingüísticas só para não repetir palavras em um mesmo parágrafo. Enquanto existem debates sobre os modelos aplicados para prever futuras mudanças climáticas, todos os cientistas concordam que a vida na Terra só é possível graças ao efeito estufa, isto é, à ação de gases estufa que retêm o calor do sol dentro da atmosfera terrestre. Na ausência do efeito estufa, a temperatura média da Terra, que hoje é de 14 graus centígrados, seria de 18 graus negativos. A quantidade de gases estufa (dióxido de carbono, metano, vários clorofluorcar-
bonos, etc.) que participam da composição da atmosfera é muito pequena. Entretanto, esta quantidade vem aumentando exponencialmente graças, principalmente, ao carbono liberado na atmosfera através da queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural). Ou seja, mudança climática global é o resultado de um efeito estufa exacerbado.
AQUECIMENTO GLOBAL também não é o mesmo que mudança climática e é incorreto usar estes dois termos como variações lingüísticas. O entendimento correto é: Efeito Estufa 2 Aumento de GEE 2 Aumento do Aquecimento Global 2Mudanças Climáticas. Ou seja, as mudanças climáticas são o último estágio de um processo. E por quê? Porque o clima é um distribuidor de energia do sol incidente sobre nosso planeta. Quando os raios solares o atingem, promovem um aquecimento diferencial devido aos vários materiais que encontra na superfície (água, solo, rochas, florestas, centros urbanos, etc.). O planeta precisa encontrar uma forma de equalizar esse diferencial de energia, sem o qual não conseguiria usar a energia solar para aquecê-lo pela distribuição irregular dessa mesma energia. Isso é chamado de homeostase. E quem faz isso é o clima, através das correntes de ar que migram das áreas de baixa pressão (mais quentes) para as de alta pressão (mais frias). Quando se tem efeito estufa exacerbado, significa que esse aquecimento diferencial será intensificado e o clima reagirá (em busca da homeostase) com mais intensidade. Isso gerará correntes de ar fortíssimas, que são os furacões. Secas e enchentes serão fruto da capacidade das correntes de ar levarem mais ou menos umidade para determinados locais. Na verdade, o termo mais preciso e correto é “mudança climática global”, por incluir todos os fenômenos climáticos. PURISMO LINGÜÍSTICO? Longe disso. Na verdade, ao 'traduzir' e aplicar corretamente termos científicos em seus artigos, o jornalista capacita seus leitores não somente a entender a ciência mais plenamente. Mas, também, a ver, em si mesmos, quão séria é a mudança climática e quais respostas pessoais são as mais apropriadas para lidar com esta ameaça global. 8
E-mail: andreagunneng@yahoo.com.br.
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1 DIREITO AMBIENTAL
JUSTIÇA SUSTENTÁVEL ADVOGADO ESPECIALISTA E PARTICIPANTE de várias instituições fala da estratégia do Direito como instrumento de Gestão e Educação Ambiental YAM MACIEL
LUCIANA MORAIS redacao@revistaecologico.com.br
NÃO BASTA ADOTAR UMA ESTRATÉGIA AMBIENTAL. É preciso envolver todos os níveis da empresa e orientar a alta direção para que ela atue preventivamente, em conformidade com a legislação pertinente. Afinal, também é papel do Direito Ambiental ajudar as organizações a amadurecerem, conduzindo seus negócios de forma a obter resultados, preservar o meio ambiente e conviver de forma harmoniosa com as comunidades. É com essa filosofia de trabalho que o advogado Cleinis de Faria atua, desde 1992, no segmento jurídicoambiental, prestando assessoria a empresas de diferentes setores, em Minas e no Brasil. “A evolução da legislação ambiental tem uma importante função pedagógica”, diz. Com a experiência de quem ocupou o cargo de primeiro gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), e foi membro participante dos Conselhos Estaduais de Política Ambiental e Recursos Hídricos, Cleinis ressalta os avanços do Direito Ambiental e, em especial, o aumento da participação da sociedade na deliberação e normatização de políticas públicas. Decisões que definem o
CLEINIS DE FARIA: “TÃO IMPORTANTE QUANTO CRIAR LEIS E DAR VOZ À SOCIEDADE É ASSEGURAR A EFICIÊNCIA E AGILIDADE NO LICENCIAMENTO E NO CONTROLE AMBIENTAL”
futuro da sociedade e do setor produtivo, com ganhos coletivos de sustentabilidade. “Em nenhuma outra área do Direito vejo uma participação tão democrática quanto no segmento ambiental, com efetiva participação dos setores produtivo, público e ambientalista”, afirma. Graduado em Direito pela PUC Minas, Cleinis fundou, em 2000, o escritório de advocacia denominado Faria, Braga Advogados Associados, do qual é sócio. Nessa entrevista, o advogado, que mesmo com tantas atribuições –
integra conselhos da Associação Comercial de Minas, Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/MG, Associação Mineira de Defesa do Meio Ambiente (AMDA), Fundação Zôo-Botânica e a de Parques Municipais de BH – ainda encontra tempo para brincar e jogar xadrez com os filhos, de nove e seis anos, também faz uma defesa veemente da educação ambiental como principal instrumento capaz de promover, numa mesma balança, o equilíbrio entre empresas, órgãos de controle e comunidades.
CONSIDERANDO A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO DESDE A DÉCADA DE 1970, COM A CONFERÊNCIA DE ESTOCOLMO, PASSANDO PELA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS, QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS MARCOS DO DIREITO AMBIENTAL? A percepção de que era preciso estabelecer um novo rumo para o desenvolvimento, contemplando a necessidade de maior sustentabilidade entre o setor produtivo e a preservação ambiental, culminou na Conferência de Estocolmo como um fórum específico para debater o desenvolvimento sustentável. A partir dessa consciência, foram estabelecidos instrumentos jurídicos mais eficazes, incluindo normas de conduta e procedimentos para evitar danos ao meio ambiente. Em Minas, um marco importante foi a criação da Comissão de Política Ambiental, em 1977 – embrião do atual COPAM –, que surgiu ligada à Secretaria de Ciência e Tecnologia com uma visão ainda bastante técnica. E que evoluiu, nos anos 80, com a entrada em vigor da Lei 7772, específica sobre a conservação e preservação ambiental, que é anterior à criação da Política Nacional do Meio Ambiente, em 1981. Outro marco é a Lei 9.605, de 1998, chamada Lei de Crimes Ambientais. Com ela, várias infrações antes consideradas meramente administrativas passaram a ser caracterizadas como crime. Outro aspecto relevante dessa lei foi o fortalecimento do licenciamento ambiental que, com base num princípio do Direito Ambiental, o da prevenção, passou a ser exigido de forma integral (licença prévia, de instalação e de operação), permitindo a avaliação dos impactos de determinada atividade desde a concepção do empreendimento. QUAL É, ENFIM, O PAPEL DO “DIREITO VERDE”? Transito diariamente entre os setores empresarial, público e ambiental e sou um entusiasta da advocacia ambiental. A legislação ambiental tem uma importante função pedagógica. Em muitos casos, para cumprir uma exigência legal, a empresa revê
sua estratégia de gestão e, com isso, percebe que a restrição imposta pela lei traz uma oportunidade de aprimoramento de seu processo produtivo, uma motivação para reduzir o desperdício e garantir a proteção da biodiversidade. O Direito Ambiental começa como um propósito jurídico e avança ao incentivar o amadurecimento das organizações. Nosso envolvimento chega a um nível maior, sempre com foco na atuação estratégica e preventiva. Demonstramos que conhecer as exigências legais é crucial para que a tomada de uma determinada decisão não se transforme em prejuízo empresarial, social e ambiental. Vejo este ramo do Direito como um definidor de políticas estratégicas, na medida em que leva ao maior controle do processo produtivo, de efluentes e resíduos, ao investimento em gestão e educação ambiental e à evolução tecnológica. Além, é claro, de incentivar o diálogo e a busca da eficiência desde a alta direção até o chamado chão de fábrica. A MENTALIDADE EMPRESARIAL JÁ EVOLUIU COMO SE ESPEROU? Sem dúvida. As empresas, principalmente as grandes e médias, já têm uma consciência formada sobre a questão da responsabilidade ambiental. Estão mais maduras. Quando
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1 DIREITO AMBIENTAL comecei a atuar, ainda nas primeiras reuniões do COPAM, o setor empresarial era muito resistente em atender e entender as exigências legais, encaradas como ônus, como mais uma cobrança imputada pelo poder público. Hoje, graças à combinação de elementos decisivos – informação, investimento em gestão ambiental, maior rigor na aplicação da legislação e esforço dos órgãos de controle – o empreendedor está mais consciente. Sabe que o desenvolvimento sustentável e responsável é questão de sobrevivência, inclusive sob o aspecto da imagem. Por isso, deve-se investir também em comunicação e na criação de canais para se relacionar com a comunidade. Reconhece que não basta manter a atividade produtiva sob controle, em sintonia com as exigências legais, é preciso adotar novas posturas, investir em gestão e educação ambiental. OS ÓRGÃOS OFICIAIS TAMBÉM ESTÃO MAIS MADUROS? A descentralização das atividades de controle ambiental por parte do Governo de Minas representa um enorme avanço, em especial no incentivo à participação da sociedade, regionalizando o tema ambiental. Desde 2003, a regularização ambiental é feita de forma descentralizada, promovendo e respeitando as particularidades regionais e dando voz aos setores envolvidos. O sistema ganhou capilaridade. No caso do COPAM, por exemplo, são 10 Unidades Regionais Colegiadas (URCs), atuando em todas as regiões, numa estrutura que privilegia o gerenciamento participativo, inovando na forma de organização de conselhos governamentais e tornando mais dinâmica a implementação de políticas públicas. Em nenhuma outra área do Direito vejo uma participação tão democrática quanto no segmento ambiental. Essa descentralização também tem se mostrado um incentivo à regularização ambiental
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GRANDE PARTE DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS TEM FUNDO NA DESINFORMAÇÃO, FRUTO DE UMA SOCIEDADE QUE VIA OS RECURSOS NATURAIS COMO ILIMITADOS
por parte das empresas. Com o braço do governo cada dia mais perto, elas se tornam mais empenhadas em cumprir as exigências legais, tendo maior oportunidade de demonstrar sua atuação responsável. Tenho viajado muito pelo interior e cada dia mais percebo os benefícios dessa mudança. Constata-se também que cresce, nos órgãos ambientais, a discussão quanto à aplicação de mecanismos econômicos e voluntários de melhoria ambiental, como, por exemplo, o estabelecimento de benefícios no licenciamento quando o empreendimento possui um sistema de gestão ambiental certificado, bem como vê com bons olhos a implantação de projetos de controle de gases, em particular, aqueles de efeito estufa, reconhecidos pelos institutos especializados. OS RESULTADOS POSITIVOS DESSA DESCENTRALIZAÇÃO TÊM SIDO ACOMPANHADOS DE UM MAIOR RIGOR NA FISCALIZAÇÃO E CONTROLE AMBIENTAIS? Esse é, sem dúvida, um desafio. E não apenas para os órgãos públicos que adotam o modelo de atuação descentralizada. É um desafio nacional, universal, pois, tão importante quanto criar leis, resoluções e dar voz à socie-
dade, é assegurar a eficiência e agilidade nos processos de licenciamento e de controle ambiental. Por isso, é essencial ter uma fiscalização preparada, tecnicamente habilitada, com profissionais mais bem remunerados e em número suficiente para cobrir todo o Estado. Esse corpo técnico precisa entender, acompanhar e conhecer as novas tecnologias, tanto para evitar a penalização excessiva das empresas que buscam se adequar às exigências legais quanto para coibir a ação de clandestinos. É preciso estar atento à eficiência e à possibilidade de cumprimento da legislação. Pior que ter uma norma muito restritiva – e aí não importa se estamos em Minas, em outro estado ou na Europa – é o risco de ela se tornar ineficaz, cair em desuso. Essa eficiência deve ser buscada para que os órgãos de controle mantenham sua credibilidade. A legislação deve, antes de tudo, retratar a nossa realidade, respeitar nosso nível educacional, nosso ritmo de desenvolvimento econômico e nossa cultura, não adianta importar um modelo pronto. E A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO? Cada segmento tem o seu papel e precisa ser respeitado: empresas, órgãos de controle e Ministério Público. Cada um tem sua responsabilidade legal muito bem delineada e a legislação é bastante clara quanto às funções do MP. Considero a participação das Promotorias de Meio Ambiente de extrema relevância, na medida em que contribuem para a proteção ambiental. O que não é desejável é o atropelo, o abuso do Direito, os excessos e, felizmente, temos vários instrumentos jurídicos para coibí-los. A empresa que cumpre a legislação ambiental, que está licenciada e mantém seu processo produtivo sob controle não precisa temer o MP, que é um importante fiscal na aplicação da lei. Apesar de algumas empresas questionarem as decisões das promotorias, digo
sempre aos nossos clientes e parceiros que a atuação do MP visa o respeito à lei. Convivo diariamente com promotores e sou testemunha de que eles estão empenhados em conhecer melhor a legislação e as peculiaridades da área ambiental. Quem atua de forma correta não tem o que temer e, em casos de deficiência, o melhor caminho é o diálogo, a negociação, que possam resultar em compromisso de ajustamento da conduta, evitando penalidade e até a suspensão da atividade produtiva. A EVOLUÇÃO DO DIREITO CAMINHA LADO A LADO COM A EDUCAÇÃO AMBIENTAL. PODEMOS APOSTAR NUM FUTURO CADA DIA MAIS VERDE E SUSTENTÁVEL? Tenho acompanhado com entusiasmo a crescente disseminação dos conceitos ambientais – e não apenas do Direito Ambiental – em todos os
INFORME ECONEWS 3Sob o comando dos sócios Cleinis de Faria e Edson Braga, o escritório Faria, Braga Advogados Associados tem em sua carteira clientes dos mais diversos segmentos, desde mineração, indústria farmacêutica, siderurgia, cimento, telecomunicações, logística, alimentos, bebidas, agropecuária, até construção civil e empresas do ramo imobiliário. Para atualização das informações, o escritório disponibiliza o Informativo Econews, com notícias sobre diferentes temas ligados ao segmento ambiental e empresarial. Para saber mais www.fariabraga.com.br
níveis, em especial no segmento acadêmico, do ensino fundamental ao superior. Hoje, a questão ambiental é discutida de forma interdisciplinar. A educação ambiental tem espaço garantido nas salas de aula, nos centros de convivência das empresas, na
mídia e também junto aos governos. Essa perspectiva de mudança de mentalidade é animadora. Com a evolução da educação, em todos os níveis, conflitos hoje existentes na relação entre empresas, comunidade e órgãos reguladores serão minimizados ou sanados. Afinal, grande parte dos problemas ambientais tem fundo na desinformação, fruto de uma sociedade que via os recursos naturais como ilimitados, uma concepção inadmissível atualmente. Por isso, aposto cada dia mais na gestão e educação ambiental. Só com elas teremos empreendedores formados com conceitos ambientais mais sólidos, comunidades mais abertas ao diálogo, uma legislação cada vez mais madura, enfim, uma sociedade mais comprometida em alcançar a verdadeira sustentabilidade. 8
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
ILUSTRAÇÃO ALMIR FERREIRA
Luzes que se APAGAM? OS VAGA-LUMES, AMEAÇADOS de extinção, viram fábula em livro-CD ANA ELIZABETH DINIZ redacao@revistaecologico.com.br
QUEM É ADULTO AINDA GUARDA NA MEMÓRIA AS BRINCADEIRAS DE INFÂNCIA CERCADAS DE CERTO MISTÉRIO, QUANDO SE VIA AO LONGE AQUELES OLHINHOS DOURADOS QUE BRILHAVAM, apagavam e pareciam querer brincar de esconder com a gente. Quem é criança, se andou pela natureza, também conhece o vaga-lume, esse ser minúsculo, que inspira o lúdico. Mas o mesmo não se pode dizer das gerações futuras. Será que os nossos
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netos vão algum dia se encantar com o pisca-pisca deles? O doutor em bioquímica e professor da USP, Etelvino José Henriques Bechara, afirma que é provável que o vaga-lume, também conhecido por pirilampo, entre em processo de extinção, principalmente nas áreas rurais e biomas como o cerrado. "A eletrificação rural, a devastação de florestas e aplicação de agrotóxicos são algumas das causas que
comprometem a sobrevivência dele", observa. Bechara alerta que, mesmo em reservas como os parques nacionais, a reprodução pode estar comprometida. As fazendas de monocultura contribuem para reduzir a população do inseto com a aplicação aérea de agrotóxicos. O vento espalha o produto que intoxica os vaga-lumes. A luz artificial também interfere no processo de reprodução do inseto. Bechara conta que a "lanterna" é utilizada para o acasalamento, atraindo a atenção do parceiro. Em algumas espécies, a fêmea também
usa a luz como defesa e para atrair presas. Os lampejos são produzidos por uma reação química do organismo. Esses seres iluminados são inspiração do livro-CD "A Fábula do Vagalume", 52 páginas e 15 minutos de contação de estórias e quatro canções inéditas voltadas para o público infanto-juvenil. Os autores mineiros Andréa Sophia, arte educadora, professora de história, escritora e compositora, e Eugênio Parizzi, advogado e escritor, preocupados com a sobrevivência desse inseto, valeram-se da literatura e da música para resgatar valores como ética, pluralidade cultural, cidadania e consciência ambiental. Mais de 10% da tiragem já foi doada, principalmente para projetos sociais que atendem crianças de periferia. A narrativa presta homenagem a personagens de fábulas tradicionais e outros criados para uma aventura no fictício planeta OMX14, onde a vegetação é azul e existem três sóis e nenhuma lua. Os personagens são animais vivendo em harmonia até que um desequilíbrio ambiental abala a convivência e eles precisam tomar uma decisão imediata: se tornarem caçadores ou não. O desequilíbrio divide os bichos em dois grupos, sendo que um deles enfrenta grandes desafios e aprende a criar formas artísticas de resistência. Andréa e Eugênio acreditam que
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A ELETRIFICAÇÃO, A DEVASTAÇÃO DE FLORESTAS E AGROTÓXICOS COMPROMETEM A SOBREVIVÊNCIA DO VAGA-LUME
3 ETELVINO BECHARA
PROFESSOR DA USP
a arte é a linguagem que mais se aproxima da cultura das crianças, que são naturalmente espontâneas e criativas. "Nossa proposta é promover um maior envolvimento delas com as questões ambientais e sociais através de uma metodologia lúdica que envolve três formas de arte: a literatura, a contação de histórias e a música".
ACENDE-APAGA A "bioluminescência" é a denominação da luz brilhante dos vagalumes, um fenômeno raro e encontrado apenas em quatro locais no mundo: as cavernas de Waitomo (Nova Zelândia), que abrigam uma mosca no teto que emite uma luz azulada, iluminando o local como um céu estrelado; os dinoflagelados, como a Noctiluca, alga responsável pelos pontos de luz azul-esverdeada em areia de algumas praias e partes DIVULGAÇÃO
SOPHIA E ETELVINO: REFORÇANDO O LÚDICO NA PRESERVAÇÃO DA NATUREZA
MÚSICA
VAGA-LUMES VAGA-LUME, VAGA-LUME VAGA-LUME, VAGA-LUME UMA LUZ EU VI VOAR VAGA-LUMES A BRILHAR NO PULSAR DOS CORAÇÕES CHEIOS DE BELAS CANÇÕES VAGA-LUMES A ESPELHAR GOTAS DE ESTRELAS NO AR VAGA-LUMES A CONTAR QUE ALÉM DO MEU PENSAR O MUNDO DAS ESTRELAS PODE ME TOCAR.
do oceano; o peixe-lanterna, que possui um órgão composto por bactérias simbióticas, debaixo do olho, que emite luz até 50 vezes por minuto; e os vaga-lumes brasileiros, conhecidos como "cupinzeiro luminoso". Eles podem ser encontrados na região Amazônica e Cerrado. As fêmeas depositam os ovos nos pés dos cupinzeiros e, após virarem larvas, entram para dentro. À noite, emitem luzes para atrair presas, geralmente cupins, mariposas e formigas, iluminando o cupinzeiro e provocando um fenômeno espetacular. Atualmente, com o desmatamento dos cerrados para áreas de pastagens e monocultura, os cupinzeiros luminosos estão restritos a parques florestais. 8
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3FASHION E ECOLÓGICO HIRAM FIRMINO (*)
MODA CONSCIENTE O CRESCIMENTO DA MODA DESENVOLVIDA COM CONSCIÊNCIA AMBIENTAL É UM FATO CONSTATADO EM TODO O MUNDO. ANTES UM ASSUNTO QUE ERA ENCARADO APENAS COMO UM PODEROSO MARKETING DAS EMPRESAS, A QUESTÃO ALCANÇOU UMA NOVA FASE DE ABRANGÊNCIA E COMPLEXIDADE. Essa nova postura se reflete em variados aspectos. Nos Estados Unidos, por exemplo, o governo está criando regras rígidas, normatizando o uso do selo green pelas grifes em seus produtos. Tudo para evitar a ação dos aproveitadores que, até aqui, estampavam uma folhinha na camiseta e esta ia para a vitrine O PIONEIRISMO com a tarja de "produto verde". E DESTE ASSUNTO NOS não era apenas uma piada. Enquanto isto, as chamadas 'seGRANDES JORNAIS manas de moda verde" foram se forCOUBE AO JB talecendo - desde a bombada London Estethica Fashion Week, passanECOLÓGICO, DO JORNAL do pela Paris Ethical Fashion Show e chegando às iniciativas semelhantes DO BRASIL, COM A em Nova York e Los Angeles. Como a COLUNA MODA E maioria dos produtos apresentados alí é feita em países pobres, abriu-se ECOLOGIA, CRIADA uma conexão fashion altamente poHÁ TRÊS ANOS sitiva no resultado final. A imprensa especializada não ficou alheia à essa evolução. Assim, as edições americanas da Vogue e da Elle criaram as suas edições 'verdes', o mesmo acontecendo com suas versões inglesas, portuguesas e brasileiras - entre outras. A revista Marie Claire criou até uma lista das Dez Marcas Eco (ver ao lado), em que a estilista Stella McCartney despontou como um ícone mundial da moda verde. No Brasil, o pioneirismo desse assunto nos grandes jornais coube à JB Ecológico, do Jornal do Brasil, com a coluna Moda e Ecologia criada há três anos. Em Minas, a abertura desse espaço é o primeiro passo para se valorizar a criatividade e sensibilidade dos criadores mineiros quanto à preservação do meio ambiente e conscientização social, através do estilo e da beleza da nossa moda. 74 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
FÁBIO ORTOLAN/DIVULGAÇÃO
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ANDRÉ SCHIRM/DIVULGAÇÃO
"Nos Estados Unidos, o governo está criando regras rígidas normatizando o uso do selo green nas grifes"
ção final. O resultado ficou assim: Stella McCartney , Katharine Hamnett, Edun (que pertence ao Bon Jovi e sua mulher), Beyond Skin, Annie Greenabelle, People Tree, Howies, Kiuyichi, Ciel e Amana - esta última com sua produção friendly no Marrocos.
3REDENDÊ NO RECÔNCAVO
3CHIQUE Na sua passagem por Beagá (onde veio inaugurar uma loja no Diamond Mall, em parceria com a Cláudia Pimenta) o estilista Carlos Miéle (foto acima) contou sobre a campanha 'Save Me', desenvolvida por ele com a Rainforest Foundation - em prol da natureza. São tshirts lindas, com frases de alerta, já usadas por famosos como as atrizes Alice Braga e Scarlett Johansson, e que podem ser encontradas na própria loja. Vale conferir.
3DE LUXE A sustentabilidade foi o tema do concurso 'Novos Criadores' , realizado pelo Minas Shopping (no hotel Ouro Minas) e vencido pelo estilista Raphael Gonçalves, do Uni-BH. Ele desenvolveu looks a partir de sacos de lixo e cola quente, em vez de linha e agulha. De acordo com a gerente de MKT do Minas Shopping, Lucy Jardim, o evento demonstra comprometimento daquele mall com a sociedade, o meio ambiente e as gerações futuras. "Em 2007, trabalhamos muito com a reciclagem e, neste ano, ampliamos nossa atuação e passamos a pensar também em sustentabilidade. Agora, o compromisso vai além da reciclagem do lixo", comentou. Em abril, o shopping associou-se ao Instituto Ethos. MODELO BY RAPHAEL GONÇALVES, VENCEDOR DO NOVOS TALENTOS NO MINAS ECO
3DEZ MAIS ECO A revista Marie Claire (edição inglesa) lançou a lista das Dez Marcas Eco, considerando aquelas cujos estilistas e proprietários se preocupam com os aspectos ambientais e sociais - desde a matéria prima até a produ-
Nos 100 anos de Dona Canô (em 2007), a atriz Regina Casé chegou à festa usando um belissimo vestido branco, todo em rendendê (um tipo de renda feita no Nordeste) e chamou a atenção da aniversariante. Nos seus 101 anos, a mãe de Maria Bethânia e Caetano Veloso ganhou da atriz um modelo com o mesmo material e ainda a presença da autora - a estilista Fátima Mergulhão e da mestra em rendendê, D. Marieta, ambas diretamente de Recife.
3SEM RESÍDUOS Foi um sucesso a mostra "Com Que Roupa Eu Vou", realizada pela Fiat em seu centro cultural no Belvedere, em Beagá. Por falar na empresa, uma curiosidade: embora apenas 2% dos rejeitos das montadoras de automóveis no Brasil sejam reciclados, a Fiat é responsável pela maior parte disto. Além do reaproveitamento de resíduos na Ilha Ecológica da fábrica de Betim, há também iniciativas sociais como a “Arvore da Vida” e “Cooperárvore”.
3 SANDÁLIA ATÓXICA A Melissa lançou sua linha de sandálias Corallo, inspirada na poltrona do mesmo nome criada pelos irmãos Campana. O lado ecológico disto? O produto é fabricado com 30% de material PVC atóxico e reciclado, produzido com sais minerais a base de cálcio e zinco - que não agride a saúde. E tem mais: uma parte da renda conseguida com a venda das sandálias será revertida para a ong onde os dois irmãos-artistas (Fernando e Humberto) desenvolverm trabalhos no Recife. ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008 ■ 75
1 ARTES CÊNICAS
A TEIMOSIA DO TEATRO A RESISTÊNCIA ENGAJADA de Pedro Paulo Cava, o teatrólogo que transformou a arte mineira através da ironia e da reflexão FOTOS GUTO MONIZ
MIRTES HELENA redacao@revistaecologico.com.br
1968 - 2008. NÃO SE TRATA DE PÓS-MORTEM. PELO CONTRÁRIO, É UM REGISTRO DE SOBREVIVÊNCIA MESMO, NO MEIO ARTÍSTICO, DO MAIS POLÊMICO, mas produtivo e de sucesso inegável, teatrólogo mineiro. Este é Pedro Paulo Cava que, mesmo sem papas na língua e muitas portas fechadas por causa disso, acaba de completar 40 anos de carreira. Uma trajetória que começou nos idos de 70, em plena ditadura militar, quando ousou encenar "Liderato, o Rato que era Líder", de André Carvalho, peça infantil de idéias libertárias. Foi precursor junto à campanha "Olhe Bem as Montanhas", lançada, na época, pelo artista plástico Manfredo Souzaneto, em defesa da Serra do Curral. E agora, aos 58 anos de idade e 33 de profissão, continua lotando o Teatro da Cidade, em que BH ajudou a construir e administra, com a segunda versão de “Mulheres de Holanda”, sempre com casa lotada. Porque, contra tudo e contra todos, governantes e a mídia que o boicota, que critica por não apoiar a cultura, ele resiste, consegue patrocínio, monta trabalhos memoráveis e tem público? É o que você vai saber aqui. CAVA: “CONTINUO ACREDITANDO NUM MUNDO MELHOR. SOU UM ROMÂNTICO NEO-UTÓPICO”
CENA DO ESPETÁCULO “MULHERES DE HOLANDA”: TEATRO ENGAJADO
ESTADO ECOLÓGICO - VOCÊ DEVE TER TIDO MIL OPORTUNIDADES DE SAIR DE MINAS E NÃO FEZ ISSO. O QUE O PRENDE AQUI? PEDRO PAULO CAVA - Primeiro, gosto desta cidade. Depois, a família. Fui filho único de pais mais velhos e sempre soube que, uma hora, eles iriam precisar de mim. E pra quê ir pro Rio e São Paulo? Uma geração inteira saiu e não se fez fora. Alguns até se fizeram na literatura, no jornalismo, no cinema. Mas não no teatro, como o José Mayer, que foi pro Rio, pastou, encarou, lutou e conseguiu ser um astro nacional. O teatro é uma arte localizada. Por isso quis ficar. UMA RESISTÊNCIA? Queria vencer aqui. Construí um teatro, montei os espetáculos que quis, com todas as dificuldades, mas também com algumas facilidades por ter ficado. Queria viver de teatro. Encarei isso desde os 16 anos. Foi o que aprendi a fazer e faço, seja com meus espetáculos, com direitos autorais, dando aulas em universidades ou abrindo minha própria escola. Sempre acreditei que teríamos uma produção teatral forte aqui. E temos. JÁ PENSOU EM TRABALHAR FORA DO TEATRO, TER UM CARGO, ALGUM SONHO DE PODER? Já me chamaram pra ser candidato a vereador, secretário disso e daquilo, diretor etc. Nunca quis. Meu sonho de poder era ser presidente do América Futebol Clube e transformá-lo num clube internacional, o que nunca vai acontecer porque nem do conselho sou. Mas a gente acaba tendo certo poder de se comunicar através do que faz: vira fonte para jornais, vira referência. Sempre estive metido em outras áreas, desde a política estudantil nos anos 60. E até estive preso umas poucas horas. Sempre estive na política, no PCB, Diretas Já, tudo. E o público vê isso. Você não é só um homem de teatro. Está ligado em tudo. Fui dono da primeira galeria de BH, a Guignard, fiz musicais, conheço o pessoal da música, sempre transitei na literatura. VOCÊ ESTÁ SEMPRE DANDO PALPITES, METENDO O PAU EM TUDO, BRIGANDO. É BOM PRA VOCÊ?
As pessoas me conhecem indo aos meus espetáculos. E tem outra imagem minha, de quem lidou comigo na política, na música, na literatura, nas mesas de botequim. Quanto à polêmica, não tenho por que não ser. Por que não falar mal de governos? Por que o medo? Alguém tem que pontuar que os governos, às vezes, cometem erros em nome da cultura. Mantenho intacta minha capacidade de reclamar, revoltar. O estado brasileiro é autoritário. O funcionário público, o prefeito, o governador, o deputado e o presidente da república não podem ser contestados. VOCÊ FEZ MUITOS INIMIGOS? Se fiz, não os conheço. Tive desentendimentos com o Arnaldo Godoy, por exemplo, quando ele esteve na Secretaria de Cultura. O PT não entende que tem artista que não quer fazer contrapartida social. Quer viver de arte. E foi essa a minha escolha. Admiro o Arnaldo, mas na secretaria ele fez ações desgastantes. Critiquei, briguei, mas continuo achando que é um homem público de caráter. Estamos vivendo um momento ímpar no Brasil, voltando lenta e gradualmente a um estado autoritário, com pessoas truculentas tomando o poder no legislativo, executivo, judiciário. Temos uma constituição liberal, que rompeu com a ditadura, mas nossos homens públicos estão cada vez mais autoritários, mais coronéis, usando a intimidação, a força e até a mídia pra se impor, independentemente de partidos. APESAR DE POLÊMICO, COMO VOCÊ CONSEGUE PATROCÍNIOS PARA SEUS ESPETÁCULOS? Há hoje uma categoria de empresários no Brasil, que nós ajudamos a criar, que são sensíveis e ligados à área cultural, social, de saúde e não só pelas leis de incentivo. Há empresários que não querem só dinheiro. E não são só empresas milionárias. Há empresas responsáveis pelo fato de a cultura existir. E elas me ajudam. Talvez porque acreditem no meu trabalho. Alguns desses empresários foram fidelizados ao longo de anos. Muitos que começaram apoiando com um anúncio no jornal, viraram meus amigos fraternos. Por ano, damos oportunidade de trabalho e formação profissional a mais de 200 pessoas, dentro e fora do palco. SÃO PATROCÍNIOS PELA LEI DE INCENTIVO? Em geral fora delas. Só as uso para manutenção do Teatro da Cidade. Se não tiver incentivo, não mantenho isso que construí, com 10 funcionários fixos, água, luz, telefone. Iria à falência. Então, desde que as leis de incentivo começaram, só entro com um projeto: manter o teatro. Se entrar com outro, perco a manutenção e a casa. E esta é uma entidade sem fins lucrativos, que não distribui lucros e dividendos, nem paga salários aos diretores. Ganho é com direitos autorais, aulas e conferências, com
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O ÂNGELO OSWALDO ME CHAMOU DE ENFANT TERRIBLE. HOJE ESTOU MAIS PRA VELHO TERRIBLE
O estado tem que promover a cultura porque ela ainda não é vista como investimento. No Teatro da Cidade, por exemplo, de 191 lugares, um espetáculo com 16 pessoas, quem vai querer investir? Só de cachê e direitos autorais vão 70% da renda.
locuções de comerciais, venda de quadros. É assim que vivo há muitos anos. CONSIDERA JUSTAS AS LEIS DE INCENTIVO? POR QUE O ARTISTA TEM INCENTIVO PARA TRABALHAR E O TAXISTA, POR EXEMPLO, NÃO TEM? A cultura, constitucionalmente, tem que ser apoiada pelo estado. No mundo inteiro é assim, até nos EUA, senão ela não sobrevive. Veja a Broadway com aqueles grandes espetáculos. Tudo tem patrocínio, só que sem burocracia: o empresário dá um milhão de dólares pro espetáculo, comunica ao fisco e isso é abatido no imposto. Aqui é preciso prestar contas, mandar notinhas de tudo. Os técnicos do ministério conferem e dizem que na notinha tem 30 sanduíches, mas são só 20 pessoas no projeto, esquecendo que alguns podem comer mais de um sanduíche. As leis, de certa forma, democratizaram o acesso aos recursos. Antes você ia a um balcão, que são os órgãos de cultura, e dependia da cara do freguês, da amizade. Com as leis, as comissões são mistas pra julgar os projetos. A cultura está contemplada na constituição e o taxista não.
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VOCÊ É DE ESQUERDA OU ISSO NÃO SE USA MAIS? Usa sim. A esquerda está tão mal que acabou de se rachar inteira aqui nesta eleição com dois ou três candidatos. A esquerda sempre teve esse fraco de rachar na hora que não pode, enquanto a direita sempre dividiu o bolo com competência. Por isso a direita está aí, mandando há tanto tempo. Tenho 35 anos de PCB. Acredito num socialismo diferente de quando tinha 16 anos. Acredito no acesso aos bens de consumo e aos meios de produção. Vejo hoje, no governo Lula, que houve um up grade nas classes C e D. Até a direita vê isso. Mas o socialismo não é só acesso aos bens de consumo. É a divisão dos meios de produção. E se alguém falar em dividir os meios de produção vira guerra. Estão fazendo o socialismo por outra via, que também funciona. Não sei te responder se sou de esquerda. De direita jamais seria e nem de centro. Mas continuo acreditando num mundo melhor. Sou um romântico neo-utópico. AINDA EXISTE TEATRO ENGAJADO OU ISSO TAMBÉM ESTÁ FORA DE MODA? O Juca de Oliveira montou "Caixa 2", que ficou cinco anos em cartaz em São Paulo e o tema é absolutamente político e engajado. Há um tipo de teatro que pega as pessoas pela ironia ou pela reflexão. Acorda, desperta, sacode. "Mulheres de Holanda" mesmo tem várias cenas que trabalham isso. Não sei fugir disso. Não saberia, aos 58 anos, fazer um espetáculo que ninguém entende, para meia dúzia de pessoas. ESTÁ DIZENDO QUE SEU TEATRO É ENGAJADO SEMPRE? Sempre. Seja pela via histórica, por alguma reflexão política ou pela emoção. Hoje há muitas formas de trabalhar com a farsa, a ironia, a sátira. O público não precisa mais de metáforas como nos anos 60. HÁ QUEM DIGA QUE O TEATRO É UMA ESPÉCIE DE PRIMO POBRE, SEM IN-
FOTOS GUTO MONIZ
perdendo público para a mídia momentânea, de culto às celebridades. Não é fácil ser ator. O teatro é uma arte espinhosa, é preciso tempo, trabalho, estudo, técnica. MAS SE UMA CELEBRIDADE SAI DO BIG BROTHER E MONTA UMA PEÇA, ELA ENCHE O PALÁCIO DAS ARTES? Se encher três dias, são 4.500 pessoas só. O público de BH de verdade, que mantém as temporadas, vai a 300 mil pessoas. E não tem nada a ver com o PA, que só dá visibilidade. O nome impõe, mas já recebeu grandes merdas.
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O VOTO DE BH, POR EXEMPLO, É SUBTERRÂNEO. SÓ EXPLODE NA URNA
CENTIVO, SEM PÚBLICO, ENQUANTO O CINEMA E A MÚSICA SÃO MAIS CONTEMPLADOS. É ISSO? De jeito nenhum. No início, a gente lutava pra sair da mendicância. E fomos conquistando espaço. Quando comecei, em 64, BH tinha duas casas: o Francisco Nunes, aquele linguição horroroso, e o Instituto de Educação. Logo veio o Marília, da Cruz Vermelha. E, em 65, o da Imprensa Oficial, praticamente todos públicos. Hoje são 47 casas, só quatro públicos. O público cresceu. Empresas e instituições abriram casas. Há galpões nas periferias que fazem espetáculos com arquibancadas e cadeiras de plástico. O teatro é uma força, embora tenha perdido público. PRA QUEM? Para as novas mídias que incutem na cabeça dos outros que ator é aquele que está na novela. Teatro, repito, é uma arte localizada. BH tem o seu, assim como Manaus, Rio Grande do Sul. O que falta é isso circular como circulou na ditadura, por incrível que pareça, com o Projeto Mambembe. Os do Norte desciam pro Sul, havia intercâmbio. O Ministério da Cultura não tem um projeto de circulação que mostre a diversidade teatral brasileira. Conheci grupos maravilhosos nos anos 70, em plena ditadura, porque circulavam. Hoje é impossível. O teatro é uma arte cara porque é artesanal. Tem que ser feita todo dia. Perde pro cinema porque o filme fica pronto, tira cópia e circula no Brasil todo. A mágica de ter o ator, o espectador e o ato teatral ao mesmo tempo, na mesma sala, ninguém tira. Se deixar de ser assim, deixa de ser teatro, que está
MAS ESSA CELEBRIDADE NÃO ESTÁ COLABORANDO PARA FORMAR PÚBLICO? De jeito nenhum. Só serve pra perfumar o hall do teatro. E a TV ajuda se divulgar os espetáculos em cartaz. MAS O GALÃ DA NOVELA QUE ESTÁ NA PEÇA NÃO FAZ A PESSOA TOMAR GOSTO PELO TEATRO? Não, porque a pessoa só vai neste. Não volta em outro espetáculo. É ilusão. O que forma público são os bons espetáculos e o boca-a-boca. Em BH principalmente. O mineiro é desconfiado. Espera alguém ir pra dizer se é bom. O problema é que BH não perdoa o sucesso. Fazer sucesso nesta cidade é difícil porque quando não atacam seu produto do sucesso, te atacam pessoalmente, sua moral, sua sexualidade, sua idoneidade. Já passei por isso, hoje não passo mais porque já estou com 58 anos, não ligo mais. Quando comecei a encher casas de espetáculo e era um menino, sofri, fui achincalhado por pessoas das mais diversas profissões e meios. Não foi fácil. Sou de uma família pobre. Nada veio de graça. Cada parafuso aqui deste teatro, cada prego, cada tijolo foi conquistado com sangue, suor e lágrimas. Foram 75 patrocinadores: um dava carpete, outro cimento, outro tijolo. Demorei cinco anos pra construir. E O QUE TE FAZ IR EM FRENTE? Teimosia, paixão, energia. Outro dia, o Ângelo Oswaldo me chamou de enfant terrible porque chamei o ministro do FHC, o Weffort, de "Via Dutra", porque ele falou que não há vida inteligente fora de Rio e SP. E falei direto pra ele, numa palestra em BH. Hoje estou mais pra velho terrible. BH É UMA CIDADE DE BONS ATORES? Excelentes atores, diretores, produtores. É um pessoal que leva a sério seu fazer artístico. Como não temos praia, as pessoas conversam muito, discutem e falam de tudo, de teatro à política. É uma cidade eminentemente política. O voto desta cidade, por exemplo, é subterrâneo. Só explode na urna. 8
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1 CULTURA MINEIRA OSVALDO AFONSO/SECOM MG
SEGUNDO BRANT, O MUSEU TEM COMO OBJETIVO CRIAR ALTERNATIVAS DE RENDA PARA A POPULAÇÃO E INCENTIVAR A CULTURA E O ECOTURISMO LOCAIS
VEM AÍ O MUSEU DE
PERCURSOS DO JEQUITINHONHA PROPOSTA É DIFUNDIR O PATRIMÔNIO CULTURAL e unir desenvolvimento econômico com sustentabilidade ao longo do Rio que dá vida à região ANA ELIZABETH DINIZ redacao@revistaecologico.com.br
O POVO QUE MORA NO VALE DO JEQUITINHONHA VAI SER O ATOR DE UM PROJETO CULTURAL que está saindo do conceitual e tomando forma e gosto na medida em que vai margean-
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do o rio, acompanhando seu traçado, ouvindo histórias dos personagens. Histórias de uma gente ribeirinha que traz na memória e em sua arte mais que a subsistên-
cia, mas o registro socioambiental de sua ocupação. De origem latina, percurso "é o ato de percorrer uma determinada distância. Andar, correr ou
que o projeto vai garimpar o saber e resgatar a cultura ribeirinha em 54 municípios do Vale do Jequitinhonha. Serão construídas três grandes sedes em Minas Novas, Araçuaí e Jequitinhonha; e alguns pontos de referência. "O recheio do museu será elaborado junto com todos os atores. Há uma intersetorialidade que costura as intenções e as transformam em realidade. O objetivo é dotar essa mesorregião do Estado de unidades museológicas como meio de preservar, difundir seu patrimônio cultural e colaborar com o seu desenvolvimento socioeconômico, turístico e cultural", diz o secretário. Mas por que o Rio Jequitinhonha? "Vamos começar por aí, mas pretendemos identificar outros percursos que possam gerar espaços de resgates culturais. O Vale é riquíssimo culturalmente, mas do ponto de vista econômico é extremamente carente. Nosso desafio é criar alternativas de compartilhamento de idéias entre os atores sociais e incentivar o ecoturismo local", prevê Brant. A construção da territorialidade do Museu de Percursos deverá se fundamentar essencialmente na noção de sertão, entendida como categoria de pensamento social e cultural e também como categoria espacial, quando será considerada um lugar geográfico definido pelo vale mineiro do Rio Jequitinhonha. "Essa é uma região em que os habitantes e o quadro natural, constituído por ecossistemas diversificados e referendados pelo rio, que se arrasta em curvas sinuosas por mais de mil quilômetros, são agentes de um percurso que, numa imbricada relação de determinância, configuram uma das mais ricas e reconhecidas expressões da cultura brasileira, nas vertentes material e intangível", defende o secretário.
AJB
visitar um lugar em toda extensão e em todos os sentidos. Deslocarse num espaço qualquer ou de passar ao longo de um caminho". E esse é o mote do Museu de Percursos do Vale do Jequitinhonha, um projeto fruto da parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) e as prefeituras municipais das cidades envolvidas. "É uma idéia complexa, fascinante, e um grande desafio. A região, a comunidade e o patrimônio cultural do Jequitinhonha são pilares constitutivos de um ecomuseu, cujo formato dará origem ao futuro museu. Trata-se de uma proposta que introduz a idéia de museu integral, de caráter interdisciplinar e atuação regional, destinado a oferecer às comunidades uma visão do conjunto do seu meio natural e cultural"quem explica isso é Paulo Brant, secretário de Estado de Cultura, economista, engenheiro civil, irmão do compositor Fernando Brant e conselheiro do Museu Clube da Esquina. "As pessoas geralmente associam a idéia geral de um museu ao passado. Ele passa por esse caminho, mas pode e deve ter conotação de algo vivo que tem passado, presente e futuro. A conceituação teórica de um ecopercurso não se circunscreve a um equipamento, a um prédio, mas vai além. Incorpora toda a ambiência como o meio ambiente e as pessoas, suas histórias, sua cultura e suas vivências. Esse será um museu aberto não apenas do ponto de vista espacial, mas como conceito, construído a cada dia através de uma gestão parceira com as comunidades. É um conceito tão novo que ainda não existe um padrão como referência", define Brant. Na prática, o que já se sabe é
LAVADEIRAS DO RIO JEQUITINHONHA: CULTURA E TRADIÇÃO MANTIDAS HÁ DÉCADAS
O projeto do Museu de Percursos encontra-se na fase de inventário dos bens culturais, econômicos, ambientais, culturais, arqueológicos e demográficos e de definição do conceito museológico. "Esperamos que ele nasça em dezembro de 2009 e até lá serão investidos R$ 10 milhões. A partir daí, esperamos que ele caminhe por si próprio", espera Brant. O Museu de Percursos já nasceu, desde a sua concepção, com um diferencial: a diversidade cultural do Vale como reflexo genuíno da integração entre o meio ambiente e o homem. O rio como caminho, ponto de partida e de chegada. "Esse projeto, para ser vivo, tem que ser livre, multidisciplinar. É um projeto sem raiz, que será construído pelas pessoas que por ele se encantarem", alinha Brant, não sem antes citar Mário Quintana: "Cobre-me pelas minhas atitudes, mas não pelos meus sentimentos. Atitudes são pássaros engaiolados e sentimentos são pássaros em vôo". 8
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3ECOLOGIA HUMANA EDUARDO MACHADO (*)
Os retalhos de Dona Conceição VIAJANDO PELO INTERIOR, SEM PRESSA, APRECIANDO AS PAISAGENS GEOGRÁFICAS E HUMANAS, MEIO SEM DESTINO, COMO GOSTO DE FAZER, PASSO DIANTE DE UMA CASINHA, DESSAS DE BEIRA DE ESTRADA. Chama-me a atenção, bem à frente da casa, uma bela colcha de retalhos estendida num varal de bambus. Paro o carro, desço e me aproximo. Só então percebo que a colcha é usada, até meio desbotada, mas seu colorido ainda enche de alegria a paisagem árida daquele cantinho esquecido do norte de Minas. Bato palmas e, numa das janelinhas de moldura azul, destacando-se na parede branca, surge o rosto crestado de sol de uma senhora de idade indefinida. Lenço na cabeça, um sorriso simpático, olhinhos vivos e mineiramente desconfiados, ela me cumprimenta com um aceno. - Esta colcha está à venda? Pergunto. - Não, seu moço, é coisa antiga, não vê? Lavei e pus pra secar. Se bem que tô mesmo precisando de um dinheirinho... Mas se chegue, entre, venha tomar um cafezinho... Em mim falou o cidadão urbano e dei uma olhada no relógio. Que mania essa de conferir as horas, mesmo quando não tenho nenhum compromisso urgente! Mais urbano ainda acionei o controle remoto no chaveiro e, com um apito agudo, o carro travou portas, subiu os vidros e ativou o alarme. A senhora franziu a testa, surpresa com aquela novidade que contrastava com suas portas e janelas fechadas à tramelas. Percebi no seu olhar o estranhamento e senti um certo constrangimento em exibir aquela parafernália eletrônica de segurança, ali, em meio ao quase nada. Mas a senhorinha abriu a porta, o sorriso ainda mais aberto numa boca de poucos dentes. - Bem vindo seja, a casa é sua. - Licença! - À vontade, senta aí, seu moço, ela disse, tirando uma sacola de panos de cima de um sofá surrado num canto da sala pequena. Sentei-me e corri os olhos pelo cômodo. Tudo muito simples, limpo e arrumado. Diante de mim uma estante onde uma TV ocupava o espaço central. Não contive um sorriso ao ver o chumaço de bombril na ponta da antena. Outro mundo, pensei... Ao lado, um vaso com absurdas flores de plástico. No 82 ■ ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008
alto da parede, quase no teto, lado a lado, quadros antigos, com aquelas imagens de família, meio pinturas, meio fotografias. Junto, um pôster de Leandro e Leonardo, uma foto do Papa João Paulo II e uma gravura coloridíssima do Coração de Jesus. A senhorinha, que tinha saído um instante, veio da cozinha com um generoso e fumegante copo de café com leite, acompanhado por uma fatia de broa de fubá molhadinha e que, adivinhei, tinha gosto de infância. - Obrigado. Hum, tá uma delícia...! O nome da senhora? - Maria da Conceição, mas aqui todo mundo me chama de Ção. - O meu é Eduardo. Mas e a colcha, se a senhora fosse vender, quanto custaria? - Ah, seu moço, primeiro deixa eu lhe contar a história dessa colcha... E Dona Conceição levantou-se e foi tirar a peça do varal. Olhei de novo o relógio, meio impaciente, mas me consolei com mais uma mordida na broa. Estava mesmo uma delícia. Ela voltou com a colcha dobrada nas mãos e a estendeu sobre o sofá, ao meu lado. Por uma fração de segundo, não registrada pelo meu relógio digital, mas na minha percepção afetiva, houve um momento de silêncio entre nós, enquanto ela corria as mãos, suavemente, sobre o tecido. Os dedos calosos pararam sobre um quadrado vermelho, numa das pontas da colcha. - Esse retalho aqui foi sobra do vestido que usei no casamento do meu último filho. Ele mudou pra São Paulo e nunca mais o vi. Já vai pra mais de dez anos... E as mãos de Dona Conceição acariciaram o pano como se fosse o rosto do filho ausente. Naquele instante de silêncio mágico aquele quadradinho vermelho transbordou saudades... Com os olhinhos miúdos brilhando, ela continuou o desfile de retalhos e histórias. Esse pedacinho xadrez aqui era de uma toalha da mesa onde eu tomava café com a família toda reunida, bem cedinho, antes do meu falecido Antônio e os meninos saírem para a lida na roça. Faz tempo... E os olhos marejados de Dona Conceição se fixaram
COLCHA MINEIRA À BEIRA DA ESTRADA: QUANTO CUSTA O AFETO?
nas fotografias da parede. Ela continuou falando, acariciando cada pedacinho colorido de pano, deixando vir à tona seu estoque de personagens, acontecimentos, memórias e histórias. Esqueci definitivamente o relógio e me deixei ficar ali, saboreando palavras que também tinham gosto de infância, me deixando tocar, envolver e agasalhar por aquela colcha que era, na verdade, um resumo de anos e anos de vivências e experiências intensamente, profundamente humanas. Dona Conceição desfilou mãos e palavras pelos quadrados quase todos, esquecida também do tempo, agradecida, talvez, por esse viajante imprevisto e improvável (viajantes, em geral costumam ter tanta pressa...) que teve, justamente, tempo para sentar-se ali e ouvi-la, acolhê-la, tal como foi acolhido: carinhosamente. De repente, no último retalho de história, Dona Conceição se recompôs, como se estivesse voltando pra casa depois de uma longa viagem, e disse: - Mas o senhor perguntou pelo preço da colcha... Nem sei... quanto o senhor acha que vale...? Em meus trinta e cinco anos como professor, nunca, nenhum aluno havia feito uma pergunta tão difícil de responder... - Dona Conceição, a senhora me desculpe, mas não vou comprar a colcha, não. Na verdade quero lhe pedir um favor. Eu quero comprar é a receita da broa de fubá. - Como assim, seu moço, comprar receita de broa? Coisa mais jeito. Tem receita não, é pegar e fazer... - Mas eu quero é a receita, sim, a senhora dita e eu escrevo. E faço questão mesmo de pagar, pois é uma obra de arte. - O que é isso, seu moço, onde já se viu, eu ensino,
mas não cobro não. É pelo gosto de saber que o senhor apreciou esse quitute que vem desde a minha mil avó... Um poema de Adélia Prado cruzou a tela da minha memória... - Dona Conceição, pode acreditar em mim, a receita dessa broa, eu sei, não tem preço. Tem é o sabor da minha infância, de casa de vó, de fogão de lenha e parede enfumaçada. Tem o calorzinho das brasas que, até hoje, aquecem minhas saudades. - Eita, que agora o moço falou bonito como quê. Mas e a colcha, não vou vender? - A senhora é quem sabe, mas eu gostaria que ficasse com ela. - Intão tá. Anote aí a receita da broa e o modo de fazer. Quatro ovos, mas tem que ser caipira, um punhadinho de fubá de moinho d'água... O tempo, que passava apressado pela estrada, parou, chegou à janela, espiou dentro da casa e nos contemplou, cheio de inveja. Sobre meus joelhos a colcha dobrada, a modo de apoio. Num bloco, eu anotava, sem pressa, os ingredientes tão raros quanto o momento. Os olhos de Dona Conceição brilhavam. Os meus, admiravam. Na verdade, o que brilhava ali era a vida, admirada, tecida e colorida em cada pedacinho de pano, em cada palavra, gesto, lembrança e memória que partilhamos e saboreamos, com gosto de infância, saudade, broa de fubá e café-com-leite clarinho, adoçado com açúcar mascavo e carinho... 8 (*) edujmm@terra.com.br. ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008 ■ 83
1 COMPORTAMENTO
APIMENTE a sua relação CAMPANHA DO GREENPEACE mostra como é possível deixar a relação sexual mais quente e, pasmem, ecologicamente correta e saudável "SER VERDE NUNCA FOI TÃO ERÓTICO" É O SLOGAN DE UMA BEMHUMORADA E CONSCIENTE CAMPANHA LANÇADA PELO GREENPEACE MEXICANO, QUE INCITA OS CASAIS A ENTRAR NA "ERA ECOSEXUAL". As regras intituladas do "Guia Greenpeace para um Sexo Amigável com o Meio Ambiente" começam com uma das recomendações mais elementares: "apague as luzes". Em forma de decálogo, as dicas dão conta
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de variadas práticas sexuais, das tradicionais às mais ousadas, incitam os amantes a comerem frutas orgânicas, a usarem e abusarem de produtos biodegradáveis e auto-sustentáveis, como os ecolubrificantes, e a compartilharem o banho juntos como forma de economizar energia, ressuscitando o velho lema dos hippies dos anos 60: "Faça amor, não faça guerra".
DE TODAS AS TARAS SEXUAIS, NÃO EXISTE NENHUMA MAIS ESTRANHA DO QUE A ABSTINÊNCIA
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3MILLÔR FERNANDES
escritor
10 MANDAMENTOS DO SEXO VERDE 1. APAGUE AS LUZES
5. USE ECOLUBRIFICANTES
Nunca use lubricantes feitos à base de petróleo, como óleo e vaselina, mas produtos à base de água. E lembre-se que a saliva é o melhor lubrificante natural.
Cada vez que você usa a energia produzida pela queima de combustíveis fósseis contribui para o aquecimento global. Comece uma verdaderia revolução energética. Na cama e nas suas fantasias, prefira as velas de cera de abelha e parafina, e não as feitas à base de petróleo. Elas podem ser muito românticas. Se não resiste ver sua companheira, é fácil, faça amor durante o dia.
6. ESCRAVO DA PAIXÃO, NÃO DO PETRÓLEO
2. FRUTAS DA PAIXÃO, LIVRES DE AGROTÓXICOS
7. SALVAR A ÁGUA COM UM AMIGO
Algumas frutas podem ser afrodisíacas como o guaraná, amoras, framboesas, cerejas. Mas porque não as orgânicas? Se quer usar algum produto para aquecer a relação, assegure-se que ele esteja livre de transgênicos e pesticidas.
3. AMOR A QUALQUER PREÇO?
As ostras e outros mariscos, como os camarões, por exemplo, podem ser potentes afrodisíacos, porém nossos oceanos estão sendo destruídos. Apoie projetos sustentáveis de comunidades onde você pode encontrar produtos, óleos e sabonetes biodegradáveis com aromas que incendeiam a paixão.
Fique atento para o risco de usar brinquedos eróticos fabricados com PVC, um material que gera alguns dos produtos químicos mais tóxicos que existem: dioxinas e furanos, já proibidos em muitos países. Opte por acessórios de substâncias naturais, como o látex.
Cuidar do planeta nunca foi tão erótico. Lembre-se que mais de 500 milhões de pessoas não têm acesso à água limpa e corrente.
8. CAMA SUSTENTÁVEL
Certamente você tem um bom colchão, confortável e cômodo, mas sabe de onde provém a madeira de sua cama? Assegure-se de que seja de madeira certificada.
9. SEXO VERDE
Use óleo para massagem e roupas íntimas orgânicas.
4. AMOR RECICLADO
Reaproveite as embalagens usadas para guardar preservativos e outros acessórios no quarto.
10. FAÇA AMOR NÃO FAÇA GUERRA!
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1 ASSIM FALOU...FLÁVIO GIKOVATE
A ecologia doAMOR PARA O PSICOTERAPEUTA, o amor romântico está em extinção. O que se constrói hoje, e pode durar, é o amor maduro
redacao@revistaecologico.com.br
QUANDO FALA, ELE INCITA A REFLEXÃO, O DEBATE. OS ASSUNTOS SÃO DO COTIDIANO HUMANO E AS CONSTATAÇÕES TÃO LÚCIDAS QUE SE TORNAM INQUIETANTES, INTRIGANTES. Ele é Flávio Gikovate, 65, psicoterapeuta, que esteve em Belo Horizonte para o lançamento do livro "Uma História do Amor... Com Final Feliz" e para participar do projeto "Sempre Um Papo". Pioneiro no Brasil na publicação de trabalhos sobre a sexualidade humana e o amor, seus livros já venderam quase um milhão de exemplares. Gikovate escreve sobre coisas que já viveu "senão seria irresponsabilidade falar como uma entidade superior desassociada do mundo. Um profissional, se for honesto, tem que declarar que não é imune às coisas que ocorrem com as outras pessoas. Comecei a trabalhar em 1967, tinha 24 anos. Vivi tudo que aconteceu no mundo. Casei errado, me apaixonei e não deu certo, me divorciei e casei de novo e começou a dar certo. Nada caiu do céu, aprendi me ferrando como todo mundo", entrega. E faz uma ressalva valendo-se da compreensão do filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche
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JACKSON ROMANELLI
ANA ELIZABETH DINIZ
NO FIM DAS CONTAS TODO MUNDO ESCREVE MESMO SUA BIOGRAFIA E SE ISSO VALE PARA OS FILÓSOFOS O QUE DIRÁ PARA UM MÍSERO PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA HUMANA
3FLÁVIO GIKOVATE
PSICOTERAPEUTA
GIKOVATE: DESNUDANDO AS RELAÇÕES E EXPONDO AS FRAGILIDADES E PERVERSIDADES HUMANAS
sobre a literatura: "no fim das contas todo mundo escreve mesmo sua biografia e se isso vale para os filósofos o que dirá para um
mísero profissional de psicologia humana". Gikovate desnuda os meandros das relações, expõe as fragilidades e as perversidades humanas. As relações sustentadas na culpa, no medo e na frustração. Ele aposta em relacionamentos baseados no que ele chama de 'mais amor', sentimento que respeita a individualidade e em que o indivíduo cria laços que podem durar a vida toda. Uma relação de dois inteiros e não de duas metades. Mas é enfático ao definir: "As pessoas são melhores para sonhar do que para viver".
“O AMOR É PAZ, É ACONHEGO, É TERNURA. É UM FENÔMENO EXTREMAMENTE COMPLEXO, MAS SEPARADO DO SEXO”
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O COMEÇO
"O amor deriva do trauma do nascimento. Estávamos no útero da mãe numa condição muito favorável, com um mínimo de desconforto, imersos em um acolchoado de água, alimentação garantida e sem esforço, vivendo em um ambiente calmo, parado, tudo de bom. Aí veio o Big Bang, o nosso nascimento, o fim da harmonia, a ruptura da bolsa. A criança sai, tem que respirar, nasce em pânico, leva tapa na bunda. Apavorada, não tem nenhuma razão para sorrir, só se for totalmente tola. Faz cocô mole, arrota, sente cólicas. Enfim, um inferno, tal como está escrito no Gênesis: 'A vida começa no paraíso, de onde somos expulsos'. Resta apenas a nostalgia do paraíso que nos persegue, como indivíduos, a vida inteira."
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1º ANO
"O aconchego do colo materno nos aproxima do paraíso (útero), invoca a sensação de paz que perdemos quando nascemos e minimiza nosso desconforto. A mãe é o nosso primeiro objeto do amor. Mas vivemos a sensação subjetiva de desamparo. O primeiro prazer da criança é negativo, porque deriva do fim de uma dor. A mulher grávida é um ser duplo e quando ela dá a luz, ela e o bebê ficam incompletos e vão procurar depois pela vida afora alguém que os complete."
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2º ANO
"Nesta segunda etapa da vida, a criança aprende a falar, constrói raciocínios, anda, gosta de especular o
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mundo e a si mesma, e descobre que o toque de certas partes provoca uma sensação esquisita, inquietante e agradável. Ela quer ficar longe da mãe e curte ficar com ela mesma, mas nunca fica grande coisa sozinha. Ainda precisa do olhar materno em suas primeiras descobertas."
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ADOLESCÊNCIA
"Nessa época, meninos e meninas não querem ter grandes envolvimentos. E, para isso, inventaram um negócio formidável que chamam de 'ficar'. Eles criaram condições para se beijar e trocar carícias eróticas do umbigo para cima, em lugar público. Uma idéia genial. No passado, o sarro acontecia atrás da igreja ou no matinho, e era muito perigoso porque não tinha muito controle. Nessa época transávamos com prostitutas porque as meninas da nossa idade nem sequer beijavam. Hoje, o 'ficar' acontece entre jovens da mesma faixa etária e classe social. O adolescente vive em um mundo mais erótico e de fantasia. De romance, porque não tem coragem de viver o amor pelo fato dele 'atrapalhar' o processo de formação de sua individualidade. Normalmente os jovens se apaixonam por alguém que não vai dar bola para ele como um ator de cinema distante. Na vida real, ficam nas baladas e trocam figurinhas até ter coragem de se envolverem em um relacionamento de verdade. A maioria dos adolescentes hoje tem baixa auto-estima porque a sociedade atual exige que ele seja sempre lindo, popular e rico."
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AMOR
"É paz e aconchego, é ternura. É um fenômeno extremamente complexo, mas separado do sexo. Um não tem nada a ver com o outro."
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SEXO
"Sexo é excitação e combina melhor com vulgaridade e baixaria. E, às vezes, na vida adulta, se junta com o amor. O sexo está comprometido com a individualidade e na direção contrária do amor."
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EGOÍSTA
"É o indivíduo, o personagem mais extrovertido, popular, alegre, estourado, agressivo, intolerante à frustração e imaturo. Egoísta, manipula, faz chantagem emocional, ameaça, grita. É o chamado gênio forte, de estopim curto. Na verdade, é um fraco porque não agüenta lidar com a frustração. O egoísta tem menos medo e não tem sentimento de culpa. O egoísta só vai desaparecer quando o generoso, o outro bonzinho, desaparecer."
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GENEROSO
"É mais confiável, mas não é tanto por vontade, mas por covardia. Ele tem vontade de aprontar, mas tem medo porque tem culpa e... medo. É um personagem mais calmo, ponderado, coloca panos quentes, condescendente, parece que é mais maduro, mas não é grande coisa por dois motivos: primeiro, porque não quer ser as-
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SEGUNDO GIKOVATE, SÓ O AMOR JUSTO, NEM BONZINHO OU EGOÍSTA, VAI SOBREVIVER AO INSUSTENTÁVEL AMOR ROMÂNTICO
sim, fala sim quando quer dizer não. É o falso bonzinho, cheio de uma culpa que o freia. Ele se preocupa em não causar dano à outra pessoa mesmo quando é direito dele. Age com cuidado demais com o outro porque imagina que vai conseguir conquistar o seu amor e simpatia. Mas não consegue grande coisa porque o outro egoísta, que não é tonto, logo percebe isso como fraqueza e vai exigindo cada vez mais. E o generoso vai dando cada vez mais, imaginando que, quem sabe um dia, vai dobrar, conquistar o amor do outro. Tudo mentira porque o generoso manipula, se sente superior, envaidecido e, assim, apenas reforça a pior parte da alma do egoísta. Só existe o egoísta porque existe o generoso."
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IDEAL
"Temos que acabar com estes nossos dois modelos que se repetem: egoísta e generoso. Temos que reinventar o justo, um indivíduo que é mais que essas duas coisas, que agüenta a frustração e não é escravo da culpa. Temos de acabar com essa dualidade do bem e do mal que já me encheu. Nem Deus mata o demônio e nem o demônio mata Deus. O jeito é acabar tanto com o egoísta como o generoso."
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RECEITA ULTRAPASSADA
"Essa dualidade entre o generoso e o egoísta onde, em um casal, um complementa o que falta no outro, foi vista durante muito tempo como uma boa aliança sentimental, mas é um tipo de relação que não se usa mais. Quase todos os casamentos se dão por esse tipo de ligação e quase todos os divórcios se dão pelo mesmo motivo. As pessoas se separam pela mesma razão porque se casaram. As diferenças de temperamento acabam determinando relações ciumentas, possessivas e desconfiadas. O generoso desconfia do egoísta, e com razão, porque ele não é confiável, não suporta a frustração e se tiver muita vontade de fazer alguma coisa, ele faz. Casar com uma pessoa que não agüenta a frustração é difícil. O parceiro fica imaginando se ele é ou não confiável. Ele acha que pode tudo. O egoísta é mentiroso. O generoso pergunta com freqüência: ‘Será que posso confiar nele?’ Claro que não."
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INDEPENDÊNCIA
"A pessoa solteira vive hoje muito bem. Não é discriminada pela família, faz o que quer, se relaciona com o outro quando e como quiser. Vive e sobrevive com o seu buraco, a sua falta, sem se sentir solitária, mas madura. O casamento, para estas pessoas, só irá dar certo se houver melhora no padrão e na qualidade de vida dos dois. Fora isso, sem uma cumplicidade, um ponto comum baseado na amizade, melhor continuar solteiro."
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FUTURO
"Ou a qualidade e o nível das relações conjugais vão evoluir ou vai terminar o casamento. É o fim do romantismo de fusão entre os opostos e o início de uma relação de aproximação entre dois inteiros, amigos, solidários. Um novo e justo tipo de amor está nascendo e é o único que vai dar qualidade de vida. É o único que vai sobreviver." 8 PARA SABER MAIS www.flaviogikovate.com.br ECOLÓGICO/NOVEMBRO 2008 ■ 89
FLORESTA VALE DO RIO DOCE Parte 1 – 2006 – Acrílico sobre tela – 240 x 200 – coleção Carlos Carneiro Costa
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1 ENSAIO VERDE
A NATUREZA de Yara FOTOS SYLVIO COUTINHO
DAS LINHAS ÀS PAISAGENS DE MINAS, as pinturas revisitadas da artista expressam o que há de mais belo em nosso meio ambiente ANA ELIZABETH DINIZ redacao@revistaecologico.com.br
AS BROMÉLIAS QUE SE INSINUAM PARA A LUZ, A FLORA EXUBERANTE E SOBREVIVENTE DA MATAATLÂNTICA, oscamposrupestreseo cerrado que se retorce, contorce e resiste à ação humana, foram eternizadas em acrílico nas telas impressionantes da artista Yara Tupynambá, que há 18 anos vem se embrenhando pelos parques estaduais mineiros para retratar a riqueza e biodiversidade dos biomas. A arte deYara conquista pela beleza e magia com que se apropria da alma das paisagens dessa Minas, que é muitas, e ainda guarda em suas matas, florestas, rios e em sua diversidade o fluir de uma vitalidade que ela
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MEU TRABALHO TENTA JUNTAR EM UM MESMO ESPAÇO TUDO QUE É SIGNIFICANTE PARA A CULTURA MINEIRA 3YARA TUPYNAMBÁ ARTISTA PLÁSTICA
consegue revelar, como sangue e seiva que corre pelas artérias de suas folhas, troncos e flores nativas. "Meu trabalho tenta juntar em um mesmo espaço tudo que é significante para a cultura mineira: os oratórios, as flores do cerrado, as montanhas, as pequenas cidades, as janelas abertas para as paisagens, os objetos de nosso cotidiano - cerâmicas, lampiões, velhos bules de fazendas. E ainda conservar na memória as imagens vistas nas reservas ecológicas onde estive, as florestas e lagos doVale do Rio Doce, a mata do Jambreiro, os campos rupestres da Serra do Cipó. Procuro, dessa forma, lembrar a todos que a conservação dessa face da beleza, que é a natureza, depende exclusivamente de cada um de nós", ensina a artista. Para esse trabalho, Yara contou com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e do Ibama que ofereceram a infra-estrutura necessária para que ela ficasse em média, oito dias em cada parque. "Era preciso contemplar, assimilar nuances, anotar, fotografar e desenhar muito, detalhes, nervuras, texturas. Depois o trabalho foi feito no ateliê", diz. A próxima meta é pintar o Parque Estadual do Rio Preto, localizado em São Gonçalo do Rio Preto, suas cachoeiras, piscinas naturais e aflora-
PERFIL 3Yara Tupynambá (foto) nasceu em
Montes Claros, Minais Gerais, e estudou com Alberto da Veiga Guignard e Oswald Goeldi. Foi bolsista da Pratt Institute, em New York. Tem 92 painéis e murais espalhados por numerosas cidades brasileiras e já expôs sua arte em todo o mundo. Saiba mais: www.yaratupinamba.org.br
mentos rochosos. "Sou inquieta, apaixonada pela natureza de Minas e quero fazer da minha arte uma forma de conscientizar as pessoas para a importância da preservação dessa beleza ímpar, dessa riqueza imprescindível para a preservação do planeta e de nossa memória natural para as gerações futuras", pontua a artista.
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FOTOS SYLVIO COUTINHO
FLORESTA VALE DO RIO DOCE
PÉ DE SERRA
Pico Três Irmãos – Bom Jardim Minas Gerais – Acrílica sobre tela – 2008
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1999 – Acrílico sobre tela – 100 x 120 – coleção Wander Tanure
FLORESTA VALE DO RIO DOCE
Parte 2 – 2006 – Acrílico sobre tela coleção Carlos Carneiro Costa
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LAGO
RENASCER
Serra do Cipó – 2003 – Acrílico sobre tela – 100 x 080 – coleção Carlos Carneiro Costa
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Floresta Vale do Rio Doce – 1999 – Acrílico sobre tela – 120 x 100 – coleção Wander Tanure
VELÓZIAS GIGANTES
Serra do Cipó 2004 – Acrílico sobre tela, 100 x 080 – coleção da Artista
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3 MEDICINA NATURAL MARCOS GUIÃO (*)
AMARRA
MARCOS GUIÃO
VAQUEIRO “SEU” TOCO. ESTE É O NOME DE UM HOMEM SIMPLES, DOTADO DE SENSO DE OBSERVAÇÃO E PACIÊNCIA INCOMUNS. Nascido e criado no sertão dos gerais, é um exímio conhecedor das plantas medicinais do Cerrado que ainda não foi derrubado na região de Cordisburgo, onde mora. Foi com ele que aprendi as indicações do cipó Amarra-vaqueiro. Este nome lhe é dado porque seus longos galhos fibrosos são verdadeiros tentáculos que se enrolam facilmente nas pernas dos mais desatentos, provocando quase sempre um tombo. Segundo "Seu" Toco, há tempos atrás o morador de uma pequena comunidade foi expulso do convívio social devido a uma doença grave e contagiosa contraída pelo infeliz. Sem forças, o pobre homem se alojou próximo a um riacho, debaixo de uma grande latada deste cipó, que lhe oferecia sombra e modesta proteção da chuva e do vento. Lutando para sobreviver, ele passou a se utilizar dos recursos que o cerrado lhe oferecia na forma de frutos para se alimentar, como a mangaba, o pequi, o araticum, o buriti. Na busca de alguma bebida que lhe trouxesse conforto e aquecimento, passou a fazer uso constante do chá das folhas do cipó sob o qual passara a morar. Aos poucos, percebeu que a doença dava sinais de regressão e, após algum tempo, se viu completamente curado. Assim, ele conseguiu retornar ao convívio de sua comunidade e, todas as vezes que passava próxi-
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BOBENTA OU AMARRAVAQUEIRO Combretum leprosum
CHÁ DE BOBENTA 3O
preparo e uso de qualquer infusão segue algumas regras básicas: a planta deverá ser picada do menor tamanho possível, pois assim aumenta-se a superfície de contato do vegetal com a água. A vasilha a ser utilizada pode ser de ágata, inox ou vidro, nunca de alumínio. E finalmente deve-se lembrar que “o chá de hoje não serve para amanhã”. Portanto, faça somente a quantidade a ser consumida no dia. “Seu” Toco ensina ainda que usa sempre “três dedos” juntos (polegar, indicador e médio) para pegar a quantidade de planta necessária no preparo do chá. Seguindo então essas orientações, coloque as folhas já picadas na água fervente e deixe em infusão por uns 15 minutos. Em seguida coe e tome uma xícara de três a quartro vezes ao dia.
mo a uma touceira do cipó, se referia carinhosamente à planta como sendo "minha casa" ou "nossa casa", outros nomes que ela leva. Imaginei que provavelmente o indivíduo teria contraído hanseníase, mas fiquei em dúvida, pois "Seu" Toco não soube me dizer que doença seria. Tempos depois, tive oportunidade de fazer um trabalho de campo no norte de Minas, juntamente com um experiente biólogo especializado em dar nomes às plantas do Cerrado. E qual não foi a
minha surpresa quando o nome científico do cipó me foi revelado? Era Combretum leprosum. Para reforçar ainda mais sua indicação, na região de Curvelo, onde é conhecido como Bobenta, ele é tradicionalmente utilizado no tratamento de problemas de pele em geral. Será tudo uma grande coincidência? Será? 8 PARA SABER MAIS herborista@oi.com.br
1 IN MEMORIAM
MÁRIO VIEGAS (1924 - 2008)
OSMAR LADEIA
PROCURA-SE NO CÉU ENCANTADO DESDE O ÚLTIMO DIA 23, LUA MINGUANTE DE OUTUBRO, EM BH. Jornalista e advogado ferrenho, maranhense e lacerdista de fé, foi redator da "Última Hora", no Rio, e diretor da sucursal mineira da "Tribuna da Imprensa". Fundador da Sociedade Ornitológica Mineira (SOM), uma das primeiras ONGs da história ambiental brasileira, era editor vitalício do Jornal Meio Ambiente. Pioneiro, junto de Hugo Werneck, Célio Vale e Ângelo Machado, evitou que o Parque Estadual do Rio Doce, a "Amazônia mineira", hoje preservada, fosse cortada ao meio por uma estrada industrial. De gênio difícil e amoroso ao mesmo tempo, não poupava críticas e colecionava inimigos. Sua última birra explícita e gratuita era contra o hábito do ministro Carlos Minc de usar coletes. Criador do Concurso "Fotografe a Natureza", até a sua edição deste ano, conseguiu reunir um acervo com mais de 20 mil fotos extasiantes sobre a biodiversidade brasileira, que o encantava às lágrimas. Respeitava a soberania dos jurados; mas, se não tinha foto de passarinhos entre as premiadas, mudava, por conta própria, o resultado. E todo mundo aceitava, respeitava, continuava seu jurado. Este foi Mário Viegas, com seu terno azul riscado, enterrado com uma flor de lado e a paixão na mão. Quem souber do seu paradeiro, não lhe diga da nossa dor, mas da nossa saudade e respeito. Da gratidão maior da natureza. E dos passarinhos que, mesmo com a sua morte, não pararam de cantar. Parecem estar cantando mais, em sua homenagem.
DE SEUS AMIGOS E COMPANHEIROS DE SONHO E LUTA.
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